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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES


DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

DISCIPLINA: REGÊNCIA
PROFESSORA: DORIT KOLLING

O REGENTE CORAL E SUA FORMAÇÃO


Dorit Kolling


Em todos os tempos, a atividade coral tem-se constituído em uma das manifestações


artísticas mais acessíveis aos diversos grupos sociais. Isso porque o homem, ser social por
excelência, tem experimentado, desde muito cedo, a necessidade de se expressar,
utilizando, para tal, o instrumento mais natural e acessível que dispõe: sua própria voz. A
contínua expansão da atividade coral no mundo é um dos sintomas que evidenciam a
importância desta prática no acervo cultural dos povos.
Geralmente, os grupos corais se reúnem em torno do regente que, por sua vez, necessita
de certas condições para fazer prosperar a "ideia" de desenvolver um trabalho coral. Além
dos conhecimentos musicais gerais e de uma formação específica deve possuir características
próprias de um “líder”, para dinamizar convenientemente o grupo, conduzindo-o
firmemente para alcançar os objetivos propostos.
Mas, o que é ser regente? O que é ser líder?
Para GARRETSON (1975), o regente coral é, em primeiro lugar, um administrador;
em segundo, um professor e, finalmente, mas não menos importante, um regente.
Já para MATHIAS (1986), o maestro ou regente deve ser um líder que faz com que as
pessoas cresçam, valorizando o esforço de cada componente. Ele faz referência ao lado
psicológico e social da atividade coral e afirma que uma das características básicas de um líder
é fazer as coisas acontecerem. Sendo o regente um homem de ação e também de participação, o
líder deve ser coordenador das atividades do grupo e deve caminhar sempre em direção
aos objetivos propostos.
KERR (s/d) concorda com Mathias quando afirma que o regente ou maestro deva ser um líder
que identifica a canção, entende como fazê-la e busca o envolvimento dos cantores nesse processo.
Em síntese, podemos afirmar que regência é uma arte de múltiplas faces que necessita de
um trabalho complexo de preparação. E, como características de um líder, considero que o
mesmo seja o responsável por identificar e propor caminhos aos cantores para que se
expressem por meio da música; seja um catalizador que consiga “provocar” e extrair dos
cantores o elemento expressivo de cada um, o que resultará no trabalho do grupo todo, não
“apagando” as singularidades de cada um, mas sim, construir a “identidade coral” desejada a
partir desta multiplicidade de timbres e “cores” vocais, o que dará personalidade sonora ao
coro.
Mas, que trabalho é este? Qual a formação necessária para um regente coral?
FIGUEIREDO (1990), afirma que a formação do regente coral normalmente ocorre de forma
assistemática e que isto muitas vezes é prejudicial à atividade coral. Para o autor,

Esta preparação do regente tem sido assistemática, de um modo geral, e o


resultado desta assistematização se reflete claramente na trajetória dos
corais. Existem casos de regentes de certas comunidades que outorgam aos filhos, e
aos filhos dos filhos, o direito de reger o coral da comunidade. Há regentes cuja
única formação é a experiência de cantar em coral: após alguns anos de prática
como cantor, assumem a liderança do grupo e tornam regentes. Existem
também regentes que se formam em escolas de música e universidade. Tal situação
produz uma idéia equivocada do conhecimento no que se refere à prática coral, não
havendo uma sistematização que aborde a problemática coral de forma efetiva
(FIGUEIREDO, 1990, p. 01).

O referido autor (1990) continua seu discurso afirmando que a prática coral está, muitas
vezes, calcada na individualidade do regente, acima do próprio conhecimento, o que acaba por
dificultar o processo de desenvolvimento do grupo. Cita ainda que, por ser a atividade coral bastante
diferenciada, no que tange a realidade social e musical dos cantores, a mesma deveria incitar uma
formação mais consistente do regente. Esse “incitar” uma formação mais consistente, entretanto, nem
sempre é aceita pelos regentes “menos preparados”, porque geralmente culpam os cantores pelas
falhas dele.
Indo além, muitas vezes, os regentes sem formação assumem uma postura “ditatorial” junto
ao grupo, para não demonstrar a fragilidade do seu preparo técnico e teórico. Assim, considero que
uma prática baseada apenas no “empirismo”, que desconhece os processos técnico-musicais, pode
algumas, senão, frequentes, agir contra uma prática coral efetiva.
Para MATHIAS (op. cit.), há quatro áreas a serem desenvolvidas pelos regentes, em busca de sua
formação, que estão assim subdivididas:

Habilidades Físicas
1. Padrões de regência
2. Gestos expressivos
3. Uso da mão esquerda
4. Preparação - ataques - cortes
5. Dinâmica e agógica
6. Fraseologia
Consciência Auditiva
1. Afinação
2. Consciência tonal
3. Equilíbrio/Unidade
4. Consciência Rítmica
Comunicação
1. Correção das faltas vocais
2. Equilíbrio do som
3. Motivação
4. Exemplificação - demonstração
5. Uso de analogias e ilustrações
6. Liderança
7. Relacionamento inter-pessoal
Interpretação
1. Recriação das intenções do compositor
2. Entendimento dos estilos e períodos históricos
3. Execução da música dentro do estilo próprio
4. Vivência da música (MATHIAS, 1986, p.20).

Por sua vez, ROBINSON e WINOLD afirmam que:

Regência é um trabalho complexo e a maestria da sua técnica física, embora


importante, é algo muito pequeno da arte total. Treinamento auditivo,
habilidade técnica de regência, talento musical da mais alta ordem, amplo
c o n h e c i m e n t o d e e s t i l o m u s i c a l , musicalidade e experiência são
ingredientes indispensáveis para o desenvolvimento de um bom regente.
Entretanto, mesmo estas qualidades podem não assegurar que uma pessoa será
um regente de inspiração e sucesso. As qualidades intocáveis da personalidade
que são essenciais para uma liderança forçosa em outros campos, são
também ingredientes necessários à liderança musical, porque muitas
personalidades com características emocionais e capacidades
intelectuais heterogêneas podem ser fundidas em uma unidade de som
musical homogênea. Ligados a esses comandos de liderança, as demandas
vocais e musicais distintivas da performance coral trazem ainda outra
d i m e n s ã o à c o m p l e x i d a d e d a a r t e d a r e g ê n c i a (ROBINSON &
WINOLD, 1976, p. 30-31).

RUSSO, (s/d), afirma que há elementos essenciais que o regente coral deve possuir,
sem os quais, não é aconselhável que se "enfrente" o trabalho junto a um Grupo Coral. São
estes: “Bom instinto musical; Percepção auditiva dos intervalos melódicos harmônicos Senso
rítmico; Comunicação (instinto pedagógico)" (RUSSO, s/d, p.31).
O mesmo autor continua sugerindo um plano de estudo, com duração
aproximada de quatro anos, uma vez que, em sua opinião, o regente coral necessita buscar
consolidar sua formação, mesmo que isto se dê juntamente com o trabalho que vem
realizando com seu grupo coral. O referido plano está dividido nas seguintes matérias:
Matérias essencialmente formativas, com o estudo da Harmonia e do Contraponto e
Morfologia;
Matérias técnicas, com o estudo da técnica de regência, do canto e de idiomas,
como por exemplo, o inglês, o italiano, o alemão e o latim;
Matérias Estéticas, com o estudo das diversas épocas e estilos - História da Arte
Outros regentes e estudiosos também fazem suas colocações quanto à
necessidade e importância da formação do regente coral, sugerindo inclusive os aspectos ou
disciplinas a serem trabalhadas. Mas o que temos, na essência, é que todos são unânimes
em afirmar a necessidade do regente coral possuir ou buscar uma formação sólida, sem a
qual o desenvolvimento musical dos grupos corais será prejudicado e o trabalho não
atingirá os objetivos ou atingirá com muito desgaste e em um tempo muito maior..
Trazendo essa situação mais especificamente para o Brasil, o que temos é o quadro acima
relatado. A atividade coral está em plena expansão, surgem novos agrupamentos corais a
todo instante. Porém, os regentes corais, na sua maioria, não possuem conhecimento
suficiente para desenvolver um trabalho de qualidade com esses grupos corais. A formação
dos mesmos é assistemática, como afirmado inicialmente, e o trabalho coral torna-se muito
frágil, ficando à mercê da "figura" do regente e não do conhecimento e do desenvolvimento
de um processo.
E o que as Universidades Brasileiras têm feito para remediar esta situação?
Consideramos que seja muito pouco. O que temos são os cursos de Bacharelado em
Composição e Regência, com currículos muitas vezes fora da realidade, onde os alunos
regem, na maioria das vezes, gravações. Os poucos regentes corais que buscam sua
formação nas Universidades Brasileiras acabam por freqüentar esses cursos de
Composição e Regência ou o próprio curso de Licenciatura em Educação Artística -
Habilitação em Música que, por sua vez, não tem por objetivo principal formar regentes
corais, até porque as Licenciaturas buscam formar o professor de música para os I e II graus, não
enfocando a importância de cursos técnicos em nível de II grau para estimular a formação do
músico.
Temos conhecimento apenas do Bacharelado em Música - Habilitação: Regência
Coral, oferecido pelo Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, curso este relativamente novo, que foi desenvolvido com o
objetivo de proporcionar uma formação mais sólida ao regente coral, adaptando-o à
realidade de um estado que possui uma atividade coral bastante grande e profícua, além da
escassez de orquestras oferecendo poucas possibilidades de mercado de trabalho para o
graduando.
Fazendo uma análise geral do seu currículo, pode-se observar que muitos dos
elementos, ou melhor, áreas de formação citadas anteriormente estão desenvolvidas
neste curso que oferece ao aluno/regente coral uma formação musical geral, com
disciplinas como História da Música, Estética, Teoria e Percepção, Forma e Análise Musical,
Harmonia e Contraponto.
Oferece ainda disciplinas "técnicas", como Canto Coral, Regência Coral, Técnica
Vocal, Fisiologia da Voz, além de Arranjos Vocais e Prosódia. O estudo de idiomas, tão
importante para a atividade coral, também faz parte do currículo, com as disciplinas de
Inglês, Alemão e Francês Instrumental; e o estudo de um instrumento, além do enfoque à
necessidade da leitura de partitura, também fazem parte do referido curso por meio das
disciplinas Teclado Complementar e Leitura de Partitura ao Piano.
Muito importante, também, em nossa opinião, são as disciplinas Música Brasileira e
Folclore Musical Brasileiro, pois acreditamos que devemos conhecer profundamente a
"nossa música", para que a mesma comece a ser valorizada inicialmente por todos nós,
músicos profissionais ou não, além das disciplinas de formação geral, como Filosofia da
Arte e Filosofia da Cultura.
Mas, será que este é o melhor currículo? Com este curso o regente coral teria sua
formação garantida?
Torna-se muito arriscado e complexo fazer uma “avaliação” neste momento, além
do que muitos outros fatores, não só o currículo, interferem no processo educacional. Pensamos,
sim, que um estudo mais aprofundado do currículo acima descrito se faça necessário,
juntamente com a análise das ementas e planos de ensino das disciplinas, observação de
aulas, dos professores e alunos, entre outras situações. Isso tudo para que possamos ter
parâmetros mais consistentes para só então procedermos a uma avaliação criteriosa do curso e
seu currículo.
Porém, em uma “avaliação geral”, sem entrar em um julgamento mais aprofundado
do currículo e do curso, pelas questões acima descritas, podemos afirmar que o curso tem uma
boa estrutura, oferendo as disciplinas ou áreas de estudos necessárias à formação do regente
coral, servindo como referência não definitiva de uma formação em nível superior na área
da Regência Coral. Sentimos falta, no entanto, de duas áreas mencionadas por regentes e
estudiosos como importantes na formação de um regente coral, com as quais
concordamos: a formação do líder e, principalmente, com a formação do educador.
Além das áreas citadas acima, outra questão deve ser repensada nos cursos de Regência
que, em sua maioria, incluindo o da UFRGS, utilizam-se de modelos europeus ou
norteamericanos. Neste sentido, como fica o ensino da Música Brasileira, da Música Popular
Brasileira e a busca da identidade latino-americana? É importante pensar os diversos ritmos,
melodias, harmonias e sonoridades presentes nas diferentes regiões do Brasil e, muito mais
amplo, da América Latina.
Como afirma FIGUEIREDO (1990) na conclusão de seu trabalho:

É fundamental que se reflita sobre a atividade coral. Os regentes devem se


lembrar de sua função educacional. Através desta re f lex ão h av erá m ai o re s
p o s s i b i l i d a d e s d e d e s e n v o l v i m e n t o consistente do conhecimento
musical, que conduzirá, seguramente, ao aprimoramento da prática coral
(FIGUEIREDO, 1990, p. 90).

Buscando ainda uma resposta à pergunta feita anteriormente no que se refere à


formação acadêmica dos regentes corais no Brasil, temos a afirmar que o curso oferecido
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul pode não ser o ideal, mas é um bom
começo. Certamente, com mais cursos voltados à formação do regente coral
conseguiríamos melhorar a atividade coral, por meio da qualificação das pessoas, tornando-a
um processo mais consistente e gratificante. Temos que caminhar em busca de um
relacionamento enfático entre regen te e c a ntor que possa pe r mitir a a mbos u ma
experiência em comum de comunicação, onde o som de cada um possa se inserir,
conforme Mathias, em um processo de educação musical libertadora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. O ensaio coral como momento de aprendizagem: a prática
coral numa perspectiva de Educação Musical. Porto Alegre: 1990. (Dissertação de Mestrado em
Música). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1990.

GALLO, J. A.; GRAETZER, G.; NARDI, H. & RUSSO, A. El Director de Coro - Manual para Ia
dirección de coros vocacionales. Buenos Aires: Ricordi Americana.

GARRETSON, Robert L. Conducting Chorai Music. 4th edition. Boston: Allyn and Bacon,
1975.

MATHIAS, Nelson. Coral, um canto apaixonante. Brasília: MusiMed, 1986.


ROBINSON, Ray & WINOLD, Allen. The Coral Experience: literature, materiais and
methods. New York: Harper & Row, 1976.

Currículo do Curso 420-04 - Bacharelado em Música - Habilitação: Regência Coral,


Departamento de Música - Instituto de Artes - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: S/R

Por: Dorit Kolling


Trabalho final apresentado para a disciplina Metodologia do Ensino Superior em Música do
Curso de Especialização em Música Brasileira.
Cuiabá, novembro de 1996.

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