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CONSTITUCIONAL
APLICAÇÃO IMEDIATA AOS CONTRATOS EM CURSO DA LEI QUE FIXA NOVOS ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA
A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção monetária
previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua vigência deveriam ser
alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, A LEI NOVA PODE INCIDIR
IMEDIATAMENTE SOBRE AS CLÁUSULAS PRESENTES NO CONTRATO, DESDE QUE AS NORMAS LEGAIS
SEJAM DE NATUREZA COGENTE, OU SEJA, AQUELAS CUJO CONTEÚDO FOGE DO DOMÍNIO DA VONTADE
DOS CONTRATANTES.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir uma lei nova
que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, OS CONTRATANTES NÃO PODEM INVOCAR DIREITO
ADQUIRIDO OU ATO JURÍDICO PERFEITO COM O OBJETIVO DE MANTER O TEOR DAS CLÁUSULAS NA FORMA COMO
ORIGINALMENTE FORAM PREVISTAS NO CONTRATO.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ, red. p/o acórdão
Min. Teori Zavascki, julgados em 29/4/2015 (Info 783).
O que o STF decidiu? Houve ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito? O art. 21 da Lei n. 9.069/95
é inconstitucional?
NÃO. O art. 21 da Lei n. 9.069/95 foi um das medidas mais importantes do Plano Real, um dos seus pilares
essenciais, já que fixava critérios para a transposição das obrigações monetárias, inclusive contratuais, do
antigo para o novo sistema monetário.
Esse dispositivo é classificado como um preceito de ordem pública e tem natureza estatutária, ou seja, não
pode ser afastado por vontade das partes. Dessa forma, ele vincula necessariamente todos os seus
destinatários.
Considerando que a norma em questão tem natureza institucional estatutária, ele pode ser aplicado
imediatamente aos contratos que já existiam quando a Lei entrou em vigor. Não há inconstitucionalidade
nesta incidência imediata.
Vale ressaltar que o fato de o art. 21 se aplicar aos contratos em curso não significa que a Lei esteja sendo
aplicada retroativamente. É preciso diferenciar aplicação imediata de aplicação retroativa da Lei.
O LEGISLADOR, AO EDITAR A LEI 9.294/96, ATENDEU A REGRA DO ART. 220, § 4º, DA CF/88
O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as propagandas de bebidas
alcoólicas com teor alcoólico superior a 13 GL (art. 1º, parágrafo único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por omissão afirmando
que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando que deveria impor restrições à
propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do seu teor de álcool.
O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder Judiciário crie norma
geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é bebida alcoólica para fins de propaganda.
Além disso, o STF considerou que não existe a alegada omissão. O legislador federal aprovou a Lei 9.294/96,
que foi objeto de amplo debate no Congresso Nacional. Foi feita uma escolha política de só serem impostas
restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com grau superior a 13 GL, não podendo o STF rever essa
decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca), considerando que são
diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente diversos. A primeira lei cuida de restrições à
propaganda e liberdade de expressão. Nela não se está julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que
limite pode ir a sua publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que
dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
DIREITO DE JORNAL TER ACESSO A INFORMAÇÕES SOBRE O USO DA VERBA INDENIZATÓRIA POR SENADORES
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem como os
Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos Parlamentares.
O STF DETERMINOU QUE O SENADO FORNEÇA CÓPIA DOS DOCUMENTOS SOLICITADOS.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e EXCLUSIVAMENTE relacionadas ao
exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem NATUREZA PÚBLICA, tanto pelo
fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto pela FINALIDADE A QUE SE
DESTINAM, ESTANDO VINCULADAS AO EXERCÍCIO DA REPRESENTAÇÃO POPULAR (mandato).
Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações NÃO ACARRETA QUALQUER RISCO À
SEGURANÇA NEM VIOLA A PRIVACIDADE OU INTIMIDADE DOS PARLAMENTARES.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/3/2015 (Info 776).
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Importante!!! PARA QUE SEJA PUBLICADA UMA BIOGRAFIA NÃO É NECESSÁRIA AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DO INDIVÍDUO
BIOGRAFADO, DAS DEMAIS PESSOAS RETRATADAS, NEM DE SEUS FAMILIARES. ESSA AUTORIZAÇÃO PRÉVIA SERIA UMA FORMA DE
CENSURA, NÃO SENDO COMPATÍVEL COM A LIBERDADE DE EXPRESSÃO CONSAGRADA PELA CF/88.
As exatas palavras do STF foram as seguintes: “É inexigível o consentimento de pessoa biografada
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de
pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”. Caso o
biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram violados pela
publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio de indenização pecuniária,
como também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito
de resposta etc. STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
Quando o art. 20 fala em “imagem”, ele não está apenas se referindo à imagem fisionômica do indivíduo (seu
retrato). A palavra “imagem” ali empregada tem três acepções:
• Imagem-retrato: são as características fisionômicas da pessoa, ou seja, o seu desenho, sua pintura, sua
fotografia. A imagem-retrato é captada pelos olhos.
• Imagem-atributo: são as características imateriais (morais) por meio das quais os outros enxergam
aquela pessoa. É a personalidade, o caráter, o comportamento da pessoa segundo a visão de quem a
conhece. A imagem-atributo é captada pelo coração.
• Imagem-voz: são as características do timbre de voz da pessoa. É a identificação da pessoa pela voz. O
exemplo típico é o dos locutores de TV, como Gil Gomes e Lombardi. A imagem-voz é captada pelo
ouvido.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de
medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e
moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o argumento da
reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015 (Info 794).
Reserva do possível
A cláusula da reserva do possível somente seria oponível se ficasse demonstrado objetivamente, pelo Poder
Público, um justo motivo para não realizar o mandamento constitucional.
Ademais, não cabe falar em falta de recursos, tendo em vista que o Fundo Penitenciário Nacional dispõe de
verbas da ordem de R$ 2,3 bilhões, e para usá-los basta que os entes federados apresentem projetos e firmem
convênios para realizar obras. Desse modo, o que falta é vontade para a implementação das políticas e para
enfrentar o problema.
Importante!!!
Obs: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado de Coisas
Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carlos- campos-
estado-coisas-inconstitucional-litigio-estrutural), artigo cuja leitura se recomenda.
Pressupostos:
Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF 347, para reconhecer o estado
de coisas inconstitucional, exige-se que estejam presentes as seguintes condições:
• vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de pessoas;
• prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos
direitos;
• a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma pluralidade de
órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de recursos públicos,
correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas, dentre outras medidas; e
• potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus direitos violados
acorrerem individualmente ao Poder Judiciário.
A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural diante da omissão dos Poderes Executivo
e Legislativo, que não tomam medidas concretas para resolver o problema, normalmente por falta de vontade
política.
Situações excepcionais
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está expressamente prevista na
Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e, considerando que "confere ao Tribunal uma ampla
latitude de poderes, TEM-SE ENTENDIDO QUE A TÉCNICA SÓ DEVE SER MANEJADA EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS, em que,
além da séria e generalizada afronta aos direitos humanos, haja também a constatação de que a intervenção da
Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro enfrentado. São casos em que se identifica um “bloqueio
institucional” para a garantia dos direitos, o que leva a Corte a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do
princípio da separação de poderes, que envolve uma intervenção mais ampla sobre o campo das políticas
públicas." (trecho da petição inicial da ADPF 347).
CNMP
2. STF NÃO TÊM COMPETÊNCIA PARA AÇÕES DECORRENTES DE DECISÕES NEGATIVAS DO CNMP E DO CNJ
A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF (art. 102, I, “r”,
da CF/88). Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos RECUSAM-SE A TOMAR ALGUMA
PROVIDÊNCIA NO CASO CONCRETO PORQUE ALEGAM QUE NÃO TEM COMPETÊNCIA PARA AQUELA SITUAÇÃO OU QUE NÃO É
HIPÓTESE DE INTERVENÇÃO. Nessas hipóteses, DIZEMOS QUE A DECISÃO DO CNJ OU CNMP FOI “NEGATIVA” porque
ela nada determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida. Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar
MS contra o CNJ/CNMP no STF? NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações
decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do
CNJ/CNMP foi “negativo”, ele NÃO DECIDIU NADA. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. SE NÃO
PRATICOU NENHUM ATO, NÃO EXISTE ATO DO CNJ/CNMP A SER ATACADO NO STF. STF. 1ª
Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
5/5/2015 (Info 784).
A) NESTE CASO, O QUE A PARTE DEVERÁ FAZER?
A parte terá que impugnar na Justiça o ato originário que gerou seu pedido no CNJ/CNMP. Ex: a parte ingressou
com pedido de providência no CNMP contra ato administrativo praticado pelo Procurador-Geral de Justiça. O
CNMP entendeu que não cabia sua intervenção no caso, julgando improcedente o pedido. O CNMP proferiu,
portanto, uma decisão “negativa”. Contra este pronunciamento do CNMP não cabe MS. SOMENTE RESTARÁ
À PARTE PROPOR UM MS CONTRA O ATO DO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA, AÇÃO
ESTA QUE SERÁ DE COMPETÊNCIA DO TJ.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que ocorreu o julgamento, havia
apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria haver ou não a modulação dos efeitos da
decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação
foi rejeitada e o resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava ausente
compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão que declarou a lei
inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e encerrado e, por
isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não;
e em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação dos efeitos.
UMA VEZ ENCERRADO O JULGAMENTO E PROCLAMADO O RESULTADO, INCLUSIVE COM A VOTAÇÃO SOBRE A MODULAÇÃO (QUE NÃO
FOI ALCANÇADA), NÃO HÁ COMO REABRIR O CASO, FICANDO PRECLUSA A POSSIBILIDADE DE REABERTURA PARA DELIBERAÇÃO
SOBRE A MODULAÇÃO DOS EFEITOS.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 8/4/2015 (Info 780).
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como “PEC da Bengala” em
virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que foi decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão se aposentar
compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições do art. 52 da Constituição Federal”. O
que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos somente possa
continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública (“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em outras
palavras, o Ministro, quando completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu
nome precisaria ser novamente aprovado pelo Senado.
O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 NÃO pode ser estendido a outros agentes públicos até que
seja editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso II, da CF/88.
C. Essa LC nacional ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos
pode ser apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República ou por algum parlamentar?
NÃO. TODAS AS LEIS QUE TRAZEM REGRAS GERAIS SOBRE A MAGISTRATURA NACIONAL DEVEM SER INICIADAS PELO STF,
nos termos do art. 93 da CF/88.
O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos Desembargadores que
queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos?
O STF declarou que FICA SEM PRODUZIR EFEITOS TODO E QUALQUER PRONUNCIAMENTO JUDICIAL E ADMINISTRATIVO QUE TENHA
INTERPRETADO QUE A EC 88/2015 PERMITIRIA, MESMO SEM LC, AMPLIAR PARA 75 ANOS A IDADE DA APOSENTADORIA
COMPULSÓRIA PARA OUTROS AGENTES PÚBLICOS que não sejam Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU.
Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode estender o limite de 75
anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos.
Fundamento: Não existe, entretanto, qualquer fundamento constitucional que estabeleça um dever
de todos os magistrados receberem o mesmo tratamento legislativo reservado aos Ministros dos
Tribunais Superiores. Não há direito subjetivo de um juiz de ver para si aplicadas todas as regras
válidas para os Ministros do STF. A Constituição em nenhum momento permite extrair essa
conclusão. Ao contrário, o texto da CF/88, em diversas oportunidades, tratou de forma diferente os
membros dos Tribunais Superiores dos demais magistrados. Basta ver a forma de ingresso e os
requisitos para o cargo, que são completamente distintos dos demais juízes.
O legislador constituinte reformador foi muito claro ao elencar os cargos que teriam aposentadoria
compulsória estendida para 75 anos independentemente de lei complementar, não havendo nesta
escolha qualquer violação ao princípio da isonomia.
D. Essa LC ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos pode
ser uma LC estadual?
NÃO. Lei complementar estadual não poderá tratar do tema. É necessário que seja uma Lei complementar
nacional, ou seja, aprovada pelo Congresso Nacional.
Desse modo, será inconstitucional qualquer tentativa dos Tribunais de Justiça ou das Assembleias
Legislativas de ampliar a aposentadoria dos juízes e Desembargadores para 75 anos antes que seja editada a
LC nacional.
E. O que acontece se o Desembargador que concedeu a liminar mantiver-se recalcitrante e não tornar
sem efeito sua decisão? E se forem concedidas novas medidas liminares em outros processos?
Neste caso, a referida decisão poderá ser atacada por meio de reclamação proposta diretamente no STF,
que irá cassá-la.
SIM. O STF entendeu QUE É POSSÍVEL A CUMULAÇÃO DE PEDIDOS TÍPICOS DE ADI E ADC EM UMA ÚNICA DEMANDA
DE CONTROLE CONCENTRADO.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que
destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese, da
harmonia do sistema constitucional.
A CUMULAÇÃO OBJETIVA PERMITE O ENFRENTAMENTO JUDICIAL COERENTE, CÉLERE E EFICIENTE DE QUESTÕES MINIMAMENTE
RELACIONADAS ENTRE SI.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na Lei 9.868/1999,
traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente a demanda, com pedido e
fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
EXEMPLO CONCRETO:
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou a ADI 5316 contra a EC 88/2015 formulando dois pedidos
principais:
A declaração de inconstitucionalidade da expressão “nas condições do art. 52 da Constituição Federal”
contida no art. 100 do ADCT, introduzido pela EC 88/2015 (pedido típico de ADI); e
A declaração de constitucionalidade da exigência de lei complementar para que a aposentadoria
compulsória aos 75 anos fosse estendida para juízes e Desembargadores, nos termos do inciso II do § 1º
do art. 40 da CF/88 e do art. 100 do ADCT, com redação dada pela EC 88/2015 (pedido típico de ADC).
A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da petição inicial. Um
desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia judicial relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a constitucionalidade
daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais decidindo que aquela lei é inconstitucional. SE
NÃO EXISTIREM DECISÕES CONTRÁRIAS À LEI, NÃO HÁ RAZÃO PARA SE PROPOR A ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o requisito da
“controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato normativo? SIM
. Mesmo a lei ou ato
normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o requisito da controvérsia judicial
relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF DECIDIU QUE O REQUISITO RELATIVO À EXISTÊNCIA DE CONTROVÉRSIA JUDICIAL
RELEVANTE É QUALITATIVO E NÃO QUANTITATIVO. Em outras palavras, para verificar se existe a
controvérsia não se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões
em sentido contrário à lei. MESMO HAVENDO AINDA POUCAS DECISÕES JULGANDO INCONSTITUCIONAL A LEI JÁ PODE SER
POSSÍVEL O AJUIZAMENTO DA ADC SE O ATO NORMATIVO IMPUGNADO FOR UMA EMENDA CONSTITUCIONAL (EXPRESSÃO MAIS
ELEVADA DA VONTADE DO PARLAMENTO BRASILEIRO) OU MESMO EM SE TRATANDO DE LEI SE A MATÉRIA NELA VERSADA FOR
RELEVANTE E HOUVER RISCO DE DECISÕES CONTRÁRIAS À SUA CONSTITUCIONALIDADE SE MULTIPLICAREM.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
CABIMENTO DE NOVA ADI POR INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL CONTRA ATO NORMATIVO JÁ RECONHECIDO
FORMALMENTE CONSTITUCIONAL PELO STF
A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria formalmente
inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei constitucional. Quatro anos mais tarde,
outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”, mas desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei materialmente
inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X” (nem disse que ela era
constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a inconstitucionalidade material
da lei e nada impede que o STF decida declará-la inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que ele reconheça
posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).
A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo não produz
a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros processos anteriores que tenham adotado
entendimento diferente do que posteriormente decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a
propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V do CPC 2015),
observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC 1973 / art. 975 do CPC 2015).
SEGUNDO AFIRMOU O STF, NÃO SE PODE CONFUNDIR A EFICÁCIA NORMATIVA DE UMA SENTENÇA QUE DECLARA A
INCONSTITUCIONALIDADE (QUE RETIRA DO PLANO JURÍDICO A NORMA COM EFEITO “EX TUNC”) COM A EFICÁCIA EXECUTIVA,
OU SEJA, O EFEITO VINCULANTE DESSA DECISÃO.
STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (repercussão geral) (Info 787).
Observação:
Eficácia normativa
Quando o STF, no controle concentrado de constitucionalidade (ADI ou ADC), decide que determinada lei é
constitucional ou inconstitucional, ele gera a consequência que se pode denominar de eficácia normativa, que
significa manter ou excluir (declarar nula) a referida norma do ordenamento jurídico.
As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia
contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da CF/88).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não proíbe que o Poder
Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma
vedação prévia a tais atos normativos. O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a
jurisprudência. Trata-se de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão
jurisprudencial.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a
invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§, da
CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo
STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma
cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.
No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a
jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador
o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. Assim, para ser
considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais
se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese
de mutação constitucional pela via legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).
Obs: no caso da ADPF, esse efeito está descrito no art. 10, § 3º da Lei nº 9.882/99.
O que acontece se as pessoas e órgãos que estão vinculados à decisão do STF desrespeitarem aquilo
que foi decidido?
Neste caso, o interessado poderá questionar esse ato diretamente no STF por meio de reclamação (art.
102, I, "l", da CF/88). Se o ato estiver realmente violando o que foi decidido, ele será cassado.
A decisão proferida na ADI, ADC e ADPF vincula o próprio STF? E o Poder Legislativo?
Veja abaixo um quadro-resumo sobre o tema:
EFICÁCIA SUBJETIVA DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO STF EM ADI, ADC E ADPF
Ficam vinculados.
Particulares
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os órgãos e entidades do Poder Executivo ficam vinculados.
Executivo
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os demais juízes e Tribunais ficam vinculados.
Judiciário
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
A decisão vincula os julgamentos futuros a serem efetuados monocraticamente pelos
Ministros ou pelas Turmas do STF.
Essa decisão não vincula, contudo, o Plenário do STF. Assim, se o STF decidiu, em controle
abstrato, que determinada lei é constitucional, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu
entendimento e decidir que esta mesma lei é inconstitucional por conta de mudanças no
STF
cenário jurídico, político, econômico ou social do país. Isso se justifica a fim de evitar a
"fossilização da Constituição".
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode
ser decidida, inclusive, durante o julgamento de uma reclamação constitucional. Nesse
sentido: STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado.
Isso também tem como finalidade evitar a "fossilização da Constituição".
Assim, o legislador, em tese, pode editar nova lei com o mesmo conteúdo daquilo que foi
declarado inconstitucional pelo STF.
Se o legislador fizer isso, não é possível que o interessado proponha uma reclamação ao
Legislativo
STF pedindo que essa lei seja automaticamente julgada também inconstitucional (Rcl
13019 AgR, julgado em 19/02/2014).
Será necessária a propositura de uma nova ADI para que o STF examine essa nova lei e a
declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até mesmo mudar de opinião no
julgamento dessa segunda ação.
Em tese, o Congresso Nacional pode editar uma lei em sentido contrário ao que foi decidido pelo STF
no julgamento de uma ADI/ADC?
SIM. Conforme vimos acima, o Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado aos
efeitos da decisão do STF.
O STF possui, segundo a CF/88, a missão de dar a última palavra em termos de interpretação da Constituição.
Isso não significa, contudo, que o legislador não tenha também a capacidade de interpretação do Texto
Constitucional. O Poder Legislativo também é considerado um intérprete autêntico da Constituição e
justamente por isso ele pode editar uma lei ou EC tentando superar o entendimento anterior ou provocar
um novo pronunciamento do STF a respeito de determinado tema, mesmo que a Corte já tenha decidido o
assunto em sede de controle concentrado de constitucionalidade. A isso se dá o nome de "reação legislativa"
ou"superação legislativa da jurisprudência"
A reação legislativa é uma forma de "ativismo congressual" com o objetivo de o Congresso Nacional
reverter situações de autoritarismo judicial ou de comportamento antidialógico por parte do STF, estando,
portanto, amparado no princípio da separação de poderes.
Mas se houver uma "reação legislativa", com toda a certeza o STF irá julgar novamente a nova
lei inconstitucional, não é verdade?
NÃO. Em tese, ou seja, na teoria, isso não é verdade. É possível que o STF repense seu entendimento
anterior e evolua para uma nova interpretação, chegando a conclusão diferente daquilo que havia decidido e,
assim, concorde com a nova lei editada com o mesmo conteúdo da anterior.
Veja o que dizem Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto, citados pelo Min. Luiz Fux em seu voto: “(...)
não é salutar atribuir a um único órgão qualquer a prerrogativa de dar a última palavra sobre o sentido
da Constituição. (...). É preferível adotar-se um modelo que não atribua a nenhuma instituição – nem do
Judiciário, nem do Legislativo – o “direito de errar por último”, abrindo-se a permanente possibilidade
de correções recíprocas no campo da hermenêutica constitucional, com base na ideia de diálogo, em lugar
da visão tradicional, que concede a última palavra nessa área ao STF.
(...)
As decisões do STF em matéria constitucional são insuscetíveis de invalidação pelas instâncias políticas.
Isso, porém, não impede que seja editada uma nova lei, com conteúdo similar àquela que foi declarada
inconstitucional. Essa posição pode ser derivada do próprio texto constitucional, que não estendeu ao
Poder Legislativo os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo STF no controle de
constitucionalidade (art. 102, § 2º, e art. 103-A, da Constituição). Se o fato ocorrer, é muito provável que a
nova lei seja também declarada inconstitucional. Mas o resultado pode ser diferente. O STF pode e deve
refletir sobre os argumentos adicionais fornecidos pelo Parlamento ou debatidos pela opinião pública para dar
suporte ao novo ato normativo, e não ignorá-los, tomando a nova medida legislativa como afronta à sua
autoridade. Nesse ínterim, além da possibilidade de alteração de posicionamento de alguns ministros, pode
haver também a mudança na composição da Corte, com reflexões no resultado do julgamento.” (SARMENTO,
Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Direito Constitucional. Teoria, história e métodos de trabalho. Belo
Horizonte: Fórum, 2012, p. 402-405)
Existem exemplos de "reação legislativa" que foram consideradas exitosas, ou seja, que foram
acolhidas pelo STF gerando uma "correção jurisprudencial"?
SIM. Um exemplo emblemático diz respeito à chamada Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010). Antes dessa Lei, o
TSE e o STF possuíam jurisprudência consolidada no sentido de que não era possível reconhecer a
inelegibilidade do candidato a não ser que houvesse contra ele uma condenação transitada em julgado. O
fundamento para esse entendimento residia no princípio da presunção de inocência.
A LC 135/2010 foi editada com o objetivo de superar esse entendimento. Segundo previu essa lei, não é
necessário que a decisão condenatória tenha transitado em julgado para que o condenado se torne
inelegível. Basta que tenha sido proferida por órgão colegiado (exs: TRE, TJ, TRF).
O STF, superando seus antigos precedentes, entendeu que a reação legislativa foi legítima e que a Lei da
Ficha Limpa é constitucional e não viola o princípio da presunção de inocência. (STF. Plenário. ADC 29/DF,
ADC 30/DF, ADI 4578/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 15 e 16/2/2012).
Esse caso, dentre outros, demonstra que, na teoria, não existe uma supremacia judicial do STF e que é possível, em
tese, a existência de um diálogo (abertura dialógica) por meio do qual o Legislativo proponha, por meio de leis,
correções à jurisprudência do Supremo, alterando a forma de a Corte interpretar a Constituição.
b) No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a
invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§, da
CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada
pelo STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender
uma cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.
c) No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a
jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao
legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. A
novel legislação que frontalmente colida com a jurisprudência (leis in your face) se submete a um
controle de constitucionalidade mais rigoroso.
Para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas
sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá
verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa.
Vale ressaltar, no entanto, que excetuadas as situações de ofensa evidente ao texto constitucional, o STF deve
adotar comportamento de autorrestrição
Sob o aspecto material, quanto à regra 1, o STF entendeu que a nomeação do Procurador-Geral do Estado e dos
Presidentes de sociedade de economia mista e empresas públicas não podem ser submetidas ao crivo da ALE. O
cargo de Procurador-Geral do Estado é de livre nomeação e exoneração, sendo um cargo de confiança do chefe
do Poder Executivo. As empresas públicas e sociedades de economia mista submetem-se a regras de direito
privado e não podem sofrer ingerência por parte do Legislativo.
Quanto à regra 2, esta também é materialmente inconstitucional porque institui um modelo de fiscalização
exacerbado e, desse modo, viola o princípio da separação de Poderes.
STF. Plenário. ADI 4284/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/4/2015 (Info 780).
Observação: “matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada por emenda constitucional de
origem parlamentar” (STF. Plenário. ADI 2.966, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/04/2005).
Mas e sob o ponto de vista material, seria possível que as autoridades indicadas pelo Governador do Estado
fossem obrigadas a se submeter à aprovação da ALE?
Quanto aos DIRIGENTES DE AUTARQUIAS e FUNDAÇÕES e quanto ao DEFENSOR PÚBLICO-GERAL: Se não fosse o
vício formal, SERIA POSSÍVEL QUE A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO EXIGISSE QUE TAIS NOMES FOSSEM APROVADOS
PELA ALE. Isso porque a CF/88 permite que a legislação condicione a nomeação de determinados titulares
de cargos públicos à prévia aprovação do Senado Federal, a teor do art. 52, III. Logo, em homenagem ao
princípio da simetria, essa mesma previsão do art. 52 pode ser repetida na Constituição ou mesmo na
legislação infraconstitucional estadual. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 17/9/2014 (Info 759).
Quanto ao PROCURADOR-GERAL DO ESTADO: NÃO. Mesmo que não houvesse inconstitucionalidade formal,
haveria material. Isso porque o STF possui entendimento pacífico no sentido de que o Advogado-Geral é
cargo de confiança do Presidente da República, sendo de livre nomeação pelo Chefe do Poder Executivo,
não precisando passar por sabatina no Senado.
Quanto aos DIRIGENTES DAS EMPRESAS PÚBLICAS e SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA: NÃO. Mesmo que não
houvesse inconstitucionalidade formal, haveria material. Isso porque tais entidades se sujeitam ao regime
das empresas privadas e, portanto, não podem sofrer nenhuma ingerência por parte do Legislativo.
CE pode prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil tenha status de lei complementar
Constituição estadual PODERÁ PREVER QUE A LEI ORGÂNICA DA POLÍCIA CIVIL DAQUELE ESTADO TENHA STATUS DE LEI
COMPLEMENTAR.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei complementar) para tratar
sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher determinados temas
como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais qualificada por meio de lei
complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
17/6/2015 (Info 790).
CE estadual pode prever que é proibido que os servidores estaduais substituam trabalhadores de empresas
privadas em greve.
STF. Plenário. ADI 232/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/8/2015 (Info 793).
As Constituições estaduais podem tratar sobre o funcionamento da Administração estadual desde que
cumpridos alguns requisitos:
a) as regras de reserva de iniciativa devem ser respeitadas (ex: não pode haver violação ao art. 61, § 1º da
CF/88); e
b) o parlamento local não pode retirar do Governador alguma competência legítima que ele possua.
No caso concreto, o inciso XXIII do art. 77 da CE/RJ proíbe que servidor público estadual seja designado para
substituir trabalhadores de empresas privadas em greve. Embora o preceito esteja relacionado ao
funcionamento da Administração local, ele não invade o campo de discricionariedade política que a Constituição
Federal reserva, com exclusividade, à iniciativa do Governador. Em outras palavras, ele não trata diretamente de
nenhuma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88. Além disso, essa regra não viola nenhum outro dispositivo da
CF/88. Assim, essa previsão não apresenta nenhum vício formal.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
SÚMULA VINCULANTE 46
SÚMULA VINCULANTE 46-STF: A DEFINIÇÃO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE E O ESTABELECIMENTO DAS RESPECTIVAS
NORMAS DE PROCESSO E JULGAMENTO SÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO. STF. PLENÁRIO.
APROVADA EM 09/04/2015 (INFO 780).
O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).
O STF JULGOU INCONSTITUCIONAL LEI MUNICIPAL QUE PROÍBE, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de
limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-
de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a proibição
imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor.
No caso, O STF ENTENDEU QUE DEVERIA PREVALECER A GARANTIA DOS EMPREGOS DOS TRABALHADORES CANAVIEIROS, QUE
MERECEM PROTEÇÃO DIANTE DO CHAMADO PROGRESSO TECNOLÓGICO E DA RESPECTIVA MECANIZAÇÃO, AMBOS TRAZIDOS PELA
PRETENSÃO DE PROIBIÇÃO IMEDIATA DA COLHEITA DA CANA MEDIANTE USO DE FOGO.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e
facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98. STF. Plenário. RE
586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).
INFORMATIVO 774, STF - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE CRIA OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS PARA AS CONCESSIONÁRIAS DE
ENERGIA ELÉTRICA.
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que determine que os postes de sustentação à rede elétrica que estejam
causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos serão removidos, sem qualquer ônus para
os interessados. Isso porque ESSA LEI TRATA SOBRE ENERGIA ELÉTRICA, MATÉRIA DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO (art.
22, IV, da CF/88), além de interferir nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as
concessionárias que exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-membro. STF. Plenário.
ADI 4925/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774).
INFORMATIVO 774, STF - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE PROÍBA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ESTRANGEIROS COM
AGROTÓXICOS.
INFORMATIVO 775, STF - LEI ESTADUAL PODE FIXAR NÚMERO MÁXIMO DE ALUNOS POR SALA DE AULA.
A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE EDUCAÇÃO E ENSINO É CONCORRENTE (art. 24, IX, da CF/88). No âmbito da
legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas gerais (§ 1º) e os Estados
podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB). Determinado ESTADO-
MEMBRO EDITOU UMA LEI PREVENDO O NÚMERO MÁXIMO DE ALUNOS QUE PODERIAM ESTUDAR NAS SALAS DE AULA DAS
ESCOLAS, PÚBLICAS OU PARTICULARES, ALI EXISTENTES.
O STF ENTENDEU QUE ESSA LEI É CONSTITUCIONAL e que NÃO USURPA A COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR
SOBRE NORMAS GERAIS DE EDUCAÇÃO.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).
CE PODE PREVER QUE AS PROIBIÇÕES E IMPEDIMENTOS DOS DEPUTADOS ESTADUAIS SÃO APLICÁVEIS TAMBÉM AOS
GOVERNADORES DE ESTADO
É constitucional norma da Constituição estadual que preveja que as proibições e os impedimentos estabelecidos
para os Deputados Estaduais deverão ser aplicados também para o Governador e o Vice-Governador do Estado.
STF. Plenário. ADI 253/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/5/2015 (Info 787).
Conceito Princípio da Simetria: Segundo o princípio ou regra da simetria, o legislador constituinte
estadual, ao elaborar as normas da Constituição estadual sobre os Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário e sobre as regras do pacto federativo, deverá observar, em linhas gerais, o mesmo modelo
imposto pela Constituição Federal, a fim de manter a harmonia e independência entre eles.
PROCESSO LEGISLATIVO
INICIATIVA DE LEI QUE DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
É INCONSTITUCIONAL LEI ORGÂNICA MUNICIPAL QUE DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
(SEUS DIREITOS E DEVERES).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que COMPETE AO CHEFE DO PODER EXECUTIVO a
INICIATIVA de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico
dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por força do princípio da simetria. STF. Plenário. RE
590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).
No caso julgado pelo STF e noticiado neste Informativo 776, a Lei Orgânica de Cambuí/MG concedeu
benefícios a servidores públicos daquela municipalidade. O STF julgou a referida lei inconstitucional por
ofender o art. 61, § 1º, II, “c” da CF/88, a ensejar sua inconstitucionalidade formal.
INFORMATIVO 773, STF - INICIATIVA DE LEI QUE DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS E MILITARES
É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL, DE INICIATIVA PARLAMENTAR, que DISPONHA SOBRE O REGIME JURÍDICO DOS
SERVIDORES PÚBLICOS E DOS MILITARES ESTADUAIS (seus direitos e deveres). O art. 61, § 1º, II, “c” e “f”, da CF/88 prevê
que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres
dos servidores públicos e sobre o regime jurídico dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito
estadual por força do PRINCÍPIO DA SIMETRIA. O FATO DE O GOVERNADOR DO ESTADO SANCIONAR ESSE PROJETO DE
LEI NÃO FAZ COM QUE O VÍCIO DE INICIATIVA SEJA SANADO (CORRIGIDO). A SÚMULA 5 DO STF HÁ MUITOS ANOS FOI
CANCELADA. STF. Plenário. ADI 3920/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/2/2015 (Info 773).
- Princípio da simetria: SEGUNDO O PRINCÍPIO OU REGRA DA SIMETRIA, O LEGISLADOR CONSTITUINTE ESTADUAL, AO ELABORAR
AS NORMAS DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL SOBRE OS PODERES EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO E SOBRE AS REGRAS DO
PACTO FEDERATIVO, DEVERÁ OBSERVAR, EM LINHAS GERAIS, O MESMO MODELO IMPOSTO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, A FIM DE
MANTER A HARMONIA E INDEPENDÊNCIA ENTRE ELES.
O princípio da SIMETRIA NÃO ESTÁ PREVISTO DE FORMA EXPRESSA NA CF/88. Foi uma CRIAÇÃO PRETORIANA, ou
seja, IDEALIZADO PELA JURISPRUDÊNCIA DO STF.
Alguns MINISTROS INVOCAM COMO FUNDAMENTO normativo para a sua existência O ART. 25 DA CF E O ART. 11 DO
ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância dos princípios da Constituição da República.
PODER LEGISLATIVO
Informativo 775, STF - Imunidade material dos Vereadores.
Importante!!! Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o Prefeito,
um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O Vereador ofendido ajuizou ação de
indenização por danos morais contra o ofensor. A questão chegou até o STF que, JULGANDO O TEMA SOB A
SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL, declarou que O VEREADOR NÃO DEVERIA SER CONDENADO PORQUE AGIU SOB O
MANTO DA IMUNIDADE MATERIAL. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos
casos semelhantes:
NOS LIMITES DA CIRCUNSCRIÇÃO DO MUNICÍPIO e HAVENDO PERTINÊNCIA COM O EXERCÍCIO DO MANDATO, GARANTE-SE A
IMUNIDADE PREVISTA NO ART. 29, VIII, DA CF AOS VEREADORES. STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
PODER JUDICIÁRIO
INFORMATIVO 775, STF - CE NÃO PODE CRIAR REGRAS NOVAS PARA A ESCOLHA DO DESEMBARGADOR PELO QUINTO
CONSTITUCIONAL.
A Assembleia Legislativa de determinado estado aprovou emenda constitucional afirmando que, após o
Governador escolher um dos candidatos da lista tríplice para ser Desembargador pelo quinto constitucional, ele
deveria ainda submeter esse nome à apreciação da ALE. Assim, o candidato escolhido pelo chefe do Poder
Executivo somente seria nomeado se a Assembleia aprovasse a indicação pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados. Dessa forma, foi criada mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo quinto constitucional,
que não está prevista no art. 94 da CF/88.
O STF JULGOU ESSA EMENDA INCONSTITUCIONAL. A EXIGÊNCIA DE SUBMISSÃO DO NOME ESCOLHIDO PELO
GOVERNADOR À CASA LEGISLATIVA, PARA PREENCHIMENTO DE VAGA DESTINADA AO QUINTO CONSTITUCIONAL, INVADE A
ATUAÇÃO DO PODER EXECUTIVO. O PROCEDIMENTO PARA A ESCOLHA DOS DESEMBARGADORES FOI TRATADO DE FORMA
EXAUSTIVA PELO ART. 94 DA CF/88, NÃO PODENDO O CONSTITUINTE ESTADUAL INOVAR E ESTABELECER NOVAS ETAPAS QUE NÃO
ESTEJAM EXPRESSAMENTE PREVISTAS NA CARTA FEDERAL. STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 25/2/2015 (Info 775).
SALÁRIO MÍNIMO
INFORMATIVO 774, STF - PROIBIÇÃO DE QUE O SALÁRIO MÍNIMO SEJA UTILIZADO COMO INDEXADOR ECONÔMICO.
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal
previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como
referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF
afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o
valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso,
mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como
indexador. Em suma, O STF DETERMINOU QUE A REFERÊNCIA AO SALÁRIO MÍNIMO CONTIDA NA LEI ESTADUAL SEJA
CONSIDERADA COMO UM VALOR CERTO QUE VIGORAVA NA DATA DA EDIÇÃO DA LEI, PASSANDO A SER CORRIGIDO NOS
ANOS SEGUINTES POR MEIO DE ÍNDICE ECONÔMICO DIVERSO. COM ISSO, O BENEFÍCIO CONTINUA EXISTINDO E SERÁ NECESSÁRIO AO
GOVERNO DO AMAPÁ APENAS REAJUSTAR ESSE VALOR POR MEIO DE ÍNDICES ECONÔMICOS. STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774)
- A proibição do art. 7º, IV, CF, tem como objetivo evitar que o salário mínimo se torne um “indexador
econômico” (um índice de reajuste). Se a Constituição permitisse que o salário mínimo pudesse servir como
INDEXADOR ECONÔMICO, O VALOR E O PREÇO DE VÁRIOS BENEFÍCIOS, PRODUTOS E SERVIÇOS SERIAM FIXADOS EM SALÁRIO
MÍNIMO. Desse modo, TODAS AS VEZES QUE O SALÁRIO MÍNIMO SUBISSE, O PREÇO DESSES BENS E SERVIÇOS IRIAM TAMBÉM
AUMENTAR AUTOMATICAMENTE, gerando inflação e fazendo com que NÃO HOUVESSE GANHO REAL PARA O
TRABALHADOR, JÁ QUE TODAS AS OUTRAS COISAS TAMBÉM FICARIAM MAIS CARAS.
No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade financeira era
diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o requisito da urgência naquela
oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela integração da economia nacional ao mercado financeiro
mundial, exigia medidas céleres, destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar sobre um passado em
que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser atingidas.
Obs: existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a inconstitucionalidade material da
capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano. Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda não foi
concluído.
STF. Plenário. RE 592377/RS, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em
4/2/2015 (repercussão geral) (Info 773).
TRIBUNAL DE CONTAS
O TCU TEM LEGITIMIDADE PARA ANULAR ACORDO EXTRAJUDICIAL FIRMADO ENTRE PARTICULARES E A ADMINISTRAÇÃO
Pública, QUANDO NÃO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já passou a ser de mérito
da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de Contas. Contudo, sendo o acordo apenas
extrajudicial, a situação está apenas no âmbito administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o
ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).
TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de qualquer procedimento de apuração que
lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por PRAZO NÃO SUPERIOR A 1 ANO (ART. 44, §
2º DA LEI 8.443/92).
O STF entende que essa previsão é CONSTITUCIONAL, de forma que se admite, ainda que de forma
excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por deliberação
fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à neutralização imediata de situações que
possam causar lesão ao interesse público ou ainda para garantir a utilidade prática do processo que tramita
no TCU. Isso não viola, por si só, o devido processo legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o
contraditório ou a ampla defesa. STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015
(Info 779).
SIM. A Lei n. 8.443/92 (Lei Orgânica do TCU) prevê essa possibilidade em seu art. 44, § 2º. Confira:
Art. 44. No início ou no curso de qualquer apuração, o Tribunal, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, determinará, cautelarmente, o afastamento temporário do responsável, se existirem indícios
suficientes de que, prosseguindo no exercício de suas funções, possa retardar ou dificultar a realização de
auditoria ou inspeção, causar novos danos ao Erário ou inviabilizar o seu ressarcimento.
§ 2° Nas mesmas circunstâncias do caput deste artigo e do parágrafo anterior, poderá o Tribunal, sem
prejuízo das medidas previstas nos arts. 60 e 61 desta Lei, decretar, por prazo não superior a um ano, a
indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos considerados bastantes para garantir o
ressarcimento dos danos em apuração.
O TCU TEM COMPETÊNCIA PARA DECLARAR A INIDONEIDADE DE EMPRESA PRIVADA PARA PARTICIPAR DE LICITAÇÕES PROMOVIDAS
PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Essa previsão está expressa no art. 46 da Lei 8.443/92, sendo considerada
constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a inidoneidade do licitante
fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
21/5/2015 (Info 786).
Fundamento:
Segundo entende o STF, o poder outorgado pelo legislador ao TCU, de declarar, verificada a ocorrência de
fraude comprovada à licitação, a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de
licitação na Administração Pública Federal (art. 46 da Lei n.8.443/92), não se confunde com o art. 87 da Lei
das Licitações (art. 87), que é dirigido apenas ao controle interno da Administração Pública e de aplicação
mais abrangente. São dispositivos com objetivos e aplicações distintas (STF. Pet 3606 AgR, Rl. Min. Sepúlveda
Pertence, julgado em 21/09/2006).
NATUREZA DO TCU
O TCU ostenta a condição de ÓRGÃO INDEPENDENTE NA ESTRUTURA DO ESTADO BRASILEIRO, cujas funções estão
elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus MEMBROS POSSUEM AS MESMAS PRERROGATIVAS QUE AS ASSEGURADAS
AOS MAGISTRADOS (art. 73, § 3º da CF/88), tendo SUAS DECISÕES A NATUREZA JURÍDICA DE ATOS ADMINISTRATIVOS
Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial transitada em julgado
Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por via postal?
SIM. O envio de carta REGISTRADA COM AVISO DE RECEBIMENTO ESTÁ EXPRESSAMENTE ENUMERADO ENTRE OS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO DE QUE DISPÕE O TCU PARA PROCEDER ÀS SUAS INTIMAÇÕES.
O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi enviada. Contudo, constata-
se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como sendo do interessado, além do que é o mesmo
que está na petição inicial do MS por ele impetrado. A alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não depende de
comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta registrada com aviso de
recebimento que comprove sua entrega no endereço do destinatário. No caso concreto, a a citação foi enviada
ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro da
Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta registrada no endereço do
destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).
PRECATÓRIOS
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA ADI QUE JULGOU INCONSTITUCIONAL O NOVO REGIME DE PRECATÓRIOS ESTABELECIDO PELA
EC 62/2009
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios. Tais alterações foram impugnadas
por meio de ações diretas de inconstitucionalidade que foram julgadas parcialmente procedentes. No
entanto, o STF decidiu modular os efeitos da decisão, ou seja, alguns dispositivos, apesar de terem sido
declarados inconstitucionais, ainda irão vigorar por mais algum tempo. Veja o resumo do que foi decidido
quanto à modulação:
1. O § 15 do art. 100 da CF/88 e o art. 97 do ADCT (que tratam sobre o regime especial de pagamento de
precatórios) ainda irão valer (poderão ser aplicados) por mais cinco anos (cinco exercícios financeiros) a contar
de 01/01/2016. Em outras palavras, tais regras serão válidas até 2020.
2. §§ 9º e 10 do art. 100 da CF/88 (previam a possibilidade de compensação obrigatória das dívidas que a
pessoa tinha com a Fazenda Pública com os créditos que tinha para receber com precatório): o STF afirmou que
são válidas as compensações obrigatórias que foram feitas até 25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação).
A partir desta data, não será possível mais a realização de compensações obrigatórias, mas é possível que
sejam feitos acordos entre a Fazenda e o credor do precatório e que também possua dívidas com o Poder
Público para compensações voluntárias.
3. Leilões para desconto de precatório: o regime especial instituído pela EC 62/2009 previa uma série de
vantagens aos Estados e Municípios, sendo permitido que tais entes realizassem uma espécie de “leilão de
precatórios” no qual os credores de precatórios competem entre si oferecendo deságios (“descontos”) em
relação aos valores que têm para receber. Aqueles que oferecem maiores descontos irão receber antes do
que os demais. Esse sistema de leilões foi declarado inconstitucional, mas o STF afirmou que os leilões
realizados até 25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação) são válidos (não podem ser anulados mesmo
sendo inconstitucionais). A partir desta data, não será possível mais a realização de tais leilões.
4. Vinculação de percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios e sanções
para o caso de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatórios: as regras
que tratam sobre o tema, previstas nos §§ 2º e 10 do art. 97 do ADCT da CF/88 continuam válidos e poderão
ser utilizados pelos Estados e Municípios até 2020.
5. Expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança” prevista no § 12 do art. 100:
5.1 Para precatórios da administração ESTADUAL e MUNICIPAL: o STF disse que a TR (índice
da poupança) poderia ser aplicada até 25/03/2015.
5.2 Para os precatórios da administração FEDERAL: o STF afirmou que se poderia aplicar a TR até
31/12/2013.
Após essas datas, qual índice será utilizado para substituir a TR (julgada inconstitucional)?
• Precatórios em geral: IPCA-E.
• Precatórios tributários: SELIC.
CNJ deverá apresentar proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de 50% dos recursos da
conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii) a possibilidade de compensação
de precatórios vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até
25.03.2015, por opção do credor do precatório.
CNJ deverá monitorar e supervisionar o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na forma da
presente decisão. STF. Plenário. ADI 4357 QO/DF e ADI 4425 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 25/3/2015 (Info
779).
AMICUS CURIAE
INFORMATIVO 772, STF - RECURSO CONTRA DECISÃO QUE NEGA INTERVENÇÃO DE AMICUS CURIAE.
Em regra, o amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem mesmo opor embargos de
declaração.
Exceção: O AMICUS CURIAE PODE RECORRER, INTERPONDO AGRAVO REGIMENTAL, CONTRA A DECISÃO DO RELATOR
QUE INADMITIR SUA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO.
Obs.: a DECISÃO (“DESPACHO”) QUE ADMITE A PARTICIPAÇÃO DO AMICUS CURIAE NO PROCESSO É IRRECORRÍVEL.
STF. Plenário. ADI 5022 AgR/RO, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2014 (Info 772).
- OUTROS PODERES DO AMICUS CURIAE
A) O AMICUS PODE APRESENTAR MEMORIAIS? SIM.
B) O AMICUS PODE ADITAR O PEDIDO CONTIDO NA INICIAL? NÃO. O amicus curiae, uma vez admitido seu ingresso
no processo objetivo, tem direito a ter seus argumentos apreciados pelo Tribunal, inclusive com direito a
sustentação oral, mas NÃO TEM direito a formular pedido ou de aditar o pedido já delimitado pelo autor
da ação (AC 1362 / MG).
C) O AMICUS TEM DIREITO DE FAZER SUSTENTAÇÃO ORAL?
• Nos processos perante o STF: SIM. Para o STF, o amicus curiae, uma vez formalmente admitido no
processo tem o direito de fazer sustentação oral (ADI 2777/SP).
• Nos processos perante o STJ NÃO
: . A Corte Especial do STJ definiu, em Questão de Ordem
examinada no REsp 1.205.946/SP (Rel. Min. Benedito Gonçalves, sessão de 17.8.2011), que o amicus
curiae NÃO TEM direito à sustentação oral. Excepcionalmente, o STJ poderá convocá-lo para sustentação
oral se assim entender necessário.
CONCURSO PÚBLICO
INFORMATIVO 775, STF - Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar.
Importante!!! O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?
Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que houve
demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão
judicial não gera direito à indenização.
Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi nomeado logo
por conta de uma SITUAÇÃO DE ARBITRARIEDADE FLAGRANTE.
Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de POSSE EM CARGO PÚBLICO DETERMINADA POR DECISÃO JUDICIAL, o servidor
não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo
situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
- O STJ possui posição pacífica no sentido de que o candidato cuja nomeação tardia tenha ocorrido por força de
decisão judicial não tem direito a indenização pelo tempo em que aguardou a solução definitiva pelo Judiciário
(STJ. Corte Especial. EREsp 1117974/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 21/09/2011).
- Importante destacar, no entanto, que o STF trouxe uma peculiaridade que antes não era reconhecida por ele
nem pelo STJ. Trata-se da previsão de que pode haver uma EXCEÇÃO. Assim, em regra não será devida a
indenização salvo se, no caso concreto, ficar demonstrado que o servidor não foi nomeado logo por conta de
uma situação de arbitrariedade flagrante.
CRIMES DE RESPONSABILIDADE
INFORMATIVO 774, STF - CRIMES DE RESPONSABILIDADE ENVOLVENDO GOVERNADORES DE ESTADO
Importante!!!
I – O ESTADO-MEMBRO NÃO PODE DISPOR SOBRE CRIME DE RESPONSABILIDADE, ainda que seja na Constituição
estadual. Isso porque A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE CRIME DE RESPONSABILIDADE É PRIVATIVA DA UNIÃO, nos
termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER QUE OS GOVERNADORES SERÃO JULGADOS PELA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA EM CASO DE CRIMES DE RESPONSABILIDADE. Isso porque o art. 78, § 3º da Lei 1.079/50 afirma que a
competência para julgar os Governadores de Estado em caso de crimes de responsabilidade é de um “TRIBUNAL
ESPECIAL”, COMPOSTO ESPECIALMENTE PARA JULGAR O FATO E QUE SERÁ FORMADO POR 5 DEPUTADOS ESTADUAIS E 5
DESEMBARGADORES, SOB A PRESIDÊNCIA DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. (NÃO É STJ!!!)
III – É CONSTITUCIONAL norma prevista em CONSTITUIÇÃO ESTADUAL QUE PREVEJA A NECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DE 2/3 DOS MEMBROS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA para que sejam iniciadas AÇÕES POR CRIMES
COMUNS E DE RESPONSABILIDADE EVENTUALMENTE DIRIGIDAS CONTRA O GOVERNADOR DE ESTADO. Durante a fase
inicial de tramitação de processo instaurado contra Governador, a Constituição estadual deve obedecer à
sistemática disposta na legislação federal. Isso porque não há nada que impeça que as Constituições estaduais
estendam aos Governadores, por simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da República no art. 51, I,
da CF/88. STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).
- Cuidado: O caput e o § 3º do art. 78, Lei 1.079/50 afirmam que as Constituições estaduais poderiam dispor
sobre o processo nos crimes de responsabilidade. Veja: “O Governador será julgado nos crimes de
responsabilidade, pela forma que determinar a Constituição do Estado” (...) “Nos Estados, onde as Constituições
não determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores” (...). Todavia, TAIS TRECHOS
NÃO FORAM RECEPCIONADOS PELA CF/88, uma vez que a atual Carta constitucional prevê que esse assunto
deve ser objeto de lei de competência da União. Desse modo, AS CONSTITUIÇÕES QUE DISPÕEM SOBRE CRIMES DE
RESPONSABILIDADE DE FORMA DIFERENTE DAQUILO QUE É PREVISTO NA LEGISLAÇÃO FEDERAL POSSUEM
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL, POR VIOLAREM A COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO.
- O STF reconheceu a constitucionalidade das normas das Constituições estaduais que exigem a APROVAÇÃO DE
2/3 DOS MEMBROS DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA como requisito indispensável (a denominada licença prévia) para se
admitir a acusação nas ações por crimes comuns e de responsabilidade, eventualmente dirigidas contra o
governador do Estado. SEGUNDO O STF, DURANTE A FASE INICIAL DE TRAMITAÇÃO DE PROCESSO INSTAURADO CONTRA
GOVERNADOR, A CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DEVE OBEDECER À SISTEMÁTICA DISPOSTA NA LEGISLAÇÃO FEDERAL.
ESSA LICENÇA PRÉVIA NÃO SE CONSTITUI EM UMA REGALIA ANTIRREPUBLICANA DEFERIDA EM FAVOR DA PESSOA DO
GOVERNADOR. Trata-se de uma garantia que serve para a preservação da normalidade institucional das funções
do Executivo e a salvaguarda da autonomia política do Estado-membro. A EXIGÊNCIA DE LICENÇA PARA O
PROCESSAMENTO DO GOVERNADOR NÃO TRAZ PREJUÍZO PARA O EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO, PORQUE, ENQUANTO NÃO
AUTORIZADO O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PUNITIVA, FICA SUSPENSO O PRAZO PRESCRICIONAL.
Atenção! Vale ressaltar, no entanto, que essa necessidade de autorização prévia da ALE (controle político) NÃO
EXISTE PARA ATOS CONSTRITIVOS ACESSÓRIOS À INVESTIGAÇÃO PENAL, entre eles as PRISÕES CAUTELARES. Em
outras palavras, NÃO É PRECISO AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DA ALE PARA INVESTIGAR O
GOVERNADOR NEM PARA DECRETAR A SUA PRISÃO.
A DEFENSORIA PÚBLICA PODE PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA DEFESA DE DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. É CONSTITUCIONAL A LEI Nº 11.448/2007, que alterou a Lei 7.347/85, prevendo a
Defensoria Pública como um dos legitimados para propor ação civil pública. STF. Plenário. ADI 3943/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015 (Info 784).
A) A Defensoria Pública pode ajuizar ação civil pública?
SIM. Trata-se, inclusive, de previsão expressa da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
II — a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448/2007).
A inclusão da Defensoria no rol de legitimados para ajuizar ACP foi determinada pela Lei nº 11.448/2007.
B) Antes da Lei nº 11.448/2007, a Defensoria tinha legitimidade para propor ACP?
SIM, CONSIDERANDO QUE O ART. 5º, DA LACP E O ART. 82, II, DO CDC JÁ PREVIAM QUE A ACP PODERIA SER PROPOSTA PELA UNIÃO
E PELOS ESTADOS. LOGO, COMO A DPU É UM ÓRGÃO DA UNIÃO E A DPE É UM ÓRGÃO DO ESTADO, A JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIA
ENTENDIA QUE AS DEFENSORIAS JÁ POSSUÍAM LEGITIMIDADE PARA A ACP MESMO ANTES DA LEI N.11.448/2007. Confira um
precedente do STJ neste sentido:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. INTERESSE. CONSUMIDORES. A Turma, por maioria,
entendeu que a defensoria pública tem legitimidade para propor ação civil pública na defesa do interesse de
consumidores. Na espécie, o Nudecon, órgão vinculado à defensoria pública do Estado do Rio de Janeiro, por ser
órgão especializado que compõe a administração pública direta do Estado, perfaz a condição expressa no art. 82, III,
do CDC. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 555.111-RJ, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 5/9/2006.
C) A alteração promovida pela Lei nº 11.448/2007 foi, no entanto, MUITO IMPORTANTE PORQUE
REFORÇOU AINDA MAIS ESSA LEGITIMIDADE:
(...) 2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº
7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº 11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para propor a ação
principal e a ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos causados ao meio-
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras
providências. (...) STJ. 1ª Turma. REsp 912849/RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/02/2008.
ADI 3943 proposta pela CONAMP
Nem todos, no entanto, ficaram satisfeitos com a importante novidade legislativa.
A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP) ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade
contestando a constitucionalidade da Lei n. 11.448/2007, que acrescentou no art. 5º da Lei n. 7347/85 o inciso que
legitima a Defensoria Pública a propor ACP.
A CONAMP alegou que a possibilidade da Defensoria Pública propor, sem restrição, ACP “AFETA DIRETAMENTE” AS
ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Para a entidade, a inclusão da Defensoria Pública afrontaria também os arts. 5º,
LXXIV e 134, caput, da CF/88, CONSIDERANDO QUE A FUNÇÃO CONSTITUCIONAL DA INSTITUIÇÃO SERIA A DE PRESTAR
ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E GRATUITA APENAS AOS HIPOSSUFICIENTES E, NO BOJO DE UMA ACP, NÃO TERIA COMO TER
CERTEZA SE A AÇÃO ESTARIA BENEFICIANDO APENAS PESSOAS CARENTES OU TAMBÉM INDIVÍDUOS ECONOMICAMENTE RICOS.
Assim, a CONAMP pediu que esta inclusão fosse declarada inconstitucional ou, então, que o STF dissesse que a
Defensoria Pública não pode ajuizar ACP em matéria de direitos difusos ou coletivos. Segundo a tese da autora, A
DEFENSORIA, SE PUDESSE PROPOR ACP, SOMENTE PODERIA FAZÊ-LO QUANTO A DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS E DESDE QUE
FICASSE INDIVIDUALIZADA E IDENTIFICADA A PRESENÇA DE PESSOAS ECONOMICAMENTE HIPOSSUFICIENTES.
Segundo a autora, a Defensoria Pública foi criada para atender, gratuitamente, aqueles que possuem recursos
insuficientes para se defender judicialmente ou que precisam de orientação jurídica, de modo que seria impossível a
sua atuação na defesa de interesses difusos e coletivos em razão da dificuldade de identificar quem é carente. NO SEU
ENTENDIMENTO, OS ATENDIDOS PELA DEFENSORIA PÚBLICA DEVEM SER, PELO MENOS, INDIVIDUALIZÁVEIS, IDENTIFICÁVEIS, PARA QUE SE
SAIBA SE A PESSOA ATENDIDA PELA INSTITUIÇÃO NÃO POSSUI RECURSOS SUFICIENTES PARA O INGRESSO EM JUÍZO.
D) O STF concordou com os argumentos da ADI proposta? É inconstitucional a previsão de que a Defensoria
Pública pode ajuizar ACP na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos?
NÃO . Não há qualquer inconstitucionalidade na previsão da Lei nº 11.448/2007. Ao contrário, essa lei já
era compatível com o texto originário da CF/88 e isso ficou ainda mais claro quando o Congresso Nacional aprovou a
EC 80/2014, que alterou a redação do art. 134 da CF/88 prevendo expressamente que a Defensoria Pública tem
legitimidade para a defesa de direitos individuais e coletivos (em sentido amplo). Veja:
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,
como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial,dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.(Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 80/2014)
Desse modo, seja antes da EC 80/2014 e com maior razão depois, a Defensoria Pública possui sim legitimidade para
propor ação civil pública na defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
Segundo pontuou a MINISTRA CÁRMEN LÚCIA, em um país como o nosso, marcado por graves desigualdades sociais e
pela elevada concentração de renda, uma das grandes barreiras para a implementação da democracia e da cidadania
ainda é o efetivo acesso à Justiça. Somente se conseguirá promover políticas públicas para reduzir ou suprimir essas
enormes diferenças se forem oferecidos instrumentos que atendam com eficiência às necessidades dos cidadãos na
defesa de seus direitos. Nesse sentido, destaca-se a ação civil pública. Dessa feita, NÃO INTERESSA À SOCIEDADE
RESTRINGIR O ACESSO À JUSTIÇA DOS HIPOSSUFICIENTES.
A INTERPRETAÇÃO SUGERIDA PELA CONAMP RESTRINGE, SEM FUNDAMENTO JURÍDICO, A POSSIBILIDADE
DE UTILIZAÇÃO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA, QUE É INSTRUMENTO CAPAZ DE GARANTIR A EFETIVIDADE DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE POBRES E RICOS A PARTIR DE INICIATIVA PROCESSUAL DA DEFENSORIA
PÚBLICA.
Exigir que a Defensoria Pública, antes de ajuizar a ACP, comprove a pobreza do público-alvo não é condizente com os
princípios e regras norteadores dessa instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, menos
ainda com a norma do art. 3º da CF/88.
VALE RESSALTAR QUE NO MOMENTO DA LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO DE EVENTUAL DECISÃO FAVORÁVEL NA
AÇÃO COLETIVA, A DEFENSORIA PÚBLICA IRÁ FAZER A ASSISTÊNCIA JURÍDICA APENAS DOS
HIPOSSUFICIENTES. Nesta fase é que a tutela de cada membro da coletividade ocorre separadamente.
Além disso, deve-se lembrar que A CF/88 NÃO ASSEGURA AO MINISTÉRIO PÚBLICO A LEGITIMIDADE EXCLUSIVA para o
ajuizamento de ação civil pública. Em outras palavras, a Constituição em nenhum momento disse que só o MP pode
propor ACP. Ao contrário, o § 1º do art. 129 da CF/88 afirma que a legitimação do Ministério Público para as ações
civis não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
APROFUNDANDO:
Vou agora aprofundar um pouco mais o tema, tratando de alguns tópicos mais polêmicos e que ainda podem suscitar
divergências.
E) A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo e
qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO. Assim, a Defensoria Pública, ao
ajuizar uma ACP, DEVERÁ PROVAR QUE OS INTERESSES DISCUTIDOS NA AÇÃO TÊM PERTINÊNCIA COM AS SUAS FINALIDADES
INSTITUCIONAIS.
F) Por que se diz que a legitimidade da Defensoria não é irrestrita?
PORQUE A LEGITIMIDADE DE NENHUM DOS LEGITIMADOS DO ART. 5º É IRRESTRITA, NEM MESMO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. O STJ já decidiu, por exemplo, que “O MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO TEM LEGITIMIDADE ATIVA PARA
PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA QUAL BUSCA A SUPOSTA DEFESA DE UM PEQUENO GRUPO DE PESSOAS - NO CASO, DOS
ASSOCIADOS DE UM CLUBE, NUMA ÓPTICA PREDOMINANTEMENTE INDIVIDUAL.” (REsp 1109335/SE, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 21/06/2011).
G) Qual é enfim o parâmetro para a legitimidade da Defensoria na ACP?
A doutrina majoritária tem defendido que A DEFENSORIA SÓ TEM ADEQUADA REPRESENTAÇÃO SE ESTIVER DEFENDENDO
INTERESSES RELACIONADOS COM SEUS OBJETIVOS INSTITUCIONAIS e QUE SE ENCONTRAM PREVISTOS NO ART. 134 DA CF.
Em outras palavras, a Defensoria Pública somente poderia propor uma ACP se os direitos nela veiculados, de algum
modo, ESTIVEREM RELACIONADOS À PROTEÇÃO DOS INTERESSES DOS HIPOSSUFICIENTES (“necessitados”, ou seja,
Segundo a posição tranquila no STJ, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se elas
estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, SE TIVEREM POR OBJETIVO
BENEFICIAR OS NECESSITADOS QUE NÃO TIVEREM SUFICIÊNCIA DE RECURSOS (CF/88, ART. 5º, LXXIV).
A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80/94) nos faz concluir dessa forma:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos
difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas
hipossuficientes; (Redação dada pela LC 132/2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos direitos
do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada pela LC 132/2009).
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; (Redação dada pela LC 132/2009).
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora
de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis
que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela LC 132/2009).
No julgamento da ADI 3943, acima explicada, diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.
A Min. Cármen Lúcia, em determinado trecho de seu voto, afirmou: “Não se está a afirmar a desnecessidade de a
Defensoria Pública observar o preceito do art. 5º, LXXIV, da CF, reiterado no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014.
No exercício de sua atribuição constitucional, é necessário averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a
instituição protege com os possíveis beneficiários de quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.”
O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que O FATO DE SE ESTABELECER QUE A DEFENSORIA
PÚBLICA TEM LEGITIMIDADE, EM TESE, PARA AÇÕES CIVIS PÚBLICAS NÃO EXCLUI A POSSIBILIDADE DE, EM UM EVENTUAL
CASO CONCRETO, NÃO SE RECONHECER A LEGITIMIDADE DA INSTITUIÇÃO. Em tom descontraído, o Ministro afirmou que a
Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no caso concreto, para uma ação civil pública na defesa dos sócios do
“Yatch Club”. E dando outro exemplo extremo, afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto,
para ajuizar uma ação civil pública em favor dos clientes “Personnalité” do Banco Itaú.
O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que EXISTE UMA CONDIÇÃO IMPLÍCITA NA
LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AÇÕES CIVIS PÚBLICAS que É O FATO DE
ELA TER QUE DEFENDER INTERESSES DE PESSOAS HIPOSSUFICIENTES, SENDO ESTA UMA CONDIÇÃO IMPOSTA PELO ART. 134
DA CF/88.
A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ações civis públicas,
mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada representação.
Atenção. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se os direitos discutidos
envolverem APENAS pessoas “pobres”. Essa era a tese da CONAMP, que foi rechaçada pelo STF. O que estou
afirmando é que, PARA A DEFENSORIA PÚBLICA AJUIZAR A ACP AQUELE INTERESSE DISCUTIDO NA LIDE TEM QUE, DE
ALGUM MODO, FAVORECER SEU PÚBLICO-ALVO (HIPOSSUFICIENTES), AINDA QUE BENEFICIE OUTRAS PESSOAS TAMBÉM.
Análise da legitimidade da Defensoria Pública segundo a natureza do direito tutelado:
Direitos Direitos Direitos
DIFUSOS COLETIVOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
A legitimidade da Defensoria Pública No caso de ACP para a tutela de direitos coletivos e individuais
é ampla. homogêneos, a legitimidade da DP é mais restrita e, para que
Assim, a DP poderá propor a ação seja possível o ajuizamento, é indispensável que, dentre os
coletiva tutelando direitos difusos, beneficiados com a decisão, também haja pessoas necessitadas.
considerando que isso beneficiará
também as pessoas necessitadas.
Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos sistemas dos órgãos fazendários
Importante!!!
O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes ao pagamento de
tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da
administração fazendária dos entes estatais.
No caso concreto, o STF reconheceu que o contribuinte pode ajuizar habeas data para ter acesso às informações
relacionadas consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da Receita Federal. O SINCOR (Sistema de Conta
Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes
pessoas jurídicas.
A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para outros bancos de dados
mantidos pelos órgãos fazendários.
STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/6/2015 (repercussão geral) (Info 790).
LIVRE CONCORRÊNCIA
Súmula vinculante 49-STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Importante!!!
A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do Ministério Público e
da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito possua, no mínimo,
três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º).
A referência a “três anos de atividade jurídica”, contida na CF/88, não se limita à atividade privativa de bacharel
em Direito. Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em um cargo
privativo de bacharel em Direito.
Assim, por exemplo, se uma pessoa desempenhou por mais de três anos o cargo de técnico judiciário (nível
médio), mas nele realizava atividades de cunho jurídico, ele terá cumprido o referido requisito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).
PROVIMENTO DERIVADO
É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em Delegado de Polícia
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de determinado Estado. Nesta
Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de Polícia e de Comissário de
Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um desses cargos, e os
aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia. a primeira delas afirmou que
Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente com o Delegado de Polícia, equiparando a
remuneração dos dois cargos.
A segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia". Essas duas leis
foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque
representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de Polícia porque
transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles tivessem feito concurso
público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi criado, ele
possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que impediria a transformação
mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).
DEPOSITÁRIO INFIEL
O STF rejeitou proposta feita para cancelar a Súmula Vinculante 25, que tem a seguinte redação: SV 25-STF: É
ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
STF. Plenário. PSV 54/DF, 24.9.2015.
Direito Administrativo
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA ANTES DA INCLUSÃO DE ENTES FEDERATIVOS
NOS CADASTROS FEDERAIS DE INADIMPLÊNCIA.
A União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de inadimplência (exs:
CAUC, SIAF) deverá observar o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. STF. Plenário. ACO
1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779).
A) ANTE DE PROSSEGUIRMOS, O QUE É O CAUC?
CAUC é a sigla de Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias.O CAUC é um instrumento de
consulta, por meio do qual se pode verificar se os Estados-membros ou Municípios estão com débitos ou
outras pendências perante o Governo federal.O CAUC é alimentado com as informações constantes em bancos
de dados como o SIAFI e o CADIN.
Se houver, por exemplo, um atraso do Estado ou do Município na prestação de contas de um convênio com
a União ou suas entidades, essa informação passará a figurar no CAUC e ele ficará impedido de receber
verbas federais.
Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na prova!), seria como se fosse um
“Serasa” de débitos dos Estados e Municípios com a União, ou seja, um cadastro federal de inadimplência.
B) TODA AÇÃO ENVOLVENDO UNIÃO E ESTADOS EM POLOS DISTINTOS SERÁ JULGADA ORIGINARIAMENTE PELO STF
COM BASE NO ART. 102, I, “F”, DA CF/88?
NÃO. Para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de
haver uma causa envolvendo União e Estado, ESSA DEMANDA TENHA DENSIDADE SUFICIENTE PARA
ABALAR O PACTO FEDERATIVO.
EX: DISPUTA ENTRE A UNIÃO E O ESTADO POR EX: AÇÃO PROPOSTA PELO ESTADO QUESTIONANDO
CONTA DE UM ALUGUEL DE UM IMÓVEL. SUA INDEVIDA INCLUSÃO NO CAUC, O QUE TEM
GERADO O FIM DE REPASSES FEDERAIS.
EM REGRA, É JULGADO PELO JUIZ FEDERAL DE 1ª É JULGADO PELO STF (ART. 102, I, “F” DA CF/88).
INSTÂNCIA.
NEPOTISMO
NORMA QUE IMPEDE NEPOTISMO NO SERVIÇO PÚBLICO NÃO ALCANÇA SERVIDORES DE PROVIMENTO EFETIVO
A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao servidor público servir
sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição, no sentido de O
DISPOSITIVO SER VÁLIDO SOMENTE QUANDO INCIDIR SOBRE OS CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO, FUNÇÃO
GRATIFICADA, CARGOS DE DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO. Em outras palavras, o STF afirmou que ESSA VEDAÇÃO
NÃO PODE ALCANÇAR OS SERVIDORES ADMITIDOS MEDIANTE PRÉVIA APROVAÇÃO
EM CONCURSO PÚBLICO, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso poderia inibir o
próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso
aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 20/5/2015 (Info 786).
OBS: Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação
decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF. Rcl nº 6.702/PR-MC-Ag).
O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu determinadas verbas para
realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o compromisso de prestar contas da utilização de tais
valores perante a União e o TCU. Ocorre que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a
União o inserisse no CAUC.
Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas importantes conclusões:
Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de inadimplentes antes
de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União. Em casos como esse, mostra-se
necessária a tomada de contas especial e sua respectiva conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente
irregularidades. Só a partir disso é possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e
mantidos pela União.
O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a dimensão estritamente
pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Assim, o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão
praticados por administrações anteriores. A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão do
descumprimento de convênio celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro Governador. Ademais,
ficou demonstrado que os novos gestores estavam tomando as providências necessárias para sanar as
irregularidades verificadas. Logo, deve-se aplicar, no caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções, impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou
recebimento de repasses federais.
STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).
CONCURSO PÚBLICO
CONTROLE DE QUESTÕES DE CONCURSO PELO PODER JUDICIÁRIO
É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada de maneira
equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na questão sob o argumento de que a
correção feita pela banca foi inadequada?
Regra: NÃO. Os CRITÉRIOS ADOTADOS POR BANCA EXAMINADORA DE CONCURSO PÚBLICO NÃO PODEM SER REVISTOS
PELO PODER JUDICIÁRIO. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato administrativo que corrige questões de
concurso público. NÃO COMPETE AO PODER JUDICIÁRIO SUBSTITUIR A BANCA EXAMINADORA PARA REEXAMINAR O
CONTEÚDO DAS QUESTÕES E OS CRITÉRIOS DE CORREÇÃO UTILIZADOS.
Exceção: APENAS EM CASOS DE FLAGRANTE ILEGALIDADE OU INCONSTITUCIONALIDADE, a Justiça poderá
ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e de avaliação impostos pela banca
examinadora.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782).
Obs.: O PRINCÍPIO DA RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO IMPEDE QUE O JUDICIÁRIO SUBSTITUA BANCA
EXAMINADORA DE CONCURSO, por ser um ESPAÇO QUE NÃO É SUSCETÍVEL DE CONTROLE EXTERNO, a não ser nos casos de
ilegalidade ou inconstitucionalidade.
Tese fixada para fins de repercussão geral: “Os CRITÉRIOS adotados por banca examinadora de
concurso público não podem ser revistos pelo Poder Judiciário.”
SÚMULA VINCULANTE 43
SÚMULA VINCULANTE 43-STF: É INCONSTITUCIONAL TODA MODALIDADE DE PROVIMENTO QUE PROPICIE AO SERVIDOR
INVESTIR-SE, SEM PRÉVIA APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO DESTINADO AO SEU PROVIMENTO, EM CARGO QUE NÃO
INTEGRA A CARREIRA NA QUAL ANTERIORMENTE INVESTIDO. STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).
CLASSIFICAÇÃO
Provimento originário: ocorre quando o indivíduo passa a ocupar o cargo público sem que existisse
qualquer vínculo anterior com o Estado. Ex.: João prestou concurso público e foi aprovado para o cargo
de técnico judiciário do TRF, sendo nomeado. Trata-se de um provimento originário. Alguns anos depois,
João fez novo concurso público e foi aprovado, desta vez, para analista judiciário do TRF. Ao ser
nomeado para o cargo de analista, houve novo provimento originário, uma vez que seu vínculo não
decorreu do anterior.
Provimento derivado: provimento derivado ocorre quando o indivíduo passa a ocupar determinado
cargo público em virtude do fato de ter um vínculo anterior com a Administração Pública. O
preenchimento do cargo DECORRE DE VÍNCULO ANTERIOR entre o servidor e o Poder Público.
A) PROVIMENTO DERIVADO VERTICAL: ocorre quando o servidor muda para um cargo melhor. Há dois exemplos de
provimento derivado vertical:
ASCENSÃO FUNCIONAL (transposição/acesso) (VEDADA)
PROMOÇÃO.
A ascensão funcional, como vimos, é inconstitucional, sendo proibida pela SV 43-STF. Assim, atualmente, a única
hipótese permitida de provimento derivado vertical é a promoção.
B) PROVIMENTO DERIVADO HORIZONTAL: ocorre quando o servidor muda para outro cargo com atribuições,
responsabilidades e remuneração semelhantes. É o caso da READAPTAÇÃO (art. 24 da Lei nº 8.112/90).
C) PROVIMENTO DERIVADO POR REINGRESSO: ocorre quando o servidor havia se desligado do serviço público e retorna
em virtude do vínculo anterior. Ex.: REINTEGRAÇÃO, RECONDUÇÃO, APROVEITAMENTO E REVERSÃO.
Desse modo, concluindo, a SV 43-STF NÃO PROÍBE TODAS AS FORMAS DE PROVIMENTO DERIVADO. Na verdade, ela SÓ
VEDA UMA ESPÉCIE DE PROVIMENTO DERIVADO VERTICAL, que é a ASCENSÃO FUNCIONAL.
É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE CRIA SERVIÇO DE INTERESSE MILITAR VOLUNTÁRIO ESTADUAL
O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar Voluntário
Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as pessoas poderiam se alistar
para trabalhar “voluntariamente” como soldado na Polícia Militar ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria
uma espécie de seleção (menos rigorosa que um concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia,
como contraprestação pelo trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como se fosse um soldado. Esse
contrato seria por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional. O SIMVE VIOLA A REGRA DO
CONCURSO PÚBLICO (ART. 37, II, DA CF/88). (VÍCIO MATERIAL)
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata sobre prestação
voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente oposta ao que diz a Lei federal
10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 880 e 881).
QUESTÃO DA PROVA OBJETIVA QUE EXIGE DO CANDIDATO SABER QUANTAS AFIRMAÇÕES ESTÃO CORRETAS
Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da prova objetiva do
concurso para Procurador da República. As questões impugnadas foram formuladas da seguinte forma: eram
apresentadas quatro afirmações; após essas assertivas, existiam quatro alternativas; a letra “A” dizia: “apenas
uma está correta”; letra “B”: “duas estão corretas”; letra “C”: “três estão corretas”; letra “D”: “todas estão
corretas”.
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com as Resoluções do CNMP e do CNJ
sobre concursos públicos.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a resolução do CNMP?
NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva diversa das demais
perguntas normalmente feitas em prova objetiva, ISSO NÃO SIGNIFICA QUALQUER NULIDADE,
sendo apenas uma forma de dificultar o nível da prova igualmente a todos os candidatos e condizente com o
objetivo de um concurso destinado a medir conhecimentos de vários tipos, ou seja, NÃO SÓ JURÍDICOS, MAS
TAMBÉM LÓGICOS E GRAMATICAIS.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 57/2009 do CNJ porque, embora o CNJ e o
CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional, são órgãos autônomos, de forma que
o CNMP DISCIPLINOU O TEMA NA FORMA QUE ENTENDEU MELHOR E NÃO VEDOU ESSE TIPO DE QUESTÃO.
STF. 1ª Turma. MS 31323 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).
SALÁRIOS referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, AO LEVANTAMENTO
DOS DEPÓSITOS EFETUADOS NO FUNDO DE GARANTIA DO T EMPO DE SERVIÇO — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL. STF. Plenário. ADI 3127/DF,
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).
Obs.: João NÃO TERÁ DIREITO A RECEBER AS DEMAIS VERBAS TRABALHISTAS COMO 13º SALÁRIO, FÉRIAS ACRESCIDAS DE
1/3, FGTS ACRESCIDO DE 40%, ADICIONAIS LEGAIS ETC.
CRITÉRIO DE DESEMPATE EM CONCURSOS DE REMOÇÃO DE SERVENTIAS NOTARIAIS E REGISTRAIS. LEI ESTADUAL PREVALENCE
SOBRE O IDOSO.
A lei estadual do Estado “X” prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de remoção para
serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério de desempate em
concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada (art. 27, parágrafo único).
QUAL DAS DUAS LEGISLAÇÕES DEVERÁ PREVALECER NO CASO?
A LEGISLAÇÃO ESTADUAL. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, NÃO SE APLICA COMO CRITÉRIO
DE DESEMPATE, NO CONCURSO PÚBLICO DE REMOÇÃO PARA OUTORGA DE DELEGAÇÃO NOTARIAL E DE REGISTRO, QUANDO
EXISTIR LEI ESTADUAL ESPECÍFICA QUE REGULE O CERTAME E TRAGA REGRAS APLICÁVEIS EM CASO DE EMPATE. Desse
modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior tempo de serviço público (e não
necessariamente com o mais idoso). STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info
777).
nformativo 773, STF - Pontuação atribuída por tempo de serviço em serventias notariais e registrais
Lei estadual previu como títulos em concursos de cartório:
I - TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO COMO TITULAR, INTERINO, SUBSTITUTO OU ESCREVENTE EM SERVIÇO NOTARIAL OU DE
REGISTRO;
O STF decidiu que: PARA O CONCURSO DE INGRESSO, TAL PREVISÃO É INCONSTITUCIONAL. PARA O
CONCURSO DE REMOÇÃO, ESSA PONTUAÇÃO É CONSTITUCIONAL, desde que as atividades listadas nesses dois incisos
tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de registro. STF. Plenário. ADI 3580/MG, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).
- Segundo o entendimento que prevalece no STF, É INCONSTITUCIONAL a lei que, prevendo critérios de valoração
de títulos em concurso de ingresso nos serviços notariais e de registro, ATRIBUAM MAIOR PONTUAÇÃO ÀS
CONDIÇÕES PESSOAIS LIGADAS À ATUAÇÃO ANTERIOR NESSAS ATIVIDADES.
O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público, HÁ DE SER
COMPROVADO NO MOMENTO DA INSCRIÇÃO NO CERTAME.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791).
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
devem ser CONDUZIDAS DE FORMA PÚBLICA, OBJETIVA e IMPESSOAL, com observância dos
princípios do “caput” do art. 37 da CF;
A SELEÇÃO DE PESSOAL pelas organizações sociais deve ser CONDUZIDA DE FORMA PÚBLICA,
OBJETIVA E IMPESSOAL, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos termos do
regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
QUALQUER INTERPRETAÇÃO que RESTRINJA O CONTROLE, pelo Ministério Público e pelo TRIBUNAL DE
CONTAS DA UNIÃO, da APLICAÇÃO DE VERBAS PÚBLICAS DEVE SER AFASTADA. STF. Plenário. ADI
1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 15 e 16/4/2015 (Info
781).
Observações:
TERCEIRO SETOR
No terceiro setor estão as entidades privadas que, mesmo sem integrarem a Administração Pública,
executam atividades de interesse público (social) e sem fins lucrativos.
São também chamadas de:
“entes de colaboração” (porque estão ajudando/colaborando com a Administração Pública); ou
“entidades paraestatais” (“para” é um radical de origem grega que significa “ao lado”; assim, diz-
se que tais entidades são paraestatais porque atuam “ao lado” dos órgãos e entidades estatais).
MUITO IMPORTANTE:
FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO: segundo essa teoria, A LICITAÇÃO PODE SER UTILIZADA COMO
INSTRUMENTO DE REGULAÇÃO DE MERCADO, de modo a TORNÁ-LO MAIS LIVRE E COMPETITIVO, além de ser POSSÍVEL
CONCEBÊ-LA COMO MECANISMO DE INDUÇÃO DE DETERMINADAS PRÁTICAS (DE MERCADO) QUE PRODUZAM
RESULTADOS SOCIAIS BENÉFICOS, imediatos ou futuros, à sociedade. A POSSIBILIDADE DE CONTRATAÇÃO
DIRETA, SEM LICITAÇÃO, DE ORGANIZAÇÕES SOCIAIS OU OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público) É UM EXEMPLO DESSA FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO já que, COMO ESSA PRÁTICA, O ESTADO
INDUZ QUE ESSAS ENTIDADES SEJAM CRIADAS PELOS PARTICULARES. Para maiores informações, veja: FERRAZ, Luciano.
Função regulatória da licitação. Disponível em: http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/Materia/490.pdf.
OBS.: QUANDO A OS FOR CONTRATAR, NÃO PRECISARÁ SEGUIR AS RÍGIDAS REGRAS DA LEI DE LICITAÇÕES DE
CONTRATOS (LEI N. 8.666/93), devendo respeitar, contudo, os princípios da Administração Pública elencados no
caput do art. 37 da CF/88 (LIMPE) e as normas de seu regulamento interno (que irão explicar os passos
necessários para a contratação).
SERVIDORES PÚBLICOS
Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais incorporadas
em seus vencimentos (ex: quintos), “no papel”, deveriam receber mais do que o teto. Ex: João, Desembargador
aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua carreira. Assim, a remuneração bruta de
João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que
superar o limite constitucional não lhe será paga. O valor que, no momento do pagamento, é descontado da
remuneração total do servidor por estar superando o teto constitucional é chamado de “abate-teto”.
O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de renda e
contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade pagadora. Assim, o Tribunal de
Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador, já desconta os valores que ele deverá pagar de IR e
contribuição previdenciária. As alíquotas do IR e da contribuição previdenciária incidem sobre o valor da
remuneração do servidor público. Ex: valor do IR = 27,5% multiplicado pela remuneração do servidor. Em termos
tributários, podemos dizer que a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária é a remuneração do
servidor.
Se o servidor tem uma remuneração “no papel” superior ao teto, o imposto de renda e a contribuição
previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração total menos o abate-teto? Em
outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o teto do funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP
sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o valor da remuneração do
servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de REPERCUSSÃO GERAL, o STF definiu, em uma frase, a
“SUBTRAÍDO O
tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese firmada foi a seguinte:
MONTANTE QUE EXCEDER O TETO E SUBTETO PREVISTO NO ARTIGO 37, INCISO XI, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, TEM-SE O VALOR QUE VALE COMO BASE PARA O IMPOSTO DE
RENDA E PARA A CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA”.STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 15/4/2015 (repercussão geral) (Info 781).
Subteto nos
Subteto na União Subteto nos Estados/DF Municípios
Existem duas opções:
OPÇÃO 1 (SUBTETOS DIFERENTES PARA CADA UM DOS PODERES):
EXECUTIVO: SUBSÍDIO DO GOVERNADOR.
LEGISLATIVO: SUBSÍDIO DOS DEPUTADOS ESTADUAIS.
JUDICIÁRIO (INCLUI MP, DEFENSORIA E PROCURADORIA):
SUBSÍDIO DOS DESEMBARGADORES DO TJ.
Foi ajuizada AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO CONTRA O GOVERNADOR E A ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO afirmando que eles estavam sendo omissos porque ainda não haviam
editado lei complementar estadual prevendo critérios diferenciados para aposentadoria de policiais civis e
militares do sexo feminino nos termos do art. 40, §§ 1º e 4º, da CF/88. O STF JULGOU A AÇÃO IMPROCEDENTE
POR DOIS MOTIVOS:
Quanto às POLICIAIS CIVIS, o pleito formulado na ação já foi atendido com a edição, pelo Congresso
Nacional, da Lei Complementar federal 144/2014, de abrangência nacional, que deu à policial civil o
direito de se aposentar voluntariamente, com proventos integrais, independentemente de idade, após
25 anos de contribuição, desde que conte pelo menos 15 anos de exercício em cargo de natureza
estritamente policial.
Quanto às POLICIAIS MILITARES, o STF entendeu que não se aplica a regra de aposentadoria especial do
art. 40, § 4º, da CF/88, porque OS MILITARES NÃO PODEM SER CONSIDERADOS, ATUALMENTE, COMO
SERVIDORES PÚBLICOS, sendo a eles aplicável um regime jurídico próprio disciplinado pelo art. 142, §
3º, X (e não pelo art. 40, § 4º). Não havendo determinação constitucional expressa, a decisão de
conceder aposentadoria com critérios facilitados para policiais militares mulheres é uma escolha
discricionária de cada Estado-membro. STF. Plenário. ADO 28/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
16/4/2015 (Info 781).
Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Governador do Estado fará
jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros de
pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. ESSA REGRA FERE O PRINCÍPIO DA ISONOMIA. Não há uma justificativa razoável para que seja prevista
genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, CONFIGURANDO UM TRATAMENTO
PRIVILEGIADO SEM HAVER FUNDAMENTO LEGÍTIMO. STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 9/4/2015 (Info 780).
Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis que os
estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à aposentadoria especial, segundo
requisitos e condições previstas em lei complementar (art. 40, § 4º, II, “b”).
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando que os oficiais de
justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88 e que, apesar disso, até agora, não foi
editada uma lei complementar nacional prevendo aposentadoria especial para eles. Argumentou, então, que
estaria havendo omissão legislativa.
O STF concordou com o pedido formulado?
NÃO. Os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente, exposição a situações de
risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à aposentadoria especial.
Os Oficiais de Justiça podem até, a depender do caso concreto, estar sujeitos a situações de risco, notadamente
quando no exercício de suas funções em áreas dominadas pela criminalidade, ou em locais marcados por conflitos
fundiários. NO ENTANTO, O STF ENTENDEU QUE ESSE RISCO É CONTINGENTE (EVENTUAL), e não inerente ao serviço. Não
se pode dizer que as funções dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso não está na sua essência). Elas podem ser
eventualmente perigosas.
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que a desempenham
tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da CF/88. Se o legislador não fizer isso, não
haverá omissão de sua parte porque o texto constitucional não exige. Ex: Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o
direito à aposentadoria especial é uma escolha da discricionariedade legislativa.
Súmula vinculante 51-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas Leis 8.622/1993 e
8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas as eventuais compensações
decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos mesmos diplomas legais.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
LICITAÇÕES
É CONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE DETERMINA QUE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA IRÁ, PREFERENCIALMENTE, UTILIZAR
“SOFTWARES” LIVRES
O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a administração pública do Estado
assim como os órgãos autônomos e empresas sob o controle do Estado UTILIZARÃO PREFERENCIALMENTE EM SEUS
SISTEMAS E EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA PROGRAMAS ABERTOS, LIVRES DE RESTRIÇÕES PROPRIETÁRIAS QUANTO À SUA
CESSÃO, ALTERAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO (“SOFTWARES” LIVRES).
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria inconstitucionalidades
materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e AFIRMOU QUE A LEI É CONSTITUCIONAL.
A preferência pelo “software” livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da impessoalidade, da
eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, além de viabilizar a autonomia tecnológica
do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos porque a competência da
União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às normas gerais, podendo os Estados complementar
as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, II, “b”, da CF/88 porque a competência para legislar sobre “licitação”
não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser apresentada por um parlamentar, como
foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado m 9/4/2015 (Info
780).
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
A) DUAS LEIS ESTADUAIS INCLUÍRAM NO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL OS TITULARES DE SERVENTIAS
EXTRAJUDICIAIS (NOTÁRIOS E REGISTRADORES).
2. LEI ESTADUAL NÃO PODE CONCEDER ISENÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PARA TODOS OS
SERVIDORES APOSENTADOS E PENSIONISTAS QUE TIVEREM DOENÇA INCAPACITANTE
O ESTADO-MEMBRO PODE TRATAR SOBRE O REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DE SEUS SERVIDORES POR MEIO DE LEI, NÃO
SENDO NECESSÁRIO QUE TAL REGULAMENTAÇÃO SEJA FEITA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que fossem
portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária (seriam isentos). O STF
afirmou que essa regra estadual está em confronto com o § 21 do art. 40 da CF/88, considerando que a Carta
Federal previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que sejam portadores de doenças
incapacitantes DEVEM PAGAR CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SE O VALOR DOS PROVENTOS POR ELES RECEBIDOS
SUPERAR O DOBRO DO TETO DO RGPS (DOBRO DO MAIOR VALOR DE APOSENTADORIA DO INSS).
Assim, a NORMA DA LEI ESTADUAL DEVE RECEBER INTERPRETAÇÃO CONFORME PARA QUE RESPEITE ESSA PREVISÃO DO ART.
40, § 21 DA CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2015
(Info 776).
A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO ADAPTADA:
João, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou Maria, que na época tinha 41 anos de idade e era
professora do ensino público estadual.
Quando faleceu, Maria habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar. O Exército fez
a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
B) MARIA IMPETROU MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA O ACÓRDÃO DO TCU, ALEGANDO QUE A DECISÃO DA CORTE FOI
ILEGAL PORQUE:
Não lhe foi garantida ampla defesa e contraditório;
Houve decadência já que o TCU negou registro à pensão mais de 5 anos depois de sua concessão inicial
pelo Exército;
O TCU não poderia ter desconsiderado a adoção realizada.
C) O QUE DECIDIU O STF? A DECISÃO DO TCU FOI CORRETA?
O PRAZO É DE 5 ANOS, nos termos do art. 54 da Lei n. 9.784/99 (que regula o processo administrativo
no âmbito da Administração Pública Federal):
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.
I) A PARTIR DE QUANDO É CONTADO ESSE PRAZO?
Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a concessão de aposentadoria possui natureza jurídica de ato
administrativo complexo, que somente se perfaz com a manifestação do Tribunal de Contas acerca da legalidade
do ato. Em outras palavras, o ato de concessão de aposentadoria somente é concluído (formado) com a
aprovação pelo Tribunal de Contas.
Logo, o TERMO INICIAL do prazo decadencial para que a Administração Pública anule ato
ADOÇÃO DE DESCENDENTE MAIOR COM O ÚNICO OBJETIVO DE DEIXAR PENSÃO POR MORTE
NÃO É LEGÍTIMA A ADOÇÃO DE DESCENDENTE MAIOR DE IDADE, SEM A CONSTATAÇÃO DE SUPORTE MORAL OU
ECONÔMICO, COM O FIM DE INDUZIR O DEFERIMENTO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta, que na época tinha
41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando faleceu, a neta habilitou-se para receber a
pensão por morte como dependente do militar. O Exército fez a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou
registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte moral nem econômico
e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do benefício previdenciário. LOGO, NÃO FOI
LEGÍTIMA, TENDO SIDO PRATICADA COM SIMULAÇÃO E FRAUDE À LEI.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).
INFORMATIVO 773, STF - INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI ESTADUAL QUE PREVEJA PENSÃO PARA CÔNJUGES DE TODOS OS
FALECIDOS POR CRIMES HEDIONDOS
É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL (DISTRITAL) QUE PREVEJA O PAGAMENTO DE PENSÃO ESPECIAL A SER
CONCEDIDA PELO GOVERNO DO ESTADO (DISTRITO FEDERAL) EM BENEFÍCIO DOS CÔNJUGES DE PESSOAS VÍTIMAS DE CRIMES
HEDIONDOS, INDEPENDENTEMENTE DE O AUTOR DO CRIME SER OU NÃO AGENTE DO ESTADO. Tal lei amplia, de
modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado prevista no art. 37, § 6º, da CF/88. STF.
Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).
TETO CONSTITUCIONAL
INFORMATIVO 774, STF - É INCONSTITUCIONAL LEI ESTADUAL QUE FIXA TETO REMUNERATÓRIO PARA SERVIDORES DO PODER
JUDICIÁRIO.
LEI do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder Judiciário. O STF
ENTENDEU QUE ESSA LEI É INCONSTITUCIONAL. O teto para o funcionalismo estadual somente pode
ser fixado por meio de emenda à Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual. Além disso,
a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da CF/88) e a lei viola a sistemática
escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores do Poder Judiciário, excluindo-o para os demais
Poderes. STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 11/2/2015 (Info 774).
PODER DE POLÍCIA
Importante!!!
SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência para fiscalizar o
trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de polícia
de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
6/8/2015 (Info 793).
A lei municipal é constitucional? A lei municipal pode atribuir competência para que as guardas municipais
realizema fiscalização de trânsito?
SIM. A lei municipal pode conferir às guardas municipais competência para fiscalizar o trânsito, lavrar auto de
infração de trânsito e impor multas.
O STF entendeu que a tese do MP não está correta porque a questão em tela não envolve segurança pública,
mas sim poder de polícia de trânsito.
Para o Min. Roberto Barroso, poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do poder
de polícia não é prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a quem a CF outorgou com exclusividade
apenas as funções de promoção da segurança pública (art. 144).
A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas (multas), embora possa se dar
ostensivamente, constitui mero exercício de poder de polícia, não havendo, portanto, proibição de que seja
exercida por entidades não-policiais (como é o caso das guardas municipais).
O Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu que a competência para o exercício da fiscalização de
trânsito é comum, cabendo tanto a União, como aos Estados/DF e Municípios .
A receber essa competência do CTB, o Município pode determinar, por meio de lei, que esse poder de polícia
(fiscalização do trânsito) seja exercido pela guarda municipal.
Mas o art. 144, § 8º, da CF/88, ao tratar sobre as guardas municipais, não fala em trânsito...
Não tem problema. O art. 144, § 8º, da CF/88define as atribuições da guarda municipal, mas não de forma
exaustiva. Assim, esse dispositivo não impede que a guarda municipal receba funções adicionais a ela
outorgadas por meio de lei. Em outras palavras, o § 8º do art. 144 da CF/88 traz um mínimo de atribuições que
são inerentes às guardas municipais, sendo possível, no entanto, que a lei preveja outras atividades a esse órgão,
desde que de competência municipal.
COMPETÊNCIA
DIREITO ELEITORAL
CRIMES ELEITORAIS
O juiz eleitoral de uma zona eleitoral do interior do Estado expediu um OFÍCIO-CIRCULAR PROIBINDO QUE OS
CANDIDATOS FIZESSEM CARREATAS EM DETERMINAS RUAS DO MUNICÍPIO. Alguns dias depois, determinado CANDIDATO
FEZ UMA CARREATA NO MUNICÍPIO E PASSOU POR ALGUMAS RUAS QUE TINHAM SIDO PROIBIDAS. Diante disso, foi denunciado
pela prática do crime de desobediência eleitoral (art. 347 do Código Eleitoral). HOUVE A PRÁTICA DE CRIME?
NÃO. Para configuração do crime de desobediência eleitoral é necessário que:
A ORDEM DESCUMPRIDA TENHA SIDO EMITIDA DE FORMA DIRETA E INDIVIDUALIZADA; e
Que o AGENTE (RÉU) TINHA CIÊNCIA DA ORDEM TIDA POR DESCUMPRIDA.
A ordem foi emitida de forma geral e não individualizada e, além disso não havia nenhum outro indício de que o
agente tinha ciência da proibição. Assim, resta ausente, no caso, o elemento subjetivo do tipo (o dolo).
STF. 2ª Turma. AP 904/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/4/2015 (Info 781).
DIREITOS POLÍTICOS
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o
cargo que ocupa?
a) SE FOR UM CARGO ELETIVO MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo sistema
majoritário, sob pena de VIOLAÇÃO DA SOBERANIA POPULAR E DAS ESCOLHAS FEITAS PELO ELEITOR. No
sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente eleitoral
nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, OS ELEITORES VOTAM NO CANDIDATO E NÃO NO SEU PARTIDO POLÍTICO. Desse modo, no
sistema majoritário, A IMPOSIÇÃO DA PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA É ANTAGÔNICA
(CONTRÁRIA) À SOBERANIA POPULAR.
b) SE FOR UM CARGO ELETIVO PROPORCIONAL: SIM
O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um processo na Justiça Eleitoral que
poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, COM CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA, SERÁ ANALISADO SE
HAVIA JUSTA CAUSA PARA ESSA MUDANÇA.(EX: FUSÃO OU INCORPORAÇÃO DE PARTIDO POLÍTICO)
O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as hipóteses consideradas
como “justa causa”.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).
SISTEMAS ELEITORAIS
Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela CF e pela lei para disciplinar a forma como os
candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.
No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais:
MAJORITÁRIO PROPORCIONAL
O mandato eletivo fica com o candidato ou Terminada a votação, divide-se o total de votos
partido político que obteve a maioria dos votos. válidos pelo número de cargos em disputa,
Ganha o candidato mais votado, obtendo-se assim o quociente eleitoral. Ex: na
independentemente dos votos de seu partido. eleição para vereador houve 100 mil votos
válidos e eram 20 vagas. Logo, o quociente
eleitoral será 5 mil (100.000 : 20 = 5.000).
Em seguida, pega-se os votos de cada partido ou
coligação e divide-se pelo quociente eleitoral,
obtendo-se assim o número de eleitos de cada
partido (quociente partidário). Ex: o Partido X e
seus candidatos tiveram 20 mil votos. Esses 20
mil serão divididos pelo quociente eleitoral (5
mil). Logo, esse partido terá direito a 4 vagas de
Vereador (20.000 : 5.000 = 4).
Os candidatos mais bem votados desse partido
irão ocupar tais vagas.
No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de
Prefeito, Governador, Senador e Presidente. Vereador, Deputado Estadual e Deputado
Federal.
Obs: existe ainda o sistema eleitoral misto, que mescla regras de ambos, com votos distritais e votos gerais. É o
sistema adotado, por exemplo, na Alemanha.
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
A) Filiação partidária
No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa exigência
está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88.
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o
cargo que ocupa?
Depende. O STF faz a seguinte diferença:
Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM
O mandato parlamentar conquistado no sistema
eleitoral proporcional pertence ao partido
político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de
partido político, ele sofrerá um processo na
Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do
seu mandato. Neste processo, com contraditório
e ampla defesa, será analisado se havia justa
causa para essa mudança
b) A perda do mandato em razão de mudança de O mandato parlamentar conquistado no sistema partido não se
aplica aos candidatos eleitos pelo eleitoral proporcional pertence ao partido político. sistema majoritário, sob
pena de violação da Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de soberania popular e das escolhas feitas pelo
eleitor. partido político, ele sofrerá um processo na Justiça No sistema majoritário, o candidato escolhido é
Eleitoral que poderá resultar na perda do seu aquele que obteve mais votos, não importando o mandato. Neste
processo, com contraditório e quociente eleitoral nem o quociente partidário. ampla defesa, será analisado se
havia justa causa Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no para essa mudança.
candidato e não no seu partido político. Desse O assunto está disciplinado na Resolução n. modo, no sistema
majoritário, a imposição da 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as perda do mandato por infidelidade
partidária é hipóteses consideradas como “justa causa”. antagônica (contrária) à soberania popular.
Foi o que decidiu o STF no julgamento da ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info
787).
As CONTRIBUIÇÕES DE PESSOAS JURÍDICAS PARA CAMPANHAS ELEITORAIS E PARTIDOS POLÍTICOS SÃO INCONSTITUCIONAIS.
AS CONTRIBUIÇÕES DE PESSOAS FÍSICAS SÃO VÁLIDAS E REGULAM-SE DE ACORDO COM A LEI EM VIGOR.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).
Contribuições para campanhas eleitorais e partidos políticos
A legislação eleitoral permite que pessoas físicas e pessoas jurídicas façam doações em dinheiro (ou em bens
estimáveis em dinheiro) para campanhas eleitorais e também para partidos políticos. Isso está previsto na Lei nº
9.504/97 (conhecida como Lei das Eleições) e na Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos).
ADI 4650
O Conselho Federal da OAB ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650) no STF pedindo que
sejam declarados inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral (Leis nº 9.096/95 e nº 9.504/97) que
autorizam doações de empresas a candidatos e a partidos políticos.
Na ação, a entidade também pede que seja fixado um limite máximo para as doações feitas por pessoas físicas. Para
a OAB, existe uma infiltração do poder econômico nas eleições, o que gera graves distorções, como a
desigualdade política, na medida em que aumenta a influência dos mais ricos sobre o resultado dos pleitos
eleitorais, e, consequentemente, sobre a atuação do próprio Estado. Além disso, essa forte influência do
poder econômico inviabiliza a possibilidade de sucesso eleitoral dos candidatos que não têm patrimônio
para suportar os gastos de campanha nem acesso aos financiadores privados.
Essas modalidades de exercício da cidadania são INERENTES ÀS PESSOAS NATURAIS e, por isso, é
DESARRAZOADO ESTENDÊ-LAS PARA AS PESSOAS JURÍDICAS.
Mesmo sem as doações de pessoas jurídicas, será possível a realização das campanhas
Vale ressaltar que o fim das doações feitas por pessoas jurídicas não prejudicará a sobrevivência dos
partidos políticos nem impedirá que os candidatos façam suas campanhas. Isso porque TODOS OS PARTIDOS
POLÍTICOS TÊM ACESSO AO FUNDO PARTIDÁRIO E À PROPAGANDA ELEITORAL GRATUITA NOS VEÍCULOS DE
COMUNICAÇÃO, PODENDO ASSIM PROMOVER SUAS IDEAIS E PROPOSTAS.
Violação à isonomia
O STF invocou ainda um último argumento para declarar inconstitucionais as doações por pessoas jurídicas.
Trata-se do fato de que o art. 24 da Lei das Eleições proíbe que determinadas pessoas jurídicas façam
doações. É o caso, por exemplo, das associações de classe, entidades sindicais e entidades do terceiro
setor. Como resultado dessa proibição, o que se observava, na prática, é que apenas as empresas privadas
(que se destinam ao lucro) faziam doações. ISSO REPRESENTAVA UM TRATAMENTO DESIGUAL ENTRE AS PRÓPRIAS
PESSOAS JURÍDICAS, JÁ QUE AS EMPRESAS PRIVADAS PODERIAM DOAR E AS ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS E OS
SINDICATOS NÃO.
Votos vencidos
Ficaram vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes e Celso de Mello.
PARTIDOS POLÍTICOS
A Lei 13.107/2015 alterou a Lei 9.096/95 com o objetivo de desestimular a fusão de partidos políticos. Veja duas
das mudanças promovidas:
• A Lei nº 13.107/2015 alterou o § 1º do art. 7º da Lei 9.096/95 ao exigir que as pessoas que assinarem o
apoiamento para a criação de novos partidos não poderão fazer parte de outros partidos políticos.
• A Lei nº 13.107/2015 determinou que somente será admitida a fusão ou incorporação de partidos
políticos que hajam obtido o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 anos.
Antes não havia essa exigência.
Essas duas mudanças foram impugnadas por meio de ADI, mas O STF NEGOU A MEDIDA CAUTELAR AFIRMANDO QUE
AS ALTERAÇÕES SÃO COMPATÍVEIS COM A CF/88, NÃO TENDO HAVIDO VIOLAÇÃO À AUTONOMIA CONSTITUCIONAL DOS
PARTIDOS POLÍTICOS.
STF. Plenário. ADI 5311-MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2015 (Info 801).
A CF/88 assegura a liberdade de criação, fusão, extinção e incorporação de partidos políticos, como expressão
do princípio democrático e do pluripartidarismo (art. 17). Portanto, realmente está garantida no ordenamento
jurídico-constitucional a liberdade dos partidos políticos de se articularem. Essa garantia, contudo, não é
absoluta, SENDO POSSÍVEL HAVER UM CONTROLE QUANTITATIVO E QUALITATIVO DOS PARTIDOS POLÍTICO, o que
justificaria a existência das normas impugnadas.
Segundo apontou o STF, HÁ AGREMIAÇÕES INTITULADAS FORMALMENTE COMO PARTIDOS POLÍTICOS SEM QUALQUER
SUBSTRATO ELEITORAL. Essas legendas estão habilitadas a receber parcela do fundo partidário e a disputar tempo
de televisão sem difundir, contudo, ideias e programas. ELAS ATUAM PARA DEFENDER OUTROS INTERESSES PARTIDÁRIOS,
ESPECIALMENTE PARA OBTENÇÃO DE VANTAGENS PARTICULARES PARA OS SEUS DIRIGENTES.
Como os partidos políticos recebem recursos do fundo partidário (dinheiro público), é necessário e justificável
que haja um controle sobre eles.
A PROLIFERAÇÃO INDISCRIMINADA DE PARTIDOS SEM COERÊNCIA OU RESPALDO SOCIAL CAUSA RISCO INSTITUCIONAL E AMEAÇA A
DEMOCRACIA. ALÉM DISSO, PODE TRANSFORMAR O SADIO PLURIPARTIDARISMO EM CAOS POLÍTICO.
As normas impugnadas têm como objetivo a tentativa de incentivar a utilização de mecanismos da democracia
representativa, a reforçar a legitimidade e o compromisso do eleitor e do partido no qual se depositara o seu
aval.
A EXIGÊNCIA DE QUE OS APOIADORES DO NOVO PARTIDO NÃO SEJAM FILIADOS A PARTIDOS POLÍTICOS ESTÁ DE ACORDO
COM O SISTEMA REPRESENTATIVO.
A exigência de 5 anos para se levar a efeito fusões e incorporações entre partidos assegura o atendimento do
compromisso do cidadão com a sua opção partidária, o que evita o estelionato eleitoral ou a reviravolta
política contra o apoio dos eleitores, então filiados.
Portanto, as normas atacadas na ADI TÊM A FINALIDADE DE EVITAR A LÓGICA MERCANTILISTA E
NADA REPUBLICANA DE PRÁTICA POLÍTICA.
Ante o exposto, o STF entendeu que não houve ingerência estatal indevida na autonomia constitucional dos
partidos políticos.
É inconstitucional a Lei 12.875/2013, que alterou a Lei dos Partidos Políticos e a Lei das Eleições
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
PODE SER DEFERIDA USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA AINDA QUE A ÁREA DO IMÓVEL SEJA INFERIOR AO MÓDULO MÍNIMO DOS
LOTES URBANOS PREVISTO NO PLANO DIRETOR
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana, prevista no art.
183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o PLANO DIRETOR da cidade proíbe a existência de
imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, fixou que o módulo mínimo
dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área ocupada pela pessoa seria menor que isso,
ela não poderia registrar o imóvel em seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a pessoa
tenha direito à usucapião especial urbana? NÃO. SE FOREM PREENCHIDOS OS REQUISITOS DO ART. 183 DA
CF/88, A PESSOA TERÁ DIREITO À USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA E O FATO DE O IMÓVEL EM QUESTÃO NÃO ATENDER AO MÍNIMO
DOS MÓDULOS URBANOS EXIGIDOS PELA LEGISLAÇÃO LOCAL PARA A RESPECTIVA ÁREA (DIMENSÃO DO LOTE) NÃO É
MOTIVO SUFICIENTE PARA SE NEGAR ESSE DIREITO, QUE TEM ÍNDOLE
CONSTITUCIONAL.
O julgado ora analisado diz RESPEITO À USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. A usucapião especial urbana é
prevista no art. 183 da CF/88, sendo também reproduzida no art. 1.240 do CC e no art. 9º da Lei n. 10.257/2001.
Para se ter direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos:
250m²: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2;
5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem
oposição de ninguém;
Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família;
Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural).
Obs.: É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho do
imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de festas etc., mas tão somente a parte
privativa);
PROCESSO CIVIL
COMPETÊNCIA
O STF TEM COMPETÊNCIA para processar e julgar causas em que se DISCUTE PRERROGATIVA DOS
JUÍZES DE PORTAR ARMA DE DEFESA PESSOAL, por se tratar de ação em que todos os membros da magistratura
são direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88). STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig.
Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 22/4/2015 (Info 782).
Obs: vale ressaltar que a matéria de fundo ainda não foi decidida, ou seja, o Supremo não definiu neste
julgamento se os magistrados possuem direito de portar arma de fogo sem se submeterem ao Estatuto do
Desarmamento. A única situação até agora definida foi a de que a competência para julgar o MS é do STF.
AÇÃO RESCISÓRIA
Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e, posteriormente, esse
entendimento foi alterado (ou puder ser alterado), não se pode dizer que essa decisão impugnada tenha violado
literal disposição de lei.
Desse modo, NÃO CABE AÇÃO RESCISÓRIA EM FACE DE ACÓRDÃO QUE, À ÉPOCA DE SUA PROLAÇÃO, ESTAVA
EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE DO STF.
STF. Plenário. AR 2199/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
23/4/2015 (Info 782).
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).
Mini Resumo:
MANDADO DE SEGURANÇA
É possível que o impetrante desista do MS após já ter sido prolatada sentença de mérito?
Em REGRA, SIM. Existem julgados do STF e STJ admitindo (STF. RE 669367/RJ, Min. Rosa Weber, julgado em
02/05/2013; STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013. Info 533).
O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, EM UM CASO CONCRETO NOTICIADO NESTE INFORMATIVO, O
STF AFIRMOU QUE NÃO É CABÍVEL A DESISTÊNCIA DE MANDADO DE SEGURANÇA, nas hipóteses em que se discute a
exigibilidade de concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando na espécie já houver sido
proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos. No caso concreto, O PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO MS FOI
FORMULADO APÓS O IMPETRANTE TER INTERPOSTO VÁRIOS RECURSOS SUCESSIVOS (embargos de declaração e agravos
regimentais), TODOS ELES JULGADOS IMPROVIDOS. Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que tudo levaria a
crer que o objetivo do impetrante ao desistir seria o de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa
julgada. Com isso, ele poderia propor uma ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a controvérsia,
ganhando tempo antes do desfecho definitivo contrário. Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do
STF indeferiu o pedido de desistência. STF. 2ª Turma. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS
29189 ED-ED-AgR/DF, MS 29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-AgR/DF, MS 29101
ED-ED-AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2015 (Info 781).
CONCEITO
O pedido de suspensão é
- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos,
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas.
NOMENCLATURA
Comumente, esse instituto é chamado de pedido de “suspensão de segurança”. Isso porque ele foi previsto
originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou sentenças proferidas em mandados
de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para
praticamente toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Por essa razão, atualmente, além de “suspensão de segurança”, pode-se falar em “suspensão de liminar”,
“suspensão de sentença”, “suspensão de acórdão” etc.
PREVISÃO LEGAL
Há cinco diferentes dispositivos legais prevendo pedido de suspensão:
art. 12, § 1º da Lei nº 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP);
art. 4º da Lei nº 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em ação popular ou em
ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral sobre o pedido de suspensão;
art. 1º da Lei nº 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda Pública);
art. 16 da Lei nº 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
art. 15 da Lei nº 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).
NATUREZA JURÍDICA
Prevalece que se trata de um “INCIDENTE PROCESSUAL” (Leonardo José Carneiro da
Cunha).
LEGITIMIDADE
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS;
b) AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES;
c) MINISTÉRIO PÚBLICO;
d) CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇO PÚBLICO (DESDE QUE PARA TUTELAR O INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO).
COMPETÊNCIA
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente do
Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de suspensão será
juiz de 1ª instância: julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de suspensão será
julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de suspensão
será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao Presidente do TJ/AM
(art. 25 da Lei nº 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de pedido de
Decisão prolatada por
suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há possibilidade de
Superior:
pedido de suspensão.
APESAR DE NÃO SE EXAMINAR O MÉRITO, DEVE SER REALIZADO UM JUÍZO MÍNIMO DE DELIBAÇÃO
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é preciso, para
que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade na tese da Fazenda Pública,
porque o PEDIDO DE SUSPENSÃO FUNCIONA COMO UMA CONTRACAUTELA, devendo, por isso, demonstrar
fumus boni iuris e periculum in mora inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de um juízo mínimo
de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal, quando da análise do pedido de
suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel.
Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-
04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)
Obs: o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda Pública ou pelo
MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que confere prazo em dobro para recorrer à
Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto ser o incidente de suspensão de liminar
previsto no art. 4º, § 3º da Lei 8.437/1992.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013 (Info 523).
Cabe recurso especial da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de
suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de
legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de suspensão de
segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional. Com base nisso, decidiu que
é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão de
segurança (RE 798740 AgR/DF).
Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o
Presidente do TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do
Presidente para o Plenário, que mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em
primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a Fazenda Pública terá a possibilidade de formular
novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.
RECURSOS
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! Imagine que antes de o acórdão ser publicado no Diário de Justiça,
o advogado da parte soube da decisão e opôs embargos de declaração contra ela. Tais embargos são
tempestivos? O recurso contra a decisão que ainda não foi publicada é tempestivo segundo o
Se o advogado deu entrada no recurso, no último dia do prazo, no setor da contadoria do Tribunal
em vez de ser no protocolo, ainda assim o recurso terá que ser considerado tempestivo . Isso porque o
referido erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado, mas também ao setor da
contadoria que recebeu a petição do recurso indevidamente.
STF. 1ª Turma. RE 755613 AgR-ED/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/9/2015 (Info 800).
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
RECONHECIDA A REPERCUSSÃO GERAL, NÃO É MAIS POSSÍVEL QUE AS PARTES DESISTAM DO PROCESSO
Quando houver uma grande quantidade de recursos extraordinários que versem sobre o mesmo
tema, o STF poderá fazer a análise da repercussão geral por amostragem. Dito de forma mais
simples, o STF seleciona um ou alguns poucos recursos extraordinários, debate a tese ali
apresentada, chega a uma conclusão e aplica a mesma solução para todos os demais recursos
semelhantes.
CPC 2015
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi
reconhecida continuará sendo analisada. Em outras palavras, a parte pode até desistir do processo,
mas mesmo assim a tese jurídica que era discutida na lide será definida pelo STF. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes,
desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já
tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais
repetitivos.
"(...) o art. 998, parágrafo único, CPC, permite que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal
de Justiça se pronunciem sobre questões recursais ainda que a parte tenha desistido do recurso.
Nesse caso, obviamente que a pronúncia da Corte não poderá alcançar o recurso da parte. Servirá,
porém, para outorgar unidade ao direito, valendo como precedente." (MARINONI, Luiz Guilherme;
AREHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT,
2015, p. 933).
JUIZADOS ESPECIAIS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
ACP PROPOSTA CONTRA PREFEITO E PREVISÃO NA LEI ESTADUAL DE QUE TAL ATRIBUIÇÃO É PRIVATIVA
DO PGJ
É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de Justiça
poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos,
membros do MP ou membros da Magistratura (STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado
em 14/04/2010).
O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste caso,
legítima a ACP proposta contra tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.
STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
DIREITO PENAL
CRIMES TRIBUTÁRIOS
A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento definitivo do
tributo. Em outras palavras, não existe crime antes da constituição definitiva do crédito tributário.
Logo, indiretamente, a SV afirma que o prazo prescricional só começa a ser contado no dia da
constituição definitiva do crédito tributário já que é nessa data que o delito se consuma (art. 111, I,
do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial para o réu
porque mesmo ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo prescricional nem começou a
correr se ainda não houve constituição definitiva do crédito tributário. Fica assim mais difícil de o
agente escapar da prescrição. O Estado-acusação acaba “ganhando” mais tempo para oferecer a
denúncia antes que o crime prescreva.
Desse modo, surgiu a tese defensiva de que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao réu, não poderia
retroagir para ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, sob pena de isso ser considerado
aplicação retroativa “in malam partem”. Esse argumento foi aceito? É proibido aplicar a SV 24-STF
para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à sua edição. NÃO
SE PODE CONCORDAR COM O ARGUMENTO DE QUE A APLICAÇÃO DA SV 24-STF A FATOS ANTERIORES À SUA
EDIÇÃO CONFIGURA RETROATIVIDADE “IN MALAM PARTEM”. Isso porque O ALUDIDO ENUNCIADO
APENAS CONSOLIDOU INTERPRETAÇÃO REITERADA DO STF SOBRE A MATÉRIA.
A SÚMULA VINCULANTE NÃO É LEI NEM ATO NORMATIVO, DE FORMA QUE A SV 24-STF NÃO
INOVOU NO ORDENAMENTO JURÍDICO. O ENUNCIADO APENAS ESPELHOU (DEMONSTROU) O
QUE A JURISPRUDÊNCIA JÁ VINHA DECIDINDO.
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info 786).
PRESCRIÇÃO
A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em
que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o inquérito ou
processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena
em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí,
examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o
permitido pela lei.
A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada”
ou “antecipada”.
O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a) em
virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria uma afronta ao princípio da presunção
de não-culpabilidade.
O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ).
STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
Depois de fazer todo esse prognóstico, o juiz conclui que é inútil marcar instrução, expedir mandados
de intimação, gastar recursos com oficial de justiça, ouvir testemunhas e o réu, sabendo (ou tendo
praticamente certeza) que, mesmo se condenado, o réu não irá cumprir pena.
Diante disso, ele profere uma sentença julgando extinta a punibilidade com base na “prescrição
virtual” afirmando que não existe interesse de agir do Estado, já que o processo penal não terá
utilidade.
SINÔNIMOS
A prescrição virtual é também chamada de prescrição “em perspectiva”, “por prognose”, “projetada”
ou “antecipada”.
OBS: O DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF).
CRIME DO INCISO I
Como dito, o art. 1º do DL 201/67 elenca diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos. Vamos
estudar o inciso I:
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio; (...)
§ 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de
reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.
SUJEITO ATIVO: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou
por quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de
Vereadores).
SE O SUJEITO COMETE O CRIME DO ART. 1º DO DL 201/67, MAS TERMINA SEU MANDATO SEM QUE ELE SEJA
DENUNCIADO, É POSSÍVEL QUE ELE RESPONDA PELO DELITO MESMO NÃO SENDO MAIS PREFEITO?
CLARO QUE SIM. EXISTEM DOIS ENUNCIADOS AFIRMANDO ISSO:
SÚMULA 164-STJ: O PREFEITO MUNICIPAL, APÓS A EXTINÇÃO DO MANDATO, CONTINUA SUJEITO A PROCESSO POR CRIME
PREVISTO NO ART. 1º DO DEC. LEI N. 201, DE 27/02/67.
SÚMULA 703-STF: A EXTINÇÃO DO MANDATO DO PREFEITO NÃO IMPEDE A INSTAURAÇÃO DE PROCESSO PELA PRÁTICA DOS
CRIMES PREVISTOS NO ART. 1º DO DL 201/67.
Peculato: a doutrina afirma que esse crime É UMA FORMA ESPECÍFICA DE PECULATO (art. 312 do
CP), ou seja, é como se fosse um crime de peculato mas cometido por Prefeito.
Prefeito que desvia bens ou rendas públicas em proveito da própria Administração: NÃO COMETE O
DELITO DO INCISO I UMA VEZ QUE ESTE TIPO PENAL EXIGE QUE HAJA DESVIO EM PROVEITO PRÓPRIO (PESSOAL
DO PREFEITO) OU PROVEITO ALHEIO (DE TERCEIRA PESSOA). No entanto, ELE PODERÁ RESPONDER PELO
INCISO III.
Tipo subjetivo: o crime do art. 1º só é punido a título de dolo. Não existe forma culposa.
Consumação: TRATA-SE DE CRIME MATERIAL. No caso de apropriação, consuma-se quando
o agente passa a agir como se fosse dono. Na modalidade desvio, consuma-se quando o Prefeito dá
uma destinação para a coisa diversa daquela que estava legalmente prevista.
TORTURA
Regime inicial de cumprimento de pena
O STF já decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes
hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Para o STJ, isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a
crime hediondo. Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº
9.455/1997, por ser esta norma também inconstitucional. Assim, não é obrigatório que o condenado
por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. O juiz, no momento
da dosimetria da pena, deverá seguir as regras do art. 33 do CP.
No julgado noticiado neste Informativo, o Min. Marco Aurélio manifesta posição pessoal de que o art.
1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997 seria constitucional, ou seja, seria legítima a regra que impõe o regime
inicial fechado para o crime de tortura. O inteiro teor do julgado ainda não foi divulgado, mas penso
que se trata de uma posição minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio. Os demais Ministros
acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade do que de tese jurídica. Isso porque os
demais Ministros entendiam que, no caso concreto, nem caberia habeas corpus considerando que já
havia trânsito em julgado. No entanto, eles não aderiram expressamente à tese do Relator.
STF. 1ª Turma. HC 123316/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/6/2015 (Info 789).
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgados em 24/6/2015
(Info 791).
MAUS ANTECEDENTES
A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção
da pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? APÓS O PERÍODO DEPURADOR, AINDA
SERÁ POSSÍVEL CONSIDERAR A CONDENAÇÃO COMO MAUS ANTECEDENTES?
1ª CORRENTE: SIM. POSIÇÃO DO STJ.
2ª corrente: NÃO. Posição do STF.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
01/09/2015. STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info
799).
Obs.1: o tema será pacificado pelo STF no RE 593818 RG, que foi afetado para julgamento pelo
Plenário sob a sistemática da repercussão geral.
Obs.2: cuidado. Alguns livros de Direito Penal fornecem uma explicação em sentido contrário ao
que vem sendo decidido pelo STF
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
A advogada ficou com o dinheiro recebido pelo cliente e só devolveu a quantia após ser
demandada judicialmente e fazer acordo em ação de cobrança.
Vale ressaltar que, a esta altura, já havia um inquérito policial instaurado para apurar
eventual crime de apropriação indébita.
O STF, com base em peculiaridades do caso concreto, decidiu trancar a ação penal por falta de justa
causa.
Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível que colocou fim à pendência ocorreu em novembro
de 2012 e a denúncia só foi formalizada quase um ano após.
Além disso, o juiz do processo cível determinou a comunicação à Delegacia de Polícia sobre o acordo.
Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a situação seria excepcional e suficiente para se
trancar a ação penal.
Entendeu-se que a relação jurídica cível repercute porque o acerto de contas se deu em data
anterior à propositura da ação penal.
STF. 1ª Turma.RHC 125283/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/8/2015 (Info 793).
Obs: a decisão acima do STF baseou-se nas peculiaridades do caso concreto e não se pode dizer que
isso valha para todas as situações envolvendo apropriação indébita e restituição da coisa. Apesar
disso, é importante você ficar atento(a) na hora da prova porque pode ser cobrado este julgado de
forma específica.
ESTELIONATO
O art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu
é causa de extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato causando prejuízo aos cofres
públicos. Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente os danos produzidos. Isso
poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003?
NÃO. A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº
10.684/2003, relativamente ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao delito de
estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º
da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP
(sonegação de contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não
está listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por
analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que são
ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos diferentes.
Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior,
tendo sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559).
Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na direção de veículo
Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu veículo de
forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém, ele responderá pelo
crime do art. 303, parágrafo único, do CTB, ficando o delito do art. 309 do CTB
absorvido por força do princípio da consunção.
O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por outro
lado, a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à
representação. Imagine que a vítima não exerça seu direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública condicionada à
representação. Como a representação não foi formalizada pela vítima, HOUVE EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE, QUE ABRANGE TANTO A LESÃO CORPORAL COMO A CONDUTA
DE DIRIGIR SEM HABILITAÇÃO.
STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Porque há a consunção?
Porque o CTB estabelece que, se a lesão corporal culposa for praticada por um motorista que não
tenha habilitação para dirigir, haverá uma causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do
art. 303 c/c o art. 302, § 1º, I. Veja:
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do
§ 1º do art. 302.
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou
a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
Levando em conta a vedação de BIS IN IDEM, não se pode admitir que o mesmo fato seja atribuído
ao paciente como crime autônomo e, ao mesmo tempo, como causa especial de aumento de pena.
DOSIMETRIA DA PENA
Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90).
O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a
pena-base com fundamento em dois argumentos:
Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu omitiu seu
nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele quem realmente
administrava a empresa.
O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da empresa)
teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa investigada e, com
isso, furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário
não é a mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do nome
do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a omissão do nome do réu não significa
punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o crime
praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que autorizaria a
elevação da pena-base. Segundo entende o STF, em se tratando de infrações penais contra a ordem
tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1ª fase da dosimetria como critério
para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).
PROCESSO PENAL
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
INQUÉRITO POLICIAL
COMPETÊNCIA
MESMO TENDO CESSADA A COMPETÊNCIA DO STF PARA JULGAR A AÇÃO PENAL, É POSSÍVEL A CONCESSÃO DE
HABEAS CORPUS DE OFÍCIO EM CASO DE FLAGRANTE ATIPICIDADE
Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações. Como ele era
Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF. Após toda a instrução, o Ministério
Público apresentou alegações finais, no final de 2014, pedindo a absolvição por atipicidade da
conduta. O STF designou a sessão para julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi marcada
para abril de 2015 e o problema é que o referido réu não conseguiu se reeleger Deputado Federal e
deixou o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão de julgamento, o acusado
já não era mais Deputado Federal.
Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução tecnicamente “mais correta” a ser tomada
pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação penal e declinar o processo para
ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância. A CORTE ADOTOU, NO ENTANTO, UMA POSTURA
MAIS “MODERNA” OU DE “VANGUARDA” PARA O CASO: O STF RECONHECEU QUE NÃO ERA
MAIS COMPETENTE PARA JULGAR A AÇÃO PENAL, MAS CONSIDEROU QUE A SITUAÇÃO ERA DE
FLAGRANTE ATIPICIDADE (tanto que o PGR pediu a absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser
concedido HABEAS CORPUS, DE OFÍCIO, em favor do réu, extinguindo o processo penal. STF. 1ª
Turma. AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2015 (Info 781).
SÚMULA VINCULANTE 45: A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO
POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. STF. PLENÁRIO.
APROVADA EM 08/04/2015 (INFO 780).
FURTO PRATICADO POR MILITAR CONTRA OUTRO MILITAR DENTRO DAS INSTALAÇÕES MILITARES
Militar do Exército subtraiu de seu colega de farda, em quartel militar, cartão magnético,
juntamente com a respectiva senha. Após, efetuou empréstimo em nome da vítima, bem como
saques de valores. A competência para julgar esse crime é da Justiça Militar?
SIM. COMPETE À JUSTIÇA CASTRENSE PROCESSAR E JULGAR MILITAR PELA PRÁTICA DE CRIME DE FURTO
(ART. 240 DO CPM) PERPETRADO CONTRA OUTRO MILITAR EM AMBIENTE SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO
MILITAR (ART. 9º, II, “A” DO CPM). STF. 1ª Turma. HC 125326/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
17/3/2015 (Info 778).
PROGRESSÃO DE REGIME
O NÃO PAGAMENTO VOLUNTÁRIO DA PENA DE MULTA IMPEDE A PROGRESSÃO NO REGIME PRISIONAL? SIM
.
O Plenário do STF decidiu o seguinte:
Regra: O INADIMPLEMENTO DELIBERADO DA PENA DE MULTA CUMULATIVAMENTE APLICADA AO SENTENCIADO
IMPEDE A PROGRESSÃO NO REGIME PRISIONAL.
EXCEÇÃO: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar COMPROVADA A
ABSOLUTA IMPOSSIBILIDADE ECONÔMICA DO APENADO EM QUITAR A MULTA, AINDA QUE PARCELADAMENTE. STF.
Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/4/2015 (Info 780).
O ESTRANGEIRO QUE CUMPRE PENA NO BRASIL PODE SER BENEFICIADO COM A PROGRESSÃO DE REGIME? SIM .
Não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil os benefícios da
execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a condição humana da pessoa
estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito dos direitos
humanos. Assim, em regra, é plenamente possível a progressão de regime para estrangeiros que
cumpram pena no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que essa providência (progressão) será ineficaz até que o STF delibere
acerca das condições da prisão para extradição. Em outras palavras, é possível que seja deferida
a progressão de regime ao apenado que aguarda o cumprimento da ordem de extradição, mas
isso SÓ PODERÁ SER CONCRETIZADO PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES (JUIZ DE 1ª INSTÂNCIA)
DEPOIS QUE O STF CONCORDAR. Cabe ao STF deliberar acerca de eventual
adaptação das condições da prisão para extradição ao regime prisional da execução penal. Assim,
DEPOIS QUE O JUÍZO DA EXECUÇÃO AFIRMAR QUE OS REQUISITOS PARA A PROGRESSÃO ESTÃO
PREENCHIDOS, DEVERÁ AINDA O STF VERIFICAR SE A CONCESSÃO DO REGIME SEMIABERTO OU ABERTO AO
EXTRADITANDO NÃO IRÁ CAUSAR RISCO À GARANTIA DA ORDEM ORDEM PÚBLICA, DA ORDEM
ECONÔMICA, À CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL, NEM À APLICAÇÃO DA LEI PENAL PÚBLICA (ART. 312
DO CPP).
STF. 2ª Turma. Ext 893 QO/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 10/3/2015 (Info 777).
D) AFASTA A ATENUANTE GENÉRICA DO ART. 65, III, “B”, DO CP, ENTRE OUTROS.
INFORMATIVO 775, STF - FIXAÇÃO DE REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA E CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
Se a PENA-BASE É FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL EM VIRTUDE DE AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59
DO CP SEREM DESFAVORÁVEIS, É POSSÍVEL QUE O JUIZ DETERMINE REGIME INICIAL MAIS GRAVOSO DO
QUE O ABSTRATAMENTE PREVISTO DE ACORDO COM A QUANTIDADE DE PENA APLICADA. Ex.: Paulo, réu
primário, foi condenado a uma pena de 2 anos e 6 meses de detenção. Em regra, o regime inicial
seria o aberto (art. 33, § 2º, “c”, do CP). Ocorre que duas circunstâncias judiciais foram desfavoráveis
a ele, conforme fundamentação do juiz (circunstâncias e consequências do crime). Nesse caso, o
magistrado, fundamentando sua decisão nesses dados, PODE IMPOR AO CONDENADO O REGIME
INICIAL SEMIABERTO. STF. 2ª Turma. HC 124876/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
24/2/2015 (Info 775).
- Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada
permitir exige motivação idônea.
- A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO constitui motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718-STF).
- Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime
prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade
abstrata do delito.
PRISÃO DE ADVOGADO
HABEAS CORPUS
DESNECESSIDADE DE PREQUESTIONAMENTO EM HC
Pedido para autorização de visita O habeas corpus NÃO É MEIO PROCESSUAL ADEQUADO para o apenado
obter autorização de visita de sua companheira no estabelecimento prisional.
STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info 792
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!
É cabível habeas corpus em face de decisão monocrática proferida por Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).
Ressalte-se que, se a parte quiser, em vez de impetrar HC, poderá interpor agravo regimental
contra a decisão monocrática do Ministro.
TRIBUNAL DO JÚRI
O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes NÃO PODERÃO, SOB PENA DE
NULIDADE, FAZER REFERÊNCIAS À DECISÃO DE PRONÚNCIA OU ÀS DECISÕES POSTERIORES QUE JULGARAM
PUBLICAÇÃO DO ACORDÃO
A PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO CONDENATÓRIO PARA FINS DE PRESCRIÇÃO OCORRE NO DIA DA SESSÃO DE JULGAMENTO
Em nosso exemplo, a defesa alegava que entre o recebimento da denúncia (em 04/11/2002) e a
publicação do acórdão condenatório (em 28/04/2011) já havia se passado mais de 8 anos. Logo,
estaria prescrita a pena imposta pelo crime do art. 288 do CP. Houve prescrição?
NÃO. Não houve prescrição. A SESSÃO DE JULGAMENTO OCORREU NO DIA 28/10/2010, ANTES,
PORTANTO, DE TEREM SE PASSADO 8 ANOS DA DATA DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
Segundo a jurisprudência, A SESSÃO EM QUE REALIZADO O JULGAMENTO DA CAUSA PODE SER CONSIDERADA
COMO MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO, uma vez que em tal data a prestação jurisdicional penal
condenatória tornou-se pública (STF. Plenário. AP 396 ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
13/12/2012).
STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
- Trata-se de norma de direito processual. Assim, ainda que o processo tenha se iniciado antes da Lei
nº 11.719/2008, se ele for sentenciado após a sua vigência, deverá observar a fixação do valor
mínimo de que trata o art. 387, IV, do CPP. Trata-se de norma híbrida (de direito material e
processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua
vigência.
- Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária fixada como
reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV do CPP, pois dela decorrente,
ficando ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda que haja prejuízos a serem
reparados (EDcl no AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado
em 12/03/2013)
EXTRADIÇÃO
Importante!!! O TERRORISMO NÃO É TIPIFICADO COMO CRIME PELA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA, NÃO SENDO
VÁLIDO O ART. 20 DA LEI 7.170/83 PARA CRIMINALIZAR ESSA CONDUTA. Logo, NÃO É CABÍVEL QUE SEJA
CONCEDIDA EXTRADIÇÃO DE UM ESTRANGEIRO QUE PRATICOU CRIME DE TERRORISMO NO ESTADO DE ORIGEM,
CONSIDERANDO QUE, PELO FATO DE O BRASIL NÃO TER DEFINIDO ESSE CRIME, NÃO ESTARÁ PRESENTE O REQUISITO
DA DUPLA TIPICIDADE. Vale ressaltar que, mesmo o Brasil não prevendo o crime de terrorismo, seria
possível, em tese, que a extradição fosse concedida se o Estado requerente tivesse demonstrado que
os atos terroristas praticados pelo réu amoldavam-se em outros tipos penais em nosso país (exs:
homicídio, incêndio etc.). ISSO PORQUE A DUPLA TIPICIDADE NÃO É ANALISADA SOB O PONTO DE VISTA DO
“NOMEN JURIS”, OU SEJA, DO “NOME DO CRIME”. O QUE IMPORTA É QUE AQUELA CONDUTA SEJA
PUNIDA NO PAÍS DE ORIGEM E AQUI, sendo irrelevantes as diferenças terminológicas. No entanto,
no caso concreto, O PEDIDO FEITO PELO ESTADO ESTRANGEIRO ESTAVA INSTRUÍDO DE FORMA INSUFICIENTE. STF. 2ª
Turma. PPE 730/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).
FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS (ART. 387, IV DO CPP)
INFORMATIVO 772, STF - O INCISO IV DO ART. 387 DO CPP NÃO PODE SER APLICADO A FATOS ANTERIORES À LEI
11.719/2008.
A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei 11.719/2008.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
Se o crime ocorreu antes dessa Lei e foi sentenciado após a sua vigência, o juiz não poderá aplicar
esse dispositivo e fixar o valor mínimo de reparação dos danos. SEGUNDO ENTENDIMENTO
MAJORITÁRIO, IV DO ART. 387 DO CPP É NORMA HÍBRIDA (DE DIREITO
O INCISO
MATERIAL E PROCESSUAL) e, por ser mais gravosa ao réu, NÃO PODE SER APLICADA A FATOS
PRATICADOS ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI 11.719/2008. STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
A) O STJ JÁ DECIDIU QUE O JUIZ SOMENTE PODERÁ FIXAR ESTE VALOR SE EXISTIREM PROVAS NOS AUTOS
QUE DEMONSTREM OS PREJUÍZOS SOFRIDOS PELA VÍTIMA EM DECORRÊNCIA DO CRIME.
Dessa feita, é importante que o Ministério Público ou eventual assistente de acusação junte
comprovantes dos danos causados pela infração para que o magistrado disponha de elementos para
a fixação de que trata o art. 387, IV do CPP. Vale ressaltar, ainda, que O RÉU TEM DIREITO DE SE
MANIFESTAR SOBRE ESSES DOCUMENTOS JUNTADOS E CONTRADITAR O VALOR PLEITEADO COMO INDENIZAÇÃO.
B) O JUIZ PODE DEIXAR DE FIXAR O VALOR MÍNIMO EM ALGUMAS SITUAÇÕES, COMO, POR EXEMPLO:
a) quando NÃO HOUVER PROVA DO PREJUÍZO;
b) se OS FATOS FOREM COMPLEXOS E A APURAÇÃO DA INDENIZAÇÃO DEMANDAR DILAÇÃO
PROBATÓRIA, o juízo criminal poderá deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado
em ação civil;
c) quando A VÍTIMA JÁ TIVER SIDO INDENIZADA NO JUÍZO CÍVEL.
C) ALÉM DOS PREJUÍZOS MATERIAIS, O JUIZ PODERÁ TAMBÉM CONDENAR O RÉU A PAGAR A
VÍTIMA POR DANOS MORAIS?
D) O ART. 387, IV, DO CPP, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.719/2008, FEZ COM QUE O BRASIL
PASSASSE A ADOTAR A CHAMADA “CUMULAÇÃO DE INSTÂNCIAS” EM MATÉRIA DE INDENIZAÇÃO PELA
1ª corrente 2ª CORRENTE
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. STJ. 5ª TURMA. RESP 1.193.083-RS, REL. MIN.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em LAURITA VAZ, JULGADO EM 20/8/2013.
12/6/2012.
STF. PLENÁRIO. RVC 5437/RO, REL. MIN. TEORI
ZAVASCKI, JULGADO EM 17/12/2014 (INFO 772).
Trata-se de norma de direito processual. TRATA-SE DE NORMA HÍBRIDA (DE DIREITO
Assim, ainda que o processo tenha se
MATERIAL E PROCESSUAL) E, POR SER MAIS GRAVOSA AO
iniciado antes da Lei nº 11.719/2008, se
RÉU, NÃO PODE SER APLICADA A FATOS PRATICADOS
ele for sentenciado após a sua vigência,
ANTES DE SUA VIGÊNCIA.
deverá observar a fixação do valor mínimo
de que trata o art. 387, IV, do CPP.
NULIDADES
CONSTITUIÇÃO DE NOVO MANDATÁRIO, SEM QUALQUER RESSALVA, ENSEJA A REVOGAÇÃO TÁCITA DA PROCURAÇÃO
ANTERIOR.
João respondeu a ação penal e foi condenado em 1ª instância. Seu advogado constituído na época
era Dr. Pedro que interpôs recurso de apelação.
Algumas semanas depois, João outorga procuração para outro advogado (Dr. Carlos) conferindo-lhe
poderes para representá-lo neste processo criminal. Vale ressaltar que nesta segunda procuração
não há qualquer menção ao mandato que havia sido dado a Dr. Pedro.
Dr. Carlos peticiona, então, ao Tribunal de Justiça (onde tramita a apelação) juntando a procuração e
informando que deseja ser intimado de todos os atos judiciais.
Ocorre que a petição do Dr. Carlos foi ignorada e, quando marcaram o dia do julgamento da
apelação, o advogado intimado foi o Dr. Pedro.
No julgamento da apelação, que não foi acompanhado nem pelo Dr. Carlos nem pelo Dr. Pedro, o TJ
manteve a sentença condenatória.
Houve nulidade no presente caso?
SIM. Houve nulidade do julgamento da apelação considerando que o novo advogado constituído do
réu não foi intimado. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a não intimação de advogado
constituído configura cerceamento de defesa e, portanto, nulidade dos atos processuais.
Mesmo sem ter havido revogação expressa do mandato outorgado ao primeiro advogado, ficou clara
a intenção do réu de alterar seu causídico. Podemos dizer que houve revogação tácita. PARA O
STF, A CONSTITUIÇÃO DE NOVO MANDATÁRIO PARA ATUAR EM PROCESSO JUDICIAL, SEM RESSALVA OU
RESERVA DE PODERES, ENSEJA A REVOGAÇÃO TÁCITA DO MANDATO ANTERIORMENTE CONCEDIDO.
STF. 2ª Turma. RHC 127258/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 19/5/2015 (Info 786).
Intimação da Defensoria Pública com remessa dos autos mesmo que a decisão tenha sido proferida
em audiência
Importante!!!
A LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das prerrogativas dos Defensores
Públicos, que eles devem receber intimação pessoal (arts. 44, I, 89, I e 128, I).
Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor Público
presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será necessário ainda o
envio dos autos à Defensoria para que a intimação se torne perfeita?
PARA QUE A INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEFENSOR PÚBLICO SE CONCRETIZE, SERÁ
NECESSÁRIA AINDA A REMESSA DOS AUTOS À DEFENSORIA PÚBLICA.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor na
audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua intimação pessoal, mediante
a remessa dos autos.
STF. 2ª Turma. HC 125270/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/6/2015 (Info 791).
A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data determinada ou nas
sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento quando a
audiência não realizada no dia previamente marcado, ocorrer no dia seguinte à nova intimação.
Ex: no dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação oral, no
entanto, não houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que fosse informada
nova data. No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado pessoalmente de uma lista de 90
processos que seriam julgados no dia seguinte, entre eles a apelação que havia sido adiada. No dia
16/09/2014, o recurso foi julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer a
sustentação oral. Entendeu-se que não houve qualquer nulidade, já que a Defensoria Pública foi
intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia seguinte e mesmo
assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.
RECURSOS
INFORMATIVO 774, STF - INEXISTÊNCIA DE REFORMATIO IN PEJUS NA MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO, MAS COM
BASE EM FUNDAMENTOS DIVERSOS DA SENTENÇA.
REVISÃO CRIMINAL
A revisão criminal é instrumento excepcional, não podendo ser utilizado para reiteração de teses já
vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de direito, seja quanto a matéria de fato. Em
outras palavras, NA REVISÃO CRIMINAL NÃO SE PODE QUERER REDISCUTIR OS ARGUMENTOS QUE JÁ FORAM
ALEGADOS E REJEITADOS DURANTE O PROCESSO CRIMINAL. STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
TRANSAÇÃO PENAL
Determinado dia, João estava em sua moto coletando apostas do jogo do bicho quando foi abordado
por policiais militares e levado até a Delegacia de Polícia. Lá chegando, o Delegado instaurou um
termo circunstanciado e liberou João com o compromisso de que ele deveria comparecer no Juizado
Especial Criminal no dia marcado. Ocorre que a autoridade policial não liberou a motocicleta, que
ficou retida porque poderia constituir-se em instrumento da infração penal.
TRANSAÇÃO PENAL
No dia da audiência no Juizado, o Promotor ofereceu proposta de transação penal consistente na
obrigação de prestar serviços à comunidade por 60 horas.
João aceitou a transação e cumpriu a obrigação imposta.
O juiz prolatou, então, sentença declarando extinta a punibilidade do agente, mas, como pena
acessória, o magistrado decretou a perda do bem apreendido (motocicleta), sob o argumento de que
ele teria sido utilizado para o cometimento da referida contravenção penal. Como fundamento legal,
o juiz invocou o art. 91, II, “a”, do CP:
Art. 91. São efeitos da condenação: (...)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito;
PRISÃO E LIBERDADE
Prisão domiciliar e gestante a partir do 7º mês de gravidez
A CF/88 assegura às presidiárias condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período da amamentação e enfatiza a proteção à maternidade e à infância (art. 5º, “L”, e art. 6º,
caput).
No caso concreto, a acusada encontrava-se presa preventivamente, em estágio avançado de
gravidez (7 meses), em penitenciária insalubre e sem condições para acompanhamento pré-natal.
Assim, objetivando efetivar o direito acima mencionado, reconheceu-se que a acusada teria direito à
prisão domiciliar, nos termos do art. 318, IV, do CPP:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: IV - gestante
a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.
STF. 2ª Turma. HC 128381/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/6/2015 (Info 789).
INDULTO NATALINO
Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto 8.172/2013 concedendo o indulto natalino para
os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de
liberdade, desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.
Se o condenado foi beneficiado com sursis e já cumpriu mais de 1/4 do período de prova ele poderá
ser beneficiado com o indulto? É possível afirmar que cumprimento do período de prova no sursis é a
mesma coisa que cumprimento de pena?
NÃO. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa à pena, ou seja,
um benefício que o condenado recebe para não ter que cumprir pena. Por essa razão, não se pode
dizer que a pessoa beneficiada com sursis e que esteja cumprindo período de prova se encontre
cumprindo pena. Cumprimento de período de prova não é cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015 (Info 792).
EXECUÇÃO PENAL
Importante!!!
Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um pedido ao
juiz que, então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução penal adotaram
um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o diretor do
Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício. No entanto, nesta primeira
decisão o juiz já fixa um calendário de saídas temporárias.
Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas
temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo
concedidas automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do
condenado permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no
cumprimento da pena. Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício. A esse
procedimento simplificado deu-se o nome de “saída temporária automatizada” ou “calendário de
saídas temporárias”.
O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída temporária automatizada é
válida?
STJ: NÃO . O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional
insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional (Súmula 520-
STJ).
STF: SIM. É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de saídas temporárias para
visita à família do preso.
STF. 2ª Turma.HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/8/2015 (Info 793).
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Importante!!!
Audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa em flagrante possui de ser conduzida
(levada), sem demora, à presença de uma autoridade judicial (magistrado) que irá analisar se os
direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve tortura), se a prisão em
flagrante foi legal e se a prisão cautelar deve ser decretada ou se o preso poderá receber a liberdade
provisória ou medida cautelar diversa da prisão.
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que
ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92 e
ainda não regulamentada em lei no Brasil.
Diante dessa situação, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a audiência
de custódia no âmbito daquele Tribunal.
esse Provimento é constitucional porque não inovou
O STF entendeu que
na ordem jurídica, mas apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas
normas da CADH e do CPP. Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao
princípio da separação dos poderes porque NÃO FOI O PROVIMENTO CONJUNTO QUE CRIOU
OBRIGAÇÕES PARA OS DELEGADOS de polícia, MAS SIM A CITADA CONVENÇÃO E O CPP.
STF. Plenário. ADI 5240/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2015 (Info 795).
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Conceito
Audiência de custódia consiste...
- no direito que a pessoa presa em flagrante possui
- de ser conduzida (levada),
- sem demora,
- à presença de uma autoridade judicial (magistrado)
- que irá analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve
tortura)
- se a prisão em flagrante foi legal ou se deve ser relaxada (art. 310, I, do CPP)
- e se a prisão cautelar (antes do trânsito em julgado) deve ser decretada (art. 310, II) ou se o
preso poderá receber a liberdade provisória (art. 310, III) ou medida cautelar diversa da prisão
(art. 319).
Previsão
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH),
que ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto
678/92. Veja o que diz o artigo 7º, item 5, da Convenção:
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal (...)
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra
autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (...)
Segundo entende o STF, os tratados internacionais de direitos humanos que o Brasil foi signatário
incorporam-se em nosso ordenamento jurídico com status de norma jurídica supralegal (RE
349.703/RS, DJe de 5/6/2009). Desse modo, na visão do STF, a Convenção Americana de Direitos
Humanos é norma jurídica no Brasil, hierarquicamente acima de qualquer lei ordinária ou
complementar, só estando abaixo, portanto, das normas constitucionais.
Obs: na época em que a CADH foi aprovada no Brasil, ainda não havia a previsão do § 3º do art. 5º da
CF/88.
Regulamentação
Apesar de existir um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional (PLS nº 554/2011), o certo é
que a audiência de custódia ainda não foi regulamentada por lei no Brasil. Isso significa que não
existe uma lei estabelecendo o procedimento a ser adotado para a realização dessa audiência.
Diante desse cenário, e a fim de dar concretude à previsão da CADH, recentemente, alguns
Tribunais de
Justiça, incentivados pelo CNJ, passaram a regulamentar a audiência de custódia por meio de atos
internos exarados pelos próprios Tribunais (provimentos e resoluções).
Nomenclatura
O termo "audiência de custódia", apesar de ter sido consagrado no Brasil, não é utilizado
expressamente pela CADH, sendo essa nomenclatura uma criação doutrinária.
Durante os debates no STF a respeito da ADI 5240/SP, o Min. Luiz Fux defendeu que essa audiência
passe a se chamar "audiência de apresentação". Desse modo, deve-se tomar cuidado com essa
expressão caso seja cobrada em uma prova.
Qual é a amplitude da expressão "sem demora" prevista na CADH? Em até quanto tempo a
pessoa presa deverá ser levada para a audiência de custódia?
Não existe uma previsão específica de tempo na CADH. A doutrina majoritária defende, contudo,
que esse prazo deve ser de 24 horas, aplicando-se, subsidiariamente, a regra do § 1º do art. 306
do CPP.
Esse foi o prazo adotado pelo PLS nº 554/2011, em tramitação no Congresso Nacional.
Art. 1º Determinar, em cumprimento ao disposto no artigo 007°, item 5, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (pacto de San Jose da Costa Rica), a apresentação de pessoa detida em flagrante
delito, até 24 horas após a sua prisão, para participar de audiência de custódia.
(...)
Art. 3º A autoridade policial providenciará a apresentação da pessoa detida, até 24 horas após a sua
prisão, ao juiz competente, para participar da audiência de custódia.
§ 1º O auto de prisão em flagrante será encaminhado na forma do artigo 306, parágrafo 1º, do Código
de
Processo Penal, juntamente com a pessoa detida. (...)
Art. 5º O autuado, antes da audiência de custódia, terá contato prévio e por tempo razoável com seu
advogado ou com Defensor Público.
Art. 6º Na audiência de custódia, o juiz competente informará o autuado da sua possibilidade de não
responder perguntas que lhe forem feitas, e o entrevistará sobre sua qualificação, condições pessoais,
tais como estado civil, grau de alfabetização, meios de vida ou profissão, local da residência, lugar onde
exerce sua atividade, e, ainda, sobre as circunstâncias objetivas da sua prisão.
§ 1º Não serão feitas ou admitidas perguntas que antecipem instrução próprio de eventual processo de
conhecimento.
§ 2º Após a entrevista do autuado, o juiz ouvirá o Ministério Público que poderá se manifestar pelo
relaxamento da prisão em flagrante, sua conversão em prisão preventiva, pela concessão de liberdade
provisória com imposição, se for o caso, das medidas caulelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal.
§ 3º A seguir, o juiz dará a palavra ao advogado ou ao Defensor Público para manifestação, e decidirá,
na audiência, fundamentadamente, nos termos do artigo 310 do Código de Processo Penal, podendo,
quando comprovada uma das hipóteses do artigo 318 do mesmo Diploma, substituir a prisão preventiva
pela domiciliar.
(...)
Art. 7º O juiz competente, diante das informações colhidas na audiência de custódia, requisitará o
exame clinico e de corpo de delito do autuado, quando concluir que a perícia é necessária para a adoção
de medidas, tais como:
I - apurar possível abuso cometido durante a prisão em flagrante, ou a lavratura do auto; II - determinar
o encaminhamento assistencial, que repute devido.
ADI 5240/SP
A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol) ajuizou ADI contra o Provimento Conjunto
nº 03/2015, do TJSP.
Na ação, a referida associação defendeu que a audiência de custódia somente poderia ter sido criada
por lei federal e jamais por intermédio de tal provimento autônomo, já que a competência para
legislar sobre a matéria é da União (art. 22, I, da CF/88), por meio do Congresso Nacional.
O STF concordou com os argumentos da ADEPOL? A audiência de custódia disciplinada por meio de
ato do Tribunal de Justiça é inconstitucional?
NÃO. O STF julgou improcedente a ADI proposta.
A apresentação do preso ao juiz está intimamente ligada à ideia da garantia fundamental de
liberdade, qual seja, o “habeas corpus”. A essência desse remédio constitucional, portanto, está
justamente no contato direto do juiz com o preso, para que o julgador possa, assim, saber do próprio
detido a razão pela qual fora preso e em que condições se encontra encarcerado. Justamente por
isso, o CPP estabelece que “recebida a petição de ‘habeas corpus’, o juiz, se julgar necessário, e
estiver preso o paciente, mandará que este lhe seja imediatamente apresentado em dia e hora que
designar” (art. 656).
Desse modo, o STF entendeu que o Provimento Conjunto do TJSP não inovou na ordem jurídica, mas
apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da CADH e do CPP.
Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos poderes
porque não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de polícia, mas sim a
citada convenção e o CPP.
COLABORAÇÃO PREMIADA
A colaboração premiada possui natureza jurídica de "MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA" (art. 3º,
I, da Lei nº 12.850/2013). Chamo atenção para esse fato: a colaboração premiada NÃO É UM MEIO DE
PROVA PROPRIAMENTE DITO. A colaboração premiada NÃO PROVA NADA (ELA NÃO É UMA PROVA). A
COLABORAÇÃO PREMIADA É UM MEIO, UMA TÉCNICA, UM
INSTRUMENTO PARA SE OBTER AS PROVAS.
“Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente, ao convencimento do juiz sobre a
veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou o teor de
uma escritura pública), os meios de obtenção de provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são
instrumentos para a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o
julgador (p. ex.: um extrato bancário [documento] encontrado em uma busca e apreensão
domiciliar). Ou seja, enquanto o meio de prova se presta ao convencimento direto do julgador, os
meios de obtenção de provas somente indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização,
poderão servir à reconstrução da história dos fatos” (BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de
Janeiro. Campus: Elsevier. 2012, p. 270).
PREVISÃO NORMATIVA
Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de colaboração premiada em diversos
dispositivos legais esparsos. Confira a relação:
• Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º);
• Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º);
• Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único);
• Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único);
• Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26);
• Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º);
• Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15);
• Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41);
• Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único).
O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei nº 12.850/2013 (Lei do
Crime Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que rege, de forma geral, a
colaboração premiada em nosso país, razão pela qual a explicação abaixo será feita com base nesta
Lei.
NOMENCLATURA
Normalmente, encontramos na doutrina e jurisprudência, a terminologia “delação premiada”.
A Lei 12.850/2013, no entanto, utilizou a expressão “colaboração premiada”. Existe alguma
diferença? SIM. Para parcela da doutrina, a nomenclatura "colaboração premiada" é mais
ampla, devendo ser considerada como um gênero, do qual uma das suas espécies é a delação
premiada.
A delação premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com as autoridades delatando
os comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas que também praticaram as infrações penais.
Desse modo, como já dito, a delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. Existem,
contudo,
outras espécies, conforme será visto mais a frente.
Exemplo de colaboração premiada que não é delação premiada: o autor confessa a prática do crime
e não delata nenhum comparsa. No entanto, ele fornece todas as informações necessárias para que
as autoridades recuperem o dinheiro desviado com o esquema criminoso e que se encontrava em
contas bancárias no exterior.
Assim, toda delação premiada é uma forma de colaboração premiada, mas nem sempre a
colaboração premiada será feita por meio de uma delação premiada.
CRÍTICAS E IMPORTÂNCIA
A delação premiada é criticada por alguns doutrinadores. O argumento é o de que, por meio deste
expediente, o Estado estaria incentivando uma conduta antiética por parte do delator, qual seja, a
traição. Afirma-se, ainda, que a colaboração premiada seria uma forma de o Poder Público barganhar
com os criminosos, postura que não seria adequada.
A posição majoritária, contudo, e a meu ver, mais razoável, é aquela que defende que, em uma
ponderação de interesses, a delação premiada é medida indispensável ao combate da criminalidade
organizada, sendo, portanto, legítima, já que não viola nenhum direito ou garantia fundamental. Veja
a opinião de Nucci:
“(...) parece-nos que a delação premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser
tutelado é o Estado Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime
organizado tem ampla penetração nas entranhas estatais e possui condições de
desestabilizar qualquer democracia, sem que se possa combatê-lo, com eficiência,
desprezando-se a colaboração daqueles que conhecem o esquema e dispõem-se a
denunciar co-autores e partícipes. No universo de seres humanos de bem, sem
dúvida, a traição é desventurada, mas não cremos que se possa dizer o mesmo ao
transferirmos nossa análise para o âmbito do crime, por si só, desregrado, avesso à
legalidade, contrário ao monopólio estatal de resolução de conflitos, regido por leis
esdrúxulas e extremamente severas, totalmente distante dos valores regentes dos
direitos humanos fundamentais.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo
Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2008, p. 418).
Ademais, se o Estado não pudesse contar (e incentivar) a delação por parte dos comparsas,
dificilmente seria possível desmantelar organizações criminosas poderosas, com estrutura
hierarquizada de poder, nas quais o chefe da ORCRIM raramente pratica os atos criminosos
pessoalmente, valendo-se sempre de interpostas pessoas e ordens reservadas. Se um integrante da
organização for preso e o Poder Público não tiver autorização para incentivar a delação dos demais
membros, o grupo criminoso estará sempre se renovando, além do que somente serão punidos os
componentes de baixo escalão do crime organizado.
A história revela que o instituto da delação premiada foi imprescindível para que a Itália conseguisse
punir alguns integrantes do grupo mafioso siciliano conhecido como “Cosa Nostra” na chamada
“Operação Mãos Limpas”. Um dos mafiosos, Tommaso Buscetta, após ser preso, celebrou acordo
com o Procuratore Della Repubblica Giovanni Falcone, aceitando delatar seus comparsas e revelar
toda a estrutura e os planos da organização criminosa.
Obs: reitero que basta que UM DESSES CINCO OBJETIVOS SEJA ATINGIDO PARA QUE O
COLABORADOR TENHA DIREITO AO BENEFÍCIO.
BENEFÍCIOS
Poderão ser concedidos ao colaborador os seguintes benefícios (prêmios):
Não oferecimento da denúncia: Se o acordo de colaboração for firmado ainda na fase de
investigação, sendo ele homologado pelo juiz, o Ministério Público poderá deixar de oferecer a
denúncia contra o colaborador. Trata-se de uma exceção ao princípio da obrigatoriedade, segundo o
qual, havendo justa causa, o MP é obrigado a oferecer a denúncia. Para que o MP deixe de oferecer a
denúncia contra o colaborador é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:
• A colaboração deve ser efetiva e voluntária;
• O colaborador não pode ser o líder da organização criminosa;
• O colaborador deve ter sido o primeiro a prestar efetiva colaboração.
Perdão judicial: Se a colaboração prestada for muito relevante, o Ministério Público ou o Delegado
de Polícia poderão se manifestar pedindo que o juiz conceda perdão judicial ao colaborador, o que
acarreta a extinção da punibilidade (art. 107, IX, do CP). Veja a redação do art. 4º, § 2º da Lei nº
12.850/2013:
§ 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o
delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público,
poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que
esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
Redução da pena: Outro benefício previsto ao colaborador é a redução da pena que lhe for imposta.
Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar antes de ser
julgada: sua pena poderá ser reduzida em até 2/3.
Se a colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar apenas depois de ser
condenada: sua pena poderá ser reduzida em até metade (1/2).
Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: O juiz poderá substituir a
pena privativa de liberdade do colaborador por pena restritiva de direitos mesmo que não estejam
presentes os requisitos do art. 44 do CP.
Progressão de regime: Para que ocorra a progressão de regime, o réu deverá ter cumprido
determinado tempo de pena. A isso chamamos de requisito objetivo da progressão.
Para crimes comuns: o requisito objetivo consiste no cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Para crimes hediondos ou equiparados, o requisito objetivo representa o cumprimento de:
2/5 da pena se for primário.
3/5 da pena se for reincidente.
Se o réu já estiver condenado e cumprindo pena e decidir colaborar, ele poderá receber como
"prêmio" a progressão de regime ainda que não tenha atingido o requisito objetivo (§ 5º do art. 4º).
OBSERVAÇÃO: STF entende que, CASO A COLABORAÇÃO SEJA EFETIVA E PRODUZA OS RESULTADOS
"A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já prestadas pelo
colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público." (Min. Dias Toffoli, no HC 127483/PR).
Isso significa que, quando o juiz homologa o acordo de colaboração premiada, não significa que
esteja concordando ou afirmando que as declarações prestadas pelo colaborador são verdadeiras.
Tais declarações ainda serão objeto de apuração.
Oitiva do colaborador
Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor,
ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo Delegado de Polícia responsável pelas
investigações. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá
ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter
maior fidelidade das informações.
e após as diligências for constatada a relevância da colaboração prestada
Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o
Delegado de Polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público,
poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador.
Caso o juiz discorde, ele poderá invocar o procedimento previsto no art. 28 do CPP
remetendo a
manifestação do Promotor de Justiça ao Procurador Geral de Justiça (ou no caso de Procurador da
República, encaminhando a circunstância à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF).
RETRATAÇÃO DA PROPOSTA
Mesmo após a proposta ter sido aceita, alguma das partes pode voltar atrás e se retratar?
SIM. Segundo o § 10 do art. 4º, as partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
desfavor.
RENÚNCIA AO DIREITO AO SILÊNCIO E COMPROMISSO DE DIZER A VERDADE
Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade (§ 14 do art. 4º).
COLABORADOR DEVERÁ SER SEMPRE ASSISTIDO POR ADVOGADO
Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar
assistido por defensor (§ 15 do art. 4º).
VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO: DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVEM SER
CORROBORADAS COM OUTRAS PROVAS
Segundo o § 16 do art. 4º da Lei, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento
apenas nas declarações de agente colaborador.
Assim, as DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVERÃO SER CORROBORADAS POR OUTROS
ELEMENTOS DE PROVA.
Em verdade, mesmo que não houvesse tal previsão, é certo que, para a jurisprudência, a simples
delação do corréu não é suficiente para uma condenação.
"Daí a importância daquilo que a doutrina chama de regra da corroboração, ou seja, que o
colaborador traga elementos de informação e de prova capazes de confirmar suas declarações (v.g.,
indicação do produto do crime, de contas bancárias, localização do produto direto ou indireto da
infração penal, auxílio para identificação de números de telefone a serem grampeados ou na
realização de interceptação ambiental etc.)." (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial
comentada. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 545).
PROCEDIMENTOS
Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal
Importante!!!
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal. Se
no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em dobro, com
mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
3/9/2015 (Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
O CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem procuradores
(advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia diferentes. Veja:
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer
juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
Segundo argumentou o Deputado, ele está sendo acusado juntamente com outra pessoa
(litisconsórcio passivo no processo penal) e os dois réus estão sendo assistidos por escritórios de
advocacia diferentes. Logo, aplica-se perfeitamente o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).
FIANÇA
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
INFORMATIVO 772, STF - IMPOSSIBILIDADE DE PRIVAÇÃO DA LIBERDADE EM CASO DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL
EQUIPARADO AO ART. 28 DA LD.
NÃO É POSSÍVEL APLICAR NENHUMA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA QUE PRIVE A LIBERDADE DO ADOLESCENTE
(internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO DELITO DO
ART. 28 DA LEI DE DROGAS. Isso porque o art. 28 da Lei 11.343/2006 não prevê a possibilidade de
penas privativas de liberdade caso um adulto cometa esse crime. Ora, se nem mesmo a pessoa maior
de idade poderá ser presa por conta da prática do art. 28 da LD, com maior razão não se pode impor
a restrição da liberdade para o adolescente que incidir nessa conduta. STF. 1ª Turma. HC 119160/SP,
Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 9/4/2014 (Info 742). STF. 2ª Turma. HC 124682/SP, Rel. Min.
Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).