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História e Estética

Fotográfica
Material Teórico
Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina
Estabelecimento da Fotografia (1826 a
1860) e a Fotografia Artística

• Introdução;
• Criação da Fotografia:
Uma História Antiga...
• Química a Serviço da Fotografia;
• A Daguerreotipia Ganha o Mundo;
• A Primeira selfie
e a Era dos Estúdios Fotográficos;
• O Primeiro Negativo e o Calótipo de Talbot;
• Evolução Permanente:
O Colódio Úmido;
• Fotografia Artística:
Comunicação Gráfica ou uma Forma de Arte?

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os diferentes procedimentos, técnicas e materiais utiliza-
dos entre os anos 1826 a 1860 na história da fotografia;
· Conhecer fotógrafos que marcaram a história da fotografia no sé-
culo XIX;
· Conhecer, contextualizar e analisar diferentes tendências estilos e
movimentos artísticos e estéticos da fotografia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Contextualização

Figura 1 – Atribuído a Benjamin Cowderoy. The Reading establishment,


c.1845. Dois negativos de papel (calótipo)
Fonte: talbot.bodleian.ox.ac.uk

Figura 2 – Imagem atribuída a Benjamin Cowderoy. The Reading establishment, c.1845.


Montagem de duas fotografias em papel salgado a partir de negativo de papel (calótipo)
Fonte: talbot.bodleian.ox.ac.uk

Desde o primeiro passo, o da classificação (é preciso classificar, realizar


amostragens, caso se queira constituir um corpus), a fotografia se esquiva.
As divisões às quais ela é submetida são de fato empíricas (profissionais,
amadores), ou retóricas (paisagens, objetos, retratos, nus), ou estéticas
(realismo/pictorialismo), de qualquer modo exteriores ao objeto, sem re-
lação com sua essência, que só pode ser (caso exista) o novo de que ela
foi o advento, pois essas classificações poderiam muito bem aplicar-se
a outras formas, antigas, de representação. Diríamos que a fotografia é
inclassificável. (BARTHES, 1984, p. 12-13)

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Introdução
A fotografia, desde a sua criação, tem desempenhado inúmeros e fundamentais
papeis. Ela é importante como instrumento de informação e de conhecimento, como
apoio à pesquisa nos diversos campos da ciência e em campos da economia (a publici-
dade, por exemplo, só para citarmos uma área) e também como forma de expressão
artística, entre tantas outras aplicações e usos. Com toda essa utilização, a fotografia
se transformou em uma atraente carreira profissional, envolvendo técnicos e artistas
que se dedicam exclusivamente à tarefa de construção de imagens.

Resultado do trabalho abnegado de cientistas, pesquisadores, inventores e até de


curiosos, a fotografia acompanha os processos de transformação econômica, social
e cultural em todo o mundo desde o início do século XIX, quando efetivamente se
tornou concreta. Desde então, não parou de se aperfeiçoar e de sobreviver a tantos
outros atrativos visuais que a sucederam como o cinema e a televisão. Equipamentos
e materiais fotográficos, particularmente na Europa e Estados Unidos, especialmente
a partir de 1860, deram origem a verdadeiros impérios industriais e comerciais.

O mundo, conforme Kossoy (2001, p. 26), tornou-se “familiar” após a criação


da fotografia com o homem passando a ter conhecimento mais preciso e amplo de
outras realidades que, eram, até aquele momento, “transmitidas unicamente pela
tradição escrita, verbal e pictórica”. Com o desenvolvimento da indústria gráfica, a
multiplicação da imagem fotográfica ganhou uma exposição incalculável. “O mun-
do tornou-se, assim, portátil e ilustrado”, sintetiza Kossoy (2001, p. 27).

E hoje não é diferente. A máxima de que nos dias atuais todos nós somos “fo-
tógrafos” (entre aspas porque o correto talvez fosse dizer que todos nós “tiramos”
fotografias), traduz a importância da técnica em um mundo cada vez mais digital.
Observe as propagandas de aparelhos de telefones móveis. O apelo principal é a
qualidade das câmeras – coitado do dispositivo que não tiver uma câmera de boa
qualidade. A internet, por sua vez, tem desempenhado um importante papel na
proliferação sem precedentes de imagens fotográficas, tanto das atuais quanto das
do passado em um grau jamais visto.

Criação da Fotografia:
Uma História Antiga...
A fotografia não tem um único inventor. Ela é resultado de pesquisas, tentati-
vas, observações, acertos e erros de cientistas, pesquisadores e de pessoas curiosas
e determinadas em diferentes momentos da história. A invenção da fotografia é
consequência da combinação de duas técnicas científicas desenvolvidas ao longo
de vários séculos: a óptica (ou física), inicialmente por meio da câmara escura, e a
química, por meio da fotossensibilidade – qualidade de materiais sensíveis à luz ou a
radiações luminosas.

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e a Fotografia Artística

A câmara escura é uma caixa na qual apenas uma de suas paredes tem um furo
que permite a passagem da luz de uma fonte externa para um espaço escuro. A luz
é projetada na parede oposta à do furo, formando uma imagem invertida da cena
externa. Vejamos como esse equipamento, fundamental para a criação da câmera
fotográfica, se desenvolveu efetivamente a partir do século IV a.C., ainda que outras
iniciativas tenham sido registradas antes:

Tabela 1
Câmara escura: o princípio de tudo
Aristóteles (384-322 a.C.) Reiner Gemma Frisius (1508-1555)
É atribuída ao filósofo grego (Fig. 3), no século IV a.C., a des- O físico e matemático holandês publica, em 1545, a primeira
coberta dos princípios ópticos da câmara escura e o seu uso ilustração de uma câmara escura, definindo-a (Fig. 4). Leo-
para observaçãode eclipses. Ele percebeu que quanto menor nardo da Vinci (1452-1519) também descreveu o equipamen-
o furo, mais nítida era a imagem, que aparecia invertida. to, mas suas anotações foram publicadas somente em 1797.

Figura 4
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons
Johann Zahn (1641-1707)
O matemático alemão descreve, em 1685, a utilização de um espelho (Fig. 5), para redirecionar a imagem ao plano horizontal,
facilitando assim o ato de desenhar nas câmaras escuras portáteis (Fig. 6). Artistas começam a usar o equipamento
regularmente para facilitar o desenho de imagens da vida real.

Figura 5 Figura 6
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: iStock/Getty Images

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Câmara escura: o princípio de tudo
Giovanni Battista della Porta (1535-1615)
O cientista italiano publicou, no livro Magia Naturallis (1558), uma descrição detalhada sobre a câmara escura e seus usos
(Fig. 7), especialmente no auxílio ao desenho. Ainda no século XVI, foram acrescentadas lentes ao equipamento conferindo
maior nitidez às imagens.

Figura 7
Fonte: Wikimedia Commons

Química a Serviço da Fotografia


Mas, para que houvesse uma evolução na fotografia era fundamental que
uma substância sensível à luz fosse encontrada. Pesquisadores e cientistas, até
o século XVIII, haviam identificado substâncias que escureciam em contato com
a luz. Em 1727, o professor alemão de anatomia Johann Heinrich Schulze
(1687-1744), depois de uma série de experimentos, descobriu que os sais de
prata (cloreto de prata e nitrato de prata, entre outras substâncias químicas),
especificamente um pedaço de giz mergulhado em nitrato de prata, ficava preto
quando exposto ao sol. O lado não exposto permanecia branco. Ele experimen-
tou criar impressões fotográficas grosseiras, mas, eventualmente, tudo ficou
preto devido à exposição.

Em 1777, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele (1742-1786), avança nas pes-
quisas de fixação de uma imagem a partir de sais de prata, mas ainda não consegue
que as imagens desapareçam com o tempo. No final do século XVIII, o britânico
Thomas Wedgwood (1771-1805) começou a utilizar nitrato de prata fotossensível
em papel e couro. E, em 1802, ele conseguiu imprimir em couro sensibilizado com
nitrato de prata, silhuetas de folhas e penas. Contudo, as imagens não se fixavam
e escureciam quando expostas à luz. Wedgwood havia criado imagens fotográficas,
mas não foi capaz, tecnicamente, de preservá-las.

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e a Fotografia Artística

Vários Caminhos e um Único Objetivo


Entre 1793 e 1816, o militar e cientista francês Joseph Nicéphore Niépce (1775-
1833) e seu irmão Claude, realizaram experiências utilizando a câmara escura, ten-
tando gravar imagens por meio de processos químicos também com sais de prata.
Contudo, foi somente em 1826 que Joseph, utilizando uma placa de estanho com
o mineral betume da Judeia – que endurece quando exposto à luz – conseguiu pro-
duzir aquela que é considerada a primeira fotografia permanente da História. Vista
da janela em Le Gras (Fig. 8), tirada da janela de sua casa, na cidade de Saint-
-Loup-de-Varennes, na França, existe até hoje. Após oito horas de exposição, ele
conseguiu gravar e revelar a imagem. O inventor francês criava, assim, a heliografia
(escrita com luz solar), processo de reprodução fotomecânica que se utiliza da luz.
Entretanto, a técnica tem baixa velocidade de captação e pouca qualidade de ima-
gem. A obra encontra-se no Harry Ransom Center, na Universidade do Texas, em
Austin, Estados Unidos.

Figura 8 – Joseph Nicéphore Niépce. Vista da janela em Le Gras, 1826. Heliografia (16,5 x 20 cm)
Fonte: Wikimedia Commons

Em 2012, a fotografia original foi exposta no Reiss-Engelhorn-Museum, em


Mannheim, sul da Alemanha, juntamente com a placa de estanho original utiliza-
da como negativo (Fig. 9).

Figura 9 – Placa de estanho original utilizada por Joseph Nicéphore Niépce, em 1826,
como negativo da primeira fotografia permanente da História: Vista da janela em Le Gras
Fonte: Wikimedia Commons

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O processo de Niépce mostrou-se, contudo, inadequado para a fotografia co-
mum. Foi quando, em 1829, ele se associou ao pintor e inventor parisiense Louis-
-Jacques-Mandé Daguerre (1787-1851), que também buscava encontrar um mé-
todo para produzir fotografias. Niépce faleceu logo após, em 1833, sem que o
grande público conhecesse seu sistema heliográfico.

Daguerre prosseguiu com suas pesquisas e, entre 1835 e 1837, havia padroni-
zado o processo no qual utilizava chapas de cobre sensibilizadas com prata e trata-
das com vapores de iodo, revelando a imagem com mercúrio aquecido, resultando
em positivos diretos de 16 x 21 cm. A fixação da imagem era feita em uma solução
aquecida de sal de cozinha. O processo foi chamado de daguerreótipo ou daguerre-
otipia. O ateliê do artista (Fig. 10), de 1837, uma natureza-morta, é considerado
o primeiro daguerreótipo exposto, revelado e fixado com sucesso por Daguerre.

A daguerreotipia aparentava-se conceitualmente à pintura por seu ca-


ráter de imagem única. Por isso não é de se estranhar que o daguer-
reótipo tenha obtido sucesso notável junto à burguesia emergente da
época, ávida por símbolo de status capaz de aproximá-la da nobreza,
dona do privilégio de ter seus retratos únicos eternizados pelos pinto-
res. (ZUANETTI, 2004, p. 160)

Figura 10 – Louis-Jacques-Mandé Daguerre. O ateliê


do artista, 1837. Daguerreótipo (16 x 21 cm)
Fonte: Wikimedia Commons

A Daguerreotipia Ganha o Mundo


Não tardou para Daguerre sair de seu estúdio e fotografar paisagens arquitetônicas
e a vida parisiense. De seu ateliê, na Rue des Marais, em 1838, ele tirou a
primeira fotografia na qual aparecem seres humanos: Boulevard du temple,
Paris (Fig. 11). O longo tempo de exposição e o rápido movimento de pessoas

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e a Fotografia Artística

e carruagens prejudicaram a captação de algumas imagens, que aparecem como


borrões. “No entanto, a preocupação de um homem com a aparência de seus
sapatos faria com que ele e seu engraxate ficassem parados por tempo suficiente
para fazerem história” (HACKING, 2012, p. 23) (Fig. 12).

Figura 11 – Louis-Jacques-Mandé Daguerre. Boulevard du Temple, Paris, 1838. Daguerreótipo


Fonte: Wikimedia Commons

Figura 12 – Louis-Jacques-Mandé Daguerre. Boulevard


du Temple, Paris, 1838 (detalhe). Daguerreótipo
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

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Em 7 de janeiro de 1839, foi anunciada oficialmente a criação da daguerreo-
tipia – processo fotográfico desenvolvido por Daguerre e Niépce – na Academia
de Ciências da França, em Paris. Sete meses depois, em 19 de agosto, durante
encontro realizado no Instituto da França, também em Paris, com a presença de
membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista
François Arago, secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comu-
nicou que o governo francês havia adquirido a invenção, colocando-a em domínio
público, ou seja, todos poderiam ter acesso ao sistema. Em troca, Louis Daguerre
e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia
do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente. Assim,
19 de agosto foi instituído como o Dia Internacional da Fotografia.

Figura 13 – Daguerreótipo Succe Frères, de 1839. Westlicht Photography Museum, Viena, Áustria
Fonte: Wikimedia Commons

Dois meses antes do anúncio público na Academia Francesa do seu sistema


fotográfico, Daguerre assinou contrato com seu parente Alphonse Giroux e com a
Maison Susse Frères para produzir comercialmente os daguerreótipos de acordo
com suas instruções. Não demorou muito para que os vendedores de equipamentos
de óptica começassem a ser contatados pelo público para pedidos do equipamento.
Em meados de outubro de 1839, os daguerreótipos já eram vendidos em sete
países da Europa e nos Estados Unidos. O manual sobre o equipamento, de autoria
de Daguerre, era publicado e vendido em oito idiomas, ainda que a invenção não
apresentasse qualidade nas fotografias e proporcionasse somente um único positivo.

A partir desse momento um novo mercado surgiu: a comercialização de ima-


gens de vários lugares do mundo, especialmente de países da Europa. O óptico
Noël Lerebours, apenas um mês após o anúncio do processo de Daguerre, con-
vocou artistas a viajarem pelo mundo para registrar paisagens, antiguidades e
modernidades com o novo equipamento. No final de 1839, Lerebours já vendia
daguerreotipias únicas (imagens) da Córsega e da Itália (Fig. 14). Logo, começa-
ram a chegar imagens de todo o mundo como Estados Unidos, Grécia, Espanha,
Egito, entre outros países (HACKING, 2012).

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e a Fotografia Artística

Figura 14 – Fotógrafo desconhecido. Basílica de São Marcos, Veneza, 1845. Daguerreótipo


Fonte: Hacking, 2012

Figura 15 – Frédéric Martens. O Sena, a margem esquerda


e a Île de la Cité, c. 1844. Daguerreótipo panorâmico
Fonte: Wikimedia Commons

A divulgação do daguerreótipo, em 1839, cativou a imaginação do pú-


blico sobre a nova arte e abriu caminho para a exploração fotográfica do
mundo. Retratos em geral se limitavam ao âmbito privado, mas paisagens
estrangeiras naturalmente cativavam um público mais amplo. A chega-
da do papel levaria aqueles que basicamente eram registros fotográficos
particulares para a esfera pública, mas, durante seus primeiros 15 anos
de existência, a arte foi dominada pelas paisagens em daguerreotipia.
(HACKING, 2012, p. 29)

Na Inglaterra, ainda em 1839, o cientista e astrônomo Sir John Herschel


(1792-1871), em uma conferência na Royal Society, emprega pela primeira vez
as expressões fotografia, negativo e positivo, referindo-se a imagens fotográficas.
No mesmo ano ele anuncia que o hipossulfito de sódio pode fixar de forma per-
manente uma imagem fotográfica (J. PAUL GETTY MUSEUM, [2018]).

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A Primeira Selfie e a Era
dos Estúdios Fotográficos
Você imaginava que a selfie era uma criação
contemporânea? Então, vejamos: no final de
1839, poucos meses após o francês Daguerre
apresentar sua invenção, o químico amador norte-
-americano, Robert Cornelius (1809-1893), tirou
um autorretrato (Fig. 16) do lado de fora da loja
da família em Filadélfia, na Pensilvânia. Esse é o
mais antigo daguerreótipo americano preservado e
um dos primeiros retratos fotográficos de todos os
tempos (HACKING, 2012). A obra está guardada
na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos,
em Washington. Os americanos aderiram aos re-
tratos em daguerreotipia com grande entusiasmo,
realizando o maior número desse tipo de imagem
Figura 16– Robert Cornelius.
em todo o mundo. Em 1850, somente Nova York
Autorretrato, 1939. Daguerreótipo
contava com cerca de 70 estúdios de retratos. Fonte: Wikimedia Commons

Em março de 1841, Richard Beard (1801-1885) instalou, em Londres, o primei-


ro estúdio fotográfico comercial aberto ao público na Europa. Os alemães também
dominavam a técnica do daguerreótipo como observamos na figura 17, um retrato
coletivo da Associação dos Artistas de Hamburgo, tirada em 1843. A França, terra
de Daguerre, era outro grande mercado para esse tipo de fotografia, embora não
se comparasse com os Estados Unidos. Em Paris, entre 1848 e 1856, anos que
marcaram o auge e o declínio do daguerreótipo, foram criados mais de 150 estúdios
comerciais. “Conhecidos na época como ‘espelhos com memória’, esses retratos
eram tão extraordinariamente precisos que, na literatura, o termo ‘daguerreótipo’
se tornou sinônimo de verdade” (HACKING, 2012, p. 37).

Figura 17 – Carl Ferdinand Stelzner. Associação dos artistas de Hamburgo, 1843. Daguerreótipo
Fonte: Wikimedia Commons

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Você Sabia? Importante!

Em 1840, Sir Charles Wheatstone, físico inglês, cria o estereoscópio, dispositivo


para visualização de imagens em três dimensões. O sistema consistia em duas
imagens de uma mesma cena, tiradas de uma distância ligeiramente diferente,
coladas lado a lado em um cartão. A invenção de Wheatstone foi utilizada quase
que de forma imediata como veículo de divulgação da fotografia em função de
sua característica tridimensional. Onze anos depois (1851), um dos primeiros vi-
sores estereoscópicos com aplicação fotográfica de alta qualidade, fabricado pelo
francês Louis Jules Duboscq, foi apresentado à Rainha Victoria, na Crystal Palace
World Fair Exhibition, em Londres (Inglaterra).
A partir desse momento, o comércio das fotografias estereoscópicas tornou-se uma
febre, tendo Paris e Londres como seus dois centros de produção e difusão. Com o de-
senvolvimento da tecnologia tanto das chapas, que se tornaram mais sensíveis, como
das câmeras, com mais recursos óticos e mecânicos, na década de 1860, começaram
a surgir as primeiras estereoscopias retratando pessoas em movimento (TOREZANI.
2015; BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016b).

Figura 18 – O lançamento do Verascope, pela Maison Richard, na França,


em 1893, contribuiu para que a estereoscopia se proliferasse, atraindo
a atenção de fotógrafos amadores e de foto clubes europeus
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 19 – Guilherme Santos. Ruínas do Morro do Castelo,


c. 1920, Rio de Janeiro/RJ. Estereoscopia brasileira
Fonte: ims.com.br

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O Primeiro Negativo e o Calótipo de Talbot
A divulgação do daguerreótipo, em janeiro de 1839, foi logo seguida pela
notícia da existência de outro processo fotográfico importante – desta vez na
Inglaterra – que também mudaria o rumo da fotografia. O cientista e ex-mem-
bro do Parlamento inglês, William Henry Fox Talbot (1800-1877), no final de
1840, relatou a descoberta do primeiro sistema simples para a produção de um
número indeterminado de cópias, a partir de uma chapa exposta. O dispositivo
de Daguerre resultava em apenas um positivo, ou seja, apenas uma imagem
sem possibilidade de cópias. A técnica de Talbot permitia o registro de uma
imagem sobre papel – um meio versátil, relativamente barato e capaz de repro-
duzir imagens com grande beleza – sensibilizado por ação da luz e emulsionado
por nitrato de prata.

O processo foi denominado de calótipo ou talbótipo (calotipia ou talbotipia),


sistema semelhante aos anteriores, mas que produzia um negativo de papel e, por
meio da técnica de contato, obtinha-se o positivo. As cópias fotográficas, resul-
tantes de contato, eram feitas em papel salgado, com uso de um “sanduíche” de
vidro em um chassi da madeira exposto à luz do sol. Talbot usava como fixador o
hipossulfito de sódio (tiossulfato de sódio).

Talbot vinha trabalhando em suas pesquisas desde 1833, quando obteve nega-
tivos minúsculos, após uma exposição de 30 minutos, em máquinas fotográficas
de fabricação local. Dois anos depois, em 1835, ele chegou ao que hoje é o mais
antigo negativo do mundo: a fotografia de uma das janelas da Abadia de Lacock,
em Wiltshire (Inglaterra), que poderia ser reproduzida para sempre (Fig. 20).

Figura 20 – William Henry Fox Talbot. Abadia de Lacock, em Wiltshire (Inglaterra), 1835. Negativo
Fonte: Wikimedia Commons

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e a Fotografia Artística

Entretanto, passaram-se cinco anos até que Talbot começasse a usar iodeto de
prata e percebesse que os tempos de exposição poderiam ser reduzidos para cerca
de um minuto. A prática da calotipia nas décadas de 1840 e 1850 na Grã-Bretanha
e na França contribuiu para o experimento e o desenvolvimento de uma série de
avanços técnicos e estéticos para a fotografia. Sir John Herschel, no início de 1840,
por exemplo, produziu negativos experimentais em vidro, e, em 1842, inventou o
cianótipo, negativo fotográfico em papel com base em sais de ferro, impróprio para
exposições em câmeras. O processo resultava em fotogramas detalhados em tons
de azul vivo (HACKING, 2012).

O primeiro livro ilustrado com fotografias, British algae: cyanotype impressions


(Algas britânicas: impressões em cianotipia) (Figs. 21 e 22), de Anna Atkins (1779-
1871), membro da Botanical Society of London, foi feito justamente com ima-
gens em cianotipia. A partir de 1843, e por uma década, Anna utilizou algas secas
achatadas como negativos em folhas de papel fotossensível sob a luz do sol, produ-
zindo milhares de exemplares de seu livro.

Figuras 21 e 22 – Capa e página interna do livro British algae: cyanotype impressions


(Algas britânicas: impressões em cianotipia), 1843-1853, de Anna Atkins. Cianotipia
Fonte: Adaptado de digitalcollections.nypl.org

Um ano após Anna Atkins iniciar sua publicação (1843), Talbot relata o desen-
volvimento de seu trabalho na série de livros The pencil of nature (O lápis da natu-
reza) (Figs. 23 e 24), editado em seis volumes, entre 1844 e 1846, com calótipos
e explicação de seu trabalho, estabelecendo padrões de qualidade do seu processo.
É considerado o primeiro livro ilustrado com fotografias distribuído comercialmente.
Existe um exemplar na Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. O calótipo
obteve grande sucesso na Grã-Bretanha até o final dos anos 1850.

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Figuras 23 e 24 – Capa do livro The pencil of nature (O lápis da natureza), de William Henry
Fox Talbot, 1844; editado por Longman, Brown, Green & Longmans, Londres;
e página interna (William Henry Fox Talbot, O palheiro, 1844; calótipo)
Fontes: Wikimedia Commons

Você Sabia? Importante!

Hippolyte Bayard (1807-1887), funcionário público francês, entre tantos pesquisadores


e curiosos na arte da fotografia, inventou, de forma independente, um processo que
aliava o positivo direto de Daguerre ao uso de papel de Talbot. Entretanto, como não ob-
teve reconhecimento do governo francês (assim como Daguerre o teve) nem do público,
ele decidiu protestar por meio da fotografia Autorretrato de um homem afogado,
1840 (Fig. 25), onde aparece nu. No verso da foto há o seguinte texto: “O cadáver do
senhor que vocês veem é do senhor Bayard, inventor do procedimento cujos maravilho-
sos resultados acabam de ver ou verão. [...] A Academia, o rei e quantos viram os seus
desenhos, admiraram-nos como vocês o estão admirando agora. Valeu-lhe muita honra
e não lhe rendeu um centavo. O governo, que deu demasiado ao senhor Daguerre, disse
que não podia fazer nada pelo senhor Bayard e o infortunado afogou-se”. Bayard, com
seu gesto – ainda que não tenha rendido recursos –, abriu muitas possibilidades para a
fotografia a partir do uso da imaginação e da criatividade (TOREZANI, 2015).

Figura 25 – Hippolyte Bayard. Autorretrato de um


homem afogado, 1840. Positivo direto em papel
Fonte: Wikimedia Commons

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e a Fotografia Artística

Evolução Permanente: O Colódio Úmido


A partir do final da década de 1840, e por toda a década seguinte, foram realiza-
dos grandes avanços no processo fotográfico, especialmente em relação a cópias.
Pesquisadores, por exemplo, começaram a pensar na utilização do vidro como
negativo. O primeiro método prático de utilização de chapas de vidro, denominado
de albumina, foi anunciado, em 1847, pelo francês Abel Niépce de Saint-Victor
(1815-1870), sobrinho de Joseph Nicéphore Niépce. O processo consistia em co-
brir uma placa de vidro com clara de ovo (formada predominantemente por água
e pela proteína albumina) sensibilizada com iodeto de potássio e nitrato de prata.
A albumina é mais preciosa em detalhes e o tempo de exposição é de 15 minutos.
Em 1851, Sir Frederick Scott Archer (1813-1857), escultor inglês, inventa o
processo do negativo à base de colódio úmido (mistura de pó de algodão, pól-
vora, álcool e éter), usado como veículo para unir sais de prata a uma placa de
vidro, sendo menos dispendioso que os anteriores e cujo resultado era de ótima
qualidade. A placa é exposta ainda úmida na câmara escura e o tempo de expo-
sição é de 30 segundos. Por conta do éter a preparação evaporava rapidamente.
Este processo é dez vezes mais sensível que a albumina.
Aos poucos, tanto o daguerreótipo quanto o calótipo, foram sendo substituí-
dos pela fotografia em colódio úmido, que utilizava negativos de vidro para a pro-
dução de imagens em papel coberto por albumina. As imagens são caracterizadas
pela nitidez dos detalhes, por sua tonalidade marrom claro e superfície lustrosa.
A fotografia Vale da sombra da morte (1855) (Fig. 26), do inglês Roger Fenton
(1819-1869), considerado o primeiro repórter fotográfico da história, mostra um
campo de batalha sem cadáveres, na Guerra da Crimeia (1853-1856), no sul da
Rússia, mas cheio de balas de canhões e projéteis que se estendiam por uma estra-
da. A cópia foi feita em papel salgado a partir de negativo em colódio úmido.

Figura 26 – Roger Fenton. Vale da sombra da morte, 1855.


Cópia em papel salgado a partir de negativo em colódio úmido
Fonte: Wikimedia Commons

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Os negativos de vidro em colódio úmido de Fenton eram difíceis de produzir
e precisavam ser preparados no escuro, pouco antes da exposição, e reve-
lados logo em seguida, antes que o éter e o álcool evaporassem. Uma sala
escura portátil era necessária para que ele pudesse trabalhar nos campos de
batalha de Crimeia, de modo que Fenton adaptou a antiga caminhonete de
entregas de um comerciante de vinhos. (HACKING, 2012, p. 53)

Ainda em 1851 é fundada a Societé d’Heliographique, a primeira sociedade foto-


gráfica do mundo, que publica a primeira edição de seu periódico La Lumière. Mas, em
1854, a sociedade é extinta dando lugar à Société Française de Photographie.

Figura 27 – Charles Thurston Thompson. Exposição conjunta da Société


Française de Photographie e da Sociedade Fotográfica de Londres, 1858
Fonte: Wikimedia Commons

A Febre Carte-de-Visite
A década de 1850 foi, de fato, muito criativa. Em 1854, o francês André-Adolphe-
-Eugène Disdéri (1819-1889) patenteou uma invenção que iria revolucionar o merca-
do da fotografia, tornando-se uma verdadeira febre em vários países: o carte-de-visite
(cartão de visita fotográfico). A fotografia tornava-se, assim, parte da vida do homem
de forma efetiva.

O sistema era simples: uma câmera fotográfica com quatro lentes obtinha oito
pequenos retratos com variadas poses em apenas uma chapa de vidro; as primei-
ras quatro fotos eram expostas, a chapa se deslocava e permitia a exposição das
outras quatro fotos. Os cartes-de-visite (Fig. 28) apresentavam uma fotografia de
cerca de 9,5 x 6 cm montada sobre um cartão rígido de cerca de 10 x 6,5 cm a um
custo muito acessível. A cópia era feita geralmente com a técnica de impressão em
albumina. O invento permitiu a produção em massa de fotografias (BRASILIANA
FOTOGRÁFICA, 2016a). Inicia-se, no período, a prática do retoque do negativo e
a criação dos álbuns fotográficos.

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Figura 28 – André-Adolphe-Eugène Disdéri. Príncipe Lobkowitz, 1858.


Impressão carte-de-visite não cortado
Fonte: metmuseum.org

A troca de cartes-de-visite – cartões de visita fotográficos – foi um dos


grandes modismos da segunda metade do século XIX e deu origem a
outro modismo: os álbuns de fotografia. E foi a febre do retrato foto-
gráfico, por sua vez, que solidificou a fotografia no Brasil e no mundo.
Os cartes de visite eram trocados entre amigos, familiares e coleciona-
dores, que com eles se confraternizavam. Conferiam ao fotografado
um certo status social e, muitas vezes, continham dedicatórias e eram
datados. (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016a)

A grande popularidade dos cartes-de-visite começou, em 1859, quando, no


dia 10 de maio, Napoleão III parou no estúdio de Disdéri, em Paris, para ser re-
tratado. No dia seguinte, já havia filas na porta do ateliê fotográfico. Na década
de 1860, o fotógrafo e inventor Disdéri, era tido como o fotógrafo mais rico do
mundo. Ele empregava 90 pessoas em seu luxuoso estúdio e produzia mais de
duas mil fotografias por dia (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016a).
Nos Estados Unidos, a Guerra Civil norte-americana (1861-1865) deu grande
impulso aos cartes-de-visite, com os combatentes e suas famílias sendo retrata-
dos antes de serem separados pelo conflito. O formato permitiu que Abraham
Lincoln (Fig. 29), presidente do país na época, se tornasse a primeira celebrida-
de fotográfica dos Estados Unidos.

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Figura 29 – Alexander Gardner. Abraham Lincoln, sentado
segurando óculos, 1865. Impressão carte-de-visite cortado
Fonte: loc.gov

A partir do início da década de 1870, começou o declínio do formato carte-


-de-visite com o surgimento do cartão cabinet (gabinete), na Inglaterra, em
1866. Um pouco maior, apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14 cm mon-
tadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm. Disdéri chegou a abrir fi-
liais em Londres e Madri, entretanto, em 1890, morreu cego, surdo e na miséria
(BUSSELE, 1979).

Fotografia Artística: Comunicação Gráfica


ou uma Forma de Arte?
O surgimento da fotografia propôs uma série de desafios à prática artís-
tica tradicional, desde a redefinição dos conceitos de arte e artista até a
disputa de um mercado cada vez mais interessado na verossimilhança que
o novo meio podia proporcionar numa escala até então desconhecida.
(FABRIS, 2011)

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

O confronto com a imagem técnica da fotografia, a partir de meados do século


XIX, contribuiu para que artistas, especialmente pintores, buscassem novos meios
visuais de expressão. Até certo ponto, foi uma forma de sobrevivência frente
ao novo meio dominado pela exatidão fotográfica. Observamos isso a partir do
movimento artístico impressionismo, protagonizado por artistas franceses como
Claude Monet (1840-1926), influenciados por pintores holandeses. A abstração
começava a rondar a arte acadêmica.

Figura 30 – Claude Monet. Impressão – Nascer do sol, 1873. Pintura


Fonte: Wikimedia Commons

Em relação a esse período, Busselle (1979, p. 34) levanta algumas questões:


“[...] deveria ela [a fotografia] competir com a pintura e seria, de fato, uma forma
de arte? Cabia à nova técnica reproduzir ou interpretar? A fotografia era um veí-
culo de comunicação gráfica ou uma forma de arte?”.

Em princípio, a maioria dos fotógrafos preocupava-se apenas em registrar o que


via, entretanto, outros, adeptos da interpretação, começaram a realizar experiências
com diversos estilos que imitavam a pintura acadêmica da época. Assim, a década
de 1850 foi marcada pelo desenvolvimento da fotografia alegórica, compondo ce-
nas de gênero e religiosas com inspiração em poemas e figuras literárias, lendárias
e heroicas (FABRIS, 2011).

Uma das mais famosas fotografias alegóricas Dois modos da vida, de 1857
(Fig. 31), do pintor sueco Oscar Gustaf Rejlander (1813-1875), tem o tamanho
de um quadro de cavalete (78 x 40 cm). O tema obedece à iconografia da pintura
acadêmica com as poses dos personagens lembrando estátuas greco-romanas.
A composição é formada por 30 negativos sobrepostos em papel sensibilizado,
tendo levado seis semanas para sua execução. Rejlander fotografou cada modelo
e seção de fundo separadamente. O método foi denominado de fotografia com-
posta (ou impressão composta). O trabalho representa o desejo de fotógrafos
britânicos de provar o valor da técnica como arte.

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Figura 31 – Oscar Gustaf Rejlander. Dois modos da vida, 1857.
Processo de carvão a partir de impressão original em papel albuminado
Fonte: Wikimedia Commons

Em 1857, fotografias foram exibidas na Exposição de Tesouros Artísticos de


Manchester (Inglaterra), mostra dedicada às belas-artes e às artes decorativas.
Entretanto, em 1862, a Exposição Internacional de Londres decidiu que não
iria exibir conjuntamente fotografias com pinturas e esculturas, mas na seção
de equipamentos mecânicos. Após protestos de fotógrafos e admiradores, foi
decidido que elas seriam apresentadas na seção “Outros trabalhos”. Críticos con-
sideravam que a fotografia não era arte por se tratar de um processo mecânico.
“Outros argumentavam que a câmera era como o pincel, apenas uma das várias
ferramentas disponíveis para a produção artística” (HACKING, 2012, p. 112).

Vamos conferir, a partir de agora, os principais momentos da fotografia artísti-


ca a partir do século XIX.

Fotografia Pictorialista – Final do Século XIX e Início do Século XX


Tons sombrios, textura granulada, efeitos
decorativos e falta de perspectiva; alteração
da imagem fotográfica, tornando-a seme-
lhante a um quadro, dando a impressão de
serem feitas a lápis e a carvão. Influência do
Impressionismo. Robert Demachy (1859-
1936) é um de seus maiores representantes.
Seus temas são o nu, o paisagismo (Fig. 32)
– muito próximo a Claude Monet – e cenas
de balé, como as pinturas de Edgar Degas
(1834-1917).
Figura 32 – Robert Demachy. Windmills, 1913.
Goma bicromatada
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Fotografia Moderna – A Percepção da Realidade


O fim da Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) criou um sentimento de renovação em
todos os sentidos, inclusive na fotografia ar-
tística. Os avanços tecnológicos mostravam
uma nova visão do mundo, mais realista. O
artista vanguardista húngaro László Moholy-
-Nagy (1895-1946) defendia a autonomia da
fotografia como arte e exaltava a percepção
da realidade proporcionada pela técnica.

Figura 33 – László Moholy-Nagy. Varandas


Bauhaus, 1925. Impressão a gelatina de prata
Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia Dadaísta
O dadaísmo, gestado na Suíça, em 1916, ganhou o mundo, especialmente os
Estados Unidos. O movimento artístico contestava valores culturais de forma radical
e se utilizava de vários canais de expressão como revistas, manifestos, exposições
e outros. A fotografia oportunizou aos artistas dadaístas uma forma de integração
entre o trivial e cotidiano à pratica artística. Em Nova York, artistas como Man Ray
(1890-1976) utilizaram a fotografia como um meio de revitalizar a arte visual, “sen-
do capaz de embaralhar as fronteiras entre a arte clássica e a arte popular, o estilo
e a moda, a pintura e a ilustração”, afirma Floresta (2011, p. 5).

Figura 34 – Man Ray. Preto e branco, 1926. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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Fotografia Abstrata
Em 1916, Alvin Langdon Coburn (1882-1966)
questionou: “Por que a câmera também não deve-
ria se livrar dos grilhões da representação conven-
cional?” (Hacking, 2012, p. 197). Ele sugeriu que
a câmera explorasse movimentos rápidos, exposi-
ções múltiplas e ângulos de perspectiva. Coburn
foi um dos primeiros fotógrafos a produzir foto-
grafias não-figurativas.

Figura 35 – Alvin Langdon Coburn.


Vortograph (The Eagle), 1917
Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia Surrealista
O Surrealismo, movimento criado pelo escritor francês André Breton (1896-
1966), em 1924, abrangia belas-artes, fotografia e filosofia e explorava o sub-
consciente humano, usando os preceitos da psicanálise, como o significado dos
sonhos, por exemplo. O primeiro fotógrafo que Breton trouxe para o Surrealismo
foi o artista norte-americano Man Ray (olha ele de novo). Inovador em temas,
composição e técnica criou imagens modernas (Hacking, 2012).

Figura 36 – Man Ray. Lágrimas, 1930. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Pop Art
Movimento que surgiu no final dos anos 1950
na Inglaterra, e que no início da década seguin-
te conquistou os Estados Unidos, a Pop Art tem
uma relação visceral com os meios de comunica-
ção de massa, os bens de consumo e a cultura po-
pular. Expoente maior da Pop Art, Andy Warhol
(1928-1987) utilizou a fotografia como suporte
para suas criações, que foram reproduzidas, prin-
cipalmente, em serigrafia.

Figura 37 – Andy Warhol. Elvis


duplicado, 1963. Serigrafia
Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia Conceitual
A arte conceitual, desenvolvida nas décadas de 1960 e 1970, privilegia o con-
ceito, ou a ideia, em detrimento do meio utilizado na produção artística, e tem
na fotografia uma forma importante de manifestação. Os artistas conceituais, en-
tretanto, questionaram os significados sociais e a estética da fotografia em suas
obras, especialmente no registro de suas performances – forma de arte que com-
bina elementos de teatro, artes visuais e música. O artista norte-americano Vito
Acconci (1940-2017) examinou o papel da fotografia como meio de vigilância e
controle social em Cena de perseguição (Fig. 38), de 1969. Ele seguia um des-
conhecido ao acaso até essa pessoa entrar em um local privado.

Figura 38 – Vito Acconci. Cena de perseguição, 1969. Performance / fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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Fotografia Pós-Moderna
“Nas artes visuais, o pós-modernismo muitas vezes adotou uma ampla varie-
dade de estilos, mídias e práticas, com a fotografia desempenhando um papel de
destaque” (HACKING, 2012, p. 418). Vários artistas, especialmente nos Estados
Unidos, a partir do final da década de 1970, utilizaram a fotografia como forma
de desafiar conceitos modernistas como originalidade, subjetividade, autenticida-
de e autoria. Práticas como apropriação, pastiche e ironia passaram a dominar
a fotografia. A norte-americana Cindy Sherman (1954-) produziu uma série de
fotografias em preto e branco (entre 1977 e 1980) na qual ele posa em diversas
cenas que remontam às décadas de 1950 e 1960.

Figura 39 – Cindy Sherman. Fotograma sem título nº 13, 1978. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia na Arte Contemporânea


A arte contemporânea valoriza o conceito, a atitude e a ideia da obra para que
haja reflexão subjetiva sobre a criação artística para além da contemplação estéti-
ca, ampliando a concepção do mundo. É a arte do “...aqui, agora”, conforme re-
gistrou Lars Nittve, diretor do Centro de Artes Louisiana, na Dinamarca, em 1996
(ARCHER, 2001, p. 236). Dois fotógrafos que se destacam internacionalmente
com seus trabalhos contemporâneos são o espanhol radicado no Brasil, Miguel
Rio Branco (1946-) (Fig. 40), que trabalha com contrastes cromáticos intensos,
e Sebastião Salgado (1944-) (Fig. 41), um narrador, com extrema realidade, de
condições humanas e ambientais adversas.

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Figura 40 – Miguel Rio Branco. Blue tango, 1984. Fotografia, cibachrome, 20 fotografias
Fonte: inhotim.org.br

Figura 41 – Sebastião Salgado. Poço de petróleo, Burhan, Kuwait, 1991


Fonte: Sebastião Salgado, 1991

O Inesgotável Mundo Digital


A fotografia digital apresentou um novo mundo técnico aos artistas contempo-
râneos. Após uma imagem ser clicada, a pós-produção digital abre um caminho
sem fim para a criatividade. O norte-americano Anthony Aziz (1961-) e o perua-
no Sammy Cucher (1958-) atuam juntos e, desde 1990, desenvolvem trabalhos
pioneiros com imagens digitais (HACKING, 2012). Em Chris (1994) (Fig. 42),
eles fazem referência aos “temores contemporâneos relacionados à engenharia
genética e à mutação” (2012, p. 531). A cabeça raspada do homem, que não
tem os quatro sentidos (paladar, olfato, audição e visão), representa a anulação da

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individualidade das pessoas. “Embora a manipulação digital das obras seja central
à concepção desta série, é o efeito de realidade na representação fotográfica que
torna os elementos fantásticos ao mesmo tempo verossímeis e perturbadores”
(HACKING, 2012, p. 531).

Figura 42 – Anthony Aziz e Sammy Cucher. Chris, 1994. Impressão colorida cromogênica
Fonte: Wikimedia Commons

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e a Fotografia Artística

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Cinetoscopio
Os 15 melhores filmes sobre fotografia.
https://goo.gl/1ZpyqM
Título da Página
Mais de 101 sites de fotografia que tem de conhecer – Parte 1.
https://goo.gl/hroQkd
Instagram
Cindy Sherman. Selfies no Instagram. Instagram da fotógrafa norte-americana Cindy
Sherman (1954-).
https://goo.gl/k8MeC8

 Filmes
Extraordinário
O filme Extraordinário (diretor: Stephen Chbosky, 2017, USA) não é sobre fotografia
ou sobre um grande fotógrafo: É sobre gente como nós. Em um determinado momen-
to, Auggie Pullman (Jacob Tremblay), um garoto que nasceu com uma deformação
facial, dá um show na feira de ciências da escola. Você logo vai reconhecer o equipa-
mento que ele e um colega de aula construíram.

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Referências
ARCHER, Michael. Arte contemporânea – Uma ideia concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.

BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.

BRASILIANA FOTOGRÁFICA. Cartões de visita – cartes de visite, 2016a. Dispo-


nível em: <http://brasilianafotografica.bn.br/?p=3873>. Acesso em: 08 mai. 2018.

________. Estereoscopia, 2016b. Disponível em: <http://brasilianafotografica.


bn.br/?tag=estereoscopia>. Acesso em: 03 mai. 2018.

BUSSELLE, Michael. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Livraria Pioneira Edi-
tora, 1979.

FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar – Fotografia e artes visuais no período


das vanguardas históricas. Volume I. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

FLORESTA, Merry A. Man Ray. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

FONTES, Carlos. Curso História e ensino criativo, 2011. Disponível em:


<https://pt.slideshare.net/JDLIMA/breve-histria-da-fotografia-6929747>.
Acesso em: 01 mai. 2018.

HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia – Técnicas criativas de 100 grandes
fotógrafos. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

HONNEF, Klaus. Fotografia. In: WALTHER, Ingo F. Arte do século XX. Lisboa:
Taschen, 2010.

J. PAUL GETTY MUSEUM. Sir John Frederick William Herschel [2018]. Dis-
ponível em: <http://www.getty.edu/art/collection/artists/1881/sir-john-frederick-
-william-herschel-british-1792-1871/>. Acesso em 03 mai. 2018.

KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

LOPES, Sóstenes Carneiro. A história da fotografia: origem da fotografia no


mundo, origem da fotografia no Brasil, 2009. Disponível em: <https://pt.sli-
deshare.net/hiperbalad/a-histria-da-fotografia?next_slideshow=1>. Acesso em: 01
mai.2018.

PEDROSA, Adriano; MOURA, Rodrigo (eds.). Através: Inhotim. Brumadinho:


Instituto Cultural Inhotim, 2008.

TOREZANI, Julianna Nascimento. Processos fotográficos do século XIX – Este-


reoscopia, panorama, albumina, colódio úmido, ambrótipo, 2015. Disponível em:
<http://ikoneblog.blogspot.com.br/2015/03/processos-fotograficos-do-seculo-
-xix.html>. Acesso em: 03 mai. 2018.

ZUANETTI, Rose et al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rio de Janeiro:


Senac Nacional, 2004.

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