A Noticia
Rio de Janeiro
25 e 26 de setembro de 1894.
Edição nº 9 – Ano I
Capa
O Exterior pelo Telegrafo
Roma
A expulsão de anarquista italianos, segundo
o nosso telegrama de hoje, faz recordar que
a origem da anarquia na Itália remonta a
época em que a celebre Internacional
dividiu-se em dois grupos dos quais um, o
que ficou fiel as doutrinas de Karl Marx,
formou o partido coletivista, enquanto o
outro, compreendendo os elementos mais
impacientes e menos cultivados, formou o
núcleo do partido propriamente anarquista.
Uma fração do partido socialista italiano
estava muito bem preparada para abraçar
as teorias destrutivas de toda a organização
social. Enquanto a sua parte ativa
trabalhava pela independência, a literatura
revolucionária estava em grande favor entre
a mocidade da península, desde os livros de
Alexandre Orzen até as brochuras niilista de
Bakunine. E assim foi que a ideia socialista
primeiramente, e em seguida a ideia niilista
foram pouco a pouco acentuar-se na ideia
revolucionária da Itália. Uma parte, assas
considerável, que no movimento da
Comuna em 1871 tomou um grupo de
revolucionários italianos, notadamente
Cipriani, que tornou-se depois o chefe do
anarquismo além dos Alpes, não contribuiu
pouco para formar ali a demagogia dos
centros socialistas, como os Romagne e os
Marche.
Mais tarde a obra foi aumentada pelo
contato com os niilistas russos, sobretudo
de Bakunine, refugiado na Suíça com outros
exilados da Comuna de Paris. Foi surdo o
trabalho da propaganda foram surdas as
primeiras adesões a nova fé. A princípio
nem sequer o poder público dava-lhes
atenção, e quando começou a ver que se
propagava o número de conversos, esse
número já era assustador. Hoje a cisão entre
os dois grupos, os anarquistas e os
coletivistas, é absoluta e completa: mais do
que isso, são inimigos, ao que parece
irreconciliáveis. Entretanto um e outro dão
os maiores cuidados ao governo, sobretudo
os anarquistas que são menos partidários
do que fanáticos. Viu-se ainda há pouco a
jactância de Caserio Santo, o assassino de
Carnot; é essa espécie de cinismo
inconsciente não foi um privilégio dele; é o
característico da Lega em geral e de cada
um de seus membros, que riem e cantam
nas prisões, que não fazem o menor caso
da vida, que respondem com galhofa aos
magistrados e que se mantém firmes no
sistema da denegação absoluta; não há
caso de uma só denuncia de anarquista,
feita por um companheiro. Não há na Itália
jornalismo anarquista propriamente dito,
salvo uma ou outra pequena folha isolada; a
propaganda é feita por brochuras ou por
circulares. Também não há centro
determinado de ação; cada grupo é
perfeitamente autônomo. Portanto, há
evidentemente a falta de unidade..., mas
exatamente isso é que torna a repressão
difícil.
A Noticia
Rio de Janeiro
2 e 3 de outubro de 1894.
Edição 16 – Ano I
Capa
O Ministro dos cultos da Alemanha, Senhor
Bosse, entregou ao conselho universitário
uma informação sobre a entrada do
professor Arons para o partido socialista
militante, pedindo opinião a respeito deste
fato e da contribuição deste professor para
as despesas da propaganda. O conselho,
menos puritano do que o ministro, declarou
que só se preocupava com a capacidade
profissional e moral dos professores da
Universidade e que, quanto às opiniões
socialistas do Senhor Arons, o próprio
governo as deve respeitar, desde que trata
politicamente, transige e faz acordo com os
chefes do socialismo. O ministro calou-se,
mas não perdeu a ocasião de repetir
censuras ao professor e de estranhar o
correto procedimento do conselho
universitário.
A Noticia
Rio de Janeiro
7 e 8 de outubro de 1894.
Edição nº 21 – Ano I
Página 2
Um deputado operário, com tendência para
o socialismo, o Senhor Keir Hardie, leader
do partido do trabalho independente,
levantou na Inglaterra uma questão a
propósito de um fato que não deixa de ser
interessante: descobriu que a viúva de um
soldado inglês, morto em Balaklava, está
empregada já há 15 anos em uma
lavanderia, onde trabalha quinze horas por
dia, a razão de um penny por hora.
Descobriu e comunicou o fato a Rainha
Vitória, esperando que sua majestade
britânica daria a desgraçada mulher o
subsidio de viúva que a nação costuma
conceder em casos idênticos. A rainha,
porém, repeliu a ideia, por intermédio do seu
secretário privado, o Senhor Henrique
Ponsomby. O Senhor Keir Hardi vai
consultar a câmara dos comuns sobre a
oportunidade de uma redução na lista civil.
A Noticia
Rio de Janeiro
23 e 24 de outubro de 1894.
Edição nº 37 – Ano I
Capa
Notícias de Portugal
Greve
Houve uma greve dos operários das oficinas
do caminho de ferro do norte e leste –
Companhia Real. Motivou a greve o fato de
uma ordem pela qual os operários que
faltassem a meio dia de trabalho eram
punidos com a perda do dia. Um dos
mestres da oficina não quis assinar a ordem
e foi suspenso. Os operários com muita
Santiago Salvador Franch
ordem movimentaram-se e conseguiram o
A Noticia
que queriam a ordem foi revogada e o
Rio de Janeiro
mestre foi reintegrado.
29 e 30 de outubro de 1894.
Edição nº 43 – Ano I
Capa
O Exterior pelo Telegrafo
Barcelona
Há perto de um ano, ou, melhor, fará um ano
no dia 7 de novembro, que se deu a
explosão do Teatro Liceu de Barcelona.
Preso, após as peripécias que os leitores
conhecem, foi julgado o seu autor, o
anarquista Salvador e deram-lhe, como
punição do crime perpetrado, a pena de
morte. É já cousa antiga o dizer-se que a
sociedade não tem o direito de tirar a vida a
um criminoso a quem se entende cominar a
pena máxima. Seja a pena de morte um
direito ou um crime, desde que ela subsiste,
desde que é lei e enquanto é lei, está
naturalmente indicado que é para ser
executada.
Portanto não é cousa alguma extraordinária
ou surpreendente que Salvador tenha que
mandar a alma a Deus ou ao diabo, por
intermédio do carrasco. A Espanha é um
país de sonho, em que as fadas ainda
colaboram na lenda em formação e onde
todos os crimes, como todas as paixões,
tem o seu lado romântico. Este anarquista,
que tenta derrubar toda a ordem social do
pais onde nasceu e de que não quer ser –
este sinistro personagem aparece aos olhos
da Espanha como uma figura de legenda,
envolvido numa aureola de audácia que
apavora mas domina, com as proporções
que, na imaginação popular, assumira todos
os bandido celebres e todos os grandes
criminosos da Espanha. É um grande home,
este inepto, que pensou da perversidade
tirar um argumento para uma causa
incompreendida por quantos de seu jaez
tem surgido para vergonha da humanidade
e propaganda dos explosivos pouco
estudados pelo público. E ei-lo grande
homem, não obstante tudo quanto se faça.
Mas as autoridades constituídas – o poder –
em vez de deixarem seguir sem ruído o
processo, tornaram-no um fato, sem cujo
conhecimento dir-se-ia que a espécie
humana corria iminente perigo. E o celerado
– transformado em vítima da atual ordem
social – derivou da humildade em que vivera
a notoriedade de um apostolo. Como se,
porém, tanto estrondo, tanto bombo, como
dizem na Espanha, não sobrará, determina-
se que a execução seja feita no dia 7 de
novembro, dia em que passa um ano sobre
o feito que leva as mãos do carrasco o
dinamitista Salvador!
É o aniversário da explosão, estabelecido
pela autoridade, e reunindo para as
inteligências impressionáveis e sem cultura
da plebe, na mesma data gloriosa, uma
batalha ferida contra a burguesia e a
execução de um mártir. É a consagração do
dinamitismo (que não anarquismo, entenda-
se), é a apoteose dos precursores, é a
glorificação da propaganda pelo fato. De
hoje em diante no calendário anarquista fica
o dia 7 de novembro pertencente a
Salvador! Salvador não morre na guilhotina,
morre no garrote vil. O carrasco cobrir-lhe-á
a cabeça e, sentado, o tronco arrimado a um
poste de metal, sentirá a anilha de ferro do
garrote estreitar-lhe a gorja, e a cada volta
dada pelo carrascos a manivela sinistra, a
anilha denticulada – como se fosse a mão
da morte materializada – mais e mais se
cingirá, até que, os olhos fora das orbitas, o
rosto deformado, a boca hiante e a língua
roxa saindo, haja exalado o derradeiro
folego, estortegando-se impotente para fugir
a asfixia e ao martírio. Sim, ao martírio,
porque até o instrumento da execução em
Espanha pelo seu caráter de resquício
inquisitorial, de tortura de outrora, contribui
para a piedade pelo criminoso, para a
romantização do crime! E ainda, hoje, o
pano preto cobre a cabeça do condenado
aos olhares curiosos. Em tempos idos, era
isto feito as escancaras, à luz gloriosa do sol
e com o único manto, o manto azul do céu
limpo da Espanha. Era cruel e ineficaz.
Quem isto escreve já por três vezes quis ver
executar: duas em Espanha e uma em
Paris. Em Alcalá executava-se um
assassino: era o garrote.
Viu o largo cheio de povo mas não
conseguiu descobrir o local quem que
assentava o garrote vil. Descreveu-lhe um
habitue (ao que parecia) a maquina com
todos os pormenores, como que a manejou.
Teve asco. Mais tarde, em Vicalvaro, a duas
horas de Madrid, pretendeu assistir ao
fuzilamento de um sargento que atirara o
rancho no rosto do capitão da sua
companhia. Chegou a Vicalvaro, viu os
regimentos em formatura, soube que se
quintavam os soldados para a execução e
que se fazia fogo à voz: apontar! Achou
infame e covarde. Foi para longe, entrou
numa casa e, enquanto não ouviu a
descarga, permaneceu com o vago mas
terrível receio de ver aquilo.
Em Paris foi a execução de Anastay. Ia com
um amigo espanhol que lhe dissera da
guilhotina o que todos sabe. Ele já vira uma
execução, a de Prado, e achara curioso o
processo e nada triste. De novo não
conseguiu ver a operação; lá estava o
couperet, e esse resplandecente; la via a
lunette, mas a execução, Anastay na
guilhotina, isso não pode ver, não obstante
a grande curiosidade que o espicaçava. Ali
já não havia repugnância. Era uma manhã
fria e toda a praça da Roquette estava cheia
de povo. Uma canalha ignóbil cantava aqui
e além. Canções da miséria e do crime.
Agora, a Ladainha dos condenados, tão
popular, e depois as Matinas dos que
viveram do amor, que os rufiões de Paris
entoaram naquele alvorecer sereno em que
um camarada da la haute caia nos braços
da veuve, como pitorescamente qualificam a
guilhotina, que, de fato enviúva a cada
consórcio.
E mais esta e aquela canção: Les petits
chagrins, tão doce e alada poesia, La ronde
des marlous, lamentação de uma ironia que
escorre sangue e pus, e perto e longe, em
toda a parte, numa fúria de condenadas,
todas aquelas mulheres tresnoitadas caiam
no mesmo estribilho de Brant: Ils s’em vont
tous de la Villette à la Roquette! Era o café
concerto, na Praça da Roquette. Havia
alegria e ninguém estranhou, ao voltar,
aquele justice a été faite com que o jornal de
Rochefort abriu a notícia da execução. A
guilhotina é a limpeza ... nas execuções.
A Noticia
Rio de Janeiro
21 e 22 de novembro de 1894.
Edição nº 66 – Ano I
Capa
Congresso Socialista
O congresso, que acaba de finda, dos
socialistas alemães, dominado pelas ideias
oportunistas de grupo dirigido por Vallmar,
aceitou as bases de um programa novo, não
somente o respeito pela pequena
propriedade, mas ainda medidas protetoras
a essa propriedade; respeito também pela
religião, deixado ao livre arbítrio de cada um
e proibição dos ataques, tão nocivos a
propaganda, que os ateus e os livre
pensadores do partido costuma dirigir contra
ela. É essa a característica do congresso,
que ocupara, como disse o presidente
Singer, um importante lugar na história do
socialismo alemão.
A Noticia
Rio de Janeiro
24 e 25 de novembro de 1894.
Edição nº 69 – Ano I
Capa
Notícias de Portugal
O ilustre escritor e estadista Senhor Antônio
de Serpa Pimentel acaba de publicar um
interessante folheto intitulado o Anarquismo.
É oferecido a Oliveira Martins, e foi editado
pela Casa Bertrand, do Chiado, de que é
hoje proprietário José Bastos. A capa do
folheto está de harmonia com o título da A Noticia
obra; é muito escura. Antônio de Serpa Rio de Janeiro
declara que seu fim e apenas discutir um 25 e 26 de novembro de 1895.
pouco o anarquismo, acentuar bem o que se Edição nº 70 – Ano I
separa do socialismo e concluir o que se lhe Página 2
afigura dever ser no futuro a única solução O Senhor Crispi atirou também o seu golpe
possível da questão social. de teatro: dissolveu de um só golpe 275
sociedades operárias, socialistas, etc., em
todos os pontos do reino, sem distinção, em
virtude da lei sobre as associações
dedicadas ultimamente a causa dos
anarquistas. Esta medida causou
considerável emoção e tornou-se inútil a se
poder dizer que foi um ponto de partida para
novos ataques furiosos e violentos contra o
ministro. Por outro lado, jornais mesmo
muito moderados tem achado que a medida
foi demasiado forte. Esta media poderia
perfeitamente trazer a criação de
sociedades secretas, de que, como se sabe,
a Itália é a terra clássica.
A Noticia
Rio de Janeiro
3 e 4 de setembro de 1895.
Edição nº 227 – Ano II
Capa
Greve em S.Paulo
São Paulo, 3 – Os cocheiros e condutores
de bondes da Companhia Viação Paulista
declararam-se em greve. Alegaram, como
motivo, as continuas multas que sofrem,
com o fim, segundo afirmam de lhes serem
reduzidos os ordenados. Os grevistas
mantêm-se em atitude pacífica, percorrendo
as ruas próximas ao local da companhia, na
melhor ordem. Está suspenso o serviço dos
bondes visto não ter ainda a companhia
chegado a acordo com os grevistas nem
conseguido obter substitutos dos mesmos.
Até agora a polícia não tomou providência
alguma.
A Carne Verde
Por uma clausula bastante expressa do
compromisso que há tempo tomaram para
com a intendência, compromisso que ainda
está de pé, os retalhista de carne verde
obrigaram-se a venda avulta da carne ao
consumidor particular, por mais cem réis,
apenas, sobre o preço de cada quilo, em S.
Diogo. Há número já bem regular de dias
que a carne no depósito de São Diogo é
vendida aos retalhistas por preços que
variam de quatrocentos e pouco a
quinhentos réis, e apesar dessa queda
favorável ao consumidor que
resignadamente tem suportado o preço
elevadíssimo de novecentos e mil réis,
continuam os açougueiros a cobrar os
preços antigos, com o maior menoscabo
pelo compromisso que tomaram, pela
fiscalização da intendência e pela bolsa do
público, que é afinal a fonte inesgotável de
onde tiram inconscientemente os mais
gananciosos lucros. Os negócios municipais
são felizmente dirigidos por um funcionário
digno, incapaz de permitir a continuação
deste grave atentado aos interesses dos
seus munícipes e por isso estamos certos
de que revelada a irregularidade, ela não
tardará em cessar, a contento de toda a
população desta capital.
 A Noticia
Rio de Janeiro
16 e 17 de outubro de 1895.
Edição nº 265 – Ano II
Página 2
Está terminada a greve dos operários dos
estaleiros de Ferrol (Espanha).

A Noticia
Rio de Janeiro
20 e 21 de setembro de 1895.
Edição nº 242 – Ano II
Capa
O exterior pelo telegrafo
- A greve dos vidraceiros de Carmaux
aumenta. Foi votada a continuação da greve
até seram satisfeitas as reclamações
operárias.

- No dia 17, primeiro aniversário da

execução de Cesário, a polícia italiana
prendeu, em Ancona, um tal de Umberto
Boletim Operário
Bernadelli, que colocava nas esquinas
cartazes nos quais fazia a apologia do Edição nº 569 - Ano XI

atentado contra Carnot. Enquanto se fazia Caxias do Sul, 26 de outubro de 2019.

essa prisão, rebentava uma bomba diante Rio Grande do Sul

do consulado de França, bomba que não Brazil

causou prejuízos.