Вы находитесь на странице: 1из 131

1

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Anne Gabriella Salgado Mota

COOPERAÇÃO E CONFLITO: uma análise do Tratado de Cooperação


Amazônica (1978-2008) sobre o discurso e a prática do Desenvolvimento
Sustentável da Amazônia

BELÉM
2010
2

Anne Gabriella Salgado Mota

COOPERAÇÃO E CONFLITO: uma análise do Tratado de Cooperação


Amazônica (1978-2008) sobre o discurso e a prática do Desenvolvimento
Sustentável da Amazônia

Monografia apresentada como parte das


exigências para a obtenção do título de
bacharel em Relações Internacionais pela
Universidade da Amazônia.

Orientador: Prof. Dr. José Gilberto Quintero Torres

BELÉM
2010
3

Anne Gabriella Salgado Mota

COOPERAÇÃO E CONFLITO: uma análise do Tratado de Cooperação


Amazônica (1978-2008) sobre o discurso e a prática do Desenvolvimento
Sustentável da Amazônia

Monografia apresentada como parte das


exigências para obtenção do título de Bacharel
em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. José Gilberto Quintero Torres

Banca Examinadora:

_________________________________________
Prof. Dr. José Gilberto Quintero Torres
Orientador

________________________________________________
Membro

________________________________________________
Membro

Julgado em: ____/____/______


Conceito:______________
4

A meus pais.
5

AGRADECIMENTOS

Sabendo que nenhum ser humano é capaz de sobreviver, crescer e se desenvolver


sozinho, manifesto aqui meu apreço e minha gratidão a todos aqueles que somaram para que este
trabalho pudesse ser realizado com mérito, mas não só e, além disso, obrigada a quem cruzou,
somou e esteve presente nesta trajetória, até aqui. Por certo, todas as pessoas que me são caras
nessa caminhada não caberiam em uma única lauda, logo, em especial:
Deus, a ti meu Pai, toda honra e glória.
Pais (Raimundo, Iaracy e Regina) toda conquista que tive e venha a ter é de vocês. Vovó
Jacydia, obrigada também. A minha madrinha Tacília, à tia Nazaré e à tia Iacy minha gratidão
por me ensinarem a ser guerreira. Aos meus irmãos: Leonardo e Olívia Mota, vocês são paixões
eternas. Tatiane e Thais Reis e Maurício Franco vocês também são o meu lar.
Aos amigos: Alessandra Nunes, Árison Lima, Anderson Don, Evelyn Andrade, Francisco
Elvis, Javier Perla, Marcelo Flores, Nathália Lima, Oswaldo Neto, Paulo Matta e Sâmia
Macaraípe por me fazerem compreender que a amizade é uma dádiva dos céus e por se tornarem
pedaços indispensáveis de mim.
Aos meus colegas de turma, obrigada por me acolherem, a faculdade teve mais graça
porque vocês estavam lá. Mayane Bento, pelo carinho de sempre para revisar o texto.
Ao Professor Gilberto Quintero - meu orientador- obrigada por ter acreditado no
desenvolvimento deste trabalho e depositado sua experiência em meu auxílio.
Aos professores, Franco Valencia Chamba e Wilson Castillo Soto (Universidad Nacional
Agrária de Peru) obrigada por me terem recebido num momento tão especial para minha vida
acadêmica, de modo tão solícito e disposto a ensinar e compartilhar.
Professor Coracy Sabóia Dias obrigada por se feito presente, como professor e amigo.
6

RESUMO

Este trabalho trata da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), desde a


assinatura do referente tratado em 1978, por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru,
Suriname e Venezuela, com o propósito de analisar a importância do Organismo Multilateral
para a promoção do Desenvolvimento Sustentável da região, discutindo a relação: Países
Soberanos - OTCA - Cooperação Internacional, de modo a edificar questões que favoreçam e/ou
entravem o alcance deste fim, com base nas perspectivas dos principais atores envolvidos na
temática do Desenvolvimento Sustentável amazônico. Realizado por meio de revisão
bibliográfica que trata do TCA, considera a evolução histórico-institucional do acordo e seus
mecanismos até a transformação em Organização Internacional. Faz-se também uma
caracterização geral, contextualizando a problemática e potencialidade das realidades
amazônicas, ressaltando sua heterogeneidade. Expõe fatos que revelariam alguns interesses e
mecanismos da geopolítica internacional, explica o aspecto teórico do Desenvolvimento
Sustentável em nível acadêmico e procura conhecer a política do Estado brasileiro para a região,
com vistas a estabelecer um elo referencial sobre as propostas para a região, comparando-as com
a ação da OTCA. Por fim se analisam os programas desenvolvidos pela Organização,
identificando de que forma e em qual nível a mesma vem realizando uma ação afirmativa de
governança regional para o Desenvolvimento Sustentável. A pesquisa revela a participação dos
atores internacionais nas políticas regionais como um fato admitido e velado na globalização,
também em relação ao tema ambiental e demonstra a necessidade de a Instituição lograr melhor
articulação e proposição de uma agenda que contemple o Desenvolvimento em sua
multidimensionalidade, para que então se faça cumprir a premissa presente desde 1978:
colaborar para a melhoria na qualidade de vida da população amazônica.

Palavras chave: Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. Cooperação Internacional.


Geopolítica. Desenvolvimento Sustentável. Soberania. Amazônia.
7

RESUMEN

Este trabajo trata de la Organización del Tratado de Cooperación Amazónica desde la firma
del mismo tratado en 1978, por Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, Surinam y
Venezuela, con el fín de analizar la importancia del organismo para la promoción del
Desarrollo regional, discutiendo la relación: Paises Miembros – OTCA - Cooperación
internacional, para construir los factores que ayudan y/ó dificulta el logro de este objetivo,
basado en las perspectivas de los principales actores involucrados en el desarrollo sostenible
de Amazonia, más cerca. Interpretada por revisión bibliográfica del TCA, considera la
evolución histórica del acuerdo institucional hasta su transformación en organización
internacional. Apresenta también una caracterización general del contexto de las
potencialidades y problemas de las realidades amazônicas, em su heterogeneidad. Expone
hechos que muestran algunos intereses y mecanismos de actores internacionales, explica el
aspecto teórico del desarrollo sostenible en el nivel académico y la demanda para conocer la
política de estado brasileño para la región, para establecer un vínculo referencial sobre las
propuestas para la región, comparándolas con la acción de OTCA. Finalmente si analizan los
programas desarrollados por la organización, para evaluar em qué nivel OTCA está realizando
una gobernanza regional de acción afirmativa para el desarrollo sostenible. La investigación
revela la participación de actores internacionales en las políticas regionales como um hecho
de la globalización y demuestra la necesidad de la institución lograr mejor articulación para
cumprir um modelo de desarrollo propio, multi-dimensional para lograr la premisa de 1978:
colaborar para mejorar la calidad de vida de la población amazónica.

Palabras clave: Organización del Tratado de Cooperación Amazónica. Cooperación


Internacional. Geopolítica. Desarrollo Sustentable. Soberanía. Amazonía.
8

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABCI – Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica


ALALC – Associação Latino-Americana de Livre-Comércio
ALADI – Associação Latino-Americana de Desenvolvimento Integrado
ALB – Amazônia Legal brasileira
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento
CCA – Conselho de Cooperação Amazônica, órgão TCA
CAF – Corporação Andina de Fomento
CEs – Comissões Especiais, órgão TCA
CIR – Conselho Indigenista Roraimense
CIJ – Corte Internacional de Justiça
CIMI – Conselho Indigenista Missionário, atrelado à igreja católica do Brasil
CNPs - Comissões Nacionais Permanentes, órgão TCA
CMMAD – Comissão Mundial para o Meio Ambiente
CNUMAD/ECO-92 – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento Humano
DGIS – Diretoria Geral dos Países Baixos de Cooperação para o Desenvolvimento
FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
FAO – Programa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
FONPLATA – Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata
GEF- Fundo Global para o Meio Ambiente
GTZ – Agencia de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento
IBGE – Instituto brasileiro de Geografia e Estatística
IIHA – Instituto Internacional da Hiléia Amazônica
IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
INRENA – Instituto Nacional de Recursos Naturais (Peru)
IRD – Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento
MRE – Ministério das Relações Exteriores, Brasil
OI – Organização Internacional
9

OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica


ONU – Organização das Nações Unidas
OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde
PPG7 - Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
PNUD – Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento
UNAMAZ – Associação das Universidades Amazônicas
RMRE – Reunião de Ministros de Relações Exteriores, órgão TCA
SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia
SELA – Sistema Econômico Latino-Americano
SIAMAZ - Sistema de Informação Amazônica
SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
SUFRAMA – Superintendência da Zona Franca de Manaus
TCA – Tratado de Cooperação Amazônica
TIRSS – Reserva Indígena Raposa Serra do Sol
USAID – Agência de Cooperação dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
10

ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS, MAPAS E TABELAS

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 Categorias de Serviços oferecidos pelos Ecossistemas...............................................30

Quadro 2 Mercado potencial para os Serviços Ambientais......................................................54

Quadro 3 Taxonomia para a valoração dos recursos ambientais..............................................55

Quadro 4 Organograma da Secretaria Permanente da OTCA..................................................82

Quadro 5 Acompanhamento do cumprimento das Resoluções das Reuniões de Ministros

de Relações Exteriores da OTCA.............................................................................................94

Quadro 6 Fluxograma do Plano estratégico............................................................................100


Quadro 7 Matriz Lógica do Plano Estratégico da OTCA.......................................................101

ÍNDICE DE MAPAS

Mapa 1 Amazônia Continental................................................................................................25

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 Proporções e dimensões da Amazônia Continental...................................................24


11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................13
1. O PROJETO.....................................................................................................................14
1.1. ABORDAGEM DO PROBLEMA....................................................................................14
1.2. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA..................................................................................17
1.3. OBJETIVOS......................................................................................................................17
1.3.1. Objetivo geral................................................................................................................17
1.3.2. Objetivos específicos....................................................................................................17
1.4. METODOLOGIA..............................................................................................................18
1.5. JUSTIFICATIVA...............................................................................................................18
1.6. LIMITAÇÕES DA PESQUISA.........................................................................................20
2. MARCO CONCEITUAL..................................................................................................21
2.1 AMAZÔNIA: CARACTERIZAÇÃO GERAL..................................................................21
2.1.1. Extensão territorial.......................................................................................................21
2.1.2. Biodiversidade e potencial econômico.........................................................................25
2.1.3. População e políticas de ocupação...............................................................................30
2.1.4. Geopolítica e ameaças comuns.....................................................................................34
2.1.4.1. Geopolítica internacional.............................................................................................35
2.1.4.2. Geopolítica regional.....................................................................................................41
2.1.4.2.1. Baixa densidade demográfica e debilidade estrutural.........................................41
2.1.4.2.2. Narcotráfico e Crime Organizado.........................................................................42
2.1.4.2.3. Conflitos internos....................................................................................................43
2.1.4.2.4. Militarismo estrangeiro na região.........................................................................44
2.1.4.2.5. Reservas indígenas em zonas de fronteira...........................................................45
2.1.4.2.6. Insuficiente presença Estatal e débeis instituições políticas locais.....................47
2.2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: DEFINIÇÃO E ESTRATÉGIAS.............48
2.3. A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO BRASILEIRO PARA
A AMAZÔNIA.........................................................................................................................59
3. MARCO HISTÓRICO CONTEXTUAL: DE TRATADO À ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL................................................................................................................63
3.1. RETROSPECTIVA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE OS PAÍSES
AMAZÔNICOS........................................................................................................................63
3.2. NEGOCIAÇÃO E FORMAÇÃO DO TCA......................................................................66
12

3.3. ANÁLISE NORMATIVA DO TRATADO......................................................................69


3.4. EVOLUÇÃO INSTITUCIONAL, A TRANSIÇÃO PARA OTCA...............................74
3.4.1. Estrutura Institucional................................................................................................80
4. A OTCA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL..............................................83
4.1 PERFIL, BALANÇO INSTITUCIONAL E O PAPEL DO BRASIL...............................83
4.1.1 A OTCA sob três perspectivas......................................................................................83
4.1.2 A liderança do Brasil.....................................................................................................86
4.1.3 Balanço Institucional: 2004 – 2008...............................................................................88
4.2 A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA OTCA:
DEFINIÇÃO E ESTRATÉGIAS...........................................................................................96
4.2.1 Plano Estratégico (entre 2004 e 2008)........................................................................99
4.2.2 Programas de Intervenção..........................................................................................103
4.2.2.1 Fortalecimento da Gestão Regional Conjunta para o Uso Sustentável
da Biodiversidade Amazônica................................................................................................103
4.2.2.2 Manejo Integrado e Sustentável dos Recursos Hídricos Transfronteiriços na
Bacia do Rio Amazonas..........................................................................................................104
4.2.2.3 Uso Sustentável e conservação dos bosques e da biodiversidade na
região amazônica.....................................................................................................................105
5 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS........................................................................111
CONCLUSÕES.....................................................................................................................117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................119
ANEXO 1: TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA.........................................124
ANEXO 2: PROTOCOLO DE EMENDA AO TCA.........................................................131
13

INTRODUÇÃO

A Sustentabilidade do Desenvolvimento é proposta neste trabalho como a melhor


possibilidade de inserção positiva dos países amazônicos no cenário da globalização. Frente a
esta hipótese, convém analisar de que forma e com quais perspectivas avançam os esforços
dos países amazônicos em promover este paradigma. Para isso, o foco da pesquisa foi
direcionado à revalorização do Tratado de Cooperação Amazônica, quando transformado em
Organização Internacional.

Para alcançar o objetivo geral de responder quais são os fatores e condições que
dificultam a promoção do Desenvolvimento Sustentável da Amazônia pela OTCA, buscou-se
realizar: uma caracterização da região, em toda sua heterogeneidade, potencialidade e
vulnerabilidades; um apanhado histórico desde a formação do Tratado em 1978 até sua
transformação em Organização do Tratado de Cooperação Amazônica; e, aprofundar as
definições e estratégias consideradas para o Desenvolvimento Sustentável, em três esferas: da
sociedade civil, do Estado brasileiro e pela OTCA, de modo a estabelecer um elo comparativo
e referencial para análise dos trabalhos e intentos da Organização. Para a realização deste
estudo, utilizou-se o método analítico-crítico a partir de uma pesquisa qualitativa.

Quanto à organização, no primeiro capítulo será apresentado o projeto de pesquisa, de


forma a prover melhor entendimento das intenções iniciais do mesmo e possibilitar a
comparação com os resultados obtidos. O segundo, abordará a caracterização da região, nos
âmbitos em que convêm ao propóstio deste estudo: definição, dimenção, caracterização geral
dos aspectos sociais, ambientais, geopolíticos e econômicos. E, os dois primeiros pontos de
referência ao que concerne ao Desenvolvimento Sustentável - apontamentos da sociedade
científica e acadêmica e, as políticas do Estado brasileiro.

O capítulo três trará o histórico de formação do Tratado até sua conformação em


Organização Internacional. Em seguida, a abordagem da OTCA diante da proposta de
Desenvolvimento Sustentável, inclui: a análise do Plano Estratégico e dos programas de
intervenção da instituição. Para então, no quinto e último capítulo realizar a análise e a
discussão dos dados mais relevantes apresentados neste estudo, cujo capítulo oferecerá as
bases para as conclusões da pesquisa.
14

CAPÍTULO I

1 O PROBLEMA

1.1. ABORDAGEM DO PROBLEMA

A partir da segunda metade do século XX, os cientistas passaram a alertar a sociedade


sobre os aspectos adversos da ação humana sobre o meio ambiente, cujos efeitos negativos se
voltariam contra a própria qualidade de vida do homem. O debate sobre uma consciência
ambiental começou a formar um processo crítico conjunto; por conseguinte, a questão tomou
a esfera política e foi levada à Reunião da Assembléia Geral das Nações Unidas em 1968, que
decidiu pela resolução nº 23/68 convocar a primeira Conferência Internacional sobre o Meio
Ambiente.

Em 1972, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente


Humano (CNUMAD) contou com a presença de 113 países e marcou paralelamente, a
institucionalização do tema ambiental como questão de relevância na agenda global. Desde
então, a Floresta Amazônica assumiu papel como um grave problema geopolítico
internacional por diversas razões: pela singular concentração de riquezas naturais, pela
importância como sumidouro de gases tóxicos que provocam o efeito estufa e pela rápida
devastação e degradação da floresta.

A delegação brasileira na reunião de Estocolmo, chefiada pelo Ministro do Interior


General Costa Cavalcanti propôs o Rio de Janeiro (RIO-92) para a realização da próxima
reunião, como demonstração de que o Brasil estava disposto a dialogar - uma ação afirmativa
para responder diplomaticamente sobre as discussões e indagações já levantadas sobre a
conservação da Amazônia (ANTIQUERA, 2006).

Deste modo, a mundialização do tema ambiental toma forma e operacionalidade via


ONU, com a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, incumbidos de realizar estudos globais sobre o
tema, avaliando suas implicações sobre a vida humana.
15

Na década seguinte, a ONU intensificou o estudo acerca da temática ambiental, que


resultou, em 1987, por esforço de mais de 890 colaboradores no relatório „Nosso Futuro
Comum‟, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Presidida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland, o informe trazia o conceito norteador
sobre o paradigma do Desenvolvimento Sustentável e conclamava os Estados a trabalharem
em conjunto pelas condições de habitabilidade no planeta.

Embora seja inerente a relutância dos Estados Nacionais (sobretudo dos países
centrais) em acatar compromissos ambientais que viriam a afetar suas economias em curto
prazo, na virada do século o debate jurídico na ONU acerca da questão ambiental recebe o
teor teórico e científico de urgência em garantir condições de sobrevivência no planeta. As
mudanças climáticas levariam a uma série de questões de segurança, de caráter
interdependente e com esta justificativa, é inviável não pensar na Amazônia sem considerar a
o tema e o cenário global que a envolvem.

Neste prisma, a justificável preocupação primeira do Estado Brasileiro frente à questão


foi garantir a soberania e defesa sobre a região norte de seu país, responsável por 60% do
território nacional1 (na forma de Amazônia Legal brasileira2), ameaçada por discursos
públicos e projetos de ingerência internacional. Este momento, contextualizado pelas pressões
internacionais e pela necessidade de garantir a soberania nacional, traduziu-se internamente
pelas estratégias de ocupação, por quais passavam a maioria dos Estados Amazônicos a partir
dos anos 70.

No plano internacional, o Brasil liderou um processo de negociação com os vizinhos


setentrionais a fim de formular um mecanismo conjunto de garantia soberana sobre a região
amazônica. O resultado foi o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), assinado em três de
julho de 1978, um acordo-quadro que acerta o compromisso de utilizar a singularidade
geográfica amazônica em favor do desenvolvimento, como ponto de partida para promoção da
elevação do nível de vida das populações locais (ANTIQUERA, 2006).

1
Dado referente ao conceito de Amazônia Legal brasileira (ALB), cuja área é de 5.109.812 km2 (fonte:
www.ibama.gov.br).
2
Conceito político criado em 1953 e reinventado em 1966, ampliando o território. Hoje caracterizado pelos
estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do estado do
Maranhão (localizada a oeste do meridiano 44) fonte: www.ada.gov.br e ARAGÓN, 2002.
16

É válido reconhecer o pioneirismo deste acordo multilateral, por associar meio


ambiente e desenvolvimento, anos antes da definição oficial do “Nosso Futuro Comum”, mas
também pelo mérito diplomático ao lograr um marco multilateral de cooperação, quando
todos os países envolvidos – à exceção do Brasil - apresentavam conflitos bilaterais
transfronteiriços.

Apesar disso, o TCA rendeu décadas sem ações efetivas até propriamente o início do
século XXI, com a criação de uma Secretaria Permanente, em 2004, como mecanismo
facilitador da cooperação e governança das questões comuns.

Didaticamente, a implantação deste acordo passou por quatro fases: (a) de inatividade
até 1989, que terminou com o início da gestação de ferramentas operacionais do Tratado
como o estabelecimento da UNAMAZ, (b) incentivo e fortalecimento político, de 1989 a
1994, em que foram renovados os compromissos do TCA, e que contou com a participação
coordenada dos países membros na CNUMAD e a ativação das Comissões Especiais do
Tratado, (c) a fase de consolidação (1994-2002), quando foi criada a Secretaria Permanente, e
(d) por fim, de institucionalização da Secretaria Permanente, como mecanismo operacional,
quando foi aprovado o Plano Estratégico em 2004, cujo planejamento e execução foi/é
orientado por mandatos específicos dos Ministros das Relações Exteriores (QUIROGA, 2003
et KILCA, 2007).

Sediada em Brasília, a Organização reconhece a necessidade do apoio da comunidade


internacional e negocia o financiamento e a execução de seus programas com agências de
cooperação e fomento internacional, bem como busca a aproximação nos organismos
multilaterais regionais e apoio na cooperação técnico-científica.

De maneira ampla, a situação-objeto deste estudo se enquadra sob uma complexa rede
geopolítica internacional, articulada sob interesses diversos, desde o preservacionismo
extremo e a aquisição dos bens naturais para conformação de commotidies até a discussão
sobre as condições de habitabilidade no planeta, porém, qualquer proposta toma como
imperativo a preservação e manutenção do bioma.

Em conformidade ao que consta expresso no acordo constitucional, garantir

desenvolvimento pautado no equilíbrio ambiental seria a melhor resposta às pressões

internacionais e o melhor respaldo às soberanias dos países signatários sobre sua imensa
17

riqueza natural. Sob este aspecto, compreender os fatores que levaram à formação, estagnação

e em seguida à retomada e atuação do Pacto Amazônico por meio da OTCA, no que concerne

ao objetivo final do Desenvolvimento Sustentável regional é o direcionamento desta pesquisa.

1.2. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Determinação das condições e fatores que entravam a promoção do Desenvolvimento


Sustentável regional pelos Países Amazônicos desde a assinatura do Tratado de Cooperação
Amazônica em 1978.

1.3. OBJETIVOS

1.3.1. Objetivo geral:

Determinar situações e deficiências nos mecanismos de atuação da Organização do


Tratado de Cooperação Amazônica que dificultam a implantação de políticas de
desenvolvimento regional sustentável da Amazônia.

1.3.2. Objetivos específicos:

I Conhecer as origens da formação do Pacto Amazônico

II Analisar os princípios e a evolução histórico-institucional do TCA.

III Analisar o papel do Brasil em termos de liderança na Cooperação Regional.

IV Conhecer as políticas públicas de desenvolvimento do Estado Brasileiro para a região,


identificando possíveis conflitos e deficiências no âmbito doméstico.

V Analisar parcial e estritamente o plano estratégico 2004-2012 da OTCA.


18

1.4. METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em dois momentos: o primeiro, pela revisão bibliográfica e
documental da literatura relacionada, utilizando o método dedutivo; e, tão logo, pela produção
empírica, fruto da observação e análise qualitativa – crítica- dos dados obtidos (históricos,
teóricos e fatos político-estratégicos) como método de procedimento: atuação e dinâmica dos
atores; análise das ações concretas da organização; inserção de dados sobre os resultados
alcançados ou pendentes; as prioridades da agenda temática; análise dos fundamentos legais
que a constituem; entre outros, os fatos que norteiem o foco desta pesquisa, dentro de um
cronograma esperado.

1.5. JUSTIFICATIVA

Com aparecimento historicamente recente, o discurso do Desenvolvimento


Sustentável é ainda difuso e direcionado em função dos interesses de seus agentes e público-
alvo. Porém, parece ser a primeira vez que a Economia tem a tarefa de preocupar-se com a
construção de uma teoria para formação de um modelo de desenvolvimento encarregado das
externalidades do sistema econômico, quando antes, esta se dedicava apenas em explicar, sob
modelos econômicos fechados, o que naturalmente a evolução capitalista ia construindo como
parâmetros de desenvolvimento, a partir da suposição de crescimento infinito.

Os países que melhor dominavam e administravam os fatores de produção (geralmente


alheios), naturalmente desbravavam suas estratégias de crescimento econômico. A Era da
agricultura, do Comércio (mercantilismo), da Indústria (a primeira revolução no século
XVIII) e agora, no século XXI, eles – os países centrais- nos mostram o caminho da Era do
Conhecimento. Todos estes processos, porém, ocorreram espontaneamente à evolução do
sistema Capitalista, e logo, dos países mais aptos para liderá-la. Basta ver que a Inglaterra
levou um século se aventurando pela industrialização para então exportar para o mundo, o
modelo industrial de desenvolvimento econômico, a partir do século XIX.

É de acordo a esta síntese que se afirma que, deve-se pensar dentro desta Era de
transição para a Idade do Conhecimento, em como produzir um modelo de Desenvolvimento
que contemple: preservação ambiental, incremento de renda, crescimento econômico e, justiça
19

social. Este é um foco para o qual a Sociedade ainda não está devidamente amadurecida para
compreender. O problema é que as Mudanças Climáticas no planeta e a própria opinião
pública internacional não permitirão mais cem anos de crescimento desenfreado ou
exploração predatória, como foi do século XIX ao XX, sem anterior racionalização dos
impactos sócio-econômicos.

Os países periféricos do trópico úmido, em especial aqueles detentores de território


amazônico, não foram tão bem sucedidos, neste processo de globalização, e por isso, devem
ser os mais interessados no debate, com vistas de que vivem ainda o momento histórico de
construir um novo projeto de sociedade, da real possibilidade de converter desenvolvimento
com inovação, agregando os aspectos citados. Caso contrário, perderão o „tempo histórico‟ e a
região, novamente, sucumbirá aos projetos e soluções exógenas, que não dão conta das
especificidades internas, trabalhando o que deveria ser um projeto de visão holística e
integrada, de maneiras isoladas: ou se têm o crescimento econômico, ou a conservação
ambiental.

Na Amazônia vivem cerca de 30 milhões de pessoas e este é um fato tão importante


quanto à grandiosidade dos números acerca da biodiversidade e da fisiografia regional. O
território amazônico é rico em especificidades, ao mesmo tempo em que, como bloco
geográfico, compartilha as problemáticas em razão da interdependência das condições de
vida, conforme se expõe a seguir.

Por certo, o derretimento dos glaciais tropicais influencia não só na dinâmica da


população andina mais próxima, como também trará resultados às populações da foz do rio
Amazonas. De modo semelhante ocorre com as redes ilegais transfronteiriças, que,
espalhando-se, difundem ainda mais as questões da sociedade periférica. Ambos os
fenômenos não respeitam limites territoriais políticos e justificam, em termos de segurança
humana, a real necessidade de pensar e avaliar estratégias de desenvolvimento pautadas na
governança coletiva dos países soberanos da região.

Com a análise deste objeto de pesquisa espera-se obter um estudo pontuado, que sirva
como fonte para avaliação e continuidade revisada da atuação da instituição, em um momento
em que se discute internamente a elaboração do próximo plano estratégico que orientará as
ações da OTCA.
20

1.6. LIMITAÇÕES DA PESQUISA

O desenvolvimento desta investigação apresenta os seguintes obstáculos:

I A indisponibilidade de tempo que impediu a realização de pesquisa de campo com a


elaboração de entrevistas aos membros diretamente envolvidos no tema do estudo.

II A complexa dimensão territorial e geopolítica da Amazônia, a qual limita neste estudo, o


aprofundamento da análise das realidades nacionais da região, limitando também a análise
política sobre a atuação dos Estados Signatários (que não o Brasil) quanto a sua postura e
ação sobre suas respectivas parcelas deste espaço.
21

CAPÍTULO 2

2. MARCO CONCEITUAL

2.1. AMAZÔNIA: CARACTERIZAÇÃO GERAL

2.1.1. Extensão territorial:

Pan-Amazônia, Amazônia Continental, Amazônia Geopolítica, Amazônia Sul-


americana. Estes são alguns dos termos que se referem à unidade compartilhada por nove
países, cuja delimitação geográfica não encontra critérios consensuais e mesmo para cada
critério é possível encontrar controversas entre os autores. Os números variam entre 5,9 e 7,9
milhões km², segundo o método utilizado (BRACK EGG,1996). Neste trabalho, a expressão
„Amazônia‟ servirá para referenciar toda esta macro região, no sentido de abordá-la enquanto
unidade, logo, quando houver citação a alguma realidade nacional, o termo Amazônia será
acompanhado do nome do país em questão.

Os principais critérios para definição da totalidade amazônica são: hidrografia,


ecossistema e, o aspecto normativo ou legal. Nelson de Figueiredo Ribeiro (2006) afirma que,
devido à impossibilidade de julgar a dimensão territorial da região apenas pelo critério
hidrográfico ou florestal, o TCA baseou-se em um mix de condicionantes que resultou numa
configuração geopolítica, conforme descrito no artigo segundo, do mesmo tratado:

O presente Tratado se aplicará nos territórios dos países contratantes na bacia


amazônica, mas também em qualquer território de uma parte Contratante, que, por
suas características geográficas, ecológicas ou econômicas se considere
estreitamente vinculado à mesma (MRE, 1978).

Portanto, para efeitos geopolíticos constituem a Amazônia: os seis países que


compõem a bacia hidrográfica do rio Amazonas e todos os seus afluentes (o Brasil e os
vizinhos andinos: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) e, aqueles da área de
22

fronteira caribenha em que há predominância da hiléia (confrome o critério do ecossistema),


Suriname e Guianas3.

Porém, cada país escolheu critérios e variáveis diversas para delimitar a extensão e as
características de sua área amazônica e, com estatísticas não convergentes é difícil formular
propostas comuns. Inclusive dentro de cada país é possível encontrar divergências nos dados.
No Brasil, que é o país mais influente na cooperação entre os vizinhos em questão, “os dados
sobre a Amazônia não são de fácil acesso e muitas vezes, incompatíveis” (ANTIQUERA,
2006, p.137). Ainda mais preocupante é saber que a zona rural de seis dentre os oito estados
da Amazônia Legal Brasileira foi excluída em grande parte da avaliação de indicadores sobre
os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM‟s) no país, porque não se dispunha de
dados4.

Luis Aragón alerta sobre a necessidade de visualizar as dimensões da Amazônia como


um fator importante para determinar políticas de desenvolvimento, pois “independentemente
do fator considerado, a porção de cada país na Amazônia e a porção da Amazônia em cada
país variam consideravelmente” (ARAGÓN, 2002, p.3). Assim, se o estado do Amazonas (o
maior da Amazonia Legal brasileira, com 1.570.745,680 km²) é maior também, que a área
total de qualquer um dos sete vizinhos de Tratado, a conclusão é óbvia: não é o mesmo
desenvolver políticas públicas na Amazônia brasileira ou na porção do escudo das guianas,
em que Suriname e Guiana são países inteiramente amazônicos. “Essas realidades são
desafios que demandam se equacionar corretamente quando se trata de desenvolver políticas
macrorregionais ou internacionais”5.

Ter em vista fatos como este leva o leitor à maior compreensão sobre as dificuldades
da cooperação intra-regional a serem tratadas mais adiante, pois já se torna evidente que o
valor de importância atribuído a cada parcela da região não é uniforme, em função da

3
Embora exista extensão de selva amazônica na Guiana Francesa, este território não pôde incorporar o TCA,
pois não é um país soberano e sim, um território ultramarino francês e, portanto, participa como observador na
instituição. A frança foi convidada a incorportar o acordo, mas não aceitou firmá-lo. (Informe verbal – Prof. Raul
Sarmento
4
Os estados, cujas zonas rurais foram excluídas da avaliação foram: Acre, Roraima, Rondônia, Amazonas, Pará
e Amapá. Em seminário de apresentação do relatório, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA)
informou que a partir de 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizaria as referidas
zonas no Censo base do país. Ver: BRASIL, Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - Relatório Nacional de
Acompanhamento. Brasília: Ipea, 2010.
5
Ibid (ARAGÓN, 2002)
23

dimensão geográfica, da população atingidada e das potencialidades distintas em cada país,


isto sem citar a própria caracterização natural – heterogênea em si mesma. Toda a região
constitui cerca de 2/5 (40%) do território da América do Sul, segundo a OTCA e, em
princípio, é por isso, indispensável para a integração e o desenvolvimento continental. Um
desafio que deveria interessar em primeira instância ao Brasil, o maior e mais influente país
da América do Sul, detentor da maior parcela de região Amazônica.

Com o objetivo de conformar uma rede de dados mais harmônica sobre a Amazônia, a
OTCA estabeleceu convênio com o Centro Comum de Investigação da Comissão Européia
(CCI) em 2005, que por sua vez solicitou ao Instituto do Ambiente e do Desenvolvimento
Sustentável, um estudo sobre a dimensão geográfica da região6. O resultado foi baseado em
três critérios: (1) o hidrográfico - extensão total das bacias do Rio Amazonas e Tocantins; (2)
o ecológico - que agrega várias sub-regiões e diferente eco-regiões ao critério anterior; (3) o
biogreográfico, que complementaria os outros dois. Por esta análise a área total da região
Chegou à área total de 7.590.083 km².

Entenda-se, porém, que “não existe uma definição universal para a Amazônia”, é o
fato ressaltado no relatório „GEO Amazônia‟ apresentado em 2008, que baseado em
informações geoespaciais, referente a critérios físicos, ecológicos e legais ou político-
administrativos, gerou um mapa composto da região: a Amazônia Maior (8.187.965 km2) e a
Amazônia Menor (5.147.970 km2)7. Mas estar ciente tanto desta impossibilidade quanto da
divergência entre os indicadores é importante para nortear ações globais para a região.

6
Embora importante, a definição da pesquisa do CCI, não possui caráter jurídico, na medida em que não
substitui as definições nacionais existentes. O acordo também abarcava questões como indicativos populacionais
e, estimativa do balanço de carbono da Amazônia, para ter em conta nos estudos sobre mudanças climáticas. Ver
mais em: Comissão Européia institui parceria científica com Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
(10 mai 2006). Disponível em: <http://www.carloscoelho.eu/ed/files/IP-06-598%20amazon%20PT.pdf>.
Acessado em: 15 de mar 2010.
7
Matéria: Minc destaca ações do governo brasileiro contra o desmatamento na Amazônia (19/02/2009).
Disponível em: <http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=301334>. Acesso em: 02 abr 2010.
24

Tabela 1: Proporções e dimensões da Amazônia Continental

Bacia
Hiléia TCA
Hidrográfica
País Área total
do país %/ %/ Área da % área % área
Critério
Total total Amazônia amazônica amazônica
país país usado
nacional no TCA /país

Brasil 8.514.876 4.984.361 59% 3.540.000 42% 5.217.423 Legal 69% 61%

Peru 1.285.216 762.400 762.400 762.400 Hidrográfico


59% 59% e florestal 10% 59%

Bolívia 1.098.581 600.000 55% 490.000 45% 600.000 Hidrográfico 8% 55%

Colômbia 1.141.748 336.583 29% 476.395 42% 403.350 Legal 5% 35%

Guiana 215.000 -- -- 161.250 75% 161.250 Florestal 2% 75%

Equador 283.561 130.000 130.000 130.000 Hidrográfico


46% 46% e florestal 2% 46%

Venezuela 912.050 51.000 6% 259.000 28% 51.000 Hidrográfico 1% 6%

Suriname 163.820 - 104.572 64% 142.800 Florestal 2% 87%

TOTAL - 6.864.344 - 5.762.367 7.521.973 ----- 100% -----

A Guiana Francesa, embora não faça parte do Tratado de Cooperação Amazônica é um território 100% amazônico,
com dimensão de hiléia (91.000 km²) equivalente à própria dimensão territorial do país.

Fonte: RIBEIRO (2006) et FILHO (2006) apud PIEDRA-CALDERÓN (2007). Elaborado por Anne Gabriella
Mota
25

Mapa 1 Amazônia Continental

2.1.2 - Biodiversidade e Potencial Econômico

Embora os mitos sobre a região a tenham caracterizado por muito tempo, como um
grande e homogêneo „inferno verde‟ de „vazio demográfico‟, diversidade é a palavra-chave
para dar início a uma apresentação acertada sobre a Amazônia.

Deve-se perceber que a região é composta por nove Amazônias distintas, organizadas
em uma infinidade de ecossistemas, devido ao gradiente Altitudinal da Cordilheira Andina, da
26

qual se forma a cabeceira do rio Amazonas8. As águas lançadas ao oceano Atlântico, até que
cheguem à foz convivem com uma mudança geomorfológica que cria condições excepcionais
de biodiversidade. A análise do Ecólogo Dr. Antonio Brack Egg9, dá-nos idéia desse
apontamento:

Há uma grande variedade de formações geológicas de leste a oeste, dos Andes à foz
do [rio] Amazonas e de Norte a Sul, desde o maciço guyanense até o Grande
Chaco. Variedade de tipos de clima, desde os picos andinos até o Vale Central; das
chapadas do Norte até as savanas ao Sul, com enorme influência sobre os solos, a
flora, a fauna e as atividades humanas. Os solos são tremendamente variados a
nivel local e geral pelas precipitações, assim como as flutuações e condições de
navegabilidade dos rios, os processos geológicos e a topografia da região.
Variedade de tipos de água desde as negras, muito pobres em nutrientes e ácidas, as
cristalinas, variáveis em nutrientes e acidez, até as turvas, carregadas de nutrientes e
que fluem dos Andes, cheias de sedimentos. Variedade de formações vegetais como
os bosques tropicais chuvosos densos; as savanas; os cerrados; as várzeas ou zonas
inundáveis; os bosques de neblina das encostas orientais andinas; as ilhas de
chapadas - cheias de endemismos e totalmente isolados do entorno, etc. Milhares de
espécies de plantas e animais dos bosques, savanas, dos rios, lagos, pântanos,
mangues, cerrados e chaparrais, entre outros.

A Amazônia constitui a maior bacia hidrográfica do mundo: mais de sete mil


afluentes, cerca de 20% da água doce em forma líquida disponível no globo e o maior aqüífero
do mundo em volume de água10. Os rios se organizam como um labirinto de canais, formando
inúmeras ilhas, sendo a maior e mais importante o arquipélago do Marajó11, localizada na foz
do rio, em território brasileiro, com extensão de 50 mil km². O potencial hídrico, enquanto
valor indispensável para existência e equilíbrio da vida, mas também como fonte energética –
devido os isótopos de hidrogênio - ainda não recebeu solução nos países amazônicos. Alemanha
e Estados Unidos têm avançado bastante neste foco e, no âmbito dos mercados de recursos
naturais, o dos recursos hídricos é o mais atrasado (BECKER,2005).

8
O rio Amazonas propriamente dito, forma-se na confluencia do rio Marañón com o rio Ucayali, no territorio
peruano. Atravessa o Brasil (onde se denomina Solimões ao tramo compreendido entre dita confluencia até
Manaus) e desemboca no Atlântico, formando um Estuário. Seus principais afluentes são os rios: Juruá, Purús,
Madeira, Tapajós e Xingú, pela margem direita. Napo, Japurá e Negro, pela esquerda. (OCEANO UNO
Diccionario Enciclopédico Ilustrado. EDITORIAL OCEANO, S.L, 1993)
9
BRACK Egg, Antonio. Medio Ambiente, Economia y Vialidad en la Amazonia Peruana: Panorama
General de la Cuenca Amazónica. Disponível em:
<http://archive.idrc.ca/library/document/101488/chap2_s.html>. Acesso em: 10 jan 2010.
10
Recém descoberto por pesquisadores da Universidade federal do Pará, o aqüífero Alter do Chão (nome ainda
provisório) é inteiramente brasileiro. Ver: www.ufpa.br/noticias
11
Informação disponível em: <http://www.museudomarajo.com.br>. Acesso em: 1 mar 2010.
27

Tanto volume de água figura às populações locais a imagem de abundância, traduzida


em desperdício e mau uso. Paradoxalmente, saneamento básico e acesso à água potável com
qualidade são graves problemas locais; na região metropolitana de Belém, por exemplo, há
apenas 6% de esgoto tratado, todo o mais é lançado nos rios, feito fossas12. Seja sob a
perspectiva das mudanças climáticas e segurança ambiental ou sob a ótica da segurança humana
é de consenso que a gestão adequada dos recursos hídricos é um dos desafios geopolíticos do
século XXI, à medida que podem envolver relações de conflito, pelo recurso vital. Completa
Aragón (2002): “Na Amazônia, a água é, realmente, como afirmava da Vinci, o „condutor da
vida‟; sua escassez, contaminação ou manejo inadequado geraria distúrbios ecológicos,
econômicos e ambientais imprevisíveis, e efeitos desastrosos para a saúde humana”.

Da floresta, quando se diz Amazônia, trata-se da massa de bosques tropicais contínua


mais extensa do planeta. O bioma é responsável por uma série de serviços ambientais13,
indispensáveis para o equilíbrio da vida local e também importante para a Comunidade
Internacional, dada a enraizada interdependência ambiental, admitida no globo.

Por esses e dentre outros tantos registros que, cinco dentre os 17 países megadiversos14
do mundo são amazônicos e “para que não restem dúvidas quanto à importância dessa
biodiversidade, um quarto de todos os medicamentos modernos tem sua origem nas florestas
tropicais” (TILIO, 2003, p.85). Dentre outros exemplos, é o último lugar do mundo, onde
novas espécies de mamíferos ainda são descobertas.

Juntos, os países andino-amazônicos, entre Venezuela e Bolívia ocupam 3% da


superfície do planeta e compartilham 25% de toda sua biodiversidade, sendo a maior existente
de fauna terrestre e aves. Aí também está a superfície denominada pela UNESCO de “Andes
tropicais”, classificada como a zona mais biodiversa do mundo, localizada na porção

12
Matta, Milton. A crise da água e dos recursos hídricos da Grande Belém, LAHRIMA/UFPA, 2007.
Disponível em: www.ufpa.br/lahrima Acesso em: 14 abril 2010.
13
“Serviços ambientais são as atividades, produtos e processos que a natureza nos fornece e que possibilitam que
a vida como conhecemos possa ocorrer sem maiores custos para a humanidade” (INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL - www.socioambiental.org/).
14
O centro de monitoramento da conservação ambiental, agência do Programa das Nações Unidas para o Meio
ambiente (UNEP-WCMC) definiu uma lista com 17 países megadiversos, que juntos detêm 70 % de toda a soma
de diversidade de vida existente no planeta, entre os critérios para avaliação estão o numero de especies
endemicas em geral e os numeros totais de mamiferos, passaros, repteis e anfibios. Na América do Sul compõem
este grupo: Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Ver mais em www.conservation.org.br e
www.pnuma.org
28

altitudinal, entre 500 a 3500 m15. A Comunidade Andina concentra 95% das cadeias trópico-
glaciais da Terra, deste total, 71% estão no Peru e são bastante sensíveis às variações de
temperatura e umidade da atmosfera sobre si16. Sua localização, entre o Pacífico, a Costa
desértica e a Amazônia, os tornam estratégicos para estudar as mudanças climáticas e são por
isto, conhecidos como „termômetro do mundo‟ (TILIO, 2003:86).

Desde os anos 80, cientistas têm verificado um acelerado retrocesso nos glaciais
andinos, cujas montanhas possuem importante usos sociais, econômicos e ambientais: suas
águas de desgelo aportam como água potável e industrial às principais capitais (La Paz, Quito,
Lima) e delas provêm ainda grande parte da energia consumida pelos países andinos e a água
de irrigação, indispensável para a zona árida da cordilheira. Esta situação (de desgelo) tende,
em médio prazo, a refletir problemáticas em todo nível regional andino-amazônico.

Mas, ainda tratando sobre as potencialidades da região, o potencial madeireiro é


significativo e se converte entre as vocações naturais da atividade econômica interna, da
ordem de 24 bilhões de metros cúbicos (OLIVEIRA, 2007). Outra grande fonte de riqueza
provém dos recursos minerais: ouro, cassiterita, diamante, ferro, bauxita, manganes, estanho e
“provavelmente urânio” (PLANCHART, 2002, p.1) dentre outros, cujo inventário ainda não
foi totalmente realizado.

A Bolívia, os principais produtos de exportação da zona amazônica são a soja e a


castanha do Pará (o primeiro produtor mundial); A Colômbia e o Equador são grandes
produtores de café e petróleo; Na Guiana e no Suriname, países em cuja hiléia é das mais
preservadas na região, destacam-se a bauxita, a exploração de ouro e de madeira; a
Venezuela, produtora de petróleo e ferro; No Brasil, têm-se a produção mineral e a expansão
das atividades agropecuárias, além da pesca; o Peru, detentor de grandes riquezas etnológicas
e arqueológicas, mantém nas atividades de extração de recursos naturais não renováveis como
o petróleo, o gás natural e o ouro aluvial, as principais fontes de ingresso econômico
agregado, com uma participação menor do aproveitamento florestal seletivo, da pesca e dos
produtos não-madeiráveis da floresta, conta também com grande potencial turismo.

15
Ver mais em www.pnug.org.br
16
No levantamento da situação de retrocesso dos glaciais andinos e do avanço do volume de água alimentados
por este processo, INRENA e IRD têm chegado a conclusões preocupantes; na Cordilheira Branca, a mais
importante entre as 18 cadeias nevadas existentes no Peru, a cada ano, as massas de gelo baixam 50m ao estado
líquido – um dado perigoso de prospecção para as sociedades andinas.
29

Verifica-se que a região é grandiosa não somente por sua extensão, mas
principalmente pelas possibilidades de serviços ambientais da biodiversidade, pela variedade
e quantidade de recursos minerais, hídricos, energéticos e genéticos existentes, um grande
potencial econômico ainda mal gerido pelos Estados membros e ameaçado constantemente
pela realidade de degradação sócio-ambiental, pela inserção eficiente de atores com interesses
alheios, particulares, e, problemas relacionados à gestão destes recursos17:

No Brasil, o problema mais sério é o deflorestamento, também relacionado aos


conflitos fundiários e os problemas sócio-ambientais decorrentes. Na Bolívia, o avanço
indiscriminado da cultura de soja e a produção ilegal de coca, que atrelada ao narcotráfico se
torna um fator a mais na destruição dos ecossistemas; sem fronteiras com o mar, há a idéia de
utilizar a saída amazônica para escoamento da produção é recente, contudo faltam recursos
para investimento em infra-estrutura.

Na Colômbia, paralelamente à situação da Bolívia, o plantio de coca aliado às


atividades de guerrilha são as principais ameaças. No Equador, a exploração do petróleo de
forma não sustentável. No Peru, a colonização desordenada, embora possua índice de
desmatamento relativamente baixo, se comparado aos dos vizinhos.

Na Guiana e no Suriname, a exploração não sustentável do ouro e da madeira


contamina os rios, além das questões de tráfico na fronteira e as incursões de garimpeiros
brasileiros. Na Venezuela, a infra-estrutura é dependente do transporte aéreo, mas leva
altamente em conta a possibilidade de contato rodoviário com o Brasil. A fertilidade de seus
solos é muito baixa e a exploração madeireira é crescente.

Notamos nestas observações que, onde não há predominância da Coca e do


Narcotráfico como atividades de inserção econômica de alto valor agregado, há: a economia
de hidrocarbonetos, da exploração madeireira e mineral, a atividade agropecuária. Todas estas
últimas, consagram-se como atividades importantes para o PIB destes países, mas como
atividades de exportação propriamente, deixam pouco retorno ou compensação de ingresso
econômico à vida local. No Amazônia brasileira, há vários exemplos desta situação, basta
observar o entorno dos grandes projetos minerais. E nota-se em todos os países, pouco

17
Fonte: Luis Eduardo Aragón em entrevista à CIEZs /UFPa. Projeto estuda meio ambiente e populaçõa na
Amazônia. Disponível em: http://www.ciecz.com.br/?pg=txtq&id=35&idc=2. Acesso em: 3 abri 2010. E, Tilio
Neto (2003)
30

movimento me negócios sustentáveis e/ou do mercado de serviços ambientais, em termos de


volume de nogócio.

Quadro 1 Categorias de Serviços oferecidos pelos Ecossistemas

SERVIÇOS DE SERVIÇOS DE SERVIÇOS SERVIÇOS DE


APROVISIONAMENTO REGULAÇÃO CULTURAIS SUPORTE
Produtos obtidos dos Benefícios obtidos da regulação de Benefícios intangíveis Serviços de base para a
ecossistemas processos ecossitêmicos obtidos dos ecossistemas oferta de outros serviços

Alimentos Regulação do Clima Espirituais e Religiosos

Água doce Regulação das doenças Recreação e Ecoturismo


Formação do Solo
Madeira Regulação da Água Estéticos
Ciclo de nutrientes
Fibras Purificação da Água Inspiradores
Produção primária
Produtos bioquímicos Polinização Educativos

Recursos genéticos ... Sentido de lugar

... .... Patrimônio Cultural

Fonte: Organización de las Naciones Unidas para La Agricultura y La Alimentación. El estado mundial de La
agricultura y La alimentación. Roma, 2007. p.4.

2.1.3. População e políticas de ocupação


O perfil demográfico da Amazônia, assim como sua biodiversidade é também
heterogêneo. Estima-se a população regional em mais de 30 milhões18 de pessoas sendo
21.056.532, habitantes da Amazônia brasileira, de acordo com o censo demográfico do IBGE
de 2000, o que representa 70% da população regional e 12,4% do total brasileiro
(CALDERÓN, 2007, p.68). De modo geral, os países membros compartilham a herança

18
Os dados variam entre 20 e 40 milhões de habitantes e por isso deve-se considerar estes números com
flexibilidade, pelas mesmas razões citadas para as variações de números da extenssão territorial amazônica.
Censos demográficos de anos diferentes e estimativas que não contemplam toda a região são fatores a
considerar. No entanto, no esforço científico de se aproximar de um númeor real, Aragon chegou a 28 milhões
de habitantes, distribuídos em 1.214 municípios (Ver: ARAGÓN, Luis (org.).População e Meio-Ambiente na
Pan-Amazônia. Universidade Federal do Pará, 2007). Planchart (2002) cita 40 milhões de habitantes e Becker
(2004) trabalha com a estimativa de 20 milhões. A OTCA atribui à população também mais 30 milhões (OTCA,
Relatório de gestão 2007-2008)
31

histórico-cultural da colonização ibérica, à exceção do escudo guianês, de colonização


holandesa (Suriname), inglesa (Guiana) e francesa (Guiana francesa).

A migração de origem européia, asiática, africana e americana, com os mais diferentes


tipos e tradições resultantes geraram miscigenação. A população indígena, apesar do massacre
étnico sofrido desde o descobrimento merece atenção especial nas políticas públicas, pois é
presente em todos os países amazônicos, com maior representatividade na Bolívia, Peru e
Venezuela. Preservaram-se cerca de um milhão e mais de 400 grupos19 étnicos indígenas,
cujos modelos de vida se convertem em desafio para o Estato, principalmente quando da
localização de reservas em áreas fronteiriças (entre Brasil e Venezuela; entre Peru e Brasil,
entre outros).

Embora a população brasileira seja a maior em toda a região amazônica, a Bolívia é o


20
país que tem maior proporção de nacionais vivendo na sua Amazônia, cerca de 33% , no
Equador por outro lado há apenas 4,5%21, apesar de o território amazônico equatoriano
corresponder a cerca de 45% da superfície nacional.

Os modelos sociais também variam entre as chamadas populações originárias


(indígenas); as tradicionais (ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, seringueiros, entre outros);
as elites locais vinculadas ao mercado do agronegócio, exploração mineral e madeireira; a
massa de colonos pobres, que pratica atividades de subexistência na zona rural e bastante
atrelada a condições de subemprego ou de informalidade nas capitais.

E claro, a realidade da Amazônia urbana22, resultado de um acelerado processo de


urbanização não planejado que resultou na formação de cidades grandes (com destaque para
Manaus e Belém na Amazônia brasileira, que juntas somam mais de três milhões de
habitantes23) e de centros povoados de menor porte24, resultantes da migração nacional de

19
RUIZ, Francisco. OTCA, Informe de Gestión: 2007 - 2008. Brasília, 2010. Disponível em: www.otca.info.
Acesso em: 2 mai 2010
20
Fontaine 2006b, p.26 apud Calderón, 2007, p.68.
21
Ver boletim eletrônico OTCA, nº V.
22
Ou floresta urbanizada, como Bertha Becker se refere à Amazônia brasileira desde a década de 1980, chamo
(BECKER, 2005, p.78).
23
Segundo a estimativa do IBGE para 2009: Manaus teria 1.838.641 milhões de hab.; E Belém, 1.437.600. Ver:
http://www.ibge.gov.br/cidades
24
O censo de 2000 do IBGE estima que quase 70% da população na Região Norte vive em núcleos urbanos com
uma das piores distribuições de renda do País. A falta de infra-estrutura e de serviços condena o reconhecimento
32

regiões mais pobres e ou pelo incentivo dado durante os períodos de colonização para
integração, na segunda metade do século XX. O Equador é um país em que ainda não há um
processo de urbanização evidente, já que 64% da população amazônica é formada por
habitantes da área rural.

Mas a urbanização é um fenômeno freqüente em outros países: na Bolívia, 70% da


população amazônica está agrupada nas cidades; na Colômbia, a zona amazônica ainda se
caracteriza como fronteira de ocupação, cuja população saltou de 450 mil habitantes, em
1985, para 1.130 milhões, na última década25. Neste país, a atração populacional está
relacionada às questões de confronto com grupos guerrilheiros ilegais e em razão das políticas
de erradicação de cultivos ilícitos, como também ocorre no Peru e na Bolívia.

Esses migrantes, de modo geral, ao se dirigirem aos centros urbanos, engrossam os


níveis de desemprego e subemprego, favelamento e criminalidade, neutralizam as políticas
sociais. Fato é que, considerar a Amazônia sem pensar sua realidade urbana é visualizar seu
desenvolvimento de modo isolado e deficiente tendo em vista que:

A Amazônia [brasileira] teve a maior taxa de crescimento urbano no país nas últimas
décadas. No censo de 2000, 70% da população na região Norte estavam localizados
em núcleos urbanos, embora carentes dos serviços básicos [...] 26. A grande aceleração
da urbanização sem planejamento tem levado as cidades da Amazônia a terem índices
muito parecidos com alguns lugares da África, onde não se tem saneamento básico,
acesso à água potável, etc. Há também os temas da terra, da regulamentação
fundiária, toda questão da violência no campo. Todos são problemas extremamente
sérios, mas que, de certa maneira, são conseqüências de toda a história de ocupação
da região27.

No contexto urbano, devem-se considerar ainda as zonas de fronteiras - extremamente


delicadas no tocante à presença e controle Estatal de ilegalidades, como também no
atendimento às necessidades básicas (na fronteira do Brasil com o Escudo Guianês, por
exemplo, é cotidiana a prática do tráfico humano e da exploração sexual de menores de idade,
um problema repetido em outras áreas amazônicas, em parte reflexo da pobreza e da falta de
condições de ingresso de renda das populações locais).

desses núcleos como pequenas cidades, apontadas ainda como aglomerados meio rural, meio urbanos. Fonte:
www.ibge.gov.br e BECKER, 2004.
25
Ver boletim eletrônico OTCA, nº IV.
26
BECKER, 2005, p.78
27
Luis Eduardo Aragon em entrevista à CIECZ/UFPA (http://www.ciecz.com.br/?pg=txtq&id=35&idc=2)
33

As cidades irmãs ou gêmeas, aquelas conurbadas em zonas de fronteira, vivificaram as


fronteiras políticas e formam um tema importante para estudo porque requerem um
diferencial quanto às políticas de desenvolvimento28. A citar, a zona de triplica fronteira entre
Peru, Bolívia e Brasil, onde por iniciativa da sociedade civil foi criada a iniciativa MAP –
Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia) - sigla dos três estados de fronteira,
que juntos, têm trabalhado mais intensamente a cooperação horizontal.

A situação sócio-demográfica da região amazônica resulta de imediato, da segunda


metade do século XX, período tomado por “grandes impulsos de projetos [nacionais] de
ocupação, ligados à agricultura, pecuária e exploração petroleira, atividades que junto à
exploração de madeira, aceleraram a degradação ambiental” (Filho, 2006 apud Calderón,
2007, p.70-71).

É na última metade do século que os países signatários dão início aos projetos internos
de ocupação e integração da Amazônia aos contextos nacionais. Projetos quais, responsáveis
pela densidade demográfica na região, mas também pela criação de uma nova zona de
complexidades sócio-ambientais.

Nos Andes, o fluxo migratório serra – selva é ancestral, mas no período em questão,
foi fortemente incentivado pela expansão da fronteira agrícola, em países como Bolívia,
Colômbia e Peru, que tinha dentre seus objetivos aliviar a pobreza nas periferias andinas. No
Brasil, os imigrantes vieram do Nordeste e Sul do país. Pensava-se em solucionar as questões
da Amazônia, utilizando-a como válvula de escape de zonas já problemáticas, o que permitiu
sobretudo, o deslocamento e a multiplicação das qeustões sociais.

Com o apoio de Becker (2005) e Calderón (2007) entendemos que, em linhas gerais,
como fruto deste processo desordenado de povoamento, os novos colonos sofreram com a
ausência de técnica, a falta de capital, a dificuldade de acesso aos serviços básicos e adequados
meios de comunicação para comercialização de seus produtos, refletindo numa agricultura de
baixo rendimento, na falta de condições que sustentassem uma produção em escala, o que
levou entre outros fatores à conseqüente situação de subsistência econômica e maior

28
O tema das migrações internacionais na Amazônia ainda é pouquíssimo estudado, embora seja importante à
medida que ganham relevância iniciativas de integração física como a IIRSA e tendo em vista, a porosidade de
nossas fronteiras (ARAGÓN, entrevista a CIECz – ver ano). É sem dúvida um assunto atual e que merece ser
adiantado, previsto no âmbito do Desenvolvimento Regional Sustentável, ou, novamente, a falta de planejamento
conjunto poderá intensificar a transnacionalização dos problemas comuns.
34

degradação ambiental, fomentada pela presença humana e pela atividade econômica baseada na
falta de manejo racional dos recursos, bem como estando presentes grandes empresas para
explorar o potencial energético e mineral da região.

A pobreza e as desigualdades humanas são, pois, forças fundamentais nos processos


de ocupação e destruição da Amazônia. Uma considerável proporção dos que
habitam as cidades amazônicas [...] vivem em condições „infrahumanas‟ nos bairros
informais periféricos. Como seus antecessores, os imigrantes da Amazônia, não
encontram um espaço vazio e nem um território virgem 29.

2.1.4. Geopolítica e ameaças comuns

Verificar os atores, grupos e interesses envolvidos e avaliar quais influências e forças


exercem sobre a vida e a evolução de determinado espaço geográfico. Este é o significado de
Geopolítica como ciência30 e na Amazônia, o tema é um prato cheio. Convém aqui analisar
este ponto, pois a política é movida a priori, por uma série de condições econômicas e
políticas. Logo, a promoção do Desenvolvimento Sustentável, via políticas públicas nacionais
ou, via cooperação horizontal entre os países membros, também não pode fugir disso, da
essencialidade das relações de poder.

é necessário entender os diferentes projetos geopolíticos e seus atores, que estão na


base dos conflitos, para tentar encontrar modos de compatibilizar o crescimento
econômico com a conservação dos recursos naturais e a inclusão social. Enfim, não
se trata de mero ambientalismo, muito menos de mais um momento destrutivo. 31

Para efeitos didáticos, analisar-se-á brevemente a questão procurando quais fontes de


força e interesses configuram ameaças para a região, sob os níveis internacional e regional.
Bertha Becker32 analisa as duas principais propostas geopolíticas para região. Ambas, sob
perspectivas e interesses diferentes, convergem para a necessidade de preservar a natureza
amazônica, cuja valorização, cada vez mais se converte em „valoração‟, ou seja, a
transformação de bens e serviços ambientais em mercadorias.

Segundo a geógrafa, (i) o projeto internacional “até recentemente [era dominado] pela
concepção da Amazônia como uma imensa unidade de conservação a ser preservada, tendo

29
TCA, Amazônia sin mitos, 1992.
30
BECKER, 2004
31
ibid
32
ibid
35

em vista a sobrevivência do planeta, devido aos efeitos do desmatamento sobre o clima e a


biodiversidade”, e hoje, “trabalha a Amazônia como fronteira do capital natural, em nível
global”. Ratificando a hipótese da autora, notaremos durante a leitura que o que há é a
existência de interesses escusos e particulares (econômicos e políticos) almejados sob a
manutenção desta antiga bandeira de „preservação da Amazônia para preservação global‟.

Enquanto que (ii) o segundo projeto internacional de nível regional diz respeito à
integração da Amazônia transnacional no continente sul-americano. É uma perspectiva
importante por incluir – em tese - o território amazônico na dinâmica dos organismos de
integração vigente (MERCOSUL e CAN, principalmente) e fundamental para direcionar o
desenvolvimento regional sustentável, com base nas necessidades e fragilidades internas. Este
projeto, “estruturou-se pelo resgate do Tratado de Cooperação Amazônica (por meio da
OTCA) e também a partir da iniciativa do planejamento físico da integração por meio de
transporte multimodal, difusão da internet nos países vizinhos e intercâmbio energético”.

2.1.4.1 Geopolítica Internacional:

A celebração do Relatório Nosso Futuro Comum (Our Future Common) de 1987

tornou-se um painel de referência geopolítica que criou, inevitavelmente, uma


restrição forte à ação antrópica sobre a Amazônia, como a maior reserva florestal e
de biodiversidade do Planeta que, necessariamente, não pode como tal ser
desconhecida pelos governos dos países que detém soberania sobre a região, sob
pena de gerar conflitos com os países ricos que estão atentos em busca de razões ou
pretextos para contestar a sobernia dos países amazônicos sobre suas respectivas
parcelas, principalmente o Brasil, como detentor da maior parcela da região
(RIBEIRO, 2006).
O estudo reconheceu que “os países ricos são os principais responsáveis pela
maximização do Efeito Estufa [...], mas também a falta de políticas institucionalizadas de
controle ambiental nos países pobres” (RIBEIRO, 2006, p.225), vinculando ambas as
categorias de países num esforço comum, à medida que a intensificação das relações entre os
povos gera maior e irreversível interdependência. Apesar disso, nas grandes Conferências da
ONU sobre Meio ambiente normalmente foi e é evidente a divisão de interesses e
posicionamentos entre as nações mais e menos desenvolvidas, isto, desde a primeira reunião
em 197233.

33
RIBEIRO, 2006 e KILCA, 2006.
36

Na primeira reunião, as nações desenvolvidas adotavam uma postura preservacionista


(sem promover alteração do Statu Quo) em relação aos biomas dos países periféricos (sempre
com destaque para a Amazônia), sob argumento de que os “benefícios nacionais e de curto
prazo da exploração dos recursos naturais não podiam ignorar os custos globais de longo
prazo dessa mesma exploração”34. Por sua vez, as nações mais pobres cobravam ações
efetivas de cooperação internacional dos países ricos e reivindicam o reconhecimento de seu
direito ao desenvolvimento, alegando que a pobreza é uma das principais causas da
degradação ambiental35, de forma que a preocupação ambiental deveria levar a uma real
contribuição com o combate às desigualdades no plano global.

Porém, entre o discurso de cobranças dos países desenvolvidos e a ação destes


mesmos parece haver alguma contradição36. Como exemplo recente, o resultado pouco
satisfatório da 15º Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas: dois anos de
preparação com grandes expectativas resultaram em uma carta de intenções de 12 parágrafos,
juridicamente não vinculantes e sem metas concretas; o documento cita que as nações ricas se
comprometem a direcionar US$ 30 bilhões nos próximos três anos para ajudar nações pobres
a lidar com as alterações climáticas, no entanto não explica por quais mecanismos seriam
geridos tais recursos.

Deste encontro, destacamos a participação dos países em desenvolvimento, em


especial do Brasil, na figura do presidente Lula, que cobrava “metas ambiciosas a altura de
suas responsabilidades históricas [dos países desenvolvidos] e do desafio que enfrentamos”37.
Mas EUA e China vetaram possibilidade de um acordo real.

Sobretudo, a falta de capacidade dos países centrais em produzir exemplos jurídicos


práticos e contundentes deveria promover descrédito ao discurso internacional de que
preservar a Amazônia em suas condições „sui generis‟ seria um sacrifício necessário aos

34
ibid
35
Ponto este ratificado no mesmo Relatório de 1987, que diz que “a pobreza é causa e efeito dos problemas
ambientais” (apud RIBEIRO, 2006:223)
36
Estratégia chamada „coerção velada‟, que consistem em “pressões de todo tipo para influir na decisão dos
Estados sobre o uso de seus territórios” (BECKER, 2004)
37
“Para o presidente, uma proposta „realmente ambiciosa‟ seria 40% de redução de gases-estufa, em comparação
com 1990. Além disso, ele disse que as metas devem ser constantemente reavaliadas, de acordo com as
descobertas científicas sobre o aquecimento global”. “Fonte: Em discurso na COP15, Lula cobra ações dos
países desenvolvidos” (17/12/2009). <http://noticias.uol.com.br/ >.
37

países signatários - em favor dos “custos globais de longo prazo” que acarretariam a
exploração dos recursos naturais da região. Não é o que se percebe, no entanto.

É notória a quantidade de discursos, inclusive de importantes líderes e personalidades


internacionais, que têm como lema oficial „salvar a Amazônia‟, “pode-ser-ia afirmar que estão
relacionadas a um histórico processo de formação de opinião” (KILCA, 2006:114) [da
sociedade internacional].

Opiniões formais dirigidas e difundidas sob a errônea idéia de que o desmatamento da


Amazônia é um dos fatos mais relevantes para a propagação do aquecimento global e que,
preservá-la intocada garantiria reverter e/ou controlar um quadro acelerado por mais de 150
anos de excessivas emissões de gases poluentes38. Claro que é importante controlar o
desmatamento e indispensável o apoio da Comunidade internacional neste sentido, mas há de
se ter cuidado com a forma como se apresenta esta ajuda para „salvar a Amazônia‟.

Para compreender as entrelinhas desta orientação geopolítica para a região, note-se a


observação de Voyer Ravena Cañete, sobre o caso do sueco Johan Eliasch que em 2006, com
o objetivo principal de „salvar a floresta‟ comprou entre 160/165 mil hectares de mata no
estado do Amazonas (Brasil) incitando outros empresários estrangeiros a fazerem o mesmo,
orientando-os via internet, com a idéia de vender lotes da floresta na rede39. Analisou a
professora: “na realidade é um pronunciamento de proteção, travestido de um discurso
ideológico de apropriação”40. Ainda segundo ela,

os países do primeiro mundo estão propondo um discurso, segundo o qual a


destruição dos ecossistemas da América Latina deve ser interrompida através da
privatização. [...] é um elemento utilizado ideologicamente para justificar o domínio
externo sobre a Amazônia. O Brasil precisa ficar atento a determinadas ações e
intenções41.
Parecem ser indícios do que preconizou em 1994, o secretário de Estado Americano,
Henry Kissinger42:“os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram
até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos não renováveis do planeta. Terão que

38
Ibid.
39
Para ler mais sobre o caso, acessar a matéria: Amazônia: pode ser um bom negócio? (In: Universia, 20 de abril
de 2006. Disponível em: http://www.universia.com.br/. Acessado em: 10 mai 2010) e ver KILCA, 2006: 105 – A
compra de terras por estrangeiros.
40
ibid
41
ibid
42
Ver KILCA, 2006:116 (grifo meu)
38

montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus


intentos”.

As divergências de posicionamentos e intentos leva-nos a outro ponto temático: o


alcance e os limites da soberania nacional. De um lado, os países mais desenvolvidos
sustentavam que a exploração da natureza em um país pode gerar efeitos para outros, de
forma que a soberania nacional não deveria impedir „certo‟ controle internacional das
políticas internas que tenham possíveis conseqüências ecológicas. Essa concepção permitiu o
surgimento da idéia de que algumas áreas deveriam ficar sob controle internacional 43, ainda
na Conferência de Estocolmo. E desde então, quando o discurso sobre uma ingerência
ambiental internacional volta à mídia, a retórica dos países amazônicos é de oposição incisiva
a qualquer limitação da soberania, defendendo o direito exclusivo de exploração e controle de
seus respectivos recursos naturais.

No decorrer do século, propostas mirabolantes e algumas de sério efeito, levantadas


por Organismos Internacionais surgiram sobre esses desígnios44. Mas queremos destacar aqui,
o projeto da Agência de Cooperação dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional (USAID) divulgado em 2005, em razão da parceria estratégica prevista com a
OTCA e pelo fato de a USAID, enquanto Agência de Cooperação, representar um órgão
oficial do Estado americano; a iniciativa alcançou repercussão por propor de forma clara e
deliberada, sob motivações nobres, um programa de ingerência que teria por fim controlar e
impedir o desenvolvimento de atividades econômicas na área trabalhada.

A proposta previa a criação de um consórcio de 26 organizações não-governamentais


para atuar no Brasil, Equador e Peru, em áreas vulneráveis quanto à presença Estatal, para
serem preservadas como reservas ambientais ou terras indígenas interfronteiriças, com
demarcação de corredores ecológicos intocáveis. Militares consideram "preocupante" a
atuação das ONGs e instituições privadas estrangeiras de pesquisa e negócios em diversas
áreas das fronteiras do oeste da Amazônia e novamente, a previsão de relacionamento
institucional entre a coordenação do projeto e a OTCA.

43
ibid
44
As mais importantes são: Instituto Internacional da Hiléia Amazônica (proposta em 1945); Projeto do Grande
Lago Amazônico (1967); A proposta da Cúpula de Haia (1989). Para saber mais, buscar: MATTOS, 1991. e
RIBEIRO, 2006.
39

Como propósito, o programa de criação da ABCI recrutaria diversos grupos


ambientalistas e indigenistas nacionais e estrangeiros45,

provendo-os dos recursos [financeiros, com investimento inicial de US$ 65 milhões] e


instrumentos de „governança ambiental‟46 para o controle efetivo da região, uma rede
que em nada difere de um exército de ocupação pós-moderno a serviço de um
esquema de governo mundial controlado por grupos hegemônicos do Establishment
anglo-americano, [...] estrategicamente, o ABCI se faria agir onde é precária a
presença Estatal, tratando a conservação ambiental de modo prioritário, acima
inclusive, do fim de retirar as populações tradicionais locais das condições de pobreza
extrema47.

Em maio de 2007, os avanços na proposta e a forma com a qual o projeto foi


concebido e apresentado no site da USAID provocou surto mal estar diplomático com o
Itamaraty que mandou suspender sua execução prevista para julho do mesmo ano. O temor
do Ministério com a proposta era quanto ao controle do fluxo de informações sobre a
biodiversidade brasileira, coletadas pelas organizações não-governamentais contratadas e
pagas pela USAID. Seguindo orientações, a Agência retirou o projeto da internet.

Como se vê, os principais atores nas propostas internacionais para a Amazônia são
representados por Organismos Internacionais de Cooperação e Organizações não
Governamentais, cuja presença intensa na região, converte-se em motivo de preocupação
para os estrategistas em nível doméstico, principalmente pelo descontrole e rarefeita
fiscalização. No Brasil, para que houvesse maior transparência e segurança seria necessária
uma reforma constitucional era o que afirmava o General Maynard Marques Santa Rosa, à
época do caso citado, Secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do
Ministério da Defesa, bradando contra o governo que suas preocupações eram como “vozes
no deserto”.

Acobertadas por essa proteção [constitucional], defendem interesses ocultos das suas
fontes de financiamento. Sabemos que existem ONGs prolíficas e com atuação

45
“USAID reforçava financeiramente as intensas atividades de ONGs como o Fundo Mundial para a Natureza
(WWF), Survival International, Conservation International, The Nature Conservancy e outras, financiadas tanto
pela USAID como por agências governamentais do Canadá, Reino Unido, Holanda e outros países europeus,
além de fundações familiares do Establishment”.
46
Entenda-se por Governança Ambiental, a totalidade de maneiras pelas quais, os Estados Amazônicos, com a
participação dos atores envolvidos (sociedade organizada e cooperação multilateral) administram suas
problemáticas comuns na região sob a necessidade de uma visão sistêmica. Um conceito policêntrico que
implica fundamentalmente na democratização das iniciativas públicas, multiplicidade de agendas e ambiente
multifaçacetado de atores (stakeholders) e pelo prórpio conceito relativização da Soberania Nacional.
47
CARRASCO, Lorenzo. In: Amazônia em perigo, Correio braziliense (27/05/2007). Disponível em:
http://www.forumseculo21.com.br/. Acessado em: 10 mai 2010
40

humanística. Mas há outras que se prestam ao tráfico internacional de drogas, armas e


até de pessoas, inclusive indígenas, além de lavagem de dinheiro. Algumas dessas
ONGs, muito facilmente e de maneira barata, são utilizadas como instrumentos de
captação de informações por organismos de inteligência estrangeiros, atuam na
espionagem48

Convêm ressaltar, além dos atores já citados49 que as possibilidades de ingerência50


sobre a região se dão também pela atuação de multinacionais, cujas atividades, além da
tradicional exploração de recursos minerais e madeireiros, têm vizualizado novos mecanismos
de valoração e aquisição de lucros particulares com a floresta em pé, a citar:

É o caso da Peugeot, que faz investimentos no sentido de seqüestro do carbono no


Mato Grosso. Na ilha do Bananal, a empresa inglesa S. Barry. A Mil Madeireira
que, tem um projeto neste sentido no estado do Amazonas. A Central South West
Corporations, de Dallas, uma empresa de energia que fez uma aquisição no Paraná
de setecentos mil hectares, através da mediação da National Conservancy, da
reserva da Serra de Itaqui além dos projetos que não conhecemos, visto que uns são
oficiais e outros não (BECKER, 2004).
Assim sendo, não é exagero considerar que estão em curso na Amazônia ações de
"quarta geração", nas quais os territórios não são conquistados no sentido militar clássico, mas
de forma a neutralizar o seu pleno desenvolvimento socioeconômico para, em uma fase
posterior, serem eventualmente declarados como territórios sem "soberania efetiva"51. De
acordo com Lorenzo Carrasco: “Estaríamos, portanto, às voltas com uma doutrina estratégica
exógena, cuja denominação não poderia ser outra senão „Pax Verde‟.”52

48
Declaração do General Maynard Marques Santa Rosa - ibid
49
Fazem parte do projeto geopolítico internacional para a Amazônia (segundo Bertha Becker): Os movimentos
ambientalistas (destaque para as ONGs nacionais e internacionais), a cooperação internacional técnica,
financeira, científica em grandes projetos (PPG7, LBA, PROBEM), organizações religiosas de todo tipo,
agências de desenvolvimento de governos estrangeiros e empresas voltadas para o seqüestro de carbono e/ ou
madeira certificada) .
50
Fundada na opinião pública internacional, a ingerência aparece como uma necessidade de cooperação
internacional, que necessariamente não destrói a soberania, mas a reorganiza faca a novas exigências externas,
destinadas a corrigir efeitos perversos de um abuso Estatal, e assim funciona com a Ingerência humanitária, por
exemplo. Quanto à possibilidade de uma ingerência ecológica deveria em última instância beneficiar à
coletividade social, de maneira global, daí sua importância. Não esqueçamos, porém, que também sob ela,
podem vir articulados interesses exógenos e que nem sempre se traduzem em benefício à população local. O fato
é que tende a se tornar um novo elemento de negociação nas Relações Internacionais, embora por definição a
ingerência contradiga o princípio de não-intervenção, ferindo em tese, a soberania. (TILIO NETO, 2003, cap.2)
51
Ibid. Becker explica que “Há três grandes eldorados naturais no mundo contemporâneo: a Antártida, que é um
espaço dividido entre as grandes potências; os fundos marinhos, riquíssimos em minerais e vegetais, que são
espaços não regulamentados juridicamente; e a Amazônia, região que está sob a soberania de [nove]* Estados
Nacionais” *(nota minha: como o território da Guiana francesa pertence à França, o país europeu também é
soberano sobre esta pequena parcela do bioma amazônico)
52
CARRASCO, Lorenzo. In: Amazônia em perigo, Correio braziliense (27/05/2007). Disponível em:
http://www.forumseculo21.com.br/. Acessado em: 10 mai 2010.
41

Nesta concepção „internacionalizada‟ para a Amazônia, o grande risco para a


soberania (caracterizado por um modelo próprio, que satisfaça as necessidades da população
local) é de que o desenvolvimento se consolide como uma nova forma de colonialismo, pela
qual, a subtração de recursos na natureza (agora de forma planejada e, sustentada) serviria
apenas aos interesses econômicos de uns poucos indivíduos, sobretudo estrangeiros,
excluindo novamente a população regional do direito ao desenvolvimento.

Este plano de concepção Internacional para a Amazônia não respeita as relações


culturais, a história ou prevê promoção de desenvolvimento regional, preocupa-se
apenas em manter interesses exógenos globais sobre a Amazônia (CALDERÓN,
2007)
O desafio apresentado pela presença destes atores na região é traduzido pelo termo
„autonomia‟. A excessiva autonomia das atividades das corporações internacionais, e também,
via financiamento em grandes projetos, cuja origem nem sempre é conhecida e a conseqüente
falta de controle e fiscalização das informações adquiridas e tomadas pelos grupos de
pesquisa e grandes projetos ou pelo fácil acesso de atores privados aos recursos internos.

2.1.4.2 Geopolítica regional

Dentre as diversas questões a serem tratadas como aemaças e problemáticas internas,


embora sejam gerais e comuns às oito soberanias, cada país, apresenta em maior ou menor
intensidade cada um deles. E todas, de algum modo se atrelam às dificuldades para promover
um modelo de Desenvolvimento Sustentável endógeno. Descrevem-se,, de acordo com
Becker (2005) e Procopio (2005):

2.1.4.2.1 A baixa densidade demográfica e a debilidade infra-estrutural

Dispersa por toda a região, a população rural fica ainda mais isolada e carente das
necessidades básicas, devido à precariedade infra-estrutural. Por isso, suprir esta deficiência
(transporte e telecomunicações) e tornar esse o eixo central para a integração amazônica é a
iniciativa a ser tomada como prioridade.

Neste processo, Becker destaca a valorização das cidades gêmeas53 como um elemento
fundamental no desenvolvimento e planejamento da Amazônia por que: “nela [na cidade de

53
Zonas urbanas conurbadas* em pontos de fronteira política** / *do termo „conurbação‟, pelo qual a geografia
designa a unificação da malha urbana de duas ou mais cidades, confundindo o limite de ambas.
(www.ibge.gov.br) / São exemplos: **Pacaraima (Roraima) e Santa Helena(Venezuela); Tabatinga(Amazonas) e
42

modo geral] a população está concentrada, e pode, inclusive, impedir a expansão demográfica
na floresta”.

Este objetivo de promoção de infra-estrutura regional vem sendo concretizado por


meio da IIRSA54, que possui 10 eixos de integração na América do Sul, dos quais, dizem
respeito diretamente à região: o Eixo do Escudo Guianense (Guiana, Venezuela, Brasil e
Suriname); o Eixo do Amazonas (Colômbia, Equador, Peru, Brasil) e o Eixo Amazônico do
Sul (Peru-Brasil-Bolívia). Embora receba grande atenção, a Amazônia é o espaço que
enfrenta maiores conflitos na consecução das obras, ainda que a Sustentabilidade seja um
princípio que norteia as ações da Iniciativa.

A integração fisiográfica pode ser uma faca de dois gumos, dependendo


fundamentalmente da estrutura em outros setores para recebê-la. Se as fronteiras estiverem
assuguradas pelas forças armadas, se houver atividades de incremento da renda, acordos de
regularização do comércio, entre outras condições, ela pode impulsionar a economia, o
turismo e a infra-estrutura geral, diminuindo o isolamento interno e promovendo crescimento.
Caso contrário, também será acompanhado da intensificação de atividades ilícitas e
crescimento dos crimes contra os direitos humanos, maior poluição e degradação no entorno
das vias e nas zonas de fronteiras.

Como a integração é mesmo imprescindível é necessário que os países estejam


preparados para ela. E este é um fato em cuja, a sinergia de esforços apresenta debilidade, já
que OTCA e IIRSA mantêm-se distantes, sem acordo ou programa que estabeleça a promoção
simultânea destes mecanimos.

2.1.4.2.2 Narcotráfico e o Crime Organizado

A paisagem porosa nas fronteiras propicia a ação ilícita representada por atividades de
contrabando (recursos naturais, biodiversidade e mercadorias propriamente ditas); crimes

Letícia (Colômbia) e a área MAP - Madre de Dios(Peru), Acre(Brasil) e Pando(Bolívia), que se estrutura como
um embrião mais concreto de intercâmbio organizado e integração.
54
O programa IIRSA foi apresentado em dezembro de 2000, pelo BID, CAF e FONPLATA. Uma reedição do
estudo realizado, em 1996, por Eliézer Batista Silva. Por meio da integração física o programa pretende
consolidar as cadeias produtivas, integrar mercados intra-regionais e reduzir os custos de inserção no Comércio
Internacional.
43

contra os direitos humanos, como prostituição de menores e tráfico humano; e lavagem de


dinheiro.

O garimpo ilegal (com destaque para o escudo guianês) e os conflitos de terra (um
problema ainda grave no Brasil, marcado por conflitos sociais – principalmente pela
ineficiência da reforma agrária - e crimes como grilagem55) também são questões a
considerar.

O narcotráfico é um problema de grande contingência em todo o continente. Bolívia,


Colômbia e Peru são responsáveis por 97% da produção mundial de cocaína56. Da zona
andino-amazônica, a droga entra no Brasil, de onde se espalha para o continente e para
exportação. O narcotráfico está associado também ao tráfico de armas, entre outras atividades
de crime organizado, mas também atrelada às guerrilhas. Os devidos governos têm tomado
ações estratégicas uni ou bilaterais de combate, com destaque para as parcerias com os
Estados Unidos, mas pouco no âmbito interno multilateral amazônico.

2.1.4.2.3 Conflitos internos

A começar, a atuação de grupos guerrilheiros é um problema principalmente na


Colômbia, pela presença ainda intensa das FARC. No Peru, o auge da atuação dos grupos
Sendero Luminoso e Tupac Amaru ocorreu nos anos 80, hoje, remanecentes ganham destaque
eventual na mídia, mas sob este aspecto, o país se encontra em aparente estabilidade. Os três
grupos foram formados na década de 60, animados por ideais esquerdistas, com o cerco
militar dos governos, ao longo do tempo se manteve pela associação de atividades com o
Narcotráfico.

Os conflitos de fronteira surgem de questões pendentes desde o período de


emancipação política dos países latinos. Um exemplo importante desse quadro é notado pelo
histórico entre Equador e Peru, que vivenciaram freqüentes conflitos armados ao longo de

55
Termo que designa no Brasil a venda de terras públicas da União e dos estados federados por meio de falsas
escrituras de propriedade. No país, “em 2006, 46 mil cadastros de imóveis foram vetados devido a suspeitas de
ocupação ilegal da terra (cerca de 21 milhões km² /4,3% da ALB). A grilagem, está usualmente conexa com
outras atividades ilícitas como o desmatamento, a biopirataria,o trabalho escravo e a destruição de reservas
indígenas”(KILCA,2006:105)
56 UNODC. World Drug Report 2005, apud WISCHANSKY, Edileuza.2009
44

todo o século XX57 e que tiveram seus problemas superados por fim, com a criação de um
„Plano binacional de Desenvolvimento‟.

Nos últimos anos, porém, mais do que conflitos por demarcação de linhas de fronteira,
o eixo Equador, Colômbia, Venezuela tem sido palco de tensões de cunho fortemente político,
atrelado ao populismo personalista de seus chefes de Estado e, atiçados por eventuais
„incidentes diplomáticos‟, como o ocorrido entre Equador e Colômbia em 200858, em parte,
resultado da transnacionalidade do narcotráfico. Geralmente culminam em ameaça ou
efetivação temporária de corte de relações diplomáticas. É importante notar, porém, que se
têm logrado a resolução pacífica de crises diplomáticas e o Brasil tem sido um ator
importante, na eventual mediação destes.

As instabilidades políticas podem ser consideradas como fatores negativos para


celebração de acordos de comércio ou de investimento de um país vizinho no outro. Algo
semelhante ocorreu na Bolívia entre 2007 e 2008, durante a crise interna separatista, que
afetou diretamente os investimentos brasileiros no país.

2.1.4.2.4 O militarismo estrangeiro na região

Devido principalmente ao Narcotráfico, a presença militar dos EUA – apoiado pela


União Européia – tem se instalado de maneira crescente, na fachada do Pacífico e na América
Central, através do que se denomina de “bases de operação avançada”, cuja maior expressão é
o Plano Colômbia59. O Brasil virou uma ilha cercada destas bases, com exceção das fronteiras
com a Venezuela e a Argentina. As iniciativas unilaterais do Brasil quanto à defesa (PCN,
SIVAM/SIPAM e Polícia Federal) são satisfatórias, mas não suficientes.

É necessário discutir de maneira conjunta, o papel diferenciado que as forças armadas


devem exercer na Amazônia, no controle das fronteiras e prestando papel assistencial de

57
Existente desde 1901, as indefinições na zona de fronteira entre o Peru e o Equador levaram a conflitos
armados, dos quais o mais grave ocorreu entre 1941 e 1942, do que decorreu o protocolo do Rio de Janeiro, cuja
descrição da linha de fronteira não se validava na realidade geográfica da zona, resutlando em novos conflitos
em 1981 e 1995. Consolidando por fim, em 1998, um acordo de paz. Ver mais em
http://www.planbinacional.gov.ec/
58
Referente à invasão do território equarotiano, pelo exército colombiano para desmontar uma base das FARC
em território vizinho.
59
Criado e instalado em 2000, destina-se oficialmente a combater a produção e o tráfico de cocaína na
Colômbia, bem como auxiliar na desestruturação das FARC.
45

serviços básicos às populações longínquas, aproximando assim uma instância Estatal às


questões específicas de cada lócus.

Por iniciativas dos países membros, a região é considerada uma das áreas mais
desmilitarizadas do mundo, ao se projetar os efetivos militares totais existentes na sua grande
área física total. Com exceção do Brasil, Colômbia e Venezuela há parcos investimentos em
atividades nacionais de defesa. Ainda que – com exceção a Guiana e Suriname - os demais
países possuam um Ministério da Defesa, o que em tese, poderia facilitar as ligações para a
cooperação militar60.

Diz-se em tese porque nas duas instâncias regionais que tratam sobre defesa e
segurança, a „Comissão de Segurança Hemisférica da OEA‟ e a „Reunião dos Ministros da
Defesa das Américas‟(atuante desde 1995), não há unanimidade (nos âmbitos militar e
estratégico) quanto às questões comuns que ameaçam o continente sul-americano entravando
planos de ação efetivas, e nelas, “a questão amazônica tem sido alvo de atenção limitada”61.

Como nos elucidou Bertha Becker, a presença da globlização na Amazônia se


concretizou no Brasil, pela cooperação internacional e nos países vizinhos (andinos), por meio
da militarização, isto não significa que a cooperação internacional não seja também
fortemente atuante nestes países. Ainda assim, mesmo após o caso USAID/ABCI o Brasil
ainda não conseguiu estabelecer um marco regulatório relevante de controle das atividades de
Organismos de Cooperação e ONGs internacionais no país e, na Amazônia em especial, de
modo, que a concretização de um marco jurídico comum aos oito países ainda se encontra
longe do fato concreto.

2.1.4.2.5 Reservas indígenas em zonas de fronteira

Um exemplo recente e contundente sobre o significado desafiador desta questão data


de 2008, quando esteve em julgamento no Brasil, pelo Supremo Tribunal Federal, a
demarcação da Reserva indígena Raposa Serra do Sol62 (TIRSS), com área de 17 mil km²,
localizada ao norte do estado de Roraima, na triplica fronteira (Brasil, Venezuela e Guiana).

60
ESPÍNOLA et OKAMURA, 2008.
61
MYIAMOTO, Shiguenoli. In: NASCIMENTO, Durbens (org.), Relações Internacionais e Defesa na
Amazônia, Belém, PA: NAEA; UFPA,2008.
62
SILVA, Marcelle. 2007.
46

Um território de riquíssimo valor mineral (ouro, diamante e nióbio) e considerado ideal para
a atividade agropecuária, crucial para a economia roraimense”, estado em que os territórios
inídegenas representam praticamente a metade do total (104 mil de 204

Na discussão principal do conflito, estava o formato de demarcação das terras, a ser


efetivado em ilhas (a proposta dos estrategistas militares para facilitar a fiscalização em favor
da defesa nacional, mas também defendida pelo governo, a maioria da população urbana,
garimpeiros e agricultores locais), ou de forma contínua (proposta reclamada pelos indígenas,
pelo CIMI, CIR e organizações ambientalistas preservacionistas).

O fato provocou tanta mobilização que um funcionário mexicano graduado da ONU


foi a público afirmar que o Brasil seria punido na CIJ caso alterasse o projeto de demarcação
para o formato em ilhas, em função de o país ter assinado a Declaração da ONU sobre o
direito dos povos indígenas em 200763. Este fato nos serve para elucidar como são presentes
os mecanismos de Coersão velada, da proposta internacionalizada para a Amazônia e também
traduz os próprios conflitos de interesses locais, que divergem quanto às propostas para o
território.

O Brasil passou por cima das implicações econômicas e geopolíticas e ratificou a


proposta de demarcação contínua. Apenas ressalvou por decreto, o direito das Forças
Armadas a terem livre acesso aos territórios indígenas. A decisão não foi motivada pelo
interesse do desenvolvimento, mas sim, pela pressão sobre a condição preservacionista, que
neste caso enfadou a população indígena à segregação e tornou ainda mais frágil, a posse e o
uso dos recursos minerais contidos lá, além de ter eliminado um viés econômico para um
estado com poucas opções.

O tema encaixa com a indagação levantada por Bertha Becker sobre o que fazer depois
de demarcada a terra indígena: “apenas deixar o índio lá?” (BECKER, 2005). Concorda-se
com a qualificação do ex-General da Amazônia (brasileira) Augusto Heleno Ribeiro Pereira,
que atribuiu à política indigenista do governo Lula o título “lamentável para não dizer
caótica”, afirmando que os índios "[gravitam] no entorno dos nossos pelotões porque estão
completamente abandonados"64.

63
ONU quer a Amazônia, matéria do jornal BandNews, 13 jun 2008. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=VUJHK-bMi6k&feature=player_embedded. Acessado em: 02 fev 2010
64
Matéria: Política indigenista é lamentável e caótica, diz general. Folha Online, 17 de abril de 2008
47

2.1.4.2.6 Insuficiente presença Estatal e débeis instituições políticas locais

As características fisiográficas que facilitam a prática de ilícitos transnacionais


também dificultam a presença do Estado e da fiscalização nas fronteiras. No entanto, o
subdesenvolvimento regional não pode ser responsabilizado pela paisagem amazônica.

A fiscalização é praticamente inexistente, pois não consegue acompannhar a


velocidade de ação e desenvolvimento tecnológico das atividades ilícitas (estrangeiras ou
nacionais), agindo dispersamente – “é notória a rarefeita atividade dos órgãos competentes na
região” (KILCA, 2006). E este, o problema da fiscalização débil é citado por todos os autores
pesquisados.

Resultado da democracia de periferia, a falta de feed back na relação Estado –


Sociedade mantém um cotidiano à deriva. Os interesses políticos dos governantes são
equivalentes a interesse particulares, dificultando a implantação de políticas públicas capazes
de vislumbrar um novo paradigma de Desenvolvimento Regional. Embora existente falta
maior articulação da sociedade civil para levar adiante iniciativas condizentes ao ideário do
Desenvolvimento Humano Sustentável.

As estruturas de poder (estatal) instaladas na região são caracterizadas por um regime


político que “ao invés de respeitar o pobre, o exclui” (PROCOPIO, 2005). São dotados de
políticas clientelistas, currais eleitorais e ações em favor de próprio benefício, estruturas
facilmente corruptíveis, todos são fatores que engessam o desenvolvimento social e,
diminuem as capacidades locais de inserção positiva econômica, pela carência de serviços
básicos de acesso e perspectivas de desenvolvimento.

Uma vez que, sem educação, saúde e trabalho digno é difícil cobrar esclarecimento em
termos de cidadania, ou exigir que os atores sociais atuem como agentes de sua própria
história pressionando a esfera pública e, novamente, não somando forças na persuasão e
dissuasão de valores coletivos favoráveis ao desenvolvimento.

O acesso à informação e à educação e logo, o despertar para a cidadania política é para


poucos, ainda que na Amazônia brasileira, por exemplo, existam grandes cidades e que lá se
concentrem grande parte da população. Mesmo nas cidades, a ação do Estado para viabilizar
condições estruturais humanas é insuficiente.
48

Logo, incapacitada a esfera social ocorre simultaneamente, a degradação ambiental,


pelo desconhecimento de técnicas e manuseio inadequado dos recursos naturais, pela falta de
consciência holística sobre meio ambiente e sociedade e pela insuficiente difusão de
conhecimento e informação sobre o assunto. Conforme descrito em 1987, no relatório Nosso
Futuro Comum ao concluir que “a pobreza é causa e efeito dos problemas ambientais”65.

2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: DEFINIÇÃO E ESTRATÉGIAS

No contexto do qual o diferencial da afirmação da soberania de um povo, de uma


região ou de uma nação será, cada vez mais, o domínio do conhecimento (científico,
tecnológico, cultural)66.
Concebido que o crescimento econômico indiscriminado, ao desconsiderar a dimensão
dos impactos ambientais é inadmissível no século XXI e, admitindo as mazelas sociais com
que se convive na região, a melhor garantia de defesa da Amazônia, como se pode influir da
afirmativa Fiúza de Melo (acima), seria a garantia do desenvolvimento.

Bertha Becker (2005) sustenta que se faz urgente rever o modelo pelo qual toda a
América Latina foi colonizada e construída. A economia de fronteira, baseada na contínua
incorporação de terra e de recursos naturais67 deve ser substituída. E este é um imperativo
internacional, nacional e também regional, na medida em que os atores locais organizados já
oferecem resistências ao uso predatório dos recursos.

Desde a década de 70, o debate mundial tem avançado na criação de uma nova Teoria
do Desenvolvimento; cujo padrão Sustentável, ao receber esta adjetivação, desdobra-se em
três vertentes, de tratamento equitativo: socialmente includente (que tem por objetivo central a
erradicação da pobreza e a justiça social, bem como a participação social no processo de
desenvolvimento), ambientalmente sustentável (baseada nos três „R‟: reduzir, reciclar,
reutilizar, mas também inovar – para reduzir os impactos da vida humana sobre o meio
ambiente) e economicamente sustentado no tempo (quando atribui ao crescimento econômico

65
Nota do Relatório Nosso Futuro Comum citado por Nelson de Figueiredo Ribeiro em Geopolítica da
Amazônia, da soberania difusa à soberania restrita.
66
MELO, Alex Fiúza de. In: RIBEIRO, 2006 – apresentação do livro.
67
Economia de fronteira: termo atribuído ao paradigma de relação sociedade-natureza de Kenneth Boulding que
traduz o crescimento econômico, como linear e infinito, a partir da incorporação de recursos naturais, também
infinitos. Este padrão obteve seu auge nas décadas de 1960 a 1980. (BECKER,2005)
49

uma condição fundamental, como um meio que vislumbre as esferas anteriores e não um fim
em si mesmo). Assim que, o conceito em si é baseado:

No duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e


diacrônica com as gerações futuras [...] e nos impele ainda a buscar soluções
triplamente vencedoras, eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de
elevadas externalidades68 negativas tanto sociais quanto ambientais” [...] Logo, “ao
invés de maximizar o crescimento do PIB, o objetivo maior se torna promover a
igualdade de maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condições, de
forma a reduzir a pobreza69.
Segundo Sachs70, o Desenvolvimento Humano Sustentável possui cinco pilares:

a) Social: fundamental por motivos intrínsecos de garantia de segurança humana


(saúde, educação, habitação, infra-estrutura e saneamento básico) deve visar o trabalho de
redução das desigualdades sociais, combatendo prioritariamente a pobreza, atribuindo
condições de garantia de dignidade para as populações.

Isto não é possível, sem a preocupação com educação e capacitação da população,


permitindo a geração de capital humano e intangível. De igual modo, deve valorizar a questão
cultural, pelo viés que possibilita no exercício da cidadania consciente e na construção de
valores propositivos à sociedade. Na Amazônia, este aspecto se traduziria em consciência e
educação ambiental, identidade e senso de lugar, cidadania e ativismo político, na cobrança
por políticas públicas, solidariedade e vontade conjunta.

b) Ambiental: garantir os sistemas de sustentação da vida como provedores de


recursos (capital natural) e como „recipiente‟ para a disposição de resíduos; o que inclui
questões relacionadas à gestão integrada dos recursos naturais, como o manejo sustentável dos
recursos, a preservação, a reciclagem, a reutilização, o combate ao desperdício e a
conservação dos recursos finitos, de modo que o desenvolvimento seja possível dentro de uma
ética ambiental mais solidária com a natureza e com as gerações futuras.

68
“Externalidades ocorrem quando o consumo e/ou a produção de um determinado bem afetam os
consumidores e/ou produtores, em outros mercados, e esses impactos não são considerados no preço de
mercado do bem em questão” (SAMPAIO DE SOUZA, 2008. p. 1).
69
SACHS, 2006
70
Ibid. Ver também: BARBIERI, José C. e LAGE, Allene C. Avaliação de Projetos para o Desenvolvimento
Sustentável: Uma análise do Projeto de Energia Eólica do Estado do Ceará com base nas dimensões da
sustentabilidade. Disponível em:
http://www.fiec.org.br/artigos/energia/avaliacao_projetos_desenvolvimento_sustentavel_energia_eolica_ce.htm
50

c) Territorial – relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das


atividades, ou seja, a promoção da desconcentração de atividades econômicas do centro
urbano, a ampliação da infra-estrutura e do atendimento às necessidades básicas da população
nas áreas rurais, o fomento da instalação de empreendimentos que utilize como insumos a
produção local, construindo uma cadeia produtiva que agrega valor à produção local e
melhora a qualidade de vida da região.

d) Econômico: a condição chave para todas as outras esferas se relaciona à criação de


mecanismos para um novo sistema produtivo, integrado e de base local, nos quais sejam
estimuladas a diversidade e a complementaridade de atividades econômicas, gerando uma
cadeia de iniciativas de modo que a agricultura, a indústria, o comércio e o setor de serviços
gerem melhorias nas condições de vida para todos os sistemas envolvidos, quer sejam sociais
ou naturais.

e) Político: traz a governança democrática como um valor fundador, traduz-se na


participação efetiva da sociedade civil, no planejamento e controle social das políticas
públicas, a partir da disponibilização de uma base de informação desagregada, que permita
uma análise mais apurada da economia e da realidade social local, provendo condições de
êxito para a participação da sociedade nos projetos de desenvolvimento sustentável.

Cabe ainda atuar no desenvolvimento de uma filosofia dentro da administração


pública, voltada para os interesses da sociedade, de modo a eliminar qualquer prática
clientelista ou distorcida sobre os conceitos da governabilidade. Contas equilibradas e
responsabilidade com o patrimônio público fazem parte desta filosofia.

Além destes pilares citados pelo autor, a face tecnológica também merece destaque,
dado que sem pesquisa e inovação científica não há como conciliar e convergir as múltiplas
dimensões no âmbito do desenvolvimento. Inclui a promoção do desenvolvimento científico e
tecnológico local, o fomento de parcerias entre órgãos governamentais e não governamentais,
universidades, mercado e sociedade civil, promovendo o intercâmbio, a cooperação técnica e
investindo no desenvolvimento de recursos humanos locais para conformar uma rede
integrada de ciência e tecnologia.

Para direcionar estes pilares de Desenvolvimento, o autor toma por base a reunião de
Joanesburgo (2002), a partir da qual, visualizam-se quais as mudanças necessárias a serem
adotadas pelos países do Norte e do Sul para a promoção do Desenvolvimento Sustentável no
51

globo. Recomendações que bem podem ser transportadas ao âmbito da OTCA. Destacamos as
seguintes:

a) Aplicar estratégias de desenvolvimento endógenas e inclusivas (em vez de transplantar


ou replicar os modelos de desenvolvimento do Norte)

b) Um acordo Norte/Sul a respeito do Desenvolvimento Sustentável para aumentar o


fluxo real de recursos do Norte para o Sul (pelo incremento de novos valores de mercado,
como o Comércio justo) – estimulando simultaneamente as economias em crise do Norte.

c) Gerenciamento das áreas globais de uso comum

d) A criação de um sistema internacional de impostos (sobre a energia, pedágios para o


uso de oceanos e espaços aéreos e algum tipo de taxação sobre transações financeiras).

Transplantando estes pilares de ação para o nível regional da OTCA, temos por hipótese
que:

a) As estratégias de Desenvolvimento da Organização devem cumprir uma grande rede


multisetorial71 quanto à ação, a fim de dar conta das fragilidades geopolíticas; e, participativa
no sentido de governança, que contemple a interface local - global, incluindo a população
neste sistema.

b) A diplomacia multilateral amazônica deve ser capaz de articular e compatibilizar seus


interesses „endógenos‟ na agenda da Cooperação Internacional, indispensável para a
promoção dos programas de gestão da região. Esta cooperação Norte-Sul não se deve
converter em ameaça de entrave ao efetivo desenvolvimento regional, na medida em que,
como já vimos, os interesses e as estratégias internacionais para a região são divergentes,
voltados prioritariamente para ações de preservação ambiental.

c) Consistiria na execução de programas conjuntos (OTCA e países membros) para


gestão de temas e recursos comuns às soberanias nacionais, estratégia que de fato vem sendo
trabalhada pelo organismo.

d) Relacionada à criação de compensações financeiras pela preservação dos recursos


naturais da Amazônia, os quais prestam serviços ambientais a toda a humanidade.

71
Ingresso econômico qualificado, segurança jurídica, demandas sociais, educação, cultura e meio ambiente
equilibrado e defesa.
52

O autor admite que em nível global, “as perspectivas imediatas são sombrias”
(SACHS, 2006: 16), mas que também o gerenciamento das urgências de curto prazo deve
estar vinculado ao mesmo marco conceitual do Desenvolvimento Sustentável, que se
aplicariam às estratégias de médio e longo prazo. Ou seja, a promoção deste padrão requer
uma „mudança imediata de paradigma‟, com o crescimento econômico, baseado na
mobilização de recursos internos (humanos e naturais) e capacitação local de planejamento.

Em nível de estratégias concretas para a implantação deste paradigma da


Sustentabilidade, Bertha Becker propõe uma revolução científica e tecnológica para a
Amazônia72. Segundo ela, este é um dever tanto do Estado, quanto daqueles que produzem
conhecimento73 e tem de enredar várias disciplinas (áreas do conhecimento), com a
participação da sociedade.

A estratégia principal consiste em promover programas de valorização e manejo da


floresta em pé, para evitar ou mitigar o avanço de frentes de gado e grãos para o bioma, por de
modo integrado, visto que ações dispersas se isolam e não criam a rede sinérgica necessária
para fazer frente de valor à economia do agronegócio para exportação, ou seja, tendo já
expandido o setor de exportação, é vital e urgente voltar a pesquisa, a ciência e a tecnologia
na criação de assistência técnica e principalmente, logística ao pequeno e médio empresário
ou produtor, de forma contrária não é possível falar em sustentabilidade social e ambiental.

Com este raciocínio, em estudo para o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil,


Bertha Becker propôs a formação de cadeias tecnoprodutivas em biodiversidade, que viriam
desde o âmago da floresta, agregando valor gradativamente, portanto atendendo à população
local, até as indústrias nas áreas urbanas, em etapas, passando pelos centros de biotecnologia.

Mas o uso da biodiversidade não se restringe à dermocosmética, serve também para a


nutricêutica, além da produção de fármacos e fitoterápicos, e aí, mesmo que não se possa
competir com as grandes farmacêuticas mundiais, pode atender ao grave problema da saúde
pública regional (BECKER, 2005).

72
A autora se refere com exclusividade à Amazônia brasileira, mas as propostas podem ser repensadas em nível
regional.
73
“Porque o Brasil já fez umas boas e importantes, como a exploração do petróleo em águas profundas,
transformação da cana em álcool e a revolução do cerrado”. (Ver matéria „Bertha Becker propõe uma revolução
para salvar a Amazônia‟, entrevista concedida à Ângelus Figueira, em 24 de maio de 2008. Disponível em:
http://blogdofigueira.blogspot.com/2008/05/bertha-becker-prope-uma-revoluo-para.html. Acessado em 01 mai
2010)
53

Organizar as cadeias, assistir os pequenos e médios empresários locais com fundos de


inovação, articular pesquisa e empresa. Em áreas de produção de alimentos, por exemplo,
organizar vilas industriais, com cem colonos, como cooperativas, com estradas, acesso à
cidade e à circulação. “E é mais fácil para o governo ajudar (neste sentido), porque pulverizar
dinheiro para 700 assentamentos na mata não tem futuro, não é?”74.

Em síntese, consiste em: “estabelecer projetos conjuntos quanto ao aproveitamento da


biodiversidade e da água, inclusive nas áreas que já possuem equipamento territorial e
intercâmbio, como é o caso das cidades gêmeas localizadas em pontos das fronteiras
políticas” (BECKER, 2005).

Vale lembrar neste âmbito de revalorização da Amazônia que existe um concenso,


quanto ao já irreversível processo de mercantilização da natureza. Os autores trabalhados não
o negam e pactuam com este processo, respaldando a necessidade de organizar a sociedade
para impedir o livre jogo das forças de mercado, em relação aos elementos vitais para o
homem. Logo, a valorização da Amazônia, em termos geopolíticos, culturais e históricos é tão
importante quanto discutir a valoração (econômica) dos bens da região.

Assim como foram criados mecanismos para evitar o abuso do capital sobre a força de
trabalho (sindicatos, leis trabalhistas e de direitos civis e humanos), no início da
industrialização; o momento atual demanda a regulação dos mercados de biodiversidade 75, de
modo negociado a fim de garantir benefícios para as populações locais. Nesse cenário o papel
do Estado é fundamental, assim como a pressão da sociedade civil, ainda não atenta e bem
informada sobre o tema (BECKER, 2005). Observa-se que negociações bem feitas quanto ao
uso e apropriação de recursos naturais na Amazônia é fato ainda desconhecido, basta ver o
entorno dos grandes pólos minerais (na porção brasileira, por exemplo), que deixam em
termos de compensações quase nada à população local.

Enquanto a floresta em pé não receber a devida valoração econômica, por meio de


logística adequada de produção e pelo valor de não uso, continuar-se-á a derrubá-la76. No

74
Bertha Becker em entrevista concedida à FIGUEIRA, Ângelus.
75
“Existem iniciativas encaminhadas como a Prototipe Carbon Fund, do Banco Mundial, sistema difícil de
implantar, visto que as patentes e a distribuição de benefícios para as populações locais não foram ainda
regulamentadas no país” (BECKER, 2005)
76
Bertha Becker em entrevista concedida à FIGUEIRA, Ângelus.
54

Brasil, uma questão de custo/benefício imediato explica porque a deflorestação persiste na


Amazônia brasileira:

Enquanto o custo de derrubada de novas áreas custa aproximadamente R$ 200,00 a


R$ 300,00/ hectare, a utilização das áreas já desmatadas que foram transformadas em
“juquira” exige a aradagem, a gradagem, a correção de solos e a reposição dos
nutrientes, o que faz com que os custos atinjam R$ 700,00 a R$ 750,00/ hectare.
(HOMMA, 2005).
Com relação à atribuição de valor de não uso, sugere-se a criação e regulação de um
mercado que insira valor econômico aos benefícios ecossitêmicos produzidos pelo bioma
Amazônico, um mercado de Serviços Ambientais. Possibilidade de recursos nacionais e
internacionais, públicos e privados, para a garantia de subsídios ou ainda, para a negociação
direta nos mercados, como o mercado de carbono, por exemplo.

Para os serviços oferecidos77: absorção de carbono, biodiversidade, qualidade da água,


controle da erosão, entre outros, a ONU e a FAO apontam os possíveis compradores e
beneficiados conforme explícito no quadro 3.

Existem técnicas que possibilitam identificar e quantificar a importância dos serviços


ambientais. Este é um mercado emergente, cujos interesseses internacionais também
divergem e os paises em desenvolvimento devem fazer uso conjunto da negociação para
alcançar resultados propostitivos.

Quadro 2 Taxonomia para a valoração dos recursos ambientais

Valor econômico dos recursos ambientais

Valores de uso Valor de não-uso

Valor de uso direto Valor de uso indireto Valor de opção Valor de existência

Recursos Benefícios das funções


Valores diretos e Valores do conhecimento e da
diretamente ecossistêmicas (serviços
indiretos futuros continuidade da existencia
consumíveis ambientais)

Fonte: Pearce (1994) apud Young e Fausto (1997)

77
Fonte: Organización de las Naciones Unidas para La Agricultura y La Alimentación. El estado mundial de
La agricultura y La alimentación. Roma, 2007. p.40
55

Quadro 3 Mercado potencial para os Serviços Ambientais

Serviços do
Beneficiados Compradores
Ecossistema

*Governos locais, regionais e nacionais;


*Orgnizações Internacionais (BM/Fundo
BioCarbono);
*Fundos Nacionais de Carbono;
Absorção de Carbono Comunidade Internacional
*Grupos conservacionistas;
*Fundações dedicadas à conservção;
*Empresas
*Fundos de alto risco e grupos de investidores

*ONG‟s nacionais e internacionais


Biodiversidade Comunidade Internacional
*Empresas privadas (compensações)

*Comunidade local (água


*Municípios
potável)
*Provedores privados e públicos de água
Qualidade da Água *Pescadores (contaminação)
*Companhis engarrafadores de água
*Agriculltores (salinidade)
*Orgnaizações Agrícolas

*Comunidade local (água


potável)
Controle da Erosão *Provedores de energia elétrica
*Pescadores (sedimentação)

Fonte: Organización de las Naciones Unidas para La Agricultura y La Alimentación. El estado mundial de La
agricultura y La alimentación. Roma, 2007. p.40

Alfredo Homma78 trabalha como idéia central, a utilização integral das áreas já
desmatadas e a atribuição de valor de não uso para manutenção das florestas em pé: toda
política pública para a Amazônia deve estar voltada para a utilização de mais de 67 milhões
de hectares (2004) que já foram desmatados e que constituem a “segunda natureza”. Área,
cujo potencial poderia ser convertido com o uso adequado de práticas agrícolas e pecuárias; e
com a adesão de outos projetos para as áreas que “não deveriam ter sido desmatadas”: como
reflorestamento de madeiras nobres (produção de madeiras nobres, compensados, carvão
vegetal, celulose, energia e cavacos) de modo a criar atividade econômica nas áreas

78
ibid
56

impróprias para a agricultura; projetos MDL para atender uma demanda crescente por
Mercado de Crédito de Carbono.

Para se atingir o desmatamento zero há necessidade, portanto, de políticas concretas,


além da restrição da incorporação de novas fronteiras e do financiamento da
utilização das áreas já desmatadas79.
Diferente de Becker, Homma concorda que na Amazônia, seja efetivada a produção de
monoculturas, como o arroz, a soja, o milho, o dendê, da carne bovina e do leite, baseado no
fato que de que são demandas sociais que “alguém sempre vai ter que produzir”, ressaltando
que o autor aprova apenas o uso das áreas já desmatadas. Becker teme, porém, que a inserção
definitiva das monoculturas de exportação na floresta amazônica (da soja e do gado,
propriamente) não respeite as áreas preservadas e novamente crie um modelo econômico
alheio às necessidades locais.

Nas cidades amazônicas (do Brasil), o custo da cesta básica é um dos mais altos do
país, porque grande parte do alimento consumido diariamente é importada de outros estados.
A região precisa de investimento interno para atender as demandas internas. Tendo também
em vista que a soja é um produto de monocultura cíclica, como tantos outros o país vivenciou
desde o período colonial, e por isso, pelas razões históricas não é conveniente incentivar a
inserção do grão na Amazônia.

Ambos, porém, estão de acordo, quando se fala em uma forma inovadora de produzir
desenvolvimento regional, cujas estratégias, qualquer que sejam, dependerão de maiores
investimentos em ciência e tecnologia, assistência técnica, infra-estrutura social para vencer o
atraso que, aos poucos, torna-se irreversível. A Amazônia Legal Brasileira recebe apenas 2%
dos recursos da União para Ciência e Tecnolocia – número que deve ser “quadruplicado nos
próximos dez anos”80.

Aragón81, responsável no Brasil por um projeto macro de pesquisa sobre a população


da Amazônia82 aponta a necessidade de que a ciência trabalhe de modo coordenado,

79
ibid
80
ibid

81
ARAGÓN, 2008. Em entrevista à CIECz (Ciência e Comunicação na Amazônia/ UFPa) o professor destaca a
parceria do programa de pesquisa com a OTCA “para saber que políticas e que medidas devem ser tomadas em
nível de Amazônia como um todo”. Ainda, que tem recebido contrapartida do organismo: “é importante é ligar-
nos cada vez mais com a OTCA, que nos tem consultado regularmente, tem analisado nossas publicações que
são citadas e discutidas, e isso é extremamente interessante”. Disponível em: http://www.ciecz.com.br/.
Acessado em 02 mai 2010
57

visualizando a Amazônia como uma unidade: “Hoje, nós vemos que é extremamente
complicado desenvolver ações individualizadas [...], não adianta muito um país ter uma
excelente legislação ambiental, quando o outro não tem”. A pesquisa científica não pode ser
assimétrica e desordenada, criar e integrar as redes de C&T, sejam de instituições ou de
pessoas, é um primeiro passo, pois estas redes são precursoras da integração regional: “não só
os colombianos analisando a Amazônia colombiana, os bolivianos a Amazônia boliviana, os
brasileiros a Amazônia brasileira, mas integrar as ações de pesquisa”. Desenvolver
conhecimento e pesquisa, orientados para a proposição de dados e para construção de
políticas públicas macro, de nível regional, segundo ele.

E mais, essa pesquisa deve ser capaz de inovar, pois as particularidades regionais
(dimensão territorial, multiplicidade de ecossistemas e população dispersa, entre outros) não
são encontradas em outras áreas do mundo, de forma que se torna inivável replicar projetos de
desenvolvimento. É necessário articular as particularidades nacionais, sempre visulizando a
região da forma continental como é, integrando e consolidando dados cada vez mais
confiáveis e convergentes.

A questão do investimento em educação e pesquisa cientifica é urgente, se tormarmos


por base os dados referentes à Amazônia brasileira: responsavel por 8% do PIB nacional,
recebe apenas 2% de investimento em C&T, é a região com menor número de doutores
atuantes e 70% da produção científica sobre a região não tem nenhum autor brasileiro, e dos
30% restantes, somente 25% tem um autor atuando na Amazônia83. Logo, se soberania for de
fato o domínio do conhecimento, seria como pensar que os amazônidas detêm apenas 30% de
soberania sobre o lócus. “O conhecimento tradicional esta totalmente desprotegido”
(ARAGÓN, 2007).

E para isso, convocar a participação efetiva da sociedade: incluindo instituições de


pesquisa, universidades, entidades empresariais (industriais e rurais), trabalhadores e suas
representações, populações originárias e tradicionais “pelo conhecimento que devem ter das
especificidades do território”. E o fator humano é aqui fundamental, porque convidar e

82
MAPAZ - Grupo de Pesquisa Meio Ambiente, População e Desenvolvimento da Amazônia (MAPAZ),
formalmente cadastrado no CNPq no ano 2000. Integra um grupo macro de pesquisa formado por pesquisadores
de toda a região amazônica.
83
Dados do INPA apud ARAGON, 2007. In: AMAZÔNIA: COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E O PAPEL
DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA DO BRASIL Anais da 59ª Reunião Anual da SBPC - Belém,
PA - Julho/2007.
58

capacitar a população a pensar sua região fomenta o sentido de lugar, de identidade, uma
característica ainda carente, mas vital para promover envolvimento político e organização
social nas demandas públicas. Ou seja, somar forças na elaboração de planos e estudos,
aportando idéias, conhecimentos tradicionais, cultura, ou seja, propostas concretas e reais que
possam levar a novas atitudes em relação à Amazônia e sua gente. E dentre tantos os
problemas, os intelectuais apontam como unanimidade, a ausência do Estado e das
instituições responsáveis por fazer cumprir a lei.

Sobre o tema, alguns apontamentos de Antonio Brack Egg84, para enquadrar os


desafios concretos da região, são os seguintes:

a) educação adequada em todos os níveis para descobrir, conhecer e desenvolver a enorme


gama de possibilidades que oferece a região no que diz respeito à biodiversidade e seu uso
sustentável;

b) desenvolver e divulgar alternativas de desenvolvimento inovadoras que integrem os


aspectos de rentabilidade econômica, superação da pobreza e a eficiência ambiental;

c) melhorar a ciência e a tecnologia na Amazônia por meio da pesquisa científica


própria e o desenvolvimento de tecnologias ecoeficientes (dando atenção especial à
recuperação de terras e dos ecossistemas degradados);

d) melhorar a valorização econômica dos serviços ambientais;

e) criar e fortalecer uma estratégia ofensiva nas negociações e fóruns internacionais,


onde os países amazônicos devem destacar as ações positivas que estão desenvolvendo para a
conservação da biodiversidade, a proteção dos povos e conhecimentos tradicionais, o manejo
das florestas e a recuperação dos ecossistemas afetados. Mas também é muito importante ter
maior força para negociar o acesso aos recursos genéticos, o reconhecimento dos
conhecimentos tradicionais, o valor dos serviços ambientais, e a necessidade de uma
cooperação com benefícios mútuos;

f) Finalmente, é necessário um grande esforço orientado a uma cooperação entre os países


amazônicos para um desenvolvimento sustentável na região.

84
Ver OTCA Boletim Informativo Nº I, p. 6 - Disponível em: <www.otca.info>
59

2.3 A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO BRASILEIRO PARA A


AMAZÔNIA

A elaboração de políticas de controle ambiental no Brasil “se desenvolveu de forma


tardia em relação às demais políticas setoriais do país e em função das pressões externas dos
países desenvolvidos”85. Foi institucionalizada pela criação da Política Nacional do Meio
Ambiente, de 1981 – que criou por sua vez, o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA - a Lei federal 6.938/1981), para elaborar a política ambiental nacional, nas três
esferas públicas (União, estados e municípios), tendo o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) como órgão colegiado; e, estacelecendo o regime de licenciamento ambiental
para todas as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.

Ratificada na Carta Magna de 1988 (RIBEIRO, 2006), a questão ambiental foi tratada
no capítulo VI, do Título VIII (Da Ordem Social), que preconiza para o poder público, a
promoção de um meio ambiente equilibrado como um direito coletivo. Sobre a Amazônia,
estabelece a soberania nacional e pressupõe o manejo ambiental adequedo da Floresta,
compartilhando a responsabilidade sobre o trato ambiental, entre as três esferas de poder
federado.

Paralela à nova Constituição Federal, o governo do presidente Sarney (1985-1989)


lançou o Programa Nossa Natureza (12/10/1988), com o fim de atribuir ação à norma
constitucional. A partir de Grupos de Trabalho Interministerial, deram-se duas resoluções
importantes: o surgimento de ampla legislação ambiental e a criação do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), que unificou e reestruturou os órgãos
públicos existentes para instruir e executar a Política Nacional do Meio Ambiente, punindo
atividades nocivas ao meio ambiente, de forma civil, administrativa e criminal.

Na Amazônia, embora o investimento Estatal, no sentido de gerar efetividade na


atuação regional tenha iniciado em 1953, com a criação da Superintendência do Plano de
Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), o paradigma da „política de ocupação‟
prevalace até meados do fim dos anos 80, quando já na década seguinte, discute-se com mais

85
SOUSA, Ana Cristina. A evolução da Política Ambiental no Brasil do século XXI. Disponível em:
<http://www.achegas.net/numero/vinteeseis/ana_sousa_26.htm>. Acesso em: 02 abril 2010.
60

contundência a necessidade de produzir para a Amazônia, políticas de Desenvolvimento, que


se sobreponham ao paradigma anterior.

No âmbito do Ministério do Meio Ambiente, foram criadas a Secretaria de


Coordenação dos Assuntos da Amazônia Legal e, o Conselho Nacional da Amazônia Legal,
visando à aplicação da Agenda XXI86. “Aparato institucional que não conseguiu
realizabilidade [na região amazônica]”87, porque não manteve uma ótica integrada e
multisetorial de inclusão da política ambiental às demais áreas ministeriais, pela
desarticulação dos organismos regionais, e porque, os fundos voltados à iniciativa privada
tiveram foco na rentabilidade dos projetos financiados.

Por exemplo, não atrelava sequer as áreas de saúde e saneamento, áreas alvo de
políticas setoriais próprias, que exercem e sofrem impactos extremamente visíveis
sobre o meio ambiente. Para se ter uma idéia, o lançamento de esgoto a céu aberto é,
segundo o IBGE, hoje, a degradação ambiental mais freqüente nas cidades brasileiras,
o que gera, por conseqüência, um impacto negativo na saúde coletiva, especialmente
a infantil88.
Quando não estava isolada, a política ambiental conflita(va) com as políticas de
desenvolvimento, um impasse que marca toda a década de 90 e adentra o próximo século (a
um só tempo, expressão e indução do conflito [social])89.Com o intento de superar esse
conflito, a união e os estados parte da Amazônia brasileira fecharam, em 2008, o Plano
Amazônia Sustentável (PAS), que detalha em 16 pontos, diretrizes estratégicas para o alcance
do Desenvolvimento Sustentável Regional, a partir de operações de planos sub-regionais.

Entre os pontos estratégicos do PAS, têm-se: a valorização da diversidade


sociocultural e ecológica e redução das desigualdades regionais; ampliação da presença
democrática do Estado e fortalecimento dos fóruns de diálogo intergovernamentais e o
fortalecimento da integração do Brasil com os países sul-americanos Amazônicos (por meio
da OTCA)

Coordenada pelo Ministro Extraordinário do “Núcleo de Assuntos Estratégicos”,


reflete o intento de construir senergia na política de Desenvolvimento da Amazônia, tornando
a política ambiental, uma esfera comum a todos os outros aspectos do Desenvolvimento. O

86
Documento resultante da ECO-92 que trabalha diretrizes para promoção do Desenvolvimento Sustentável em
nível global.
87
SOUSA, Ana; RIBEIRO, 2006.
88
SOUSA, Ana;
89
BECKER, 2005.
61

financiamento foi estabalecido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, inclui:


a Operação Arco Verde, com destinação de R$ 1 bilhão para projetos de reflorestamento e
recuperação de áreas degradadas. Bem como, a previsão de construção para duas UHE, a do
Rio Madeira (Santo Antonio e Jirau) e a de Belo Monte (na volta grande do rio Xingu).
Também, em nível operacional, o Plano de Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável
para a Área de Influência da Rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém); o Plano de
Desenvolvimento Territorial Sustentável para o Arquipélago do Marajó e o Plano de
Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu.

Uma estratégia de desenvolvimento consistente para a Amazônia precisa apropriar essa


diversidade ambiental, econômica, social, cultural e política, refletida nas unidades
territoriais como elemento central de organização das ações, sob pena de não dialogar
concretamente com as forças sociais atuantes em cada contexto do vasto território.

Em entrevista90 sobre a Cooperação Amazônica, o Presidente Lula destacou também:


o Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento da Amazônia de 2004, que
reduziu as derrubadas da floresta em 58%, passando de 27,4 mil quilômetros quadrados,
naquele ano, para 11,5 mil quilômetros quadrados, em 2007, segundo dados oficiais; E, o
Plano Nacional sobre Mudança do Clima (2008), que estabelce um planejamento de redução
gradual do desmatamento com meta a atingir em 2017, 82% a menos em relação à área
desmatada em 2004. E afirmou que foram intensificadas as operações de fiscalização sobre a
madeira extraída de forma ilegal da floresta, conjugando um esforço integrado entre o Ibama,
a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e mesmo o Exército.

Embora o PAS adote a tendência de harmonização da estratégia ambiental aos outros


setores da administração pública, ainda se fazem presentes controvérsias de nível interno na
execução de estratégias. O governo intensifica o discurso para o mundo, sobre o foco da
peservação ambiental: cerca de 30 % do território amazônico se constitui de áreas protegidas
(com contribuição de financimento do Banco Mundial e do WWF), as terras indígenas foram
multiplicadas e entende-se que o Estado errou na demarcação da Raposa Serra do Sol.

Por outro lado, o intento de construção de Belo Monte, por exemplo, tem provocado
reação social local e global, com todas as prerrogativas ambientais, o BNDES se dispõe a
financiar 80% dos 19 bilhões de reais orçados para a obra (pelo menos R$ 30 bilhões,

90
Presidente Lula em entrevista Cooperação Amazônica: (Teoria e Debate nº 80 - janeiro/fevereiro 2009)
http://www.fpabramo.org.br/conteudo/entrevista-luiz-inacio-lula-da-silva-cooperacao-amazonica
62

segundo os empreiteiros) e entre os incentivos fiscais, a isenção de 75% do imposto de renda


por dez anos91.

O que se nota pela obervação da realidade local é que o país não alcançou ainda a
compatibilização (econômico, social, ambiental) e, não há na negociação dos âmbitos público
e privado, o retorno adequado à população local pelas riquezas produzidas na região, em
parte, falta de uma política propositiva dos governantes locais. Assim é com Tucuruí e com os
grandes projetos de mineração, isentos de imposto de exportação dos minérios e semi-
elaborados. Há conflitos sociais e lentidão na implantação de métodos adequados.

91
Ver BECKER, 2005. Ver matéria O Frankenstein de água, por Lúcio Flávio Pinto. Disponível em:
<http://colunistas.yahoo.net/posts/1797.html>. Acessado em: 13 de mai 2010.
63

CAPÍTULO 3

3. MARCO HISTÓRICO CONTEXTUAL: DE TRATADO À


ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

3.1 RETROSPECTIVA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ENTRE OS PAÍSES


AMAZÔNICOS

Nas décadas anteriores ao Tratado, conforme testemunho de Rubens Ricupero92, os


países amazônicos praticamente se ignoravam mutuamente, e seus representantes só se
cruzavam esporadicamente nos corredores de organizações internacionais. Em parte, porque o
Brasil não velava importância à região norte em sua política externa, apenas esporadicamente:
como num discurso proferido pelo presidente Getúlio Vargas em 1940, que levantava a idéia
de elaborar um mecanismo de participação conjunta dos países amazônicos; ou ainda no final
da década de 1950, quando foi estruturado um grupo no MRE para a “formulação de uma
política voltada para a coordenação dos países amazônicos, sob liderança do Brasil, mas tal
idéia não teve avanços significativos” (ANTIQUERA, 2006, p.50).

Na década seguinte, em 1966, a chanceleria brasileira convocou seus embaixadores


para a preparação de uma conferência internacional a ser proposta aos chanceleres destes
países. Este encontro ocorreu em janeiro de 1967 e teve por foco a necessidade de integração
física intra-regional (rodoviária, hidrovia do contorno e da via interoceânica), a pauta sobre
cooperação surgiu de modo vago e se restringiu à “necessidade de mútuo conhecimento das
experiências com as respectivas regiões amazônicas” (ibid).

A integração econômica latino-americana foi defendida pelo chanceler de Costa e


Silva, Juracy Magalhães, em visita a Bogotá em novembro de 67, ocasião em que propôs “a
colaboração recíproca no desenvolvimento da Amazônia, através da realização de uma
conferência da qual participariam os chanceleres de todos os integrantes da Bacia” 93. Notícia

92
RICÚPERO, 1984:194 apud ANTIQUERA, 2006: 140
93
VIZENTINI, 1998:51
64

d‟ O Globo de 1/8/1970 faz referência a uma reunião ocorrida em Letícia, com representantes
de Brasil, Venezuela, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador, onde “o delegado brasileiro,
Danton Deamon, afirmou que é preciso buscar esses objetivos através de „soluções conjuntas
que integrem a área amazônica sul-americana e beneficiem cada país em particular‟” 94.

Mas o avanço de medidas horizontais na região, tinha por empecilho a permanência de


conflitos bilaterais transfronteiriços; e, um temor dos países latinos quanto à postura do
Brasil, muitas vezes interpretada por hegemônica. Um receio antigo, historicamente
sustentado pela ampliação das fronteiras brasileiras no período imperial e até a década de
1960 pela “complicada oscilação entre os EUA e a América Latina [na política externa
brasileira] que deixou muitas vezes um sentimento de desconfiança nos demais países que
compõem esta última” 95.

De certo modo, este receio era um mito, já que o Brasil havia definido seu território –
praticamente todo por vias diplomáticas - durante a gestão do Barão do Rio Branco no
Itamaraty e, apesar da condição priori de Estado territorialmente satisfeito, persistia-lhe um ar
de “país geófago”, conforme observado no relato de Nelson de Figueiredo96.

Mais consistente afirmar que o temor dos países vizinhos quanto às pretensões
brasileiras, estivesse relacionado à possibilidade de que a integração física e o incremento do
comércio ao norte conferissem ao Brasil uma maior expansão de suas influências geopolíticas
e econômicas. Por outro lado, é de se notar que um acordo multilateral não é a melhor
alternativa para um país interessado nos recursos de outro; acordos bilaterais,
complementados com acordos privados (entre empresas), seriam mais concretos neste
sentido97.

O contexto da política nacional-desenvolvimentista refletia no plano externo, por uma


diplomacia desligada de compromisso ou alianças com os vizinhos latinos, prevalecia a
autonomia internacional na busca pelo desenvolvimento e deste modo, o relacionamento com

94
Apud PEREIRA, 1971: 402,403
95
ANTIQUERA, 2006:44
96
O autor (RIBEIRO, 2006:208) narra que, em participação durante uma reunião em Manaus – 1966 - entre os
embaixadores do Brasil junto aos países amazônicos, um embaixador lhe teria advertido em segredo: “Cuidado,
esses países têm o Brasil como um país geófago”. “Embora não conceituado fica claro que o termo designaria
um país que se apropria de outros territórios que inicialmente, não faziam parte de seu „corpo‟ territorial” (Nota
de Vargas Kilca, 2006:21).
97
ANTIQUERA, 2006.
65

os Estados Unidos parecia bem mais estratégico ao governo brasileiro. Assim que, os países
amazônicos não corresponderam às iniciativas propostas em discurso pelo Brasil, para
inserção e ocupação geopolítica da região em toda sua unidade.

O posicionamento externo do Brasil passa a ganhar outros contornos, a partir


principalmente do governo Ernesto Geisel (1974-1979), que dá início a uma “postura de
autonomia frente aos EUA e de diversificação dos parceiros internacionais (URSS, China,
Leste Europeu, Europa Ocidental, Japão)”. Nesse período, o Brasil busca o desenvolvimento
aliado à projeção internacional e por isso, é focalizada a aproximação com os países da
América Latina, apesar de limitada ao discurso, conforme Amado Cervo, citado na tese de
Deniel Antiquera.

Assim, o autor define uma “multiplicidade de fatores” que contextualizaram as


condições apropriadas para o surgimento do TCA, como: a implantação do „pragmatismo
responsável‟ como estratégia de política externa; o desenvolvimento econômico e industrial
alcançado pelo Brasil, que proporcionou uma base material para projetar a integração da
Amazônia ao resto do país e também a conexão do mercado brasileiro a de seus vizinhos do
norte; e no contexto internacional, as aproximações ocorridas em cenário regional e as
próprias transformações instauradas a partir da década de 1970, onde a Amazônia recebeu
importância potencializada. No continente, a cride do petróleo de 1972, indicou a necessidade
de repensar parcerias quanto ao abastecimento de recursos energéticos, daí, entre outros, o
Brasil passar a vislumbrar maior atenção aos vizinhos amazônicos.

Internamente, a Amazônia na década de 70 representava um problema pendente para a


política externa brasileira. Era motivo de preocupação para os governos militares que temiam
uma investidura vertical e hegemônica de um país estrangeiro; ou que a região se convertesse
em cordão de isolamento entre o Brasil, os vizinhos e os países do norte da América do Sul,
além da corrente preocupação com o subdesenvolvimento da área e seu isolamento.

O fato é que o Brasil havia se atrasado na proposição de relações diplomáticas com os


vizinhos latinos e sua tendência em adotar uma postura hegemônica na época imperial e já no
século XX como “apêndice” dos Estados Unidos na América do Sul não conduziu à formação
de confiabilidade das outras partes quanto às intenções brasileiras, um fato importante para
conduzir com êxito um projeto de integração, conforme a primeira proposta elaborada pelo
Itamaraty.
66

3.2 NEGOCIAÇÃO E FORMAÇÃO DO TCA

Como proposta concreta, a iniciativa para elaboração de um acordo multilateral entre


os países amazônicos foi apresentada em cinco de dezembro de 1976, por ocasião do
Encontro Presidencial entre Ernesto Geisel (Brasil) e Francisco Morales Bermudez (Peru),
que “lançou a perspectiva da Amazônia como região propícia para a cooperação e
aproximação entre os dois países” (KILCA, 2006, p.48) e resultou na discussão de acordos
bilaterais e a apresentação oficial da proposta de promover um pacto amazônico no modelo do
Pacto da Bacia do Prata.

Assim, o Brasil deu início às rodadas de negociação que culminaram em um processo


relativamente rápido para aprovação do texto final. Em menos de vinte meses, o Brasil optou
por garantir a assinatura de todos os signatários da região, cumprindo o objetivo foco do
esforço diplomático, embora sob pena de redução das pretensões brasileiras propostas
inicialmente.

Em razão das históricas desconfianças com a política externa brasileira, somado ao


fato do país ter elaborado quase exclusivamente o anteprojeto para o TCA, sob „segredo
oficial‟ 98, a primeira reunião entre os oito países amazônicos foi marcada por fortes ressalvas
sob as suspeitas de que o Brasil visava consolidar sua hegemonia na região através do tratado.

Este temor pelo TCA devia-se também à coincidência de este ter sido proposto em
1976, quando o Pacto Andino passava por uma crise interna99, de modo que o primeiro
pudesse representar concorrência, fragmentação ou disputa de influência sub-regional. Mas
como um todo na América Latina, “os grandes esquemas de integração latino americana
(ALALC e SELA) já mostravam suas dificuldades, o que explica a tendência a acordos sub
regionais, menos pretensiosos, de que são exemplos o Tratado da Bacia do Prata, o Pacto
Andino e o próprio TCA” (ANTIQUERA, 2006, p.45).

98
“O termo foi utilizado por CARRASCO, op. cit., p.19” – apud KILCA,2006:51
99
Foi originalmente formado por Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Em 1973, a Venezuela ingressou no
Pacto e, em 1976, o Chile se retira em razão do governado Pinochet ter sido contrário aos projetos de integração
regional.
67

Na primeira rodada de negociação, Rio de Janeiro - 1977, o Brasil apresentou o


anteprojeto elaborado pelo Itamaraty, que continha 19 capítulos e a integração física como um
dos pilares principais. Conforme expresso no artigo 8 da proposta:

as partes contratantes reconhecem que a integração física da região amazônica


mediante o estabelecimento de uma estrutura adequada de transporte e
comunicações, constitui condição indispensável para o processo de
Desenvolvimento Regional.
Irredutíveis manifestações contrárias a este ponto, por parte de Peru, Bolívia e
Venezuela implicariam uma flexibilização considerável da proposta brasileira. Estes países
“insistiram na eliminação de referência à integração física e defenderam a necessidade de
ressaltar salvaguarda sobre a soberania nacional de cada país no contexto do Tratado. Logo,
firmemente defenderam que a expressão „integração física‟ fosse trocada por „coordenação
econômica‟. Também na primeira reunião caiu a menção à cooperação para a defesa, cujas
razões para tal, tornam-se facilmente compreensíveis, visto os fatos apresentados sobre os
receios dos países andinos. Bem como a idéia sobre um „Merconorte‟, expressão citada por
Adherbal Meira Mattos (1995:28)100.

Assim se deu que na reunião seguinte, ocorrida em Brasília a 31 de março de 78, “sob
reservas e apreensões, em intensidade menor do que aquelas que marcaram a primeira
rodada” (KILCA, 2006:52) foi acertado o mecanismo de unanimidade nas decisões, a fim de
evitar formação de blocos internos, tendo também sido feita a revisão do anteprojeto. O
anterior artigo oitavo foi reformulado com a expressão „desenvolvimento harmônico‟
alterando o termo „integração regional‟.

E para “dissipar as desconfianças e os temores da hegemonia provocados pelo TCA”


(Ibid. p.68), a diplomacia brasileira esforçou-se em trabalhar bilateralmente as tensões
internas, após o segundo encontro. “Nessas investidas [bilaterais] crê-se que a aproximação
brasileira do Peru e da Venezuela e o respectivo interesse demonstrado por ambos os países
ao TCA, tenha consolidado o respaldo que o Tratado necessitava” (Ibid. p.53)

Neste sentido, das controversas bilaterais vale lembrar que, com exceção ao Brasil, os
países pretensos ao TCA mantinham entre si conflitos territoriais, um fator que tendia a
tensionar a cooperação. Em especial, este ponto se convertia em temor para Venezuela (em

100
“A intenção brasileira era criar um macrocomércio, visando um Mercado Comum Amazônico, em termos de
cooperação e de integração. Esse objetivo, porém, não foi alcançado, pois as outras partes contratantes temeram
um expansionismo do Brasil.” (MATTOS, 1991:26)
68

disputa territorial com a Guiana) e Peru (em conflito com o Equador)101. De modo que para
superá-lo, optou-se que o Tratado se abstivesse explicitamente dessas questões, conforme
redigido no artigo XIX.

Na III reunião preparatória de representantes plenipotenciários realizada entre 16 e 17


de maio de 1978 em Caracas foi aprovada a redação oficial do tratado, assinada por fim em 3
de julho, pelos Ministros de Relações Exteriores, tendo seguido à ratificação nas casas
legislativas nacionais, entrando em vigor, em 1980, após a última ratificação da Venezuela.

De acordo Daniel Antiquera e Vargas Kilca, pode-se enxergar a assinatura do TCA


como um sucesso diplomático, dada as nuances internas entre os signatários, vencidas em tão
pouco tempo, bem como a relativa derrota em pontos cruciais do projeto inicial brasileiro. Por
tal constatação, Antiquera conclui que o “Brasil priorizou a adesão dos países amazônicos, em
detrimento da defesa enfática (inclusive com uma possível utilização de recursos de poder) da
sua proposta original”.

Sob restrição do projeto inicial, prevaleceu então, no âmbito regional um “primeiro


passo no sentido de neutralizar o sentimento antibrasileiro reinante nos países limítrofes às
fronteiras Norte e Oeste” (MELLO, 1996, p.208 – apud ANTIQUERA, 2006, p. 64) e o TCA
pôde cumprir um de seus objetivos implícitos mais importantes, responder às pressões
internacionais sobre a posse por direito e de fato da região amazônica, pelos países
signatários.

A motivação de vértice político, da “necessidade econômica e geopolítica dos países


da região” 102, seria então o principal fator norteador do TCA: a “defesa de jurisdição política
e territorial sobre a bacia, refutando interesses externos para internacionalizá-la”103. Assim é
conveniente constatar nas entrelinhas deste esforço diplomático, que não foi nem o “espírito
de colaboração nem a cooperação que [motivaram] os países da região”104 a concretizar uma
jurisdição inter-amazônica. Ou em outros termos, “mais interessava afastar a ameaça da
internacionalização do que firmar as bases de uma verdadeira cooperação regional, naquele

101
A questão limítrofe (159 km² do Essequibo) entre Venezuela e Guiana, data de 1899, quando o segundo era
ainda colônia inglesa. Em relação à questão Peru/ Equador, o tema foi trabalhlado no capítulo 2.
102
KILCA, 2006:55 - 61
103
In: Amazônia Sin Mitos, Wasuington D.C: BID, PNUD, TCA,1992,P38.
104
MEDINA E CAUBET, apud KILCA, 2006: 62
69

momento. Provavelmente se não houvesse tal condicionante, a proposta brasileira do tratado


dificilmente teria sido aceita”. 105

Por tudo isso, note-se a ambição e impossibilidade de aprovação do anteprojeto inicial


brasileiro, que buscava, conforme Juan Pablo Carrasco106:

Uma integração econômica e industrial, com o estabelecimento de zonas de livre


comércio, por meio da integração regional, ficando restrita a um esquema de
cooperação com objetivos voltados ao fortalecimento formal das respectivas
soberanias sobre as áreas amazônicas, para investigação e exploração dos recursos
107
naturais, além da criação de um sistema de comunicações .

3.3 ANÁLISE NORMATIVA DO TRATADO

A análise do histórico de negociação para consolidação do Pacto Amazônico é


indispensável para compreender a forma da redação final, pois ajuda-nos a concluir
implicitamente que, dada a resistência dos países andinos, a dimensão de governança do
Acordo necessitava ser limitada em relação ao anteprojeto brasileiro, sob pena, talvez, de o
acordo não conseguir adesão das oito partes envolvidas e assim, diminuir sua
representatividade e prejudicar o intuito de responder às pressões internacionais sobre a
ingerência do bioma amazônico. Feita tal consideração, trabalhar-se-á neste tópico os
princípios, objetivos e caráter normativo-institucional do Tratado.

Daniel Antiquera julga a solução diplomática contida no Pacto Amazônico sob três
perspectivas objetivas: (i) o debate internacional e a posição do Brasil no mundo, (ii) o
contexto regional e, (iii) as questões específicas da Amazônia.

(i) Em nível mundial, o tratato “responde às questões ambientais, defende a soberania,


a exclusividade dos países na exploração dos próprios recursos, reforça o direito ao
desenvolvimento e reflete a postura do pragmatismo responsável”.

105
Armando Gallo Yahn Filho, apud KILCA, 2006: 62
106
Carrasco, Juan Pablo. El Tratado de Cooperación Amazónica. NUEVA SOCIEDAD NRO. 37 JULIO-
AGOSTO 1978, PP. 19-25. Disponível em: <http://www.nuso.org/upload/articulos/446_1.pdf>. Acesso em:
12mar 2010.
107
In: KUCINSKI, Bernardo. La Amazônia y La Geopolítica del Brasil. NUEVA SOCIEDAD, num.37, Julio –
agosto, 1978, P.29 apud Daniel Antiquera, 2006
70

(ii) Em nível regional, “fica clara a intenção de aproximação dos vizinhos, de


dissipação de quaisquer receios relativos ao Brasil e também é possível identificar a busca do
país por uma liderança regional”.

(iii) Em nível amazônico, “pretende ser um instrumento para ajudar os signatários a


incorporar o território amazônico a suas respectivas economias, compartilhar experiências,
aumentar a qualidade de vida das populações, desenvolverem tecnologias específicas,
melhorar a infraestrutura da região, fazer da Amazônia um elo e não um fosso entre os países.
Garantir a preservação do meio ambiente, proteger um espaço frágil contra pretensões
externas, e, principalmente, incorporar a região aos esforços nacionais de desenvolvimento”.

Por base do acordo assinado, entende-se que o Brasil tendo tomado a fronte das
negociações, tenha priorizado o contexto regional. Conseguindo o aval dos oito países, logrou
a aproximação dos vizinhos setentrionais (um elemento da política externa geral do país para
o período) mitigando os receios e resistências dos mesmos, uma necessidade que prevaleceu
sobre o desafio micro regional proposto pelo Brasil, em nível amazônico. E no plano mundial
a resposta foi clara, os países amazônicos demonstravam – em tese- capacidade diplomática
para agir organizada e concertadamente contra a inteferência estrangeira108.

Analisando a didática fornecida por Antiquera, nota-se no decorrer da pesquisa que ao


longo dos anos houve variação da priorização de cada um desses níveis, em função dos
interesses e contextos internos na América Latina, e também em função das pressões externas.
Se inicialmente, a prioridade para o avanço nos trabalhos consistia na necessidade de manter
próximos os países latinos amazônicos, na virada do século, a melhor resposta às intenções de
ingerência e às acusações internacionais é a priorização dos objetivos de perspectiva
amazônica, avançando na resolução de questões e problemas internos. Em tese, compreende-
se que assim deveria ocorrer, a reposta teremos conforme o avanço da investigação.

Composto por 28 artigos, a redação do Pacto Amazônico não dispõe sobre qual seria a
natureza jurídica do acordo. E para equacionar tal questão, Emilio Planchart aborda a
exclusão, ou seja, o TCA não se trata de (i) acordo entre bacias hidrográficas; nem se constitui
n‟um (ii) programa de integração física, nem n‟um (iii) modelo de integração econômica. Mas
sim, de um “acordo-quadro flexível, capaz de nortear matrizes coerentes para o

108
ANTIQUERA, 2006
71

desenvolvimento da cooperação regional”109, porque não gera obrigações jurídicas


específicas, o que não impede sua caracterização como Tratado uma vez que haja, a inteção
de produzir efeitos jurídicos110.

Por fim, Adherbal Meira Mattos(1991) é mais pragmático, segundo quem o TCA é um
“Tratado Inter-regional de Cooperação econômico-social” baseado nos seguintes princípios de
acordo com o preâmbulo do documento: a cooperação, o desenvolvimento, o respeito à
soberania e a preservação do meio ambiente.

Vargas Kilca (2006:60) amplia e complementa as considerações de alguns autores,


avaliando seis princípios básicos que “encontram-se na origem da associação dos Países
Membros, como também representam a continuidade da mesma, de modo que todos os
documentos promulgados por esse bloco sub-regional de cooperação se submetem a tais
princípios”. Citam-se: o princípio da Soberania, da Competência Exclusiva, do Equilíbrio e da
Harmonia, da Unanimidade das Decisões, da Salva-guarda Territorial e o princípio da
Cooperação Regional.

E como objetivos, Kilca (2006:57) cita oito pontos macro interdependentes: afirmação
da soberania sobre suas respectivas áreas amazônicas e o desenvolvimento da região,
considerados particularmente importantes. Em sequência, a conservação/preservação de
recursos naturais, a pesquisa científica e o intercâmbio de informações, o comércio, as
comunicações transportes (infra-estrutura), as fito-sanitárias e, por fim, o objetivo da
cooperação entre as partes.

Sobre a estrutura do Tratado111, apresenta-se em uma síntese de (i) aspectos materiais


(artigos I a XIX), (ii) de aspectos organizacionais (artigos XX a XXIV) e de aspectos formais
(artigos XXV a XXVIII) e (iii).

(i) Os aspectos materiais congregam a reafirmação da necessidade de pesquisa sobre o


território e seus recursos naturais, bem como a troca de informações, a reciprocidade e
previsão de programas globais com este fim; o autor nota que o documento trata de sete
matérias, a citar: Território e Recursos Naturais (art. I, II e IV); Rios: recursos hidricos,

109
Citado por KILCA, 2005: 72
110
ANTIQUERA, 2006.
111
MEIRA MATTOS, 1991:19
72

Transportes e Comunicações (art.art. III, V,VI e X); Pesquisa e Equilíbrio Ecológico (art. VII
e IW); Saúde (art. VIII) ; Recursos Humanos e Naturais (XI,XV,XVI,XVII,XVIII e XIX);
Comércio e Varejo; Turismo e Conservação de Riquezas Enológicas e Arqueológicas (art.
XIII e XIV) 112.

(ii) Os aspectos organizacionais são aqueles referentes à operacionalização das


matérias citadas. OTCA não dispõe sobre órgãos legislativo (Parlamento) e judiciário (Corte
de Justiça) próprios, apenas:

a) RMRE - Reunião de Ministros de Relações Exteriores (art.XX) e CCA - Conselho de


Cooperação Amazônica (art.XXI): O primeiro, é responsável por fixar as diretrizes
básicas da política comum no processo de cooperação amazônica, representa a
instância máxima dentro do TCA e depois na OTCA. O segundo reúne representantes
diplomáticos de alto nível de cada país membro, sua função, além de auxiliar a cúpula
de ministros é velar pelo cumprimento dos objetivos do Tratado.

b) Secretaria - (art.XX) de ordem brurocrática e pro tempore. Veriam depois os países


parte, que a caracterização interina e itinerente deste órgão se constituiriam empecilho
à eficiência do Tratado, entre outras coisas, pelo acúmulo da documentação do
Tratado, pela possível dispersão dos recursos humanos e pela dificuldade de controle
da gestão financeira das atividades realizadas.

c) CNPs - Comissões Nacionais Permanentes (art.XXIV) encarregadas da aplicação nos


territórios amazônicos das Partes, de todas as disposições do Tratado e da execução
das decisões das RMRE e CCA.

d) CE - Comissões Especiais, subordinados ao CCA e a RMRE, em termos de execução


de medidas específicas. Encarregadas de estudar problemas e temas específicos de
cada área, conformando uma rede de comunicação regional. Hoje existem sete
comissões, cujos objetivos são:

o Comissão Especial de Saúde (CESAM):

Contribuir no melhoramento dos índices de Desenvolvimento Humano, em


processos de inclusão social, na qualidade e cobertura dos sistemas e serviços de

112
Note-se que o documento tenta dar conta das amplitudes setoriais que abarcam as necessidades do território
amazônico, mas não incorpora ao mesmo a questão da defesa e segurança e não enfatiza a integração física.
73

saúde, na vigilância e controle das principais endemias com enfoque


ecossistemático intercultural, de gênero e no desenvolvimento da saúde ambiental
e de fronteiras no âmbito regional amazônico.

o Comissão Especial de Meio Ambiente da Amazônia (CEMMA):

Criar condições de promoção do Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia


Continental.

o Comissões de C&T (CECTA) e de Educação (CEEDA):

Tratar das demandas sociais, políticas, econômicas e tecnológicas, identificadas


pelos países amazônicos para o aproveitamento sustentável da região.

o Comissão de Transporte, Infra-estrutura e Comunicação (CETICAM) e de


Turismo (CETURA):

Facilitar a acessibilidade da população e os centros de comércio na Amazônia e


prover instalações de transporte e infra-estrutura que não degradam o meio
ambiente ou gerem resultados negativos para as populações ou economias. Em
relação ao turismo, expandir esta possibildiade de mercado à região, através do
reconhecimento global da Amazônia, como uma zona de importância turística,
promovendo maior conectividade entre sítios turísticos, atrações e regiões em toda
a Amazônia e, alcançar maiores benefícios e permitindo ingresso de renda a
população.

o Comissão de Assuntos indígenas (CEAI):

Alcançar uma participação efetiva das populações indígenas de cada país a fim de
promover questões com respeito aos conhecimentos tradicionais, de propriedade
intelectual e industrial.

(iii) Os aspectos formais dizem respeito aos aspectos jurídicos propriamente ditos, dos
quais, destacam-se: a admissão do veto e do voto por unanimidade (como garantia aos
princípios de soberania igualdade jurídica, autodeterminação e não intervenção) e, a não
admissão de reservas pelas partes integrantes e de novas adesões113.

113
Ver mais em MATTOS, Aderbhal de Meira. 1982.
74

Elaborada tal análise, Mattos (1991) atribui como hipótese ao insucesso do TCA, o
fato de este configurar-se como um Acordo-Quadro de cooperação econômico-social e por
isso não possuir faculdades de um projeto de integração político-econômica, como a
existência de um poder executivo ou poder judiciário, tornando frágeis os sistemas internos
criados paralelamente neste sentido – a RMRE e o CCA. Destaca também no documento, o
não consentimento de poderes à iniciativa privada, a ausência de cuidados com a questão
bélica e a ausência de sanções contra inadimplemento ou desrespeito ao Tratado.

E, corroborando esta análise, Antiquera verifica que o acordo, enquanto resposta às


questões internas (amazônicas) apresenta uma “fórmula vaga e genérica”, de modo que,
embora faça menção aos problemas básicos intra-regionais não alcança metas concretas e
específicas. Sob tal que, “a caracterização do TCA como acordo-quadro levaria a imaginar
que em seu âmbito deveriam ser feitos outros acordos que especificassem a forma de
cooperação na solução dos problemas”114.

3.4 EVOLUÇÃO INSTITUCIONAL: A TRANSIÇÃO PARA OTCA

Didaticamente esta evolução político – institucional pode ser enquadrada em quatro


momentos115: a fase (i) Defensiva – protecionista (1978 a 1989) ou de inatividade; o
momento de (ii) „Impulso e fortalecimento político (1989 a 1994)‟, o período de (iii)
„Amadurecimento institucional e consolidação (1994 a 2002)‟. E desde então, uma quarta
fase, de „consciencia amazônica‟, a partir da „institucionalização da secretaria
permantente‟(OTCA) como mecanismo operacional.

(i) Defensiva – protecionista (1978 a 1989): como já foi trabalhado, um dos pontos
objetivos do TCA estava caracterizado pela necessidade e vontade conjunta de reafirmar a
soberania nacional ante as pressões externas. “Uma postura „defensiva‟ que parece ter ficado
restrita ao documento, uma vez que a primeira década de vigência do Pacto conscidiu com
uma inatividade política.

114
ANTIQUERA, 2006:81
115
ARANIBAR QUIROGA, 2003 apud Plano Estratégico OTCA 2004-2012
75

A debilidade institucional e o simultâneo desconhecimento da questão intra-regional


como prioridade foram determinantes para entravar a cooperação entre os países membros.
Além disso, outras prioridades tomavam o continente, centrado na crise econômica mundial
da „década perdida‟ e nas reformas políticas para a democracia, prejudicando de imediato, os
projetos firmados pela Declaração de Belém116, resultate da I Reunião dos Ministros de
Relações Exteriores, em 1980.

No entanto, ao passo de quase inexistente ação política houve considerável número de


encontros e reuniões técnico científicas – uma consideração importante para geração de
(re)conhecimento da(s) Amazônia(s). No final da década são criadas as primeiras comissões
especiais e ocorre incentivo à criação da Associação de Universidades Amazônicas
(UNAMAZ), 1987, como espaço privilegiado para a formação e o treinamento do talento
humano regional e o intercâmbio de informação científica e tecnológica, marcando a transição
para o próximo período.

(ii)„Impulso e fortalecimento político (1989 a 1994): a segunda fase de impulso


político decorreu da I Reunião de Presidentes, em Manaus – maio de 1989117, da qual resultou
a „Declaração da Amazônia‟, que por sua vez firmava o desenvolvimento sustentável como
interesse comum e estabelecia a ampliação das ações das Comissões Especiais já
exixstentes118 - para fortalecimento político, captação de recursos e trocas de experiências -
com destaque para as recém-criadas Comissões Especiais do Meio Ambiente119 e a de
Assuntos Indígenas. Marcada por uma postura de enfrentamento em relação aos paises
desenvolvidos.

Esperamos ver a criação de condições que permitam o livre acesso ao


conhecimento científico e às tecnologias não contaminantes ou destinadas à
preservação ambiental, e rechaçamos as tentativas de obter lucro comercial
invocando legítimas preocupações ecológicas. Este enfoque se fundamenta,
sobretudo, na idéia de que a principal causa de deteriorização do meio ambiente em

116
Ver OTCA, Base jurídica, 2002: 53.
117
Ver TCA, Base Jurídica, 2002.
118
Saúde, Infra-estrutura, Educação e Turismo, Ciência e Tecnologia – Verificar TCA, Base Juríria, 2002
(confirmar quais são estas comissões que existiam até 1989)
119
Para a Comissão Especial do Meio Ambiente foram atribuídas as seguintes funções: a) estruturar no marco do
TCA, ações e medidas conjuntas de manejo ambiental, que favoreça a realização de projetos de desenvolvimento
sustentável; b) definir e promover os estudos e investigações concordantes com suas finalidades de acordo com
as prioridades determinadas pelo Conselho; c) considerar a unificação e/ou inter-relação de metodologias para
avaliação dos impactos ambientais; d) elaborar programas conjuntos na área; e) analisar a possível
compatibilização de legislações ambientais na região.
76

nível mundial são os modelos de industrialização e consumo, assim como o


desperdício dos países desenvolvidos120.

Esta revalorização política, novamente estava incutida sob o continuismo das pressões
internacionais referentes ao meio ambiente e, sob as transformações políticas internas no
Brasil que lhe permitiam, junto aos países membros, aproveitar o debate ecológico para captar
recursos internacionais, por intermédio da utilização do conceito do desenvolvimento
sustentável121. Nesta reunião, os países reconheceram pela primeira vez, a necessidade da
ajuda financeira internacional para que pudessem “cumprir a obrigação de proteger o meio
ambiente e promover o desenvolvimento”122, uma orientação diferente do mecanismo
fechado, aportado em 78 e que persistia ainda nos primeiros anos da década de 80. Originava-
se daí, a proposta feita em 1993 pelo Itamaraty, de transformação da Secretaria “Pro
Tempore” em Secretaria Permanente123.

Esta mudança estratégica quanto ao reconhecimento de que sozinhos, os oito países


careciam de recursos para alcançar os objetivos do Tratado, não restituíu das partes o discurso
enfático sobre “direito soberano de cada país administrar liveremente seus recursos
naturais”124. A reunião foi marcada por esta forte conotação política e até de enfrentamento
com os países desenvolvidos, incitando-os a também se responsabilizar pelo meio ambiente e
denunciando o quão prejudicial era a crise da dívida externa para seus povos. Desta reunião
também se direcionou o posicionamento conjunto amazônicos na ECO-92.

(iii)„Amadurecimento institucional e consolidação (1994 a 2002): momento que


coincide com a decisão e concertação para criação da Organização pelos países signatários do
presente Tratado a partir de 1995, entre 4 e 5 de dezembro, na V Reunião de Ministros de

120
Excerto da Declaração dos presidentes de 1989 (ANTIQUERA, 2006 91)
121
Referente ao parágrafo 8, da Declaração da Amazônia, na íntegra: “RESSALTAMOS a necessidade das
preocupações expressas pelos países desenvolvidos, quanto a conservação do meio ambiente amazônico se
traduzam em medidas de cooperação nos planos financeiro e tecnológico [...].”
122
Parágrafo 4 da Declaração da Amazônia. Ver: TCA, Base jurídica, 2002.
123
O tema do fortalecimento institucional do TCA aparece pela primeira vez na III Reunião de Ministros das
Relações Exteriores, em 1989 - Quito. No entanto, formalizado em 1993 foi levado à discussão na I reunião
extraordinária do CCA (realizada em Quito, entre 19 a 22 de julho do mesmo ano. Para saber mais ver:
QUIROGA, 2003 e ANTIQUERA, 2006
124
Parágrafo 4 da Declaração da Amazônia. Ver: TCA, Base jurídica, 2002.
77

Relações Exteriores125, quando estes já tinham em mãos os estudos realizados pela CCA em
94, sobre as implicações técnicas, administrativas, jurídicas e financeiras da instalação de uma
secretaria permanente126. Desta reunião, resultou a Declaração de Lima127 que firmava entre
outras: a criação de uma Secretaria Permanente do TCA, com sede em Brasília128; o
estabelecimento de um mecanismo financeiro para o tratado; a aprovação de modificações e
emendas ao regulamento da secretaria pro tempore; entre outros.

O segundo passo na concretização da OTCA foi organizado via grupo de tarbalho AD


HOC para o estabelecimento da Secretaria Permanente (SP), um processo que se extendeu até
2002, resultado de oito encontros que definiram objetivos, competências, funções e a estrutura
da SP, tendo em conta os aspectos administrativos, técnicos, jurídicos e financeiros
pertinentes. Deste processo destacamos:

a) a assinatura pelos oito países signatários do protocolo de emenda ao Tratado de


Cooperação Amazônica (Caracas, 14 de dezembro de 1998), pelo qual foi alterado o artigo
XX do TCA, criando a Secretaria Permanente da OTCA, sendo “encarregada de implementar
os objetivos previstos no Tratado em conformidade com as resoluções emanadas das reuniões
de Ministros de Relações Exteriores e do Conselho de Cooperação Amazônica”, com o
“objetivo de fortalecer, aperfeiçoar e dar consistência ao processo de Cooperação Amazônica
[...] consolidando um salto qualitativo no TCA”129.

b) a criação da Comissão de Coordenação do Conselho de Cooperação Amazônica,


ratifica pela VI Reunião Ministros de Relações Exteriores do TCA (Caracas, 6 de abril de
2000)

c) a aprovação do acordo de Sede entre o Brasil e a OTCA (Brasília, 13 de dezembro


de 2002) que deu início efetivo ao trabalho da Organização.

125
Note-se que já haviam decorrido dois anos desde a proposição para alterar os mecanismos do Tratado,
realizada pelo Itamaray até a reunião de 1995 ou então, seis anos desde a primeira cúpula de presidentes. A
lentidão nas decisões e concertações é um ponto a ser considerado adiante na análise da atuação do organismo.
126
Na VI reunião do Conselho de Cooperação Amazônica, o Brasil reiterou a proposta e foi encaminhada uma
comissão para estudar as implicações para a criação de uma secretaria permanente. Ver ANTIQUERA,2006:147.
127
Ver TCA: Base jurídica, 2003:74

129
VARGAS KILCA, 2006: 75
78

Embora assinado em 1998, o protocolo de emenda somente entrou em vigor quatro


depois, após o último depósito do instumento de ratificação pela Colômbia, em 2 de agosto de
2002. Então, tendo sido aprovada a constituição de uma secretaria permanente foi convocada
uma reunião extraordinária da RMRE130, em 6 de dezembro de 2002, que nomeou o primeiro
Secretário Geral da Instituição. Tomando posse „interina‟ (provisória), o boliviano Sergio
Sanchez Ballivián (2002–2004) foi encarregado de assinar em nome da nova Organização, o
acordo sede e preparar a instação da secretaria permanente.

O primeiro acerto enquanto OTCA ocorre na mesma reunião do dia 13 de dezembro


de 2002, quando foi efetivada a primeira reunião da Comissão de Coordenação do Conselho
de Cooperação Amazônica (CCOOR). Órgão constituído “pelos embaixadores dos Países
Membros da OTCA credenciados pelo Governo do Brasil” e que tem por atribuições
“acompanhar o planejamento, a programação e a execução orçamentária da SP e avaliar as
atividades desenvolvidas, formulando recomendações ao Conselho de Cooperação Amazônica
sobre diversas matérias de sua competência” (CCOOR, 2002).

A criação deste órgão permite maior operacionalidade a SP, à medida que se encarrega
de temas específicos para o funcionamento e manutenção da mesma, como propostas e
organização de candidaturas aos cargos (perfis e salários), política financeira, apoio à
organização de reuniões e eventos, formulação e discussão de minutas para as RMRE e
reuniões do CCA e acompanhamento do pagamento das cotas131.

A definição do Orçamento da SP/OTCA foi aprovada na VI RMRE (que ratificou o


acordo realizado na IV Reunião do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre o estabelecimento da
Secretaria Permanente, celebrada em Brasília, de 21 a 23 de janeiro de 1998), e pelo acordo, o
valor total de US$ 1.139.600 acertado para funcionamento da SP/OTCA deveria ser
proporcionado via de cotas de participação, sob critério de proporcionalidade econômica entre
as partes, pela qual132: Guiana e Suriname contribuem com 2% ; a Bolívia e o Equador com
6.5% ; Colômbia, Peru e Venezuela,16% ; e finalmente o Brasil, com a cota de 35%.

Este dado é importante, pois identifica também a atribuição de certa independência,


aos menos quanto ao funcionamento interno da Secretaria, em relação ao capital

130
Convocada na VII RMRE - Santa Cruz de la Sierra, 22/11/2002.
131
Ver OTVA? Base Juridica, 2002
132
Ver OTCA: Base Jurídica, 2002.
79

internacional. Situação diferente daquela ocorrida durante o período Pró-tempore quando,


segundo Argemiro Procópio (2005): “todos os programas e projetos inclusive os destinados
aos gastos da rotativa secretaria pro tempore transitaram com dinheiro oriundo de organismos
multilaterais”.

(iv) „institucionalização da secretaria permantente‟(OTCA): a partir da instalação da


sede da secretaria permanente, de modo a considerar que a partir de então é que seus
funcionários terão condições estruturais para efetivamente dar início a seu trabalho. Logo,
aprovado e assinado o acordo sede em 2002, a OTCA foi provisoriamente instalada nas
dependências do Itamaraty, de onde se tranferiu e instalou em sede própria, em janeiro de
2005, em Brasília. 133

Neste primeiro momento o esforço institucional centrava-se na consolidação do Plano


Estratégico, que foi aprovado e entrou em vigor em 2004, mesmo ano em que foi eleita e
tomou possa a Secretária Geral, Rosália Arteaga – cargo com mandato de três anos. No
organograma interno, o Secretário Geral deve “subscrever acordos, em nome da OTCA,
quando as Partes Contratantes assim o autorizarem por unanimidade”134.

A Secretaria Permanente estaria “encarregada de implementar os objetivos previstos


no Tratado em conformidade com as resoluções emanadas das Reuniões de Ministros de
Relações Exteriores e do Conselho de Cooperação Amazônica”135.

Os trabalhos da SP são também auxiliados por cinco coordenações, que trabalham


junto às sete Comissões Especiais existentes136:

 Coordenação de Meio Ambiente; vinculada à Comissão Especial de Meio Ambiente


da Amazônia (CEMMA):

 Coordenação de Saúde; vinculada à Comissão Especial de Saúde (CESAM):

 Coordenação de Ciência, Tecnologia e Educação; vinculada às Comissões de C&T


(CECTA) e à de Educação (CEEDA):

133
ANTIQUERA, 2006:170
134
Art.III protocolo de Emenda. Ver OTCA: base jurídica, 2002.
135
Art. II, protocolo de emenda. Ver OTCA: base jurídica, 2002.
136
ALTMANN Jossete. Facultad Latinoamericana de Ciências Sociales (Secretaría General). Dossier OTCA. 1º
ed. – San José, C.R.: FLACSO, 2008.
80

 Coordenação de Transporte, Infra-estrutura, Comunicação e Turismo; vinculadas à


Comissão de Transporte, Infra-estrutura e Comunicação (CETICAM) e de Turismo
(CETURA):

 Coordenação de Assuntos Indígenas, vinculada à respectiva Comissão (CEAI):

3.4.1. Estrutura Institucional

A OTCA é um Organismo Internacional porque é conformada por Estados Soberanos e


porque foi instituída por um Tratado constitucional – nomeado de Tratado de Cooperação
Amazônica. Organizações Internacionais (OI) são sujeitos do Direito Internacional Público,
cuja base jurídica se encontra no Direito dos Tratados, cuja disciplina regula a missão da
Organização determinando suas competências, funções e obrigações aos Estados Membros.

Como já foi detalhado, vimos que o TCA se compromete com a promoção do


Desenvolvimento regional e, quando foi revitalizado pelo protocolo de emenda, observe-se
que não contemplou atualização de conceitos (como a adoção do termo desenvolvimento
sustentável no documento) e bem como, obrigações aos signatários.

Segundo Volker Rittberger e Bernhard zangl (2006)137, a estrutura institucional das OI


prevê geralemente a criação dos seguintes órgãos, que traduzidos para a instância da OTCA,
caracteriza-se por:

a) Órgão plenário, onde são representados todos os Estados Membros; relativo à


Reunião de Ministros de relações Exteriores.

b) Conselho executivo, para supervisionar o trabalho diário; relativo ao Conselho de


Cooperação Amazônica

c) Staff administrativo, liderado por uma Secretaria Geral é caracterizado por ser
totalmente autônomo em relação à possibilidade de receber instruções na formulação
da política da organização. Notemos também que a SP/OTCA não possui total
independência na formulação de suas políticas.

d) E também uma Corte de Justiça ou Tribunal de Arbitragem; na OTCA este órgão é


inexistente.

137
Apud CALDERÓN, 2007 p. 91.
81

e) Assembleia Parlamentar; embora este órgão não esteja incluso no TCA de 1978, pode
ser representado pelo Parlamento Amazônico, exixtente de 1989, porém pouco
atuante, também em razão da não formalização deste mecanismo no âmbito do
Tratado.

f) Órgão de representação dos atores não governamentais ou subregionais; não existe


um ógrão formal para este aspecto, porém, a OTCA mantém vínculos couma rede
inerinstitucional de diferentes organizações não governamentais, multilaterais e de
cooperação internacional. Destaca-se o mantimento institucional das CNPs, que
caracterizam a participação da sociedade amazônica, no âmbito do Tratado.
Satisfazendo, portanto, a capacidade deste aspecto.
82

Quadro 4 Organograma da Secretaria Permanente OTCA (em 2008)

Fonte: OTCA, Relatório de Gestão 2007 – 2008


83

CAPÍTULO 4

A OTCA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

4.1 OTCA: PERFIL, BALANÇO INSTITUCIONAL E O PAPEL DO BRASIL

A OTCA busca, através de seu programa estratégico, alcançar uma visão pan-
amazônica com o intuito de superar a visão fragmentada atual. Somente assim será possível
implementar ações sustentáveis de cooperação138.

4.1.1 - A OTCA sob três perspectivas

Sem dúvida, o estabelecimento da OTCA representou novo fôlego ao pouco eficiente


Pacto Amazônico. A formalização da secretaria permanente atribuiu à ação do tratado, um
caráter de estabilidade e continuísmo, ao mesmo tempo em que lhe permitiu ascender
juridicamente ao status de Organismo Internacional dotado de personalidade jurídica e por
isso capaz de “celebrar acordos com as Partes Contratantes, com Estados não membros e com
outras Organizações Internacionais”139.

A idéia da chancelaria brasileira era de que “este novo organismo fosse tão
desburocratizado quanto o possível, estabelecendo-se como um interlocutor estável,
facilitando o acesso [sic] a fontes internacionais de financiamento de mais longo prazo
reservadas a projetos de maior envergadura”140, de forma mais eficiente, sistemática e
organizada141.

138
ARAGÓN,2007
139
Art.I, Protocolo de emenda. Ver: OTCA: base jurídica, 2002.
140
VARGAS KILCA, 2006:77
141
ANTIQUERA, 2006
84

Sob nova caracterização institucional, a OTCA passa a representar novos significados


e funções diante das três perspectivas analisadas por Antiquera142. A instituição da Secretaria
Permanente representava antes de tudo, voltar atenções “às questões específicas da
Amazônia”. Finalmente a cooperação (intra) regional teria um órgão capaz de definir e
direcionar políticas de desenvolvimento que atentassem para suas especificidades, enquanto a
cooperação externa ou acordos externos celebrados deveriam, em princípio, figurar a
capacidade da OTCA em convidar, captar e se adequar às fontes de recursos internacionais
para consecucução do modelo de Desenvolvimento Sustentável celebrado por ela (SP).

Se durante a celebração do Tratado foram priorizados os contextos regional e


internacional, era momento de promover os caminhos do desenvolvimento regional
sustentável e de fato priorizar o âmbito interno, de modo que a atribuição de maior e relativa
autonomia à secretaria permanente tornasse “essa articulação entre os países, menos
vulnerável a variações de conjunturas e posicionamentos, na medida em que a OTCA não
depende da iniciativa dos governos e representantes para agendar reuniões, constituir pautas,
fechar convênios, formular e executar projetos”143.

No âmbito específico e regional, a OTCA também reinventava seu papel,


principalmente no ponto de impulso e potencialização das estratégias de integração física e
energética, finalmente recuperando a proposta inicial do Brasil; além de consolidar “um
espaço diplomático regular e constante de relacionamento com oito dos doze países da sul
americanos”. Dentro das perspectivas internacionais, a OTCA buscaria de modo mais
concreto “construir credibilidade (do Brasil, mas também dos demais signatários) no plano
internacional, investindo no capital representado pela imagem da Amazônia”144.

Enquanto Organismo Internaiconal, a OTCA foi incluída, graças à insistência da


articulação da OTCA145, no processo de construção da Comunidade Sul-americana de Nações,
(UNASUL - estabelecida em Cusco, no Peru, dia 8 de dezembro de 2004, por ocasião da III

142
Conforme as três perspectivas de solução do TCA, explicadas no capítulo 3
143
ANTIQUERA, 2006
144
ibid
145
Em discurso sobre o final de seu mandato na OTCA, no Senado Federal brasileiro, Rosália Arteaga afirmou
que foi necessário "forçar a barra" para que a organização fosse ouvida, da mesma forma que o são o Mercosul, a
Comunidade Andina de Nações (CAN) e a Associação Latino-americana de Integração (ALADI) no inicio do
processo de construção da União de Nações do Sul (Unasul, inicialmente CASA). Fonte:
http://www.acordapara.com.br/.
85

Reunião de Presidentes da América do Sul), onde teve um papal ativo na elaboração da


agenda ambiental e atribuindo por este fato, o reconhecimento dos foros diplomáticos
regionais, dando indícios de que a Amazônia, agora teria voz própria nestas instâncias
(MERCOSUL, CAN, CARICOM), condição importante para o fortalecimento institucional
do novo organismo, “já que representam dimensões complementares para alcançar os
propósitos de desenvolvimento dos Países Membros”146, posto que, é impossível pensar
integração e desenvolvimento sem considerar a área equivalente à Amazônia, 40% da
América do Sul. Desde 2006, porém, a OTCA não é convocada para participar de eventos
relacionados a estas instituições.

O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Lafer, reforçou este sentido [de
articulação regional] da OTCA:

Quero também mencionar a importância atribuída ao Tratado de Cooperação


Amazônica, que acabamos de converter numa Organização com secretaria
permanente, em dezembro de 2002. Essa institucionalização tem significado
econômico, ambiental e político e se insere nessa mesma visão voltada para conferir
um novo patamar à organização do espaço sul americano. (LAFER, 2003)
E aí, no aspecto regional, a possibilidade de incorporação dos temas de defesa e
integração física implica grande expectativa, por se tratarem de temas, proferidos pelo Brasil
no anteprojeto do TCA.

Como já foi mencionada, a integração física é um objetivo assumido paralelamente


pela IIRSA, cujos resultados implicarão incisivamente sobre a região amazônica, desafiando
ainda mais o trabalho da OTCA – aqui ocorre, porém, uma desarticulação, na medida em que
à OTCA não foi atribuída função específica no esforço da IIRSA.

Em relação à defesa, o tema foi pauta de uma reunião inédita, realizada em 2006 na
Colômbia, entre os devidos ministros nacionais para a defesa e segurança integral, num
esforço de revisão parcial do plano estratégico. Apesar do encontro não se obteve avanços no
planejamento de ações concretas. Tampouco, intuito de cobrança de ações dos outros
organismos regionais competentes.

Quando foi criado conforme visto, o TCA firmava seu caráter pioneiro, “mas não
obteve o impulso esperado”147. Logo seria ingênuo aguardar grandes resultados. Mas e hoje

146
Texto de apresentação do Plano Estratégico. Ver OTCA: Plano Estratégico. Brasília, 2004.
147
MATTOS, 1991
86

enquanto Organização Internacional, as expectativas encontram um ponto de partida


satisfatório no modelo que vem seguindo o mecanismo atual?

Para encerrar este item, um excerto do Plano Estratégico que se faz pertinente:

a OTCA se torna um instrumento contemporâneo com uma ampla visão sobre a


integração sul-americana, que fortalece a vocação de seus governos de construir
sinergias com outras nações, organismos multilaterais, agências internacionais de
fomento, movimentos sociais, comunidade científica, setores produtivos e sociedade
civil, na defesa soberana da Amazônia e na busca por seu desenvolvimento
sustentável.

4.1.2 - A liderança do Brasil

Nos últimos 16 anos – consecutivamente pelas posturas de política externa dos


governos FHC e LULA – o Brasil se consolida como um país importante, no tocante à
liderança regional da América do Sul. Os destaques alcançados com suas participações em
fóruns internacionais, na liderança dos países emergentes, a imagem externa de um país
pacífico e a capacidade de mediação em problemas globais conferem ao país grandes
responsabilidades.

Em relação à OTCA o sentido é o mesmo. O TCA decorreu principalmente das


pressões externas sobre a Amazônia e logo, que o posicionamento do Brasil foi fundamental
para sua celebração, o país incitou, planejou o acordo e convidou os demais à conversa. E
assim foi com os principais avanços institucionais que se seguiram até a proposição da
Secretaria Permanente. A liderança do Brasil no âmbito regional e sub-regional pode dizer
muito sobre a compreensão de transformações sofridas no espaço amazônico.

E embora tenha sido fundamental a automia adquirida pela Secretaria Permanente, os


Estados Membros, representados por suas respectivas chancelarias continuam a exercer a
maior responsabilidade na Organização. E por três razões concretas, o Brasil tem
responsabilidade adiciona: i) porque a sede da instituição se localiza no Brasil, sendo por isso
maior e mais fácil o acesso do governo brasileiro ao órgão; ii) pelo fato de o país deter a
maior parcela de contribuição para o orçamento interno da SP/OTCA; iii), além disso, devido
o órgão CCOOR – indispensável para a logística interna da SP – ser composto por
87

embaixadores dos países membros no Brasil, o que também significa um contato mais
próximo com esses representantes148.

A Amazônia brasileira é o núcleo da região, uma vez que representa a maior extensão
territorial e por fazer fronteira com praticamente todas as nações amazônicas (com exceção ao
Equador). O Brasil é o país mais rico (em termos de PIB) e o de maior força política dentre os
oito integrantes. Logo, a liderança do Brasil pode exerce um duplo sentido no caminho da
OTCA, à medida que os chefes de Estado e o Itamaraty desejarem o avanço dos mecanismos
intra-regionais, a OTCA terá mais chances de avançar.

Entenda-se aqui, que a influência atribuída ao Brasil ante o organismo não denota
hegemonismo já que a operacionalidade via voto unânime prevalece, mas se trata de revelar
que as intenções da habilidade diplomática e política do Itamaraty dentro da organização
possuem uma responsabilidade adicional, em função do próprio histórico da Política Externa
brasileira. A óbvia conclusão da Ex-secretária dá conta desta responsabilidade conjunta dos
países membros: “a OTCA pode chegar até onde permitirem os governos”149.

A Comissão Nacional Permanente do Brasil na OTCA congrega 14 Ministérios, o que


seria o bastante para denotar a importância política que o governo brasileiro atribui à
Instituição e à questão amazônica. Um número, que, em tese reflete a compreensão
multidimensional que deve ser dada ao tema do Desenvolvimento Sustentável, pelo Estado
brasileiro.

Finalmente, em relação à questão levantada, se o Brasil atribui à OTCA a devida


importância, observamos que, apesar deste fato, o Itamaraty, por exemplo, não tem tomado a
iniciativa de convocar novas Cúpulas Presidenciais no âmbito da OTCA, mas sim se
concentrado em reuniões e encontros bilaterais, notando ainda certo distanciamento atribuído
aos países do Escudo guianês, o tratamento bileteral das questões de fronteira são
indispensáveis, mas não suficientes tendo em vista o interesse maior da Cooperação
multilateral. Considera-se também que tenha sido um erro estratégico instalar a estrutura
físcia da Secretaria, fora da zona amazônica brasileira.

148
ANTIQUERA, 2006
149
OTCA, Informe de Gestión: Síntese 2004 - 2007
88

4.1.3 - Balanço Institucional: 2004 – 2008

O período a ser estudado compreende a gestão da Secretária Geral Rosália Arteaga


Serrano (2004-2007), e à metade da gestão do Secretário Geral interino, Francisco Ruiz
Marmolejo (2007 – 2008)150. A OTCA não divulgou relatório de gestão até o final do
mandato de Francisco Ruiz (no período 2008-2009), na página web, até o período em que
tomou posse, o peruano Manuel Ernesto Picasso Botto, em 27/04/2009, inviabilziando o
estudo para o período de 2009.

Em fase de consolidação institucional, a estrutura do organismo cresceu. Em 2004


apenas nove funcionários respondiam sobre o funcionamento interno da OTCA, ao final de
2007, havia 35 funcionários e 54 consultores que prestavam serviços ao órgão na execução
dos 20 projetos em diferentes fases de execução, implantados pela Secretaria, atribuindo
condições de pessoal a realização dos trabalhos da Secretaria.

A dinâmica interna também foi intensificada quanto à ocorrência de reuniões de


trabalho: ao longo da primeira gestão houve três reuniões de ministros, contra apenas sete
(entre 1978 e 2002). Além da intensificação no número de reuniões de outros órgãos internos,
como a ocorrencia da primeira Reunião das CNPs e a frequencia dos encontros da CCCOR.

O orçamento saltou de cerca de US$ 1 milhão para mais de U$$ 30 milhões, graças à
captação de recursos da Cooperação Internacional. Internamente, 90% das cotas de
participação foram arrecadadas “em uma demonstração de compromisso dos países
membros”151, ainda que a própria Secrataria já considerasse em 2006, a captação de recursos
internos insuficiente para a dimensão dos trabalhos.

Em relação à captação de recursos externos, fechou convênio com mais de 20


organismos de cooperação internacional, organismos regionais, do sistema ONU e de
entidades de primeiro nível. E esteve em estudo prpostdas como a da USAID, para criação da
Iniciativa de Conservação da Bacia Amazônica, citada no capítulo dois, mas como havia

150
O secretário Francisco Ruiz MArmolejo foi eleito para ocupar cargo interino por período de dois meses (02
de julho de 2007 a 29 de agosto de 2007), período em que se concluiriam as consultas nacionais para eleger –
por unanimidade – o novo Secretário-Geral150, porém esteve à frente da OTCA por quase dois anos.
151
SERRANO, Rosália. OTCA, Informe de Gestión: Síntesis 2004-2007. Brasília, 2007. Disponível em:
www.otca.info. Acesso em: 1 abril 2008.
89

lembrado a Ex- Secretária – Artega: a decisão sobre celebração de convênios fica a cargo dos
países amazônicos152.

Sobre os enlaces institucionais, Rosália Arteaga, havida declarado várias vezes que,
para o cumprimento de seus objetivos, a OTCA necessitava estreitar relações com as três
instituições de criação paralela ao Tratado: “temos defendido que a OTCA possui um tripé
formado pela UNAMAZ, PARLAMAZ e a COICA”153. Alude ao fato de que a OTCA
necessita da parceria de outras instâncias regionais capazes de direcionar ações, onde „ainda‟
não compete à Secretaria Permanente como foro internacional, essencialmente político e
diplomático das Chancelarias dos países amazônicos. Tendo em vista que o Desenvolvimento
Sustentável é multisetorial, a conformação de redes articuladas de cooperação entre os países
membros, elucidando ao que afirma Aragón é o que melhor se pode esperar por um esforço
conjunto.

Em primeira instância, o Parlamento Amazônico (PARLAMAZ)154, formado pelos


Congressos Nacionais dos Países Membros, necessita ser institucionalizado e reativado com
vistas a “permitir a promoção de normativas positivas para as políticas públicas em defesa dos
recursos naturais amazônicos, bem como ajudar a harmonizar as legislações dos respectivos
Estados155. Este processo de reativação vem ocorrendo com o apoio da OTCA, com a
discussão e a elaboração de um plano estratégico no âmbito do PARLAMAZ, assim como a
reativação das Comissões, grupos de trabalho legislativos, sobre temas de interesse comum:
meio ambiente, assuntos indígenas e recursos naturais. No entanto, sua revalorização depende
ainda dos governos nacionais.

A Associação de Universidades Amazônicas (UNAMAZ), como instituição paralela


no esforço do TCA, reúne mais de 60 universidades e instituições de ensino e ao longo destes
anos serviu ao intuito de aproximar as instituições de pesquisa e ensino superior de todos os
países amazônicos por meio de programas de treinamento, pesquisa, eventos científicos e
publicações.

152
Relatório de Gestão: síntese 2004- 2007
153
ibid
154
Criado em 1989, por iniciativa do Congresso peruano, sob objetivo formal de harmonizar a legislação
ambiental e favorecer a cooperação e integração no âmbito amazônico.
155
RUIZ, Francisco. OTCA, Informe de Gestión: 2007 - 2008. Brasília, 2010. Disponível em: www.otca.info.
Acesso em: 2 mai 2010.
90

A Associação necessita de uma renovação e uma aproximação maior com a OTCA.


Uma série de atividades de educação e Ciência e Tecnologia da OTCA poderiam ser
implantadas através da UNAMAZ. A Associação apresenta também condições favoráveis
para estimular e implantar programas de pós-graduação lato e stricto sensu envolvendo
instituições de vários países amazônicos156. Ambas, a OTCA – UNAMAZ realizam esforços
para a reestruturação organizacional da UNAMAZ, com a formulação de um plano estratégico
comum que “sistematizará e organizará os mecanismos de consulta aos países, os
procedimentos para a transferência de informação, a participação e as contribuições técnicas e
financeiras”157.

O mesmo vem sendo realizado com a Coordenadora das Organizações Indígenas da


bacia Amazônica (COICA), formada por instituições nacionais para as questões indígenas,
com o qual, a OTCA mantém um memorando de entendimento, em que reafirma a
importância da temática no caráter supranacional e a necessidade de articular neste âmbito,
critérios que valorizem os direitos indígenas, mas também assegurem a Soberania Estatal e o
direito ao desenvolvimento. A COICA e OTCA já possuem plano de ação estratégica e
direcionam trabalhos em campo, por meio da Coordenação de Assuntos Indígenas que
trabalhada na construção participativa da Agenda Regional Indígena.

A Iniciativa Amazônica (IA) é outro órgão regional, criado dentro do marco político
da OTCA, e com a qual se tem buscado aproximação, inclusive com a participação de
representantes da OTCA em reuniões da IA. Criada em 2004, para prevenção, redução e
recuperação de áreas degradadas do bosque amazônico, a partir da elaboração e execução de
programas colaborativos que identifiquem e promovam sistemas sustentáveis de uso da terra.
Sua criação marcava um esforço a fim de evitar

o fracasso de programas promissores devido à fragilidade institucional, a falhas na


administração, à limitada difusão de informação, e ao pouco envolvimento dos atores.
Instituições de países Amazônicos, que raramente compartilham pesquisas e ações de
políticas públicas, o que resulta na duplicação de esforços, que por vezes tornam-se
conflitantes158.

156
ARAGÓN, 2007
157
RUIZ, Francisco. OTCA, Informe de Gestión: 2007 - 2008. Brasília, 2010. Disponível em: www.otca.info
Acesso em: 2 mai 2010
158
CGIAR - Somando Forças na Iniciativa Amazônica. Disponível em:
http://www.asb.cgiar.org/pdfwebdocs/IniciativaAmazonica_Port06292004.pdf. Acesso em: 02 mai 2010
91

É formada por seis empresas de pesquisa agrícola dos países amazônicos, quatro
centros de pesquisa do grupo Consultivo em presquisa Agrícola Internacional (CGIAR) e o
Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura-IICA, através do Programa
Procitrópicos159.

Todas as ações, iniciativas, projetos e programas impulsionados pela Secretaria


Permanente são produtos dos mandatos recebidos das instâncias de decisão da Organização
do Tratado de Cooperação Amazônia (RMRE e CCA). No período em questão, os mandatos
da Declaração de Manaus (setembro de 2004), da Declaração de Iquitos (novembro de 2005)
resultantes das VIII e IX RMRE bem como das diretrizes propostas no Plano estratégico
(2004-2012), que destacaram a promoção da integração, do desenvolvimento sustentável e da
solidariedade.

Estes marcos políticos viabilizaram a ocorrência de seis reuniões interministeriais nas


áreas de: propriedade intelectual (no Brasil); defesa e segurança (Colômbia, 2006); saúde (no
Brasil); meio ambiente (no Brasil); turismo (na Alemanha) - pela criação de um Programa
regional; ciência e tecnologia (no Peru), do qual fazem parte o fortalecimento da UNAMAZ, a
criação do Comitê Intergovernamental de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde e da
Rede Pan-amazônica, assim como a formulação da Estratégia de C&T para a Biodiversidade,
entre os processos em curso.

Processo que até 2008 precisava ser formalizado e ampliado para todos os setores de
interesse. Entitulado por Conselhos de Altas Autoridades, reuniões periódicas ministeriais
precedidas por uma reunião de técnicos, a exemplo dos fóruns multilaterais da ONU e da
CAN160. O resultado das negociações técnico-diplomáticas seria apresentado ao segmento
ministerial, que ratificaria e adotaria o texto acordado no mais alto nível setorial dos
governos, outorgando-lhe a visibilidade política que requer. A iniciativa pretende acelerar os
processos e projetos regionais amazônicos, nos âmbitos nacionais.

Além desses, no mesmo esforço de revisão parcial do plano estratégico se chegou ao


concenso da importância da cooperação fronteiriça em todas as áreas e sua concretização em

159
Programa Cooperativo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Agrícola para os trópicos sudamericanos.
Ver mais: http://www.procitropicos.org.br/
160
Ver OTCA: Relatório de Gestão 2007-2008, p.58.
92

programas e projetos, o que vem sendo colocado em prática com a elaboração e


implementação de projetos demonstrativos, segundo a Secretaria Permanente.

Bem como, efetivou-se a criação da biblioteca física e virtual da OTCA, um


componente fundamental para gestão e apropriação do conhecimento gerado. E,
estabelecendo uma revisão consensuada do Plano estratégico foi acordado entre os membros:
assegurar a proteção da biodiversidade; ampliar a cooperação regional em áreas protegidas;
criar um programa regional de biocomércio; combater o corte e a comercialização ilegais de
madeira; promover a valorização e o uso sustentável dos recursos naturais por meio de uma
ativa cooperação.

No que diz repeito ao cumprimento de objetivos imediatos, quando da consolidação da


Secretaria Permanente, estes parecem ter sido de fato encaminhados: a OTCA difersificou e
consegiu operacionaliade para dialogar e captar recursos para o desenvolvimento de seus
programas; encarrega-se de encaminhar posicionamento conjunto em Foros Internacionais ou
de Negociação, quando solicitado pelos partícipes; as atividades internas foram dinamizadas e
intensificadas, com a relativa e importante autonomia alcançada pela Secretaria Permanente.

Mas a iniciativa é complexa devido à quantidade de temas em pauta, tanto de caráter


operacional como político, incorporados como compromissos por determinação dos
Governos, dentro dos órgãos maiores da OTCA. É um fato que isto exige maior clareza
quanto aos canais, mecanismos e prazos para as consultas e para a adoção de decisões161.

Diante dessa gama de mecanismos e atividades, observando o quadro abaixo, sobre o


cumprimento dos mandatos dos países membros para a OTCA, notam-se o entravamento de
questões importantes como a regulamentação da navegação comercial, a promoção do
comércio multilateral, a não ocorrência de novas Cúpulas Presidenciais, a não inclusão e
definição de participação da OTCA na IIRSA.

E, embora tenha havido dialogo político a respeito das questões de Defesa e


Segurança, incluindo a problemática das drogas e suas implicações sociais, ambientais e
econômicas, não houve até o momento de estudo, resultado efetivo e concreto frente ao tema;
tampouco seria possível esperar cobrança da OTCA junto à outras Organizações Regionais no
trato do tema, já que conforme citado, o Organismo não é convocado desde 2006.

161
OTCA, Relatório de Gestão 2007-2008
93

Sem deixar de admitir o papel de relevância que um organismo concebido e articulado


exclusivamente pelos países soberanos da Amazônia pode representar quanto à necessidade
endógena de pensar a região, tendo em mente as dificuldades e sobre o quanto se deve
avançar, o professor Aragón considera que:

apesar dos esforços realizados, [a OTCA] não tem conseguido uma maior
aproximação com os atores regionais; também, porque existem diferenças importantes
no que se refere à importância da Amazônia nos respectivos países, ou seja, não estão
na mesma sintonia porque há assimetrias entre eles e entre as regiões internas aos
países, a julgar pelos recursos õesdestinados pelos governos dos países contratantes, a
OTCA ainda não alcançou a importância suficiente que as ações na região demandam
162
.

Ao final do mandato de Rosália Arteaga, a ex-secretária destacou como tarefas


pendentes: equilibrar as legislações ambientais dos oito países-membros dessa instituição e
reativar as reuniões do Parlamento Amazônico, pois "os legisladores dos oito países são os
únicos que podem cumprir a tarefa" de equilibrar as leis 163. Considerou também que o Brasil
tem uma liderança indiscutível na região e defendeu um maior compromisso econômico e
político com a OTCA, pois considera que a região ainda tem sido tratada como periférica
pelos próprios países dos quais faz parte.164

162
ARAGÓN, 2007
163
Ver matéria: Rosalía Arteaga anuncia saída da Secretaria-Geral da OTCA (04/05/2007). Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/05/04/ult1808u91334.jhtm> Acesso em: 14 abril 2010
164
Ver Audiência Pública sobre a OTCA no Senado Federal - Preservação da Amazônia exige trabalho conjunto
(28/06/07). Disponível em: http://www.acordapara.com.br/
94

Quadro 5 : Acompanhamento do cumprimento das Resoluções das Reuniões de Ministros de


Relações Exteriores da OTCA
95

Fonte: OTCA, Relatório de Gestão 2007 – 2008. Brasília, Secretaria Permanente , 2010.
96

4.2 A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA OTCA: DEFINIÇÃO E


ESTRATÉGIAS

O estabelecimento do TCA, em 1978, na forma pioneira como foi tomada trabalhava a


expressão desenvolvimento harmônico da Pan-Amazônia, antes da formulação do termo
Desenvolvimento Sustentável ter sido criada em 1987. Durante a pequena reforma do
Tratado, na emenda que aprovou a criação da Secretaria Permanente, não houve reformulação
jurídica do termo, atualizando-o.

Mesmo assim, o discurso deste novo paradigma foi incorporado tacitamente à prática
das reuniões e, com a criação da OTCA não podia haver outra estratégia de Desenvolvimento
que não esta. Teoricamente, enquanto definição não há divergências quanto ao que é
apresentado pela OTCA e o que foi preconizado pelos teóricos do „novo‟ desenvolvimento,
conforme explanado no capítulo anterior. Citamos os excertos a seguir como exemplo:

DECLARAÇÃO DA Firmou o desenvolvimento sustentável como interesse comum, reiterando que “o patrimônio
AMAZÔNIA amazônico deve ser conservado por meio da utilização racional dos recursos da região para
(1989) que as gerações atuais e futuras possam aproveitar os benefícios desse legado da natureza”.

A Comissão crê firmemente que os princípios de Desenvolvimento Sustentável devem guiar as


ações encaminhadas para conservar a Amazônia. O princípio cardinal de um Desenvolvimento
TCA Sustentável para a Amazônia deve ser o bem-estar de seus habitantes e a satisfação de seus
interesses legítimos. Certamente, deve assegurar a manutenção de seus ciclos naturais, de seus
AMAZONIA recursos naturais renováveis, e de sua biodiversidade biológica, mas tal desenvolvimento deve ser
SIN MITOS sustentável, mais além do plano ecológico. Deve assegurar também que subsistirão as
comunidades humanas, ou seja, deve ser socialmente sustentável. Somente um desenvolvimento
(1992) assim asseguraria que a Amazônia permaneça para sempre em pé [...]
Melhorar a qualidade de vida dos nossos povos, aproveitando de forma sustentável a rica herança
cultural e natural que hospeda um dos biomas mais importantes do planeta e o coração geográfico
do subcontinente: a Amazônia.

A preocupação mundial com o desenvolvimento sustentável, bem como a importância que a região
tem para a humanidade, faz da OTCA um instrumento contemporâneo para a sustentabilidade
global e um espaço concreto para a cooperação entre nossas nações e, em um contexto mais
OTCA/SP amplo, para o fortalecimento das relações internacionais Sul-Sul, à luz de sua especial
singularidade amazônica (Rosália Arteaga). [...]
PLAN
ESTRATÉGICO No contexto do paradigma de desenvolvimento sustentável, a SP/OTCA tem o compromisso
social de aumentar a capacidade das populações locais de usufruir os benefícios oferecidos
(2004 – 2012) pelas iniciativas desenvolvidas, na forma de geração de emprego e renda, como parte das
metas governamentais de luta contra a pobreza, em consonância com os Objetivos e Metas do
Milênio das Nações Unidas e o Programa 21, estabelecidos na Cúpula Mundial de
Desenvolvimento Sustentável.
97

Assim, o discurso não mudou a letra, mas mudou de tom em relação à pergunta:
„Como fazer?‟. Vimos que o TCA não foi dotado de mecanismos eficientes de execução de
propostas. Hoje, a OTCA conta com quantidade de recursos internacionais e um quadro
interno de recursos humanos articulados para este fim. E sobre a „forma‟ há algumas
considerações a fazer, antes analisar o plano estratégco propriamente.

É fato que são os acordos estabelecidos extra-membros que têm possibilitado a


concretização de programas de gestão via OTCA, que detém acordos com o Reino dos Países
Baixos (DGIS), FAO, PNUD, União Européia, Banco Mundial, Banco Interamericano de
Desenvolvimento, Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), UNCTAD, o Comitê
Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC), a CAN, a
Coordenadoria de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), a CAF, a
OPAS/OMS, a UNAMAZ, a OEA, entre outros165. Porém,

uma grande parte dos fundos internacionais para a Amazônia [de modo geral não
somente ou necessariamente no nível da OTCA] está sendo destinada para as reservas
extrativistas, grupos indígenas, manejo florestal, comunidades, zoneamento agrícola,
ciclo do carbono, manejo da várzea, que apresentam grande simpatia externa e [...]
Apesar do forte apelo internacional, esses programas de ajuda externa refletem
muito pouco para a maioria da população, como solução global, assumindo ações
de natureza unilateral166.

A cooperação internacional é tendenciosa ao apoio de articulações que coincidam com


seus interesses geopolíticos para região, cujas motivações sempre são compatíveis com a
concepção de um projeto próprio (continental) e é nesse sentido que a OTCA deve ser capaz
de compatibilizar interesses e prioridades regionais. Cita-se o mesmo exemplo proposto no
relatório de gestão de Rosália Arteaga: assinado em 2007, o BID doou US$ 1,9 milhões para
estudos sobre biodiversidade amazônica e seu potencial uso medicinal ou alimenticio, no
marco de iniciativas para combater a pobreza na região.

Não há cooperação neutra! Como uma ação de mão dupla, portanto deve ter um
conteúdo claro. Ao final deve-se perguntar cooperar para quê e sobre tudo para quem?
Esse conteúdo tem que estar ligado à realidade, e no caso da Amazônia, a
cooperação deve centrar-se então na sua realidade rodeada de pobreza e
destruição ambiental. Ter em mente que a Amazônia é uma região periférica que

165
OTCA - Relatório de gestão 2007-2008.
166
HOMMA,2005 (grifo meu)
98

ainda não conseguiu demonstrar sua verdadeira vocação econômica, na base dos
serviços ambientais que presta e das vantagens de manter a floresta em pé167.

Esta é uma proposição de Aragón a respeito e sobre o tema, Rosália Arteaga partilhava
da mesma idéia, quando disse que a OTCA devia ser a melhor ferramenta para considerar os
processos de integração regional, preservação sustentável da Amazônia e de melhorar a
qualidade de vida de suas populações e não apenas mero instrumento da burocracia
internacional. Saberemos adiante, se esta proposição vem sendo alcançada.

Uma visão holística da Amazônia possibilita a visualização de cinco campos para


atuação: local (municípios), intra-regional, nacional, regional e global. A OTCA atua sobre o
plano „regional‟, da Pan-Amazônia, na articulação de programas comuns, sob o âmbito do
Desenvolvimento Sustentável e se articula como ponte entre o nível global (externo), onde
estão os Organismos ou Agências de Cooperação e/ou de Financiamento e, o nível nacional,
onde estão as Unidades Técnicas Nacionais de Coordenação ou de Execução (de caráter
operacional) e uma consideração importante é justamente sobre o alcance das medidas
propostas. “Instituições supranacionais ou com governança sobre os recursos naturais
transfronteiriços, geralmente falham na falta de vínvulos diretos com as localidades, que são
pontos fundamentais para a proposição do desenvolvimento”168. Esta seria uma “uma
aspiração que ainda esta em fase de preparação por parte da SP, criar e reforçar a base política
local, municipal e sub-regional”169.

Conformar uma grande rede de pesquisa, sinérgica e atuante, na promoção de


intercambio de recursos humanos e técnico-científicos, conectanto estas cinco vias talvez seja
é o grande desafio a ser vencido. Fora disso, os resultados alcançados são difusos e
insuficientes170.

167
ARAGÓN, 2007 (grifo meu)
168
OOSTEM, Cora Von. Desde „Cambios climáticos‟ hacia „Sociedades locales, diseñando soluciones locales‟ -
La formación de um espacio de gobernanza transfronteriza em la Amazônia Suroccidental. 2007
169
ARTEAGA, (revista DEP)
170
PROCOPIO, 2005
99

4.2.1 Análise do Plano Estratégico 2004-2012171


Para a Ex-Secretária-Geral da Organização, Rosalía Arteaga Serrano, o Plano
Estratégico devia transformar a OTCA em gestora de uma política de desenvolvimento
sustentável, que melhore a qualidade de vida dos povos da região172.

Em 2004, por ocasião da VIII RMRE, em Manaus, foi aprovado o Plano Estratégico
da OTCA173, que seria o mecanismo a dar o tom, sobre como promover e fazer
Desenvolvimento Sustentável, segundo os mandatos dos países membros para a Organização.
Instrumento de orientação do trabalho de médio prazo, no qual foram inclusos os resultados
dos mandatos dos países signatários, estabelecendo em quais áreas a OTCA tem competência
de auação como órgão executivo, para orientar a formulação, a execução e o
acompanhamento de projetos, programas e iniciativas viáveis de alcance regional, visando
avançar em seus propósitos.

Foi elaborado com base na consultoria aos especialistas Antonio Aranibar Quiroga,
Jacques Marcovich e Luis Carrera de la Torre, além de consultas aos países membros, assim
como por meio de aportes da 1º Reunião Internacional das Comissões Nacionais Permanentes
(ocorrida em Brasília, 2004)174. Convém detalhar, que a Venezuela aprova o Plano com
ressalvas, “devido a disposições constitucionais relativas à participação dos povos indígenas
nas decisões que envolvem seu entorno vital” 175.

Foi formulado com o objetivo de “construir consensos, tomar deciões estratégicas com
visão regional e atuar coordenadamente em função do objetivo comum do desenvolvimento
sustentável da Amazônia”(OTCA, 2004, p.37).

Para sua execução, propõe os seguintes mecanismos: „Planos bianuais de ação‟ para
implantação e execução dos programas; Sistema de informações georeferenciadas, para

171
Dados colhidos até 2008. Para ver mais: www.otca.info, relatórios de gestão: síntese 2004-2007 e 2007-2008.
Consultar: ARTEAGA, Rosalía. A OTCA: um desafio permanente. IN: Revista Diplomacia Estratégia e Política
abril/junho 2006.
172
OTCA Boletim Ano I – Nº 1 0 junho/agosto 2004.
173
Ver figura Fluxograma no Plano Estratégico
174
Participaram mais de 150 pessoas, entre delegados de governo, especialistas, representantes de organismos
internacionais, de cooperação e ONG‟s. Funcionou como consultivo a sociedade onde foram ratificados e
incorporados itens e questões ao Plano Estratégico. os eixos estratégicos a serem incorporados no Plano. Ver:
CAPRILES, René. OTCA: amazonizar o mundo, universalizar a florestania. In: Revista ECO 21 – Ed.92.
Disponível em:
175
ANTIQUERA, 2006:168
100

monitoreio da região e geração de dados (baseados na tecnologia SIVAM/ SIPAM do


Brasil176); Cooperação entre os atores e, com atores externos, na celebração tecnica, científica
e financeira; Informação e documentação pelo “website”177, para monitoriamento, avaliação e
acompanhamento das ações - um tipo de prestação de contas e serviços.

Dentro do enfoque estratégico da Organização foram estabelecidas quatro áreas


programáticas para a promoção do desenvolvimento sustentável: 1) Conservação e uso
sustentável dos recursos naturais; 2) Gestão do conhecimento e intercâmbio tecnológico
(privilegiar e arituclar a cooperação Sul-Sul); 3) Integração e competitividade regional; 4)
Fortalecimento institucional, articulados junto a outros seis eixos transversais, conforme
consta no quadro da pagina seguinte.

A análise propostitiva do Plano Estratégico pode aludir a dois sentidos. Em relação ao


cumprimento das metas estabelecidas, ou de quantos projetos iniciados foram levados a cabo
e concluídos, e neste sentido uma avaliação poderia admitir conclusões propriamente
administrativas e ser considerada positiva. Porém, para alcançar o objetivo desta pesquisa,
deve-se ir além deste âmbito, fazendo-se necessário: revisar os parâmetros conceituais
trabalhados sobre o Desenvolvimento Sustentável e articular o que se tem pensado como
propostas dentro dos âmbitos de projeto para a região.

176
Único país entre los os oito a possuir este tipo de monitoramento por satélite.
177
A OTCA lança periodicamente notas a respeito do andamento dos programas em sua página de noticias,
“web”, por meio do “Boletim Informativo OTCA”, relatórios anuais de gestão as SP/OTCA, assim como a
maiorira dos documentos oficiais.
101

Quadro 6: Fluxograma do Plano estratégico

Fonte: OTCA- Plano estratégico (2004-2012). 2004.


102

Quadro 7 Matriz Lógica do Plano Estratégico da OTCA

Fonte: OTCA, Plano Estratégico, Brasília, 2004.

Fonte: OTCA – Plano estratégico (2004-2012). 2004.


103

4.2.2 Programas de Intervenção


Dentre os mais de 20 projetos contemplados pela OTCA, alguns se concretizaram em
seus resultados para atender a programas maiores e por isso, serão analisados apenas os
programas que brindem (ou brindaram) maior amplitude de ação da Secretaria no período
trabalhado, entre 2004 e 2008.

Ao final da gestão, Rosália Arteaga destacou três, por transcenderem em nível de


importância para a região178, que são: o projeto Fortalecimento da Gestão Regional Conjunta
para o Uso Sustentável da Biodiversidade Amazônica179; o projeto Manejo Integrado e
Sustentável dos Recursos Hídricos Transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas,
considerando a variabilidade e as mudanças climáticas180; e, o projeto Uso Sustentável e
conservação dos bosques e da biodiversidade na região amazônica181.

Entre 2007 e 2008, destacam-se os avanços no Projeto Geo – Amazônia182 e na


implantação de projetos demonstrativos. Além dos seguintes itens em curso, sob as cinco
Coordenações: a construção da Agenda Regional Indígena (legitimar e integrar as políticas
públicas em benefício dos povos indígenas); A criação da Rede Pan-Amazonica de
Tecnologia, Ciência e Inovação em Saúde183; e, a abertura de diálogo para a Iniciativa Destino
Amazônia 2009;

4.2.2.1 „Fortalecimento da Gestão Regional Conjunta para o Uso Sustentável da


Biodiversidade Amazônica‟

Foi concebido com o objetivo de coordenar e fomentar conhecimentos sobre a


biodiversidade regional e seus usos potenciais, proporcionar apoio para as tarefas de
conservação e desenvolvimento sustentável que necessitem colaboração transfronteriça e que
beneficiem ao conjunto dos países amazônicos.

178
OTCA, Relatório de Gestão: síntese 2004 – 2007.
179
Fonte: http://www.otca.info/biodiversidade/index.php?idioma=pt
180
Fonte: http://www.otca.info/gefam/
181
Fonte: http://www.otca.org.br/programaregional/
182
Fonte: http://www.otca.org.br/programaregional/
183
Fonte: http://panamazonica.bvsalud.org/php/index.php
104

Foi implantado em três etapas: na 1º, pela formulação de um marco estratégico e


plano de ação regional (2005-2010), validado pela participação de comunidades indígenas e
outros representantes da sociedade amazônica, na definição de metas específicas a serem
alcançadas.

O 2º momento de Fortalecimento da capacidade para coordenar a investigação


aplicada e gerar informação pública de acesso regional, obteve como resultados: (i) a
existência de um centro regional “clearing house” para a coordenação da informação e
investigação regional sobre biodiversidade, (ii) um protocolo regional acordado sobre direitos
de propriedade intelectual, (iii) pelo menos 5 projetos pilotos de investigação sobre a
biodiversidade amazônica executados, (iv) aumento substancial no financiamento externo
adicional para apoiar projetos de investigação comum, incluindo pelo menos um que
incorpore ativamente a participação do setor privado, e (v) uma proposta válida a nível
regional sobre a criação de uma unidade operacional amazônica de biodiversidade. Como um
dos resultados alcançados, foi desenvolvido no âmbito desse projeto, o “Programa Regional
para Gestão Sustentável de Áreas Protegidas” da Pan-Amazônia.

Entre os atores envolvidos: autoridades ministeriais dos países membros, a


Conservação Internacional, a IIRSA, Tráffic América do Sul, Pro-natura internacional e o
BID como financiador principal, seguido pela OTCA. (INICIO: julho 2005 FIM: mar 2009)

Na avaliação do alcance e resultados do programa vemos que se insere na perspectiva


de produção, gestão e controle de conhecimento sobre a biodiversidade regional. Prevê a
conformação de dados para cooperação técninca e científica. Estabelece maior atenção às
áreas fronteiriças e à proteção da propriedade intelectual. Mas, não contempla o marco
econômico e o social dentro do Programa.

4.2.2.2 Manejo Integrado e Sustentável dos Recursos Hídricos Transfronteiriços na Bacia do


Rio Amazonas, considerando a variabilidade e as mudanças climáticas;

Conhecido também por Projeto GEF AMAZONAS possuía entre seus objetivos:
fortalecer o marco institucional para planificar e executar atividades de proteção e manejo
sustentável dos recursos hídricos da Bacia do Rio Amazonas, ante os impactos causados pela
ação humana e as variações climáticas. E entre algumas das metas específicas: (i) definir os
objetivos e diagnósticos estratégicos comuns dos países membros da OTCA em relação aos
105

recursos hídricos e ao uso do solo; (ii) a produção de um mapa digital da Bacia, para
capacitação do gerenciamento integrado dos recursos hídricos; (iii) a produção de um quadro
prognóstico dos impactos hidrológicos decorrentes da variação climática e adaptação às
mudanças climática; (iv) avaliar a vulnerabilidade de ecossistemas e comunidades humanas
em relação às variações climáticas (particularmente as secas e enchentes) e avaliar a
influência das geleiras andinas sobre o regime hídrico do Rio Amazonas. (v) Construir um
projeto de harmonização dos aspectos jurídico-ambientais dos recursos naturais na Bacia
amazônica. (vi) promover propostas de educação ambiental e programas de informação,
envolvendo a participação pública no manejo dos recursos hídricos. (vii) criar os instrumentos
econômicos para o fortalecimento de capacidades técnicas e institucionais e a participação
pública no gerenciamento dos recursos hídricos Bacia.

O programa teve início em 2005, administrado pela OEA, com parceria técnica-
financeira do GEF/PNUMA. E terminou em junho de 2008. Entre os resultados alcançados
têm-se: Elaboração e execução de ações de educação ambiental; Elaboração de estratégias de
gerenciamento integrado e plano para a proteção da biodiversidade e de ecossistemas
aquáticos em áreas críticas (hot spots) da Bacia; Determinação dos impactos e reações
potenciais de ecossistemas e comunidades humanas atingidas pelas mudanças climáticas na
Bacia; Identificação e seleção de projetos pilotos demonstrativos a serem executados durante
o período de formulação do PMAE; Programa de Participação Pública – PPP e um Plano de
Envolvimento Público – PEP.

A avaliação deste programa é propostiva e importante por trabalhar a questão dos


recursos hídricos e prever articulação em vários níveis, incluindo o local. No tripé do
Desenvolvimento Sustentável: articula principalmente os pontos ambiental e social, na
medida em que se preocupa não só com a produção e gestão de conhecimento do tema, mas
também em verificar os impactos sofridos pelas populações ao longo da bacia, assim como
propõe a participação da sociedade e prevê propostas de educação ambiental.

4.2.2.3 Uso Sustentável e conservação dos bosques e da biodiversidade na região amazônica

Denominado também Programa Regional Amazônia – OTCA tem por objetivo


fortalecer a cooperação e atuar como facilitadora na procura de visões comuns sobre gestão,
conservação e desenvolvimento sustentável das florestas, fomentando a participação efetiva
106

dos países amazônicos no diversos foros internacionais sobre esse tema. Administrado pela
BMZ/ GTZ, da Agencia de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento, em parceria com a
OTCA, recebeu financiamento da DGIS (Cooperação Internacional dos Países Baixos) no
valor de US$ 12,5 milhões para a primeira etapa de cinco anos, finalizada em dezembro de
2009.

Na estratégia de implantação, as atividades foram executadas de acordo com o


estabelecido nos Planos bianuais de Ação da Organização, tendo por foco quatro eixos
estratégicos: manejo florestal, biocomércio, turismo sustentável e assuntos indígenas. E,
estabelecendo em cada um deles, outros projetos incorporados ao âmbito do programa, dentre
os quais destacamos:

i) 15 indicadores de Tarapoto sobre o Manejo Florestal Sustentável: Processo


iniciado em 1995, em parceria técnica e financeira com a ONU/FAO, culminou em 2008 com
o levantamento de um marco compartilhado sobre a Sustentabilidade, validado por consultas
nacionais envolvendo os setores privados e públicos dos países da região. O documento
definiu 15 indicadores multisetoriais como exige o paradigma do Desenvolvimento
Sustentável, a seguir:

1. Existência de políticas e marco jurídico para ordenamento territorial, através do


Zoneamento Ecológico – Econômico;
2. Extensão das áreas por tipo de floresta nas categorias de páreas de conservação, em relação
à área total;
3. Taxa de conversão da cobertura florestal para outros fins;
4. Quantidade e qualidade de tecnologias apropriadas para o manejo da produção sustentada;
5. Investimentos em pesquisa, educação e transferência de tecnologias;
6. Quantidade e qualidade de projetos de pesquisa e desenvolvimento sustentável em
execução;
7. Plano de Manejo Florestal e outros planos relacionados com o uso de recursos florestais
aprovados pela autoridade competente;
8. Periodicidade da evolução do cumprimento do plano de manejo e porcentagem média de
cumprimento;
9. Nível de utilização de tecnologias ambientalmente limpas, apropriadas e compatíveis;
107

10. Proporção das áreas de proteção ambiental em comparação com as áreas de produção
permanente;
11. Existência de medidas preventivas para a proteção dos cursos de água contra os impactos
resultantes da atividade de extração florestal;
12. Número de empregos diretos e indiretos e nível de admissões;
13. Contribuição à conservação da diversidade biológica;
14. Contribuição à manutenção, resgate e proteção da diversidade das populações indígenas
locais;
15. Contribuição à economia, à saúde, à cultura, à ciência e a recreação.

ii) GEO – Amazônia; Consiste na avaliação integral do estado do meio ambiente da


região, baseada na metodologia GEO184 (Global Environment Outlook), desenvolvido pelo
PNUMA e realizado com o apoio técnico da Universidade do Pacífico. Entre 2006 e 2008
com a colaboração de mais de 150 cientístas e pesquisadores dos oito países membros, o
esforço resultou na publicação de amplo relatório, o estudo mais completo e detalhado já
realizado sobre a região, com a inclusão de dados atualizados até 2005, sobre os aspectos
econômicos, ecológicos, sociais, políticos e geográficos da região. Servirá como referencial
para a Comunidade Internacional, no trato da Região e, para os governos e atores do
desenvolvimento sustentável amazônico, deve fornecer uma visão integral sobre a
problemática ambiental na região, e oferecer recomendações que facilitarão a articulação de
políticas e ações sobre a Matéria.

O relatório contém sete capítulos: Amazônia: Território, Sociedade e Economia;


Dinâmicas da Amazônia; A Amazônia Hoje; As Marcas da Degradação Ambiental; Respostas
dos Atores à Situação Amazônica; O Futuro da Amazônia; e Linhas de Ação, promovendo

184
O processo GEO pode ser aplicado a diferentes espaços geográficos, sejam definidos por limites naturais -
como biomas, ecorregiões e continentes - ou pelas sociedades - cidades, estados, países e regiões. A metodologia
é participativa, multissetorial e multidisciplinar e adota o enfoque estado-pressão-impacto-resposta, seguido da
projeção de cenários futuros e de propostas e recomendações. Algumas perguntas orientam cada um desses
quatro componentes do processo de análise: O que está ocorrendo com o meio ambiente? (estado); Por que está
ocorrendo? (pressão); Qual é o impacto disto? (impacto); Quais as políticas adotadas para solucionar os
problemas ambientais? (respostas); O que acontecerá no futuro se não atuarmos hoje? (cenários futuros); e O
que fazer para reverter os problemas atuais? (propostas e recomendações).
108

uma avaliação integral da região. Disponível na página WEB da OTCA, o „GEO-


AMAZÔNIA: Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia‟ revela que até 2005, foram
desmatados 857.666 km², o que significa perda de cobertura vegetal de 17%, com relação à
extensão da floresta original, cuja superfície corresponderia a 94% da superfície do território
venezuelano.

Segundo o relatório, a principal causa desse desmatamento é o modelo de crescimento


e desenvolvimento da região amazônica: o aumento acelerado das cidades e dos
assentamentos humanos está entre os principais fatores, além da expansão da pecuária e da
plantação de coca e soja, entre outros cultivos. Aponta também que apesar do avanço da
deflorestação, os países amazônicos realizam evidentes esforços no manejo dos problemas
ambientais.

O texto oferece quatro possíveis cenários para a região: o otimista „Amazônia


Emergente‟ e os preocupantes „À Beira do Precipício‟, „Luz e Sombra‟ e „Inferno Ex-Verde‟.
Bem como, sugere diferentes linhas de ação para enfrentar os desafios impostos pela região:
promover instrumentos de gestão ambiental integrada; a incorporação da gestão de riscos à
agenda pública; o fortalecimento da base institucional ambiental; gerar e difundir a
informação sobre meio ambiente na região; promover estudos e ações de valorização
econômica dos serviços ambientais; criar um sistema de monitoramento e avaliação dos
impactos de políticas, programas e projetos185.

iii) ALFA (Aplicação da Legislação Florestal Ambiental): Tem por objetivo construir
uma agenda comum para melhorar a aplicação das leis florestais em âmbito regional dentro da
perspectiva do desenvolvimento sustentável. O ponto de referência dessa iniciativa foi o
Seminário de Guararema, um espaço de interação regional ocorrido em agosto de 2006 que
discutiu o mesmo tema.

Em execução ocorre neste projeto, a realização de estudos nacionais sobre a aplicação


da legislação florestal nos países membros, como insumo para o processo de tomada de
decisões; o intercâmbio de informações, tecnologias e conhecimentos; e, convergência das
matérias, por meio do diálogo regional. Estudos que servirão como base à elaboração de um

185
Fonte: http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=301334
109

documento que sistematize a situação atual, os desafios à gobernabilidade e o cumprimento da


legislação no setor florestal na Amazônia Continental. Este programa tem o apoio financeiro
do BIRD.

iv) Monitoramento da cobertura vegetal; Projeto em que convergem esforços para


criar um efetivo sistema de monitoramento integrado por satélite da região e se estimula a
capacitação doméstica por cada país. Entre as atividades, o projeto Agenda Comun Amazônia
disponibilizou assistência técnica para apoiar subsistemas de monitoramento da floresta nos
diversos países. As atividades realizadas envolveram: a definição das áreas de interesse para o
monitoramento, que são: desflorestamento, recursos hídricos, mudanças climáticas e
meteorologia, urbanização, demografia e zoneamento ecológico-econômico (ZEE).

E, capacitação dos técnicos dos diversos países no sistema DETER/PRODES, que


permitiram o treinamento de profissionais nas áreas de sensoriamento remoto, interpretação
de imagens e formação de bancos de dados interligados, além de contribuírem para formatar
uma nova proposta de institucionalização do indicador de cobertura florestal nos países da
OTCA.

Essa plataforma tecnológica está baseada no uso do software para gestão de


informações geográficas SPING, desenvolvido pelo Instituto Nacional [Brasil] de Pesquisas
Espaciais (INPE) e utiliza imagens MODIS e Mosaicos NASA-GEOCOVER, ambas em livre
acesso. Além do INPE, fazem parta deste esforço a Agência Brasileira de Cooperação (ABC)
e o International Tropical Timber Organization (ITTO).

v) Sala Andes-Amazônia; no âmbito do Biocomércio é o principal projeto articulado.


Engloba coleta, produção e comercialização de bens e serviços da biodiversidade, de acordo
com critérios de sustentabilidade ambiental, social e econômica e adota a Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB)186 como referência, além dos próprios princípios de
Biocomércio.

186
A Convenção Sobre Diversidade Biológica (CBD) já foi assinada durante a ECO 92, por 175 paises, número
que subiu para 190 até dezembro de 2007. Os EUA não participa da Convenção.
110

Terá duração média de 10 anos e foi pensado a partir da assinatura de Memorandum


entre a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
UNCTAD/Iniciativa Biocomércio e a OTCA em 2004, que marcou a iniciativa para
formulação do Programa Regional de Biodiversidade, com a condução de Estudos Nacionais
sobre os potencias e gargalos de Biocomércio e as possibilidades de trabalhar-os no nível
regional, a identificação de diversas cadeias de valor tais como o de frutas nativas, aqüicultura
e peixes ornamentais, ingredientes naturais, ecoturismo, fibras e artesanato e fauna silvestre,
entre outros. Para todas essas se precisa um melhoramento da cadeia que implica políticas de
fomenta, formas da cooperação entre os atores de cadeia e a oferta dos serviços.

As atividades tiveram início em 2007, com a pretensão de colocar em prática o uso


sustentável dos recursos naturais amazônicos como caminho para impulsionar a conservação
da biodiversidade, a distribuição eqüitativa de benefícios e o desenvolvimento econômico.
Visa superar dificuldades que antes eram enfrentadas ao nível nacional, por meio de visões,
objetivos e ações compartilhadas pelos países em âmbito regional. Para a implantação
considera quatro eixos estratégicos: Política e legislação; Pesquisa e tecnologia;
Desenvolvimento de mercados e; Mecanismos financeiros, elementos pelos quais se espera
uma governança adequada no que diz ao tema.

A Sala Andes Amazônia envolve quatro setores: alimentação, saúde e bem estar;
ornato e moda; beleza; e, recreação. Como objetivos específicos, têm-se os seguintes: (1)
promover e desenvolver oportunidades de negócios e de investimentos; (2) criar uma
identidade regional do Biocomércio andino-amazônico; (3) oferecer um espaço de
intercâmbio e de discussão de questões-chave para o Biocomércio.

É coordenado pela OTCA, Ministério do Meio Ambiente do Brasil e os Programas


Nacionais de Biocomércio da Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. E conta com cooperação
técnico/financeira da BMZ/GTZ; DGIS; UNCTAD e CAN. EM 2007 e 2008 houve duas
versões da Sala, com participação de 82 iniciativas de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e
Peru durante a ExpoSustentat, a maior feira de produtos sustentáveis da América Latina.

Em uma avaliação previa, nota-se que articula globalmente o tripé do


Desenvolvimento Sustentável, mas não configura a proposta presumida por Becker de criação
de Cadeias industriais de Biodiversidade.
111

CAPÍTULO 5

DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A globalização é um fato e transformou em definitivo, as relações sociais além das


fronteiras políticas. Vale-se da inclusão cada vez maior de atores no sistema internacional
quanto ao modo de planificar e coordenar o poder. O fenômeno da governança, em nível
global, tende a fortalecer a opinião e a interferência internacional nos assuntos internos. A
consolidação desta questão torna a Amazônia um desafio conjunto, sobre o qual, os países
signatários deveriam ser capazes de articular ajuda e cooperação de modo favorável ao projeto
latino-americano de integração da Amazônia, diante dos interesses geopolítico-econômicos
alheios. Notou-se nesta pesquisa que falta ainda este teor de habilidade diplomática.

Em 2010, o Tratado de Cooperação Amazônica completa trinta anos de vigência e


nesse amplo período, houve alguma evolução institucional, em função das circunstâncias,
interesses e pressões externas vividas pelos países membros. E foi em grande parte em razão
das pressões externas que o Brasil tomou para si, a liderança do processo de Cooperação
iniciado em 1978, com a assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica e, em 2004 com a
confirmação da OTCA, e, em grande medida pode se atribuir também ao Brasil os avanços ou
a estagnação na cooperação multilateral.

Para os fins desta pesquisa, o conceito de Desenvolvimento foi definido como um


modelo multidimensional que abarque tanto quanto possível, o maior número de aspectos da
vida humana, em resumo entende-se então que deve combinar seis elementos: social
(humano), ambiental, territorial, econômico, político e tecnológico.

Confrontando os programas de intervenção da OTCA com estes pilares de referência,


com o propósito de verificar o quanto de conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade o
projeto contém e até que ponto se trata realmente de um projeto de desenvolvimento
sustentável, verificamos uma sobreposição de prioridade atribuída: à produção de
conhecimento e dados sobre a região; no concerto de diálogo político sobre questões comuns
para gestão de recursos hídricos, biodiversidade e manejo florestal; articulou alguma atuação
112

sobre o âmbito tecnológico, ainda insuficiente; e pouca ou rara iniciativa para a fortificação
dos aspectos social, econômico e territorial, dando prevalência às questões ambientais.

As iniciativas propostas são sem obviamente importantes, mas não bastam para
alcançar o fim macro de promover desenvolvimento, os esforços nos diferentes pilares do
Desenvolvimento Sustetável devem receber atenção conjunta e simultânea, em
proporcionalidade de recursos e programas.

Entre os mecanismos previstos por resolução das Reuniões de Ministros de Relações


Exteriores, o que mais se encontra entravado diz respeito à navegabilidade do rio Amazonas e
às condições de promoção do comércio multilateral entre as partes. E, enquanto falham as
estratégias de implantação de intercâmbio em comércio exterior entre os países membros,
avançam com maior facilidade as redes transnacionais ilícitas, à medida que se consolidam as
vias de integração física.

Os discursos presidenciais observados (do Brasil) tratam sobre Desenvolvimento


Sustentável com a devida seriedade que o tema exige, mas sem ainda ter alcançado a
dimensão real e multidiciplinar necessária ao tema. A participação intensa do Brasil na
COP15 implica pensar que esta revela um interesse maior que o próprio Desenvolvimento
estratégico de sua Amazônia, a projeção internacional é a condição que explica porque Lula
teria oferecido 10 bilhões ao fundo para mitigação das mudanças climáticas, sem notar, que o
dever de casa principal do Brasil, quanto à questão, localiza-se ao norte do país. E neste
sentido, o presidente deu o recado à Comunidade Internacional: transformar em política de
Estado, o combate ao desmatamento e as queimadas. Mas e o outro lado da moeda?
Tampouco tem destaque que, em seus discursos sobre fóruns internacionais referentes à
Amazônia, o presidente Lula tenha analtecido o valor da OTCA.

Como estratégias, a comunidade acadêmica e científica tem promovido esforços no


sentido de direcionar propostas concretas e viáveis para médio e longo prazo, estes esforços
têm encontrado pouco viés para alcançar as políticas públicas, o elo ciência - política pública
não está fortificado o bastante, nem nos níveis locais, nacionais e nem junto à OTCA com a
criação de um ampla rede integrada de comunicação e intercâmbio de informações entre os
aores nacionais encvolvidos, embora se tenha iniciado esforço neste propósito.

As vulnerabilidades geopolíticas presentes na região não permitem que, para a


existência do Desenvolvimento, as forças de mercado possam atuar livremente à espera do
113

crescimento econômico. Este modelo não condiz com as necessidades amazônicas, assim que,
justifica-se a intervenção Estatal e a necessidade da cooperação multilateral para controlar e
combater as condições que desqualificam o desenvolvimento.

Se antes, o Tratado era pioneiro em seu concerto de assinatura em 1978, não o é mais.
Enquanto Organização Internacional há necessidade de atualizar os mecanismos inseridos,
aplicá-los com força de lei em nível nacional, nas estratégias comuns, de modo que a OTCA
pudesse ser estabelecida como Organismo de controle e averiguação multilateral dos próprios
países membros, para os avanços e deficiências no concerto amazônico dos mesmos países
membros, em nível doméstico.

O temor pela Supranacionalidade e relativa interferência na Soberania poderia ser


pensado de forma propositiva, ou seja, reconhecer a necessidade e importância da atuação
internacional na região, sem deixar de mantar cuidado quanto ao que se observa com
freqüência: a apropriação espacial e do saber amazônicos por meios globalizados. Assim que,
antes seja estabelecido algum certo controle e governança supranacional dos países
amazônicos para eles mesmos, que, a ocorrência do controle e governança da Amazônia, por
atores externos à região.

A OTCA ainda não conquistou o papel que lhe deveria caber, ou seja, ser o principal
articulador de políticas públicas em nível regional para a Amazônia, afirmando o
direcionamento das propostas a serem implantadas. Mas sim, atua mais como um facilitador
de captação e financiamento e, encaminhamento de programas relacionados.

Um ator coadjuvante frente a tantos outros, que quizá movimentem muito mais a
dinâmica sócio-econômica, que a própria OTCA: ONG‟s, Agências de Cooperação,
Multinacionais, grupos de pressão e missões religiosas. Todos estes atores sociais possuem
propostas de intervenção regional, que nem sempre condizem com o senso multidimensional
do Desenvolvimento Sustentável, o que significa afirmar que persistirão conflitos políticos e
sociais desta natureza, enquanto um dos atores não fizer prevalecer seus projetos, ambições e
interesses sobre os outros. A proposta para este caso é que a OTCA tivesse condições de
representar esta prevalência.

Se em relação ao Tratado formulado em 1978, a análise de Meira Mattos atribuía


como hipótese de insucesso, o fato de este configurar-se como um Acordo-Quadro de
cooperação econômico-social, não se pode declarar que a OTCA não tem manifestado
114

atuação, no entanto, pode-se afirmar que as inexistências de poder legislativo e judiciário


fragilizam seu poder político de ação.

A construção de uma concepção multidimensional para o Desenvolvimento


Sustentável pode se concretizar em longo prazo, mas em curto prazo não se observa grandes
transformações em termos de alcance territorial e populacional, ou seja, não se vislumbra
melhora imediata na vida das populações amazônicas.

As políticas públicas (novamente tendo por base o ocorrido no Brasil) carecem de


equilíbrio (social, econômico e ambiental). E os conflitos internos, por sua vez, tornam ainda
mais lentos os esforços de nível regional. Ou seja, mesmo que a OTCA promova programas
de integração de redes de conhecimento científico, qual a dimensão de resultados e impactos
positivos deste esforço se o Brasil investe apenas 3% em C&T na região, por exemplo? Ou,
em que dimensão pode atingir seus esforços em nível interno, se nem todos os países possuem
Comissões Nacionais Permanentes?

Falta ainda à Organização, a capacidade de promover Desenvolvimento Endógeno. O


limite de sua atuação entre as esferas nacionais e o nível externo aos países membros dificulta
a promoção de impactos positivos sobre a vida das populações locais e assim, deixa-se passar
a retórica mais repetida como missão, desde a formação do Tratado: “melhorar a vida das
populações locais”.

A OTCA deve prover condições de articular, mesmo que virtualmente, instâncias


desde o baixo nível - a localidade - os programas regionais devem buscar e encontrar
parceiros para execução nos níveis locais, a partir do apoio das Comissões Nacionais
Permanentes – ampliar e integrar esforços, em torno das mesmas diretrizes. Nota-se que a
Instituição têm buscado aproximação com outros organismos internos, sem contudo, o devido
esforço de alcance.

Em nível interno, notamos que há bastante descontrole sobre as atividades e


informações geridas por atores internacionais para a região (pela referência do que ocorre no
Brasil). E no âmbito regional da OTCA, este tema não foi proposto em sua pauta de
discussão, o que se entende ser um esforço necessário, por estar vinculado às questões de
propriedade intelectual e preservação soberana do conhecimento. De modo que estes atores
internacionais sejam capazes de exercer – sem o controle devido - uma governança mais
evidente e aparente que os próprios países signatários. Esta necessidade gira em torno do
115

intento antigo de harmonizar as legislações internas. Intenção que vem sendo discutida, em
relação às questões indígenas, quanto à biodiversidade e o manejo florestal. Direcionamentos
necessários, mas que não são únicos.

Aliás, há questões importantes sobre as quais à OTCA não foi atribuída competência.
Defesa e Segurança, por exemplo. Neste tema, a não ser pela retórica de defesa da Soberania,
não há avanços quanto à promoção de programas que contemplem a segurança regional,
tampouco ações que valham no intuito de cobrar referida atenção aos Organismos Regionais
competentes, o que poderia ser mais conveniente à OTCA.

Em relação à integração regional, a parceria efetiva entre OTCA e IIRSA serviria para
complementar esforços de mesmo fim, enquanto a IIRSA vem a suprir a necessidade de infra-
estrutura física, a OTCA deveria se encarregar da conectividade regional sobretudo das
telecomunicações, porque permite articulações locais/ nacionais, bem como locais/ globais, a
falta de definição da função da OTCA neste âmbito é uma debilidade.

A questão da Amazônia urbana também não é trabalhada com a devida atenção. Nas
cidades, sabemos, há demandas diferentes quanto ao Desenvolvimento Sustentável, e
direcionar atenção a esta questão é também indispensável, tendo em vista que é nas cidades
onde se concentram o maior número de pessoas, de modo a permitir maior vazão de alcance
para retorno populacional.

É necessário o devido diálogo político quando se trata de acatar Cooperação


Internacional, devido o ocorrido com o projeto apresentado pela USAID (com a proposta de
criação da „Iniciativa para a conservação da Bacia Amazônica‟), a OTCA deve manter
posicionamento e apresentar feed-back aos países membros sobre os riscos e oportunidades
em que podem se converter tal cooperação, isto porque cabem aos países membros aceitar ou
não as propostas internacionais e por pouco, o projeto USAID não foi levado adiante, graças,
porém, à atenção de jornalistas que alertaram e divulgaram na mídia o fato, não
necessariamente em função de alerta público da Secretaria Permanente (ao menos, não há
documentos que aludam a esta conclusão).

A OTCA é um organismo para execução regional das recomendações dos países


membros, orientadas via Chancelaria. E, portanto, embora presente nos fóruns internacionais
para representá-los, não formula posicionamentos próprios, quando não lhe é pedido pelos
membros signatários. No caso da Raposa Serra do Sol, por exemplo, pôde um funcionário da
116

ONU ir à público dizer que o Brasil sofreria conseqüências devidas. Ao Secretário Geral da
OTCA não cabe tal função: negociar, abrandar, tampouco lhe coube gerar um posicionamento
conjunto a respeito do caso. A instituição tem validade para recomendar questões e executar o
que lhe é solicitado, apenas.

Aliás, merece ser questionada a instalação da Secretaria Permanente fora do seu


espaço estratégico de atuação. Afinal, se a OTCA é para a Amazônia, por que sua sede se
localiza no cerrado brasileiro ?

Observamos que por mais eficiente que seja uma instiuição de caráter internacional na
promoção de seus objetivos, por mais atuante que possa ser a Cooperação internacional na
concretização do desenvolvimento, sozinhas estas esferas não têm como promover
desenvolvimento regional, se, as esferas políticas locais (equivalentes goernos municipais e
nacioanis) se encontram debilitadas democraticamente, se agem por interesses próprios antes
do interesse social, se estão corrompidas e não apresentam sintonia e diálogo, quanto ao
esforço regional e internacional para o Desenvolvimento. A sociedade deve ser inserida e se
engajar no processo de pressão e articulação por este fim.
117

CONCLUSÕES

Em relação aos resultados obtidos, por meios de análise e interpretação empírica das
informações obtidas, considerando o problema proposto e os objetivos planejados, derivam-se
as seguintes conclusões:

- A Cooperação Amazônica e o apoio da Cooperação Internacional são indispensáveis, mas


não suficientes para promover o Desenvolvimento Regional, porque não alcançam as bases do
desenvolvimento, em nível local, articulando e integrando a sociedade.

- Não há expectativa em curto e médio prazo de que a OTCA ascenda a um Organismo


Supranacional de gestão e governança para o Desenvolvimento Sustentável. Esta

possibilidade não é cogitada nem pelos países membros, nem pela diretoria da OTCA.

- A OTCA têm promovido programas importantes em médio e longo prazo para a


convergência de políticas harmônicas na gestão de recursos naturais.

- A OTCA deve fortalecer sua capacidade de promover e multiplicar os projetos


demonstrativos, contribuindo para formação de uma gestão harmônica de práticas
sustentáveis.

- Cada país possui uma urgência de curto prazo, responsável pela degradação sócio-ambiental,
urgências tais não consideradas necessariamente na atuação da OTCA. Como por exemplo, a
questão da Coca e do tráfico na zona andina.

- Há necessidade de pensar o aspecto sócio- cultural, com vistas a fortalecer o sentido de lugar
e o sentimento de identidade amazônica.
118

- Constata-se dificuldade para assegurar acordos internacionais que estabeleçam instrumentos


jurídicos para orientar o processo de transformação social à Sustentabilidade.

- Ausência de lideranças locais capazes de interferir nos âmbitos nacioanis para vencer a
vulgarização do discurso em torno do desenvolvimento sustentável da Amazônia.

- A debilidade da comunicação e integração com os processos de integração sub-regionais já


articulados – MERCOSUR e CAN – sobre a forma de cooperação e articulação pouco
definidas para a atuação em áreas onde a OTCA não possui competência de acordo com o que
está embasado no Plano estratégico, como narcotráfico e inserção militar na região, bem como
em áreas de atuação comum, no caso da CAN e do CARICOM, porque ambos incluem
espaços gesográficos amazônicos.

- A promoção da articulação do comérico intra-regional como prioridade.

- A instalação da Secretaria Permanente em Brasília e não em Manaus ou Belém é um erro


estratégico, um reflexo do distanciamento da Orgnização Internacional, no seu entorno local
de atuação.

- A necessidade de promover legislação adequada e harmônica para o controle das atividades


dos atores internacionais envolvidos na região.

- A Instituição deve assumir a capacidade diplomática, política e administrativa para desenhar


um projeto próprio de desenvolvimento, priorizando o máximo possível de aspectos da vida
humana.
119

REFERÊNCIAS

AMAZONÍA sin mitos, Wasuington D.C: Banco Interamericano de Desenvolvimento(BID),


Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Tratado de Cooperação
Amazônica (TCA). Am, 1992.

ANTIQUERA, Daniel de Campos. A Amazônia e a Política Externa Brasileira: Análise do


Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e sua transformação em Organização
Internacional (1978-2002). Campinas, 2006. 201p. Dissertação (Mestrado em Relações
Internacionais) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, 2006.

ARAGÓN, Luis E. Há futuro para o desenvolvimento sustentável na Amazônia? In Melo,


Alex Fiúza (Org.). O futuro da Amazônia: Dilemas, oportunidades e desafios no limiar do
século XXI. Belém: Editora da Universidade Federal de Pará. 2002. p. 22-53

BECKER, Bertha. Amazônia geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro:


Garamond, 2004, 172p.

BECKER, Bertha. Geopolítica da Amazônia. Revista de Estudos Avançados 19 (53). São


Paulo, USP, 2005, p. 71-86.

BRACK Egg, Antonio. Medio Ambiente, Economia y Vialidad en la Amazonia Peruana:


Panorama General de la Cuenca Amazónica. Disponível em: <
http://archive.idrc.ca/library/document/101488/chap2_s.html>. Acesso em: 10 jan 2010

CAPRILES, René. OTCA: Amazonizar o mundo e universalizar a florestania. REVISTA


ECO21 – Ed, 92. Disponível em: <http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=819>.
Acesso em: 02 mar 2010.
120

CARRASCO, Lorenzo. USAID Planeja ocupação da Amazônia. Revista Alerta em Rede


(17 mai 2007). Disponível em: <www.alerta.inf.br/Geral/1028.html>. Acesso em: 16 mai
2008.

CUNHA, Ray. Para não perdermos a Amazônia, Lula escalou Mangabeira Unger.
ABCPOLÍTIKO. Enfoque Amazônico. Disponível em: < http://www.abcpolitiko.com.br/>
Acesso em: 19 maio 2008

DEUDARÁ, Raimundo; ZERBINI, Newton Jordão. Critérios e Indicadores para a


Sustentabilidade da Floresta Amazônica: o Processo de Tarapoto. Disponível em:
<http://www.ibama.gov.br/ojs/index.php/braflor/article/viewFile/61/59>. Acesso em:

FIGUEIRA, Ângelus. ENTREVISTA: Bertha Becker propõe uma revolução para salvar
a Amazônia. Disponível em: <http://blogdofigueira.blogspot.com/2008/05/bertha-becker-
prope-uma- revoluo-para.html>. Acesso em:

FLACSO (Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales). Dossier OTCA. Ed. Jossette


Altmann; comp. Tatiana Beirute. – 1a. ed. – San José, C.R.: FLACSO, 2008 Disónível
em: <http://www.flacso.org/uploads/media/Dossier_OTCA.pdf. >. Acesso em 5 fev 2010.

FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Entrevista com o Presidente Lula: Cooperação


Amazônica (25 jun 2009). Disponível em: <http://www2.fpa.org.br/conteudo/entrevista-luiz-
inacio-lula-da-silva- cooperacao-amazonica>. Acesso em: 12 mar 2010

KUCINSKI, Bernardo. La Amazonia y la geopolítica del Brasil. In: NUEVA SOCIEDAD


NRO. 37 JULIO-AGOSTO 1978, PP. 26-30. Disponível em:
<http://www.nuso.org/upload/articulos/447_1.pdf>. Acesso em: 12 abr 2010.

MEIRA MATTOS, Adherbal. Amazônia e outros estudos. Belém, CEJUP, 1991, p. 13 a 103.
121

MEIRA MATTOS, Adherbal. Pacto amazônico, Cooperação e integração. Textos para


discussão. Belém, Universidade Federal do Pará, 1982.

OLIVEIRA, CMG Jorge A. B. de. Tratado de Cooperação Amazônico como Instrumento


de Segurança Hemisférica e de Desenvolvimento Econômico- Social da Região
Amazônica. 2007, Monografia (Curso Superior de Defesa Hemisférica). WASHINGTON,
DC., 2007.

PIEDRA-CALDERÓN, Andrés F. A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica


e a Consolidação do processo de integração sul-americana. Porto Alegre, 2007. p. 128.
Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2007. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/13083>. Acesso em: 01 fev
2010.

PLANCHART, Emilio Figueiredo. Antecedentes, Proyección y futuro del Tratado de


Cooperación Económica. Disponível em: <http://www.otca.info/> Acesso em: 03 março
2008.

PROCOPIO, Argemiro. Degradação Ambiental e ONG’s na Amazônia. REVISTA


MERIDIANO 47. IBRI, Nº82, Maio 2007. Disponível em:
<http://meridiano47.info/2007/05/15/degradacao-ambiental-e-ongs-na- amazonia-
continental/>. Acesso em:

PROCOPIO, Argemiro. A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e o


Multilateralismo Amazônico. Disponível em: <ilas.cass.cn/duiwaijiaoliu/Braziljiaoshou.doc
>. Acesso em: 12 out 2009

PROCOPIO, Argemiro. O Multilateralismo Amazônico e as Fronteiras da Segurança. In: Id


(Org). Os excluídos da Arca de Noé. São Paulo: HUCITEC, 2005. p. 67-162.

QUIROGA, Antonio Aranibar e MARCOVITCH, Jacques. Lineamientos estratégicos para


la Organización Del Tratado de Cooperación Amazónica. Brasília, DF: OTCA, 2003.
122

RIBEIRO, Nelson de Figueiredo. A Questão Geopolítica da Amazônia: da soberania


difusa à soberania restrita. Ed. UFPA, Belém, 2006.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro:


Garamond, 2004.

SECRETARIA PERMANENTE DA OTCA. Relatório de Gestão da Organização do


Tratado de Cooperação Amazônica: síntese 2004 – 2007. Disponível em: <
http://www.otca.org.br/br/publicacao/resultPesquisa.php# > . Acesso em: 18 out 2009.

SECRETARIA PERMANENTE DA OTCA. Relatório de Gestão da Organização do


Tratado de Cooperação Amazônica 2007-2008. Disponível em: <
http://www.otca.org.br/br/publicacao/resultPesquisa.php# > . Acesso em: 10 mai 2010.

SILVA, Marcelle Ivie da Costa Silva. Raposa Serra do Sol: agentes políticos, conflitos e
questões internacionais na Amazônia Brasileira. Segurança Internacional – 1° Encontro
Nacional da ABRI. Brasília, 25 a 27 de julho de 2007.

SILVA, Marcelle Ivie C. Raposa Serra do Sol: agentes políticos, conflitos e questões
internacionais na Amazônia brasileira. 2007. I Simpósio de Relações Internacionais San Tiago
Dantas. Disponível em:

<http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/arquivos/nucleos/artigos/marcele.pdf>.
Acesso em 9 abr 2010.

SILVA, Alberto T. da (2006) Relações Internacionais e Meio Ambiente: construindo uma


agenda de governança policêntrica. III Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação
e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro3/GT14.html>. Acesso em: 04 mar 2010.
123

TILIO NETO, Petrônio de. Soberania e Ingerência na Amazônia brasileira. São Paulo,
2003. 143p. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

SILVA. André Reis da. Os desafios da segurança e da cooperação na região amazônica.


Disponível em:<http://www.ilea.ufrgs.br/nerint/arquivoartigos/content463/content463_2/Cont
entFile.html#_ftn1,sd>.Acesso em:

SOUSA, Ana Cristina. A evolução da Política Ambiental no Brasil do século XXI.


Disponível em: <http://www.achegas.net/numero/vinteeseis/ana_sousa_26.htm>. Acesso em:
02 abril 2010.

WISCHANSKY, Edileuza. NARCOTRÁFICO NA PAN AMAZÔNIA: Um panorama da


influência do tráfico de cocaína na Região. Monografia (Bacharelado em Relações
Internacionais) Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade da Amazônia, 2009.
KILCA.

OTCA. OTCA: Base jurídica. Brasília, Secretaria Permanente 2003. Disponível em:
<http://www.otca.org.br/br/noticias/index.php?tipoN=11> Acesso em: 15 fev 2010.

______. Boletim Eletrônico – Nº I a VIII. Brasília, 2004. Disponível em:


<http://www.otca.org.br/br/noticias/index.php?tipoN=11> Acesso em: 15 fev 2010.

______. Informe de Gestión: Síntese 2004 - 2007. Brasília, Secretaria Permanente, 2008.
Disponível em: www.otca.info. Acesso em: 2 mai 2010

______. Informe de Gestión: 2007 - 2008. Brasília, Secretaria Permanente, 2010. Disponível
em: www.otca.info. Acesso em: 2 mai 2010

______. Plan estratégico de la OTCA (2004-2012). Brasília, 2004. Disponível em:


<http://www.otca.org.br/PDF/Plan_Estrategico.pdf>. Acesso em: 05 fev 2010.
124

ANEXO 1: Tratado de Cooperação Amazônica

As Repúblicas da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, do


Suriname e da Venezuela,

CONSCIENTES da importância que para cada uma das Partes têm suas respectivas regiões
amazônicas como parte integrante do seu território;

ANIMADAS do propósito comum de conjugar os esforços que vêm empreendendo, tanto em


seus respectivos territórios como entre si, para promover o desenvolvimento harmônico da
Amazônia, que permita uma distribuição eqüitativa dos benefícios desse desenvolvimento
entre as Partes Contratantes, para elevar o nível de vida de seus povos e a fim de lograr a
plena incorporação de seus territórios amazônicos às respectivas economias nacionais;

CONVENCIDAS da utilidade de compartilhar as experiências nacionais em matéria de


promoção do desenvolvimento regional;

CONSIDERANDO que para lograr um desenvolvimento integral dos respectivos territórios


da Amazônia é necessário manter o equilíbrio entre o crescimento econômico e a preservação
do meio ambiente;

CÔNSCIAS de que tanto o desenvolvimento sócio-econômico como a preservação do meio


ambiente são responsabilidades inerentes à soberania de cada Estado e que a cooperação entre
as Partes Contratantes servirá para facilitar o cumprimento destas responsabilidades,
continuando e ampliando os esforços conjuntos que vêm realizando em matéria de
conservação ecológica da Amazônia;

SEGURAS de que a cooperação entre as nações latino-americanas em matérias específicas


que lhe são comuns contribui para avançar no caminho da integração e solidariedade de toda a
América Latina;

PERSUADIDAS de que presente Tratado significa o inicio de um processo de cooperação


que redundará em benefícios de seus respectivos países e da
Amazônia em seu conjunto,

RESOLVEM subscrever o presente Tratado:

Artigo I As Partes Contratantes convêm em realizar esforços e ações conjuntas a fim de


promover o desenvolvimento harmônico de seus respectivos territórios amazônicos, de modo
125

a que essas ações conjuntas produzam resultados eqüitativos e mutuamente proveitosos, assim
como para a preservação do meio ambiente e a conservação e utilização racional dos recursos
naturais desses territórios.

Parágrafo único Para tal fim, trocarão informações e concertarão acordos e entendimentos
operativos, assim como os instrumentos jurídicos pertinentes que permitam o cumprimento
das finalidades do presente Tratado.

Artigo II O presente Tratado se aplicará nos territórios das Partes Contratantes na Bacia
Amazônica, assim como, também, em qualquer território de uma Parte Contratante que, pelas
suas características geográficas, ecológicas ou econômicas, se considere estreitamente
vinculado a mesma.

Artigo III De acordo com e sem detrimento dos direitos outorgados por atos unilaterais, do
estabelecido nos tratados bilaterais entre as Partes e dos princípios e normas do Direito
Internacional, as Partes Contratantes asseguram-se, mutuamente, na base da reciprocidade, a
mais ampla liberdade de navegação comercial no curso do Amazonas e demais rios
amazônicos internacionais, observando os regulamentos fiscais e de polícia estabelecidos ou
que se estabelecerem no território de cada uma delas. Tais regulamentos deverão, na medida
do possível, favorecer essa navegação e o comércio e guardar entre si uniformidade.

Parágrafo único O presente artigo não se aplicará à navegação de cabotagem.

Artigo IV As Partes Contratantes proclamam que o uso e aproveitamento exclusivo dos


recursos naturais em seus respectivos territórios é direito inerente à soberania do Estado e seu
exercício não terá outras restrições senão as que resultem do Direito Internacional.

Artigo V Tendo em vista a importância e multiplicidade de funções que os rios amazônicos


desempenham no processo de desenvolvimento econômico social da região, as Partes
Contratantes procurarão envidar esforços com vistas à utilização racional dos recursos
hídricos.

Artigo VI Com o objetivo de que os rios amazônicos constituam um vínculo eficaz de


comunicação entre as Partes e com o Oceano Atlântico, os Estados ribeirinhos interessados
num determinado problema que afete a navegação livre e desimpedida empreenderão,
conforme for o caso, ações racionais, bilaterais ou multilaterais para o melhoramento e
habitação dessas vias navegáveis.

Parágrafo único Para tal efeito, estudar-se-ão as formas de eliminar os obstáculos físicos que
dificultam ou impedem a referida navegação, assim com os aspectos econômicos e financeiros
correspondentes, a fim de concretizar os meios operativos mais adequados.
126

Artigo VII Tendo em vista a necessidade de que em vista o aproveitamento da flora e da


fauna da Amazônia seja racionalmente planejado, a fim de manter o equilíbrio ecológico da
região e preservar as espécies, as Partes Contratantes decidem:

a) Promover a pesquisa cientifica e o intercâmbio de informações e de pessoal técnico


entre as entidades competentes dos respectivos países, a fim de ampliar os
conhecimentos sobre os recursos da flora e da fauna de seus territórios amazônicos e
prevenir e controlar as enfermidades nesses territórios;

b) Estabelecer um sistema regular de troca adequada de informações sobre as medidas


conservacionistas que cada Estado tenha adotado ou adote em seus territórios
amazônicos, as quais serão matérias de um relatório anual apresentado por cada país.

Artigo VIII As Partes Contratantes decidem promover a coordenação dos atuais serviços de
saúde de seus respectivos territórios amazônicos e tomar outras medidas que sejam
aconselháveis com vistas à melhoria das condições sanitárias da região e ao aperfeiçoamento
dos métodos tendentes a prevenir e combater as epidemias.

Artigo IX As Partes Contratantes concordam em estabelecer estreita colaboração nos campos


da pesquisa científica e tecnológica, com o objetivo de criar condições mais adequadas à
aceleração do desenvolvimento econômico e social da região.

Parágrafo primeiro Para os fins do presente Tratado, a cooperação técnica e científica a ser
desenvolvida entre as Partes Contratantes poderá assumir as seguintes formas;

a) Realização conjunta ou coordenada de programas de pesquisa e desenvolvimento;


b) Criação e operação de instituições de pesquisa ou de aperfeiçoamento e produção
experimental;
c) Organização de seminários e conferências, intercâmbio de informações e
documentação e organização de meios destinados à sua difusão.

Parágrafo segundo As Partes Contratantes poderão, sempre que julgarem necessário e


conveniente, solicitar a participação de organismos internacionais na execução de estudos,
programas e projetos resultantes das formas de cooperação técnica e científica no parágrafo
primeiro do presente artigo.

Artigo X As Partes Contratantes coincidem na conveniência de criar uma infra-estrutura


física adequada entre seus respectivos países, especialmente nos aspectos de transportes e
comunicações. Consequentemente, comprometem-se a estudar as formas mais harmônicas de
estabelecer ou aperfeiçoar as interconexões, rodoviárias, de transportes fluviais, aéreos e de
127

telecomunicações, tendo em conta os planos e programas de cada país para lograr o objetivo
prioritário de integrar plenamente seus territórios amazônicos às suas respectivas economias
nacionais.

Artigo XI Com o propósito de incrementar o emprego racional dos recursos humanos e


naturais de seus respectivos territórios amazônicos, as Partes Contratantes concordam em
estimular a realização de estudos e a adoção de medidas conjuntas tendentes a promover o
desenvolvimento econômico e social desses territórios e gerar formas de complementação que
reforcem as ações previstas nos planos nacionais para os referidos territórios.

Artigo XII As Partes Contratantes reconhecem a utilidade de desenvolvimento, em condições


eqüitativas e de mútuo proveito, o comércio a varejo de produtos de consumo local entre as
suas respectivas populações amazônicas limítrofes, mediante acordos bilaterais ou
multilaterais adequados.

Artigo XIII As Partes Contratantes cooperarão para incrementar as correntes turísticas,


nacionais e de terceiros países, em seus respectivos territórios amazônicos, sem prejuízo das
disposições nacionais de proteção às culturas indígenas e aos recursos naturais.

Artigo XIV As Partes Contratantes cooperação no sentido de lograr a eficácia das medidas
que se adotem para a conservação das riquezas etnológicas e arqueológicas da área
amazônica.

Artigo XV As Partes Contratantes se esforçarão por manter um intercâmbio permanente de


informações e colaboração entre si e com os órgãos de cooperação latino-americanos nos
campos de ação que se relacionam com as matérias que são objeto deste Tratado.

Artigo XVI As decisões e compromissos adotados pelas Partes Contratantes na aplicação do


presente Tratado não prejudicarão os projetos e empreendimento que executem em seus
respectivos territórios, dentro do respeito ao Diretor Internacional e segundo a boa prática
entre nações vizinhas e amigas.

Artigo XVII As Partes Contratantes poderão apresentar iniciativa para realização de estudos
destinados à concretização de projetos de interesse comum, para o desenvolvimento de seus
territórios amazônicos e, em geral, que permitam o cumprimento das ações contempladas no
presente Tratado.

Parágrafo único As Partes Contratantes acordam conceder especial atenção à consideração


de iniciativas apresentadas por países de menor desenvolvimento que impliquem esforços e
ações conjuntas das Partes.
128

Artigo XVIII O estabelecido no presente Tratado não significará qualquer limitação a que as
Partes Contratantes celebrem acordos bilaterais ou multilaterais sobre temas específicos ou
genéricos, desde que não sejam contrários à consecução dos objetivos comuns de cooperação
na Amazônia consagrados neste instrumento.

Artigo XIX Nem a celebração do presente Tratado, nem a sua execução terão algum efeito
sobre quaisquer outros tratados ou atos internacionais vigentes entre as Partes, nem sobre
quaisquer divergências sobre limites ou direitos territoriais existentes entre as Partes, nem
poderá interpretar-se ou invocar-se a celebração deste Tratado ou sua execução para alegar
aceitação ou renúncia, afirmação ou modificação, direta ou indireta, expressa ou tácita, das
posições e interpretações que sobre estes assuntos sustente cada Parte Contratante.

Artigo XX Sem prejuízo de posteriormente se estabeleça a periodicidade mais adequada, os


Ministros das Relações Exteriores das Partes Contratantes realizarão reuniões cada vez que o
julguem conveniente ou oportuno, a fim de fixar as diretrizes básicas da política comum,
apreciar e avaliar o andamento geral do processo de cooperação amazônica e adotar as
decisões tendentes à realização dos fins propostos neste instrumento.

Parágrafo primeiro Celebrar-se-ão reuniões dos Ministros das Relações exteriores por
iniciativa de qualquer das Partes Contratantes sempre que conte como apoio de pelo menos
outros quatro Estados Membros.

Parágrafo segundo A primeira reunião de Ministros das Relações Exteriores celebrar-se-á


dentro de dois anos seguintes à data de entrada em vigor do presente Tratado. A sede e a data
da primeira reunião, fixadas mediante entendimento entre as Chancelarias das Partes
Contratantes.

Parágrafo terceiro A designação do país sede das reuniões obedecerá ao critério de rodízio
por ordem alfabética.

Artigo XXI Representantes diplomáticos de alto nível das Partes Contratantes, reunir-se-ão,
anualmente, integrando o Conselho de Cooperação Amazônica, com as seguintes atribuições:

1) velar pelo cumprimento dos objetivos e finalidades do Tratado.


2) velar pelo cumprimento das decisões tomadas nas reuniões de Ministros das
Relações Exteriores.
3) recomendar as Partes a conveniência ou oportunidade de celebrar reuniões de
Ministros das Relações Exteriores e preparar o temário correspondente.
4) considerar as iniciativas e os projetos que apresentem as Partes adotar as decisões
pertinentes para a realização de estudos e projetos bilaterais ou multilaterais, cuja
execução, quando for caso, estará cargos das Comissões Nacionais Permanentes.
129

5) avaliar o cumprimento dos projetos de interesse bilateral ou multilateral.


6) adotar as normas para o seu funcionamento

Parágrafo primeiro O Conselho poderá celebrar reuniões extraordinárias por iniciativa de


qualquer das Partes Contratantes, com apoio da maioria das demais.

Parágrafo segundo A sede das reuniões ordinárias obedecerá ao critério de rodízio, por
ordem alfabética, entre as Partes Contratantes.

Artigo XXII As funções de Secretaria serão exercidas, pro tempore, pela Parte Contratante
em cujo território deva celebrar-se a seguinte reunião ordinária do Conselho de Cooperação
Amazônica.

Parágrafo único A Secretária pro tempore enviará, às Partes, documentação pertinente.

Artigo XXIII As Partes Contratantes criarão Comissões Nacionais Permanentes encarregadas


da aplicação, em seus respectivos territórios, das disposições deste Tratado, assim como da
execução das decisões adotadas pelas reuniões dos Ministros das Relações Exteriores e pelo
Conselho de Cooperação Amazônica, sem prejuízo de outras atividades que lhe sejam
atribuídas por cada Estado.

Artigo XXIV Sempre que necessário, as Partes Contratantes poderão constituir comissões
especiais destinadas ao estudo de problemas ou temas específicos relacionados com os fins
deste Tratado.

Artigo XXV As decisões adotadas em reuniões efetuadas em conformidade com os Artigos


XX e XXI, requererão sempre o voto unânime dos Países Membros do presente Tratado. As
decisões adotadas em reuniões efetuadas em conformidade com o Artigo XXIV requererão
sempre o voto unânime dos países participantes.

Artigo XXVI As Partes Contratantes acordam que o presente Tratado não será susceptível de
reservas ou declarações interpretativas.

Artigo XXVII O presente Tratado terá duração ilimitada e não estará aberto a adesões.

Artigo XXVIII O presente Tratado será ratificado pelas Partes Contratantes e os instrumentos
de ratificação serão depositados junto ao Governo da República Federativa do Brasil.
130

Parágrafo primeiro O presente Tratado entrará em vigor trinta dias depois de depositado o
último instrumento de ratificação das Partes Contratantes.

Parágrafo segundo A intenção de denunciar o presente Tratado será comunicado por uma
das Partes Contratantes às demais Partes Contratantes, pelo menos noventa dias antes da
entrega formal do instrumento de denúncia do Governo da República Federativa do Brasil.
Formalizada a denúncia, os efeitos do Tratado cessarão para a Parte Contratante denunciante,
no prazo de um ano.

Parágrafo terceiro O presente Tratado será redigido nos idiomas português, espanhol,
holandês, e inglês, fazendo todos igualmente fé.

EM FÉ DO QUE, os Chanceleres abaixo-assinados firmaram o presente Tratado.

FEITO na cidade de Brasília, aos 3 de julho de 1978, o qual ficará depositado nos arquivos
do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que fornecerá cópias autênticas aos demais
países signatários.
131

ANEXO II: Protocolo de Emenda ao TCA

As Repúblicas da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, do


Suriname e da Venezuela,
Reafirmando os princípios e objetivos do Tratado de Cooperação Amazônica,
Considerando a conveniência de aperfeiçoar e fortalecer, institucionalmente, o processo de
cooperação desenvolvido sob a égide do mencionado instrumento, acordam:

I) Criar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), dotada de


personalidade jurídica, sendo competente para celebrar acordos com as Partes Contratantes,
com Estados não-Membros e com outras organizações internacionais.

II) Modificar, da seguinte forma, o Artigo XXII do texto do Tratado:


A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica terá uma Secretaria Permanente com
sede em Brasília, encarregada de implementar os objetivos previstos no Tratado em
conformidade com as resoluções emanadas das Reuniões de Ministros das Relações
Exteriores e do Conselho de Cooperação Amazônica.

Parágrafo Primeiro As competências e funções da Secretaria Permanente e de seu titular


serão estabelecidas no seu regulamento, que será aprovado pelos Ministros das Relações
Exteriores das Partes Contratantes.

Parágrafo Segundo A Secretaria Permanente elaborará, em coordenação com as Partes


Contratantes, seus planos de trabalho e programa de atividades, bem como formulará o seu
orçamento-programa, os quais deverão ser aprovados pelo Conselho de Cooperação
Amazônica.

Parágrafo Terceiro A Secretaria Permanente será dirigida por um Secretário-Geral, que


poderá assinar acordos, em nome da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica,
quando as Partes Contratantes assim o autorizarem por unanimidade.

III) Esta emenda estará sujeita ao cumprimento dos requisitos constitucionais internos por
parte de todas as Partes Contratantes, e entrará em vigor na data do recebimento, pelo governo
da República Federativa do Brasil, da última nota em que seja comunicado haverem sido
cumpridos esses requisitos constitucionais.

Firmado em Caracas, aos 14 dias do mês dezembro de mil novecentos e noventa e oito, em
oito (8) exemplares originais, nos idiomas espanhol, inglês, português e holandês, todos
igualmente autênticos.

Вам также может понравиться