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Gravidade
Este livro nasceu das ideias e discussões de um dos autores (AGM) com seu professor do
Ensino Médio, o guru Adelson Alves de Oliveira, que o estimulou a levar o projeto adiante. O
fato do outro autor (ECM) estar iniciando os seus primeiros passos na edição de livros
eletrônicos permitiu a realização deste projeto. Os autores agradecem a Fernando Brenha
Ribeiro e Roberto Dell’Aglio Dias da Costa por sua cuidadosa e crítica revisão do texto, Mike
Molina pelas imagens elaboradas, Herbert Jorge Ferreira pela foto do gravímetro, e a Dino
Molina por seu constante encorajamento e companhia.
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Dedicatória
Este nosso primeiro livro eletrônico é dedicado a todas e todos que nos
apoiaram, seja com um ato de incentivo, seja com um sorriso de “isso nunca
vai dar certo... sonhadores!”.
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© Eder Cassola Molina e Arthur Gaia Molina - 2014
O material apresentado neste livro pode ser reproduzido livremente desde que citada a fonte.
As imagens apresentadas são de propriedade dos respectivos autores e utilizadas para fins
didáticos. Caso sinta que houve violação de seus direitos autorais, por favor contacte os
autores para solução imediata do problema. Este livro é veiculado gratuitamente, sem nenhum
tipo de retorno comercial a nenhum dos autores, e visa apenas a divulgação do conhecimento
científico.
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Capítulo 1
O QUE É
GRAVIDADE
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pontos pelo tempo do percurso. Neste caso, temos a velocidade aplicar uma força, fornecida pelo motor a combustão presente no
média do veículo para este intervalo de tempo. veículo.
Ocorre que a velocidade média não ajuda muito na No laboratório, pode-se medir uma força com um
descrição precisa do movimento, e seria importante conhecer a dinamômetro, que basicamente é constituído por uma mola. O
velocidade em um determinado instante, a velocidade cientista Robert Hooke descobriu em 1660 que, ao prender um
instantânea. Pode-se pensar na velocidade instantânea como objeto a uma mola, esta se distende de forma proporcional ao
sendo a velocidade média para intervalos de tempo muito peso do objeto. Esta relação é conhecida como Lei de Hooke. O
pequenos, tendendo a zero. Ao conhecer a velocidade para cada peso, neste caso, é a força com que a Terra “puxa” o objeto.
intervalo de tempo tão pequeno quanto se queira, pode-se então Para um objeto com peso F a mola se estica x, e para um objeto
descrever o movimento de forma adequada. com o dobro do peso, a mola se distende o dobro, 2x.
Assim, um dinamômetro é um bom instrumento para
Se a velocidade variar ao longo do tempo, existe uma
medir as forças. Um exemplo da Lei de Hooke
aceleração, que pode ser negativa ou positiva. Caso a velocidade
pode ser visto na Atividade Interativa 1.1.
instantânea aumente com o tempo, e vamos considerar
novamente o intervalo de tempo como sendo muito pequeno,
Atividade Interativa 1.1 Lei de Hooke
tendendo a zero, a aceleração é positiva, caso diminua, ela é
negativa. Assim, a aceleração é a variação da velocidade entre
dois instantes muito próximos. Pode-se pensar na aceleração
como sendo a velocidade com que a velocidade de um corpo
varia. Parece estranho? Pense um pouco e veja que faz sentido...
É por este motivo que a aceleração é comumente expressa em
m/s2, ou seja, quantos m/s a velocidade varia a cada segundo.
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Ao colocar-se um objeto sobre uma mesa bem lisa, onde A constante de proporcionalidade entre a força e a
previamente foi derramado um pouco de água e sabão, para aceleração é o que chamamos de massa. Massa, então, é uma
diminuir o atrito do objeto com a mesa, pode-se observar que ao medida da resistência de um corpo para acelerar, ou, de forma
se aplicar uma força, puxando-o, ele começa a se movimentar, mais genérica, é uma medida da resistência de um corpo a
ou seja, muda sua velocidade. Se houve mudança de velocidade, alterar seu movimento. Massa é uma grandeza associada com a
há uma aceleração presente. A experiência mostra que a força quantidade de matéria de um corpo, mas não se deve defini-la
aplicada é proporcional à aceleração adquirida pelo objeto, ou simplesmente como uma quantidade de matéria, e sim com
seja, quanto maior a força aplicada, maior vai ser a aceleração relação à sua resistência ao movimento.
adquirida. Galileu já havia descoberto isso, deixando várias
esferas rolarem por um plano inclinado. Neste caso, a
Força gravitacional
força aplicada está relacionada à inclinação do
A força gravitacional é uma força de atração que existe
plano, e ele observou que, quanto maior a
entre duas massas quaisquer do Universo. Esta força é
inclinação (e portanto, maior a força aplicada),
responsável por se conseguir permanecer na superfície da Terra
maior era a aceleração adquirida pela esfera.
sem ser “atirado para o espaço”, pela queda de uma maçã de
Atividade Interativa 1.2 Força resultante e aceleração uma árvore, pelo movimento da Lua ao redor da Terra e dos
planetas ao redor do Sol. Um grande estudioso da força da
gravidade foi Isaac Newton, considerado o maior dos cientistas
existentes, formulou a descrição matemática para a Lei da
Gravitação Universal, que estabelece que a força de atração entre
dois corpos de massa m1 e m2 é proporcional ao produto destas
massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância
que separa estes pontos. A constante de
proporcionalidade, grafada como G, é a constante
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Matematicamente esta lei pode ser expressa pela fórmula É possível anular a força gravitacional?
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sujeito nas proximidades da Terra, (desconsiderando-se a
Filme 1.1 O Vomit Comet em ação
resistência do ar) é função da massa da Terra, mas não da massa
do corpo. Isso pode parecer estranho, mas realmente ocorre: um
corpo com grande massa vai chegar ao solo no mesmo instante
que um corpo de massa menor, se forem soltos da mesma altura
e no mesmo instante, caso não haja efeito da força da resistência
do ar.
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A aceleração gravitacional é constante na Terra? originar uma força resultante chamada de força da gravidade. O
mesmo princípio vale para a aceleração: a aceleração para um
Não, a aceleração gravitacional na superfície do planeta, corpo em queda livre é chamada aceleração gravitacional; já a
por depender da distribuição de massa da Terra, varia de ponto aceleração observada sobre a superfície do planeta é chamada
para ponto, e pode ser medida por equipamentos muito sensíveis aceleração da gravidade, e envolve os efeitos da atração e da
denominados gravímetros. Para ter-se uma aceleração rotação.
gravitacional constante na superfície da Terra, seria necessário
A aceleração da gravidade na superfície da Terra varia entre
que ela fosse perfeitamente esférica e homogênea. Nenhuma
9,76392 m s-2 e 9,83366 m s-2, conforme determinação recente
destas condições sequer se aproxima da realidade do planeta.
apresentada pela equipe do cientista Christian Hirt, da
Na verdade, a medição da aceleração da gravidade e sua análise
Universidade de Curtin, Australia. Como a Terra possui forma
constituem um método geofísico para a investigação da
ligeiramente achatada nos polos, as regiões polares estão mais
densidade do subsolo, denominado gravimetria. Com
proximas ao centro de massa do planeta, e devem apresentar um
este método é possível estimar a localização de
valor de aceleração da gravidade ligeiramente maior. O oposto
estruturas propícias ao acúmulo de hidrocarbonetos
deve ocorrer nas regiões equatoriais. Além disso, a força causada
e gás, depósitos minerais, e mesmo investigar a
pela rotação terrestre é mínima nos polos e máxima no equador,
estrutura da Terra.
o que reforça esta tendência de valores maiores de g próximos
“Gravitacional” versus “da gravidade” ao polo. Na Galeria de Imagens 1.2 é possivel visualizar os locais
de maior e menor aceleração da gravidade no planeta. Deve-se
Um corpo em queda livre, desconsiderando-se a resistência
notar, porém, que a aceleração da gravidade está relacionada à
do ar, está sujeito apenas à força gravitacional. Por outro lado,
distribuição de massa na Terra, ou seja, em como a massa está
um corpo sobre a superfície do planeta está sujeito também ao
distribuída em subsuperfície. Isso faz com que locais que
efeito de uma outra força, causada pela rotação da Terra.
apresentam concentração de massa apresentem um valor de
Dependendo do referencial adotado, esta força vai tender a
aceleração da gravidade maior, mesmo se estiverem
arremessar o corpo para fora do planeta, e seus efeitos serão
próximos ao equador. Este é o princípio de um método
contrários ao efeito da força gravitacional. O corpo então vai
de exploração geofísica denominado gravimetria.
sentir os efeitos da composição destas duas forças, que vai
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Galeria de Imagens 1.2 Variação da aceleração da Teste seus conhecimentos
gravidade na Terra
Question 1 of 5
Qual dos cientistas abaixo NÃO trabalhou
diretamente com assuntos relacionados à
gravidade?
A. Galileu Galilei
B. Isaac Newton
C. Robert Hooke
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Capítulo 2
UM POUCO
DE HISTÓRIA
É neste contexto que entra a estória da queda da maçã teria usado o argumento da queda da maçã para
como sendo a propulsora da descoberta de Newton sobre a ilustrar uma teoria que ele tinha, que a gravidade, que
gravidade. Ninguém sabe ao certo se realmente ocorreu a puxa a maçã para a Terra, poderia ter um alcance
observação da queda da maçã, ou se foi apenas uma ilustração ainda maior, talvez até a Lua, e poderia ser a causa
utilizada pelo cientista para argumentar sobre a ideia da queda do satélite orbitar a Terra. Essa era uma ideia muito
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ousada e inovadora, típica da mente aberta de Newton. não foi sempre assim, e foi preciso muito esforço e investigação
para que se chegasse a esta visão sobre os fenômenos físicos.
Era preciso ter uma visão muito inovadora para chegar a
esta ideia. Os cientistas que atacaram o problema da Lua orbitar A forma como Newton deve ter abordado o problema está
ao redor da Terra antes de descrita detalhadamente na obra
Newton nunca pensaram em uma Galeria de Imagens 2.1 A macieira de Newton de Roberto de Andrade Martins,
causa comum ao movimento dos e s e r á r e s u m i d a a s e g u i r.
astros e dos corpos comuns Supondo que Newton aceitava a
cotidianos. Para muitos, o ideia de inercia, ou seja, que um
movimento dos astros era tido corpo deveria manter um certo
com algo “natural”, uma categoria tipo de movimento, a não ser que
para a qual não era necessário alguma coisa o fizesse mudá-lo, e
procurar uma explicação, algo sabendo que ele estudou a obra
que o originasse, e, portanto, ele de Descartes, pode-se supor que
nada teria em comum com a o grande cientista tenha aplicado
queda de um corpo nas à Lua o mesmo conceito que
p ro x i m i d a d e s d a s u p e r f í c i e Descartes aplicou a uma mão que
terrestre. girasse uma funda contendo uma
pedra (o instrumento utilizado por
Foi a partir do trabalho de
A macieira, em ilustração de agosto de 1797 feita por J.C. Barrow. Davi para matar o gigante Golias,
Newton que surgiu a necessidade Citada em Keesing (1998).
na Bíblia), ou seja, se a mão não
de procurar pelas forças que
segurasse aquele instrumento, a
estariam causando um certo
tendência da pedra seria seguir
movimento. Hoje em dia isso
em linha reta,
parece natural, que para que algum movimento ou mudança de
afastando-se. É o fato da mão estar segurando a
movimento ocorra, tem que haver uma força envolvida. Mas isso
ponta do instrumento que tem o efeito de puxar a
pedra, não deixando que ela prossiga o movimento
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em linha reta, fazendo com que adquira um movimento circular. do processo para deixar claro o raciocínio empregado neste
desenvolvimento.
Sendo assim, o fato da Lua não se afastar indefinidamente
da Terra em trajetória retilínea tem que ser atribuído a alguma
força que a “puxe” constantemente, mantendo-a “presa” à Terra.
Figura 2.1 Composição de movimentos para explicar a
Newton deve ter imaginado que esta força devesse ser a mesma rotação da Lua ao redor da Terra
força responsável pelo fato da maçã cair, a força gravitacional. A
partir daí, era só uma questão de realizar os cálculos para
verificar se o movimento do satélite poderia ser explicado por
esta força, o que ele fez com sucesso.
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concordante com a queda de um corpo próximo à superfície da considerasse que deveria haver uma outra força envolvida no
Terra, e, portanto, deve ter a mesma causa: a força gravitacional. movimento da Lua ao redor da Terra, conforme foi relatado por
Conduitt. Somente ao utilizar um valor mais preciso para as
Estes cálculos só valem, porém, se for levando em conta
dimensões do planeta é que ele pôde caminhar na direção
que a força gravitacional decresce com o quadrado da distância,
correta para estabelecer a teoria da Gravitação Universal.
o que Newton estabeleceu acreditar ao escrever, em 1666, que
A ideia de que a gravitação é um fenômeno universal,
“E no mesmo ano eu comecei a pensar na gravidade se
porém, levou mais algumas décadas para amadurecer. Nesta
estendendo até o orbe da Lua e, tendo encontrado como estimar a
época, o que Newton imaginava era que o Sol possuia algum tipo
força com a qual um globo girando dentro de uma esfera pressiona
de “gravidade”, gerada pelo acúmulo de éter em seu interior, e
a superfície da esfera, da regra de Kepler de que os tempos
isso fazia com que os planetas girassem ao seu redor, da mesma
periódicos dos planetas estão em proporção sesquiáltera de suas
forma como a Lua girava ao redor da Terra. Nada indica que
distâncias aos centros de seus orbes, deduzi que as forças que
nesta ocasião Newton já considerasse que todos os corpos se
mantêm os planetas em seus orbes devem ser inversamente
atraem por meio desta força gravitacional. Este deve ter sido
[proporcionais] aos quadrados das suas distâncias aos centros em
outro grande passo dado pelo cientista, após muito tempo de
torno dos quais giram; [. . .]”
investigação.
(Newton, citado por Westfall 1990, p. 143.)WESTFALL, Richard S. Never at rest. A biography of Isaac Newton.
Cambridge: Cambridge University Press, 1990. A análise destes relatos sobre a história do estabelecimento
da força da gravidade traz um outro efeito colateral importante:
Efeitos colaterais
percebe-se que Newton, assim como os demais cientistas em
suas investigações, não “descobriu” a gravidade a partir da
Um dos efeitos colaterais interessantes desse raciocínio é
observação da queda de uma maçã, em algum tipo de “insight”.
que para provar sua argumentação Newton precisava utilizar,
A ideia de que existe uma força que deve atrair os corpos em
dentre outros valores, as dimensões da Terra, que na época não
direção à Terra, e a extensão desta ideia para a elaboração do
eram conhecidas com precisão. Isso chegou a levar o cientista a
conceito de gravitação universal, foi um processo contínuo, que
uma conclusão errônea em um de seus cálculos, quando um
levou muito tempo para ser estabelecido, baseando-se em
valor menor do que o correto para o tamanho do planeta,
ideias, observações e testes, com algum sucesso e muitos
provavelmente tomado da obra de Galileu, fez com que ele
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fracassos, e não por um “gênio”, que em um momento de sorte
observou um fenômeno e imediatamente estabeleceu um
princípio físico fundamental.
https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/issue/view/404
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Capítulo 3
USOS E
APLICAÇŌES
3. A cratera de Chicxulub
minerais e estruturas no interior da Terra e de outros planetas, para mencionar
apenas alguns. Vamos descrever alguns nos tópicos a seguir.
4. A cratera Wilkes Land, Antártica
5. Experimentos com gravidade reduzida A investigação do interior da Terra por meio das variações da aceleração
6. Conclusões da gravidade
7. Material complementar Utilizando o conceito de Gravitação Universal e as Leis de Newton, pode-se
observar que a aceleração da gravidade na superfície da Terra tem relação direta
com as distribuição de massa em subsuperfície, e os cientistas podem usar este
fato para investigar o interior terrestre (na verdade, de qualquer planeta ou corpo
no Universo, desde que se possa medir esta grandeza). Assim, os geofísicos
desenvolveram um método denominado gravimetria, que utiliza medidas
asssociadas ao campo da gravidade terrestre para investigar sua distribuição de
massa.
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O princípio básico da gravimetria é o de utilizar Walter Alvarez, físico, e Walter Alvarez, seu filho, geólogo, que
instrumentos que medem com precisão o deslocamento de uma juntamente com os químicos nucleares Frank Asaro e Helen
pequena massa, que vai ser atraída em maior ou menor Michael, publicaram um artigo sobre a investigação de uma
intensidade pela massa presente no local. Feitas as correções camada de calcáreo sobre a qual se depositavam sedimentos
apropriadas, é possível calcular a distribuição de massa no local desta idade, que continham grande quantidade de elementos
com boa precisão. Isso pode ser usado na busca de minerais, químicos que eles afirmavam ser provenientes de um corpo
que normalmente apresentam uma boa variação de densidade originário do espaço. O problema era encontrar a localização
em relação às rochas que estão ao seu redor, e portanto, vão deste corpo ou da estrutura originada por seu impacto (uma
gerar uma variação acentuada na aceleração da gravidade. grande cratera, pelo que calcularam). A hipótese era a de que o
Qualquer distribuição de massa que apresente contraste com o impacto teria originado uma grande camada de poeira e
que está ao seu redor, em princípio, pode ser detectada por este fragmentos, que se espalharia pela atmosfera, tornando-a opaca
método. à luz solar, fundamental para a fotossíntese e manutenção da
vida.
Diversas estruturas já foram mapeadas na Terra utilizando-
se este método. Talvez as mais notáveis sejam grandes crateras Dois geofísicos, Antonio Camargo e Glen Penfield, já haviam
de impacto atualmente ocultas por sedimentos ou gelo. É o caso notado, no final da década de 1970, na região do Golfo do
da cratera de Chicxulub, no México, e Wilkes Land, na Antártica. México a presença de uma estrutura circular profunda, que
Ambas estão ocultas a vários quilômetros de profundidade, e poderia ser uma cratera de impacto, com 180 km de largura.
apresentam um grande contraste de densidade com as rochas Diversas evidências reforçavam a ideia, mas os dados geofísicos
ou com o gelo que estão por cima delas, possibilitando que não podiam ser divulgados, por pertencerem a companhias de
sejam investigadas pela consequente variação da aceleração da exploração de petróleo, e dados geológicos não estavam
gravidade ao seu redor. disponíveis. Somente mais tarde o quebra-cabeças foi montado,
e observou-se a presença de uma enorme cratera na região de
A cratera de Chicxulub Chicxulub, México, com mais de 300 km de diâmetro (ou seja, a
cratera inicialmente observada pelos geofísicos era o anel interior
A existência de uma cratera de impacto que poderia estar
da cratera, e não sua borda externa), corroborada por dados
associada à extinção em massa ocorrida há 65 milhões de anos,
sísmicos e geológicos, como a presença de grãos de quartzo
na chamada fronteira K-T, havia sido proposta em 1980 por Luiz
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extremamente deformados e de tectitos, pequenos grãos de
vidro vulcânico presentes apenas em regiōes de explosões
Galeria de Imagens 3.1 Anomalia da gravidade em
nucleares e crateras de impacto. Estima-se que o corpo Chicxulub
causador do impacto tivesse 10 km de diâmetro, e a energia
liberada no processo tenha sido da ordem de 100 Teratons de
TNT, o que é equivalente a 2 milhões de vezes a mais poderosa
bomba atômica já detonada na Terra, a “bomba Tsar”, que em
1961 liberou 1500 vezes a energia combinada das bombas que
arrasaram Nagasaki e Hiroshima.
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A cratera Wilkes Land, Antártida O artigo com a descrição dos dados e resultados pode ser
encontrado (em inglês) em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/
Cientistas da Universidade de Ohio, EUA, liderados por 10.1029/2008GC002149/full.
Ralph von Frese e Laramie Potts, descobriram uma cratera muito
maior do que a de Chicxulub, na região leste da Antártica, ao sul
Galeria de Imagens 3.2 A cratera Wilkes Land, Antártida
da Austrália, a partir de dados de aceleração da gravidade. A
cratera tem 480 km de diâmetro, e está oculta a uma
profundidade de pelo menos 2 km, sob o gelo, na região
conhecida como Wilkes Land. Estima-se que o impacto tenha
sido causado por um corpo de 50 km de extensão, há 250
milhões de anos, período conhecido como “extinção Permiano-
Triássico”, quando quase a totalidade da vida animal existente na
Terra foi extinta.
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Experimentos com gravidade reduzida Newton realizou um experimento mental para explicar essa
possibilidade. Para isso, teorizou um canhão posicionado n o alto
É comum ouvir menção a ambientes no espaço sideral com de uma montanha muito alta, lançando um projétil com uma certa
“gravidade zero”, o que pode dar a falsa impressão que no velocidade, que atingiria uma certa distância. Se a velocidade de
espaço não se está sujeito à força ou aceleração da gravidade. lançamento fosse aumentada, o projétil atingiria uma distância
Isso não é correto! No espaço estamos sujeitos à força da maior. Se a velocidade fosse suficientemente elevada, porém, o
gravidade como em qualquer ponto do Universo. Na altitude projétil não tocaria o solo, mas permaneceria circulando ao redor
média da órbita da Estação Espacial Internacional (ISS, da Terra, em órbita. É isso o que ocorre com a ISS, que circunda
International Space Station), de 400 km acima da superfície a Terra a 400 km de altitude, com velocidade de 28.000 km/h.
terrestre, a força da gravidade é de aproximadamente 89% da Nesta situação, diz-se que existe um estado de “ausência de
força sentida no chão. E é exatamente por isso que a ISS peso”, ou seja, uma balança registraria peso zero. Isso não
continua em órbita ao redor da Terra; se a força da gravidade significa que a massa de um objeto seja nula; a massa não se
fosse nula nesta altitude, por exemplo, a ISS estaria viajando no altera nestas condições, mas a força que a balança mede se
espaço, distanciando-se progressivamente da Terra. altera. O peso de um objeto depende dele estar na superfície da
Terra, da Lua ou no espaço, mas sua massa nestas condições
Se um objeto é solto nas proximidades da superfície
permanece a mesma.
terrestre, ele cai com uma aceleração próxima de 9,8 m/s2, valor
muitas vezes chamado de ‘1g’. É comum vermos filmes de Alguns dispositivos podem simular temporariamente esta
astronautas soltando um objeto, que aparenta não cair. Na sensação de “ausência de peso”, como por exemplo a aeronave
verdade, o objeto está caindo, mas o astronauta e a espaçonave conhecida popularmente como “Vomit Comet”, descrita no
estão caindo com a mesma velocidade, o que causa a falsa capítulo 2. Ao se aventurar em uma montanha-russa é possível,
impressão de “ausência de gravidade”. Na situação em que se por alguns instantes, ter-se esta sensação, em certos trechos
encontram, na verdade, eles não estão caindo “em direção” da projetados para se obter esta condição. A NASA possui também
Terra, e sim caindo “ao redor” da Terra. Este estado é chamado um dispositivo chamado “Zero Gravity Research Facility”, uma
de “gravidade zero” (cuidado com o termo!), ou, mais torre de lançamento de 142 metros de altura, no interior da qual é
apropriadamente, microgravidade (com uma aceleração feito vácuo, e um objeto pode ser solto em queda livre por
correspondente a um milionésimo de g).
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aproximadamente 5 segundos, e experimentos podem ser estes aspectos, tanto teóricos quanto práticos, mas acreditamos
realizados em condições de microgravidade. ser importante uma última observação a respeito: este texto
aborda a gravidade do ponto de vista clássico, mas existe um
Galeria de Imagens 3.3 Zero Gravity Research Facility outro ataque do ponto de vista relativístico, que abre novos
horizontes a este assunto fascinante. Vale a pena se enveredar
por esta outra forma de entender os conceitos associados a este
assunto, que, apesar de matematicamente um pouco mais
complexa, traz diversos pontos que podem ser classificados por
adjetivos os mais enaltecedores possível.
Material complementar
http://www.esa.int/Our_Activities/Observing_the_Earth/GOCE/
GOCE_reveals_gravity_dip_from_ice_loss
http://news.sciencemag.org/earth/2014/10/satellites-reveal-
hidden-features-bottom-earths-seas
http://topex.ucsd.edu/grav_outreach/
http://www.jpl.nasa.gov/news/news.php?release=2014-217
http://m.scidev.net/global/technology/news/gravity-powered-
lamp-to-enter-field-tests.html
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