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Comissões Judicativas
Copyright © 2000 Cid Miranda
Esse texto bíblico opõe-se à prática comum de certas religiões que exigem que
seus adeptos relatem seus pecados a pastores encarregados do rebanho, de
forma privativa, secreta.
"Privativa"? "Secreta"?
Isso pode soar estranho para algumas pessoas mas é exatamente o que ocorre,
por exemplo, aos membros "transgressores" da organização Torre de Vigia, as
Testemunhas de Jeová. Elas apelidaram seus confessionários de "audiências
judicativas" e quando um membro batizado incorre em erro sério, há então um
"caso de comissão judicativa". Três anciãos [dirigentes locais] que, na maioria dos
casos, pertencem à mesma congregação desse membro 'infrator', se auto-
revestem de autoridade e então convocam o transgressor para um julgamento no
qual será decidida a permanência dele como "membro aprovado" da organização
ou se haverá expulsão, desassociação.
As várias instruções sobre os inúmeros casos que devem ser levados a uma
audiência judicativa são dadas no manual "secreto" dos anciãos (dirigentes locais)
intitulado: "Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho" (KS), páginas 92
a 102.
Temos hoje em dia tal arranjo dirigido "diretamente" por Deus? Não. Mas as
Testemunhas de Jeová acreditam que todas as instruções de seu Corpo
Governante em Brooklyn NY, têm "orientação divina" e, como conseqüência dessa
crença, muitas delas permitem que sua privacidade e vida íntima sejam
devassadas por meio deste "arranjo teocrático" de audiências judicativas. O mito
de que estão servindo aos interesses do Reino de Deus por se confessarem
diante de seus dirigentes mostram, no entanto, resultados que estão longe da
aprovação divina. De que resultados estamos tratando aqui? Vejamos...
Muitas Testemunhas de Jeová têm vez após vez descoberto que se tornam
VÍTIMAS de suas próprias confissões abertas, nesses arranjos de comissões
judicativas considerados por elas como "arranjos amorosamente providos pela
direção teocrática" da organização de Deus, a Torre de Vigia.
Vítimas, por exemplo, da constante quebra de sigilo por parte daqueles a quem
elas confiaram seus "pecados secretos, ocultos". Também, vítimas de evasão
(in)voluntária de sua vida pessoal e de seus segredos que, muitas vezes, são
explorados e espalhados de forma vergonhosa através de "tagarelice maldosa" (é
assim que as próprias TJ chamam as fofocas dos companheiros de
crença) dentro e além das portas dos Salões do Reino das Testemunhas de Jeová.
Imperfeição ou não, o fato é que sempre há pessoas que derivam prazer mórbido
das tagarelices sobre os erros e pecados alheios sem o menor escrúpulo, a ponto
de manchar permanentemente o nome e reputação de pessoas que, pasme o
leitor, professam a mesmíssima fé e alegam ostentar "o sinal identificador do
verdadeiro cristianismo, O AMOR".
É claro que apenas falar da vida alheia é uma tendência muito comum e por que
não dizer, quase inerente ao ser humano. Afinal de contas, "todo mundo fala de
todo mundo", diz um adágio popular que parece ter bastante fundamento. A prova
disso é a grande vendagem dos tablóides e revistas de fuxicos sensacionalistas
que satisfazem a voraz curiosidade de alguns pela vida particular de seus
semelhantes.
Muitas Testemunhas parecem querer estar sempre sob o manto protetor daqueles
que sustentam a luminosa "aura de pureza", os presenteados com a etiqueta de
"aprovados". Daí, no desejo de também receberem esse selo máximo, lutam para
entrar nos moldes do restante do grupo que "teocraticamente" se sujeita às
diretrizes da autoridade eclesiástica de Brooklyn, Nova Iorque, o Corpo Governante
das Testemunhas de Jeová.
Mas como se relaciona tudo isso até aqui com as confissões em audiências
judicativas? Onde se encaixa toda essa análise nessa questão? Ora, é simples.
Tudo que analisamos até agora faz parte do processo engenhosamente
confeccionado que move uma Testemunha de Jeová a expor seus pecados e sua
vida íntima aos homens da dianteira de sua tão pura e especial congregação.
Afinal de contas, na cabeça de uma Testemunha, revelar pecados ocultos traz
múltiplas vantagens: não bloqueará a ação do espírito santo de Deus na
congregação; permitirá que homens habilitados, "amorosos" e fiéis continuem a
manter a "pureza do povo de Deus"; dar-se-á à Testemunha transgressora, uma
excelente oportunidade de mostrar humildade, sujeição aos arranjos teocráticos e
à "disciplina da parte de Jeová"; e, se ela realmente fôr fiel, poderá ser perdoada
quiçá garantindo sua passagem para o vindouro paraíso de delícias prometido na
Palavra de Deus...
Essa é apenas uma das múltiplas facetas e configurações das comissões de
julgamento da Torre de Vigia.
Conforme podemos perceber, tudo isso conspira contra a liberdade cristã e por
isso mesmo a Testemunha de Jeová (fiel à organização) não acha outra saída
senão a penosa confissão.
Essas ameaças veladas são extraídas do "livro dos anciãos" (provido apenas a
esses dirigentes locais) e são muitíssimo severas. Por que isso?
"A pureza da congregação deve ser mantida para que nossa organização não se
torne igual às outras religiões permissivas da cristandade". Essa é a crença
calcificada e para que tudo isso ocorra sempre assim, todo e qualquer esforço vale
a pena.
Todavia, penso que os homens que usam esse referido manual estão, em sua
grande e esmagadora maioria, despreparados para "cuidar" de casos que vão
além dos meros diagnósticos de rotina como "doença espiritual", "fraqueza da
carne", "iniqüidade", "falta de humildade", etc.
Nunca fui réu em uma audiência judicativa. Era sempre juiz de meus irmãos e isso
hoje muito me envergonha. A alguns deles eu fiz questão de pedir pessoalmente
perdão. Como ancião, cheguei a me questionar várias vezes sobre os fatores
emocionais e psicológicos que deixavam de ser cuidados ou sequer considerados
em tais comissões. Muitos transcendiam e requeriam muito mais do que a
disciplina ministrada, ou "ajuda espiritual" disponibilizada através de nós, pastores.
Só hoje me dou conta do quanto éramos desconhecedores da delicadeza e
complexidade de áreas melindrosas da psique humana. Não me parece ético
relatar casos. Não o farei. Quando me recordo de alguns, eles me parecem
bastante surrealistas, mas isso é tudo que posso dizer.
Não é à toa que alguns sites da internet alertam para o perigo da falta de
tratamento adequado que já fez vítimas fatais, não só nas questões de saúde
ligadas à proibição de transfusões de sangue, como algumas após tais
comissões:
http://www.abaweb.com/WATCHTOWERvictimsMEMORIAL
Durante os anos em que agi como juiz em comissões judicativas, pude observar
que as Testemunhas de Jeová chamadas para julgamento, às vezes chegavam à
beira de um colapso nervoso comumente temperado com angústia e depressão.
Havia intensa ansiedade e medo de um resultado adverso no julgamento. Para
essas pessoas, as comissões judicativas tornavam-se iguais às torturantes e
desumanizantes câmaras de confissão da inquisição da idade média.
E o que fazem esses juízes incontáveis vezes? Devassam a vida íntima e pessoal
de "concristãos", muitas vezes jogando a dignidade de seus irmãos de fé no lixo
ao passo que violam e rasgam a consciência de co-associados em prol da
manutenção de uma total conformidade de grupo.
Diante desse quadro, uma das conclusões razoáveis a que se chega é: esses
despóticos tribunais fabricados por homens, e não por Deus, desonram a Ele pelo
que são e por todo o mal que fazem às pessoas.
O pior é que, quando uma ovelha transgressora confessa seus pecados a tais
"amorosos juízes" e esses "amorosos juízes" então repassam as humilhantes
confidências íntimas do réu aos curiosos de plantão, a tagarelice generalizada,
mordaz, destrutiva e maldosa viaja de uma congregação a outra velozmente, com
dimensões bem maiores e em versões muito apimentadas.
Bem, geralmente ele poderá levar o açoite dos falatórios pelo resto de seus dias; o
pesar e os transtornos cíclicos podem continuar indefinida e permanentemente.
Para tristeza de muitos, esse pode ser o preço pago pela sincera obediência às
normas de uma organização autoritária que exerce o poder forense, judicial sobre
seus membros.
E o que dizer dos casos revelados a outrem, curiosos de fora das comissões?
Na verdade, os casos revelados motivam cada vez mais artigos em "A Sentinela" e
"Despertai!" que trazem receitas de "Como Evitar Ter Dupla Personalidade",
"Como Viver apenas para 'Jeová'" (leia-se "organização"), etc.
Os homens podem errar e ser julgados pela organização para que ela se mantenha
sempre "limpa". E a organização? Qual o exemplo que ela dá nesse sentido?
Permite ser julgada ou receber o escrutínio de seus membros mais zelosos e fiéis?
O que dizer dos graves erros cometidos por ela?
Mas como "erros da Torre de Vigia"? Ora, os erros são sempre atribuídos a
"irmãos descuidados, imperfeitos e pecadores", nunca à organização, pois
organização é um "conceito abstrato".
Um fato notório é que a Torre de Vigia tem feito que se acredite que, pessoas
desassociadas por ela, e que saem revelando coisas vergonhosas como essa,
pareçam estar simplesmente "VITUPERANDO O NOME DE DEUS". Desse modo,
ela se protege e permanece intocável e pura aos olhos tanto dos de dentro quanto
dos de fora.
Mais uma vez, nenhuma Testemunha ousará falar da organização com medo de
estar falando contra o próprio Deus!
Enquanto isso acontece, a organização jubila ao expor os podres de seus vizinhos
que também têm telhados de vidro.
Suscito a hipótese de que, por causa do mal causado por comissões judicativas,
pelo legalismo religioso, etc, alguns membros têm escondido seus pecados,
deixando simplesmente para "acertar as contas com Jeová no dia de Seu
julgamento".
Isso tem gerado outro mal inevitável que também advém de métodos de
espezinhamento de sentimentos humanos: a corrupção e hipocrisia religiosas. Eis
aí o porquê de algumas Testemunhas terem se reportado à "sensação de que
alguns no salão do Reino pareciam às vezes estar usando máscaras".
É bem verdade que uma grande parte da humanidade tende a usar e abusar de
"máscaras". Ninguém gosta de se expor. Isso é, de certo modo, compreensível,
mas só até certo ponto.
Perda de membros e revolução interna. Isso é o que acontece quando uma religião
ordena que seus adeptos confessem seus pecados a homens despreparados para
interferir em assuntos pessoais que só dizem respeito a eles mesmos e Deus.
Isso é o que ocorre quando uma religião alega estar usando a "orientação do
espírito santo de Deus" e submete seus membros a confissões de seus mais
íntimos segredos aos representantes oficiais dela, quase sempre desqualificados
e alguns tagarelas.
2. Há algum mérito em se induzir alguém a mitigar sua índole, seu caráter ou sua
consciência perante Deus para se moldar à conformidade de um grupo como
ocorre quando há a acusação de "apostasia"?
5. Não coíbe essa eterna ameaça de comissões judicativas o uso das "faculdades
para se discernir tanto o certo quanto o errado" como diz a Bíblia? (Hebreus 5:11-
14)
6. Não produz tudo isso, muito mais aflição nas mentes e corações dos mais
sensíveis?
8. Mais importante ainda, onde se diz na Bíblia que os cristãos deveriam, no que
se refere aos seus pecados, proceder passo a passo como delineado no caso de
uma comissão judicativa, chegando o réu a dar detalhes íntimos embaraçosos
como "quando fez, se houve toque ou carícias em áreas erógenas, se houve
penetração, se houve orgasmo, onde se fez isso ou aquilo, durante quanto tempo
continuou-se no pecado, se o pecado foi voluntário, se a pessoa faria de novo, se
ela aceita a 'repreensão pública' (que será dada da tribuna) e a imediata 'perda de
todos os privilégios' como 'disciplina da parte de Jeová', etc?
9. Onde manda a Bíblia que se descreva o pecado (às vezes com riqueza de
detalhes) em pedaços de papel (formulários S-77-T e S-79-T que às vezes seguem
junto com uma carta descritiva adicional) que são guardados como arquivo tanto na
congregação local como na sede nacional da organização, como se a pessoa
depois do julgamento, necessariamente passasse a merecer essa ficha "policial"?
10. Onde fica a questão dos direitos humanos dados pela constituição do país?
Em conclusão, lembro as palavras de Paulo a todo cristão que estiver lendo agora
essa página:
"Ora, para mim é um assunto muito trivial o de eu ser examinado por vós ou
por um tribunal humano. Até mesmo eu não me examino a mim mesmo.
Pois não estou cônscio de nada contra mim mesmo. Contudo, não é por
isso que eu seja mostrado justo, mas quem me examina é Jeová." (1
Coríntios 4:4, 5 Tradução do Novo Mundo)
Sábado, 17 de Agosto de 2013 Última Atualização: 15 de Fevereiro de 2010 Visitante Nº: 176151