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No livro Estado, Governo e sociedade, Norberto Bobbio não apresenta somente uma
definição de manual sobre o Estado ou sobre o Poder, e muitos outros conceitos a eles
relacionados. Trata-se, sim, de uma visão bastante detalhada do conceito “Estado” explicada
através da visão de vários autores clássicos ao longo da história, conceito este confrontado com
a realidade histórica do “Estado”. Por isso não é difícil compreender que a compreensão que
Bobbio tem de “Estado” fique um pouco escondida em sua análise.
Em relação ao conceito “Estado”, nota-se que a palavra já vem sendo usada desde
tempos antigos, porém com significados diversos. O problema se a existência do Estado se dá
antes ou a partir da Idade Média vai depender somente da definição que se adota. Por exemplo,
quem concebe o Estado constituído de um aparato administrativo e do monopólio legítimo da
força se referirá somente ao Estado Moderno e não a outros ordenamentos jurídicos. Fazendo
essa ressalva, “o Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da
dissolução da comunidade primitiva fundada sobre os laços de parentesco e da formação de
comunidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de
sobrevivência interna (sustento) e externa (defesa)” (pág. 73).
No entanto, por longa tradição o Estado foi definido como portador da Summa Potestas,
detentor, portanto, do poder. Tanto é assim que o termo poder (seja como krátos ou arché) se
encontra em todas as denominações que definem os vários sistemas políticos: democracia,
monarquia, etc. Poder, porém, não é só político, mas também econômico e ideológico. Até aqui,
a leitura que Bobbio faz desses autores (Aristóteles, Maquiavel, Hobbes, Locke, Weber, etc.)
leva-nos à conclusão que o ordenamento jurídico, visto como Estado ou Política, sempre esteve
a serviço do poder. Estado e Política, então, têm em comum a referência ao fenômeno do poder.
Mas, qual é a legitimidade desse poder? Qual seu fundamento? Esse problema se torna ainda
mais relevante na medida em que o problema da obrigação política depende da sua solução. Fica
claro, ao menos para a filosofia clássica, que só a força não faz o poder nem possível, nem
lícito. As respostas são as mais variadas, fundamentando o poder na vontade de Deus, na
vontade do povo ou na efetividade. Merece destaque este último, defendido pelo positivismo,
para quem a autoridade de fato constituída é o governo legítimo. Bobbio apresenta as diferentes
visões, mas se abstém de qualquer confrontação entre elas. Apesar disso, é de sentido comum
que o poder deve ser regulado e limitado, isso nos leva diretamente ao problema da relação de
direito e poder, direto e Estado. Quais seriam os limites? O território, o prazo temporal de uma
norma, os mesmos direitos fundamentais dos indivíduos. Isso abre também o problema do
governo das leis: é melhor o governo das leis ou o governo dos homens? Fácil de notar que o
estudo do Estado, da ciência política, nos leva por caminhos cheios de problemas e soluções,
insuficientes ou mal compreendidas, deixando campo ainda para outras visões e considerações.
Bobbio faz referência ainda às formas de estado, sobretudo as distinções históricas entre
Estado Feudal, Estado de Classes, Estado Absoluto e Estado Representativo, explicando cada
um deles até chegar ao momento atual, com o predominância (ao menos no mundo ocidental) do
Estado Representativo. Por fim, passa a analisar o Estado como mal necessário e como mal não
necessário, apresentando nessa última parte a visão marxista e anarquista e o sonho de uma
sociedade sem Estado.