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Explicação do Credo
CREIO!
A palavra “creio” com que se inicia o “Credo dos Apóstolos”, expressa uma relação
de con ança e de amor entre o homem e o seu Deus. A fé é de facto uma relação entre
um “eu” e um “Tu”, uma ligação de aliança. De uma parte, está Deus que se revela e se
avizinha do homem; de outra, há a pessoa humana que se volta para Deus para acolhê-l’O
na própria vida. A fé é como o amor: exige a adesão pessoal de acreditar, a capacidade de
relacionar-se, a vontade de entregar-se livremente nas mãos do Absoluto. Se Deus é o
meu “Tu”, não posso fazer outra coisa que dizer-lhe: Eu creio em Ti, con o em Ti, e me
entrego a Ti, pois não tenho nada fora de Ti (ecce 89)
CREIO EM DEUS
Creio em Deus, quer dizer: con o em Deus, entrego-me a Deus, Aquele que é a fonte
do bem, do amor, da felicidade, da realização. Ele que gosta de mim e deseja que eu viva
unido a Ele, participe da sua vida, felicidade, amor, realização, mas também no seu
dinamismo de doação, magnanimidade, misericórdia e fecundidade. Este Deus é
comunidade trinitária, Pai, Filho e Espírito Santo e associa-me, sempre mais, a essa
comunhão divina na medida em que eu respondo ao seu amor e cumpro a sua vontade
(AP).
DEUS PAI
O especí co da fé cristã é que Deus se revelou como pai. É por revelação, e não por
descoberta, que o Ser absoluto e transcendente, procurado pela aspiração religiosa de
todos os povos, toma o nome de Pai. Que exista Deus, isso é evidente; mas que seja teu
Pai: eis o mistério desconcertante para acreditar e para viver… Não te podes chamar
cristão, seguidor d’Aquele Cristo que não veio com outra nalidade, senão a de revelar o
Pai e reconciliar-nos com Ele (L.Picco, Credo e cosi sai. Ed. Ancora)
PAI TODO PODEROSO
Confessar que Deus é o “Criador do céu e da terra” é reconhecê-l’O não só como
Senhor da História e único autor da vida. Mas também Aquele que a conserva e a
defende. Todo o atentado às criaturas (suicídio, homicídio, violência…) é um acto contra
Deus, um crime de “lesa majestade”. O Senhor nos entregou a criação para que servisse
ao bem de todos; de nós espera amor pela vida, o respeito por todos os seres, o empenho
pela salvaguarda do criado, a colaboração com a sua providência. A Bíblia não explica
como Deus criou o mundo, essa é uma tarefa que cabe à ciência.
Reconhecer Jesus como “Filho de Deus” não é fruto de raciocínios humanos,
mas dom da graça de Deus (Mt 16,17). Foram os encontros com Jesus ressuscitado que
deram aos discípulos a luz e a alegria da fé; abriram para eles um horizonte para além do
visível e do veri cável com os sentidos humanos.
Também nos foi dada a fé que nasce e se desenvolve com a assídua escuta da
Palavra e com as graças do Espírito Santo nos nossos corações. Para nós foi escrito no
Evangelho: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo
aquele que acredita n’Ele não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16; cf 1 Jo 4,9-10)
Há um elo de ligação profunda entre o Espírito Santo e Maria, entre o Espírito
Santo e Jesus. Foi por meio do Espírito Santo que Maria cou grávida e se tornou mãe; por
meio do Espírito Santo o Filho de Deus foi concebido no seio de mulher e nasceu feito
homem. A virgindade de Maria não foi obstáculo ao poder de Deus; pelo contrário, a
virgindade de Maria é a garantia que “o que nasceu dela é fruto do Espírito Santo”,
porque “a Deus nada é impossível”.
Aquela que introduziu na humanidade o Filho eterno de Deus não poderá nunca ser
separada d’Aquele que se encontra no centro do desígnio divino concretizado na
história… Ela é o caminho que conduz a Cristo: de facto, aquela que “ao anúncio do anjo
acolheu no coração e no corpo o Verbo de Deus” (LG 53), nos mostra como acolher na
nossa existência o Filho descido do céu, educando-nos a fazer de Jesus o centro e a “lei”
da nossa existência…
Entre estes dois personagens há uma palavra que os separa e os une: padeceu. De Maria
o nascimento, de Pilatos a morte; entre o nascimento e a morte, mais de trinta anos que
o credo parece resumir numa só palavra: padeceu. De facto o nome de Maria que lembra
a Encarnação de Deus, não nos recorda que a paixão começou no presépio? Jesus “apesar
de ser de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus, mas
despojou-se a Si mesmo tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos
homens” (Fil 2,6-7). E semelhante aos mais pequenos, aos mais pobres, colocado ao canto
de uma estrada em Belém, deportado para longe de Nazaré… O nome de Maria lembra
esta paixão desde a infância, como aquele de Pilatos lembra a paixão da morte. Toda a
vida de Cristo é uma subida até Jerusalém, até ao Calvário (Rey-Mermet - A fé explicada
aos jovens e adultos)
FOI CRUCIFICADO
Porque é que Jesus se deixou matar na cruz? S. Paulo é quem nos dá a resposta:
Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, ao fazer-se maldição por nós, pois está escrito:
Maldito seja todo aquele que é suspenso no madeiro. Isto, para que a bênção de Abraão
chegasse até aos gentios, em Cristo Jesus, para recebermos a promessa do Espírito, por
meio da fé (Gal 3,13-14). Peçamos fé para compreender melhor o mistério da cruci xão;
rezemos para que o escândalo da cruz se transforme em nascente de salvação para todos
os povos e torrente de novas vocações para o anúncio do Evangelho.
MORREU SEGUNDO AS ESCRITURAS
Desde sempre fomos habituados a ver na cruz apenas uma pessoa divina, aquela do
Filho feito homem e cruci cado, como se a cruz fosse somente “sua”… Mas no mistério
que aí se cumpre, a fé do Novo Testamento vê a obra de toda a Trindade. Na paixão de
um dos três é a Trindade que revela o seu amor misericordioso, oferece a sua comunhão
eterna de vida, liberta a humanidade do peso esmagador do pecado e da morte,
reconcilia consigo toda a humanidade hostilmente alienada. A cruz do Filho é a revelação
insuperável do amor trinitário e a sua demonstração comovente. É o ícone dilacerante do
amor apaixonado do Pai-Filho-Espírito que foi até aquele ponto no amar-nos (cf 1 Jo 4,10;
Rm 8,31) (F. Duci).
Cristo morreu e foi sepultado (1 Cor 15,4-5). É importante a rmar que Jesus foi
sepultado. A sepultura diz, antes de tudo, que Jesus foi um verdadeiro homem, um
homem de carne e osso, um ser verdadeiramente “incarnado”, e que morreu
verdadeiramente. Sendo sepultado Jesus compartilha totalmente a condição humana,
“experimentando a morte” (Heb 2,9) e também o sepulcro.
Depois de morto, Jesus foi até junto dos mortos como salvador; foi levar-lhes os
benefícios da sua morte redentora: “Foi anunciada a boa nova também aos mortos” (1 Pd
4,6). Os justos de anteriores gerações obtiveram a perfeição (Heb 12,23) e foram
introduzidos no santuário celeste atrás de Cristo morto e ressuscitado. Esta verdade de
fé resume-se nas três seguintes a rmações: Jesus foi verdadeiramente morto; a sua
morte redentora tem valor salví co para todos os homens, também para os que viveram
antes d’Ele; Jesus no seu encontro com os justos já mortos, comunicou-lhes a plenitude
da comunhão com Deus. Assim, a descida à mansão dos mortos, mais que sujeição à
morte, foi vitória sobre ela.
A Ascensão foi a etapa nal da vida terrena do Filho de Deus feito homem. Ele
subiu para o Pai, donde tinha vindo. A partir daquele momento, com o seu corpo
ressuscitado, entrou de nitivamente no mundo de Deus e tornou-se “O vivente”, o dador
de todo o bem, o único mediador entre o Céu e a terra. A Ascensão não foi, portanto, um
simples episódio da vida de Jesus, foi a meta de nitiva do seu caminho e da sua doação
como Messias, e indica também o destino nal a que somos chamados. Para Jesus
elevado ao Pai, deixaram de existir os limites do espaço e do tempo, Ele passou a poder
car em perfeita comunhão com as pessoas de todos os tempos e lugares, e a oferecer a
plenitude de Deus a quantos acreditam n’Ele.
Quando a rmamos que Cristo como Senhor está “sentado à direita do Pai”,
a rmamos a nossa fé que, apesar do pecado humano e de todas as suas consequências,
Deus é e será vitorioso sobre todas as forças do mal e sobre a própria morte. Por m
todos os poderes e todos os chefes do mundo serão submetidos à sua soberania (cf Mt
20,20ss). O Senhor Jesus, exaltado pelo Pai, actua no mundo, também fora da Igreja, por
amor do seu Reino. Isto ampara e reforça a nossa con ança no desenvolver a tarefa
missionária da Igreja de anunciar a soberania de Cristo a todo o mundo… Os cristãos
proclamam que as forças da morte e do mal foram vencidas e que Cristo agora reina com
o Pai (CEC, Confessare una sola fede,180.183,EDB).
Todos devemos comparecer diante do tribunal de Cristo, cada um para receber a
recompensa das obras realizadas enquanto estava no corpo, tanto no bem como no mal
(2 Cor 5,10). É o juízo de nitivo, que para as pessoas singulares acontece ao terminar a
vida terrena (Juízo particular) e para o género humano, no seu conjunto, no m da
história (Juízo universal).
A vida para além da morte não é indiferenciada, mas é feliz para os justos e infeliz
para os malvados. Isso é bem expresso na Bíblia (Lc 16,19-31; 2 Cor 5,6-8; Lc 23,43)
Cristo pode remir de todo o pecado os que acreditam n’Ele. “Não existe nenhuma culpa,
por mais grave que seja, que não possa ser perdoada pela Santa Igreja(CIC 982). Se não
fosse esta remissão, viveríamos sem esperança. A remissão dos pecados revela-nos que
Deus não se resigna perante o pecado, pois, em Cristo, nos escolheu para sermos seus
lhos, e está empenhado em nos libertar de tudo o que impede que sejamos “santos e
irrepreensíveis” (Ef 1,4)