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Edição do Professor

Novos PORTUGUÊS 1

3URȃVVLRQDLV
Ana Catarino
Isabel Castiajo
Maria José Peixoto

De acordo com
Novo Programa
12 PROJETO DE LEITURA 14 PARA COMEÇAR

MÓDULO 1
1. POESIA TROVADORESCA
18 PARA CONTEXTUALIZAR 19 PARA INICIAR 22 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA

22 “A poesia trovadoresca” 20 Exposição sobre um tema


“Feiras medievais”
22 “Cantiga”
21 Apreciação crítica
23 “Os agentes difusores da poesia
“Pela liberdade na Idade Média”
trovadoresca”
CANTIGAS DE AMOR

28 “Quer’eu em maneira de proençal”, 24 “A figura feminina nas cantigas 26 Exposição sobre um tema
Dom Dinis de amor” “A sociedade portuguesa do século XIII”
30 “Se eu pudesse desamar”, 33 Apreciação crítica
Pero da Ponte “O poder, talvez”
30 “Que soidade de mha senhor ei”,
Dom Dinis

CANTIGAS DE AMIGO

36 “Ai flores, ai flores do verde pino”, 34 ”Cantigas de amigo” e “Paralelismo” 42 Artigo de divulgação científica
Dom Dinis “Amor: cria dependência como
35 “Refrão”
37 “Nom chegou, madr’, o meu amigo”, uma droga, mas sabe bem como
Dom Dinis o chocolate”

38 “Bailemos nós já todas tres, ai amigas”,


Airas Nunes
39 “Ondas do mar de Vigo”,
Martim Codax
40 “Poys nossas madres van a San Simon”,
Pero Viviaez
40 “Sedia-m’ eu na ermida de San Simión”,
Mendinho

CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER

52 “Roi Queimado morreu com amor”, 50 “Cantigas de escárnio e maldizer” 48 “Vídeos na Internet”
Pero Garcia Burgalês
51 “Cantigas de escárnio” e “Cantigas
53 “Ai, dona fea, foste-vos queixar”, de maldizer”
Joam Garcia de Guilhade
54 “Foi um dia Lopo jograr”,
Martim Soares

58 PARA SABER 59 PARA VERIFICAR 60 PARA RECUPERAR

2
ÍNDICE

ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

19 COMPREENSÃO DO ORAL
Reportagem
“Viagem Medieval em Terra
de Santa Maria”

24 EXPRESSÃO ORAL 27 Exposição sobre um tema 31 Formação de palavras


Arte de Trovar – relação texto vs. Divertimentos característicos 31 Conectores
imagem da Idade Média
31 Subordinação
32 ORALIDADE/EDUCAÇÃO LITERÁRIA 29 Exposição sobre um tema
Apresentação Oral/Tópico Poema “Namoro”
de Programa
Canção de Paulo Gonzo e Olavo Bilac

41 ORALIDADE/EDUCAÇÃO LITERÁRIA 41, 55 Étimo


Apresentação Oral/Tópico 41 Funções sintáticas
de Programa
49, 55 Pronome pessoal
Cantiga “Poys nossas madres van
em adjacência verbal
a San Simon” e a imagem Festas
do concelho de Gondomar

49
9 Ex
E
Exposição
xposição so
sobre um tema 49 Formação de palavras
Virtudes e riscos do uso do Facebook 55 Classe de palavras
55 Funções sintáticas
55 Conector
49, 55 Referente
55 Subordinação

APRENDER / APLICAR

44 Evolução do português
61 PARA AVALIAR 56 Fonética e fonologia / etimologia

3
MÓDULO 1
FERNÃO LOPES
2. CRÓNICA DE D. JOÃO I (Excertos da 1.a parte)
66 PARA CONTEXTUALIZAR 67 PARA INICIAR 69 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA

Crónica de D. João I 75 “Fernão Lopes e a Crónica de D. João I” 69 Exposição sobre um tema


D. João I
76 Capítulo 11 (excerto)
72 Exposição sobre um tema
82 Capítulo 115 (excerto)
“A maior das vitórias”
84 Capítulo 148 (excerto)

86 PARA SABER 87 PARA VERIFICAR 88 PARA RECUPERAR

MÓDULO 2
GIL VICENTE
1. FARSA DE INÊS PEREIRA
94 PARA CONTEXTUALIZAR 95 PARA INICIAR 96 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA

Farsa de Inês Pereira 97 “A sátira e o ideal de ordem” 118 Exposição sobre um tema
“A verdade das relações”
98 (A vida de solteira de Inês – excerto 1) 97 “Farsa e auto – natureza e estrutura
da obra” 129 Apreciação crítica
104 (A carta de Pero Marques –
“Um homem, uma mulher
excerto 2)
e um tribunal”
110 (Os judeus casamenteiros –
excerto 3)
112 (Apresentação do Escudeiro e
casamento de Inês – excerto 4)
115 (A vida de casada de Inês –
excerto 5)
124 (Inês livre para novos amores –
excerto 6)

130 PARA SABER 132 PARA VERIFICAR 134 PARA RECUPERAR

4
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

67 EXPRESSÃO ORAL 70 Síntese 77 Processos fonológicos


Pesquisa a partir de imagens “Fernão Lopes – o historiador”
Como escrever uma síntese
68 COMPREENSÃO DO ORAL
73 Síntese
“Fernão Lopes – vida e obra”
A maior das vitórias”
68 EXPRESSÃO ORAL
74 Exposição sobre um tema
Síntese
D. João I
“Fernão Lopes – vida e obra”
74 COMPREENSÃO DO ORAL
“Conta-me História”, RTP
APRENDER / APLICAR

78 Funções sintáticas I

89 PARA AVALIAR

ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

95 EXPRESSÃO ORAL 114 Síntese 101, 119 Conectores


Adequação de imagens à obra do conteúdo do excerto 4,
101 Processos fonológicos
de Gil Vicente Farsa de Inês Pereira
107, 119 Funções sintáticas
96 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL 120 Apreciação crítica
Documentário Como escrever uma apreciação 107 Classe de palavras
“Grandes livros - Gil Vicente” crítica
119 Subordinação
96 EXPRESSÃO ORAL 121 Apreciação crítica
Síntese a partir de uma imagem
de uma entrevista
128 EXPRESSÃO ORAL
Apreciação crítica de prancha
APRENDER / APLICAR
de BD vs. obra em estudo
102 Lexicologia: campo semântico
e campo lexical
108 Lexicologia: arcaísmos
e neologismos
122 Processos irregulares de formação
de palavras
135 PARA AVALIAR

5
MÓDULO 2
LUÍS VAZ DE CAMÕES
2. RIMAS
138 PARA CONTEXTUALIZAR 139 PARA INICIAR 140 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA

Rimas 140 “Lírica tradicional e renascentista”

REPRESENTAÇÃO DA AMADA

142 “Ondados fios d’ouro reluzente” 141 “Petrarquismo em Camões: influência


e originalidade”
143 “Um mover d’olhos, brando e piadoso”

144 “Descalça vai para a fonte”

146 “Endechas”

A EXPERIÊNCIA AMOROSA E A REFLEXÃO SOBRE O AMOR

149 “Quem ora soubesse” 148 “A tensão amorosa em Camões”

150 “Tanto de meu estado me acho


incerto”

A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA

152 “Alegres campos, verdes arvoredos” 151 “Locus amoenus”

153 “Aquela triste e leda madrugada

A REFLEXÃO SOBRE A VIDA PESSOAL

155 “O dia em que eu nasci, moura 154 Camões: a época, o homem


e pereça” e o poeta”

O TEMA DA MUDANÇA E DO DESCONCERTO

157 “Correm turvas as águas deste rio” 156 “A lírica camoniana” 161 Apreciação crítica
“Um justo entre as Nações”
158 “Mudam-se os tempos, mudam-se
as vontades” 164 Exposição
“Os pintores descobrem a realidade”
160 “Que me quereis, perpétuas
saüdades?”

160 “Os bons vi sempre passar”

166 PARA SABER 168 PARA VERIFICAR 169 PARA RECUPERAR

6
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

139 COMPREENSÃO DO ORAL


Documentário
sobre Luís de Camões

145 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL 147 Exposição sobre um tema 145 Subordinação
Áudio “Garota de Ipanema”, Representação da mulher
145 Classe de palavras
Tom Jobim e Vinicius de Moraes na lírica camoniana

147 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL


Apreciação crítica
Áudio “Endechas”, Sérgio Godinho

159 COMPREENSÃO DO ORAL 157 Referente


Anúncio publicitário
157 Funções sintáticas

APRENDER / APLICAR

162 Funções sintáticas II

170 PARA AVALIAR

7
MÓDULO 3
LUÍS VAZ DE CAMÕES
1. OS LUSÍADAS
174 PARA CONTEXTUALIZAR 175 PARA INICIAR 177 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA

180 Canto I, ests. 1 a 3 177 “Origem e valor simbólico 206 Artigo de divulgação científica
Imaginário épico – Proposição do termo ‘lusíadas’” “Explorando Vénus”

181 Canto I, ests. 4 a 5 177 “A génese de Os Lusíadas” 214 Exposição sobre um tema
Imaginário épico – Invocação “Exploradores oceânicos”
178 “Poema épico
182 Canto I, ests. 6 a 18 Estruturação interna e externa
Imaginário épico – Dedicatória de Os Lusíadas”

186 Canto I, ests. 105 e 106 195 “Simbologia da Ilha dos Amores”
Reflexões do poeta
(A fragilidade da vida humana) 215 O conteúdo de cada canto

187 Canto V, ests. 92 a 100


Reflexões do poeta
(O desprezo pelas artes)

189 Canto VII, ests. 78 a 87


Reflexões do poeta
(Lamentações de teor
autobiográfico)

194 Canto VIII, ests. 96 a 99


Reflexões do poeta
(O poder do vil dinheiro)

196 Canto IX, ests. 52, 53 e 66 a 70


Imaginário épico
(A Ilha dos Amores)

198 Canto IX, ests. 88 a 95


Imaginário épico e
Reflexões do poeta
(A imortalidade)

200 Canto X, ests. 75 a 91


Imaginário épico
(A máquina do Mundo)

207 Canto X, ests. 145 a 156


Reflexões do poeta
(Lamentações do poeta)

218 PARA CONSOLIDAR 220 PARA VERIFICAR 222 PARA RECUPERAR

8
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

175 EXPRESSÃO ORAL 185 Reescrita de texto 185, 199, Funções sintáticas
Leitura de imagens (sinonímia/economia lexical) 202, 210

176 COMPREENSÃO DO ORAL 203 Exposição sobre um tema 185, 210 Campo lexical/Campo semântico
Documentário Os Descobrimentos
“Grandes Livros − Os Lusíadas” 185 Classe de palavras
210 Exposição sobre um tema
181 COMPREENSÃO DO ORAL As qualidades bélicas e literárias 191 Conector
Áudio de Luís de Camões
Tema “Contentores”, Xutos 191, 210, Coordenação/Subordinação
e Pontapés 214

199, 202 Tempo e modo verbal


186 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
Áudio 202 Referente
Apreciação crítica de uma canção
210 Processos fonológicos
211 COMPREENSÃO DO ORAL
Reportagem
“World of Discoveries”

APRENDER / APLICAR

192 Frase complexa: coordenação

204 Frase complexa: subordinação

Orações subordinadas
adverbiais

212 Orações subordinadas


substantivas e adjetivas

224 PARA AVALIAR

9
MÓDULO 3
HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA
2. “AS TERRÍVEIS AVENTURAS DE JORGE DE ALBUQUERQUE COELHO (1565)”
228 PARA CONTEXTUALIZAR 229 PARA INICIAR 232 PARA DESENVOLVER

EDUCAÇÃO LITERÁRIA INFORMAR LEITURA

233 “Antecedentes − missão de Jorge 232 “A História Trágico-Marítima” 231 Exposição sobre um tema
de Albuquerque Coelho”(Excerto 1) “A carreira da Índia”
237 “A nau”
235 “Partida” (Excerto 2) 240 Apreciação crítica
“Sucessos e naufrágios
238 “Encontro com os corsários” das naus portuguesas“
(Excerto 3)
241 Exposição sobre um tema
242 “Tempestade” (Excerto 4) “As viagens dos Descobrimentos”
244 “Regresso a Lisboa” (Excerto 5) 248 Relato de viagem
“Dois anos a pedalar…”

254 PARA CONSOLIDAR 255 PARA VERIFICAR 256 PARA RECUPERAR

BLOCO INFORMATIVO
I – GRAMÁTICA (Sistematização)
260 Classes de palavras
267 Verbo
· Formas finitas e formas não finitas; modos e tempos
· Verbos regulares / irregulares
· Conjugações verbais
· Verbos defetivos (pessoais e unipessoais)
269 Pronome pessoal em adjacência verbal – regras de utilização
271 Funções sintáticas
274 Frases ativas e passivas
275 Discurso direto e indireto
277 Processos de coordenação e de subordinação entre orações
277 Contacto de línguas
· Substrato
· Superstrato
278 Palavras convergentes e divergentes
278 Processos fonológicos
· Inserção
· Supressão
· Alteração

10
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA

229 COMPREENSÃO DO ORAL 241 Síntese 234, Funções sintáticas


Documentário As viagens dos Descobrimentos 239, 247
“História Trágico-Marítima –
243 Apreciação crítica 234, Subordinação
os naufrágios do Império”
Quadro de William Turner 239, 247
230 EXPRESSÃO ORAL 245 Texto lacunar
Comparação do “Poema da malta 239, 249 Tempo e modo verbal
das naus” com o documentário 247 Apreciação crítica
245 Classe de palavras
(imagem)
COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
Relação temática 245 Relações semânticas
246
Canção (“Fado português”) 246 Campo lexical
e História Trágico-Marítima

APRENDER / APLICAR

250 Geografia do português no mundo

257 PARA AVALIAR

279 Arcaísmos e neologismos


280 Formação de palavras
· Derivação
· Composição
281 Processos irregulares de formação de palavras
281 Palavras monossémicas e polissémicas
282 Campo semântico e lexical
282 Relações semânticas

283 II – GÉNEROS TEXTUAIS

284 III – RECURSOS EXPRESSIVOS

285 IV – NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO

286 V – TEXTO DRAMÁTICO

287 Domínios de Referência, Objetivos e Descritores de Desempenho – 10.° Ano

11
PROJETO INDIVIDUAL
DE LEITU RA Segue-se uma breve abordagem de três obras propostas no programa de Português para
o PIL (Projeto Individual de Leitura). Depois de as ler, preencha a ficha-modelo apresenta-
da na página seguinte.

Os da minha rua

D iz o autor que são estórias…


E, de facto, são. São a história da sua infância e princípio da adolescência,
a história da sua Luanda, a história da sua Rua Fernão Mendes Pinto…
Estórias onde vivem amigos que se oferecem para almoçar lá em casa e beber
ONDJAKI
1977
Fanta, irmãs que partilham óculos, familiares próximos e outros nem tanto, cães
aconchegados de mimos e outros repudiados, piscinas especiais, carnavais tra-
dicionais, festivais da canção, telenovelas brasileiras na televisão mais linda do
mundo!…
Tudo isto numa escrita inicialmente simples, que depois cresce ao mesmo rit-
mo que o seu autor.

Capitães da areia

S ão meninos abandonados, órfãos, vítimas da fome, da miséria, da doença e do


preconceito. Meninos que são obrigados a crescer à força para sobreviver. E, como
sobreviver é difícil nas ruas da Baía, tornam-se marginais, num bando temido, che-
JORGE AMADO
fiado por Pedro Bala, que rouba e inquieta os respeitáveis da cidade. Um bando feito
1912-2001 de carências, de ausências, de sonhos, de afetos…
Enfim, um bando feito de crianças que nunca o foram, mas que o são, por vezes,
num velho carrossel multicolor, tão desamparado como eles!

Robinson Crusoé

P ublicado em 1719, este romance relata, na primeira pessoa, as venturas e desventu-


ras de Robinson, um náufrago que sobrevive durante cerca de três décadas numa
ilha remota e desconhecida dos Trópicos.
DANIEL DEFOE
De início, completamente só, Robinson debate-se com sérias dificuldades na luta
1660-1731 pela sobrevivência. Até que numa sexta-feira encontra uma estranha personagem…
É uma narrativa empolgante, com selvagens, canibais e uma fauna e flora desco-
nhecidas do Velho Mundo. É o confronto de duas civilizações: a do colonizador impe-
rialista e a do colonizado frágil e facilmente escravizado. Mas é também uma história
de cooperação e de descoberta do outro.

12
FICHA
FIC H A DE LEITURA/APRECIAÇÃO
LEITURA/AP R EC IAÇ ÃO CRÍTICA
C RÍTICA DA OBRA

SOBRE
O AUTOR
E A SUA
ESCRITA

Título:
Editora/ano da edição:
Estrutura: divisão em capítulos
SOBRE
A OBRA Sim. Quantos?
SELECIONADA
Não.
Características da obra e registo discursivo:

Tema:
Acontecimentos principais:
SOBRE
A HISTÓRIA,
A AÇÃO,
OS EVENTOS
OCORRIDOS
Outros acontecimentos:

O espaço:
SOBRE
O ESPAÇO
E O TEMPO
(lugares e O tempo:
características
principais)

Protagonista(s):
Caracterização do(s) protagonista(s):
SOBRE
AS
PERSONAGENS Outras personagens:
E/OU Narrador:
O NARRADOR
Relevância para a compreensão da obra:

Descrição sucinta da obra:

Ç
APRECIAÇÃO
CRÍTICA
Comentário crítico:

13
PA R A C O M E Ç A R
COMPREENSÃO DO ORAL

Visione uma primeira vez um vídeo sobre um projeto destinado a estudantes.

1. 1. Complete as seguintes afirmações.

1.1 O filme é uma pequena reportagem exibida pela a. sobre o


b. .

1.2 O programa decorrerá na cidade de a. e terá a duração de b.


dias.

1.3 Os países envolvidos neste intercâmbio são: a. , Noruega, b. ,


c. e d. , além de Portugal.

1.4 Na peça jornalística são destacadas as estudantes a. , uma


Monção recebe alunos de 5 países europeus aluna portuguesa, e b. , uma aluna c. .
no âmbito do projeto Comenius

2. Escolha a opção que completa melhor o sentido da frase.


PROFESSOR

2.1 Considerando o conteúdo da reportagem, o projeto envolve


[A] as escolas e as autarquias.
Vídeo
“Monção recebe alunos [B] o Ministério da Educação e o presidente da Câmara.
de 5 países europeus
no âmbito do projeto [C] os alunos e os professores.
Comenius”
[D] toda a comunidade de uma certa região.
Compreensão do oral
2.2 Durante o período de duração do programa, os participantes ficam alojados em
1.1 a. Alto Minho TV; b. Projeto [A] hotéis pagos por eles.
Comenius
1.2 a. Monção; b. sete [B] casa dos seus correspondentes.
1.3 a. Chipre; b. Finlândia
c. Polónia; d. Croácia
[C] habitações destinadas ao turismo.
1.4 a. Adriana; b. Olga; [D] casas alugadas para esse fim específico.
c. polaca
2.1 [D] 2.3 O conhecimento do país, da região e da sua cultura far-se-á através
2.2 [B]
[A] da participação em palestras e do visionamento de filmes e documentários.
2.3 [C]
3. Promoção da aprendizagem [B] do visionamento de documentários e da frequência de aulas.
da língua inglesa; construção
de novas amizades, a nível [C] da frequência de aulas, de atividades diversas e visitas pelo Alto Minho.
pessoal.
[D] da realização de atividades diversas e visitas pelo Alto Minho.
Expressão oral
Visione uma segunda vez o vídeo.
1. Resposta de caráter
pessoal. Contudo,
os alunos podem referir
3. Enumere os argumentos apresentados pelos alunos para incentivar este tipo de
os seguintes aspetos: atividade.
enriquecimento ao nível
pessoal, pois conhece-se
outras culturas, outras
pessoas; fazem-se novas
amizades; aprende-se línguas EXPRESSÃO ORAL
em situação real; pode-se
viajar, sem preocupações com
alojamento, sentindo-se 1. Recupere o conteúdo do vídeo visionado e expresse a sua opinião, num discurso de
o jovem mais amparado, 2-3 minutos, sobre o contributo deste tipo de atividades para reconhecimento de
porque acolhido.
culturas diferentes da nossa.

14
LEITURA

Leia atentamente um excerto de uma reportagem sobre o Ensino Profissional.

Ensino Profissional: o sistema


e os novos desafios
Por Anabela Pato

Encontro desvendou as competências do ensino profissional e os obstáculos ultrapassados até ao momento

O que é que o mercado de trabalho procura hoje em


dia? Esta é questão base que qualquer profissional deve
colocar a si próprio atualmente, quando enfrenta pela
primeira vez o mercado de trabalho. Para além da vocação,
5 vontade, competência e capacidade de trabalho, há um
fator central em todo este processo: a formação.
Uma realidade que cruza cada vez mais com a crescen-
te exigência por parte das empresas ao nível do recruta-
mento.
10 Este foi o alerta emitido aos cerca de 200 jovens alunos,
professores e diretores de escolas públicas e de escolas
profissionais, que marcaram presença na Conferência
“Ensino Profissional: Competências do futuro”, levada a
cabo pelo jornal “Região de Leiria”, no auditório da Escola Com um reforço das competências qualificativas, para
15 Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria. além das quantitativas, hoje o ensino profissional aposta
Com índices de empregabilidade muito elevados, como cada vez mais em adequar o desenho curricular proposto
foi afirmado pelos quatro oradores intervenientes na con- aos jovens, às empresas e às necessidades do tecido eco-
ferência, o ensino profissional público e privado tem sido, 30 nómico e social. Esta é a opinião dos quatro oradores. Para
ao longo dos anos, alvo de evoluções e inovações, princi- Ana Penim, administradora delegada do Instituto de Ne-
20 palmente desde há quatro anos. Fundado em 1889, o ensi- gócios e Vendas, as escolas profissionais públicas e priva-
no profissional foi “o protagonista da mudança”, como das devem centrar as suas atenções nos alunos e estes,
frisa José Luís Presa, presidente da Associação Nacional por sua vez, devem ter a noção de que “no mercado atual
de Escolas Profissionais, uma vez que esta “alternativa ao 35 não basta parecê-lo, temos de sê-lo.”
sistema regular de ensino” sempre contou com o apoio de in www.gustaveeiffel.pt/Downloads/eventos/
J_Leiria-Reportagem.pdf (texto adaptado,
25 atores locais, como autarquias e sindicatos.
consultado em dezembro de 2016).

1. Selecione a opção correta, de acordo com o sentido do texto.

1.1 O texto é uma reportagem porque


[A] está disposto graficamente em duas colunas.
[B] transmite a opinião de quem escreve.
[C] noticia um acontecimento, apresentando testemunhos de intervenientes.

15
Po es i a Trova d o resca

1.2 A utilização de aspas na linha 13 deve-se


PROFESSOR [A] à reprodução das falas de um dos oradores.

1. [B] ao título de um artigo publicado pelo jornal “Região de Leiria”.


[C] à designação da conferência promovida pelo jornal “Região de Leiria”.
Leitura

1.1 [C] 1.3 Os quatro oradores intervenientes partilham a opinião de que


1.2 [C] [A] a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria tem índices de empre-
1.3 [B] gabilidade muito elevados.
1.4 [A]
[B] os índices de empregabilidade são muito elevados nas escolas profissionais.
Gramática
[C] o ensino profissional público tem índices de empregabilidade mais eleva-
1.1 dos que o ensino profissional privado.
a. Complemento direto.
b. Complemento agente
da passiva. 1.4 O ensino profissional aposta essencialmente
c. Sujeito.
[A] na adequação do ensino às necessidades do mercado de trabalho.
d. Predicativo do sujeito.
e. Complemento oblíquo. [B] na preparação dos alunos para apoiar as autarquias e os sindicatos.
1.2 Oração subordinada
adverbial causal. [C] no reforço da quantidade de matérias a lecionar.
1.3 Pretérito perfeito
composto do indicativo.
1.4 Palavra derivada por
sufixação. GRAMÁTICA

Escrita
1. Tenha em atenção as seguintes passagens textuais selecionadas do texto.
a. “Esta é a questão base que qualquer profissional deve colocar a si próprio
Resposta de caráter
pessoal, contudo os alunos atualmente, quando enfrenta pela primeira vez o mercado de trabalho.” (ll. 2-4)
podem referir os seguintes
aspetos: b. “como foi afirmado pelos quatro oradores intervenientes na conferência.” (ll. 16-18)
Introdução: a escola é um
c. “o ensino profissional público e privado tem sido, ao longo dos anos, alvo de
instrumento privilegiado na
promoção pessoal, social e inovações e evoluções, principalmente desde há quatro anos.” (ll. 18-20)
profissional.
Desenvolvimento: contacto
d. “Fundado em 1889, o ensino profissional foi o protagonista da mudança.” (ll. 20-21)
com pessoas de todas as e. “uma vez que esta ‘alternativa ao sistema regular sempre contou com o apoio
classes sociais, aprendizagem
de vários valores, entre de atores locais’” (ll. 23-25)
os quais os de cidadania;
desenvolvimento de 1.1 Indique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões sublinhadas.
competências e aquisição de
habilitações para o exercício
de uma profissão no futuro. 1.2 Classifique a oração da alínea e.
Conclusão: pelo exposto,
a escola torna-nos pessoas 1.3 Indique o tempo e o modo da forma verbal “tem sido” (l. 18).
mais conscientes, mais
bem formadas e melhores 1.4 Designe o processo de formação da palavra “atualmente” (l. 3).
cidadãos.

E S C R I TA

Para uns, a escola é mal-amada; para outros, é uma fonte de saber e permite a abertu-
ra de janelas para o mundo.

Elabore um texto, de 100 a 140 palavras, exprimindo a sua opinião sobre a importância
da escola para a formação dos jovens. Deve respeitar a seguinte estrutura tripartida:
• introdução − apresentação sucinta do tema e da posição assumida;
• desenvolvimento − defesa da posição por meio de apresentação de duas razões;
• conclusão – fecho do texto e considerações finais.

16
MÓDULO

1
1. Poesia Trovadoresca
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Poesia trovadoresca
• Cantigas de amor
• Cantigas de amigo
• Cantigas de escárnio e maldizer
Leitura
Exposição sobre um tema
Apreciação crítica
Artigo de divulgação científica
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Comprensão/Expressão Oral]
Reportagem [Compreensão do Oral]
Gramática
Evolução do português [Aprender/Aplicar]
Fonética e fonologia/etimologia [Aprender/Aplicar]
• Formação de palavras
• Conectores
• Subordinação
• Funções sintáticas
• Classe de palavras
• Referente
• Processos fonológicos
• Étimo
• Pronome pessoal em adjacência verbal
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

476 1096 1143 1261 1308 1325


Queda do Império Concessão do condado Fundação Nascimento do Transferência da Morte
Romano Portucalense a Henrique da nacionalidade rei poeta D. Dinis Universidade para de D. Dinis
no Ocidente – início de Borgonha por Afonso VI portuguesa Coimbra
da Idade Média de Leão e Castela

Os valores culturais da Idade Média A nação portuguesa e a evolução


• A cultura na Idade Média cingia-se a um grupo social
da língua
privilegiado: o clero. • Alguns autores separam o galego do português muito
• A minoria clerical controlava a produção e a reprodu- cedo, por altura da fundação do reino de Portugal, enquanto
ção de texto escrito, geralmente de teor religioso: Bíblia e as outros defendem que essas línguas constituem uma única
5 obras de Santo Agostinho. até aos nossos dias.
• Os membros do clero mais categorizados viajavam bas- 5 • Os trovadores – galegos, portugueses e castelhanos –
tante (sobretudo nos séculos XIII e XIV), comunicando em escreviam todos na mesma língua, artificial, e não neces-
latim, que era língua da escrita, sendo utilizada em várias sariamente a que cada um falava. Trata-se de uma língua
nações. literária, usada pelos poetas.
Elaborado a partir de José Mattoso, O essencial sobre a cultura • A separação definitiva entre o galego e o português
medieval portuguesa: séculos XI a XIV, Lisboa, 10 ocorreu a partir do século XV.
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985, p. 3.
• O processo de evolução da língua foi influenciado:
- pela peste negra, que dizimou grande parte da popula-
A religião na sociedade medieval ção adulta, originando um salto de gerações;
- pelas guerras de D. Fernando e de D. João I com Castela,
• A Igreja montou e geriu aquilo a que poderíamos cha- 15 que perturbaram o equilíbrio político.
mar uma visão do mundo exclusivamente confessional.
• A nobreza da primeira dinastia, que tinha ajudado
• A religião confundia-se com a própria sociedade, es-
D. Afonso Henriques a fundar o reino e a governá-lo durante
tando presente na esfera pública (procissões) e privada (ora-
séculos, toma o partido de D. Beatriz, filha de D. Fernando, o
5 tório privado e o convento de clausura).
que resultou na perda da guerra e do poder.
• A prática cristã dominava todas as fases da vida: do 20
• Uma nova nobreza, que recebe terras e poder económico.
nascimento, marcado pelo batismo, até à morte.
• Lisboa torna-se a capital do país, perdendo o norte do
• O mundo do Além estava sempre presente: quer nas
país a sua influência.
orações pelos mortos quer nos pedidos de intercessão aos
10 santos.
• A língua portuguesa atinge o fim do seu período de
formação e de crescimento.
Elaborado a partir de Maria de Lurdes Rosa, "Sagrado, devoções,
religiosidade", in José Mattoso (dir.), História da vida privada em Elaborado a partir de Ivo Castro, Introdução a história
Portugal, Idade Média, vol. I, coordenação de Bernardo Vasconcelos português [2004], 2.a ed., revista e muito ampliada, Lisboa, Colibri,
e Sousa, Lisboa, Temas e Debates, 2011, p. 376. 2006, pp. 76-77.

18
PARA INICIAR

COMPREENSÃO DO ORAL

Visione e escute atentamente um excerto de uma reportagem transmitida pela SIC.

1. Tendo em conta a informação recolhida, selecione a opção correta.

1.1 A peça jornalística refere-se a uma situação que


[A] já aconteceu.
Viagem Medieval
[B] está a acontecer. em Terra
de Santa Maria
[C] vai acontecer.

1.2 A situação retratada diz respeito a uma manifestação PROFESSOR

[A] cultural.
[B] social. Vídeo
“Viagem Medieval
[C] militar.
em Terra de Santa Maria”

1.3 A peça jornalística foca


Oralidade
[A] as várias atividades que o evento proporciona. 1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 1.7

[B] a comparação entre este evento e outro do mesmo género. 1.1 [B]; 1.2 [A]; 1.3 [C]
[C] um acontecimento específico do evento. 2
a. F – Todos os anos a viagem
medieval destaca um reinado
Proceda, agora, a um segundo visionamento da reportagem. diferente.
b. F – O acampamento foi
cedido por D. Afonso IV. João
2. Registe como verdadeiras ou falsas as afirmações seguintes. Corrija as falsas. da Maia era o responsável pelo
acampamento.
a. A Viagem Medieval em Santa Maria da Feira é um acontecimento que, anual- c. V
mente, reconstitui o reinado de D. Afonso IV. d. V
e. F – Há voluntários, como
b. Um dos acontecimentos retratados nesta Viagem Medieval diz respeito ao o caso da entrevistada, que
acampamento cedido por João da Maia a um conjunto de fidalgos e de militares. participam pela primeira vez
no espetáculo.
c. Durante o espetáculo, assiste-se à simulação de um ataque ao acampamento f. V
3.
conduzido por mercenários. a. jornalístico
d. O assalto ao acampamento tem-se revelado como um dos pontos altos da Via- b. informar
c. atualidade
gem Medieval. d. profunda
e. local
e. Os voluntários têm, todos eles, grande experiência de participação nestes espe- f. depoimentos
táculo. g. intervenientes

f. Apesar de voluntários, estes intervenientes tiveram formação técnica.

3. Sistematize as marcas próprias deste género jornalístico, selecionando a opção


que lhe permite obtê-las.
A reportagem é um género a. (jornalístico/literário), cuja finalidade é
b. (deleitar/informar) o público sobre um acontecimento do(a) c. (atua-
lidade/passado) com interesse mediático. Trata, normalmente, a informação de uma for-
ma mais d. (superficial/profunda), cobrindo um evento e. (local/interna-
cional), recorrendo a f. (depoimentos/memórias) de vários g. (escritores/
intervenientes).

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

19
Po es i a Trova d o resca

LEITURA
Leia o texto a seguir apresentado.

Feiras medievais
As feiras medievais correspondiam a uma das institui-
ções mais curiosas do período medieval; a sua função
económica consistia fundamentalmente na localização,
em prazos e termos determinados, de produtores, consu-
5 midores e distribuidores, corrigindo assim a falta de comu-
nicações fáceis e rápidas.
Quase todas as feiras se realizavam em épocas relacio-
nadas com festas da Igreja: no local onde se faziam existia
uma paz especial, a paz de feira, que proibia toda a dispu-
10 ta ou vingança, ou todo o ato de hostilidade, sob penas
severas em caso de transgressão.
Feira medieval de Lendit, in Grandes Crónicas de França, Jean Fouquet,
A primeira menção duma feira portuguesa nitidamen- século XIV.
te diferente do mercado local é a que vem registada 20 Entre os privilégios que mais favoreceram o desenvol-
no Foral de Castelo Mendo, de 1229, e que se realizava vimento das feiras, cumpre mencionar o que isentava os
15 três vezes no ano e durante oito dias de cada vez. Todos feirantes do pagamento de direitos fiscais (portagens e
os que a ela acorressem, tanto nacionais como estrangei- costumagens). Às que usufruíam desta regalia deu-se o
ros, teriam segurança desde oito dias antes até oito dias nome de feiras francas.
depois da feira, na ida e na volta, contra qualquer respon- in http://concelho-sernancelhe.planetaclix.pt/Feira_Aquilinia-
sabilidade civil ou criminal que pesasse sobre eles. na-2004-03.html (adaptado, consultado em fevereiro de 2017).

1. Selecione a opção correta.


PROFESSOR
1.1 O objetivo principal deste texto é
Leitura
7.1; 7.2; 7.4; 8.1 [A] transmitir informação. [C] expressar uma opinião.
[B] apresentar um ponto de vista. [D] apresentar um conjunto de sugestões.
1.1 [A]
1.2 [C]
1.3 [D] 1.2 O texto é predominantemente
1.4 [C]
1.5 [D] [A] narrativo. [C] expositivo.
[B] argumentativo. [D] conversacional.

1.3 O texto apresenta marcas de


[A] discurso pessoal. [C] clareza e subjetividade.
[B] lirismo. [D] clareza e objetividade.

1.4 O texto apresenta uma linguagem predominantemente


[A] conotativa. [C] denotativa.
[B] metafórica. [D] simbólica.

1.5 Pelas características atrás identificadas, podemos concluir que estamos perante
[A] uma síntese. [C] um texto de opinião.
[B] um texto de apreciação crítica. [D] um texto expositivo.

20
LEITURA
Leia o texto de apreciação crítica abaixo e responda, de seguida, aos itens apresen-
tados.

1
Pela liberdade, na Idade Média trevas, escuridão; estado de
completa ignorância
2
afirmar ou crer em algo como
O Nome
Nome
o
om da Ro
Rosa,
osa,
sa de
e Umb
Umberto
m ert
mb rto
o Eco,
Eco, Li
Lisboa:
isbo
sboa:
a: Dif
D
Di
Difel,
el, 2004,
20
004,
04 50
506
6ppp.
p
p. sendo verdadeiro e indiscutível
Este foi o romance que deu a conhecer
Umberto Eco ao grande público, constituin-
do um enorme êxito de vendas em Portugal
desde que foi publicado pela primeira vez,
5 e continua ainda a ser uma obra bastante
popular. E não é de espantar: escrito com
imenso humor, o romance dá-nos a conhe-
cer de uma forma expressiva o que era viver
num mosteiro medieval.
10 O tema central do romance e a liberdade
de estudo e de ensino, a livre circulação do
conhecimento. [Numa época] mergulhada em obscurantismo1 durante séculos, os mos-
teiros cristãos constituíam fortalezas onde o conhecimento era preservado com imensas
dificuldades. Dado a inexistência da imprensa, os livros tinham de ser copiados à mão por
15 monges dedicados; em consequência, os livros eram bastante raros e de difícil acesso. […]
Evidentemente, havia outros obstáculos à livre circulação do conhecimento, na Idade
Média, além do problema tecnológico de não existir ainda a imprensa. Um dos mais impor-
tantes, tema central deste livro, era o dogmatismo2 religioso, que encarava o conhecimento
como potencialmente perigoso. O romance de Umberto Eco apresenta-se como um livro
20 de detetives: uma série de misteriosas mortes afetam um mosteiro e o protagonista tem
por missão descobrir a verdade, um pouco ao estilo de Sherlock Holmes. […] Entretanto,
o leitor fica preso da primeira à última página, precisamente para saber como se resolve o PROFESSOR
mistério. […]
Leitura
A imaginação fervilhante do autor acaba por vezes por ser labiríntica, levando a que 7.1; 7.2; 8.1
25 quase se perca o fio da história. Mas a bondosa relação do protagonista com o seu discípu-
lo, a sua defesa da racionalidade límpida e sem cedências, a oposição ao dogmatismo que a. O Nome da Rosa,
procurava fazer paralisar o conhecimento – todos estes elementos fazem deste romance de Umberto Eco.
b. Idade Média, mosteiro
uma experiência inesquecível. medieval.
c. Os livros eram raros e
Desidério Murcho, in http://criticanarede.com/lds_nomedarosa.html de difícil acesso; inexistência
(consultado em janeiro de 2015, adaptado). da imprensa; falta de
circulação do conhecimento,
dogmatismo religioso, que
encarava o conhecimento,
1. O autor deste artigo faz uma apreciação crítica de uma obra. Complete os tópicos como potencialmente
perigoso.
que se seguem com dados do texto. 2. “os mosteiros cristãos
a. Titulo da obra e autor constituíam fortalezas
onde o conhecimento era
b. Época e local onde decorre a ação preservado”; “os livros
tinham de ser copiados à
c. Duas características da época retratada mão por monges dedicados”;
“dogmatismo que
procurava fazer paralisar
1. O Nome da Rosa revela o papel do clero na reprodução de livros e na divulgação de o conhecimento”
conhecimento. Comprove a afirmação com exemplos textuais.

21
Po es i a Trova d o resca
PARA DESENVOLVER

PROFESSOR INFORMAR
Leitura/Educação
Literária Leia os tópicos apresentados abaixo e resolva a atividade proposta na página seguinte.
8.1; 15.1

TEXTO A
Apresentação
Poesia trovadoresca –
A poesia trovadoresca
Contextualização
histórico-literária
• A poesia galego-portuguesa é um marco relevante na Idade Média Europeia.

• Está compilada em três grandes cancioneiros profanos – Cancioneiro da Ajuda


(CA); Cancioneiro da Biblioteca Nacional (CBN) e Cancioneiro da Vaticana (CV).

• É, inicialmente, da autoria dos trovadores (trobadors) provençais, que adotam


como língua literária a língua d’oc, sendo Guilherme, IX Duque da Aquitania e VII
Conde de Poitiers (1071-1127), o primeiro trovador de que há notícia.

• Nascida na corte requintada da Provença (sul de França), é a poesia da fin’amors


(um amor puro, idealizado e fiel).

• Espalha-se pela Europa, para as cortes do Norte da França, Inglaterra, Sicília, Itá-
lia, Alemanha, atravessa os Pirenéus, fixa-se na Catalunha e no reino de Aragão
e atinge a região galego-portuguesa (século XII), onde se encontra e entrecruza
com uma poesia indígena (nativa).

• É do encontro de duas linhas poéticas, uma estrangeira, refletida nos cantares


de amor, a outra peninsular (indígena), espelhada nas cantigas de amigo (e
também nas cantigas de natureza satírica), que resultam as composições reu-
nidas nos três cancioneiros profanos referidos acima.
Elaborado com base em Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, pp. 99-100.

TEXTO B
Cantiga
• O termo cantiga é de uso geral na Arte de Trovar do Cancioneiro da Bibliote-
ca Nacional de Lisboa, utilizando-se também o termo cantar com o mesmo
significado.

• As cantigas ou cantares são composições constituídas por letra e música, es-


tando estas interligadas.
Manuscrito
do Cancioneiro da Ajuda, séc XIII. • Apresentam quatro tipos de classificação (géneros): cantigas de amor e can-
tigas de amigo, de conteúdo amoroso, e cantigas de escárnio e cantigas de
maldizer, de conteúdo satírico e burlesco.
Elaborado com base em Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),
Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, trad. José Colaço
Barreiros e Artur Guerra, Lisboa, Editorial Caminho, 1993, pp. 132-133.

22
TEXTO C
Os agentes difusores da poesia trovadoresca
Trovadores, jograis e jogralesas ou soldadeiras dão vida à arte de trobar, princi-
palmente nas cortes e nas casas dos grandes senhores, mas também na praça, para
um público mais vasto e de outra condição social.
• O trovador é um nobre que compõe os seus textos e que apenas os executa por
um prazer pessoal ou por um ato de galanteria para com as damas.
• O jogral é executante, difusor de textos alheios e próprios.
• A jogralesa trabalha ao lado do jogral, dançando e cantando, ao som de instru-
mentos por ele tangidos, ou tocando ela própria.
Elaborado a partir de Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, pp. 102-103.

1. Associe cada elemento da coluna A ao da coluna B que lhe completa o sentido.


PROFESSOR

Coluna A Coluna B 1.
[1] acompanhava o jogral, executando um [A] – [3]
[A] A lírica trovadoresca
instrumento e dançando. [B] – [5]
[B] Esta arte de trovar, posteriormente, [2] cantavam e tocavam em praças [C] – [9]
públicas, para o povo. [D] – [7]
[C] O cantar de amor provençal [E] – [10]
[3] teve origem na Provença. [F] – [8]
[D] O trovador, de origem nobre, [G] – [12]
[4] abordam o tema do amor. [H] – [4]
[E] O jogral [5] espalhou-se pelas cortes e grandes [I] – [11]
casas senhoriais europeias. [J] – [1]
[F] As cantigas características da lírica [k] – [6]
trovadoresca [6] é francês (da Provença). [L] – [13]
[M] – [2]
[G] A cantiga de amigo [7] compunha a letra e a música das
cantigas que também executava.
[H] Os cantares de amor e de amigo 2.
[8] encontram-se reunidas em três a. peninsular/indígena
cancioneiros profanos.
[I] A sátira e a crítica a costumes b. amoroso
e personagens [9] chegou, finalmente, ao noroeste c. amor
peninsular no século XII. d. provençal
[J] A jogralesa e. escárnio
[10]tocava, acompanhando o trovador.
f. satírico
[K] O primeiro trovador de que há registo
[11] estão presentes nas cantigas de g. peninsular/indígena
[L] O público a quem se destinavam estas escárnio e de maldizer.
composições poéticas [12] é de origem peninsular.
[M] Para além das cortes e das casas
senhoriais, os trovadores e os jograis [13] é a nobreza.

2. Complete as seguintes frases.


A cantiga de amigo é de origem a. e o seu conteúdo é de tema b. ,
à semelhança da cantiga de c. , que, no entanto, é de origem d. .
Já as cantigas de e. e de maldizer são de conteúdo f. e de origem
g. .

23
Po es i a Trova d o resca

EXPRESSÃO ORAL
Observe a imagem apresentada e leia, de seguida, o trecho de Arte de Trovar.

PROFESSOR

Oralidade E porque algunas cantigas i ha em


1.1; 1.4; 4.1; 4.2; 4.3; que falam eles […]
5.3; 5.4
é bem de entenderdes se
1. Os alunos podem focar som d’amor […]
vários aspetos: CBN, Arte de Trovar, IV, in Aida Fernanda Dias,
– presença de uma jogralesa,
História crítica da literatura portuguesa. A Idade
de um jogral: ambiente cortês,
palaciano, a execução musical Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, p. 147.
de uma cantiga; um nobre que Iluminura do cancioneiro da
assiste ao “concerto”; ajuda (nobre, bailadeira com
– cantiga de amor. castanholas, jogral com saltério
trapezoidal).

1. Exponha, agora, oralmente, num discurso de 2-3 minutos:

• três aspetos presentes na imagem que se relacionem com as características da poe-


sia trovadoresca (vide pp. 22-23);
• o tipo de cantiga que poderia estar a ser interpretada.

INFORMAR

Leia atentamente o texto que se segue e responda ao questionário da página seguinte.

A figura feminina nas cantigas de amor


No centro desta manifestação cultural poético-musical, e logo desde a primeira
metade do século XIII […], o lugar de destaque é ocupado por uma mulher à qual
são atribuídas as mais altas qualidades […]. Com efeito, a mulher cantada pelo
trovador é apenas a “senhor fremosa”, a de “melhor falar e parecer”, a de “melhor
5 semelhar”, a “senhor ben talhada”, ou, nos casos mais palavrosos, a de “bon prez1,
bem falar, bon sen2 e parecer” e também a “mais mansa e de mui melhor doairo3
e melhor talhada”. Simples constatação de uma sobrevalorização onde a pobreza
do vocabulário é notória […].
Perante a figura de uma mulher assim delineada, o trovador coloca-se numa
10 postura submissa, semelhante à do vassalo perante o seu senhor […]. Definidas à
partida as respetivas posições, o homem dá largas à sua voz cantando o seu esta-
do de infelicidade amorosa, iniciado no momento em que a viu pela primeira vez
e prolongado pelos sinais da não correspondência por parte da dama, temendo
1 que ela o repudie e obrigue a afastar-se assim que se inteirar da sua inclinação
virtude, honra
2
senso, razão, juízo 15 amorosa, e desejando por fim apenas ficar junto dela para a ver, para lhe falar, ou
3 tão-somente ouvir a sua voz.
elegância, graça
António Resende de Oliveira, O trovador galego-português e o seu mundo,
Lisboa, Editorial Notícias, 2001, pp. 23-24.

24
Cantigas de amor

1. Complete as frases, estabelecendo as relações corretas entre os elementos da co- PROFESSOR


luna A e os da coluna B.
Leitura/Educação
Literária
Coluna A Coluna B 7.1; 7.4; 8.1; 8.2; 15.1; 16.1

[A] Com a expressão “manifestação cultural [1] que os trovadores são formalmente 1.
poético-musical” (l. 1), o enunciador pouco originais na construção do retrato [A] – [4]
refere-se feminino. [B] – [5]
[B] A mulher elogiada nas cantigas de amor [2] de não ser correspondido pela amada, [C] –[3]
[D] – [6]
contentando-se apenas em estar na sua
[C] Com a expressão “melhor falar e [E] – [1]
presença.
parecer” (l. 4), [F] – [2]
[3] o trovador caracteriza a mulher como
[D] Ao descrever a dama com a expressão sendo culta e bela. 2.
“bon sen” (l. 6), a. amoroso
[4] à cantiga de amor.
[E] Ao mencionar “a pobreza do vocabulário”, b. mulher
(ll. 7-8), o enunciador pretende realçar c. indiferença
[5] é a “senhor” e pertence à nobreza.
d. submisso
[F] A partir do segundo parágrafo, o autor
e. vassalo
pretende salientar o facto de, na cantiga [6] o trovador valoriza as qualidades morais
f. angustiado/atormentado
de amor, o sujeito poético ter receio da figura feminina.
g. correspondência
h. senhor
i. dama
2. Complete o quadro abaixo, tendo em conta a informação veiculada pelo texto lido j. idealizada
e a atividade anterior. k. qualidades
l. psicológicas

Cantigas de Amor

Principais Caracterização Caracterização


linhas temáticas do sujeito poético da figura feminina

• Sofrimento a. É d. , com É uma i. altiva,


va,
causado pela visão da um comportamento distante, extremamente nte
b. , pela sua semelhante ao de um j. , a quem são ão
c. ou pela e. face ao atribuídas as mais ais
possibilidade de rejeição. seu senhor, totalmente altas k. físicas,
as,
• Elogio superlativado da dependente da amada l. e sociais.
ais.
amada. e que, por isso, vive
f. ,
temendo a não
g. amorosa
ou a indiferença da sua
“h. ”.

25
P ao de sr ei a ATnrtoóvnai do o Vr ei es icraa

E S C R I TA

TEXTO EXPOSITIVO (EXPOSIÇÃO SOBRE UM TEMA)


Leia o seguinte texto e atente nas passagens destacadas e nas ideias-chave.

Título
Delimita o tema com A sociedade portuguesa no século XIII
objetividade.
A sociedade portuguesa do século XIII é formada por três grupos, com direitos e
1.O Parágrafo
Introdução deveres diferentes: a nobreza, o clero (grupos privilegiados) e o povo, o grupo mais
Identificação e desfavorecido, que executava todo o tipo de trabalho e pagava impostos.
caracterização do objeto.
2.O Parágrafo A nobreza tinha sobretudo funções guerreiras. Participava com os seus exércitos
Desenvolvimento 5 na Reconquista, ao lado do rei, recebendo em troca rendas e terras.
Nobreza (tópico 1):
Atividade dominante. O senhorio era pois a propriedade de um nobre na qual viviam camponeses
livres e servos. […] O senhor tinha grandes poderes sobre quem vivia no senho-
rio: cobrar impostos, fazer justiça, ter um exército privado... Quando não estava em
3.O Parágrafo –
Nobreza guerra, o senhor nobre dedicava-se a dirigir o senhorio e a praticar exercícios físicos
Direitos e privilégios; 10 e militares. Organizava festas e convívios onde, para além do banquete, se tocava,
atividades lúdicas
(desportivas e culturais). cantava e dançava. Estas festas eram animadas por trovadores e jograis. Jogava-se
xadrez, cartas e dados.
4.O Parágrafo Tal como a nobreza, o clero era um grupo social privilegiado. Tinha a função
Clero (tópico 2)
Função principal, direitos
de prestar assistência religiosa às populações. Tinha grandes propriedades que lhe
e privilégios. 15 haviam sido doadas pelo rei ou por particulares e não pagava impostos. Tal como a
nobreza, exercia a justiça e cobrava impostos a quem vivia nas suas terras. […]

5.O Parágrafo No mosteiro, para além de cumprirem as regras impostas pela ordem a que per-
Clero tenciam, os monges dedicavam-se ao ensino, à cópia e feitura de livros, à assistên-
A vida nas ordens cia a doentes e peregrinos. Em algumas ordens religiosas, os monges dedicavam-se
religiosas e outras
funções (didáticas, 20 também ao trabalho agrícola nas terras do mosteiro. Noutras, eram militares, tendo
culturais, médicas combatido contra os Mouros.
e bélicas).
A maioria dos camponeses vivia nos senhorios, trabalhava muitas horas, de sol a
6.O Parágrafo sol, e de forma muito dura. Do que estes produziam, uma grande parte era entregue
Povo (tópico 3) ao senhor, como renda. Deviam ainda prestar-lhe outros serviços, como a reparação
Atividade principal,
deveres, formas
25 das muralhas do castelo, próximo do qual viviam, em aldeias. Moravam em casas
e condições de vida pequenas, de madeira ou pedra, com chão de terra batida e telhados de colmo. Estas
precárias.
casas tinham apenas uma divisão. […]
Enquanto trabalhavam, também cantavam. Celebravam-se em todo o país as
7.O Parágrafo
Povo grandes festas religiosas que incluíam o repicar dos sinos, as procissões, as feiras,
Atividades religiosas 30 as refeições coletivas e os bailes. Depois da missa, ou da procissão, dançava-se e
e lúdicas em que
participava ativamente
cantava-se nos terreiros das igrejas onde também se realizavam vendas. Por vezes,
ou como assistente. a plebe podia assistir a alguns espetáculos que os nobres organizavam. Os mais
frequentes eram as competições militares.
Concluímos assim que, durante o século XIII, a sociedade portuguesa se encon-
8.O Parágrafo
Conclusão
35 trava dividida em classes, que possuíam mais ou menos privilégios. Esta hierarqui-
Hierarquização da zação condicionou as ocupações e os divertimentos dos diferentes grupos, tendo
sociedade medieval
tido a guerra e as expedições militares uma forte influência nesta estruturação.
e a influência da guerra
nesta organização social. in http://hgp5.blogs.sapo.pt/998.html (texto adaptado, consultado em dezembro de 2016).

26
Cantigas de amor

O texto expositivo assume um caráter demonstrativo, configurando uma elucidação/ PROFESSOR


explicação sobre um(a) tema/ideia, apresentando objetividade e concisão.
Sugestões de filmes, cuja
Para escrever um texto deste género, deverá atentar em algumas orientações nas três intriga se passa na época
fases essenciais: (1) fase preparatória, (2) fase da redação e (3) fase da revisão. medieval:
O reino dos céus, Ridley Scott;
Robin Hood, Ridley Scott;
COMO ESCREVER UM TEXTO EXPOSITIVO O Físico, Philipp Stölzl;
O Nome da Rosa, Jean-
1. Fase preparatória -Jacques-Annaud.

• escolher um tema sobre o qual exista informação pertinente, de modo a selecionar


um aspeto específico; Guiões de visionamento
de filmes
• pesquisar informação e selecionar adequadamente fontes, considerando o seu grau
de confiabilidade, como por exemplo livros e textos críticos de autores com provas Escrita
dadas, jornais e revistas com credibilidade; 10.1; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
12.4
• colocar notas nas fontes usadas bem como registar as datas e as estatísticas para
comprovar os dados e anotar os dados bibliográficos; Tópicos de resposta:
• selecionar os aspetos a contemplar no texto; Introdução:
- Localização temporal da
• planificar o texto, organizando os tópicos selecionados. Idade Média (séculos V a XV).
- Estratificação social –
divisão da sociedade em
2. Fase da redação classes, que apresentavam
bastantes diferenças ao nível
• identificar o assunto/a ideia que vai ser explorada, no primeiro parágrafo; das atividades lúdicas.
• organizar sequencialmente os dados recolhidos e selecionados; Desenvolvimento:
- Nobreza: torneios, caça,
• exemplificar/justificar os aspetos registados; festas nos castelos com
a presença de músicos e
• empregar corretamente os conectores do discurso; dançarinos, serões na corte.
- Clero: participava em muitas
• indicar corretamente as citações e/ou as fontes utilizadas. das atividades lúdicas da
nobreza.
3. Fase da revisão - Povo: a dança, a música,
romarias e festas populares.
• ler o texto elaborado para perceção da sua coerência interna e coesão textual; Conclusão: A importância
dos divertimentos na
• corrigir gralhas ao nível da ortografia, da acentuação e da pontuação; organização da sociedade
medieval: acentuação
• verificar a contemplação das orientações fornecidas (se as houver), nomeadamente da estratificação social,
ao nível do número de palavras requerido. contribuição para o
conhecimento da cultura e da
forma de viver medievais.

ESCREVER UM TEXTO EXPOSITIVO

Desde sempre, o ser humano procurou formas de se divertir.


Proceda a uma pesquisa e redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, no qual
exponha os diferentes tipos de divertimentos característicos da Idade Média.
Siga o plano orientador que se apresenta.
• Introdução – contextualização temporal da Idade Média e breve caracterização
deste período.
• Desenvolvimento – demonstração dos diferentes tipos de divertimentos associa-
dos às diferentes classes sociais e a sua importância na organização da sociedade
medieval.
• Conclusão – síntese das principais ideias.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283

27
Po es i a Trova d o resca
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

FIXAÇÃO DE TEXTO Leia a cantiga de amor de autoria do rei D. Dinis.


As composições
poéticas têm como
fixação de texto: Quer'eu em maneira de proençal
Elsa Gonçalves
(apresentação crítica,
seleção, notas
Quer’eu em maneira de proençal1 DOM DINIS
1261-1325
e sugestões para análise fazer agora um cantar2 d’amor,
Para além de ter reinado
literária) e querrei3 muit’i4 loar5 mia senhor6 durante 46 anos, foi o poe-
e Maria Ana Ramos
(critérios de transcrição, a que7 prez8 nem fremosura nom fal9, ta medieval mais fecundo.
Temos hoje conhecimen-
nota linguística 5 nem bondade; e mais vos direi ém10; to de 137 cantigas da sua
e glossário), A lírica
galego-portuguesa,
tanto a fez Deus comprida de bem11 autoria: 73 de amor, 54 de
amigo e 10 de maldizer.
Lisboa, Editorial que mais que todas las do mundo val.
Comunicação, 1983.
Excetuam-se as
composições das
Ca12 mia senhor quizo13 Deus fazer tal,
páginas 30 (cantiga B), quando a fez, que a fez sabedor14
37 e 40, que têm como 10 de todo bem e de mui gram valor,
fixação de texto:
Mercedes Brea (coord.); e com tod’est[o]15 é mui comunal16
Lírica profana galego- ali u deve17; er18 deu-lhi bom sém19,
-portuguesa, vols. I e II,
Santiago de Compostela,
e desi20 nom lhi fez pouco de bem
Xunta de Galicia, 1996. quando nom quis que lh’outra foss’igual.

15 Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,


mais21 pôs i prez e beldad’e loor22
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
PROFESSOR
muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
Educação Literária 20 possa compridamente23 no seu bem
14.2; 14.3; 14.4; 14.7; falar, ca nom á, tra-lo24 seu bem, al25.
14.8; 15.1; 16.1
Dom Dinis, B 520/V 123.
1. O elogio da dama à maneira
provençal "e querrei muit'i
loar mia senhor" (v. 3). 1
em maneira de proençal: à maneira dos provençais; 2 cantiga; 3 quererei; 4 aí, nela, isto é, na cantiga;
2. Características físicas: 5
louvar; 6 mia senhor: forma comum com que o trovador se dirige à mulher amada. No galaico-português,
a. bela − “mais pôs i prez
e beldad’e loor” (v. 16). era uma palavra uniforme; 7 a que: à qual, a quem; 8 virtude, honra, mérito; 9 falta; 10 dela, isto é, da
Características “mia senhor”; 11 tanto a fez Deus comprida de bem: Deus fê-la perfeita; 12 porque; 13 quis; 14 sabedora;
15
psicológicas: e com tod'est[o]: e apesar de tudo isto; 16 sociável, afável; 17 ali u deve: quando deve [sê-lo];
18
b. honrada − “a que prez […] também, ainda; 19 juízo, senso; 20 desi: além disso; 21 mas; 22 louvor; 23 perfeitamente, cabalmente;
nom fal” (v. 4). c. bondosa − 24
“a que prez nem fremosura além de; 25 outra coisa.
nom fal, / nem bondade”
(vv. 4-5). d. virtuosa − “tanto 1. Identifique o tema desta cantiga, apresentando o verso que o indica explicitamente.
a fez Deus comprida de bem”
(v. 6). e. valorosa − “e de mui
2. Apresente os atributos da mulher celebrada nesta cantiga, completando a tabela
gram valor” (v. 10). f. sociável
− “e com tod’est[o] é mui seguinte.
comunal / ali u deve” (vv. 11-12).
g. sensata − “er deu-lhi bom Características físicas Características psicológicas
sém" (v. 12).
Formosa — "a que […] nem fremosura nom fal" b. e.
3. O trovador evidencia as
qualidades morais da mulher, a. c. f.
como forma de a destacar
de todas as outras e de a d. g.
apresentar como muito
superior a ele próprio.
3. Indique o tipo de características destacadas pelo trovador, justificando a sua intenção.

28
Cantigas de amor

4. Complete o texto abaixo com os vocábulos propostos, de modo a dar conta de uma PROFESSOR
breve análise da presente cantiga.
4.
a. morais
• divinização • psicológico • ideal • superioridade
b. comparação
• morais • Deus • perfeita • comparação • enumeração c. enumeração
d. ideal
e. psicológico
O trovador evidencia as qualidades a. da mulher, utilizando para isso vários f. perfeita
g. superioridade
recursos expressivos, tais como a b. , a hipérbole, “tanto a fez Deus comprida h. Deus
de bem / que mais que todas las do mundo val.” (vv. 6-7), e a c. ,“… prez e beldad’e i. divinização
loor” (v. 16). Assim, é clara a sobrevalorização da amada não só por ser descrita como
Escrita
a mulher d. quer a nível físico quer a nível e. , mas também como a 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4
dama mais f. entre todas as existentes no mundo, característica explicitada
no final de cada cobla: “que mais que todas las do mundo val”; “quando nom quis Proposta de resolução:
que lh’outra foss’igual”; “ca nom a, tra-lo seu bem, al”. O sujeito poético enviou à sua
amada um cartão tipografado,
A referência a Deus é outra forma de destacar a g. da mulher, cuja perfei- com duas respostas possíveis
(não e sim). Como não resultou,
ção depende da vontade de h. . Por essa razão, todos os seus atributos são insistiu, enviando recado por
apresentados como uma dádiva divina, o que contribui para a sua i. . intermediário (a Zefa do Sete),
em que suplicava o amor da
amada. Também procurou a
avó Chica, uma conceituada
E S C R I TA feiticeira, para que fizesse um
feitiço “bem forte e seguro”;
1. Leia atentamente as seguintes estrofes do poema “Namoro”, de Viriato Cruz, que no entanto, o feitiço falhou.
Enfim, a amada negou sempre
dão conta de um amor não correspondido na época atual. o seu pedido, chegando
mesmo a troçar do sujeito
poético, em conversa com
[…] as amigas, no baile.
Mandei-lhe um cartão Esperei-a de tarde, à porta da fábrica, (80 palavras)
que o Maninjo tipografou: ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
"Por ti sofre o meu coração" paguei-lhe doces na calçada da Missão,
Num canto – sim, noutro canto – não ficamos num banco do largo da Estátua,
5 E ela o canto do não dobrou. 20 afaguei-lhe as mãos...

falei-lhe de amor... e ela disse que não.


Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão […]
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia, E para me distrair
me desse a ventura do seu namoro... levaram-me ao baile do sô Januário
10 E ela disse que não. mas ela lá estava num canto a rir
25 contando o meu caso às moças mais lindas

Levei à avó Chica, quimbanda1 de fama do bairro operário.


a areia da marca que o seu pé deixou […]
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu... Viriato Cruz, No reino de Caliban II,
Antologia panorâmica de poesia africana de expressão
15 E o feitiço falhou. portuguesa, vol. 2, Lisboa, Seara Nova, 1976.

1.1 Escreva um pequeno texto expositivo de 70 a 100 palavras. Observa os tópicos e 1


o que tem todo conhecimento
a estrutura apresentados. do mundo astral, inclusive da
• introdução – indicação do tema; magia negra, e que pode ajudar
a fazer o bem.
• desenvolvimento – enumeração de três estratégias implementadas pelo sujeito
poético para conquistar a sua amada; a reação da jovem ao seu pedido e a atitu-
de da jovem no baile;
• conclusão – referência ao modo como terminou a relação amorosa.

29
Po es i a Trova d o resca
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia as duas cantigas apresentadas.

CANTIGA A
Se eu pudesse desamar
Se eu pudesse desamar
a quem me sempre desamou,
e pudess’algum mal buscar
a quem me sempre mal buscou!
5 Assi me vingaria eu,
se eu podesse coita1 dar,
a quem me sempre coita deu.

Mais sol nom2 posso eu enganar


meu coraçom que m’enganou,
10 por quanto me fez desejar
a quem me nunca desejou.
E per esto3 nom dormio4 eu, CANTIGA B
porque nom poss’eu coita dar, Que soidade de mha senhor ei
a quem me sempre coita deu.
Que soidade1 de mha senhor ei2
15 Mais rog’a Deus que desampar 5 quando me nembra3 d’ela qual a vi,
a quem m’assi desamparou, e que me nembra que bem a oi4
vel6 que podess’eu destorvar7 falar; e por quanto bem d’ela sei,
a quem me sempre destorvou. 5 rogu’eu a Deus que end’a o poder5,
E logo dormiria eu, que mh a leixe6, se lhi prouguer7, veer
20 se eu podesse coita dar,
a quem me sempre coita deu. Cedo; ca8 pero9 mi nunca fez bem10,
se a nom vir, nom me posso guardar11
Vel8 que ousass’eu preguntar d’ensandecer12 ou morrer com pesar13;
a quem me nunca preguntou 10 e porque ela tod’em poder tem,
por que me fez em si cuidar9, rogu’eu a Deus que end’a o poder
25 pois ela nunca em mim cuidou. que mh a leixe, se lhi prouguer, veer
E por esto lazeiro10 eu,
porque nom poss'eu coita dar, Cedo; ca tal fez nostro senhor,
a quem me sempre coita deu. de quantas outras no mundo som
Pero da Ponte, A 289/B 980/V 567.
15 nom lhi fez par14, a la minha fe15, nom;
e poi-la fez das melhores melhor,
1
sofrimento causado pelo amor; 2 sol nom: nem mesmo; rogu’eu a Deus que end’a o poder
3
E por esto: e por isto, e por causa disto; 4 durmo; que mh a leixe, se lhi prouguer, veer
5
desampare, abandone; 6 ou, ao menos; 7 estorvar,
perturbar; 8 pelo menos; 9 pensar; 10 lastimo-me, Cedo; ca tal a quizo16 Deus fazer,
lamento-me
20 que se a nom vir, nom posso viver.
PROFESSOR
Dom Dinis, B 526/V 119.

1
saudade; 2 tenho; 3 lembra; 4 ouvi; 5 que end'a o poder: que tem
Áudio – “Se eu pudesse desamar” poder para isso; 6 deixe; 7 prouver, agradar; 8 porque; 9 mas; 10 nunca
Áudio – “Que soidade de mha senhor ei” fez bem: nunca correspondeu ao meu amor; 11 deixar; 12 enlouquecer;
13
desgosto; 14 igual; 15 a la minha fe: por minha fé; 16 quis.

30
Cantigas de amor

1. Proceda à análise temática e estilística das duas cantigas de amor, orientando-se PROFESSOR
pelos tópicos do quadro seguinte.
Ed. Literária/Gramática
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
"Se eu pudesse desamar" "Que soidade de mha senhor ei" 14.9; 16.1; 18,4
1. Cantiga A
a. Desejo de vingança por
parte do sujeito lírico em
Assunto a. a. relação à sua “senhor” pelo
facto de ela lhe causar um
enorme sofrimento amoroso
(coita de amor). b. A amada
mostra-se fria e indiferente
em relação ao sujeito lírico.
c. O sujeito lírico revela
Caracterização angústia, dor, desilusão e, ao
b. b.
da amada mesmo tempo, um sentimento
de revolta pela forma como a
sua “senhor” interage com ele.
d. O sujeito poético manifesta
vontade de se vingar do
Estado de sofrimento que lhe foi infligido
pela amada, retribuindo-lhe a
espírito do c. c. mesma dor que ele sente.
sujeito lírico e. Personificação: “meu
coraçom que m’enganou”;
repetição com variação na
palavra de rima: “desamar/
Atitude do desamou”.
sujeito lírico face d. d. Cantiga B
à amada a. Anseio do sujeito lírico em
ver a amada (saudade), sem a
qual não consegue viver.
b. A amada é caracterizada
como sendo eloquente e
Recursos poderosa; a melhor de todas
expressivos mais e. e. as existentes. c. O sujeito lírico
significativos revela estar completamente
apaixonado, dependente
da amada e desesperado,
por causa das saudades
que sente dela. d. Apesar
de ter consciência da não
GRAMÁTICA correspondência amorosa por
parte da sua “senhor”, o sujeito
poético manifesta vontade de
1. Na cantiga A, considere as palavras “desamar” (v. 1) e “desampar” (v. 15). a ver, já que, sem ela, acredita
que irá enlouquecer ou morrer
1.1 Identifique o prefixo de ambas as palavras e explicite o seu valor. por amor. e. Repetição (vv. 2-3);
hipérbole e comparação
(vv. 14-15); anáfora: “Cedo; ca”
2. Classifique as seguintes palavras quanto ao processo de formação e identifique nas estrofes 2 e 3.
a(s) respetiva(s) forma(s) de base, seguindo o modelo abaixo. Gramática
18.4; 19.6; 19.7
Modelo: desamar – palavra derivada por prefixação; forma de base: "amar".
1.1 Prefixo “des”. valor
a. desamparado de negação.
2. a. palavra derivada por
b. enlouquecer prefixação; forma de base
“amparado” (há mais hipóteses,
c. pesaroso dependentes da forma de
base); b. palavra derivada por
d. pinga-amor parassíntese; forma de base
“louco”; c. palavra derivada
e. invulgar por sufixação; forma de base
“pesar”; d. palavra composta
(palavra + palavra); formas
3. Indique o valor dos conectores sublinhados nos seguintes versos. de base “pinga” e “amor”;
e. palavra derivada por
“Se eu pudesse desamar / a quem sempre desamou”; “E per esto nom dormio eu, / prefixação; forma de base
porque não poss’eu coita dar, / a quem me sempre coita deu.”; “Que soidade de mha “vulgar”.
senhor ei / quando me nembra d ‘ela qual a vi,”

31
Po es i a Trova d o resca

PROFESSOR 4. Transforme as frases simples que se seguem em complexas, utilizando o conector


indicado entre parênteses e fazendo as alterações necessárias.
3. Se: valor condicional;
porque: valor causal; quando: a. O trovador pede ajuda a Deus. Deus mostrar-lhe-á a sua amada. (se)
valor temporal.
b. O trovador lembra-se da beleza da sua amada. O trovador sente muitas saudades
4. a. Se o trovador pedir ajuda
a Deus, Este mostrar-lhe-á da sua amada. (quando)
sua amada. b. Quando o
trovador se lembra da beleza c. O trovador revela a sua coita amorosa. A sua “senhor” não corresponde aos seus
da sua amada, sente saudades sentimentos. (porque)
dela. c. O trovador revela a sua
coita amorosa porque a sua d. A “senhor” das cantigas de amor é uma mulher inacessível. O trovador exprime o seu
“senhor” não corresponde aos
seus sentimentos. d. Embora a
amor por ela. (embora)
“senhor” das cantigas de amor
seja uma mulher inacessível,
5. Classifique as orações subordinadas nas frases seguintes.
o trovador exprime o seu amor
por ela. a. Caso o sujeito poético não veja a sua amada, enlouquecerá.
5. a. Caso o sujeito poético
não veja a sua amada – b. Como o trovador se considerava um vassalo da sua “senhor”, era visível nas cantigas
subordinada adverbial
condicional. b. Como o
de amor a superioridade da mulher.
trovador se considerava um c. Apesar de as cantigas de amor galaico-portuguesas se aproximarem das proven-
vassalo da sua “senhor” –
subordinada adverbial causal. çais, há entre elas aspetos distintos.
c. Apesar de as cantigas de
amor galaico-portuguesas se
aproximarem das provençais 6. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados:
– subordinada adverbial
concessiva. a. “a quem me sempre desamou” (v. 2)
6. a. Complemento direto; b. “e pudesse algum mal buscar” (v. 3)
b. Complemento direto;
c. Sujeiro; d. Sujeito. c. “meu coraçom que m’enganou” (v. 9)

Oralidade/Educação d. “E logo dormiria eu” (v. 19)


Literária
BLOCO INFORMATIVO – pp. 280-281,
1.5; 5.3; 6.1; 15.4; 16.2
264, 277, 271-273
1.
a. Quando amanheces, logo no ORALIDADE / EDUCAÇÃO LITERÁRIA
ar, / Se agita a luz sem querer";
"o dia vem devagar, / Para
te ver"; "joia de luz / entre as 1. Ouça atentamente a canção interpretada por
mulheres"; b. "E já rendido, Paulo Gonzo e Olavo Bilac, dois “trovadores”
ver-te chegar"; "Onde eu
queria entrar um dia, / P’ra me
do nosso tempo, e selecione:
perder"; "Ardo em ciúme desse a. duas expressões que revelem o elogio super-
jardim"; "Por minha cruz";
c. “jardins proibidos”; "Desse lativado da mulher amada;
outro mundo só teu".
b. duas expressões que evidenciem o estado
1.1.
Os alunos devem referir: de espírito do sujeito poético;
semelhanças temáticas entre “Jardins Proibidos”
c. uma expressão que sugira a inacessibilidade
a canção “Jardins Proibidos” e
as cantigas de amor da lírica da mulher amada.
trovadoresca, se atendermos
às expressões acima 1.1 Com base na informação presente nas alíneas anteriores e no estudo feito sobre
transcritas, que remetem a cantiga de amor, faça uma apresentação oral (5 a 7 minutos) sobre os seguin-
para o elogio superlativado
da mulher amada, para a sua tes aspetos:
inacessibilidade e para a coita
amorosa, isto é, o sofrimento • a relevância da cantiga de amor medieval no mundo contemporâneo;
amoroso do sujeito poético.
No fundo, a cantiga de amor • as semelhanças existentes entre o tema musical apresentado e este tipo de
da época medieval, ao nível cantiga.
do conteúdo, continua atual.

Link
“Jardins proibidos”

32
Cantigas de amor

LEITURA

Leia o seguinte texto referente a um concerto de um outro cantor português, Pedro


Abrunhosa, e responda às seguintes questões.

O poder, talvez
Por Valdemar Cruz

[…] Fui ao Coliseu na noite do passado sábado. Sala a


abarrotar de gente, tal como na véspera e na quinta-feira e
tal como se prevê que aconteça no próximo sábado no MEO
Arena em Lisboa.
5 Durante quase três horas e meia, Abrunhosa, por vezes
na companhia de mais dezassete pessoas, entre músicos
e cantores, fez uma arrasadora demonstração de como
o profissionalismo sem concessões, associado a uma pode- mundos estanques e não é possível viver numa redoma,
rosa e rara qualidade artística e estética, pode transformar alheio aos dilemas e dramas contemporâneos.
10 um palco no mais sedutor e improvável dos locais de culto, Num desses breves instantes resolveu pegar de frente
onde o olhar se derrama e o espanto se materializa. no modo como pode ser construído o futuro a partir de tão
Quem se deteve apenas no espaço cénico terá perdido 30 duro presente. Por isso optou por falar do silêncio. O silêncio
parte relevante do que de essencial se passava na sala duran- enquanto forma de desistência. O silêncio enquanto proces-
te aquela celebração acompanhada por muita gente a viver so de desencanto. O silêncio como metáfora do medo.
15 dias sofridos, gente marcada pelos perigosos desafios do […] Abrunhosa quis esconjurar o silêncio reinante na socie-
quotidiano, gente condicionada por ferretes inomináveis. Ainda dade. As vozes caladas têm de fazer-se ouvir, até porque o si-
assim houve festa. Percebeu-se o brilho em tantos olhares. Foi 35 lêncio gera o caos, disse. A frase tem impacto, é provocatória,
contagiante a adrenalina descarregada. Houve gritos imensos mas nem será o mais importante no contexto de uma canção
feitos metáforas de instantâneas libertações interiores. na qual se fala de bombas em Belfast e Beirute, de mortos na
20 Pedro conhece os anseios e angústias do público. Antes de Palestina e feridos em Israel, ou fascistas em Berlim e Moscovo.
mais por serem cidadãos do seu próprio país em sofrimento. Para quem ouvir para lá da superfície, não será difícil perceber
Como já há muito demonstrou não lhe interessar o estéril 40 que o que está em causa […] é, […] talvez, poder. E quem o
debate pela forma, ou da estética pela estética, o músico exerce. E o modo como o exerce. […]
não se exime de, nos seus concertos, num espaço que é, http://leitor.expresso.pt/library/expressodiario/05-02-2015
25 antes de mais, de celebração musical, mostrar como não há (consultado em fevereiro de 2015).

1. Tratando-se de uma apreciação crítica, o seu autor parte da apresentação do ob- PROFESSOR
jeto apreciado (um concerto), fazendo, depois, um comentário crítico do mesmo.
Ordene as seguintes afirmações, de acordo com a ordem sequencial do texto. Leitura
7.1; 7.4; 8.1
[A] O autor considera o espetáculo de Pedro Abrunhosa no Coliseu uma demons-
tração de profissionalismo e um momento de qualidade fora de comum. 1. [D]; [A]; [C]; [E]; [B]
[B] O autor evidencia a forma como o artista amaldiçoa o silêncio, valorizando a
palavra e a mensagem oculta que deve ser entendida na letra de uma canção.
[C] O autor descreve a reação emotiva do público e o envolvimento dos espetácu-
los do cantor na realidade social.
[D] O autor apresenta o objeto que vai ser alvo da sua apreciação crítica.
[E] O autor destaca o momento em que o cantor se refere ao silêncio como uma
forma de evidenciar a desilusão e o medo.

33
Po es i a Trova d o resca

INFORMAR

Leia os tópicos abaixo, a tabela e os textos e resolva a atividade proposta.

TEXTO A
Cantigas de amigo
• A cantiga de amigo é tematicamente semelhante à cantiga de amor – em
ambas o argumento essencial é, de facto, o amor não correspondido, causa de so-
frimento, de desconforto e, consequentemente, de lamento.
• A cantiga de amigo distingue-se da cantiga de amor a vários níveis, como se
pode verificar no quadro abaixo.

Aspetos
Cantiga de amigo Cantiga de amor
distintivos
Sujeito de Feminino: quando o poeta trovador finge Masculino: quando o poeta
enunciação que é a mulher a expor as suas próprias fala de si mesmo (de acordo
penas (de acordo com a Arte de Trovar). com a Arte de Trovar).

Condição social É uma jovem do povo, a donzela, “uma É nobre, a requintada


da mulher dona virgo” (virgem), aparentemente “senhor”, aristocraticamente
e respetiva simples e ingénua, sinceramente esquiva, distante,
caracterização apaixonada, vulnerável (frágil) a qualquer indiferente ao sofrimento
desilusão, mas sempre pronta a defender do sujeito poético.
e a lutar pelo seu amor.

Ambiente em Ambiente natural marítimo ou rural: Ambiente cortês


que se move o o mar, as árvores, a fonte, o cervo (veado),
sujeito poético o papagaio.

Destinatário A própria natureza é testemunha do A dona é o destinatário


da confissão sofrimento amoroso, interagindo, por vezes, preferencial do cantar
do sofrimento com a própria donzela. sofrido do sujeito poético.
amoroso O amigo é muitas vezes o recetor da donzela,
(confidentes) podendo dialogar com ela.
A mãe e as amigas confidentes são também
interlocutores da jovem.

TEXTO B
Paralelismo
• É um princípio estruturante dos textos poéticos, típico da poesia ao gosto po-
pular, em que se repetem segmentos textuais ou elementos temáticos.
• A grande maioria das cantigas de amigo (também muitas cantigas de amor, de
escárnio e de maldizer) apresenta estruturas paralelísticas, ocorrendo repetição lite-
ral (repetem os mesmos versos) ou sinonímica (apresentam expressões ou termos
de significado equivalente) de um ou mais versos de cada estrofe.
Elaborado com base em Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),
Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, trad. José Colaço Barreiros e Artur Guerra,
Lisboa, Editorial Caminho, 1993, pp. 135, 509 e 570-571.

34
Cantigas de amigo

TEXTO C
Refrão
As marcas gráficas que distinguem o início
do refrão nos manuscritos da lírica galego-por-
tuguesa parecem revelar a importância que era
atribuída ao refrão como elemento estruturante,
5 quando a lírica galego-portuguesa foi arquiva-
da por escrito. Sendo uma parte da cantiga que
se repete, o refrão aparece, nos testemunhos
referidos, abreviado a partir da segunda estrofe.
[…]
10 Do ponto de vista da versificação, o refrão
é vulgarmente definido como um conjunto de
versos com autonomia rimática que se repete
integralmente no fim de cada estrofe, com um
número de versos inferior ao do corpo da es-
15 trofe e cuja medida silábica é igual à dos res-
tantes versos da cobla. […]
Relativamente aos géneros, o refrão é mais
frequente entre as cantigas de amigo (443-87,8%) "Em gram coita, senhor", Dom Dinis,
B 506/V 89, Manuscrito do Cancioneiro
do que entre as cantigas de amor (380-52,4%) ou da Biblioteca Nacional.
20 entre as satíricas (134-31%).
Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),
Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa,
trad. José Colaço Barreiros e Artur Guerra, Lisboa,
Editorial Caminho, 1993, pp. 135, 509 e 570-571.

Atente no texto A
PROFESSOR
1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.
Leitura / Educação
a. A cantiga de amigo e a cantiga de amor partilham o mesmo sujeito de enuncia- Literária
ção. 7.1; 7.4; 8.1; 14.8; 16.1

b. Tanto a cantiga de amigo como a de amor desenvolvem o tema do sofrimento


1.
amoroso.
a. F – Na cantiga de amigo, o
c. A donzela presente nas cantigas de amigo pertence a uma classe social elevada. sujeito é do sexo feminino; na
de amor é do sexo masculino.
d. O sujeito poético presente na cantiga de amigo pode ser caracterizado pela sua b. V
ingenuidade e pela paixão que sente pelo amigo. c. F – É uma jovem do povo.
d. V
e. Nas cantigas de amigo, a paisagem natural, para além de cenário onde a donzela
e. V
se move, é também sua confidente.
f. F – A maior parte das
f. As cantigas de amigo não apresentam paralelismo literal. cantigas de amigo apresenta
paralelismo literal.
g. O refrão é uma estrutura paralelística frequente nas cantigas de amigo. g. V
h. F – O refrão repete-se
h. O refrão é um conjunto de versos que se repete parcialmente a meio de cada integralmente no fim de cada
estrofe. estrofe.

35
Po es i a Trova d o resca
Variedade do sentimento amoroso – Relação com a Natureza

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia expressivamente, após preparação prévia, a cantiga que se segue.

Ai flores, ai flores do verde pino

− Ai flores, ai flores do verde pino1, [− Vós me preguntades polo voss’amigo,


se sabedes2 novas3 do meu amigo! e eu bem vos digo que é san’6 vivo:
Ai Deus, e u é4? 15 Ai Deus, e u é?]

Ai flores, ai flores do verde ramo, Vós me preguntades polo voss’amado,


5 se sabedes novas do meu amado! e eu bem vos digo que é viv’e sano.
PROFESSOR Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?

Educação Literária Se sabedes novas do meu amigo, E eu bem vos digo que é san’e vivo
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.6; 14.7; 14.8; 14.9; aquel que mentiu do que pôs5 comigo! 20 e seera vosc’ant’o prazo saído7.
15.1; 16.1 Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
1. O sujeito da enunciação
dirige-se angustiadamente 10 Se sabedes novas do meu amado, E eu bem vos digo que é viv’e sano
às “flores de verde pino” para
saber novas do seu amigo aquel que mentiu do que mi á jurado! e seera vosc’ant’o prazo passado.
que tarda em chegar. Estas Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
respondem-lhe que ele está
bem e que em breve estará Dom Dinis, B 568/V 171.
junto dela.
2. A primeira parte é
1
constituída pelas quatro pinheiro; 2 sabeis (subentende-se dizei-me antes
primeiras estrofes, nas quais
de sabedes); 3 notícias; 4 e u é: e onde está?;
a donzela interroga “as flores 5
do verde pino”, no sentido de combinou; 6 são, saudável; 7 terminado.
saber se elas têm notícias do
seu amigo; a segunda parte
corresponde às restantes
estrofes, onde consta a
resposta dada pela Natureza,
que a sossega, pois o seu
amigo está vivo e em breve
estará junto dela.
3. Além da desilusão, é
evidente a angústia e o
desespero da donzela perante
a possibilidade de o amigo
faltar ao encontro combinado.
4. A Natureza funciona como
interlocutora confidente do
sujeito lírico.
5. A nível estrutural surge, por
exemplo, a repetição de “ Ai
flores, ai flores do verde pino”/ 1. Exponha o assunto da cantiga, identificando as vozes nela presentes.
“Ai flores, ai flores do verde
ramo” (em que se substitui
“pino” por “ramo”); Também 2. Proceda à divisão da cantiga em duas partes, justificando.
temos repetição dos versos
2 e 5, com a substituição de
“amigo” por “amado”. Há ainda 3. Descreva o estado de espírito do sujeito poético.
a repetição integral do 2º verso
da primeira estrofe que é o
1º verso da terceira. O refrão 4. Refira o papel desempenhado pela Natureza.
também é um exemplo de
paralelismo.
5. Retire da cantiga um exemplo de paralelismo.

36
Cantigas de amigo
Confidência amorosa

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga de amigo apresentada.

Nom chegou, madr’, o meu amigo


Nom chegou, madr’1, o meu amigo,
e oj’est o prazo saido2.
Ai madre, moiro3 d’amor!

Nom chegou, madr’, o meu amado,


5 e oj’est o prazo passado.
Ai madre, moiro d’ amor!

E oj’est o prazo saido,


por que mentio o desmentido4.
Ai madre, moiro d’amor!

10 E oj’est o prazo passado,


por que mentio o perjurado5.
Ai madre, moiro d’amor!
1
mãe
2
Por que mentio o desmentido, e oj'est o prazo saido: e hoje
termina o prazo
pesa-mi6, pois per si é falido7. 3
morro
15 Ai madre, moiro d’amor! 4
falso, mentiroso
5
falso
6
Por que mentio o perjurado, causa-me pena, desgosto
7 PROFESSOR
pesa-mi, pois mentio a seu grado8. pois per si é falido: pois faltou
por sua livre vontade
Ai madre, moiro d’amor! 8
a seu grado: por sua vontade,
Dom Dinis, B 566/V 169. por gosto
Áudio
“Nom chegou, madr’,
o meu amigo”
1. Assinale os versos da cantiga que contêm as informações presentes nas afirma-
Educação Literária
ções seguintes. 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.7; 14.9; 15.1; 16.1
a. Presença de um vocativo que remete para o interlocutor e confidente do sujeito
poético.
1.
b. Expressão repetida de um sentimento amoroso intenso vivido pelo sujeito lírico. a. Versos 1, 4 ou refrão
b. Refrão (v.3)
c. Constatação, por parte do sujeito da enunciação, do incumprimento da promessa c. vv. 1 e 2
d. vv. 8 e 11
do amigo. e. v. 14
d. Apresentação do amigo como falso e mentiroso. 2. O sujeito poético confidencia
à sua mãe o amor que sente pelo
e. Desilusão da donzela face à possibilidade de o seu sentimento não ser correspon- seu amigo e a sua desilusão pelo
facto de aquele ter faltado ao
dido. encontro combinado, sentindo
a donzela que ele o fez de forma
2. Exponha o assunto da cantiga. deliberada, o que poderá revelar
que não é correspondida.
3. Transcreva o refrão desta composição poética. 3. “Ai madre, moiro d’amor!”
4. O recetor é a mãe.
4. Identifique o recetor do sujeito poético.

37
Po es i a Trova d o resca
Variedade do sentimento amoroso

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga de amigo abaixo apresentada da autoria de Airas Nunes.

Bailemos nós já todas tres, ai amigas


Bailemos nós já todas tres, ai amigas,
so1 aquestas2 avelaneiras frolidas3,
e quem for velida4 como nós, velidas,
se amigo amar,
5 so aquestas avelaneiras frolidas
verra5 bailar.

Bailemos nós já todas tres, ai irmanas,


so aqueste ramo destas avelanas6,
e quem for louçana7 como nós, louçanas,
10 se amigo amar,
so aqueste8 ramo destas avelanas
verra bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr’al nom fazemos9,


PROFESSOR so aqueste ramo frolido bailemos,
15 e quem bem parecer como nós parecemos,
se amigo amar,
Áudio so aqueste ramo so’l10 que nós bailemos
“Bailemos nós já todas
verra bailar.
tres, ai amigas”
Airas Nunes, clérigo, B 879/V 462.
Educação Literária
1
14.2; 14.3; 14.4; 14.5; sob, debaixo de; 2 estas; 3 floridas; 4 bela, formosa; 5 virá; 6 avelãs; 7 louçã, bela; 8 este
14.7; 14.9; 15.1; 16.1 9
mentre (= enquanto) nom fazemos al (= não fazemos outra coisa); 10 so’l que: sob o qual.

1. A cantiga remete para um


cenário primaveril, de festa
e dança, que é visível nas 1. A cantiga remete para um ambiente festivo, de dança, na primavera. Justifi-
“avelaneiras frolidas”
(v. 2), e em expressões como que esta afirmação, recorrendo a elementos textuais.
“Bailemos” (v. 1) e “verra
bailar” (v. 6).
2. Identifique o destinatário do sujeito lírico.
2. O sujeito poético, a donzela,
dirige-se às amigas.
3. A donzela está 3. Apresente dois traços caracterizadores do sujeito poético, fundamentando a
extremamente feliz, porque
está apaixonada (“Bailemos sua resposta com expressões textuais pertinentes.
nós já todas três, ai amigas
(…) se amigo amar”, vv. 1-4),
daí o convite à celebração do 4. Preencha os espaços com os termos ou expressões adequadas ao sentido do
amor, através da dança (“se texto.
amigo amar, / so aquestas
avelaneiras frolidas / verra O convite à dança está expresso na forma verbal a. “ ” , conjuntivo
bailar.”, vv. 4-6).
4.
usado com valor exortativo (incitador). Mas essa participação no baile implica uma
a. Bailemos (v. 1) condição – estar apaixonada – como se comprova no verso b. “ ” . As
b. “se amigo amar” (v. 4)
donzelas são apresentadas como sendo belas e atraentes, como se pode verificar
c. “quem for velida como nós”
(v. 3) nas expressões c. “ ” e d. “ ”.
d. “quem bem parecer como
nós parecemos” (v. 15)

38
Cantigas de amigo
Confidência amorosa – relação com a Natureza

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga de amigo da autoria de Martim Codax.

Ondas do mar de Vigo


Ondas do mar1 de Vigo, MARTIM CODAX
Séc. XIII
se vistes meu amigo?
Trata-se provavelmente de um jogral galego, ativo em
E ai Deus, se verra2 cedo! meados ou no terceiro quartel do século XIII. Embora
seja um dos dois únicos autores presentes nos can-
cioneiros medievais cujas composições se conserva-
Ondas do mar levado3, ram igualmente num manuscrito individual, o desig-
5 se vistes meu amado? nado Pergaminho Vindel, onde vêm acompanhadas
da respetiva notação musical (o outro dos autores
E ai Deus, se verra cedo! sendo D. Dinis), nada se sabe de concreto sobre a sua
biografia. O seu apelido parece excluir a hipótese de
um estatuto social elevado. Seria pois um jogral ou
Se vistes meu amigo, segrel, muito possivelmente ligado a Vigo, localidade
o4 por que5 eu sospiro? repetidamente cantada nas suas composições.

E ai Deus, se verra cedo!

10 Se vistes meu amado,


1
ria, baía;2 virá, voltará;
por que ei6 gram coidado7? 3
mar levado: mar bravo, mar
E ai Deus, se verra cedo! encapelado; 4 aquele; 5 quem;
6
Martim Codax, B 1278/V 884/PV 1. tenho; 7 preocupação.

1. Complete o texto, de modo a obter uma breve análise da cantiga “Ondas do mar de
Vigo”, selecionando, entre as palavras propostas, as que são adequadas.

• mãe • refrão • donzela • angústia • interrogativas


• Deus • exclamativas • paralelística • amigo • Natureza

Esta cantiga de amigo é, quanto à sua estrutura, a. , pois, para além da


existência de refrão, o segundo verso da primeira cobla é igual ao primeiro da terceira. O
sujeito lírico, a b. , faz da c. sua confidente e confessa-lhe a sua PROFESSOR

extrema d. perante a ausência do e. .


As frases f. acentuam o desespero da jovem, assim como as exclamativas Áudio
“Ondas do mar de Vigo”
presentes no g. . É nesse momento que ela também evoca h. ,
pois está desesperada. Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.8

1.
a. paralelística
b. donzela
c. Natureza
d. angústia
e. amigo
f. interrogativas
g. refrão
h. Deus

Pergaminho de Vindel, n.o 1.

39
Po es i a Trova d o resca
Confidência amorosa – relação com a Natureza

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia as cantigas de amigo abaixo apresentadas e responda ao questionário da página


seguinte.
CANTIGA A
Poys nossas madres van a San Simon
CANTIGA B
Poys nossas madres1 van a San Simon
de Val de Prados candeas queymar2, Sedia-m’eu na ermida de San Simión
nos, as meninhas3, punhemus4 d’andar Sedia-m’eu1 na ermida de San Simión
con nossas madres, e elas enton e cercaron-mi-as ondas que grandes son.
5 queymen candeas por nós e por ssy Eu atendend’2o meu amigu'! E verrá?
e nos meninhas, baylaremos hy5.
Estando na ermida, ant’3o altar,
6
Nossus amigus todus lá hiran 5 cercaron-mi-as ondas grandes do mar.
por nos veer, e andaremos nos Eu atenden[d’o meu amigu'! E verrá?]
bayland’ant’eles, fremosas, en cos7,
10 e nossas madres, poys que alá8 van, E cercaron-mi-as ondas que grandes son:
queymen candeas por nos e por ssy, non ei4 [i]5 barqueiro nen remador.
e nos meninhas [baylaremos hy]. Eu [atendend’o meu amigu'! E verrá?]

Nossus amigus hiran por cousir9 10 E cercaron-mi-as ondas do alto mar:


como baylamus, e poderan veer non ei [i] barqueiro nen sei remar.
15 baylar moças de .... bon parecer; Eu aten[dend’o meu amigu'! E verrá?]
e nossas madres, poys lá queren hir,
queymen candeas por nós e por ssy Non ei i barqueiro nen remador:
e nos meninhas [baylaremos hy]. morrerei [eu], fremosa, no mar maior.6
Pero Viviaez, B 735/V 336. 15 Eu aten[dend’o meu amigu'! E verrá?]

1
mães; 2 acender velas em cumprimento de promessa feita; 3 meninas; Non ei [i] barqueiro nen sei remar:
4
tratemos; 5 aí; 6 irão; 7 sem manto, em corpo bem feito; 8 lá; 9 ver. morrerei eu, fremosa, no alto mar.
Eu [atendend’o meu amigu'! E verrá?]
Mendinho, B 852/V 438.

1
Sedia-m’eu: Estava eu; 2 esperando; 3 diante; 4 tenho; 5 aqui; 6 alto.

PROFESSOR

Áudio
“Poys nossas madres
van a San Simon”

Áudio
“Sedia-m’eu na ermida
de San Simión”

40
Cantigas de amigo
Confidência amorosa – relação com a Natureza
PROFESSOR
1. Proceda à análise das duas cantigas e preencha o quadro seguinte.
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 15.1;
"Poys nossas madres van "Sedia-m’eu na ermida 16.1; 16.2
a San Simon" de San Simión"
1. “Poys nossas madres van
a San Simon”
Assunto a. a. a. A donzela incentiva as
amigas a acompanharem as
mães a San Simon de Val de
Estado de espírito Prados, como pretexto para
b. b. verem os amigos e poderem
do sujeito lírico dançar, mostrando--se perante
eles.
b. A donzela está
Relação com o amigo c. c. entusiasmada porque aquele
será um meio para estar com o
seu amado.
c. O entusiasmo demonstrado
pela donzela evidencia uma
possível correspondência
amorosa ou, pelo menos,
GRAMÁTICA uma relação que ela sente
como possível, na medida
em que acredita que a dança
Atente na cantiga A. possa funcionar como um
instrumento de sedução.
1. Identifique a função sintática desempenhada por “de bon parecer” em “moças de “Sedia-m’eu na ermida de
San Simión”
bon parecer”(v. 15). a. A donzela espera
ansiosamente pelo amado na
igreja de San Simión, até que
Atente na cantiga B. as ondas a cercam e a deixam
num estado de desespero
por temer morrer afogada,
2. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes sublinhados. já que não tem ninguém que
a socorra, o que evidencia
a. “e cercaron-mi-as ondas que grandes son.” (v. 2) também o seu receio de
que o amigo não chegue a
b. “Eu atendend'o meu amigu'”. (v. 3) comparecer ao encontro
marcado.
c. “morrerei [eu], fremosa, no mar maior.” (v. 14) b. Inicialmente, a donzela
manifesta estar apaixonada
e ansiosa por ver o amigo;
3. Refira duas palavras do português moderno que integram o mesmo elemento eti- depois expressa aflição e
mológico que “Sedia” (v. 1). desespero quando se apercebe
BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-273, 280-281 dos perigos que enfrenta e,
simultaneamente, desilusão
pelo atraso do amado, o que
pode ser indicativo da sua não
comparência.
c. Apesar de a donzela
se mostrar apaixonada, é
ORALIDADE / EDUCAÇÃO LITERÁRIA evidente alguma insegurança
em relação ao seu amado, já
que o seu tardar a faz duvidar
Elabore, oralmente, em dois minutos, uma breve do seu amor, ao mesmo
apresentação oral (5 a 7 minutos) sobre os aspetos tempo em que a coloca numa
situação de perigo.
comuns entre a cantiga A e a imagem, no que se re-
fere ao caráter profano e religioso das romarias na Gramática
Idade Média e na atualidade. 17.4; 18.1
1. Modificador do nome
restritivo.
2. a. Sujeito.
b. Complemento direto.
c. Modificador do grupo verbal.
3. Sede, sediado, sedentário.

Oralidade/Educação
Literária
BLOCO INFORMATIVO – p. 283 1.4; 5.3; 6.2; 15.4

41
Po es i a Trova d o resca

LEITURA

O amor é o tema central das cantigas estudadas até ao momento.


Leia, a propósito desse sentimento, o seguinte artigo de divulgação científica.

Amor: cria dependência como uma droga, mas sabe


bem como o chocolate
Por Nicolau Ferreira

A maravilhosa máquina cerebral destrói a mitologia do


amor? Ainda não, talvez nunca. Mas já se sabe muito: as re-
giões ativadas quando vemos a pessoa de quem gostamos
ou os químicos libertados. E é tudo verdade: o estômago
5 apertado, o coração acelerado, o vício, a intensidade do pri-
meiro ano de relação. O amor é a droga. […]
A base neurológica do amor romântico é o título insosso
de um artigo científico publicado em 2000, que se propu-
nha pela primeira vez olhar para o cérebro de 17 pessoas e
10 ver quais as áreas que ficavam luminosas perante fotogra-
fias dos seus amados. […]
Os observados eram analisados enquanto viam fotogra-
fias dos seus mais-que-tudo que iam passando entre foto-
grafias de amigos do mesmo sexo que o/a companheiro/a.
15 No cérebro, a afluência especial de oxigénio a determina-
das regiões era registada pela máquina e denunciava pela
primeira vez as redes complexas associadas ao amor e que
permitem alguém dizer palavras como "verdadeiramente",
"profundamente" ou "loucamente" num contexto piroso,
20 mas completamente justificável com um "deixa lá, ele/ela
está apaixonado/a".
As setas de Cupido, c. 1882, Perrault Leon Jean Basile (1832-1908).
Sabe-se hoje que existem 12 regiões do cérebro que
são recrutadas quando pensamos na pessoa que amamos.
Stephanie Ortigue, uma investigadora da Universidade de
25 Siracusa, nos Estados Unidos, analisou com colegas a escassa
Não à dor, sim ao vício
bibliografia sobre a deteção destas regiões e verificou que
existem diferenças quando se sente o amor de paixão, e quan- Uma equipa de investigadores da Universidade de
do se sente o amor incondicional (o sentimento que se tem re- Stanford, nos Estados Unidos, percebeu que os circuitos
lativo a pessoas doentes, por exemplo) e o amor maternal. […] ativados no cérebro quando estamos apaixonados têm se-
30 As imagens por ressonância magnética mostram que 40 melhanças com os ativados quando sentimos dor e tentou
o amor é complexo. "Apesar de muitas teorias da emoção perceber se existe uma ligação entre eles.
terem incluído o amor como uma emoção básica, é mais A equipa dos Estados Unidos pegou em voluntários que
do que isso", disse Ortigue, citada pelo jornal britânico estavam a namorar há menos de um ano e procurou perce-
The Independent. "O amor inclui emoções básicas e emo- ber o que é que a observação de fotografias dos parceiros
35 ções complexas, motivações direcionadas para objetivos, 45 fazia quando sentiam uma dor causada por uma madeira
imagens do corpo, cognição e apreciação." aquecida que os cientistas lhes colocavam na mão.

42
Cantigas de amigo

O que os investigadores descobriram é que a perceção reportagem da Esquire, Fisher responde a esta pergunta
da dor era reduzida quando observavam a fotografia dos 60 com uma imagem: "Eu posso conhecer cada ingrediente
namorados em relação a fotografias de conhecidos. "Um de um pedaço de bolo de chocolate, mas quando me sento
50 dos locais-chave [medidos através de ressonância mag- para comê-lo, continuo a sentir alegria." Há outra coisa que
nética] é o nucleus accumbens, um centro para a recom- compreender a base neurológica do amor romântico não
pensa de vícios associados aos opiáceos, cocaína e outras nos retira − o mistério. Não sabemos por quem nos vamos
drogas", explicou Jarred Younger, primeiro autor do artigo 65 apaixonar, nem porquê, nem quando.
publicado sobre esta descoberta na revista Public Library
55 of Science One, que saiu em 2010.

Como um bolo de chocolate


Público, edição online de 14 de fevereiro de 2011
[…] Dito isto, a questão que podemos colocar é, se ao (adaptado, consultado em dezembro de 2017).
compreendermos o que é o amor e a forma como amamos,
deixamos de viver a experiência de forma romântica. Numa

1. Selecione a opção que completa corretamente as afirmações.

1.1 Neste texto, o seu autor


[A] apresenta a sua opinião em relação ao poder do amor sobre as pessoas. PROFESSOR

[B] divulga os resultados de uma investigação neurológica do amor.


Oralidade (p. 41)
[C] expõe os resultados de uma investigação sobre doenças neurológicas. Sugestão de tópicos
de resposta:
1.2 A investigadora Stephanie Ortigue chegou à conclusão de que o nosso cérebro As romarias da atualidade não
são assim tão diferentes das da
[A] reage da mesma forma a todos os tipos de amor. Idade Média.
Na cantiga, as jovens iam
[B] deteta doze tipos diferentes de reações amorosas. dançar, ver os amigos (caráter
profano), as mães iam pagar
[C] reage de forma diferente ao amor paixão e ao amor maternal. promessas, queimar velas e
orar (caráter religioso).
1.3 Uma equipa de investigadores americanos concluiu que A organização das festas
do concelho de Gondomar
[A] o amor provoca uma dor semelhante à produzida por uma queimadura. apresenta a romaria à N.a S.a
do Rosário (caráter religioso)
[B] os circuitos ativados no cérebro pela dor e pelo amor são idênticos. e a Feira das Nozes (caráter
profano), onde todos podem
[C] os voluntários observados não sentiram dor ao ver as fotos dos seus par- fazer compras e conviver.
ceiros. A acompanhar as atividades
religiosas estão sempre as de
caráter mais lúdico.
1.4 Na última parte do texto afirma-se que
[A] o amor continua a surpreender, apesar das investigações científicas de- Leitura
senvolvidas. 7.2; 7.3; 7.6; 8.1

[B] amar é como apreciar um bolo de chocolate, pois os ingredientes são 1.1 [B]
idênticos. 1.2 [C]
[C] compreender a base neurológica do amor acaba com a infelicidade amorosa. 1.3 [B]
1.4 [A]
2. A, E e F
2. Selecione, das marcas a seguir apresentadas, aquelas que estão presentes no texto.

A. Hierarquiazação B. Predomínio da primeira C. Comentário crítico.


das ideias. pessoa.

D. Dimensão narrativa. E. Explicitação de fontes. F. Caráter expositivo.

43
Po es i a Trova d o resca
DAR
Evolução do português
TU
S
APRENDER
E

LEITURA
ICA
G RA M Á T
R
A ROMANIZAÇÃO
AUTO DE MORALIDADE composto per Gil Vicente por contemplação da sere-
PR A
ATIC níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado per
O latim era a língua dos habitantes do Lácio, onde se localizava Roma. No entanto,
seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Por-
enquanto língua viva, não era usado da mesma forma por todos os romanos. Assim, era
tugal deste nome.
possível identificar variedades:
a. o latim vulgar
Comença – um latim
a declaração falado e diversificado,
e argumento integrando características
da obra. Primeiramente, no presente mais po-
auto,
pulares;
se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos sùpitamente a um
rio,b.o oqual
latim clássico
per – utilizadode
força havemos porpassar
escritores
em latinos
um decomo
dousCícero
batéisou Virgílio
que e ensinado
naquele porto
estão,nas escolas.um deles passa pera o paraíso e o outro pera o Inferno: os quais
scilicet1,
No século
batéis tem cadaIII a.um
C., os
seuromanos iniciaram
arraiz na proa: oa do
ocupação
Paraísodaum
Península
Anjo, eIbérica e a romani-
o do Inferno um
arraiz
zação dosinfernal
povose que
um aíCompanheiro.
encontraram, acabando por impor o latim vulgar como língua de
comunicação a ser usada pelos povos vencidos. No entanto, o latim clássico continuava a
ser O primeiro
utilizado comoentrelocutor
a língua daé igreja,
um Fidalgo que chega da
da administração, com um Paje,
ciência e nosque lhe levaonde
mosteiros, um
rabo mui comprido
continuou e ũa cadeira de espaldas. E começa o Arraiz do Inferno ante que
a ser ensinado.
o Fidalgo venha.

DO LATIM AO GALEGO-PORTUGUÊS

Substratos da Península Ibérica


São os idiomas falados pelos povos que habitaram a península antes da invasão romana
(Celtas, Iberos, Fenícios, Gregos) e que foram absorvidos pelo latim, deixando neste vestígios,
ou seja, certos termos linguísticos. O quadro abaixo apresenta dois dos substratos mais im-
portantes da língua portuguesa:

Substratos Termos linguísticos Áreas


Celta camisa, cerveja, carro, caminho, vassalo, lousa, bétula
diversificadas
Grego evangelho, pedagogia, homogéneo, Cristo*
* Alguns destes termos já tinham sido absorvidos pelo latim, antes de os romanos invadirem a Península Ibérica, como é o
caso de “evangelho” e “Cristo”.

Superstratos da Península Ibérica


O latim vigorou como língua oficial da Península Ibérica até ao século V, altura em que se
deram as invasões germânicas, em 409. A estas seguiram-se as invasões árabes, em 711, e
ambos os acontecimentos acabaram por ter impacto na situação linguística da Península.
Embora os germanos e os árabes não tenham conseguido impor a sua cultura nem a sua
PROFESSOR
língua, legaram novas palavras ao idioma que então se falava.
Considerando que algumas
definições de superstrato Substratos Termos linguísticos Áreas
(cf., por exemplo, Dicionário
Terminológico, dt.dgidc. Germânico guerra, orgulho, dardo, elmo, luva, escanção atividade guerreira
min-edu.pt) referem ou
sugerem uma situação a agricultura, a indústria,
de substituição linguística,
há autores que falam
alambique, alecrim, açúcar, alfinete, arroz, as ciências e as artes,
Árabe
de adstrato para se azeitona, azulejo, xarope o comércio ou a
referirem ao árabe. administração

44
Os franceses também tiveram algum impacto na evolução da língua, devido à sua in-
fluência nas cortes dos primeiros reis da primeira dinastia e ao impacto da poesia provençal.

O PORTUGUÊS ANTIGO (SÉCULOS XII-XV)

É possível, neste período, detetar duas fases na evolução da língua portuguesa:


a. A fase mais remota do português corresponde à fase do galego-português (ou ga-
laico-português), idioma progressivamente formado no noroeste peninsular e que a
Reconquista do território expandiu para sul; aparece registada na poesia trovadores-
ca e em documentos oficiais e particulares da época, por exemplo, O Testamento de
D. Afonso II, datado com segurança de 1214.
b. A partir de meados do século XIV, com o movimento de Reconquista até sul do ter-
ritório português, assistiu-se a uma evolução gradativa da língua, que terminaria com
a separação do galego-português em dois idiomas (galego e português). Para essa
cisão, foram determinantes vários fatores, a saber:
• a separação política entre Portugal e a Galiza;
• o contacto com populações ao longo do repovoamento do centro e sul do território
implicou transformações linguísticas que não se verificaram no norte;
• a mudança da corte portuguesa para Lisboa;
• a influência prestigiante da Universidade (ora em Lisboa ora em Coimbra) e dos mos-
teiros de Alcobaça e de Santa Cruz de Coimbra, que ditavam já, de certa forma, o bem
falar e o bem escrever.

O PORTUGUÊS CLÁSSICO (SÉCULOS XVI-XVIII)

Durante este período, assistiu-se a uma considerável latinização e inovação da língua


portuguesa, particularmente no domínio lexical, por vários motivos:
• com o Renascimento dá-se a recuperação do latim clássico e surgem novas palavras
por via erudita;
• Camões (entre outros autores), com a sua obra, contribui para o processo da enrique-
cimento da língua;
• surgem publicações que pretendem fixar e regulamentar a língua portuguesa: em 1536,
nasce a primeira gramática portuguesa, de Fernão de Oliveira;
• os Descobrimentos trazem o conhecimento de outros povos, costumes, paisagens e
produtos exóticos, o que implica a introdução de vocabulário para designar novas rea-
lidades;
• Luís António Verney, no século XVIII, luta pelo ensino do português nas escolas, em opo-
sição ao ensino do latim.
Por outro lado, a expansão ultramarina permitiu que a língua se alastrasse por vários con-
tinentes e que se viesse a tornar a língua nacional e/ou oficial de países como o Brasil, Angola
ou Moçambique.

45
DAR
Evolução do português
TU
S
APRENDER
E

ICA
G RA M Á T
R
O PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO (A PARTIR DO SÉCULO XIX)
PR A
ATIC
A partir do século XIX, o português continuou a evoluir, devido aos seguintes fatores:
• a criação de gramáticas e dicionários intensifica-se;
• a criação literária de alguns escritores, como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa, con-
tribui para o enriquecimento da língua;
• os progressos industriais e agrícolas têm um grande impacto, com a criação de termos
capazes de referir as novas realidades: neologismos e empréstimos – galicismos (do
Para mais informações sobre francês) e anglicismos (do inglês);
a evolução do português,
consultar, por exemplo: • os meios de comunicação começam a exercer um papel de relevo na uniformização e
• Ivo Castro, Introdução divulgação da língua.
à história do português. (2004),
2.a ed., revista e muito ampliada,
Lisboa, Colibri, 2006.
• Ivo Castro (dir.), História
da língua portuguesa em linha,
APLICAR
Centro Virtual Camões,
2002-2004.
s.
URL: http://cvc.instituto-camoes. 1. Selecione a opção correta.
pt/hlp/index1.html
• Esperança Cardeira, O essencial 1.1 A romanização é um processo que consiste na
sobre a história do português,
Lisboa, Editorial Caminho, 2006. [A] imposição do latim clássico nas regiões conquistadas pelos romanos.
[B] reconquista do sul da Península Ibérica pelos romanos.
[C] assimilação da cultura e da língua latina pelos povos vencidos pelos romanos.

1.2 O latim clássico


[A] está na base da formação da língua portuguesa.
[B] é a variedade linguística utilizada pela população culta.
[C] não é usado por nenhuma classe social da Península Ibérica.

1.3 Os substratos da língua portuguesa são termos


[A] linguísticos que os povos invasores do século VIII impuseram aos falantes
da língua latina.
[B] linguísticos usados pelos povos nativos antes da chegada dos romanos e
que se infiltraram no latim.
[C] gregos que se integraram no galaico-português aquando da reconquista
cristã.

1.4 O celta é um idioma que


[A] é substrato da língua portuguesa.
[B] é superstrato da língua portuguesa.
[C] foi absorvido pelo árabe.

46
APLICAR

1.5 As invasões germânicas e árabes contribuíram para a formação do português com


[A] termos específicos de certas áreas de atividade.
[B] vocabulário muito diversificado, pertencente a certas profissões.
PROFESSOR
[C] vocabulário específico relacionado com a atividade guerreira.
Gramática
1.6 Superstratos são as línguas faladas 17.1; 17.2; 17.5
[A] pelas pessoas mais cultas, que as impunham às restantes.
1.
[B] pelos povos nativos, e que deixaram vestígios no latim vulgar.
1.1 [A]
[C] pelos povos invasores que deixaram marcas na idioma dominante. 1.2 [B]
1.3 [B]
1.7 O português antigo 1.4 [A]
[A] é o latim vulgar trazido pelos romanos. 1.5 [A]
1.6 [C]
[B] é o português falado a sul de Portugal no século XII. 1.7 [C]
[C] é, numa primeira fase, o galaico-português. 1.8 [B]
1.9 [A]
1.8 A universidade e alguns mosteiros 1.10 [A]
1.11 [C]
[A] contribuíram para evolução do latim clássico.
1.12 [B]
[B] contribuíram para a separação do português do galego.
[C] não tiveram nenhum impacto na evolução do português.

1.9 A partir do século XVI, a descoberta de novas paisagens e o contacto com outras
culturas implicaram
[A] o aparecimento de novos termos na língua portuguesa.
[B] a introdução de novas línguas que se impuseram ao português.
[C] um retrocesso no desenvolvimento da língua portuguesa.

1.10 Com a recuperação do latim clássico nas artes e nas ciências,


[A] formaram-se novas palavras na língua portuguesa.
[B] a língua portuguesa sofreu um enorme empobrecimento.
[C] o povo português começou a falar latim.

1.11 No século XIX, “nasce” o português contemporâneo, como consequência de vários


fatores, entre os quais se destacam
[A] a criação literária de Camões.
[B] o aparecimento da primeira gramática portuguesa.
[C] o desenvolvimento industrial do país.

1.12 Os empréstimos no século XIX são


[A] neologismos criados a partir da língua portuguesa.
[B] palavras estrangeiras introduzidas no português.
[C] neologismos criados a partir do francês.

47
Po es i a Trova d o resca

LEITURA

Leia a letra de uma cantiga apresentada no programa da RTP 1 Estado de Graça.

Vídeos na Internet
É coisa linda esta moda afinal
De publicar videozinhos de cariz anormal
Duas miúdas em modo animal
Aos chutos e pontapés, na peixeirada total
5 Gravaram no telemóvel – só visto…
Mais tarde é bom recordar
A chapadinha, joelhadazinha
Estado de Graça,
Depois no Facebook há gente a “likar”
RTP
Aquela brincadeira, “rasca” e rasteira
10 A pancada agora vai aleijar

[Refrão]
O português é engraçado
PROFESSOR
Anda à porrada em qualquer lado
O português é distraído
Facilmente é atingido
Vídeo 15 O português é prémio Nobel
“Estado de Graça, RTP” A gravar com o telemóvel
Leitura
Pra mais tarde publicar
7.1; 7.2; 7.4; 9.2 Só pra ver o que é que a coisa vai dar.

1.1 [A]; 1.2 [B]. Anda pr’aí a maior comoção


2. Para além de se
censurarem hábitos
20 O país revoltou-se contra esta agressão
violentos dos portugueses, Na Internet e em todas as televisões
é sobretudo criticada a
tendência atual para se expor
Aquelas duas pitinhas a puxar dos galões
tudo o que se faz nas redes Gravaram no telemóvel – só visto…
sociais, nomeadamente no
Facebook, ainda que os vídeos
Mais tarde irão lamentar
partilhados possam transmitir 25 Serem parvinhas, serem tolinhas
uma imagem muito negativa
dos seus protagonistas. De
A malta do “iutubas” vai comentar.
tal forma isto acontece que Há gente tão parvinha, tão mal-educadinha.
chega mesmo a colocar-se
a hipótese de, no futuro,
Na prisão é que elas devem ficar.
ser mais fácil condenar os
criminosos, porque eles
próprios acabarão por fazer
Vai ser mais fácil apanhar malandrões
prova da sua culpabilidade 30 E atirá-los a todos para as nossas prisões
através destas redes sociais.
Gravando os crimes com um simples telefone
Publicar na Internet e “soprar no trombone”

Pois estas duas araras – só visto…


Quiseram logo mostrar
35 Um crime gravado e escarrapachado
Em pleno Facebook, é só comentar
Há gente tão ceguinha, tão burra e tapadinha
Faz o mal e logo o quer partilhar…
Letra e música de Gimba

48
Cantigas de escárnio e maldizer

1. Selecione a opção que completa corretamente cada afirmação. PROFESSOR

1.1 O propósito da cantiga é Gramática


17.4
[A] criticar.
[B] elogiar. 1.1 A palavra provém do verbo
inglês like.
[C] informar. 1.2 Trata-se de um
empréstimo.
[D] narrar.
1.3 O termo significa “gostar
de”.
1.2 Esse efeito é conseguido sobretudo através da
2.1 “malandrões”
[A] metáfora. 2.2 Justifica-se pelo facto
de a forma verbal surgir no
[B] ironia. infinitivo, terminando em -r.
Quando assim é, o pronome
[C] antítese. pessoal em adjacência verbal
implica a apócope do -r,
[D] aliteração. assumindo o pronome
a forma “-los”.
2. Explicite as críticas apresentadas ao longo da cantiga.
Escrita
10.2; 11.1; 12.1; 12.2;
12.3; 12.4; 13.1

Proposta de escrita:
GRAMÁTICA Parágrafo 1: forma de
comunicação tecnológica,
fácil e atrativa, que possibilita
1. Preste atenção à palavra “likar” (v. 8). comunicação à distância.
1.1 Identifique a origem do termo. Parágrafo 2: o caráter
misterioso proporcionado por
1.2 Classifique a palavra, tendo em conta a sua origem. esta forma de comunicação
seduz os mais jovens,
1.3 Explicite o significado do termo. que fazem “amizades”
com pessoas que não
correspondem ao perfil que
2. Atente nos versos “Vai ser mais fácil apanhar malandrões / E atirá-los a todos para apresentam;
as nossas prisões” (vv. 29-30). – a exposição de fotografias
pode ser prejudicial, pois
2.1 Identifique o referente da forma pronominal “-los”. outros terão acesso a elas
e poderão manipulá-las;
2.2 Justifique a forma do pronome pessoal “os”, nesta situação. – indicar dados da vida pessoal
(morada, escola, emprego,
aniversários) pode ser
BLOCO INFORMATIVO – pp. 280-281, 269-270 prejudicial, principalmente
quando se trata de crianças
que são um alvo fácil para
pedófilos.
Parágrafo 3: a nossa
exposição a um público vasto
E S C R I TA e desconhecido é sempre
perigosa, porque nem sempre
se sabe quem está do outro
Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, sobre os riscos do uso da rede social lado.
Facebook, seguindo, para isso, o plano abaixo apresentado.

• Parágrafo 1 – Apresentação sumária das características do Facebook.


• Parágrafo 2 – Três riscos inerentes ao uso do Facebook e cuidados a ter.
• Parágrafo 3 – Síntese dos principais aspetos referidos.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283


MANUAL – pp. 26-27

49
Po es i a Trova d o resca

INFORMAR

A par da poesia lírica trovadoresca, no Noroeste da Península, foi também cultivada a


poesia satírica, de natureza autóctone.

Leia os tópicos abaixo e os excertos da Arte de Trovar, que a este propósito se pro-
põem, e resolva a atividade apresentada na página seguinte.

Cantigas de escárnio e maldizer

• Na lírica galego-portuguesa, a sátira presente nas


cantigas de escárnio e maldizer é dirigida a personagens
representantes das diversas categorias socioprofissio-
nais, atingindo todos os graus da hierarquia social:
5 – do papa ao simples freire (monge) ou freira;
– do cavaleiro ao ricome (rico-homem);
– do infançon ao escudeiro;
– do jogral ao trobador.
O rei é a única figura que não é alvo de qualquer sá-
10 tira ou crítica.

• Nas cantigas da lírica galego-portuguesa, a sátira


política e social é conduzida a nível pessoal com acu-
sações de:
– covardia;
15 – traição;
– avareza;
– incapacidade.
• Para além das críticas de caráter pessoal, são vários
os aspetos/assuntos satirizados nestas cantigas:
20 – os relativos a acontecimentos históricos;
– os costumes sociais (em particular, os que se ligam
com a decadência da nobreza);
Trovadores perante o Rei e a sua – a polémica literária (em que se aponta no trovador
Corte, século VIII, Escola Alemã. escarnecido a falta de respeito pelas regras de bem trovar);
25
– a paródia da própria cantiga de amor, do amor cortês (“brinca-se” com o so-
frimento amoroso – a coita de amor – e com o retrato da figura feminina).
• Com estas cantigas, pretende-se criar efeitos cómicos, geradores do riso,
recorrendo o trovador a vários recursos expressivos:
– ironia;
30
– termos obscenos (em textos mais ferozes);
– diminutivos e aumentativos grosseiros;
– equívoco (jogos de palavras que têm dois sentidos);
– metáforas.
• Muitas destas cantigas apresentam estrutura narrativa, relatando um peque-
35
no episódio pitoresco e cómico, saído do quotidiano.
• Estas cantigas têm um importantíssimo valor documental para o conheci-
mento da língua e da sociedade da época.
Anna Ferrari, “Cantiga de escarnho e maldizer”, in José Augusto Cardoso Bernardes et al. (dir.), Biblos:
Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Verbo, 1995, pp. 970-974
(adaptado).

50
Cantigas de escárnio e maldizer

Cantigas de escárnio

Cantigas d’escarneo som aquelas que os trobadores fazem querendo dizer mal
d’algu~
e~elas, e diz~
e-lho per palavras cubertas que hajã dous entendimentos pera
lhe-lo nõ entenderem… ligeiramente.
CBN, Arte de Trovar, V, in Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, p. 147.

Cantigas de maldizer

Cantigas de maldizer som aquelas que faz~e os trobadores […] descubertamente,


~
e elas entrã palavras a que querem dizer mal e nõ haver outro entendimento senõ
aquel que querem dizer chaamente e outrossi as todas fazem dizer […].
CBN, Arte de Trovar, VI, in Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, p. 147.

1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.


a. Nas cantigas de escárnio e maldizer, o trovador critica todas as categorias so-
ciais.
b. São vários os aspetos satirizados nestas cantigas, sendo alguns de caráter mais
pessoal e outros relacionados com costumes, feitos históricos e a própria arte PROFESSOR
de bem trovar.
Educação Literária
c. As cantigas de conteúdo satírico apresentam palavras ofensivas quando se pre- 7.2; 7.4; 8.1; 15.1; 16.1
tende criticar ferozmente alguém ou um acontecimento.
1.
d. As cantigas de escárnio e maldizer também fazem uma paródia ao amor cortês. a. F – Exceto o Rei.
b. V
e. Os aumentativos e os diminutivos empregues nestas produções poéticas têm
c. V
sempre um valor apreciativo.
d. V
f. Um dos recursos expressivos frequentes nestas cantigas é a ironia. e. F – Têm sempre valor
depreciativo.
g. Algumas composições satíricas apresentam narratividade, pois verifica-se es- f. V
sencialmente a expressão de estados de espírito do “eu”, na primeira pessoa. g. F – Algumas composições
satíricas apresentam
h. As cantigas de maldizer distinguem-se das de escárnio pelo facto de, nas pri- narratividade, pois relatam
meiras, se criticar direta e claramente o alvo visado. um episódio, servindo-se das
categorias da narrativa.
h. V
2. Selecione, dos termos indicados entre parênteses, aquele que se adequa às infor-
2.1 autóctone
mações fornecidas pelo texto. 2.2 particular
2.3 velada
2.1 A poesia satírica galego-portuguesa teve origem (provençal/autóctone).
2.4 amor
2.2 Os trovadores galego-portugueses manifestam preferência pelo caráter
(particular/geral) das cantigas de maldizer.

2.3 Nas cantigas de escárnio, a crítica era feita de forma (velada/direta).

2.4 Entre os vários temas satirizados destaca-se a crítica à artificialidade dos senti-
mentos demonstrados na cantiga de (amigo/amor).

51
Po es i a Trova d o resca
A dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica dos costumes

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia a cantiga apresentada.

Roi Queimado morreu com amor


Roi Queimado1 morreu com amor
em seus cantares, par Santa Maria,
por ũa dona que gram bem queria2;
e, por se meter por mais trobador, 1
trovador com quem Pero
5 por que lh’ela non quis[o] bem fazer, Garcia Burgalês conviveu e que
compôs algumas cantigas de
feze-s'el em seus cantares morrer, amor, usando frequentemente
mais3 resurgiu depois, ao tercer dia. o tópico aqui satirizado
2
que gram bem queria: por
4 quem tinha grande amor
Esto fez el por ũa sa senhor 3
mas
que quer gram bem5; e mais vos ém6 diria: 4
isto
10 por que cuida7 que faz i maestria8, 5
que quer gram bem: por quem
enos cantares que faz, á sabor9 tem grande amor
de morrer i10 e des i d'ar viver11; 6
acerca disso
esto faz el, que x'12o pode fazer, 7
pensa
8
mais outr'omem per rem nono faria. que faz i maestria: que faz
versos com engenho, como se
fosse um mestre
15 E nom á13 já de sa morte pavor, 9
á sabor: tem desejo, vontade
se nom, sa morte mais la temeria, 10
nesse momento
mais sabe bem, per sa sabedoria, 11
e des i d'ar viver: e em seguida
que viverá, des quando morto for14; de voltar a viver
12
e faz-[s'] em seu cantar morte prender15, x’: mero reforço de expressão,
intraduzível no português
20 des i ar vive16: vedes que poder atual
que lhi Deus deu, − mais queno cuidaria! 13
tem
14
des quando morto for: desde
E se mi Deus a min desse poder o momento em que morrer
15
qual oj'el á, pois morrer, de viver, aceitar
PROFESSOR 16
des i ar vive: volta
já mais morte nunca [eu] temeria.
seguidamente a viver
Pero Garcia Burgalês, B 1380/V 988.
Áudio
“Roi Queimado morreu 1. Associe os tópicos de análise (coluna A) às expressões transcritas do poema (coluna B).
com amor”

Educação Literária Coluna A Coluna B


14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
15.1; 16.1 [A] Identificação do alvo da sátira. [1] “mais resurgiu depois, ao tercer
dia”,
[B] Verso revelador dos exageros do amor cortês.
1.
[A] – [2] [C] Expressão irónica denunciadora do artificialismo [2] “Roi Queimado”
[B] – [3] do “morrer de amor”, pela alusão a uma situação
[C] – [1] inverosímil. [3] “feze-s'el em seus cantares
[D] – [5] morrer”
[D] Sátira à presunção de Roi Queimado por se
[E] – [4]
considerar bom trovador. [4] “já mais morte nunca [eu]
2. O sujeito poético critica
o artificialismo do "morrer [E] Ironia do sujeito poético ao afirmar não recear a temeria”
de amor", que "Roi Queimado"
demonstra nas suas cantigas, morte, se ele fosse abençoado por Deus, como
[5] “por que cuida que faz mestria”
bem como a má qualidade da Rei Queimado.
sua poesia.
2. Refira, por palavras suas, os dois aspetos criticados no trovador "Roi Queimado".

52
Cantigas de escárnio e maldizer

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia expressivamente, após preparação prévia, a cantiga que se segue.


1
mas
Ai, dona fea, fostes-vos queixar 2
agora
3
louvarei
Ai, dona fea, fostes-vos queixar 4
de qualquer modo
que vos nunca louv[o] em meu cantar; 5
louvar
mais1 ora2 quero fazer um cantar 6
louca, maluca
em que vos loarei3 toda via4; 7
tendes
5 e vedes como vos quero loar5: 8
tão
dona fea, velha e sandia6! 9
desejo, vontade
10
louve
11
Dona fea, se Deus mi perdom, em esta razom: por este motivo
12
pois avedes7 [a] tam8 gram coraçom9 louvor, elogio
13
que vos eu loe10, em esta razom11 louvei
14
10 vos quero já loar toda via; ainda que

e vedes qual sera a loaçom12:


dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei13 PROFESSOR


em meu trobar, pero14 muito trobei;
15 mais ora já um bom cantar farei,
em que vos loarei toda via; Áudio
“Ai, dona fea, fostes-vos
e direi-vos como vos loarei: queixar”
dona fea, velha e sandia!
Educação Literária
Joam Garcia de Guilhade, B 1485/V 1097. 14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
15.1; 16.1

1.
a. F – É uma dama da nobreza,
como se confirma pela forma
de tratamento empregue na
apóstrofe “Dona fea”.
b. F – A senhora queixa-se de
o trovador nunca lhe ter feito
um cantar de amor.
c. F – A composição poética
satiriza o amor cortês.
d. V
1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas. De seguida, corrija e. F – O trovador é experiente
as afirmações falsas. na arte de trovar, como está
evidenciado em “pero muito
a. O destinatário da sátira nesta cantiga é uma mulher do povo. trobei” (v. 14).
f. V
b. A senhora queixa-se de o trovador lhe ter chamado “velha, feia e sandia”. 2. Ambas as cantigas
satirizam os códigos
c. A composição poética elogia o amor cortês. convencionais do amor cortês.
d. A ironia é um dos recursos expressivos utilizados nesta cantiga. Em “Roi Queimado” critica-se
o artificialismo do “morrer
e. O trovador é pouco experiente na arte de trovar. por amor” expresso pelos
trovadores e em “Dona fea,
f. O trovador traça o retrato físico e psicológico da senhora. foste-vos queixar”, criticam-se
os elogios estereotipados que
eram dirigidos às mulheres
2. Estabeleça uma comparação entre a cantiga analisada e a anterior, no que se refe- nas cantigas de amor.
re ao objeto de crítica.

53
Po es i a Trova d o resca
Cantigas de escárnio e maldizer – A dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica dos costumes

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Leia a cantiga a seguir apresentada.
Áudio
“Foi um dia Lopo jograr”
Foi um dia Lopo jograr
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
14.8; 15.1; 16.1
Foi um dia Lopo jograr1
a cas2 d’um infançom3 cantar
1. a. “um dia” (v. 1) e mandou-lh' ele por dom4 dar
b. “cas d’um infançom” (v. 2) tres couces na garganta;
c. “Lopo jograr” (v. 1) e 5 e foi-lh’escass’ 5a meu cuidar6,
“infançom” (v. 2)
d. “Foi […] a cas d’um infançom
segundo com’el canta.
cantar / e mandou-lh’ele
por dom dar / tres couces na
garganta” (vv. 1-4)
Escasso foi o infançom
e. “Foi-lh’escasso’a meu em seus couces partir entom,
cuidar” (v. 5) ca7 nom deu a Lop[o] entom
2. Um dia, o jogral Lopo foi 10 mais de tres na garganta;
cantar a casa de um fidalgo,
mas este não gostou da e mais merece o jograrom8,
forma como ele cantou e segundo com’ el canta.
mandou dar-lhe três couces
na garganta como forma de Martim Soares, B 1366/V 974.
pagamento. Na opinião do
sujeito poético, foram poucos
1
os couces, já que merecia jogral; 2 casa; 3 fidalgo de categoria inferior; 4 como
muitos mais, tão mau era o
seu cantar. pagamento; 5 e foi-lh'escass': e foi forreta; 6 a meu cuidar:
3. na minha opinião; 7 pois; 8 mau jogral.
a. V
b. F –O rei não era alvo da
sátira dos trovadores. 1. A sátira, nesta cantiga, constrói-se a partir de uma estrutura narrativa.
c. F – São de origem autóctone Complete a tabela com expressões do texto que exemplificam as categorias da
mas sofreram influências da
sátira provençal. narrativa apresentadas.
d. V
e. V Tempo Espaço Personagens Ação Narrador
f. F – Era um dos temas
das cantigas de escárnio a. b. c. d. e.
e maldizer.
g. F – Apresentam críticas
a determinadas categorias
socioprofissionais,
especificamente hábitos ou 2. Apresente sinteticamente o episódio narrado nesta cantiga. Comece o seu texto
vícios de certas personagens.
por “ Um dia…”.

3. Relembre o estudo das cantigas de escárnio e maldizer e assinale as afirmações


como verdadeiras ou falsas. Corrija as afirmações falsas.
a. As cantigas de escárnio e maldizer satirizam, direta ou indiretamente, algo ou
alguém.
b. Entre os vários comportamentos satirizados pelos trovadores, encontrava-se a
crítica à governação do rei.
c. As cantigas de escárnio e maldizer são de origem autóctone, não tendo sofrido
influências da sátira provençal.

54
Cantigas de escárnio e maldizer

d. A dimensão satírica das cantigas de escárnio e maldizer confere-lhes grande PROFESSOR


valor documental.
Gramática
e. Um dos recursos utilizados nas cantigas de escárnio é o “equívoco” ou “jogo du- 18.1; 18.4
plo”.
1. a. “um”
f. A sátira ao amor cortês era o principal tema das cantigas de escárnio e maldizer. b. “Lopo”
g. As cantigas de escárnio e de maldizer apresentam elogios a determinadas cate- c. “cas”, “infançom”, “dom”,
“couces”, “garganta”,
gorias profissionais. “jograrom”
d. "en”, “por”
e. “lhe”, “ele”
GRAMÁTICA f. “três”
2. Caseiro, casario, casebre.
1. Preencha o quadro seguinte, retirando da cantiga os exemplos solicitados. 3.1 a. Complemento agente
da passiva.
c. Predicativo do sujeito.
d. Complemento direto.
Determinante e. Complemento direto.
Nome Nome Pronome Quantificador
artigo Preposição
próprio comum pessoal numeral 3.2 As cantigas de escárnio e
indefinido maldizer abarcam-no.
3.3 Valor de oposição.
3.4 “o amor cortês”.
a. b. c. d. e. f. 3.5 “Quando se fala dos
trovadores galaico-
-portugueses” – oração
subordinada adverbial
temporal; “destaca-se o seu
gosto pela sátira pessoal.” –
oração subordinante.

2. Sabendo que o vocábulo “cas” é a forma arcaica de “casa”, apresente três outras pa-
lavras do português moderno que integrem o mesmo elemento etimológico.

3. Atente nas seguintes frases.


a. O amor cortês era frequentemente satirizado pelos trovadores nas cantigas de mal-
dizer.
b. As cantigas de escárnio e maldizer abarcam um vastíssimo leque de personagens.
c. Os comportamentos quotidianos eram alvo da sátira dos trovadores.
d. A poesia satírica parodia o amor cortês, enquanto a cantiga de amor o enaltece.
e. Quando se fala dos trovadores galaico-portugueses, destaca-se o seu gosto pela
sátira pessoal.

3.1 Indique a função sintática dos constituintes sublinhados.

3.2 Reescreva a frase b., pronominalizando o complemento direto.

3.3 Indique o valor lógico do conector “enquanto” (frase d.).

3.4 Indique o referente do pronome pessoal “o” na frase d.

3.5 Divida e classifique as orações na frase e.

BLOCO INFORMATIVO – pp. 260-264, 278-279,


271-273, 269-270, 277

55
DAR
Fonética e fonologia / etimologia
TU
S
APRENDER
E

ICA
G RA M Á T
R
FONÉTICA E FONOLOGIA
PR A
ATIC
Ao longo dos séculos de evolução da língua portuguesa foram ocorrendo alterações
em termos fonéticos e fonológicos, ou seja, no que aos sons e fonemas diz respeito. Estas
alterações resultam de fatores diversos, como a tendência para a diminuição do esforço
articulatório (a que por vezes se chama “lei do menor esforço”) ou a influência de uns vo-
cábulos sobre os outros (analogia).
Quanto à sua forma, é possível distinguir três tipos de processos fonológicos: os de
1
A assimilação pode ser inserção, os de supressão e os de alteração de unidades.
regressiva, quando uma
unidade fónica se aproxima
articulatoriamente de uma
a. Processos fonológicos de inserção
que se lhe segue; progressiva,
quando a relação das duas
unidades se inverte; completa, Prótese Adição de uma unidade fónica no início da palavra. INDA- > ainda
sempre que as duas unidades
Epêntese Adição de uma unidade fónica no interior da palavra. HUMILE- > humilde
fónicas se tornam exatamente
iguais; incompleta, quando a Paragoge Adição de uma unidade fónica no fim da palavra. ANTE > antes
assimilação não é total e as duas
unidades fónicas apenas
se tornam mais semelhantes.
2
São palatais as consoantes b. Processos fonológicos de supressão
/‫ݕ‬/ (cf. chuva), /‫ݤ‬/ (cf. janela),
/‫ݠ‬/ (cf. filho) e /݄/ (cf. ninho).
Aférese Queda de uma unidade fónica no início da palavra. alá (port. antigo)> lá
Nota: A passagem de u para o
no final de palavra representa Síncope Queda de uma unidade fónica no meio da palavra. MALU- > mau
uma alteração apenas gráfica,
pois o som representado Apócope Queda de uma unidade fónica no fim da palavra. AMARE > amar
mantém-se.

c. Processos fonológicos de alteração

Alteração de uma unidade fónica por influência de outra, ou seja, duas unidades
Assimilação fónicas diferentes tornam-se mais semelhantes ou iguais porque uma se aproxima IPSE > esse
articulatoriamente da outra1.
Processo exatamente inverso à assimilação, ou seja, duas unidades iguais ou com
Dissimilação LILIU- > lírio
características semelhantes distanciam-se articulatoriamente.
Transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/, /k/) na sua correspondente
Sonorização PIETATE- > piedade
sonora (nestes casos, /b/, /d/, /g/).
Tipo de assimilação que acontece quando uma unidade ou sequência ganha uma
Palatalização FLAMMA- > chama
articulação palatal (assim se formam as consoantes palatais do português)2.
Metátese Troca de posição de unidades mínimas ou sílabas no interior de uma palavra. SEMPER > sempre
Transformação de uma consoante em vogal (depois de outra vogal, esta unidade realiza-se
Vocalização OCTO > oito
como semivogal).
Crase Contração de duas vogais numa só. TIBI > tii > ti
Contração Transformação em ditongo de uma sequência de duas vogais em hiato, pela
Sinérese LEGE- > lee > lei
semivocalização (transformação em semivogal) de uma delas.
Enfraquecimento de uma vogal em posição átona. Na atualidade, no português europeu, esse fenómeno é observável
Redução
quando comparamos formas como casa/casebre, em que uma mesma vogal surge com diferentes timbres, consoante
vocálica
se encontra em sílaba tónica (casa) ou em sílaba átona (casebre).

56
ETIMOLOGIA

Étimos – palavras (ou radicais) que estão na base das palavras portuguesas. A etimolo-
gia é a ciência que estuda a origem e a evolução das palavras.

Palavras divergentes Palavras convergentes


Palavras que, apesar de provenientes do Palavras que, apesar de derivarem de étimos
mesmo étimo, apresentam formas diferentes diferentes, apresentam a mesma forma em
em português. português.
padre Ex.: SANU- são (‘saudável’)
Ex.: PATRE-
pai SANCTU- são (‘santo’)

PROFESSOR
APLICAR
Gramática
1. Identifique os processos fonológicos operados na evolução das palavras apresen- 17.3; 17.4; 17.5; 17.6; 17.7
tadas.
1.
a. FENESTRA- > feestra > festra > fresta h. OCULU- > oclo > olho a. síncope, crase, metátese.
b. sonorização.
b. SECRETU- > segredo i. MULTU- > muito c. síncope, assimilação.
d. síncope, epêntese.
c. PERSONA- > persoa > pessoa j. PLENU- > cheo > cheio e. apócope, síncope.
f. síncope, crase.
d. CENA- > cea > ceia k. MATERIA- > madeira g. síncope, prótese,
palatalização.
e. CRUDELE- > crudel > cruel l. NOCTE- > noite h. síncope, palatalização.
i. vocalização.
f. PEDE- > pee > pé m. SOLES > soes > sóis j. síncope, palatalização,
epêntese.
g. SPECULU- > speclu > espelho k. sonorização, metátese.
l. vocalização.
2. Identifique o processo fonológico que a comparação das palavras “mala”/“maleta” e m. síncope, sinérese.
“porta”/“portão” nos mostra. 2. Redução vocálica. Existe
um enfraquecimento
da mesma vogal
3. Atente nas seguintes frases. (representada por <a> e <o>,
respetivamente), em posição
a. O rio era um dos elementos da Natureza presentes nas cantigas de amigo. átona.
b. Rio-me com algumas cantigas de escárnio e maldizer. 3.1 Trata-se de palavras
convergentes já que, apesar
de apresentarem a mesma
3.1 Tendo em conta o significado dos vocábulos sublinhados, classifique-os quanto ao forma, provêm de étimos
étimo de que provêm. Confirme a sua resposta através da consulta de um dicionário. diferentes: a. RIVU- (> rio);
b. RIDERE (> rir).
4. Tendo em conta o seu sentido, selecione, da lista de palavras apresentada, aquelas 4. e 4.1
que apresentam um constituinte que provém do étimo latino MATER (‘mãe’). [A] matriarcal – sistema em
que a mulher, mãe, aparece
[A] Matriarcal. [C] Maternidade. [E] Matricida. como figura central.
[C] maternidade – estado
[B] Matrimónio. [D] Matrícula. [F] Matreira. de quem é mãe (também local
onde as mulheres dão à luz).
4.1 Explicite o significado de cada uma das palavras selecionadas, tendo em conta o [E] matricida – homicídio
étimo de que provêm. da mãe.
5.
5. Apresente duas palavras que contenham constituintes que integram cada um dos a. fraterno, fratricida,
fraternidade, frade.
étimos listados abaixo. b. agricultura, agrário,
agrícola, agricultor.
a. FRATER (‘irmão’). c. URBS (‘cidade’). c. urbano, urbanização,
urbanismo.
b. AGROS (‘campo’). d. CIVIS (‘cidadão’). d. civil, cívico, civilização,
civismo.

57
PA R A S A B E R Poesia Trovadoresca

POESIA LÍRICA

Cantigas de amor Cantigas de amigo

Origem • provençal • autóctone

Sujeito de
• trovador • a “amiga” (a donzela)
enunciação

Objeto • a dona (a “senhor”) • o amigo

Características
• ser divinizado, quase inatingível, • ser terrestre, de cariz
da figura
da aristocracia essencialmente popular
feminina

Características • vassalo • apaixonado


da figura • submisso • ausente
masculina • sofredor • mentiroso

• doméstico
• palaciano • familiar
Ambiente
• cortês • rural
• marítimo

• artificial • simples
Essência • convencional • espontânea
• aristocrática • popular

• a paixão pelo amigo


• a saudade
• elogio da mulher amada • a incerteza e a insegurança
Tema
• a coita amorosa na relação
• os arrufos de amor
• o ciúme

POESIA SATÍRICA

Subgéneros Características Intenção crítica

Cantigas • sátira dissimulada, dúbia


• sátira política
de escárnio e encoberta
• crítica de costumes
Cantigas • paródia do amor cortês
• sátira direta, mordaz e explícita
de maldizer

58
PA R A V E R I F I C A R

Verifique os seus conhecimentos após a leitura e a análise de várias cantigas da poesia


trovadoresca galaico-portuguesa.
PROFESSOR

1. Identifique as afirmações verdadeiras e as falsas. De seguida, transforme as afir- Educação Literária


mações falsas em afirmações verdadeiras. 14.3; 14.8; 15.1; 16.1

a. Nas cantigas de amor, o sujeito de enunciação é a donzela apaixonada.


1.
b Um dos temas mais frequentes nas cantigas de amor é a coita amorosa. a. F –O sujeito de enunciação
é o trovador enamorado.
c. Na primeira cantiga de amor trovadoresca apresentada nesta unidade, a mulher b. V;
c. V
surge sobrevalorizada. d. F – A presença da Natureza
surge de forma recorrente
d. Nas cantigas de amor é recorrente a referência à Natureza. nas cantigas de amigo e não
e. Em geral, a mulher celebrada nas cantigas de amor é de um estatuto social ele- nas de amor.
e. V
vado. f. F – É recorrente assistirmos
à dor do sujeito lírico quer por
f. A correspondência amorosa entre o sujeito lírico e a mulher enamorada é recor- não ser correspondido em
rente nas cantigas de amor. termos amorosos quer pela
mulher amada se mostrar
g. Por serem de natureza mais popular, as cantigas de amor apresentam recorren- indiferente em relação a si.
g. F – São as cantigas de
temente uma estrutura paralelística. amigo que apresentam
uma natureza mais popular
h. Nas cantigas de amor, o sentimento expresso pelo trovador é convencional e e frequentemente uma
pouco natural. estrutura paralelística.
h. V
i. A donzela, nas cantigas de amigo, tem como única confidente a mãe. i. F – Além da mãe, existem
outras confidentes como
j. É frequente assistirmos, nas cantigas de amigo, à angústia da donzela motivada as amigas ou a Natureza.
pela ausência do amigo. j. V
k. V
k. Nas cantigas de amigo, é comum a donzela apresentar traços de simplicidade l. V
e ingenuidade. m. F – A mulher representada
nas cantigas de amigo é mais
l. As cantigas de amigo refletem um ambiente mais familiar do que as cantigas espontânea e menos artificial
de amor. do que a mulher celebrada nas
cantigas de amor.
m. A mulher representada nas cantigas de amigo é mais artificial do que a mulher n. F – Apesar de em algumas
cantigas de amigo ser evidente
celebrada nas cantigas de amor. a correspondência amorosa,
em muitas outras assistimos
n. Ao contrário das cantigas de amor, nas cantigas de amigo há sempre correspon- à desilusão da donzela em
dência amorosa. relação ao objeto do seu amor.
o. V
o. O sentimento amoroso é o tema central das cantigas de amigo e de amor. p. F – As cantigas de escárnio
e maldizer têm como objetivo
p. Um dos temas mais recorrentes nas cantigas de escárnio e maldizer é a celebra- a sátira, pelo que não se
ção da mulher amada. encontram nelas temas
como o da celebração da
q. As cantigas de maldizer distinguem-se das de escárnio pelo facto de nas primeiras mulher amada. Aliás, existem
cantigas em que se satiriza o
se fazer referência direta e ostensiva ao alvo visado. excesso de convencionalismo
presente nas cantigas de
r. Um dos recursos expressivos mais recorrentes nas cantigas de escárnio e maldizer amor, no que toca à descrição
é a ironia. da mulher amada.
q. V
s. Num grande número de cantigas de escárnio e maldizer, assiste-se a uma paródia r. V
ao amor cortês. s. V

59
PA R A R E C U P E R A R

Relembre o estudo da poesia trovadoresca e realize as atividades seguintes.

PROFESSOR
1. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B que completam ade-
quadamente o seu sentido.

Apresentação
Galeria de imagens
Coluna A Coluna B
Apresentação
Síntese da Unidade [A] A cantiga de amigo e a [1] são marcas formais associadas às cantigas de amigo.
Teste interativo cantiga de amor
[2] critica todos as categorias socioprofissionais, exceto
Poesia trovadoresca
[B] Paralelismo e refrão o rei.
Educação Literária [3] desenvolvem ambas a temática do sofrimento
14.3; 14.4; 14.7; 16.1 amoroso, embora difiram no que se refere ao emissor.
[C] Na poesia satírica, o trovador
[4] satiriza algo ou alguém, recorrendo a “palabras
1.
[A] – [3] [D] O amor cortês também cubertas”, ou seja, à ironia e a jogos de palavras.
[B] – [1] [5] é objeto de crítica, quer ao nível da linguagem,
[C] – [2] [E] Na cantiga de escárnio, o quer relativamente à forma como o trovador compõe
[D] – [5] enunciador ou canta.
[E] – [4]
2.
a. trovador
b. senhor 2. Complete os espaços com as palavras adequadas, selecionando-as entre as pro-
c. morais
d. coita
postas abaixo.
e. indiferente
f. poder
g. morrer indiferente, sensível, morrer, senhor, morais, coita, hipérbole, poder, trovador
h. hipérbole
3.
a. “porque está angustiada Na cantiga de amor, o emissor é o a. , que expressa o seu amor pela sua
com a ausência do amigo.” –
oração subordinada adverbial b.“ ”, caracterizada como “fremosa”, “de “bom prez”, “mui comunal”, reunindo
causal;
b. “Quando não recebe as qualidades físicas, c. e sociais.
notícias do seu amigo” –
oração subordinada adverbial
Na relação que se estabelece entre o trovador e a sua dama, aquele revela a sua
temporal; d. amorosa porque a mulher é muitas vezes e. aos seus
c. “Embora a ‘senhor’ seja
descrita como uma mulher sentimentos. O homem submete-se ao seu f. , de tal forma que prefere
perfeita”– oração subordinada
adverbial concessiva; “que ela g. a viver sem o seu amor. Por isso, a h. é um dos recursos
é cruel” – oração subordinada
substantiva completiva. expressivos de que o trovador se serve para exprimir o seu sofrimento pela indiferença
3.1. a. Predicativo do sujeito;
b. Modificador e sujeito da dama.
simples, respetivamente;
c. Modificador e complemento
direto, respetivamente. 3. Identifique e classifique as orações subordinadas nas frases que se seguem.
a. A donzela desabafa com a mãe porque está angustiada com a ausência do amigo.
b. Quando não recebe notícias do seu amigo, a donzela fica desesperada e impaciente.

c. Embora a “senhor” seja descrita como uma mulher perfeita, o trovador sabe que ela
é cruel.
3.1 Identifique as funções sintáticas dos constituintes sublinhados nas frases ante-
riores.

60
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Poesia Trovadoresca
GRUPO I

Leia a cantiga que se segue.


PROFESSOR

Vi eu, mia madr’, andar


Vi eu, mia madr’1, andar Apresentação
1
minha mãe Soluções Ficha
as barcas eno mar: 2
morro-me de Avaliação
e moiro-me2 d’amor. 3
praia
4
esperar GRUPO I
5
esperar
Foi eu, madre, veer 6
aí Educação Literária
5 as barcas eno ler3: 14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
e moiro-me d’amor. 14.8; 14.9

1. Trata-se de uma cantiga de


As barcas [e]no mar amigo, visto que o sujeito de
e foi-las aguardar4: enunciação é uma donzela
que lamenta à sua mãe
e moiro-me d’amor. (confidente) a ausência do seu
amigo.
2. Esta cantiga pode dividir-se
10 As barcas eno ler em duas partes. A primeira diz
e foi-las atender5: respeito às quatro primeiras
coblas e corresponde à
e moiro-me d’amor. descrição da situação
inicial, ou seja, ao facto de
a donzela acorrer à praia na
E foi-las aguardar esperança de ver o seu amigo
e non o pud’ achar: chegar numa das barcas que
estão a aportar; a segunda
15 e moiro-me d’amor. corresponde às últimas quatro
coblas e aqui assiste-se à
desilusão da donzela por,
E foi-las atender afinal, não ter reencontrado
e non o pudi veer: o seu amor.
3. Apesar de começar por
e moiro-me d’amor. descrever o seu estado de
ansiedade e de esperança em
ver o amigo, a donzela, desde
E non o achei i6, o início, através do refrão,
20 [o] que por meu mal vi: manifesta a sua angústia,
o seu sofrimento amoroso
e moiro-me d’amor. e a sua desilusão pelo facto
de não ter encontrado o seu
Nuno Fernandez Torneol, B 645/V 246. amigo. Revela ainda remorsos
por se ter apaixonado, quando
1. Comprove que a composição poética é uma cantiga de amigo, apresentando afirma: “[o] que por meu mal
vi:”. (v. 20).
duas características ao nível do conteúdo que fundamentem a sua resposta. 4. a. No verso “Vi eu, mia
madr’, andar” está presente
a apóstrofe “madre”, como
2. Proceda à divisão do texto em duas partes lógicas, explicitando o assunto forma de realçar o interlocutor
de cada uma delas. e confidente da donzela –
a mãe.
b. Em “e moiro-me d’amor.” é
3. Caracterize, fundamentando, o estado de espírito do sujeito poético. evidente a hipérbole que serve
para realçar o sofrimento
amoroso de que a donzela
4. Identifique os recursos expressivos presentes nos versos abaixo indicados, padece.
comentando a sua expressividade. 5. A cantiga é composta por
sete dísticos e um refrão
a. “Vi eu, mia madr’, andar”. (v. 1) b. “e moiro-me d’amor.” (v. 3) monóstico, segundo o
esquema rimático: aa’R / bb’R /
a’a’’R / b’b’’R / a’’aR / b’’bR /
5. Proceda à análise formal da cantiga, atendendo ao número e tipo de estrofes, cc’R / dd’R. As rimas são todas
ao seu esquema rimático e à classificação das rimas. emparelhadas.

61
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Poesia Trovadoresca
GRUPO II

Leia atentamente o texto

A Língua Portuguesa Por Hélia Correia

Ela não esqueceu nunca o tempo em que era uma camponesinha descarada
1
artifícios; 2 prostração, doçura; que dançava debaixo de aveleiras em flor. Ri facilmente e, ao menor pretexto,
3
descuido; 4 frescura, pujança;
5
tira os sapatos, prende as saias com a mão, parte outra vez ao encontro da sua
decai, corrompe(-se).
natureza que aceita mal a convenção e os arrebiques1. Tem o latim por pai, é cer-
5 to, mas um pai com barba vagabunda, alheio à higiene e às declinações. Herdou
das mouras uma certa languidez2, essa demora no olhar que indica a predispo-
sição para o descuido nos pormenores mais práticos da vida. Atravessou-a o es-
pírito dos Celtas. Está visto que haveria de nascer versejante e com algum defeito
de maneiras. Creio eu que, como em todas as moçoilas, lhe resulta o desleixo3
10 em sedução. […]
Mesmo no grande épico lusíada, vemos Camões a rir daquele marinheiro, Ve-
loso de seu nome, que desceu em muito menos tempo do que o tinha subido um
outeiro que escondia nativos assanhados. Por efeitos de história e crescimento,
civilizou-se um pouco, entrou na corte, fez vénia às muitas modas chegadas do
15 estrangeiro. […]
Grandes amores teve ela com Mestre Gil Vicente e foi esse um enlace sem
igual na duração e na intensidade, e, mais, em nunca um do outro se enjoarem,
antes encherem de apalpões e viço4 as deprimidas salas palacianas. […]
Saiu para além do mar com os marinheiros, mas não entendeu nada do Im-
20 pério. O que quis foi dançar e misturar-se. Enquanto eles degolavam e ofen-
diam, ela deitou-se na frescura das palhotas e gerou promissoras combinações
da espécie. Enquanto a missa e a lei teimavam no latim, ela, a menina do desca-
ramento, espalhava as filhas pelo mundo fora, numa alegre e opulenta semen-
teira. Abriu os braços a fonemas e a deuses que eram até então estrangeiros e
25 hostis mas nela se deixaram docemente fundir.
Enquanto a nobreza degenera5, por secagem do sangue e doçarias, a nossa
mocetona continua trocando afeto em terras de África e Brasil, tomando e ofere-
cendo, e outro não é o segredo da sua juventude. Menininha que eu vi nas mãos
do Mia Couto, a rir da brincadeira que era uma flor rodando pelos ares abaixo.
30 Menininha que disse estar bem e estar feliz.
in https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/outros/antologia/menina-e-moca-/616
(consultado em janeiro de 2017).

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.9, selecione a opção que lhe permite
obter uma afirmação correta.

1.1 No primeiro período textual, a autora evoca


[A] as origens camponesas do Português.
[B] o lirismo trovadoresco, nomeadamente as cantigas de amigo.

[C] a origem latina da língua portuguesa.

62
1.2 Com a frase “Atravessou-a o espírito dos Celtas” (ll. 7-8), Hélia Correia faz referência a
[A] um substrato da língua portuguesa.
[B] um superstrato do Português.
PROFESSOR
[C] uma língua posterior ao galaico-português.
GRUPO II
1.3 No primeiro parágrafo, a autora pretende, através da personificação, evidenciar
Leitura
[A] a naturalidade e a espontaneidade da língua portuguesa. 7.1; 7.2; 7.6; 8.1

[B] o caráter rude e sujo da camponesinha, herdado de seu pai. 1.1 [B]
1.2 [A]
[C] a sedução alegre que herdou das mouras.
1.3 [A]
1.4 [C]
1.4 No segundo parágrafo, assiste-se a uma evolução da língua portuguesa decorrente 1.5 [C]
1.6 [B]
[A] da influência da poesia lírica de Camões. 1.7 [A]
1.8 [C]
[B] do episódio de Fernão Veloso.
1.9 [B]
[C] do seu contacto com a cultura palaciana.
Gramática
18.1
1.5 No penúltimo parágrafo, assistimos
2.1 Sujeito subentendido “ela”.
[A] ao nascimento das variantes regionais africanas.
2.2 Comparação.
[B] à importância do ensino do latim, regulado por lei. 2.3 Complemento direto.

[C] à disseminação do português pelos continentes africano e sul-americano.

1.6 No último parágrafo, a autora prossegue com o recurso à


[A] enumeração das qualidades da nobreza.
[B] personificação da língua portuguesa.

[C] enumeração das trocas comerciais entre África e o Brasil.

1.7 Na frase “Enquanto eles degolavam e ofendiam” (ll. 20-21), existe um pronome
[A] pessoal que é sujeito simples.
[B] indefinido que é sujeito indeterminado.
[C] pessoal que é sujeito composto.

1.8 O conector “Enquanto” (l. 20) é uma conjunção subordinativa


[A] causal.
[B] final.
[C] temporal.

1.9 Em “ela deitou-se na frescura das palhotas” (l. 21), as expressões sublinhadas cor-
respondem respetivamente
[A] ao complemento direto e ao complemento indireto.
[B] ao complemento direto e ao complemento oblíquo.
[D] ao complemento indireto e ao complemento oblíquo.

63
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Poesia Trovadoresca

PROFESSOR 2. Responda aos itens apresentados.

GRUPO III 2.1 Indique e classifique o sujeito sintático da frase “Tem o latim por pai” (l. 4).

Escrita 2.2 Identifique o recurso expressivo presente em “como em todas as moçoilas” (l. 9).
10.1; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
12.4; 13.1 2.3 Refira a função sintática desempenhada por “Grandes amores”, presente no início
do terceiro parágrafo.
Proposta de resolução:
Introdução: origem da
cantiga de amigo associada GRUPO III
aos primórdios da nossa
nacionalidade, num contexto
cultural e social muito Redija um texto expositivo, de 150 a 250 palavras, numa linguagem clara, objetiva e
diferente do da atualidade. precisa, onde apresente as principais diferenças entre as relações amorosas retrata-
Desenvolvimento: das na poesia trovadoresca e as vividas pelos jovens na atualidade.
Parágrafo 1
– Motivos da infelicidade
amorosa da donzela – Para isso, comece por completar o seguinte plano de texto, elaborando os tópicos
ausência do amigo devido à relativos a cada uma das partes.
guerra; não correspondência
amorosa. · Introdução: as relações amorosas na Idade Média e no século XXI.
– Dificuldades de
comunicação com o amado, · Desenvolvimento: parágrafo 1 - …
o que leva à confidência
amorosa com a Natureza, a parágrafo 2 - …
mãe e as amigas. –…
Parágrafo 2
– Facilidade de comunicação · Conclusão: fecho do texto, sintetizando os principais aspetos referidos.
na atualidade – telemóvel,
redes sociais, que encurtam
as distâncias.
– Locais de encontros
amorosos diferenciados: as
fontes, as romarias, os bailes
da Idade Média por oposição
aos espaços partilhados pelos
jovens de hoje em dia (escola,
festas, discotecas…) e aos
locais de encontro virtuais.
Conclusão: as relações
amorosas estão sujeitas às
condicionantes específicas da
época histórica.

64
MÓDULO

2. Fernão Lopes
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Crónica de D. João I
• Excertos dos capítulos 11, 115 e 148 da 1.a Parte
Leitura
Exposição sobre um tema
Escrita
Síntese
Exposição sobre um tema
Oralidade [Comprensão/Expressão Oral]
Documentário [Comprensão do Oral]
Síntese [Expressão Oral]
Gramática
Sintaxe [Aprender/Aplicar]
• Processos fonológicos
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

1380-90 1383-85 1443 1453 1460


Nascimento do cronista Crise política portuguesa Redação Queda do Império Morte de Fernão
Fernão Lopes da Crónica de Romano no Oriente – Lopes
1385 — Aclamação de D. João I
El-Rei D. João I fim da Idade Média
como rei de Portugal /
por Fernão Lopes
Batalha de Aljubarrota

A Idade Média, o seu “historiador” Fernão Lopes e a evolução da língua portuguesa.

Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender as transformações que ocorrem nes-
ta época, bem como o autor que irá ser objeto de estudo.

A nação portuguesa • Uma nova nobreza, constituída por burgueses nobilita-


e a evolução da língua dos ou por filhos segundos das casas nobres, que recebem
terras e poder económico, e que se instala no centro e no sul
• A separação definitiva entre o galego e o português do país, sucede à anterior.
ocorreu a partir do século XV, período em que se deram gran- Elaborado a partir de Ivo Castro, Introdução à história
des alterações sociais e políticas. do português [2004], 2.a ed., revista e muito ampliada,
• O processo de evolução da língua foi influenciado: Lisboa, Colibri, 2006, pp. 76-77.
5 – pela peste negra que dizimou provavelmente grande parte
da população adulta, originando um salto de gerações; Fernão Lopes, um intérprete fiel
– pelas guerras entre D. Fernando e de D. João I de Castela, da mudança política
que perturbaram o equilíbrio político;
– pela mudança da corte para Lisboa que se torna a capital • Ao chegar a crise de 1385, o povo português estava já na
10 do país. posse de uma consciência da sua própria identidade, rea-
gindo, por isso, violentamente contra a ameaça de absorção
A crise dinástica e uma nova dinastia
por parte de outro Estado (Castela).
apoiada por uma nobreza renovada 5 • Fernão Lopes compreendeu perfeitamente o signifi-
• A nobreza da primeira dinastia, que tinha ajudado cado dos acontecimentos que envolveram essa tomada
D. Afonso Henriques e os seus descentes a fundar o reino e a de consciência e elegeu o povo como protagonista da Cró-
governá-lo durante séculos, toma o partido de D. Beatriz, nica de D. João I.
filha de D. Fernando, rainha de Castela e herdeira legítima do Elaborado a partir de Maria Leonor Carvalhão Buescu, Apontamentos
de Literatura Portuguesa, Porto, Porto Editora, 1993, p. 38.
15 trono, o que resultou na perda da guerra e do poder.

66
PARA INICIAR

EXPRESSÃO ORAL

Observe as imagens apresentadas.


LEGENDA DAS IMAGENS

A. D. João I de Portugal,
c. 1435, Museu Nacional
de Arte Antiga.
B. Dom Nuno Álvares Pereira,
c. 1841, Charles Legrand
(primeira metade do
século XIX), Biblioteca
Nacional de Portugal.
C. Fernão Lopes (pormenor),
Painéis de São Vicente
de Fora, c. 1470, Nuno
Gonçalves, Museu Nacional
de Arte Antiga.
D. A Batalha de Aljubarrota,
Jean de Wavrim (séc. XV),
Crónicas de Inglaterra,
A D. João I, Mestre de Avis. c. 1470-1480.
E. Cerco de Lisboa (1384),
Crónicas de Jean Froissart,
séc. XV.
D Batalha de Aljubarrota.
NOTA AO ALUNO
Quando se faz uma
pesquisa, convém que
a informação a que
se tem acesso prime
pela qualidade, pelo que
é premente que haja
espírito crítico
na seleção das fontes.
Assim, não só é
B Nuno Álvares Pereira. importante recorrer
a obras ou sítios de
Internet fidedignos como
também é necessário
confrontar a informação
obtida com outras fontes,
de modo a assegurar
a sua autenticidade.
A título de exemplo, para
o trabalho que se propõe,
sugerem-se as seguintes
fontes:
• Giulia Lanciani
e Giuseppe Tavani
(coor.), Dicionário da
literatura medieval galega
C Fernão Lopes. E Cerco de Lisboa.
e portuguesa, Lisboa,
Editorial Caminho, 1993,
pp. 180-182 [Crónica
Realize, em grupo, uma pesquisa, numa enciclopédia, num manual de História, na In- de D. João II] e pp. 271-
-274 [Fernão Lopes].
ternet ou noutro suporte, sobre a individualidade ou o acontecimento retratado em
• Teresa Amado, Fernão
cada uma das imagens (cada grupo debruçar-se-á sobre uma imagem). Lopes, contador de
História, Lisboa, Editorial
1. Apresente à turma, em 2-3 minutos, uma síntese das informações recolhidas Estampa, 1991.
e mais pertinentes. • Fundação Batalha
de Aljubarrota, disponível
2. Discuta, em trabalho de pares, a relação que se pode estabelecer entre as várias em http://www.
fundacao-aljubarrota.pt/
imagens.

67
Fernão Lopes
PARA DESENVOLVER

COMPREENSÃO DO ORAL

Proceda à audição atenta de um registo áudio sobre Fernão Lopes.

1. Com base no conteúdo das colunas A e B, forme nove afirmações verdadeiras sobre
a vida e obra do autor.
PROFESSOR

Oralidade
Coluna A Coluna B
1.6; 2.1; 2.2; 3.1; 3.2; 4.1;
4.2; 5.2; 5.3; 6.2; 6.3
[A] Esteve ao serviço do reino português [1] foi escrivão dos livros de D. João I.
Expressão Oral (p. 67) durante dois reinados e uma regência,
[2] a assessorar o infante D. Fernando, como
1. e 2. respetivamente,
A imagem C representa “escrivão da puridade”.
Fernão Lopes, autor da [3] das Crónica de D. Pedro, Crónica
Crónica de D. João I, sobre o [B] É autor
respetivo monarca (imagem de D. Fernando e Crónica de D. João I.
A), que foi aclamado rei de [C] A sua vida pública está documentada
Portugal depois da morte [4] surge pela primeira vez como tabelião-
a partir de 1418,
de D. Fernando e durante -geral do reino.
a crise de 1383-1385. Nessa [D] Em 1419
mesma crónica, são episódios [5] o de D. João I, o de D. Duarte e a do
como o do cerco de Lisboa infante D. Pedro.
(imagem E), levado a cabo [E] A partir de 1422, dedicou-se também
pelos castelhanos, bem como [6] é uma das fontes fundamentais
o da Batalha de Aljubarrota
(imagem D), no qual se [F] Em 1437 da biografia de Fernão Lopes.
destaca a figura de D. Nuno [7] quando foi primeiramente nomeado
Álvares Pereira (imagem B),
mentor da estratégia que
[G] Em 1454, foi substituído nas suas guarda das escrituras do Tombo, como
conduziu os portugueses funções escrivão dos livros do infante D. Duarte.
à vitória e que, durante toda
a crise, esteve ao lado [H] A carta datada de 1434, da [8] por Gomes Eanes de Zurara, talvez
de D. João, Mestre de Avis. por doença ou velhice.
responsabilidade de D. Duarte,
[9] para que escreva as crónicas dos reis
[I] Nessa mesma carta, o rei D. Duarte da primeira dinastia portuguesa até
Vídeo concede ao cronista 14 mil reais ao reinado venturoso de D. João I.
Fernão Lopes – vida e obra

1.
[A] – [5]
[B] – [3]
[C] – [7]
[D] – [1]
[E] – [2]
[F] – [4] EXPRESSÃO ORAL
[G] – [8]
[H] – [6]
Sintetize, oralmente, em 2-3 minutos, os aspetos
[I] – [9]
mais significativos da vida e da obra de Fernão
Lopes, baseando-se nas informações recolhidas
no documento áudio e no exercício realizado an-
teriormente.

Planifique o seu texto numa perspetiva cronológica.

Crónica d'El-Rei D. João I com iluminura da vista


de Lisboa do século XV, Torre do Tombo.

68
Crónica de D. João I

LEITURA

D. João I é figura central da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.

Leia o texto seguinte, que apresenta alguns aspetos biográficos deste monarca portu-
guês. Responda, depois, aos itens propostos.
PROFESSOR

Leitura
7.1; 7.4; 7.6; 8.1
Educação Literária
D. João I 16.1

a.
No ano de 1357 nasce D. João, mais um filho ilegítimo do infante D. Pedro. Ascende, ain- 1357 e 1413 (14 de agosto).
da criança, a Mestre de Avis e, liderando a ordem e frequentando a corte, atravessará os b. Filho ilegítimo do infante
D. Pedro.
governos de seu pai e de seu irmão D. Fernando. Após a morte deste monarca (1383), os c. Mestre de Avis, regedor
acontecimentos precipitam-se e diversas forças sociais guindam-no1 a um protagonismo e defensor do reino e rei de
Portugal.
5 político que fará dele regedor e defensor do reino e, finalmente, rei de Portugal, nas Cortes d. 1385.
de Coimbra de 1385. Desde logo, com os apoios certos e tendo como braço armado Nuno e. Em 1387, com D. Filipa de
Lencastre.
Álvares Pereira, vai submetendo opositores e combatendo os Castelhanos, dentro e fora do
f. Guerra com Castela,
reino, numa sequência de guerras que só cessarão com a assinatura de paz em 1411. Então, assinatura da paz em 1411,
nascida que já era uma vasta prole2 do seu casamento com D. Filipa de Lencastre em 1387, conquista de Ceuta.
g. Justo, vitorioso, devoto e
10 e consolidada uma corte, D. João governará apoiando-se na sua linhagem e em fiéis vassa- culto.
los. Conquista Ceuta em 1415, uma vitória sobre os infiéis que lhe garante fama em toda a
cristandade. […]
D. João morre a 14 de agosto de 1413, ao fim de um longo reinado de 48 anos, e foi se-
pultado no Mosteiro da Batalha, marco real e simbólico da sua vitória real. Consagra-se
15 em mito de rei guerreiro fundador de uma nova dinastia, que na visibilidade da Capela do
Fundador, panteão fúnebre de Avis, se projeta em memória aristocrática de uma prestigia- 1
conduzem-no, dão-lhe
2
da linhagem e de uma realeza sacralizada. As metamorfoses3 iniciais da ascensão política descendência
3
do Mestre suscitaram diferentes e contraditórias leituras de historiadores, mais luminosas mudanças, etapas

umas, mais sombrias outras. Já como monarca, D. João veio a acolher e a recolher, para
20 além da morte, uma “boa memória” de rei justo, vitorioso, devoto e culto, que pela voz dos
povos foi proclamado pai dos Portugueses.

Maria Helena da Cruz Coelho, D. João I, "Reis de Portugal", Círculo de Leitores, 2005, texto da contracapa.

1. Construa o retrato de D. João I, preenchendo a tabela seguinte com informações


retiradas do texto.

Feitos
Nascimento Início do
Ascendência Títulos Casamento guerreiros e Qualidades
e morte reinado
políticos

a. b. c. d. e. f. g.

69
Fernão Lopes

E S C R I TA

SÍNTESE

Leia atentamente o texto que se segue.

Fernão Lopes – o historiador


Fernão Lopes é, ainda hoje, muitas vezes imaginado como o “pai” da historiogra-
1.O Parágrafo fia portuguesa. Já Lindley Cintra demonstrou, porém, que esta nasceu no reinado de
O pai da historiografia
portuguesa é o conde
D. Dinis (isto é, na 1.a metade do século XIV), em resultado de um notável esforço de
D. Pedro de Barcelos imitação da historiografia castelhana, e tem no conde D. Pedro de Barcelos o autor dos
(Livro de Linhagens e seus primeiros textos fundamentais: o Livro de Linhagens e a Crónica de 1344. Cerca
Crónica de 1344), apesar 5
de muitos crerem ser de três quartos de século mais tarde, Lopes inscreve-se nesta tradição, sendo aliás a
Fernão Lopes. Este segue Crónica de 1419 um excelente testemunho dessa realidade. Com ele, consolidar-se-á
a tradição (Crónica de
1419), mas provocará
uma nova fase na evolução da nossa historiografia: aquela que garante a transição do
uma evolução na nossa estilo do “memorial” ou do “cronicão” para o estado de “crónica”. A simples anotação
historiografia, que se do acontecimento, por vezes apenas conhecido pela tradição oral e registado sem
tornará mais complexa, 10
de narrativa ordenada demasiada preocupação de rigor, cede definitivamente o lugar a uma narrativa orde-
cronologicamente, mais nada (diacronicamente), de estrutura e apresentação internas muito mais complexas
rigorosa e baseada em
fontes diversificadas. e apurada no manuseamento de materiais informativos muito diversificados.
2.O Parágrafo Creio […] que ao estilo de trabalho e à própria conceção de história de Fernão Lopes
A situação profissional não será manifestamente estranha a sua condição profissional. [...] A sua contribuição
do cronista – 15
conservador durante 36 mais importante para o desenvolvimento da historiografia na Europa deve em grande
anos da Torre do Tombo – parte atribuir-se ao estreito contacto que manteve com a Torre do Tombo, do qual
permitiu-lhe o acesso a
muitos e diversificados foi conservador durante 36 anos […] [e daí] a reconhecida utilização, pelo cronista, de
documentos. uma vasta gama de documentos [...].
3.O Parágrafo Em primeiro lugar, e inevitavelmente, as fontes narrativas, [...] o grande alimento
20
Recorreu a fontes
diversas: as narrativas, das Crónicas. [...] A par das fontes narrativas, Fernão Lopes utilizou também [...] fontes
as de natureza de natureza diplomática e arquivística. [...] Por fim, parece-me ser pertinente agrupar
diplomática e
num terceiro bloco um conjunto de outros testemunhos [...] nomeadamente, memó-
arquivística e a um
conjunto de outros rias dispersas [...], informações orais, elementos lendários e tradicionais, representa-
testemunhos (memórias ções artísticas e até epitáfios.
dispersas, informações 25

orais, entre outros). [...] Fernão Lopes é um escritor ao serviço do poder e dele inteiramente dependente,
4.O Parágrafo do ponto de vista económico e profissional. [...] Quer isto dizer que a própria existência
É um escritor ao serviço
do poder e, por isso, tem do escritor só se justificava em função da utilidade de que este se pudesse revestir para
de ser útil para os que o o meio que o acolhia e remunerava. [...]
remuneravam.
30
Lopes pretendeu, sobretudo, justificar os acontecimentos verificados em Portugal
5.O Parágrafo
A sua principal missão
em 1383-1385, tanto no plano das suas ocorrências específicas como (e fundamental-
consistia em justificar mente) no das grandes decisões dali decorrentes. Com isso, visava, bem entendido,
os acontecimentos legitimar o comando político vigente na primeira metade do século XV! [...]
ocorridos entre 1383--
1385 e legitimar o poder Competiu a Fernão Lopes, cerca de meio século depois (e, recorde-se, por enco-
vigente na primeira
metade do séc. XV. 35
menda expressa de D. Duarte, mais tarde confirmada pelo infante D. Pedro), transfor-
6.O Parágrafo mar em legítimo o ilegítimo.
É a pedido de D. Duarte e João Gouveia Monteiro, Fernão Lopes, texto e contexto, Coimbra,
do Infante D. Pedro que o Minerva, 1988, pp. 85-88 e 114-116 (adaptado).
cronista transforma em
legítimo o ilegítimo.

70
Crónica de D. João I

Recorde os passos para elaborar uma síntese, tendo em conta as três fases essenciais:
fase preparatória, fase da redação e fase da revisão.

COMO ESCREVER UMA SÍNTESE

1. Fase preparatória
• ler para apreender a estrutura e o sentido global do texto;
• sublinhar as ideias/os factos essenciais e subjacentes à progressão textual (eliminan-
do repetições, pormenores, exemplificações, …);
• selecionar vocabulário ou expressões-chave;
• assinalar conectores ou articuladores que ligam frases entre si, estabelecendo rela-
ções de semelhança, de contraste/oposição, de anterioridade ou de posterioridade,
causa, etc.;
• registar, à margem do texto, a ideia central de cada parágrafo.
2. Fase da redação
• utilizar uma linguagem própria;
• respeitar as ideias do texto, não obrigatoriamente pela ordem de apresentação;
• evitar a colagem ao texto de partida;
• eliminar pormenores desnecessários;
• substituir sequências textuais por outras mais económicas;
• inserir juízos de valor, comentários.

Exemplificação

Fernnão Lopes,
Fernão Lopo es, nã
nãoão sesend
ndo
nd
sendo o o pap
paii da h isto
is t ri
to r og
ogra
rafi
ra
historiografia f a Po
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Efetivamente,
Efetivi am
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L vrvroo de Linhagens)
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esta nasce. nas
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Co ntu
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do,
d , Lope
do Lopes,s embora
p s, emb o a siga
bor s gaa a tradição,
si tra
radi
diçã
ção,
çã o, provocará
proovo
vocacará
ca rá uma
uma evolução
evo
v lu
luçã
ção
çã o na
n nossa
nos
ossasa historiografia,
his
isto
tori
to riog
ri ogra
og raafia que
f a, que se se
tornaráá ma mais
m iss ccomplexa
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om p exxa na cconstrução
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narrativa
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(obedecendo
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cronologia),
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ologia
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ia ), mmais
aiss ri
ai rigorosa,
igo
gororo
osa
s ,
5 porque
poorqquee baseada
bas e daa eem
asea m foffontes
ntes
ntes ddiversificadas:
ivver
e si
s fi
f ca
cadadas:
da narrativas,
s ass na
n rrat
rr ativ
at ivas
iv as,, as d
as dee na
natureza
natuture
tu reza
re za ddiplomática
iplo
ip lomá
lo máti
má tica
ti ca e aarqui-
rqui
rq ui-
vística
vííst outros
utrros ttestemunhos.
s icaa e outr
ou esteemunhoss. Te
es Terr ex
T exercido
xerci d ffunções
c do unçõ
un ções
çõ ess nnaa To
Torre
orr
r e do T Tombo
ombo
om bo ffacilitou-lhe
acilililit
ac itou
it ou-l
ou h o aacesso
-lhe
-l he cess
ce ssso
a es ssaas fo
essas font
ntesess. Po
fontes. P réém, não é cronista
Porém, croonists a isento
issen
e to o pois
poi
o s está
está aoao serviço
seerv
rviç
içço de D. D. Duarte
Duar
Du arte
ar te e d doo in
infa
fant
fa ntee
nt
infante
D Fernando,
D. Fer
e na
n nd o que
ndo, incumbiram
que o incumbi r m dee legitimar
b ra legitim
imar
im ar o p poder
der vigente,
od vig
i en
ig entete, consequente
te c ns
co n eq equeuent
ue ntee dos
nt do os acontecimen-
acon
ac onnte
teci
c me
ci men n-
tos ocorridos
o ridos entre 1383-1385).
ocor
oc 1383-138 3 5)
5.
(111
(1 11 palavras)
palavr
pal avras)
avras))

3. Fase da revisão
• verificar a articulação lógica das ideias (coerência) e a gramaticalidade da escrita
(coesão);
• corrigir falhas ao nível da ortografia, da acentuação, da pontuação, da sintaxe e da
seleção do vocabulário;
• respeitar a extensão textual indicada, normalmente correspondente a um quarto do
texto de partida, ou seja, um texto de 400 palavras poderá originar uma síntese de 100.

71
Fernão Lopes

LEITURA

Leia o texto de natureza expositiva a seguir apresentado, no qual se retoma a questão


da crise dinástica em Portugal descrita por Fernão Lopes, e responda às questões da
página seguinte.

A maior das vitórias


Por Luís Almeida Martins

por Nuno Álvares Pereira, um elemento da pequena no-


breza, amigo do Mestre de Avis, e na altura nomeado
25 Condestável, ou seja, comandante supremo das tropas.
Entretanto, outro exército castelhano cercava Lisboa,
que se defendeu como pôde. Uma terceira invasão en-
trou pela Beira Alta, mas foi travada em julho de 1385
perto de Trancoso.
30 As coisas estavam a correr bem para as cores nacio-
nais. E pode mesmo falar-se de cores nacionais, porque
nessa altura já o Mestre de Avis fora aclamado rei de Por-
tugal nas Cortes de Coimbra, com o nome de D. João I. […]
Mas se a revolução de 1383, um verdadeiro movi-
35 mento social da burguesia e do povo, unidos contra a
Batalha de Aljubarrota, Jean de Wavrin (séc. XV), in Crónicas
de Inglaterra, c. 1470-1480. nobreza, fora bem sucedida, a guerra contra Castela
estava longe de se encontrar ganha.
O casamento, em 1383, da filha única de D. Fernando, No verão de 1385, Juan I de Castela entrou pessoal-
“O Formoso”, com o rei Juan I de Castela pôs em perigo mente em Portugal à cabeça de um grande exército de
a independência de Portugal. Com efeito, quando nesse 40 32 mil homens. Toda a nobreza do seu país fazia parte
mesmo ano o soberano português morreu, o castelhano dele e muitos cavaleiros franceses (aliados de Castela)
5 achou-se com direitos à coroa do nosso país − e legal- também. [...] Os invasores traziam consigo 16 canhões,
mente tinha razão. coisa que por cá nunca se vira.
Foi então que, enquanto a maior parte da nobreza Ao encontro dessa imponente máquina de guerra
lusa apoiava o pretendente estrangeiro, a burguesia e o 45 partiu uma pequena hoste portuguesa de 6 mil ho-
povo se revoltaram, pois não queriam ser governados mens, comandada por Nuno Álvares Pereira. [...]
10 por um castelhano. Existia já então um claro sentimen- Ao terem conhecimento de que os invasores se
to nacional. Houve, assim, um levantamento popular encontravam perto de Leiria, os nossos resolveram en-
em Lisboa e gerou-se uma grande confusão de norte trincheirar-se num terreno que lhes pareceu adequado
a sul. Sob a orientação da burguesia mercantil, D. João, 50 para travar batalha. Era um planaltozinho próximo de
o Mestre da ordem de Avis, foi eleito nas ruas Regedor e Aljubarrota, e ali cavaram uns buracos-armadilha (as
15 Defensor do Reino, e uma das primeiras coisas que fez covas de lobo). Os castelhanos acharam preferível con-
foi assassinar o Conde de Andeiro, amante da rainha tornar o planalto e lançar o ataque num ponto onde o
viúva Leonor Teles e partidário dos castelhanos. declive era menos acentuado. Mas era exatamente o
E foi no meio disto tudo que Juan de Castela deci- 55 que os portugueses esperavam: alteraram o seu posi-
diu invadir Portugal para se apoderar do trono a que se cionamento e, aproveitando as defesas construídas
20 achava com direito. Um exército entrou pela fronteira durante a noite, aguardaram a pé firme o impetuoso
do Alentejo, mas, a 6 de abril de 1384, foi derrotado em ataque da cavalaria inimiga, lançado quando o sol já
Atoleiros (Portalegre) pelos portugueses comandados declinava.

72
Crónica de D. João I

60 A batalha resolveu-se numa hora e saldou-se pela importunado pela ambição expansionista de Castela e se
derrota dos castelhanos e dos franceses, que debanda- pôde dedicar em paz à sua própria ambição expansionista −
ram em desordem. Muitos fugitivos foram chacinados esta para outros continentes. Haveria pois todos os motivos
pela população da zona. […] e mais um para que 14 de agosto fosse feriado nacional.
Portugal garantiu assim a independência, com D. João I
Visão, edição online, 26 de dezembro de 2011
65 no trono. Foi graças a esta vitória que Portugal deixou de ser (adaptado, consultado em dezembro de 2017).

1. Selecione a alternativa que completa corretamente o sentido de cada afirmação. PROFESSOR

1.1 O assunto que domina o texto relaciona-se com Leitura


7.1; 7.4; 7.6; 8.1
[A] a crise política vivida em Portugal no século XIV.
[B] o casamento da filha de D. Fernando, D. Beatriz. 1.1 [A]
1.2 [C]
[C] o sentimento popular após a morte de D. Fernando.
1.3 [B]
[D] a crónica de Fernão Lopes sobre Leonor Teles. 1.4 [A]

1.2 A invasão de Portugal pelo rei de Castela estava fundamentada Escrita


11.1; 12.1; 12.3; 12.4
[A] na legitimidade do sucessor português.
[B] no sentimento nacional de independência. Luís Martins refere que o
casamento de D. Beatriz
[C] na legitimidade conferida pelo casamento. com o rei de Castela, que
se considerava herdeiro da
[D] na vontade dos portugueses e dos castelhanos. coroa portuguesa, ameaçou
a independência de Portugal.
1.3 O pretendente castelhano ao trono português era apoiado Porém, enquanto parte da
nobreza lusitana o apoiava,
[A] pela nobreza e pela burguesia. o povo e a burguesia
revoltaram-se contra
[B] por parte da nobreza lusitana. a governação castelhana,
com várias subversões em
[C] pelo povo e pela burguesia. todo o país. O Mestre de Avis,
sob orientação da burguesia,
[D] por todos os burgueses castelhanos. empreendeu o assassinato
do conde Andeiro. Neste clima,
1.4 A ideia defendida pelo autor no final do texto é a de que D. Juan invadiu Portugal para
se apoderar do trono, mas foi
[A] o dia 14 de agosto deveria ser feriado nacional. derrotado em Atoleiros pelos
portugueses liderados por
[B] devemos a D. João I a nossa independência. Nuno Álvares. Entretanto, outro
exército castelhano invadia
[C] teria sido preferível a vitória dos castelhanos. Lisboa e uma terceira invasão
iniciou-se pela Beira Alta.
[D] sem a vitória lusa não haveria Descobrimentos. A guerra estava longe do
fim. Então, D. Juan invadiu
Portugal com um forte exército.
Para o travar, um grupo de
portugueses, comandando por
Nuno Álvares, dirigiu-se para
Leiria, fixando-se num planalto
E S C R I TA próximo de Aljubarrota,
e reprimiu o ataque inimigo.
Deste modo, os portugueses
Sintetize o texto anterior em cerca de 150 palavras. garantiram a independência.
(148 palavras)

BLOCO INFORMATIVO – p. 283


MANUAL – pp. 70-71

73
Fernão Lopes

PROFESSOR COMPREENSÃO DO ORAL

Visione e escute atentamente um excerto do


Link
"Conta-me História" programa Conta-Me História, da RTP, sobre a
fase da História retratada por Fernão Lopes
Oralidade na Crónica de D. João I.
1.1; 1.4

1.
1. Assinale como verdadeiras ou falsas as
a. V afirmações seguintes. Corrija as falsas.
b. F – D. Fernando já tinha
morrido na altura da batalha a. A batalha de Aljubarrota surge na se-
de Aljubarrota, cujos quência da crise política de 1383-1385.
principais protagonistas Conta-me História,
foram D. João, Mestre de Avis, RTP
b. Um dos protagonistas da batalha de
e Nuno Álvares Pereira.
c. V Aljubarrota foi o rei D. Fernando.
d. F – Foi durante toda
a primeira dinastia que isso c. A crise política portuguesa é também fruto da crise social e económica que de-
aconteceu. flagrava na Europa.
e. F –Entre D. Fernando
e D. João de Castela. d. É sobretudo no reinado de D. Fernando que Portugal atinge crescimento em ter-
f. F – A sua avó.
g. F – Por ser amante do Conde
mos geográficos, económicos e demográficos.
Andeiro. e. Na sequência das guerras fernandinas, foi assinado o Tratado de Salvaterra de Ma-
h. F – Havia também a
possibilidade de ascender gos entre D. Fernando e Henrique II de Castela.
ao trono o infante D. João de
Portugal, o outro meio-irmão f. Em caso de morte de D. Fernando, e se o príncipe herdeiro não tivesse ainda ida-
de D. Fernando e que se de suficiente para assumir o trono, ficaria como regente de Portugal a sua mãe.
revelava como o herdeiro mais
legítimo por ser filho de g. O povo odiava D. Leonor Teles sobretudo pelos maus conselhos dados a D. Fer-
D. Inês de Castro, ao passo
que D. João, Mestre de Avis,
nando nas questões políticas que envolviam Portugal e Castela.
era fruto de uma relação de
D. Pedro com a aia, Teresa
h. D. João, Mestre de Avis, revela-se como a única alternativa legítima ao Tratado de
Lourenço. Salvaterra de Magos.
i. V
j. V i. O infante D. João de Portugal fugiu para Espanha, depois de ter assassinado a mu-
k. F – Parte da nobreza lher, na expectativa de aceder ao trono.
apoiava D. Leonor Teles,
apesar de a sua regência j. O povo acreditava que D. Leonor Teles estava envolvida no assassinato da irmã.
colocar em causa a
independência nacional. k. Parte na nobreza apoioava D. Leonor Teles por considerar que esta asseguraria
l. F – Havia também uma parte
da nobreza portuguesa que
a independência nacional.
apoiava D. João.
m. V
l. Os únicos apoiantes do Mestre de Avis eram oriundos do povo.
n. F –Inicialmente o Mestre de m. D. Nuno Álvares Pereira assume-se como o paradigma das virtudes da arte militar.
Avis hesitou, perante o plano
traçado por Álvaro Pais, mas, n. Álvaro Pais apresentou o seu plano ao Mestre de Avis e este aprovou-o de ime-
depois, acabou por aceitá-lo.
diato.
Escrita
10.2; 11.1; 12.1;
12.2; 12.3; 12.4; 13.1

Tópicos:
E S C R I TA
Introdução: Crise de 1383-
-85, identificada como uma
crise dinástica, dado que Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, baseando-se nas informações re-
Portugal estava sem sucessor colhidas a partir do visionamento do documentário. Siga as seguintes orientações.
ao trono e na iminência de vir
a ser governado por um rei
castelhano. • Introdução: identificação do assunto.
• Desenvolvimento: − duas causas da crise dinástica;
− movimentações em prol do rei castelhano e do Mestre de Avis.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
MANUAL – pp. 26-27 • Conclusão: solução encontrada pela fação apoiante do Mestre.

74
Crónica de D. João I

INFORMAR
PROFESSOR
Leia os tópicos apresentados abaixo e resolva a atividade proposta.
Desenvolvimento: Duas
causas da crise: morte de
D. Fernando sem deixar
sucessor, estando a sua
Fernão Lopes e a Crónica de D. João I filha casada com D. João de
Castela; regência entregue
a D. Leonor Teles, viúva de
• Fernão Lopes é o autor da primeira e segunda partes da Crónica de D. João I. D. Fernando e amante do
conde Andeiro, que apoiava
• Nestas duas partes, assiste-se ao protagonismo da “comunal gente”, a arraia a causa castelhana.
miúda, ou seja, toda a população que, nas ruas e praças das cidades, se agita, se Movimentações em prol do
rei castelhano e do Mestre de
manifesta ruidosamente, sempre com extrema liberdade de linguagem e de atitu- Avis: uma parte da nobreza
5 des, a favor da causa nacional, sendo, no entanto, por vezes, manipulada. apoiava a rainha D. Leonor
Teles; o povo e alguns nobres
• Os sacrifícios desse povo unido são engrandecidos pelo cronista, sobretudo colocaram-se do lado do
Mestre de Avis, que tinha
nos capítulo 148, em que se relata o cerco de Lisboa, confundindo-se a população como apoiantes Álvaro Pais,
com a própria cidade. No entanto, Fernão Lopes não se inibe de relatar também a chanceler-mor do falecido rei
D. Fernando e Nuno Álvares
crueldade de uma multidão enfurecida noutros capítulos. Pereira.
10
• Para além das ruas e adros da cidade, os espaços interiores (câmaras do paço Conclusão: Solução
encontrada: matar o conde
real e dos castelos) também são cenário dos acontecimentos relatados, de jogos de Andeiro, movimentado o
conveniências pessoais e da ânsia de poder de D. Leonor Teles. povo para a defesa do Mestre,
anunciando o contrário – era
• Fernão Lopes, não se limitando apenas ao relato de feitos guerreiros, apre- o conde que matava o Mestre.
senta-nos, nesta crónica, uma larga visão de conjunto da época, em páginas em-
15
polgantes, que exibem o realismo visualista de uma reportagem, pois o narrador Leitura
7.2; 7.4
situa-se no próprio momento em que ocorrem os factos que narra. O recurso a
diversas sensações (visual e auditiva, principalmente) também contribui para esse 1
realismo descritivo. a. F – Relata outros factos,
tais como o fervor do povo
• O cronista dá vida a essas personagens, com a reconstituição de diálogos que (agitação) nas ruas, os seus
20 sacrifícios e as intrigas no
as caracterizam indiretamente, e revela também a sua subjetividade ao longo da paço.
narração dos factos, tecendo comentários, fazendo juízos de valor, recorrendo a c. F – É empolgante, vivo,
frases exclamativas e interrogações retóricas. sendo realista, com recurso
a sensações diversificadas
Maria Ema Tarracha Ferreira, Crónicas de Fernão Lopes, 2.a ed.,Lisboa, no relato dos factos.
Ulisseia, 1988, p. 13 e pp. 30-36 (adaptado).
d. F – Existem diálogos,
em discurso direto, que
caracterizam também
as personagens.
e. F – O cronista tece
1. Selecione das seguintes afirmações as que são falsas e proceda à sua correção. comentários pessoais,
expressa sentimentos,
a. Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes relata apenas as batalhas travadas pela emoções e juízos de
valor através de frases
conquista da independência nacional. exclamativas.
b. A força popular assume, nesta crónica, um lugar de destaque no desenrolar dos
acontecimentos.
c. O modo de narrar deste cronista é monótono e fantasista.
d. A caracterização das personagens envolvidas na ação é feita apenas pelo narra-
dor.
e. O cronista, enquanto narrador, adota sempre uma perspetiva objetiva sobre o
que relata.
f. Fernão Lopes também destaca no povo a sua agressividade.

75
Fernão Lopes
Afirmação da consciência coletiva | Atores (individuais e coletivos)

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia o excerto do capítulo 11 da Crónica de D. João I* e responda às questões que se seguem.

Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como


aló foi Alvoro Paaez1 e muitas gentes com ele.

O Page do Meestre que estava aa porta, como2 lhe disserom que fosse pela vila
segundo já era percebido3, começou d’ir rijamente a galope em cima do cavalo em
que estava, dizendo altas vozes, braadando pela rua:
– Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Mees-
5 tre que matam!
E assi chegou a casa d’Alvoro Paaez que era dali grande espaço.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando
de falar u~ us com os outros, alvoraçavom-se nas voontades4, e começavom de
tomar armas cada uũ como melhor e mais asinha5 podia. Alvoro Paaez que es-
10 tava prestes e armado com ũa coifa6 na cabeça segundo usança daquel tempo,
* FIXAÇÃO DE TEXTO cavalgou logo a pressa em cima du~ u cavalo que anos havia que nom cavalgara; e
Fernão Lopes, in Teresa
Amado (apresentação todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava dizendo:
crítica), Crónica de – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca7 filho é del-Rei dom
D. João I de Fernão Lopes Pedro.
(textos escolhidos),
ed. revista, Lisboa, 15 E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
Editorial Comunicação, Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom
1992 [1980].
o Meestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em
logo8 de marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u9
1
burguês bastante rico, padrasto
deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte. Alvoro Paaez nom
de João das Regras, que fora 20 quedava10 d’ir pera alá11, braadando a todos:
chanceler-mor dos reis D. Pedro – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
e D. Fernando; abandonou este A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer.
cargo com o pretexto de doença;
Nom cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando
mas, segundo Fernão Lopes,
ter-se-ia afastado da corte, cada uũ de seer o primeiro; e preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre,
envergonhado com a desonra 25 nom minguava12 quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez13, per
de D. Fernando, ocasionada pelo mandado da Rainha.
licencioso comportamento
E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom14 com talente15 de o vingar,
da rainha; tornou-se o chefe
da insurreição de 1383; como forom16 aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, com
2
quando; 3 combinado; espantosas palavras começarom de dizer:
4
alvoraçavom-se nas voontades: 30 – U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
revoltavam-se; 5 depressa; Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certefica-
6
parte da armadura que
defendia a cabeça; 7 porque;
vom que o Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as bri-
8
em lugar de; 9 onde; 10 não tassem17 pera entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
parava; 11 lá ; 12 não faltava; Deles18 braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços,
13
Conde João Fernandes 35 e queimar o treedor19 e a aleivos20. Outros se aficavom21 pedindo escaadas pera
Andeiro, nobre galego, amante
sobir acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam
da rainha e por ela nomeado
conde de Ourém; 14 todos feitos grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem determinavom neũa
duũ coraçom: todos animados cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles per
pela mesma coragem; u homeũs e molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha, outras
15
desejo; 16 como forom: logo 40 tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com
que chegaram; 17 arrombassem;
18
alguns deles; 19 traidor;
ela, dizendo muitos doestos22 contra a Rainha.
20 De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde Joam
adúltera; alusão a D. Leonor
Teles; 21 insistiam; 22 insultos Fernandez morto; mas isto nom queria neuũ creer, dizendo:

76
Crónica de D. João I

– Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.


45 Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez
se acendia mais, disserom que fosse sua mercee23 de se mostrar aaquelas gentes,
doutra guisa poderiam quebrar as portas, ou lhe poer o fogo, e entrando assi den-
tro per força, nom lhe poderiam depois tolher24 de fazer o que quisessem.
Ali se mostrou o Meestre a ũa grande janela que viinha sobre a rua onde estava
50 Alvoro Paaez e a mais força de gente, e disse:
– Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças!
E tanta era a torvaçam25 deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre era
morto, que taes havia i que aperfiavom26 que nom era aquele; porem conhecen-
do-o todos claramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam uũs
55 contra os outros:
– Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a alei-
vosa com ele! Creedes em Deos27, ainda lhe há de viinr alguũ mal per ela!. Oolhae e
veede que maldade tam grande, mandarom-no chamar onde ia já de seu caminho,
pera o matarem aqui per traiçom. Ó aleivosa! já nos matou uũ senhor, e agora nos
60 queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal d’acabar por estas cousas que faz.
E sem duvida se eles entrarom dentro28, nom se escusara a Rainha de morte, e
fora maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar. O Meestre
estava aa janela, e todos oolhavom contra ele dizendo:
– Ó Senhor! como vos quiserom matar per treiçom, beento seja Deos que vos
65 guardou desse treedor! Viinde-vos, dae ao demo esses Paaços, nom sejaes lá mais.
E em dizendo esto, muitos choravom com prazer de o veer vivo. Veendo el es-
23
tonce29 que neũa duvida tiinha em sua segurança, deceo afundo30 e cavalgou com que fosse sua mercee:
que se dignasse sua mercê
os seus acompanhado de todolos outros que era maravilha de veer. ( = o Mestre)
24
impedir
25
perturbação
26
1. Explique a importância do “Page do Meestre” no desenrolar da ação. juravam
27
tão certo como Deus existir
28
2. Refira os argumentos apresentados por Álvaro Pais para legitimar a defesa do Mestre. se eles entrarom dentro: se
eles tivessem entrado
29
então
3. Aponte o responsável pela morte do Mestre, na opinião do povo. 30
abaixo

4. Caracterize a Rainha aos olhos do povo, justificando a opinião deste último. PROFESSOR

5. Descreva a reação do povo ao aparecimento do Mestre à janela. Educação Literária


14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
6. Complete o texto com expressões textuais que comprovem o afunilamento do espaço. 14.7; 15.1; 15.2; 16.1

1. O facto de o pajem entrar


É evidente o afunilamento do espaço neste excerto, porquanto a ação se inicia nas em cena, exclamando
a.____________ e nos b.____________ por onde o pajem lança o pregão, se localiza, depois, que matavam o Mestre,
fez desenrolar todos os
nos c.____________ e, por fim, termina num espaço limitado, inacessível ao povo, uma acontecimentos.
d.____________, onde o Mestre faz a sua aparição, como se de um santo se tratasse. Na verdade, a mensagem por
si proferida mobilizou todo o
Fernão Lopes parece assumir aqui o papel de um repórter que vai acompanhando o povo de Lisboa e impeliu-o a
tumulto e o percurso da multidão até chegar ao local alvo das suas atenções. sair à rua. As suas palavras
fizeram também despertar
na população um sentimento
de revolta e de grande
BLOCO INFORMATIVO – pp. 278-279 animosidade em relação
àqueles que se assumiam
GRAMÁTICA como os protagonistas da
tentativa de assassinato do
1. Identifique os processos fonológicos ocorridos na evolução das seguintes palavras: Mestre de Avis. Por isso, o
povo muniu-se de armas e,
a. "Meestre" (l. 1) > mestre c. "preguntando" (l. 24) > perguntando apressadamente e em magote,
dirigiu-se aos paços da rainha.
b. "Acorree" (l. 4) > acorrei d. "ne~ua" (l. 37) > nenhuma

77
Funções sintáticas I
N DE
RE R
APRENDER
AP

LEITURA
ICA
G RA M Á T
FUNÇÕES
AUTO DESINTÁTICAS
MORALIDADE composto per Gil Vicente por contemplação da sere-
R
APL ICA níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado per
seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Por-
Funções sintáticas Exemplos
PROFESSOR tugal deste nome.
SUJEITO
2. Álvaro Pais relembrou que Comença a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto,
o Mestre era filho de um rei – Função sintática desempenhada por um
o rei D. Pedro – e declarou
se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos sùpitamente a um
constituinte que comanda a concordância
não haver qualquer razão que rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto
justificasse a sua morte. verbal.
estão, scilicet1, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o Inferno: os quais
3. O povo atribuía a Pode ser desempenhada por
responsabilidade ao conde batéis tem cada um seu arraiz na proa: o do
– um grupo nominal (a.);
Paraíso um Anjo, e o do Inferno um
a. Fernão Lopes foi um grande escritor.
João Fernandes, que estaria a arraiz infernal e um Companheiro.
– uma oração subordinada substantiva b. É evidente que Fernão Lopes é um grande
cumprir a vontade da rainha.
4. O povo não tinha uma completiva (b.); escritor.
opinião muito favorável O primeiro entrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um
– uma oração subordinada substantiva relativa c. Quem já leu Fernão Lopes conhece o seu
em relação à rainha, pois rabo mui comprido e ũa cadeira de espaldas. estilo. E começa o Arraiz do Inferno ante que
considerava-a responsável (c.).
pelo que estava a acontecer: o Esses
Fidalgo venha.
constituintes podem ser substituídos
“dizendo muitos doestos
contra a rainha”, Era ainda
– pelos pronomes pessoais eu, tu, ele, ela, você,
opinião generalizada que esta nós, vós, eles, elas, vocês (a’. e c’.);
era uma mulher adúltera – pelo pronome demonstrativo invariável isso, a’. Ele foi um grande escritor.
e traidora: “Ó, que mal fez!
Pois que matou o treedor do quando se trata de uma oração subordinada c’. Ele conhece o seu estilo.
Conde, que nom matou logo a substantiva completiva (b’.). b’. Isso é evidente.
aleivosa com ele!” (ll. 56-57),
pelo que se desejava a sua O sujeito pode ser
morte: “E sem duvida, se eles – simples, quando é constituído apenas por
entrarom dentro, nom se
escusara a Rainha de morte…” um grupo nominal ou oracional (d.); d. Os historiadores procuram sempre a
(l. 61). – composto, quando é constituído por mais do verdade. / Quem lê Fernão Lopes fica
5. Quando o Mestre surgiu à que um grupo nominal ou oracional (e.); encantando com a vivacidade do discurso.
janela, no início, houve quem
duvidasse dessa realidade. – nulo, quando não existe realização e. O Mestre de Avis e D. Nuno Álvares Pereira
No entanto, e depois de o lexical (f.). foram figuras relevantes na crise dinástica.
reconhecerem, todos se
regozijaram pelo facto de
f. [-] Conheço a Crónica de D. João I.
ele estar vivo e lamentaram
aquilo que acreditavam ser PREDICADO
uma traição da rainha. Função sintática desempenhada por um grupo
6. verbal, que inclui obrigatoriamente, além de
a. “ruas principaes”
b. “logares escusos” um verbo ou complexo verbal, os respetivos
c. “Paaços” (da Rainha) complementos (a. e b.) ou predicativos (c.). a. O povo acorreu ao Paço.
d. “grande janela”
Pode também incluir o modificador (do grupo b. Os populares queriam a salvação do
verbal) (b.). mestre a todo o custo.
Gramática
17.3 c. A crise de 1383-85 é um período muito
importante.
1.
a. crase VOCATIVO
b. sinérese
c. metátese
É uma função sintática que ocorre em
d. epêntese contextos de chamamento (frases
imperativas, exclamativas, interrogativas).
Identifica o interlocutor e aparece isolado a. Acorramos ao Mestre, amigos, que o matam
por vírgula (a.). sem razão!

78
Funções sintáticas Exemplos

COMPLEMENTO DIRETO
É uma função sintática interna ao predicado,
cujo constituinte é selecionado por um verbo
transitivo direto.
Pode ser desempenhada por
– um grupo nominal (a.); a. O povo aclamou o Mestre de Avis.
– uma oração subordinada substantiva b. O povo pensava que o Mestre tinha sido
completiva (b.); alvo de traição.
– uma oração subordinada substantiva relativa c. O povo viu à janela do Paço quem tanto
(c.). desejava.
Quando o complemento direto se apresenta
sob a forma de um grupo nominal, pode ser
substituído pelos pronomes pessoais me, te,
se, o, a, nos, vos, se, os, as (a’.) a’. O povo aclamou-o.
Quando é um grupo oracional, pode ser
substituído pelo pronome demonstrativo
invariável isso, em posição pós-verbal, (b’.) ou b’. O povo pensava isso.
por o (b’’.). b’’. O povo pensava-o.

COMPLEMENTO INDIRETO
É uma função sintática interna ao predicado,
cujo constituinte é selecionado por um verbo
transitivo indireto.
Pode ser desempenhada por um grupo
preposicional, geralmente introduzido pela
preposição a, simples ou contraída (a.). a. Após a revolta, D. Leonor Teles escreveu a
Pode ser substituído pelos pronomes pessoais D. João de Castela.
me, te, lhe, nos, vos, lhes (a’.) a’. Após a revolta, D. Leonor Teles escreveu-lhe.

COMPLEMENTO OBLÍQUO
É uma função sintática interna ao predicado,
cujo constituinte é selecionado por um verbo
transitivo indireto.
Pode ser desempenhada por
– um grupo preposicional (a.); a. O povo confiava no Mestre de Avis.
– um grupo adverbial (b.). b. Saído de Castela, D. João chegou
rapidamente aqui.

COMPLEMENTO AGENTE DA PASSIVA


É uma função sintática de uma frase passiva,
cujo constituinte se inicia pela preposição
por, simples ou contraída,
e que corresponde ao sujeito da frase ativa a. A morte do Conde Andeiro foi engendrada
(a.). por Álvaro Pais.

79
DAR
Funções sintáticas
TU
S
APRENDER
E

LEITURA
ICA
G RA M Á T
R AUTO DE MORALIDADE composto per Gil Vicente por contemplação
Funções sintáticas Exemplos da sere-
PR A
ATIC níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado per
seu mandado ao poderoso
PREDICATIVO DO príncipe
SUJEITO e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Por-
tugal deste
É uma nome.
função sintática interna ao predicado, cujo a. Fernão Lopes foi guarda-mor
constituinte é selecionado por um verbo copulativo1. da Torre do Tombo.
Comença a declaração
Pode ser desempenhada por e argumento da obra. Primeiramente,
b. As suas crónicas no presente
ficaram auto,
célebres.
1
São exemplos de verbos se– fegura
um grupoque, no (a.);
nominal ponto que acabamos de espirar, c. A chegamos
leitura da suasùpitamente
obra é do maior a um
copulativos: ser, estar, ficar,
parecer, permanecer, tornar-se, rio, o qual
– um grupoper força
adjetival havemos de passar em um de interesse.
(b.); dous batéis que naquele porto
revelar-se, ... estão, scilicet1,
– um grupo um deles
preposicional (c.);passa pera o paraíso e d.
oO outro pera
trabalho o Inferno:
do João os quais
sobre o autor
– um grupo
batéis tem cada um(d.).
adverbial seu arraiz na proa: o do Paraíso ficouum bem.
Anjo, e o do Inferno um
arraiz infernal e um Companheiro.
MODIFICADOR
É uma função sintática não selecionada por nenhum a. Os portugueses derrotaram
Em termos gráficos, O primeiro entrelocutor é um Fidalgo
núcleo, seja verbal seja oracional (frásico).
que chega com um Paje, que lhe leva um
os castelhanos na batalha de
o modificador de nome rabo
Podemui comprido e ũa
ser desempenhada porcadeira de espaldas. E começa o Arraiz do Inferno ante que
Aljubarrota.
apositivo distingue-se o –Fidalgo venha.
do restritivo por surgir um grupo preposicional (a.); b. Eles lutaram corajosamente.
separado por vírgulas. – um grupo adverbial (b.); c. Sempre que o Mestre de Avis o
– uma oração subordinada adverbial (c.). pediu, o povo português combateu.
Em início de frase ou entre constituintes d. O mestre de Avis, nos Paços da
obrigatórios, isola-se geralmente por vírgula (c. e d.). Rainha, foi apoiado pelo povo.

MODIFICADOR DO NOME RESTRITIVO


É uma função sintática não selecionada pelo nome
que o antecede ou precede, restringindo a referência a. A cidade de Lisboa foi cercada pelos
desse nome. castelhanos.
Pode ser desempenhada por b. Os textos mais antigos dão-nos
– um grupo preposicional (a.); uma visão elogiosa dos reis
– um grupo adjetival que estabelece concordância portugueses.
com o nome (b.); c. As crónicas que Fernão Lopes
– uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva escreveu retratam o povo como um
(c.). verdadeiro herói.

MODIFICADOR DO NOME APOSITIVO


É uma função sintática não selecionada pelo nome
que o antecede ou precede, acrescentando-lhe a. O povo, em alvoroço, revelou-se
informação acessória. Surge isolado por vírgula(s), partidário da causa do mestre.
parênteses ou travessões. b. O povo – emocionado e grato –
Pode ser desempenhada por deu vivas ao rei.
– um grupo preposicional (a.); c. Fernão Lopes, cronista do reino,
– um grupo adjetival que estabelece concordância viveu entre os séculos XIV e XV.
com o nome (b.); d. A população de Lisboa, que durante
– um grupo nominal (c.); o cerco da cidade passou muita
– uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa fome, nunca deixou de apoiar o
(d.) Mestre.

80
APLICAR

1. Associe a coluna A à coluna B de modo a indicar a função sintática dos constituintes


PROFESSOR
sublinhados em cada frase.
Gramática
Coluna A Coluna B 18.1

[A] D. Leonor Teles e todos os presentes ficaram


1.
estupefactos com a morte do Conde Andeiro. [A]–[5]; [B]–[3]; [C]–[4];
[1] Complemento direto
[D]–[3]; [E]–[4]; [F]–[2];
[B] Toda a cidade se manifestou contra D. Leonor. [G]–[1]; [H]–[5]; [I]–[2]
2.
[C] Por causa do cerco, houve muita fome em a. “Com a fome” – modificador
do grupo verbal; “difíceis” –
Lisboa. [2] Complemento indireto modificador do nome
restritivo, "em Lisboa" –
[D] D. João de Castela enviou tropas para Portugal. modificador do grupo verbal;
b. “cabecilha da revolução” –
modificador do nome
[E] Depois da morte do Conde Andeiro, começou apositivo; c. “que os reis
[3] Complemento oblíquo
a insurreição. de Portugal e de Castela
assinaram” – modificador
do nome restritivo, "não" –
[F] O povo pedia ao Mestre que não o abandonasse.
modificador do grupo verbal.
3.
[G] Durante o cerco de Lisboa, homens e mulheres [4 Modificador a. “O povo” – sujeito; “dirigiu-se
defenderam a cidade de várias maneiras. aos paços da rainha” –
predicado; “aos paços
[H] Muitas das pessoas cercadas pelas muralhas da rainha” – compl. oblíquo;
estavam esfomeadas. “da rainha” – modificador
[5] Predicativo do sujeito do nome restritivo.
[I] Durante a Batalha de Aljubarrota, D. Nuno b. “D. Leonor Teles, mãe
Álvares Pereira dirigiu preces a Deus. de Beatriz” – sujeito; “mãe
de D. Beatriz” – modificador
do nome apositivo; “governou
Portugal” – predicado;
2. Identifique os modificadores existentes nas frases que se seguem. “Portugal” – compl. direto.
a. Com a fome, viveram-se tempos difíceis em Lisboa. c. “O povo de Lisboa” – sujeito;
“de Lisboa” – modificador
b. Álvaro Pais, cabecilha da revolução, pedia ao povo que acorresse ao Mestre. do nome restritivo;
“permaneceu cercado durante
c. O acordo que os reis de Portugal e de Castela assinaram não agradava ao povo. meses” – predicado; “cercado” –
predicativo do sujeito;
“durante meses” – modificador
3. Identifique as funções sintáticas exercidas pelos constituintes das seguintes frases. do grupo verbal.
d. “Efetivamente” –
a. O povo dirigiu-se aos paços da rainha. modificador; “D. João” –
sujeito; “ordenou às tropas que
b. D. Leonor Teles, mãe de D. Beatriz, governou Portugal. combatessem” – predicado;
às tropas – compl. indireto; que
c. O povo de Lisboa permaneceu cercado durante meses. combatessem – compl. direto.
d. Efetivamente, D. João ordenou às tropas que combatessem. e. “Infeliz” – modificador do
nome apositivo; “o povo” –
e. Infeliz, o povo procurava em Deus algum conforto. sujeito; “procurava
em Deus algum conforto” –
3.1 Reescreva as frases que incluam complementos diretos ou indiretos e substi- predicado; “em Deus – compl.
tua-os pelo respetivo pronome. oblíquo; “algum conforto” –
compl. direto.
3.1
b. D. Leonor Teles, mãe
de D. Beatriz, governou-o.
d. Efetivamente, D. João
ordenou-lho.
e. Infeliz, o povo procurava-o
em Deus.

81
Fernão Lopes
Afirmação da consciência coletiva

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia o seguinte excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I e responda à questão


apresentada na página seguinte.

Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei
de Castela pôs cerco sobr’ela.

Nem uũ falamento1 deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido2,
que poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de
Castela sobr’ela; e per que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que
~
dentro eram, por nom receber dano de seus emigos 3
; e o esforço e fouteza4 que
5 contra eles mostravom, em quanto assi esteve cercada.
Onde sabee que como5 o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei
de Castela, e esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de reco-
lherem pera a cidade os mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e
carnes, come quaes quer outras cousas. E iam-se muitos aas liziras6 em barcas
10 e batees, depois que Santarem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados
mortos que salgavom em tinas, e outras cousas de que fezerom grande açalma-
1
palavras, ditos; 2 alusão mento7; e colherom-se8 dentro aa cidade muitos lavradores com as molheres
ao capítulo anterior, onde e filhos, e cousas que tiinham; e doutras pessoas da comarca d’arredor, aqueles
se descreve o soberbo
a que prougue9 de o fazer; e deles10 passarom o Tejo com seus gaados e bestas
acampamento do rei de Castela,
que se estendia de Santos até
15 e o que levar poderom, e se forom contra11 Setuval, e pera Palmela; outros ficarom
Campolide e outros lugares em na cidade e nom quiserom dali partir; e taes i12 houve que poserom todo o seu13,
volta; 3 inimigos; 4 coragem; e ficarom nas vilas que por Castela tomarom voz.
5
logo que; 6 lezírias (terras Os muros todos da cidade nom haviam mingua14 de boom repairamento15;
que ficam na margem do rio);
7
abastecimento; 8 refugiaram-
e em seteenta e sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes cara-
-se; 9 aprouve, agradou; 20 manchões de madeira, os quaes eram bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos
10
e alguns; 11 em direção a; e beestas de torno16, e doutras maneiras com grande avondança17 de muitos vira-
12
aí; 13 que poseram todo o seu: tões18. […]
que puseram em segurança
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos
os seus haveres; 14 necessidade;
15
reparação, fortificação; muros pelos fidalgos e cidadãos honrados19; aos quaes derom certas quadrilhas20
16
armas que disparavam 25 ~ d´armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada
e beesteiros e homees
setas a grandes distâncias; quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como21 cada uũ
17
abundância; 18 setas grandes;
19 ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente22 corriam pera ela. […]
de boa categoria social,
burgueses; 20 quadrelas,
E nom soomente os que eram assiinados23 em cada logar pera defensom, mas
lanços de muralha onde ainda as outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avi-
se colocavam os vigias; 30 vavom-se os corações deles24; e os mesteiraes25 dando folgança26 a seus oficios,
21
quando; 22 apressadamente; logo todos com armas corriam rijamente pera u27 diziam que os Castelãos mos-
23
designados; 24 avivavom-se
travom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas trombetas e
os corações deles: sentiam-se
mais corajosos; 25 operários; braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando
26
folga; 27 onde ~
fouteza contra seus emigos.

82
Crónica de D. João I

35 Nom curavom28 entom do texto que diz: “Que mais ajuda a egreja o reino com 28
não se importavam;
suas orações, que os cavaleiros com as armas”; nom se guardava ali a degratal29: 29
disposição da Igreja;
“Clerici arma portantes”30, aos quaes segundo dereito nom convem de tomar ar- 30
“clérigos empunhando
mas, posto que seja pera defensom da terra; mas clerigos e frades, especialmente armas”;
31
da Trindade, logo eram nos muros, com as melhores que haver podiam. […] não obstante
32
visitava;
40 E nom embargando31 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cui- 33
soldados que faltavam à
dado da guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, reque- chamada, rebeldes
ria32 per muitas vezes de noite os muros e torres com tochas acesas ante si, bem 34
diligentes, rápidos
35
acompanhado de muitos que sempre consigo levava. Nom havia i neuũs revees33 preparativos
dos que haviam de velar, nem tal a que esqueceesse cousa do que lhe fosse en-
45 comendado; mas todos muito prestes a fazer o que lhe mandavom, de guisa que,
a todo boom regimento que o Meestre ordenava, nom minguava avondança de
trigosos34 executores. […]
Ó que fremosa cousa era de veer! Uũ tam alto e poderoso senhor como el-Rei
de Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas em
50 tam grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida
contra ele de gentes e d’armas com taes avisamentos35 por sua guarda e defensom!
Em tanto que diziam os que o virom, que tam fremoso cerco de cidade nom era
em memoria d’home~ es que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo.

1. Ordene as seguintes afirmações, de acordo com a ordem sequencial do texto, indi- PROFESSOR
cando as linhas que justificam essa seriação.
Educação Literária
[A] O esforço e o envolvimento do Mestre são realçados pelo facto de este dormir 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
pouco e de vigiar constantemente as defesas da cidade. 14.7; 15.1; 15.2; 16.1

[B] Entre os portugueses, uns associaram-se à defesa da cidade, outros coloca-


1.
ram-se ao lado do inimigo.
[D] (ll. 1-5)
[C] O Mestre tinha a função de assegurar que todas as medidas tomadas para a [E] (ll. 6-17)
proteção da cidade estavam a ser executadas. [B] (ll. 18-22)
[C] (ll.23-27)
[D] Fernão Lopes refere que se vai debruçar sobre a situação vivida na cidade de
[H] (ll. 28-34)
Lisboa aquando do cerco castelhano.
[G] (ll. 35-39)
[E] O cronista enuncia os procedimentos adotados pela população para se pre- [A] (ll. 40-47)
caver do cerco, nomeadamente a recolha de mantimentos para o interior das [F] (ll. 48-53)
muralhas.
[F] Apesar de ser inerente a um historiador a procura pela verdade dos factos
e tanto quanto possível ser objetivo, Fernão Lopes não se coíbe de expres-
sar a sua opinião quando traça o paralelo entre a força castelhana e a força
portuguesa.
[G] Os próprios membros do clero davam mostras de uma consciência coletiva,
dirigindo-se às muralhas e pegando em armas, o que ia contra a lei da Igreja.
[H] A consciência coletiva é explorada no texto sobretudo pela forma como se des-
taca o envolvimento de cada uma das classes sociais no desempenho das suas
funções.

83
Fernão Lopes
Afirmação da consciência coletiva

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia o excerto seguinte do capítulo 148 da Crónica de D. João I.

1
Das tribulações que Lixboa padecia per mingua1 de mantiimentos.
falta
2
porque
3 Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro
antiga medida para líquidos
4
bolbos que as pobres gentes nom podiam chegar a ele; ca2 valia o alqueire quatro livras;
5
6
melaço cristalizado e o alqueire do milho quareenta soldos; e a canada3 do vinho tres e quatro livras;
onde
7 e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que, ainda que dessem por uũ pam
viviam deles (dos porcos)
8
negociantes de gado 5 ũa dobra, que o nom achariam a vender; e começarom de comer pam de bagaço
9
passando fome d’azeitona, e dos queijos4 das malvas e raizes d’ervas, e doutras desacostumadas
10
fome cousas, pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham em alféloa5.
No logar u6 costumavom vender o triigo, andavom homees ~ e moços esgaravatan-
do a terra; e se achavom alguũs grãos de triigo, metiam-nos na boca sem teendo
10 outro mantiimento; outros se fartavom d’ervas, e beviam tanta agua, que achavom
mortos homees ~ e cachopos jazer inchados nas praças e em outros logares.
Das carnes, isso meesmo, havia em ela grande mingua; e se alguũs criavom
porcos, mantiinham-se em eles7; e pequena posta de porco, valia cinco e seis li-
vras que era ũa dobra castelãa; e a galinha, quareenta soldos; e a duzia dos ovos,
15 doze soldos; e se almogávares8 tragiam alguũs bois, valia cada uũ sateenta livras,
que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras; e a
cabeça e as tripas, ũa dobra; assi que os pobres per mingua de dinheiro, nom co-
miam carne e padeciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom
soomente os pobres e minguados, mas grandes pessoas da cidade, lazerando9,
20 nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame10, bem mostravom seus
encubertos padecimentos. Andavom os moços de tres e de quatro anos pedindo
pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas madres, e muitos
nom tiinham outra cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que
era triste cousa de veer; e se lhes davom tamanho pam come ũa noz, haviam-no
25 por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tiinham crianças a seus peitos per

84
Crónica de D. João I

mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos a que acorrer nom podiam,
choravom ameúde sobr’ eles a morte ante que os a morte privasse da vida. Muitos
esguardavom as prezes11 alheas com chorosos olhos, por comprir o que a piedade
manda, e nom teendo de que lhes acorrer, caíam em dobrada tristeza.
30 Toda a cidade era dada a nojo12, chea de mezquinhas querelas, sem neuũ prazer 11
preces
que i houvesse: uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos 12
tristeza, aborrecimento
atribulados; e isto nom sem razom, ca se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso13 nas 13
preocupado
14
cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que fariam aqueles que as continua- contudo
15
damente tam presentes tiinham? Pero14 com todo esto, quando repicavom, neuũ nom 16
inimigos
está
35 mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus ~ emigos15. Esforçavom-se uũs 17
em al departir: falar sobre outra
por consolar os outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava conforto coisa
18
de palavras, nem podia tal door seer amansada com neũas doces razões; e assi como ficados os geolhos: ajoelhados
~ falando com 19
é natural cousa a mão ir ameúde onde see16 a door, assi uũs homees queixavam
20
misérias
outros, nom podiam em al departir17 senom em na mingua que cada uũ padecia. 21
firmando-se de todo nas peores
40 Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a Deos cousas que fortuna em esto podia
devotamente por o estado da cidade! E ficados os geolhos18, beijando a terra, obrar: só pensando nos maiores
braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas prezes nom eram compridas! Uũs cho- males que naquelas circunstâncias
ravom antre si, mal-dizendo seus dias, queixando-se por que tanto viviam, como lhe podiam acontecer

se dissessem com o Profeta: “Ora veesse a morte ante do tempo, e a terra cobrisse
45 nossas faces, pera nom veermos tantos males!” Assi que rogavom a morte que os
levasse, dizendo que melhor lhe fora morrer, que lhe seerem cada dia renovados
desvairados padecimentos. Outros se querelavom19 a seus amigos, dizendo que fo-
rom desaventuirada gente, que se ante nom derom a el-Rei de Castela que cada dia
padecer novas mizquiindades20, firmando-se de todo nas peores cousas que fortu-
50 na em esto podia obrar21.
Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas d’ouvir
taes novas; e veendo estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas ore-
lhas do rumor do poboo.
Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguũs
55
~ e molheres, que tanta deferença há d’ouvir estas cousas aaqueles que as
homees PROFESSOR
entom passarom, como há da vida aa morte?
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.5; 14.7;
15.1; 15.2; 16.1
1. Preencha a seguinte tabela com base na leitura do excerto.
1.
a. escassez de bens como
Situação dos mantimentos na cidade trigo, milho, vinho, carne;
os alimentos que existiam
a. eram muito caros e difíceis
de obter. b. sofredora. c. forte
Caracterização geral da população durante o cerco perante o inimigo (esquecendo
a fome). d. solidária no
b. sofrimento. e. crente em
c. Deus. f. desejosa da morte.
g. arrependida da adesão
d. à causa de D. João I (alguns
e. elementos do povo). h. ciente
da gravidade da situação,
f. mas consciente de nada
g. poder fazer, tentava ignorar
os rumores. i. compreende o
Reação do Mestre desespero do povo decorrente
das necessidades por que
h. passava; refere a humanidade
do Mestre ao apontar a sua dor
Ponto de vista do cronista perante os lamentos do povo.
i.

85
PA R A S A B E R Crónica de D. João I

CRÓNICA DE D. JOÃO I

1.a parte – Pré-Aljubarrota 2.a parte – Pós-Aljubarrota

Narração dos acontecimentos desde a morte Narração dos acontecimentos ocorridos


do rei D. Fernando até à aclamação de D. João durante o reinado de D. João I.
como rei.

ATORES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

D. Leonor Teles De cariz dramático, revela ser determinada, persistente, dominadora, indomável, astuciosa e adúltera.

Conde Andeiro Assume a ameaça castelhana sobre a integridade nacional, acabando por funcionar como “bode-
-expiatório” para se desencadear a revolução.

Rei de Castela Representa a força de Castela, mostrando-se orgulhoso, ambicioso e calculista.

Álvaro Pais Apresenta-se como chefe da insurreição de 1383 e mentor do assassinato do Conde Andeiro. Revela-se
astuto, determinado e destemido.

D. João, Manifesta-se como um homem vulgar, que tem dúvidas e hesitações e que chega a cometer erros.
Mestre de Avis No entanto, é também o líder das multidões, o homem que assume a sua missão e que se mostra ambicioso,
revelando, por isso, um cariz realista.

Nuno Álvares Pereira Revela-se como um herói com um forte pendor místico. A par da sua faceta espiritual e do virtuosismo que
o rege, distingue-se pela sua determinação, coragem, perspicácia e lealdade.

Apresenta-se como a força gregária, animada de uma vontade definida e coletiva, representada, por
Povo isso, em expressões como “todos postos sob um mesmo cuidado”, “todos animados de uma só vontade”,
“enquanto a cidade soube”. Apesar de ignorante, supersticioso e, por vezes, até cruel, revela-se como a
força motora da revolução e, por isso, aquela que mais padece, resiste e se afirma.

PROFESSOR AFIRMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA COLETIVA

A insurreição que se opera em Portugal em 1383, ainda que tenha sido encabe-
Apresentação çada por Álvaro Pais, um dos burgueses mais influentes do reino, só vinga porque
Galeria de imagens
foi apoiada pelo povo.
Apresentação
É, efetivamente, a plebe que, colocando em causa a validade da sucessão di-
Síntese da Unidade
nástica por não reconhecer legitimidade ao rei de Castela para assumir a regência
Teste interativo
Fernão Lopes de Portugal, empurra o Mestre de Avis para a revolução.
É, pois, esta consciência da identidade nacional, este sentimento patriótico ge-
neroso e esta ligação à terra, em detrimento da eleição régia, que faz do povo o
protagonista da insurreição que culminou com o triunfo da vontade popular.

86
PA R A V E R I F I C A R

Verifique os seus conhecimentos após a leitura e a análise dos excertos da Crónica PROFESSOR
de D. João I, de Fernão Lopes.
Educação Literária

1.
1. Identifique as afirmações verdadeiras e as afirmações falsas. Corrija as falsas. a. F – A Crónica de D. João I
debruça-se sobre a ascensão
a. A Crónica de D. João I, escrita por Fernão Lopes, debruça-se sobre a ascensão e reinado do Mestre de Avis,
filho de D. Pedro e de uma aia,
e o reinado do infante D. João de Portugal, filho de D. Pedro e de D. Inês de Castro. Teresa Lourenço.
b. V
b. A Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, surge como uma forma de legitimar
c. V
a coroação do Mestre de Avis como rei.
d. V
e. F – A insurreição inicia-se
c. A crise de 1383-1385, que se viveu em Portugal, assume sobretudo contornos com a morte do Conde Andeiro.
políticos.
f. V
g. V
d. D. Leonor Teles é uma das figuras principais relacionadas com a crise de 1383-
h. F –O povo regozijou-se
-1385. com o facto de o Mestre
de Avis estar vivo e apoiou
e. A insurreição inicia-se com a morte de D. Fernando, perpetrada por D. João, Mestre o assassinato do Conde
de Avis, e idealizada por Álvaro Pais. Andeiro.
i. V
f. O homicídio do amante de D. Leonor Teles surge como resposta à ameaça cas- j. F –Apesar de o Mestre
de Avis não ser um sucessor
telhana que pairava sobre a coroa portuguesa. legítimo ao trono, o povo
apoiava-o por reconhecer
g. Os protagonistas do assassinato ocorrido nos paços da rainha manipularam o nele a única garantia da
povo, de modo a garantir o seu apoio. independência nacional.
k. V
h. O povo regozijou-se com o facto de o Mestre de Avis estar vivo, mas condenou a l. F – Foram os castelhanos
morte do Conde Andeiro. que puseram cerco à cidade
de Lisboa, como forma de
dissuadir o Mestre de Avis
i. A questão da sucessão ao trono português colocou em confronto os sentimentos dos seus propósitos.
do povo e as ambições de uma parte da nobreza. m. F – Apesar de se terem
preparado antes do cerco,
j. O povo apoiava D. Leonor Teles por reconhecer nela a garantia da independência a determinada altura, e dada
a sua duração, as
nacional e por considerar que o Mestre de Avis não era um sucessor legítimo ao necessidades do povo,
trono. sobretudo em termos
alimentares, passaram
k. A chegada do rei de Castela a Portugal deve-se a D. Leonor Teles. a ser muitas.
n. F – O Mestre soube de
antemão que os castelhanos
l. Como forma de retaliar a invasão castelhana, D. João, Mestre de Avis, pôs cerco tencionavam cercar Lisboa
à cidade de Lisboa. e, por isso, deu ordens para
as pessoas se abastecerem
m. Durante o cerco de Lisboa, as necessidades foram residuais porque aqueles e protegerem.
que se mantiveram dentro das muralhas da cidade se prepararam convenien- o. V
temente.

n. O cerco de Lisboa ocorreu de forma inesperada, sem que ninguém estivesse a


contar com isso.

o. O povo apresenta-se como a força motora e impulsionadora da revolta ocorrida


por questões dinásticas.

87
PA R A R E C U P E R A R Crónica de D. João I

1. Complete o texto com as palavras propostas.

• legitimando • nação • exclamações • povo • historiador • D. João I


• verdade • independência • atribulações • escritor • história • acesso repórter

Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes retratou, como nenhum outro cronista, a cri-
se de 1383-85, procurando a a. dos factos. A função de guarda-mor da
Torre do Tombo permitiu-lhe o b. a documentos importantes da nossa
c. .
O cronista destaca o mestre de Avis, futuro d. , e. a sua elei-
ção após a morte de D. Fernando. Mas é o f. quem sai enaltecido, ao revelar
a consciência de uma g. prestes a perder a h. .
Tal como um i. , Fernão Lopes convida-nos a “esguardar como se estivés-
PROFESSOR
semos presentes”, e leva-nos até às j. do cerco de Lisboa. Apesar da impar-
1. a. verdade
cialidade pretendida, o narrador emociona-se com as descrições que faz, servindo-se das
b. acesso
c. história k. e das interrogações retóricas.
d. D. João I
Concluindo, Fernão Lopes não foi só um l. que fixou um momento fulcral
e. legitimando
f. povo da nossa história, mas sobretudo um notável m. , atento ao pormenor e ao
g. nação visualismo descritivo ao longo da narração.
h. independência
i. repórter 2. Indique todos os processos fonológicos que ocorreram na evolução das seguintes
j. atribulações palavras.
k. exclamações
a. Filiam > filha
l. historiador
m. escritor b. Sabedes > sabeis
c. Amicum > amigo
Gramática
2. a. apócope do “m” / d. nocte > noite
palatalização
b. síncope do “d”/ sinérese;
3. Associe cada elemento da coluna A ao único elemento da coluna B que lhe corres-
c. apócope do “m”/
sonorização ponde, de modo a identificar a função sintática destacada em cada frase.z
d. vocalização
Coluna A Coluna B
3.
[A] – [2] [A] Quando o povo soube que matavam o Mestre, acorreu logo
[1] Complemento direto
[B] – [3] ao paço.
[C] – [1]
[B] Álvaro Pais foi astucioso na sua estratégia. [2] Modificador
[D] – [1]
[E] – [6] [C] Embora o Mestre de Avis hesitasse, acabou por aceitar a
[F] – [4] ideia do amigo. [3] Predicativo do sujeito
[G] – [5]
[D] Todos queriam saber se o Mestre estava vivo. [4] Complemento
indireto
[E] Quem cercou Lisboa foi D. João de Castela.
[5] Complemento
[F] Os habitantes de Lisboa pediram ao Mestre que os
oblíquo
protegesse.
[G] Mal os sinos repicavam, todos se dirigiam logo para a muralha. [6] Sujeito

88
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Crónica de D. João I
PROFESSOR
GRUPO I

Leia o excerto do capítulo 148 da Crónica de D. João I e responda às questões. Apresentação


Soluções Ficha
de Avaliação
Das tribulações que Lixboa padecia per mingua de mantiimentos.
GRUPO I
Estando a cidade assi cercada na maneira que já ouvistes, gastavom-se os
mantiimentos cada vez mais, por as muitas gentes que em ela havia, assi dos Educação Literária
14.3; 14.4; 14.7; 15.1;
que se colherom dentro, do termo1, de home~ es aldeãos com molheres e filhos, 15.2; 16.1; 17.3; 18.1; 19.7
come dos que veerom na frota do Porto; e alguũs se tremetiam2 aas vezes em ba-
5 tees e passavom de noite escusamente contra as partes de Ribatejo, e metendo-se 1. Dentro das muralhas
recolheu-se muita gente vinda
em alguũs esteiros, ali carregavom de triigo que já achavom prestes, per recados de todos os locais da capital e
que ante mandavom. E partiam de noite remando mui rijamente, e algũas galees ainda do Porto, o que causou
uma grande escassez de
quando os sentiam viinr remando, isso meesmo remavom a pressa sobre eles; alimentos (“gastavom-se os
e os batees por lhe fugir, e elas por os tomar, eram postos em grande trabalho. mantiimentos cada vez mais,
por as muitas gentes em que
10 Os que esperavom por tal triigo andavom per a ribeira3 da parte de Exobregas, ela havia”, ll. 1-2).
aguardando quando veesse, e os que velavom, se viiam as galees remar contra lá, 2. A principal dificuldade era
o ataque dos castelhanos aos
repicavom logo por lhe acorrerem. Os da cidade como ouviam o repico, leixavam barcos que transportavam o
o sono, e tomavom as armas e saía muita gente, e defendiam-nos aas beestas4 trigo.
3. A comparação salienta
se compria, ferindo-se aas vezes dũa parte e doutra; porem nunca foi vez que5 a falta de alimentos vivida
15 tomassem alguũ, salvo ũa que6 certos batees estavom em Ribatejo com triigo, e na cidade, de tal forma que
só um milagre, como o da
forom descubertos per uũ homem natural d’Almadãa, e tomados per os Castelãos; multiplicação dos pães,
e el foi depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado. E posto que tal poderia pôr fim à fome.
triigo algũa ajuda fezesse, era tam pouco e tam raramente, que houvera mester de 4. Para fazer face à escassez
de alimentos, o povo de Lisboa
o multiplicar como fez Jesu Cristo aos pães, com que fartou os cinco mil home~ es. começou a expulsar de dentro
20 Em esto gastou-se a cidade assi apertadamente, que as pubricas esmolas co- das muralhas aqueles que não
acrescentavam nada à defesa
meçarom desfalecer7, e neũa geeraçom de pobres achava quem lhe dar pam; de da cidade, como as prostitutas
guisa que a perda comum vencendo de todo a piedade, e veendo a gram mingua e os judeus.
5. Os castelhanos,
dos mantiimentos, estabelecerom deitar fora as gentes minguadas8 e nom per- inicialmente, acolhiam as
teencentes pera defensom; e esto foi feito duas ou tres vezes, ataa lançarem fora pessoas que eram expulsas,
pensando que saíam por
25 as mancebas mundairas9 e Judeus e outras semelhantes, dizendo que pois taes iniciativa própria, querendo
pessoas nom eram pera pelejar, que nom gastassem os mantiimentos aos defen- aliar-se a Castela.
sores; mas isto nom aproveitava cousa que muito prestasse.
Os Castelãos aa primeira10 prazia-lhe com eles, e davom-lhe de comer e aco-
lhimento; depois veendo que esto era com fame, por gastar mais a cidade, fez
1
30 el-Rei tal ordenança que n~ euũ de dentro fosse recebido em seu arreal, mas que zona de Lisboa; 2 arriscavam;
3
pela margem; 4 com tiros de
todos fossem lançados fora; e os que se ir nom quisessem, que os açoutassem e
besta; 5 porem nunca foi vez que:
fezessem tornar pera a cidade; e esto lhes era grave de fazer, tornarem per força nunca aconteceu que; 6 salvo ũa
pera tal logar, onde chorando não esperavom de seer recebidos; e taes i havia que que: exceto, quando…; 7 escassear;
8
de seu grado se saíam da cidade, e se iam pera o arreal, querendo ante de todo seer miseráveis, 9 prostitutas; 10 ao
35 cativos, que assi perecerem morrendo de fame. princípio

1. Releia o primeiro parágrafo do excerto.


Refira uma consequência que o cerco castelhano trouxe à cidade de Lisboa, fun-
damentado a sua resposta com uma expressão textual.

89
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Crónica de D. João I
2. Indique a principal dificuldade sentida pela população durante o transporte do tri-
go para dentro das muralhas.

3. Comente o sentido da comparação “como fez Jesu Cristo aos pães, com que fartou
~ (l. 19).
os cinco mil homees.”

4. Releia o terceiro parágrafo do texto e enuncie a medida tomada para fazer face à
escassez de alimentos.

5. Indique por que razão, inicialmente, os castelhanos ficavam contentes com a ex-
pulsão de algumas pessoas de dentro das muralhas.

GRUPO II

Leia o texto e responda ao que lhe é solicitado.

A grandeza de Fernão Lopes


Mas não basta saber criticar as fontes para ser um historiador. O melhor his-
toriador, conforme hoje o conhecemos, será aquele que compreender os mais
complexos fatores de uma dada sociedade em transformação, determinar a cada
passo a importância relativa de cada um deles, de maneira a poder dar-nos dessa
5 sociedade, não uma faceta, mas uma visão de conjunto.
Também sob este aspeto a literatura medieval não nos oferece verdadeiros
historiadores. Normalmente, os cronistas medievos estão ligados a uma corte real
ou senhorial, a um convento, a um grupo social aristocrático ou governante, e
apenas relatam os acontecimentos que interessam
10 a esse restrito meio em que parece resumir-se para

eles uma nação inteira ou até todo o universo. Tra-


balhando geralmente para cortes de cavaleiros, a
história aparece através deles como uma série de
feitos de cavalaria, torneios, aventuras de reis ou
15 grandes senhores, intrigas palacianas. A grande

massa da nação, os interesses e os ideais que im-


pelem os conjuntos de homens são por estes cro-
nistas ou desconhecidos ou incompreendidos. […]
Em contraste com esta visão unilateral e frag-
20 mentária de outros cronistas medievais, Fernão

Lopes dá-nos da sociedade portuguesa dos séculos


XIV e XV um amplo panorama em que entram múl-
tiplos e contraditórios fatores, e em que, combinada
com as ações individuais, desempenha um papel
25 preponderante a movimentação de grandes forças

coletivas e anónimas.
Lendo Fernão Lopes, não perdemos de vista a
corte e a sua vida íntima, bodas e amores, intrigas e
conjuras palacianas. Mas vemos também, e com um
30 relevo proporcionado, a cidade de Lisboa e os seus

90
mesteirais, que largam o trabalho para organizar “uniões” na rua, participar em PROFESSOR
comícios populares, pegar em armas quando é a ocasião; vemos alfaiates, tanoei-
ros, camponeses salientar-se porque falam em nome de grandes agrupamentos GRUPO II
que adquirem vontade própria; vemos gente de trabalho arrebanhada à força nas
Leitura
35 aldeias, para as galés que o rei D. Fernando envia contra a esquadra castelhana; 8.1
vemos “povos do reino” assediando os castelos, derrubando-lhes as muralhas,
que uma longa opressão tinha calado. […] 1.
1.1 [A]
A grandeza de Fernão Lopes como historiador consiste, principalmente, nes- 1.2 [C]
ta visão multifacetada que abrange os aspetos sociais da vida nacional e que lhe 1.3 [C]
40 permitiu transmitir-nos o fresco global de uma época, em vez de simples nar-
rativas de aventuras individuais vistas segundo a ideologia cavaleiresca, como
as que nos apresentam outros cronistas medievos. Graças a esta superioridade
de visão, possuímos hoje um precioso relato de conjunto da grande crise social
que marcou em Portugal a passagem da Idade Média para os tempos modernos.
António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura
Portuguesa, 17.a ed., Porto, Porto Editora, 2010, pp. 124-127.

1. Selecione a alternativa que completa corretamente cada afirmação, considerando


a globalidade do texto.
1.1 Um bom historiador, nos tempos modernos, será aquele capaz de
[A] apresentar uma visão global da sociedade.
[B] apresentar uma imagem detalhada dos indivíduos que a compõem.
[C] centrar-se nas figuras mais representativas dessa sociedade.
[D] interpretar corretamente as fontes de que dispõe sobre essa sociedade.
1.2 Os historiadores medievais
[A] centravam-se nas grandes preocupações e nos ideais de uma sociedade.
[B] realizavam o seu trabalho de forma autónoma e independente.
[C] apresentavam uma imagem sectária da história.
[D] apresentavam uma visão global da história.
1.3 No panorama medieval, Fernão Lopes
[A] assume um papel preponderante, à imagem de outros cronistas do seu
tempo.
[B] sobressai por conferir especial relevo aos heróis individuais.
[C] contrasta por introduzir a força do elemento coletivo.
[D] contrasta por apresentar uma visão fragmentária da sociedade portu-
guesa.

91
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Crónica de D. João I

PROFESSOR 2. Assinale as afirmações que se seguem como verdadeiras ou falsas, transformando


as afirmações falsas em afirmações verdadeiras.
Gramática
17.3; 18.1 a. A expressão sublinhada na frase “A grande massa da nação, os interesses e os
ideais que impelem a quase totalidade dos homens são por estes cronistas des-
2. conhecidos ou incompreendidos.” (ll. 15-18), é complemento oblíquo.
a. F – Complemento agente da
passiva. b. Na passagem de “vita” para “vida” ocorreu a sonorização.
b. V
c. F – “O melhor historiador” é c. Em “O melhor historiador […] será aquele que compreender os mais complexos
o sujeito. fatores…” (ll. 1-3), o sujeito da frase é “aquele”.
d. F – “palaciana” é derivada
por sufixação. d. A palavra “palacianas” (l. 15) é derivada por prefixação.
e. F – É complemento oblíquo.
e. Na frase “A grandeza de Fernão Lopes como historiador consiste, principalmen-
f. V
3. te, nesta visão multifacetada” (ll. 38-39), o constituinte sublinhado é complemento
3.1. Sujeito simples. indireto.
3.2. Adjetivo qualificativo.
3.3. “visão multifacetada”.
f. O último parágrafo textual inicia-se com um conector de valor causal.

GRUPO III 3. Responda aos itens apresentados.

Escrita 3.1 Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte sublinhado em


11.1; 12.1; 12.3; 12.4; 13.1 “desempenha um papel preponderante a movimentação das grandes forças co-
letivas e anónimas”. (ll. 24-26).
Síntese
O texto salienta a grandeza 3.2 Indique a classe de palavras a que pertence o vocábulo sublinhado em “A grandeza
de Fernão Lopes enquanto
cronista, distinguindo-o dos de Fernão Lopes como historiador consiste, principalmente, nesta visão multifa-
outros autores medievais, cetada”. (ll. 38-39).
que relataram apenas
acontecimentos íntimos da 3.3 Indique o referente do elemento sublinhado em “que lhe permitiu transmitir-nos o
corte, pois estavam ao serviço fresco global de uma época” (ll. 39-40).
de um rei ou de um nobre.
Não são, por isso, verdadeiros
historiadores, desconhecendo
o que era a nação fora do
ambiente palaciano. GRUPO III
Fernão Lopes, pelo contrário,
sem deixar de retratar a vida Faça a síntese do texto presente no grupo II em cerca de 100 palavras.
da corte, descreveu as ações
empreendidas pelo povo de (Não se esqueça de empregar, sempre que possível, vocabulário próprio.)
Lisboa, que se une para a
defesa da Pátria, revelando
a consciência coletiva que
começava a desenhar-se na
época representada.
A sua obra dá-nos, assim,
uma visão de conjunto de
um período fulcral da nossa
história, que marcou a
passagem da Idade Média para
a modernidade.
(114 palavras)

92
MÓDULO

2
1. Gil Vicente
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Farsa de Inês Pereira
Leitura
Exposição sobre um tema
Apreciação crítica
Escrita
Síntese
Apreciação crítica
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão/Expressão Oral]
Síntese [Expressão Oral]
Apreciação crítica
Gramática
Lexicologia: campo semântico e campo lexical [Aprender/Aplicar]
Lexologia: arcaísmos e neologismos [Aprender/Aplicar]
Processos irregulares de formação de palavras [Aprender/Aplicar]
• Conectores
• Processos fonológicos
• Funções sintáticas
• Classe de palavras
• Subordinação
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

1465 1495 1498 1500 1521 1536 1539


Data Aclamação Chegada Descoberta Aclamação Estabelecimento Início da atividade
provável do de D. Manuel I de Vasco do Brasil de D. João III da Inquisição em Portugal do Santo Ofício,
nascimento como rei de da Gama por Pedro como rei Data provável da morte em Portugal
de Gil Vicente Portugal à India Álvares Cabral de Portugal de Gil Vicente

Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender esta época, bem como
Gil Vicente, autor que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.

O Fim da Idade Média e o Humanismo

Séculos XV e XVI Gil Vicente


• Verifica-se neste período, a nível europeu, a desintegra- • Nasceu no reinado de Afonso V, testemunhou as lutas
ção do sistema feudal, acompanhada de um grande surto de políticas do reinado de D. João II, a descoberta da costa africa-
desenvolvimento económico (crescimento da produção na, a chegada de Vasco da Gama à Índia, o fausto do reinado
artesanal e agrícola; desenvolvimento do comércio; criação de D. Manuel, as perseguições sangrentas aos cristãos-novos
5 das primeiras manufaturas; indícios de industrialização). 5 e o estabelecimento da Inquisição em Portugal.
• Este desenvolvimento é favorecido pelos descobrimen- • Inspirou-o o espírito crítico e realista característico da
tos ibéricos, o que também contribui para o desfazer das burguesia, que se traduziu na crítica atrevida aos vícios sociais.
conceções medievais sobre o universo. • Foi, durante 35 anos, nas cortes de D. Manuel I e D. João III,
• Surgem novos métodos de investigação, baseados na uma espécie de organizador dos espetáculos palacianos,
10 observação e na experiência, o que implica uma rutura com 10 tendo alguma liberdade de expressão.
o pensamento pedagógico e filosófico de base escolástica. • Alcançou na corte uma situação de prestígio, que lhe per-
• A invenção da imprensa, em meados do século XV, por mitiu certas liberdades e audácias, de acordo com o ambiente
Guttenberg, veio permitir uma mais fácil circulação e divul- intelectual renovador e agitado que se vivia.
gação das ideias e das notícias e o acesso à cultura por • Soube aproveitar essa situação para uma crítica atrevi-
15 parte de um número cada vez maior de intelectuais de origem 15 díssima a diversos vícios da nobreza e do clero, tendo aparen-
burguesa. temente o acordo do rei.
Elaborado a partir de Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Elaborado a partir de António José Saraiva (apresentação e leitura),
Portugal, uma perspetiva didática. Época medieval e época clássica, Teatro de Gil Vicente, Lisboa, Dinalivro, ed. revista, 1988, pp. 9-12.
vol. I, Porto, Areal Editores, 2004, p. 109.

94
PARA INICIAR

EXPRESSÃO ORAL PROFESSOR

Legenda das imagens


Observe atentamente a sequência de imagens que se apresenta. A. Barco de Vasco da Gama
(pormenor), 1880, Ernesto
Casanova.
B. Iluminura medieval,
séc. XV, Bibliothèque
Boulogne-sur-mer.
C. O Juízo Final (pormenor),
1535-1541, Miguel Ângelo,
Capela Sistina, Vaticano.
D. Tributo a Gil Vicente,
Jardim dos Poetas, Oeiras.
E. Diabo, Frade e Florença,
Auto da Barca do Inferno,
representação no Museu
dos Jerónimos.
F. Amantes, c. 1740, Pieter Jan
van Reysschoot (1702-1776),
A B Yale Center of British Art,
Paul Mellon Collection, EUA.

Oralidade
5.1; 5.2; 5.3;
6.1; 6.2; 6.3

1. As imagens B, C, D e E
associam-se à obra Auto
da Barca do Inferno,
uma vez que representam,
respetivamente,
(B) os Cavaleiros, únicas
C D personagens que embarcam
na barca do Paraíso;
(C) a punição “no outro
mundo” (em virtude dos maus
comportamentos na vida
terrena); (D) as barcas
e os barqueiros − o Anjo
e o Diabo; (E) a personagem
Frade que se faz acompanhar
da sua moça Florença.
As imagens A e F relacionam-
-se com o Auto da Índia:
(A) a nau simbolizará
a viagem do marido da Ama;
E F (F) imagem que poderá aludir
à temática central da obra −
o adultério cometido pelas
1. No 9.o ano, contactou com uma obra de Gil Vicente. Selecione as imagens que se mulheres cujos maridos
integravam as expedições
poderão associar à obra estudada, justificando a sua escolha. marítimas.
2. Resposta de caráter
2. Considere as imagens C e F. Escolha uma delas e proponha uma justificação para pessoal. No entanto, o aluno
deve referir a pertinência
a sua adequação à obra estudada, atendendo à intenção do dramaturgo. da imagem em função
da intenção do autor:
Estruture o seu discurso, tendo em atenção: · em C, referente ao Auto
da Barca do Inferno, criticar
· a organização pertinente das ideias; e modificar o comportamento
humano, fazendo apelo
· a extensão temporal (2-3 minutos); à ideia da punição;
· em F, Auto da Índia, chamar
· o vocabulário diversificado e cuidado; a atenção para algumas
das consequências das
· a adequação de recursos verbais e não verbais: postura, tom de voz, articulação expedições: o abandono das
e expressividade. mulheres e a sua repercussão
nos valores morais, visível,
por exemplo, no tema do
adultério.

95
Gil Vicente
PARA DESENVOLVER

PROFESSOR COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL

1. Visualize e escute atentamente um


Apresentação primeiro excerto fílmico relativo a Gil
“O teatro vicentino”
Vicente e à sua obra, retirado da série
Vídeo televisiva Grandes Livros.
Excerto fílmico relativo
a Gil Vicente Identifique como verdadeiras ou falsas
Áudio as afirmações que se seguem. Corrija
“A Pretexto” as falsas. Gil Vicente,
Grandes Livros, RTP
Oralidade a. No topo do Teatro Nacional D. Ma-
1.1; 1.4; 2.1; 2.2; 3.1; 3.2; ria II existe uma estátua de Gil Vicente devido ao facto de este ter nascido na
5.1; 5.2; 5.3; 6.1; 6.2; 6.3
capital de Portugal.
1. b. A obra vicentina bem como o seu autor foram recuperados na era romântica, no-
a. F – A estátua é justificada
com o facto de Gil Vicente meadamente por Almeida Garrett, em virtude do seu relevo e interesse literário.
ser, popularmente, conhecido
como o “pai” do teatro
c. A intimidade de Gil Vicente com os membros da coroa permitiu-lhe entrar no
português. quarto da jovem mãe de D. João III para apadrinhar o recém-nascido príncipe.
b. V
c. F – O dramaturgo vai d. O dramaturgo quinhentista viveu na corte cerca de 35 anos, onde escreveu, en-
ao quarto da princesa para cenou e/ou dramatizou as suas obras, protegido pela rainha D. Leonor.
a distrair e representar
o Monólogo do Vaqueiro. e. A obra de Gil Vicente estende-se de 1502 a 1536 e engloba comédias, farsas e mora-
d. V
lidades, seguindo, assim, o rumo das manifestações teatrais precedentes.
e. F – Não segue o rumo das
manifestações teatrais f. O autor português desempenhava as funções de Mestre da Retórica da Represen-
anteriores; pelo contrário,
rompe com a tradição. tação, pelo que não só escrevia e representava as suas obras como também tinha
f. V a função de organizar as festas reais que servissem para celebrar efemérides.
g. V
2. a. As datas relativas g. A obra do dramaturgo foi editada em 1562 e, posteriormente, em 1586. Contudo,
às obras vicentinas situam- o autor deixara de ser referenciado desde 1536 até 1834.
-se entre 1502 e 1536. b. Em
35 anos, Gil Vicente terá
produzido cerca de cinquenta 2. Na primeira emissão de A Pretexto (9 de outubro de 2012), programa de entrevistas
peças. c. Os responsáveis pela da RUC – Rádio Universidade de Coimbra −, o tema foi Gil Vicente. Como convidado,
compilação da obra vicentina
foram os seus filhos, que
o professor José Augusto Cardoso Bernardes, especialista em estudos vicentinos,
editaram um livro com as falou sobre aquele autor e a sua obra, comentando igualmente uma entrevista
suas peças. d. Gil Vicente não a Ricardo Araújo Pereira no Programa Nós e os Clássicos (SIC Notícias, maio de 2011)
só escrevia as peças como
também as encenava, ajudava sobre o teatro de Gil Vicente.
a representar e, posteriormente,
as reescrevia para compilar Escute a entrevista e recolha informação relativa aos tópicos que se apresentam,
em livro. e. Nas obras completando a tabela.
vicentinas, surgem temas
como a morte, a vida, a
astúcia, a honestidade Datas balizadoras da produção vicentina a.
e o tratamento de diferentes
ideais humanos. f. O teatro Número de peças teatrais produzidas por Gil Vicente b.
vicentino é uma caricatura
do século XVI e as suas figuras
funcionam como caricaturas Responsáveis pela compilação da obra vicentina c.
que não se devem generalizar,
mas que visam tipos de Atividades desempenhadas por Gil Vicente relacionadas com as
homens existentes, como d.
é o caso do fidalgo, no Auto
peças teatrais da sua autoria
da Barca do Inferno.
Dois temas tratados na obra vicentina e.

Relações entre o teatro de Gil Vicente e a sociedade da época f.

BLOCO INFORMATIVO – 2.1 Com base nas informações recolhidas no exercício anterior, elabore, oralmente,
p. 283
entre 2 a 3 minutos, uma síntese dos principais aspetos focados na entrevista.

96
Farsa de Inês Pereira

INFORMAR PROFESSOR

Leitura
Leia a informação seguinte e os tópicos abaixo sobre a sátira vicentina e responda 7.2; 7.5; 8.1
ao solicitado. Ed. Literária
14.3; 14.4; 16.1
Tendo como datas possíveis de nascimento e morte, respetivamente, 1465 e 1536,
Gil Vicente situa-se num período de transição entre as eras medieval e renascentis- 1.
São personagens que
ta. Assim, é provável que a sua obra reflita especificidades de uma e de outra época. apresentam comportamentos
Se, por um lado, apresenta aspetos medievais, nomeadamente no que se refere à e elementos característicos
representativos de
forma e a certos temas, sobretudo ligados à preponderância da religião na vida do determinada classe social
ser humano, por outro lado, apresenta uma visão crítica da sociedade e uma cons- ou profissional. Podem
representar também vícios
ciência dos problemas sociais característicos da época. ou defeitos humanos muito
generalizados. Os exemplos
referidos no textos são
o Escudeiro, os frades,
TEXTO A os clérigos em geral
e os Ermitões.
A sátira e o ideal de ordem
• A sátira, para Gil Vicente, é uma forma de compreender a desordem e a confusão
que imperam na sociedade quinhentista, não sendo poupado nenhum grupo social.
• Além de personagens individuais, o autor também ridiculariza defeitos hu-
manos generalizados.
• São várias as personagens-tipo ridicularizadas, representando os vários es-
tratos/grupos sociais: o povo miúdo, os pretensiosos, os famintos, os Escudeiros
versejadores de trovas, tocadores de viola, frades, clérigos e os ermitões foliões
e debochados.
Elaborado a partir de José Augusto Cardoso Bernardes, História crítica da literatura portuguesa.
Humanismo e Realismo, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, 1999, pp. 139-141.

TEXTO B
Farsa e auto – natureza e estrutura da obra
Características

• Na forma simples, reduz-se a um episódio cómico colhido no


quotidiano, na vida de uma personagem típica.
• Numa forma mais complexa, como é o caso da Farsa de Inês
Pereira, é uma história mais completa (com princípio, meio
e fim).
Farsa
• Pode partir de um dito popular que funciona como argumento
para a ação. No caso da Farsa de Inês Pereira, o argumento é “an-
tes quero burro que me leve que cavalo que me derrube”.
• Os diálogos e as ações sucedem-se sem transição, não havendo
preocupação com a unidade de tempo.
• Tem um ensinamento religioso e um objetivo moral.
Auto de moralidade • As personagens são personificações alegóricas (o anjo, o diabo,
a vaidade…) ou tipos reais caricaturados.
Elaborado a partir de António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa,
17.a ed., Porto, Porto Editora, 2010, pp. 194-197 (adaptado).

1. Defina, por palavras suas, personagem-tipo, apresentando exemplos.

97
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Representação do quotidiano | Caracterização das personagens | Relação entre personagens

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Gil Vicente é considerado uma das mais importantes figuras do teatro português. Criou
Apresentação cerca de 50 peças, desde 1502 até 1536, data da representação da última que se conhece.
Texto dramático
Leia a obra Farsa de Inês Pereira, representada em 1523, na corte de D. João III.

*FIXAÇÃO DE TEXTO
António José Saraiva
A Farsa de Inês Pereira*
(apresentação [1523]
e leitura), Teatro
de Gil Vicente, Lisboa,
[Auto] Feito por Gil Vicente, representado ao muito alto e mui poderoso Rei D. João
Dinalivro, ed. revista,
1988, pp. 163-204. o terceiro no seu convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII.
O seu argumento é um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me
*NOTAS
António José Saraiva, leve que cavalo que me derrube.
op. cit., e outros. As figuras são as seguintes: Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pero Marques;
dous Judeus (um chamado Latão, outro Vidal); um Escudeiro com um seu Moço;
um Ermitão.

Entra logo Inês Pereira, e finge que está lavrando só


em casa, e canta esta cantiga:

Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
que hará cuando no os viere?1

(Falado):
Inês Renego deste lavrar
e do primeiro que o usou!
5 Ò diabo que o eu dou,
que tão mao é d'aturar!
Ó Jesu! que enfadamento,
e que raiva, e que tormento, Antes o darei ao diabo
que cegueira, e que canseira! que lavrar mais nem pontada.
10 Eu hei-de buscar maneira Já tenho a vida cansada
d'algum outro aviamento.2 de jazer sempre dum cabo.3
25 Todas folgam4 e eu não,
Coitada, assi hei-de estar todas vêm e todas vão
encerrada nesta casa onde querem, senão eu.
como panela sem asa Hui! e que pecado é o meu,
15 que sempre está num lugar? ou que dôr de coração?
E assi hão-de ser logrados
dous dias amargurados, 30 Esta vida é mais que morta.
que eu possa durar viva? São5 eu coruja ou corujo,
E assi hei-de estar cativa ou são5 algum caramujo
20 em poder de desfiados? que não sai senão à porta?
E quando me dão algum dia
35 licença, como a bugia6,
1
“quem, vendo-vos pena e morre, o que fará quando vos não
que possa estar à janela,
vir?”; 2 arranjo de vida; 3 de estar sempre no mesmo sítio;
4
alegram-se; divertem-se; 5 sou; 6 macaca; 7 alusão à alegria de é já mais que a Madanela
Maria Madalena quando soube da ressurreição de Cristo. quando achou a aleluía.7

98
Farsa de Inês Pereira

Vem a Mãe, e, não na achando lavrando, diz: Mãe E como? Tamanho é o mal?
Lia. Tamanho? Eu to direi:
Logo eu adevinhei
40 lá na missa onde eu estava, vinha agora pereli14
como a minha Inês lavrava 85 ò redor da minha vinha,
a tarefa que lhe eu dei... e um clérigo, mana minha,
Acaba esse travesseiro! pardeos15, lançou mão de mi16.
Hui! naceo-te algum unheiro? Não me podia valer.
45 Ou cuidas que é dia santo? Diz que havia de saber
Inês Praza a Deos que algum quebranto 90 se era eu fêmea se macho.
me tire de cativeiro. Mãe Hui! Seria algum muchacho
que brincava por prazer?
Mãe Toda tu estás aquela…8
Choram-te os filhos por pão? Lia. Si, muchacho sobejava…
50 Inês Prouvesse a Deos! Que já é rezão Era um zote tamanhouço!...17
de eu não estar tão singela9. 95 E eu andava no retouço,
Mãe Olhade lá o mao pesar…10 tão rouca que não falava.
Como queres tu casar Quando o vi pegar comigo
com fama de preguiçosa? que me achei naquele perigo:
55 Inês Mas eu, mãe, são aguçosa11 – Assolverei! − Não assolverás!
e vós dais-vos de vagar. 100 – Tomarei! − Não tomarás!
– Jesu! Homem! que hás contigo? −
Mãe Ora espera, assi vejamos.
Inês Quem já visse esse prazer! – Irmã, eu t’assolverei
Mãe Cal'te, que poderá ser, c’o breviairo de Braga.18
60 que «ante a Páscoa vem os Ramos.» – Que breviairo, ou que praga!
Não te apresses tu, Inês. 105 Que não quero! Aque d'el-Rei! –
«Maior é o ano que o mês»: Quando vio revolta a voda,19
quando te não precatares, foi e esfarrapou-me toda
virão maridos a pares, o cabeção da camisa.
65 e filhos de três em três. Mãe Assi me fez dessa guisa20
110 outro, no tempo da poda.
Inês Quero-m'ora alevantar.
Folgo mais de falar nisso
Eu cuidei que era jogo
− assim Deos me dê o paraíso, −
e ele... dai-o vós ò fogo!
mil vezes que não lavrar.
Tomou-me tamanho riso,
70 Isto não sei que o faz...
riso em todo meu siso,
Mãe Aqui vem Lianor Vaz.
115 e ele leixou-me logo.
Inês E ela vem-se benzendo...

[entra Lianor Vaz]

Lia. Jesu! que me eu encomendo!


Quanta cousa que se faz!12

75 Mãe Lianor Vaz, que é isso?


Lia. Venho eu, mana, amarela13? 8
Hoje dir-se-ia “lá estás tu…”; 9 sozinha, solteira; 10 “vejam que
Mãe Mais ruiva que uma panela! desgraça…”(ironia); 11 diligente; 12 como podem acontecer certas
Lia. Não sei como tenho siso! coisas ; 13 pálida; 14 por ali; 15 interjeição “por Deus”; 16 agarrou-
Jesu, Jesu, que farei? -me; 17 era um bruto de tal tamanho; 18 em Braga foi impresso o
80 Não sei se me vá a el-Rei, Breviário; Bracarense em 1494; 19 quando viu estragados os seus
se me vá ao Cardeal. planos; 20 maneira.

99
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Representação do quotidiano | Caracterização das personagens | Relação entre personagens

PROFESSOR Lia. Si, agora, ieramá!21


Também eu me ria cá
Educação Literária das cousas que me dizia:
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.9 chamava-me «luz do dia».
120 – «Nunca teu olho verá!» –
1. As didascálias apresentam
Inês e as ações que ela Se estivera de maneira
desempenha. sem ser rouca, bradara eu.
2.1 Inês não aceita nem gosta
das tarefas domésticas,
Mas logo o demo me deu
concretamente de bordar; cadarrão e peitogueira,22
não lhe agrada também ter de 125 cócegas e cor de rir,23
permanecer em casa (como
era usual no século XVI), uma e coxa pera fugir,
vez que isso constituía, para e fraca pera vencer.
a personagem, uma espécie
de cativeiro e tornava a vida Porém pude-me valer
enfadonha. Lamenta, ainda, sem me ninguém acudir...
o facto de outras raparigas
da sua idade se divertirem,
enquanto ela tem de
130 O demo, e não pode al ser,
permanecer “cativa” em casa. se chantou24 no corpo dele.
2.2 O monólogo funciona Mãe Mana, conhecia-t’ele?
como um desabafo e um
lamento caracterizadores da Lia. Mas queria-me conhecer!
personagem. Mãe Vistes vós tamanho mal?
2.3 Inês é uma jovem, em Eu me irei ao Cardeal,
idade de casar, revoltada
135 Lia. Mãe Deras-lhe, má hora, boa,30
com a sua condição social e far-lhe-ei assi mesura e mordera-lo na coroa.
e com todas as tarefas e e contar-lhe-ei a aventura
comportamentos exigidos 165 Lia. Assi! Fora excomungada!
pela sua situação. A avaliar que achei no meu olival.
pelo seu comportamento, Não lhe dera um empuxão,
não é muito diligente. Assim, Mãe Não estás tu arranhada, porque são tão maviosa,31
sentindo-se cansada da 140 de te carpir, nas queixadas.25 que é cousa maravilhosa.
vida que é obrigada a levar,
anseia libertar-se por meio do Lia. Eu tenho as unhas cortadas E esta é a concrusão.
casamento. (vv. 7-11): e mais estou tosquiada.26 170 Leixemos isto! Eu venho
“Ó Jesu! que enfadamento, /[…]
/ d'algum outro aviamento.”) E mais pera que era isso? com grande amor que vos tenho,
3. A Mãe, de forma irónica, E mais pera que é o siso? porque diz o exemplo antigo
condena o facto de Inês ter 145 E mais no meo da requesta27 que amiga e bom amigo
abandonado o bordado, uma
das incumbências que lhe veo um homem de ~ ua besta,28 mais aquenta que o bom lenho.
deixara: “logo […] lhe eu dei…”; que em vê-lo vi o paraiso.
“naceo-te algum unheiro?"(vv. 175 Inês está concertada
39-44).
Por esta razão, afirma que
E soltou-me porque vinha, pera casar com alguém?
a filha é preguiçosa e que, bem contra sua vontade. Mãe Até 'gora com ninguém
devido a essa fama, terá Porém, a falar verdade,
dificuldades em encontrar
150
não é ela embaraçada.32
marido. A Mãe procura ainda já eu andava cansadinha. Lia. Em nome do anjo bento
convencer a filha de que os Não me valia rogar,
pretendentes não tardarão 180 eu vos trago um casamento.
em aparecer e de que a vida de nem me valia chamar: Filha, não sei se vos praz.33
casada não é o que esta pensa, – «Àque de Vasco de Fois29 Inês E quando, Lianor Vaz?
pois rapidamente aparecerão
os filhos. Por tudo isto, 155 acudi-me, como sois»!
aconselha-a a não ter pressa E ele... senão pegar:
21
“que («ante a Páscoa vem os interjeição “em má hora”; 22 catarro e tosse;
Ramos»” e “Maior é o ano 23
– Mais mansa, Lianor Vaz, vontade de rir; 24 pôs-se; meteu-se; 25 alusão a um
do que o mês”(vv. 60 e 62).
assi Deos te faça santa. costume medieval, segundo o qual a mulher forçada
4. Inês só tem um desejo –
casar o mais rapidamente – Trama te dê na garganta! devia carpir-se arranhando a face; 26 cabelo cortado;
27
possível: “Praza a Deos […] contenda; 28 um homem que conduzia um animal
cativeiro” e “Prouvesse a Deos! 160 Como! Isto assi se faz? de carga; 29 Vasco de Fois era alferes-mor da Ordem de
[…] tão singela” (vv. 46-47 – Isto não revela nada... Cristo; 30 subentende-se o termo “sova”; 31 bondosa;
e 50-51). 32
– Tu nam vês que são casada? comprometida; 33 agrada.

100
Farsa de Inês Pereira

Lia. Já vos trago aviamento.34 Lia. Nesta carta que aqui vem PROFESSOR
195 pera vós, filha, d'amores,
Inês Porém, não hei-de casar veredes vós, minhas flores, 5.1 Lianor Vaz veio a casa de
Inês, com o objetivo de lhe
185 senão com homem avisado.35 a descrição que ele tem. apresentar uma proposta de
Ainda que pobre e pelado, Inês Mostrai-ma cá, quero ver. casamento: traz uma carta de
um pretendente à mão de Inês
seja discreto em falar, Lia. Tomai. E sabedes vós ler? (vv. 194-197).
que assi o tenho assentado. 200 Mãe Hui! ela sabe latim, 5.2 Inês mostra-se pouco
recetiva e desconfiada, ao
Lia. Eu vos trago um bom marido, e gramáteca, e alfaqui37 contrário de sua Mãe e de
190 rico, honrado, conhecido. e tudo quanto ela quer! Lianor, que estão muito
entusiasmadas com o
Diz que em camisa vos quer.36 pretendente. A atitude de
Inês Primeiro eu hei-de saber 34
Inês justifica-se pelo facto de
arranjo de vida; 35 discreto; 36 “diz que vos aceita sem já ter em mente um modelo
se é parvo, se sabido. dote”; 37 a Mãe pretende mostrar que a filha é culta. de homem bem definido, que
poderá não corresponder à
proposta de Lianor. Por esta
razão, ainda que a alcoviteira
1. Identifique a funcionalidade das didascálias iniciais. o caracterize como “um
bom marido, / rico, honrado,
2. A farsa tem início com um monólogo de Inês Pereira. conhecido / […] que em camisa
vos quer” (vv. 189-191), Inês
2.1 Enuncie os aspetos do quotidiano da personagem que lhe desagradam. quer primeiro saber como ele
é, mostrando interesse em
2.2 Explicite a funcionalidade deste monólogo. ler a carta que ele lhe enviou
(v. 198).
2.3 Apresente três traços caracterizadores desta personagem a partir das suas pala- 6. vv. 184-188
7.
vras. a. Comparação. A jovem
compara-se a uma panela sem
3. Apresente as críticas e os conselhos expressos pela Mãe de Inês a partir do verso 39. asa, aludindo, desta forma, ao
facto de não ter ainda casado.
4. Identifique o desejo expresso por Inês ao longo do diálogo com a sua Mãe. b. Ironia. A mãe de Inês zomba
da pressa da filha em casar,
afirmando, de modo irónico,
5. Uma nova personagem junta-se às anteriores. que o facto de se encontrar
ainda solteira é uma desgraça.
5.1 Refira o objetivo da vinda desta personagem a casa de Inês.
5.2 Compare o grau de entusiasmo de Inês ao de Lianor Vaz, relativamente à proposta Gramática
desta última. 17.3

6. Transcreva os versos que melhor definem o modelo de homem de Inês Pereira. 1.1 Valor de oposição (conector
adversativo)
1.2 Estabelece um contraste
7. Identifique os recursos presentes nos seguintes versos, analisando a sua expressi- entre o modelo de homem que
vidade no texto. Inês tem em mente e o que lhe
apresentam.
a. “assi hei-de estar / encerrada nesta casa / como panela sem asa”. (vv. 12-14) 2.
a. apócope de “s”
b. “Olhade lá o mao pesar...” (v. 52) b. metátese
c. assimilação
d. epêntese de “i”

GRAMÁTICA

1. Releia os versos “Porém, não hei-de casar / senão com homem avisado”( vv. 184-185).
1.1 Indique o valor lógico do articulador inicial.
1.2 Apresente uma explicação para a sua utilização.

2. Identifique o(s) processo(s) fonológico(s) ocorrido(s) em cada um dos casos


apresentados de seguida.
a. Jesus > Jesu (v. 73) c. pera > para (v. 143)
b. BREVIARIU- > breviairo (v. 103) d. meo > meio (v. 145)

BLOCO INFORMATIVO – pp. 261, 278-279

101
Lexicologia: campo semântico e campo lexical
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), “O léxico de uma língua inclui não ape-
R
APL ICA nas o conjunto de palavras efetivamente atestadas num determinado contexto mas tam-
bém as que já não são usadas, as neológicas e todas as que os processos de construção de
palavras da língua permitem criar”.

CAMPO LEXICAL
É o conjunto de palavras associadas, pelo seu significado, a um determinado domínio
conceptual.

palco animais

personagem
em ator ribeiro flor

TEATRO NATUREZA

ponto encenador
en planície montanhas

cena arbusto

CAMPO SEMÂNTICO
É o conjunto de significados, ou aceções, que uma palavra assume, em função do contexto
em que ocorre, quer surja isolada ou integrada numa expressão, como se pode verificar nos
exemplos:

1. Campo semântico de “pé”.


a. O João rematou com o pé direito.
b. Quando chega tarde a casa, o João entra com pés de lã.

c. Seria difícil medir um campo de futebol em pés.

2. Campo semântico de “cabeça”.


a. A Teresa acordou com dores de cabeça.
b. A prima da Maria tem boa cabeça para os estudos.
c. O António é o cabeça da lista A, candidata à Associação de Estudantes.
d. Vi um rebanho com trezentas cabeças de gado.
e. É necessário enfrentar as situações de cabeça erguida!

102
APLICAR

1. Considere as seguintes frases.


a. Aos domingos, gosto de passear junto ao mar e observar os peixinhos, as algas,
os barcos, as ondas e a suavidade da areia.
b. O Manuel, como tem dificuldades em andar, apoia-se num pau.
c. Comprei uma mesa nova em pau de carvalho.
d. Coloquei na mochila, para levar para a escola, gramáticas, livros, canetas e até um
dicionário.
e. No fim da frase, deves colocar um ponto.
f. Gosto de macarrão, mas deve estar no ponto.
g. A tia do Pedro nunca dá ponto sem nó.
h. Acabei de separar o meu vestuário para a próxima estação, mas preciso de com-
prar uma saia, duas camisas, meias, um gorro e, talvez, um sobretudo.
PROFESSOR
1.1 Distinga aquelas em que ocorrem palavras pertencentes ao mesmo campo lexical.
Gramática
1.2 Transcreva as palavras e os respetivos campos lexicais. 19.3; 19.4

1.3 Preencha a tabela, agrupando as frases em que a mesma palavra aparece com 1.1 a., d. e h.
sentidos diferentes, seguindo as instruções. 1.2 a. mar – peixinhos, algas,
barcos, ondas, areia
d. escola − mochila,
gramáticas, livros, canetas,
A. B. C. D. E. dicionário
h. vestuário – saia, camisas,
Significado Campo meias, gorro, sobretudo
Frases em Significado
Palavra "denotativo" "lexical" ou 1.3. A.1. Pau A.2. Ponto
que ocorre que adquire
ou "conotativo" "semântico" C.1. b. cajado, bordão, bengala
c. madeira
b. ___________ b. ___________ _____________ C.2. e. sinal de pontuação
1. _____________ b. e c. f. no momento certo
c. ___________ c. ___________ _____________ da cozedura
g. ser interesseiro; ter
e. ___________ e. ___________ _____________ segundas intenções
D.1. b. denotativo
c. denotativo
2. _____________ e., f. e g. f. ___________ conotativo _____________ D.2. e. denotativo
g. conotativo
g. ___________ g. ___________ _____________ E.1. e E.2. campo semântico
2.
a. casa, apartamento, cabana,
tenda, …
2. Construa os campos lexicais dos seguintes vocábulos. b. flores, ninhos, sol, verde,
verdejante, …
a. Habitação. c. ator, cenário, duplo,
personagem, guião, …
b. Primavera.
3.
c. Cinema. a. O noivo colocou o anel
na mão esquerda. / O ladrão
praticou um assalto à mão
3. Redija um par de frases para cada palavra dada, utilizando-a em contexto e com armada.
significados diferentes. b. Nunca visitei a Ilha do Pico. /
O António, da turma B, é uma
a. Mão. ilha, não convive com ninguém.
c. Os jogadores de futebol
b. Ilha. não podem jogar à bola
com o braço. / Um braço de
c. Braço. rio entrando pela floresta
embeleza a paisagem.

103
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Caracterização das personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Continue a ler a Farsa de Inês Pereira.

Lê Inês Pereira a carta: 240 Lia. Não queirais ser tão senhora.
Casa, filha, que te preste,
«Senhora amiga Inês Pereira, não percas a ocasião.
Pero Marques, vosso amigo,
205 que ora estou na nossa aldea Queres casar a prazer
mesmo na vossa mercea no tempo d'agora, Inês?
m'encomendo1. E mais digo, 245 Antes casa em que te pês,6
digo que benza-vos Deos, que não é tempo d'escolher.
que vos fez de tão bom jeito. Sempre eu ouvi dizer:
210 Bom prazer e bom proveito «ou seja sapo ou sapinho,
veja vossa mãe de vós. ou marido ou maridinho,
E de mi também assi, 250 tenha o que houver mister.»7
Este é o certo caminho.
ainda que eu vos vi
est'outro dia folgar Mãe Pardeus, amiga, essa é ela!8
215 e não quisestes bailar Mata o cavalo de sela
nem cantar presente mi...» e bom é o asno que me leva.
Inês Na voda de seu avô, 255 Lia. Filha, «no chão de Couce
ou onde me viu ora ele? quem não poder andar, choute.»9
Lianor Vaz, este é ele? E: «mais quero eu quem m'adore
220 Lia. Lede a carta sem dó,2 de quem faça com que chore.»
que inda eu são contente dele. Chamá-lo-ei, Inês?
260 Inês Si.
Prossegue Inês Pereira a carta: Venha e veja-me a mi.
Quero ver, quando me vir,
«Nem cantar presente mi. se perderá o presumir
Pois Deos sabe a rebentinha3 logo em chegando aqui,
que me fizestes então. 265 pera me fartar de rir.
225 Ora, Inês, que hajais benção
de vosso pai e a minha, Mãe Touca-te10 bem, se vier,
que venha isto a concrusão. pois que pera casar anda.
Inês Essa é boa demanda!
E rogo-vos como amiga, Cerimónias há mister
que samicas vós sereis4, 270 homem que tal carta manda?
230 que de parte me faleis Eu o estou cá pintando:
antes que outrem vo-lo diga. sabeis, mãe, que eu adivinho?
E, se não fiais de mi, Deve ser um vilãozinho…
esteja vossa mãe aí Ei-lo, se vem penteando:
e Lianor Vaz de presente. 275 será com algum ancinho?
235 Veremos se sois contente
que casemos na boa hora.»
1
Inês Des que nasci até agora recomendo-me a vossa mercê; 2 sem vos agastardes; 3 fúria;
4
talvez; 5 nem tão disparatado; 6 casa mesmo contrariada; 7 tenha
não vi tal vilão com'este,
o que necessário for; 8 essa é que é a verdade; 9 “quem não puder
nem tanto fora de mão5! ter o que deseja, contente-se com o que tem”; 10 arranja-te.

104
Farsa de Inês Pereira

Aqui vem Pero Marques, vestido como filho de lavra- Cuido que lhe trago aqui
dor rico, com um gabão azul deitado ao ombro, com o peras da minha pereira...
capelo por diante, e vem dizendo: Hão-de estar na derradeira.18
Tende ora, Inês, per i.19
Pero Homem que vai onde eu vou 320 Inês E isso hei-de ter na mão?
não se deve de correr.11 Pero Deitai as peas20 no chão.
Ria embora quem quiser,
que eu em meu siso estou. Inês As perlas21 pera enfiar…
280 Não sei onde mora aqui... Três chocalhos e um novelo...
olhai que m’esquece a mi! E as peas no capelo...22
Eu creo que nesta rua... 325 E as peras? Onde estão?
Esta parreira é sua.
Já conheço que é aqui. Pero Nunca tal me aconteceu!
Chega Pero Marques aonde elas estão, e diz: Algum rapaz m'as comeu...
que as meti no capelo,
285 Pero Digo que esteis muito embora. e ficou aqui o novelo,
Folguei ora de vir cá... 330 e o pentem não se perdeu.
Eu vos escrevi de lá Pois trazia-as de boa mente...
ũa cartinha, senhora... Inês Fresco vinha aí o presente
Assi que… e de maneira... com folhinhas borrifadas!23
290 Mãe Tomai aquela cadeira. Pero Não que elas vinham chentadas
Pero E que val aqui ũa destas?12 335 cá em fundo no mais quente.24
Inês (Ó Jesu! que João das bestas!
Olhai aquela canseira!) Vossa mãe foi-se? Ora bem...
Sós nos leixou25 ela assi?...
Assentou-se com as costas pera elas, e diz: Cant’eu quero-me ir daqui,
Eu cuido que não estou bem... não diga algum demo alguém...26
295 Mãe Como vos chamam, amigo? 340 Inês Vós que me havíeis de dizer?
Pero Eu Pero Marques me digo, Nem ninguém que há-de dizer?
como meu pai que Deos tem. (O galante despejado!27)
Faleceo, perdoe-lhe Deos, Pero Se eu fora já casado,
que fora bem escusado, d’outra arte havia de ser,
300 e ficamos dous eréos.13 345 como homem de bom recato.
Perém meu é o mor gado.14
Mãe De morgado é vosso estado? Inês (Quão desviado este está!
Isso veria dos céos! Todos andam por caçar
suas damas sem casar,
Pero Mais gado tenho já quanto, e este... tomade-o lá!)
305 e o mor de todo o gado,
digo maior algum tanto.
E desejo ser casado,
11
prouguesse15 ao Espírito Santo, não se deve envergonhar; 12 “para que serve uma coisa destas?”;
13
herdeiros; 14 herdei a maior parte do gado (a mãe julga que ele
com Inês, que eu me espanto
disse “morgado”); 15 prouvesse (agradasse); 16 partícula de refor-
310 quem me fez seu namorado. ço; 17 “se alguém está melhor para ela do que eu”; 18 no fundo;
19
Parece moça de bem, “segurai aí, Inês”; 20 cordas para prender os animais; 21 contas de
e eu de bem, er16 também. vidro de enfiar; 22 capuz do gabão; 23 réplica irónica de Inês Pereira,
Ora vós ide lá vendo afirmando que, assim, naquela confusão, o presente vinha fresco;
24
Pero Marques não percebe a ironia e afirma que, pelo contrário,
se lhe vem milhor ninguém,17 as peras vinham “quentes”; 25 deixou; 26 não vá alguém fazer co-
315 a segundo o que eu entendo. mentários; 27 “vejam o atrevimento deste galante” (ironia).

105
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Caracterização das personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica

350 Pero Vossa mãe é lá no muro? Se fora outro homem agora,


Inês Minha mãe eu vos seguro e me topara a tal hora,
que ela venha cá dormir. estando assi às escuras,
Pero Pois, senhora, eu quero-me ir 390 falara-me mil doçuras,
antes que venha o escuro. ainda que mais não fora...
355 Inês E não cureis mais de vir.
[torna a Mãe e diz]
Pero Virá cá Lianor Vaz,
veremos que lhe dizeis... Mãe Pero Marques foi-se já?
Inês Homem, não aporfieis,28 Inês Pera que era ele aqui?
que não quero nem me praz. Mãe E não t'agrada ele a ti?
360 Ide casar a Cascais. 395 Inês Vá-se muitieramá!35
Pero Não vos anojarei mais, Que sempre disse e direi:
ainda que saiba estalar;29 mãe, eu me não casarei
e prometo não casar senão com homem discreto,36
até que vós não queirais. e assi vo-lo prometo
400 ou antes o leixarei.
[Pero vai-se, dizendo]
365 (Estas vos são elas a vós: Que seja homem mal feito,
anda homem a gastar calçado, feo, pobre, sem feição,
e quando cuida que é aviado, como tiver descrição,
escarnefucham30 de vós! não lhe quero mais proveito.
Não sei se fica lá a pea... 405 E saiba tanger viola,
370 Pardeus! Bom ia eu à aldeia!) e coma eu pão e cebola.
[voltando atrás] Siquer ũa canteguinha!
Discreto, feito em farinha,
Senhora, cá fica o fato?31 porque isto me degola.37
Inês Olhai se o levou o gato...
Pero Inda não tendes candea?32 410 Mãe Sempre tu hás-de bailar,
Ponho per cajo33 que alguém e sempre ele há-de tanger?
375 vem como eu vim agora, Se não tiveres que comer,
e vos acha só a tal hora: o tanger te há-de fartar?
parece-vos que será bem? Inês Cada louco com sua teima.
Ficai-vos ora com Deos: 415 Com ũa borda de boleima38
çarrai a porta sobre vós e ũa vez d'água fria,
380 com vossa candeazinha. não quero mais cada dia.
E sicais34 sereis vós minha: Mãe Como às vezes isso queima!
entonces veremos nós...
[Vai-se Pero Marques e diz] Inês Pereira E que é desses escudeiros?
420 Inês Eu falei ontem ali
Inês Pessoa conheço eu
que passarão por aqui
que levara outro caminho...
os judeus casamenteiros
385 Casai lá com um vilãozinho,
e hão-de vir logo aqui.
mais covarde que um judeu!

28
Não teimeis; 29 saiba que vou sofrer; 30 escarnecem; 33
suponhamos; 34 se por ventura; 35 em má hora;
31 36
“fato” é uma palavra do vocabulário dos pastores qualidade do que possui as virtudes palacianas
que designa os objetos de uso pessoal; 32 candeia (saber, educação, finura, etc.); 37 é disso que eu
(Pero espanta-se por ser escuro e Inês não ter gosto; sou doida por isso; 38 um bocado de bolo.
acendido “uma luz”;

106
Farsa de Inês Pereira

1. Assinale as afirmações verdadeiras e as falsas, considerando a carta de Pero


Marques. De seguida, corrija as afirmações falsas.
a. Pela leitura da carta, o pretendente aparenta ser um homem delicado e distinto.
b. Inês era uma desconhecida para o abastado lavrador. PROFESSOR

c. Pero Marques mostra preocupações com a reputação de Inês.


d. À medida que a jovem vai lendo a carta, vai crescendo o interesse por Pero Marques. Áudio
“Inês Pereira lê a carta”
e. Após a leitura da carta, Inês acede, finalmente, a que sua Mãe chame o candidato
a marido.
Educação Literária
f. Lianor Vaz e a Mãe utilizam uma linguagem proverbial para apresentarem uma 14.3; 1 4.4; 14.7; 15.1
opinião favorável ao casamento de Inês com Pero Marques.
1.
g. Com a expressão “Cerimónias há mister / homem que tal carta manda?” (vv. 268- a. F – Aparenta ser um
camponês rude e mesmo
-269), Inês está a ser irónica, pois não vê necessidade de se vestir conveniente-
algo tonto.
mente para receber um pretendente tão pouco cortês. b. F – O pretendente assegura
que vira Inês num baile.
h. A chegada de Pero Marques provoca o cómico na peça.
c. V
i. Pero Marques oferece a Inês as peras que trazia no capelo. d. F – A Inês não agrada o tom
da carta nem os comentários
j. O marido ideal, para Inês, deve ser rico, discreto e ter a educação de quem fre- que Pero faz sobre um possível
quenta os ambientes palacianos. encontro e futuro casamento.
e. F – Quem chama o candidato
k. A Mãe revela-se uma mulher sensata e experiente, aconselhando Inês a esperar é Lianor Vaz.
pelos judeus casamenteiros. f. V
g. V
h. V
GRAMÁTICA i. F – Pero Marques não
encontra as peras, que trazia,
1. Releia os seguintes versos. aconchegadas e quentinhas,
no fundo do saco.
a. “Senhora, cá fica o fato?” (v. 371) j. F – O marido ideal para
Inês pode não ser rico, desde
b. “parece-vos que será bem?” (v. 377) que seja discreto e tenha a
educação de quem frequenta
c. "entonces veremos nós...” (v. 382) os ambientes palacianos.
d. “E não t’agrada ele a ti?” (v. 394) K. F – A Mãe aconselha Inês a
ser prudente, não se deixando
e. “e assi vo-lo prometo” (v. 399) levar por frivolidades
(vv. 410-413).
f. “Eu falei ontem ali” (v. 420)
Gramática
g. “que passarão por aqui” / os judeus casamenteiros” 18.1
(vv. 421-422)
1.1
1.1 Indique a função sintática dos elementos a. Vocativo
sublinhados. b. Complemento indireto;
predicativo do sujeito
1.2 Identifique, nas frases, as seguintes classes c. Sujeito simples
de palavras: d. Complemento indireto
e. Complemento direto
a. verbos no presente do indicativo; f. Modificador
g. Complemento oblíquo;
b. nomes; sujeito simples
1.2
c. pronomes; a. fica, parece, agrada,
prometo
d. conjunções; b. senhora, fato, judeus
c. vos, nós, te, ele, ti, lo, eu
e. determinantes. d. que, e
e. o, os
f. advérbios. f. cá, bem, entonces (então),
assi (assim), ontem, ali, aqui
BLOCO INFORMATIVO
pp. 271-273 e 260-264

107
Lexicologia: arcaísmos e neologismos
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T A língua está em constante evolução: umas palavras modificam-se, ocorrendo evolu-
R ção fonética; outras caem em desuso (arcaísmos); e outras surgem de novo (neolo-
APL ICA
gismos).

Observe o seguinte quadro, em que se encontram sistematizados estes dois conceitos.

Definição Exemplos

Arcaísmos
São termos de uso corrente num a. “O demo, e não pode al ser…”
determinado período na história da (‘outra coisa’)
língua, que acabam por cair em desuso b. “E rogo-vos como amiga, que samicas vós
posteriormente. sereis.”
O texto literário é uma fonte documental (‘talvez’, ‘porventura’)
privilegiada da existência desses vocábulos, c. “e ficamos dous éreos”
como se pode comprovar com a Farsa de Inês (‘herdeiros’)
Pereira.

Neologismos
São novos termos que surgem na língua a. “Eurocéticos não perturbarão
o Parlamento Europeu”
• devido à evolução nas áreas científica,
tecnológica ou política (a.); […] José María Gil-Robles falou ao DN sobre
as suas expectativas em relação
às eleições europeias. Desvaloriza o impacto
que um elevado número de eurodeputados
eurocéticos, populistas e extremistas possa
vir a ter no funcionamento da eurocâmara.
DN, edição online (acedido em fevereiro
de 2017).

• no domínio literário, criados por escritores, b. “Mas, para espantação e reza, meu pai
com intenções expressivas ou estilísticas golfinhou-se entre as ondas…”; “[…] um
(b.). esticão na linha me indicava a presença de
um peixe namordiscando o anzol…”
Mia Couto, Mar me quer, 13.a ed., Lisboa,
Editorial Caminho, 2013.

Podem formar-se através de formas diferentes c. “Microsoft quer ‘ativar’ Portugal e no


a partir da exploração de recursos já existentes Porto já há 18 vagas por preencher
na língua e/ou através dos diferentes processos Ativar Portugal é o nome e o objetivo da
de formação de palavras (regulares e iniciativa da Microsoft que se propõe criar
irregulares) como é o caso da extensão dois mil postos de trabalho até ao final do
semântica (c.). ano. O portal online arranca esta quarta-
-feira. […] A entrada no mercado pode
estar mais perto e o processo pode passar
apenas pela colocação do currículo na
plataforma online.”
Jornalismo Porto Net (jpn), edição online
(acedido em fevereiro de 2017).

108
APLICAR

1. Considere os seguintes versos de uma cantiga de amigo da autoria de Dom Dinis.


Levantou-s’a velida
Levantou-s’alva,
E vai lavar camisas
1.1 Evidencie os termos que atualmente constituem arcaísmos.
1.2 Reescreva os versos, substituindo os termos arcaicos identificados em 1.1 por ter-
mos atuais que lhes correspondam.

2. Releia agora estes versos da Farsa de Inês Pereira (vv. 194-199).

Lia. Nesta carta que aqui vem Inês Mostrai-ma cá, quero ver.
pera vós, filha, d'amores, Lia. Tomai. E sabedes vós ler?
veredes vós, minhas flores,
a descrição que ele tem.

2.1 Reescreva-os, substituindo as formas verbais arcaicas aí presentes pelas corres-


pondentes atuais.

3. Leia atentamente os seguintes trechos.

A.

O pr
primeiro-ministro
rim
mei
eiro
o-mmin nisstr
tro
o assegurou
asse
as segu
se guro
gu rou
ro u hoje
hoje que
que
u o programa
pro
rogr
gram
gramaa de assistência
am ass
s isstêêncciaa está
esttá encerrado,
ence
en cerr
cerr
rrad
addo,
o
estando
es
sta
t nddo a ser
see negociada
nego
ne gociiad da com
com a "troika"
"tro
"t roik
ro ika"
ika" a forma
for
orma
ma dede ultrapassar
ultr
ultrap
trapas
ap assa
as sarr a al
sa aalteração
teeraçã
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ditada
ita
tada
da ppelo
ello
acór
ó dãão do
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Tri
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Cons
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de 2017).
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B.

Os astrónomos
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obri
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ra m um planeta
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1 ).
)
19.1; 19.2; 19.6

C. 1.1 e 1.2 “velida”: bela, formosa;


“alva”: alvorada, madrugada.
As meninas
mene in
inas
as p
passavam
assa
as sava
savaam […[…].
]. N Nós
ós ficávamos
ficácáva
vamo
va mo
os no om muro,
uro,
ur o, o
olhos
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hos ttrincando
r nc
ri n an
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o aass so
sombras
omb bra
r s fe
feme
femea-
meea- 2.1 “veredes”: vereis;
meninas.
meenina
nas.
na sN Nosso
osso
os o futebol
boll era
futtebol
eb era ali,
alili,, na mesa
esaa de matraquilhos
mes mat
atra
raqu
ra hoss do Bar
quilililho
qu ho Bar Viriato.
Vir t . […]
iriaato […] Era
Era ali
alli que
ue vibra-
qu viibr
braa- “sabedes”: sabeis.
3.1
nossas
vam ass n o sa
os multidões
s s mu ult
l idõe
õ s qu
õe quando
quan
ando
an pequena
do a p eque
eq uena
ue bola
na bolla de mmadeira
adei
ad eira
ei ra eescorrecaía
sco
scorreeca
or caíaa n
caía no buraco
o bu
bura
raco
aco oddaa ba
baliza.
bali
liiza
za.. A. “troika” e “tranche”:
Mia Couto,
Couto
Cou , ““O
uto Oddia
i em
ia em que fu
fuzilaram
uzil
zilara
aram
aram o gu
g
guarda-redes
ard
rda-r
a-rrede
eddess da
da m
minha
inh
nh
ha e
equipa”,
q pa”
qui p , economia/política
in Cro
Cronicando,
Cronic
nicand
nicando
and Lisboa,
o, L sboa, Caminho,
isb
sboa, C min
Caminho,
ho
h o 20
2006.
0
06
06. B. “mega-Terra”: ciência/
astronomia
C. “femeameninas"
3.1 Faça o levantamento dos neologismos em cada texto, indicando a área em que e "escorrecaía": literatura
aqui são usados. 3.2
A. "troika": entidade externa;
3.2 Indique uma palavra ou expressão com significado equivalente ao dos vocábulos "tranche": prestação
que destacou nos textos A. e B.. B. "mega-Terra": Terra gigante
3.3 “femeameninas”: fêmea
3.3 Decomponha os neologismos do texto C., indicando as palavras que os originaram. e menina(s); “escorrecaía”:
escorregava e caía.

109
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia atentamente o seguinte trecho da obra em análise, no qual os Judeus casamentei-


ros dão novas a Inês da sua busca por um pretendente discreto.

Aqui entram os Judeus casamenteiros, cha- Vid. Judeu, queres-me leixar?


mados, um Latão, e outro Vidal e diz Latão: Lat. Leixo, não quero falar.
Vid. Buscamo-lo...
Lat. Ou de cá!
Lat. Demo foi logo!
425 Inês Quem está lá?
470 Crede que o vosso rogo
Vid. Nome del Deu, aqui somos!
vencerá o Tejo e o mar.
Lat. Não sabeis quão longe fomos!
Vid. Corremos a iramá. Eu cuido que falo e calo...
Este e eu. Calo eu agora ou não?
430 Lat. Eu, e este... Ou falo se vem à mão?
Vid. Pola lama e polo pó, 475 Não digas que não te falo.
que era pera haver dó, Inês Jesu! Guarde-me ora Deos!
com chuiva, sol e Nordeste. Não falará um de vós?
Foi a coisa de maneira, Já queria saber isso...
435 tal friura e tal canseira, Mãe Que siso, Inês, que siso
que trago as tripas maçadas. 480 tens debaixo desses véos...
Assi me fadem boas fadas
Inês Diz o exemplo da velha:2
que me saltou caganeira!
«o que não haveis de comer
Pera vossa mercê ver leixai-o a outrem mexer.»
440 o que nos encomendou Mãe Eu não sei quem t'aconselha...
Lat. O que nos encomendou 485 Inês Enfim, que novas trazeis?
será se hoiver de ser. Vid. O marido que quereis,
Todo este mundo é fadiga… de viola e dessa sorte,
Vós dixestes, filha amiga, não no há senão na corte
445 que vos buscássemos logo... que cá não no achareis.
Vid. E logo pujemos fogo1...
490 Falámos a Badajoz3,
Lat. Cala-te!
músico, discreto, solteiro.
Vid. Não queres que diga? Este fora o verdadeiro,
Não sou eu também do jogo? mas soltou-se-nos da noz.4
450 Lat. Não fui eu também contigo? Fomos a Vilhacastim5
Tu e eu não somos eu? 495 e falou-nos em latim:
Tu judeu e eu judeu, – «Vinde cá daqui a ũa hora,
não somos massa dum trigo? E trazei-me essa senhora.»
Vid. Si somos. Juro al Deu! Inês Tudo é nada, enfim?
455 Lat. Leixa-me falar.
Vid. Esperai, aguardai ora!
Vid. Já calo.
500 Soubemos dum escudeiro
Senhora, há já três dias…
1 de feição d'atafoneiro6
logo nos apressámos Lat. Falas-lhe tu ou eu falo?
2
diz o ditado que virá logo essora,
3 Ora dize o que dizias:
Há um músico João de Badajoz que fala... e com’ora fala!
na corte de D. João III 460 que foste, que fomos, que ias
Estrugirá esta sala.
4 buscá-lo, esgaravatá-lo…
escapou-se-nos da mão
5 505 E tange... e com’ora tange!
músico espanhol ao serviço
da corte portuguesa Vid. Vós, amor, quereis marido Alcança quanto abrange,
6
que anda sempre ocupado mui discreto, e de viola? e se preza bem da gala.7
7
e se preza de ser um cavalheiro Lat. Esta moça não é tola,
465 que quer casar per sentido…
110
Farsa de Inês Pereira

Vem o Escudeiro, com seu Moço, que lhe Escudeiro [falando para o Criado]
traz ũa viola, e diz, falando só:
535 Olha cá, Fernando, eu vou
Se esta senhora é tal ver a com que hei-de casar.
como os judeus ma gabaram, Avisa-te que hás-de estar
510 certo os anjos a pintaram, sem barrete onde eu estou.
e não pode ser i al. Moço (Como a Rei! Corpo de mi!10
Diz que os olhos com que via 540 Mui bem vai isso assi...)
eram de Santa Luzia, Esc. E se cuspir, pola ventura,
cabelos, da Madanela... põe-lhe o pé e faz mesura.
515 Se ela fosse donzela, Moço (Ainda eu isso não vi!)
tudo essoutro passaria…8
Esc. E se me vires mentir,
Moça de vila será ela 545 gabando-me de privado,11
com sinalzinho postiço, está tu dissimulado, PROFESSOR
e sarnosa no toutiço, ou sai-te lá fora a rir.
520 como burra de Castela. Isto te aviso daqui, Educação Literária
Eu, assi como chegar, faze-o por amor de mi.
14.2; 14.5; 14.9
cumpre-me bem atentar
550 Moço Porém, senhor, digo eu 1. Os judeus desempenham
se é garrida, se honesta,
que mau calçado é o meu a função de casamenteiros
porque o milhor da festa e aparentam ser desonestos
pera estas vistas assi. e astutos, pois pretendem
525 é achar siso e calar. convencer Inês e a Mãe da
Esc. Que farei, que o sapateiro dificuldade da busca realizada
Mãe [falando para Inês] não tem solas, nem tem pele? para encontrar um marido
para a jovem.
555 Moço Çapatos me daria ele,
Se este escudeiro há-de vir 2. Os judeus exageram na
se me vós désseis dinheiro... descrição que fazem da busca,
e é homem de discrição, fazendo crer que o caminho
hás-te de pôr em feição, Esc. Eu o haverei agora. percorrido foi longo (v. 427),
e falar pouco e não rir. E mais, calças te prometo. que sofreram as agruras das
variações meteorológicas
530 E mais, Inês, não muito olhar, Moço (Homem que não tem nem preto12, (vv. 431-433) e que essa busca
e muito chão o menear,9 560 casa muito na má hora.) foi minuciosa (vv. 460-461). Por
outro lado, exageram também
por que te julguem por muda, as qualidades do pretendente,
para influenciar Inês para que
porque a moça sesuda 8
o sentido destes versos parece ser “fosse ela donzela esta o aceite (vv. 499-507).
é ũa perla pera amar. (virgem) e o resto não teria importância”; 9 mostrar- 3. Antes de conhecer Inês,
-se modesta e humilde nos gestos; 10 interjeição que o Escudeiro parece cético,
significa espanto e irritação; 11 de ser íntimo do rei; pois duvida das qualidades
12 de noiva, mas mostra-se
moeda de cobre.
cauteloso com a forma
de agir no encontro. Durante
1. Apresente três traços caracterizadores dos judeus que contribuam para a carica- o diálogo, revela o seu caráter
dissimulado quando adverte
tura destas personagens. o Moço para não o corrigir nem
mostrar admiração se o vir
mentir ou fazer-se passar por
2. Destaque os versos em que se hiperbolizam as dificuldades da busca efetuada pe- aquilo que não é.
los dois casamenteiros. 4. Os versos parentéticos
refletem o pensamento do
Moço e pretendem criticar/
3. Trace o retrato do Escudeiro, nos dois momentos, atendendo ao seu monólogo e ao denunciar o comportamento
diálogo com o Moço. do Escudeiro, quer quanto aos
seus modos quer no que se
refere ao facto de este tentar
4. Refira a intencionalidade do autor com os versos parentéticos presentes nas répli- aparentar ser rico.
5. Metonímia. Significando
cas do Moço. “preto” apenas moeda de
cobre, o Moço usa a expressão
para se referir à falta de
5. Indique, explicitando o seu sentido, o recurso expressivo presente na expressão
dinheiro e de bens materiais
“Homem que não tem nem preto” (v. 559). por parte do Escudeiro.
BLOCO INFORMATIVO – p. 284

111
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia, de forma dialogada e expressiva, o excerto textual em que o Escudeiro se apresenta


a Inês e esta o recebe como marido.

Chega o Escudeiro onde está Inês


Pereira, e alevantam-se todos, e fazem Moço, que estás lá olhando?
suas mesuras, e diz o Escudeiro: Moço Que manda Vossa Mercê?
600 Esc. Que venhas cá.
Antes que mais diga agora, Moço Pera quê?
Deus vos salve, fresca rosa, Esc. Pera fazeres o que mando!
e vos dê por minha esposa, Moço Logo vou.
por mulher e por senhora. (O diabo me tomou:
565 Que bem vejo 605 tirar-me de João Montês
nesse ar, nesse despejo, por servir um tavanês3,
mui graciosa donzela, mor doudo que Deos criou!)
que vós sois, minha alma, aquela Esc. Fui despedir um rapaz
que eu busco e que desejo. por tomar este ladrão,
610 que valia Perpinhão.
570 Obrou bem a Natureza Moço!
em vos dar tal condição Moço Que vos praz?
que amais a discrição Esc. A viola.
muito mais que a riqueza. Moço (Oh como ficará tola,
Bem parece 615 se não fosse casar ante
575 que a discrição merece c’o mais çáfio4 bargante
gozar vossa fermosura, que coma pão e cebola!)
que é tal que, de ventura,
outra tal não s’acontece.1 Ei-la aqui bem temperada,
não tendes que temperar.
Senhora, eu me contento 620 Esc. Faria bem de ta quebrar
580 receber-vos como estais: na cabeça, bem migada!
se vós vos não contentais, Moço E se ela é emprestada,
o vosso contentamento quem na havia de pagar?
pode falecer, nô mais.2 Meu amo, eu quero-m'ir.
Lat. (Como fala! 625 Esc. E quando queres partir?
585 Vid. Mas ela como se cala! Moço Ante que venha o inverno
Tem atento o ouvido... porque vós não dais governo
Este há-de ser seu marido, pera vos ninguém servir.
PROFESSOR segundo a coisa s'abala).
Esc. Não dormes tu que te farte?
Educação Literária
14.1; 14.2; 14.3; 14.5 Esc. Eu não tenho mais de meu, 630 Moço No chão, e o telhado por manta...
590 somente ser comprador E çarra-se-m’a garganta
do Marichal, meu senhor, com fome.
1
não há beleza como a vossa
e são escudeiro seu. Esc. Isso tem arte...5
2 Sei bem ler, Moço Vós sempre zombais assi.
o vosso contentamento
é a única qualidade que pode e muito bem escrever, 635 Esc. Oh que boas vozes tem
faltar-vos e bom jogador de bola,
3
595 esta viola aqui!
estouvado
4
rude; bronco; vadio
e quanto a tanger viola, Leixa-me casar a mi,
5 logo me vereis tanger. depois eu te farei bem.
isso arranja-se

112
Farsa de Inês Pereira

Mãe Agora vos digo eu Podeis topar um rabugento,


640 que Inês está no paraíso! desmazelado, baboso,
Inês Que tendes de ver c’o isso? 680 descancarrado,8 brigoso,
Todo o mal há-de ser meu. medroso, carapatento.
Mãe Quanta doudice! Este escudeiro, aosadas,9
Inês Como é seca a velhice! onde se derem pancadas,
645 Leixai-me ouvir e folgar, ele as há-de levar
que não me hei-de contentar 685 boas, senão apanhar.
de casar com parvoíce. Nele tendes boas fadas.

Pode ser maior riqueza Mãe Quero rir com toda a mágua
que um homem avisado? destes teus casamenteiros!
650 Mãe Muitas vezes, mal pecado,6 Nunca vi judeus ferreiros
é milhor boa simpreza. 690 aturar tão bem a frágoa.10
Lat. Ora oivi, e oivireis. Não te é milhor, mal por mal,
Escudeiro, cantareis Inês, um bom oficial,11
algũa boa cantadela. que te ganhe nessa praça,
655 Namorai esta donzela que é um escravo de graça,
e esta cantiga direis: 695 e casarás com teu igual?

Canta o Judeu
Lat. Senhora, perdei cuidado:
Canas do amor, canas o que há-de ser, há-de ser;
canas do amor. e ninguém pode tolher
Polo longo de um rio o que está determinado.
660 canaval vi florido, 700 Vid. Assi diz Rabi Zarão.
canas do amor. Mãe Inês, guar’-te de rascão!12
Escudeiro queres tu?!
Canta o Escudeiro o romance de «Mal Inês Jesu, nome de Jesu!
me quieren en Castilla», e diz Vidal: Quão fora sois de feição!13

Vid. Latão, já o sono é comigo. 705 Já minha mãe adevinha...14


Como oivo cantar guaiado,7 Houvestes por vaidade
que não vai esfandagado... casar à vossa vontade?
665 Lat. Esse é o demo qu’eu digo! Eu quero casar à minha.
Viste cantar dona Sol: Mãe Casa, filha, muit’embora.
Pelo mar vai a vela 710 Esc. Dai-me essa mão senhora.
vela vai pelo mar? Inês Senhor, de mui boa mente.
Esc. Per palavras de presente
Filha Inês, assi vivais
vos recebo desd’agora.
670 que tomeis esse senhor
escudeiro cantador
Nome de Deos, assi seja!
e caçador de pardais,
715 Eu Brás da Mata, escudeiro,
sabedor, revolvedor,
recebo a vós Inês Pereira
falador, gracejador
por mulher e por parceira
675 afoitado pola mão,
como manda a Santa Igreja.
e sabe de gavião...
Tomai-o por meu amor. 6
infelizmente; 7 cantar nostálgico ou lamentoso;
8
descarado; 9 interjeição que significa admiração;
10
desempenharem bem as suas funções; 11
artífice; 12 vadio; 13 sois tão pouco razoável; 14 já
minha mãe se põe a adivinhar; a fazer agouros.

113
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica

Inês Eu, aqui diante Deos, Cantam todos a cantiga que se segue:
720 Inês Pereira, recebo a vós,
Mal ferida va la garça
Brás da Mata, sem demanda
enamorada,
como a Santa Igreja manda
sola va y gritos dava.
Lat. Juro al Deu! Aí somos nós!
755 A las orillas de un rio
la garça tenia el nido;
15
Os Judeus ambos
os judeus felicitam Inês pelo ballestero la ha herido
seu casamento
Alça manim, dona, ò dono, ha.
en el alma;
16
Sê bem-vinda, Luzia 725 Arrea espeçulá.15
17 sola va y gritos dava.
outra ocasião Bento o Deu de Jacob,
18
fórmula de despedida bento o Deu que a Faraó E, acabando de cantar e bailar, diz
19
depressa; cedo
espantou e espantará. Fernando:
Bento o Deu de Abraão
PROFESSOR 760 Ora, senhores honrados,
730 benta a terra de Canão.
ficai com vossa mercê,
Escrita Para bem sejais casados!
e nosso Senhor vos dê
11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4; Dai-nos cá senhos ducados.
13.1 com que vivais descansados
Mãe Amenhã vol-os darão.
Isto foi assi agora,
Proposta de síntese: Pois assi é, bem será 765 mas melhor será outr’hora.17
1. Perdoai pelo presente:
a. Na réplica inicial,
735 que não passe isto assi.
o Escudeiro mostra-se muito Eu quero chegar ali foi pouco e de boa mente.
galante, tecendo vários
chamar meus amigos cá, Com vossa mercê, Senhora...18
elogios a Inês: compara-a
a uma rosa e chama-lhe e cantarão de terreiro.
“graciosa donzela”, Luz. Ficai com Deos, desposados,
afirmando que casará com ela Esc. Oh! quem me fora solteiro! 770 com prazer e com saúde,
de imediato. Enuncia, 740 Inês Já vós vos arrependeis? e sempre Ele vos ajude
de seguida, as suas próprias
características e os seus dons Esc. Ó esposa não faleis, com que sejais bem logrados.
(saber ler, tanger viola…). que casar é cativeiro. Mãe Ficai com Deos, filha minha,
b. Perante o Moço, mostra-se
arrogante e, durante este Aqui vem a Mãe com certas moças e não virei cá tão asinha.19
diálogo, confirma-se, de A minha benção hajais.
novo, a sua pobreza e a sua
mancebos pera fazerem a festa, e diz ũa 775

fanfarronice. delas, per nome Luzia: Esta casa em que ficais


c. É também neste ponto vos dou, e vou-me à casinha.
que a Mãe se mostra pouco Inês por teu bem te seja!
convencida das qualidades Oh! que esposo e que alegria! Senhor filho e senhor meu,
do noivo de Inês e questiona
o trabalho dos judeus. Estes, 745 Inês Venhas embora, Luzia,16 pois que já Inês é vossa,
por sua vez, são também e cedo t’eu assi veja. 780 vossa mulher e esposa,
críticos relativamente ao
caráter e atributos de Brás da Mãe Ora vai tu ali, Inês, encomendo-vo-la eu.
Mata. Apesar de tudo, mesmo e bailareis três por três. E, pois que des que nasceo
contra a vontade da Mãe,
Inês e o Escudeiro decidem Fer. Tu connosco, Luzia, aqui, a outrem não conheceo,
casar-se.
750 e a desposada ali, senão a vós, por senhor,
d. O Escudeiro revela que lhe tenhais muito amor,
mudanças de comportamento, ora vede qual direis. 785

pois mostra desagrado quando que amado sejais no céo.


a Mãe prepara uma festa para
comemorar a união e no modo
ríspido como responde a Inês BLOCO INFORMATIVO – p. 283
“Ó esposa não faleis, / que
casar é cativeiro” (vv. 741-742).
Faz-se uma pequena festa na E S C R I TA
qual participam alguns amigos.
Findo o casamento,
os noivos ficam sozinhos,
depois de terem sido 1. Sintetize o conteúdo deste excerto, num texto correto e coerente, contendo entre
abençoados pela Mãe, que vai 150 e 200 palavras, contemplando os seguintes aspetos:
viver para outra casa.
(176 palavras) a. réplica inicial do Escudeiro; c. comentários dos judeus e da Mãe;
b. diálogo entre o Escudeiro e o Moço; d. mudanças no comportamento do Escudeiro.

114
Farsa de Inês Pereira
Caracterização das personagens | Relações entre personagens

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia agora o excerto relativo à vida de casada de Inês Pereira.

Ida a Mãe, fica Inês Pereira e o Escudeiro. E senta- Pode ser maior aviso,
-se Inês Pereira a lavrar, e canta esta cantiga: maior descrição e siso
que guardar eu meu tisouro?
Si no os huviera mirado Não sois vós, mulher, meu ouro?
no penara, 825 Que mal faço em guardar isso?
pero tampoco os mirara
Vós não haveis de mandar
O Escudeiro, vendo cantar a Inês Pereira, mui em casa somente um pelo.
agastado lhe diz: Se eu disser: – isto é novelo –
havei-lo de confirmar.
790 Vós cantais, Inês Pereira? 830 E mais quando eu vier
Em vodas m'andáveis vós? de fora, haveis de tremer;
Juro ao Corpo de Deos e cousa que vós digais
que esta seja a derradeira! não vos há-de valer mais
Se vos eu vejo cantar, que aquilo que eu quiser.
795 eu vos farei assoviar…
[para o criado]
Inês Bofé1, senhor meu marido,
se vós disso sois servido, 835 Moço, às Partes d'Além3
bem o posso eu escusar. me vou fazer cavaleiro.
Esc. Mas é bem que o escuseis, Moço (Se vós tivésseis dinheiro.
800 e outras cousas que não digo! não seria senão bem...)
Inês Porque bradais vós comigo? Esc. Tu hás-de ficar aqui.
Esc. Será bem que vos caleis. 840 Olha, por amor de mi,
E mais, sereis avisada o que faz tua senhora:
que não me respondais nada, fechá-la-ás sempre de fora.
805 em que2 ponha fogo a tudo, [para Inês]
porque o homem sesudo
traz a mulher sopeada. Vós, lavrai, ficai per i.
Moço Com o que me vós leixais
Vós não haveis de falar 845 não comerei eu galinhas...
com homem, nem mulher que seja Esc. Vai-te tu per essas vinhas,
810 nem somente ir à igreja que diabo queres mais?
não vos quero eu leixar. Moço Olhai, olhai! Como rima!4
já vos preguei as janelas, E depois de ida a vendima?
por que vos não ponhais nelas. 850 Esc. Apanha desse rabisco.5
Estareis aqui encerrada Moço Pesar hora de São Pisco!
815 nesta casa, tão fechada Convidarei minha prima...
como freira d'Oudivelas.
E o rabisco acabado,
Inês Que pecado foi o meu? ir-me-ei espojar às eiras?
Porque me dais tal prisão?
Esc. Vós buscastes descrição,
820 que culpa vos tenho eu?

1
exclamação que pode significar ‘na verdade’; 2 mesmo que;
3
Marrocos; 4 (por antífrase ) que disparate!; 5 restos da vindima.

115
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens

855 Esc. Vai-te per essas figueiras, Juro em todo meu sentido
e farta-te, desmazelado! que se solteira me vejo,
Moço Assi? assi como eu desejo,
Esc. Pois que cuidavas? 895 que eu saiba escolher marido,
E depois virão as favas. a boa fé, sem mal engano,
860 Conheces túbaras de terra? pacífico todo ano,
Moço I-vos vós, embora, à guerra, e que ande a meu mandar.
que eu vos guardarei oitavas6... Havia m'eu de vingar
900 deste mal e deste dano!
Ido o Escudeiro, diz o Moço:
Entra o Moço com ũa carta de Arzila, e diz:
Senhora, o que ele mandou
não posso menos fazer. Esta carta vem d’Além,
865 Inês Pois que te dá de comer, creo que é de meu senhor.
faze o que t’encomendou. Inês Mostrai cá, meu guarda-mor,
Moço Vós fartai-vos de lavrar, veremos o que i vem.
eu me vou desenfadar
com essas moças lá fora. Lê o sobrescrito.
870 Vós perdoai-me, senhora,
porque vos hei-de fechar. 905 «À mui prezada senhora
Inês Pereira da Grã,
Aqui fica Inês Pereira só, fechada, lavrando e can- a senhora minha irmã».
tando esta cantiga: De meu irmão... Venha embora!

Quem bem tem e mal escolhe Moço Vosso irmão está em Arzila?
por mal que lhe venha não s'anoje. 910 Apostarei que i vem
nova de meu senhor também.
Renego da discrição, Inês Já ele partio de Tavila?
875 comendo ò demo o aviso, Moço Há três meses que é passado.
que sempre cuidei que nisso Inês Aqui virá logo recado
estava a boa condição. 915 se lhe vai bem, ou que faz.
Cuidei que fossem cavaleiros, Moço Bem pequena é a carta assás!
fidalgos e escudeiros, Inês Carta de homem avisado…
880 não cheos de desvarios,
e em suas casas macios, Lê Inês Pereira a carta, a qual diz:
e na guerra lastimeiros7.
«Muito honrada irmã,
Vede que cavalarias, esforçai o coração8
vede que já mouros mata 920 e tomai por devação9
885 quem sua mulher mal trata de querer o que Deus quer.»
sem lhe dar de paz um dia! E isto que quer dizer?
E sempre ouvi dizer «E não vos maravilheis
que homem que isto fizer de cousa que o mundo faça,
nunca mata drago em vale, 925 que sempre nos embaraça
890 nem mouro que chamem Ale: com cousas. Sabei que indo
e assi deve de ser. vosso marido fugindo
da batalha pera a vila,
a mea légua de Arzila,
6
os rendimentos (em sentido irónico); 7 cruel, desapiedado; 930 o matou um mouro pastor».
8
sede forte; 9 devoção. Moço Oh meu amo e meu senhor!

116
Farsa de Inês Pereira

Inês Dai-me vós cá essa chave, Guardar de cavaleirão,


e i buscar vossa vida. barbudo, repetenado10,
Moço Oh que triste despedida! que em figura de avisado
935 Inês Mas que nova tão suave! é malino e sotrancão11.
Desatado é o nó. 945 Agora quero tomar,
Se eu por ele ponho dó, pera boa vida gozar,
o diabo me arrebente! um muito manso marido.
Pera mim era valente, Não no quero já sabido,
940 e matou-o um mouro só! pois tão caro há-de custar.

10
manhoso; 11 hipócrita.

1. Complete o esquema seguinte, considerando o excerto lido.

Comportamento do Escudeiro e de Inês durante o casamento:

A. O Escudeiro mostra-se B. Inês não percebe a razão


do “encarceramento”, mas

Após a partida do Escudeiro para o Norte de África,

PROFESSOR

Educação Literária
C. Inês é vigiada pelo . Inês cumpre as indicações do
14.2; 14.3; 14.4; 14.7
seu marido. Contudo,
. 1.
A. arrogante e mesquinho,
desprezando o papel de Inês
enquanto mulher; tranca as
janelas e impõe-lhe regras
de comportamento. Manifesta
a intenção de se fazer cavaleiro
D. A chegada de uma carta anuncia a morte do Escudeiro, quando no Norte de África.
B. aceita as regras impostas
. e não manifesta intenções
de se livrar do casamento.
C. Moço. […] escrupulosamente
[…] mostra-se agastada com a
situação e tece considerações
sobre o modelo de marido que
agora deseja.
D. fugia cobardemente
E. A morte do Escudeiro origina . do campo de batalha.
E. a libertação de Inês.

117
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a

LEITURA

Se no passado o papel da mulher no casamento era sobretudo passivo, nos tempos


mais recentes, a situação alterou-se, uma vez que o sexo feminino tem também outras
prioridades, nomeadamente a carreira profissional.

Leia atentamente o texto, no qual se problematiza a temática do casamento, e res-


ponda às questões apresentadas.

A verdade das relações


Por Júlia Serrão

Nada ficou como antes depois de as


mulheres terem conquistado o mercado
de trabalho, da invenção do casamen-
to por amor e de o universo feminino ter
5 passado a reivindicar o desejo e o prazer
sexual. A partir destes acontecimentos,
a dinâmica das relações amorosas mudou
e o tipo de relacionamento entre homem
e mulher, no casamento, ficou mais equi-
10 librado – extingue-se a fórmula que fun-
cionou durante séculos, onde eles tinham
o poder, mandavam, e elas obedeciam. […]
Casal de velhos, estátua exposta em Vigeland Park
A dinâmica de relacionamento está in- and Museum, Oslo, Noruega.
timamente ligada às motivações do amor
15 e estas continuam a ser múltiplas e complexas, apesar de o casamento assentar no novo
paradigma do respeito mútuo entre as duas pessoas. […].
“O amor é muita coisa diferente para pessoas diferentes”, observa Rita Duarte, psicote-
rapeuta e mediadora familiar. […]
Para a psicoterapeuta, a grande diferença entre as uniões atuais e as de há 30 ou 40
20 anos “tem a ver essencialmente com a capacidade com que uma pessoa se desliga da outra.
[…]” Não existem os constrangimentos que existiam antigamente, pelo que o fim de uma
relação passou por vezes a ser muito banal. “As pessoas não aceitam numa relação as suas
divergências nem o facto de, em alguns momentos, a mesma pessoa que desencadeia nelas
os sentimentos mais intensos e positivos as levar também a sentir emoções muito contrárias
25 ao amor, como a repulsa. Ficam muito aflitas com isto que sentem e começam a criar ava-
liações negativas do outro, quando o problema é apenas de comunicação entre os dois”, diz.
Antigamente também não havia negociação possível. Mas o fim das relações era menos
precipitado, independentemente de ser desejável. Alguns terapeutas dizem que se passou
mesmo de um extremo ao outro: de aguentar tudo, até que a morte nos separe, ao pôr fim
30 à relação ao primeiro conflito. E explicam, como Augusto Cury, em Mulheres Inteligentes
Relações Saudáveis (Pergaminho): “Não há casais perfeitos, a não ser que estejam separados
ou a morar em continentes diferentes, portanto, se duas pessoas moram debaixo do mes-
mo teto, é impossível não terem áreas de atrito.”

118
Farsa de Inês Pereira

PROFESSOR

Leitura
Noutros tempos, casava-se por conveniência e para não se ficar sozinho. Hoje, regra 7.2; 7.4; 8.1; 9.1
35 geral, casa-se por amor, escolhe-se o parceiro. […] O lado biológico, a forma como nos da-
mos com o outro neste aspeto, é muito importante. 1. A mudança de atitude
Mas, segundo a psicoterapeuta, o mais importante numa relação de hoje é as pessoas perante o casamento,
nomeadamente no que
sentirem que o outro está lá para elas, ao nível da compreensão emocional. Os homens já não se refere ao prazer;
representam “a segurança, nomeadamente material. Já não são a coluna vertebral de apoio”. a independência económica
e o casamento por amor.
40 Elas já não os querem com estes atributos, nem precisam. Emanciparam-se! […] De qualquer 2. As relações mais distantes
forma, a gestão desta economia no passado nunca passava pela mulher, era o homem que temporalmente aconteciam
por conveniência, duravam
a fazia, que ditava as regras também neste campo. E delas não se esperava que dessem opi- mais, uma vez que a relutância
nião, nem que manifestassem qualquer necessidade. em pôr fim ao relacionamento
era maior, em virtude da falta
Nas últimas décadas, as mulheres portuguesas ganharam independência económica de independência económica
45 e o direito de se expressar. E, com estas conquistas, o casamento nunca mais foi o que era. da mulher e da submissão
à vontade do homem, o que
E alguns homens têm medo disso, assegura Rita Duarte. “Sentem-se mesmo ameaçados não acontece no presente.
com o poder que elas têm.” No entanto, atualmente,
o fim das relações também é
Máxima, edição online (consultado em fevereiro de 2017). mais rápido do que o desejável
(apesar do casamento por
amor), em virtude da falta de
paciência e de comunicação.
3. A afirmação evidencia
1. Indique as causas das mudanças comportamentais patentes nos relacionamentos a autoridade e a supremacia
amorosos contemporâneos. do homem na relação
matrimonial, remetendo
2. Caracterize, comparando, as uniões mais recentes e as que “funcionaram” durante também para uma sociedade
predominantemente
séculos. patriarcal.
4.
3. Explique o sentido da afirmação “Antigamente também não havia negociação pos- a. A arrogância do Escudeiro
sível” (l. 27). e o modo como “aniquila” a
vontade de Inês.
4. Associe as seguintes afirmações do texto a factos do casamento de Inês Pereira b. Inês casa com o Escudeiro,
procurando obter assim
com o Escudeiro. a emancipação e a ascensão
social.
a. “Antigamente também não havia negociação possível.” (l. 27) c. e d. Novamente a atitude
do Escudeiro, nomeadamente
b. “Noutros tempos, casava-se por conveniência e para não se ficar sozinho.” (l. 34) na seguinte réplica “Vós não
haveis de mandar / em casa
c. “De qualquer forma, a gestão desta economia no passado nunca passava pela mu- somente um pelo. / Se eu
lher, era o homem que a fazia, que ditava as regras também neste campo.” (ll. 40-42) disser: – isto é novelo – / havei-
-lo de confirmar.” (vv. 826-829)
d. “E delas não se esperava que dessem opinião, nem que manifestassem qualquer
necessidade.” (ll. 42-43) Gramática
18.1; 18.4

GRAMÁTICA
1.1
a. Oração subordinada
1. Atente nos seguintes excertos. (adverbial) temporal
b. Oração subordinada
a. “Nada ficou como antes depois de as mulheres terem conquistado o mercado (adjetiva) relativa (restritiva)
de trabalho”. (ll. 1-3) c. Oração subordinada
(adverbial) condicional
b. “… extingue-se a fórmula que funcionou durante séculos”. (ll. 10-11) 1.2 Caso duas pessoas morem
c. “se duas pessoas moram debaixo do mesmo teto, é impossível não terem áreas debaixo do mesmo teto, …
1.3 Sujeito (simples)
de atrito.” (ll. 32-33)
1.1 Classifique a oração subordinada presente em cada uma das frases.
1.2 Substitua o conector “se” na frase c. por “caso” e reescreva a frase, procedendo
às alterações necessárias.
BLOCO INFORMATIVO –
1.3 Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte “Nada” na frase a. pp. 277, 271-273

119
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a

E S C R I TA

APRECIAÇÃO CRÍTICA
Um texto de apreciação crítica centra-se na apreciação de um filme, de um livro,
de uma peça de teatro, de uma obra de arte, etc. Para tal, expõe informação significa-
tiva, encadeada logicamente, sobre o objeto visado e associa-lhe um comentário críti-
co, orientado numa perspetiva positiva ou negativa. Apresenta, ainda, uma descrição
sucinta e um comentário crítico sobre o tema/objeto em causa.

Leia atentamente o texto e atente na sua estrutura destacada na margem.

TÍTULO
com recurso
à adjetivação para
Um jantar envenenado
captar a atenção.

Um romance que veio


INTRODUÇÃO
sucinta e clara, mas
da Holanda e que enerva
que desafia o leitor. o leitor até ao desespero.
O Jantar é um dos livros mais bem su-
5 cedidos da literatura holandesa recente.
Trezentas páginas sobre um encontro entre
dois casais para mascararem as más ações
dos filhos. Baseado num facto verídico,
DESENVOLVIMENTO o assassinato de uma sem-abrigo em
onde se faz a descrição
resumida do objeto 10 Barcelona, o autor decide escalpelizar1
(a obra literária) e se as relações conjugais, familiares, sociais
apresenta o conteúdo
como argumento para e fazer uma avaliação psiquiátrica do
valorizar o romance em estado da civilização em que vivemos. Vai
apreciação, recorrendo
a um vocabulário daí, Herman Koch expõe todos os podres
valorativo, como se 15 dos casais, as verdadeiras personalidades
percebe pelo verbo
“escalpelizar” ou pela do quarteto; a manipulação dos filhos,
expressão “Tudo sem bem como dos empregados e clientes do
grandes contemplações”,
no qual é visível o juízo restaurante. Tudo sem grandes contem-
de valor do autor plações. Conforme os casais vão sendo expostos, o leitor vai-se vendo ao espelho,
do artigo.
20 reconhece-se, revê amigos e conhecidos, pensa no modo como educa os filhos e, lá
para o final, já admite que gostaria de aplicar um bom golpe de judo e deixar atordoado
quem o irrita.
Este é um livro em que os sentimentos dos leitores são manipulados tal é o modo
como Herman Koch utiliza as personagens e, sem o poder evitar, cria uma interação
25 com os leitores. Tanto que a dado momento o leitor tem todo o direito a sentir-se
ultrajado e irritado por causa daquilo que vai acontecendo no romance. Pode sentir
vontade de rasgar as páginas, mas não o pode fazer porque ficaria sem saber o final.
CONCLUSÃO Herman Koch nem sempre foi escritor. Antes, representou vários papéis em séries
que confirma o sucesso de televisão e escreveu contos, até que o sucesso deste romance o tornou famoso
do romance, como é
comprovado pela sua 30 e foi traduzido em mais de duas dezenas de línguas.
tradução em várias
línguas. João Céu e Silva, in DN (Artes), edição online de 21 de julho de 2015
1
aprofundar. (consultado em fevereiro de 2017).

120
Farsa de Inês Pereira

COMO ESCREVER UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA


• Apresentar um conteúdo informativo, mas incluir apreciações pessoais.
• Recorrer à argumentação e respetiva exemplificação para fundamentar a perspetiva
e persuadir o público leitor.
• Utilizar uma linguagem valorativa (negativa ou positiva), mas clara.
• Organizar o texto numa estrutura tripartida.

Introdução:
• apresentação sucinta e valorativa do objeto, com recurso a linguagem expressiva de-
nunciadora da posição pessoal.

Desenvolvimento:
• informações sobre o objeto, seu conteúdo, características (físicas ou outras);
• comentário crítico valorativo;
• apresentação dos argumentos que sustentam a opinião crítica.

Conclusão:
• síntese da informação mais importante.
PROFESSOR

ESCREVER UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA Escrita


11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4;
1. Observe atentamente o se- 13.1
guinte quadro de um pintor
francês, representante do 1.
O quadro O Almoço no Barco,
movimento impressionista. de Pierre-Auguste Renoir, é
um belo exemplo da pintura
impressionista.
Este quadro apresenta-nos,
em pinceladas ricas em cores
vivas, um almoço alegre,
sugerido também pelas
expressões das personagens.
É um ambiente burguês,
característico do século
XIX, como se confirma pelo
vestuário e pela presença de
um mimoso cãozinho.
Pierre-Auguste Renoir, O Almoço no Barco, óleo sobre tela, Os alimentos dispersos, entre
1881, the Phillips collection, Washington, USA. os quais se destacam, no
centro da tela, quatro garrafas
de um bom vinho, certamente
Elabore um texto de apreciação crítica, com 100 a 140 palavras, baseando-se na ima- francês, contribuem também
gem e nos tópicos abaixo elencados: para a criação desse ambiente
descontraído. É, talvez,
a. Estrutura tripartida do texto: domingo, daí o passeio
de barco e a presença
• Introdução: descrição sucinta do objeto (autor, obra, movimento estético). de uma paisagem natural,
em harmonia com o elemento
• Desenvolvimento: humano. É de realçar
– ambiente retratado e sua relação com a época de produção da obra; a descontração dos dois jovens
de braços nus, traduzida
– adequação do título ao conteúdo representado; também na sua postura.
– cores e elementos dominantes; Efetivamente, Renoir soube
captar, com brancos e ocres
– aspetos que suscitaram o seu interesse e respetiva justificação. consistentes, os joviais
• Conclusão: retoma e reforço da posição pessoal, assumida na introdução. momentos de convívio
da pequena burguesia
b. Redação clara e objetiva, respeitando os mecanismos de coesão e coerência textual. de oitocentos.
(138 palavras)
c. Utilização de vocabulário adequado e diversificado.

121
v Processos irregulares de formação de palavras
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T O léxico de uma língua refere-se ao conjunto de palavras, ou unidades de sentido, que dela
R
APL ICA fazem parte. Por vezes, torna-se necessário criar novas palavras, o que pode ser alcançado
através de processos regulares (derivação e composição) ou através de processos irregulares,
como os que a seguir se apresentam.

Designação Definição Exemplo

Criação de um vocábulo através • A FENPROF é uma entidade


da junção de letras ou de sílabas sindical que representa
Acrónimo de um grupo de palavras, relativas os professores.
à mesma realidade. Pronuncia-se • Sabes elucidar-me sobre o que
como uma só palavra. são os PALOP?

• O meu irmão é mais novo


Criação de uma palavra a partir da do que eu; ainda estuda na EB1
redução de um grupo de palavras da minha rua.
Sigla
às suas iniciais. Cada letra
pronuncia-se separadamente. • A GNR tomou conta da
ocorrência.

Processo de transferência • Se retirarmos os lobos do seu


de uma palavra de uma língua habitat, podem tornar-se
Empréstimo para outra, com ou sem violentos.
adaptações às características • Ouvi dizer que o chocolate é um
formais da língua recetora. inibidor do stresse.

• Julgo que o meu computador


Criação de novos sentidos para
tem uma avaria, uma vez que
Extensão uma palavra já existente na língua
se abrem diversas janelas
semântica que, contudo, não perde o(s)
sempre que tento navegar.
significado(s) anterior(es).
Será um problema do rato?

Criação de um termo que • A Joana colocou uma foto nova


se caracteriza pela eliminação no Facebook.
Truncação
de parte da palavra de que
deriva. • Nunca tive nega a Português.

• Muitos internautas comunicam


exclusivamente através das
Criação de uma palavra a partir redes sociais.
Amálgama da junção de partes de duas
ou mais palavras. • A informática continua a ser
uma área na qual abundam
as possibilidades de emprego.

122
APLICAR

1. Leia os seguintes trechos.

A.

Samuel Silva, 26 de março de 2014

Na maioria dos Estados-membros na UE, há mais jovens a viverem com os pais agora do
que em 2007, ano a que se reportava a anterior publicação da European Foundation for the
Improvement of Living and Working Conditions [...].
Visão, edição online, 3 de junho de 2014 (consultado em junho de 2014).

B.

As línguas mais faladas na rede


No início do século, metade dos utilizadores da Internet comunicavam em Inglês. Agora,
a rede é cada vez mais poliglota […].
Visão, edição n.o 1126, 2 de outubro de 2014, p. 20.

C.
PROFESSOR
Os problemas que, no último mês, têm afetado os tribunais, por via das falhas na plata-
forma informática Citius, vão agravar a falta de confiança na Justiça, prevê o presidente do Gramática
Supremo Tribunal de Justiça. 19.6; 19.7

Público, edição online, 3 de outubro de 2014 (consultado em outubro de 2014).


1.1 e 1.2

D. Processo
Palavra
de formação
A Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN (que, em inglês, é NATO: North
Atlantic Treaty Organization), é uma instituição militar criada durante o contexto inicial da UE Sigla
Guerra Fria […]. Internet Empréstimo
mundoeducacao.com/geografia/otan.htm (consultado em fevereiro de 2017, adaptado). Extensão
Rede
semântica
Extensão
1.1 Retire, dos textos, os vocábulos que configuram processos irregulares de formação de Plataforma
semântica
palavras. Informática Amálgama
1.2 Associe cada um dos vocábulos ao respetivo processo de formação. OTAN/NATO Acrónimo

2. Atente nas seguintes frases 2.1 Todas se formaram por


extensão semântica.
a. O pai abriu o Portal do Cidadão e acedeu à informação que pretendia. 2.2
b. A mãe comprou uma máscara hidratante para as extensões da minha irmã. a. O pai fechou o portal que dá
para o quintal.
c. A bateria do portátil acabou, mas ainda consegui salvar o documento. b. Em minha casa há várias
extensões telefónicas;
2.1 Identifique o processo de formação das palavras sublinhadas. A extensão deste campo de
jogos é invulgar.
2.2 Construa uma frase para cada palavra sublinhada, exemplificativa do seu signifi- c. O médico salvou a jovem de
morte certa.
cado de base.

123
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Morto o Escudeiro, Inês está livre para novos amores.

Leia a passagem textual em que Lianor Vaz propõe novamente a Inês o casamento
com Pero Marques e tome conhecimento do que sucede de seguida.

Aqui vem Lianor Vaz, e finge Inês Pereira estar Vem Lianor Vaz com Pero Marques e diz Lianor Vaz:
chorando, e diz Lianor Vaz:
No mais cerimónias agora;
950 Lia. Como estais, Inês Pereira? abraçai Inês Pereira
Inês Muito triste, Lianor Vaz. por mulher e por parceira.
Lia. Que fareis ao que Deos faz? Pero Há homem empacho, má ora,4
Inês Casei por minha canseira. 990 quant’a dizer abraçar…
Lia. Se ficastes prenhe basta. Depois que a eu usar
955 Inês Bem quisera eu dele casta, entonces poderá ser.
mas não quis minha ventura. Inês (Não lhe quero mais saber,
Lia. Filha, não tomeis tristura, já me quero contentar...)
que a morte a todos gasta. 995 Lia. Ora dai-me essa mão cá.
O que havedes de fazer?... Sabeis as palavras, si?
960 Casade-vos, filha minha. Pero Ensinaram-mas a mi,
Inês Jesu, Jesu! Tão asinha? perém esquecem-me já...
Isso me haveis de dizer? Lia. Ora dizei como digo.
Quem perdeo um tal marido, 1000 Pero E tendes vós aqui trigo
tão discreto e tão sabido, pera nos jeitar por cima?5
965 e tão amigo de minha vida? Lia. Inda é cedo... Como rima!6
Lia. Dai isso por esquecido, Pero Soma, vós casais comigo,
e buscai outra guarida.
e eu com vosco, pardelhas!7
Pero Marques tem, que herdou, 1005 Não compre aqui mais falar.
fazenda de mil cruzados. E quando vos eu negar
970 Mas vós quereis avisados... que me cortem as orelhas.
Inês Não! Já esse tempo passou. Lia. Vou-me, ficai-vos embora.
Sobre quantos mestres são Inês Marido, sairei eu agora,
experiência dá lição. 1010 que há muito que não saí?
Lia. Pois tendes esse saber, Pero Si, mulher, saí-vos i,
975 querei ora a quem vos quer, qu’eu me irei pera fora.
dai ò demo a opinião. Inês Marido, não digo isso.
Vai Lianor Vaz por Pero Marques, e fica Inês Pereira
Pero Pois que dizeis vós mulher?
só, dizendo:
1015 Inês Ir folgar onde eu quiser.
Andar1! Pero Marques seja. Pero I onde quiserdes ir,
Quero tomar por esposo vinde quando quiserdes vir
quem se tenha por ditoso estai quando quiserdes estar.
980 de cada vez que me veja. Com que podeis vós folgar
Por usar de siso mero2, 1020 qu’eu não deva consentir?
asno que me leve quero,
1
e não cavalo folão3. adiante; 2 para proceder com todo o juízo; 3 fogoso; 4 sente-se um
homem atrapalhado, que diabo!; 5 alusão a um antigo costume de
Antes lebre que leão,
lançar grãos de trigo sobre os noivos; 6 que disparate; 7 (o mesmo
985 antes lavrador que Nero. que pardeos) interjeição “por Deus!”.

124
Farsa de Inês Pereira

Vem um Ermitão a pedir esmola, que em moço lhe Inês Olhai cá, marido amigo,
quis bem, e diz: 1065 eu tenho por devação
dar esmola a um ermitão.
Señores, por caridad E não vades vós comigo.
dad limosna8 al dolorido, Pero I-vos embora9, mulher,
ermitaño de Cupido não tenho lá que fazer.
para siempre en soledad.
1025 Pues su siervo soy nacido, [Inês fala a sós com o Ermitão]
por exemplo,
me meti en su santo templo 1070 Inês Tomai a esmola, padre, lá,
ermitaño en pobre ermita, pois que Deos vos trouxe aqui.
fabricada de infinita Erm. Sea por amor de mi
1030 tristeza en que contemplo, vuesa buena caridad.

adonde rezo mis horas Deo gratias, mi señora!


y mis dias, y mis años, 1075 La limosna mata el pecado,
mis servicios y mis daños, pero vos tenéis cuidado
donde tu, mi alma, lloras, de matarme cada hora.
1035 el fin de tantos engaños. Deveis saber,
Y acabando para merced me hazer
las horas, todas llorando, 1080 que por vos soy ermitaño.
tomo las cuentas una y una, Y aun más os desengaño:
con que tomó a la Fortuna que esperanças de os ver
1040 cuenta del mal en que ando, me hizieron vestir tal paño.
sin esperar paga alguna.
8
esmola; 9 em boa hora.
Y ansi sin esperanza
de cobrar lo merecido,
sirvo alli mis dias Cupido
1045 con tanto amor sin mudanza,
que soy su santo escogido.
Ó señores,
los que bien os va d'amores,
dad limosna al sin holgura,
1050 que habita en sierra escura,
uno de los amadores
que tuvo menos ventura.

Y rogaré al Dios de mi,


en quien mis sentidos traigo,
1055 que recibais mejor pago
de lo que yo recebi
en esta vida que hago.
Y rezaré
con gran devoción y fe,
1060 que Dios os libre d’engaño,
que esso me hizo hermitaño,
y pera siempre seré,
pues para siempre es mi daño.

125
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica

Inês Jesu, Jesu! Manas minhas! Pero Que quereis, minha mulher?
1085 Sois vós aquele que um dia Inês Que houvésseis por prazer
em casa de minha tia de irmos lá em romaria.
me mandastes camarinhas,
e quando aprendia a lavrar 1115 Pero Seja logo, sem deter.
mandáveis-me tanta cousinha? Inês Este caminho é comprido...
1090 Eu era ainda Inesinha, Contai ũa estória, marido.
não vos queria falar. Pero Bofá12 que me praz, mulher.
Inês Passemos primeiro o rio.
Erm. Señora, tengoos servido, 1120 Descalçai-vos.
y vos a mi despreciado; Pero E pois como?
hazed que el tiempo pasado Inês E levar-me-eis no ombro,
1095 no se cuente por perdido. não me corte a madre13 o frio.
Inês Padre, mui bem vos entendo…
Ò demo vos encomendo, Põe-se Inês Pereira às costas
que bem sabeis vós pedir! do marido, e diz:
Eu determino lá d'ir
Marido, assi me levade.
1100 à ermida, Deos querendo.
1125 Pero Ides à vossa vontade?
Inês Como estar no paraíso!
Erm. E quando?
Pero Muito folgo eu com isso.
Inês I-vos, meu santo,
Inês Esperade, ora esperade!
que eu irei um dia destes
Olhai que lousas aquelas,
muito cedo, muito prestes.
1130 pera poer14 as talhas nelas!
1105 Erm. Señora yo me voy en tanto.
Pero Quereis que as leve?
Inês Si.
[Inês torna para Pero Marques]
Ua aqui e outra aqui.
Oh como folgo com elas!
Inês Em tudo é boa a concrusão.
Marido, aquele ermitão
1135 Cantemos, marido, quereis?
é um anjinho de Deos...
Pero Eu não saberei entoar…
Pero Corregê-vos esses véos,10
Inês Pois eu hei só de cantar
1110 e ponde-vos em feição.11
E vós me respondereis
Inês Sabeis vós o que eu queria?
cada vez que eu acabar:
1140 «pois assi se fazem as cousas».

10
componde esses véus; 11 para parecer bonita; 12 interjeição (na verdade); 13 útero; 14 pôr.

126
Farsa de Inês Pereira

PROFESSOR
Canta Inês Pereira: Inês Bem sabedes vós marido
quanto vos quero. Educação Literária
14.5; 14.7; 14.11; 15.1
Marido cuco me levades. Sempre fostes percebido 1.
E mais duas lousas. pera cervo. a. vv. 950-976
b. Preparada para casar
Pero Pois assi se fazem as cousas. 1155 Agora vos tomou o demo novamente, seja com quem for,
com duas lousas. pois aprendeu a lição.
c. vv. 977-985
Inês Bem sabedes vós, marido, Pero Pois assi se fazem as cousas. d. Astuta, reconhecendo no
1145 quanto vos amo: Ermitão um antigo namorado
e vendo nele a possibilidade de
sempre fostes percebido15 E assi se vão, e se acaba o dito Auto. gozar a liberdade de que havia
pera gamo.16 estado privada durante
o casamento com o Escudeiro.
Carregado ides, noss'amo, e. Lisonjeiro, mas mantendo o
com duas lousas. 15 caráter rude que o caracteriza.
sempre tivestes inclinação; 16 o cervo, ou gamo, f. vv. 986-1008
1150 Pero Pois assi se fazem as cousas. é como o cuco: um símbolo do marido traído. g. Imbecil, tonto, carrega a
mulher às costas sem perceber
que esta está a pensar traí-lo.
1. Complete o seguinte quadro procedendo à caracterização das personagens Inês 2.
a. satírica (crítica)
Pereira e Pero Marques. b. cerimónia
c. questionar
d. linguagem (caráter)
Momento presente Versos e. Inês
Personagem Caracterização
no excerto exemplificativos f. significado
Dissimulada, falsamente g. cómica
No diálogo com 3. O argumento ilustra,
Inês pesarosa com a morte a.
Lianor Vaz metaforicamente, o percurso de
do escudeiro. Inês Pereira, que compreendeu
No monólogo Inês b. c. que o marido que mais favorece
os seus intentos será o boçal,
No diálogo com que não impede a satisfação
Inês d. vv. 1070-1105 dos seus desejos (o asno), e
o ermitão
não o cortês, que se tornou
Durante a cerimónia um obstáculo à sua forma de
Pero Marques e. f. ser (o cavalo). Perversa, Inês
de casamento
acaba por tornar o argumento
Imbecil, disposto literalmente real, obrigando
Quando fica a sós a satisfazer todos o marido a assumir o papel de
Pero Marques vv. 1009-1121 asno, carregando-a.
com Inês os desejos de Inês, sem
perceber a astúcia dela.
Quando cumpre
Pero Marques g. vv. 1122-1157
o desejo de Inês

2. Um dos artifícios a que Gil Vicente recorre para a caracterização das personagens,
nomeadamente, Pero Marques, é o cómico.
Preencha o texto seguinte, selecionando, entre as palavras abaixo propostas, as ade-
quadas, de modo a confirmar o recurso a este artifício e a(s) sua(s) intencionalida-
de(s).
• cómica • cerimónia • significado • questionar
• afirmar • Inês • satírica • linguagem • noivo

O cómico está ao serviço de uma intenção a. e moralizadora. Pero Marques


comporta-se de modo cómico durante a b. do casamento, demonstrando a
sua preocupação em seguir todos os rituais, ao c. se não há trigo para festejar
o casamento; o cómico de d. aparece nas suas réplicas e nas de e. ,
uma vez que Pero não percebe o f. das palavras ditas pela esposa (vv. 1009-
-1013). Por outro lado, a visão do lavrador carregando Inês às costas, para atravessar o rio,
é também uma situação g. .

3. Relacione o final da farsa com o argumento “mais quero asno que me leve que
cavalo que me derrube”, explorando os seus significados.
127
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica

EXPRESSÃO ORAL
PROFESSOR
Observe atentamente a página de banda desenhada que se segue, retirada de uma
Oralidade edição da Farsa de Inês Pereira, ilustrada por Artur Correia.
5.1; 5.3; 6.1; 6.2; 15.7

1. A banda desenhada
representa o momento
do diálogo entre mãe e filha,
após esta ter rejeitado Pero
Marques.
2. O ilustrador consegue
destacar a preguiça e o
caráter sonhador de Inês
associando-a sempre à
cama. O olhar da jovem nas
primeira e terceira vinhetas é
também revelador desse lado
fantasioso.

Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, ilustrada por Artur Correia, Lisboa, Bertrand Editora, 2006, p. 34.

1. Contextualize o conteúdo desta prancha de BD relativamente à progressão da nar-


rativa e à estrutura da obra.

2. Demonstre como, ao longo da prancha, o ilustrador realça o caráter indolente


e fantasioso de Inês.

128
Farsa de Inês Pereira

LEITURA
PROFESSOR
Leia atentamente o seguinte texto de apreciação crítica.
Leitura
7.1; 7.4; 7.6
1.
Um homem, uma mulher e um tribunal O filme israelita Gett:
O Processo de Viviane Amsalem
que trata de um divórcio difícil
para a mulher envolvida.
2. “Um espantoso retrato
Depois da sua apresentação na Mostra de Cinema e Cultura Ju- íntimo de um divórcio que
acabou por se transformar no
daica, Gett: O Processo de Viviane Amsalem chega às salas… Um centro de um debate
espantoso retrato íntimo de um divórcio que acabou por se na sociedade israelita.”
(ll. 2-4); “Há qualquer coisa de
transformar no centro de um debate na sociedade israelita. simultaneamente enigmático e
deslumbrante quando um filme
Há qualquer coisa de simultaneamente consegue colocar em cena uma
5
particularíssima situação (…)
enigmático e deslumbrante quando um fil- gerando um efeito universal e
me consegue colocar em cena uma particu- universalista”. (ll. 5-11)

laríssima situação, enraizada num universo


cultural específico, simbolicamente muito
10 distante do nosso, gerando um efeito univer-
sal e universalista. Gett: O Processo de Vivia-
ne Amsalem é um desses filmes — o relato
minucioso, minuciosamente obsessivo, de
um caso de divórcio em Israel, capaz de desencadear ondas de choque em qualquer espe-
15 tador de sensibilidade realmente disponível […].
A situação envolve um invulgar dramatismo. Tudo se passa em torno de Viviane
Amsalem e do marido Elisha. De facto, eles já não vivem juntos há três anos — e durante
esse período, a mulher tem insistido para que o marido lhe conceda o divórcio. E é disso
mesmo que se trata: sem a concessão do homem, o divórcio não pode ser decretado, uma
20 vez que a tradição (legislativa e religiosa) confere ao marido o poder único de aceitar ou
não a consumação do divórcio.
Há outra maneira de descrever esta dinâmica: tudo se concentra no espaço do Tribunal
Rabínico, a ponto de Gett ser um filme que vive a partir de uma radical teatralidade. […]
A realização dos irmãos Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz — sendo também Ronit
25 Elkabetz a notável intérprete de Viviane — sabe estar atenta às mais delicadas manifesta-
ções das emoções humanas, ao mesmo tempo expondo o modo como um "banal" divór-
cio pode envolver o peso de toda uma imensa herança histórica. Por alguma razão, Gett:
O Processo de Viviane Amsalem se transformou num verdadeiro fenómeno de debate
no interior da sociedade israelita.

in http://www.rtp.pt/cinemax/?t=um-homem-uma-mulher-e-um-tribunal.rtp&article=12041&vi-
sual=2&layout=35&tm=52 (adaptado, consultado em maio de 2017).

1. Identifique o objeto comentado e apreciado.

2. Destaque duas expressões reveladoras da subjetividade (opinião) do autor do ar-


tigo sobre o filme que funcionem como argumentos.

129
PA R A S A B E R Farsa de Inês Pereira

RELAÇÕES ENTRE AS PERSONAGENS E SUA IMPORTÂNCIA


EM CADA FASE DA VIDA DE INÊS

3.
1. 2.
Inês viúva e casada
Inês Solteira Inês casada com o Escudeiro
com Pero Marques
Apresentação
“Farsa de Inês Preguiçosa;
Pereira: Fases As suas intenções são goradas;
voluntariosa; anseia Maliciosa e adúltera;
da vida de Inês” é oprimida pelo Escudeiro;
pela libertação através desrespeita o marido ingénuo.
sofredora.
do casamento.

Amiga e conselheira;
Desaprova o casamento com
alerta a filha para os
o Escudeiro, mas aceita-o;
Mãe problemas que terá se
desaparece de cena no final
casar com um homem
da cerimónia do casamento.
“discreto”.

Apresenta a Inês um Reapresenta Pero Marques a Inês,


Lianor Vaz bom marido, que esta, e esta aceita-o, em virtude do fracasso
contudo, rejeita. do seu casamento anterior.

Honesto, mas rude.


Mantém a simplicidade; meio tonto,
Embora puro de
acede a cumprir todos os desejos
Pero Marques sentimentos, é tosco,
da esposa, incluindo carregá-la até
rústico; é rejeitado
junto do Ermitão.
por Inês.

Apresentam a Inês um
homem, Brás da Mata,
Judeus
que corresponde
ao perfil desejado.

Homem de duplo
Intolerante e repressor; vai combater
caráter; antes de
Escudeiro no Norte de África, onde morre
casar, mostra-se
cobardemente.
adulador e simpático.

É sinal exterior de
aparente bem-
-estar financeiro
Fiel mandatário do amo, mantém Inês
do Escudeiro;
Moço presa, enquanto este combate
desempenha uma
no Norte de África.
função crítica e
irónica relativamente
ao seu amo.

Representa os falsos religiosos;


Ermitão
será o objeto do adultério de Inês.

130
REPRESENTAÇÃO DO QUOTIDIANO E DIMENSÃO SATÍRICA

Quem é criticado e porquê? PROFESSOR

Tratando-se de um retrato da sociedade do século XVI, que aparece ilustrada através


de personagens que representam tipos (estratos) sociais, surgem:
Apresentação
• as moças que, cansadas da vida rotineira e vazia, ansiavam a libertação através do casamento; Galeria de imagens
• a mãe que aconselha a filha a casar com um homem de posses; Apresentação
• os escudeiros fanfarrões e pobretanas, mas com atributos de homem da corte; Síntese da Unidade
• os lavradores e pastores com a sua ingenuidade e a sua simplicidade;
• as alcoviteiras no seu "ofício" de arranjar casamentos;
• os judeus gananciosos e falsos;
• o clero (através do padre que “atacou” Lianor Vaz e do Ermitão com quem Inês se vai
encontrar no final).

Quem é Inês Pereira?

Inês representa o tipo de moça solteira que pretende ascender socialmente através do casamento.
Para além disso, recusa o perfil de mulher doméstica da época, representado pela sua mãe. Mas…
• ao contrário das restantes personagens, cujo comportamento corresponde, de forma geral,
ao das classes sociais ou tipos que representam, Inês apresenta alguma evolução;
• persegue os seus ideais de libertação da monótona vida doméstica através do casamento,
casando com o escudeiro Brás da Mata, o que veio a revelar-se desastroso para si e para a sua
ambição;
• morto o Escudeiro, Inês aprende a lição e, mudando a opinião e a postura iniciais, aceita
o casamento com Pero Marques;
• no fim da ação, é esta personagem feminina quem “toma as rédeas” da vida conjugal;
• torna-se adúltera, sob o olhar ingénuo do marido, que não se apercebe da traição.

SÁTIRA ATRAVÉS DO CÓMICO

Como “a rir se castigam os costumes”, Gil Vicente recorre a artifícios, tais como a ironia
e o cómico, que contribuem para acentuar alguns traços das personagens a criticar.

Tipos de cómico

De caráter Aparece sobretudo nas personagens Pero Marques e Escudeiro.

Verifica-se, entre outros momentos, quando Pero Marques;


• se apresenta a Inês e não sabe para que serve uma cadeira;
De situação
• tenta encontrar no barrete as peras que trazia de presente a Inês;
• transporta às costas a mulher e duas lousas, na cena final.

Visível na linguagem dos judeus casamenteiros ou na linguagem


De linguagem
de Pero Marques.

131
PA R A V E R I F I C A R Farsa de Inês Pereira

Após a leitura da Farsa de Inês Pereira, verifique o grau de conhecimento que


possui sobre a obra.

1. Selecione a opção mais correta ou mais completa.


1.1 No primeiro quadro, surge Inês Pereira que, enquanto a Mãe está na missa,
[A] se encontra secretamente com um aldeão, seu namorado.
[B] se lamenta de forma agastada da sua sorte e da sua vida de solteira.
[C] recebe Lianor Vaz, rogando-lhe que lhe arranje um marido.
[D] sai de casa para bailar com as amigas numa romaria.
1.2 Quando a Mãe chega da missa, esta
[A] lisonjeia Inês ao ver o bordado que ela terminou.
[B] recrimina a filha, por ela ter saído com as amigas.
[C] aconselha Inês a ser mais diligente, se quer arranjar marido.
[D] zanga-se por a jovem ter recebido em casa um pretendente.
1.3 Lianor Vaz, a alcoviteira, entra em casa de Inês,
[A] assegurando que um clérigo se tentou aproveitar dela.
[B] bendizendo os frades por serem bons conselheiros e muito humanos.
[C] lamentando-se do caminho percorrido para dar notícias de um pretendente
a Inês.
[D] apresentando-se muito cansada, uma vez que acabara de lavrar a sua vinha.
1.4 O motivo da visita de Lianor Vaz é
[A] trazer informações sobre um escudeiro que quer encontrar-se com Inês.
[B] trazer uma carta de Pero Marques, que pretende casar-se com a jovem.
[C] saber a opinião de Inês sobre o Escudeiro seu pretendente.
[D] concertar com a mãe da jovem os pormenores sobre o casamento da filha.
1.5 Após a leitura da carta de Pero Marques, Inês
[A] decide aceitar a proposta de casamento.
[B] recusa a proposta de casamento do pretendente.
[C] interroga Lianor Vaz sobre os bens e a fortuna do aldeão.
[D] aceita encontrar-se com o aldeão, mesmo não gostando do teor da carta.
1.6 A visita e o comportamento do filho do lavrador provocam em Inês
[A] agrado e simpatia, uma vez que se tratava de um jovem bem parecido.
[B] troça e desconsideração, já que o lavrador era desajeitado e bastante saloio.
[C] pena e amizade, pois, embora sem modos, o jovem era muito discreto.
[D] alegria e afeição, dado tratar-se de um jovem rico e bonito, ideal para marido.
1.7 O marido ideal, para Inês, deve
[A] ter educação e finura, saber tanger viola, ainda que seja pobre.
[B] possuir as qualidades de um homem da corte e ser rico.
[C] possuir bens e ser um bom cavaleiro.
[D] ser pobre, mas honrado.

132
PROFESSOR
1.8 O homem que a jovem pretende e aceita para marido
[A] é galego, chama-se Brás da Mata e foi-lhe apresentado por duas amigas.
Teste interativo
[B] foi-lhe apresentado por dois judeus casamenteiros e chama-se Vilhacastim. “Gil Vicente”
[C] foi encontrado pelos judeus casamenteiros e é o escudeiro Brás da Mata.
Educação Literária
[D] é o fidalgo e músico de nome Badajoz. 14.3; 14.4 ; 14.7

1.1 [B]
2. Complete o texto, selecionando a opção que lhe permite recuperar o conteúdo
1.2 [C]
informativo da vida de Inês durante o casamento com Brás da Mata. 1.3 [A]
1.4 [B]
Antes do casamento, o Escudeiro fanfarrão, que tinha a. (muitos/poucos) ha- 1.5 [D]
veres, tece inúmeros b. (reparos/elogios) à donzela. A mãe de Inês, perspicaz, faz 1.6 [B]
considerações c. (agradáveis/negativas) sobre o pretendente. A boda acaba por se 1.7 [A]
1.8 [C]
realizar na presença de alguns amigos.
Após o casamento, o d. (rude/simpático) marido encerra Inês em casa, fechan- 2.
do todas as e. (janelas/arcas), antes de partir para o Norte de f. (África/ a. poucos
b. elogios
Portugal), para onde vai combater. c. negativas
Certo dia, a jovem recebe uma carta de seu g. (irmão/pai), anunciando d. rude
e. janelas
a morte do h. (esforçado/cobarde) escudeiro. A notícia deixa Inês muito
f. África
i. (entristecida/aliviada) com o desfecho do seu casamento. g. irmão
h. cobarde
3. Após a morte do Escudeiro, segue-se uma nova fase na vida de Inês. i. aliviada
Assinale as afirmações como verdadeiras ou falsas e corrija as falsas. 3.
a. F –Recebe a visita
a. Inês Pereira recebe a visita da Mãe e finge-se pesarosa com a morte de Brás da de Lianor Vaz.
Mata. b. V
c. F – Na presença de Lianor
b. Lianor Vaz propõe novamente a Inês o casamento com Pero Marques. Vaz somente.
d. F – Rude e pacóvio.
c. O casamento realiza-se sem demoras perante a Mãe, Lianor Vaz, Fernando e Luzia. e. F – Pero Marques incentiva
d. Ao longo de toda a cerimónia, são feitas várias sugestões sobre o caráter delicado Inês Pereira a sair e a divertir-se.
f. F – Sugere um encontro
e culto do abastado aldeão. amoroso entre ambos.
e. Após a boda, a jovem confessa a Pero Marques que gostava de sair e folgar, o que g. V
h. V
não é bem aceite pelo novo marido.
4.
f. Entretanto, um ermitão, antigo pretendente de Inês, visita-a e pede-lhe uma es- a. Antes de casar, Inês
mola. mostra-se muito exigente
em relação aos pretendentes,
g. Perante o desejo da mulher, de ir em romaria à ermida onde está o santo ermitão, não aceitando Pero Marques
que, embora seja um lavrador
Pero Marques, marido dedicado, prontifica-se a levá-la, para que possa cumprir abastado, não tem maneiras.
a sua devoção. b. Durante o casamento com
o Escudeiro, em virtude
h. Ao longo do percurso entoam uma cantiga onde se refere a traição de que o lavra- do comportamento arrogante
e castrador deste, vê-se
dor está a ser alvo. obrigada a permanecer
trancada em casa, sem poder
4. Avalie o comportamento de Inês em cada uma das três fases da sua vida. ter contacto com o exterior.
c. Casada com Pero Marques,
a. Antes de casar. Inês mostra-se altiva e traidora
e, de certa forma, vinga-se
b. Durante o casamento com o Escudeiro. do sofrimento que lhe fora
causado pelo primeiro marido,
c. Casada com Pero Marques. traindo o atual.

133
PA
C ORNAS OR LE ICDUAPRE R A RTítulo
Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR EXPRESSÃO ORAL

1. Exponha, em dois minutos, a relação entre o provérbio “Mais quero asno que me
Apresentação leve que cavalo que me derrube” e o assunto da Farsa de Inês Pereira.
Galeria de imagens
Apresentação
Síntese da Unidade EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Teste interativo
Farsa de Inês Pereira 1. Tendo em consideração o estudo de Gil Vicente e da Farsa de Inês Pereira, indique
se as afirmações que se seguem são verdadeiras ou falsas. Corrija as falsas sem
Expressão oral
recorrer à negativa.
1. Itens a considerar
na resposta: a. Gil vicente situa-se num período de transição entre a Idade Média e o Renasci-
– primeiro casamento de
Inês Pereira com o escudeiro mento.
(“cavalo” que a derruba);
– vida de casada b. O dramaturgo adquiriu na corte uma situação de prestígio que lhe permitiu to-
enclausurada; das as liberdades de escrita.
– segundo casamento, após
morte do escudeiro, com Pero c. As peças de Gil Vicente criticam exclusivamente as classes sociais mais baixas.
Marques (“o asno” que a leva),
domínio de Inês Pereira; d. A Farsa de Inês Pereira baseia-se num episódio religioso.
– perversidade da personagem
que obriga o marido a carregá- e. A jovem, pertencente à nobreza, idealiza um casamento que lhe permite emanci-
-la às costas, quando se dirige par-se.
para o encontro adúltero com
o ermitão. f. Pero Marques é subserviente, simplório e deselegante.
g. O escudeiro é leal, valente e generoso.
Educação literária
1. h. Todas as personagens da farsa são estáticas e, por isso, personagens-tipo.
a. V
b. F – Muitas liberdades de i. Os apartes proferidos pelos judeus casamenteiros e pelo Moço ajudam a carac-
escrita. terizar o Escudeiro.
c. F – Todas as classes sociais.
d. F – Num episódio profano/ j. A Farsa de Inês Pereira é um texto dramático que está dividido em atos e cenas.
do quotidiano.
e. F – Pertencente ao povo.
f. V 2. Associe cada uma das afirmações que se seguem a uma personagem da obra.
g. F – Desleal, cobarde
e egoísta. a. Representante dos fidalgos pelintras que pretende obter vantagens económicas
h. F – Inês é também
personagem modelada, através do casamento com Inês.
que apresenta evolução.
i. V b. Homem rude, simples, disposto a satisfazer todos os caprichos de Inês.
j. F – Que está dividido em
quadros.
c. Jovem que pretende, através do casamento, libertar-se da vida rotineira das mulhe-
2. res do seu tempo.
a. Escudeiro, Brás da Mata
b. Pero Marques
d. Mulher do povo, sensata, que aconselha Inês, mas, abdicando da sua autoridade,
c. Inês Pereira deixa-a fazer as suas próprias escolhas.
d. Mãe
e. Lianor Vaz e. Mulher do povo que desempenha uma função vulgar na época: a de arranjar marido
f. Judeus casamenteiros para as raparigas casadoiras.
g. Ermitão
h. Moço f. Personagens estereotipadas, interesseiras e astutas, que desempenham a função
de medianeiros entre o Escudeiro e Inês.
g. Personagem que simboliza a liberdade conquistada por Inês com o seu casamento
com Pero Marques.
h. Personagem secundária que ajuda a caracterizar o Escudeiro e provoca o cómico
na peça.

134
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR

GRUPO I

Leia o seguinte excerto, transcrito da Farsa de Inês Pereira. Em caso de necessidade, Apresentação
Soluções Ficha de
consulte as notas apresentadas. avaliação

GRUPO I
Vem a Mãe, e, não na achando lavrando, Mãe Ora espera, assi vejamos.
diz: 20 Inês Quem já visse esse prazer! Educação Literária
Mãe Cal'te, que poderá ser, 14.2; 14.3; 14.7; 14.9; 15.1;
15.2
Logo eu adevinhei que «ante a Páscoa vem os Ramos.» 1. No monólogo que inicia a
lá na missa onde eu estava, Não te apresses tu, Inês. farsa, Inês lamenta-se pelo
facto de estar fechada em
como a minha Inês lavrava «Maior é o ano que o mês»: casa a costurar e afirma que
a tarefa que lhe eu dei... 25 quando te não precatares, terá de arranjar solução para
sair daquela vida de cativeiro.
5 Acaba esse travesseiro! virão maridos a pares, Abandona, então, o trabalho
Hui! naceo-te algum unheiro? e filhos de três em três. que a Mãe lhe ordenara para
fazer. Por isso, quando esta
Ou cuidas que é dia santo? volta da missa, vê que Inês não
Inês Praza a Deos que algum quebranto Inês Quero-m'ora alevantar. cumprira a tarefa que lhe dera
Folgo mais de falar nisso e repreende-a de forma irónica.
me tire de cativeiro. 2. A Mãe adota, neste excerto,
30 − assim Deos me dê o paraíso, − uma atitude severa em relação
10 Mãe Toda tu estás aquela…1 mil vezes que não lavrar. à filha, devido à sua preguiça
(“Acaba esse travesseiro!”,
Choram-te os filhos por pão? Isto não sei que o faz... v. 5), demonstrando uma grande
Inês Prouvesse a Deos! Que já é rezão Mãe Aqui vem Lianor Vaz. sensatez, que advém da sua
experiência (“Não te apresses tu
de eu não estar tão singela2. Inês E ela vem-se benzendo... Inês, / ‘Maior é o ano que
o mês’”, vv. 23-24), servindo-se
Mãe Olhade lá o mao pesar…3 também da ironia para
Como queres tu casar 1 aconselhar a filha (“Olhade ali o
15 Hoje dir-se-ia “lá estás tu…”; 2 sozinha,
mau pesar…”, v. 14).
com fama de preguiçosa? solteira; 3 “vejam que desgraça…”(ironia); 3. Logo no início do excerto,
Inês Mas eu, mãe, são aguçosa4 4
diligente; a Mãe revela-se irónica ao dizer
e vós dais-vos de vagar. “Logo eu adivinhei / lá na missa
onde eu estava, / como a minha
Inês lavrava / a tarefa que eu
lhe dei…” (vv. 1-4). Nesta fala, a
mãe quer mostrar à filha que a
conhece muito bem e que sabe
perfeitamente que ela não iria
cumprir a tarefa. Diz,
Apresente, de forma estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. no entanto, o contrário, de
forma irónica, para mostrar
1. Justifique a primeira fala da Mãe, tendo em conta o monólogo de Inês que antece- a sua experiência e a sua
de este diálogo. autoridade. (Há também ironia
na estrofe seguinte).
2. Apresente três traços caracterizadores da Mãe, fundamentando a resposta com 4. A penúltima fala reforça a
elementos textuais. caracterização de Inês como
insensata e leviana, acentuando
3. Transcreva do texto um exemplo da ironia empregue pela Mãe e explique-o. o seu objetivo de casar para
poder mudar de vida (“assi
4. Explicite o sentido da penúltima fala de Inês. Deos me dê o paraíso”, v. 30),
achando que essa situação
seria bem melhor que ficar em
5. Apresente uma razão para o facto de Gil Vicente não ter atribuído à personagem da
casa a “lavrar”, tarefa que lhe
Mãe um nome próprio, justificando a sua resposta com base na sua atuação neste desagrada.
excerto. 5. Esta personagem não
tem nome próprio, pois é
uma personagem-tipo que
representa todas as mães.
É a voz da experiência, da razão,
aconselhando a filha a seguir
o caminho que lhe parece o
mais correto. Neste excerto, a
Mãe pretende chamar a atenção
de Inês para a sua preguiça
e refrear a sua ânsia em casar.

135
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR GRUPO II
GRUPO II
1. Atente nas seguintes frases.
Gramática a. A protagonista Inês Pereira surge, num monólogo inicial, a maldizer a sua vida.
18.1; 18.4; 17.5
b. A jovem, pertencente ao povo, idealiza um casamento que lhe permita emancipar-se.
1. 1
a. Modificador c. Inês revolta-se com a vida que leva e sonha que só o marido ideal a libertará.
b. Modificador do nome
apositivo; complemento d. O primeiro pretendente de Inês é-lhe apresentado por Lianor Vaz.
indireto
c. Complemento oblíquo e. Pero Marques, o aldeão, propõe casamento a Inês, mas esta recusa.
d. Complemento agente
da passiva f. Lianor Vaz é uma alcoviteira, que fora vítima das investidas de um padre, quando se
e. Complemento indireto dirigia para casa de Inês.
f. Predicativo do sujeito;
complemento oblíquo g. Inês Pereira acaba por casar com o escudeiro Brás da Mata, que lhe vai proporcionar
g. Modificador de nome
restritivo
uma vida muito infeliz.
h. Predicado h. Embora recuse inicialmente a proposta de casamento com Pero Marques, Inês aca-
1.2
[A] – [2]; [B] – [4]; [C] – [3]; ba por casar com ele.
[D] – [1]; [E] – [5]; [F] – [3]
2. Campo lexical
1.1 Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinha-
3. proposta (casamento); dos.
inicialmente, embora
1.2 Classifique as orações presentes na coluna A, retiradas das frases acima, assina-
GRUPO III lando o número que lhes corresponde na coluna B.

Escrita
10.2; 11.2; 12.1; 12.2; 12.3; Coluna A Coluna B
12.4; 13.1
[A] “que lhe permita emancipar-se.” [1] Oração subordinada adverbial temporal
Proposta de escrita:
A Farsa de Inês Pereira retrata [B] “que só o marido ideal a libertará.”
o quotidiano de uma jovem [2] Oração subordinada adjetiva relativa
do povo, mas remediada, [C] “que fora vítima das investidas restritiva
que pretende ascender de um padre.”
socialmente. De um forma [3] Oração subordinada adjetiva relativa
divertida, mas com objetivo [D] “quando se dirigia para casa de Inês.” explicativa
moral, Gil Vicente relata-
nos os dois casamentos de [E] “Embora recuse inicialmente a proposta [4] Oração subordinada substantiva
Inês, que vê no matrimónio a completiva
possibilidade de se libertar
de casamento com Pero Marques”
da vida rotineira de solteira, [F] “que lhe vai proporcionar uma vida [5] Oração subordinada adverbial
típica das mulheres do seu muito infeliz.” concessiva
tempo.
Presa em casa pelo primeiro
marido, acaba por se vingar
no segundo casamento,
cometendo adultério, com 2. Indique a relação semântica que se estabelece entre as palavras “casamento”,
um ermitão, o que também “noivo”, “noiva”, “cerimónia” e “alianças”.
constitui crítica social aos
membros do clero, que não 3. Retire da frase h. um nome comum, um advérbio e uma conjunção.
levavam a vida regrada que a
sua vocação exigia.
Com Lianor Vaz e os dois GRUPO III
judeus, Gil Vicente expõe
uma situação social bastante
frequente na época: muitos A FARSA é um género do modo dramático com características satíricas que, retratando
casamentos eram arranjados o quotidiano, pretende pôr em relevo problemas sociais.
por terceiros, profissionais
casamenteiros, daí a presença Num texto expositivo, entre 120 a 150 palavras, comprove a veracidade da afirmação
da alcoviteira e dos dois anterior, relacionando-a:
judeus que desempenham
essa função. • com episódios do quotidiano da vida de Inês;
Verificamos, assim, como
esta farsa é um excelente • com a função de Lianor Vaz e dos Judeus.
testemunho duma época, em
certos aspetos, distante da Dê uma estrutura tripartida ao seu texto (introdução, desenvolvimento, conclusão).
nossa.
(149 palavras)

136
MÓDULO

2
2. Luís de Camões, Rimas
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Rimas
· A representação da amada
· A experiência amorosa e reflexão sobre o amor
· A representação da Natureza
· A reflexão sobre a vida pessoal
· O tema da mudança e do desconcerto
Leitura
Apreciação crítica
Exposição sobre um tema
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Apreciação crítica [Compreensão/Expressão Oral]
Anúncio publicitário [Compreensão do Oral]
Gramática
· Subordinação
· Classes de palavras
· Funções sintáticas
· Referente
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
Gil Vicente PARA CONTEXTUALIZAR

1304 1374 1521 1524/25 1536 1547 1553 1580 1595


Nascimento Data da morte Aclamação Data provável Publicação da Partida Embarque Data provável Publicação
de Francesco de Francesco do D. João III do nascimento Grammatica de Luís de de Luís de da morte de póstuma de
Petrarca Petrarca como rei de Luís Vaz da Lingoagem Camões para Camões Luís Vaz de Rimas, de Luís
(Arezzo, Itália) (Arquà, Itália) de Portugal de Camões Portuguesa, por Ceuta para Goa Camões Vaz de Camões
Fernão de Oliveira (10 de junho)

Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender as transformações que ocor-
rem nesta época, bem como o autor que irá ser objeto de estudo.

Humanismo, Classicismo e Renascimento

Humanismo Classicismo e Renascimento


• Dá-se o nome de Humanismo ao conjunto de conceções • O Classicismo é o conjunto de princípios ou de regras
próprias dos humanistas, ou seja, daqueles intelectuais e ar- desenvolvido pelos artistas renascentistas que procuram imi-
tistas que tar os modelos da Antiguidade Clássica (greco-latinos) e os
– exaltavam o Homem como ser pensante, dotado italianos quatrocentistas herdeiros das conceções estéticas
5 de livre-arbítrio; 5 de Petrarca.
– fomentavam a investigação livre nos vários domí- • Esses princípios são os seguintes:
nios da ciência; – mimese: a necessidade de imitação de modelos,
– criticavam as tradições e as instituições, como a neste caso greco-latinos e italianos;
Igreja, combatendo a Escolástica, que consideravam – intemporalidade do belo;
10 atrofiadora do desenvolvimento do espírito; 10 – obediência às regras próprias de cada género literá-
– preconizavam uma educação integral, do corpo, rio ou de cada modalidade;
da mente, do espírito – Mens sana in corpore sano. – gosto pela perfeição;
• Os humanistas e os homens do Renascimento desenvol- – gosto pela clareza e simplicidade;
veram a medicina e a anatomia e aprenderam a conhecer – ideia de equilíbrio;
15 melhor o Universo. 15 – finalidade moral da literatura, devendo a poesia simul-
• Os artistas criaram um corpo teórico relativo às conce- taneamente provocar prazer espiritual no leitor e ser-lhe útil.
ções artísticas, designado de Classicismo. • O Renascimento, porque decorrente do Humanismo, foi
Elaborado a partir de Amélia Pinto Pais, História da Literatura uma época “antropocêntrica”, afastando-se das conceções
em Portugal, uma perspetiva didática. Época Medieval e época teocêntricas medievais, tornando-se o ser humano a “medida
clássica, vol. 1, Porto, Areal Editores, 2004, p. 111. 20 de todas as coisas”.
Elaborado a partir de Amélia Pinto Pais, História da Literatura
em Portugal, uma perspetiva didática. Época Medieval e época
clássica, vol. 1, Porto, Areal Editores, 2004, pp. 112-113.

138
PARA INICIAR

COMPREENSÃO DO ORAL PROFESSOR

Visualize e escute atentamente o excerto fílmico relativo à vida e obra de Luís Vaz de
Camões. Link
"Quem és tu,
Luís Vaz?"
1. Complete cada alínea da coluna A com a opção correta da coluna B.
Oralidade
1.1; 1.4
Coluna A Coluna B
1.
[A] As visitas de estado a Portugal [1] porque é do protocolo prestar homenagem [A] – [1]
começam todas no Mosteiro dos a Camões. [B] – [2]
[C] – [1]
Jerónimos, [2] porque o primeiro-ministro valoriza este [D] – [1]
monumento nacional. [E] – [2]
[F] – [2]
[B] Há poucos dados sobre a vida [G] – [1]
[H] – [1]
do poeta nacional, [1] porque muitos documentos desapareceram [I] – [1]
no mar. [J] – [2]
[2] logo, é necessário viajar no tempo até à
sociedade quinhentista.
[C] Na época em que o poeta nasceu,

[1] a maior parte do planeta era português.


[2] o Brasil ainda não tinha sido descoberto.
[D] É provável que Luís de Camões tenha
nascido em Lisboa [1] e tenha conhecido bem os bairros da cidade.
[2] mas tenha abandonado imediatamente a
capital.
[E] O pai do poeta, Simão Vaz de Camões,
possível parente de Vasco da Gama, [1] casou com Ana de Sá, em Santarém.
[2] morreu ao serviço do rei de Portugal.
[F] Pela leitura parcial do soneto “O dia
[1] terá sido repleta de oportunidades e alegrias.
em que nasci moura e pereça”, pode
[2] terá sido extremamente conturbada.
concluir-se que a vida de Camões
[1] cidade de origem romana.
[G] Há a possibilidade de Camões ter [2] cidade de origem galega.
tido ascendentes de origem galega
em Chaves, [1] que o poeta tenha estado alojado.
[2] que o poeta tenha nascido.

[H] São muitos os lugares em Portugal [1] ser um homem instruído e muito culto.
em que se assume [2] escrever sobre o rio Mondego, quando
visitava o tio.
[I] A possibilidade de Camões ter vivido
em Coimbra justifica-se pelo facto [1] que tinha uma profunda erudição, sendo
de o poeta principalmente conhecido nas casas nobres
da Europa.
[2] que revelava um conhecimento profundo
[J] Não há dúvida de que o príncipe dos da literatura clássica e dos homens
poetas portugueses era um homem de letras italianos.

139
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
PARA DESENVOLVER

INFORMAR
PROFESSOR
Leia os seguintes tópicos e resolva a atividade proposta abaixo.
Leitura
7.1; 7.4; 8.1
Educação Literária
Lírica tradicional e renascentista
14.8; 14.10; 16.1
Medida velha Medida nova
[A] – [2]
• Poesia lírica tradicional ou poesia em • Sá de Miranda introduz em Portugal a medida
[B] – [4]
redondilha, existente nos cancioneiros nova, ou seja, o decassílabo, formas fixas,
[C] – [1]
[D] – [3]
peninsulares ao longo do século XV e grande como o soneto, e uma série de subgéneros
[E] – [6] parte do século XVI. líricos, como a elegia ou a écloga.
• Medida que se mantém, continuando • A introdução destas novidades “representava
a ser usada pelos poetas do século XVI, o abraçar dos ideais do humanismo,
em alternância com o verso decassilábico. a redescoberta dos Antigos, a cultura
Construído a partir de José Augusto Cardoso do Renascimento, em suma”.
Bernardes, "Medida velha", in Vítor Aguiar e Construído a partir de Maria Vitalina Leal de
Silva (coord.), Dicionário de Luís de Camões, Matos, "Sá de Miranda", in Vítor Aguiar e Silva
Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 579. (coord.), Dicionário de Luís de Camões, Alfragide,
• As composições poéticas denominadas Editorial Caminho, 2011, pp. 887-888.
redondilhas apresentam versos de cinco • Soneto: forma fixa constituída por catorze
sílabas métricas (redondilha menor ou versos decassilábicos, distribuídos em
pentassílabo) ou sete sílabas métricas duas quadras e dois tercetos. As duas
(redondilha maior ou heptassílabo) e podem primeiras apresentam rimas emparelhadas e
ter as seguintes denominações: interpoladas, segundo o esquema abba/abba;
– vilancete: com mote1 de dois ou três versos os segundos apresentam maiores
(geralmente heptassílabos) e uma glosa2 possibilidades combinatórias, destacando-se
de uma ou duas estrofes (normalmente os esquemas do tipo cde/cde e cdc/dcd.
sétimas); • No soneto privilegia-se a expressão lírica da
– cantiga: com mote de quatro versos e uma experiência vivencial de um emissor.
glosa de uma ou mais estrofes (de 8, 9 ou • Na produção sonetista camoniana
10 versos); toma-se como tema principal o Amor,
1
estrofe curta introdutora – esparsa: composta por uma única estrofe representado nas suas mais diversas formas
do assunto do poema (de 8 a 10 versos); e manifestações.
2
estrofe que se segue ao mote – trovas ou endechas: sem mote, com uma
Elaborado a partir de Micaela Ramon,
e que desenvolve o tema ou mais estrofes (quadras ou oitavas). "Sonetos", in vítor Aguiar e Silva (coord.),
neste apresentado
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide,
Caminho, 2011, p. 905.

1. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B, de forma a comple-


tar as afirmações de acordo com as informações fornecidas pelos textos.

Coluna A Coluna B
[A] As formas poéticas da medida velha [1] por Sá de Miranda.
apresentam
[2] versos em redondilha maior e menor.
[B] Apesar da introdução do verso
decassilábico, os poetas de Quinhentos [3] por duas quadras e dois tercetos,
continuaram compostos por versos decassilábicos.
[C] O soneto petrarquista foi introduzido em
[4] a usar o verso tradicional.
Portugal
[5] por um mote e glosas.
[D] O soneto é uma forma fixa constituída
[6] esquemas rimáticos variáveis.
[E] No soneto, os tercetos apresentam [7] sempre o mesmo esquema rimático.

140
Rimas
A representação da amada

INFORMAR PROFESSOR

Leitura
Leia os tópicos relativos à temática "a representação da amada" e resolva a atividade 7.1; 7.4; 8.1
proposta. Educação Literária
14.3; 14.4; 14.7; 15.1; 16.1

Petrarquismo em Camões: influência e originalidade a. F – A construção do retrato


feminino na lírica camoniana
baseia-se também na tradição
literária.
Influência de Petrarca Originalidade de Camões b. V
c. V
• Na lírica camoniana, a construção do retrato • Contrariamente às amadas metafísicas, d. F – Nos poemas de índole
da mulher está associada à ausência desse Camões pinta a jovem da lírica tradicional, petrarquista, Camões
evidencia o retrato físico
mesmo objeto amado, ou seja, o sujeito inserida num ambiente concreto, referindo e psicológico da mulher.
poético descreve o que imagina e não o que o vestuário (tipo e cores), o brilho e cores e. V
f. F – Camões viajou por vários
vê (amadas metafísicas). do cabelo, a fita do cabelo, formando um continentes, onde conheceu
• Como o desejo não se realiza, porque desenho gracioso, com cor, luz e movimento, diferentes tipos de beleza
como se confirma em “Descalça vai para a feminina, que retrata na sua
o objeto está ausente, a figura da amada fica poesia.
“pintada” no sofrimento do sujeito poético, fonte” (ver página 144). g. V
sendo a causa desse mesmo sofrimento. • Quebrando os códigos do petrarquismo,
• O retrato feminino idealizado (física e Camões pinta também a beleza da mulher
psicologicamente) é feito com cores suaves: de tez (pele) negra, que terá conhecido nas
a pele muito clara, os olhos claros, o cabelo suas viagens intercontinentais – “Aquela
louro, o “honesto riso” num rosto suavemente cativa” (ver página 146).
iluminado, breve luz que dá cor ao amor.

Elaborado a partir de Helena Langrouva, “Camões e as artes”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 113.

1. Indique se as afirmações são verdadeiras ou falsas, procedendo à correção das falsas.


a. A construção do retrato feminino na lírica camoniana baseia-se apenas em pa-
drões de beleza de influência petrarquista.
b. O retrato idealizado da mulher leva ao sofrimento do sujeito poético por não
poder alcançar o objeto do seu amor.
c. A mulher petrarquista é um ser belo e inatingível.
d. Nos poemas de índole petrarquista, Camões evidencia apenas o retrato físico
da mulher.
e. Em “Descalça vai para a fonte”, Camões afasta-se do modelo petrarquista, pelo
visualismo do retrato presente nas cores do vestuário da jovem.
f. Camões viajou por vários continentes, mas essas viagens não influenciaram
a representação da mulher na sua poesia.
g. A originalidade da poesia de Camões revela-se na sua capacidade de cantar
diferentes tipos de beleza feminina.

141
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada

EDUCAÇÃO LITERÁRIA
PROFESSOR
Propõe-se o estudo das Rimas, de Luís de Camões, de acordo com as linhas temáticas.
Educação Literária O primeiro tema em análise é a representação da amada.
14.2; 14.3; 14.4; 14.8;
14.9; 14.10; 15.1; 16.1
Ondados fios d’ ouro reluzente
1.1
a. “sobre as rosas estendidos” Ondados fios d’ouro reluzente,
b. Olhos
c. Brilho do olhar que agora da mão bela recolhidos,
d. “perlas” agora sobre as rosas estendidos,
e. Lábios
f. Cor viva dos lábios fazeis que sua beleza s’ acrecente;
1.2 Metáfora.
2.1 O sujeito poético evidencia 5 olhos, que vos moveis tão docemente,
a serenidade, a honestidade,
a delicadeza e a timidez em mil divinos raios encendidos,
da mulher amada. se de cá me levais alma e sentidos,
3. A composição tem duas que fôra, se de vós não fôra ausente?
quadras e dois tercetos, com
versos decassilábicos (“On/da/
dos/fi/os/d’ou/ro/re/lu/ Honesto riso, que entre a mor fineza
zen/[te]”).
10 de perlas e corais nasce e parece,
se n’ alma em doces ecos não o ouvisse!

S’ imaginando só tanta beleza


de si, em nova glória, a alma s’ esquece,
que fará quando a vir? Ah! quem a visse!
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido
e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão,
Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 164.

1. Na descrição da mulher apresentada no poema, o sujeito poético associa a sua


beleza a elementos naturais.
1.1 Preencha o quadro, de forma a completar o retrato.

Significado da associação
Partes do corpo Elementos naturais entre as partes do corpo
e os elementos naturais
Cabelos Ouro (“fios d'ouro reluzente”) O louro e o brilho dos cabelos
Faces a. Tom rosado das faces
b. “mil divinos raios encendidos” c.
Dentes d. Dentes brancos/perfeitos
e. "corais" f.

1.2 Identifique o recurso expressivo que permite estabelecer a relação entre a beleza
da mulher e os elementos naturais.

2. Além das características físicas realçadas no texto, o sujeito poético salienta tam-
bém traços psicológicos da mulher amada.
2.1 Refira dois desses traços, fundamentando a sua resposta com versos do poema.

3. Comprove que esta composição poética é formalmente um soneto.

142
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFESSOR

Um mover d’olhos, brando e piadoso Áudio


“Um mover d’olhos,
Um mover d’olhos, brando e piadoso, brando e piadoso”
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Educação Literária
quási forçado; um doce e humilde gesto1, 14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
de qualquer alegria duvidoso; 14.7; 14.9; 16.2

5 um despejo2 quieto e vergonhoso; 1. Trata-se de uma mulher


discreta, humilde, doce, pura
um repouso3 gravíssimo e modesto; e calma.
ũa pura bondade, manifesto 2.
a. psicológica
indício da alma, limpo e gracioso; b. qualidades
c. celeste
d. indefinido
um encolhido ousar; ũa brandura; e. retrato
10 um medo sem ter culpa; um ar sereno; 3. Trata-se de uma antítese.
um longo e obediente sofrimento; 4. O soneto pode dividir-se em
dois momentos: um primeiro,
dos versos 1 ao 11, no qual se
esta foi a celeste fermosura apresenta uma enumeração
da minha Circe4, e o mágico veneno das características
psicológicas da mulher; um
que pôde transformar meu pensamento. segundo, dos versos 12 ao 14,
que se centra nos efeitos da
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro beleza feminina no sujeito
J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 161. lírico.
5. No soneto “Ondados fios
d’ouro reluzente”, o sujeito
1
rosto; 2 desembaraço, ousadia; 3 tranquilidade; 4 na mitologia grega, Circe era uma feiticeira, especia- lírico destaca sobretudo
lista em venenos. a beleza física da mulher,
enquanto neste realça a sua
perfeição moral.
1. Apresente, por palavras suas, cinco características da mulher descrita no poema. Não obstante, em ambas
as composições poéticas,
a mulher é uma figura
2. Preencha o texto seguinte, selecionando dos vocábulos propostos os adequados, indefinida, incorpórea, quase
divina, que se encontra
tendo em conta a informação presente no soneto. distante do sujeito lírico.

• física • indefinido • psicológica • retrato


• celeste • definido • qualidades

O sujeito lírico realça uma beleza a. , destacando b. morais da


mulher (“despejo quieto e vergonhoso”, v. 5; “encolhido ousar”, v. 9). Trata-se de uma mu-
lher divina, quase inumana, o que justifica a utilização do adjetivo c. “ ” para
a designar. O recurso ao determinante artigo d. favorece a imprecisão do
e. e parece sugerir uma mulher imaginada, idealizada.

3. Identifique o recurso expressivo que se estabelece entre as expressões “celeste


fermosura” (v. 12) e “Circe” (v. 13).

4. Divida o soneto em dois momentos, apresentando o assunto de cada um deles.

5. Estabeleça uma relação entre esta composição poética e o soneto “Ondados fios
d’ouro reluzente” (p. 142), destacando uma diferença e uma semelhança existentes
entre eles.

143
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.8;
14.9; 15.1; 16.1; 16.2
Descalça vai para a fonte
a este mote:
1. Trata-se de um vilancete,
dado ser constituído por mote
de três versos e duas glosas de Descalça vai para a fonte
sete. Os versos são redondilha
maior. Leanor pela verdura;
2. Leanor é uma mulher do Vai fermosa e não segura.
mundo rural, pertencente ao
povo, como se comprova pela
atividade descrita no mote – VOLTAS
vai descalça buscar água à
fonte – e pelo seu vestuário
descrito na primeira volta. Leva na cabeça o pote,
3. o testo nas mãos de prata,
a. verde
b. rural/campestre/primaveril
cinta de fina escarlata1,
c. prata saínho2 de chamalote3,
d. ouro
e. beleza
5 traz a vasquinha de cote4,
f. brancura mais branca que a neve pura;
g. petrarquista
h. vermelho
vai fermosa, e não segura.
i. contrasta
j. atrai
k. sujeito poético
Descobre a touca a garganta, 1
cor vermelha viva, tecido
4. O sujeito lírico destaca, cabelos d’ouro o trançado, que tem essa cor
por meio de uma metáfora 2
10 fita de cor d’encarnado, veste sem mangas de formato
(“chove nela graça tanta”, redondo e sem abas
v.  12), a perfeição e a beleza da tão linda que o mundo espanta;
3
mulher, concluindo que esta tecido de lã ou pelo,
chove nela graça tanta
acrescenta beleza à própria geralmente com seda
formosura, ultrapassando que dá graça à fermosura; 4
casaco curto e muito justo
o próprio modelo, a própria vai fermosa, e não segura. ao corpo, de uso diário
essência de beleza.
5. A jovem exibe a sua beleza,
mas esta formosura traz-lhe Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro
insegurança, uma vez que ela J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp. 55-56.
está mais exposta aos olhos
daqueles por quem passa, ou
seja, ao amor. 1. Classifique o poema, justificando com três características formais do mesmo.

Oralidade 2. Partindo do mote e da primeira volta, refira a condição social de Leanor.


1.5; 2.2; 4.1; 4.2; 5.1;
5.3; 6.2
3. Complete o texto que se segue, de acordo com a informação presente no poema.

No poema, estão presentes várias cores: o a. dos caminhos percorridos por


Vídeo Leanor, que remete para um espaço b. , fértil, e simultaneamente nos sugere
"Garota de Ipanema" a juventude de donzela; as cores da c. e do d. , ambas associadas ao
caráter superior, invulgar, da e. da jovem; a f. da neve, associada, por
1./2.
a. Ambas as mulheres um lado, à cor da pele, característica da mulher descrita ao modo g. , e, por ou-
são dotadas de grande tro, a um traço psicológico – a sua pureza; e o h. (“escarlata”), cor forte, viva,
beleza, acentuando-se na
descrição da segunda a sua que i. com as outras cores e que permite uma leitura mais erótica do poema.
sensualidade: “coisa mais Leanor é jovem, bela, pura, mas sensual, e j. o olhar daqueles por quem passa,
linda / Mais cheia de graça /
É ela, a menina […] Num doce nomeadamente o do k. .
balanço […] Moça do corpo
dourado / Do sol de Ipanema / 4. Interprete o significado da expressão “chove nela graça tanta / que dá graça à fer-
O seu balançado / É mais que
um poema / É a coisa mais mosura” (vv. 12-13).
linda / que eu já vi passar!”.
5. Apresente uma proposta de interpretação para o verso “vai fermosa, e não segura”
(vv. 7 e 14).

144
Rimas

CO M P R E E N S Ã O/ EX P R E SS Ã O O RA L PROFESSOR

b. A mulher que passa a


1. Ouça atentamente o tema musical “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinicius caminho do mar provoca
de Moraes, e estabeleça uma comparação entre a canção e o vilancete “Descalça no sujeito poético o mesmo
efeito que provoca Leanor
vai para a fonte” (p. 144), no que diz respeito a caminho da fonte: ambas
captam a atenção do “eu”
a. à descrição da mulher que passa; lírico, provocando o amor e a
criação poética (no primeiro
b. aos efeitos que essa passagem provoca no sujeito poético; caso, a redondilha camoniana
e, no segundo, a canção: “O
c. aos recursos expressivos usados na descrição da figura feminina. seu balançado / É mais que um
poema”; “Ah, se ela soubesse /
2. Ouça uma segunda vez a canção e recolha expressões que comprovem essa com- Que quando ela passa /
paração. O mundo sorrindo / Se enche
de graça / E fica mais lindo /
Por causa do amor”). No caso
3. Apresente à turma, numa breve exposição (dois a três minutos), as suas conclusões. da canção, “a moça de corpo
dourado” provoca também um
sentimento de nostalgia no
“eu” lírico, que se apercebe da
sua solidão e, implicitamente,
GRAMÁTICA manifesta o desejo de a ter por
companhia: “Ah, porque estou
1. Atente nos seguintes versos pertencentes à canção anterior. tão sozinho! / Ah, porque tudo
é tão triste! / Ah, a beleza que
existe […] Que também passa
“Ah, se ela soubesse sozinha!”.
Que, quando ela passa, c. À semelhança do vilancete
camoniano, também na
O mundo, sorrindo, canção encontramos a
Se enche de graça hipérbole, a personificação
(“O Mundo, sorrindo, / se enche
E fica mais lindo de graça”), a adjetivação
Por causa do amor! no grau superlativo (“É a
coisa mais linda / Que eu já vi
Olha que coisa mais linda, passar!” e a comparação (“O seu
Mais cheia de graça balançado /
É mais que um poema”).
É ela, a menina
3. Resposta de caráter
Que vem e que passa pessoal. No entanto, os alunos
Num doce balanço podem referir os seguintes
aspetos:
[A] caminho do mar!” – o tema da mulher que passa
e que prende o olhar de quem
a vê passar é uma constante
1.1 Retire do excerto uma oração na literatura e nas artes, em
geral;
a. subordinada temporal; – a hiperbolização da beleza
feminina é uma realidade
b. subordinada condicional; intemporal, assim como o
amor que a mulher provoca no
c. subordinada adjetiva relativa restritiva; sujeito que a observa;
d. coordenada copulativa. – a forma de ver o mundo e
a vida é muito mais positiva,
1.2 Classifique a oração sublinhada em“Olha que coisa mais linda, / Mais cheia de gra- quando somos presenteados
com a beleza e o amor.
ça / É ela…”
1.3 Preencha o seguinte quadro com palavras retiradas dos versos acima.

Nomes (5) Conjugações (4) Pronomes (3) Adjetivos (3)

BLOCO INFORMATIVO –
pp. 277, 260-266

145
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Gramática
18.2; 18.4 Endechas1
1.1 a. “quando ela passa”; a~
ua cativa2 com quem andava d’amores
b. “se ela soubesse”; c. “Que
vem”; d. “E fica mais lindo / Por na Índia, chamada Bárbora
causa do amor”.
1.2 Oração subordinada Aquela cativa,
substantiva completiva. que me tem cativo,
1.3 Nomes: mundo; graça;
amor; coisa; menina; balanço; porque nela vivo
caminho; mar; Conjunções: já não quer que viva.
Se (v. 1); que (v. 2); quando; e;
Pronomes: ela; se (v. 4); que
5 Eu nunca vi rosa
(v. 10); Adjetivos: lindo; linda; em suaves molhos,
cheia; doce.
que para meus olhos
Educação Literária
fosse mais fermosa.
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.8; 15.1; 16.1 Nem no campo flores,
10 nem no céu estrelas,
a. V
b. F – O sujeito poético
me parecem belas
considera-se um cativo, pois como os meus amores.
está preso aos encantos da
mulher amada.
Rosto singular,
c. F – Os olhos da mulher olhos sossegados,
narrada são pretos. 15 pretos e cansados,
d. V
e. F – A mulher retratada foge
mas não de matar.
aos padrões de beleza da época
~ graça viva,
renascentista, por ser negra e Ua
ter os cabelos pretos.
que neles lhe mora, Retrato de uma escrava africana, c. 1580,
f. F – O sujeito poético traça o
retrato físico da mulher, mas para ser senhora Annibale Carracci (1560-1609), Tomasso
também são realçados traços 20 de quem é cativa. Brothers, Leeds, Inglaterra.
psicológicos, como
a serenidade. Pretos os cabelos,
g. F – A neve contrasta com a onde o povo vão
cor negra da pele da mulher,
e gostaria até de mudar a sua perde opinião
cor. que os louros são belos.
h. V
i. F – Na última oitava, a 25 Pretidão de Amor,
palavra "pena" refere-se ao
instrumento de escrita, mas tão doce a figura,
indica também sofrimento que a neve lhe jura
ou dor.
j. F – O poema apresenta que trocara a cor.
versos com redondilha menor. Leda3 mansidão
30 que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbora não.
1
composição poética de tom
melancólico e triste
Presença serena 2
escrava
que a tormenta amansa; 3
alegre
35 nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
Luís de Camões, Rimas.
e, pois nela vivo, Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa
40 é força que viva. Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp. 89-90.

146
Rimas

1. Após a leitura do poema, assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou fal- PROFESSOR
sas. Corrija as falsas sem recorrer à negativa.
a. Na primeira estrofe, o termo “cativa” remete para a condição social da mulher
Oralidade
retratada. 1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 4.2; 5.1;
5.3; 6.1; 6.2; 6.3
b. O sujeito poético considera-se um cativo, pois está preso na Índia.
c. Os olhos da mulher retratada são verdes como os campos.
d. Na segunda estrofe, o poeta serve-se da hipérbole para realçar as característi- Áudio + Link
“Endechas a Bárbara
cas excecionais da mulher amada. Escrava”
e. A mulher retratada corresponde aos padrões de beleza física da época renascen- Resposta de caráter pessoal.
tista. No entanto, o aluno poderá
referir-se ao ritmo lento
f. O sujeito poético traça apenas o retrato físico da mulher. a sugerir sentimentos
de saudade, dor, tristeza, que
g. A neve (quarta estrofe) surge associada por semelhança à cor da pele de Bárbara. vão ao encontro da definição
de “Endechas”.
h. Na utilização do adjetivo “bárbora” (quarta estrofe) há um jogo de palavras
com o nome próprio da mulher amada. Escrita
10.1; 10.2; 11.1; 12.1; 12.2;
i. Na última oitava, a palavra “pena” refere-se apenas ao instrumento de escrita. 12.3; 12.4; 13.1
j. O poema apresenta versos em redondilha maior.
Proposta de resolução:
Na sua obra, Camões descreve
CO M P R E E N S Ã O/ EX P R E SS Ã O O RA L a mulher segundo o modelo
petrarquista – loira, de pele
clara e olhar luminoso,
características que se
Acompanhe a leitura do poema com a audição da associam à serenidade e à
doçura do retrato. Poemas
interpretação de Sérgio Godinho. como “Ondados fios de ouro
reluzente” ou “Descalça vai
Faça, em 2-3 minutos, uma apresentação crítica para a fonte” traduzem este
tipo de beleza.
sobre os aspetos a seguir apresentados.
Contudo, Camões não é
• Caracterização do ritmo e da melodia da música. apenas um seguidor de
modelos clássicos. Pela
• Relação entre ritmo/melodia e designação da sua experiência, canta os
diferentes tipos de beleza
composição poética/conteúdo. feminina. Em “Endechas a
Bárbara escrava” descreve
• Expressão da opinião pessoal sobre a lingua- uma mulher de pele negra,
gem musical produzida por Sérgio Godinho. cabelos e olhos escuros, uma
ÁUDIO “cativa que o tem cativo”.
Sérgio Godinho
Concluindo, foi um poeta
"Endechas a Bárbara
que soube conjugar os ideais
escrava"
renascentistas com as suas
vivências, realizando uma obra
E S C R I TA ímpar que prima pela beleza e
originalidade.

Redija um texto expositivo sobre a representação da mulher na lírica camoniana, ten-


do em conta os poemas estudados. O seu texto deverá ter entre 100 e 120 palavras e
apresentar uma estrutura tripartida: introdução, desenvolvimento, conclusão.

Organize a informação, de acordo com os seguintes tópicos:


• referência ao retrato da mulher segundo o modelo petrarquista;
• representação de outros tipos de beleza feminina/afastamento do modelo petrarquista;
• exemplos de textos significativos da representação da amada;
• destaque para a originalidade e singularidade da obra lírica de Camões.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
MANUAL – pp. 26-27

147
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor

PROFESSOR INFORMAR
Educação Literária
14.3;14.4; 14.7; 15.1; 16.1 Leia os tópicos seguintes e resolva a atividade proposta.
Leitura
7.1; 7.4; 8.1
A tensão amorosa em Camões
[A] – [6]
[B] – [5] • Presença constante na lírica e no teatro (também pontualmente em Os Lusíadas),
[C] – [1] o Amor é talvez o tema de maior alcance significativo na obra de Camões, sendo fonte
[D] – [3] de tensão, de conflito interior.
[E] – [4]
[F] – [2]
• Ao contrário do que sucede com Petrarca, Camões oculta frequentemente a iden-
tidade da amada, o que permite duas interpretações possíveis:
- uma leitura biográfica, segundo a qual a vida do poeta estaria codificada na
sua poesia lírica, cabendo a um leitor mais especializado interpretar as pistas que
permitiriam descobrir a identidade de uma mulher real;
- uma leitura não-biográfica, que se baseia num subtil jogo de códigos poéti-
co-literários, que Camões domina na perfeição, não sendo a mulher real o mais
importante na escrita literária, mas sim o Amor e os fenómenos a ele ligados.
• Há que entender a função do Amor, em grande parte da lírica camoniana, como
dinâmica-motriz do próprio ato de escrever. O Amor é, por assim dizer, o combustível
que põe a máquina da escrita em ação.
• Uma fonte de tensão que surge na poesia de Camões é a desproporcionalidade de
sentimentos vividos pelo amador e pela amada, o que implica que a vivência do amor,
longe de ser uma experiência alegre e feliz, é constantemente descrita como sendo algo
de doloroso.
Elaborado a partir de Frederico Lourenço, “Amor”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 25-26.

1. Associe os elementos da coluna A aos da coluna B, de modo a obter afirmações


verdadeiras.

Coluna A Coluna B
[A] O Amor assume na lírica camoniana [1] muitos dos poemas de Camões terem
[B] A mulher amada e idealizada na poesia cariz autobiográfico.
de Camões [2] frequentemente descrito como sendo
[C] Há uma teoria que aponta para o facto uma experiência dolorosa.
de [3] na origem da criação literária.
[D] A mulher amada e, por consequência, [4] o sujeito poético não ser
o Amor estão correspondido com a mesma
[E] O sofrimento amoroso é decorrente intensidade pela amada.
do facto de [5] raramente é identificada pelo poeta.
[F] Assim, o Amor na lírica camoniana é [6] um papel preponderante.

148
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFESSOR

Educação Literária
Leia expressivamento os textos. 14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.9

Quem ora soubesse 1.1


Nomes: lavrador; terra;
a este mote: abrolhos; rês; erva; grão
Verbos: nace; semeasse;
colhia; apanhasse; pace;
Quem ora soubesse trabalhava
onde o Amor nace, 1.2 A recorrência a termos do
que o semeasse! campo lexical de agricultura
permite comparar o ato de
VOLTAS semear e colher, próprio do
lavrador, ao conceito de amor
e seus efeitos que o sujeito
D’Amor e seus danos 15 Com quanto perdi, poético enuncia. Este afirma
que, tal como um lavrador
me fiz lavrador; trabalhava em vão; lança a semente à terra para
semeava amor se semeei grão, colher depois o que semeia,
também o homem semeia
e colhia enganos; grande dor colhi. o Amor, mas colhe apenas
5 não vi, em meus anos, Amor nunca vi desilusões e enganos.
2. O sujeito poético afirma
homem que apanhasse 20 que muito durasse, que nunca viu “homem que
o que semeasse. que não magoasse. apanhasse / o que semeasse”
(vv. 6-7), o que remete para
Luís de Camões, Rimas. Texto uma generalização dos efeitos
Vi terra florida estabelecido e prefaciado por negativos do Amor. Afirma
também que nunca viu Amor
de lindos abrolhos1, Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra,
“que muito durasse, / que
Almedina, 2005 [1994], pp. 88-89.
10 lindos pera os olhos, não magoasse” (vv. 20-21),
exemplificando os efeitos
duros para a vida; deste sentimento com o seu
mas a rês2 perdida próprio testemunho.
que tal erva pace 1
planta espinhosa 3. A composição poética é um
2 vilancete, constituído por um
em forte hora nace. qualquer quadrúpede mote de três versos e pelas
voltas (ou glosas), de sete
versos cada. Os versos têm
1. Ao longo do texto, o sujeito poético recorre a termos do campo lexical de agricultura. 5 sílabas métricas,
designando-se de redondilha
1.1 Faça o levantamento desses termos e insira-os no quadro seguinte, de acordo com menor.
a classe a que pertencem.

Nomes Verbos

1.2 Justifique a recorrência a este campo lexical.

2. Demonstre que o conceito de amor e seus efeitos, referidos ao longo do poema,


se aplicam ao sujeito poético e aos homens em geral. Fundamente a sua resposta
com citações pertinentes.
3. Classifique a composição poética e analise a sua métrica.

BLOCO INFORMATIVO – p. 282

149
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Áudio
Tanto de meu estado me acho incerto
“Tanto de meu estado
me acho incerto” Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Educação Literária
14.1; 14.2; 14.3; 14.4; sem causa, juntamente choro e rio,
14.6; 14.8; 14.10 o mundo todo abarco e nada aperto.

1.1
a. “frio” 5 É tudo quanto sinto, um desconcerto;
b. “choro” da alma um fogo me sai, da vista um rio;
c. “nada aperto”
d. “espero” agora espero, agora desconfio,
e. “acerto” agora desvario, agora acerto.
f. “Estando em terra”
g. “em mil anos não posso
achar ũ’hora” Estando em terra, chego ao Céu voando,
1.2 O sujeito poético 10 nũ’hora acho mil anos, e é de jeito
afirma estar dominado
por sentimentos/estados que em mil anos não posso achar ũ’hora.
contraditórios, tanto eufóricos
como disfóricos. Sente-se
ora alegre ora triste, ora Se me pergunta alguém porque assi ando,
acompanhado ora solitário, respondo que não sei; porém suspeito
ora confiante ora desconfiado,
ora desvairado ora alinhado que só porque vos vi, minha Senhora.
(atinado).
1.3 A causa do seu estado
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido Retrato de moça com véu, c. 1515,
de espírito encontra-se no
facto de ele ter visto uma e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Rafael (1483-1520), Palácio de
“Senhora”, o que desencadeou Almedina, 2005 [1994], p. 118. Pitti, Florença.
o sentimento amoroso e os
estados contraditórios.
2. A primeira parte
corresponde às duas quadras
e ao primeiro terceto, na
qual o “eu” descreve os seus 1. O sujeito poético descreve neste poema um estado de espírito contraditório.
sentimentos contraditórios.
A segunda parte integra 1.1 Transcreva das três primeiras estrofes as palavras ou expressões que se opõem às
o último terceto, momento seguintes.
em que se evidencia a causa
do estado a. “ardor” (v. 2)
de espírito do sujeito poético.
3. Trata-se de um soneto, b. “rio” (v. 3)
constituído por duas quadras
e dois tercetos, com rima
c. “o mundo todo abarco” (v. 4)
interpolada e emparelhada d. “desconfio” (v. 7)
nas quadras e interpolada
nos tercetos, e com versos e. “desvario” (v. 8)
decassilábicos (10 sílabas
métricas). f. “chego ao Céu” (v. 9)
~ 'ora acho mil anos”
g. “nu (v. 10)

1.2 De acordo com o registo que fez no exercício anterior, trace o retrato psicológico
do sujeito poético.
1.3 Identifique a causa dos sentimentos experienciados pelo “eu” lírico, tendo em
conta a última estrofe.

2. Proponha uma divisão do poema em duas partes, justificando a sua opção.

3. Faça a análise formal do poema, classificando o tipo de estrofes, a métrica e o tipo


de rima.

150
Rimas
A representação da Natureza

INFORMAR PROFESSOR

Educação Literária
Leia o seguinte texto. 14.3; 14.7; 15.1; 16.1
Leitura
7.1; 7.3; 8.1; 8.2
Locus amoenus
1.
Expressão latina que designa a paisagem ideal, sempre presente na poesia amo-
a. É a paisagem ideal, sempre
rosa em geral e, com maior incidência, na poesia bucólica1. Desde a Antiguidade presente na poesia amorosa.
Clássica que o termo locus amoenus nos remete para a descrição da Natureza e para É uma Natureza harmoniosa,
fresca, primaveril, de céu azul,
um conjunto de elementos específicos: o campo fresco e verdejante, com um vasto fértil, que não se ressente
5 arvoredo e flores coloridas, cujo doce odor se espalha com a brisa. A vegetação é den- da passagem do tempo.
Os animais estão
sa mas constantemente renovada, dada a grande fertilidade do terreno, e a passa- perfeitamente integrados
gem do tempo não conduz à destruição da paisagem, o que, de acordo com Lanciani e em comunhão com ela.
b. É uma paisagem natural
e Tavani (1993) é metafórico da infância que nunca se perde. Ouve-se o suave som (campestre ou florestal), com
da água do riacho a saltar nas pedras ou a brotar de uma fonte, onde os animais vão vegetação densa e verdejante
e abundante em água.
10 beber. Há borboletas policromáticas2 esvoaçando, assim como aves diversas (nor-
c. Campo fresco e verdejante,
malmente rouxinóis ou pardais), que abrilhantam o céu azul. Esta natureza mágica vasto arvoredo, flores
é conducente3 ao amor, ao encantamento sensorial e espiritual do Homem, que se coloridas, brisa, vegetação
densa e renovada, água
integra na perfeição em tal plenitude4, marcada pela harmonia e homogeneidade. do riacho, fonte, animais,
Enfim, estamos perante um paraíso terrestre, onde se enquadra o ser humano que borboletas policromáticas,
aves diversas (rouxinóis,
15 busca a satisfação pela simplicidade. […] pardais), céu azul.
Também Camões (1524-1580), que prima5 pela descrição pormenorizada da d. Espaço propício ao
paisagem amena, deixa transparecer nas suas obras a preferência pelo tópico amor – “natureza mágica
[...] conducente ao amor, ao
(v. soneto como “Alegres campos, verdes arvoredos”, in Rimas), o que se verifica na encantamento sensorial e
sua idealização de mulher, que aparece intrinsecamente relacionada com o locus espiritual do Homem” (ll. 11-12).
e. Simboliza a infância que
20 amoenus (v. “Um mover d’olhos brando e piadoso”). nunca se perde e o paraíso
Carlos Ceia, s.v. “Locus amoenus”, in Carlos Ceia (coord.), E-dicionário de termos literários. perdido onde o Homem se
Disponível em http://www.edtl.com.pt (consultado em janeiro de 2015). enquadra, procurando os
prazeres simples – “satisfação
pela simplicidade” (l. 15).

1
pastoril, campestre; 2 de várias cores; 3 que conduz, que leva a; 4 grandeza, felicidade;
5
se evidencia.

1. Preencha o quadro com informação retirada do texto.

Definição de “locus amoenus”

a.

Tipo de paisagem privilegiada Elementos naturais destacados

b. c.

Relação “locus amoenus”/amor Simbologia do “locus amoenus”

d. e.

151
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da Natureza

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.3; 14.8; 15.1
Leia os textos que se seguem sobre a representação da Natureza na lírica camoniana.

1. São referidos os campos,


os arvoredos, as águas,
os montes e os penedos.
Alegres campos, verdes arvoredos
A descrição destes elementos
cria um ambiente harmonioso Alegres campos, verdes arvoredos,
e belo (locus amoenus).
claras e frescas águas de cristal,
2. Os adjetivos estão
ao serviço da descrição que em vós debuxais ao natural,
da Natureza e, uma vez que discorrendo da altura dos rochedos;
se encontram antepostos
ao nome, sugerem uma ideia
de descrição subjetiva. 5 silvestres montes, ásperos penedos,
3. Os interlocutores compostos em concerto desigual,
do sujeito lírico são todos
os elementos da Natureza sabei que, sem licença de meu mal,
referidos nos cinco versos já não podeis fazer meus olhos ledos.
iniciais. A apóstrofe aponta
para a sua identificação.
4. Dirigindo-se aos elementos E, pois me já não vedes como vistes,
da Natureza, o sujeito afirma
“me já não vedes como
10 não me alegrem verduras deleitosas,
vistes” (v. 9). O contraste nem águas que correndo alegres vêm.
entre o pretérito perfeito do
indicativo (vistes) e o presente
do indicativo (vedes) marca a Semearei em vós lembranças tristes,
diferença entre um estado de
felicidade passado e a tristeza
regando-vos com lágrimas saudosas,
do presente. Por essa razão, e nascerão saudades de meu bem.
também afirma “já não podeis
fazer meus olhos ledos” (v. 8), Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado
indiciando, através do uso por Álvaro da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 123.
do presente do indicativo,
que é no momento atual que
a felicidade lhe é impossível. 1. Identifique os elementos da Natureza contemplados no poema, referindo o tipo de
5.1 Descrição valorativa,
eufórica (harmoniosa e alegre)
ambiente que a sua descrição cria.
da Natureza associada
ao passado do “eu” 2. Mencione a classe de palavras que contribui para a descrição da Natureza, comen-
b. Tristeza tando os efeitos produzidos pela sua localização na frase.
c. A tristeza vai-se instalando
no sujeito poético, o que se
denuncia já na adjetivação 3. Assinale o(s) interlocutor(es) do sujeito lírico, referindo o recurso expressivo que
disfórica dos “montes” se associa à sua identificação.
e “penedos”; a alegria
da Natureza já não influencia
o “eu” 4. Com base nas segunda e terceira estrofes, refira a importância da flexão verbal
d. Tristeza para a caracterização dos sentimentos do sujeito lírico em dois tempos distintos.
e. Dominado pela tristeza,
o sujeito lírico exercerá a sua 5. Um ambiente negativo vai, gradualmente, substituindo a serenidade e a alegria
negatividade sobre a Natureza,
semeando nela os seus que se percecionam na primeira quadra.
infortúnios e regando-a com
lágrimas de saudade 5.1 Complete o esquema com os dados necessários para a explicitação dessa gradação.

Domínios Descrição/
Estrofes Sentimentos
de referência explicação

1.a quadra Natureza Alegria a.

2.a quadra Natureza


b. c.
e 1.o terceto EU
EU
2.o terceto d. e.
Natureza

152
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFESSOR

Educação Literária
Aquela triste e leda madrugada 14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
14.7; 14.8; 14.9; 15.1

Aquela triste e leda madrugada,


cheia toda de mágoa e de piedade, Áudio
enquanto houver no mundo saüdade “Aquela triste e leda
madrugada”
quero que seja sempre celebrada.
1.
5 Ela só, quando amena e marchetada1 [A] – [2]
saía, dando ao mundo claridade, [B] – [5]
viu apartar-se2 d’ũa outra vontade, [C] – [1]
[D] – [9]
que nunca poderá ver-se apartada.
[E] – [3]
[F] – [8]
Ela só viu as lágrimas em fio, [G] – [6]
10 que d’uns e d’outros olhos derivadas
s’ acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas


que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido
e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão,
Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 157.
Paisagem com rebanho (pormenor), c. 1638,
Rubens (1577-1640), The National Gallery, Londres.
1
matizada; 2 afastar-se, separar-se.

1. Faça corresponder as frases da coluna A às da coluna B, de modo a obter afirma-


ções verdadeiras sobre o soneto acima transcrito.

Coluna A Coluna B

[A] Este soneto abre com uma antítese [1] funciona como justificação do desejo
e pode dividir-se expresso anteriormente.

[2] em dois momentos.


[B] O primeiro momento, correspondente
à primeira quadra, [3] recorrendo, sobretudo, à sensação visual,
presente no pretérito perfeito simples do
[C] O segundo momento, referente indicativo do verbo ver (“viu”).
às restantes estrofes,
[4] o sujeito poético e a mulher amada.
[D] O sujeito lírico centra-se no momento
passado, em que a madrugada [5] refere-se ao presente do sujeito poético
personificada e expressa o seu desejo para o futuro.
[6] através de uma hipérbole – “as lágrimas
[E] O “eu” poético personifica a Natureza, em fio […] s’acrescentaram em grande e
largo rio” – e de um paradoxo.
[F] A antítese presente em “triste e leda”
[7] se despediu dos amantes.
permite estabelecer um contraste
entre [8] a beleza e a alegria da Natureza
e o sofrimento do par amoroso.
[G] O sofrimento vivido no momento
da separação é expresso [9] presenciou a separação dos amantes.

153
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A reflexão sobre a vida pessoal

INFORMAR

Leia o seguinte texto, no qual o autor faz uma análise do ambiente vivido no século
XVI, para, dessa forma, justificar a natureza humana de Camões.

Camões: a época, o homem e o poeta


Luís de Camões nasceu e viveu em século de partidas e viagens; fossem por
*
Ovídio, poeta latino (Sulmona, terra os caminhos que a paragens distantes conduziam, fossem as rotas do mar
43 a. C. – Tomes, hoje Constanta,
Roménia, 17 ou 18 d. C.). Autor que a longes terras iam levando: caravelas que buscavam aventura, fortuna ou
favorito dos inícios do Império, fama; estudantes que buscavam, na Europa, novos saberes. O desconcerto melan-
graças aos seus poemas ligeiros,
eróticos ou mitológicos
5 cólico tão característico do homem português tinha, pois, condições propícias ao
(A Arte de Amar, As Heroídes, seu desenvolvimento.
METAMORFOSES, Os Fastos), À medida que o fim de século se aproxima (e Camões viveu esses anos), uma
foi banido por uma razão
misteriosa, morrendo exilado, imagem de caos vai-se instalando; a vida não passa de uma prisão e é, toda ela,
apesar das súplicas das suas no fim de contas, um desterro. Forçoso é reconhecer, ao cabo de um percurso que
últimas elegias (Os Tristes,
Os Pônticos). 10 vem desde a Idade Média, com o pessimismo sofredor da ausência a animar o
Nova Enciclopédia Larousse, Círculo nosso lirismo, que essa visão angustiada e angustiante tão típica dos derradeiros
de Leitores, vol. 17, p. 5238.
anos de Quinhentos não é, de todo em todo, novidade.
Acontece, no entanto, que Luís de Camões vai bem mais longe no desacerto
(ou desencontro, se se preferir) das suas raízes. Perdido em meio de um labirinto,
15 ora de espelhos, ora de trevas, Camões acaba por tornar-se o mais primoroso her-
deiro do lirismo medieval, no que ao canto da saudade e do amor ausente diz res-
peito e, ao mesmo tempo (e talvez por isso mesmo), o primeiro grande imitador,
PROFESSOR em Portugal, do poeta desterrado por excelência, o poeta latino Ovídio*.
É certo que o percurso biográfico do nosso poeta, marcado por múltiplas parti-
Educação Literária 20 das, viagens diversificadas, longas ausências, foi particularmente propício à adesão
14.3; 14.7; 15.1; 16.1
Leitura aos temas ovidianos; mas o seu apego ao “mal de ausência” (expressão camoniana,
7.1; 7.4; 8.1; 8.2 da elegia Aquela que de amor descomedido) não resulta apenas de circunstâncias
biográficas; é, de algum modo, o reflexo desse fim de século português, quando o
1.
a. terrestres
homem, onde quer que estivesse, se entreolhava ensimesmado e construía, para si
b. marítimas 25 mesmo, uma espécie de consciência de cidadãos de parte incerta.
c. fortuna
d. fama José Augusto Cardoso Bernardes, História crítica da literatura portuguesa.
e. conhecimento Humanismo e Renascimento, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, 1999, pp. 418-419.
f. pessimismo
g. prisão
h. biográficas 1. Complete o seguinte esquema.
i. saudade

Ambiente quinhentista

1.o parágrafo
Marcado por viagens a. e b. , à procura de aventura, c. , e d. , e. .

2.o parágrafo
Propício ao desconcerto do homem português, no final do século, e prolongando
uma mentalidade medieval, acentua-se o caos, o f. e a ideia da vida como uma
g. , um desterro.

3.o e 4.o parágrafos


Assim, Camões, não só por circunstâncias h. , revela o seu desacerto, cantando
a i. e o amor ausente.

154
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A reflexão sobre a vida pessoal foi também uma temática cantada nos poemas
de Camões.

O dia em que eu nasci, moura e pereça


O dia em que eu nasci, moura e pereça1,
não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo, e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.

5 A luz lhe falte, o sol se [lhe] escureça,


mostre o mundo sinais de se acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
a mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,


10 as lágrimas no rosto, a côr perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,


Dulle Griet, 1564, Pieter Bruegel,
que este dia deitou ao mundo a vida o Velho (c. 1525-69), Museum Mayer
mais desgraçada que jamais se viu! van der Berg, Antuérpia.

Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado PROFESSOR


por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 182.
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
1 14.9
morra.

1.1 O sujeito lírico exprime


1. Atente na primeira quadra. o desejo de que o dia do seu
nascimento desapareça,
1.1 Refira o desejo expresso pelo sujeito lírico, caracterizando o seu estado de espírito. não se tornando a repetir.
Esta aspiração permite
1.2 Faça o levantamento de expressões que comprovem o tom disfórico empregue. caracterizar o sujeito,
destacando-o pela negativa,
como um ser sofredor
2. Considere as segunda e terceira estrofes.
e martirizado.
2.1 Comprove a criação por parte do “eu” lírico de um ambiente apocalítico (fim do 1.2 As palavras que exprimem
o tom disfórico são “moura”,
mundo), justificando as suas afirmações com expressões textuais. “pereça”, “eclipse” e “padeça”.
2.1 O “eu” lírico refere um
3. Comente as reações dos seres humanos perante esse ambiente desejado pelo “eu”. conjunto de elementos
apocalíticos, como o eclipse
4. Atente agora no último terceto. do sol (“o sol se [lhe] escureça”,
v. 5), o aparecimento de
4.1 Identifique o interlocutor do sujeito poético, referindo o recurso expressivo em- monstros ("nasçam-lhe
pregue. monstros”, v. 7), a chuva de
sangue (“sangue chova o ar”,
4.2 Comprove com o levantamento de expressões que esta estrofe apresenta o moti- v. 7), o não reconhecimento
dos filhos pelas próprias mães
vo pelo qual o “eu” lírico formulou o desejo expresso na primeira quadra. (“a mãe ao próprio filho não
conheça”, v. 8).
4.3 Identifique o recurso expressivo presente no último verso, justificando o seu em-
prego.

155
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O temaA da
reflexão
mudança
sobre
e do
a vida
desconcerto
pessoal

PROFESSOR INFORMAR
3. O sujeito deseja que as
pessoas fiquem pasmadas Leia os tópicos que se seguem e resolva a atividade proposta abaixo.
perante a sucessão de
acontecimentos, acreditando
que o mundo está à beira do fim,
A lírica camoniana
o que será uma forma de realçar
a tragédia que este associa à • A lírica de Camões revela um sujeito poético que, perante o decurso da vida,
sua vida e à revolta que sente. reflete sobre o tempo e a mudança, temas característicos da época renascentista.
4.1 O sujeito dirige-se à “gente Vemos também um “eu” que analisa o desconcerto que vê dentro e fora de si.
temerosa”, identificando o seu
interlocutor por meio de uma A desordem social e psicológica, o absurdo do mundo e a existência, invencível,
apóstrofe. do mal, embora funcione sempre como causa de espanto e de revolta, conjuga-se
4.2. “que este dia deitou
ao mundo a vida / mais com o destino que subjuga e esmaga.
desgraçada que jamais se viu!” Elaborado a partir de Poesia Lírica, Luís de Camões, seleção e introdução
(vv. 13-14) por Isabel Pascoal, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, p. 34.
4.3 O final do poema
é marcado pela hipérbole,
como forma de intensificação • Sujeito à implacável mecânica do tempo – que tudo vai mudando e destruindo –
do caráter excecional do poeta
e do seu destino trágico. o mundo aparece, sob olhar da melancolia camoniana, como um lugar absurdo e
injusto onde o mal triunfa tantas vezes sobre o bem.
Educação Literária
14.3; 15.1; 16.1
• O poeta assume uma posição de um cada vez maior isolamento perante os
Leitura outros, manifestando um insistente desânimo face ao decurso da sua vida.
7.1; 7.2; 7.3; 8.1
• O isolamento do poeta reforça a noção sempre muito viva da sua firme sin-
1.1 passagem; desordem gularidade: a melancolia que o faz sofrer como vítima de um destino cruel e fatal,
1.2 superior que desde sempre parece tê-lo marcado e para o qual contribuiu um conjunto de
1.3 solitário diversos fatores, alguns involuntários, mas outros dependendo dos seus erros.
1.4 implacável
• O caráter excecional deste destino torna-se um dos grandes tópicos de melan-
1.5 falhas
colia camoniana, mostrando alguém fortemente desiludido com as provações a
que foi sujeito ao longo dos anos.
Elaborado a partir de Fernando Pinto do Amaral, “Melancolia”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 585.

1. Selecione, dos termos indicados entre parênteses, o que se adequa às informações


fornecidas pelos textos.
1.1 A lírica camoniana apresenta uma reflexão sobre a (passagem/estagnação)
do tempo e sobre a (ordem/desordem) que o sujeito poético vê dentro e
fora de si.
1.2 A ideia de desconcerto presente na lírica camoniana dá-nos uma visão do mundo
em que o mal é (superior/inferior) ao bem.

1.3 Perante a consciência da passagem do tempo, o poeta torna-se um ser cada vez
mais (solidário/solitário).

1.4 O poeta considera-se vítima de um destino (generoso/implacável) para o


qual contribuíram fatores externos e internos.
1.5 A melancolia que caracteriza a lírica camoniana advém de fatores externos
ao poeta, mas também das (falhas/virtudes) que caracterizaram a sua vida.

156
Rimas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFESSOR

Educação Literária
Leia, agora, as Rimas relativas ao tema da mudança e do desconcerto. 14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
14.9

Correm turvas as águas deste rio 1.1 Esta ideia processa-se por
meio da referência indireta às
Correm turvas as águas deste rio, estações do ano, sinalizadas
pelas águas turvas (inverno),
que as do Céu e as do monte as enturbaram; pelos campos de flores
os campos florecidos se secaram, (primavera), pelos campos
secos (verão) e pelo
intratável se fez o vale, e frio. frio (outono).
1.2 Na quadra, o pretérito
5 Passou o verão, passou o ardente estio1, perfeito permite marcar as
ações passadas ("enturbaram",
ũas cousas por outras se trocaram; "secaram", "fez"). Já o presente
os fementidos2 Fados3 já deixaram do indicativo aponta para
a estação atual, contribuindo
do mundo o regimento, ou desvario4. para a noção da passagem
do tempo.
1.3 Estes versos reiteram a
Tem o tempo sua ordem já sabida; ideia da passagem do tempo
1
10 o mundo, não; mas anda tão confuso, verão expressa na primeira quadra,
2
falsos associando-a, aqui, ao tópico da
que parece que dele Deus se esquece. mudança inerente à passagem
3
destinos
4
das diferentes estações.
vv. 7-8: já entregaram o
Casos, opiniões, natura e uso5 governo do mundo / dos
2. O primeiro verso do terceto
aponta para a transformação,
fazem que nos pareça desta vida homens à loucura natural que o tempo opera na
5
que não há nela mais que o que parece. natureza e costume Natureza; os dois versos que
se seguem transportam-nos
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por para a realidade humana
Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 168. e os seus comportamentos.
Veja-se o advérbio de negação
(“não”) a estabelecer a
oposição (reforçada pelo
conector “mas”) entre a
ordem natural das coisas e os
1. Na segunda estrofe, o sujeito lírico dá conta da passagem do tempo. comportamentos humanos.
2.1 Deus é referido como o
1.1 Explicite como se processa esta ideia, relacionando-a com a primeira estrofe. garante da ordem do mundo.
Desta forma, o sujeito julga que
1.2 Analise a importância dos tempos verbais ao serviço da expressão desta ideia. a desordem que se verifica no
mundo só poderá ficar a dever-
1.3 Relacione os dois primeiros versos desta quadra com o conteúdo da primeira. -se a um possível
esquecimento por parte desse
2. Explicite o conteúdo do primeiro terceto, considerando as realidades evidenciadas ser superior.
e os elementos linguísticos. 3. O recurso expressivo
é a enumeração, presente
2.1 Interprete a referência à figura de Deus nesta estrofe. no primeiro verso do segundo
terceto – "Casos, opiniões,
3. Identifique o recurso expressivo ao serviço da ilustração da desordem verificada natura e uso".
4. A mudança verifica-se na
no mundo. alteração cíclica da Natureza,
em que tudo se transforma;
4. Relacione o conteúdo do poema com o tema da mudança e do desconcerto. o desconcerto decorre da
confusão humana.

Gramática
GRAMÁTICA 18.1

1. Identifique os referentes dos pronomes sublinhados na seguinte transcrição: 1. As duas primeiras


“que as do Céu e as do monte as enturbaram” (v. 2). ocorrências − “águas”;
a terceira ocorrência –
1.1 Refira a função sintática desses pronomes. “as águas deste rio”.
1.1 Complemento direto

BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-272

157
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O tema da mudança e do desconcerto

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Áudio
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
“Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades” Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
Educação Literária todo o mundo é composto de mudança,
14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
14.7; 14.8; 14.9; 14.10 tomando sempre novas qualidades.
1.
a. mudança 5 Contìnuamente vemos novidades,
b. três diferentes em tudo da esperança;
c. quatro
d. duas do mal ficam as mágoas na lembrança,
e. negativa e do bem (se algum houve), as saüdades.
f. o último
g. Natureza
h. terceto O tempo cobre o chão de verde manto,
i. outra mudança faz de mor
espanto 10 que já coberto foi de neve fria,
j. que não se muda já como e, em mim, converte em choro o doce canto.
soía
k. tempo
l. as mágoas E, afora1 este mudar-se cada dia,
m. e do bem (se algum houve),
as saüdades outra mudança faz de mor2 espanto,
n. antítese que não se muda já como soía3.
2. Trata-se de um soneto, Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido
composto por duas quadras
e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão,
e dois tercetos, constituídos
por versos decassilábicos Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 162.
(Mu/dam/-s(e) os/tem/pos,/ A tempestade, séc. XVII, Rubens (1577-1640),
mu/dam/-s(e) as/von/ta/ 1
além de; 2 maior; 3 costumava. Ashmolean Museum, Universidade de Oxford.
[des]). A rima é interpolada e
emparelhada nas quadras e
cruzada nos tercetos, segundo 1. Complete o seguinte texto, com palavras suas e/ou expressões do poema, de modo
o esquema: abba/abba /cdc/ a obter uma breve análise do mesmo.
dcd.
Este poema tem como tema a a. e pode dividir-se em três momentos.
O primeiro, correspondente à primeira estrofe, integra a apresentação e a afirmação de um
mundo em constante transformação, como se pode verificar nos versos b. e
c. . O segundo momento, correspondente às d. estrofes seguintes,
constitui a constatação do sujeito relativamente à forma como a mudança se opera, sen-
do, para o ser humano, geralmente e. , como atestam os três primeiros versos da
segunda estrofe e o f. do primeiro terceto. Pelo contrário, na g. , a mu-
dança é cíclica e confunde-se com renovação, como se comprova com os dois primeiros
versos do primeiro h. . Por fim, o terceiro momento é introduzido pela conjunção
copulativa “e” que inicia o último terceto. Aqui, o “eu” lírico conclui que o próprio processo
de mudança sofre os efeitos de mudança – i. “ / j. ”.
O sujeito poético também é afetado pela mudança, consequente da passagem
do k. , que lhe deixa o passado na memória, sejam as lembranças tristes,
(associadas aos factos negativos l.“ ”) sejam as saudades dos factos positivos
(m.“ ”).
Assim, no poema explora-se a n. (“verde manto” / “neve fria”; “choro” /
“doce canto”) para descrever o contraste entre o caráter cíclico e renovador da mudança
na Natureza e a degradação que a mesma traz ao ser humano – a perda do passado, o
envelhecimento.
2. Classifique o poema, justificando a sua resposta com a análise formal do mesmo
(estrofes, métrica, esquema rimático e tipo de rima).

158
Rimas

COMPREENSÃO DO ORAL PROFESSOR

Antes de proceder ao visionamento de um Vídeo


anúncio publicitário da Portugal Telecom, "Portugal Telecom"
deve ler as atividades que se propõem, de
Oralidade
forma a melhor selecionar a informação. 1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 1.7

1. Uma das características dos anúncios


1.1 A linguagem visual
publicitários é a multimodalidade, ou (movimento) e a sonora (fundo
seja, o recurso a diferentes linguagens. musical, declamação de um
Mudam-se os tempos, poema de Luís de Camões).
mudam-se as vontades,
1.1 Comprove, com dois exemplos, o as- Portugal Telecom 1.2 Despertar interesse
peto destacado. e curiosidade no recetor,
levando-o a comprar o produto
1.2 Refira o principal objetivo da conjugação dessas linguagens. ou a reforçar a imagem/ideia
que tem de uma marca.
2. Identifique, justificando, o público a quem se destina o produto publicitado. 2. O produto destina-se
a um público generalista
que tem necessidade
3. Os elementos paratextuais funcionam como um complemento do texto principal. de comunicar entre si.
3.1 Indique aquele que confirma a ideia da mudança, da evolução temporal. 3.1 Um cronómetro, localizado
na parte inferior direita, que
3.2 Evidencie de que forma se pretende passar uma imagem de inovação e de bom dá conta da evolução dos
tempos, desde 1551 (meados do
serviço prestado aos clientes. século XVI, época em que viveu
Camões) até 2005, ano em que
4. Considere o slogan do produto divulgado: foi apresentado este anúncio.
3.2 Por um lado, a presença
de objetos tecnológicos
que melhor permitem a
comunicação; por outro,
“Inovar,
“I
Inovar, M
Mudar,
udar, M
Melhorar
elhorar – é a n
nossa
ossa tradição.”
tradição.” a alegria, a familiaridade,
a boa disposição e o ritmo
que perpassa pelas pessoas.
4.1
Inovar – a rede móvel
4.1 Confirme a intenção da empresa, contida no slogan e sugerida em alguns elemen- das telecomunicações;
a comunicação em movimento.
tos visionados. Mudar – as crianças
a brincar e os jovens
a dançar; a celebração
de um matrimónio e a
cumplicidade de um casal
idoso.
Melhorar – atenuar
as saudades pelo uso
das telecomunicações.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

159
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O tema da mudança e do desconcerto

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.9 Leia os poemas apresentados e responda ao que é solicitado.
1.
a. Soneto TEXTO A TEXTO B
b. Versos decassilábicos
c. Uso da 1ª pessoa( “quis”) Que me quereis, Os bons vi sempre passar
d. Redondilha maior (sete
sílabas métricas) perpétuas saüdades?
e. Medida velha, redondilha sua ao desconcerto do mundo
(corrente tradicional) Que me quereis, perpétuas saüdades?
f. Uso da 1ª pessoa ( “vi”;
"mim") Com que esperança ainda m'enganais? Os bons vi sempre passar
g. Desconcerto do mundo Que o tempo que se vai não torna mais, no mundo graves tormentos;
2. Os responsáveis pela e, para mais m'espantar,
situação atual vivida pelo e se torna, não tornam as idades.
sujeito poético são o Destino os maus vi sempre nadar
(Sorte/Fortuna) e o Tempo, 5 em mar de contentamentos.
que não permitem que ele
5 Razão é já, ó anos!, que vos vades,
atinja um estado de felicidade, porque estes tão ligeiros que passais, Cuidando alcançar assim
retirando-lhe qualquer o bem tão mal ordenado,
esperança de ser feliz. nem todos para um1 gosto são iguais,
nem sempre são conformes as vontades. fui mau, mas fui castigado:
3. A experiência do “eu” surge
como oposição àquilo que Assi que, só para mim
acontece aos outros, que não 10 anda o Mundo concertado.
são castigados pelos seus Aquilo a que já quis é tão mudado
erros. Para ele, o desconcerto 10 que quási é outra cousa; porque os dias Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido
não funcionou, pois errou mas e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão,
não foi premiado, mas sim, têm o primeiro gosto já danado2.
Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 102.
pelo contrário, castigado.
4. Os dois textos remetem
para um descontentamento,
Esperanças de novas alegrias
uma vez que o sujeito poético, não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado, 1
o mesmo; 2 estragado.
pela sua experiência de
vida, conclui que qualquer
que do contentamento são espias.
esperança é enganadora, Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido
porque o tempo tudo destrói,
e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão,
e que o mundo em que vive
tem os valores invertidos. Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 170.

1. Analise o tema e a forma dos dois textos, completando o quadro seguinte.

Texto A Texto B

Classificação da composição a. Esparsa

Classificação da métrica b. d.
Clássico, medida
Estilo (lírica camoniana) nova (corrente e.
renascentista)

Marcas de um discurso pessoal c. f.

Tema A mudança g.

2. Identifique, no texto A, os responsáveis pela situação atual vivida pelo sujeito poé-
tico.

3. Justifique a introdução da experiência pessoal do “eu” no texto B.

4. Demonstre que as duas composições poéticas revelam um descontentamento do


sujeito poético face ao mundo em que vive.

160
Rimas

LEITURA PROFESSOR

Leitura
7.2; 7.3; 8.1
O desconcerto do mundo e as injustiças que lhe são inerentes manifestam-se em
todas as épocas, mesmo em pleno século XX, numa Europa mais esclarecida.
1. O cônsul de Bordéus, através
do seu cargo diplomático,
Leia o texto a propósito do filme que exalta um homem que tentou consertar e conseguiu salvar mais de
trinta mil judeus que fugiam
concertar o seu mundo e responda, de seguida, aos itens apresentados. a Hitler, pois assinou os vistos
que permitiram a sua saída
de França e a entrada em
Portugal.
2. Foi perseguido pelo regime
Um justo entre as Nações salazarista, tornando-se um
refugiado no próprio país;
Na tradução do hebraico, o justo é um viveu e morreu na pobreza.
não-judeu merecedor do paraíso. 3. Entre os dois irmãos
que escapam à fúria de
Hitler, Aristides de Sousa
Atualmente, o estado de Israel re- Mendes surge como um
fere-se assim às personalidades (góis/ ser harmonioso, que se
compara à música, arte
5 gentios) que arriscaram as suas pró- que consegue (re)conciliar
prias vidas durante o Holocausto, para todos os desconcertos (as
desarmonias) e vencer todas
salvar judeus do extermínio perpetrado as desigualdades.
pelo nazismo.
[…] O caso de Aristides de Sousa
10 Mendes é ainda hoje paradigmático: de
cônsul em Bordéus a refugiado no pró-
prio país (recebendo o auxílio da assistência judaica internacional, para sobreviver a
uma perseguição política conduzida por Salazar), diz-se que morreu em Lisboa com
um hábito franciscano (por não ter sequer um fato próprio).
15 Em filme e com o título Aristides de Sousa Mendes – o Cônsul de Bordéus (dirigido
por João Correa e Francisco Manso), divulga-se a condição deste grande homem
(que assinou, contra a ordem de Salazar e a famigerada1 Circular 14, mais de trinta
mil vistos, para que tantas vidas judaicas pudessem chegar a Portugal, oriundas da
Europa invadida por Hitler e salvas da perseguição nazi).
20 Numa narrativa que foca o percurso de um maestro judeu (Aaron Apelman) –
o qual acaba por reencontrar uma irmã que julgava morta – ativam-se várias se-
quências fílmicas em analepse, para que se conheça a ação grandiosa do que é
também conhecido como o Schindler português.
Entre o percurso do maestro e o da irmã Esther sobressai o sucesso da liberdade,
25 do reencontro, da reunião. E no seio deste há Aristides de Sousa Mendes, tal como a
música, a harmonizar o que, no universo, possa ser o maior de todos os desconcer-
tos: o esquecimento e a aniquilação do ser humano, independentemente de credo,
sexo e raça.
in http://carruagem23.blogspot.pt/2012/11/um-justo-entre-as-nacoes.html
1
(texto adaptado, consultado em maio de 2017). célebre, conhecida.

1. Explicite de que modo Aristides de Sousa Mendes contribuiu para o combate


à injustiça e à desigualdade.

2. Refira duas consequências pessoais da sua ação humanitária.

3. Esclareça o sentido do último período textual.

161
DAR
Funções sintáticas II
TU
S
APRENDER
E

ICA
G RA M Á T
PR A R Funções sintáticas Exemplos
ATIC

PREDICATIVO DO COMPLEMENTO DIRETO


Função sintática desempenhada por um
constituinte selecionado por um verbo
transitivo-predicativo (considerar, achar,
a. Os portugueses consideram
nomear, eleger, julgar…)
Camões um grande escritor.
Pode ser desempenhada por
b. Os alunos acham a obra
– um grupo nominal (a.);
vicentina divertida.
– um grupo adjetival (b.);
c. Considero esta adaptação
– um grupo preposicional (c.).
teatral de muito mau gosto.

COMPLEMENTO DO NOME
Função sintática interna a outra, desempenhada
por um constituinte selecionado pelo nome,
situado à sua direita.
Pode ser desempenhada por a. A revolta estudantil foi
– um grupo adjetival (a.); importante.
– um grupo preposicional oracional (b.); b. A hipótese de irmos à visita de
– um grupo preposicional não oracional (c.). estudo agrada-me mais.
Só alguns nomes selecionam o complemento c. A fotografia da turma está
do nome, a saber: espetacular.
– nomes deverbais, ou seja, formados a partir
de verbos transitivos: visita (visitar), construção
(construir), estudo (estudar), análise (analisar)…
(d.); d. A análise da lírica camoniana
– nomes que indicam graus de parentesco: pai, não é fácil.
mãe, filho, neto… (e.); e. O pai do Pedro é um leitor assíduo
– nomes icónicos, ou seja, nomes relacionados de Camões.
com representações da realidade: pintura,
fotografia, desenho, escultura, esboço… (f.);
f. A estátua de Camões apresenta
– nomes epistémicos, isto é, relativos ao proporções guerreiras.
conhecimento, que indicam conceitos e ideias:
hipótese, probabilidade, ideia, necessidade, g. A possibilidade de tirar uma
possibilidade… (g.). positiva no teste é enorme.

COMPLEMENTO DO ADJETIVO
É uma função sintática interna a outra,
desempenhada por um constituinte
a. O António ficou responsável por
selecionado pelo adjetivo.
Pode ser desempenhada por apresentar oralmente a obra
– um grupo preposicional oracional (a.); do projeto de leitura.
b. A Maria ficou satisfeita com os
– um grupo preposicional não oracional (b.);
resultados do teste.

162
APLICAR PROFESSOR

Gramática
18.1
1. Estabeleça uma relação entre os elementos da coluna A e os da coluna B, de forma
a classificar as funções sintáticas dos constituintes sublinhados. 1.
[A] – [3]
[B] – [1]
Coluna B Coluna A [C] – [2]
[A] Uma parte substancial da população [D] – [3]
[E] – [2]
portuguesa vê Camões como seu poeta
[F] – [3]
de eleição.
[G] – [1]
[B] O poeta ficou fascinado por uma mulher [1] Complemento do adjetivo [H] – [2]
de pele escura.
2. [C]
[C] A beleza de Bárbara distancia-se
3.
do modelo petrarquista. a. Complemento do adjetivo
[D] Maria elegeu o soneto camoniano “O dia b. Complemento do nome
c. Complemento do nome
em que nasci moura e pereça” o mais
d. Complemento do adjetivo
triste.
[E] A obra lírica de Camões é uma conjugação [2] Complemento do nome
da medida velha com a medida nova.
[F] A estética literária renascentista
considerava fundamental a arte de imitar
a Natureza.
[G] Como consequência do intelectualismo
derivado do predomínio da razão, o
[3] Predicativo do complemento
escritor clássico ficava dependente de
um rigoroso código de regras fixas. direto
[H] Por vezes, o poeta traçava o retrato
de uma Natureza sombria.

2. Indique a alínea cujo segmento sublinhado não corresponde a um complemento


do nome.
[A] No século XVI, desenvolveu-se um grande interesse pelo Homem.
[B] A mensagem trazida pelos descobridores era a da diversidade de raças e culturas.
[C] Na época de D. João III, desenvolveram-se grandes estudos humanísticos.
[D] A dura vida de soldado proporcionou a Camões um enriquecimento espiritual.

3. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados.


a. Sabe-se que Camões terá estudado em Coimbra e que também era dado aos amores.
b. Supõe-se que Luís de Camões tenha tido uma relação com a irmã de D. João III,
a infanta D. Maria.
c. Muita gente guarda na memória a ideia de Camões a salvar Os Lusíadas a nado.
d. Estou convencida de que vai ser muito interessante rever Os Lusíadas.

163
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a

LEITURA

O Renascimento e uma nova visão do Homem no mundo manifestaram-se não só


na literatura mas em todas as artes, nomeadamente na pintura.

Leia o texto expositivo e responda, de seguida, aos itens apresentados.

Os pintores descobrem a realidade


Na Antiguidade, a pintura era vista como um ofício, o que era comum a todas
as artes. Os mestres-pintores recebiam encomendas de personalidades importan-
tes ou mesmo de instituições, e tinham de executar quadros num tempo limitado,
com conteúdos predefinidos e destinados a um fim predeterminado. Somente há
5 cerca de 700 anos é que os pintores começaram a lutar pela liberdade (criativa) de
dar uma finalidade própria aos quadros – ou seja, de lhes emprestar um conteúdo
que não se limitasse somente ao motivo principal.
Nessa época, por volta da viragem do século XIII-XIV, os artistas superaram as
formas pictóricas medievais e desenvolveram uma forma de representação em
10 perspetiva que ainda hoje influencia os nossos hábitos de ver imagens. O leque de
temas de arte, outrora reduzido às representações de teor sacro, foi-se alargando
à medida que aumentava o interesse pelo mundo profano, levando a que novos
temas fossem introduzidos nas Belas Artes. Lentamente, os artistas começaram
a libertar-se da sua condição de artesãos, de modo a poderem exprimir as suas
15 ideias como artistas livres.
Esta nova conceção, que se anunciava, teve origem nas numerosas mudanças
de todos os domínios da vida, que, ao fim da Idade Média, contribuíram para mo-
dificar a visão do mundo e a postura intelectual. As inúmeras relações comerciais
e a intensa troca de mercadorias – sobretudo no Norte de Itália – trouxeram rique-
20 za, prosperidade e crescimento às cidades. O crescimento económico leva a que
a burguesia, que se começava a formar nas cidades, se aperceba das suas capa-
cidades. Artesãos e comerciantes, orgulhosos
dos seus ofícios, começavam a dar valor aos
seus próprios méritos, reconhecendo que era
25 possível extrair lucros do seu trabalho.

As pessoas deixavam pouco a pouco de se


ver como parte de um todo, começando a dar
mais importância ao indivíduo. Continuava a
acreditar-se que o mundo era plano, porém
30 esta crença, tal como o próprio mundo, tor-

nara-se num desafio. As pessoas deixavam


de confiar somente na religião e na sabedoria
controlada pelo clero. Levantavam questões,
querendo investigar tudo. Audazes navega-
35 dores partiam para o desconhecido com o

intuito de conhecer as lacunas dos mapas e


de encontrar tesouros em países estranhos,
contribuindo para aumentar a prosperida-
de e a riqueza das suas pátrias. Para levar a
São Francisco de Assis a pregar aos pássaros, Giotto di Bondone,
século XIII, Louvre, Paris.

164
Rimas

40 cabo assuas viagens, necessitavam de ciências e técnicas mais orientadas para o PROFESSOR
mundo profano. Muitas das invenções da época, como por exemplo o relógio, os
Leitura
mapas e uma série de aparelhos mecânicos deixam transparecer claramente essa 7.2; 8.1
necessidade.
À medida que os homens se iam interessando cada vez mais pelo mundo que 1.1 [C]
45 os rodeava, começava-se a recorrer a um realismo até aí pouco usual na pintura. 1.2 [A]
1.3 [B]
Esta nova visão do mundo encontra-se documentada pela primeira vez nos qua- 1.4 [D]
dros do pintor italiano Giotto do Bondone. 2. Na Antiguidade, a pintura
era encarada como qualquer
“Os pintores descobrem a realidade”, in Anna-Carola Kraube, História da Pintura, outro trabalho e era executada
Do Renascimento aos nossos dias, Colónia, Konemann, 2001 (edição portuguesa). por artesãos, sob encomenda.
Por seu lado, a pintura
renascentista passou a ser
vista como a expressão do
modo de sentir do seu criador
e diversificou a temática,
1. Selecione a opção que completa adequadamente cada uma das afirmações incluindo aspetos profanos,
seguintes. não se limitando apenas aos
de caráter sagrado.
1.1 Na Antiguidade, a pintura era vista como 3. As mudanças verificaram-
-se em diversos domínios. Por
[A] uma forma de expressão dos sentimentos dos mestres-pintores. um lado, o desenvolvimento
social e económico − as trocas
[B] uma maneira de imortalizar a liberdade criativa do autor. comerciais e a ascensão da
burguesia − que possibilitou
[C] um trabalho como outro qualquer. o crescimento das cidades,
e, por outro lado, o facto
[D] uma ocupação destinada só a senhores ricos. de se começar a dar mais
importância ao indivíduo.
1.2 A evolução no modo de encarar a arte deveu-se essencialmente à
4 As navegações permitiram
[A] mudança de mentalidades ocorrida nos inícios do século XIV. o desenvolvimento ou
o aperfeiçoamento de
[B] revolta dos mestres-pintores. determinadas ciências e
técnicas, necessárias à
[C] necessidade de alargar o âmbito e os temas dos quadros produzidos. consecução das Descobertas.
Por outro lado, o crescente
[D] influência do clero na educação da burguesia. desvendar do mundo
influenciou o modo de pensar
1.3 O progresso que se verificou nos finais da Idade Média refletiu-se também na arte e de agir do ser humano, o que
suscitou mudanças sociais
da pintura, que se refletiram nas artes
em geral.
[A] que passou a representar temas sagrados.
5. A liberdade a que se faz
[B] cujo teor se tornou progressivamente mais realista. referência na afirmação é a
liberdade do artista e não do
[C] que passou a ser associada a comerciantes e artesãos ricos. homem. Anteriormente, o
pintor executava uma tela,
[D] o que não foi bem aceite pelo clero. segundo a vontade de quem
a encomendava. A partir do
1.4 No contexto em que surge, o termo “Audazes” (l. 34) pode ser substituído por Renascimento, passou a poder
representar-se e a representar
[A] receosos. a sua maneira de ver o mundo;
passou, portanto, a dispor de
[B] perigosos. liberdade criativa.
[C] nervosos.
[D] corajosos.

2. Enuncie duas diferenças entre a pintura da Antiguidade e a do Renascimento.

3. Explicite as mudanças que permitiram a evolução da pintura.

4. Clarifique a importância das navegações para o desenvolvimento das sociedades.

5. Comente a seguinte afirmação “[…] os artistas começaram a libertar-se […], de


modo a poderem exprimir as suas ideias como artistas livres.” (ll. 13-15).

165
PA R A S A B E R Rimas
PROFESSOR
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA

Apresentação Renascimento, Humanismo e Classicismo


Galeria de imagens
Apresentação • nova conceção do Homem e do Mundo
Síntese da Unidade
• privilégio da razão e da experiência
Teste interativo
Rimas • sobreposição do antropocentrismo ao teocentrismo medieval
• crença no saber do Homem e na sua experiência
• recuperação dos clássicos por influência de Dante e Petrarca (nos temas, nas formas
e na mitologia)
• coexistência de formas medievais e renascentistas na literatura

TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES

A representação da amada A representação da Natureza

• por influência petrarquista, surge a imagem de uma • espaço alegre, tranquilo, sereno, propício ao amor
mulher: (locus amoenus);
− angélica, um ser divino, de pele e cabelos claros, • espelho da alma do poeta, refletindo os seus
elementos físicos reveladores das qualidades sentimentos;
da alma; • confidente, testemunha da dor provocada pela
− com um poder transformador da Natureza ausência/separação da amada;
e do Homem; • espaço onde o "eu" pode projetar os seus
• do contacto com outras culturas, nasce um novo sentimentos negativos.
conceito de beleza feminina, distante do de Petrarca
(pele e cabelos escuros), capaz de provocar fascínio
e tranquilidade no amador.

A experiência amorosa
A reflexão sobre a vida pessoal
e a reflexão sobre o amor

• poeta dividido entre a fascinação do amor espiritual • o poeta reflete sobre:


e a atração de um amor carnal, entre a mulher que − o Destino (que nunca lhe foi favorável);
admira e a que deseja;
− os erros que cometeu;
• à luz do petrarquismo, a ausência da mulher amada
− o amor (fracassado).
é ocasião de purificação amorosa; no entanto, por
vezes, essa situação origina sofrimento, saudade
e ânsia de reencontro físico;
• o poder transformador do amor e os seus efeitos
contraditórios.

166
TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES (cont.)

O tema do desconcerto O tema da mudança

• reflexão sobre o desconcerto do mundo, • consciente da irreversibilidade do tempo,


ao nível social e moral. Assim, este resulta: o poeta reflete sobre:
− da errada distribuição dos prémios e dos − a renovação cíclica da Natureza;
castigos (os maus são galardoados, − a mudança da vida e das coisas.
os bons severamente castigados);
− dos contrastes entre a “opulência”
e a “miséria”;
− do crescente interesse dos homens
por valores materiais.

LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA DA POESIA LÍRICA CAMONIANA

Estilo Estrutura Linguagem

• engenhoso (a medida velha • redondilha menor • recurso a construções


– redondilhas) (5 sílabas métricas) curtas a glosar um mote,
ou maior com uma linguagem sóbria,
(7 sílabas métricas): mas engenhosa, servindo-
− com mote: -se de:
vilancete − jogos de palavras;
cantiga − trocadilhos;
− sem mote: − antíteses;
esparsa − (…)
trova ou endecha

• clássico (a medida nova – • soneto


verso decassilábico) (2 quadras e 2 tercetos) • uso da linguagem
ao serviço da:
− descrição;
− reflexão;
− confissão;
• presença diversificada
de recursos expressivos,
com predomínio para
a linguagem figurada
(metáforas, hipérboles, …)
e a sonoridade (aliteração);
• recurso a vocabulário
e frases de influência
latinizante.

167
PA R A V E R I F I C A R Rimas

Verifique os seus conhecimentos sobre a lírica camoniana.

Leia com atenção os dois textos que se apresentam e, de seguida, responda ao que é solicitado.

PROFESSOR TEXTO A TEXTO B


a este mote alheio: Enquanto quis Fortuna que tivesse
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.8; 15.1;
Vós, Senhora, tudo tendes,
16.1; 16.2 Enquanto quis Fortuna que tivesse
senão que tendes os olhos verdes.
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
Teste interativo VOLTAS
me fez que seus efeitos escrevesse.
"Luís de Camões – Rimas"
Dotou em vós Natureza
1. 5 o sumo da perfeição, 5 Porém, temendo Amor que aviso desse
a. Texto B
b. vv. 1-6 que, o que em vós é senão, minha escritura a algum juízo isento,
c. Texto A é em outras gentileza: escureceu-me o engenho co tormento,
d. vv. 1-2; 3-4
o verde não se despreza, para que seus enganos não dissesse.
que, agora que vós o tendes,
10 são belos os olhos verdes. Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
10 a diversas vontades! Quando lerdes
Ouro e azul é a milhor num breve livro casos tão diversos,
cor por que a gente se perde;
mas, a graça desse verde verdades puras são, e não defeitos...
15 tira a graça a toda a cor. E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Fica agora sendo a flor tereis o entendimento de meus versos!
a cor que nos olhos tendes, Luís de Camões, Rimas.
porque são vossos... e verdes! Texto estabelecido por A. J. Costa Pimpão,
Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 117.
Luís de Camões, Rimas.
Texto estabelecido por A. J. Costa Pimpão,
Coimbra, Almedina, 2005 [1994], pp. 12-13.

1. Selecione no(s) poema(s) elementos textuais que comprovem as temáticas elencadas.

Apresentação de dois elementos


Temáticas TEXTOS (A/B)
textuais comprovativos

(1) A experiência amorosa


a. b.
e a reflexão sobre o amor

(2) A representação da amada c. d.

168
PA R A R E C U P E R A R Rimas
PROFESSOR

EDUCAÇÃO LITERÁRIA Educação Literária


1.
1. Insira no quadro abaixo os tópicos seguintes, relacionados com a lírica camoniana e Humanismo: a.; b.
com a época em que o poeta viveu. Corrente tradicional:
(formas): c.; e.
Corrente renascentista:
a. Nova conceção do Homem e do Mundo; b. Privilégio da razão e da experiência; (formas): d.
Representação
c. Estilo engenhoso assente na medida velha (redondilhas); d. Soneto, composição da Natureza: f.
poética composta por versos decassilábicos; e. Vilancete, composição explorada por Representação da amada: i.
Experiência amorosa e
Camões adaptada às diversas temáticas; f. Presença de locus amoenus, em consonân- reflexão sobre o amor: j.
cia ou dissonância com o estado de espírito do “eu” lírico; g. Reflexão sobre a desordem Tema da mudança: h.
Tema do desconcerto: g.
e a injustiça, ao nível moral e social; h. Consciência da irreversibilidade do tempo no ser Reflexão sobre a vida
humano e a mudança cíclica da Natureza; i. Mulher descrita como súmula da perfeição pessoal: k.
moral e física; j. Valorização do poder transformador do amor e os seus efeitos contra-
Gramática
ditórios; k. Poeta enquanto ser predestinado à infelicidade.
1.1 Sujeito simples; predicativo
do complemento direto;
complemento do adjetivo.
1.2 Valor causal.
Corrente tradicional Corrente renascentista
Humanismo
(formas) (formas) Escrita
Resposta de caráter pessoal,
dependendo do poema que
o aluno escolher. Terá, no
Representação Experiência amorosa entanto, de obedecer aos
Representação da amada
da Natureza e reflexão sobre o amor aspetos elencados
na instrução.

Reflexão sobre a vida


Tema da mudança Tema do desconcerto
pessoal

GRAMÁTICA

1. Atente na frase seguinte:

Muitos portugueses consideram Camões o príncipe dos poetas, uma vez que são
sensíveis às temáticas exploradas nos seus poemas.
1.1 Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados.
1.2 Indique o valor lógico do conector presente nessa frase.

E S C R I TA

Num texto de apreciação crítica, entre 80 e 100 palavras, apresente o poema de Ca-
mões de que mais gostou, recorrendo a uma linguagem clara e valorativa e focando os
seguintes aspetos:
• atualidade do poema selecionado;
• tema(s) explorado(s);
• um ou dois versos da sua preferência e respetiva justificação;
• dois recursos expressivos significativos utilizados no desenvolvimento temático;
• classificação da composição poética e análise formal da mesma.

169
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Rimas
GRUPO I

PROFESSOR Leia o poema de Camões a seguir transcrito e responda às questões que se seguem.

Eu cantei já, e agora vou chorando


Apresentação o tempo que cantei tão confiado;
Soluções Ficha parece que no canto já passado
de Avaliação se estavam minhas lágrimas criando.

GRUPO I 5 Cantei; mas se alguém me pergunta: – Quando?


Educação Literária – Não sei; que também nisso fui enganado.
14.2; 14.3; 14.4; 14.6; É tão triste este meu presente estado
14.10
que o passado, por ledo1, estou julgando.
1.
a. V Fizeram-me cantar, manhosamente,
b. F – Os tercetos 10 contentamentos não, mas confianças;
apresentam rima
interpolada.
cantava, mas já era ao som dos ferros2.
c. F – 10 sílabas métricas
(decassílabos). De quem me queixarei, que tudo mente?
d. V
Mas eu que culpa ponho às esperanças
e. V
f. V onde a Fortuna injusta é mais que os erros?
2. No presente, o sujeito
poético sente-se infeliz, por Luís de Camões, Rimas, Coimbra, Almedina, 2005, p. 171.
saber que as suas esperanças
foram frustradas e que todos 1
o enganaram ( “e agora vou contente, feliz;
2
chorando”, v. 1); “É tão triste referência às grades da prisão de Goa, onde o poeta esteve provavelmente preso ou a prisão
este meu presente estado”, amorosa (amor).
v. 7 ). No passado, o “eu” vivia
feliz, mas estava ser enganado
e, nesse passado, estavam a 1. Indique se as afirmações são verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas sem recor-
ser criadas as condições para
o seu presente amargurado rer à negativa.
(“parece que no canto já
passado / se estavam minha a. Este texto de Camões apresenta uma forma clássica.
lágrimas criando”, vv. 3-4).
3. O sujeito poético cantava,
b. Os tercetos apresentam rima cruzada.
sentia-se feliz, mas já estava a
ser preparada a sua amargura
c. Os versos contêm sete sílabas métricas (redondilha maior).
futura. d. Em todos os versos deste poema a última sílaba não é contabilizada para a
4. O sujeito poético sente
dificuldades em queixar-se de métrica do verso.
alguém porque toda a gente
mente e a vida é toda ela feita e. O último verso do poema tem quinze sílabas gramaticais.
de enganos. Assim sente-se
profundamente só.
f. Com os travessões, nos versos 5 e 6, o sujeito poético reproduz um discurso direto.
5. A Fortuna (ou Destino)
está personificada, daí a 2. O sujeito poético reflete sobre a sua vida e estabelece uma oposição entre passado
utilização da maiúscula. e presente. Caracterize o sujeito poético nessas duas etapas da sua vida, funda-
O sujeito poético afirma
que ela é a maior responsável mentando a resposta com citações textuais.
pelo seu estado atual, mais
do que qualquer erro que 3. Justifique a utilização da adversativa “mas” no verso 11: “cantava, mas já era ao
tenha cometido.
som dos ferros.”

4. Explicite o sentido da interrogação no verso 12.

5. Justifique a maiusculização da palavra “Fortuna” no último verso do poema, expli-


citando a sua importância no percurso de vida do sujeito poético.

170
PROFESSOR

GRUPO II GRUPO II

1. Classifique as orações seguintes. Gramática


18.1; 18.4; 19.1; 19.4; 19.7
1.1 “que cantei tão confiado” (v. 2)
1.1 Subordinada
1.2 “que o passado, por ledo, estou julgando.” (v. 8)
adjetiva relativa restritiva.
1.2 Subordinada
2. Indique a função sintática do segmento sublinhado no verso ”É tão triste este meu
adverbial consecutiva.
presente estado” (v. 7). 2. Predicativo do sujeito.
3.1 Sujeito.
3. Atente nos seguintes versos: “parece que no canto já passado / se estavam minhas 3.2 “que” – conjunção
lágrimas criando” (vv 3-4). subordinativa completiva;
“se” – pronome pessoal.
3.1 Indique a função sintática de “minhas lágrimas”. 4.1 Pretérito perfeito
do indicativo.
3.2 Classifique os termos sublinhados quanto às classe e subclasse gramaticais. 4.2 Palavra derivada
por sufixação.
4. Atente no seguinte verso: Fizeram-me cantar, manhosamente” ( v. 9). 5. “ledo” (v. 8).
6. “chorando” (v. 1),
4.1 Indique o tempo e o modo em que se encontra a forma verbal sublinhada. “triste” (v. 7).
4.2 Indique o processo de formação da palavra “manhosamente”.
GRUPO III

5. Transcreva do poema um exemplo de arcaísmo.


Escrita
11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4;
6. Retire do texto duas palavras do campo lexical de “lágrimas”. 13.1

Camões: um poeta sempre


GRUPO III a descobrir
Tão longe do nosso século
está Camões e tão estranho
Elabore um texto de apreciação crítica, entre 120 e 180 palavras, que pudesse ser in- parece ver o amor escrito
cluído no jornal da escola, sobre a poesia lírica de Camões. em algumas palavras que já
não se usam, em vilancetes,
cantigas, trovas, esparsas
O texto deve ter uma estrutura tripartida, de acordo com o seguinte plano: ou sonetos, tão ao gosto do
Homem de quinhentos.
• introdução: apresentação do objeto apreciado: autor, época, tipo de composições Em redondilha maior ou
(medida velha e medida nova) e principais temas; menor, ou decassílabos,
o poeta canta a mulher
• desenvolvimento: apreciação crítica da lírica camoniana idealizada, a sua dor, a
Natureza, a mudança, o
– importância destas composições como reflexo da época em que foram produzi- desconcerto do mundo e o da
sua própria vida. E nós, neste
das e como testemunho da experiência de vida do seu autor; século XXI, tão tecnológico,
tão disperso, primeiro
– relevância destes textos no contexto da literatura nacional. estranhamos, mas depois de
percebermos essas tantas
• conclusão: reforço das ideias principais e apelo ao estudo da lírica camoniana. emoções, acabamos por as
entranhar em nós, porque,
enfim, é da nossa condição
humana que o poeta fala.
É bem certo que a obra, em
muitos aspetos, espelha a
vida do seu criador, que esteve
em três dos quatro cantos
do mundo. Mas essa obra
é também espelho de uma
glória do país passada, que já
se sentia decair, dum mundo
desconcertado e duma língua
em mudança.
Por tudo isto, a lírica
camoniana é um precioso
testemunho do passado
e um marco na literatura
portuguesa, que se deve
visitar.
(180 palavras)

171
MÓDULO

3
1. Luís de Camões, Os Lusíadas
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Os Lusíadas
• Imaginário épico
• Reflexões do poeta
• Linguagem, estilo e estrutura
Leitura
Artigo de divulgação científica
Exposição sobre um tema
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Apreciação crítica [Compreensão/Expressão Oral]
Reportagem [Compreensão do Oral]
Gramática
• Funções sintáticas
• Campo lexical/Campo semântico
• Coordenação/Subordinação
• Processos fonológicos
• Referente
• Tempo e modo verbal
• Conector
• Classe de palavras
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
Luís de Camões PARA CONTEXTUALIZAR
Contextualização

1524/1525 1553 1568 1572 1578 1579/1580


Data provável Embarque de Camões Subida Publicação Desaparecimento Data provável
do nascimento para o Oriente de D. Sebastião de Os Lusíadas de D. Sebastião da morte de
de Luís de Camões ao trono na batalha de Luís de Camões
de Portugal Alcácer Quibir (10 de junho)
(4 de agosto)

Atente nos seguintes tópicos, para melhor compreender esta época, bem como a obra
que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.

Contexto socioeconómico do século XVI Renascimento


• O século de Quinhentos deve ser encarado como o cul- • Identifica-se com a recuperação da cultura greco-latina
minar de um processo transformativo que incidiu sobre as e dos valores que lhe são inerentes (em oposição à cultura e
mais diversas áreas. aos valores da Escolástica Medieval).
• A burguesia comercial, em ascensão, que se foi apro- • É um fenómeno sociocultural datável da segunda meta-
5 priando de diversos e importantes meios económicos, come- 5 de do século XV e situado essencialmente no espaço político
ça a fazer ceder a sociedade rigidamente hierarquizada. que corresponde à república italiana, de onde irradiou depois
• As Universidades, fundadas sob a proteção do poder para toda a Europa.
régio e eclesiástico, começam a ver ameaçado o seu mono- Elaborado a partir de José Augusto Cardoso Bernardes,
pólio de construtoras do saber. “Renascimento”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide,
10 • Com a emergência do poder absoluto do monarca, Editorial Caminho, 2011, p. 839.
o espaço palaciano é objeto de valorização sociopolítica
e cultural.
• As cortes europeias começam a ter uma intensa vida A epopeia
artística e cultural, à semelhança das italianas de Veneza e de
• As epopeias são narrativas de fundo histórico em que se
15 Florença, sobretudo.
registam poeticamente as tradições e os ideais de um grupo
• Embora no século XVI tivessem proliferado as atividades
étnico sob a forma de aventuras de um ou alguns heróis.
mercantis, outras áreas da vida, nomeadamente a cultural,
• Normalmente têm um herói central e narram as dificul-
sofreram também grande incremento.
5 dades através das quais se afirmou triunfalmente a sua perso-
Elaborado a partir de José Augusto Cardoso Bernardes,
nalidade.
História Crítica da Literatura Portuguesa, Humanismo
e Renascimento, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 13-18. Elaborado a partir de António José Saraiva, Luís de Camões –
estudo e antologia, 3.a ed., Lisboa, Livraria Bertrand, 1980, p. 119.

174
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COMPREENSÃO DO ORAL

1. Proceda ao visionamento de excertos de um documentário sobre Luís de Camões


e selecione as opções que correspondem ao conteúdo informativo do documento.

Camões e Os Lusíadas
Os Lusíadas, A data de celebração do aniversário da(o) a. (morte/nascimento) de Luís de
Grandes Livros, RTP
Camões é 10 de b. (julho/junho). É oficialmente o dia de Portugal.

Muitos são os portugueses que c. (sabem/não sabem) as primeiras estâncias


PROFESSOR
de Os Lusíadas, mas só alguns conhecem a obra.
5 Ver alguém a ler Os Lusíadas num espaço público convoca a ideia de
Vídeo d. (estudo/saber) ou de dever a cumprir. É um livro e. (difícil/fácil)
"Documentário
e tem sido usado como projeto de construção da identidade nacional.
sobre Luís de Camões
e Os Lusíadas" Em diferentes contextos, Camões foi considerado um símbolo f. (nacional/

Oralidade e Os Lusíadas uma das obras-primas da literatura g.


internacional) (nacional/
1.1; 1.4 10 mundial). Esta obra é tanto um canto de h. (exaltação/crítica) como de
Educação Literária
16.1; 16.2 i. (decadência/crise).

Os Lusíadas foram publicados em 1572, no final de um século j. (previsível/


1.
a. morte prodigioso).
A ação acompanha a k. (histórica/fatídica) viagem realiza-
b. junho da por l. (Vasco da Gama/Bartolomeu Dias) à m. (Índia/China) em
c. sabem 15 n. (1498/1497). Ao mesmo tempo descreve a grande aventura dos
d. estudo
e. difícil o. (portugueses/espanhóis) desde o(a) p. (declínio/fundação) da nacionalidade.
f. nacional
Camões escreve setenta e tal anos depois disso ter sucedido, e Portugal mudara
g. mundial
h. exaltação entretanto, estando agora a empalidecer.
i. crise
j. prodigioso No século q. (XVI/XV), o mundo era literalmente dos r. (espanhóis/
k. histórica 20 portugueses). O avanço científico e tecnológico deste povo sustentava s. (fabu-
l. Vasco da Gama losas/quiméricas) ilusões de t. (grandeza/fraqueza). Garcia de Horta afirmava que,
m. Índia
n. 1497 naquela época, se sabia mais em um u. (dia/ano) pelos portugueses do que
o. portugueses em v. (cem/duzentos) anos pelos romanos.
p. fundação
q. XVI Neste contexto, era natural w. (criticar/celebrar) em literatura os feitos na-
r. portugueses 25 cionais. Os portugueses tinham-se afirmado como nação imperial, mas faltava
s. fabulosas
t. grandeza
à língua portuguesa idêntico prestígio no plano t. (nacional/internacional).
u. dia E o poema épico representava o mais alto desígnio a que uma língua poderia
v. cem aspirar. A epopeia estava no topo do cânone dos géneros literários, juntamente
w. celebrar
x. internacional
com a y. (tragédia/comédia). Era muito importante, porque seria a forma mais
y. tragédia 30 z. (prestigiosa/fastidiosa) de a literatura poder enaltecer os feitos dos portugueses.
z. prestigiosa
Outros poetas tentaram a escrita de uma epopeia em português, mas apenas
Camões foi capaz de levar a bom porto este projeto nacional.
Contudo, há uma ironia amarga nisto: do homem de quem herdamos uma
história pouco ou nada sabemos da sua própria história. Sobre a vida de Camões
35 são mais os mitos que circulam do que os factos comprovados.

176
PARA DESENVOLVER

INFORMAR

Efetue a leitura da informação apresentada a seguir.

Origem e valor simbólico do termo "lusíadas"


PROFESSOR
Origem / século Valor simbólico

• Surge no século XVI. • Corresponde ao desejo de individualizar –


em termos de identidade – um povo que se Link
• Deriva de Lusus (“Luso”) mediante o sufixo distinguia dos restantes (o termo pertence “A primeira edição
grego -iades (“descendente”) e significa de Os Lusíadas”
a André de Resende, segundo o estudo de
etimologicamente “descendentes do Luso”.
Carolina Michaëlis, Américo Costa Ramalho
Sugestão metodológica:
e Sebastião Pinho). aceda ao portal ensina.rtp.pt
e passe o vídeo “A primeira
Adaptado de Virgínia Soares Pereira, "Lusíadas", in Vítor Aguiar e Silva (coord.), edição de Os Lusíadas” para
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 489-490. introdução deste conteúdo
temático
(http://ensina.rtp.pt/artigo/
primeira-edicao-dos-lusiadas/)

A génese de Os Lusíadas Leitura


7.1; 7.2; 8.1
Educação Literária
Porquê uma Como se destinava a cantar os feitos excecionais, era necessário 14.3; 14.4; 14.6; 14.7;
epopeia? um tratamento literário também excecional. 11.11; 15.1; 15.2; 16.1

• Proposição 1. Lusíadas significa


“descendentes de Luso”,
Estrutura interna • Invocação ou seja portugueses.
da epopeia • Dedicatória 2. Por um lado, as descobertas
• Narração (in medias res) portuguesas dos séculos XV
e XVI ofereciam matéria para
o canto, na medida em que
• Elevado, grandiloquente; recurso a latinismos e helenismos. constituíam feitos excecionais.
Por outro lado, era uma forma
Estilo
• Recurso a factos e figuras da Antiguidade e da mitologia. de valorizar a língua e o povo
português.
• Inserção de episódios de tonalidade diferente (bucólicos, elegíacos, 3. A epopeia camoniana
eróticos, cómicos), para evitar a monotonia da tensão épica. inicia-se com a Proposição,
a Invocação e a Dedicatória,
e a ação começa in medias
Destaque para as finalidades cívicas do heroísmo e para a nobreza das res. O estilo é elevado,
Herói
causas que o herói – que, no caso de Os Lusíadas, é coletivo – serve. grandiloquente, com utilização
de latinismos e helenismos (do
• Valorização do povo português. Grego), com o aproveitamento
Intenção frequente de factos e de
• Intenção também pedagógica. figuras da História antiga
e da mitologia clássica,
Elaborado com base em Maria Vitalina Leal de Matos, "Os Lusíadas", Dicionário com recurso a episódios de
tonalidade diferente.
de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 492-494.

Considere a informação apresentada.

1. Explicite o significado do termo "lusíadas".

2. Demonstre a necessidade da existência de uma epopeia em Portugal.

3. Apresente a estrutura interna e o estilo da epopeia camoniana.

177
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INFORMAR

PROFESSOR Poema épico


Educação Literária Estruturação externa e interna de Os Lusíadas
14.3; 14.6; 14.7; 14.11;
15.1; 15.2; 16.1
Os Lusíadas são um poema épico, género narrativo que remonta, na cultura
1. Epopeia é uma narrativa em ocidental, à antiga Grécia, com Homero, e a Roma, com Virgílio.
verso, de feitos históricos e
Origens Destina-se a “cantar”, celebrar feitos grandiosos, reais ou fictícios,
sublimes, levados a cabo por
um ou vários heróis. e objeto praticados por heróis fora do comum, em verso e num estilo “elevado”;
2. (1) Plano da viagem de Vasco (poema épico) os heróis, reais ou mais frequentemente míticos, têm normalmente
da Gama à Índia, em que se representatividade coletiva, exprimindo valores, sonhos e capacidade
narram os feitos gloriosos dos de realização do povo ou grupo étnico a que pertencem.
navegantes portugueses;
(2) Plano da História de Portugal
(narração de acontecimentos O poema épico Os Lusíadas está dividido em 10 cantos e todas as estrofes
passados e apresentação de Estrutura são oitavas (de 10 sílabas métricas), segundo o esquema rimático
profecias); (3) Plano dos deuses externa abababcc; no total, 1102 estrofes, numa média de 110 por canto, havendo
(imaginário mitológico pagão).
cantos mais longos, como o III e o X, e cantos mais curtos.
3. É o plano das considerações
e reflexões do poeta,
de natureza filosófica, Na Introdução, apresenta também uma Dedicatória e, na Conclusão,
sociológica, política o poeta faz um apelo. Nos dois casos, tem como recetor o rei que então
e autobiográfica. Estrutura governava e preparava uma ação militar contra Marrocos, D. Sebastião.
4. Os narradores são Vasco interna No final, quando este já é rei, Camões aconselha-o no sentido de bem reinar
e Paulo da Gama, mas
também uma Ninfa e Tétis,
e de conduzir o seu povo, que agora se encontra num período de crise,
que apresentam os factos definido como “austera, apagada e vil tristeza”.
históricos sob a forma de
profecias. Os Lusíadas integram quatro planos:
• o da viagem – ação central – de Vasco da Gama em busca da Índia,
realizada em 1497-98;
• o da História de Portugal – ação secundária – narrada por narradores
participantes, Vasco da Gama, Paulo da Gama, e, em relação aos
Planos acontecimentos posteriores à viagem e anteriores a 1572, por deuses,
narrativos com relevo para uma Ninfa e para Tétis, sob a forma de profecias;
• o dos deuses, do imaginário mitológico pagão – que se articula com
a narração da ação central, sendo os deuses agentes motores, como
oponentes desta ação (no caso de Baco, que funciona, de certo modo,
como a voz dos povos orientais, mas também de Neptuno e outras
divindades do mar), ou como adjuvantes (Vénus, sobretudo, e Júpiter,
a seu pedido);

Plano das • um plano não narrativo, constituído por considerações e reflexões


considerações filosóficas, sociológicas, políticas, autobiográficas do poeta e autor-
do poeta -narrador Luís de Camões.

Adaptado de Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Portugal – uma perspetiva didática.
Época medieval e época clássica, vol. I, Porto, Areal Editores, 2004, pp. 152-153.

Considere a informação anterior e responda às seguintes questões.

1. Baseando-se no primeiro tópico, defina, por palavras suas, epopeia.

2. Indique os três planos narrativos existentes n’Os Lusíadas, referindo o assunto respetivo.

3. Diga em que consiste o único plano não narrativo.

4. Identifique os narradores do plano da História de Portugal.

178
Os Lusíadas
Contextualização

Considere a informação recolhida nas páginas 177 e 178.

1. Complete cada alínea da coluna A com a opção correta da coluna B.


PROFESSOR

Educação Literária
Coluna A Coluna B
14.3; 14.6; 14.7; 14.11;
15.1; 15.2; 16.1
[1] na viagem de descoberta do caminho marítimo
[A] A introdução de Os Lusíadas para a Índia.
integra 1.
[2] narradores humanos e mitológicos. [A] – [4]
[B] O plano da viagem, ação [B] – [6]
[3] após as reflexões do poeta. [C] – [2]
central, articula-se [D] – [1]
[4] a Proposição, a Invocação e a Dedicatória. [E] – [5]
[C] No plano da História surgem 2. a. Invocação
[5] de peripécias ou acontecimentos que ocorrem b. Dedicatória
[D] O plano da viagem centra-se durante a viagem. c. Narração
d. da viagem
[6] com o plano mitológico. e. dos deuses
[E] As intervenções do poeta f. da História de Portugal
resultam g. do poeta
[7] da necessidade de este se lamentar.
3. Nos planos da viagem
e da História de Portugal,
cujo herói é o povo luso, isto é,
os portugueses.
2. Complete o seguinte esquema.

Os Lusíadas

Estrutura externa Estrutura interna

PROPOSIÇÃO
· 10 cantos
· 1102 estrofes
· 8816 versos (dispostos a.
em decassílabos heroicos)
b.

c.

Ação central e Ação secundária


(encaixada na ação principal)

PLANO d. PLANO e. PLANO f.

REFLEXÕES g.

3. Observe de novo o esquema relativo à estrutura de Os Lusíadas e identifique os pla-


nos onde mais se evidencia a dimensão épica, com a consequente valorização do
herói coletivo.

179
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Canto I – Imaginário Épico

FIXAÇÃO DE TEXTO
Luís de Camões, Os Lusíadas
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
(leitura, prefácio e notas de
A. Costa Pimpão), 4.a ed., Lisboa,
Instituto Camões – Ministério Leia as estâncias 1 a 3, relativas à Proposição, atentando particularmente no caráter
dos Negócios Estrangeiros, 2000. épico, e resolva as atividades propostas.
NOTAS
Luís de Camões, Os Lusíadas
(edição organizada por Emanuel
Paulo Ramos), Porto,
Proposição
Porto Editora, 1997.
1 3
PROFESSOR As armas e os Barões assinalados Cessem do sábio Grego3 e do Troiano4
Que da Ocidental praia Lusitana As navegações grandes que fizeram;
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.6; Por mares nunca de antes navegados Cale-se de Alexandro5 e de Trajano6
14.9; 14.11 Passaram ainda além da Taprobana1, A fama das vitórias que tiveram;
Em perigos e guerras esforçados Que eu canto o peito ilustre Lusitano7,
1. Plano da viagem de Vasco A quem Neptuno8 e Marte9 obedeceram.
da Gama: “As armas e os Mais do que prometia a força humana,
Barões assinalados / Que da E entre gente remota edificaram Cesse tudo o que a Musa antiga10 canta,
Ocidental praia Lusitana / Que outro valor mais alto se alevanta.
Por mares nunca de antes Novo Reino, que tanto sublimaram;
navegados / Passaram ainda
além da Taprobana, / Em
perigos e guerras esforçados” 2
(est. 1, vv. 1-5); Plano da E também as memórias gloriosas
História de Portugal: “as
memórias gloriosas / Daqueles Daqueles Reis que foram dilatando
Reis que foram dilatando / A Fé, A Fé, o Império, e as terras viciosas2 1
extremo sul da Ásia; 2 pagãs; 3 herói Ulisses, na
o Império” (est. 2, vv. 1-3); Odisseia de Homero; 4 herói Eneias, na Eneida de
Plano dos deuses ou De África e de Ásia andaram devastando,
mitológico: “A quem Neptuno E aqueles que por obras valerosas Virgílio; 5 Alexandre Magno; 6 imperador romano
e Marte obedeceram” (est. 3, de origem espanhola; 7 o valor do povo português;
v. 6); Plano das reflexões do Se vão da lei da Morte libertando, 8
deus do mar; 9 deus da guerra; 10 metonímia:
poeta: “Cantando espalharei Cantando espalharei por toda parte, Musa por poesia. Para os antigos, a Musa da
por toda parte, / Se a tanto me
ajudar o engenho e arte” Se a tanto me ajudar o engenho e arte. epopeia e da eloquência era Calíope.
(est. 2, vv. 7-8).
2. “Que eu canto o peito
ilustre Lusitano” (est. 3, v. 5); 1. Preencha o quadro seguinte com expressões textuais, tendo em conta os quatro
sinédoque. planos que constituem a estrutura interna de Os Lusíadas.
3.1 “Mais do que prometia a
força humana” (est. 1, v. 6); “Se
vão da lei da Morte libertando” MATÉRIA ÉPICA
(est. 2, v. 6); “A quem Neptuno e Plano
Plano dos deuses
Marte obedeceram” (est. 3, v. 6). Plano da viagem Plano da História das reflexões
ou mitológico
3.2 Os portugueses, corajosos de Vasco da Gama de Portugal do poeta
e persistentes, venceram o
mar, passando por muitos
perigos naturais e travando
guerras difíceis em África e
na Ásia. Dilataram, assim,
o império e espalharam a
fé cristã. Vencendo, com 2. Indique o verso em que se apresenta sucintamente o herói que será cantado na
obras valerosas, as forças
da Natureza e os homens, epopeia camoniana, identificando o recurso expressivo presente nesse verso.
tornam-se imortais e merecem
o estatuto de deuses. 3. Na Proposição, Camões aponta já para a mitificação do herói coletivo, ou seja, do
4. Com a referência a heróis povo português.
lendários, como Ulisses
e Eneias, e a imperadores 3.1 Retire do texto três versos reveladores dessa mitificação.
da Antiguidade, Camões
estabelece uma comparação 3.2 Refira, por palavras suas, os feitos gloriosos que justificam a “divinização” dos por-
entre eles e os portugueses, tugueses.
que ele diz serem superiores.
Por isso, o canto (as epopeias
da Antiguidade) que exalta 4. Justifique a referência que é feita na estância 3 a Eneias, a Ulisses, a Alexandre
esses heróis passados deve Magno e a Trajano.
ser esquecido, pois “outro
valor mais alto se alevanta”,
isto é, o povo luso.

180
Os Lusíadas

COMPREENSÃO DO ORAL PROFESSOR

Proceda à audição do tema musical “Contentores”, dos Xutos e Pontapés e estabeleça


aproximações entre o conteúdo da Proposição e o da canção, completando a tabela. Link
"Xutos e pontapés –
Contentores"
Aspetos focados Os Lusíadas "Contentores"
Oralidade
Local de partida “da Ocidental praia Lusitana” a. 1.1; 1.4; 1.5; 2.1; 2.2

“pelo espaço
Percurso efetuado “Por mares nunca de antes navegados” a. "a cidade natal"
fundo”
b. "voo noturno"
Condições da viagem “Em perigos e guerras esforçados” b. c. "para outro mundo"
d. "planeta distante"
Destino “entre gente remota” c.

Expressões valorativas “Mais do que prometia a força humana” d. Educação Literária


14.3; 14.4; 14.7; 15.1;
“voltam a zero 16.1; 16.2
Objetivo “edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram” num planeta
distante” 1. O poeta argumenta com o
serviço prestado às Ninfas,
dada a sua dedicação à poesia,
e com a grandiosidade dos
EDUCAÇÃO LITERÁRIA feitos da famosa gente
que deve ser reconhecida
universalmente e ter um canto
Leia, agora, as estâncias relativas à Invocação. grandioso e sublime que
os iguale.
2. Por exemplo, "Gente vossa,
Invocação que a Marte tanto ajuda"
(est. 5, v. 6).
4 5 3. Uso do vocativo (“Tágides
minhas”), da 2.a pessoa do
E vós, Tágides1 minhas, pois criado Dai-me ũa fúria grande e sonorosa5, plural (“vós”) e do imperativo
Tendes em mi um novo engenho ardente, E não de agreste avena ou frauta ruda6, (“Dai-me”).
Se sempre em verso humilde celebrado Mas de tuba canora e belicosa7, 4. A presença deste elemento
corresponde ao momento a
Foi de mi vosso rio alegremente, Que o peito acende8 e a cor ao gesto muda; partir do qual se marcará a
Dai-me agora um som alto e sublimado, Dai-me igual canto aos feitos da famosa diferença relativamente aos
escritores anteriores.
Um estilo grandíloco e corrente2, Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Por que de vossas águas Febo3 ordene Que se espalhe e se cante no universo,
Que não tenham enveja às de Hipocrene4. Se tão sublime preço cabe em verso.

1
ninfas do Tejo; 2 canto elevado e fluente; 3 Apolo, deus do sol e da poesia; 4 fonte que transformaria em
poeta quem das suas águas bebesse; 5 inspiração, delírio; 6 flauta de pastor (poesia bucólica); 7 trombeta
clamorosa e guerreira, ou seja, inspiração épica; 8 inflama o ânimo.

1. Apresente os argumentos usados pelo poeta para obter o favor das Tágides.

2. Saliente os vocábulos ou expressões que remetem para a grandiosidade e o espíri-


to guerreiro do povo lusitano.

3. Comprove, com dois elementos linguísticos pertinentes, a existência de uma invo-


cação.

4. Explique a funcionalidade do elemento "agora" (est. 4, v. 5) neste passo da epo-


peia.

181
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Imaginário Épico

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Leia as estâncias 6 a 18, relativas à Dedicatória, e resolva, depois, as atividades


Áudio
"Dedicatória"
propostas.

Dedicatória
6 9
E vós, ó bem nascida segurança1 Inclinai por um pouco a majestade
Da Lusitana antiga liberdade, Que nesse tenro gesto vos contemplo,
E não menos certíssima esperança Que já se mostra qual na inteira idade,
De aumento da pequena Cristandade; Quando subindo ireis ao eterno templo;12
Vós, ó novo temor da Maura lança,2 Os olhos da real benignidade
Maravilha fatal3 da nossa idade,4 Ponde no chão: vereis um novo exemplo
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, De amor dos pátrios feitos valerosos,
Pera do mundo a Deus dar parte grande; Em versos divulgado numerosos.

7 10
Vós, tenro e novo ramo florecente Vereis amor da pátria, não movido
De ũa árvore, de Cristo5 mais amada De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Que nenhua nascida no Ocidente, Que não é prémio vil ser conhecido
Cesárea6 ou Cristianíssima7 chamada Por um pregão do ninho meu paterno.
(Vede-o no vosso escudo, que presente Ouvi: vereis o nome engrandecido
Vos amostra a vitória8 já passada, Daqueles de quem sois senhor superno,13
Na qual vos deu por armas e deixou E julgareis qual é mais excelente,
As que Ele pera si na Cruz tomou); Se ser do mundo Rei, se de tal gente.

8
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando dece o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério9
Do torpe Ismaelita10 cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio:11

1
D. Sebastião − penhor da independência de Portugal; 2 exército dos Mouros; 3 determinada pelo destino;
4
época, tempo5 árvore genealógica, linhagem dos reis de Portugal; 6 dos imperadores da Alemanha; 7 dos reis da França;
8
a que se seguiu à batalha de Ourique, a partir da qual se acrescentaram cinco escudos à cruz já usada nas nossas armas;
9
domínio e injúrias; 10 turcos; 11 Ganges; 12 templo da fama eterna; 13 superior.

182
Os Lusíadas

11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte14 e o vão Rugeiro15
E Orlando,16 inda que fora verdadeiro.

12
Por estes vos darei um Nuno17 fero,
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço,
Um Egas18 e um Dom Fuas,19 que de Homero
A cítara par’eles só cobiço;
Pois polos Doze Pares20 dar-vos quero
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;21
Dou-vos também aquele ilustre Gama,22
Que para si de Eneias toma a fama.

13
Pois se a troco de Carlos,23 Rei de França,
Ou de César,24 quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso,25 cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele26 que a seu Reino a segurança
Deixou, com a grande e próspera vitória;
Outro Joane,27 invicto cavaleiro;
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro.

14
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora28
Se fizeram por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco29 fortíssimo e os temidos
Almeidas,30 por quem sempre o Tejo chora,
Albuquerque terríbil, Castro forte,31
E outros em quem poder não teve a morte.

14
personagem de Orlando Enamorado, de Boiardo, poeta italiano do séc. XV; 15 personagem de Orlando
Furioso, de Ariosto, poeta italiano do séc. XVI; 16 palavra italiana correspondente à francesa Roland, herói da
Chanson de Roland, poema do fim do séc. XI 17 Nuno Álvares Pereira; 18 Egas Moniz; 19 D. Fuas Roupinho;
20
doze nobres companheiros de Carlos Magno; 21 doze cavaleiros portugueses que, no reinado de D. João I,
teriam ido a Inglaterra combater e entre os quais se encontrava um tal Magriço; 22 Vasco da Gama; 23 Carlos
Magno; 24 Caio Júlio César, general e político romano; 25 D. Afonso Henriques; 26 D. João I; 27 D. João II;
28
no Oriente; 29 Duarte Pacheco Pereira, defensor de Cochim; 30 D. Francisco de Almeida (primeiro vice-rei
da Índia) e seu filho D. Lourenço. Ambos foram mortos em combate por inimigos de Portugal; 31 D. João de
Castro, que reagiu virilmente quando lhe anunciaram a morte de seu filho, D. Fernando.

183
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Canto I – Imaginário Épico

15
E, enquanto eu estes canto − e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto −,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso32
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,33
De África as terras e do Oriente os mares.

16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,34
Em quem vê seu exício35 afigurado;
Só com vos ver, o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tétis36 todo o cerúleo37 senhorio38
PROFESSOR Tem pera vós por dote aparelhado,39
Que, afeiçoada ao gesto40 belo e tenro,
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.6; 14.7; Deseja de comprar-vos pera genro.
14.8; 14.9; 15.3

1.
17
a. Louvor ao Rei Em vós se vêm,41 da Olímpica morada,42
D. Sebastião
b. 9-14
Dos dous avós43 as almas cá famosas;
c. 15-17 Ũa, na paz angélica dourada,
d. Conclusão e reforço do
primeiro apelo
Outra, pelas batalhas sanguinosas.
2.1 São utilizadas diversas Em vós esperam ver-se renovada
apóstrofes, sempre iniciadas Sua memória e obras valerosas;
pela segunda pessoa do
plural do pronome pessoal, E lá vos têm lugar, no fim da idade,44
anaforicamente repetida nas No templo da suprema Eternidade.
estâncias 6 e 7, versos 1 e 2. 32
grande; 33 incomparáveis; 34 apavorado;
35
2.2 O poeta descreve o Rei extermínio, ruína completa; 36 deusa do
como defensor da liberdade
18 mar; 37 azul, da cor do mar; 38 império
da pátria, continuador da
dilatação da fé e do império, (Cerúleo senhorio = mar); 39 aprestado,
Mas, enquanto este tempo passa lento aprontado; 40 rosto; 41 veem; 42 céu;
temido pelos infiéis e 43
descendente de linhagem De regerdes os povos, que o desejam, o paterno, D. João III, e o materno,
amada por Cristo. Dai vós favor ao novo atrevimento,45 o Imperador Carlos V (os dois avós de
3. D. Sebastião, a quem o poeta se está
Pera que estes meus versos vossos sejam, a referir); 44 vida; 45 a sua nova epopeia;
a. personificação
b. movimento E vereis ir cortando o salso argento46 46
salgado e prata, respetivamente; as ondas
c. Rei Os vossos Argonautas,47 por que vejam de prata; 47 navegantes gregos que, na nau
d. O Sol, logo em nascendo Argo, foram à Cólquida, comandados por
e. Vê-o também no meio do Que são vistos de vós no mar irado, Jasão, em busca do velo de ouro que um
Hemisfério E costumai-vos já a ser invocado. dragão guardava.
f. E quando dece o deixa
derradeiro
4. O poeta apresenta um
conjunto de elementos 1. Complete o quadro seguinte, procedendo à divisão do texto em quatro partes lógicas.
constitutivos da matéria épica
que se encontram ao serviço Partes Estâncias Assunto
da persuação do Rei: o louvor
aos heróis portugueses; a
anulação dos feitos fictícios 1.a 6-8 a.
cantados em epopeias da
Antiguidade, substituídos 2.a b. Apelo ao Rei e apresentação dos argumentos que o fundamentam
pelos feitos reais dos
portugueses; a superação dos 3.a c. Incitamento ao Rei
heróis reais da Antiguidade
pelos heróis portugueses. 4.a 18 d.

184
Os Lusíadas

2. Atente nas estâncias 6 e 7. PROFESSOR


2.1 Identifique dois recursos expressivos utilizados para interpelar diretamente o Rei,
5. O poeta pretende incitar o
ilustrando-os com expressões textuais. Rei a desenvolver feitos nunca
praticados, de forma a poder
2.2 Apresente três elogios feitos a D. Sebastião nessas estâncias. produzir matéria para um novo
canto, que pretende levar a
3. Considere agora a estância 8 e complete o texto, de modo a evidenciar a imponên- cabo.
cia do império português e do jovem monarca.
Gramática
Nesta estância, através de uma a. , Camões mostra-nos que o Sol, com o 18.1; 19.4
seu aparente b. , passa por todas as regiões dominadas pelo povo lusitano e
“vê” a grandeza do império e do c. . Primeiro, vê o Oriente – d.“ ”; 1. Sujeito (simples).
2. a. lexical.
depois, a Europa e África – e.“ ” ; por fim, o continente novo – f.“ ”.
3. Valor de fim ou finalidade.
4. Considerando as estâncias 9 a 14, apresente os elementos constitutivos da maté-
Escrita
ria épica convocados como argumentos para persuadir o Rei. 18.1; 10.4; 13.1

5. Atente nas estâncias 15 a 17 e explicite o incitamento dirigido a D. Sebastião, referin-


Por um lado, n’ Os Lusíadas,
do a intenção do poeta. Camões propõe-se exaltar
o valor dos portugueses,
sobretudo no projeto dos
Descobrimentos, que
constitui o tema fundamental
do poema. Por outro lado,
GRAMÁTICA dá-nos como exemplo o
venerabilíssimo Velho do
1. Indique a função sintática do grupo “o Mouro frio” (est. 16, v. 1). Restelo, que o condena.
Cabe que perguntemos,
por isso mesmo, qual é
2. Selecione a opção que completa adequadamente a afirmação seguinte. verdadeiramente o seu
objetivo: o da exaltação
2.1 Os vocábulos “Olímpica”, “almas” e “angélica” fazem parte do mesmo campo ou o da condenação?
(57 palavras)
[A] lexical;
[B] semântico.

3. Refira o valor lógico da locução “Pera que” (est. 18, v. 4).

E S C R I TA

Reescreva o excerto procedendo à supressão ou à substituição dos segmentos subli-


nhados por outros mais económicos.

Por um lado, no seu canto épico, Camões propõe-se exaltar o valor dos seus
conterrâneos, muito principalmente na grande empresa levada a cabo por eles e
que deu novos mundos ao mundo, que constitui o tema fundamental do poema.
Por outro lado, dá-nos como modelo de uma sabedoria magnânima, de grande
experiência e de elevada honradez o venerabilíssimo Velho do Restelo, que con-
dena o próprio feito que a epopeia camoniana se propõe cantar. Cabe que pergun-
temos, por isso mesmo, qual é verdadeiramente o objetivo que é pretendido pelo
autor: o da exaltação, ou o da condenação? (96 palavras)

BLOCO INFORMATIVO –
pp. 271-273, 282, 265

185
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Reflexões do Poeta

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.4; 14.9 No final do canto I, depois de os portugueses terem caído numa cilada montada por
Baco, o poeta tece a sua primeira reflexão, relativa à fragilidade da vida humana, ou
1.1 O poeta inicia a sua reflexão
no verso 5 da estância 105.
seja, do Homem, “um bicho da terra tão pequeno”.
1.2 A frase exclamativa Leia as estâncias e responda depois às questões.
(complexa) e as afirmações
valorativas (“grandes”,
“gravíssimos”, “nunca
certo”, “esperança”, “pouca 105 106
segurança”) comprovam o
caráter subjetivo e reflexivo O recado que trazem é de amigos, No mar tanta tormenta e tanto dano,
deste momento textual e Mas debaxo o veneno vem coberto, Tantas vezes a morte apercebida1!
denunciam o tom de lamento
por parte do poeta. Que os pensamentos eram de inimigos, Na terra tanta guerra, tanto engano,
2.1 Nos primeiros 4 versos Segundo foi o engano descoberto. Tanta necessidade2 avorrecida!
da estância 106, o poeta faz
referência à tormenta e às Ó grandes e gravíssimos perigos, Onde pode acolher-se um fraco humano,
dificuldades com que os Ó caminho de vida nunca certo, Onde terá segura a curta vida,
portugueses se depararam,
tanto no mar como na terra. Que aonde a gente põe sua esperança Que3 não se arme e se indigne o Céu sereno
2.2 A reflexão de Camões Tenha a vida tão pouca segurança! Contra um bicho da terra tão pequeno?
não se centra apenas nas
dificuldades vividas pelos
marinheiros portugueses,
1
antes incide sobre a própria iminente; 2 conjunto de necessidades a que temos de nos sujeitar; 3 conjunção subordinativa
condição humana. Refletindo consecutiva, ainda que o “tão”, antes de “segura”, esteja omisso.
sobre esta realidade, o poeta
indigna-se com a pequenez
humana e a sua fragilidade
face a todas as adversidades 1. Atente na estância 105.
que tem de suportar.
2.3 Com a metáfora “bicho da 1.1 Identifique o verso em que o poeta inicia a sua reflexão.
terra tão pequeno”, Camões
refere-se ao ser humano em 1.2 Assinale os elementos linguísticos que apontam para o caráter subjetivo e emotivo
geral e pretende colocar em dessa reflexão.
evidência a sua pequenez, a
sua insignificância e a sua
incapacidade perante forças 2. Considere as estâncias 105 e 106.
mais poderosas e superiores.
2.1 Comprove que os portugueses se depararam com várias dificuldades.
Oralidade 2.2 Explicite o conteúdo da interrogação presente nos últimos quatro versos da es-
1.1; 1.3; 1.4; 2.1; 6.1 tância 106.

Resposta de caráter pessoal, 2.3 Identifique o recurso expressivo presente no último verso da estância 106, esclare-
mas o aluno pode focar os cendo o seu sentido.
seguintes aspetos: a estância
106 serve de introdução aos
amores trágicos de Inês de
Castro, também ela um ser
frágil, que sucumbe ao poder
COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
despótico e cruel do Amor;
a melodia doce, num ritmo
lento, adequa-se ao lamento Ouça atentamente o tema musical do grupo galego Milladoiro e, em 2 a 3 minutos,
do poeta, à saudade de Inês, faça uma breve apreciação crítica da canção, considerando os seguintes aspetos:
à sua falsa segurança; a viola,
o violino, a flauta e o oboé • adequação do conteúdo das estâncias retiradas do episódio lírico de Inês de Castro ao
contribuem para a suavidade
melódica que sugere a conteúdo da estância 106 do canto I;
fragilidade de Inês, em
particular, e a do ser humano,
• adequação do arranjo musical (melodia, ritmo, instrumentos selecionados) à letra da
em geral, criando também canção.
um ambiente introspetivo,
característico dos momentos Estruture a sua resposta, recorrendo a conectores adequados e a um vocabulário valorativo
de reflexão. (apreciativo ou depreciativo).

186
Os Lusíadas
Canto V – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFESSOR

As reflexões do poeta continuam no canto V, agora versando o desprezo que os


Link
portugueses têm pelas artes e a sua incapacidade para responder ao ideal de homem “Milladoiro – Inês”
renascentista − aquele que consegue aliar as artes e as letras.

92
Quão doce é o louvor e a justa glória
Dos próprios feitos, quando são soados1!
Qualquer nobre2 trabalha que3 em memória
Vença ou iguale os grandes já passados.
As envejas da ilustre e alheia história
Fazem mil vezes feitos sublimados.
Quem valorosas obras exercita,
Louvor alheio muito o esperta e incita.

93
Não tinha em tanto os feitos gloriosos
De Aquiles, Alexandro, na peleja,
Quanto de quem o canta os numerosos4
Versos: isso só louva, isso deseja.
Os troféus5 de Milcíades, famosos,
Temístocles despertam só de enveja;
E diz que nada tanto o deleitava
Como a voz que seus feitos celebrava.

94
Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Luís de Camões, 1885, Severo da Ponte.
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o Céu e a Terra espanta.
Si; mas aquele Herói que estima e ama
Com dões, mercês, favores e honra tanta
A lira Mantuana6, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.

95 96
Dá a terra Lusitana Cipiões, Vai César sojugando toda França
Césares, Alexandros, e dá Augustos; E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas não lhe dá contudo aqueles dões7 Mas, nũa mão a pena e noutra a lança,
Cuja falta os faz duros e robustos. Igualava de Cícero a eloquência.
Octávio, entre as maiores opressões, O que de Cipião se sabe e alcança
Compunha versos doutos e venustos8 É nas comédias grande experiência.
(Não dirá Fúlvia9, certo10, que é mentira, Lia Alexandro a Homero de maneira
Quando a deixava António por Glafira11). Que sempre se lhe sabe à cabeceira.

1
celebrados; 2 qualquer pessoa que seja nobre; 3 para que; 4 harmoniosos; 5 triunfos; 6 Virgílio; 7 aquelas qualidades; 8 graciosos;
9
terceira mulher de António; 10 certamente; 11 Gláfira, amante de António.

187
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto V – Reflexões do Poeta

97 99
Enfim, não houve forte Capitão Às Musas agardeça o nosso Gama
Que não fosse também douto e ciente, O muito amor da pátria, que as obriga
Da Lácia12, Grega ou Bárbara nação, A dar aos seus,15 na lira, nome e fama
Senão da Portuguesa tão somente. De toda a ilustre e bélica fadiga;
Sem vergonha o não digo: que a razão Que ele, nem quem na estirpe seu se chama,
De algum não ser por versos excelente Calíope não tem por tão amiga
É não se ver prezado o verso e rima, Nem as filhas do Tejo,16 que deixassem
Porque quem não sabe arte, não na estima.13 As telas d’ouro fino e que o cantassem.

98 100
Por isso, e não por falta de natura, Porque o amor fraterno17 e puro gosto
Não há também Virgílios nem Homeros; De dar a todo o Lusitano feito
Nem haverá, se este costume dura, Seu18 louvor, é somente o pros[s]uposto
Pios Eneias nem Aquiles feros. Das Tágides gentis, e seu respeito.
Mas o pior de tudo é que a ventura Porém não deixe, enfim, de ter disposto
Tão ásperos os fez e tão austeros, Ninguém a grandes obras sempre o peito:19
Tão rudos e de engenho tão remisso,14 Que, por esta ou por outra qualquer via,
Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. Não perderá seu preço e sua valia.

12
do Lácio, Latina; 13 não a estima; 14 acanhado, boto; 15 à família de Vasco da Gama ou aos portugueses, consoante as
interpretações; 16 Tágides; 17 de irmão (as Tágides são aqui consideradas irmãs dos portugueses); 18 devido; 19 vontade.

PROFESSOR

Educação Literária 1. Assinale, as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.
14.2; 14.6; 14.7; 14.9
a. O poeta começa por referir que a glória dos feitos dos nossos antepassados é
1. digna de ser imortalizada através da arte.
a. F – O poeta começa por
referir que a glória dos
feitos próprios é digna de ser
b. Seguidamente, refere que os heróis se alegravam quando ouviam os seus feitos
imortalizada através da arte. celebrados em poesia.
b. V
c. V c. De acordo com o conteúdo da estância 94, as epopeias greco-romanas são me-
d. F – Os heróis lusitanos
igualam algumas figuras nos importantes do que a portuguesa.
históricas da Antiguidade em
força e valentia, mas não no d. Os heróis lusitanos igualam algumas figuras históricas da Antiguidade em força,
amor às artes.
e. F – O poeta sente tristeza valentia e amor às artes.
e constrangimento por os
bravos portugueses não se e. O poeta sente tristeza e constrangimento por não ter conhecido os capitães da
assemelharem aos heróis Lácia e da nação Grega.
gregos e romanos, no que se
refere ao apreço pelas artes.
f. V
f. Na penúltima estância faz-se referência ao desamor dos portugueses pela poesia.
g. F – Estas estâncias
inserem-se no plano das g. Estas estâncias inserem-se no plano da História de Portugal.
reflexões do poeta.
2.
a. compara 2. Complete o texto de modo a obter uma síntese das reflexões do poeta presentes
b. heróis nestas estâncias.
c. Antiguidade
d. guerreiro O poeta a. os portugueses aos b. da c. e
e. desprezavam
f. lamento conclui que estes aliavam a arte ao espírito d. , enquanto os lusitanos
e. as artes, o que provoca o f. do poeta.

188
Os Lusíadas
Canto VII – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Depois de refletir, no canto VI, sobre o verdadeiro valor da fama e da glória, no canto
VII o poeta intervém de novo para, na estância 2, elogiar o espírito de cruzada dos
portugueses. Mas, a partir da estância 78, surge um conjunto de lamentações de teor
autobiográfico, que leva Camões a invocar as Ninfas para que possa engrandecer no
seu canto aqueles que o merecem.

78
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego,
Eu, que cometo,1 insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo2 e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.

79
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios3 inumanos,
Qual Cánace,4 que à morte se condena,
Nũa mão sempre a espada e noutra a pena; Camões e as tágides, 1885, Columbano Bordalo Pinheiro (1894),
Museu Grão Vasco, Viseu.
80
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios5 alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo mais que nunca derribado;
Agora, às costas6 escapando7 a vida,
Que dum fio pendia tão delgado 1
me atrevo
Que não menos milagre foi salvar-se 2
Tágides
Que pera o Rei Judaico8 acrecentar-se. 3
de Marte, da guerra
4
nome de rapariga
5
81 regiões
6
nas costas (junto das quais
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Camões naufragara)
Que tamanhas misérias me cercassem, 7
salvando
Senão que aqueles que eu cantando andava 8
Ezequias, a quem Jeová
Tal prémio de meus versos me tornassem:9 concedeu quinze dias de vida,
A troco dos descansos que esperava, após o dia em que deveria
morrer
Das capelas10 de louro que me honrassem, 9
dessem
Trabalhos nunca usados me inventaram, 10
coroas (destinadas a glorificar
Com que em tão duro estado me deitaram. os Poetas)

189
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto VII – Reflexões do Poeta

11
82
grandes senhores de Portugal
12 Vede, Ninfas, que engenhos de senhores11

13
inconstante O vosso Tejo cria valerosos,
14
Proteu, guardador do gado Que assi sabem prezar, com tais favores,
de Neptuno, célebre pelas A quem os faz, cantando, gloriosos!
suas metamorfoses
15 Que exemplos a futuros escritores,
Musas
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!

83
Pois logo, em tantos males, é forçado
Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não no empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.

84
Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse12
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;

85
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,13
Se muda em mais figuras que Proteio.14
Nem, Camenas,15 também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!

190
Os Lusíadas

86 87 PROFESSOR
Nem quem acha que é justo e que é direito Aqueles sós direi que aventuraram
Guardar-se a lei do Rei severamente, Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida, Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
E não acha que é justo e bom respeito Onde,18 perdendo-a, em fama a dilataram, 14.9
Que se pague o suor da servil gente; Tão bem de suas obras merecida.
Nem quem sempre, com pouco experto16 peito, Apolo e as Musas, que me acompanharam, 1.
a. (6), est. 84-85
Razões aprende, e cuida que é prudente, Me dobrarão a fúria concedida, b. (2), est. 79, vv. 5-6
Pera taxar, com mão rapace e escassa, Enquanto eu tomo alento, descansado, c. (9), est. 87, vv. 5-8
d. (3), est. 80, vv. 1-6
Os trabalhos alheios que não passa.17 Por tornar ao trabalho, mais folgado. e. (7), est. 86, vv. 1-8
f. (8), est. 87, vv. 1-4
g. (1), est. 78, vv. 2-8
16
h. (4), est. 82, vv. 1-4
experimentado; 17 sofre (não passa = não avalia com justiça); 18 pelo que. i. (5), est. 82, v. 5-8

Gramática
1. Ordene as seguintes frases, de modo a reconstruir a ordem sequencial do conteúdo 18.4
do texto e identificando as estâncias e os versos correspondentes.
Estâncias 1.
Assunto a. para que; oração
(versos) subordinada adverbial final.
b. uma vez que; oração
a. O poeta recusa cantar homens sem escrúpulos, movidos pelos seus subordinada adverbial causal.
interesses pessoais e pela sua enorme ambição e refere a falta de
reconhecimento pelo trabalho.
b. O poeta refere as dificuldades por que passou: as viagens marítimas
e a guerra.
c. O poeta assume, de novo, o desalento e o cansaço, o que faz com
que conte com o apoio do deus da música e da poesia, de modo
a conseguir terminar a sua obra com mais ânimo.
d. Camões menciona também os problemas económicos por
que passou, o desterro, as desilusões e o naufrágio.
e. Também condena os que se escudam nas leis (mas que não
cumprem com os direitos dos mais desfavorecidos) e os que
exploram os mais necessitados.
f. Camões exaltará aqueles que se colocam ao serviço de Deus e do Rei
abdicando dos seus interesses pessoais.
g. Camões inicia uma nova reflexão, de caráter autobiográfico, pedindo
auxílio às musas para que possa prosseguir o seu canto, pois receia
não o conseguir.
h. Camões prossegue interpelando as musas, num tom irónico cuja
intenção é a de criticar aqueles que desprezam os seus versos.
i. Luís de Camões afirma também que a falta de reconhecimento
do seu trabalho enquanto poeta funciona, na sua perspetiva,
como desmotivação para futuros escritores.

GRAMÁTICA
BLOCO INFORMATIVO –
1. Selecione o conector que melhor se adequa às frases a seguir apresentadas e clas- pp. 264-265; 277
sifique as orações que eles introduzem.
a. O poeta pede ajuda às Ninfas para que / para / porque o engenho não lhe falte agora.
b. Os opressores serão banidos do seu canto, visto / por / uma vez que põem os seus
interesses à frente do bem comum.

191
v A frase complexa: coordenação
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T
FRASE COMPLEXA
R
APL ICA
A frase complexa é aquela que apresenta mais do que um verbo principal ou copulativo,
ou seja, trata-se de uma frase com mais do que uma oração, podendo obter-se pelo recurso
à coordenação e/ou à subordinação.

COORDENAÇÃO
Ao nível da frase complexa, a coordenação é um processo de combinação de duas ou mais
frases equivalentes. Por isso, a oração coordenada está contida numa frase complexa, não
mantendo uma relação de subordinação sintática com a(s) frase(s) ou oração(ões) com
que se combina. Distingue-se, tipicamente, das orações subordinadas por não poder ser
anteposta.
As orações coordenadas podem ser:

Assindéticas
Orações coordenadas justapostas, sem recurso a conjunções/locuções conjuncionais.
Ex.: Os navegadores sacrificaram-se; não se pouparam a esforços; foram grandiosos.

Sindéticas
Orações coordenadas ligadas por conjunções/locuções conjuncionais.
Ex.: As Ninfas ficaram fascinadas e convidaram os nautas portugueses.

Estas orações estabelecem entre si relações semânticas expressas pelas conjunções ou


locuções coordenativas que as unem, tal como se sistematiza na tabela seguinte:

Conjunções/locuções
Designação Sentido Exemplificação
conjuncionais coordenativas

e, nem, nem… nem,


Copulativa/ não só… mas também, • Camões não só usou a pena como também usou
Adição
aditiva não só… como (também), a espada.
tanto… como

Oposição, • Camões foi renascentista, mas deve muito aos modelos


Adversativa mas
contraste clássicos.

ou, ou… ou, Alternativa,


• Camões ora criticava os homens ambiciosos ora
Disjuntiva outra
ora… ora elogiava os defensores do Rei.
possibilidade

• O poema épico camoniano relata factos


Conclusiva logo Conclusão
extraordinários, logo todos devem conhecê-lo.

• Camões sentia-se pouco valorizado, pois realçou,


Justificação,
Explicativa pois por diversas vezes, a importância da união da espada
explicação
e das letras.

192
APLICAR
PROFESSOR
1. Indique quais as frases simples do conjunto seguinte.
Gramática
[A] Os heróis camonianos são homens de carne e osso que se lançaram na aven- 18.2; 18.3
tura marítima.
[B] Quase todos os cantos de Os Lusíadas apresentam considerações do poeta 1. [B]; [C]
2.
sobre diversos temas. a. logo
[C] As reflexões do poeta são suscitadas por acontecimentos narrados em mo- b. mas
c. ou/nem
mentos anteriores. d. pois
e. não só... como
[D] O poeta, numa das suas reflexões, lamenta que os portugueses não apreciem a 2.1
arte. a. conclusiva
b. adversativa
c. disjuntiva / copulativa
2. Complete as frases seguintes, usando a conjunção/locução conjuncional coordena- d. explicativa
tiva adequada. e. copulativa
3.1 [C]
a. Os marinheiros passaram por vários sacrifícios, devem ser recompensados. 3.2 [B]
3.3 [D]
b. Camões sente-se desprotegido, não desiste do seu canto.
4.
c. Nenhum poeta anterior a Camões escreveu uma epopeia teve a ousadia a. A poesia camoniana
é sublime, mas a leitura
de o tentar. de Os Lusíadas é exigente
para o leitor.
d. Pensa-se que Camões não terá sido reconhecido, morreu pobre e só. b. O poeta afasta-se
e. Segundo o épico português, os seus contemporâneos desprezavam as dos homens do seu tempo,
pois prefere associar-se a
artes ignoravam o seu trabalho poético. Apolo e às Musas.

2.1 Classifique as orações coordenadas obtidas.

3. Identifique a opção que completa adequadamente cada afirmação seguinte.


3.1 A frase Vénus recompensa os portugueses e oferece-lhes um banquete na Ilha dos
Amores. integra uma oração coordenada
[A] adversativa. [C] copulativa.
[B] disjuntiva. [D] explicativa.
3.2 A conjunção “e”, em Os marinheiros sofreram várias adversidades e nunca se lamen-
taram., no contexto, tem valor
[A] aditivo. [C] conclusivo.
[B] adversativo. [D] explicativo.
3.3 A oração sublinhada em Os navegadores partiram de livre vontade ou foram obriga-
dos a embarcar? classifica-se como
[A] coordenada adversativa. [C] coordenada copulativa.
[B] subordinada causal. [D] coordenada disjuntiva.

4. Una os dois pares de frases, recorrendo à conjunção ou locução conjuncional coordena-


tiva adequada, fazendo as alterações necessárias.
a. A poesia camoniana é sublime. A leitura de Os Lusíadas é exigente para o leitor.
b. O poeta afasta-se dos homens do seu tempo. Este prefere associar-se a Apolo e às Musas.

193
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto VIII – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

As reflexões do poeta prosseguem no canto VIII, agora sobre o vil poder do dinheiro,
que corrompe quer os ricos quer os pobres. Leia-as expressivamente.

96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre;
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.

97
A Polidoro1 mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício, 1
filho de Príamo, rei de Troia.
Com a filha2 de Acriso3 a chuva d’ouro; Para salvá-lo, quando a cidade
Pode tanto em Tarpeia4 avaro vício estava prestes a cair em
poder dos Gregos, o soberano
Que, a troco do metal luzente e louro,
mandou-o com ouro ao rei da
PROFESSOR Entrega aos inimigos a alta torre, Trácia, que, todavia, se apoderou
Do qual quási5 afogada em pago morre. do metal e matou o jovem
Educação Literária 2
Dánae
14.1; 14.2; 14.3; 14.4 3
Soberano de Argos (na Grécia),
98
que, para anular a profecia de
1. Os primeiros quatro versos Este6 rende munidas7 fortalezas;
um oráculo − a sua morte por
apresentam uma estrutura Faz trédoros e falsos os amigos; um neto –, prendeu a filha
narrativa, pelo predomínio
da terceira pessoa ( “se deixa”) Este a mais nobres faz fazer vilezas, Dánae numa torre. Júpiter,
e pelo relato das ações da E entrega Capitães aos inimigos; porém, sob a forma de chuva
personagem Vasco da Gama. de ouro, introduziu-se na torre
Os restantes versos iniciam a Este corrompe virginais purezas,
e tornou-a mãe de Perseu, que
reflexão, o que se verifica pela Sem temer de honra ou fama alguns perigos; veio a assassinar Acrísio
utilização da primeira pessoa 4
do plural (“nos obriga”), um Este deprava às vezes as ciências, rapariga romana que, na
“eu” coletivo no qual o próprio Os juízos cegando e as consciências. esperança de obter anéis de
poeta se inclui. ouro dos Sabinos, que sitiavam
2. O poeta apresenta Roma, lhes abriu as portas da
como exemplos do efeito 99 cidade. Os inimigos, porém,
corruptor do dinheiro figuras Este interpreta mais que sutilmente
mitológicas e da Antiguidade não a pouparam, esmagando-a
que traíram (“Entrega aos Os textos; este faz e desfaz leis; sob as joias e os escudos
5
inimigos a alta torre”), Este causa os perjúrios entre a gente como que
mataram "A Polidoro mata 6
ouro
o rei Treício”) e enganaram E mil vezes tiranos torna os Reis. 7
bem fortificadas
(“Com a filha de Acriso a chuva Até os que só a Deus omnipotente 8
d’ouro”) para alcançarem “os que só a Deus […] / Se
riqueza, fama ou poder. Se dedicam8, mil vezes ouvireis dedicam” − os sacerdotes
3. O poeta conclui a sua Que corrompe este encantador, e ilude; (perífrase)
9
reflexão com a constatação de aspeto exterior
que até os elementos do clero,
Mas não sem cor9, contudo, de virtude!
que se dedicam a Deus, se
deixam corromper e iludir pelo
poder do ouro. No entanto, 1. Delimite na estância 96 um momento narrativo e um momento reflexivo, justificando.
conseguem disfarçar esta
atração pela riqueza sob uma 2. Retire das estâncias 97 e 98 três exemplos do poder corruptor do dinheiro.
capa de falsa virtude.
3. Explique o sentido dos quatro últimos versos da estância 99.

194
Os Lusíadas

INFORMAR PROFESSOR

Leitura
Leia as informações a seguir apresentadas e responda às questões. 7.1; 7.2; 8.1
Educação Literária
14.3; 14.4; 15.1; 15.2; 16.1
Simbologia da Ilha dos Amores
A. A Ilha dos Amores tem início na estância 18 do o título de “heróis esclarecidos” e serão acolhidos na
Canto IX e prolonga-se até à estância 143 do Canto X, “Ilha de Vénus”.
ocupando, por conseguinte, cerca de vinte por cento da F. Concluída a narrativa profética da Ninfa e termi-
totalidade do poema; representa a apoteose e a conclu- nado o banquete, Tétis culmina a glorificação dos nau-
são da aventura marítima da epopeia. tas lusitanos ao anunciar a Vasco da Gama e aos seus
B. A narrativa erótica do episódio da “Ilha dos Amo- companheiros que a “Sapiência Suprema” (Deus) lhes
res” atinge o clímax na estância 87 do Canto IX, porque concedia o singular favor de poderem ver com “olhos
a estância 88 inicia já a transição para a simbologia de- corporais” os segredos da “grande máquina do Mundo”,
senvolvida nas estâncias 89 e seguintes. de modo a contemplarem o que “a vã ciência / dos er-
C. As ninfas, Tétis, a “Ilha angélica pintada” e os seus rados e míseros mortais” não podia ver.
deleites significam as honras, os prémios, os triunfos G. Tétis, Vasco da Gama e os nautas lusos subiram,
e a glória concedidos aos heróis que, pelas suas obras simbolicamente, um monte coberto de mato “árduo,
valorosas e pelos seus sacrifícios, mereceram subir ao difícil, duro a humano trato” — a ascensão neste terre-
Olimpo, “sobre as asas ínclitas da Fama”. no inóspito é uma alegoria do esforço e do trabalho ne-
D. As estâncias finais do Canto IX (92-95), que cons- cessários para alcançar o conhecimento — e no cume
tituem uma veemente apóstrofe exortativa endereçada do monte contemplaram um globo translúcido que re-
a destinatários nomeados pronominal e verbalmente, presentava um “transunto”, isto é, uma cópia ou ima-
apresentam os detentores do poder político, os conse- gem da “grande máquina do Mundo”, descrita segundo
lheiros do rei, os responsáveis pela administração pú- o sistema geocêntrico de Ptolomeu.
blica e os cavaleiros e homens de armas e explicitam H. Tétis, na sua longa exposição, descreve e mos-
os valores éticos e políticos configuradores da utopia: tra, além dos espaços celestes, as diversas regiões do
a reprovação da ociosidade, a condenação da cobiça e mundo, desde a África e a Índia até ao Japão e ao Brasil,
da tirania, a administração de leis justas e estáveis que onde decorrerão “os futuros feitos” lusitanos, engran-
protejam os súbditos mais frágeis e pobres, o destemor decendo o reino e difundindo a fé de Cristo.
bélico contra os inimigos da Igreja de Cristo, o serviço I. As derradeiras palavras de Tétis retomam o tema
leal prestado ao rei, quer com o aconselhamento bem originário e nuclear do episódio da “Ilha dos Amores”:
ponderado quer com as armas rutilantes. a união amorosa das ninfas e dos navegadores.
E. O reino ficará, assim, mais poderoso e mais rico, Elaborado a partir de Vítor Aguiar e Silva, "Ilha dos Amores",
o monarca ganhará glória, os seus servidores na go- in Vitor Aguiar e Silva (coord.), Dicionário de Luís de Camões,
Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 437 e 441-443.
vernação, na justiça e nas armas hão de fruir riquezas
merecidas e honras ilustres e, acima de tudo, receberão
PROFESSOR

1. B, C, G, H.
2. O poeta dirige-se a
destinatários concretos,
“os detentores do poder
político, os conselheiros do
rei, os responsáveis pela
1. Identifique os tópicos que remetem para o valor simbólico do episódio da “Ilha dos administração pública e
Amores”. os cavaleiros e homens
de armas”, com o intuito
de reprovar e condenar a
2. Refira, a partir do tópico D, os destinatários de Camões e os aspetos em que estes ociosidade, a cobiça e a tirania,
são condenados/criticados. reclamando a proteção dos
"súbditos mais frágeis e
pobres”.
3. Indique os tópicos que remetem para o elogio dos nautas portugueses.
3. C, E, F, G, H.

195
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Canto IX — Imaginário Épico

PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA


Educação Literária
14.2; 14.3; 14.5 Neste canto IX, e no conjunto de estâncias apresentadas, também é possível percecionar
a matéria épica.
1.1 Ao contrário do que
sucede, não são as naus que Leia-as atentamente e responda depois às questões.
se acercam da ilha, mas é ela
que se aproxima, trazida de
longe por Vénus e que a coloca
na direção dos marinheiros, 52
de forma a assegurar-se que
seria avistada por eles. De longe a Ilha viram, fresca e bela,
1
Que Vénus pelas ondas lha levava Vénus
1.2 A sensação visual está 2
presente nas formas verbais tornou
(Bem como o vento leva branca vela) 3
“viram”, “levava”, “enxergava”, quando
“movia”, “Pintou” e nos Pera onde a forte armada se enxergava; 4
logo que
adjetivos “bela”, “branca”, Que, por que não passassem, sem que nela 5
“Curva”, “quieta”, “ruivas”. mãe de Apolo
Tomassem porto, como desejava, 6
1.3 Dupla adjetivação (“Curva Apolo
e quieta”) e personificação Pera onde as naus navegam a movia 7
Diana
(“quieta”). A Acidália1, que tudo, enfim, podia. 8
enfeitou
9
Vénus (que teria nascido junto
53 da ilha de Citera)
Mas firme a fez2 e imóbil, como3 viu
Que era dos Nautas vista e demandada,
Qual ficou Delos, tanto que4 pariu
Latona5 Febo6 e a Deusa à caça usada7.
Pera lá logo a proa o mar abriu,
Onde a costa fazia ũa enseada
Curva e quieta, cuja branca areia
Pintou8 de ruivas conchas Citereia9.

[…]

196
Os Lusíadas

66 69
Mas os fortes mancebos10, que na praia Dá Veloso, espantado, um grande grito:
Punham os pés, de terra cobiçosos11 − «Senhores, caça estranha (disse) é esta!
(Que não há nenhum deles que não saia), Se inda dura o Gentio antigo rito,
De acharem caça agreste desejosos, A Deusas é sagrada16 esta floresta.
Não cuidam que, sem laço ou redes, caia Mais descobrimos do que humano esprito
Caça naqueles montes deleitosos, Desejou nunca, e bem se manifesta
Tão suave, doméstica e benina, Que são grandes as cousas e excelentes
Qual ferida lha tinha já Ericina12. Que o mundo encobre aos homens imprudentes17.

67 70
Alguns, que em espingardas e nas bestas13 «Sigamos estas Deusas e vejamos
Pera ferir os cervos, se fiavam, Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Pelos sombrios matos e florestas Isto dito, veloces mais que gamos,
Determinadamente se lançavam; Se lançam a correr pelas ribeiras.
Outros, nas sombras, que de as altas sestas Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Defendem a verdura, passeavam Mas, mais industriosas18 que ligeiras,
Ao longo da água, que, suave e queda, Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Por alvas pedras corre à praia leda. Se deixam ir dos galgos alcançando.

68
10
Começam de enxergar subitamente, jovens; 11 cheios de cobiça; 12 Vénus (por ter um templo no monte
Por entre verdes ramos, várias cores, Erix, na Sicília); 13 arma para lançar flechas; 14 variegada; de cores ou
Cores de quem a vista julga e sente matizes variadas; 15 mulheres; 16 consagrada; 17 ignorantes; 18 astutas.
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente14,
Que mais incita a força dos amores,
PROFESSOR
De que se vestem as humanas rosas15,
Fazendo-se por arte mais fermosas. 2.1 Os "mancebos", chegados
a terra, preparam-se para
caçar, daí alguns levarem
espingardas e bestas.
1. Releia as estâncias 52 e 53. 2.2 Uns preparam-se para
caçar (est. 67, vv. 1-4); outros,
1.1 Refira os aspetos que conferem a esta ilha um caráter de excecionalidade. mais saudosos das delícias
da terra, passeiam ao longo
1.2 Retire das estâncias expressões que remetem para o predomínio da sensação dos cursos de água (est. 67,
vv. 5-8).
visual na descrição da ilha.
2.3 Os jovens marinheiros
1.3 Identifique o(s) recurso(s) expressivo(s) presente(s) na expressão “enseada / Cur- acabam por avistar vultos
de mulheres – “as humanas
va e quieta” (est. 53, vv. 6-7). rosas” (est. 68, v. 7).
3.1 O locutor desse discurso
2. Atente nas estâncias 66, 67 e 68. é Veloso, um dos marinheiros
portugueses.
2.1 Explicite o motivo por que os “mancebos” recorrem às armas. 3.2 Inicia-se aqui a
consideração do caráter
2.2 Comprove que os marinheiros exploram a ilha de formas diferentes. excecional dos heróis
portugueses, uma vez que,
2.3 Diga que outra realidade vem captar a atenção dos jovens marinheiros. com a perseguição das Ninfas,
tem início um convívio que
só seria possível no plano
3. A utilização do discurso direto intromete-se na descrição. extraterreno, espaço até
onde os nautas ascenderam.
3.1 Identifique o locutor desse discurso. Deste modo, processa-se a sua
divinização.
3.2 Mostre que neste passo do episódio se prepara a divinização do herói.

197
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto IX — Imaginário Épico e Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Apresenta-se agora um novo conjunto de estâncias do canto IX, onde, para além da
matéria épica, são visíveis novas reflexões do poeta, incitando à ação todos os que
pretendem alcançar a imortalidade e revelando o modo de o conseguir.

Leia-as atentamente e resolva, depois, as atividades propostas.

88
Assi a fermosa e a forte companhia
O dia quási todo estão passando
Nũa alma,1 doce, incógnita alegria,
Os trabalhos tão longos compensando.
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.

89
Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
Tétis2 e a Ilha angélica pintada,
Outra cousa não é que as deleitosas
Honras que a vida fazem sublimada.
Aquelas preminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e maravilha,3
Estes são os deleites desta Ilha.

90
Que as imortalidades que fingia4
A antiguidade, que os Ilustres ama,
Lá no estelante5 Olimpo, a quem subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valerosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se chama
Caminho da virtude, alto e fragoso,6
Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso,

91
Não eram senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo cos varões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo7 e Marte,
Eneas e Quirino8 e os dous Tebanos,9
Ceres, Palas e Juno com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.

1
reconfortante, santa; 2 deusa do mar, esposa do Oceano; 3 admiração
4
inventava; 5 constelado; 6 pedregoso; 7 Apolo; 8 Rómulo; 9 Hércules e
Baco.

198
Os Lusíadas

92 94
Mas a Fama, trombeta de obras tais, Ou dai na paz as leis iguais,14 constantes,
Lhe deu no Mundo nomes tão estranhos Que aos grandes não dêem o dos pequenos,15
De Deuses, Semideuses, Imortais, Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Indígetes,10 Heróicos e de Magnos.11 Contra a lei dos imigos Sarracenos:
Por isso, ó vós que as famas estimais, Fareis os Reinos grandes e possantes,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos, E todos tereis mais e nenhum menos:
Despertai já do sono do ócio ignavo,12 Possuireis riquezas merecidas,
Que o ânimo, de livre, faz escravo. Com as honras que ilustram tanto as vidas.

93 95
E ponde na cobiça um freio duro, E fareis claro16 o Rei que tanto amais,
E na ambição também, que indignamente Agora cos conselhos bem cuidados,
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Agora co as espadas, que imortais
Vício da tirania infame e urgente,13 Vos farão, como os vossos já passados.17
Porque essas honras vãs, esse ouro puro, Impossibilidades não façais,
Verdadeiro valor não dão à gente: Que quem quis, sempre pôde; e numerados18
Milhor é merecê-los sem os ter, Sereis entre os Heróis esclarecidos
Que possuí-los sem os merecer. E nesta «Ilha de Vénus» recebidos.

10
homens ilustres, venerados como divindades, após a morte; 11 grandes − qualificativo romano de todos os deuses, exceto de Júpiter (maximus);
12
indolente; 13 que oprime; 14 equitativas; 15 aquilo que é dos humildes; 16 ilustre; 17 antepassados; 18 mencionados.

1. Ligue os elementos da coluna A aos da coluna B, de modo a obter uma síntese do


PROFESSOR
conteúdo das estâncias lidas.
Educação Literária
Coluna A Coluna B 14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
15.1; 15.2
[1] dependem da grandiosidade e das obras
[A] O encontro com as ninfas
dos seus súbditos. 1.
[2] são difíceis de obter, mas, quando atingidas, [A] – [4]
[B] Além deste prémio, o mundo
trazem felicidade e satisfação. [B] – [6]
[C] Coroas de louro e palma, [C] – [5]
[3] a serem justos e a sobressaírem na luta contra
honras e glória os infiéis. [D] – [2]
[E] – [8]
[D] A fama e a virtude [4] constitui uma recompensa pelos feitos
[F] – [7]
grandiosos dos portugueses.
[G] – [3]
[E] O poeta aconselha os que
[5] constituem os deleites dos portugueses na ilha. [H] – [1]
querem atingir a fama
[6] reserva outras recompensas aos nautas Gramática
[F] A tirania e a cobiça portugueses. 18.1
[G] O poeta aconselha ainda aos [7] devem ser controladas por aqueles que
que pretendem ser distinguidos pretendem ser reconhecidos como grandiosos. 1. Os verbos usados na
apresentação dos conselhos
[8] a despertarem da ociosidade e a perseguirem estão no modo imperativo,
[H] O valor e a glória do Rei
com perseverança o seu objetivo. que é utilizado com valor
exortativo.
2. “na cobiça” – complemento
oblíquo; “um freio duro” –
GRAMÁTICA complemento direto.

1. Identifique o modo verbal usado na apresentação dos conselhos e refira o seu valor.

2. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados


em “E ponde na cobiça um freio duro” (est. 93, v. 1).

199
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto X — Imaginário Épico

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A matéria épica não se esgotou no canto IX. Também no canto X, o último, esta pode
ser percecionada, destacando-se a excecionalidade dos navegadores portugueses
e, em particular, do seu supremo representante, Vasco da Gama.

75 79
Despois que a corporal necessidade Uniforme13, perfeito, em si sustido,
Se satisfez do mantimento nobre, Qual, enfim, o Arquetipo14 que o criou.
E na harmonia e doce suavidade Vendo o Gama este globo, comovido
Viram os altos feitos que descobre, De espanto e de desejo ali ficou.
Tétis1, de graça ornada e gravidade, Diz-lhe a Deusa: − «O transunto15, reduzido
Pera que com mais alta glória dobre Em pequeno volume, aqui te dou
As festas deste alegre e claro2 dia, Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas
Pera o felice Gama assi dizia: Por onde vás e irás e o que desejas.

76 80
− «Faz-te mercê, barão, a Sapiência «Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Suprema3 de, cos olhos corporais, Etérea e elemental16, que fabricada
Veres o que não pode a vã ciência Assi foi do Saber, alto e profundo,
Dos errados4 e míseros mortais.5 Que é sem princípio e meta limitada17.
Sigue-me firme e forte, com prudência, Quem cerca em derredor este rotundo
Por este monte espesso, tu cos mais.» Globo e sua superfícia tão limada,
Assi lhe diz e o guia por um mato É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,
Árduo, difícil, duro a humano trato. Que18 a tanto o engenho humano não se estende.

77 81
Não andam muito que6 no erguido cume «Este orbe que, primeiro, vai cercando
Se acharam, onde um campo se esmaltava Os outros mais pequenos que em si tem,
De esmeraldas, rubis, tais que presume Que está com luz tão clara radiando
A vista que divino chão pisava. Que a vista cega e a mente vil também,
Aqui um globo vêm7 no ar, que o lume8 Empíreo19 se nomeia, onde logrando20
Claríssimo por ele penetrava, Puras almas estão daquele Bem
De modo que o seu centro está evidente, Tamanho, que ele só se entende e alcança,
Como a sua superfícia, claramente. De quem não há no mundo semelhança.
78
Qual a matéria seja não se enxerga,
Mas enxerga-se bem que está composto
De vários orbes,9 que a Divina verga10
Compôs, e um centro a todos só tem posto. 1
deusa do mar, esposa do Oceano; 2 ilustre, digno de perene
Volvendo,11 ora se abaxe, agora se erga,12 lembrança; 3 Deus (um dos atributos divinos é a omnisciência);
4
Nunca s’ergue ou se abaxa, e um mesmo rosto que se enganam; 5 os homens; 6 quando; 7 veem; 8 luz (começa
a descrição do Cosmos, segundo o sistema de Ptolomeu); 9 esferas
Por toda a parte tem; e em toda a parte
ou céus que, na conceção ptolomaica, se encontravam a seguir
Começa e acaba, enfim, por divina arte, às esferas do Ar e do Fogo, concêntricas, com a Terra no centro;
10
o Poder de Deus; 11 girando; 12 ora se abaixa ora se ergue (em
relação ao plano do horizonte); 13 homogénea, por ser esférica a
superfície; 14 modelo = Deus; 15 cópia (“reduzido / Em pequeno
volume” = em miniatura); 16 formada pelos quatro elementos:
terra, água, ar e fogo; 17 perífrase para Deus (v. 3 e v. 4); 18 conjunção
subordinativa causal; 19 paraíso cristão; 20 usufruindo.

200
Os Lusíadas

1. Explique os dois primeiros versos da estância 75. PROFESSOR

2. Na estância seguinte, verifica-se o recurso ao discurso direto.


2.1 Identifique o locutor desse discurso. Áudio
“Canto X, 75-91”
2.2 Refira a intencionalidade do discurso utilizado por esse emissor.
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.7
3. Depois do pedido da deusa, ambos se dirigem para um monte.
3.1 Descreva o percurso efetuado antes da chegada ao cume. 1. Depois que a fome foi
saciada.
3.2 Indique o que é mostrado a Gama nesse local.
2.1 O locutor desse discurso
3.3 Associe as características do percurso ao que é mostrado a Gama, evidenciando é Tétis.
as intenções do poeta. 2.2 Tétis pretende que Gama
a siga para lhe mostrar aquilo
3.4 Justifique o facto de este episódio contribuir para a divinização dos marinheiros. que os olhos humanos não
podem ver.
3.1 Seguiram por um “monte
espesso” e a deusa guiou-o
por um mato difícil para o ser
humano, até chegarem ao
cimo de um monte.
3.2 Neste local é mostrado a
Gama um globo no ar, formado
EDUCAÇÃO LITERÁRIA por vários círculos, por onde
uma luz penetrava, o qual é
designado por “máquina do
A descrição do Universo prossegue e Vasco da Gama continua a assimilar as informa- Mundo”.
ções que Tétis lhe transmite. 3.3 Todo o percurso é
apresentado como uma
metáfora do caminho para
82 84 a Fama e para a Glória.
Assim, as dificuldades do
«Aqui, só verdadeiros, gloriosos «Quer logo7 aqui a pintura que varia8 caminho percorrido por Gama
Divos1 estão, porque eu, Saturno2 e Jano,3 Agora deleitando, ora ensinando, sugerem as dificuldades dos
trabalhos associados às novas
Júpiter, Juno,4 fomos fabulosos, Dar-lhe9 nomes que a antiga Poesia conquistas. A maravilha do
Fingidos de mortal e cego engano. A seus Deuses já dera, tabulando; que é dado a observar a Gama
associa-se à recompensa
Só pera fazer versos deleitosos Que os Anjos de celeste companhia destinada aos homens
Servimos; e, se mais o trato humano Deuses o sacro verso10 está chamando, no final do caminho da Fama
e da Glória.
Nos pode dar, é só que o nome nosso Nem nega que esse nome preminente
3.4 Este episódio contribui
Nestas estrelas pôs o engenho vosso. Também aos maus se dá, mas falsamente. para a divinização dos
marinheiros, na medida em
que é concedido a Gama o dom
83 85 da omnisciência e do saber que
«E também, porque a santa Providência, «Enfim que o Sumo Deus, que por segundas só aos deuses é permitido.

Que em Júpiter aqui se representa, Causas obra no Mundo, tudo manda.


Por espíritos mil que têm prudência E tornando a contar-te das profundas
Governa o Mundo todo que sustenta Obras da Mão Divina veneranda,
(Ensina-lo5 a profética ciência,6 Debaxo deste círculo onde as mundas11
Em muitos dos exemplos que apresenta); Almas divinas gozam, que12 não anda,
Os que são bons, guiando, favorecem, Outro corre, tão leve e tão ligeiro
Os maus, em quanto podem, nos empecem; Que não se enxerga: é o Móbile primeiro.

1
santos (da Santa Madre Igreja); 2 filho do Céu e da Terra; 3 filho de Apolo, representado com duas caras, simbolizando a
sua capacidade de adivinhar o passado e o futuro; 4 esposa de Júpiter; 5 ensina-no-lo; 6 sagrada escritura; 7 portanto;
8
pintura que varia: poesia; 9 aos outros; 10 texto da Sagrada Escritura; 11 puras, limpas; 12 tem por antecedente "círculo".

201
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto X — Imaginário Épico

86 87
«Com este rapto13 e grande movimento «Olha estoutro debaxo, que esmaltado
Vão todos os que dentro tem no seio; De corpos lisos anda e radiantes,
Por obra deste, o Sol, andando a tento,14 Que também nele tem curso ordenado
O dia e noite faz, com curso alheio.15 E nos seus axes17 correm cintilantes.
Debaxo deste leve,16 anda outro lento, Bem vês como se veste e faz ornado
Tão lento e sojugado a duro freio, Co largo Cinto d’ouro,18 que estelantes
Que enquanto Febo, de luz nunca escasso, Animais doze traz afigurados,19
Duzentos cursos faz, dá ele um passo. Apousentos de Febo20 limitados.

88
«Olha por outras partes a pintura
Que as Estrelas fulgentes vão fazendo:21
Olha a Carreta,22 atenta a Cinosura,23
Andrómeda e seu pai,24 e o Drago25 horrendo;
Vê de Cassiopeia a formosura
E do Orionte26 o gesto turbulento27;
Olha o Cisne morrendo28 que suspira,
A Lebre e os Cães, a Nau e a doce Lira.29

13
movimento giratório; 14 com regularidade; 15 com movimento
que não é, propriamente, devido ao sol, mas ao "Móbile primei-
PROFESSOR ro"; 16 levemente; 17 eixos; 18 Cinto d’ouro: o Zodíaco; 19 estelantes /
Animais doze traz afigurados: doze constelações; 20 Apousentos de
Educação Literária Febo: os doze signos (Febo = Apolo); 21 figuras que as estrelas pare-
14.2; 14.3; 14.4; 14.9
cem formar no céu (= constelações); 22 Ursa Maior; 23 Ursa Menor;
24
1. Esse espaço está reservado Cefeu; 25 Dragão; 26 Orião ou Orion; 27 que traz chuvas e tempes-
para os santos.
tades; 28 ao morrer; 29 nomes de constelações (os que estão escritos
2. A afirmação reduz
com maiúscula nos versos 7 e 8).
os deuses ao seu verdadeiro
papel. Estes são seres que
resultam da imaginação
humana, e que, na verdade,
não têm consistência.
Os deuses apenas servem 1. Identifique para quem está reservado o espaço a que Tétis se refere na estância 82.
para dar o nome às estrelas.
Esta afirmação contribui para
o relevo dado à divinização dos 2. Explicite a intenção da afirmação “fomos fabulosos, / Fingidos de mortal e cego
marinheiros, que, sendo seres engano” (est. 82, vv. 3-4).
de carne e osso, ultrapassam
os deuses, que não passam
de meras ficções. 3. Indique quem é favorecido e quem é desfavorecido pela santa Providência, de acor-
3. Os favorecidos são os bons do com o conteúdo da estância 83.
e os desfavorecidos são os
maus. 4. Identifique, justificando, o recurso expressivo presente nos versos “que esmaltado /
4. Anástrofe, dado que a De corpos lisos anda e radiantes” (est. 87, vv. 1-2).
ordem correta deveria ser:
“que anda esmaltado de
corpos lisos e radiantes”.

Gramática
18.1 GRAMÁTICA
1. Complemento indireto.
1.1 Este pronome refere-se 1. Indique a função sintática do pronome te, em “contar-te” (est. 85, v. 3).
a Vasco da Gama.
2. O complexo verbal sugere 1.1 Identifique a quem se refere o pronome.
continuidade, duração.
2. Explicite o valor do complexo verbal “vão fazendo” (est. 88, v. 2).

BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-273, 266-268

202
Os Lusíadas

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A descrição e disposição das divindades são feitas por Tétis, que explicita também
as razões dessa ordenação. Aí se percebe a dimensão épica associada aos feitos das
várias entidades convocadas.

89 91
«Debaxo deste grande Firmamento, «Neste centro, pousada dos humanos,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo; Que não sòmente, ousados, se contentam
Júpiter logo faz o movimento, De sofrerem da terra firme os danos,
E Marte abaxo, bélico inimigo; Mas inda o mar instábil exprimentam,
O claro Olho do céu, no quarto assento, Verás as várias partes, que os insanos
E Vénus, que os amores traz consigo; Mares dividem, onde se apousentam
Mercúrio, de eloquência soberana1; Várias nações que mandam vários Reis,
Com três rostos2, debaxo vai Diana3. Vários costumes seus e várias leis7.

90 1
do verso 1 ao verso 7 enumeram-se os sete céus a que o poeta já
«Em todos estes orbes, diferente se referira em outros cantos
Curso verás, nuns grave4 e noutros leve5; 2
Lua Cheia, Quarto Crescente e Quarto Minguante (a Lua Nova é
Ora fogem do Centro longamente6, praticamente invisível)
3
Lua
Ora da Terra estão caminho breve, 4
lento
PROFESSOR
5
Bem como quis o Padre omnipotente, rápido
6 Educação Literária
Que o fogo fez e o ar, o vento e neve, a grande distância
7 14.2; 14.4; 14.9
religiões
Os quais verás que jazem mais a dentro
E tem co Mar a Terra por seu centro. 1. Marte é considerado "bélico
inimigo" porque ele é o deus
da guerra.
2. Anáfora.
1. Apresente a razão para a designação de Marte como “bélico inimigo” (est. 89, v. 4).
3. Tétis refere-se a Deus, que
criou o Céu e a Terra.
2. Identifique o recurso expressivo presente nos versos 3 e 4 da estância 90.
Escrita
3. Indique a quem se refere Tétis com a expressão “o Padre omnipotente” (est. 90, v. 5). 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 13.1

Resposta de caráter pessoal,


no entanto os alunos podem
E S C R I TA desenvolver os seguintes
aspetos:
A nível dos perigos e dos
Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, sobre os Descobrimentos, conside- obstáculos – as doenças
dos marinheiros, a fome, os
rando os tópicos apresentados: fenómenos climatéricos/
atmosféricos, as ciladas;
a nível das vantagens
• Ao nível do conteúdo: identificação do tema; perigos e obstáculos encontrados; vanta- decorrentes da iniciativa – o
gens e desvantagens decorrentes da iniciativa. desenvolvimento das ciências
náuticas/geográficas, o
conhecimento do mundo
• Ao nível da estruturação do discurso e da correção linguística: seleção e diversifica- e dos seus habitantes, o
desenvolvimento económico
ção vocabular e de conectores; obediência às regras da não contradição e da progressão; do país; a nível das
marcação de períodos e de parágrafos; correção ao nível da ortografia, da pontuação e desvantagens causadas – a
desertificação da pátria (no
da acentuação. que concerne a homens), o
adultério, a sobrecarga sobre
as mulheres e o desamparo
dos filhos.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283


MANUAL – pp. 26-27

203
mais/menos … do que, qual (depois de “tal”), quanto (depois de “tanto”), tanto/tão … como, bem como, como s
A frase complexa: subordinação
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T
R
SUBORDINAÇÃO
PR A
ATIC
Processo de combinação de duas ou mais orações em que uma delas, a subordinada, está
sintaticamente dependente de outra, a subordinante.

Oração subordinante1 Oração subordinada


Constituinte que inclui um verbo principal ou copulativo, podendo conter ainda É a que desempenha uma função sintática
elementos com função de sujeito, de complemento e/ou de modificador. na frase complexa em que se encontra.

1 De acordo com o tipo de função sintática que desempenham, as orações subordinadas


Há elementos subordinantes que
não são oracionais, como acontece, classificam-se como substantivas, adjetivas ou adverbiais.
normalmente, com os anteceden-
tes das orações subordinadas adje-
tivas relativas.
Orações subordinadas adverbiais
Desempenham a função sintática de modificador e devem ser destacadas por vírgula(s)
quando antecedem a subordinante ou são intercaladas.

Têm grande mobilidade na frase, exceto no caso das comparativas e das consecutivas,
e expressam diferentes valores semânticos, que determinam a sua classificação. Assim,
uma oração subordinada pode ser:

Conjunções/locuções
Classificação Sentido Exemplificação
conjuncionais subordinativas
porque, que, como, dado, Indica a razão, a causa, o motivo ou • Como o perigo espreitava
Causal dado que, uma vez que, visto que, a justificação da situação expressa constantemente, os nautas
pois, já que na subordinante. estavam atentos.
Expressa uma comparação, contendo
mais/menos… do que, qual o segundo elemento da comparação
(depois de “tal”), quanto (depois estabelecida com o conteúdo
da subordinante. • Vasco da Gama falou como
Comparativa de “tanto”), tanto/tão… como,
um douto capitão falaria.
bem como, como, como se, As subordinadas comparativas podem
que nem corresponder a construções elípticas,
nas quais o grupo verbal é elidido.
embora, conquanto que, ainda Apresenta uma ideia ou um facto • Camões prosseguirá o seu
Concessiva que, mesmo que/se, posto que, que contrasta com o expresso na canto, mesmo que o Rei
se bem que, por mais/menos que subordinante. o ignore.
Apresenta a condição ou hipótese exigida • Caso as Ninfas o ajudem,
se, caso, desde que, contanto que,
Condicional para a realização da situação expressa na Camões produzirá um canto
salvo se, a menos que, a não ser que
subordinante. superior aos da Antiguidade.
• A aventura foi tão
tão/tanto… que, a ponto de, Expressa o efeito ou a consequência
Consecutiva grandiosa que deu origem
de tal modo… que do que é dito na subordinante.
a um poema épico.
para, para que, com a finalidade/ • Vénus conduziu os
Refere o propósito, a intenção
o objetivo de, de modo a/que, portugueses até à Ilha com o
Final ou a finalidade da ação expressa
de forma a que, a fim de (que), objetivo de os recompensar
na subordinante.
de maneira a (que) pelo seu esforço.
quando, enquanto, apenas, mal,
• Os marinheiros foram
logo que, depois de/que, antes de/ Cria uma referência temporal à luz da qual
surpreendidos por uma
Temporal que, até que, sempre que, todas as a ação expressa na subordinante deve ser
enorme tempestade,
vezes que, agora que, cada vez que, interpretada.
enquanto navegavam no mar.
assim que

204
se, que nem…

APLICAR PROFESSOR

Gramática
1. Expanda as frases seguintes, introduzindo-lhes uma oração subordinada adverbial 18.2; 18.4; 18.5
do tipo indicado entre parênteses.
1.
a. , os marinheiros ficaram eufóricos. (temporal) a. Quando chegaram à Índia,
b. embora tivesse vivido
b. Camões foi um grande poeta, . (concessiva) na pobreza.
c. O épico português só terminaria o seu canto, . (condicional) c. se o rei o escutasse.
d. para que os nativos não
d. Vasco da Gama fica no navio . (final) o façam, de novo, prisioneiro.
e. O susto do capitão português foi tão grande . (consecutiva) e. que passou a duvidar de
tudo.
f. Há quem veja em Os Lusíadas uma epopeia de imitação, . (causal) f. dado ter semelhanças com
as epopeias da Antiguidade.
g. Os quatro planos estruturais de Os Lusíadas estão organizados . (comparativa) g. como se fossem uma peça
de joalharia, com várias
incrustrações.
2. Identifique e classifique a oração subordinada adverbial presente em cada uma
2.
das frases.
a. "que ficaram maravilhados" −
a. Os marinheiros divertiram-se tanto na Ilha que ficaram maravilhados. subordinada adverbial
consecutiva.
b. Vasco da Gama ordenou o adiamento da partida, uma vez que as condições clima- b. "uma vez que as condições
térias não eram favoráveis à navegação. climatérias não eram
favoráveis à navegação" −
c. Os navegadores aportariam em Melinde desde que a agitação marítima o permi- subordinada adverbial causal.
tisse. c. "desde que a agitação
marítima o permitisse" −
d. Logo que chegaram à Ilha dos Amores, as Ninfas disfarçaram-se de caçadores. subordinada adverbial
condicional.
e. Ainda que o medo fosse grande, Vasco da Gama enfrentou o Adamastor. d. "Logo que chegaram à Ilha
dos Amores" − subordinada
adverbial temporal.
3. Leia atentamente as duas frases a seguir apresentadas. e. "Ainda que o medo fosse
grande" − subordinada
a. O rei de Melinde receberia os portugueses desde que eles fossem desarmados. adverbial concessiva.
b. A chegada do Catual era desejada desde que ele demonstrara vontade de visitar as naus. 3.1 [C]
4.
3.1 Selecione a alternativa que corresponde à situação de subordinação anterior. a. Camões seguiu o modelo
greco-latino embora tivesse
[A] As orações anteriores são subordinadas condicionais. procedido a algumas
adaptações.
[B] As duas orações são subordinadas adverbiais condicionais. b. Camões teria desistido da
epopeia se o rei se mostrasse
[C] A oração da alínea a. é subordinada adverbial condicional e a da b. é temporal. indiferente.
c. Vasco da Gama vacilou uma
vez que o rei de Melinde fizera
4. Transforme as frases simples em frases complexas, considerando o exemplo dado
um pedido estranho.
e recorrendo a orações subordinadas adverbiais. d. Quando anoiteceu, o rei de
Melinde abandonou a nau do
capitão.
· No Renascimento, revitaliza-se o género épico.
· Quando surge o Renascimento, revitaliza-se o género épico.

a. Camões seguiu o modelo greco-latino com algumas adaptações.


b. Camões teria desistido da epopeia perante a indiferença do rei.
c. Vasco da Gama vacilou com o pedido estranho do rei de Melinde.
d. Ao cair da noite, o rei de Melinde abandonou a nau do capitão.

205
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a

LEITURA

A viagem foi e é potenciadora de descobertas e de conhecimento. E se o mar foi des-


vendado na época clássica, na era moderna a preocupação centra-se também na des-
coberta do espaço.

Leia o artigo de divulgação científica que a seguir se apresenta e responda, depois,


às questões.

Explorando Vénus
Desde 2006 que a sonda Venus Express nos envia com o vento solar e a superfície do planeta. A ESA con-
dados fascinantes sobre o planeta conhecido como trola a sonda a partir do centro de operações da missão
“estrela da manhã” ou “da tarde”. em Darmstadt, na Alemanha. Durante a órbita, uma an-
15 tena numa estação da ESA perto de Madrid, Espanha, é
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla inglesa) utilizada para as comunicações. A sonda recolhe dados
atuou depressa para adequar a sonda Mars Express a uma quando se encontra sobre o polo norte de Vénus, arma-
viagem ao segundo planeta a contar do Sol, demorando zena-os e depois transmite-os quando atinge o ponto da
apenas três anos da conceção ao lançamento. Enviada sua órbita mais próximo da Terra.
5 do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, a Venus 20 Até agora já encontrou indícios de atividade geoló-
Express orbita Vénus há quase oito anos. Uma órbita leva gica recente em Vénus – que ainda poderá estar a de-
cerca de 24 horas a completar e o ponto máximo de correr. Também detetou raios na atmosfera e possibilitou
aproximação ao planeta é a respetiva região polar norte. a criação de mapas meteorológicos que nos permitem
A sonda efetuou o estudo mais detalhado até à data ter hoje um conhecimento muito melhor sobre o clima
10 sobre a “estrela da manhã”. O foco é a atmosfera venu- 25 venusiano.
siana, sobretudo a sua química, dinâmica e as interações Quero Saber, n.o 45, junho de 2014, p. 56.

1. Indique o tema do artigo e o momento em que é apresentado no texto.


PROFESSOR
2. Relacione o meio de publicação com as referências concretas e científicas do texto.
Leitura
7.1; 7.3; 7.4; 7.5; 7.6;
8.1; 8.2 3. Justifique o recurso a construções sintáticas simples e objetivas, tendo em conta
os destinatários da publicação onde surge este artigo.
1. O tema é a exploração
do planeta Vénus, e surge 4. Exemplifique o recurso a algum vocabulário específico e técnico.
apresentado no título e
no parágrafo destacado 5. Comprove que existe uma hierarquização das ideias e uma progressão textual.
(parágrafo inicial).
2. A revista Quero Saber, 6. Refira uma possível vantagem da investigação espacial para a humanidade.
como o próprio título indica,
aborda questões de várias
áreas do saber e dá conta de 7. Selecione, entre os pares de palavras, as que lhe permitem completar corretamen-
um conjunto de novidades/ te a definição do género textual explorado.
descobertas, como é o caso
da exploração deste planeta. Um artigo de divulgação científica é um género textual que assume um caráter
3. Tratando-se de uma
publicação destinada ao b. (argumentativo/expositivo), com informação c. (ge-
público em geral, tem, nérica/seletiva), onde impera a d. (desordenação/hierarquização) das
obviamente, de permitir a
todos os leitores aceder e ideias, e. (o rigor/a suposição) e a f. (subjetividade/objetivida-
compreender o conteúdo do de). O vocabulário deve ser g. (polissémico/monossémico) e a sintaxe
artigo.
h. (simples/complexa).

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

206
Os Lusíadas
Canto X – Reflexões do Poeta

EDUCAÇÃO LITERÁRIA PROFESSOR

4. Termos como “sonda”,


“cosmódromo”, “órbita”,
Na última intervenção, que fecha a epopeia, assiste-se à lamentação do poeta por “venusiana”, “atividade
cantar a gente surda e endurecida e por a Pátria se encontrar envolta numa apa- geológica” ou “mapas
gada e vil tristeza. meteorológicos” fazem parte
de áreas específicas do saber,
Por isso, o poeta refere os sacrifícios a que os portugueses serão capazes de se sujei- pelo que não são usados com
tar pelo rei, exortando D. Sebastião à realização de novos feitos, e comprometendo-se frequência nosso quotidiano.
a enaltecê-lo no seu canto. 5. A hierarquização é visível
na forma como se parte do
geral para o particular: o autor
começa por apresentar
o tema; de seguida, fala do
envio da sonda e descreve
a sua utilidade, exemplificando
com a sua atividade no
planeta; termina com a
referência de alguns dados
fornecidos pela sonda.
6. Por exemplo, quanto mais
o Homem conhecer mais
poderá expandir-se e
aumentar a sua possibilidade
de sobrevivência.
7.
a. expositivo
b. seletiva
c. hierarquização
d. o rigor
e. objetividade
f. monossémico
g. simples

145 146
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho E não sei por que influxo de Destino
Destemperada1 e a voz enrouquecida, Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
E não do canto, mas de ver que venho Que os ânimos levanta de contino
Cantar a gente surda e endurecida. A ter pera trabalhos ledo o rosto.
O favor2 com que mais se acende o engenho Por isso vós, ó Rei, que por divino
Não no dá a pátria, não, que está metida Conselho4 estais no régio sólio5 posto,
No gosto da cobiça e na rudeza Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Dũa austera3, apagada e vil tristeza Senhor só6 de vassalos excelentes.

1
desafinada; 2 aplauso; 3 sombria; 4 divino / Conselho: providência de Deus; 5 trono (de Portugal); 6 único.

207
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto X – Reflexões do Poeta

147 151
Olhai que7 ledos vão, por várias vias, Os Cavaleiros tende em muita estima,
Quais rompentes liões e bravos touros, Pois com seu sangue intrépido e fervente
Dando os corpos a fomes e vigias8, Estendem não sòmente a Lei de cima,20
A ferro, a fogo, a setas e pelouros, Mas inda vosso Império preminente.
A quentes regiões, a plagas9 frias, Pois aqueles que a tão remoto clima
A golpes de Idolátras10 e de Mouros, Vos vão servir, com passo diligente21,
A perigos incógnitos do mundo, Dous inimigos vencem: uns, os vivos,22
A naufrágios, a pexes, ao profundo11. E (o que é mais) os trabalhos excessivos.

148 152
Por vos servir, a tudo aparelhados12; Fazei, Senhor, que nunca os admirados
De vós tão longe, sempre obedientes; Alemães, Galos,23 Ítalos e Ingleses,
A quaisquer vossos ásperos mandados, Possam dizer que são pera mandados,24
Sem dar reposta, prontos e contentes. Mais que pera mandar, os Portugueses.
Só com saber que são de vós olhados, Tomai conselho só d’exprimentados,
Demónios infernais, negros e ardentes, Que viram largos anos, largos meses,
Cometerão13 convosco, e não duvido Que, posto que em cientes muito cabe,
Que vencedor vos façam, não vencido. Mais em particular o experto sabe.

149 153
Favorecei-os logo, e alegrai-os De Formião,25 filósofo elegante,
Com a presença e leda humanidade14; Vereis como Anibal escarnecia,
De rigorosas leis desalivai-os15, Quando das artes bélicas, diante
Que assi se abre o caminho à santidade16. Dele, com larga voz tratava e lia.26
Os mais exprimentados levantai-os, A disciplina militar prestante
Se, com a experiência, têm bondade17 Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Pera vosso conselho, pois que sabem Sonhando, imaginando ou estudando,
O como, o quando, e onde as cousas cabem. Senão vendo, tratando e pelejando.

150 154
Todos favorecei em seus ofícios, Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
Segundo têm das vidas o talento; De vós não conhecido nem sonhado?
Tenham Religiosos exercícios18 Da boca dos pequenos sei, contudo,
De rogarem, por vosso regimento19, Que o louvor sai às vezes acabado.27
Com jejuns, disciplina, pelos vícios Nem me falta na vida honesto estudo,
Comuns; toda ambição terão por vento, Com longa experiência misturado,
Que o bom Religioso verdadeiro Nem engenho28, que aqui vereis presente,
Glória vã não pretende nem dinheiro. Cousas que juntas se acham raramente.

7
quão; 8 vigílias; 9 território; 10 que adora ídolos; 11 abismo da morte; 12 preparados; 13 acometerão; 14 benevolência; 15 aliviai-os; 16 veneração (dos
súbditos); 17 capacidade, competência; 18 Religiosos exercícios: práticas de devoção; 19 reinado; 20 religião cristã (de cima = do Céu); 21 zeloso, cui-
dadoso; 22 os homens; 23 Franceses; 24 para (serem) mandados 25 filósofo grego que, em Éfeso, dissertou perante Aníbal acerca da arte de com-
bater; o general cartaginês, naturalmente, só pôde notar desacertos naquele saber teórico; 26 expunha pomposamente; 27 perfeito; 28 talento.

208
Os Lusíadas

155 29
afeito, habituado; 30 falta;
Pera servir-vos, braço às armas feito29, 31
merecimento; 32 sábia;
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; 33
profetiza; 34 uma das três Górgonas
Só me falece30 ser a vós aceito, − que tornava de pedra aqueles
De quem virtude31 deve ser prezada. que a contemplassem; 35 Atlas, em
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito Marrocos; 36 cabo Espartel, a oeste de
Dina empresa tomar de ser cantada, Tânger; 37 Tarudante, capital de uma
Como a pres[s]aga32 mente vaticina33 província marroquina; 38 asseguro;
39
em vós se veja / Sem à dita de
Olhando a vossa inclinação divina,
Aquiles ter enveja: em vós possa rever-
se sem invejar a glória de Aquiles (que,
156 cantado na Ilíada, era invejado, por
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,34 este motivo, por Alexandre).
A vista vossa tema o monte Atlante35,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa36
Os muros de Marrocos e Trudante37, PROFESSOR
A minha já estimada e leda Musa
Fico38 que em todo o mundo de vós cante, Educação Literária
14.2; 14.3; 14.6; 14.7;
De sorte que Alexandro em vós se veja, A El-Rei D. Sebastião, 1973,
14.9
João Cutileiro (1937- ), Lagos.
Sem à dita de Aquiles ter enveja.39 1. Plano mitológico e plano
do poeta, como se vê pela
referência às musas, pela
utilização da primeira
1. O regresso à Pátria origina nova reflexão do poeta. pessoa gramatical e pelas
Distinga, na estância 145, dois dos quatro planos de Os Lusíadas, justificando. lamentações do poeta.
2. A exortação deve-se
2. Justifique a exortação ao “Rei” que se verifica na estância 146. ao facto de o poeta pensar
que o rei, apesar de dever
2.1 Evidencie três marcas linguísticas associadas ao apelo do poeta. alegrar-se por ter tão bons
vassalos, ainda não agiu em
conformidade.
3. Nesta última reflexão, surgem sentimentos contraditórios, relacionados ora com
2.1 Uso do vocativo,
o desalento ora com o orgulho e a esperança. do pronome pessoal “vós”,
Proceda ao levantamento dos factos que suscitam esta duplicidade de sentimentos. da segunda pessoa e da forma
verbal na mesma pessoa e no
imperativo (“Olhai”).
4. Complete o quadro que se segue, baseando-se nas estâncias apresentadas e/ou
3. O desalento resulta
nos versos selecionados. da indiferença dos
portugueses face ao seu
canto, afirmando o poeta
Recurso expressivo Exemplos textuais que a Pátria está envolta
numa “austera, apagada e vil
“Não no dá a pátria, não, que está metida / No gosto da cobiça tristeza” (est. 145, v. 8);
Metonímia
e na rudeza” (est. 145, vv. 6-7) o orgulho e a esperança
devem-se à consciência do
a. “ó Rei” (est. 146, v. 5) seu talento e ao facto de os
portugueses continuarem
Comparação b.
a lutar pelo rei, que o poeta
“A ferro, a fogo, a setas e pelouros, / […] a pexes, ao profundo.” espera venha a reconhecer
c. todos os que o merecem
(est. 147, vv. 4-8)
e o engrandecem.
“Só com saber que são de vós olhados, / Demónios infernais, 4. a. Apóstrofe; b. “Quais
d.
negros e ardentes, / Cometerão convosco […]” (est. 148, vv. 5-7) rompentes liões e bravos
touros” (est. 147, v. 2);
Metáfora e. c. Enumeração ou aliteração;
d. Hipérbole; e. “Pois com seu
“Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, / De vós não conhecido sangue intrépido e fervente”
f.
nem sonhado?” (est. 154, vv. 1-2) (est. 151, v. 2); f. Interrogação
retórica, tripla adjetivação;
Personificação “Se me isto o Céu concede” (est. 155, v. 5) g. “A vista vossa tema o monte
Atlante” (est. 156, v. 2).
Anástrofe g.
5. Valor final ou de finalidade.

5. Atendendo ao conteúdo da estância 156 e consultando a nota 39, indique o valor


lógico do conector “De sorte que” (v. 7).

209
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a

PROFESSOR GRAMÁTICA
Gramática 1. Indique o nome do processo fonológico verificado nas palavras selecionadas,
17.3; 18.1; 18.3; 18.4
1.
considerando a grafia atual.
a. epêntese
b. epêntese Palavras exemplificativas
c. prótese Processo fonológico
2.
Grafia anterior Grafia atual
a. Coordenada copulativa pexes (est. 147, v. 8) peixes a.
b. Subordinada adverbial
condicional reposta (est. 148, v. 4) resposta b.
c. Subordinada adverbial
comparativa inda (est. 151, v. 4) ainda c.
d. Coordenada disjuntiva
2.1
2. Classifique as orações seguintes.
a. “os” − complemento direto
b. “me” − complemento a. “e alegrai-os / Com a presença e leda humanidade” (est. 149, vv. 1-2)
indireto
2.2 “a pres[s]aga mente”. b. “Se me isto o Céu concede” (est. 155, v. 5)
2.3 Modificador do nome c. “Como a pres[s]aga mente vaticina” (est. 155, v. 7)
restritivo.
3. Campo lexical. d. “Ou rompendo nos campos de Ampelusa / Os muros de Marrocos e Trudante”
(est. 156, vv. 3-4)

Escrita 2.1 Indique as funções sintáticas de “os” (alínea a.) e de “me” (alínea b.)
10.2; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
13.1 2.2 Identifique o sujeito da frase da alínea c.
O aluno poderá desenvolver os
seguintes tópicos: 2.3 Refira a função sintática do segmento “de Marrocos e Trudante” (alínea d.)
– O poeta Luís Vaz de Camões
viveu no século XVI, tendo 3. Identifique a relação semântica existente entre os vocábulos “Cavaleiros” (est. 151, v. 1),
nascido por volta de 1525 “inimigos” (est. 151, v. 7), “militar” (est. 153, v. 5) e “armas” (est. 155, v. 1).
e morrido em 1579 ou 1580.
– Este período foi influenciado
pelo Humanismo e pelo
Renascimento, o que se vai
refletir na vida e na obra do
E S C R I TA
poeta.
– Influenciado pelos valores
renascentistas, o poeta acaba Apresente, num texto expositivo de 120 a 150 palavras, as qualidades literárias
por congregar em si as duas e bélicas do poeta, baseando-se nas estâncias 154 e 155 e nos conhecimentos adquiridos.
grandes características
do Homem renascentista,
sintetizadas num verso da Apresente as ideias de forma fundamentada e objetiva, encadeando-as lógica e sequen-
sua obra – “nũa mão sempre
a espada e noutra a pena” –, o cialmente, e atentando na correção linguística e ortográfica.
que se pode comprovar pelo
conteúdo das estâncias 154
(vv. 5-8) e 155 (vv. 1-4). Planifique o seu texto, obedecendo à seguinte estrutura.
• Introdução – Identificação do autor; breve referência à época em que viveu.
• Desenvolvimento – (…).
• Conclusão – Confirmação das ideias transmitidas nas estâncias referidas e nos aspe-
tos avançados no desenvolvimento.

BLOCO INFORMATIVO –
pp. 278-279, 277, 282, 283
MANUAL – pp. 26-27

210
Os Lusíadas

COMPREENSÃO DO ORAL

Até aqui viajou pelo mundo através das palavras do poeta Luís de Camões.
Agora, irá contactar com outra forma de conhecer a época dos Descobrimentos.

Acompanhe atentamente uma reportagem, com cerca de cinco minutos, sobre


o World of Discoveries, uma iniciativa que convida a embarcar numa viagem até
aos Descobrimentos, e resolva depois as atividades.

1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, atendendo ao


que viu e ouviu. De seguida, corrija as falsas. World of Discoveries,
Vozlocal.
a. O museu e parque temático World of Discoveries recria os Descobrimentos
portugueses.
b. O empreendimento é da responsabilidade do Ministério da Cultura.
c. O primeiro interveniente na reportagem afirma nunca ter saído de Portugal.
d. Segundo a diretora deste espaço, o museu sediou-se no Porto porque
aquele local estava abandonado.
e. O espaço onde está implementado o World of Discoveries já foi um dos mais
importantes estaleiros dos séculos XV e XVI.
PROFESSOR
f. Três das naus da armada de Vasco da Gama foram construídas nos estalei-
ros da Alfândega. Oralidade
1.3; 1.5; 2.1; 6.1
g. Os primeiros visitantes foram recebidos num ambiente alusivo à época qui-
nhentista.
h. Neste espaço existem vinte áreas temáticas, preenchidas por tecnologias Vídeo
multimédia, hologramas e muito mais. "World of Discoveries"

i. O espaço tem uma dupla vertente – interativa e tecnológica – e a criação de 1.


um cenário à escala real. a. V
b. F – O empreendimento
j. As pessoas são convidadas a viajar no tempo e a viver uma experiência é da responsabilidade do
empresário Mário Ferreira.
inesquecível. c. V
d. F – O museu sediou-se no
k. Os visitantes podem ver, num ecrã gigante, a verdadeira viagem realizada Porto porque foi aí que nasceu
pelos navegadores portugueses. o Infante D. Henrique.
e. V
l. O Norte de África e o Cabo das Tormentas são dois dos pontos pelos quais f. F – Três das naus da armada
os visitantes podem passar. de Vasco da Gama foram
construídas nos estaleiros
m. Territórios como a China, Japão, Macau, Timor e Brasil podem ser visitados de Miragaia.
g. V
virtualmente. h. V
i. V
n. Na opinião dos entrevistados, a visita é fatigante e, por isso, só deverá ser j. V
feita por jovens. k. F – Os visitantes podem
experimentar a verdadeira
o. O espaço é único, lúdico e dinâmico. viagem realizada pelos
navegadores portugueses.
p. O preço mais alto do bilhete de ingresso neste espaço é de 11 euros. l. V
m. V
q. O custo do investimento rondou os 11 milhões de euros e o valor estimado n. F – Na opinião dos
de visitantes é de 300 mil, no primeiro ano. entrevistados, a visita é
deslumbrante e, por isso,
obrigatória.
o. V
p. F – O preço mais alto é de
14 euros.
q. F – O custo do investimento
rondou os 8 milhões de euros.

211
mais/menos … do que, qual (depois de “tal”), quanto (depois de “tanto”), tanto/tão … como, bem como, como s
Orações subordinadas substantivas e adjetivas
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T
Orações subordinadas substantivas
R
APL ICA
Podem ser:

• Completivas − frequentemente introduzidas por uma conjunção completiva, podem de-


sempenhar as funções sintáticas de sujeito, de complemento de um verbo, de complemen-
to de um nome ou de complemento de um adjetivo.

• Relativas − introduzidas por uma forma relativa que não tem antecedente, podem de-
sempenhar as funções sintáticas de sujeito, de complemento direto, de complemento indi-
reto, de complemento oblíquo, de predicativo do sujeito ou de modificador do grupo verbal.

Designação da oração Elementos


Sentido/Exemplificação
subordinada substantiva de ligação
Completa o sentido de
a. outra oração
• Creio que Camões superou os épicos da Antiguidade.
Completiva • conjunções • Perguntou-lhe se reconhecia o valor dos seus súbditos.
Funciona como sujeito, subordinativas
• Ele pediu para D. Sebastião aceitar o seu poema.
complemento do verbo, completivas:
b. um nome
do nome ou de um adjetivo que, se, para
• Camões tinha a certeza de que não era compreendido.
c. um adjetivo
• Camões estava convicto de que os seus conselhos eram importantes.
Relativa • pronomes Introduzida por um relativo que não retoma um antecedente
Funciona como sujeito, relativos:
complemento direto, indireto, quem, (o) que • Quem cantou os feitos dos portugueses merece todo o respeito.
oblíquo, predicativo do sujeito • O Catual não era quem parecia ser.
ou modificador (do grupo • advérbio relativo:
onde • Os marinheiros foram onde havia mantimentos.
verbal)

Orações subordinadas adjetivas


São introduzidas por um pronome, determinante, quantificador ou advérbio relativo que re-
toma um antecedente. Desempenham, frequentemente, a função sintática de modificador
do nome, restritivo ou apositivo.

Designação da oração
Elementos de ligação Sentido/Exemplificação
subordinada adjetiva
• pronomes relativos: Introduzida por um relativo que retoma um referente
que, quem (invariáveis), antecedente. Fornece informação adicional sobre o constituinte
o qual (variável em que modifica.
Relativa explicativa género e número) • Luís de Camões, que escreveu poesia lírica, dedicou-se também
• determinante relativo: à escrita de uma epopeia.
cujo (variável em género Nota: estas frases vêm sempre entre vírgulas
e número)
• quantificador relativo: Introduzida por um relativo que retoma um antecedente.
Relativa restritiva quanto (variável em Restringe a referência do constituinte que modifica.
género e número)
• Li todos as estrofes que apresentam as reflexões do poeta.
• advérbio relativo: onde

212
se, que nem…

APLICAR PROFESSOR

Gramática
Atente nas frases seguintes. 18.1; 18.2; 18.4; 18.5

a. É provável que Camões tenha sofrido vários infortúnios.


1.1 [A]
b. O poeta cumpriu todos os requisitos que a epopeia exige. 1.2 [D]
c. O território onde Gama foi acolhido situava-se na costa oriental africana. 1.3 [B]
1.4 [C]
d. Quem se dedicava ao exercício das armas e das letras era considerado um verdadei- 2.
ro homem renascentista. a. “que Luís de Camões nasceu
em Constância” − oração
1. Registe a única opção que permite obter uma afirmação verdadeira. subordinada substantiva
completiva
1.1 A frase a. integra uma oração subordinada b. "Quem sempre sofreu
várias desditas” − oração
[A] substantiva completiva. subordinada substantiva
relativa
[B] adjetiva relativa restritiva.
c. “que tinham ao seu alcance” −
[C] adjetiva relativa explicativa. oração subordinada adjetiva
relativa restritiva
[D] adverbial causal. d. “a quem as seguiu” − oração
subordinada substantiva
1.2 O conector sublinhado em “que a epopeia exige” (alínea b.) introduz uma oração relativa
subordinada e. “que sobrevoavam
as naus” − oração subordinada
[A] adverbial consecutiva. adjetiva relativa explicativa
[B] substantiva completiva. f. “que os portugueses
desprezavam as artes” −
[C] substantiva relativa. oração subordinada
substantiva completiva
[D] adjetiva relativa restritiva. 3.
a. Complemento direto
1.3 Na frase c. o advérbio relativo “onde” retoma o antecendente, e a oração subordi-
b. Sujeito
nada por ele iniciada designa-se de
c. Modificador do nome
[A] substantiva relativa. restritivo
d. Complemento indireto
[B] adjetiva relativa restritiva. e. Modificador do nome
apositivo
[C] substantiva completiva.
f. Complemento do adjetivo
[D] adverbial causal. consciente

1.4 A frase d. integra uma oração subordinante e uma oração subordinada


[A] substantiva completiva. [C] substantiva relativa.
[B] adjetiva relativa restritiva. [D] adverbial consecutiva.

2. Identifique e classifique as orações subordinadas das frases seguintes.


a. Pensa-se que Luís de Camões nasceu em Constância.
b. Quem sempre sofreu várias desditas não é feliz.
c. Os marinheiros usaram as armas que tinham ao seu alcance.
d. As musas ofereceram uma coroa de louros a quem as seguiu.
e. Os portugueses ficaram espantados com a flora da Ilha e com as aves, que sobre-
voavam as naus.
f. Camões estava consciente de que os portugueses desprezavam as artes.

3. Identifique a função sintática desempenhada por cada uma das orações subordi-
nadas identificadas em 2.

213
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a

PROFESSOR LEITURA
Leitura Os navegadores portugueses conquistaram o mar. Todavia, as profundezas deste elemen-
7.6; 8.1
to estão ainda por descobrir.
1. A comparação diz respeito
ao nível de conhecimentos que
se possui sobre a superfície da
Lua e as profundezas do mar,
concluindo-se que se sabe
mais sobre a superfície do
satélite natural da Terra (Lua).
Exploradores oceânicos
2. O desejo terá surgido após ESTAS INCRÍVEIS PROEZAS DA ENGENHARIA APROXIMAM-NOS DAS PROFUNDEZAS DOS MARES.
ter sido imaginado o
primeiro submarino, por
um estalajadeiro inglês. O que jaz no fundo do mar? Esta é uma questão que nos fascina há décadas. Sabemos
3. O estudo das profundezas mais sobre a superfície da Lua do que sobre os oceanos profundos do nosso planeta, pois as
do mar pode ajudar cientistas limitações de uma deslocação ao fundo do mar são tantas como as de ir ao espaço. Mas
e exploradores “a conhecer
melhor a superfície do nosso quando a natureza nos coloca problemas, nós ripostamos com soluções tecnológicas.
planeta” (l. 12), nomeadamente 5 O primeiro submarino terá sido imaginado em 1580 por um estalajadeiro inglês, ao refle-
ao nível do estudo das placas
tectónicas, contribuindo para tir sobre as propriedades da flutuabilidade e da deslocação da água. A partir daí, o princípio
prevenir “terramotos de levar seres humanos desde o nível do mar até às regiões mais profundas conhecidas dos
e tsunamis” (l. 14).
4. O texto apresenta
oceanos numa cabina pressurizada evoluiu para uma indústria colossal, essencial para cien-
uma linguagem objetiva, tistas, militares e exploradores.
denotativa, um caráter
demonstrativo e conciso.
10 Mas quais as vantagens de mergulhar tão fundo e o que há para ver? Estudar o fundo do
mar e as suas características geológicas e topográficas em determinadas regiões pode
Gramática ajudar a conhecer melhor a superfície do nosso planeta. Os cientistas que estudam as placas
18.4
tectónicas podem aprender muito com as fossas oceânicas, adquirindo conhecimentos que
Trata-se de uma oração podem conduzir a avanços nos sistemas de alerta para terramotos e tsunamis.
subordinada adjetiva relativa 15 Da mesma forma, o estudo da matéria em decomposição recolhida no fundo oceânico
restritiva.
pode ajudar-nos a saber mais sobre a forma como o carbono circula sobre os ecossistemas
“O conteúdo de cada conto” e é armazenado nos oceanos, o que pode influenciar o nosso conhecimento das alterações
(pp. 215-217) climáticas.
1.
Regra geral, um submersível é um pequeno veículo subaquático tripulado mas não total-
a. Reflexão a propósito
do desprezo a que os
20 mente autónomo como um submarino. Um dos mais famosos e há mais tempo em serviço
portugueses votam as artes é o Alvin, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (IOWH), no Massachusetts (EUA) − o
e da incapacidade destes em
aliar as armas às letras. primeiro do seu género capaz de transportar passageiros.
b. Na estância 2, surge nova Para explorar as profundezas oceânicas também existem os ROV (de Remotely Operated
intervenção do poeta a elogiar Vehicle), ou veículos operados remotamente; equipados com câmaras e ferramentas para
o espírito de cruzada dos
portugueses. Na estância 78, o 25 captar imagens e recolher amostras, podem ser controlados a partir de um navio à superfície.
poeta invoca as Ninfas do Tejo
Quero Saber, n.o 52, janeiro de 2015, p. 54.
e do Mondego e lamenta
a situação em que se
encontra, tendo já sido vítima
de vários infortúnios.
1. No primeiro parágrafo do texto estabelece-se uma comparação.
Critica os opressores e
aqueles que não prezam quem Clarifique-a.
os canta, afugentando assim
outros escritores. Por isso, 2. Indique o momento a partir do qual se criaram os princípios que poderiam levar os
pede o favor das Ninfas para
que, no seu canto, enalteça seres humanos às profundezas do mar.
apenas os que o mereçam.
c. As reflexões centram-se no 3. Mencione os aspetos positivos decorrentes do estudo do mar.
incitamento à ação daqueles
que pretendem alcançar a
imortalidade, devendo, para
4. Identifique três características do texto expositivo aqui presentes.
isso, recusar a tirania e lutar
contra os sarracenos, pois só
deste modo se alcançarão as GRAMÁTICA
verdadeiras honras e o direito
a serem recebidos na ilha de
Vénus.
Classifique a oração “que estudam as placas tectónicas” (ll. 12-13).

214
Os Lusíadas
O conteúdo de cada canto

INFORMAR

O conteúdo de cada canto


Leia, atentamente, a síntese e a cronologia dos acontecimentos em Os Lusíadas.

CANTOS SÍNTESE REFLEXÕES DO POETA


1498

No Canto I surge a Proposição, a Invocação e a Dedicatória. A partir da estância 19,


dá-se início à narração, no momento em que a armada portuguesa se encontra no
oceano Índico. A narração é logo interrompida na estância 20, dando-se início ao Reflexão acerca
Consílio dos deuses do Olimpo. Assim, percebe-se que, a par do plano da viagem, dos perigos a que
CANTO I surge o plano dos deuses. os frágeis humanos
(106 estâncias) Após a decisão favorável ao prosseguimento da viagem, os lusos continuam e estão sujeitos, não
navegam até à Ilha de Moçambique, onde contavam ser bem recebidos. Mas, por conseguindo encontrar
intervenção de Baco, acabam por cair numa cilada da qual saem com a ajuda de segurança.
Vénus. Deste modo, chegam a Mombaça.
O canto termina com a primeira reflexão do poeta.

Prossegue a narração com o relato da entrada de dois portugueses em Mombaça,


a convite do rei, os quais, ao regressarem, trazem recado de amigos, porque foram
enganados por Baco. Porém, Vénus e as Nereides intervêm e afastam as naus do
perigoso porto.
Após a descoberta da armadilha, o falso piloto mouro põe-se em fuga e Vasco
CANTO II da Gama agradece a proteção da divina guarda.
(113 estâncias)
Vénus pede auxílio ao pai Júpiter, que envia Mercúrio, seu mensageiro, para indicar
a Vasco da Gama, em sonhos, o caminho a seguir para encontrar terra amiga.
Os nautas portugueses partem, então, de Mombaça e dirigem-se para Melinde,
onde são bem recebidos, e Vasco da Gama é convidado pelo rei a contar a história
da sua gente.

SÉCULO II a. C. a SÉCULO XIV

O poeta pede inspiração a Calíope para dar conta do que Vasco da Gama narrara
ao rei e, em analepse encaixada, o capitão português vai descrever a situação geo-
gráfica da Europa, bem como a origem e a afirmação da nacionalidade, incluin-
do neste relato as batalhas de S. Mamede e as de Ourique, a ação de Egas Moniz,
o pedido de auxílio para o marido, por parte de Maria ao pai, D. Afonso IV, facto que
CANTO III constitui o episódio lírico designado de “Formosíssima Maria”.
(143 estâncias)
Exalta-se o heroísmo de D. Afonso IV, destacando-o como herói da batalha do Sa-
lado (1.o episódio) e de outros monarcas portugueses, como Afonso III e D. Dinis.
A partir da estância 119, o poeta detém-se na história de amor de Pedro e Inês,
surgindo o 2.o episódio lírico, o de Inês de Castro. Termina o canto com a referência
ao caráter brando de D. Fernando.

SÉCULO XV e 1497

Vasco da Gama prossegue o relato da História de Portugal ao rei de Melinde, falan-


do-lhe da morte de D. Fernando e da ascensão ao trono do novo rei, D. João, não
sem antes explicar o perigo que D. Leonor representava para a nação portuguesa,
dada a sua ligação a Castela. Integra também o discurso de incitamento de Nuno
CANTO IV Álvares Pereira, bem como a descrição da preparação e da batalha de Aljubarrota
(104 estâncias) (3.o episódio), a conquista de Ceuta, não esquecendo D. Duarte, D. Afonso V, D. João II
e o sonho profético de D. Manuel I, que vai confiar a Vasco da Gama a descoberta
do caminho marítimo para a Índia.
Inclui ainda as despedidas em Belém e apresenta o 4.o episódio, o do Velho do Res-
telo, considerado simbólico e profético.

215
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O conteúdo de cada canto

CANTOS SÍNTESE REFLEXÕES DO POETA

1498

Continua a narração de Gama ao rei de Melinde, dando conta, agora, dos acon-
tecimentos relativos à viagem, desde Lisboa até Melinde, descrevendo a travessia
marítima e os incidentes ocorridos, nomeadamente o fogo-de-Santelmo e a trom-
ba marítima. Insere ainda um episódio breve (o 5.o), relativo à aventura de Fernão
Veloso, o marinheiro que, com os nativos, se aventurou na mata. Prossegue o relato a.
da viagem para destacar o 6.o episódio, o do Adamastor, ocorrido aquando da pas-
sagem pelo Cabo das Tormentas.
CANTO V A viagem prossegue até à terra que designaram de Bons Sinais, onde foram bem re-
(100 estâncias) cebidos e ergueram um padrão. Contudo, a alegria cede lugar à desventura quando
se veem assolados pelo escorbuto, doença fatal para quem a apanhava, como foi o
caso de alguns companheiros.
Partiram de novo procurando terra mais firme, tendo chegado a Moçambique, onde
se depararam com a falsidade, e, só depois, a Melinde, onde se encontram no mo-
mento.
O canto termina com nova reflexão.

Neste canto, destaca-se a festa de despedida em Melinde, de onde a armada parte,


depois de abastecida, em direção à Índia, retomando-se, assim, a viagem.
Assiste-se a nova intervenção de Baco, que desce ao palácio de Neptuno, pedindo-lhe
que convoque os Deuses do mar, e é Tritão que, a seu mando, o vai fazer.
Comentário acerca
Dá-se o 2.o Consílio, do qual saem ações que visam impedir os portugueses de che- do verdadeiro valor
garem à Índia, nomeadamente a dos ventos repugnantes, enviados por Éolo. da fama e da glória,
CANTO VI Como os navegadores vinham cansados e ensonados, começam a contar histórias enumerando o que deve
(99 estâncias) para não adormecer. Deste modo, surge o 7.o episódio − os doze de Inglaterra. ser recusado e o que
Enquanto os marinheiros ouvem a narrativa de Veloso, os ventos crescem e come- deve ser considerado
çam a destruir velas e mastros, instalando-se uma terrível tempestade, que leva para se alcançarem
Vasco da Gama a fazer uma prece à “Divina Guarda”. honras imortais.
De novo, as Ninfas amorosas, enviadas por Vénus, vão abrandar os ventos furiosos e
impor a bonança, o que faz com que Vasco da Gama agradeça a Deus o seu auxílio.
A fechar o canto, surge novo comentário do poeta.

Os navegadores chegam à Índia (Calecute) e, mais próximos da nova terra, os lusos


veem chegar pequenas embarcações de pescadores que os conduzem à cidade de
Calecute. Segue-se a descrição dessa terra, que fica entre os rios Indo e Ganges, b.
e cujo senhor se chama Samorim.
CANTO VII
Aí, é enviado um português a terra, que vai ser acompanhado por Monçaide, que
(87 estâncias)
visita, depois, a frota portuguesa.
Vasco da Gama desembarca e é recebido pelo Catual, o regedor do reino. Este fala
com o capitão português, que, posteriormente, é recebido pelo Samorim, que o
aloja a ele e à comitiva portuguesa.
O Catual vai depois visitar as naus lusitanas e vai ser recebido por Paulo da Gama.
A partir da estância 78, o poeta intervém de novo.

216
Os Lusíadas

CANTOS SÍNTESE REFLEXÕES DO POETA

Ao observar as bandeiras ostentadas no barco onde fora recebido, o Catual detém-


-se nas figuras aí representadas, querendo saber de quem se trata.
Paulo da Gama satisfaz a curiosidade do Catual e vai falar de várias figuras, desde
Luso e Viriato até D. Duarte de Meneses, acrescentando que muitos outros poderiam Reflexão que se prende
CANTO VIII ser lembrados, mas a falta de luz já tal não permitia. com o poder do dinheiro,
(99 estâncias) O Catual regressa a terra e, por influência de Baco, os indianos vão acreditar que que tanto a pobres
os portugueses estavam ali para os aniquilar. Por isso, surge o propósito de destruir como a ricos corrompe.
a frota portuguesa e Gama é feito prisioneiro do Catual. Este só vai ser libertado a
troco de mercadorias.
Este resgate desencadeia nova reflexão do poeta.

Ultrapassadas as dificuldades que encontraram na Índia e ajudados por Monçaide


a não cair de novo em armadilhas, os portugueses encetam a viagem de regresso
à pátria.
Vénus quer recompensar os navegadores portugueses e dar-lhes o repouso e a glória
que estes mereciam; por isso, prepara-lhes, no meio do oceano, uma ilha, onde as c.
Ninfas os aguardarão com danças e afetos, contando a deusa protetora com a ajuda
de seu filho Cupido.
CANTO IX
As divindades vão trabalhar para, com um manjar deleitoso, receberem os marinhei-
(95 estâncias)
ros. Estes avistam de longe a ilha que Vénus lhes levava e que depois imobilizou para
que aí desembarcassem. Surge, assim, a ilha dos Amores.
Assiste-se, ainda neste canto, à exortação de Veloso, ao relato da aventura de Lio-
nardo, à confraternização e aos casamentos entre as Ninfas e os nautas lusitanos,
simbolizando a divinização dos heróis.
Vasco da Gama visita o palácio de Tétis e, posteriormente, é explicado ao leitor
o sentido alegórico da ilha – a recompensa ou o prémio pelos trabalhos já passados.

No fim do canto e da
epopeia, o poeta refere
Ainda na ilha, os nautas vão ser presenteados com um banquete oferecido por o seu desânimo por
Tétis e as restantes Ninfas. “cantar a gente surda
Uma deusa vai prever a vinda de outras armadas e as dificuldades que irão en- e endurecida” e por
contrar, mas é interrompida pelo poeta, que faz uma invocação a Calíope, para a pátria estar envolta
que o seu gosto pela escrita não esmoreça devido ao peso da idade ou ao seu na cobiça e na tristeza;
infortúnio. enumera as sevícias
CANTO X
a que os portugueses
(156 estâncias) A Ninfa prossegue com a sua profecia acerca das conquistas futuras dos portu-
são capazes de se
gueses.
submeter para servir o
Para terminar os festejos, Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte, rei e exorta D. Sebastião
onde se encontra um globo, a que a deusa chama “máquina do Mundo”. Aqui, a realizar novos feitos,
indica-lhe os lugares onde os portugueses farão grandes feitos. oferecendo-se para
Tétis despede-se dos portugueses e estes regressam à pátria. mostrar ao mundo a
grandeza do monarca,
através do seu canto.

PROFESSOR
1. Complete os espaços da coluna da direita (alíneas a., b. e c.), recuperando o conteú-
1. Proposta de resolução
do das reflexões do poeta que se encontram em falta. na página 214.

217
PA R A S A B E R Os Lusíadas
PROFESSOR
Observe e leia os esquemas desta dupla página para obter uma visão global da epo-
peia camoniana.
Apresentação
Síntese da Unidade

Apresentação OS LUSÍADAS
Galeria de imagens

Epopeia

Narrativa em verso destinada a celebrar feitos grandiosos de um herói, neste caso coletivo

ESTRUTURA INTERNA

Momento em que o poeta dá conta do seu


PROPOSIÇÃO (I, 1 a 3)
propósito ou intenção

INTRODUÇÃO Pedido de inspiração endereçado às Tágides


INVOCAÇÃO (I, 4 e 5)
(existem outras invocações nos cantos III, VII e X)

Oferta do poema a D. Sebastião,


DEDICATÓRIA (I, 6 a 18)
ainda futuro rei; termina com um apelo

PLANO DA VIAGEM
DESENVOLVIMENTO NARRAÇÃO (I, 19 a X, 144) AÇÃO CENTRAL
(de Vasco da Gama à Índia)

Acompanha,
PLANO
Fragilidade da vida humana (I) em paralelo,
DOS DEUSES OU MITOLÓGICO
a ação central

Desprezo dos portugueses pelas


artes (V) AÇÃO SECUNDÁRIA
PLANO DA
(encaixada
Verdadeiro valor da fama e da glória HISTÓRIA DE PORTUGAL
na ação central)
(VI)

Lamentações por ser vítima


de vários infortúnios (VII) PLANO DAS REFLEXÕES
INTERDEPENDÊNCIA
DO POETA
As reflexões surgem
O vil poder do ouro, fonte de (sobretudo no fim dos cantos,
em consequência
corrupção e de perjúrio (VIII) o poeta tece considerações
de acontecimentos
sobre vários assuntos, como
relatados
se vê à esquerda)
Verdadeiras formas de alcançar anteriormente,
a fama e o heroísmo (IX) e que suscitam as
considerações que
Retoma do tema do desprezo pela o poeta faz
arte e nova exortação ao rei (X)

Desencanto do poeta
CONCLUSÃO e exortação final a D. Sebastião
(X, 145 a 156)

218
NARRADORES

O POETA (I, II, VI, VII, VIII, IX, X)

VASCO DA GAMA (III, IV, V)

PAULO DA GAMA (VIII)

FERNÃO VELOSO (VI, "Doze de Inglaterra")

IMAGINÁRIO ÉPICO

Matéria Épica Sublimidade do canto Mitificação do herói

Divinização dos navegadores,


alcançada pela união com as
Feitos históricos e viagem Celebração de feitos grandiosos
Ninfas; estes atingem
a imortalidade

10 cantos

1102 estrofes

ESTRUTURA EXTERNA Oitavas (estrofes de 8 versos)

Decassílabos (10 sílabas métricas)

Rima cruzada e emparelhada


(nos 6 primeiros e nos 2 últimos, respetivamente)

LINGUAGEM E ESTILO

Combinação de uma língua culta latinizante com


a língua tradicional, oral. A primeira é visível nos Estilisticamente, abundam perífrases e metonímias,
discursos onde predomina um vocabulário erudito, metáforas, comparações, paralelismos, simetrias,
construções alatinadas, onde se inverte a ordem personificações, antíteses, imagens dos campos
das palavras. A segunda verifica-se na utilização de lexicais da natureza, da navegação e da ciência
uma linguagem oral, com recurso a aforismos, como náutica, da guerra e das atividades bélicas,
"melhor é merecê-los sem os ter, que possui-los sem das cores e da visualidade.
os merecer".

219
PA R A V E R I F I C A R Os Lusíadas

Verifique as suas aprendizagens sobre a obra épica camoniana, resolvendo as tarefas


propostas.

1. Selecione a opção que completa corretamente cada afirmação.

1.1 Camões terá tido como fonte(s) inspiradora(s)


[A] as epopeias da Antiguidade e outros textos históricos anteriores.
[B] a sua experiência pessoal, adquirida na viagem de Vasco da Gama.
[C] os relatos das experiências dos navegadores seus contemporâneos.
[D] a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto.

1.2 Na epopeia camoniana verifica-se a existência de


[A] vários planos narrativos, com destaque para o dos deuses ou mitológico.
[B] três planos narrativos e as reflexões do poeta, no final de alguns cantos.
[C] duas ações, relativas aos deuses pagãos e aos deuses cristãos.
[D] uma ação central, a da História de Portugal, e uma secundária, a do Poeta.

1.3 Ao nível da estrutura externa, a obra apresenta


[A] catorze cantos e estrofes de sete versos decassilábicos.
[B] oito cantos, com uma distribuição equitativa de estrofes.
[C] dez cantos, com oitavas de dez sílabas métricas.
[D] quatro partes: Proposição, Invocação, Dedicatória e Reflexões.

1.4 No canto I surge(m)


[A] o relato da viagem ao rei de Melinde e a intervenção dos deuses.
[B] a Proposição, a Invocação, a Dedicatória e o início da Narração.
[C] a descrição da chegada a Calecute e a receção do rei de Melinde.
[D] o Consílio dos deuses no Olimpo e o dos deuses marinhos.

1.5 Os planos narrativos encontram-se organizados da seguinte forma:


[A] plano dos deuses, com plano da viagem encaixado, seguido do plano da
História de Portugal.
[B] plano da História de Portugal, onde se encaixa o da viagem e o dos deuses.
[C] plano da História de Portugal, seguido, em paralelo, pelo plano dos deuses,
onde se encaixa o da viagem.
[D] plano da viagem, em alternância com o dos deuses, encaixando-se o da
História de Portugal na ação central.

1.6 Na “ínsula divina”, os portugueses são


[A] perseguidos por animais ferozes.
[B] conduzidos a um fosso profundo.
[C] presenteados pelas Ninfas.
[D] convidados a ir ao cume de um monte.

220
1.7 O episódio da Ilha dos Amores tem um caráter simbólico porque
[A] representa o mundo do maravilhoso.
[B] ilustra a mitologia d’Os Lusíadas.
[C] remete para a recompensa dada aos nautas.
[D] sugere o mundo do onírico.

2. Ordene as considerações do poeta, atendendo à sua disposição na epopeia.


[A] Reflexões acerca do desprezo a que os portugueses lançam a arte, em particu-
lar a poesia.
[B] Considerações acerca da fragilidade do ser humano e dos perigos a que este PROFESSOR
está sujeito.
[C] Lamentações do poeta por estar submetido a vários infortúnios e não ser reco-
Teste interativo
nhecido. Camões – Os Lusíadas
[D] Comentários acerca da(s) forma(s) de obter a verdadeira glória e a fama, real-
Educação Literária
çando o que não deve ser usado para as obter. 14.3; 14.7; 15.1; 15.3
[E] Lamentos do poeta por cantar a gente “surda e endurecida”, dado não ser re- 1.1 [A]
1.2 [B]
conhecido, e exortação ao rei D. Sebastião para que erga de novo a nação, con- 1.3 [C]
cretizando novos feitos. 1.4 [B]
1.5 [D]
[F] Considerações sobre a forma de os humanos alcançarem a imortalidade, exor- 1.6 [C]
1.7 [C]
tando à ação aqueles que querem ver os seus nomes imortalizados.
2. [B] – [A] – [D] – [C] – [F] – [E]
3.
a. F – A “máquina do Mundo”
3. Indique se as afirmações são verdadeiras ou falsas. Corrija as afirmações falsas. é revelada por Tétis
a Vasco da Gama.
a. A “máquina do Mundo” é revelada por Vasco da Gama aos marinheiros. b. V
c. V
b. Os planos presentes em Os Lusíadas apresentam-se interligados. d. F – Em Os Lusíadas o poeta
recorre também
c. A união entre as Ninfas e os nautas simboliza a imortalidade alcançada pelos à descrição e ao lirismo.
seus feitos. e. V
f. F – Camões revela
d. Em Os Lusíadas, o poeta recorre unicamente à narração. subserviência perante o rei
D. Sebastião.
e. No canto VII, assiste-se a lamentações do poeta suscitadas pela evocação das g. F – Os aspetos negativos
suas vivências. da conduta dos seus
compatriotas são criticados
f. Camões revela alguma arrogância perante o rei D. Sebastião. pelo poeta.
h. V
g. Os aspetos negativos da conduta dos seus compatriotas são omitidos pelo i. F – Os acontecimentos
relatados em Os Lusíadas
poeta. baseiam-se também
nos factos concretos e
h. O lirismo presente em Os Lusíadas resulta do intenso dramatismo evidenciado nas experiências pessoais
pelo poeta. do autor.

i. Os acontecimentos relatados em Os Lusíadas são única e exclusivamente fruto


da imaginação do poeta.

221
PA R A R E C U P E R A R
PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA

1. Complete o texto.
Apresentação
Galeria de imagens Os Lusíadas é uma a. do século XVI, escrita por Luís de Camões, e segue
Apresentação os modelos greco-b. . A obra, quanto à sua estrutura c. , está
Síntese da Unidade dividida em d. e. , constituídos por um número variável de
Teste interativo f. (estâncias de oito versos). Os versos são todos g. .
Os Lusíadas
Quanto à estrutura h. , a epopeia camoniana divide-se em
Educação Literária i. partes: a Proposição, a j. , a k. e a Narração.
Há ainda a considerar quatro l. estruturais, a saber: o m. da
1. n. , o plano o. , o plano da História de Portugal e o plano das
a. epopeia
b. latinos p. do q. .
c. externa
d. dez 2. Faça corresponder as ideias da coluna A às passagens da epopeia camoniana pre-
e. cantos sentes na coluna B.
f. oitavas
g. decassílabos
h. interna Coluna A Coluna B
i. quatro
j. Invocação [1] “Vai César sojugando toda a França /
k. Dedicatória E as armas não lhe impedem a ciência; /
l. planos [A] O poeta reflete sobre a fragilidade
m. plano
Mas, numa mão a pena e noutra a lança,”
humana.
n. viagem
o. mitológico [2] “Sem vergonha o não digo, que a razão /
p. reflexões/considerações […] É não se ver prezado o verso e a rima, /
q. poeta Porque quem não sabe arte, não na
2. estima.”
[A] – [6] [B] O herói, à boa maneira clássica, deve
[B] – [1] ser completo: guerreiro e dotado [3] “Nas naus estar se deixa, […] / Que não se
[C] – [2] culturalmente. fia já do cobiçoso / Regedor, corrompido
e pouco nobre. […] Veja agora o juízo
[D] – [5]
curioso / Quanto no rico, assi como
[E] – [4]
no pobre, / Pode o vil interesse e sede
[F] – [3]
immiga / Do dinheiro, que a tudo obriga.”
[C] Os portugueses, na sua opinião,
desprezam as artes e as letras. [4] “No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho /
Destemperada e a voz enrouquecida, /
E não do canto, mas de ver que venho /
Cantar a gente surda e endurecida. /
O favor com que mais se acende o
[D] O poeta tece considerações de caráter engenho / Não no dá a Pátria […]”
autobiográfico, criticando aqueles que
o perseguiam em vez de valorizarem os [5] “[…] Mas, ó cego, / Eu, que cometo, […] Por
seus serviços à pátria. caminho tão árduo, longo e vários […] /
[…] há tanto tempo que […] / A Fortuna
me traz peregrinando […] Não bastava /
Que tamanhas misérias me cercassem, /
[E] O poeta sente-se cansado, não de […] aqueles que eu cantando andava […] /
cantar, mas de constatar que não Trabalhos nunca usados me inventaram
é escutado nem recompensado. […]”

[6] “Oh! Grandes e gravíssimos perigos, /


Oh! Caminho da vida nunca certo, / Que,
aonde a gente põe a sua esperança, /
[F] Camões reflete sobre o poder do ouro, Tenha a vida tão pouca segurança! […]
capaz de corromper todos os homens. Que não se arme e se indigne o Céu
sereno / Contra um bicho da terra tão
pequeno!”

222
Os Lusíadas

GRAMÁTICA PROFESSOR

Gramática
1. Leia com atenção as seguintes frases.
1.1
a. Pensa-se que os navegadores, que eram muito esforçados, trouxeram glória ao país. a. "que eram muito esforçados"
– modificador do nome apositivo;
b. Quando regressaram da Índia, os nautas pareciam extenuados. "ao país" – complemento
indireto
c. O marinheiro e o Adamastor tiveram uma conversa longa. b. "da Índia"– complemento
oblíquo, "extenuados" –
d. O povo ofereceu gentilmente uma recompensa a Vasco da Gama. predicativo do sujeito
c. "O marinheiro e o Adamastor"
e. A Índia foi explorada há alguns séculos pelos nossos antepassados. – sujeito (composto); "longa" –
modificador do nome restritivo
f. A descoberta do caminho marítimo para a Índia constitui um passo essencial d. "uma recompensa" –
na construção do Império. complemento direto; "a Vasco da
Gama" – complemento indireto;
1.1 Indique a função sintática dos segmentos sublinhados em cada frase. e. "pelos nossos antepassados" –
complemento agente da passiva
1.2 Reescreva as frases c. e d., pronominalizando os segmentos em que tal seja possível. f. "do caminho marítimo para a
Índia" – complemento do nome;
1.3 Indique em que voz (ativa ou passiva) se encontram as frases d. e e. "essencial" – modificador do
nome restritivo; "do Império" –
1.4 Reescreva as frases d. e e., transformando a frase ativa em passiva ou a voz passi- complemento do nome
va em ativa. 1.2 c. Eles tiveram-na. d. Ele
ofereceu-lha gentilmente.
1.3 d. voz ativa; e. voz passiva.
2. Considere as frases abaixo apresentadas.
1.4 d. Uma recompensa foi
a. Se os portugueses não tivessem chegado à Índia, o Oriente seria desconhecido. gentilmente oferecida a
Vasco da Gama pelo povo.
b. Asseguro-vos que nunca tinha havido heróis tão corajosos. e. Os nossos antepassados
exploraram a Índia há alguns
c. Os nautas eram tão aventureiros que não temeram os perigos do mar. séculos.
2.1 a. Oração subordinada
2.1 Classifique a oração sublinhada em cada frase. (adverbial) condicional;
b. Oração subordinada
2.2 Indique em que tempo se encontram as formas verbais destacadas a negrito nas (substantiva) completiva;
frases a. e b. c. Oração subordinada
(adverbial) consecutiva.
2.2 a. Pretérito-mais-
E S C R I TA -que-perfeito composto do
conjuntivo; b. Pretérito mais-
Observe a imagem. -que-perfeito composto do
indicativo.

Escrita
Este quadro poderia
representar um dos
marinheiros (se ignorarmos
o vestuário do jovem), que se
encanta com a beleza das
jovens a banharem-se num dos
regatos da ilha. Inicia-se, então,
um convívio amistoso.
Os olhares das jovens são
sedutores e todas requisitam
a atenção do homem. A água,
os tons castanhos e os verdes
sugerem um local fresco e
sombrio, convidativo aos jogos
Hylas and the Nymphs, 1896, John William Waterhouse, Galeria amorosos.
de Arte de Manchester, Inglaterra. As flores amarelas nos
cabelos das ninfas realçam
o seu tom castanho arruivado,
Num texto expositivo (80 a 120 palavras), associe a imagem a um momento concreto que contrasta com a pele cor
do episódio da Ilha dos Amores, focando os seguintes aspetos: da neve, pintada assim
à maneira petrarquista.
• local onde se passa a ação; (90 palavras)

• personagens intervenientes;
• os tons predominantes.

223
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Os Lusíadas
PROFESSOR
GRUPO I
GRUPO I
Educação Literária Leia com atenção as estâncias seguintes.
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.9; 15.3 10
8
1. As estâncias selecionadas
pertencem à Dedicatória, Vós, poderoso Rei, cujo alto Império Vereis amor da pátria, não movido
momento em que o poeta O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, De prémio vil, mas alto e quási eterno;
vai dedicar o seu poema
a D. Sebastião, referindo Vê-o também no meio do Hemisfério, Que não é prémio vil ser conhecido
também a proeminência E quando dece o deixa derradeiro; Por um pregão do ninho meu paterno.
em termos geográficos
do reino que o monarca Vós, que esperamos jugo e vitupério1 Ouvi: vereis o nome engrandecido
lidera, como se pode Do torpe Ismaelita2 cavaleiro, Daqueles de quem sois senhor superno5,
comprovar em “Vós,
poderoso Rei, cujo alto Do Turco Oriental e do Gentio E julgareis qual é mais excelente,
Império / O Sol, logo em Que inda bebe o licor do santo Rio3: Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
nascendo, vê primeiro”
(est. 8, vv. 1-2) e ainda em
“Inclinai por um pouco a 9 11
majestade / Que nesse tenro
gesto vos contemplo” Inclinai por um pouco a majestade Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
(est. 9, vv. 1-2). Que nesse tenro gesto vos contemplo, Fantásticas, fingidas, mentirosas,
2. O rei D. Sebastião é Que já se mostra qual na inteira idade, Louvar os vossos, como nas estranhas
caracterizado como muito
jovem (“Que nesse tenro Quando subindo ireis ao eterno templo4; Musas, de engrandecer-se desejosas:
gesto vos contemplo”, est. Os olhos da real benignidade As verdadeiras vossas são tamanhas
9, v. 2), mas muito corajoso
e capaz de causar terror Ponde no chão: vereis um novo exemplo Que excedem as sonhadas, fabulosas,
aos mouros (“Vós, que De amor dos pátrios feitos valerosos, Que excedem Rodamonte6 e o vão Rugeiro7
esperamos jugo e vitupério /
Do torpe Ismaelita cavaleiro, Em versos divulgado numerosos. E Orlando8, inda que fora verdadeiro.
/ Do Turco Oriental e do
Gentio”, est. 8, vv. 5-7). É Luís de Camões, Os Lusíadas (Canto I)
bondoso (“Os olhos da real
benignidade / Ponde no
chão […]”, est. 9, vv. 5-6) e 1
domínio e injúrias
digno de alcançar eterna
2
glória (“Quando subindo ireis turcos
ao eterno templo”, 3
Ganges
est. 9, v. 4). 4
templo da fama eterna
3. O poeta pede ao rei que 5
se digne a olhar para a superior
sua obra, pois nela verá o 6
personagem de Orlando Enamorado, de Boiardo, poeta italiano do séc. XV
engrandecimento da pátria, 7
pelos feitos realizados pelo personagem de Orlando Furioso, de Ariosto, poeta italiano do séc. XVI
8
povo luso. palavra italiana correspondente à francesa Roland, herói da Chanson de Roland,
4. O poeta recorre a várias poema do fim do séc. XI
formas verbais no imperativo
(“Inclinai”; “Ponde”; “Ouvi”),
pois está a formular um
pedido a D. Sebastião:
que este preste atenção à 1. Insira, de forma justificada, as estâncias selecionadas na estrutura interna do poe-
epopeia que lhe é dedicada
e que enaltece o povo que ma épico.
governa.
5. O canto do poeta é 2. Apresente três traços caracterizadores do destinatário do poeta, comprovando a
superior, dado basear-se sua resposta com elementos textuais.
em feitos concretos e
reais: “Em versos divulgado
numerosos” (est. 9, v. 8). Por 3. Explicite o pedido formulado pelo poeta nos quatro últimos versos da estância 9.
isso, o poeta afirma que o rei
não verá “com vãs façanhas, 4. Comente o recurso às formas verbais no imperativo, identificando-as.
/ Fantásticas, fingidas,
mentirosas, / Louvar os
5. Justifique a excecionalidade do canto do poeta, recorrendo a duas expressões tex-
[nossos feitos] (est. 11, vv.
1-3), mas verá apenas as tuais pertinentes.
“Que excedem as sonhadas,
fabulosas, / Que excedem
Rodamonte e o vão Rugeiro”
(est. 11, vv. 6-7).

224
GRUPO II

Museu interativo e parque temático


dedicado aos Descobrimentos abriu no Porto
Os Descobrimentos têm parque temático recente- 20 A encenação e interação de atores com os visitan-
mente inaugurado no Porto. O Infante D. Henrique dá tes procuram fazer desta visita uma experiência ines-
as boas vindas a quem chega ao World of Discoveries, quecível. Fomos surpreendidos por um “marinheiro”
o museu interativo que é também uma experiência que acabou por nos convidar a visitar a sua nau, onde
5 sobre a glória dos portugueses nos séculos XVI e XVII. é possível, entre outras coisas, experimentar a réplica
O espaço recria, à escala real, alguns episódios histó- 25 de uma cama a bordo e perceber como era apertado
ricos permitindo visualizar aquilo que habitualmente e pequeno o espaço disponível. Mas há também fidal-
nos chega através de livros. Com recurso a suportes gos, donzelas e ilustres personagens a circular pelo
tecnologicamente avançados e à interação com ato- espaço. Passando a área de estaleiro naval, entra-se
1
10 res vestidos à época pretende-se suscitar o interesse naquela que será a grande “viagem” do visitante. Con-
dos visitantes pelos Descobrimentos portugueses. 30 vidado a embarcar numa réplica de uma caravela, dá
A viagem começa em ambiente de exposição, com início a uma volta ao mundo que tem partida da me-
réplicas de embarcações da época e instrumentos de dieval Lisboa, onde se pode avistar a Torre de Belém
navegação. Para continuar a saber mais sobre a ma- ainda em construção, com passagem pelo Norte de
15 téria, os visitantes são convidados a interagir com os África, cabo das Tormentas, Moçambique, floresta
suportes tecnológicos instalados, como os globos 4D 3
35 equatorial, Índia, Timor, Japão, China e Brasil. Os ce-
que desvendam a evolução da cartografia ou os pai- nários são detalhados e com passagens interessantes,
néis interativos que exploram o contexto sociocultural como as cortinas de fumo com projeção de imagens
envolvente. ou a onda gigante que envolve estes marinheiros de
água doce. […]
http://canelaehortela.com/world-of-descoveries (consultado em fevereiro de 2017).

1. Depois de ler o texto, selecione a alternativa que completa corretamente cada afir- PROFESSOR
mação.

1.1 O parque temático agora inaugurado no Porto Apresentação


Solução Ficha
[A] poderá substituir o que se lê em livros.
de Avaliação
[B] recria alguns factos/acontecimentos históricos.
[C] relembra a história apenas com recurso a tecnologias.

1.2 A experiência será inolvidável graças à


[A] visita que as pessoas fazem às naus.
[B] cartografia e aos painéis interativos expostos.
[C] encenação e à interação entre atores e visitantes.

225
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Os Lusíadas
PROFESSOR 1.3 A visita aos diferentes territórios conquistados pelos portugueses faz-se
[A] embarcando numa réplica de uma caravela que passa por espaços recriados.
GRUPO II
Leitura [B] através de dramatizações preparadas pelos atores.
8.1
[C] pela manipulação das várias tecnologias disponibilizadas.
1.1 [B]
1.2 [C]
2. Classifique o sujeito do primeiro período do texto.
1.3 [A]
3. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes abaixo apresen-
Gramática tados.
18.1; 18.4
a. “a quem chega ao World of Discoveries” (l. 3)
2. Sujeito composto.
b. “dos visitantes pelos Descobrimentos portugueses” (l. 11)
3.
a. Complemento indireto c. “em ambiente de exposição” (l. 12)
b. Complemento do nome
d. “por um ‘marinheiro’” (l. 22)
c. Modificador (do grupo
verbal)
4. Classifique as seguintes orações.
d. Complemento agente
da passiva a. “Para continuar a saber mais” (l. 14)
4.
b. “que tem partida da medieval Lisboa” (ll. 31-32)
a. Oração subordinada
(adverbial) final
b. Oração subordinada
5. Identifique a relação semântica existente entre “onda”, “marinheiro” e “caravela”.
(adjetiva) relativa (restritiva)
5. Campo lexical. 6. Indique o referente do pronome sublinhado em “que desvendam a evolução da car-
6. “os globos 4D”. tografia” (l. 17).

GRUPO III
GRUPO III
Escrita
11.1; 11.2; 12.1; 12.2; Observe a imagem.
12.4; 13.1

Resposta de caráter
pessoal, contudo os
alunos devem referir
os seguintes tópicos:
o momento da partida
de Lisboa (Restelo);
a despedida festiva, com
pompa e circunstância;
a nobreza e o clero em
primeiro plano na praia
(o vermelho e os dourados
no vestuário indiciam o
estatuto social), seguidos
do povo; Vasco da Gama
é o último a embarcar,
despedindo-se de Portugal;
as naus com as velas
preparadas para receber
o vento, algumas nuvens A partida de Vasco da Gama para a Índia, 1900, Alfredo Roque Gameiro, Biblioteca
num céu azul, o mar calmo Nacional de Portugal
(indício de boa viagem);
a cruz de oito pontas,
símbolo da Ordem de Cristo, Num texto de apreciação crítica (100 a 140 palavras), associe a imagem a um momento con-
representante da fé cristã. creto de Os Lusíadas, recorrendo a uma linguagem valorativa e focando os seguintes aspetos:
Tudo denuncia um país em
expansão, o início de um • local onde se passa a ação;
império.
• personagens intervenientes;
• tons predominantes;
• estrutura tripartida do texto.

226
MÓDULO

3
2. História Trágico-Marítima
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR

PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Capítulo V, "As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho"
Leitura
Apreciação crítica
Exposição sobre um tema
Relato de viagem
Escrita
Síntese
Apreciação crítica
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Gramática
Geografia do português no mundo [Aprender/Aplicar]
• Funções sintáticas
• Subordinação
• Tempos e modos verbais
• Relações semânticas
• Classe de palavras
• Campo lexical
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR

1539 1565 1578 1596 1735-36


Nascimento Embarque de Jorge de Partida de Jorge Falecimento de Jorge Publicação dos primeiros volumes
de Jorge de Albuquerque Coelho de Albuquerque Coelho de Albuquerque Coelho da História Trágico-Marítima
Albuquerque Coelho para Portugal na nau com D. Sebastião para no reinado de D. João V
“Santo António” Alcácer Quibir
Início da atividade
do Santo Ofício em Desaparecimento
Portugal de D. Sebastião na
Batalha de Alcácer
Quibir

Atente nos seguintes tópicos, para melhor compreender esta época, bem como na
obra que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.

Os naufrágios Os relatos de naufrágios


• Jorge de Albuquerque Coelho embarcou para Portugal • De cariz narrativo, a Viagem ocupa lugar obrigatório e im-
no navio “Santo António”, e a sua Viagem foi uma das mais portante na expressão literária de todos os tempos e de todos os
tormentosas que pode imaginar-se, tanto que a descrição povos.
dessa infeliz travessia figura na história marítima. • N’Os Lusíadas já estão presentes os perigos e os erros da
5 • A fome afligia os míseros náufragos e foram necessárias 5 Viagem, começando a desenhar-se a contraluz elegíaca1 que há
a constância e a coragem de Jorge de Albuquerque para evi- de marcar os relatos de naufrágios reunidos na série da “História
tar muitos atos de desespero. Navegando ao acaso e sem Trágico-Marítima”.
probabilidade alguma de chegar a um porto qualquer, foi qua- Construído a partir de José Augusto Cardoso Bernardes,
se por milagre que conseguiram chegar à costa portuguesa. História crítica da literatura portuguesa. Humanismo e Renascimento,
10 • Foram acolhidos com muita curiosidade e compaixão, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 293-294, 296.

e razão havia para isso, porque nunca mais tão horrível drama
se passará sobre as águas do mar.
• A viagem era oficialmente justificada como estando ao ser-
• Em 1578, Jorge de Albuquerque foi encarregado, no exér-
viço de Deus; por isso, os relatos de naufrágios baseavam-se na
cito que D. Sebastião levou à fatal expedição africana,
conexão causal entre Culpa e Castigo.
15 do comando duma coluna de cavalaria.
• A estrutura narrativa destes relatos obedece a um registo
• O rei Filipe II, desejando cativar homem de tanta fama,
5 experiencial, sendo ou não o narrador personagem participante
ofereceu-lhe auxílio para poder manter a província americana
na história que assume uma matriz verosímil ou fantástica.
de que era donatário e Jorge de Albuquerque aceitou. Porém,
não voltou ao Brasil, fazendo-se representar pelo filho Duarte, Construído a partir de José Augusto Cardoso Bernardes,
História crítica da literatura portuguesa. Humanismo e Renascimento,
20 quando este chegou à idade própria. Ficou em Portugal, onde vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 297-298.
morreu, provavelmente, nos princípios do século XVII, uma vez
que em 1596 ainda estava vivo.
Elaborado a partir de http://epl.di.uminho.pt/~ritafaria/MEC/
instanciaConceito.php?conc=Biografia&id=97.

1
“contraluz elegíaca” – face negativa dos Descobrimentos.

228
PARA INICIAR

COMPREENSÃO DO ORAL

Visione, com atenção, um excerto do documentário da RTP, intitulado His-


tória Trágico-Marítima – os naufrágios do Império. A autoria e a apresenta-
ção do programa são do historiador Fernando Rosas.

1. Complete os tópicos das partes A e B com a informação recolhida no do- História Trágico-Marítima –
cumentário. os naufrágios do Império, RTP

A. Expansão marítima

Séculos em que ocorreu a.

Principais rotas b.

Consequências negativas da expansão c.

Principais mercadorias transportadas d.

B. Naufrágio da nau “Nossa Senhora dos Mártires”

Local de partida da nau a.

Local do naufrágio b.

Causa do naufrágio c.

Mercadoria que se espalha pelo rios e pelas praias d.

Número de corpos que aparecem na praia e.


PROFESSOR
Quantidade de mercadoria afundada f.

2. Assinale a única causa do elevado número de naufrágios das naus da carreira da


Índia, entre os séculos XVI e XVIII, que não é referida neste documentário. Link
História Trágico-
a. Deficiente preparação das naus. -Marítima – os naufrágios
do Império
b. Carga excessiva das naus.
Oralidade
c. Partida com condições meteorológicas desfavoráveis. 1.3; 1.4; 1.5; 1.7; 2.1
d. Ataque dos corsários.
A
e. Inexperiência de alguns marinheiros.
1. a. XVI a XVIII
b. Asiática e brasileira
3. Das afirmações seguintes, indique as que correspondem às características do do- c. Naufrágios, perdas
cumentário, patentes no excerto que acabou de visionar. humanas e materiais
d. Pimenta, ouro, diamantes,
a. O documentário é um género ficcional. escravos
B
b. O documentário parte sempre de dados factuais.
a. Índia
c. O documentário apresenta um caráter autoral, traduzindo a opinião/visão do b. Esporão rochoso do forte
de S. Julião da Barra
seu autor sobre o tema abordado. c. Tempestade
d. Pimenta
d. O documentário integra múltiplas linguagens, de modo a configurar uma visão e. 200
global do tema tratado. f. 20 000 toneladas
2. d. Ataque dos corsários.
e. O documentário tem uma finalidade estética.
3. b., c., d., f.
f. O documentário tem uma finalidade informativa.

229
H i s t ó r i a Tr á g i c o - M a r í t i m a

EXPRESSÃO ORAL

Resolva oralmente as atividades propostas, após a leitura do poema.

Poema da malta das naus


Lancei ao mar um madeiro, 25 Tremi no escuro da selva,
espetei-lhe um pau e um lençol. alambique de suores.
Com palpite marinheiro Estendi na areia e na relva
medi a altura do sol. mulheres de todas as cores.

5 Deu-me o vento de feição, Moldei as chaves do mundo


levou-me ao cabo do mundo. 30 a que outros chamaram seu,
Pelote1 de vagabundo, mas quem mergulhou no fundo
rebotalho de gibão2. Do sonho, esse, fui eu.

Dormi no dorso das vagas, O meu sabor é diferente.


10 pasmei na orla das praias, Provo-me e saibo-me a sal.
arreneguei, roguei pragas, 35 Não se nasce impunemente
mordi peloiros3 e zagaias4. nas praias de Portugal.
António Gedeão, Teatro do Mundo, Coimbra,
Chamusquei o pelo hirsuto, Atlântida Editora, 1958.
tive o corpo em chagas vivas,
PROFESSOR 15 estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Oralidade
3.2; 4.2; 5.1; 5.3
Com a mão direita benzi-me,
1. com a direita esganei.
a. Tanto o documentário como Mil vezes no chão, bati-me,
o poema retratam o período 20 outras mil me levantei.
dos Descobrimentos.
b. As dificuldades comuns
são a pobreza, a guerra e as Meu riso de dentes podres 1
doenças. vestuário de grandes abas
ecoou nas sete partidas. 2
c. Mar revolto, vagas altas, colete esfarrapado
condições propícias a contrair Fundei cidades e vidas, 3
bala
doenças. 4
rompi as arcas e os odres. lança
d. Necessidade de se
recomendarem a Deus
e esperar a sua ajuda.
e. O documentário remete
para a realidade, enquanto
o texto poético sugere
o imaginário.
1. Estabeleça uma comparação entre este poema e o documentário que visionou,
identificando:
a. a época referida/aludida;
b. as dificuldades comuns;
c. as condições atmosféricas/climatéricas;
d. os aspetos religiosos;
e. a associação à realidade/ficção dos dois documentos.

230
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

LEITURA

Leia atentamente o seguinte texto expositivo.

A carreira da Índia
Em 1592, partiu de Goa a nau “Chagas”, capitaneada por Francisco de Melo, tendo 1
«”bisalhos” de pedraria» -
por mestre Manoel Dias e por piloto João da Cunha. Cedo se juntou a outras duas bolsinha onde se traziam
naus vindas de Cochim – a “Santo Alberto” (capitão Julião de Faria Cerveira) e a pedrarias ou preciosidades
2
“Nossa Senhora da Nazareth” (capitão Braz Correia). As três vinham carregadas em tempestade
3
costa alta e escarpada
5 excesso, como era uso na carreira da Índia, tanto de mercadorias valiosas, como os 4
passar o inverno
famosos “bisalhos” de pedraria1, como de fidalgos, pessoas nobres e gente do povo. 5
aliviar a carga do navio
O atraso na partida, o excesso de carga e a tormenta2 encontrada ao largo do 6
partes constituintes e materiais
cabo da Boa Esperança obrigaram à separação da frota à arriba3 da “Chagas” a usados nas embarcações
Moçambique, onde teve de invernar4. A “Santo Alberto” não foi tão afortunada e
10 viu abrir-se-lhe o costado, entrando tanta água que nem o alijamento5 de parte da
carga nem a evacuação da água com bombas, baldes e barris conseguiram impedir
que o navio se afundasse cada vez mais. A tripulação acabou por fazê-la enca-
lhar na costa, num naufrágio tornado célebre por uma narrativa de João Baptista
Lavanha.
15 Algo de semelhante aconteceu com a “Nazareth”. Por gozar de reputação de
grande navegabilidade e ter uma tripulação capaz e experimentada, tinha sido
muito procurada pelos passageiros de retorno ao Reino. Demasiadas pessoas via-
javam nela, com o consequente excesso de mercadorias. Sobrevindo-lhe um tem-
poral, a nau abriu pelas “picas e delgados da proa, desfazendo-se-lhe as ligações
20 em vários locais, saindo a estopa e o calafate do cavername6”, o que ocasionou a
entrada de água. Com grande custo, a tripulação conseguiu chegar a Moçambique,
onde encalhou, procedendo à descarga das mercadorias.
Os sobreviventes da “Santo Alberto”, os passageiros da “Nazareth” e a maior
parte da sua carga foram então acolhidos a bordo da “Chagas”, a única sobreviven-
PROFESSOR
25 te da armada de 1592. O excesso de carga e de passageiros (mais de 270 escravos
e 130 portugueses) era tal que parte do convés ficava por vezes submersa, o que Leitura
7.1; 8.1
levava a que a nau, ainda no porto, fizesse já água.
Apesar deste contratempo, a embarcação conseguiu dobrar o cabo, tendo, po-
1.1 As naus chamam-se
rém, a tripulação que alijar parte da mercadoria. “Chagas”, “Santo Alberto” e
30 Entre seguir para a ilha de Santa Helena, como era habitual, ou para Luanda, “Nossa Senhora de Nazareth”.
1.2 A “Chagas” partiu de Goa
o capitão optou pela última hipótese, devendo-se tal escolha à interdição da ida e as outras duas de Cochim,
a Santa Helena por regimento do rei Filipe II “por lhe constar estar a ilha infestada na Índia.
de corsários ingleses”. 2.1 As naus enfrentaram
vários problemas, entre eles
Visão História, Naufrágios e Tesouros, A grande aventura dos mares, n.o 37, setembro 2016, p. 54 o excesso de mercadorias
e de pessoas e a tempestade
1. O texto descreve as dificuldades vividas pela tripulação de uma armada que fazia (tormenta) vivida ao largo
do cabo da Boa Esperança,
a carreira da Índia. que obrigou à separação da
armada.
1.1 Indique o nome de cada uma das naus que compunham a armada.
3. A “Santo Alberto” e a
1.2 Refira os locais de partida das naus. “Nazareth” encalharam
ao largo do cabo da Boa
2. Ao longo da viagem, a armada enfrentou várias dificuldades. Esperança; a “Chagas”
conseguiu dobrar
2.1 Apresente dois exemplos dessas dificuldades. o cabo e aportou em Luanda.

3. Indique o destino final de cada uma das naus.

231
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
PARA DESENVOLVER
As aventuras e desventuras
dos Descobrimentos
INFORMAR

A História Trágico-Marítima
Em pleno reinado de D. João V, ainda sob o influxo de uma cultura tardo-barroca,
Bernardo Gomes de Brito publica em Lisboa − oficina da Congregação do Oratório,
1735-1736 − os dois primeiros volumes (previam-se mais três) de uma antologia de
naufrágios, sucessivamente reeditada até aos nossos dias e intitulada História Trá-
5 gico-Marítima, em que se escrevem chronologicamente os Naufragios que tiveraõ as
Naos de Portugal, depois que se poz em exercicio a Navegação da India. Recolhendo e
ordenando cronologicamente uma dúzia de relatos de naufrágios ocorridos sobre-
tudo na longa e difícil “carreira da Índia”, a obra do erudito setecentista reafirmava
o interesse histórico-literário, a notável popularidade e o sucesso editorial dessas
10 relações de viagens atribuladas e desastres marítimos. […]
Num misto de crónica e de reportagem jornalística ante litteram − “relatos quase
jornalísticos” (João Gaspar Simões) −, normalmente assinadas por autores mais ou
menos conhecidos, as relações de naufrágio conheceram uma enorme circulação
editorial e desencadearam apreciáveis sentimentos de comoção universal. Num to-
15 pos1 recorrente, implícita ou expressamente, a vivacidade e o dramatismo dos rela-
tos transmitia a constante ideia de realismo dramático e cinético2, face à novelística
Frontispício da Historia Trágico-
-Marítima, Lisboa, 1735.
da época e mesmo à tradicional literatura de viagens, ora mais factual ora mais dada
a mirabilia3. […]
PROFESSOR Os relatos de naufrágios que acompanharam a época das grandes descobertas
20 expressam a funesta ruína de vidas e destruição de fazendas, inaugurando uma
literatura de perda, centrada na dimensão mais negra e trágica desse período áureo
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da História de Portugal − a da devastação e da ruína de homens e de bens no “mar
História Trágico-Marítima português”. Já a partir de finais de Quinhentos, a imagem do naufrágio expressava
− Contextualização um profundo sentimento de crise e de declínio; e a trágica estatística dos desastres
histórico-literária
25 da carreira da Índia, bem como alguns relatos cronísticos, são por si só bem elo-
Leitura quentes.
8.1; 8.2 José Cândido de Oliveira Martins, “História trágico-marítima”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Educação Literária
Dicionário de Luís de Camões. Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 410-412.
14.3; 14.7; 15.1; 16.1

1
1. tema; 2 relativo a movimento; 3 coisas admiráveis ou maravilhas.
a. História Trágico-Marítima
b. Bernardo Gomes de Brito 1. Selecione a informação mais relevante para dar resposta aos seguintes tópicos.
c. Dois
d. Reinado de D. João V Título da antologia a.
(1735-1736)
e. “em que se escrevem Responsável pela sua publicação b.
chronologicamente os
Naufragios que tiveraõ as Número de volumes publicados c.
Naos de Portugal, depois
que se poz em exercicio a
Navegação da India” (ll. 5-6)
Data de publicação d.
f. “misto de crónica e de Conteúdo da obra e.
reportagem jornalística” (l. 11)
g. “da devastação e da ruína Género literário f.
de homens e de bens no «mar
português» (ll. 22-23)
Realidade(s) retratada(s) g.
h. “profundo sentimento
de crise e de declínio” (l. 24) Sentimento(s) despertado(s) h.

232
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

EDUCAÇÃO LITERÁRIA *FIXAÇÃO DE TEXTO


História Trágico-
-Marítima – narrativa
Os excertos que se apresentam pertencem ao capítulo V da História Trágico-Marítima − de naufrágios da época
narrativas de naufrágios da época dos Descobrimentos*, “As terríveis aventuras de Jorge dos Descobrimentos
(adaptação de António
de Albuquerque Coelho”, uma adaptação de António Sérgio.
Sérgio e ilustrações
de André Letria), Lisboa,
EXCERTO 1 Sá da Costa Editora,
edição Expresso, 2008.
Antecedentes – missão de Jorge de Albuquerque Coelho
Como se sabe, no tempo do rei D. João III foi o Brasil dividido em capitanias,
cada uma concedida a um donatário. A de Pernambuco, uma das que primeiro se
povoaram e que logo alcançou grande importância, coube a um fidalgo de reto es-
pírito, nobre, perseverante, trabalhador, que tinha por nome Duarte Coelho. Parece
5 que dispunha de consideráveis recursos e é de supor que esses seus haveres fos-
sem o resultado de trabalhos longos que passou em África e no Oriente. Alcançada
a mercê real, transferiu-se logo para o Brasil, acompanhado de muitos dos seus
parentes. Sob a sua hábil administração, a capitania prosperou. Passados alguns
anos, resolveu vir até à metrópole, a fim de angariar colonos novos e contratar
10 industriais competentes com que pudesse desenvolver a sua empresa. Confiou a
um seu cunhado, Jerónimo de Albuquerque, o governo da capitania, e embarcou
acompanhado de seus filhos: Duarte Coelho de Albuquerque e Jorge de Albuquer-
que Coelho, que tivera de sua mulher, Dona Brites de Albuquerque.
Na metrópole veio a falecer Duarte Coelho em 1554; e, já no tempo em que a
15 rainha Dona Catarina, avó do rei D. Sebastião, governava Portugal durante a me-
noridade do seu neto, chegou nova do Brasil, e especialmente de Pernambuco,
de que a maior parte das tribos indígenas se levantara ali contra os portugueses,
pondo cerco aos principais lugares daquela colónia de Pernambuco.
Ordenou pois Dona Catarina que Duarte de Albuquerque Coelho, herdeiro da
20 capitania, a fosse sem demora socorrer; e, entendendo ele que lhe seria utilíssi-
ma a companhia e ajuda de seu irmão, Jorge de Albuquerque Coelho, suplicou à
rainha regente que lhe desse ordem de o acompanhar; e assim ela fez.
Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando
mais de vinte anos de idade; e, havendo chamado
25 a conselho alguns padres da Companhia de Jesus
e várias personagens entre as principais da terra,
assentou-se entre todos, ponderado lance, que se
elegesse por chefe militar da capitania a Jorge de
Albuquerque Coelho, o qual, como lhe disseram
30 que cumpria ao bem público o aceitar ele e servir
tal cargo, o aceitou, e se aventurou, e se esforçou
muitíssimo, correndo risco de perder a vida no zeloso
cumprimento dos seus deveres. Começou o ataque
aos inimigos naquele mesmo ano de 1560, com tropa
35 de soldados e de criados seus, que alimentava, vestia e
calçava à sua custa.

233
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

PROFESSOR Prosseguiu nas operações de guerra através de montes e de desertos, durante ve-
rões e durante invernos, de noite e de dia, passando grandíssimos trabalhos, sendo
Educação Literária ele e os seus soldados feridos pelo gentio muitas vezes, e combatendo a pé e a cavalo.
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.6; 14.7; 15.2; 16.1 40 Frequentemente, não tinham mais que para comer do que os caranguejos do mato
que encontravam, cozinhados de farinha de pau e fruta selvagem daqueles campos.
1. [C] – [A] – [D] – [G] – [B] – [J] – Quando acampavam, faziam os escravos choupanas de palma, em que se agasalhava
[E] – [F] – [H] – [I]
toda a tropa. Com estes cuidados que sempre tinha e com as boas palavras que lhes
Gramática
dizia, consolava e contentava a sua gente. Entrada uma aldeia dos inimigos, corria
18.4 45 logo sobre a mais próxima e a tomava assim com facilidade, por não terem tempo de
se fazerem prestes.
1. Com esta diligência e brevidade, pacificou em cinco anos a capitania. Quando
a. Complemento indireto
chegara, não ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que duas léguas
b. Complemento oblíquo
pela terra dentro, e ao longo da costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, po-
c. Sujeito
2. a. Oração subordinada 50 diam ir até vinte pelo interior, e sessenta léguas ao logo da costa, − as que tinha a
adjetiva relativa restritiva. capitania no seu âmbito.
b. Oração subordinada Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e pacíficos
substantiva completiva.
com pedirem paz que lhes outorgaram, embarcou para a metrópole na nau “Santo
António”, na qual viagem se deram os casos que nesta narrativa se contêm.

1. Ordene as afirmações seguintes, de acordo com a lógica sequencial do texto.


[A] A capitania de Pernambuco foi atribuída a Duarte Coelho, um nobre fidalgo que
enriqueceu à custa do seu trabalho em África e no Oriente.
[B] Após a morte de Duarte Coelho, Dona Catarina ordenou ao herdeiro da capita-
nia que a fosse socorrer, pois estava a ser ameaçada pelos indígenas.
[C] No reinado de D. João III, o Brasil estava dividido em capitanias.
[D] A capitania de Pernambuco prosperou durante a governação de Duarte Coelho.
[E] Jorge de Albuquerque Coelho assumiu a chefia militar da capitania de Pernambuco.
[F] Jorge de Albuquerque Coelho era um jovem aventureiro, lutador, corajoso e
cumpridor dos seus deveres.
[G] A partida de Duarte Coelho para a Metrópole levou à entrega da capitania a seu
cunhado.
[H] Sob o comando militar de Jorge de Albuquerque Coelho, a capitania de Per-
nambuco alcançou a paz e alargou o seu território.
[I] Jorge de Albuquerque Coelho embarcou para a Metrópole após a pacificação da
capitania.
[J] Duarte de Albuquerque Coelho pediu ajuda a seu irmão Jorge de Albuquerque
Coelho para governar a capitania.

GRAMÁTICA

1. Identifique as funções sintáticas dos constituintes sublinhados.


a. “A de Pernambuco […] coube a um fidalgo de reto espírito” (ll. 2-4)
b. “Parece que dispunha de consideráveis recursos” (ll. 4-5)
c. “faziam os escravos choupanas de palma” (l. 42)

BLOCO INFORMATIVO – 2. Classifique as orações.


pp. 271-273, 277
a. “que passou em África e no Oriente” (l. 6)
b. “que lhe desse ordem de o acompanhar” (l. 22)

234
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A viagem de Jorge de Albuquerque Coelho até Portugal anuncia-se desastrosa logo


desde a sua partida.

EXCERTO 2

Partida
Carregada a nau de muita fazenda no belo porto de Olinda, deu à vela com o
vento em popa a 16 de maio de 65. Não eram ainda bem saídos da barra quando se
acalmou o vento com que partiram; logo depois se lhes tornou contrário, os levou
de través e os atirou para um baixo, onde permaneceram por quatro marés e se
5 viram em risco de se perderem, o que lhes teria sem dúvida acontecido se fossem
então os mares mais grossos.
Acudiram-lhes com presteza muitos batéis, que lograram salvar a gente toda e
a maior parte da carregação. Porém, nem assim descarregada se desencalhou, pelo
que decidiram cortar os mastros; então, nadou e saiu dos baixos.
10 Tornada a nau ao porto da vila, foi examinada por oficiais para verem se po-
deria seguir viagem; e, por acharem que não recebera dano que a impossibilitasse
para a navegação, se tornou a preparar e a carregar.
Vários amigos de Albuquerque Coelho, vendo que ele pensava em reembarcar
na nau, quiseram dissuadi-lo de tal proceder pelos maus princípios que já tivera;
15 mas nem ele, nem os demais passageiros quiseram dar ouvidos a tais prognósti-
cos, e tornaram a embarcar na “Santo António”, que largou enfim da vila de Olinda
a 29 de junho de 65.
Cinco dias depois da largada mudou o vento de maneira súbita, tornando-se
tão contrário e de tal violência que trataram de alijar1 fazenda ao mar, por isso que
20 a nau lhes mareava2 mal, pela muita carga com que dali partira. Pela tarde piorou
ainda e o casco3 abriu água. Davam à bomba continuamente, às seis mil zoncha-
duras4 entre noite e dia. Pouco depois, um pé de vento quebrou o gurupés5.
Finalmente, já nos doze graus de latitude norte, o vento acalmou. Andaram
dezanove dias em calmarias, acompanhadas de trovoadas. Resolveram, então, de-
25 mandar6 uma das ilhas de Cabo Verde, em cuja latitude se encontravam para tira-
rem a água que no navio entrava e repararem a avaria do gurupés.
A 29 de julho, não estando já longe de uma das ilhas, deram vista de uma nau
e de uma zabra7 de franceses. Estes seguiram a “Santo António” e às três horas da
noite estavam tão perto que vieram à fala com a nossa gente, intimando-a a que
30 se rendesse. Mas entendendo então da nossa nau que se estava aparelhando para
defender-se, não ousaram acometê-la durante a noite, e deixaram-se andar na
sua esteira, para tentarem abordá-la pela madrugada.
Na antemanhã, porém, caiu uma trovoada muito forte, que os obrigou a apar-
tarem-se uns dos outros, sem que pudessem ver-se na cerração.
35 No dia seguinte, 31 de julho, tentaram enfim demandar a ilha. Quando estavam
já perto, o vento começou a soprar da terra, e muito rijo. Tiveram por isso de de-
sistir, apesar da muita água que então faziam.
Correram assim até 37 graus (latitude norte). Deviam achar-se bastante para
oeste, porque a nau, com os ventos contrários, abatera muito. (Nesse tempo, ain-
40 da só se calculava a latitude, pela altura da estrela polar ou pela altura meridiana
do Sol; a longitude não se calculava, e apenas se estimava pelo caminho andado,
imperfeitissimamente).

235
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

Então, durante uma semana, foram outra vez as calmarias, − dias de repouso
físico relativo, passados na monotonia de um balanço lento, sonolento, que im-
45 pacientava.
No dia 29 de agosto começou a soprar uma brisa larga, animadora e próspera.
O plano, agora, era demandar o arquipélago dos Açores, para ver se numa das ilhas
se consertava a nau, e se tapava, finalmente, a muita água que ela estava fazendo.
Já por esse tempo se passava muita fome e muita sede; e, sabendo Jorge de
50 Albuquerque Coelho a necessidade dos tripulantes e dos passageiros, e que não
havia na nau mais mantimentos que o que ele trazia para si e para os seus criados,
mandou colocar tudo adiante de todos e repartiu mui irmãmente pela companhia,
sem nada pretender para si próprio, se bem que toda a gente lho quis pagar por
lhe valer muito. Tudo o generoso fidalgo recusou: com o que ficaram todos mui
55 contentes e se sustentaram por espaço de alguns dias.
No entanto, levantaram-se grandes brigas e discórdias entre marinheiros e
passageiros; mas Jorge de Albuquerque, sabedor do caso, interveio, − e lá os foi
acalmando e pondo em paz.

1
tirar ou deitar fora; 2 andava, governava; 3 parte do navio que assenta na água; 4 operação
de levantar o zoncho ou o êmbolo da bomba do navio, para fazer subir a água; 5 mastro
colocado na extremidade da proa, para diante, formando com a horizontal um ângulo de 30
a 40 graus; 6 procurar; 7 embarcação pequena.

1. Complete a síntese do excerto com os conectores adequados e os marcadores


temporais em falta.
No dia 16 de maio de 1565, a nau “Santo António” partiu carregada da vila de Olinda.
a. , devido a ventos contrários, foi arrastada para um baixio, onde perma-
neceu durante b. , tendo voltado, depois, a terra para ser re-
parada. O reembarque deu-se a 29 de junho de 1565, c. mui-
PROFESSOR
tos amigos de Albuquerque Coelho o terem aconselhado a não partir, dado o estado
Escrita da embarcação.
12.3 d. depois, a violência dos ventos obrigou os marinhei-
ros a alijar e rompeu o casco da nau, e. começou a deixar entrar água.
1. a. Porém Quando o vento amainou, seguiu-se um período de dezanove dias de calmaria,
b. dois dias após o qual os navegadores tentaram chegar a Cabo Verde, f. preten-
c. apesar de
diam reparar a nau. g. , avista-
d. Cinco dias
e. que ram uma embarcação de corsários franceses e prepararam-se para se defenderem.
f. onde h. , uma tempestade afastou as embarcações e os france-
g. A 29 de julho
ses desistiram do ataque. i. , na manhã seguinte, a nau portuguesa conti-
h. No entanto
i. Assim nuou a sua rota, rumo a Cabo Verde. j. , os ventos contrários não permiti-
j. Contudo ram a aproximação à ilha e os marinheiros desistiram do seu objetivo. Seguiu-se uma
l. a 29 de agosto
m. Mas
semana de calmaria, até que, l. , se
n. que levantaram ventos favoráveis e os navegadores decidiram rumar aos Açores para ten-
tarem novamente consertar a nau.
Com todas estas atribulações, a fome e a sede atingiram a tripulação.
m. Jorge de Albuquerque Coelho, com a sua bondade e sabedoria, repar-
tiu os seus alimentos por todos, ao mesmo tempo que tentava acalmar as discórdias
n. surgiam devido à escassez de alimentos e ao cansaço.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

236
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

INFORMAR PROFESSOR

Leitura
As embarcações portuguesas foram de importância determinante para a época dos 7.1; 8.1
Descobrimentos.
e a imagem e leia o texto, no sentido de identificar algumas característica
Observe características das 1. Barco de alto bordo,
espaçoso e lento, com três
ortuguesas.
naus portuguesas. cobertas e velas quadradas
no mastro principal.

Esquema (desenho técnico de nau), Páginas da História, manual de História 8.° ano, Porto,
Edições ASA, 2014, pp. 28-29.

A nau
A nau é um barco de alto bordo, relativamente curto, espaçoso e lento, com lota- 1
a maior vela do mastro da
ção de 500 a 1000 toneladas, com três cobertas, velas quadradas no mastro principal proa (parte dianteira do barco)
e no traquete1, e triangulares no de mezena2: em meados do século XVI é também 2
mastro mais próximo da ré do
introduzida uma vela quadrada no mastro posterior e faz a sua aparição o mastro de navio (parte traseira do barco)
3
5 contramezena3. É a embarcação por excelência, com o casco erguido à popa e à proa mastro do navio oposto ao da
mezena
a formar dois “castelos”, sendo o primeiro destinado ao alojamento dos passageiros
ricos.
Giulia Lanciani, Sucessos e naufrágios das naus portuguesas,
Lisboa, Caminho, 1997, pp. 34-35.

1. Refira três características das naus portuguesas.

237
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

O caráter de Jorge de Albuquerque Coelho é constantemente posto à prova.

EXCERTO 3

Encontro com os corsários


A 3 de setembro, navegando eles em demanda das ilhas, alcançou-os uma nau
de corsários franceses, bem artilhada e consertada, como costumavam. Vendo o
piloto, o mestre e os demais tripulantes da “Santo António” que não iam em esta-
do de se defenderem, pois mais artilharia não havia a bordo que um falcão1 e um
5 só berço2 (afora as armas que o Albuquerque trazia, para si e para os seus criados)
determinaram de se render. Jorge de Albuquerque, porém, opôs-se a isso com a
maior firmeza. Não! por Deus, não! Não permitisse Nosso Senhor que uma nau
em que vinha ele se rendesse jamais sem combater, tanto quanto possível! Dispu-
sessem todos ao que lhes cumpria, e ajudassem-no na resistência: pois somente
10 com o berço e com o falcão tinha ele esperança que se defenderiam!
Só sete homens, contudo, se lhe ofereceram para o acompanhar; e com esses
sete, e contra o parecer de todos os demais, se pôs às bombardas com a nau fran-
cesa, às arcabuzadas3, aos tiros de flecha, determinado e enérgico. Durou esta luta
quase três dias, sem ousarem os franceses abordar os nossos pela dura resistência
15 que neles achavam, apesar de os combatentes serem tão poucos e de não haver
senão o berço e o falcão, aos quais Jorge de Albuquerque pessoalmente carregava,
bordeava, punha fogo, por não vir na viagem bombardeiro, ou quem soubesse
fazê-lo tão bem como ele.
Ora, vendo o piloto, o mestre, os marinheiros, que havia perto de três dias que
20 andavam eles neste trabalho; que recebiam os nossos muito dano dos tiros dis-
parados pelos franceses, e que já lhes ia faltando a pólvora, − pediram ao fidalgo
e aos que o ajudavam que consentissem enfim na rendição, pois lhes era impos-
sível o prosseguir na defesa: não fossem causa de os matarem a todos, ou de os
meterem no fundo! Responderam a isto os combatentes que estavam decididos a
25 não se renderem enquanto capazes para pelejar. Os outros, vendo-os assim deter-
minados, deram de súbito com as velas em baixo, e começaram a bradar para os
franceses: entrassem, entrassem na nau, que se lhes rendia!
Os que combatiam, indignados, quiseram matar o piloto e o
mestre, pelo ato de fraqueza a que forçavam todos; não tardou,
30 porém, que subissem e entrassem dezassete franceses, armados

de espadas, de broquéis, de pistoletes, e alguns deles com alabar-


das. Num instante se assenhoriaram da nau.
Verificando a maneira como vinha esta,
perguntaram com que artilharia e que mu-
35 nições se haviam defendido tantos dias, e o

número dos homens que combatiam. Res-


ponderam-lhes que só Jorge de Albuquerque
fizera tudo, para o carregarem a ele com toda

238
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

a culpa. Ouvindo isto, dirigiu-se o capitão dos franceses a Jorge de Albuquerque PROFESSOR
40 Coelho com o rosto soberbo e melancólico, e disse-lhe assim:
− Que coração temerário é o teu, homem, que tentaste a defesa desta nau tendo Educação Literária
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
tão poucos petrechos de guerra, contra a nossa, que vem tão armada, e que traz 14.5; 14.6; 14.7; 15.1;
seis dezenas de arcabuzeiros? 15.2; 16.1
Ao que respondeu o Albuquerque Coelho, bem seguro de si:
1.1 A nau dos corsários
45 − Nisso podes ver que infeliz fui eu, em me embarcar em nau tão despreparada franceses apresentava-se bem
para a guerra; que se viera aparelhada como cumpria, ou trouxera o que a tua traz artilhada e em bom estado,
o que era costume nestas
de sobejo, creio que tivéramos, tu e eu, estados diferentíssimos em que estamos. embarcações estrangeiras.
Aliás, a boa fortuna que tivestes, agradece-a à traição desses meus companhei- 1.2 Jorge de Albuquerque
ros – o mestre, o piloto, os marujos, − que se declararam contra mim: pois se me não aceitava a rendição sem
combater, mesmo que os
50 houvessem ajudado, como me ajudaram estes amigos, não estarias aqui como seus meios de defesa fossem
vencedor, nem eu como vencido. escassos em relação às armas
da nau francesa.
Contraveio o capitão francês: 2. Jorge de Albuquerque
− Não te desconsoles, amigo: é isto fortuna da guerra, que hoje favorece uns, revela uma grande coragem,
altruísmo e dedicação à causa
amanhã outros. Pelo bom soldado que tu és, far-te-ei muito boa companhia e que defende.
55 àqueles que te ajudaram a combater: que tudo merece quem faz o que deve, cum- 3. O capitão dos franceses
prindo a obrigação da sua pessoa. louva a atitude de Jorge de
Albuquerque, pela forma
como combateu e defendeu
1 a nau, não o considerando um
pequena peça de artilharia; 2 peça de artilharia curta; 3 inflamar a pólvora.
vencido, mas um inimigo digno
de respeito. Por isso, promete
tratá-lo com a consideração
que merece.
1. Releia o primeiro parágrafo. 4. Ao longo deste excerto,
a tripulação da “Santo
1.1 Descreva por palavras suas a nau dos corsários franceses. António” debate-se com vários
problemas, entre eles
1.2 Refira o argumento apresentado por Jorge de Albuquerque para não se render aos o estado deplorável da nau,
sem artilharia suficiente para
corsários franceses. se defender; o ataque que
sofreu por parte dos corsários,
2. Caracterize Jorge de Albuquerque a partir do seu comportamento perante o ata- bem mais apetrechados que
que dos corsários, descrito no segundo parágrafo. os portugueses, e ainda a
traição de alguns elementos
da tripulação.
3. Justifique a atitude do capitão francês em relação a Jorge de Albuquerque, presen-
te no último parágrafo. Gramática
18.1; 18.4
4. Apresente dois exemplos deste excerto que contribuam para o relato das aventu-
ras e desventuras dos Descobrimentos. 1.1 “amigo” (l. 53).
1.2 “que hoje favorece uns,
amanhã outros” (ll. 53-54).
1.3 “far-te-ei” (l. 54).
GRAMÁTICA 2.
a. Complemento direto
1. Releia o último parágrafo do texto. b. Complemento indireto
1.1 Indique a expressão que desempenha a função sintática de vocativo. 3. Oração subordinada
substantiva completiva.
1.2 Transcreva a oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
1.3 Retire um exemplo de uma forma verbal no futuro do indicativo.

2. Indique a função sintática dos pronomes nos segmentos:


a. “alcançou-os uma nau” (l. 1)
b. “Responderam-lhes que só Jorge de Albuquerque” (ll. 36-37)
BLOCO INFORMATIVO –
3. Classifique a oração “que consentissem enfim na rendição” (l. 22). pp. 271-273, 267-268

239
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
PROFESSOR
LEITURA
Leitura
7.3; 7.6; 8.1; 8.2
A celebração dos 500 Anos dos Descobrimentos Portugueses, bem como a opção pela
1. O estudo Sucessos
temática dos Oceanos para o Ano Internacional de 1998 – ambas combinadas na Exposição
e naufrágios das naus Mundial de Lisboa, Expo' 98 – incentivou a publicação de vários estudos/livros relacionados
portuguesas, de Giulia Lanciani. histórica e literariamente com estes temas. Um desses estudos foi Sucessos e naufrágios
2. “sedutora temática” (l. 2);
“útil e alargada antologia”
das naus portuguesas, publicado em 1997, da autoria de Giulia Lanciani, professora de Lín-
(ll. 22-23); “pressupõe um gua e Literatura Portuguesa na Universidade de Roma.
aturado labor” (ll. 35-36); “esta
importante obra” (ll. 40-41);
“uma referência obrigatória” Leia um excerto da apreciação crítica a esta publicação e responda às questões.
(l. 44).
3. A obra é uma referência
obrigatória para quem
se dedica à Literatura de
Naufrágios (ll. 43-45).
Sucessos e naufrágios das naus portuguesas

A obra [Sucessos e naufrágios das naus portuguesas, modelar "Relação da mui notável perda do Galeão
de Giulia Lanciani] centra-se na sedutora temática dos Grande S. João...", mais conhecida como Naufrágio de
relatos de naufrágios dos séculos XVI e XVII, coligidos Sepúlveda; até à breve "Relação do sucesso que teve o
por Bernardo Gomes de Brito nos dois volumes da His- patacho chamado N. Sra. da Candelária...". […] Por con-
5 tória Trágico-Marítima (Lisboa, 1735-36), um dos mais 30 seguinte, tem o mérito de ser a primeira e única edição
belos monumentos da anónima epopeia negra da Lite- deste importante relato de naufrágio. Procurando su-
ratura Portuguesa. […] perar os compreensíveis erros das sucessivas edições
[N]a primeira parte, a autora […] começa por refle- dos relatos de naufrágios, originalmente publicados em
tir sobre as razões explicativas de um género peculiar populares folhetos de cordel pelos séculos XVI e XVII,
10 da literatura de viagens (relato de naufrágio) e suas 35 esta publicação de Giulia Lanciani pressupõe um atura-
funções moralizantes, didascálicas ou educativas, mas do labor em bibliotecas e arquivos nacionais e estran-
também ideológicas ou civilizadoras; discorre, depois, geiros, como se depreende, aliás, do aparato crítico do
sobre a "matriz literária" das narrativas de naufrágio, trabalho da professora italiana.
assinalando os procedimentos que configura o modelo Numa época de redescoberta do valor literário e cul-
15 narrativo dos relatos de naufrágio; por fim, explicita o 40 tural da Literatura de Viagens e de Naufrágios, […] esta
modelo narrativo dos relatos de naufrágio, enumeran- importante obra de Giulia Lanciani apresenta-se a um
do, critica e exemplificadamente cada uma das partes público vasto, com destaque para professores e alunos
ou unidades fundamentais, com suas variantes: ante- do ensino secundário e superior. Constitui-se, assim,
cedentes – partida – tempestade – naufrágio e arriba- como uma referência obrigatória no âmbito peculiar da
20 da – peregrinação / ou (sequência alternativa) ataque 45 cativante Literatura de Naufrágios, que comporta hoje
corsário – captura – impiedade dos inimigos – retorno. uma vasta bibliografia crítica e cujo profundo e alegó-
A segunda parte, constituída por uma útil e alargada rico simbolismo, em forma de retórica da decadência
antologia (pp. 181-562), edita oito relatos de naufrágio, pátria, atravessa praticamente toda a Literatura Portu-
em integral e cuidada transcrição textual. Os textos são guesa, desde a Renascença até à contemporaneidade.
25 retirados da História Trágico-Marítima, a começar pela J. Cândido Martins, in http://alfarrabio.di.uminho.pt/
(adaptado, consultado em fevereiro de 2017).

1. Identifique o objeto em apreciação.

2. Destaque três expressões reveladoras da opinião do autor do artigo acerca do ob-


jeto em causa.

3. Apresente um argumento que, segundo o autor, justifica a importância da obra de


Giulia Lanciani.

240
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

LEITURA

As viagens dos Descobrimentos


Ao longo do século XIV, toda a Europa atravessava uma grave crise
económica. Portugal não era exceção. Todos os grupos sociais pro-
curavam expandir-se em busca de uma nova vida, mas a paz com
Castela cedo definiu as fronteiras portuguesas. No entanto, o contacto
5 com o mar fez-nos um povo de marinheiros e pescadores, atraídos
pelo desconhecido. A situação geográfica de Portugal, a sudoeste da
Europa, com a sua faixa litoral voltada para o Atlântico e com uma
costa recortada com bons portos, era propícia à navegação. O país
voltou-se para o mar, Portugal lançou-se na Expansão Marítima.
10 Na época, já se faziam viagens pelos portos de Inglaterra, França,
Flandres, Norte de África (Navegação de Cabotagem) e desde tempos
Mapa do Mundo de Ptolomeu,
muito antigos que se navegava no Mediterrâneo. Verificavam-se, ainda, grandes in Claudii Ptolomaei Alexandrini
progressos na construção naval e na ciência náutica, graças à presença, entre nós, (1467).
PROFESSOR
de marinheiros genoveses e catalães.
15 Nas primeiras viagens, realizadas com barcas, navegava-se junto à costa e os Leitura P R O F E S S O R
marinheiros não tinham grande dificuldade de orientação. 7.1
Utilizavam-se as cartas náuticas, onde se escolhia o destino, seguia-se o roteiro 1. O texto refere-se às
navegações, àquilo que
da viagem e mantinha-se o rumo com a agulha de marear (bússola). as motivou, bem como
A arte de navegar não era muito diferente da utilizada pelos marinheiros do ao alargamento de
conhecimentos que as viagens
20 Mediterrâneo. marítimas proporcionaram.
No entanto, o espírito aventureiro, corajoso e destemido do povo português fez
com que as viagens fossem cada vez mais longe, avançando em mares ignorados. Escrita
11.1; 13.1
Sem cartas nem roteiros que orientassem os pilotos, era necessário contornar
Ao longo do século XIV, a
com cuidado os promontórios, observar os ventos, os abrigos e prestar atenção ao Europa atravessava uma
25 quebrar das ondas, para se evitarem os baixios. grave crise económica e, por
isso, aspirava-se a uma nova
Nas viagens de exploração, a tarefa essencial que competia aos marinheiros vida. A situação geográfica
era a de colherem todas as informações sobre o oceano navegado e os lugares que de Portugal, com uma vasta
costa com bons portos, era
visitavam. propícia à navegação. Assim, os
Assim se atualizavam os roteiros e se passavam as informações aos cartógra- portugueses voltaram-se para
o mar, começando a Expansão
30 fos, que melhoravam o rigor das cartas. Destas novas se aproveitavam aqueles que Marítima.
repetissem as mesmas navegações. A necessidade e o espírito
aventureiro dos lusos
Até ao final da Idade Média, os conhecimentos geográficos eram poucos e esta- reclamavam novas paragens,
vam envolvidos em imensas lendas. Acreditava-se que a Terra era um disco plano mas eram necessários grandes
progressos na construção
que pairava no espaço, circulando à sua volta os outros corpos celestes, como naval e na ciência náutica.
35 a Lua, o Sol e as estrelas visíveis no céu (Teoria Geocêntrica). O Cabo Bojador tinha Eram também essenciais as
viagens de exploração, dado
fama de horrores. Ficava a caminho da região equatorial, junto a um imenso de- permitirem informações sobre
serto. Não se sabia se o mundo acabaria ali. os oceanos e os territórios
visitados.
Helena Maria Teixeira et alii, in http://www.prof2000.pt/users/hjco/Descoweb/Pg000400.htm Deste modo, procedia-se à
(adaptado, consultado em fevereiro de 2017). atualização dos roteiros, que
facilitavam o progresso da
1. Identifique o tema do texto. cartografia e auxiliavam os que
navegavam de novo por estas
paragens. Tudo isto contribuiu
para aumentar
os conhecimentos geográficos
E S C R I TA e desmistificar lendas e mitos
criados durante a Idade Média.
(128 palavras)
Redija, em 100 a 130 palavras, a síntese do texto.

241
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As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

A viagem de Jorge de Albuquerque Coelho na nau “Santo António” enfrenta mais um


dos muitos obstáculos, desta vez a Natureza em fúria.

EXCERTO 4

Tempestade
1
Às dez, escureceu por completo, parecia noite. O negro mar, em redor, todo se
lufada
2 cobria de espumas brancas; o estrondo era tanto, − do mar e do vento, − que uns
fazendo estrondo
3
a mais baixa e maior vela aos outros se não ouviam.
redonda do mastro de proa Nisto, levanta-se de lá uma vaga altíssima, toda negra por baixo, coroada de
4
longa peça de madeira que 5 espumas; e, dando na proa com um borbotão1 de vento, galga sobre ela, a submer-
se coloca horizontalmente
ge, e arrasa. Estrondeando2 e partindo, leva o mastro do traquete3 com a sua verga4
sobre os mastros, para nela se
prenderem as velas
e enxárcia; leva a cevadeira5, o castelo de proa, as âncoras; estilhaça a ponte,
5
venda que pendia de uma o batel, o beque6, arrebatando pessoas, mantimentos, pipas. Tudo se quebra e lá
verga atravessada no gurupés vai no escuro. A nau, até o mastro grande, fica rasa e submersa, e mais de meia
6
parte mais avançada da proa 10 hora debaixo de água.
7
vela latina do mastro de ré
8 Os sobreviventes, que se arrastavam pávidos, confluem a um padre que se
atirados, arremessados
9
pavimento ou andar do navio acha a bordo e atropela as rezas e as confissões. Um relâmpago risca, ilumina a
10
brilhavam intensamente, treva: veem-se todos de joelhos, com as mãos no ar, a pedir misericórdia e a cla-
ameaçavam mar por Deus.
11
o lado de onde sopra o vento
12
15 Jorge de Albuquerque, como de costume, falava aos outros para lhes dar cora-
tempestade no mar
gem. Confiassem em Deus, − e ao mesmo tempo fossem dando à bomba, esgotan-
do a água que invadira o convés. Enquanto houver vida – dizia-lhes – trabalhem
todos por a conservar. E se Deus dispusesse por outra forma, tivessem paciência
ante os seus decretos: somente Ele sabe o que nos é melhor.
20 Com estas palavras os persuadia à faina. Deram à bomba, com imensa dificul-
dade de se aguentarem de pé, e esgotaram a água.
Mas outro vagalhão se lançou sobre a nau. Cobrindo o convés, arrebatou o
mastro grande, verga, vela, enxárcias, camarotes, borda; levou o mastro da meze-
na7 com o aparelho todo, uma parte da popa, e também um dos franceses dos de
25 maior jerarquia. Os portugueses que trabalhavam na bomba foram logo arrojados8
aqui e além; cobertos pelo mar, todos se convenceram de que se afogariam. Le-
vantaram-se aos poucos, queixando-se este de que partira um braço, aquele uma
perna. Ficou tudo mergulhado por algum tempo; e o mar, depois, dava ainda pelos
joelhos dos desgraçados. Mandou Albuquerque alguém à coberta9, para ver a água
30 que nela entrava. Só lhe faltavam três palmos para chegar acima, e a encher de
todo. Fuzilavam10 relâmpagos; a força do vento, a imensidade das ondas, aterra-
vam os ânimos; a água que entrava vinha cheia de areia. Jorge de Albuquerque,
apesar de tudo, consolava os tristes, afirmando-lhes a esperança de se saírem
daquilo.
35 O mastro grande, quando caiu, ficou preso na enxárcia; por debaixo de água,
passara para a banda de barlavento11; e de aí, jogado na vaga, dava choques horrí-
veis de encontro ao costado, que tremia todo com som cavernoso. Enfim, vieram
uns mares que o levaram para longe, e de mais esse tormento se viram livres.
Passados três dias, em que continuamente se deu à bomba, começou enfim a
40 bonançar a procela12.

242
1. Indique duas sensações presentes no primeiro parágrafo, referindo a sua importân-
PROFESSOR
cia para o ambiente de tempestade descrito.
Educação Literária
2. Refira duas características de Jorge de Albuquerque neste momento da viagem, 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
fundamentando a sua resposta com expressões textuais. 14.6; 14.7; 15.1; 15.2

3. Transcreva do segundo período do sexto parágrafo um exemplo de enumeração 1. No primeiro parágrafo estão
e comente a sua expressividade. presentes a sensação visual
(“escureceu por completo,
parecia noite”, l. 1)
e a sensação auditiva (“o
E S C R I TA estrondo era tanto”, l. 2).
Estas sensações contribuem
para criar um ambiente
tempestuoso, medonho, que
Observe o seguinte quadro. aterrorizava a tripulação.
2. Jorge de Albuquerque,
perante o ambiente de medo
vivido, mostrava-se solidário
com a tripulação (“falava aos
outros para lhes dar coragem”,
ll. 15-16) e determinado
(“Enquanto houver vida – dizia-
-lhes – trabalhem todos por a
conservar”, ll. 17-18).
3. “arrebatou o mastro
grande, verga, vela, enxárcias,
camarotes, borda” (ll. 22-23) –
a enumeração exprime a
violência da tempestade que
assolou a nau, atingindo todas
as partes da embarcação, que
não resistiram à força das
ondas e do vento.

Escrita
11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
12.4; 13.1

Tópicos a abordar:
– Quadro de William Turrner,
Tempestade-Naufrágio, 1823, William Turner (1775-1851), The British Museum, Inglaterra. pintor inglês do século XIX;
retratando uma tempestade.
– Em primeiro plano,
a violência das águas e do
Elabore um texto de apreciação crítica, de 130 a 180 palavras, sobre o quadro acima. vento expressa pela forma
O texto deverá obedecer a um plano prévio, apresentando uma estrutura tripartida. das ondas, pela cor (negro,
verde-escuro, cinza, branco
· Introdução: identificação do quadro, do autor e da época. da espuma) e pela indefinição
entre céu e mar.
· Desenvolvimento: – Em segundo plano, as
embarcações “perdidas”
– descrição sucinta do objeto, organizada do geral para o particular (elementos no emaranhado das ondas,
frágeis perante a força da
da composição e seu simbolismo… ), integrando os elementos observados; tempestade.
– cores e espaço; – Tela que retrata, de forma
muito realista, a força dos
– situação e articulação com a obra em análise; elementos da Natureza,
perante a fragilidade das
– apreciação pessoal (valorativa ou depreciativa), associando o quadro ao tema/ as- embarcações da época do
sunto dos textos abordados neste módulo (viagens, perigos do mar…). pintor, o que a aproxima da
descrição dos problemas
· Conclusão: síntese das principais ideias e reforço da apreciação. enfrentados pelas naus
portuguesas do tempo das
Descobertas e da fase pós-
-expansionista.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

243
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As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Depois de tantas aventuras e desventuras, eis que se avizinha a Pátria amada.

EXCERTO 5

Regresso a Lisboa
Mais três dias se passaram assim, no trabalho contínuo de dar à bomba. A 2 de
outubro, entre a neblina, pareceu-lhes divisar arrumação de terra. Cerca do meio-
-dia, dissipou-se a névoa. Maravilha! Deus louvado! Era a serra de Sintra! Lá esta-
va, ao cimo das rochas, a própria casa da Senhora da Pena!
5 […]
Ao outro dia, 3 de outubro, amanheceram chegados ao cabo da Roca; e indo já
a nau para dar à costa, passou perto uma caravela, que se dirigia para a Pederneira.
Suplicaram-lhe socorro; pagar-lho-iam bem. – Que Jesus lhes valesse, responde-
ram eles; nada, não queriam perder tempo na sua viagem… E seguiram avante,
10 sem nenhum dó.
Pouco depois, felizmente, avistaram uma barca pequenina, que navegava
para a Atouguia. Começaram a bradar-lhes, de joelhos, que lhes valessem, e es-
tando a barca a um tiro de berço, logo lhes acudiu com muita pressa.
Vinha a bordo dessa barca um Rodrigo Álvares de Atouguia, mestre e senhorio
15 dela, e uns parentes e amigos seus. Todos começaram a esforçar os da nau. Não
temessem nada; não os desamparariam, ainda que com risco de se perderem eles
próprios. Não desejavam por isso prémio algum.
Vendo o estado em que estavam os da nau, ficaram atónitos. Logo lhes deram
pão, água e frutas, que para si traziam.
20 O senhorio da barca, tanto que acabou de lhes dar de comer, passou-lhes um cabo
de reboque com que afastaram a nau da rocha e a foram trazendo ao longo da costa
até à baía de Cascais, aonde chegaram pelo sol-posto. Acorreram botes, em que se
meteram; uns desembarcaram ali em Cascais; outros só em Belém tomaram terra.
A nau, durante a noite, ficou amarrada à poupa da barca, por não ter âncora
25 com que fundeasse. No dia seguinte, o cardeal infante D. Henrique, que governava
o Reino, fez expedir uma galé que a fosse trazendo pelo rio acima. Fundeou a nau,
finalmente, diante da igreja de S. Paulo, onde numerosa gente a foi visitar, espan-
tando-se do destroço em que a viam posta.
PROFESSOR
1. Partindo da leitura deste excerto final da História Trágico-Marítima, complete o qua-
Educação Literária dro abaixo, com os factos ou com as expressões que ilustram as aventuras e desventu-
14.4; 14.5; 14.7
ras dos Descobrimentos, aquando do regresso da tripulação da nau “Santo António”.
1. a. “Maravilha! Deus louvado!
Era a serra de Sintra!” (l. 3)
Aventuras e desventuras dos Descobrimentos
b. “passou perto uma caravela Factos Exemplificação textual
[…] não queriam perder tempo
na sua viagem… E seguiram Entusiasmo e agradecimento pelo regresso. a.
avante, sem nenhum dó.” Abandono por parte dos “grandes”
(ll. 7-10) b.
que os veem chegar.
c. “avistaram uma barca
pequenina […] logo lhes acudiu Acolhimento por parte dos “pequenos”
c.
com muita pressa.” (ll. 11-13). que os veem chegar.
d. Estado faminto d. “Logo lhes deram pão, água e frutas” (ll. 18-19)
da tripulação.
“espantando-se do destroço em que a viam
e. Estado deplorável da nau. e.
posta.” (ll. 27-28)

244
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

GRAMÁTICA

1. Indique os vários tipos de embarcações referidos no excerto. PROFESSOR


1.1 Refira a relação semântica entre o termo “embarcações” e as palavras que indicou.
Gramática
19.3; 19.6
2. Complete a grelha com palavras ou expressões associadas ao termo navegar, reti-
radas do texto, de acordo com o exemplo.
1. Caravela, barca, nau, bote,
galé.
Nome Verbo
1.1 Relação de hiperonímia/
Nau Dar à bomba hiponímia:
embarcações – hiperónimo;
a. a. caravela, barca, nau, bote,
galé – hipónimos.
b. b. 2. Nome:
c. c. a. Caravela
b. Viagem
d. d.
c. Barca
d. Mestre
3. A palavra navegar surge no texto com o significado de viajar por mar, mas pode Verbo:
adquirir outros sentidos, de acordo com o contexto em que surge. a. Dar à costa
b. Desembarcaram
Interprete o significado da palavra nas frases abaixo, associando-a à definição cor-
c. Tomaram terra
reta.
d. Fundeasse
a. Os jovens passam muito tempo a navegar na Internet. 3.
a. 3
b. Como não estudam nada, andam completamente a navegar. b. 1
c. Quem se aventura em terras desconhecidas arrisca-se a navegar em águas turvas. c. 4
d. 2
d. Navegar no espaço poderá ser uma opção turística ainda no nosso século.
Escrita
1. andar sem rumo 2. viajar no espaço 12.4
3. utilizar (a Internet) 4. meter-se em sarilhos, perder-se
1.1 a. casco
b. velas
c. enxárcias
BLOCO INFORMATIVO – p. 282 d. mastro
E S C R I TA e. leme
f. convés
1. A nau “Santo António” partiu do Brasil carregada de mercadoria, rumo a Portugal.
Mas ao longo da viagem foram vários os perigos que enfrentou.
1.1 Complete os espaços em branco com os termos abaixo indicados, que correspon-
dem às diferentes partes de uma nau (consulte a informação da página 237).

• convés • velas • mastro • enxárcias • casco • leme

O vento arrastou a nau para um baixio, o que fez com que o a. abris-
se e a água entrasse. As fortes rajadas de vento rasgaram as b. , as
c. partiram, o d. quebrou. O e. ficou pendurado
só por um ferro e não era possível conduzir a nau com ele naquele estado. Os mari-
nheiros sofriam muito com todos estes perigos e com a fome que surgia após tanto
tempo no mar. Alguns caíam no f. da nau sem força para se levantarem.

245
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

PROFESSOR COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL


Leitura / Ed. Literária
9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4; 1. Ouça atentamente o poema de José Régio, interpretado pelo grupo musical The
21.2; 22.1
Link Gift no seu álbum “Amália Hoje”, e complete-o com os vocábulos em falta.
“Amália Hoje – Fado
1. Português”
1.º Chegada ao cais; 2.º Barca
do Diabo; 3.º Barca do Anjo;
4.º Barca do Diabo.
Fado Português
Oralidade
2. O Fidalgo
1.3; 3.2;mostra-se
4.1; 4.2; 5.1;
arrogante e altivo,
5.3; 6.1; 6.2; 6.3 O Fado nasceu um dia, “Mãe, adeus. Adeus, Maria.
desprezando o Diabo e a sua quando o vento mal bulia m. bem no teu sentido
barca. A sua atitude está
1. a. amurada e o céu o mar prolongava, n. aqui te o. uma jura:
relacionada com os símbolos
b. veleiro
que traz consigo (a cadeira, na a. dum b. , que ou te p. à sacristia,
c. marinheiro
o Pajem e o manto), que
d. tamanha 5 no peito dum c. 25 q. foi Deus que foi servido
caracterizam o Fidalgo do
e. monte
ponto de vista social (nobreza) que, estando triste, cantava, dar-me no mar sepultura.”
f. flores
e pessoal (vaidoso e com um
g. frutas que, estando triste, cantava.
sentimento de superioridade
h. ceguinho
relativamente aos restantes). Ora eis que embora outro dia,
i. frágil
j. lábio “Ai, que lindeza d. , quando o vento nem bulia
k. beijos
l. beija meu chão, meu e. , meu vale, e o céu o mar prolongava,
m. Guarda 10 de folhas, f. , g. de oiro, 30 à proa de outro veleiro
n. que
o. faço vê se vês terras de Espanha, velava outro marinheiro
p. levo areias de Portugal, que, estando triste, cantava,
q. ou
2. a. A parte final do capítulo V olhar h. de choro.” que, estando triste, cantava.
da História Trágico-Marítima José Régio, Poemas de Deus e do Diabo,
articula-se com este
poema, na medida em que Na boca de um marinheiro Famalicão, Quasi Edições, 2016.
os marinheiros da História 15 do i. barco veleiro,
Trágico-Marítima estariam
desejosos por regressar a morrendo a canção magoada,
casa, saudosos de reencontrar diz o pungir dos desejos
aqueles que amam, tal como
se encontra o marinheiro do j. a queimar de k.
deste poema. Por outro lado, que l. o ar, e mais nada,
já junto à costa de Portugal,
esteve perto o naufrágio da
20 que beija o ar, e mais nada.
nau “Santo António”. Ora,
a ideia de morte também
está, de certo modo, presente
no poema de José Régio, 2. Faça, oralmente, em 2-3 minutos, uma síntese do conteúdo do poema, observando
nos últimos três versos da os seguintes aspetos:
penúltima estrofe.
b Existe uma estrutura a. relação entre o conteúdo deste poema e o “Regresso a Lisboa”, parte final do capítulo V
narrativa, pois apresenta-se da História Trágico-Marítima.
uma personagem, que é
caracterizada (“que, estando b. existência de uma estrutura narrativa;
triste, cantava”), havendo
localização espácio-temporal c. recurso às aspas;
da ação (“um dia”; “na amurada
dum veleiro”) e o recurso ao d. existência de uma paisagem idealizada.
pretérito perfeito do indicativo
(“nasceu”), alternado com
o pretérito imperfeito
(“cantava”).
c. As aspas introduzem GRAMÁTICA
o discurso direto, ou seja,
a canção/o fado que
o marinheiro estaria a cantar. 1. Construa um campo lexical de “navegação”, tendo em conta a última estrofe do poe-
ma.

BLOCO INFORMATIVO – pp. 282, 277,


271-273

246
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

2. Selecione a opção que completa adequadamente cada afirmação. PROFESSOR


2.1 O segmento sublinhado em “O Fado nasceu um dia / quando o vento mal bulia”
d. A paisagem
Leitura /éEd.
idealizada
Literária
(vv. 1-2) corresponde à oração através 9.3;
do9.5;
recurso
9.7; 12.1;
à 20.4;
metáfora21.2;“frutas
22.1 de oiro”,
[A] subordinada adverbial temporal. pois o ouro confere um
caráter de excecionalidade,
[B] subordinante. 1. 1.º
de Chegada aoaos
preciosidade cais;frutos.
2.º Barca
do Diabo;também
Remete 3.º Barca do Anjo;
para
[C] subordinada adverbial causal.
o4.ºparaíso
Barca do Diabo.
perdido.
2. O Fidalgo mos
[D] subordinada adverbial condicional.
Gramática
2.2 Os termos sublinhados em “Mãe, adeus. Adeus, Maria.” (v. 21) desempenham a fun- 18.1; 18.4; 19.5
ção sintática de
[A] sujeito e vocativo, respetivamente. 1. vento, céu, mar, proa,
veleiro, marinheiro
[B] sujeito e complemento indireto, respetivamente. 2.1 [B]
2.2 [C]
[C] vocativo.
2.3 [D]
[D] complemento direto e complemento indireto, respetivamente.
Escrita
2.3 No segmento “dar-me no mar sepultura” (v. 26), o pronome desempenha a função 10.2; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
sintática de 12.4; 12.5; 13.1

[A] sujeito.
Resposta de caráter pessoal.
[B] predicativo do sujeito. No entanto, o aluno poderá
focar os seguintes aspetos:
[C] complemento direto. a sequência em fila de
mulheres de joelhos (como
[D] complemento indireto. se estivessem numa atitude
de súplica) junto aos homens
que amam e que partem;
E S C R I TA a limitação do contacto
(eles enclausurados na
embarcação, elas no exterior);
a fotografia a preto e branco
Faça uma apreciação crítica, de que se adequa a um ambiente
130 a 150 palavras, da fotografia, de dolorosa despedida; ao
contrário do poema, que nos
tendo em consideração os seguin- remete para um regresso
tes aspetos: desejado, queimando a boca do
marinheiro dos beijos que ele
· descrição sucinta do objeto, não dá, aqui as bocas queimam
dos beijos que dão, mas que
partindo do primeiro plano (ele- poderão ser os últimos, porque
mentos observados, postura uma viagem por mar poderá
não ter regresso, como quase
das personagens, sentimentos sucedeu com a nau “Santo
expressos, cor… ); António”.

· apreciação pessoal (valorativa


ou depreciativa), associando a
imagem ao tema do poema de
José Régio e aos textos aborda-
dos neste módulo (desventuras
das viagens);
· correção sintática e linguística;
· diversificação vocabular.

Soldados americanos despedindo-se antes da partida


para o Egito, 1963, autor desconhecido.

BLOCO INFORMATIVO – p. 283

247
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos

LEITURA

Leia o texto e responda, de seguida, aos itens apresentados.

Dois anos a pedalar…

[…] Alguém nos perguntava, em tom de balanço, como têm sido estes dois anos
de vida vividos ao máximo. Respondemos que o “máximo” que vivemos é pouco
convencional, porque é um “máximo” feito de “mínimos”, com o essencial – que
já é bastante – de comida, roupa, abrigo.
5 […] No total já lá vão 15 países percorridos, com cerca de 18 000
euros gastos, o que dá uma média de 12 euros por dia, por pessoa,
[…] e podíamos continuar aqui a desdobrar números, mas mate-
mática nunca foi o meu forte e na ciência dos números não cabe
a ciência do que vai cá dentro e, por tal, passemos a outros resu-
10 mos…

Por exemplo, à simbiose que ocorre nas 1427 horas passadas em


cima das bicicletas – em que nós e as nossas máquinas nos trans-
Samos, Grécia.
formamos num só, numa espécie de Eduardo mãos de tesoura a quem cresceram
duas rodas como extensão das pernas – o nosso corpo, […] a nossa mente, a nossa
15 bicicleta uma só entidade. Se alguma não está bem as outras têm de trabalhar em
overtime para compensar. […]
Dos quinze países por onde passámos, […] muito mais do que o espaço que
os seus carimbos ocupam nos nossos passaportes, contam sobretudo os carim-
bos incontáveis das amizades e dos gestos de generosidade alheia que ficam
20 nas nossas memórias e nas nossas saudades… dos encontros e dos reencontros,
do derrubar de ideias preconcebidas que nos fazem pensar que o mundo é a preto
e branco quando o mundo é uma paleta de cores infinitas, cheias de nuances. […]
Celebrámos os dois anos no Irão, onde o frio, o azul dos mil e um ladrilhos
das mesquitas, assim como a generosidade das suas gentes, nos têm preenchido
25 os dias. Esta é não só uma união geográfica que nos afaga os antagonismos, mas,
sobretudo, uma que nos desperta para o facto de que as diferenças e a diversida-
de, afinal, são o que de melhor vamos criando e deixando no mundo como seres
humanos.
Nos poucos contratempos que enfrentámos, porque nem tudo são alegrias ou
30 facilidades, destacamos a saga financeira e logística dos vistos e as suas limita-
ções temporais que nos encurtaram a estadia e as pedaladas em alguns países
que desejávamos ter percorrido na sua totalidade. […] O meu joelho a precisar de
descanso e a ensinar-me a lição de que para receber também é importante dar e
que uns alongamentos no final do dia se calhar não eram má ideia. Ou o frio do
35 inverno iraniano a travar-nos as pedaladas rumo a casa e a obrigar-nos a ir buscar
motivação extra para seguir, resistindo à tentação de nos enfiarmos no próximo
voo com destino às praias quentes e paradisíacas da Birmânia – mas os contra-
tempos são, neste contexto, apenas ínfimos detalhes que nos fazem repensar as
nossas opções e reajustar planos. […]
Joana Oliveira e Nuno Pedrosa,
in http://globonautas.net/dois-anos-a-pedalar/
(adaptado, consultado em fevereiro de 2017).

248
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”

PROFESSOR
1. Selecione a opção que completa adequadamente cada afirmação.
Leitura
1.1 Segundo os globonautas, os recursos de que dispõem 7.1; 7.2; 7.4; 8.1; 9.1

[A] não são os suficientes.


1.1 [B]
[B] ainda que parcos são os suficientes. 1.2 [C]
1.3 [A]
[C] não incluem o vestuário.
1.4 [D]
[D] são sobretudo roupa e comida. 2.1 O mais importante são os
ganhos em termos de amizade
1.2 Quando se trata de fazer o balanço dos dois anos de viagem, os autores do relato e de convivência, além da
perceção da verdadeira
[A] destacam o dinheiro gasto e os quilómetros percorridos. realidade no que se refere
à diversidade étnica existente
[B] afirmam que o mais importante é terem viajado juntos por 15 países. no nosso planeta.
[C] asseguram que mais importante do que o dinheiro gasto ou os países 2.2 Os problemas legais
com os vistos e o tempo
percorridos são os ganhos em termos pessoais. meteorológico obrigaram
os globonautas a
[D] dão igual importância aos ganhos em termos pessoais e aos gastos efetuados. permanecerem menos tempo
1.3 Do relato lido, destaca-se como importante a ideia dos globonautas de que do que desejariam em alguns
países e a não poder visitá-los
[A] a viagem contribuiu para mudar a opinião que tinham sobre o mundo. na sua globalidade.
2.3. Overtime, neste contexto,
[B] o mundo é, afinal, aquilo que eles imaginavam que fosse. significa sobrecarga de
esforço e de tempo nas
[C] percorrer tantos países serviu para confirmar que a diversidade não é situações em que a bicicleta
uma das características do globo. ou a pessoa não se encontra
em perfeitas condições
[D] durante a viagem descobriram que o mundo é a preto e branco. (mecânicas ou físicas,
respetivamente).
1.4 Segundo os autores do relato, as adversidades são 2.4 A expressão poderá
significar que as diferenças
[A] pequenos pormenores, mas já os levaram quase a desistir da viagem. étnicas e as diversidades
morfológicas dos países
[B] muito desmotivadoras, embora nunca os tenham levado a desistir. contribuem para tornar
mundo harmonioso e colorido,
[C] frequentes e muito desmotivadoras. em vez de monótono
e “cinzento”.
[D] pequenos pormenores solucionados, após redefinição de projetos.
2.5 As marcas de género
podem ser exemplificadas
2. Responda de forma correta e contextualizada. com os seguintes segmentos
textuais: Discurso pessoal –
2.1 Explicite o que os viajantes consideram como mais importante nas suas viagens.
“Dos quinze países por onde
2.2 Demonstre que as situações burocráticas e o tempo atmosférico influenciaram passámos”
(l. 17); “Nos poucos
a viagem dos globonautas. contratempos que
enfrentámos” (l. 29);
2.3 Clarifique o significado da expressão inglesa "overtime" (l. 16). Dimensão narrativa – “Alguém
nos perguntava […] de comida,
2.4 Explique por que consideram eles que “o mundo é uma paleta de cores infinitas, roupa, abrigo.” (ll. 1-4)
cheias de nuances” (l. 22).
2.5 Exemplifique as marcas de género: discurso pessoal e dimensão narrativa. Gramática
18.1

1. Pretérito perfeito composto


GRAMÁTICA do indicativo.
2. Nos poucos contratempos
1. Indique o tempo e o modo da forma verbal “têm sido” (l. 1). que enfrentei, porque
nem tudo são alegrias ou
facilidades, destaco a saga
2. Reescreva, na primeira pessoa do singular, o primeiro período do último parágrafo. financeira e logística dos
vistos e as suas limitações
3. Atente na forma verbal “obrigar-nos” (l. 35). temporais que me encurtaram
a estadia e as pedaladas em
3.1 Escreva-a no futuro simples do indicativo. alguns países que desejava ter
percorrido na sua totalidade.
3.2 Identifique a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal sublinhado.
3.1 obrigar-nos-á.
BLOCO INFORMATIVO – pp. 266-267 3.2 Complemento direto.

249
v Geografia do português no mundo
N DE
RE R
APRENDER
AP

ICA
G RA M Á T Como se pode ver pelo mapa abaixo apresentado, o português encontra-se espalhado por
R vários continentes.
APL ICA
O português europeu corresponde àquele que é falado em Portugal continental, na Madei-
ra e nos Açores. O português não europeu refere-se ao uso da língua portuguesa em países
situados em outros continentes, como é o caso do Brasil e dos PALOP (Países Africanos
de Língua Oficial Portuguesa). A título de curiosidade, acrescente-se que, recentemente,
o português foi decretado, a par do francês e do espanhol, língua oficial na Guiné Equatorial.

PROFESSOR

Apresentação
Português europeu
e Português não europeu
(variedade brasileira
e variedade africana)
Documento
Mapa – Português, língua
oficial no mundo

Gramática
17.8; 17.9

“Português – Língua Oficial no Mundo”, in Gramática do Português


(coord. Eduardo Raposo), vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2013, pp. 72-73.

A par da língua oficial portuguesa, muitos países utilizam crioulos, que nasceram da ne-
cessidade urgente de comunicação entre falantes com línguas maternas distintas. A colo-
nização e a língua portuguesa (do povo colonizador) está na origem dos crioulos de base
portuguesa que possuem um léxico que pertence maioritariamente ao português, ainda
que a estrutura gramatical seja a da língua indígena. No quadro abaixo, apresentam-se os
principais crioulos de base portuguesa.

Em África, formaram-se dois grupos de crioulos: Na Ásia, os crioulos de base portuguesa desapareceram
• Crioulos da Alta Guiné (pertencem a este grupo os criou- quase todos ou estão em vias de desaparecimento. Conside-
los de Cabo Verde e da Guiné-Bissau; são os mais antigos ram-se três grupos de crioulos:
que se conhecem). • Indo-portugueses (situam-se na Índia).
• Crioulos do Golfo da Guiné (pertencem a este grupo • Malaio-portugueses (localizam-se na Malásia, em algumas
os crioulos de S. Tomé e Príncipe). ilhas da Indonésia e em Timor).
• Sino-portugueses (são os crioulos de Macau e Hong Kong).

250
APRENDER

O português no mundo – especificidades sintáticas


e morfossintáticas
Português Europeu Português do Brasil Português de África

• Pronomes pessoais em posição • Pronomes pessoais em colocação • Colocação diferenciada do pronome


pós-verbal – Passa-me o livro. pré-verbal – Me passa o livro. pessoal – Me passa o livro. Ele diz que você
Você senta-se aí! (recurso a hífen) Você se senta aí! senta-se aí.
• Pronome pessoal com função de • Pronome pessoal com função de sujeito, • Pronome pessoal com função de
complemento direto – Eu avistei-o. usado como complemento direto – complemento indireto, usado como
Eu avistei ele. complemento direto – Eu avistei-lhe.
• Supressão da preposição que antecede
o complemento indireto – Entregou
os amigos a bola.
• Recurso ao verbo haver a anteceder • Recurso ao verbo fazer a anteceder
expressões temporais – Ele está em expressões temporais – Ele está em
Londres há dois anos. Londres faz dois anos.

• Uso de artigo antes de possessivo – • Ausência de artigo antes de possessivo –


A tua mãe já chegou. Tua mãe já chegou.

• Seleção do conjuntivo em certas orações • Seleção do indicativo em certas orações


subordinadas – Foi pena que ele não subordinadas – Foi pena que ele não
chegasse a tempo! chegou a tempo!
• Recurso à 2.a pessoa do singular e/ou • Recurso à 3.a pessoa do singular e/ou
ao pronome pessoal tu em contextos ao pronome pessoal você em contextos
informais – Tu vais ao cinema? informais – Você vai no cinema?
• Uso do infinitivo impessoal em frases • Uso do infinitivo pessoal em frases
completivas – Os alunos preferem brincar completivas – Os alunos preferem
nos corredores. brincarem nos corredores.
• Seleção do conjuntivo com talvez • Seleção do indicativo com talvez
e embora – Talvez ele venha. e embora – Talvez ele vem.

• Complexos verbais com recurso • Complexos verbais com recurso ao


a infinitivo precedido da preposição a – gerúndio – A mãe está fazendo o jantar.
A mãe está a fazer o jantar.
• Preposições que antecedem • Alteração no uso de preposições que • Alteração no uso de preposições que
complemento do verbo – Ela foi ao teatro. antecedem complemento do verbo – antecedem complemento do verbo –
Ele volta para casa. Ela foi no teatro. Ela foi no teatro. Ele volta em casa.
• Utilização transitiva direta de verbos
transitivos indiretos – Todos protestaram
a iniciativa.
• Utilização transitiva de verbos
intransitivos – Estava disposto a evoluir
a aldeia.

Há ainda uma grande variação no que diz respeito ao léxico, por influência das línguas
nativas, assim como na fonética, sendo mais acentuada a diferença entre o Português
do Brasil e a variante europeia, do que entre esta e as variantes africanas.

251
Geografia do português no mundo

APLICAR

Os três textos seguintes são ilustrativos de três variedades do português: o texto A con-
tém a variedade africana (português de Angola), o texto B a variedade africana (portu-
guês de Moçambique) e o texto C a variedade do português do Brasil.

TEXTO A
O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho, depois havia
o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos doutros mais-velhos que
vinham fazer confusão na nossa rua.
O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à uma. Ao meio-
5 -dia e quinze, o Jika tocava à campainha.
– O Ndalu tá? – perguntava à minha irmã ou ao camarada António.
– Sim, tá.
– Chama só, faz favor.
Eu interrompia o que estivesse a fazer, descia.
10 – Mô Jika, comé?
– Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.
– Diz.
– Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?
– Deixinda ir perguntar à minha mãe.
15 Entrei. O Jika ficou ansioso na porta, aguardando a resposta. Quase sempre a mi-
nha mãe dizia sim. Só se fosse mesmo maka de pouca comida, ou muita gente que já
estava combinada para o almoço.
Ondjaki, Os da minha rua, Editorial Caminho, 4.a edição, 2007 (pp. 13-14).

TEXTO B
Filha de cantineiros portugueses, Meninita sempre fora moça comedida. Na pe-
numbra da loja, ela atendia os negros como se fossem sombras de outros, reais
viventes. A miúda se ia fazendo ao corpo – o fruto se adoçava em polpa açucrosa.
A sede se inventa é para a miragem de águas. Pois nas redondezas não viviam ou-
5 tros brancos, únicos a quem ela entregaria seus açucares.
A família Pacheco se pioneirara na adez Shiperapera, onde mesmo os negros
originários escasseavam. […]
Dona Esmeralda, a esposa, se angustiava vendo o crescer da filha. […]
Adoentada, a moça deixou de atender ao balcão. Substituiu-a o moço Massoco,
10 cresceram simpatias na loja. Meninita se internou em seu quarto, emigrada da vida,
exilada dos outros. Massoco, ao fim do dia, se apresentava, em solene tristeza. Che-
gou a pedir:
– Peço licença ir lá ver a patroinha…
Mia Couto, Contos do nascer da terra, “A filha da solidão”, Editorial Caminho, 8.a edição (pp. 49-52).

252
APLICAR PROFESSOR

Gramática
TEXTO C 17.2; 17.4; 17.5
Professor desviou os olhos do livro, bateu a mão descarnada no ombro do negro,
1. a. “seu Grande” (texto C – l. 3)
seu mais ardente admirador: b. “vinham fazer confusão na
– Uma história zorreta, seu Grande – seus olhos brilhavam. […] nossa rua” (texto A – l. 3); “Peço
licença ir lá ver” (texto B – l. 13);
E volveu os olhos para as páginas do livro. João Grande acendeu um cigarro ba- “bateu a mão descarnada no
5 rato, ofereceu outro em silêncio ao Professor e ficou fumando de cócoras, como que ombro” (texto C – l. 1); “na sua
porta” (texto C – l. 12)
guardando a leitura do outro. Pelo trapiche ia um rumor de risadas, de conversas, de c. “até às vezes lhe
gritos. João Grande distinguia bem a voz do Sem-Pernas, estrídula e fanhosa. O Sem- protegíamos doutros” (texto
A – l. 2).
-Pernas falava alto, ria muito. Era o espião do grupo, aquele que sabia se meter na d. “vinha te perguntar” (texto
casa de uma família uma semana, passando por um bom menino perdido dos pais A – l. 11), “queres me convidar”
(texto A – l. 13); “A miúda se ia
10 na imensidão agressiva da cidade. Coxo, o defeito físico valera-lhe o apelido. Mas fazendo ao corpo” (texto B –
valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, humilde e tristonho, l. 3), “o fruto se adoçava” (texto
B – l. 3), “A sede se inventa”
na sua porta, pedindo um pouco de comida e pousada por uma noite. (texto B – l. 4), “se angustiava”
Jorge Amado, Capitães da areia, Herdeiros de Jorge Amado e Leya SA, 2009 (p. 32). (texto B – l. 8), “Meninita se
internou” (texto B – l. 10);
“aquele que sabia se meter
na casa” (texto C – ll. 8-9)
1. Retire dos textos expressões que ilustrem as seguintes especificidades linguísticas. e. “e ficou fumando de
cócoras” (texto C – l. 5), “o via,
a. Utilização de pronomes/determinantes da 3.a pessoa para designar o interlocutor. humilde e tristonho, na sua
porta, pedindo um pouco de
b. Alteração ou supressão da preposição que antecede complementos do verbo. comida” (texto C – ll. 11-12)
f. “ela entregaria seus
c. Utilização do pronome pessoal lhe/lhes com função de complemento direto. açucares” (texto B – l. 5),
“internou em seu quarto”
d. Pronome pessoal em posição pré-verbal. (texto B – l. 10); “seu mais
ardente admirador” (texto
e. Emprego do gerúndio em complexos verbais. C – l. 2)
2. a. Nós às vezes até
f. Ausência de artigo definido antes de determinante possessivo.
o protegíamos doutros.
b. Ndalu, vinha perguntar-te
2. Reescreva as seguintes passagens de acordo com as regras do português europeu. uma coisa.
c. Hoje num (não) me queres
a. “Nós até às vezes lhe protegíamos doutros” (texto A, l. 2) convidar para almoçar em tua
casa?
b. “– Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.” (texto A, l. 11) d. A miúda ia-se fazendo ao
corpo – o fruto adoçava-se.
c. “– Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?” (texto A, l. 13) e. Meninita internou-se no
seu quarto, emigrada da vida.
d. “A miúda se ia fazendo ao corpo – o fruto se adoçava” (texto B, l. 3) f. Peço licença para ir lá ver
a patroinha.
e. “Meninita se internou em seu quarto, emigrada da vida” (texto B, l. 10) g. bateu com a mão
descarnada no ombro do
f. “– Peço licença ir lá ver a patroinha…” (texto B, l. 13) negro, o seu mais ardente
admirador
g. “bateu a mão descarnada no ombro do negro, seu mais ardente admirador” h. Os seus olhos brilhavam.
(texto C, ll. 1-2) i. e ficou a fumar de cócoras
j. Mas valia-lhe também
h. “seus olhos brilhavam.” (texto C, l. 3) a simpatia de quanta mãe
de família o via […] à sua porta
i. “e ficou fumando de cócoras” (texto C, l. 5) a pedir um pouco de comida
e pousada por uma noite.
j. “Mas valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, […] na sua porta,
pedindo um pouco de comida e pousada por uma noite.” (texto C, ll. 10-12)

253
PA R A S A B E R "As terríveis aventuras de Jorge de A. Coelho"

A História Trágico-Marítima é uma antologia de naufrágios, uma espécie de anti-


-epopeia dos descobrimentos, publicada por Bernardo Gomes de Brito, em 1735-1736.
O capítulo V dessa coletânea é dedicado ao naufrágio por que passou Jorge de
Albuquerque Coelho.

A EPOPEIA DE JORGE DE ALBUQUERQUE COELHO


Estrutura Assunto
Núcleos narrativos dos relatos Aspetos focados
de naufrágios e acontecimentos
• Exposição do contexto sociopolítico – colonização do Brasil (rainha Dona
Catarina).
1. Antecedentes: antes da partida para • Apresentação do herói (determinação, coragem, liderança eficaz,
a metrópole e ainda em Pernambuco resistência, solidariedade, bondade, disciplina, honradez e espírito de
sacrifício).
• Lutas travadas com os inimigos (gentios) das terras.

2. Partida: primeira tentativa de • Lutas contra as adversidades da Natureza (ventos contrários e estragos
embarque rumo a Portugal na nau).

• Destruição de partes da nau.

Antes da tempestade • Alagamento da embarcação.


(as atribulações que • Falta de alimentos.
acometeram a nau • Lutas entre os sobreviventes.
“Santo António”) • Tentativa de saque/pilhagem por corsários franceses.
• Traição de uma parte da tripulação.

• Adensamento das condições climatéricas – tormenta (ventos fortes,


3. A viagem relâmpagos impetuosos, vagas enormes).
A tempestade
• Perda/destruição do leme, mastro, vergas, enxárcias, amarras, âncoras,
batel e mantimentos.

• A calmaria/a bonança.
• Saque da nau “Santo António” e abandono por parte dos corsários
Depois da
franceses.
tempestade
• Prosseguimento da viagem à deriva, com os equipamentos destruídos, ao
rumo do vento e do mar.

• Indiferença e desumanidade da tripulação de uma outra caravela que não


os socorre.
4. O regresso
• Salvamento por parte de uma pequena embarcação.
• Chegada a Lisboa.

5. A peregrinação • Romaria a Nossa Senhora da Luz em agradecimento pela salvação.

Dimensão religiosa presente no episódio

Os constantes apelos à ajuda divina/à misericórdia de Nosso Senhor:


Durante a viagem
• Uns, ajoelhados, pediam a Deus que os livrasse do perigo.
• Outros, junto de um padre, escutavam e rezavam.
• As permanentes palavras de fé divina proferidas por Jorge de Albuquerque Coelho.
Após o retorno
• A ida, em romaria, com alguns companheiros, a Nossa Senhora da Luz.

254
“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho ( 1565)”
PA R A V E R I F I C A R
PROFESSOR

Após a leitura e a análise do relato de naufrágio “As terríveis aventuras de Jorge de


Albuquerque Coelho”, verifique os seus conhecimentos. Apresentação
Galeria de imagens
1. Identifique as afirmações verdadeiras e as falsas. Corrija as falsas. Síntese da Unidade
Teste interativo
a. A História Trágico-Marítima é uma compilação das aventuras de Jorge de Albu- História Trágico-Marítima
querque Coelho. (Cap. V)

b. O capítulo V da História Trágico-Marítima assume a vivacidade e o dramatismo Educação Literária


característicos dos relatos de naufrágios. 14.3; 14.4; 14.5; 14.7;
15.1; 15.2; 15.3; 16.1
c. O naufrágio narrado no capítulo V situa-se na segunda metade do século XIV,
aquando da colonização do Brasil. 1. a. F – É uma compilação
de naufrágios sofridos por
d. Jorge de Albuquerque Coelho apresenta-se, logo de início, como um indivíduo embarcações portuguesas
aventureiro, lutador e zeloso dos seus deveres. após a viagem marítima de
Vasco da Gama à India.
e. Jorge de Albuquerque Coelho foi responsável pela paz na capitania de Pernam- b. V
buco. c. F – Situa-se no século XVI.
d. V
f. A nau “Santo António” foi assaltada por corsários franceses, mal se fez ao mar, e. V
f. F – Foi acometida por ventos
atrasando assim a sua partida para Lisboa. fortes que provocaram a
entrada de água e partiram
g. Ainda no início da viagem, quando vieram as calmarias, a tripulação já passava o gurupés. A tripulação
fome e sede. também teve de se libertar
da carga excessiva que a nau
h. Quando corsários franceses tentaram saquear a embarcação de Jorge de Albu- levava.
g. V
querque Coelho, este rendeu-se de imediato, para poupar as vidas dos homens h. F – Jorge de Albuquerque
que o acompanhavam. Coelho resistiu e lutou,
acompanhado apenas por sete
i. Quer a nau francesa quer a “Santo António” estavam bem apetrechadas para homens, até que a tripulação,
poderem resistir à batalha que travaram. à rebelião, se rendeu.
i. F – As duas naus estavam
j. O capitão dos franceses elogiou o caráter guerreiro e destemido de Jorge em situação de desequilíbrio:
a nau francesa apresentava-se
de Albuquerque Coelho. bem armada e em boas
condições; a “Santo António”
k. A tempestade que assolou a nau causou danos materiais elevadíssimos e a perda precisava de consertos e não
de vidas humanas. tinha artilharia suficiente
para vencer o inimigo.
l. Quando o desânimo se apossou do capitão Jorge de Albuquerque Coelho, j. V
foi a tripulação quem o encorajou. k. V
l. F – Foi precisamente
m. Graças ao ânimo e ao encorajamento de Jorge de Albuquerque Coelho, a tripu- o contrário que sucedeu:
Jorge de Albuquerque Coelho
lação resistiu à tempestade, dando à bomba durante dois dias. é quem encoraja a tripulação
desesperada e sem mais força,
n. A dimensão religiosa está presente ao longo do relato, com a evocação a Deus para continuar a lutar contra
em momentos difíceis e na descrição de Jorge de Albuquerque Coelho. os elementos da Natureza.
m. F – A tripulação deu à
o. A tripulação da embarcação que ajudou os sobreviventes da “Santo António” bomba durante três dias.
n. V
a chegarem a Belém revelou um acentuado espírito cristão, partilhando o que o. V
tinha.

255
PA R A R E C U P E R A R

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

1. Ordene as seguintes afirmações, de forma a reconstituir a cronologia dos aconte-


cimentos relatados no capítulo V da História Trágico-Marítima.
[A] Jorge de Albuquerque Coelho partiu da vila de Olinda, no Brasil, depois de uma
primeira tentativa falhada, a 29 de junho de 1565.
[B] Jorge de Albuquerque Coelho assumiu o comando militar da capitania de Per-
PROFESSOR
nambuco, tendo conseguido pacificá-la.
Educação Literária [C] O capitão dos franceses elogiou a atitude de Jorge de Albuquerque Coelho
1. [B] – [A] – [D] – [F] – [K] – [C] – e tratou-o com respeito.
[E] – [I] – [H] – [J] – [G]
[D] A 29 de julho os marinheiros avistaram uma nau e uma pequena embarcação fran-
Leitura/Escrita cesas, que os perseguiram, desistindo de os atacar devido a uma forte trovoada.
1.
a. 1 [E] Já com os franceses a bordo, a nau “Santo António” foi assolada por uma tem-
b. 2 pestade que destruiu grande parte das suas estruturas.
c. 3
[F] A 3 de setembro foram atacados por uma nau de corsários franceses, bem artilhada.
d. 2
e. 2 [G] A nau “Santo António” encalhou, tendo sido visitada por muitos curiosos, que
f. 3 se espantaram com o seu estado deplorável.
g. 4
[H] A 2 de outubro, a tripulação avistou a serra de Sintra.
h. 1
[I] Passados três dias, a tempestade acalmou e a nau “Santo António” prosseguiu
viagem, apesar do estado deplorável em que se encontrava.
[J] A nau “Santo António” foi acolhida pelos homens que navegavam numa barca
de pequenas dimensões.
[K] Jorge de Albuquerque Coelho tentou resistir ao ataque dos franceses, mas uma
parte da tripulação opôs-se a esta resistência.

L E I T U R A / E S C R I TA

1. Ao longo deste módulo contactou com vários géneros textuais.


Associe cada um dos géneros, indicados abaixo, às suas características, apresen-
tadas nas afirmações que se seguem.

1. Exposição sobre um tema 2. Apreciação crítica 3. Síntese 4. Relato de viagem

a. Texto que assume um caráter demonstrativo, apresentando uma elucidação so-


bre um tema ou uma ideia.
b. Género textual que se centra na apreciação de um objeto (livro, filme…).
c. Registo que seleciona as ideias essenciais de um texto-fonte.
d. Texto que apresenta um comentário crítico do objeto visado, numa perspetiva
positiva ou negativa.
e. Texto que recorre à argumentação para fundamentar uma perspetiva.
f. Registo que deve evitar a colagem ao texto-fonte.
g. Texto onde existe um discurso pessoal e uma dimensão narrativa e descritiva.
h. Texto objetivo e revelador de conhecimentos sobre o tema ou a ideia apresentada.

256
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R História Trágico-Marítima
GRUPO I PROFESSOR

Leia atentamente o seguinte excerto do capítulo V da História Trágico-Marítima, referente Leitura P / Ed.
R OLiterária
FESSOR
à descrição da tempestade que assolou a nau “Santo António”. 9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
21.2; 22.1

Então, a 12 de setembro, o vento acalmou, para logo depois rondar ao sudoeste. 1. Apresentação
1.º Chegada ao cais; 2.º Barca
doSoluções Ficha
Diabo; 3.º Barca do Anjo;
Pouco tardou que soprasse em fúria, zunindo1 nas enxárcias2, turbilhonando3 nu- 4.ºde Avaliação
Barca do Diabo.
vens, rendilhando espumas, açoitando no escuro os vagalhões roncantes. 2. O Fidalgo mos
Alija!4 Alija! Alija carga! Alija! Alijaram tudo que na coberta havia, e debaixo GRUPO I
Educação Literária
5 da ponte. Como enfunasse5 ainda mais o tempo, trataram de alijar os mastaréus6 14.3; 14.4; 14.5
das gáveas7, e todas as caixas que cada um trazia. Para que não fosse isto pesado
a alguém, foi a de Jorge de Albuquerque Coelho a primeira de todas que se lança- 1. No primeiro parágrafo,
ram ao mar, na qual ele trazia os seus vestidos e outros objetos de importância. temos a sensação visual
“rendilhando espumas”
E, parecendo que não bastava isto, arrojaram para as águas a artilharia, com e a sensação auditiva “os
10 muitas caixas que continham açúcar, e numerosos fardos de algodão. vagalhões roncantes”,
que exprimem o ambiente
Um mar mais violento desmanchou o leme. Atravessou-se a nau aos escar- tempestuoso, contribuindo
céus8, e não foi possível desviá-la para a fazer tornar a correr em popa. para o caráter realista da
descrição.
Quase todos, então, se sentiram descoroçoar9. Jorge de Albuquerque, vendo-os 2. Para enfrentar a
assim, começou a falar-lhes para lhes dar ânimo, e ordenou a alguns que bus- tempestade, a tripulação teve
de alijar, lançando ao mar
15 cassem meio com que se pudesse enfim governar a nau. Ajoelharam os outros, parte da carga, começando
e pediram a Deus que os livrasse do perigo. por bens menos necessários,
como as caixas com vestuário
Já a este tempo, que seriam nove horas da manhã, o navio dos corsários fran- e outros pertences, passando,
ceses se não avistava; – e os Franceses que estavam na “Santo António” vendo depois, a lançar para a água
a artilharia e caixas com
a tormenta desencadeada, o leme desmanchado, atravessada a nau, o rumor que açúcar e algodão.
20 fazia toda a gente, – chegavam-se aos nossos em tom amigo e cumpriam tudo 3. Jorge de Albuquerque
que lhes mandavam, como se fossem cativos dos Portugueses, e não os corsários Coelho revela-se um bom
líder, sendo ele o primeiro
e roubadores. a desfazer-se dos seus
bens, para dar o exemplo,
História Trágico-Marítima, “As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho”,
mostrando que era necessário
Sá da Costa Editora, adaptação de António Sérgio, pp. 134-135. alijar (“Para que não fosse
isto pesado a alguém, foi a
de Jorge de Albuquerque
Coelho a primeira de todas
1
produzindo som agudo e sibilante; 2 conjunto de cabos fixos, que seguram o mastro; 3 formando que se lançaram ao mar,
turbilhão; 4 alivia a carga; 5 tornasse mais bojuda a vela; 6 pequeno mastro suplementar; 7 velas do na qual ele trazia os seus
mastro grande; 8 encapelamento e ruído das ondas; 9 desanimar. vestidos e outros objetos
de importância.”, (ll. 6-8).
Mostra-se também um
homem generoso e solidário
com a tripulação (“Jorge de
Albuquerque, vendo-os assim,
começou a falar-lhes para lhes
1. Identifique as sensações presentes no primeiro parágrafo e comente a sua expres- dar ânimo, e ordenou a alguns
que buscassem meio com que
sividade. se pudesse enfim governar a
nau.”, (ll. 13-15)
2. Refira as ações empreendidas pela tripulação da nau “Santo António” para enfren-
tar a tempestade.

3. Caracterize Jorge de Albuquerque Coelho, fundamentando a sua resposta com ex-


pressões textuais.

4. Justifique a alusão a Deus nesta passagem da obra.

5. Explicite a atitude dos franceses que estavam na nau, descrita no último parágrafo
do excerto.

257
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R "As terríveis aventuras de Jorge de A. Coelho"
GRUPO II

Leia o texto com atenção.

A pergunta era se eu não sentia orgulho quando chegava ao cabo da Boa Espe-
rança. Orgulho de ser português.
Hesitei. Vou ser franco ou não? Dou uma resposta de circunstância e vaga, ou
entro na questão a fundo? Viajar por muito tempo tem esta consequência: adqui-
5 re-se um certo relativismo.
Fica difícil aceitar os dogmas e os mitos propagados na pátria ao longo de ge-
rações.
Visitamos outros países e ficamos a saber que os nossos dogmas e mitos valem
tanto como os deles. […]
PROFESSOR 10 Esse formidável promontório, no fundo de África, é um ponto de referência im-
pressionante quer para os que o alcançam por terra quer para os que o contornam
4. Os marinheiros, num ato
de desespero e sem meios
por mar. Aliás, recordo a minha desilusão quando o visitei pela primeira vez, por
para enfrentar a tempestade, encontrar um dia de mar calmo e translúcido, de céu cristalino e brisa suave, que
recorrem a Deus para os
ajudar, ajoelhando e orando,
nada fazia supor ser ali o lugar do mito do Adamastor. Mas em visitas seguintes,
pois Ele era o único que os 15 as coisas cósmicas alinharam-se de maneira a poder assistir a tempestades bru-
podia auxiliar em situação tão
extrema.
tais de mar e vento sobre o cabo que por nós foi pela primeira vez dobrado.
5. Os franceses que estavam A pergunta era se eu sentia orgulho. De ser português no cabo da Boa Esperança.
na nau encontravam-se Não. Passaram muitos séculos. O que eu não consigo deixar de sentir é uma
com medo, tal como os
portugueses, esquecendo-se perplexidade incomodada. Onde foram parar esses homens que estavam na van-
da sua posição de atacantes, 20 guarda do seu tempo? Onde foram parar o arrojo e a antevidência da raça que
para pensar apenas na sua
sobrevivência. Por isso, soube dar novos mundos ao mundo? O meu incómodo é ainda maior, se viro as
acatavam as ordens dos costas ao cabo e regresso à cidade, talvez a mais cenográfica e apetecível de todas
portugueses, mostrando-se
amigos e solidários e as cidades fora da Europa, e penso que podia ser uma cidade de ascendência por-
colaborando para que a nau tuguesa, mas que simplesmente deixámos que os holandeses ficassem com ela.
resistisse à intempérie.
25 A Cidade do Cabo, Cape Town, a “Taverna dos Mares”.
GRUPO II Na realidade, para contornar África, não basta dobrar o cape of Good Hope, há
Leitura outro mais a sul e que marca, esse sim, o final do continente: o cabo Agulhas. […]
7.1; 7.4; 7.6; 8.1
Gonçalo Cadilhe, “Qualquer coisa nos lugares”,
in Visão, edição online, 19 de junho de 2013 (consultado em fevereiro de 2017).
1.1 [C]
1.2 [B]
1.3 [C] 1. Selecione a opção que completa adequadamente cada uma das afirmações.
1.4 [A]
1.1 O texto de Gonçalo Cadilhe é
1.5 [B]
[A] uma exposição sobre a expansão portuguesa.
Gramática
18.1; 18.4; 19.3
[B] uma apreciação crítica sobre a Cidade do Cabo.
[C] um relato de viagem.
2.1 Oração subordinada
substantiva completiva. [D] uma síntese de um texto de outro autor.
2.2 Complemento agente 1.2 Viajar durante muito tempo tem, segundo o autor, consequências como
da passiva.
2.3 “Esse formidável [A] o esquecimento de locais que deveriam ficar na memória.
promontório, no fundo
de África”. [B] a relativização da importância de certos locais.
2.4 Adjetivo qualificativo. [C] a perceção de que afinal valeu a pena fazer aquela viagem.
2.5 Campo semântico.
[D] a valorização da terra ou país que deixámos para trás.

258
1.3 Considerando o conteúdo das linhas 12 a 16, o viajante ter-se-á deparado com PROFESSOR
[A] o gigante Adamastor no local visitado.
GRUPO Leitura
III / Ed. Literária
[B] o promontório como um local de visita obrigatório. 9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
Escrita
21.2; 22.1
10.2; 11.1; 11.2; 12.1; 12.2;
[C] situações climatéricas e atmosféricas distintas das descritas no episódio 12.4; 13.1
do Adamastor. 1. 1.º Chegada ao cais; 2.º Barca
do Diabo; 3.º
A História Barca do Anjo; ,
Trágico-Marítima
[D] vários portugueses a visitar o cabo da Boa Esperança. 4.º capítulo
no Barca doV,Diabo.
retrata as
aventuras
2. O Fidalgo e desventuras
mos
1.4 Uma certa revolta apoderou-se do autor quando ele
da nau “Santo António”,
[A] refletiu acerca da perda da Cidade do Cabo para os holandeses capitaneada por Jorge de
Albuquerque Coelho, que
[B] soube que a Cidade do Cabo era apelidada de “Taverna dos Mares”. embarca no Brasil, rumo a
Portugal, carregada de gente
[C] pensou no facto de a Cidade do Cabo já não ser portuguesa. e de mercadoria.
Ao longo da viagem,
[D] percebeu que o cabo nada tinha de perigoso. a tripulação enfrenta várias
adversidades. Luta contra
1.5 A forma verbal “deixámos” (l. 24 ) encontra-se uma forte tempestade, que
quase destrói a nau, e contra
[A] no presente do indicativo. o ataque dos corsários
franceses, bem armadilhados,
[B] no pretérito perfeito do indicativo. contrastando com a fraca
artilharia da nau portuguesa.
[C] no pretérito imperfeito do indicativo. Estas duas situações deixam
a tripulação da “Santo
[D] no presente do conjuntivo. António” em grande penúria,
pois perde grande parte
2. Responda aos itens seguintes. da carga e tem de navegar
numa embarcação em estado
2.1 Classifique a oração “se eu não sentia orgulho” (l. 1). deplorável. Destaca-se, no
entanto, no meio destas
2.2 Identifique a função sintática do constituinte sublinhado em “por nós foi pela pri- adversidades, o altruísmo
de Jorge de Albuquerque,
meira vez dobrado” (l. 16). que tenta encorajar os
2.3 Identifique o referente do pronome “o” em “quando o visitei” (l. 12). marinheiros.
Esta obra dá-nos uma visão
2.4 Classifique o termo “translúcido” (l. 13) quanto à classe de palavras. trágica das aventuras vividas
pela tripulação das naus
2.5 Identifique a relação que se estabelece entre os vários sentidos da palavra terra que, durante vários séculos,
fizeram a carreira da Índia
nas seguintes frases: e do Brasil, para trazer para
a metrópole as riquezas das
a. O marinheiro gritou “Terra à vista!” colónias.
(148 palavras)
b. O lavrador trabalha a terra.
c. Ele é muito terra a terra.

GRUPO III

Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, sobre as aventuras e desventuras


da expansão portuguesa, entre os séculos XVI e XVIII, partindo da leitura do capítulo V
da História Trágico-Marítima.
O texto deve apresentar uma estrutura tripartida, de acordo com as orientações que
se seguem.
• Introdução: Integração da História Trágico-Marítima (capítulo V) na fase expansio-
nista portuguesa.
• Desenvolvimento: As aventuras e desventuras marítimas vividas pela tripulação da
nau “Santo António”.
• Conclusão: Síntese das principais ideias.

259
Bloco informativo B L O C O I N F O R M AT I V O
I – GRAMÁTICA (SISTEMATIZAÇÃO)

Os conteúdos gramaticais aqui sistematizados têm como referência o Dicionário Terminológico (http://dt.dge.mec.pt/)
e seguem a hierarquia e a nomenclatura apresentadas nas Metas Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário (para o 10.o ano
de escolaridade). Alguns deles foram já apresentados, sistematizados e exercitados ao longo das unidades que fazem parte
deste Manual, por isso serão aqui apenas referenciados.

CLASSES DE PALAVRAS

Classes Subclasses Características Exemplificação

Nome próprio1: designa Os nomes têm por referentes entidades 1


Lisboa foi o local de onde partiu
uma entidade individualizada, com existência real ou imaginária. a armada de Vasco da Gama.
única. Apresentam características semânticas 2
As sereias confraternizaram com
2
Nome comum : não (dado designarem entidades), os marinheiros.
designa necessariamente morfológicas (porque variam em 3
Nome A fauna e a flora das regiões
um referente único. número, e alguns em género e grau)
descobertas maravilharam
e ainda sintáticas (uma vez que são o
Nome comum coletivo3: os navegadores.
núcleo do grupo nominal, podendo ser
designa, no singular, um antecedidos de determinantes ou de
conjunto de seres ou entidades quantificadores).
do mesmo tipo.

Exprimem ordem ou sucessão. Ocupam, • O primeiro livro de Gil Vicente


geralmente, uma posição pré-nominal, foi um sucesso.
Numeral podendo ser antecedidos por • O décimo canto de Os Lusíadas
determinantes. Correspondem à classe é o mais longo.
tradicional dos numerais ordinais.

Adjetivo Exprimem uma qualidade ou propriedade • A bandeira branca simboliza a paz.


do nome. Ocupam, geralmente, uma • Vasco da Gama foi um sublime
posição pós-nominal, embora alguns navegador.
Qualificativo ocorram quer à esquerda quer à direita,
• Paulo da Gama era um homem
originando, todavia, valores semânticos
grande.
diferentes. Variam em número e alguns em
grau; quando biformes, variam em género.

1
Advérbios que contribuem com Alguns escritores quinhentistas
informação sobre quantidade ou dedicaram-se bastante à poesia.
grau. Podem ocorrer internamente ao 2
Pero Marques ficou muito triste
predicado1, ou como modificador com a decisão de Inês.
Quantidade e grau
de grupos adjetivais2 ou adverbiais3. 3
Algumas embarcações cruzavam
Alguns destes advérbios são utilizados
as águas muito devagar.
para a formação do grau dos adjetivos
e advérbios.
Advérbio
Valores semânticos Advérbio que contribui para reverter • Não gosto das cantigas de
Negação o valor de verdade de uma frase escárnio e maldizer.
afirmativa ou para negar um constituinte.

1
Advérbios que se utilizam em resposta Fizeram o trabalho de pares
a interrogativas globais1 ou como proposto? Sim.
Afirmação modificador de um constituinte2, 2
Eles fizeram o trabalho de grupo,
contribuindo para asserir ou reforçar sim, e ainda o apresentaram na
o valor afirmativo de um enunciado. aula.

260
Bloco informativo

Classes Subclasses Características Exemplificação

Advérbios que modificam, incluindo • Todos os alunos participaram,


Inclusão o constituinte num conjunto. até o Pedro, que não costuma.

Advérbios que permitem realçar o • Fernão Lopes escreveu só uma


constituinte que modificam, excluindo-o crónica sobre D. João I.
Exclusão de um conjunto. Podem modificar cada • Apenas o Miguel leu os textos todos.
um dos grupos constituintes de uma frase.

Advérbios que evidenciam uma ideia • Provavelmente, Camões terá


Dúvida de incerteza, indecisão ou hesitação. escrito muito mais rimas.

Advérbios que remetem para a indicação • Eis o poema de que te falei!


Advérbio Designação de algo ou alguém.
Valores semânticos
1
(continuação) Advérbios que, habitualmente, podem Os marinheiros comiam mal
ser modificadores de predicado1, da porque não havia comida.
frase2 ou, ocasionalmente, predicativos 2
Infelizmente, não havia fruta.
Modo do sujeito3. 3
Depois de Inês Pereira ter recusado
a proposta de casamento de Pero
Marques, este ficou mal.

Advérbios que geralmente são • Outrora, as navegações pareciam


Tempo modificadores. eternas.

1
Advérbios que podem ser complementos Vasco da Gama parou ali.
Lugar oblíquos1, predicativos do sujeito2 2
O povo ficou ali.
ou modificadores3. 3
Os marinheiros descansaram ali.

Advérbios que identificam o constituinte • Quando procurou ela o Escudeiro?


interrogado numa construção • Como pensava Inês resolver isso?
Interrogativo interrogativa, sendo substituíveis por
• Porquê voltar a acreditar nela?
grupos adverbiais ou preposicionais.

1
Advérbios que estabelecem nexos O Escudeiro entrou em casa.
entre frases1 ou constituintes da Depois, procurou Inês.
frase2, nomeadamente relações de 2
Gostei da poesia trovadoresca,
consequência3, de contraste4 concretamente das cantigas
ou de ordenação5. de amor.
Distinguem-se de conjunções com valor 3
Inês era demasiado sonhadora,
idêntico por poderem, por exemplo,
assim, acabou por perder
ocorrer entre o sujeito e o predicado6
oportunidades.
Conectivo (no caso das orações subordinadas
4
Advérbio relativas1). O Pedro não estudou a lírica
camoniana; o Rui, porém, fez um
Funções
trabalho espetacular.
5
Primeiramente, estudámos as
cantigas de amigo, depois as de
amor.
6
Pero Marques foi rejeitado por Inês e o
bom homem, todavia, não desistiu.

1
Advérbio que introduz uma oração A casa onde morava o Ermitão
subordinada relativa, permitindo identificar ficava distante da aldeia.
uma relação com o nome antecedente (no 2
Ela sabia onde ela morava.
Relativo caso das orações subordinadas relativas1).
Introduz também orações relativas sem
antecedente (orações subordinadas
substantivas relativas2).
261
Bloco informativo

Classes Valores Exemplos

• locativo • à esquerda, de fora, de longe,


em cima, ...
Locução adverbial • temporal • à noitinha, desde cedo, por agora, …

São constituídas por duas ou mais palavras e têm • modo • de bom grado, por acaso, à pressa, …
comportamento e classificação iguais aos • negação • de modo algum, de maneira
de um advérbio, apresentando os mesmos valores nenhuma, …
semânticos.
• quantidade e grau • no mínimo, de mais, tão pouco, …
• afirmação • de facto, na verdade, sem dúvida, …

Classes Subclasses Características Exemplificação

Antepõem-se ao nome1−2, contribuindo 1


O marinheiro de verde está doente.
para a sua leitura genérica ou indefinida. 2
Um poeta que se preze alia a arte
Artigo
O artigo indefinido nunca antecede e as letras.
• Definido: um nome próprio nem coocorre com
o, a, os, as os quantificadores todos e ambos.
• Indefinido: Os artigos definidos e indefinidos
um, uma, uns, umas surgem, muitas vezes, contraídos com
as preposições a, de, em e por: ao (a+o),
à (a+a), da (de+a), num (em+um),
pela (por+a).

1
Variam em género e número. Têm valor Este trovador sabe trovar.
deítico ou anafórico, contribuindo para 2
Este seu poema está bem bonito.
a construção da referência do nome que
3
precede tendo em conta a sua relação Todo este estudo não foi em vão.
Demonstrativo
de proximidade ou distância.
este(s), esta(s), esse(s),
Não podem coocorrer com o artigo1,
essa(s), aquele(s), aquela(s)
e, em caso de coocorrência com o
determinante possessivo, este precede-os
obrigatoriamente2. Podem ser precedidos
Determinante de certos quantificadores3.

1
Variam em pessoa, género e número O meu poema ficou bem.
e em contextos definidos. 2
Este meu irmão tira-me do sério!
São obrigatoriamente precedidos
3
Possessivo por um artigo definido1 ou por Meus meninos, venham cá.
meu(s), minha(s), um determinante demonstrativo2, 4
O poeta saiu com a musa, sua
teu(s), tua(s), seu(s), sua(s), exceto quando têm a função amada, para lhe confessar o seu
nosso(s), nossa(s), vosso(s), de vocativos3 ou de modificadores amor.
vossa(s) apositivos4. Podem ser precedidos de 5
Todos os seus marinheiros
certos quantificadores5. Em contextos
marearam arduamente.
indefinidos, ocorrem em posição pós-
6
-nominal6. Um marinheiro seu não faria isso.

1
Variam em género e número e são Certos navegadores assumiram
utilizados em contextos em que se comportamentos incorretos.
Indefinido assume que o referente do nome 2
[Uns] certos marinheiros fizeram
certo(s), certa(s), que precedem não corresponde a disparates.
outro(s), outra(s) informação específica ou identificada1.
Distinguem-se dos artigos indefinidos
por poderem coocorrer com estes2.

262
Bloco informativo

Classes Subclasses Características Exemplificação

Varia em género e número • Os textos cujos autores foram


Relativo e estabelece a ligação entre o nome selecionados são muito bons.
cujo(s), cuja(s) seu antecedente e a oração relativa
que introduz.
Determinante
(continuação)
Precedem um nome em construções • Que ilhas viram?
Interrogativo interrogativas, permitindo a • Qual caminho devemos seguir?
que, qual, quais identificação do constituinte
interrogado.

1
Pessoal Variam em pessoa e número, e alguns Inês viu-se no espelho.
• Formas tónicas: eu, tu, você, variam em género. 2
O trovador e a sua “senhor”
ele/ela, nós, vós, vocês, As formas átonas ocorrem adjacentes encontraram-se na ermida.
eles/elas, mim, ti, si ao verbo (à esquerda do verbo − em
3
próclise −, à direita − em ênclise −, Dorme-se mal no convés da nau.
• Formas átonas: me, te, o, a, ou ainda no interior das formas de futuro 4
Dizem-se coisas estranhas sobre
lhe, nos, vos, os, as, lhes, se do indicativo e condicional − Camões.
1 - São formas de contração em mesóclise); as restantes 5
O Escudeiro porta-se mal.
do pronome pessoal tónico são formas tónicas.
com a preposição com as As formas da variante átona do pronome
seguintes: comigo, contigo, pessoal se podem assumir diferentes
connosco, convosco, consigo valores: reflexividade1 e reciprocidade2;
2 - São formas de contração de podem ser usados como marcadores
dois pronomes pessoais de indefinição do sujeito (valor
as formas mo(s)/ma(s) impessoal – ocorrendo exclusivamente
(contração de me e na terceira pessoa3), estratégia de
o(s)/a(s)), to(s)/ta(s) passivização (valor passivo – só na
(contração de te terceira pessoa4) ou podem constituir
e o(s)/a(s)), lho(s)/lha(s) parte integrante do verbo (valor
(contração de lhe inerente5).
e o(s)/a(s))

Pronome 1
Demonstrativo Variam em género e número e têm Este pajem é um ignorante
• Formas tónicas variáveis : 1 um valor deítico ou anafórico. e aquele também.
este(s), esta(s), Estabelecem a sua referência tendo 2
Isto incomoda-me.
esse(s), essa(s), em conta a relação de proximidade
3
ou de distância em relação a um Ele comprou um livro e leu-o
aquele(s), aquela(s) rapidamente.
participante do discurso
• Formas tónicas invariáveis2: ou a um antecedente textual. 4
Ele disse que viu um gigante. /
isto, isso, aquilo Ele disse-o.
• Formas átonas3: o(s), a(s)
• Forma átona invariável4:
o (usada na substituição
de constituintes oracionais)

Possessivo Variam em pessoa, género e número • Os poemas de Camões são


• Um possuidor: e têm um valor deítico ou anafórico, fantásticos! E os vossos?
meu(s), minha(s), referindo-se, tipicamente,
teu(s), tua(s) a um participante do discurso
seu(s), sua(s) ou a um antecedente tomado como
dele(s), dela(s) possuidor, respetivamente.
São geralmente precedidos de artigo
• Vários possuidores: definido.
nosso(s), nossa(s)
vosso(s), vossa(s)

263
Bloco informativo

Classes Subclasses Características Exemplificação

1
Indefinido Alguns admitem variação em género Alguém surgiu do mar.
• Formas invariáveis1: e número, quando correspondentes 1
Eles comeram tudo.
alguém, ninguém, tudo, nada, ao uso pronominal de um quantificador
1
ou de um determinante indefinido. Ninguém lhe revelou o segredo.
algo, outrem
Referem uma terceira pessoa ou uma 2
Todos foram ao banquete.
• Formas variáveis2: quantidade indeterminadas. 2
algum(a), alguns, algumas, Vós levastes muitos mantimentos,
nenhum(a), nenhuns, mas eu só trouxe alguns.
Pronome nenhumas, outro(a)(s),
(continuação) muito(a)(s), pouco(a)(s),
todo(a)(s), vário(a)(s),
tanto(a)(s)

1
Relativo Ocorrem no início das orações relativas. Trouxe-vos os frutos aos quais
1
• Variáveis : o qual, os quais, Podem remeter para um constituinte me referi ontem.
a qual, as quais anterior, quando possuem antecedente. 2
Indico-vos a rota que deveis
• Invariáveis2: (o) que, quem seguir.

1
Expressam uma quantidade numérica Li duas cantigas de amigo de
inteira precisa (numeral cardinal1), um D. Dinis.
múltiplo de uma quantidade (numeral 2
Leste o dobro das minhas
multiplicativo2), ou uma fração precisa de cantigas.
Quantificador Numeral uma quantidade (numeral fracionário3).
3
Os quantificadores numerais fracionários Ele leu metade das tuas cantigas.
e multiplicativos são, muitas vezes,
locuções (metade de, dobro de, etc.).

1
Conjunções coordenativas Ligam elementos com igual valor A donzela não se encontrou com
• copulativas1: e, nem sintático, sejam palavras6 ou grupos o amigo nem viu a mãe.
2
de palavras numa só oração, sejam As donzelas foram à romaria,
• adversativas2: mas orações diferentes mas equivalentes mas não viram os amigos.
3
• disjuntivas3: ou sintaticamente e independentes umas A mãe tinha o papel de
das outras. confidente ou assumia-se como
• conclusivas4: logo
conselheira.
• explicativas5: pois, que 4
A jovem chegou atrasada, logo
não viu o amigo.
5
Penso que a jovem ficou triste, pois
ela estava a chorar.
6
A donzela e a mãe foram à romaria.

1
Conjunções Introduzem orações subordinadas A jovem perguntou à mãe
Conjunção subordinativas que desempenham uma função sintática se podia sair com as amigas.
− Substantivas relativamente à subordinante. 2
Como estava triste, procurou
completivas1: que, se, para as amigas.
− Adverbiais 3
Ela fez tudo como lhe explicaram.
• causais2: porque, como… 4
O Escudeiro era fanfarrão,
• comparativas3: como, embora não tivesse tostão.
conforme… 5
• concessivas4: embora, Ficaria feliz caso visse o amigo.
6
malgrado… Procurou-o com tanto fervor
• condicionais5: se, caso… que acabou por o avistar.
• consecutivas6: que 7
Inês arranjou-se para receber
(antecedido de tão, tanto…) o Escudeiro.
• finais7: para… 8
Mal chegou, sentou-se.
• temporais8: apenas,
enquanto, quando, mal…

264
Bloco informativo

Locuções conjuncionais

São constituídas por duas ou mais palavras cujo valor semântico se associa ao das conjunções coordenativas
ou subordinativas.

• copulativas: não só… mas/como também; nem… nem; tanto… como


Coordenativas
• disjuntivas: ou… ou; já… já; ora… ora

• causais: visto que; dado que; uma vez que; atendendo a que; dado que
• comparativas: bem como; assim como; tal… qual; tão/tanto… como; mais… (do) que
• concessivas: se bem que; ainda que; nem que; não obstante
Subordinativas • condicionais: salvo se; desde que; sem que; exceto se; contanto que; a não ser que
• consecutivas: de modo que; de maneira que; de forma que
• finais: para que; a fim de/que; com a finalidade de
• temporais: antes de/que; logo que; agora que; cada vez que; até que; assim que; …

1
Palavra invariável que exige sempre ser complementada por: O trovador foi para onde a dama iria.
uma oração1, um grupo nominal2, um grupo adverbial3. 2
Contra a força não há resistência.
a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, 3
O falso piloto espreitou por
perante, por, segundo, sem, sob, sobre, trás detrás do capitão.
Preposição As preposições a, de, por e em podem ocorrer contraídas • Pero Marques falou à alcoviteira.
com artigos (definidos e indefinidos), determinantes e pronomes
demonstrativos, advérbios, … • O capitão ordenou aos nativos
que saíssem dali.
• Camões interessou-se pelas artes.
• O Catual viu Paulo da Gama na nau.

Locuções prepositivas
São formadas tipicamente por um advérbio ou um nome seguido de uma preposição ou por um advérbio
no meio de duas preposições.
Exs.: apesar de; junto a; além de; em redor de; perto de; defronte a/de; por causa de; em vez de; antes de; para com; …

Interjeição

Não estabelece relações sintáticas com outras palavras e tem uma função exclusivamente emotiva.
O valor de cada interjeição depende do contexto de enunciação e corresponde a uma atitude do falante ou enunciador.

Interjeições Locuções interjetivas Valores semânticos


oh!; ah!; eia! que bom! muito bem! Alegria
eia!; vamos!; coragem!; upa! vamos lá! toca a andar! Incitamento/encorajamento
bravo!; viva!; boa!; apoiado!; fixe!; bis!; eia! muito bem! é assim mesmo! Aplauso
ai!; ui!; Jesus!; credo! valha-nos Deus! ai Jesus! ai que aflição! Aflição, dor, tristeza, terror
atenção!; cuidado!; oh! Advertência ou repreensão
ó!; pst!; olá!; eh!; socorro! ó da guarda! ó senhor! Chamamento, invocação
oh!; oxalá!; tomara! quem me dera! Deus queira! se Deus quiser! Desejo
hum! Dúvida
ah!; oh!; hi!; ena!; caramba!; diabo!; credo!;
essa é boa! não é possível! não acredito! essa agora! Espanto ou surpresa
chi!; puxa!; bolas!

265
Bloco informativo

Interjeições (cont.) Locuções interjetivas (cont.) Valores semânticos (cont.)


Impaciência, irritação
bolas!; irra!; fogo!; arre!; mau! ora bolas!; raios partam; mau, mau!
ou aborrecimento
irra!; homessa!; apre!; ora! ora essa!; nem pensar! Indignação
chega!; basta!; alto! Interrupção ou suspensão
silêncio!; caluda!; fora!; rua!; alto!; chega! fora daqui!; toca a andar!; em frente! Ordem
paciência!; pronto! que remédio!; é a vida!; deixa lá! Resignação
olá!; adeus! ora viva!; boa noite!; bem haja!; bons olhos o vejam!; Saudação
psiu!; silêncio!; caluda! toca a calar! Silêncio

Classe − VERBO

Subclasses Características Exemplificação

1
Intransitivo Dividem-se em várias subclasses, Pero Marques desmaiou.
• Não seleciona complementos1. de acordo com as suas restrições 2
Camões escreveu Os Lusíadas.
Transitivo direto de seleção. Camões escreveu-os.
• Seleciona um sujeito e um 3
Camões respondeu à jovem.
complemento com a função sintática Camões respondeu-lhe.
de complemento direto2.
4
Vasco da Gama foi até à Índia.
Transitivo indireto
5
• Seleciona um sujeito e um Camões dedicou o poema
complemento indireto3 ou oblíquo4. a D. Sebastião.
Camões dedicou-lhe o poema.
Transitivo direto e indireto
Verbo • Seleciona um sujeito e dois
6
Inês levou o marido até à ermida.
principal complementos: um complemento Inês levou-o até à ermida.
direto e outro complemento indireto5 7
Tétis considerava
ou oblíquo6, não sendo este último os Portugueses dignos de uma
pronominalizável. epopeia.
Transitivo-predicativo
• Seleciona um complemento direto
e um predicativo do complemento
direto7. São exemplos deste tipo de
verbo: achar, considerar, julgar, nomear,
eleger, declarar, chamar, supor, ter (por),
tratar (por).

• Seleciona um predicativo do sujeito. Ocorre numa frase em que existe um • Este poema é fácil.
Verbo São exemplos deste tipo de verbo: constituinte com a função sintática de
copulativo ser, estar, ficar, continuar, parecer, sujeito e outro com a função sintática
permanecer, tornar-se, revelar-se. de predicativo do sujeito.

1
• São exemplos deste tipo de verbo: Coocorre com um verbo principal, Os navegadores tinham avistado
ser, ter, haver, estar, dever, poder. posicionando-se antes dele. A estrutura a ilha.
da frase (nomeadamente a seleção 2
A ilha foi avistada pelos
de sujeito e de complementos) é feita navegadores.
pelo verbo principal e não pelo auxiliar.
Verbo 3
Os alunos podiam fazer um
O verbo auxiliar é usado na formação
auxiliar esforço maior.
de tempos compostos1 (ter/haver), em
construções passivas2 (ser), podendo, 4
O poeta está a pedir inspiração
ainda, contribuir para veicular valores às Musas.
modais3 (dever, poder) ou aspetuais4
(estar).

266
Bloco informativo

Verbo
Palavra que exprime processos ou estados e os situa no tempo. Apresenta diferentes formas, que variam
quer em função de valores de pessoa e número quer atendendo a valores de modo e tempo. Estas for-
mas podem ser simples ou compostas, como pode ver na tabela seguinte.

Modo Tempo Exemplificação


Presente vou, vais, vai, vamos, ides, vão
Pretérito imperfeito ia, ias, ia, íamos, íeis, iam

Pretérito simples fui, foste, foi, fomos, fostes, foram


perfeito composto tenho ido, tens ido, tem ido, temos ido, tendes ido, têm ido
Indicativo Pretérito simples fora, foras, fora, fôramos, fôreis, foram
mais-que- tinha ido, tinhas ido, tinha ido, tínhamos ido, tínheis ido,
-perfeito composto
tinham ido
simples irei, irás, irá, iremos, ireis, irão
Futuro terei ido, terás ido, terá ido, teremos ido, tereis ido,
composto
terão ido
Formas Presente vá, vás, vá, vamos, vades, vão
finitas
Pretérito imperfeito fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem
tenha ido, tenhas ido, tenha ido, tenhamos ido,
Pretérito perfeito composto
tenhais ido, tenham ido
Conjuntivo Pretérito tivesse ido, tivesses ido, tivesse ido, tivéssemos ido,
mais-que-perfeito composto tivésseis ido, tivessem ido
simples for, fores, for, formos, fordes, forem
Futuro tiver ido, tiveres ido, tiver ido, tivermos ido, tiverdes ido,
composto
tiverem ido
simples iria, irias, iria, iríamos, iríeis, iriam
Condicional teria ido, terias ido, teria ido, teríamos ido, teríeis ido,
composto
teriam ido
Imperativo Presente vai, ide
simples ir, ires, ir, irmos, irdes, irem
Pessoal
composto ter ido, teres ido, ter ido, termos ido, terdes ido, terem ido
Infinitivo
simples ir
Formas Impessoal
não composto ter ido
finitas
simples indo
Gerúndio
composto tendo ido
Particípio ido

267
Bloco informativo

Verbos regulares / irregulares


Quanto à flexão, os verbos podem ser regulares ou irregulares. Os primeiros mantêm a forma do radical
e os sufixos típicos de flexão em toda a conjugação; os segundos apresentam variação da forma do radi-
cal e/ou dos sufixos de flexão.

Exs.:
Verbo regular: falo / falava / falei / falara / falarei / fale / falasse / falaria…
Verbo irregular: faço / fazia / fiz / fizera / farei / faça / fizesse / faria…

Existem, em português, vários outros verbos que apresentam alterações no radical, sendo, assim, irregu-
lares. Alguns exemplos são: aprazer / caber / crer / dar / dizer / estar / fazer / ir / ler / haver / poder / pôr /
querer / rir / ser / saber / ter / trazer / ver / vir.

Conjugações verbais
Existem três conjugações em português, que se identificam pela vogal temática:
• tema em -a (1.a conjugação: falar)

• tema em -e (2.a conjugação: receber)

• tema em -i (3.a conjugação: fingir)

Verbos defetivos (impessoais e unipessoais)


Um verbo defetivo é aquele que não apresenta todas as formais flexionadas possíveis.

Verbos como abolir, adequar, aturdir, banir, bramir, colorir, demolir, doer, demolir, esculpir, exaurir, explodir,
extorquir, falir, fulgir, florescer, precaver, puir, reaver, remir, retorquir, ruir não apresentam todas as formas
número-pessoais e modo-temporais.

Os verbos defetivos podem ser:


• Impessoais
Os que apresentam apenas formas no infinitivo e na 3.a pessoa do singular, ocorrendo, normalmente, em
frases sem sujeito, como é o caso daqueles que exprimem fenómenos da Natureza (chover, trovejar,
ventar). O verbo haver é, também, impessoal, quando significa existir.
• Unipessoais
Os que apresentam apenas formas no infinitivo e na 3.a pessoa do singular e do plural, como é o caso dos
que indicam vozes de animais, como cacarejar, chilrear, ladrar, ganir, mugir, miar, uivar, zumbir, …

268
Bloco informativo

PRONOME PESSOAL EM ADJACÊNCIA VERBAL − REGRAS DE UTILIZAÇÃO

As formas átonas (tais como o, a, os, as, nos, vos, lhe, lhes) ocorrem em adjacência verbal, ou seja, junto ao
verbo, desempenhando a função de complemento direto ou de complemento indireto.

Colocação do pronome pessoal átono

1. Tradicionalmente, o pronome surge em posição pós-verbal − ênclise.

Ex.: O falso piloto enganou o capitão português. O falso piloto enganou-o.

• Nesta posição, os pronomes o, a, os, as podem sofrer alterações, se a forma verbal terminar em -r,
-s ou -z. Neste caso, estas consoantes desaparecem e os pronomes tomam as formas -lo(s), -la(s).
Ex.: O marinheiro fez o trabalho todo. O marinheiro fê-lo todo.

• Se a forma verbal terminar em -ns, passa a -m, quando seguida de pronome átono o, a, os, as, e os
pronomes tomam as formas -lo(s), -la(s).
Ex.: Tu tens o meu livro. Tu tem-lo.

• Quando a forma verbal termina em ditongo nasal (-am, -õe, -ão), os mesmos pronomes assumem
as formas -no(s), -na(s).
Exs.: Os marinheiros comiam peixe cru. Os marinheiros comiam-no.
Veloso põe a arma ao ombro. Veloso põe-na ao ombro.

2. Quando ocorrem com formas verbais do futuro do indicativo e do condicional, os pronomes átonos
são colocados no interior dessa forma verbal − mesóclise.
Exs.: Camões dedicará o seu poema a D. Sebastião. Camões dedicá-lo-á a D. Sebastião.
Ele dedicaria os seus versos a outros mecenas. Ele dedicá-los-ia a outros mecenas.

3. O pronome átono desloca-se para antes do verbo – próclise – em construções frásicas como as
seguintes:

a. Frases de polaridade negativa.


Exs.: Ele nunca revelou o segredo. Ele nunca o revelou.
Paulo da Gama não içou a bandeira. Paulo da Gama não a içou.

b. Frases com conjunções coordenativas com um elemento de polaridade negativa (não só… mas
também; nem… nem; etc.) e conjunções coordenativas disjuntivas (ou… ou; etc.).
Exs.: Camões não só elogiou o monarca como também lhe ofereceu o poema.
Camões não só o elogiou como também lhe ofereceu o poema.
Ou alguém ajuda o poeta ou ele se perde. Ou alguém o ajuda ou ele se perde.

c. Frases com quantificadores como todo(s), toda(s), tudo, qualquer, quaisquer, ambos, bastante,
muito(s), muita(s), pouco(s), pouca(s).
Ex.: Todos os portugueses aclamaram o poeta. Todos os portugueses o aclamaram.

d. Frases com pronomes indefinidos como alguém, ninguém.


Ex.: Ninguém percebeu a estância 106. Ninguém a percebeu.

269
Bloco informativo

e. Frases em que o verbo é antecedido de advérbios como mal, sempre, ainda, já, apenas, só, talvez,
aqui, …
Ex.: Ainda li este poema ontem. Ainda o li ontem.

f. Orações introduzidas por uma conjunção subordinativa.


Exs.: Os alunos dizem que leram um artigo de apreciação crítica Os alunos dizem que o leram.
Diz-me quando vais comprar o livro recomendado. Diz-me quando o vais comprar.
A professora disse para lermos o livro. A professora disse para o lermos.

g. Orações relativas.
Exs.: O trovador que elogiou a sua “senhor” foi criticado. O trovador que a elogiou foi criticado.
Quem defendeu o trovador foi a sua “senhor”. Quem o defendeu foi a sua ‘senhor’.

h. Frases ou orações iniciadas por um pronome relativo1, um pronome ou advérbio interrogativo2.

Exs.: Quem narrou a História de Portugal ao rei de Melinde? 1 Quem a narrou foi Vasco da Gama.
2
Quem protegeu os portugueses? Quem os protegeu?
3
Onde puseste o material? Onde o puseste?

i. Frases de tipo exclamativo nas quais se manifestem emoções ou desejos1 ou aquelas em que
o falante constrói frases com determinada intencionalidade, destacando certos constituintes
e desviando-os da ordem padrão2.
Exs.: Oxalá percebas os poemas todos! / 1Oxalá os percebas todos!
Que Nossa Senhora proteja os marinheiros! / 2Que Nossa Senhora os proteja!

4. Colocação do pronome pessoal átono em complexos verbais.


a. Nos complexos verbais com os auxiliares dos tempos compostos (ter e haver) e o auxiliar da
passiva (ser), o pronome é colocado à direita do verbo auxiliar.
Exs.: Gama tinha aconselhado calma aos marinheiros. Gama tinha-lhes aconselhado calma.
O poema é oferecido pelo poeta aos leitores. O poema é-lhes oferecido pelo poeta.

b. Pode ocorrer antes do complexo verbal quando algum elemento requer a próclise.
Ex.: Ninguém quis ler em voz alta o poema. Ninguém o quis ler em voz alta.

c. Nos complexos verbais com auxiliares como começar a, acabar de, estar a, andar a, o pronome
ocorre depois do verbo principal.
Ex.: Estou a apreciar este soneto camoniano. Estou a apreciá-lo.

270
Bloco informativo

FUNÇÕES SINTÁTICAS

Sujeito
Função sintática desempenhada pelo constituinte da frase que controla a concordância verbal. O constituinte
que exerce a função de sujeito pode ser um grupo nominal, substituível pelos pronomes pessoais eu, tu, ele/ela,
nós, vós, eles/elas, ou um constituinte oracional, encontrando-se, por norma, em posição pré-verbal.

Expresso − sujeito com realização lexical. Pode ser: Nulo − em português, o sujeito diz-se "nulo"
porque não tem realização lexical obrigatória.
• Simples
Pode ser:
Ex.: Gil Vicente escreveu farsas. (grupo nominal)
Quem lê aprende. (oração) • Subentendido

• Composto Ex.: Lemos várias estrofes de Os Lusíadas.


(depreende-se da forma verbal − Nós)
Ex.: Gil Vicente e Camões são autores do séc. XVI.
(coordenação de grupos nominais) • Indeterminado
Quem leu e quem pesquisou aprendeu. Ex.: Dizem que a poesia é difícil.
(duas orações ou mais) (alguém diz)

Vocativo

Função sintática desempenhada por um constituinte que não controla a concordância verbal e que serve apenas
para interpelar ou chamar o interlocutor, surgindo em frases de tipo imperativo1, interrogativo2 ou exclamativo3.
Exs.: 1 Veloso, não faça isso.
2
Minha senhora, estais a ouvir-me?
3
Ó Tágides, é tão grande o meu infortúnio!

Predicado

Função sintática desempenhada pelo grupo verbal. Pode corresponder só ao verbo ou ao verbo com os seus respetivos
complementos e/ou predicativos requeridos, e ainda os modificadores do grupo verbal. Assim, temos:
• Predicado — só com verbo ou grupo verbal (por norma, quando o verbo é intransitivo)
Ex.: A donzela sorriu.
• Predicado — verbo + complementos e/ou predicativos e modificadores
Ex.: Tétis conduziu a ilha dos amores até aos nautas portugueses.

Complemento direto

Função sintática selecionada por verbos transitivos diretos, transitivos diretos e indiretos ou transitivos-predicativos,
sendo exercida por grupos nominais (GN) ou constituintes oracionais. Os GN que exercem esta função são prono-
minalizáveis pelos pronomes pessoais o, a, os, as1, e os constituintes oracionais são substituíveis pelos pronomes
demonstrativos invariáveis isto, isso, aquilo2.
Exs.: 1Este soneto evidencia a complexidade da poesia. / Este soneto evidencia-a.
2
O poeta pedia que o rei o escutasse. / O poeta pedia aquilo.

Complemento indireto

Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte sin-
tático que exerce a função de complemento indireto é introduzido pela preposição a e pronominalizável pelos
pronomes lhe, lhes.
Ex.: Camões respondeu a D. Sebastião. / Camões respondeu-lhe.

271
Bloco informativo

Complemento oblíquo

Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte
sintático que exerce a função de complemento oblíquo é introduzido por uma preposição, podendo assumir
um valor locativo1, de movimento2, de duração3, de necessidade ou carência4.
Exs.: 1 Camões viveu em Constância.
2
Vasco da Gama chegou à Índia em 1498.
3
A viagem durou cerca de um ano.
4
A tripulação precisou de um guia.

Complemento agente da passiva

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo direto conjugado
na passiva, tendo como auxiliar o verbo ser.
Ex.: Os navegadores portugueses foram salvos por Vénus.

Predicativo do sujeito

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo copulativo que atribui uma
propriedade ao sujeito.
Exs.: Os navegadores andavam em aflição durante as tempestades.
Vasco da Gama permaneceu na nau.
As Ninfas pareciam umas sereias.

Predicativo do complemento direto

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo-predicativo que atribui
uma propriedade ao complemento direto.
Exs.: Acho a poesia trovadoresca complicada.
Os romanos elegeram Vénus (como) deusa do amor.
O rei D. Manuel I nomeou Vasco da Gama (como) comandante da expedição à Índia.

Modificador

Função sintática desempenhada por um constituinte de uso facultativo. Acrescenta informação sobre o constituinte
que modifica e pode ser eliminado sem que a frase se torne agramatical.
O modificador pode incidir sobre uma frase/oração1 ou sobre o grupo verbal. Neste último caso, a função do
modificador (do grupo verbal) pode ser desempenhada por uma oração subordinada2, por um grupo preposicional3
ou por um grupo adverbial4.

Exs.: 1 Lamentavelmente, Vasco da Gama foi traído por um falso piloto.


2
Os marinheiros adormeciam quando já estavam exaustos.
Como se sentiam cansados, os marinheiros pediram silêncio.
3
Os navegadores seguiram as Ninfas com emoção.
4
Saíram das embarcações devagar.

272
Bloco informativo

Funções sintáticas internas ao grupo nominal

Complemento do nome

Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um nome e que lhe completa a referência.
Corresponde geralmente a um grupo preposicional, a uma oração introduzida por uma preposição ou a um grupo
adjetival.
Requerem complemento os:
• nomes de graus de parentesco1
• nomes de profissões que derivam de outros nomes2 (guia, condutor, …)
• nomes icónicos3 (gravura, fotografia, …)
• nomes epistémicos4 (hipótese, desejos,…)
• numerais fracionários e multiplicativos5 (o dobro, o terço, …)
• nomes que derivam de verbos6 (construção, pesca, …)

Exs.:
1
O pai de Camões era cortesão.
2
O guia dos navegadores era de Melinde.
3
A gravura do monarca estava desbotada.
4
O desejo de chegar a terra animava os marinheiros.
5
A viagem custou o dobro do previsto.
6
A pesca da baleia pôs a espécie em perigo.

Complemento do adjetivo

Função sintática exercida por um constituinte selecionado por um adjetivo e que ocorre normalmente à direita
desse adjetivo, sendo, habitualmente, um grupo preposicional.
Exs.: Os marinheiros ficaram satisfeitos com a recompensa da Ilha dos Amores.
Os navegantes estavam desejosos de encontrar terra amiga.

Modificador do nome

Constituinte do grupo nominal que lhe modifica o sentido, apesar de não ser por ele selecionado. Pode ser:
• Modificador do nome restritivo: restringe/limita a referência do nome que modifica. Pode configurar-se num
grupo adjetival1, num grupo preposicional2, numa oração adjetiva relativa3, numa oração subordinada final4.
• Modificador do nome apositivo: não restringe/não limita a referência do nome que modifica. É obrigatoriamente
delimitado por vírgula(s), e pode estar configurado num grupo nominal5, num grupo adjetival6 ou num grupo
preposicional7, mas também numa oração adjetiva relativa explicativa8.
Exs.: 1 A caravela moderna oferece melhores condições.
2
A nau de Vasco da Gama veio carregada.
3
O conhecimento que foram adquirindo permitiu-lhes chegar mais longe.
4
As novas técnicas para navegar deram um forte impulso aos Descobrimentos.
5
Camões, o poeta épico, dedicou a sua obra a D. Sebastião.
6
As florestas, frondosas e verdejantes, atraíram os portugueses.
7
Os deuses, com função de oponentes, criaram os obstáculos.
8
A viagem, que traria muitos perigos, acabou por se realizar.

273
Bloco informativo

FRASES ATIVAS E PASSIVAS

Formas Explicação Exemplos

A frase é ativa quando apresenta um grupo verbal constituído


por um verbo principal transitivo direto, transitivo direto
Ativa • Os alunos leem partes de Os Lusíadas.
e indireto ou transitivo-predicativo, podendo ser antecedido
ou não de verbo auxiliar.

A frase é passiva quando apresenta um grupo verbal constituído


por um verbo principal no particípio passado, antecedido pelo
verbo auxiliar ser. Na transformação da frase ativa para a frase
passiva: • Partes de Os Lusíadas são lidas pelos
Passiva
– o complemento direto da frase ativa é transformado alunos.
no sujeito da frase passiva;
– o sujeito da frase ativa, se for realizado, transforma-se
em complemento agente da passiva.

Pelo exposto, percebe-se que, pelas posições relativas distintas que ocupam os constituintes que exer-
cem a função de sujeito nas respetivas frases, o uso de uma ou outra forma permitirá pôr em relevo
aspetos particulares da informação que a frase veicula, tal como traduz o esquema seguinte:

Aquele trovador escreveu cantigas de amigo e de amor. frase ativa

sujeito verbo principal complemento direto

Cantigas de amigo e de amor foram escritas por aquele trovador. frase passiva

sujeito verbo aux. ser + verbo principal (particípio) compl. agente da passiva

Atenção: pode ser construída uma frase passiva sem recurso ao verbo auxiliar ser, utilizando-se o pro-
nome pessoal se. O complemento agente da passiva pode também não estar expresso.

Exs.: As caravelas construíram-se pouco a pouco.


As caravelas foram construídas a pouco e pouco.

Nota: Convém não esquecer que, ao transformar uma frase ativa em passiva, o verbo auxiliar da pas-
siva (ser) terá de ficar no mesmo tempo e modo em que se encontrava o verbo principal da frase ativa
e este terá de ser colocado no particípio passado, concordando em género e em número com o novo
sujeito da passiva.

274
Bloco informativo

DISCURSO DIRETO E INDIRETO

Reprodução do discurso de alguém, respeitando a forma linguística em que foi expresso.

Na escrita, é marcado por operadores citacionais como: aspas, travessões, parágrafos, itálicos, tipo de letra.
Na oralidade, pode ser assinalado através de modulações de tom e expressões gestuais e faciais.
No texto literário, é frequente o narrador caracterizar personagens recorrendo a registos de língua específicos,
reproduzindo em discurso direto os seus diálogos ou monólogos.

Este tipo de discurso é introduzido por verbos:


• de comunicação ou dicendi (que referenciam o ato de dizer)
declarar, dizer, afirmar, comunicar, referir, proferir, …
• de opinião
julgar, considerar, opinar, crer, …
Discurso direto • de sentimento
lamentar, lastimar, desabafar, …
• que especificam características fónicas humanas ou animais
gritar, berrar, sussurrar, balbuciar, miar, rosnar, ladrar, piar, …
• que implicam interação
começar, refutar, acrescentar, contestar, …
• que explicitam uma força ilocutória
garantir, afirmar, ordenar, …
Ex.: «E disse: – «Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas.
Os Lusíadas, Canto V, est. 41.

Forma de alguém reproduzir no seu próprio discurso o discurso de outro, não lhe mantendo a forma original,
ou seja, de um modo não citacional.
Nesta modalidade, o citador não abdica do estatuto de sujeito de enunciação. Por isso, seleciona, resume,
parafraseia, interpreta o que o locutor disse. Daí resulta que a voz de quem é citado seja introduzida pelo recurso
à subordinação, sendo as falas originais transformadas no que toca aos tempos verbais, pessoas gramaticais
Discurso indireto e locuções adverbiais. Torna-se frequentemente impossível reconstituir as falas originais.
Ex.: «Contou então que, tanto que passaram
Aquele monte os negros de quem falo,
Avante mais passar o não deixaram,
Querendo, se não torna, ali matá-lo;
Os Lusíadas, Canto V, est. 36.

As alterações mais comuns são apresentadas na tabela da página seguinte.

275
Bloco informativo

Transformações operadas na passagem do discurso direto


Exemplificação
para o discurso indireto

Discurso direto Discurso indireto Discurso direto

1.a e 2.a pessoas 3.a pessoa Em que áreas há melhores e piores notas
Emília Lemos, presidente da Associação
eu, tu, nós, vós, me, nos ele(s), ela(s), o(s), a(s), lhe(s) de Professores de Geografia, adianta:
"Onde surgem mais problemas é nas
meu(s), minha(s), teu(s), tua(s), nosso(s), perguntas abertas, de desenvolvimento,
seu(s), sua(s), dele(s), dela(s)
nossa(s), vosso(s) quer devido à formulação quer ao elevado
grau de dificuldade de interpretação
este(s), esta(s), isto, esse(s), essa(s), isso aquele(s), aquela(s), aquilo e de domínio da escrita científica."
Miguel Barros, da Associação
de Professores de História, sublinha:
aqui, cá, aí, ali, lá, acolá ali, lá, naquele lugar, naquele sítio
"Com este novo modelo de exame, mais
fechado e que inclui itens de seleção,
naquele momento, imediatamente, como a escolha múltipla, ordenação
agora, neste momento, já, hoje, ontem,
naquele dia, na véspera, no dia anterior, ou associação, verificamos que os alunos
amanhã, logo
no dia seguinte, depois demonstram mais dificuldades."
João Paulo Leal, da Sociedade
complemento indireto do verbo introdutor Portuguesa de Química, acusa o IAVE
vocativo
do discurso (Instituto de Avaliação Educativa):
"As médias são muito baixas porque os
responsáveis pelos exames assim o querem.
Não houve, até hoje, vontade de mudar.
Suspeito que haja uma vontade deliberada
frase interrogativa direta oração subordinada substantiva completiva
de afastar os alunos desta área de ensino."
In Visão, n.o 1132, 13 a 19 de novembro de 2014, pp. 58-66
(texto adaptado e com supressões).

verbos vir e trazer verbos ir e levar Discurso indireto

presente do indicativo pretérito imperfeito Emília Lemos, presidente da Associação


de Professores de Geografia, adiantou
que onde surgiam mais problemas era
pretérito perfeito do indicativo pretérito mais-que-perfeito do indicativo nas perguntas abertas, de desenvolvimento,
quer devido à formulação quer ao elevado
grau de dificuldade de interpretação
futuro do indicativo condicional e de domínio da escrita científica.
Miguel Barros, da Associação de
Professores de História, sublinhou que
presente do conjuntivo pretérito imperfeito do conjuntivo com aquele novo modelo de exame, mais
fechado e que incluía itens de seleção, como
a escolha múltipla, ordenação ou associação,
futuro do conjuntivo pretérito imperfeito do conjuntivo verificavam que os alunos demonstravam
mais dificuldades.
João Paulo Leal, da Sociedade Portuguesa
de Química, acusou o IAVE, referindo que
as médias eram muito baixas porque os
pretérito imperfeito do conjuntivo ou responsáveis pelos exames assim o queriam.
imperativo
infinitivo impessoal (precedido de para) Não tinha havido/houvera, até àquele
momento, vontade de mudar. Suspeitava
que houvesse uma vontade deliberada de
afastar os alunos daquela área de ensino.

Nota: As transformações apresentadas no quadro ocorrem quando o verbo introdutor do discurso


indireto se encontra no passado (cf. verbos sublinhados).

276
Bloco informativo

PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E DE SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES

Sistematizam-se em seguida os processos de coordenação e de subordinação.

Coordenação

• copulativa − Fernão Lopes viveu no século XIV e escreveu várias crónicas.


• adversativa − Gostei das cantigas de amigo, mas não gostei das de amor.
• disjuntiva − Leia a farsa ou visione a adaptação teatral.
• conclusiva − Já li o Auto da Feira, logo tenho de fazer a ficha de leitura.
• explicativa – Recordo-me desta personagem, pois já vi o filme.

Subordinação

Oração subordinante − Oração da qual depende(m) a(s) subordinada(s).


Orações subordinadas adverbiais
• causal − Li Os Lusíadas porque adoro a poesia épica.
• comparativa − Gostei tanto das redondilhas como gostei dos sonetos.
• concessiva − Vi o filme embora tenha gostado mais do livro.
• condicional − Se fizerem resumos, perceberão melhor a matéria.
• consecutiva − Leste tão depressa que não consegui perceber o tema.
• temporal − Depois de conhecermos a literatura medieval, compreendemos melhor a época.
• final − Fui visitar o novo museu para conhecer melhor os Descobrimentos.
Orações subordinadas adjetivas relativas
• restritiva − Os sonetos que Camões escreveu são decassilábicos.
• explicativa − Esta redondilha, que retrata uma escrava, é sugestiva.
Orações subordinadas substantivas
• completiva – Perguntei-te se já leste o livro.
• relativa − Quem ler a obra vai perceber melhor.

CONTACTO DE LÍNGUAS

Recorde-se que a língua portuguesa deriva fundamentalmente do latim. Contudo, também sofreu a in-
fluência das línguas de substrato e de superstrato.

Substrato* *NOTA
Num caso
e noutro, o termo
Língua que desaparece após contacto com a língua de um povo invasor/colonizador, aí deixando, no en- é por vezes usado
para designar
tanto, alguns vestígios. Por exemplo, antes do latim, foram faladas, na Península Ibérica, outras línguas, o conjunto dos
existindo, portanto, atualmente, em português, palavras de origem celta e ibera. referidos vestígios
linguísticos.

Superstrato*
Língua de um povo invasor/colonizador que acaba por desaparecer, mas que deixa marcas na do povo in-
vadido/colonizado. Na história do português, esse foi o caso dos idiomas trazidos pelos germanos e pelos
árabes, que chegaram à Península nos séculos V e VIII, respetivamente.

277
Bloco informativo

PALAVRAS CONVERGENTES E DIVERGENTES

Para se falar de palavras convergentes e divergentes é fundamental saber o que se entende por
ÉTIMO. O étimo é uma "palavra da qual deriva, diacronicamente, outra palavra", segundo o dicionário
terminológico (DT online — dt.dge.mec.pt).

Palavras convergentes
Palavras que apresentam a mesma forma, embora provenham de étimos diferentes, dando origem a pa-
lavras homónimas. São exemplos de palavras convergentes:
*NOTA
A forma rio RIVU- FILU-
pressupõe
uma forma
reconstituída, rio* (nome e verbo) fio (nome e verbo)
*RIDO

RIDEO FIDO

VANU- SUNT

vão (nome ou adj. e verbo) são (verbo, nome ou adjetivo = santo)

VADUNT SANCTU-

Palavras divergentes
Palavras que apresentam formas diferentes, apesar de terem o mesmo étimo. São exemplos de palavras
divergentes:

mácula parábola solitário

MACULA- PARABOLA- SOLITARIU-

mancha, mágoa palavra solteiro

PROFESSOR PROCESSOS FONOLÓGICOS


A grafia não reflete
necessariamente todas as
alterações fónicas, pelo Recorda-se que as alterações/modificações que a língua sofreu podem resultar de processos fono-
que podemos ter grafias
conservadoras, que não
lógicos. Tradicionalmente, consideram-se três grandes tipos de processos fonológicos, que ocor-
deixam transparecer rem por INSERÇÃO, SUPRESSÃO e ALTERAÇÃO (na qualidade ou na posição) de unidades fónicas.
mudanças que já ocorreram
na língua.

Inserção
• Prótese − acrescento de uma unidade fónica no início da palavra: SPECULU- > espelho
• Epêntese − acrescento de uma unidade fónica no interior da palavra: HUMILE- > humilde
• Paragoge − acrescento de uma unidade fónica no fim da palavra: ANTE > antes

278
Bloco informativo

Supressão
• Aférese − queda de uma unidade fónica no início da palavra: HOROLOGIU- > relógio
• Síncope − queda de uma unidade fónica no interior da palavra: GENERU- > genro
• Apócope − queda de uma unidade fónica no fim da palavra: CRUCE- > cruz

Alteração
• Assimilação − aproximação de unidades fónicas: NOSTRU- > nosso
• Dissimilação − diferenciação de unidades fónicas: nembrar (forma arcaica) > lembrar
• Sonorização − transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/, /k/) na sua corres-
pondente sonora (neste caso, /b/, /d/, /g/): PIETATE- > piedade
• Palatalização − passagem a palatal de uma unidade ou sequência que o não é originalmente:
FLAMMA- > chama
• Vocalização − transformação de uma consoante em vogal: OCTO > oito
(note-se que, seguindo outra vogal, a unidade que resulta da transformação da consoan-
te funciona como semivogal)
• Crase − fusão ou contração de duas vogais numa só: LEGERE > leer > ler
• Sinérese − transformação em ditongo de uma sequência formada por duas vogais contíguas (por
semivocalização de uma delas): EGO > eo > eu
• Metátese − deslocação, no interior da palavra, de unidades mínimas ou de sílabas: SEMPER > sempre
• Redução vocálica − enfraquecimento de uma vogal em posição átona: casa / casinha

ARCAÍSMOS E NEOLOGISMOS

Arcaísmos
São palavras ou expressões que deixam de ser comummente utilizadas pela comunidade e que, por isso,
passam a considerar-se antiquadas. É o caso de coita, forma antiga para referir “sofrimento”, “infelicidade”.

Neologismos
São palavras novas ou novas associações de forma e sentido que resultam, fundamentalmente, da neces-
sidade de renovação do léxico. Assim, o neologismo tanto pode resultar da atribuição de um novo sen-
tido a uma palavra já existente, como acontece com alguns termos da área da informática (rato, sítio,
portal, navegar, …), como pode decorrer da atuação dos diferentes processos de formação de pala-
vras (cf. europeizar, aerogerador, eurodeputado). Também do contacto com outras línguas pode resultar
a integração de novo vocabulário (empréstimos).

279
Bloco informativo

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

O léxico de uma língua é formado por todos os constituintes morfológicos portadores de significado. Dele
fazem parte não apenas as palavras do vocabulário atual mas também as palavras que já não se usam e
todas as que podem ser criadas através de processos regulares (derivação e composição) ou através de
processos irregulares.

Palavra − item lexical que pertence a uma dada classe, com um significado identificável.

Palavra simples − palavra formada por um único radical, sem afixos derivacionais, mas podendo exibir
afixos flexionais.
Palavra complexa − palavra formada por derivação (contém um radical e pelo menos um afixo deriva-
cional) ou por composição (constituída por mais de um radical ou por duas ou mais
palavras).
Base − constituinte morfológico que contém o significado lexical (exclui os afixos) e a partir do qual se
formam novas palavras.

Derivação não-afixal
Processo de formação de palavras que gera nomes deverbais, acrescentando marcas
de flexão nominal a um radical verbal.
Exs.: troc- troca; troco
abraç- abraço
(sem junção de afixos)
Conversão
Processo de formação de palavras, também chamado derivação imprópria, que
procede à integração de uma dada unidade lexical numa nova classe de palavras por
via sintática, sem que se verifique qualquer alteração formal.
Exs.: olhar verbo olhar nome
Estás a olhar para mim. Tem um olhar penetrante.

Prefixação
Consiste na adição de um prefixo a uma base.
DERIVAÇÃO
Exs.: desinteresse; macroestrutura; bissexual

Sufixação
Consiste na adição de um sufixo a uma base.

AFIXAL Exs.: cozinheiro; caçada

Processo morfológico que Prefixação e sufixação


consiste na associação de Consiste na adição de um prefixo e de um sufixo a uma base.
um afixo a uma forma base
Exs.: in>condicional>mente
incondicionalmente

Parassíntese
Processo morfológico de formação de verbos a partir de nomes ou de adjetivos e que
consiste na adição simultânea de um prefixo e de um sufixo a uma base.
Exs.: a[padrinh]ar; a[podr]ecer

280
Bloco informativo

Processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais


palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre
MORFOLÓGICA uma vogal de ligação.
Exs.: [agr]+ i +[cultura] = agricultura; [lus] + o +[descendente]= luso-descendente;
[psic]+ o +[pata] = psicopata
COMPOSIÇÃO

Processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos
depende da relação sintática e semântica entre os seus membros, o que tem consequên-
MORFOSSINTÁTICA cias para a forma como são flexionados em número.
Exs.: surdo-mudo; guarda-chuva; Via Láctea

PROCESSOS IRREGULARES DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Designação Definição

Criação de um vocábulo através da junção de letras ou sílabas de um grupo de palavras, que se pronunciam
Acrónimo como uma só palavra.
Ex.: ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações)

Criação de uma palavra a partir das iniciais de um grupo de palavras.


Sigla
Exs.: SCP (Sporting Clube de Portugal) / FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia)

Processo de transferência de uma palavra de uma língua para outra, com ou sem adaptações às características
Empréstimo formais da língua recetora.
Ex.: dossiê (do francês dossier)

Criação de novos sentidos para uma palavra já existente na língua que, contudo, não perde o(s) significado(s)
Extensão semântica anterior(es).
Ex.: rato (aplicado à informática como comando manual do computador)

Criação de um termo que se caracteriza pela eliminação de parte da palavra de que deriva.
Truncação
Ex.: metro (metropolitano)

Criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras.


Amálgama
Ex.: informática (informação + automática)

PALAVRAS MONOSSÉMICAS E POLISSÉMICAS

Palavras monossémicas contexto em que surgem, havendo, todavia, um elo comum


Palavras que têm um só significado. Predominam nos textos nesses múltiplos sentidos. Veja-se, por exemplo, o termo pé,
científicos, dado que neles se procura veicular uma mensa- que pode surgir como:
gem objetiva, que deve ser entendida de modo igual por to- • parte do corpo Dói-me o pé.
dos os leitores. Exemplos são os termos: cartografia, biologia, • parte inferior de uma mesa, de uma carteira ou de um
caligrafia. banco Levanta aí o pé da cadeira.
• sinónimo de zaragata ou zanga Ele fez um pé-de-
Palavras polissémicas
-vento.
Palavras que apresentam uma propriedade semântica que
• posição oposta à de estar sentado Põe-te de pé.
lhes permite apresentar vários significados, de acordo com o

281
Bloco informativo

CAMPO SEMÂNTICO E LEXICAL

Campo semântico
Conjunto de significados que uma palavra pode ter, dependendo dos contextos em que ocorre. O campo
semântico de mar integra os significados que em situações distintas o nome adquire:

Exs.: Andava um mar de gente na baixa.


Nem tudo é um mar de rosas.

Campo lexical
Reporta-se ao conjunto de palavras que, pelo seu significado, se associam a um determinado conceito ou
ideia. Por exemplo, ao campo lexical de escola, associam-se palavras como:
professores, alunos, corredores, salas de aula, carteiras, quadros, cadeiras, …

RELAÇÕES SEMÂNTICAS

As palavras estabelecem relações semânticas entre elas, que podem ser de vários tipos. Assim, temos
relações de:

Semelhança/oposição
• Sinonímia − relação de equivalência de significado entre duas ou mais palavras.
Exs.: bonito/lindo; carro/automóvel; pão/carcaça.
• Antonímia − relação semântica de oposição entre duas ou mais palavras.
Exs.: dia/noite; subir/descer; rápido/lento.

Hierarquia: hiperonímia e hiponímia

Trata-se de uma relação hierárquica de inclusão.


• Hiperónimo − sentido mais genérico. Ex.: peixe
• Hipónimo − sentido mais específico. Exs.: pescada, carapau, sardinha, robalo, …

Como se vê, o hipónimo mantém com o hiperónimo traços semânticos comuns. Por isso, as espécies de
peixes elencadas são hipónimos do hiperónimo peixe, e vice-versa.

Todo/parte: holonímia/meronímia

Trata-se de uma relação de hierarquia semântica entre palavras.


• Holónimo − refere o todo, a unidade. Ex.: carro
• Merónino − refere uma parte dessa unidade.
Exs.: chassis, volante, assentos, guarda-lamas, para-choques, …
Assim, os merónimos correspondem a partes do todo, neste caso o holónimo carro, e este integra todos
os elementos referidos, designados de merónimos.

282
II – GÉNEROS TEXTUAIS
Bloco informativo

Géneros Definição e marcas Domínios

Género textual que faz a apresentação de um


publicitário
Uso de uma linguagem apelativa.
Anúncio

determinado objeto/assunto evidenciando o Oralidade


Recurso a frases interrogativas e exclamativas.
seu interesse e as suas características. (Compreensão
Uso de recursos expressivos. do Oral)
Possui um caráter apelativo e recorre a
múltiplas linguagens (verbal, não verbal). Utilização de neologismos.

Encadeamento lógico dos tópicos abordados.


Recurso a mecanismos de coesão − conectores,
Apreciação

Texto onde se faz a apreciação valorativa de um Oralidade


deíticos, ...
crítica

determinado objeto (livro, disco, exposição, …), (Expressão Oral)


Uso de uma linguagem valorativa.
observando-se, sob uma perspetiva crítica, as Leitura
suas características, funcionalidades e interesse. Utilização expressiva da pontuação e da
Escrita
linguagem.
Predomínio dos nomes e dos adjetivos.

Texto expositivo sobre um determinado aspeto Uso de uma linguagem clara, objetiva e específica
divulgação
científica
Artigo de

de uma área do saber com o objetivo de de uma determinada área.


divulgação. Utilização de frases declarativas. Leitura
Caracteriza-se pelo rigor, pela objetividade Hierarquização das ideias e explicitação das
e pela informação seletiva e criteriosa. fontes.

Texto que faz a apresentação de um Recurso a variedade de tema, cobertura de um


Documentário

determinado assunto/tema colhido da tema ou acontecimento.


realidade e tratado sob uma determinada Presença do discurso direto e indireto. Oralidade
perspetiva. (Compreensão
Diversidade de registos (objetivos/subjetivos). do Oral)
Veicula informação criteriosa e seletiva com Emprego de mecanismos de coesão e de recursos
um fim didático. verbais e não verbais.

Encadeamento lógico dos tópicos abordados.


Exposição sobre

Recurso a mecanismos de coesão − conectores,


Texto de caráter demonstrativo onde se
um tema

deíticos, … Leitura
disserta de forma clara e fundamentada sobre
um determinado tema, mobilizando informação Uso de uma linguagem clara, objetiva e
denotativa. Escrita
relevante sobre o assunto.
Predomínio dos nomes e dos verbos e das frases
declarativas.
Relato de viagem

Texto predominantemente narrativo e Predomínio do discurso de primeira pessoa.


descritivo, versando uma variedade de temas,
Uso de uma linguagem valorativa.
onde se registam as impressões do emissor
acerca de lugares visitados. Utilização expressiva da pontuação e da Leitura
linguagem.
Prevalece o discurso pessoal e, portanto,
subjetivo. Predomínio dos nomes e dos adjetivos.
Reportagem

Peça jornalística que se caracteriza pela Uso de uma linguagem objetiva e clara.
multiplicidade de temas abordados e de Oralidade
Recurso ao discurso direto e indireto. (Compreensão
intervenientes, o que implica a diversidade de do Oral)
pontos de vista e a veiculação de informação Recurso à subjetividade do autor.
ampla e seletiva. Utilização da primeira e da terceira pessoas.

Texto que se caracteriza pela condensação das Encadeamento lógico dos tópicos abordados.
Síntese

ideias de um texto de partida − redução a cerca Oralidade


Recurso a mecanismos de coesão.
de um quarto − através da seleção das ideias (Expressão Oral)
essenciais, de forma a manter a informação Recurso às frases declarativas e à linguagem Escrita
fundamental. objetiva.

283
III − RECURSOS EXPRESSIVOS
Bloco informativo

Adjetivação – utilização expressiva e recorrente da classe dos adjetivos. “Um mover d’olhos, brando e piadoso”
(Luís de Camões, Rimas)

Alegoria – série de metáforas arrojadas que vão além do sentido aparente ou literal Diabo Mal
e que têm como objetivo último clarificar, tornando mais concretas, Serafim Bem
determinadas realidades abstratas e espirituais. (Gil Vicente, Auto da Feira)

Aliteração – repetição sucessiva de um tipo de sons consonânticos. “A fermosura desta fresca serra”
(Luís de Camões, Rimas)

Anáfora – repetição de uma palavra ou expressão no início de versos ou de frases “Faz serras floridas, / faz claras as fontes”
sucessivos(as). (Luís de Camões, Rimas)

Anástrofe – alteração da ordem natural das palavras na frase. “Só com vos ver o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado”
(Luís de Camões, Os Lusíadas)

Antítese – aproximação de duas ideias opostas ou contraditórias. “e os batéis por lhe fugir, e elas por os tomar”
(Fernão Lopes, Crónica de D. João I)

Apóstrofe – interpelação, chamamento do recetor a quem é destinado o discurso. “E vós, Tágides minhas, […]”
(Luís de Camões, Os Lusíadas)

Comparação – relação de realidades, colocadas em paralelo, por meio de um termo “Quer’eu em maneira de proençal / fazer agora
comparativo ou verbos como parecer, lembrar, sugerir, entre outros. um cantar d’amor”
(Dom Dinis)

Enumeração – apresentação sucessiva de elementos, frequentemente da mesma “[…] agora espero, agora desconfio; / agora desvario,
categoria gramatical ou com o mesmo tipo de estruturação. agora acerto.”
(Luís de Camões, Rimas)

Eufemismo – atenuação na transmissão de uma ideia ou realidade excessiva, “Alma minha gentil, que te partiste / tão cedo desta
semanticamente negativa. vida, descontente”
(Luís de Camões, Rimas)

Hipérbole – utilização de termos excessivos para efeito de exagero da realidade. “Farei que amor a todos avivente, / pintando mil
segredos delicados […]”
(Luís de Camões, Rimas)

Interrogação retórica – questão que se formula não para obter resposta, mas para “Hui! e que pecado é o meu, / ou que dôr de coração?”
melhor orientar/realçar a ideia a transmitir. (Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira)

Ironia – expressão de palavra/ideia polemicamente orientada para conclusão “Roi Queimado morreu com amor […] / mais resurgiu
diferente daquilo que é o sentido literalmente proferido. depois, ao tercer dia”.
(Pero Garcia Burgalês)

Metáfora – reconstrução, por analogia, do significado normal de uma palavra “Ondados fios de ouro reluzente”
ou expressão, aproximando-o ou associando-o a um campo semântico (Luís de Camões, Rimas)
distinto.

Metonímia – referência a uma realidade através de outra que lhe é próxima “Não no dá a pátria, não, que está metida / No gosto
(por exemplo, a causa pelo efeito, o escritor pela obra, o produto pela da cobiça e na rudeza”
matéria, e vice-versa). (Luís de Camões, Os Lusíadas)

Perífrase – utilização de uma expressão composta por vários termos em vez “[…] no amigo / Curral de Quem governa o Céu
da possibilidade de utilizar uma só palavra. rotundo”
(Luís de Camões, Os Lusíadas)

Personificação – atribuição de sentimentos, ações ou ideias próprias do ser humano “– Ai flores, ai flores do verde pino”
a objetos ou elementos da Natureza. (Dom Dinis)

Pleonasmo – reforço da mesma ideia, através da utilização intencional de palavras “Vi, claramente visto, o lume vivo.”
ou expressões com o mesmo sentido. (Luís de Camões, Os Lusíadas)

Sinédoque – expressão da parte pelo todo, do singular pelo plural, do abstrato pelo “Que da Ocidental praia Lusitana” (= Portugal)
concreto, e vice-versa. (Luís de Camões, Os Lusíadas)

284
IV − NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO Bloco informativo

Os textos poéticos em verso evidenciam um conjunto de aspetos técnicos versificatórios sistematizados no quadro abaixo.

Aspetos técnicos e versificatórios

• Extensão do verso pelo número de sílabas métricas (escansão até à sílaba tónica da última palavra
do verso, considerando-se ainda a elisão de sons vocálicos quando pronunciados numa só emissão
de voz; não é coincidente com o número de sílabas gramaticais)

Exs.:
“A/que/la/ ca/ti/va” (Luís de Camões, Rimas) — 5 sílabas métricas
“que a/ tor/men/ta a/man/sa” (Luís de Camões, Rimas) — 5 sílabas métricas
N Métrica
O “Um/ mo/ver/ d’o/lhos/, bran/do e/ pi/a/do/so” (Luís de Camões, Rimas) — 10 sílabas métricas
“Ho/nes/to/ ri/so/, que en/tre a/ mor/ fi/ne/za” (Luís de Camões, Rimas) — 10 sílabas métricas
V
E
R • Designação do verso pelo número de sílabas métricas: monossílabo (uma); dissílabo (duas);
S trissílabo (três); tetrassílabo (quatro); pentassílabo ou redondilha menor (cinco); hexassílabo (seis);
O heptassílabo ou redondilha maior (sete); octossílabo (oito); eneassílabo (nove); decassílabo (dez);
hendecassílabo (onze); dodecassílabo ou alexandrino (doze)

Acento verso agudo (oxítono ou masculino); verso grave (paroxítono ou feminino); ou verso esdrúxulo
silábico (proparoxítono)

verso binário (dois segmentos com uma pausa); verso ternário (três segmentos com duas pausas);
Ritmo
verso quaternário (quatro segmentos com três pausas)

Classificação da estrofe pelo número de versos: monóstico (um); dístico (dois); terceto (três);
Número
quadra (quatro); quintilha (cinco); sextilha (seis); sétima (sete); oitava (oito); nona (nove); décima (dez);
de versos
irregular (mais de dez)

Rima interna – a correspondência de sons verifica-se no interior dos versos:


“irei beber a luz e o amanhecer” (Sophia de Mello Breyner Andresen)

N Rima de sons finais, ou rima externa


A Esquema • emparelhada (rima de sons em pares - aa, bb, cc, ...);
rimático • interpolada ou intercalada (um tipo de som final intercala outro diferente – abca);
E • cruzada (sons alternam entre versos ímpares e pares – ababaca);
S
T Rima encadeada – a última palavra de um verso rima com o meio do verso seguinte:
R "Eu sou a que no mundo anda perdida, / Eu sou a que na vida não tem norte" (Florbela Espanca)
O
F Consoante (rimam vogais e consoantes)
Em função da
E Toante (rimam só as vogais tónicas)
correspondência de sons

Tipo
de rima Rica (a rima incide em unidades pertencentes a classes de palavras
Em função da classe diferentes)
gramatical das palavras Pobre (a rima incide em unidades que pertencem à mesma classe
de palavras)

285
V − O TEXTO DRAMÁTICO
Bloco informativo

O texto dramático apresenta uma estrutura dialogal, através da qual progride a intriga ou ação dramática,
destinando-se, prioritariamente, à representação.

Observe o conjunto de elementos que o integram e que permitem distingui-lo de outros textos.

ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM O TEXTO DRAMÁTICO

• Corresponde aos atos de fala das personagens (as réplicas), pelas quais se dá a progressão dramática.
• Integra os acontecimentos, situações ou ações experienciados pelas personagens, que surgem contextualizados
num determinado espaço e num determinado tempo.
Texto principal
• Desenvolve-se, fundamentalmente, em diálogo (interação estabelecida pelas personagens intervenientes), podendo
também surgir o monólogo (expressões associadas à exteriorização de reflexões ou pensamentos da personagem)
ou os apartes (interação direta entre a personagem e o leitor/espetador).

• Corresponde ao conjunto de didascálicas (parte do texto marcada graficamente por outro tipo de letra – e/ou – por
parênteses).
• Representa as indicações cénicas fornecidas pelo dramaturgo, nas quais se encontram informações imprescindíveis
à representação do texto principal.
• Integra informações dirigidas às personagens, ao encenador, aos atores, aos técnicos e figurinistas, como, por exemplo:
Texto – identificação das personagens;
secundário
– caracterização física e psicológica dos interlocutores;
– indicações sobre o modo como as falas devem ser proferidas;
– registo de aspetos paraverbais (movimentação, expressões corporais e faciais, tom de voz, gestos);
– caracterização do espaço e do tempo, da intensidade e focalização da iluminação, da disposição dos objetos em
cena, vários aspetos a contemplar na representação.

A estrutura do texto dramático pode ainda ser percecionada por outras características, normalmente asso-
ciadas à sua segmentação e tradicionalmente relacionadas com os seguintes aspetos.

ESTRUTURA TRADICIONAL DO TEXTO DRAMÁTICO

Associa-se à mudança de cenário ou aos momentos cruciais do desenvolvimento da ação


ATO
dramática.

CENA Corresponde à entrada ou à saída de personagens.

286
Metas Curriculares

Domínios de Referência, Objetivos e Descritores de Desempenho – 10.° ano

Oralidade 4. Explicitar o sentido global do texto, fundamentando.


5. Relacionar aspetos paratextuais com o conteúdo do texto.
1. Interpretar textos orais de diferentes géneros.
6. Explicitar, em textos apresentados em diversos suportes, marcas
1. Identificar o tema dominante, justificando. dos seguintes géneros: relato de viagem, artigo de divulgação
2. Explicitar a estrutura do texto. científica, exposição sobre um tema e apreciação crítica.
3. Distinguir informação subjetiva de informação objetiva. 8. Utilizar procedimentos adequados ao registo e ao tratamento
4. Fazer inferências. da informação.
5. Distinguir diferentes intenções comunicativas. 1. Selecionar criteriosamente informação relevante.
6. Verificar a adequação e a expressividade dos recursos verbais 2. Elaborar tópicos que sistematizem as ideias-chave do texto,
e não verbais. organizando-os sequencialmente.
7. Explicitar, em função do texto, marcas dos seguintes géneros: 9. Ler para apreciar criticamente textos variados.
reportagem, documentário, anúncio publicitário. 1. Exprimir pontos de vista suscitados por leituras diversas, fun-
2. Registar e tratar a informação. damentando.
1. Tomar notas, organizando-as. 2. Analisar a função de diferentes suportes em contextos espe-
cíficos de leitura.
2. Registar em tópicos, sequencialmente, a informação relevante.
3. Planificar intervenções orais.
1. Pesquisar e selecionar informação. Escrita
2. Planificar o texto oral, elaborando tópicos de suporte à inter- 10. Planificar a escrita de textos.
venção.
1. Pesquisar informação pertinente.
4. Participar oportuna e construtivamente em situações de intera-
2. Elaborar planos:
ção oral.
a) estabelecer objetivos;
1. Respeitar o princípio de cortesia: formas de tratamento e re-
gistos de língua. b) pesquisar e selecionar informação pertinente;

2. Utilizar adequadamente recursos verbais e não verbais: pos- c) definir tópicos e organizá-los de acordo com o género de
tura, tom de voz, articulação, ritmo, entoação, expressividade. texto a produzir.

5. Produzir textos orais com correção e pertinência. 11. Escrever textos de diferentes géneros e finalidades.

1. Produzir textos seguindo tópicos fornecidos. 1. Escrever textos variados, respeitando as marcas do género:
síntese, exposição sobre um tema e apreciação crítica.
2. Produzir textos seguindo tópicos elaborados autonomamente.
12. Redigir textos com coerência e correção linguística.
3. Produzir textos linguisticamente corretos, com diversificação
do vocabulário e das estruturas utilizadas. 1. Respeitar o tema.

6. Produzir textos orais de diferentes géneros e com diferentes 2. Mobilizar informação adequada ao tema.
finalidades. 3. Redigir um texto estruturado, que reflita uma planificação,
1. Produzir os seguintes géneros de texto: síntese e apreciação evidenciando um bom domínio dos mecanismos de coesão
crítica. textual com marcação correta de parágrafos e utilização
adequada de conectores.
2. Respeitar as marcas de género do texto a produzir.
4. Mobilizar adequadamente recursos da língua: uso correto do
3. Respeitar as seguintes extensões temporais: síntese – 1 a 3
registo de língua, vocabulário adequado ao tema, correção na
minutos; apreciação crítica – 2 a 4 minutos.
acentuação, na ortografia, na sintaxe e na pontuação.
5. Observar os princípios do trabalho intelectual: identificação
Leitura das fontes utilizadas; cumprimento das normas de citação;
uso de notas de rodapé; elaboração da bibliografia.
7. Ler e interpretar textos de diferentes géneros e graus de com-
6. Explorar as virtualidades das tecnologias de informação na
plexidade.
produção, na revisão e na edição do texto.
1. Identificar o tema dominante, justificando.
13. Rever os textos escritos.
2. Fazer inferências, fundamentando.
1. Pautar a escrita do texto por gestos recorrentes de revisão e
3. Explicitar a estrutura do texto: organização interna. aperfeiçoamento, tendo em vista a qualidade do produto final.

287
Metas Curriculares

Educação Literária 16. Situar obras literárias em função de grandes marcos históricos
e culturais.
14. Ler e interpretar textos literários. 1. Reconhecer a contextualização histórico-literária nos casos
1. Ler expressivamente em voz alta textos literários, após prepa- previstos no Programa.
ração da leitura. 2. Comparar diferentes textos no que diz respeito a temas,
2. Ler textos literários portugueses de diferentes géneros, per- ideias e valores.
tencentes aos séculos XII a XVI.
3. Identificar temas, ideias principais, pontos de vista e univer-
Gramática
sos de referência, justificando.
4. Fazer inferências, fundamentando. 17. Conhecer a origem e a evolução do português.
5. Analisar o ponto de vista das diferentes personagens. 1. Referir e caracterizar as principais etapas de formação do
6. Explicitar a estrutura do texto: organização interna. português.

7. Estabelecer relações de sentido 2. Reconhecer o elenco das principais línguas românicas.

a) entre as diversas partes constitutivas de um texto; 3. Explicitar processos fonológicos que ocorrem na evolução do
português.
b) entre características e pontos de vista das personagens.
4. Identificar étimos de palavras.
8. Identificar características do texto poético no que diz respei-
to a: 5. Reconhecer valores semânticos de palavras considerando o
respetivo étimo.
a) estrofe (dístico, terceto, quadra, oitava);
6. Relacionar significados de palavras divergentes.
b) métrica (redondilha maior e redondilha menor; decassílabo);
7. Identificar palavras convergentes.
c) rima (emparelhada, cruzada, interpolada);
8. Reconhecer a distribuição geográfica do português no mun-
d) paralelismo (cantigas de amigo);
do: português europeu; português não europeu.
e) refrão.
9. Reconhecer a distribuição geográfica dos principais crioulos
9. Identificar e explicitar o valor dos recursos expressivos men- de base portuguesa.
cionados no Programa.
18. Explicitar aspetos essenciais da sintaxe do português.
10. Identificar características do soneto.
1. Identificar funções sintáticas indicadas no Programa.
11. Reconhecer e caracterizar textos quanto ao género literário:
2. Dividir e classificar orações.
epopeia e auto ou farsa.
3. Identificar orações coordenadas.
15. Apreciar textos literários.
4. Identificar orações subordinadas.
1. Reconhecer valores culturais, éticos e estéticos manifestados
nos textos. 5. Identificar oração subordinante.

2. Valorizar uma obra enquanto objeto simbólico, no plano do 19. Explicitar aspetos essenciais da lexicologia do português.
imaginário individual e coletivo. 1. Identificar arcaísmos.
3. Expressar pontos de vista suscitados pelos textos lidos, fun- 2. Identificar neologismos.
damentando. 3. Reconhecer o campo semântico de uma palavra.
4. Fazer apresentações orais (5 a 7 minutos) sobre obras, partes 4. Explicitar constituintes de campos lexicais.
de obras ou tópicos do Programa.
5. Relacionar a construção de campos lexicais com o tema do-
5. Escrever exposições (entre 120 e 150 palavras) sobre temas minante do texto e com a respetiva intencionalidade comu-
respeitantes às obras estudadas, seguindo tópicos forneci- nicativa.
dos.
6. Identificar processos irregulares de formação de palavras.
6. Ler uma ou duas obras do Projeto de Leitura relacionando-
7. Analisar o significado de palavras considerando o processo
-a(s) com conteúdos programáticos de diferentes domínios.
de formação.
7. Analisar recriações de obras literárias do Programa, com re-
curso a diferentes linguagens (por exemplo, música, teatro,
cinema, adaptações a séries de TV), estabelecendo compa-
rações pertinentes.

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