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BELO HORIZONTE
2019
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BELO HORIZONTE
2019
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Professor Doutor Leandro Novais e Silva – UFMG (Orientador)
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Professor Doutor Marcelo de Oliveira Milagres – UFMG (Banca Examinadora)
________________________________________________________________
Professor Doutor Vincenzo Demétrio Florenzano – Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (Banca Examinadora)
BELO HORIZONTE
2019
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RESUMO
Os sigilos bancário e fiscal visam a proteção da privacidade. Tal privacidade não apenas
protege o indivíduo como também cria um espaço seguro para a prática de atos prejudiciais a
sociedade. Este trabalho busca questionar esses sigilos e sua extensão às pessoas jurídicas que hoje
se aproveitam de um direito e garantia que se destina apenas ao indivíduo, pessoa física. Ao
mostrar que as pessoas jurídicas não deveriam ter esta proteção, sugere-se que se tenha uma
mudança de paradigma que busque, ao invés do sigilo, a transparência de todos os dados bancários
e fiscais das pessoas jurídicas. Com essa mudança de paradigma será possível uma transformação
das relações econômicas e fiscais, além o aperfeiçoamento do mercado.
ABSTRACT
Banking and tax secrecy aims to protect privacy. Such privacy not only protects the
individual but also creates a safe space for the practice of acts detrimental to society. This work
seeks to question these secrecies and their extension to legal entities that today take advantage of
a right and guarantee that is destined only to the individual, physical person. By showing that legal
persons should not have this protection, it is suggested that a paradigm shift be sought, rather than
secrecy, for the transparency of all banking and tax data of legal persons. This change of paradigma
will make possible a transformation of the economic and fiscal relations, besides the improvement
of the market.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 6
2 AMPLIANDO HORIZONTES 9
3 PRIVACIDADE, INTIMIDADE E SIGILO 12
3.1 Distinção entre Privacidade, Intimidade e Sigilo 12
3.2 O Sigilo Bancário 13
3.3 Sigilo Fiscal 16
3.4 Evolução do Sigilo no Brasil e no Mundo 18
3.5 Sigilo para Pessoa Física e para Pessoa Jurídica 19
4 DINHEIRO, RES PUBLICA 21
4.1 Dinheiro na sociedade 21
4.2 Agentes Econômicos 22
4.3 O valor do conhecimento do mercado 23
4.4 O interesse público sob a ótica do mercado 24
5 O NOVO PARADIGMA DA TRANSPARÊNCIA 26
5.1 O caminho da transparência 26
5.2 O Estado Eficiente 29
5.3 O Mercado Eficiente 31
6 CONCLUSÃO 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35
6
1 INTRODUÇÃO
O dinheiro é um bem público, a forma como um ou outro indivíduo o utiliza afeta a todos
os outros que utilizam o sistema financeiro, a escassez ou o excesso de oferta ou demanda de
dinheiro no mercado faz com que seu valor varie, e assim, indivíduos e instituições mais bem
informados ou em posições privilegiadas, como agentes e intermediários do sistema financeiro,
podem tirar vantagens sobre outros indivíduos e instituições. Além disso, o dinheiro pode ser
utilizado para fins ilícitos, de forma que o dinheiro pode vir como resultado de atividades ilícitas
ou podem ser utilizados para financiar ou adquirir atividades, serviços ou produtos ilícitos. A
transparência e publicidade na utilização do dinheiro possibilitaria uma melhor fiscalização de seu
uso e uma maior eficiência em suas transações, uma vez que iria diminuir a assimetria de
informação no mercado financeiro. Ainda assim, sua publicidade é vedada por violar os princípios
da intimidade e da privacidade. O sigilo fiscal e o sigilo bancário garantem essa proteção à
privacidade e à intimidade, mesmo que isso seja maléfico para o bem comum e uma afronta ao
princípio Republicano.
A inviolabilidade do sigilo fiscal e bancário são tipos de inviolabilidade de sigilo de dados,
protegidos pela Constituição Federal de 1988 no art. 5, XII e que têm relação com o direito
fundamental à privacidade art. 5, X, CF/88. Tais sigilos não são absolutamente invioláveis, uma
vez que são objetos da fiscalização do Estado. Tal fiscalização é restrita para evitar eventuais
ingerências e invasões ao espaço do indivíduo. Mas até que ponto a fiscalização do Estado é
suficiente? Com tantos casos de sonegação, corrupção e lavagem de dinheiro sendo divulgados a
todo instante pela mídia, é justamente a quebra dos sigilos de dados que permite se verificar o mal
feito. Contudo para que se quebre esses sigilos é necessário que um processo judicial ou uma
apuração fiscal já tenham sido instaurados, o que acarreta grande morosidade na descoberta de
crimes que poderiam ser evidenciados imediatamente caso não existisse tamanha burocracia para
se obter tais dados.
Com o advento de novas tecnologias de bancos de dados, Internet, Big Data, Blockchain,
aprendizagem de máquina e smartphones é virtualmente possível que qualquer pessoa tenha acesso
a tais tecnologias e tenha na palma de sua mão informações essenciais para a tomada de decisões.
Como o próprio direito à privacidade visa garantir a autonomia do sujeito e como tal autonomia
só pode ser exercida a partir de um ponto de vista esclarecido, uma vez que decisões desinformadas
7
produzem resultados contrários ao pretendido, caracterizando uma real falta de autonomia, faz-se
mister que os indivíduos tenham o máximo de informações necessárias para se tomar decisões.
Neste ponto surge a necessidade de se quebrar todo e qualquer sigilo bancário e fiscal para
se saber como o dinheiro, res publica, é utilizado pela sociedade. Saber como o dinheiro é utilizado
permite entender o mercado e tomar decisões esclarecidas que favorecem não apenas o indivíduo
em si como também o próprio mercado, que passa então a se tornar transparente, já que, sabendo-
se como o dinheiro é transacionado, pode-se saber precisamente como e onde se pode interferir ou
se inserir no mercado.
Tal mudança de perspectiva modificaria a ideia de proteção do indivíduo, no tocante ao
que ele consome, produz e transaciona, para a proteção do interesse público, possibilitando a
instituição de uma nova forma de capitalismo, um capitalismo transparente e esclarecido. Essa
mudança seria essencial para a evolução do conceito de livre mercado para um mercado mais
transparente, eficiente e dinâmico, que hoje é controlado por uma “mão invisível”, que na verdade
tem por característica principal não o fato de ser invisível, mas sim de ser cega, uma vez que é
virtualmente impossível se saber como de fato o mercado funciona por não haver transparência.
Quando as informações econômicas se tornam transparentes e acessíveis a todos os agentes do
mercado, se tem um estímulo a uma maior eficiência do mercado, pois novas oportunidades de
negócios e empreendimentos seriam percebidas e uma análise de mercado mais bem informada
diminuiria os riscos do negócio e o aumento de investimentos. Assim, para se atingir um sistema
transparente e dinâmico de mercado é necessário rastrear o item primordial atualmente para a
existência do próprio mercado, qual seja, a moeda de troca, o dinheiro.
Uma vez que vivemos em uma democracia, todo indivíduo é sujeito de direito na tomada
de suas próprias decisões no que concerne não só a sua vida privada como também a sua vida
pública. Como dito anteriormente, só há autonomia quando esta é esclarecida. Contudo, a
exposição da movimentação econômica do indivíduo o fragiliza e o deixa exposto a abusos de
pessoas ou instituições, que agora teriam informações que antes lhes era inacessível. Com isso, a
proteção que o Estado garante ao indivíduo não pode se basear mais em garantir segredos e sigilos,
mas sim em garantir que independentemente da exposição sofrida pelo indivíduo, este não poderá
ser prejudicado. Isso exige uma mudança significativa de paradigma.
A fim de se criar meios para uma transição suave de paradigma, é necessário garantir a
proteção do indivíduo, mas quem seria este indivíduo a ser protegido? Seriam todos os agentes de
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mercado? Não. Apenas a pessoa natural é quem deve ser protegida. Os demais agentes do mercado,
como as empresas, fundações, instituições e o próprio Estado não necessitam de proteção ao seu
foro privado ou íntimo.
O cenário tecnológico mudou, novas possibilidades de tornar a democracia mais eficiente
e a coisa pública mais acessível e disponível surgem no horizonte. Surge também a necessidade
de identificar o prejuízo que o paradigma atual dos sigilos bancário e fiscal causam na sociedade,
e com isso abrir caminho para um novo paradigma, onde os agentes econômicos passam a ter o
poder de visualizar as transações econômicas e de fiscalizar o mercado. Para se evitar prejuízos às
pessoas naturais, também é necessário se diferenciar o sigilo que protege o indivíduo do sigilo que
protege os demais agentes do mercado, mantendo-se assim a proteção à intimidade da pessoa física
ao mesmo tempo em que se acaba com a injustificada proteção às pessoas jurídicas.
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2 AMPLIANDO HORIZONTES
O sigilo bancário e o sigilo fiscal são tipos de sigilo de dados. Esses sigilos visam a garantir
a privacidade. O direito à privacidade foi originalmente entendido como a busca de um privilégio
burguês de "ser deixado só" (WARREN e BRANDEIS, 1890). Esse direito, num sentido mais
estrito, buscava evitar as ingerências do Estado ou de terceiros na esfera individual do sujeito,
garantindo seu direito a personalidade e de decidir quais informações suas seriam disponibilizadas.
O conceito de privacidade acabou por se expandir, podendo ser dividido entre o terreno
social-privado, sob o domínio do princípio da diferenciação, visando o direito de ser diferente, e o
terreno da individualidade privativa, regido pelo princípio da exclusividade (FERRAZ, 1992).
Desse princípio, que passa pela subjetividade do indivíduo, tem-se que, segundo Ferraz (1992, p.
79) "O princípio da exclusividade comporta três atributos principais: a solidão (donde o desejo de
estar só), o segredo (donde a exigência de sigilo) e a autonomia (donde a liberdade de decidir sobre
si mesmo como centro emanador de informações)". Analisando a ideia de autonomia, não é
possível ser autônomo sem as informações necessárias para se exercer a autonomia. Daí tem-se
uma contradição, ser autônomo para decidir quais informações próprias devem ser
disponibilizadas, implica ter informações de outros, também disponibilizadas por outros, a partir
de sua percepção subjetiva do que deve ou não ser disponibilizado. Temos então um paradoxo
onde o sujeito nunca vai estar bem informado para tomar suas decisões a respeito do que pode ser
disponibilizado a seu próprio respeito justamente porque o outro também não tem informações
suficientes para se decidir o que deve ou não disponibilizar para o sujeito. Têm-se assim
estabelecida uma política de obscurantismo.
Para reforçar tal posição, existe ainda a figura do segredo, exigindo-se o sigilo. Ferraz
(1992) distingue o que pode ou não ser objeto de sigilo, identificando o sigilo que deve ser aberto
a todos, por ser de interesse público, daquele sigilo que só pode ser quebrado por ordem judicial,
depois de se ter estabelecido o devido processo. Este sigilo é o que visa garantir a privacidade ao
não expor, por exemplo os dados de clientela, que são dados sobre o que o sujeito compra, vende,
produz, bem como o lugar e o tempo onde isso acontece. Porém estas informações são essenciais
para o entendimento do mercado, e consequentemente para a vida em sociedade.
Atualmente, o desenvolvimento da tecnologia da informação possibilita cada vez mais que
uma maior quantidade de dados possa ser manipulada e mais informações possam ser extraídas
10
um espaço seguro para a prática de atos ilegais. Ao se evitar que estes espaços para a prática de
malfeitos sejam criados e ao deixar as pessoas cada vez mais informadas, possibilitamos que o
indivíduo tome decisões baseadas na transparência dos dados, permitindo assim que ele exerça a
sua autonomia de forma esclarecida, tanto para direcionar seus investimentos e ações no mercado,
quanto para fiscalizar os demais agentes do mercado, aperfeiçoando a livre iniciativa e a livre
concorrência, e atingindo ao mesmo tempo o interesse público e privado.
12
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
13
Desta forma, não devemos confundir a privacidade, a intimidade e o sigilo. Se temos que
o sigilo serve à proteção à intimidade, devemos também ter em mente que a intimidade só se refere
ao indivíduo, pessoa natural, não sendo extensível àqueles que não são indivíduos, ou seja, não há
de se falar em intimidade das empresas, das organizações, das fundações e do Estado.
Por outro lado, de forma contrária, há um entendimento minoritário que defende que os
dados econômicos não integram o objeto dos direitos da personalidade, dos quais o direito à
privacidade é um exemplo.
O direito à privacidade, num sentido amplo, abarca todas as formas de proteção da esfera
privada, da intimidade e da personalidade que o art. 5 º, inc. X, da CF/88 trouxe, isto é, o direito à
intimidade, à vida privada, à honra e à imagem. Em relação ao questionamento da proteção
constitucional dada ao sigilo bancário, pode-se asseverar que o STF entende ter status de direito
fundamental amparado nos incisos X e XII do art. 5º, CF/88.
Direitos admitem limitações, por conta das exigências sociais e em atenção ao bem comum.
Não há direito fundamental individual absoluto. Dessa forma, é pacífico o entendimento de que o
Judiciário pode requisitar informações às pessoas e instituições que impliquem na quebra do sigilo.
E para fazê-lo, deve observar as coordenadas jurídicas emitidas pelo devido processo legal em
sentido substancial e processual.
Em situações em que há choque de direitos ou princípios constitucionais que aparentemente
colidem é necessário realizar o chamado sopesamento ou avaliação ponderada dos fins, em outras
palavras, é preciso aplicar o princípio da proporcionalidade.
Outro postulado de suma importância nesta análise é o princípio da isonomia, que consiste
na assertiva de que quaisquer que sejam os contribuintes, independente da denominação jurídica
dos rendimentos, títulos ou direitos, o tratamento isonômico se impõe, vedada qualquer forma de
atuação discricionária. E possui, duas fases ou dimensões da igualdade: igualdade perante a lei e a
igualdade na lei.
Embora ligado ao princípio da isonomia, não se confunde com este, é o princípio da
capacidade contributiva que serve para a consecução de um efetivo ideal de justiça para o Direito
Tributário. Ele evidencia uma das dimensões da isonomia, a saber, igualdade na lei, ou seja, busca
o tratamento distinto de situações diversas.
Deduz-se da própria função do Poder Judiciário, a prerrogativa de excepcionar o sigilo
bancário mesmo não tendo expressa previsão na Constituição Federal de 1988. A quebra do sigilo
mediante determinação judicial está contida no art. 3° da LC 105/01.
Todavia, o ponto crucial a ser observado em análise de quebra do sigilo é a questão da
razoabilidade que decorre do direito ao devido processo legal consagrado no art. 5º, inc. LIV,
16
informações obtidas pelo Fisco. Nesse caso, será observado o interesse da justiça e não o interesse
particular de uma das partes. Ou seja, o juiz requisitará as informações se restar comprovada a
resistência de uma das partes em resolver o conflito. Assim, procederá ao exame de informações
úteis ao alcance da justiça (HAGSTROM, 79).
A Constituição Federal de 1988 através do art. 145, §1° autoriza à Administração Tributária
faculdades para a função fiscalizatória, com o fito de realizar o postulado da capacidade
contributiva, desde que respeitados os direitos individuais. (BRASIL, 1988)
Para que se determine a quebra do sigilo bancário são necessários alguns requisitos, como
uma ordem judicial bem fundamentada, existência de fundados elementos de suspeita,
individualização do investigado e do objeto da investigação, indispensável sigilo em relação às
pessoas estranhas ao procedimento investigatório e ainda a utilização dos dados obtidos somente
para a investigação que lhe deu causa.
É importante lembrar que a regra é o sigilo e que a quebra é exceção, devendo sempre haver
justa ponderação, uma vez que a violação do sigilo fiscal afronta uma garantia individual
constitucionalmente estabelecida sob à luz do princípio da inviolabilidade da intimidade; por
consequência, deve sempre ser antecedida de autorização do Poder Judiciário, pois este órgão tem
o dever de ser inseparável da imparcialidade.
O dinheiro é o meio usado na troca de bens, na forma de moedas, notas (cédulas) ou meios
eletrônicos, usado na compra de bens, serviços, força de trabalho, divisas estrangeiras ou nas
demais transações financeiras, emitido e controlado pelo governo de cada país, que é o único que
tem essa atribuição. É também a unidade contábil. Seu uso pode ser implícito ou explícito, livre
ou por coerção.
A emergência do dinheiro não depende de uma autoridade central ou governo. É um
fenômeno do mercado; na prática, entretanto, os tipos de moeda mais aceitas atualmente são
aquelas produzidas e sancionadas pelos governos. A maior parte dos países possuem um padrão
monetário específico — um dinheiro reconhecido oficialmente, possuindo monopólio sobre sua
emissão.
O dinheiro em si é um bem escasso. Em épocas de escassez de meio circulante, a sociedade
procura formas de contornar o problema (dinheiro de emergência), o importante é não perder o
poder de troca e compra.
O dinheiro é um dos tópicos de estudo centrais na economia e está numa ligação implícita
com o campo das finanças. A quantidade de dinheiro numa dada economia diretamente afeta
fenômenos como a inflação e a taxa de juros. Uma crise monetária pode ter efeitos significativos,
particularmente se ela levar a uma falência generalizada tal que resulte na adoção de economia de
trocas.
Ou seja, a forma como o dinheiro é utilizado e transacionado no mercado por seus agentes
econômicos afeta diretamente o valor do próprio dinheiro. Isso faz com que aqueles que possuem
um conhecimento da movimentação do dinheiro na economia tenham uma maior capacidade de
conhecimento e planejamento econômicos, o que reflete diretamente na segurança deste agente
econômico em atuar no mercado, permitindo uma melhor previsão de riscos e com isso impactando
diretamente nos investimentos realizados nesta economia.
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Conhecer o mercado representa uma grande vantagem competitiva para qualquer agente
do mercado. Saber sobre os concorrentes, os fornecedores, os produtos substitutos, a oferta de
crédito e os clientes possibilita que se construa um bom plano de negócio. Ter tais informações
diminui os riscos do negócio e facilita o acesso ao crédito. Conhecimento é poder.
Infelizmente, vivemos em uma época em que não há isonomia informacional. Grandes
empresas controlam o mercado da informação. Seja o Serasa ou o SPC que possuem informações
de crédito das pessoas, ou empresas como o Facebook e o Google que possuem informações sobre
seus usuários e seus padrões de comportamento e consumo, ou empresas de comunicação que
sabem com precisão por onde anda o cliente e com quem ele se comunica, ou grandes empresas
de varejo que sabem exatamente o que seus clientes estão comprando, ou até mesmo os bancos
que sabem os valores das transações de seus clientes, o fato é que a privacidade já não existe a
muito tempo. Essas informações são vendidas e utilizadas por alguns agentes de mercado
privilegiados, que possuem meios econômicos e muitas vezes fraudulentos de se utilizar destes
dados para ter vantagens no mercado. O tempo da privacidade já acabou. Tentativas de garanti-la
24
são anacrônicas e não enxergam o inevitável futuro. A informação vale ouro e deve ser explorada
em benefício da sociedade e não ficar restrita nas mãos de uns poucos privilegiados.
A circulação do dinheiro e os tributos pagos ou devidos são informações valiosíssimas para
os agentes do mercado. Através do conhecimento da circulação monetária é possível se prever o
consumo, os rendimentos, as ofertas e demandas. Através do conhecimento fiscal é possível se
conhecer as práticas dos concorrentes, bem como garantir a justiça tributária. Uma das coisas mais
nocivas para a livre concorrência é a prática de sonegação. Quando um dos agentes do mercado se
utiliza da sonegação de tributos enquanto os demais concorrentes não utilizam, este agente pode
diminuir seus preços sem diminuir sua margem de lucro. Isso faz com que os demais concorrentes
não tenham condição de competir e acaba estimulando que eles próprios soneguem para conseguir
permanecer no mercado. Assim têm-se um ciclo vicioso em que a prática de cumprimento de
obrigações tributárias é desestimulada pelas práticas econômicas de mercado.
Conhecer os dados bancários e fiscais dos concorrentes permite que eles possam fiscalizar
uns aos outros, fazendo com que o mercado funcione de forma mais lícita e eficiente. Isso também
facilita a atuação do fisco, que ao invés de ter que fazer investigações por si próprio, enfrentando
todas as burocracias inerentes à atividade de fiscalização, apenas receberiam as denúncias
fundamentadas em dados públicos e as processariam, economizando tempo e recursos.
Assim, caso o conhecimento dos dados bancários e fiscais das pessoas jurídicas fossem
públicos, teríamos um mercado mais eficiente que atingiria o interesse público. Visto por este
ângulo, os sigilos bancário e fiscal, ao invés de garantir a proteção e aumentar a confiança dos
agentes econômicos, acaba por impedir a evolução para um mercado otimizado e eficiente ao
mesmo tempo que inviabiliza a autofiscalização deste mercado.
A função social das atividades do mercado é produzir bens e serviços para a sociedade,
desta forma, o interesse público busca um melhor funcionamento deste mercado para se atingir
sua maior eficiência, esta por sua vez pode ser entendida como uma maior disponibilidade de
produtos e serviços de qualidade a preços acessíveis para a maioria da sociedade, ou de forma
ideal, à toda a sociedade.
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I. Quanto às despesas:
Já a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011) é uma lei ordinária federal que
regulamenta o art. 5°, XXXIII, art. 37, §3°, II e art. 216, §2° da Constituição Federal de 1988, que
asseguram o direito fundamental de acesso às informações produzidas ou armazenadas por órgãos
e entidades da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Ela diz respeito às informações
públicas e permite a qualquer pessoa que esteja interessada solicitar documentos ao órgão público
fazendo o pedido sem qualquer justificativa. Isso significa que todos órgãos precisam ter em seu
site um link que direcione o usuário a uma página onde ele poderá fazer suas solicitações.
Essa lei se baseia na noção de que o direito à informação pública está ligado diretamente à
noção de democracia. Ou seja, o direito está associado à ideia de que todo cidadão tem de pedir e
receber toda informação que está sob controle de entidades e órgãos públicos. Portanto, para que
o fluxo de ideias e informações sejam garantidos, é essencialmente importante que os órgãos
públicos facilitem aos cidadãos o acesso a dados de interesse público. O acesso às informações
públicas visa possibilitar uma participação ativa da sociedade nas ações governamentais e,
consequentemente, traz inúmeros ganhos, tais como:
Essas duas leis são um bom começo para a construção de um paradigma transparente, mas
elas barram na questão do sigilo. Os dados bancários e fiscais continuam sendo sigilosos e por
mais que tenhamos informações sobre o Estado, ainda nos falta as informações sobre os demais
agentes econômicos. Caso a privacidade e o sigilo expressos no artigo 5º da Constituição da
República sejam entendidos como os Direitos e Garantias Fundamentais do indivíduo, não sendo
estendidos às pessoas jurídicas, seria possível uma abertura para que se tenha o mesmo
entendimento com relação ao Art. 198 da Lei nº 5.172/1966, referente ao sigilo fiscal, de forma
que o disposto neste artigo só seja válido para as pessoas físicas, não abarcando as pessoas
jurídicas.(BRASIL,1966) O fim do sigilo bancário das pessoas jurídicas, por outro lado,
dependeria de alteração da Lei Complementar 105/2001. Uma outra solução seria alterar a Lei nº
9.613, de 3 de março de 1998, que dispõe sobre: os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens,
direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta
Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF; além de outras providências,
tornando públicas as informações obtidas por este órgão no que tange às pessoas
jurídicas.(BRASIL, 1998)
Caso essa interpretação seja acolhida e as adequações nos dispositivos legais sejam
realizadas, a Lei de Acesso à informação, por si só, já seria suficiente para a publicidade dos dados
bancário e fiscal das pessoas jurídicas, uma vez que tanto o Banco Central do Brasil quanto o
COAF possuem dados bancários patrimoniais e extrapatrimoniais das pessoas jurídicas passados
pelas instituições financeiras, que a partir de então não teriam mais sigilo, podendo ser repassados
para a sociedade. Já os dados fiscais das pessoas jurídicas, não possuindo mais sigilo, seriam
passados pelas próprias administrações tributárias das esferas responsáveis por cada um dos
tributos.
29
O fim do sigilo bancário e fiscal das pessoas físicas, por mais que seja de interesse público,
barram em diversas questões de privacidade que devem ser melhor investigadas para que sejam
defendidas, uma vez que o sigilo de dados dos indivíduos é claramente protegido
constitucionalmente. O indivíduo, pessoa física, carece de proteção contra os demais entes, sejam
eles o Estado, pessoas ou agentes econômicos. Enquanto não houver uma alternativa para se
garantir essa proteção, talvez seja melhor que os sigilos bancários e fiscais destas pessoas sejam
mantidos. De toda forma, tendo em vista uma evolução gradual para uma sociedade com um
capitalismo transparente, seria interessante ver os resultados do fim dos sigilos bancário e fiscal
das pessoas jurídicas para a sociedade e só então analisar a questão do fim destes sigilos para as
pessoas físicas. Assim que os benefícios para a sociedade com o fim dos sigilos das pessoas
jurídicas fossem demonstrados, seria mais fácil fazer a transição para o fim dos sigilos bancário e
fiscal das pessoas físicas e garantir sua adequada proteção.
quem comprou o quê, de quem e quando acabariam por refinar ainda mais a proposta, promovendo
uma melhora contínua da aquisição de produtos e serviços pelo Estado.
Segundo o Portal da Transparência, viabilizado pela Lei da Transparência (LC 131/2009),
em 2018 o valor total das contratações por meio de licitação, dispensa ou inexigibilidade da União
foi de R$ 69,39 bilhões. É de interesse público que este valor seja empregado da forma mais
eficiente e eficaz possível. Como defendido, o caminho da transparência é a melhor forma de se
atingir este fim.
Por se tratar evidentemente da coisa pública, quebrar os sigilos de dados bancários e fiscais
das empresas contratadas pelo Estado deveria ser mais simples, sem necessidade de grandes
mudanças legislativas. Supostamente, utilizando-se da Supremacia do Interesse Público, seria
possível incluir nos contratos com o Estado uma cláusula que obrigasse aqueles que querem
contratar com ele a tornar públicos seus dados bancários e fiscais no que concerne tal contrato. O
conhecimento da utilização do dinheiro público entregue ao contratado seria público. Se saberia
quais foram os gastos com mão-de-obra, aquisição de matéria prima ou outros insumos,
consultorias e lucro. Com isso, os próximos contratantes poderiam otimizar suas ofertas e tornar a
aquisição de produtos e serviços pelo Estado ainda mais eficiente.
Porém, melhor do que incluir uma cláusula de transparência no contrato, seria acabar com
o sigilo bancário e fiscal das pessoas jurídicas através de nova interpretação e alterações em leis
infraconstitucionais, pois não apenas o contratado teria seus dados bancários e fiscais revelados,
como também os dados de toda a cadeia produtiva também seriam revelados. Ter-se-ia assim o
completo rastro da utilização do dinheiro público até se chegar nas pessoas físicas. Isso, além de
tudo, facilitaria identificar empresas de fachada que servem apenas para emitir notas fiscais frias
com o intuito de enriquecimento ilícito. O potencial para tornar mais eficiente a execução do que
foi contratado pelo Estado é imenso.
Um outro aspecto a ser observado é que quando a carga tributária é muito alta e a
probabilidade de detectar a sonegação é baixa, é economicamente racional para pessoas físicas e
jurídicas sonegarem. Quando se tem um sistema em que os dados bancários e fiscais de pessoas
jurídicas são públicos, a probabilidade de se detectar a sonegação aumenta muito. Desta forma, a
publicidade dos dados bancários e fiscais acabaria por aumentar a arrecadação e tornar a
administração tributária ainda mais eficiente.
31
As vantagens de um sistema transparente são muitas para o Estado, mas podem ser ainda
maiores quando se vê as vantagens para o mercado que, ao ter sua produtividade otimizada, acaba
por aumentar a arrecadação do Estado.
Um mercado transparente, onde todas as transações são registradas e públicas, permite que
os agentes econômicos ajam de forma bem informada. Uma empresa neste mercado pode conhecer
as práticas de seus concorrentes, seus fornecedores, seus clientes, sua área de atuação, seus serviços
e produtos, suas dívidas e seus investimentos, os subsídios recebidos e impostos pagos. Isso torna
mais fácil a sua análise deste mercado. Permite que essa empresa avalie o tamanho do mercado,
quem são seus concorrentes e todos os custos envolvidos nas operações destes concorrentes. A
partir daí ela poderá melhor analisar os riscos de um investimento, seu retorno, seu custo, sua
operação. À medida que esta empresa tem um maior conhecimento de todos esses aspectos do
funcionamento do mercado, a nível granular e objetivamente mensurável, os riscos do negócio
diminuem e com a diminuição dos riscos, os investimentos aumentam. Ao demonstrar de forma
segura os riscos do empreendimento e os potenciais ganhos da empresa, surgem investidores, os
bancos ganham maior confiança no negócio, fazem mais e maiores empréstimos. O maior nível de
segurança e confiança juntamente com a maior transparência faz com que os juros dos empréstimos
caiam. A empresa terá um incentivo para crescer e se expandir para suprir toda a demanda. Mas
terá que produzir mais rápido, com menor preço e com maior qualidade que o seu concorrente,
pois ele também terá as mesmas vantagens, os mesmos incentivos.
Mas essa não é a única alternativa, esta empresa também pode inovar, criar produtos e
serviços que não existem, explorar o oceano azul, encontrar novos clientes e fornecedores para
esses produtos e serviços, desenvolver novos mercado. Para isso, uma vez mais a transparência
seria útil, pois permitiria a esta empresa encontrar novas oportunidades, ver as falhas no mercado,
as oportunidades de inserção ou de criação de soluções de problemas no mercado que só passariam
a ser visíveis com a publicidade de dados bancários e fiscais de todos os agentes de mercado.
Esse duplo estímulo, o de tornar a produção mais eficiente e o de inovar, juntamente com
o aumento na confiança e previsibilidade do sistema transparente, tende a criar um mercado ótimo,
em que os indivíduos terão acesso a produtos e serviços cada vez mais baratos e de melhor
32
qualidade ao mesmo tempo em que novos produtos e serviços serão criados para atender às suas
diversas necessidades.
Através destas transformações proporcionadas pela transparência e publicidade dos dados
bancários e fiscais, teríamos um capitalismo transparente, um jogo econômico aberto e justo, onde
todos os agentes teriam uma posição mais igualitária e também mais poderosa. Mais poderosa
porque todos os players do mercado teriam informações que hoje são acessíveis a poucos. Hoje
este conhecimento que está disperso entre vários agentes do mercado, ao invés de ser consolidado
e disponibilizado para todos. A universalização do conhecimento objetivo e mensurável do
mercado cria uma maior igualdade entre os agentes do mercado, além de possibilitar o uso de
novas tecnologias como a Inteligência Artificial ou o Big Data para otimizar processos ou realizar
descobertas que jamais seriam possíveis no mercado obscuro e mal informado de hoje.
O mercado atual, com seus sigilos e falta de informação, é ideal para se esconder o mal
feito, seja ele a sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro ou a corrupção, criando ineficiências no
mercado. A transparência dos dados bancários e fiscais dificulta a ocultação destes tipos de mal
feito, aumentando a eficiência do mercado.
Como dito anteriormente, a total transparência dos dados bancários e fiscais não seria
possível sem afetar diretamente Direitos e Garantias Fundamentais do indivíduo, pessoa física,
porém a transparência e publicidade dos dados bancários e fiscais das pessoas jurídicas não
afetariam tais direitos e garantias. Um mercado verdadeiramente transparente necessitaria que os
dados de todos fossem expostos, mas um mercado em que apenas os dados das pessoas jurídicas
sejam expostos já é o suficiente para estimular a construção de um mercado mais eficiente. Como
os dados de todas as pessoas jurídicas participantes de todas as cadeias produtivas seriam
publicados, todos os benefícios descritos anteriormente se aplicariam, com exceção dos
relacionados aos consumidores finais pessoas físicas.
Com as mudanças do paradigma atual para um paradigma mais transparente toda a
sociedade seria beneficiada, o Estado e os mercados ficariam mais eficientes, a proteção ao
indivíduo seria preservada e haveria um estímulo ao crescimento econômico.
33
6 CONCLUSÃO
transferência de valores. Esse conhecimento permitirá uma maior assertividade nas tomadas de
decisão e nas avaliações de riscos e de retornos de investimento, produzindo resultados mais
próximos dos esperados. Finalmente será possível o exercício da autonomia esclarecida e bem
informada, pois não existe verdadeira autonomia se as escolhas produzirem resultados diferentes
dos almejados.
O sigilo foi criado para proteger o indivíduo, mas se tornou um empecilho para o avanço
das relações econômicas e o seu aprimoramento. Novas tecnologias da informação vêm surgindo
e possibilitando criar realidades jamais pensadas. O fim do sigilo permitirá a construção de um
mercado e uma sociedade mais cientes de si mesmos. A questão de se proteger o elo mais fraco, o
indivíduo, permanece e deve ser tratada com cautela, inclusive sendo objeto de novos estudos, mas
não deve ser um impedimento ao acesso deste conhecimento tão valioso que será capaz de mudar
a economia tal qual a conhecemos. A mudança para um paradigma de transparência da circulação
e utilização do dinheiro trará uma maior igualdade e eficiência nas relações econômicas,
beneficiando a toda sociedade.
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