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1) Homicídio – artigo 121 do CP

1.1) Homicídio Simples – art. 121, caput, do CP

O homicídio simples está previsto no caput do artigo 121 do CP, sendo sancionado com a pena de
reclusão de 6 a 20 anos.

1.1.1) Definição de Homicídio

O homicídio consiste na eliminação da vida de alguém realizada por outrem.


A vida, embora seja um bem fundamental do homem, como ser individual social, apresenta-se, no
que tange à sua proteção, essencial também para o Estado.

1.1.2) Objetividade Jurídica (Bem Jurídico)

Tutela-se a vida humana, a qual começa com o início do parto, com o rompimento do saco
amniótico.
É suficiente a vida, sendo indiferente a capacidade de viver (viabilidade).
Uma vez iniciado o parto, a destruição da vida biológica do feto já constitui o crime de homicídio.
Não se distingue mais entre vida biológica e vida autônoma ou extrauterina.
A existência de capacidade de vida autônoma é indiferente, sendo bastante a presença de vida
biológica (existência do mínimo de atividades funcionais de que o feto já dispõe antes de vir à luz,
sendo a mais evidente a circulação sanguínea).
Antes de iniciado o parto, a eliminação da vida do feto constitui o crime de aborto e não de
homicídio.

1.1.3) Objeto Material

É a pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo agente.

1.1.4) Sujeito ativo

O sujeito ativo do delito de homicídio pode ser qualquer pessoa.


Trata-se de crime comum, não se exigindo qualquer condição particular do agente.
O sujeito ativo pode agir sozinho ou associado a outrem.
Não se admite como sujeito ativo do homicídio a própria vítima (pessoa que sofre a consequência da
conduta), pois não é crime matar a si próprio, o que caracteriza suicídio (fato atípico).
Típica é a conduta de matar alguém, isto é, uma terceira pessoa.
Obs.: Homicídio praticado por xifópagos (gêmeos siameses):

Se ambos, em comum acordo (união de desígnios), resolvem matar alguém, serão condenados por
homicídio, caso não haja nenhuma excludente.
Levando-se em consideração o critério trifásico (artigo 68 do CP) e as circunstâncias judiciais (artigo
59 do CP), poderão os gêmeos siameses receber penas distintas, em virtude de suas diferentes
personalidades.
Neste caso, se um cumprir a pena primeiro que o outro, sendo impossível a separação cirúrgica,
ambos serão postos em liberdade.
Caso não tenha havido união de desígnios entre os xifópagos (um queria praticar o homicídio e o
outro não), não sendo possível referir-se à concurso de pessoas, a decisão deve ser no sentido da
liberdade de ambos, pois o irmão que não queria o resultado morte não pode ser punido pela
conduta do outro.

1.1.5) Sujeito Passivo

O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, isto é, o ser vivo nascido de mulher.

Obs. 1: Xifópagos como sujeitos passivos de homicídio:

Se xipófagos são sujeitos passivos, desejando o agente a morte de ambos, este responderá por dois
crimes de homicídio, em concurso formal impróprio (desígnios autônomos), devendo haver a
aplicação da pena cumulativamente (artigo 70, parte final, do CP).
Caso o agente desejasse matar apenas um dos gêmeos, o que, no entanto, implicaria, por
necessidade lógica e biológica, a vontade de eliminar ambos, uma vez que a morte de um acarreta a
do outro, haveria dolo eventual.
Sendo possível, por meio de intervenção cirúrgica, o resguardo da vida de um deles, responderia o
agente por homicídio consumado e por tentativa de homicídio.

Obs. 2: Sujeito passivo especial

Quando o sujeito passivo do homicídio for o Presidente da República, do Senado Federal, da


Câmara dos Deputados, ou do Supremo Tribunal Federal, o crime será contra a segurança nacional
(artigo 29, da Lei n.º 7.170/83).
Se o sujeito passivo for menor de 14 anos ou maior de 60 anos, a pena será majorada (causa de
aumento de pena ou majorante) em um terço (artigo 121, § 4º do CP, com redação dada pela Lei n.º
8;069/90 – ECA).
1.1.6) Tipo objetivo

A conduta típica consiste em matar alguém, ou seja, eliminar, retirar, extirpar a vida de outrem.
A ação de matar se dirige à antecipação temporal do fim da vida alheia.
Circunstâncias particulares que existirem na realização do homicídio não integram o tipo, podendo
configurar as qualificadoras ou os privilégios do crime.
A expressão alguém abrange, indistintamente, o universo de seres humanos, o que significa que
qualquer deles pode ser sujeito passivo de homicídio.
Alguém significa outro ser humano, o importa na exigência, para a configuração do homicídio, da
inclusão de, no mínimo, dois sujeitos, o que mata e o que morre.

1.1.7) Tipo subjetivo

O elemento subjetivo do crime de homicídio simples (caput do artigo 121 do CP) é o dolo, ou seja, a
consciência e a vontade de matar alguém.
O agente atua com o denominado animus necandi ou animis occidendi, dirigindo-se sua conduta a
causar a morte de alguém.
Trata-se de dolo de dano e não de perigo, visto que o elemento subjetivo do tipo exige que o sujeito
ativo tenha a intenção de produzir lesão no bem jurídico tutelado.
Admite-se que o homicídio seja praticado a título de dolo direto, quando o agente quer, efetivamente,
o resultado morte; ou a título de dolo eventual, quando o agente prevê o resultado como provável ou
como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo.
O dolo direto pode ser de primeiro grau ou de segundo grau.
No dolo direto de primeiro grau os meios escolhidos ao fim proposto encontram-se abrangidos,
imediatamente (diretamente), pela vontade consciente do agente. Exemplo: realizo um disparo de
arma de fogo contra X para mata-lo.
Já no dolo direito de segundo grau os efeitos colaterais representados como necessários (em razão
do fim proposto ou dos meios escolhidos) estão abrangidos, mediatamente (indiretamente), pela
vontade consciente do agente, mas a sua produção necessária os coloca como objetos do dolo
direto. Exemplo: explodo o avião para matar X, prevendo a morte dos demais passageiros.
Quanto ao dolo eventual, este não se confunde com a mera esperança ou com o simples desejo de
que determinado resultado ocorra. Exemplo: mando meu desafeto a um bosque, na temporada
chuvosa, ansiando que o mesmo seja morto por um raio.

1.1.8) Consumação e tentativa


A consumação do delito de homicídio ocorre quando da ação humana resulta a morte do sujeito
passivo.
Como se trata de crime material, a consumação consiste na última fração típica do agir criminoso
(última etapa do iter criminis).
O resultado morte pode ocorrer imediatamente ou mesmo dias ou meses após a prática da conduta,
sendo considerado consumado o crime, para fins de aplicação da lei, nos termos do artigo 4º do CP,
no momento da ação ou da omissão.
A morte, que representa a materialidade do homicídio, é provada por meio do exame de corpo de
delito (necropsia), que pode ser direto (disponibilidade do objeto material) ou indireto
(desaparecimento dos vestígios), nos termos do artigo 158, do CPP.
Na impossibilidade do exame – direto ou indireto – admite-se, de modo supletivo, a prova
testemunhal, nos termos do artigo 167 do CPP, a qual não se confunde com o exame de corpo de
delito indireto.
Somente se admite a prova testemunhal quando também for impossível o exame de corpo de delito
indireto, e não apenas o direto.
Além disso, a confissão do acusado, não supre a ausência do exame, que é prova qualificada de
qualquer crime material que deixa vestígio.
A tentativa (iniciada a execução, com o ataque ao bem jurídico vida, não se verifica o evento morte
por circunstâncias alheias à vontade do agente) é possível, visto que o crime é material e
plurissubsistente, sendo possível o fracionamento do iter criminis.
A tipicidade da tentativa de homicídio decorre da conjugação do tipo penal do homicídio (artigo 121
do CP) com a norma de extensão do artigo 14, inciso II, do CP, que a define e prevê sua punição.
Não há dolo especial na tentativa, não se verificando distinção entre o elemento subjetivo do crime
consumado e do crime tentado.
Assim, o dolo da tentativa é o mesmo do crime consumado.
Nos casos de tentativa branca, embora não haja produção de dano, o dolo de causá-lo encontra-se
presente. Não há dolo de perigo, mas de dano.

1.1.9) Modalidades comissiva e omissiva

O homicídio pode ser praticado comissivamente, isto é, quando o agente dirige sua conduta com o
fim de causar a morte do sujeito passivo (atiro contra meu desafeto); ou omissivamente, ou seja,
quando o agente deixa de fazer aquilo que estava obrigado em razão de sua qualidade de garantidor
(crime omissivo impróprio), nos termos do artigo 13, §2, do CP (mãe não fornece alimentação ao
filho recém-nascido para mata-lo).

1.1.10) Meios de execução


Sendo delito de forma livre o homicídio pode ser praticado através de diversos meios: a) diretos (ex.:
emprego de arma de fogo); b) indiretos (ataques de animais açulados pelos proprietários); c)
materiais (que podem ser mecânicos, químicos, patológicos, etc.); e d) morais (ex.: susto, medo,
emoção violenta, etc.).

1.1.11) Homicídio simples e crime hediondo

Quando o homicídio simples é cometido em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por
um único executor, o mesmo é definido como crime hediondo (artigo 1º, inciso, I, da Lei n.º 8072/90).
Extermínio é a matança generalizada. É a chacina que elimina a vítima pelo simples fato de
pertencer a determinado grupo ou classe social, racial, etc.

1.1.12) Classificação doutrinária

O homicídio é crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, quanto ao passivo (não se exige
qualquer característica especial); simples (apresenta tipo penal único); em regra, de forma livre
(pode ser cometido por meio de qualquer comportamento); de dano (se consuma com efetiva lesão
ao bem jurídico); material (menciona conduta e resultado, exigindo este para sua consumação);
instantâneo de efeitos permanentes (a consumação se dá num determinado instante, sendo
duradouras suas consequências, independendo da vontade do agente); não transeunte (o crime
deixa vestígios de sua prática); monossubjetivo (a conduta núcleo do tipo pode ser praticada por
uma única pessoa); plurissubisistente (se perfaz com um série de atos); e podendo ser de ímpeto
(como aquele praticado após injusta provocação).

1.2) Homicídio privilegiado – art. 121, § 1º, do CP

O homicídio privilegiado encontra-se previsto no § 1º, do artigo 121, do CP.


As circunstâncias especiais contempladas em tal dispositivo (privilegiadoras) minoram a sanção
penal aplicada ao homicídio (redução de 1/6 a 1/3).
Não se tratam de elementares do tipo, mas de causas especiais de diminuição de pena, que não
interferem na estrutura da descrição típica.
Por tal razão, tais circunstâncias não se comunicam em caso de concurso de pessoas (artigo 30 do
CP).

1.2.1) Figuras privilegiadas do homicídio


As formas privilegiadas do homicídio são as seguintes: a) motivo de relevante valor social; b) motivo
de relevante valor moral; e c) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima.

1.2.1.1) Motivo de relevante valor social

Motivo de relevante valor social é aquele que apresenta motivação e interesses coletivos, isto é, a
motivação se fundamenta no interesse de todos os cidadãos de determinada coletividade.
Relevante é aquele valor social importante ou considerável, ou seja, que se apresente como de
interesse de todos em geral.
Para que se caracterize a minorante (causa de diminuição de pena), é necessário que o valor social
seja relevante, importante, digno de apreço.
Além disso, o valor social deve ser considerado objetivamente, conforme o padrão médio da
sociedade, e não de forma subjetiva, de acordo com a avaliação do agente, que pode ser mais ou
menos sensível.
Ex.: O agente, revoltado com a situação de impunidade no país, em que o Direito Penal, em virtude
de sua seletividade, alcança apenas os excluídos, mata um político corrupto (Rogério Greco).

1.2.1.2) Motivo de relevante valor moral

Motivo de relevante valor moral é aquele reputado superior, enobrecedor de qualquer cidadão em
circunstâncias normais.
Exige-se que se trate de valor considerável, isto é, adequado aos princípios éticos dominantes,
conforme aquilo que a moral média entende como nobre e merecedor de amparo.
Para que se caracterize a minorante (causa de diminuição de pena), é necessário que o valor moral
seja relevante, importante, digno de apreço.
Além disso, o valor moral deve ser considerado objetivamente, conforme o padrão médio da
sociedade, e não de forma subjetiva, de acordo com a avaliação do agente, que pode ser mais ou
menos sensível.
Ex.: Pai que mata o estuprador da filha; eutanásia (por fim a vida de alguém, com seu
consentimento, para lhe abreviar o sofrimento (Rogério Greco).

1.2.1.3) Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima

Para que se caracterize a privilegiadora do homicídio a emoção deve ser necessariamente intensa,
violenta, absorvente, apresentando-se capaz de reduzir quase completamente a capacidade de
escolha, em virtude dos motivos que a desencadearam, dominando o próprio autocontrole do
agente.
A intensidade da emoção deve ser tal que o agente seja dominado pela mesma, isto é, deve o
sujeito ativo agir sob o ímpeto do choque emocional.
Agir sob domínio de violenta emoção significa atuar sob choque emocional próprio de quem é
absorvido por estado de ânimo caracterizado por extrema excitação sensorial e afetiva, que subjuga
o sistema nervoso do indivíduo.
Caso o agente atue sob mera influência da emoção, não se caracterizará a privilegiadora, mas uma
circunstância atenuante (artigo 65 do CP), sendo, neste caso, indiferente a presença da
imediatidade da reação do agente.
Além da violenta emoção, é mister que a provocação tenha partido da própria vítima, exigindo-se,
ainda, que a provocação se apresente como injusta, não significando, necessariamente, antijurídica,
mas no sentido de não justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou seja, ilícita.
Deste modo, se a provocação for legítima, devendo, neste caso, o agente se submeter a ela, não é
possível referir-se à caracterização da privilegiadora, visto restar ausente um requisito indispensável,
que é a injustiça da provocação.
O reconhecimento da minorante depende, ainda, da configuração do requisito temporal, isto é, a
conduta deve ser praticada logo em seguida à injusta provocação da vítima.
Assim, a reação deve ser imediata, ou seja, é mister que entre a causa da emoção (injusta
provocação) e o agir do sujeito ativo inexista, praticamente, intervalo, que ocorra de pronto, de
imediato.
Importante esclarecer que provocação não se confunde com agressão.
Se a provocação colocar em risco a integridade do ofendido, assumirá a natureza de agressão,
autorizando, assim, a legítima defesa.

1.2.2) Concurso com qualificadoras subjetivas

As privilegiadoras não podem concorrer com as qualificadoras de caráter subjetivo, em virtude da


patente incompatibilidade entre ambas.
Restando configuradas as minorantes (relevante valor social, relevante valor moral, domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima), resta prejudicada a concorrência
com as qualificadoras de índole subjetiva (mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
motivo torpe; e por motivo fútil – artigo 121,§ 2º, incisos I e II, do CP).
Nada obsta, porém, que as privilegiadoras concorram as qualificadoras de índole objetiva.
Deste modo, pode haver homicídio privilegiado-qualificado, desde que as qualificadoras sejam de
ordem objetiva (com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura, ou outro meio insidioso ou
cruel; à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido; e para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime – artigo 121, § 2º, incisos III, IV e V, do CP).
1.2.3) Redução obrigatória

Questiona-se se a redução das minorantes previstas no artigo 121, § 1º, do CP apresenta-se


obrigatória ou facultativa, havendo divergência doutrinária acerca de tal aspecto.
Entende a maior parte da doutrina que, uma vez configurada uma das minorantes, a redução se
afigura como um direito público-subjetivo do agente, não sendo, pois, o seu reconhecimento mera
faculdade do juiz, o qual deverá, valendo-se de sua prudente discricionariedade, fixar o quantum da
mitigação (1/6 a 1/3).
Nesta mesma linha, apresenta-se o posicionamento do STF que, por meio da súmula n.º 162,
assentou que: “É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não
precedem aos das circunstâncias agravantes”.
Sendo as minorantes um quesito da defesa, havendo o reconhecimento destas pelo Conselho de
Sentença, em virtude do princípio da soberania do Tribunal do Júri (artigo 5º, inciso XXXVIII, da CR),
a redução se impõe, não podendo o magistrado rechaçá-la, deixando de a considerar na terceira
fase do processo de fixação da pena in concreto (artigo 68, do Código Penal).

1.2.4) Homicídio privilegiado e crime hediondo

Verifica-se uma incompatibilidade entre o homicídio privilegiado e o crime hediondo.


O homicídio simples será considerado quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio.
Desta forma, a hediondez não se encontra em situação de congruência com as minorantes
(relevante valor social, relevante valor social, domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima.

1.3) Homicídio qualificado – art. 121, § 2º, do CP

O homicídio qualificado apresenta-se insculpido no artigo 121, § 2º, do Código Penal, sendo
sancionado com a pena de reclusão de 12 a 30 anos.
As qualificadoras do crime de homicídio encontram-se divididas em quatro grandes grupos, dizendo
respeito aos:
a) motivos (a paga ou promessa de recompensa, ou outro motivo torpe; e o motivo fútil – artigo 121,
§ 2º, incisos I e II, do CP);
b) meios (emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que possa resultar perigo comum – artigo 121, § 2º, inciso III, do CP);
c) modos (à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido (artigo 121, § 2º, inciso IV, do CP);
d) fins (para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade, ou a vantagem de outro crime –
artigo 121, § 2º, inciso V, do CP); e
e) sujeitos passivos (contra a mulher por razões da condição de sexo feminino - art. 121, § 2º, inciso
VI c/c § 2º-A, incisos I e II; e contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição - art. 121, § 2º, inciso VII).
As qualificadoras devem ser consideradas como circunstâncias e não como elementares, já que o
artigo 121, § 2º, do CP prevê uma modalidade de tipo derivado qualificado.
Desta forma, nos termos do artigo 30 do CP, em caso de concurso de pessoas, as qualificadoras
não se comunicam.
Considerando que os meios, os fins, os modos, os motivos e os sujeitos passivos que qualificam o
homicídio integram a própria figura típica, é necessário que os mesmos estejam abrangidos pelo
dolo, podendo haver, por conseqüência, sua exclusão, no caso de erro.

1.3.1) Figuras que qualificam o homicídio

1.3.1.1) Mediante paga ou promessa de recompensa (motivo)

Trata-se de crime cuja execução é atribuída aos denominados “jagunços”, “pistoleiros”.


Apresenta-se como um crime mercenário.
É uma modalidade específica de torpeza na execução do crime de homicídio.
Na paga, o agente recebe previamente a recompensa pelo crime, o que não ocorre na promessa de
recompensa, em que há apenas expectativa de paga.
Respondem pelo crime qualificado aquele que praticou a conduta e aquele que pagou ou prometeu
a recompensa.
É indispensável, no mínimo, a participação das duas pessoas referidas, caracterizando-se um crime
de autoria bilateral, em concurso necessário.
A maior reprovabilidade do homicídio qualificado pela paga ou promessa de recompensa reside na
venalidade do agente.
Deste modo, os denominados mandados gratuitos não qualificam o crime, tampouco eventuais
benefícios concedidos após a execução, sem que tenha havido ajuste prévio.
A paga ou promessa de recompensa não necessitam apresentar natureza patrimonial, sendo,
porém, mais comum que aquelas se consubstanciem em vantagens patrimoniais (quantia em
dinheiro).

1.3.1.2) Motivo torpe (motivo)

Torpe é o motivo repugnante, abjeto, ignóbil, vil, que atenta contra a consciência da média da
comunidade.
A torpeza é um motivo que atinge mais diretamente o sentimento ético-social da coletividade.
O motivo torpe não pode coexistir com o motivo fútil, na medida em que são incompatíveis.
A torpeza afasta naturalmente a futilidade.
Relativamente ao ciúme, este, por si só, por se tratar de um sentimento comum à maioria da
coletividade, não se equipara ao motivo torpe.
No caso de ciúme patológico (intensidade exagerada de um sentimento natural do ser humano), se
este não serve para justificar a ação criminosa, também não pode se prestar para qualificá-la.

Quanto à vingança (sentimento de represália e desforra em relação a algo que aconteceu), esta nem
sempre caracteriza o motivo torpe, pois a torpeza do motivo está na origem e natureza da sua
existência.
Ex.: Pratico o homicídio para receber prêmio de seguro; apressar a posse de herança; eliminar
coerdeiro; fazer desaparecer um credor; etc.

1.3.1.3) Motivo fútil (motivo)

Fútil é o motivo insignificante, banal, irrelevante, pouco importante desproporcionado em relação à


gravidade da reação homicida.
O motivo fútil não se confunde com o motivo injusto, pois este não apresenta a referida
desproporcionalidade. Além disso, um motivo aparentemente insignificante pode, em certas
circunstâncias, assumir alguma relevância. Vale ressaltar que o motivo justo pode excluir a ilicitude e
a culpabilidade ou privilegiar a ação delituosa.
A vingança, por outro lado, não é motivo fútil, não obstante poder, eventualmente, configurar motivo
torpe.
O ciúme, também, não se compatibiliza com o motivo fútil.
Questão controversa refere-se à ausência de motivo para a prática do homicídio.
Alguns, como Fernando Capez e Rogério Greco, entendem que a ausência de motivo pode ser
enquadrada como motivo fútil. Asseveram que se o motivo banal qualifica o crime, com maior razão
a completa ausência de motivo deveria também qualificá-lo.
Outros, como Cezar Roberto Bitencourt e Damásio de Jesus, entendem que a ausência de motivo
não qualifica o homicídio, havendo, pois, um homicídio simples. Afirmam que se trata de um absurdo
lógico, não havendo outra alternativa em virtude do princípio da legalidade. Sustentam a
necessidade de alteração legislativa, a fim de que a ausência de motivo seja acrescentada como
nova qualificadora do homicídio.
Ex.: Mato o garçom que me entregou o troco errado; elimino aquele que não honrou dívida de R$
1,00.
1.3.1.4) Emprego de veneno (meio)

Veneno é toda substância, biológica ou química, que, introduzida no organismo, pode causar lesões
ou morte.
Para fins penais, veneno é qualquer substância, vegetal, animal ou mineral, que tenha idoneidade
para provocar lesão ao organismo humano.
Assim, uma substância teoricamente inócua pode assumir a condição de veneno, conforme as
condições especiais da vítima (ex.: administrar açúcar para o diabético).
O emprego do veneno somente qualifica o homicídio se for utilizado com dissimulação, como
estratagema, como cilada. A administração forçada ou com o conhecimento da vítima não qualifica o
crime.
Se for ministrado com violência o veneno pode caracterizar um meio cruel lato sensu, desde que
objetive causar grave sofrimento à vítima, não constituindo, neste caso, meio insidioso.
Vale ressaltar que o emprego do veneno é um meio insidioso excepcional, residindo o seu êxito
exatamente na dissimulação de seu uso.
Convém destacar, ainda, que o envenenamento exige a realização de exame pericial toxicológico.

1.3.1.5) Emprego de fogo ou explosivo (meio)

O emprego do fogo pode ser exemplificado por meio da utilização de combustível inflamável seguido
do ateamento do fogo.
O fogo pode constituir meio cruel, como tem ocorrido, nos últimos tempos, com o ateamento de fogo
em mendigos, ou meio de que possa resultar perigo comum, dependendo das circunstâncias.
Já o emprego do explosivo pode se verificar com o uso de dinamite ou qualquer outro material
explosivo, tal como uma bomba caseira ou um coquetel molotov.
Compreende-se como explosivo todo e qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão,
causando perigo a um número indeterminado de pessoas.

1.3.1.6) Emprego de asfixia (meio)

Asfixia é o impedimento da função respiratória, com a consequente falta de oxigênio na corrente


sanguínea do indivíduo.
A supressão do oxigênio, por um dado período de tempo, acarreta o óbito da vítima, em virtude da
ausência deste gás.
A asfixia pode ser: a) mecânica, quando se dá por meio do enforcamento, afogamento,
estrangulamento, esganadura ou sufocação; ou b) tóxica, que ocorre por meio de uso de gás
asfixiante.
1.3.1.7) Emprego de tortura (meio)

Tortura é o meio que causa intenso, prolongado, atroz e desnecessário sofrimento. A tortura se trata
de uma modalidade de meio cruel, que deste se diferencia somente no que tange ao aspecto
temporal, exigindo uma ação um pouco mais duradoura.
Diferencia-se da prática prevista na Lei n.º 9.455/97, pois no homicídio a tortura é meio para
alcançar a morte, enquanto em tal diploma se trata do fim.

1.3.1.8) Meio insidioso e cruel (meio)

Meio insidioso é aquele utilizado com estratagema, perfídia.


Insidioso é o recurso dissimulado, consistindo na ocultação do verdadeiro propósito do sujeito ativo,
que, deste modo, surpreende a vítima, a qual acaba tendo sua defesa dificultada ou até
impossibilitada.
Assim, insidioso é o meio disfarçado, sub-reptício, ardiloso, que objetiva surpreender a vítima
indefesa e desatenta.
Já meio cruel é a forma brutal de perpetrar o crime.
Cuida-se de meio bárbaro, martirizante, que revela a ausência de piedade.
Por força do meio cruel, o agente tem por fim causar o padecimento de sua vítima, demonstrando
sadismo.
Caso a crueldade ocorra após a morte, não haverá a caracterização da qualificadora.
Ex.: Pisoteamento da vítima, dilaceração do corpo a facadas, etc.

1.3.1.9) Meio de que possa resultar perigo comum

Meio de que possa resultar perigo comum é aquele que pode atingir um número indefinido ou
determinado de pessoas.
Nada obsta, no caso da existência de desígnios autônomos, o concurso formal entre o homicídio e
um crime de perigo comum (ex.: artigo 121 e artigo 250 – incêndio).
A distinção entre as qualificadoras do homicídio que possa resultar em perigo comum e os crimes de
perigo comum (Título VIII, Capítulo I) reside no elemento subjetivo, pois, no que tange ao primeiro
delito, o agente pretende alcançar a morte da vítima e não criar a situação de perigo comum.

1.3.1.10) À traição (modo)

À traição consiste no ataque sorrateiro, inesperado, tal como ocorre, por exemplo, em relação ao
disparo de arma de fogo pelas costas.
A traição que qualifica o homicídio se cuida da ocultação moral ou mesmo física da intenção do
sujeito ativo, o qual, de modo desleal, viola a confiança da vítima.
Não haverá a configuração desta qualificadora se a vítima pressentir a intenção do agente ou se a
mesma tiver tempo para fugir.

1.3.1.11) Emboscada (modo)

A emboscada se trata da tocaia, da espreita, configurando-se quando o agente se esconde a fim de


surpreender a vítima.
É a ação premeditada de aguardar oculto a presença da vítima, de modo a surpreendê-la com um
ataque indefensável.
Assim, a emboscada é a espera dissimulada da vítima em lugar em que esta terá de passar.
Na emboscada a vítima não tem nenhuma possibilidade de defesa.
Apresenta-se, assim, como uma das formas mais covardes de execução de crimes.
O homicídio qualificado pela emboscada é sempre premeditado, visto que o agente se desloca com
antecedência, examina o local, projeta as ações seguintes, posiciona-se à espera da passagem da
vítima, para, sem risco e com segurança, abatê-la.

1.3.1.12) Mediante dissimulação (modo)

Na dissimulação, o agente esconde ou disfarça seu propósito, para surpreender a vítima, que se
encontra desprevenida.
É a ocultação do intenção hostil, do propósito criminoso.
Tanto a ocultação do propósito, quanto o disfarce utilizado para se aproximar da vítima configuram
esta qualificadora.
Ex.: O agente mostra o que não é, finge-se de amigo, ilude a vítima, que, desta forma, não tem
razões para desconfiar do ataque, sendo apanhada desatenta e indefesa.

1.3.1.13) Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima (modo)

Somente se configurará a qualificadora se a hipótese se apresentar semelhante à traição,


emboscada ou dissimulação, de que são exemplificativas. Assim, é mister que o outro recurso que
dificulte ou impossibilite a defesa da vítima tenha a mesma natureza das qualificadoras constantes
do inciso (traição, emboscada, dissimulação).
A surpresa se apresenta como exemplo típico de outro recurso que dificulta ou impossibilita a defesa
da vítima.
Consiste a surpresa em um ataque inesperado, imprevisto e imprevisível, havendo a necessidade de
que a vítima não tenha razão para esperar ou suspeitar da agressão.
Exige-se, também, que o agente atue com dissimulação, procurando, por meio de sua ação
repentina, dificultar ou impossibilitar a defesa da vítima.
A surpresa, às vezes, confunde-se com a traição.
Há traição, por exemplo, se o agente, ao matar a vítima dormindo, estiver violando a confiança e a
lealdade que a mesma lhe depositava, tal como ocorre no caso de quem convive sob o mesmo teto.
Verifica-se, porém, a surpresa se o sujeito ativo, ao procurar a vítima, encontrá-la adormecida,
retirando-lhe a vida.

1.3.1.14) Para assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime (fim)

Tais qualificadoras constituem o elemento subjetivo do tipo qualificado, representado pelo especial
fim de agir.
O outro crime, que se pretende assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem, pode ter
sido praticado por pessoa diversa da do sujeito ativo do delito de homicídio.
Há, neste caso, a denominada qualificadora por conexão.
A conexão pode ser teleológica, quando o homicídio é praticado para assegurar a execução de outro
crime.
A conexão pode ser também consequencial, quando o homicídio é cometido com a finalidade de
assegurar a ocultação (manter desconhecida a prática da infração penal), a impunidade (a infração
penal é conhecida, mas sua autoria ignorada), ou a vantagem (garantir a fruição de vantagem) de
outro crime.
Se o agente comete o homicídio a fim de assegurar a execução de outro crime que não vier a ser
praticado ainda subsiste a qualificadora, em virtude da maior censurabilidade do comportamento
daquele.
Se o agente comete o homicídio a fim de assegurar a ocultação ou impunidade de crime prescrito
também permanece a qualificadora, em razão da maior censurabilidade do comportamento daquele.
Se o agente pratica o homicídio para assegurar, em tese, a impunidade de crime impossível
mantém-se a qualificadora, por força da mesma razão.
Se o homicídio é praticado para assegurar a execução, a ocultação, a vantagem ou a impunidade de
contravenção penal não se configura a qualificadora, em virtude da vedação da analogia in malam
partem.
Assim, o homicídio é cometido para garantir a prática de outro crime ou para evitar a sua
descoberta.

1.3.1.15) A premeditação

A premeditação, por si só, não qualifica o crime de homicídio.


A preordenação criminosa nem sempre será causa de exasperação da pena, em face da maior
censurabilidade da conduta.
Em alguns casos, a premeditação poderá significar relutância, resistência à prática criminosa, ao
invés de indicar a intensidade do dolo.
Para avaliar a natureza de tal situação, deverá o juiz avaliar as circunstâncias do artigo 59.

1.3.1.16) Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (sujeito passivo):

Trata-se de inovação legislativa (Lei 13.104/2015), que promoveu a criação de denominado


feminicídio.
Qualifica-se o crime de homicídio, caso este tenha sido praticado contra mulher, em virtude de
razões relacionadas a condições próprias do sexo feminino.
A forma como devem ser compreendidas as condições do sexo feminino apresenta-se explicada no
artigo 121, § 2º-A, que assim dispõe:

(...)
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
(...)

Nesse sentido, se o crime de homicídio praticado contra a mulher tiver como pano de fundo a
violência doméstica e familiar ou o menosprezo ou discriminação à condição feminina incidirá a
qualificadora prevista no inciso VI, § 2º, do artigo 121.

1.3.1.17) Contra policiais, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu


cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição
(sujeito passivo):

Cuida-se de mais uma inovação legislativa (Lei 13.142/2015).


Qualifica-se o crime de homicídio, caso este tenha sido praticado contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal (policiais), integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
Assim, se o delito de homicídio for praticado contra policiais, agentes penitenciários ou integrantes
da Força Nacional de Segurança, no exercício da função ou em razão dela, incidirá a qualificadora
contida no inciso VII, § 2º do artigo 121.

1.4) Homicídio Culposo – Artigo 121, § 3º do CP


O homicídio culposo encontra-se previsto no artigo 121, § 3º, do Código Penal, sendo ao mesmo
cominada a pena de reclusão de 1 a 3 anos.
O homicídio culposo se caracterizará desde que estejam presentes os seguintes requisitos:
a) comportamento humano voluntário;
b) descumprimento do dever de cuidado objetivo (inobservância por parte do agente da necessidade
de praticar os atos da vida com a cautela necessária para que seu comportamento não resulte em
dano a bens jurídicos alheios);
c) previsibilidade objetiva do resultado (o agente, nas circunstâncias em que se encontrava, podia,
segundo a experiência geral, o padrão médio de prudência, ter representado como possíveis as
consequências de seu comportamento); e
d) morte involuntária.

1.4.1) Excepcionalidade do crime culposo

O Código Penal adota o princípio da excepcionalidade do crime culposo, o qual se encontra previsto
em seu artigo 18, parágrafo único.
Segundo tal princípio, a regra é que as infrações penais sejam imputadas a título de dolo, e apenas
excepcionalmente a título de culpa, exigindo-se, neste último caso, a previsão expressa da
modalidade culposa da figura típica.
Desta forma, quando o agente pratica a conduta culposamente e a figura típica não admite a forma
culposa, não há crime.

1.4.2) Modalidades de culpa

A culpa apresenta três modalidades, isto é, a imprudência, a negligência e a imperícia.


Imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa, apresentando caráter comissivo.
Trata-se da imprevisão ativa.
Assim, conduta imprudente é aquela caracterizada pela intempestividade, precipitação, insensatez
ou imoderação.
Já a negligência é a displicência no agir, a falta de precaução, a desídia do agente, que, podendo
adotar as cautelas necessárias, não o faz. É a imprevisão passiva, o desleixo, a inação, o deixar de
fazer o que deveria ser feito.
A imperícia, por seu turno, é a falta de capacidade, o despreparo ou insuficiência de conhecimentos
técnicos para o exercício de arte, profissão ou ofício.
A imperícia não se confunde com o erro profissional, que se trata de um acidente escusável,
justificável, e, em regra, imprevisível, que não depende do emprego correto e oportuno dos
conhecimentos e regras científicos.
1.4.3) Espécies de culpa

Há duas espécies de culpa, a saber, a culpa consciente e a culpa inconsciente.


Há culpa consciente (culpa com previsão) quando o agente, deixando de observar a diligência a que
se encontrava obrigado, prevê um resultado previsível, mas confia, de forma convicta, que ele não
ocorrerá.
Quando o agente, embora prevendo o resultado, espera sinceramente que ele não ocorra, verifica-
se a culpa consciente e não o dolo eventual.
No dolo eventual o agente, após prever o resultado, anui com o advento deste, assumindo o risco de
produzi-lo.
Havendo, diante de uma situação concreta, dúvida entre a caracterização do dolo eventual ou da
culpa consciente deverá se verificar a conclusão no sentido da solução menos grave, isto é a culpa
consciente.
A culpa inconsciente (culpa ex ignorantia), por sua vez, consiste na ação sem previsão do resultado
previsível.
Caracteriza-se a culpa inconsciente pela absoluta ausência de nexo psicológico entre o agente e o
resultado de sua ação.

1.4.4) Cuidado objetivamente devido

A inobservância do dever objetivo de cuidado resulta da comparação direção finalista real (conduta
praticada pelo agente) da direção finalista exigida para evitar as lesões aos bens jurídicos.
A infração deste dever de cuidado representa o injusto típico dos crimes culposos.
Porém, é necessário avaliar, no caso concreto, o que teria sigo para o agente o dever de cuidado.

1.4.5) Relação de causalidade

Para que se configure o homicídio culposo, é indispensável que o resultado morte seja
consequência da inobservância do dever de cuidado objetivo, ou seja, que este seja a causa
daquele.
Deste modo, quando observado o dever de cuidado, e, ainda assim, o resultado ocorrer, não se
caracterizará o homicídio culposo.
Em uma situação como esta, a atribuição de responsabilidade ao agente constituiria flagrante
situação de responsabilidade objetiva.
Na mesma linha, considerando que o dever de cuidado apresenta limites impostos pela norma
objetiva, diante de um resultado inevitável, não haverá tipicidade.
Em outros termos, é indispensável que a inobservância do dever objetivo de cuidado seja a causa
do resultado previsto como crime culposo.
1.4.6) Concorrência e compensação de culpas

Há concorrência de culpas quando dois indivíduos, um ignorando a participação do outro,


concorrem, culposamente, para a realização de um fato definido como crime.
Na concorrência de culpas, os agentes respondem, isoladamente, pelo resultado produzido.
Neste caso, não se pode falar em concurso de pessoas, em virtude da ausência de vínculo
subjetivo.
No que tange à compensação, a eventual culpa da vítima não exclui a do agente. As mesmas não
se compensam, ou seja, as culpas recíprocas do ofensor e do ofendido não se extinguem.
Somente a culpa exclusiva da vítima exclui a do agente, para quem, nessa hipótese, a ocorrência do
resultado se tratou de um fato infeliz.

1.4.7) Concurso de pessoas em crime culposo

Admite-se, na doutrina nacional, a co-autoria em crime culposo, rechaçando-se, porém, a


participação.
Neste caso, pode haver um vínculo subjetivo na realização da conduta, que é voluntária, inexistindo,
porém, tal liame no que tange ao resultado, que não é desejado.
Exemplo de co-autoria: O passageiro induz o motorista de táxi a dirigir em velocidade excessiva e
contribuir diretamente para um atropelamento.

1.4.8) Homicídio culposo na direção de veículo automotor

O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor encontra-se insculpido no artigo 302
da Lei n.º 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), sendo sancionado com a pena de reclusão de 2
a 4 anos.
O crime previsto no artigo 302 da Lei n.º 9.503/97 é punido mais severamente do que aquele
insculpido no artigo 121, § 3º do CP (homicídio culposo) (2 a 4 anos de reclusão contra 1 a 3 anos).
Tal decorre do fato de ação que tipifica o crime de homicídio culposo na direção de veículo
automotor ser consideravelmente mais desvaliosa do que outras condutas produtoras de crimes
culposos no cotidiano social.
O maior desvalor das ações culposas praticadas no volante está diretamente relacionada à
quantidade produzida de resultados mais desvaliosos (maior número de homicídios culposos na
direção de veículo automotor em relação ao homicídio culposo previsto no CP).
Não há nada de inconstitucional (eventual ofensa ao princípio da isonomia) na punição mais rigorosa
do homicídio culposo na direção de veículo automotor, que decorre do maior desvalor da ação, a
merecer, portanto, maior reprovabilidade. O mesmo se observa em relação à comparação entre o
homicídio simples e o qualificado.
1.4.9) Majorantes (causas especiais de aumento de pena) do homicídio culposo

O artigo 121, § 4º, primeira parte, do Código Penal consagram as majorantes do homicídio culposo,
as quais exasperam em 1/3 a pena ao mesmo cominada.
Tais majorantes consistem em causas especiais de aumento de pena, que representam um plus de
reprovabilidade, não integrando a descrição típica, ao contrário das qualificadoras.
As causas especiais de aumento de pena do homicídio culposo são:
a) a inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício;
b) a omissão de socorro à vítima;
c) não procurar diminuir as consequências do comportamento; e
d) a fuga para evitar a prisão em flagrante.

1.4.9.1) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício

Tal majorante não se confunde com a imperícia (modalidade de culpa), que indica inaptidão ou
insuficiência de capacidade técnica. Nesta majorante, o agente conhece a regra técnica, mas não a
observa. Há uma disciplicência a respeito da regra técnica, sendo diverso o fundamento da culpa.
A imperícia se localiza na topologia estrutural do crime culposo, isto é, no tipo penal. Já a
inobservância de regra técnica importa em maior reprovabilidade da conduta, seja qual for a
modalidade da culpa, situando-se, portanto, na culpabilidade.

1.4.9.2) Omissão de socorro à vítima

Aqui, a maior reprovação decorre da demonstração de insensibilidade do agente frente ao


sofrimento alheio, cuja autoria lhe é atribuída.
A omissão de socorro não constitui crime autônomo, mas simples majorante.
Em razão da especialidade desta previsão, restam afastadas as adequações típicas dos artigos 135
e 13, §2º, alínea “c”, do CP.
Tal majorante somente pode ser aplicada quando o socorro omitido pudesse ter sido prestado pelo
agente. Por tal razão, a morte instantânea da vítima ou seu imediato socorro por terceiro impedem a
caracterização desta majorante.
Também rechaça a majorante a presença de risco pessoal. Assim, no caso do agente que deixa o
local do acidente, temeroso de alguma represália por parte dos parentes das vítimas ou de terceiros,
que apresentam condições de prestar socorro, não há que se referir à adequação típica desta
majorante, em virtude da falta da elementar “sem risco pessoal”.
O fato de não constar expressamente do dispositivo a elementar típica – “sem risco pessoal” –
mostra-se irrelevante, pois somente a omissão de socorro injusta admite a responsabilização do
agente que se omitiu.
Para aqueles que não admitem tal orientação, se o sujeito ativo deixar de prestar socorro em virtude
do risco pessoal, haverá a caracterização da inexigibilidade de conduta diversa, que se trata de
excludente supralegal da culpabilidade.

1.4.9.3) Não procurar diminuir as consequências do comportamento

Esta majorante se apresenta como uma referência redundante, na medida em que não deixa de ser
uma forma de omissão de socorro.
Tal previsão se apresenta, na verdade, uma conotação semelhante a do arrependimento posterior,
nos termos do artigo 16 do CP.

1.4.9.4) Fuga para evitar prisão em flagrante

Constitui uma espécie sui generis de elemento subjetivo de tipo majorado.


Normalmente, tal majorante se confunde com a omissão de socorro.
Contudo, o risco pessoal iminente afasta a tipicidade da própria conduta omissiva, e não somente da
majorante, descaracterizando o crime.
Esta majorante acaba produzindo o efeito inverso do desejado, pois, ao invés de reprimir a fuga, tem
estimulado muitos agentes a deixarem o local do crime, a fim de evitar a prisão em flagrante,
contribuindo, ainda, para diminuir as possibilidades de prestação de socorro.

1.5) Perdão judicial ou isenção de pena

O perdão judicial encontra-se previsto no artigo 121, § 5º, do Código Penal, o qual dispõe que o juiz
poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração penal atingirem o próprio agente,
de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Tem-se aqui hipótese em que o agente é punido diretamente pelo próprio fato que praticou.
A gravidade das consequências deve ser aferida em função da pessoa do agente, não sendo
considerados critérios de natureza objetiva.
As consequências não se limitam aos danos morais, podendo constituir-se em danos materiais.
Se as consequências atingirem o agente apenas indiretamente, exige-se que entre aquele e a vítima
haja um vínculo afetivo de importância significativa.
O perdão judicial se trata de direito público subjetivo de liberdade do agente.
Caso estiverem presentes os requisitos exigidos, o perdão judicial não poderá deixar de ser
concedido por mero capricho ou qualquer razão desvinculada do instituto.
Rogério Greco pensa que, dependendo das hipóteses e das pessoas envolvidas, o perdão judicial
pode ser entendido como:
a) um direito público subjetivo do agente (crime cometido por ascendente, descendente, cônjuge ou
irmão); ou
b) como uma faculdade do julgador (crime cometido por um amigo).
O perdão judicial apresenta-se como uma causa extintiva da punibilidade, conforme se extrai do
artigo 107, inciso IX, do CP e da Súmula n.º 18 do STJ.
Por questões de política criminal e do disposto no artigo 291 da Lei n.º 9.503/97, a maioria da
doutrina admite que o perdão judicial previsto no artigo 121, § 5º, do CP, seja aplicado aos crimes de
homicídio culposo e de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (artigos 302 e 303),
embora tivesse havido o veto do dispositivo que o previa no projeto de tal diploma.

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