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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Autos do Processo nº 3333333-33.2019.8.26.0000

SANDRA E REGINA, devidamente qualificadas nos autos do


processo em epígrafe, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
por seus advogados que estas subscrevem, com fundamento no artigo 105,
inciso III, alínea “a” e “c”da Constituição Federal, e na forma do artigo 1.029 e
seguintes do Código de Processo Civil, interpor o presente RECURSO ESPECIAL
em face do v. acórdão que negou provimento ao Recurso de Apelação
interposto pelas Recorrentes.

Pugna-se, processado e admitido o recurso, sejam os autos


remetidos ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que,
Pede deferimento.
Local, data.

ADVOGADO
OAB/UF
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
COLENDA TURMA
EXCELENTÍSSIMO MINISTRO RELATOR A QUEM COUBER O PRESENTE

RECORRENTE: SANDRA E REGINA


RECORRIDO: JOELMA E LÚCIA

Origem: Tribunal de Justiça de São Paulo


Processo Originário nº 0014307-43.2007.4.02.5101

RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL

I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se, na origem, de Ação Possessória ajuizada pelas


Recorrentes com o objetivo de reaver um imóvel, localizado na Rua Z, nº 215, o
qual esteve – e permanece – em posse das Rés, ora Recorridas, sendo o pleito
autoral a reintegração na posse do bem, sob a alegação da existência de um
comodato e da recusa pelas Rés em devolver o bem objeto do contrato.

Com o processamento do feito, sobreveio sentença julgando


improcedentes os pedidos das Autoras, sob os argumentos de que: (i) o
comodato verbal alegado pelas autoras não restou configurado; (ii) diante da
inexistência de convencimento do juiz, concluiu este pela existência de
parentalidade socioafetiva entre as Rés e a antiga proprietária do bem, sendo
expresso na sentença que tal alegação não foi comprovada nos autos; e (iii)
diante da dúvida, optou o juízo “a quo” pela negativa ao pleito autoral.

Inconformadas, as Autoras interpuseram Recurso de Apelação,


requerendo que fosse a decisão reformada, tendo em vista a existência de
contrato de comodato verbal com as Rés, sustentando que a existência de
posse nova daria ensejo à concessão da liminar de reintegração de posse, bem
como a precariedade da posse extinguiria a possibilidade de que as Rés
pudessem obter a propriedade do bem mediante ação própria de usucapião,
havendo a juntada de documentos novos.

Ocorre que o recurso teve negado o seu provimento, com base


nos fundamentos de que ”O conjunto probatório, em suma, não se alinha à tese
de comodato, que deveria ter sido cabalmente comprovado e nem de longe
o foi. De maneira que a sentença de improcedência prevalece incólume.”

Acontece que, o entendimento exarado no v. acórdão ora


recorrido não merece prevalecer, motivo pelo qual não resta alternativa à
Recorrente senão socorrer-se deste apelo especial, em nome da preservação
do ordenamento jurídico pátrio, conforme restará amplamente demonstrado.

Ademais, cumpre assinalar que a questão ora suscitada diz


respeito a matéria unicamente de direito e, portanto, plenamente
reexaminável, não havendo qualquer afronta à Súmula 07 deste E. Superior
Tribunal de Justiça.

Por fim, preliminarmente, a Recorrente requer a emissão de juízo


positivo de admissibilidade do presente Recurso Especial, haja vista que
presentes os pressupostos para tanto, conforme restará demonstrado abaixo.

II – DO ATENDIMENTO AOS PRESSUPOSTOS DO RECURSO ESPECIAL


II.A – DA TEMPESTIVIDADE E DO PREPARO

O v. acórdão que negou provimento ao Recurso de Apelação


interposto pelas ora Recorrentes foi disponibilizado no Diário Oficial há oito dias
úteis, de modo que torna tempestivo o presente recurso.

No que se refere às custas processuais de preparo, a Recorrente


informa que estas foram devidamente recolhidas, conforme se constata da
guia comprobatória anexa.

A Recorrente esclarece, por fim, que as custas de porte de


remessa e retorno dos autos não foram recolhidas, em consonância com o
artigo 4º e Anexo II da Resolução STJ/GP nº 3/2015, por serem eletrônicos os
autos.

II.B – DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO ESPECIAL

Primeiramente, cumpre ressaltar que: (i) o recurso é


manifestamente tempestivo, conforme demonstrado no item II.A acima; (ii) as
custas judiciais referentes ao preparo foram regularmente recolhidas; (iii) os
subscritores desta peça estão devidamente constituídos nos autos; (iv) os
dispositivos legais violados e as matérias vertidas nesse recurso foram ventilados
no aresto recorrido, como se demonstrará abaixo; (v) há repercussão geral da
matéria; e (vi) o v. acórdão recorrido representa decisão proferida em última
instância.

II.C – DO PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA RECORRIDA

Conforme se demonstrará adiante, o presente recurso tem por


fundamento a violação aos artigos 1.196, 1.198, 1208, 579 e 581 do Código Civil
e 560, 561 do Código de Processo Civil, a resultar na necessária
anulação/reforma do acórdão recorrido.

Assim, visando atender ao requisito do prequestionamento,


confira-se o trecho do julgamento pelo Tribunal a quo, no qual as questões em
debate encontram-se ventiladas, ipsis litteris:

REINTEGRAÇÃO DE POSSE. Autora que, por liberalidade,


deixou a nora e o filho residirem em imóvel da respectiva
propriedade. Com o término da sociedade conjugal e a
prisão do filho da autora, a demandada permaneceu no
local, contra a vontade da sogra. Sentença de
procedência, para reintegrar a autora na posse. Imóvel
que logo após o cumprimento da liminar foi
destruído/saqueado. Impossibilidade de imputar a
responsabilidade à autora pelo ocorrido. Manutenção da
decisão de primeiro grau que afastou o pedido de
indenização por benfeitorias ante o ocorrido. Aplicação
do art. 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça.
Sentença mantida pelos próprios fundamentos.
RECURSO IMPROVIDO.”1

***

“AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. Comodato verbal.


Preliminar de não conhecimento do recurso suscitada em
contrarrazões. Não acolhimento. Conjunto probatório leva
a conclusão que o apelante reside no imóvel há muitos
anos em virtude de um comodato verbal acordado com
o genitor dos apelados, e com o propósito de velar pelo
bem. Suposto acordo trabalhista não comprovado. A
posse decorrente de comodato é precária, sendo
irrelevante o período que o apelante permaneceu no
imóvel, uma vez que a precariedade nunca cessa. Logo,
não autoriza o preenchimento dos requisitos para a
usucapião. Inexistência de direito à retenção por
benfeitorias.
Apelação improvida. “2

Nota-se, portanto, que a matéria vertida neste Recurso Especial foi


devidamente prequestionada e enfrentada pelo E. Tribunal a quo, mormente
quando se constata que "tem-se por verificado o pressuposto do
prequestionamento quando o acórdão alvejado pelo recurso extraordinário
haja apreciado o thema juris neste suscitado, independentemente de ter sido
mencionada a norma jurídica que rege a espécie.3".

Assim, ainda que os artigos violados não tenham sido


expressamente mencionados pelo acórdão recorrido, os temas relativos a eles
estão inequivocamente presentes. Até porque, tais temas foram devidamente
tratados por meio de preliminar de Apelação, indicativa de violação de norma
federal com precípuo fim de prequestionamento, não havendo como obstar o
processamento do Recurso ora interposto, por pretenso descumprimento do
requisito de admissibilidade em análise.

Desse modo, demonstrada a omissão incorrida no v. Acórdão


recorrido, certo é que as Recorrentes se desincumbiram de seu ônus de

1Relator(a): Silvia Maria Facchina Esposito Martinez; Comarca: Bauru; Órgão julgador: 24ª Câmara
de Direito Privado; Data do julgamento: 16/02/2017; Data de registro: 22/02/2017.

2Relator(a): Jairo Oliveira Júnior; Comarca: Arujá; Órgão julgador: 15ª Câmara de Direito Privado;
Data do julgamento: 03/03/2017; Data de registro: 03/03/2017.

3 STF, AR n.º 1300, pleno, DJ 23.04.1993, p. 6.919


prequestionar a matéria posta em debate, atendendo, portanto, o requisito
previsto na Súmula 211 deste Egrégio Superior Tribunal de Justiça, redigida nestes
termos:

Súmula nº 211, STJ: “Inadmissível recurso especial


quanto à questão que, a despeito da oposição de
embargos declaratórios, não foi apreciada pelo
tribunal ‘a quo’”.

Por conseguinte, resulta claro o prequestionamento da matéria


ensejadora do presente recurso, não existindo dúvidas sobre o necessário
esgotamento das instâncias ordinárias, como visto, circunstâncias suficientes ao
seu conhecimento, fundado nas alíneas “a” e “c”, do inciso III do artigo 105 da
Constituição Federal.

II. D – DA CONFIGURAÇÃO DA CONTRARIEDADE À LEI FEDERAL

Segundo o art. 1.196 do Código Civil, possuidor é todo aquele que


tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

Por sua vez, o art. 1.198 do Código Civil, conceitua o mero


detentor, que é o caso das Recorridas:

“Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que,


achando-se em relação de dependência para com
outro, conserva a posse em nome deste e em
cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-
se do modo como prescreve este artigo, em relação
ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até
que prove o contrário.”

O art. 1208 do Código Civil determina que:


“Art. 1208. Não induzem posse os atos de mera
permissão ou tolerância
assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos,
senão depois de cessar a violência ou a
clandestinidade.

Já o artigo 579 do Código Civil, conceitua o comodato:


“Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de
coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do
objeto.”

No caso em tela, é incontroverso que os Recorrentes são os


proprietários e possuidores do imóvel objeto desta demanda e que este bem foi
objeto de contrato verbal de comodato por prazo indeterminado, seja pelos
documentos juntados, pela matricula do imóvel que apontam os proprietários
do imóvel, seja pelo próprio relato das testemunhas ouvidas em instrução, que
informam de forma clara que o apartamento foi cedido a título de empréstimo
as Recorridas para a sua residência, em caráter gratuito e provisório. Até mesmo
porque, não há qualquer documento em sentido contrário, que demonstre que
as Recorridas sejam proprietárias, que receberam o imóvel em doação ou
ainda que o tenham recebido com adiantamento de legítima.

Ademais, as Recorridas não apresentaram nenhum documento


que comprova o contrário, de que não se trata o caso de comodato, haja vista
a inexistência de qualquer contrato ou instrumento escrito ou solene,
transmitindo as mesmas a posse, a propriedade ou ainda que demonstre a
vontade dos proprietários em doar o apartamento objeto da demanda as
mesmas. Não podendo fugir do fato de serem as mesmas meras detentoras do
imóvel, autorizado pelos proprietários, haja vista que os impostos e despesas
condominiais eram arcadas pelo pai dos Recorrentes, o que configura a sua
dependência em relação aos verdadeiros proprietários, nos termos do art. 1.198
do CC.
Neste contexto, cediço que comodato é contrato unilateral, na
medida em que gera obrigação só para o comodatário, qual seja, a de restituir
a coisa emprestada. É um empréstimo a título gratuito: o comodatário, aquele
que recebe a coisa para uso e nada paga ao comodante.

No que tange aos direitos e deveres das partes contratantes,


entregue a coisa ao comodatário, fica o comodante desobrigado para com
aquele. Por outro lado, a partir da entrega, a lei cria obrigações para o
comodatário e a principal delas é a de restituir a coisa emprestada, no término
do contrato, ou quando lhe for reclamada, nas mesmas condições em que
recebeu.

Neste sentido, qualquer prejuízo que ocasionar ao comodante,


por culpa própria ou de terceiro, ou ainda, na hipótese de força maior ou caso
fortuito, responde o comodatário pelo dano causado.

Transpondo tais raciocínios ao caso em tela, não há dúvidas da


ocorrência do comodato (todos os requisitos estão presentes) e
consequentemente do esbulho por parte das Recorridas que, devidamente
notificadas, recusaram-se, injustificadamente, em proceder à devolução do
imóvel, cometendo esbulho possessório.

Os Recorrentes, como proprietários que são do imóvel, detém,


evidentemente, somente a sua posse indireta, mediante comodato verbal,
informado. Contudo, constata-se que a posse direta exercida pelas Recorridas
hoje é totalmente irregular, já que as mesmas foram notificadas para
desocupação e se negam a fazê-lo, o que tornou injusta e precária esta posse.

Assim, com a negativa de desocupação do imóvel por parte das


Recorridas, restou configurado o esbulho havendo a necessidade da
procedência deste recurso para modificação da sentença e do acórdão a fim
de determinar a reintegração de posse, nos termos do art. 560 e seguintes do
Código de Processo Civil.

Na ação de reintegração de posse se busca a tutela da posse


quando há esbulho, ou seja, quando há perda integral da posse, tomada de
forma injusta por terceiro. Os requisitos para a pretensão estão dispostos no art.
561, do novo Código de Processo Civil, quais sejam: a posse; o esbulho
praticado pelo réu; a data do esbulho e a perda da posse; requisitos estes
atingidos e comprovados nestes autos, autorizando a pretensão dos
Recorrentes e consequentemente a reforma da sentença e do acórdão que
entenderam pela improcedência da demanda equivocadamente.

No mais, ainda que se trate de comodato por prazo


indeterminado e que foi constituído há muitos anos, este não é perpétuo. Pode
o comodante denunciá-lo quando quiser reavê-lo para si, nos termos do art. 581
do Código Civil; sendo certo que nenhum argumento poderá legitimar essa
ocupação irregular.

Nesse contexto, é de rigor a reversão da posse direta em favor dos


Recorrentes, já que a ninguém é dado, sponte sua, alterar a natureza de sua
posse.
Em resumo, tratando de posse injusta e de má-fé das Recorridas,
comprovada nos autos, de rigor a modificação da sentença e do acórdão para
que seja dada procedência a demanda pretendida pelos Recorrentes, sem
direito inclusive a qualquer retenção.

Assim, a sentença e o acórdão devem ser reformados para que


seja reconhecido que trata o caso em tela de comodato e não de
adiantamento de herança ou legítima, tão pouco de usucapião ou ainda
doação, sendo certo que o esbulho resta comprovado diante da recusa da
desocupação do imóvel, após a devida intimação.

Neste diapasão, as decisões recorridas que alegam que não


restou configurado o comodato, devem ser modificadas, posto que estão em
desconformidade a legislação federal que rege a matéria, quanto aos artigos
1196, 1198, 1208, 579 e 581 todos do Código Civil e 560, 561 do Código de
Processo Civil, posto que, seguindo o determinado em Lei não há como afastar
a configuração do Comodato neste caso e consequentemente não há como
não reconhecer o esbulho, o que deve levar a procedência da demanda e
modificação das decisões recorridas.

III – DO DIREITO
III.A DA OFENSA AOS ARTIGOS 541 e 544 do Código Civil

Importa reiterar que as Recorrentes, após a prolação da sentença


de improcedência, interpuseram Apelação com o escopo de reformar a
decisão de 1º grau, o que demonstra empenho de obter prestação jurisdicional
integral, despida de qualquer vício que pudesse turvar a futura interpretação
do julgado, bem como para que, caso mantidas suas bases, houvesse o
inequívoco prequestionamento das matérias a serem versadas neste Recurso
Especial, sob pena do julgamento proferido pelas Instâncias Ordinárias
padecer, também, de vício insanável de nulidade, nos termos dos artigos 11,
489, inciso II e 1.022, todos do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15).

O d. juiz “a quo”, acompanhado pela D. Câmara do Tribunal de


Justiça, justificou sua decisão de improcedência da demanda, por entender
que a atribuição do imóvel a mãe das Recorridas não se deu como um efetivo
comodato, mas como um verdadeiro adiantamento de herança.

Entretanto, primeiramente não há que se falar em adiantamento


de herança se a mãe das Recorridas não era filha da avó dos Recorrentes, as
mesmas eram irmãs, no campo do direito. Ainda que houvesse respeito mútuo
entre elas, uma grande diferença de idade, grande afeição, tal fato não é
suficiente para caracterizar parentesco de mãe e filha, tão pouco para
autorizar o reconhecimento de adiantamento de herança.

O próprio artigo 544 do Código Civil, estipula que para configurar


adiantamento de legítima a doação deve ocorrer entre ascendentes e
descentes ou de um cônjuge a outro, o que não corresponde ao caso em tela
posto que estamos falando de irmãs (legalmente falando) e não de mãe e filha,
apesar do tratamento afetivo de mãe e filha dispensados entre a mãe das
Recorridas e a avós do Recorrentes. Neste sentido:

Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes,


ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do
que lhes cabe por herança.

Tanto o adiantamento de herança, como a


doação/transmissão, não se presume, devem ser feitas através de instrumento
próprio, de forma solene, não podendo ocorrer de forma verbal. Assim
estabelece o art. 541 do Código Civil:

Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou


instrumento particular. Parágrafo único. A doação
verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e
de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a
tradição.
Inclusive, as decisões do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, vêm entendendo da mesma forma, que a
doação/transmissão/adiantamento de herança necessitam de contrato
solene, sendo formalizado somente através de escritura pública ou instrumento
particular e mais que a manifestação verbal não se presta a configurar doação
ou adiantamento de legitima. Vejamos:

Apelação nº 1043691-22.2015.8.26.0002
Apelantes: Andréia Cristina Mattos e outro
Apelado: Espólio de Maria José Pacheco, representado por
Rosangela Aparecida Pacheco
Comarca: São Paulo 2ª Vara Cível do Foro de Santo Amaro
Juiz sentenciante: Dr. Ricardo Dal Pizzol CERCEAMENTO DE
DEFESA. Julgamento antecipado da lide, sem a realização de
prova testemunhal requerida. Prova que serviria de subsídio para
comprovar a doação do imóvel à ré e seu antigo esposo.
Impropriedade. Doação que é contrato solene, sendo
formalizado apenas mediante escritura pública ou instrumento
particular. Manifestação verbal que não se presta a concretizar
a doação. Prova testemunhal desnecessária. Julgador que, por
ser o destinatário da prova, tem o poder de verificar a
conveniência e a necessidade da mesma para o pronto
julgamento. PRELIMINAR AFASTADA.

Desta feita, por se tratar de modalidade de disposição de bens,


no intuito de proteger o interesse de terceiros, a lei civil exige, para concretizar
doação/adiantamento de herança, que está se realize por meio de escritura
pública ou instrumento particular, exceto quando se tratar de bem móvel ou de
pequeno valor, o que não é o caso.

Na hipótese, em se tratando de bem imóvel, a disposição graciosa


de seu domínio jamais poderia ser realizada verbalmente, como entenderam os
julgadores nas decisões recorridas. Nesse sentido, confiram-se os seguintes
julgados desta Corte, assim ementados:
"(...) Apelação Doação - Por se tratar de modalidade de
disposição de bens, no intuito de proteger o interesse de
terceiros, a lei civil exige, para a sua concretização, a exigência
formal de sua realização por meio de escritura pública ou
instrumento particular, exceto quando se tratar de bem móvel e
de pequeno valor, em que será permitida sua consecução sem
maior formalidade Artigo 541, do Código Civil. Bem imóvel.
Impossibilidade da realização da doação por manifestação
verbal. Necessidade, ainda, de observância ao postulado no
artigo 108, do Código Civil, que exige, para a validade da
disposição, a realização da liberalidade por escritura pública
quando o imóvel tiver valor superior a trinta salários mínimos.
Ausência de prova do alegado custeio das benfeitorias
realizadas
na coisa (...)."4

Neste diapasão, as decisões recorridas ao presumirem que existiu


adiantamento de legítima as Recorridas por parte da primeira proprietária (avó
dos Recorrentes), estão infringindo a lei, mais precisamente os artigos 541e 544
do Código Civil, uma vez que não se presumem e para ter validade necessitam
atender formalidades legais, não aceitando o ordenamento jurídico a doação
verbal, devendo a sentença e o acórdão que a acompanhou serem
modificados.

III.B – DA REVOGAÇÃO DE TESTAMENTO QUE COMPROVA QUE NUNCA HOUVE


INTENÇÃO DOS ANTECESSORES EM TRANSMITIR O IMÓVEL

Ademais, a fim de corroborar a tese de que não se trata de


adiantamento de legítima e de que nunca houve a intenção de transmitir o
imóvel as Recorridas, os Recorrentes descobriram que sua avó tinha feito um
testamento deixando o imóvel da Rua Z, nº 215 para a mãe das Recorridas,
entretanto, após isto sua avó revogou esse testamento, ou seja, RESTA
INEQUIVOCAMENTE PROVADO QUE A AVÓ DOS RECORRENTES NUNCA QUIS
DOAR OU TRANSMITIR O IMÓVEL A MÃE DAS REQUERIDAS OU AS REQUERIDAS.
(Conforme testamento e revogação- fls... dos autos).

III. C DA OFENSA AO ARTIGO 582 DO CÓDIGO CIVIL E INDENIZAÇÃO

A sentença e o acórdão recorridos ao afastarem a indenização


pleiteada pelos Recorrentes em razão da não devolução do bem objeto do
comodato no prazo estipulado, incorreram em ofensa ao art. 582 do Código
Civil e também devem ser reformados para condenar as Recorridas na
indenização ali prevista.

4 Apelação 1003536-87.2015.8.26.0224, Rel. Mauro Conti Machado, 9ª Câmara de Direito Privado,


j. 19/10/2016.
O art. 582 do Novo Código Civil dispõe que “o comodatário
constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o
aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante”.

O diploma processual, pela norma contida no art. 555, I, do CPC


admite que em ação possessória seja cumulado pedido de condenação por
perdas e danos.

Posto isto, reconhecido o comodato e o esbulho por parte das


Recorridas através deste recurso, requer ainda a reforma da sentença e do
acórdão para que sejam as Recorridas condenadas ao pagamento de aluguéis
a partir de 25/09/2016, que corresponde ao término do prazo de trinta dias
concedido para a desocupação do imóvel, conforme notificação entregue,
até a data que este imóvel seja retomado pelos Recorrentes.

Dessa forma, eis os seguintes precedentes:


TJ-SP - Apelação APL 10104350720148260008 SP 1010435-
07.2014.8.26.0008 (TJ-SP) Data de publicação: 04/06/2015
Ementa: CERCEAMENTO DE DEFESA – Inocorrência – Provas
produzidas nos autos que dispensavam a produção de outros
meios, legitimando o juiz, desde logo, ao julgamento da lide –
Preliminar rejeitada. POSSESSÓRIA – Ação de reintegração de
posse – Esbulho – Imóvel dado em comodato verbal, por tempo
indeterminado – Falecimento do comodatário que levou o autor
a por fim na avença – Ré que vivia em união estável com o
comodatário, sendo certo que, perante o autor, não tem direito
de exigir sua permanência no local – Notificação para
desocupação do bem – Permanência da ré-apelante no imóvel
que caracteriza esbulho passível de ensejar reintegração de
posse – Dever de pagar aluguel pelo período compreendido de
agosto de 2014 até a efetiva desocupação do imóvel – Recurso
provido, em parte para esse fim.

APELAÇÃO CÍVEL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. CUMULADA COM


PERDAS E DANOS. COMODATO. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL.
NÃO DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL. ESBULHO CARACTERIZADO.
POSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE
ALUGUÉIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 582 DO CCB. VALOR FIXADO A
TÍTULO DE ALUGUEL. MANTIDO. Comodatário constituído em
mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o
aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. Inteligência
do art. 582 do CCB. Valor do aluguel arbitrado na sentença não
merece reforma, pois não impugnado no momento oportuno.
Não fosse por isso, não ficou demonstrado que a quantia fixada
não reflete a realidade do mercado. Ônus de quem alega.
NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.5

Mediante o que foi declinado, requer assim que estipule este


Tribunal um valor locatício mensal desde a data que o imóvel deveria ter sido
desocupado pelas Recorridas até a data da efetiva reintegração, utilizando-se
como parâmetro 1% (hum por cento) do valor venal do imóvel, condenando as
Recorridas ao pagamento destes alugueres em razão da não desocupação do
imóvel, sem qualquer justificativa, a fim de não causar maiores prejuízos aos
Recorrentes.

III. D DO CABIMENTO DO RECURSO COM FUNDAMENTO NA ALÍNEA “C” DO


ARTIGO 105, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Conforme acima exposto, as decisões recorridas além de


afrontarem a legislação federal, estão ainda em desacordo com as decisões
proferidas pelos Nossos Tribunais e por este Superior Tribunal de Justiça Note-se
que, as decisões em sua maioria são no sentido da configuração de comodato,
principalmente quando há empréstimo de imóvel para moradia, realizado entre
parentes, com laços de amizade, sem cobrança de qualquer valor, onde a
parte responde ao real proprietário quando inquirido sobre o imóvel, não paga
ainda todos os impostos/tributos incidentes sobre o mesmo,
independentemente do tempo em que se encontram no imóvel.

Ademais, a conclusão não pode ser outra, quanto a configuração


do comodato neste caso, pois tanto o adiantamento de legítima como a
doação pura e simples, dependem de instrumento particular ou de escritura
pública, ou seja, necessitam de contrato solene e escrito, não se admitindo que
ocorram de forma verbal e tão pouco se PRESUMEM.

Assim, não se trata neste recurso de revolvimento de provas, do


conjunto fático e probatório dos autos, se TRATA DE UMA SIMPLES QUESTÃO: QUE
NÃO SE PODE FALAR NESTE CASO EM ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA, TÃO POUCO
DOAÇÃO, DO IMÓVEL AS RECORRIDAS, POSTO QUE NÃO FOI ELABORADO
QUALQUER DOCUMENTO ESCRITO OU SOLENE TRANSMITINDO O IMÓVEL AS

5Apelação Cível Nº 70026502674, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Cláudio Augusto Rosa Lopes Nunes, Julgado em 25/08/2011
RECORRIDAS E A LEI É CLARA NESTE SENTIDO, que nesses casos quando não
formalizada a doação, resta configurado o comodato verbal.

Note-se ainda que, em decisão proferida no AREsp 1204619/SP, o


STJ negou seguimento a recurso do interessado que da mesma forma que as
Recorridas tinham recebido imóvel para morar e não comprovaram a existência
de doação, pela ausência de documento solene. Pede vênia para transcrever
trecho do AResp citado, que seguiu, manteve e ratificou o entendimento
proferido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que entendeu pela
configuração do comodato:
“(...)Ação de reintegração de posse para desocupação do
imóvel localizado à Rua Professor Luiz Pardini, 171, Jardim Vila
Rica, São Paulo. As partes residiram por cerca de onze anos no
imóvel, quando pertencente ao genitor do apelado. Após o
término do relacionamento amoroso entre as partes, foi
autorizada a permanência da apelante no imóvel. Com o
falecimento do genitor do apelado, coube a ele o imóvel objeto
da ação, quando notificou a apelante para efetuar sua compra
em dez dias, ou desocupá-lo no prazo de trinta dias. Expirados
os prazos sem manifestação da apelante, alega esbulho
possessório. Em defesa, a apelante alega exercer a posse sobre
o imóvel desde 1985, quando o genitor do apelado doou o
imóvel para as partes, que conviviam em união estável.
Alega ter efetuado todas as despesas relativas ao imóvel por
esse período, e aduz exceção de usucapião. Descabe cogitar
de inadequação da via eleita. O pedido de reintegração de
posse é fundado em comodato, e não em alegação exclusiva
de propriedade. inexistente prova documental a amparar a
alegação da apelante quanto ao genitor do apelado ter
doado o imóvel enquanto mantinha união estável com o
apelado, éinadmissível reconhecer a transferência de
propriedade do imóvel de forma verbal.
A doação de bem imóvel exige forma prescrita em lei (artigo
541, do Código Civil, e artigo 1.168, do Código
Civil de 1916). Ante o comodato, e o não atendimento à
notificação de desocupação (páginas 22 e 23/25),
caracterizou-se o esbulho a partir de então, a autorizar o integral
acolhimento do pedido inicial. Diante do exposto, nega-se
provimento ao recurso. Descabe arbitramento de honorários
advocatícios recursais.”6

Cumpre ressaltar que a decisão acima citada o julgador bem


asseverou: o comodato se presume, a doação e/ou adiantamento de legitima
não se presume e exige a formalização a partir de documento escrito.

6Enunciado nº 7 do Plenário do STJ, de 09 de março de 2016). Grifos nossos. (STJ - Agravo em


Recurso Especial 1204619-SP – Rel. Min. Antônio
Assim, resta configurado o comodato verbal, haja vista que o
imóvel em tela foi cedido a título de empréstimo as Recorridas, em razão da
relação de parentesco e amizade, já que nada foi cobrado das mesmas, sendo
certo que em tais casos as decisões são no sentido de reconhecer o comodato,
uma vez que a ANTECIPAÇÃO DE LEGITIMA NÃO SE PRESUME, TÃO POUCO A
DOAÇÃO.
IV – DO PEDIDO

Por todo o exposto, com fundamento no artigo 105, inciso III,


alíneas “a” e “c” da Constituição Federal, e nos artigos 1.029 e seguintes do
Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15), requer a Recorrente seja o presente
recurso conhecido e provido para, com base nas razões de direito acima
esposadas, de modo que:
I-) o processo seja julgado totalmente procedente
determinando a desocupação do imóvel por parte das Recorridas e
reintegrando os Recorrentes na posse do imóvel objeto desta demanda, com a
expedição do competente mandado;
II-) Condenar as Recorridas nas custas, despesas e
honorários advocatícios;
III-) Condenar ainda as Recorridas no pagamento de
aluguéis mensais, que deverá IPTU, desde a data em que o imóvel deveria ter
sido desocupado até a data da sua efetiva desocupação/reintegração, a
título de perdas e danos, por ser de medida de lídima e impoluta justiça.

Termos em que,
Pede deferimento.

Local, data.

Advogado
OAB/UF

Grupo 15 – 5ANMCB
Ariane Barão Gonçalves- RA 201505233
Caroline Oliveira de Castro RA: 201509832
Milena Galdino Pereira RA: 201516837
Natalia da Silva Mendonça RA: 201513167
Thais Franco Silveira – RA: 201507176

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