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docente
http://www.justificando.com/2019/10/03/sobre-o-desaparecimento-da-profissao-docente/
Formalmente os docentes são sujeitos que passam grande parte do seu tempo atuando
no ensino como sua ocupação principal, seu modo de vida. Os docentes trabalham sob
um sistema de leis e dispositivos que marcam a sua função, acompanhando parâmetros
de formação, o que os ligam a cursos, workshops, certificações, etc. ao longo de toda uma
carreira. São perseguidores, e perseguidos, até mesmo oprimidos de certa maneira, pelos
excessos de inovações pedagógicas. Sempre correndo atrás de novas portarias, decretos,
reformas pedagógicas.
Docentes são reconhecidos como categoria de trabalho. São norteados por bases éticas.
Se reuniram também, historicamente, de maneira corporativa, atuando e sendo abrigados
por entidades sindicais de proteção.
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desse monopólio profissional, principalmente exercido em escolas, normalmente saem
às ruas. Esses profissionais podem aceitá-las, rechaçá-las, modificá-las a depender do
contexto de sua ação e a conjuntura histórica. Professores tem o poder de ser, para o bem,
para o mal, competentes ou não, transformadores do seu próprio universo de trabalho, e,
ainda que se pudesse descartar a ideia de “corpo coletivo reivindicativo”, estão atentos à
liberdade de sua prática de ensino.[1]
Por ser uma força social decisiva, no sentido de formação de coletivos e difusão de
conhecimentos, não me estranha que a categoria profissional passe por um processo de
deslegitimação, até mesmo de desaparecimento no mundo atual.
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social. Homeschooling está na pauta. O termo “professor” está desaparecendo por essas
quase prescrições. No aspecto semântico o termo “professor” está perdendo força.
Para além da crítica à imediata ligação de tal escola à prática empresarial, minha pergunta
se volta à ausência dos professores. Por quê?
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O ideal tipo da “escola neoliberal” se apresenta com esse vocabulário de práticas
empresariais. Destacam-se as ideias de “flexibilidade”, “individualidade”,
“empreendedorismo”. Tem por fim preponderante “formar mão de obra qualificada”.
Mas, ao professor cabe uma formação acelerada do tipo “residência pedagógica”.
Enquanto isso, prega-se um uso intenso de máquinas educacionais do gênero TICs.
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tais créditos; pela construção de espaços publicitários nas escolas; a venda de livros; pela
enormidade de venda de implementos cartelizados: smartphones, tablets, sistemas
operacionais, servidores de wi-fi, lobismo etc..
Hoje, as expectativas de lucro com a educação são bilionárias. A revista Forbes diz que o
mercado de E-learning baterá a marca de $325 bilhões de dólares até 2025 nos Estados
Unidos. A progressão de efetivos é considerável, pois desde os anos 1950, que o número
de alunos aumentou duas vezes mais rápido do que a população mundial, passando de
250 milhões para cerca de 1,2 bilhões no fim dos anos 1990. Em 2012, 316,1 milhões de
alunos de 12 a 15 anos estavam anos matriculados na escola[5]. A World Education
Market (WEM), sediada em Vancouver, delineia estratégias para favorecer transações
comerciais no domínio da Educação com o objetivo de somar US$ 90 bilhões no ano de
2005 com a clara ideia de emergência da aprendizagem com o uso de novas
tecnologias[6]. Para se ter um parâmetro nacional de lucros, a Somos Educação, empresa
que teve o seu controle vendido para outra gigante do ramo, a Kroton, registrou, em 2018
no primeiro trimestre, um lucro líquido de R$ 113 milhões, o que representa aumento de
40,2% quando comparado ao primeiro trimestre de 2017. A receita da Somos avançou
8,7% no intervalo, para R$ 568,7 milhões[7].
Por isso, há que desconfiar do que está em jogo quando esses “consultores de
investimento” clamam pelas reformas educacionais. O deslocamento da ação pedagógica
para aprendizagem, para o livre processo de conhecimento dos alunos, não é apenas uma
“inovação pedagógica” que visa a melhoria da educação. É também um processo de ganho
desses grupos. Ele faz do corpo discente um terreno aberto, sequencial, seriado,
ininterrupto de consumidores. Os alunos são verdadeiras commodities humanas. Esses
grupos entendem que os docentes apresentam certas qualidades que estão na contramão
da nova escola empreendedora, meritocrática e individualizadora de corpos. Busca-se
destruir o senso de solidariedade da categoria e suas associações e sindicatos minguam
com eles. Afinal, uma coisa é você focar diretamente a ação de venda de produtos
escolares junto aos professores pensando o ensino; a outra é anunciar a melhoria da
educação imediatamente aos alunos, os tais “efeitos” espalhados pelo globo. Não há
bondade no plano do capital.
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Todos esses exemplos estão somados à prática brasileira de vilipendiar os docentes como
os “mensageiros da perdição”, porque tem conhecimentos críticos; “imorais”, porque
falam sobre as desigualdades pautadas no gênero, em raça, em classe, falam de direitos
sociais, de história; “doutrinadores”, quando indicam a violência social, apontam as
injustiças de trabalho e renda, quando defendem homossexuais e transgêneros etc.. A
categoria docente tem sido violentamente atacada, inicialmente, por “incompetência”.
Caso seja isso mesmo, esse elemento tem que ser dividido com toda a sociedade, pois se
trata do lento processo de desprestígio da categoria do qual todos nós participamos e
deixamos acontecer.
A OCDE diz que 12,5% dos professores ouvidos em nosso país disseram ser vítimas tanto
de agressões verbais quanto de ameaças de estudantes ao menos uma vez por semana.
Comparado 34 outros países é o mais alto índice – a média entre eles é de 3,4%. Há ainda
a ocorrência de que só 5% dos jovens brasileiros de 15 anos gostariam de seguir a
carreira docente segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
(27/07/2018).
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Mas, há caminhos combativos na luta pelo nosso ofício. A pretensa “qualidade
educacional” da escola neoliberal é, por si só, um “projeto”. Não estamos falando de
“inevitabilidades”. Mais ainda, pesquisas acadêmicas apontam que esses tais “novos
reformadores da educação” realmente tem problemas com a “política da escola”, com o
currículo em ação. O poder de vida de uma escola é uma substância combativa às políticas
privatistas de educação. Há culturas escolares, principalmente de caráter público, que são
resistentes às modificações determinadas por metas. Professores, por sua própria
designação profissional, um coletivo, são contrariantes a esse tipo de dissolução social.
Ao que parece, nem sempre as metas empresariais fluem bem fora de ambientes quase
laboratoriais, na assepsia regulada de escritórios. Ações coletivas, comunitárias, ainda
são decisivas para o fracasso desse plano de extrema valorização do indivíduo.
Notas:
[1] Antônio Nóbrega tem muito a ver com essa passagem sobre a profissão docente, bem como a profa. Libânia
[2] Para o caso de aprofundar essa questão vale a leitura de Raymond Williams.
[3] “O professor é um acessório ultrapassado?”. Pensar a Educação Em pauta. Ano 5 nº 150 – 10/03/2017
[4] Para saber mais, segue: MEC reúne secretários e entidades do terceiro setor. Publicado em 30/04/2019.
terceiro-setor/
[6] Ver em LAVAL, Christian. A Escola não é empresa. O neoliberalismo e o ataque ao ensino público. Londrina: