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(Alma Mater Books & Records)


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World of Metal
Website
worldofmetalmag.com

Facebook
@Worldofmetal

Contactos
dungeons.records@gmail.com

Director
Fernando Ferreira

Colaboradores EDITORIAL
Miguel Correia
Sónia Ferreira
Cátia Godinho Mais um passo
Carlos Magalhães
Cameramen Metálico
Olhamos para os nossos heróis e dizemos como gostaríamso estar nos seus sapatos. A
Carlos Lichman
riqueza, a fama ou simplesmente ser respeitado por todos. E é nesse momento em que
Paulo Barros devemos pegar num pau e dar na nossa cabeça até ganharmos juízo. Estamos sempre a
Luís Figueira cobiçar o que é dos outros e a não valorizar o que é nosso, o que somos. E isso acontece,
Filipa Nunes e muito, até no nosso mundo do metal. Tocar um instrumento, estar numa banda, ter
Renata Lino um bar, organizar concertos, organizar festivais, até ter um site, rádio e/ou uma revista,
Fátima Inácio impressa ou não. Tudo coisas que são fáceis de invejar. Fáceis porque para invejar (ou
criticar) não custa nada. Como não custa, pensamos que os outros têm a vida facilitada.

Garage World Não é fácil dar vida aos nossos sonhos. Começar é complicado mas é na manutenção que
se testam os nossos limites. Quantas bandas não acabaram, músicos desistiram, festivais
Miguel Correia deixaram de existir, bares fecharam ou revistas fecharam as portas? A nossa primeira
mcinbox@gmail.com pergunta (e sim, estou a incluir-me no rebanho) é sempre "porquê? Era tão bom, faz
tanta falta, etc, etc." A resposta, seja em que situação for, invariavelmente é: "Porque
Publicidade não há nada que se mantenha vivo sem que seja acarinhado" Porque é que algumas
bandas que andam a tocar para salas vazias uma vida inteira ganham interesse quando
Tiago Fidalgo - tiagofidalgo.wom@ a mesma acaba? Porque só damos valor às coisas quando não as temos. Só damos valor
gmail.com às pessoas quando elas já cá não estão. E só acordámos quando não há nada a fazer.
Rosa Soares - worldofmetal.pub@ Quantas pessoas não reclamavam pela falta concertos neste ou naquele bar ou desta ou
gmail.com daquela banda mas depois só saiem de casa quando os Iron Maiden ou Ozzy Osbourne?
Ou que fazia falta mais uma revista de música - mas as que existem lutam para sobreviver
Design porque cada vez vendem menos?

Dina Barbosa Não quero com isto dizer que tem que se obrigar as pessoas a fazer o que não querem.
Tiago Fidalgo Apenas que pensem antes de se queixarem ou de querer estar na posição deste ou daquele.
Não é fácil manter sonhos vivos e se só nos lembramos deles quando não temos, nunca
vamos passar de papagaios que falam muito mas nunca têm acções a comprovar a sua
oratória. Apoiem a cena, vão aos concertos e vivam os ambientes fantásticos dos grandes
eventos que temos todo o ano, como o fantástico Vagos Metal Fest do qual ainda estamos
a recuperar. Porque existem muitos músicos, muitas bandas, muitos promotores, muitas
revistas, rádios, jornalistas, fotógrafos a trabalhar (e na maior parte das vezes sem receber
nada em troca) para todos vós/nós. A perseverança de grandes senhores como o U.D.O.
dá-se sobretudo porque o amor dos seus fãs permite. Somos todos nós. E só é preciso
só mais um passo. Apoiem. Estejam presentes. Façam parte do sonho. É nosso. É vosso.

Fernando Ferreira – Agosto 2018

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Indice

6 - Sempre A Partir 44 - Primal Fear


7 - Teias de Aranha - Cameraman Metalico 50 - Mayan
8 - Estate 56 - U.D.O.
10 - Torture squad 62 - Garage world - Mercic
12 - Deathless legacy 64 - Metal Business - Carlos Lichman
16 - Hatefulmurder 65 - stories from the attick - Luíis Figueira
18 - Blitzkrieg 66 - Golden years - Luíis Figueira
20 - 11th dimension 67 - Artwork Insights - Augusto Peixoto
22 - Omnium Gatherum 79 - Top 20 1967
24 - The making of - Paulo Barros 73 - Reviews
26 - collapse of light 86 - ÁAlbum do Mêes
28 - otep 88 - Máaquina do Tempo
36 - Deicide 90 - WOM Live Report
39 - Fernando ribeiro (Alma Mater) 110 - agenda
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Foto na Contracapa por Sónia Ferreira
Este espaço pode ser teu em todas as edições da
nossa revista. para mais informações contacta-nos:
Worldofmetal.pub@gmail.com
Tiagofidalgo.wom@gmail.com

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Sempre A Partir

Por Conan, o Barbeiro

Parece que as minhas queixas em relação aos telemóveis surtiram efeito. Ahahaha! Boa piada, certo? Por vezes
sabe bem deitar cá para fora um pouco de arrogância que não tem qualquer apoio na realidade. No entanto, ainda a
recuperar dessa grande odisseia que foi o Vagos Metal Fest, foi muito bom olhar para trás e verificar que após me
ter queixado no mês passado da quantidade absurda de telemóveis em riste que existem nos concertos actualmente,
dificuldando um pouco a visualização para quem prefere ver o espectáculo sem filtros electrónicos como aqui o
vosso amigo, a quantidade de pessoas a praticar a modalidade eram enormemente menor em comparação com
os concertos que tivemos oportunidade de comparecer. Foi bom reparar que apesar de algumas pessoas que
ocasionalmente registavam o momento através dos seus telemóveis e/ou máquinas fotográficas, essa não foi uma
tendência esmagadora quer por todos, quer na duração do concerto. E é apenas o maior festival de rock/metal do
país - não estamos a contar obviamente para esta classificação qualquer outro tipo de festival massificado que
apesar de trazerem algumas bandas rock, esmagadoramente a tendência musical é outra. E obviamente também não
contamos com festivais que apesar de terem rock no nome... não têm nada a ver com o rock - às vezes até pensamos
que aquele nome atrapalha para quem está a organizar.
Bem, considerações estilísticas aparte, a verdade é esta: muitos menos telemóveis no ar do que noutros concertos
que vimos. E sem pensar muito - até porque há muito a fazer e não há realmente férias deste lado - a conclusão que
chegamos é simples: Temos um público diferente. Quem foi ver Cradle Of Filth e Suicidal Tendencies (apenas para
citar dois exemplos dos muitos excelentes concertos que pudemos apreciar em Vagos) estava mais interessado em
curtir o som do que estar propriamente interessados em registar o momento para a sua imensa galeria que se perde
quando mudam de telemóvel ou quando precisam de espaço. Mais uma vez digo, não é que não tenham havido
esses mesmos registos mas não podemos comparar com o que se viu nos concertos de Ozzy, Kiss ou Iron Maiden.
Já vi conferências de imprensa com menos disparos por pessoa do que nestes concertos.
Público diferente. Muito diferente? Mais ou menos. Público que só sai de casa nos grandes eventos? Talvez, nunca
temos como saber mas é o que apetece concluir. Alguém que já está tão desfasado do que é um concerto de rock ou
metal que tem que mostrar a todos como grande maluco/a que é e precisa de provas. Precisa de provar perante todos
os seus contactos do Facebook que esteve lá, nem que para prova sirvam fotos tremidas, vídeos manhosos onde se
ouve mais a sua própria voz do que a música. Marcar a presença. É importante marcar a presença. Nesta sociedade
que temos hoje em dia, comunicação é extremamente importante, tão importante que supera até aquilo que se quer
comunicar. É mais importante mostrar e provar que se esteve no concerto dos Iron Maiden (que foi brutal e talvez
o melhor de sempre em terras lusitanas, embora este tipo de afirmação seja sempre discutível) do que propriamente
APROVEITAR e CURTIR estar num dos maiores concertos da banda britânica.
Comunicação é tudo, faz parte do Marketing para tudo hoje em dia. Nós aqui na World Of Metal já aceitámos
que temos que nos ceder a esse bicho papão - embora confesso que muitas das vezes estamos simplesmente a
borrifar pelas tendências. Para quê? Quem quer qualidade vai atrás dela, quem não quer abre os olhos e a boca
e come aquilo que lhe é enfiado pela goela abaixo. Como os vídeos de concertos no Facebook. Terá assim tanta
importância registar um concerto que será esquecido (pelos outros que não foram e em muitos casos por quem foi)
mais tarde ou mais cedo? Será sempre uma questão de perspectiva.
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PHIL MENDRIX/FILIPE MENDES
10NOV1947-13AGO2018 RIP
Tocou o telefone e do outro lado falou o António Sérgio: "António temos aí um guitarrista que veio do Brasil,
chama-se Phil Mendrix, podes fazer umas fotos dele?" Foi assim que o conheci, na altura fotografava para a
Rock Power, salvo erro as fotos nunca sairam porque entretanto a magazine acabou, mas a figura carismática
do Phil marcou-me. Depois disso fotografei-o muitas vezes, com os Ena Pá 2000, com os Irmãos Catitas, e até
como convidado de outras bandas...
Nasceu assim a nossa amizade e respeito mútuo. Estive a milímetros de o ver com a sua Heavy Band quando
abriram para os Atomic Rooster na Cova da Piedade, sei o seu percurso com os Chinchilas, com os Charruas,
com os Roxigénio e até a sua carreira a solo.
O Phil era uma pessoa muito especial, um ser humano daqueles que dá gosto conhecer, tinha uma maneira muito
própria de viver a sua vida, e ainda uma maneira muito própria de tocar guitarra. A guitarra eléctrica nas suas
mãos parecia que mudava de estrutura e ficava endiabrada. Quem viu o documentário sobre a sua vida pode
acreditar nestas palavras... era único!
Foi com tristeza que recebi a noticia da sua doença,
mas diziam-me que estava a fazer quimio e se safava...
acreditei... Quando no Museu de Almada me disseram que
o iamos entrevistar, fiquei contentissimo e até inventei
uma foto de que gosto muito, ele de máquina fotográfica,
eu de guitarra... Guardo com carinho todas as suas fotos,
a recordação da sua alegria de viver, e a mensagem que
escreveu no meu livro de autógrafoa "para um fotógrafo
louco, de um músico que ainda procura um pouco de
loucura. Que esse espírito te acompanhe sempre em nome
do momento que fica gravado para que se possa viver 2
vezes - Grande abraço de grinaldas sonoras - Phil Mendrix".
Vai ser dificil esquecer-me de ti... Descansa em paz e um
dia voltaremos a abraçar-nos.

CM Setembro 2018

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eNTREVISTA

A World Of Metal tem o gosto em apresentar os Estate, uma banda de metal russa que se destaca
neste ano de 2018 com o seu segundo disco, o magnifico “Mirrorland”, um trabalho dentro de uma
linha sonora do género power metal épico, já com review aqui na nossa revista. Vadim, baixista da
banda, Petr, guitarrista e Iliand, vocalista, foram os nossos interlocutores, nesta aventura que vem de
leste e assim quisemos saber muito daquilo que está por detrás da história da banda...
Miguel Correia

Assim, a antes de mais de promoção e pode caminho, sem dúvida. O um fogo. Quanto mais lá
os nossos parabéns pelo facilmente ajudar a alcançar Klaus Meine, há tempos deitares, com mais força
vosso disco, um enorme um outro nível. Aqui na também falou sobre isso. o fogo queima. É sempre
lançamento. Rússia é muito difícil. Há raras excepções, é claro, agradável ouvir boas
Estamos contentes que as como Rammstein ou Psy, palavras sobre o teu trabalho,
Vadim - Olá! Wow, muito editoras ocidentais estejam mas, tens de ter então outros especialmente quando da-
obrigado! É muito bom interessadas em nós e que elementos que te ajudem a mos tudo num projecto.
ouvir isso! Sabe sempre bem queiram cooperar connosco. chegar à onda musical certa. Já recebemos muitas boas
esse reconhecimento... Ficamos satisfeitos com críticas e isso significa que
"Mighty Music" no primeiro Pelo que vou percebendo pela estamos a ir pelo caminho
É o vosso segundo álbum álbum e decidimos continuar leitura que faço na internet, certo. Aqui gostaríamos de
lançado também pela nosso acordo com o segundo. principalmente, este trabalho agradecer a todos pela força
dinamarquesa Mighty tem recebido críticas muito que nos tem dado.
Music. Esta opção de usar Cantar em inglês também favoráveis. Um grande
uma editora mais ocidental continua a ser uma forma incentivo, as coisas não Iliand - Muitas pessoas
é uma aposta com que de abrir portas para outros podiam estar a correr melhor? dizem-nos que gostam muito
objetivo? Ir mais longe mercados? da nossa música e que as
possível na divulgação? Vadim - Comentários favo- ajudou a resolver algumas das
Vadim - Absolutamente! ráveis são sempre muito suas experiências internas.
Vadim - Sim, a colaboração O inglês é a linguagem da importantes para qualquer Sabes, é muito bom saber que
com selos europeus oferece- música. Se queres ser um músico. Grandes feedbacks tua música, o teu trabalho age
nos grandes oportunidades sucesso, tens de ir por esse são como combustível para como um remédio...
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O primeiro single, "Winter sombrias. Dmitriy é um grande se resume a uma simples troca
Kingdom", uma faixa incrível, admirador das obras de um escritor de correspondência, escrevemos-
que se transforma num americano, Glen Cook, e escreveu lhe uma carta para e enviamos
vídeoclip queem apenas um mês para este álbum três músicas sob juntamente com algumas das
atingiu 30.000 visualizações sua influência. nossas demos, pedindo para darem
no YouTube... outra conquista a opinião e dizer se eles estariam
fantástica? Como vocês definem interessados em participar na
"Mirrorland"? gravação. Felizmente tudo correu
Vadim - Obrigado! Bem, para bem, ficaram encantados com a
grandes artistas isso é modesto, claro, Petr - Eu acho que todos os nossa música e concordaram de
mas para novatos como nós é um metalheads vão revelar muito bom grado. Eles gravaram tudo
bom resultado, pelo menos...será. interesse por “Mirrorland”. Tem com facilidade e rapidez. Nós só
Esse foi apenas o nosso primeiro um leque de músicas cheias de temos opiniões positivas. Nós
vídeo e esperamos que o próximo matirudade e pesadas, baladas gostaríamos de fazer algo parecido
seja ainda mais bem-sucedido. épicas, músicas de ritmo médio, com outros músicos no futuro.
e também algumas músicas algo
Esta deveria ser a primeira incomuns, que não podem ser Como é para uma banda como os
pergunta, mas, ok, faz de conta descritas como apenas um género Estate, vinda de um país onde a
que assim o é...para quem não vos musical. De um ponto, este álbum tradição do heavy metal não tem
conhece quem são os Estate? é versátil e do outro, há algo que grande peso, tudo pode ser mais
combina tudo isso tornando tudo. difícil? O que vocês acham?
Vadim - (risos) Somos banda
composta por quatro elementos Vadim - Olha, é difícil dizer, muito
e temos um quinto elemento de
sessão que é o nosso baterista.
"O facto é que a música mesmo... Há uma opinião de que os
músicos por aqui estão numa fase
Temos tido um grande problema
em encontrar bons músicos para
rock no nosso país de ascensão, mas, por outro lado,
nos últimos 30 anos, nenhuma das
o nosso estilo, lá para os nossos
lados. Mas pronto, olha, esta é a
não está a prosperar e, nossas bandas alcançou grandes
conquistas no Ocidente. Existem
nossa vocalista Iliand Ferro, que
tem uma voz poderosa e incrível,
consequentemente, o várias bandas muito boas no nosso
país, mas elas são pouco conhecidas
o nosso guitarrista Petr Filevsky
- Mr. fast fingers, nosso teclista
nível de músicos também no Ocidente. O facto é que a
música rock no nosso país não está
Dmitriy Mauzer, outro talentoso
músico e, claro, eu, baixista...
é fraco. " a prosperar e, consequentemente,
o nível de músicos também é fraco.
Isso cria algumas dificuldades. O
Iliand - Somos todos pessoas muito Vadim - Huumm torna-se território da Rússia é muito grande
diferentes. Nós temos diferentes difícil falar, todas as músicas e as distâncias entre as cidades são
visões da vida. Cada um de nós são boas para nós e é difícil gigantescas. É muito difícil sair em
é único no seu caminho, e talvez, escolher. Todos elas têm uma turné pelo país com shows, porque
tendo-nos encontrado na rua, algo natureza e individualidade muito é preciso muito dinheiro e tempo,
do género, olá tudo bem, nunca especiais. Se gostas de algumas mas a experiência de tocar é
tivemos sequer a oportunidade músicas de metal, eu recomendo necessária! E, claro, também é caro
de nos conhecermos melhor até "Mirrorland", "Lady Wind" e "The ir à Europa para shows, já que a
chegar aqui, mas agora queremos Ghoul". Se você estiver mais em economia do nosso país é terrível.
algo novo no nosso caminho, na melodias épicas verdadeiramente Então, infelizmente, estamos em
nossa música. Nós gerimos o nosso monumentaisentão ouves "Storm um impasse neste momento.
negócio em comum e é o nosso of the Age". Por fim se gostas de
caminho. músicas mais obscuras de ritmo Então, tudo complicado com a
médio, tens "Springtime". Este vossa agenda?
Quais são as vossas influências disco é único porque todos podem
musicais? encontrar uma música para a alma. Vadim - Pois e além do que te falei,
estamos com alguns problemas
Vadim - Nós ouvimos muitas Como foi trabalhar com com a saúde do nosso guitarrista
coisas diferentes e isso ajuda-nos a Mats Leven (Therion, Treat e também pelo nosso trabalho
tornar o nosso som mais eclético e e Candlemass) e Mark Boals principal não nos permitir sair
a criar a nossa própria identidade. (Y.Malmsteen, Royal Hunt e Ring numa tourné agora - estamos com
Na verdade, crescemos a ouvir of Fire)? Já agora, como surgiu um horário de trabalho muito
Manowar, Helloween, Symphony essa oportunidade? apertado, então, infelizmente, não
X, Blind Guardian, Scorpions, é possível organizar uma turné
Accept e muitas outras bandas Vadim - Isso foi demais! adequada. Queremos tentar fazer
fantásticas. No contexto lírico Estamos felizes por termos tido a isso para o outono ou o final do
agarramos em temáticas pagãs e oportunidade de fazer um trabalho ano. O mais importante é que a
sociais, e místicas - fantasia e algo com músicos de tão alto nível. Tudo estrela da sorte esteja connosco.
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eNTREVISTA

O Brasil unca desilude no campo do death/thrash metal e os Torture Squad já são uma referência
há muito, muito tempo. Actualmente a banda está a viver uma das suas melhores fases de sempre,
principalmente desde a entrada do guitarrista Rene Simionato e da impressionante Mayara Puertas,
que tem um poder vocal de impôr respeito até ao chifrudo tinhoso. "Far Beyond Existence" é o
último álbum da banda, lançado o ano passado e reeditado no presente ano pela Brutal Records, e
é também o motivo pelo qual procurámos saber mais sobre eles. Do outro lado fomos recebidos por
Casto, baixista e vocalista, membro fundador dos Torture Squad.
Fernando Ferreira

Olá Castor e bem vindo banda lutou muito pra os dias de hoje! ao vivo “Coup D'État”,
a este World Of Metal! poder sobreviver e seguir como um power trio na
Parecendo que não, os em frente em busca do Ao longo dos anos têm época, quando Amilcar
Torture Squad já têm nosso objetivo. Amilcar solidificado a vossa e eu sentimos vontade da
quase trinta anos de Christófaro e eu somos posição com uma das banda voltar a sua origem
carreira. É obra! Muita os únicos remanescentes mais interessantes como quarteto . Eu já
luta e sacríficio para da formação original, propostas de thrash/ conhecia o trabalho da
manter a banda aposto. que consideremos a death metal vindas do Mayara na antiga banda
Sabendo que não têm partir de nosso primeiro Brasil dos últimos anos, dela banda chamada
membros originais na demo tape A soul in hell no entanto, na minha Necromesis e, também
formação, como é que lançado em 1993. Nós opinião, desde a entrada já tinha visto a sua
comparam os primeiros sempre lutamos e nos de Mayara na voz estão performance ao vivo com
tempos com os actuais? dedicamos ao máximo mais fortes que nunca. eles. Achamos que ela se
para ter nosso espaço na Como é que chegaram encaixaria perfeitamente
Muitíssimo obrigado cena underground, desde até ela? a nossa banda.
pelo espaço cedido aqui nossos primórdios! Posso Conversamos com ela e
para nós! Sim, nesses dizer com toda certeza Nós estávamos no meio ela aceitou o convite. Ela
vinte e cinco anos s que isso não mudou até da tour do nosso album tem a característica de voz
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que se encaixou perfeitamente digressões no exterior, Europa, mais universal. Mas uma ou
ao nosso estilo. EUA, Japão, até onde pudermos outra musica pode ser em
alcançar! português ou em outra língua
O vosso último álbum, “Far dependendo da nossa intenção
Beyond Existance”, é um com a mesma.
grande petardo de death/
thrash metal. Como é que o
"Não basta ficar A cena brasileira, na minha
sentem agora que já passou
quase um ano desde que
sentado a reclamar opinião, é riquíssima em
termos de criatividade,
o lançaram? Continua a
representar o que são?
apenas da sua cena nomeadamente na música
extrema. É unida? Há uma
O "Far Beyond Existence" tem
repercutido muito bem tanto musical e não fazer união no Brasil ou mais
concretamente em São Paulo,
aqui no Brasil como no resto
do mundo! Fizemos turnês nada, para mudar a a vossa cidade?

no Brasil e América do Sul e


até o momento e tivemos uma situação. Tem que se Existe união sim, entre bandas
profissionais e guerreiras que
ótima aceitação! A reacção do vivem e respira sua banda 24h
público em relação às músicas
ao vivo têm sido boas, elas
batalhar em busca do por dia! Bandas como Krisiun,
Ratos de Porão, Sepultura,
estão a ser bem aceites! Sim, ele
traz a origem do Torture Squad
seu objetivo!" Claustrofobia e as meninas
da banda Nervosa que estão
perfeitamente até os dias de a arrasar pelo mundo fora, a
hoje! fazer um excelente trabalho
“Far Beyond Existance” foi recentemente. Temos muitas
Na edição da Brutal Records lançado no ano passado pela bandas fora essas que citei que
vem uma versão fantástica Secret Service Records no também estão lutando por um
da “Flick Of The Switch” dos Brasil mas já foi reeditado espaço. Não basta ficar sentado
AC/DC. Não é dos temas mais por duas vezes (se não estou a reclamar apenas da sua cena
conhecidos da banda de Angus em erro) pela GS Productions musical e não fazer nada, para
Young mas a vossa versão é e pela Brutal Records. Como mudar a situação. Tem que
brutal. Porquê este tema em surgiram estes contactos? Vão se batalhar em busca do seu
concreto? colaborar com estas editoras objetivo!
de forma mais prolongada?
Somos muito fãs das bandas Se vocês apontassem
clássicas, amamos o AC/DC! Exacto, a Secret Service referências e influências
Optamos a música "Flick of The conhemos o Luiz Rizzi que a tanto brasileiras como
Switch" por ser uma musica princípio nos convidou a fazer internacionais, quais seriam?
e álbum que adoramos deles. parte do tributo ao Motorhead E um exemplo de carreira, que
Sentimos que iria ficar legal “ Goin to Brazil”, e estamos na vos inspire?
fazermos uma versão dela mais época de gravar o "Far Beyond
brutal! Existence", então fizemos a Sim, claro! Temos referências
proposta para ser ele lançá-lo. de Sepultura, Ratos de Porão,
Em termos de divulgação, E então ele lançou oficialmente Krisiun por levarem a bandeira
percorreram o Brasil? o álbum na Europa e Brasil pela de nossa cena mundo a fora e
Tiveram alguma hipótese de Secret Service, e daí em diante, provar que se acreditares no teu
ir além-fronteiras? Calculo ofereceu o licenciamento para trabalho, fores persistentente
que não seja fácil aproveitar os Estados Unidos para a e não ficares estagnado a
oportunidades de ir para a editora Brutal Records, Agresor reclamar da vida consegues
Europa devido aos custos que Records no Chile. chegar algum lado. De fora do
implica andar em digressão Brasil temos muitas, vou citar
pelo velho continente… Têm poucos temas cantados algumas como Morbid Angel,
em português... é mais fácil Slayer, Coroner, Black Sabbath,
Este ano optamos em não ir escrever em inglês? O impacto Mercyful Fate , King Diamond,
para Europa por motivos de é maior? Kiss, Rush, AC/DC, Deep
planeamento da banda. Este Purple, Motorhead, Exodus,
ano Torture Squad tem muita Acho que é questão do direcção Malevolent Creation, Napalm
coisa ainda a fazer aqui no da banda. Nós optamos por Death, Monstrosity, Gojira,
Brasil. Em 2019 nossos planos é Inglês por ser uma linguagem etc...
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eNTREVISTA
eNTREVISTA

“Era uma vez, nas profundezas de uma terra misteriosa e exótica assombrada por antigos espíritos
africanos, onde um jovem morreu devido a uma picada de um escorpião. Um desses espíritos sábios possui
o forte e jovem corpo para fazê-lo renascer e crescer como um Necromancer...”

É assim que é feita a introdução biográfica dos italianos Deathless Legacy... uma banda que se auto
intitula de “Metal Horror”, e que foi formada com o foco de vingança e morte dos seus monstros e medos
internos através do poder da sua música... Fundados em 2006, com o nome de Deathless, iniciam o seu
percurso como uma banda de tributo aos italianos Death SS do Mestre Steve Sylvester. Ano após ano a
vontade de criar as próprias músicas ganhou o seu espaço, até que em 2014 isso se tornou uma realidade,
“Rise From The Grave”, foi lançado e foi o primeiro passo para chegar a “Rituals Of Black Magic”, seu
mais recente trabalho, que aconselho vivamente. Para os Deathless Legacy o palco e tudo o que associa
à performance da banda ao vivo tem preponderante importância, uma vez que tudo se complementa e só
assim a mensagem é passada aos fãs. Às suas músicas associa-se uma teatralidade única e cativante.

A vocalista e líder da banda, Steva (Eleonora Vaiana), realizou esta entrevista com a World Of Metal, com
uma particularidade, a de ter que ser realizada em...português!

Miguel Correia
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Olá Steva, muito obrigado esfera, por outro lado deparo- isso a inspiração chega muito
em nome da WoM pela tua me com o vosso trabalho, o que facilmente!
disponibilidade... é uma grande demonstração de
que para além deles há outros Então já há ideias para um
Obrigada, é um prazer... nomes com muita qualidade. novo trabalho?
Eu começo com algo que me Como descreves a cena heavy Sim, sim temos... mas ainda
intriga bastante, uma banda italiana e quais as vossas não posso revelar nada por
de “Horror Metal”. Qual é influências musicais? enquanto!
o conceito por trás dessa A cena heavy metal italiana é na
definição, na composição das realidade muito boa, o problema Uma curiosidade. Na cena
vossas músicas, nos shows, do nosso país é o público que metal existem alguns nomes
como é que tudo acontece para não vai muito aos concertos que que poderiam um dia
ir de encontro a esse conceito? existem. Mas a qualidade das colaborar com os Deathless
Legacy. Falo de Rob Zombie,
O primeiro conceito é o que nossas bandas é incrivelmente King Diamond, por exemplo.
temos do nosso espectáculo. alta. As nossas influências Se pudesses escolher algum
Não é algo só musical, tem muito musicais são os Death SS, King deles para trabalhar num
de teatral... A música em si é um Diamond e Mercyful Fate, Rob futuro disco?
meio muito forte, mas quando Zombie, Ghost BC e os vossos
nós falamos de temáticas ligadas Moonspell. Seria um prazer e uma honra
ao lado mais obscuro, do horror trabalhar numa colaboração
e oculto, só tocar não chega. Os com artistas como eles. Eu
concertos e as performances são
a nossa mensagem...
"As nossas influências escolhê-los-ia a todos, pois são
todos artistas favoritos, para

E como começou esta musicais são os Death mim seria um prazer colaborar
com o Fernando (Ribeiro) dos
caminhada, por assim dizer?
SS, King Diamond e Moonspell!
Sei que tens uma admiração
Tudo começou há mais de dez
anos, quando começamos a Mercyful Fate, Rob por Till Lindemann... acertei?
contemplar a ideia de dar espaço
aos nossos monstros interiores e Zombie, Ghost BC e os Sim, sim, tenho uma grande
admiração por ele. É uma das
às nossas ideias. Nós amamos
tudo o que está ligado ao horror vossos Moonspell." inspirações mais importantes
lado do oculto, desde sempre... pra mim como artista. É um
desde crianças! camaleão, muito louco!
Os Deathless têm lançado Como uma bonita rapariga
Sei que pelo meio houve uma quase um álbum por ano,
mudança no nome da banda, como tu anda a cantar coisas
para isso têm de existir muitas sobre estas temáticas?
quais são as razões que vos ideias. De onde vem tanta
levaram para isso? inspiração? Como conseguem (risos) Eu sempre fui a menina
Sim, o problema foi que uma manter o tal conceito “Horror estranha, que gostava de zombies
empresa de vídeo jogos já tinha Metal” vivo? e não de Barbies. Eu creio que
o nome “Deathless” registado O horror entra e está em todos a minha inclinação para tudo
para um jogo. Nós, fizemos uma os lugares e situações, logo é o que é estranho e misterioso
pesquisa com ajuda dos nossos muito fácil para nós encontrar foi algo que eu sempre tive no
fans e chegamos ao nome a devida inspiração. É mais do meu coração, algo que cresceu
“Deathless Legacy”. comigo.
que suficiente aquelas noites
Olha aproveito para pedir com um céu bem fechado e logo O mais recente trabalho é
desculpas pela minha natural a inspiração chega! "Rituals Of Black Magic", e
falta de conhecimento daquilo Todas essas opções são parabéns por ele, prendeu-me
que é o underground metal intencionais facilmente... O que nos conta
ou é um este disco?
italiano, se, por um lado, aproveitamento de toda a
reconheço estar algo mais inspiração? Muito obrigada! É um disco
familiarizado com alguns muito particular, nosso primeiro
nomes como os Labyrinth, Naturalmente são intencionais! álbum conceptual, que fala
Rhapsody of Fire, Vision Nós gostamos de viver uma sobre um livro de magia negra.
Divine, Secret Sphere, aqueles vida como esse lado, com As canções descrevem rituais
que mais “saem” da vossa todo o horror e o oculto, por
13
proibidos e amaldiçoados videoclip. Como surgiram as Gosto muito deste tema e da ideia
pela igreja católica, que nós ideias para esse clip com quase da decomposição voluntária, do
recuperamos e lhe demos 8 minutos? N.O.X de Aleister Crowley.
novamente vida através da
música. A ideia de escolher “Dominus E como vai ser a promoção,
Inferi” para dar a conhecer o muitos concertos em agenda?
Como tem sido recebido? CD foi muito pensada. Essa é a
Sim, nós tínhamos e temos
canção que resume tudo o que
Muito bem, as pessoas parecem muitos concertos para a
está por detrás do trabalho. É o
gostar muito do disco e nós promoção do álbum. Nós
nosso ritual, a nossa mensagem
estamos muito gratos pelas temos também nosso primeiro
e a nossa filosofia resumida em
coisas calorosas que nos chegam. 8 minutos. concerto em Portugal já em
agosto, no festival Milagre
"Dominus Inferi", foi o tema Qual o tema com mais te Metaleiro e não podemos
escolhido para dar a conhecer identificas neste álbum? esperar por esse momento!
o cd, teve inclusive direito a
14
http://www.telefoniadaamadora.pt

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eNTREVISTA
eNTREVISTA

Não é a primeira vez nem será a última que dizemos sem problemas que somos fãs do metal que
vem do Brasil. Bem, somos fãs de todo o metal bom, até de Marte se for preciso. No entanto,
a verdade é que o metal que nos chegou do Brasil da década de oitenta e noventa fez parte da
formação musical de muitos de nós e é inegável que essas memórias pesam muito quando nos
chegam novas bandas como os Hatefulmurder que mudaram de vocalista, uma mudança nem
sempre fácil de encarar, e que conseguiram ficar ainda mais fortes. "Red Eyes" foi o resultado e
também o motivo da conversa que tivemos com Renan Ribeiro, guitarrista e membro fundador dos
Hatefulmurder
Fernando Ferreira

Bem vindos à World pode ter uma ideia do que limitado que o metalcore forte, um trabalho muito
Of Metal pessoal e se esperar do nosso trabalho. por vezes tem. Vocês bem conseguido. Qual foi o
calhar começava por Angélica Burns (Voz), pensam no tipo de som que feedback que tiveram dele
pedir por fazerem um Renan Campos(Guitarra e querem criar ou apenas quando o lançaram o ano
pouco a introdução dos voz), Felipe Modesto (baixo tocam o que sentem? passado?
Hatefulmurder aos nossos e voz) e Thomás Martin
leitores. Quem são os (bateria) Não pensamos em Muito obrigado! Foi
Hatefulmurder e o que se rótulos ou subgéneros totalmente positivo,
pode esperar de vocês? Apesar do rótulo em específico, fazemos as alcançamos um número
metalcore, faz-me sentido músicas inspirados por maior de pessoas com esse
Muito obrigado pela ver-vos como uma banda várias referências. Nosso disco, as pessoas passaram
recepção, amigos! Somos de hardcore metalizado. dia-a-dia, experiência que estavam bem curiosas
uma banda brasileira Poderá não parecer uma vivemos, livros, filmes, etc... para escutar o disco com
formada por quatro pessoas grande diferença mas acho Em geral preocupamo-nos a Angélica cantando. E
que possuem gostos musicais que é significativo como muito mais com a obra conquistamos novos fãs
e sonhos em comum. Ao vocês não soam dentro como um todo. com o disco. O disco nos
escutar nossa música, você daquele estereotipo algo rende bons frutos até hoje.
“Red Eyes” é bastante
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Foi também o primeiro álbum bandas do Brasil muito boas! O errado, que não existem muitas
com a Angelica. Como chegaram resultado vem com o trabalho, propostas novas com este poder
até ela? Foi uma mudança muito sabemos que o mercado das dentro do género hardcore.
grande para vocês, mudarem do gravadoras mudou completamente. Há muita competição no Rio
Felipe para ela? Internamente isto A recepção do público, vem por de Janeiro dentro da música
é, na forma de operar da banda. meio de internet e shows. É quase pesada? Tenho a ideia de haver
sempre extretamamente positiva. uma rivalidade entre cidades
Sim, foi o primeiro disco com ela. também...
Nosso ex-vocalista saiu depois São os Hatefulmurder uma banda
de uma turnê sul-americana que de palco ou de estúdio apenas? O Não vejo rivalidade com outras
fizemos. Acho que ele cansou dessa que é mais importante? cidades não. Competição também
vida de banda, realmente não é fácil. não há. As bandas procuram
Mas não parámos, acreditámos Estar no palco, viajando e levandoo aprender umas com as outras. E
que tínhamos que continuar. nossa música para todos os lugares aqui no Rio de Janeiro todo mundo
Nosso ex-produtor comentou dela que podemos chegar é algo único! se conhece, não seria inteligente
(Angelica) na época, mas ninguém Não acredito que existe outra criar esse tipo de rivalidade. Acho
achou que ela fosse querer viver forma. Nossa música é para ser que já houve um período onde
essa vida de banda. Estavámos vista e ouvida ao vivo. O disco é isso ocorreu. Mas hoje em dia...
todos enganados! A saída de fundamental, mas sem concertos, Não vejo. Se existe, eu não sei
Felipe foi muito bom para banda, a experiência fica incompleta. (sendo honesto). Mas...pessoas
ele estava infeliz e insatisfeito, Tiveram oportunidade de são sempre complicadas, é claro.
nada pior do que isso. Depois que espalhar a promoção do álbum Seria mentira falar que tudo que
Angélica entrou, o clima mudou, fora do Brasil? É difícil dar esse é perfeito. Mas não acho que haja
tudo ficou diferente. E o resultado salto? Para o estrangeiro, isto é... disputa ou competição. Cada um
foi o “Red Eyes”. Que já estavamos faz seu trabalho e corre atrás do seu.
compondo. Ela entrou e deu o A internet é nosso maior aliado Hoje em dia, as bandas promovem
gás necessário. Aprendeu como nessa área. Recebemos mensagens seus próprios concertos, convidam
funcionamos e fluiu muito bem! de vários países por todo o mundo. bandas amigas e que estão em
Nosso trabalho é aliado as redes o evidência, isso é muito legal. Tudo
O álbum foi lançado pela Secret que nos facilita a levar nossa música com uma estrutura legal e mais
Service Records, qual foi o para qualquer lugar. Em 2014 e profissional possível. Nós temos
impacto do mesmo? Tendo algum 2015 fizemos duas digressões sul- o “HATEFULFEST” que fazemos
tempo de distância, que resultado americanas, passando por seis todo ano, existem outros festivais
têm da sua recepção pelo público? países, isso também ajudou muito. de outras bandas também. Acredito
Foi muito bom ter saído pela Secret que essa iniciativa é óptima.
Não me considero propriamente
Service Records, eles entraram um especialista da cena brasileira Qual seria o maior objectivo
em contacto e se interessaram de música pesada mas tento para os Hatefulmurder que vocês
pelo trabalho. Foi muito boa seguir com atenção o que se passa poderiam atingir?
essa parceria, eles fizeram uns aí desse lado do oceano Atlântico.
tributos muito bons onde também E dá-me ideia, podendo estar Viver 100% da nossa arte.
participamos, e lançaram outras

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eNTREVISTA

O quanto gosto de trazer a esta páginas bandas da minha geração e desta vez os lendários Blitzkrieg,
mais nome com fortes influências da NWOBHM, fundados em 1980 em terras de Sua Majestade.
Neste ano, os Blitzkrieg lançam “Judge Not!” uma pérola musical na carreira e cujas as expectativas
são enormes. Actualmente os Blitzkrieg são compostos por Brian Ross (vocais), Ken Johnson e Alan
Ross (guitarras), Bill Baxter (baixo) e Matt Graham (bateria). A conversa com Ken (guitarrista) dirigiu-
se para este lançamento naturalmente para aquilo que são os planos da banda, para um futuro que
desejamos que seja ainda mais brilhante.
Miguel Correia

Olá Ken, antes de mais tudo parece um passo escrever novo material, tivemos um feedback
bem-vindo à World Of natural. ou também tudo surgiu muito bom, motivante e
Metal e vamos então naturalmente? também os comentários
lançar já a primeira Qual é o conceito ou dos fans têm sido incríveis,
pergunta...um novo a mensagem para um Não, de forma alguma, muito encorajadores!
álbum, com toda a certeza título tão forte na minha para mim a maior parte
com a fasquia bastante opinião? veio naturalmente, mas O artwork da capa está
elevada com “Judge Not!” como foi o nosso primeiro uma obra de arte...
A expressão completa do lançamento com a 'Mighty
Pois, obrigado pela juízo que muitas vezes Music', nós queríamos ter Ah, sim, idealizado
oportunidade também e fazemos e vem do cliché certeza de que seria um e desenhado por um
falando do novo disco, que diz "não julgues lançamento forte, claro! artista local chamado Lee
falando em nome de os outros a menos que Murphy, está fantástica...
todos nós, estamos muito estejas preparado para ser Como tem sido a resposta é a mascote dos Blitzkrieg
satisfeitos e entusiasmados julgado!” da imprensa? `o símbolo do pássaro
com o novo álbum, e Sem dúvida uma chamada do armageddon` que
A avaliar pela maioria dos agora chamamos de
considerando os cinco anos de atenção muito comentários, a imprensa
que separam do último importante, e foi difícil "Mário", tem estado em
tem sido muito boa, todos os lançamentos dos
lançamento, sentimos que
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Blitzkrieg... toda a certeza! destes, particularmente!
Ken, é algo inevitável fazermos Como é manter uma equipa que Tens ideias da primeira vez
comparações deste material sofre tantas mudanças no seu em que ouviste ou leste falar
com o lançado no passado. Que alinhamento? no termo "NWOBHM"? Vocês
conclusões tiras? surgiram nessa onda...
Pois, é difícil, mas temos que
Eu acho que é um passo enorme lidar com isso e seguir em frente, Sim, é verdade, mas a única coisa
na direção certa é material muito há muitas razões em todas as que te posso dizer é que eu cresci
mais forte comparado com o que bandas para que isso aconteça, ou durante esse período (não estava
já fizemos par atrás, como te disse porque os membros decidem sair, na banda nesta época), senti que
estamos muito satisfeitos! mas temos que manter o foco e a dita NWOBHM, não apenas
continuar... faz parte! catapultou algumas bandas do
"Loud N Proud" parece um género para o mainstream, mas
tributo e ao mesmo tempo algo Mas não sentes que isso pode também deu início ao metal /
que soa como auto-afirmação? ser prejudicial às ambições de rock no Reino Unido depois que
qualquer banda? a cena punk / New Wave estava a
“Loud n Proud” foi escrito
como um hino, uma faixa de Hum, não, não, de modo algum, “controlar” o país... sem dúvida
participação para ser ligada desde que exista um plano, e uma fase importante para aquilo
e cantada por todos os que a aquilo que nos impediu de chegar que veio a seguir!
oiçam, mas, sim, tem algumas a outros voos não foi tanto a Quanto a vocês... muitas
homenagens ao longo dela para mudança de elementos, mas as ambições, muitos sonhos, até
vários artistas! dificuldades em estabilizar um quando?
acordo discográfico.
Quais são as melhores faixas Huummm, bem, nós não estamos
para tocar ao vivo deste novo As tuas influências enquanto a desistir de nada… ainda temos
álbum? músico... o que ainda hoje gostas muitas coisas a dizer, a realizar!
e ouvir?
Até agora fizemos alguns Em Novembro nós temos dois
concertos e fomos testando Olha eu cresci a ouvir Judas festivais no Reino Unido no
algumas que foram: “Angels or Priest, Kiss, Early Rainbow, Hard Rock Hell no País de Gales,
Demons”, “Reign of Fire”, “All Scorpions etc... actualmente depois até o MonstersFest em
Hell Is Breaking Loose”, “Loud n gosto muito dos Symphony X, Inverness na mesma semana,
Proud” e “Falling Into Darkness”, Dream Theater, Treat, Pretty antes de embarcar em nossa tour
e resultaram bastante bem, mas Maids, entre outros, mas estou europeia que vai de novembro a
iremos preparar outras... com sempre atento a lançamento Dezembro.... estamos cá!

Este espaço pode ser teu em todas as edições da nossa revista.


para mais informações contacta-nos:
Worldofmetal.pub@gmail.com
Tiagofidalgo.wom@gmail.com 19
eNTREVISTA
eNTREVISTA

metal progressivo moderno,


daí que a nossa fingerprint
Mesmo com Portugal a não ser um dos destinos mais óbvios para tenha algo de marcadamente
o metal progressivo, os 11th Dimension têm vindo a cimentar a sua prog.
sonoridade onde o prog é apenas a ponta do iceberg. Graças a
bons concertos e a bons lançamentos de estúdio, onde obviamente Diana, para ti directamente,
a tua voz dá-me repentes
destacamos o álbum de estreia "Paramnesia", que foi um dos nossos da Anneke na sua fase The
álbuns do mês de Julho. Para ficarmos a conhecer a banda melhor, Gathering (principalmente
fomos falar com os 11th Dimension e solidificar a sua presença no “Mandylion”)... é uma
neste nosso mundo do metal. referência?
Fernando Ferreira Sim, dentro do metal diria
mesmo que é das poucas
referências que tenho, pois
não me identifico muito com
Olá pessoal e bem vindos adicionámos o Daniel à um rótulo que descreva a os registos mais típicos que
ao World Of Metal. Vamos família porque sentimos nossa sonoridade a 100%, surgem nas bandas de metal
começar pelo início e fazer necessidade de adicionar um daí acabarmos por optar pelo com vocalistas femininas,
uma apresentação devida segundo guitarrista à nossa “metal alternativo”, por ser mas não é a única. Também
aos nossos leitores. Quem formação. um termo mais abrangente sou bastante fã das vozes
são os 11Th Dimension e e até vago, pelo que não de Anna Murphy (Cellar
como surgiram? A vossa sonoridade pode- nos coloca numa dentro de Darling, Eluvietie), Marcela
se inserir dentro do género caixinha fechada. Queremos Bovio (Elfonía, Stream of
Olá WOM! Antes de mais, do metal progressivo sobretudo que a nossa música Passion), Julie Christmas
muito obrigada pelo convite. mas o rótulo acaba por seja uma porta aberta àquilo (Battle of Mice, Made Out
Nós somos uma banda de ser um pouco redutor da que quisermos expressar no of Babies) e Agnete M.
metal alternativo de Lisboa, vossa sonoridade. Quais momento, sem restrições de Kirkevaag (Madder Mortem),
fundada em 2013 pelo Carlos, são as vossas influências rótulos.As nossas influências que são todas elas vozes
a Filipa, o Pedro e a Diana, principais? são muito diversas, e a bastante distintas, cada uma
mas já tocávamos juntos há verdade é que cada um de nós à sua maneira. Fora isso, as
uns 2 ou 3 anos, com outros Sim, nós próprios temos minhas principais referências
dificuldade em encontrar tem as suas, mas acabamos
projetos. Mais recentemente por beber muito da onda de vocais femininas pairam ali
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pelo pop rock dos anos ‘90 e ‘00, conceito do álbum é um processo sucedida por nós e por isso não vimos
como Alanis Morissette, Dolores de introspeção que passa por três razão para mudar esse modelo. Para
O’Riordan (Cranberries) e Sandra fases: a primeira é a insatisfação da já não procuramos activamente
Nasic (Guano Apes). personagem consigo própria, com esse tipo de parceria. Dito isto, não
aqueles que julgava de confiança e recusamos de todo a ideia, mas
Tenho que vos dar os parabéns com a sociedade em si; a segunda preferimos que alguma editora que
pelo vosso álbum de estreia que é a tomada de decisão de cortar as goste do nosso trabalho venha ter
é uma lufada de ar fresco não amarras e procurar uma situação connosco com uma proposta; se a
só no nosso som nacional como melhor; e a terceira é efetivamente proposta for benéfica para ambas as
também no próprio género em a mudança, a viagem e a chegada a partes não temos nada contra a ideia
que se insere. Calculo que estejam um novo lugar, que pode ser literal de trabalhar com uma editora.
satisfeitos até agora em relação ou metafórico.
ao mesmo... Como foi o processo Apesar de pontualmente darem
de gravação? Algum nervosismo alguns concertos nestes últimos
por ser o vosso primeiro álbum? anos, não são daquelas bandas que
Mesmo sem ter sido o primeiro
registo...
"Estamos muito vão a todas por assim dizer... que
planos têm para a divulgação em
Muito obrigada por esse feedback,
contentes com o que cima dos palcos de “Paramnesia”?
E há a intenção de tentar chegar
que para nós vale ouro! Nós estamos
satisfeitos com álbum e sobretudo
veio, porque acabámos até ao estrangeiro?
com a forma como tem sido recebido,
felizmente. O processo de gravação
por receber encomendas Gostamos de dar concertos
que valham a pena, para nós e
foi praticamente independente.
A bateria é sempre o instrumento
no nosso Bandcamp principalmente para o nosso público.
Não gostamos de saturar o mercado,
mais complicado de gravar, então vindas dos mais diversos e gostamos de dar sempre o nosso
recorremos aos serviços dos Rock melhor, então optamos por espaçar
‘n’ Raw Estúdios (onde ensaiamos) pontos do mundo, e neste mais os concertos. O nosso mercado
para essa parte; as cordas e vozes
gravámos pelos nossos próprios momento podemos dizer infelizmente é pequeno e assim
aproveitamos esse tempo para ir ver
meios, entre a sala de ensaios e as
nossas casas. A magia final foi dada que o "Paramnesia" as outras bandas tocar e compor novo
material. Em termos de divulgação
pelo Pedro Mau (Wells Valey), de
quem esteve a cargo a mistura e já voou para quatro do "Paramnesia" queremos voltar
aos palcos a partir de Setembro e
masterização do álbum. Mais do
que nervosos, estávamos ansiosos continentes!" esperamos pelo menos chegar a
Espanha num futuro próximo, mas
para lançar finalmente este trabalho vamos ver o que o futuro reserva.
que marca assim o primeiro capítulo Até onde esperam que o álbum
da história dos 11th Dimension. E chegue, quais são as vossas É comum encontrarmos bandas
estamos ansiosos também (no bom expectativas para ele? com vinte e vinte e cinco anos de
sentido) para trabalhar nos que se história e perguntarmos se alguma
seguem. Quando se é uma banda underground vez imaginavam ter chegado onde
é um pouco complicado definir chegaram. No vosso caso vamos
Por falar em primeiro registo, expectativas. É tudo meio guardar para a posteridade as
quatro anos separam o EP e o imprevisível, então mais vale ter os vossas previsões. Daqui a vinte e
álbum. Foi um tempo calculado pés assentes no chão e o que vier cinco anos, onde estarão os 11th
ou força das circunstâncias? virá. E a verdade é que estamos muito Dimension?
contentes com o que veio, porque
Confessamos que o álbum pecou pela acabámos por receber encomendas Pergunta difícil em vários aspectos…
demora, mas foi o que foi possível. no nosso Bandcamp vindas dos No fundo, todos nós acreditávamos
Como se sabe, não dá para viver de mais diversos pontos do mundo, e que era possível chegar aqui e foi
uma banda underground e portanto neste momento podemos dizer que por isso que trabalhámos nesse
todos nós temos outras ocupações o "Paramnesia" já voou para quatro sentido. Mas entre o acreditar que é
profissionais e nem sempre é fácil continentes! possível e o vermo-nos na realidade,
conciliar uma vida normal com as aqui vai sempre um grande salto
actividades artísticas. As músicas já Em relação à distribuição, optaram com vários momentos de dúvida
estavam todas compostas há bastante pela edição de autor. Procuraram pelo meio. Tentando manter as
tempo, o processo de gravação é que chegar a alguma editora ou sempre previsões realistas mas ao mesmo
foi, de facto, moroso. preferiram cuidar desse lado da tempo permitindo-nos sonhar
vossa música um pouco: daqui a vinte e cinco
Há um conceito abrangente a todas anos os 11th Dimension serão um
as músicas de “Paramnesia”? Não é algo que tenhamos decidido nome corrente no panorama Metal
de forma definitiva. Quando europeu, tendo lançado uns dez
Sim, há um fio condutor, uma história lançámos o EP Odissey fizemos tudo
que está implícita, no entanto cada álbuns e tendo embarcado em várias
sozinhos, como uma banda a dar os tours europeias pelo menos. Somos
música pode ser ouvida e interpretada seus primeiros passos tem que fazer.
por si mesma, sem depender das pessoas modestas, não pedimos
Percebemos que muito do trabalho muito (risos).
restantes. Resumidamente, o pode ser feito, e foi, de forma bem
21
eNTREVISTA
NTREVISTA

Os Omnium Gatherum são mestres do death metal melódico finlandês. não há mais necessidade para
Uma regularidade impressionante quer na edição, quer na qualidade fazer "grandes expedições"
por um caminho estranho e
e até na presença nos palcos obriga a que tenhamos reverência pela experimental, apenas deixar
banda de Markus Vanhala, o único membro original presente na actual a música fluir e ir na direcção
formação. Foi com o guitarrista que tivemos uma franca conversa sobre natural no mundo dos
fazer o que se gosta e como isso é o combustível para aguentar tudo. Omnium Gatherum. Assinar
com uma editora grande como
Fernando Ferreira
a Century Media deu-nos mais
inspiração para arrasarmos
com tudo do que propriamente
pressões.
Olá Markus e bem vindo ao dessa digressão, começámos a Bem, surpreendentgemente O que é que pretendiam
World Of Metal. É excelente montar realmente, todos nós. este álbum foi muito fácil de atingir "The Burning Cold"?
estar a faar contigo após Norlmalmente é um processo ganhar vida e temos agora Tiveram algum objectivo
de vos ver ao vivo aqui em que demora mais um ano, uma atmosfera muito boa específico para este trabalho?
Lisboa onde deram um passar da folha em branco e e fresca na banda. Mesmo
grande concerto. Nessa projecto para o estúdio fazer sendo uma banda já bastante A ideia era fazer um álbum
altura, quão avançado estava mesmo o álbum. velha, surpreendentemente que fosse mais apropriado
"The Burning Cold? ainda estamos esfomeados e para tocar ao vivo, um
Aquilo que eu sempre adorei a gostar muito de fazer tudo verdadeiro álbum de metal.
Olá Portugal. Oh sim, tocámos nos Omnium Gatherum era isto e mal podemos esperar Desta vez não há nenhuma
em Lisboa e no Porto no a forma como o vosso death para tocarmos estas canções música épica e longa, é mais
Outono passado e foi de facto metal melódico sempre me ao vivo para vocês todos. Isto malhas "headbangers" de
excelente. Foi algo que já era soou fresco e não apenas fez com que este processo quatro ou cinco minutos, e
devido há bastante tempo já que o resultado da soma de fosse bastante desprovido de relamente tentámos construir
a anterior (e primeira) visita fórmulas pré-estabelecidas. stress e não tivessemos de uma compilação interessante
foi já em 2007... Por essa altura Sendo o vosso oitavo álbum, facto pressões para este álbum, de canções individuais, que
(dos concertos) no Outono, sentiram alguma pressão surgiu tão naturalmente quanto se distinguem-se umas das
o esquelto de "The Burning para este trabalho, para não a música honesta deve surgir. outras. Também sabemos que
Cold" estavam já a fermentar apresentarem algo que nunca Desta vez. O álbum anterior, existem excelentes músicos
e a cozinhar lentamente no tinham feito antes? E também no entanto, teve um processo nesta banda, então quando
disco rígido do meu estúdio a pressão por ser o primeiro bem mais complicado... Mas tratámos dos arranjos das
caseiro e as demos mais disco para uma editura como por agora, já conhecemos o canções, dedicámos mesmo
básicas estavam praticamente a Century Media Records... som tradicional e o som dos mais atenção às performances
feitas. Basicamente, depois Omnium Gatherum, portanto instrumentais, mais solos de
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guitarra, excelente performance na exemplo, "Rest In Your Heart", apenas Reflections" no ano passado, um
bateria, ataques de baixo selvagem - tem uma melodia principal na canção lançamento entre álbuns para
mas fazer tudo isto com a condição mas é tocada de, pelo menos, quatro mantermos o interesse na banda. A
de ainda ser uma canção e não apenas maneiras diferentes, em diferentes sequência das canções no álbum foi
ter espaço para os heróis artistas partes, algo que foi totalmente novo encontrada com bastante facilidade,
brilharem com solos masturbatórios. para mim, pegar numa ideia e distorcê- portanto também neste aspecto
A canção permanece a mesma. (risos). la, manipulá-la para diferentes secções o álbum praticamente se fez a ele
e fazer o máximo dela, da melhor e próprio.
Não é fácil fazer-se parte de uma mais versátil maneira.
banda de metal hoje em dia, especial E as covers? Como sempre
se essa banda toca metal extremo mas adoramos a vossa abordagem
apesar disso, conseguiram andarem à música das outras bandas.
em digressão como se não houvesse
amanhã e ainda assim escrever um "Para mim trata-se Gravaram algumas nestas sessões?
novo álbum. Foi natural para vocês
combinar os compromissos ao vivo sempre de competir Gravámos uma cover com uma
mensagem de orgulho (risos)
"We Who Are Not As Others"
e ainda assim trabalhar num álbum
novo? com as nossas próprias dos Sepultura. Tal como eles,
portugueses ou pelo menos bacanos
Nem me digas nada, eu toco em duas
bandas de metal, Omnium Gatherum
coisas e tentar superar que falam português do Brasil!
Todos adorávamos Sepultura desde
e Insomnium, que ambas andam em
digressão que nem doidos e mesmo os nossos trabalhos os nossos tempos de adolescência,
uma daquelas bandas que nos abriu
assim lançam álbuns regularmente...
este é o meu estilo de vida, sempre foi anteriores e fazer o os horizontes para uma sonoridade
mais brutal no metal na era do
assim, é isto o que fazemos. Então é
natural para mim, é o meu trabalho nosso melhor álbum. Se hard rock... esta canção sempre
foi a esquisita no "Chaos A.D." e
e não sei nada da "vida normal com realmente se destaca do resto por ser
emprego normal das 8 às 5" (risos).
Em relação à segunda questão,
não for assim, porquê diferente...
sempre temos as reacções do público
nos concertos, então tens tendência
sequer tentar?" As bandas normalmente têm
uma rotina que depois de anos
a ter mais atenção às coisas que normalmente tem os seus custos.
metem as pessoas a rockar e a curtir Compôr, gravar, digressão e voltar
mais, e acabas por aprender e focar Como é que foi a produção do ao início. E vocês tiveram as três
mais depressa no teu processo de álbum? Suave? Sei que o Dan no mesmo ano. Não tens medo que
aprendizagem do novo material. Swäno foi o responsável pela algum dia possam esgotar-se?
masterização, o que é sempre uma
Vamos falar então de "The Burning garantia de qualidade? O futuro é sempre incerto então
Cold"... adorei! Sou um pouco porquê preocupar-nos em pensar
suspeito porque adoro a vossa Usámos a mesma fórmula de acerca disso? Viver o momento,
música desde o primeiro momento trabalho dos últimos dez anos e aqui mesmo, agora. Aqui e agora
mas neste, temos grandes malhas e cinco álbuns, porquê mudar uma adoramos fazer isto e vamos
melodias bem catchy e tudo junto fórmula vencedora que é fácil e continuar a fazê-lo!
faz com que seja um dos vossos divertida de aplicar? Portanto, Dan
trabalhos mais fortes dos últimos Swäno misturou e masterizou o Já têm alguma digressão agendada
anos. Sei que é complicado manter álbum e o Teemu Aalto gravou e para a promoção do "The Burning
a distância de um disco que acabaste produziu as cenas. Em cima disso Cold"? Provavelmente ainda será
de gravar mas sentes que "The também tivemos o Olli Lappalainen cedo para voltar a Portugal... mas
Burning Cold" é especial? a fazer o artwork, que está connosco não nos importamos. De todo!
desde o primeiro álbum. Então Os promotores têm estado ocupados
Pelo menos eu penso isso para comigo, temos a nossa equipa e irmandade
honestamente! Muito orgulhoso a agendar-nos um pouco por todo
a trabalhar connosco e esta equipa o mundo para a "The Burning Cold
e feliz com o álbum e penso que domina! Um bando de irmãos
conseguimos superar-nos novamente. World Tour" e parece que pelo
mesmo. menos quatro continentes vão ser
Para mim trata-se sempre de competir
com as nossas próprias coisas e tentar Sabemos que gravaram muitas conquistados durante o próximo
superar os nossos trabalhos anteriores canções para o álbum para que ano. A nossa digressão europeia
e fazer o nosso melhor álbum. Se não pudessem esclher as melhores. Foi como cabeças de cartaz vai acontecer
for assim, porquê sequer tentar? No complicado chegar a este conjunto em Novembro mas infelizmente
estúdio e nos ensaios a banda toda final de músicas? E as que não foram ainda não temos datas portuguesas
teve esta sensação " de algo especial" escolhidas, vão estar disponíveis até agora... no entanto vamos andar
e eu espero que isso se possa ouvir mais tarde eventualmente? em digressão com os vossos grandes
no álbum. Desta vez concentrei- compatriotas Moonspell em breve
me mesmo em fazer músicas Sim, desta vez gravámos um bocado na América do Norte, onde vamos
catchy e in-your-face, e esforcei-me mais de canções do que aquelas começar a digressão em conjunto
particularmente em arranjá-las, e em que colocámos no disco. Apenas com os Amorphis e Dark Tranquillity
verificar como as suas estruturas eram para ter um bónus para os nossos então também estamos ansiosos por
feiras... tentei fazer canções fáceis lançamentos asiáticos e coisas para isso. Mas prometemos que vamos
sem perder aquele "twist" progressivo podermos usar mais tarde. Como voltar a Portugal em breve e rockar
dos Omnium Gatherum. Como, por fizemos com o single de "Blade no vosso lindo país!
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Por Paulo Barros

Bom Som? Ou Produção? - Parte 1


Olá pessoal, desta vez venho dar o meu parecer em relação aquilo que chamamos de fazer o som de um disco ou
de uma gravação, isto porque penso que pode ajudar muitos músicos do nosso Portugal.

Na minha opinião o bom som de uma banda é muito relativo e muito discutível, de pessoa, para pessoa, para mais
no século 21 onde a internet distorceu demasiado aquilo que seriam as referências do som, mas, citando um musico
famoso sueco que diz: “eu lá em casa tenho uma boa aparelhagem stereo para ouvir musica”, podemos verificar
que existe muita gente no mundo com bom ouvido, mesmo quando passamos os formatos áudio para mp3 ou outros
formatos para ouvirmos no telefone ou no computador.
Também sabemos que a qualidade perde-se bastante, mas não implica sentirmos que determinado grupo tem um
bom ou um mau som. No passado sofri bastante na carreira porque os meus discos não tinham, isso do bom som
ou não tinham uma boa produção...

Penso que muitas vezes se faz esta confusão, porque uma parte dos músicos acha que bom som seria ir para um
estúdio e gravar com um bom técnico e gravar as musicas que criou ao gosto próprio e fazer aquilo que lhes apetece,
mesmo sabendo que têm formação e até algum talento para o fazer, a outra parte acha que deve ter um produtor…

O que é um produtor musical?

Um produtor é como um treinador numa equipa de futebol, eu posso ter uns grandes craques na minha equipa a
jogar, mas, se jogarem por conta própria seria um resultado se tiverem um treinador seria outro resultado diferente.
Vejamos, o problema é que nós músicos queremos sempre fazer o nosso melhor e meter o máximo de notas e
arranjos naquilo que criamos, mas por vezes estragamos tudo, como eu próprio já o fiz inúmeras vezes. O trabalho
24
do produtor será filtrar o trabalho dos artistas, inclusive alterar e mexer na composição dos artistas, sim já sei que
muitos de vocês vão dizer —olha agora este…vem mexer no filho que é meu e que eu criei?? A minha obra??

Realmente custa-nos imenso ver fazer isso, mas, lembrem-se para nós músicos e para os nossos amigos aquilo
que nós fazemos está sempre tudo bem, por isso eu acho que a opção produtor será sempre a melhor. Um pequeno
exemplo: um amigo meu gravou num estúdio de um produtor de musica rock muito famoso, um dos dez melhores
do mundo e quando chegou lá disse que queria o som de guitarra igual a um determinado guitarrista de outra banda
que esse produtor tinha produzido. Claro que ele riu-se e respondeu violentamente: “mas tu não és esse gajo!! nem
tocas como ele entendes???”.

Claro que já devem ter percebido que estou a falar de mim, mas, o mais interessante é que todos os músicos
tocavam com o mesmo material nas mesmas guitarras nos mesmos amplificadores e todos eles soavam diferente,
ou seja, soavam a eles próprios. Acham que isso é fácil de fazer? Claro que não...e porquê? Acima de tudo, porque
somos humanos e todos tocamos com sensibilidade diferente uns dos outros e aí entram os produtores/treinadores
que percebem a sensibilidade de cada um e o estilo de musica que querem fazer e determinar qual vai ser o som e
a composição e os arranjos de cada banda… vou pôr a situação de outra forma.

Eu tenho um amigo que tem um excelente estúdio e que tirou um curso de engenheiro de som, e que por acaso é
um excelente músico e que tem um bom gosto a fazer musica, pois ele pode ser um excelente produtor ou não, mas
se eu for para lá dizer-lhe e exigir que quero tudo á minha maneira…..vai dar m……

Mal comparado, seria a mesma coisa que apanhar uma boleia de carro com um amigo e começar a pôr as mãos no
volante e no travão de mão para o ajudar a conduzir e depois vai dar desastre! Mas se eu o deixar fluir e confiar
nele provavelmente vamos ter um resultado positivo. Nós em termos profissionais temos que ter muito cuidado nas
opções que tomamos e termos um poder de autocrítica constante.

Ser produtor é uma arte, que não está ao alcance de qualquer um até porque os melhores normalmente têm uma
idade avançada pois também já erraram muitas vezes e como tal já adquiriram muita experiência. Acreditem que
gravar é relativamente fácil, pegar numa banda e fazer um produto sério com personalidade e capacidade para
entrar no mundo do HEAVY METAL ou da música mundial já é mais complicado,

No fundo se quisermos entrar na formula um dos carros desportivos temos que ter as especificações que a fórmula
um exige: por exemplo um determinado motor potente, dimensões dos pneus, dimensões do carro, travões etc….
os carros são todos diferentes mas certos pormenores não diferem demasiado uns dos outros cada marca tem a sua
personalidade mas existem regras que são uniformes. E claro que os produtores com experiência sabem melhor
aquilo que cada mercado exige mesmo nas plataformas digitais e nos vários formatos que existem.

Sim já sei que muitos estão a pensar que só isto da produção não chega…concordo perfeitamente, existem mais
itens da industria da musica e também outros e pormenores artísticos que vão ser necessários e exigidos às bandas
como já devem imaginar. Mas nos próximos números do WOM vou tentar dar o melhor que posso desenvolvendo
mais esta parte do bom som ou produção? e não só…….

Divirtam-se!!! Até ao próximo mês!!!

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eNTREVISTA
NTREVISTA

Estar nesta missão, neste World Of Metal para vos trazer o melhor da música pesada, não
deixa de ser recompensador. Principalmente quando temos oportunidade para falar com
alguém como o Carlos d'Água, um dos grandes nomes lusitanos da música extrema, doom metal
em particular, como as passagens por bandas como Before The Rain e Sculpture provam. A
sua mais recente aventura foi uma excelente surpresa. Os Collapse Of Light não só têm um
álbum de estreia de sonho - "Each Falling Step" - como o mesmo também é lançado por uma
das grandes mais excitantes editoras do underground - Naturmacht Productions. Carlos
mostrou-nos o mundo dos Collapse Of Light e levou-nos até ao seu rico passado musical
Fernando Ferreira
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Olá Carlos e bem vindo a este O vosso álbum contou com a melhor para o trabalho já que o
World Of Metal! E parabéns pelo mistura e masterização de Déhà trabalho do Déhà é fantástico,
excelente álbum desta tua nova (após o trabalho iniciado no principalmente no som mais
aventura, Collapse Of Light, Quinta Dimensão), que além de doom. É alguém com quem
“Each Failing Step”. Vamos se produtor, também é um músico ponderas trabalhar no futuro?
calhar pelo início. Como é que completo e que nos maravilhou
surgiram os Collapse Of Light? meses atrás com “V-Oceans”, dos Gostei muito de trabalhar com
E a participação de Natalie seus Slow, uma das mil bandas ele, confesso que o processo de
Koshinen, dos Shape Of Despair? que tem. Como é que chegaram comunicação entre nós é bastante
até ele? fácil e houve também uma
Desde já, quero agradecer a grande empatia, não só pessoal
review feita ao nosso álbum pela Sim, basicamente a base e raízes mas, também, sonora. O Déhà
World Of Metal. Obrigado pelas do nosso trabalho foram feitas no está habituado a trabalhar vários
palavras, as quais nos deixaram estúdio Quinta Dimensão, contudo estilos de música e consegue ter
verdadeiramente lisonjeados com a devido a incompatibilidades de um entendimento inapto para
vossa reacção e recepção! Bom, mas agenda tivemos de pensar noutra o que tu pretendes e para o que
respondendo à pergunta, posso pessoa para acabar as misturas. Já poderá resultar melhor dentro de
dizer que os Collapse Of Light estávamos com um contracto meio determinado estilo. De qualquer
(COL) surgiram ou começaram a assinado e não podíamos adiar mais forma ainda não te posso responder
ser moldados por volta do ano de o lançamento do disco. Procurei a essa pergunta, talvez sim, talvez
2010, depois da minha saída de e falei com varias pessoas sobre não. Ainda não delineámos
Before the Rain. Eu e o Gonçalo hipóteses plausíveis e o Déhà foi totalmente o plano para a gravação
desde há muito que sentíamos um dos nomes sugeridos. De facto, do sucessor do "Each Failing Step"!
vontade de criar um projecto em ele tinha lançado recentemente
conjunto. Acabámos por dar inicio um álbum de SLOW, que revelou A banda está um pouco
a essa ideia quando ambos nos capacidades de trabalho dentro espalhada. Portugal, Finlândia e
encontrámos livres para podermos do nosso estilo. Depois foi uma Noruega, onde estás a morar neste
dedicar-nos apenas a este projecto. questão de contacto. Ele mostrou- momento. Isto poderá querer
Depois fomos procurando e se logo muito interessado em dizer que será mais complicado
abrindo convites para juntar mais trabalhar com os COL e acabámos dar concertos, devido toda a
membros aos COL, mas não foi, por pedir um mix test. O resultado logística – já foram confirmados
nem é uma tarefa muito fácil fez-nos querer avançar com ele no Under The Doom. Vão ter uma
encontrarmos as pessoas certas. para finalizar as misturas e a digressão no verdadeiro sentido
Não tivemos um percurso muito masterização. Acho que foi uma da palavra ou apenas alguns
facilitado até chegar onde nos boa aposta. concertos esporádicos?
encontramos hoje. Não estava nos Por vezes as pessoas é que fazem
nossos planos termos demorado as coisas serem complicadas!
tanto tempo para lançar um disco
mas, de facto, existiram bastantes
percalços que dificultaram a nossa
"Não foi, nem é Confesso que o não estarmos
todos mais perto uns dos outros
saída cá para fora. O tempo acaba
por não ser uma variável assim tão
uma tarefa muito fisicamente não facilita várias
situações, mas para tocar ao vivo
constante e linear como desejamos
ou pensamos, mas as coisas já fácil encontrarmos basta sabermos o que temos que
fazer e o que queremos nesse
momento no palco. Penso que a
estão a funcionar mais próximo
do ideal e como pretendíamos. as pessoas certas. nossa logística passará mais por
uma questão de tempo colectivo
Em relação à Natalie, posso dizer-
te que na altura considerámos a
hipótese de experimentar uma voz
Não tivemos um e viagens, mas se as coisas forem
feitas com devida antecedência não
feminina numa ou outra música de
COL, com o intuito de balancear
percurso muito vemos isso como um problema.
Quanto a digressões, por enquanto
um pouco a nossa sonoridade. A
Natalie surgiu como uma hipótese facilitado até não temos mais datas para Portugal,
mas provavelmente iremos tocar
em vários países europeus no
de entre outras que tínhamos. Ela
ouviu alguns dos nossos registos chegar onde nos próximo ano. Alemanha, Bélgica,
Polônia e Espanha estão na nossa
e achou que não podia descartar
este convite! Depois houve muitos
pontos a favor, muita empatia
encontramos lista neste momento.

desde o início, o timbre vocal era


adequado ao que queríamos, e a
hoje." Também devo dizer que estão
numa das melhores editoras de
underground da actualidade. A
sua predisposição para trabalhar Naturmacht Productions e a sua
e a sua personalidade fizeram com subsidiária Rain Without End
que a Natalie passasse de convidada Excelente aposta! Na minha Records, tem o dom de acertar em
a membro da banda. opinião não haveria pessoa cheio nas suas apostas, raramente
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falha. Pelo que sei não foram a a liberdade de escrever a música em bobine. Não havia estas
vossa primeira aposta, mas como que se quer sem limites de tempo tecnologias que existem hoje. Dei
é que se estão a dar nesta casa até ou formato, de a gravar e lançar de também muitos concertos com
ao momento? forma independente, por outro a Evisceration e no fundo, foi onde
limitação de que o que o público aprendi o que era pertencer, ou
Sim, a Naturmacht não é uma quer ver ao vivo, de uma forma fazer parte de uma banda.
editora muito conhecida embora geral, é música mais imediata e
tenha já um considerável número quase descartável. Sculpture – Lançaram apenas um
de edições e o faça por isso. Se EP mas definitivamente deixaram
eles costumam acertar em cheio, Hoje em dia com a facilidade de uma boa memória para quem
como dizes, não sei... Reconheço podermos obter tecnologias que gostava de death/doom metal de
alguns lançamentos interessantes permitem gravar/ compor em casa, acordo com a escola britânica
por lá e na altura pareceu-nos mudou-nos aquel dependência
uma hipótese a avaliar entre tantas que tínhamos da sala de ensaio Depois dos Evisceration vieram
outras. Tivemos várias ofertas ou estúdio enquanto espaço físico. os Sculpture, pois os álbuns
mas decidimos aceitar a oferta Uma boa prova disso foram os “Lost Paradise” e o “Crestfallen”
da Naturmacht, pois era a que se projectos “one man band” que baralharam-me todo quando
enquadrava mais no que queríamos foram aparecendo. Isso tudo é saíram! Anteriormente tinha
para esta fase da banda. um sinal dos tempos em que sido o “Mentally Murdered”, mas
temos executantes eletrónicos a depois descobri o que se andava
Até agora está tudo a correr dentro substituir a parte humana e em a fazer no UK e isto tocou-me de
da normalidade e o Robert está que tudo pode ser feito de forma outra forma. Fez-me querer fazer
muito empenhado em fazer crescer mais rápida e quase automática. algo diferente. A minha estreia no
a sua editora, mas as bandas, pelo Mesmo assim, não chamaria isso Doom/Death, foi com o “Like a
menos as da nossa dimensão, não de música descartável, pois se a Dead Flower”. Belas memórias que
podem ficar de braços cruzados á musica tiver essência e qualidade guardo sobre esse EP. Infelizmente
espera que a editora faça tudo. acaba por permanecer por cá. No nunca cheguei a tocar ao vivo com
os Sculpture, mas de facto foi com
De alguma forma sempre estiveste entanto percebo a tua ponte entre esta banda que abri a porta para o
ligado ao doom ou ao death/ o consumo ao vivo e o já está feito, estilo “doom”.
doom, parece que já te está no siga para outro! Esse dilema entre
sangue. Sendo que este não é um o querer tocar ao vivo ou ficar em Before The Rain – agitaram as
género fácil nem de fazer nem de casa, não me faz confusão, acho águas do metal nacional e foram
atrair fãs, não achas que hoje em que é uma opção válida. Nada te uma das grandes perdas desta
dia o estilo está muito mais rico obriga a teres de dar um concerto, década na minha opinião.
em termos de propostas, como a ou assinares um contracto com
dos Collapse Of Light? uma editora. Tudo depende do Perda? Não sei, não... Segundo me
tipo de ferramentas e opções que parece a banda não acabou. E até
Se o “doom” está mais rico enquanto vais usar e saber qual o retorno acho que está a ser preparado um
estilo produzido ou executado por podes vir a ter! álbum novo! Os Before the Rain
bandas, na minha opinião acho foi um projecto em que dei muito
que vão aparecendo bandas mais Gostava agora que comentasses de mim, mas passei uma fase
capazes e outras menos capazes, as aventuras musicais em que menos boa nesse período e isso
mas a essência do que pretendem participaste e que tão marcantes levou a que tivesse que decidir sair.
fazer será mais importante que foram para a cena nacional de Contudo o “One Day Less” vai ficar
qualquer outro espaço modal. death/doom metal. Pela forma no meu currículo interior, como
Não te sei dizer ao certo se existe como te marcaram e como as vês um dos álbuns que mais prazer tive
um estilo mais fácil ou menos fácil hoje em dia. em gravar antes da existência dos
para atrair fãs. Também não é esse Evisceration. – uma das propostas COL.
o nosso sentido nos COL. A minha clássicas de death metal lusitano e
ligação a este modo expressivo a tua primeira banda se não estou Lethian Dreams – Banda francesa
vem do que pretendo fazer e expor. em erro onde chegaste a ser vocalista
Não considero assim algo tão durante alguns anos.
difícil de fazer, visto que usando a Os Evisceration foram a minha Os Lethian Dreams foi uma ideia
tua expressão, me é algo que possa primeira banda, verdade. Ainda gira mas eu não ajudei em nada
estar no sangue! sinto um carinho muito grande para a sua elaboração estrutural. Fiz
por esse período. Aprendi muita apenas as linhas de voz e fiz arranjos
Por outro lado também é comum coisa nessa altura e passei por
encontrarmos projectos que muitas experiências que foram nas letras, mas nunca fiz parte
se concentram mais em criar boas e outras más! O “Hymn to da construção do som da banda.
música do que a reproduzi-la ao the Monstrous” foi o meu primeiro Gostei bastante da experiência
vivo, fruto talvez também pela tal disco e já passaram mais de 20 e de participar, mas havia outro
procura em termos de concertos anos! Nesses tempos as coisas por projecto à minha espera. A Ideia
de bandas do género. Achas que cá ainda eram bastante artesanais. de COL já se estava a materializar
é sinal dos tempos? Por um lado Lembro-me que ainda gravámos e sentia-me muito mais “completo”
com o que começávamos aí a fazer.
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Esse dilema entre o querer tocar ao vivo ou ficar em casa, não me faz
confusão, acho que é uma opção válida. Nada te obriga a teres de dar um
concerto, ou assinares um contracto com uma editora.

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eNTREVISTA
eNTREVISTA
eNTREVISTA

Otep sempre foi uma representação que é possível dar sentido pujante às sonoridades mais
modernas e urbanas. "Kult 45", o mais recente trabalho da banda construída à volta da
cantora e activista norte-americana é apenas mais um exemplo disso. em como a música
pesada está atenta ao que se passa à sua volta, principalmente no seu próprio país. Sobre
o novo álbum, sobre a política, sobre a liberdade ou falta dela, e claro, sobre Trump: uma
conversa muito interessante que podem conferir abaixo com Otep Shamaya
Daniel Laureano / Fernando Ferreira
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Olá e bem-vinda ao nosso World Of Tivemos setecentas mil pessoas a Que ele não vai "sobreviver" para
Metal. Tenho dizer que é fantástico marchar em Los Angeles, um milhão tornar as coisas ainda piores do que
falar contigo especialmente nesta de pessoas em Chicago, em cidades aquilo que já são.
altura em que estás a lançar um irmãs um pouco por todo o país. As
álbum tão intenso como o "Kult pessoas a protestar contra ele. Estão Não, penso que não. Penso que ele
45". agora mesmo à porta da casa branca pensa que sim.
a protestar devido ao que chamamos
Obrigada. a convenção TriMet, onde ele se Claro, obviamente (risos).
encontrou em privado com o Vladimir Ele é arrogante, narcissisista mas não
Então a minha pergunta é... Putin. Basicamente ele disse que não
intensidade é aquilo que esperamos penso que consiga. Temos eleições em
confiava no seu próprio governo, no Novembro para o nosso Congresso e
de ti, seja em termos líricos como seu próprio Departamento de Justiça...
musicais, pelos trabalhos anteriores se nós, os progressistas, dominarmos
é algo que sai directamente do livro o Congresso, então acabou-se para
mas desta vez parece que a fasquia de regras de como ser um tirano.
foi elevada um pouco mais. Sentes o ele. Vão ser apresentados artigos de
Condenas um certo tipo de pessoas, "impeachment". Noutro qualquer
álbum desta forma? refugiados, imigrantes, fazes deles o momento na América, um presidente
Sim. Acredito que sim. Sinto que é inimigo, a causa de todos os problemas que tivesse agido da maneira como
talvez o meu disco mais agressivo até na América, que foi o que Hitler ele agiu e que tivesse feito as coisas
agora. fez com o povo judeu, e depois ele que ele fez, já teria sido destituído
começou a despedir e a atacar pessoas do cargo mas por alguma razão, ele
Disseste que o principal tema deste do Departamento de Justiça para o tem... é por isso que chamei ao disco
álbum não é apenas sobre Donald impedir de fazer aquilo que ele queria "Kult 45", ele é como um líder de um
Trump e sobre aquilo que sentes fazer, e o Trump está a tentar isso mas culto que tem como base muito, muito
que ele e o seu governo representam temos leis diferentes neste país que pequena mas que tem pessoas a apoiá-
mas também uma forma de o impedem de conseguir fazer isso. lo, alguns membros do Congresso,
demonstrar como o poder político Esse é, pelo menos, um sinal positivo republicanos, que o Trump deve ter
deveria ser, pri...mordialmente algo mas não há nenhuma forma dele algo com que chantageá-los ou então
que existe do povo para o povo. E sobreviver ao seu primeiro mandato. não querem deixar transparecer que o
isso foi algo que me ocorreu quando Há simplesmente demasiadas coisas Partido Republicano é um partido de
vi o título do álbum pela primeira a acontecer no último ano, com a traidores. São todos homens velhos
vez e as primeiras músicas ("Hail investigação do conluio e traição com e eles deveriam saber a diferença,
To The Thief" e "Halt Right" por Vladimir Putin e o governo russo e deveriam saber que quanto mais o
exemplo) e o que me veio logo à agentes russos. Acabou de ser preso mantém activo, mais danos ele faz ao
mente foi a forma como Hitler foi uma espiã russa que trabalhava para a partido deles.
eleito pelo povo alemão e como ele N.R.A. (National Rifle Association).
conseguiu controlá-los através da Ela é nova, por isso não vai querer Pensas que, pegando nisso, e
propaganda que espalhavam medos passar a vida inteira numa prisão na corrige-me se estiver errado por não
e preconceitos que eles tinham América, por isso vai falar. Existem ser americano, mas parece-me que
naquela altura. Nesse sentido, muitas pessoas envolvidas. Num falando de uma forma geral, que os
achas que a história está condenada ano, o conselho especial que está E.U.A. parecem ser um país em que
a repetir-se, com a manipulação em envolvido nesta investigação tem a grande parte dos seus habitantes
massa para tirar a liberdade das cerca de cem acusações dadas como tem tendência a classificar qualquer
pessoas por aqueles que estão no culpadas, quatro delas implicam o tipo de ideia que difere da ala direita
poder? Trump e por aí fora. Apenas temos como comunista. Nesta conjectura
que tentar... como americanos, temos em que o álbum é feito...
Eu acho que o Trump espera que que tentar impedi-lo antes que ele
sim mas não penso que a América faça algo muito terrível. Então é por (interrompendo) Hã... não é uma
vá permitir. Sabes, ele perdeu a isso que escrevi este disco. grande parte. É uma pequena parte
popularidade... temos duas formas mas muito barulhenta de americanos.
de eleger um presidente. Os votos
do povo e depois o colégio eleitoral. Sim, uma parte muito vocal.
E o colégio eleitoral foi criado
originalmente no século 18 para "É por isso que chamei Sim. Que acreditam que se
és progressista, liberal então és
ajudar os donos de escravos. Então
é mais ou menos apropriado que o ao disco "Kult 45", ele comunista. Chamam-te comunista,
socialista, marxista ou fascista, tudo
Trump tenha ganho por setenta mil
votos através do colégio eleitoral (Trump) é como um líder ao mesmo tempo, sem saber, tão
estúpidos que são, que todos esses
que é usado para ajudar os donos de
escravos e perca nos votos populares de um culto que tem são ideologias competidoras. Os
socialistas não gosta de fascistas,
por três milhões de votos. América, o
país... nós não queríamos o Trump. A como base muito, muito fascistas não gostam de comunistas,
comunistas não gostam de socialistas.
maioria não queria e isso demonstrou-
se como no dia em que foi empossado pequena mas que tem Apenas tentam atirar para o ar
palavras assustadoras para que
e discursou, apenas umas poucas
centenas compareceram. Um milhão pessoas a apoiá-lo" possam insultar-te e intimidar-te. Eu
não me deixo intimidar. Eles tentam
de pessoas marcharam em protesto
em Washington D.C. como o maior mas não resulta comigo. Mais uma
protesto na história americana no Dirias então, por aquilo que razão para ter escrito este disco, para
dia a seguir a ter sido eleito. E isso acabaste de dizer, que há uma assegurar-me que as pessoas que se
foi apenas em Washington D.C.. espécie de luz no fundo do túnel? sentem como eu também tenham a
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coragem para se chegarem à frente O que é em si um bocado ridículo. mais complicado do que previas ou
e falar o que sentem. Saber que esta foi bastante simples?
é a nossa nação e não deles e que Absolutamente. É absurdo. A
queremos tomá-la de volta. América é baseada na ideia que todos Não, nós sabíamos o que queríamos
são criados de forma igual e que todos em termos sonoros, sabíamos como
É esse o tipo de recepção que têm direito à liberdade e à procura queríamos soar neste álbum e
esperas para o álbum, que seja uma da felicidade. Os nossos líderes, queríamos que fosse cru e poderoso
messagem de força para as pessoas especialmente o nosso presidente, mas ainda assim a soar como um
que te apoiam e que concordam jurou perante a constituição e ele álbum profissional, sem deixar de
contigo? Esperas isso? E por outro está a violar esse juramente todos os soar ameaçador e destemido. E acho
lado, o que esperas que o álbum, dias. A única que ele se importa é que conseguimos isso, extremamente
as músicas e a capa bastante ele próprio e em enriquecer-se a ele bem.
provocadora, quais são as recepções próprio. Diz-se que ele já teve um
e reacções que esperas? lucro de algo como cem milhões de Sim, e eu concordo. Pessoalmente
dólares porque sempre que ele tem sou um grande fã e algo que achei
Das músicas que já lançámos, o público representantes estatais a visitar os bastante interessante. Sou um
adorou-as. E estão excitados por ouvir E.U.A., eles não ficam na casa branca, grande fã de hip hop mas muitos
canções que não só falam do que está o que é normal, ele leva-os para o seu fãs de metal não o são. Ou pelo
errado com o Trump, como ele foi clube de campo na Flórida, cobrando menos são menos receptivos a esse
eleito como outras questões culturais ao povo americano e também aos género, antes de bandas como a
que temos neste país. E a resposta até representates estatais a estadia no seu tua ou como os Rage Against The
agora foi esmagadoramente positiva. hotel, então ele está a ganhar dinheiro Machine terem surgido. Isto talvez
Dos seus apoiantes, mais uma vez, por ser presidente o que é também esteja relacionado com este tipo de
são como um culto. Eles só sabem ilegal na nossa constituição, o que é mensagens de activismo político
como responder da forma como ele chamado de "Emoluments Clause". que muitas vezes são através de
lhes diz para responder, então eles só Mas os republicanos no congresso músicas hip hop. Dito isto e da tua
conseguem dizer o que eles dizem. recusam-se a fazer algo sobre isso, eles perspectiva e olhando para os dias
Passando por cima disso, nós somos são cobardes, mas a oposição não o é. de hoje, dirias que hoje em dia que
o oceano e eles são apenas poças e Estamos a manter-nos fortes, somos mensagens políticas com sentido
depois de pisarmos uma poça e da destemidos, vemos cada vez mais estão em falta de uma forma geral
água sair toda, apenas fica lama. É pessoas a erguerem-se, a envolverem- na música?
tudo o que lhes sobra, o oceano é se na política, em manifestações
muito mais profundo que uma poça. contra ele e ao seu regime idiota. Eu não tenho visto muitas mensagens
Por isso não estou muito preocupada Esperamos que seja destituído do políticas em muita da nova música mas
com esse outro lado. Sou uma artista, cargo. E será uma celebração como para nós, sempre fizemos música que
não sou uma entertainer. Não estou nunca antes vista assim que aquele gostamos como banda. Eu sou uma
preocupada em polarizar o meu palhaço desaparecer. fã de hip hop também... hip hop era o
público, estou preocupada em falar a caminho que eu iria seguir na minha
verdade ao poder, em defender grupos carreira até que tive músicos a tocar
e pessoas marginalizadas. A minha ao vivo comigo, o que mudou tudo.
voz é forte, ruidosa e destemida e
então, estou muito excitada com este
"Os nossos líderes, Sabes, para mim não interessa muito o
género ou o que todos pensam aquilo
disco, estou muito orgulhosa dele.
Eu não gosto normalmente deste tipo
especialmente o nosso que fazemos porque se estivermos
preocupados constantemente com
de discos, porque sei que é apenas
um álbum e existem implicações no
presidente, jurou perante aquilo que o público pensa então não
estamos a ser mesmo autênticos e a
mundo real para aquilo que o Trump
está a fazer ao nosso país e no palco
a constituição e ele está perseguir os nossos próprios instintos
artísticos. Então apenas seguimos os
do mundo mas penso que a música é
um formato muito forte que permite
a violar esse juramente nosso próprios instintos artísticos
e deixamos que eles guiem o nosso
às pessoas ver o outro lado mesmo
que não concordem comigo.
todos os dias. A única caminho.

Claro.
que ele se importa é ele E só existem dois tipos de música,
certo? A boa e a má. A música que
A música é de qualquer forma próprio e em enriquecer- queres fazer e a que não queres
fazer. Cabe ao público decidir quais
excelente neste disco (risos). Mesmo
que não concordem comigo, talvez, se a ele próprio." são aquelas que quer ouvir e não ao
artista, certo?
talvez eu consiga plantar a semente
nas suas mentes, a sombra da dúvida Nalgumas vezes, claro, mas ao
de que ele não é este grande líder que Pegando nisso que disseste, e mesmo tempo quero que os meus fãs
eles pensam que seja. Que é apenas focando a música do álbum mais gostem, quero fazer novos fãs, quero
este triste homem de negócios que de perto, não só os temas são crus e alargar a nossa base de fãs e os nossos
entrou em falência onze vezes. Logo fortes como também musicalmente apoiantes. Mas no final, como artista,
no dia em que tomou posse, ele foi é apresentado desta forma. A tens que fazer o disco que estejas
processado por fraude por vinte e produção é bastante forte. Era esta orgulhosa e com o qual consigas
cinco milhões de dólares, processado a tua visão para o som de "Kult 45" viver no resto da tua vida. É o nosso
por nove pessoas diferentes... esse quando trabalhavas nas letras? E, se objectivo, sabes? Não quero olhar
número talvez tenha subido para doze, me permites, num lado mais técnico para trás e olhar para esta era e ver que
ontem depois da "Treason Summit" da questão, já que tu e Aristotle não usei tudo o que podia para expôr
com o Putin. tomaram conta da produção foi e lançar uma luz brilhante nos crimes
32
"A indústria da música e a música são subversivas. São uma
maneira de se insurgir contra este tipo de tiranos e actos e
espero que mais dos meus pares e colegas lutem conta este
homem merdoso."

33
do Trump perante a constituição, à propaganda sobre os refugiados, A escolha desta música foi de caras
a verdade, os atropelos à liberdade imigrandes e emprego, temos ou havia mais opções em cima da
e aos ataques a pessoas inocentes, obviamente o Brexit na Inglaterra mesa, tal como nem sequer fazer
separando as crianças das suas como um exemplo sintomático disto uma cover?
famílias e colocando-os em campos mesmo.
de detenção, todo este disparate Não, a editora pede-nos para fazer
brutal que nos coloca bem longe de Exacto. uma cover sempre que gravamos
onde viemos como uma nação. Nós um álbum, pensam que torna-o mais
costumávamos ser assim quando Todas estas coisas parecem fácil de vender e decidimos fazer
começámos. Quando os europeus acontecer enquanto o zé povinho uma e decidimos voltar a uma das
vieram, já existiam impérios aqui, está demasiado ocupado a ver a minhas grandes influências, Rage
impérios nativo-americanos que já telenovela ou o reality show, a ser Against The Machine e... mais uma
existiam há mais de vinte e cinco mil distraído pelos poderes vingentes. vez, estás certo, escolhemos esta
anos e quando os europeus chegaram, A minha questão é... consideras canção particular porque sentimos
eles foram brutais para esses povos. que a indústria de entretenimento, que existem muitas pessoas que ainda
Tiraram-lhes as crianças, mataram independentemente de se sentir que estão a dormir e que uma pequena
as mulheres, violavam as mulheres, a música faça parte ou não dessa maioria não vês os perigos que aí vêm
mataram os homens. Depois tivemos mesma indústria, seja uma das e decidimos fazer essa cover. É uma
escravatura em que separavam ferramentas que o poder instituído favorita do público. Tocamos essa
familias inteiras para diferentes donos usa para escravizar o povo, música e o pessoal fica louco, é algo
de escravos, as crianças para um dono mantendo-o ocupado enquanto lhe maravilhoso de ver. Acho que também
de escravos, a mulher para outro, tira a liberdade? Sentes isso? é uma lembrança de que podemos ser
o homem para outro. Então temos político e ainda assim fazer grande
Não, não sinto. Sinto que é o trabalho música. Podemos ser como o Zack
uma história longa e horrível disso do artista ou do entertainer decidir que
mesmo e já tinhamos ultrapassado De La Rocha e cantar da maneira
tipo de mensagem que querem enviar. como ele canta, quer queiras chamar
isso. Quando tivemos o Barack O que alguns conseguiram dominar
Obama como presidente, sentimos rap ou não, será sempre poderoso.
na América é sempre que surge algo As pessoas que gostam de hard rock
que tinhamos começado finalmente mausobre essas pessoas, faz-se algo
a atingir um degrau mais elevado, em ou música agressiva conseguem
terrível para o ciclo de notícias pare de identificar-se com ela e essa foi uma
atingir esse objectivo do sonhos de se focar nisso. Existem dirigentes de
América em que todos somos iguais das principais razões pela qual nós
campanhas na prisão a enfrentar penas escolhemos essa banda e essa canção,
e que todos merecem justiça e depois de prisão perpétua por coisas assim,
este sacana traiçoeiro do Trump porque se encaixa tão bem no disco.
separar crianças das suas famílias e Obrigado por pegares neste assunto,
aliado aos russos, e os russos, que não mandá-las para campos de detenção
façamos nenhum erro sobre isto, isto foste uma das poucas pessoas que o
na fronteira e as notícias são sobre fizeram, obrigado.
não foi ajudar-lhes a ensinar como isso. Hoje em dia na América essas
usar o computador ou algo do género notícias estão a ser focadas enquanto
ou o twitter. Isto foi o alvo de um Sim, eu também sou um grande fã
as notícias da agente russa que foi de Rage Against The Machine por
ataque militar contra o governo dos acusada como agente estrangeira sem
Estados Unidos. Em vez de sermos isso... (risos)
estar registada passam despercebidas,
bombardeados com morteiros, usaram ou como os russos tentaram infliltrar- Quem é que não é?
um ataque cibernético. Entraram nos se na política e organizações
servidores democráticos, os seus americanas como a National Rifle Exacto, apenas mais uma questão
computadores, os seus e-mails e Association onde o governo russo final, apenas para resumir e
depois despejaram tudo para o colo injtectou trinta milhões de dólares no concluir.... tu e a tua banda estão
do Trump e ele usou isso para fazer o Partido Republicano. A indústria da habituados a viajar pelo mundo.
que queria. Isto é traição e nos velhos música e a música são subversivas. Pensas que a tua voz é mais ouvida
tempos, os americanos, a penalidade São uma maneira de se insurgir contra e tem mais impacto no teu próprio
mais grave para a traição é a morte este tipo de tiranos e actos e espero país ou no estrangeiro e já agora, já
e não penso que lhe vão fazer isso que mais dos meus pares e colegas existem planos para vir à Europa
porque é um mau precedente para os lutem conta este homem merdoso. em digressão para que te possamos
outros políticos neste país mas ele será Desculpa mas vou ter que atender ver ao vivo?
responsabilizado por todos os seus esta próxima chamada, é mais uma
crimes, levando tudo o que possui, entrevista. Tens mais alguma questão Penso que vai ter um grande impacto
incluindo a Torre Trump. E será um para mim? Estou a gostar muito desta na América e igualmente grande
dos melhores dias da minha vida, conversa. pelo mundo porque muitas pessoas
quando o vir a perder tudo, vá para a odeiam o nosso actual líder. Não é
prisão e que morra um pobre, patético Claro, claro. Muito obrigado. bem um líder, é mais um residente
e homem cobarde que é o que é. Apenas uma pergunta final e do que um presidente. Ele apenas
pegando no que disseste dos teus vive na Casa Branca mas sim, a nossa
No que diz respeito à influência dele pares e influências também. Fizeste editora é austríaca e como tal temos
no mundo, que foi algo que disseste um cover de "Wake Up" de uma planos em fazer digressão, o nosso
que achei bastante interessante. das maiores influências assumidas, agente está a trabalhar neste momento
Como provavelmente sabes, a falo claro de Rage Against The para que possamos ir aí e tocar estas
sua ascensão nos Estados Unidos Machine. Esta música alinha-se canções e trazê-las à vida e dar às
não foi um acontecimento isolado perfeitamente com o tema geral de pessoas uma razão para que elas
em termos de conjectura política "Kult 45" assim como a música em se possam sentir com poder no seu
porque há uma grande tendência de si. próprio país se estiverem a lidar com
partidos da ala direita a fortificarem- algum pretendente a tirano, algum
se e a subir ao poder devido muito Verdade. pretendente autocrata, já têm uma
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banda sonora para ouvir e que se sintam encorajados a agir e a manterem-se envolvidos e tenham esperança que juntos
podemos pará-los. Arte é resistência sem violência. Arte é por si só, resistência, se usada de forma sábia. Pode ser uma
das ferramentas mais poderosas do planeta para lidar com este tipo de pessoas e música é especialmente poderosa porque
atinge todos os sentidos. Não é apenas visual, não é um quadro ou um livro ou um artigo que lês, é todas essas coisas.
É uma experiência completa, certo?
Sem dúvida. É uma experiência sensorial completa.

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eNTREVISTA

Deicide é uma das grandes bandas de death metal norte-americano. De sempre. Ponto. Apesar
de alguma irregularidade em termos de qualidade nalguns momentos do seu passado, os últimos
trabalhos da banda já indicavam que estavam no bom caminho mas ninguém esperaria "Overtures Of
Blasphemy" fosse a bomba que se revelou ser. A World Of Metal foi ter com Steve Asheim, baterista
e eterno pilar fundamental dos Deicide para saber mais sobre o excelente momento de forma que a
banda está atravessar.

Fernando Ferreira

É uma grande honra ter- entanto, tive que voltar já o conheço há um bom cinco anos a lançar
te aqui no nosso World a rearranjar algumas das bocado. A sua integração um novo álbum? Ouvi
Of Metal, Steve. Bem canções, cortar a gordura foi bastante suave. Pedi a dizer que "Overtures Of
vindo! Cinco anos desde como se costuma dizer. ele para aprender alguns Blasphemy" foi gravado
o vosso último álbum e Mas assim que fiz isso, o leads mais complicados e num período de dois
voltaram mais zangados resto surgiu e alinhou-se ele fê-lo sem problemas. anos...
e pesados que nunca. É de forma bastante suave. Trazê-lo para a estrada por
de esperar isso de um algumas digressões e ele Não, ele não foi um factor
álbum dos Deicide mas É o primeiro álbum safou-se bem. Agora no decisivo nisso. Teria sido
mesmo assim... foi difícil com Mark English, o disco, ele fiz outro trabalho os cinco anos à mesma
atingir este ponto em que vosso novo guitarrista, excelente. Então estamos com ou sem ele. Tal como o
estavam satisfeitos com as que também toca nos bastante ansiosos para processo de gravação teria
canções de "Overtures Of Monstrosity. Como é que fazer-nos à estrada com ocorrido da mesma forma
Blasphemy"? chegaram a ele? E como ele outra vez, de forma a com ou sem ele.
é que foi a integração na completar a sua integração.
Obrigado, e sim estamos banda, rápida? Quase trinta anos em
de volta com um álbum O facto do Jack Owen ter Death Metal - sem contar
que ficou bastante pesado. Sim, o Mark tem estado saído está relacionado com os tempos dos Amon
Levou algum tempo no por perto desde sempre, com o terem demorado - e estão de volta com um
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dos vossos álbuns mais brutais geral é bastante podeoroso. vai chegar ao alinhamento?
de sempre. Havia a sensação Não houve qualquer tipo de
de que tinham algo especial dúvida em relação a trabalhar Bem, ainda não temos nada
em mãos com "Overtures Of novamente com Jason Suecof e definido mas iremos a todo o
Blasphemy"? Alan Douches? Parece-nos que lado. Estados Unidos e Canadá,
é o melhor trabalho deles de América Central e do Sul, Europa
Sentimos realmente que sempre... e muitos outros sítios que os
tinhamos um disco especial mas promotores nos queiram lá.
por outro lado a nossa atitude era Wow, esse é certamente um Com esperança, haverão muitos
"é outro álbum, esperemos que as grande elogio. Estou certo que concertos nos próximos anos
pessoas gostem". Mas quando as ambos vão gostar de ouvir isso. e sim estamos a planear fazer
pessoas na editora começaram a E não, não houve realmente muitas novas músicas ao vivo.
passar-se com ele, então foi aí que nenhuma dúvida em relação ao Cinco ou seis, talvez mais. Vamos
eu comecei a pensar que se calhar sítio ou às pessoas com quem ver como é que o público reagem
era mesmo algo especial. Estou eu queria fazer este disco. Quer a quais canções e quais é que se
contente por isso que eles estejam dizer, os resultados falam por vão tornar as favoritas dos fãs e
contentes e com esperança o si próprio. E, já agora, também claro, focar-nos nessas mas sim,
disco vai fazer coisas excelentes sabemos onde queremos ir para o vamos fazer bastante do novo
para nós todos. próximo disco também. álbum.
Fala-me do "feeling" Jusdas Também ouvi que vocês já estão
Priest que tem sido mencionado
nas tuas entrevistas recentes...
Penso que as pessoas não
"Pessoalmente a planear o próximo álbum!
Houve canções que tenham sido
compostas ao mesmo tempo
perceberam o que quiseste dizer
mas não foram necessárias só gravei riffs daquelas que podemos ouvir no
"Overtures Of Blasphemy"?
muitas audições ao álbum para
perceber o que querias dizer com
a frase. Sabe a metal clássico,
que eram mesmo Sim, tenho estado a trabalhar em
cenas novas mas não, não são
com grandes ganchos, grandes
melodias e mesmo assim um
memoráveis" apenas sobras do "Overtures...".
As músicas do "Overtures..."
foram feitas no Verão de 2016,
puro assalto de death metal!
O que faz deste álbuns mais eu escrevi estas novas em Janeiro
brutais na tua carreira como "Overtures Of Blasphemy" deste ano, 2018. Por isso, sim,
disse atrás mas também um dos também marca o regresso à novíssimo material já está na
vossos mais catchy de sempre! composição por parte de Glen forja. Aliás, tenho cerca de outras
Tiveste alguma resistência Benton. Foi esse facto também seis ou sete novas músicas que
conforme te foste apercebendo determinante para o resultado tenho que finalizar antes que
desta direcção? final? existam muitas para escolher. Por
isso ainda mais a caminho.
Bem, só pelo facto de termos mais
Sim, isso foi algo que me foi dito,
não propriamente algo que tenha um par de músicas no disco, claro. Para finalizar, vemos muitos
pensado originalmente mas eu Hey, quantas mais, melhor certo? dos nossos heróis do metal a
E resultaram também muito bem. desaparecer, é impossível não
percebi o que eles quiseram dizer
com isso e de certa forma concordo. sucumbirmos aos efeitos do
Em termos líricos, o Glen parece tempo... até quando pensas
Existe um vrtyo "feeling" que que está mais lixado que nunca. que serás capaz de continuar a
aponta nesse sentido que um Parece que é algo que podemos espalhar a tua brutalidade?
disco como "To Hell With God" esperar que se mantenha
não tem, esse "feeling catchy", inalterado, o seu já lendário Ahh, sim, o tempo não espera
enquanto é definitivamente um ódio em relação à religião por nenhum homem. Mas ainda
álbum pesado com muitas partes organizada. continuo a fazer o que faço e vou
excelentes, não é bem aquilo que continuar a fazê-lo enquanto for
se tornou no final com "Overtures
Sim, ele é um rapaz zangado e se capaz. Neste momento parece
Of Blasphemy". E eu penso que isso não mudou até agora, não que isso ainda será por um bom
vem desde o início, no processo penso que vá acontecer no futuro. bocado de tempo. Ainda estou
de compor riffs. Pessoalmente Na verdade, acho que ele está a saudável e em boa forma. Ainda
só gravei riffs que eram mesmo ficar cada vez mais zangado. aprecio fazer o que faço e estou
memoráveis, então quando voltei
aos meus arquivos de riffs, eramO álbum sai em Setembro, a ficar bastante bom nisso. Por
todos bastantes catchy. já sabes onde vão andar em isso... sim, vamos ver quanto
digressão? E, já agora, aquilo que tempo conseguimos manter a
E não só as músicas são brutais os fãs vão poder ouvir? Quanto coisa a rolar.
como a produção e o som no do "Overtures Of Blasphemy"
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eNTREVISTA
eNTREVISTA

Não só Fernando Ribeiro é um nome incontornável da música pesada como frontman dos
moonspell como também reforçou essa posição ao saltar para o lado editorial com a criação,
em parceria com Pedro Vindeirinho da rastilho records, da Alma Mater Books & Records.
Tornou-se imperativo para a World Of Metal falar com o mítico vocalista e explorar todo o
vasto mundo desta alma mater que em pouco tempo já conquistou o seu lugar entre o público.
Fernando Ferreira

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Olá Fernando e bem vindo a este desconfiado dessas teorias da Não pretendemos fazer isso quando
nosso World Of Metal. Acho que morte. O meu conhecimento da anunciamos que é limitada e
começava pela primeira coisa indústria e de como fazer e lançar exclusiva, sem dúvida que desvirtua.
que nos ocorreu quando tivemos discos, chega para ultrapassar esses Mas com os nossos discos, não
conhecimento da Alma Mater boatos. Há todo um mito que já não vamos ter essas veleidades, por
– “Como é que ele consegue se vende, já não se faz, para quê, exemplo com Desire ou Okkutist.
ter tempo para se meter nesta que é descaradamente promovido, Temos objectivos diferentes para
aventura?!” Ponderaste muito com que intenções desconheço. essas bandas e outras que virão e
bem antes deste passo ser dado O que conheço é a realidade dos que passam por um tratamento
ou as condições alinharam-se e nossos títulos. O "Infinity" de completo desde a produção á tour.
facilitaram a criação da editora? Desire esgotou, o vinil está quase. E tem de haver discos e têm de se
Era um sonho antigo? Os de Moonspell, todos esgotados. vender, sem medo ou vergonha. Os
Paulo Bragança, quase. Somos likes no Youtube não são a única
Sonho, não diria. Tempo, não mágicos? Não. Trabalhamos com via, pelo contrário, até empolam as
tenho, mas arranjo. Tal como tudo muita inteligência, dedicação e bandas sem valor.
na minha vida foi um misto de qualidade. Cometemos alguns erros
ponderação e depois decidir num sim, mas que não desvirtuaram, Vamos passar em revista os
instante, tentando aproveitar um em nada, o alcance do que lançamentos da editora até agora
momento que sabia ser benéfico: o fizemos. Conseguimos beneficiar e falar depois das novidades.
re-lançamento do disco Irreligious as bandas e agradar aos fãs e aos Começando por “Infinity... A
pela Century Media. Eles entraram coleccionadores. Vendemos todos Timeless Journey Through An
em contacto comigo e eu propus os vinis mas o que esgotou primeiro Emotional Dream”, um dos
fazer uma edição de banda que até foi o CD no caso dos Desire. clássicos absolutos do nosso doom
depois evolui também para lançar, Enfim, há muita fake news, temos de nacional e até metal em geral.

"Há todo um mito que já não se vende, já não se faz, para quê, que é
descaradamente promovido, com que intenções desconheço. O que conheço
é a realidade dos nossos títulos. O "Infinity" de Desire esgotou, o vinil está
quase. Os de Moonspell, todos esgotados. Paulo Bragança, quase."
lutar, sim, ainda após duas décadas
pela primeira vez, o single "Opium" disto, mas desistir não é uma opção. Como surgiu a ideia para reeditar
em vinil. Criámos mini-condiçoes em CD e Vinil do álbum de
de trabalho, convidei o Pedro da Os primeiros lançamentos da estreia dos Desire? E quais são as
Rastilho para meu sócio e agora sim Alma Mater foram dos Moonspell, lembranças que tens do primeiro
estamos em condições de apresentar o “Irreligious” e o single/EP impacto que teve em ti?
algo sólido, bem pensado, sem ser “Opium”, já esgotados. Foi
feito para o umbigo, com Moonspell complicado a parte burocrática O Nuno/Tear sabia que eu estava a
como base, mas aberto a outra (normalmente oculta dos fãs) dos começar com uma editora e achou
bandas. O tempo se bem gerido, licenciamentos já foram trabalhos por bem falar comigo. Em boa hora.
pode dar frutos e agora é o timing lançados pela Century Media Eu não estava muito preparado para
certo para apostar em algo assim. Records? isso, a Alma Mater tinha começado
Depois, seria tarde demais, antes, apenas para reeditar em condições
cedo demais. Nada complicado. Sempre mantive o antigo repertório dos Moonspell
uma excelente relação com a mas agarrei a oportunidade. Ao
Todo o foco da Alma Mater Century Media e com a Clandestine contrario do que muita gente pensa,
Records & Books parece ser em que trata dos licenciamentos e eles eu quando ando lá fora, dos nomes
trazer algo de diferente e raro, tem sido um parceiro fantástico da que mais ouvia e ouço eram os
apostando sobretudo no vinil, um Alma Mater. Eu sempre ajudei a Desire. Quase toda a edição foi lá
suporte que muitos davam como Century cada vez que me pediam para fora em vendas. Sempre achei
morto. Para toda uma geração algo, tenho saudades de trabalhar esse disco brutal de uma coragem
habituada apenas aos CDs, o vinil, com eles e esta também é uma extrema. Aquele Doom, quase
principalmente a nível gráfico tem oportunidade de tornar a fazer isso. fúnebre, era à frente do seu tempo
um impacto irresistível. Ainda e ao mesmo tempo contemporâneo,
é um nicho de mercado, com Ponderas fazer novas tiragens coisa que procuro na editora.
constantes edições que temos em desses e de outros lançamentos Por isso foi um orgulho ter um
vinil constantemente? Não achas esgotados ou achas que isso seria papel activo na “ressurgimento”
que poderá existir uma saturação? subverter o caracter da própria dos Desire e ajudar a compensar
editora? algumas decisões erradas da banda
Sou completamente surdo e no passado. Agora, como lhes disse,
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é tempo de fazer um disco novo. como actualizar alguma coisas quando colaborámos no teatro,
que já não faziam muito sentido nos Bizarra, nos Orfeu, nos
Passamos ao lançamento vinil em Inglês, transformar um pouco livros tem sido tudo muito bom
exclusivo do novo álbum dos a cena, foi muito melhor e mais e feito com verdade mas também
Moonspell. Esse é um ponto que prazenteiro todo o processo. Os com eficácia. Este livro é outro
consideras assente daqui para o fãs responderem brutalmente, era exemplo. Mas mesmo que não o
futuro, todos os novos trabalhos um livro desejado, já está quase a conhecesse de parte alguma, teria
dos Moonspell terem uma edição esgotar todo o gosto em o editar.
especial pela Alma Mater Records?
E fazendo um pouco de antevisão, Seguiu-se “Cativo” de Paulo Vamos passar para os próximos
será que há a possibilidade dos Bragança. Surgiu naturalmente lançamentos já agendados. Se não
Moonspell estarem a 100% na esta edição, tendo em conta a estou em erro, o tão aguardado
Alma Mater Records, como sua amizade estabelecida devido a DVD/Blu Ray/triplo CD/
própria editora? “1755”? Sendo algo mais fora do vinil será lançado em Portugal
âmbito do metal, como consideras exclusivamente pela Alma Mater
Sim, essa é a ideia. Tanto a Napalm ter sido a recepção deste EP? Foi Records, certo? Sendo o primeiro
como a Century Media apoiam essa um lançamento que conseguiu Blu Ray que editam, vai haver
ideia, as pessoas falam das grandes chegar lá fora? mais algum tipo de conteúdos que
editoras por falar ou por não terem diferencie do DVD, além da óbvia
assinado as suas bandas. É errado, Foi uma mistura de amizade, e melhor qualidade imagem/som?
ainda por estes dias recebi contratos exclusão de partes. Quando o Paulo
de bandas amigas para ver, ambos me disse que era maldito, não Eu não sou fanático por lives, DVD
de editoras Underground e eram estava, de todo, a brincar...Bem, ou discos. Para além dos óbvios,
os piores contratos que alguma vez mas lancámos o "Cativo "que para "Live After Death", "Earth Inferno",
li! So much for the underground mim, apesar dos bons resultados, "The Cure In Orange", são muito
spirit…. Não sei se esse dia chegará, não é nem metade do que o Paulo poucos os discos que tenho ou
estamos muito bem na Napalm, pode conseguir criativamente escuto ou vejo ao vivo. Acho até que

"ainda por estes dias recebi contratos de bandas amigas para ver, ambos
de editoras Underground e eram os piores contratos que alguma vez li! So
much for the underground spirit…. "
a Century também nos aceitaria falando. Se ele conseguir reunir as muito do que se lança é para meter
de volta na boa, mas se esse dia peças espalhadas por onze anos de no mercado, daí os live at Wacken
da auto-edição chegar, estaremos ausência e se adaptar à mudança, etc. Com todo o respeito, não era,
preparados. Para já obtivemos penso que podemos contar com de todo, o que se pretendia. Há mais
resultados melhores e mais rápidos o Paulo para um grande LP. Lá de dez anos que não lançavamos
para Moonspell, com o "1755", do fora houve curiosidade mas não se um DVD ou algo ao vivo e por
que o Extinct pela Sony Music. traduziu em vendas. isso pensámos em grande com
os conteúdos e a imagem. Mas
O primeiro livro lançado foi “A Equação Celeste Do Mendigo” ao entregar o trabalho ao Victor
“Purgatorial”, uma compilação de de Rui Sidónio. Este era um livro Castro, o realizador, sabiamos logo
todos os teus escritos traduzidos que o Rui já tinha ponderado que seria ele a destacar o DVD
para inglês. Traduzir poesia lançar ou houve aqui algum dos demais, pelo seu trabalho de
poderá levar muitas vezes a trabalho de persuasão para que os realização e o gosto com que edita.
termos algo completamente novo. seus poemas vissem a luz do dia Na verdade, ele fez a diferença, com
Foi o caso? É este um livro que desta forma? o documentário que montou, com o
poderá ser interessante também facto de nem sempre a camara estar
para os teus fãs que já tenham os O Sidónio é o melhor em muito
do que ele faz. É mesmo. Então na banda, eu gostei muito e fez com
trabalhos previamente editados que valesse a pena editar e trabalhar
em português? em palco, não dá hipotese.
Mas isso não quer dizer nada, tanto para um release que é épico a
Sim, foi o caso. Eu peguei na tradução especialmente para ele. Ele é um todos os termos.
e deixei a meio, um milhão de vezes. homem-máquina que precisa de "Wolfheart” vem já agora em
Não era o tempo. Depois, comecei ignição, nos palcos, a gravar, a Agosto e marca também a criação
a traduzir uma horas por dia et editar e muita da nossa amizade da “Underground Majesty Series”.
voilá! tinha o livro em Inglês. Foi e cumplicidade tem passado por A edição será de quantas unidades?
praticamente reescrito porque tinha isso. Ninguém o persuade a nada, Haverá algum tratamento de som
não só de verter para Inglês algumas isso já deviam de saber mas se ou será uma reedição em termos
particularidades do Português, bem ele quiser, as coisas acontecem e sonoros tal como a original?
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Serão 400 unidades e já quase que cultura e a influência que tivemos sendo reedições?
voaram todas em pré-venda. Eu tive enquanto músicos e repor alguns
a ideia de iniciar uma série limitada dessas obras-primas no mercado. Exactamente. Com os Desire,
e a seguir serão Tiamat Clouds e Ter este disco de Tiamat e as demos como disse à banda, é tempo de
Paradise Lost demos e material dos Paradise Lost é inacreditável disco novo. O passado deles é
antigo, do começo. O objectivo é quase, mas a Alma Mater é algo excelente, alias como veio provar a
lançar discos que marcaram o Metal personalizado, que leva muito reedição, mas eu acho que é tempo
da Europa, a sua cultura, as raízes tempo a escolher para escolher bem, de um disco novo. No caso dos
de muitos nós, uma homenagem. por isso a ideia não era de agora mas Desire faremos sempre vinil, eles
Todos os LP’s serão gatefold, consegui-la iniciar essa assim, é um já merecem essa “honra”. Os discos
remasterizados para vinil, artwork bom augúrio para o futuro. de Moonspell estão a ser pensados
original ou alternativo, depende, tanto que serão duas coisas muito
mas o foco é a qualidade já que Ainda temos os Okkultist, diferentes mas a constante vai ser
este discos se dirigem mais aos fãs lançamento em CD. Como sempre tentar ter algo de novo, de
coleccionadores. surgiu a ligação a eles? São uma inesperado, no grafismo, nos temas,
das promessas do death metal no som, não me canso de repetir
Para o Halloween, está reservado nacional? Qual é a data do são objectos que tem de valer a pena
o single “I’ll See You In My lançamento? editar e coleccionar.
Dreams”, uma raridade que os
fãs certamente procurarão, que Sim, eu queria uma banda unsigned. Para terminar, e sendo a nossa
na altura surgiu associado a uma Conhecia a Beatriz de ser fã e revista e projecto algo feito de
curta-metragem com o mesmo fotografar concertos, depois segui fãs para fãs, é impossível não
título. No lado B, temos o mesmo a conta dos Instagram dela que é sentir uma identificação num
tema numa “(a)live version”, que brutalisssima e por fim soube que projecto como a Alma Mater já
sugere que tenha sido gravado ao tinha uma banda e fui ouvir. Eles que é nítido esse amor de fã em
vivo. Este não foi um tema muito não me pediram nada. Curti muito cada um dos lançamentos. Não
interpretado pelos Moonspell em o que ouvi, é um Death old school, falando propriamente de planos

"a Alma Mater tem uma função historica e de passar a cultura e a


influência que tivemos enquanto músicos e repor alguns dessas obras-
primas no mercado. Ter este disco de Tiamat e as demos dos Paradise Lost é
inacreditável quase"
cima dos palcos... o que por si só
é uma raridade! É o lançamento sem muita melodia ou exageros e/ou de limitações financeiras ou
que exemplifica na perfeição o que e lembrou-me Abomination, dificuldades que possam existir...
representa a Alma Mater Records Autopsy, Grave. Sempre fui um fã se tivesses que escolher um
não? de Death Metal e decidi avançar álbum para reeditar numa edição
e eles aceitaram. Mas temos uma especial limitada e um livro/autor
Sim. Houve muita gente que quis caminho longo a percorrer e eu não com quem gostarias de trabalhar
editar mas se tenho uma qualidade quis que eles fossem logo para o quais seriam?
é não ter pressa. Isso foi decisivo e estúdio, fizeram uma pré-produção
apesar de não ser um lançamento com o Pedro Paixão (Moonspell) Tenho muitas ideias, algumas não
massivo, tem o feeling antigo de que poliu o diamante. Vão para posso revelar porque o segredo é
algo especial e temático e uma arte estúdio em Setembro com grandes a alma do negócio, mas também
fantástica do João Diogo. O live é condições e um grande disco, tive a sorte de começar com discos
muito rough, sim, de um concerto para mim dos melhores do Death que queria mesmo reeditar como
de Halloween na Incrivel e uma das Metal em Portugal, senão o melhor, o "Clouds". Tenho duas bandas
raras vezes que tocámos isto ao vivo. tirando Thormenthor (risos). Portuguesas em vista mas vai ser
Aguardem para ver. com calma, farto de projectos
Para o futuro temos também boas falhados e da frustração que isso
indicações com o mítico “Clouds” Mais para a frente temos o novo coloca na cena Portuguesa estamos
dos Tiamat, as demos dos Paradise álbum dos Desire, ainda sem nós todos. Gostaria no entanto de
Lost, “Drown In Darkness”? data anunciada, assim como editar algo dos Root, vou lutar por
Porquê a escolha destes dois “Wolves From The Fog” dos isso, algo de Sarcofago, algumas
trabalhos? Moonspell e o “Sin/Pecado”, agora demos, mas como disse a Alma
rebaptizado apenas como “Sin”. Mater vai ser uma maratona e temos
Acho que já exliquei e resumindo Desire, será uma edição vinil e de fazer a diferença especialmente
porque a Alma Mater tem uma CD? E que novidades vão trazer para as bandas Portuguesas e isso
função historica e de passar a os lançamentos dos Moonspell, sim é tarefa para Hércules.
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Apresenta
emigrantes, imigrantes

à venda na loja da world of metal ou


através do e-mail emigmetal@gmail.com

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Mais um grande lançamento, falamos de “Apocalypse” dos Primal Fear, que no
ano de celabração dos 20 anos de carreira tem neste disco uma aposta ao seu
nível, de enorme qualidade musical e até numa demonstração de que os Primal
ainda estão para durar... Mat Sinner falou connosco sobre tudo o que vem com
“Apocalypse”!
Por: Miguel Correia

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”a questão é: gostas do teu trabalho? Se sim, tudo pode ser uma loucura
cheia de paixão e criatividade... se não, então é melhor deixar tudo.”

Olá Mat, obrigado pela entrevista Boa pergunta, a questão é: gostas do teu em cena com suas ideias, depois o Tom e
e os nossos parabéns por outro trabalho? Se sim, tudo pode ser uma loucura o Alex. Começamos uma pré-produção
lançamento de grande qualidade, que cheia de paixão e criatividade... se não, então realmente intensa, reduzimos de 25 para
é o novo álbum "Apocalypse". No ano é melhor deixar tudo. Nós somos crescidos, 20 e, finalmente, para 14 ou 15 músicas,
em que a banda comemora 20 anos muito gratos por tudo e claro que a nossa passamos para o estúdio de gravação e
de carreira, este novo álbum é uma grande paixão musical se tornou no nosso começamos a acompanhar a bateria.
demonstração de força, ainda mais trabalho. Podemos compor e tocar a música
para toda a imprensa, que na minha que amamos, podemos escrever letras sobre Então percebo um envolvimento
opinião nunca vos deu o merecido temas que consideramos importantes para gradual de toda a banda?
crédito? nós. Esta é uma maneira muito boa de
nos encontrarmos e fazer isto com toda a Sim, sem dúvida. Todos podem contribuir
Pois, olha antes de mais, muito obrigado, é paixão! para um álbum, em qualquer momento...
sempre bom ouvir algo do género...
Como foi o processo de composição? Falando mais do disco aquela
Quando ouço um novo álbum dos introdução sinfónica e fantásticamente
Primal Fear, sei que não vou ficar Eu escrevi muitas músicas com Magnus apocalíptica, eleva-nos a "New Rise",
desapontado. Este novo álbum durante o ano, nós trabalhamos em outros a primeira faixa... mas está tudo aqui,
confirma-me isso, é trabalho muito projectos com outros artistas juntos. Quando só nesta fase do disco percebemos
forte. Aparentemente, a vossa se trata dos Primal Fear, estamos totalmente o som Primal Fear... a estrutura já
inspiração continua em alta. Ainda é focados no que queremos criar. Juntamos habitual e é o melhor começo para um
fácil fazer música? todas as ideias e de seguida, Ralf entra álbum e uma das melhores músicas já
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” o meu coração está em todas as faixas do álbum e para mim é impossível
escolher faixas únicas que eu goste mais ou menos. Eu gosto do álbum
inteiro e da produção. ”

lançadas por vocês... nessa gravação foi a paz e a criatividade da Achas que uma banda deve sempre
banda. Todos estiveram totalmente focados soar diferente em cada álbum ou
Ah, muito, muito obrigado – claro, entendo- e deram mais de 100%. Eu gosto muito da é algo que não faz sentido? Como
te é uma música importante para nós irmandade existente no seio da banda, da pensas um álbum dos Primal Fear?
também... dedicação, da paixão...
Não, não mesmo. Se os teus fãs estão
É claro que o álbum é muito forte, e Ralf Scheepers é um dos melhores muito contentes com o que fazes, então é
é difícil destacar um ou outro tema, vocalistas de todos os tempos, é porque tens de fazer de tudo para nunca os
mas para ti quais são as melhores fácil trabalhar com ele? Não é difícil desapontar, logo deves evitar uma atitude
faixas, aquelas que te fizeram gostar escrever músicas para ele cantar? diferente, no som e na composição. Como
de compor, gravar? músico, tens que depois andar na estrada
Nós tornamo-nos uma máquina bem oleada, por 18 meses com um disco, logo tens de
Isso é sempre difícil de responder, pois o que respeita e conhece as possibilidades amar aquilo que fazes, só assim sobrevives...
meu coração está em todas as faixas do perfeitas que temos com a voz de Ralf. Nós faz sempre aquilo que sentes ser o melhor
álbum e para mim é impossível escolher sabemos o que ele é capaz de fazer e ele e que possa ser feito da melhor forma. Se
faixas únicas que eu goste mais ou menos. sempre prova que pode vir com algumas os Primal Fear estiverem no topo, então,
Eu gosto do álbum inteiro e da produção. coisas novas e surpresas fantásticas. os fãs devem sentir-se parte disso...muito
É claro que uma música como "Eye Of Estamos juntos há 20 anos! Se tudo tem importante!
The Storm" precisa de mais atenção, mas acontecido por tantos anos, é sinal de todos
isso não tem nada a ver com mais gosto nos conhecemos muito bem. Os Primal Fear tem sido uma banda
por ela. Para mim, o fator mais importante muito consistente em relação aos
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lançamentos, mas ao mesmo tempo
tu estás muito envolvido com outros Ah, ambos, eu sinto-me muito bem num A tour “My Rock Meets Classic” celebra
projetos. Ainda há tempo no teu dia palco com a banda e isso mexe muito o 10º aniversário em 2019. Eu estou a
para tudo? comigo. Por outro lado, eu gosto muito de planear fazer algo com o Ian Gillan dos
estar num estúdio de gravação e trabalhar Deep Purple, tocar com o Alice Cooper, o
Bem, sempre há tempo para eu trabalhar todos os detalhes de uma música, juntar as Paul Rodgers, Steve Lukather, Joey Tempest,
outras coisas ligadas à música. Se eu peças para criar uma boa produção. Thin Lizzy, The Sweet, Uriah Heep e muitas
realmente amo o trabalho e a música de outras lendas... A próxima tour irá começar
uma banda, cantor ou compositor, com Sabes que também se torna difícil no final de fevereiro de 2019 e espero que
toda a certeza irei encontrar tempo para evitar certas perguntas mas, por possamos fazer tudo isso por mais
me envolver num novo projeto musical. outro lado há sempre alguma 10 anos.  Além disso, vou escrever
Mas realmente preciso ajustar as minhas curiosidade nos tempos que correm um novo álbum dos SINNER após o
emoções e naturalmente a gestão de todo o de saber sobre aquilo que será o sucesso e a diversão do nosso último
meu tempo tem de ser feita de forma muito futuro de cada banda...depois de álbum "Tequila Suicide".
séria... tantos e tantos anos de carreira...ou
até de um músico tipo Mat, que tem Como será então o setlist? Quantas
Quais são as tuas motivações? uma dinâmica de trabalho exemplar... e quais as músicas de "Apocalypse"
Em primeiro lugar, o que queres fazer preparadas para serem apresentadas
Eu amo a música, isso é um estilo de vida, mais com os Primal Fear? ao vivo?
metal é um estilo de vida. Estou muito
feliz por ser o meu próprio patrão e poder Estou muito feliz e temos grandes, grandes Temos o 20º aniversário dos Primal Fear
decidir por mim mesmo quando tenho de planos. Estamos na melhor forma dos também - essa tour será super especial.
me levantar, ou até ir para a cama e até nossos 20 anos. Todos os shows dos Primal Vamos tocar muitas das músicas de
aquilo que vou fazer no meio. Ninguém me Fear são como que uma celebração e “Apocalypse”, alguns clássicos de sempre
diz o aquilo que tenho de fazer, eu posso estamos a ficar cada vez melhores no que e algumas surpresas, como músicas que
trabalhar neste negócio que amo, que é a fazemos...Estou ansioso para sair para a não tocamos há mais tempo ou mesmo...
minha grande paixão. Sou muito agradecido estrada e percorrer o mundo e começar a nunca! Será super emocionante para nós e
por isso e aos nossos fans em todo o mundo pensar em criar o próximo álbum... claro para todos os nossos fãns. Obrigado
por me darem essa oportunidade. pelo apoio!!!
Ok, e agora o que te falta fazer como
Mat, músico ou produtor? músico?
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”Eu amo a música, isso é um estilo de vida, metal é um estilo de vida. Estou
muito feliz por ser o meu próprio patrão e poder decidir por mim mesmo
quando tenho de me levantar, ou até ir para a cama e até aquilo que vou
fazer no meio.”

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Os Mayan foram uma das grandes surpresas do início da presente década. O
facto de contar com Mark Jansen dos epica obviamente atraiu as atenções e
gerou comparações entre as duas bandas que de certa forma se compreende.
O terceiro álbum da banda, "Dhyana", tem tudo para mudar esse panorama.
Bombástico e com argumentos sólidos o suficiente (sendo um deles ter sido
gravado com a orquestra sinfónica da cidade de praga) para superar qualquer
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vontade de fazer comparações, Os Mayan estão mais fortes que nunca naquele
que é o seu trabalho mais ambicioso de sempre. Para conferir esse mesmo
momento de excelência fomos falar com Mark Jansen (voz, Frank Schiphorst
(guitarras) e Jack Driessen (teclas e arranjos orquestrais).
Por: Fernando Ferreira
fotos por Stefan Heilemann
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”Foi uma abordagem muito morosa mas o álbum em si beneficiou muito
dela. Como cereja em cima do bolo, pudemos gravar com uma orquestra
sinfónica completa tudo devido ao apoio dos nossos fãs.”

Olá e bem vindos à World Of Metal. feliz com ele e mal posso esperar que seja produtor, ajudou-me a reescrever os arranjos
Começaria por dizer que o vosso lançado. que já tinha feito, o que depois permitiu que
novo álbum soa mesmo bem! fossem usados para criar as partituras para
Provavelmente o vosso melhor de Apesar de gravarem com uma a orquestra. Foi uma aprendizagem enorme,
sempre. Sendo sempre complicado o orquestra sinfónica não ser algo na qual eu na verdade trabalhei em quanto
devido distanciamento por parte de completamente novo, deve ter estavamos em digressão para estar pronto a
um músico do seu último trabalho, representado trabalho extra no tempo. (risos) Mas, fogo, valeu tanto a pena
questiono-me se é também a vossa reino dos Mayan. Mudou a forma quando o Joost e eu voámos para Praga
opinião de que "Dhyana" traz a banda como vocês compõem os arranjos para assistir às gravações. Arrepios por mim
a nível completamente novo? orquestrais? Sentiram como uma todo quando a orquestra começou a tocar
responsabilidade acrescida? as primeiras notas... um dia muito especial
Mark - Antes de mais, fico feliz em ouvir que nunca mais vou esquecer.
isso. Sei que de facto a maior parte das Jack - Sim, definitivamente foi sentido
bandas e músicos gostam mais do seu mais como uma responsabilidade superior. Nos A orquestra escolhida foi a Filármónica
recente álbum mas neste caso colocámos nossos dois primeiros álbuns("Quarterpast" da Cidade de Praga, bastante famosa
muito mais empenho nele de forma a e "Antogonise"), eu fiz todos os arranjos pelo seu trabalho cinematográfico ou
chegarmos e atingirmos esse objectivo. orquestrais usando sons de software. Desta até mesmo no reino do metal. Porquê
Trabalhámos ainda mais nas canções em vez, fiz isso também antes de termos o esta escolha? Foi a primeira desde o
si e também nos reunimos com o produtor dinheiro necessário para gravar o álbum início?
Joost para trabalhar nos comentários que com uma orquestra real. Houve um grande
ele tinha em relação a melhorias. Foi uma número de superfãs que quiseram apoiar- Frank - Sim, foi a primeira e única orquestra
abordagem muito morosa mas o álbum em nos nisso e não temos forma de lhes mencionada desde o início. De facto devido
si beneficiou muito dela. Como cereja em agradecer o suficiente por fazer este sonho à sua fama e porque o Joost já tinha
cima do bolo, pudemos gravar com uma tornar-se realidade! Porque pessoalmente trabalhado com eles antes, por exemplo
orquestra sinfónica completa tudo devido ao nunca compus arranjos para uma orquestra com os After Forever. Como a nossa música
apoio dos nossos fãs. Por isso estou muito real. O Joost Van Den Broek, o nosso também tem esta camada cinematográfica
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e porque realmente a sua experiência "Antagonise". E depois de gravarmos os soube disso e mandou-me uma mensagem
no reino do metal é mais que muita, não instrumentos, mandámos tudo de volta para através do Facebook a oferecer-se para o
poderíamos ter escolhido melhor como o os Sandlane Recordings Facilities, onde as cargo. Fiquei imediatamente impressionando
resultado evidencia. guitarras e baixo voltaram a ser amplificados com o seu talento e musicalidade. Ele é um
e depois os vocalistas planearam tudo metalhead que estudou baixo fretless para
Sendo os MaYan uma banda tão para ser gravado lá em diferentes sessões, jazz no conservatório. Então quando Rob
grande, foi muito complicado ter as dependendo da disponibilidade de cada desistiu dos MaYan, eumostreia ao Mark e
coisas feitas? Afinal, a maior parte um. E depois de todas as gravações estarem Jack aquilo que o Roel conseguia fazer e uma
dos membros têm as suas próprias feitas, foram levadas para os Smecky Studios chamada de telefone mais tarde já tínhamos
bandas e projectos... em Praga para as gravações da orquestra. o nosso novo baixista. O George surgiu
quando tivemos um bastante dificuldades
Frank - Não foi muito difícil. Apenas Têm alguns novos músicos - Merel em agendar concertos devido aos conflitos
muito do bom e velho trabalho árduo. Bechtold (com quem já tinham de agenda com os Epica e depois o Mark
Com a orientação do Joost através de tocado ao vivo), o Roel Käller, George teve a ideia de pedir ao George para se
bom planeamento, tudo resultou de forma Oosthoek e a grande Marcela Bovio. juntar. Para que pudessemos agendar
bastante suave. Quando acabámos as Como é que chegaram até eles, concertos e se o Mark não pudesse por causa
pré-produções, fiz as faixas de guia para o eram músicos com quem desejavam de um concerto dos Epica, o George poderia
estúdio, o Ariën fez as suas linhas de bateria trabalhar? chegar-se à frente. O George era o único
sobre estas e depois de ter as linhas de gajo com o qual o Mark se sentiria bem em
bateria no meu próprio estúdio, gravei as Frank - Sim, a Merel já se tinha juntado a assumir esse papel. O resto dos concertos
guitarras sobre a sua bateria. Depois mandei nós em 2014. Conhecêmo-la antes disso, eles grunhiram felizes os dois. E claro, o
estas faixas para o Roel e o Jack e eles quando a sua banda, Purest Of Pain, era George está também no nosso novo álbum
gravaram as suas partes nos seus estúdios, a banda de abertura de um dos nossos "Dhyana", como uma grande adição. Mark
para que pudessemos trabalhar em paralelo. concertos com os MaYan. Com o Roel, e o George obviamente têm o seu próprio
Isto já se tinha revelado ser bastante cheguei a ele porque tinha este projecto de som e estilo o que funciona que nem mel,
eficiente com o nosso álbum anterior metal/fusão e precisava de um baixista e ele os dois conjugados. A grande Marcela Bovio
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já tinha cantado no nosso anterior álbum "Dhyana" está relacionado com as preocupação. Muito frequentemente é uma
"Antagonises". Ela trabalha regularmente lutas interiores que todos temos escolha. Quando nos apercebemos de quem
nos SAndlane Recording Facilities onde o por viver neste mundo e sociedade, somos realmente e como podemos decidir
Joost produz, e tambémfaz muitos coros onde somos levados a deixar a nossa como queremos sentir-nos, podemos mudar
lá para bandas, como para os Epica. Então individualidade a favor de influências essas tendências negativas.
em 2013 pedimos se ela quereria fazer e pressões exteriores?
alguns coros no "Antagonise" também. Quão importante é o conceito lírico
Como tinhamos muitos samples de coros, Mark - "Dhyana" refere literalmente o nos MaYan? Tão importante como o
seria fantástico de tê-los cantados por momento quando a mente é totalmente lado musical?
uma pessoa real. E como o resultado final absorvida pelo coração. Todos sabemos
soou tão bem, ela ganhou mais espaços e conhecemos o sentimento que temos Mark - Eu faço o meu melhor para fazer
para cantar. Desde então ela também têm quando vamos de férias e deixamos todas com que a viagem de descobrir as letras
cantado connsoco ao vivo na maior parte as preocupações para trás e sentimos um seja tão interessante como as descobertas
dos concertos, primeiro como convidadada sentimento interior de felicidade. Isso é musicais. Eu próprio fico excitado com estes
e desde o ano passado ela juntou-se aos dhyana. De faco também se refere a todas tópicos por isso penso que existam muitas
MaYan como membro a tempor inteiro e as lutas que nós, humanidade, enfrentamos pessoas por aí que também gostariam de
também teve um papel enorme no nosso actualmente. Muitas pessoas lutam com saber mais sobre eles. Para essas pessoas,
novo álbum "Shyana", quer em termos de depressões, baixa auto-estima e pressões. eu faço o meu melhor para criar algo lindo
voz quer em termos de composição. E sim, Nós, todavia, temos mais poder para mudar e quando as pessoas se sentem melhor por
são definitivamente músicos com os quais as coisas que nos chegam e afectam do que causa delas, valeu a pena todos os esforços.
desejávamos trabalhar! Adicionam muito à pensamos. Grandes partes do nosso dia são Quando eu consigo fazer as pessoas
família e som dos MaYan. preenchidas com preocupações que temos sentirem-se melhor, isso também me faz
Podemos dizer que o conceito do sobre coisas que não precisam da nossa feliz.
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”Sinto-me abençoado por chegar a um nível tão alto de sucesso com os
Epica mas também sei que todos os dias é um novo outro dia. Não tomo
nada como garantido. Hoje podes estar no topo e encontrares-te amanhã
numa falésia. ”

os MaYan, acabámos de fazer o nosso (poderão ver em www.mayanofficial.com)


Vamos olhar para um futuro terceiro álbum agora e isso faz-me ficar quando o mesmo for lançado e depois disso
eventual, Mark... vamos imaginar bastante orgulhoso. O que quer venha a queremos andar em digressão o máximo
que os MaYan conseguir ultrapassar seguir, ninguém sabe mas vamos continuar que conseguirmos
todas as expectativas em termos de a trabalhar arduamente e com esperança
sucesso e ficar ainda maiores que que possamos tocar muitos mais concertos. Mark, olhando para trás, para 2011,
os Epica. Apesar de pensar que seria quando começaste MaYan, conseguias
um problema excelente com o qual Por falar nisso, quando é que imaginar estar aqui em 2018, com um
tivessem com que lidar, isto faria com poderemos ver os MaYan em terceiro álbum tão explosivo como
que a forma de encarares os MaYan digressão? Mesmo que fossem uns este e também com uns Epica maiores
ou até mesmo os Epica mudasse? poucos concertos com a orquestra que nunca?
seriam excelente embora imagino
Mark - Não e nós, e eu próprio 100% para que seja bem dispendioso, mais do Mark - Eu poderia sonhar com tudo isto
toda a arte que nós ou eu criamos. O quer que possa imaginar nos meus sonhos mas não poderia imaginar algo parecido já
que aconteça não vai mudar a maneira mais fantásticos... que a realidade será sempre, pelo menos
como eu olho para ela. Sinto-me abençoado um bocado que seja, diferente daquilo que
por chegar a um nível tão alto de sucesso Frank - Concertos com a orquestra imaginas que seja. Como mencionei
com os Epica mas também sei que todos também seriam um dos nossos sonhos antes, eu vivo o di-a-dia e não
os dias é um novo outro dia. Não tomo mais fantásticos. Quem sabe o que o futuro penso muito no futuro. Estou muito
nada como garantido. Hoje podes estar traz! Mas sim, vamos ser capaz de ver os orgulhoso e agradecido com tudo o
no topo e encontrares-te amanhã numa MaYan em digressão, estamos já a trabalhar que conseguimos atingir com ambas
falésia. Por isso eu aprecio e gozo cada dia nisso. Primeiro temos as nossas festas as bandas.
em que posso viver os meus sonhos. Com de lançamento do álbum em Setembro
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O mítico Udo está nas nossas páginas... o cantor alemão lançou “Steel Factory”,
aquele que é para mim um dos melhores trabalhos solo, e que serviu de pretexto
para uma conversa com a WoM. Dele tudo já tudo se sabe. Uma carreira de mais
de trinta anos que fala por si, num percurso exemplar, traz-nos o seu décimo
sexto álbum... e que álbum!
Por: Miguel Correia
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”eu não gosto de trabalhar sobre pressão, não funciono assim e é como
te disse anteriormente, tudo tem de funcionar como uma equipa”

Udo, é com muito gosto que é o resultado de um trabalho de equipa. ideias e projetamos as coisas não seguimos
fazemos este trabalho, pois para nós Entrámos em estúdio, fizemos uns ensaios, nenhum padrão, as coisas acontecem,
entrevistar alguém como tu é sempre fizemos a composição juntos, ali, cara a cara, desta vez foi assim. O ambiente também
especial. Quero começar por te dar bebemos uns copos juntos, acertamos as ajuda, nunca tive problemas com nenhum
os parabéns pelo novo disco, “Steel coisas e está aí um álbum cheio de energia e elemento da banda e isso também é
Factory” um disco cheio de grandes de coisas realmente boas... importante nestes momentos, tudo ajuda!
riffs, grandes melodias e a tua voz soa
melhor do que nunca, parece que os Ah, sim, há por ali coisas que se Ok, compreendo, mas nesta fase há
anos não passaram por ti, parece o sentem e essa energia que descreves uma tendência para ter mais liberdade
jovem Udo...qual é o teu segredo, se está lá, realmente... mas também se de criação?
é que há? vai percebendo que a experiência de
anos é naturalmente uma vantagem Huummmm, olha eu não gosto de trabalhar
(Risos) Olha, obrigado, obrigado... e...não nestes momentos, certo? sobre pressão, não funciono assim e é
há segredos, não há... olha, acima de tudo como te disse anteriormente, tudo tem de
estou muito feliz pelo novo disco e agradeço Sim, poderá ser, não sei, nem sei o que dizer. funcionar como uma equipa e acaba por
mais uma vez as tuas observações. O disco De disco para disco, nós temos as nossas acontecer. Foi assim nos dois últimos álbuns

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e neste, também. Trocamos ideias, falamos Falando de “Steel Factory”, há para reacções. Yeah, é esse o objetivo dessa
ali e tudo sai, naturalmente, eu penso que mim dois momentos muito especiais. musica, fazer as pessoas entrar no espirito
esta é a melhor forma, todos juntos, naquele O Primeiro o single que foi lançado, de união, afinal há cada vez mais pessoas
espaço! “One Heart One Soul”, que se traduz a viver aqui e chega de questões politicas,
numa mensagem de união e esperança religiosas e tudo o mais que leva à falta e
E quando sentem que uma música para o mundo... unir gerações, povos, respeito, que leva às facções... podemos e
ou um conjunto delas tem condições todos juntos... devemos aproveitar todos os meios para
para entrar num disco? despertar as pessoas...
Wow, sim, sim, para os fãs, para todos...
Olha, trabalho de equipa! As ideias de afinal nós estamos todos no mesmo Podemos transpor esse espirito, esse
todos, tudo se tenta conjugar e no fim barco, por assim dizer, vivemos todos no pensamento para as tuas letras então,
percebemos se está ok ou não! Para mim mesmo planeta... sabes que a música é do tipo...”One Heart One Soul”, é
é importante o entrosamento das melodias, uma ferramenta importante para isso... nós assim que tu sentes a música, a tua
tornar tudo mais confortável para poder podemos tocar por todo o lado e levar a vida?
cantar, identificar-me com o todo! Quando mensagem...servirmo-nos dessa vantagem
se sente a música...esse é o momento! para a fazer chegar às pessoas, provocar Claro que sim. Este disco tem por aqui

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muitos elementos líricos sentidos, muito preço. Para mim é sempre igual esteja em
pessoais, pensamentos, desejos, como que Yeah o que te posso dizer... agora fui casa ou esteja a trabalhar, com as devidas
uma autobiografia... apanhado de surpresa com isso...mas diferenças, mas sou eu a essência é a
sim tem muito fundamento... eu tento ser mesma!
Isso leva-nos para o segundo ponto uma pessoa normal, nada daquelas coisas
que te referi...”The Way” a última de rockstar tudo isso bem longe de mim, O futuro Udo... há planos para uma
faixa do disco...onde se sente algo simples. Claro que fico orgulhoso da forma passagem desta tour pelo nosso país?
melancólico por ali... como as pessoas me vêem, mas isso não Tens por aqui muitos fãs...
muda o que sou, tenho os pés bem assentes
Ora outro bom exemplo do que te referi na terra, sempre tive e nunca deixei que Só estive aí uma vez, no Porto há muito
à pouco... está por aqui muito de mim, rótulos mudem o que realmente sou... tempo.. .a promoção está a agendar as
olhar para trás, tudo o que já passou, tudo coisas, não sei se será desta vez, eu adorava,
que já fiz, sem remorsos. Afinal os anos Udo é simplesmente a melhor forma claro, Porto, Lisboa... amigo, adorava voltar!
vão passando por nós e o caminho vai-se de se conquistar os nossos sonhos... A tour vai começar por meados de janeiro...
percorrendo, assim, tão rápido... humildade! já há muitas coisas programadas...quem
sabe!
Sabes que na preparação desta Sem, dúvida, definitivamente. Para quem
entrevista me deparei algures com anda há muito neste negócio ou em outros Até quando vamos ter Udo a gravar
uma frase sobre ti que me despertou claro, é muito importante não deixares que discos, concertos... os anos vão
muita curiosidade “Udo é uma pessoa o sucesso te mude, tens de lutar pelo teu passando como referiste... e isso traz
muito genuína...what you see is what equilíbrio, entendes? Muitos perdem-se com mudanças.
you get” o sentido da fama, do sucesso a qualquer
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”eu tento ser uma pessoa normal, nada daquelas coisas de rockstar
tudo isso bem longe de mim”

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Garage World
O intuito desta rúbrica desde o primeiro dia de apoiar as bandas nacionais, porque é na garagem onde tudo
acontece, onde os sonhos nascem. Este mês a rúbrica traz Mercic, um projeto que apelido de um “One Man
Show”, uma vez que a mente brihante por detrás é a de Carlos Maldito, que traduz o seu sonho de uma
forma muito própria, numa sonoridade industrial, cuja review também pode ser lida nesta edição, cheia
de ambição e sobre o qual desvendamos aqui a sua história.
Miguel Correia

Boas Carlos, antes de mais parabéns pelo teu com mais membros, onde as culpas e decisões serão
fantástico disco, a prova de que o produto nacional partilhadas.
é para levar mais em conta…e começo por aqui o
que sentes quando à recetividade, não só do teu Quais as tuas influências enquanto músico? Como
trabalho, mas de uma forma geral? surgiu o bichinho da música?

Em relação a MERCIC, é um projeto pouco divulgado, As perguntas sobre influências são sempre um
não tem singles nem videoclips (por opção própria), paradigma para mim. MERCIC tem no mesmo
não há editoras nem máquinas de propaganda e álbum uma musica como a “They Never Want To Be
sou apenas eu a trocar conversa com quem esteja Less Than Us” e depois tens a “Got To Get Back
interessado. Ainda assim posso dizer que a receção Where it Belongs”… isto reflete bem a diversidade
a MERCIC tem evoluído bastante o que me deixa de influências pelas quais sou inundado. Posso
muito orgulhoso. Em relação ao produto nacional, ouvir Behemoth num dia e Depeche Mode noutro. O
sem dúvida que não devemos nada a ninguém e isso bichinho começou em 1998 juntamente com o meu
está já bem provado. ainda colega de bandas e colaborador em MERCIC,
César Palma. Temos palmilhado estes anos todos com
Como começou todo o projeto Mercic? projetos em comum; Necrófagos, Boxthya, Cryptor
Morbious family, Inkilina Sazabra e Kapitalistas
Desde que comecei “na música” senti-me encorajado Podridão.
a experimentar sonoridades prazerosas para a
minha pessoa sem que tivessem de obedecer a uma Como defines o estilo do teu som e até que ponto
determinada tendência, e embora estivesse sempre essas influências musicais estão presentes e já
em bandas com mentes abertas a nível sonoro, senti agora a introdução de guitarra portuguesa?
que o que queria fazer não se inseria em nenhuma
delas e que em determinado momento da vida, com É óbvio que diretamente ou indiretamente as
mais maturidade e segurança poderia embarcar num influências acabam por transcender o som que faço
projeto só meu e que fosse o produto de tudo de mim. mas tento não pensar nisso e focar-me apenas em
fazer o que gosto e que me cativa ouvir. Desde o dia
Ser aquilo a que eu chamo de “One Man Show”, 1 que MERCIC se define em ser um projeto 100%
pode ter vantagens e desvantagens... verdadeiro para comigo, muito honesto, meticuloso
e sem barreiras sonoras. Um projeto onde cada
Certamente… uma das vantagens é poderes fazer álbum é um todo, algo íntegro que nunca terá singles
o que entendes, quando queres (no teu timing) sem promocionais ou videoclips a salientar a música x ou
levar com as típicas novelas das bandas onde chega y. Eu sou um grande fã da sonoridade industrial e esse
a um ponto que a música já está carente de energia sempre foi o caminho de MERCIC, e então pensei
e em segundo plano. A maior desvantagem será que a melhor forma de se marcar uma sonoridade
a vulnerabilidade porque quando algo corre mal industrial original era a inserção da nossa guitarra
serás mais atingido do que se tiveres numa banda, portuguesa. Nunca ouvi tal ideia em prática e adorei.
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Sou sincero. Isto é um hobbie, não vivo disto, portanto não tenho
de agradar a ninguém para vender, nem dar graxas,
E na parte lírica, olhando para o “alinhamento” nem soar como ninguém. Claramente quando vejo
do teu disco vejo títulos e letras interessantes... pessoas a gostar da arte que fiz fico lisonjeado como
como inspiras? é normal. Tenho bem cravado na minha mente que
MERCIC agradará a uma muito pequena minoria
Na minha essência e vivência! Para os mais próximos pelas várias e diferentes componentes sonoras que
é muito percetível que MERCIC seja um diário onde funde, mas acredito que essas poucas pessoas se
se descrevem emoções, sentimentos, desilusões ao agarrem ao projeto e o sigam a longo termo.
meu redor… É um abrigo que funciona como meu
confessionário quando as coisas não correm como Quais os teus planos para o futuro?
se espera.
De momento os únicos planos que tenho passam por
Como estão a ser as críticas? meter MERCIC em palcos quando estiverem reunidas
as condições. Quando o nosso underground deixar
Até agora desde o início de MERCIC as críticas têm cair esta bandeira de dignificação e relevância para
sido positivas e construtivas. Mesmo quem diz não aqueles que andam por aí a copiar riffs/ timbres/
ser a sua sonoridade, diz ser interessante e bem feito. comportamentos/ atitudes e poses de bandas
Portanto não escondo que estou orgulhoso. Este novo famosas, e começar a distinguir os inovadores pela
trabalho está chegar a mais pessoas e as coisas estão autenticidade, qualidade e originalidade. Temos um
a crescer. underground muito bom em termos de qualidade
sonora. Os músicos são bons e têm bom equipamento
Disseste-me em conversa que Mercic não é um e conhecimentos técnicos, mas o escopo que outrora
projeto para agradar a muitos, o que acho normal, foi usado para criar bandas autênticas, distintas
mas à partida não seria esse o objetivo de um e originais foi substituído por uma máquina de
disco. reproduções rasca sem cores nem tons, que continua
a copiar & copiar a mesma mensagem sonora até à
Para mim cada álbum de MERCIC tem exaustão.
obrigatoriamente de agradar apenas à minha pessoa.
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Por Carlos Lichman

Olá! Espero que nas últimas colunas sobre o mundo dos negócios na música tenha ajudado músicos
iniciantes a entender melhor como funcionam as coisas por trás dos palcos. Neste mês, quero abordar
um assunto que muito se discute e cria certa ilusão nas cabeça das pessoas. Trabalhos realiados no
mundo virtual e no mundo real.
Perguntas como: o que vale mais? Onde os músicos devem investir "pesado"? Onde as bandas devem
investir dinheiro e tempo para se divulgar? Músicos que conseguiram uma certa notoriedade mas nunca
pisaram em um palco. Uma coisa é verdade, o tempo não volta atrás e a internet é uma realidade que
deve andar paralela ao mundo real. Lembro que no começo do século 21, ter um web site profissional
era algo muito caro e somente grandes bandas tinham.
Hoje, através de ferramentas gratuitas, faz-se um web site profissional em menos de 24h. Profile em
redes sociais como Facebook ou até nos já extintos Orkut e Myspace são coisas básicas, simples e que
todas as bandas tem. Mas meu alvo neste artigo é o Youtube. Quando falo alvo não quero dizer que
vou falar mal mas sim que será o assunto abordado.
Tenho total certeza que é uma das ferramentas mais poderosas para a divulgação de qualquer empresa,
um canal no Youtube é fácil de ser preparado de acordo com a estética (apresentação visual) da
banda. E como toda ferramenta pode ser usada para diferentes propósitos. Se a banda tem um trabalho
profissional, bons vídeos (HD), ou que apenas coloca a capa de seu novo trabalho com a música nova
é normal ter um certo número de visualizações e reconhecimento de seu trabalho, mas a questão é:
já observaste que nem tudo que tem audiência (número de visualizações) tem qualidade em termos de
conteúdo ou gravação? Artistas/bandas que apresentam um trabalho horrível sem qualidade (e muitas
vezes nunca ouviste falar) e que tem um grande número de visualizações e likes. Já paraste para
pensar que podes estar a ser enganado no Youtube?
Nestes mais de 20 anos no mundo musical conheci muitas pessoas que trabalham de forma séria, que
esgotam salas com is seus concertos e na internet tem um número menor de visualizações do que a
soma de toda a audiência de uma tour de 20 concertos.
Isso mesmo, eles tem menos visualizações do que o número da soma das pessoas que foram em seus
20 concertos anteriores (uma média de 3000 pessoas por concerto). Imagina, colocas um vídeo na
internet (independente do assunto), ele pode ser visto por pessoas dos 4 cantos do mundo a qualquer
hora e mesmo assim não tem o número de acessos considerável. Com a monetização do Youtube,
muitos usuários têm comprado visualizações e likes para criar a ilusão nas pessoas.
Isso ocorre pois muitas vezes os internautas olham um número grande de visualizações e logo imaginam
que aquele vídeo deve ser bom ou traz um conteúdo de "valor". Quero deixar bem claro que considero
qualquer ferramenta de divulgação virtual ou real extremamente válida, só que existem muitos que
acabam utilizando de forma negativa enganando alguns pouco avisados. Sempre que encontrares
algo com milhões de views, pesquisa sobre a pessoa para realmente saber se o que ela diz é verdade
e mais sobre a carreira dela, pois com uma valor financeiro relativamente baixo qualquer pessoa pode
comprar muitas visualizações e likes.
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Por Luís Figueira

Atlantis
O tema “Atlantis” foi o primeiro a ser composto para o nosso tão ansiado primeiro álbum.
Lembro-me como se fosse ontem. Ainda morava em casa dos meus pais (saí em 2003) e foi um
riff que me surgiu naturalmente enquanto tocava guitarra sentado na minha cama. A letra foi
surgindo ao mesmo tempo enquanto
avançava com o resto da música. Passo
após passo fui avançando sem saber
sequer se o que estava a fazer ia passar
pela “censura” dos meus camaradas
de banda. O tema que escolhi abordar
sempre me fascinou, assim como o
enigma do Triângulo das Bermudas,
por exemplo. Ao escrever gosto de me
pôr na pele da personagem, no que
sente ou sentiu, expressar emoções.
Começámos a trabalhar e a desenvolver
o tema no estúdio, todos juntos, como
sempre fazemos. O tempo passou e
quando já tínhamos os instrumentos
todos gravados, lembrámo-nos de fazer algo memorável, que realmente marcasse o nosso
primeiro álbum. Achámos que deveria ser uma coisa que nos distinguisse das outras cinquenta
mil bandas e é por isso que adoro que haja concorrência… a concorrência obriga-nos a ser
melhores e a puxar pelos nossos limites.
Quem melhor para convidar a participar no nosso álbum se não dois dos nossos ídolos de
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adolescência e dois icons do Metal… Foi
então que mandei uma mensagem (através
do MySpace) ao Paul Di´Anno e outra ao
Ross The Boss, explicando que eramos
uma banda portuguesa que estávamos a
gravar o primeiro álbum, não tínhamos
editora, mas que seria uma honra e um
orgulho tê-los como que a apadrinhar
o nosso álbum de estreia. Surpresa das
surpresas… o Paul respondeu-me passado
quinze minutos!!! Mandei um salto da
cadeira quando li a resposta dele. Disse
que tinha ouvido a nossa música, que
tinha gostado e aceitava participar. Tive
que reler a mensagem (que ainda guardo) duas ou três vezes.
No dia a seguir era a vez do Ross dar a sua resposta positiva e começamos logo a tratar de
lhe enviar o backing track para ele gravar o solo. Proporcionou-se a hipótese de ter cá o Paul
connosco um fim de semana para gravar a música e para darmos um concerto em Corroios
onde iriamos tocar cinco músicas dos Maiden com ele.
E assim foi. Liguei ao nosso produtor a perguntar se o estúdio estava livre no dia 14 de Fevereiro
(foi um dia dos namorados diferente). O Paulo Basílio e o Tó riram-se do meu telefonema,
pensando que eu estava no gozo. Acertámos tudo e na manhã de dia 14 lá estava o Paul nos
Fetais (Lisboa) para gravar… escusado será dizer que a expressão da cara deles foi priceless!!!
O ambiente no estúdio estava ao rubro, tudo mais do que feliz. O Paul fez um trabalho fantástico
e foi mesmo uma lição para todos o facto de ele se esmerar a cada take e sempre a fazer
melhor… e eu sentado ao lado do produtor só pensava que aquilo devia estar a ser um sonho!!!
Como é que podia estar ali aquele “gajo” que eu ouvi milhares de vezes a cantar uma música
que eu escrevi sentado na minha cama!!!
Quando o produtor fez uns ajustes no som para podermos ter uma noção aproximada de como
ia ficar a música finalizada, o Paul pediu para ouvir a música completa. É obvio que eu olhava
disfarçadamente para ele para ver a sua reacção. No fim de ouvirmos a música, perguntei-lhe o
que é que tinha achado, ao que ele me respondeu “- Not bad for a gay band”, e eu dei-lhe umas
palmadinhas no ombro e disse-lhe “- That´s why I invited you”… ele cerrou os punhos e vira-se
para mim e diz “- I kill you motherfucker…
I´m not gay, my husband is”… e acabámos
todos abraçados e ás gargalhadas. É difícil
descrever o espírito com que estávamos
naquele dia.
Resumindo, conseguimos juntar duas
lendas vivas num tema nosso, que nos deu
um enorme prazer e nos enriqueceu com
a experiencias vividas… e como eu digo
muitas vezes… Os Attick Demons podiam
acabar já hoje… mas esta ninguém nos
tira!!!
66
por Luís Figueira (Attick Demons)

Nada mais lógico que esta estrada até ao Vagos Metal Fest que iniciámos meses atrás terminasse com as
Chamo-me Luis Amaro Marques Figueira, nasci em e curiosamente a única imagem que eu tinha era do
Lisboa no dia 10 de setembro de 1977. Tive contacto Eddie, nunca tinha visto nenhum vídeo deles (Devo
com a música desde muito cedo. Nunca tive nenhum lembrar que na altura só tinha acesso á televisão
músico na família, mas vivia rodeado de uma coleção normal e não havia internet).
considerável de LP´s e singles em vinil, propriedade
da minha avó e dos meus pais. Lembro-me bem de Durante essa altura, comecei a passar algum tempo
ouvir a minha avó cantar o fado enquanto fazia a lida com uns amigos mais velhos que se reuniam
da casa e quando havia os “bailes” na colectividade, esporadicamente no jardim em frente á minha casa.
parava tudo para a ver dançar Rock N´Roll (Elvis Era normal haver três ou quatro guitarras acústicas
Presley e Little Richard eram os preferidos). Quando “a rodar” pelo pessoal que sabia tocar. Foi numa
não tinha aulas, passava o dia de volta do gira-discos dessas noites que me ensinaram os acordes básicos…
(daqueles “Silvano” antiguinhos) a ouvir os singles e assim que soube o suficiente, corri literalmente para
dos Queen, The Beatles, Rolling Stones, Elvis, David casa para praticar na minha guitarra acústica (com a
Bowie, etc… enquanto sonhava em tocar guitarra e preciosa ajuda do livro “Guitarra Mágica” por Eurico
pisar um palco. Cebolo… é um clássico e a malta mais antiga sabe do
que estou a falar).
A vida não era muito fácil, vivia num dos piores
bairros de Lisboa, droga e violência era o pão nosso Entretanto, uns anos mais tarde, numa noite de
de cada dia e refugiava-me na música. verão, estava com os meus amigos da rua a brincar
ás escondidas e fui-me esconder numas manilhas de
Foi durante uma excursão a Badajoz que os meus pais cimento enormes (usadas para a canalização da água)
me ofereceram a minha primeira guitarra acústica que estavam perto dos caixotes do lixo. No chão estava
(cordas de nylon). Fiquei fascinado ao ver aquela uma cassete que me despertou a atenção. Dava para
guitarra exposta na loja, enquanto as outras pessoas ver que era original, mas estava toda rasurada, não se
“normais” percorriam a loja numa azafama para conseguia ler absolutamente nada. Meti-a no bolso
encontrar os melhores caramelos!!! Hahahaha!!! E e por lá andou até ao final da noite. Quando cheguei
aqui o Luis com os olhos a brilhar para a guitarra. a casa, meti-a no walkman e… outra surpresa… e
Quando passei para a segunda classe, a minha avó consequentemente outra revolução, música com um
ofereceu-me um Walkman da Sony e a madrinha poder que só tinha comparação com os Maiden,
do meu irmão (que é uma segunda irmã para mim) vozes fantásticas, um solo de bateria… mas… não
ofereceu-me a cassete original do Killers (Iron fazia ideia qual era a banda. Ouvi a cassete durante
toda a noite, nem dormi. No dia seguinte, perguntei
a um amigo (mais velho, tocava guitarra elétrica,
tinha uma grande cultura musical, fruto dos anos que
viveu em Paris) qual seria a enigmática banda. Assim
que ouviu os primeiros segundos (enquanto alisava
o bigode) os olhos dele brilharam… Isso é o “Burn”
dos Deep Purple… disse-me todo entusiasmado!!!

Depois destas duas “surpresas musicais” que


mudaram a minha vida para sempre, comecei a
consumir e a procurar musica mais pesada… e dei
de caras com várias outras bandas que me deram
o “Click” final para que decidisse tocar guitarra
elétrica (Metallica, Scorpions, Guns N´Roses) e se
algumas duvidas tivesse, dissiparam-se quando vi o
vídeo “Live After Dead” dos Iron Maiden… eu tinha
mesmo que ter uma guitarra eléctrica.

Maiden) e aí foi uma revolução total. Eu só pensava Na altura os meus pais não tinham posses para me
que os tipos que gravaram aquelas músicas só podiam comprar uma guitarra eléctrica, não havia a quantidade
ser extra-terrestres!!! Aquilo era humanamente de opções que há hoje em dia, e as que havia eram
impossível!!! Ouvi aquele álbum milhares de vezes extremamente caras, mesmo as de qualidade mais
67
fraca. Foi então que “comprei uma guerra” com os Manowar… obviamente eu pensei que ele estivesse
meus pais. Se não me conseguiam comprar uma a brincar, pois era quase impensável na altura haver
guitarra (o que eu compreendia perfeitamente, pois uma banda cá em Portugal que tocasse Heavy Metal,
havia muitas outras prioridades) então eu ia trabalhar pelo menos eu não conhecia nenhuma que estivesse
para poder comprar uma. activa.

Há uns anos havia muito mais trabalho do que há


agora. Se não tinhas capacidade para estudar, ias
aprender uma profissão… havia sempre um vizinho
que era mecânico de automóveis, carpinteiro ou
serralheiro… e eu queria começar a ganhar o meu
próprio dinheiro. Foi preciso chumbar três anos no
7º ano para os meus pais perceberem que não havia
volta a dar.

Tinha então quinze anos quando fui aprender


serralharia com um vizinho meu (pai da madrinha do
meu irmão que me ofereceu a cassete do “Killers”). E
assim foi… no final do primeiro mês de trabalho, assim
que recebi o envelope com o meu primeiro ordenado,
lá fui eu com o meu pai comprar a minha primeira
guitarra eléctrica. Havia uma loja de instrumentos Claro que quis experimentar para ver se entrava
musicais no Metro dos Restauradores em Lisboa, nessa banda… e assim, no dia 4 de janeiro de
conhecida carinhosamente pela “Chinesa” que tinha 1996, apresentei-me ao pé do Tivoli, na Avenida da
cópias baratas de guitarras icónicas… e sempre que Liberdade para me encontrar com eles e seguir para
podia, lá ia eu “namorar” uma Flying V branca (Igual o sótão semiabandonado na Rua de Santa Marta.
– na minha cabeça – á guitarra que o Rudy Schencker Chovia torrencialmente e eu com a guitarra debaixo
dos Scorpions usava) que estava na montra… e que do braço toda molhada (o estojo era demasiado
finalmente podia ser minha! A guitarra era uma grande para transportar no autocarro). Lembro-me
Maison (era na altura a marca mais acessível). Era de, especialmente o Nuno Martins estar chocado por
linda, até brilhava e eu vim o caminho todo até casa ver a guitarra naquele estado.
super ansioso para poder tocar nela, na privacidade
do meu quarto… só eu e a minha primeira guitarra. Tive a sorte de ficar na banda e desde que me
Andei ás voltas com a minha guitarra nova, que era mostraram duas das músicas que tinham mais ou
para quem olhava assim que acordava… e ela parecia menos estruturadas, sugeri começarmos a pensar
estar á espera que eu abrisse os olhos para me dar os em gravar uma demo. Fizemos alguns arranjos e em
bons dias… heheheh!!! março estávamos a gravar a nossa Promo-Tape´96 no
No primeiro mês comprei a guitarra (não deu para estúdio do “Zé-Tó” em Sacavém.
mais) e no segundo foi o amplificador. Era de plástico
e nem tinha marca, mas para mim era o melhor do Depois disso foi sempre a subir, gravámos mais uma
mundo. demo em 97, um E.P. em 2000, o Atlantis em 2011 e o
Let´s Raise Hell em 2016. Estamos neste momento numa
Surgiu a hipótese de ter aulas com um guitarrista fase bem avançada de composição do nosso próximo
fantástico, na altura ele tocava em bares e eu tentava álbum, que de certeza vai surpreender muita gente.
segui-lo para todo o lado. Ainda hoje fico orgulhoso
quando me lembro das aulas em Sete Rios e o quanto Resumindo e concluindo, sinto-me orgulhoso do
aprendi com ele… com o meu amigo Luiz Arantes. meu passado, do meu presente e vamos ver o que
o futuro me reserva. Passei por alguns sacrifícios,
Uns anos mais mas com paixão pelo
tarde, um amigo que se faz, tudo se
meu que costumava ultrapassa. Em quase
frequentar o tal 23 anos (!!!) de
grupinho de malta banda tive muitas
que se juntava no alegrias e muitas
largo das Galinheiras chatices, embora
a tocar guitarra disse- considere que
me que um colega todos os membros
de trabalho que
era baterista tinha que passaram pelos
uma banda e que Attick Demons
andavam á procura foram importantes,
de um guitarrista. As para o bem ou
principais influências para o mal aprendi
era Iron Maiden e muito com eles.
68
Este mês fizemos algo diferente. Em vez de Como e quando é que começaste a
estarmos a falar deste ou daquele artista, desenhar, a fazer artwork?
decidimos ir directamente à fonte. Fomos
falar com Augusto Peixinho, um dos grandes Desde muito novo que diziam que tinha
artistas do nosso underground, com um vasto uma forte capacidade para as ferramentas
trabalho que infelizmente a nossa revista não artísticas, em particular, o desenho. Com
possui espaço suficiente para o evidenciar a idade foi aperfeiçoando a minha técnica,
por completo. Augusto Peixoto, pelas suas estudei Artes Visuais na Secundária e, quando
próprias palavras. - Por Rosa Soares deixei a escola, fui tirar um Curso de Artes-
Gráficas. Profissão que exerço desde 1990.
69
Em 2000/2001 os computadores começaram a ter uma forte
incrementação nas Artes Gráficas, o que me “forçou” de certa forma
a abandonar o método tradicional de desenho/grafismo e, a começar
a trabalhar nas ferramentas digitais. Foi, também, nessa altura que
comecei a idealizar as primeiras capas de CD. Shadowsphere, Teia,
Attick Demons, Mindfeeder e Pitch Black, foram os primeiros clientes.

Onde é que te inspiras?

Geralmente, classifico a natureza e os sonhos como as minhas


maiores fontes de inspiração. Depois há todo um universo de capas
de discos e, artistas fantásticos, em particular, Travis Smith, Misha
Gordin, Jerry Uelsmann, que me deram alicerces para a Arte Digital,
em particular a fotomanipulação.

Como é o teu processo criativo? Quando uma banda ou uma


editora te contacta com um pedido, como se processa o
desenvolvimento da ideia?

Maioritariamente, as bandas não têm uma ideia primordial idealizada.


Acreditam no meu instinto e após os primeiros esboços vão-se
desenvolvendo os artworks. Outras das formas que algumas bandas/
editoras utilizam, também, é a escolha de imagens do meu Portfolio,
o que torna todo o processo mais facilitado.

A imagem de capa de um disco, representa a música que ele


contém e muitas das vezes leva à sua compra e até mesmo
à descoberta dos seus autores. A importância da imagem é
tão marcante, que muitas bandas ficaram conhecidas e são
reconhecidas mais facilmente por uma determinada capa do
que pela própria música. O facto de seres músico ajuda-te na
construção dessa imagem?

Sim, ajuda, se bem que o meu estilo define mais depressa o artwork
de uma capa, do que a banda influenciar a minha arte. Mas, quando
me contactam, tenho sempre o cuidado de ir ouvir a banda, isto se
nunca ouvi falar da mesma, ou se não conheço o seu som, porque
o que fazem pode e deve influenciar de alguma maneira. Temos que
ter esta sensibilidade.

Trabalhas tanto a nível nacional, como internacional. Actualmente,


qual o mercado que mais te procura? E és mais contactado para
trabalhos independentes ou de editoras?

Ambos os casos… tenho trabalhado para algumas bandas nacionais


que já são minhas clientes ou de músicos que já me conhecem ou
que, de alguma forma, conhecem o meu trabalho, ou então a nível
internacional, sendo que neste último caso, devido a uma permuta
que tenho com uma editora alemã.

Há alguma banda com a qual trabalhes em exclusivo?


Não. Já fiz algumas capas para alguma bandas com que trabalho
regularmente, mas não posso, nem devo dizer, que o faço em
exclusivo.

De todos os trabalhos que já fizeste, há algum que te tenha


marcado, positiva ou negativamente?

Os artworks que faço gosto deles todos, mau seria se assim não
70
fosse, porque defendo a integridade do meu trabalho. Há alguns
que sinto aquele “gostinho particular”, reconheço, porque estão
mais direccionados para o meu cunho pessoal de sentimento/
influência. Já tive dois ou três dissabores que bandas de “amigos”
que fiquei muito chateado e desiludido com a sua postura, tendo,
inclusivamente, perdido dinheiro, porque cancelaram os trabalhos,
depois de terem assumido os mesmos. E, o grave, é que aconteceu
com pessoal conhecido e não com pessoas que não conheço de
lado algum. Isto é desmotivador e deixa celeumas. Por isso é que
a partir desses acontecimentos, cobro 50% na adjudicação de um
trabalho. Se desistirem, tenho uma salvaguarda monetária parcial do
trabalho já desenvolvido...

A tua galeria é fantástica! Quando a vemos, denota-se uma certa


tendência para o surrealismo, o fantasmagórico, as trevas, seres
mitológicos, bem como nos remete para algo psicanalítico,
daliniano, com uma forte carga emocional. É uma característica
tua, da música para a qual desenhas ou dos pedidos que te
fazem?

Minha essência, inteiramente. Por isso disse, anteriormente, que a


minha Arte define mais depressa uma banda, do que vice-versa.

Misha Gordin, Luís de Camões, Iron Maiden ou Game of Thrones,


são algumas das tuas preferências ao nível de fotografia,
literatura, música e televisão. De que forma influenciam o teu
trabalho?

Basta conhecer minimamente o trabalho de cada artista/peça


referidas, entre outros, para depararem-se com a influência que
exercem nas minhas criações.

Qual o artwork preferida, de tua autoria? E da autoria de outro


artista?

Muito difícil… gosto de vários artworks pessoais, Mindfeeder


“Endless Storm”, Nine O Nine “The Time is Now”, Head:Stoned
“Present Inexistence”, Blame Zeus “Identity”, Sacaplástica “Metalol”
e, poderia enumerar outras tantas. A nível de outro artista, Travis
Smith “Terria” Devin Towsend, “Dead Heart in A Dead World” dos
Nevermore, Seth Siro Anton “The Great Mass”, Kamelot “Poetry For
The Poisoned”...

71
Top 20 1967
THE VELVET UNDERGROUND & NICO THE BEATLES
“The Velvet Underground Nico” "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
Verve Records Parlophone/Capitol Records

E A
o oitavo álbum os The Beatles, gozam
x e m p l o
de como de uma liberdade que nunca tinham
o tempo por
vezes corrige até então. Depois de terem decidido
injustiças. deixar de tocar ao vivo, fartos de não
Não sendo se conseguirem ouvir eles próprios,
propriamente os The Beatles decidem prosseguir o
um álbum
caminho iniciado com "Revolver" no
fácil de
ouvir e completamente ignorado pela ano anterior e investem forte nos temas
crítica e público quando foi lançado, o mais experimentais, com um trabalho
experimentalismo da colaboração dos The conceptual que ajuda também a que a banda consiga fugir
Velvet Underground (onde pontuava John ao formato habitual, encarnando uma banda completamente
Cale e Lou Reed) com a cantora alemã
diferente. O trabalho de arte também marcou a forma como se
Nico assentava em temas polémicos, forte
componente visual e com a protecção de passou a encarar o trabalho gráfico nos discos.
Andy Warhol, que era não tanto um guia
(tirando a parte visual) mas mais um
mecenas.

THE DOORS THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE


"The Doors" "Are You Experienced"
Elektra Records Track Records

N O
álbum de estreia da The Jimi Hendrix
ão é acaso,
o rock
psicadélico
Experience é um dois em um. Pega
estava mesmo e explora no som psicadélico em voga
a entrar na sua assim como expande o mesmo para
maior força
em 1967. Os
campos muito mais vastos, com um
The Doors e certo espírito de free jazz e claro, sem
o seu álbum referir a essência e alma do guitarrista, o
auto-intitulado é sem dúvida o maior
representante não só de uma era mas de
blues e o seu grande talento na guitarra
toda uma cena. Com temas emblemáticos que influenciou gerações e gerações vindouras (continua a fazê-
como "Light My Fire", "Break On Through lo hoje em dia).
To The Other Side" e "The End" que são
símbolos eternos de toda uma década e
de todo um espírito de inconformidade
perante o politicamente correcto do início
da década.

72
PINK FLOYD THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE
"The Piper At The Gates Of Dawn" "Axis: Bold As Love"
EMI / Columbia / Tower Records Track Records

P a r a
muitos,
este é o
S egundo
álbum
do mestre
m e l h o r editado no
momento
dos Pink m e s m o
Floyd, o seu ano da
álbum de estreia
estreia. Não e que
diríamos evidencia
tanto mas u m a
é represen- e v ol uç ã o,
tativo do quer no
génio frágil
de Syd Barrett que desde cedo apresentava sinais que diz respeito às técnicas de produção
erráticos de lucidez. Também é representativo usadas como na própria música. Não
da cena psicadélica de Londres, bem diferente deixando de representar o rock psicadélico,
daquela que nos surgia dos E.U.A.. "Interstellar são os temas mais simples como "Little MOODY BLUES
Overdrive" e "Astronomy Domine" são temas Wing" (com muito de blues nele) e "Days Of Future Passed"
obrigatórios e extremamente influentes para "Castles Made Of Sand" que ganhariam a
aquilo que se viria reconhecer como space rock. imortalidade e seriam bandeiras do talento Deram Records

O
do guitarrista. segundo ábum dos Moody Blues
é um marco do rock progressivo
talvez até antes do termo ser
usado. Conceptual, ambicioso e
representativo daquilo que viria a ser
THE DOORS JEFFERSON AIRPLANE
popular na década seguinte - até o
“Strange Days” “Surrealistic Pillow” título do trabalho brinca um pouco
Elektra Records RCA Victor
com essa noção, curiosamente.
A pesar das
músicas
deste álbum
T odos os
lança-
m e n t o s
Reza a lenda que este trabalho
nasceu da vontade da recém criada
serem mais Deram Records ver uma rendição
ou menos referidos
atrás (e à modernizada da "Symphony Nº 9" de
da altura
das que frente) são Dvórak para testar as novas técnicas
surgiram peças im- de gravação e que a banda resolveu
no álbum portantes do antes trabalhar num espectáculo de
de estreia,
beneficiou rock psica- palco que já tinham em mente.
muito de délico, mas
um espírito os Jefferson
ainda mais Airplane
psicadélico e experimental, influenciado pelo com este seu "Surrealistic Pillow", o segundo
"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos
The Beatles que inspirou a banda a inovar e álbum, conseguir atingir um estatuto de
experimentar mais no estúdio. Os críticos dizem mestres. Pegando no que os The Beatles tinham
que as melhores músicas desta primeira leva andado a fazer, a banda consegue um trabalho
já tinham sido publicadas no trabalho anterior, considerado como culto e referência quer para
no entanto é inegável que temas como "People o período em geral, quer para o género em
Are Strange", "Love Me Two Times" e "When The
Music Is Over" são hinos absolutos dos The particular. "Somebody To Love" e "White Rabbit"
Doors. são obrigatórios.

THE RED CRAYOLA WITH THE FAMILIAR GUY


CREAM
“The Parable Of Arable Land” “Disraeli Gears”
International Artists Records Reaction Records

S ei
temos
que

estado a falar
S egundo
álbum
de um das
LOVE
na grande grandes “Forever Changes”
maioria de bandas da Elektra Records

M
propostas década de ais um exemplo de como por
de rock sessenta
vezes as obras-primas podem
psicadélico e depois
e a estreia de se ter
passar ao lado da crítica e do publico.
dos The apresenta-
O terceiro álbum da banda foi o último
Red Crayola do como
com a formação original e também
With The uma banda o que menos sucesso teve quando
Familiar Guy encaixam na perfeição, embora de blues pesado, aqui volta-se para o lado mais foi lançado mas com o tempo foi
também a conseguiam ultrapassar. Música que psicadélico da coisa e por consequência torna- sendo considerado como um trabalho
não é imediata, não é fácil de ouvir mas ainda se pesado, bastante pesado. Uma das pedras de culto e para além de ser um dos
assim genial o suficiente para mostrar muitas para hard rock estava então lançada. Ouvir o melhores da banda, um dos melhores
das direcções que outros pegariam nos anos malhão que é "Sunshine Of Your Love" com um de sempre. Apesar de ser mais um
seguintes. riff que já gritava heavy metal muito antes do exemplo da música psicadélica, o seu
termo ter sido inventado. espectro é muito mais alargado.

73
BOB DYLAN THE BYRDS
“John Wesley Harding” “Younger Than Yesterday”
Columbia Records Columbia Records

O u t r a

e x c e pç ã o
Os
B y r d s
continuam
The

à moda da a aperfei-
altura, Bob çoar as
Dylan e suas artes
um álbum psicadé-
que ele licas e com
pretendia este quarto
que não álbum,
fosse feito apesar de
grande alarido em termos de promoção. não ser propriamente uma revolução em
Dylan queria afastar-se do estado corrente relação ao anterior, conseguem consolidar
THE WHO da música, e talvez por isso (ou talvez o seu estatuto dentro da crescente cena.
não), consegue mais um sucesso que Também começa apresentar sinais do
“The Who Sell Out” ainda se viria a prolongar mais por conter rumo country rock que viriam a apresentar
Track Records "All Along The Watchtower", tema que Jimi sempre daqui para a frente.

D as poucas excepções não psicadélicas Hendrix viria a pegar no ano seguinte e


deste top. Os The Who continuavam torná-lo seu.
em franco crescimento e com ideias
pouco usuais. Desta vez juntam uma
série de canções soltas sem ligação sem
si, separadas por jingles de anúncios e
BUFFALO SPRINGFIELD THE ROLLING STONES
notícias falsos. Comercialmente sofreu “Buffalo Springfield Again” “Between The Buttons”
devido ao seu conceito, mas continua a Atco Records Decca Records
ser um álbum muito apreciado entre fãs e
crítica. C ontra-

riamente
A ntes de
t o d a
a experi-
ao que mentação
aconteceu psicadélica
com o de "Their
álbum de Satanic
estreia, Majesties
e s t e Request",
segundo os Stones
á l b u m mostra-
demorou vam ao
cerca de nove meses a sair cá para fora, mundo como as coisas tinham mudado
com diversas dificuldades, entradas e após "Aftermath". Mais confiantes, este
saídas por parte de membros, inclusive "Between The Buttons" é não só um dos
o guitarrista/vocalista Neil Young que melhores álbuns da banda na sua primeira
saiu e voltou à banda uma série de vezes. fase como também já demonstrava ter
Independentemente disso, o trabalho aquele espírito eclético que viria a tornar-
resultante é um dos melhores da banda e se a marca registada da banda.
recomendado a todos os nossos leitores.

MOBY GRAPE PROCOL HARUM


“Moby Grape” “Procol Harum”
THE ROLLING STONES Columbia Records Regal Zonophone
“Their Satanic Majesties Request”
Decca Records U m a
banda
que hoje
O s Pro-
c o l

E ste álbum é atípico na discografia H a r u m


em dia provavel-
dos The Rolling Stones. Por um é capaz m e n t e
lado vê-se que é bastante inspirado de soar
descon- serão mais
pelo "Sgt. Pepper's" dos The Beatles, hecida conheci-
quer pela experimentação sonora, mas que dos pelo
quer pela própria capa - e por isso em 1967 t e m a
s u b i u "Wither
acaba por ser um pouco desprezado rapida- Shade Of
na discografia da banda, tal como o mente ao sucesso com o seu rock Pale" que, curiosamente não faz parte da
foi um pouco pela própria banda. No psicadélico. Envelheceu muito bem e hoje edição britânica (os britânicos tinham a
em dia consegue apreciar-se ainda melhor panca de não incluir nos álbuns singles)
entanto é um daqueles trabalhos que toda a sua considerável riqueza sonora que
envelheceu muito bem e que serve temos por aqui, expandindo os campos do mas de qualquer forma este trabalho
género onde se insere. mostra os primórdios do rock progressivo,
como marco histórico, já que depois conjugando os mesmos com algum
disto, os Stones voltariam à terra, para psicadelismo.
o seu bom velho som.

74
Reviews do mes

24/7 DIVA HEAVEN 3:33 AETHEREUS


“Superslide” “3:33” “Absentia”
Edição de Autor Edição de Autor The Artisan Era
O nome é um pouco Que horas são? Se é difícil para as
estranho mas 3:33, horas de bandas sobressaírem
partir a louça toda! hoje em dia, mais difícil
não deixa de ser é para nós discernir
E nem temos que qual a receita ideal para
catchy à imagem nos esforçar muito, esse feito. Aquilo que
e semelhança da basta colocar este dizemos nem sempre
música, que acenta álbum de estreia dos se cumpre. Não basta
num rock indie sujo norte-americanos tocar isto ou fazer
3:33 para que seja o aquilo. É preciso aquele
e barulhento e com tanto de rock como de equivalente a ter um boi atrás dos forcados elemento desconhecido, aquele "x" que ora traz
noise. O termo riot grrrl nunca foi o nosso dentro de uma loja de porcelanas. Crossover triunfo, ora traz desgraça. A estreia dos norte-
favorito mas esta é daquelas ocasiões que clássico que nos remete para os melhores americanos Aethereus é um exemplo disso
mesmo. Com uma sonoridade moderna mas
assenta como uma luva. O trio feminino trabalhos do género. Como se fossem uns sem ser propriamente metalcore ou deathcore,
grita underground por todos os poros e D.R.I. mais acutilantes e violentos. Apesar o seu death metal técnico traz-nos uma série de
destas oito faixas passarem num instante, paisagens às quais não conseguimos resistir.
conquista-nos por remar exactamente é daqueles trabalhos que, mesmo sendo Nem queremos. E quando se tem um álbum de
contra a maré das tendências da música unidimensional, pede por mais audições. estreia que consegue capturar-nos assim, ainda
rock hoje em dia. Onde um "No.1" nos soa Está aqui uma bela banda. por cima num género tão complicado de o fazer
como o death metal técnico, então é porque
fresco e urgente como da primeira vez que temos realmente algo de muito especial.
ouvimos Ramones.

[8/10] Fernando Ferreira [7.5/10] Fernando Ferreira [8.8/10] Fernando Ferreira

AMANDA SOMERVILLE’S TRILLIUM AMARTE ANNISOKAY


“Tectonic” “Baile Dos Teus Medos” “Arms”
Frontiers Records Edição de Autor Arising Empire
É uma voz que Muitas vezes falamos Somos desconfiados em
dispensa qualquer como é gratificante relação às sonoridades
vermos aparecer modernas. Com um
apresentação, som muito formatado,
Amanda Somerville bandas deste ou o nosso preconceito
é uma artista daquele país, como leva a melhor assim que
com o devido também é gratificante ouvimos breakdowns,
reconhecimento estar presente nos aliados a ritmos mais
mundial dentro primeiros passos djenty e/ou nu, voz
das bandas. Pois agressiva nos versos a
o panorama mas mais gratificante é estarmos presentes revesar-se com a bonitinha nos refrões e, claro,
metal e este seu projeto enquadra-se com um álbum de estreia tão bom de uma os toques de música electrónica que assentuam
perfeitamente no lado mais melódico do banda portuguesa como é o caso deste mesmo a componente modernaça feita para atrair
talento de Amanda. Há uma vibração muito a rapaziada de hoje em dia que provavelmente tem
"Baile Dos Teus Medos" dos Amarte. Cantado aqui os seus primeiros contactos com a música
hard rock, mas muito moderno, pesado e em português, com uma sonoridade tão pesada. E, contra mim falando, até se prefere
será certamente estes disco um passo à forte quanto madura - nada que evidencie isto do que qualquer lixo descartável que ande
frente na carreira da cantora. O seu grito ser o primeiro trabalho - e sem se colar por aí nas rádios actualmente. Não vamos dizer
de liberdade musical foi dado com “Alloy” propriamente a qualquer vertente, este que "Arms" nos traz grandes temas memoráveis
e agora, sete anos depois “Tectonic” conjunto de temas têm um impacto bem e que vão sobreviver o teste do tempo. Poderão
sobreviver ou não como qualquer outra proposta.
confirma toda a sua qualidade vocal e grande quer se goste de rock alternativo, O forte desta proposta é mesmo o facto de termos
criativa. rock puro ou seja o que for que tenha rock grandes melodias e até marcantes, algo que nos soa
no meio. São detalhes quando o que importa tão bem como familiar. As regras são as mesmas
reter é a qualidade desta proposta que tem de sempre, não se mexem um milimetro delas mas
tudo para crescer ainda mais. definitivamente que as usam de forma inteligente.
Brilhante até. Surpreendentemente bom!
[10/10] Miguel Correia [9/10] Fernando Ferreira [8.5/10] Fernando Ferreira 75
AVI ROSENFELD BACK TO EDEN BARROS
“Very Heepy Very Purple VIII” “Blackened Heart” “More Humanity Please”
Edição de Autor Hellfire Records Rockhots Records
Pois, pois, já perdi a Back To Eden é um nome “More Humanity
conta aos lançamentos algo estranho para se Please”, é uma
de Avi. Quando abri a dar uma banda de heavy mensagem de
caixa e vi mais um para metal (mais ou menos) consciencialização
ouvir e escrever sobre tradicional, no entanto, muito direta para a
ele fiquei sem palavras. só pelo simples facto sociedade, suportada
O ler o nome deste de estarmos a falar de num conceito musical
que se trata de um duo
disco fiquei a tentar australiano, normal repleto de malhas
perceber se a minha também deixa de ser hard rock/AOR e
primeira conclusão uma parcela importante nesta equação. Trata- riffs melódicos.
estaria correta. Uma abordagem ao rock clássico se do projecto de Edan Hoy (guitarrista, baixista Honestamente já tinha saudades de ouvir algo
de Uriah Heep e Deep Purple, talvez umas e compositor) com o vocalista Aliz Kazim e com do Paulo Barros, e aqui está um disco repleto
covers. Se por um lado acertei por outro...não! mais alguns convidados especiais. O resultado são de grandes musicas que vai encher de orgulho
Covers?!?!? Nope, Avi criou de forma inspirada cinco temas que qualquer fã de heavy metal não vai todos os fans do género, pois há por aqui
e com toda a sua personalidade artística, como conseguir resistir. A voz do amigo Aliz soa a metal grandes arranjos musicais, muito técnicos,
sempre, um conjunto de músicas fortemente clássico mas a soar poderoso e fresco (não há por cheios de ritmos e melodia num trabalho que flui
inspiradas por estes dois nomes monstros do aqui traças a sair da boca do vocalista) enquanto de forma simples logo à primeira audição. Neste
rock mundial. Tudo numa sonoridade muito a guitarra de Edan é potente nos riffs e acutilante projeto Paulo Barros é acompanhado por Ray
moderna, excelentemente trabalhada e cheia nos solos. Fantástico projecto, seria bom vê-lo a Van D, na voz, Pico Moreira na bateria e Vera Sá
de sentimento, pois é assim que ele trabalha, crescer e transformar-se numa banda a sério. no baixo, num disco com uma identidade muito
é dessa forma que ele escreve as suas musicas própria, minimalista, onde as habilidades do
e tudo ganha vida logo no primeiro segundo de Paulo estão bem presentes e naturalmente de
audição. forma brilhante! A prova de que o que é nosso
também é bom!
[10/10] Miguel Correia [9/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia

BEANPOLE BINAH BORN TO MURDER THE WORLD


“All My Kin” “Phobiate” “The Infinite Mirror Of Millenial Narcissism”
Chimera Music Osmose Productions Extrinsic Recordings
Este não é um trabalho Nada como death metal Com um nome destes,
fácil de ouvir. Nem de para ajudar a mitigar o o que se poderia
perceber. O facto de calor. Quer dizer, não esperar? Bem, por
ser um dos primeiros há qualquer indicação acaso não é assim
projectos de Les de que isso resulte mas tão claro. Com a
Claypool dos Primus dá pelo menos a satisifação apetência dos últimos
ninguém nos tira. Este anos para bandas de
logo uma pista. Reza segundo álbum surge
a lenda de que o som seis longos anos após a metalcore e deathcore
da banda já teve várias estreia mas parece que em ter designações
tentativas para ser foi ontem, ainda para mais com um death metal que seriam perfeitas
lançado mas que depois de ter sido mostrado tão clássico e old school que nos soa como se para um álbum, ainda ficamos na dúvida. Mas
aos homens da pasta que ficou posto de parte fosse um velho conhecido. Bem sei que isto é não, nada a temer, até porque este é mais um
durante cerca de vinte anos. Veio ao de cimo uma forma simpática de dizer que se trata de um projecto de Shane Embury (Napalm Death e
quando Claypool mostrou as gravações a Sean déjà vú agudo mas quando o resultado é tão bom, basicamente tudo o que for porrada sonora de
Lennon que decidiu reeditar na sua própria o que interessa se este som já foi espremido até qualidade extrema) que aqui se junta a Mick
editora. Desconcertante, hilariante e sem à exaustão na suécia desde dos finais da década Kenny (dos Anaal Nathrakh e Mistress) e Drunk
dúvida de difícil digestão, este é um trabalho de oitenta. No entanto, há aqui arrojo com alguns na voz (dos Fukpig e também nos Mistress). Um
que não é para os fracos. Nem para os fortes. temas a serem autênticos épicos - a começar pelo trio capaz de assassinar o mundo. Temos o grind
Sinceramente temos um bocado de dificuldade primeiro tema a sério "The Silent Static" - e que sem emergente que faz parte do ADN de Embury e a
em perceber para quem é... qualquer abordagem fora do espectro do death capacidade de despejar riffs marcantes por parte
metal, conseguem prendernos do início ao fim. Um de Kenny e a voz raivosa de drunk. Tudo junto?
grande álbum, indispensável aos fãs do género. Um dos álbuns do ano de música extrema. Há
coisa mais viciante que esta? Não é pergunta de
retórica, queremos mesmo saber...
[3/10] Fernando Ferreira [9/10] Fernando Ferreira [9/10] Fernando Ferreira

BUIO MONDO CARNATION CLIF MAGNESS


“Un Omaggio A Riz Ortolani” “Chapel Of Abhorrence” “Lucky Dog”
Universal Tongue Season Of Mist Frontiers Music
Como o nome do Álbum de estreia Yeah!!! Fiquei
próprio título deste que nos é servido super animado
lançamento sugere, pela sempre atenta com este disco e
temos aqui uma Season Of Mist que se desconhecia
homenagem a Riz
Ortalani, criador antes de chegar Cliff, esta foi a
dae bandas sonoras a este trabalho já melhor forma de
do cinema de tinha um split e ser “apresentado”
terror italiano. Esse um álbum ao vivo? ao músico. Que
homenagem prende- Precipitação? Talvez, álbum fantástico
se com uma rendição do tema "Massacre mas a avaliar pelo o que se encontra aqui, é este “Lucky Dog”, um som muito
Of The Troupe" original da banda sonora de até que é justificada. Potência descomunal rockeiro, cheio de melodia e harmonias
"Holocausto Canibal" enquanto no lado B temos que até faz com que a penugem fique toda vocais brilhantes, com uma energia muito
"La Stanza Degli Orogli", um tema original que
insere-se perfeitamente neste imaginário. em pé, fruto de não só de uma grande contagiante. A Frontiers continua a saga de
A tensão criada por estes temas movidos a produção como também de grandes lançar grandes disco dentro do género e
sintetizadores trazem-nos muitas imagens e malhas que conseguem ir (muito) mais são sem dúvida “olheiros” para isto. Sobre
recordações dos filmes de terror da década além do óbvio. Um death metal blasfemo, Clif, agora sei que foi vencedor de um
de setenta e oitenta, o que o torna obrigatório que não complica nem dá passos maiores Grammy, é produtor de Avril Lavigne por
para quem gosta deste tipo de cinema em que as pernas que tem e o resultado dessa entre muitas colaborações se destacam
particular. Curiosamente é o tema do lado b sobriedade é um disco que tem tanto artistas como Celine Dion, Quincy Jones
que nos conquista em definitivo, o que até de monstruoso como de apaixonante. e que este é o seu segundo trabalho,
poderá ser considerado como uma heresia.
depois de um bem-sucedido “Solo”,
que irei tentar ouvir oportunamente.
76 [8/10] Fernando Ferreira [8.8/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia
CONVOCATION CROSSING ETERNITY DARE
“Scars Across” “Images From A Broken Self” “Out Of The Silence II”
Everlasting Spew Records Eibon Records Legend Records
Se há algo que Para mim Este foi mais um
raramente nos falha completamente disco que me fez
é o doom metal. Seja olhar para trás no
melódico, encostado desconhecidos. Se
tempo. Quando que
ao gótico, mais nuns casos faço o “Out Of The Silence”
fúnebre ou encostado trabalho de casa e um clássico já faz
ao death, o doom, vou procurar algo trinta anos! Assim,
quando bem feito os Dare decidiram
(claro, há este detalhe, mais atrás sobre
até porque a distância entre o bom e a cura a banda em questão, no caso destes re-gravar este álbum
para insónias é muito ténue) bate sempre com por muitos motivos o fizeram, mas ainda
Crossing Eternity, não o fiz, preferi ficar bem, pois surge algo com uma nova vida
uma força... como a estreia dos Convocation. por aqui e se na realidade tem algo mais
Este duo finlandês apresenta o peso esperado e naturalmente irá eternizar ainda mais a
e dá-lhe um ambiente fantástico que além da para mostrar, não quero saber, não me carreira da banda, permitindo também
atmosfera claustrofóbica acrescenta-lhe um interessa, porque a única coisa que me que a banda celebre o aniversário deste
toque fantástico macabro e cinematográfico. interessou foi ficar a ouvir este enorme disco com alguns toques sonoros mais
Como se fosse a banda sonora do fim dos modernos, mas dentro daquilo que eles
dias. Em câmara lenta só para prolongar disco. São uma mistura de romeno-suecos são! A voz de Darren está numa forma
a agonia. E não há nada de errado com e tem aqui um disco que prende muito a fantástica e aqui “King Of Spades” a
isso porque até gostamos da coisa. Sem audição do primeiro ao ultimo segundo. homenagem a Phil Lynott surge com
dúvida, uma das melhores estreias do ano, Mesmo quando pensamos que já ouvimos alguns ajustes musicais que aconselho a
garantimos! ouvir!
tudo eis que surge algo que nos confirma
o velho ditado...até morrer estamos
[9.2/10] Fernando Ferreira sempre a aprender e aqui aprende-se que [10/10] Miguel Correia
realimente a criatividade quando bem
DEICIDE explorada nos permite criar algo diferente DESCENT
“Overtures Of Blasphemy” e de forma muito simples...mas chega, “Towers Of Grandiosity”
Century Media Records vamos lá falar um pouco da sonoridade Redefining Darkness Records
Os Deicide não são uma
deste disco. Os Crossing têm aqui uma Já tínhamos saudades
banda de consensos. A criação impressionante na base do power da boa podridão
banda de Glen Benton metal sinfónico, onde se percebe que australiano. E esta é
não teve exactamente um bem fresca. Os Descent
período linear, mesmo a banda está completamente à vontade chegam ao álbum de
depois de ter recuperado nestas águas e por elas navega de todas as estreia agora em 2018
alguma da vitalidade depois de alguma
que parecia perdidade formas içando por vezes as bandeiras do
curiosidade causada
com a saída dos irmãos folk, jazz numa atmosfera cheia de ritmo com a sua demo de
Hoffman - embora esta
afirmação seja discutível porque parece que é cortada por momentos mais pausados 2015. Uma mistura
impossível dois fãs de Deicide que tenham a onde surgem solos muito envolventes e entre o som do death metal sueco mais primitivo,
mesma opinião acerca da qualidade das diferentes aquele espírito e ambiente blasfemo do black
fases. Na nossa opinião, a banda não tem um
que dão a força necessária para o barco metal e a podridão do hardcore mais caótico e
álbum mau há já muito tempo mas aqui parece continuar a navegar! Brilhante! noise. Tudo junto? Fantástico. Podridão desta
ter encontrado o seu melhor. De sempre! Sim, é só faz bem ao mundo. Não só não associamos
uma afirmação ousada mas sem dúvida que cada o som à Austrália como a própria música soa
uma destas doze malhas a sustenta. Potente mas intemporal, fazendo pensar que poderia ter tido
também melódico - e quando dizemos melódico, tão bom impacto agora como em 1990 como
pensem em clássicos do metal, e sim, continuamos teria em 2029. Uma estreia javardona, tal como
a falar de death metal. E do bom. Os Deicide nunca gostamos.
foram uma banda catchy, nem de grandes amores,
mas este álbum muda esse paradigma e é tão bom
que os fãs de Deicide não o deixaram de ser. A não
ser que sejam casmurros e/ou duros de ouvido.

[9.5/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia [9/10] Fernando Ferreira

DI'AUL DON'T DISTURB MY CIRCLES DYECREST


“Nobody's Heaven” “Lower Canopy” “Are You Not Entertained”
Argonauta Records Ring Leader / Regulator Records Inverse Records
Confesso que Os Don't Disturb My Os Dyecreste são uma
não temos muitas Circles são a banda banda heavy power
informações acerca de mais difícil audição metal da boa escola
desta banda italiana. que mais gostamos finlandesa. Formados
Desconfiamos que em 1993 sob o desígnio
de ver tocar ao de Fairytale, passando
este não seja o seu vivo. As autênticas
primeiro lançamento em 2001 para Dyecast
tapeçarias sonoras, e finalmente para
já que a banda os riffs dissonantes e Dyecrest em 2003.
apresenta-se com
uma segurança e com um som bastante angulares e estruturas Porquê tudo isto? Pois,
muito pouco comuns. No entanto não é dos não sei, mas pouco importa, o que me deixa
profissional. Uma daquelas sensações que intrigado é que este é o terceiro trabalho de
não conseguimos bem explicar, mas que casos em que a banda parte tudo ao vivo e
em estúdio parece precisam de vitaminas. originais em tantos anos de carreira, se não
quem ouvir estes cinco temas irá compreender estou em erro 25 anos! O álbum é um pouco
muito bem. O groove é garantido mas mais De todo. "Lower Canopy" é o mais recente progressivo, começando com músicas de alta
do que ter apenas um veículo para groove lançamento da banda portuguesa e traz-nos voltagem e progredindo lentamente para faixas
gratuito, temos verdadeiras canções que precisamente o que esperávamos: quatro mais lentas e constantes. Senti falta de uma
mesmo tendo na sua maioria uma duração malhões que chegam e partem tudo em estrutura normal na composição, pois os solos
acima dos cinco, seis minutos, facilmente pouco mais de dez minutos. Violência que são inexistentes e que com toda a certeza iriam
se instalam. E quando é assim, não há mais não é universalmente aceite ou procurada dar outra força às músicas. Não deslumbra, não
nada a fazer ou dizer. mas que para quem tem gostos peculiares é mau, tem bons momentos de audição, mas,
pelas coisas boas que passam ao lado da podia estar em outro nível, pois ao fim de tanto
tempo era isso que se poderia esperar.
grande maioria, vai fazer maravilhas.

[8.4/10] Fernando Ferreira [7/10] Fernando Ferreira [7/10] Miguel Correia 77


DORO DROPOUT KINGS ENDLESS
“Forever Warriors / Forever United” “AudioDope” “Mad Sick Mind”
Nuclear Blast Records Napalm Records Necromance Records
A história por detrás É bom chegarmos Death metal com
growling robusto sem
deste disco está em branco para parecer secante, contudo
na nossa edição propostas. Sem uma transição de
de Agosto, na qual noção, sem músicas pouco ou nada
intuitivas. Ouve-se um
Doro foi capa, mas preconceitos... quase fade out sem transição
nunca é demais sem preconceitos. entre músicas, e gritos
do nada emergem a
relembrar que a Mesmo que não se iniciar cada nova faixa,
morte de Lemmy Kilmister foi o ponto conheça nada sobre a proposta, assim não transmitindo uma ligação coesa. Malhas
pesadas, com voz sinfônica quando menos espera-
de partida deste brilhante disco. “Forever que nos surgem os primeiros momentos, se, sem esquecer o som primordial que está no
Warriors / Forever United” é um tributo qualquer que seja a aversão que se tenha sangue destes espanhóis, death metal apocalíptico
, rápido e eficaz a rasgar o grind com uma
aqueles que Doro tem como inspiração, em relação a um género específico, bastam produção de proporções impecáveis. Elementos
caso de Lemmy, Dio e do seu pai! 25 alguns segundos para eles se manifestarem sonoros devidamente combinados que envolvem
faixas divididas em dois discos, por onde em pleno. Foi o que aconteceu com ambientes melódicos a inspirações diabólicas. Em
“Inner Beast” percorrem caminhos do Slamming
por um lado facilmente encontramos "Something Awful", que nos faz recuar para Brutal Death, tema que completa a essência deste
futuros hinos metal que nos vão também aquele que consideramos ser um período trabalho, englobando todas as referências musicais
que Endless possuem. Mad Sick Mind garante-nos
eles acompanhar para sempre e por negro do metal, um período em que o quase 50 minutos de brutalidades orientadas para
outro uma inspiração madura, melódica virtuosismo estava afogado pelo chamado um público mais abrangente que apenasno meio
Death Metal.
e muito tocante. Ao ouvir este disco, nu metal e as tendências mais modernoas
pensei em muito do que já escrevi em e urbanas. Se calhar estou a ser um pouco [7/10] Cátia Godinho
reviews anteriores sobre o quão está a ser dramático - enquanto existem aqueles que
magnifico o ano de 2018 em lançamentos, acham que não é dramatismo o suficiente
mas por outro lado tive uma sensação - mas serve para situar a coisa. O som
EYZE
estranha em mim. Quem sou eu para dos Dropout Kings teria sido um enorme “Lost In Emptiness”
Edição de Autor
estar aqui a atribuir pontos a trabalhos destaque em 2001 ou 2002. Confessamos
de nomes míticos cujas longas carreiras que até seria uma alternativa superior Mais uma banda a
falam por si e com um percurso artístico aos Crazy Town (bem, poucas coisas não procurar-nos, mais
um EP de estreia. Os
único, como é o caso de Doro! Só tenho o são) mas a verdade é que os ritmos Eyze são uma banda
de me render humildemente e prestar hip hop sobrepõem-se a qualquer coisa nacional, um projecto
a minha vênia a todos eles, pois cresci remotamente relacionada com o rock/ que nos chega de
a ouvir, Saxon, Judas, Black Sabath, metal (e quando não faz, lembra Limp Pombal com músicos
experientes no death
Warlock, Doro e é melhor parar por aqui Bizkit) e este som é mais apropriado para e black metal mas que
e acreditem que fico feliz ao colocar para adolescentes zangados com o mundo aqui queriam explorar algo diferente. Numa
ouvir novos trabalhos de todos eles. Dizer do que propriamente algo que perdure toada mais contemplativa e bem doom, este
"Lost In Emptiness" é uma excelente estreia
se gosto mais ou menos, huummm não no (espaço e) tempo. Para quem tem que nos traz muitas boas memórias dos
me parece por gosto mesmo muito de saudades de nu-metal, aproveitem. Diz primeiros passos da cena extrema nacional.
tudo o que eles fazem. “Forever Warriors que vieram para ficar. Melancólico, pesado e intenso são adjectivos
/ Forever United” marcou-me ainda mais bastante usados e aqui têm todo o seu sentido,
não cheirando a lugar comum. A abordagem
pelo facto de ter podido entrevistar a Doro respira livremente e é enriquecida por outras
e enquanto disco, meus amigos, claro que texturas normalmente não usadas neste
é algo indispensável na discografia de contexto. Mais uma banda que recomendamos
qualquer metalhead, pois a Doro é uma de o apoio e o devido acompanhamento - https://
eyze.bandcamp.com/releases.
nós e acreditem que está para durar!
[10/10] Miguel Correia [4/10] Fernando Ferreira [8.5/10] Fernando Ferreira

FITACOLA FREE FROM SIN GIOELI - CASTRONOVO


“Contratempo” “II” “Set The World On Fire”
Edição de Autor Pride & Joy Music Frontiers Music
Exemplo da renovação Os Free From Sin, são Sim, não desistam
de sangue na cena oriundos da Suécia dos vossos sonhos,
nacional de punk/rock e para mim dão-se é essa a mensagem
temos os Fitacola. de abertura deste
agora a conhecer com
Embora a banda disco. Uma brilhante
esteja mais próximo este “II”. Fiquei sem
do rock - quer em palavras, pensei o parceria entre dois
termos de mensagem que vou dizer disto? nomes que são dois
quer em termos Ao ouvir “Faces Of monstros da cena
musicais - a banda não abandona a ligação Christ” depois uma pandemónica intro, fiquei
musical e que ficam
ao punk que sempre teve, ainda que de uma para sempre marcados nas nossas mentes
assoberbado e preso na audição e acreditem
forma mais acessível. Este é um daqueles pelo sucesso dos diferentes projetos por
que foi difícil passar à faixa seguinte pois onde passaram. São dois músicos muito
álbuns de Verão que merece ser ouvido,
destinado às camadas mais jovens, é certo, amei esta música bem como todo o disco talentosos e o resultado só poderia ser este.
mas com potencial para chegar a todos os está soberbo! Riffs muito fortes, que ficam “Set The World On Fire” é uma exibição
que gostam de guitarradas fortes, refrães e logo aqui às voltas na nossa cabeça, num som honrosa e rockeira de enorme qualidade
melodias memoráveis. "Copos e Amigos" muito pesado cheio de dinâmica e melodia e que nos deixa completamente viciados.
é capaz de ser o tema mais comercial mas Per Englund o vocalista tem um desempenho Hard-rock, rock, ou seja, lá o que for, isso
mesmo esse não sabe a pastilha elástica. num patamar muito, muito elevado. por onde para mim não interessa, porque sente-se
Trabalho extremamente sólido e que predominam abordagens temáticas à religião, maturidade e musicalidade acima da média
recomendamos para quem gosta de rock muito bem conseguidas. Pessoalmente é que o torna num disco muito especial.
cantado em português e com letras com
um sentido brutal, definitivamente o melhor um “must” musical com muito potencial.
que pudemos apreciar nos últimos tempos.
78 [8.5/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia [10/10] Miguel Correia
GRAHAM BONNET BAND HAUNT HIGH COUNCIL
“Meanwhile Back In The Garage” “Burn Into a Flame” “Held In Contempt”
Frontiers Music Shadow Kingdom Via Nocturna Records
Em bom tempo De Fresno chega-nos “From the
eles regressaram "Burn Into A Flame" a b a n d o n e d
à garagem e o primeiro longa- asylums and
p r o d u z i r a m duração dos norte haunted pine
tão fantástico americanos Haunt. barrens of South
disco. Esperava Com uma sonoridade Jersey comes
ansiosamente pela que nos remete High Council, an
passagem pelo instantaneamente para interminable force
a New Wave of Brittish
nosso país que, Heavy Metal, facilmente reconhecemos as with one foot in
entretanto, foi desmarcada, mas fica a influências de Judas Priest, Thin Lizzy e até Hell and the other crushing the throat of
água na boca com este trabalho do “velho” mesmo Iron Maiden na sonoridade desta mediocrity”. Quando li esta introdução na
Graham! Não é de audição fácil, pelo banda. Ao percorrermos os nove temas biografia da banda fiquei muito curioso
menos para mim, mas depois de ouvir que compõe o disco podemos constatar com a audição deste disco e foi uma boa
varias vezes senti que estava perante algo a evolução da banda desde o seu anterior surpresa. “Held In Contemp” é um disco
que só Graham poderia criar. Graham trabalho (Luminous Eyes) percebendo que sólido de sonoridade bem heavy metal,
tem uma carreira que fala por ele e não a aposta na passagem de trio a quarteto se do mais clássico e acreditem são “só”
necessita de provar nada, só tem de fazer tornou claramente uma aposta vencedora seis faixas....que passam rapidamente
o que a inspiração lhe traz e este “Back melhorando a identidade sonora da banda. e lá vamos nós ouvir tudo novamente
In The Garage” não agitará certamente o Destaco os temas "My Mirage" Wanderlust" e e novamente... A qualidade acima da
mundo rockeiro mas mostra a excelente sobretudo "Frozen in Time" o melhor cartão quantidade!
forma de Graham. Pena Joe Tafolla já não de visita do álbum.
estar neste barco.
[10/10] Miguel Correia [7/10] Carlos Magalhões [10/10] Miguel Correia

HOLOCAUSTO EM CHAMAS HORSEMAN IAN GILLAN & THE JAVELINS


“‫”ׁשֶדֹּקַה ןֹוׁשָל‬ “Of Hope Freedom And Future” “The Studio Album”
Harvest Of Death / Signal Rex Massacre Records earMusic
Nada melhor O homem do cavalo Este álbum sente-se
apanharmos uma dá-lhe bem no... thrash. como um fechar de
estreia discográfica Ou numa espécie dele. círculo. E deve ser
apenas para se ter uma Ali pelos campos por visto dessa forma
noção do quão o nosso vezes pantanosos independentemente do
underground está entre o thrash metal som em si. The Javelins
vibrante. Apesar da falta mais moderno e o foi a primeira banda
hardcore metalizado, o de Ian Gillan antes de
de informação acerca explodir com a MK II
deste projecto, os seus entusiasmo da banda dos Deep Purple. Temos
anteriores lançamentos alemã é sem dúvida uma série de clássicos do rock'n'roll que são
(a demo "Sermões Da Montanha" de 2017 assim contagiante. Quando falamos nesta fusão, recuperados mas mantém-se muito próximos da
como o split com os islandeses Óreiða do início os mais tradicionalistas não ficam muito sonoridade original. O que não é tão desafiante
deste ano) causaram um burburinho e interesse entusiasmados, mas garantimos que neste caso como se tivessemos reinterpretações destes
saudável pelo seu black metal porco e primitivo. ambos os fãs poderão ficar satisfeitos, já que clássicos imortais. A voz de Gillan não tem que
Dentro do género, não é um trabalho fácil de ouvir também temos uma guitarra solo bem irrequieta se esforçar muito, mantendo um registo de classe
- talvez tão difícil como pronunciar o título do e sábia nos momentos em que aparece (e mas não deixamos de sentir que era bem vindo
álbum - mas a aura que carrega (a aura, sempre como aparece). Boas malhas e uma banda um pouco mais de sangue na guelra. A ideia não
a aura) acaba por fazer com que seja mais do que apaziguadora de tribos, porque isto no final, o é essa e com isto voltamos ao início desta nossa
um conjunto de riffs e batidas com voz sepulcral que interessa é abanar o carolo com gosto. Aqui missiva. Trata-se de uma colecção de covers que é
por cima. Algo que provavelmente nem tocado têm todas as hipóteses para o fazer, com malhas indicada apenas para aqueles que não se fartam da
ao vivo terá o mesmo impacto. Para muitos isto é de qualidade. estética do som da década de cinquenta e sessenta,
chinês, mas para os fãs de black metal, sabemos onde Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Buddy Holly
entre muitos outros. Nós não nos fartamos mas
que nos compreendem e que mesmo por isso sabemos que somos poucos.
vão procurar adquirir este trabalho.
[8/10] Fernando Ferreira [8.5/10] Fernando Ferreira [7/10] Fernando Ferreira

I'LL BE DAMNED IRON HUNTER JEAN BEAUVOIR


“Road To Disorder” “Mankind Resistance” “Rock Masterpieces Vol. I”
Drakkar Entertainment Fighter Records AOR Heaven
Segundo álbum Tentei perceber O rock é a sua vida,
dos dinamarqueses o porquê de um não importa o que
I'll Be Damned que lançamento deste digam! Jean tem
rockam como se não uma já longa carreira
houvesse amanhã. género nos tempos
que correm, mas sem com momentos
Seria fácil dizer que de trabalho com
esta malta dá-lhe resposta obvia, senti nomes como Kiss,
no stoner mas isso que os Iron Hunter The Ramones,
seria bem redutor são uma banda que Plasmatics, Voodoo
(apesar de esteticamente, o rótulo faça ainda tem de pedalar muito para chegar a X e Crown Of Thorns ao lado de Micki Free.
sentido). Há por aqui um certo feeling outro nível.São nitidamente influenciados Jean produziu assim canções memoráveis,
alterantivo, próprio do underground pelas sonoridades NWOBHM mas falta o muitas das quais pontificam neste
adécada de noventa e posteriores, que cunho pessoal nas composições e é um “Rock Masterpieces Vol. I”, devidamente
misturado às eternas raízes Sabbath remasterizadas e que é um “must” na
resultam em algo único. Com um vocalista erro não utilizar a inspiração na composição
sem que esta soe a “colagens” de outros coleção de qualquer fã. A única coisa q
que poderia estar a substituir Ted Nugent dizer é que certamente virá um Vol II e
na sua própria banda e com sons viciantes tempos. Não foi a melhor introdução, sinto assim poderão também vir outros títulos
e groove infindável, poucos argumentos que foi a possível, mas então deveriam que são uma obra de arte do catálogo
sobram para que se vá a correr nesta ter amadurecido as ideias e colocar todo musical de Jean.
direcção. Para bater o pé e abanar o carolo o talento ao serviço das suas músicas.
em consonância. Acredito que tenhma muito para dar, mas
este não é o caminho...
[8.6/10] Fernando Ferreira [6/10] Miguel Correia [10/10] Miguel Correia 79
JIZZY PEARL OF LOVE/HATE KOMATSU LÂMMIA
“All You Need Is Soul” “A New Horizon” “Lâmmia ”
Frontiers Music Argonauta Records Edição de Autor
Tendo como mentor A Holanda nem Simplesmente
deste projeto Jizzy Pearl, é propriamente
o mesmo que nos finais conhecida pelo seu adoramos quando
dos anos 80 e década stoner metal, mas uma banda vem
de 90, deu corpo a uma acreditamos que
grande banda de culto os Komatsu têm ter connosco e
da cena Hard’n’Heavy e
Glam norte americana,
capacidade para fazer mostrar o seu
mudar este paradigma.
denominada Love/
Este terceiro álbum som. Mais ainda
Hate, mas na minha
modesta opinião, longe daquilo que os LH fizeram tem qualquer coisa quando o som
nessa época. Então, com o selo da Frontiers, que de fantástico que apesar de ser imediato o
continua a sua fantástica aposta no género, Jizzy reconhecimento, tarda a encontrar palavras que querem mostrar é simplesmente
traz-nos aquilo que eu apelido de edição moderna que façam justiça. Só conseguimos se formos fantástico como acontece com este
cheia de “soul” dos que ele tem feito aolongo dos monossilábicos. Groove (óbvio, tens que fazer
tempos. “All You Need Is Soul”, são doze faixas de melhor). Intensidade (então? Se é para dizeres EP de estreia auto-intitulado dos
sonoridade bastante diversa na linha do soul, blues o básico, mais vale estar calado). Red Fang (ok, brasileiros Lâmmia. Stoner/doom
e hard rock. Quando refiro que o disco está longe uma referência é bom mas neste contexto ainda
do que os LH fizeram não é no sentido depreciativo, faz pensar que se trata de uma cópia barata, metal liderado por uma voz feminina
porque acho que é um trabalho agradável, básico quando não o é). Hipnótico (está melhor). é algo que tem sido abundantemente
na sua estrutura, mas desafiante na audição e Viciante o suficiente para ouvirmos várias vezes
muito conseguido globalmente. As raízes musicais de rajada (muitas palavras, muitas palavras mas mostrado nos últimos tempos, é certo,
estão assentes e será certamente um motivo extra
para se ouvir.
nota 10 pelo entusiasmo). Dá para perceber a com mais ou menos qualidade mas
coisa, não dá?
este caso tem algo diferente. Algo que
[9/10] Miguel Correia [8/10] Fernando Ferreira nos leva a não embarcar pelo caminho
do "é apenas mais uma como as
MARLA & DAVID CELIA outras". Carmen Cunha têm uma vida
LIKE A STORM
muito própria que embora vá beber um
“Catacombs” “Daydreamers”
Century Media Records eliterecords
pouco à herança da década de setenta,
enquadra-se perfeitamente no doom
Ao terceiro álbum, Reza a lenda que a Marla
os neo-zelandeses e o David conheceram- que a restante banda estabelece com
Like A Storm tornam- se num festival na os seus instrumentos. Não é preciso
se cada vez mais
conhecidos. Não será Alemanha e que a muito para se ficar fascinado com este
por acaso o facto de química apareceu logo
som, basta o primeiro tema"Acid Trip"
terem uma sonoridade imediatamente, quer
bem moderna, onde musicalmente quer (título bem apropriado), para se ficar
os refrães apelativos românticamente. Não agarrado. Formados o ano passado,
são imediatos. Algo
que não é muito diferente de muitas outras analisando a relação do casal, é inevitável que a EP lançado este ano... venha o álbum,
propostas que nos surgem e têm surgido nos mesma se sinta através da forma singela como
que o vício tem que ser satisfeito!
últimos anos, onde as tendências modernas as duas vozes se unem neste "Daydreamers" (e
que nos remetem para o metal alternativo que título tão maravilhosamente integrado no Favor ir aqui urgentemente - https://
e os tiques do metalcore se fundem numa som) que é um vício para quem gosta de folk lammia.bandcamp.com/releases
sonoridade facilmente identificável. O seu ponto
forte é sem dúvida as canções, que no caso das típico de cantautor, com um ambiente fantástico
mesmas existirem, sustentam a coisa. E aqui ao qual não conseguimos dizer que não, mesmo
temos canções sem dúvidas. Não espantam que queiramos. E não queremos. O nosso
o sentimento de déjà vú mas sem dúvida que mundo do metal também é constituído por
temos canções que entoamos logo à primeira. estes momentos de paz e beleza inesperadas.
Resta saber o que acontece à centésima vez...

[7/10] Fernando Ferreira [8/10] Fernando Ferreira [9/10] Fernando Ferreira

MARILLION fiel ao seu som de rock progressivo muito enquanto na segunda parte temos os In
“All One Tonight (Live At The Royal Albert Hall)” próprio e ainda manter uma base de fãs Praise Of Folly, um quarteto de cordas
earMusic
muito fiel. E é algo que temos que dar a com mais alguns instrumentos de sopro
mão à palmatória, mesmo que não goste que dão uma cor especial a temas mais
Os Marillion particularmente da sua sonoridade. clássicos da banda - e não, não temos
são uma banda nenhum tema da fase Fish.
estranha. Não sendo Confesso que a fase Hogarth não me é
propriamente uma tão apelativa, mas definitivamente que Quem esperava ouvir "Kayleigh" e
das chamadas "one a banda soube manter-se relevante, não Lavender", vai ficar desiludido mas este é
hit wonders" em que só mantendo o mesmo alinhamento um lançamento para os fãs mesmo, para
lançaram um êxito e desde a mudança de vocalistas, mas os fãs que acompanharam a banda ao
desapareceram, os Marillion conseguiram também mantendo uma qualidade sonora longo das últimas décadas e não apenas
sobreviver à chamada crise na indústria apreciável álbum após álbum. "Fuck na primeira. Som impecável com um
musical, à mudança de vocalista e até Everything And Run (F E A R)" foi um dos palco e luz fantásticas, mas nisto o que
a um certo ostracismo ao qual foram maiores sucessos da banda nas últimas brilha mesmo é a música que no caso do
condenados quer pela imprensa musical, três décadas e este álbum/DVD/Blu Ray segundo disco, beneficia em muito dos
quer pela própria indústria britãnica. Fish ao vivo é uma celebração desse facto, novos arranjos do quarteto de cordas.
já saiu há muito tempo mas a sua sombra registado no prestigiado Royal Albert Os Marillion continuam bem vivos e
parece que permaneceu a pairar durante a Hall onde a banda tocou pela primeira relevantes. Para quem não acredita, o que
carreira da banda, mas a banda britânica vez. Dividido em duas partes, temos o tem a fazer é pegar neste trabalho para
hoje em dia é bastante diferente. A era já mencionado último álbum tocado na ficar convencido disso mesmo.
Steve Hogarth já tem quase trinta anos e íntegra, com um fantástico jogo de luzes,
a banda conseguiu inovar-se, manter-se
80 [8.5/10] Fernando Ferreira
MASS DISORDER MAYAN MERCIC
“Conflagration” “Dhyana” “Mercic 4”
Ethereal Sound Works Nuclear Blast Records Edição de Autor
Os nacionais Mass Atenção, esta análise One man show!!! Ya, é
Disorder trazem- isso, este projeto com o
será tendenciosa, qual tomei conhecimento
nos “Conflagration”, fruto do entusiasmo é uma iluminação
álbum de estreia da de Carlos Maldito, o
banda de Setúbal. de andarmos a ouvir mentor, o mestre de tal
Para mim também este álbum sem parar obra prima. “Mercic 4”
eles também são nos últimos tempos é o novo passo criativo
numa onda industrial que
uma estreia e a prova e por isso mesmo, certamente poderá não
mais uma vez do que denota parcialidade. Considerem-se agradar ao pessoal mais clássico da cena, mas que
tenho escrito vezes sem conta na rúbrica me surpreendeu de forma muito, muito positiva.
Garage World, temos enormes bandas de avisados. "Dhyana", o terceiro álbum dos São dez temas que sabem a pouco tal a forma
grande potencial e que em nada, mas nada MaYan, é o seu melhor de sempre. Aliás, como facilmente vão fluindo na audição e para
mim, fan de outros tempos para este género e para
ficam atrás do muito do que nos chega dentro do espectro em que se move (death outros nomes, “devorei” este trabalho vezes sem
lá de fora. Os Mass Disorder são brutais, metal sinfónico) é um dos trabalhos do conta. Há por aqui uma experiência sonora bem
arrasadores e fazem de “Conflagration” ano, definitivamente. Sabemos que ainda conseguida, enérgica, por vezes muito rasgada,
a arma ideal para o extermínio mundial. quebrando a cartilha de composição, mas que se
Sólido, pesado, rápido, predominantes falta um pouco para o final mas podemos funde em algo que será certamente uma referência
afirmar isto com segurança. Sendo um nacional do género. O metal nacional num grito de
riffs thrash muito técnico, com vocais revolta mais uma vez com intuito de conquista e
death na sua linha genérica...globalmente projecto de Mark Jansen, dos Epica, demonstração de qualidade... Querem despertar da
um monstro sonoro! Fiquei fã! será inevitável comparar ambas mas há letargia diária? Aqui está a receita!
diferenças óbvias. MaYan é mais pesado,
mais bruto mas também não dispensa a
[10/10] Miguel Correia sua veia melódica que surge acentuada [9/10] Miguel Correia
pelo uso da orquestra The City Of Prague
MOONSPELL Philharmonic (famosa nestas andanças MR. BIG
“Lisboa Under The Spell” e pela colaboração com uma série de “Live From Milan”
Napalm Records / Alma Mater Records bandas) que realmente eleva a cena toda a Frontiers Music
um patamar completamente superior. Mas Bom, um registo para
Finalmente o tão
não é esse o principal segredo. São mesmo a eternidade, dos já
aguardado triplo CD
os temas, a diversividade em termos de de si eternos Mr. Big.
e DVD/Blu Ray ao
vozes (onde destacamos Marcela Bovio Gravado em Milão, este
vivo dos Moonspell.
e Henning Basse), e a sensação de que disco traz o melhor do
Este lançamento melhor dos Mr. Big,
estamos perante algo realmente especial.
já era para ter sido naturalmente numa
Ao contrário do que é mais comum, essa
feito, como já é do atmosfera diferente e
sensação não vai desaparecendo. Pelo
conhecimento público, porque a banda numa continua do seu bem-sucedido “Defying
contrário, vai crescendo. E assim continua. Gravity” lançado no ano passado pela Frontiers.
estava a trabalhar num EP para lançar
E assim vai continuar... Este disco é a confirmação de toda a reputação
em conjunto. Esse EP transformou-se
depressa em álbum e todos os planos da banda, se é que eles precisam disso, mas sim,
estão aqui bem presentes todas as habilidades
foram alterados e o lançamento adiado.
técnicas de Paul e Billy nomeadamente. São
Obviamente que hoje não tem o mesmo mais de 20 faixas, disponível em 2 cd’s e Blue-
impacto que teria se tivesse sido lançado ray... Fãs, porque esperam?
sem um álbum de originais pelo meio.
Mas isso não é problema, pelo menos
não para quem o lançamento se destina
- para os verdadeiros fãs dos Moonspell.
É algo que se assume desta forma logo [9.5/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia
desde início, a partir do momento em
que retrata a celebração de três álbuns
da banda lusitana, tocados na íntegra. lá está, sendo a celebração dos vinte anos NASHVILLE PUSSY
"Wolfheart", "Irreligious" e o mais recente de "Irreligious" e dos vinte e cinco anos da “"Pleased To Eat You”
(na altura), "Extinct". É uma ocasião banda, é algo que se aceita perfeitamente
earMusic
única e memorável ter a banda que tanto bem. Poderá ser até uma alternativa a
ouvir os álbuns originais, mais que não Estranha opção
gostamos a tocar os álbuns que tanto deste grupo italiano,
impacto tiveram e continuam a ter em nós seja de vez em quando. Como fã, este é um
Hortus Animae, de
mas não deixa de também deixar algumas lançamento que quero ter, que recomendo lançar quatro anos
armadilhas espalhadas. Não há surpresa e aos fãs e até para quem não sabe o que é depois do seu último
o risco de um trabalho ao vivo quando o a banda ao vivo - e obviamente também álbum de originais,
recomendo a versão com o suporte visual dois álbuns ao vivo.
alinhamento é bem conhecido e "Extinct" Este é o primeiro,
não é tão unânime como os outros dois que a Napalm Records nos cedeu para esta
contendo apenas
álbuns - na nossa opinião, apesar da sua análise e que, como disse atrás, é de uma seis temas mas servindo ainda assim
inegável qualidade, representava um certo qualidade ímpar. Poderá não ser o álbum como uma boa apresentação para o
acomodar que a banda raramente teve na ou DVD ao vivo dos Moonspell mais som da banda, uma mistura de black
comum mas sem dúvida que é uma bela metal melódico à la Ancient Rites e de
sua carreira, algo que "1755" quebrou. É um um metal gótico extravagante, numa
misto de emoções portanto. Como crítico, prenda para qualquer fã e tratando-se de
junção interessante o suficiente para que
este é um lançamento muito profissional, festejos como os descritos atrás em quase ouçamos com satisfação estes seis temas,
com uma qualidade visual do melhor que três horas de duração (não contando com um deles uma cover dos Slayer, "Raining
há - e sim, muito melhor do que se faz por o mini-documentário), mais não se pode Blood". O som não é mau de todo - bem
exigir, até porque não há muito mais a dar. melhor que as nossas expectativas - e o
cá, neste ou noutros géneros. A qualidade resultado final apesar de não deslumbrar,
sonora é igualmente imaculada, onde o Essencial.
não compromete.
principal problema é mesmo da setlist mas
[9/10] Fernando Ferreira [8.6/10] Fernando Ferreira 81
NECRYTIS NONPOINT OMNIUM GATHERUM
“Dread En Ruin” “X” “The Burning Cold”
Pure Steel Records Spinefarm Records Century Media Records
O segundo disco Os Nonpoint estão Esta é uma
deste projeto liderado em ascensão. Amigos daquelas bandas
por Shane Wacaster de uma sonoridade que até podemos
estruturado em moderna e fácil de compreender as
seis faixas numa agradar ao ouvido críticas contra ela
sonoridade bem mais imediato, os mas que nunca vamos
heavy metal com seus argumentos são concordar com elas.
claras influências do familiares, pegando no
músculo do rock e metal Simplesmente porque
som dos “velhos” Def do início do milénio e álbum após álbum
Leppard e Fates Warning. A abertura com acrescentando-lhe um sentido de melodia que conseguem apresentar-nos grandes malhas,
“Starshine” fica registada como aquele que contagia. A banda não é novata (pelo contrário, grandes melodias e, consequentemente,
será o ponto alto de todo o trabalho: um duas décadas de carreira cheia de coisas grandes álbuns. O death metal melódico é um
som muito direto, ritmo muito rápido, um boas) mas também nunca conseguiu chegar estilo mais exigente do que aparente porque
grande solo e vocalmente bem fechado. ao grande público da forma como merece. não é fácil conseguir não só soar original
As expectativas seriam as melhores, mas Talvez seja algo que mude com este "X" (o "X" como apostar nas melodias certas, o que
sinceramente o veio a seguir não me prendeu assinala o décimo trabalho de originais) mas a poderá levar a que alguns álbuns/músicas
muito. Continuam os ritmos velozes, os bons identidade da banda continua a mesma, para o soem mais forçados do que o desejável. E é
solos, mas por vezes algo “desenquadrados” bem ou para o mal. Continua a faltar o elemento tudo o que não temos aqui. De acordo com a
da estrutura musical... Há qualidade neste de surpresa que faça a diferença de tudo o resto identidade já bem firmada e com um conjunto
projeto, mas eu penso que as energias da mas ainda assim, este é um trabalho que se fortíssimo de temas, este poderá ser não só
banda têm de ser canalizadas de outra forma ouve muito bem. um dos melhores álbuns da carreira da banda
e com outro aproveitamento, até porque a como uma das propostas de topo de 2018.
industria hoje não perdoa.

[7/10] Miguel Correia [6.5/10] Fernando Ferreira [9.2/10] Fernando Ferreira


ONCE HUMAN OVER NEMESIS PARAGNOSIS
“Stage Of Evolution” “Wink” “Clarity In Three”
Massacre
earMusic Records Pure Steel Records Massacre
Music-Records
Records Pure Steel Records Massacre
Edição deRecords
Autor Pure Steel Records
Pé ante pé, os "Saint Bale" funciona Metal progressivo
Once Human têm como uma espécie de
intro, onde temos um traduzido em sete
conseguido criar sino enquanto o baterista “simples” temas.
um bom impacto na vai testando os pratos.
cena. Indo buscar Algo estranho e até
Depois de em 2015
interesse tanto a fãs longe daquio que o som terem lançado
de Arch Enemy como dos Over Nemesis é, um um single, os
stoner metal a roçar o
aos mais adeptos sludge que apesar da Paragnosis surgem
de sonoridades mais metalcore – muito voz própria de algo mais extremo, instrumental com o instrumental e brilhante “Clarity In
graças aos seus riff modernaços a puxar surge-nos como algo até bastante tradicional,
ao nu-metal (não é preciso relembrar algo que temas como "Mario And Sergio" revelam Three”, originalmente lançado há alguns
que esta é a banda de Logan Mader, ex- por completo. Em termos de composição temos anos atrás e agora com uma faixa extra que
algumas boas ideias que beneficiavam de mais
Machine Head e Soulfly que depois destas podenderação. A produção crua, a mistura é “Asthmatic”, com texturas onde o baixo
duas bandas se manteve numa posição desequilibrada (no já citado "Mario And Sergio" marca uma nítida presença num trabalho
mais discreta, na posição de produtor ou na "Light Of Hopes", a voz limpa surge em muito versátil musicalmente, pois leva-nos
e que apenas agora voltou à ribalta da demasaida evidência) que aqui e ali nos fazem
metalada propriamente dita) mas também sentir que estamos perante um produto inacabado numa corrente sonora muito progressiva
ou que pelo menos precisava de um pouco mais de por vezes hipnótica, muito uniforme
a fazer o contrapeso, temos uma guitarra maturação. Ou simples facto de todas as músicas,
solo irrequieta e de excelente bom gosto. com mais ou menos evidência, começarem habilmente criado. Para fãs, aconselho!
Sabemos que a fórmula é bem velha e com o raio do sino. E o que raio signfica "Wink"
aos Once Human poderá apontar-se essa neste contexto? "Piscadela"? Muitas perguntas
proximidade dos já citados Arch Enemy, inquientantes.
mas o entusiasmo que estes temas [6/10] Fernando Ferreira [8/10] Miguel Correia
provocam é real, não é forçado. Serve
também de testemunho para a qualidade
de “Evolution”, já que grande parte do
alinhamento é composto por temas do
último álbum da banda, excepção feita POUNDER PRIMAL FEAR
para “Pick Your Poison” e a já habitual “Faster Than Fire” “Apocalypse”
“Davidian”, cover dos Machine Head. Shadow Kingdom Frontiers Records
Este acaba por ser o ponto mais frágil, já
que para quem comprou o último álbum Ok, foi o primeiro Outro grande nome,
de originais, acaba por não encontrar da minha review e outro momento marcante
uma grande motivação para adquirir comecei por aqui uma deste ano de 2018. Os
vez que era um Ep e tal Primal Fear não sabem
este – as interpretações ao vivo não se vou ouvir isto rápido fazer discos maus. Tem
afastam muito das de estúdio – embora e passo ao seguinte... a sua fórmula e usam-na
compreendamos que os fãs completistas errado...muito errado, com toda a sabedoria.
se sintam compelidos a comprar. No porque acabei a ouvir Ralf canta como nunca
entanto, não deixa de ser um produto isto vezes sem conta o vi e acreditem, depois
interessante para chamar novos fãs à “prejudicando” assim da simbólica intro,
banda, servindo como porta de entrada. a linha de produção definida...que malhas! partimos para uma viagem alucinante e de grande
No nosso caso, que já os vimos ao vivo “Faster Than Fire” é algo arrasador, sente-se qualidade oferecida pelos mestres do heavy
como um murro bem dado nos nossos sentidos teutónico. “Apocalypse” é 12º álbum da carreira
(quando abriram para Fear Factory no despertando-nos definitivamente! Os Pounder da banda de Mat Sinner e Ralf Scheepers, cheio
Paradise Garage, não deixa), nota-se uma são uma banda formada em 2016, ya, quem de grandes riffs, excelentes melodias e como disse
evolução clara (pun intended!), o que diria, parece que vem lá dos tais primórdios que anteriormente a voz, essa brilha em cada segundo
também resulta em boas expectativas para tanto tenho de repetir nas minhas avaliações, de audição. Sempre senti da parte da imprensa
o futuro. Sentimentos misturados mas mas não, estes norte americanos oriundos de alguma injustiça para com os Primal Fear, não
resultado final positivo. LA são fresquinhos na cena cheio de sangue na lhes sendo dado o merecido crédito e muitas das
guelra e com um som bem heavy metal cheio de vezes até atacando as opções da banda no que a
atitude. Há sem sombras de dúvidas um toque lançamentos diz respeito, mas meus amigos este
NWOBHM mas, num resultado mais pesado, disco será o murro na mesa, dado de luva branca!
agressivo e áspero...Venha o álbum!

82 [6.7/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia [10/10] Miguel Correia


RATBREED ROOTS OF TRAGEDY SCHUBERT IN ROCK
“Ratbreed” “Doctrines” “Commander Of Pain”
Inverse Records Edição de Autor Pure Steel Records
A cena metal "Doctrines" serve Outra curiosidade
finlandesa é uma como cartão de musical, quando
fonte inesgotável nos apresentação para os percebi que estava
diferentes estilos, mas noruegueses Roots perante outro
quando toca a algo Of Tragedy, um cartão trabalho do lendário
mais clássico tem poderoso dizemos já, guitarrista austríaco
passado ao lado as embora tenhamos que Klaus Schubert, fiquei
diferentes tentativas admitir que não está ansioso para ver o que
ao alcance de todos.
que nos tem chegado Não por apresentar ali estava. Ele juntou
a audição. Mas, agora algo mudou, “Evoke algo demasiado exótico ou complexo mas uma linha de convidados impressionantes
The Blaze” poderá ser um momento, não simplesmente por assentar em pressupostos neste lançamento, “Commander Of Pain”.
digo de viragem, mas de complemento ao de metal mais moderno. Para quem tem esse Nomes como Don Airey, Jennifer Batten,
que tem sido feito por aquelas bandas. É um tipo de preconceito, não será definitivamente Ewald Sunny Pfleger, Gery Moder e muitos
disco forte, poderoso, melódico com rasgos indicado pelo que poderão retirar-se. Ou então, outros surgem ao longo deste disco
de metal tradicional, incursões speed, mas esperem. Esperem mais um pouco, porque executando músicas especificamente escritas
lá está, com uma personalidade, com um mesmo com a alergia a sonoridades modernas para cada um dos vocalistas escolhidos. Jeff
cunho muito pessoal. Acho que é isto que e tiques core (mais a puxar ao deathcore, Scott Soto, Marc Storace, Mike Vescera, Walt
se pede às novas bandas, não tentem imitar, confessamos), há por aqui muito suminho que Stuefer, Dan McCafferty, Carl Sentence e
usem as influências e criem algo de marca vos poderá interessar. Uma forte componente Doogie White são os mestres de cerimónia
atual. Ratbreed e “Evoke The Blaze” tem a ambiental e atmosférica à qual se junta e se por um lado há momentos bem
linha musical perfeita, com muita energia e estruturas de canções progressivas. O resultado conseguidos, por outro ficam algumas faixas
malhas e vocais marcantes. irá surpreender, garantimos. que deveriam ter sido repensadas, uma vez
alguns deles, não tirando mérito a nenhum,
não encaixam na ideia musical criada.
[10/10] Miguel Correia [8.5/10] Fernando Ferreira [8/10] Miguel Correia
SINSID SJUKDOM STATUS QUO
“Mission From Hell” “Stridshymner Og Dodssalmer” “Down Down & Dirty At Wacken”
Pitch Black Records Osmose Productions earMusic

Sinsid da Noruega Segundo álbum dos Se calhar estou a


Sjukdom, que apesar bater no ceguinho
uma banda que e a dar demasiadas
de terem um nome
acredito ter chegado esquisito, não foi palmadinhas nas
para ficar na cena. impedimento para costas mas antes de
“Mission From Hell” surgir outra banda nos passarmos à análise
E.U.A. com mesma deste trabalho ao vivo
é uma estreia cheia de uma banda lendária
designação. A estreia
de bons momentos deixou boa impressão do rock, teremos
heavy, com naturais clichés musicais, mas mas entretanto passaram cinco anos - hoje que referir a importância do metal na
entrosados num som muito actual com em dia uma eternidade - o que poderia deixar sobrevivência do rock hoje em dia. Quando
algumas dúvidas em relação ao que teríamos temos muitas pessoas que ou desconhecem
vida própria. O disco soa assim, melodias aqui. E o que temos é o que queríamos e ou minimizam aquilo que é o heavy metal, só
tradicionais, limpas, modernas, sólidas e desejávamos - black metal de acordo com temos que relembrar que não é acaso que
agressivas algo ao género Sabaton, mas a tradição norueguesa. Sem invenções, sem muitas bandas como Status Quo encontrem
acessibilidades melódicas. E embora seja espaço em cartazes (sempre galácticos) de
lá está num caminho nitidamente bem eventos como o Wacken Open Air, eventos
algo que tenhamos aos pontapés desde há
definido no espirito old school, que se quase trinta anos para cá, sabe sempre bem. que apesar de serem dedicados a todas as
augura brilhante para os noruegueses. O Principalmente quando bem feito e bem vertentes do metal, também não esquecem
que posso dizer mais? Ouçam e desfrutem, potente. Dá para aguentar mais cinco nos em o punk, hardcore, industrial e, claro, o rock.
silêncio, tem fibra para isso. O rock não está morto e não está esquecido
pois não se vão arrepender. e manter-se-á relevante enquanto andarmos
por cá. Uma frase dramática mas apropriada
[9/10] Miguel Correia [8/10] Fernando Ferreira para começarmos a debruçar sobre este
“Down, Down & Dirty At Wacken”, onde a
banda vai fundo na sua faceta mais (hard)
rock (ao contrário do também analisado
STATUS QUO quando tenho que analisar não um mas
dois álbuns ao vivo. E este é o primeiro aqui “Down Down & Dignified At Royal
“Down Down & Dignified At Royal Albert Hall”
dos dois, um concerto gravado no mítico Albert Hall”) e dá um grande concerto no
earMUSIC Royal Albert Hall. Como já há muito tempo sítio onde os grandes concertos são uma
que nos passou o enjoo dos unpluggeds e banalidade. No entanto, este conjunto de
Apesar de ser um a moda já morreu, olhamos com outros temas e principalmente a aura eléctrica que
amante confesso do olhos este tipo de lançamento que nos por aqui anda aqui é tudo menos banal. Com
rock, de todas as suas permite ter uma roupagem completamente uma carreira tão longa, seria de esperar que
expressões e facetas, diferente de músicas emblemáticas. É a fique sempre alguns clássicos de fora. O
os Status Quo sempre celebração ao vivo dos disco de estúdio álbum mais visado acaba por ser “Hello!”,
foram uma banda que fez precisamente o mesmo, “Aquostic com passagens por outras paragens onde
que escaparam aos (Stripped Bare)” e “Aquostic II: That's a não faltam as covers (que não é vergonha
meus horizontes. Fact”, onde pegaram nos velhos clássicos da nenhuma pensar que é um original da banda
Quando estava a sua carreira e reinterpretaram-nos com uma britânica) dos Bolland & Bolland, “In The
crescer nunca nos cruzamos. Quando após nova roupagem. Tenho que dizer que este Army Now” - e que arrepia ouvir toda aquela
ter explorado devida a música extrema, álbum apresenta dois desafios. Trata-se de gente a cantar aquele refrão – e de Chuck
voltei para o passado em busca dos uma roupagem realmente diferente e longe Berry, “Rock And Roll Music”. Para quem não
grandes clássicos, mesmo assim nunca do rock da banda mas a essência está toda conhece a banda, esta é uma excelente forma
nos cruzamos. O que é estranho tendo em lá. Depois, existem algumas músicas que de ficar a conhecer o seu vasto reportório, e a
conta que esta é uma banda com mais de ficaram bastante diferentes, o que nos dá a suas influências, fazendo uma parelha muito
cinquenta anos de carreira, contemporânea vontade de ir procurar a discografia da banda interessante com o já mencionado “Down
de bandas como Deep Purple, Led Zeppelin e ficar a conhecer (ainda) melhor temas Down & Dignified At Royal Albert Hall”. É
e Black Sabbath. Nunca gozando do como “Hold Your Back” e os incontornáveis também um testemunho da vitalidade da
sucesso e reconhecimento dos mesmos “Pictures Of Matchstick” e “Whatever You banda com mais de metade de século de
mas nunca também cessando actividades, é Want”. Recomendado para os fãs, para quem história que continua com vitalidade para
impressionante o seu repertório e sobretudo conhece a banda e sobretudo para quem não continuar ainda por muitos mais anos. E
a riqueza do mesmo. É por estas e por outras conhece, mas gosta do seu som com aquele mesmo que não continuem, definitivamente
que adoro este meu trabalho, onde sou capaz toque folk a roçar o americano. Vicia sem que está aqui um trabalho ao vivo para mais
de juntar o útil ao agradável, principalmente esforço. tarde recordar.

[8/10] Fernando Ferreira [9/10] Fernando Ferreira 83


STEVE 'N' SEAGULLS SUFFERING SUNSTORM
“Grainsville” “11” “Road To Hell”
Spinefarm Records Edição de Autor Frontiers Music
Para muitos, Que boa surpresa Lá está a diferença
acreditamos que os foram estes britânicos entre a maturidade
Steve 'N' Seagulls Suffering. Quando nos e quem agora está
sejam como que uma chegam bandas que se
apresentam para que a começar carreira.
daquelas piadas que Seria sempre positivo
sabe bem contar. Para possamos ouvir os seus
trabalhos, partimos algumas bandas
nós é muito mais perceberem o
(quase) sempre de uma
disso. Satisfaz o nosso
desejo insaciável de
folha em branco (algo segredo dos nomes
que parece irreal hoje mais tarimbados e
termos novas covers em dia onde a informação é como que uma praga
que reinventam por completo temas clássicos aproveitarem-no para se lançar. Joe Lynn
que não se consegue fugir ou evitar) e essa folha Turner traz-nos Sunstorm, o seu projeto solo
num contexto nada óbvio - que neste caso tem em branco foi preenhida por um metal negro que
tanto de redneck norte-americano como de folk mete no mesmo tacho black (óbvio), death e doom e vem numa forma fantástica, ultrapassados
escandinavo. Por esta altura, ao terceiro álbum, metal - apesar do death não ser admitido pela os seus problemas de saúde, Joe demonstra
já não há grandes novidades a apontar a não ser banda. Não interessa realmente as prateleiras, que está aí para as curvas e “Road To Hell”, o
mesmo as bandas/malhas escolhidas e aqui a interessa é a qualidade deste álbum que consegue seu 4º disco, é a prova da sua vitalidade num
mesma é mais abrangente que nunca, indo de ir muito além dos lugares comuns de qualquer um “desenterrar” de ideias padronizadas no rock
um Lenny Kravitz (com "Are You Gonna Go My dos géneros para apresentar algo memorável. Tudo melódico, com malhas bem AOR... este disco
Way") a uns Pantera ("I'm Broken") passando indica que é o álbum de estreia (não encontrámos será certamente um clássico na carreira de
por uns surpreendentes Pearl Jam ("Alive") e grandes informações da banda, para juntar mais
irrealismo à folha em branco citada atrás) e a Joe. É no mínimo incrível! Seja feita justiça
Kiss ("I Was Made For Loving You", esta uma ao seu percurso e o reconhecimento de que
reinterpretação genial como se fossem uns honestidade e eficácia destes temas fazem com
que não os queiramos perder de vista. Acredito Joe é um mestre do género.
Dire Straits rednecks a fazer a coisa). Versões que os aficionados da blasfémia mais lenta com
fantásticas e um grande vício. Mesmo que não ocasionais explosões perceberao o que queremos
seja levado a sério. dizer depois de ouvirem.
[9/10] Fernando Ferreira [7/10] Fernando Ferreira [10/10] Miguel Correia

THE RAD TRADS THE SOUL EXCHANGE THIRST PLANET


“On Tap” “Edge Of Sanity” “The Essence”
Edição de Autor Pride & Joy Music Edição de Autor
Esta sonoridade não Este produto sueco Que grande estreia
é fácil de identificar. é uma novidade para e surpresa é este
mim. Não temos "The Essence". O seu
Temos a óbvia basse género poderá nem
de rock indie, depois de conhecer tudo e ser nada de inovador,
temos uma secção de de vez em quando mas esse já nem é
sopro que resulta de somos deparados com (será que alguma vez
releases para as quais foi?) o ponto principal
forma perfeita, assim nas nossas análises.
como pormenores temos de enquadrar
O que nos interessa
próprios de world music - como o ukelele. a audição. Aqui, simples e direto temos um mesmo é a paixão e a forma como cada género
som hard rock, melódico e por vezes algo é tratado. E aqui o género - stoner/doom metal
É o tipo de som que não nos admiraríamos
melancólico. Sente-se muito trabalho, muitas - é tratado como rei. Grandes riffs, uma grande
que fizesse sucesso, nem nos soaria mal voz, que soa bem clássico, e grandes malhas.
preocupações com os pormenores estruturais,
se assim fosse. Até seria preferível, porque o disco tem boas malhas, mas muito repetitivo Um daqueles álbuns que temos dificuldade
a qualidade é evidente e a paixão entregue e dentro do género 2018 tem sido muito
em largar após de começarmos a ouvir. Culpa
aqui também. Para os habituados a coisas também pelo malhão que é "Chain", a faixa
generoso, logo é preciso algum cuidado na de abertura. Clássico, a evocar as influências
mais duras, poderá soar estranho, mas forma como se pensa e se concretiza um disco. óbvias, mas também a apresentar um feeling
depois de um dia de muita metalada, Sendo eu um fã do género, não senti em “Edgd algo psicadélico que cai muito bem neste
nada como relaxar ao som deste som. Of Sanity” um álbum suficientemente poderoso contexto. Um power trio que mete mesmo
Resulta na perfeição para eliminar tensões power na coisa. Uma das melhores coisas a sair
para fazer a diferença. de Israel nos últimos anos.
acumuladas.
[8/10] Fernando Ferreira [7/10] Miguel Correia [8.7/10] Fernando Ferreira

TWO OF A KIND U.D.O. CHAOS DOCTRINE


“Rise” “Steelfactory” “Chaos Doctrine”
Frontiers Music AFM Records Edição de Autor
Huummm por onde Wow, que sortudo sou! Ocasionalmente temos
começar?! Este disco Este ano passaram-me falado da cena sul-
dos holandeses Two pelas mãos os mais africana, com algumas
Of A Kind, nem é um brilhantes lançamentos propostas bastante
do ano de 2018. Quando interessantes. Podemos
trabalho brilhante, me foi proposto fazer esta
mas também não é inserir nesse grupo os
review fiquei assim meio Chaos Doctrine que
mau de todo, mas ansioso pela curiosidade
acho que precisava daquilo que poderia deixam uma muito boa
estar em “Steelfactory”. impressão com este
aqui de um toque álbum de estreia. A
mais brilhante para não cair em algo que se Percebi pelo clip de “One Heart One Soul” que algo
de único poderia estar a acontecer e decidi avançar sonoridade traz-nos um pouco de nostalgia já
ouve e se passa ao disco seguinte. É um som que vai buscar toda aquela energia e raiva do
então para a restante audição...”Tongue Reaper”, a
baseado num rock melódico, com muitos primeira faixa deste brilhante disco deixou-me sem metal moderno que começou a apresentar-se ao
bons solos e onde as cantoras, (sim, isso palavras e a vontade de o continuar a ouvir tornou- serviço por volta da mudança do milénio, onde
mesmo) Esther Brouns e Anita Craenmehr, se em algo ainda mais forte... Já me repeti vezes os elementos electrónicos começaram a ganhar
estão a um nível muito interessante, mas sem conta que o ano de 2018 tem sido palco dos cada vez mais peso nas propostas musicais..
falta algo que não o torne tão repetitivo. Há melhores lançamentos discográficos dentro do Vantagem para os sul-africanos pela forma
energia, dinâmica e harmonia musical, mas heavy metal e as palavras com que comecei esta como não têm receio, nem falta de talento, em
falta algo com outro peso que o torne mais review tem base nesta ideia...sou sortudo por alguns usar a guitarra para bons leads e solos. Banda
directo. Mas, atenção não é um trabalho deles me terem passado pela mão... As bandas old experiente apostada em trazer algo novo indo
school, têm andado numa demonstração de força buscar algo velho. E resulta, muito bem até.
a colocar de parte, nada disso, até porque criativa, de energia e de que o rock tem muito para
existem bons momentos ao longo de “Rise” Um trabalho recomendado para quem gosta da
dar aos seus fãs. UDO dispensa de apresentações e
que devem ser apreciados. “Steelfactory” será para um dos melhores álbuns da mistura de death metal com thrash modernaço e
sua carreira. INDISPENSÁVEL!!! com fortes tendências industriais.
84 [9/10] Miguel Correia [10/10] Miguel Correia [8/10] Fernando Ferreira
VAN CANTO VEGA VENUES
“Trust In Rust” “Only Human” “Aspire”
Napalm Records Frontiers Music Arising Empire

Os Van Canto são "Only Human" é o Somos muito suspeitos


exemplo de que quinto álbum de em relação aos novos
estúdio dos ingleses sons. Tentamos não ser
qualquer ideia tem injustos mas sabemos
Veja. Um punhado
pernas para andar de faixas de rock que é muito provável
desde que tenha melódico, que a que isso já tenha
pelo menos uma de banda produziu, mas acontecido e que vá
duas coisas - paixão às quais de juntou acontecer novamente.
o lendário músico No entanto surgem
e engenho. Quando ouvimos falar deste excepções, como estes Venues, um sexteto
e produtor Harry Hess (Harem Scarem)
projecto pela primeira vez foi sobretudo para toda a mistura final. Ao ouvir “Only vindos de Estugarda que nos trazem o som da
devido às covers que faziam. A banda Human” senti estar perante um disco muito moda, raiz hardcore (ou post-hardcore se forem
apostou desde o início nos originais especial, cujo o lançamento foge algo aos picuinhas a esse ponto) e com uma capacidade
mas foram as covers e os vídeos para padrões do género, é mais um disco com melódica bem impressionante, onde o destaque
o selo da Frontiers, que curiosamente vai mesmo para a voz feminina que apesar de
as mesmas que fez com que a palavra soar pop (mete pop nisso!) soa bem, perfeita, e
continua a revelar olho para “coisa”, numa
se espalhasse. Como uma boa piada, abordagem moderna sem muitos clichés eleva o seu som de nível. É pena que por vezes
que gostamos sempre de contar a quem musicais e com todas as condições para surjam aqui algumas "rappadas" desnecessárias
ainda não a conhece. O problema com este brilhar. Grandes malhas, grandes solos e que não fazem bem nenhum - como em "Lights".
tipo de coisa é que esgotada a novidade, grande disco! Tirando esse, este é um daqueles sons que
mesmo correndo o risco de ser descartável, vai
normalmente acabam por ficar poucas saber voltar a ele daqui a uns tempos.
razões para manter o interesse. Apesar
dos limites consideráveis, a banda nunca [10/10] Miguel Correia [8/10] Fernando Ferreira
deixou de ir lançando álbuns sendo que
este já é o seu sétimo, uma marca digna de
VON BALTZER VÖÖDÖÖ
registo. Podemos até não achar que esta “Cultural Daze” “Ashes”
coisa do metal a capella seja algo digno AOR Heaven Indie Recordings
de nota, mas a verdade é que as melodias São uma banda Grande contraste.
estão todas lá e que é inegável elas ficarem escandinava composta Nunca antes uma banda
por quatro músicos com um nome tão chato
coladas na memória. Podemos até achar muito experientes de escrever nos deu
que este tipo de coisa ao vivo não resulta, que se juntaram e tanto gozo. Como tal
que não perdura no tempo, podemos cujo o resultado foi vamos tentar evitar citar
este disco, intitulado a sua designação só
pensar o que quisermos. Eles andam por cá “Cultural Daze”. Os Von para não estragar a boa
desde 2006 e como "Trust In Rust" prova, Baltzer são compostos onda que este "Ashes"
pelos guitarristas deixou (e continua a
vão andar por cá muito mais tempo. "Ride Christian Kjellström (Atlantis, RockXPress), deixar a cada audição). Antes de mais, teremos
The Sky" dos Helloween e "Hell's Bells" dos Erik Palmqvist (Pork de Cork, Mickey Slim alguma dificuldade em convencer quem gosta
AC/DC são as covers de serviço e bons Band), o vocalista Ian Parry (Rock Emporium, unicamente de metal a gostar disto. Nem
Consortium Project, Elegy, Ayreon) e o baterista sequer vamos tentar - nestes dias achamos
chamarizes para malhas como "Javelin" ou Magnus Jacobson (Miss Behavior, Claes que não temos que convencer quem quer que
"Darkest Days". Quem gosta de heavy ou Yngström ) completa a formação da banda e seja, há muita boa música e o tempo é escasso
power metal não vai conseguir resistir. ainda Per Ramsby (Tribute, Foundation) como de qualquer forma. Peguemos no rock mais
musico convidado nos teclados. Musicalmente, moderno mas que não deixa de ter um pouco
o álbum é definitivamente o lado mais leve do da atmosfera mágica da década de oitenta ou
espectro da onda rock. Para quem gosta de do rock alternativo da década seguinte. Um
melodias leves, bem ao género AOR, e não tema como "Lay Me To Rest" é daqueles que nos
sendo um trabalho muito consistente, não deixa deixam desarmados e obriga-nos a mergulhar
de ser um disco para ter em casa! nele, sem hipótese de fugir. Groove, feeling e
muita alma, neste grande vício.
[8/10] Fernando Ferreira [9/10] Miguel Correia [9/10] Fernando Ferreira

WE ARE SENTINELS
“We Are Sentinels”
Service For Artist Owned Labels
Este espaço pode ser teu em
Matt Barlow poderá ter
deixado os Iced Earth há
já algum tempo, e com
isso ter perdido um pouco
todas as edições da nossa
a exposição que gozava,
mas definitivamente que
ainda consegue chamar
as atenções, afinal a
sua voz é única. Aqui
revista. para mais informações
contacta-nos:
surge em parceria com
o compositor e teclista Jonah Wingarten (com
quem Barlow colaborou durante o pouco tempo
que esteve na banda). A ideia é pegar no espírito
das bandas sonoras de filmes de ficção ciêntifica e

Worldofmetal.pub@gmail.com
fantasia e juntar-lhe aquele espírito épico do heavy
metal que só Barlow consegue transmitir. A questão
é que este tipo de lançamento acarreta sempre um
risco e esse risco é que apesar de ser boa música
(excelente até) faltam-lhe argumentos que ajudem

Tiagofidalgo.wom@gmail.com
a converter os mais acérrimos fãs de heavy metal.
Ou por outras palavras, faltam guitarras, falta peso
que seria muito bem vindo neste contexto. Boa
música, inegavelmente, mas não cumpre todo o
seu potencial na nossa opinião, o que faz com que
soe incompleto. Para quem aprecia o lado mais
orquestral do heavy metal ou, principalmente, para
quem aprecia APENAS esse mesmo lado orquestral,
este é o vosso lançamento.
[6/10] Fernando Ferreira 85
album do mêes
20 Vega 14 Gioeli - Castronovo 08 Barros
“Only Human” “Set The World On Fire" “More Humanity Please”
Frontiers Music Frontiers Music Rockhots Records
Amarte UDO
19 Carnation 13 07
“Chapel Of Abhorrence” “Baile Dos Teus Medos” “Steelfactory”
Season Of Mist Edição de Autor AFM Records

18 Free From Sin 12 Crossing Eternity 06 Doro


“II” “The Rising World” “Forever Warriors / Forever United”
Pride & Joy Music Rockshots Records Nuclear Blast Records

17 Aethereus 11 Descent 05 Mass Disorder


“Absentia” “Towers Of Grandiosity” “Conflagration”
The Artisan Era Redefining Darkness Records Ethereal Sound Works

16 Ratbreed 10 Dare 04 Convocation


“Evoke The Blaze” "Out Of The Silence II” “Scars Across”
Inverse Records Legend Records Everlasting Spew Records

15 Binah 09 Vöödöö
“Phobiate” “Ashes"
Osmose Productions Indie Recordings

03 Omnium Gatherum 02 Deicide 01 MaYan


“The Burning Cold” “Overtures Of Blasphemy” “Dhyana“
Century Media Records
86
Century Media Records Nuclear Blast Records
Todos os dias um programa diferente

Segunda - A Hora da Morte


Terça - A Hora do Chifrudo
Quarta - A Hora Delicatessen
Quinta- A Hora do Monolito
Sexta - A Hora do Heavy Mental
Sábado - A Hora do Rasganço

Todos os domingos um programa diferente


Heróis do Mar
A Hora do Entulho
A Hora do Prog
A Máquina do Tempo

às 21h com repetições à 1h e 9h


http://worldofmetalmag.com
App no google play 87
,
Maquina do tempo

CHASTAIN KONG KLANG SOLITARY


“The 7Th Of Never” “Kong Klang" “Nothing Changes”
Pure Steel Records Apollon Records Doc Records
Foi o terceiro álbum Ora aqui está algo O revivalismo
do virtuoso das normalmente bate à
seis cordas David T. estranho. Sim, porta da década de
Chastain, que agora setenta e oitenta, mas
o nome indica raramente à porta da
está a ser reeditado.
Todo o disco dispensa perfeitamente a década de noventa. Isto
qualquer tipo de quando o assunto são
estranheza da as sonoridades mais
apresentações, pois tradicionais do metal.
trata-se de um trabalho coisa. Estes Kong Os Solitary estrearam-
marcante na carreira de Klong são o fruto se com um álbum longe dos melhores momentos
Chastain e onde também Leather Leone brilha do thrash metal. Aliás, em 1998, thrash metal era
de forma indescritível. David foi um musico do trabalho do seu principal instigador, representado por bandas como Pantera, com os
que influenciou muitos dos guitarristas que Lasse Myrvold, entretanto já finado, tradicionais gigantes colocados noutros géneros ou
hoje proliferam na cena metal mundial e este bem longe do fulgor da década anterior. Os Solitary
disco demonstra o porquê. Instrumentalmente conhecido principalmente pelo seu trouxeram esse ar mais moderno do thrash metal
é arrasador e a magia soa e sente-se ao longo de trabalho com os The Aller Værste, e era representativo da inconformidade comum
todas as faixas. Uma obra prima gloriosa, à qual a muitas outras bandas que estavam dispostas a
agora todos podemos ter acesso em formato banda de new wave norueguesa. fazer o género grande. Esse entusiasmo é audível
físico, com uma edição limitada a 300 cópias mas não podemos dizer que seja completamente
Estávamos na primeira metade da eficaz. Vinte anos depois, este é um álbum que
e duas faixas bónus que vou deixar para vocês
descobrirem… é Chastain! década de noventa e a intenção de soa datado e interessante apenas para quem gosta
desta forma de thrashar específica, apesar de
Lasse para este projecto era fazer alguns bons momentos. Para os outros é apenas
música que viesse como que de um uma boa curiosidade. Esta reedição conta com a
demo de 1996 como bónus.
[10/10] Miguel Correia outsider da indústria da música. O [6.5/10] Fernando Ferreira
álbum só viria a ser lançado já em 1999
e foi completamente desprezado pela
THERMOSTAT crítica musical. Lasse viria a falecer VHALDEMAR
“Thermostat” em 2006, tendo sido homenageado “Shadows Of Combat”
Edição de Autor pelos seus pares com um álbum de Fighter Records
Os Thermostat tributo. Todos estes anos passados, a Estamos perante o
apresentam-se (ou Apollon Records em conjunto com os relançamento do
apresentaram-se já quarto álbum da banda
que esta demo foi ex-membros sobreviventes dos Kong espanhola, se não
lançada em 2015 se Klang reeditam o álbum juntando- estou em erro lançado
não estamos em erro) decorria o ano de
com uma sonoridade
lhe mais oito faixas gravadas. Como 2013. E porque é que
típica de serem tudo na vida, o que foi desprezado na isso está a acontecer?
Simplesmente, os
encarados como uns altura agora é um trabalho de culto. Vhaldemar mudaram de
sucedores de Pantera. Bem, como mais uns editora e estão neste trabalho de relançamento de
que tentam suceder aos Pantera. Se calhar Não sendo um álbum espampanante,
discos. Eu, particularmente não sou um grande
isto é duro demais, porque a banda sem é representativo da qualidade musical fan deles, reconheço muita qualidade, mas não
dúvida têm amor ao seu som e por muito me agarraram. Podem nesta altura estar a pensar,
que não seja original - não é - não deixa de Lasse e do seu intuito em fazer
ya o gajo diz que este disco não presta, não, nada
de conseguir cativar-nos. Destaque para o algo contra a corrente. Indie rock, disso, mas também não afirmo que é algo de
trabalho do guitarrista que vê-se claramente cantando em norueguês com pitadas extraordinário. É um disco de heavy metal, cheio
a influência de Dimebag Darrel e que torna de influências do que se fazia nos anos 80, lá estou
este trabalho como algo mais interessante de folk aqui e ali. E resulta. O culto é eu a rebuscar isto novamente, com momentos
do que apenas um trabalho menor de fãs do justificado. interessantes, mas acho-o pouco definido na sua
thrash metal da década de noventa. trajetória sonora...pois tão depressa está numa
onda speed...como logo de seguida salta para algo
mais hair metal. É divertido, mas nada além disso.

88 [6.5/10] Fernando Ferreira [8/10] Fernando Ferreira [7/10] Fernando Ferreira


89
WOM Live Report
Laurus Nobilis Music Famalicão
Dia 1 - 26/07
Texto e Fotos Renata Lino | Agradecimentos: Laurus Nobilis Music Famalicão

Quando o Laurus Nobilis Music Famalicão nasceu, há 4 Sem grandes atrasos, foi precisamente uma banda galega
anos, apenas o primeiro dia era dedicado aos sons mais a primeira a pisar o palco. Os Atreides tocam aquele
pesados. No final de 2017 começaram a ser anunciadas heavy metal melódico que roça a fronteira do power e
bandas para a edição deste ano - o que, acontecendo tão cantam na sua língua-mãe. Têm já dois álbuns, “Κόσμος”
cedo, era por si só uma novidade - e todas elas encaixavam e “Neopangea”, e segundo o Facebook, muitos portugueses
na categoria do referido primeiro dia. Perguntei a quem gostam deles. Não estava propriamente um mar de gente
de direito e escusado será dizer que até os meus olhinhos a assistir ao concerto, mas quem estava parecia, de facto,
se riram quando tive confirmação que o Laurus 2018 seria estar a divertir-se ao som de temas como “Frágiles” ou
um festival exclusivamente de metal. “Caminante”.

O primeiro dos três dias foi apenas uma introdução, no


formato inicial do festival - quatro bandas, apenas um
palco activo, ainda que fosse o secundário (este ano algo
maior que no anterior, quando a ideia de um segundo
palco surgiu). A cerveja Estrella Galicia estava a patrocinar
o evento e, como tal, este palco secundário foi baptizado
com o seu nome. Houve várias queixas relativamente à
cerveja, não tão forte quanto as portuguesas. Pessoalmente,
a única coisa que critico é nenhuma das nossas marcas
ter-se chegado à frente, pelo que sabor mais fraco ou não,
bienvenida Estrella!

Booby Trap

Seguiram-se os “pioneiros do movimento Aveiro


Connection”, Booby Trap. Considero o seu crossover
um bocadinho mais puxado para o punk do que para o
thrash, mas seja qual for a etiqueta que lhes queiram pôr,
ninguém pode duvidar da energia que descarregam em
cada actuação. A resposta do público no Laurus também
teve o seu quê de vigor, mas a banda queria mais. Wild Bull
ainda provocou aqueles que estavam “lá em cima” (o palco
Atreides situava-se ao fundo de um ligeiro declive) a chegarem-se
90
à frente, chamando-lhes um sinónimo mais brejeiro de deu o seu primeiro concerto há ano e meio, e lançou o
“fracos” quando ficaram no mesmo sítio, mas a sua própria álbum de estreia em Março, tenha sido escolhida para
prestação - ou dos restantes membros - não afrouxou por cabeça de cartaz deste primeiro dia. Mas para quem
causa disso. Além de que “go away, go awaaaaaaaaaay” conhece tanto o historial dos membros de Infraktor
(de “Nightmare”) foi gritada quase tão alto quanto “the como a sua música e prestação ao vivo - alguém como
ace of spades, the ace of spaaaaaaaaaades” (da cover de eu - “estranho” é dos últimos adjectivos para qualificar a
Motörhead), pelo que os Booby Trap só tinham motivos escolha da organização. A banda de Santa Maria da Feira
para estar satisfeitos. (Escapães, onde fica situada a sala de ensaios - nenhum
deles é natural dali, ah ah) tem apresentado “Exhaust”
em vários pontos do país e convencido o público da sua
garra; Louro não foi diferente e foi ao “ferocious metal”
que a resposta foi mais intensa, justificando a presença
dos Infraktor naquela posição do cartaz. Uma mão-cheia
dos headbangers na grande até já sabia as letras de pelo
menos alguns refrães - “Blood Of The Weak”, “Unleash The
Pigs” ou “Ferocious Intent” - mas para que todos pudessem
participar na cantoria, terminaram o concerto com a
habitual cover de Pantera, “Strength Beyond Strength”.

É certo que foram quatro estilos bem distintos que passaram


por aquele palco, mas todos derivados do metal - de modo
que a escolha do DJ Nattu, que passou música electrónica,
já não foi tão feliz. Mas foi um mero pormenor...
Cruz de Ferro

Numa veia mais tradicional, seguiram-se os Cruz de Ferro.


A primeira fila encheu-se de punhos no ar a vociferar
com Ricardo Pombo sobre a alma guerreira portuguesa
(“Morreremos de Pé”, “Imortal”, “Vitória”). Só em “Soldado
Desconhecido” não acompanharam, pois tratava-se de
uma música nova, tocada ao vivo pela primeira vez -
com as devidas desculpas apresentadas por qualquer
“prego” na sua execução. Desculpas foram também
pedidas aos presentes que não faziam parte dos fãs que os
apoiavam desde o início , mas o tema “Cruz de Ferro” era
exclusivamente dedicado àqueles. Acho que ninguém fora
desse círculo levou a mal.

Pode parecer estranho a alguns que uma banda que Unfraktor


91
Laurus Nobilis Music Famalicão
Dia 2 - 27/07
Texto por Renata Lino | Fotos por Renata Lino e Fátima Inácio | Agradecimentos: Laurus Nobilis Music Famalicão

que ele “estava a ver”. Quem disse que os apreciadores de


death metal não têm piada?

Sotz'
A afluência ao segundo dia foi consideravelmente maior Nine O Nine
- sexta-feira, dois palcos, mais bandas... Tal como no dia
anterior, a festa começou no palco Estrella Galicia mas a Mudando radicalmente de sonoridade, os Nine O Nine
meio da tarde, com o death dos Sotz’. Não vou dizer que a de Tó Pica subiram ao palco e o ar do Louro encheu-se
mais recente formação da banda é mais competente que as de um rock melódico, carregadinho de uma excelência de
anteriores, mas sem dúvida que com Miguel Silva (Wrath guitarra. A apresentar o seu primeiro trabalho, “The Time
Sins) no baixo e Luís Moreira (In Vein) na bateria, os Is Now”, Sérgio Duarte perguntou se estava alguma Sofia
concertos ganharam toda uma outra vida. É uma banda que presente, mas dedicando o tema com o mesmo nome a
tem vindo a crescer e o público presente parece partilhar todas as mulheres. Gostei bastante de vê-los (e ouvi-los),
da minha opinião, reagindo efusivamente aos temas do embora, pessoalmente, ache que é o tipo de banda que
EP “Tzak’ Sotz’” e ao mais recente single “Baak’”. Sim, os funciona melhor em ambientes fechados.
títulos são em romeno, mas usando as próprias palavras do
vocalista Dan: “sei que é difícil perceber, mas é em inglês
que canto”.

Hills Have Eyes


Coube aos Hills Have Eyes estrear o palco Porminho este
ano. Sou grande fã da banda, admito, mas não é por isso
In Vein que louvo a organização do festival por tê-los convidado
e sim por essa ser a atitude correcta - agradar um pouco
Dose dupla para o Luís, já que os In Vein vieram a seguir. tanto a gregos como a troianos, pois como o vocalista Fábio
Também eles são uma aposta promissora do underground Batista disse ao apresentar “Anyway It’s Gone”, “o metal
nacional e este concerto no Laurus foi mais uma prova é uma família, o hardcore é uma família, o pop é uma
disso. Entre as rodas do mosh, que as músicas do álbum família, mas é tudo música”. Notei que a sua voz estava algo
“Reborn” tão bem patrocinavam, o Dan dos Sotz’ corria cansada, mas a sua postura apresentava a mesma vitalidade
com um cartaz que dizia “Miau Car@lh*”, e o vocalista de sempre - assim como todos os restantes elementos, que
António Rocha a dada altura pediu a todos que erguessem é um dos principais motivos por que gosto tanto deles.
os punhos em cornos - incluindo os bombeiros lá atrás, Desde “Unneurotic” do primeiro álbum ao mais recente
92
festival, subiu ao palco e a princípio pensei que fosse para
apresentar os SepticFlesh, já que eram os cabeças de cartaz.
Afinal foi para pedir meio minuto de aplausos - não de
silêncio - pelas vítimas dos incêndios na Grécia. Creio que
aplaudimos por mais tempo. E depois aplaudiríamos muito
mais, mas pela prestação brilhante a que assistimos, que
começou com “Portrait Of A Headless Man” e terminou
com “Dark Art”. Spiros Antoniou não costuma falar muito,
mas desta vez falou-nos dos referidos fogos no seu país -
dedicando “Prometheus” às mesmas vítimas que tínhamos
homenageado - e da deslocação do ombro que tinha
sofrido, pelo que tínhamos de erguer os punhos por nós
e por ele. Dos três concertos que vi de SepticFlesh, este foi
sem dúvida o melhor.
Equaleft
single “Never Quit”, o metalcore da banda sadina regressou
a casa com novos fãs (pelo menos dois, com quem falei).

Mata Ratos
Confesso que desconhecia que os Mata-Ratos tinham
lançado um álbum há dois anos, tal foi o hábito de vê-los
Septicflesh tocar sem novo material durante quase uma década. E
por isso mesmo, novos temas ou não, é sempre uma festa
Creio que Equaleft dispensa apresentações, e não pelos quando estes veteranos do punk sobem ao palco. É preciso
húngaros que Miguel Inglês costuma distribuir, por mais dizer mais?
que brinque com ele acerca disso. Não tarda teremos
notícias concretas sobre o lançamento do sucessor de
“Adapt & Survive”, mas pelos temas que já têm vindo a
apresentar ao vivo - “We Defy”, “Once Upon A Failure”,
“Strive”, “Endless” e “Overcoming” -, e usando uma
expressão tão usada por Inglês, “vem aí gesso”. Foi a estreia
de André Matos no baixo, mas estando Miguel Seewald
entre o público e o seu último concerto sido em Vigo,
estava com esperança que subisse ao palco para um ou
dois temas, em jeito de despedida em solo nacional. Não
aconteceu, mas Inglês pediu uma salva de palmas para ele.
Quem subiu ao palco foi Dan dos Sotz’ para ajudar a cantar
“Invigorate” - até segurando no famoso sabre de luz - e em
“Maniac” Inglês lançou-se para as mãos do público, a quem
depois lançou também os famosos húngaros.
WEB

Por que é que os Web tocaram no Estrella Galicia e não


no Porminho, às duas da manhã? Porque só uma banda
daquele calibre conseguia ter público àquela hora. Com
uma nova intro e a mesma garra de sempre - ou mais ainda,
pelo menos o guitarrista Filipe, que em todos estes anos
que acompanho os Web nunca vi tão eufórico - tocaram
todas as músicas que queríamos ouvir, “Mortal Soul”
tendo o coro mais alto. Não têm tocado muito, estando em
preparação do novo álbum, por isso ficamos à espera de
novidades. “Vendetta” foi o último tema tocado ao vivo,
mas a música continuou a rodar por mais uma hora, pelas
mãos de António Freitas (um DJ apropriado, desta vez).
Septicflesh
Aguiar Silva, em representação da organização do
93
Laurus Nobilis Music Famalicão
Dia 3 - 28/07
Texto por Renata Lino | Fotos por Fátima Inácio | Agradecimentos: Laurus Nobilis Music Famalicão

Como tudo o que é bom acaba depressa, o terceiro e último corpo ao seu ritmo contagiante.
dia chegou num instante.

Revolution Within
Legacy Of Cynthia
Terceiro dia, terceira banda e o “metal propriamente dito”
Embora admita que “metal alternativo” é a melhor regressa com os Revolution Within. Este foi o segundo
etiqueta para os Legacy Of Cynthia, é um termo que não concerto do novo baterista Rúben “Tozé” Moreira mas
me agrada muito devido à sua natureza vaga (In This “o miúdo” parece bem entrosado, como se já fizesse
Moment ou Motionless In White também estão ali no parte da família há anos. A versão original de “Pull The
meio, por exemplo, e pouco ou nada têm em comum). A Trigger” conta com a participação de Hugo Andrade dos
sua sonoridade é sedutora e, ao mesmo tempo, de uma Switchtense, mas ao vivo foram já vários os convidados. No
vivacidade agressiva; mas certamente que terão os vossos Laurus, foi Diogo Pardal dos One Step To Fall - uma das
próprios adjectivos para a banda de Sintra, dada a sua outras bandas de Tozé. E em “Pure Hate”, “os artistas” foram
natureza única e difícil de descrever. Desde “Rats And os participantes da wall of death. Os agradecimentos finais
Rattlesnakes” até “Cabaret”, o público rendeu-se a essa de Raça incluíram os falecidos irmãos Abbott: “Dimebag,
natureza, que tão bem funciona ao vivo. Vinnie Paul, descansem em paz, onde quer que estejam”.

Low Torque The Temple


Os Low Torque também porque rock’n’roll funciona Chegando ao palco Porminho, os The Temple estavam
sempre. Com a edição do terceiro álbum, “Chapter III: ainda às voltas com soundcheck, com a sua versão de
Songs From The Vault” em Novembro último, algumas “Budapeste” dos Mão Morta. Gosto muito dos que eles
músicas podem ser consideradas novas, como “Dust Mojo” fizeram com a música, dando-lhe uma batida mais forte,
ou “Mutant”. Das mais antigas, ainda que com apenas 3 por isso quando não a tocaram durante o concerto, fiquei
anos, ouvimos “Stingy Jack” e, se não estou em erro, “Bell contente por ter assistido ao soundcheck... Mas “Nation
Witch”. Quaisquer que tenham sido os temas, foi um set On Fire” ou “My Anarchy” ou “Violent World” ou “War
que deu para movimentar não só a cabeça mas todo o Dance” - onde os guitarristas Marcelo e Tiago e o vocalista
94
João atacam os bombos do baterista Rui em jeito de
personificação do título -, todos os seus temas originais,
novos ou antigos, patrocinaram uma grande festa entre o
público.

Dark Tranquillity
apresentar “Atoma”, também “Clearing Skies” ou “Force Of
Hand” foram reconhecidas pelo público, e “Lost To Apathy”
(algo que, segundo Mikael Stanne, o povo português não
Crisix sofria) e “Misery Crown” fecharam o espectáculo com
chave de ouro.
Os Crisix não ficaram atrás, o que confesso que me
surpreendeu. Não foi a sua estreia em Portugal mas foi a
primeira vez que os vi, e como a minha ideia de thrash
espanhol é Angelus Apatrida, estava à espera de um
concerto violento, sim, mas não da “fiesta” que lhe assistiu.
E não me refiro só ao medley de covers de Beastie Boys,
Rage Against The Machine e por aí fora, com a troca de
funções associada - o guitarrista B.B. Plaza e o baixista
Dani Ramis foram para o micro, o vocalista Juli Bazooka
assumiu o baixo, e o baterista Javi Carry e o guitarrista
Albert Requena cederam os seus instrumentos um ao
outro; durante todo o concerto houve correrias, saltos,
caretas e sorrisos em palco, e no fim ambos os guitarristas
fizeram crowdsurf enquanto tocavam “Ultra Thrash”.

Dark Tranquillity
O festival terminaria no palco Estrella Galicia, com os
“filhos pródigos a regressar a casa”, The Godiva. Depois de
quase uma década de silêncio e uma ou outra alteração no
alinhamento - e na imagem - voltaram em grande, tocando
todo o EP “Spiral”, de 2007, e o single “Empty Coil” lançado
menos de uma semana antes. Senti um pingo de orgulho
por ter assistido a alguns dos concertos daquela primeira
fase e estar agora a acompanhar esta nova etapa, que parece
promissora.

Tarantula
E hoje, mais de uma semana depois, ainda não sei bem
se foi por causa desta energia toda que, em comparação,
a prestação dos Tarantula me pareceu apagada, ou se a
banda veterana de Valadares realmente não estava com
o coração no que estava a fazer. “Face The Mirror”, “You
Can Always Touch The Sky”, “Dream Maker”, “The Great
Dragon”... foram todas acompanhadas pelo público mais
old school, mas faltava qualquer coisa do outro lado (e
não era a “Power Tower”, que eles insistem em não tocar).
Tive pena de não me divertir tanto quanto a herança dos
Tarantula merece, mas este não foi o seu melhor concerto. The Godiva
Já Dark Tranquillity... como disse uma amiga minha, Do festival em si, não foi um pingo e sim todo um litro,
“senti-me com 20 anos outra vez”. E já nem nos referíamos pois “não faltei” a nenhuma das três edições anteriores -
às músicas daquele tempo que a banda sueca tocou - “The ainda que só ao “dia do metal” - e assistir a esta evolução
Wonders At Your Feet”, “Monochromatic Stains”, “Therein” deixa-me de coração cheio.
- mas à intensidade com que nos presentearam todo o set e
que nos rejuvenesceu durante aquela hora e meia. Ainda a
95
Texto por Fernando Ferreira | Fotos por Sónia Ferreira | Agradecimentos: Amazing Events

DIA 1 - 09/08/18 seria de verificar se perante tantas bandas e dois palcos, se


aconteceriam alguns atrasos. Desafio superado, já que apenas
com algumas diferenças mínimas, todos os horários foram
Seria de esperar que o dia de recepção ao campista fosse um respeitados. A estrear o palco Vagos teríamos os Destroyers Of
dia mais calmo em termos de afluência de público, mas o facto All, a banda de Coimbra que já é garantia de grandes concertos.
de termos já nove bandas atraiu muitos festivaleiros para o que João Mateus, sempre o espelho de boa disposição metálica e a
poderá ser considerado um alinhamento muito forte quer em puxar pelo público, tarefa facilitada com as incursões pelos
termos de nomes nacionais, já dispostos em dois palcos foram dois lançamentos da banda até então (o EP "Into The Fire" e o
argumentos suficientes para uma moldura humana que não álbum"Bleak Fragments"), onde se destaca o tema título do EP
deixou de ser impressionante para o que estamos habituados cá e "Hate Through Violence" do álbum, tendo ainda oportunidade
no nosso burgo. Esta questão do hábito é algo à qual voltaremos para ouvir um tema do segundo trabalho que a banda está a
mais à frente nesta nossa reportagem. preparar, intitulado "Break The Chains" que deixa muitas boas
indicações para o futuro.

Booby Trap
A acção começou com os Booby Trap, banda (histórica) da Trinta & Um
casa que encontra-se a viver uma segunda vida cheia de energia De volta ao palco Stairway, seria a vez da festa do hardcore
crossover que revelou-se desde cedo ideal para dar o mote a este de Linda A Velha com os Trinta & Um, uma das bandas mais
primeiro dia. Foi também a primeira banda a tocar no palco históricas dessa cena em específico e até a nível nacional. Uma
Stairway e a confirmar aquilo que a própria organização já tinha banda que já era obrigatória passar pelos palcos do Vagos e
dito: este palco não é um palco secundário ou de refugo, nem que fez desta maneira uma estreia memorável. À conversa com
pelos nomes, nem pela qualidade sonora e muito menos pelas uma colega jornalista brasileira, ela referiu que Portugal gosta
actuações. Pedro Junqueiro, mestre de cerimónias, esteve muito muito desta sonoridade punk/hardcore e isso é inegável, o que
comunicador na apresentação de temas como "Fuck Off And Die" não é de estranhar que essa componente seja integrada no Vagos
e "O Bom, O Mau E O Filho Da Puta" e a restante banda esteve Metal Fest. A festa, a união e as palavras de ordem são universais
bastante sólida, principalmente, Pedro Azevedo, inspiradissimo gritadas por Zé Goblin que estava nitidamente emocionado e
na guitarra. E nem sequer faltou um tributo a Lemmy Kilmister feliz por estar ali. Arrisco a dizer que estávamos todos. E um
com a uma cover de Motörhead ("Ace Of Spades"). concerto de Trinta & Um não o seria se não tivéssemos "O Cavalo
Mata", tema título do álbum de estreia que faz duas décadas de

Destroyers Of All
Um dos grandes desafios na nossa opinião para esta edição Insammer
96
idade brevemente. grandes destaques desta edição e a que mais pessoas concentrou
em frente ao palco, mas infelizmente gozou de um som muito
A primeira actuação internacional seria por parte dos InSammer indefinido e que prejudicou ouvir com clareza muitos dos temas
no palco Vagos e podemos dizer que foi o ponto menos tocados. Apesar da visita da banda ao nosso país no ano passado
conseguido neste primeiro dia. A banda sueca nunca conseguiu no Santa Maria Summer Fest, o álbum editado em Janeiro deu-
agarrar o público, apesar de não ter fraquejado em termos nos motivos de interesse mais que suficientes para que esta fosse
energético. Vika Dola impressionou pela sua presença de palco, uma actuação obrigatória, algo que se comprovou, apesar das
em constante movimento e pela sua voz - embora neste aspecto dificuldades de som já mencionadas.
se tenha notado uma ajuda por trás de efeitos associados. Em
termos visuais, a banda também parecia algo desconexa, com
um guitarrista (Dennis Wise, membro fundador) a fazer lembrar
um gigante do gelo, com corpse paint (algo utilizado também
por parte do baterista Teodor Alexuta) algo que contrastava
com o resto. Em termos musicais, e como foi dito atrás, não
houve muitos momentos para grandes empolgações (embora
tenhamos que assinalar a qualidade técnica dos seus músicos,
principalmente do guitarrista Oleg Izotov) - e a falta disso por
parte do público também nos deu ideia que fez com que a banda
acabasse a sua actuação mais cedo - onde nem um solo de bateria
salvou uma actuação morna, não em termos de empenho mas
em termos de impacto.

Orphaned Land
Um alinhamento que favoreceu principalmente o último
trabalho, "Unsung Prophets & Dead Messiahs", logo a abrir com
o épico "The Cave", que apesar da sua longa duração se revelou
apropriado para iniciar da melhor forma a sua actuação. Mais
temas do último álbum se seguiram, intercalados por clássicos
como "Ocean Land", "The Kiss Of Babylon", ou "Sapari" - sempre
um sucesso entre o nosso público e uma das nossas favoritas,
confessamos  Kobi esteve sempre muito comunicador fazendo
sempre uma introdução para cada tema, onde chegou a elogiar-
nos pela nossa revolução de 1974 e fazendo a comparação com
os governos fascistas do mundo, principalmente do Médio
Theriomorphic Oriente, encontrando divisões onde elas não existem. No final
foi onde as já referidas dificuldades técnicas tiveram o seu auge,
Por falar em impacto, não serão necessárias introduções para os com a falta de luz em cima do palco e o micro de Kobi a falhar
senhores que se seguiram no palco Stairway. Os Theriomorphic constantemente, impedindo que o vocalista israelita fizesse o
já são uma verdadeira instituição do death metal nacional e os discurso de apresentação para os últimos temas da noite, "Norra
oito anos de silêncio editorial não lhes tiraram nenhuma da sua El Norra" e "Ornaments Of Gold" e simplesmente passasse à
já lendária acutilância metálica. A banda de Jó (que foi o nosso acção. Apesar de tudo, um grande concerto.
primeiro convidado na nossa rúbrica "O Espírito de Vagos"
que fizemos nos últimos meses), está bem oleada (tal como
pudemos constatar aqui) e guiou-nos por escolhas cirúrgicas
da sua carreira, passando por todos os lançamentos e de onde
destacamos os temas do novo EP "Of Fire And Light", "Fire"
e "Towards The Sun". Também teremos sempre que referir
"Operators Of Triumph" e "Theriomorphic", este último a fechar
uma das actuações mais fortes em termos de som que de certa
forma também foi um dos pontos menos positivos, em termos
gerais, de todo o festival.

Analepsy
Os Analepsy, no palco Stairway, também não se livraram de
algumas dificuldades técnicas mas ainda assim conseguiram ter o
som mais forte de todo este primeiro dia. A banda lisboeta, apesar
de ser relativamente recente, já conseguiu atingir um estatuto,
totalmente merecido, entre os apreciadores das sonoridades
mais extremas do death metal e na sua actuação de estreia no
Vagos Metal Fest provou que esse estatuto não lhe foi oferecido
e sim conquistado e que também não se limita ao que fazem em
estúdio, transportando toda a brutalidade e ainda lhe dando
Orphaned Land mais energia a temas como "Colossal  Human Consumption",
"The Vermin Devourer" e "Engorged Absorption". Esta é uma
Nesse aspecto, um dos principais pontos a assinalar da actuação banda que é obrigatório conhecer para quem se diz apreciador
dos Orphaned Land é mesmo o som que não ajudou a que a de música extrema.
festa fosse superior às expectativas que todos tínhamos. A
banda de Kobi Farhi (que foi nossa capa em Janeiro) era um dos Para sermos completamente honestos, tínhamos algum receio
97
fabrica, simplesmente é.
DIA 2 - 10/08/18
O balanço do primeiro dia foi positivo, mas para muitos o festival
começava verdadeiramente hoje, com mais bandas e com mais
festivaleiros que, na sua grande maioria, não lhes foi permitido
marcar presença no dia de recepção ao campista devido aos seus
compromissos profissionais. E essa diferença de pessoas foi bem
notória, onde depois de termos uma moldura humana muito
boa no dia anterior, agora tinhamos um mar de gente que eleva
a fasquia para os próximos anos. Noutros pormenores também
ainda existe muito trabalho a fazer mas já lá vamos.

Dust Bolt
que as últimas bandas (aliás, tal como as primeiras) sofressem
em termos de público com o avançar da hora. Felizmente foi
algo que não se verificou, já que, inteligentemente, os horários
dos Dust Bolt e dos Impera (que inauguraram o nosso Garage
World aqui) foram feitos de forma que quando acabasse uma
banda, começasse logo a seguinte. Foi o que aconteceu com os
mestres do thrash alemão, Dust Bolt que já nos tinham sido
apresentados ao vivo no ano passado em Casaínhos com uma
grande actuação. Não desiludiram por esta segunda incursão por
terras lusitanas, embora também tenham gozado de um som nas
melhores condições, com a guitarra do vocalista Lenny B. a soar
mais alto que tudo o resto. Ainda assim, não faltaram motivos
para grandes circle pits (os maiores deste primeiro dia rico na In Vein
modalidade) com malhões como "Mind The Gap", "Awake" e as A festa iniciou-se com os In Vein no palco Stairway, uma banda
já inevitáveis "Toxic Attack" e "Agent Thrash" a fechar. A banda que também já passou pelas nossas páginas mas que ainda
é um dínamo em cima do palco e os resistentes (em número não tinha tido oportunidade de conferir ao vivo. As honras
considerável, repito) retribuíram com muita energia. não poderiam ter corrido melhor. Se tínhamos inicialmente
a preocupação que a banda nortenha não tivesse o número de
espectadores que o seu som merece, imediatamente a mesma se
desfez, já que o seu som poderoso chamou para a frente do palco
muitos fãs ávidos de começar logo o dia/tarde da melhor maneira.
E da melhor maneira efectivamente começou com a sonoridade
da banda a ser muito bem tratada pelo o que pudemos ouvir.
Teremos que salientar o autêntico monstro que é António Rocha,
tanto a cantar como a conduzir o público. A banda revelou estar
a trabalhar neste momento no seu segundo álbum que terá o
título, pelo que pudemos perceber, "Ways Of God". Terminaram
com "Satan" que provocou um autêntico rebuliço em forma de
circle pits.

Impera
A noite aproximava-se do final e cabia aos Impera fechar o
certame no palco Stairway com uma curta mas poderosa
actuação. Poderemos achar que é uma posição ingrata no cartaz,
mas como já foi dito atrás, tanto as bandas de abertura como
de encerramento gozaram de um bom número de público que
apesar do cansaço não deixaram de viver o som que vinha do
palco. No caso concreto dos Impera, um metal moderno e cheio
de groove que não deixa de ter um cariz técnico e que justifica
plenamente a inclusão das duas guitarras. Por falar em guitarras,
o recém chegado David Alves (ex-Adamantine) não acusou os
nove pontos que levou no joelho, estando ao seu melhor nível em Durante a actuação dos In Vein, o recinto recebeu a visita dos
temas como "Sisyphean Task", "Weightless" e "Grasp", o épico de idosos do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo que
dez minutos que fechou a sua actuação. como prometido vieram provar o melhor da música pesada,
percorrendo o recinto e absorvendo toda a mística do Vagos
O rescaldo final é bem positivo, com todos os pontos menos bons Metal Fest. Por muito que não se dê valor a este tipo de iniciativas,
a serem largamente superados pela qualidade das bandas em si continua a ser importante desmistificar a imagem criada (e já há
e pelo espírito de Vagos, esse já imortal e impossível de recriar muito ultrapassada) quer da música que todos nós apreciamos,
noutros sítios que não aqui. Como muitas vezes foi dito ao longo quer dos convívios que a mesma nos proporciona. Será sempre
do festival (inclusive por quem estava em cima do palco), Vagos um símbolo de união, sendo que a separação será sempre feita
é definitivamente aqui. E será sempre assim, uma certeza que por quem alimenta preconceitos ignorantes.
nos traz ano após ano mais alegrias por uma magia que não se
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Blame Zeus Dollar Llama
Continuando no palco Stairway, subiam ao mesmo os Blame do Vagos é o melhor de todos. Incansáveis e com malhões a
Zeus, uma banda que também já há muito tempo deviam a acompanhar, está aqui uma das melhores bandas nacionais quer
sua presença neste festival. Como já tinhamos verificado no em música quer em entrega.
Episode II do Louder Than All, a banda de Sandra Oliveira está
incrivelmente coesa e a sua actuação no Vagos Metal Fest não
nos fez mudar a opinião. Apresentaram o tema novo "Déjà Vú"
e estamos convencidos que conseguiram conquistar mais fãs.
O excelente trabalho e evolução que têm vindo a demonstrar
merece que a sua música chegue a todos, mesmo que o seu estilo
musical assente mais no rock do que propriamente metal - mas
o espírito de Vagos não se divide em tribos, certo? O cartaz desta
edição é bem representativo disso mesmo.

Ratos de Porão
Um infortúnio com o vôo dos Masterplan fez com que a
banda se atrasasse e tivesse que tocar de hora e de palco com
os Ratos de Porão. O palco Vagos recebeu então a mais mítica
e histórica banda de punk/hardcore/crossover a cantar em
português e o resultado foi aquilo que todos esperávamos - um
ensaio de porrada sonora do início ao fim. Com quase quarenta
anos de carreira, é incrível como a banda continua relevante
Invoke musicalmente e até em termos de mensagem, onde temas como
"Brasil" e "Crucificados Pelo Sistema" soam assustadoramente
Chegada a hora da inauguração para o Palco Vagos, com os reais hoje em dia tal como na década de oitenta. Não faltou
Invoke, banda de Pedro Dias, actual vocalista dos Gwydion, também "Beber Até Morrer" e "Aids, Pop, Repressão" (ao ritmo
também presentes nesta edição. Confesso que não deixei de de "Another One Bites The Dust" dos Queen), e ainda a excelente
sentir um nervoso miudinho já que no dia anterior o som do surpresa na forma de "Suposicollor", do muitas vezes esquecido
palco principal deixou muito a desejar. Infelizmente, não se "...Another Crime In Massacreland". João Gordo não se cansou
verificou uma alteração muito grande neste ponto. O som de dizer que cantam em português com orgulho e como é sempre
além de estar muito alto, estava verdadeiramente caótico com um prazer voltar a Portugal. Daquilo que nos diz respeito, o
flutuações (inclusive de voz que ia e vinha conforme o vento) prazer continua e continuará a ser sempre nosso.
que tornava quase impossível perceber o que se estava a passar
em termos sonoros. O que foi uma verdadeira pena já que o
black metal melódico da banda tem uma qualidade que merecia
melhor tratamento, assim como os nossos ouvidos. Apesar de ter
sido corrigido aos poucos (no final estava a ficar como deveria
ter começado), temas como "Hall Of Mirrors" não tiveram
o impacto desejável,  o que não deixa de ser frustrante. De
qualquer forma a entrega da banda, que contou também com a
participação de Muffy dos Karbonsoul, foi exemplar.

Do black metal ao stoner musculado dos Dollar Llama foi um


tirinho e a banda de Tiago Simões tem poder suficiente para
meter todos os que ainda se encontravam a chegar ao recinto
a mexer. "Juggernaut" é um disco monstruoso (não foi um dos
trabalhos escolhidos pela World Of Metal para figurar entre os
melhores do ano de 2017 por acaso) e apenas um dos motivos
para meter todos a mexer - Tiago também exigiu isso do público
porque para ter um bom festival não basta ter boas bandas e boas
condições. É preciso que o público esteja à altura e o público Masterplan
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Os Masterplan foram então colocados no palco Stairway e deram Duress" a ter um grande impacto no público. Tendo em conta
uma autêntica lição de como fazer power/heavy metal melódico. que esta é uma banda com quase três décadas de carreira, não
A banda já sofreu muitas mudanças de formação ao longo deixa de ser impressionante a forma como a banda se movimenta
da sua carreira mas a sua identidade permanece inalterada. em palco. Incansável e até de meter inveja principalmente para
Também ajuda a esse facto que Roland Grapow (ex-guitarrista nós, comuns mortais, que já estávamos a acusar o cansaço. Nota
dos Helloween) e o teclista Axel Mackenrott (sempre brincalhão) também para o som que estava um pouco mais baixo mas que fez
permaneçam como colunas fundamentais no som da banda com que a qualidade fosse superior.
assim como a proximidade de Rick Altzi (também nos At Vance)
a Jorn Lande, o vocalista que ajudou a solidificar essa mesma
identidade. O tempo era curto mas mesmo assim ainda tivemos
oportunidade para ouvir entre temas da banda como "Enlighten
Me" e "Keep Your Dream Alive" o clássico épico dos Helloween,
"The Time Of The Oath".

Cradle Of Filth
A banda que maior expectativa e interesse reunia era sem dúvida
Cradle Of Filth, que já há muito ,demasiado, tempo não nos
visitava, algo que Dani Filth partilhou com o público mais para
o final do concerto. Os britânicos começariam com os níveis de
intensidade bem altos com a "Guilded Cunt" passando para a já
Moonspell clássica "Beneath The Howling Stars" que na sua recta final teve
a participação da... falta de luz. Com um início tão fulgurante,
A terra tremeu no Palco Vagos e nem sempre pelos melhores com uma qualidade sonora (pelo menos do sítio onde nos
motivos. Se o som dos Moonspell foi um dos melhores do encontrávamos, junto ao P.A.) tão boa, isto seria o pior que
dia, o mesmo mal que afligiu os Orphaned Land voltaria para poderia acontecer. Quando nos virámos para trás, o técnico
assombrar uma actuação que tinha tudo para ser perfeita. "Em meteu as mãos à cabeça e penso que este era o sentimento geral.
Nome do Medo" (a versão de "1755" que depois de fundiu com a Felizmente não se voltou a repetir e Dani até brincou/ironizou
versão original do "Alpha Noir") abriu o mote para uma actuação com a situação dizendo que não gostavam do final da canção
que começou por se basear nos temas do novo álbum, onde e que por isso tinham acabado ali a mesma, referindo que não
se incluiu "1755" e "In Tremor Dei" como alguns regressos ao deviam culpar o festival pelo sucedido.
passado, muito aplaudidos como "Opium" e "Awake". A banda
vinha de um grande concerto na República Checa, segundo
as palavras de Fernando Ribeiro e disposta a fazer a festa
quando a interpretar o tema "Ruínas", o que se temia acontecia
novamente: faltou a luz no palco. A banda abandonou o palco
voltando quando a situação estava regularizada e seguindo em
frente porque o tempo já era curto. Era visível o aborrecimento
do vocalista que fez a questão de salientar que o Vagos Metal
Fest são os fãs que estão presentes todos os anos e que mantém o
festival vivo. "Alma Mater" colocou o ponto final numa actuação
que não deixou de ter um sabor amargo mas que mesmo assim
demonstrou que seja em que condições forem, Moonspell não
deixam de ser a maior banda portuguesa de metal.

Cradle Of Filth
Seguindo em frente, a banda passeou confortavelmente pelos
seus trabalhos mais recentes sem esquecer temas mais clássicos,
uma combinação que funcionou muito bem como o caso de
"Blackest Magick In Practice" ao lado do clássico "Dusk And Her
Embrace". As incursões ao mais recente trabalho "Cryptoriana -
The Seductiveness Of Decay" foram feitas através de "Heartbreak
And Seance" e "You Will Know The Lion By His Claw", esta
última dedicada aos Moonspell (uma de muitas dedicadas à
banda portuguesa, por quem Dani Filth se referiu bastante,
denotanto a ligação forte entre as duas entidades). Tivemos
direito a algumas surpresas como a "Bathory Aria" (do álbum
Converge "Cruelty And The Beast" que faz no presente ano duas décadas
em que foi editado e que será alvo de uma reedição remisturada
Para o palco Stairway estava reservada uma das mais aguardadas ainda no final deste ano ou no próximo) e o clássico "The Forest
bandas deste segundo dia. Os norte-americanos Converge não só Whispers My Name". Uma actuação longa, para lá do previsto
são uma instituição do hardcore norte-americano como lançaram mas que em jeito de compensação pela quebra de luz, ninguém
um dos grandes álbuns do género onde se inserem do ano se pôde queixar. O público certamente não o fez.
passado, "The Dusk In Us" que acabou por ser o grande destaque
da actuação da banda e com os temas "A Single Tear" e "Under Os Attic começaram logo de seguida, assim que os Cradle Of
100
próximo álbum e para uma homenagem à nossa colaboradora
Fátima Inácio que fazia anos. Guerras de almofadas, crowdsurf
em cima de um circle pit por parte do vocalista Carlos Guerra e
um comboio humano gigante conduzido pelo mesmo por todo o
recinto. Um ponto de final extravagante e único.

A finalizar tivemos os Abaixo Cu Sistema, que entreteram os


resistentes com versões dos System Of A Down até o mestre
António Freitas entrar em acção até madrugada.

Um segundo dia povoado por grandes actuações e por problemas


de som que segundo muitos os que  estavam à frente ou a meia
distância foram constantes em ambos os palcos, sem falar das
já mencionadas faltas de luz no palco. Ainda assim, e pela
experiência que tivemos, o resultado final foi bem positivo.

Attic
Filth finalizaram a sua actuação e deram uma autêntica lição de DIA 3 - 11/08/18
heavy metal segundo o evangelho King Diamond e Mercyful O terceiro dia começou a mexer mesmo antes de começar. A
Fate. A proximidade vocal entre  Meister Cagliostro e o mítico organização anunciou o cancelamento dos Dagoba devido à greve
vocalista dinamarquês é assombrosa mas o heavy metal debitado de controladores de tráfego aéreo em França e consequentemente
é de uma qualidade tão elevada que nem chega a ser uma anunciou também a primeira confirmação para a edição de 2019
questão. Com uma produção de palco fantástica, a fazer com que ficando já a banda francesa como certa - salvo algum imprevisto
se entre no imaginário muito próprio dos Attic e malhões como - para o próximo ano. Devido a este facto, os horários foram
"The Invocation", "Die Engelmacherin" e "There Is No God", mexidos e o início previsto para as 15h:30 passaria para as 16h.
terminando com "The Headless Horsemen" a sua estreia em
Portugal. Não nos importávamos que eles voltassem em breve,
em nome próprio.

Lost In Pain
E assim foi, às 16h subiram ao palco Stairway os luxamburguenses
Serrabulho Lost In Pain cujo frontman Hugo Nogueira Centeno é português
e que estava visivelmente extasiado por estar a tocar com a sua
Para a última actuação do palco Vagos, tivemos uma actuação banda no maior festival do seu país. Os Lost In Pain foram uma
especial por parte dos Serrabulho, aqui baptizados como novidade para muitos mas temos a certeza que conseguiram
Orquestra Serrabulho, com muitos convidados à mistura. O conquistar muitos novos fãs com a sua abordagem bem clássica
público estava preparado para a festança com bolas, boias e ao heavy/thrash metal que foi ajudada por um som muito
colchões da praia. Uma constante animação onde se misturaram poderoso e que evidenciou toda a técnica por parte da banda,
grindalhadas como "Quero Cagar E Não Posso",  "B.O.O.B.S. sólida e muito coesa. "Rebellious Protesters" do mais recente
(Best Objects of Baby Sucking)" e "Pentilhoni Nu Culhoni" com trabalho "Gold Hunters" que recomendamos conhecer. Uma
bandolim (cortesia de Sérgio Páscoa) ou com gaita de foles e grande banda.
percussão tradicional portuguesa (que soa especialmente bem
a interpretar o riff principal da "Thunderstruck" dos AC/DC). 
Também ainda houve tempo para um tema novo a sair no

Wicked Inc.
Ainda no mesmo palco, e mais ou menos no mesmo género,
Abaixo Cu Sistema vinham os espanhóis Wicked Inc. que começaram a conquistar
101
simpatia (ou a serem conquistados) com o público português e ao nível que a banda e o público merecem. Isso não impediu o
que cimentaram ainda mais esse factor com a entrada do baterista ambiente de festa, os constantes circle pits e uma wall of death
com a bandeira de Portugal às costas. A banda de Valência ainda enorme (a maior de sempre de Vagos?) que tornaram a actuação
tem apenas um EP editado mas apresentaram alguns temas novos memorável e atenuaram a dor de ouvidos. O final veio com a
do seu próximo lançamento como "Devil Horns" e "Agony" que participação de Muffy dos Karbonsoul  (que tinha o microfone
evidenciam todo o seu heavy metal tradicional que não teve tão com um volume tão elevado que abafava tudo o resto) naquela
bom som como a banda anterior mas assim proporcionaram um que se assume cada vez mais como um hino, "Thirteen Days" do
bom espectáculo. último álbum. Apesar de tudo, uma grande festa.

Simbiose Bölzer
A questão do som tem sido o grande dilema desta edição de O duo suiço Bölzer eram uma das grandes curiosidades para este
2018 (principalmente no palco Vagos) e, como a esperança é a terceiro dia, a arrastar uma verdadeira multidão para frente do
última a morrer, tinhamos efectivamente a expectativa de que palco do Stairway que foram bafejados pelo seu som remniscente
o panorama fosse diferente neste terceiro dia. Não o foi, mas da herança dos seus compatriotas Celtic Frost, um black/death
ainda assim foi possível notar uma melhoria. Os Simbiose são metal que também tem o seu quê de doom e que não deixa de
A instituição lusitana de punk/crust/grindcore lusitana e como soar bastante fresco no panorama da música extrema. Embora
tal já era devida a sua presença em Vagos, mesmo que tenham só tenha um álbum de originais ("Hero" de 2016, cujo tema título
gozado de um som demasiado cru e de volume elevado. Johnie e fez parte do alinhamento), o duo tem argumentos de sobra para
companhia deram um ensaio de porrada generalizado com temas proporcionar um excelente espectáculo e assim foi. Embora a
como "Modo Regressivo" e "Será Que Há Morte Depois Da Vida" componente cénica seja bastante minimalista, o interesse (quase)
(do último álbum, já de 2015, "Trapped") ou "Terrorismo De todo estava no som debitado por temas como "Archer" ou o
Estado" e "Parados Humilhados Calados", tendo proporcionado épico " I AM III".
muitas oportunidades para rebuliço de fazer levantar poeira em
frente ao palco. A banda lisboeta ainda queria tocar mais mas
o horário já tinha sido ultrapassado e a máquina de Vagos não
pode ser travada.

Sonata Arctica
Outra grande atracção, num campo estilístico completamente
Gwydion diferente eram os Sonata Arctica, banda que encontra sempre
grande apoio e entusiasmo entre os fãs das sonoridades mais
Sem descanso para o palco Vagos (e por isso mesmo com a melódicas e tradicionais. O palco Vagos já era sinónimo de
preparação e início a demorar um pouco mais a ter lugar) apreensão em relação às principais bandas - a exemplo dos dias
chegavam os nossos vikings preferidos. Gwydion proporcionou anteriores - mas felizmente neste terceiro dia não houve quebras
uma grande alegria a todos os seus fãs ao regressarem com de luz embora o som continuasse a estar longe da perfeição. A
"Thirteen" e com uma energia redobrada que pudemos sonoridade dos finlandeses poderá ser dividida em dois. De um
presenciar mais uma vez (depois do concerto de apresentação lado o power metal mais clássico do seu início de carreira e que
do último álbum) que infelizmente não foi perfeito devido surge ocasionalmente nos trabalhos mais recentes. Do outro,
ao som estupidamente alto (a sério, a ideia é fazer com que a aquele metal melódico a puxar ao sentimento que tanto pode
música se ouça bem no Porto e em Lisboa?) que faz com que resultar em cheio como passar um pouco ao lado. O alinhamento
os muitos detalhes que a música dos Gwydion tem se percam dos Sonata foi um misto destas duas sensaçãoes antagónicas
nos décibeis capazes de deitar um prédio abaixo. Mesmo que mas mesmo assim foi conquistando público tema após tema
a correcção tenha sido feita aos poucos, nunca chegou a ficar acabando apoteóticamente com as já inevitáveis "Fullmoon",
102
"Life" (o tema mais memorável do último álbum "The Ninth
Hour") e a já institucional "Vodka".

Kamelot
Vagos ficou provado que a escolha para a sucessão não poderia ter
Carach Angren sido mais acertada. Não só na voz (obviamente o requisito mais
importante) como na forma como consegue cativar e comunicar
Com mais uma guinada estilística, o palco Stairway estava com com o público. De assinalar também a presença de Lauren Hart
uma lotação esgotada para outro dos grandes nomes deste terceiro (dos Once Human) que ajudou nos coros e nos guturais que
dia: Carach Angren. Depois de duas actuações memoráveis foram usados ocasionalmente (e é sempre bom matar saudades
(e esgotadas!) em Portugal no início do ano (em Lisboa e no de um tema como "March Of The Mephisto") e que foi uma
Porto), esta era uma oportunidade imperdível. As expectativas verdadeira mais valia para a actuação da banda. Tecnicamente
foram altas e podemos dizer que não foram defraudadas. Aliás, irreprensíveis (com oportunidades e com um público rendido, os
podemos ir mais longe e dizer que até ao momento foi um dos Kamelot triunfaram com uma actuação (a ser registada para um
melhores concertos desta edição. Tudo esteve no ponto, tudo DVD a ser lançado em breve) que  apesar de ser a mais longa do
esteve perfeito, do som à entrega do público, da energia que dia, não deixou de saber a pouco.
era devolvida à banda pelo público à componente cénica que
resultou muito bem num palco de festival, transportando o
público para os reinos macabros de Seregor e companhia. Foi
verdadeira magia que se viveu ao som de malhões como "General
Nightmare" e "In De Naam Van De Duivel". A banda já tem uma
legião de fãs no nosso país mas apostamos que conquistaram
mais uma série deles em Vagos.

Enslaved
O palco Stairway estava em brasa e com um nome como Enslaved,
obviamente que o interesse era quase generalizado. Foi um dos
poucos casos em que neste palco encontrámos um som menos
bom (a ouvir-se quase em exclusivo bateria e voz, com a guitarra
no fundo do poço) mas felizmente o mesmo foi sendo corrigido
Kamelot logo ao longo do épico primeiro tema, "Roots Of The Mountain"
Seria complicado superar um concerto destes mas o espírito (N.E.: Soubemos depois que a banda estava a experimentar
de Vagos vive também da forma como há muitas formas de um novo sistema de munição de som e que encontrou alguns
fazer magia - sendo esse o seu poder - e passando do black problemas em lidar com ele). A partir daí foi sempre a subir
metal sinfónico para o power metal de tiques progressivos foi de qualidade, principalmente, mais uma vez, para quem estava
um instante e a banda cabeça de cartaz não desiludiu. Nem a afastado o suficiente do palco.  "Storm Son" e "Sacred Horse"
electricidade no palco Vagos, embora nesse aspecto, talvez um representaram "E" (álbum do ano de 2017, segundo a World Of
pouco de energia no volume não fizesse mal nenhum - para Metal) da melhor forma mas o ponto alto foram as surpresas que
quem estava à frente ou a meio, o som estava tão alto que se a banda desembrulhou para o público de Vagos, principalmente
tornava imperceptível perceber o quer que fosse. Felizmente a interpretação ao vivo de "Svarte Vidder" (do clássico "Frost") 
estávamos recuados o suficiente para apreciar da melhor forma pela primeira vez fora da Noruega e a segunda vez desde sempre.
toda a potência da banda de Thomas Youngblood que já tem Um temazorro que deverá ser até crime ficar na prateleira
uma carreira suficientemente longa e rica para se dar ao luxo nalguns países menos tolerantes.
de deixar de fora alguns clássicos. Ainda assim, o alinhamento
escolhido não deixou de ser fantástico, um bom equilíbrio entre A noite seria finalizada no palco Vagos, com os mestres do
todas as diferentes fases da banda norte-americana. grindgore lusitanto, Holocausto Canibal que, como seria de
esperar, destruíram o resto de resistências que ainda tinhamos.
Tommy Karevik não teve uma tarefa fácil em 2012 quando Numa performance a roçar a perfeição, o único problema foi
sucedeu ao carismático Roy Khan mas na sua passagem por o suspeito do costume: o malfadado volume dos decibeis que
103
Holocausto Canibal Stonerust
provavelmente quebraram o recorde do Guinness dos Manowar que é imenso, e que vive das sonoridades mais próximas do stoner
por diversas vezes. Tirando esse factor, a potência com que e do southern rock/metal - vai além desses rótulos aliás. A banda
"Vagina Convulsa" e "Trucidada Na Paragem" (apenas para citar de Cascais mostrou-se agradecida tanto pela oportunidade como
dois exemplos) bateram, fez a diferença quando o cansaço queria pelo público presente, ainda que fossem, e citando, "poucos mas
falar mais alto. Destaque também para a cover de Mortician, bons". Poder deste não se pode deixar passar em branco.
"Zombie Apocalypse" e pela piéce de resistance, "Violada Pela
Moto-Serra". Um final adequado para um grande dia, em todos
os sentidos (volume incluído e pedimos desculpa pela insistência
neste ponto).

Dark Embrace
A segunda banda do dia também subiu ao palco Stairway, e
foram os galegos Dark Embrace (que disseram que apesar de
Beyond Strength serem galegos, em parte são portugueses) que deram andamento
ao som que nesta edição foi contínuo (e há quanto tempo
Ainda havia muitos cheios de energia para dar e vender e, para andávamos todos nós à espera de algo assim?). Apesar de uma
esses, nada como o tributo a Pantera,  Beyond Strength para estética mais próximo do metal gótico, o peso e a energia que as
gastar os inconformados pelo fim do dia/noite. suas músicas têm - como "The Call Of The Wolves". Um daqueles
casos abundantes neste festival em que não nos queixaríamos se
A questão dominante deste dia acaba por ser aquela que tem ouvissemos mais, mas o horário teria de ser respeitado.
estado a dominar - sim, o volume. No entanto, foi possível
apreciar uma melhoria bastante considerável em relação aos dias
anteriores e as actuações, todas sem excepção, foram sentidas
como especiais. Com um último dia ainda por apreciar, estes
três dias equivalem a um ano de concertos, com tantos géneros
diferentes e sobretudo, com tantas bandas a darem excelentes
concertos.

DIA 4 - 12/08/18
Como tudo o que é bom chega ao fim, chegamos agora ao
último dia da mais ambiciosa edição do Vagos Metal Fest. Uma
verdadeira maratona que previsivelmente iria ter o cansaço
como principal inimigo no último dia. No entanto, e apesar dessa
expectativa, não deixámos de ser surpreendidos com o número
de festivaleiros que apareceram em peso quase desde cedo. E o
"quase" também não tardou muito após a primeira actuação.

Comecemos exactamente por aí. Com o som de bácoros a soar Schammasch


forte em frente ao palco Stairway, era oficial: os Stonerust estavam
iminentes a entrar em cena com a sua carismática "Man & Pig". Chegaria a hora de inaugurar o palco Vagos, com os suiços
Com um volume alto mas a favorecer todo o groove da banda, Schammasch a serem chamados para trazer a escuridão a Vagos
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- curiosamente o dia com menos sol do festival - com o seu black puxar pelo público - no final da já referida "Hail And Kill", Marc
metal pouco ortodoxo que terá perdido algum impacto devido Lopes foi para junto do público, com muitos passavam por ele
ao volume estar demasiado alto mas essa foi uma situação que em crowdsurf. Mais metal que isto não há.
tal como em ocasiões anteriores, foi sendo corrigida ao longo
dos tempos. Se a potência dos suíços em disco já é temível, no
palco Vagos , temas como "Consensus" e "Metanoia" foram de
fazer tremer o próprio chifrudo - a jarda que vinha das colunas
de certeza que abanou prédios no inferno.

Integrity
Depois de emoções fortes como estas, nada como (mais) um
grande concerto no palco Stairway de uma verdadeira lenda
do hardcore norte-americano (e da sua mistura com o metal,
Feed The Rhino muito antes de se inventar o termo metalcore): Integrity. Com
uma riqueza sonora impressionante até mesmo para quem não
Por falar em inferno, algo completamente diferente. Os Feed é apreciador de hardcore (basta ouvir a melancólica "Jagged
The Rhino são britânicos e tocam uma mistura muito própria Visions Of My True Destiny" e o seu duelo final entre as duas
de hardcore e metal que animou o palco Stairway. Poderão guitarras) e com uma energia aparentemente inesgotável, os
pensar se será possível haver uma mistura própria entre estes norte-americanos puxaram pelo público e este respondeu
dois estilos (e a atenção que estamos a falar de algo diferente de sempre à altura. Acabaram com a "Hybrid Moments" dos Misfits,
metalcore) mas não é preciso muito do som dos ingleses para este que foi o último concerto da digressão.
ficar com essa certeza. A banda não só meteu tudo a mexer como
também despejou bom gosto nos arranjos, principalmente na
guitarra solo. E como se não bastasse, o vocalista ainda foi para o
meio do público e provocou um wall of death digno de ser visto
pendurado (e segurado) nas grades que separam o público do
palco. No final, o público estava rendido e temos crença que era
um sentimento mútuo.

Municupal Waste
Podemos considerar como luxo passar do palco Stairway depois
de termos levado uma tareia dos Integrity para o palco Vagos
para levar o mesmo tratamento (ao quadrado ou ao cubo) por
parte dos compatriotas Municipal Waste. E nem a chuva que
Ross The Boss começou logo a cair no primeiro tema, "Grease Peace" estragou
a festa. Tony Foresta, o vocalista, confessou um amigo ter-lhe
A hora e a razão para voltar ao palco Vagos não poderia ter sido dito que sendo o último dia do festival, que o público estaria
melhor. Ross The Boss (que entrevistámos na nossa mais recente provavelmente mais apático e cansado. "Bullshit!" disse o norte-
edição que podem ler aqui), o mítico guitarrista original dos americano. Justiça seja feita, nem que o público estivesse morto
Manowar veio a Vagos embalar-nos com alguns dos seus temas deixaria de reagir a malhões como "You're Cut Off " e "Slime
mais emblemáticos do seu passado e do presente. A média foi & Punishment" (este último motivo para uma wave of death
desequilibrada, admitimos (dos nove temas tocados, apenas - ou seja, crowdsurf em barda que depois fez com que Foresta
um foi retirado do mais recente álbum de Ross The Boss, "By elogiasse os seguranças que estavam responsáveis por recolher
Blood Sworn" - o tema "Fistful Of Hate" que fecha o álbum), as pessoas que iam chegando na "onda"). "The Art Of Partying"
mas quem é que se pode queixar da oportunidade de ver e ouvir e "Born To Pary" colocaram um ponto final a um dos grandes
Ross The Boss a tocar temas como "Blood Of The Kings" (que momentos altos do festival.
só pecou pelos coros Mike LePond a soarem desajustados),
um enorme "Battle Hymns" e a inevitável "Hail And Kill". Tal Uma das grandes (e melhores) características desta edição do
como o próprio Ross nos disse na entrevista referida atrás, Eric Vagos Metal Fest foram sem dúvida as guinadas estilísticas de
Adams é insubstituível e único, mas teremos que referir que banda para banda. Passar do crossover thrashado e vitaminado
Marc Lopes não só se enquadra nos temas apesar do seu timbre dos Municipal Waste (o próprio Tony Foresta referiu que tinha
mais agudo, como também é um animal de palco, exímio em estado a ver as bandas anteriores e salientou a qualidade de todas
105
Ensiferum Suicidal Tendecies
elas, Ross The Boss incluído. Não existem tribos, não existem dar conselhos, a contar histórias da sua vida, a desabafar sobre
separações, o metal é unido) para o folk acústico dos Ensiferum o mundo, sobre as coisas que guardamos cá dentro, sobre raiva,
não é para todos. Apenas em Vagos algo assim poderia resultar sobre amizade, sobre amor, sobre união. Coisas que fizeram com
na perfeição como resultou. A banda finlandesa ficou sem que temas em que habitualmente não são os primeiros em que
instrumentos e graças à Câmara Municipal de Vagos, puderam pensamos como "Trip At The Brain" e "War Inside My Head"
dar um concerto especial, o segundo da sua carreira neste (esta última com a participação de Tony Foresta dos Municipal
formato fora da Finlândia (o primeiro foi em França semanas Waste), soassem muito bem. Mas obviamente que "Lost Again", "I
atrás pelo mesmo motivo - extravio dos instrumentos nos vôos, Saw Your Mommy" e a seminal power ballad "How Will I Laugh
referido em tom de brincadeira por Sami Hinkka, baixista, como Tomorrow" que desaguou numa épica "Pledge Of Allegiance"
um dos hobbys da banda). Tivemos um grande concerto que que levou praticamente Vagos Metal Fest para cima do palco,
proporcionou muitos momentos altos e que meteu todos a mexer aos saltos (nota para quem construiu o palco: está aprovado, se
- e tocar seja o que for em acústico prova a qualidade dos músicos, o mesmo não caiu com aquela verdadeira multidão, nem com o
porque não existe distorção para disfarçar enganos - com versões meteoro a coisa vai abaixo) e em êxtase num final que ficará na
de "Wanderer" e "Two Of Spades" a serem memoráveis, sem memória de todos.
falar do primeiro acoustic mosh a acontecer em Portugal a ser
precisamente no Vagos Metal Fest. Where else?

Memoriam
Seria difícil superar algo assim, confessamos. No entanto, mais uma
Suicidal Tendencies vez, é este o espírito de Vagos. Não é querer superar experiências
Um momento tão intimista como o vivido no palco Stairway só que são irrepetíveis, é apresentar experiências que são diferentes
tem mais impacto quando multiplicado por mil. Podemos falar mas igualmente boas. Como foi o concerto dos Memoriam (que
de muitas maneiras de um concerto como Suicidal Tendencies. segunda a informação que pudemos recolher, estavam a tocar
Para muitos foi uma oportunidade única de ver uma banda com instrumentos emprestados - alguém nas companhias aéreas
histórica em Portugal, um desejo tornado realidade. Para outros tem um negócio paralelo com a redistribuição de instrumentos
não havia mais que uma mera curiosidade. Garantimos que musicais), que foi um exibir de classe a provar toda a qualidade
todos estiveram perante um dos melhores concertos do Vagos, do death metal inglês. Não deixamos de pensar em Bolt Thrower
desta ou da outra senhora. Independentemente dos gostos e Benediction ao ouvir temas como "Dronestrike V3" e "Soulless
pessoais de cada um, a forma como a banda de Mike Muir se Parasite" que soa muito bem ao vivo. Muito melhor que em disco
conseguiu conectar a todos, com um som do melhor que pode ("The Silent Vigil") cuja produção é bastante fraca. Karl Willets
haver, onde todos os detalhes da guitarra de Dean Pleasants (que esteve muito bem disposto e contagiou todos com a sua atitude
solava como se a sua vida dependesse disso) eram perceptíveis boa-onda e também, obviamente, pelo seu gutural que já faz
- logo no início com um enorme "You Can't Bring Me Down" - parte da história da música extrema.
fizeram desta actuação memorável.
O fim estava a chegar e como dissemos dias atrás aquando o
Grande destaque, além do já dado a Dean Pleasants, terá de primeiro dia, a posição de abertura e fecho é sempre ingrata,
ser dado à secção rítmica composta pelo enorme talento que é podendo haver o risco de se tocar para um número mais reduzido
Ra Díaz (que baixista fenomenal) e o senhor Dave Lombardo, e/ou apático devido ao cansaço. Não poderia haver banda melhor
lenda viva do thrash metal. E, claro, o senhor Mike Muir, que para motivar todos os presentes a não irem embora assim como a
conseguiu o feito de se dirigir aos milhares presentes no recinto obrigar os cansados a esquecer as suas limitações físicas. Teremos
como se estivesse a falar directamente com cada um de nós. A que referir obrigatoriamente o volume estupidamente alto com
106
que aquilo que se tem actualmente. Mais. Melhor. Diferente. Maior.
Melhor.

Nem sempre o caminho mais fácil é o correcto. Se continuamos a fazer


o que sempre fizemos, como podemos esperar algo diferente? Como
podemos esperar crescimento? Evolução? Então não deixa de ser algo
frustrante encontrar críticas sem sentido e que não têm propósito
senão desanimar – desde citar bandas desejadas para o cartaz por
ordem alfabética onde se incluem entidades que já cessaram funções
até reclamar com os horários porque se está a trabalhar nesse dia…
podemos sempre reclamar pelos Black Sabbath não aparecerem na
nossa porta em modo “cantar as janeiras” ou por quando aparecerem
termos ido trabalhar mas será que não é chegada a altura de olhar
menos para o nosso umbigo?

Não será altura de perceber que um evento só é tão grande quanto


as pessoas que o apoiam? O país, as infra-estruturas existentes?
Fala-se em união, em como o nosso som sagrado é aberto a tudo e
Rasgo ostracizado pela opinião pública por estigmas que não fazem sentido,
ou nem sempre fazem sentido – porque ovelhas negras existem em
que a banda tocou mas tendo em conta que a primeira vez que todo o lado – mas depois reclamamos e somos os primeiros a deitar
os vimos foi igual, temos em crer que não se trata de defeito do abaixo porque os eventos não são feitos à nossa medida, porque não
festival e sim feitio da banda. Ainda assim, o poder de "Ergue trazem a banda que queremos à hora que queremos, porque não nos
A Foice", "Faca Romba" e "Homem Ao Mar" bateu forte como é vão levar o pequeno-almoço à cama ou porque ousam trazer bandas
inevitável que aconteça, havendo ainda direito a homenagem aos de estilos que não gostamos mesmo que muitas outras pessoas, com
irmãos Abbott, com a cover de Pantera, "Fucking Hostile". Luxo. os gostos tão válidos como o nosso, as procurem.

Como um dos parceiros oficiais do Vagos Metal Fest, camisola que


vestimos com orgulho e com sentido de dever de responsabilidade de
tentar promover da melhor forma e com as nossas ferramentas que
temos ao nosso alcance, não deixamos de sentir um certo desagrado
com algumas críticas destrutivas. Não somos contra a liberdade de
expressão, muito pelo contrário, lutamos por ela, mas não deixa de
ser desanimador encarar dia após dia o comentário destrutivo apenas
porque… apenas porque sim. Sentimos desânimo porque o Vagos
Metal Fest é nosso. De todos nós. É maior que o Manel ou a Jaquina,
é maior que este ou que aquele promotor, que este ou aquele orgão de
comunicação social. É até maior que a Câmara Municipal de Vagos,
apesar de ser a principal impulsionadora para que o mesmo se tenha
instituído. O Vagos Metal Fest são todos esses, somos todos nós, é algo
inexplicável, é algo que não se recria por fórmulas matemáticas que
depois na prática não resulta. E quando algo nasce de pura magia que
não se sabe bem como aconteceu, não é a nossa obrigação preservar
essa magia?
No final, a maior sensação que fica é do vazio mais rico que pode Esta edição teve alguns problemas, é certo. Sentiram-se as dores de
haver. Vazio porque chegou ao final algo único, algo que marcou crescimento e o tal risco que falei, o risco de crescer em vez de apostar
inegavelmente todos os que por Vagos passaram. Rico porque as no mesmo de sempre (uma das críticas constantes a edições anteriores).
memórias vão acompanhar para sempre os milhares de pessoas É a nossa responsabilidade e somos os primeiros a admitir que o som
que durante quatro dias (ou mais) fizeram daquela a sua casa. Que não esteve no seu melhor e que aconteceram problemas que não
já o fizeram no passado e que querem fazer novamente. Tendo deviam ter acontecido. Mas também é a nossa responsabilidade voltar
sido uma aposta ambiciosa, será de esperar que acontecessem a repetir que mesmo assim tivemos concertos inesquecíveis e que no
coisas menos boas, coisas que tenham custado mais a afinar - e global esta foi a melhor edição de sempre. Problemas num festival é o
é inegável que ao longo dos quatro dias pudemos assistir a uma que há mais… mas será que ainda se fala dos cortes de electricidade
evolução positiva - mas contrário ao que é costume acontecer que os Anathema (em Vagos) e os Katatonia (em Corroios) sofreram
no nosso país, é através do risco e do sonho em querer algo mais no V.O.A.? Ou se quisermos subir a fasquia, na quebra de luz com
que se consegue evoluir. Vagos Metal Fest evoluiu. Para melhor, os Motörhead e Korn no Rock In Rio? Problemas vão existir sempre,
para maior. Mas continua a ser aquilo que sempre foi, a meca do falhas vão acontecer sempre, ninguém está imune a elas, nem quem
metal nacional. Até para o ano, até Vagos! se arrisca a sonhar nem quem tem necessidade de criticar – embora
seja mais provável de acontecer a quem arrisca, por uma questão de
probabilidades. No final do dia, as falhas são uma nota de rodapé. O
CRONICA EDITORIAL que fica é mesmo a comunhão por parte dos Orphaned Land com
o público português; a perseverança dos Moonspell em sentir que o
Ponderei na necessidade de escrever esta pequena crónica, tendo em espírito de Vagos e o dever para com os fãs é maior que tudo o resto,
conta que acabei agora mesmo de relatar o que nós, World Of Metal, até maior que a justificada frustração por acontecimentos que pelos
vivemos na mais recente edição do Vagos Metal Fest, mas tendo quais não têm controlo; o bom humor de um Dani Filth que não
estado a consultar os muitos apontamentos feitos e a passar em revista vinha ao nosso país há demasiado tempo e que matou saudades da
as memórias que os mesmos despertam, fiquei com a necessidade de devoção que os fãs têm à sua banda. O que fica é a quantidade enorme
ir ainda mais além para aquilo que é a estrutura dos nossos WOM de pessoas que passaram por Vagos (o maior número de sempre) que
reports. Começava se calhar por explorar a ideia com que terminei a fizeram a festa durante quatro dias, servidos por bancas de comida
nossa reportagem, de risco, de aposta. Portugal não está habituado a e merch que nos atenderam sempre com um sorriso na cara, e com
isso. Portugal está habituado a apontar o dedo e a chamar de malucos especial destaque para os seguranças que foram verdadeiros heróis a
sonhadores todos aqueles que ousam tentar colocar os seus sonhos receber o mar de gente que lhes foi passado em crowdsurf.
em prática (esses malandros que até ousam largar tudo até para criar
uma rádio/webzine/revista digital completamente gratuitos *tosse a O que fica… o que vai ficar sempre é Vagos. Tudo o resto passa com
tentar disfarçar*). Tudo porque se tem aquela condição crónica da o tempo e perde a sua importância. Não é altura de olharmos para o
falta de visão que impede que se perceba que poderá haver mais do que é realmente importante?
107
Visions From The Pit
(On vacations) Meets Vagos Metal Fest 2018
Texto e fotos por Filipa Nunes

Esta edição contou com nomes de peso do mundo do metal.


Parece-me bem começar o meu rescaldo do maior festival de Já Sonata Artica, confesso, estava à espera de mais. Achei o
metal do país (felizmente, não o único festival!) com esta frase. concerto morno apesar da banda ter dado verdadeiramente o
E porquê? Se há pormenor que se nota na organização do Vagos litro. Não faltou energia no palco. Eu é que se calhar não estava
Metal Fest (VMF para abreviar) é um cuidado com a variedade para acompanhar aquela linha de música. E mais uma vez, muito
de bandas que chama. baseado em material que não me chamou a atenção. No entanto,
continuou a valer a pena.
Eu sou uma fã de metal mais clássico, mais “old school”. Do
metal extremo, inclino-me para o Viking e Folk metal. Mas na Masterplan conta com membros de Helloween e de Stratovarius.
realidade, labels à parte, ou gosto do som ou não gosto. E ir ao Ora, eu cá gostava de ouvir Stratovarius um dia e tive direito
VMF significa que, pelo menos, uma vez por dia de festival tenho a uma musica que podia ter sido dos Stratovarius, mas era
uma banda que vou curtir a música. Nesse aspeto, VMF não dos Masterplan. E como perdi o concerto de Helloween o ano
falhou este ano. passado no VMF, tive direito a outra. Mas Masterplan é uma
grande malha em qualquer altura do dia e anima o espirito
Assim, as bandas que me levaram a esta edição foram os mais desatento, desde que seja este um estilo de que se goste.
Orphaned Land, Kamelot, Sonata Artica, Masterplan, Ross The Agradeço-lhes a atenção aos detalhes, a lista de músicas que
Boss, Moonspell, Ensiferium, Cradle of Filth, Gwydion e Suicidal escolheram. Um verdadeiro heart-felt concert.
Tendencies (sem ordem especifica) não desapontaram. Mesmo
os Ensiferium, com os problemas técnicos de falta de material,
estiveram em alta com o seu concerto acústico e o fantástico
“acoustic mosh pit”. Mas já lá vou.
Orphaned Land é sempre um prazer ouvir. Conto com só 3
concertos da banda, mas o Kobi sabe levar o público e a lista de
músicas escolhidas, entre novas e velhas, calha sempre bem. E
não há nada como cantar noutra língua. Mesmo quando se tem
a plena noção que se está a cantar tudo mal. Who cares? Valeu a
pena ir no dia de abertura só para os ouvir.

Kamelot esteve mais no material novo, o que tive pena, já que


há musicas mais antigas que gostaria de ouvir, mas isso não
impediu de se ter um grande concerto. O público pareceu muito
entusiasta também apesar de, por algum motivo, eu ter achado
que o concerto que eu assisti anteriormente deles tinha estado
mais em alta. São dias. Talvez eu não estivesse num dia para
Kamelot.

Ross The Boss


Ross the Boss. Ora, aqui esta humilde pessoa era criança, tinha
uma cassete com músicas de metal. E grande parte dessas
músicas era de uma banda chamada Manowar, que tinha um
guitarrista chamado Ross. Um senhor da guitarra! E depois eles
chatearam-se. Não interessa. O que interessa é que pude cantar
as músicas dos meus álbuns favoritos de Manowar e pude ouvir
os acordes tocados pelo Ross, himself! Se senti falta da voz do
Eric? Claro. Tal como em Kamelot senti a falta do Khan (eu sou
muito ligada à voz). Mas isso não significa que o Marc não tenha
estado à altura! No final do concerto, queria mais uma hora de
música. Isso diz tudo.

Moonspell. São sempre bem vindos de volta ao VMF. Quer


queiramos, quer não, é uma banda icónica da “cena” de metal
português. O ambiente do novo álbum entra muito bem com
Kamelot a música de álbuns antigos. São uma banda de excelência, com
108
uma presença em palco inegável. E isto parece tudo muito geral nota. Os Carach Angren deram um concertaço, mesmo para mim
mas a realidade é essa mesmo. Não é “discurso feito”. Valeu a que não oiço aquele estilo. Só a presença deles em palco valeu o
pena vê-los mais uma vez. tempo a ouvi-los. Os Ratos do Porão levaram as pilhas Duracell
e foi só saltar energia por todo o lado. Enslaved marcaram a noite
Ensiferum! Oh que pena que eu tive quando soube que os com o ambiente. Só para nomear algumas bandas que brilharam
músicos vieram, os instrumentos não. Segundo reza a história, foi naqueles dois placos do VMF. “Bolas, quero mais!”
a segunda vez que lhes aconteceu isto na tour. Mas tivemos sorte,
os músicos vieram parar ao sítio certo (não lhes aconteceu como E é com esta sensação “bolas, quero mais” que escrevo este
rescaldo, review, texto. Pontos negativos? Houve, claro. O festival
teve um problema gravíssimo com o som. Três dias inteiros para
corrigirem o som perto do palco, quiçá geral. Dois dias com
cortes de energia, com os Orphaned Land e Cradle of Filth serem
os melhores a reagirem a isso. Bandas a cancelarem concertos
devido a greves e a ter de se alterar horários, bandas a perderem
instrumentos e ter de se pesquisar uma maneira de continuarem
a dar concerto (Ensiferum for the win!). Um sem número de
outros problemas que o público não deve ter detectado. Mas estes
pontos negativos, como diz o meu amigo Fernando, “são dores
de crescimento”. Não há festival onde não ocorram problemas.
Não há apostas que não tenham os seus riscos. Mas a minha
sensação no final é “bolas, quero mais”. Porque pontos positivos
são muitos. E são melhores e mais fortes que os negativos. O
ambiente do VMF do ano passado, no qual só fui um dia em
contrabalanço com os quatro deste ano, fez-me voltar. Nada se
compara às pessoas, ao bom ambiente que se vivia nas barracas
de merch. E nas de cerveja! A oferta de comida pode progredir
mas esteve melhor este ano. A adição de dois palcos foi ousada,
mas acho que funcionou bastante bem, salvo um atraso ou
outro, porque aumentou a oferta de bandas. E aqui está o ponto

Cradle Of Filth
os desgraçados dos Dagoba que nem de França conseguiram sair,
com as greves dos controladores) e vieram com o espirito de dar-
nos o concerto da vida. Acústico, com bateria e três guitarras,
fizeram as delícias da malta. Até um (vários!) acoustic mosh pit
tivemos. Eu adorei o concerto, achei que eles estiveram mais do
que à altura. Mas fica cá aquele bichinho que os quero voltar a ver
com toda a pompa e esplendor que sei que eles são capazes de ter.

Se há banda que eu tinha apenas curiosidade mas que fazia parte


das “bandas a ver” da minha lista, eram os Cradle of Filth. E o Gwydion
que dizer dos Cradle? Que são uma banda que merece toda a
fama que têm? Que sabem dar concertos? Confesso que com alto, que para mim me leva a querer voltar e repetir a dose: a
a adversidade que houve a meio, ficarem sem luz, fiquei com oferta de bandas foi excelente. Para todos os gostos e feitios, a
receio que o Danny voltasse costas e se fosse embora, deixando organização do VMF fez as vontades de muita gente, sem seguir
um VMF cheio de gente a “arder”, mas ele teve uma presença de os trolls online, que pedem coisas “mono-temáticas”. A mesma
espirito brutal e com humor pôs o incidente de lado. Foi com o organização que se presta a tentar resolver os problemas e a
maior dos prazeres que ouvi as minhas músicas antigas tocadas tornar a experiência única. A organização que continua a pensar
no encore e que realmente valeu a pena esperar para assistir ao no seu público, em termos de horários, carteiras e, vou repetir,
concerto. oferta de bandas!
Se há quem não tenha gostado? Claro. No dia em que se agradar
Vamos para o meu Viking/Folk metal? Claro que sim! Estava a gregos e a troianos, alguém que me acorde, porque estou a
em pulgas para ver Gwydion e não fui desapontada. Haja boas sonhar. Mas faz parte de ser humano reconhecer os esforços e
bandas de metal em Portugal! Foi um abanar de capacete à boa os pontos positivos. Continuar a apostar e a apoiar para que o
velha maneira. As musicas do novo álbum entraram a valer e VMF continue. Porque merecemos um festival deste tamanho
claro que a interação com o publico, tendo em conta que muito e desta envergadura. E com este reconhecimento pelo público
boa gente os foi ver aquela hora, foi fantástica, acho que me tornei como outros festivais não têm.
fã de vez. Não os conhecia bem, agora quero conhecer melhor!
Suicidal Tendencies deve ser das bandas que as pessoas costumam Devo rematar este texto de opinião pessoal com a nota mais
achar estranho eu conhecer e ouvir. Mas como dizer? É daquelas pessoal de todas. Não há nada como viver estes momentos na
bandas que fez parte da revolta de adolescente. O som deles boa companhia. Por isso, obrigado Filipe, Fernando e Sónia pela
evoluiu mas continuo a querer “partir a casa” cada vez que os aventura que foi o VMF 2018.
oiço. Foi a cereja no topo do bolo, o encerramento de ouro. Ouvi-
os estafada, sentada no chão, mas sem conseguir parar quieta. E “Bolas, quero mais”. E para o ano, há mais. Obrigado Vagos Metal
quando acabaram tive aquela sensação: “bolas, quero mais”. Fest. Vagos é AQUI c*r*lh*!

Não foram só estas as bandas que deu gosto ouvir ou de sentir o


público. Em Feed The Rhino tivemos uma Wall of Death digna de
109
Agenda
Setembro 16 - Jeff Rosenstock - Sabotage Club, Lisboa 06 - Sublime Torture Fest XI - Dr. Gore, Dead Meat,
Grog, Raw Decimating Brutality, Nasty Surgeons,
01 - Casaínhos Fest - Bizarra Locomotiva, Ramp, 21 - Noise A Go-Go #6 - Sete Star Sept, Brutal Blues,
Pedro Sousa, Gekiga Warlord - Sabotage Club, Lisboa Undersave, Black Alley Lobotomy, Lvnae Lvmen e
Heavenwood, Hills Have Eyes, Rasgo, Viralata, The Halfzeimers - Quelha do Barrocal, Castelo Branco
Backflip, Artigo 21, Infraktor, Contrasenso, Take 21 - Warm Up Under The Doom - Primordial, Aura,
Back! - Campo Futebol S.C. Casaínhos Basalto - Hard Club, Porto 12- The Soft Moon - RCA Club, Lisboa

01 - XX Flames - Humanart, Balmog,  Anifernyen   - 22 - Warm Up Under The Doom - Primordial, Aura, 12- Emma Ruth Rundle, Jaye Jayle  - Musicbox, Lisboa
Metalpoint, Porto Decayed - Hard Club, Porto 12 e 13 - Bairrada Metal Fest - Grog, Desire, Simbiose,
01- A Place To Bury Strangers , Numb.er - RCA Club, 22 - River Stone 2018 - Bizarra Locomotiva, Gwydion, Bizarra Locomotiva, GodVlad, Terror Empire, Diesel
Lisboa Godark, The Fines, The Small Hours - Rio de Moinhos, Humm! - Club De Ancas, Aveiro

01- Mass Disorder, The Black Koi - Cine-Incrível Alma Penafiel 13 - Raging Planet Showcase 2018 - Desalmado, Besta,
Danada, Almada 22 - Spectrum (Sonic Boom) - Musicbox, Lisboa Surra - Musicbox, Lisboa

04- Imagine Dragons - Altice Arena, Lisboa 22 - Diabolical Mental State, Primal Attack, Kaelling 13 - Pé de Ladrão Fest - Trinta & Um, Simbiose, Dokuga,
- Cabra Negra, Marinha Grande Bad!, Vürmo, Systemik Violence, Without Face,
04- The Black Angels - Hard Club, Porto M.E.D.O. - A062, Caldas da Rainha
06 a 09 - Milhões De Festa - Electric Wizard, Ensemble 24 - Batushka - RCA Club, Lisboa
13 - The Soft Moon - Hard Club, Porto
Insano, Indignu, 700 Bliss, The Mauskovic Dance 25 - Batushka - Hard Club, Porto
Band, Aerobica, Adega Cooperativa de Marte, Os 13 - Neuropsy, Happy Farm, The Blood Of Tyrants  -
26 - Voivod, Nightrage - Hard Club, Porto Metalpoint, Porto
Amigos da Anta, O Psico-Bail e Fação Barulho,
29 - Not Dead Yet Fest - Fleshcrawl, Neocaesar, Disaffe 13- Pé de Ladrão - A062, Caldas da Rainha
Necromancia Editorial, Squarepusher, Lena D'Água e
cted, Undersave - Stairway Club, Cascais
Primeira Dama com a Banda Xita, Circle, Warmdusher, 20 - Annihilation, Grog, Burn Damage - Cave Avenida,
Krake Ensemble, Scúru Fitchádu, Cumbadélica, 29 - Back To Skull 2018 - Equaleft, HochiminH, Viana Do Castelo
Mirrored Lips, Cacilhas, Grabba Grabba Tape, The Diabolical Mental State e All Against - RCA Club, Lisboa
21 - Annihilation, Grog, Burn Damage - Metalpoint, Porto
Evil Usses, SuNA Yoga, Motion Within, Peter Gabriel 29 - The Black Wizards, Desert Mammooth - Cine-
Duo, Decibélicas, Phantom Chips, Sereias, Gazelle Incrível Alma Danada, Almada 23 - Damien Jurado, Sean Riley - Musicbox, Lisboa
Twin, The Bug Feat Miss Red, Bubya Garcia, Nashgul, 29 - Primal Attack, Infraktor - Stereogun, Leiria 24 - Julie Doiron - Sabotage Club, Lisboa
Greengo, Pé Roto e EII Granada, Bala, Natalie Sharp, 27 - Cartaxo Metal Fest III - Cruz de Ferro, Dead Meat,
Vaiapraia e as Rainhas do Baile, Afrodeutche, 29 -  Status Quo - Campo Pequeno, Lisboa
Undersave, Destroyers of All, Thrashwall - Centro
WWWater, King Gong, Gonçalo, Eduardo Morais, Os 30 - Back To Skull 2018 - Equaleft, Ho-Chi-Minh, Cultural do Cartaxo, Cartaxo
Tubarões, Mouse On Mars, The Heliocentrics, Ukaea, Diabolical Mental State, All Against - RCA Club, Lisboa
Pharaoh Overlord, Tajak, Suave Geração, Paisiel, 27 - Road Fest - Blame Zeus, Revenge Of The Fallen -
30 - Porto Deathfest 4 - Fleshcrawl, Necrot, Burial Invoc Moto Clube Alverca, Alverca
Johnny Hooker, Marlyin Misandry, Gsy!pa, Hajaa, ation, Neocaesar, Biolence - Metalpoint, Porto
Queen Bee Supergroup, Silent Disco - Barcelos 27 - Yob, Wiegedood - Hard Club, Porto
08 - Apresentação de "Whale City" - Warmdusher  - 29 - Bob Wayne - Stairway Club, Cascais
Sabotage Club, Lisboa Outubro
08 - Dawnrider, The Black Wizards - Associação Artística 02 e 03 - V Festival Portalegre - Altarados, In Vein,
Satori, Loulé Thirdsphere, [In Mute], Modulator, Forja, Impera, Novembro
08 - Rock In Amadora - Contrasenso, Dogma, Hourswill, Primal Attack, Fallcie, Symbiotic Project  - CAE 02 e 03 -   V Festival Portalegre Core - Altarados,  In
Corvos - Parque Urbano do Zambujal, Alfragide Portalegre, Portalegre Vein,  Thirdsphere,  [IN MUTE], Modulator,  Forja,
11-  Yawning Man, Witch Sin - Woodstock 69 Rock Bar, 03 - Acid Mothers Temple - Musicbox, Lisboa Impera,  Primal Attack,  Fallcie,  Symbiotic Project -
Porto Cae Portalegre, Portalegre
05 - Cracked Bones - Cine-Incrível Alma Danada, Almada
11- Thirty Seconds To Mars - Forum Braga, Braga 03 - Oeste Underground Fest - Serrabulho, Repulsive
04, 05 e 06 - Faro Alternativo - Cloudleaf, M.E.D.O., Thrash Vision, Analepsy, Prayers Of Sanity, GAEREA,
12- Thirty Seconds To Mars - Altice Arena, Lisboa Wall, BadWeather, G.I.G.G.Y., Trinta e Um, HochiminH, Hourswill, Warhammer, Rencor, Undersave, Fear
13- Guadalupe Plata - Sabotage Club, Lisboa Anarchicks, Reality Slap, Steal Your Crown, Pull The The Lord, Oppidum Mortuum - Pavilhão do Multiusos da
Trigger, Urubu, The Parkinsons, Blowfuse, Besta, Malveira, Malveira
14- Capitão Fantasma, Taberna, Patrulha do Prayers Of Sanity, Revolution Within, Desalmado,
Purgatório - Céu de Vidro, Caldas da Rainha Contra Corrente  - Associação Recreativa e Cultural de 03 - Alvalade Arise - Bizarra Locomotiva, Destroyers
15- The Asteroid No4, Pretty Lightning - Sabotage Club, Lisboa Músicos, Faro Of All, Midnight Priest, F.P.M., Mordaça, Systemik
Violence, Pull The Trigger, Toxikull, All Against - Cae
15 - Outeiro Metal Fest - Sotz', Witch Sin, Ruína, 05 e 06 - Festival Bardoada e Ajcoi - The Parkinsons, Portalegre, Portalegre
Nematomorphos,Vurdalak - Outeiro Seco, Chaves Iberia, Dapunk Sportif, Revolution Within, Besta,
Tales For The Unspoken, The Year, Nowhere To Be 03 - Riverside - Lisboa Ao Vivo, Lisboa
15 - Old School Gig 3 - Antivoid, Unfleshed, Sadistic
Overkill - Metalpoint, Porto Found, Since Today, Decreto 77, Desalmado, Bizarra 03 - Sound Bay Fest - The Vintage Caravan, Wucan,
Locomotiva, Simbiose, Reality Slap, Serrabulho, Black Mirrors, Her Name Was Fire - RCA Club, Lisboa
15 - Monasterium Fest VI - Karseron,  Buried
Grankapo, Kandia, Hochiminh, Steal Your Crown, 10 - Destroyers Of All - Fora de Rebanho, Viseu
Alive, Sonneillon BM, Waterland - Mosteiro de São Pedro
Dalai Lume, Challenge, Cigarette Vagina - Pinhal Novo
de Ferreira, Paços de Ferreira 16 - Mosher Fest - Chapter 7 - Bizarra Locomotiva,
06 - Not Dead Yet Fest - Necrot,  Grog,  Derrame, Teethgrinder, Grog, Midnight Priest, Prayers Of
15 - Silveira RockFest -  Prayers Of Sanity, All Against,
Autopsya, Bowelism - Stairway Club, Cascais Sanity, Web, Gaerea, Toxikull, Redepmtus, Cruelist -
Inner Blast, The Temple, Dollar Llama  - CDR "Os
Silveirenses", Odivelas 06 - Process Of Guilt, Löbo - Side B Rocks, Alenquer Massas Club, Coimbra

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