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Boris Kossoy
O processo de criação do fotógrafo engloba a aventura estética, cultural e técnica que irá
originar a representação fotográfica, tornar material a imagem fugaz das coisas do
mundo, torná-la, enfim um documento. E esta representação está envolta por uma
verdadeira trama. E dentro desta trama podemos considerar os componentes de ordem
material e de ordem imaterial. Além disso, temos a fotografia em função de sua
intencionalidade/finalidade. E esta motivação influirá decisivamente na concepção e
construção da imagem final.
Em toda fotografia há um recorte espacial e uma interrupção temporal,fato que ocorre
no instante (ato) do registro. Decorre daí a relação fragmentação/congelamento, um dos
alicerces sobre o qual se ergue o sistema de representação fotográfica. A fragmentação
concebe a seleção do assunto a ser registrado e o congelamento concebe a paralisação
de uma determinada cena no tempo. Neste sentido, segundo Dubois a fotografia é criada
por inteiro num único golpe. Um corte sobre o fio da duração e no continuum da
extensão. A realidade técnica e o repertório do fotógrafo serão as bases em que vão se
apoiar a articulação entre fragmentação/congelamento. Portanto, o processo fotográfico
estará intimamente ligado ao binômio registro/criação ou testemunho/criação.
Nas investigações teóricas que temos desenvolvido têm sido centradas nas múltiplas
realidades que se acham fluídas na representação fotográfica. Deste modo, tentaremos
investigar os processos que regem a produção e a recepção das imagens. Trata-se de
mecanismos mentais que podem ser resumidos em dois processos. O processo de
construção da representação que é a produção da obra fotográfica propriamente dita,
por parte do fotógrafo. E o processo de construção da interpretação que é a recepção da
obra fotográfica por parte dos diferentes receptores; suas diferentes leituras em precisos
momentos da história.
As imagens fotográficas, por sua natureza polissêmica, permitem sempre uma leitura
plural, dependendo de quem as aprecia. Estes já trazem embutido no espírito, suas
próprias imagens mentais preconcebidas que funcionam como filtros ideológicos,
culturais, morais e éticos.
O processo do signo fotográfico implica necessariamente a criação documental de uma
realidade concreta. Assim, o signo fotográfico efetua-se no confronto entre a realidade
que se vê: a segunda realidade (a representação), através dos filtros culturais e a
realidade que se imagina: a primeira realidade (o passado), recuperando apenas de
maneira fragmentária por referências (plenos de hiatos) ou pelas lembranças pessoais
(emocionais).
Uma única imagem reúne, em seu conteúdo, uma série de elementos icônicos que
fornecem informações para diferentes áreas do conhecimento. A fotografia sempre
propicia análises e estudos multidisciplinares. O chamado documento fotográfico não é
inócuo. A fotografia é sempre uma representação a partir do real intermediada pelo
fotógrafo que a produz segundo sua forma particular de compreensão do real.
No universo da moda temos um personagem-modelo representado no interior de um
cenário criado: uma representação teatral. Não deixa de ser uma realidade imaginada ao
mesmo tempo em que se constitui num fato social que ocorre no tempo e no espaço. A
foto de moda exemplifica muito bem como o mundo ficcional que a envolve se torna
em mundo real. Com a foto de moda consome-se, ao mesmo tempo, dois produtos que
se mesclam num todo indivisível: a roupa, ou vestuário propriamente dito e o seu
entorno e o mundo ficcional (apenas na aparência) que envolve a cena, a situação, a
pose, o gesto.
Neste processo consome-se um estilo, uma estética de vida codificada no conteúdo da
representação; nela se acha implícito o script a ser interpretado pelo potencial
consumidor além do estúdio.
1.7_Interpretação Iconológica
Parte 2
O projeto de implantação de uma civilização nos trópicos parece ser o cerne da questão
para que se compreenda os valores que serão enfatizados simbolicamente como
representativos da nacionalidade durante o Império. Civilização e Natureza são os
componentes da formulação ideológica da nação, dicotomia que, segundo Ricardo
Salles era traduzida ‘em dois elementos constitutivos da nova nacionalidade que
interagiam: o Estado monárquico, portador e impulsionador do projeto civilizatório, e a
natureza, como base territorial e material deste Estado’.
A principal aplicação da fotografia no século XIX foi o retrato, atividade comercial que
representava, efetivamente, o ganha-pão dos estabelecimentos fotográficos em todas as
partes. Tentaremos nos concentrar nas imagens que demonstrem alguma preocupação
em trazer elementos simbólicos que remetam à idéia de nacional.
Se observarmos atentamente os trajes dos retratados que desfilaram diante da câmara
veremos que todos se vestiam de acordo com a moda européia do momento. O mesmo
ocorria em relação à preferência dada às formas clássicas e vitorianas do mobiliário, aos
temas pintados nos cenários de fundo, os quais nada têm de nacional.
O ponto que queria deixar claro é que a experiência fotográfica brasileira como a latino-
americana reproduz basicamente a experiência européia, particularmente quando se trata
da imagem da elite ou da burguesia.
Há exceções neste caso, que ficam por conta da família imperial. Tratam-se dos retratos
do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina, posando para o afamado
Joaquim Insley Pacheco em 1883. O projeto de exaltação da natureza é marcante nestas
imagens, como se vê pela vegetação plantada no ateliê. É de se considerar que Pedro II
pretendia com essas imagens enfatizar simbolicamente a existência concreta de uma
civilização nos trópicos, ele mesmo, símbolo maior desse projeto ideológico.
Cabe ressaltar que a construção do nacional não se limita a certas balizas temporais,
pelo contrário, trata-se de um processo contínuo em constante movimento e
metamorfose. O nacional é construído de forma a se moldar com a ideologia do
momento. É a ideologia que irá sepultar certos fatos ou recuperar outros, valorizando-os
como expressão verdadeira da nacionalidade. A fotografia sempre esteve à disposição
das ideologias, prestando-se aos mais diferentes usos.
Parte 3
A luta pela proteção do patrimônio fotográfico é uma questão cultural que afeta a todos
aqueles que têm um mínimo de preocupação com a segurança das informações
históricas e contemporâneas que se acham gravado nos documentos.
No entanto, o tema dos arquivos assim como os temas correlatos: documentação,
memória, etc., nunca são atraentes para a maioria das pessoas. Curiosamente, os
fotógrafos, que são produtores de imagens e, portanto, de documentos, também têm
manifestado pouco interesse pela memória fotográfica.
A fotografia conecta-se a uma realidade primeira que a gerou em algum lugar e época.
Porém perdendo-se os dados sobre aquele passado, ou melhor, não existindo
informações acerca do referente que a originou, o que mais resta? Uma imagem perdida,
sem identificação, sem identidade, sem memória.
Exercício fascinante é devolver aos rostos e cenários perdidos sua identidade, sua
localização, suas referências, resgatando assim a substância documental às
representações fotográficas daqueles que um dia viveram.
Por tais razões servem as imagens e os arquivos. Para que possamos fazer essas e outras
descobertas; para que possamos preservar a lembrança de certos momentos e das
pessoas que nos são caras; para que nossas imagens não se apaguem; para que não
percamos nossas referências do nosso passado.
3.2_Fotografia e Memória: Reconstituição Histórica Através da Fotografia