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MACAPÁ
2018
SUMÁRIO
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1. INTRODUÇÃO – TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO
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As “Mini Ações” foram idealizadas pela equipe ao se darem conta do complexo universo
que estava disposto nas ruas e quão limitante ele se demonstrava, além de estigmatizante, ao
ponto de definir em que lugar as pessoas não poderiam ocupar na sociedade. as “estratégias de
aproximação”, que a equipe do CnaR lança mão, favorecem a criação de vínculos de respeito e
confiança. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que os profissionais do CnaR distribuem copos
de água mineral para a população em situação de rua, Hallais e Barros (2015) acrescentam que
conversas são desenvolvidas sobre a qual rede social os moradores de rua pertencem, suas
preferências e suas formas de sociabilidade. É nessa interação que se estabelecem relações de
empatia e se elege qual membro da equipe será referência de cada usuário do serviço. E ainda
afirmam, que compreender o espaço da rua não como um lugar de passagem, visualizando-o
como território e como lugar de permanências e ausências, com suas regras e conflitos, permite
pensar a rua, se não como uma instituição, ao menos como uma organização social estruturante
construída à margem da estrutura social dominante.
O CnaR foi criado como uma proposta de cuidado que amplia o acesso e a qualidade da
atenção integral a sujeitos marginalizados, pois sabe-se que o processo saúde X doença tem
uma linha tênue, principalmente, ao se tratar de pessoas em situação de rua e usuárias de drogas,
pois são vistas como pessoas “vagabundas”, com falha de caráter e que não querem mudar.
Neste sentido, Hallais e Barros (2015) afirmam que por mais que haja a Política Nacional para
População em Situação de Rua (PNPSR) e outras políticas setoriais e intersetoriais, “elas nem
sempre garantem um cuidado integral pois o imaginário social sobre a população em situação
de rua influencia significativamente a prática dos profissionais que atuam nos serviços de
saúde”.
Percebe-se que esse discurso se torna tão repetitivo e tão impositivo que os clientes
atendidos passam a comportar-se seguindo esse formato: desacreditam de suas potencialidades.
Nesse processo de descrença de si, entende-se o quanto torna-de difícil cultivar a autoestima,
autonomia, autocuidado, ou seja, a auto gerencia. “Características estigmatizantes como a
sujeira, o mau cheiro e o efeito de drogas lícitas e ilícitas são, muitas vezes, determinantes para
a precariedade no acolhimento ao morador de rua nos serviços de saúde, como afirmam
Hallais e Barros (2015).
Identifica-se a negligencia da saúde e da relação com o corpo quando mesmo machucados
ou sentindo-se mal não procuram assistência à saúde ou fazem uso recorrente de drogas o que
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intensifica o quadro de algumas doenças infecciosas, além de limitar a possibilidade de
comunicação com as pessoas da família, amigos, etc. Em geral, os problemas de saúde mais
comuns e urgentes apresentados pela população observada são tuberculose, DSTs, hepatites
virais, doenças dermatológicas, além de transtornos mentais e variados tipos de sofrimento
psíquico (HALLAIS e BARROS, 2015).
Esse tipo de negligência, por vezes, reflete-se na noção da Rede de Atenção Básica (ABS)
de maneira que não reconhecem-se como pessoas de direito a saúde e se percebem rejeitados
pelos sistemas de saúde. Simões et al (2017), afirmam que o CnaR é um facilitador da chegada
dos usuários em situação de vulnerabilidade aos serviços da ABS, ao mesmo tempo que
identificaram um fracasso nesta função, na medida em que tais serviços têm dificultado o acesso
dessa população. Hallais e Barros (2015) acrescentam que ao mesmo tempo em que as ações
do poder público deixam visível a violência estrutural sobre essa população, também conferem
“invisibilidades” ao negarem o pertencimento deste grupo social na sociedade, sugerindo que
são “incômodos” que devem ser invisibilizados e silenciados em seus direitos e
reivindicações”.
Justifica-se essa rejeição pela falta de documentação de que essa população muitas vezes
não detém, pois muitos perdem nas ruas ou evitam ter por problemas com a justiça que, também,
incentivam a não procurar as instituições de saúde para cuidar-se. Aprofundar essa questão para
Hallais e Barros (2015) é importante, pois o uso e os efeitos de substâncias psicoativas não são
o único fator de risco que afeta a população em situação de rua ou que fragiliza o seu estado de
saúde.
O CnR, segundo Simões et al (2017), foi avaliado como um avanço em termos de
políticas públicas de saúde porque diminuiu a invisibilidade da população em situação de
vulnerabilidade, ampliando os cuidados oferecidos a ela. Por outro lado, também foi afirmado
o CnR como um ‘subSUS’ para aqueles que não conseguem acessar os serviços públicos de
saúde, podendo representar, assim, um retrocesso na política. Sobre isso, a equipe discutiu a
necessidade de trabalhar a autonomia dos usuários para circular pelos dispositivos de saúde,
evitando práticas de cunho tutelar, e a necessidade de que os serviços criem vagas para essa
população que não tem documento ou moradia fixa.
A portaria Nº 940, de 28 de abril de 2011 garante no Art. 13 que sejam atendidos mesmo
sem o porte do cartão SUS e a Lei 13.714 de 2018 proibe expressamente a recusa de
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atendimento pelo SUS às pessoas em situação de rua sem o porte dessa documentação e
comprovante de residencia, sendo um direito dessas pessoas que elas desconhecem. A
dificuldade no cumprimento dos direitos e as diversas formas de vulnerabilidades que, como
afirmam Hallais e Barros (2015), atingem essa população, como exposição às variações
climáticas, condições insalubres de moradia e de alimentação, e ações de repressão por parte de
políticas de segurança pública, afetam negativamente a condição de saúde dos indivíduos em
situação de rua.
Com o desenvolvimento das mini ações, em que serão divulgadas e desmistificadas
algumas doenças e apresentadas possibilidades de tratamento e explicado o que é o sistema de
Rede de Atenção Básica, Psicossocial e Saúde Mental entende-se que desenvolver o vínculo de
trabalho será fundamental para o reconhecimento dos clientes enquanto merecedores de
cuidado, em outras palavras, é preciso desenvolver um acolhimento que potencialize o encontro
e promova uma relação de troca entre usuário e profissional de saúde.
Hallais e Barros (2015), dizem que a construção de um processo de trabalho em saúde
pautado na abertura para o outro possibilita uma legítima e necessária interlocução entre os
profissionais de saúde e as pessoas em situação de rua. O encontro acolhedor pode ser colocado
como produtor potencial de saúde, no qual a construção de vínculos de confiança é fundamental.
Simões et al (2017) contribui dizendo que as ações de cuidado devem considerar o contexto
sociopolítico e cultural de cada território, e a percepção dos próprios usuários sobre o lugar em
que vivem e o uso que fazem dele.
Estimular a autonomia dessas pessoas a procurarem os serviços da rede ou até
referenciar a equipe de Consultório na Rua e assim praticar a redução dos danos possíveis em
suas vidas, significa, para Hallais e Barros (2015), assumir o acolhimento como encontro de
aprendizagem mútua, que transcende o que está estabelecido pelas tecnociências da saúde e vai
além do caráter normativo dos protocolos de atendimento, percorrendo um trajeto que viabilize
os valores associados à felicidade humana por meio dos significados e sentidos não apenas à
saúde, mas ao próprio projeto de vida dos indivíduos.
Trino, Machado e Rodrigues (2015) afirmam que o CnaR, por trabalhar com o conceito
de vulnerabilidade e com a noção de cuidado em rede, pode manejar melhor a complexidade de
problemas apresentados por quem está em situação de rua. O desafio que segue, portanto, é
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criar possibilidades para que esse grupo social rompa com a invisibilidade e participe do projeto
das “Mini Ações”.
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2. JUSTIFICATIVA
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3. OBJETIVOS
3.1 GERAL
3.2 ESPECÍFICOS
Desenvolver o autocuidado;
Proporcionar autonomia.
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4. METODOLOGIA
As Mini Ações tem como público alvo homens e mulheres em situação de rua
em Macapá com faixa etária de 19-65 anos.
4.2 INSTRUMENTOS
4.3 MATERIAIS
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5. RESULTADOS
As “Mini Ações” tiveram início em outubro de 2016, onde tivemos a primeira experiência
de levar o CnaR para as ruas de forma a oferecer serviços de saúde com o objetivo de prevenção
e promoção em saúde totalizando, até o momento, 14 mini ações em locais assistidos pela
equipe.
A primeira intervenção de “Mini Ação” foi realizada em uma praça do centro da cidade,
próximo à diversas lojas e um local onde muitos andarilhos, “hippies” se alojam para vender
seus artesanatos e bijuterias e estes por não sentirem-se tão à margem da sociedade local e pois
não causavam “problemas” ou utilizavam-se de drogas, pelo menos no local, ainda
aproximaram-se procurando pela realização de testes rápidos e possibilidade de marcação de
consultas. Ao serem oportunizados os pedidos e esclarecidos de que modo o Consultório na
Rua funcionava e deixando clara a disposição da equipe, fomos percebendo o envolvimento das
pessoas com o serviço que por vezes referênciavam a equipe à outros colegas como facilitadores
de entrada em outros serviços.
A equipe sofreu críticas em relação à levar os testes rápidos para o ambiente externo,
por conta do risco de exposição do teste e o processo de acolhimento. Porém, comprovamos
que os testes rápidos são simples, e não se deve potencializar o medo do resultado, até por que
ele somente é uma triagem devendo ser realizado outros mais específicos para a confirmação.
Percebemos que nas primeiras interveções as pessoas da comunidade demonstraram
interesse mesmo sem saber do que se tratava afirmando não terem conhecimento, “nunca ouvi
falar”, “é trabalho voluntário?”, eram algumas das frases dessas pessoas, enquanto as pessoas
em situação de rua não se aproximavam, pois aparentemente não sentiam que poderiam ter o
direito à saúde.
Daí em diante fomos implanrando as ações em diversos espaços onde eram percebidas as
dificuldades e vulnerabilidade social das pessoas em situação de rua. Em muitos locais mesmo
já dando assistência para algumas pessoas não eramos bem recebidos, pois a maioria para
proteger-se utilizavam-se ou da agressividade ou da desconfiança para que o desenvolvimento
do vínculo não acontecesse.
Em uma das ações que ocorreu num local de uso frequente de crack, ficamos as 4 horas
dispostas para a rota sentadas com os materiais organizados e dispostos para essas pessoas e
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não obtivemos sucesso, pois percebemos que precisaríamos respeitar o espaço deles e
demonstrar que estávamos ali para ajudar de alguma forma e fornecer à eles o que lhes era de
direito: a saúde.
Decidimos que contuaríamos insistindo em estar no mesmo ambiente, afinal de contas
quando nos aproximávamos para oferecer os serviços e nos aproximar eles recuavam, não
falavam nada ou simplesmente iam embora. Isso provocava na equipe uma sensação de fracasso
e de impotencia, pois foram inúmeras tentativas até que uma das pessoas tomou conragem
aproximou-se de nós e perguntou “ei, o que você estão fazendo aqui?”, quando demonstramos
que estávamos ali para eles e ela pôde entender que participaria ou não se segundo seus desejos
ela foi prontamente convidar outras pessoas pra que viessem nos conhecer.
Assim começamos a nos dar conta que as “Mini Ações” poderiam influenciar no processo
de desenvolvimento das pessoas atendidas pelo CnaR tanto de forma coletiva quanto individual,
pois estar com aquele grupo representava fazer parte de algo em que um pode cuidar do outro.
Em nossa peregrinação de trabalhar a autonomia e autocuidado do nosso público nos
levou a reconhecer que essas pessoas já vinham sendo negligenciadas desde suas relações
familiares até as relações com a sociedade há muitos anos o que os levava a aceitar que suas
vidas só poderiam ter um sentido que era o de estar nas ruas e muitas vezes sob o efeito de
drogas “eu queria sair muito dessa vida, mas não consigo. Essa droga acabou com a minha
vida”. Muitas pessoas demonstravam a desejo de mudar algo em suas vidas, e quando a equipe
deu-se conta de que aceitar as recaídas, aceitar que muitos queriam mudar de vida, mas
continuar fazendo uso de drogas tornou-se possível aceitar que haviam dos dois lados seres
humanos “eu gostaria de sair dessa vida, sabe? Mas sem parar de usar crack, é ele que me
sustenta”.
Com o trabalho integrado entre equipe de enfermagem e de psicologia, nas mini ações
eram reforçadas as ligações entre mente e corpo e quais os seus efeitos no dia a dia de uma
pessoa e como poderiam prevenir seus efeitos mesmo estando em situação de rua. Para esse
reforço estabelecemos parceria com o CENTRO POP, para utilização de seu espaço, já que
temos em comum o mesmo público e lá promovíamos atividades lúdicas e rodas de conversa
sobre diversos assuntos em que eram acordados os princípios da redução de danos.
Abordamos desde as doenças mais comuns entre as pessoas em situação de rua desde as
relações de família e seus significados. Percebemos que a medida que íamos nos aproximando
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dessas pessoas, nos permitindo conhecê-los e que eles nos conhecessem como pessoas, os
vínculos foram estreitando-se ao ponto de sermos procurados, as vezes, pra receber um abraço,
um beijo, conversar sobre a ultima semana ou escutar que dia tal “eu fui lá na ubs”, “eu procurei
vocês lá porque preciso ir no médico”. Nesse ponto entendemos que algo estava mudando e que
algumas pessoas estavam apresentando um comportamento diferente em que poderiam sair de
seu lugar de marginalidade e buscar nos sistemas de saúde o que precisavam, ou seja
começavam a estabelecer progresso no quesito autocuidado e autonomia.
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6. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
HALLAIS, Janaína Alves da Silveira; BARROS, Nelson Filice de. Consultório na Rua:
visibilidades, invisibilidades e hipervisibilidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v.
31, n. 7, p. 1497-1504, July 2015 .
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