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CASO PRÁTICO PARA AVALIAÇÃO

— ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA —

Ano letivo 2014/2015

António e Bento são amigos e vizinhos, vivendo em duas casas geminadas.


Ambos praticam ciclismo e compraram 2 bicicletas idênticas, aproveitando
uma promoção.
Certo dia, a bicicleta de António estava no jardim e Carlos, não vendo
viv’alma, resolve aproveitar e dar umas voltas com a bicicleta. No final da
tarde, 4h depois, coloca a bicicleta, por engano, no jardim de Bento e segue,
contente, para casa, porque já tinha andado a ver bicicletas e estava a planear
alugar uma a 10€ por hora (mais barata que o valor médio de mercado, que ronda
os 20€ por hora).
Bento regressa e verifica que a bicicleta, além de desarrumada, está a precisar
de pequenas reparações (pintura, óleo novo, desamolgagem, etc.). Não se
recorda da ocasião em que a bicicleta ficou assim, mas admite que possa ter
sido um dos seus filhos. Antes do jantar repara a bicicleta.
Apenas no dia seguinte, ao dar de caras com a sua bicicleta, arrumada na
garagem, percebe o engano e dirige-se a António, a quem pede 150€ pelo
arranjo da bicicleta.
Admita que o arranjo tem o valor de 150€, que a bicicleta antes do arranjo
valia 200€ e depois do arranjo vale 220€. António alega nada dever, uma vez que
já tinha combinado com o seu primo Rodinhas, especialista em arranjos de
bicicletas, que este lhe arranjaria a bicicleta de graça.

Quid juris?
TÓPICOS DE CORREÇÃO

(estes tópicos são indicativos. Serão aceites outras respostas que partam de
pressupostos diferentes, desde que a letra do caso prático o permitisse e estejam
devidamente justificados)

Identificar duas situações de ESC: a de Carlos (A empobreceu) e a de António (B


empobreceu).

Quanto a Carlos,

1. Verificar se estão preenchidos os pressupostos do 473.º/1.

(i) Enriquecimento: aumento da situação patrimonial de Carlos, suscetível de


avaliação pecuniária.
(ii) Empobrecimento: diminuição patrimonial de António, suscetível de
avaliação pecuniária, que pode ser explicada com recurso à teoria do
conteúdo da destinação. Ou seja, se houver vantagens que foram desviadas
de uma esfera jurídica (empobrecido) para outra (enriquecido), há
empobrecido. É o que acontece no caso. As vantagens do aproveitamento
da bicicleta foram desviadas da esfera de António para a de Carlos.
(iii) À custa de outrem: este requisito exprime uma relação entre os futuros
credores e devedores da obrigação de restituir.
(iv) Imediação: não é necessária uma relação direta entre enriquecido e
empobrecido. No caso, não se colocava nenhum problema relacionado com
este pressuposto, pelo que não era necessário autonomiza-lo.
(v) Falta de causa: não existia nenhuma norma (regra ou princípio) no
ordenamento jurídico que permitisse que C utilizasse a bicicleta de A sem a
sua autorização.

Conclui-se que estamos perante uma situação de ESC.


Coloca-se um problema de subsidiariedade: C cometeu um ato pelo qual pode ser
responsabilizado civilmente, pelo que teremos de questionar se, ainda assim, se pode
aplicar o instituto do ESC (474.º). A resposta é positiva porque se deve fazer uma
interpretação restritiva do 474.º e considerar que quando o instituto do ESC for mais
favorável ao empobrecido este pode optar por ele.

Havendo ESC, tem que haver obrigação de restituir.


Princípio geral na obrigação de restituir: restituição em espécie: 479.º/1, 1.ª
parte.
Só não haverá restituição em espécie quando esta não for possível (479.º/1, 2.ª
parte) ou for demasiado onerosa (566.º/1 analogicamente).
No caso, a restituição em espécie não é possível. C já utilizou a bicicleta, não
há como voltar a trás.
Por isso, C tem de restituir o valor correspondente.
Qual o momento relevante para averiguar qual o enriquecimento dos
intervenientes?
Momento em que há conhecimento da falta de causa do enriquecimento (480.º
ex vi 479.º/2). No caso, como C tira uma bicicleta do jardim de um desconhecido, há
má fé. C enriqueceu com consciência que não havia nenhum motivo para tal.
Logo, aplica-se o 480.º: C é responsável pelo perecimento ou deterioração
culposa da coisa, pelos frutos que por sua culpa deixem de ser percebidos e pelos juros
legais das quantias a que o empobrecido tiver direito. No caso, a bicicleta não se
deteriorou devido à utilização de C, pelo que este não é responsável1.
Medida da obrigação de restituir. Recorremos ao triplo limite:
1.º Enriquecimento em concreto: 40€.
Diferença entre o património atual do enriquecido e o património atual
hipotético.
Património atual de C: está igual a antes de ter usado a bicicleta porque não
gastou dinheiro no aluguer.
Património atual hipotético: num cenário hipotético C não teria visto aquela
bicicleta e teria alugado outra e pago 40€ (4 x 10€/hora).

1
Seria admissível que defendessem que A deixou de perceber frutos devido à utilização da bicicleta por
C, porque deixou de a alugar a outra pessoa, caso em que deveria ser responsável em 80€. Mas o caso
não indica que A tivesse intenção de alugar a bicicleta a ninguém.
Logo, a diferença entre os dois patrimónios seria de 40.

2.º Empobrecimento em abstrato: 80€.


A teoria do conteúdo da destinação determina que deve ser contabilizado o valor
de mercado de utilização de uma bicicleta daquele tipo durante 4h, porque houve uma
vantagem que foi desviada da esfera de A para a esfera de C. O valor de mercado do
aluguer de bicicletas daquele tipo é 20€/hora. Logo, 4h valeriam 80 €.

3.º Empobrecimento em concreto: 0


Diferença entre o património atual e o património atual hipotético de A.
Como A nunca teria alugado a bicicleta (ela estava abandonada no jardim), o
reflexo efetivo que a atitude de C tem no património de A é de 0.
(Quem admitiu que C causou danos na bicicleta teria de computar aqui esses
danos)

Entre os dois valores de empobrecimento escolhe-se o superior


(empobrecimento em abstrato: 80).
Entre o empobrecimento superior (80) e o enriquecimento em concreto escolhe-
se o inferior. No caso, 40.
Assim, C terá de restituir 40.

Quanto a A,
B realizou uma benfeitoria útil à bicicleta: 216.º/3. Como a benfeitoria não pode
ser levantada, aplicam-se as regras do ESC (1273.º/2). A enriqueceu, B empobreceu.
Obrigação de restituir? Recorremos ao triplo limite:
1.º Enriquecimento em concreto: 0
Património atual de A: bicicleta que vale 220.
Património atual hipotética de A, se B não tivesse reparado a bicicleta: bicicleta
no valor de 220 e não teria gasto nada para arranjar a bicicleta porque Rodinhas a ia
arranjar de graça.
Logo, a diferença entre os dois patrimónios é de 0.
2.º Empobrecimento em abstrato: 150
Valor de mercado do arranjo da bicicleta.
3.º Empobrecimento em concreto: 150 + juros de ter o dinheiro a render no
banco.
Se B não tivesse arranjado a bicicleta teria 150 euros no seu património e
eventualmente teria recebido juros por ter o dinheiro a render no banco.

Entre os dois empobrecimentos escolhe-se o superior: 150. Entre o


empobrecimento superior e o enriquecimento escolhe-se o inferior: o enriquecimento
de 0.
Logo, A não vai ter de restituir nada a B.

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