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Como falar e escrever em

pós-moderno
Por
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira
-
jan 31, 2017
1

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Por Stephen Katz


Publicado no Journal of the Sydney University Arts Association
Antes de tudo, você precisa se lembrar que a linguagem simples (ou
cotidiana) está fora de questão. É demasiada realista, modernista e
evidente. A linguagem pós-moderna requer que você use metáforas,
jargão universitário e expressões indeterminadas para que suas
devastadoras e profundas contribuições saltem à vista. Muitas vezes, isso
pode ser requisito difícil de cumprir – em especial, no caso em que uma
linguagem indecifrável é o substituto perfeito. Por exemplo, imagine que
quero dizer algo como: “A sabedoria milenar dos indígenas pode nos
ajudar a ver de outra forma o mal-estar da cultura ocidental”. Isso é claro,
mas muito simples. Peguemos a expressão “sabedoria milenar”. Um
falante pós-moderno pode mudá-la para “o discurso”, ou, melhor,
para “os discursos”, ou, ainda melhor, para “os efeitos da realidade dos
discursos”. Adicione um adjetivo como “intertextual”, e
pronto. “Indígenas” também é curto. Que tal “o outro pós-colonial”?

Mas falar em pós-moderno também implica em usar com propriedade


termos que indiquem sua familiaridade com a maior quantidade de
preconceitos possíveis; além do insubstituível ingrediente racista e
sexista, é indispensável estar familiarizado com a psicanálise (seja para
administrá-la ou para sofrê-la). Por exemplo, com o falogocentrismo
(fixação masculina combinada com a racionalidade da lógica binária). E
isso de “ver de outra forma” também está fora de questão, é melhor “a
apreensão de um futuro alternativo”. Finalmente, “o mal-estar da cultura”
é demasiado raso, e já foi usado por Freud. Use verbos e frases mais
engenhosas como “mediar nossas identidades”. Assim, a oração final pode
dizer algo como: “Devemos desconstruir a intertextualidade dos fatos da
realidade dos discursos de outro pós-colonial, fora da metanarrativa do
Ocidente, para aprender o futuro alternativo dos desvios falogocêntricos
que medem nossas identidades”. Agora, você está falando como um pós-
moderno!

Às vezes, você pode estar em algum apuro. Neste caso, deve-se dispor
de um número mínimo de sinônimos pós-modernos e neologismos
necessários para enfrentar um evento público. Lembre-se, não saber do
que está falando não é ruim, desde que, diga o que diga, diga
convictamente e de forma adequada. Isso me leva a um segundo aspecto
básico para se expressar em pós-moderno: usar muitos sufixos, prefixos,
hifens, itálicos, marcações e qualquer outra coisa que seu computador
(essencial se você quiser escrever em pós-moderno) puder oferecer. Para
não perder tempo, desenhe um quadro com três colunas.

Na coluna A, coloque os prefixos: pós-, hiper-, pré-, dis-, re-, ex- e conta-
. Na coluna B, coloque os sufixos e termos relacionados: -ismo, -itis, -
alidade, -ação, -itividade e -tricidade. Na coluna C, coloque uma série de
nomes respeitáveis, conhecidos e que impressionem, como, por exemplo,
Barthes (barthesiano), Foucault (foucaultian, foucaultianismo), Derrida
(derrideano, derrideanismo). Citar “Canclini” (o filho perdido de Bordieu),
ou as “culturas híbridas” cai como uma luva. Não há problema também
citar como “García Canclini”; parece ser do mesmo tipo. Se for um
seguidor New Age e ter visto os filmes de Dalai Lama ou Jackie Chan, não
duvide em adicionar o ingrediente oriental do conhecimento interior, a
harmonia social e o relativismo de todas as religiões, e cubra com algum
aforismo (de leitura múltipla) de Nietzsche, Cioran ou Walter Mercado.

Agora, tentemos. Você quer dizer algo como: “O sujeito é uma criação
histórica e social”. Este é um bom pensamento, mas, desde já, um mal
começo. Você não vai chegar em sua segunda xícara de chá usando uma
frase do tipo. Na verdade, depois de dizer algo assim, pode ser que o
público vá embora, ou que não voltem prestar mais atenção. Relaxe. Vá
até suas três colunas. Primeiro, o prefixo meta- é útil, tanto como o pós-
, e se vários se encaixarem no mesmo lugar será formidável. Melhor será
usar algo como “metanarrativa pós-histórica”, mas seja criativo. “O
sujeito é uma desconstrução de metanarrativas transhistóricas” é
promissor. Em contrapartida, “criação histórica” deixa muito a desejar.
Sugiro que veja a coluna B. Que tal “vanguardismo”?, ou pode ser mais
pós-modernos ao introduzir uma categoria indeterminadas
como “transvanguardismo híbrido”. Agora, vá até a coluna C e escolha um
autor renomado, ou seja, importante, mas do qual seja quase impossível
falar em termos simples, porque ninguém tem tempo ou vontade de lê-lo
com juízo.
Os teóricos do continente europeu são os melhores, e em caso de dúvidas,
o ideal é um autor francês decepcionado com o maio de 68. Recomendo
o filósofo Michel Foucault, que escreveu vários tratados sobre o sujeito e
o poder. Não precisa lê-los por completo nem sequer entendê-los; basta
fazer qualquer alusão com “episteme” e mencionar de passagem o famoso
senhor. Finalmente, agregue algo de suspense e emoção para que dê a
impressão de que está interessado em falar algo de concreto, e não se
esqueça de usar traços e parênteses. O que temos agora? “O sujeito
contemporâneo é uma desconstrução de metanarrativas transhistóricas
que, dentro do novo episteme do transvanguardismo híbrido, transcende
as nacionalidades fictícias (produto de preconceitos
etnocêntricos) inscritas em lógicas diferenciais e polivalentes que, como
demonstrou Foucault (não se esqueça de que se pronuncia “Fucô”), são
habilmente reconstituídas da semente do pensamento primitivo”.

Deve estar atento quando escutar uma oferta de trabalho de algum pós-
industrial que esteja interessado em você para que dirija seu
departamento de assistência social, ou, ainda melhor, para que dê aulas
particulares para a filha. No caso de que alguém chegue a te perguntar
de que diabos estás falando, fique tranquilo. Esse risco existe com todos
aqueles que falam em pós-moderno, mas tente evitá-lo, sempre que
possível. Caso chegue a acontecer, olhe para o seu interlocutor com
estranheza, como um bicho raro, como se ele não tivesse captado a
essência de seu discurso, e, neste momento, você deve dizer que a
pergunta “simplifica o discurso”. Se isso não funcionar, você pode ser
tomado pela tentação e pronunciar essa terrível resposta modernista de
duas palavras: “Não sei”. Mas não, mantenha a calma, respire, olhe para
o lado com olhar de oportuno, depois olhe para o auditório como alguém
que olha para a chuva, e diga algo como: “Sua pergunta é muito
interessante. No entanto, sua intertextualidade define um grupo de
relações entre enunciados dispersos e decorativos, cuja eficácia simbólica
e significado me parecem arbitrários. Isso mostra que o princípio de
individuação geradora do sujeito é um tema que não pode se esgotar em
uma conferência, talvez nem em um semestre”. Mais perguntas? Não?
Pois bem, que agora se sirvam de chá com biscoitos.
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Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira


http://www.universoracionalista.org/
Graduando em Física (2016) e em Filosofia (2014) pela Universidade de Franca (UNIFRAN);
estágio de iniciação científica em Microbiologia com enfoque em Astrobiologia (2016) pelo
Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP); estudante da disciplina de Filosofia
da Mecânica Quântica de pós-graduação (2016) pela Universidade de São Paulo (USP);
experiência na área de Divulgação Científica com enfoque em Ciências Planetárias
(Astronomia e Astrobiologia) e em Ciências Cognitivas (Neurociência e Psicologia); fundador
da Organização Universo Racionalista (UR); colaborador do Instituto Ética, Racionalidade e
Futuro da Humanidade (IERFH); membro-estudante da Rede Brasileira de Astrobiologia
(RBA). Tem interesse nas áreas de Astronomia, Astrobiologia, Biologia Evolutiva, Física,
Filosofia da Ciência, História da Ciência, Microbiologia, Neurociência, Psicobiologia e
Sociologia da Ciência. Abaixo, segue o endereço do currículo na plataforma Lattes.

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