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O homicídio simples está previsto no caput do artigo 121 do CP, sendo sancionado com a pena de
reclusão de 6 a 20 anos.
Tutela-se a vida humana, a qual começa com o início do parto, com o rompimento do saco
amniótico.
É suficiente a vida, sendo indiferente a capacidade de viver (viabilidade).
Uma vez iniciado o parto, a destruição da vida biológica do feto já constitui o crime de homicídio.
Não se distingue mais entre vida biológica e vida autônoma ou extrauterina.
A existência de capacidade de vida autônoma é indiferente, sendo bastante a presença de vida
biológica (existência do mínimo de atividades funcionais de que o feto já dispõe antes de vir à luz,
sendo a mais evidente a circulação sanguínea).
Antes de iniciado o parto, a eliminação da vida do feto constitui o crime de aborto e não de
homicídio.
Se ambos, em comum acordo (união de desígnios), resolvem matar alguém, serão condenados por
homicídio, caso não haja nenhuma excludente.
Levando-se em consideração o critério trifásico (artigo 68 do CP) e as circunstâncias judiciais (artigo
59 do CP), poderão os gêmeos siameses receber penas distintas, em virtude de suas diferentes
personalidades.
Neste caso, se um cumprir a pena primeiro que o outro, sendo impossível a separação cirúrgica,
ambos serão postos em liberdade.
Caso não tenha havido união de desígnios entre os xifópagos (um queria praticar o homicídio e o
outro não), não sendo possível referir-se à concurso de pessoas, a decisão deve ser no sentido da
liberdade de ambos, pois o irmão que não queria o resultado morte não pode ser punido pela
conduta do outro.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, isto é, o ser vivo nascido de mulher.
Se xipófagos são sujeitos passivos, desejando o agente a morte de ambos, este responderá por dois
crimes de homicídio, em concurso formal impróprio (desígnios autônomos), devendo haver a
aplicação da pena cumulativamente (artigo 70, parte final, do CP).
Caso o agente desejasse matar apenas um dos gêmeos, o que, no entanto, implicaria, por
necessidade lógica e biológica, a vontade de eliminar ambos, uma vez que a morte de um acarreta a
do outro, haveria dolo eventual.
Sendo possível, por meio de intervenção cirúrgica, o resguardo da vida de um deles, responderia o
agente por homicídio consumado e por tentativa de homicídio.
A conduta típica consiste em matar alguém, ou seja, eliminar, retirar, extirpar a vida de outrem.
A ação de matar se dirige à antecipação temporal do fim da vida alheia.
Circunstâncias particulares que existirem na realização do homicídio não integram o tipo, podendo
configurar as qualificadoras ou os privilégios do crime.
A expressão alguém abrange, indistintamente, o universo de seres humanos, o que significa que
qualquer deles pode ser sujeito passivo de homicídio.
Alguém significa outro ser humano, o importa na exigência, para a configuração do homicídio, da
inclusão de, no mínimo, dois sujeitos, o que mata e o que morre.
O elemento subjetivo do crime de homicídio simples (caput do artigo 121 do CP) é o dolo, ou seja, a
consciência e a vontade de matar alguém.
O agente atua com o denominado animus necandi ou animis occidendi, dirigindo-se sua conduta a
causar a morte de alguém.
Trata-se de dolo de dano e não de perigo, visto que o elemento subjetivo do tipo exige que o sujeito
ativo tenha a intenção de produzir lesão no bem jurídico tutelado.
Admite-se que o homicídio seja praticado a título de dolo direto, quando o agente quer, efetivamente,
o resultado morte; ou a título de dolo eventual, quando o agente prevê o resultado como provável ou
como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo.
O dolo direto pode ser de primeiro grau ou de segundo grau.
No dolo direto de primeiro grau os meios escolhidos ao fim proposto encontram-se abrangidos,
imediatamente (diretamente), pela vontade consciente do agente. Exemplo: realizo um disparo de
arma de fogo contra X para mata-lo.
Já no dolo direito de segundo grau os efeitos colaterais representados como necessários (em razão
do fim proposto ou dos meios escolhidos) estão abrangidos, mediatamente (indiretamente), pela
vontade consciente do agente, mas a sua produção necessária os coloca como objetos do dolo
direto. Exemplo: explodo o avião para matar X, prevendo a morte dos demais passageiros.
Quanto ao dolo eventual, este não se confunde com a mera esperança ou com o simples desejo de
que determinado resultado ocorra. Exemplo: mando meu desafeto a um bosque, na temporada
chuvosa, ansiando que o mesmo seja morto por um raio.
O homicídio pode ser praticado comissivamente, isto é, quando o agente dirige sua conduta com o
fim de causar a morte do sujeito passivo (atiro contra meu desafeto); ou omissivamente, ou seja,
quando o agente deixa de fazer aquilo que estava obrigado em razão de sua qualidade de garantidor
(crime omissivo impróprio), nos termos do artigo 13, §2, do CP (mãe não fornece alimentação ao
filho recém-nascido para mata-lo).
Quando o homicídio simples é cometido em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por
um único executor, o mesmo é definido como crime hediondo (artigo 1º, inciso, I, da Lei n.º 8072/90).
Extermínio é a matança generalizada. É a chacina que elimina a vítima pelo simples fato de
pertencer a determinado grupo ou classe social, racial, etc.
O homicídio é crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, quanto ao passivo (não se exige
qualquer característica especial); simples (apresenta tipo penal único); em regra, de forma livre
(pode ser cometido por meio de qualquer comportamento); de dano (se consuma com efetiva lesão
ao bem jurídico); material (menciona conduta e resultado, exigindo este para sua consumação);
instantâneo de efeitos permanentes (a consumação se dá num determinado instante, sendo
duradouras suas consequências, independendo da vontade do agente); não transeunte (o crime
deixa vestígios de sua prática); monossubjetivo (a conduta núcleo do tipo pode ser praticada por
uma única pessoa); plurissubisistente (se perfaz com um série de atos); e podendo ser de ímpeto
(como aquele praticado após injusta provocação).
Motivo de relevante valor social é aquele que apresenta motivação e interesses coletivos, isto é, a
motivação se fundamenta no interesse de todos os cidadãos de determinada coletividade.
Relevante é aquele valor social importante ou considerável, ou seja, que se apresente como de
interesse de todos em geral.
Para que se caracterize a minorante (causa de diminuição de pena), é necessário que o valor social
seja relevante, importante, digno de apreço.
Além disso, o valor social deve ser considerado objetivamente, conforme o padrão médio da
sociedade, e não de forma subjetiva, de acordo com a avaliação do agente, que pode ser mais ou
menos sensível.
Ex.: O agente, revoltado com a situação de impunidade no país, em que o Direito Penal, em virtude
de sua seletividade, alcança apenas os excluídos, mata um político corrupto (Rogério Greco).
Motivo de relevante valor moral é aquele reputado superior, enobrecedor de qualquer cidadão em
circunstâncias normais.
Exige-se que se trate de valor considerável, isto é, adequado aos princípios éticos dominantes,
conforme aquilo que a moral média entende como nobre e merecedor de amparo.
Para que se caracterize a minorante (causa de diminuição de pena), é necessário que o valor moral
seja relevante, importante, digno de apreço.
Além disso, o valor moral deve ser considerado objetivamente, conforme o padrão médio da
sociedade, e não de forma subjetiva, de acordo com a avaliação do agente, que pode ser mais ou
menos sensível.
Ex.: Pai que mata o estuprador da filha; eutanásia (por fim a vida de alguém, com seu
consentimento, para lhe abreviar o sofrimento (Rogério Greco).
1.2.1.3) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima
Para que se caracterize a privilegiadora do homicídio a emoção deve ser necessariamente intensa,
violenta, absorvente, apresentando-se capaz de reduzir quase completamente a capacidade de
escolha, em virtude dos motivos que a desencadearam, dominando o próprio autocontrole do
agente.
A intensidade da emoção deve ser tal que o agente seja dominado pela mesma, isto é, deve o
sujeito ativo agir sob o ímpeto do choque emocional.
Agir sob domínio de violenta emoção significa atuar sob choque emocional próprio de quem é
absorvido por estado de ânimo caracterizado por extrema excitação sensorial e afetiva, que subjuga
o sistema nervoso do indivíduo.
Caso o agente atue sob mera influência da emoção, não se caracterizará a privilegiadora, mas uma
circunstância atenuante (artigo 65 do CP), sendo, neste caso, indiferente a presença da
imediatidade da reação do agente.
Além da violenta emoção, é mister que a provocação tenha partido da própria vítima, exigindo-se,
ainda, que a provocação se apresente como injusta, não significando, necessariamente, antijurídica,
mas no sentido de não justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou seja, ilícita.
Deste modo, se a provocação for legítima, devendo, neste caso, o agente se submeter a ela, não é
possível referir-se à caracterização da privilegiadora, visto restar ausente um requisito indispensável,
que é a injustiça da provocação.
O reconhecimento da minorante depende, ainda, da configuração do requisito temporal, isto é, a
conduta deve ser praticada logo em seguida à injusta provocação da vítima.
Assim, a reação deve ser imediata, ou seja, é mister que entre a causa da emoção (injusta
provocação) e o agir do sujeito ativo inexista, praticamente, intervalo, que ocorra de pronto, de
imediato.
Importante esclarecer que provocação não se confunde com agressão.
Se a provocação colocar em risco a integridade do ofendido, assumirá a natureza de agressão,
autorizando, assim, a legítima defesa.
O homicídio qualificado apresenta-se insculpido no artigo 121, § 2º, do Código Penal, sendo
sancionado com a pena de reclusão de 12 a 30 anos.
As qualificadoras do crime de homicídio encontram-se divididas em quatro grandes grupos, dizendo
respeito aos:
a) motivos (a paga ou promessa de recompensa, ou outro motivo torpe; e o motivo fútil – artigo 121,
§ 2º, incisos I e II, do CP);
b) meios (emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que possa resultar perigo comum – artigo 121, § 2º, inciso III, do CP);
c) modos (à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido (artigo 121, § 2º, inciso IV, do CP);
d) fins (para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade, ou a vantagem de outro crime –
artigo 121, § 2º, inciso V, do CP); e
e) sujeitos passivos (contra a mulher por razões da condição de sexo feminino - art. 121, § 2º, inciso
VI c/c § 2º-A, incisos I e II; e contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição - art. 121, § 2º, inciso VII).
As qualificadoras devem ser consideradas como circunstâncias e não como elementares, já que o
artigo 121, § 2º, do CP prevê uma modalidade de tipo derivado qualificado.
Desta forma, nos termos do artigo 30 do CP, em caso de concurso de pessoas, as qualificadoras
não se comunicam.
Considerando que os meios, os fins, os modos, os motivos e os sujeitos passivos que qualificam o
homicídio integram a própria figura típica, é necessário que os mesmos estejam abrangidos pelo
dolo, podendo haver, por conseqüência, sua exclusão, no caso de erro.
Torpe é o motivo repugnante, abjeto, ignóbil, vil, que atenta contra a consciência da média da
comunidade.
A torpeza é um motivo que atinge mais diretamente o sentimento ético-social da coletividade.
O motivo torpe não pode coexistir com o motivo fútil, na medida em que são incompatíveis.
A torpeza afasta naturalmente a futilidade.
Relativamente ao ciúme, este, por si só, por se tratar de um sentimento comum à maioria da
coletividade, não se equipara ao motivo torpe.
No caso de ciúme patológico (intensidade exagerada de um sentimento natural do ser humano), se
este não serve para justificar a ação criminosa, também não pode se prestar para qualificá-la.
Quanto à vingança (sentimento de represália e desforra em relação a algo que aconteceu), esta nem
sempre caracteriza o motivo torpe, pois a torpeza do motivo está na origem e natureza da sua
existência.
Ex.: Pratico o homicídio para receber prêmio de seguro; apressar a posse de herança; eliminar
coerdeiro; fazer desaparecer um credor; etc.
Veneno é toda substância, biológica ou química, que, introduzida no organismo, pode causar lesões
ou morte.
Para fins penais, veneno é qualquer substância, vegetal, animal ou mineral, que tenha idoneidade
para provocar lesão ao organismo humano.
Assim, uma substância teoricamente inócua pode assumir a condição de veneno, conforme as
condições especiais da vítima (ex.: administrar açúcar para o diabético).
O emprego do veneno somente qualifica o homicídio se for utilizado com dissimulação, como
estratagema, como cilada. A administração forçada ou com o conhecimento da vítima não qualifica o
crime.
Se for ministrado com violência o veneno pode caracterizar um meio cruel lato sensu, desde que
objetive causar grave sofrimento à vítima, não constituindo, neste caso, meio insidioso.
Vale ressaltar que o emprego do veneno é um meio insidioso excepcional, residindo o seu êxito
exatamente na dissimulação de seu uso.
Convém destacar, ainda, que o envenenamento exige a realização de exame pericial toxicológico.
O emprego do fogo pode ser exemplificado por meio da utilização de combustível inflamável seguido
do ateamento do fogo.
O fogo pode constituir meio cruel, como tem ocorrido, nos últimos tempos, com o ateamento de fogo
em mendigos, ou meio de que possa resultar perigo comum, dependendo das circunstâncias.
Já o emprego do explosivo pode se verificar com o uso de dinamite ou qualquer outro material
explosivo, tal como uma bomba caseira ou um coquetel molotov.
Compreende-se como explosivo todo e qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão,
causando perigo a um número indeterminado de pessoas.
Tortura é o meio que causa intenso, prolongado, atroz e desnecessário sofrimento. A tortura se trata
de uma modalidade de meio cruel, que deste se diferencia somente no que tange ao aspecto
temporal, exigindo uma ação um pouco mais duradoura.
Diferencia-se da prática prevista na Lei n.º 9.455/97, pois no homicídio a tortura é meio para
alcançar a morte, enquanto em tal diploma se trata do fim.
Meio de que possa resultar perigo comum é aquele que pode atingir um número indefinido ou
determinado de pessoas.
Nada obsta, no caso da existência de desígnios autônomos, o concurso formal entre o homicídio e
um crime de perigo comum (ex.: artigo 121 e artigo 250 – incêndio).
A distinção entre as qualificadoras do homicídio que possa resultar em perigo comum e os crimes de
perigo comum (Título VIII, Capítulo I) reside no elemento subjetivo, pois, no que tange ao primeiro
delito, o agente pretende alcançar a morte da vítima e não criar a situação de perigo comum.
À traição consiste no ataque sorrateiro, inesperado, tal como ocorre, por exemplo, em relação ao
disparo de arma de fogo pelas costas.
A traição que qualifica o homicídio se cuida da ocultação moral ou mesmo física da intenção do
sujeito ativo, o qual, de modo desleal, viola a confiança da vítima.
Não haverá a configuração desta qualificadora se a vítima pressentir a intenção do agente ou se a
mesma tiver tempo para fugir.
Na dissimulação, o agente esconde ou disfarça seu propósito, para surpreender a vítima, que se
encontra desprevenida.
É a ocultação do intenção hostil, do propósito criminoso.
Tanto a ocultação do propósito, quanto o disfarce utilizado para se aproximar da vítima configuram
esta qualificadora.
Ex.: O agente mostra o que não é, finge-se de amigo, ilude a vítima, que, desta forma, não tem
razões para desconfiar do ataque, sendo apanhada desatenta e indefesa.
1.3.1.14) Para assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime (fim)
Tais qualificadoras constituem o elemento subjetivo do tipo qualificado, representado pelo especial
fim de agir.
O outro crime, que se pretende assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem, pode ter
sido praticado por pessoa diversa da do sujeito ativo do delito de homicídio.
Há, neste caso, a denominada qualificadora por conexão.
A conexão pode ser teleológica, quando o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro
crime.
A conexão pode ser também consequencial, quando o homicídio é cometido com a finalidade de
assegurar a ocultação (manter desconhecida a prática da infração penal), a impunidade (a infração
penal é conhecida, mas sua autoria ignorada), ou a vantagem (garantir a fruição de vantagem) de
outro crime.
Se o agente comete o homicídio a fim de assegurar a execução de outro crime que não vier a ser
praticado ainda subsiste a qualificadora, em virtude da maior censurabilidade do comportamento
daquele.
Se o agente comete o homicídio a fim de assegurar a ocultação ou impunidade de crime prescrito
também permanece a qualificadora, em razão da maior censurabilidade do comportamento daquele.
Se o agente pratica o homicídio para assegurar, em tese, a impunidade de crime impossível
mantém-se a qualificadora, por força da mesma razão.
Se o homicídio é praticado para assegurar a execução, a ocultação, a vantagem ou a impunidade de
contravenção penal não se configura a qualificadora, em virtude da vedação da analogia in malam
partem.
Assim, o homicídio é cometido para garantir a prática de outro crime ou para evitar a sua
descoberta.
1.3.1.15) A premeditação
1.3.1.16) Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (sujeito passivo):
(...)
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
(...)
Nesse sentido, se o crime de homicídio praticado contra a mulher tiver como pano de fundo a
violência doméstica e familiar ou o menosprezo ou discriminação à condição feminina incidirá a
qualificadora prevista no inciso VI, § 2º, do artigo 121.
O Código Penal adota o princípio da excepcionalidade do crime culposo, o qual se encontra previsto
em seu artigo 18, parágrafo único.
Segundo tal princípio, a regra é que as infrações penais sejam imputadas a título de dolo, e apenas
excepcionalmente a título de culpa, exigindo-se, neste último caso, a previsão expressa da
modalidade culposa da figura típica.
Desta forma, quando o agente pratica a conduta culposamente e a figura típica não admite a forma
culposa, não há crime.
A inobservância do dever objetivo de cuidado resulta da comparação direção finalista real (conduta
praticada pelo agente) da direção finalista exigida para evitar as lesões aos bens jurídicos.
A infração deste dever de cuidado representa o injusto típico dos crimes culposos.
Porém, é necessário avaliar, no caso concreto, o que teria sigo para o agente o dever de cuidado.
Para que se configure o homicídio culposo, é indispensável que o resultado morte seja
consequência da inobservância do dever de cuidado objetivo, ou seja, que este seja a causa
daquele.
Deste modo, quando observado o dever de cuidado, e, ainda assim, o resultado ocorrer, não se
caracterizará o homicídio culposo.
Em uma situação como esta, a atribuição de responsabilidade ao agente constituiria flagrante
situação de responsabilidade objetiva.
Na mesma linha, considerando que o dever de cuidado apresenta limites impostos pela norma
objetiva, diante de um resultado inevitável, não haverá tipicidade.
Em outros termos, é indispensável que a inobservância do dever objetivo de cuidado seja a causa
do resultado previsto como crime culposo.
1.4.6) Concorrência e compensação de culpas
O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor encontra-se insculpido no artigo 302
da Lei n.º 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), sendo sancionado com a pena de reclusão de 2
a 4 anos.
O crime previsto no artigo 302 da Lei n.º 9.503/97 é punido mais severamente do que aquele
insculpido no artigo 121, § 3º do CP (homicídio culposo) (2 a 4 anos de reclusão contra 1 a 3 anos).
Tal decorre do fato de ação que tipifica o crime de homicídio culposo na direção de veículo
automotor ser consideravelmente mais desvaliosa do que outras condutas produtoras de crimes
culposos no cotidiano social.
O maior desvalor das ações culposas praticadas no volante está diretamente relacionada à
quantidade produzida de resultados mais desvaliosos (maior número de homicídios culposos na
direção de veículo automotor em relação ao homicídio culposo previsto no CP).
Não há nada de inconstitucional (eventual ofensa ao princípio da isonomia) na punição mais rigorosa
do homicídio culposo na direção de veículo automotor, que decorre do maior desvalor da ação, a
merecer, portanto, maior reprovabilidade. O mesmo se observa em relação à comparação entre o
homicídio simples e o qualificado.
1.4.9) Majorantes (causas especiais de aumento de pena) do homicídio culposo
O artigo 121, § 4º, primeira parte, do Código Penal consagram as majorantes do homicídio culposo,
as quais exasperam em 1/3 a pena ao mesmo cominada.
Tais majorantes consistem em causas especiais de aumento de pena, que representam um plus de
reprovabilidade, não integrando a descrição típica, ao contrário das qualificadoras.
As causas especiais de aumento de pena do homicídio culposo são:
a) a inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício;
b) a omissão de socorro à vítima;
c) não procurar diminuir as consequências do comportamento; e
d) a fuga para evitar a prisão em flagrante.
Tal majorante não se confunde com a imperícia (modalidade de culpa), que indica inaptidão ou
insuficiência de capacidade técnica. Nesta majorante, o agente conhece a regra técnica, mas não a
observa. Há uma disciplicência a respeito da regra técnica, sendo diverso o fundamento da culpa.
A imperícia se localiza na topologia estrutural do crime culposo, isto é, no tipo penal. Já a
inobservância de regra técnica importa em maior reprovabilidade da conduta, seja qual for a
modalidade da culpa, situando-se, portanto, na culpabilidade.
Esta majorante se apresenta como uma referência redundante, na medida em que não deixa de ser
uma forma de omissão de socorro.
Tal previsão se apresenta, na verdade, uma conotação semelhante a do arrependimento posterior,
nos termos do artigo 16 do CP.
O perdão judicial encontra-se previsto no artigo 121, § 5º, do Código Penal, o qual dispõe que o juiz
poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração penal atingirem o próprio agente,
de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Tem-se aqui hipótese em que o agente é punido diretamente pelo próprio fato que praticou.
A gravidade das consequências deve ser aferida em função da pessoa do agente, não sendo
considerados critérios de natureza objetiva.
As consequências não se limitam aos danos morais, podendo constituir-se em danos materiais.
Se as consequências atingirem o agente apenas indiretamente, exige-se que entre aquele e a vítima
haja um vínculo afetivo de importância significativa.
O perdão judicial se trata de direito público subjetivo de liberdade do agente.
Caso estiverem presentes os requisitos exigidos, o perdão judicial não poderá deixar de ser
concedido por mero capricho ou qualquer razão desvinculada do instituto.
Rogério Greco pensa que, dependendo das hipóteses e das pessoas envolvidas, o perdão judicial
pode ser entendido como:
a) um direito público subjetivo do agente (crime cometido por ascendente, descendente, cônjuge ou
irmão); ou
b) como uma faculdade do julgador (crime cometido por um amigo).
O perdão judicial apresenta-se como uma causa extintiva da punibilidade, conforme se extrai do
artigo 107, inciso IX, do CP e da Súmula n.º 18 do STJ.
Por questões de política criminal e do disposto no artigo 291 da Lei n.º 9.503/97, a maioria da
doutrina admite que o perdão judicial previsto no artigo 121, § 5º, do CP, seja aplicado aos crimes de
homicídio culposo e de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (artigos 302 e 303),
embora tivesse havido o veto do dispositivo que o previa no projeto de tal diploma.