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EDWARD H.

WHITE REALIZANDO O PRIMEIRO PASSEIO DE UM SER HUMANO NO ESPAÇO, EM


03/JUN/1965. EM SUA MÃO DIREITA O ASTRONAUTA SEGURA UM DISPOSITIVO PARA AJUDÁ-
LO A SE MOVIMENTAR NESTE AMBIENTE DE GRAVIDADE REDUZIDA. FONTE: NASA
APRENDA FÍSICA

Gravidade

ARTHUR GAIA MOLINA


EDER CASSOLA MOLINA
Prefácio “[. . .] Que a gravidade possa ser inata, inerente e essencial à matéria,
de modo que um corpo possa atuar sobre um outro à distância no
vácuo sem a mediação de qualquer outra coisa pela qual sua ação e
força possa ser transportada de um para outro, é para mim um absurdo
tão grande que eu acredito que nenhuma pessoa que tenha uma
faculdade competente de pensamento em assuntos filosóficos possa
jamais cair nele. A gravidade deve ser causada por um agente que atua
constantemente de acordo com certas leis, mas se esse agente é
material ou imaterial, eu deixei à consideração de meus leitores.”

(Carta de Newton a Bentley, 25 de fevereiro de 1693, reproduzida em Newton


1959–1977, vol. 3, p. 253–4. Citado por Martins, R.A., “A maçã de Newton:
história, lendas e tolices”)

Este livro nasceu das ideias e discussões de um dos autores (AGM) com seu professor do
Ensino Médio, o guru Adelson Alves de Oliveira, que o estimulou a levar o projeto adiante. O
fato do outro autor (ECM) estar iniciando os seus primeiros passos na edição de livros
eletrônicos permitiu a realização deste projeto. Os autores agradecem a Fernando Brenha
Ribeiro e Roberto Dell’Aglio Dias da Costa por sua cuidadosa e crítica revisão do texto, Mike
Molina pelas imagens elaboradas, Herbert Jorge Ferreira pela foto do gravímetro, e a Dino
Molina por seu constante encorajamento e companhia.

i
Dedicatória

Este nosso primeiro livro eletrônico é dedicado a todas e todos que nos
apoiaram, seja com um ato de incentivo, seja com um sorriso de “isso nunca
vai dar certo... sonhadores!”.

São Paulo, outubro de 2014

ii
© Eder Cassola Molina e Arthur Gaia Molina - 2014

O material apresentado neste livro pode ser reproduzido livremente desde que citada a fonte.
As imagens apresentadas são de propriedade dos respectivos autores e utilizadas para fins
didáticos. Caso sinta que houve violação de seus direitos autorais, por favor contacte os
autores para solução imediata do problema. Este livro é veiculado gratuitamente, sem nenhum
tipo de retorno comercial a nenhum dos autores, e visa apenas a divulgação do conhecimento
científico.

iii
Capítulo 1

O QUE É
GRAVIDADE

A FORÇA DA GRAVIDADE É ALGO QUE NOS


CERCA E MANTÉM O UNIVERSO, POSSUINDO
INÚMERAS IMPLICAÇŌES E APLICAÇŌES NO
DIA-A-DIA. SUA ORIGEM, PORÉM, AINDA É UM
MISTÉRIO PARA A MAIOR PARTE DOS
CIENTISTAS.
GRAVIDADE

GRAVIDADE Gravidade - o que é isso?


1. Gravidade - o que é isso?
A resposta para esta questão é simples: não se sabe! O que se conhece sobre a
2. Força e aceleração
força gravitacional é o efeito que ela causa, e pelos seus efeitos pode-se tentar
3. Força gravitacional entendê-la. Ela atua em todo o Universo, em todas as escalas, da menor partícula
4. É possível anular a força gravitacional? ao maior corpo existente. Alguns cientistas acreditam que ela pode ser causada
por partículas chamadas gravitons, que se deslocariam com a velocidade da luz.
5. Aceleração gravitacional
Mas isso ainda é tema de muito debate e investigação. O que se sabe, portanto, é
6. A aceleração da gravidade é constante na como a força gravitacional age sobre todos os corpos do Universo, mas ainda não
Terra?
se sabe exatamente “o que é a força gravitacional”.
7. “Gravitacional” versus “da gravidade”
Uma ideia errônea sobre a força gravitacional é a de que ela existe apenas entre a
Terra e os objetos próximos a ela. Isso não é verdade; esta força existe entre
Gravidade, força gravitacional, aceleração gravitacional... todos os corpos do Universo.

Quando se usa o termo gravidade normalmente está se


tentando referir à força gravitacional. Em algumas situações,
como ao estudar a queda de objetos, o termo é usado como Força e aceleração
sinônimo de aceleração gravitacional. Como são grandezas
distintas, não devem ser confundidas. Para deixar o texto mais Para entender o conceito de força e aceleração, é interessante usar um exemplo
claro, em algumas situações o termo aparecerá apenas como o do cotidiano: a velocidade de um automóvel, por exemplo. Para calcular a
tradicional: gravidade, e deve ser compreendido dentro do
velocidade do automóvel entre dois pontos, basta dividir a distância entre os
contexto onde está sendo utilizado.

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pontos pelo tempo do percurso. Neste caso, temos a velocidade aplicar uma força, fornecida pelo motor a combustão presente no
média do veículo para este intervalo de tempo. veículo.

Ocorre que a velocidade média não ajuda muito na No laboratório, pode-se medir uma força com um
descrição precisa do movimento, e seria importante conhecer a dinamômetro, que basicamente é constituído por uma mola. O
velocidade em um determinado instante, a velocidade cientista Robert Hooke descobriu em 1660 que, ao prender um
instantânea. Pode-se pensar na velocidade instantânea como objeto a uma mola, esta se distende de forma proporcional ao
sendo a velocidade média para intervalos de tempo muito peso do objeto. Esta relação é conhecida como Lei de Hooke. O
pequenos, tendendo a zero. Ao conhecer a velocidade para cada peso, neste caso, é a força com que a Terra “puxa” o objeto.
intervalo de tempo tão pequeno quanto se queira, pode-se então Para um objeto com peso F a mola se estica x, e para um objeto
descrever o movimento de forma adequada. com o dobro do peso, a mola se distende o dobro, 2x.
Assim, um dinamômetro é um bom instrumento para
Se a velocidade variar ao longo do tempo, existe uma
medir as forças. Um exemplo da Lei de Hooke
aceleração, que pode ser negativa ou positiva. Caso a velocidade
pode ser visto na Atividade Interativa 1.1.
instantânea aumente com o tempo, e vamos considerar
novamente o intervalo de tempo como sendo muito pequeno,
Atividade Interativa 1.1 Lei de Hooke
tendendo a zero, a aceleração é positiva, caso diminua, ela é
negativa. Assim, a aceleração é a variação da velocidade entre
dois instantes muito próximos. Pode-se pensar na aceleração
como sendo a velocidade com que a velocidade de um corpo
varia. Parece estranho? Pense um pouco e veja que faz sentido...
É por este motivo que a aceleração é comumente expressa em
m/s2, ou seja, quantos m/s a velocidade varia a cada segundo.

Pois bem, a força pode ser entendida como sendo aquilo


que se precisa aplicar a um corpo para que ele mude sua Robert Hooke descobriu que o comprimento de uma mola é proporcional
à força aplicada a ela
velocidade. Para o automóvel mudar sua velocidade, é preciso

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Ao colocar-se um objeto sobre uma mesa bem lisa, onde A constante de proporcionalidade entre a força e a
previamente foi derramado um pouco de água e sabão, para aceleração é o que chamamos de massa. Massa, então, é uma
diminuir o atrito do objeto com a mesa, pode-se observar que ao medida da resistência de um corpo para acelerar, ou, de forma
se aplicar uma força, puxando-o, ele começa a se movimentar, mais genérica, é uma medida da resistência de um corpo a
ou seja, muda sua velocidade. Se houve mudança de velocidade, alterar seu movimento. Massa é uma grandeza associada com a
há uma aceleração presente. A experiência mostra que a força quantidade de matéria de um corpo, mas não se deve defini-la
aplicada é proporcional à aceleração adquirida pelo objeto, ou simplesmente como uma quantidade de matéria, e sim com
seja, quanto maior a força aplicada, maior vai ser a aceleração relação à sua resistência ao movimento.
adquirida. Galileu já havia descoberto isso, deixando várias
esferas rolarem por um plano inclinado. Neste caso, a
Força gravitacional
força aplicada está relacionada à inclinação do
A força gravitacional é uma força de atração que existe
plano, e ele observou que, quanto maior a
entre duas massas quaisquer do Universo. Esta força é
inclinação (e portanto, maior a força aplicada),
responsável por se conseguir permanecer na superfície da Terra
maior era a aceleração adquirida pela esfera.
sem ser “atirado para o espaço”, pela queda de uma maçã de
Atividade Interativa 1.2 Força resultante e aceleração uma árvore, pelo movimento da Lua ao redor da Terra e dos
planetas ao redor do Sol. Um grande estudioso da força da
gravidade foi Isaac Newton, considerado o maior dos cientistas
existentes, formulou a descrição matemática para a Lei da
Gravitação Universal, que estabelece que a força de atração entre
dois corpos de massa m1 e m2 é proporcional ao produto destas
massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância
que separa estes pontos. A constante de
proporcionalidade, grafada como G, é a constante

A experiência mostra que a força resultante aplicada a um sistema é


gravitacional, e seu valor é de 6,67384 x 10-11 m3
proporcional à aceleração adquirida por ele. kg-1 s-2.

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Matematicamente esta lei pode ser expressa pela fórmula É possível anular a força gravitacional?

Não, não é possível anular a força gravitacional por nenhum


F = (G . m1 . m2) / r2 tipo de aparelho ou blindagem. Mas é possível experimentar a
sensação de ausência de

gravidade, ou microgravidade em
Galeria de Imagens 1.1 Força e aceleração da gravidade
O efeito da força da dispositivos que usam o princípio
gravidade está presente em de queda livre (como a gravidade
qualquer ponto do Universo, em sempre está presente, o termo
todas as direções, em qualquer “ausência de gravidade” é
distância. Porém, como a força inadequado, por poder passar a
descresce com a distância falsa ideia de que a gravidade
elevada ao quadrado, os seus pode ser nula em algum ponto
efeitos podem deixar de ser distante). A NASA possui um
observados de forma avião para este fim, usado para o
relativamente rápida. A atração treinamento de astronautas, que
que o Sol exerce sobre um ser realiza um vôo ascendente e
humano na superfície da Terra, descendente, e permite, por
por exemplo, normalmente não é alguns segundos, que as
sentida, porque a distância pessoas experimentem a
envolvida é muito grande. Mas “Galileu mostra o plano inclinado aos estudantes”. Pintura de Giuseppe
sensação de microgravidade. As
esta força realmente existe: é ela Bezzuoli, Tribuna di Galileo, Museu “La Specola”, Florença. pessoas que participam deste
que mantém a Terra em órbita do experimento normalmente
Sol, e, junto com a atração sentem-se enjoadas, e daí vem o
exercida pela Lua, é responsável apelido do avião, Vomit Comet. O
pelo fenômenos das marés. funcionamento do avião pode ser visto no Filme 1.1.

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sujeito nas proximidades da Terra, (desconsiderando-se a
Filme 1.1 O Vomit Comet em ação
resistência do ar) é função da massa da Terra, mas não da massa
do corpo. Isso pode parecer estranho, mas realmente ocorre: um
corpo com grande massa vai chegar ao solo no mesmo instante
que um corpo de massa menor, se forem soltos da mesma altura
e no mesmo instante, caso não haja efeito da força da resistência
do ar.

Este tão esperado experimento foi realizado pelos


astronautas da Apollo 15, deixando cair uma pena e um martelo
da mesma altura no mesmo instante, sem a presença da
resistência do ar. Para a felicidade de todos e festejo dos
Filme da Nasa explicando o funcionamento do Vomit Comet. astronautas, ambos tocaram o solo lunar ao mesmo tempo,
como se pode observar no Filme 1.2.

Aceleração gravitacional Filme 1.2 A queda da pena e do martelo na Lua

A aceleração gravitacional é o resultado da força de atração


que a Terra exerce sobre todos os corpos.

A segunda Lei de Newton estabelece que “as mudanças


que ocorrem no movimento são proporcionais à força motora, e
se fazem na linha reta na qual se imprime esta força”. Assim, a
força da gravidade, agindo sobre um corpo de massa m, dará
origem a uma aceleração, chamada de aceleração da gravidade.
Utilizando a Lei da gravitação Universal e esta relação, pode-se Astronauta da Apollo 15 realizando o experimento da queda da pena e
observar que a aceleração a que um corpo em queda livre está do martelo. Quem chega primeiro ao solo?

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A aceleração gravitacional é constante na Terra? originar uma força resultante chamada de força da gravidade. O
mesmo princípio vale para a aceleração: a aceleração para um
Não, a aceleração gravitacional na superfície do planeta, corpo em queda livre é chamada aceleração gravitacional; já a
por depender da distribuição de massa da Terra, varia de ponto aceleração observada sobre a superfície do planeta é chamada
para ponto, e pode ser medida por equipamentos muito sensíveis aceleração da gravidade, e envolve os efeitos da atração e da
denominados gravímetros. Para ter-se uma aceleração rotação.
gravitacional constante na superfície da Terra, seria necessário
A aceleração da gravidade na superfície da Terra varia entre
que ela fosse perfeitamente esférica e homogênea. Nenhuma
9,76392 m s-2 e 9,83366 m s-2, conforme determinação recente
destas condições sequer se aproxima da realidade do planeta.
apresentada pela equipe do cientista Christian Hirt, da
Na verdade, a medição da aceleração da gravidade e sua análise
Universidade de Curtin, Australia. Como a Terra possui forma
constituem um método geofísico para a investigação da
ligeiramente achatada nos polos, as regiões polares estão mais
densidade do subsolo, denominado gravimetria. Com
proximas ao centro de massa do planeta, e devem apresentar um
este método é possível estimar a localização de
valor de aceleração da gravidade ligeiramente maior. O oposto
estruturas propícias ao acúmulo de hidrocarbonetos
deve ocorrer nas regiões equatoriais. Além disso, a força causada
e gás, depósitos minerais, e mesmo investigar a
pela rotação terrestre é mínima nos polos e máxima no equador,
estrutura da Terra.
o que reforça esta tendência de valores maiores de g próximos
“Gravitacional” versus “da gravidade” ao polo. Na Galeria de Imagens 1.2 é possivel visualizar os locais
de maior e menor aceleração da gravidade no planeta. Deve-se
Um corpo em queda livre, desconsiderando-se a resistência
notar, porém, que a aceleração da gravidade está relacionada à
do ar, está sujeito apenas à força gravitacional. Por outro lado,
distribuição de massa na Terra, ou seja, em como a massa está
um corpo sobre a superfície do planeta está sujeito também ao
distribuída em subsuperfície. Isso faz com que locais que
efeito de uma outra força, causada pela rotação da Terra.
apresentam concentração de massa apresentem um valor de
Dependendo do referencial adotado, esta força vai tender a
aceleração da gravidade maior, mesmo se estiverem
arremessar o corpo para fora do planeta, e seus efeitos serão
próximos ao equador. Este é o princípio de um método
contrários ao efeito da força gravitacional. O corpo então vai
de exploração geofísica denominado gravimetria.
sentir os efeitos da composição destas duas forças, que vai

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Galeria de Imagens 1.2 Variação da aceleração da Teste seus conhecimentos
gravidade na Terra
Question 1 of 5
Qual dos cientistas abaixo NÃO trabalhou
diretamente com assuntos relacionados à
gravidade?

A. Galileu Galilei

B. Isaac Newton

C. Robert Hooke

Variação da aceleração da gravidade na Terra. As tonalidades em roxo e


azul indicam valores menores, e laranja e vermelho mostram valores
maiores de g. Check Answer

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Capítulo 2

UM POUCO
DE HISTÓRIA

ESTABELECER COMO FUNCIONA A FORÇA DA


GRAVIDADE FOI ALGO QUE DEMANDOU MUITO
ESFORÇO E DESENVOLVIMENTO, AO LONGO
DE MILÊNIOS, E NÃO FOI FRUTO DE UMA
MAÇÃ CAINDO NA CABEÇA DE UM BRILHANTE
CIENTISTA, COMO REZA A LENDA POPULAR.
NEWTON E A GRAVIDADE

COMO NASCEU A IDEIA DA GRAVIDADE Ideias sobre a gravidade


1. Ideias sobre a gravidade
Ao se mencionar o termo “gravidade”, automaticamente somos remetidos a
2. A queda da maçã
Newton, por seu extenso trabalho no assunto. Algumas pessoas chegam a
3. A Lua está caindo em direção à Terra acreditar que o cientista foi o primeiro a usar o termo e a trabalhar na ideia, mas
4. Efeitos colaterais isso não é correto. Mais de mil anos antes de Newton a queda dos corpos já era
motivo de ideias e experimentos, e palavras com significado similar à “gravidade”
já eram utilizadas, em diversas partes do mundo e em diversos idiomas, todas
Gravidade e gravitação universal
com uma raiz que significa algo como “pesado”. Deve-se notar, porém, que o
termo não trazia consigo a ideia da causa da queda dos corpos, e nem sequer se
A investigação sobre a queda dos corpos
imaginava qual seria ela.
levou à ideia sobre gravidade, mas pensar que
existe uma força que é responsável por este O ponto interessante a investigar é como a ideia da gravidade (e da
fenômeno é uma coisa que levou muito tempo. gravitação) evoluiu na mente de Newton. Não existe nenhuma evidência visível de
Postular que este fenômeno é universal foi a algo que puxe os corpos em direção à Terra. As investigações iniciais de Newton
grande contribuição de Newton nesta área, nesta área eram no sentido de entender a natureza da matéria e as suas
levando à ideia de gravitação universal. propriedades, e não de tentar formular uma lei para explicar alguma
destas propriedades (no caso, a da queda sempre em direção à
“I do not know what I may appear to the world,
Terra). Para isso, ele se debruçou sobre as obras de grandes
but to myself I seem to have been only like a
boy playing on the sea-shore, and diverting filósofos e cientistas, como Descartes, por exemplo.
myself in now and then finding a smoother
pebble or a prettier shell than ordinary, whilst
the great ocean of truth lay all undiscovered
before me.”
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Mas a mente fervilhante deste cientista não permitia que ele dos corpos. Não se conhece nenhum manuscrito de Newton
investigasse as propriedades da matéria sem se preocupar em onde apareça a referência a ele ter observado a queda da fruta,
explicar as causas para o que se observava. Uma das ideias mas existem referências à sua questão sobre a queda:
iniciais de Newton sobre a gravidade a descrevia como sendo
“[. . .] Depois do almoço, como o tempo estava quente, fomos para
produto de uma corrente de éter que vinha em direção à Terra
o jardim e tomamos chá sob a sombra de algumas macieiras,
(éter era uma suposta substância invisível que estava presente
somente ele e eu. Entre outras coisas, disse-me que ele estava
em todo o Universo). Esta corrente invisível teria grande
exatamente na mesma situação em que, muito tempo atrás, a idéia
velocidade, e por meio dela os corpos seriam impulsionados
da gravitação veio à sua mente. “Por que uma maçã deve sempre
contra a Terra.
descer verticalmente ao solo?” pensou ele consigo mesmo, por
Claramente Newton se preocupava com o fato de que se o ocasião da queda de uma maçã, enquanto estava sentado em uma
éter vinha em direção à Terra, deveria também de alguma forma atitude contemplativa.”
sair dela, para que não ocorresse o acúmulo da substância no
(Stukeley, Royal Society Ms. 142, fol. 14. Citado por Martins,
planeta. Mas este movimento do éter saindo da Terra teria que
R.A., “A maçã de Newton: história, lendas e tolices”)
ser diferente do movimento dele chegando, caso contrário poder-
se-ia verificar a queda dos corpos em sentido contrário ao que se Muitos estudiosos se preocuparam com esta estória, tão
observa (os corpos poderiam “cair para cima”, por exemplo, se a popular quanto controversa, e os poucos pontos de consenso
corrente ascendente de éter fosse forte o suficiente). Este tipo de entre eles são os de que a maçã não caiu na cabeça de Newton,
ideia dá uma noção de como funcionava a inquieta mente do e nem que Newton estaria dormindo sob a macieira no momento
cientista em busca das explicações para suas observações. da queda. Um dos primeiros a descrever o episódio da maçã e
suas implicações foi John Conduitt, que foi casado com a
A queda da maçã
sobrinha de Newton, Catherine. Segundo seus relatos, Newton

É neste contexto que entra a estória da queda da maçã teria usado o argumento da queda da maçã para

como sendo a propulsora da descoberta de Newton sobre a ilustrar uma teoria que ele tinha, que a gravidade, que

gravidade. Ninguém sabe ao certo se realmente ocorreu a puxa a maçã para a Terra, poderia ter um alcance

observação da queda da maçã, ou se foi apenas uma ilustração ainda maior, talvez até a Lua, e poderia ser a causa

utilizada pelo cientista para argumentar sobre a ideia da queda do satélite orbitar a Terra. Essa era uma ideia muito
11
ousada e inovadora, típica da mente aberta de Newton. não foi sempre assim, e foi preciso muito esforço e investigação
para que se chegasse a esta visão sobre os fenômenos físicos.
Era preciso ter uma visão muito inovadora para chegar a
esta ideia. Os cientistas que atacaram o problema da Lua orbitar A forma como Newton deve ter abordado o problema está
ao redor da Terra antes de descrita detalhadamente na obra
Newton nunca pensaram em uma Galeria de Imagens 2.1 A macieira de Newton de Roberto de Andrade Martins,
causa comum ao movimento dos e s e r á r e s u m i d a a s e g u i r.
astros e dos corpos comuns Supondo que Newton aceitava a
cotidianos. Para muitos, o ideia de inercia, ou seja, que um
movimento dos astros era tido corpo deveria manter um certo
com algo “natural”, uma categoria tipo de movimento, a não ser que
para a qual não era necessário alguma coisa o fizesse mudá-lo, e
procurar uma explicação, algo sabendo que ele estudou a obra
que o originasse, e, portanto, ele de Descartes, pode-se supor que
nada teria em comum com a o grande cientista tenha aplicado
queda de um corpo nas à Lua o mesmo conceito que
p ro x i m i d a d e s d a s u p e r f í c i e Descartes aplicou a uma mão que
terrestre. girasse uma funda contendo uma
pedra (o instrumento utilizado por
Foi a partir do trabalho de
A macieira, em ilustração de agosto de 1797 feita por J.C. Barrow. Davi para matar o gigante Golias,
Newton que surgiu a necessidade Citada em Keesing (1998).
na Bíblia), ou seja, se a mão não
de procurar pelas forças que
segurasse aquele instrumento, a
estariam causando um certo
tendência da pedra seria seguir
movimento. Hoje em dia isso
em linha reta,
parece natural, que para que algum movimento ou mudança de
afastando-se. É o fato da mão estar segurando a
movimento ocorra, tem que haver uma força envolvida. Mas isso
ponta do instrumento que tem o efeito de puxar a
pedra, não deixando que ela prossiga o movimento

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em linha reta, fazendo com que adquira um movimento circular. do processo para deixar claro o raciocínio empregado neste
desenvolvimento.
Sendo assim, o fato da Lua não se afastar indefinidamente
da Terra em trajetória retilínea tem que ser atribuído a alguma
força que a “puxe” constantemente, mantendo-a “presa” à Terra.
Figura 2.1 Composição de movimentos para explicar a
Newton deve ter imaginado que esta força devesse ser a mesma rotação da Lua ao redor da Terra
força responsável pelo fato da maçã cair, a força gravitacional. A
partir daí, era só uma questão de realizar os cálculos para
verificar se o movimento do satélite poderia ser explicado por
esta força, o que ele fez com sucesso.

A Lua está caindo em direção à Terra

O que Newton percebeu nesta situação é algo que pode


parecer absurdo à primeira vista: que a Lua está, como a maçã
que se desprende da árvore, caindo em direção à Terra! Se o
movimento da Lua ao redor da Terra for pensado como sendo a
composição de dois movimentos, isso fica claro. Considerando o
movimento do satélite em um pequeno intervalo de tempo, ele
pode ser considerado como a soma de dois movimentos: o da A soma destes dois movimentos originaria o movimento
Lua se deslocando em linha reta, tendendo a seguir a inércia de orbital da Lua ao redor do planeta. Newton calculou esta
seu movimento retilíneo uniforme (A), e o “puxão” que a força “queda”, chegando à conclusão que a Lua cai aproximadamente
gravitacional dá, fazendo a Lua “cair em direção à Terra” (B), 5,0 metros a cada minuto, o que é exatamente a distância
conforme o esboço da Figura 2.1 Note que na imagem os percorrida por um corpo em queda livre próximo à superfície da
elementos estão fora de escala, e o raciocínio vale apenas para Terra em um segundo. Considerando-se que a distância entre a
intervalos de tempo muito pequenos, tendendo a zero. Os Lua e a superfície da Terra é de aproximadamente 60 vezes o raio
elementos na imagem pretendem apenas permitir a visualização da Terra, pode-se calcular que a “queda da Lua” é perfeitamente

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concordante com a queda de um corpo próximo à superfície da considerasse que deveria haver uma outra força envolvida no
Terra, e, portanto, deve ter a mesma causa: a força gravitacional. movimento da Lua ao redor da Terra, conforme foi relatado por
Conduitt. Somente ao utilizar um valor mais preciso para as
Estes cálculos só valem, porém, se for levando em conta
dimensões do planeta é que ele pôde caminhar na direção
que a força gravitacional decresce com o quadrado da distância,
correta para estabelecer a teoria da Gravitação Universal.
o que Newton estabeleceu acreditar ao escrever, em 1666, que
A ideia de que a gravitação é um fenômeno universal,
“E no mesmo ano eu comecei a pensar na gravidade se
porém, levou mais algumas décadas para amadurecer. Nesta
estendendo até o orbe da Lua e, tendo encontrado como estimar a
época, o que Newton imaginava era que o Sol possuia algum tipo
força com a qual um globo girando dentro de uma esfera pressiona
de “gravidade”, gerada pelo acúmulo de éter em seu interior, e
a superfície da esfera, da regra de Kepler de que os tempos
isso fazia com que os planetas girassem ao seu redor, da mesma
periódicos dos planetas estão em proporção sesquiáltera de suas
forma como a Lua girava ao redor da Terra. Nada indica que
distâncias aos centros de seus orbes, deduzi que as forças que
nesta ocasião Newton já considerasse que todos os corpos se
mantêm os planetas em seus orbes devem ser inversamente
atraem por meio desta força gravitacional. Este deve ter sido
[proporcionais] aos quadrados das suas distâncias aos centros em
outro grande passo dado pelo cientista, após muito tempo de
torno dos quais giram; [. . .]”
investigação.
(Newton, citado por Westfall 1990, p. 143.)WESTFALL, Richard S. Never at rest. A biography of Isaac Newton.
Cambridge: Cambridge University Press, 1990. A análise destes relatos sobre a história do estabelecimento
da força da gravidade traz um outro efeito colateral importante:
Efeitos colaterais
percebe-se que Newton, assim como os demais cientistas em
suas investigações, não “descobriu” a gravidade a partir da
Um dos efeitos colaterais interessantes desse raciocínio é
observação da queda de uma maçã, em algum tipo de “insight”.
que para provar sua argumentação Newton precisava utilizar,
A ideia de que existe uma força que deve atrair os corpos em
dentre outros valores, as dimensões da Terra, que na época não
direção à Terra, e a extensão desta ideia para a elaboração do
eram conhecidas com precisão. Isso chegou a levar o cientista a
conceito de gravitação universal, foi um processo contínuo, que
uma conclusão errônea em um de seus cálculos, quando um
levou muito tempo para ser estabelecido, baseando-se em
valor menor do que o correto para o tamanho do planeta,
ideias, observações e testes, com algum sucesso e muitos
provavelmente tomado da obra de Galileu, fez com que ele

14
fracassos, e não por um “gênio”, que em um momento de sorte
observou um fenômeno e imediatamente estabeleceu um
princípio físico fundamental.

É desta forma contínua e metódica que a Ciência é


construída, e não com gente correndo pelada gritando Eureka...
Aliás, se você quiser saber a provável verdade por trás de
Arquimedes e a suposta coroa do rei Hieron, uma sugestão é o
artigo “Arquimedes e a coroa do rei: problemas históricos”,
de Roberto de Andrade Martins, publicado no Caderno Brasileiro
do Ensino de Física, disponível no endereço eletrônico

https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/issue/view/404

15
Capítulo 3

USOS E
APLICAÇŌES

DISPOSITIVOS E FERRAMENTAS QUE UTILIZAM


ELEMENTOS RELACIONADOS À FORÇA DA
GRAVIDADE SÃO COMUNS NO COTIDIANO;
ALGUNS USOS E EFEITOS OBSERVÁVEIS DA
ATUAÇÃO DA FORÇA DA GRAVIDADE, OU DE
SUA RELATIVA AUSÊNCIA, PORÉM, PODEM
PARECER SURPREENDENTES.
USOS E EFEITOS OBSERVÁVEIS DA GRAVIDADE

APLICAÇÕES DA GRAVIDADE A aceleração da gravidade e seus (inesperados) usos


1. A aceleração da gravidade e seus
(inesperados) usos Muitos fenômenos do cotidiano têm relação direta com a aceleração da
gravidade, às vezes de forma não muito evidente à primeira vista: o atraso ou
2. A investigação do interior da Terra por
meio das variações da aceleração da adiantamento de um relógio de pêndulo, o lançamento de projéteis, a velocidade
gravidade de um paraquedista, a tentativa de se aventurar no espaço sideral, a busca de

3. A cratera de Chicxulub
minerais e estruturas no interior da Terra e de outros planetas, para mencionar
apenas alguns. Vamos descrever alguns nos tópicos a seguir.
4. A cratera Wilkes Land, Antártica

5. Experimentos com gravidade reduzida A investigação do interior da Terra por meio das variações da aceleração
6. Conclusões da gravidade
7. Material complementar Utilizando o conceito de Gravitação Universal e as Leis de Newton, pode-se
observar que a aceleração da gravidade na superfície da Terra tem relação direta
com as distribuição de massa em subsuperfície, e os cientistas podem usar este
fato para investigar o interior terrestre (na verdade, de qualquer planeta ou corpo
no Universo, desde que se possa medir esta grandeza). Assim, os geofísicos
desenvolveram um método denominado gravimetria, que utiliza medidas
asssociadas ao campo da gravidade terrestre para investigar sua distribuição de
massa.

17
O princípio básico da gravimetria é o de utilizar Walter Alvarez, físico, e Walter Alvarez, seu filho, geólogo, que
instrumentos que medem com precisão o deslocamento de uma juntamente com os químicos nucleares Frank Asaro e Helen
pequena massa, que vai ser atraída em maior ou menor Michael, publicaram um artigo sobre a investigação de uma
intensidade pela massa presente no local. Feitas as correções camada de calcáreo sobre a qual se depositavam sedimentos
apropriadas, é possível calcular a distribuição de massa no local desta idade, que continham grande quantidade de elementos
com boa precisão. Isso pode ser usado na busca de minerais, químicos que eles afirmavam ser provenientes de um corpo
que normalmente apresentam uma boa variação de densidade originário do espaço. O problema era encontrar a localização
em relação às rochas que estão ao seu redor, e portanto, vão deste corpo ou da estrutura originada por seu impacto (uma
gerar uma variação acentuada na aceleração da gravidade. grande cratera, pelo que calcularam). A hipótese era a de que o
Qualquer distribuição de massa que apresente contraste com o impacto teria originado uma grande camada de poeira e
que está ao seu redor, em princípio, pode ser detectada por este fragmentos, que se espalharia pela atmosfera, tornando-a opaca
método. à luz solar, fundamental para a fotossíntese e manutenção da
vida.
Diversas estruturas já foram mapeadas na Terra utilizando-
se este método. Talvez as mais notáveis sejam grandes crateras Dois geofísicos, Antonio Camargo e Glen Penfield, já haviam
de impacto atualmente ocultas por sedimentos ou gelo. É o caso notado, no final da década de 1970, na região do Golfo do
da cratera de Chicxulub, no México, e Wilkes Land, na Antártica. México a presença de uma estrutura circular profunda, que
Ambas estão ocultas a vários quilômetros de profundidade, e poderia ser uma cratera de impacto, com 180 km de largura.
apresentam um grande contraste de densidade com as rochas Diversas evidências reforçavam a ideia, mas os dados geofísicos
ou com o gelo que estão por cima delas, possibilitando que não podiam ser divulgados, por pertencerem a companhias de
sejam investigadas pela consequente variação da aceleração da exploração de petróleo, e dados geológicos não estavam
gravidade ao seu redor. disponíveis. Somente mais tarde o quebra-cabeças foi montado,
e observou-se a presença de uma enorme cratera na região de
A cratera de Chicxulub Chicxulub, México, com mais de 300 km de diâmetro (ou seja, a
cratera inicialmente observada pelos geofísicos era o anel interior
A existência de uma cratera de impacto que poderia estar
da cratera, e não sua borda externa), corroborada por dados
associada à extinção em massa ocorrida há 65 milhões de anos,
sísmicos e geológicos, como a presença de grãos de quartzo
na chamada fronteira K-T, havia sido proposta em 1980 por Luiz
18
extremamente deformados e de tectitos, pequenos grãos de
vidro vulcânico presentes apenas em regiōes de explosões
Galeria de Imagens 3.1 Anomalia da gravidade em
nucleares e crateras de impacto. Estima-se que o corpo Chicxulub
causador do impacto tivesse 10 km de diâmetro, e a energia
liberada no processo tenha sido da ordem de 100 Teratons de
TNT, o que é equivalente a 2 milhões de vezes a mais poderosa
bomba atômica já detonada na Terra, a “bomba Tsar”, que em
1961 liberou 1500 vezes a energia combinada das bombas que
arrasaram Nagasaki e Hiroshima.

Alguns dados independentes sugerem que o impacto em


Chicxulub possa não ser o evento que levou à extinção dos
dinossauros, e sim diversos outros impactos com idade
ligeiramente inferior a este; o certo, porém, é que a cratera de
dois anéis que se encontra na Península de Yucatán, foi gerada
por um impacto de enormes proporções. Sua descoberta e
caracterização foi possível por meio da análise conjunta de
dados científicos, dentre os quais, da aceleração da gravidade Imagem da variação da aceleração da gravidade na região da Península
de Yucatán, México. Valores em amarelo e vermelho indicam variação
anômala na região. máxima de g e marcam dois anéis distintos da cratera de impacto.
Pontos brancos indicam locais de furos de sondagem. A dimensão
aproximada da estrutura é de 300 km.

19
A cratera Wilkes Land, Antártida O artigo com a descrição dos dados e resultados pode ser
encontrado (em inglês) em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/
Cientistas da Universidade de Ohio, EUA, liderados por 10.1029/2008GC002149/full.
Ralph von Frese e Laramie Potts, descobriram uma cratera muito
maior do que a de Chicxulub, na região leste da Antártica, ao sul
Galeria de Imagens 3.2 A cratera Wilkes Land, Antártida
da Austrália, a partir de dados de aceleração da gravidade. A
cratera tem 480 km de diâmetro, e está oculta a uma
profundidade de pelo menos 2 km, sob o gelo, na região
conhecida como Wilkes Land. Estima-se que o impacto tenha
sido causado por um corpo de 50 km de extensão, há 250
milhões de anos, período conhecido como “extinção Permiano-
Triássico”, quando quase a totalidade da vida animal existente na
Terra foi extinta.

A descoberta foi feita ao se correlacionar os dados de


anomalia da gravidade fornecidos pela missão GRACE, que
mostravam uma concentração de massa no local, com dados de
radar que mostravam a presença de uma grande estrutura
circular sob o gelo no mesmo local. Este tipo de estrutura existe
em abundância na superfície lunar, e é denominada mascon Variações da anomalia da gravidade, fornecidas pelos dados do
GRACE. Regiões com concentração de massa estão em tons
(mass concentration). Na Terra, por sua carcterística dinâmica, alaranjados e vermelhos. O círculo branco mostra a cratera Wilkes Land.
estas estruturas tendem a desaparecer relativamente rápido, em Imagem da Ohio State University.

questão de pouco mais de 500 milhões de anos, estima-se.


Existe a possibilidade deste impacto ter originado a separação
da Austrália do supercontinente Gondwana, ainda não
comprovada, mas uma coisa é certa: tal evento com certeza
dizimou a vida em nosso planeta.

20
Experimentos com gravidade reduzida Newton realizou um experimento mental para explicar essa
possibilidade. Para isso, teorizou um canhão posicionado n o alto
É comum ouvir menção a ambientes no espaço sideral com de uma montanha muito alta, lançando um projétil com uma certa
“gravidade zero”, o que pode dar a falsa impressão que no velocidade, que atingiria uma certa distância. Se a velocidade de
espaço não se está sujeito à força ou aceleração da gravidade. lançamento fosse aumentada, o projétil atingiria uma distância
Isso não é correto! No espaço estamos sujeitos à força da maior. Se a velocidade fosse suficientemente elevada, porém, o
gravidade como em qualquer ponto do Universo. Na altitude projétil não tocaria o solo, mas permaneceria circulando ao redor
média da órbita da Estação Espacial Internacional (ISS, da Terra, em órbita. É isso o que ocorre com a ISS, que circunda
International Space Station), de 400 km acima da superfície a Terra a 400 km de altitude, com velocidade de 28.000 km/h.
terrestre, a força da gravidade é de aproximadamente 89% da Nesta situação, diz-se que existe um estado de “ausência de
força sentida no chão. E é exatamente por isso que a ISS peso”, ou seja, uma balança registraria peso zero. Isso não
continua em órbita ao redor da Terra; se a força da gravidade significa que a massa de um objeto seja nula; a massa não se
fosse nula nesta altitude, por exemplo, a ISS estaria viajando no altera nestas condições, mas a força que a balança mede se
espaço, distanciando-se progressivamente da Terra. altera. O peso de um objeto depende dele estar na superfície da
Terra, da Lua ou no espaço, mas sua massa nestas condições
Se um objeto é solto nas proximidades da superfície
permanece a mesma.
terrestre, ele cai com uma aceleração próxima de 9,8 m/s2, valor
muitas vezes chamado de ‘1g’. É comum vermos filmes de Alguns dispositivos podem simular temporariamente esta
astronautas soltando um objeto, que aparenta não cair. Na sensação de “ausência de peso”, como por exemplo a aeronave
verdade, o objeto está caindo, mas o astronauta e a espaçonave conhecida popularmente como “Vomit Comet”, descrita no
estão caindo com a mesma velocidade, o que causa a falsa capítulo 2. Ao se aventurar em uma montanha-russa é possível,
impressão de “ausência de gravidade”. Na situação em que se por alguns instantes, ter-se esta sensação, em certos trechos
encontram, na verdade, eles não estão caindo “em direção” da projetados para se obter esta condição. A NASA possui também
Terra, e sim caindo “ao redor” da Terra. Este estado é chamado um dispositivo chamado “Zero Gravity Research Facility”, uma
de “gravidade zero” (cuidado com o termo!), ou, mais torre de lançamento de 142 metros de altura, no interior da qual é
apropriadamente, microgravidade (com uma aceleração feito vácuo, e um objeto pode ser solto em queda livre por
correspondente a um milionésimo de g).

21
aproximadamente 5 segundos, e experimentos podem ser estes aspectos, tanto teóricos quanto práticos, mas acreditamos
realizados em condições de microgravidade. ser importante uma última observação a respeito: este texto
aborda a gravidade do ponto de vista clássico, mas existe um
Galeria de Imagens 3.3 Zero Gravity Research Facility outro ataque do ponto de vista relativístico, que abre novos
horizontes a este assunto fascinante. Vale a pena se enveredar
por esta outra forma de entender os conceitos associados a este
assunto, que, apesar de matematicamente um pouco mais
complexa, traz diversos pontos que podem ser classificados por
adjetivos os mais enaltecedores possível.

Material complementar

Os links a seguir trazem interessantes aplicações recentes


associadas ao campo de gravidade para o estudo da Terra, e
podem ser consultados para ampliar um pouco o horizonte de
conhecimento sobre os usos atuais deste assunto. As referências
encontram-se na língua inglesa. O material não se encontra
incorporado neste livro, e portanto é necessária uma conexão
Topo do Zero Gravity Research Facility, com o dispositivo de queda com a internet para acessá-lo.
sendo posicionado no topo da torre de 142 m de altura. Foto: NASA

- A missão GRAIL de investigação da estrutura da Lua a partir


de dados associados ao campo de gravidade (2014)
Conclusões
http://www.nasa.gov/press/2014/october/nasa-mission-points-to-
A força da gravidade e as grandezas a ela associadas, origin-of-ocean-of-storms-on-earth-s-moon/
como o potencial e a aceleração da gravidade, além de uma
h t t p : / / s o l a r s y s t e m . n a s a . g o v / g r a i l / n e w s d i s p l a y. c f m ?
enorme importância no campo teórico, mostram inúmeras
Subsite_News_ID=34230&SiteID=2
aplicações na prática. Não cabe neste volume abordar a todos
22
- A variação do campo de gravidade pela diminuição da massa de
gelo na Antártica (2014)

http://www.esa.int/Our_Activities/Observing_the_Earth/GOCE/
GOCE_reveals_gravity_dip_from_ice_loss

- Descobertas novas feições no fundo oceânico pelo uso dos


dados de gravidade provenientes de satélites (2014)

http://news.sciencemag.org/earth/2014/10/satellites-reveal-
hidden-features-bottom-earths-seas

- Materiais didáticos diversos associados às mais recentes


descobertas originadas de usos de dados associados ao campo
de gravidade terrestre (mapas, arquivos kml, vídeos, etc.)

http://topex.ucsd.edu/grav_outreach/

- Investigação da maior lua de Saturno, Titã, a partir de dados do


campo de gravidade, sugerem um oceano muito salgado em seu
interior (2014)

http://www.jpl.nasa.gov/news/news.php?release=2014-217

- Lãmpadas alimentadas pela força da gravidade (2013)

http://m.scidev.net/global/technology/news/gravity-powered-
lamp-to-enter-field-tests.html

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