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MAXWEBER

BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Ensaiosde
Sociologia
Organização e Introdução:
H.H. Gerth e C. Wright Mills

Quinta edição

Tradução:
Waltensir Dutra

Revisão Técnica:
Prof. Fernando Henrique Cardoso

Oc
EDITORA
210 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA

A reação conciliar, e ao mesmo tempo nacionalista, contra


o universalism o do papado no desaparecimento da Idade M edia
teve sua origem , em grande parte, nos interesses dos intelectuais
que desejavam ver as prebendas de seu país reservadas para
eles e não ocupadas por estrangeiros via Roma. A final de
contas, o nome natio como conceito legal para um a comunidade VII. Classe, Estamento, Partido
organizada encontra-se primeiro nas universidades e nos concí­
lios de reform a da Igreja. N aquela época, porém, a ligação
com a lín gu a nacional per se não existia; esse elo, pelos motivos
expostos, é especificamente moderno. 1. O P oder D e t e r m in a d o E c o n o m ic a m e n t e e a O r d e m S o c ia l
Se acreditarmos que é cômodo distinguir o sentimento na­
cional como algo homogêneo e especificamente à parte, só o po­
deremos fazer em relação a um a tendência para o Estado autono- A l e i e x i s t e quando há um a probabilidade de que a ordem
mo. E devemos ter plena consciência do fato de que sentimentos seja m antida por um quadro específico de homens que usarão
de solidariedade, m uito heterogêneos tanto na sua natureza como a força física ou psíquica com a intenção de obter conformidade
na origem , estão compreendidos pelos sentimentos nacionais. com a ordem, ou de impor sanções pela sua violação. A estru­
tura de toda ordem jurídica influi diretamente na distribuição
do poder, econômico ou qualquer outro, dentro de sua respectiva
comunidade. Isso é válido para todas as ordens jurídicas e não
apenas para a do Estado. Em geral, entendemos por “poder”
a possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens,
realize sua vontade própria num a ação com unitária até mesmo
contra a resistência de outros que participam da ação.
O poder “condicionado economicamente” não é, decerto, idên­
tico ao “poder” como tal. Pelo contrário, o aparecimento do
poder econômico pode ser a conseqüência do poder existente por
outros motivos. O homem não luta pelo poder apenas para
enriquecer economicamente. O poder, inclusive o poder econô­
mico, pode ser desejado “por si mesmo”. M uito freqüentemente,
a luta pelo poder também é condicionada pelas “honras” sociais
que ele acarreta. N em todo poder, porém, traz honras sociais:
o chefe político americano típico, bem como o grande especula­
dor típico, abrem mão deliberadamente dessa honraria. Geral­
mente, o poder “meram ente econômico”, em especial o poder
financeiro puro e simples, não é de forma algum a reconhecido
como base de honras sociais. Nem é o poder a única base de

W irtschaft und G esellschaft, p a r t e III, c a p . 4, p p . 631-40. A


p r im e ir a s e n te n ç a do p a r á g r a f o u m e a s v á r ia s d e f in iç õ e s q u e , n e s te
c a p ítu lo , e s tã o e n t r e c o lc h e te s , n áo c o n sta m do t e x t o o r ig in a l.
F o ra m e x t r a íd a s d e o i j o s c o n te x to s d e W irtschaft u n d G esellschaft.
212 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA cla sse , e sta m e n to , p a r t id o 213

tal honra. N a verdade, ela, ou o prestígio, podem ser mesmo troca, cria, em si, oportunidades específicas de vida, o que cons­
a base do poder político ou econômico, e isso ocorreu muito titui um fato econômico bastante elementar. Segundo a lei da
freqüentemente. O poder, bem como as honras, podem ser asse­ utilidade m arginal, êsse modo de distribuição exclui os não-pro-
gurados pela ordem jurídica, mas, pelo menos normalmente, não prietários da competição pelos bens muito desejados; favorece
é a sua fonte prim ordial. A ordem jurídica constitui antes um os proprietários e, na verdade, lhes dá o monopólio para a aquisi­
fator adicional que aum enta a possibilidade de poder ou honras; ção dêsses bens. Em igualdade de fatores, êsse modo de dis­
mas nem sempre pode assegurá-los. tribuição monopoliza as oportunidades de transações lucrativas
A forma pela qual as honras sociais são distribuídas numa para todos os que, dispondo de bens, não têm necessariamente
comunidade, entre grupos típicos que participam nessa distribui­ de trocá-los. A um enta, pelo menos em geral, seu poderio nas
ção, pode ser cham ada de “ordem social”. E la e a ordem eco­ guerras de preço com os que, não tendo propriedades, só têm
nômica estão, decerto, relacionadas da mesma forma com a “ordem a oferecer seus serviços, em forma bruta, ou bens num a forma
ju ríd ica”. N ão são, porém, idênticas. A ordem social é, para constituída através de seu próprio trabalho e que, acim a de tudo,
nós, simplesmente a forma pela qual os bens e serviços econô­ são compelidos a se desfazer dêsses produtos para que possam,
micos são distribuídos e usados. A ordem social é, decerto, simplesmente, subsistir. Essa forma de distribuição dá aos pro­
condicionada em alto grau pela ordem econômica, e por sua vez prietários um monopólio da possibilidade de transferir bens da
influi nela. esfera de uso como “fortuna” para a esfera de “bens de capital” ;
isto é, dá-lhes a função em presarial e tôdas as oportunidades de
Dessa forma, “classes”, “estamentos” e “partidos” são fenô­
participar direta ou indiretam ente dos lucros sôbre o capital.
menos da distribuição de poder dentro de um a comunidade.
Tudo isso é válido dentro da área na qual predominam as con­
dições de mercado pura e simplesmente. “Propriedade” e “falta
2. D e t e r m in a ç ã o da S it u a ç ã o de C l a sse pela
de propriedade” são, portanto, as categorias básicas de . tôdas
S it u a ç ã o de M ercado
as situações de classe. N ão im porta se essas duas categorias se
tornam efetivas em guerras de preço ou em lutas competitivas.
Em nossa terminologia, “classes” não são com unidades; re­ Dentro dessas categorias, porém, as situações de classe dis­
presentam simplesmente bases possíveis, e freqüentes, de ação tinguem -se m elhor: de um lado, segundo o tipo de propriedade
comunal. Podemos falar de um a “classe” quando: 1) certo utilizável para lucro; de outro lado, segundo o tipo de serviços
núm ero de pessoas tem em comum um componente causal espe­ que podem ser oferecidos no mercado. A propriedade dos edifí­
cífico em suas oportunidades de vida, e na m edida em que 2) cios de residência; dos estabelecimentos produtores; arm azéns;
êsse componente é representado exclusivam ente pelos interesses lojas; terra cultivável; grandes e pequenas propriedades — dife­
econômicos da posse de bens e oportunidades de renda, e 3) renças quantitativas com possíveis conseqüências qualitativas —;
é representado sob as condições de mercado de produtos ou propriedade de m inas; gado; homens (escravos); disposição sôbre
mercado de trabalho. [Êsses pontos referem-se à “situação de instrumentos móveis da produção, ou bens de capital de todos
classe”, que podemos expressar m ais sucintamente como a opor­ os tipos, especialmente dinheiro ou objetos que possam ser tro­
tunidade típica de um a oferta de bens, de condições de vida cados por dinheiro, facilm ente e a qualquer momento; controle
exteriores e experiências pessoais de vida, e na m edida em que do produto do próprio trabalho e do trabalho de outros, diferin­
essa oportunidade é determ inada pelo volume e tipo de poder, do segundo as variações na possibilidade de consumo; controle
ou falta dêles, de dispor de bens ou habilidades em benefício dos monopólios transferíveis de qualquer tipo — tôdas essas dis­
de renda de um a determ inada ordem econômica. A palavra tinções caracterizam as situações de classe assim como o “sentido”
“classe” refere-se a qualquer grupo de pessoas que se encon­
que elas podem dar, e dão, à utilização da propriedade, especial­
trem na mesma situação de classe.] mente a propriedade que tem equivalentes monetários. Assim,
A forma pela qual a propriedade m aterial é distribuída entre os proprietários, por exemplo, podem pertencer à classe dos arren­
várias pessoas, que competem no mercado com a finalidade de dadores ou à classe dos empresários.
214 E N SA IO S DE SO CIO LO G IA C L A S S E , E S T A M E N T O , PAR T ID O 215
Os que não têm propriedade mas oferecem serviços são dis­ muito, dependendo de se ter ou não desenvolvido da situação de
tinguidos tanto pelos tipos de serviços que prestam como pela classe um a ação com unitária por parte dum a porção maior ou me­
forma pela qual fazem uso desses serviços, num a relação contínua nor daqueles que estão igualm ente afetados pela “situação de clas­
ou descontínua com um recipiendário. Mas essa é sempre a se”, ou mesmo um a associação entre eles, por exemplo, um “sin­
conotação genérica do conceito de classe: que o tipo de oportu­ dicato”, da qual o indivíduo possa ou não esperar resultados
nidade no mercado é o momento decisivo que apresenta condi­ promissores. [A ação com unitária refere-se à ação que é orienta­
ção comum para a sorte individual. “Situação de classe”, nesse da pelo sentimento dos agentes de pertencerem a um todo. A
sentido, é, em últim a análise, “situação de mercado”. O efeito ação societária, por sua vez, é orientada no sentido de um ajus­
da simples posse, por si, que entre os criadores de gado coloca tamento de interesses racionalmente motivado.] O aparecimento
o escravo ou o servo sem propriedades nas mãos do dono de de um a ação societária ou mesmo com unitária, partindo de uma
gado, é apenas um precursor da verdadeira formação de “classe”. situação comum de classe, não é de modo algum um fenômeno
Entretanto, no empréstimo de gado e na crua severidade da lei universal.
de dívidas nessas comunidades, pela prim eira vez a simples “pos­
se” como tal surge, decisiva, para o destino do indivíduo. Isso A situação de classe pode ser lim itada, em seus efeitos, à
contrasta bastante com as comunidades agrícolas baseadas no tra­ criação de reações essencialmente homogêneas, ou seja, dentro
balho. A relação credor-devedor só se torna a base das “situações de nossa terminologia, de “ações de massa”. Não obstante,
de classe” nas cidades onde a plutocracia criou um “mercado de pode não ter nem mesmo esse resultado. A lém disso, com fre­
crédito”, por mais primitivo que seja, com taxas de juro au­ qüência surge apenas um a ação com unitária amorfa. Por exem­
mentando segundo as proporções da escassez e um a monopoli­ plo, o “resm ungar” dos trabalhadores, conhecido na ética orien­
zação concreta dos créditos. Com isso, iniciam -se as “lutas de tal an tiga: a desaprovação m oral da conduta do feitor, que em
sua significação prática equivalia provavelmente a um fenômeno,
classe”.
cada vez mais típico do mais recente desenvolvimento industrial,
A queles cujo destino não é determ inado pela oportunidade a “operação tartaruga”, ou seja, a lim itação deliberada do es­
de usar, em proveito próprio, bens e serviços no mercado, isto forço de trabalho pelos operários em virtude de um acordo
é, os escravos, não são, porém, um a “classe”, no sentido técnico tácito. O grau no q u al a “ação com unitária” e possivelmente a
da expressão. São, antes, um “estamento”. “ação societária” surgem das “ações de massa” dos membros de
um a classe depende de condições culturais gerais, especialmente
as do tipo intelectual. T am bém depende das proporções dos
3. A ção C o m u n it á r ia D ecorrente do I n te r esse de C l a sse contrastes que já tenham surgido, estando especialmente ligada
à transparência das ligações entre as causas e as conseqüências
Segundo a nossa terminologia, o fator que cria “classe” é da “situação de classe”. Por m ais diferentes que as oportuni­
um interesse econômico claro, e na verdade, apenas os interesses dades de vida possam ser, esse fato, em si mesmo, segundo tôda
ligados à existência do “mercado”. Não obstante, o conceito de experiência, de forma algum a dá origem à “ação de classe” (ação
“interesse de classe” é am bíguo: mesmo como conceito empírico com unitária pelos membros de um a classe). O fato de ser con­
é am bíguo na m edida em que se entenda por ele algo além dicionado e os resultados d a situação de classe precisam ser
da direção fatual de interesses que se segue com certa probabili­ claram ente reconhecidos, pois somente então o contraste das opor­
dade, da situação de classe para certa “m édia” das pessoas sujei­ tunidades de vida poderá ser considerado não como um dado
tas à situação de classe. Não havendo variações na situação de absoluto a ser aceito, mas como resultante: 1) da distribuição
classe e outras circunstâncias, a direção na qual o trabalhador de propriedade existente, ou 2) da estrutura da ordem econômica
individual, por exemplo, deverá buscar seus interesses pode va­ concreta. Só então é que as pessoas podem reagir contra a
riar m uito, dependendo do fato de estar qualificado constitucio­ estrutura de classes, não apenas através de atos de protesto inter­
nalm ente, em grau alto, médio ou baixo, para a tarefa que se mitentes e irracionais, mas sob a forma de um a associação ra­
apresenta. D a mesma forma, a direção dos interesses pode variar cional. Houve “situações de classe” pertencentes à prim eira
216 E N S A IO S DE SO CIO LO G IA
C LA SSE , E ST A M E N TO , PARTID O 217
categoria 1), excepcionalmente nítidas e evidentes nos centros da empresa capitalista é precondicionada por um tipo específico
urbanos da A ntigüidade e durante a Idade M édia; especialmente de “ordem jurídica”. C ada tipo de situação de classe, e acim a
nesse últim o caso, quando foram acum uladas grandes fortunas de tudo quando se baseia no poder da propriedade per se,
pelo monopólio de fato do comércio de produtos industriais desses torna-se mais evidentem ente eficaz quando todos os outros de­
centros ou do comércio de comestíveis. A lém disso, em certas terminantes das relações recíprocas são, na m edida do possível,
circunstâncias temos o exemplo de economias rurais dos mais elim inados em sua significação. É desse modo que a utilização
diversos períodos, quando a agricultura era explorada de forma do poder da propriedade no mercado consegue sua m aior im ­
crescente com objetivos de lucro. O exemplo histórico mais portância soberana.
im portante da segunda categoria 2) é a situação de classe do
“proletariado” moderno. Ora, os chamados “estamentos” dificultam a realização ri­
gorosa do princípio de mercado, puro e simples. No presente
contexto, são de interesse para nós apenas deste ponto de vista.
4. T ip o s de “L uta de C la sse ” Antes de os exam inarm os sucintamente, observemos que não
se pode dizer m uita coisa de natureza geral sobre os tipos mais
Assim, toda classe pode ser portadora de um a das possíveis específicos de antagonismo entre “classes” (em nosso sentido
e numerosas formas de “ação de classe”, embora isso não acon­ da expressão). A grande transformação, que ocorreu continua­
teça necessariamente. De qualquer modo, um a classe não cons­ mente no passado e veio até a nossa época, pode ser resumida,
titui, em si, um a comunidade. T ratar a “classe” conceptual- embora a expensas de um a certa precisão: a lu ta na q u al as
mente como tendo o mesmo valor de “comunidade” leva à situações de classe são efetivas se deslocou progressivam ente,
deformação. O fato de homens na mesma situação de classe primeiro, da fase do crédito de consumo para as lutas compe­
reagirem regularm ente através de ações de massa a situações titivas no mercado de produtos e, em seguida, para as guerras
tão tangíveis quanto as econômicas, e reagirem no sentido dos de preço no mercado de trabalho. As “lutas de classe” da
interesses mais adequados à m édia deles, é importante, e na A ntigüidade — na m edida em que foram autênticas e não ape­
verdade simples, para a compreensão dos acontecimentos his­ nas lutas entre estamentos — foram realizadas inicialm ente pelos
tóricos. A cim a de tudo, esse fato não deve levar àquele tipo camponeses endividados e talvez, também, pelos artesãos am ea­
de uso pseudocientífico dos conceitos de “classe” e “interesse çados pela servidão em conseqüência de dívidas e que lutavam
de classe” observado com tanta freqüência, hoje em dia, e que contra os credores urbanos, pois a sujeição por dívidas é o re­
encontra sua expressão mais clássica na afirmação de um autor sultado norm al da diferenciação de riqueza nas cidades comer­
talentoso, de que o indivíduo pode errar em relação aos seus ciais, especialmente nas cidades portuárias. Situação sem elhante
interesses, mas que a “classe” é “infalível” em relação a esses existiu entre os criadores de gado. A s relações de débito, como
interesses. Não obstante, se as classes como tal não são comu­ tal, provocaram ação de classe até a época de C atilin a. Jun­
nidades, ainda assim as situações de classe só aparecem à base tamente com isto e com um aumento no abastecimento de ce­
da com unalização. A ação com unitária que cria situações de reais para a cidade, transportando-os de fora, surgiu a lu ta pelos
classe, porém, não é basicamente ação entre membros de classe meios de manutenção. Centralizou-se, em primeiro lugar, em
idêntica; é um a ação entre membros de classes diferentes. Os torno do abastecimento de pão e na determ inação de seu preço.
atos comunitários que determ inam diretam ente a situação de Durou toda a A ntigüidade e toda a Idade M édia. Os não-pro-
classe do trabalhador e do empresário são: o mercado de tra­ prietários, como tal, agruparam -se contra os que, real e supos­
balho, o mercado de produtos e a empresa capitalista. Mas, tamente, tinham interesse pela escassez do pão. Essa lu ta d i­
por sua vez, a existência de um a empresa capitalista pressupõe
fundiu-se até envolver todos os produtos essenciais ao modo
a existência de um a ação com unitária m uito específica e que é de vida e à produção artesanal. H ouve apenas discussões inci­
especificamente estruturada para proteger a posse de bens per
pientes de disputas salariais na A ntigüidade e na Idade M édia,
se, e especialmente o poder que os indivíduos têm de dispor,
que foram, porém, crescendo lentam ente até os tempos moder­
em princípio livremente, dos meios de produção. A existência
nos. Nos períodos anteriores, elas foram completamente se­
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cundárias às rebeliões de escravos, bem como às lutas no mer­ distinções de classe estão ligadas, das formas mais variadas, com
cado de produtos. as distinções de status. A propriedade como tal nem sempre é
Os não-proprietários da A ntigüidade e da Idade M édia pro­ reconhecida como qualificação estamental, mas a longo prazo
testaram contra os monopólios, as compras antecipadas, açam- ela assim é, e com extraordinária regularidade. N a economia
barcamento, e a retenção de bens do mercado com a finalidade de subsistência da com unidade organizada, com freqüência o
de aum entar os preços. Hoje em dia, a questão central é a homem m ais rico é simplesmente o chefete. Isso pode, porém,
significar com freqüência apenas um a preferência honorífica. Por
determinação do preço do trabalho.
exemplo, na cham ada “democracia” moderna pura, isto é, a de­
Essa transição é retratada pela luta por acesso ao mercado mocracia destituída de quaisquer privilégios estamentais expres­
e para determ inar o preço dos produtos. T ais lutas foram trava­ samente ordenados para os indivíduos, pode acontecer que so­
das entre comerciantes e trabalhadores, no sistema de artesa­ mente as fam ílias pertencentes aproxim adamente à mesma cate­
nato doméstico, durante a transição para os tempos modernos. goria tributária dancem um as com as outras. Esse exemplo
Como é um fenômeno bastante geral, devemos mencionar aqui é citado em relação a certas cidades suíças menores. M as a hon­
que os antagonismos de classes condicionados pela situação de raria estamental não precisa, necessariamente, estar ligad a a um a
mercado são habitualm ente mais acerbos entre os que partici­ “situação de classe”. Pelo contrário, norm alm ente ela se opõe
pam, real c diretamente, como adversários nas guerras de preços. de forma acentuada às pretensões de simples propriedade.
Não é o homem que vive de rendas, o acionista e o banqueiro
que sofrem com a má vontade do trabalhador, mas quase Tanto os proprietários como os não-proprietários pertencem
exclusivamente o industrial e os diretores de empresas que são ao mesmo estamento e freqüentemente o fazem com resultados
adversários diretos dos trabalhadores nas guerras de preços. Isso bem tangíveis. Essa “igualdade” da estima social pode, porém,
ocorre a despeito do fato de ser precisamente para as arcas do a longo prazo, tornar-se precária. A “igualdade” social entre
homem que vive de rendas, do acionista e do banqueiro que os “cavalheiros” americanos, por exemplo, se expressa pelo fato
fluem os lucros m ais ou menos “gratuitos”, e não para os bolsos de que fora da subordinação determ inada pelas diferentes fun­
dos fabricantes ou dos administradores. Essa situação simples ções nos “negócios", seria considerado rigorosamente repugnante
tem sido, com m uita freqüência, decisiva para o papel que a — onde quer que a velha tradição ainda predomine — se até
situação de classe desempenhou n a formação dos partidos polí­ mesmo o mais rico “chefe”, ao jogar bilhar ou cartas em seu
ticos. Possibilitou, por exemplo, as variedades de socialismo clube à noite, não tratasse o seu “funcionário” como, sob tcdos
patriarcal e as tentativas freqüentes — pelo menos antigam ente os aspectos, seu igu al por nascimento. Seria repugnante que o
— dos estamentos ameaçados de formarem alianças com o pro­ “chefe” americano concedesse ao seu “funcionário” um a “bene­
letariado contra a “burguesia”. volência” condescendente, estabelecendo um a distinção de “posi­
ção”, que o chefe alemão jam ais pode dissociar de sua atitude.
É essa um a das razões mais importantes pelas quais na A m é­
5. A H onra E sta m en ta l rica o “espírito de clube” alemão jam ais pode alcançar a atra­
ção exercida pelos clubes americanos.
Em contraste com as classes, os grupos de "status!’ são nor­
m alm ente comunidades. Com freqüência, porém, são do tipo
amorfo. Em contraste com a “situação de classe” determ inada 6. G a r a n t ia s da O r g a n iz a ç ã o E stam en ta l
apenas por motivos econômicos, desejamos designar como “si­
tuação de status” todo componente típico do destino dos homens, No conteúdo, a honra estam ental é expressa norm alm ente
determinado por um a estim ativa específica, positiva ou negativa, pelo fato de que acim a de tudo um estilo de vida específico
da honraria. Essa honraria pode estar relacionada com qual­ pode ser esperado de todos os que desejam pertencer ao círculo.
quer qualidade partilhada por um a pluralidade de indivíduos e, Ligadas a essa expectativa existem restrições ao relacionamento
decerto, pode estar relacionada com um a situação de classe: as “social” (isto é, ao relacionamento que não se prenda a objetivos
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econômicos ou quaisquer outros objetivos “funcionais” da em­


presa). Essas restrições podem lim itar os casamentos normais 7. S egreg ação “ É t n ic a ” e “C a sta ”

ao círculo de status e podem levar a um completo fechamento


endogâmico. T ão logo deixa de haver um a mera imitação indi­ Onde as suas conseqüências se realizaram em toda a exten­
vidual, socialmente, irrelevante, de outro estilo de vida, para haver são, o estamento evolui para um a “casta” fechada. A s distin­
um a ação comunal consentida com esse caráter de fechamento, o ções estamentais são, então, asseguradas não simplesmente pelas
desenvolvimento do status estará em processo. convenções e leis, mas também pelos rituais. Isso ocorre de tal
modo que todo contato físico com um membro de qualquer casta
Em sua forma característica, a organização estamental tendo que seja considerada “inferior” pelos membros de um a casta
por base estilos de vida convencionais está surgindo no momento “superior” é considerado como um a im pureza ritualística e um
nos Estados Unidos, a partir da democracia tradicional. Por estigm a que deve ser expiado por um ato religioso. As castas
exemplo, somente o morador de um a determ inada rua ( “a rua”) individuais criam cultos e deuses bem distintos.
é considerado como pertencente à sociedade, está qualificado
para o relacionamento social e é visitado e convidado. Acim a Em geral, porém, os estamentos só chegam a tais conseqüên­
de tudo, essa diferenciação se desenvolve de tal forma que produz cias extremas quando há diferenças subjacentes consideradas
estrita submissão à moda dominante em determinado momento como “étnicas”. A “casta” é, realmente, a forma natural pela
na sociedade. Essa submissão à moda existe também para os qual costumam “socializar-se” as comunidades étnicas que crêem
homens na Am érica, em grau desconhecido na A lem anha. T al no parentesco de sangue com os membros de com unidades ex­
submissão é considerada como um indício do fato de que um teriores e o relacionamento social. Essa situação de casta é
determ inado homem pretende qualificar-se como um cavalheiro, parte do fenômeno de povos párias e se encontra em todo o
e faz que, pelo menos prima facie, seja tratado como tal. E mundo. Esses povos formam comunidades, adquirem tradições
esse reconhecimento torna-se tão importante para suas oportuni­ ocupacionais específicas de artesanatos, ou de outras artes, e cul­
dades de emprego em estabelecimentos “finos”, e, acima de tudo, tivam um a crença em sua comunidade étnica. V ivem num a
para o relacionamento social e casamento com fam ílias “bem “diáspora” rigorosamente segregada de todo relacionamento pes­
consideradas”, quanto a habilitação para o duelo entre os alemães, soal, exceto o de tipo inevitável, e sua situação é legalm ente
na época do Kaiser. Quanto ao resto: certas fam ílias residentes precária. Não obstante, em virtude de sua indispensabilidade
há longo tempo e, decerto, correspondentemente ricas, por exem­ econômica, são tolerados, realm ente, e freqüentem ente privilegia­
plo as prim eiras fam ílias da V irgín ia ou os descendentes, reais dos, e vivem em comunidades políticas dispersas. Os judeus
ou im aginários, da “princesa índia” Pocahontas, ou dos fundado­ constituem o exemplo histórico m ais impressionante.
res da Nova Inglaterra ou dos fundadores holandeses de Nova U m a segregação de estamentos que se transform a num a
York, os membros de seitas quase inacessíveis e de toda espécie “casta” difere, em sua estrutura, de um a segregação simplesmente
de círculos que se distinguem através de quaisquer outras carac­ “étnica” : a estrutura de casta transforma as coexistências hori­
terísticas e in síg n ia s... todos esses elementos usurpam a honraria zontais e desconexas de grupos etnicamente segregados num
estam ental. O desenvolvimento do estamento é essencialmente sistema social de super e subordinação. Form ulando correta­
um a questão de estratificação que se baseia na usurpação, que m ente: um a socialização de tipo amplo integra as com unidades
é a origem norm al de quase toda honra estamental. Mas o ca­ etnicamente divididas em ação com unitária específica, política.
minho dessa situação puramente convencional para o privilégio Em suas conseqüências diferem precisamente porque: as coexis-
local, positivo ou negativo, é percorrido facilmente tão logo tencias étnicas condicionam um a repulsão e um desprezo mútuos,
um a certa estratificação da ordem social tenha, na verdade, sido m as perm item a toda com unidade étnica considerar a sua própria
“vivida” e tenha conseguido a estabilidade em virtude de uma honra como a m ais elevada; a separação de casta provoca um a
distribuição estável do poder econômico. subordinação e um reconhecimento de “m ais honra” em favor
dos estamentos e castas privilegiados, pois as diferenças étnicas
correspondem à junção desempenhada dentro da associação po­
222 E N SA IO S DE SOCIOLOGIA C L A SSE , E ST A M E N TO , PARTID O 223

lítica (guerreiros, sacerdotes, artesãos que são politicamente im ­ a guerra, física e psiquicam ente). M as a seleção está longe de
portantes para a guerra e a construção, e assim por diante). ser a única forma, ou a predominante, pela qual os estamentos
Porém mesmo os povos párias que são mais desprezados podem, são formados. A participação política ou situação de classe foi,
habitualmente, continuar cultivando, de algum modo, aquilo que em tôdas as épocas, pelo menos freqüentemente decisiva. E
é igualm ente peculiar a comunidades étnicas e de castas: a crença hoje a situação de classe é, de longe, o fator predom inante, pois
em sua própria honra específica. É o caso dos judeus. decerto a possibilidade de um estilo de vida esperado para os
membros de um estamento é, em geral, economicamente condi­
Apenas com os estamentos negativam ente privilegiados o cionada.
“sentimento de dignidade” sofre um desvio específico. Um
sentimento de dignidade é a precipitação nos indivíduos da honra 8. P r i v il é g i o s E s t a m e n t a is
social e das exigências convencionais que um estamento positi­
vamente privilegiado cria para a conduta de seus membros. O P ara todas as finalidades práticas, a estratificação estam ental
sentimento de dignidade que caracteriza os estamentos positiva­ vai de mãos dadas com um a monopolização de bens ou oportu­
mente privilegiados relaciona-se, naturalm ente, com seu “ser” que nidades ideais e m ateriais, de um modo que chegamos a consi­
não transcende a si mesmo, isto é, relaciona-se com sua “beleza derar como típico. A lém da honra estam ental específica, que
e excelência”. Seu reino é “deste m undo”. V ivem para o sempre se baseia na distância e exclusividade, encontramos toda
presente e explorando seu grande passado. O senso de dignidade sorte de monopólios m ateriais. Essas preferências honoríficas
das cam adas negativam ente privilegiadas naturalm ente se refere podem consistir no privilégio de usar roupas especiais, comer
a um futuro que está além do presente, seja desta vida ou de pratos especiais que são tabu para outros, portar arm as —
outra. Em outras palavras, deve ser nutrido pela crença numa o que é bastante óbvio em suas conseqüências — o direito de
“missão” providencial e por um a crença num a honra específica dedicar-se a certas práticas artísticas por diletantism o, não-pro-
perante Deus. A dignidade do “povo escolhido” é alim entada fissionalmente, como por exemplo tocar determ inados instrum en­
por um a crença, seja de que no além os “últim os serão os pri­ tos musicais. É claro que os monopólios m ateriais proporcionam
meiros”, seja de que nesta vida aparecerá um Messias para trazer os motivos mais eficientes para a exclusividade de um estamento;
à luz do mundo que os enxotou a honra oculta do povo pária. embora em si mesmos eles raram ente sejam suficientes, quase
Esse simples estado de coisas, e não o “ressentimento”, que é sempre exercem algum a influência. P ara o connubium entre
tão fortemente ressaltado na adm irada construção de Nietzsche membros de um mesmo estamento m anter o monopólio da mão
na Genealogia da Moral, é a fonte da religiosidade cultivada das filhas dentro de um círculo restrito tem tanta im portância
pelos estamentos párias. De passagem, podemos notar que o res­ como o interesse que as fam ílias têm em m onopolizar os possíveis
sentimento só pode ser aplicado corretamente em proporção li­ pretendentes que possam prover o futuro das filhas. Com o
m itada; para um dos principais exemplos de Nietzsche, o budis­ crescente fechamento do estamento as oportunidades preferen­
mo, não é absolutamente aplicável. ciais convencionais de emprego especial transformam-se num
Incidentalmente, o desenvolvimento dos estamentos a partir monopólio legal de cargos especiais para grupos lim itados. C er­
de segregações étnicas não constitui, de modo algum , o fenô­ tos bens se tornam objeto de monopolização pelos estamentos.
meno norm al. Pelo contrário, como as “diferenças raciais” não De modo típico, eles incluem os “bens vinculados” e, freqüen­
são, de forma algum a, básicas a todo sentimento subjetivo de temente, também as posses de servos ou de criados e, finalm ente,
um a com unidade étnica, o fundamento racial supremo do esta­ ofícios especiais. Essa monopolização ocorre positivamente quan­
mento é, acertada e absolutamente, um a questão de caso indivi­ do só o grupo em questão está habilitado a possuí-los e a
dual concreto. M uito freqüentemente, um estamento é instru­ controlá-los; e negativam ente quando, a fim de m anter seu
m ental na produção de um tipo antropológico puro. Certamente, modo de vida específico, o estamento não deve possuí-los e
um estamento é, em alto grau, eficaz na produção de tipos ex­ controlá-los.
tremos, pois seleciona indivíduos pessoalmente qualificados (por O papel decisivo de um “estilo de vida” na “honra” do
exemplo, a C avalaria M edieval seleciona os que são aptos para grupo significa que os estamentos são os portadores específicos
E N SA IO S DE SO CIO LO G IA c la sse , e st a m e n t o , p a r t id o 225
224

de todas as “convenções”. De qualquer modo que se manifeste, honras estamentais, a posse per se representa um acréscimo,
toda “estilização” da vida se origina nos estamentos ou é pelo mesmo não sendo abertam ente reconhecida como tal. Não
menos conservada por eles. Apesar de sua grande diversidade, obstante, se essa aquisição e poder econômico proporcionassem
os princípios das convenções estam entais revelam certos traços ao agente qualquer honraria, sua riqueza resultaria em alcançar
típicos, especialmente entre as camadas mais privilegiadas. M ui­ m ais honras do que as pessoas que reivindicam , com êxito,
to geralm ente, entre os estamentos privilegiados há uma desqua­ as honras em virtude de um estilo de vida. Portanto, todos
lificação de estamentos envolvida pela execução do trabalho físico os grupos que têm interesses na ordem estamental reagem com
comum. Essa desqualificação se está agora “radicando” na A m é­ especial violência precisamente contra as pretensões de aquisi­
rica, contra a velha tradição da estim a pelo trabalho. M uito ção exclusivam ente econômica. N a m aioria dos casos, o vigor
freqüentemente toda empresa econômica racional, e especialmente da reação é proporcional à intensidade com que a ameaça é
“a atividade em presarial”, é considerada como um a desqualifi­ experim entada. O tratamento respeitoso que Calderon dá ao
cação social. A atividade artística e literária também é con­ camponês, por exemplo, em oposição ao desprezo simultâneo e
siderada como trabalho degradante, tão logo seja explorada com ostensivo de Shakespeare pela canaille ilustra a form a diferente
finalidades lucrativas, ou pelo menos quando está relacionada pela qual um a ordem estamental firm em ente estruturada reage,
com um esforço físico pesado. U m exemplo é um escultor que em comparação com um a ordem estamental que se tornou eco­
trabalha como um pedreiro, em seu poeirento guarda-pó, em nomicamente precária. T rata-se do exemplo de um estado de
contraste com o pintor em seu “estúdio” semelhante a um coisas que se repete em tôda parte. Precisamente devido às
salão, e as formas de prática musical aceitáveis pelo grupo p ri­ reações rigorosas contra as pretensões da propriedade per se, o
"parvenu” jam ais é aceito, pessoalmente e sem reservas, pelos
vilegiado.
grupos estam entalm ente privilegiados, por m elhor que seu estilo
de vida se ajuste ao dêles. Só aceitarão seus descendentes que
9. C o n d iç õ e s e E f e it o s E c o n ô m ic o s da
tiverem sido educados nas convenções do seu grupo estam ental
O r g a n iz a ç ã o E stam en tal
e que nunca tenham manchado sua honra pela atividade eco­
nômica pessoal.
A desqualificação freqüente das pessoas que se empregam
para ganhar um salário é um resultado direto do princípio de Q uanto ao efeito geral da ordem estam ental, somente um a
estratificação estam ental, peculiar à ordem social e, decerto, da conseqüência pode ser apresentada, mas sua im portância é gran ­
oposição desse princípio a um a distribuição de poder regulada ex­ de: o impedimento do livre desenvolvimento do mercado ocorre
clusivam ente por interm édio do mercado. Esses dois fatores prim eiro para os bens que os estamentos subtraem diretamente
operam juntam ente com vários outros fatores individuais, que d a livre troca pela monopolização. Essa monopolização pode
ser efetuada seja legal ou convencionalmente. Por exemplo, em
serão mencionados mais adiante.
muitas cidades helénicas durante a época especificamente esta­
Vim os, acima, que o mercado e seus processos “não co­
mental, e também originalm ente em Roma, o patrim ônio her­
nhecem distinções pessoais” : os “interesses” funcionais o do­
m inam . N ada conhecem de “honras”. A ordem estamental dado (como se vê pelas velhas fórmulas de condenação dos
perdulários) era monopolizado, tal como o eram as propriedades
significa precisamente o inverso, ou seja, a estratificação em
termos de “honras” e estilos de vida peculiares aos grupos es­ dos cavaleiros, camponeses, sacerdotes e especialmente a clien­
tam entais como tais. Se a simples aquisição econômica e o tela das guildas de ofícios e comércio. O mercado é lim itado,
poder econômico puro, ainda trazendo o estigm a de sua origem e o poder puro e simples da propriedade per se, que dá sua
extra-estam ental, pudessem conceder a quem os tivesse conse­ marca à “formação de classe”, é posto em segundo plano. Os
guido as mesmas honras que os interessados em estamentos resultados desse processo podem ser muito variados. N atural­
em virtude de um estilo de vida que pretendem para si, a mente, não enfraquecem necessariamente os contrastes na situa­
ordem estam ental estaria ameaçada em suas bases mesmas, prin­ ção econômica. Fortalecem freqüentemente esses contrastes e,
cipalm ente tendo em vista que, em condições de igualdade de de qualquer modo, quando a estratificação estam ental im pregna
15
226 E N S A IO S DE SO CIO LO G IA
C LA SSE , ESTAM EN TO , PAHTIDO 227

a com unidade tão fortemente como ocorreu em todas as comu­


nidades políticas da A ntigüidade e da Idade M édia, jam ais po­ 10. P a r T ido s
demos falar de um a concorrência de mercado realm ente livre,
tal como a entendemos hoje. H á efeitos m ais amplos do que
O lugar autêntico das “classes” é no contexto da ordem eco­
essa exclusão direta de bens especiais do mercado. D a contra­
nômica, ao passo que os estamentos se colocam na ordem social,
dição entre a ordem estam ental e a ordem exclusivamente eco­
isto é, dentro da esfera da distribuição de “honras”. Dessas es­
nômica acim a mencionada, segue-se que na m aioria dos casos
feras, as classes e os estamentos influenciam -se m utuam ente e à
a noção de honras peculiares ao estamento abomina de forma
ordem jurídica, e são por sua vez influenciados por ela. Mas
absoluta aquilo que é essencial para o m ercado: o regateio. As
os “partidos” vivem sob o signo do “poder”.
honras abominam o regateio entre os pares e ocasionalmente
tornam tabu o regateio em geral para os membros de um esta­ Sua reação é orientada para a aquisição do “poder” social,
mento. Portanto, em tôda parte, alguns estamentos, e habitual­ ou seja, para a influência sobre a ação com unitária, sem levar
m ente os m ais influentes, consideram quase qualquer tipo de em conta q u al possa ser o conteúdo. Em princípio, os partidos
participação aberta na aquisição econômica como um estigma podem existir num “clube” social, bem como n u m “Estado”.
absoluto. Em contraposição às ações das classes e estamentos em que isso
nem sempre é o caso, as ações com unitárias dos “partidos” sem­
Sim plificando, poderíamos dizer, assim, que as “classes” se pre significam um a socialização, pois tais ações voltam-se sempre
estratificam de acordo com suas relações com a produção e aqui­ para um a m eta que se procura atingir de forma planificada.
sição de bens; ao passo que os “estamentos” se estratificam de A m eta pode ser um a “causa” (o partido pode visar à realização
acordo com os princípios de seu consumo de bens, representado de um program a de propósitos ideais ou m ateriais), ou a meta
por “estilos de vida” especiais. pode ser “pessoal” (sinecuras, poder e, daí, honras para o líder
U m “grêm io profissional” é também um estamento, pois nor­ e os seguidores do partido). H abitualm ente, a ação partidária
m alm ente reivindica as honras sociais apenas em virtude do estilo visa a tudo isso, sim ultaneam ente. Portanto, os partidos são
de vida especial que pode determ inar. As diferenças entre possíveis apenas dentro de comunidades de algum modo socia­
classes e estamentos se superpõem com freqüência. São precisa­ lizadas, ou seja, que têm algum a ordem racional e um “quadro”
mente as comunidades segregadas com m aior rigor em termos de de pessoas prontas a assegurá-la, pois os partidos visam precisa­
mente a influenciar esse quadro, e, se possível, recrutá-lo entre
honra (as castas indianas) que mostram hoje, embora dentro de
os seus seguidores.
lim ites muitos rígidos, um grau relativam ente elevado de indi­
ferença à renda pecuniária. Os brâmanes, porém, buscam tal Em qualquer caso individual, os partidos podem representar
interesses determ inados através da “situação classista” ou “esta­
renda de muitos modos diferentes.
m ental”, e podem recrutar seus membros de um a ou de outra.
Quanto às condições econômicas gerais que perm item o pre­ M as não precisam ser partidas exclusivamente de “classe”, nem
domínio da organização “estam ental”, pouco podemos dizer. Q uan­ “estamentais”. N a m aioria dos casos, são até certo ponto partidos
do as bases da aquisição e distribuição de bens são relativam ente de classe, e até certo ponto partidos estamentais, mas algum as
estáveis, a organização estam ental é favorecida. Toda repercussão vezes não são nenhum a das duas coisas. Podem representar
tecnológica e transformação econômica am eaça-a e coloca em estruturas efêmeras ou duradouras. Seus meios de alcançar o
primeiro plano a situação de classe. A s épocas e países em que poder podem ser variados, indo desde a violência pura e simples,
a pura situação de classe possui significação predominante são de qualquer espécie, à cabala de votos através de meios gros­
regularm ente os períodos de transformações técnicas e econô­ seiros ou sutis: dinheiro, influência social, a força da argum en­
micas. E toda dim inuição no ritmo de m udanças nas estrati­ tação, sugestão, embustes primários, e assim por diante, até as
ficações econômicas leva, no devido tempo, ao aparecimento de táticas m ais duras ou m ais habilidosas de obstrução parlam entar.
organizações estamentais e contribui para a ressurreição do im ­ A estrutura sociológica dos partidos difere de forma básica
portante papel das honras sociais. segundo o tipo de ação com unitária que buscam influenciar.
228 E N SA IO S DE SO CIO LO G IA

Os partidos também diferem segundo a organização da comu­


nidade por estamentos ou por classes. A cim a de tudo, variam
segundo a estrutura do domínio dentro da comunidade, pois seus
líderes norm alm ente tratam da conquista de um a comunidade.
No conceito geral mantido aqui, não são produtos apenas de
formas especialmente modernas de domínio. Designaremos tam ­ VHI. Burocracia
bém como partidos os “partidos” antigos e medievais, apesar de
a sua estrutura variar basicamente em relação à estrutura dos
partidos modernos. Em virtude dessas diferenças que oferece
a estrutura de dominação, é impossível dizer qualquer coisa
sôbre a estrutura dos partidos, sem discutir as formas estruturais 1. C a r a c t e r ís t ic a s da B u r o c r a c ia

de domínio social per se. Os partidos, que são sempre estru­


turas que lutam pelo domínio, m uito freqüentemente se orga­
nizam de um modo “autoritário” muito rigoroso. A b u r o c r a c i a m o d e r n a funciona da seguinte forma específica:

No que se relaciona com as “classes, os “estamentos” e os I. Rege o princípio de áreas de jurisdição fixas e oficiais,
“partidos”, devemos dizer em geral que eles pressupõem, neces­ ordenadas de acordo com regulamentos, ou seja, por leis ou
sariam ente”, um a sociedade que os engloba, e especialmente um a normas adm inistrativas.
ação com unitária política, dentro da qual operam. Mas isto não 1. As atividades regulares necessárias aos objetivos da es­
significa que os partidos sejam confinados pelas fronteiras de trutura governada burocraticamente são distribuídas de forma fixa
qualquer com unidade política. Pelo contrário, em todos os tempos como deveres oficiais.
ocorreu habitualm ente que eles (mesmo quando visam ao uso 2. A autoridade de dar as ordens necessárias à execução
da força m ilitar em com um) ultrapassam as fronteiras da co­ desses deveres oficiais se distribui de forma estável, sendo rigo­
m unidade política. T al fato se observou no caso da solidariedade rosamente delim itada pelas normas relacionadas com os meios
de interesses entre os oligarcas e os democratas na H élade, entre de coerção, físicos, sacerdotais ou outros, que possam ser colocados
os guelfos e gibelinos na Idade M édia e no partido calvinista à disposição dos funcionários ou autoridades.
durante o período de lutas religiosas. E continua sendo o caso
3. Tom am -se m edidas metódicas para a realização regular
até da solidariedade entre os senhores de terra (congresso in ­
e contínua desses deveres e para a execução dos direitos corres­
ternacional de senhores de terrat agrário s), e continuou entre os
pondentes; somente as pessoas que têm qualificações previstas
príncipes (sagrada aliança, decretos de K arlsbad), trabalhadores
por um regulam ento geral são empregadas.
socialistas, conservadores (o desejo de um a intervenção russa por
parte dos conservadores prussianos em 1850). M as seu objetivo Nos Governos públicos e legais, esses três elementos, cons­
não é necessariamente o estabelecimento de um novo domínio tituem a “autoridade burocrática”. No domínio econômico pri­
político internacional, isto é, territorial. Pretendem, principal­ vado, constituem a “adm inistração” burocrática. A burocracia,
mente, influenciar o domínio existente. * assim compreendida, se desenvolve plenam ente em comunidades
políticas e eclesiásticas apenas no Estado moderno, e na economia
privada, apenas nas m ais avançadas instituições do capitalismo.
A autoridade permanente e pública, com jurisdição fixa, não
constitui a norm a histórica, mas a exceção. Isso acontece até
mesmo nas grandes estruturas políticas, como as do Oriente
antigo, os impérios de conquista alemães e mongólicos, ou das
* O texto, publicado postumamente, interrom pe-se aqui. Omi­
timos um esboço incompleto dos tipos de “estamentos g uerreiros” . Wtríscfvaft und G esetlschaft, parte IIT, cap. 6, pp. 650-78.

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