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RESUMO DO LIVRO CIDADANIA NO BRASIL: O LONGO CAMINHO

Uma breve linha do tempo


1500 – Descobrimento do Brasil;
1530 – Início da Colonização;
(1530-1822) Período Colonial;
1822 – Independência do Brasil
(1822-1889) Período Imperial;
1889 – Proclamação da República;
(1889-hoje) Período Republicano.

Constituições do Brasil
1824 Brasil Império
1891 República Velha
1934 Segunda República (café com leite)
1937 Estado Novo
1946 Período Democrático (pós Estado Novo)
1967 Período Militar
1988 Constituição Federal – Constituição Cidadã

INTRODUÇÃO
Com o fim da ditadura militar, houve um grande empenho por parte da sociedade de
reconstruir (ou melhor, construir) a democracia no Brasil. Uma das marcas desse esforço foi
a popularidade do termo cidadania, que passou a ser adotado por todos, de políticos a
simples cidadãos. Conforme as palavras do cientista político José Murilo: “A cidadania virou
gente” e no auge do entusiasmo cívico, a Constituição de 1988 foi intitulada de Constituição
Cidadã.
No entanto, houve ingenuidade no entusiasmo. Acreditava-se que a democratização
das instituições traria rapidamente uma felicidade nacional, porém isso não aconteceu.
Apesar dos grandes ganhos, como o direito de votar em nossos presidentes, governadores,
prefeitos e o próprio advento Constituição de 1988, muitos problemas graves ainda
persistiam. O desemprego, o analfabetismo, a má qualidade da educação, a oferta
inadequada da saúde e as desigualdades sociais continuavam sem solução ou quando
melhorava, era em passos lentos.
Deste modo, para José Murilo de Carvalho, a cidadania é um fenômeno complexo e
historicamente definido. Por exemplo: o exercício do voto, citado acima, não garante a
existência de governos atentos aos problemas básicos da população. Uma cidadania plena,
que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no
Ocidente, que talvez seja inatingível. No entanto, deve ser buscado e servir de parâmetro
para julgar a qualidade da cidadania de cada país, em cada momento histórico.
O autor desdobra a cidadania em três direitos, são eles: civis, políticos e sociais. Os
direitos civis são os direitos fundamentais à vida, igualdade, liberdade e propriedade, que
estão presentes no artigo 5º da CF/88. São eles que garantem a vida em sociedade, surgida
com o desenvolvimento do capitalismo.
Os direitos políticos se referem à participação do cidadão no governo da sociedade.
É o direito de organizar partidos, de votar e ser votado. Os direitos políticos têm como
instituição principal os partidos e um parlamento livre e representativo.
Já os direitos sociais incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à
saúde, à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente
máquina administrativa do Poder Executivo. Os direitos sociais permitem às sociedades
politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo
e garantir um mínimo de bem-estar para todos.
De acordo com Carvalho (2002), o surgimento seqüencial dos direitos sugere que a
própria cidadania é um fenômeno histórico. O ideal da cidadania plena pode ser semelhante
pelo menos na tradição ocidental, mas os caminhos são distintos e nem sempre seguem
linha reta como sugere Marshall. Cada país seguiu seu próprio caminho e o Brasil não foi
exceção. Porém houve no Brasil, pelo menos duas diferenças importantes. A primeira
refere-se à maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros. A segunda
refere-se à alteração na seqüência em que os direitos foram adquiridos: entre nós o social
precedeu os outros.
Outro aspecto destacado por Carvalho, é que a cidadania se desenvolveu dentro do
fenômeno chamado de Estado- Nação. Datado da Revolução Francesa. A luta pelos direitos
era uma luta política nacional. Isto quer dizer que a construção da cidadania tem a ver com
a relação das pessoas com o Estado e com a nação; segundo o autor, a redução do poder
do Estado, fruto da internacionalização do sistema capitalista e da criação dos blocos
econômicos, afeta a natureza dos antigos direitos, sobretudo os direitos políticos e sociais.
Portanto, as recentes mudanças têm recolocado em pauta o debate sobre o
problema da cidadania, mesmo nos países em que parecia estar razoavelmente resolvido.
1500-1930
Para José Murilo de Carvalho, houve pequenas mudanças entre o Império (1822-
1889) e a Primeira República (1889-1930), sendo o fim do regime escravista a mais
importante. A abolição incorporou os ex-escravos aos direitos civis. Mesmo assim, a
incorporação foi mais formal do que real.
A construção de um país dotado de unidade territorial, lingüística, cultural e religiosa
foi a principal característica do período colonial. Contudo, a população era analfabeta, a
sociedade era escravocrata e a economia era monocultura e latifundiária. O Estado era
absolutista.
Ao falarmos da colonização portuguesa, destacam-se alguns substantivos:
dominação, extermínio, guerra, escravização, doenças direcionadas às mulheres indígenas.
Tais particularidades adquirem esses tons diante da política econômica: a conquista teve
conotação comercial; um empreendimento do governo aliado a particulares.
A atividade que melhor se prestou à finalidade lucrativa foi a produção de açúcar,
mercadoria com crescente mercado na Europa. Essa produção tinha duas características
importantes: exigia grandes capitais e muita mão-de-obra. A primeira foi responsável pela
grande desigualdade que logo se estabeleceu entre os senhores de engenho e os outros
habitantes; a segunda, pela escravização dos africanos. Ou seja, a produção de
açúcar exigia grandes capitais e mão de obra e foi ela, a produção, um dos principais
responsáveis pelas desigualdades estabelecidas: latifúndio e a base escravista.
A formação de núcleos populacionais tem relação com a atividade econômica
desenvolvida na época. A mineração, no final do século XVII, requereu menor volume de
capital e de mão de obra. Houve um menor controle desta última. Mais mobilidade social e
uma maior expressão foram fatores responsáveis por mais rebeliões políticas. A criação de
gado exigia menos mão de obra. Esta fugiu do controle da administração colonial devido às
distâncias das fazendas em relação aos centros administrativos. O seu grande isolamento
das autoridades criou um domínio do poder privado.
A escravidão tem início na segunda metade do século XVI e terminou em
1850. Conforme o autor a escravidão foi o fator mais negativo para a cidadania. Em 1822,
três milhões de escravos foram introduzidos no país. Situação sistêmica e cultural,
qualquer pessoa possuía escravos visto que a base da sociedade era a escravidão.
Embora concentrados nas áreas de grande agricultura exportadora e de mineração,
havia escravos em todas as atividades, inclusive urbanas. Nas cidades eles exerciam
várias tarefas dentro das casas e na rua. Nas casas, as escravas faziam o serviço
doméstico, amamentavam os filhos das sinhás, satisfaziam a concupiscência dos
senhores. Os filhos dos escravos faziam pequenos trabalhos e serviam de montaria
nos brinquedos dos sinhozinhos. Na rua, trabalhavam para os senhores ou eram por
eles alugados. Em muitos casos, eram a única fonte de renda de viúvas.
Trabalhavam de carregadores, vendedores, artesãos, barbeiros, prostitutas. Alguns
eram alugados para mendigar. Toda pessoa com algum recurso possuía um ou mais
escravos. O Estado, os funcionários públicos, as ordens religiosas, os padres, todos
eram proprietários de escravos. Era tão grande a força da escravidão que os próprios
libertos, uma vez livres, adquiriam escravos.

A escravização de índios foi praticada no início do período colonial, mas foi proibida
pelas leis e teve a oposição decidida dos jesuítas. Os índios brasileiros foram rapidamente
dizimados. Calcula-se que havia na época da descoberta cerca de 4 milhões de índios. Em
1823 restava menos de 1 milhão. Os que escaparam ou se miscigenaram ou foram
empurrados para o interior do país. A miscigenação se deveu à natureza da colonização
portuguesa: comercial e masculina, isto é, era uma questão política, uma vez que Portugal
não tinha contingente suficiente para povoar a sua colônia.
A administração portuguesa foi pautada em um descaso com a educação
primária, de início responsabilidade dos Jesuítas. Após a expulsão desses religiosos em
1759, o governo dela se encarregou, mas de maneira completamente inadequada. Até
1872, apenas 16% da população era alfabetizada. Não era do interesse da administração
colonial, ou dos senhores de escravos, difundir essa arma cívica. Não havia também
motivação religiosa para se educar.
Não há muito que se falar sobre cidadania no Período Colonial, visto que não havia
República no Brasil, isto é, não havia sociedade política; não havia "repúblicos", isto é, não
havia cidadãos. Os direitos civis beneficiavam a poucos, os direitos políticos a
pouquíssimos, dos direitos sociais ainda não se falava, pois a assistência social estava a
cargo da Igreja e de particulares.
José Murilo de Carvalho destaca que foram raras as manifestações cívicas durante o
período colonial. Ao fim deste período, a população estava excluída dos seus direitos civis e
políticos, sem um sentido de nacionalidade. No máximo, havia alguns centros urbanos
dotados de uma população politicamente mais aguerrida e algum sentimento de identidade
regional.

1822
A Independência não trouxe mudanças radicais. Pelo contrário, foi negociada entre
as elites, Coroa Portuguesa e Inglaterra. Foi graças à intermediação da Inglaterra que
Portugal aceitou a independência do Brasil mediante o pagamento de uma indenização de 2
milhões de libras esterlinas. A escolha de uma solução monárquica em vez de Republicana
deveu-se à convicção da elite de que só a figura de um rei poderia manter a ordem social e
a união das províncias que formavam a antiga colônia. Ocorreu-se, deste modo, a
separação, mas manteve-se a Monarquia e a Casa dos Bragança. Facilitou-se, assim, a
continuidade nacional.
Uma Constituição foi outorgada em 1824. Ela estabeleceu os três poderes
tradicionais e o quarto, o Poder Moderador privativo do Imperador (entre eles a livre
nomeação dos ministros de Estado). Não se alterou a base escravista. Teve avanços nos
direitos políticos, pois definiu quem teria o direito de votar e ser votado. Para os padrões da
época, a legislação brasileira era muito liberal. Podiam votar todos os homens, analfabetos
ou não, de 25 anos ou mais que tivessem renda mínima de 100 mil-réis. O limite caía para
21 anos no caso dos chefes de família, dos oficiais militares, bacharéis, clérigos,
empregados públicos, em geral de todos os que tivessem independência econômica.
Portanto, todos os cidadãos que estivessem qualificados eram obrigados a votar. As
mulheres não votavam, e os escravos, naturalmente, não eram considerados cidadãos. As
eleições eram freqüentemente tumultuadas e violentas. Às vezes eram espetáculos
tragicômicos. O governo tentava sempre reformar a legislação para evitar a violência e a
fraude, mas sem muito êxito. Faz-se necessário ressaltar que o voto tinha outro
sentido. Sentido de defender as lutas locais. “A eleição era a oportunidade para garantir um
dinheiro fácil, uma roupa, um chapéu novo, um par de sapatos. No mínimo, uma boa
refeição”, no que aponta Carvalho, que é historiador.
A herança colonial pesou mais na área dos direitos civis. O novo país herdou a
escravidão, que negava a condição humana do escravo, herdou a grande propriedade rural,
e um Estado comprometido com o poder privado. Esses três empecilhos ao exercício da
cidadania civil revelaram-se persistentes. A escravidão só foi abolida em 1888, a grande
propriedade ainda exerce seu poder em algumas áreas do país e a desprivatização do
poder público é tema da agenda atual de reformas.
1881
Em 1889, Proclama-se a República e em 1891, promulga-se uma nova Constituição,
que não apresentou mudanças significativas. Em 1881, a Câmara dos Deputados restringe
as possibilidades e o número de votantes. Aumenta-se a renda, proíbem-se analfabetos.
Torna o voto, facultativo. Houve, assim, um corte de quase 90% do eleitorado.
Uma das grandes características do período conhecido como Primeira
República (1889-1930) foi a formação de sólidas oligarquias estaduais. Conhecida
como “República dos Coronéis”, o Coronel era o posto mais alto na hierarquia da Guarda
Nacional. O coronel da Guarda era sempre a pessoa mais poderosa do município.

Coronel passou, então, a indicar simplesmente o chefe político local. O


coronelismo era a aliança desses chefes com os presidentes dos estados e
desses com o presidente da República. Nesse paraíso das oligarquias, as
práticas eleitorais fraudulentas não podiam desaparecer. Elas foram
aperfeiçoadas. Nenhum coronel aceitava perder as eleições. Os eleitores
continuaram a ser coagidos, comprados, enganados, ou simplesmente
excluídos. Os historiadores do período concordam em afirmar que não havia
eleição limpa. O voto podia ser fraudado na hora de ser lançado na uma, na
hora de ser apurado, ou na hora do reconhecimento do eleito.

Aqui, fala-se de um cenário de grandes propriedades herdadas do Período Colonial.


Até 1930, o Brasil “era agrícola”. A Primeira República foi dominada economicamente pelos
estados de São Paulo e Minas Gerais, cuja riqueza, sobretudo de São Paulo, era baseada
no café.
Na sociedade rural, dominavam os grandes proprietários, que antes de 1888 eram
também, na grande maioria, proprietários de escravos. Eram eles, freqüentemente em
aliança com comerciantes urbanos, que sustentavam a política do coronelismo. Havia,
naturalmente, variações no poder dos coronéis, em sua capacidade de controlar a terra e a
mão-de-obra. O controle era mais forte no Nordeste, sobretudo nas regiões de produção de
açúcar. Aí se podiam encontrar as oligarquias mais sólidas, formadas por um pequeno
grupo de famílias. No interior do Nordeste, zona de criação de gado, também havia grandes
proprietários. No estado da Bahia, eles eram poderosos a ponto de fugirem ao controle do
governo do estado. Em certo momento, o governo federal foi obrigado a intervir no estado
como mediador entre os coronéis e o governo estadual.
O coronelismo não era apenas um obstáculo ao livre exercício dos direitos políticos.
Ou melhor, ele impedia a participação política porque antes negava os direitos civis. Nas
fazendas, imperava a lei do coronel, criada por ele, executada por ele. Seus trabalhadores e
dependentes não eram cidadãos do Estado brasileiro, eram súditos dele. Quando o Estado
se aproximava, ele o fazia dentro do acordo coronelista, pelo qual o coronel dava seu apoio
político ao governador em troca da indicação de autoridades, como o delegado de polícia, o
juiz, o coletor de impostos, o agente do correio, a professora primária. Graças ao controle
desses cargos, o coronel podia premiar os aliados, controlar sua mão-de-obra e fugir dos
impostos. Fruto dessa situação eram as figuras do "juiz nosso" e do "delegado nosso",
expressões de uma justiça e de uma polícia postas a serviço do poder privado.
O que significava tudo isso para o exercício dos direitos civis? Sua impossibilidade. A
justiça privada ou controlada por agentes privados é a negação da justiça. O direito de ir e
vir, o direito de propriedade, a inviolabilidade do lar, a proteção da honra e da integridade
física, o direito de manifestação, ficavam todos dependentes do poder do coronel. Seus
amigos e aliados eram protegidos, seus inimigos eram perseguidos ou ficavam
simplesmente sujeitos aos rigores da lei.
"Para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei." Esta expressão é reveladora. A lei,
que devia ser a garantia da igualdade de todos, acima do arbítrio do governo e do poder
privado, algo a ser valorizado, respeitado, mesmo venerado, tornava-se apenas instrumento
de castigo, arma contra os inimigos, algo a ser usado em benefício próprio. Não havia
justiça, não havia poder verdadeiramente público, não havia cidadãos civis.
Em 1920, há um pequeno aumento da urbanização. Os dois principais centros
urbanos eram o Rio de Janeiro, com 790 mil habitantes, e São Paulo, com 579 mil. O
crescimento do estado e da capital de São Paulo foi maior devido à grande entrada de
imigrantes, sobretudo italianos. Muitos imigrantes dirigiam-se inicialmente para as fazendas
de café de São Paulo. Mas um grande número acabava se fixando na capital, empregados
na indústria ou no comércio.
Sob o ponto de vista da cidadania, o movimento operário significou um avanço
inegável, sobretudo no que se refere aos direitos civis. O movimento lutava por direitos
básicos, como o de organizar-se, de manifestar-se, de escolher o trabalho, de fazer greve.
Os operários lutaram também por uma legislação trabalhista que regulasse o horário de
trabalho, o descanso semanal, as férias, e por direitos sociais como o seguro de acidentes
de trabalho e aposentadoria. No que se refere aos direitos políticos, deu-se algo
contraditório. Os setores operários menos agressivos, mais próximos do governo, chamados
na época de "amarelos", eram os que mais votavam, embora o fizessem dentro de um
espírito clientelista.
José Murilo de Carvalho usa os termos “cidadania operária” e “cidadão em negativo”
para descrever este período. Diz, ainda, que o Brasil não experimentara um sentimento
nacional, a Identidade Brasileira.
Pode-se concluir, então, que até 1930 não havia povo organizado politicamente nem
sentimento nacional consolidado. A participação na política nacional, inclusive nos grandes
acontecimentos, era limitada a pequenos grupos. A grande maioria do povo tinha com o
governo uma relação de distância, de suspeita, quando não de aberto antagonismo. Quando
o povo agia politicamente, em geral o fazia como reação ao que considerava arbítrio das
autoridades. Era uma cidadania em negativo, se se pode dizer assim. O povo não tinha
lugar no sistema político, seja no Império, seja na República. O povo não tinha lugar no
sistema político, seja no Império, seja na República.
1930
A partir de 1930, houve “acelerações das mudanças sociais e políticas” e “avanços nos
direitos sociais”. Houve vasta ampliação nos direitos trabalhistas (como a criação Ministério
do Trabalho, por exemplo). Em 1943, a consolidação das Leis do Trabalho. Voltando a uma
cronologia, Vargas é eleito em 1934 e promulga uma nova Constituição, a terceira em
pouco mais de cem anos.
A eleição de Vargas está ligada, intrinsecamente, as transformações econômicas mundiais
(crise de 1929), a história da própria atuação militar no país e a República Velha, com as
suas oligarquias e o favorecimento da economia “café com leite”. Vale ressaltar que há,
também, um grande sentimento de mudanças, tanto no campo das Artes, com a Semana de
Arte Moderna, como na Educação e Saúde, com a Campanha Nacional de Saneamento.
Assim, o Tenentismo, movimento sob a influência de Luís Carlos Prestes, tenta retomar a
influência perdida pelos militares. Sob a liderança de Vargas, que propunha mudanças nas
estruturas sociais, e ancorado no famigerado movimento,[5] têm-se eleições. Fraudadas. O
estado do Rio Grande do Sul (Vargas era político de lá) aliou-se à Paraíba e Minas Gerais.
Em uma contenda no estado nordestino, o governador João Pessoa foi assassinado. Deu-
se início ao motim e à revolta civil-militar de 1930. Cai, assim, a Primeira República.
Após 1930, os grupos apoiadores do Tenentismo dividiram-se em dois: aqueles que queriam
apenas alguns ajustes à situação anterior e aqueles que queriam mudanças mais profundas.
O prolongamento do Governo Revolucionário encontrou resistência. Em 1932, aconteceu a
Revolução Constitucionalista: queriam, os paulistas, o fim do governo ditatorial e eleições.
Houve eleições. Vargas venceu. A Constituição instituiu o voto secreto e o direito, de votar,
às mulheres.

Neste contexto, surgiram dois movimentos antagônicos, mas semelhantes em sua natureza.
A Aliança Nacional Libertadora (ANL), liderada por Luís Carlos Prestes e a Ação Integralista
Brasileira (AIB), “fascista”, liderada por Plínio Salgado.

Em 1935, a ANL tentou um golpe. O presidente Getúlio Vargas fez uso da malograda
tentativa para instaurar uma comoção anticomunista no país. Elaborou-se o Plano Cohen,
fechou-se o Congresso.[6] A passividade ao golpe, nos diz José Murilo de Carvalho, estava
relacionada ao fato de que os integralistas da AIB o apoiaram; do sentimento anticomunista
da população, mas, principalmente, do desenvolvimento econômico, o crescimento
industrial, a construção de estradas de ferro, o fortalecimento das Forças Armadas e
da Defesa Nacional.
Iniciou-se, aqui, a fase nacional-desenvolvimentista adotada e perpetuada nos próximos
anos. Faz-se necessário ressaltar que as políticas aqui implantadas nos influenciam,
diretamente, até hoje, em especial a questão energética e à priorização da matriz rodoviária
de transportes.[7] A política econômica de Vargas pautou-se, assim, na substituição de
importações por indústrias nacionais e pela nacionalização do mercado interno. Assim como
no incentivo à siderurgia, petróleo, com a adesão pela política do monopólio estatal da
exploração e refino.[8]
Estado Novo
José Murilo de Carvalho ao abordar o Estado Novo de Vargas utiliza a expressão “cidadania
regulada”. Seria, então, uma época de vasta ampliação de direitos sociais enquanto direitos
civis e políticos eram suprimidos. A população parecia não ser importar. Vargas, “o pai dos
pobres”, tratava o brasileiro de uma forma paternalista. “Ele”, como era mencionado em
propagandas e peças publicitárias apropriou-se, firmemente, à propaganda da Máquina
Estatal Brasileira. Instituiu o programa A Voz do Brasil e, quando em apuros políticos,
passou a falar diretamente com o povo.

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Alguns autores denunciam o tom fascista da Constituição de 1937. Para Carvalho, todavia,
esta assemelhou-se mais ao modelo português imposto por Salazar. Incorporaram, também,
pensamentos positivistas, tais quais aqueles defendido por Comte (citado por José Murilo de
Carvalho). “(…) incorporar o proletariado à sociedade por meio de medidas de proteção ao
trabalhador e sua família”. Consagrou-se com uma forte atuação na área do trabalho,[9] da
previdência[10] e sindical.[11]
A ênfase nos direitos sociais encontrava terreno fértil na cultura política da população. O
populismo era um fenômeno urbano, implicava, também, uma relação ambígua entre
os cidadãos e o governo.
1945 – 1964
Com a saída de Vargas, em 1946 promulgou-se mais uma Constituição em um período que
é conhecido como democrático. Esta manteve os direitos anteriores, permitiue a liberdade
de imprensa e de organização política, acrescentou eleições regulares e partidos livres (com
exceção do Partido Comunista), mas restringiu o direito à greve.

Vargas permaneceu influente e retornou eleito, em 1950.[12] Seu mandato foi marcado por
radicalização populista e nacionalista, pela luta pelo monopólio exploração e refino estatal. A
Petrobras foi criada em 1953. Assim como o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Partido
da Social Democracia (PSD) pelo presidente. A União Democrática Nacional foi fundada e
formada por liberais anticomunistas, vinculada à Escola de Guerra (ESG).
No Brasil, a época, vivia-se em um contexto de Guerra Fria, de sentimento nacionalista pelo
Petróleo e de uma política trabalhista e sindical muito forte. Getúlio Vargas perdeu a
governança diante de escândalos de corrupção e a instabilidade se tornou a protagonista de
seu governo. Deu-se início ao “queremismo”, um movimento que pedia a permanência do
Presidente. Insustentável no posto máximo de comando no pais, Getúlio se mata com um
tiro no peito após um de seus homens de confiança se envolver num atentado junto ao seu
maior inimigo político Carlos Lacerda. Mártir, deixou uma carta conhecida como Carta
Testamento.[13]
Houve comoção nacional. Há outra tentativa de golpe parlamentar. Posteriormente,
Juscelino Kubitschek assume. Governo dinâmico e democrático, calcou-se em um vasto
programa de industrialização, transferência de capital, abertura para o capital estrangeiro,
obras de infra-estrutura, estradas e energia elétrica. Atraiu o capital privado (nacional e
internacional).[14] Grandes indústrias automobilísticas se instalaram no país graças aos
benefícios governamentais. Seu plano econômico de governo se chamava Plano de
Metas, consistia em 31 metas sendo a última a construção de Brasília. Para tanto, não
mediu esforços e irresponsabilidade fiscal. Criou a Nova Cap. Assinou o que precisava ser
assinado. O jornalista Flávio Tavares diz ser impossível calcular o dinheiro gasto na nova
capital. Para Lília e Heloísa Starling, historiadoras, a nova capital serviu para isolar o poder;
para tornar as ações dos representantes ainda mais distantes.
Jânio Quadros foi eleito em 1960. Figura histriônica, renunciou em agosto do mesmo ano.
Assumiu Jango, à esquerda. Com medo das “esquerdices” do presidente, o Congresso
votou por um sistema parlamentarista (mais um golpe a vista?). Em 1963, em plebiscito,
consolidou-se o presidencialismo. Foi um período de radicalização, afirma José Murilo de
Carvalho. Tanto à esquerda, quanto à direita. Surgiu, pela primeira vez, uma manifestação
advinda da zona rural: as Ligas Camponesas.

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Vale ressaltar que no Brasil, na década de 1960, as mobilizações políticas giraram em torno
das “reformas de base”. Goulart esteve “imprensado entre a direita e a esquerda”. Optou por
esta última. Assinou dois decretos: nacionalizou uma refinaria norte americana e
desapropriou terras às margens de rodovias, ferrovias e barragens de irrigação. “O decreto
era um desafio presidencial aos legisladores. Como tal, serviu aos opositores de argumento
para afirmar que o presidente ameaçava a legalidade e o sistema representativo”. A
convulsão anticomunista (mais uma) motivou a “Marcha da Família com Deus pela
Liberdade”. No dia 31 de março de 1964, tropas do exército saíram de Minas Gerais e
dirigiram-se para o Rio de Janeiro. O Brasil viverá (outro) período ditatorial por 21 anos.
Desta vez, comandada pela alta cúpula militar.
Em A cidadania no Brasil, Carvalho pergunta em um tom retórico: Por que não frearam o
golpe? Para o autor, a resposta “não havia organizações civis fortes e representativas que
pudessem refrear o curso da radicalização”. Alie-se a isso a “falta de convicção democrática
das elites”, tanto à direita quanto à esquerda. Sobre essa última, diz. “Aceitava- a, a
democracia, na medida em que atendia aos seus direitos reformistas”.
1964-1985
Os políticos civis, principalmente a UDN, surpreenderam-se com a decisão dos militares de
governar o país. José Murilo de Carvalho explica alguns pontos. Os militares sempre
atuaram na política do Brasil, desde a Proclamação da República. As oligarquias da
Primeira República são criadas para alijá-los (retirar os militares) do poder. Vargas os
utilizou politicamente. Após 1945, militares dividiam-se entre nacionalistas populistas e
liberais conservadores. Os antivarguistas (conservadores) se prepararam na Escola
Superior de Guerra (ESG). Contaram com o apoio técnico intelectual do Instituto de
Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes), que lutava contra o comunismo e a favor do capitalismo.
Nesse contexto, os militares sentiam-se preparados para governar o país.

E agora, José? João? Maria? Reprodução: Internet


Os governos militares podem ser divididos em três fases:
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1964-1968 – General Castelo Branco/Costa e Silva (primeiro ano)
Intensa atividade repressiva / houve um abrandamento

Combate à inflação, queda do salário mínimo, pequeno crescimento.

1968, alto índice de crescimento.

1968-1974 – General Garrastazu Médici


Repressão violenta: “anos mais sombrios da história do País”;

Índice jamais visto de crescimento econômico;

Salário decrescente;

1974-1985 Geisel/ João Batista Figueiredo (1979-1985)


Liberalização do sistema;

Repressão pouco a pouco revogada;

Crise do Petróleo.

Uma das características do Regime civil-militar foi a utilização dos Atos Institucionais
como forma de legalizar a repressão. Assim, em 9 de abril de 1964, instituiu-se o Ato n° 1,
que cassou os direitos políticos da oposição por dez anos. O Ato n° 2 foi outorgado em
outubro de 1965, e aboliu a eleição direta para presidente, dissolveu os partidos políticos
(criados a partir de 1945) e estabeleceu um sistema de dois partidos. Aumentou o poder do
presidente, que passou a poder demitir funcionários, dissolver o parlamento, intervir nos
estados, reformar o judiciário e declarar Estado de Sítio.
O Ato n°5, do dia 13 de dezembro de 1968, outorgado pelo General Costa e Silva, fechou o
Congresso, suspendeu o Habeas Corpus para crimes contra a Seguraça Nacional. O mais
duro golpe do Regime, foi chamado de “o golpe dentro do golpe”. O General Costa e Silva
sofre um infarto em 1969. Uma junta militar não deixa o seu vice assumir, um civil. Reabrem
o Congresso e aprovam o General Médici. Foi promulgada a nova Constituição através do
Ato Institucional n°4, que incorpora os outros Atos ao seu texto. Em 1970, instala-se a
censura prévia.
Como retaliação à ilegalidade, grupos de esquerda passaram a adotar táticas militares de
guerrilha urbana e rural.[15] Como repressão, cresceu a máquina repressora, quase
autônoma: criou-se o Sistema Nacional de Informações (SNI) e o DOI CODI.
Um ponto utilizado como “defesa” ao Regime Militar encontra-se no fato que o Congresso
Nacional permaneceu aberto em quase todo governo, a exceção de breves momentos. O
Sistema era bipartidário. A Arena, partido do governo, referendava as decisões dos
generais. O MDB era oposição e apesar de legitimar a ditadura (sendo oposição), fazia uma
voz fraca dissonante. Havia eleições legislativas (suprimidas pelo AI 3), com restrições. Os
militares também criaram regras próprias. O eleitorado, todavia, cresceu sistematicamente
durante o governo. Em 1966, deixaram de haver eleições para governadores.

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Crescimento econômico
Houve um crescimento em torno de 10% até 1973. A Máquina de Propaganda do Regime
Militar apropriou-se disso, do “Milagre”, além do reforço nacionalista propiciado pela
conquista da Copa de 1970, no México: “Ame-o ou deixe-o”.

O crescimento econômico, por sua vez, não diminuiu as desigualdades. Aumentou-


as. Intensificou-se o processo de urbanização acelerada. Houve mudança na forma de
produção (primário, secundário e terciário), assim como de empregabilidade. A mulher
inseriu-se, maciçamente, no mercado de trabalho. Um dos pontos positivos do Regime
Militar foi a universalização da previdência (a exceção dos funcionários públicos e militares),
estendendo-a a população rural por meio do fundo rural (que angariava o apoio aos grandes
ruralistas (e não se tocava na questão da “reforma agrária”) e gerava a gratidão dos
pequenos).
1974-1985
A partir de 1974, Geisel promoveu um “transição lenta e gradual”. Diminuiu as restrições à
propaganda eleitoral e revogou o AI-5, em 1978. Geisel pertencia ao grupo político de
Castelo Branco, este nunca pretendeu estender-se no governo. Era um liberal conservador.
Desagradava-lhe o populismo. Um dos motivos para a “transição lenta e gradual” foi,
também, a crise do Petróleo e o aumento do preço pela Organização dos Produtores
de Petróleo (OPEP). Com a dependência da economia brasileira (do petróleo), os dias de
milagre econômico estavam acabando. A própria Ditadura manchava a Instituição Militar,
as torturas, os atos discricionários, além de desviar o foco das atividades militares.
Em 1974, Geisel voltou a permitir propaganda eleitoral. Perdeu, assim, a maioria no Senado.
Ao voltar atrás, tentou mudar a legislação. Em 1978, o Congresso votou o fim do AI 5. Em
1979, voltou o pluripartidarismo. Em 1982, eleições diretas para governadores. Os militares
não indicaram presidente. Mantiveram, entretanto, um candidato para eleição direta. Em
1984, com a emenda Dante Oliveira – Diretas Já, houve um grande fervor cívico. A
emenda não foi aprovada. Tancredo Neves foi eleito de forma indireta. Morreu antes de
assumir. Sarney, filho do Arena (o partido), tomou posse.
1988 – A Constituição como construção da Cidadania

Ou de quase ninguém. Reprodução: Internet.


Como apontam as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, no livro Brasil: Uma
Biografia, a Assembleia Nacional Constituinte foi um dos três pilares da oposição à
ditadura para a redemocratização do país; “eleições diretas em todos os níveis,
convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e promulgação de uma nova
Constituição.” Viria a se instalar em primeiro de fevereiro de 1987, já em um governo civil,
com a promulgação da Constituição no ano seguinte, no dia 5 de outubro de 1988. Ainda
segundo as pesquisadoras, além das garantias fundamentais que viria – teoricamente – a
assegurar, o novo texto constitucional assumiu um protagonismo na consolidação da tão
recente democracia brasileira.
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“O novo texto constitucional tinha a missão de encerrar a ditadura, o compromisso de
assentar as bases para a afirmação da democracia do país, e uma dupla preocupação: criar
instituições democráticas sólidas o bastante para suportar crises políticas e estabelecer
garantias para o reconhecimento e o exercício dos direitos e das liberdades dos brasileiros –
não por acaso, foi batizada de “Constituição Cidadã”. É a mais extensa constituição
brasileira – tem 250 artigos principais, mais 98 artigos das disposições transitórias – e está
em vigor até hoje.”
A Constituição é imperfeita da mesma maneira que a própria democracia, mas foi o
instrumento encontrado pelo país para atender as suas demandas deixadas por um passado
atribulado, e para atender, também, as expectativas de um país continental em suas
especificidades. Nas palavras de Schwarcz e Starling, a nova Carta Constitucional foi
“sensível às minorias políticas, avançando nas questões ambientais, empenhada em prever
meios e instrumentos constitucionais legais para a participação popular e direta e a exigir
políticas públicas voltadas para enfrentar os problemas mais graves da população.”

Todavia, é necessário lembrar que, diante da imensidão de um país continental, existe,


também, uma “pluralidade de Brasis”, que abarca injustiças, desigualdades e abismos
sociais em contraste as suas riquezas e potencialidades; todas estas questões regidas por
práticas endêmicas de corrupção que são as responsáveis pela situação aviltante que o país
destina aos brasileiros. Vale lembrar que o Brasil, apesar de já ter figurado como a sétima
potência do mundo, apresenta números estonteantes de desigualdade social e má
distribuição de renda. Além dos números que colocam o país em uma situação de
igualdade, em pobreza, com os vizinhos subdesenvolvidos. Convive-se, também, com
práticas tão brasileiras: clientelismo, coronelismo, público versus privado, a definição do
homem cordial, que não explicam o porquê de o Brasil ser um país pobre em meio as suas
riquezas, mas, como apontam as historiadoras, associam-se “tanto ao mau trato do dinheiro
público como ao descontrole das políticas governamentais.”
Para José Murilo de Carvalho, porém, a desigualdade, tão característica, é um dos
principais problemas do Brasil. A construção da cidadania[16] também passou por uma
situação particular. Se tomarmos o caminho de Marshall e a consolidação dos direitos como
uma ordem natural (primeiro os civis, depois os políticos que trariam, assim, a consolidação
dos direitos sociais), em nosso país seguimos uma lógica contrária. Em muitos momentos,
incluindo-se ditaduras, era negado ao cidadão brasileiro qualquer traço de direitos civis ou
políticos. Restou-nos, assim, criar um sentimento paternalista, de gratidão, diante do tão
necessário direito social. Para alguns autores, a educação – apesar de um direito social – é
a base para a “boa reivindicação” ou “usufruto” dos demais direitos. Como nos mostra A
cidadania no Brasil, ela nunca foi prioridade. Tem-se, assim, a expressiva valorização do
Executivo, com a sua distribuição de favores; o Patrimonialismo; a busca por um Messias
político; a desvalorização do Legislativo; uma visão corporativista dos interesses políticos;
Problemas da representação política.
Por maiores que sejam os problemas de nossa democracia, José Murilo de Carvalho nos
lembra que as democracias consolidadas, vistas como exemplo, levaram anos até
corrigirem suas falhas. A democracia brasileira, tão jovem, precisa de tempo. Mais: precisa
do envolvimento dos cidadãos, e da aplicação da cidadania. Para o teórico, há, nas Redes
Sociais, a esperança de que estas venham a se consolidar como uma nova Esfera
Pública. Desculpe-me, professor Carvalho, não tenho essa esperança.
Estamos? Reprodução: Internet.
Epílogo (E tem um fim, uma luz no fim do túnel?)
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Em um grande parêntese, extrapolo (com ressalvas) as conclusões das historiadoras e do
historiador e trago, para este fim, o nosso texto constitucional como fundamentador
teórico. A inação diante da realidade brasileira pode ser explicada, também, a partir da
subversão dos Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil, explicitados
no Capítulo 37 da Constituição. Colocar a corrupção ou a ingerência como únicos fatores
da realidade brasileira, como muitos fazem (e não me refiro aos historiadores acima) é
deixar de relacionar que estes estão subordinados à preceitos maiores. Na verdade, aqueles
(corrupção e ingerência) se configuram como a subversão destes
(preceitos). Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência existem
por um único propósito: o Fim Público, a sua Finalidade. Logo, a classe política não
deveria ser tratada como agentes alienados da esfera pública brasileira, castas superiores,
apesar de hoje o serem. Pelo contrário, Vossas Excelências não passam de agentes
políticos a serviço dos cidadão. Assim, apesar da hipérbole e do pensamento revolucionário,
o tratamento respeitoso dever-se-ia ser dirigido a nós, cidadãos. Pois como nos diz a nossa
Constituição, em seu artigo 1°, parágrafo único:
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição“

“Todo o poder
emana do povo”, dizia…
NOTAS
[1] Estaria aí um dos motivos para a construção particular do conceito brasileiro de
cidadania?
[2] Alguns autores (entre eles Schwarcz e Starling, 2015) apontam para este, a falta de
ruptura entre sistemas e sistemas de dominação, como um dos motivos para a realidade
particular brasileira de desigualdade e todas as suas características.
[3] Sobre o fenômeno do Coronelismo. “Coronel era o ponto mais alto na hierarquia da
Guarda Nacional, a instituição do Império que ligou proprietários rurais ao governo. Com a
República, a Guarda perdeu sua natureza militar, mas os coronéis conservaram o poder
político nos municípios onde viviam. Daí em diante, o coronelismo passou a significar um
complexo sistema de negociação entre esses chefes locais e os governadores dos estados,
e destes com o presidente da República.” Estamos falando de “poderes personalizados e
nucleados, geralmente, nas grandes fazendas e latifúndios brasileiros” (SCHWARCZ e
STARLING, 2015, p. 322)
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[4] Para alguns teóricos, apesar da educação ser considerada um Direito Social, ela, a
educação, é considerada a base para o pleno exercício dos Direitos Políticos, como o voto,
por exemplo. Assim, sem pesarmos de forma maniqueísta ou pautada no senso-comum,
uma sociedade “deseducada” seria uma forma eficiente (e barata) de alienação ou
manutenção do status quo, uma boa referência para os íntimos de George Orwell.
[5] “Ao contrário do que algumas narrativas colocam, o Tenentismo não foi “lindo” ou “puro”,
como a minissérie da Rede Globo colocou: Luís Carlos Prestes como quase um “príncipe”,
pronto para desvirginar Olga Benário. A tática do Movimento era o deslocamento pelo
interior do Brasil, fugindo, assim, da repressão estatal. Não se fala, entretanto, das mulheres
estupradas, dos gados roubados, das despensas saqueadas por onde passaram”.
(BORGES, 2018, s.p).
[6] O Plano Cohen nada mais é do que o bode expiatório para conferir ao Vargas poderes
discricionários e ditatoriais. No Brasil, a “ameaça comunista” é um argumento muito utilizado
para a instalação de regimes ditatoriais (ironicamente, também ditaduras) e a supressão de
direitos, principalmente os civis. Para além do Foro de São Paulo, faz-se necessário
ressaltar que a subordinação, no Brasil, acontece junto aos governos norte-americanos.
[7] Para mais informações, leia Um pouco de ar, por favor!, cap. 2.
[8] Há uma relação direta com a Greve dos Caminhoneiros, que aconteceu no final de maio
de 2018.
[9] Jornada de oito horas (1934 (CF)); regulação do trabalho feminino; salário igual para
homens e mulheres; carteira de trabalho; direito de férias (1933 e 1934); criação de um
salário mínimo (1940); justiça do trabalho (1941); consolidação das Leis do Trabalho (1943).
[10] “O sistema excluía categorias importantes de trabalhadores. Ficaram de fora todos os
trabalhadores rurais”.
[11] A organização sindical foi um arcabouço corporativista. Foi um instrumento. Com a
criação do Imposto Sindical, em 1940, abriu brecha ao peleguismo. Ampliou-se,
enormemente, o número de sindicatos que apenas utilizava da Máquina Pública. A base
operária estava excluída.
[12] Faz-se necessário ressaltar que, por se tratar de um texto que aborda os direitos e
a cidadania em sua essência, tem-se, sim, uma ênfase na Era Vargas.
[13] “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se
desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não
me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que
eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos
econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o
trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao
governo nos braços do povo (…). Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a
espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não
abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada
receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida
para entrar na história.” (VARGAS, 1954, s.p).
[14] JK não tocou nas questões rurais, excluídos do conceito de cidadania.
[15] Aqui cabe um grande parêntese. Para Elio Gaspari, apesar de lutarem contra o Regime
Ditatorial Militar, os grupos paramilitares não lutavam pela retomada da democracia, e, sim,
pela instalação de um Regime Comunista. Para os guerrilheiros, embasados na perspectiva
marxista, a democracia liberal não passava, entre aspas, de um engodo, uma maquiagem:
forma de legitimar a dominação burguesa entre aqueles que eram dominados, os
proletários. Assim, a Ditadura do Proletariado, a qual ouvimos com frequência, dentro da
teoria marxiana, diz respeito ao estágio de transição, de uma sociedade capitalista a uma
sociedade comunista, onde o Estado, ainda necessário, seria controlado pelos proletários,
responsável, agora, pela demolição das estruturas sociais de dominação. Este estágio –
nesta perspectiva – seria rápido, uma transição necessária: o homem caminharia para a
verdadeira história da humanidade, o sentido da história, a gestação do Comunismo [Ver o
verbete Marxismo em Dicionário de Conceitos Históricos]. Note que o termo ‘Ditadura’, para
os guerrilheiros, derivaria do vocabulário político dos romanos. Para os romanos, em uma
época de crise, de ameaça de destruição da ‘nação’ romana, uma pessoa era escolhida, por
um período determinado, e responsabilizada por formular leis que garantiriam a
sobrevivência de todos. É deste estágio, de transição, a que se referia o termo Ditadura do
Proletariado. [Ver a obra Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, capítulo 10, A política
contra a servidão voluntária, especialmente a página 546].
[16] Dentro de um contexto de mudanças, a sociologia do século XXI enxerga a cidadania
como “o direito de ter direitos”. Desta forma, o historiador Jaime Pinsky, no livro A História
da Cidadania, trata-a como “direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a
lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser
votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem
os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o
direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila.”

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