Вы находитесь на странице: 1из 107

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

CONSTITUCIONAL

DIREITO ADQUIRIDO E ATO JURÍDICO PERFEITO

APLICAÇÃO IMEDIATA AOS CONTRATOS EM CURSO DA LEI QUE FIXA NOVOS ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA

A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção monetária
previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua vigência deveriam ser
alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, A LEI NOVA PODE INCIDIR
IMEDIATAMENTE SOBRE AS CLÁUSULAS PRESENTES NO CONTRATO, DESDE QUE AS NORMAS LEGAIS
SEJAM DE NATUREZA COGENTE, OU SEJA, AQUELAS CUJO CONTEÚDO FOGE DO DOMÍNIO DA VONTADE
DOS CONTRATANTES.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir uma lei nova
que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, OS CONTRATANTES NÃO PODEM INVOCAR DIREITO
ADQUIRIDO OU ATO JURÍDICO PERFEITO COM O OBJETIVO DE MANTER O TEOR DAS CLÁUSULAS NA FORMA COMO
ORIGINALMENTE FORAM PREVISTAS NO CONTRATO.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ, red. p/o acórdão
Min. Teori Zavascki, julgados em 29/4/2015 (Info 783).

O que o STF decidiu? Houve ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito? O art. 21 da Lei n. 9.069/95
é inconstitucional?
NÃO. O art. 21 da Lei n. 9.069/95 foi um das medidas mais importantes do Plano Real, um dos seus pilares
essenciais, já que fixava critérios para a transposição das obrigações monetárias, inclusive contratuais, do
antigo para o novo sistema monetário.
Esse dispositivo é classificado como um preceito de ordem pública e tem natureza estatutária, ou seja, não
pode ser afastado por vontade das partes. Dessa forma, ele vincula necessariamente todos os seus
destinatários.
Considerando que a norma em questão tem natureza institucional estatutária, ele pode ser aplicado
imediatamente aos contratos que já existiam quando a Lei entrou em vigor. Não há inconstitucionalidade
nesta incidência imediata.
Vale ressaltar que o fato de o art. 21 se aplicar aos contratos em curso não significa que a Lei esteja sendo
aplicada retroativamente. É preciso diferenciar aplicação imediata de aplicação retroativa da Lei.

APLICAÇÃO RETROATIVA APLICAÇÃO IMEDIATA


Haveria aplicação retroativa se a Lei incidisse Por outro lado, aplicação imediata é aquela que
sobre fatos ocorridos no passado (ex.: se ela se dá sobre fatos presentes, atuais, não sobre
alterasse as parcelas que já foram pagas antes de fatos passados.
Em princípio, não há vedação alguma a essa
sua vigência).
incidência, respeitada, evidentemente, a cláusula
A aplicação retroativa da Lei é inconstitucional,
constitucional do ato jurídico perfeito, do direito
salvo se dela não resultar violação a direito adquirido e da coisa julgada.
adquirido, a ato jurídico perfeito ou a coisa O art. 21 da Lei n. 9.069/95 determinou a aplicação
julgada (art. 5º, XXXVI, da CF/88). imediata de suas regras de conversão aos contratos
Assim, é possível a incidência retroativa de uma em curso. Não houve aplicação retroativa,
lei nova que, por exemplo, melhore a situação do considerando que as parcelas já pagas não foram
seu destinatário. alteradas, somente as que venceram a partir de sua
vigência.

Impeachment – Denúncia – Controle Prévio – Interpretação Regimental – Mandado de Segurança –


Incognoscibilidade
MS 33558/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. DENÚNCIA CONTRA A PRESIDENTE DA REPÚBLICA. PRINCÍPIO DA
LIVRE DENUNCIABILIDADE POPULAR (Lei nº 1.079/50, art. 14). IMPUTAÇÃO DE CRIME DE
RESPONSABILIDADE À CHEFE DO PODER EXECUTIVO DA UNIÃO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO POR
PARTE DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. RECURSO DO CIDADÃO DENUNCIANTE AO
PLENÁRIO DESSA CASA LEGISLATIVA. DELIBERAÇÃO QUE DEIXA DE ADMITIR REFERIDA MANIFESTAÇÃO
RECURSAL. IMPUGNAÇÃO MANDAMENTAL A ESSE ATO EMANADO DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS. RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE, DA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PARA O PROCESSO E O JULGAMENTO DA CAUSA MANDAMENTAL. PRECEDENTES.
A QUESTÃO DO “JUDICIAL REVIEW” E O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. ATOS “INTERNA
CORPORIS” E DISCUSSÕES DE NATUREZA REGIMENTAL: APRECIAÇÃO VEDADA AO PODER
JUDICIÁRIO, POR TRATAR-SE DE TEMA QUE DEVE SER RESOLVIDO NA ESFERA DE ATUAÇÃO DO
PRÓPRIO CONGRESSO NACIONAL OU DAS CASAS LEGISLATIVAS QUE O COMPÕEM. PRECEDENTES.
MANDADO DE SEGURANÇA NÃO CONHECIDO.

PUBLICIDADE DE BEBIDAS ALCÓOLICAS

O LEGISLADOR, AO EDITAR A LEI 9.294/96, ATENDEU A REGRA DO ART. 220, § 4º, DA CF/88
O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as propagandas de bebidas
alcoólicas com teor alcoólico superior a 13 GL (art. 1º, parágrafo único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por omissão afirmando
que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando que deveria impor restrições à
propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do seu teor de álcool.
O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder Judiciário crie norma
geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é bebida alcoólica para fins de propaganda.
Além disso, o STF considerou que não existe a alegada omissão. O legislador federal aprovou a Lei 9.294/96,
que foi objeto de amplo debate no Congresso Nacional. Foi feita uma escolha política de só serem impostas
restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com grau superior a 13 GL, não podendo o STF rever essa
decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca), considerando que são
diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente diversos. A primeira lei cuida de restrições à
propaganda e liberdade de expressão. Nela não se está julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que
limite pode ir a sua publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que
dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

DIREITO DE JORNAL TER ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE O USO DA VERBA INDENIZATÓRIA POR SENADORES
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem como os
Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos Parlamentares.
O STF DETERMINOU QUE O SENADO FORNEÇA CÓPIA DOS DOCUMENTOS SOLICITADOS.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e EXCLUSIVAMENTE relacionadas ao

exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem NATUREZA PÚBLICA, tanto pelo
fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto pela FINALIDADE A QUE SE
DESTINAM, ESTANDO VINCULADAS AO EXERCÍCIO DA REPRESENTAÇÃO POPULAR (mandato).
Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações NÃO ACARRETA QUALQUER RISCO À
SEGURANÇA NEM VIOLA A PRIVACIDADE OU INTIMIDADE DOS PARLAMENTARES.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/3/2015 (Info 776).

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Importante!!! PARA QUE SEJA PUBLICADA UMA BIOGRAFIA NÃO É NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DO INDIVÍDUO
BIOGRAFADO, DAS DEMAIS PESSOAS RETRATADAS, NEM DE SEUS FAMILIARES. ESSA AUTORIZAÇÃO PRÉVIA SERIA UMA FORMA DE
CENSURA, NÃO SENDO COMPATÍVEL COM A LIBERDADE DE EXPRESSÃO CONSAGRADA PELA CF/88.
As exatas palavras do STF foram as seguintes: “É inexigível o consentimento de pessoa biografada
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de
pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”. Caso o
biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram violados pela
publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio de indenização pecuniária,
como também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito
de resposta etc. STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).

- As biografias não-autorizadas eram permitidas no Brasil? NÃO. Segundo a posição tradicional, as


biografias não-autorizadas seriam proibidas pelos arts. 20 e 21 do Código Civil por representarem uma forma
de violação à imagem e à privacidade do biografado.
- ADI 4815: Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ação direta de
inconstitucionalidade no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do
Código Civil. O pedido principal da autora foi para que O STF DESSE INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO E
DECLARASSE QUE NÃO É NECESSÁRIO O CONSENTIMENTO DA PESSOA BIOGRAFADA PARA A PUBLICAÇÃO OU VEICULAÇÃO DE
OBRAS BIOGRÁFICAS, LITERÁRIAS OU AUDIOVISUAIS.
- Argumentos utilizados pelo STF:
a) a Constituição assegura como direitos fundamentais a liberdade de pensamento e de sua expressão, a
liberdade de atividade intelectual, artística, literária, científica e cultural;
b) a Constituição garante o direito de acesso à informação e de pesquisa acadêmica, para o que a biografia
seria fonte fecunda;
c) a Constituição proíbe a censura de qualquer natureza, não se podendo concebê-la de forma subliminar pelo
Estado ou por particular sobre o direito de outrem;
d) a Constituição garante a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem da pessoa; e
e) a legislação infraconstitucional não poderia amesquinhar ou restringir direitos fundamentais
constitucionais, ainda que sob pretexto de estabelecer formas de proteção, impondo condições ao exercício
de liberdades de forma diversa da constitucionalmente fixada.
- Direitos do biografado: Os Ministros fizeram, no entanto, a ressalva de que os direitos do biografado não
ficarão desprotegidos. A biografia poderá ser lançada mesmo sem autorização do biografado, mas se ficar
constatado que houve abuso da liberdade de expressão e violação à honra do indivíduo retratado, este
poderá pedir:
• a REPARAÇÃO DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS QUE SOFREU;
• a RETIFICAÇÃO DAS INFORMAÇÕES VEICULADAS;
• o DIREITO DE RESPOSTA;
• e ATÉ MESMO, EM ÚLTIMO CASO, A RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO AUTOR DA OBRA.

Quando o art. 20 fala em “imagem”, ele não está apenas se referindo à imagem fisionômica do indivíduo (seu
retrato). A palavra “imagem” ali empregada tem três acepções:

• Imagem-retrato: são as características fisionômicas da pessoa, ou seja, o seu desenho, sua pintura, sua
fotografia. A imagem-retrato é captada pelos olhos.
• Imagem-atributo: são as características imateriais (morais) por meio das quais os outros enxergam
aquela pessoa. É a personalidade, o caráter, o comportamento da pessoa segundo a visão de quem a
conhece. A imagem-atributo é captada pelo coração.
• Imagem-voz: são as características do timbre de voz da pessoa. É a identificação da pessoa pela voz. O
exemplo típico é o dos locutores de TV, como Gil Gomes e Lombardi. A imagem-voz é captada pelo
ouvido.

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Imposição de obras emergenciais em estabelecimento prisional

É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de
medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e
moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o argumento da
reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015 (Info 794).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O presídio estadual localizado no Município de Uruguaiana (RS) encontrava-se em situação precária, com as
suas instalações em péssimas condições.
Diante disso, o Promotor de Justiça ingressou com ação civil pública contra o Estado do Rio Grande do Sul
pedindo que fosse realizada uma reforma geral no referido estabelecimento prisional.
A Fazenda Pública, por intermédio da Procuradoria Geral do Estado, apresentou contestação afirmando que o
pedido formulado pelo Ministério Público não poderia ser atendido porque violaria:
• o princípio da separação dos poderes: já que o Poder Judiciário não pode intervir nas
decisões administrativas do Poder Executivo;
• o princípio da reserva do possível: considerando que os recursos são limitados e as necessidades
ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a todas as demandas
sociais.
A questão chegou até o STF. O que foi decidido? O Poder Judiciário pode determinar que o Poder Executivo
realize a reforma de presídio que se encontra em péssimas condições?
SIM. É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção
de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral,
nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF/88, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do
possível nem o princípio da separação dos poderes.

Dignidade da pessoa humana


A pena deve ter caráter de ressocialização e esse objetivo não é atingido se o condenado está submetido a
condições sub-humanas.
É possível constatar que o sistema carcerário brasileiro encontra-se em quadro de total falência, sendo cada dia
mais frequentes as notícias envolvendo sevícias (maus-tratos), torturas, execuções sumárias, revoltas,
superlotação, condições precárias de higiene, entre outros problemas crônicos.
Esse evidente caos institucional compromete a efetividade do sistema prisional como instrumento de
reabilitação social.
Diante disso, percebe-se um desrespeito total ao postulado da dignidade da pessoa humana e um processo de
“coisificação” dos presos.
Dessa forma, cabe ao Judiciário intervir para que as garantias constitucionais dos presos sejam asseguradas. No
caso, os direitos fundamentais em discussão não são normas meramente programáticas, devendo ser
imediatamente implementadas.
A situação atual dos presídios brasileiros viola não apenas normas constitucionais e infraconstitucionais internas
como também normas internacionais que o Brasil se comprometeu a respeitar, como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, entre outros.
Deve-se destacar, ainda, que, em consequência da reiterada violação aos direitos humanos dos presos no Brasil,
já foram ajuizados contra o País diversos processos perante a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos. Dentre eles, o de maior repercussão é aquele que envolve a denúncia de mortes e maus-tratos de
detentos no Presídio José Mário Alves da Silva, conhecido como “Urso Branco”, situado em Porto Velho/RO.

Separação dos poderes


Não há que se falar em violação à separação dos poderes porque não se está determinando a implementação de
políticas públicas na seara carcerária. O que se está fazendo é garantir direitos fundamentais dos presos, o que
não poderia ser negado pelo Poder Judiciário diante do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV,
da CF/88).
Ressalte-se que o Poder Judiciário não poderá intervir em todas as situações em que direitos fundamentais
sejam ameaçados. O juiz só poder intervir nas situações em que fique demonstrado um “não fazer” comissivo ou
omissivo por parte das autoridades estatais que coloque em risco, de maneira grave e iminente, os direitos dos
jurisdicionados.
O magistrado não deve substituir o gestor público, mas pode compeli-lo (obrigá-lo) a cumprir o programa
constitucional vinculante, especialmente quando se trata de preservar a dignidade da pessoa humana.
A judicialização não substitui a política, mas há exceções, como no caso, em que se trata de proteger os direitos
de uma minoria sem direitos políticos, sem capacidade de vocalizar as próprias pretensões.

Reserva do possível
A cláusula da reserva do possível somente seria oponível se ficasse demonstrado objetivamente, pelo Poder
Público, um justo motivo para não realizar o mandamento constitucional.
Ademais, não cabe falar em falta de recursos, tendo em vista que o Fundo Penitenciário Nacional dispõe de
verbas da ordem de R$ 2,3 bilhões, e para usá-los basta que os entes federados apresentem projetos e firmem
convênios para realizar obras. Desse modo, o que falta é vontade para a implementação das políticas e para
enfrentar o problema.

Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional

Importante!!!

O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando verifica-se a existência de um quadro de violação


generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente
das autoridades públicas em modificar a conjuntura, de modo que apenas transformações estruturais da
atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem modificar a situação
inconstitucional.
O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional", com uma
violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos
presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira "falha
estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação.
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o
problema e monitorar os resultados alcançados.
Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando que:
• juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo máximo de 90 dias, a audiência de custódia;
• a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para
utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.
Na ADPF havia outros pedidos, mas estes foram indeferidos, pelo menos na análise da medida cautelar.
STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798).

Em que consiste o chamado "Estado de Coisas Inconstitucional"?


O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando....
• verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais,
• causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura;
• de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma
pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional.

Obs: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado de Coisas
Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carlos- campos-
estado-coisas-inconstitucional-litigio-estrutural), artigo cuja leitura se recomenda.

Exemplo: NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO EXISTE UM VERDADEIRO "ESTADO DE COISAS


INCONSTITUCIONAL".
Origem
A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte do país pode atuar para
corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da Colômbia, em 1997, com a chamada "Sentencia
de Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão.
Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela Corte. Existe também
notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru.

Pressupostos:
Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF 347, para reconhecer o estado
de coisas inconstitucional, exige-se que estejam presentes as seguintes condições:
• vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de pessoas;
• prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos
direitos;
• a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma pluralidade de
órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de recursos públicos,
correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas, dentre outras medidas; e
• potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus direitos violados
acorrerem individualmente ao Poder Judiciário.

O que a Corte Constitucional do país faz após constatar a existência de um ECI?


O ECI GERA UM “LITÍGIO ESTRUTURAL”, ou seja, existe um número amplo de pessoas que são atingidas
pelas violações de direitos. Diante disso, para enfrentar litígio dessa espécie, A CORTE TERÁ QUE FIXAR
“REMÉDIOS ESTRUTURAIS” VOLTADOS À FORMULAÇÃO E EXECUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, o que não seria
possível por meio de decisões mais tradicionais.

A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural diante da omissão dos Poderes Executivo
e Legislativo, que não tomam medidas concretas para resolver o problema, normalmente por falta de vontade
política.

Situações excepcionais
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está expressamente prevista na
Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e, considerando que "confere ao Tribunal uma ampla
latitude de poderes, TEM-SE ENTENDIDO QUE A TÉCNICA SÓ DEVE SER MANEJADA EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS, em que,
além da séria e generalizada afronta aos direitos humanos, haja também a constatação de que a intervenção da
Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro enfrentado. São casos em que se identifica um “bloqueio
institucional” para a garantia dos direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do
princípio da separação de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla sobre o campo das políticas
públicas." (trecho da petição inicial da ADPF 347).

ADPF e sistema penitenciário brasileiro


Em maio de 2015, o Partido Socialista e Liberdade (PSOL) ajuizou ADPF pedindo que o STF declare que a situação
atual do sistema penitenciário brasileiro viola preceitos fundamentais da Constituição Federal e, em especial,
direitos fundamentais dos presos. Em razão disso, requer que a Corte determine à União e aos Estados que
tomem uma série de providências com o objetivo de sanar as lesões aos direitos dos presos.
Na petição inicial, que foi subscrita pelo grande constitucionalista Daniel Sarmento, defende-se que o sistema
penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional".
São apontados os pressupostos que caracterizam esse ECI:
• violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais;
• inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura;
• situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma pluralidade de autoridades para
resolver o problema.
A ação foi proposta contra a União e todos os Estados-membros.

Medidas requeridas na ação


Na ação, pede-se que o STF reconheça a existência do "Estado de Coisas Inconstitucional" e que ele expeça as
seguintes ordens para tentar resolver a situação:

O STF deveria obrigar que os juízes e tribunais do país:


• quando forem decretar ou manter prisões provisórias, fundamentem essa decisão dizendo
expressamente o motivo pelo qual estão aplicando a prisão e não uma das medidas cautelares
alternativas previstas no art. 319 do CPP;
• implementem, no prazo máximo de 90 dias, as audiências de custódia (sobre as audiências de custódia,
leia o Info 795 STF);
• quando forem impor cautelares penais, aplicar pena ou decidir algo na execução penal, levem em
consideração, de forma expressa e fundamentada, o quadro dramático do sistema penitenciário
brasileiro;
• estabeleçam, quando possível, penas alternativas à prisão;
• abrandar os requisitos temporais necessários para que o preso goze de benefícios e direitos, como a
progressão de regime, o livramento condicional e a suspensão condicional da pena, quando ficar
demonstrado que as condições de cumprimento da pena estão, na prática, mais severas do que as
previstas na lei em virtude do quadro do sistema carcerário; e
• abatam o tempo de prisão, se constatado que as condições de efetivo cumprimento são, na prática,
mais severas do que as previstas na lei. Isso seria uma forma de "compensar" o fato de o Poder Público
estar cometendo um ilícito estatal.
O STF deveria obrigar que o CNJ:
• coordene um mutirão carcerário a fim de revisar todos os processos de execução penal em curso no País
que envolvam a aplicação de pena privativa de liberdade, visando a adequá-los às medidas pleiteadas
nas alíneas “e” e “f” acima expostas.
O STF deveria obrigar que a União:
• libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN)
para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.
O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já apreciou o pedido de liminar. O que a Corte
decidiu?
O STF DECIDIU CONCEDER, PARCIALMENTE, A MEDIDA LIMINAR E DEFERIU APENAS OS PEDIDOS "B" (AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA) E "H" (LIBERAÇÃO DAS VERBAS DO FUNPEN).
O Plenário reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação generalizada de direitos
fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas.
Diante disso, o STF declarou que diversos dispositivos constitucionais, documentos internacionais (o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Penas Cruéis,
Desumanos e Degradantes e a Convenção Americana de Direitos Humanos) e normas infraconstitucionais estão
sendo desrespeitadas.
Os cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos, fomentam o aumento da
criminalidade, pois transformam pequenos delinquentes em “monstros do crime”. A prova da ineficiência do
sistema como política de segurança pública está nas altas taxas de reincidência. E o reincidente passa a cometer
crimes ainda mais graves.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira "falha
estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação.
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o
problema e monitorar os resultados alcançados.
A intervenção judicial é necessária diante da incapacidade demonstrada pelas instituições legislativas e
administrativas.
No entanto, o Plenário entendeu que o STF não pode substituir o papel do Legislativo e do Executivo na
consecução de suas tarefas próprias. Em outras palavras, o Judiciário deverá superar bloqueios políticos e
institucionais sem afastar, porém, esses poderes dos processos de formulação e implementação das soluções
necessárias. Nesse sentido, não lhe incumbe definir o conteúdo próprio dessas políticas, os detalhes dos meios a
serem empregados. Com base nessas considerações, foram indeferidos os pedidos "e" e "f".
Quanto aos pedidos “a”, “c” e “d”, o STF entendeu que seria desnecessário ordenar aos juízes e Tribunais que
fizessem isso porque já são deveres impostos a todos os magistrados pela CF/88 e pelas leis. Logo, não havia
sentido em o STF declará-los obrigatórios, o que seria apenas um reforço.

CNMP

1. CNMP NÃO POSSUI COMPETÊNCIA PARA REALIZAR CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEI

O CNMP NÃO POSSUI COMPETÊNCIA PARA REALIZAR CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEI,


considerando que se trata de ÓRGÃO DE NATUREZA ADMINISTRATIVA, cuja atribuição se resume a fazer o CONTROLE
DA LEGITIMIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PRATICADOS POR MEMBROS OU ÓRGÃOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
E ESTADUAL (art. 130-A, § 2º, da CF/88). Assim, se o CNMP, julgando procedimento de controle administrativo,
declara a inconstitucionalidade de artigo de Lei estadual, ELE EXORBITA DE SUAS FUNÇÕES.
STF. 1ª Turma. MS 27744/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/4/2015 (Info 781).
Obs: Logo, o direito ou não do Promotor de Justiça de permanecer na comarca não poderia ter sido analisado
pelo CNMP sob o prisma da constitucionalidade ou não da lei local que previu a regra.

2. STF NÃO TÊM COMPETÊNCIA PARA AÇÕES DECORRENTES DE DECISÕES NEGATIVAS DO CNMP E DO CNJ

A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF (art. 102, I, “r”,
da CF/88). Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos RECUSAM-SE A TOMAR ALGUMA
PROVIDÊNCIA NO CASO CONCRETO PORQUE ALEGAM QUE NÃO TEM COMPETÊNCIA PARA AQUELA SITUAÇÃO OU QUE NÃO É
HIPÓTESE DE INTERVENÇÃO. Nessas hipóteses, DIZEMOS QUE A DECISÃO DO CNJ OU CNMP FOI “NEGATIVA” porque
ela nada determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida. Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar

MS contra o CNJ/CNMP no STF? NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações
decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do
CNJ/CNMP foi “negativo”, ele NÃO DECIDIU NADA. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. SE NÃO
PRATICOU NENHUM ATO, NÃO EXISTE ATO DO CNJ/CNMP A SER ATACADO NO STF. STF. 1ª
Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
5/5/2015 (Info 784).
A) NESTE CASO, O QUE A PARTE DEVERÁ FAZER?
A parte terá que impugnar na Justiça o ato originário que gerou seu pedido no CNJ/CNMP. Ex: a parte ingressou
com pedido de providência no CNMP contra ato administrativo praticado pelo Procurador-Geral de Justiça. O
CNMP entendeu que não cabia sua intervenção no caso, julgando improcedente o pedido. O CNMP proferiu,
portanto, uma decisão “negativa”. Contra este pronunciamento do CNMP não cabe MS. SOMENTE RESTARÁ
À PARTE PROPOR UM MS CONTRA O ATO DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA, AÇÃO
ESTA QUE SERÁ DE COMPETÊNCIA DO TJ.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Sindicância e delegação de competência

A competência constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária).


É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal, para a condução de
sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o investigado seja magistrado federal. A
autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo irrelevante, portanto, se é Juiz Estadual ou Federal.
STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

IMPOSSIBILIDADE DE REABERTURA DA DISCUSSÃO SOBRE A MODULAÇÃO SE O PLENÁRIO JÁ DISCUTIU E REJEITOU A


PROPOSTA, PROCLAMANDO O RESULTADO

O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que ocorreu o julgamento, havia
apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria haver ou não a modulação dos efeitos da
decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação
foi rejeitada e o resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava ausente
compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão que declarou a lei
inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e encerrado e, por
isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
 primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não;
 e em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação dos efeitos.
UMA VEZ ENCERRADO O JULGAMENTO E PROCLAMADO O RESULTADO, INCLUSIVE COM A VOTAÇÃO SOBRE A MODULAÇÃO (QUE NÃO
FOI ALCANÇADA), NÃO HÁ COMO REABRIR O CASO, FICANDO PRECLUSA A POSSIBILIDADE DE REABERTURA PARA DELIBERAÇÃO
SOBRE A MODULAÇÃO DOS EFEITOS.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 8/4/2015 (Info 780).

ADI PROPOSTA CONTRA A EC 88/2015 “PEC DA BENGALA”

No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como “PEC da Bengala” em
virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que foi decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão se aposentar
compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições do art. 52 da Constituição Federal”. O
que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos somente possa
continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública (“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em outras
palavras, o Ministro, quando completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu
nome precisaria ser novamente aprovado pelo Senado.

A. Essa exigência é compatível com a CF/88?

NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL. O STF suspendeu a aplicação da expressão “nas


condições do artigo 52 da Constituição Federal”, contida no final do art. 100 do ADCT.
Essa exigência de nova sabatina acaba “por vulnerar as condições materiais necessárias ao exercício imparcial e
independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de Poderes, cláusula pétrea inscrita no artigo 60,
parágrafo 4º, inciso III, da Constituição Federal”. Em simples palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio
da separação dos Poderes.
Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU possuem o direito de se
aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso, não precisam passar por uma nova sabatina e
aprovação do Senado Federal.
B. É possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos 75 anos para juízes e Desembargadores?

O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 NÃO pode ser estendido a outros agentes públicos até que
seja editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso II, da CF/88.

C. Essa LC nacional ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos
pode ser apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República ou por algum parlamentar?

NÃO. TODAS AS LEIS QUE TRAZEM REGRAS GERAIS SOBRE A MAGISTRATURA NACIONAL DEVEM SER INICIADAS PELO STF,
nos termos do art. 93 da CF/88.

O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos Desembargadores que
queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos?
O STF declarou que FICA SEM PRODUZIR EFEITOS TODO E QUALQUER PRONUNCIAMENTO JUDICIAL E ADMINISTRATIVO QUE TENHA
INTERPRETADO QUE A EC 88/2015 PERMITIRIA, MESMO SEM LC, AMPLIAR PARA 75 ANOS A IDADE DA APOSENTADORIA
COMPULSÓRIA PARA OUTROS AGENTES PÚBLICOS que não sejam Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU.
Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode estender o limite de 75
anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos.
 Fundamento: Não existe, entretanto, qualquer fundamento constitucional que estabeleça um dever
de todos os magistrados receberem o mesmo tratamento legislativo reservado aos Ministros dos
Tribunais Superiores. Não há direito subjetivo de um juiz de ver para si aplicadas todas as regras
válidas para os Ministros do STF. A Constituição em nenhum momento permite extrair essa
conclusão. Ao contrário, o texto da CF/88, em diversas oportunidades, tratou de forma diferente os
membros dos Tribunais Superiores dos demais magistrados. Basta ver a forma de ingresso e os
requisitos para o cargo, que são completamente distintos dos demais juízes.
O legislador constituinte reformador foi muito claro ao elencar os cargos que teriam aposentadoria
compulsória estendida para 75 anos independentemente de lei complementar, não havendo nesta
escolha qualquer violação ao princípio da isonomia.
D. Essa LC ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos pode
ser uma LC estadual?
NÃO. Lei complementar estadual não poderá tratar do tema. É necessário que seja uma Lei complementar
nacional, ou seja, aprovada pelo Congresso Nacional.
Desse modo, será inconstitucional qualquer tentativa dos Tribunais de Justiça ou das Assembleias
Legislativas de ampliar a aposentadoria dos juízes e Desembargadores para 75 anos antes que seja editada a
LC nacional.

E. O que acontece se o Desembargador que concedeu a liminar mantiver-se recalcitrante e não tornar
sem efeito sua decisão? E se forem concedidas novas medidas liminares em outros processos?
Neste caso, a referida decisão poderá ser atacada por meio de reclamação proposta diretamente no STF,
que irá cassá-la.

F. Os mandados de segurança impetrados deverão ser extintos?


NÃO imediatamente. Apesar de ser praticamente impossível que o Supremo mude o entendimento que já
manifestou, como a decisão foi ainda apenas cautelar, o STF determinou que todos os processos que
envolvam a aplicação da nova idade para aposentadoria compulsória a magistrados deverão ficar
suspensos, até o julgamento definitivo da ADI.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

CUMULAÇÃO DE ADI COM ADC


O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a inconstitucionalidade
do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado constitucional? É possível, em uma
mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC?

SIM. O STF entendeu QUE É POSSÍVEL A CUMULAÇÃO DE PEDIDOS TÍPICOS DE ADI E ADC EM UMA ÚNICA DEMANDA
DE CONTROLE CONCENTRADO.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que
destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese, da
harmonia do sistema constitucional.
A CUMULAÇÃO OBJETIVA PERMITE O ENFRENTAMENTO JUDICIAL COERENTE, CÉLERE E EFICIENTE DE QUESTÕES MINIMAMENTE
RELACIONADAS ENTRE SI.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na Lei 9.868/1999,
traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente a demanda, com pedido e
fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
EXEMPLO CONCRETO:
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou a ADI 5316 contra a EC 88/2015 formulando dois pedidos
principais:
 A declaração de inconstitucionalidade da expressão “nas condições do art. 52 da Constituição Federal”
contida no art. 100 do ADCT, introduzido pela EC 88/2015 (pedido típico de ADI); e
 A declaração de constitucionalidade da exigência de lei complementar para que a aposentadoria
compulsória aos 75 anos fosse estendida para juízes e Desembargadores, nos termos do inciso II do § 1º
do art. 40 da CF/88 e do art. 100 do ADCT, com redação dada pela EC 88/2015 (pedido típico de ADC).

CONTROVÉRSIA JUDICIAL RELEVANTE

A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da petição inicial. Um
desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia judicial relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a constitucionalidade
daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais decidindo que aquela lei é inconstitucional. SE
NÃO EXISTIREM DECISÕES CONTRÁRIAS À LEI, NÃO HÁ RAZÃO PARA SE PROPOR A ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o requisito da
“controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato normativo? SIM
. Mesmo a lei ou ato
normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o requisito da controvérsia judicial
relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF DECIDIU QUE O REQUISITO RELATIVO À EXISTÊNCIA DE CONTROVÉRSIA JUDICIAL
RELEVANTE É QUALITATIVO E NÃO QUANTITATIVO. Em outras palavras, para verificar se existe a
controvérsia não se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões
em sentido contrário à lei. MESMO HAVENDO AINDA POUCAS DECISÕES JULGANDO INCONSTITUCIONAL A LEI JÁ PODE SER
POSSÍVEL O AJUIZAMENTO DA ADC SE O ATO NORMATIVO IMPUGNADO FOR UMA EMENDA CONSTITUCIONAL (EXPRESSÃO MAIS
ELEVADA DA VONTADE DO PARLAMENTO BRASILEIRO) OU MESMO EM SE TRATANDO DE LEI SE A MATÉRIA NELA VERSADA FOR
RELEVANTE E HOUVER RISCO DE DECISÕES CONTRÁRIAS À SUA CONSTITUCIONALIDADE SE MULTIPLICAREM.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

CABIMENTO DE NOVA ADI POR INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL CONTRA ATO NORMATIVO JÁ RECONHECIDO
FORMALMENTE CONSTITUCIONAL PELO STF

A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria formalmente
inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei constitucional. Quatro anos mais tarde,
outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”, mas desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei materialmente
inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X” (nem disse que ela era
constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a inconstitucionalidade material
da lei e nada impede que o STF decida declará-la inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que ele reconheça
posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO RESCISÓRIA

A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo não produz
a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros processos anteriores que tenham adotado
entendimento diferente do que posteriormente decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V do CPC 2015),
observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC 1973 / art. 975 do CPC 2015).
SEGUNDO AFIRMOU O STF, NÃO SE PODE CONFUNDIR A EFICÁCIA NORMATIVA DE UMA SENTENÇA QUE DECLARA A
INCONSTITUCIONALIDADE (QUE RETIRA DO PLANO JURÍDICO A NORMA COM EFEITO “EX TUNC”) COM A EFICÁCIA EXECUTIVA,
OU SEJA, O EFEITO VINCULANTE DESSA DECISÃO.
STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (repercussão geral) (Info 787).
Observação:
Eficácia normativa
Quando o STF, no controle concentrado de constitucionalidade (ADI ou ADC), decide que determinada lei é
constitucional ou inconstitucional, ele gera a consequência que se pode denominar de eficácia normativa, que
significa manter ou excluir (declarar nula) a referida norma do ordenamento jurídico.

Eficácia executiva ou instrumental


Além da eficácia normativa, a sentença de mérito na ADI ou ADC provoca também um efeito vinculante,
consistente em atribuir ao julgado uma força impositiva e obrigatória em relação aos atos administrativos ou
judiciais supervenientes. Em outras palavras, os atos administrativos e judiciais que forem praticados depois
do julgado do STF deverão respeitar aquilo que foi decidido. A isso o Min. Teori Zavascki chama de eficácia
executiva ou instrumental (eficácia vinculante).
Em caso de descumprimento dessa eficácia executiva ou instrumental, a parte prejudicada poderá ajuizar no
STF uma reclamação (art. 102, I, “l” da CF/88).

Eficácia normativa = efeitos ex tunc


A eficácia normativa (declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade) opera de forma “ex tunc”
(retroativa).

Eficácia executiva = efeitos ex nunc


A eficácia executiva (efeito vinculante) produz efeitos “ex nunc”. Assim, o termo inicial da eficácia
executiva é o dia de publicação do acórdão do STF no Diário Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999).
O efeito vinculante NÃO NASCE DA INCONSTITUCIONALIDADE, mas DO JULGADO QUE ASSIM A DECLARA. Em
outras palavras, o dever de todos respeitarem aquilo que foi decidido só surge depois da decisão.
O EFEITO VINCULANTE NÃO ATINGE OS ATOS PASSADOS, SOBRETUDO A COISA JULGADA.
Os atos passados, mesmo quando decididos com base em norma posteriormente declara inconstitucional, não
estão submetidos ao efeito vinculante da sentença, nem podem ser atacados por simples via de
reclamação. Somente poderão ser desfeitos ou rescindidos, se for o caso, em processo próprio.

SUPERAÇÃO LEGISLATIVA DA JURISPRUDÊNCIA (REAÇÃO LEGISLATIVA)

As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia
contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da CF/88).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não proíbe que o Poder
Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma
vedação prévia a tais atos normativos. O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a
jurisprudência. Trata-se de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão
jurisprudencial.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a
invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§, da
CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo
STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma
cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.
No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a
jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador
o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. Assim, para ser
considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais
se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese
de mutação constitucional pela via legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).

Eficácia subjetiva das decisões proferidas em ADI: quem são as pessoas


atingidas?
As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia
contra todos (erga omnes) e efeito vinculante. Isso está previsto no § 2º do art. 102 da CF/88:
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Obs: no caso da ADPF, esse efeito está descrito no art. 10, § 3º da Lei nº 9.882/99.

O que acontece se as pessoas e órgãos que estão vinculados à decisão do STF desrespeitarem aquilo
que foi decidido?
Neste caso, o interessado poderá questionar esse ato diretamente no STF por meio de reclamação (art.
102, I, "l", da CF/88). Se o ato estiver realmente violando o que foi decidido, ele será cassado.

A decisão proferida na ADI, ADC e ADPF vincula o próprio STF? E o Poder Legislativo?
Veja abaixo um quadro-resumo sobre o tema:

EFICÁCIA SUBJETIVA DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO STF EM ADI, ADC E ADPF
Ficam vinculados.
Particulares
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os órgãos e entidades do Poder Executivo ficam vinculados.
Executivo
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os demais juízes e Tribunais ficam vinculados.
Judiciário
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
A decisão vincula os julgamentos futuros a serem efetuados monocraticamente pelos
Ministros ou pelas Turmas do STF.
Essa decisão não vincula, contudo, o Plenário do STF. Assim, se o STF decidiu, em controle
abstrato, que determinada lei é constitucional, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu
entendimento e decidir que esta mesma lei é inconstitucional por conta de mudanças no
STF
cenário jurídico, político, econômico ou social do país. Isso se justifica a fim de evitar a
"fossilização da Constituição".
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode
ser decidida, inclusive, durante o julgamento de uma reclamação constitucional. Nesse
sentido: STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado.
Isso também tem como finalidade evitar a "fossilização da Constituição".
Assim, o legislador, em tese, pode editar nova lei com o mesmo conteúdo daquilo que foi
declarado inconstitucional pelo STF.
Se o legislador fizer isso, não é possível que o interessado proponha uma reclamação ao
Legislativo
STF pedindo que essa lei seja automaticamente julgada também inconstitucional (Rcl
13019 AgR, julgado em 19/02/2014).
Será necessária a propositura de uma nova ADI para que o STF examine essa nova lei e a
declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até mesmo mudar de opinião no
julgamento dessa segunda ação.

CASO CONCRETO JULGADO PELO STF


Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação
concreta:
Em junho de 2012, o Plenário do STF, ao julgar as ADIs 4430 e 4795, declarou inconstitucionais
determinados dispositivos da Lei nº 9.504/97 (chamada de Lei das Eleições).
Em outubro de 2013, o Congresso Nacional editou a Lei nº 12.875/2013, que alterou novamente a Lei nº
9.504/97 prevendo algumas regras semelhantes àquelas que já haviam sido declaradas inconstitucionais
pelo STF no julgamento das ADIs 4430 e 4795.
Dessa forma, a Lei nº 12.875/2013 foi uma reação legislativa à decisão do STF, uma forma de o Congresso
Nacional superar a interpretação legislativa dada pela Corte ao tema.
Foi proposta ADI contra a Lei nº 12.875/2013. Vamos verificar o que foi decidido, mas antes é importante
fazer um resumo das considerações iniciais expostas no brilhante voto do Min. Luiz Fux, relator da ação.

Em tese, o Congresso Nacional pode editar uma lei em sentido contrário ao que foi decidido pelo STF
no julgamento de uma ADI/ADC?
SIM. Conforme vimos acima, o Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado aos
efeitos da decisão do STF.
O STF possui, segundo a CF/88, a missão de dar a última palavra em termos de interpretação da Constituição.
Isso não significa, contudo, que o legislador não tenha também a capacidade de interpretação do Texto
Constitucional. O Poder Legislativo também é considerado um intérprete autêntico da Constituição e
justamente por isso ele pode editar uma lei ou EC tentando superar o entendimento anterior ou provocar
um novo pronunciamento do STF a respeito de determinado tema, mesmo que a Corte já tenha decidido o
assunto em sede de controle concentrado de constitucionalidade. A isso se dá o nome de "reação legislativa"
ou"superação legislativa da jurisprudência"
A reação legislativa é uma forma de "ativismo congressual" com o objetivo de o Congresso Nacional
reverter situações de autoritarismo judicial ou de comportamento antidialógico por parte do STF, estando,
portanto, amparado no princípio da separação de poderes.

Mas se houver uma "reação legislativa", com toda a certeza o STF irá julgar novamente a nova
lei inconstitucional, não é verdade?
NÃO. Em tese, ou seja, na teoria, isso não é verdade. É possível que o STF repense seu entendimento
anterior e evolua para uma nova interpretação, chegando a conclusão diferente daquilo que havia decidido e,
assim, concorde com a nova lei editada com o mesmo conteúdo da anterior.
Veja o que dizem Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto, citados pelo Min. Luiz Fux em seu voto: “(...)
não é salutar atribuir a um único órgão qualquer a prerrogativa de dar a última palavra sobre o sentido
da Constituição. (...). É preferível adotar-se um modelo que não atribua a nenhuma instituição – nem do
Judiciário, nem do Legislativo – o “direito de errar por último”, abrindo-se a permanente possibilidade
de correções recíprocas no campo da hermenêutica constitucional, com base na ideia de diálogo, em lugar
da visão tradicional, que concede a última palavra nessa área ao STF.
(...)
As decisões do STF em matéria constitucional são insuscetíveis de invalidação pelas instâncias políticas.
Isso, porém, não impede que seja editada uma nova lei, com conteúdo similar àquela que foi declarada
inconstitucional. Essa posição pode ser derivada do próprio texto constitucional, que não estendeu ao
Poder Legislativo os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo STF no controle de
constitucionalidade (art. 102, § 2º, e art. 103-A, da Constituição). Se o fato ocorrer, é muito provável que a
nova lei seja também declarada inconstitucional. Mas o resultado pode ser diferente. O STF pode e deve
refletir sobre os argumentos adicionais fornecidos pelo Parlamento ou debatidos pela opinião pública para dar
suporte ao novo ato normativo, e não ignorá-los, tomando a nova medida legislativa como afronta à sua
autoridade. Nesse ínterim, além da possibilidade de alteração de posicionamento de alguns ministros, pode
haver também a mudança na composição da Corte, com reflexões no resultado do julgamento.” (SARMENTO,
Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Direito Constitucional. Teoria, história e métodos de trabalho. Belo
Horizonte: Fórum, 2012, p. 402-405)

Existem exemplos de "reação legislativa" que foram consideradas exitosas, ou seja, que foram
acolhidas pelo STF gerando uma "correção jurisprudencial"?
SIM. Um exemplo emblemático diz respeito à chamada Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010). Antes dessa Lei, o
TSE e o STF possuíam jurisprudência consolidada no sentido de que não era possível reconhecer a
inelegibilidade do candidato a não ser que houvesse contra ele uma condenação transitada em julgado. O
fundamento para esse entendimento residia no princípio da presunção de inocência.
A LC 135/2010 foi editada com o objetivo de superar esse entendimento. Segundo previu essa lei, não é
necessário que a decisão condenatória tenha transitado em julgado para que o condenado se torne
inelegível. Basta que tenha sido proferida por órgão colegiado (exs: TRE, TJ, TRF).
O STF, superando seus antigos precedentes, entendeu que a reação legislativa foi legítima e que a Lei da
Ficha Limpa é constitucional e não viola o princípio da presunção de inocência. (STF. Plenário. ADC 29/DF,
ADC 30/DF, ADI 4578/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 15 e 16/2/2012).
Esse caso, dentre outros, demonstra que, na teoria, não existe uma supremacia judicial do STF e que é possível, em
tese, a existência de um diálogo (abertura dialógica) por meio do qual o Legislativo proponha, por meio de leis,
correções à jurisprudência do Supremo, alterando a forma de a Corte interpretar a Constituição.

Mas sempre se disse que o STF possui a última palavra na interpretação da


Constituição...
É verdade. Sempre se afirmou isso. O STF, de fato, detém a última palavra no que se refere à interpretação da
Constituição, imune a qualquer controle democrático. Contudo, essa afirmação vem sendo rediscutida
(remodelada) pelos constitucionalistas.
Entende-se atualmente que a decisão do STF em matéria constitucional deve ser compreendida como
"última palavra provisória", nas palavras do Min. Luiz Fux. Isso porque depois que o STF decidir, reiniciam- se
as rodadas de debates entre as instituições e os demais atores da sociedade civil sobre o tema.

Algumas conclusões do STF sobre o tema:


a) O STF não subtrai ex ante a faculdade de correção legislativa pelo constituinte reformador ou legislador
ordinário. Em outras palavras, o STF não proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas
constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos
normativos. O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata- se
de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial.

b) No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a
invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§, da
CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada
pelo STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender
uma cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.

c) No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a
jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao
legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. A
novel legislação que frontalmente colida com a jurisprudência (leis in your face) se submete a um
controle de constitucionalidade mais rigoroso.
Para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas
sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá
verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa.
Vale ressaltar, no entanto, que excetuadas as situações de ofensa evidente ao texto constitucional, o STF deve
adotar comportamento de autorrestrição

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS PELO STF

MODELO DE FISCALIZAÇÃO EXACERBADO SOBRE TITULARES DE CARGOS PÚBLICOS DO EXECUTIVO

A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima editou emenda, de iniciativa parlamentar, à Constituição do


Estado prevendo duas regras:
1. O Governador seria obrigado a submeter à análise da ALE os nomes que ele escolheu para serem
nomeados como membros do TCE, Defensor Público-Geral, Procurador-Geral do Estado, diretores de
fundações e autarquias e Presidentes de sociedade de economia mista e empresas públicas.
2. Os titulares da Universidade Estadual, da Companhia de Águas do Estado, da Companhia Energética do
Estado e inúmeras outras autoridades deveriam comparecer anualmente à ALE para apresentar relatório
de atividades, que seria referendado ou não pelos Deputados e, caso fosse rejeitado, isso implicaria o
afastamento imediato do titular do cargo. Sob o ponto de vista formal, essa emenda é inconstitucional
porque como trata sobre regime jurídico de servidores públicos não poderia ser de iniciativa parlamentar
(art. 61, § 1º, “c”, da CF/88).

Sob o aspecto material, quanto à regra 1, o STF entendeu que a nomeação do Procurador-Geral do Estado e dos
Presidentes de sociedade de economia mista e empresas públicas não podem ser submetidas ao crivo da ALE. O
cargo de Procurador-Geral do Estado é de livre nomeação e exoneração, sendo um cargo de confiança do chefe
do Poder Executivo. As empresas públicas e sociedades de economia mista submetem-se a regras de direito
privado e não podem sofrer ingerência por parte do Legislativo.
Quanto à regra 2, esta também é materialmente inconstitucional porque institui um modelo de fiscalização
exacerbado e, desse modo, viola o princípio da separação de Poderes.
STF. Plenário. ADI 4284/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

Observação: “matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de
origem parlamentar” (STF. Plenário. ADI 2.966, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/04/2005).
Mas e sob o ponto de vista material, seria possível que as autoridades indicadas pelo Governador do Estado
fossem obrigadas a se submeter à aprovação da ALE?
 Quanto aos DIRIGENTES DE AUTARQUIAS e FUNDAÇÕES e quanto ao DEFENSOR PÚBLICO-GERAL: Se não fosse o
vício formal, SERIA POSSÍVEL QUE A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO EXIGISSE QUE TAIS NOMES FOSSEM APROVADOS
PELA ALE. Isso porque a CF/88 permite que a legislação condicione a nomeação de determinados titulares
de cargos públicos à prévia aprovação do Senado Federal, a teor do art. 52, III. Logo, em homenagem ao
princípio da simetria, essa mesma previsão do art. 52 pode ser repetida na Constituição ou mesmo na
legislação infraconstitucional estadual. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 17/9/2014 (Info 759).
 Quanto ao PROCURADOR-GERAL DO ESTADO: NÃO. Mesmo que não houvesse inconstitucionalidade formal,
haveria material. Isso porque o STF possui entendimento pacífico no sentido de que o Advogado-Geral é
cargo de confiança do Presidente da República, sendo de livre nomeação pelo Chefe do Poder Executivo,
não precisando passar por sabatina no Senado.
 Quanto aos DIRIGENTES DAS EMPRESAS PÚBLICAS e SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA: NÃO. Mesmo que não
houvesse inconstitucionalidade formal, haveria material. Isso porque tais entidades se sujeitam ao regime
das empresas privadas e, portanto, não podem sofrer nenhuma ingerência por parte do Legislativo.

CE pode prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil tenha status de lei complementar

Constituição estadual PODERÁ PREVER QUE A LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DAQUELE ESTADO TENHA STATUS DE LEI
COMPLEMENTAR.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei complementar) para tratar
sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher determinados temas
como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais qualificada por meio de lei
complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
17/6/2015 (Info 790).

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88

CE pode proibir que servidores estaduais substituam trabalhadores privados em greve

CE estadual pode prever que é proibido que os servidores estaduais substituam trabalhadores de empresas
privadas em greve.
STF. Plenário. ADI 232/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/8/2015 (Info 793).

As Constituições estaduais podem tratar sobre o funcionamento da Administração estadual desde que
cumpridos alguns requisitos:
a) as regras de reserva de iniciativa devem ser respeitadas (ex: não pode haver violação ao art. 61, § 1º da
CF/88); e
b) o parlamento local não pode retirar do Governador alguma competência legítima que ele possua.

No caso concreto, o inciso XXIII do art. 77 da CE/RJ proíbe que servidor público estadual seja designado para
substituir trabalhadores de empresas privadas em greve. Embora o preceito esteja relacionado ao
funcionamento da Administração local, ele não invade o campo de discricionariedade política que a Constituição
Federal reserva, com exclusividade, à iniciativa do Governador. Em outras palavras, ele não trata diretamente de
nenhuma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88. Além disso, essa regra não viola nenhum outro dispositivo da
CF/88. Assim, essa previsão não apresenta nenhum vício formal.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

SÚMULA VINCULANTE 46

SÚMULA VINCULANTE 46-STF: A DEFINIÇÃO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE E O ESTABELECIMENTO DAS RESPECTIVAS
NORMAS DE PROCESSO E JULGAMENTO SÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO. STF. PLENÁRIO.
APROVADA EM 09/04/2015 (INFO 780).

Por que é privativa da União?


Porque o STF entende que definir o que seja crime de responsabilidade e prever as regras de processo e
julgamento dessas infrações significa LEGISLAR SOBRE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL, matérias que são de
competência privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF.

A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES É PRIVATIVA DA UNIÃO

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.


Logo, é inconstitucional lei estadual que verse sobre este tema, como é o caso de lei estadual que dispõe
sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e
outros aspectos institucionais.
STF. Plenário. ADI 2615/SC, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/3/2015 (Info 777).

INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE A QUEIMA DA CANA

O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).
O STF JULGOU INCONSTITUCIONAL LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de
limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-
de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a proibição
imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor.
No caso, O STF ENTENDEU QUE DEVERIA PREVALECER A GARANTIA DOS EMPREGOS DOS TRABALHADORES CANAVIEIROS, QUE
MERECEM PROTEÇÃO DIANTE DO CHAMADO PROGRESSO TECNOLÓGICO E DA RESPECTIVA MECANIZAÇÃO, AMBOS TRAZIDOS PELA
PRETENSÃO DE PROIBIÇÃO IMEDIATA DA COLHEITA DA CANA MEDIANTE USO DE FOGO.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e
facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98. STF. Plenário. RE
586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).

INFORMATIVO 774, STF - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE CRIA OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS PARA AS CONCESSIONÁRIAS DE
ENERGIA ELÉTRICA.

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que determine que os postes de sustentação à rede elétrica que estejam
causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos serão removidos, sem qualquer ônus para
os interessados. Isso porque ESSA LEI TRATA SOBRE ENERGIA ELÉTRICA, MATÉRIA DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO (art.
22, IV, da CF/88), além de interferir nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as
concessionárias que exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-membro. STF. Plenário.
ADI 4925/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

INFORMATIVO 774, STF - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE PROÍBA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ESTRANGEIROS COM
AGROTÓXICOS.

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que proíba a comercialização, no referido Estado-membro, de


produtos importados que não tenham sido submetidos à análise de resíduos químicos de agrotóxicos. Isso
PORQUE ESSA LEI TRATA SOBRE COMÉRCIO EXTERIOR, MATÉRIA CUJA COMPETÊNCIA É PRIVATIVA DA UNIÃO, nos termos do art.
22, VIII, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3813/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

INFORMATIVO 775, STF - LEI ESTADUAL PODE FIXAR NÚMERO MÁXIMO DE ALUNOS POR SALA DE AULA.
A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE EDUCAÇÃO E ENSINO É CONCORRENTE (art. 24, IX, da CF/88). No âmbito da
legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas gerais (§ 1º) e os Estados
podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB). Determinado ESTADO-
MEMBRO EDITOU UMA LEI PREVENDO O NÚMERO MÁXIMO DE ALUNOS QUE PODERIAM ESTUDAR NAS SALAS DE AULA DAS
ESCOLAS, PÚBLICAS OU PARTICULARES, ALI EXISTENTES.

O STF ENTENDEU QUE ESSA LEI É CONSTITUCIONAL e que NÃO USURPA A COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR
SOBRE NORMAS GERAIS DE EDUCAÇÃO.

STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

CE PODE PREVER QUE AS PROIBIÇÕES E IMPEDIMENTOS DOS DEPUTADOS ESTADUAIS SÃO APLICÁVEIS TAMBÉM AOS
GOVERNADORES DE ESTADO

É constitucional norma da Constituição estadual que preveja que as proibições e os impedimentos estabelecidos
para os Deputados Estaduais deverão ser aplicados também para o Governador e o Vice-Governador do Estado.
STF. Plenário. ADI 253/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/5/2015 (Info 787).
Conceito Princípio da Simetria: Segundo o princípio ou regra da simetria, o legislador constituinte
estadual, ao elaborar as normas da Constituição estadual sobre os Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário e sobre as regras do pacto federativo, deverá observar, em linhas gerais, o mesmo modelo
imposto pela Constituição Federal, a fim de manter a harmonia e independência entre eles.

PROCESSO LEGISLATIVO

INICIATIVA DE LEI QUE DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS

É INCONSTITUCIONAL LEI ORGÂNICA MUNICIPAL QUE DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
(SEUS DIREITOS E DEVERES).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que COMPETE AO CHEFE DO PODER EXECUTIVO a
INICIATIVA de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico
dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por força do princípio da simetria. STF. Plenário. RE
590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).
No caso julgado pelo STF e noticiado neste Informativo 776, a Lei Orgânica de Cambuí/MG concedeu
benefícios a servidores públicos daquela municipalidade. O STF julgou a referida lei inconstitucional por
ofender o art. 61, § 1º, II, “c” da CF/88, a ensejar sua inconstitucionalidade formal.

INFORMATIVO 773, STF - INICIATIVA DE LEI QUE DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS E MILITARES

É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL, DE INICIATIVA PARLAMENTAR, que DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS
SERVIDORES PÚBLICOS E DOS MILITARES ESTADUAIS (seus direitos e deveres). O art. 61, § 1º, II, “c” e “f”, da CF/88 prevê

que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres
dos servidores públicos e sobre o regime jurídico dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito
estadual por força do PRINCÍPIO DA SIMETRIA. O FATO DE O GOVERNADOR DO ESTADO SANCIONAR ESSE PROJETO DE
LEI NÃO FAZ COM QUE O VÍCIO DE INICIATIVA SEJA SANADO (CORRIGIDO). A SÚMULA 5 DO STF HÁ MUITOS ANOS FOI
CANCELADA. STF. Plenário. ADI 3920/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/2/2015 (Info 773).

- Princípio da simetria: SEGUNDO O PRINCÍPIO OU REGRA DA SIMETRIA, O LEGISLADOR CONSTITUINTE ESTADUAL, AO ELABORAR
AS NORMAS DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL SOBRE OS PODERES EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO E SOBRE AS REGRAS DO
PACTO FEDERATIVO, DEVERÁ OBSERVAR, EM LINHAS GERAIS, O MESMO MODELO IMPOSTO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, A FIM DE
MANTER A HARMONIA E INDEPENDÊNCIA ENTRE ELES.

O princípio da SIMETRIA NÃO ESTÁ PREVISTO DE FORMA EXPRESSA NA CF/88. Foi uma CRIAÇÃO PRETORIANA, ou
seja, IDEALIZADO PELA JURISPRUDÊNCIA DO STF.
Alguns MINISTROS INVOCAM COMO FUNDAMENTO normativo para a sua existência O ART. 25 DA CF E O ART. 11 DO
ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância dos princípios da Constituição da República.

INFORMATIVO 773, STF - EMENDA PARLAMENTAR EM PROJETO DE LEI DO PODER EXECUTIVO.


A INICIATIVA DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO PODER EXECUTIVO NÃO IMPEDE A APRESENTAÇÃO DE EMENDAS
PARLAMENTARES, PRESENTE A IDENTIDADE DE MATÉRIA e ACOMPANHADA DA ESTIMATIVA DE DESPESA E RESPECTIVA FONTE
DE CUSTEIO. Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao
Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88). STF.
Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2014 (Info 773).
- Obs.: De acordo com o art. 63, I, CF, É POSSÍVEL QUE A EMENDA PARLAMENTAR ACARRETE AUMENTO DE DESPESAS NOS
PROJETOS DE LEI ORÇAMENTÁRIA E DA LDO (ART. 166, §§ 3º E 4º).

Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivoe pertinência temática

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de emendas


parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de despesa e respectiva fonte
de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder
Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3926/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2015 (Info 793).
INFORMATIVO 774, STF - INCONSTITUCIONALIDADE DE EC INICIADA POR PARLAMENTAR TRATANDO SOBRE MATÉRIAS DO ART. 61,
§ 1º DA CF.

É INCONSTITUCIONAL emenda constitucional que insira na Constituição estadual dispositivo


determinando a REVISÃO AUTOMÁTICA DA REMUNERAÇÃO DE SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. Isso porque tal
matéria é prevista no art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 como sendo de INICIATIVA PRIVATIVA DO CHEFE
DO PODER EXECUTIVO. STF. Plenário. ADI 3848/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015
(Info 774).

PODER LEGISLATIVO
Informativo 775, STF - Imunidade material dos Vereadores.
Importante!!! Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o Prefeito,
um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O Vereador ofendido ajuizou ação de
indenização por danos morais contra o ofensor. A questão chegou até o STF que, JULGANDO O TEMA SOB A
SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL, declarou que O VEREADOR NÃO DEVERIA SER CONDENADO PORQUE AGIU SOB O
MANTO DA IMUNIDADE MATERIAL. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos
casos semelhantes:

NOS LIMITES DA CIRCUNSCRIÇÃO DO MUNICÍPIO e HAVENDO PERTINÊNCIA COM O EXERCÍCIO DO MANDATO, GARANTE-SE A
IMUNIDADE PREVISTA NO ART. 29, VIII, DA CF AOS VEREADORES. STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
PODER JUDICIÁRIO
INFORMATIVO 775, STF - CE NÃO PODE CRIAR REGRAS NOVAS PARA A ESCOLHA DO DESEMBARGADOR PELO QUINTO
CONSTITUCIONAL.

A Assembleia Legislativa de determinado estado aprovou emenda constitucional afirmando que, após o
Governador escolher um dos candidatos da lista tríplice para ser Desembargador pelo quinto constitucional, ele
deveria ainda submeter esse nome à apreciação da ALE. Assim, o candidato escolhido pelo chefe do Poder
Executivo somente seria nomeado se a Assembleia aprovasse a indicação pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados. Dessa forma, foi criada mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo quinto constitucional,
que não está prevista no art. 94 da CF/88.

O STF JULGOU ESSA EMENDA INCONSTITUCIONAL. A EXIGÊNCIA DE SUBMISSÃO DO NOME ESCOLHIDO PELO
GOVERNADOR À CASA LEGISLATIVA, PARA PREENCHIMENTO DE VAGA DESTINADA AO QUINTO CONSTITUCIONAL, INVADE A
ATUAÇÃO DO PODER EXECUTIVO. O PROCEDIMENTO PARA A ESCOLHA DOS DESEMBARGADORES FOI TRATADO DE FORMA
EXAUSTIVA PELO ART. 94 DA CF/88, NÃO PODENDO O CONSTITUINTE ESTADUAL INOVAR E ESTABELECER NOVAS ETAPAS QUE NÃO
ESTEJAM EXPRESSAMENTE PREVISTAS NA CARTA FEDERAL. STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 25/2/2015 (Info 775).

SALÁRIO MÍNIMO

INFORMATIVO 774, STF - PROIBIÇÃO DE QUE O SALÁRIO MÍNIMO SEJA UTILIZADO COMO INDEXADOR ECONÔMICO.
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal
previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como
referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF
afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o
valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso,
mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como
indexador. Em suma, O STF DETERMINOU QUE A REFERÊNCIA AO SALÁRIO MÍNIMO CONTIDA NA LEI ESTADUAL SEJA
CONSIDERADA COMO UM VALOR CERTO QUE VIGORAVA NA DATA DA EDIÇÃO DA LEI, PASSANDO A SER CORRIGIDO NOS
ANOS SEGUINTES POR MEIO DE ÍNDICE ECONÔMICO DIVERSO. COM ISSO, O BENEFÍCIO CONTINUA EXISTINDO E SERÁ NECESSÁRIO AO
GOVERNO DO AMAPÁ APENAS REAJUSTAR ESSE VALOR POR MEIO DE ÍNDICES ECONÔMICOS. STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774)
- A proibição do art. 7º, IV, CF, tem como objetivo evitar que o salário mínimo se torne um “indexador
econômico” (um índice de reajuste). Se a Constituição permitisse que o salário mínimo pudesse servir como
INDEXADOR ECONÔMICO, O VALOR E O PREÇO DE VÁRIOS BENEFÍCIOS, PRODUTOS E SERVIÇOS SERIAM FIXADOS EM SALÁRIO
MÍNIMO. Desse modo, TODAS AS VEZES QUE O SALÁRIO MÍNIMO SUBISSE, O PREÇO DESSES BENS E SERVIÇOS IRIAM TAMBÉM
AUMENTAR AUTOMATICAMENTE, gerando inflação e fazendo com que NÃO HOUVESSE GANHO REAL PARA O
TRABALHADOR, JÁ QUE TODAS AS OUTRAS COISAS TAMBÉM FICARIAM MAIS CARAS.

- O OBJETIVO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO é o de “PRESERVAR A VONTADE LEGISLATIVA QUANDO FOR


POSSÍVEL EXTRAIR DO DISPOSITIVO IMPUGNADO INTERPRETAÇÃO COMPATÍVEL COM O DIPLOMA MAIOr, AINDA QUE
NÃO SEJA A MAIS ÓBVIA. Preservam-se, por meio da técnica, o princípio da separação de poderes –
conducente à valorização da manifestação do legislador democrático – e a efetividade da Constituição da
República.” (Min. Marco Aurélio).
- O BENEFÍCIO PREVISTO NO ART. 20 DA LEI N. 8.742/93 (LOAS) NÃO VIOLA O ART. 7º, IV, DA CF/88, pois É A PRÓPRIA
CF/88, EM SEU ART. 203, V, QUE DETERMINA QUE ESSE BENEFÍCIO SERÁ PAGO NO VALOR DE UM SALÁRIO MÍNIMO.

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


INFORMATIVO 773, STF - O ART. 5º DA MP 2.170-36/2001 É FORMALMENTE CONSTITUCIONAL, NÃO TENDO VIOLADO O ART.
62 DA CF.
Importante!!! O art. 5º da MP 2.170-36/2001 permite que haja capitalização de juros com periodicidade inferior
a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.
A MP 2.170-36/2001 ERA IMPUGNADA SOB A ALEGAÇÃO DE QUE O TEMA “CAPITALIZAÇÃO DE JUROS” NÃO POSSUÍA
RELEVÂNCIA E URGÊNCIA, de forma que NÃO PODERIA TER SIDO TRATADO POR MEIO DE MEDIDA PROVISÓRIA (ART. 62 DA
CF/88).
O STF, contudo, decidiu que o art. art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional, não tendo violado
o art. 62 da CF/88. DO PONTO DE VISTA DA RELEVÂNCIA, ESTA ESTARIA PRESENTE, CONSIDERANDO QUE A MP TRATA
SOBRE A REGULAÇÃO DAS OPERAÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO, TEMA DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA A ECONOMIA DO PAÍS.

No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade financeira era
diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o requisito da urgência naquela
oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela integração da economia nacional ao mercado financeiro
mundial, exigia medidas céleres, destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar sobre um passado em
que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser atingidas.
Obs: existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a inconstitucionalidade material da
capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano. Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda não foi
concluído.
STF. Plenário. RE 592377/RS, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em
4/2/2015 (repercussão geral) (Info 773).

- A CAPITALIZAÇÃO DE JUROS, TAMBÉM CHAMADA DE ANATOCISMO, ocorre quando OS


JUROS SÃO CALCULADOS SOBRE OS PRÓPRIOS JUROS DEVIDOS. Outras denominações para “capitalização de juros”: “juros
sobre juros”, “juros compostos” ou “juros frugíferos”.
- A capitalização de juros foi vedada no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 22.626/33 (Lei de Usura),
art. 4º: É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos
saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.
- A CAPITALIZAÇÃO ANUAL SEMPRE FOI PERMITIDA (para todos os contratos). Em 31 de março de 2000, o
Presidente da República editou medida provisória permitindo que as instituições financeiras, em seus contratos,
fixassem a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Foi a MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-
36/2001). ESSA MEDIDA PROVISÓRIA FOI SUCESSIVAMENTE REEDITADA, ATÉ QUE VEIO A EC 32/2001, QUE “ETERNIZOU”
AS MEDIDAS PROVISÓRIAS QUE EXISTIAM NA ÉPOCA.

TRIBUNAL DE CONTAS

ANULAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL PELO TCU

O TCU TEM LEGITIMIDADE PARA ANULAR ACORDO EXTRAJUDICIAL FIRMADO ENTRE PARTICULARES E A ADMINISTRAÇÃO
Pública, QUANDO NÃO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já passou a ser de mérito
da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de Contas. Contudo, sendo o acordo apenas
extrajudicial, a situação está apenas no âmbito administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o
ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

MEDIDA CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS

TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de qualquer procedimento de apuração que
lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por PRAZO NÃO SUPERIOR A 1 ANO (ART. 44, §
2º DA LEI 8.443/92).

O STF entende que essa previsão é CONSTITUCIONAL, de forma que se admite, ainda que de forma
excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por deliberação
fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à neutralização imediata de situações que
possam causar lesão ao interesse público ou ainda para garantir a utilidade prática do processo que tramita
no TCU. Isso não viola, por si só, o devido processo legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o
contraditório ou a ampla defesa. STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015
(Info 779).

A) O TCU PODERIA TER ADOTADO ESSA PROVIDÊNCIA?

SIM. A Lei n. 8.443/92 (Lei Orgânica do TCU) prevê essa possibilidade em seu art. 44, § 2º. Confira:
Art. 44. No início ou no curso de qualquer apuração, o Tribunal, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, determinará, cautelarmente, o afastamento temporário do responsável, se existirem indícios
suficientes de que, prosseguindo no exercício de suas funções, possa retardar ou dificultar a realização de
auditoria ou inspeção, causar novos danos ao Erário ou inviabilizar o seu ressarcimento.
§ 2° Nas mesmas circunstâncias do caput deste artigo e do parágrafo anterior, poderá o Tribunal, sem
prejuízo das medidas previstas nos arts. 60 e 61 desta Lei, decretar, por prazo não superior a um ano, a
indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos considerados bastantes para garantir o
ressarcimento dos danos em apuração.

COMPETÊNCIA PARA DECLARAR A INIDONEIDADE DE EMPRESA PARA LICITAR

O TCU TEM COMPETÊNCIA PARA DECLARAR A INIDONEIDADE DE EMPRESA PRIVADA PARA PARTICIPAR DE LICITAÇÕES PROMOVIDAS
PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Essa previsão está expressa no art. 46 da Lei 8.443/92, sendo considerada
constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a inidoneidade do licitante
fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
21/5/2015 (Info 786).
Fundamento:
Segundo entende o STF, o poder outorgado pelo legislador ao TCU, de declarar, verificada a ocorrência de
fraude comprovada à licitação, a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de
licitação na Administração Pública Federal (art. 46 da Lei n.8.443/92), não se confunde com o art. 87 da Lei
das Licitações (art. 87), que é dirigido apenas ao controle interno da Administração Pública e de aplicação
mais abrangente. São dispositivos com objetivos e aplicações distintas (STF. Pet 3606 AgR, Rl. Min. Sepúlveda
Pertence, julgado em 21/09/2006).

NATUREZA DO TCU
O TCU ostenta a condição de ÓRGÃO INDEPENDENTE NA ESTRUTURA DO ESTADO BRASILEIRO, cujas funções estão
elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus MEMBROS POSSUEM AS MESMAS PRERROGATIVAS QUE AS ASSEGURADAS
AOS MAGISTRADOS (art. 73, § 3º da CF/88), tendo SUAS DECISÕES A NATUREZA JURÍDICA DE ATOS ADMINISTRATIVOS

PASSÍVEIS DE CONTROLE JURISDICIONAl. Trata-se de um TRIBUNAL DE ÍNDOLE TÉCNICA E


POLÍTICA, criado para FISCALIZAR O CORRETO EMPREGO DOS RECURSOS PÚBLICOS.
Os Tribunais de Contas realizam CONTROLE DE LEGITIMIDADE, ECONOMICIDADE E DE EFICIÊNCIA, verificando se
os atos praticados pelos entes controlados estão de acordo com a moralidade, eficiência, proporcionalidade.
No atual contexto juspolítico brasileiro, o Tribunal de Contas possui competência para aferir se o administrador
atuou de forma prudente, moralmente aceitável e de acordo com o que a sociedade dele espera.
O TCU REPRESENTA UM DOS PRINCIPAIS INSTRUMENTOS REPUBLICANOS DESTINADOS À CONCRETIZAÇÃO
DA DEMOCRACIA E DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, NA MEDIDA EM QUE O CONTROLE DO EMPREGO DE
RECURSOS PÚBLICOS PROPICIA, EM LARGA ESCALA, JUSTIÇA E IGUALDADE.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial transitada em julgado

A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual de acréscimo


remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do referido percentual
nos seus ganhos.
Sendo uma relação de caráter continuativo (todos os meses a servidora recebe aquela remuneração) e tendo
havido superveniente modificação na situação de fato (o referido reajuste foi incorporado, por lei, aos
vencimentos da servidora), essa alteração no status quo produz, de forma imediata e automática, a cessação
da eficácia da decisão acobertada pela coisa julgada. E para essa cessação não é necessária ação
rescisória ou ação revisional.
Assim, se o TCU, ao analisar uma aposentadoria, percebe que determinada gratificação recebida por servidor
público por força de sentença transitada em julgado já foi incorporada/extinta por leis posteriores, este Tribunal
poderá determinar a sua supressão sem que isso viole a coisa julgada. Neste caso, a mudança no estado das
coisas faz com que esta coisa julgada não mais subsista.
STF. 2ª Turma.MS 32435 AgR/DF, rel. orig. Min. Celso de Mello, red. p/ o acórdão, Min. Teori Zavascki, 4/8/2015
(Info 793).

A servidora terá que devolver os valores recebidos antes da decisão do TCU?


NÃO. Conforme entendimento pacífico do STF, “o servidor a quem a Administração concedeu a aposentadoria
se presume de boa-fé até o julgamento da sua ilegalidade pelo órgão competente ” (trecho do voto do Min.
Sepúlveda Pertence proferido no julgamento do MS 25.112, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJ de 03/02/2006).
Assim, considerada a boa-fé da impetrante, o termo inicial para devolução dos valores indevidamente
recebidos deve corresponder à data em que teve conhecimento do ato que considerou ilegal a concessão de sua
aposentadoria. Nesse sentido:
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, em diversas oportunidades, já assentou que, havendo boa-fé do
servidor público que recebe valores indevidos a título de aposentadoria, só a partir da data em que for ela
julgada ilegítima pelo órgão competente deverá ser devolvida a quantia recebida a maior (...)” (STF. 2ª Turma. RE
450.458-AgR-segundo, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de 22/08/2013).

Independência da tomada de contas em relação ao PAD

As atribuições do Tribunal de Contas da União são independentes em relação ao julgamento do processo


administrativo disciplinar instaurado para apurar falta funcional do servidor público. Em outras palavras, o
processo no TCU não depende nem está vinculado ao PAD.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

Citação no processo de tomada de contas

Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por via postal?
SIM. O envio de carta REGISTRADA COM AVISO DE RECEBIMENTO ESTÁ EXPRESSAMENTE ENUMERADO ENTRE OS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO DE QUE DISPÕE O TCU PARA PROCEDER ÀS SUAS INTIMAÇÕES.

O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi enviada. Contudo, constata-
se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como sendo do interessado, além do que é o mesmo
que está na petição inicial do MS por ele impetrado. A alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não depende de
comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta registrada com aviso de
recebimento que comprove sua entrega no endereço do destinatário. No caso concreto, a a citação foi enviada
ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro da
Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta registrada no endereço do
destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

PRECATÓRIOS

MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA ADI QUE JULGOU INCONSTITUCIONAL O NOVO REGIME DE PRECATÓRIOS ESTABELECIDO PELA
EC 62/2009
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios. Tais alterações foram impugnadas
por meio de ações diretas de inconstitucionalidade que foram julgadas parcialmente procedentes. No
entanto, o STF decidiu modular os efeitos da decisão, ou seja, alguns dispositivos, apesar de terem sido
declarados inconstitucionais, ainda irão vigorar por mais algum tempo. Veja o resumo do que foi decidido
quanto à modulação:
1. O § 15 do art. 100 da CF/88 e o art. 97 do ADCT (que tratam sobre o regime especial de pagamento de
precatórios) ainda irão valer (poderão ser aplicados) por mais cinco anos (cinco exercícios financeiros) a contar
de 01/01/2016. Em outras palavras, tais regras serão válidas até 2020.
2. §§ 9º e 10 do art. 100 da CF/88 (previam a possibilidade de compensação obrigatória das dívidas que a
pessoa tinha com a Fazenda Pública com os créditos que tinha para receber com precatório): o STF afirmou que
são válidas as compensações obrigatórias que foram feitas até 25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação).
A partir desta data, não será possível mais a realização de compensações obrigatórias, mas é possível que
sejam feitos acordos entre a Fazenda e o credor do precatório e que também possua dívidas com o Poder
Público para compensações voluntárias.
3. Leilões para desconto de precatório: o regime especial instituído pela EC 62/2009 previa uma série de
vantagens aos Estados e Municípios, sendo permitido que tais entes realizassem uma espécie de “leilão de
precatórios” no qual os credores de precatórios competem entre si oferecendo deságios (“descontos”) em
relação aos valores que têm para receber. Aqueles que oferecem maiores descontos irão receber antes do
que os demais. Esse sistema de leilões foi declarado inconstitucional, mas o STF afirmou que os leilões
realizados até 25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação) são válidos (não podem ser anulados mesmo
sendo inconstitucionais). A partir desta data, não será possível mais a realização de tais leilões.
4. Vinculação de percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios e sanções
para o caso de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatórios: as regras
que tratam sobre o tema, previstas nos §§ 2º e 10 do art. 97 do ADCT da CF/88 continuam válidos e poderão
ser utilizados pelos Estados e Municípios até 2020.
5. Expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança” prevista no § 12 do art. 100:
5.1 Para precatórios da administração ESTADUAL e MUNICIPAL: o STF disse que a TR (índice
da poupança) poderia ser aplicada até 25/03/2015.
5.2 Para os precatórios da administração FEDERAL: o STF afirmou que se poderia aplicar a TR até
31/12/2013.
Após essas datas, qual índice será utilizado para substituir a TR (julgada inconstitucional)?
• Precatórios em geral: IPCA-E.
• Precatórios tributários: SELIC.
CNJ deverá apresentar proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de 50% dos recursos da
conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii) a possibilidade de compensação
de precatórios vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até
25.03.2015, por opção do credor do precatório.
CNJ deverá monitorar e supervisionar o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na forma da
presente decisão. STF. Plenário. ADI 4357 QO/DF e ADI 4425 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 25/3/2015 (Info
779).

AMICUS CURIAE

INFORMATIVO 772, STF - RECURSO CONTRA DECISÃO QUE NEGA INTERVENÇÃO DE AMICUS CURIAE.
Em regra, o amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem mesmo opor embargos de
declaração.

Exceção: O AMICUS CURIAE PODE RECORRER, INTERPONDO AGRAVO REGIMENTAL, CONTRA A DECISÃO DO RELATOR
QUE INADMITIR SUA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO.

Obs.: a DECISÃO (“DESPACHO”) QUE ADMITE A PARTICIPAÇÃO DO AMICUS CURIAE NO PROCESSO É IRRECORRÍVEL.
STF. Plenário. ADI 5022 AgR/RO, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2014 (Info 772).
- OUTROS PODERES DO AMICUS CURIAE
A) O AMICUS PODE APRESENTAR MEMORIAIS? SIM.
B) O AMICUS PODE ADITAR O PEDIDO CONTIDO NA INICIAL? NÃO. O amicus curiae, uma vez admitido seu ingresso
no processo objetivo, tem direito a ter seus argumentos apreciados pelo Tribunal, inclusive com direito a
sustentação oral, mas NÃO TEM direito a formular pedido ou de aditar o pedido já delimitado pelo autor
da ação (AC 1362 / MG).
C) O AMICUS TEM DIREITO DE FAZER SUSTENTAÇÃO ORAL?
• Nos processos perante o STF: SIM. Para o STF, o amicus curiae, uma vez formalmente admitido no
processo tem o direito de fazer sustentação oral (ADI 2777/SP).
• Nos processos perante o STJ NÃO
: . A Corte Especial do STJ definiu, em Questão de Ordem
examinada no REsp 1.205.946/SP (Rel. Min. Benedito Gonçalves, sessão de 17.8.2011), que o amicus
curiae NÃO TEM direito à sustentação oral. Excepcionalmente, o STJ poderá convocá-lo para sustentação
oral se assim entender necessário.

CONCURSO PÚBLICO

INFORMATIVO 775, STF - Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar.
Importante!!! O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?
Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que houve
demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão
judicial não gera direito à indenização.
Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi nomeado logo
por conta de uma SITUAÇÃO DE ARBITRARIEDADE FLAGRANTE.
Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de POSSE EM CARGO PÚBLICO DETERMINADA POR DECISÃO JUDICIAL, o servidor
não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo
situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
- O STJ possui posição pacífica no sentido de que o candidato cuja nomeação tardia tenha ocorrido por força de
decisão judicial não tem direito a indenização pelo tempo em que aguardou a solução definitiva pelo Judiciário
(STJ. Corte Especial. EREsp 1117974/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 21/09/2011).
- Importante destacar, no entanto, que o STF trouxe uma peculiaridade que antes não era reconhecida por ele
nem pelo STJ. Trata-se da previsão de que pode haver uma EXCEÇÃO. Assim, em regra não será devida a
indenização salvo se, no caso concreto, ficar demonstrado que o servidor não foi nomeado logo por conta de
uma situação de arbitrariedade flagrante.

CRIMES DE RESPONSABILIDADE
INFORMATIVO 774, STF - CRIMES DE RESPONSABILIDADE ENVOLVENDO GOVERNADORES DE ESTADO
Importante!!!
I – O ESTADO-MEMBRO NÃO PODE DISPOR SOBRE CRIME DE RESPONSABILIDADE, ainda que seja na Constituição
estadual. Isso porque A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE CRIME DE RESPONSABILIDADE É PRIVATIVA DA UNIÃO, nos
termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER QUE OS GOVERNADORES SERÃO JULGADOS PELA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA EM CASO DE CRIMES DE RESPONSABILIDADE. Isso porque o art. 78, § 3º da Lei 1.079/50 afirma que a
competência para julgar os Governadores de Estado em caso de crimes de responsabilidade é de um “TRIBUNAL
ESPECIAL”, COMPOSTO ESPECIALMENTE PARA JULGAR O FATO E QUE SERÁ FORMADO POR 5 DEPUTADOS ESTADUAIS E 5
DESEMBARGADORES, SOB A PRESIDÊNCIA DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. (NÃO É STJ!!!)
III – É CONSTITUCIONAL norma prevista em CONSTITUIÇÃO ESTADUAL QUE PREVEJA A NECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DE 2/3 DOS MEMBROS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA para que sejam iniciadas AÇÕES POR CRIMES
COMUNS E DE RESPONSABILIDADE EVENTUALMENTE DIRIGIDAS CONTRA O GOVERNADOR DE ESTADO. Durante a fase
inicial de tramitação de processo instaurado contra Governador, a Constituição estadual deve obedecer à
sistemática disposta na legislação federal. Isso porque não há nada que impeça que as Constituições estaduais
estendam aos Governadores, por simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da República no art. 51, I,
da CF/88. STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).

- A DOUTRINA CONCEITUA OS CRIMES DE RESPONSABILIDADE COMO SENDO “INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS”. No


entanto, O STF ENTENDE QUE, PARA FINS DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA, isso é MATÉRIA QUE SE INSERE NO DIREITO PENAL E
PROCESSUAL, DE FORMA QUE A COMPETÊNCIA É DA UNIÃO.

O Supremo possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:


SÚMULA 722-STF: SÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO A DEFINIÇÃO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE E O
ESTABELECIMENTO DAS RESPECTIVAS NORMAS DE PROCESSO E JULGAMENTO.

- Cuidado: O caput e o § 3º do art. 78, Lei 1.079/50 afirmam que as Constituições estaduais poderiam dispor
sobre o processo nos crimes de responsabilidade. Veja: “O Governador será julgado nos crimes de
responsabilidade, pela forma que determinar a Constituição do Estado” (...) “Nos Estados, onde as Constituições
não determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores” (...). Todavia, TAIS TRECHOS
NÃO FORAM RECEPCIONADOS PELA CF/88, uma vez que a atual Carta constitucional prevê que esse assunto
deve ser objeto de lei de competência da União. Desse modo, AS CONSTITUIÇÕES QUE DISPÕEM SOBRE CRIMES DE
RESPONSABILIDADE DE FORMA DIFERENTE DAQUILO QUE É PREVISTO NA LEGISLAÇÃO FEDERAL POSSUEM
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL, POR VIOLAREM A COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO.

- O STF reconheceu a constitucionalidade das normas das Constituições estaduais que exigem a APROVAÇÃO DE
2/3 DOS MEMBROS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA como requisito indispensável (a denominada licença prévia) para se
admitir a acusação nas ações por crimes comuns e de responsabilidade, eventualmente dirigidas contra o
governador do Estado. SEGUNDO O STF, DURANTE A FASE INICIAL DE TRAMITAÇÃO DE PROCESSO INSTAURADO CONTRA
GOVERNADOR, A CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DEVE OBEDECER À SISTEMÁTICA DISPOSTA NA LEGISLAÇÃO FEDERAL.
ESSA LICENÇA PRÉVIA NÃO SE CONSTITUI EM UMA REGALIA ANTIRREPUBLICANA DEFERIDA EM FAVOR DA PESSOA DO
GOVERNADOR. Trata-se de uma garantia que serve para a preservação da normalidade institucional das funções
do Executivo e a salvaguarda da autonomia política do Estado-membro. A EXIGÊNCIA DE LICENÇA PARA O
PROCESSAMENTO DO GOVERNADOR NÃO TRAZ PREJUÍZO PARA O EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO, PORQUE, ENQUANTO NÃO
AUTORIZADO O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PUNITIVA, FICA SUSPENSO O PRAZO PRESCRICIONAL.

Atenção! Vale ressaltar, no entanto, que essa necessidade de autorização prévia da ALE (controle político) NÃO
EXISTE PARA ATOS CONSTRITIVOS ACESSÓRIOS À INVESTIGAÇÃO PENAL, entre eles as PRISÕES CAUTELARES. Em
outras palavras, NÃO É PRECISO AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DA ALE PARA INVESTIGAR O
GOVERNADOR NEM PARA DECRETAR A SUA PRISÃO.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA

A DEFENSORIA PÚBLICA PODE PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA DEFESA DE DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. É CONSTITUCIONAL A LEI Nº 11.448/2007, que alterou a Lei 7.347/85, prevendo a
Defensoria Pública como um dos legitimados para propor ação civil pública. STF. Plenário. ADI 3943/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015 (Info 784).
A) A Defensoria Pública pode ajuizar ação civil pública?
SIM. Trata-se, inclusive, de previsão expressa da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
II — a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448/2007).
A inclusão da Defensoria no rol de legitimados para ajuizar ACP foi determinada pela Lei nº 11.448/2007.
B) Antes da Lei nº 11.448/2007, a Defensoria tinha legitimidade para propor ACP?
SIM, CONSIDERANDO QUE O ART. 5º, DA LACP E O ART. 82, II, DO CDC JÁ PREVIAM QUE A ACP PODERIA SER PROPOSTA PELA UNIÃO
E PELOS ESTADOS. LOGO, COMO A DPU É UM ÓRGÃO DA UNIÃO E A DPE É UM ÓRGÃO DO ESTADO, A JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIA
ENTENDIA QUE AS DEFENSORIAS JÁ POSSUÍAM LEGITIMIDADE PARA A ACP MESMO ANTES DA LEI N.11.448/2007. Confira um
precedente do STJ neste sentido:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. INTERESSE. CONSUMIDORES. A Turma, por maioria,
entendeu que a defensoria pública tem legitimidade para propor ação civil pública na defesa do interesse de
consumidores. Na espécie, o Nudecon, órgão vinculado à defensoria pública do Estado do Rio de Janeiro, por ser
órgão especializado que compõe a administração pública direta do Estado, perfaz a condição expressa no art. 82, III,
do CDC. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 555.111-RJ, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 5/9/2006.
C) A alteração promovida pela Lei nº 11.448/2007 foi, no entanto, MUITO IMPORTANTE PORQUE
REFORÇOU AINDA MAIS ESSA LEGITIMIDADE:
(...) 2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº
7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº 11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para propor a ação
principal e a ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos causados ao meio-
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras
providências. (...) STJ. 1ª Turma. REsp 912849/RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/02/2008.
ADI 3943 proposta pela CONAMP
Nem todos, no entanto, ficaram satisfeitos com a importante novidade legislativa.
A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP) ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade
contestando a constitucionalidade da Lei n. 11.448/2007, que acrescentou no art. 5º da Lei n. 7347/85 o inciso que
legitima a Defensoria Pública a propor ACP.
A CONAMP alegou que a possibilidade da Defensoria Pública propor, sem restrição, ACP “AFETA DIRETAMENTE” AS
ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Para a entidade, a inclusão da Defensoria Pública afrontaria também os arts. 5º,
LXXIV e 134, caput, da CF/88, CONSIDERANDO QUE A FUNÇÃO CONSTITUCIONAL DA INSTITUIÇÃO SERIA A DE PRESTAR
ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E GRATUITA APENAS AOS HIPOSSUFICIENTES E, NO BOJO DE UMA ACP, NÃO TERIA COMO TER
CERTEZA SE A AÇÃO ESTARIA BENEFICIANDO APENAS PESSOAS CARENTES OU TAMBÉM INDIVÍDUOS ECONOMICAMENTE RICOS.
Assim, a CONAMP pediu que esta inclusão fosse declarada inconstitucional ou, então, que o STF dissesse que a
Defensoria Pública não pode ajuizar ACP em matéria de direitos difusos ou coletivos. Segundo a tese da autora, A
DEFENSORIA, SE PUDESSE PROPOR ACP, SOMENTE PODERIA FAZÊ-LO QUANTO A DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS E DESDE QUE
FICASSE INDIVIDUALIZADA E IDENTIFICADA A PRESENÇA DE PESSOAS ECONOMICAMENTE HIPOSSUFICIENTES.
Segundo a autora, a Defensoria Pública foi criada para atender, gratuitamente, aqueles que possuem recursos
insuficientes para se defender judicialmente ou que precisam de orientação jurídica, de modo que seria impossível a
sua atuação na defesa de interesses difusos e coletivos em razão da dificuldade de identificar quem é carente. NO SEU
ENTENDIMENTO, OS ATENDIDOS PELA DEFENSORIA PÚBLICA DEVEM SER, PELO MENOS, INDIVIDUALIZÁVEIS, IDENTIFICÁVEIS, PARA QUE SE
SAIBA SE A PESSOA ATENDIDA PELA INSTITUIÇÃO NÃO POSSUI RECURSOS SUFICIENTES PARA O INGRESSO EM JUÍZO.
D) O STF concordou com os argumentos da ADI proposta? É inconstitucional a previsão de que a Defensoria
Pública pode ajuizar ACP na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos?

NÃO . Não há qualquer inconstitucionalidade na previsão da Lei nº 11.448/2007. Ao contrário, essa lei já
era compatível com o texto originário da CF/88 e isso ficou ainda mais claro quando o Congresso Nacional aprovou a
EC 80/2014, que alterou a redação do art. 134 da CF/88 prevendo expressamente que a Defensoria Pública tem
legitimidade para a defesa de direitos individuais e coletivos (em sentido amplo). Veja:
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial,dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.(Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 80/2014)
Desse modo, seja antes da EC 80/2014 e com maior razão depois, a Defensoria Pública possui sim legitimidade para
propor ação civil pública na defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
Segundo pontuou a MINISTRA CÁRMEN LÚCIA, em um país como o nosso, marcado por graves desigualdades sociais e
pela elevada concentração de renda, uma das grandes barreiras para a implementação da democracia e da cidadania
ainda é o efetivo acesso à Justiça. Somente se conseguirá promover políticas públicas para reduzir ou suprimir essas
enormes diferenças se forem oferecidos instrumentos que atendam com eficiência às necessidades dos cidadãos na
defesa de seus direitos. Nesse sentido, destaca-se a ação civil pública. Dessa feita, NÃO INTERESSA À SOCIEDADE
RESTRINGIR O ACESSO À JUSTIÇA DOS HIPOSSUFICIENTES.
A INTERPRETAÇÃO SUGERIDA PELA CONAMP RESTRINGE, SEM FUNDAMENTO JURÍDICO, A POSSIBILIDADE
DE UTILIZAÇÃO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA, QUE É INSTRUMENTO CAPAZ DE GARANTIR A EFETIVIDADE DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE POBRES E RICOS A PARTIR DE INICIATIVA PROCESSUAL DA DEFENSORIA
PÚBLICA.
Exigir que a Defensoria Pública, antes de ajuizar a ACP, comprove a pobreza do público-alvo não é condizente com os
princípios e regras norteadores dessa instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, menos
ainda com a norma do art. 3º da CF/88.
VALE RESSALTAR QUE NO MOMENTO DA LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE EVENTUAL DECISÃO FAVORÁVEL NA
AÇÃO COLETIVA, A DEFENSORIA PÚBLICA IRÁ FAZER A ASSISTÊNCIA JURÍDICA APENAS DOS
HIPOSSUFICIENTES. Nesta fase é que a tutela de cada membro da coletividade ocorre separadamente.
Além disso, deve-se lembrar que A CF/88 NÃO ASSEGURA AO MINISTÉRIO PÚBLICO A LEGITIMIDADE EXCLUSIVA para o
ajuizamento de ação civil pública. Em outras palavras, a Constituição em nenhum momento disse que só o MP pode
propor ACP. Ao contrário, o § 1º do art. 129 da CF/88 afirma que a legitimação do Ministério Público para as ações
civis não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
APROFUNDANDO:
Vou agora aprofundar um pouco mais o tema, tratando de alguns tópicos mais polêmicos e que ainda podem suscitar
divergências.
E) A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo e
qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO. Assim, a Defensoria Pública, ao
ajuizar uma ACP, DEVERÁ PROVAR QUE OS INTERESSES DISCUTIDOS NA AÇÃO TÊM PERTINÊNCIA COM AS SUAS FINALIDADES
INSTITUCIONAIS.
F) Por que se diz que a legitimidade da Defensoria não é irrestrita?
PORQUE A LEGITIMIDADE DE NENHUM DOS LEGITIMADOS DO ART. 5º É IRRESTRITA, NEM MESMO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. O STJ já decidiu, por exemplo, que “O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO TEM LEGITIMIDADE ATIVA PARA
PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA QUAL BUSCA A SUPOSTA DEFESA DE UM PEQUENO GRUPO DE PESSOAS - NO CASO, DOS
ASSOCIADOS DE UM CLUBE, NUMA ÓPTICA PREDOMINANTEMENTE INDIVIDUAL.” (REsp 1109335/SE, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 21/06/2011).
G) Qual é enfim o parâmetro para a legitimidade da Defensoria na ACP?
A doutrina majoritária tem defendido que A DEFENSORIA SÓ TEM ADEQUADA REPRESENTAÇÃO SE ESTIVER DEFENDENDO
INTERESSES RELACIONADOS COM SEUS OBJETIVOS INSTITUCIONAIS e QUE SE ENCONTRAM PREVISTOS NO ART. 134 DA CF.
Em outras palavras, a Defensoria Pública somente poderia propor uma ACP se os direitos nela veiculados, de algum
modo, ESTIVEREM RELACIONADOS À PROTEÇÃO DOS INTERESSES DOS HIPOSSUFICIENTES (“necessitados”, ou seja,

INDIVÍDUOS COM “INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS”). Esse foi o entendimento sustentado


pela 4ª Turma do STJ no REsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014.

Segundo a posição tranquila no STJ, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se elas
estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, SE TIVEREM POR OBJETIVO
BENEFICIAR OS NECESSITADOS QUE NÃO TIVEREM SUFICIÊNCIA DE RECURSOS (CF/88, ART. 5º, LXXIV).

A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80/94) nos faz concluir dessa forma:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas
hipossuficientes; (Redação dada pela LC 132/2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos
do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada pela LC 132/2009).
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; (Redação dada pela LC 132/2009).
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora
de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis
que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela LC 132/2009).
No julgamento da ADI 3943, acima explicada, diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.
A Min. Cármen Lúcia, em determinado trecho de seu voto, afirmou: “Não se está a afirmar a desnecessidade de a
Defensoria Pública observar o preceito do art. 5º, LXXIV, da CF, reiterado no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014.
No exercício de sua atribuição constitucional, é necessário averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a
instituição protege com os possíveis beneficiários de quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.”
O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que O FATO DE SE ESTABELECER QUE A DEFENSORIA
PÚBLICA TEM LEGITIMIDADE, EM TESE, PARA AÇÕES CIVIS PÚBLICAS NÃO EXCLUI A POSSIBILIDADE DE, EM UM EVENTUAL
CASO CONCRETO, NÃO SE RECONHECER A LEGITIMIDADE DA INSTITUIÇÃO. Em tom descontraído, o Ministro afirmou que a
Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no caso concreto, para uma ação civil pública na defesa dos sócios do
“Yatch Club”. E dando outro exemplo extremo, afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto,
para ajuizar uma ação civil pública em favor dos clientes “Personnalité” do Banco Itaú.
O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que EXISTE UMA CONDIÇÃO IMPLÍCITA NA
LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AÇÕES CIVIS PÚBLICAS que É O FATO DE
ELA TER QUE DEFENDER INTERESSES DE PESSOAS HIPOSSUFICIENTES, SENDO ESTA UMA CONDIÇÃO IMPOSTA PELO ART. 134
DA CF/88.
A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ações civis públicas,
mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada representação.
Atenção. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se os direitos discutidos
envolverem APENAS pessoas “pobres”. Essa era a tese da CONAMP, que foi rechaçada pelo STF. O que estou
afirmando é que, PARA A DEFENSORIA PÚBLICA AJUIZAR A ACP AQUELE INTERESSE DISCUTIDO NA LIDE TEM QUE, DE
ALGUM MODO, FAVORECER SEU PÚBLICO-ALVO (HIPOSSUFICIENTES), AINDA QUE BENEFICIE OUTRAS PESSOAS TAMBÉM.
Análise da legitimidade da Defensoria Pública segundo a natureza do direito tutelado:
Direitos Direitos Direitos
DIFUSOS COLETIVOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
A legitimidade da Defensoria Pública No caso de ACP para a tutela de direitos coletivos e individuais
é ampla. homogêneos, a legitimidade da DP é mais restrita e, para que
Assim, a DP poderá propor a ação seja possível o ajuizamento, é indispensável que, dentre os
coletiva tutelando direitos difusos, beneficiados com a decisão, também haja pessoas necessitadas.
considerando que isso beneficiará
também as pessoas necessitadas.

H) Se o interesse defendido beneficiar pessoas economicamente abastadas e também hipossuficientes, a


Defensoria terá legitimidade para a ACP?

SIM, considerando que, no processo coletivo, vigoram os PRINCÍPIOS DO MÁXIMO BENEFÍCIO, DA


MÁXIMA EFETIVIDADE E DA MÁXIMA AMPLITUDE.
Dessa feita, podendo haver hipossuficientes beneficiados pelo resultado da demanda deve-se admitir a legitimidade
da Defensoria Pública.
É o caso, por exemplo, de consumidores de energia elétrica, que tanto podem abranger pessoas com alto poder
aquisitivo como hipossuficientes:
LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA. A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu que a
Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar ação civil coletiva em benefício dos consumidores de energia
elétrica, conforme dispõe o art. 5º, II, da Lei nº 7.347/1985, com redação dada pela Lei nº 11.448/2007. (...)REsp
912.849-RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/2/2008 (Info 346).
I) Exemplo em que o STJ reconheceu não haver legitimidade, no caso concreto, para a Defensoria Pública
propor ACP:
Segundo decidiu o STJ, A DEFENSORIA PÚBLICA NÃO TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR ACP EM
FAVOR DE CONSUMIDORES DE PLANO DE SAÚDE PARTICULAR. Para a Corte, ao optar por contratar
plano particular de saúde, parece intuitivo que não se está diante de um consumidor que possa ser considerado
necessitado, a ponto de ser patrocinado, de forma coletiva, pela Defensoria Pública.
Ao revés, trata-se de grupo que, ao demonstrar capacidade para arcar com assistência de saúde privada, presume-se
em condições de arcar com as despesas inerentes aos serviços jurídicos de que necessita, sem prejuízo de sua
subsistência, não havendo que se falar em hipossuficiência.
Assim, o grupo em questão não é apto a conferir legitimidade ativa adequada à Defensoria Pública, para fins de
ajuizamento de ação civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014
(Info 541).

Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos sistemas dos órgãos fazendários

Importante!!!
O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes ao pagamento de
tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da
administração fazendária dos entes estatais.
No caso concreto, o STF reconheceu que o contribuinte pode ajuizar habeas data para ter acesso às informações
relacionadas consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da Receita Federal. O SINCOR (Sistema de Conta
Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes
pessoas jurídicas.
A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para outros bancos de dados
mantidos pelos órgãos fazendários.
STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/6/2015 (repercussão geral) (Info 790).

LIVRE CONCORRÊNCIA

Lei municipal que impede instalação de estabelecimentos comerciais

Súmula vinculante 49-STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

MINISTÉRIO PÚBLICO

Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira

Importante!!!

A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do Ministério Público e
da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito possua, no mínimo,
três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º).
A referência a “três anos de atividade jurídica”, contida na CF/88, não se limita à atividade privativa de bacharel
em Direito. Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em um cargo
privativo de bacharel em Direito.
Assim, por exemplo, se uma pessoa desempenhou por mais de três anos o cargo de técnico judiciário (nível
médio), mas nele realizava atividades de cunho jurídico, ele terá cumprido o referido requisito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

PROVIMENTO DERIVADO

É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em Delegado de Polícia

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de determinado Estado. Nesta
Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de Polícia e de Comissário de
Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um desses cargos, e os
aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia. a primeira delas afirmou que
Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente com o Delegado de Polícia, equiparando a
remuneração dos dois cargos.
A segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia". Essas duas leis
foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque
representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de Polícia porque
transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles tivessem feito concurso
público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi criado, ele
possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que impediria a transformação
mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).

DEPOSITÁRIO INFIEL

Súmula vinculante 25 (prisão civil de depositário infiel)

O STF rejeitou proposta feita para cancelar a Súmula Vinculante 25, que tem a seguinte redação: SV 25-STF: É
ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
STF. Plenário. PSV 54/DF, 24.9.2015.

Direito Administrativo

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

DIVULGAÇÃO DE VENCIMENTOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS COM RELAÇÃO NOMINAL

É LEGÍTIMA A PUBLICAÇÃO, INCLUSIVE EM SÍTIO ELETRÔNICO MANTIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,


dos NOMES DE SEUS SERVIDORES e do VALOR DOS CORRESPONDENTES VENCIMENTOS E VANTAGENS PECUNIÁRIAS.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782)
Obs.: Para a Corte, a divulgação dos vencimentos dos servidores, a ser realizada oficialmente, constitui
informação de interesse público que NÃO VIOLA A INTIMIDADE E A SEGURANÇA DELES, uma vez que esses dados dizem
respeito a agentes públicos em exercício nessa qualidade. O âmbito de proteção da privacidade do cidadão fica
mitigado quando se trata de agente público. O servidor público não pode pretender usufruir da mesma
privacidade que o cidadão comum.

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA ANTES DA INCLUSÃO DE ENTES FEDERATIVOS
NOS CADASTROS FEDERAIS DE INADIMPLÊNCIA.

A União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de inadimplência (exs:
CAUC, SIAF) deverá observar o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. STF. Plenário. ACO
1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779).
A) ANTE DE PROSSEGUIRMOS, O QUE É O CAUC?
CAUC é a sigla de Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias.O CAUC é um instrumento de
consulta, por meio do qual se pode verificar se os Estados-membros ou Municípios estão com débitos ou
outras pendências perante o Governo federal.O CAUC é alimentado com as informações constantes em bancos
de dados como o SIAFI e o CADIN.
Se houver, por exemplo, um atraso do Estado ou do Município na prestação de contas de um convênio com
a União ou suas entidades, essa informação passará a figurar no CAUC e ele ficará impedido de receber
verbas federais.
Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na prova!), seria como se fosse um
“Serasa” de débitos dos Estados e Municípios com a União, ou seja, um cadastro federal de inadimplência.
B) TODA AÇÃO ENVOLVENDO UNIÃO E ESTADOS EM POLOS DISTINTOS SERÁ JULGADA ORIGINARIAMENTE PELO STF
COM BASE NO ART. 102, I, “F”, DA CF/88?

NÃO. Para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de
haver uma causa envolvendo União e Estado, ESSA DEMANDA TENHA DENSIDADE SUFICIENTE PARA
ABALAR O PACTO FEDERATIVO.

MERO CONFLITO ENTRE ENTES FEDERADOS CONFLITO FEDERATIVO


TRATA-SE DA DISPUTA JUDICIAL ENVOLVENDO UNIÃO TRATA-SE DA DISPUTA JUDICIAL ENVOLVENDO UNIÃO
(OU SUAS ENTIDADES) CONTRA ESTADO-MEMBRO (OU SUAS ENTIDADES) CONTRA ESTADO-MEMBRO (OU
(OU SUAS ENTIDADES). SUAS ENTIDADES) E QUE, EM RAZÃO DA MAGNITUDE
DO TEMA DISCUTIDO, PODE GERAR UMA
DESESTABILIZAÇÃO DO PRÓPRIO PACTO FEDERATIVO.

EX: DISPUTA ENTRE A UNIÃO E O ESTADO POR EX: AÇÃO PROPOSTA PELO ESTADO QUESTIONANDO
CONTA DE UM ALUGUEL DE UM IMÓVEL. SUA INDEVIDA INCLUSÃO NO CAUC, O QUE TEM
GERADO O FIM DE REPASSES FEDERAIS.
EM REGRA, É JULGADO PELO JUIZ FEDERAL DE 1ª É JULGADO PELO STF (ART. 102, I, “F” DA CF/88).
INSTÂNCIA.

NEPOTISMO

NORMA QUE IMPEDE NEPOTISMO NO SERVIÇO PÚBLICO NÃO ALCANÇA SERVIDORES DE PROVIMENTO EFETIVO

A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao servidor público servir
sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição, no sentido de O
DISPOSITIVO SER VÁLIDO SOMENTE QUANDO INCIDIR SOBRE OS CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO, FUNÇÃO

GRATIFICADA, CARGOS DE DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO. Em outras palavras, o STF afirmou que ESSA VEDAÇÃO
NÃO PODE ALCANÇAR OS SERVIDORES ADMITIDOS MEDIANTE PRÉVIA APROVAÇÃO
EM CONCURSO PÚBLICO, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso poderia inibir o
próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso
aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 20/5/2015 (Info 786).
OBS: Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação
decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF. Rcl nº 6.702/PR-MC-Ag).

Princípio da intranscendência subjetiva nainscrição de unidade federativa em cadastro de inadimplentes

O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu determinadas verbas para
realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o compromisso de prestar contas da utilização de tais
valores perante a União e o TCU. Ocorre que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a
União o inserisse no CAUC.
Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas importantes conclusões:
Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de inadimplentes antes
de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União. Em casos como esse, mostra-se
necessária a tomada de contas especial e sua respectiva conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente
irregularidades. Só a partir disso é possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e
mantidos pela União.
O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a dimensão estritamente
pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Assim, o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão
praticados por administrações anteriores. A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão do
descumprimento de convênio celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro Governador. Ademais,
ficou demonstrado que os novos gestores estavam tomando as providências necessárias para sanar as
irregularidades verificadas. Logo, deve-se aplicar, no caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções, impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou
recebimento de repasses federais.
STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).

CONCURSO PÚBLICO
CONTROLE DE QUESTÕES DE CONCURSO PELO PODER JUDICIÁRIO

É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada de maneira
equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na questão sob o argumento de que a
correção feita pela banca foi inadequada?

Regra: NÃO. Os CRITÉRIOS ADOTADOS POR BANCA EXAMINADORA DE CONCURSO PÚBLICO NÃO PODEM SER REVISTOS
PELO PODER JUDICIÁRIO. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato administrativo que corrige questões de
concurso público. NÃO COMPETE AO PODER JUDICIÁRIO SUBSTITUIR A BANCA EXAMINADORA PARA REEXAMINAR O
CONTEÚDO DAS QUESTÕES E OS CRITÉRIOS DE CORREÇÃO UTILIZADOS.
Exceção: APENAS EM CASOS DE FLAGRANTE ILEGALIDADE OU INCONSTITUCIONALIDADE, a Justiça poderá
ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e de avaliação impostos pela banca
examinadora.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782).
Obs.: O PRINCÍPIO DA RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO IMPEDE QUE O JUDICIÁRIO SUBSTITUA BANCA
EXAMINADORA DE CONCURSO, por ser um ESPAÇO QUE NÃO É SUSCETÍVEL DE CONTROLE EXTERNO, a não ser nos casos de
ilegalidade ou inconstitucionalidade.
Tese fixada para fins de repercussão geral: “Os CRITÉRIOS adotados por banca examinadora de
concurso público não podem ser revistos pelo Poder Judiciário.”

SÚMULA VINCULANTE 43

SÚMULA VINCULANTE 43-STF: É INCONSTITUCIONAL TODA MODALIDADE DE PROVIMENTO QUE PROPICIE AO SERVIDOR
INVESTIR-SE, SEM PRÉVIA APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO DESTINADO AO SEU PROVIMENTO, EM CARGO QUE NÃO
INTEGRA A CARREIRA NA QUAL ANTERIORMENTE INVESTIDO. STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

CLASSIFICAÇÃO

 Provimento originário: ocorre quando o indivíduo passa a ocupar o cargo público sem que existisse
qualquer vínculo anterior com o Estado. Ex.: João prestou concurso público e foi aprovado para o cargo
de técnico judiciário do TRF, sendo nomeado. Trata-se de um provimento originário. Alguns anos depois,
João fez novo concurso público e foi aprovado, desta vez, para analista judiciário do TRF. Ao ser
nomeado para o cargo de analista, houve novo provimento originário, uma vez que seu vínculo não
decorreu do anterior.

 Provimento derivado: provimento derivado ocorre quando o indivíduo passa a ocupar determinado
cargo público em virtude do fato de ter um vínculo anterior com a Administração Pública. O
preenchimento do cargo DECORRE DE VÍNCULO ANTERIOR entre o servidor e o Poder Público.

Existem, por sua vez, três espécies de provimento derivado:

A) PROVIMENTO DERIVADO VERTICAL: ocorre quando o servidor muda para um cargo melhor. Há dois exemplos de
provimento derivado vertical:
 ASCENSÃO FUNCIONAL (transposição/acesso)  (VEDADA)
 PROMOÇÃO.
A ascensão funcional, como vimos, é inconstitucional, sendo proibida pela SV 43-STF. Assim, atualmente, a única
hipótese permitida de provimento derivado vertical é a promoção.
B) PROVIMENTO DERIVADO HORIZONTAL: ocorre quando o servidor muda para outro cargo com atribuições,
responsabilidades e remuneração semelhantes. É o caso da READAPTAÇÃO (art. 24 da Lei nº 8.112/90).
C) PROVIMENTO DERIVADO POR REINGRESSO: ocorre quando o servidor havia se desligado do serviço público e retorna
em virtude do vínculo anterior. Ex.: REINTEGRAÇÃO, RECONDUÇÃO, APROVEITAMENTO E REVERSÃO.
Desse modo, concluindo, a SV 43-STF NÃO PROÍBE TODAS AS FORMAS DE PROVIMENTO DERIVADO. Na verdade, ela SÓ
VEDA UMA ESPÉCIE DE PROVIMENTO DERIVADO VERTICAL, que é a ASCENSÃO FUNCIONAL.

É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE CRIA SERVIÇO DE INTERESSE MILITAR VOLUNTÁRIO ESTADUAL

O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar Voluntário
Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as pessoas poderiam se alistar
para trabalhar “voluntariamente” como soldado na Polícia Militar ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria
uma espécie de seleção (menos rigorosa que um concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia,
como contraprestação pelo trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como se fosse um soldado. Esse
contrato seria por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional. O SIMVE VIOLA A REGRA DO
CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II, DA CF/88). (VÍCIO MATERIAL)
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata sobre prestação
voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente oposta ao que diz a Lei federal
10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 880 e 881).

QUESTÃO DA PROVA OBJETIVA QUE EXIGE DO CANDIDATO SABER QUANTAS AFIRMAÇÕES ESTÃO CORRETAS

Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da prova objetiva do
concurso para Procurador da República. As questões impugnadas foram formuladas da seguinte forma: eram
apresentadas quatro afirmações; após essas assertivas, existiam quatro alternativas; a letra “A” dizia: “apenas
uma está correta”; letra “B”: “duas estão corretas”; letra “C”: “três estão corretas”; letra “D”: “todas estão
corretas”.
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com as Resoluções do CNMP e do CNJ
sobre concursos públicos.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a resolução do CNMP?

NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva diversa das demais
perguntas normalmente feitas em prova objetiva, ISSO NÃO SIGNIFICA QUALQUER NULIDADE,
sendo apenas uma forma de dificultar o nível da prova igualmente a todos os candidatos e condizente com o
objetivo de um concurso destinado a medir conhecimentos de vários tipos, ou seja, NÃO SÓ JURÍDICOS, MAS
TAMBÉM LÓGICOS E GRAMATICAIS.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 57/2009 do CNJ porque, embora o CNJ e o
CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional, são órgãos autônomos, de forma que
o CNMP DISCIPLINOU O TEMA NA FORMA QUE ENTENDEU MELHOR E NÃO VEDOU ESSE TIPO DE QUESTÃO.
STF. 1ª Turma. MS 31323 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 19-A DA LEI 8.036/90


É NULA A CONTRATAÇÃO DE PESSOAL PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA sem a observância de
prévia aprovação em concurso público, razão pela qual NÃO GERA QUAISQUER EFEITOS JURÍDICOS VÁLIDOS EM
RELAÇÃO AOS EMPREGADOS EVENTUALMENTE CONTRATADOS, RESSALVADOS OS DIREITOS À PERCEPÇÃO DOS

SALÁRIOS referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, AO LEVANTAMENTO
DOS DEPÓSITOS EFETUADOS NO FUNDO DE GARANTIA DO T EMPO DE SERVIÇO — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL. STF. Plenário. ADI 3127/DF,
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).
Obs.: João NÃO TERÁ DIREITO A RECEBER AS DEMAIS VERBAS TRABALHISTAS COMO 13º SALÁRIO, FÉRIAS ACRESCIDAS DE
1/3, FGTS ACRESCIDO DE 40%, ADICIONAIS LEGAIS ETC.

CRITÉRIO DE DESEMPATE EM CONCURSOS DE REMOÇÃO DE SERVENTIAS NOTARIAIS E REGISTRAIS. LEI ESTADUAL PREVALENCE
SOBRE O IDOSO.

A lei estadual do Estado “X” prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de remoção para
serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério de desempate em
concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada (art. 27, parágrafo único).
QUAL DAS DUAS LEGISLAÇÕES DEVERÁ PREVALECER NO CASO?

A LEGISLAÇÃO ESTADUAL. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, NÃO SE APLICA COMO CRITÉRIO
DE DESEMPATE, NO CONCURSO PÚBLICO DE REMOÇÃO PARA OUTORGA DE DELEGAÇÃO NOTARIAL E DE REGISTRO, QUANDO
EXISTIR LEI ESTADUAL ESPECÍFICA QUE REGULE O CERTAME E TRAGA REGRAS APLICÁVEIS EM CASO DE EMPATE. Desse
modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior tempo de serviço público (e não
necessariamente com o mais idoso). STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info
777).

nformativo 773, STF - Pontuação atribuída por tempo de serviço em serventias notariais e registrais
Lei estadual previu como títulos em concursos de cartório:
I - TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO COMO TITULAR, INTERINO, SUBSTITUTO OU ESCREVENTE EM SERVIÇO NOTARIAL OU DE
REGISTRO;

II - APRESENTAÇÃO DE TEMAS EM CONGRESSOS RELACIONADOS COM OS SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS.

O STF decidiu que: PARA O CONCURSO DE INGRESSO, TAL PREVISÃO É INCONSTITUCIONAL. PARA O
CONCURSO DE REMOÇÃO, ESSA PONTUAÇÃO É CONSTITUCIONAL, desde que as atividades listadas nesses dois incisos
tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de registro. STF. Plenário. ADI 3580/MG, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).
- Segundo o entendimento que prevalece no STF, É INCONSTITUCIONAL a lei que, prevendo critérios de valoração
de títulos em concurso de ingresso nos serviços notariais e de registro, ATRIBUAM MAIOR PONTUAÇÃO ÀS
CONDIÇÕES PESSOAIS LIGADAS À ATUAÇÃO ANTERIOR NESSAS ATIVIDADES.

MOMENTO PARA COMPROVAÇÃO DO LIMITE DE IDADE

O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público, HÁ DE SER
COMPROVADO NO MOMENTO DA INSCRIÇÃO NO CERTAME.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

1. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.637/98


Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras de atividades de
interesse público e que, por terem preenchido determinados requisitos previstos na Lei 9.637/98, recebem a
qualificação de “organização social”.
A pessoa jurídica, DEPOIS DE OBTER ESSE TÍTULO DE “ORGANIZAÇÃO SOCIAL”, poderá celebrar com o Poder

Público um instrumento chamado de “CONTRATO DE GESTÃO por meio do qual RECEBERÁ INCENTIVOS
PÚBLICOS PARA CONTINUAR REALIZANDO SUAS ATIVIDADES.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art. 24, XXIV, da Lei
8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de organizações sociais.
O PLENÁRIO DO STF NÃO DECLAROU OS DISPOSITIVOS INCONSTITUCIONAIS, mas DEU
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO para deixar explícitas as seguintes conclusões:
 O PROCEDIMENTO DE QUALIFICAÇÃO das organizações sociais deve ser conduzido de forma PÚBLICA,
OBJETIVA e IMPESSOAL, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e de acordo
com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98;
 As hipóteses de DISPENSA DE LICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÕES (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e
OUTORGA DE PERMISSÃO DE USO DE BEM PÚBLICO (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são VÁLIDAS, mas

devem ser CONDUZIDAS DE FORMA PÚBLICA, OBJETIVA e IMPESSOAL, com observância dos
princípios do “caput” do art. 37 da CF;
 A SELEÇÃO DE PESSOAL pelas organizações sociais deve ser CONDUZIDA DE FORMA PÚBLICA,
OBJETIVA E IMPESSOAL, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos termos do
regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
 QUALQUER INTERPRETAÇÃO que RESTRINJA O CONTROLE, pelo Ministério Público e pelo TRIBUNAL DE
CONTAS DA UNIÃO, da APLICAÇÃO DE VERBAS PÚBLICAS DEVE SER AFASTADA. STF. Plenário. ADI
1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 15 e 16/4/2015 (Info
781).

Observações:
TERCEIRO SETOR
No terceiro setor estão as entidades privadas que, mesmo sem integrarem a Administração Pública,
executam atividades de interesse público (social) e sem fins lucrativos.
São também chamadas de:
 “entes de colaboração” (porque estão ajudando/colaborando com a Administração Pública); ou
 “entidades paraestatais” (“para” é um radical de origem grega que significa “ao lado”; assim, diz-
se que tais entidades são paraestatais porque atuam “ao lado” dos órgãos e entidades estatais).

PUBLICIZAÇÃO DOS SERVIÇOS NÃO EXCLUSIVOS DO ESTADO


1) Na década de 90, ganhou força no Brasil a ideia de que seria necessário fazer uma Reforma do Aparelho do
Estado, reduzindo seu tamanho e as atividades por ele desenvolvidas. Foi então aprovado um Plano
Diretor com diversas medidas para transformar a Administração Pública, que era muito burocrática, em uma
Administração Pública mais moderna e eficiente (Administração Pública gerencial). A publicização dos
serviços não exclusivos do Estado era um dos eixos desse Plano Diretor. Assim, passou-se a defender que
alguns serviços públicos que não fossem exclusivos do Estado deveriam ser agora exercidos de forma prioritária
pelo setor público não estatal (sociedade civil organizada: 3º setor); Desse modo, foram editadas algumas leis,
como a Lei n. 9.637/98 e a Lei n. 9.790/99, buscando incentivar o fortalecimento do terceiro setor a fim de
promover a publicização dos serviços não exclusivos do Estado, isto é, a sua gradual transferência para a
sociedade civil.
Quem concede a O Ministro do Planejamento em conjunto com o Ministro da área na
qualificação de OS? qual atua a pessoa jurídica que pretende a qualificação de OS
 FINALIDADE NÃO-LUCRATIVA, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes
financeiros no desenvolvimento das próprias atividades;
 Ter, como órgãos de deliberação superior e de direção, um CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO e uma
DIRETORIA;
 Participação, no seu ÓRGÃO COLEGIADO DE DELIBERAÇÃO SUPERIOR, de REPRESENTANTES DO PODER
PÚBLICO e de MEMBROS DA COMUNIDADE, de notória capacidade profissional e idoneidade moral;
 Obrigatoriedade de PUBLICAÇÃO ANUAL, no Diário Oficial da União, dos RELATÓRIOS FINANCEIROS e
do RELATÓRIO DE EXECUÇÃO DO CONTRATO DE GESTÃO;
Requisitos necessários
 PROIBIÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE BENS OU DE PARCELA DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO em qualquer hipótese,
para qualificação: inclusive em razão de desligamento, retirada ou falecimento de associado ou membro da
entidade;
 PREVISÃO DE INCORPORAÇÃO INTEGRAL DO PATRIMÔNIO, dos legados ou das doações que lhe foram
destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas atividades, EM CASO DE
EXTINÇÃO OU DESQUALIFICAÇÃO, AO PATRIMÔNIO DE OUTRA ORGANIZAÇÃO SOCIAL qualificada no
âmbito da União, da mesma área de atuação, ou ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito
Federal ou dos Municípios, na proporção dos recursos e bens por estes alocados.
Não há Obrigatoriedade Decisão discricionária, na qual se avalia a conveniência e oportunidade de
de Concessão: conceder.

Em quais áreas atua a  ENSINO,


OS?  PESQUISA CIENTÍFICA,
 DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO,
 MEIO AMBIENTE,
 CULTURA
 SAÚDE.
Segundo a doutrina majoritária, ESSE ROL É TAXATIVO
O que é o contrato de Contrato de gestão é o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade
gestão? qualificada como organização social, com o objetivo de que, a partir daí, seja formada
uma parceria entre eles para fomento e execução das atividades que uma OS faz (ensino,
pesquisa científica etc.). O contrato de gestão deve ser submetido ao Ministro
de Estado da área correspondente à atividade fomentada
É Administração Pública
ou Delegatária de N ÃO
serviço público??
Incentivos Recebidos Pelas Organizações Sociais:
 Recursos orçamentários: podem receber “dinheiro público”;
 Cessão de bens públicos, mediante permissão de uso, dispensada licitação: podem receber, sem
licitação, bens públicos para serem usados em suas atividades;
 Cessão especial de servidor, com ônus para o órgão de origem do servidor cedido: servidores públicos
podem ser colocados à disposição das organizações sociais para lá trabalharem, continuando recebendo
sua remuneração dos cofres públicos;
 Contratadas sem licitação: as organizações sociais podem ser contratadas, com dispensa de licitação,
para prestarem serviço a órgãos e entidades da Administração Pública, recebendo por isso (art. 24, XXIV,
da Lei n. 8.666/93). Veja abaixo a redação da Lei de Licitações:

MUITO IMPORTANTE:
FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO: segundo essa teoria, A LICITAÇÃO PODE SER UTILIZADA COMO
INSTRUMENTO DE REGULAÇÃO DE MERCADO, de modo a TORNÁ-LO MAIS LIVRE E COMPETITIVO, além de ser POSSÍVEL
CONCEBÊ-LA COMO MECANISMO DE INDUÇÃO DE DETERMINADAS PRÁTICAS (DE MERCADO) QUE PRODUZAM
RESULTADOS SOCIAIS BENÉFICOS, imediatos ou futuros, à sociedade. A POSSIBILIDADE DE CONTRATAÇÃO
DIRETA, SEM LICITAÇÃO, DE ORGANIZAÇÕES SOCIAIS OU OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público) É UM EXEMPLO DESSA FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO já que, COMO ESSA PRÁTICA, O ESTADO
INDUZ QUE ESSAS ENTIDADES SEJAM CRIADAS PELOS PARTICULARES. Para maiores informações, veja: FERRAZ, Luciano.
Função regulatória da licitação. Disponível em: http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/Materia/490.pdf.

OBS.: QUANDO A OS FOR CONTRATAR, NÃO PRECISARÁ SEGUIR AS RÍGIDAS REGRAS DA LEI DE LICITAÇÕES DE
CONTRATOS (LEI N. 8.666/93), devendo respeitar, contudo, os princípios da Administração Pública elencados no
caput do art. 37 da CF/88 (LIMPE) e as normas de seu regulamento interno (que irão explicar os passos
necessários para a contratação).

SERVIDORES PÚBLICOS

REMUNERAÇÕES ACIMA DO TETO CONSTITUCIONAL E BASE DE CÁLCULO PARA INCIDÊNCIA DO IR E DA CONTRIBUIÇÃO


PREVIDENCIÁRIA

Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais incorporadas
em seus vencimentos (ex: quintos), “no papel”, deveriam receber mais do que o teto. Ex: João, Desembargador
aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua carreira. Assim, a remuneração bruta de
João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que
superar o limite constitucional não lhe será paga. O valor que, no momento do pagamento, é descontado da
remuneração total do servidor por estar superando o teto constitucional é chamado de “abate-teto”.
O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de renda e
contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade pagadora. Assim, o Tribunal de
Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador, já desconta os valores que ele deverá pagar de IR e
contribuição previdenciária. As alíquotas do IR e da contribuição previdenciária incidem sobre o valor da
remuneração do servidor público. Ex: valor do IR = 27,5% multiplicado pela remuneração do servidor. Em termos
tributários, podemos dizer que a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária é a remuneração do
servidor.
Se o servidor tem uma remuneração “no papel” superior ao teto, o imposto de renda e a contribuição
previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração total menos o abate-teto? Em
outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o teto do funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP
sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o valor da remuneração do
servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de REPERCUSSÃO GERAL, o STF definiu, em uma frase, a
“SUBTRAÍDO O
tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese firmada foi a seguinte:
MONTANTE QUE EXCEDER O TETO E SUBTETO PREVISTO NO ARTIGO 37, INCISO XI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, TEM-SE O VALOR QUE VALE COMO BASE PARA O IMPOSTO DE
RENDA E PARA A CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA”.STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 15/4/2015 (repercussão geral) (Info 781).
Subteto nos
Subteto na União Subteto nos Estados/DF Municípios
Existem duas opções:
OPÇÃO 1 (SUBTETOS DIFERENTES PARA CADA UM DOS PODERES):
 EXECUTIVO: SUBSÍDIO DO GOVERNADOR.
 LEGISLATIVO: SUBSÍDIO DOS DEPUTADOS ESTADUAIS.
 JUDICIÁRIO (INCLUI MP, DEFENSORIA E PROCURADORIA):
SUBSÍDIO DOS DESEMBARGADORES DO TJ.

OPÇÃO 2:(SUBTETO ÚNICO PARA TODOS OS PODERES):


SUBSÍDIO DOS SUBSÍDIO DO
SUBSÍDIO DOS DESEMBARGADORES DO TJ.
MINISTROS DO STF PREFEITO
Obs.1: o subsídio do Desembargador é 90,25% do
subsídio do Ministro do STF.
Obs.2: o subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais
seguirá regras próprias (§ 2º do art. 27), não
estando sujeito ao subsídio dos Desembargadores.

Vale ressaltar que quem define se o Estado-membro


adotará subtetos diferentes ou único é a Constituição
estadual.
INCLUI-SE NO SUBTETO: NÃO ESTÃO INCLUÍDAS
 PARCELAS DE CARÁTER INDENIZATÓRIO (LEI)(§ 11 DO ART. 37);
 VERBAS QUE CORRESPONDAM AOS DIREITOS SOCIAIS PREVISTOS
NO ART. 7º C/C O ART. 39, § 3º DA CF/88, TAIS COMO 13º
SALÁRIO, 1/3 CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS ETC. (FERNANDA MARINELA);
 QUANTIAS RECEBIDAS PELO SERVIDOR A TÍTULO DE ABONO DE
PERMANÊNCIA EM SERVIÇO (§ 19 DO ART. 40);
REGRA: O TETO ABRANGE TODAS AS ESPÉCIES
 REMUNERAÇÃO EM CASO DE ACUMULAÇÃO LEGÍTIMA DE CARGOS
REMUNERATÓRIAS E TODAS AS PARCELAS INTEGRANTES PÚBLICOS. O STJ ENTENDE QUE, SE O SERVIDOR ACUMULAR DOIS
DO VALOR TOTAL PERCEBIDO, INCLUÍDAS AS VANTAGENS CARGOS PÚBLICOS NAS HIPÓTESES PREVISTAS NA CF/88, A REMUNERAÇÃO
PESSOAIS OU QUAISQUER OUTRAS. DE CADA CARGO NÃO PODERÁ SER SUPERIOR AO TETO CONSTITUCIONAL,
SENDO POSSÍVEL, NO ENTANTO, QUE A SOMA DOS DOIS ULTRAPASSE ESSE
LIMITE (STJ. 2ª T. AGRG NO AGRG NO RMS 33.100/DF, MIN. ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, JULGADO EM 07/05/2013). EX.: SE
DETERMINADO MINISTRO DO STF FOR TAMBÉM PROFESSOR DA UNB, ELE
IRÁ RECEBER SEU SUBSÍDIO INTEGRAL COMO MINISTRO E MAIS A
REMUNERAÇÃO DECORRENTE DO MAGISTÉRIO. NESSE CASO, O TETO SERIA
CONSIDERADO ESPECIFICAMENTE PARA CADA CARGO, SENDO PERMITIDO
QUE ELE RECEBESSE ACIMA DO LIMITE PREVISTO NO ART. 37, XI DA CF, SE
CONSIDERARMOS SEUS GANHOS GLOBAIS .

APOSENTADORIA DOS POLICIAIS CIVIS E MILITARES

Foi ajuizada AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO CONTRA O GOVERNADOR E A ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO afirmando que eles estavam sendo omissos porque ainda não haviam
editado lei complementar estadual prevendo critérios diferenciados para aposentadoria de policiais civis e
militares do sexo feminino nos termos do art. 40, §§ 1º e 4º, da CF/88. O STF JULGOU A AÇÃO IMPROCEDENTE
POR DOIS MOTIVOS:
 Quanto às POLICIAIS CIVIS, o pleito formulado na ação já foi atendido com a edição, pelo Congresso
Nacional, da Lei Complementar federal 144/2014, de abrangência nacional, que deu à policial civil o
direito de se aposentar voluntariamente, com proventos integrais, independentemente de idade, após
25 anos de contribuição, desde que conte pelo menos 15 anos de exercício em cargo de natureza
estritamente policial.
 Quanto às POLICIAIS MILITARES, o STF entendeu que não se aplica a regra de aposentadoria especial do
art. 40, § 4º, da CF/88, porque OS MILITARES NÃO PODEM SER CONSIDERADOS, ATUALMENTE, COMO
SERVIDORES PÚBLICOS, sendo a eles aplicável um regime jurídico próprio disciplinado pelo art. 142, §
3º, X (e não pelo art. 40, § 4º). Não havendo determinação constitucional expressa, a decisão de
conceder aposentadoria com critérios facilitados para policiais militares mulheres é uma escolha
discricionária de cada Estado-membro. STF. Plenário. ADO 28/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
16/4/2015 (Info 781).

INCONSTITUCIONALIDADE DE SUBSÍDIO VITALÍCIO A EX-GOVERNADOR

Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Governador do Estado fará
jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros de
pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. ESSA REGRA FERE O PRINCÍPIO DA ISONOMIA. Não há uma justificativa razoável para que seja prevista
genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, CONFIGURANDO UM TRATAMENTO
PRIVILEGIADO SEM HAVER FUNDAMENTO LEGÍTIMO. STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 9/4/2015 (Info 780).

SÚMULA VINCULANTE 42-STF: É INCONSTITUCIONAL A VINCULAÇÃO DO REAJUSTE DE VENCIMENTOS DE

SERVIDORES ESTADUAIS OU MUNICIPAIS A ÍNDICES FEDERAIS DE CORREÇÃO MONETÁRIA.


B) VIOLAÇÃO À AUTONOMIA DOS ENTES
Os Estados-membros e os Municípios são autônomos (art. 18 da CF/88).
Como entes autônomos, eles devem ter a liberdade de organizar seus órgãos públicos e respectivos servidores,
fixando, inclusive, a remuneração de tais agentes.
Se a lei estadual ou municipal prevê que a remuneração dos servidores estaduais ou municipais ficará
vinculada (atrelada) a índices federais de correção monetária, ISSO SIGNIFICA QUE, EM ÚLTIMA ANÁLISE, QUEM TERÁ
O PODER DE REAJUSTAR OU NÃO OS VENCIMENTOS DOS SERVIDORES ESTADUAIS OU MUNICIPAIS SERÁ A UNIÃO. Dessa
feita, ISSO RETIRA DO PODER LEGISLATIVO ESTADUAL OU MUNICIPAL A AUTONOMIA DE DEFINIR OS REAJUSTES DOS
SERVIDORES.
Se a lei estadual/municipal diz que os vencimentos dos servidores serão reajustados sempre que for reajustado
o IPCA, na verdade, QUEM ESTARÁ AUMENTANDO OU NÃO A REMUNERAÇÃO DOS SERVIDORES ESTADUAIS/MUNICIPAIS
SERÁ O IBGE (E NÃO O RESPECTIVO ENTE).
C) ART. 37, XIII, DA CF/88
Além disso, o STF também afirma que essa vinculação viola o art. 37, XIII, da CF/88:
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração
de pessoal do serviço público;

PENSÃO POR MORTE NO SERVIÇO PÚBLICO : PARIDADE E INTEGRALIDADE

Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 terão direito à paridade e à integralidade?


PARIDADE
Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista no art.
3º da EC 47/2005.
INTEGRALIDADE
Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem direito à integralidade (CF, art.
40, § 7º, I), não havendo regra de transição para isso.
A tese firmada pelo STF em sede de repercussão geral foi a seguinte:
“Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à Emenda Constitucional 41/2003 têm direito à paridade
com servidores em atividade (artigo 7º EC 41/2003), caso se enquadrem na regra de transição prevista no artigo
3º da EC 47/2005. Não têm, contudo, direito à integralidade (artigo 40, parágrafo 7º, inciso I, CF).”
STF. Plenário. RE 603580/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (repercussão geral) (Info
786).

Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial

Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis que os
estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à aposentadoria especial, segundo
requisitos e condições previstas em lei complementar (art. 40, § 4º, II, “b”).
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando que os oficiais de
justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88 e que, apesar disso, até agora, não foi
editada uma lei complementar nacional prevendo aposentadoria especial para eles. Argumentou, então, que
estaria havendo omissão legislativa.
O STF concordou com o pedido formulado?
NÃO. Os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente, exposição a situações de
risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à aposentadoria especial.
Os Oficiais de Justiça podem até, a depender do caso concreto, estar sujeitos a situações de risco, notadamente
quando no exercício de suas funções em áreas dominadas pela criminalidade, ou em locais marcados por conflitos
fundiários. NO ENTANTO, O STF ENTENDEU QUE ESSE RISCO É CONTINGENTE (EVENTUAL), e não inerente ao serviço. Não
se pode dizer que as funções dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso não está na sua essência). Elas podem ser
eventualmente perigosas.
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que a desempenham
tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da CF/88. Se o legislador não fizer isso, não
haverá omissão de sua parte porque o texto constitucional não exige. Ex: Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o
direito à aposentadoria especial é uma escolha da discricionariedade legislativa.

Revisão geral dos servidores antes da EC 19/98

Súmula vinculante 51-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas Leis 8.622/1993 e
8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas as eventuais compensações
decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos mesmos diplomas legais.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

LICITAÇÕES
É CONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE DETERMINA QUE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA IRÁ, PREFERENCIALMENTE, UTILIZAR
“SOFTWARES” LIVRES

O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a administração pública do Estado
assim como os órgãos autônomos e empresas sob o controle do Estado UTILIZARÃO PREFERENCIALMENTE EM SEUS
SISTEMAS E EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA PROGRAMAS ABERTOS, LIVRES DE RESTRIÇÕES PROPRIETÁRIAS QUANTO À SUA
CESSÃO, ALTERAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO (“SOFTWARES” LIVRES).
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria inconstitucionalidades
materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e AFIRMOU QUE A LEI É CONSTITUCIONAL.
A preferência pelo “software” livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da impessoalidade, da
eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, além de viabilizar a autonomia tecnológica
do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos porque a competência da
União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às normas gerais, podendo os Estados complementar
as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, II, “b”, da CF/88 porque a competência para legislar sobre “licitação”
não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser apresentada por um parlamentar, como
foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado m 9/4/2015 (Info
780).
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

1. LEI ESTADUAL NÃO PODE INCLUIR OS TITULARES DE SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS NO REGIME


PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

A) DUAS LEIS ESTADUAIS INCLUÍRAM NO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL OS TITULARES DE SERVENTIAS
EXTRAJUDICIAIS (NOTÁRIOS E REGISTRADORES).

TAIS LEIS FORAM DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS.


Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo
público efetivo, tampouco ocupam cargo público. NÃO SÃO SERVIDORES PÚBLICOS. Logo, A ELES NÃO SE
APLICA O REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL PREVISTO PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS (ART. 40
DA CF/88).
Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência social. As leis estaduais
acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e usurparam a competência da União para legislar sobre o
tema.
STF. Plenário. ADI 4639/GO e ADI 4641/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 11/3/2015 (Info 777).

2. LEI ESTADUAL NÃO PODE CONCEDER ISENÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PARA TODOS OS
SERVIDORES APOSENTADOS E PENSIONISTAS QUE TIVEREM DOENÇA INCAPACITANTE

O ESTADO-MEMBRO PODE TRATAR SOBRE O REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE SEUS SERVIDORES POR MEIO DE LEI, NÃO
SENDO NECESSÁRIO QUE TAL REGULAMENTAÇÃO SEJA FEITA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que fossem
portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária (seriam isentos). O STF
afirmou que essa regra estadual está em confronto com o § 21 do art. 40 da CF/88, considerando que a Carta
Federal previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que sejam portadores de doenças
incapacitantes DEVEM PAGAR CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SE O VALOR DOS PROVENTOS POR ELES RECEBIDOS
SUPERAR O DOBRO DO TETO DO RGPS (DOBRO DO MAIOR VALOR DE APOSENTADORIA DO INSS).
Assim, a NORMA DA LEI ESTADUAL DEVE RECEBER INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA QUE RESPEITE ESSA PREVISÃO DO ART.
40, § 21 DA CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2015
(Info 776).
A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO ADAPTADA:
João, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou Maria, que na época tinha 41 anos de idade e era
professora do ensino público estadual.
Quando faleceu, Maria habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar. O Exército fez
a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
B) MARIA IMPETROU MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA O ACÓRDÃO DO TCU, ALEGANDO QUE A DECISÃO DA CORTE FOI
ILEGAL PORQUE:
 Não lhe foi garantida ampla defesa e contraditório;
 Houve decadência já que o TCU negou registro à pensão mais de 5 anos depois de sua concessão inicial
pelo Exército;
 O TCU não poderia ter desconsiderado a adoção realizada.
C) O QUE DECIDIU O STF? A DECISÃO DO TCU FOI CORRETA?

SIM. Vejamos os principais pontos:


D) COMO FUNCIONA O PROCEDIMENTO DE CONCESSÃO DA APOSENTADORIA OU PENSÃO NO SERVIÇO PÚBLICO?
O departamento de pessoal do órgão ou entidade ao qual o servidor está vinculado analisa se ele preenche os
requisitos legais para a aposentadoria ou se seus dependentes têm direito à pensão e, em caso afirmativo,
concede o benefício. Esse momento, no entanto, é chamado ainda de “CONCESSÃO INICIAL” da aposentadoria ou
da pensão, considerando que ainda haverá um CONTROLE DE LEGALIDADE a ser feito pelo Tribunal de Contas.
Somente após passar por esse controle do Tribunal de Contas é que a aposentadoria ou a pensão poderá ser
considerada DEFINITIVAMENTE CONCEDIDA.
E) DIANTE DISSO, QUAL É A NATUREZA JURÍDICA DO ATO DE APOSENTADORIA OU DO ATO DE PENSÃO?

Trata-se de um ATO ADMINISTRATIVO COMPLEXO (segundo o STJ e o STF).


O ato administrativo complexo é aquele que, para ser formado, NECESSITA DA MANIFESTAÇÃO DE
VONTADE DE DOIS OU MAIS DIFERENTES ÓRGÃOS.
F) CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA
Quando o Tribunal de Contas faz o controle de legalidade da “concessão inicial” do benefício previdenciário, não
é necessário que o servidor/pensionista seja intimado para contraditório e ampla defesa, considerando que não
há litígio ou acusação, mas tão somente a realização de um ato administrativo.
Para que não houvesse dúvidas sobre o tema, o STF editou um enunciado:
SÚMULA VINCULANTE N.3 DO STF: NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO ASSEGURAM-SE O
CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO
QUE BENEFICIE O INTERESSADO, EXCETUADA A APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA,
REFORMA E PENSÃO.
Desse modo, repetindo, em regra, quando o Tribunal de Contas aprecia se o ato de concessão inicial da
aposentadoria foi legal ou não, é desnecessário que haja contraditório e ampla defesa.
G) DECADÊNCIA
Caso uma aposentadoria ou uma pensão tenham sido concedidas sem que os requisitos legais tenham sido
preenchidos, a Administração Pública pode anular esse benefício?
Sim, com base na autotutela administrativa. Nesse sentido, relembre a Súmula 473 do STF: A administração
pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
H) QUAL O PRAZO DE QUE DISPÕE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL PARA ANULAR O ATO ADMINISTRATIVO QUE
CONCEDEU UMA APOSENTADORIA ILEGAL?

O PRAZO É DE 5 ANOS, nos termos do art. 54 da Lei n. 9.784/99 (que regula o processo administrativo
no âmbito da Administração Pública Federal):
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.
I) A PARTIR DE QUANDO É CONTADO ESSE PRAZO?
Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a concessão de aposentadoria possui natureza jurídica de ato
administrativo complexo, que somente se perfaz com a manifestação do Tribunal de Contas acerca da legalidade
do ato. Em outras palavras, o ato de concessão de aposentadoria somente é concluído (formado) com a
aprovação pelo Tribunal de Contas.

Logo, o TERMO INICIAL do prazo decadencial para que a Administração Pública anule ato

administrativo de concessão de aposentadoria é a DATA DA HOMOLOGAÇÃO DA CONCESSÃO


PELO TRIBUNAL DE CONTAS (e NÃO A DATA DA “CONCESSÃO INICIAL”
FEITA PELO ÓRGÃO OU ENTIDADE).
Dessa forma, o argumento da impetrante também não deve prosperar quanto a este ponto. A incidência do
disposto no art. 54 da Lei n. 9.784/99 pressupõe situação jurídica aperfeiçoada. Isso não acontece quanto ao ato
de natureza complexa que só se aperfeiçoa depois que o Tribunal de Contas fizer o registro do ato
(aposentadoria ou pensão).
J) ADOÇÃO
O STF decidiu que a adoção NO PRESENTE CASO NÃO TINHA SUPORTE MORAL NEM ECONÔMICO E TINHA SIDO
FEITA COM O OBJETIVO DE INDUZIR O DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. Logo, esta adoção não
foi legítima, tendo sido praticada com SIMULAÇÃO E FRAUDE à lei.
Não havia demonstração da dependência econômica capaz de justificar o deferimento da pensão.
Em contexto de escassez de recursos públicos, devem ser combatidas posturas estrategicamente destinadas a
induzir o deferimento de pensões em casos que, diante das características subjetivas dos envolvidos, não
ensejam o reconhecimento do direito.
OBS: ALGUNS DE VOCÊS PODEM ESTAR SE PERGUNTANDO: MAS COMO O MILITAR ADOTOU SUA PRÓPRIA NETA SE ISSO É PROIBIDO?
REALMENTE, SEGUNDO O ECA, O AVÓS NÃO PODEM ADOTAR SEUS NETOS (ART. 42, § 1º: “NÃO PODEM ADOTAR OS ASCENDENTES
E OS IRMÃOS DO ADOTANDO”). ESSE CASO CONCRETO, CONTUDO, OCORREU ANTES DO ECA E, POR ISSO, NÃO HAVIA AINDA ESTA
VEDAÇÃO. ESSA INFORMAÇÃO NÃO INTERFERE NO RESULTADO DO JULGAMENTO, MAS QUERIA ESCLARECER APENAS PARA QUE
NINGUÉM FICASSE CONFUSO.
PENSÃO POR MORTE

ADOÇÃO DE DESCENDENTE MAIOR COM O ÚNICO OBJETIVO DE DEIXAR PENSÃO POR MORTE

NÃO É LEGÍTIMA A ADOÇÃO DE DESCENDENTE MAIOR DE IDADE, SEM A CONSTATAÇÃO DE SUPORTE MORAL OU
ECONÔMICO, COM O FIM DE INDUZIR O DEFERIMENTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta, que na época tinha
41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando faleceu, a neta habilitou-se para receber a
pensão por morte como dependente do militar. O Exército fez a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou
registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte moral nem econômico
e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do benefício previdenciário. LOGO, NÃO FOI
LEGÍTIMA, TENDO SIDO PRATICADA COM SIMULAÇÃO E FRAUDE À LEI.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

INFORMATIVO 773, STF - INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI ESTADUAL QUE PREVEJA PENSÃO PARA CÔNJUGES DE TODOS OS
FALECIDOS POR CRIMES HEDIONDOS

É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL (DISTRITAL) QUE PREVEJA O PAGAMENTO DE PENSÃO ESPECIAL A SER
CONCEDIDA PELO GOVERNO DO ESTADO (DISTRITO FEDERAL) EM BENEFÍCIO DOS CÔNJUGES DE PESSOAS VÍTIMAS DE CRIMES
HEDIONDOS, INDEPENDENTEMENTE DE O AUTOR DO CRIME SER OU NÃO AGENTE DO ESTADO. Tal lei amplia, de
modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado prevista no art. 37, § 6º, da CF/88. STF.
Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).

TETO CONSTITUCIONAL
INFORMATIVO 774, STF - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE FIXA TETO REMUNERATÓRIO PARA SERVIDORES DO PODER
JUDICIÁRIO.

LEI do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder Judiciário. O STF
ENTENDEU QUE ESSA LEI É INCONSTITUCIONAL. O teto para o funcionalismo estadual somente pode
ser fixado por meio de emenda à Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual. Além disso,
a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da CF/88) e a lei viola a sistemática
escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores do Poder Judiciário, excluindo-o para os demais
Poderes. STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 11/2/2015 (Info 774).

PODER DE POLÍCIA

Poder de polícia de trânsito e guardas municipais

Importante!!!

As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?

SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência para fiscalizar o
trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de polícia
de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
6/8/2015 (Info 793).

A lei municipal é constitucional? A lei municipal pode atribuir competência para que as guardas municipais
realizema fiscalização de trânsito?
SIM. A lei municipal pode conferir às guardas municipais competência para fiscalizar o trânsito, lavrar auto de
infração de trânsito e impor multas.
O STF entendeu que a tese do MP não está correta porque a questão em tela não envolve segurança pública,
mas sim poder de polícia de trânsito.
Para o Min. Roberto Barroso, poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do poder
de polícia não é prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a quem a CF outorgou com exclusividade
apenas as funções de promoção da segurança pública (art. 144).
A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas (multas), embora possa se dar
ostensivamente, constitui mero exercício de poder de polícia, não havendo, portanto, proibição de que seja
exercida por entidades não-policiais (como é o caso das guardas municipais).
O Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu que a competência para o exercício da fiscalização de
trânsito é comum, cabendo tanto a União, como aos Estados/DF e Municípios .
A receber essa competência do CTB, o Município pode determinar, por meio de lei, que esse poder de polícia
(fiscalização do trânsito) seja exercido pela guarda municipal.

Mas o art. 144, § 8º, da CF/88, ao tratar sobre as guardas municipais, não fala em trânsito...
Não tem problema. O art. 144, § 8º, da CF/88define as atribuições da guarda municipal, mas não de forma
exaustiva. Assim, esse dispositivo não impede que a guarda municipal receba funções adicionais a ela
outorgadas por meio de lei. Em outras palavras, o § 8º do art. 144 da CF/88 traz um mínimo de atribuições que
são inerentes às guardas municipais, sendo possível, no entanto, que a lei preveja outras atividades a esse órgão,
desde que de competência municipal.

COMPETÊNCIA

Litígios envolvendo servidores temporários e a Administração Pública


A Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88) e a
Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho.
STF. 1ª Turma. Rcl 6527 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/8/2015 (Info 796).

DIREITO ELEITORAL
CRIMES ELEITORAIS

REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE DESOBEDIÊNCIA ELEITORAL

O juiz eleitoral de uma zona eleitoral do interior do Estado expediu um OFÍCIO-CIRCULAR PROIBINDO QUE OS
CANDIDATOS FIZESSEM CARREATAS EM DETERMINAS RUAS DO MUNICÍPIO. Alguns dias depois, determinado CANDIDATO
FEZ UMA CARREATA NO MUNICÍPIO E PASSOU POR ALGUMAS RUAS QUE TINHAM SIDO PROIBIDAS. Diante disso, foi denunciado
pela prática do crime de desobediência eleitoral (art. 347 do Código Eleitoral). HOUVE A PRÁTICA DE CRIME?
NÃO. Para configuração do crime de desobediência eleitoral é necessário que:
 A ORDEM DESCUMPRIDA TENHA SIDO EMITIDA DE FORMA DIRETA E INDIVIDUALIZADA; e
 Que o AGENTE (RÉU) TINHA CIÊNCIA DA ORDEM TIDA POR DESCUMPRIDA.
A ordem foi emitida de forma geral e não individualizada e, além disso não havia nenhum outro indício de que o
agente tinha ciência da proibição. Assim, resta ausente, no caso, o elemento subjetivo do tipo (o dolo).
STF. 2ª Turma. AP 904/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/4/2015 (Info 781).
DIREITOS POLÍTICOS
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários

PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA NÃO SE APLICA A CARGOS ELETIVOS


MAJORITÁRIOS

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o
cargo que ocupa?
a) SE FOR UM CARGO ELETIVO MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema
majoritário, sob pena de VIOLAÇÃO DA SOBERANIA POPULAR E DAS ESCOLHAS FEITAS PELO ELEITOR. No
sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente eleitoral
nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, OS ELEITORES VOTAM NO CANDIDATO E NÃO NO SEU PARTIDO POLÍTICO. Desse modo, no
sistema majoritário, A IMPOSIÇÃO DA PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA É ANTAGÔNICA
(CONTRÁRIA) À SOBERANIA POPULAR.
b) SE FOR UM CARGO ELETIVO PROPORCIONAL: SIM
O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um processo na Justiça Eleitoral que
poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, COM CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA, SERÁ ANALISADO SE
HAVIA JUSTA CAUSA PARA ESSA MUDANÇA.(EX: FUSÃO OU INCORPORAÇÃO DE PARTIDO POLÍTICO)
O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as hipóteses consideradas
como “justa causa”.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

SISTEMAS ELEITORAIS

Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela CF e pela lei para disciplinar a forma como os
candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.
No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais:
MAJORITÁRIO PROPORCIONAL
O mandato eletivo fica com o candidato ou Terminada a votação, divide-se o total de votos
partido político que obteve a maioria dos votos. válidos pelo número de cargos em disputa,
Ganha o candidato mais votado, obtendo-se assim o quociente eleitoral. Ex: na
independentemente dos votos de seu partido. eleição para vereador houve 100 mil votos
válidos e eram 20 vagas. Logo, o quociente
eleitoral será 5 mil (100.000 : 20 = 5.000).
Em seguida, pega-se os votos de cada partido ou
coligação e divide-se pelo quociente eleitoral,
obtendo-se assim o número de eleitos de cada
partido (quociente partidário). Ex: o Partido X e
seus candidatos tiveram 20 mil votos. Esses 20
mil serão divididos pelo quociente eleitoral (5
mil). Logo, esse partido terá direito a 4 vagas de
Vereador (20.000 : 5.000 = 4).
Os candidatos mais bem votados desse partido
irão ocupar tais vagas.

No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de
Prefeito, Governador, Senador e Presidente. Vereador, Deputado Estadual e Deputado
Federal.

Obs: existe ainda o sistema eleitoral misto, que mescla regras de ambos, com votos distritais e votos gerais. É o
sistema adotado, por exemplo, na Alemanha.

INFIDELIDADE PARTIDÁRIA

A) Filiação partidária
No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa exigência
está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88.

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o
cargo que ocupa?
Depende. O STF faz a seguinte diferença:
Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM
O mandato parlamentar conquistado no sistema
eleitoral proporcional pertence ao partido
político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de
partido político, ele sofrerá um processo na
Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do
seu mandato. Neste processo, com contraditório
e ampla defesa, será analisado se havia justa
causa para essa mudança

b) A perda do mandato em razão de mudança de O mandato parlamentar conquistado no sistema partido não se
aplica aos candidatos eleitos pelo eleitoral proporcional pertence ao partido político. sistema majoritário, sob
pena de violação da Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de soberania popular e das escolhas feitas pelo
eleitor. partido político, ele sofrerá um processo na Justiça No sistema majoritário, o candidato escolhido é
Eleitoral que poderá resultar na perda do seu aquele que obteve mais votos, não importando o mandato. Neste
processo, com contraditório e quociente eleitoral nem o quociente partidário. ampla defesa, será analisado se
havia justa causa Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no para essa mudança.
candidato e não no seu partido político. Desse O assunto está disciplinado na Resolução n. modo, no sistema
majoritário, a imposição da 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as perda do mandato por infidelidade
partidária é hipóteses consideradas como “justa causa”. antagônica (contrária) à soberania popular.

Foi o que decidiu o STF no julgamento da ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info
787).

A decisão do STF foi inovadora?


SIM. Isso porque o TSE entendia que a infidelidade partidária, ou seja, a mudança de partido político após a
diplomação acarretava a perda do mandato tanto para cargos proporcionais como majoritários. Essa conclusão
estava expressa na Resolução 22.610/2007 do TSE (Infidelidade partidária).
Dessa forma, o STF julga parcialmente inconstitucional a Resolução 22.610/2007 do TSE nos trechos em que ela
fala sobre cargos majoritários.

FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL

Inconstitucionalidade das doações feitas por pessoas jurídicas

As CONTRIBUIÇÕES DE PESSOAS JURÍDICAS PARA CAMPANHAS ELEITORAIS E PARTIDOS POLÍTICOS SÃO INCONSTITUCIONAIS.
AS CONTRIBUIÇÕES DE PESSOAS FÍSICAS SÃO VÁLIDAS E REGULAM-SE DE ACORDO COM A LEI EM VIGOR.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).
Contribuições para campanhas eleitorais e partidos políticos
A legislação eleitoral permite que pessoas físicas e pessoas jurídicas façam doações em dinheiro (ou em bens
estimáveis em dinheiro) para campanhas eleitorais e também para partidos políticos. Isso está previsto na Lei nº
9.504/97 (conhecida como Lei das Eleições) e na Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos).

Veja abaixo os dois principais artigos que tratam sobre o tema:

Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições):


Art. 81. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais poderão ser feitas a
partir do registro dos comitês financeiros dos partidos ou coligações.

Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos):


Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações de pessoas físicas e
jurídicas para constituição de seus fundos.

ADI 4650
O Conselho Federal da OAB ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650) no STF pedindo que
sejam declarados inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral (Leis nº 9.096/95 e nº 9.504/97) que
autorizam doações de empresas a candidatos e a partidos políticos.
Na ação, a entidade também pede que seja fixado um limite máximo para as doações feitas por pessoas físicas. Para
a OAB, existe uma infiltração do poder econômico nas eleições, o que gera graves distorções, como a
desigualdade política, na medida em que aumenta a influência dos mais ricos sobre o resultado dos pleitos
eleitorais, e, consequentemente, sobre a atuação do próprio Estado. Além disso, essa forte influência do
poder econômico inviabiliza a possibilidade de sucesso eleitoral dos candidatos que não têm patrimônio
para suportar os gastos de campanha nem acesso aos financiadores privados.

Qual foi o resultado do julgamento?


O STF julgou parcialmente procedente a ADI e entendeu que:
 os dispositivos legais que autorizam as contribuições de pessoas JURÍDICAS para campanhas
eleitorais e partidos políticos são INCONSTITUCIONAIS.
 por outro lado, as contribuições de pessoas FÍSICAS são VÁLIDAS e podem continuar sendo
feitas DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR.

Veja abaixo o resumo dos principais argumentos utilizados pelo STF:

Violação ao regime democrático e à cidadania


Para o STF, as doações feitas por pessoas jurídicas para campanhas eleitorais NÃO SÃO COMPATÍVEIS COM O
REGIME DEMOCRÁTICO e com A CIDADANIA.

Pessoa jurídica não exerce cidadania


O exercício de cidadania, em sentido estrito, pressupõe três modalidades de atuação física:
a) o “JUS SUFRAGIUS”: DIREITO DE VOTAR;
b) o “jus honorum”: O DIREITO DE SER VOTADO; e
c) O DIREITO DE INFLUIR NA FORMAÇÃO DA VONTADE POLÍTICA POR MEIO DE INSTRUMENTOS DE DEMOCRACIA
DIRETA como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de leis.

Essas modalidades de exercício da cidadania são INERENTES ÀS PESSOAS NATURAIS e, por isso, é
DESARRAZOADO ESTENDÊ-LAS PARA AS PESSOAS JURÍDICAS.

Doações feitas por pessoas jurídicas inflacionam os custos das campanhas


A participação de pessoas jurídicas apenas encarece o processo eleitoral, sem oferecer, como contrapartida, a
melhora e o aperfeiçoamento do debate.
Esse aumento dos custos de campanhas não é acompanhado do aprimoramento do processo político, com a
veiculação de ideias e de projetos pelos candidatos.
Na verdade, o que se observa é que os candidatos que gastam maiores recursos em suas campanhas
possuem, em geral, maior êxito nas eleições.

Desequilíbrio da competição e a violação do princípio da igualdade


A excessiva participação do poder econômico no processo político desequilibra a competição eleitoral e
viola a igualdade política entre candidatos. Isso acaba repercutindo na formação do quadro representativo,
ou seja, nas pessoas que são eleitas.
O êxito das eleições atualmente depende mais dos recursos despendidos nas campanhas do que das plataformas
e ideias políticas. Essa realidade é muito nociva porque faz com que grande parte da população fique
desestimulada a disputar os pleitos eleitorais já que não teria condições econômicas de ter sucesso.

Mesmo sem as doações de pessoas jurídicas, será possível a realização das campanhas
Vale ressaltar que o fim das doações feitas por pessoas jurídicas não prejudicará a sobrevivência dos
partidos políticos nem impedirá que os candidatos façam suas campanhas. Isso porque TODOS OS PARTIDOS
POLÍTICOS TÊM ACESSO AO FUNDO PARTIDÁRIO E À PROPAGANDA ELEITORAL GRATUITA NOS VEÍCULOS DE
COMUNICAÇÃO, PODENDO ASSIM PROMOVER SUAS IDEAIS E PROPOSTAS.

Não basta melhorar os mecanismos de controle dos financiamentos de campanha


Havia um argumento no sentido de que as doações de pessoas jurídicas deveriam continuar sendo permitidas
e que o mais importante seria melhorar os mecanismos de controle desse financiamento.
Tal argumentação foi afastada.
Entendeu-se que ISSO SERIA INSUFICIENTE PARA RESOLVER O ATUAL CENÁRIO, no qual O PODER POLÍTICO
MOSTRA-SE ATRAÍDO PELO PODER ECONÔMICO.
Mas as pessoas jurídicas poderão continuar doando para campanhas e partidos de forma escondida
("caixa dois")...
É VERDADE. Isso é possível. No entanto, TAL REALIDADE NÃO PODE SERVIR COMO ARGUMENTO PARA EVITAR QUE O
STF DECLARE INCONSTITUCIONAIS AS LEIS QUE AUTORIZAM A DOAÇÃO POR PESSOAS JURÍDICAS.
A possibilidade de que as empresas continuem a investir elevadas quantias — não contabilizadas (caixa dois) — nas
campanhas eleitorais não constitui empecilho para que o STF declare ser errado o atual modelo.

Violação à isonomia
O STF invocou ainda um último argumento para declarar inconstitucionais as doações por pessoas jurídicas.
Trata-se do fato de que o art. 24 da Lei das Eleições proíbe que determinadas pessoas jurídicas façam
doações. É o caso, por exemplo, das associações de classe, entidades sindicais e entidades do terceiro
setor. Como resultado dessa proibição, o que se observava, na prática, é que apenas as empresas privadas
(que se destinam ao lucro) faziam doações. ISSO REPRESENTAVA UM TRATAMENTO DESIGUAL ENTRE AS PRÓPRIAS
PESSOAS JURÍDICAS, JÁ QUE AS EMPRESAS PRIVADAS PODERIAM DOAR E AS ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS E OS
SINDICATOS NÃO.

Dispositivos declarados inconstitucionais:


O STF declarou inconstitucionais:
 o art. 23, §1º, I e II; o art. 24; e o art. 81, “caput” e § 1º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), que
tratam de doações a campanhas eleitorais por pessoas físicas e jurídicas, no ponto em que cuidam de
doações por pessoas jurídicas.
 o art. 31; o art. 38, III; o art. 39, “caput” e § 5º, da Lei nº 9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos),
que regulam a forma e os limites em que serão efetivadas as doações aos partidos políticos, também
exclusivamente no que diz respeito às doações feitas por pessoas jurídicas.

Votos vencidos
Ficaram vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes e Celso de Mello.

Modulação dos efeitos


O STF cogitou modular os efeitos da decisão, fazendo com que ela somente produzisse efeitos daqui a
alguns anos. No entanto, não foi atingido o número mínimo de votos necessários para a modulação
(segundo o art. 27 da Lei nº 9.868/99, exige-se o voto de 2/3 dos membros do STF - 8 Ministros - para que
haja a modulação dos efeitos).
Assim, A PRESENTE DECISÃO JÁ SE APLICA PARA AS ELEIÇÕES DE 2016. O STF afirmou também que A DECISÃO JÁ
VALE INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO (ALGO QUE NÃO É ORDINÁRIO, COMUM, DE ACONTECER).
Em outras palavras, NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES (EM 2016 E NAS SEGUINTES) JÁ NÃO MAIS SERÃO PERMITIDAS DOAÇÕES
DE PESSOAS JURÍDICAS PARA AS CAMPANHAS ELEITORAIS E PARA OS PARTIDOS POLÍTICOS.

PARTIDOS POLÍTICOS

É constitucional a Lei 13.107/2015, que alterou a Lei dos Partidos Políticos

A Lei 13.107/2015 alterou a Lei 9.096/95 com o objetivo de desestimular a fusão de partidos políticos. Veja duas
das mudanças promovidas:
• A Lei nº 13.107/2015 alterou o § 1º do art. 7º da Lei 9.096/95 ao exigir que as pessoas que assinarem o
apoiamento para a criação de novos partidos não poderão fazer parte de outros partidos políticos.
• A Lei nº 13.107/2015 determinou que somente será admitida a fusão ou incorporação de partidos
políticos que hajam obtido o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 anos.
Antes não havia essa exigência.
Essas duas mudanças foram impugnadas por meio de ADI, mas O STF NEGOU A MEDIDA CAUTELAR AFIRMANDO QUE
AS ALTERAÇÕES SÃO COMPATÍVEIS COM A CF/88, NÃO TENDO HAVIDO VIOLAÇÃO À AUTONOMIA CONSTITUCIONAL DOS
PARTIDOS POLÍTICOS.
STF. Plenário. ADI 5311-MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2015 (Info 801).
A CF/88 assegura a liberdade de criação, fusão, extinção e incorporação de partidos políticos, como expressão
do princípio democrático e do pluripartidarismo (art. 17). Portanto, realmente está garantida no ordenamento
jurídico-constitucional a liberdade dos partidos políticos de se articularem. Essa garantia, contudo, não é
absoluta, SENDO POSSÍVEL HAVER UM CONTROLE QUANTITATIVO E QUALITATIVO DOS PARTIDOS POLÍTICO, o que
justificaria a existência das normas impugnadas.
Segundo apontou o STF, HÁ AGREMIAÇÕES INTITULADAS FORMALMENTE COMO PARTIDOS POLÍTICOS SEM QUALQUER
SUBSTRATO ELEITORAL. Essas legendas estão habilitadas a receber parcela do fundo partidário e a disputar tempo
de televisão sem difundir, contudo, ideias e programas. ELAS ATUAM PARA DEFENDER OUTROS INTERESSES PARTIDÁRIOS,
ESPECIALMENTE PARA OBTENÇÃO DE VANTAGENS PARTICULARES PARA OS SEUS DIRIGENTES.
Como os partidos políticos recebem recursos do fundo partidário (dinheiro público), é necessário e justificável
que haja um controle sobre eles.
A PROLIFERAÇÃO INDISCRIMINADA DE PARTIDOS SEM COERÊNCIA OU RESPALDO SOCIAL CAUSA RISCO INSTITUCIONAL E AMEAÇA A
DEMOCRACIA. ALÉM DISSO, PODE TRANSFORMAR O SADIO PLURIPARTIDARISMO EM CAOS POLÍTICO.
As normas impugnadas têm como objetivo a tentativa de incentivar a utilização de mecanismos da democracia
representativa, a reforçar a legitimidade e o compromisso do eleitor e do partido no qual se depositara o seu
aval.
A EXIGÊNCIA DE QUE OS APOIADORES DO NOVO PARTIDO NÃO SEJAM FILIADOS A PARTIDOS POLÍTICOS ESTÁ DE ACORDO
COM O SISTEMA REPRESENTATIVO.
A exigência de 5 anos para se levar a efeito fusões e incorporações entre partidos assegura o atendimento do
compromisso do cidadão com a sua opção partidária, o que evita o estelionato eleitoral ou a reviravolta
política contra o apoio dos eleitores, então filiados.
Portanto, as normas atacadas na ADI TÊM A FINALIDADE DE EVITAR A LÓGICA MERCANTILISTA E
NADA REPUBLICANA DE PRÁTICA POLÍTICA.
Ante o exposto, o STF entendeu que não houve ingerência estatal indevida na autonomia constitucional dos
partidos políticos.

É inconstitucional a Lei 12.875/2013, que alterou a Lei dos Partidos Políticos e a Lei das Eleições

A Lei 12.875/2013 promoveu alterações na:


Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95); e na
Lei das Eleições (Lei 9.504/97).
Mudança na Lei dos Partidos Políticos: a Lei 12.875/2013 determinou que, para os fins de distribuição dos
recursos do Fundo Partidário, deveriam ser desconsideradas as mudanças de filiação partidária. Dessa feita, a Lei
12.875/2013 determinou que o Deputado Federal que mudasse de partido (ainda que para um partido novo)
durante o mandato não poderia “levar” para o outro os votos que obteve na última eleição. O objetivo foi evitar
que, com a mudança, o partido de destino recebesse mais verbas do fundo partidário.
Mudança na Lei das Eleições: a Lei nº 12.875/2013 determinou que, para os fins de distribuição do tempo de
rádio e TV, seriam desconsideradas as mudanças de filiação partidária. Assim, o Deputado Federal que mudasse
de partido (ainda que para um partido novo) durante o mandato não poderia “levar” para o outro os votos que
obteve na última eleição. Mais uma vez, o objetivo aqui da Lei 12.875/2013 foi o de evitar que o partido de
destino recebesse mais tempo de rádio e TV.
Assim, de acordo com as regras da Lei 12.875/2013, os partidos novos ficariam com pouquíssimos recursos do
Fundo Partidário e reduzidíssimo tempo de rádio e TV.
O STF entendeu que AS MUDANÇAS EFETUADAS FORAM INCONSTITUCIONAIS. Em nosso
sistema proporcional, não há como afirmar, simplesmente, que a representatividade política do parlamentar
está atrelada à legenda partidária para a qual foi eleito, ficando, em segundo plano, a legitimidade da escolha
pessoal formulada pelo eleitor por meio do sufrágio. O voto do eleitor brasileiro, mesmo nas eleições
proporcionais, em geral, se dá em favor de determinado candidato. O princípio da liberdade de criação e
transformação de partidos, contido no caput do art. 17 da CF/88 serve de fundamento constitucional para
reputar como legítimo o entendimento de que, na hipótese de criação de um novo partido, a novel legenda,
para fins de acesso proporcional ao rádio e à televisão, leva consigo a representatividade dos deputados federais
que para ela migraram diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).
ADIs 4430 e 4795
Vale ressaltar que o STF já havia enfrentado esse mesmo tema no julgamento das ADIs 4430 e 4795 MC/DF, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgadas em 27, 28 e 29/6/2012.
No julgamentos dessas duas ações, o STF já havia afirmado que os partidos novos, criados após a realização de
eleições para a Câmara dos Deputados, deveriam ter direito de acesso proporcional aos 2/3 do tempo destinado
à propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
Alguns meses após o julgamento dos casos supracitados, o Congresso Nacional editou a Lei nº
12.875/2013 que, em sentido oposto ao pronunciamento da Corte, subtraiu dos novos partidos o acesso aos
recursos do Fundo e ao direito de antena.
Dessa forma, a Lei nº 12.875/2013 foi uma reação legislativa à decisão do STF, uma forma de o Congresso
Nacional superar a interpretação legislativa dada pela Corte ao tema.
O STF não concordou com essa tentativa do Poder Legislativo.
Segundo afirmou o Min. Luiz Fux, houve abuso do legislador ao editar lei buscando modificar a interpretação
constitucional do Supremo. Diante disso, a Lei nº 12.875/2013 já nasceu com o gérmen da inconstitucionalidade
porque violou uma decisão do STF em controle concentrado de constitucionalidade sem trazer nenhuma
novidade. Para o Ministro, isso configura um atentado à dignidade da jurisdição do STF.

DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO

PODE SER DEFERIDA USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA AINDA QUE A ÁREA DO IMÓVEL SEJA INFERIOR AO MÓDULO MÍNIMO DOS
LOTES URBANOS PREVISTO NO PLANO DIRETOR
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana, prevista no art.
183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o PLANO DIRETOR da cidade proíbe a existência de
imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, fixou que o módulo mínimo
dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área ocupada pela pessoa seria menor que isso,
ela não poderia registrar o imóvel em seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a pessoa

tenha direito à usucapião especial urbana? NÃO. SE FOREM PREENCHIDOS OS REQUISITOS DO ART. 183 DA
CF/88, A PESSOA TERÁ DIREITO À USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA E O FATO DE O IMÓVEL EM QUESTÃO NÃO ATENDER AO MÍNIMO
DOS MÓDULOS URBANOS EXIGIDOS PELA LEGISLAÇÃO LOCAL PARA A RESPECTIVA ÁREA (DIMENSÃO DO LOTE) NÃO É
MOTIVO SUFICIENTE PARA SE NEGAR ESSE DIREITO, QUE TEM ÍNDOLE
CONSTITUCIONAL.
O julgado ora analisado diz RESPEITO À USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. A usucapião especial urbana é
prevista no art. 183 da CF/88, sendo também reproduzida no art. 1.240 do CC e no art. 9º da Lei n. 10.257/2001.
Para se ter direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos:
 250m²: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2;
 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem
oposição de ninguém;
 Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família;
 Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural).
Obs.: É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho do
imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de festas etc., mas tão somente a parte
privativa);
PROCESSO CIVIL

COMPETÊNCIA

1. CAUSA QUE INTERESSA A TODOS OS MEMBROS DA MAGISTRATURA

O STF TEM COMPETÊNCIA para processar e julgar causas em que se DISCUTE PRERROGATIVA DOS
JUÍZES DE PORTAR ARMA DE DEFESA PESSOAL, por se tratar de ação em que todos os membros da magistratura
são direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88). STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig.
Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 22/4/2015 (Info 782).
Obs: vale ressaltar que a matéria de fundo ainda não foi decidida, ou seja, o Supremo não definiu neste
julgamento se os magistrados possuem direito de portar arma de fogo sem se submeterem ao Estatuto do
Desarmamento. A única situação até agora definida foi a de que a competência para julgar o MS é do STF.

AÇÃO RESCISÓRIA

2. ANÁLISE DO ART. 485, V, DO CPC 1973 (ART. 966, V, DO CPC 2015)

Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e, posteriormente, esse
entendimento foi alterado (ou puder ser alterado), não se pode dizer que essa decisão impugnada tenha violado
literal disposição de lei.
Desse modo, NÃO CABE AÇÃO RESCISÓRIA EM FACE DE ACÓRDÃO QUE, À ÉPOCA DE SUA PROLAÇÃO, ESTAVA
EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE DO STF.
STF. Plenário. AR 2199/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
23/4/2015 (Info 782).
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).

Mini Resumo:

CONCEITO NATUREZA JURÍDICA COMPETÊNCIA PRAZO


Ação rescisória é uma A ação rescisória é uma A ação rescisória é CPC 2015
ação que tem por ESPÉCIE DE AÇÃO sempre julgada por um Art. 975. O direito à
objetivo desconstituir AUTÔNOMA DE tribunal (nunca por um rescisão se
uma decisão judicial IMPUGNAÇÃO juiz singular). extingue em 2
transitada em (SUCEDÂNEO RECURSAL Quem julga a rescisória é (dois) anos
EXTERNO). sempre o próprio contados do
julgado.
Atenção: NÃO é um tribunal que proferiu a trânsito em julgado
recurso. O recurso é decisão rescindenda da última
uma forma de impugnar a decisão proferida
decisão na pendência do no
processo (este ainda não processo.(Alteração
acabou). A ação rescisória, Proposta pelo novo
por sua vez, somente CPC)
pode ser proposta quando
há trânsito em julgado, ou
seja, quando o processo já
se encerrou.

CPC 1973 CPC 2015


Art. 485. A sentença de mérito, transitada em Art. 966. A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, I - se verificar que foi proferida por força de
concussão ou corrupção do juiz; prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - proferida por juiz impedido ou II - for proferida por juiz impedido ou por juízo
absolutamente incompetente; absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em III - resultar de dolo ou coação da parte
detrimento da parte vencida, ou de colusão vencedora em detrimento da parte vencida ou,
entre as partes, a fim de fraudar a lei; ainda, de simulação ou colusão entre as partes,
IV - ofender a coisa julgada; a fim de fraudar a lei;
V - violar literal disposição de lei; IV- ofender a coisa julgada;
VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha V - violar manifestamente norma jurídica;
sido apurada em processo criminal ou seja VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha
provada na própria ação rescisória; sido apurada em processo criminal ou venha a
VII - depois da sentença, o autor obtiver ser demonstrada na própria ação rescisória;
documento novo, cuja existência ignorava, ou de VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe em julgado, prova nova cuja existência ignorava
assegurar pronunciamento favorável; ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só,
VIII - houver fundamento para invalidar de lhe assegurar pronunciamento favorável;
confissão, desistência ou transação, em que se Obs: o inciso VIII do antigo CPC (invalidar
baseou a sentença; confissão, desistência ou transação) não é
IX- fundada em erro de fato, resultante de atos previsto mais como hipótese de rescisória,
ou de documentos da causa. sendo caso de ação anulatória (§ 4º do art. 966
§ 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato do CPC 2015).
inexistente, ou quando considerar inexistente VIII - for fundada em erro de fato verificável do
um fato efetivamente ocorrido. exame dos autos.
§ 2º É indispensável, num como noutro caso, § 1º Há erro de fato quando a decisão
que não tenha havido controvérsia, nem rescindenda admitir fato inexistente ou quando
pronunciamento judicial sobre o fato considerar inexistente fato efetivamente
ocorrido, sendo indispensável, em ambos os
casos, que o fato não represente ponto
controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se
pronunciado.
§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos do
caput, será rescindível a decisão transitada em
julgado que, embora não seja de mérito, impeça:
- nova propositura da demanda; ou
- admissibilidade do recurso correspondente.
§ 3º A ação rescisória pode ter por objeto
apenas 1 (um) capítulo da decisão.
§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados
pelas partes ou por outros participantes do
processo e homologados pelo juízo, bem como
os atos homologatórios praticados no curso da
execução, estão sujeitos à anulação, nos termos
da lei.

Se a SENTENÇA VIOLAR UM PRINCÍPIO, caberá ação rescisória?


SIM. A jurisprudência do STJ possui precedentes reconhecendo o cabimento de ação rescisória por conta de
violação a princípios. Vale lembrar que a doutrina atual considera que o princípio é uma espécie de norma
jurídica. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
23/10/2014

APLICA-SE A SÚMULA 343 DO STF EM CASO DE VIOLAÇÃO À NORMA CONSTITUCIONAL? É


vedada ação rescisória se a sentença foi proferida com base em interpretação controvertida sobre matéria
constitucional, mas atualmente é contrária ao posicionamento do STF?
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.
ENTENDIMENTO ATÉ ENTÃO VIGENTE: NÃO
ENTENDIMENTO ATUAL: SIM (se na época em que a decisão rescindenda foi prolatada, ela seguiu a
jurisprudência do STF).

MANDADO DE SEGURANÇA

DESISTÊNCIA DE MS APÓS JÁ TER SIDO PROLATADA SENTENÇA DE MÉRITO

É possível que o impetrante desista do MS após já ter sido prolatada sentença de mérito?
Em REGRA, SIM. Existem julgados do STF e STJ admitindo (STF. RE 669367/RJ, Min. Rosa Weber, julgado em
02/05/2013; STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013. Info 533).
O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, EM UM CASO CONCRETO NOTICIADO NESTE INFORMATIVO, O
STF AFIRMOU QUE NÃO É CABÍVEL A DESISTÊNCIA DE MANDADO DE SEGURANÇA, nas hipóteses em que se discute a
exigibilidade de concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando na espécie já houver sido
proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos. No caso concreto, O PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO MS FOI
FORMULADO APÓS O IMPETRANTE TER INTERPOSTO VÁRIOS RECURSOS SUCESSIVOS (embargos de declaração e agravos
regimentais), TODOS ELES JULGADOS IMPROVIDOS. Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que tudo levaria a
crer que o objetivo do impetrante ao desistir seria o de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa
julgada. Com isso, ele poderia propor uma ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a controvérsia,
ganhando tempo antes do desfecho definitivo contrário. Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do
STF indeferiu o pedido de desistência. STF. 2ª Turma. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS
29189 ED-ED-AgR/DF, MS 29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-AgR/DF, MS 29101
ED-ED-AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2015 (Info 781).

Natureza da decisão e cabimento de recurso especial para impugná-la

Cabe recurso especial da decisão proferida no âmbito do pedido de suspensão?


• Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de
suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de
legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
• Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de suspensão de
segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional. Com base nisso, decidiu que é
cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão de
segurança (RE 798740 AgR/DF).
STF. 1ª Turma. RE 798740 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
1º/9/2015 (Info 797).

CONCEITO
O pedido de suspensão é
- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos,
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas.

NOMENCLATURA
Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque ele foi previsto
originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou sentenças proferidas em mandados
de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para
praticamente toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em “suspensão de liminar”,
“suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc.

PREVISÃO LEGAL
Há cinco diferentes dispositivos legais prevendo pedido de suspensão:
 art. 12, § 1º da Lei nº 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP);
 art. 4º da Lei nº 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em ação popular ou em
ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral sobre o pedido de suspensão;
 art. 1º da Lei nº 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda Pública);
 art. 16 da Lei nº 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
 art. 15 da Lei nº 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).

NATUREZA JURÍDICA
Prevalece que se trata de um “INCIDENTE PROCESSUAL” (Leonardo José Carneiro da
Cunha).

A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?

1ª corrente: POLÍTICO 2ª corrente: JURISDICIONAL


Trata-se de um juízo político a respeito da A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em
lesividade do ato judicial à ordem, à saúde, à sede de suspensão de segurança não é
segurança e à economia públicas. estritamente política, possuindo conteúdo
É a posição pacífica do STJ. jurisdicional.
É com base nesse entendimento que o STJ não Com base nessa compreensão, a 1ª Turma do STF
admite recurso especial contra decisões proferidas chegou à conclusão que é cabível, em tese,
no âmbito do pedido de suspensão de segurança. recurso especial contra decisões proferidas no
Segundo o STJ, o recurso especial se destina a âmbito do pedido de suspensão de segurança (RE
combater argumentos que digam respeito a 798740 AgR/DF).
exame de legalidade, ao passo que o pedido de
suspensão ostentaria juízo político.
POSSIBILIDADE DE FORMULAR PEDIDO DE SUSPENSÃO E INTERPOR RECURSO
Contra uma decisão interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser interpostos o agravo
de instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso porque o pedido de suspensão não é
recurso. Logo, não há violação ao princípio da singularidade ou unirrecorribilidade. Além disso, os
objetivos do agravo e do pedido de suspensão são diferentes.
Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente:
Lei n.° 8.437/92
Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas
contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de
suspensão a que se refere este artigo.
Lei n.° 12.016/2009
Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movida
contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de
suspensão a que se refere este artigo.

LEGITIMIDADE
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS;
b) AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES;
c) MINISTÉRIO PÚBLICO;
d) CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇO PÚBLICO (DESDE QUE PARA TUTELAR O INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO).

COMPETÊNCIA
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente do
Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de suspensão será
juiz de 1ª instância: julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de suspensão será
julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
 Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
 Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de suspensão
será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao Presidente do TJ/AM
(art. 25 da Lei nº 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de pedido de
Decisão prolatada por
suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há possibilidade de
Superior:
pedido de suspensão.

NÃO SE EXAMINA O MÉRITO NO PEDIDO DE SUSPENSÃO:


Na análise do pedido de suspensão, é VEDADO O EXAME DO MÉRITO DA DEMANDA PRINCIPAL. O
que será examinado pelo Tribunal é se a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
• ORDEM;
• SAÚDE;
• SEGURANÇA; OU
• ECONOMIA PÚBLICAS.
A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à ordem, à
segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de mérito da demanda principal não podem ser
examinados nessa medida, que não substitui o recurso próprio.
(AgRg na SLS 1.135/MA, Rel. Ministro PRESIDENTE DO STJ, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR ASFOR ROCHA,
CORTE ESPECIAL, julgado em 12/04/2010, DJe 20/05/2010)

APESAR DE NÃO SE EXAMINAR O MÉRITO, DEVE SER REALIZADO UM JUÍZO MÍNIMO DE DELIBAÇÃO
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é preciso, para
que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade na tese da Fazenda Pública,
porque o PEDIDO DE SUSPENSÃO FUNCIONA COMO UMA CONTRACAUTELA, devendo, por isso, demonstrar
fumus boni iuris e periculum in mora inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de um juízo mínimo
de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal, quando da análise do pedido de
suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel.
Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-
04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)

RECURSO CONTRA A DECISÃO PROFERIDA NO PEDIDO DE SUSPENSÃO:


Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso?
SIM. Caberá AGRAVO INTERNO PARA O PLENÁRIO OU CORTE ESPECIAL DO TRIBUNAL. Nesse sentido, veja o § 3º
do art. 4º da Lei nº 8.437/92:
§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, NO PRAZO DE CINCO DIAS, que
será levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.

Obs: o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda Pública ou pelo
MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que confere prazo em dobro para recorrer à
Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto ser o incidente de suspensão de liminar
previsto no art. 4º, § 3º da Lei 8.437/1992.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013 (Info 523).

Cabe recurso especial da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
 Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de
suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de
legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
 Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de suspensão de
segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional. Com base nisso, decidiu que
é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão de
segurança (RE 798740 AgR/DF).

NOVO PEDIDO DE SUSPENSÃO:


No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou mantida a suspensão, a Fazenda Pública ainda
terá outro instrumento: apresentar novo pedido de suspensão, desta vez para o STJ ou para o STF, a
depender da natureza da matéria (se infraconstitucional ou constitucional).

Lei n.° 8.437/92


Art. 4º (...) § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de suspensão ao Presidente
do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.
Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente para o
Plenário, que reforma a decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em primeira
instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de formular novo pedido
de suspensão para o STJ ou para o STF.

Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de formular
novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

A doutrina afirma que se trata de um pedido de suspensão “por salto de instância”.

RECURSOS

TEMPESTIVIDADE DO RECURSO INTERPOSTO ANTES DA DECISÃO RECORRIDA TER SIDO PUBLICADA

MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! Imagine que antes de o acórdão ser publicado no Diário de Justiça,
o advogado da parte soube da decisão e opôs embargos de declaração contra ela. Tais embargos são
tempestivos? O recurso contra a decisão que ainda não foi publicada é tempestivo segundo o

STF? SIM. A DMITE-SE A INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS OFERECIDOS ANTES


DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO EMBARGADO E DENTRO DO PRAZO RECURSAL.
Se a parte tomar conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entender haver
omissão, contradição ou obscuridade, pode embargar imediatamente. Não há nada que impeça isso.
Não se pode dizer que o recurso é prematuro porque o prazo começa a correr da data de
intimação da parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento do acórdão,
supre a intimação. Assim, se a parte se sentir preparada para recorrer antecipadamente, pode fazê-
lo. Essa conclusão é reforçada pelo art. 1.024, § 5º do novo CPC.
Vale ressaltar que, por enquanto, o STJ tem entendimento em sentido contrário, conforme se
verifica pela Súmula 418.
STF. Plenário. AI 703269 AgR-ED-ED-EDv-ED/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (Info 776)
D) ESSE ENTENDIMENTO ACIMA EXPOSTO JÁ ERA MAJORITÁRIO NO STF? NÃO. Antes do julgado acima,
o entendimento majoritário no STF era o de que o recurso interposto antes da publicação
do acórdão era prematuro (precoce) e, portanto, intempestivo.
E) STJ E TST. Vale ressaltar que o STJ e o TST entendem que o recurso interposto antes da
publicação do acórdão recorrido é prematuro:
F) NOVO CPC: O novo entendimento do STF acima exposto continua válido com o novo CPC? SIM.
Na verdade, o novo CPC reforça a nova conclusão do STF.

Recurso apresentado em setor errado do Tribunal

Se o advogado deu entrada no recurso, no último dia do prazo, no setor da contadoria do Tribunal
em vez de ser no protocolo, ainda assim o recurso terá que ser considerado tempestivo . Isso porque o
referido erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado, mas também ao setor da
contadoria que recebeu a petição do recurso indevidamente.
STF. 1ª Turma. RE 755613 AgR-ED/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

NÃO CABIMENTO DE DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR


O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto após decisão monocrática proferida pelo
relator, haja vista não esgotada a prestação jurisdicional pelo tribunal de origem. Aplica-se, no caso, o
enunciado 281 do STF:
Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso
ordinário da decisão impugnada.
STF. 2ª Turma. ARE 868922/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

RECONHECIDA A REPERCUSSÃO GERAL, NÃO É MAIS POSSÍVEL QUE AS PARTES DESISTAM DO PROCESSO

Um dos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário é a repercussão geral. Desse


modo, para que o RE seja conhecido, é necessário que o recorrente demonstre a repercussão
geral das questões constitucionais discutidas no caso.
ANTES DO STF APRECIAR O MÉRITO DO RECURSO, ELE PRIMEIRO DECIDE SE AQUELE DETERMINADO TEMA
DISCUTIDO POSSUI REPERCUSSÃO GERAL.
É comum que essa decisão reconhecendo a existência de repercussão geral seja proferida em uma
data e somente meses ou até anos depois é que o STF aprecia o mérito do recurso.
O STF decidiu que, uma vez reconhecida a repercussão geral da questão constitucional
discutida no caso, não é mais possível às partes a desistência do processo.
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi
reconhecida continuará sendo analisada. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão
geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários
ou especiais repetitivos.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/9/2015 (Info 797).

Análise por amostragem da repercussão geral


Um dos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário é a repercussão geral.
Desse modo, para que o RE seja conhecido, é necessário que o recorrente demonstre a repercussão
geral das questões constitucionais discutidas no caso.
O STF não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não
oferecer repercussão geral.
O objetivo da exigência da “repercussão geral” foi o de evitar que o STF julgasse recursos
extraordinários de menor relevância, contribuindo, assim, para a redução do volume de processos na
Corte.
Diz-se que há repercussão geral no recurso extraordinário quando existem questões relevantes
do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassam os interesses
subjetivos da causa.

Quando houver uma grande quantidade de recursos extraordinários que versem sobre o mesmo
tema, o STF poderá fazer a análise da repercussão geral por amostragem. Dito de forma mais
simples, o STF seleciona um ou alguns poucos recursos extraordinários, debate a tese ali
apresentada, chega a uma conclusão e aplica a mesma solução para todos os demais recursos
semelhantes.

Decisão reconhecendo a repercussão geral


Antes de o STF apreciar o mérito do recurso, ELE PRIMEIRO DECIDE SE AQUELE DETERMINADO TEMA
DISCUTIDO POSSUI REPERCUSSÃO GERAL.
É comum que essa decisão reconhecendo a existência de repercussão geral seja proferida em uma
data e somente meses ou até anos depois é que o STF aprecia o mérito do recurso.

DEPOIS QUE O STF RECONHECE A REPERCUSSÃO GERAL É INCABÍVEL A


DESISTÊNCIA
O STF decidiu que, uma vez reconhecida a repercussão geral da questão constitucional discutida no
caso, não é mais possível às partes a desistência do processo.
No caso concreto, pouco tempo antes de instaurar-se a sessão de julgamento, a parte recorrida
peticionou ao STF pedindo a desistência do mandado de segurança que ensejara o recurso
extraordinário.
O Relator afirmou que, em regra, a parte impetrante pode desistir do mandado de segurança,
independentemente da concordância da autoridade coatora, da parte contrária ou da entidade
estatal interessada. Esse é o entendimento do STF firmado no RE 669.367/RJ (DJe de 29.10.2014). No
entanto, no caso concreto, a situação seria diferente, uma vez que o processo está em fase de
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida. Estando com a repercussão geral
reconhecida, o processo perde o caráter individual e ganha contornos de processo objetivo, uma vez
que na decisão a ser proferida irá ser construída uma tese geral que irá influenciar outros casos
semelhantes.

CPC 2015
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi
reconhecida continuará sendo analisada. Em outras palavras, a parte pode até desistir do processo,
mas mesmo assim a tese jurídica que era discutida na lide será definida pelo STF. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes,
desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já
tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais
repetitivos.

Confira o que diz a doutrina:


"O parágrafo único do art. 998, por sua vez, busca compatibilizar o interesse público subjacente ao
julgamento de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida e recursos extraordinários
e/ou repetitivos já afetados como tais como o interesse das partes. A melhor interpretação para a
nova regra é a de que a questão jurídica derivada do recurso poderá ser julgada, a despeito da
desistência; não o recurso do qual se desistiu, cujo processo terá sorte apartada daquele outro
julgamento, ocasionando que a decisão recorrida, eventualmente - se for este o caso -, transite
materialmente em julgado." (BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São
Paulo: Saraiva, p. 640).

"(...) o art. 998, parágrafo único, CPC, permite que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal
de Justiça se pronunciem sobre questões recursais ainda que a parte tenha desistido do recurso.
Nesse caso, obviamente que a pronúncia da Corte não poderá alcançar o recurso da parte. Servirá,
porém, para outorgar unidade ao direito, valendo como precedente." (MARINONI, Luiz Guilherme;
AREHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT,
2015, p. 933).

JUIZADOS ESPECIAIS

COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que crie, como REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE para a


INTERPOSIÇÃO DE RECURSO INOMINADO no âmbito dos juizados especiais, o DEPÓSITO PRÉVIO DE
100% DO VALOR DA CONDENAÇÃO. TAL NORMA VIOLA A COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA
LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL, além de vulnerar os princípios do acesso à jurisdição, do
contraditório e da ampla defesa.
STF. Plenário. ADI 2699/PE, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 20/5/2015 (Info 786).

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONSTITUEM-SE EM VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR

SÚMULA VINCULANTE 47-STF: OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS INCLUÍDOS NA CONDENAÇÃO OU DESTACADOS DO


MONTANTE PRINCIPAL DEVIDO AO CREDOR CONSUBSTANCIAM VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR CUJA SATISFAÇÃO
OCORRERÁ COM A EXPEDIÇÃO DE PRECATÓRIO OU REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR, OBSERVADA ORDEM ESPECIAL
RESTRITA AOS CRÉDITOS DESSA NATUREZA.
STF. PLENÁRIO. APROVADA EM 27/05/2015, DJE 01/06/2015.

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

ACP PROPOSTA CONTRA PREFEITO E PREVISÃO NA LEI ESTADUAL DE QUE TAL ATRIBUIÇÃO É PRIVATIVA
DO PGJ

É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de Justiça
poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos,
membros do MP ou membros da Magistratura (STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado
em 14/04/2010).
O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste caso,
legítima a ACP proposta contra tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.
STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

LEI ORGÂNICA DO MP/MS


A Lei Complementar estadual n. 72/94 (Lei Orgânica do MP/MS) prevê que somente o Procurador-
Geral de Justiça poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais,
Prefeitos, membros do MP ou membros da Magistratura.

ESSA PREVISÃO É CONSTITUCIONAL?


SIM. O STF decidiu que essa previsão é compatível com a CF/88, não havendo nenhuma
inconstitucionalidade. Confira a ementa:
(...) 1. Competência exclusiva do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para
propor a ação civil pública contra autoridades estaduais específicas.
2. A legitimação para propositura da ação civil pública --- nos termos do artigo 129, inciso III, da
Constituição do Brasil --- é do Ministério Público, instituição una e indivisível.
3. O disposto no artigo 30, inciso X, da LC 72/94, estabelece quem, entre os integrantes daquela
instituição, conduzirá o inquérito civil e a ação civil pública quando a responsabilidade for decorrente
de ato praticado, em razão de suas funções, por determinadas autoridades estaduais.
4. A Lei Complementar objeto desta ação não configura usurpação da competência legislativa da
União ao definir as atribuições do Procurador-Geral. Não se trata de matéria processual. A questão é
atinente às atribuições do Ministério Público local, o que, na forma do artigo 128, § 5º, da CB/88, é da
competência dos Estados-membros.
5. A Lei Complementar n. 72, do Estado de Mato Grosso do Sul, não extrapolou os limites de sua
competência. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. Cassada a liminar
anteriormente concedida.
STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010.

IMAGINE AGORA A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:


Houve notícia de que Prefeito de uma cidade do interior do Mato Grosso do Sul estava praticando
ilegalidades na aplicação das verbas destinadas à saúde da população local.
Diante disso, o Procurador-Geral de Justiça do Estado do MS editou uma portaria delegando poderes
para que o Promotor de Justiça que atuava na comarca instaurasse inquérito civil e ajuizasse ação civil
pública em relação a esses fatos.
Alguns meses depois, o Promotor de Justiça manejou ACP contra o Prefeito e este, em sua defesa,
alegou que estava sendo processado por autoridade incompetente e que a ação seria ilegal porque
violaria a legitimidade prevista na LC estadual 72/94.

A TESE DA DEFESA DEVERÁ SER ACOLHIDA?


NÃO. O STF decidiu que a ação seria legal porque É PERMITIDO QUE O PROCURADOR-GERAL DE
JUSTIÇA FAÇA DELEGAÇÃO DE ATRIBUIÇÕES A OUTROS MEMBROS DA INSTITUIÇÃO, DENTRE ELAS
A DE PROPOR ACP.
Vale ressaltar que EXISTE REGRA EXPRESSA NA LEI ORGÂNICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL A PERMITIR
ESSA DELEGAÇÃO DE PODERES UTILIZADA COMO FUNDAMENTO PARA A EDIÇÃO DE PORTARIA VOLTADA PARA
ESSE FIM.

DIREITO PENAL
CRIMES TRIBUTÁRIOS

APLICAÇÃO DA SV 24-STF A FATOS ANTERIORES À SUA EDIÇÃO

A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento definitivo do
tributo. Em outras palavras, não existe crime antes da constituição definitiva do crédito tributário.
Logo, indiretamente, a SV afirma que o prazo prescricional só começa a ser contado no dia da
constituição definitiva do crédito tributário já que é nessa data que o delito se consuma (art. 111, I,
do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial para o réu
porque mesmo ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo prescricional nem começou a
correr se ainda não houve constituição definitiva do crédito tributário. Fica assim mais difícil de o
agente escapar da prescrição. O Estado-acusação acaba “ganhando” mais tempo para oferecer a
denúncia antes que o crime prescreva.
Desse modo, surgiu a tese defensiva de que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao réu, não poderia
retroagir para ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, sob pena de isso ser considerado
aplicação retroativa “in malam partem”. Esse argumento foi aceito? É proibido aplicar a SV 24-STF
para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à sua edição. NÃO
SE PODE CONCORDAR COM O ARGUMENTO DE QUE A APLICAÇÃO DA SV 24-STF A FATOS ANTERIORES À SUA
EDIÇÃO CONFIGURA RETROATIVIDADE “IN MALAM PARTEM”. Isso porque O ALUDIDO ENUNCIADO
APENAS CONSOLIDOU INTERPRETAÇÃO REITERADA DO STF SOBRE A MATÉRIA.
A SÚMULA VINCULANTE NÃO É LEI NEM ATO NORMATIVO, DE FORMA QUE A SV 24-STF NÃO
INOVOU NO ORDENAMENTO JURÍDICO. O ENUNCIADO APENAS ESPELHOU (DEMONSTROU) O
QUE A JURISPRUDÊNCIA JÁ VINHA DECIDINDO.
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info 786).

PRESCRIÇÃO

NÃO SE ADMITE A DENOMINADA PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA

A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em
que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o inquérito ou
processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena
em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí,
examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o
permitido pela lei.
A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada”
ou “antecipada”.
O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a) em
virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria uma afronta ao princípio da presunção
de não-culpabilidade.
O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ).
STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

O QUE É A CHAMADA PRESCRIÇÃO VIRTUAL?


Ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em que o prazo
prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o inquérito ou processo
continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em
concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí,
examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o
permitido pela lei.
EXEMPLO:
João foi denunciado por furto simples, tendo a denúncia sido recebida em 2010 (marco interruptivo
da prescrição). A pena para o furto simples vai de 1 a 4 anos (art. 155 do CP).
O juiz novo chega na vara em 2015 e verifica que até agora o processo de João praticamente não
evoluiu. Nem se marcou ainda a audiência de instrução.
Diante disso, ele pensa:
• Se João for condenado a 1 ano, a prescrição pela pena em concreto será em 4 anos (art. 109,
V do CP). Já se passaram mais de 3 anos desde o último dia da interrupção da prescrição. Isso
significa que a instrução e a sentença condenatória “não servirão para nada” já que, mesmo
condenado, o crime estará prescrito.
• Se João for condenado a 2 anos, será a mesma situação acima porque a prescrição pela pena
em concreto será em 4 anos (art. 109, V do CP) e já se passaram mais de 5 anos desde o
recebimento da denúncia.
• Logo, para que o crime não esteja prescrito, é necessário que a pena imposta a João seja
superior a 2 anos, porque aí a prescrição subiria para 8 anos (art. 109, IV, do CP).
• Ocorre que, na visão do juiz, não existem circunstâncias judiciais nem agravantes nem causas
de aumento. Logo, não há motivos para que a pena de João (se ele for condenado) saia do
mínimo legal (1 ano). Mesmo que seja maior que o mínimo, não existem razões para que ela
supere 2 anos.

Depois de fazer todo esse prognóstico, o juiz conclui que é inútil marcar instrução, expedir mandados
de intimação, gastar recursos com oficial de justiça, ouvir testemunhas e o réu, sabendo (ou tendo
praticamente certeza) que, mesmo se condenado, o réu não irá cumprir pena.
Diante disso, ele profere uma sentença julgando extinta a punibilidade com base na “prescrição
virtual” afirmando que não existe interesse de agir do Estado, já que o processo penal não terá
utilidade.
SINÔNIMOS
A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada”
ou “antecipada”.

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS

DELITO DO INCISO I DO DL 201/67

O crime do ART. 1º, I, DECRETO-LEI 201/1967 É PRÓPRIO, SOMENTE PODENDO


DO SER
PRATICADO POR PREFEITO, ADMITIDA, PORÉM, A PARTICIPAÇÃO, nos termos do art. 29 do CP.
Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o
repasse de recursos para o Município “X”, verba destinada à aquisição de uma ambulância. O recurso
foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de determinada
empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da
empresa vencedora estavam em conluio para a prática dessa conduta. Desse modo, todos ELES IRÃO
RESPONDER PELO DELITO DO ART. 1º, I, DO DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

OBS: O DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF).
CRIME DO INCISO I
Como dito, o art. 1º do DL 201/67 elenca diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos. Vamos
estudar o inciso I:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio; (...)
§ 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de
reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.

O QUE SÃO CRIMES DE RESPONSABILIDADE?


Tecnicamente falando, CRIMES DE RESPONSABILIDADE SÃO INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS
PRATICADAS POR PESSOAS QUE OCUPAM DETERMINADOS CARGOS PÚBLICOS.
Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele NÃO RECEBERÁ SANÇÕES PENAIS
(prisão ou multa), mas SIM SANÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS (perda do cargo e inabilitação para o
exercício de função pública).

O art. 1º prevê realmente crimes de responsabilidade?


NÃO. O art. 1º afirma que os delitos nele elencados são “crimes de responsabilidade”. Apesar de ser
utilizada essa nomenclatura, a doutrina e a jurisprudência “corrigem” o legislador e afirmam que, na
verdade, esses delitos SÃO CRIMES COMUNS, ou seja, infrações penais iguais àquelas tipificadas
no Código Penal e em outras leis penais.
Desse modo, o que o art. 1º traz SÃO CRIMES FUNCIONAIS COMETIDOS POR PREFEITOS.
Vale ressaltar que OS CRIMES DE RESPONSABILIDADE (EM SENTIDO ESTRITO) DOS PREFEITOS ESTÃO PREVISTOS NO
ART. 4º DO DL 201/67. É nesse dispositivo que estão definidas as infrações político-administrativas dos
alcaides. Nesse sentido: STF. Plenário. HC 70671, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 13/04/1994.

OS CRIMES FUNCIONAIS DOS PREFEITOS ESTÃO PREVISTOS EXCLUSIVAMENTE NO ART. 1º DO DL 201/67?


NÃO. Os Prefeitos poderão responder também pelos crimes funcionais previstos no Código Penal,
na Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93) e em outras leis penais, desde que tais condutas não estejam
descritas no art. 1º DL 201/67. Os crimes tipificados nas demais leis somente incidirão para os
Prefeitos se não estiverem previstos no DL 201/67, que é norma específica.

BEM JURÍDICO PROTEGIDO: o PATRIMÔNIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICa e a MORALIDADE ADMINISTRATIVA.

NO ENTANTO, A DEPENDER DO CASO CONCRETO,


Sujeito passivo: EM REGRA, É O MUNICÍPIO.
PODERÁ TAMBÉM SER VÍTIMA DO CRIME O ESTADO OU A UNIÃO. É o caso em que o Prefeito se
apropria ou desvia de bens ou rendas públicas pertencentes ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito
que desvia recursos de um convênio federal).
Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a competência para julgar o crime é da Justiça
Estadual. SE O SUJEITO PASSIVO FOR A UNIÃO, A COMPETÊNCIA SERÁ DA JUSTIÇA FEDERAL.

SUJEITO ATIVO: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou
por quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de
Vereadores).

SE O SUJEITO COMETE O CRIME DO ART. 1º DO DL 201/67, MAS TERMINA SEU MANDATO SEM QUE ELE SEJA
DENUNCIADO, É POSSÍVEL QUE ELE RESPONDA PELO DELITO MESMO NÃO SENDO MAIS PREFEITO?
CLARO QUE SIM. EXISTEM DOIS ENUNCIADOS AFIRMANDO ISSO:

SÚMULA 164-STJ: O PREFEITO MUNICIPAL, APÓS A EXTINÇÃO DO MANDATO, CONTINUA SUJEITO A PROCESSO POR CRIME
PREVISTO NO ART. 1º DO DEC. LEI N. 201, DE 27/02/67.
SÚMULA 703-STF: A EXTINÇÃO DO MANDATO DO PREFEITO NÃO IMPEDE A INSTAURAÇÃO DE PROCESSO PELA PRÁTICA DOS
CRIMES PREVISTOS NO ART. 1º DO DL 201/67.

É POSSÍVEL A COAUTORIA E A PARTICIPAÇÃO?


SIM. O crime do art. 1º, é próprio, somente podendo ser praticado por Prefeito, mas é possível que
ocorram as figuras da coautoria e da participação, nos termos do art. 29 do CP.
Em outras palavras, além do Prefeito, outras pessoas podem responder pelo delito como coautores ou
partícipes.

Em que consiste o delito do inciso I:


Ocorre quando o Prefeito...
- se apropria (fica para si, como se fosse dono)
- ou desvia (dá para a coisa um destino diferente daquilo que era o correto)
- bens públicos
- ou rendas públicas
- em PROVEITO PRÓPRIO ou DE OUTRA PESSOA.
EXEMPLO:
Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de
recursos para o Município “X”, verba destinada à aquisição de uma ambulância.
O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de
determinada empresa que superfaturou o preço.
Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio
para a prática dessa conduta.
Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Peculato: a doutrina afirma que esse crime É UMA FORMA ESPECÍFICA DE PECULATO (art. 312 do
CP), ou seja, é como se fosse um crime de peculato mas cometido por Prefeito.

Prefeito que desvia bens ou rendas públicas em proveito da própria Administração: NÃO COMETE O
DELITO DO INCISO I UMA VEZ QUE ESTE TIPO PENAL EXIGE QUE HAJA DESVIO EM PROVEITO PRÓPRIO (PESSOAL
DO PREFEITO) OU PROVEITO ALHEIO (DE TERCEIRA PESSOA). No entanto, ELE PODERÁ RESPONDER PELO
INCISO III.
Tipo subjetivo: o crime do art. 1º só é punido a título de dolo. Não existe forma culposa.
Consumação: TRATA-SE DE CRIME MATERIAL. No caso de apropriação, consuma-se quando
o agente passa a agir como se fosse dono. Na modalidade desvio, consuma-se quando o Prefeito dá
uma destinação para a coisa diversa daquela que estava legalmente prevista.

TORTURA
Regime inicial de cumprimento de pena

O STF já decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes
hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Para o STJ, isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a
crime hediondo. Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº
9.455/1997, por ser esta norma também inconstitucional. Assim, não é obrigatório que o condenado
por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. O juiz, no momento
da dosimetria da pena, deverá seguir as regras do art. 33 do CP.
No julgado noticiado neste Informativo, o Min. Marco Aurélio manifesta posição pessoal de que o art.
1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997 seria constitucional, ou seja, seria legítima a regra que impõe o regime
inicial fechado para o crime de tortura. O inteiro teor do julgado ainda não foi divulgado, mas penso
que se trata de uma posição minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio. Os demais Ministros
acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade do que de tese jurídica. Isso porque os
demais Ministros entendiam que, no caso concreto, nem caberia habeas corpus considerando que já
havia trânsito em julgado. No entanto, eles não aderiram expressamente à tese do Relator.
STF. 1ª Turma. HC 123316/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/6/2015 (Info 789).

MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)

Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado

A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgados em 24/6/2015
(Info 791).

MAUS ANTECEDENTES

Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda


poderá ser utilizada como maus antecedentes?

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção
da pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? APÓS O PERÍODO DEPURADOR, AINDA
SERÁ POSSÍVEL CONSIDERAR A CONDENAÇÃO COMO MAUS ANTECEDENTES?
1ª CORRENTE: SIM. POSIÇÃO DO STJ.
2ª corrente: NÃO. Posição do STF.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
01/09/2015. STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info
799).

SIM. Posição do STJ NÃO. Posição do STF


Para o entendimento pacificado no STJ, A existência de condenação anterior, ocorrida
mesmo em prazo superior a cinco anos, contado da
ultrapassado o lapso temporal de cinco anos, extinção da pena, também não poderá ser
a condenação anterior transitada em julgado considerada como maus antecedentes.
pode ser considerada como maus Após o prazo de cinco anos previsto no art.
antecedentes, nos termos do art. 59 do CP. 64, I, do CP, cessam não apenas os efeitos
decorrentes da reincidência, mas também
“Apesar de desaparecer a condição de qualquer outra valoração negativa por
reincidente, o agente não readquire a condutas pretéritas praticadas pelo agente.
condição de primário, que é como um Ora, se essas condenações não mais servem
estado de virgem, que, violado, não se refaz. para o efeito da reincidência, com muito
A reincidência é como o pecado original: maior razão não devem valer para fins de
desaparece, mas deixa sua mancha, servindo, antecedentes criminais. “O homem não pode
por exemplo, como antecedente criminal ser penalizado eternamente por deslizes em
(art. 59, caput)” (BITENCOURT, Cezar seu passado, pelos quais já tenha sido
Roberto. Código Penal Comentado. São condenado e tenha cumprido a reprimenda
Paulo: Saraiva, 2007, p. 238). que lhe foi imposta em regular processo penal.
Faz ele jus ao denominado ‘direito ao
esquecimento’, não podendo perdurar
indefinidamente os efeitos nefastos de uma
condenação anterior, já regularmente
extinta.” (Min. Dias Toffoli).
Esse lapso de cinco anos é chamado de
"período depurador".
Reincidência: sistema da temporariedade. Tanto a reincidência como os maus
Maus antecedentes: sistema da perpetuidade. antecedentes
obedecem ao sistema da temporariedade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. STF. 1ª Turma. HC 119200, Rel. Min. Dias
Min. Toffoli,
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em julgado em 11/02/2014.
01/09/2015 STJ. 6ª Turma. HC 240.022/SP, STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min.
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Gilmar Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info
julgado em 11/03/2014. 799).

Obs.1: o tema será pacificado pelo STF no RE 593818 RG, que foi afetado para julgamento pelo
Plenário sob a sistemática da repercussão geral.

Obs.2: cuidado. Alguns livros de Direito Penal fornecem uma explicação em sentido contrário ao
que vem sendo decidido pelo STF

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Aplicação em caso de reincidência e furto qualificado

É possível aplicar o princípio da insignificância em favor de um réu reincidente ou que já responda a


outros inquéritos ou ações penais?
É possível aplicar o princípio da insignificância em caso de furto qualificado?
O Plenário do STF, ao analisar o tema, afirmou que não é possível fixar uma regra geral (uma tese)
sobre o assunto. A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância deve ser feita
caso a caso.
Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação do
princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já responda a outros inquéritos ou ações
penais. De igual modo, nega o benefício em situações de furto qualificado.
STF. Plenário.HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados
em 3/8/2015 (Info 793).

REQUISITOS OBJETIVOS (VETORES) PARA A APLICAÇÃO DO


PRINCÍPIO:
O Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP) idealizou quatro requisitos objetivos para a aplicação
do princípio da insignificância, sendo eles adotados pela jurisprudência do STF e do STJ.
Segundo a jurisprudência, somente se aplica o princípio da insignificância se estiverem
presentes os seguintes requisitos cumulativos:
a) Mínima ofensividade da conduta;
b) Nenhuma periculosidade social da ação;
c) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Qual é a diferença entre cada um desses requisitos?


NÃO SEI. Acho que NINGUÉM SABE AO CERTO. Os julgados que mencionam esses
requisitos não explicam o que seja cada um deles, até porque alguns parecem se confundir. A
doutrina critica esses critérios. Paulo Queiroz, por exemplo, afirma que esses requisitos são
claramente tautológicos e apenas dizem a mesma coisa com palavras diferentes,
argumentando em círculo (Curso de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 89).
Desse modo, não se preocupe em diferenciá-los, mas é importante ter uma noção dos quatro
para fins de concurso.

PRINCIPAIS ARGUMENTOS DO STF AO JULGAR OS HC 123108/MG, HC 123533/SP E HC


123734/MG NEGAR A INSIGNIFICÂNCIA:

 Ao analisar se deverá ser aplicado ou não o princípio da insignificância, é preciso que o


Poder Judiciário avalie as consequências jurídicas e sociais que irão decorrer desse fato.
 Negar a tipicidade a condutas como essa acima exposta significaria afirmar que, doponto
de vista penal, essa conduta seria lícita, o que não é verdade.
 Vale ressaltar que a vítima, em tese, poderia pleitear uma indenização do agente pelos
prejuízos que sofreu. No entanto, isso, na prática, seria inviável (seria um possibilidade
meramente formal), já que dificilmente alguém entraria com ação judicial pleiteando um
valor tão baixo diante dos custos e do trabalho que essa pessoa teria.
 Sendo assim, se o agente não for punido na esfera penal, ele ficará sem punição alguma,
considerando que, como já dito, a parte lesada raramente ingressa com ação de indenização
contra o autor do fato.
 A inação do Estado em punir o infrator que comete crimes considerados insignificantes
poderia estimular que a vítima fizesse justiça privada (“justiça com as próprias mãos”).
Assim, a pretexto de favorecer o agente, a imunização de sua conduta pelo Estado o
deixaria exposto a uma situação com repercussões imprevisíveis e mais graves.
 Desse modo, o julgador, ao analisar a insignificância como requisito negativo da
tipicidade, especialmente em se tratando de crimes contra o patrimônio, deve fazer um
juízo (uma avaliação) muito mais abrangente, não podendo ficar restrito a apenas
examinar o resultado da conduta do agente.
 O julgador deverá investigar o desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo,
traduzido pela ausência de periculosidade social, pela mínima ofensividade e pela ausência
de reprovabilidade, de modo a impedir que a vontade do legislador que editou o crime seja
desvirtuada.
 O legislador previu algumas situações em que ele próprio considerou serem de menor
importância (ex: art. 155, § 2º do CP). Para que se considere o fato insignificante a ponto de
se conduzir à atipicidade da conduta, é necessário ir além da irrelevância penal prevista em
lei.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Ressarcimento do prejuízo em acordo homologado no juízo cível e sua repercussão no processo


criminal

A advogada ficou com o dinheiro recebido pelo cliente e só devolveu a quantia após ser
demandada judicialmente e fazer acordo em ação de cobrança.
Vale ressaltar que, a esta altura, já havia um inquérito policial instaurado para apurar
eventual crime de apropriação indébita.
O STF, com base em peculiaridades do caso concreto, decidiu trancar a ação penal por falta de justa
causa.
Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível que colocou fim à pendência ocorreu em novembro
de 2012 e a denúncia só foi formalizada quase um ano após.
Além disso, o juiz do processo cível determinou a comunicação à Delegacia de Polícia sobre o acordo.
Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a situação seria excepcional e suficiente para se
trancar a ação penal.
Entendeu-se que a relação jurídica cível repercute porque o acerto de contas se deu em data
anterior à propositura da ação penal.
STF. 1ª Turma.RHC 125283/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/8/2015 (Info 793).
Obs: a decisão acima do STF baseou-se nas peculiaridades do caso concreto e não se pode dizer que
isso valha para todas as situações envolvendo apropriação indébita e restituição da coisa. Apesar
disso, é importante você ficar atento(a) na hora da prova porque pode ser cobrado este julgado de
forma específica.

ESTELIONATO

Estelionato e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia

O art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu
é causa de extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato causando prejuízo aos cofres
públicos. Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente os danos produzidos. Isso
poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003?
NÃO. A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº
10.684/2003, relativamente ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao delito de
estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º
da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP
(sonegação de contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não
está listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por
analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que são
ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos diferentes.
Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior,
tendo sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559).

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na direção de veículo

Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu veículo de
forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém, ele responderá pelo
crime do art. 303, parágrafo único, do CTB, ficando o delito do art. 309 do CTB
absorvido por força do princípio da consunção.
O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por outro
lado, a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à
representação. Imagine que a vítima não exerça seu direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública condicionada à
representação. Como a representação não foi formalizada pela vítima, HOUVE EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE, QUE ABRANGE TANTO A LESÃO CORPORAL COMO A CONDUTA
DE DIRIGIR SEM HABILITAÇÃO.
STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Porque há a consunção?
Porque o CTB estabelece que, se a lesão corporal culposa for praticada por um motorista que não
tenha habilitação para dirigir, haverá uma causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do
art. 303 c/c o art. 302, § 1º, I. Veja:
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do
§ 1º do art. 302.
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou
a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

Levando em conta a vedação de BIS IN IDEM, não se pode admitir que o mesmo fato seja atribuído
ao paciente como crime autônomo e, ao mesmo tempo, como causa especial de aumento de pena.

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI 8.137/90)

DOSIMETRIA DA PENA

Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90).
O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a
pena-base com fundamento em dois argumentos:
Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu omitiu seu
nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele quem realmente
administrava a empresa.
O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da empresa)
teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa investigada e, com
isso, furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário
não é a mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do nome
do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a omissão do nome do réu não significa
punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o crime
praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que autorizaria a
elevação da pena-base. Segundo entende o STF, em se tratando de infrações penais contra a ordem
tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1ª fase da dosimetria como critério
para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).
PROCESSO PENAL

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

LEGITIMIDADE DO MP PARA PROMOVER, POR AUTORIDADE PRÓPRIA, INVESTIGAÇÕES DE NATUREZA PENAL


O s dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado.
A controvérsia sobre a legitimidade constitucional do poder de investigação do Ministério Público foi
pacificada pelo STF com o julgamento do RE 593.727/MG (Info 785).
STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

INQUÉRITO POLICIAL

(Im)possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude

Atualize o Info 554-STJ

É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o inquérito policial havia


sido arquivado com base em excludente de ilicitude?
• STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na existência de
causa excludente da ilicitude faz coisa julgada material e impede a rediscussão do caso penal.
O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF realmente permitem o
desarquivamento do inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa possibilidade só
existe na hipótese em que o arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, por falta de
suporte probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e certeza de materialidade).
STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014 (Info 554).
• STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do reconhecimento
de excludente de ilicitude não
faz coisa julgada material. Logo, surgindo novas
provas seria possível reabrir o inquérito policial, com base no art. 18 do
CPP e na Súmula 524 do STF. STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 10/03/2009. STF. 2ª Turma. HC 125101/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o
acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 25/8/2015 (Info 796).

COMPETÊNCIA

CRIAÇÃO DE NOVA VARA E “PERPETUATIO JURISDICTIONIS”

Em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram assassinados na zona rural do Município de


Unaí (MG) em virtude do trabalho de fiscalização que vinham realizando no local.
Na época dos fatos, não havia vara federal em Unaí, motivo pelo qual a denúncia do MPF foi
recebida pelo juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o juízo da 9ª Vara
Federal de Belo Horizonte declinou a competência para julgar o processo para a recém criada Vara
Federal.
Tanto o STF como o STJ discordaram da decisão declinatória e reafirmaram o entendimento de que A
CRIAÇÃO SUPERVENIENTE DE VARA FEDERAL NA LOCALIDADE DE OCORRÊNCIA DE
CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA NÃO ENSEJA A INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO EM QUE
JÁ SE TENHA INICIADO A AÇÃO PENAL.
Incide, no caso, O PRINCÍPIO DA “PERPETUATIO JURISDICTIONIS” que, apesar de só
estar previsto no CPC (art. 87 do CPC 1973 / art. 43 do CPC 2015), É APLICÁVEL TAMBÉM
AO PROCESSO PENAL por força do art. 3º do CPP.
Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal),
continua sendo competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara.
STF. 1ª Turma. HC 117871/MG e HC 117832/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Rosa Weber, julgados em 28/4/2015 (Info 783).
EXCEÇÕES:
Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em que o
juízo que começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força
de fatos supervenientes. Veja:
a) SUPRESSÃO DO ÓRGÃO JUDICIÁRIO: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era
competente para aquele processo.
Ex1: imaginemos que viesse uma lei federal extinguindo a 9ª vara federal de BH.
Ex2: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali existentes
foram redistribuídos.
b) ALTERAÇÃO DA COMPETÊNCIA ABSOLUTA: pode acontecer de determinadas modificações do
estado de fato ou de direito alterarem as regras de competência absoluta para julgar
aquele crime.
Ex1: imaginemos que viesse uma EC retirando da Justiça Federal a competência para
julgar delitos contra servidores públicos federais no exercício de suas funções;
Ex2: o crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido
em serviço, deixou de ser considerado crime militar e passou a ser crime comum por força
da Lei n. 9.299/96, que alterou o art. 9º, parágrafo único, do CPM;
Ex3: se um réu está sendo processado criminalmente em 1ª instância e é eleito
Deputado Federal, a partir do momento em que ocorrer a sua diplomação, o juízo de 1ª
instância deixará de ser competente para o processo e deverá remetê-lo ao STF.

MESMO TENDO CESSADA A COMPETÊNCIA DO STF PARA JULGAR A AÇÃO PENAL, É POSSÍVEL A CONCESSÃO DE
HABEAS CORPUS DE OFÍCIO EM CASO DE FLAGRANTE ATIPICIDADE

Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações. Como ele era
Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF. Após toda a instrução, o Ministério
Público apresentou alegações finais, no final de 2014, pedindo a absolvição por atipicidade da
conduta. O STF designou a sessão para julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi marcada
para abril de 2015 e o problema é que o referido réu não conseguiu se reeleger Deputado Federal e
deixou o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão de julgamento, o acusado
já não era mais Deputado Federal.
Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução tecnicamente “mais correta” a ser tomada
pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação penal e declinar o processo para
ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância. A CORTE ADOTOU, NO ENTANTO, UMA POSTURA
MAIS “MODERNA” OU DE “VANGUARDA” PARA O CASO: O STF RECONHECEU QUE NÃO ERA
MAIS COMPETENTE PARA JULGAR A AÇÃO PENAL, MAS CONSIDEROU QUE A SITUAÇÃO ERA DE
FLAGRANTE ATIPICIDADE (tanto que o PGR pediu a absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser
concedido HABEAS CORPUS, DE OFÍCIO, em favor do réu, extinguindo o processo penal. STF. 1ª
Turma. AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2015 (Info 781).

Obs: A isso Alexandre de Moraes chama de “REGRA DA ATUALIDADE”, ou seja,


tratando-se de crime comum praticado por detentores de foro privativo no STF, a competência
será desta Corte somente enquanto durar o cargo ou mandato.

SÚMULA VINCULANTE 45: A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO
POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. STF. PLENÁRIO.
APROVADA EM 08/04/2015 (INFO 780).

FURTO PRATICADO POR MILITAR CONTRA OUTRO MILITAR DENTRO DAS INSTALAÇÕES MILITARES

Militar do Exército subtraiu de seu colega de farda, em quartel militar, cartão magnético,
juntamente com a respectiva senha. Após, efetuou empréstimo em nome da vítima, bem como
saques de valores. A competência para julgar esse crime é da Justiça Militar?
SIM. COMPETE À JUSTIÇA CASTRENSE PROCESSAR E JULGAR MILITAR PELA PRÁTICA DE CRIME DE FURTO
(ART. 240 DO CPM) PERPETRADO CONTRA OUTRO MILITAR EM AMBIENTE SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO
MILITAR (ART. 9º, II, “A” DO CPM). STF. 1ª Turma. HC 125326/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
17/3/2015 (Info 778).

PROGRESSÃO DE REGIME

1. NOVO REQUISITO PARA PROGRESSÃO DE REGIME: PAGAMENTO INTEGRAL DA PENA DE MULTA

O NÃO PAGAMENTO VOLUNTÁRIO DA PENA DE MULTA IMPEDE A PROGRESSÃO NO REGIME PRISIONAL? SIM
.
O Plenário do STF decidiu o seguinte:
Regra: O INADIMPLEMENTO DELIBERADO DA PENA DE MULTA CUMULATIVAMENTE APLICADA AO SENTENCIADO
IMPEDE A PROGRESSÃO NO REGIME PRISIONAL.
EXCEÇÃO: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar COMPROVADA A
ABSOLUTA IMPOSSIBILIDADE ECONÔMICA DO APENADO EM QUITAR A MULTA, AINDA QUE PARCELADAMENTE. STF.
Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

2. ESTRANGEIRO COM PEDIDO DE EXTRADIÇÃO JÁ DEFERIDO

O ESTRANGEIRO QUE CUMPRE PENA NO BRASIL PODE SER BENEFICIADO COM A PROGRESSÃO DE REGIME? SIM .
Não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil os benefícios da
execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a condição humana da pessoa
estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito dos direitos
humanos. Assim, em regra, é plenamente possível a progressão de regime para estrangeiros que
cumpram pena no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que essa providência (progressão) será ineficaz até que o STF delibere
acerca das condições da prisão para extradição. Em outras palavras, é possível que seja deferida
a progressão de regime ao apenado que aguarda o cumprimento da ordem de extradição, mas
isso SÓ PODERÁ SER CONCRETIZADO PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES (JUIZ DE 1ª INSTÂNCIA)
DEPOIS QUE O STF CONCORDAR. Cabe ao STF deliberar acerca de eventual
adaptação das condições da prisão para extradição ao regime prisional da execução penal. Assim,
DEPOIS QUE O JUÍZO DA EXECUÇÃO AFIRMAR QUE OS REQUISITOS PARA A PROGRESSÃO ESTÃO
PREENCHIDOS, DEVERÁ AINDA O STF VERIFICAR SE A CONCESSÃO DO REGIME SEMIABERTO OU ABERTO AO
EXTRADITANDO NÃO IRÁ CAUSAR RISCO À GARANTIA DA ORDEM ORDEM PÚBLICA, DA ORDEM
ECONÔMICA, À CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL, NEM À APLICAÇÃO DA LEI PENAL PÚBLICA (ART. 312
DO CPP).
STF. 2ª Turma. Ext 893 QO/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 10/3/2015 (Info 777).

3. INFORMATIVO 772, STF - O § 4º DO ART. 33 DO CP É CONSTITUCIONAL.


Importante!!! Segundo o § 4º do art. 33 do CP, para que o condenado por crime contra a
Administração Pública tenha direito à progressão de regime é necessário que ele faça a reparação do
dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. O STF
DECIDIU QUE ESSA PREVISÃO DO § 4º DO ART. 33 DO CP É CONSTITUCIONAL. Vale ressaltar,
no entanto, que deve ser permitido que o condenado faça o PARCELAMENTO do valor da dívida.
STF. Plenário. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
- Segundo o STF, em matéria de crimes contra a Administração Pública — como também nos crimes
de colarinho branco em geral —, a parte verdadeiramente severa da pena, a ser executada com
rigor, há de ser a de natureza pecuniária. Esta, sim, teria o poder de funcionar como real fator de
prevenção, capaz de inibir a prática de crimes que envolvessem apropriação de recursos públicos. A
imposição da devolução do produto do crime não constitui sanção adicional, mas, apenas a
restituição daquilo que foi indevidamente apropriado ou desviado. Ademais, não é o direito
fundamental à liberdade do condenado que está em discussão, mas, tão somente, se a pena
privativa de liberdade a ser cumprida deve se dar em regime mais favorável ou não, o que afasta a
alegação quanto à suposta ocorrência, no caso, de prisão por dívida. Outrossim, a norma em
comento não é a única, prevista na legislação penal, a ter na reparação do dano uma importante
medida de política criminal. Ao contrário, basta uma rápida leitura dos principais diplomas penais
brasileiros para constatar que A FALTA DE REPARAÇÃO DO DANO:
A) PODE SER CAUSA DE REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA DO “SURSIS”;

B) IMPEDE A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE OU MESMO A REDUÇÃO DA PENA, EM DETERMINADAS


HIPÓTESES;

C) PODE ACARRETAR O INDEFERIMENTO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL E DO INDULTO;

D) AFASTA A ATENUANTE GENÉRICA DO ART. 65, III, “B”, DO CP, ENTRE OUTROS.

FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL

INFORMATIVO 775, STF - FIXAÇÃO DE REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA E CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
Se a PENA-BASE É FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL EM VIRTUDE DE AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59

DO CP SEREM DESFAVORÁVEIS, É POSSÍVEL QUE O JUIZ DETERMINE REGIME INICIAL MAIS GRAVOSO DO
QUE O ABSTRATAMENTE PREVISTO DE ACORDO COM A QUANTIDADE DE PENA APLICADA. Ex.: Paulo, réu
primário, foi condenado a uma pena de 2 anos e 6 meses de detenção. Em regra, o regime inicial
seria o aberto (art. 33, § 2º, “c”, do CP). Ocorre que duas circunstâncias judiciais foram desfavoráveis
a ele, conforme fundamentação do juiz (circunstâncias e consequências do crime). Nesse caso, o
magistrado, fundamentando sua decisão nesses dados, PODE IMPOR AO CONDENADO O REGIME
INICIAL SEMIABERTO. STF. 2ª Turma. HC 124876/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
24/2/2015 (Info 775).
- Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada
permitir exige motivação idônea.
- A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO constitui motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718-STF).
- Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime
prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade
abstrata do delito.

PRISÃO DE ADVOGADO

Conceito de sala de Estado-Maior

Os ADVOGADOS, membros da MAGISTRATURA, do MP e da DEFENSORIA PÚBLICA, se forem PRESOS


ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA, possuem o DIREITO DE FICAR
RECOLHIDOS NÃO EM UMA CELA COM GRADES, MAS SIM EM UMA SALA DE ESTADO-
MAIOR.
A palavra “ESTADO-MAIOR” representa O GRUPO DE OFICIAIS QUE ASSESSORA O COMANDANTE DAS
FORÇAS ARMADAS, DO CORPO DE BOMBEIROS OU DA POLÍCIA MILITAR. Logo, SALA DE ESTADO-MAIOR
É O COMPARTIMENTO LOCALIZADO NA UNIDADE MILITAR QUE É UTILIZADO POR ELES PARA O
EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.

A jurisprudência do STF confere uma INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA A ESSA


GARANTIA e afirma que os integrantes dessas carreiras, quando forem presos provisoriamente,
NÃO PRECISAM FICAR EM UMA SALA DENTRO DO COMANDO DAS FORÇAS ARMADAS, mas DEVEM SER
RECOLHIDOS EM UM LOCAL EQUIPARADO À SALA DE ESTADO-MAIOR, OU SEJA, EM UM AMBIENTE SEPARADO,

SEM GRADES, localizado em UNIDADES PRISIONAIS ou em BATALHÕES DA POLÍCIA


MILITAR, que tenha INSTALAÇÕES E COMODIDADES ADEQUADAS À HIGIENE E À
SEGURANÇA DO PRESO. STF. Plenário. Rcl 5826/PR e Rcl 8853/GO, rel. orig. Min. Cármen
Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgados em 18/3/2015 (Info 778).

HABEAS CORPUS

DESNECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO EM HC

O réu impetrou habeas corpus contra determinada decisão do TRF.


O STJ não conheceu da impetração afirmando que a tese alegada no habeas corpus não foi
previamente enfrentada pelo TRF. Assim, para o STJ, somente após o Tribunal enfrentar e
rechaçar essa tese é que a defesa poderia impetrar HC questionando a decisão.
O entendimento do STJ foi correto?

NÃO. É DESNECESSÁRIA A PRÉVIA DISCUSSÃO ACERCA DE MATÉRIA OBJETO DE HABEAS


CORPUS IMPETRADO ORIGINARIAMENTE NO STJ, QUANDO A COAÇÃO ILEGAL OU O ABUSO DE
PODER ADVIEREM DE ATO DE TRF NO EXERCÍCIO DE SUA COMPETÊNCIA PENAL ORIGINÁRIA.
Ao fazer essa exigência, o STJ ESTÁ IMPONDO PARA O HABEAS CORPUS O REQUISITO DO
“PREQUESTIONAMENTO”, que SOMENTE É APLICÁVEL NOS CASOS DE RECURSO ESPECIAL OU RECURSO
EXTRAORDINÁRIO.
STF. 1ª Turma. RHC 118622/ES, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

Pedido para autorização de visita

Pedido para autorização de visita O habeas corpus NÃO É MEIO PROCESSUAL ADEQUADO para o apenado
obter autorização de visita de sua companheira no estabelecimento prisional.
STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info 792

Proibição da reformatio in pejus

A proibição da “reformatio in pejus”, princípio imanente ao processo penal, aplica-se ao “habeas


corpus”, cujo manejo jamais poderá agravar a situação jurídica daquele a quem busca
favorecer.
STF. 2ª Turma. HC 126869/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/6/2015 (Info 791).
Cabimento de HC contra ato de Ministro do STF

MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!
É cabível habeas corpus em face de decisão monocrática proferida por Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).

Ressalte-se que, se a parte quiser, em vez de impetrar HC, poderá interpor agravo regimental
contra a decisão monocrática do Ministro.

TRIBUNAL DO JÚRI

REFERÊNCIA OU LEITURA DA DECISÃO DE PRONÚNCIA DURANTE OS DEBATES NO JÚRI

O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes NÃO PODERÃO, SOB PENA DE
NULIDADE, FAZER REFERÊNCIAS À DECISÃO DE PRONÚNCIA OU ÀS DECISÕES POSTERIORES QUE JULGARAM

ADMISSÍVEL A ACUSAÇÃO COMO ARGUMENTO DE AUTORIDADE PARA BENEFICIAR OU


PREJUDICAR O ACUSADO. Isso NÃO SIGNIFICA, CONTUDO, QUE QUALQUER REFERÊNCIA OU LEITURA DA
DECISÃO ACARRETARÁ, OBRIGATORIAMENTE, A NULIDADE DO JULGAMENTO.

Na verdade, SOMENTE HAVERÁ NULIDADE SE A LEITURA OU AS REFERÊNCIAS FOREM FEITAS

COMO ARGUMENTO DE AUTORIDADE PARA BENEFICIAR OU PREJUDICAR O


ACUSADO.
Assim, por exemplo, NÃO HAVERÁ NULIDADE SE O MP SIMPLESMENTE LER, no Plenário,
TRECHO DA DECISÃO DO TRIBUNAL QUE MANTEVE A SENTENÇA DE PRONÚNCIA CONTRA O RÉU,
SEM FAZER A UTILIZAÇÃO DO ARTIFÍCIO DO “ARGUMENTO DE AUTORIDADE”.
STF. 2ª Turma. RHC 120598/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779). STJ. 5ª
Turma. HC 248.617-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/9/2013 (Info 531).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 5/11/2013 (Info 531).
Durante os debates em plenário, o Promotor de Justiça fala o seguinte para os jurados:
SITUAÇÃO 1: SITUAÇÃO 2
“PREZADOS JURADOS, HOJE OS SENHORES IRÃO JULGAR “PREZADOS JURADOS, NA SENTENÇA DE PRONÚNCIA, O
FULANO DE TAL, QUE FOI PRONUNCIADO PELO CRIME DE DR. SICRANO, JUIZ DE DIREITO, QUE ESTUDOU MUITO E
HOMICÍDIO QUALIFICADO POR MOTIVO FÚTIL, CONFORME PASSOU EM CONCURSO EXTREMAMENTE DIFÍCIL,
PODEM VER NA SENTENÇA DE PRONÚNCIA QUE FOI ENTREGUE RECONHECEU QUE HAVIA INDÍCIOS DE QUE O RÉU AQUI
A CADA UM DE VOCÊS E CUJO TRECHO EU VOU LER AGORA.” PRESENTE PRATICOU UM HOMICÍDIO QUALIFICADO.
ENTÃO, O JUIZ JÁ CONCORDOU COM O MINISTÉRIO
PÚBLICO.”
NESTA PRIMEIRA HIPÓTESE, NÃO HÁ QUE SE FALAR EM NESTE SEGUNDO EXEMPLO, HÁ NULIDADE PORQUE A
NULIDADE UMA VEZ QUE A REFERÊNCIA À SENTENÇA DE REFERÊNCIA À SENTENÇA FOI FEITA COMO ARGUMENTO
PRONÚNCIA NÃO FOI FEITA COMO ARGUMENTO DE DE AUTORIDADE.
AUTORIDADE. UTILIZOU-SE O RESPEITO E O PRESTÍGIO DA AUTORIDADE
EM OUTRAS PALAVRAS, NÃO SE UTILIZOU A DECISÃO DO (MAGISTRADO) PARA CONVENCER OS JURADOS.
PODER JUDICIÁRIO PARA IMPRESSIONAR OU INFLUENCIAR O OBJETIVO É PASSAR AOS JURADOS A MENSAGEM
OS JURADOS. SUBLIMINAR DE QUE “SE ATÉ O JUIZ, QUE CONHECE AS
LEIS, DISSE QUE ELE É CULPADO, EU TENHO QUE
CONDENAR”.

INFORMATIVO 774, STF - REFERÊNCIA OU LEITURA DE SENTENÇA PROLATADA EM DESFAVOR DO CORRÉU.


Importante!!! Imagine que duas pessoas tenham praticado, em conjunto, homicídio. Uma delas foi
julgada primeiro, tendo sido condenada. NO JULGAMENTO DO SEGUNDO RÉU, DURANTE OS DEBATES NO
PLENÁRIO DO JÚRI, O PROMOTOR DE JUSTIÇA LEU A SENTENÇA QUE CONDENOU O PRIMEIRO RÉU. Houve
nulidade por violação do art. 478, I, do CPP? NÃO. A LEITURA, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA DE CORRÉU PROFERIDA EM JULGAMENTO ANTERIOR NÃO GERA NULIDADE DE
SESSÃO DE JULGAMENTO PELO CONSELHO DE SENTENÇA. Segundo decidiu o STF,
O ART. 478, I, NÃO PROÍBE que se leia a sentença condenatória de corréu no mesmo
processo. Logo, não é possível falar que houve descumprimento da regra prevista nesse dispositivo.
STF. 1ª Turma. RHC 118006/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).

ANULAÇÃO DA PRONÚNCIA POR EXCESSO DE LINGUAGEM

Havendo EXCESSO DE LINGUAGEM, o Tribunal deverá ANULAR a sentença de

PRONÚNCIA e os consecutivos atos processuais, determinando-se que OUTRA SEJA


PROLATADA.
Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que
outra seja prolatada.
STF. 1ª Turma. RHC 127522/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/8/2015 (Info 795).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/4/2015 (Info
561).

Fundamentação da sentença de pronúncia e excesso de linguagem


A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário que o juiz utilize as
palavras com moderação, ou seja, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que
fique demonstrado na decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime.
Se o magistrado exagera nas palavras utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve um
“excesso de linguagem”, também chamado de “ELOQUÊNCIA ACUSATÓRIA”.
Ex: na sentença de pronúncia, o juiz afirma: “não tenho nenhuma dúvida de que o réu foi o autor do
homicídio da vítima Fulano. Na verdade, em todos os meus anos de magistratura, nunca vi um
homicida tão frio, cruel e desprezível, sendo esse um crime brutal que merece ser gravemente
reprimido”. Ora, no caso houve claramente excesso de linguagem por parte do juiz.
Por que não pode haver o excesso de linguagem?
Porque o CPP afirma que os jurados irão receber uma cópia da sentença de pronúncia e das decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472, parágrafo
único). Assim, se o juiz se excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o jurado
irá ler essa decisão e certamente será influenciado pela opinião do magistrado. O jurado poderá,
inclusive, pensar o seguinte: “se o juiz, que estudou e conhece das leis, está aqui no papel dizendo
que o réu é culpado, deve ser porque ele realmente é culpado. Vou ter que condená-lo também.”
Perceba, portanto, que existe claro prejuízo para a defesa.
Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer?
Se o Tribunal reconhecer que houve excesso de linguagem na sentença de pronúncia, ele deverá
anular a decisão, assim como atos processuais seguintes, determinando que outra sentença de
pronúncia seja prolatada.
Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja desentranhada (retirada
do processo) ou seja envelopada (isolada)? Isso já não seria suficiente, com base no princípio da
economia processual?
NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar
que outra seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina que a sentença de
pronúncia seja distribuída aos jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia
dela deverá ser entregue aos jurados. Se essa cópia não for entregue, estará sendo descumprido o
art. 472, parágrafo único, do CPP.
Assim, não há outro jeito. A providência adequada é a anulação da sentença e os consecutivos atos
processuais que ocorreram no processo principal para que outra decisão seja proferida.

PUBLICAÇÃO DO ACORDÃO

A PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO CONDENATÓRIO PARA FINS DE PRESCRIÇÃO OCORRE NO DIA DA SESSÃO DE JULGAMENTO

A prescrição da pretensão punitiva do Estado, em segundo grau de jurisdição, se interrompe na data


da sessão (prejudicial ao Réu – MP: grifos meus) de julgamento do recurso e não na data da
publicação do acórdão.
Para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se refere o art. 117,
IV, do CP, CONSIDERA-SE COMO PUBLICADO O “ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RECORRÍVEL” NA DATA DA SESSÃO
PÚBLICA DE JULGAMENTO, e NÃO NA DATA DE SUA VEICULAÇÃO NO DIÁRIO DA JUSTIÇA OU EM MEIO DE
COMUNICAÇÃO CONGÊNERE.
A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas não
influencia na contagem do prazo da prescrição.
STF. 1ª Turma. RHC 125078/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2015 (Info 776).

Em nosso exemplo, a defesa alegava que entre o recebimento da denúncia (em 04/11/2002) e a
publicação do acórdão condenatório (em 28/04/2011) já havia se passado mais de 8 anos. Logo,
estaria prescrita a pena imposta pelo crime do art. 288 do CP. Houve prescrição?
NÃO. Não houve prescrição. A SESSÃO DE JULGAMENTO OCORREU NO DIA 28/10/2010, ANTES,
PORTANTO, DE TEREM SE PASSADO 8 ANOS DA DATA DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
Segundo a jurisprudência, A SESSÃO EM QUE REALIZADO O JULGAMENTO DA CAUSA PODE SER CONSIDERADA
COMO MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO, uma vez que em tal data a prestação jurisdicional penal
condenatória tornou-se pública (STF. Plenário. AP 396 ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
13/12/2012).
STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
- Trata-se de norma de direito processual. Assim, ainda que o processo tenha se iniciado antes da Lei
nº 11.719/2008, se ele for sentenciado após a sua vigência, deverá observar a fixação do valor
mínimo de que trata o art. 387, IV, do CPP. Trata-se de norma híbrida (de direito material e
processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua
vigência.
- Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária fixada como
reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV do CPP, pois dela decorrente,
ficando ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda que haja prejuízos a serem
reparados (EDcl no AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado
em 12/03/2013)

EXTRADIÇÃO

INFORMATIVO 772, STF - PEDIDO DE EXTRADIÇÃO FORMULADO COM BASE EM TERRORISMO.

Importante!!! O TERRORISMO NÃO É TIPIFICADO COMO CRIME PELA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA, NÃO SENDO
VÁLIDO O ART. 20 DA LEI 7.170/83 PARA CRIMINALIZAR ESSA CONDUTA. Logo, NÃO É CABÍVEL QUE SEJA
CONCEDIDA EXTRADIÇÃO DE UM ESTRANGEIRO QUE PRATICOU CRIME DE TERRORISMO NO ESTADO DE ORIGEM,
CONSIDERANDO QUE, PELO FATO DE O BRASIL NÃO TER DEFINIDO ESSE CRIME, NÃO ESTARÁ PRESENTE O REQUISITO
DA DUPLA TIPICIDADE. Vale ressaltar que, mesmo o Brasil não prevendo o crime de terrorismo, seria
possível, em tese, que a extradição fosse concedida se o Estado requerente tivesse demonstrado que
os atos terroristas praticados pelo réu amoldavam-se em outros tipos penais em nosso país (exs:
homicídio, incêndio etc.). ISSO PORQUE A DUPLA TIPICIDADE NÃO É ANALISADA SOB O PONTO DE VISTA DO
“NOMEN JURIS”, OU SEJA, DO “NOME DO CRIME”. O QUE IMPORTA É QUE AQUELA CONDUTA SEJA
PUNIDA NO PAÍS DE ORIGEM E AQUI, sendo irrelevantes as diferenças terminológicas. No entanto,
no caso concreto, O PEDIDO FEITO PELO ESTADO ESTRANGEIRO ESTAVA INSTRUÍDO DE FORMA INSUFICIENTE. STF. 2ª
Turma. PPE 730/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).

FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS (ART. 387, IV DO CPP)

INFORMATIVO 772, STF - O INCISO IV DO ART. 387 DO CPP NÃO PODE SER APLICADO A FATOS ANTERIORES À LEI
11.719/2008.
A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei 11.719/2008.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
Se o crime ocorreu antes dessa Lei e foi sentenciado após a sua vigência, o juiz não poderá aplicar
esse dispositivo e fixar o valor mínimo de reparação dos danos. SEGUNDO ENTENDIMENTO
MAJORITÁRIO, IV DO ART. 387 DO CPP É NORMA HÍBRIDA (DE DIREITO
O INCISO
MATERIAL E PROCESSUAL) e, por ser mais gravosa ao réu, NÃO PODE SER APLICADA A FATOS
PRATICADOS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI 11.719/2008. STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
A) O STJ JÁ DECIDIU QUE O JUIZ SOMENTE PODERÁ FIXAR ESTE VALOR SE EXISTIREM PROVAS NOS AUTOS
QUE DEMONSTREM OS PREJUÍZOS SOFRIDOS PELA VÍTIMA EM DECORRÊNCIA DO CRIME.

Dessa feita, é importante que o Ministério Público ou eventual assistente de acusação junte
comprovantes dos danos causados pela infração para que o magistrado disponha de elementos para
a fixação de que trata o art. 387, IV do CPP. Vale ressaltar, ainda, que O RÉU TEM DIREITO DE SE
MANIFESTAR SOBRE ESSES DOCUMENTOS JUNTADOS E CONTRADITAR O VALOR PLEITEADO COMO INDENIZAÇÃO.

B) O JUIZ PODE DEIXAR DE FIXAR O VALOR MÍNIMO EM ALGUMAS SITUAÇÕES, COMO, POR EXEMPLO:
a) quando NÃO HOUVER PROVA DO PREJUÍZO;
b) se OS FATOS FOREM COMPLEXOS E A APURAÇÃO DA INDENIZAÇÃO DEMANDAR DILAÇÃO
PROBATÓRIA, o juízo criminal poderá deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado
em ação civil;
c) quando A VÍTIMA JÁ TIVER SIDO INDENIZADA NO JUÍZO CÍVEL.

C) ALÉM DOS PREJUÍZOS MATERIAIS, O JUIZ PODERÁ TAMBÉM CONDENAR O RÉU A PAGAR A
VÍTIMA POR DANOS MORAIS?

• 1ª corrente: SIM. Posição de NORBERTO AVENA.


• 2ª corrente: NÃO. Defendida por EUGÊNIO PACELLI.

D) O ART. 387, IV, DO CPP, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.719/2008, FEZ COM QUE O BRASIL
PASSASSE A ADOTAR A CHAMADA “CUMULAÇÃO DE INSTÂNCIAS” EM MATÉRIA DE INDENIZAÇÃO PELA

PRÁTICA DE CRIMES? NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria


de indenização pela prática de crimes ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal
(julga o crime) e também já decide, de forma exauriente, a indenização devida à vítima do
delito. No Brasil, não há unidade de instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for
possível, DEFINIR UM VALOR MÍNIMO DE INDENIZAÇÃO PELOS DANOS SOFRIDOS sem,
contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda poderá ser examinado pelo juízo cível
para aumentar esse valor. Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada
de instâncias.
E) A PREVISÃO DA INDENIZAÇÃO CONTIDA NO INCISO IV DO ART. 387 SURGIU COM A LEI Nº 11.719/2008. SE
O CRIME OCORREU ANTES DA LEI E FOI SENTENCIADO APÓS A SUA VIGÊNCIA, PODE SER APLICADO O
DISPOSITIVO E FIXADO O VALOR MÍNIMO DE REPARAÇÃO DOS DANOS?

1ª corrente 2ª CORRENTE
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. STJ. 5ª TURMA. RESP 1.193.083-RS, REL. MIN.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em LAURITA VAZ, JULGADO EM 20/8/2013.
12/6/2012.
STF. PLENÁRIO. RVC 5437/RO, REL. MIN. TEORI
ZAVASCKI, JULGADO EM 17/12/2014 (INFO 772).
Trata-se de norma de direito processual. TRATA-SE DE NORMA HÍBRIDA (DE DIREITO
Assim, ainda que o processo tenha se
MATERIAL E PROCESSUAL) E, POR SER MAIS GRAVOSA AO
iniciado antes da Lei nº 11.719/2008, se
RÉU, NÃO PODE SER APLICADA A FATOS PRATICADOS
ele for sentenciado após a sua vigência,
ANTES DE SUA VIGÊNCIA.
deverá observar a fixação do valor mínimo
de que trata o art. 387, IV, do CPP.

- EXTINTA A CONDENAÇÃO PELA PRESCRIÇÃO, EXTINGUE-SE TAMBÉM A CONDENAÇÃO


PECUNIÁRIA FIXADA COMO REPARAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA, NOS TERMOS DO ART.
387, IV DO CPP, POIS DELA DECORRENTE, FICANDO RESSALVADA A UTILIZAÇÃO DE AÇÃO CÍVEL, CASO A
VÍTIMA ENTENDA QUE HAJA PREJUÍZOS A SEREM REPARADOS (EDcl no AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013).

NULIDADES

INFORMATIVO 772, STF - MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO COM ENDEREÇO INCORRETO.


O juiz deferiu mandado de busca e apreensão tendo como alvo o escritório de um banco, localizado
no 28º andar de um prédio comercial. Quando os policiais chegaram para cumprir a diligência,
perceberam que a sede do banco ficava no 3º andar. Diante disso, entraram em contato com o juiz
substituto que autorizou, por meio de ofício sem maiores detalhes, a apreensão do HD na sede do
banco. A 2ª TURMA DO STF DECLAROU A ILEGALIDADE DA APREENSÃO POR AUSÊNCIA DE MANDADO JUDICIAL
ESPECÍFICO. STF. 2ª Turma. HC 106566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/12/2014 (Info
772).
- O HABEAS CORPUS É INSTRUMENTO LEGÍTIMO PARA AFERIR PROCEDIMENTOS DE FEIÇÃO PENAL OU
PROCESSUAL PENAL, INCLUSIVE PARA O RECONHECIMENTO DE EVENTUAL ILICITUDE DE PROVAS
OBTIDAS EM INQUÉRITO POLICIAL.

CONSTITUIÇÃO DE NOVO MANDATÁRIO, SEM QUALQUER RESSALVA, ENSEJA A REVOGAÇÃO TÁCITA DA PROCURAÇÃO
ANTERIOR.

João respondeu a ação penal e foi condenado em 1ª instância. Seu advogado constituído na época
era Dr. Pedro que interpôs recurso de apelação.
Algumas semanas depois, João outorga procuração para outro advogado (Dr. Carlos) conferindo-lhe
poderes para representá-lo neste processo criminal. Vale ressaltar que nesta segunda procuração
não há qualquer menção ao mandato que havia sido dado a Dr. Pedro.
Dr. Carlos peticiona, então, ao Tribunal de Justiça (onde tramita a apelação) juntando a procuração e
informando que deseja ser intimado de todos os atos judiciais.
Ocorre que a petição do Dr. Carlos foi ignorada e, quando marcaram o dia do julgamento da
apelação, o advogado intimado foi o Dr. Pedro.
No julgamento da apelação, que não foi acompanhado nem pelo Dr. Carlos nem pelo Dr. Pedro, o TJ
manteve a sentença condenatória.
Houve nulidade no presente caso?
SIM. Houve nulidade do julgamento da apelação considerando que o novo advogado constituído do
réu não foi intimado. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a não intimação de advogado
constituído configura cerceamento de defesa e, portanto, nulidade dos atos processuais.
Mesmo sem ter havido revogação expressa do mandato outorgado ao primeiro advogado, ficou clara
a intenção do réu de alterar seu causídico. Podemos dizer que houve revogação tácita. PARA O
STF, A CONSTITUIÇÃO DE NOVO MANDATÁRIO PARA ATUAR EM PROCESSO JUDICIAL, SEM RESSALVA OU
RESERVA DE PODERES, ENSEJA A REVOGAÇÃO TÁCITA DO MANDATO ANTERIORMENTE CONCEDIDO.
STF. 2ª Turma. RHC 127258/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 19/5/2015 (Info 786).

Intimação da Defensoria Pública com remessa dos autos mesmo que a decisão tenha sido proferida
em audiência

Importante!!!
A LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das prerrogativas dos Defensores
Públicos, que eles devem receber intimação pessoal (arts. 44, I, 89, I e 128, I).
Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor Público
presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será necessário ainda o
envio dos autos à Defensoria para que a intimação se torne perfeita?
PARA QUE A INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR PÚBLICO SE CONCRETIZE, SERÁ
NECESSÁRIA AINDA A REMESSA DOS AUTOS À DEFENSORIA PÚBLICA.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor na
audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua intimação pessoal, mediante
a remessa dos autos.
STF. 2ª Turma. HC 125270/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

Julgamento adiado e intimação de julgamento a ser realizado no dia seguinte

A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data determinada ou nas
sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento quando a
audiência não realizada no dia previamente marcado, ocorrer no dia seguinte à nova intimação.
Ex: no dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação oral, no
entanto, não houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que fosse informada
nova data. No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado pessoalmente de uma lista de 90
processos que seriam julgados no dia seguinte, entre eles a apelação que havia sido adiada. No dia
16/09/2014, o recurso foi julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer a
sustentação oral. Entendeu-se que não houve qualquer nulidade, já que a Defensoria Pública foi
intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia seguinte e mesmo
assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.

RECURSOS

INFORMATIVO 774, STF - INEXISTÊNCIA DE REFORMATIO IN PEJUS NA MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO, MAS COM
BASE EM FUNDAMENTOS DIVERSOS DA SENTENÇA.

NÃO CARACTERIZA REFORMATIO IN PEJUS A DECISÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA que, ao julgar


RECURSO DE APELAÇÃO EXCLUSIVO DA DEFESA, MANTÉM A REPRIMENDA APLICADA PELO MAGISTRADO DE
PRIMEIRO GRAU, PORÉM, COM FUNDAMENTOS DIVERSOS DAQUELES ADOTADOS NA SENTENÇA. STF. 1ª Turma.
RHC 119.149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).

Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final


João foi condenado em 1ª instância a uma pena de 2 anos pela prática do crime de furto qualificado
pela escalada (art. 155, § 4º, II, do CP). O Ministério Público não recorreu, transitando em julgado a
sentença para a acusação. A defesa do réu interpôs apelação. O Tribunal de Justiça entendeu que
não estavam presentes os requisitos necessários para a configuração da qualificadora da escalada
(art. 155, § 4º, II) e, por isso, a retirou, transformando em furto simples. Até aí, tudo bem. Esse era
um dos pedidos do recurso. Ocorre que os Desembargadores foram além e decidiram reconhecer a
presença da causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do CP, em virtude de estar provado nos
autos que o furto ocorreu durante o repouso noturno. Assim, o TJ afastou a condenação pelo art.
155, § 4º, II, do CP e condenou o réu pelo art. 155, § 1º, do CP. Com base nessa nova capitulação, o
TJ fixou a pena do réu em 1 ano e 4 meses. Agiu corretamente o TJ?
NÃO. O STF ENTENDEU QUE A DECISÃO DO TJ VIOLOU O PRINCÍPIO DO NON REFORMATIO IN
PEJUS, devendo ser refeita a dosimetria. O TJ acrescentou uma causa de aumento de pena (art. 155,
§ 1º) que não havia sido reconhecida na sentença em 1ª instância. Como o recurso era exclusivo da
defesa, o TJ não poderia ter inserido na condenação uma circunstância contrária ao réu e que não
estava presente anteriormente. Assim, mesmo aparentemente a decisão do TJ tendo sido benéfica
ao réu (por ter reduzido a pena), na verdade, houve, na parte referente à causa de aumento, uma
reforma para pior.
STF. 2ª Turma. RHC 126763/MS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 1º/9/2015 (Info 797).
Prevaleceu a tese de que a melhor interpretação a ser dada à parte final do art. 617 do CPP seria a
sistemática, a levar em conta que a norma está inserida em um conjunto organizado de ideias e, por
isso, a vedação da “reformatio in pejus” não se restringe à quantidade final de pena, devendo ser
analisado se o Tribunal acrescentou alguma imputação (seja ela qualificadora, causa de aumento
etc.) que não estava prevista anteriormente na condenação. Em outras palavras, não se deve analisar
apenas a quantidade final da pena.

REVISÃO CRIMINAL

INFORMATIVO 772, STF - IMPOSSIBILIDADE DE REITERAÇÃO DE TESES JÁ APRECIADAS NO PROCESSO ORIGINÁRIO.

A revisão criminal é instrumento excepcional, não podendo ser utilizado para reiteração de teses já
vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de direito, seja quanto a matéria de fato. Em
outras palavras, NA REVISÃO CRIMINAL NÃO SE PODE QUERER REDISCUTIR OS ARGUMENTOS QUE JÁ FORAM
ALEGADOS E REJEITADOS DURANTE O PROCESSO CRIMINAL. STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

TRANSAÇÃO PENAL

EM CASO DE TRANSAÇÃO PENAL, NÃO SE APLICAM OS EFEITOS DO ART. 91 DO CP


As CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS EXTRAPENAIS PREVISTAS NO ART. 91 DO CÓDIGO PENAL são decorrentes de
sentença condenatória. Tal NÃO OCORRE, PORTANTO, QUANDO HÁ TRANSAÇÃO PENAL, cuja
sentença tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade
criminal do aceitante. As consequências geradas pela transação penal são essencialmente aquelas
estipuladas por modo consensual no respectivo instrumento de acordo.
STF. Plenário. RE 795567/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (Info 787).

Determinado dia, João estava em sua moto coletando apostas do jogo do bicho quando foi abordado
por policiais militares e levado até a Delegacia de Polícia. Lá chegando, o Delegado instaurou um
termo circunstanciado e liberou João com o compromisso de que ele deveria comparecer no Juizado
Especial Criminal no dia marcado. Ocorre que a autoridade policial não liberou a motocicleta, que
ficou retida porque poderia constituir-se em instrumento da infração penal.

TRANSAÇÃO PENAL
No dia da audiência no Juizado, o Promotor ofereceu proposta de transação penal consistente na
obrigação de prestar serviços à comunidade por 60 horas.
João aceitou a transação e cumpriu a obrigação imposta.
O juiz prolatou, então, sentença declarando extinta a punibilidade do agente, mas, como pena
acessória, o magistrado decretou a perda do bem apreendido (motocicleta), sob o argumento de que
ele teria sido utilizado para o cometimento da referida contravenção penal. Como fundamento legal,
o juiz invocou o art. 91, II, “a”, do CP:
Art. 91. São efeitos da condenação: (...)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito;

AGIU CORRETAMENTE O MAGISTRADO?


NÃO. As consequências jurídicas extrapenais, previstas no art. 91 do CP, só podem ser aplicadas se
foi proferida uma sentença penal condenatória. Isso não ocorre, portanto, quando há transação
penal, cuja sentença tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a
responsabilidade criminal do aceitante.
As consequências geradas pela transação penal são aquelas estipuladas por modo consensual no
respectivo instrumento de acordo.
Logo, NÃO CABE A IMPOSIÇÃO DE EFEITOS EXTRAPENAIS ACESSÓRIOS DE SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA NO
CASO DE TRANSAÇÃO PENAL.
O ÚNICO EFEITO ACESSÓRIO GERADO PELA HOMOLOGAÇÃO DA TRANSAÇÃO PENAL ESTÁ NO FATO DE QUE
DURANTE 5 ANOS ELE NÃO PODERÁ RECEBER NOVAMENTE O MESMO BENEFÍCIO (§ 4º DO ART. 76 DA LEI
9.099/1995).
A TRANSAÇÃO PENAL NÃO GERA OUTROS EFEITOS PENAIS E CIVIS (§ 6º DO ART. 76).

PRISÃO E LIBERDADE
Prisão domiciliar e gestante a partir do 7º mês de gravidez

A CF/88 assegura às presidiárias condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período da amamentação e enfatiza a proteção à maternidade e à infância (art. 5º, “L”, e art. 6º,
caput).
No caso concreto, a acusada encontrava-se presa preventivamente, em estágio avançado de
gravidez (7 meses), em penitenciária insalubre e sem condições para acompanhamento pré-natal.
Assim, objetivando efetivar o direito acima mencionado, reconheceu-se que a acusada teria direito à
prisão domiciliar, nos termos do art. 318, IV, do CPP:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: IV - gestante
a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.
STF. 2ª Turma. HC 128381/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/6/2015 (Info 789).

INDULTO NATALINO

Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena

Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto 8.172/2013 concedendo o indulto natalino para
os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de
liberdade, desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.
Se o condenado foi beneficiado com sursis e já cumpriu mais de 1/4 do período de prova ele poderá
ser beneficiado com o indulto? É possível afirmar que cumprimento do período de prova no sursis é a
mesma coisa que cumprimento de pena?
NÃO. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa à pena, ou seja,
um benefício que o condenado recebe para não ter que cumprir pena. Por essa razão, não se pode
dizer que a pessoa beneficiada com sursis e que esteja cumprindo período de prova se encontre
cumprindo pena. Cumprimento de período de prova não é cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015 (Info 792).

EXECUÇÃO PENAL

Calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas)

Importante!!!

Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um pedido ao
juiz que, então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução penal adotaram
um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o diretor do
Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício. No entanto, nesta primeira
decisão o juiz já fixa um calendário de saídas temporárias.
Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas
temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo
concedidas automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do
condenado permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no
cumprimento da pena. Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício. A esse
procedimento simplificado deu-se o nome de “saída temporária automatizada” ou “calendário de
saídas temporárias”.
O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída temporária automatizada é
válida?
STJ: NÃO . O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional
insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional (Súmula 520-
STJ).
STF: SIM. É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de saídas temporárias para
visita à família do preso.
STF. 2ª Turma.HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/8/2015 (Info 793).

STJ: NÃO STF: SIM


A autorização das saídas temporárias é ato jurisdicional da É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de
competência do Juízo das Execuções Penais, que deve ser saídas temporárias para visita à família do preso.
motivada com a demonstração da conveniência de cada Para o STF, um único ato judicial que analisa o histórico do
medida. sentenciado e estabelece um calendário de saídas temporárias,
com a expressa ressalva de que as autorizações poderão ser
Desse modo, não é possível delegar ao administrador do revistas em caso de cometimento de infração disciplinar,
presídio a fiscalização sobre diversas saídas temporárias, mostra-se suficiente para fundamentar a autorização de saída
autorizadas em única decisão, por se tratar de atribuição temporária.
exclusiva do magistrado das execuções penais, sujeita à ação O Min. Gilmar Mendes apontou que, em regra, os
fiscalizadora do Parquet. requisitos das saídas temporárias são os mesmos,
independentemente do momento do ano em que ocorrem. “A
Assim, não é legítima a prática de se permitir saídas saída do Natal não tem requisitos mais brandos do que a
temporárias automatizadas. Para cada pedido de saída saída da Páscoa, por exemplo. Não há razão funcional para
temporária, deverá haver uma decisão motivada do Juízo da afirmar que uma única decisão que a ambas contemple é
Execução, com intervenção do MP. STJ. 3ª Seção. REsp deficiente de fundamentação”.
1166251/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/03/2012 Além disso, essa prática não exclui a participação do MP, que
(recurso repetitivo) (Info 493). poderá se manifestar sobre seu cabimento e, caso alterada a
situação fática, pedir sua revisão.
A fim de deixar bem evidente esse entendimento, o STJ A exigência feita pelo STJ no sentido de que haja uma decisão
editou um enunciado: motivada para cada saída temporária coloca em risco o direito
do sentenciado ao benefício, em razão do grande volume de
Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da processos nas varas de execuções penais.
execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à STF. 1ª Turma. HC 98067, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
autoridade administrativa do estabelecimento prisional.
em 06/04/2010.
STF. 2ª Turma. HC 128763, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 04/08/2015.

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

Constitucionalidade do Provimento do TJ que regulamentou a audiência de custódia

Importante!!!

Audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa em flagrante possui de ser conduzida
(levada), sem demora, à presença de uma autoridade judicial (magistrado) que irá analisar se os
direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve tortura), se a prisão em
flagrante foi legal e se a prisão cautelar deve ser decretada ou se o preso poderá receber a liberdade
provisória ou medida cautelar diversa da prisão.
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que
ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92 e
ainda não regulamentada em lei no Brasil.
Diante dessa situação, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a audiência
de custódia no âmbito daquele Tribunal.
esse Provimento é constitucional porque não inovou
O STF entendeu que
na ordem jurídica, mas apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas
normas da CADH e do CPP. Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao
princípio da separação dos poderes porque NÃO FOI O PROVIMENTO CONJUNTO QUE CRIOU
OBRIGAÇÕES PARA OS DELEGADOS de polícia, MAS SIM A CITADA CONVENÇÃO E O CPP.
STF. Plenário. ADI 5240/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2015 (Info 795).
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Conceito
Audiência de custódia consiste...
- no direito que a pessoa presa em flagrante possui
- de ser conduzida (levada),
- sem demora,
- à presença de uma autoridade judicial (magistrado)
- que irá analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve
tortura)
- se a prisão em flagrante foi legal ou se deve ser relaxada (art. 310, I, do CPP)
- e se a prisão cautelar (antes do trânsito em julgado) deve ser decretada (art. 310, II) ou se o
preso poderá receber a liberdade provisória (art. 310, III) ou medida cautelar diversa da prisão
(art. 319).

Previsão
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH),
que ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto
678/92. Veja o que diz o artigo 7º, item 5, da Convenção:
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal (...)
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra
autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (...)

Segundo entende o STF, os tratados internacionais de direitos humanos que o Brasil foi signatário
incorporam-se em nosso ordenamento jurídico com status de norma jurídica supralegal (RE
349.703/RS, DJe de 5/6/2009). Desse modo, na visão do STF, a Convenção Americana de Direitos
Humanos é norma jurídica no Brasil, hierarquicamente acima de qualquer lei ordinária ou
complementar, só estando abaixo, portanto, das normas constitucionais.
Obs: na época em que a CADH foi aprovada no Brasil, ainda não havia a previsão do § 3º do art. 5º da
CF/88.

Regulamentação
Apesar de existir um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional (PLS nº 554/2011), o certo é
que a audiência de custódia ainda não foi regulamentada por lei no Brasil. Isso significa que não
existe uma lei estabelecendo o procedimento a ser adotado para a realização dessa audiência.
Diante desse cenário, e a fim de dar concretude à previsão da CADH, recentemente, alguns
Tribunais de
Justiça, incentivados pelo CNJ, passaram a regulamentar a audiência de custódia por meio de atos
internos exarados pelos próprios Tribunais (provimentos e resoluções).

Procedimento para a realização da audiência de custódia (segundo o projeto do CNJ):


1) Prisão em flagrante;
2) Apresentação do flagranteado à autoridade policial (Delegado de Polícia);
3) Lavratura do auto de prisão em flagrante;
4) Agendamento da audiência de custódia (se o flagranteado declinou nome de advogado, este
deverá ser intimado da data marcada; se não informou advogado, a Defensoria Pública será
intimada);
5) Protocolização do auto de prisão em flagrante e apresentação do autuado preso ao juiz;
6) Entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado ou Defensor Público;
7) Início da audiência de custódia, que deverá ter a participação do preso, do juiz, do membro do
MP e da defesa (advogado constituído ou Defensor Público);
8) O membro do Ministério Público manifesta-se sobre o caso;
9) O autuado é entrevistado (são feitas perguntas a ele);
10) A defesa manifesta-se sobre o caso;
11) O magistrado profere uma decisão que poderá ser, dentre outras, uma das seguintes:
a) RELAXAMENTO DE EVENTUAL PRISÃO ILEGAL (ART. 310, I, DO CPP);
b) CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA (ART. 310, III);
c) SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS (ART. 319);
d) CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM PRISÃO PREVENTIVA (ART. 310, II);
e) ANÁLISE DA CONSIDERAÇÃO DO CABIMENTO DA MEDIAÇÃO PENAL, EVITANDO A JUDICIALIZAÇÃO DO
CONFLITO, CORROBORANDO PARA A INSTITUIÇÃO DE PRÁTICAS RESTAURATIVAS.

Nomenclatura
O termo "audiência de custódia", apesar de ter sido consagrado no Brasil, não é utilizado
expressamente pela CADH, sendo essa nomenclatura uma criação doutrinária.
Durante os debates no STF a respeito da ADI 5240/SP, o Min. Luiz Fux defendeu que essa audiência
passe a se chamar "audiência de apresentação". Desse modo, deve-se tomar cuidado com essa
expressão caso seja cobrada em uma prova.

Qual é a amplitude da expressão "sem demora" prevista na CADH? Em até quanto tempo a
pessoa presa deverá ser levada para a audiência de custódia?
Não existe uma previsão específica de tempo na CADH. A doutrina majoritária defende, contudo,
que esse prazo deve ser de 24 horas, aplicando-se, subsidiariamente, a regra do § 1º do art. 306
do CPP.
Esse foi o prazo adotado pelo PLS nº 554/2011, em tramitação no Congresso Nacional.

Provimento Conjunto nº 03/2015, do TJSP


Em 22/01/2015, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a audiência de
custódia no âmbito daquele Tribunal. Veja alguns dispositivos do Provimento:

Art. 1º Determinar, em cumprimento ao disposto no artigo 007°, item 5, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (pacto de San Jose da Costa Rica), a apresentação de pessoa detida em flagrante
delito, até 24 horas após a sua prisão, para participar de audiência de custódia.
(...)
Art. 3º A autoridade policial providenciará a apresentação da pessoa detida, até 24 horas após a sua
prisão, ao juiz competente, para participar da audiência de custódia.
§ 1º O auto de prisão em flagrante será encaminhado na forma do artigo 306, parágrafo 1º, do Código
de
Processo Penal, juntamente com a pessoa detida. (...)
Art. 5º O autuado, antes da audiência de custódia, terá contato prévio e por tempo razoável com seu
advogado ou com Defensor Público.
Art. 6º Na audiência de custódia, o juiz competente informará o autuado da sua possibilidade de não
responder perguntas que lhe forem feitas, e o entrevistará sobre sua qualificação, condições pessoais,
tais como estado civil, grau de alfabetização, meios de vida ou profissão, local da residência, lugar onde
exerce sua atividade, e, ainda, sobre as circunstâncias objetivas da sua prisão.
§ 1º Não serão feitas ou admitidas perguntas que antecipem instrução próprio de eventual processo de
conhecimento.
§ 2º Após a entrevista do autuado, o juiz ouvirá o Ministério Público que poderá se manifestar pelo
relaxamento da prisão em flagrante, sua conversão em prisão preventiva, pela concessão de liberdade
provisória com imposição, se for o caso, das medidas caulelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal.
§ 3º A seguir, o juiz dará a palavra ao advogado ou ao Defensor Público para manifestação, e decidirá,
na audiência, fundamentadamente, nos termos do artigo 310 do Código de Processo Penal, podendo,
quando comprovada uma das hipóteses do artigo 318 do mesmo Diploma, substituir a prisão preventiva
pela domiciliar.
(...)
Art. 7º O juiz competente, diante das informações colhidas na audiência de custódia, requisitará o
exame clinico e de corpo de delito do autuado, quando concluir que a perícia é necessária para a adoção
de medidas, tais como:
I - apurar possível abuso cometido durante a prisão em flagrante, ou a lavratura do auto; II - determinar
o encaminhamento assistencial, que repute devido.

ADI 5240/SP
A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol) ajuizou ADI contra o Provimento Conjunto
nº 03/2015, do TJSP.
Na ação, a referida associação defendeu que a audiência de custódia somente poderia ter sido criada
por lei federal e jamais por intermédio de tal provimento autônomo, já que a competência para
legislar sobre a matéria é da União (art. 22, I, da CF/88), por meio do Congresso Nacional.

O STF concordou com os argumentos da ADEPOL? A audiência de custódia disciplinada por meio de
ato do Tribunal de Justiça é inconstitucional?
NÃO. O STF julgou improcedente a ADI proposta.
A apresentação do preso ao juiz está intimamente ligada à ideia da garantia fundamental de
liberdade, qual seja, o “habeas corpus”. A essência desse remédio constitucional, portanto, está
justamente no contato direto do juiz com o preso, para que o julgador possa, assim, saber do próprio
detido a razão pela qual fora preso e em que condições se encontra encarcerado. Justamente por
isso, o CPP estabelece que “recebida a petição de ‘habeas corpus’, o juiz, se julgar necessário, e
estiver preso o paciente, mandará que este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que
designar” (art. 656).
Desse modo, o STF entendeu que o Provimento Conjunto do TJSP não inovou na ordem jurídica, mas
apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da CADH e do CPP.
Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos poderes
porque não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de polícia, mas sim a
citada convenção e o CPP.

COLABORAÇÃO PREMIADA

Impugnação do acordo de colaboração

Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual um investigado ou


acusado da prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso, aceita
colaborar com a investigação ou com o processo fornecendo informações que irão ajudar, de forma
efetiva, na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização
criminosa, na prevenção de novos crimes, na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou na
localização da vítima com integridade física preservada, recebendo o colaborador, em contrapartida,
determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena).
"EMF", um dos réus na operação Lava-Jato impetrou no STF habeas corpus contra ato do Min. Teori
Zavascki, que homologou o acordo de delação premiada de Alberto Youssef.
No HC, a defesa do réu alegou, dentre outras teses, que o colaborador não teria idoneidade para
firmar o acordo e que, por isso, as informações por ele repassadas não seriam confiáveis. Afirmou-se,
ainda, que ele já descumpriu um outro acordo de colaboração premiada, demonstrando, assim, não
ter compromisso com a verdade.
Em razão disso, o acordo seria ilícito e todas as provas obtidas a partir dele também seriam ilícitas
por derivação, devendo ser anuladas.
O STF concordou com o HC? A ordem foi concedida? NÃO. O STF indeferiu o habeas corpus.
A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de prova, ou seja, é um instrumento para
colheita de documentos que, segundo o resultado de sua obtenção, poderão formar meio de prova.
A colaboração premiada não se constitui em meio de prova propriamente
dito.
O acordo de colaboração não se confunde com os depoimentos prestados pelo colaborador com o
objetivo de fundamentar as imputações a terceiros. Uma coisa é o acordo, outra é o depoimento
prestado pelo colaborador e que será ainda valorado a partir da análise das provas produzidas no
processo.
Homologar o acordo não significa dizer que o juiz admitiu como verídicas ou idôneas as
informações prestadas pelo colaborador. Quando o magistrado homologa o acordo, ele apenas
afirma que este cumpriu sua regularidade, legalidade e voluntariedade.
O STF entendeu que o acordo NÃO PODE SER IMPUGNADO POR TERCEIRO, MESMO QUE SEJA UMA PESSOA
CITADA NA DELAÇÃO. Isso porque o acordo é personalíssimo e, por si só, não vincula o delatado nem
afeta diretamente sua situação jurídica. O que poderá atingir eventual corréu delatado são as
imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.
A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de
colaboração premiada não têm o condão de invalidar o acordo atual. Não importa a
idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade das informações que ele fornecer e isso ainda
será apurado no decorrer do processo.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).
Observação Final: Segundo a Lei nº 12.850/2013, a personalidade do colaborador irá influenciar
apenas na escolha do benefício que será concedido a ele (art. 4º, § 1º), mas não interfere na validade
do acordo de colaboração. O que importa não é a “confiança” do poder público no agente
colaborador. O que interessa é a análise da idoneidade e utilidade das informações prestadas por
ele, o que será aferido apenas posteriormente, no curso do processo.

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA


Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual... um investigado ou
acusado da prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso, aceita
colaborar com a investigação ou com o processo

• fornecendo informações que irão ajudar,


• de forma efetiva,
• na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização
criminosa,
• na prevenção de novos crimes,
• na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou
• na localização da vítima com integridade física preservada,
• recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de
sua pena).

A colaboração premiada possui natureza jurídica de "MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA" (art. 3º,
I, da Lei nº 12.850/2013). Chamo atenção para esse fato: a colaboração premiada NÃO É UM MEIO DE
PROVA PROPRIAMENTE DITO. A colaboração premiada NÃO PROVA NADA (ELA NÃO É UMA PROVA). A
COLABORAÇÃO PREMIADA É UM MEIO, UMA TÉCNICA, UM
INSTRUMENTO PARA SE OBTER AS PROVAS.
“Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente, ao convencimento do juiz sobre a
veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou o teor de
uma escritura pública), os meios de obtenção de provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são
instrumentos para a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o
julgador (p. ex.: um extrato bancário [documento] encontrado em uma busca e apreensão
domiciliar). Ou seja, enquanto o meio de prova se presta ao convencimento direto do julgador, os
meios de obtenção de provas somente indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização,
poderão servir à reconstrução da história dos fatos” (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de
Janeiro. Campus: Elsevier. 2012, p. 270).

PREVISÃO NORMATIVA
Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de colaboração premiada em diversos
dispositivos legais esparsos. Confira a relação:
• Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º);
• Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º);
• Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único);
• Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único);
• Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26);
• Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º);
• Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15);
• Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41);
• Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único).

O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei nº 12.850/2013 (Lei do
Crime Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que rege, de forma geral, a
colaboração premiada em nosso país, razão pela qual a explicação abaixo será feita com base nesta
Lei.

NOMENCLATURA
Normalmente, encontramos na doutrina e jurisprudência, a terminologia “delação premiada”.
A Lei 12.850/2013, no entanto, utilizou a expressão “colaboração premiada”. Existe alguma
diferença? SIM. Para parcela da doutrina, a nomenclatura "colaboração premiada" é mais
ampla, devendo ser considerada como um gênero, do qual uma das suas espécies é a delação
premiada.
A delação premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com as autoridades delatando
os comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas que também praticaram as infrações penais.
Desse modo, como já dito, a delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. Existem,
contudo,
outras espécies, conforme será visto mais a frente.

COLABORAÇÃO PREMIADA DELAÇÃO PREMIADA


É um mecanismo previsto na legislação por meio É uma espécie do gênero "colaboração
do qual o investigado ou acusado de uma premiada".
infração penal colabora, efetiva e Ocorre quando o investigado ou acusado decide
voluntariamente, com a investigação e com o colaborar com as autoridades delatando os
processo, recebendo, em contrapartida, comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas
benefícios penais. que também praticaram as infrações penais.
Uma das formas de colaboração premiada é a
delação dos coautores ou partícipes.

Exemplo de colaboração premiada que não é delação premiada: o autor confessa a prática do crime
e não delata nenhum comparsa. No entanto, ele fornece todas as informações necessárias para que
as autoridades recuperem o dinheiro desviado com o esquema criminoso e que se encontrava em
contas bancárias no exterior.
Assim, toda delação premiada é uma forma de colaboração premiada, mas nem sempre a
colaboração premiada será feita por meio de uma delação premiada.

CRÍTICAS E IMPORTÂNCIA
A delação premiada é criticada por alguns doutrinadores. O argumento é o de que, por meio deste
expediente, o Estado estaria incentivando uma conduta antiética por parte do delator, qual seja, a
traição. Afirma-se, ainda, que a colaboração premiada seria uma forma de o Poder Público barganhar
com os criminosos, postura que não seria adequada.
A posição majoritária, contudo, e a meu ver, mais razoável, é aquela que defende que, em uma
ponderação de interesses, a delação premiada é medida indispensável ao combate da criminalidade
organizada, sendo, portanto, legítima, já que não viola nenhum direito ou garantia fundamental. Veja
a opinião de Nucci:

“(...) parece-nos que a delação premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser
tutelado é o Estado Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime
organizado tem ampla penetração nas entranhas estatais e possui condições de
desestabilizar qualquer democracia, sem que se possa combatê-lo, com eficiência,
desprezando-se a colaboração daqueles que conhecem o esquema e dispõem-se a
denunciar co-autores e partícipes. No universo de seres humanos de bem, sem
dúvida, a traição é desventurada, mas não cremos que se possa dizer o mesmo ao
transferirmos nossa análise para o âmbito do crime, por si só, desregrado, avesso à
legalidade, contrário ao monopólio estatal de resolução de conflitos, regido por leis
esdrúxulas e extremamente severas, totalmente distante dos valores regentes dos
direitos humanos fundamentais.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo
Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2008, p. 418).

Ademais, se o Estado não pudesse contar (e incentivar) a delação por parte dos comparsas,
dificilmente seria possível desmantelar organizações criminosas poderosas, com estrutura
hierarquizada de poder, nas quais o chefe da ORCRIM raramente pratica os atos criminosos
pessoalmente, valendo-se sempre de interpostas pessoas e ordens reservadas. Se um integrante da
organização for preso e o Poder Público não tiver autorização para incentivar a delação dos demais
membros, o grupo criminoso estará sempre se renovando, além do que somente serão punidos os
componentes de baixo escalão do crime organizado.
A história revela que o instituto da delação premiada foi imprescindível para que a Itália conseguisse
punir alguns integrantes do grupo mafioso siciliano conhecido como “Cosa Nostra” na chamada
“Operação Mãos Limpas”. Um dos mafiosos, Tommaso Buscetta, após ser preso, celebrou acordo
com o Procuratore Della Repubblica Giovanni Falcone, aceitando delatar seus comparsas e revelar
toda a estrutura e os planos da organização criminosa.

FORMAS DE COLABORAÇÃO PREMIADA (RESULTADOS QUE DEVEM SER ALCANÇADOS)


A Lei 12.850/2013 prevê, em seu art. 4º, cinco formas por meio das quais o investigado/réu poderá
colaborar com a investigação e com o processo.
Assim, para ter direito aos benefícios decorrentes da colaboração, o indivíduo deverá fornecer
informações efetivas com as quais as autoridades consigam pelo menos um dos seguintes resultados:

• Identificar os demais coautores e partícipes da organização criminosa e as infrações penais


por eles praticadas.
• Revelar a estrutura hierárquica e a divisão de tarefas da organização criminosa.
• Prevenir as infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa.
• Recuperar total ou parcialmente o produto ou o proveito das infrações penais
praticadas pela organização criminosa.
• Localizar o paradeiro da vítima com a sua integridade física preservada.

Obs: reitero que basta que UM DESSES CINCO OBJETIVOS SEJA ATINGIDO PARA QUE O
COLABORADOR TENHA DIREITO AO BENEFÍCIO.

COLABORAÇÃO VOLUNTÁRIA E EFETIVA


A colaboração deve ser voluntária, ou seja, o colaborador não pode ter sido coagido.
Vale ressaltar que a colaboração é considerada voluntária mesmo que a proposta não tenha partido
do investigado/acusado. Isso porque NÃO SE EXIGE QUE A COLABORAÇÃO SEJA ESPONTÂNEA, ou
seja, que tenha partido do colaborador a ideia, a iniciativa. Basta que seja voluntária (que ele aceite
livremente). Assim, se a polícia ou o MP propõem o acordo e este é aceito livremente pelo
colaborador, esta colaboração é tida como voluntária.
A colaboração deve ser efetiva, isto é, somente será concedido o benefício se, com as
informações fornecidas pelo colaborador, for obtido um dos resultados previstos nos incisos do art.
4º da Lei.
NÃO SE EXIGE QUE O COLABORADOR DEMONSTRE ARREPENDIMENTO. Sendo uma colaboração voluntária e
efetiva, a concessão do benefício é devida ainda que o investigado/acusado não tenha sentimentos
altruístas.
MOMENTO
A colaboração premiada e a concessão dos benefícios dela decorrentes podem ocorrer em três
momentos:
• Na fase de investigação criminal (inquérito policial ou investigação conduzida pelo MP);
• Durante o curso do processo penal (ainda que já em instância recursal);
• Após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

BENEFÍCIOS
Poderão ser concedidos ao colaborador os seguintes benefícios (prêmios):
Não oferecimento da denúncia: Se o acordo de colaboração for firmado ainda na fase de
investigação, sendo ele homologado pelo juiz, o Ministério Público poderá deixar de oferecer a
denúncia contra o colaborador. Trata-se de uma exceção ao princípio da obrigatoriedade, segundo o
qual, havendo justa causa, o MP é obrigado a oferecer a denúncia. Para que o MP deixe de oferecer a
denúncia contra o colaborador é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:
• A colaboração deve ser efetiva e voluntária;
• O colaborador não pode ser o líder da organização criminosa;
• O colaborador deve ter sido o primeiro a prestar efetiva colaboração.
Perdão judicial: Se a colaboração prestada for muito relevante, o Ministério Público ou o Delegado
de Polícia poderão se manifestar pedindo que o juiz conceda perdão judicial ao colaborador, o que
acarreta a extinção da punibilidade (art. 107, IX, do CP). Veja a redação do art. 4º, § 2º da Lei nº
12.850/2013:
§ 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o
delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público,
poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que
esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
Redução da pena: Outro benefício previsto ao colaborador é a redução da pena que lhe for imposta.
Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar antes de ser
julgada: sua pena poderá ser reduzida em até 2/3.
Se a colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar apenas depois de ser
condenada: sua pena poderá ser reduzida em até metade (1/2).
Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: O juiz poderá substituir a
pena privativa de liberdade do colaborador por pena restritiva de direitos mesmo que não estejam
presentes os requisitos do art. 44 do CP.
Progressão de regime: Para que ocorra a progressão de regime, o réu deverá ter cumprido
determinado tempo de pena. A isso chamamos de requisito objetivo da progressão.
Para crimes comuns: o requisito objetivo consiste no cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Para crimes hediondos ou equiparados, o requisito objetivo representa o cumprimento de:
2/5 da pena se for primário.
3/5 da pena se for reincidente.

Se o réu já estiver condenado e cumprindo pena e decidir colaborar, ele poderá receber como
"prêmio" a progressão de regime ainda que não tenha atingido o requisito objetivo (§ 5º do art. 4º).

OBSERVAÇÃO: STF entende que, CASO A COLABORAÇÃO SEJA EFETIVA E PRODUZA OS RESULTADOS

ALMEJADOS, o COLABORADOR TEM DIREITO SUBJETIVO À APLICAÇÃO DAS SANÇÕES


PREMIAIS ESTABELECIDAS no acordo, inclusive de natureza patrimonial (HC 127483/PR).
CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA A ESCOLHA DO BENEFÍCIO
A Lei aponta os seguintes critérios para que o juiz escolha quais benefícios serão aplicados ao
colaborador (§ 1º do art. 4º):
• Personalidade do colaborador;
• Natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso;
• Eficácia da colaboração.
DIREITOS DO COLABORADOR
O art. 5º da Lei 12.850/2013 prevê os seguintes direitos ao colaborador:
• usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica (Lei nº 9.807/99); II - ter nome, qualificação,
imagem e demais informações pessoais preservados;
• ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes; IV - participar das audiências sem
contato visual com os outros acusados;
• não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia
autorização por escrito;
• cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.

PROCEDIMENTO ATÉ A ASSINATURA DO ACORDO DE COLABORAÇÃO


Negociação do acordo
O investigado (ou acusado), assistido por advogado, negocia o acordo de colaboração premiada com
o Delegado de Polícia ou com o Ministério Público.
O juiz não participará, em hipótese alguma, das negociações realizadas entre as partes
para a formalização do acordo de colaboração (§ 6º do art. 4º).
Caso o magistrado interagisse nas negociações, haveria uma grave violação do sistema acusatório e
um seríssimo risco de contaminação da sua imparcialidade, considerando que as informações
enunciadas pelo eventual colaborador iriam incutir no julgador preconcepções sobre o próprio
delator e seus comparsas. Se as negociações não culminassem com um acordo, a opinião do julgador
a respeito do investigado/denunciado já estaria construída em seu psicológico considerando que
teria ouvido confissões sobre os fatos criminosos.
Ademais, a simples presença do juiz da causa na tentativa de acordo poderia exercer uma indevida
coerção velada para que o investigado/acusado aceitasse eventual proposta, o que contraria a
natureza do instituto já que a colaboração deve ser voluntária.

Formalização do acordo e envio à Justiça


Caso as negociações tenham êxito, as declarações do colaborador serão registradas (em meio escrito
ou audiovisual) e será elaborado um termo de acordo de colaboração premiada, a ser assinado por
todas as partes e, então, remetido ao juiz para homologação.
Análise da homologação pelo juiz
As negociações do acordo de colaboração premiada ocorrem em âmbito extrajudicial, sendo vedada,
como vimos, a participação do magistrado. Repetindo: o magistrado não participa da negociação do
acordo.
Ocorre que, após celebrado, o pacto somente terá eficácia processual se for homologado pelo juiz.
Na análise da homologação do acordo, o juiz deverá examinar os seguintes aspectos:
Regularidade: se os aspectos formais e procedimentais foram atendidos;
Legalidade: se a pactuação celebrada ofende algum dispositivo legal;
Voluntariedade: se o investigado/acusado não foi coagido a assinar o acordo.

"A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já prestadas pelo
colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público." (Min. Dias Toffoli, no HC 127483/PR).
Isso significa que, quando o juiz homologa o acordo de colaboração premiada, não significa que
esteja concordando ou afirmando que as declarações prestadas pelo colaborador são verdadeiras.
Tais declarações ainda serão objeto de apuração.

Audiência sigilosa para confirmar a voluntariedade do acordo


Se houver dúvida do juiz acerca da voluntariedade do acordo, ou seja, se houver suspeita de que
tenha havido coação para que a pessoa colaborasse, o juiz poderá designar uma audiência sigilosa
para ouvir o colaborador, que deverá estar acompanhado de seu defensor.
O Ministério Público não será intimado e não participará desta audiência.
Recusa à homologação
O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la
ao caso
concreto.
Na análise da homologação, o juiz deverá se ater ao exame da regularidade, legalidade e
voluntariedade do acordo. Assim, não pode o magistrado imiscuir-se em questões de
discricionariedade investigatória ou fazer incursões sobre a conveniência e oportunidade da
colaboração premiada. Esta não é sua competência.
Recurso contra a decisão do juiz que recusa a homologação do acordo: a lei não prevê. Diante
desse silêncio, a doutrina afirma que cabe, por analogia, recurso em sentido
estrito (art. 581, I, do CPP). Nesse sentido: Pacelli.
O que acontece após ser homologado o acordo
Se as declarações do investigado/acusado já forem suficientes para se obter um dos
resultados previstos nos incisos do art. 4º: aplica-se a ele o benefício penal.
Se, além das declarações do investigado/acusado, for necessária a realização de medidas de
colaboração: o prazo para oferecimento da denúncia ou o processo (caso já exista ação penal) ficarão
suspensos por até 6 meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas,
suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. Veja o que diz a Lei:
Art. 4º (...)
§ 3º O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá
ser
suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as
medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

O acordo de colaboração premiada é um "NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL PERSONALÍSSIMO, QUE NÃO


PODE SER IMPUGNADO POR TERCEIROS, AINDA QUE VENHAM A SER MENCIONADOS." O que poderá atingir
eventual corréu delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.
(Min. Dias Toffoli, no HC 127483/PR).

Oitiva do colaborador
Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor,
ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo Delegado de Polícia responsável pelas
investigações. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá
ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter
maior fidelidade das informações.
e após as diligências for constatada a relevância da colaboração prestada
Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o
Delegado de Polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público,
poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador.
Caso o juiz discorde, ele poderá invocar o procedimento previsto no art. 28 do CPP
remetendo a
manifestação do Promotor de Justiça ao Procurador Geral de Justiça (ou no caso de Procurador da
República, encaminhando a circunstância à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF).
RETRATAÇÃO DA PROPOSTA
Mesmo após a proposta ter sido aceita, alguma das partes pode voltar atrás e se retratar?
SIM. Segundo o § 10 do art. 4º, as partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
desfavor.
RENÚNCIA AO DIREITO AO SILÊNCIO E COMPROMISSO DE DIZER A VERDADE
Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade (§ 14 do art. 4º).
COLABORADOR DEVERÁ SER SEMPRE ASSISTIDO POR ADVOGADO
Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar
assistido por defensor (§ 15 do art. 4º).
VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO: DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVEM SER
CORROBORADAS COM OUTRAS PROVAS
Segundo o § 16 do art. 4º da Lei, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento
apenas nas declarações de agente colaborador.
Assim, as DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVERÃO SER CORROBORADAS POR OUTROS
ELEMENTOS DE PROVA.
Em verdade, mesmo que não houvesse tal previsão, é certo que, para a jurisprudência, a simples
delação do corréu não é suficiente para uma condenação.
"Daí a importância daquilo que a doutrina chama de regra da corroboração, ou seja, que o
colaborador traga elementos de informação e de prova capazes de confirmar suas declarações (v.g.,
indicação do produto do crime, de contas bancárias, localização do produto direto ou indireto da
infração penal, auxílio para identificação de números de telefone a serem grampeados ou na
realização de interceptação ambiental etc.)." (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial
comentada. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 545).

PROCEDIMENTOS

Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal

Importante!!!

É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal. Se
no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em dobro, com
mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
3/9/2015 (Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,

Feitas estas considerações, vejamos o caso concreto:


O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia, no STF, contra o Presidente da Câmara dos
Deputados e contra outra pessoa (corréu) pela suposta prática dos crimes de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro.
O próximo passo seria a notificação dos denunciados para apresentarem resposta preliminar no
prazo de 15 dias (art. 4º da Lei nº 8.038/90).
Ocorre que a defesa do Deputado pediu ao STF que o prazo da resposta preliminar, assim como
todos os demais prazos, fossem contados em dobro, aplicando-se, ao processo penal, por analogia, o
art. 191 do CPC 1973:
Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em
dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos.

O CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem procuradores
(advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia diferentes. Veja:
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer
juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
Segundo argumentou o Deputado, ele está sendo acusado juntamente com outra pessoa
(litisconsórcio passivo no processo penal) e os dois réus estão sendo assistidos por escritórios de
advocacia diferentes. Logo, aplica-se perfeitamente o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).

Precedente no caso "Mensalão"


Vale ressaltar que o STF já havia admitido que as partes (MP e defesa) tivessem prazo em dobro para
recorrer (embargos de declaração) no caso do “Mensalão”, utilizando como argumento justamente o
fato de que havia, no caso, um litisconsórcio passivo (vários réus), com advogados diferentes,
devendo, portanto, ser aplicada, por analogia, a regra prevista no art. 191 do CPC (STF. Plenário. AP
470 Vigésimo Segundo AgR/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, 17/4/2013).

FIANÇA

Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela Defensoria


Pública
O indivíduo foi preso em flagrante pela prática do crime de tráfico de drogas.
O magistrado concedeu liberdade provisória com a fixação de 2 salários-mínimos de fiança. Como
não foi paga a fiança, o indivíduo permaneceu preso.
A Defensoria Pública impetrou habeas corpus e o STF deferiu a liberdade provisória em favor do
paciente com dispensa do pagamento de fiança.
Os Ministros afirmaram que era injusto e desproporcional condicionar a expedição do alvará de
soltura ao recolhimento da fiança.
Segundo entendeu o STF, O RÉU NÃO TINHA CONDIÇÕES FINANCEIRAS DE ARCAR COM O VALOR DA FIANÇA, O QUE
SE PODERIA PRESUMIR PELO FATO DE SER ASSISTIDO PELA DEFENSORIA PÚBLICA, O QUE PRESSUPORIA SUA
HIPOSSUFICIÊNCIA.
Assim, não estando previstos os pressupostos do art. 312 do CPP e não tendo o preso
condições de pagar a fiança, conclui-se que nada justifica a manutenção da prisão cautelar. STF. 1ª
Turma. HC 129474/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

ECA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

INFORMATIVO 772, STF - IMPOSSIBILIDADE DE PRIVAÇÃO DA LIBERDADE EM CASO DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL
EQUIPARADO AO ART. 28 DA LD.

NÃO É POSSÍVEL APLICAR NENHUMA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA QUE PRIVE A LIBERDADE DO ADOLESCENTE
(internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO DELITO DO
ART. 28 DA LEI DE DROGAS. Isso porque o art. 28 da Lei 11.343/2006 não prevê a possibilidade de
penas privativas de liberdade caso um adulto cometa esse crime. Ora, se nem mesmo a pessoa maior
de idade poderá ser presa por conta da prática do art. 28 da LD, com maior razão não se pode impor
a restrição da liberdade para o adolescente que incidir nessa conduta. STF. 1ª Turma. HC 119160/SP,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 9/4/2014 (Info 742). STF. 2ª Turma. HC 124682/SP, Rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).

Вам также может понравиться