Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Pereira da. Em bttsca do ato administrativo perdido.
Coimbra: Almedina, 1996.
SORACE, Domenico. Pro memória per una nuova voce- atto amministrativo. In:
Scritti in onore di Massimo Severo Giannini. Milão: Giuffre, 1988. vol.III.
5TASSINOPOULos, Michel. T!·aité des actes administratifs. Paris: LGDJ, 1973. TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
VILL>\TA, Ricardo. L"atto amministrativo. In: MAZZAROLLI, L, Pericu, G e outros - UMA RELEITURA À LUZ DOS NOVOS
(org.) Dirítto Amministrativo. BoLONHA: Monduzzi,l998. vol. li.
VmGA, Pietro. Il Provvedimento amministrativo. Milão: Giuffre, 1972. PARADIGMAS DO DIREITO ADMINISTRATIVO
REsuMo: O presente artigo põe-se a tratar de AasTRACT: The following paper aims at discuss
aspectos concernentes à Teoria Geral dos Atos the main aspects concerning the Theory of the
Administrativos sob uma visão atualizada dos Administrative Acts under an updated review of
princípios que regem o Direito Administrativo, a the principies that guide the Administrative law
partir de uma reflexão à vista das diferentes cor- as well as the different academic points of view
rentes doutrinárias que já se debruçaram sobre o regarding this subject. We also intend to take into
tema. Considerando, ainda, a evolução legislati- consideration the progression of the positive !aw
va e de posicionamento dos tribunais, buscou-se and court's decisions in order to analyze the key
analisar os principais pontos tangentes à matéria, points concerning this matter, such as the concept
tais como o conceito de ato administrativo, seus of administrative act, its elements, attributes and
elementos, atributos e classificações, bem como classification, along with the hypotheses of its
as hipóteses de seu desfazimento, revogação e termination, cancellation and nullification.
invalidação.
PAlAVRAS-CHAVE: Ato- Administrativo- Evolução KEYWonos: Administrative - Act - Evolution -
- Conceito- Elementos -Atributos- Classifica- Concept - Elements - Attributes - Classification
ção - Desfazimento - Revogação - Invalidação - Termination- Cancellation- Nullification
38 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 39
Os atos administrativos possuem grande importância na garantia dos direi- Se não houver manifestação de vontade administrativa, estaremos, quando
tos fundamentais dos indivíduos e para a própria concepção do Direito Admi- muito, diante de um fato administrativo, de caráter meramente material, mas
nistrativo. Antes de surgirem, o Estado atuava por meio de atos materiais dire- não diante de um ato administrativo. Por exemplo, o fato material de demolição
tamente oriundos da vontade ilimitada do soberano. Foi apenas com a sujeição pela Administração Pública de uma construção irregular é um fato administrati-
da Administração Pública à legalidade que se tornou possível a construção de vo decorrente do precedente ato administrativo de determinação da demolição:
uma Teoria dos Atos Administrativos, essencial para juridicizar e intermediar a ele decorre, mas não contém, em si, uma manifestação de vontade.
mera vontade do Estado e a sua execução material, propiciando o seu controle. 1 Difere o ato administrativo, portanto, do fato administrativo, mera ativida-
O ato administrativo surge, então, como mediação entre a vontade estatal de pública material, sem conteúdo jurídico imediato (assim, por exemplo, uma
e a modificação da esfera jurídica dos indivíduos por ela provocada, verdadeiro operação cirúrgica realizada em hospital público, os atos concretos da realização
filtro de legalidade entre estes dois momentos. Os atos administrativos juridici- da obra pública, a aula em escola pública, a troca de lâmpada na repartição etc.),
zam e consequentemente limitam as manifestações de vontade do Poder Públi- e que só gera reflexos indiretos no campo do Direito (dirigir uma viatura oficial
co. Com isso, passam a existir limites, formalidades e requisitos- e, com isto, 0 é um fato administrativo, mas pode gerar o dever de indenitãr no âmbito de
controle- para o exercício do poder do Estado. uma responsabilização civil se causar um acidente). Às vezes, um ato adminis-
À luz da Teoria Geral do Direito, os atos administrativos são espécie de ato trativo precede o fato administrativo (a licitação e a contratação de empreiteira
jurídico stricto sensu,' ou seja, de manifestação unilateral de vontade destinada precedem a realização da obra pública); outras vezes, face a circunstâncias emer-
a produzir efeitos jurídicos (criação, modificação ou extinção de direitos e obri- genciais, o ato administrativo é praticado a posteriori (a apreensão emergencial
gações). A peculiaridade dos atos administrativos em relação aos atos jurídicos de produtos alimentícios fora da data de validade, pelas autoridades sanitárias,
em geral é o fato de serem praticados no exercício da função de administração é seguida da lavratura do respectivo auto de apreensão).
pública, isto é, de busca, com base no ordenamento jurídico, da realização dos Feito este primeiro balizamento conceitual, também deve ser firmado que
objetivos incumbidos ao Estado pela Constituição, com todas as prerrogativas, a vontade manifestada no ato administrativo é unilateral, ou seja, o efeito pro-
privilégios, limitações e controles que esta peculiaridade acarreta. duzido na esfera jurídica do administrado deve decorrer tão somente da vontade
da Administração Pública, independentemente da anuência do particular.
Pelo ato administrativo a Administração Pública de per se modifica a esfe-
1. Durante muito tempo os atos administrativos foram considerados a figura central do
ra jurídica de outrem (aplicando-lhe uma multa, proibindo determinada cons-
Direito Administrativo, mas hoje perderam parte desse protagonismo para figuras mais
contemporâneas como o processo administrativo e as relações jurídicas administrati- trução, concedendo aposentadoria, interditando estabelecimento, convocando
vas, que focam a atenção não apenas no ato isolado que dá origem a uma relação jurídi- para prestar serviço militar etc.). Caso a vontade manifestada seja bilateral, ou
ca entre o particular e o Estado, mas no processo obrigacional como um todo anterior seja, decorra da conjunção de vontades da Administração Pública e do particu-
e posterior a ele. lar, tratar-se-á de contrato administrativo ou outra modalidade de ato bilateral
2. MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico. 7. ed. São Paulo: Saraiva 1995 (ex.: convênio administrativo), mas não de ato administrativo.
40 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO
TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 41
Note-se que nem todo ato administrativo é gravoso ao particular; há tam- Como a expedição do ato administrativo pressupõe o exercício de ativida-
bém os atos administrativos que ampliam a sua esfera jurídica (ex.: concessão de administrativa, caso a Administração Pública pratique atos sem ser no exer-
de licenças, autorização para o exercício de atividades econômicas, autorização cício de função propriamente administrativa não praticará ato administrativo.
de uso de bem público, concessão de subsídios fiscais). Nesses casos não faria Em outras palavras, para praticar atos administrativos, a Administração Pública
sentido que o particular fosse obrigado a receber do Estado benefícios, razão tem que agir nesta qualidade, ou seja, com supremacia de Poder Público. Ao se
pela qual, como explica Sérgio Andréa, apesar de o ato não perder a sua unilate- nivelar ao particular, pratica um ato de Direito Privado, e não um ato adminis-
ralidade, tem a sua eficácia condicionada à manifestação positiva do particular trativo (por exemplo, são atos privados as emissões de cheques pelo Estado),
anterior, concomitante (às vezes até mesmo no mesmo instrumento, sendo for- não possuindo, em relação a ele, qualquer prerrogativa própria da função admi-
malmente muito parecido com um contrato) ou posterior ao ato administrati- nistrativa: não poderá, por exemplo, revogá-lo ou anulá-lo unilateralmente. Os
vo3 Caberia um paralelo com o testamento, que, apesar de ser um ato unilateral princípios constitucionais da Administração Pública se aplicam, no entanto, a
do testador, depende, para gerar efeitos, da aceitação dos herdeiros beneficiados. todos os seus atos, sejam eles de direito público ou de direito privado.
Todos que exercem funções administrativas praticam atos administrativos. Assim, podemos constatar haver tanto atos praticados pela Administração
Desse modo, todos os Poderes do Estado podem praticar atos administrativos. Pública que não são atos administrativos -são atos privados da Administração
Naturalmente que o Poder Executivo é o que mais os pratica, por ser o que mais -, como atos administrativos não praticados pela Administração Pública (por
exerce funções administrativas, mas os Poderes Legislativo e Judiciário, no exer- exemplo, os atos das concessionárias privadas de serviços públicos praticados
cício de suas funções administrativas, também praticarão atos administrativos. com poder de autoridade delegada).
Assim, o ato do desembargador presidente de um Tribunal de Justiça que homo- Há uma dúvida quanto a se os chamados "atos políticos" devem ser inclu-
loga o resultado final de concurso público destinado ao provimento de cargos
ídos ou não no conceito de ato administrativo. A opinião depende da posição
de juiz é ato administrativo; também é ato administrativo a concessão de férias
que seja adotada quanto a se a chamada função política ou de Governo - que
a servidor da Assembleia Legislativa.
é a oriunda, diretamente, de competências outorgadas pela Constituição, com
Considerando o mesmo critério - de que todos os que exercem funções elevada margem de discricionariedade (por exemplo, o indulto, a sanção e o
administrativas praticam atos administrativos-, quando particulares exercerem veto legislativo etc.) - configura, ou não, uma função estatal autônoma. Para
excepcionalmente funções administrativas a eles delegadas (como, por exem- os que, como nós, consideram o caráter político um aspecto que reveste, com
plo, os particulares concessionários de serviços públicos), eles podem praticar maior ou menor intensidade, todas as funções e atos do Estado, e que ele não
atos administrativos. Assim, por exemplo, a concessionária de energia elétrica importa exceção absoluta ao controle jurisdicional, os atos políticos praticados
pode sancionar o cidadão que realizou ligação clandestina; a concessionária de pela Administração Pública também teriam a natureza de atos administrativos,
transporte de passageiros pode determinar a expulsão de passageiros que não se ainda que dotados de elevadíssima discricionariedade. Já para quem acredita
comportem adequadamente. que a função de Governo é distinta da função administrativa, os atos políticos
seriam categoria naturalmente autônoma em relação à dos atos administrativos,
insuscetíveis de controle.
3. "Daí ser possível a prática do ato de permissão e o de aceitação num mesmo instru- Quanto aos atos normativos da Administração Pública, para os que re-
mento, do que decorre uma bilateralidade instrumental, cristalizada em um termo- de duzem o conceito de função administrativa à execução concreta da lei, esses
permissão - com duas partes. É o que indica Pontes de Miranda, ao realçar a distinção atos, que por definição são gerais e abstratos, não seriam atos administrativos.
entre forma e instrumento do ato jurídico: a comunidade de instrumentalização de
Já para os que - e estes são majoritários - adotam conceito mais amplo de
dois atos não os unifica. (. .. ) '{'. interferê.ncia do particular não integra o ato da Ad-
ministração', eis que 'este se apresenta como ato unilateral'. A 'prévia manifestação
função administrativa, à luz, principalmente, de sua submissão à lei, os atos
de vontade privada pode constituir um pressuposto jurídico de sua validade'; ou, se a normativos expedidos pela Administração Pública são uma das espécies de ato
manifestação for a posteriori, poderá ter influência na vigência' (. .. )." (FERREIRA, Sérgio administrativo. Para eles, com os quais concordamos, a Administração Pública
de Andréa. Alguns aspectos da permissão de uso público. Revista de Direito Administra- pode executar, isto é, implementar a lei, tanto de forma imediatamente concreta,
tivo- RDA. v. 216, p. 28-29. grifamos).
como essa atuação concreta pode ser mediada por um ato anterior geral e abstra-
42 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 43
to. O regulamento simplesmente densifica, detalha, as normas da lei para a sua ministração Pública no exercício de suas prerrogativas e a incompatibilidade
posterior aplicação concreta pela Administração Pública. entre o silêncio administrativo por um longo período e a segurança jurídica,
vêm prevendo que, decorrido determinado prazo sem o pronunciamento da
Administração, o pleito considera-se aprovado.'
3. SILÊNCIO ADMINISTRATIVO
Não nos parece que as leis que equiparam o decurso de prazo sem respos-
Dissemos no tópico anterior que a manifestação de vontade é inerente à ta à aprovação pela Administração Pública de pleitos elo administrado sejam,
existência do ato administrativo. Surge com isto uma interessante questão: e os como defendem alguns, inconstitucionais por permitirem a "clisponibiliclacle
casos em que a Administração Pública pura e simplesmente se silencia diante? elo interesse público por decurso elo prazo" ou a geração sem motivação ele
Qual o sentido e os efeitos do silêncio administrativo? efeitos jurídicos, constituindo, ao revés, ponderação razoável entre os prin-
cípios constitucionais envolvidos (prerrogativas do poder concedente versus
O silêncio administrativo é uma ausência de manifestação de vontade por
segurança jurídica), realizada pelo órgão primariamente competente para tanto
parte da Administração Pública, constituindo, muitas vezes, omissão ilícita
-o Parlamento.
da Administração Pública em relação a um ato administrativo que deveria ser
editado em resposta a um requerimento do cidadão. Neste caso - de haver O STF, na AD!n 3.273, considerou constitucional essa modalidade ele apro-
requerimento do cidadão-, o silêncio da Administração já é, por si só, omissão vação de pleitos de particulares (no caso, ele concessionários de exploração ele
ilícita por violar o direito de petição constitucionalmente assegurado (art. 5. 0 , petróleo e gás, não de serviços públicos), ao julgar dispositivo ela Lei elo Petró-
XXXIV, a, CF/88- a Constituição assegura o direito ele petição aos órgãos e en- leo- Lei 9.478/1997- que a contemplava. Vejamos excerto do voto do Min.
tidades públicas, o que abrange o direito ele o pedido ser apreciado, afastando Eros Roberto Grau sobre a questão: "Quanto ao § 3. 0 do art. 26, 6 seria incons-
até mesmo respostas meramente formais e burocráticas). titucional por traduzir conduta negativa ela Administração (aprovação tácita
12. Nas hipóteses de reserva absoluta de lei, a CF/1988 impõe ao legislador a exaustão da 13. ALESSI, Renato. Sistema Istituzionale clel Dirítto Amministrativo Italiano. Milano: Dott.
matéria. Antonio Giuffré Editore, 1953. p. 151-152.
50 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 51
4.4 Motivo Não se exigem requisitos formais excessivos para a motivação, podendo a
autoridade emitente do ato fazer remissão a outros atos administrativos, pare-
Os motivos constituem as circunstâncias de fato e de direito que deter- ceres, laudos etc. O que se impõe, contudo, é que a motivação seja clara, con-
minam ou autorizam a prática do ato administrativo, podendo estar prévia e sistente, pertinente àquilo que se está praticando (art. 50,§ 1. 0 , Lei do Processo
exaustivamente estabelecidas na lei ou não. No primeiro caso- de motivo dito Administrativo Federal).
vinculado - teríamos como exemplo as circunstâncias de fato que justificam
a aposentadoria de servidor público, basicamente os anos de contribuição es-
4.5 Objeto (conteúdo)
tabelecidos pela CF/1988; no segundo caso - motivos discricionários - há o
exemplo do tombamento: a lei não define, e nem, aliás, teria como definir, quais É a mudança que o ato efetua no mundo jurídico- a criação, a modificação
bens possuem valor histórico-cultural, razão pela qual o motivo do ato adminis- ou a extinção de direitos ou obrigações geradas pelo ato (exemplo: no ato ad-
trativo de tombamento será a circunstância de aquele bem enquadrar-se dentro ministrativo de exoneração de um servidor seu objeto é a extinção da relação
do conceito indeterminado de "patrimônio histórico-cultural", possuindo a Ad- jurídico-funcional; na desapropriação, é a aquisição da propriedade pelo Esta-
ministração, naturalmente, alguma margem de liberdade no enquadramento de do; na permissão de uso, é a criação do direito do particular de usar determina-
alguns bens nesse conceito. do bem público).
A lei prevê que, diante de determinadas circunstâncias, tal ato adminis- Fazendo um paralelo com o elemento motivo do ato administrativo pode-
trativo será praticado. A circunstância (por exemplo, construção irregular) é o mos dizer que o motivo são os pressupostos da incidência da norma jurídica;
motivo do ato (por exemplo, da ordem da sua demolição). enquanto o objeto são as consequências jurídicas dessa incidência (por exem-
plo, caso a Administração Pública identifique um bem de elevado valor histó-
Especial atenção merece a "Teoria dos Motivos Determinantes": ainda que rico -motivo -, deve, por meio do ato administrativo do tombamento, estabe-
o motivo não esteja expressamente consignado na lei em todos os seus aspectos, lecer uma série de limitações ao direito de propriedade do seu titular- objeto).
havendo, então, discricionariedade da Administração Pública em elegê-lo, fato
é que, depois de sua explicitação/motivação, a veracidade do motivo passa a ser O objeto do ato administrativo (o que ele faz no universo jurídico) pode
condição de validade do ato administrativo, ainda que outro motivo pudesse ter estar previsto na lei ou ela pode atribuir certo poder de escolha para a Admi-
sido originária e legitimamente invocado para fundamentar o ato. nistração Pública (ex.: para dar conta de uma grande necessidade de educação
pública em determinado bairro, a Administração Pública pode escolher em de-
A Administração Pública, em tese, nem precisaria indicar os motivos para sapropriar um terreno para construção de uma grande escola pública, o que
a prática do ato (para aqueles que sustentavam que os atos discricionários não otimizaria os recursos financeiros e humanos a serem empregados, ou preferir
precisariam ser motivados), mas, ao fazê-lo, ficaria vinculada à existência da- desapropriar vários terrenos pequenos para construção de várias escolas, mais
queles motivos que apresentou. Hoje, contudo, essa assertiva deve ser atuali- próximas dos seus usuários).
zada. Não é mais cabível falar que "a Administração não era obrigada a moti-
var, mas, ao fazê-lo se vincula ao motivo invocado". A Administração Pública
é sempre obrigada a motivar, e, nos casos em que houver discricionariedade na 5. MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO (DISCRICIONARIEDADE X VINCULAÇÃO)
escolha do motivo, este, explicitado, deve realmente ser procedente sob pena de É clássica, porém em vias de superação, a diferença entre atos administrativos
o ato ser inválido por vício no seu motivo. vinculados e atos administrativos discricionários: naqueles a lei não deixaria
Malgrado a regra da obrigatoriedade da motivação, os atos de mero expe- qualquer margem de escolha para o administrador (por exemplo, aos setenta
0
diente e ordinatórios, de feição exclusivamente interna, sem qualquer conteúdo anos deve ser deferida a aposentadoria compulsória do servidor- art. 40, § 1. ,
decisório - por exemplo, um despacho de "junte-se aos autos a petição" -, e li, da CF/l988); ao passo que nesses (os vinculados) a lei permitiria que o ad-
alguns atos que já têm sua motivação autocompreensiva em sua própria expe- ministrador adotasse mais de urna medida, todas elas legítimas (por exemplo,
dição, não precisam ser fundamentados. Essas exceções devem, contudo, ser abrir ou não licitação nos casos de dispensa por baixo valor do contrato - art.
sempre vistas com cautela e apreciadas a cada caso. 24, I e li, Lei 8.666/1993).
52 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 53
Esse âmbito de escolha do administrador deixado pela lei, âmbito natu- Percebe-se a discricionariedade principalmente quando a lei se utiliza de
ralmente limitado, recebe tradicionalmente o nome de "mérito administrati- conceitos jurídicos indeterminados para outorgar competência ao administra-
vo"; e o critério pelo qual o administrador realiza a sua escolha entre o leque dor público. Dentre as possíveis formas de se preencher aquele conteúdo legal
de opções a ele franqueado pelo legislador é chamado "juízo de conveniência de baixa densidade normativa, o administrador o densificaria num exercício de
e oportunidade". discricionariedade, por intermédio de um juízo de conveniência e/ou de opor-
tunidade. Mas a matéria não é pacífica na doutrina.
De forma sucinta, podemos afirmar que o mérito administrativo expres-
sa no caso concreto o juízo de conveniência e a oportunidade concedidos à Eros Roberto Grau, 16 por exemplo, calcado na doutrina de Eduardo Garcia
Administração Pública pelo ordenamento jurídico, ou seja, conferido pela pos- de Enterría, adota uma concepção mais restrita de discricionariedade, limitan-
sibilidade de escolha entre várias opções, todas elas lícitas. do-a às hipóteses em que a lei efetivamente outorga à Administração a prática
de atos possivelmente distintos, sendo-lhe indiferente qual venha a ser adotado.
Discricionariedade administrativa seria, assim, a margem de escolha deixa- Estes autores excluem, portanto, do conceito de discricionariedade a aplicação
da pela lei ao juízo do administrador público para que, na busca da realização de conceitos jurídicos indeterminados, já que eles manteriam essa indetermina-
dos objetivos legais, opte, entre as opções juridicamente legítimas, pela medida ção apenas em tese: no momento da sua aplicação tais conceitos exigiriam ape-
que, naquela realidade concreta, entender mais conveniente. Trata-se da esco- nas uma única atitude por parte da Administração Pública, que seria a medida
lha entre indiferentes jurídicos, entre várias medidas admitidas pelo Legislador, correta para o caso concreto.
para quem é indiferente a opção por uma ou outra delas.
Logo, para estes autores, não haveria a comumente identificada proximi-
A discricionariedade, que já foi chamada de "cavalo de Troia no Princípio dade entre conceitos jurídicos indeterminados e discricionariedade adminis-
da Legalidade", advém da impossibilidade de o Legislador prever todas as so- trativa, à conta de uma restrição da abrangência da discricionariedade, que só
luções que melhor atenderiam o interesse público, razão pela qual em muitos existiria quando a lei expressamente faculta vários possíveis atos para a Admi-
casos decide deixar certa margem de apreciação à Administração Pública na lida nistração Pública (ex.: nomeação do desembargador entre os integrantes da lista
diária com as necessidades públicas. tríplice elaborada pelo Tribunal, caso em que o Chefe do Executivo tem três
Diz-se que a discricionariedade só pode incidir sobre o motivo e sobre o opções, todas elas lícitas), mas não nos casos em que esta possibilidade plural de
objeto dos atos administrativos, e que a forma, a competência e a finalidade atuação é depreendida apenas do uso pela lei de conceitos indeterminados. Eros
seriam elementos que sempre são vinculados, ou seja, a respeito dos quais a lei Roberto Grau chega a observar que todo conceito sempre é de alguma maneira
não deixa margem de apreciação à Administração Pública, 14 assertiva que, como indeterminado, e que conceitos indeterminados são usados em todos os ramos
vimos acima ao tratar dos elementos dos atos administrativos, nem sempre é do Direito (ex.: "melhor interesse da criança"), mas só revestindo esse manto de
seguida pelo legislador." poder livremente franqueado e não sujeito ao controle jurisdicional no Direito
Administrativo.
Celso Antônio Bandeira de Mello 17 discorda dessa posição, afirmando que
todo conceito indeterminado gera três zonas de incidência: "zona de certeza
14. Celso Antônio Bandeira de Mello acertadamente sustenta que a finalidade também
pode ser discricionária, já que o simples fato de a Administração ter que atender ao positiva", em que se tem certeza que a opção administrativa está incluída entre
"interesse público", conceito extremamente indeterminado, não fecharia à Administra- as opções legais; "zona de certeza negativa", em que a medida pretendida pela
ção Pública apenas uma opção legítima (BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Administração Pública está evidentemente fora das possibilidades abertas pela
direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 360 a 378). O elemento
finalidade seria, no entanto, vinculado se a lei especificasse no detalhe que interesse
público teria que ser realizado.
16. GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 7. ed. São Paulo: Malheiros,
15. E o legislador, com todas as vênias, deve respeito somente à Constituição, não à dou-
trina. Devemos lembrar, guardados os seus exageros retóricos, da célebre frase de Kir- 2008.
chmann: "Três palavras adequadas do legislador e bibliotecas inteiras se transformam 17. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 17. ed. São Paulo:
em papel de embrulho". Malheiros, 2004. p. 855 e ss.
54 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 55
lei; e "zona cinzenta", âmbito no qual são plausíveis várias decisões para dar competência discricionária, e, ainda, a necessidade de motivação dos atos dis-
cumprimento ao conceito jurídico vago ou indeterminado. Para o autor a discri- cricionários. Posteriormente, principalmente por meio das lições de Massimo
cionariedade estaria presente apenas nesta zona, apenas na escolha entre essas Severo Giannini, 19 passou-se a entender a discricionariedade como o dever da
opções razoáveis, todas elas podendo ser consideradas aplicativas do conceito Administração Pública de ponderar os diversos interesses privados e públicos
legal indeterminado. envolvidos no caso concreto.
Ou seja: afastadas as opções evidentemente contrárias e as evidentemente Contemporanamente vem assumindo bastante destaque a função dos prin-
concretizadoras da vontade legal, é, justamente no espaço intermediário entre cípios do Direito Público e do Direito Administrativo (proporcionalidade, mo-
esses dois extremos, que a Administração Pública exerce sua discricionariedade, ralidade, eficiência etc.) como limitadores e de condicionadores do exercício de
preenchendo, no caso concreto, o conteúdo dos conceitos indeterminados , aí qualquer competência discricionária.
incluídos, além dos conceitos jurídicos indeterminados (ex.: valor histórico), os Por fim, vale destacar uma observação que, afinal, parecerá óbvia: não
conceitos ditos de experiência (alto, magro, barulho, pudor etc.) e os conceitos existem, a rigor, atos inteiramente discricionários, vez que a discricionariedade
técnicos (ex.: medidas para evitar o sobrecarregamento das redes de transmissão só poderá dizer respeito a dois de seus elementos: o motivo e/ou o objeto. Os
de energia elétrica). 18 demais elementos, em todas as situações, sempre serão vinculados. E, mesmo
em relação ao motivo e/ou ao objeto do ato administrativo discricionário, eles
Tema muito importante no estudo da discricionariedade é o de seu con-
haverão de atender aos princípios do Ordenamento Jurídico e aos ditames da
trole judicial. De um conceito de liberdade administrativa absolutamente in-
juridicidade: discricionariedade não significa, em hipótese alguma, arbitrarie-
suscetível de apreciação judicial, a discricionariedade administrativa vem sendo
dade. Sendo assim, há certa artificialidade em uma separação estanque entre ato.
objeto de uma progressiva construção jurisprudencial e doutrinária fixadora de
limites ao seu exercício. administrativo vinculado e discricionário. O que existe na verdade são graus de
vinculação.
Nesse percurso de progressivo aprimoramento dos fundamentos teóricos
e dos métodos de controle, utilizou-se, num primeiro momento, a Teoria do
Desvio de Poder, a ideia do necessário atendimento às finalidades da outorga da 6. ATRIBUTOS
20. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 17. ed. São Paulo: 21. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 23. ed. São Paulo: Malheiros,
Malheiro5, 2004. p. 391 e 55. 1998. p. 153/4.
r
60 I os CAM!NHOS DO ATO ADM!N!STRAT!VO TEOR!A GERAL DOS ATOS ADM!N!STRAT!VOS I 61
tos e produz efeitos imediatamente), atos administrativos perfeitos, inválidos e rio. Decorre da mudança na avaliação do interesse público relativo àquele ato.
ineficazes (no caso anterior, se a exoneração só produzisse efeitos a partir do Por isso, o judiciário não pode, no exercício da função jurisdicional, determinar
mês seguinte), ou atos administrativos perfeitos, válidos e ineficazes (uma ces- a revogação de atos administrativos, pois estaria ingressando no mérito admi-
são legal de servidor, entre duas entidades estaduais, que só produzirá efeitos a nistrativo.
partir do início do próximo mês por ter sido sujeita a um prazo). De forma geral, será o próprio agente que praticou o ato, ou seu superior
hierárquico, quem poderá revogar o ato, devendo fazê-lo sempre motivadamen-
te (art. 50, VIII, Lei 9. 78411999).
7.4 Quanto ao âmbito de repercussão
O poder de revogar atos, como qualquer competência discricionária, não
Essa classificação focaliza o espectro de produção de efeitos do ato, se in- é ilimitado, e o Direito Administrativo traçou alguns limites ao seu exercício.
ternos ou externos à Administração Pública. Os atos administrativos externos
a) Os atos vinculados são impostos diretamente pela lei, não cabendo juízo
visam à produção de efeitos exógenos à Administração Pública, ou seja, sobre
de conveniência e oportunidade quanto à sua expedição ou manutenção, tendo
os particulares (por exemplo, um decreto expropriatório). Já os atos adminis-
em vista que a lei contemplou apenas uma solução legítima, correspondente à
trativos internos objetivam a produção de efeitos jurídicos apenas no interior
que já foi tomada pela Administração Pública, não podendo ser revogados. Ora,
da máquina administrativa (assim, uma portaria de organização dos serviços
se a Administração Pública não tinha liberdade para deixar de emitir o ato, não
de determinada repartição pública, fixando-lhes, por exemplo, as competências
tem como ela ter discricionariedade para, uma vez editado o ato, desfazê-lo.
internas, ou o ato de lotação de um servidor público).
b) O direito adquirido é importante limite à revogação dos atos administra-
Os atos internos teriam como escopo apenas a organização interna da Ad-
tivos (c f., mais uma vez, o art. 53 da Lei 9. 784/1999 - Lei do Processo Adminis-
ministração e a orientação dos seus servidores, ainda que, na prática, possam
trativo Federal, e enunciado da Súmula 473 do STF). Mesmo os atos discricio-
produzir importantes efeitos reflexos nos direitos e interesses dos cidadãos,
nários, depois de praticados, podem gerar direitos adquiridos, os quais devem
razão pela qual autores há que refutam essa classificação. Para ficarmos num
ser respeitados.
exemplo simples, uma alteração de competências numa Secretaria de Estado,
concretizada por meio de Decreto do Governador, e, portanto, por um ato ad- (c) Os atos consumados, isto é, aqueles atos que já exauriram comple-
ministrativo interno, pode alterar a autoridade impetrada num mandado de tamente os seus efeitos jurídicos (o que, por si só, já constitui uma espécie
segurança. de extinção do ato administrativo), não poderiam, naturalmente, ser extintos
mais uma vez, agora pela revogação. Por exemplo, se o Poder Público pagou
voluntariamente pelo terreno que desapropriou, tendo o particular concorda-
8. DESFAZIMENTO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS do e sido ultimada a aquisição do bem pelo Estado. Não se pode, agora, revo-
gar uma desapropriação que já se encerrou por completo, que, na verdade, já
A Administração Pública pode desfazer seus próprios atos por considera-
até se extinguiu; e uma revogação de um ato já extinto é uma revogação sem
ções de mérito, isto é, por reavaliação da conveniência e oportunidade do ato,
objeto; e
ou pela detecção de uma ilegalidade, ao passo que o Poder judiciário só pode
extingui-los quando forem ilegais. (d) A coisa julgada administrativa é barreira à revogação do ato. O termo
é um empréstimo, não muito técnico, do Direito Processual Civil. Consiste na
Há quatro formas básicas de desfazimento dos atos administrativos: revo-
imodificabilidade do ato "no ãmbito da Administração Pública", por haverem
gação, invalidação, cassação e decaimento. Vamos estudá-las uma a uma.
sido esgotados todos os meios "administrativos" de impugnação da decisão. Há
polêmica em relação à aceitação do instituto da coisa julgada administrativa em
8.1 Revogação razão de a Administração Pública ter autotutela para invalidar seus atos ilegais,
É a supressão, pela Administração Pública, motivada por questões de ao menos enquanto ainda não estiver precluso o prazo para o exercício de tal
conveniência e oportunidade, de ato administrativo válido e eficaz (art. 53, Lei poder (cinco anos- art. 54, Lei 9.784/1999). Ora, se a Administração Pública
do Processo Administrativo Federal). É emanação direta do Poder Discricioná- pode e deve invalidar seus atos de ofício, não poderia, para esses autores, ficar
62 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 63
obrigada a manter um ato ilegal ou inconveniente em razão de já ter decidido de desfazimento desse modo. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, sendo esta
sobre ele uma vez. "revogação" contrária ao Direito, ela é nula, e a Administração deve buscar as
Entendemos que, inclusive pelo princípio da confiança legítima, se há uma vias normais da desapropriação do direito adquirido. 23
decisão administrativa "final", e se já não é mais possível a anulação do ato, a
coisa julgada é, também, óbice à revogação. 8.2 Invalidação
Parte da doutrina acrescenta ainda um quinto limite à revogação, tendo por
É a extinção do ato administrativo por ser contrário ao Direito, que pode
base o princípio da segurança jurídica: (e) a exigência de que o fato a implicar
ser feita tanto pela própria Administração Pública, de ofício ou por provocação,
a reavaliação da conveniência do ato a ser revogado seja superveniente à sua
como pelo Poder judiciário quando provocado.
prática. Não se poderia, então, revogar ato administrativo com base em um novo
juízo das mesmas circunstâncias fáticas existentes quando de sua edição, exigin- Trata-se de um dever da Administração que não pode se quedar inerte caso
do-se um fato novo para gerar um novo juízo de conveniência e oportunidade. detecte algum ato administrativo antijurídico. A respeito da invalidação dos atos
administrativos pela Administração, é importante destacar, mais uma vez, a Sú-
Além dos mencionados limites, há também a exigência procedimental de
mula 473 do STF, e o art. 53 da Lei 9.784/1999: "A Administração deve anular
prévia observância do devido processo legal, já que este é garantido não apenas
seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por
nas situações em que o particular esteja sendo "acusado" de algo ilegal, mas
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos".
em qualquer caso em que a sua esfera jurídica individual e as suas expectativas
legítimas puderem ser afetadas. 22 A simples mudança na interpretação jurídica eventualmente adotada pela
Administração Pública não pode levar à invalidação de atos administrativos já
Obedecidos esses limites, a revogação do ato administrativo não gera di-
praticados." Note-se, entretanto, que estamos tratando, aqui, de simples mu-
reito indenizatório ao particular eventualmente afetado. Se desobedecidos os
danças de orientação a partir de pontos de vista plausíveis, mas diferentes, tão
limites, aí sim será cogitada indenização, sendo comum, nesses casos, a adoção
comuns no Direito, mas não de mudanças de interpretação que signifiquem,
do termo tecnicamente não muito correto de "revogação expropriatória", carac-
na verdade, correções de ilegalidades. Nesse caso, a Administração pode e deve
terizada muito mais como um verdadeiro esbulho administrativo, uma desapro-
invalidar os atos praticados contra o ordenamento jurídico.
priação indireta do direito já adquirido pelo administrado ao ato administrativo,
do que como uma revogação propriamente dita, que se pressupõe legítima. É la- Importante questão diz respeito ao eventual prazo para o exercício do dever
mentavelmente frequente que ocorram "revogações expropriatórias" de licenças da Administração Pública de invalidar atos administrativos: há os que entendem
para construir, que são atos administrativos vinculados e, assim, insuscetíveis que, em virtude do princípio da legalidade, não há prazo limite, a não ser que
exista previsão expressa e específica nesse sentido (Diogo de Figueiredo Moreira
Neto e Odete Medauar); outros fazem analogia com o maior prazo prescricional,
22. "Mandado se segurança- Nulidade de ato administrativo pela própria Administração que é de dez anos (art. 205 do CC/2002); e há, ainda, os que aplicam, por ana-
- Ilegalidade reconhecida - Violação aos princípios da moralidade e da impessoali- logia e pelo princípio da igualdade, o prazo quinquenal de prescrição das ações
dade- Aplicabilidade das Súmulas 346 e 473 do STE Na aplicação das Súmulas 346
e 4 73 do STF, tanto a Suprema Corte, quanto este STJ, têm adotado com cautela a
orientação jurisprudencial inserida nos seus enunciados, firmando entendimento no
sentido de que o poder de a Administração Pública anular ou revogar os seus próprios 23. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso ele direito administrativo. 17. ed. São Paulo:
atos não é tão absoluto, como às vezes se supõe, eis que, em determinadas hipóteses, Malheiros, 2004. p. 420-l.
hão de ser inevitavelmente observados os princípios constitucionais da ampla defesa e 24. Lei 9.784!1999: "Art. 2. 0 A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos prin-
do contraditório. Isso para que não se venha a fomentar a prática de ato arbitrário ou cípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, morali-
a permitir o desfazimento de situações regularmente constituídas, sem a observância dade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
do devido processo legal ou de processo administrativo, quando cabível. Provimento Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
do recurso ordinário" (STJ, RMS 10.673/Rj, l.aT., Min. rei. Francisco Falcão). A única critérios de: (. .. ) XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor
ressalva que se faz ao acórdão é que ele parece confundir as figuras da anulação com garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de
a da revogação. nova interpretação".
64 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 65
0
judiciais contra a Fazenda Pública (art. 1. do Dec. 20.910/1932), sendo este A Administração Pública pode, segundo Diogo de Figueiredo Moreira
o entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro e José dos Santos Carvalho Neto, com quem concordamos, sopesar a segurança jurídica e a boa-fé com a
Filho, que tem prevalecido, inclusive na legislação (art. 54, da Lei 9.784/1999, legalidade violada e declarar a nulidade do ato, mantendo, contudo, seus efei-
cuja aplicabilidade direta aos Estados e Municípios é discutível). tos. Para Maria Sylvia Di Pietro, estaríamos, nestes casos, diante do instituto
O decurso do prazo consistiria no que Diogo de Figueiredo Moreira Neto da "confirmação" do ato, pelo qual a Administração Pública decide, diante dos
denomina de "fato sanatório" da nulidade do ato administrativo. 25 valores conflitantes em jogo (aplicação pura e simples da regra jurídica versus
segurança jurídica), manter o ato em si, deixando de declarar sua nulidade.
Quanto aos efeitos temporais da invalidação dos atos administrativos, Hely
Para efeitos práticos, não há diferença entre declarar a nulidade, mas manter os
Lopes Meirelles26 acredita que, como, no Direito Administrativo, todas as nor-
efeitos do ato ou, pelos mesmos fundamentos, deixar de declarar a sua nulidade.
mas são de ordem pública, sua violação sempre leva à nulidade absoluta (retroa-
tiva) do ato, não havendo como se verificar, portanto, a sua mera anulabilidade. Pode-se, também, a depender do caso concreto, chegar a uma solução
Lança mão, portanto, da distinção que existe no Direito Civil entre atos nulos intermediária, de invalidação com efeitos apenas a partir da edição do ato in-
(violadores de normas de ordem pública, nulidade declarável de ofício e com validador ou a partir de quando o particular passou a ter má-fé, conhecendo
efeitos retroativos) e atos anuláveis (violadores de normas disponíveis, devendo o vício do ato administrativo que o beneficiava. Este seria o caso de viúva que
ser requerida e com efeitos ex nunc). percebia de boa-fé pensão concedida por uma lei que, posteriormente, vem a
No entanto, a atual doutrina administrativista, em sua grande maioria, en- ser declarada inconstitucional em AD!n. A consequente invalidação adminis-
tende que, em atenção ao princípio da segurança jurídica (principalmente nos trativa do ato concessivo da pensão deveria gerar efeitos a partir da publicação
casos em que houver decorrido um grande lapso de tempo desde a prática do do acórdão da AD!n, quando a viúva teria tomado conhecimento do vício. A
ato até o momento em que se pretende invalidá-lo) e à boa-fé dos administrados, partir de então ela teria inclusive que devolver as quantias inconstitucional-
em alguns casos deve-se admitir a manutenção dos efeitos do ato administrativo mente percebidas, mas as quantias anteriormente pagas, ainda que constitucio-
ilegal. Pensemos, por exemplo, numa licença para construção, que se descobre nais, seriam respeitadas 28
ilegal após vários anos que diversas famílias já habitam o local, muitas delas até Trata-se de ponderação entre a necessidade de cumprimento dos preceitos
mesmo terceiros adquirentes de boa-fé. legais e o princípio da segurança jurídica, que também tem sede constitucional
Em nossa opinião a questão é de "modulação temporal dos efeitos da de- (legalidade ampla), que, à vista do caso concreto, pode levar a uma conclusão
claração da nulidade, e não de se aceitar ou não a anulabilidade no Direito pela manutenção de efeitos pretéritos de um ato ao final reconhecidamente
Administrativo". Essa figura na teoria geral do direito visa a proteger tão somen- ilegal.
te direitos disponíveis, em princípio inexistentes no Direito Administrativo. A Portanto, ressalvadas as hipóteses vistas acima de ponderação com a segu-
anulabilidade tem diversas características, conforme enumeradas no penúltimo rança jurídica, a declaração de nulidade do ato administrativo opera efeitos ex
parágrafo acima; a não retroatividade dos seus efeitos é apenas uma delas, a tunc (retroativos) obrigando as partes a repor as coisas ao status quo ante.
única presente nos casos em que os efeitos da declaração da nulidade pela Ad-
ministração Pública têm de ser modulados para proteger a segurança jurídica
de particulares."
28. Veja-se, no mesmo raciocínio, a declaração de inconstitucionalidade de leis que cria-
ram municípios cuja nulidade foi, portanto, declarada pelo STF, mas de cujos efeitos
(de tal nulidade) foram pro traídos para o [uturo. Por exemplo, na ADin 2.240, o Tribu-
25. A opinião dos autores citados neste parágrafo consta de suas obras acima já citadas. nal Pleno do STF, por unanimidade, julgou procedente pedido formulado pelo Partido
26. MEmELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 23. ed. São Paulo: Malheiros, dos Trabalhadores para declarar a inconstitucionalidade da Lei 7.619/2000, do Estado
1998. p. 154. da Bahia- que criou o Município de Luís Eduardo Magalhães, decorrente do desmem-
27. Lembremos, em analogia diretamente pertinente, que atualmente a própria declaração bramento de área do Município de Barreiras-, determinando, contudo, por maioria,
de inconstitucionalidade de leis pode não ter efeitos retroativos, e nem por isso alguém que a vigência de referida lei fosse mantida pelo prazo de 24 meses até que o legislador
ousa sustentar que, nestes casos, a lei era meramente anulável. estadual estabelec~sse novo regramento.
66 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 67
Mas o ato administrativo ilegal não precisa necessariamente ter a sua nuli- depois a intenção subjetiva do agente viciada em razão do seu interesse par-
dade declarada, independentemente dos maiores ou menores efeitos temporais ticular quanto à prática do ato. Ambos são ontologicamente insuscetíveis de
dessa declaração. A Administração Pública dispõe de alguns instrumentos que, correção.
em vez de reconhecerem a nulidade do ato, curam o seu vício e salvam a sua Já diante de um objeto ilegal, estaríamos diante da chamada "conversão",
juridicidade, dentro do princípio da preferencial conservação dos atos jurídicos. que alguns consideram como espécie de convalidação, e outros um instituto
Um dos instrumentos de que a Administração Pública pode se utilizar para autônomo. Pela conversão, a Administração Pública pratica um novo ato (legal)
1nanter um ato ad1ninistrativo inicialmente nulo é a \Çconvalidação", que é a substituindo o anterior (ilegal), com efeitos ex tunc. Assim, por exemplo, a con-
nova prática do ato, sem o vício que originariamente o inquinara, de forma a se cessão de uso de bem público feita ilegalmente sem licitação é convertida em
proceder à sua validação ex tunc. autorização de uso de bem público, para a qual a lei não exige prévia licitação
Alguns autores acreditam que a convalidação é um ato discricionário, ou formal.
seja, que a Administração Pública pode optar por invalidar o ato, ou, então, Não se deve confundir a "convalidação", em qualquer de suas espécies,
por consolidá-lo, doutrina que parece ter sido acolhida pelo art. 55 da Lei do com a "confirmação". Aquela torna legal o ato ilegal, enquanto esta, como vi-
Processo Administrativo ("Em decisão na qual se evidencie não acarretarem mos, não corrige o ato ilegal, mantendo-o tal como foi praticado, mas deixa de
lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem declarar sua nulidade pelo decurso do prazo para que a Administração Pública
defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração"). Já ou- pudesse declarar a sua nulidade. 30
tros, entre eles Celso Antõnio Bandeira de Mello, 29 defendem que, em regra, a
Alguns incluem no conceito de confirmação também a decisão da Admi-
Administração Pública tem a obrigação de convalidar o ato, como imposição
da segurança jurídica, e que isso em nada contrariaria a legalidade, já que a nistração Pública de, mesmo diante de um ato nulo, deixar ele gerar plenamente
seus efeitos, para o passado e para o futuro, por sopesamento com a segurança
convalidação seria uma forma de restaurá-la. Lembramos também que, sendo
a segurança jurídica um princípio da Constituição, também ela integra o bloco jurídica. Como vimos acima, em nossa opinião a nulidade continua sendo de-
clarada, mas apenas os seus efeitos serão obstados para proteger a segurança
impositivo da legalidade ampla.
jurídica dos envolvidos, circunstância sem dúvida especial que deve constar do
A convalidação não pode ser admitida em relação a todos os vícios dos atos
próprio ato declaratório da nulidade.
administrativos, dependendo a sua possibilidade do elemento do ato adminis-
trativo em que ocorreram os vícios. Vale registrar que, ao contrário do que ocorre no Direito Civil, em que a
incapacidade civil e os vícios de consentimento do agente acarretam necessaria-
De forma geral, admite-se a convalidação nos casos de vício de forma e de
mente a invalidade do ato, no Direito Administrativo tal relação- entre vício de
competência, e, nesta última hipótese, estaremos diante da convalidação em sua
consentimento e invalidade- não é imediata. Apenas razões próprias do Direito
modalidade de "ratificação", que só pode ser praticada dentro da mesma linha
Administrativo, ainda que eventualmente decorram do vício de consentimento
hierárquica (pelo superior hierárquico em relação ao ato praticado pelo seu su-
do agente, poderão levar à nulidade. Assim, num exemplo, o auto de infração,
bordinado que não tinha competência para tanto- ex.: um ato de desapropria-
editado sob coação pelo agente público, será anulado apenas se houver, além da
ção praticado por um Ministro de Estado, quando a lei atribui competência para
coação, vício em sua motivação ou se invoca incidência tributária não prevista
editá-lo apenas ao chefe do Poder Executivo, pode ser convalidado/ratificado
em lei como infração administrativa. Outro exemplo: o ato administrativo, in-
com efeitos retroativos por um decreto seu).
teiramente vinculado, que foi praticado por servidor em crise mental, mas que
Quanto ao motivo e à finalidade, não é possível a convalidação, uma vez
que tanto um quanto o outro são irreversíveis. Ou os pressupostos fáticos que
motivaram o ato ocorreram, ou não. Da mesma fonna, não há como se corrigir
30. Tanto a declaração de nulidade (quando feita pela própria Administração Pública, e
não pelo Judiciário) como todos esses meios de "salvamento" de atos administrativos,
também são atos administrativos per se, apenas com a peculiaridade de incidirem sobre
29. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 17. ed. São Paulo: outros atos administrativos. Dessa forma, aplicam-se-lhes todos os elementos e exigên-
Malheiros, 2004. p. 431 a 437. cias expostos em relação aos demais atos administrativos.
68 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO TEORIA GERAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS I 69
se enquadra nos estritos ditames legais, é válido (uma aposentadoria compul- 8.4 Decaimento
sória em razão dos setenta anos do servidor, quando este realmente já comple-
tou setenta anos, continuará sendo válida independentemente da incapacidade Trata-se da extinção do ato administrativo em razão da sua ilegalidade su-
mental do servidor que o editou. Lembremos que, mesmo no caso de o ato ter perveniente: "um ato, produzido validamente, pode tornar-se inválido devido
33
sido praticado por "servidor de fato" - que tem apenas a aparência de ser ser- a uma modificação na ordem legal que lhe retire o fundamento de validade" ,
vidor-, a mencionada concessão de aposentadoria continuaria sendo válida). desde que, naturalmente, tal extinção não fira a segurança jurídica do cidadão,
aí incluída a proteção ao direito adquirido e o ato jurídico perfeito.
Por derradeiro, cabe uma alusão à figura dos "atos administrativos me-
ramente irregulares". Em não havendo prejuízos a particulares ou a interesses Por exemplo, o art. 6. 0 da Lei 9.+37/1997 dava amplo poder discricionário
curados pela Administração Pública, não é porque uma regra foi descumprida à Administração Pública para conceder e manter autorizações para porte de
que se há de falar em nulidade. Como dispõe o velho brocardo, não há nulidade arma. Hoje, com o art. 6. 0 da Lei 10.826/2003, o porte de arma é, como regra,
se não houver prejuízo (pas de nullité sans griej). vedado, salvo para as categorias de pessoas nele enumeradas (ex.: policiais).
Com isso, as autorizações de porte de arma concedidas a pessoas que não se
Esse entendimento também encontra fundamento no art. 55 da Lei de Pro-
encontrem no rol do citado art. 6. 0 foram extintas por decaimento. No caso, não
cesso Administrativo, que institui um verdadeiro "poder-dever" à Administra-
há de se invocar em defesa da manutenção da autorização o direito adquirido,
ção, no sentido de que, sempre que possível, deverão ser mantidos os atos ad-
pois a legislação anterior já deixava clara a sua precariedade.
ministrativos que contenham defeitos irrelevantes que não importem prejuízos
a terceiros: "Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao Há duas espécies de decàimento: pela perda superveniente do seu suporte
interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos normativo e pela perda superveniente do seu suporte fático (ex.: ato de requisi-
sanáveis poderão ser convalidados pela própria Administração" 3I ção administrativa de um remédio raro para tratar de determinado doente que,
no meio-tempo, vem a falecer- com a sua morte, há o decaimento da requisição
Raúl Bocanegra Sierra explica que essa solução decorre do princípio da
administrativa). Interessante a nomenclatura sugerida por Guido Zanobini para
conservação dos atos jurídicos. 32 Poderíamos citar como exemplo um ato de
a hipótese, de invalidade sucessiva, "consistente no desaparecimento de algum
dispensa de licitação por urgência em que toda a fundamentação foi adequada e
dos aspectos de fato, que foram juridicamente necessários para editar o ato ou
específica (narrando a situação emergencial em questão), mas deixou de citar 0
inciso legal que contempla a hipótese, quando na praxe administrativa e do seu que influenciaram no sentido de que fosse editado".
controle todos já sabem tratar-se do inc. IV do art. 24 da Lei 8.666/1993. A doutrina não diverge quanto à extinção do ato administrativo em ambas
as hipóteses (perda do suporte normativo e perda do suporte fático), embora
utilize nomenclaturas diversas: decaimento, espécie peculiar de revogação, ca-
8.3 Cassação
ducidade, desaparecimento, esgotamento ..."
É a modalidade punitiva de extinção do ato administrativo, que ocorre Diverge a doutrina, no entanto, a respeito de se a extinção pelo decaimento
quando o particular por ele beneficiado descumpre um dos requisitos que se dá antomaticamente, pela própria lei ou a insubsistência do fato que servira
condicionaram a expedição do ato. Assim, o desfazimento de licença para cons-
truir por inobservãncia do projeto submetido pelo particular e aprovado pela
Administração Pública é exemplo de cassação do ato administrativo.
33. no AMARAL, Antônio Carlos. Extinção do ato administrativo. São Paulo: Ed. RI,
CINTRA
1978. p. 54. Hâ autores tambêm que, para essas hipóteses, adotam a nomenclatura
de revogação ou de caducidade do ato administrativo. Não concordamos com essas
31. Note-se que no dispositivo a lei estende o instituto da convalidação aos atos mera- nomenclaturas, pois a primeira deve ser restrita à relação entre leis no tempo, não
mente irregulares, quando a doutrina construiu a figura da convalidação em relação entre estas e atos jurídicos de distinta natureza; e esta ou equivale à decadência ou nas
aos atos nulos. Tradicionalmente as meras irregularidades não precisam de um outro concessões tem caráter de extinção punitiva.
ato admi~istrativo para que elas fossem relevadas. Com esse dispositivo legal, se lite- 34. Para um inventário dessas posições, ver Fábio Mauro de Medeiros. Extinção do ato
ralmente mterpretado, essa necessidade já passa a ser defensável. administrativo em razão da mudança de lei (decaimento). Belo Horizonte: Ed. Fórum,
32. SIERRA, Raúl Bocanegra. La teoria del acto administrativo. Madrid: Iustel, 2005. p. 200. 2009. p. 95 a 113.
70 I os CAMINHOS DO ATO ADMINISTRATIVO
um ato administrativo declaratório (não uma extinção ipso jure) com efeitos E ATO DA ADMINISTRAÇAO:
retroativos à data da entrada em vigor da lei que o extinguiu."
EXISTE AINDA ALGUM SENTIDO
NESTA DISTINÇÃO?
RESUMO: O texto visa a discutir se atualmente ain- AasTRACT: This paper discusses if the difference
da há sentido na tradicional distinção entre atos between admistrative acts and acts from
administrativos e atos da administração, con- the Administration still being valid this days,
cluindo pela superação dessa distinção. concluding it is not.
PALAVRAS-CHAVE: Ato Administrativo- Ato da Ad- KEYWORDS: Admistrative Act - Act from
ministração- Classificação. Administration- Classification.