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NATUREZA E POLÍTICA NO ESTOICISMO ROMANO: ACERCA

DO VIVERE NATURAE E DA CONSTITUIÇÃO DA


COSMÓPOLIS NO PENSAMENTO DE SÊNECA

Resumo

O que o estoicismo pretende quando propõe aos homens de sua época que vivam “de
acordo com a natureza”, e à qual concepção de natureza – universalista ou racionalista –
esse conceito se vincula? Em Sêneca, a noção aparece reapresentada na forma da
implicação entre a premissa do vivere naturae e a noção de que o homem é por natureza
convocado a viver em comunidade política. O presente texto visa explorar esta
intersecção entre “viver político” e “viver segundo a natureza” no pensamento de
Sêneca, buscando dessa forma uma melhor compreensão do estoicismo romano e suas
proposições éticas e políticas.

O ESTOICISMO

O fundador do Estoicismo foi Zenão de Cício (336 a.C.- 264 a.C.); seus discípulos foram chamados de
estóicos, por causa do lugar onde se reuniam, Stoa Poikile,

(stoa = pórtico). Suas obras, com exceção de alguns fragmentos, se perderam.

Podemos distinguir três períodos no estoicismo: o primeiro, com representantes da época clássica grega; o
segundo, que teve o grande mérito de introduzir o estoicismo em Roma e o terceiro, que se desenvolveu
em Roma sob o Império.

1) O primeiro período (estoicismo antigo) desenvolveu-se no séc. III a.C., com Zenão, de Cício, Cleanto,
Crisipo e outros. Dos dois períodos, foi nesse em que se desenvolveu o sistema estóico mais completo,
preocupando-se seus representantes com a lógica, a física, a metafísica e a moral.

2) No segundo período (estoicismo médio), o pensamento estóico entrou em contato com o espírito
romano, com que combinou muito bem e se amalgamou. Panécio de Rodes (180 a.C. - 110 a.C.) e
Possidônio (135 a.C. - 51a.C.) representam essencialmente o médio estoicismo.

3) O terceiro período (novo estoicismo ou estoicismo imperial) está ligado a três grandes nomes: Sêneca
(nascido no início da era cristã e morto em 65), Epicteto (50 - 125 ou 130) e Marco Aurélio (121 - 180,
imperador em 161). Dos pensadores dos dois primeiros períodos, só temos citações de outros autores e
resumos. Mas, de Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, temos obras conservadas no essencial; foram eles os
grandes propagadores do estoicismo no Ocidente.

Os filósofos estóicos foram os primeiros a considerar a filosofia um sistema, isto é, um todo, ensinando
que a sua divisão em partes tem finalidade puramente didática.
No que diz respeito à física, descreveram um princípio que chamaram de pneuma (sopro vital que
Heráclito atribuiu ao fogo), que está em todo o universo, no céu e na terra; trata-se de uma espécie de
fluido que age por tensão (tonus), como se fosse um campo de força, mantendo unidas as partes do
universo, impedindo, assim, que elas se dispersem no vazio; mantém também a individualidade de cada
ser como se fosse a sua alma. É o Logos, a alma do mundo, que é corpórea e penetra toda matéria.

O estoicismo é a filosofia da imanência: o pneuma, um princípio imanente de organização, liga entre si os


acontecimentos do universo - o mundo não é governado por um Deus, mas é, ele mesmo, Deus e o
destino. Deus não é um Deus pessoal; é o Deus cósmico que impregna toda a natureza e dela não se
distingue. Estamos, portanto, face a uma doutrina panteísta - só o universo é real, Deus está em cada uma
de suas partes e é a soma de tudo aquilo que existe. Se o mundo é regulado por uma ordem divina e
providencial, ele tem que ser perfeito, nada pode acontecer contra a razão: as doenças, deformidades, a
morte são males necessários à própria existência do bem (um contrário não existiria sem o outro: Deus
harmonizou no mundo todos os bens com todos os males de modo que nasça daí a razão eterna de tudo
Cleantes) ; na verdade, os males fazem parte da ordem universal, são meros detalhes de um conjunto e
nós, muitas vezes, não conseguimos perceber sua coerência.

Se tudo está pré-determinado por Deus, a liberdade humana está comprometida; só resta ao homem
aceitar a necessidade, conformar sua vontade ao destino, ao que já está escrito, ao imutável.

Do que foi dito, decorre o fundamento da moral estóica: a vontade do homem deve respeitar a ordem
divina e viver de acordo com ela. O ser humano deve agir de acordo consigo mesmo, ser ele mesmo, fazer
agir sua natureza racional - nela, ele ama e respeita o Logos. A virtude consiste na aceitação da lei moral,
no concordar com a natureza e não se rebelar contra ela, de acordo com a simpatia universal - este é o
bem supremo, viver de acordo com a razão vencendo todas as paixões e sendo o dono de si mesmo.É
querer o que acontece e não que aconteça o que se quer. Se não puder viver conforme o ideal da virtude, o
sábio deverá praticar o suicídio.

Mas, perguntamos agora, será que, às vezes, essa sabedoria universal, esse Logos a que se deve aderir
cegamente, nunca entra em confronto com as convenções sociais e os deveres políticos? Sabemos como,
em Roma, o próprio Sêneca, ministro de Nero, sofreu crises de consciência ao ver se contraporem sua
filosofia de vida e seus deveres políticos.

Para os estóicos, os homens são sábios ou loucos: sábios, se livres das paixões; loucos, se dominados por
elas. A felicidade nada mais é que um ato de fé na racionalidade oculta do universo, isto é, uma apatia,
que permite ao sábio ser feliz mesmo nos sofrimentos, mesmo no que se chama de infelicidade, porque
ele já se tornou indiferente a tudo o que não pode ser alterado e não depende da vontade humana. Como
vemos, são bem diferentes dos epicuristas, que pregam a imediatidade do prazer numa existência pacífica,
sem medo da morte e da dor e livre de dependências externas a seu próprio ser.

Muitos tentaram aproximar o estoicismo do cristianismo, porque os estóicos negaram a diferença entre
helenos e bárbaros, ensinaram a injustiça da escravidão e apregoaram a benevolência universal entre os
homens, todos cidadãos de uma mesma e única cidade universal (cosmopolitismo), sem fronteiras ou
nacionalidades, instrumentos da mesma razão divina. Acreditam, no entanto, ser possível alcançar a
virtude e a perfeição máximas com suas forças racionais (auto-suficiência) chegando a se fazerem deuses.
Para o cristianismo, embora o homem deva se aperfeiçoar, é Deus que o ajuda, através da providência, a
chegar ao próprio Deus.

O estoicismo faz a moral ser totalmente independente da religião, negando que o homem dependa de
Deus.

Ensinando que devemos desenvolver a aceitação total da natureza, involuntariamente, pregam a aceitação
do mundo tal qual está: não é preciso libertar os escravos, porque só se é escravo das próprias paixões;
para que libertar os homens, se eles já são livres ao nascer e têm a liberdade de morrer quando quiserem?
Por que se preocupar com a aplicação da justiça, se nesse universo racional ela já existe e basta discerní-
la? Como podemos ver, desenvolveram idéias baseadas na teoria do Direito Natural, já trabalhada pelos
sofistas e que tanto influenciaram a ciência jurídica romana.

A exaltação teórica da virtude e a vida virtuosa de muitos estóicos contribuíram para conter a corrupção
em alguns países da sociedade antiga e, ainda hoje, suas obras são bastante úteis porque contêm boas
regras sobre o autodomínio e o comportamento social.

O sistema estóico persistiu no pensamento humano, recrudescendo nos séculos XVI e XVII, quando
exerceu poderosa influência.

Epicteto

Se o homem de bem pudesse prever o futuro, ele próprio cooperaria para sua doença, para a morte, para a
mutilação, porque teria consciência que, em virtude da ordem do mundo, essa tarefa lhe é determinada.

Não desejes que as coisas aconteçam segundo tua vontade, mas deseja que aconteçam como estão
acontecendo e serás feliz.

... Não desejes ser general, ou senador, ou cônsul, mas deseja ser livre; e o único caminho para isso
consiste no desprezo das coisas que não estão ao nosso alcance.

É sinal de falta de espírito gastar muito tempo com coisas relacionadas com o corpo, assim como demorar
no comer, no beber e em outras funções animalescas.

Quem realmente se submete ao destino, é julgado Sábio entre os homens e conhece as leis do céu.

Sê silencioso a maior parte do tempo, ou fala só o necessário e em poucas palavras.


Não rias muito, nem frequente, nem profusamente. Evita, tanto quanto possível, blasfemar. Em palestras,
evita a menção frequente de tuas próprias proezas e peripécias. Evita, da mesma forma, esforços de
provocar risos.

Sêneca

Daí o princípio do qual nós, estóicos, estamos orgulhosos: o de não nos encerrarmos nas muralhas de uma
cidade só, mas de entrarmos em contato com o mundo inteiro e de professarmos que nossa pátria é o
universo, a fim de oferecermos à virtude o mais amplo campo de ação.

A natureza nos deu o instinto do amor recíproco e da vida social.

Numa época em que o direito positivo negava ao escravo a pessoa jurídica, Sêneca a devolvia por inteiro
sobre a base do direito natural: “Quem exclui que o escravo pode ser benfeitor de homens livres, não
conhece o jus humano.” Cinco séculos mais tarde, a doutrina jurídica, solenemente codificada nas
Instituições Justinianas, que reconhecia a servidão como constituição do direito dos povos contrária ao
direito da natureza, nascia do princípio moral da doutrina estóica de Sêneca.

Não invejemos as posições elevadas, pois o que julgamos ser o cume, não é mais do que a beira de um
abismo.

Quem não souber morrer bem, terá vivido mal.

No espaço de uma hora, passa-se do trono aos pés do vencedor.

É preciso, finalmente, que nossa alma, renunciando a todos os benefícios exteriores, se recolha
inteiramente em si mesma: que ela só confie em si e só se alegre consigo, que ela só aprecie seus próprios
bens, que ela se afaste o mais possível dos estranhos e se consagre exclusivamente a si mesma, que os
prejuízos materiais a deixem insensível e que ela chegue mesmo a encontrar um lado bom nas suas
desgraças.

Sêneca foi acusado por seus inimigos de ter recebido de Nero uma grande soma de dinheiro, quando se
retirou da vida pública, desgostoso com o governo do imperador que não mais o escutava. Quis devolver
o dinheiro e Nero não aceitou. Retirou-se, então, e foi viver longe de todos. Passou os últimos três anos
de sua vida escrevendo e meditando. Acusam o velho preceptor de ter tomado parte numa conjuração
contra Nero e ele o condenou. Seguindo seus próprios ensinamentos, Sêneca abriu uma veia e morreu.
Perguntas qual o meio para chegar à liberdade? Uma veia qualquer de teu corpo”. E uma veia, de fato,
abriu-lhe o caminho que escolheu.
Marco Aurélio

Em todos os teus atos, ditos e pensamentos, procede como se houvesses de deixar a vida dentro em
pouco.

Da vida humana a duração é um ponto; a substância, fluida; a sensação, apagada; a composição de todo
corpo, putrescível; a alma, inquieta; a sorte, imprevisível; a fama, incerta. Em suma, tudo que é do corpo
é um rio; o que é da alma, sonho e névoa; a vida, uma guerra, um desterro; a fama póstuma, olvido. O
que, pois, pode servir-nos de guia? Só e única, a Filosofia.

Logo estarás morto e ainda e ainda não és simples, nem traquilo, nem seguro de não receber danos de
fora, nem bondoso para com todos, nem pões a sabedoria apenas na prática da justiça.

Não te limites a respirar com os outros o ar circundante, mas, doravante, pensa em conjunto com a
inteligência que tudo envolve; a força intelectiva está tão derramada em toda parte e tão distribuída a
quem pode sorvê-la quanto o ar a quem o pode aspirar.

Muitas vezes comete injustiça quem omite, não apenas quem faz alguma coisa.

Admira-me muitas vezes como cada um, embora ame a si mesmo acima de todos, dá menos valor à sua
opinião a seu respeito que à dos outros.

Realizei algo para o bem comum? Então tirei proveito. Que sempre tenhas em mente esse pensamento e
jamais o abandones.

Referências Bibliográficas

Châtelet, François - A Filosofia Pagã, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1973.

O pensamento de Epicteto, Editora êris, São Paulo, 1959.

Os Pensadores, volume V, Abril Cultural.


Sciacca, M.F., História da Filosofia, Editora Mestre Jou, São Paulo, 1967.

Sêneca, Obras, Editora Tecnoprint S.A.

Sobre os estoicos: Sêneca e Marco Aurélio

Neste final de semana, li um pequeno escrito de Sêneca (4 d. C.- 65d. C.),


“Da tranquilidade da alma”, e as “Meditações “ de Marco Aurélio (121 d. C. -
180 d. C). De um modo geral, a ideia de que todas as coisas ruins são
exteriores à alma e basta a virtude para o homem ser, verdadeiramente, feliz,
tem sua origem na filosofia socrática. O estoicismo também herdou seu germe
da moral socrática e preconizou que viver de acordo com a alma, o princípio
universal ou a reta razão, é viver feliz.

Como esses homens citados viveram sob os auspícios do Império


Romano, o estoicismo desenvolveu uma faceta diferenciada da dos gregos:
criou uma doutrina política e interferiu, decisivamente, no curso do principado
de Nero, que reinou de 54 d. C. até 68 d. C. A rigor, os historiadores da Roma
Antiga são unânimes ao afirmar que a ascensão de Nero ao poder foi resultado
de um jogo planejado pela nobreza senatorial, de orientação estoicista. Essa
era a chance de colocarem no poder alguém que poderia realizar o ideário da
concepção política dos estoicos romanos: um rei-filósofo, aos moldes da
“República” de Platão.

Assim, Sêneca foi convocado por Agripina, a mãe ambiciosa de Nero,


para ser seu preceptor. Durante seis anos, Sêneca orientou o espírito de Nero
em busca da realização de uma determinada paideia(formação ético-política),
de origem platônica. Após os “anos de ouro” iniciais de Nero no governo de
Roma, os patrícios assistiriam aos maiores desmandos e infortúnios da
história, culminando com o assassinato de Agripina pelo próprio filho, em 62
d. C.

Obcecado com a oposição de parte do Senado, perseguiu e obrigou a


todos, do grupo dos estoicos, inclusive Sêneca, a cometerem suicídio. Foi
assim que a utopia de Platão manifestou-se pela última vez no governo dos
homens.

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