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Novos PORTUGUÊS 1
3URȃVVLRQDLV
Ana Catarino
Isabel Castiajo
Maria José Peixoto
De acordo com
Novo Programa
12 PROJETO DE LEITURA 14 PARA COMEÇAR
MÓDULO 1
1. POESIA TROVADORESCA
18 PARA CONTEXTUALIZAR 19 PARA INICIAR 22 PARA DESENVOLVER
28 “Quer’eu em maneira de proençal”, 24 “A figura feminina nas cantigas 26 Exposição sobre um tema
Dom Dinis de amor” “A sociedade portuguesa do século XIII”
30 “Se eu pudesse desamar”, 33 Apreciação crítica
Pero da Ponte “O poder, talvez”
30 “Que soidade de mha senhor ei”,
Dom Dinis
CANTIGAS DE AMIGO
36 “Ai flores, ai flores do verde pino”, 34 ”Cantigas de amigo” e “Paralelismo” 42 Artigo de divulgação científica
Dom Dinis “Amor: cria dependência como
35 “Refrão”
37 “Nom chegou, madr’, o meu amigo”, uma droga, mas sabe bem como
Dom Dinis o chocolate”
52 “Roi Queimado morreu com amor”, 50 “Cantigas de escárnio e maldizer” 48 “Vídeos na Internet”
Pero Garcia Burgalês
51 “Cantigas de escárnio” e “Cantigas
53 “Ai, dona fea, foste-vos queixar”, de maldizer”
Joam Garcia de Guilhade
54 “Foi um dia Lopo jograr”,
Martim Soares
2
ÍNDICE
19 COMPREENSÃO DO ORAL
Reportagem
“Viagem Medieval em Terra
de Santa Maria”
49
9 Ex
E
Exposição
xposição so
sobre um tema 49 Formação de palavras
Virtudes e riscos do uso do Facebook 55 Classe de palavras
55 Funções sintáticas
55 Conector
49, 55 Referente
55 Subordinação
APRENDER / APLICAR
44 Evolução do português
61 PARA AVALIAR 56 Fonética e fonologia / etimologia
3
MÓDULO 1
FERNÃO LOPES
2. CRÓNICA DE D. JOÃO I (Excertos da 1.a parte)
66 PARA CONTEXTUALIZAR 67 PARA INICIAR 69 PARA DESENVOLVER
MÓDULO 2
GIL VICENTE
1. FARSA DE INÊS PEREIRA
94 PARA CONTEXTUALIZAR 95 PARA INICIAR 96 PARA DESENVOLVER
Farsa de Inês Pereira 97 “A sátira e o ideal de ordem” 118 Exposição sobre um tema
“A verdade das relações”
98 (A vida de solteira de Inês – excerto 1) 97 “Farsa e auto – natureza e estrutura
da obra” 129 Apreciação crítica
104 (A carta de Pero Marques –
“Um homem, uma mulher
excerto 2)
e um tribunal”
110 (Os judeus casamenteiros –
excerto 3)
112 (Apresentação do Escudeiro e
casamento de Inês – excerto 4)
115 (A vida de casada de Inês –
excerto 5)
124 (Inês livre para novos amores –
excerto 6)
4
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA
78 Funções sintáticas I
89 PARA AVALIAR
5
MÓDULO 2
LUÍS VAZ DE CAMÕES
2. RIMAS
138 PARA CONTEXTUALIZAR 139 PARA INICIAR 140 PARA DESENVOLVER
REPRESENTAÇÃO DA AMADA
146 “Endechas”
A REPRESENTAÇÃO DA NATUREZA
157 “Correm turvas as águas deste rio” 156 “A lírica camoniana” 161 Apreciação crítica
“Um justo entre as Nações”
158 “Mudam-se os tempos, mudam-se
as vontades” 164 Exposição
“Os pintores descobrem a realidade”
160 “Que me quereis, perpétuas
saüdades?”
6
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA
145 COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL 147 Exposição sobre um tema 145 Subordinação
Áudio “Garota de Ipanema”, Representação da mulher
145 Classe de palavras
Tom Jobim e Vinicius de Moraes na lírica camoniana
APRENDER / APLICAR
7
MÓDULO 3
LUÍS VAZ DE CAMÕES
1. OS LUSÍADAS
174 PARA CONTEXTUALIZAR 175 PARA INICIAR 177 PARA DESENVOLVER
180 Canto I, ests. 1 a 3 177 “Origem e valor simbólico 206 Artigo de divulgação científica
Imaginário épico – Proposição do termo ‘lusíadas’” “Explorando Vénus”
181 Canto I, ests. 4 a 5 177 “A génese de Os Lusíadas” 214 Exposição sobre um tema
Imaginário épico – Invocação “Exploradores oceânicos”
178 “Poema épico
182 Canto I, ests. 6 a 18 Estruturação interna e externa
Imaginário épico – Dedicatória de Os Lusíadas”
186 Canto I, ests. 105 e 106 195 “Simbologia da Ilha dos Amores”
Reflexões do poeta
(A fragilidade da vida humana) 215 O conteúdo de cada canto
8
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA
175 EXPRESSÃO ORAL 185 Reescrita de texto 185, 199, Funções sintáticas
Leitura de imagens (sinonímia/economia lexical) 202, 210
176 COMPREENSÃO DO ORAL 203 Exposição sobre um tema 185, 210 Campo lexical/Campo semântico
Documentário Os Descobrimentos
“Grandes Livros − Os Lusíadas” 185 Classe de palavras
210 Exposição sobre um tema
181 COMPREENSÃO DO ORAL As qualidades bélicas e literárias 191 Conector
Áudio de Luís de Camões
Tema “Contentores”, Xutos 191, 210, Coordenação/Subordinação
e Pontapés 214
APRENDER / APLICAR
Orações subordinadas
adverbiais
9
MÓDULO 3
HISTÓRIA TRÁGICO-MARÍTIMA
2. “AS TERRÍVEIS AVENTURAS DE JORGE DE ALBUQUERQUE COELHO (1565)”
228 PARA CONTEXTUALIZAR 229 PARA INICIAR 232 PARA DESENVOLVER
233 “Antecedentes − missão de Jorge 232 “A História Trágico-Marítima” 231 Exposição sobre um tema
de Albuquerque Coelho”(Excerto 1) “A carreira da Índia”
237 “A nau”
235 “Partida” (Excerto 2) 240 Apreciação crítica
“Sucessos e naufrágios
238 “Encontro com os corsários” das naus portuguesas“
(Excerto 3)
241 Exposição sobre um tema
242 “Tempestade” (Excerto 4) “As viagens dos Descobrimentos”
244 “Regresso a Lisboa” (Excerto 5) 248 Relato de viagem
“Dois anos a pedalar…”
BLOCO INFORMATIVO
I – GRAMÁTICA (Sistematização)
260 Classes de palavras
267 Verbo
· Formas finitas e formas não finitas; modos e tempos
· Verbos regulares / irregulares
· Conjugações verbais
· Verbos defetivos (pessoais e unipessoais)
269 Pronome pessoal em adjacência verbal – regras de utilização
271 Funções sintáticas
274 Frases ativas e passivas
275 Discurso direto e indireto
277 Processos de coordenação e de subordinação entre orações
277 Contacto de línguas
· Substrato
· Superstrato
278 Palavras convergentes e divergentes
278 Processos fonológicos
· Inserção
· Supressão
· Alteração
10
ORALIDADE ESCRITA GRAMÁTICA
APRENDER / APLICAR
11
PROJETO INDIVIDUAL
DE LEITU RA Segue-se uma breve abordagem de três obras propostas no programa de Português para
o PIL (Projeto Individual de Leitura). Depois de as ler, preencha a ficha-modelo apresenta-
da na página seguinte.
Os da minha rua
Capitães da areia
Robinson Crusoé
12
FICHA
FIC H A DE LEITURA/APRECIAÇÃO
LEITURA/AP R EC IAÇ ÃO CRÍTICA
C RÍTICA DA OBRA
SOBRE
O AUTOR
E A SUA
ESCRITA
Título:
Editora/ano da edição:
Estrutura: divisão em capítulos
SOBRE
A OBRA Sim. Quantos?
SELECIONADA
Não.
Características da obra e registo discursivo:
Tema:
Acontecimentos principais:
SOBRE
A HISTÓRIA,
A AÇÃO,
OS EVENTOS
OCORRIDOS
Outros acontecimentos:
O espaço:
SOBRE
O ESPAÇO
E O TEMPO
(lugares e O tempo:
características
principais)
Protagonista(s):
Caracterização do(s) protagonista(s):
SOBRE
AS
PERSONAGENS Outras personagens:
E/OU Narrador:
O NARRADOR
Relevância para a compreensão da obra:
Ç
APRECIAÇÃO
CRÍTICA
Comentário crítico:
13
PA R A C O M E Ç A R
COMPREENSÃO DO ORAL
14
LEITURA
15
Po es i a Trova d o resca
Escrita
1. Tenha em atenção as seguintes passagens textuais selecionadas do texto.
a. “Esta é a questão base que qualquer profissional deve colocar a si próprio
Resposta de caráter
pessoal, contudo os alunos atualmente, quando enfrenta pela primeira vez o mercado de trabalho.” (ll. 2-4)
podem referir os seguintes
aspetos: b. “como foi afirmado pelos quatro oradores intervenientes na conferência.” (ll. 16-18)
Introdução: a escola é um
c. “o ensino profissional público e privado tem sido, ao longo dos anos, alvo de
instrumento privilegiado na
promoção pessoal, social e inovações e evoluções, principalmente desde há quatro anos.” (ll. 18-20)
profissional.
Desenvolvimento: contacto
d. “Fundado em 1889, o ensino profissional foi o protagonista da mudança.” (ll. 20-21)
com pessoas de todas as e. “uma vez que esta ‘alternativa ao sistema regular sempre contou com o apoio
classes sociais, aprendizagem
de vários valores, entre de atores locais’” (ll. 23-25)
os quais os de cidadania;
desenvolvimento de 1.1 Indique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões sublinhadas.
competências e aquisição de
habilitações para o exercício
de uma profissão no futuro. 1.2 Classifique a oração da alínea e.
Conclusão: pelo exposto,
a escola torna-nos pessoas 1.3 Indique o tempo e o modo da forma verbal “tem sido” (l. 18).
mais conscientes, mais
bem formadas e melhores 1.4 Designe o processo de formação da palavra “atualmente” (l. 3).
cidadãos.
E S C R I TA
Para uns, a escola é mal-amada; para outros, é uma fonte de saber e permite a abertu-
ra de janelas para o mundo.
Elabore um texto, de 100 a 140 palavras, exprimindo a sua opinião sobre a importância
da escola para a formação dos jovens. Deve respeitar a seguinte estrutura tripartida:
• introdução − apresentação sucinta do tema e da posição assumida;
• desenvolvimento − defesa da posição por meio de apresentação de duas razões;
• conclusão – fecho do texto e considerações finais.
16
MÓDULO
1
1. Poesia Trovadoresca
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Poesia trovadoresca
• Cantigas de amor
• Cantigas de amigo
• Cantigas de escárnio e maldizer
Leitura
Exposição sobre um tema
Apreciação crítica
Artigo de divulgação científica
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Comprensão/Expressão Oral]
Reportagem [Compreensão do Oral]
Gramática
Evolução do português [Aprender/Aplicar]
Fonética e fonologia/etimologia [Aprender/Aplicar]
• Formação de palavras
• Conectores
• Subordinação
• Funções sintáticas
• Classe de palavras
• Referente
• Processos fonológicos
• Étimo
• Pronome pessoal em adjacência verbal
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR
18
PARA INICIAR
COMPREENSÃO DO ORAL
[A] cultural.
[B] social. Vídeo
“Viagem Medieval
[C] militar.
em Terra de Santa Maria”
[B] a comparação entre este evento e outro do mesmo género. 1.1 [B]; 1.2 [A]; 1.3 [C]
[C] um acontecimento específico do evento. 2
a. F – Todos os anos a viagem
medieval destaca um reinado
Proceda, agora, a um segundo visionamento da reportagem. diferente.
b. F – O acampamento foi
cedido por D. Afonso IV. João
2. Registe como verdadeiras ou falsas as afirmações seguintes. Corrija as falsas. da Maia era o responsável pelo
acampamento.
a. A Viagem Medieval em Santa Maria da Feira é um acontecimento que, anual- c. V
mente, reconstitui o reinado de D. Afonso IV. d. V
e. F – Há voluntários, como
b. Um dos acontecimentos retratados nesta Viagem Medieval diz respeito ao o caso da entrevistada, que
acampamento cedido por João da Maia a um conjunto de fidalgos e de militares. participam pela primeira vez
no espetáculo.
c. Durante o espetáculo, assiste-se à simulação de um ataque ao acampamento f. V
3.
conduzido por mercenários. a. jornalístico
d. O assalto ao acampamento tem-se revelado como um dos pontos altos da Via- b. informar
c. atualidade
gem Medieval. d. profunda
e. local
e. Os voluntários têm, todos eles, grande experiência de participação nestes espe- f. depoimentos
táculo. g. intervenientes
19
Po es i a Trova d o resca
LEITURA
Leia o texto a seguir apresentado.
Feiras medievais
As feiras medievais correspondiam a uma das institui-
ções mais curiosas do período medieval; a sua função
económica consistia fundamentalmente na localização,
em prazos e termos determinados, de produtores, consu-
5 midores e distribuidores, corrigindo assim a falta de comu-
nicações fáceis e rápidas.
Quase todas as feiras se realizavam em épocas relacio-
nadas com festas da Igreja: no local onde se faziam existia
uma paz especial, a paz de feira, que proibia toda a dispu-
10 ta ou vingança, ou todo o ato de hostilidade, sob penas
severas em caso de transgressão.
Feira medieval de Lendit, in Grandes Crónicas de França, Jean Fouquet,
A primeira menção duma feira portuguesa nitidamen- século XIV.
te diferente do mercado local é a que vem registada 20 Entre os privilégios que mais favoreceram o desenvol-
no Foral de Castelo Mendo, de 1229, e que se realizava vimento das feiras, cumpre mencionar o que isentava os
15 três vezes no ano e durante oito dias de cada vez. Todos feirantes do pagamento de direitos fiscais (portagens e
os que a ela acorressem, tanto nacionais como estrangei- costumagens). Às que usufruíam desta regalia deu-se o
ros, teriam segurança desde oito dias antes até oito dias nome de feiras francas.
depois da feira, na ida e na volta, contra qualquer respon- in http://concelho-sernancelhe.planetaclix.pt/Feira_Aquilinia-
sabilidade civil ou criminal que pesasse sobre eles. na-2004-03.html (adaptado, consultado em fevereiro de 2017).
1.5 Pelas características atrás identificadas, podemos concluir que estamos perante
[A] uma síntese. [C] um texto de opinião.
[B] um texto de apreciação crítica. [D] um texto expositivo.
20
LEITURA
Leia o texto de apreciação crítica abaixo e responda, de seguida, aos itens apresen-
tados.
1
Pela liberdade, na Idade Média trevas, escuridão; estado de
completa ignorância
2
afirmar ou crer em algo como
O Nome
Nome
o
om da Ro
Rosa,
osa,
sa de
e Umb
Umberto
m ert
mb rto
o Eco,
Eco, Li
Lisboa:
isbo
sboa:
a: Dif
D
Di
Difel,
el, 2004,
20
004,
04 50
506
6ppp.
p
p. sendo verdadeiro e indiscutível
Este foi o romance que deu a conhecer
Umberto Eco ao grande público, constituin-
do um enorme êxito de vendas em Portugal
desde que foi publicado pela primeira vez,
5 e continua ainda a ser uma obra bastante
popular. E não é de espantar: escrito com
imenso humor, o romance dá-nos a conhe-
cer de uma forma expressiva o que era viver
num mosteiro medieval.
10 O tema central do romance e a liberdade
de estudo e de ensino, a livre circulação do
conhecimento. [Numa época] mergulhada em obscurantismo1 durante séculos, os mos-
teiros cristãos constituíam fortalezas onde o conhecimento era preservado com imensas
dificuldades. Dado a inexistência da imprensa, os livros tinham de ser copiados à mão por
15 monges dedicados; em consequência, os livros eram bastante raros e de difícil acesso. […]
Evidentemente, havia outros obstáculos à livre circulação do conhecimento, na Idade
Média, além do problema tecnológico de não existir ainda a imprensa. Um dos mais impor-
tantes, tema central deste livro, era o dogmatismo2 religioso, que encarava o conhecimento
como potencialmente perigoso. O romance de Umberto Eco apresenta-se como um livro
20 de detetives: uma série de misteriosas mortes afetam um mosteiro e o protagonista tem
por missão descobrir a verdade, um pouco ao estilo de Sherlock Holmes. […] Entretanto,
o leitor fica preso da primeira à última página, precisamente para saber como se resolve o PROFESSOR
mistério. […]
Leitura
A imaginação fervilhante do autor acaba por vezes por ser labiríntica, levando a que 7.1; 7.2; 8.1
25 quase se perca o fio da história. Mas a bondosa relação do protagonista com o seu discípu-
lo, a sua defesa da racionalidade límpida e sem cedências, a oposição ao dogmatismo que a. O Nome da Rosa,
procurava fazer paralisar o conhecimento – todos estes elementos fazem deste romance de Umberto Eco.
b. Idade Média, mosteiro
uma experiência inesquecível. medieval.
c. Os livros eram raros e
Desidério Murcho, in http://criticanarede.com/lds_nomedarosa.html de difícil acesso; inexistência
(consultado em janeiro de 2015, adaptado). da imprensa; falta de
circulação do conhecimento,
dogmatismo religioso, que
encarava o conhecimento,
1. O autor deste artigo faz uma apreciação crítica de uma obra. Complete os tópicos como potencialmente
perigoso.
que se seguem com dados do texto. 2. “os mosteiros cristãos
a. Titulo da obra e autor constituíam fortalezas
onde o conhecimento era
b. Época e local onde decorre a ação preservado”; “os livros
tinham de ser copiados à
c. Duas características da época retratada mão por monges dedicados”;
“dogmatismo que
procurava fazer paralisar
1. O Nome da Rosa revela o papel do clero na reprodução de livros e na divulgação de o conhecimento”
conhecimento. Comprove a afirmação com exemplos textuais.
21
Po es i a Trova d o resca
PARA DESENVOLVER
PROFESSOR INFORMAR
Leitura/Educação
Literária Leia os tópicos apresentados abaixo e resolva a atividade proposta na página seguinte.
8.1; 15.1
TEXTO A
Apresentação
Poesia trovadoresca –
A poesia trovadoresca
Contextualização
histórico-literária
• A poesia galego-portuguesa é um marco relevante na Idade Média Europeia.
• Espalha-se pela Europa, para as cortes do Norte da França, Inglaterra, Sicília, Itá-
lia, Alemanha, atravessa os Pirenéus, fixa-se na Catalunha e no reino de Aragão
e atinge a região galego-portuguesa (século XII), onde se encontra e entrecruza
com uma poesia indígena (nativa).
TEXTO B
Cantiga
• O termo cantiga é de uso geral na Arte de Trovar do Cancioneiro da Bibliote-
ca Nacional de Lisboa, utilizando-se também o termo cantar com o mesmo
significado.
22
TEXTO C
Os agentes difusores da poesia trovadoresca
Trovadores, jograis e jogralesas ou soldadeiras dão vida à arte de trobar, princi-
palmente nas cortes e nas casas dos grandes senhores, mas também na praça, para
um público mais vasto e de outra condição social.
• O trovador é um nobre que compõe os seus textos e que apenas os executa por
um prazer pessoal ou por um ato de galanteria para com as damas.
• O jogral é executante, difusor de textos alheios e próprios.
• A jogralesa trabalha ao lado do jogral, dançando e cantando, ao som de instru-
mentos por ele tangidos, ou tocando ela própria.
Elaborado a partir de Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, pp. 102-103.
Coluna A Coluna B 1.
[1] acompanhava o jogral, executando um [A] – [3]
[A] A lírica trovadoresca
instrumento e dançando. [B] – [5]
[B] Esta arte de trovar, posteriormente, [2] cantavam e tocavam em praças [C] – [9]
públicas, para o povo. [D] – [7]
[C] O cantar de amor provençal [E] – [10]
[3] teve origem na Provença. [F] – [8]
[D] O trovador, de origem nobre, [G] – [12]
[4] abordam o tema do amor. [H] – [4]
[E] O jogral [5] espalhou-se pelas cortes e grandes [I] – [11]
casas senhoriais europeias. [J] – [1]
[F] As cantigas características da lírica [k] – [6]
trovadoresca [6] é francês (da Provença). [L] – [13]
[M] – [2]
[G] A cantiga de amigo [7] compunha a letra e a música das
cantigas que também executava.
[H] Os cantares de amor e de amigo 2.
[8] encontram-se reunidas em três a. peninsular/indígena
cancioneiros profanos.
[I] A sátira e a crítica a costumes b. amoroso
e personagens [9] chegou, finalmente, ao noroeste c. amor
peninsular no século XII. d. provençal
[J] A jogralesa e. escárnio
[10]tocava, acompanhando o trovador.
f. satírico
[K] O primeiro trovador de que há registo
[11] estão presentes nas cantigas de g. peninsular/indígena
[L] O público a quem se destinavam estas escárnio e de maldizer.
composições poéticas [12] é de origem peninsular.
[M] Para além das cortes e das casas
senhoriais, os trovadores e os jograis [13] é a nobreza.
23
Po es i a Trova d o resca
EXPRESSÃO ORAL
Observe a imagem apresentada e leia, de seguida, o trecho de Arte de Trovar.
PROFESSOR
INFORMAR
24
Cantigas de amor
[A] Com a expressão “manifestação cultural [1] que os trovadores são formalmente 1.
poético-musical” (l. 1), o enunciador pouco originais na construção do retrato [A] – [4]
refere-se feminino. [B] – [5]
[B] A mulher elogiada nas cantigas de amor [2] de não ser correspondido pela amada, [C] –[3]
[D] – [6]
contentando-se apenas em estar na sua
[C] Com a expressão “melhor falar e [E] – [1]
presença.
parecer” (l. 4), [F] – [2]
[3] o trovador caracteriza a mulher como
[D] Ao descrever a dama com a expressão sendo culta e bela. 2.
“bon sen” (l. 6), a. amoroso
[4] à cantiga de amor.
[E] Ao mencionar “a pobreza do vocabulário”, b. mulher
(ll. 7-8), o enunciador pretende realçar c. indiferença
[5] é a “senhor” e pertence à nobreza.
d. submisso
[F] A partir do segundo parágrafo, o autor
e. vassalo
pretende salientar o facto de, na cantiga [6] o trovador valoriza as qualidades morais
f. angustiado/atormentado
de amor, o sujeito poético ter receio da figura feminina.
g. correspondência
h. senhor
i. dama
2. Complete o quadro abaixo, tendo em conta a informação veiculada pelo texto lido j. idealizada
e a atividade anterior. k. qualidades
l. psicológicas
Cantigas de Amor
25
P ao de sr ei a ATnrtoóvnai do o Vr ei es icraa
E S C R I TA
Título
Delimita o tema com A sociedade portuguesa no século XIII
objetividade.
A sociedade portuguesa do século XIII é formada por três grupos, com direitos e
1.O Parágrafo
Introdução deveres diferentes: a nobreza, o clero (grupos privilegiados) e o povo, o grupo mais
Identificação e desfavorecido, que executava todo o tipo de trabalho e pagava impostos.
caracterização do objeto.
2.O Parágrafo A nobreza tinha sobretudo funções guerreiras. Participava com os seus exércitos
Desenvolvimento 5 na Reconquista, ao lado do rei, recebendo em troca rendas e terras.
Nobreza (tópico 1):
Atividade dominante. O senhorio era pois a propriedade de um nobre na qual viviam camponeses
livres e servos. […] O senhor tinha grandes poderes sobre quem vivia no senho-
rio: cobrar impostos, fazer justiça, ter um exército privado... Quando não estava em
3.O Parágrafo –
Nobreza guerra, o senhor nobre dedicava-se a dirigir o senhorio e a praticar exercícios físicos
Direitos e privilégios; 10 e militares. Organizava festas e convívios onde, para além do banquete, se tocava,
atividades lúdicas
(desportivas e culturais). cantava e dançava. Estas festas eram animadas por trovadores e jograis. Jogava-se
xadrez, cartas e dados.
4.O Parágrafo Tal como a nobreza, o clero era um grupo social privilegiado. Tinha a função
Clero (tópico 2)
Função principal, direitos
de prestar assistência religiosa às populações. Tinha grandes propriedades que lhe
e privilégios. 15 haviam sido doadas pelo rei ou por particulares e não pagava impostos. Tal como a
nobreza, exercia a justiça e cobrava impostos a quem vivia nas suas terras. […]
5.O Parágrafo No mosteiro, para além de cumprirem as regras impostas pela ordem a que per-
Clero tenciam, os monges dedicavam-se ao ensino, à cópia e feitura de livros, à assistên-
A vida nas ordens cia a doentes e peregrinos. Em algumas ordens religiosas, os monges dedicavam-se
religiosas e outras
funções (didáticas, 20 também ao trabalho agrícola nas terras do mosteiro. Noutras, eram militares, tendo
culturais, médicas combatido contra os Mouros.
e bélicas).
A maioria dos camponeses vivia nos senhorios, trabalhava muitas horas, de sol a
6.O Parágrafo sol, e de forma muito dura. Do que estes produziam, uma grande parte era entregue
Povo (tópico 3) ao senhor, como renda. Deviam ainda prestar-lhe outros serviços, como a reparação
Atividade principal,
deveres, formas
25 das muralhas do castelo, próximo do qual viviam, em aldeias. Moravam em casas
e condições de vida pequenas, de madeira ou pedra, com chão de terra batida e telhados de colmo. Estas
precárias.
casas tinham apenas uma divisão. […]
Enquanto trabalhavam, também cantavam. Celebravam-se em todo o país as
7.O Parágrafo
Povo grandes festas religiosas que incluíam o repicar dos sinos, as procissões, as feiras,
Atividades religiosas 30 as refeições coletivas e os bailes. Depois da missa, ou da procissão, dançava-se e
e lúdicas em que
participava ativamente
cantava-se nos terreiros das igrejas onde também se realizavam vendas. Por vezes,
ou como assistente. a plebe podia assistir a alguns espetáculos que os nobres organizavam. Os mais
frequentes eram as competições militares.
Concluímos assim que, durante o século XIII, a sociedade portuguesa se encon-
8.O Parágrafo
Conclusão
35 trava dividida em classes, que possuíam mais ou menos privilégios. Esta hierarqui-
Hierarquização da zação condicionou as ocupações e os divertimentos dos diferentes grupos, tendo
sociedade medieval
tido a guerra e as expedições militares uma forte influência nesta estruturação.
e a influência da guerra
nesta organização social. in http://hgp5.blogs.sapo.pt/998.html (texto adaptado, consultado em dezembro de 2016).
26
Cantigas de amor
27
Po es i a Trova d o resca
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
28
Cantigas de amor
4. Complete o texto abaixo com os vocábulos propostos, de modo a dar conta de uma PROFESSOR
breve análise da presente cantiga.
4.
a. morais
• divinização • psicológico • ideal • superioridade
b. comparação
• morais • Deus • perfeita • comparação • enumeração c. enumeração
d. ideal
e. psicológico
O trovador evidencia as qualidades a. da mulher, utilizando para isso vários f. perfeita
g. superioridade
recursos expressivos, tais como a b. , a hipérbole, “tanto a fez Deus comprida h. Deus
de bem / que mais que todas las do mundo val.” (vv. 6-7), e a c. ,“… prez e beldad’e i. divinização
loor” (v. 16). Assim, é clara a sobrevalorização da amada não só por ser descrita como
Escrita
a mulher d. quer a nível físico quer a nível e. , mas também como a 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4
dama mais f. entre todas as existentes no mundo, característica explicitada
no final de cada cobla: “que mais que todas las do mundo val”; “quando nom quis Proposta de resolução:
que lh’outra foss’igual”; “ca nom a, tra-lo seu bem, al”. O sujeito poético enviou à sua
amada um cartão tipografado,
A referência a Deus é outra forma de destacar a g. da mulher, cuja perfei- com duas respostas possíveis
(não e sim). Como não resultou,
ção depende da vontade de h. . Por essa razão, todos os seus atributos são insistiu, enviando recado por
apresentados como uma dádiva divina, o que contribui para a sua i. . intermediário (a Zefa do Sete),
em que suplicava o amor da
amada. Também procurou a
avó Chica, uma conceituada
E S C R I TA feiticeira, para que fizesse um
feitiço “bem forte e seguro”;
1. Leia atentamente as seguintes estrofes do poema “Namoro”, de Viriato Cruz, que no entanto, o feitiço falhou.
Enfim, a amada negou sempre
dão conta de um amor não correspondido na época atual. o seu pedido, chegando
mesmo a troçar do sujeito
poético, em conversa com
[…] as amigas, no baile.
Mandei-lhe um cartão Esperei-a de tarde, à porta da fábrica, (80 palavras)
que o Maninjo tipografou: ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
"Por ti sofre o meu coração" paguei-lhe doces na calçada da Missão,
Num canto – sim, noutro canto – não ficamos num banco do largo da Estátua,
5 E ela o canto do não dobrou. 20 afaguei-lhe as mãos...
29
Po es i a Trova d o resca
Cantigas de amor – A coita de amor e o elogio cortês
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
CANTIGA A
Se eu pudesse desamar
Se eu pudesse desamar
a quem me sempre desamou,
e pudess’algum mal buscar
a quem me sempre mal buscou!
5 Assi me vingaria eu,
se eu podesse coita1 dar,
a quem me sempre coita deu.
1
saudade; 2 tenho; 3 lembra; 4 ouvi; 5 que end'a o poder: que tem
Áudio – “Se eu pudesse desamar” poder para isso; 6 deixe; 7 prouver, agradar; 8 porque; 9 mas; 10 nunca
Áudio – “Que soidade de mha senhor ei” fez bem: nunca correspondeu ao meu amor; 11 deixar; 12 enlouquecer;
13
desgosto; 14 igual; 15 a la minha fe: por minha fé; 16 quis.
30
Cantigas de amor
1. Proceda à análise temática e estilística das duas cantigas de amor, orientando-se PROFESSOR
pelos tópicos do quadro seguinte.
Ed. Literária/Gramática
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
"Se eu pudesse desamar" "Que soidade de mha senhor ei" 14.9; 16.1; 18,4
1. Cantiga A
a. Desejo de vingança por
parte do sujeito lírico em
Assunto a. a. relação à sua “senhor” pelo
facto de ela lhe causar um
enorme sofrimento amoroso
(coita de amor). b. A amada
mostra-se fria e indiferente
em relação ao sujeito lírico.
c. O sujeito lírico revela
Caracterização angústia, dor, desilusão e, ao
b. b.
da amada mesmo tempo, um sentimento
de revolta pela forma como a
sua “senhor” interage com ele.
d. O sujeito poético manifesta
vontade de se vingar do
Estado de sofrimento que lhe foi infligido
pela amada, retribuindo-lhe a
espírito do c. c. mesma dor que ele sente.
sujeito lírico e. Personificação: “meu
coraçom que m’enganou”;
repetição com variação na
palavra de rima: “desamar/
Atitude do desamou”.
sujeito lírico face d. d. Cantiga B
à amada a. Anseio do sujeito lírico em
ver a amada (saudade), sem a
qual não consegue viver.
b. A amada é caracterizada
como sendo eloquente e
Recursos poderosa; a melhor de todas
expressivos mais e. e. as existentes. c. O sujeito lírico
significativos revela estar completamente
apaixonado, dependente
da amada e desesperado,
por causa das saudades
que sente dela. d. Apesar
de ter consciência da não
GRAMÁTICA correspondência amorosa por
parte da sua “senhor”, o sujeito
poético manifesta vontade de
1. Na cantiga A, considere as palavras “desamar” (v. 1) e “desampar” (v. 15). a ver, já que, sem ela, acredita
que irá enlouquecer ou morrer
1.1 Identifique o prefixo de ambas as palavras e explicite o seu valor. por amor. e. Repetição (vv. 2-3);
hipérbole e comparação
(vv. 14-15); anáfora: “Cedo; ca”
2. Classifique as seguintes palavras quanto ao processo de formação e identifique nas estrofes 2 e 3.
a(s) respetiva(s) forma(s) de base, seguindo o modelo abaixo. Gramática
18.4; 19.6; 19.7
Modelo: desamar – palavra derivada por prefixação; forma de base: "amar".
1.1 Prefixo “des”. valor
a. desamparado de negação.
2. a. palavra derivada por
b. enlouquecer prefixação; forma de base
“amparado” (há mais hipóteses,
c. pesaroso dependentes da forma de
base); b. palavra derivada por
d. pinga-amor parassíntese; forma de base
“louco”; c. palavra derivada
e. invulgar por sufixação; forma de base
“pesar”; d. palavra composta
(palavra + palavra); formas
3. Indique o valor dos conectores sublinhados nos seguintes versos. de base “pinga” e “amor”;
e. palavra derivada por
“Se eu pudesse desamar / a quem sempre desamou”; “E per esto nom dormio eu, / prefixação; forma de base
porque não poss’eu coita dar, / a quem me sempre coita deu.”; “Que soidade de mha “vulgar”.
senhor ei / quando me nembra d ‘ela qual a vi,”
31
Po es i a Trova d o resca
Link
“Jardins proibidos”
32
Cantigas de amor
LEITURA
O poder, talvez
Por Valdemar Cruz
1. Tratando-se de uma apreciação crítica, o seu autor parte da apresentação do ob- PROFESSOR
jeto apreciado (um concerto), fazendo, depois, um comentário crítico do mesmo.
Ordene as seguintes afirmações, de acordo com a ordem sequencial do texto. Leitura
7.1; 7.4; 8.1
[A] O autor considera o espetáculo de Pedro Abrunhosa no Coliseu uma demons-
tração de profissionalismo e um momento de qualidade fora de comum. 1. [D]; [A]; [C]; [E]; [B]
[B] O autor evidencia a forma como o artista amaldiçoa o silêncio, valorizando a
palavra e a mensagem oculta que deve ser entendida na letra de uma canção.
[C] O autor descreve a reação emotiva do público e o envolvimento dos espetácu-
los do cantor na realidade social.
[D] O autor apresenta o objeto que vai ser alvo da sua apreciação crítica.
[E] O autor destaca o momento em que o cantor se refere ao silêncio como uma
forma de evidenciar a desilusão e o medo.
33
Po es i a Trova d o resca
INFORMAR
TEXTO A
Cantigas de amigo
• A cantiga de amigo é tematicamente semelhante à cantiga de amor – em
ambas o argumento essencial é, de facto, o amor não correspondido, causa de so-
frimento, de desconforto e, consequentemente, de lamento.
• A cantiga de amigo distingue-se da cantiga de amor a vários níveis, como se
pode verificar no quadro abaixo.
Aspetos
Cantiga de amigo Cantiga de amor
distintivos
Sujeito de Feminino: quando o poeta trovador finge Masculino: quando o poeta
enunciação que é a mulher a expor as suas próprias fala de si mesmo (de acordo
penas (de acordo com a Arte de Trovar). com a Arte de Trovar).
TEXTO B
Paralelismo
• É um princípio estruturante dos textos poéticos, típico da poesia ao gosto po-
pular, em que se repetem segmentos textuais ou elementos temáticos.
• A grande maioria das cantigas de amigo (também muitas cantigas de amor, de
escárnio e de maldizer) apresenta estruturas paralelísticas, ocorrendo repetição lite-
ral (repetem os mesmos versos) ou sinonímica (apresentam expressões ou termos
de significado equivalente) de um ou mais versos de cada estrofe.
Elaborado com base em Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),
Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, trad. José Colaço Barreiros e Artur Guerra,
Lisboa, Editorial Caminho, 1993, pp. 135, 509 e 570-571.
34
Cantigas de amigo
TEXTO C
Refrão
As marcas gráficas que distinguem o início
do refrão nos manuscritos da lírica galego-por-
tuguesa parecem revelar a importância que era
atribuída ao refrão como elemento estruturante,
5 quando a lírica galego-portuguesa foi arquiva-
da por escrito. Sendo uma parte da cantiga que
se repete, o refrão aparece, nos testemunhos
referidos, abreviado a partir da segunda estrofe.
[…]
10 Do ponto de vista da versificação, o refrão
é vulgarmente definido como um conjunto de
versos com autonomia rimática que se repete
integralmente no fim de cada estrofe, com um
número de versos inferior ao do corpo da es-
15 trofe e cuja medida silábica é igual à dos res-
tantes versos da cobla. […]
Relativamente aos géneros, o refrão é mais
frequente entre as cantigas de amigo (443-87,8%) "Em gram coita, senhor", Dom Dinis,
B 506/V 89, Manuscrito do Cancioneiro
do que entre as cantigas de amor (380-52,4%) ou da Biblioteca Nacional.
20 entre as satíricas (134-31%).
Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (org. e coord.),
Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa,
trad. José Colaço Barreiros e Artur Guerra, Lisboa,
Editorial Caminho, 1993, pp. 135, 509 e 570-571.
Atente no texto A
PROFESSOR
1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.
Leitura / Educação
a. A cantiga de amigo e a cantiga de amor partilham o mesmo sujeito de enuncia- Literária
ção. 7.1; 7.4; 8.1; 14.8; 16.1
35
Po es i a Trova d o resca
Variedade do sentimento amoroso – Relação com a Natureza
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Educação Literária Se sabedes novas do meu amigo, E eu bem vos digo que é san’e vivo
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.6; 14.7; 14.8; 14.9; aquel que mentiu do que pôs5 comigo! 20 e seera vosc’ant’o prazo saído7.
15.1; 16.1 Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
1. O sujeito da enunciação
dirige-se angustiadamente 10 Se sabedes novas do meu amado, E eu bem vos digo que é viv’e sano
às “flores de verde pino” para
saber novas do seu amigo aquel que mentiu do que mi á jurado! e seera vosc’ant’o prazo passado.
que tarda em chegar. Estas Ai Deus, e u é? Ai Deus, e u é?
respondem-lhe que ele está
bem e que em breve estará Dom Dinis, B 568/V 171.
junto dela.
2. A primeira parte é
1
constituída pelas quatro pinheiro; 2 sabeis (subentende-se dizei-me antes
primeiras estrofes, nas quais
de sabedes); 3 notícias; 4 e u é: e onde está?;
a donzela interroga “as flores 5
do verde pino”, no sentido de combinou; 6 são, saudável; 7 terminado.
saber se elas têm notícias do
seu amigo; a segunda parte
corresponde às restantes
estrofes, onde consta a
resposta dada pela Natureza,
que a sossega, pois o seu
amigo está vivo e em breve
estará junto dela.
3. Além da desilusão, é
evidente a angústia e o
desespero da donzela perante
a possibilidade de o amigo
faltar ao encontro combinado.
4. A Natureza funciona como
interlocutora confidente do
sujeito lírico.
5. A nível estrutural surge, por
exemplo, a repetição de “ Ai
flores, ai flores do verde pino”/ 1. Exponha o assunto da cantiga, identificando as vozes nela presentes.
“Ai flores, ai flores do verde
ramo” (em que se substitui
“pino” por “ramo”); Também 2. Proceda à divisão da cantiga em duas partes, justificando.
temos repetição dos versos
2 e 5, com a substituição de
“amigo” por “amado”. Há ainda 3. Descreva o estado de espírito do sujeito poético.
a repetição integral do 2º verso
da primeira estrofe que é o
1º verso da terceira. O refrão 4. Refira o papel desempenhado pela Natureza.
também é um exemplo de
paralelismo.
5. Retire da cantiga um exemplo de paralelismo.
36
Cantigas de amigo
Confidência amorosa
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
37
Po es i a Trova d o resca
Variedade do sentimento amoroso
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
38
Cantigas de amigo
Confidência amorosa – relação com a Natureza
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
1. Complete o texto, de modo a obter uma breve análise da cantiga “Ondas do mar de
Vigo”, selecionando, entre as palavras propostas, as que são adequadas.
1.
a. paralelística
b. donzela
c. Natureza
d. angústia
e. amigo
f. interrogativas
g. refrão
h. Deus
39
Po es i a Trova d o resca
Confidência amorosa – relação com a Natureza
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
1
mães; 2 acender velas em cumprimento de promessa feita; 3 meninas; Non ei [i] barqueiro nen sei remar:
4
tratemos; 5 aí; 6 irão; 7 sem manto, em corpo bem feito; 8 lá; 9 ver. morrerei eu, fremosa, no alto mar.
Eu [atendend’o meu amigu'! E verrá?]
Mendinho, B 852/V 438.
1
Sedia-m’eu: Estava eu; 2 esperando; 3 diante; 4 tenho; 5 aqui; 6 alto.
PROFESSOR
Áudio
“Poys nossas madres
van a San Simon”
Áudio
“Sedia-m’eu na ermida
de San Simión”
40
Cantigas de amigo
Confidência amorosa – relação com a Natureza
PROFESSOR
1. Proceda à análise das duas cantigas e preencha o quadro seguinte.
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 15.1;
"Poys nossas madres van "Sedia-m’eu na ermida 16.1; 16.2
a San Simon" de San Simión"
1. “Poys nossas madres van
a San Simon”
Assunto a. a. a. A donzela incentiva as
amigas a acompanharem as
mães a San Simon de Val de
Estado de espírito Prados, como pretexto para
b. b. verem os amigos e poderem
do sujeito lírico dançar, mostrando--se perante
eles.
b. A donzela está
Relação com o amigo c. c. entusiasmada porque aquele
será um meio para estar com o
seu amado.
c. O entusiasmo demonstrado
pela donzela evidencia uma
possível correspondência
amorosa ou, pelo menos,
GRAMÁTICA uma relação que ela sente
como possível, na medida
em que acredita que a dança
Atente na cantiga A. possa funcionar como um
instrumento de sedução.
1. Identifique a função sintática desempenhada por “de bon parecer” em “moças de “Sedia-m’eu na ermida de
San Simión”
bon parecer”(v. 15). a. A donzela espera
ansiosamente pelo amado na
igreja de San Simión, até que
Atente na cantiga B. as ondas a cercam e a deixam
num estado de desespero
por temer morrer afogada,
2. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes sublinhados. já que não tem ninguém que
a socorra, o que evidencia
a. “e cercaron-mi-as ondas que grandes son.” (v. 2) também o seu receio de
que o amigo não chegue a
b. “Eu atendend'o meu amigu'”. (v. 3) comparecer ao encontro
marcado.
c. “morrerei [eu], fremosa, no mar maior.” (v. 14) b. Inicialmente, a donzela
manifesta estar apaixonada
e ansiosa por ver o amigo;
3. Refira duas palavras do português moderno que integram o mesmo elemento eti- depois expressa aflição e
mológico que “Sedia” (v. 1). desespero quando se apercebe
BLOCO INFORMATIVO – pp. 271-273, 280-281 dos perigos que enfrenta e,
simultaneamente, desilusão
pelo atraso do amado, o que
pode ser indicativo da sua não
comparência.
c. Apesar de a donzela
se mostrar apaixonada, é
ORALIDADE / EDUCAÇÃO LITERÁRIA evidente alguma insegurança
em relação ao seu amado, já
que o seu tardar a faz duvidar
Elabore, oralmente, em dois minutos, uma breve do seu amor, ao mesmo
apresentação oral (5 a 7 minutos) sobre os aspetos tempo em que a coloca numa
situação de perigo.
comuns entre a cantiga A e a imagem, no que se re-
fere ao caráter profano e religioso das romarias na Gramática
Idade Média e na atualidade. 17.4; 18.1
1. Modificador do nome
restritivo.
2. a. Sujeito.
b. Complemento direto.
c. Modificador do grupo verbal.
3. Sede, sediado, sedentário.
Oralidade/Educação
Literária
BLOCO INFORMATIVO – p. 283 1.4; 5.3; 6.2; 15.4
41
Po es i a Trova d o resca
LEITURA
42
Cantigas de amigo
O que os investigadores descobriram é que a perceção reportagem da Esquire, Fisher responde a esta pergunta
da dor era reduzida quando observavam a fotografia dos 60 com uma imagem: "Eu posso conhecer cada ingrediente
namorados em relação a fotografias de conhecidos. "Um de um pedaço de bolo de chocolate, mas quando me sento
50 dos locais-chave [medidos através de ressonância mag- para comê-lo, continuo a sentir alegria." Há outra coisa que
nética] é o nucleus accumbens, um centro para a recom- compreender a base neurológica do amor romântico não
pensa de vícios associados aos opiáceos, cocaína e outras nos retira − o mistério. Não sabemos por quem nos vamos
drogas", explicou Jarred Younger, primeiro autor do artigo 65 apaixonar, nem porquê, nem quando.
publicado sobre esta descoberta na revista Public Library
55 of Science One, que saiu em 2010.
[B] amar é como apreciar um bolo de chocolate, pois os ingredientes são 1.1 [B]
idênticos. 1.2 [C]
[C] compreender a base neurológica do amor acaba com a infelicidade amorosa. 1.3 [B]
1.4 [A]
2. A, E e F
2. Selecione, das marcas a seguir apresentadas, aquelas que estão presentes no texto.
43
Po es i a Trova d o resca
DAR
Evolução do português
TU
S
APRENDER
E
LEITURA
ICA
G RA M Á T
R
A ROMANIZAÇÃO
AUTO DE MORALIDADE composto per Gil Vicente por contemplação da sere-
PR A
ATIC níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado per
O latim era a língua dos habitantes do Lácio, onde se localizava Roma. No entanto,
seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Por-
enquanto língua viva, não era usado da mesma forma por todos os romanos. Assim, era
tugal deste nome.
possível identificar variedades:
a. o latim vulgar
Comença – um latim
a declaração falado e diversificado,
e argumento integrando características
da obra. Primeiramente, no presente mais po-
auto,
pulares;
se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos sùpitamente a um
rio,b.o oqual
latim clássico
per – utilizadode
força havemos porpassar
escritores
em latinos
um decomo
dousCícero
batéisou Virgílio
que e ensinado
naquele porto
estão,nas escolas.um deles passa pera o paraíso e o outro pera o Inferno: os quais
scilicet1,
No século
batéis tem cadaIII a.um
C., os
seuromanos iniciaram
arraiz na proa: oa do
ocupação
Paraísodaum
Península
Anjo, eIbérica e a romani-
o do Inferno um
arraiz
zação dosinfernal
povose que
um aíCompanheiro.
encontraram, acabando por impor o latim vulgar como língua de
comunicação a ser usada pelos povos vencidos. No entanto, o latim clássico continuava a
ser O primeiro
utilizado comoentrelocutor
a língua daé igreja,
um Fidalgo que chega da
da administração, com um Paje,
ciência e nosque lhe levaonde
mosteiros, um
rabo mui comprido
continuou e ũa cadeira de espaldas. E começa o Arraiz do Inferno ante que
a ser ensinado.
o Fidalgo venha.
DO LATIM AO GALEGO-PORTUGUÊS
44
Os franceses também tiveram algum impacto na evolução da língua, devido à sua in-
fluência nas cortes dos primeiros reis da primeira dinastia e ao impacto da poesia provençal.
45
DAR
Evolução do português
TU
S
APRENDER
E
ICA
G RA M Á T
R
O PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO (A PARTIR DO SÉCULO XIX)
PR A
ATIC
A partir do século XIX, o português continuou a evoluir, devido aos seguintes fatores:
• a criação de gramáticas e dicionários intensifica-se;
• a criação literária de alguns escritores, como Eça de Queirós ou Fernando Pessoa, con-
tribui para o enriquecimento da língua;
• os progressos industriais e agrícolas têm um grande impacto, com a criação de termos
capazes de referir as novas realidades: neologismos e empréstimos – galicismos (do
Para mais informações sobre francês) e anglicismos (do inglês);
a evolução do português,
consultar, por exemplo: • os meios de comunicação começam a exercer um papel de relevo na uniformização e
• Ivo Castro, Introdução divulgação da língua.
à história do português. (2004),
2.a ed., revista e muito ampliada,
Lisboa, Colibri, 2006.
• Ivo Castro (dir.), História
da língua portuguesa em linha,
APLICAR
Centro Virtual Camões,
2002-2004.
s.
URL: http://cvc.instituto-camoes. 1. Selecione a opção correta.
pt/hlp/index1.html
• Esperança Cardeira, O essencial 1.1 A romanização é um processo que consiste na
sobre a história do português,
Lisboa, Editorial Caminho, 2006. [A] imposição do latim clássico nas regiões conquistadas pelos romanos.
[B] reconquista do sul da Península Ibérica pelos romanos.
[C] assimilação da cultura e da língua latina pelos povos vencidos pelos romanos.
46
APLICAR
1.9 A partir do século XVI, a descoberta de novas paisagens e o contacto com outras
culturas implicaram
[A] o aparecimento de novos termos na língua portuguesa.
[B] a introdução de novas línguas que se impuseram ao português.
[C] um retrocesso no desenvolvimento da língua portuguesa.
47
Po es i a Trova d o resca
LEITURA
Vídeos na Internet
É coisa linda esta moda afinal
De publicar videozinhos de cariz anormal
Duas miúdas em modo animal
Aos chutos e pontapés, na peixeirada total
5 Gravaram no telemóvel – só visto…
Mais tarde é bom recordar
A chapadinha, joelhadazinha
Estado de Graça,
Depois no Facebook há gente a “likar”
RTP
Aquela brincadeira, “rasca” e rasteira
10 A pancada agora vai aleijar
[Refrão]
O português é engraçado
PROFESSOR
Anda à porrada em qualquer lado
O português é distraído
Facilmente é atingido
Vídeo 15 O português é prémio Nobel
“Estado de Graça, RTP” A gravar com o telemóvel
Leitura
Pra mais tarde publicar
7.1; 7.2; 7.4; 9.2 Só pra ver o que é que a coisa vai dar.
48
Cantigas de escárnio e maldizer
Proposta de escrita:
GRAMÁTICA Parágrafo 1: forma de
comunicação tecnológica,
fácil e atrativa, que possibilita
1. Preste atenção à palavra “likar” (v. 8). comunicação à distância.
1.1 Identifique a origem do termo. Parágrafo 2: o caráter
misterioso proporcionado por
1.2 Classifique a palavra, tendo em conta a sua origem. esta forma de comunicação
seduz os mais jovens,
1.3 Explicite o significado do termo. que fazem “amizades”
com pessoas que não
correspondem ao perfil que
2. Atente nos versos “Vai ser mais fácil apanhar malandrões / E atirá-los a todos para apresentam;
as nossas prisões” (vv. 29-30). – a exposição de fotografias
pode ser prejudicial, pois
2.1 Identifique o referente da forma pronominal “-los”. outros terão acesso a elas
e poderão manipulá-las;
2.2 Justifique a forma do pronome pessoal “os”, nesta situação. – indicar dados da vida pessoal
(morada, escola, emprego,
aniversários) pode ser
BLOCO INFORMATIVO – pp. 280-281, 269-270 prejudicial, principalmente
quando se trata de crianças
que são um alvo fácil para
pedófilos.
Parágrafo 3: a nossa
exposição a um público vasto
E S C R I TA e desconhecido é sempre
perigosa, porque nem sempre
se sabe quem está do outro
Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, sobre os riscos do uso da rede social lado.
Facebook, seguindo, para isso, o plano abaixo apresentado.
49
Po es i a Trova d o resca
INFORMAR
Leia os tópicos abaixo e os excertos da Arte de Trovar, que a este propósito se pro-
põem, e resolva a atividade apresentada na página seguinte.
50
Cantigas de escárnio e maldizer
Cantigas de escárnio
Cantigas d’escarneo som aquelas que os trobadores fazem querendo dizer mal
d’algu~
e~elas, e diz~
e-lho per palavras cubertas que hajã dous entendimentos pera
lhe-lo nõ entenderem… ligeiramente.
CBN, Arte de Trovar, V, in Aida Fernanda Dias, História crítica da literatura portuguesa.
A Idade Média, vol. I, Lisboa, Editorial Verbo, 1998, p. 147.
Cantigas de maldizer
2.4 Entre os vários temas satirizados destaca-se a crítica à artificialidade dos senti-
mentos demonstrados na cantiga de (amigo/amor).
51
Po es i a Trova d o resca
A dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica dos costumes
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
52
Cantigas de escárnio e maldizer
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
1.
a. F – É uma dama da nobreza,
como se confirma pela forma
de tratamento empregue na
apóstrofe “Dona fea”.
b. F – A senhora queixa-se de
o trovador nunca lhe ter feito
um cantar de amor.
c. F – A composição poética
satiriza o amor cortês.
d. V
1. Assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas. De seguida, corrija e. F – O trovador é experiente
as afirmações falsas. na arte de trovar, como está
evidenciado em “pero muito
a. O destinatário da sátira nesta cantiga é uma mulher do povo. trobei” (v. 14).
f. V
b. A senhora queixa-se de o trovador lhe ter chamado “velha, feia e sandia”. 2. Ambas as cantigas
satirizam os códigos
c. A composição poética elogia o amor cortês. convencionais do amor cortês.
d. A ironia é um dos recursos expressivos utilizados nesta cantiga. Em “Roi Queimado” critica-se
o artificialismo do “morrer
e. O trovador é pouco experiente na arte de trovar. por amor” expresso pelos
trovadores e em “Dona fea,
f. O trovador traça o retrato físico e psicológico da senhora. foste-vos queixar”, criticam-se
os elogios estereotipados que
eram dirigidos às mulheres
2. Estabeleça uma comparação entre a cantiga analisada e a anterior, no que se refe- nas cantigas de amor.
re ao objeto de crítica.
53
Po es i a Trova d o resca
Cantigas de escárnio e maldizer – A dimensão satírica: a paródia do amor cortês e a crítica dos costumes
54
Cantigas de escárnio e maldizer
2. Sabendo que o vocábulo “cas” é a forma arcaica de “casa”, apresente três outras pa-
lavras do português moderno que integrem o mesmo elemento etimológico.
55
DAR
Fonética e fonologia / etimologia
TU
S
APRENDER
E
ICA
G RA M Á T
R
FONÉTICA E FONOLOGIA
PR A
ATIC
Ao longo dos séculos de evolução da língua portuguesa foram ocorrendo alterações
em termos fonéticos e fonológicos, ou seja, no que aos sons e fonemas diz respeito. Estas
alterações resultam de fatores diversos, como a tendência para a diminuição do esforço
articulatório (a que por vezes se chama “lei do menor esforço”) ou a influência de uns vo-
cábulos sobre os outros (analogia).
Quanto à sua forma, é possível distinguir três tipos de processos fonológicos: os de
1
A assimilação pode ser inserção, os de supressão e os de alteração de unidades.
regressiva, quando uma
unidade fónica se aproxima
articulatoriamente de uma
a. Processos fonológicos de inserção
que se lhe segue; progressiva,
quando a relação das duas
unidades se inverte; completa, Prótese Adição de uma unidade fónica no início da palavra. INDA- > ainda
sempre que as duas unidades
Epêntese Adição de uma unidade fónica no interior da palavra. HUMILE- > humilde
fónicas se tornam exatamente
iguais; incompleta, quando a Paragoge Adição de uma unidade fónica no fim da palavra. ANTE > antes
assimilação não é total e as duas
unidades fónicas apenas
se tornam mais semelhantes.
2
São palatais as consoantes b. Processos fonológicos de supressão
/ݕ/ (cf. chuva), /ݤ/ (cf. janela),
/ݠ/ (cf. filho) e /݄/ (cf. ninho).
Aférese Queda de uma unidade fónica no início da palavra. alá (port. antigo)> lá
Nota: A passagem de u para o
no final de palavra representa Síncope Queda de uma unidade fónica no meio da palavra. MALU- > mau
uma alteração apenas gráfica,
pois o som representado Apócope Queda de uma unidade fónica no fim da palavra. AMARE > amar
mantém-se.
Alteração de uma unidade fónica por influência de outra, ou seja, duas unidades
Assimilação fónicas diferentes tornam-se mais semelhantes ou iguais porque uma se aproxima IPSE > esse
articulatoriamente da outra1.
Processo exatamente inverso à assimilação, ou seja, duas unidades iguais ou com
Dissimilação LILIU- > lírio
características semelhantes distanciam-se articulatoriamente.
Transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/, /k/) na sua correspondente
Sonorização PIETATE- > piedade
sonora (nestes casos, /b/, /d/, /g/).
Tipo de assimilação que acontece quando uma unidade ou sequência ganha uma
Palatalização FLAMMA- > chama
articulação palatal (assim se formam as consoantes palatais do português)2.
Metátese Troca de posição de unidades mínimas ou sílabas no interior de uma palavra. SEMPER > sempre
Transformação de uma consoante em vogal (depois de outra vogal, esta unidade realiza-se
Vocalização OCTO > oito
como semivogal).
Crase Contração de duas vogais numa só. TIBI > tii > ti
Contração Transformação em ditongo de uma sequência de duas vogais em hiato, pela
Sinérese LEGE- > lee > lei
semivocalização (transformação em semivogal) de uma delas.
Enfraquecimento de uma vogal em posição átona. Na atualidade, no português europeu, esse fenómeno é observável
Redução
quando comparamos formas como casa/casebre, em que uma mesma vogal surge com diferentes timbres, consoante
vocálica
se encontra em sílaba tónica (casa) ou em sílaba átona (casebre).
56
ETIMOLOGIA
Étimos – palavras (ou radicais) que estão na base das palavras portuguesas. A etimolo-
gia é a ciência que estuda a origem e a evolução das palavras.
PROFESSOR
APLICAR
Gramática
1. Identifique os processos fonológicos operados na evolução das palavras apresen- 17.3; 17.4; 17.5; 17.6; 17.7
tadas.
1.
a. FENESTRA- > feestra > festra > fresta h. OCULU- > oclo > olho a. síncope, crase, metátese.
b. sonorização.
b. SECRETU- > segredo i. MULTU- > muito c. síncope, assimilação.
d. síncope, epêntese.
c. PERSONA- > persoa > pessoa j. PLENU- > cheo > cheio e. apócope, síncope.
f. síncope, crase.
d. CENA- > cea > ceia k. MATERIA- > madeira g. síncope, prótese,
palatalização.
e. CRUDELE- > crudel > cruel l. NOCTE- > noite h. síncope, palatalização.
i. vocalização.
f. PEDE- > pee > pé m. SOLES > soes > sóis j. síncope, palatalização,
epêntese.
g. SPECULU- > speclu > espelho k. sonorização, metátese.
l. vocalização.
2. Identifique o processo fonológico que a comparação das palavras “mala”/“maleta” e m. síncope, sinérese.
“porta”/“portão” nos mostra. 2. Redução vocálica. Existe
um enfraquecimento
da mesma vogal
3. Atente nas seguintes frases. (representada por <a> e <o>,
respetivamente), em posição
a. O rio era um dos elementos da Natureza presentes nas cantigas de amigo. átona.
b. Rio-me com algumas cantigas de escárnio e maldizer. 3.1 Trata-se de palavras
convergentes já que, apesar
de apresentarem a mesma
3.1 Tendo em conta o significado dos vocábulos sublinhados, classifique-os quanto ao forma, provêm de étimos
étimo de que provêm. Confirme a sua resposta através da consulta de um dicionário. diferentes: a. RIVU- (> rio);
b. RIDERE (> rir).
4. Tendo em conta o seu sentido, selecione, da lista de palavras apresentada, aquelas 4. e 4.1
que apresentam um constituinte que provém do étimo latino MATER (‘mãe’). [A] matriarcal – sistema em
que a mulher, mãe, aparece
[A] Matriarcal. [C] Maternidade. [E] Matricida. como figura central.
[C] maternidade – estado
[B] Matrimónio. [D] Matrícula. [F] Matreira. de quem é mãe (também local
onde as mulheres dão à luz).
4.1 Explicite o significado de cada uma das palavras selecionadas, tendo em conta o [E] matricida – homicídio
étimo de que provêm. da mãe.
5.
5. Apresente duas palavras que contenham constituintes que integram cada um dos a. fraterno, fratricida,
fraternidade, frade.
étimos listados abaixo. b. agricultura, agrário,
agrícola, agricultor.
a. FRATER (‘irmão’). c. URBS (‘cidade’). c. urbano, urbanização,
urbanismo.
b. AGROS (‘campo’). d. CIVIS (‘cidadão’). d. civil, cívico, civilização,
civismo.
57
PA R A S A B E R Poesia Trovadoresca
POESIA LÍRICA
Sujeito de
• trovador • a “amiga” (a donzela)
enunciação
Características
• ser divinizado, quase inatingível, • ser terrestre, de cariz
da figura
da aristocracia essencialmente popular
feminina
• doméstico
• palaciano • familiar
Ambiente
• cortês • rural
• marítimo
• artificial • simples
Essência • convencional • espontânea
• aristocrática • popular
POESIA SATÍRICA
58
PA R A V E R I F I C A R
59
PA R A R E C U P E R A R
PROFESSOR
1. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B que completam ade-
quadamente o seu sentido.
Apresentação
Galeria de imagens
Coluna A Coluna B
Apresentação
Síntese da Unidade [A] A cantiga de amigo e a [1] são marcas formais associadas às cantigas de amigo.
Teste interativo cantiga de amor
[2] critica todos as categorias socioprofissionais, exceto
Poesia trovadoresca
[B] Paralelismo e refrão o rei.
Educação Literária [3] desenvolvem ambas a temática do sofrimento
14.3; 14.4; 14.7; 16.1 amoroso, embora difiram no que se refere ao emissor.
[C] Na poesia satírica, o trovador
[4] satiriza algo ou alguém, recorrendo a “palabras
1.
[A] – [3] [D] O amor cortês também cubertas”, ou seja, à ironia e a jogos de palavras.
[B] – [1] [5] é objeto de crítica, quer ao nível da linguagem,
[C] – [2] [E] Na cantiga de escárnio, o quer relativamente à forma como o trovador compõe
[D] – [5] enunciador ou canta.
[E] – [4]
2.
a. trovador
b. senhor 2. Complete os espaços com as palavras adequadas, selecionando-as entre as pro-
c. morais
d. coita
postas abaixo.
e. indiferente
f. poder
g. morrer indiferente, sensível, morrer, senhor, morais, coita, hipérbole, poder, trovador
h. hipérbole
3.
a. “porque está angustiada Na cantiga de amor, o emissor é o a. , que expressa o seu amor pela sua
com a ausência do amigo.” –
oração subordinada adverbial b.“ ”, caracterizada como “fremosa”, “de “bom prez”, “mui comunal”, reunindo
causal;
b. “Quando não recebe as qualidades físicas, c. e sociais.
notícias do seu amigo” –
oração subordinada adverbial
Na relação que se estabelece entre o trovador e a sua dama, aquele revela a sua
temporal; d. amorosa porque a mulher é muitas vezes e. aos seus
c. “Embora a ‘senhor’ seja
descrita como uma mulher sentimentos. O homem submete-se ao seu f. , de tal forma que prefere
perfeita”– oração subordinada
adverbial concessiva; “que ela g. a viver sem o seu amor. Por isso, a h. é um dos recursos
é cruel” – oração subordinada
substantiva completiva. expressivos de que o trovador se serve para exprimir o seu sofrimento pela indiferença
3.1. a. Predicativo do sujeito;
b. Modificador e sujeito da dama.
simples, respetivamente;
c. Modificador e complemento
direto, respetivamente. 3. Identifique e classifique as orações subordinadas nas frases que se seguem.
a. A donzela desabafa com a mãe porque está angustiada com a ausência do amigo.
b. Quando não recebe notícias do seu amigo, a donzela fica desesperada e impaciente.
c. Embora a “senhor” seja descrita como uma mulher perfeita, o trovador sabe que ela
é cruel.
3.1 Identifique as funções sintáticas dos constituintes sublinhados nas frases ante-
riores.
60
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Poesia Trovadoresca
GRUPO I
61
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Poesia Trovadoresca
GRUPO II
Ela não esqueceu nunca o tempo em que era uma camponesinha descarada
1
artifícios; 2 prostração, doçura; que dançava debaixo de aveleiras em flor. Ri facilmente e, ao menor pretexto,
3
descuido; 4 frescura, pujança;
5
tira os sapatos, prende as saias com a mão, parte outra vez ao encontro da sua
decai, corrompe(-se).
natureza que aceita mal a convenção e os arrebiques1. Tem o latim por pai, é cer-
5 to, mas um pai com barba vagabunda, alheio à higiene e às declinações. Herdou
das mouras uma certa languidez2, essa demora no olhar que indica a predispo-
sição para o descuido nos pormenores mais práticos da vida. Atravessou-a o es-
pírito dos Celtas. Está visto que haveria de nascer versejante e com algum defeito
de maneiras. Creio eu que, como em todas as moçoilas, lhe resulta o desleixo3
10 em sedução. […]
Mesmo no grande épico lusíada, vemos Camões a rir daquele marinheiro, Ve-
loso de seu nome, que desceu em muito menos tempo do que o tinha subido um
outeiro que escondia nativos assanhados. Por efeitos de história e crescimento,
civilizou-se um pouco, entrou na corte, fez vénia às muitas modas chegadas do
15 estrangeiro. […]
Grandes amores teve ela com Mestre Gil Vicente e foi esse um enlace sem
igual na duração e na intensidade, e, mais, em nunca um do outro se enjoarem,
antes encherem de apalpões e viço4 as deprimidas salas palacianas. […]
Saiu para além do mar com os marinheiros, mas não entendeu nada do Im-
20 pério. O que quis foi dançar e misturar-se. Enquanto eles degolavam e ofen-
diam, ela deitou-se na frescura das palhotas e gerou promissoras combinações
da espécie. Enquanto a missa e a lei teimavam no latim, ela, a menina do desca-
ramento, espalhava as filhas pelo mundo fora, numa alegre e opulenta semen-
teira. Abriu os braços a fonemas e a deuses que eram até então estrangeiros e
25 hostis mas nela se deixaram docemente fundir.
Enquanto a nobreza degenera5, por secagem do sangue e doçarias, a nossa
mocetona continua trocando afeto em terras de África e Brasil, tomando e ofere-
cendo, e outro não é o segredo da sua juventude. Menininha que eu vi nas mãos
do Mia Couto, a rir da brincadeira que era uma flor rodando pelos ares abaixo.
30 Menininha que disse estar bem e estar feliz.
in https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/outros/antologia/menina-e-moca-/616
(consultado em janeiro de 2017).
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.9, selecione a opção que lhe permite
obter uma afirmação correta.
62
1.2 Com a frase “Atravessou-a o espírito dos Celtas” (ll. 7-8), Hélia Correia faz referência a
[A] um substrato da língua portuguesa.
[B] um superstrato do Português.
PROFESSOR
[C] uma língua posterior ao galaico-português.
GRUPO II
1.3 No primeiro parágrafo, a autora pretende, através da personificação, evidenciar
Leitura
[A] a naturalidade e a espontaneidade da língua portuguesa. 7.1; 7.2; 7.6; 8.1
[B] o caráter rude e sujo da camponesinha, herdado de seu pai. 1.1 [B]
1.2 [A]
[C] a sedução alegre que herdou das mouras.
1.3 [A]
1.4 [C]
1.4 No segundo parágrafo, assiste-se a uma evolução da língua portuguesa decorrente 1.5 [C]
1.6 [B]
[A] da influência da poesia lírica de Camões. 1.7 [A]
1.8 [C]
[B] do episódio de Fernão Veloso.
1.9 [B]
[C] do seu contacto com a cultura palaciana.
Gramática
18.1
1.5 No penúltimo parágrafo, assistimos
2.1 Sujeito subentendido “ela”.
[A] ao nascimento das variantes regionais africanas.
2.2 Comparação.
[B] à importância do ensino do latim, regulado por lei. 2.3 Complemento direto.
1.7 Na frase “Enquanto eles degolavam e ofendiam” (ll. 20-21), existe um pronome
[A] pessoal que é sujeito simples.
[B] indefinido que é sujeito indeterminado.
[C] pessoal que é sujeito composto.
1.9 Em “ela deitou-se na frescura das palhotas” (l. 21), as expressões sublinhadas cor-
respondem respetivamente
[A] ao complemento direto e ao complemento indireto.
[B] ao complemento direto e ao complemento oblíquo.
[D] ao complemento indireto e ao complemento oblíquo.
63
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Poesia Trovadoresca
GRUPO III 2.1 Indique e classifique o sujeito sintático da frase “Tem o latim por pai” (l. 4).
Escrita 2.2 Identifique o recurso expressivo presente em “como em todas as moçoilas” (l. 9).
10.1; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
12.4; 13.1 2.3 Refira a função sintática desempenhada por “Grandes amores”, presente no início
do terceiro parágrafo.
Proposta de resolução:
Introdução: origem da
cantiga de amigo associada GRUPO III
aos primórdios da nossa
nacionalidade, num contexto
cultural e social muito Redija um texto expositivo, de 150 a 250 palavras, numa linguagem clara, objetiva e
diferente do da atualidade. precisa, onde apresente as principais diferenças entre as relações amorosas retrata-
Desenvolvimento: das na poesia trovadoresca e as vividas pelos jovens na atualidade.
Parágrafo 1
– Motivos da infelicidade
amorosa da donzela – Para isso, comece por completar o seguinte plano de texto, elaborando os tópicos
ausência do amigo devido à relativos a cada uma das partes.
guerra; não correspondência
amorosa. · Introdução: as relações amorosas na Idade Média e no século XXI.
– Dificuldades de
comunicação com o amado, · Desenvolvimento: parágrafo 1 - …
o que leva à confidência
amorosa com a Natureza, a parágrafo 2 - …
mãe e as amigas. –…
Parágrafo 2
– Facilidade de comunicação · Conclusão: fecho do texto, sintetizando os principais aspetos referidos.
na atualidade – telemóvel,
redes sociais, que encurtam
as distâncias.
– Locais de encontros
amorosos diferenciados: as
fontes, as romarias, os bailes
da Idade Média por oposição
aos espaços partilhados pelos
jovens de hoje em dia (escola,
festas, discotecas…) e aos
locais de encontro virtuais.
Conclusão: as relações
amorosas estão sujeitas às
condicionantes específicas da
época histórica.
64
MÓDULO
2. Fernão Lopes
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Crónica de D. João I
• Excertos dos capítulos 11, 115 e 148 da 1.a Parte
Leitura
Exposição sobre um tema
Escrita
Síntese
Exposição sobre um tema
Oralidade [Comprensão/Expressão Oral]
Documentário [Comprensão do Oral]
Síntese [Expressão Oral]
Gramática
Sintaxe [Aprender/Aplicar]
• Processos fonológicos
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR
Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender as transformações que ocorrem nes-
ta época, bem como o autor que irá ser objeto de estudo.
66
PARA INICIAR
EXPRESSÃO ORAL
A. D. João I de Portugal,
c. 1435, Museu Nacional
de Arte Antiga.
B. Dom Nuno Álvares Pereira,
c. 1841, Charles Legrand
(primeira metade do
século XIX), Biblioteca
Nacional de Portugal.
C. Fernão Lopes (pormenor),
Painéis de São Vicente
de Fora, c. 1470, Nuno
Gonçalves, Museu Nacional
de Arte Antiga.
D. A Batalha de Aljubarrota,
Jean de Wavrim (séc. XV),
Crónicas de Inglaterra,
A D. João I, Mestre de Avis. c. 1470-1480.
E. Cerco de Lisboa (1384),
Crónicas de Jean Froissart,
séc. XV.
D Batalha de Aljubarrota.
NOTA AO ALUNO
Quando se faz uma
pesquisa, convém que
a informação a que
se tem acesso prime
pela qualidade, pelo que
é premente que haja
espírito crítico
na seleção das fontes.
Assim, não só é
B Nuno Álvares Pereira. importante recorrer
a obras ou sítios de
Internet fidedignos como
também é necessário
confrontar a informação
obtida com outras fontes,
de modo a assegurar
a sua autenticidade.
A título de exemplo, para
o trabalho que se propõe,
sugerem-se as seguintes
fontes:
• Giulia Lanciani
e Giuseppe Tavani
(coor.), Dicionário da
literatura medieval galega
C Fernão Lopes. E Cerco de Lisboa.
e portuguesa, Lisboa,
Editorial Caminho, 1993,
pp. 180-182 [Crónica
Realize, em grupo, uma pesquisa, numa enciclopédia, num manual de História, na In- de D. João II] e pp. 271-
-274 [Fernão Lopes].
ternet ou noutro suporte, sobre a individualidade ou o acontecimento retratado em
• Teresa Amado, Fernão
cada uma das imagens (cada grupo debruçar-se-á sobre uma imagem). Lopes, contador de
História, Lisboa, Editorial
1. Apresente à turma, em 2-3 minutos, uma síntese das informações recolhidas Estampa, 1991.
e mais pertinentes. • Fundação Batalha
de Aljubarrota, disponível
2. Discuta, em trabalho de pares, a relação que se pode estabelecer entre as várias em http://www.
fundacao-aljubarrota.pt/
imagens.
67
Fernão Lopes
PARA DESENVOLVER
COMPREENSÃO DO ORAL
1. Com base no conteúdo das colunas A e B, forme nove afirmações verdadeiras sobre
a vida e obra do autor.
PROFESSOR
Oralidade
Coluna A Coluna B
1.6; 2.1; 2.2; 3.1; 3.2; 4.1;
4.2; 5.2; 5.3; 6.2; 6.3
[A] Esteve ao serviço do reino português [1] foi escrivão dos livros de D. João I.
Expressão Oral (p. 67) durante dois reinados e uma regência,
[2] a assessorar o infante D. Fernando, como
1. e 2. respetivamente,
A imagem C representa “escrivão da puridade”.
Fernão Lopes, autor da [3] das Crónica de D. Pedro, Crónica
Crónica de D. João I, sobre o [B] É autor
respetivo monarca (imagem de D. Fernando e Crónica de D. João I.
A), que foi aclamado rei de [C] A sua vida pública está documentada
Portugal depois da morte [4] surge pela primeira vez como tabelião-
a partir de 1418,
de D. Fernando e durante -geral do reino.
a crise de 1383-1385. Nessa [D] Em 1419
mesma crónica, são episódios [5] o de D. João I, o de D. Duarte e a do
como o do cerco de Lisboa infante D. Pedro.
(imagem E), levado a cabo [E] A partir de 1422, dedicou-se também
pelos castelhanos, bem como [6] é uma das fontes fundamentais
o da Batalha de Aljubarrota
(imagem D), no qual se [F] Em 1437 da biografia de Fernão Lopes.
destaca a figura de D. Nuno [7] quando foi primeiramente nomeado
Álvares Pereira (imagem B),
mentor da estratégia que
[G] Em 1454, foi substituído nas suas guarda das escrituras do Tombo, como
conduziu os portugueses funções escrivão dos livros do infante D. Duarte.
à vitória e que, durante toda
a crise, esteve ao lado [H] A carta datada de 1434, da [8] por Gomes Eanes de Zurara, talvez
de D. João, Mestre de Avis. por doença ou velhice.
responsabilidade de D. Duarte,
[9] para que escreva as crónicas dos reis
[I] Nessa mesma carta, o rei D. Duarte da primeira dinastia portuguesa até
Vídeo concede ao cronista 14 mil reais ao reinado venturoso de D. João I.
Fernão Lopes – vida e obra
1.
[A] – [5]
[B] – [3]
[C] – [7]
[D] – [1]
[E] – [2]
[F] – [4] EXPRESSÃO ORAL
[G] – [8]
[H] – [6]
Sintetize, oralmente, em 2-3 minutos, os aspetos
[I] – [9]
mais significativos da vida e da obra de Fernão
Lopes, baseando-se nas informações recolhidas
no documento áudio e no exercício realizado an-
teriormente.
68
Crónica de D. João I
LEITURA
Leia o texto seguinte, que apresenta alguns aspetos biográficos deste monarca portu-
guês. Responda, depois, aos itens propostos.
PROFESSOR
Leitura
7.1; 7.4; 7.6; 8.1
Educação Literária
D. João I 16.1
a.
No ano de 1357 nasce D. João, mais um filho ilegítimo do infante D. Pedro. Ascende, ain- 1357 e 1413 (14 de agosto).
da criança, a Mestre de Avis e, liderando a ordem e frequentando a corte, atravessará os b. Filho ilegítimo do infante
D. Pedro.
governos de seu pai e de seu irmão D. Fernando. Após a morte deste monarca (1383), os c. Mestre de Avis, regedor
acontecimentos precipitam-se e diversas forças sociais guindam-no1 a um protagonismo e defensor do reino e rei de
Portugal.
5 político que fará dele regedor e defensor do reino e, finalmente, rei de Portugal, nas Cortes d. 1385.
de Coimbra de 1385. Desde logo, com os apoios certos e tendo como braço armado Nuno e. Em 1387, com D. Filipa de
Lencastre.
Álvares Pereira, vai submetendo opositores e combatendo os Castelhanos, dentro e fora do
f. Guerra com Castela,
reino, numa sequência de guerras que só cessarão com a assinatura de paz em 1411. Então, assinatura da paz em 1411,
nascida que já era uma vasta prole2 do seu casamento com D. Filipa de Lencastre em 1387, conquista de Ceuta.
g. Justo, vitorioso, devoto e
10 e consolidada uma corte, D. João governará apoiando-se na sua linhagem e em fiéis vassa- culto.
los. Conquista Ceuta em 1415, uma vitória sobre os infiéis que lhe garante fama em toda a
cristandade. […]
D. João morre a 14 de agosto de 1413, ao fim de um longo reinado de 48 anos, e foi se-
pultado no Mosteiro da Batalha, marco real e simbólico da sua vitória real. Consagra-se
15 em mito de rei guerreiro fundador de uma nova dinastia, que na visibilidade da Capela do
Fundador, panteão fúnebre de Avis, se projeta em memória aristocrática de uma prestigia- 1
conduzem-no, dão-lhe
2
da linhagem e de uma realeza sacralizada. As metamorfoses3 iniciais da ascensão política descendência
3
do Mestre suscitaram diferentes e contraditórias leituras de historiadores, mais luminosas mudanças, etapas
umas, mais sombrias outras. Já como monarca, D. João veio a acolher e a recolher, para
20 além da morte, uma “boa memória” de rei justo, vitorioso, devoto e culto, que pela voz dos
povos foi proclamado pai dos Portugueses.
Maria Helena da Cruz Coelho, D. João I, "Reis de Portugal", Círculo de Leitores, 2005, texto da contracapa.
Feitos
Nascimento Início do
Ascendência Títulos Casamento guerreiros e Qualidades
e morte reinado
políticos
a. b. c. d. e. f. g.
69
Fernão Lopes
E S C R I TA
SÍNTESE
orais, entre outros). [...] Fernão Lopes é um escritor ao serviço do poder e dele inteiramente dependente,
4.O Parágrafo do ponto de vista económico e profissional. [...] Quer isto dizer que a própria existência
É um escritor ao serviço
do poder e, por isso, tem do escritor só se justificava em função da utilidade de que este se pudesse revestir para
de ser útil para os que o o meio que o acolhia e remunerava. [...]
remuneravam.
30
Lopes pretendeu, sobretudo, justificar os acontecimentos verificados em Portugal
5.O Parágrafo
A sua principal missão
em 1383-1385, tanto no plano das suas ocorrências específicas como (e fundamental-
consistia em justificar mente) no das grandes decisões dali decorrentes. Com isso, visava, bem entendido,
os acontecimentos legitimar o comando político vigente na primeira metade do século XV! [...]
ocorridos entre 1383--
1385 e legitimar o poder Competiu a Fernão Lopes, cerca de meio século depois (e, recorde-se, por enco-
vigente na primeira
metade do séc. XV. 35
menda expressa de D. Duarte, mais tarde confirmada pelo infante D. Pedro), transfor-
6.O Parágrafo mar em legítimo o ilegítimo.
É a pedido de D. Duarte e João Gouveia Monteiro, Fernão Lopes, texto e contexto, Coimbra,
do Infante D. Pedro que o Minerva, 1988, pp. 85-88 e 114-116 (adaptado).
cronista transforma em
legítimo o ilegítimo.
70
Crónica de D. João I
Recorde os passos para elaborar uma síntese, tendo em conta as três fases essenciais:
fase preparatória, fase da redação e fase da revisão.
1. Fase preparatória
• ler para apreender a estrutura e o sentido global do texto;
• sublinhar as ideias/os factos essenciais e subjacentes à progressão textual (eliminan-
do repetições, pormenores, exemplificações, …);
• selecionar vocabulário ou expressões-chave;
• assinalar conectores ou articuladores que ligam frases entre si, estabelecendo rela-
ções de semelhança, de contraste/oposição, de anterioridade ou de posterioridade,
causa, etc.;
• registar, à margem do texto, a ideia central de cada parágrafo.
2. Fase da redação
• utilizar uma linguagem própria;
• respeitar as ideias do texto, não obrigatoriamente pela ordem de apresentação;
• evitar a colagem ao texto de partida;
• eliminar pormenores desnecessários;
• substituir sequências textuais por outras mais económicas;
• inserir juízos de valor, comentários.
Exemplificação
Fernnão Lopes,
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Porém, croonists a isento
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tos ocorridos
o ridos entre 1383-1385).
ocor
oc 1383-138 3 5)
5.
(111
(1 11 palavras)
palavr
pal avras)
avras))
3. Fase da revisão
• verificar a articulação lógica das ideias (coerência) e a gramaticalidade da escrita
(coesão);
• corrigir falhas ao nível da ortografia, da acentuação, da pontuação, da sintaxe e da
seleção do vocabulário;
• respeitar a extensão textual indicada, normalmente correspondente a um quarto do
texto de partida, ou seja, um texto de 400 palavras poderá originar uma síntese de 100.
71
Fernão Lopes
LEITURA
72
Crónica de D. João I
60 A batalha resolveu-se numa hora e saldou-se pela importunado pela ambição expansionista de Castela e se
derrota dos castelhanos e dos franceses, que debanda- pôde dedicar em paz à sua própria ambição expansionista −
ram em desordem. Muitos fugitivos foram chacinados esta para outros continentes. Haveria pois todos os motivos
pela população da zona. […] e mais um para que 14 de agosto fosse feriado nacional.
Portugal garantiu assim a independência, com D. João I
Visão, edição online, 26 de dezembro de 2011
65 no trono. Foi graças a esta vitória que Portugal deixou de ser (adaptado, consultado em dezembro de 2017).
73
Fernão Lopes
1.
1. Assinale como verdadeiras ou falsas as
a. V afirmações seguintes. Corrija as falsas.
b. F – D. Fernando já tinha
morrido na altura da batalha a. A batalha de Aljubarrota surge na se-
de Aljubarrota, cujos quência da crise política de 1383-1385.
principais protagonistas Conta-me História,
foram D. João, Mestre de Avis, RTP
b. Um dos protagonistas da batalha de
e Nuno Álvares Pereira.
c. V Aljubarrota foi o rei D. Fernando.
d. F – Foi durante toda
a primeira dinastia que isso c. A crise política portuguesa é também fruto da crise social e económica que de-
aconteceu. flagrava na Europa.
e. F –Entre D. Fernando
e D. João de Castela. d. É sobretudo no reinado de D. Fernando que Portugal atinge crescimento em ter-
f. F – A sua avó.
g. F – Por ser amante do Conde
mos geográficos, económicos e demográficos.
Andeiro. e. Na sequência das guerras fernandinas, foi assinado o Tratado de Salvaterra de Ma-
h. F – Havia também a
possibilidade de ascender gos entre D. Fernando e Henrique II de Castela.
ao trono o infante D. João de
Portugal, o outro meio-irmão f. Em caso de morte de D. Fernando, e se o príncipe herdeiro não tivesse ainda ida-
de D. Fernando e que se de suficiente para assumir o trono, ficaria como regente de Portugal a sua mãe.
revelava como o herdeiro mais
legítimo por ser filho de g. O povo odiava D. Leonor Teles sobretudo pelos maus conselhos dados a D. Fer-
D. Inês de Castro, ao passo
que D. João, Mestre de Avis,
nando nas questões políticas que envolviam Portugal e Castela.
era fruto de uma relação de
D. Pedro com a aia, Teresa
h. D. João, Mestre de Avis, revela-se como a única alternativa legítima ao Tratado de
Lourenço. Salvaterra de Magos.
i. V
j. V i. O infante D. João de Portugal fugiu para Espanha, depois de ter assassinado a mu-
k. F – Parte da nobreza lher, na expectativa de aceder ao trono.
apoiava D. Leonor Teles,
apesar de a sua regência j. O povo acreditava que D. Leonor Teles estava envolvida no assassinato da irmã.
colocar em causa a
independência nacional. k. Parte na nobreza apoioava D. Leonor Teles por considerar que esta asseguraria
l. F – Havia também uma parte
da nobreza portuguesa que
a independência nacional.
apoiava D. João.
m. V
l. Os únicos apoiantes do Mestre de Avis eram oriundos do povo.
n. F –Inicialmente o Mestre de m. D. Nuno Álvares Pereira assume-se como o paradigma das virtudes da arte militar.
Avis hesitou, perante o plano
traçado por Álvaro Pais, mas, n. Álvaro Pais apresentou o seu plano ao Mestre de Avis e este aprovou-o de ime-
depois, acabou por aceitá-lo.
diato.
Escrita
10.2; 11.1; 12.1;
12.2; 12.3; 12.4; 13.1
Tópicos:
E S C R I TA
Introdução: Crise de 1383-
-85, identificada como uma
crise dinástica, dado que Redija um texto expositivo, de 120 a 150 palavras, baseando-se nas informações re-
Portugal estava sem sucessor colhidas a partir do visionamento do documentário. Siga as seguintes orientações.
ao trono e na iminência de vir
a ser governado por um rei
castelhano. • Introdução: identificação do assunto.
• Desenvolvimento: − duas causas da crise dinástica;
− movimentações em prol do rei castelhano e do Mestre de Avis.
BLOCO INFORMATIVO – p. 283
MANUAL – pp. 26-27 • Conclusão: solução encontrada pela fação apoiante do Mestre.
74
Crónica de D. João I
INFORMAR
PROFESSOR
Leia os tópicos apresentados abaixo e resolva a atividade proposta.
Desenvolvimento: Duas
causas da crise: morte de
D. Fernando sem deixar
sucessor, estando a sua
Fernão Lopes e a Crónica de D. João I filha casada com D. João de
Castela; regência entregue
a D. Leonor Teles, viúva de
• Fernão Lopes é o autor da primeira e segunda partes da Crónica de D. João I. D. Fernando e amante do
conde Andeiro, que apoiava
• Nestas duas partes, assiste-se ao protagonismo da “comunal gente”, a arraia a causa castelhana.
miúda, ou seja, toda a população que, nas ruas e praças das cidades, se agita, se Movimentações em prol do
rei castelhano e do Mestre de
manifesta ruidosamente, sempre com extrema liberdade de linguagem e de atitu- Avis: uma parte da nobreza
5 des, a favor da causa nacional, sendo, no entanto, por vezes, manipulada. apoiava a rainha D. Leonor
Teles; o povo e alguns nobres
• Os sacrifícios desse povo unido são engrandecidos pelo cronista, sobretudo colocaram-se do lado do
Mestre de Avis, que tinha
nos capítulo 148, em que se relata o cerco de Lisboa, confundindo-se a população como apoiantes Álvaro Pais,
com a própria cidade. No entanto, Fernão Lopes não se inibe de relatar também a chanceler-mor do falecido rei
D. Fernando e Nuno Álvares
crueldade de uma multidão enfurecida noutros capítulos. Pereira.
10
• Para além das ruas e adros da cidade, os espaços interiores (câmaras do paço Conclusão: Solução
encontrada: matar o conde
real e dos castelos) também são cenário dos acontecimentos relatados, de jogos de Andeiro, movimentado o
conveniências pessoais e da ânsia de poder de D. Leonor Teles. povo para a defesa do Mestre,
anunciando o contrário – era
• Fernão Lopes, não se limitando apenas ao relato de feitos guerreiros, apre- o conde que matava o Mestre.
senta-nos, nesta crónica, uma larga visão de conjunto da época, em páginas em-
15
polgantes, que exibem o realismo visualista de uma reportagem, pois o narrador Leitura
7.2; 7.4
situa-se no próprio momento em que ocorrem os factos que narra. O recurso a
diversas sensações (visual e auditiva, principalmente) também contribui para esse 1
realismo descritivo. a. F – Relata outros factos,
tais como o fervor do povo
• O cronista dá vida a essas personagens, com a reconstituição de diálogos que (agitação) nas ruas, os seus
20 sacrifícios e as intrigas no
as caracterizam indiretamente, e revela também a sua subjetividade ao longo da paço.
narração dos factos, tecendo comentários, fazendo juízos de valor, recorrendo a c. F – É empolgante, vivo,
frases exclamativas e interrogações retóricas. sendo realista, com recurso
a sensações diversificadas
Maria Ema Tarracha Ferreira, Crónicas de Fernão Lopes, 2.a ed.,Lisboa, no relato dos factos.
Ulisseia, 1988, p. 13 e pp. 30-36 (adaptado).
d. F – Existem diálogos,
em discurso direto, que
caracterizam também
as personagens.
e. F – O cronista tece
1. Selecione das seguintes afirmações as que são falsas e proceda à sua correção. comentários pessoais,
expressa sentimentos,
a. Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes relata apenas as batalhas travadas pela emoções e juízos de
valor através de frases
conquista da independência nacional. exclamativas.
b. A força popular assume, nesta crónica, um lugar de destaque no desenrolar dos
acontecimentos.
c. O modo de narrar deste cronista é monótono e fantasista.
d. A caracterização das personagens envolvidas na ação é feita apenas pelo narra-
dor.
e. O cronista, enquanto narrador, adota sempre uma perspetiva objetiva sobre o
que relata.
f. Fernão Lopes também destaca no povo a sua agressividade.
75
Fernão Lopes
Afirmação da consciência coletiva | Atores (individuais e coletivos)
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
O Page do Meestre que estava aa porta, como2 lhe disserom que fosse pela vila
segundo já era percebido3, começou d’ir rijamente a galope em cima do cavalo em
que estava, dizendo altas vozes, braadando pela rua:
– Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Mees-
5 tre que matam!
E assi chegou a casa d’Alvoro Paaez que era dali grande espaço.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando
de falar u~ us com os outros, alvoraçavom-se nas voontades4, e começavom de
tomar armas cada uũ como melhor e mais asinha5 podia. Alvoro Paaez que es-
10 tava prestes e armado com ũa coifa6 na cabeça segundo usança daquel tempo,
* FIXAÇÃO DE TEXTO cavalgou logo a pressa em cima du~ u cavalo que anos havia que nom cavalgara; e
Fernão Lopes, in Teresa
Amado (apresentação todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava dizendo:
crítica), Crónica de – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca7 filho é del-Rei dom
D. João I de Fernão Lopes Pedro.
(textos escolhidos),
ed. revista, Lisboa, 15 E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
Editorial Comunicação, Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom
1992 [1980].
o Meestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em
logo8 de marido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u9
1
burguês bastante rico, padrasto
deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e escusar morte. Alvoro Paaez nom
de João das Regras, que fora 20 quedava10 d’ir pera alá11, braadando a todos:
chanceler-mor dos reis D. Pedro – Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
e D. Fernando; abandonou este A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer.
cargo com o pretexto de doença;
Nom cabiam pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando
mas, segundo Fernão Lopes,
ter-se-ia afastado da corte, cada uũ de seer o primeiro; e preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre,
envergonhado com a desonra 25 nom minguava12 quem responder que o matava o Conde Joam Fernandez13, per
de D. Fernando, ocasionada pelo mandado da Rainha.
licencioso comportamento
E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom14 com talente15 de o vingar,
da rainha; tornou-se o chefe
da insurreição de 1383; como forom16 aas portas do Paaço que eram já çarradas, ante que chegassem, com
2
quando; 3 combinado; espantosas palavras começarom de dizer:
4
alvoraçavom-se nas voontades: 30 – U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
revoltavam-se; 5 depressa; Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certefica-
6
parte da armadura que
defendia a cabeça; 7 porque;
vom que o Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as bri-
8
em lugar de; 9 onde; 10 não tassem17 pera entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
parava; 11 lá ; 12 não faltava; Deles18 braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços,
13
Conde João Fernandes 35 e queimar o treedor19 e a aleivos20. Outros se aficavom21 pedindo escaadas pera
Andeiro, nobre galego, amante
sobir acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam
da rainha e por ela nomeado
conde de Ourém; 14 todos feitos grande que se nom entendiam uũs com os outros, nem determinavom neũa
duũ coraçom: todos animados cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredor deles per
pela mesma coragem; u homeũs e molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha, outras
15
desejo; 16 como forom: logo 40 tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com
que chegaram; 17 arrombassem;
18
alguns deles; 19 traidor;
ela, dizendo muitos doestos22 contra a Rainha.
20 De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde Joam
adúltera; alusão a D. Leonor
Teles; 21 insistiam; 22 insultos Fernandez morto; mas isto nom queria neuũ creer, dizendo:
76
Crónica de D. João I
4. Caracterize a Rainha aos olhos do povo, justificando a opinião deste último. PROFESSOR
77
Funções sintáticas I
N DE
RE R
APRENDER
AP
LEITURA
ICA
G RA M Á T
FUNÇÕES
AUTO DESINTÁTICAS
MORALIDADE composto per Gil Vicente por contemplação da sere-
R
APL ICA níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado per
seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Por-
Funções sintáticas Exemplos
PROFESSOR tugal deste nome.
SUJEITO
2. Álvaro Pais relembrou que Comença a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto,
o Mestre era filho de um rei – Função sintática desempenhada por um
o rei D. Pedro – e declarou
se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos sùpitamente a um
constituinte que comanda a concordância
não haver qualquer razão que rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto
justificasse a sua morte. verbal.
estão, scilicet1, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o Inferno: os quais
3. O povo atribuía a Pode ser desempenhada por
responsabilidade ao conde batéis tem cada um seu arraiz na proa: o do
– um grupo nominal (a.);
Paraíso um Anjo, e o do Inferno um
a. Fernão Lopes foi um grande escritor.
João Fernandes, que estaria a arraiz infernal e um Companheiro.
– uma oração subordinada substantiva b. É evidente que Fernão Lopes é um grande
cumprir a vontade da rainha.
4. O povo não tinha uma completiva (b.); escritor.
opinião muito favorável O primeiro entrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um
– uma oração subordinada substantiva relativa c. Quem já leu Fernão Lopes conhece o seu
em relação à rainha, pois rabo mui comprido e ũa cadeira de espaldas. estilo. E começa o Arraiz do Inferno ante que
considerava-a responsável (c.).
pelo que estava a acontecer: o Esses
Fidalgo venha.
constituintes podem ser substituídos
“dizendo muitos doestos
contra a rainha”, Era ainda
– pelos pronomes pessoais eu, tu, ele, ela, você,
opinião generalizada que esta nós, vós, eles, elas, vocês (a’. e c’.);
era uma mulher adúltera – pelo pronome demonstrativo invariável isso, a’. Ele foi um grande escritor.
e traidora: “Ó, que mal fez!
Pois que matou o treedor do quando se trata de uma oração subordinada c’. Ele conhece o seu estilo.
Conde, que nom matou logo a substantiva completiva (b’.). b’. Isso é evidente.
aleivosa com ele!” (ll. 56-57),
pelo que se desejava a sua O sujeito pode ser
morte: “E sem duvida, se eles – simples, quando é constituído apenas por
entrarom dentro, nom se
escusara a Rainha de morte…” um grupo nominal ou oracional (d.); d. Os historiadores procuram sempre a
(l. 61). – composto, quando é constituído por mais do verdade. / Quem lê Fernão Lopes fica
5. Quando o Mestre surgiu à que um grupo nominal ou oracional (e.); encantando com a vivacidade do discurso.
janela, no início, houve quem
duvidasse dessa realidade. – nulo, quando não existe realização e. O Mestre de Avis e D. Nuno Álvares Pereira
No entanto, e depois de o lexical (f.). foram figuras relevantes na crise dinástica.
reconhecerem, todos se
regozijaram pelo facto de
f. [-] Conheço a Crónica de D. João I.
ele estar vivo e lamentaram
aquilo que acreditavam ser PREDICADO
uma traição da rainha. Função sintática desempenhada por um grupo
6. verbal, que inclui obrigatoriamente, além de
a. “ruas principaes”
b. “logares escusos” um verbo ou complexo verbal, os respetivos
c. “Paaços” (da Rainha) complementos (a. e b.) ou predicativos (c.). a. O povo acorreu ao Paço.
d. “grande janela”
Pode também incluir o modificador (do grupo b. Os populares queriam a salvação do
verbal) (b.). mestre a todo o custo.
Gramática
17.3 c. A crise de 1383-85 é um período muito
importante.
1.
a. crase VOCATIVO
b. sinérese
c. metátese
É uma função sintática que ocorre em
d. epêntese contextos de chamamento (frases
imperativas, exclamativas, interrogativas).
Identifica o interlocutor e aparece isolado a. Acorramos ao Mestre, amigos, que o matam
por vírgula (a.). sem razão!
78
Funções sintáticas Exemplos
COMPLEMENTO DIRETO
É uma função sintática interna ao predicado,
cujo constituinte é selecionado por um verbo
transitivo direto.
Pode ser desempenhada por
– um grupo nominal (a.); a. O povo aclamou o Mestre de Avis.
– uma oração subordinada substantiva b. O povo pensava que o Mestre tinha sido
completiva (b.); alvo de traição.
– uma oração subordinada substantiva relativa c. O povo viu à janela do Paço quem tanto
(c.). desejava.
Quando o complemento direto se apresenta
sob a forma de um grupo nominal, pode ser
substituído pelos pronomes pessoais me, te,
se, o, a, nos, vos, se, os, as (a’.) a’. O povo aclamou-o.
Quando é um grupo oracional, pode ser
substituído pelo pronome demonstrativo
invariável isso, em posição pós-verbal, (b’.) ou b’. O povo pensava isso.
por o (b’’.). b’’. O povo pensava-o.
COMPLEMENTO INDIRETO
É uma função sintática interna ao predicado,
cujo constituinte é selecionado por um verbo
transitivo indireto.
Pode ser desempenhada por um grupo
preposicional, geralmente introduzido pela
preposição a, simples ou contraída (a.). a. Após a revolta, D. Leonor Teles escreveu a
Pode ser substituído pelos pronomes pessoais D. João de Castela.
me, te, lhe, nos, vos, lhes (a’.) a’. Após a revolta, D. Leonor Teles escreveu-lhe.
COMPLEMENTO OBLÍQUO
É uma função sintática interna ao predicado,
cujo constituinte é selecionado por um verbo
transitivo indireto.
Pode ser desempenhada por
– um grupo preposicional (a.); a. O povo confiava no Mestre de Avis.
– um grupo adverbial (b.). b. Saído de Castela, D. João chegou
rapidamente aqui.
79
DAR
Funções sintáticas
TU
S
APRENDER
E
LEITURA
ICA
G RA M Á T
R AUTO DE MORALIDADE composto per Gil Vicente por contemplação
Funções sintáticas Exemplos da sere-
PR A
ATIC níssima e muito católica rainha dona Lianor, nossa senhora, e representado per
seu mandado ao poderoso
PREDICATIVO DO príncipe
SUJEITO e mui alto rei dom Manuel, primeiro de Por-
tugal deste
É uma nome.
função sintática interna ao predicado, cujo a. Fernão Lopes foi guarda-mor
constituinte é selecionado por um verbo copulativo1. da Torre do Tombo.
Comença a declaração
Pode ser desempenhada por e argumento da obra. Primeiramente,
b. As suas crónicas no presente
ficaram auto,
célebres.
1
São exemplos de verbos se– fegura
um grupoque, no (a.);
nominal ponto que acabamos de espirar, c. A chegamos
leitura da suasùpitamente
obra é do maior a um
copulativos: ser, estar, ficar,
parecer, permanecer, tornar-se, rio, o qual
– um grupoper força
adjetival havemos de passar em um de interesse.
(b.); dous batéis que naquele porto
revelar-se, ... estão, scilicet1,
– um grupo um deles
preposicional (c.);passa pera o paraíso e d.
oO outro pera
trabalho o Inferno:
do João os quais
sobre o autor
– um grupo
batéis tem cada um(d.).
adverbial seu arraiz na proa: o do Paraíso ficouum bem.
Anjo, e o do Inferno um
arraiz infernal e um Companheiro.
MODIFICADOR
É uma função sintática não selecionada por nenhum a. Os portugueses derrotaram
Em termos gráficos, O primeiro entrelocutor é um Fidalgo
núcleo, seja verbal seja oracional (frásico).
que chega com um Paje, que lhe leva um
os castelhanos na batalha de
o modificador de nome rabo
Podemui comprido e ũa
ser desempenhada porcadeira de espaldas. E começa o Arraiz do Inferno ante que
Aljubarrota.
apositivo distingue-se o –Fidalgo venha.
do restritivo por surgir um grupo preposicional (a.); b. Eles lutaram corajosamente.
separado por vírgulas. – um grupo adverbial (b.); c. Sempre que o Mestre de Avis o
– uma oração subordinada adverbial (c.). pediu, o povo português combateu.
Em início de frase ou entre constituintes d. O mestre de Avis, nos Paços da
obrigatórios, isola-se geralmente por vírgula (c. e d.). Rainha, foi apoiado pelo povo.
80
APLICAR
81
Fernão Lopes
Afirmação da consciência coletiva
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei
de Castela pôs cerco sobr’ela.
Nem uũ falamento1 deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido2,
que poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de
Castela sobr’ela; e per que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que
~
dentro eram, por nom receber dano de seus emigos 3
; e o esforço e fouteza4 que
5 contra eles mostravom, em quanto assi esteve cercada.
Onde sabee que como5 o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei
de Castela, e esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de reco-
lherem pera a cidade os mais mantiimentos que haver podessem, assi de pam e
carnes, come quaes quer outras cousas. E iam-se muitos aas liziras6 em barcas
10 e batees, depois que Santarem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados
mortos que salgavom em tinas, e outras cousas de que fezerom grande açalma-
1
palavras, ditos; 2 alusão mento7; e colherom-se8 dentro aa cidade muitos lavradores com as molheres
ao capítulo anterior, onde e filhos, e cousas que tiinham; e doutras pessoas da comarca d’arredor, aqueles
se descreve o soberbo
a que prougue9 de o fazer; e deles10 passarom o Tejo com seus gaados e bestas
acampamento do rei de Castela,
que se estendia de Santos até
15 e o que levar poderom, e se forom contra11 Setuval, e pera Palmela; outros ficarom
Campolide e outros lugares em na cidade e nom quiserom dali partir; e taes i12 houve que poserom todo o seu13,
volta; 3 inimigos; 4 coragem; e ficarom nas vilas que por Castela tomarom voz.
5
logo que; 6 lezírias (terras Os muros todos da cidade nom haviam mingua14 de boom repairamento15;
que ficam na margem do rio);
7
abastecimento; 8 refugiaram-
e em seteenta e sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes cara-
-se; 9 aprouve, agradou; 20 manchões de madeira, os quaes eram bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos
10
e alguns; 11 em direção a; e beestas de torno16, e doutras maneiras com grande avondança17 de muitos vira-
12
aí; 13 que poseram todo o seu: tões18. […]
que puseram em segurança
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos
os seus haveres; 14 necessidade;
15
reparação, fortificação; muros pelos fidalgos e cidadãos honrados19; aos quaes derom certas quadrilhas20
16
armas que disparavam 25 ~ d´armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada
e beesteiros e homees
setas a grandes distâncias; quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa vissem, e como21 cada uũ
17
abundância; 18 setas grandes;
19 ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente22 corriam pera ela. […]
de boa categoria social,
burgueses; 20 quadrelas,
E nom soomente os que eram assiinados23 em cada logar pera defensom, mas
lanços de muralha onde ainda as outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avi-
se colocavam os vigias; 30 vavom-se os corações deles24; e os mesteiraes25 dando folgança26 a seus oficios,
21
quando; 22 apressadamente; logo todos com armas corriam rijamente pera u27 diziam que os Castelãos mos-
23
designados; 24 avivavom-se
travom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas trombetas e
os corações deles: sentiam-se
mais corajosos; 25 operários; braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando
26
folga; 27 onde ~
fouteza contra seus emigos.
82
Crónica de D. João I
35 Nom curavom28 entom do texto que diz: “Que mais ajuda a egreja o reino com 28
não se importavam;
suas orações, que os cavaleiros com as armas”; nom se guardava ali a degratal29: 29
disposição da Igreja;
“Clerici arma portantes”30, aos quaes segundo dereito nom convem de tomar ar- 30
“clérigos empunhando
mas, posto que seja pera defensom da terra; mas clerigos e frades, especialmente armas”;
31
da Trindade, logo eram nos muros, com as melhores que haver podiam. […] não obstante
32
visitava;
40 E nom embargando31 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cui- 33
soldados que faltavam à
dado da guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, reque- chamada, rebeldes
ria32 per muitas vezes de noite os muros e torres com tochas acesas ante si, bem 34
diligentes, rápidos
35
acompanhado de muitos que sempre consigo levava. Nom havia i neuũs revees33 preparativos
dos que haviam de velar, nem tal a que esqueceesse cousa do que lhe fosse en-
45 comendado; mas todos muito prestes a fazer o que lhe mandavom, de guisa que,
a todo boom regimento que o Meestre ordenava, nom minguava avondança de
trigosos34 executores. […]
Ó que fremosa cousa era de veer! Uũ tam alto e poderoso senhor como el-Rei
de Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas em
50 tam grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida
contra ele de gentes e d’armas com taes avisamentos35 por sua guarda e defensom!
Em tanto que diziam os que o virom, que tam fremoso cerco de cidade nom era
em memoria d’home~ es que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo.
1. Ordene as seguintes afirmações, de acordo com a ordem sequencial do texto, indi- PROFESSOR
cando as linhas que justificam essa seriação.
Educação Literária
[A] O esforço e o envolvimento do Mestre são realçados pelo facto de este dormir 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
pouco e de vigiar constantemente as defesas da cidade. 14.7; 15.1; 15.2; 16.1
83
Fernão Lopes
Afirmação da consciência coletiva
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
1
Das tribulações que Lixboa padecia per mingua1 de mantiimentos.
falta
2
porque
3 Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro
antiga medida para líquidos
4
bolbos que as pobres gentes nom podiam chegar a ele; ca2 valia o alqueire quatro livras;
5
6
melaço cristalizado e o alqueire do milho quareenta soldos; e a canada3 do vinho tres e quatro livras;
onde
7 e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que, ainda que dessem por uũ pam
viviam deles (dos porcos)
8
negociantes de gado 5 ũa dobra, que o nom achariam a vender; e começarom de comer pam de bagaço
9
passando fome d’azeitona, e dos queijos4 das malvas e raizes d’ervas, e doutras desacostumadas
10
fome cousas, pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham em alféloa5.
No logar u6 costumavom vender o triigo, andavom homees ~ e moços esgaravatan-
do a terra; e se achavom alguũs grãos de triigo, metiam-nos na boca sem teendo
10 outro mantiimento; outros se fartavom d’ervas, e beviam tanta agua, que achavom
mortos homees ~ e cachopos jazer inchados nas praças e em outros logares.
Das carnes, isso meesmo, havia em ela grande mingua; e se alguũs criavom
porcos, mantiinham-se em eles7; e pequena posta de porco, valia cinco e seis li-
vras que era ũa dobra castelãa; e a galinha, quareenta soldos; e a duzia dos ovos,
15 doze soldos; e se almogávares8 tragiam alguũs bois, valia cada uũ sateenta livras,
que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras; e a
cabeça e as tripas, ũa dobra; assi que os pobres per mingua de dinheiro, nom co-
miam carne e padeciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom
soomente os pobres e minguados, mas grandes pessoas da cidade, lazerando9,
20 nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame10, bem mostravom seus
encubertos padecimentos. Andavom os moços de tres e de quatro anos pedindo
pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas madres, e muitos
nom tiinham outra cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que
era triste cousa de veer; e se lhes davom tamanho pam come ũa noz, haviam-no
25 por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tiinham crianças a seus peitos per
84
Crónica de D. João I
mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos a que acorrer nom podiam,
choravom ameúde sobr’ eles a morte ante que os a morte privasse da vida. Muitos
esguardavom as prezes11 alheas com chorosos olhos, por comprir o que a piedade
manda, e nom teendo de que lhes acorrer, caíam em dobrada tristeza.
30 Toda a cidade era dada a nojo12, chea de mezquinhas querelas, sem neuũ prazer 11
preces
que i houvesse: uũs com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos 12
tristeza, aborrecimento
atribulados; e isto nom sem razom, ca se é triste e mezquinho o coraçom cuidoso13 nas 13
preocupado
14
cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que fariam aqueles que as continua- contudo
15
damente tam presentes tiinham? Pero14 com todo esto, quando repicavom, neuũ nom 16
inimigos
está
35 mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus ~ emigos15. Esforçavom-se uũs 17
em al departir: falar sobre outra
por consolar os outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava conforto coisa
18
de palavras, nem podia tal door seer amansada com neũas doces razões; e assi como ficados os geolhos: ajoelhados
~ falando com 19
é natural cousa a mão ir ameúde onde see16 a door, assi uũs homees queixavam
20
misérias
outros, nom podiam em al departir17 senom em na mingua que cada uũ padecia. 21
firmando-se de todo nas peores
40 Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a Deos cousas que fortuna em esto podia
devotamente por o estado da cidade! E ficados os geolhos18, beijando a terra, obrar: só pensando nos maiores
braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas prezes nom eram compridas! Uũs cho- males que naquelas circunstâncias
ravom antre si, mal-dizendo seus dias, queixando-se por que tanto viviam, como lhe podiam acontecer
se dissessem com o Profeta: “Ora veesse a morte ante do tempo, e a terra cobrisse
45 nossas faces, pera nom veermos tantos males!” Assi que rogavom a morte que os
levasse, dizendo que melhor lhe fora morrer, que lhe seerem cada dia renovados
desvairados padecimentos. Outros se querelavom19 a seus amigos, dizendo que fo-
rom desaventuirada gente, que se ante nom derom a el-Rei de Castela que cada dia
padecer novas mizquiindades20, firmando-se de todo nas peores cousas que fortu-
50 na em esto podia obrar21.
Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas d’ouvir
taes novas; e veendo estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas ore-
lhas do rumor do poboo.
Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguũs
55
~ e molheres, que tanta deferença há d’ouvir estas cousas aaqueles que as
homees PROFESSOR
entom passarom, como há da vida aa morte?
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.5; 14.7;
15.1; 15.2; 16.1
1. Preencha a seguinte tabela com base na leitura do excerto.
1.
a. escassez de bens como
Situação dos mantimentos na cidade trigo, milho, vinho, carne;
os alimentos que existiam
a. eram muito caros e difíceis
de obter. b. sofredora. c. forte
Caracterização geral da população durante o cerco perante o inimigo (esquecendo
a fome). d. solidária no
b. sofrimento. e. crente em
c. Deus. f. desejosa da morte.
g. arrependida da adesão
d. à causa de D. João I (alguns
e. elementos do povo). h. ciente
da gravidade da situação,
f. mas consciente de nada
g. poder fazer, tentava ignorar
os rumores. i. compreende o
Reação do Mestre desespero do povo decorrente
das necessidades por que
h. passava; refere a humanidade
do Mestre ao apontar a sua dor
Ponto de vista do cronista perante os lamentos do povo.
i.
85
PA R A S A B E R Crónica de D. João I
CRÓNICA DE D. JOÃO I
D. Leonor Teles De cariz dramático, revela ser determinada, persistente, dominadora, indomável, astuciosa e adúltera.
Conde Andeiro Assume a ameaça castelhana sobre a integridade nacional, acabando por funcionar como “bode-
-expiatório” para se desencadear a revolução.
Álvaro Pais Apresenta-se como chefe da insurreição de 1383 e mentor do assassinato do Conde Andeiro. Revela-se
astuto, determinado e destemido.
D. João, Manifesta-se como um homem vulgar, que tem dúvidas e hesitações e que chega a cometer erros.
Mestre de Avis No entanto, é também o líder das multidões, o homem que assume a sua missão e que se mostra ambicioso,
revelando, por isso, um cariz realista.
Nuno Álvares Pereira Revela-se como um herói com um forte pendor místico. A par da sua faceta espiritual e do virtuosismo que
o rege, distingue-se pela sua determinação, coragem, perspicácia e lealdade.
Apresenta-se como a força gregária, animada de uma vontade definida e coletiva, representada, por
Povo isso, em expressões como “todos postos sob um mesmo cuidado”, “todos animados de uma só vontade”,
“enquanto a cidade soube”. Apesar de ignorante, supersticioso e, por vezes, até cruel, revela-se como a
força motora da revolução e, por isso, aquela que mais padece, resiste e se afirma.
A insurreição que se opera em Portugal em 1383, ainda que tenha sido encabe-
Apresentação çada por Álvaro Pais, um dos burgueses mais influentes do reino, só vinga porque
Galeria de imagens
foi apoiada pelo povo.
Apresentação
É, efetivamente, a plebe que, colocando em causa a validade da sucessão di-
Síntese da Unidade
nástica por não reconhecer legitimidade ao rei de Castela para assumir a regência
Teste interativo
Fernão Lopes de Portugal, empurra o Mestre de Avis para a revolução.
É, pois, esta consciência da identidade nacional, este sentimento patriótico ge-
neroso e esta ligação à terra, em detrimento da eleição régia, que faz do povo o
protagonista da insurreição que culminou com o triunfo da vontade popular.
86
PA R A V E R I F I C A R
Verifique os seus conhecimentos após a leitura e a análise dos excertos da Crónica PROFESSOR
de D. João I, de Fernão Lopes.
Educação Literária
1.
1. Identifique as afirmações verdadeiras e as afirmações falsas. Corrija as falsas. a. F – A Crónica de D. João I
debruça-se sobre a ascensão
a. A Crónica de D. João I, escrita por Fernão Lopes, debruça-se sobre a ascensão e reinado do Mestre de Avis,
filho de D. Pedro e de uma aia,
e o reinado do infante D. João de Portugal, filho de D. Pedro e de D. Inês de Castro. Teresa Lourenço.
b. V
b. A Crónica de D. João I, de Fernão Lopes, surge como uma forma de legitimar
c. V
a coroação do Mestre de Avis como rei.
d. V
e. F – A insurreição inicia-se
c. A crise de 1383-1385, que se viveu em Portugal, assume sobretudo contornos com a morte do Conde Andeiro.
políticos.
f. V
g. V
d. D. Leonor Teles é uma das figuras principais relacionadas com a crise de 1383-
h. F –O povo regozijou-se
-1385. com o facto de o Mestre
de Avis estar vivo e apoiou
e. A insurreição inicia-se com a morte de D. Fernando, perpetrada por D. João, Mestre o assassinato do Conde
de Avis, e idealizada por Álvaro Pais. Andeiro.
i. V
f. O homicídio do amante de D. Leonor Teles surge como resposta à ameaça cas- j. F –Apesar de o Mestre
de Avis não ser um sucessor
telhana que pairava sobre a coroa portuguesa. legítimo ao trono, o povo
apoiava-o por reconhecer
g. Os protagonistas do assassinato ocorrido nos paços da rainha manipularam o nele a única garantia da
povo, de modo a garantir o seu apoio. independência nacional.
k. V
h. O povo regozijou-se com o facto de o Mestre de Avis estar vivo, mas condenou a l. F – Foram os castelhanos
morte do Conde Andeiro. que puseram cerco à cidade
de Lisboa, como forma de
dissuadir o Mestre de Avis
i. A questão da sucessão ao trono português colocou em confronto os sentimentos dos seus propósitos.
do povo e as ambições de uma parte da nobreza. m. F – Apesar de se terem
preparado antes do cerco,
j. O povo apoiava D. Leonor Teles por reconhecer nela a garantia da independência a determinada altura, e dada
a sua duração, as
nacional e por considerar que o Mestre de Avis não era um sucessor legítimo ao necessidades do povo,
trono. sobretudo em termos
alimentares, passaram
k. A chegada do rei de Castela a Portugal deve-se a D. Leonor Teles. a ser muitas.
n. F – O Mestre soube de
antemão que os castelhanos
l. Como forma de retaliar a invasão castelhana, D. João, Mestre de Avis, pôs cerco tencionavam cercar Lisboa
à cidade de Lisboa. e, por isso, deu ordens para
as pessoas se abastecerem
m. Durante o cerco de Lisboa, as necessidades foram residuais porque aqueles e protegerem.
que se mantiveram dentro das muralhas da cidade se prepararam convenien- o. V
temente.
87
PA R A R E C U P E R A R Crónica de D. João I
Na Crónica de D. João I, Fernão Lopes retratou, como nenhum outro cronista, a cri-
se de 1383-85, procurando a a. dos factos. A função de guarda-mor da
Torre do Tombo permitiu-lhe o b. a documentos importantes da nossa
c. .
O cronista destaca o mestre de Avis, futuro d. , e. a sua elei-
ção após a morte de D. Fernando. Mas é o f. quem sai enaltecido, ao revelar
a consciência de uma g. prestes a perder a h. .
Tal como um i. , Fernão Lopes convida-nos a “esguardar como se estivés-
PROFESSOR
semos presentes”, e leva-nos até às j. do cerco de Lisboa. Apesar da impar-
1. a. verdade
cialidade pretendida, o narrador emociona-se com as descrições que faz, servindo-se das
b. acesso
c. história k. e das interrogações retóricas.
d. D. João I
Concluindo, Fernão Lopes não foi só um l. que fixou um momento fulcral
e. legitimando
f. povo da nossa história, mas sobretudo um notável m. , atento ao pormenor e ao
g. nação visualismo descritivo ao longo da narração.
h. independência
i. repórter 2. Indique todos os processos fonológicos que ocorreram na evolução das seguintes
j. atribulações palavras.
k. exclamações
a. Filiam > filha
l. historiador
m. escritor b. Sabedes > sabeis
c. Amicum > amigo
Gramática
2. a. apócope do “m” / d. nocte > noite
palatalização
b. síncope do “d”/ sinérese;
3. Associe cada elemento da coluna A ao único elemento da coluna B que lhe corres-
c. apócope do “m”/
sonorização ponde, de modo a identificar a função sintática destacada em cada frase.z
d. vocalização
Coluna A Coluna B
3.
[A] – [2] [A] Quando o povo soube que matavam o Mestre, acorreu logo
[1] Complemento direto
[B] – [3] ao paço.
[C] – [1]
[B] Álvaro Pais foi astucioso na sua estratégia. [2] Modificador
[D] – [1]
[E] – [6] [C] Embora o Mestre de Avis hesitasse, acabou por aceitar a
[F] – [4] ideia do amigo. [3] Predicativo do sujeito
[G] – [5]
[D] Todos queriam saber se o Mestre estava vivo. [4] Complemento
indireto
[E] Quem cercou Lisboa foi D. João de Castela.
[5] Complemento
[F] Os habitantes de Lisboa pediram ao Mestre que os
oblíquo
protegesse.
[G] Mal os sinos repicavam, todos se dirigiam logo para a muralha. [6] Sujeito
88
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Crónica de D. João I
PROFESSOR
GRUPO I
89
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Crónica de D. João I
2. Indique a principal dificuldade sentida pela população durante o transporte do tri-
go para dentro das muralhas.
3. Comente o sentido da comparação “como fez Jesu Cristo aos pães, com que fartou
~ (l. 19).
os cinco mil homees.”
4. Releia o terceiro parágrafo do texto e enuncie a medida tomada para fazer face à
escassez de alimentos.
5. Indique por que razão, inicialmente, os castelhanos ficavam contentes com a ex-
pulsão de algumas pessoas de dentro das muralhas.
GRUPO II
coletivas e anónimas.
Lendo Fernão Lopes, não perdemos de vista a
corte e a sua vida íntima, bodas e amores, intrigas e
conjuras palacianas. Mas vemos também, e com um
30 relevo proporcionado, a cidade de Lisboa e os seus
90
mesteirais, que largam o trabalho para organizar “uniões” na rua, participar em PROFESSOR
comícios populares, pegar em armas quando é a ocasião; vemos alfaiates, tanoei-
ros, camponeses salientar-se porque falam em nome de grandes agrupamentos GRUPO II
que adquirem vontade própria; vemos gente de trabalho arrebanhada à força nas
Leitura
35 aldeias, para as galés que o rei D. Fernando envia contra a esquadra castelhana; 8.1
vemos “povos do reino” assediando os castelos, derrubando-lhes as muralhas,
que uma longa opressão tinha calado. […] 1.
1.1 [A]
A grandeza de Fernão Lopes como historiador consiste, principalmente, nes- 1.2 [C]
ta visão multifacetada que abrange os aspetos sociais da vida nacional e que lhe 1.3 [C]
40 permitiu transmitir-nos o fresco global de uma época, em vez de simples nar-
rativas de aventuras individuais vistas segundo a ideologia cavaleiresca, como
as que nos apresentam outros cronistas medievos. Graças a esta superioridade
de visão, possuímos hoje um precioso relato de conjunto da grande crise social
que marcou em Portugal a passagem da Idade Média para os tempos modernos.
António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura
Portuguesa, 17.a ed., Porto, Porto Editora, 2010, pp. 124-127.
91
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Crónica de D. João I
92
MÓDULO
2
1. Gil Vicente
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Farsa de Inês Pereira
Leitura
Exposição sobre um tema
Apreciação crítica
Escrita
Síntese
Apreciação crítica
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão/Expressão Oral]
Síntese [Expressão Oral]
Apreciação crítica
Gramática
Lexicologia: campo semântico e campo lexical [Aprender/Aplicar]
Lexologia: arcaísmos e neologismos [Aprender/Aplicar]
Processos irregulares de formação de palavras [Aprender/Aplicar]
• Conectores
• Processos fonológicos
• Funções sintáticas
• Classe de palavras
• Subordinação
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR
Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender esta época, bem como
Gil Vicente, autor que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.
94
PARA INICIAR
Oralidade
5.1; 5.2; 5.3;
6.1; 6.2; 6.3
1. As imagens B, C, D e E
associam-se à obra Auto
da Barca do Inferno,
uma vez que representam,
respetivamente,
(B) os Cavaleiros, únicas
C D personagens que embarcam
na barca do Paraíso;
(C) a punição “no outro
mundo” (em virtude dos maus
comportamentos na vida
terrena); (D) as barcas
e os barqueiros − o Anjo
e o Diabo; (E) a personagem
Frade que se faz acompanhar
da sua moça Florença.
As imagens A e F relacionam-
-se com o Auto da Índia:
(A) a nau simbolizará
a viagem do marido da Ama;
E F (F) imagem que poderá aludir
à temática central da obra −
o adultério cometido pelas
1. No 9.o ano, contactou com uma obra de Gil Vicente. Selecione as imagens que se mulheres cujos maridos
integravam as expedições
poderão associar à obra estudada, justificando a sua escolha. marítimas.
2. Resposta de caráter
2. Considere as imagens C e F. Escolha uma delas e proponha uma justificação para pessoal. No entanto, o aluno
deve referir a pertinência
a sua adequação à obra estudada, atendendo à intenção do dramaturgo. da imagem em função
da intenção do autor:
Estruture o seu discurso, tendo em atenção: · em C, referente ao Auto
da Barca do Inferno, criticar
· a organização pertinente das ideias; e modificar o comportamento
humano, fazendo apelo
· a extensão temporal (2-3 minutos); à ideia da punição;
· em F, Auto da Índia, chamar
· o vocabulário diversificado e cuidado; a atenção para algumas
das consequências das
· a adequação de recursos verbais e não verbais: postura, tom de voz, articulação expedições: o abandono das
e expressividade. mulheres e a sua repercussão
nos valores morais, visível,
por exemplo, no tema do
adultério.
95
Gil Vicente
PARA DESENVOLVER
BLOCO INFORMATIVO – 2.1 Com base nas informações recolhidas no exercício anterior, elabore, oralmente,
p. 283
entre 2 a 3 minutos, uma síntese dos principais aspetos focados na entrevista.
96
Farsa de Inês Pereira
INFORMAR PROFESSOR
Leitura
Leia a informação seguinte e os tópicos abaixo sobre a sátira vicentina e responda 7.2; 7.5; 8.1
ao solicitado. Ed. Literária
14.3; 14.4; 16.1
Tendo como datas possíveis de nascimento e morte, respetivamente, 1465 e 1536,
Gil Vicente situa-se num período de transição entre as eras medieval e renascentis- 1.
São personagens que
ta. Assim, é provável que a sua obra reflita especificidades de uma e de outra época. apresentam comportamentos
Se, por um lado, apresenta aspetos medievais, nomeadamente no que se refere à e elementos característicos
representativos de
forma e a certos temas, sobretudo ligados à preponderância da religião na vida do determinada classe social
ser humano, por outro lado, apresenta uma visão crítica da sociedade e uma cons- ou profissional. Podem
representar também vícios
ciência dos problemas sociais característicos da época. ou defeitos humanos muito
generalizados. Os exemplos
referidos no textos são
o Escudeiro, os frades,
TEXTO A os clérigos em geral
e os Ermitões.
A sátira e o ideal de ordem
• A sátira, para Gil Vicente, é uma forma de compreender a desordem e a confusão
que imperam na sociedade quinhentista, não sendo poupado nenhum grupo social.
• Além de personagens individuais, o autor também ridiculariza defeitos hu-
manos generalizados.
• São várias as personagens-tipo ridicularizadas, representando os vários es-
tratos/grupos sociais: o povo miúdo, os pretensiosos, os famintos, os Escudeiros
versejadores de trovas, tocadores de viola, frades, clérigos e os ermitões foliões
e debochados.
Elaborado a partir de José Augusto Cardoso Bernardes, História crítica da literatura portuguesa.
Humanismo e Realismo, vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, 1999, pp. 139-141.
TEXTO B
Farsa e auto – natureza e estrutura da obra
Características
97
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Representação do quotidiano | Caracterização das personagens | Relação entre personagens
Gil Vicente é considerado uma das mais importantes figuras do teatro português. Criou
Apresentação cerca de 50 peças, desde 1502 até 1536, data da representação da última que se conhece.
Texto dramático
Leia a obra Farsa de Inês Pereira, representada em 1523, na corte de D. João III.
*FIXAÇÃO DE TEXTO
António José Saraiva
A Farsa de Inês Pereira*
(apresentação [1523]
e leitura), Teatro
de Gil Vicente, Lisboa,
[Auto] Feito por Gil Vicente, representado ao muito alto e mui poderoso Rei D. João
Dinalivro, ed. revista,
1988, pp. 163-204. o terceiro no seu convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII.
O seu argumento é um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me
*NOTAS
António José Saraiva, leve que cavalo que me derrube.
op. cit., e outros. As figuras são as seguintes: Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pero Marques;
dous Judeus (um chamado Latão, outro Vidal); um Escudeiro com um seu Moço;
um Ermitão.
Canta Inês:
Quien con veros pena y muere
que hará cuando no os viere?1
(Falado):
Inês Renego deste lavrar
e do primeiro que o usou!
5 Ò diabo que o eu dou,
que tão mao é d'aturar!
Ó Jesu! que enfadamento,
e que raiva, e que tormento, Antes o darei ao diabo
que cegueira, e que canseira! que lavrar mais nem pontada.
10 Eu hei-de buscar maneira Já tenho a vida cansada
d'algum outro aviamento.2 de jazer sempre dum cabo.3
25 Todas folgam4 e eu não,
Coitada, assi hei-de estar todas vêm e todas vão
encerrada nesta casa onde querem, senão eu.
como panela sem asa Hui! e que pecado é o meu,
15 que sempre está num lugar? ou que dôr de coração?
E assi hão-de ser logrados
dous dias amargurados, 30 Esta vida é mais que morta.
que eu possa durar viva? São5 eu coruja ou corujo,
E assi hei-de estar cativa ou são5 algum caramujo
20 em poder de desfiados? que não sai senão à porta?
E quando me dão algum dia
35 licença, como a bugia6,
1
“quem, vendo-vos pena e morre, o que fará quando vos não
que possa estar à janela,
vir?”; 2 arranjo de vida; 3 de estar sempre no mesmo sítio;
4
alegram-se; divertem-se; 5 sou; 6 macaca; 7 alusão à alegria de é já mais que a Madanela
Maria Madalena quando soube da ressurreição de Cristo. quando achou a aleluía.7
98
Farsa de Inês Pereira
Vem a Mãe, e, não na achando lavrando, diz: Mãe E como? Tamanho é o mal?
Lia. Tamanho? Eu to direi:
Logo eu adevinhei
40 lá na missa onde eu estava, vinha agora pereli14
como a minha Inês lavrava 85 ò redor da minha vinha,
a tarefa que lhe eu dei... e um clérigo, mana minha,
Acaba esse travesseiro! pardeos15, lançou mão de mi16.
Hui! naceo-te algum unheiro? Não me podia valer.
45 Ou cuidas que é dia santo? Diz que havia de saber
Inês Praza a Deos que algum quebranto 90 se era eu fêmea se macho.
me tire de cativeiro. Mãe Hui! Seria algum muchacho
que brincava por prazer?
Mãe Toda tu estás aquela…8
Choram-te os filhos por pão? Lia. Si, muchacho sobejava…
50 Inês Prouvesse a Deos! Que já é rezão Era um zote tamanhouço!...17
de eu não estar tão singela9. 95 E eu andava no retouço,
Mãe Olhade lá o mao pesar…10 tão rouca que não falava.
Como queres tu casar Quando o vi pegar comigo
com fama de preguiçosa? que me achei naquele perigo:
55 Inês Mas eu, mãe, são aguçosa11 – Assolverei! − Não assolverás!
e vós dais-vos de vagar. 100 – Tomarei! − Não tomarás!
– Jesu! Homem! que hás contigo? −
Mãe Ora espera, assi vejamos.
Inês Quem já visse esse prazer! – Irmã, eu t’assolverei
Mãe Cal'te, que poderá ser, c’o breviairo de Braga.18
60 que «ante a Páscoa vem os Ramos.» – Que breviairo, ou que praga!
Não te apresses tu, Inês. 105 Que não quero! Aque d'el-Rei! –
«Maior é o ano que o mês»: Quando vio revolta a voda,19
quando te não precatares, foi e esfarrapou-me toda
virão maridos a pares, o cabeção da camisa.
65 e filhos de três em três. Mãe Assi me fez dessa guisa20
110 outro, no tempo da poda.
Inês Quero-m'ora alevantar.
Folgo mais de falar nisso
Eu cuidei que era jogo
− assim Deos me dê o paraíso, −
e ele... dai-o vós ò fogo!
mil vezes que não lavrar.
Tomou-me tamanho riso,
70 Isto não sei que o faz...
riso em todo meu siso,
Mãe Aqui vem Lianor Vaz.
115 e ele leixou-me logo.
Inês E ela vem-se benzendo...
99
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Representação do quotidiano | Caracterização das personagens | Relação entre personagens
100
Farsa de Inês Pereira
Lia. Já vos trago aviamento.34 Lia. Nesta carta que aqui vem PROFESSOR
195 pera vós, filha, d'amores,
Inês Porém, não hei-de casar veredes vós, minhas flores, 5.1 Lianor Vaz veio a casa de
Inês, com o objetivo de lhe
185 senão com homem avisado.35 a descrição que ele tem. apresentar uma proposta de
Ainda que pobre e pelado, Inês Mostrai-ma cá, quero ver. casamento: traz uma carta de
um pretendente à mão de Inês
seja discreto em falar, Lia. Tomai. E sabedes vós ler? (vv. 194-197).
que assi o tenho assentado. 200 Mãe Hui! ela sabe latim, 5.2 Inês mostra-se pouco
recetiva e desconfiada, ao
Lia. Eu vos trago um bom marido, e gramáteca, e alfaqui37 contrário de sua Mãe e de
190 rico, honrado, conhecido. e tudo quanto ela quer! Lianor, que estão muito
entusiasmadas com o
Diz que em camisa vos quer.36 pretendente. A atitude de
Inês Primeiro eu hei-de saber 34
Inês justifica-se pelo facto de
arranjo de vida; 35 discreto; 36 “diz que vos aceita sem já ter em mente um modelo
se é parvo, se sabido. dote”; 37 a Mãe pretende mostrar que a filha é culta. de homem bem definido, que
poderá não corresponder à
proposta de Lianor. Por esta
razão, ainda que a alcoviteira
1. Identifique a funcionalidade das didascálias iniciais. o caracterize como “um
bom marido, / rico, honrado,
2. A farsa tem início com um monólogo de Inês Pereira. conhecido / […] que em camisa
vos quer” (vv. 189-191), Inês
2.1 Enuncie os aspetos do quotidiano da personagem que lhe desagradam. quer primeiro saber como ele
é, mostrando interesse em
2.2 Explicite a funcionalidade deste monólogo. ler a carta que ele lhe enviou
(v. 198).
2.3 Apresente três traços caracterizadores desta personagem a partir das suas pala- 6. vv. 184-188
7.
vras. a. Comparação. A jovem
compara-se a uma panela sem
3. Apresente as críticas e os conselhos expressos pela Mãe de Inês a partir do verso 39. asa, aludindo, desta forma, ao
facto de não ter ainda casado.
4. Identifique o desejo expresso por Inês ao longo do diálogo com a sua Mãe. b. Ironia. A mãe de Inês zomba
da pressa da filha em casar,
afirmando, de modo irónico,
5. Uma nova personagem junta-se às anteriores. que o facto de se encontrar
ainda solteira é uma desgraça.
5.1 Refira o objetivo da vinda desta personagem a casa de Inês.
5.2 Compare o grau de entusiasmo de Inês ao de Lianor Vaz, relativamente à proposta Gramática
desta última. 17.3
6. Transcreva os versos que melhor definem o modelo de homem de Inês Pereira. 1.1 Valor de oposição (conector
adversativo)
1.2 Estabelece um contraste
7. Identifique os recursos presentes nos seguintes versos, analisando a sua expressi- entre o modelo de homem que
vidade no texto. Inês tem em mente e o que lhe
apresentam.
a. “assi hei-de estar / encerrada nesta casa / como panela sem asa”. (vv. 12-14) 2.
a. apócope de “s”
b. “Olhade lá o mao pesar...” (v. 52) b. metátese
c. assimilação
d. epêntese de “i”
GRAMÁTICA
1. Releia os versos “Porém, não hei-de casar / senão com homem avisado”( vv. 184-185).
1.1 Indique o valor lógico do articulador inicial.
1.2 Apresente uma explicação para a sua utilização.
101
Lexicologia: campo semântico e campo lexical
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), “O léxico de uma língua inclui não ape-
R
APL ICA nas o conjunto de palavras efetivamente atestadas num determinado contexto mas tam-
bém as que já não são usadas, as neológicas e todas as que os processos de construção de
palavras da língua permitem criar”.
CAMPO LEXICAL
É o conjunto de palavras associadas, pelo seu significado, a um determinado domínio
conceptual.
palco animais
personagem
em ator ribeiro flor
TEATRO NATUREZA
ponto encenador
en planície montanhas
cena arbusto
CAMPO SEMÂNTICO
É o conjunto de significados, ou aceções, que uma palavra assume, em função do contexto
em que ocorre, quer surja isolada ou integrada numa expressão, como se pode verificar nos
exemplos:
102
APLICAR
1.3 Preencha a tabela, agrupando as frases em que a mesma palavra aparece com 1.1 a., d. e h.
sentidos diferentes, seguindo as instruções. 1.2 a. mar – peixinhos, algas,
barcos, ondas, areia
d. escola − mochila,
gramáticas, livros, canetas,
A. B. C. D. E. dicionário
h. vestuário – saia, camisas,
Significado Campo meias, gorro, sobretudo
Frases em Significado
Palavra "denotativo" "lexical" ou 1.3. A.1. Pau A.2. Ponto
que ocorre que adquire
ou "conotativo" "semântico" C.1. b. cajado, bordão, bengala
c. madeira
b. ___________ b. ___________ _____________ C.2. e. sinal de pontuação
1. _____________ b. e c. f. no momento certo
c. ___________ c. ___________ _____________ da cozedura
g. ser interesseiro; ter
e. ___________ e. ___________ _____________ segundas intenções
D.1. b. denotativo
c. denotativo
2. _____________ e., f. e g. f. ___________ conotativo _____________ D.2. e. denotativo
g. conotativo
g. ___________ g. ___________ _____________ E.1. e E.2. campo semântico
2.
a. casa, apartamento, cabana,
tenda, …
2. Construa os campos lexicais dos seguintes vocábulos. b. flores, ninhos, sol, verde,
verdejante, …
a. Habitação. c. ator, cenário, duplo,
personagem, guião, …
b. Primavera.
3.
c. Cinema. a. O noivo colocou o anel
na mão esquerda. / O ladrão
praticou um assalto à mão
3. Redija um par de frases para cada palavra dada, utilizando-a em contexto e com armada.
significados diferentes. b. Nunca visitei a Ilha do Pico. /
O António, da turma B, é uma
a. Mão. ilha, não convive com ninguém.
c. Os jogadores de futebol
b. Ilha. não podem jogar à bola
com o braço. / Um braço de
c. Braço. rio entrando pela floresta
embeleza a paisagem.
103
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Caracterização das personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Lê Inês Pereira a carta: 240 Lia. Não queirais ser tão senhora.
Casa, filha, que te preste,
«Senhora amiga Inês Pereira, não percas a ocasião.
Pero Marques, vosso amigo,
205 que ora estou na nossa aldea Queres casar a prazer
mesmo na vossa mercea no tempo d'agora, Inês?
m'encomendo1. E mais digo, 245 Antes casa em que te pês,6
digo que benza-vos Deos, que não é tempo d'escolher.
que vos fez de tão bom jeito. Sempre eu ouvi dizer:
210 Bom prazer e bom proveito «ou seja sapo ou sapinho,
veja vossa mãe de vós. ou marido ou maridinho,
E de mi também assi, 250 tenha o que houver mister.»7
Este é o certo caminho.
ainda que eu vos vi
est'outro dia folgar Mãe Pardeus, amiga, essa é ela!8
215 e não quisestes bailar Mata o cavalo de sela
nem cantar presente mi...» e bom é o asno que me leva.
Inês Na voda de seu avô, 255 Lia. Filha, «no chão de Couce
ou onde me viu ora ele? quem não poder andar, choute.»9
Lianor Vaz, este é ele? E: «mais quero eu quem m'adore
220 Lia. Lede a carta sem dó,2 de quem faça com que chore.»
que inda eu são contente dele. Chamá-lo-ei, Inês?
260 Inês Si.
Prossegue Inês Pereira a carta: Venha e veja-me a mi.
Quero ver, quando me vir,
«Nem cantar presente mi. se perderá o presumir
Pois Deos sabe a rebentinha3 logo em chegando aqui,
que me fizestes então. 265 pera me fartar de rir.
225 Ora, Inês, que hajais benção
de vosso pai e a minha, Mãe Touca-te10 bem, se vier,
que venha isto a concrusão. pois que pera casar anda.
Inês Essa é boa demanda!
E rogo-vos como amiga, Cerimónias há mister
que samicas vós sereis4, 270 homem que tal carta manda?
230 que de parte me faleis Eu o estou cá pintando:
antes que outrem vo-lo diga. sabeis, mãe, que eu adivinho?
E, se não fiais de mi, Deve ser um vilãozinho…
esteja vossa mãe aí Ei-lo, se vem penteando:
e Lianor Vaz de presente. 275 será com algum ancinho?
235 Veremos se sois contente
que casemos na boa hora.»
1
Inês Des que nasci até agora recomendo-me a vossa mercê; 2 sem vos agastardes; 3 fúria;
4
talvez; 5 nem tão disparatado; 6 casa mesmo contrariada; 7 tenha
não vi tal vilão com'este,
o que necessário for; 8 essa é que é a verdade; 9 “quem não puder
nem tanto fora de mão5! ter o que deseja, contente-se com o que tem”; 10 arranja-te.
104
Farsa de Inês Pereira
Aqui vem Pero Marques, vestido como filho de lavra- Cuido que lhe trago aqui
dor rico, com um gabão azul deitado ao ombro, com o peras da minha pereira...
capelo por diante, e vem dizendo: Hão-de estar na derradeira.18
Tende ora, Inês, per i.19
Pero Homem que vai onde eu vou 320 Inês E isso hei-de ter na mão?
não se deve de correr.11 Pero Deitai as peas20 no chão.
Ria embora quem quiser,
que eu em meu siso estou. Inês As perlas21 pera enfiar…
280 Não sei onde mora aqui... Três chocalhos e um novelo...
olhai que m’esquece a mi! E as peas no capelo...22
Eu creo que nesta rua... 325 E as peras? Onde estão?
Esta parreira é sua.
Já conheço que é aqui. Pero Nunca tal me aconteceu!
Chega Pero Marques aonde elas estão, e diz: Algum rapaz m'as comeu...
que as meti no capelo,
285 Pero Digo que esteis muito embora. e ficou aqui o novelo,
Folguei ora de vir cá... 330 e o pentem não se perdeu.
Eu vos escrevi de lá Pois trazia-as de boa mente...
ũa cartinha, senhora... Inês Fresco vinha aí o presente
Assi que… e de maneira... com folhinhas borrifadas!23
290 Mãe Tomai aquela cadeira. Pero Não que elas vinham chentadas
Pero E que val aqui ũa destas?12 335 cá em fundo no mais quente.24
Inês (Ó Jesu! que João das bestas!
Olhai aquela canseira!) Vossa mãe foi-se? Ora bem...
Sós nos leixou25 ela assi?...
Assentou-se com as costas pera elas, e diz: Cant’eu quero-me ir daqui,
Eu cuido que não estou bem... não diga algum demo alguém...26
295 Mãe Como vos chamam, amigo? 340 Inês Vós que me havíeis de dizer?
Pero Eu Pero Marques me digo, Nem ninguém que há-de dizer?
como meu pai que Deos tem. (O galante despejado!27)
Faleceo, perdoe-lhe Deos, Pero Se eu fora já casado,
que fora bem escusado, d’outra arte havia de ser,
300 e ficamos dous eréos.13 345 como homem de bom recato.
Perém meu é o mor gado.14
Mãe De morgado é vosso estado? Inês (Quão desviado este está!
Isso veria dos céos! Todos andam por caçar
suas damas sem casar,
Pero Mais gado tenho já quanto, e este... tomade-o lá!)
305 e o mor de todo o gado,
digo maior algum tanto.
E desejo ser casado,
11
prouguesse15 ao Espírito Santo, não se deve envergonhar; 12 “para que serve uma coisa destas?”;
13
herdeiros; 14 herdei a maior parte do gado (a mãe julga que ele
com Inês, que eu me espanto
disse “morgado”); 15 prouvesse (agradasse); 16 partícula de refor-
310 quem me fez seu namorado. ço; 17 “se alguém está melhor para ela do que eu”; 18 no fundo;
19
Parece moça de bem, “segurai aí, Inês”; 20 cordas para prender os animais; 21 contas de
e eu de bem, er16 também. vidro de enfiar; 22 capuz do gabão; 23 réplica irónica de Inês Pereira,
Ora vós ide lá vendo afirmando que, assim, naquela confusão, o presente vinha fresco;
24
Pero Marques não percebe a ironia e afirma que, pelo contrário,
se lhe vem milhor ninguém,17 as peras vinham “quentes”; 25 deixou; 26 não vá alguém fazer co-
315 a segundo o que eu entendo. mentários; 27 “vejam o atrevimento deste galante” (ironia).
105
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Caracterização das personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica
28
Não teimeis; 29 saiba que vou sofrer; 30 escarnecem; 33
suponhamos; 34 se por ventura; 35 em má hora;
31 36
“fato” é uma palavra do vocabulário dos pastores qualidade do que possui as virtudes palacianas
que designa os objetos de uso pessoal; 32 candeia (saber, educação, finura, etc.); 37 é disso que eu
(Pero espanta-se por ser escuro e Inês não ter gosto; sou doida por isso; 38 um bocado de bolo.
acendido “uma luz”;
106
Farsa de Inês Pereira
107
Lexicologia: arcaísmos e neologismos
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T A língua está em constante evolução: umas palavras modificam-se, ocorrendo evolu-
R ção fonética; outras caem em desuso (arcaísmos); e outras surgem de novo (neolo-
APL ICA
gismos).
Definição Exemplos
Arcaísmos
São termos de uso corrente num a. “O demo, e não pode al ser…”
determinado período na história da (‘outra coisa’)
língua, que acabam por cair em desuso b. “E rogo-vos como amiga, que samicas vós
posteriormente. sereis.”
O texto literário é uma fonte documental (‘talvez’, ‘porventura’)
privilegiada da existência desses vocábulos, c. “e ficamos dous éreos”
como se pode comprovar com a Farsa de Inês (‘herdeiros’)
Pereira.
Neologismos
São novos termos que surgem na língua a. “Eurocéticos não perturbarão
o Parlamento Europeu”
• devido à evolução nas áreas científica,
tecnológica ou política (a.); […] José María Gil-Robles falou ao DN sobre
as suas expectativas em relação
às eleições europeias. Desvaloriza o impacto
que um elevado número de eurodeputados
eurocéticos, populistas e extremistas possa
vir a ter no funcionamento da eurocâmara.
DN, edição online (acedido em fevereiro
de 2017).
• no domínio literário, criados por escritores, b. “Mas, para espantação e reza, meu pai
com intenções expressivas ou estilísticas golfinhou-se entre as ondas…”; “[…] um
(b.). esticão na linha me indicava a presença de
um peixe namordiscando o anzol…”
Mia Couto, Mar me quer, 13.a ed., Lisboa,
Editorial Caminho, 2013.
108
APLICAR
Lia. Nesta carta que aqui vem Inês Mostrai-ma cá, quero ver.
pera vós, filha, d'amores, Lia. Tomai. E sabedes vós ler?
veredes vós, minhas flores,
a descrição que ele tem.
A.
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Caracterização das personagens | Dimensão satírica
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Vem o Escudeiro, com seu Moço, que lhe Escudeiro [falando para o Criado]
traz ũa viola, e diz, falando só:
535 Olha cá, Fernando, eu vou
Se esta senhora é tal ver a com que hei-de casar.
como os judeus ma gabaram, Avisa-te que hás-de estar
510 certo os anjos a pintaram, sem barrete onde eu estou.
e não pode ser i al. Moço (Como a Rei! Corpo de mi!10
Diz que os olhos com que via 540 Mui bem vai isso assi...)
eram de Santa Luzia, Esc. E se cuspir, pola ventura,
cabelos, da Madanela... põe-lhe o pé e faz mesura.
515 Se ela fosse donzela, Moço (Ainda eu isso não vi!)
tudo essoutro passaria…8
Esc. E se me vires mentir,
Moça de vila será ela 545 gabando-me de privado,11
com sinalzinho postiço, está tu dissimulado, PROFESSOR
e sarnosa no toutiço, ou sai-te lá fora a rir.
520 como burra de Castela. Isto te aviso daqui, Educação Literária
Eu, assi como chegar, faze-o por amor de mi.
14.2; 14.5; 14.9
cumpre-me bem atentar
550 Moço Porém, senhor, digo eu 1. Os judeus desempenham
se é garrida, se honesta,
que mau calçado é o meu a função de casamenteiros
porque o milhor da festa e aparentam ser desonestos
pera estas vistas assi. e astutos, pois pretendem
525 é achar siso e calar. convencer Inês e a Mãe da
Esc. Que farei, que o sapateiro dificuldade da busca realizada
Mãe [falando para Inês] não tem solas, nem tem pele? para encontrar um marido
para a jovem.
555 Moço Çapatos me daria ele,
Se este escudeiro há-de vir 2. Os judeus exageram na
se me vós désseis dinheiro... descrição que fazem da busca,
e é homem de discrição, fazendo crer que o caminho
hás-te de pôr em feição, Esc. Eu o haverei agora. percorrido foi longo (v. 427),
e falar pouco e não rir. E mais, calças te prometo. que sofreram as agruras das
variações meteorológicas
530 E mais, Inês, não muito olhar, Moço (Homem que não tem nem preto12, (vv. 431-433) e que essa busca
e muito chão o menear,9 560 casa muito na má hora.) foi minuciosa (vv. 460-461). Por
outro lado, exageram também
por que te julguem por muda, as qualidades do pretendente,
para influenciar Inês para que
porque a moça sesuda 8
o sentido destes versos parece ser “fosse ela donzela esta o aceite (vv. 499-507).
é ũa perla pera amar. (virgem) e o resto não teria importância”; 9 mostrar- 3. Antes de conhecer Inês,
-se modesta e humilde nos gestos; 10 interjeição que o Escudeiro parece cético,
significa espanto e irritação; 11 de ser íntimo do rei; pois duvida das qualidades
12 de noiva, mas mostra-se
moeda de cobre.
cauteloso com a forma
de agir no encontro. Durante
1. Apresente três traços caracterizadores dos judeus que contribuam para a carica- o diálogo, revela o seu caráter
dissimulado quando adverte
tura destas personagens. o Moço para não o corrigir nem
mostrar admiração se o vir
mentir ou fazer-se passar por
2. Destaque os versos em que se hiperbolizam as dificuldades da busca efetuada pe- aquilo que não é.
los dois casamenteiros. 4. Os versos parentéticos
refletem o pensamento do
Moço e pretendem criticar/
3. Trace o retrato do Escudeiro, nos dois momentos, atendendo ao seu monólogo e ao denunciar o comportamento
diálogo com o Moço. do Escudeiro, quer quanto aos
seus modos quer no que se
refere ao facto de este tentar
4. Refira a intencionalidade do autor com os versos parentéticos presentes nas répli- aparentar ser rico.
5. Metonímia. Significando
cas do Moço. “preto” apenas moeda de
cobre, o Moço usa a expressão
para se referir à falta de
5. Indique, explicitando o seu sentido, o recurso expressivo presente na expressão
dinheiro e de bens materiais
“Homem que não tem nem preto” (v. 559). por parte do Escudeiro.
BLOCO INFORMATIVO – p. 284
111
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Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
112
Farsa de Inês Pereira
Pode ser maior riqueza Mãe Quero rir com toda a mágua
que um homem avisado? destes teus casamenteiros!
650 Mãe Muitas vezes, mal pecado,6 Nunca vi judeus ferreiros
é milhor boa simpreza. 690 aturar tão bem a frágoa.10
Lat. Ora oivi, e oivireis. Não te é milhor, mal por mal,
Escudeiro, cantareis Inês, um bom oficial,11
algũa boa cantadela. que te ganhe nessa praça,
655 Namorai esta donzela que é um escravo de graça,
e esta cantiga direis: 695 e casarás com teu igual?
Canta o Judeu
Lat. Senhora, perdei cuidado:
Canas do amor, canas o que há-de ser, há-de ser;
canas do amor. e ninguém pode tolher
Polo longo de um rio o que está determinado.
660 canaval vi florido, 700 Vid. Assi diz Rabi Zarão.
canas do amor. Mãe Inês, guar’-te de rascão!12
Escudeiro queres tu?!
Canta o Escudeiro o romance de «Mal Inês Jesu, nome de Jesu!
me quieren en Castilla», e diz Vidal: Quão fora sois de feição!13
113
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Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Representação do quotidiano | Dimensão satírica
Inês Eu, aqui diante Deos, Cantam todos a cantiga que se segue:
720 Inês Pereira, recebo a vós,
Mal ferida va la garça
Brás da Mata, sem demanda
enamorada,
como a Santa Igreja manda
sola va y gritos dava.
Lat. Juro al Deu! Aí somos nós!
755 A las orillas de un rio
la garça tenia el nido;
15
Os Judeus ambos
os judeus felicitam Inês pelo ballestero la ha herido
seu casamento
Alça manim, dona, ò dono, ha.
en el alma;
16
Sê bem-vinda, Luzia 725 Arrea espeçulá.15
17 sola va y gritos dava.
outra ocasião Bento o Deu de Jacob,
18
fórmula de despedida bento o Deu que a Faraó E, acabando de cantar e bailar, diz
19
depressa; cedo
espantou e espantará. Fernando:
Bento o Deu de Abraão
PROFESSOR 760 Ora, senhores honrados,
730 benta a terra de Canão.
ficai com vossa mercê,
Escrita Para bem sejais casados!
e nosso Senhor vos dê
11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 12.4; Dai-nos cá senhos ducados.
13.1 com que vivais descansados
Mãe Amenhã vol-os darão.
Isto foi assi agora,
Proposta de síntese: Pois assi é, bem será 765 mas melhor será outr’hora.17
1. Perdoai pelo presente:
a. Na réplica inicial,
735 que não passe isto assi.
o Escudeiro mostra-se muito Eu quero chegar ali foi pouco e de boa mente.
galante, tecendo vários
chamar meus amigos cá, Com vossa mercê, Senhora...18
elogios a Inês: compara-a
a uma rosa e chama-lhe e cantarão de terreiro.
“graciosa donzela”, Luz. Ficai com Deos, desposados,
afirmando que casará com ela Esc. Oh! quem me fora solteiro! 770 com prazer e com saúde,
de imediato. Enuncia, 740 Inês Já vós vos arrependeis? e sempre Ele vos ajude
de seguida, as suas próprias
características e os seus dons Esc. Ó esposa não faleis, com que sejais bem logrados.
(saber ler, tanger viola…). que casar é cativeiro. Mãe Ficai com Deos, filha minha,
b. Perante o Moço, mostra-se
arrogante e, durante este Aqui vem a Mãe com certas moças e não virei cá tão asinha.19
diálogo, confirma-se, de A minha benção hajais.
novo, a sua pobreza e a sua
mancebos pera fazerem a festa, e diz ũa 775
114
Farsa de Inês Pereira
Caracterização das personagens | Relações entre personagens
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Ida a Mãe, fica Inês Pereira e o Escudeiro. E senta- Pode ser maior aviso,
-se Inês Pereira a lavrar, e canta esta cantiga: maior descrição e siso
que guardar eu meu tisouro?
Si no os huviera mirado Não sois vós, mulher, meu ouro?
no penara, 825 Que mal faço em guardar isso?
pero tampoco os mirara
Vós não haveis de mandar
O Escudeiro, vendo cantar a Inês Pereira, mui em casa somente um pelo.
agastado lhe diz: Se eu disser: – isto é novelo –
havei-lo de confirmar.
790 Vós cantais, Inês Pereira? 830 E mais quando eu vier
Em vodas m'andáveis vós? de fora, haveis de tremer;
Juro ao Corpo de Deos e cousa que vós digais
que esta seja a derradeira! não vos há-de valer mais
Se vos eu vejo cantar, que aquilo que eu quiser.
795 eu vos farei assoviar…
[para o criado]
Inês Bofé1, senhor meu marido,
se vós disso sois servido, 835 Moço, às Partes d'Além3
bem o posso eu escusar. me vou fazer cavaleiro.
Esc. Mas é bem que o escuseis, Moço (Se vós tivésseis dinheiro.
800 e outras cousas que não digo! não seria senão bem...)
Inês Porque bradais vós comigo? Esc. Tu hás-de ficar aqui.
Esc. Será bem que vos caleis. 840 Olha, por amor de mi,
E mais, sereis avisada o que faz tua senhora:
que não me respondais nada, fechá-la-ás sempre de fora.
805 em que2 ponha fogo a tudo, [para Inês]
porque o homem sesudo
traz a mulher sopeada. Vós, lavrai, ficai per i.
Moço Com o que me vós leixais
Vós não haveis de falar 845 não comerei eu galinhas...
com homem, nem mulher que seja Esc. Vai-te tu per essas vinhas,
810 nem somente ir à igreja que diabo queres mais?
não vos quero eu leixar. Moço Olhai, olhai! Como rima!4
já vos preguei as janelas, E depois de ida a vendima?
por que vos não ponhais nelas. 850 Esc. Apanha desse rabisco.5
Estareis aqui encerrada Moço Pesar hora de São Pisco!
815 nesta casa, tão fechada Convidarei minha prima...
como freira d'Oudivelas.
E o rabisco acabado,
Inês Que pecado foi o meu? ir-me-ei espojar às eiras?
Porque me dais tal prisão?
Esc. Vós buscastes descrição,
820 que culpa vos tenho eu?
1
exclamação que pode significar ‘na verdade’; 2 mesmo que;
3
Marrocos; 4 (por antífrase ) que disparate!; 5 restos da vindima.
115
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Caracterização das personagens | Relações entre personagens
855 Esc. Vai-te per essas figueiras, Juro em todo meu sentido
e farta-te, desmazelado! que se solteira me vejo,
Moço Assi? assi como eu desejo,
Esc. Pois que cuidavas? 895 que eu saiba escolher marido,
E depois virão as favas. a boa fé, sem mal engano,
860 Conheces túbaras de terra? pacífico todo ano,
Moço I-vos vós, embora, à guerra, e que ande a meu mandar.
que eu vos guardarei oitavas6... Havia m'eu de vingar
900 deste mal e deste dano!
Ido o Escudeiro, diz o Moço:
Entra o Moço com ũa carta de Arzila, e diz:
Senhora, o que ele mandou
não posso menos fazer. Esta carta vem d’Além,
865 Inês Pois que te dá de comer, creo que é de meu senhor.
faze o que t’encomendou. Inês Mostrai cá, meu guarda-mor,
Moço Vós fartai-vos de lavrar, veremos o que i vem.
eu me vou desenfadar
com essas moças lá fora. Lê o sobrescrito.
870 Vós perdoai-me, senhora,
porque vos hei-de fechar. 905 «À mui prezada senhora
Inês Pereira da Grã,
Aqui fica Inês Pereira só, fechada, lavrando e can- a senhora minha irmã».
tando esta cantiga: De meu irmão... Venha embora!
Quem bem tem e mal escolhe Moço Vosso irmão está em Arzila?
por mal que lhe venha não s'anoje. 910 Apostarei que i vem
nova de meu senhor também.
Renego da discrição, Inês Já ele partio de Tavila?
875 comendo ò demo o aviso, Moço Há três meses que é passado.
que sempre cuidei que nisso Inês Aqui virá logo recado
estava a boa condição. 915 se lhe vai bem, ou que faz.
Cuidei que fossem cavaleiros, Moço Bem pequena é a carta assás!
fidalgos e escudeiros, Inês Carta de homem avisado…
880 não cheos de desvarios,
e em suas casas macios, Lê Inês Pereira a carta, a qual diz:
e na guerra lastimeiros7.
«Muito honrada irmã,
Vede que cavalarias, esforçai o coração8
vede que já mouros mata 920 e tomai por devação9
885 quem sua mulher mal trata de querer o que Deus quer.»
sem lhe dar de paz um dia! E isto que quer dizer?
E sempre ouvi dizer «E não vos maravilheis
que homem que isto fizer de cousa que o mundo faça,
nunca mata drago em vale, 925 que sempre nos embaraça
890 nem mouro que chamem Ale: com cousas. Sabei que indo
e assi deve de ser. vosso marido fugindo
da batalha pera a vila,
a mea légua de Arzila,
6
os rendimentos (em sentido irónico); 7 cruel, desapiedado; 930 o matou um mouro pastor».
8
sede forte; 9 devoção. Moço Oh meu amo e meu senhor!
116
Farsa de Inês Pereira
10
manhoso; 11 hipócrita.
PROFESSOR
Educação Literária
C. Inês é vigiada pelo . Inês cumpre as indicações do
14.2; 14.3; 14.4; 14.7
seu marido. Contudo,
. 1.
A. arrogante e mesquinho,
desprezando o papel de Inês
enquanto mulher; tranca as
janelas e impõe-lhe regras
de comportamento. Manifesta
a intenção de se fazer cavaleiro
D. A chegada de uma carta anuncia a morte do Escudeiro, quando no Norte de África.
B. aceita as regras impostas
. e não manifesta intenções
de se livrar do casamento.
C. Moço. […] escrupulosamente
[…] mostra-se agastada com a
situação e tece considerações
sobre o modelo de marido que
agora deseja.
D. fugia cobardemente
E. A morte do Escudeiro origina . do campo de batalha.
E. a libertação de Inês.
117
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LEITURA
118
Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR
Leitura
Noutros tempos, casava-se por conveniência e para não se ficar sozinho. Hoje, regra 7.2; 7.4; 8.1; 9.1
35 geral, casa-se por amor, escolhe-se o parceiro. […] O lado biológico, a forma como nos da-
mos com o outro neste aspeto, é muito importante. 1. A mudança de atitude
Mas, segundo a psicoterapeuta, o mais importante numa relação de hoje é as pessoas perante o casamento,
nomeadamente no que
sentirem que o outro está lá para elas, ao nível da compreensão emocional. Os homens já não se refere ao prazer;
representam “a segurança, nomeadamente material. Já não são a coluna vertebral de apoio”. a independência económica
e o casamento por amor.
40 Elas já não os querem com estes atributos, nem precisam. Emanciparam-se! […] De qualquer 2. As relações mais distantes
forma, a gestão desta economia no passado nunca passava pela mulher, era o homem que temporalmente aconteciam
por conveniência, duravam
a fazia, que ditava as regras também neste campo. E delas não se esperava que dessem opi- mais, uma vez que a relutância
nião, nem que manifestassem qualquer necessidade. em pôr fim ao relacionamento
era maior, em virtude da falta
Nas últimas décadas, as mulheres portuguesas ganharam independência económica de independência económica
45 e o direito de se expressar. E, com estas conquistas, o casamento nunca mais foi o que era. da mulher e da submissão
à vontade do homem, o que
E alguns homens têm medo disso, assegura Rita Duarte. “Sentem-se mesmo ameaçados não acontece no presente.
com o poder que elas têm.” No entanto, atualmente,
o fim das relações também é
Máxima, edição online (consultado em fevereiro de 2017). mais rápido do que o desejável
(apesar do casamento por
amor), em virtude da falta de
paciência e de comunicação.
3. A afirmação evidencia
1. Indique as causas das mudanças comportamentais patentes nos relacionamentos a autoridade e a supremacia
amorosos contemporâneos. do homem na relação
matrimonial, remetendo
2. Caracterize, comparando, as uniões mais recentes e as que “funcionaram” durante também para uma sociedade
predominantemente
séculos. patriarcal.
4.
3. Explique o sentido da afirmação “Antigamente também não havia negociação pos- a. A arrogância do Escudeiro
sível” (l. 27). e o modo como “aniquila” a
vontade de Inês.
4. Associe as seguintes afirmações do texto a factos do casamento de Inês Pereira b. Inês casa com o Escudeiro,
procurando obter assim
com o Escudeiro. a emancipação e a ascensão
social.
a. “Antigamente também não havia negociação possível.” (l. 27) c. e d. Novamente a atitude
do Escudeiro, nomeadamente
b. “Noutros tempos, casava-se por conveniência e para não se ficar sozinho.” (l. 34) na seguinte réplica “Vós não
haveis de mandar / em casa
c. “De qualquer forma, a gestão desta economia no passado nunca passava pela mu- somente um pelo. / Se eu
lher, era o homem que a fazia, que ditava as regras também neste campo.” (ll. 40-42) disser: – isto é novelo – / havei-
-lo de confirmar.” (vv. 826-829)
d. “E delas não se esperava que dessem opinião, nem que manifestassem qualquer
necessidade.” (ll. 42-43) Gramática
18.1; 18.4
GRAMÁTICA
1.1
a. Oração subordinada
1. Atente nos seguintes excertos. (adverbial) temporal
b. Oração subordinada
a. “Nada ficou como antes depois de as mulheres terem conquistado o mercado (adjetiva) relativa (restritiva)
de trabalho”. (ll. 1-3) c. Oração subordinada
(adverbial) condicional
b. “… extingue-se a fórmula que funcionou durante séculos”. (ll. 10-11) 1.2 Caso duas pessoas morem
c. “se duas pessoas moram debaixo do mesmo teto, é impossível não terem áreas debaixo do mesmo teto, …
1.3 Sujeito (simples)
de atrito.” (ll. 32-33)
1.1 Classifique a oração subordinada presente em cada uma das frases.
1.2 Substitua o conector “se” na frase c. por “caso” e reescreva a frase, procedendo
às alterações necessárias.
BLOCO INFORMATIVO –
1.3 Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte “Nada” na frase a. pp. 277, 271-273
119
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E S C R I TA
APRECIAÇÃO CRÍTICA
Um texto de apreciação crítica centra-se na apreciação de um filme, de um livro,
de uma peça de teatro, de uma obra de arte, etc. Para tal, expõe informação significa-
tiva, encadeada logicamente, sobre o objeto visado e associa-lhe um comentário críti-
co, orientado numa perspetiva positiva ou negativa. Apresenta, ainda, uma descrição
sucinta e um comentário crítico sobre o tema/objeto em causa.
TÍTULO
com recurso
à adjetivação para
Um jantar envenenado
captar a atenção.
120
Farsa de Inês Pereira
Introdução:
• apresentação sucinta e valorativa do objeto, com recurso a linguagem expressiva de-
nunciadora da posição pessoal.
Desenvolvimento:
• informações sobre o objeto, seu conteúdo, características (físicas ou outras);
• comentário crítico valorativo;
• apresentação dos argumentos que sustentam a opinião crítica.
Conclusão:
• síntese da informação mais importante.
PROFESSOR
121
v Processos irregulares de formação de palavras
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T O léxico de uma língua refere-se ao conjunto de palavras, ou unidades de sentido, que dela
R
APL ICA fazem parte. Por vezes, torna-se necessário criar novas palavras, o que pode ser alcançado
através de processos regulares (derivação e composição) ou através de processos irregulares,
como os que a seguir se apresentam.
122
APLICAR
A.
Na maioria dos Estados-membros na UE, há mais jovens a viverem com os pais agora do
que em 2007, ano a que se reportava a anterior publicação da European Foundation for the
Improvement of Living and Working Conditions [...].
Visão, edição online, 3 de junho de 2014 (consultado em junho de 2014).
B.
C.
PROFESSOR
Os problemas que, no último mês, têm afetado os tribunais, por via das falhas na plata-
forma informática Citius, vão agravar a falta de confiança na Justiça, prevê o presidente do Gramática
Supremo Tribunal de Justiça. 19.6; 19.7
D. Processo
Palavra
de formação
A Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN (que, em inglês, é NATO: North
Atlantic Treaty Organization), é uma instituição militar criada durante o contexto inicial da UE Sigla
Guerra Fria […]. Internet Empréstimo
mundoeducacao.com/geografia/otan.htm (consultado em fevereiro de 2017, adaptado). Extensão
Rede
semântica
Extensão
1.1 Retire, dos textos, os vocábulos que configuram processos irregulares de formação de Plataforma
semântica
palavras. Informática Amálgama
1.2 Associe cada um dos vocábulos ao respetivo processo de formação. OTAN/NATO Acrónimo
123
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Leia a passagem textual em que Lianor Vaz propõe novamente a Inês o casamento
com Pero Marques e tome conhecimento do que sucede de seguida.
Aqui vem Lianor Vaz, e finge Inês Pereira estar Vem Lianor Vaz com Pero Marques e diz Lianor Vaz:
chorando, e diz Lianor Vaz:
No mais cerimónias agora;
950 Lia. Como estais, Inês Pereira? abraçai Inês Pereira
Inês Muito triste, Lianor Vaz. por mulher e por parceira.
Lia. Que fareis ao que Deos faz? Pero Há homem empacho, má ora,4
Inês Casei por minha canseira. 990 quant’a dizer abraçar…
Lia. Se ficastes prenhe basta. Depois que a eu usar
955 Inês Bem quisera eu dele casta, entonces poderá ser.
mas não quis minha ventura. Inês (Não lhe quero mais saber,
Lia. Filha, não tomeis tristura, já me quero contentar...)
que a morte a todos gasta. 995 Lia. Ora dai-me essa mão cá.
O que havedes de fazer?... Sabeis as palavras, si?
960 Casade-vos, filha minha. Pero Ensinaram-mas a mi,
Inês Jesu, Jesu! Tão asinha? perém esquecem-me já...
Isso me haveis de dizer? Lia. Ora dizei como digo.
Quem perdeo um tal marido, 1000 Pero E tendes vós aqui trigo
tão discreto e tão sabido, pera nos jeitar por cima?5
965 e tão amigo de minha vida? Lia. Inda é cedo... Como rima!6
Lia. Dai isso por esquecido, Pero Soma, vós casais comigo,
e buscai outra guarida.
e eu com vosco, pardelhas!7
Pero Marques tem, que herdou, 1005 Não compre aqui mais falar.
fazenda de mil cruzados. E quando vos eu negar
970 Mas vós quereis avisados... que me cortem as orelhas.
Inês Não! Já esse tempo passou. Lia. Vou-me, ficai-vos embora.
Sobre quantos mestres são Inês Marido, sairei eu agora,
experiência dá lição. 1010 que há muito que não saí?
Lia. Pois tendes esse saber, Pero Si, mulher, saí-vos i,
975 querei ora a quem vos quer, qu’eu me irei pera fora.
dai ò demo a opinião. Inês Marido, não digo isso.
Vai Lianor Vaz por Pero Marques, e fica Inês Pereira
Pero Pois que dizeis vós mulher?
só, dizendo:
1015 Inês Ir folgar onde eu quiser.
Andar1! Pero Marques seja. Pero I onde quiserdes ir,
Quero tomar por esposo vinde quando quiserdes vir
quem se tenha por ditoso estai quando quiserdes estar.
980 de cada vez que me veja. Com que podeis vós folgar
Por usar de siso mero2, 1020 qu’eu não deva consentir?
asno que me leve quero,
1
e não cavalo folão3. adiante; 2 para proceder com todo o juízo; 3 fogoso; 4 sente-se um
homem atrapalhado, que diabo!; 5 alusão a um antigo costume de
Antes lebre que leão,
lançar grãos de trigo sobre os noivos; 6 que disparate; 7 (o mesmo
985 antes lavrador que Nero. que pardeos) interjeição “por Deus!”.
124
Farsa de Inês Pereira
Vem um Ermitão a pedir esmola, que em moço lhe Inês Olhai cá, marido amigo,
quis bem, e diz: 1065 eu tenho por devação
dar esmola a um ermitão.
Señores, por caridad E não vades vós comigo.
dad limosna8 al dolorido, Pero I-vos embora9, mulher,
ermitaño de Cupido não tenho lá que fazer.
para siempre en soledad.
1025 Pues su siervo soy nacido, [Inês fala a sós com o Ermitão]
por exemplo,
me meti en su santo templo 1070 Inês Tomai a esmola, padre, lá,
ermitaño en pobre ermita, pois que Deos vos trouxe aqui.
fabricada de infinita Erm. Sea por amor de mi
1030 tristeza en que contemplo, vuesa buena caridad.
125
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Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica
Inês Jesu, Jesu! Manas minhas! Pero Que quereis, minha mulher?
1085 Sois vós aquele que um dia Inês Que houvésseis por prazer
em casa de minha tia de irmos lá em romaria.
me mandastes camarinhas,
e quando aprendia a lavrar 1115 Pero Seja logo, sem deter.
mandáveis-me tanta cousinha? Inês Este caminho é comprido...
1090 Eu era ainda Inesinha, Contai ũa estória, marido.
não vos queria falar. Pero Bofá12 que me praz, mulher.
Inês Passemos primeiro o rio.
Erm. Señora, tengoos servido, 1120 Descalçai-vos.
y vos a mi despreciado; Pero E pois como?
hazed que el tiempo pasado Inês E levar-me-eis no ombro,
1095 no se cuente por perdido. não me corte a madre13 o frio.
Inês Padre, mui bem vos entendo…
Ò demo vos encomendo, Põe-se Inês Pereira às costas
que bem sabeis vós pedir! do marido, e diz:
Eu determino lá d'ir
Marido, assi me levade.
1100 à ermida, Deos querendo.
1125 Pero Ides à vossa vontade?
Inês Como estar no paraíso!
Erm. E quando?
Pero Muito folgo eu com isso.
Inês I-vos, meu santo,
Inês Esperade, ora esperade!
que eu irei um dia destes
Olhai que lousas aquelas,
muito cedo, muito prestes.
1130 pera poer14 as talhas nelas!
1105 Erm. Señora yo me voy en tanto.
Pero Quereis que as leve?
Inês Si.
[Inês torna para Pero Marques]
Ua aqui e outra aqui.
Oh como folgo com elas!
Inês Em tudo é boa a concrusão.
Marido, aquele ermitão
1135 Cantemos, marido, quereis?
é um anjinho de Deos...
Pero Eu não saberei entoar…
Pero Corregê-vos esses véos,10
Inês Pois eu hei só de cantar
1110 e ponde-vos em feição.11
E vós me respondereis
Inês Sabeis vós o que eu queria?
cada vez que eu acabar:
1140 «pois assi se fazem as cousas».
10
componde esses véus; 11 para parecer bonita; 12 interjeição (na verdade); 13 útero; 14 pôr.
126
Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR
Canta Inês Pereira: Inês Bem sabedes vós marido
quanto vos quero. Educação Literária
14.5; 14.7; 14.11; 15.1
Marido cuco me levades. Sempre fostes percebido 1.
E mais duas lousas. pera cervo. a. vv. 950-976
b. Preparada para casar
Pero Pois assi se fazem as cousas. 1155 Agora vos tomou o demo novamente, seja com quem for,
com duas lousas. pois aprendeu a lição.
c. vv. 977-985
Inês Bem sabedes vós, marido, Pero Pois assi se fazem as cousas. d. Astuta, reconhecendo no
1145 quanto vos amo: Ermitão um antigo namorado
e vendo nele a possibilidade de
sempre fostes percebido15 E assi se vão, e se acaba o dito Auto. gozar a liberdade de que havia
pera gamo.16 estado privada durante
o casamento com o Escudeiro.
Carregado ides, noss'amo, e. Lisonjeiro, mas mantendo o
com duas lousas. 15 caráter rude que o caracteriza.
sempre tivestes inclinação; 16 o cervo, ou gamo, f. vv. 986-1008
1150 Pero Pois assi se fazem as cousas. é como o cuco: um símbolo do marido traído. g. Imbecil, tonto, carrega a
mulher às costas sem perceber
que esta está a pensar traí-lo.
1. Complete o seguinte quadro procedendo à caracterização das personagens Inês 2.
a. satírica (crítica)
Pereira e Pero Marques. b. cerimónia
c. questionar
d. linguagem (caráter)
Momento presente Versos e. Inês
Personagem Caracterização
no excerto exemplificativos f. significado
Dissimulada, falsamente g. cómica
No diálogo com 3. O argumento ilustra,
Inês pesarosa com a morte a.
Lianor Vaz metaforicamente, o percurso de
do escudeiro. Inês Pereira, que compreendeu
No monólogo Inês b. c. que o marido que mais favorece
os seus intentos será o boçal,
No diálogo com que não impede a satisfação
Inês d. vv. 1070-1105 dos seus desejos (o asno), e
o ermitão
não o cortês, que se tornou
Durante a cerimónia um obstáculo à sua forma de
Pero Marques e. f. ser (o cavalo). Perversa, Inês
de casamento
acaba por tornar o argumento
Imbecil, disposto literalmente real, obrigando
Quando fica a sós a satisfazer todos o marido a assumir o papel de
Pero Marques vv. 1009-1121 asno, carregando-a.
com Inês os desejos de Inês, sem
perceber a astúcia dela.
Quando cumpre
Pero Marques g. vv. 1122-1157
o desejo de Inês
2. Um dos artifícios a que Gil Vicente recorre para a caracterização das personagens,
nomeadamente, Pero Marques, é o cómico.
Preencha o texto seguinte, selecionando, entre as palavras abaixo propostas, as ade-
quadas, de modo a confirmar o recurso a este artifício e a(s) sua(s) intencionalida-
de(s).
• cómica • cerimónia • significado • questionar
• afirmar • Inês • satírica • linguagem • noivo
3. Relacione o final da farsa com o argumento “mais quero asno que me leve que
cavalo que me derrube”, explorando os seus significados.
127
GP ai ld Vr ei c Ae n t óe n i o V i e i r a
Caracterização das personagens | Relações entre personagens | Dimensão satírica
EXPRESSÃO ORAL
PROFESSOR
Observe atentamente a página de banda desenhada que se segue, retirada de uma
Oralidade edição da Farsa de Inês Pereira, ilustrada por Artur Correia.
5.1; 5.3; 6.1; 6.2; 15.7
1. A banda desenhada
representa o momento
do diálogo entre mãe e filha,
após esta ter rejeitado Pero
Marques.
2. O ilustrador consegue
destacar a preguiça e o
caráter sonhador de Inês
associando-a sempre à
cama. O olhar da jovem nas
primeira e terceira vinhetas é
também revelador desse lado
fantasioso.
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, ilustrada por Artur Correia, Lisboa, Bertrand Editora, 2006, p. 34.
128
Farsa de Inês Pereira
LEITURA
PROFESSOR
Leia atentamente o seguinte texto de apreciação crítica.
Leitura
7.1; 7.4; 7.6
1.
Um homem, uma mulher e um tribunal O filme israelita Gett:
O Processo de Viviane Amsalem
que trata de um divórcio difícil
para a mulher envolvida.
2. “Um espantoso retrato
Depois da sua apresentação na Mostra de Cinema e Cultura Ju- íntimo de um divórcio que
acabou por se transformar no
daica, Gett: O Processo de Viviane Amsalem chega às salas… Um centro de um debate
espantoso retrato íntimo de um divórcio que acabou por se na sociedade israelita.”
(ll. 2-4); “Há qualquer coisa de
transformar no centro de um debate na sociedade israelita. simultaneamente enigmático e
deslumbrante quando um filme
Há qualquer coisa de simultaneamente consegue colocar em cena uma
5
particularíssima situação (…)
enigmático e deslumbrante quando um fil- gerando um efeito universal e
me consegue colocar em cena uma particu- universalista”. (ll. 5-11)
in http://www.rtp.pt/cinemax/?t=um-homem-uma-mulher-e-um-tribunal.rtp&article=12041&vi-
sual=2&layout=35&tm=52 (adaptado, consultado em maio de 2017).
129
PA R A S A B E R Farsa de Inês Pereira
3.
1. 2.
Inês viúva e casada
Inês Solteira Inês casada com o Escudeiro
com Pero Marques
Apresentação
“Farsa de Inês Preguiçosa;
Pereira: Fases As suas intenções são goradas;
voluntariosa; anseia Maliciosa e adúltera;
da vida de Inês” é oprimida pelo Escudeiro;
pela libertação através desrespeita o marido ingénuo.
sofredora.
do casamento.
Amiga e conselheira;
Desaprova o casamento com
alerta a filha para os
o Escudeiro, mas aceita-o;
Mãe problemas que terá se
desaparece de cena no final
casar com um homem
da cerimónia do casamento.
“discreto”.
Apresentam a Inês um
homem, Brás da Mata,
Judeus
que corresponde
ao perfil desejado.
Homem de duplo
Intolerante e repressor; vai combater
caráter; antes de
Escudeiro no Norte de África, onde morre
casar, mostra-se
cobardemente.
adulador e simpático.
É sinal exterior de
aparente bem-
-estar financeiro
Fiel mandatário do amo, mantém Inês
do Escudeiro;
Moço presa, enquanto este combate
desempenha uma
no Norte de África.
função crítica e
irónica relativamente
ao seu amo.
130
REPRESENTAÇÃO DO QUOTIDIANO E DIMENSÃO SATÍRICA
Inês representa o tipo de moça solteira que pretende ascender socialmente através do casamento.
Para além disso, recusa o perfil de mulher doméstica da época, representado pela sua mãe. Mas…
• ao contrário das restantes personagens, cujo comportamento corresponde, de forma geral,
ao das classes sociais ou tipos que representam, Inês apresenta alguma evolução;
• persegue os seus ideais de libertação da monótona vida doméstica através do casamento,
casando com o escudeiro Brás da Mata, o que veio a revelar-se desastroso para si e para a sua
ambição;
• morto o Escudeiro, Inês aprende a lição e, mudando a opinião e a postura iniciais, aceita
o casamento com Pero Marques;
• no fim da ação, é esta personagem feminina quem “toma as rédeas” da vida conjugal;
• torna-se adúltera, sob o olhar ingénuo do marido, que não se apercebe da traição.
Como “a rir se castigam os costumes”, Gil Vicente recorre a artifícios, tais como a ironia
e o cómico, que contribuem para acentuar alguns traços das personagens a criticar.
Tipos de cómico
131
PA R A V E R I F I C A R Farsa de Inês Pereira
132
PROFESSOR
1.8 O homem que a jovem pretende e aceita para marido
[A] é galego, chama-se Brás da Mata e foi-lhe apresentado por duas amigas.
Teste interativo
[B] foi-lhe apresentado por dois judeus casamenteiros e chama-se Vilhacastim. “Gil Vicente”
[C] foi encontrado pelos judeus casamenteiros e é o escudeiro Brás da Mata.
Educação Literária
[D] é o fidalgo e músico de nome Badajoz. 14.3; 14.4 ; 14.7
1.1 [B]
2. Complete o texto, selecionando a opção que lhe permite recuperar o conteúdo
1.2 [C]
informativo da vida de Inês durante o casamento com Brás da Mata. 1.3 [A]
1.4 [B]
Antes do casamento, o Escudeiro fanfarrão, que tinha a. (muitos/poucos) ha- 1.5 [D]
veres, tece inúmeros b. (reparos/elogios) à donzela. A mãe de Inês, perspicaz, faz 1.6 [B]
considerações c. (agradáveis/negativas) sobre o pretendente. A boda acaba por se 1.7 [A]
1.8 [C]
realizar na presença de alguns amigos.
Após o casamento, o d. (rude/simpático) marido encerra Inês em casa, fechan- 2.
do todas as e. (janelas/arcas), antes de partir para o Norte de f. (África/ a. poucos
b. elogios
Portugal), para onde vai combater. c. negativas
Certo dia, a jovem recebe uma carta de seu g. (irmão/pai), anunciando d. rude
e. janelas
a morte do h. (esforçado/cobarde) escudeiro. A notícia deixa Inês muito
f. África
i. (entristecida/aliviada) com o desfecho do seu casamento. g. irmão
h. cobarde
3. Após a morte do Escudeiro, segue-se uma nova fase na vida de Inês. i. aliviada
Assinale as afirmações como verdadeiras ou falsas e corrija as falsas. 3.
a. F –Recebe a visita
a. Inês Pereira recebe a visita da Mãe e finge-se pesarosa com a morte de Brás da de Lianor Vaz.
Mata. b. V
c. F – Na presença de Lianor
b. Lianor Vaz propõe novamente a Inês o casamento com Pero Marques. Vaz somente.
d. F – Rude e pacóvio.
c. O casamento realiza-se sem demoras perante a Mãe, Lianor Vaz, Fernando e Luzia. e. F – Pero Marques incentiva
d. Ao longo de toda a cerimónia, são feitas várias sugestões sobre o caráter delicado Inês Pereira a sair e a divertir-se.
f. F – Sugere um encontro
e culto do abastado aldeão. amoroso entre ambos.
e. Após a boda, a jovem confessa a Pero Marques que gostava de sair e folgar, o que g. V
h. V
não é bem aceite pelo novo marido.
4.
f. Entretanto, um ermitão, antigo pretendente de Inês, visita-a e pede-lhe uma es- a. Antes de casar, Inês
mola. mostra-se muito exigente
em relação aos pretendentes,
g. Perante o desejo da mulher, de ir em romaria à ermida onde está o santo ermitão, não aceitando Pero Marques
que, embora seja um lavrador
Pero Marques, marido dedicado, prontifica-se a levá-la, para que possa cumprir abastado, não tem maneiras.
a sua devoção. b. Durante o casamento com
o Escudeiro, em virtude
h. Ao longo do percurso entoam uma cantiga onde se refere a traição de que o lavra- do comportamento arrogante
e castrador deste, vê-se
dor está a ser alvo. obrigada a permanecer
trancada em casa, sem poder
4. Avalie o comportamento de Inês em cada uma das três fases da sua vida. ter contacto com o exterior.
c. Casada com Pero Marques,
a. Antes de casar. Inês mostra-se altiva e traidora
e, de certa forma, vinga-se
b. Durante o casamento com o Escudeiro. do sofrimento que lhe fora
causado pelo primeiro marido,
c. Casada com Pero Marques. traindo o atual.
133
PA
C ORNAS OR LE ICDUAPRE R A RTítulo
Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR EXPRESSÃO ORAL
1. Exponha, em dois minutos, a relação entre o provérbio “Mais quero asno que me
Apresentação leve que cavalo que me derrube” e o assunto da Farsa de Inês Pereira.
Galeria de imagens
Apresentação
Síntese da Unidade EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Teste interativo
Farsa de Inês Pereira 1. Tendo em consideração o estudo de Gil Vicente e da Farsa de Inês Pereira, indique
se as afirmações que se seguem são verdadeiras ou falsas. Corrija as falsas sem
Expressão oral
recorrer à negativa.
1. Itens a considerar
na resposta: a. Gil vicente situa-se num período de transição entre a Idade Média e o Renasci-
– primeiro casamento de
Inês Pereira com o escudeiro mento.
(“cavalo” que a derruba);
– vida de casada b. O dramaturgo adquiriu na corte uma situação de prestígio que lhe permitiu to-
enclausurada; das as liberdades de escrita.
– segundo casamento, após
morte do escudeiro, com Pero c. As peças de Gil Vicente criticam exclusivamente as classes sociais mais baixas.
Marques (“o asno” que a leva),
domínio de Inês Pereira; d. A Farsa de Inês Pereira baseia-se num episódio religioso.
– perversidade da personagem
que obriga o marido a carregá- e. A jovem, pertencente à nobreza, idealiza um casamento que lhe permite emanci-
-la às costas, quando se dirige par-se.
para o encontro adúltero com
o ermitão. f. Pero Marques é subserviente, simplório e deselegante.
g. O escudeiro é leal, valente e generoso.
Educação literária
1. h. Todas as personagens da farsa são estáticas e, por isso, personagens-tipo.
a. V
b. F – Muitas liberdades de i. Os apartes proferidos pelos judeus casamenteiros e pelo Moço ajudam a carac-
escrita. terizar o Escudeiro.
c. F – Todas as classes sociais.
d. F – Num episódio profano/ j. A Farsa de Inês Pereira é um texto dramático que está dividido em atos e cenas.
do quotidiano.
e. F – Pertencente ao povo.
f. V 2. Associe cada uma das afirmações que se seguem a uma personagem da obra.
g. F – Desleal, cobarde
e egoísta. a. Representante dos fidalgos pelintras que pretende obter vantagens económicas
h. F – Inês é também
personagem modelada, através do casamento com Inês.
que apresenta evolução.
i. V b. Homem rude, simples, disposto a satisfazer todos os caprichos de Inês.
j. F – Que está dividido em
quadros.
c. Jovem que pretende, através do casamento, libertar-se da vida rotineira das mulhe-
2. res do seu tempo.
a. Escudeiro, Brás da Mata
b. Pero Marques
d. Mulher do povo, sensata, que aconselha Inês, mas, abdicando da sua autoridade,
c. Inês Pereira deixa-a fazer as suas próprias escolhas.
d. Mãe
e. Lianor Vaz e. Mulher do povo que desempenha uma função vulgar na época: a de arranjar marido
f. Judeus casamenteiros para as raparigas casadoiras.
g. Ermitão
h. Moço f. Personagens estereotipadas, interesseiras e astutas, que desempenham a função
de medianeiros entre o Escudeiro e Inês.
g. Personagem que simboliza a liberdade conquistada por Inês com o seu casamento
com Pero Marques.
h. Personagem secundária que ajuda a caracterizar o Escudeiro e provoca o cómico
na peça.
134
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR
GRUPO I
Leia o seguinte excerto, transcrito da Farsa de Inês Pereira. Em caso de necessidade, Apresentação
Soluções Ficha de
consulte as notas apresentadas. avaliação
GRUPO I
Vem a Mãe, e, não na achando lavrando, Mãe Ora espera, assi vejamos.
diz: 20 Inês Quem já visse esse prazer! Educação Literária
Mãe Cal'te, que poderá ser, 14.2; 14.3; 14.7; 14.9; 15.1;
15.2
Logo eu adevinhei que «ante a Páscoa vem os Ramos.» 1. No monólogo que inicia a
lá na missa onde eu estava, Não te apresses tu, Inês. farsa, Inês lamenta-se pelo
facto de estar fechada em
como a minha Inês lavrava «Maior é o ano que o mês»: casa a costurar e afirma que
a tarefa que lhe eu dei... 25 quando te não precatares, terá de arranjar solução para
sair daquela vida de cativeiro.
5 Acaba esse travesseiro! virão maridos a pares, Abandona, então, o trabalho
Hui! naceo-te algum unheiro? e filhos de três em três. que a Mãe lhe ordenara para
fazer. Por isso, quando esta
Ou cuidas que é dia santo? volta da missa, vê que Inês não
Inês Praza a Deos que algum quebranto Inês Quero-m'ora alevantar. cumprira a tarefa que lhe dera
Folgo mais de falar nisso e repreende-a de forma irónica.
me tire de cativeiro. 2. A Mãe adota, neste excerto,
30 − assim Deos me dê o paraíso, − uma atitude severa em relação
10 Mãe Toda tu estás aquela…1 mil vezes que não lavrar. à filha, devido à sua preguiça
(“Acaba esse travesseiro!”,
Choram-te os filhos por pão? Isto não sei que o faz... v. 5), demonstrando uma grande
Inês Prouvesse a Deos! Que já é rezão Mãe Aqui vem Lianor Vaz. sensatez, que advém da sua
experiência (“Não te apresses tu
de eu não estar tão singela2. Inês E ela vem-se benzendo... Inês, / ‘Maior é o ano que
o mês’”, vv. 23-24), servindo-se
Mãe Olhade lá o mao pesar…3 também da ironia para
Como queres tu casar 1 aconselhar a filha (“Olhade ali o
15 Hoje dir-se-ia “lá estás tu…”; 2 sozinha,
mau pesar…”, v. 14).
com fama de preguiçosa? solteira; 3 “vejam que desgraça…”(ironia); 3. Logo no início do excerto,
Inês Mas eu, mãe, são aguçosa4 4
diligente; a Mãe revela-se irónica ao dizer
e vós dais-vos de vagar. “Logo eu adivinhei / lá na missa
onde eu estava, / como a minha
Inês lavrava / a tarefa que eu
lhe dei…” (vv. 1-4). Nesta fala, a
mãe quer mostrar à filha que a
conhece muito bem e que sabe
perfeitamente que ela não iria
cumprir a tarefa. Diz,
Apresente, de forma estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. no entanto, o contrário, de
forma irónica, para mostrar
1. Justifique a primeira fala da Mãe, tendo em conta o monólogo de Inês que antece- a sua experiência e a sua
de este diálogo. autoridade. (Há também ironia
na estrofe seguinte).
2. Apresente três traços caracterizadores da Mãe, fundamentando a resposta com 4. A penúltima fala reforça a
elementos textuais. caracterização de Inês como
insensata e leviana, acentuando
3. Transcreva do texto um exemplo da ironia empregue pela Mãe e explique-o. o seu objetivo de casar para
poder mudar de vida (“assi
4. Explicite o sentido da penúltima fala de Inês. Deos me dê o paraíso”, v. 30),
achando que essa situação
seria bem melhor que ficar em
5. Apresente uma razão para o facto de Gil Vicente não ter atribuído à personagem da
casa a “lavrar”, tarefa que lhe
Mãe um nome próprio, justificando a sua resposta com base na sua atuação neste desagrada.
excerto. 5. Esta personagem não
tem nome próprio, pois é
uma personagem-tipo que
representa todas as mães.
É a voz da experiência, da razão,
aconselhando a filha a seguir
o caminho que lhe parece o
mais correto. Neste excerto, a
Mãe pretende chamar a atenção
de Inês para a sua preguiça
e refrear a sua ânsia em casar.
135
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Farsa de Inês Pereira
PROFESSOR GRUPO II
GRUPO II
1. Atente nas seguintes frases.
Gramática a. A protagonista Inês Pereira surge, num monólogo inicial, a maldizer a sua vida.
18.1; 18.4; 17.5
b. A jovem, pertencente ao povo, idealiza um casamento que lhe permita emancipar-se.
1. 1
a. Modificador c. Inês revolta-se com a vida que leva e sonha que só o marido ideal a libertará.
b. Modificador do nome
apositivo; complemento d. O primeiro pretendente de Inês é-lhe apresentado por Lianor Vaz.
indireto
c. Complemento oblíquo e. Pero Marques, o aldeão, propõe casamento a Inês, mas esta recusa.
d. Complemento agente
da passiva f. Lianor Vaz é uma alcoviteira, que fora vítima das investidas de um padre, quando se
e. Complemento indireto dirigia para casa de Inês.
f. Predicativo do sujeito;
complemento oblíquo g. Inês Pereira acaba por casar com o escudeiro Brás da Mata, que lhe vai proporcionar
g. Modificador de nome
restritivo
uma vida muito infeliz.
h. Predicado h. Embora recuse inicialmente a proposta de casamento com Pero Marques, Inês aca-
1.2
[A] – [2]; [B] – [4]; [C] – [3]; ba por casar com ele.
[D] – [1]; [E] – [5]; [F] – [3]
2. Campo lexical
1.1 Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinha-
3. proposta (casamento); dos.
inicialmente, embora
1.2 Classifique as orações presentes na coluna A, retiradas das frases acima, assina-
GRUPO III lando o número que lhes corresponde na coluna B.
Escrita
10.2; 11.2; 12.1; 12.2; 12.3; Coluna A Coluna B
12.4; 13.1
[A] “que lhe permita emancipar-se.” [1] Oração subordinada adverbial temporal
Proposta de escrita:
A Farsa de Inês Pereira retrata [B] “que só o marido ideal a libertará.”
o quotidiano de uma jovem [2] Oração subordinada adjetiva relativa
do povo, mas remediada, [C] “que fora vítima das investidas restritiva
que pretende ascender de um padre.”
socialmente. De um forma [3] Oração subordinada adjetiva relativa
divertida, mas com objetivo [D] “quando se dirigia para casa de Inês.” explicativa
moral, Gil Vicente relata-
nos os dois casamentos de [E] “Embora recuse inicialmente a proposta [4] Oração subordinada substantiva
Inês, que vê no matrimónio a completiva
possibilidade de se libertar
de casamento com Pero Marques”
da vida rotineira de solteira, [F] “que lhe vai proporcionar uma vida [5] Oração subordinada adverbial
típica das mulheres do seu muito infeliz.” concessiva
tempo.
Presa em casa pelo primeiro
marido, acaba por se vingar
no segundo casamento,
cometendo adultério, com 2. Indique a relação semântica que se estabelece entre as palavras “casamento”,
um ermitão, o que também “noivo”, “noiva”, “cerimónia” e “alianças”.
constitui crítica social aos
membros do clero, que não 3. Retire da frase h. um nome comum, um advérbio e uma conjunção.
levavam a vida regrada que a
sua vocação exigia.
Com Lianor Vaz e os dois GRUPO III
judeus, Gil Vicente expõe
uma situação social bastante
frequente na época: muitos A FARSA é um género do modo dramático com características satíricas que, retratando
casamentos eram arranjados o quotidiano, pretende pôr em relevo problemas sociais.
por terceiros, profissionais
casamenteiros, daí a presença Num texto expositivo, entre 120 a 150 palavras, comprove a veracidade da afirmação
da alcoviteira e dos dois anterior, relacionando-a:
judeus que desempenham
essa função. • com episódios do quotidiano da vida de Inês;
Verificamos, assim, como
esta farsa é um excelente • com a função de Lianor Vaz e dos Judeus.
testemunho duma época, em
certos aspetos, distante da Dê uma estrutura tripartida ao seu texto (introdução, desenvolvimento, conclusão).
nossa.
(149 palavras)
136
MÓDULO
2
2. Luís de Camões, Rimas
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Rimas
· A representação da amada
· A experiência amorosa e reflexão sobre o amor
· A representação da Natureza
· A reflexão sobre a vida pessoal
· O tema da mudança e do desconcerto
Leitura
Apreciação crítica
Exposição sobre um tema
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Apreciação crítica [Compreensão/Expressão Oral]
Anúncio publicitário [Compreensão do Oral]
Gramática
· Subordinação
· Classes de palavras
· Funções sintáticas
· Referente
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
Gil Vicente PARA CONTEXTUALIZAR
Atente nos seguintes aspetos, para melhor compreender as transformações que ocor-
rem nesta época, bem como o autor que irá ser objeto de estudo.
138
PARA INICIAR
Visualize e escute atentamente o excerto fílmico relativo à vida e obra de Luís Vaz de
Camões. Link
"Quem és tu,
Luís Vaz?"
1. Complete cada alínea da coluna A com a opção correta da coluna B.
Oralidade
1.1; 1.4
Coluna A Coluna B
1.
[A] As visitas de estado a Portugal [1] porque é do protocolo prestar homenagem [A] – [1]
começam todas no Mosteiro dos a Camões. [B] – [2]
[C] – [1]
Jerónimos, [2] porque o primeiro-ministro valoriza este [D] – [1]
monumento nacional. [E] – [2]
[F] – [2]
[B] Há poucos dados sobre a vida [G] – [1]
[H] – [1]
do poeta nacional, [1] porque muitos documentos desapareceram [I] – [1]
no mar. [J] – [2]
[2] logo, é necessário viajar no tempo até à
sociedade quinhentista.
[C] Na época em que o poeta nasceu,
[H] São muitos os lugares em Portugal [1] ser um homem instruído e muito culto.
em que se assume [2] escrever sobre o rio Mondego, quando
visitava o tio.
[I] A possibilidade de Camões ter vivido
em Coimbra justifica-se pelo facto [1] que tinha uma profunda erudição, sendo
de o poeta principalmente conhecido nas casas nobres
da Europa.
[2] que revelava um conhecimento profundo
[J] Não há dúvida de que o príncipe dos da literatura clássica e dos homens
poetas portugueses era um homem de letras italianos.
139
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
PARA DESENVOLVER
INFORMAR
PROFESSOR
Leia os seguintes tópicos e resolva a atividade proposta abaixo.
Leitura
7.1; 7.4; 8.1
Educação Literária
Lírica tradicional e renascentista
14.8; 14.10; 16.1
Medida velha Medida nova
[A] – [2]
• Poesia lírica tradicional ou poesia em • Sá de Miranda introduz em Portugal a medida
[B] – [4]
redondilha, existente nos cancioneiros nova, ou seja, o decassílabo, formas fixas,
[C] – [1]
[D] – [3]
peninsulares ao longo do século XV e grande como o soneto, e uma série de subgéneros
[E] – [6] parte do século XVI. líricos, como a elegia ou a écloga.
• Medida que se mantém, continuando • A introdução destas novidades “representava
a ser usada pelos poetas do século XVI, o abraçar dos ideais do humanismo,
em alternância com o verso decassilábico. a redescoberta dos Antigos, a cultura
Construído a partir de José Augusto Cardoso do Renascimento, em suma”.
Bernardes, "Medida velha", in Vítor Aguiar e Construído a partir de Maria Vitalina Leal de
Silva (coord.), Dicionário de Luís de Camões, Matos, "Sá de Miranda", in Vítor Aguiar e Silva
Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 579. (coord.), Dicionário de Luís de Camões, Alfragide,
• As composições poéticas denominadas Editorial Caminho, 2011, pp. 887-888.
redondilhas apresentam versos de cinco • Soneto: forma fixa constituída por catorze
sílabas métricas (redondilha menor ou versos decassilábicos, distribuídos em
pentassílabo) ou sete sílabas métricas duas quadras e dois tercetos. As duas
(redondilha maior ou heptassílabo) e podem primeiras apresentam rimas emparelhadas e
ter as seguintes denominações: interpoladas, segundo o esquema abba/abba;
– vilancete: com mote1 de dois ou três versos os segundos apresentam maiores
(geralmente heptassílabos) e uma glosa2 possibilidades combinatórias, destacando-se
de uma ou duas estrofes (normalmente os esquemas do tipo cde/cde e cdc/dcd.
sétimas); • No soneto privilegia-se a expressão lírica da
– cantiga: com mote de quatro versos e uma experiência vivencial de um emissor.
glosa de uma ou mais estrofes (de 8, 9 ou • Na produção sonetista camoniana
10 versos); toma-se como tema principal o Amor,
1
estrofe curta introdutora – esparsa: composta por uma única estrofe representado nas suas mais diversas formas
do assunto do poema (de 8 a 10 versos); e manifestações.
2
estrofe que se segue ao mote – trovas ou endechas: sem mote, com uma
Elaborado a partir de Micaela Ramon,
e que desenvolve o tema ou mais estrofes (quadras ou oitavas). "Sonetos", in vítor Aguiar e Silva (coord.),
neste apresentado
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide,
Caminho, 2011, p. 905.
Coluna A Coluna B
[A] As formas poéticas da medida velha [1] por Sá de Miranda.
apresentam
[2] versos em redondilha maior e menor.
[B] Apesar da introdução do verso
decassilábico, os poetas de Quinhentos [3] por duas quadras e dois tercetos,
continuaram compostos por versos decassilábicos.
[C] O soneto petrarquista foi introduzido em
[4] a usar o verso tradicional.
Portugal
[5] por um mote e glosas.
[D] O soneto é uma forma fixa constituída
[6] esquemas rimáticos variáveis.
[E] No soneto, os tercetos apresentam [7] sempre o mesmo esquema rimático.
140
Rimas
A representação da amada
INFORMAR PROFESSOR
Leitura
Leia os tópicos relativos à temática "a representação da amada" e resolva a atividade 7.1; 7.4; 8.1
proposta. Educação Literária
14.3; 14.4; 14.7; 15.1; 16.1
Elaborado a partir de Helena Langrouva, “Camões e as artes”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 113.
141
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
PROFESSOR
Propõe-se o estudo das Rimas, de Luís de Camões, de acordo com as linhas temáticas.
Educação Literária O primeiro tema em análise é a representação da amada.
14.2; 14.3; 14.4; 14.8;
14.9; 14.10; 15.1; 16.1
Ondados fios d’ ouro reluzente
1.1
a. “sobre as rosas estendidos” Ondados fios d’ouro reluzente,
b. Olhos
c. Brilho do olhar que agora da mão bela recolhidos,
d. “perlas” agora sobre as rosas estendidos,
e. Lábios
f. Cor viva dos lábios fazeis que sua beleza s’ acrecente;
1.2 Metáfora.
2.1 O sujeito poético evidencia 5 olhos, que vos moveis tão docemente,
a serenidade, a honestidade,
a delicadeza e a timidez em mil divinos raios encendidos,
da mulher amada. se de cá me levais alma e sentidos,
3. A composição tem duas que fôra, se de vós não fôra ausente?
quadras e dois tercetos, com
versos decassilábicos (“On/da/
dos/fi/os/d’ou/ro/re/lu/ Honesto riso, que entre a mor fineza
zen/[te]”).
10 de perlas e corais nasce e parece,
se n’ alma em doces ecos não o ouvisse!
Significado da associação
Partes do corpo Elementos naturais entre as partes do corpo
e os elementos naturais
Cabelos Ouro (“fios d'ouro reluzente”) O louro e o brilho dos cabelos
Faces a. Tom rosado das faces
b. “mil divinos raios encendidos” c.
Dentes d. Dentes brancos/perfeitos
e. "corais" f.
1.2 Identifique o recurso expressivo que permite estabelecer a relação entre a beleza
da mulher e os elementos naturais.
2. Além das características físicas realçadas no texto, o sujeito poético salienta tam-
bém traços psicológicos da mulher amada.
2.1 Refira dois desses traços, fundamentando a sua resposta com versos do poema.
142
Rimas
5. Estabeleça uma relação entre esta composição poética e o soneto “Ondados fios
d’ouro reluzente” (p. 142), destacando uma diferença e uma semelhança existentes
entre eles.
143
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada
144
Rimas
CO M P R E E N S Ã O/ EX P R E SS Ã O O RA L PROFESSOR
BLOCO INFORMATIVO –
pp. 277, 260-266
145
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da amada
146
Rimas
1. Após a leitura do poema, assinale as seguintes afirmações como verdadeiras ou fal- PROFESSOR
sas. Corrija as falsas sem recorrer à negativa.
a. Na primeira estrofe, o termo “cativa” remete para a condição social da mulher
Oralidade
retratada. 1.1; 1.4; 1.5; 1.6; 4.2; 5.1;
5.3; 6.1; 6.2; 6.3
b. O sujeito poético considera-se um cativo, pois está preso na Índia.
c. Os olhos da mulher retratada são verdes como os campos.
d. Na segunda estrofe, o poeta serve-se da hipérbole para realçar as característi- Áudio + Link
“Endechas a Bárbara
cas excecionais da mulher amada. Escrava”
e. A mulher retratada corresponde aos padrões de beleza física da época renascen- Resposta de caráter pessoal.
tista. No entanto, o aluno poderá
referir-se ao ritmo lento
f. O sujeito poético traça apenas o retrato físico da mulher. a sugerir sentimentos
de saudade, dor, tristeza, que
g. A neve (quarta estrofe) surge associada por semelhança à cor da pele de Bárbara. vão ao encontro da definição
de “Endechas”.
h. Na utilização do adjetivo “bárbora” (quarta estrofe) há um jogo de palavras
com o nome próprio da mulher amada. Escrita
10.1; 10.2; 11.1; 12.1; 12.2;
i. Na última oitava, a palavra “pena” refere-se apenas ao instrumento de escrita. 12.3; 12.4; 13.1
j. O poema apresenta versos em redondilha maior.
Proposta de resolução:
Na sua obra, Camões descreve
CO M P R E E N S Ã O/ EX P R E SS Ã O O RA L a mulher segundo o modelo
petrarquista – loira, de pele
clara e olhar luminoso,
características que se
Acompanhe a leitura do poema com a audição da associam à serenidade e à
doçura do retrato. Poemas
interpretação de Sérgio Godinho. como “Ondados fios de ouro
reluzente” ou “Descalça vai
Faça, em 2-3 minutos, uma apresentação crítica para a fonte” traduzem este
tipo de beleza.
sobre os aspetos a seguir apresentados.
Contudo, Camões não é
• Caracterização do ritmo e da melodia da música. apenas um seguidor de
modelos clássicos. Pela
• Relação entre ritmo/melodia e designação da sua experiência, canta os
diferentes tipos de beleza
composição poética/conteúdo. feminina. Em “Endechas a
Bárbara escrava” descreve
• Expressão da opinião pessoal sobre a lingua- uma mulher de pele negra,
gem musical produzida por Sérgio Godinho. cabelos e olhos escuros, uma
ÁUDIO “cativa que o tem cativo”.
Sérgio Godinho
Concluindo, foi um poeta
"Endechas a Bárbara
que soube conjugar os ideais
escrava"
renascentistas com as suas
vivências, realizando uma obra
E S C R I TA ímpar que prima pela beleza e
originalidade.
147
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor
PROFESSOR INFORMAR
Educação Literária
14.3;14.4; 14.7; 15.1; 16.1 Leia os tópicos seguintes e resolva a atividade proposta.
Leitura
7.1; 7.4; 8.1
A tensão amorosa em Camões
[A] – [6]
[B] – [5] • Presença constante na lírica e no teatro (também pontualmente em Os Lusíadas),
[C] – [1] o Amor é talvez o tema de maior alcance significativo na obra de Camões, sendo fonte
[D] – [3] de tensão, de conflito interior.
[E] – [4]
[F] – [2]
• Ao contrário do que sucede com Petrarca, Camões oculta frequentemente a iden-
tidade da amada, o que permite duas interpretações possíveis:
- uma leitura biográfica, segundo a qual a vida do poeta estaria codificada na
sua poesia lírica, cabendo a um leitor mais especializado interpretar as pistas que
permitiriam descobrir a identidade de uma mulher real;
- uma leitura não-biográfica, que se baseia num subtil jogo de códigos poéti-
co-literários, que Camões domina na perfeição, não sendo a mulher real o mais
importante na escrita literária, mas sim o Amor e os fenómenos a ele ligados.
• Há que entender a função do Amor, em grande parte da lírica camoniana, como
dinâmica-motriz do próprio ato de escrever. O Amor é, por assim dizer, o combustível
que põe a máquina da escrita em ação.
• Uma fonte de tensão que surge na poesia de Camões é a desproporcionalidade de
sentimentos vividos pelo amador e pela amada, o que implica que a vivência do amor,
longe de ser uma experiência alegre e feliz, é constantemente descrita como sendo algo
de doloroso.
Elaborado a partir de Frederico Lourenço, “Amor”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 25-26.
Coluna A Coluna B
[A] O Amor assume na lírica camoniana [1] muitos dos poemas de Camões terem
[B] A mulher amada e idealizada na poesia cariz autobiográfico.
de Camões [2] frequentemente descrito como sendo
[C] Há uma teoria que aponta para o facto uma experiência dolorosa.
de [3] na origem da criação literária.
[D] A mulher amada e, por consequência, [4] o sujeito poético não ser
o Amor estão correspondido com a mesma
[E] O sofrimento amoroso é decorrente intensidade pela amada.
do facto de [5] raramente é identificada pelo poeta.
[F] Assim, o Amor na lírica camoniana é [6] um papel preponderante.
148
Rimas
Educação Literária
Leia expressivamento os textos. 14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
14.9
Nomes Verbos
149
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor
Áudio
Tanto de meu estado me acho incerto
“Tanto de meu estado
me acho incerto” Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Educação Literária
14.1; 14.2; 14.3; 14.4; sem causa, juntamente choro e rio,
14.6; 14.8; 14.10 o mundo todo abarco e nada aperto.
1.1
a. “frio” 5 É tudo quanto sinto, um desconcerto;
b. “choro” da alma um fogo me sai, da vista um rio;
c. “nada aperto”
d. “espero” agora espero, agora desconfio,
e. “acerto” agora desvario, agora acerto.
f. “Estando em terra”
g. “em mil anos não posso
achar ũ’hora” Estando em terra, chego ao Céu voando,
1.2 O sujeito poético 10 nũ’hora acho mil anos, e é de jeito
afirma estar dominado
por sentimentos/estados que em mil anos não posso achar ũ’hora.
contraditórios, tanto eufóricos
como disfóricos. Sente-se
ora alegre ora triste, ora Se me pergunta alguém porque assi ando,
acompanhado ora solitário, respondo que não sei; porém suspeito
ora confiante ora desconfiado,
ora desvairado ora alinhado que só porque vos vi, minha Senhora.
(atinado).
1.3 A causa do seu estado
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido Retrato de moça com véu, c. 1515,
de espírito encontra-se no
facto de ele ter visto uma e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Rafael (1483-1520), Palácio de
“Senhora”, o que desencadeou Almedina, 2005 [1994], p. 118. Pitti, Florença.
o sentimento amoroso e os
estados contraditórios.
2. A primeira parte
corresponde às duas quadras
e ao primeiro terceto, na
qual o “eu” descreve os seus 1. O sujeito poético descreve neste poema um estado de espírito contraditório.
sentimentos contraditórios.
A segunda parte integra 1.1 Transcreva das três primeiras estrofes as palavras ou expressões que se opõem às
o último terceto, momento seguintes.
em que se evidencia a causa
do estado a. “ardor” (v. 2)
de espírito do sujeito poético.
3. Trata-se de um soneto, b. “rio” (v. 3)
constituído por duas quadras
e dois tercetos, com rima
c. “o mundo todo abarco” (v. 4)
interpolada e emparelhada d. “desconfio” (v. 7)
nas quadras e interpolada
nos tercetos, e com versos e. “desvario” (v. 8)
decassilábicos (10 sílabas
métricas). f. “chego ao Céu” (v. 9)
~ 'ora acho mil anos”
g. “nu (v. 10)
1.2 De acordo com o registo que fez no exercício anterior, trace o retrato psicológico
do sujeito poético.
1.3 Identifique a causa dos sentimentos experienciados pelo “eu” lírico, tendo em
conta a última estrofe.
150
Rimas
A representação da Natureza
INFORMAR PROFESSOR
Educação Literária
Leia o seguinte texto. 14.3; 14.7; 15.1; 16.1
Leitura
7.1; 7.3; 8.1; 8.2
Locus amoenus
1.
Expressão latina que designa a paisagem ideal, sempre presente na poesia amo-
a. É a paisagem ideal, sempre
rosa em geral e, com maior incidência, na poesia bucólica1. Desde a Antiguidade presente na poesia amorosa.
Clássica que o termo locus amoenus nos remete para a descrição da Natureza e para É uma Natureza harmoniosa,
fresca, primaveril, de céu azul,
um conjunto de elementos específicos: o campo fresco e verdejante, com um vasto fértil, que não se ressente
5 arvoredo e flores coloridas, cujo doce odor se espalha com a brisa. A vegetação é den- da passagem do tempo.
Os animais estão
sa mas constantemente renovada, dada a grande fertilidade do terreno, e a passa- perfeitamente integrados
gem do tempo não conduz à destruição da paisagem, o que, de acordo com Lanciani e em comunhão com ela.
b. É uma paisagem natural
e Tavani (1993) é metafórico da infância que nunca se perde. Ouve-se o suave som (campestre ou florestal), com
da água do riacho a saltar nas pedras ou a brotar de uma fonte, onde os animais vão vegetação densa e verdejante
e abundante em água.
10 beber. Há borboletas policromáticas2 esvoaçando, assim como aves diversas (nor-
c. Campo fresco e verdejante,
malmente rouxinóis ou pardais), que abrilhantam o céu azul. Esta natureza mágica vasto arvoredo, flores
é conducente3 ao amor, ao encantamento sensorial e espiritual do Homem, que se coloridas, brisa, vegetação
densa e renovada, água
integra na perfeição em tal plenitude4, marcada pela harmonia e homogeneidade. do riacho, fonte, animais,
Enfim, estamos perante um paraíso terrestre, onde se enquadra o ser humano que borboletas policromáticas,
aves diversas (rouxinóis,
15 busca a satisfação pela simplicidade. […] pardais), céu azul.
Também Camões (1524-1580), que prima5 pela descrição pormenorizada da d. Espaço propício ao
paisagem amena, deixa transparecer nas suas obras a preferência pelo tópico amor – “natureza mágica
[...] conducente ao amor, ao
(v. soneto como “Alegres campos, verdes arvoredos”, in Rimas), o que se verifica na encantamento sensorial e
sua idealização de mulher, que aparece intrinsecamente relacionada com o locus espiritual do Homem” (ll. 11-12).
e. Simboliza a infância que
20 amoenus (v. “Um mover d’olhos brando e piadoso”). nunca se perde e o paraíso
Carlos Ceia, s.v. “Locus amoenus”, in Carlos Ceia (coord.), E-dicionário de termos literários. perdido onde o Homem se
Disponível em http://www.edtl.com.pt (consultado em janeiro de 2015). enquadra, procurando os
prazeres simples – “satisfação
pela simplicidade” (l. 15).
1
pastoril, campestre; 2 de várias cores; 3 que conduz, que leva a; 4 grandeza, felicidade;
5
se evidencia.
a.
b. c.
d. e.
151
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A representação da Natureza
Domínios Descrição/
Estrofes Sentimentos
de referência explicação
152
Rimas
Educação Literária
Aquela triste e leda madrugada 14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
14.7; 14.8; 14.9; 15.1
Coluna A Coluna B
[A] Este soneto abre com uma antítese [1] funciona como justificação do desejo
e pode dividir-se expresso anteriormente.
153
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
A reflexão sobre a vida pessoal
INFORMAR
Leia o seguinte texto, no qual o autor faz uma análise do ambiente vivido no século
XVI, para, dessa forma, justificar a natureza humana de Camões.
Ambiente quinhentista
1.o parágrafo
Marcado por viagens a. e b. , à procura de aventura, c. , e d. , e. .
2.o parágrafo
Propício ao desconcerto do homem português, no final do século, e prolongando
uma mentalidade medieval, acentua-se o caos, o f. e a ideia da vida como uma
g. , um desterro.
154
Rimas
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
A reflexão sobre a vida pessoal foi também uma temática cantada nos poemas
de Camões.
155
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O temaA da
reflexão
mudança
sobre
e do
a vida
desconcerto
pessoal
PROFESSOR INFORMAR
3. O sujeito deseja que as
pessoas fiquem pasmadas Leia os tópicos que se seguem e resolva a atividade proposta abaixo.
perante a sucessão de
acontecimentos, acreditando
que o mundo está à beira do fim,
A lírica camoniana
o que será uma forma de realçar
a tragédia que este associa à • A lírica de Camões revela um sujeito poético que, perante o decurso da vida,
sua vida e à revolta que sente. reflete sobre o tempo e a mudança, temas característicos da época renascentista.
4.1 O sujeito dirige-se à “gente Vemos também um “eu” que analisa o desconcerto que vê dentro e fora de si.
temerosa”, identificando o seu
interlocutor por meio de uma A desordem social e psicológica, o absurdo do mundo e a existência, invencível,
apóstrofe. do mal, embora funcione sempre como causa de espanto e de revolta, conjuga-se
4.2. “que este dia deitou
ao mundo a vida / mais com o destino que subjuga e esmaga.
desgraçada que jamais se viu!” Elaborado a partir de Poesia Lírica, Luís de Camões, seleção e introdução
(vv. 13-14) por Isabel Pascoal, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, p. 34.
4.3 O final do poema
é marcado pela hipérbole,
como forma de intensificação • Sujeito à implacável mecânica do tempo – que tudo vai mudando e destruindo –
do caráter excecional do poeta
e do seu destino trágico. o mundo aparece, sob olhar da melancolia camoniana, como um lugar absurdo e
injusto onde o mal triunfa tantas vezes sobre o bem.
Educação Literária
14.3; 15.1; 16.1
• O poeta assume uma posição de um cada vez maior isolamento perante os
Leitura outros, manifestando um insistente desânimo face ao decurso da sua vida.
7.1; 7.2; 7.3; 8.1
• O isolamento do poeta reforça a noção sempre muito viva da sua firme sin-
1.1 passagem; desordem gularidade: a melancolia que o faz sofrer como vítima de um destino cruel e fatal,
1.2 superior que desde sempre parece tê-lo marcado e para o qual contribuiu um conjunto de
1.3 solitário diversos fatores, alguns involuntários, mas outros dependendo dos seus erros.
1.4 implacável
• O caráter excecional deste destino torna-se um dos grandes tópicos de melan-
1.5 falhas
colia camoniana, mostrando alguém fortemente desiludido com as provações a
que foi sujeito ao longo dos anos.
Elaborado a partir de Fernando Pinto do Amaral, “Melancolia”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Dicionário de Luís de Camões, Alfragide, Editorial Caminho, 2011, p. 585.
1.3 Perante a consciência da passagem do tempo, o poeta torna-se um ser cada vez
mais (solidário/solitário).
156
Rimas
Educação Literária
Leia, agora, as Rimas relativas ao tema da mudança e do desconcerto. 14.2; 14.3; 14.4; 14.7;
14.9
Correm turvas as águas deste rio 1.1 Esta ideia processa-se por
meio da referência indireta às
Correm turvas as águas deste rio, estações do ano, sinalizadas
pelas águas turvas (inverno),
que as do Céu e as do monte as enturbaram; pelos campos de flores
os campos florecidos se secaram, (primavera), pelos campos
secos (verão) e pelo
intratável se fez o vale, e frio. frio (outono).
1.2 Na quadra, o pretérito
5 Passou o verão, passou o ardente estio1, perfeito permite marcar as
ações passadas ("enturbaram",
ũas cousas por outras se trocaram; "secaram", "fez"). Já o presente
os fementidos2 Fados3 já deixaram do indicativo aponta para
a estação atual, contribuindo
do mundo o regimento, ou desvario4. para a noção da passagem
do tempo.
1.3 Estes versos reiteram a
Tem o tempo sua ordem já sabida; ideia da passagem do tempo
1
10 o mundo, não; mas anda tão confuso, verão expressa na primeira quadra,
2
falsos associando-a, aqui, ao tópico da
que parece que dele Deus se esquece. mudança inerente à passagem
3
destinos
4
das diferentes estações.
vv. 7-8: já entregaram o
Casos, opiniões, natura e uso5 governo do mundo / dos
2. O primeiro verso do terceto
aponta para a transformação,
fazem que nos pareça desta vida homens à loucura natural que o tempo opera na
5
que não há nela mais que o que parece. natureza e costume Natureza; os dois versos que
se seguem transportam-nos
Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por para a realidade humana
Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 168. e os seus comportamentos.
Veja-se o advérbio de negação
(“não”) a estabelecer a
oposição (reforçada pelo
conector “mas”) entre a
ordem natural das coisas e os
1. Na segunda estrofe, o sujeito lírico dá conta da passagem do tempo. comportamentos humanos.
2.1 Deus é referido como o
1.1 Explicite como se processa esta ideia, relacionando-a com a primeira estrofe. garante da ordem do mundo.
Desta forma, o sujeito julga que
1.2 Analise a importância dos tempos verbais ao serviço da expressão desta ideia. a desordem que se verifica no
mundo só poderá ficar a dever-
1.3 Relacione os dois primeiros versos desta quadra com o conteúdo da primeira. -se a um possível
esquecimento por parte desse
2. Explicite o conteúdo do primeiro terceto, considerando as realidades evidenciadas ser superior.
e os elementos linguísticos. 3. O recurso expressivo
é a enumeração, presente
2.1 Interprete a referência à figura de Deus nesta estrofe. no primeiro verso do segundo
terceto – "Casos, opiniões,
3. Identifique o recurso expressivo ao serviço da ilustração da desordem verificada natura e uso".
4. A mudança verifica-se na
no mundo. alteração cíclica da Natureza,
em que tudo se transforma;
4. Relacione o conteúdo do poema com o tema da mudança e do desconcerto. o desconcerto decorre da
confusão humana.
Gramática
GRAMÁTICA 18.1
157
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O tema da mudança e do desconcerto
Áudio
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
“Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades” Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
Educação Literária todo o mundo é composto de mudança,
14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
14.7; 14.8; 14.9; 14.10 tomando sempre novas qualidades.
1.
a. mudança 5 Contìnuamente vemos novidades,
b. três diferentes em tudo da esperança;
c. quatro
d. duas do mal ficam as mágoas na lembrança,
e. negativa e do bem (se algum houve), as saüdades.
f. o último
g. Natureza
h. terceto O tempo cobre o chão de verde manto,
i. outra mudança faz de mor
espanto 10 que já coberto foi de neve fria,
j. que não se muda já como e, em mim, converte em choro o doce canto.
soía
k. tempo
l. as mágoas E, afora1 este mudar-se cada dia,
m. e do bem (se algum houve),
as saüdades outra mudança faz de mor2 espanto,
n. antítese que não se muda já como soía3.
2. Trata-se de um soneto, Luís de Camões, Rimas. Texto estabelecido
composto por duas quadras
e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão,
e dois tercetos, constituídos
por versos decassilábicos Coimbra, Almedina, 2005 [1994], p. 162.
(Mu/dam/-s(e) os/tem/pos,/ A tempestade, séc. XVII, Rubens (1577-1640),
mu/dam/-s(e) as/von/ta/ 1
além de; 2 maior; 3 costumava. Ashmolean Museum, Universidade de Oxford.
[des]). A rima é interpolada e
emparelhada nas quadras e
cruzada nos tercetos, segundo 1. Complete o seguinte texto, com palavras suas e/ou expressões do poema, de modo
o esquema: abba/abba /cdc/ a obter uma breve análise do mesmo.
dcd.
Este poema tem como tema a a. e pode dividir-se em três momentos.
O primeiro, correspondente à primeira estrofe, integra a apresentação e a afirmação de um
mundo em constante transformação, como se pode verificar nos versos b. e
c. . O segundo momento, correspondente às d. estrofes seguintes,
constitui a constatação do sujeito relativamente à forma como a mudança se opera, sen-
do, para o ser humano, geralmente e. , como atestam os três primeiros versos da
segunda estrofe e o f. do primeiro terceto. Pelo contrário, na g. , a mu-
dança é cíclica e confunde-se com renovação, como se comprova com os dois primeiros
versos do primeiro h. . Por fim, o terceiro momento é introduzido pela conjunção
copulativa “e” que inicia o último terceto. Aqui, o “eu” lírico conclui que o próprio processo
de mudança sofre os efeitos de mudança – i. “ / j. ”.
O sujeito poético também é afetado pela mudança, consequente da passagem
do k. , que lhe deixa o passado na memória, sejam as lembranças tristes,
(associadas aos factos negativos l.“ ”) sejam as saudades dos factos positivos
(m.“ ”).
Assim, no poema explora-se a n. (“verde manto” / “neve fria”; “choro” /
“doce canto”) para descrever o contraste entre o caráter cíclico e renovador da mudança
na Natureza e a degradação que a mesma traz ao ser humano – a perda do passado, o
envelhecimento.
2. Classifique o poema, justificando a sua resposta com a análise formal do mesmo
(estrofes, métrica, esquema rimático e tipo de rima).
158
Rimas
159
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O tema da mudança e do desconcerto
Texto A Texto B
Classificação da métrica b. d.
Clássico, medida
Estilo (lírica camoniana) nova (corrente e.
renascentista)
Tema A mudança g.
2. Identifique, no texto A, os responsáveis pela situação atual vivida pelo sujeito poé-
tico.
160
Rimas
LEITURA PROFESSOR
Leitura
7.2; 7.3; 8.1
O desconcerto do mundo e as injustiças que lhe são inerentes manifestam-se em
todas as épocas, mesmo em pleno século XX, numa Europa mais esclarecida.
1. O cônsul de Bordéus, através
do seu cargo diplomático,
Leia o texto a propósito do filme que exalta um homem que tentou consertar e conseguiu salvar mais de
trinta mil judeus que fugiam
concertar o seu mundo e responda, de seguida, aos itens apresentados. a Hitler, pois assinou os vistos
que permitiram a sua saída
de França e a entrada em
Portugal.
2. Foi perseguido pelo regime
Um justo entre as Nações salazarista, tornando-se um
refugiado no próprio país;
Na tradução do hebraico, o justo é um viveu e morreu na pobreza.
não-judeu merecedor do paraíso. 3. Entre os dois irmãos
que escapam à fúria de
Hitler, Aristides de Sousa
Atualmente, o estado de Israel re- Mendes surge como um
fere-se assim às personalidades (góis/ ser harmonioso, que se
compara à música, arte
5 gentios) que arriscaram as suas pró- que consegue (re)conciliar
prias vidas durante o Holocausto, para todos os desconcertos (as
desarmonias) e vencer todas
salvar judeus do extermínio perpetrado as desigualdades.
pelo nazismo.
[…] O caso de Aristides de Sousa
10 Mendes é ainda hoje paradigmático: de
cônsul em Bordéus a refugiado no pró-
prio país (recebendo o auxílio da assistência judaica internacional, para sobreviver a
uma perseguição política conduzida por Salazar), diz-se que morreu em Lisboa com
um hábito franciscano (por não ter sequer um fato próprio).
15 Em filme e com o título Aristides de Sousa Mendes – o Cônsul de Bordéus (dirigido
por João Correa e Francisco Manso), divulga-se a condição deste grande homem
(que assinou, contra a ordem de Salazar e a famigerada1 Circular 14, mais de trinta
mil vistos, para que tantas vidas judaicas pudessem chegar a Portugal, oriundas da
Europa invadida por Hitler e salvas da perseguição nazi).
20 Numa narrativa que foca o percurso de um maestro judeu (Aaron Apelman) –
o qual acaba por reencontrar uma irmã que julgava morta – ativam-se várias se-
quências fílmicas em analepse, para que se conheça a ação grandiosa do que é
também conhecido como o Schindler português.
Entre o percurso do maestro e o da irmã Esther sobressai o sucesso da liberdade,
25 do reencontro, da reunião. E no seio deste há Aristides de Sousa Mendes, tal como a
música, a harmonizar o que, no universo, possa ser o maior de todos os desconcer-
tos: o esquecimento e a aniquilação do ser humano, independentemente de credo,
sexo e raça.
in http://carruagem23.blogspot.pt/2012/11/um-justo-entre-as-nacoes.html
1
(texto adaptado, consultado em maio de 2017). célebre, conhecida.
161
DAR
Funções sintáticas II
TU
S
APRENDER
E
ICA
G RA M Á T
PR A R Funções sintáticas Exemplos
ATIC
COMPLEMENTO DO NOME
Função sintática interna a outra, desempenhada
por um constituinte selecionado pelo nome,
situado à sua direita.
Pode ser desempenhada por a. A revolta estudantil foi
– um grupo adjetival (a.); importante.
– um grupo preposicional oracional (b.); b. A hipótese de irmos à visita de
– um grupo preposicional não oracional (c.). estudo agrada-me mais.
Só alguns nomes selecionam o complemento c. A fotografia da turma está
do nome, a saber: espetacular.
– nomes deverbais, ou seja, formados a partir
de verbos transitivos: visita (visitar), construção
(construir), estudo (estudar), análise (analisar)…
(d.); d. A análise da lírica camoniana
– nomes que indicam graus de parentesco: pai, não é fácil.
mãe, filho, neto… (e.); e. O pai do Pedro é um leitor assíduo
– nomes icónicos, ou seja, nomes relacionados de Camões.
com representações da realidade: pintura,
fotografia, desenho, escultura, esboço… (f.);
f. A estátua de Camões apresenta
– nomes epistémicos, isto é, relativos ao proporções guerreiras.
conhecimento, que indicam conceitos e ideias:
hipótese, probabilidade, ideia, necessidade, g. A possibilidade de tirar uma
possibilidade… (g.). positiva no teste é enorme.
COMPLEMENTO DO ADJETIVO
É uma função sintática interna a outra,
desempenhada por um constituinte
a. O António ficou responsável por
selecionado pelo adjetivo.
Pode ser desempenhada por apresentar oralmente a obra
– um grupo preposicional oracional (a.); do projeto de leitura.
b. A Maria ficou satisfeita com os
– um grupo preposicional não oracional (b.);
resultados do teste.
162
APLICAR PROFESSOR
Gramática
18.1
1. Estabeleça uma relação entre os elementos da coluna A e os da coluna B, de forma
a classificar as funções sintáticas dos constituintes sublinhados. 1.
[A] – [3]
[B] – [1]
Coluna B Coluna A [C] – [2]
[A] Uma parte substancial da população [D] – [3]
[E] – [2]
portuguesa vê Camões como seu poeta
[F] – [3]
de eleição.
[G] – [1]
[B] O poeta ficou fascinado por uma mulher [1] Complemento do adjetivo [H] – [2]
de pele escura.
2. [C]
[C] A beleza de Bárbara distancia-se
3.
do modelo petrarquista. a. Complemento do adjetivo
[D] Maria elegeu o soneto camoniano “O dia b. Complemento do nome
c. Complemento do nome
em que nasci moura e pereça” o mais
d. Complemento do adjetivo
triste.
[E] A obra lírica de Camões é uma conjugação [2] Complemento do nome
da medida velha com a medida nova.
[F] A estética literária renascentista
considerava fundamental a arte de imitar
a Natureza.
[G] Como consequência do intelectualismo
derivado do predomínio da razão, o
[3] Predicativo do complemento
escritor clássico ficava dependente de
um rigoroso código de regras fixas. direto
[H] Por vezes, o poeta traçava o retrato
de uma Natureza sombria.
163
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
LEITURA
164
Rimas
40 cabo assuas viagens, necessitavam de ciências e técnicas mais orientadas para o PROFESSOR
mundo profano. Muitas das invenções da época, como por exemplo o relógio, os
Leitura
mapas e uma série de aparelhos mecânicos deixam transparecer claramente essa 7.2; 8.1
necessidade.
À medida que os homens se iam interessando cada vez mais pelo mundo que 1.1 [C]
45 os rodeava, começava-se a recorrer a um realismo até aí pouco usual na pintura. 1.2 [A]
1.3 [B]
Esta nova visão do mundo encontra-se documentada pela primeira vez nos qua- 1.4 [D]
dros do pintor italiano Giotto do Bondone. 2. Na Antiguidade, a pintura
era encarada como qualquer
“Os pintores descobrem a realidade”, in Anna-Carola Kraube, História da Pintura, outro trabalho e era executada
Do Renascimento aos nossos dias, Colónia, Konemann, 2001 (edição portuguesa). por artesãos, sob encomenda.
Por seu lado, a pintura
renascentista passou a ser
vista como a expressão do
modo de sentir do seu criador
e diversificou a temática,
1. Selecione a opção que completa adequadamente cada uma das afirmações incluindo aspetos profanos,
seguintes. não se limitando apenas aos
de caráter sagrado.
1.1 Na Antiguidade, a pintura era vista como 3. As mudanças verificaram-
-se em diversos domínios. Por
[A] uma forma de expressão dos sentimentos dos mestres-pintores. um lado, o desenvolvimento
social e económico − as trocas
[B] uma maneira de imortalizar a liberdade criativa do autor. comerciais e a ascensão da
burguesia − que possibilitou
[C] um trabalho como outro qualquer. o crescimento das cidades,
e, por outro lado, o facto
[D] uma ocupação destinada só a senhores ricos. de se começar a dar mais
importância ao indivíduo.
1.2 A evolução no modo de encarar a arte deveu-se essencialmente à
4 As navegações permitiram
[A] mudança de mentalidades ocorrida nos inícios do século XIV. o desenvolvimento ou
o aperfeiçoamento de
[B] revolta dos mestres-pintores. determinadas ciências e
técnicas, necessárias à
[C] necessidade de alargar o âmbito e os temas dos quadros produzidos. consecução das Descobertas.
Por outro lado, o crescente
[D] influência do clero na educação da burguesia. desvendar do mundo
influenciou o modo de pensar
1.3 O progresso que se verificou nos finais da Idade Média refletiu-se também na arte e de agir do ser humano, o que
suscitou mudanças sociais
da pintura, que se refletiram nas artes
em geral.
[A] que passou a representar temas sagrados.
5. A liberdade a que se faz
[B] cujo teor se tornou progressivamente mais realista. referência na afirmação é a
liberdade do artista e não do
[C] que passou a ser associada a comerciantes e artesãos ricos. homem. Anteriormente, o
pintor executava uma tela,
[D] o que não foi bem aceite pelo clero. segundo a vontade de quem
a encomendava. A partir do
1.4 No contexto em que surge, o termo “Audazes” (l. 34) pode ser substituído por Renascimento, passou a poder
representar-se e a representar
[A] receosos. a sua maneira de ver o mundo;
passou, portanto, a dispor de
[B] perigosos. liberdade criativa.
[C] nervosos.
[D] corajosos.
165
PA R A S A B E R Rimas
PROFESSOR
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA
• por influência petrarquista, surge a imagem de uma • espaço alegre, tranquilo, sereno, propício ao amor
mulher: (locus amoenus);
− angélica, um ser divino, de pele e cabelos claros, • espelho da alma do poeta, refletindo os seus
elementos físicos reveladores das qualidades sentimentos;
da alma; • confidente, testemunha da dor provocada pela
− com um poder transformador da Natureza ausência/separação da amada;
e do Homem; • espaço onde o "eu" pode projetar os seus
• do contacto com outras culturas, nasce um novo sentimentos negativos.
conceito de beleza feminina, distante do de Petrarca
(pele e cabelos escuros), capaz de provocar fascínio
e tranquilidade no amador.
A experiência amorosa
A reflexão sobre a vida pessoal
e a reflexão sobre o amor
166
TEMÁTICAS DA POESIA LÍRICA DE CAMÕES (cont.)
167
PA R A V E R I F I C A R Rimas
Leia com atenção os dois textos que se apresentam e, de seguida, responda ao que é solicitado.
168
PA R A R E C U P E R A R Rimas
PROFESSOR
GRAMÁTICA
Muitos portugueses consideram Camões o príncipe dos poetas, uma vez que são
sensíveis às temáticas exploradas nos seus poemas.
1.1 Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados.
1.2 Indique o valor lógico do conector presente nessa frase.
E S C R I TA
Num texto de apreciação crítica, entre 80 e 100 palavras, apresente o poema de Ca-
mões de que mais gostou, recorrendo a uma linguagem clara e valorativa e focando os
seguintes aspetos:
• atualidade do poema selecionado;
• tema(s) explorado(s);
• um ou dois versos da sua preferência e respetiva justificação;
• dois recursos expressivos significativos utilizados no desenvolvimento temático;
• classificação da composição poética e análise formal da mesma.
169
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Rimas
GRUPO I
PROFESSOR Leia o poema de Camões a seguir transcrito e responda às questões que se seguem.
170
PROFESSOR
GRUPO II GRUPO II
171
MÓDULO
3
1. Luís de Camões, Os Lusíadas
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Os Lusíadas
• Imaginário épico
• Reflexões do poeta
• Linguagem, estilo e estrutura
Leitura
Artigo de divulgação científica
Exposição sobre um tema
Escrita
Exposição sobre um tema
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Apreciação crítica [Compreensão/Expressão Oral]
Reportagem [Compreensão do Oral]
Gramática
• Funções sintáticas
• Campo lexical/Campo semântico
• Coordenação/Subordinação
• Processos fonológicos
• Referente
• Tempo e modo verbal
• Conector
• Classe de palavras
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
Luís de Camões PARA CONTEXTUALIZAR
Contextualização
Atente nos seguintes tópicos, para melhor compreender esta época, bem como a obra
que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.
174
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
COMPREENSÃO DO ORAL
Camões e Os Lusíadas
Os Lusíadas, A data de celebração do aniversário da(o) a. (morte/nascimento) de Luís de
Grandes Livros, RTP
Camões é 10 de b. (julho/junho). É oficialmente o dia de Portugal.
176
PARA DESENVOLVER
INFORMAR
177
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
INFORMAR
Adaptado de Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Portugal – uma perspetiva didática.
Época medieval e época clássica, vol. I, Porto, Areal Editores, 2004, pp. 152-153.
2. Indique os três planos narrativos existentes n’Os Lusíadas, referindo o assunto respetivo.
178
Os Lusíadas
Contextualização
Educação Literária
Coluna A Coluna B
14.3; 14.6; 14.7; 14.11;
15.1; 15.2; 16.1
[1] na viagem de descoberta do caminho marítimo
[A] A introdução de Os Lusíadas para a Índia.
integra 1.
[2] narradores humanos e mitológicos. [A] – [4]
[B] O plano da viagem, ação [B] – [6]
[3] após as reflexões do poeta. [C] – [2]
central, articula-se [D] – [1]
[4] a Proposição, a Invocação e a Dedicatória. [E] – [5]
[C] No plano da História surgem 2. a. Invocação
[5] de peripécias ou acontecimentos que ocorrem b. Dedicatória
[D] O plano da viagem centra-se durante a viagem. c. Narração
d. da viagem
[6] com o plano mitológico. e. dos deuses
[E] As intervenções do poeta f. da História de Portugal
resultam g. do poeta
[7] da necessidade de este se lamentar.
3. Nos planos da viagem
e da História de Portugal,
cujo herói é o povo luso, isto é,
os portugueses.
2. Complete o seguinte esquema.
Os Lusíadas
PROPOSIÇÃO
· 10 cantos
· 1102 estrofes
· 8816 versos (dispostos a.
em decassílabos heroicos)
b.
c.
REFLEXÕES g.
179
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Imaginário Épico
FIXAÇÃO DE TEXTO
Luís de Camões, Os Lusíadas
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
(leitura, prefácio e notas de
A. Costa Pimpão), 4.a ed., Lisboa,
Instituto Camões – Ministério Leia as estâncias 1 a 3, relativas à Proposição, atentando particularmente no caráter
dos Negócios Estrangeiros, 2000. épico, e resolva as atividades propostas.
NOTAS
Luís de Camões, Os Lusíadas
(edição organizada por Emanuel
Paulo Ramos), Porto,
Proposição
Porto Editora, 1997.
1 3
PROFESSOR As armas e os Barões assinalados Cessem do sábio Grego3 e do Troiano4
Que da Ocidental praia Lusitana As navegações grandes que fizeram;
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.6; Por mares nunca de antes navegados Cale-se de Alexandro5 e de Trajano6
14.9; 14.11 Passaram ainda além da Taprobana1, A fama das vitórias que tiveram;
Em perigos e guerras esforçados Que eu canto o peito ilustre Lusitano7,
1. Plano da viagem de Vasco A quem Neptuno8 e Marte9 obedeceram.
da Gama: “As armas e os Mais do que prometia a força humana,
Barões assinalados / Que da E entre gente remota edificaram Cesse tudo o que a Musa antiga10 canta,
Ocidental praia Lusitana / Que outro valor mais alto se alevanta.
Por mares nunca de antes Novo Reino, que tanto sublimaram;
navegados / Passaram ainda
além da Taprobana, / Em
perigos e guerras esforçados” 2
(est. 1, vv. 1-5); Plano da E também as memórias gloriosas
História de Portugal: “as
memórias gloriosas / Daqueles Daqueles Reis que foram dilatando
Reis que foram dilatando / A Fé, A Fé, o Império, e as terras viciosas2 1
extremo sul da Ásia; 2 pagãs; 3 herói Ulisses, na
o Império” (est. 2, vv. 1-3); Odisseia de Homero; 4 herói Eneias, na Eneida de
Plano dos deuses ou De África e de Ásia andaram devastando,
mitológico: “A quem Neptuno E aqueles que por obras valerosas Virgílio; 5 Alexandre Magno; 6 imperador romano
e Marte obedeceram” (est. 3, de origem espanhola; 7 o valor do povo português;
v. 6); Plano das reflexões do Se vão da lei da Morte libertando, 8
deus do mar; 9 deus da guerra; 10 metonímia:
poeta: “Cantando espalharei Cantando espalharei por toda parte, Musa por poesia. Para os antigos, a Musa da
por toda parte, / Se a tanto me
ajudar o engenho e arte” Se a tanto me ajudar o engenho e arte. epopeia e da eloquência era Calíope.
(est. 2, vv. 7-8).
2. “Que eu canto o peito
ilustre Lusitano” (est. 3, v. 5); 1. Preencha o quadro seguinte com expressões textuais, tendo em conta os quatro
sinédoque. planos que constituem a estrutura interna de Os Lusíadas.
3.1 “Mais do que prometia a
força humana” (est. 1, v. 6); “Se
vão da lei da Morte libertando” MATÉRIA ÉPICA
(est. 2, v. 6); “A quem Neptuno e Plano
Plano dos deuses
Marte obedeceram” (est. 3, v. 6). Plano da viagem Plano da História das reflexões
ou mitológico
3.2 Os portugueses, corajosos de Vasco da Gama de Portugal do poeta
e persistentes, venceram o
mar, passando por muitos
perigos naturais e travando
guerras difíceis em África e
na Ásia. Dilataram, assim,
o império e espalharam a
fé cristã. Vencendo, com 2. Indique o verso em que se apresenta sucintamente o herói que será cantado na
obras valerosas, as forças
da Natureza e os homens, epopeia camoniana, identificando o recurso expressivo presente nesse verso.
tornam-se imortais e merecem
o estatuto de deuses. 3. Na Proposição, Camões aponta já para a mitificação do herói coletivo, ou seja, do
4. Com a referência a heróis povo português.
lendários, como Ulisses
e Eneias, e a imperadores 3.1 Retire do texto três versos reveladores dessa mitificação.
da Antiguidade, Camões
estabelece uma comparação 3.2 Refira, por palavras suas, os feitos gloriosos que justificam a “divinização” dos por-
entre eles e os portugueses, tugueses.
que ele diz serem superiores.
Por isso, o canto (as epopeias
da Antiguidade) que exalta 4. Justifique a referência que é feita na estância 3 a Eneias, a Ulisses, a Alexandre
esses heróis passados deve Magno e a Trajano.
ser esquecido, pois “outro
valor mais alto se alevanta”,
isto é, o povo luso.
180
Os Lusíadas
“pelo espaço
Percurso efetuado “Por mares nunca de antes navegados” a. "a cidade natal"
fundo”
b. "voo noturno"
Condições da viagem “Em perigos e guerras esforçados” b. c. "para outro mundo"
d. "planeta distante"
Destino “entre gente remota” c.
1
ninfas do Tejo; 2 canto elevado e fluente; 3 Apolo, deus do sol e da poesia; 4 fonte que transformaria em
poeta quem das suas águas bebesse; 5 inspiração, delírio; 6 flauta de pastor (poesia bucólica); 7 trombeta
clamorosa e guerreira, ou seja, inspiração épica; 8 inflama o ânimo.
1. Apresente os argumentos usados pelo poeta para obter o favor das Tágides.
181
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Imaginário Épico
Dedicatória
6 9
E vós, ó bem nascida segurança1 Inclinai por um pouco a majestade
Da Lusitana antiga liberdade, Que nesse tenro gesto vos contemplo,
E não menos certíssima esperança Que já se mostra qual na inteira idade,
De aumento da pequena Cristandade; Quando subindo ireis ao eterno templo;12
Vós, ó novo temor da Maura lança,2 Os olhos da real benignidade
Maravilha fatal3 da nossa idade,4 Ponde no chão: vereis um novo exemplo
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, De amor dos pátrios feitos valerosos,
Pera do mundo a Deus dar parte grande; Em versos divulgado numerosos.
7 10
Vós, tenro e novo ramo florecente Vereis amor da pátria, não movido
De ũa árvore, de Cristo5 mais amada De prémio vil, mas alto e quási eterno;
Que nenhua nascida no Ocidente, Que não é prémio vil ser conhecido
Cesárea6 ou Cristianíssima7 chamada Por um pregão do ninho meu paterno.
(Vede-o no vosso escudo, que presente Ouvi: vereis o nome engrandecido
Vos amostra a vitória8 já passada, Daqueles de quem sois senhor superno,13
Na qual vos deu por armas e deixou E julgareis qual é mais excelente,
As que Ele pera si na Cruz tomou); Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
8
Vós, poderoso Rei, cujo alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando dece o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério9
Do torpe Ismaelita10 cavaleiro,
Do Turco Oriental e do Gentio
Que inda bebe o licor do santo Rio:11
1
D. Sebastião − penhor da independência de Portugal; 2 exército dos Mouros; 3 determinada pelo destino;
4
época, tempo5 árvore genealógica, linhagem dos reis de Portugal; 6 dos imperadores da Alemanha; 7 dos reis da França;
8
a que se seguiu à batalha de Ourique, a partir da qual se acrescentaram cinco escudos à cruz já usada nas nossas armas;
9
domínio e injúrias; 10 turcos; 11 Ganges; 12 templo da fama eterna; 13 superior.
182
Os Lusíadas
11
Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte14 e o vão Rugeiro15
E Orlando,16 inda que fora verdadeiro.
12
Por estes vos darei um Nuno17 fero,
Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço,
Um Egas18 e um Dom Fuas,19 que de Homero
A cítara par’eles só cobiço;
Pois polos Doze Pares20 dar-vos quero
Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;21
Dou-vos também aquele ilustre Gama,22
Que para si de Eneias toma a fama.
13
Pois se a troco de Carlos,23 Rei de França,
Ou de César,24 quereis igual memória,
Vede o primeiro Afonso,25 cuja lança
Escura faz qualquer estranha glória;
E aquele26 que a seu Reino a segurança
Deixou, com a grande e próspera vitória;
Outro Joane,27 invicto cavaleiro;
O quarto e quinto Afonsos e o terceiro.
14
Nem deixarão meus versos esquecidos
Aqueles que nos Reinos lá da Aurora28
Se fizeram por armas tão subidos,
Vossa bandeira sempre vencedora:
Um Pacheco29 fortíssimo e os temidos
Almeidas,30 por quem sempre o Tejo chora,
Albuquerque terríbil, Castro forte,31
E outros em quem poder não teve a morte.
14
personagem de Orlando Enamorado, de Boiardo, poeta italiano do séc. XV; 15 personagem de Orlando
Furioso, de Ariosto, poeta italiano do séc. XVI; 16 palavra italiana correspondente à francesa Roland, herói da
Chanson de Roland, poema do fim do séc. XI 17 Nuno Álvares Pereira; 18 Egas Moniz; 19 D. Fuas Roupinho;
20
doze nobres companheiros de Carlos Magno; 21 doze cavaleiros portugueses que, no reinado de D. João I,
teriam ido a Inglaterra combater e entre os quais se encontrava um tal Magriço; 22 Vasco da Gama; 23 Carlos
Magno; 24 Caio Júlio César, general e político romano; 25 D. Afonso Henriques; 26 D. João I; 27 D. João II;
28
no Oriente; 29 Duarte Pacheco Pereira, defensor de Cochim; 30 D. Francisco de Almeida (primeiro vice-rei
da Índia) e seu filho D. Lourenço. Ambos foram mortos em combate por inimigos de Portugal; 31 D. João de
Castro, que reagiu virilmente quando lhe anunciaram a morte de seu filho, D. Fernando.
183
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Imaginário Épico
15
E, enquanto eu estes canto − e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto −,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso32
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares,33
De África as terras e do Oriente os mares.
16
Em vós os olhos tem o Mouro frio,34
Em quem vê seu exício35 afigurado;
Só com vos ver, o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;
Tétis36 todo o cerúleo37 senhorio38
PROFESSOR Tem pera vós por dote aparelhado,39
Que, afeiçoada ao gesto40 belo e tenro,
Educação Literária
14.2; 14.3; 14.6; 14.7; Deseja de comprar-vos pera genro.
14.8; 14.9; 15.3
1.
17
a. Louvor ao Rei Em vós se vêm,41 da Olímpica morada,42
D. Sebastião
b. 9-14
Dos dous avós43 as almas cá famosas;
c. 15-17 Ũa, na paz angélica dourada,
d. Conclusão e reforço do
primeiro apelo
Outra, pelas batalhas sanguinosas.
2.1 São utilizadas diversas Em vós esperam ver-se renovada
apóstrofes, sempre iniciadas Sua memória e obras valerosas;
pela segunda pessoa do
plural do pronome pessoal, E lá vos têm lugar, no fim da idade,44
anaforicamente repetida nas No templo da suprema Eternidade.
estâncias 6 e 7, versos 1 e 2. 32
grande; 33 incomparáveis; 34 apavorado;
35
2.2 O poeta descreve o Rei extermínio, ruína completa; 36 deusa do
como defensor da liberdade
18 mar; 37 azul, da cor do mar; 38 império
da pátria, continuador da
dilatação da fé e do império, (Cerúleo senhorio = mar); 39 aprestado,
Mas, enquanto este tempo passa lento aprontado; 40 rosto; 41 veem; 42 céu;
temido pelos infiéis e 43
descendente de linhagem De regerdes os povos, que o desejam, o paterno, D. João III, e o materno,
amada por Cristo. Dai vós favor ao novo atrevimento,45 o Imperador Carlos V (os dois avós de
3. D. Sebastião, a quem o poeta se está
Pera que estes meus versos vossos sejam, a referir); 44 vida; 45 a sua nova epopeia;
a. personificação
b. movimento E vereis ir cortando o salso argento46 46
salgado e prata, respetivamente; as ondas
c. Rei Os vossos Argonautas,47 por que vejam de prata; 47 navegantes gregos que, na nau
d. O Sol, logo em nascendo Argo, foram à Cólquida, comandados por
e. Vê-o também no meio do Que são vistos de vós no mar irado, Jasão, em busca do velo de ouro que um
Hemisfério E costumai-vos já a ser invocado. dragão guardava.
f. E quando dece o deixa
derradeiro
4. O poeta apresenta um
conjunto de elementos 1. Complete o quadro seguinte, procedendo à divisão do texto em quatro partes lógicas.
constitutivos da matéria épica
que se encontram ao serviço Partes Estâncias Assunto
da persuação do Rei: o louvor
aos heróis portugueses; a
anulação dos feitos fictícios 1.a 6-8 a.
cantados em epopeias da
Antiguidade, substituídos 2.a b. Apelo ao Rei e apresentação dos argumentos que o fundamentam
pelos feitos reais dos
portugueses; a superação dos 3.a c. Incitamento ao Rei
heróis reais da Antiguidade
pelos heróis portugueses. 4.a 18 d.
184
Os Lusíadas
E S C R I TA
Por um lado, no seu canto épico, Camões propõe-se exaltar o valor dos seus
conterrâneos, muito principalmente na grande empresa levada a cabo por eles e
que deu novos mundos ao mundo, que constitui o tema fundamental do poema.
Por outro lado, dá-nos como modelo de uma sabedoria magnânima, de grande
experiência e de elevada honradez o venerabilíssimo Velho do Restelo, que con-
dena o próprio feito que a epopeia camoniana se propõe cantar. Cabe que pergun-
temos, por isso mesmo, qual é verdadeiramente o objetivo que é pretendido pelo
autor: o da exaltação, ou o da condenação? (96 palavras)
BLOCO INFORMATIVO –
pp. 271-273, 282, 265
185
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto I – Reflexões do Poeta
Resposta de caráter pessoal, 2.3 Identifique o recurso expressivo presente no último verso da estância 106, esclare-
mas o aluno pode focar os cendo o seu sentido.
seguintes aspetos: a estância
106 serve de introdução aos
amores trágicos de Inês de
Castro, também ela um ser
frágil, que sucumbe ao poder
COMPREENSÃO / EXPRESSÃO ORAL
despótico e cruel do Amor;
a melodia doce, num ritmo
lento, adequa-se ao lamento Ouça atentamente o tema musical do grupo galego Milladoiro e, em 2 a 3 minutos,
do poeta, à saudade de Inês, faça uma breve apreciação crítica da canção, considerando os seguintes aspetos:
à sua falsa segurança; a viola,
o violino, a flauta e o oboé • adequação do conteúdo das estâncias retiradas do episódio lírico de Inês de Castro ao
contribuem para a suavidade
melódica que sugere a conteúdo da estância 106 do canto I;
fragilidade de Inês, em
particular, e a do ser humano,
• adequação do arranjo musical (melodia, ritmo, instrumentos selecionados) à letra da
em geral, criando também canção.
um ambiente introspetivo,
característico dos momentos Estruture a sua resposta, recorrendo a conectores adequados e a um vocabulário valorativo
de reflexão. (apreciativo ou depreciativo).
186
Os Lusíadas
Canto V – Reflexões do Poeta
92
Quão doce é o louvor e a justa glória
Dos próprios feitos, quando são soados1!
Qualquer nobre2 trabalha que3 em memória
Vença ou iguale os grandes já passados.
As envejas da ilustre e alheia história
Fazem mil vezes feitos sublimados.
Quem valorosas obras exercita,
Louvor alheio muito o esperta e incita.
93
Não tinha em tanto os feitos gloriosos
De Aquiles, Alexandro, na peleja,
Quanto de quem o canta os numerosos4
Versos: isso só louva, isso deseja.
Os troféus5 de Milcíades, famosos,
Temístocles despertam só de enveja;
E diz que nada tanto o deleitava
Como a voz que seus feitos celebrava.
94
Trabalha por mostrar Vasco da Gama
Luís de Camões, 1885, Severo da Ponte.
Que essas navegações que o mundo canta
Não merecem tamanha glória e fama
Como a sua, que o Céu e a Terra espanta.
Si; mas aquele Herói que estima e ama
Com dões, mercês, favores e honra tanta
A lira Mantuana6, faz que soe
Eneias, e a Romana glória voe.
95 96
Dá a terra Lusitana Cipiões, Vai César sojugando toda França
Césares, Alexandros, e dá Augustos; E as armas não lhe impedem a ciência;
Mas não lhe dá contudo aqueles dões7 Mas, nũa mão a pena e noutra a lança,
Cuja falta os faz duros e robustos. Igualava de Cícero a eloquência.
Octávio, entre as maiores opressões, O que de Cipião se sabe e alcança
Compunha versos doutos e venustos8 É nas comédias grande experiência.
(Não dirá Fúlvia9, certo10, que é mentira, Lia Alexandro a Homero de maneira
Quando a deixava António por Glafira11). Que sempre se lhe sabe à cabeceira.
1
celebrados; 2 qualquer pessoa que seja nobre; 3 para que; 4 harmoniosos; 5 triunfos; 6 Virgílio; 7 aquelas qualidades; 8 graciosos;
9
terceira mulher de António; 10 certamente; 11 Gláfira, amante de António.
187
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto V – Reflexões do Poeta
97 99
Enfim, não houve forte Capitão Às Musas agardeça o nosso Gama
Que não fosse também douto e ciente, O muito amor da pátria, que as obriga
Da Lácia12, Grega ou Bárbara nação, A dar aos seus,15 na lira, nome e fama
Senão da Portuguesa tão somente. De toda a ilustre e bélica fadiga;
Sem vergonha o não digo: que a razão Que ele, nem quem na estirpe seu se chama,
De algum não ser por versos excelente Calíope não tem por tão amiga
É não se ver prezado o verso e rima, Nem as filhas do Tejo,16 que deixassem
Porque quem não sabe arte, não na estima.13 As telas d’ouro fino e que o cantassem.
98 100
Por isso, e não por falta de natura, Porque o amor fraterno17 e puro gosto
Não há também Virgílios nem Homeros; De dar a todo o Lusitano feito
Nem haverá, se este costume dura, Seu18 louvor, é somente o pros[s]uposto
Pios Eneias nem Aquiles feros. Das Tágides gentis, e seu respeito.
Mas o pior de tudo é que a ventura Porém não deixe, enfim, de ter disposto
Tão ásperos os fez e tão austeros, Ninguém a grandes obras sempre o peito:19
Tão rudos e de engenho tão remisso,14 Que, por esta ou por outra qualquer via,
Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. Não perderá seu preço e sua valia.
12
do Lácio, Latina; 13 não a estima; 14 acanhado, boto; 15 à família de Vasco da Gama ou aos portugueses, consoante as
interpretações; 16 Tágides; 17 de irmão (as Tágides são aqui consideradas irmãs dos portugueses); 18 devido; 19 vontade.
PROFESSOR
Educação Literária 1. Assinale, as seguintes afirmações como verdadeiras ou falsas, corrigindo as falsas.
14.2; 14.6; 14.7; 14.9
a. O poeta começa por referir que a glória dos feitos dos nossos antepassados é
1. digna de ser imortalizada através da arte.
a. F – O poeta começa por
referir que a glória dos
feitos próprios é digna de ser
b. Seguidamente, refere que os heróis se alegravam quando ouviam os seus feitos
imortalizada através da arte. celebrados em poesia.
b. V
c. V c. De acordo com o conteúdo da estância 94, as epopeias greco-romanas são me-
d. F – Os heróis lusitanos
igualam algumas figuras nos importantes do que a portuguesa.
históricas da Antiguidade em
força e valentia, mas não no d. Os heróis lusitanos igualam algumas figuras históricas da Antiguidade em força,
amor às artes.
e. F – O poeta sente tristeza valentia e amor às artes.
e constrangimento por os
bravos portugueses não se e. O poeta sente tristeza e constrangimento por não ter conhecido os capitães da
assemelharem aos heróis Lácia e da nação Grega.
gregos e romanos, no que se
refere ao apreço pelas artes.
f. V
f. Na penúltima estância faz-se referência ao desamor dos portugueses pela poesia.
g. F – Estas estâncias
inserem-se no plano das g. Estas estâncias inserem-se no plano da História de Portugal.
reflexões do poeta.
2.
a. compara 2. Complete o texto de modo a obter uma síntese das reflexões do poeta presentes
b. heróis nestas estâncias.
c. Antiguidade
d. guerreiro O poeta a. os portugueses aos b. da c. e
e. desprezavam
f. lamento conclui que estes aliavam a arte ao espírito d. , enquanto os lusitanos
e. as artes, o que provoca o f. do poeta.
188
Os Lusíadas
Canto VII – Reflexões do Poeta
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Depois de refletir, no canto VI, sobre o verdadeiro valor da fama e da glória, no canto
VII o poeta intervém de novo para, na estância 2, elogiar o espírito de cruzada dos
portugueses. Mas, a partir da estância 78, surge um conjunto de lamentações de teor
autobiográfico, que leva Camões a invocar as Ninfas para que possa engrandecer no
seu canto aqueles que o merecem.
78
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego,
Eu, que cometo,1 insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo2 e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.
79
Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A Fortuna me traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios3 inumanos,
Qual Cánace,4 que à morte se condena,
Nũa mão sempre a espada e noutra a pena; Camões e as tágides, 1885, Columbano Bordalo Pinheiro (1894),
Museu Grão Vasco, Viseu.
80
Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios5 alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo mais que nunca derribado;
Agora, às costas6 escapando7 a vida,
Que dum fio pendia tão delgado 1
me atrevo
Que não menos milagre foi salvar-se 2
Tágides
Que pera o Rei Judaico8 acrecentar-se. 3
de Marte, da guerra
4
nome de rapariga
5
81 regiões
6
nas costas (junto das quais
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Camões naufragara)
Que tamanhas misérias me cercassem, 7
salvando
Senão que aqueles que eu cantando andava 8
Ezequias, a quem Jeová
Tal prémio de meus versos me tornassem:9 concedeu quinze dias de vida,
A troco dos descansos que esperava, após o dia em que deveria
morrer
Das capelas10 de louro que me honrassem, 9
dessem
Trabalhos nunca usados me inventaram, 10
coroas (destinadas a glorificar
Com que em tão duro estado me deitaram. os Poetas)
189
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto VII – Reflexões do Poeta
11
82
grandes senhores de Portugal
12 Vede, Ninfas, que engenhos de senhores11
dê
13
inconstante O vosso Tejo cria valerosos,
14
Proteu, guardador do gado Que assi sabem prezar, com tais favores,
de Neptuno, célebre pelas A quem os faz, cantando, gloriosos!
suas metamorfoses
15 Que exemplos a futuros escritores,
Musas
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!
83
Pois logo, em tantos males, é forçado
Que só vosso favor me não faleça,
Principalmente aqui, que sou chegado
Onde feitos diversos engrandeça:
Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado
Que não no empregue em quem o não mereça,
Nem por lisonja louve algum subido,
Sob pena de não ser agradecido.
84
Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse12
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Imigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;
85
Nenhum que use de seu poder bastante
Pera servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,13
Se muda em mais figuras que Proteio.14
Nem, Camenas,15 também cuideis que cante
Quem, com hábito honesto e grave, veio,
Por contentar o Rei, no ofício novo,
A despir e roubar o pobre povo!
190
Os Lusíadas
86 87 PROFESSOR
Nem quem acha que é justo e que é direito Aqueles sós direi que aventuraram
Guardar-se a lei do Rei severamente, Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida, Educação Literária
14.2; 14.3; 14.4; 14.6;
E não acha que é justo e bom respeito Onde,18 perdendo-a, em fama a dilataram, 14.9
Que se pague o suor da servil gente; Tão bem de suas obras merecida.
Nem quem sempre, com pouco experto16 peito, Apolo e as Musas, que me acompanharam, 1.
a. (6), est. 84-85
Razões aprende, e cuida que é prudente, Me dobrarão a fúria concedida, b. (2), est. 79, vv. 5-6
Pera taxar, com mão rapace e escassa, Enquanto eu tomo alento, descansado, c. (9), est. 87, vv. 5-8
d. (3), est. 80, vv. 1-6
Os trabalhos alheios que não passa.17 Por tornar ao trabalho, mais folgado. e. (7), est. 86, vv. 1-8
f. (8), est. 87, vv. 1-4
g. (1), est. 78, vv. 2-8
16
h. (4), est. 82, vv. 1-4
experimentado; 17 sofre (não passa = não avalia com justiça); 18 pelo que. i. (5), est. 82, v. 5-8
Gramática
1. Ordene as seguintes frases, de modo a reconstruir a ordem sequencial do conteúdo 18.4
do texto e identificando as estâncias e os versos correspondentes.
Estâncias 1.
Assunto a. para que; oração
(versos) subordinada adverbial final.
b. uma vez que; oração
a. O poeta recusa cantar homens sem escrúpulos, movidos pelos seus subordinada adverbial causal.
interesses pessoais e pela sua enorme ambição e refere a falta de
reconhecimento pelo trabalho.
b. O poeta refere as dificuldades por que passou: as viagens marítimas
e a guerra.
c. O poeta assume, de novo, o desalento e o cansaço, o que faz com
que conte com o apoio do deus da música e da poesia, de modo
a conseguir terminar a sua obra com mais ânimo.
d. Camões menciona também os problemas económicos por
que passou, o desterro, as desilusões e o naufrágio.
e. Também condena os que se escudam nas leis (mas que não
cumprem com os direitos dos mais desfavorecidos) e os que
exploram os mais necessitados.
f. Camões exaltará aqueles que se colocam ao serviço de Deus e do Rei
abdicando dos seus interesses pessoais.
g. Camões inicia uma nova reflexão, de caráter autobiográfico, pedindo
auxílio às musas para que possa prosseguir o seu canto, pois receia
não o conseguir.
h. Camões prossegue interpelando as musas, num tom irónico cuja
intenção é a de criticar aqueles que desprezam os seus versos.
i. Luís de Camões afirma também que a falta de reconhecimento
do seu trabalho enquanto poeta funciona, na sua perspetiva,
como desmotivação para futuros escritores.
GRAMÁTICA
BLOCO INFORMATIVO –
1. Selecione o conector que melhor se adequa às frases a seguir apresentadas e clas- pp. 264-265; 277
sifique as orações que eles introduzem.
a. O poeta pede ajuda às Ninfas para que / para / porque o engenho não lhe falte agora.
b. Os opressores serão banidos do seu canto, visto / por / uma vez que põem os seus
interesses à frente do bem comum.
191
v A frase complexa: coordenação
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T
FRASE COMPLEXA
R
APL ICA
A frase complexa é aquela que apresenta mais do que um verbo principal ou copulativo,
ou seja, trata-se de uma frase com mais do que uma oração, podendo obter-se pelo recurso
à coordenação e/ou à subordinação.
COORDENAÇÃO
Ao nível da frase complexa, a coordenação é um processo de combinação de duas ou mais
frases equivalentes. Por isso, a oração coordenada está contida numa frase complexa, não
mantendo uma relação de subordinação sintática com a(s) frase(s) ou oração(ões) com
que se combina. Distingue-se, tipicamente, das orações subordinadas por não poder ser
anteposta.
As orações coordenadas podem ser:
Assindéticas
Orações coordenadas justapostas, sem recurso a conjunções/locuções conjuncionais.
Ex.: Os navegadores sacrificaram-se; não se pouparam a esforços; foram grandiosos.
Sindéticas
Orações coordenadas ligadas por conjunções/locuções conjuncionais.
Ex.: As Ninfas ficaram fascinadas e convidaram os nautas portugueses.
Conjunções/locuções
Designação Sentido Exemplificação
conjuncionais coordenativas
192
APLICAR
PROFESSOR
1. Indique quais as frases simples do conjunto seguinte.
Gramática
[A] Os heróis camonianos são homens de carne e osso que se lançaram na aven- 18.2; 18.3
tura marítima.
[B] Quase todos os cantos de Os Lusíadas apresentam considerações do poeta 1. [B]; [C]
2.
sobre diversos temas. a. logo
[C] As reflexões do poeta são suscitadas por acontecimentos narrados em mo- b. mas
c. ou/nem
mentos anteriores. d. pois
e. não só... como
[D] O poeta, numa das suas reflexões, lamenta que os portugueses não apreciem a 2.1
arte. a. conclusiva
b. adversativa
c. disjuntiva / copulativa
2. Complete as frases seguintes, usando a conjunção/locução conjuncional coordena- d. explicativa
tiva adequada. e. copulativa
3.1 [C]
a. Os marinheiros passaram por vários sacrifícios, devem ser recompensados. 3.2 [B]
3.3 [D]
b. Camões sente-se desprotegido, não desiste do seu canto.
4.
c. Nenhum poeta anterior a Camões escreveu uma epopeia teve a ousadia a. A poesia camoniana
é sublime, mas a leitura
de o tentar. de Os Lusíadas é exigente
para o leitor.
d. Pensa-se que Camões não terá sido reconhecido, morreu pobre e só. b. O poeta afasta-se
e. Segundo o épico português, os seus contemporâneos desprezavam as dos homens do seu tempo,
pois prefere associar-se a
artes ignoravam o seu trabalho poético. Apolo e às Musas.
193
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto VIII – Reflexões do Poeta
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
As reflexões do poeta prosseguem no canto VIII, agora sobre o vil poder do dinheiro,
que corrompe quer os ricos quer os pobres. Leia-as expressivamente.
96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre;
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga.
97
A Polidoro1 mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício, 1
filho de Príamo, rei de Troia.
Com a filha2 de Acriso3 a chuva d’ouro; Para salvá-lo, quando a cidade
Pode tanto em Tarpeia4 avaro vício estava prestes a cair em
poder dos Gregos, o soberano
Que, a troco do metal luzente e louro,
mandou-o com ouro ao rei da
PROFESSOR Entrega aos inimigos a alta torre, Trácia, que, todavia, se apoderou
Do qual quási5 afogada em pago morre. do metal e matou o jovem
Educação Literária 2
Dánae
14.1; 14.2; 14.3; 14.4 3
Soberano de Argos (na Grécia),
98
que, para anular a profecia de
1. Os primeiros quatro versos Este6 rende munidas7 fortalezas;
um oráculo − a sua morte por
apresentam uma estrutura Faz trédoros e falsos os amigos; um neto –, prendeu a filha
narrativa, pelo predomínio
da terceira pessoa ( “se deixa”) Este a mais nobres faz fazer vilezas, Dánae numa torre. Júpiter,
e pelo relato das ações da E entrega Capitães aos inimigos; porém, sob a forma de chuva
personagem Vasco da Gama. de ouro, introduziu-se na torre
Os restantes versos iniciam a Este corrompe virginais purezas,
e tornou-a mãe de Perseu, que
reflexão, o que se verifica pela Sem temer de honra ou fama alguns perigos; veio a assassinar Acrísio
utilização da primeira pessoa 4
do plural (“nos obriga”), um Este deprava às vezes as ciências, rapariga romana que, na
“eu” coletivo no qual o próprio Os juízos cegando e as consciências. esperança de obter anéis de
poeta se inclui. ouro dos Sabinos, que sitiavam
2. O poeta apresenta Roma, lhes abriu as portas da
como exemplos do efeito 99 cidade. Os inimigos, porém,
corruptor do dinheiro figuras Este interpreta mais que sutilmente
mitológicas e da Antiguidade não a pouparam, esmagando-a
que traíram (“Entrega aos Os textos; este faz e desfaz leis; sob as joias e os escudos
5
inimigos a alta torre”), Este causa os perjúrios entre a gente como que
mataram "A Polidoro mata 6
ouro
o rei Treício”) e enganaram E mil vezes tiranos torna os Reis. 7
bem fortificadas
(“Com a filha de Acriso a chuva Até os que só a Deus omnipotente 8
d’ouro”) para alcançarem “os que só a Deus […] / Se
riqueza, fama ou poder. Se dedicam8, mil vezes ouvireis dedicam” − os sacerdotes
3. O poeta conclui a sua Que corrompe este encantador, e ilude; (perífrase)
9
reflexão com a constatação de aspeto exterior
que até os elementos do clero,
Mas não sem cor9, contudo, de virtude!
que se dedicam a Deus, se
deixam corromper e iludir pelo
poder do ouro. No entanto, 1. Delimite na estância 96 um momento narrativo e um momento reflexivo, justificando.
conseguem disfarçar esta
atração pela riqueza sob uma 2. Retire das estâncias 97 e 98 três exemplos do poder corruptor do dinheiro.
capa de falsa virtude.
3. Explique o sentido dos quatro últimos versos da estância 99.
194
Os Lusíadas
INFORMAR PROFESSOR
Leitura
Leia as informações a seguir apresentadas e responda às questões. 7.1; 7.2; 8.1
Educação Literária
14.3; 14.4; 15.1; 15.2; 16.1
Simbologia da Ilha dos Amores
A. A Ilha dos Amores tem início na estância 18 do o título de “heróis esclarecidos” e serão acolhidos na
Canto IX e prolonga-se até à estância 143 do Canto X, “Ilha de Vénus”.
ocupando, por conseguinte, cerca de vinte por cento da F. Concluída a narrativa profética da Ninfa e termi-
totalidade do poema; representa a apoteose e a conclu- nado o banquete, Tétis culmina a glorificação dos nau-
são da aventura marítima da epopeia. tas lusitanos ao anunciar a Vasco da Gama e aos seus
B. A narrativa erótica do episódio da “Ilha dos Amo- companheiros que a “Sapiência Suprema” (Deus) lhes
res” atinge o clímax na estância 87 do Canto IX, porque concedia o singular favor de poderem ver com “olhos
a estância 88 inicia já a transição para a simbologia de- corporais” os segredos da “grande máquina do Mundo”,
senvolvida nas estâncias 89 e seguintes. de modo a contemplarem o que “a vã ciência / dos er-
C. As ninfas, Tétis, a “Ilha angélica pintada” e os seus rados e míseros mortais” não podia ver.
deleites significam as honras, os prémios, os triunfos G. Tétis, Vasco da Gama e os nautas lusos subiram,
e a glória concedidos aos heróis que, pelas suas obras simbolicamente, um monte coberto de mato “árduo,
valorosas e pelos seus sacrifícios, mereceram subir ao difícil, duro a humano trato” — a ascensão neste terre-
Olimpo, “sobre as asas ínclitas da Fama”. no inóspito é uma alegoria do esforço e do trabalho ne-
D. As estâncias finais do Canto IX (92-95), que cons- cessários para alcançar o conhecimento — e no cume
tituem uma veemente apóstrofe exortativa endereçada do monte contemplaram um globo translúcido que re-
a destinatários nomeados pronominal e verbalmente, presentava um “transunto”, isto é, uma cópia ou ima-
apresentam os detentores do poder político, os conse- gem da “grande máquina do Mundo”, descrita segundo
lheiros do rei, os responsáveis pela administração pú- o sistema geocêntrico de Ptolomeu.
blica e os cavaleiros e homens de armas e explicitam H. Tétis, na sua longa exposição, descreve e mos-
os valores éticos e políticos configuradores da utopia: tra, além dos espaços celestes, as diversas regiões do
a reprovação da ociosidade, a condenação da cobiça e mundo, desde a África e a Índia até ao Japão e ao Brasil,
da tirania, a administração de leis justas e estáveis que onde decorrerão “os futuros feitos” lusitanos, engran-
protejam os súbditos mais frágeis e pobres, o destemor decendo o reino e difundindo a fé de Cristo.
bélico contra os inimigos da Igreja de Cristo, o serviço I. As derradeiras palavras de Tétis retomam o tema
leal prestado ao rei, quer com o aconselhamento bem originário e nuclear do episódio da “Ilha dos Amores”:
ponderado quer com as armas rutilantes. a união amorosa das ninfas e dos navegadores.
E. O reino ficará, assim, mais poderoso e mais rico, Elaborado a partir de Vítor Aguiar e Silva, "Ilha dos Amores",
o monarca ganhará glória, os seus servidores na go- in Vitor Aguiar e Silva (coord.), Dicionário de Luís de Camões,
Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 437 e 441-443.
vernação, na justiça e nas armas hão de fruir riquezas
merecidas e honras ilustres e, acima de tudo, receberão
PROFESSOR
1. B, C, G, H.
2. O poeta dirige-se a
destinatários concretos,
“os detentores do poder
político, os conselheiros do
rei, os responsáveis pela
1. Identifique os tópicos que remetem para o valor simbólico do episódio da “Ilha dos administração pública e
Amores”. os cavaleiros e homens
de armas”, com o intuito
de reprovar e condenar a
2. Refira, a partir do tópico D, os destinatários de Camões e os aspetos em que estes ociosidade, a cobiça e a tirania,
são condenados/criticados. reclamando a proteção dos
"súbditos mais frágeis e
pobres”.
3. Indique os tópicos que remetem para o elogio dos nautas portugueses.
3. C, E, F, G, H.
195
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto IX — Imaginário Épico
[…]
196
Os Lusíadas
66 69
Mas os fortes mancebos10, que na praia Dá Veloso, espantado, um grande grito:
Punham os pés, de terra cobiçosos11 − «Senhores, caça estranha (disse) é esta!
(Que não há nenhum deles que não saia), Se inda dura o Gentio antigo rito,
De acharem caça agreste desejosos, A Deusas é sagrada16 esta floresta.
Não cuidam que, sem laço ou redes, caia Mais descobrimos do que humano esprito
Caça naqueles montes deleitosos, Desejou nunca, e bem se manifesta
Tão suave, doméstica e benina, Que são grandes as cousas e excelentes
Qual ferida lha tinha já Ericina12. Que o mundo encobre aos homens imprudentes17.
67 70
Alguns, que em espingardas e nas bestas13 «Sigamos estas Deusas e vejamos
Pera ferir os cervos, se fiavam, Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Pelos sombrios matos e florestas Isto dito, veloces mais que gamos,
Determinadamente se lançavam; Se lançam a correr pelas ribeiras.
Outros, nas sombras, que de as altas sestas Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Defendem a verdura, passeavam Mas, mais industriosas18 que ligeiras,
Ao longo da água, que, suave e queda, Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Por alvas pedras corre à praia leda. Se deixam ir dos galgos alcançando.
68
10
Começam de enxergar subitamente, jovens; 11 cheios de cobiça; 12 Vénus (por ter um templo no monte
Por entre verdes ramos, várias cores, Erix, na Sicília); 13 arma para lançar flechas; 14 variegada; de cores ou
Cores de quem a vista julga e sente matizes variadas; 15 mulheres; 16 consagrada; 17 ignorantes; 18 astutas.
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente14,
Que mais incita a força dos amores,
PROFESSOR
De que se vestem as humanas rosas15,
Fazendo-se por arte mais fermosas. 2.1 Os "mancebos", chegados
a terra, preparam-se para
caçar, daí alguns levarem
espingardas e bestas.
1. Releia as estâncias 52 e 53. 2.2 Uns preparam-se para
caçar (est. 67, vv. 1-4); outros,
1.1 Refira os aspetos que conferem a esta ilha um caráter de excecionalidade. mais saudosos das delícias
da terra, passeiam ao longo
1.2 Retire das estâncias expressões que remetem para o predomínio da sensação dos cursos de água (est. 67,
vv. 5-8).
visual na descrição da ilha.
2.3 Os jovens marinheiros
1.3 Identifique o(s) recurso(s) expressivo(s) presente(s) na expressão “enseada / Cur- acabam por avistar vultos
de mulheres – “as humanas
va e quieta” (est. 53, vv. 6-7). rosas” (est. 68, v. 7).
3.1 O locutor desse discurso
2. Atente nas estâncias 66, 67 e 68. é Veloso, um dos marinheiros
portugueses.
2.1 Explicite o motivo por que os “mancebos” recorrem às armas. 3.2 Inicia-se aqui a
consideração do caráter
2.2 Comprove que os marinheiros exploram a ilha de formas diferentes. excecional dos heróis
portugueses, uma vez que,
2.3 Diga que outra realidade vem captar a atenção dos jovens marinheiros. com a perseguição das Ninfas,
tem início um convívio que
só seria possível no plano
3. A utilização do discurso direto intromete-se na descrição. extraterreno, espaço até
onde os nautas ascenderam.
3.1 Identifique o locutor desse discurso. Deste modo, processa-se a sua
divinização.
3.2 Mostre que neste passo do episódio se prepara a divinização do herói.
197
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto IX — Imaginário Épico e Reflexões do Poeta
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
Apresenta-se agora um novo conjunto de estâncias do canto IX, onde, para além da
matéria épica, são visíveis novas reflexões do poeta, incitando à ação todos os que
pretendem alcançar a imortalidade e revelando o modo de o conseguir.
88
Assi a fermosa e a forte companhia
O dia quási todo estão passando
Nũa alma,1 doce, incógnita alegria,
Os trabalhos tão longos compensando.
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.
89
Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,
Tétis2 e a Ilha angélica pintada,
Outra cousa não é que as deleitosas
Honras que a vida fazem sublimada.
Aquelas preminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e maravilha,3
Estes são os deleites desta Ilha.
90
Que as imortalidades que fingia4
A antiguidade, que os Ilustres ama,
Lá no estelante5 Olimpo, a quem subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valerosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se chama
Caminho da virtude, alto e fragoso,6
Mas, no fim, doce, alegre e deleitoso,
91
Não eram senão prémios que reparte,
Por feitos imortais e soberanos,
O mundo cos varões que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo7 e Marte,
Eneas e Quirino8 e os dous Tebanos,9
Ceres, Palas e Juno com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.
1
reconfortante, santa; 2 deusa do mar, esposa do Oceano; 3 admiração
4
inventava; 5 constelado; 6 pedregoso; 7 Apolo; 8 Rómulo; 9 Hércules e
Baco.
198
Os Lusíadas
92 94
Mas a Fama, trombeta de obras tais, Ou dai na paz as leis iguais,14 constantes,
Lhe deu no Mundo nomes tão estranhos Que aos grandes não dêem o dos pequenos,15
De Deuses, Semideuses, Imortais, Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Indígetes,10 Heróicos e de Magnos.11 Contra a lei dos imigos Sarracenos:
Por isso, ó vós que as famas estimais, Fareis os Reinos grandes e possantes,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos, E todos tereis mais e nenhum menos:
Despertai já do sono do ócio ignavo,12 Possuireis riquezas merecidas,
Que o ânimo, de livre, faz escravo. Com as honras que ilustram tanto as vidas.
93 95
E ponde na cobiça um freio duro, E fareis claro16 o Rei que tanto amais,
E na ambição também, que indignamente Agora cos conselhos bem cuidados,
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Agora co as espadas, que imortais
Vício da tirania infame e urgente,13 Vos farão, como os vossos já passados.17
Porque essas honras vãs, esse ouro puro, Impossibilidades não façais,
Verdadeiro valor não dão à gente: Que quem quis, sempre pôde; e numerados18
Milhor é merecê-los sem os ter, Sereis entre os Heróis esclarecidos
Que possuí-los sem os merecer. E nesta «Ilha de Vénus» recebidos.
10
homens ilustres, venerados como divindades, após a morte; 11 grandes − qualificativo romano de todos os deuses, exceto de Júpiter (maximus);
12
indolente; 13 que oprime; 14 equitativas; 15 aquilo que é dos humildes; 16 ilustre; 17 antepassados; 18 mencionados.
1. Identifique o modo verbal usado na apresentação dos conselhos e refira o seu valor.
199
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto X — Imaginário Épico
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
A matéria épica não se esgotou no canto IX. Também no canto X, o último, esta pode
ser percecionada, destacando-se a excecionalidade dos navegadores portugueses
e, em particular, do seu supremo representante, Vasco da Gama.
75 79
Despois que a corporal necessidade Uniforme13, perfeito, em si sustido,
Se satisfez do mantimento nobre, Qual, enfim, o Arquetipo14 que o criou.
E na harmonia e doce suavidade Vendo o Gama este globo, comovido
Viram os altos feitos que descobre, De espanto e de desejo ali ficou.
Tétis1, de graça ornada e gravidade, Diz-lhe a Deusa: − «O transunto15, reduzido
Pera que com mais alta glória dobre Em pequeno volume, aqui te dou
As festas deste alegre e claro2 dia, Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas
Pera o felice Gama assi dizia: Por onde vás e irás e o que desejas.
76 80
− «Faz-te mercê, barão, a Sapiência «Vês aqui a grande máquina do Mundo,
Suprema3 de, cos olhos corporais, Etérea e elemental16, que fabricada
Veres o que não pode a vã ciência Assi foi do Saber, alto e profundo,
Dos errados4 e míseros mortais.5 Que é sem princípio e meta limitada17.
Sigue-me firme e forte, com prudência, Quem cerca em derredor este rotundo
Por este monte espesso, tu cos mais.» Globo e sua superfícia tão limada,
Assi lhe diz e o guia por um mato É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,
Árduo, difícil, duro a humano trato. Que18 a tanto o engenho humano não se estende.
77 81
Não andam muito que6 no erguido cume «Este orbe que, primeiro, vai cercando
Se acharam, onde um campo se esmaltava Os outros mais pequenos que em si tem,
De esmeraldas, rubis, tais que presume Que está com luz tão clara radiando
A vista que divino chão pisava. Que a vista cega e a mente vil também,
Aqui um globo vêm7 no ar, que o lume8 Empíreo19 se nomeia, onde logrando20
Claríssimo por ele penetrava, Puras almas estão daquele Bem
De modo que o seu centro está evidente, Tamanho, que ele só se entende e alcança,
Como a sua superfícia, claramente. De quem não há no mundo semelhança.
78
Qual a matéria seja não se enxerga,
Mas enxerga-se bem que está composto
De vários orbes,9 que a Divina verga10
Compôs, e um centro a todos só tem posto. 1
deusa do mar, esposa do Oceano; 2 ilustre, digno de perene
Volvendo,11 ora se abaxe, agora se erga,12 lembrança; 3 Deus (um dos atributos divinos é a omnisciência);
4
Nunca s’ergue ou se abaxa, e um mesmo rosto que se enganam; 5 os homens; 6 quando; 7 veem; 8 luz (começa
a descrição do Cosmos, segundo o sistema de Ptolomeu); 9 esferas
Por toda a parte tem; e em toda a parte
ou céus que, na conceção ptolomaica, se encontravam a seguir
Começa e acaba, enfim, por divina arte, às esferas do Ar e do Fogo, concêntricas, com a Terra no centro;
10
o Poder de Deus; 11 girando; 12 ora se abaixa ora se ergue (em
relação ao plano do horizonte); 13 homogénea, por ser esférica a
superfície; 14 modelo = Deus; 15 cópia (“reduzido / Em pequeno
volume” = em miniatura); 16 formada pelos quatro elementos:
terra, água, ar e fogo; 17 perífrase para Deus (v. 3 e v. 4); 18 conjunção
subordinativa causal; 19 paraíso cristão; 20 usufruindo.
200
Os Lusíadas
1
santos (da Santa Madre Igreja); 2 filho do Céu e da Terra; 3 filho de Apolo, representado com duas caras, simbolizando a
sua capacidade de adivinhar o passado e o futuro; 4 esposa de Júpiter; 5 ensina-no-lo; 6 sagrada escritura; 7 portanto;
8
pintura que varia: poesia; 9 aos outros; 10 texto da Sagrada Escritura; 11 puras, limpas; 12 tem por antecedente "círculo".
201
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
Canto X — Imaginário Épico
86 87
«Com este rapto13 e grande movimento «Olha estoutro debaxo, que esmaltado
Vão todos os que dentro tem no seio; De corpos lisos anda e radiantes,
Por obra deste, o Sol, andando a tento,14 Que também nele tem curso ordenado
O dia e noite faz, com curso alheio.15 E nos seus axes17 correm cintilantes.
Debaxo deste leve,16 anda outro lento, Bem vês como se veste e faz ornado
Tão lento e sojugado a duro freio, Co largo Cinto d’ouro,18 que estelantes
Que enquanto Febo, de luz nunca escasso, Animais doze traz afigurados,19
Duzentos cursos faz, dá ele um passo. Apousentos de Febo20 limitados.
88
«Olha por outras partes a pintura
Que as Estrelas fulgentes vão fazendo:21
Olha a Carreta,22 atenta a Cinosura,23
Andrómeda e seu pai,24 e o Drago25 horrendo;
Vê de Cassiopeia a formosura
E do Orionte26 o gesto turbulento27;
Olha o Cisne morrendo28 que suspira,
A Lebre e os Cães, a Nau e a doce Lira.29
13
movimento giratório; 14 com regularidade; 15 com movimento
que não é, propriamente, devido ao sol, mas ao "Móbile primei-
PROFESSOR ro"; 16 levemente; 17 eixos; 18 Cinto d’ouro: o Zodíaco; 19 estelantes /
Animais doze traz afigurados: doze constelações; 20 Apousentos de
Educação Literária Febo: os doze signos (Febo = Apolo); 21 figuras que as estrelas pare-
14.2; 14.3; 14.4; 14.9
cem formar no céu (= constelações); 22 Ursa Maior; 23 Ursa Menor;
24
1. Esse espaço está reservado Cefeu; 25 Dragão; 26 Orião ou Orion; 27 que traz chuvas e tempes-
para os santos.
tades; 28 ao morrer; 29 nomes de constelações (os que estão escritos
2. A afirmação reduz
com maiúscula nos versos 7 e 8).
os deuses ao seu verdadeiro
papel. Estes são seres que
resultam da imaginação
humana, e que, na verdade,
não têm consistência.
Os deuses apenas servem 1. Identifique para quem está reservado o espaço a que Tétis se refere na estância 82.
para dar o nome às estrelas.
Esta afirmação contribui para
o relevo dado à divinização dos 2. Explicite a intenção da afirmação “fomos fabulosos, / Fingidos de mortal e cego
marinheiros, que, sendo seres engano” (est. 82, vv. 3-4).
de carne e osso, ultrapassam
os deuses, que não passam
de meras ficções. 3. Indique quem é favorecido e quem é desfavorecido pela santa Providência, de acor-
3. Os favorecidos são os bons do com o conteúdo da estância 83.
e os desfavorecidos são os
maus. 4. Identifique, justificando, o recurso expressivo presente nos versos “que esmaltado /
4. Anástrofe, dado que a De corpos lisos anda e radiantes” (est. 87, vv. 1-2).
ordem correta deveria ser:
“que anda esmaltado de
corpos lisos e radiantes”.
Gramática
18.1 GRAMÁTICA
1. Complemento indireto.
1.1 Este pronome refere-se 1. Indique a função sintática do pronome te, em “contar-te” (est. 85, v. 3).
a Vasco da Gama.
2. O complexo verbal sugere 1.1 Identifique a quem se refere o pronome.
continuidade, duração.
2. Explicite o valor do complexo verbal “vão fazendo” (est. 88, v. 2).
202
Os Lusíadas
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
A descrição e disposição das divindades são feitas por Tétis, que explicita também
as razões dessa ordenação. Aí se percebe a dimensão épica associada aos feitos das
várias entidades convocadas.
89 91
«Debaxo deste grande Firmamento, «Neste centro, pousada dos humanos,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo; Que não sòmente, ousados, se contentam
Júpiter logo faz o movimento, De sofrerem da terra firme os danos,
E Marte abaxo, bélico inimigo; Mas inda o mar instábil exprimentam,
O claro Olho do céu, no quarto assento, Verás as várias partes, que os insanos
E Vénus, que os amores traz consigo; Mares dividem, onde se apousentam
Mercúrio, de eloquência soberana1; Várias nações que mandam vários Reis,
Com três rostos2, debaxo vai Diana3. Vários costumes seus e várias leis7.
90 1
do verso 1 ao verso 7 enumeram-se os sete céus a que o poeta já
«Em todos estes orbes, diferente se referira em outros cantos
Curso verás, nuns grave4 e noutros leve5; 2
Lua Cheia, Quarto Crescente e Quarto Minguante (a Lua Nova é
Ora fogem do Centro longamente6, praticamente invisível)
3
Lua
Ora da Terra estão caminho breve, 4
lento
PROFESSOR
5
Bem como quis o Padre omnipotente, rápido
6 Educação Literária
Que o fogo fez e o ar, o vento e neve, a grande distância
7 14.2; 14.4; 14.9
religiões
Os quais verás que jazem mais a dentro
E tem co Mar a Terra por seu centro. 1. Marte é considerado "bélico
inimigo" porque ele é o deus
da guerra.
2. Anáfora.
1. Apresente a razão para a designação de Marte como “bélico inimigo” (est. 89, v. 4).
3. Tétis refere-se a Deus, que
criou o Céu e a Terra.
2. Identifique o recurso expressivo presente nos versos 3 e 4 da estância 90.
Escrita
3. Indique a quem se refere Tétis com a expressão “o Padre omnipotente” (est. 90, v. 5). 11.1; 12.1; 12.2; 12.3; 13.1
203
mais/menos … do que, qual (depois de “tal”), quanto (depois de “tanto”), tanto/tão … como, bem como, como s
A frase complexa: subordinação
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T
R
SUBORDINAÇÃO
PR A
ATIC
Processo de combinação de duas ou mais orações em que uma delas, a subordinada, está
sintaticamente dependente de outra, a subordinante.
Têm grande mobilidade na frase, exceto no caso das comparativas e das consecutivas,
e expressam diferentes valores semânticos, que determinam a sua classificação. Assim,
uma oração subordinada pode ser:
Conjunções/locuções
Classificação Sentido Exemplificação
conjuncionais subordinativas
porque, que, como, dado, Indica a razão, a causa, o motivo ou • Como o perigo espreitava
Causal dado que, uma vez que, visto que, a justificação da situação expressa constantemente, os nautas
pois, já que na subordinante. estavam atentos.
Expressa uma comparação, contendo
mais/menos… do que, qual o segundo elemento da comparação
(depois de “tal”), quanto (depois estabelecida com o conteúdo
da subordinante. • Vasco da Gama falou como
Comparativa de “tanto”), tanto/tão… como,
um douto capitão falaria.
bem como, como, como se, As subordinadas comparativas podem
que nem corresponder a construções elípticas,
nas quais o grupo verbal é elidido.
embora, conquanto que, ainda Apresenta uma ideia ou um facto • Camões prosseguirá o seu
Concessiva que, mesmo que/se, posto que, que contrasta com o expresso na canto, mesmo que o Rei
se bem que, por mais/menos que subordinante. o ignore.
Apresenta a condição ou hipótese exigida • Caso as Ninfas o ajudem,
se, caso, desde que, contanto que,
Condicional para a realização da situação expressa na Camões produzirá um canto
salvo se, a menos que, a não ser que
subordinante. superior aos da Antiguidade.
• A aventura foi tão
tão/tanto… que, a ponto de, Expressa o efeito ou a consequência
Consecutiva grandiosa que deu origem
de tal modo… que do que é dito na subordinante.
a um poema épico.
para, para que, com a finalidade/ • Vénus conduziu os
Refere o propósito, a intenção
o objetivo de, de modo a/que, portugueses até à Ilha com o
Final ou a finalidade da ação expressa
de forma a que, a fim de (que), objetivo de os recompensar
na subordinante.
de maneira a (que) pelo seu esforço.
quando, enquanto, apenas, mal,
• Os marinheiros foram
logo que, depois de/que, antes de/ Cria uma referência temporal à luz da qual
surpreendidos por uma
Temporal que, até que, sempre que, todas as a ação expressa na subordinante deve ser
enorme tempestade,
vezes que, agora que, cada vez que, interpretada.
enquanto navegavam no mar.
assim que
204
se, que nem…
APLICAR PROFESSOR
Gramática
1. Expanda as frases seguintes, introduzindo-lhes uma oração subordinada adverbial 18.2; 18.4; 18.5
do tipo indicado entre parênteses.
1.
a. , os marinheiros ficaram eufóricos. (temporal) a. Quando chegaram à Índia,
b. embora tivesse vivido
b. Camões foi um grande poeta, . (concessiva) na pobreza.
c. O épico português só terminaria o seu canto, . (condicional) c. se o rei o escutasse.
d. para que os nativos não
d. Vasco da Gama fica no navio . (final) o façam, de novo, prisioneiro.
e. O susto do capitão português foi tão grande . (consecutiva) e. que passou a duvidar de
tudo.
f. Há quem veja em Os Lusíadas uma epopeia de imitação, . (causal) f. dado ter semelhanças com
as epopeias da Antiguidade.
g. Os quatro planos estruturais de Os Lusíadas estão organizados . (comparativa) g. como se fossem uma peça
de joalharia, com várias
incrustrações.
2. Identifique e classifique a oração subordinada adverbial presente em cada uma
2.
das frases.
a. "que ficaram maravilhados" −
a. Os marinheiros divertiram-se tanto na Ilha que ficaram maravilhados. subordinada adverbial
consecutiva.
b. Vasco da Gama ordenou o adiamento da partida, uma vez que as condições clima- b. "uma vez que as condições
térias não eram favoráveis à navegação. climatérias não eram
favoráveis à navegação" −
c. Os navegadores aportariam em Melinde desde que a agitação marítima o permi- subordinada adverbial causal.
tisse. c. "desde que a agitação
marítima o permitisse" −
d. Logo que chegaram à Ilha dos Amores, as Ninfas disfarçaram-se de caçadores. subordinada adverbial
condicional.
e. Ainda que o medo fosse grande, Vasco da Gama enfrentou o Adamastor. d. "Logo que chegaram à Ilha
dos Amores" − subordinada
adverbial temporal.
3. Leia atentamente as duas frases a seguir apresentadas. e. "Ainda que o medo fosse
grande" − subordinada
a. O rei de Melinde receberia os portugueses desde que eles fossem desarmados. adverbial concessiva.
b. A chegada do Catual era desejada desde que ele demonstrara vontade de visitar as naus. 3.1 [C]
4.
3.1 Selecione a alternativa que corresponde à situação de subordinação anterior. a. Camões seguiu o modelo
greco-latino embora tivesse
[A] As orações anteriores são subordinadas condicionais. procedido a algumas
adaptações.
[B] As duas orações são subordinadas adverbiais condicionais. b. Camões teria desistido da
epopeia se o rei se mostrasse
[C] A oração da alínea a. é subordinada adverbial condicional e a da b. é temporal. indiferente.
c. Vasco da Gama vacilou uma
vez que o rei de Melinde fizera
4. Transforme as frases simples em frases complexas, considerando o exemplo dado
um pedido estranho.
e recorrendo a orações subordinadas adverbiais. d. Quando anoiteceu, o rei de
Melinde abandonou a nau do
capitão.
· No Renascimento, revitaliza-se o género épico.
· Quando surge o Renascimento, revitaliza-se o género épico.
205
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
LEITURA
Explorando Vénus
Desde 2006 que a sonda Venus Express nos envia com o vento solar e a superfície do planeta. A ESA con-
dados fascinantes sobre o planeta conhecido como trola a sonda a partir do centro de operações da missão
“estrela da manhã” ou “da tarde”. em Darmstadt, na Alemanha. Durante a órbita, uma an-
15 tena numa estação da ESA perto de Madrid, Espanha, é
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla inglesa) utilizada para as comunicações. A sonda recolhe dados
atuou depressa para adequar a sonda Mars Express a uma quando se encontra sobre o polo norte de Vénus, arma-
viagem ao segundo planeta a contar do Sol, demorando zena-os e depois transmite-os quando atinge o ponto da
apenas três anos da conceção ao lançamento. Enviada sua órbita mais próximo da Terra.
5 do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, a Venus 20 Até agora já encontrou indícios de atividade geoló-
Express orbita Vénus há quase oito anos. Uma órbita leva gica recente em Vénus – que ainda poderá estar a de-
cerca de 24 horas a completar e o ponto máximo de correr. Também detetou raios na atmosfera e possibilitou
aproximação ao planeta é a respetiva região polar norte. a criação de mapas meteorológicos que nos permitem
A sonda efetuou o estudo mais detalhado até à data ter hoje um conhecimento muito melhor sobre o clima
10 sobre a “estrela da manhã”. O foco é a atmosfera venu- 25 venusiano.
siana, sobretudo a sua química, dinâmica e as interações Quero Saber, n.o 45, junho de 2014, p. 56.
206
Os Lusíadas
Canto X – Reflexões do Poeta
145 146
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho E não sei por que influxo de Destino
Destemperada1 e a voz enrouquecida, Não tem um ledo orgulho e geral gosto,
E não do canto, mas de ver que venho Que os ânimos levanta de contino
Cantar a gente surda e endurecida. A ter pera trabalhos ledo o rosto.
O favor2 com que mais se acende o engenho Por isso vós, ó Rei, que por divino
Não no dá a pátria, não, que está metida Conselho4 estais no régio sólio5 posto,
No gosto da cobiça e na rudeza Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Dũa austera3, apagada e vil tristeza Senhor só6 de vassalos excelentes.
1
desafinada; 2 aplauso; 3 sombria; 4 divino / Conselho: providência de Deus; 5 trono (de Portugal); 6 único.
207
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Canto X – Reflexões do Poeta
147 151
Olhai que7 ledos vão, por várias vias, Os Cavaleiros tende em muita estima,
Quais rompentes liões e bravos touros, Pois com seu sangue intrépido e fervente
Dando os corpos a fomes e vigias8, Estendem não sòmente a Lei de cima,20
A ferro, a fogo, a setas e pelouros, Mas inda vosso Império preminente.
A quentes regiões, a plagas9 frias, Pois aqueles que a tão remoto clima
A golpes de Idolátras10 e de Mouros, Vos vão servir, com passo diligente21,
A perigos incógnitos do mundo, Dous inimigos vencem: uns, os vivos,22
A naufrágios, a pexes, ao profundo11. E (o que é mais) os trabalhos excessivos.
148 152
Por vos servir, a tudo aparelhados12; Fazei, Senhor, que nunca os admirados
De vós tão longe, sempre obedientes; Alemães, Galos,23 Ítalos e Ingleses,
A quaisquer vossos ásperos mandados, Possam dizer que são pera mandados,24
Sem dar reposta, prontos e contentes. Mais que pera mandar, os Portugueses.
Só com saber que são de vós olhados, Tomai conselho só d’exprimentados,
Demónios infernais, negros e ardentes, Que viram largos anos, largos meses,
Cometerão13 convosco, e não duvido Que, posto que em cientes muito cabe,
Que vencedor vos façam, não vencido. Mais em particular o experto sabe.
149 153
Favorecei-os logo, e alegrai-os De Formião,25 filósofo elegante,
Com a presença e leda humanidade14; Vereis como Anibal escarnecia,
De rigorosas leis desalivai-os15, Quando das artes bélicas, diante
Que assi se abre o caminho à santidade16. Dele, com larga voz tratava e lia.26
Os mais exprimentados levantai-os, A disciplina militar prestante
Se, com a experiência, têm bondade17 Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Pera vosso conselho, pois que sabem Sonhando, imaginando ou estudando,
O como, o quando, e onde as cousas cabem. Senão vendo, tratando e pelejando.
150 154
Todos favorecei em seus ofícios, Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
Segundo têm das vidas o talento; De vós não conhecido nem sonhado?
Tenham Religiosos exercícios18 Da boca dos pequenos sei, contudo,
De rogarem, por vosso regimento19, Que o louvor sai às vezes acabado.27
Com jejuns, disciplina, pelos vícios Nem me falta na vida honesto estudo,
Comuns; toda ambição terão por vento, Com longa experiência misturado,
Que o bom Religioso verdadeiro Nem engenho28, que aqui vereis presente,
Glória vã não pretende nem dinheiro. Cousas que juntas se acham raramente.
7
quão; 8 vigílias; 9 território; 10 que adora ídolos; 11 abismo da morte; 12 preparados; 13 acometerão; 14 benevolência; 15 aliviai-os; 16 veneração (dos
súbditos); 17 capacidade, competência; 18 Religiosos exercícios: práticas de devoção; 19 reinado; 20 religião cristã (de cima = do Céu); 21 zeloso, cui-
dadoso; 22 os homens; 23 Franceses; 24 para (serem) mandados 25 filósofo grego que, em Éfeso, dissertou perante Aníbal acerca da arte de com-
bater; o general cartaginês, naturalmente, só pôde notar desacertos naquele saber teórico; 26 expunha pomposamente; 27 perfeito; 28 talento.
208
Os Lusíadas
155 29
afeito, habituado; 30 falta;
Pera servir-vos, braço às armas feito29, 31
merecimento; 32 sábia;
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; 33
profetiza; 34 uma das três Górgonas
Só me falece30 ser a vós aceito, − que tornava de pedra aqueles
De quem virtude31 deve ser prezada. que a contemplassem; 35 Atlas, em
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito Marrocos; 36 cabo Espartel, a oeste de
Dina empresa tomar de ser cantada, Tânger; 37 Tarudante, capital de uma
Como a pres[s]aga32 mente vaticina33 província marroquina; 38 asseguro;
39
em vós se veja / Sem à dita de
Olhando a vossa inclinação divina,
Aquiles ter enveja: em vós possa rever-
se sem invejar a glória de Aquiles (que,
156 cantado na Ilíada, era invejado, por
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,34 este motivo, por Alexandre).
A vista vossa tema o monte Atlante35,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa36
Os muros de Marrocos e Trudante37, PROFESSOR
A minha já estimada e leda Musa
Fico38 que em todo o mundo de vós cante, Educação Literária
14.2; 14.3; 14.6; 14.7;
De sorte que Alexandro em vós se veja, A El-Rei D. Sebastião, 1973,
14.9
João Cutileiro (1937- ), Lagos.
Sem à dita de Aquiles ter enveja.39 1. Plano mitológico e plano
do poeta, como se vê pela
referência às musas, pela
utilização da primeira
1. O regresso à Pátria origina nova reflexão do poeta. pessoa gramatical e pelas
Distinga, na estância 145, dois dos quatro planos de Os Lusíadas, justificando. lamentações do poeta.
2. A exortação deve-se
2. Justifique a exortação ao “Rei” que se verifica na estância 146. ao facto de o poeta pensar
que o rei, apesar de dever
2.1 Evidencie três marcas linguísticas associadas ao apelo do poeta. alegrar-se por ter tão bons
vassalos, ainda não agiu em
conformidade.
3. Nesta última reflexão, surgem sentimentos contraditórios, relacionados ora com
2.1 Uso do vocativo,
o desalento ora com o orgulho e a esperança. do pronome pessoal “vós”,
Proceda ao levantamento dos factos que suscitam esta duplicidade de sentimentos. da segunda pessoa e da forma
verbal na mesma pessoa e no
imperativo (“Olhai”).
4. Complete o quadro que se segue, baseando-se nas estâncias apresentadas e/ou
3. O desalento resulta
nos versos selecionados. da indiferença dos
portugueses face ao seu
canto, afirmando o poeta
Recurso expressivo Exemplos textuais que a Pátria está envolta
numa “austera, apagada e vil
“Não no dá a pátria, não, que está metida / No gosto da cobiça tristeza” (est. 145, v. 8);
Metonímia
e na rudeza” (est. 145, vv. 6-7) o orgulho e a esperança
devem-se à consciência do
a. “ó Rei” (est. 146, v. 5) seu talento e ao facto de os
portugueses continuarem
Comparação b.
a lutar pelo rei, que o poeta
“A ferro, a fogo, a setas e pelouros, / […] a pexes, ao profundo.” espera venha a reconhecer
c. todos os que o merecem
(est. 147, vv. 4-8)
e o engrandecem.
“Só com saber que são de vós olhados, / Demónios infernais, 4. a. Apóstrofe; b. “Quais
d.
negros e ardentes, / Cometerão convosco […]” (est. 148, vv. 5-7) rompentes liões e bravos
touros” (est. 147, v. 2);
Metáfora e. c. Enumeração ou aliteração;
d. Hipérbole; e. “Pois com seu
“Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, / De vós não conhecido sangue intrépido e fervente”
f.
nem sonhado?” (est. 154, vv. 1-2) (est. 151, v. 2); f. Interrogação
retórica, tripla adjetivação;
Personificação “Se me isto o Céu concede” (est. 155, v. 5) g. “A vista vossa tema o monte
Atlante” (est. 156, v. 2).
Anástrofe g.
5. Valor final ou de finalidade.
209
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
PROFESSOR GRAMÁTICA
Gramática 1. Indique o nome do processo fonológico verificado nas palavras selecionadas,
17.3; 18.1; 18.3; 18.4
1.
considerando a grafia atual.
a. epêntese
b. epêntese Palavras exemplificativas
c. prótese Processo fonológico
2.
Grafia anterior Grafia atual
a. Coordenada copulativa pexes (est. 147, v. 8) peixes a.
b. Subordinada adverbial
condicional reposta (est. 148, v. 4) resposta b.
c. Subordinada adverbial
comparativa inda (est. 151, v. 4) ainda c.
d. Coordenada disjuntiva
2.1
2. Classifique as orações seguintes.
a. “os” − complemento direto
b. “me” − complemento a. “e alegrai-os / Com a presença e leda humanidade” (est. 149, vv. 1-2)
indireto
2.2 “a pres[s]aga mente”. b. “Se me isto o Céu concede” (est. 155, v. 5)
2.3 Modificador do nome c. “Como a pres[s]aga mente vaticina” (est. 155, v. 7)
restritivo.
3. Campo lexical. d. “Ou rompendo nos campos de Ampelusa / Os muros de Marrocos e Trudante”
(est. 156, vv. 3-4)
Escrita 2.1 Indique as funções sintáticas de “os” (alínea a.) e de “me” (alínea b.)
10.2; 11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
13.1 2.2 Identifique o sujeito da frase da alínea c.
O aluno poderá desenvolver os
seguintes tópicos: 2.3 Refira a função sintática do segmento “de Marrocos e Trudante” (alínea d.)
– O poeta Luís Vaz de Camões
viveu no século XVI, tendo 3. Identifique a relação semântica existente entre os vocábulos “Cavaleiros” (est. 151, v. 1),
nascido por volta de 1525 “inimigos” (est. 151, v. 7), “militar” (est. 153, v. 5) e “armas” (est. 155, v. 1).
e morrido em 1579 ou 1580.
– Este período foi influenciado
pelo Humanismo e pelo
Renascimento, o que se vai
refletir na vida e na obra do
E S C R I TA
poeta.
– Influenciado pelos valores
renascentistas, o poeta acaba Apresente, num texto expositivo de 120 a 150 palavras, as qualidades literárias
por congregar em si as duas e bélicas do poeta, baseando-se nas estâncias 154 e 155 e nos conhecimentos adquiridos.
grandes características
do Homem renascentista,
sintetizadas num verso da Apresente as ideias de forma fundamentada e objetiva, encadeando-as lógica e sequen-
sua obra – “nũa mão sempre
a espada e noutra a pena” –, o cialmente, e atentando na correção linguística e ortográfica.
que se pode comprovar pelo
conteúdo das estâncias 154
(vv. 5-8) e 155 (vv. 1-4). Planifique o seu texto, obedecendo à seguinte estrutura.
• Introdução – Identificação do autor; breve referência à época em que viveu.
• Desenvolvimento – (…).
• Conclusão – Confirmação das ideias transmitidas nas estâncias referidas e nos aspe-
tos avançados no desenvolvimento.
BLOCO INFORMATIVO –
pp. 278-279, 277, 282, 283
MANUAL – pp. 26-27
210
Os Lusíadas
COMPREENSÃO DO ORAL
Até aqui viajou pelo mundo através das palavras do poeta Luís de Camões.
Agora, irá contactar com outra forma de conhecer a época dos Descobrimentos.
211
mais/menos … do que, qual (depois de “tal”), quanto (depois de “tanto”), tanto/tão … como, bem como, como s
Orações subordinadas substantivas e adjetivas
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T
Orações subordinadas substantivas
R
APL ICA
Podem ser:
• Relativas − introduzidas por uma forma relativa que não tem antecedente, podem de-
sempenhar as funções sintáticas de sujeito, de complemento direto, de complemento indi-
reto, de complemento oblíquo, de predicativo do sujeito ou de modificador do grupo verbal.
Designação da oração
Elementos de ligação Sentido/Exemplificação
subordinada adjetiva
• pronomes relativos: Introduzida por um relativo que retoma um referente
que, quem (invariáveis), antecedente. Fornece informação adicional sobre o constituinte
o qual (variável em que modifica.
Relativa explicativa género e número) • Luís de Camões, que escreveu poesia lírica, dedicou-se também
• determinante relativo: à escrita de uma epopeia.
cujo (variável em género Nota: estas frases vêm sempre entre vírgulas
e número)
• quantificador relativo: Introduzida por um relativo que retoma um antecedente.
Relativa restritiva quanto (variável em Restringe a referência do constituinte que modifica.
género e número)
• Li todos as estrofes que apresentam as reflexões do poeta.
• advérbio relativo: onde
212
se, que nem…
APLICAR PROFESSOR
Gramática
Atente nas frases seguintes. 18.1; 18.2; 18.4; 18.5
3. Identifique a função sintática desempenhada por cada uma das orações subordi-
nadas identificadas em 2.
213
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
PROFESSOR LEITURA
Leitura Os navegadores portugueses conquistaram o mar. Todavia, as profundezas deste elemen-
7.6; 8.1
to estão ainda por descobrir.
1. A comparação diz respeito
ao nível de conhecimentos que
se possui sobre a superfície da
Lua e as profundezas do mar,
concluindo-se que se sabe
mais sobre a superfície do
satélite natural da Terra (Lua).
Exploradores oceânicos
2. O desejo terá surgido após ESTAS INCRÍVEIS PROEZAS DA ENGENHARIA APROXIMAM-NOS DAS PROFUNDEZAS DOS MARES.
ter sido imaginado o
primeiro submarino, por
um estalajadeiro inglês. O que jaz no fundo do mar? Esta é uma questão que nos fascina há décadas. Sabemos
3. O estudo das profundezas mais sobre a superfície da Lua do que sobre os oceanos profundos do nosso planeta, pois as
do mar pode ajudar cientistas limitações de uma deslocação ao fundo do mar são tantas como as de ir ao espaço. Mas
e exploradores “a conhecer
melhor a superfície do nosso quando a natureza nos coloca problemas, nós ripostamos com soluções tecnológicas.
planeta” (l. 12), nomeadamente 5 O primeiro submarino terá sido imaginado em 1580 por um estalajadeiro inglês, ao refle-
ao nível do estudo das placas
tectónicas, contribuindo para tir sobre as propriedades da flutuabilidade e da deslocação da água. A partir daí, o princípio
prevenir “terramotos de levar seres humanos desde o nível do mar até às regiões mais profundas conhecidas dos
e tsunamis” (l. 14).
4. O texto apresenta
oceanos numa cabina pressurizada evoluiu para uma indústria colossal, essencial para cien-
uma linguagem objetiva, tistas, militares e exploradores.
denotativa, um caráter
demonstrativo e conciso.
10 Mas quais as vantagens de mergulhar tão fundo e o que há para ver? Estudar o fundo do
mar e as suas características geológicas e topográficas em determinadas regiões pode
Gramática ajudar a conhecer melhor a superfície do nosso planeta. Os cientistas que estudam as placas
18.4
tectónicas podem aprender muito com as fossas oceânicas, adquirindo conhecimentos que
Trata-se de uma oração podem conduzir a avanços nos sistemas de alerta para terramotos e tsunamis.
subordinada adjetiva relativa 15 Da mesma forma, o estudo da matéria em decomposição recolhida no fundo oceânico
restritiva.
pode ajudar-nos a saber mais sobre a forma como o carbono circula sobre os ecossistemas
“O conteúdo de cada conto” e é armazenado nos oceanos, o que pode influenciar o nosso conhecimento das alterações
(pp. 215-217) climáticas.
1.
Regra geral, um submersível é um pequeno veículo subaquático tripulado mas não total-
a. Reflexão a propósito
do desprezo a que os
20 mente autónomo como um submarino. Um dos mais famosos e há mais tempo em serviço
portugueses votam as artes é o Alvin, do Instituto Oceanográfico de Woods Hole (IOWH), no Massachusetts (EUA) − o
e da incapacidade destes em
aliar as armas às letras. primeiro do seu género capaz de transportar passageiros.
b. Na estância 2, surge nova Para explorar as profundezas oceânicas também existem os ROV (de Remotely Operated
intervenção do poeta a elogiar Vehicle), ou veículos operados remotamente; equipados com câmaras e ferramentas para
o espírito de cruzada dos
portugueses. Na estância 78, o 25 captar imagens e recolher amostras, podem ser controlados a partir de um navio à superfície.
poeta invoca as Ninfas do Tejo
Quero Saber, n.o 52, janeiro de 2015, p. 54.
e do Mondego e lamenta
a situação em que se
encontra, tendo já sido vítima
de vários infortúnios.
1. No primeiro parágrafo do texto estabelece-se uma comparação.
Critica os opressores e
aqueles que não prezam quem Clarifique-a.
os canta, afugentando assim
outros escritores. Por isso, 2. Indique o momento a partir do qual se criaram os princípios que poderiam levar os
pede o favor das Ninfas para
que, no seu canto, enalteça seres humanos às profundezas do mar.
apenas os que o mereçam.
c. As reflexões centram-se no 3. Mencione os aspetos positivos decorrentes do estudo do mar.
incitamento à ação daqueles
que pretendem alcançar a
imortalidade, devendo, para
4. Identifique três características do texto expositivo aqui presentes.
isso, recusar a tirania e lutar
contra os sarracenos, pois só
deste modo se alcançarão as GRAMÁTICA
verdadeiras honras e o direito
a serem recebidos na ilha de
Vénus.
Classifique a oração “que estudam as placas tectónicas” (ll. 12-13).
214
Os Lusíadas
O conteúdo de cada canto
INFORMAR
O poeta pede inspiração a Calíope para dar conta do que Vasco da Gama narrara
ao rei e, em analepse encaixada, o capitão português vai descrever a situação geo-
gráfica da Europa, bem como a origem e a afirmação da nacionalidade, incluin-
do neste relato as batalhas de S. Mamede e as de Ourique, a ação de Egas Moniz,
o pedido de auxílio para o marido, por parte de Maria ao pai, D. Afonso IV, facto que
CANTO III constitui o episódio lírico designado de “Formosíssima Maria”.
(143 estâncias)
Exalta-se o heroísmo de D. Afonso IV, destacando-o como herói da batalha do Sa-
lado (1.o episódio) e de outros monarcas portugueses, como Afonso III e D. Dinis.
A partir da estância 119, o poeta detém-se na história de amor de Pedro e Inês,
surgindo o 2.o episódio lírico, o de Inês de Castro. Termina o canto com a referência
ao caráter brando de D. Fernando.
SÉCULO XV e 1497
215
LP ua ídsr ed eA nC taómnõi oe sV i e i r a
O conteúdo de cada canto
1498
Continua a narração de Gama ao rei de Melinde, dando conta, agora, dos acon-
tecimentos relativos à viagem, desde Lisboa até Melinde, descrevendo a travessia
marítima e os incidentes ocorridos, nomeadamente o fogo-de-Santelmo e a trom-
ba marítima. Insere ainda um episódio breve (o 5.o), relativo à aventura de Fernão
Veloso, o marinheiro que, com os nativos, se aventurou na mata. Prossegue o relato a.
da viagem para destacar o 6.o episódio, o do Adamastor, ocorrido aquando da pas-
sagem pelo Cabo das Tormentas.
CANTO V A viagem prossegue até à terra que designaram de Bons Sinais, onde foram bem re-
(100 estâncias) cebidos e ergueram um padrão. Contudo, a alegria cede lugar à desventura quando
se veem assolados pelo escorbuto, doença fatal para quem a apanhava, como foi o
caso de alguns companheiros.
Partiram de novo procurando terra mais firme, tendo chegado a Moçambique, onde
se depararam com a falsidade, e, só depois, a Melinde, onde se encontram no mo-
mento.
O canto termina com nova reflexão.
216
Os Lusíadas
No fim do canto e da
epopeia, o poeta refere
Ainda na ilha, os nautas vão ser presenteados com um banquete oferecido por o seu desânimo por
Tétis e as restantes Ninfas. “cantar a gente surda
Uma deusa vai prever a vinda de outras armadas e as dificuldades que irão en- e endurecida” e por
contrar, mas é interrompida pelo poeta, que faz uma invocação a Calíope, para a pátria estar envolta
que o seu gosto pela escrita não esmoreça devido ao peso da idade ou ao seu na cobiça e na tristeza;
infortúnio. enumera as sevícias
CANTO X
a que os portugueses
(156 estâncias) A Ninfa prossegue com a sua profecia acerca das conquistas futuras dos portu-
são capazes de se
gueses.
submeter para servir o
Para terminar os festejos, Tétis conduz Vasco da Gama ao cume de um monte, rei e exorta D. Sebastião
onde se encontra um globo, a que a deusa chama “máquina do Mundo”. Aqui, a realizar novos feitos,
indica-lhe os lugares onde os portugueses farão grandes feitos. oferecendo-se para
Tétis despede-se dos portugueses e estes regressam à pátria. mostrar ao mundo a
grandeza do monarca,
através do seu canto.
PROFESSOR
1. Complete os espaços da coluna da direita (alíneas a., b. e c.), recuperando o conteú-
1. Proposta de resolução
do das reflexões do poeta que se encontram em falta. na página 214.
217
PA R A S A B E R Os Lusíadas
PROFESSOR
Observe e leia os esquemas desta dupla página para obter uma visão global da epo-
peia camoniana.
Apresentação
Síntese da Unidade
Apresentação OS LUSÍADAS
Galeria de imagens
Epopeia
Narrativa em verso destinada a celebrar feitos grandiosos de um herói, neste caso coletivo
ESTRUTURA INTERNA
PLANO DA VIAGEM
DESENVOLVIMENTO NARRAÇÃO (I, 19 a X, 144) AÇÃO CENTRAL
(de Vasco da Gama à Índia)
Acompanha,
PLANO
Fragilidade da vida humana (I) em paralelo,
DOS DEUSES OU MITOLÓGICO
a ação central
Desencanto do poeta
CONCLUSÃO e exortação final a D. Sebastião
(X, 145 a 156)
218
NARRADORES
IMAGINÁRIO ÉPICO
10 cantos
1102 estrofes
LINGUAGEM E ESTILO
219
PA R A V E R I F I C A R Os Lusíadas
220
1.7 O episódio da Ilha dos Amores tem um caráter simbólico porque
[A] representa o mundo do maravilhoso.
[B] ilustra a mitologia d’Os Lusíadas.
[C] remete para a recompensa dada aos nautas.
[D] sugere o mundo do onírico.
221
PA R A R E C U P E R A R
PROFESSOR EDUCAÇÃO LITERÁRIA
1. Complete o texto.
Apresentação
Galeria de imagens Os Lusíadas é uma a. do século XVI, escrita por Luís de Camões, e segue
Apresentação os modelos greco-b. . A obra, quanto à sua estrutura c. , está
Síntese da Unidade dividida em d. e. , constituídos por um número variável de
Teste interativo f. (estâncias de oito versos). Os versos são todos g. .
Os Lusíadas
Quanto à estrutura h. , a epopeia camoniana divide-se em
Educação Literária i. partes: a Proposição, a j. , a k. e a Narração.
Há ainda a considerar quatro l. estruturais, a saber: o m. da
1. n. , o plano o. , o plano da História de Portugal e o plano das
a. epopeia
b. latinos p. do q. .
c. externa
d. dez 2. Faça corresponder as ideias da coluna A às passagens da epopeia camoniana pre-
e. cantos sentes na coluna B.
f. oitavas
g. decassílabos
h. interna Coluna A Coluna B
i. quatro
j. Invocação [1] “Vai César sojugando toda a França /
k. Dedicatória E as armas não lhe impedem a ciência; /
l. planos [A] O poeta reflete sobre a fragilidade
m. plano
Mas, numa mão a pena e noutra a lança,”
humana.
n. viagem
o. mitológico [2] “Sem vergonha o não digo, que a razão /
p. reflexões/considerações […] É não se ver prezado o verso e a rima, /
q. poeta Porque quem não sabe arte, não na
2. estima.”
[A] – [6] [B] O herói, à boa maneira clássica, deve
[B] – [1] ser completo: guerreiro e dotado [3] “Nas naus estar se deixa, […] / Que não se
[C] – [2] culturalmente. fia já do cobiçoso / Regedor, corrompido
e pouco nobre. […] Veja agora o juízo
[D] – [5]
curioso / Quanto no rico, assi como
[E] – [4]
no pobre, / Pode o vil interesse e sede
[F] – [3]
immiga / Do dinheiro, que a tudo obriga.”
[C] Os portugueses, na sua opinião,
desprezam as artes e as letras. [4] “No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho /
Destemperada e a voz enrouquecida, /
E não do canto, mas de ver que venho /
Cantar a gente surda e endurecida. /
O favor com que mais se acende o
[D] O poeta tece considerações de caráter engenho / Não no dá a Pátria […]”
autobiográfico, criticando aqueles que
o perseguiam em vez de valorizarem os [5] “[…] Mas, ó cego, / Eu, que cometo, […] Por
seus serviços à pátria. caminho tão árduo, longo e vários […] /
[…] há tanto tempo que […] / A Fortuna
me traz peregrinando […] Não bastava /
Que tamanhas misérias me cercassem, /
[E] O poeta sente-se cansado, não de […] aqueles que eu cantando andava […] /
cantar, mas de constatar que não Trabalhos nunca usados me inventaram
é escutado nem recompensado. […]”
222
Os Lusíadas
GRAMÁTICA PROFESSOR
Gramática
1. Leia com atenção as seguintes frases.
1.1
a. Pensa-se que os navegadores, que eram muito esforçados, trouxeram glória ao país. a. "que eram muito esforçados"
– modificador do nome apositivo;
b. Quando regressaram da Índia, os nautas pareciam extenuados. "ao país" – complemento
indireto
c. O marinheiro e o Adamastor tiveram uma conversa longa. b. "da Índia"– complemento
oblíquo, "extenuados" –
d. O povo ofereceu gentilmente uma recompensa a Vasco da Gama. predicativo do sujeito
c. "O marinheiro e o Adamastor"
e. A Índia foi explorada há alguns séculos pelos nossos antepassados. – sujeito (composto); "longa" –
modificador do nome restritivo
f. A descoberta do caminho marítimo para a Índia constitui um passo essencial d. "uma recompensa" –
na construção do Império. complemento direto; "a Vasco da
Gama" – complemento indireto;
1.1 Indique a função sintática dos segmentos sublinhados em cada frase. e. "pelos nossos antepassados" –
complemento agente da passiva
1.2 Reescreva as frases c. e d., pronominalizando os segmentos em que tal seja possível. f. "do caminho marítimo para a
Índia" – complemento do nome;
1.3 Indique em que voz (ativa ou passiva) se encontram as frases d. e e. "essencial" – modificador do
nome restritivo; "do Império" –
1.4 Reescreva as frases d. e e., transformando a frase ativa em passiva ou a voz passi- complemento do nome
va em ativa. 1.2 c. Eles tiveram-na. d. Ele
ofereceu-lha gentilmente.
1.3 d. voz ativa; e. voz passiva.
2. Considere as frases abaixo apresentadas.
1.4 d. Uma recompensa foi
a. Se os portugueses não tivessem chegado à Índia, o Oriente seria desconhecido. gentilmente oferecida a
Vasco da Gama pelo povo.
b. Asseguro-vos que nunca tinha havido heróis tão corajosos. e. Os nossos antepassados
exploraram a Índia há alguns
c. Os nautas eram tão aventureiros que não temeram os perigos do mar. séculos.
2.1 a. Oração subordinada
2.1 Classifique a oração sublinhada em cada frase. (adverbial) condicional;
b. Oração subordinada
2.2 Indique em que tempo se encontram as formas verbais destacadas a negrito nas (substantiva) completiva;
frases a. e b. c. Oração subordinada
(adverbial) consecutiva.
2.2 a. Pretérito-mais-
E S C R I TA -que-perfeito composto do
conjuntivo; b. Pretérito mais-
Observe a imagem. -que-perfeito composto do
indicativo.
Escrita
Este quadro poderia
representar um dos
marinheiros (se ignorarmos
o vestuário do jovem), que se
encanta com a beleza das
jovens a banharem-se num dos
regatos da ilha. Inicia-se, então,
um convívio amistoso.
Os olhares das jovens são
sedutores e todas requisitam
a atenção do homem. A água,
os tons castanhos e os verdes
sugerem um local fresco e
sombrio, convidativo aos jogos
Hylas and the Nymphs, 1896, John William Waterhouse, Galeria amorosos.
de Arte de Manchester, Inglaterra. As flores amarelas nos
cabelos das ninfas realçam
o seu tom castanho arruivado,
Num texto expositivo (80 a 120 palavras), associe a imagem a um momento concreto que contrasta com a pele cor
do episódio da Ilha dos Amores, focando os seguintes aspetos: da neve, pintada assim
à maneira petrarquista.
• local onde se passa a ação; (90 palavras)
• personagens intervenientes;
• os tons predominantes.
223
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Os Lusíadas
PROFESSOR
GRUPO I
GRUPO I
Educação Literária Leia com atenção as estâncias seguintes.
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.9; 15.3 10
8
1. As estâncias selecionadas
pertencem à Dedicatória, Vós, poderoso Rei, cujo alto Império Vereis amor da pátria, não movido
momento em que o poeta O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, De prémio vil, mas alto e quási eterno;
vai dedicar o seu poema
a D. Sebastião, referindo Vê-o também no meio do Hemisfério, Que não é prémio vil ser conhecido
também a proeminência E quando dece o deixa derradeiro; Por um pregão do ninho meu paterno.
em termos geográficos
do reino que o monarca Vós, que esperamos jugo e vitupério1 Ouvi: vereis o nome engrandecido
lidera, como se pode Do torpe Ismaelita2 cavaleiro, Daqueles de quem sois senhor superno5,
comprovar em “Vós,
poderoso Rei, cujo alto Do Turco Oriental e do Gentio E julgareis qual é mais excelente,
Império / O Sol, logo em Que inda bebe o licor do santo Rio3: Se ser do mundo Rei, se de tal gente.
nascendo, vê primeiro”
(est. 8, vv. 1-2) e ainda em
“Inclinai por um pouco a 9 11
majestade / Que nesse tenro
gesto vos contemplo” Inclinai por um pouco a majestade Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
(est. 9, vv. 1-2). Que nesse tenro gesto vos contemplo, Fantásticas, fingidas, mentirosas,
2. O rei D. Sebastião é Que já se mostra qual na inteira idade, Louvar os vossos, como nas estranhas
caracterizado como muito
jovem (“Que nesse tenro Quando subindo ireis ao eterno templo4; Musas, de engrandecer-se desejosas:
gesto vos contemplo”, est. Os olhos da real benignidade As verdadeiras vossas são tamanhas
9, v. 2), mas muito corajoso
e capaz de causar terror Ponde no chão: vereis um novo exemplo Que excedem as sonhadas, fabulosas,
aos mouros (“Vós, que De amor dos pátrios feitos valerosos, Que excedem Rodamonte6 e o vão Rugeiro7
esperamos jugo e vitupério /
Do torpe Ismaelita cavaleiro, Em versos divulgado numerosos. E Orlando8, inda que fora verdadeiro.
/ Do Turco Oriental e do
Gentio”, est. 8, vv. 5-7). É Luís de Camões, Os Lusíadas (Canto I)
bondoso (“Os olhos da real
benignidade / Ponde no
chão […]”, est. 9, vv. 5-6) e 1
domínio e injúrias
digno de alcançar eterna
2
glória (“Quando subindo ireis turcos
ao eterno templo”, 3
Ganges
est. 9, v. 4). 4
templo da fama eterna
3. O poeta pede ao rei que 5
se digne a olhar para a superior
sua obra, pois nela verá o 6
personagem de Orlando Enamorado, de Boiardo, poeta italiano do séc. XV
engrandecimento da pátria, 7
pelos feitos realizados pelo personagem de Orlando Furioso, de Ariosto, poeta italiano do séc. XVI
8
povo luso. palavra italiana correspondente à francesa Roland, herói da Chanson de Roland,
4. O poeta recorre a várias poema do fim do séc. XI
formas verbais no imperativo
(“Inclinai”; “Ponde”; “Ouvi”),
pois está a formular um
pedido a D. Sebastião:
que este preste atenção à 1. Insira, de forma justificada, as estâncias selecionadas na estrutura interna do poe-
epopeia que lhe é dedicada
e que enaltece o povo que ma épico.
governa.
5. O canto do poeta é 2. Apresente três traços caracterizadores do destinatário do poeta, comprovando a
superior, dado basear-se sua resposta com elementos textuais.
em feitos concretos e
reais: “Em versos divulgado
numerosos” (est. 9, v. 8). Por 3. Explicite o pedido formulado pelo poeta nos quatro últimos versos da estância 9.
isso, o poeta afirma que o rei
não verá “com vãs façanhas, 4. Comente o recurso às formas verbais no imperativo, identificando-as.
/ Fantásticas, fingidas,
mentirosas, / Louvar os
5. Justifique a excecionalidade do canto do poeta, recorrendo a duas expressões tex-
[nossos feitos] (est. 11, vv.
1-3), mas verá apenas as tuais pertinentes.
“Que excedem as sonhadas,
fabulosas, / Que excedem
Rodamonte e o vão Rugeiro”
(est. 11, vv. 6-7).
224
GRUPO II
1. Depois de ler o texto, selecione a alternativa que completa corretamente cada afir- PROFESSOR
mação.
225
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R Os Lusíadas
PROFESSOR 1.3 A visita aos diferentes territórios conquistados pelos portugueses faz-se
[A] embarcando numa réplica de uma caravela que passa por espaços recriados.
GRUPO II
Leitura [B] através de dramatizações preparadas pelos atores.
8.1
[C] pela manipulação das várias tecnologias disponibilizadas.
1.1 [B]
1.2 [C]
2. Classifique o sujeito do primeiro período do texto.
1.3 [A]
3. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes abaixo apresen-
Gramática tados.
18.1; 18.4
a. “a quem chega ao World of Discoveries” (l. 3)
2. Sujeito composto.
b. “dos visitantes pelos Descobrimentos portugueses” (l. 11)
3.
a. Complemento indireto c. “em ambiente de exposição” (l. 12)
b. Complemento do nome
d. “por um ‘marinheiro’” (l. 22)
c. Modificador (do grupo
verbal)
4. Classifique as seguintes orações.
d. Complemento agente
da passiva a. “Para continuar a saber mais” (l. 14)
4.
b. “que tem partida da medieval Lisboa” (ll. 31-32)
a. Oração subordinada
(adverbial) final
b. Oração subordinada
5. Identifique a relação semântica existente entre “onda”, “marinheiro” e “caravela”.
(adjetiva) relativa (restritiva)
5. Campo lexical. 6. Indique o referente do pronome sublinhado em “que desvendam a evolução da car-
6. “os globos 4D”. tografia” (l. 17).
GRUPO III
GRUPO III
Escrita
11.1; 11.2; 12.1; 12.2; Observe a imagem.
12.4; 13.1
Resposta de caráter
pessoal, contudo os
alunos devem referir
os seguintes tópicos:
o momento da partida
de Lisboa (Restelo);
a despedida festiva, com
pompa e circunstância;
a nobreza e o clero em
primeiro plano na praia
(o vermelho e os dourados
no vestuário indiciam o
estatuto social), seguidos
do povo; Vasco da Gama
é o último a embarcar,
despedindo-se de Portugal;
as naus com as velas
preparadas para receber
o vento, algumas nuvens A partida de Vasco da Gama para a Índia, 1900, Alfredo Roque Gameiro, Biblioteca
num céu azul, o mar calmo Nacional de Portugal
(indício de boa viagem);
a cruz de oito pontas,
símbolo da Ordem de Cristo, Num texto de apreciação crítica (100 a 140 palavras), associe a imagem a um momento con-
representante da fé cristã. creto de Os Lusíadas, recorrendo a uma linguagem valorativa e focando os seguintes aspetos:
Tudo denuncia um país em
expansão, o início de um • local onde se passa a ação;
império.
• personagens intervenientes;
• tons predominantes;
• estrutura tripartida do texto.
226
MÓDULO
3
2. História Trágico-Marítima
PARA CONTEXTUALIZAR | PARA INICIAR
PARA DESENVOLVER
Educação Literária
Capítulo V, "As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho"
Leitura
Apreciação crítica
Exposição sobre um tema
Relato de viagem
Escrita
Síntese
Apreciação crítica
Oralidade [Compreensão/Expressão Oral]
Documentário [Compreensão do Oral]
Gramática
Geografia do português no mundo [Aprender/Aplicar]
• Funções sintáticas
• Subordinação
• Tempos e modos verbais
• Relações semânticas
• Classe de palavras
• Campo lexical
PARA SABER | PARA VERIFICAR | PARA RECUPERAR | PARA AVALIAR
PARA CONTEXTUALIZAR
Atente nos seguintes tópicos, para melhor compreender esta época, bem como na
obra que nela se insere e que irá ser objeto de estudo.
e razão havia para isso, porque nunca mais tão horrível drama
se passará sobre as águas do mar.
• A viagem era oficialmente justificada como estando ao ser-
• Em 1578, Jorge de Albuquerque foi encarregado, no exér-
viço de Deus; por isso, os relatos de naufrágios baseavam-se na
cito que D. Sebastião levou à fatal expedição africana,
conexão causal entre Culpa e Castigo.
15 do comando duma coluna de cavalaria.
• A estrutura narrativa destes relatos obedece a um registo
• O rei Filipe II, desejando cativar homem de tanta fama,
5 experiencial, sendo ou não o narrador personagem participante
ofereceu-lhe auxílio para poder manter a província americana
na história que assume uma matriz verosímil ou fantástica.
de que era donatário e Jorge de Albuquerque aceitou. Porém,
não voltou ao Brasil, fazendo-se representar pelo filho Duarte, Construído a partir de José Augusto Cardoso Bernardes,
História crítica da literatura portuguesa. Humanismo e Renascimento,
20 quando este chegou à idade própria. Ficou em Portugal, onde vol. II, Lisboa, Editorial Verbo, pp. 297-298.
morreu, provavelmente, nos princípios do século XVII, uma vez
que em 1596 ainda estava vivo.
Elaborado a partir de http://epl.di.uminho.pt/~ritafaria/MEC/
instanciaConceito.php?conc=Biografia&id=97.
1
“contraluz elegíaca” – face negativa dos Descobrimentos.
228
PARA INICIAR
COMPREENSÃO DO ORAL
1. Complete os tópicos das partes A e B com a informação recolhida no do- História Trágico-Marítima –
cumentário. os naufrágios do Império, RTP
A. Expansão marítima
Principais rotas b.
Local do naufrágio b.
Causa do naufrágio c.
229
H i s t ó r i a Tr á g i c o - M a r í t i m a
EXPRESSÃO ORAL
230
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
LEITURA
A carreira da Índia
Em 1592, partiu de Goa a nau “Chagas”, capitaneada por Francisco de Melo, tendo 1
«”bisalhos” de pedraria» -
por mestre Manoel Dias e por piloto João da Cunha. Cedo se juntou a outras duas bolsinha onde se traziam
naus vindas de Cochim – a “Santo Alberto” (capitão Julião de Faria Cerveira) e a pedrarias ou preciosidades
2
“Nossa Senhora da Nazareth” (capitão Braz Correia). As três vinham carregadas em tempestade
3
costa alta e escarpada
5 excesso, como era uso na carreira da Índia, tanto de mercadorias valiosas, como os 4
passar o inverno
famosos “bisalhos” de pedraria1, como de fidalgos, pessoas nobres e gente do povo. 5
aliviar a carga do navio
O atraso na partida, o excesso de carga e a tormenta2 encontrada ao largo do 6
partes constituintes e materiais
cabo da Boa Esperança obrigaram à separação da frota à arriba3 da “Chagas” a usados nas embarcações
Moçambique, onde teve de invernar4. A “Santo Alberto” não foi tão afortunada e
10 viu abrir-se-lhe o costado, entrando tanta água que nem o alijamento5 de parte da
carga nem a evacuação da água com bombas, baldes e barris conseguiram impedir
que o navio se afundasse cada vez mais. A tripulação acabou por fazê-la enca-
lhar na costa, num naufrágio tornado célebre por uma narrativa de João Baptista
Lavanha.
15 Algo de semelhante aconteceu com a “Nazareth”. Por gozar de reputação de
grande navegabilidade e ter uma tripulação capaz e experimentada, tinha sido
muito procurada pelos passageiros de retorno ao Reino. Demasiadas pessoas via-
javam nela, com o consequente excesso de mercadorias. Sobrevindo-lhe um tem-
poral, a nau abriu pelas “picas e delgados da proa, desfazendo-se-lhe as ligações
20 em vários locais, saindo a estopa e o calafate do cavername6”, o que ocasionou a
entrada de água. Com grande custo, a tripulação conseguiu chegar a Moçambique,
onde encalhou, procedendo à descarga das mercadorias.
Os sobreviventes da “Santo Alberto”, os passageiros da “Nazareth” e a maior
parte da sua carga foram então acolhidos a bordo da “Chagas”, a única sobreviven-
PROFESSOR
25 te da armada de 1592. O excesso de carga e de passageiros (mais de 270 escravos
e 130 portugueses) era tal que parte do convés ficava por vezes submersa, o que Leitura
7.1; 8.1
levava a que a nau, ainda no porto, fizesse já água.
Apesar deste contratempo, a embarcação conseguiu dobrar o cabo, tendo, po-
1.1 As naus chamam-se
rém, a tripulação que alijar parte da mercadoria. “Chagas”, “Santo Alberto” e
30 Entre seguir para a ilha de Santa Helena, como era habitual, ou para Luanda, “Nossa Senhora de Nazareth”.
1.2 A “Chagas” partiu de Goa
o capitão optou pela última hipótese, devendo-se tal escolha à interdição da ida e as outras duas de Cochim,
a Santa Helena por regimento do rei Filipe II “por lhe constar estar a ilha infestada na Índia.
de corsários ingleses”. 2.1 As naus enfrentaram
vários problemas, entre eles
Visão História, Naufrágios e Tesouros, A grande aventura dos mares, n.o 37, setembro 2016, p. 54 o excesso de mercadorias
e de pessoas e a tempestade
1. O texto descreve as dificuldades vividas pela tripulação de uma armada que fazia (tormenta) vivida ao largo
do cabo da Boa Esperança,
a carreira da Índia. que obrigou à separação da
armada.
1.1 Indique o nome de cada uma das naus que compunham a armada.
3. A “Santo Alberto” e a
1.2 Refira os locais de partida das naus. “Nazareth” encalharam
ao largo do cabo da Boa
2. Ao longo da viagem, a armada enfrentou várias dificuldades. Esperança; a “Chagas”
conseguiu dobrar
2.1 Apresente dois exemplos dessas dificuldades. o cabo e aportou em Luanda.
231
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
PARA DESENVOLVER
As aventuras e desventuras
dos Descobrimentos
INFORMAR
A História Trágico-Marítima
Em pleno reinado de D. João V, ainda sob o influxo de uma cultura tardo-barroca,
Bernardo Gomes de Brito publica em Lisboa − oficina da Congregação do Oratório,
1735-1736 − os dois primeiros volumes (previam-se mais três) de uma antologia de
naufrágios, sucessivamente reeditada até aos nossos dias e intitulada História Trá-
5 gico-Marítima, em que se escrevem chronologicamente os Naufragios que tiveraõ as
Naos de Portugal, depois que se poz em exercicio a Navegação da India. Recolhendo e
ordenando cronologicamente uma dúzia de relatos de naufrágios ocorridos sobre-
tudo na longa e difícil “carreira da Índia”, a obra do erudito setecentista reafirmava
o interesse histórico-literário, a notável popularidade e o sucesso editorial dessas
10 relações de viagens atribuladas e desastres marítimos. […]
Num misto de crónica e de reportagem jornalística ante litteram − “relatos quase
jornalísticos” (João Gaspar Simões) −, normalmente assinadas por autores mais ou
menos conhecidos, as relações de naufrágio conheceram uma enorme circulação
editorial e desencadearam apreciáveis sentimentos de comoção universal. Num to-
15 pos1 recorrente, implícita ou expressamente, a vivacidade e o dramatismo dos rela-
tos transmitia a constante ideia de realismo dramático e cinético2, face à novelística
Frontispício da Historia Trágico-
-Marítima, Lisboa, 1735.
da época e mesmo à tradicional literatura de viagens, ora mais factual ora mais dada
a mirabilia3. […]
PROFESSOR Os relatos de naufrágios que acompanharam a época das grandes descobertas
20 expressam a funesta ruína de vidas e destruição de fazendas, inaugurando uma
literatura de perda, centrada na dimensão mais negra e trágica desse período áureo
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da História de Portugal − a da devastação e da ruína de homens e de bens no “mar
História Trágico-Marítima português”. Já a partir de finais de Quinhentos, a imagem do naufrágio expressava
− Contextualização um profundo sentimento de crise e de declínio; e a trágica estatística dos desastres
histórico-literária
25 da carreira da Índia, bem como alguns relatos cronísticos, são por si só bem elo-
Leitura quentes.
8.1; 8.2 José Cândido de Oliveira Martins, “História trágico-marítima”, in Vítor Aguiar e Silva (coord.),
Educação Literária
Dicionário de Luís de Camões. Alfragide, Editorial Caminho, 2011, pp. 410-412.
14.3; 14.7; 15.1; 16.1
1
1. tema; 2 relativo a movimento; 3 coisas admiráveis ou maravilhas.
a. História Trágico-Marítima
b. Bernardo Gomes de Brito 1. Selecione a informação mais relevante para dar resposta aos seguintes tópicos.
c. Dois
d. Reinado de D. João V Título da antologia a.
(1735-1736)
e. “em que se escrevem Responsável pela sua publicação b.
chronologicamente os
Naufragios que tiveraõ as Número de volumes publicados c.
Naos de Portugal, depois
que se poz em exercicio a
Navegação da India” (ll. 5-6)
Data de publicação d.
f. “misto de crónica e de Conteúdo da obra e.
reportagem jornalística” (l. 11)
g. “da devastação e da ruína Género literário f.
de homens e de bens no «mar
português» (ll. 22-23)
Realidade(s) retratada(s) g.
h. “profundo sentimento
de crise e de declínio” (l. 24) Sentimento(s) despertado(s) h.
232
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
233
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n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
PROFESSOR Prosseguiu nas operações de guerra através de montes e de desertos, durante ve-
rões e durante invernos, de noite e de dia, passando grandíssimos trabalhos, sendo
Educação Literária ele e os seus soldados feridos pelo gentio muitas vezes, e combatendo a pé e a cavalo.
14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
14.6; 14.7; 15.2; 16.1 40 Frequentemente, não tinham mais que para comer do que os caranguejos do mato
que encontravam, cozinhados de farinha de pau e fruta selvagem daqueles campos.
1. [C] – [A] – [D] – [G] – [B] – [J] – Quando acampavam, faziam os escravos choupanas de palma, em que se agasalhava
[E] – [F] – [H] – [I]
toda a tropa. Com estes cuidados que sempre tinha e com as boas palavras que lhes
Gramática
dizia, consolava e contentava a sua gente. Entrada uma aldeia dos inimigos, corria
18.4 45 logo sobre a mais próxima e a tomava assim com facilidade, por não terem tempo de
se fazerem prestes.
1. Com esta diligência e brevidade, pacificou em cinco anos a capitania. Quando
a. Complemento indireto
chegara, não ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que duas léguas
b. Complemento oblíquo
pela terra dentro, e ao longo da costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, po-
c. Sujeito
2. a. Oração subordinada 50 diam ir até vinte pelo interior, e sessenta léguas ao logo da costa, − as que tinha a
adjetiva relativa restritiva. capitania no seu âmbito.
b. Oração subordinada Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e pacíficos
substantiva completiva.
com pedirem paz que lhes outorgaram, embarcou para a metrópole na nau “Santo
António”, na qual viagem se deram os casos que nesta narrativa se contêm.
GRAMÁTICA
234
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
EXCERTO 2
Partida
Carregada a nau de muita fazenda no belo porto de Olinda, deu à vela com o
vento em popa a 16 de maio de 65. Não eram ainda bem saídos da barra quando se
acalmou o vento com que partiram; logo depois se lhes tornou contrário, os levou
de través e os atirou para um baixo, onde permaneceram por quatro marés e se
5 viram em risco de se perderem, o que lhes teria sem dúvida acontecido se fossem
então os mares mais grossos.
Acudiram-lhes com presteza muitos batéis, que lograram salvar a gente toda e
a maior parte da carregação. Porém, nem assim descarregada se desencalhou, pelo
que decidiram cortar os mastros; então, nadou e saiu dos baixos.
10 Tornada a nau ao porto da vila, foi examinada por oficiais para verem se po-
deria seguir viagem; e, por acharem que não recebera dano que a impossibilitasse
para a navegação, se tornou a preparar e a carregar.
Vários amigos de Albuquerque Coelho, vendo que ele pensava em reembarcar
na nau, quiseram dissuadi-lo de tal proceder pelos maus princípios que já tivera;
15 mas nem ele, nem os demais passageiros quiseram dar ouvidos a tais prognósti-
cos, e tornaram a embarcar na “Santo António”, que largou enfim da vila de Olinda
a 29 de junho de 65.
Cinco dias depois da largada mudou o vento de maneira súbita, tornando-se
tão contrário e de tal violência que trataram de alijar1 fazenda ao mar, por isso que
20 a nau lhes mareava2 mal, pela muita carga com que dali partira. Pela tarde piorou
ainda e o casco3 abriu água. Davam à bomba continuamente, às seis mil zoncha-
duras4 entre noite e dia. Pouco depois, um pé de vento quebrou o gurupés5.
Finalmente, já nos doze graus de latitude norte, o vento acalmou. Andaram
dezanove dias em calmarias, acompanhadas de trovoadas. Resolveram, então, de-
25 mandar6 uma das ilhas de Cabo Verde, em cuja latitude se encontravam para tira-
rem a água que no navio entrava e repararem a avaria do gurupés.
A 29 de julho, não estando já longe de uma das ilhas, deram vista de uma nau
e de uma zabra7 de franceses. Estes seguiram a “Santo António” e às três horas da
noite estavam tão perto que vieram à fala com a nossa gente, intimando-a a que
30 se rendesse. Mas entendendo então da nossa nau que se estava aparelhando para
defender-se, não ousaram acometê-la durante a noite, e deixaram-se andar na
sua esteira, para tentarem abordá-la pela madrugada.
Na antemanhã, porém, caiu uma trovoada muito forte, que os obrigou a apar-
tarem-se uns dos outros, sem que pudessem ver-se na cerração.
35 No dia seguinte, 31 de julho, tentaram enfim demandar a ilha. Quando estavam
já perto, o vento começou a soprar da terra, e muito rijo. Tiveram por isso de de-
sistir, apesar da muita água que então faziam.
Correram assim até 37 graus (latitude norte). Deviam achar-se bastante para
oeste, porque a nau, com os ventos contrários, abatera muito. (Nesse tempo, ain-
40 da só se calculava a latitude, pela altura da estrela polar ou pela altura meridiana
do Sol; a longitude não se calculava, e apenas se estimava pelo caminho andado,
imperfeitissimamente).
235
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
Então, durante uma semana, foram outra vez as calmarias, − dias de repouso
físico relativo, passados na monotonia de um balanço lento, sonolento, que im-
45 pacientava.
No dia 29 de agosto começou a soprar uma brisa larga, animadora e próspera.
O plano, agora, era demandar o arquipélago dos Açores, para ver se numa das ilhas
se consertava a nau, e se tapava, finalmente, a muita água que ela estava fazendo.
Já por esse tempo se passava muita fome e muita sede; e, sabendo Jorge de
50 Albuquerque Coelho a necessidade dos tripulantes e dos passageiros, e que não
havia na nau mais mantimentos que o que ele trazia para si e para os seus criados,
mandou colocar tudo adiante de todos e repartiu mui irmãmente pela companhia,
sem nada pretender para si próprio, se bem que toda a gente lho quis pagar por
lhe valer muito. Tudo o generoso fidalgo recusou: com o que ficaram todos mui
55 contentes e se sustentaram por espaço de alguns dias.
No entanto, levantaram-se grandes brigas e discórdias entre marinheiros e
passageiros; mas Jorge de Albuquerque, sabedor do caso, interveio, − e lá os foi
acalmando e pondo em paz.
1
tirar ou deitar fora; 2 andava, governava; 3 parte do navio que assenta na água; 4 operação
de levantar o zoncho ou o êmbolo da bomba do navio, para fazer subir a água; 5 mastro
colocado na extremidade da proa, para diante, formando com a horizontal um ângulo de 30
a 40 graus; 6 procurar; 7 embarcação pequena.
236
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
INFORMAR PROFESSOR
Leitura
As embarcações portuguesas foram de importância determinante para a época dos 7.1; 8.1
Descobrimentos.
e a imagem e leia o texto, no sentido de identificar algumas característica
Observe características das 1. Barco de alto bordo,
espaçoso e lento, com três
ortuguesas.
naus portuguesas. cobertas e velas quadradas
no mastro principal.
Esquema (desenho técnico de nau), Páginas da História, manual de História 8.° ano, Porto,
Edições ASA, 2014, pp. 28-29.
A nau
A nau é um barco de alto bordo, relativamente curto, espaçoso e lento, com lota- 1
a maior vela do mastro da
ção de 500 a 1000 toneladas, com três cobertas, velas quadradas no mastro principal proa (parte dianteira do barco)
e no traquete1, e triangulares no de mezena2: em meados do século XVI é também 2
mastro mais próximo da ré do
introduzida uma vela quadrada no mastro posterior e faz a sua aparição o mastro de navio (parte traseira do barco)
3
5 contramezena3. É a embarcação por excelência, com o casco erguido à popa e à proa mastro do navio oposto ao da
mezena
a formar dois “castelos”, sendo o primeiro destinado ao alojamento dos passageiros
ricos.
Giulia Lanciani, Sucessos e naufrágios das naus portuguesas,
Lisboa, Caminho, 1997, pp. 34-35.
237
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As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
EXCERTO 3
238
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
a culpa. Ouvindo isto, dirigiu-se o capitão dos franceses a Jorge de Albuquerque PROFESSOR
40 Coelho com o rosto soberbo e melancólico, e disse-lhe assim:
− Que coração temerário é o teu, homem, que tentaste a defesa desta nau tendo Educação Literária
14.1; 14.2; 14.3; 14.4;
tão poucos petrechos de guerra, contra a nossa, que vem tão armada, e que traz 14.5; 14.6; 14.7; 15.1;
seis dezenas de arcabuzeiros? 15.2; 16.1
Ao que respondeu o Albuquerque Coelho, bem seguro de si:
1.1 A nau dos corsários
45 − Nisso podes ver que infeliz fui eu, em me embarcar em nau tão despreparada franceses apresentava-se bem
para a guerra; que se viera aparelhada como cumpria, ou trouxera o que a tua traz artilhada e em bom estado,
o que era costume nestas
de sobejo, creio que tivéramos, tu e eu, estados diferentíssimos em que estamos. embarcações estrangeiras.
Aliás, a boa fortuna que tivestes, agradece-a à traição desses meus companhei- 1.2 Jorge de Albuquerque
ros – o mestre, o piloto, os marujos, − que se declararam contra mim: pois se me não aceitava a rendição sem
combater, mesmo que os
50 houvessem ajudado, como me ajudaram estes amigos, não estarias aqui como seus meios de defesa fossem
vencedor, nem eu como vencido. escassos em relação às armas
da nau francesa.
Contraveio o capitão francês: 2. Jorge de Albuquerque
− Não te desconsoles, amigo: é isto fortuna da guerra, que hoje favorece uns, revela uma grande coragem,
altruísmo e dedicação à causa
amanhã outros. Pelo bom soldado que tu és, far-te-ei muito boa companhia e que defende.
55 àqueles que te ajudaram a combater: que tudo merece quem faz o que deve, cum- 3. O capitão dos franceses
prindo a obrigação da sua pessoa. louva a atitude de Jorge de
Albuquerque, pela forma
como combateu e defendeu
1 a nau, não o considerando um
pequena peça de artilharia; 2 peça de artilharia curta; 3 inflamar a pólvora.
vencido, mas um inimigo digno
de respeito. Por isso, promete
tratá-lo com a consideração
que merece.
1. Releia o primeiro parágrafo. 4. Ao longo deste excerto,
a tripulação da “Santo
1.1 Descreva por palavras suas a nau dos corsários franceses. António” debate-se com vários
problemas, entre eles
1.2 Refira o argumento apresentado por Jorge de Albuquerque para não se render aos o estado deplorável da nau,
sem artilharia suficiente para
corsários franceses. se defender; o ataque que
sofreu por parte dos corsários,
2. Caracterize Jorge de Albuquerque a partir do seu comportamento perante o ata- bem mais apetrechados que
que dos corsários, descrito no segundo parágrafo. os portugueses, e ainda a
traição de alguns elementos
da tripulação.
3. Justifique a atitude do capitão francês em relação a Jorge de Albuquerque, presen-
te no último parágrafo. Gramática
18.1; 18.4
4. Apresente dois exemplos deste excerto que contribuam para o relato das aventu-
ras e desventuras dos Descobrimentos. 1.1 “amigo” (l. 53).
1.2 “que hoje favorece uns,
amanhã outros” (ll. 53-54).
1.3 “far-te-ei” (l. 54).
GRAMÁTICA 2.
a. Complemento direto
1. Releia o último parágrafo do texto. b. Complemento indireto
1.1 Indique a expressão que desempenha a função sintática de vocativo. 3. Oração subordinada
substantiva completiva.
1.2 Transcreva a oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
1.3 Retire um exemplo de uma forma verbal no futuro do indicativo.
239
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
PROFESSOR
LEITURA
Leitura
7.3; 7.6; 8.1; 8.2
A celebração dos 500 Anos dos Descobrimentos Portugueses, bem como a opção pela
1. O estudo Sucessos
temática dos Oceanos para o Ano Internacional de 1998 – ambas combinadas na Exposição
e naufrágios das naus Mundial de Lisboa, Expo' 98 – incentivou a publicação de vários estudos/livros relacionados
portuguesas, de Giulia Lanciani. histórica e literariamente com estes temas. Um desses estudos foi Sucessos e naufrágios
2. “sedutora temática” (l. 2);
“útil e alargada antologia”
das naus portuguesas, publicado em 1997, da autoria de Giulia Lanciani, professora de Lín-
(ll. 22-23); “pressupõe um gua e Literatura Portuguesa na Universidade de Roma.
aturado labor” (ll. 35-36); “esta
importante obra” (ll. 40-41);
“uma referência obrigatória” Leia um excerto da apreciação crítica a esta publicação e responda às questões.
(l. 44).
3. A obra é uma referência
obrigatória para quem
se dedica à Literatura de
Naufrágios (ll. 43-45).
Sucessos e naufrágios das naus portuguesas
A obra [Sucessos e naufrágios das naus portuguesas, modelar "Relação da mui notável perda do Galeão
de Giulia Lanciani] centra-se na sedutora temática dos Grande S. João...", mais conhecida como Naufrágio de
relatos de naufrágios dos séculos XVI e XVII, coligidos Sepúlveda; até à breve "Relação do sucesso que teve o
por Bernardo Gomes de Brito nos dois volumes da His- patacho chamado N. Sra. da Candelária...". […] Por con-
5 tória Trágico-Marítima (Lisboa, 1735-36), um dos mais 30 seguinte, tem o mérito de ser a primeira e única edição
belos monumentos da anónima epopeia negra da Lite- deste importante relato de naufrágio. Procurando su-
ratura Portuguesa. […] perar os compreensíveis erros das sucessivas edições
[N]a primeira parte, a autora […] começa por refle- dos relatos de naufrágios, originalmente publicados em
tir sobre as razões explicativas de um género peculiar populares folhetos de cordel pelos séculos XVI e XVII,
10 da literatura de viagens (relato de naufrágio) e suas 35 esta publicação de Giulia Lanciani pressupõe um atura-
funções moralizantes, didascálicas ou educativas, mas do labor em bibliotecas e arquivos nacionais e estran-
também ideológicas ou civilizadoras; discorre, depois, geiros, como se depreende, aliás, do aparato crítico do
sobre a "matriz literária" das narrativas de naufrágio, trabalho da professora italiana.
assinalando os procedimentos que configura o modelo Numa época de redescoberta do valor literário e cul-
15 narrativo dos relatos de naufrágio; por fim, explicita o 40 tural da Literatura de Viagens e de Naufrágios, […] esta
modelo narrativo dos relatos de naufrágio, enumeran- importante obra de Giulia Lanciani apresenta-se a um
do, critica e exemplificadamente cada uma das partes público vasto, com destaque para professores e alunos
ou unidades fundamentais, com suas variantes: ante- do ensino secundário e superior. Constitui-se, assim,
cedentes – partida – tempestade – naufrágio e arriba- como uma referência obrigatória no âmbito peculiar da
20 da – peregrinação / ou (sequência alternativa) ataque 45 cativante Literatura de Naufrágios, que comporta hoje
corsário – captura – impiedade dos inimigos – retorno. uma vasta bibliografia crítica e cujo profundo e alegó-
A segunda parte, constituída por uma útil e alargada rico simbolismo, em forma de retórica da decadência
antologia (pp. 181-562), edita oito relatos de naufrágio, pátria, atravessa praticamente toda a Literatura Portu-
em integral e cuidada transcrição textual. Os textos são guesa, desde a Renascença até à contemporaneidade.
25 retirados da História Trágico-Marítima, a começar pela J. Cândido Martins, in http://alfarrabio.di.uminho.pt/
(adaptado, consultado em fevereiro de 2017).
240
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
LEITURA
241
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As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
EXCERTO 4
Tempestade
1
Às dez, escureceu por completo, parecia noite. O negro mar, em redor, todo se
lufada
2 cobria de espumas brancas; o estrondo era tanto, − do mar e do vento, − que uns
fazendo estrondo
3
a mais baixa e maior vela aos outros se não ouviam.
redonda do mastro de proa Nisto, levanta-se de lá uma vaga altíssima, toda negra por baixo, coroada de
4
longa peça de madeira que 5 espumas; e, dando na proa com um borbotão1 de vento, galga sobre ela, a submer-
se coloca horizontalmente
ge, e arrasa. Estrondeando2 e partindo, leva o mastro do traquete3 com a sua verga4
sobre os mastros, para nela se
prenderem as velas
e enxárcia; leva a cevadeira5, o castelo de proa, as âncoras; estilhaça a ponte,
5
venda que pendia de uma o batel, o beque6, arrebatando pessoas, mantimentos, pipas. Tudo se quebra e lá
verga atravessada no gurupés vai no escuro. A nau, até o mastro grande, fica rasa e submersa, e mais de meia
6
parte mais avançada da proa 10 hora debaixo de água.
7
vela latina do mastro de ré
8 Os sobreviventes, que se arrastavam pávidos, confluem a um padre que se
atirados, arremessados
9
pavimento ou andar do navio acha a bordo e atropela as rezas e as confissões. Um relâmpago risca, ilumina a
10
brilhavam intensamente, treva: veem-se todos de joelhos, com as mãos no ar, a pedir misericórdia e a cla-
ameaçavam mar por Deus.
11
o lado de onde sopra o vento
12
15 Jorge de Albuquerque, como de costume, falava aos outros para lhes dar cora-
tempestade no mar
gem. Confiassem em Deus, − e ao mesmo tempo fossem dando à bomba, esgotan-
do a água que invadira o convés. Enquanto houver vida – dizia-lhes – trabalhem
todos por a conservar. E se Deus dispusesse por outra forma, tivessem paciência
ante os seus decretos: somente Ele sabe o que nos é melhor.
20 Com estas palavras os persuadia à faina. Deram à bomba, com imensa dificul-
dade de se aguentarem de pé, e esgotaram a água.
Mas outro vagalhão se lançou sobre a nau. Cobrindo o convés, arrebatou o
mastro grande, verga, vela, enxárcias, camarotes, borda; levou o mastro da meze-
na7 com o aparelho todo, uma parte da popa, e também um dos franceses dos de
25 maior jerarquia. Os portugueses que trabalhavam na bomba foram logo arrojados8
aqui e além; cobertos pelo mar, todos se convenceram de que se afogariam. Le-
vantaram-se aos poucos, queixando-se este de que partira um braço, aquele uma
perna. Ficou tudo mergulhado por algum tempo; e o mar, depois, dava ainda pelos
joelhos dos desgraçados. Mandou Albuquerque alguém à coberta9, para ver a água
30 que nela entrava. Só lhe faltavam três palmos para chegar acima, e a encher de
todo. Fuzilavam10 relâmpagos; a força do vento, a imensidade das ondas, aterra-
vam os ânimos; a água que entrava vinha cheia de areia. Jorge de Albuquerque,
apesar de tudo, consolava os tristes, afirmando-lhes a esperança de se saírem
daquilo.
35 O mastro grande, quando caiu, ficou preso na enxárcia; por debaixo de água,
passara para a banda de barlavento11; e de aí, jogado na vaga, dava choques horrí-
veis de encontro ao costado, que tremia todo com som cavernoso. Enfim, vieram
uns mares que o levaram para longe, e de mais esse tormento se viram livres.
Passados três dias, em que continuamente se deu à bomba, começou enfim a
40 bonançar a procela12.
242
1. Indique duas sensações presentes no primeiro parágrafo, referindo a sua importân-
PROFESSOR
cia para o ambiente de tempestade descrito.
Educação Literária
2. Refira duas características de Jorge de Albuquerque neste momento da viagem, 14.2; 14.3; 14.4; 14.5;
fundamentando a sua resposta com expressões textuais. 14.6; 14.7; 15.1; 15.2
3. Transcreva do segundo período do sexto parágrafo um exemplo de enumeração 1. No primeiro parágrafo estão
e comente a sua expressividade. presentes a sensação visual
(“escureceu por completo,
parecia noite”, l. 1)
e a sensação auditiva (“o
E S C R I TA estrondo era tanto”, l. 2).
Estas sensações contribuem
para criar um ambiente
tempestuoso, medonho, que
Observe o seguinte quadro. aterrorizava a tripulação.
2. Jorge de Albuquerque,
perante o ambiente de medo
vivido, mostrava-se solidário
com a tripulação (“falava aos
outros para lhes dar coragem”,
ll. 15-16) e determinado
(“Enquanto houver vida – dizia-
-lhes – trabalhem todos por a
conservar”, ll. 17-18).
3. “arrebatou o mastro
grande, verga, vela, enxárcias,
camarotes, borda” (ll. 22-23) –
a enumeração exprime a
violência da tempestade que
assolou a nau, atingindo todas
as partes da embarcação, que
não resistiram à força das
ondas e do vento.
Escrita
11.1; 12.1; 12.2; 12.3;
12.4; 13.1
Tópicos a abordar:
– Quadro de William Turrner,
Tempestade-Naufrágio, 1823, William Turner (1775-1851), The British Museum, Inglaterra. pintor inglês do século XIX;
retratando uma tempestade.
– Em primeiro plano,
a violência das águas e do
Elabore um texto de apreciação crítica, de 130 a 180 palavras, sobre o quadro acima. vento expressa pela forma
O texto deverá obedecer a um plano prévio, apresentando uma estrutura tripartida. das ondas, pela cor (negro,
verde-escuro, cinza, branco
· Introdução: identificação do quadro, do autor e da época. da espuma) e pela indefinição
entre céu e mar.
· Desenvolvimento: – Em segundo plano, as
embarcações “perdidas”
– descrição sucinta do objeto, organizada do geral para o particular (elementos no emaranhado das ondas,
frágeis perante a força da
da composição e seu simbolismo… ), integrando os elementos observados; tempestade.
– cores e espaço; – Tela que retrata, de forma
muito realista, a força dos
– situação e articulação com a obra em análise; elementos da Natureza,
perante a fragilidade das
– apreciação pessoal (valorativa ou depreciativa), associando o quadro ao tema/ as- embarcações da época do
sunto dos textos abordados neste módulo (viagens, perigos do mar…). pintor, o que a aproxima da
descrição dos problemas
· Conclusão: síntese das principais ideias e reforço da apreciação. enfrentados pelas naus
portuguesas do tempo das
Descobertas e da fase pós-
-expansionista.
243
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As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
EXCERTO 5
Regresso a Lisboa
Mais três dias se passaram assim, no trabalho contínuo de dar à bomba. A 2 de
outubro, entre a neblina, pareceu-lhes divisar arrumação de terra. Cerca do meio-
-dia, dissipou-se a névoa. Maravilha! Deus louvado! Era a serra de Sintra! Lá esta-
va, ao cimo das rochas, a própria casa da Senhora da Pena!
5 […]
Ao outro dia, 3 de outubro, amanheceram chegados ao cabo da Roca; e indo já
a nau para dar à costa, passou perto uma caravela, que se dirigia para a Pederneira.
Suplicaram-lhe socorro; pagar-lho-iam bem. – Que Jesus lhes valesse, responde-
ram eles; nada, não queriam perder tempo na sua viagem… E seguiram avante,
10 sem nenhum dó.
Pouco depois, felizmente, avistaram uma barca pequenina, que navegava
para a Atouguia. Começaram a bradar-lhes, de joelhos, que lhes valessem, e es-
tando a barca a um tiro de berço, logo lhes acudiu com muita pressa.
Vinha a bordo dessa barca um Rodrigo Álvares de Atouguia, mestre e senhorio
15 dela, e uns parentes e amigos seus. Todos começaram a esforçar os da nau. Não
temessem nada; não os desamparariam, ainda que com risco de se perderem eles
próprios. Não desejavam por isso prémio algum.
Vendo o estado em que estavam os da nau, ficaram atónitos. Logo lhes deram
pão, água e frutas, que para si traziam.
20 O senhorio da barca, tanto que acabou de lhes dar de comer, passou-lhes um cabo
de reboque com que afastaram a nau da rocha e a foram trazendo ao longo da costa
até à baía de Cascais, aonde chegaram pelo sol-posto. Acorreram botes, em que se
meteram; uns desembarcaram ali em Cascais; outros só em Belém tomaram terra.
A nau, durante a noite, ficou amarrada à poupa da barca, por não ter âncora
25 com que fundeasse. No dia seguinte, o cardeal infante D. Henrique, que governava
o Reino, fez expedir uma galé que a fosse trazendo pelo rio acima. Fundeou a nau,
finalmente, diante da igreja de S. Paulo, onde numerosa gente a foi visitar, espan-
tando-se do destroço em que a viam posta.
PROFESSOR
1. Partindo da leitura deste excerto final da História Trágico-Marítima, complete o qua-
Educação Literária dro abaixo, com os factos ou com as expressões que ilustram as aventuras e desventu-
14.4; 14.5; 14.7
ras dos Descobrimentos, aquando do regresso da tripulação da nau “Santo António”.
1. a. “Maravilha! Deus louvado!
Era a serra de Sintra!” (l. 3)
Aventuras e desventuras dos Descobrimentos
b. “passou perto uma caravela Factos Exemplificação textual
[…] não queriam perder tempo
na sua viagem… E seguiram Entusiasmo e agradecimento pelo regresso. a.
avante, sem nenhum dó.” Abandono por parte dos “grandes”
(ll. 7-10) b.
que os veem chegar.
c. “avistaram uma barca
pequenina […] logo lhes acudiu Acolhimento por parte dos “pequenos”
c.
com muita pressa.” (ll. 11-13). que os veem chegar.
d. Estado faminto d. “Logo lhes deram pão, água e frutas” (ll. 18-19)
da tripulação.
“espantando-se do destroço em que a viam
e. Estado deplorável da nau. e.
posta.” (ll. 27-28)
244
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
GRAMÁTICA
O vento arrastou a nau para um baixio, o que fez com que o a. abris-
se e a água entrasse. As fortes rajadas de vento rasgaram as b. , as
c. partiram, o d. quebrou. O e. ficou pendurado
só por um ferro e não era possível conduzir a nau com ele naquele estado. Os mari-
nheiros sofriam muito com todos estes perigos e com a fome que surgia após tanto
tempo no mar. Alguns caíam no f. da nau sem força para se levantarem.
245
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As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
246
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
[A] sujeito.
Resposta de caráter pessoal.
[B] predicativo do sujeito. No entanto, o aluno poderá
focar os seguintes aspetos:
[C] complemento direto. a sequência em fila de
mulheres de joelhos (como
[D] complemento indireto. se estivessem numa atitude
de súplica) junto aos homens
que amam e que partem;
E S C R I TA a limitação do contacto
(eles enclausurados na
embarcação, elas no exterior);
a fotografia a preto e branco
Faça uma apreciação crítica, de que se adequa a um ambiente
130 a 150 palavras, da fotografia, de dolorosa despedida; ao
contrário do poema, que nos
tendo em consideração os seguin- remete para um regresso
tes aspetos: desejado, queimando a boca do
marinheiro dos beijos que ele
· descrição sucinta do objeto, não dá, aqui as bocas queimam
dos beijos que dão, mas que
partindo do primeiro plano (ele- poderão ser os últimos, porque
mentos observados, postura uma viagem por mar poderá
não ter regresso, como quase
das personagens, sentimentos sucedeu com a nau “Santo
expressos, cor… ); António”.
247
HP iasdt ór er i aA Tr
n táógni ci oo- MV ai er íitri am a
As aventuras e desventuras dos Descobrimentos
LEITURA
[…] Alguém nos perguntava, em tom de balanço, como têm sido estes dois anos
de vida vividos ao máximo. Respondemos que o “máximo” que vivemos é pouco
convencional, porque é um “máximo” feito de “mínimos”, com o essencial – que
já é bastante – de comida, roupa, abrigo.
5 […] No total já lá vão 15 países percorridos, com cerca de 18 000
euros gastos, o que dá uma média de 12 euros por dia, por pessoa,
[…] e podíamos continuar aqui a desdobrar números, mas mate-
mática nunca foi o meu forte e na ciência dos números não cabe
a ciência do que vai cá dentro e, por tal, passemos a outros resu-
10 mos…
248
“As terríveis aventuras de Jorge
de Albuquerque Coelho ( 1565)”
PROFESSOR
1. Selecione a opção que completa adequadamente cada afirmação.
Leitura
1.1 Segundo os globonautas, os recursos de que dispõem 7.1; 7.2; 7.4; 8.1; 9.1
249
v Geografia do português no mundo
N DE
RE R
APRENDER
AP
ICA
G RA M Á T Como se pode ver pelo mapa abaixo apresentado, o português encontra-se espalhado por
R vários continentes.
APL ICA
O português europeu corresponde àquele que é falado em Portugal continental, na Madei-
ra e nos Açores. O português não europeu refere-se ao uso da língua portuguesa em países
situados em outros continentes, como é o caso do Brasil e dos PALOP (Países Africanos
de Língua Oficial Portuguesa). A título de curiosidade, acrescente-se que, recentemente,
o português foi decretado, a par do francês e do espanhol, língua oficial na Guiné Equatorial.
PROFESSOR
Apresentação
Português europeu
e Português não europeu
(variedade brasileira
e variedade africana)
Documento
Mapa – Português, língua
oficial no mundo
Gramática
17.8; 17.9
A par da língua oficial portuguesa, muitos países utilizam crioulos, que nasceram da ne-
cessidade urgente de comunicação entre falantes com línguas maternas distintas. A colo-
nização e a língua portuguesa (do povo colonizador) está na origem dos crioulos de base
portuguesa que possuem um léxico que pertence maioritariamente ao português, ainda
que a estrutura gramatical seja a da língua indígena. No quadro abaixo, apresentam-se os
principais crioulos de base portuguesa.
Em África, formaram-se dois grupos de crioulos: Na Ásia, os crioulos de base portuguesa desapareceram
• Crioulos da Alta Guiné (pertencem a este grupo os criou- quase todos ou estão em vias de desaparecimento. Conside-
los de Cabo Verde e da Guiné-Bissau; são os mais antigos ram-se três grupos de crioulos:
que se conhecem). • Indo-portugueses (situam-se na Índia).
• Crioulos do Golfo da Guiné (pertencem a este grupo • Malaio-portugueses (localizam-se na Malásia, em algumas
os crioulos de S. Tomé e Príncipe). ilhas da Indonésia e em Timor).
• Sino-portugueses (são os crioulos de Macau e Hong Kong).
250
APRENDER
Há ainda uma grande variação no que diz respeito ao léxico, por influência das línguas
nativas, assim como na fonética, sendo mais acentuada a diferença entre o Português
do Brasil e a variante europeia, do que entre esta e as variantes africanas.
251
Geografia do português no mundo
APLICAR
Os três textos seguintes são ilustrativos de três variedades do português: o texto A con-
tém a variedade africana (português de Angola), o texto B a variedade africana (portu-
guês de Moçambique) e o texto C a variedade do português do Brasil.
TEXTO A
O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho, depois havia
o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos doutros mais-velhos que
vinham fazer confusão na nossa rua.
O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à uma. Ao meio-
5 -dia e quinze, o Jika tocava à campainha.
– O Ndalu tá? – perguntava à minha irmã ou ao camarada António.
– Sim, tá.
– Chama só, faz favor.
Eu interrompia o que estivesse a fazer, descia.
10 – Mô Jika, comé?
– Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.
– Diz.
– Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?
– Deixinda ir perguntar à minha mãe.
15 Entrei. O Jika ficou ansioso na porta, aguardando a resposta. Quase sempre a mi-
nha mãe dizia sim. Só se fosse mesmo maka de pouca comida, ou muita gente que já
estava combinada para o almoço.
Ondjaki, Os da minha rua, Editorial Caminho, 4.a edição, 2007 (pp. 13-14).
TEXTO B
Filha de cantineiros portugueses, Meninita sempre fora moça comedida. Na pe-
numbra da loja, ela atendia os negros como se fossem sombras de outros, reais
viventes. A miúda se ia fazendo ao corpo – o fruto se adoçava em polpa açucrosa.
A sede se inventa é para a miragem de águas. Pois nas redondezas não viviam ou-
5 tros brancos, únicos a quem ela entregaria seus açucares.
A família Pacheco se pioneirara na adez Shiperapera, onde mesmo os negros
originários escasseavam. […]
Dona Esmeralda, a esposa, se angustiava vendo o crescer da filha. […]
Adoentada, a moça deixou de atender ao balcão. Substituiu-a o moço Massoco,
10 cresceram simpatias na loja. Meninita se internou em seu quarto, emigrada da vida,
exilada dos outros. Massoco, ao fim do dia, se apresentava, em solene tristeza. Che-
gou a pedir:
– Peço licença ir lá ver a patroinha…
Mia Couto, Contos do nascer da terra, “A filha da solidão”, Editorial Caminho, 8.a edição (pp. 49-52).
252
APLICAR PROFESSOR
Gramática
TEXTO C 17.2; 17.4; 17.5
Professor desviou os olhos do livro, bateu a mão descarnada no ombro do negro,
1. a. “seu Grande” (texto C – l. 3)
seu mais ardente admirador: b. “vinham fazer confusão na
– Uma história zorreta, seu Grande – seus olhos brilhavam. […] nossa rua” (texto A – l. 3); “Peço
licença ir lá ver” (texto B – l. 13);
E volveu os olhos para as páginas do livro. João Grande acendeu um cigarro ba- “bateu a mão descarnada no
5 rato, ofereceu outro em silêncio ao Professor e ficou fumando de cócoras, como que ombro” (texto C – l. 1); “na sua
porta” (texto C – l. 12)
guardando a leitura do outro. Pelo trapiche ia um rumor de risadas, de conversas, de c. “até às vezes lhe
gritos. João Grande distinguia bem a voz do Sem-Pernas, estrídula e fanhosa. O Sem- protegíamos doutros” (texto
A – l. 2).
-Pernas falava alto, ria muito. Era o espião do grupo, aquele que sabia se meter na d. “vinha te perguntar” (texto
casa de uma família uma semana, passando por um bom menino perdido dos pais A – l. 11), “queres me convidar”
(texto A – l. 13); “A miúda se ia
10 na imensidão agressiva da cidade. Coxo, o defeito físico valera-lhe o apelido. Mas fazendo ao corpo” (texto B –
valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, humilde e tristonho, l. 3), “o fruto se adoçava” (texto
B – l. 3), “A sede se inventa”
na sua porta, pedindo um pouco de comida e pousada por uma noite. (texto B – l. 4), “se angustiava”
Jorge Amado, Capitães da areia, Herdeiros de Jorge Amado e Leya SA, 2009 (p. 32). (texto B – l. 8), “Meninita se
internou” (texto B – l. 10);
“aquele que sabia se meter
na casa” (texto C – ll. 8-9)
1. Retire dos textos expressões que ilustrem as seguintes especificidades linguísticas. e. “e ficou fumando de
cócoras” (texto C – l. 5), “o via,
a. Utilização de pronomes/determinantes da 3.a pessoa para designar o interlocutor. humilde e tristonho, na sua
porta, pedindo um pouco de
b. Alteração ou supressão da preposição que antecede complementos do verbo. comida” (texto C – ll. 11-12)
f. “ela entregaria seus
c. Utilização do pronome pessoal lhe/lhes com função de complemento direto. açucares” (texto B – l. 5),
“internou em seu quarto”
d. Pronome pessoal em posição pré-verbal. (texto B – l. 10); “seu mais
ardente admirador” (texto
e. Emprego do gerúndio em complexos verbais. C – l. 2)
2. a. Nós às vezes até
f. Ausência de artigo definido antes de determinante possessivo.
o protegíamos doutros.
b. Ndalu, vinha perguntar-te
2. Reescreva as seguintes passagens de acordo com as regras do português europeu. uma coisa.
c. Hoje num (não) me queres
a. “Nós até às vezes lhe protegíamos doutros” (texto A, l. 2) convidar para almoçar em tua
casa?
b. “– Ndalu, vinha te perguntar uma coisa.” (texto A, l. 11) d. A miúda ia-se fazendo ao
corpo – o fruto adoçava-se.
c. “– Hoje num queres me convidar pra almoçar na tua casa?” (texto A, l. 13) e. Meninita internou-se no
seu quarto, emigrada da vida.
d. “A miúda se ia fazendo ao corpo – o fruto se adoçava” (texto B, l. 3) f. Peço licença para ir lá ver
a patroinha.
e. “Meninita se internou em seu quarto, emigrada da vida” (texto B, l. 10) g. bateu com a mão
descarnada no ombro do
f. “– Peço licença ir lá ver a patroinha…” (texto B, l. 13) negro, o seu mais ardente
admirador
g. “bateu a mão descarnada no ombro do negro, seu mais ardente admirador” h. Os seus olhos brilhavam.
(texto C, ll. 1-2) i. e ficou a fumar de cócoras
j. Mas valia-lhe também
h. “seus olhos brilhavam.” (texto C, l. 3) a simpatia de quanta mãe
de família o via […] à sua porta
i. “e ficou fumando de cócoras” (texto C, l. 5) a pedir um pouco de comida
e pousada por uma noite.
j. “Mas valia-lhe também a simpatia de quanta mãe de família o via, […] na sua porta,
pedindo um pouco de comida e pousada por uma noite.” (texto C, ll. 10-12)
253
PA R A S A B E R "As terríveis aventuras de Jorge de A. Coelho"
2. Partida: primeira tentativa de • Lutas contra as adversidades da Natureza (ventos contrários e estragos
embarque rumo a Portugal na nau).
• A calmaria/a bonança.
• Saque da nau “Santo António” e abandono por parte dos corsários
Depois da
franceses.
tempestade
• Prosseguimento da viagem à deriva, com os equipamentos destruídos, ao
rumo do vento e do mar.
254
“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho ( 1565)”
PA R A V E R I F I C A R
PROFESSOR
255
PA R A R E C U P E R A R
EDUCAÇÃO LITERÁRIA
L E I T U R A / E S C R I TA
256
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R História Trágico-Marítima
GRUPO I PROFESSOR
Leia atentamente o seguinte excerto do capítulo V da História Trágico-Marítima, referente Leitura P / Ed.
R OLiterária
FESSOR
à descrição da tempestade que assolou a nau “Santo António”. 9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
21.2; 22.1
Então, a 12 de setembro, o vento acalmou, para logo depois rondar ao sudoeste. 1. Apresentação
1.º Chegada ao cais; 2.º Barca
doSoluções Ficha
Diabo; 3.º Barca do Anjo;
Pouco tardou que soprasse em fúria, zunindo1 nas enxárcias2, turbilhonando3 nu- 4.ºde Avaliação
Barca do Diabo.
vens, rendilhando espumas, açoitando no escuro os vagalhões roncantes. 2. O Fidalgo mos
Alija!4 Alija! Alija carga! Alija! Alijaram tudo que na coberta havia, e debaixo GRUPO I
Educação Literária
5 da ponte. Como enfunasse5 ainda mais o tempo, trataram de alijar os mastaréus6 14.3; 14.4; 14.5
das gáveas7, e todas as caixas que cada um trazia. Para que não fosse isto pesado
a alguém, foi a de Jorge de Albuquerque Coelho a primeira de todas que se lança- 1. No primeiro parágrafo,
ram ao mar, na qual ele trazia os seus vestidos e outros objetos de importância. temos a sensação visual
“rendilhando espumas”
E, parecendo que não bastava isto, arrojaram para as águas a artilharia, com e a sensação auditiva “os
10 muitas caixas que continham açúcar, e numerosos fardos de algodão. vagalhões roncantes”,
que exprimem o ambiente
Um mar mais violento desmanchou o leme. Atravessou-se a nau aos escar- tempestuoso, contribuindo
céus8, e não foi possível desviá-la para a fazer tornar a correr em popa. para o caráter realista da
descrição.
Quase todos, então, se sentiram descoroçoar9. Jorge de Albuquerque, vendo-os 2. Para enfrentar a
assim, começou a falar-lhes para lhes dar ânimo, e ordenou a alguns que bus- tempestade, a tripulação teve
de alijar, lançando ao mar
15 cassem meio com que se pudesse enfim governar a nau. Ajoelharam os outros, parte da carga, começando
e pediram a Deus que os livrasse do perigo. por bens menos necessários,
como as caixas com vestuário
Já a este tempo, que seriam nove horas da manhã, o navio dos corsários fran- e outros pertences, passando,
ceses se não avistava; – e os Franceses que estavam na “Santo António” vendo depois, a lançar para a água
a artilharia e caixas com
a tormenta desencadeada, o leme desmanchado, atravessada a nau, o rumor que açúcar e algodão.
20 fazia toda a gente, – chegavam-se aos nossos em tom amigo e cumpriam tudo 3. Jorge de Albuquerque
que lhes mandavam, como se fossem cativos dos Portugueses, e não os corsários Coelho revela-se um bom
líder, sendo ele o primeiro
e roubadores. a desfazer-se dos seus
bens, para dar o exemplo,
História Trágico-Marítima, “As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho”,
mostrando que era necessário
Sá da Costa Editora, adaptação de António Sérgio, pp. 134-135. alijar (“Para que não fosse
isto pesado a alguém, foi a
de Jorge de Albuquerque
Coelho a primeira de todas
1
produzindo som agudo e sibilante; 2 conjunto de cabos fixos, que seguram o mastro; 3 formando que se lançaram ao mar,
turbilhão; 4 alivia a carga; 5 tornasse mais bojuda a vela; 6 pequeno mastro suplementar; 7 velas do na qual ele trazia os seus
mastro grande; 8 encapelamento e ruído das ondas; 9 desanimar. vestidos e outros objetos
de importância.”, (ll. 6-8).
Mostra-se também um
homem generoso e solidário
com a tripulação (“Jorge de
Albuquerque, vendo-os assim,
começou a falar-lhes para lhes
1. Identifique as sensações presentes no primeiro parágrafo e comente a sua expres- dar ânimo, e ordenou a alguns
que buscassem meio com que
sividade. se pudesse enfim governar a
nau.”, (ll. 13-15)
2. Refira as ações empreendidas pela tripulação da nau “Santo António” para enfren-
tar a tempestade.
5. Explicite a atitude dos franceses que estavam na nau, descrita no último parágrafo
do excerto.
257
Almeida Garrett
PA R A AVA L I A R "As terríveis aventuras de Jorge de A. Coelho"
GRUPO II
A pergunta era se eu não sentia orgulho quando chegava ao cabo da Boa Espe-
rança. Orgulho de ser português.
Hesitei. Vou ser franco ou não? Dou uma resposta de circunstância e vaga, ou
entro na questão a fundo? Viajar por muito tempo tem esta consequência: adqui-
5 re-se um certo relativismo.
Fica difícil aceitar os dogmas e os mitos propagados na pátria ao longo de ge-
rações.
Visitamos outros países e ficamos a saber que os nossos dogmas e mitos valem
tanto como os deles. […]
PROFESSOR 10 Esse formidável promontório, no fundo de África, é um ponto de referência im-
pressionante quer para os que o alcançam por terra quer para os que o contornam
4. Os marinheiros, num ato
de desespero e sem meios
por mar. Aliás, recordo a minha desilusão quando o visitei pela primeira vez, por
para enfrentar a tempestade, encontrar um dia de mar calmo e translúcido, de céu cristalino e brisa suave, que
recorrem a Deus para os
ajudar, ajoelhando e orando,
nada fazia supor ser ali o lugar do mito do Adamastor. Mas em visitas seguintes,
pois Ele era o único que os 15 as coisas cósmicas alinharam-se de maneira a poder assistir a tempestades bru-
podia auxiliar em situação tão
extrema.
tais de mar e vento sobre o cabo que por nós foi pela primeira vez dobrado.
5. Os franceses que estavam A pergunta era se eu sentia orgulho. De ser português no cabo da Boa Esperança.
na nau encontravam-se Não. Passaram muitos séculos. O que eu não consigo deixar de sentir é uma
com medo, tal como os
portugueses, esquecendo-se perplexidade incomodada. Onde foram parar esses homens que estavam na van-
da sua posição de atacantes, 20 guarda do seu tempo? Onde foram parar o arrojo e a antevidência da raça que
para pensar apenas na sua
sobrevivência. Por isso, soube dar novos mundos ao mundo? O meu incómodo é ainda maior, se viro as
acatavam as ordens dos costas ao cabo e regresso à cidade, talvez a mais cenográfica e apetecível de todas
portugueses, mostrando-se
amigos e solidários e as cidades fora da Europa, e penso que podia ser uma cidade de ascendência por-
colaborando para que a nau tuguesa, mas que simplesmente deixámos que os holandeses ficassem com ela.
resistisse à intempérie.
25 A Cidade do Cabo, Cape Town, a “Taverna dos Mares”.
GRUPO II Na realidade, para contornar África, não basta dobrar o cape of Good Hope, há
Leitura outro mais a sul e que marca, esse sim, o final do continente: o cabo Agulhas. […]
7.1; 7.4; 7.6; 8.1
Gonçalo Cadilhe, “Qualquer coisa nos lugares”,
in Visão, edição online, 19 de junho de 2013 (consultado em fevereiro de 2017).
1.1 [C]
1.2 [B]
1.3 [C] 1. Selecione a opção que completa adequadamente cada uma das afirmações.
1.4 [A]
1.1 O texto de Gonçalo Cadilhe é
1.5 [B]
[A] uma exposição sobre a expansão portuguesa.
Gramática
18.1; 18.4; 19.3
[B] uma apreciação crítica sobre a Cidade do Cabo.
[C] um relato de viagem.
2.1 Oração subordinada
substantiva completiva. [D] uma síntese de um texto de outro autor.
2.2 Complemento agente 1.2 Viajar durante muito tempo tem, segundo o autor, consequências como
da passiva.
2.3 “Esse formidável [A] o esquecimento de locais que deveriam ficar na memória.
promontório, no fundo
de África”. [B] a relativização da importância de certos locais.
2.4 Adjetivo qualificativo. [C] a perceção de que afinal valeu a pena fazer aquela viagem.
2.5 Campo semântico.
[D] a valorização da terra ou país que deixámos para trás.
258
1.3 Considerando o conteúdo das linhas 12 a 16, o viajante ter-se-á deparado com PROFESSOR
[A] o gigante Adamastor no local visitado.
GRUPO Leitura
III / Ed. Literária
[B] o promontório como um local de visita obrigatório. 9.3; 9.5; 9.7; 12.1; 20.4;
Escrita
21.2; 22.1
10.2; 11.1; 11.2; 12.1; 12.2;
[C] situações climatéricas e atmosféricas distintas das descritas no episódio 12.4; 13.1
do Adamastor. 1. 1.º Chegada ao cais; 2.º Barca
do Diabo; 3.º
A História Barca do Anjo; ,
Trágico-Marítima
[D] vários portugueses a visitar o cabo da Boa Esperança. 4.º capítulo
no Barca doV,Diabo.
retrata as
aventuras
2. O Fidalgo e desventuras
mos
1.4 Uma certa revolta apoderou-se do autor quando ele
da nau “Santo António”,
[A] refletiu acerca da perda da Cidade do Cabo para os holandeses capitaneada por Jorge de
Albuquerque Coelho, que
[B] soube que a Cidade do Cabo era apelidada de “Taverna dos Mares”. embarca no Brasil, rumo a
Portugal, carregada de gente
[C] pensou no facto de a Cidade do Cabo já não ser portuguesa. e de mercadoria.
Ao longo da viagem,
[D] percebeu que o cabo nada tinha de perigoso. a tripulação enfrenta várias
adversidades. Luta contra
1.5 A forma verbal “deixámos” (l. 24 ) encontra-se uma forte tempestade, que
quase destrói a nau, e contra
[A] no presente do indicativo. o ataque dos corsários
franceses, bem armadilhados,
[B] no pretérito perfeito do indicativo. contrastando com a fraca
artilharia da nau portuguesa.
[C] no pretérito imperfeito do indicativo. Estas duas situações deixam
a tripulação da “Santo
[D] no presente do conjuntivo. António” em grande penúria,
pois perde grande parte
2. Responda aos itens seguintes. da carga e tem de navegar
numa embarcação em estado
2.1 Classifique a oração “se eu não sentia orgulho” (l. 1). deplorável. Destaca-se, no
entanto, no meio destas
2.2 Identifique a função sintática do constituinte sublinhado em “por nós foi pela pri- adversidades, o altruísmo
de Jorge de Albuquerque,
meira vez dobrado” (l. 16). que tenta encorajar os
2.3 Identifique o referente do pronome “o” em “quando o visitei” (l. 12). marinheiros.
Esta obra dá-nos uma visão
2.4 Classifique o termo “translúcido” (l. 13) quanto à classe de palavras. trágica das aventuras vividas
pela tripulação das naus
2.5 Identifique a relação que se estabelece entre os vários sentidos da palavra terra que, durante vários séculos,
fizeram a carreira da Índia
nas seguintes frases: e do Brasil, para trazer para
a metrópole as riquezas das
a. O marinheiro gritou “Terra à vista!” colónias.
(148 palavras)
b. O lavrador trabalha a terra.
c. Ele é muito terra a terra.
GRUPO III
259
Bloco informativo B L O C O I N F O R M AT I V O
I – GRAMÁTICA (SISTEMATIZAÇÃO)
Os conteúdos gramaticais aqui sistematizados têm como referência o Dicionário Terminológico (http://dt.dge.mec.pt/)
e seguem a hierarquia e a nomenclatura apresentadas nas Metas Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário (para o 10.o ano
de escolaridade). Alguns deles foram já apresentados, sistematizados e exercitados ao longo das unidades que fazem parte
deste Manual, por isso serão aqui apenas referenciados.
CLASSES DE PALAVRAS
1
Advérbios que contribuem com Alguns escritores quinhentistas
informação sobre quantidade ou dedicaram-se bastante à poesia.
grau. Podem ocorrer internamente ao 2
Pero Marques ficou muito triste
predicado1, ou como modificador com a decisão de Inês.
Quantidade e grau
de grupos adjetivais2 ou adverbiais3. 3
Algumas embarcações cruzavam
Alguns destes advérbios são utilizados
as águas muito devagar.
para a formação do grau dos adjetivos
e advérbios.
Advérbio
Valores semânticos Advérbio que contribui para reverter • Não gosto das cantigas de
Negação o valor de verdade de uma frase escárnio e maldizer.
afirmativa ou para negar um constituinte.
1
Advérbios que se utilizam em resposta Fizeram o trabalho de pares
a interrogativas globais1 ou como proposto? Sim.
Afirmação modificador de um constituinte2, 2
Eles fizeram o trabalho de grupo,
contribuindo para asserir ou reforçar sim, e ainda o apresentaram na
o valor afirmativo de um enunciado. aula.
260
Bloco informativo
1
Advérbios que podem ser complementos Vasco da Gama parou ali.
Lugar oblíquos1, predicativos do sujeito2 2
O povo ficou ali.
ou modificadores3. 3
Os marinheiros descansaram ali.
1
Advérbios que estabelecem nexos O Escudeiro entrou em casa.
entre frases1 ou constituintes da Depois, procurou Inês.
frase2, nomeadamente relações de 2
Gostei da poesia trovadoresca,
consequência3, de contraste4 concretamente das cantigas
ou de ordenação5. de amor.
Distinguem-se de conjunções com valor 3
Inês era demasiado sonhadora,
idêntico por poderem, por exemplo,
assim, acabou por perder
ocorrer entre o sujeito e o predicado6
oportunidades.
Conectivo (no caso das orações subordinadas
4
Advérbio relativas1). O Pedro não estudou a lírica
camoniana; o Rui, porém, fez um
Funções
trabalho espetacular.
5
Primeiramente, estudámos as
cantigas de amigo, depois as de
amor.
6
Pero Marques foi rejeitado por Inês e o
bom homem, todavia, não desistiu.
1
Advérbio que introduz uma oração A casa onde morava o Ermitão
subordinada relativa, permitindo identificar ficava distante da aldeia.
uma relação com o nome antecedente (no 2
Ela sabia onde ela morava.
Relativo caso das orações subordinadas relativas1).
Introduz também orações relativas sem
antecedente (orações subordinadas
substantivas relativas2).
261
Bloco informativo
São constituídas por duas ou mais palavras e têm • modo • de bom grado, por acaso, à pressa, …
comportamento e classificação iguais aos • negação • de modo algum, de maneira
de um advérbio, apresentando os mesmos valores nenhuma, …
semânticos.
• quantidade e grau • no mínimo, de mais, tão pouco, …
• afirmação • de facto, na verdade, sem dúvida, …
1
Variam em género e número. Têm valor Este trovador sabe trovar.
deítico ou anafórico, contribuindo para 2
Este seu poema está bem bonito.
a construção da referência do nome que
3
precede tendo em conta a sua relação Todo este estudo não foi em vão.
Demonstrativo
de proximidade ou distância.
este(s), esta(s), esse(s),
Não podem coocorrer com o artigo1,
essa(s), aquele(s), aquela(s)
e, em caso de coocorrência com o
determinante possessivo, este precede-os
obrigatoriamente2. Podem ser precedidos
Determinante de certos quantificadores3.
1
Variam em pessoa, género e número O meu poema ficou bem.
e em contextos definidos. 2
Este meu irmão tira-me do sério!
São obrigatoriamente precedidos
3
Possessivo por um artigo definido1 ou por Meus meninos, venham cá.
meu(s), minha(s), um determinante demonstrativo2, 4
O poeta saiu com a musa, sua
teu(s), tua(s), seu(s), sua(s), exceto quando têm a função amada, para lhe confessar o seu
nosso(s), nossa(s), vosso(s), de vocativos3 ou de modificadores amor.
vossa(s) apositivos4. Podem ser precedidos de 5
Todos os seus marinheiros
certos quantificadores5. Em contextos
marearam arduamente.
indefinidos, ocorrem em posição pós-
6
-nominal6. Um marinheiro seu não faria isso.
1
Variam em género e número e são Certos navegadores assumiram
utilizados em contextos em que se comportamentos incorretos.
Indefinido assume que o referente do nome 2
[Uns] certos marinheiros fizeram
certo(s), certa(s), que precedem não corresponde a disparates.
outro(s), outra(s) informação específica ou identificada1.
Distinguem-se dos artigos indefinidos
por poderem coocorrer com estes2.
262
Bloco informativo
1
Pessoal Variam em pessoa e número, e alguns Inês viu-se no espelho.
• Formas tónicas: eu, tu, você, variam em género. 2
O trovador e a sua “senhor”
ele/ela, nós, vós, vocês, As formas átonas ocorrem adjacentes encontraram-se na ermida.
eles/elas, mim, ti, si ao verbo (à esquerda do verbo − em
3
próclise −, à direita − em ênclise −, Dorme-se mal no convés da nau.
• Formas átonas: me, te, o, a, ou ainda no interior das formas de futuro 4
Dizem-se coisas estranhas sobre
lhe, nos, vos, os, as, lhes, se do indicativo e condicional − Camões.
1 - São formas de contração em mesóclise); as restantes 5
O Escudeiro porta-se mal.
do pronome pessoal tónico são formas tónicas.
com a preposição com as As formas da variante átona do pronome
seguintes: comigo, contigo, pessoal se podem assumir diferentes
connosco, convosco, consigo valores: reflexividade1 e reciprocidade2;
2 - São formas de contração de podem ser usados como marcadores
dois pronomes pessoais de indefinição do sujeito (valor
as formas mo(s)/ma(s) impessoal – ocorrendo exclusivamente
(contração de me e na terceira pessoa3), estratégia de
o(s)/a(s)), to(s)/ta(s) passivização (valor passivo – só na
(contração de te terceira pessoa4) ou podem constituir
e o(s)/a(s)), lho(s)/lha(s) parte integrante do verbo (valor
(contração de lhe inerente5).
e o(s)/a(s))
Pronome 1
Demonstrativo Variam em género e número e têm Este pajem é um ignorante
• Formas tónicas variáveis : 1 um valor deítico ou anafórico. e aquele também.
este(s), esta(s), Estabelecem a sua referência tendo 2
Isto incomoda-me.
esse(s), essa(s), em conta a relação de proximidade
3
ou de distância em relação a um Ele comprou um livro e leu-o
aquele(s), aquela(s) rapidamente.
participante do discurso
• Formas tónicas invariáveis2: ou a um antecedente textual. 4
Ele disse que viu um gigante. /
isto, isso, aquilo Ele disse-o.
• Formas átonas3: o(s), a(s)
• Forma átona invariável4:
o (usada na substituição
de constituintes oracionais)
263
Bloco informativo
1
Indefinido Alguns admitem variação em género Alguém surgiu do mar.
• Formas invariáveis1: e número, quando correspondentes 1
Eles comeram tudo.
alguém, ninguém, tudo, nada, ao uso pronominal de um quantificador
1
ou de um determinante indefinido. Ninguém lhe revelou o segredo.
algo, outrem
Referem uma terceira pessoa ou uma 2
Todos foram ao banquete.
• Formas variáveis2: quantidade indeterminadas. 2
algum(a), alguns, algumas, Vós levastes muitos mantimentos,
nenhum(a), nenhuns, mas eu só trouxe alguns.
Pronome nenhumas, outro(a)(s),
(continuação) muito(a)(s), pouco(a)(s),
todo(a)(s), vário(a)(s),
tanto(a)(s)
1
Relativo Ocorrem no início das orações relativas. Trouxe-vos os frutos aos quais
1
• Variáveis : o qual, os quais, Podem remeter para um constituinte me referi ontem.
a qual, as quais anterior, quando possuem antecedente. 2
Indico-vos a rota que deveis
• Invariáveis2: (o) que, quem seguir.
1
Expressam uma quantidade numérica Li duas cantigas de amigo de
inteira precisa (numeral cardinal1), um D. Dinis.
múltiplo de uma quantidade (numeral 2
Leste o dobro das minhas
multiplicativo2), ou uma fração precisa de cantigas.
Quantificador Numeral uma quantidade (numeral fracionário3).
3
Os quantificadores numerais fracionários Ele leu metade das tuas cantigas.
e multiplicativos são, muitas vezes,
locuções (metade de, dobro de, etc.).
1
Conjunções coordenativas Ligam elementos com igual valor A donzela não se encontrou com
• copulativas1: e, nem sintático, sejam palavras6 ou grupos o amigo nem viu a mãe.
2
de palavras numa só oração, sejam As donzelas foram à romaria,
• adversativas2: mas orações diferentes mas equivalentes mas não viram os amigos.
3
• disjuntivas3: ou sintaticamente e independentes umas A mãe tinha o papel de
das outras. confidente ou assumia-se como
• conclusivas4: logo
conselheira.
• explicativas5: pois, que 4
A jovem chegou atrasada, logo
não viu o amigo.
5
Penso que a jovem ficou triste, pois
ela estava a chorar.
6
A donzela e a mãe foram à romaria.
1
Conjunções Introduzem orações subordinadas A jovem perguntou à mãe
Conjunção subordinativas que desempenham uma função sintática se podia sair com as amigas.
− Substantivas relativamente à subordinante. 2
Como estava triste, procurou
completivas1: que, se, para as amigas.
− Adverbiais 3
Ela fez tudo como lhe explicaram.
• causais2: porque, como… 4
O Escudeiro era fanfarrão,
• comparativas3: como, embora não tivesse tostão.
conforme… 5
• concessivas4: embora, Ficaria feliz caso visse o amigo.
6
malgrado… Procurou-o com tanto fervor
• condicionais5: se, caso… que acabou por o avistar.
• consecutivas6: que 7
Inês arranjou-se para receber
(antecedido de tão, tanto…) o Escudeiro.
• finais7: para… 8
Mal chegou, sentou-se.
• temporais8: apenas,
enquanto, quando, mal…
264
Bloco informativo
Locuções conjuncionais
São constituídas por duas ou mais palavras cujo valor semântico se associa ao das conjunções coordenativas
ou subordinativas.
• causais: visto que; dado que; uma vez que; atendendo a que; dado que
• comparativas: bem como; assim como; tal… qual; tão/tanto… como; mais… (do) que
• concessivas: se bem que; ainda que; nem que; não obstante
Subordinativas • condicionais: salvo se; desde que; sem que; exceto se; contanto que; a não ser que
• consecutivas: de modo que; de maneira que; de forma que
• finais: para que; a fim de/que; com a finalidade de
• temporais: antes de/que; logo que; agora que; cada vez que; até que; assim que; …
1
Palavra invariável que exige sempre ser complementada por: O trovador foi para onde a dama iria.
uma oração1, um grupo nominal2, um grupo adverbial3. 2
Contra a força não há resistência.
a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, 3
O falso piloto espreitou por
perante, por, segundo, sem, sob, sobre, trás detrás do capitão.
Preposição As preposições a, de, por e em podem ocorrer contraídas • Pero Marques falou à alcoviteira.
com artigos (definidos e indefinidos), determinantes e pronomes
demonstrativos, advérbios, … • O capitão ordenou aos nativos
que saíssem dali.
• Camões interessou-se pelas artes.
• O Catual viu Paulo da Gama na nau.
Locuções prepositivas
São formadas tipicamente por um advérbio ou um nome seguido de uma preposição ou por um advérbio
no meio de duas preposições.
Exs.: apesar de; junto a; além de; em redor de; perto de; defronte a/de; por causa de; em vez de; antes de; para com; …
Interjeição
Não estabelece relações sintáticas com outras palavras e tem uma função exclusivamente emotiva.
O valor de cada interjeição depende do contexto de enunciação e corresponde a uma atitude do falante ou enunciador.
265
Bloco informativo
Classe − VERBO
1
Intransitivo Dividem-se em várias subclasses, Pero Marques desmaiou.
• Não seleciona complementos1. de acordo com as suas restrições 2
Camões escreveu Os Lusíadas.
Transitivo direto de seleção. Camões escreveu-os.
• Seleciona um sujeito e um 3
Camões respondeu à jovem.
complemento com a função sintática Camões respondeu-lhe.
de complemento direto2.
4
Vasco da Gama foi até à Índia.
Transitivo indireto
5
• Seleciona um sujeito e um Camões dedicou o poema
complemento indireto3 ou oblíquo4. a D. Sebastião.
Camões dedicou-lhe o poema.
Transitivo direto e indireto
Verbo • Seleciona um sujeito e dois
6
Inês levou o marido até à ermida.
principal complementos: um complemento Inês levou-o até à ermida.
direto e outro complemento indireto5 7
Tétis considerava
ou oblíquo6, não sendo este último os Portugueses dignos de uma
pronominalizável. epopeia.
Transitivo-predicativo
• Seleciona um complemento direto
e um predicativo do complemento
direto7. São exemplos deste tipo de
verbo: achar, considerar, julgar, nomear,
eleger, declarar, chamar, supor, ter (por),
tratar (por).
• Seleciona um predicativo do sujeito. Ocorre numa frase em que existe um • Este poema é fácil.
Verbo São exemplos deste tipo de verbo: constituinte com a função sintática de
copulativo ser, estar, ficar, continuar, parecer, sujeito e outro com a função sintática
permanecer, tornar-se, revelar-se. de predicativo do sujeito.
1
• São exemplos deste tipo de verbo: Coocorre com um verbo principal, Os navegadores tinham avistado
ser, ter, haver, estar, dever, poder. posicionando-se antes dele. A estrutura a ilha.
da frase (nomeadamente a seleção 2
A ilha foi avistada pelos
de sujeito e de complementos) é feita navegadores.
pelo verbo principal e não pelo auxiliar.
Verbo 3
Os alunos podiam fazer um
O verbo auxiliar é usado na formação
auxiliar esforço maior.
de tempos compostos1 (ter/haver), em
construções passivas2 (ser), podendo, 4
O poeta está a pedir inspiração
ainda, contribuir para veicular valores às Musas.
modais3 (dever, poder) ou aspetuais4
(estar).
266
Bloco informativo
Verbo
Palavra que exprime processos ou estados e os situa no tempo. Apresenta diferentes formas, que variam
quer em função de valores de pessoa e número quer atendendo a valores de modo e tempo. Estas for-
mas podem ser simples ou compostas, como pode ver na tabela seguinte.
267
Bloco informativo
Exs.:
Verbo regular: falo / falava / falei / falara / falarei / fale / falasse / falaria…
Verbo irregular: faço / fazia / fiz / fizera / farei / faça / fizesse / faria…
Existem, em português, vários outros verbos que apresentam alterações no radical, sendo, assim, irregu-
lares. Alguns exemplos são: aprazer / caber / crer / dar / dizer / estar / fazer / ir / ler / haver / poder / pôr /
querer / rir / ser / saber / ter / trazer / ver / vir.
Conjugações verbais
Existem três conjugações em português, que se identificam pela vogal temática:
• tema em -a (1.a conjugação: falar)
Verbos como abolir, adequar, aturdir, banir, bramir, colorir, demolir, doer, demolir, esculpir, exaurir, explodir,
extorquir, falir, fulgir, florescer, precaver, puir, reaver, remir, retorquir, ruir não apresentam todas as formas
número-pessoais e modo-temporais.
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Bloco informativo
As formas átonas (tais como o, a, os, as, nos, vos, lhe, lhes) ocorrem em adjacência verbal, ou seja, junto ao
verbo, desempenhando a função de complemento direto ou de complemento indireto.
• Nesta posição, os pronomes o, a, os, as podem sofrer alterações, se a forma verbal terminar em -r,
-s ou -z. Neste caso, estas consoantes desaparecem e os pronomes tomam as formas -lo(s), -la(s).
Ex.: O marinheiro fez o trabalho todo. O marinheiro fê-lo todo.
• Se a forma verbal terminar em -ns, passa a -m, quando seguida de pronome átono o, a, os, as, e os
pronomes tomam as formas -lo(s), -la(s).
Ex.: Tu tens o meu livro. Tu tem-lo.
• Quando a forma verbal termina em ditongo nasal (-am, -õe, -ão), os mesmos pronomes assumem
as formas -no(s), -na(s).
Exs.: Os marinheiros comiam peixe cru. Os marinheiros comiam-no.
Veloso põe a arma ao ombro. Veloso põe-na ao ombro.
2. Quando ocorrem com formas verbais do futuro do indicativo e do condicional, os pronomes átonos
são colocados no interior dessa forma verbal − mesóclise.
Exs.: Camões dedicará o seu poema a D. Sebastião. Camões dedicá-lo-á a D. Sebastião.
Ele dedicaria os seus versos a outros mecenas. Ele dedicá-los-ia a outros mecenas.
3. O pronome átono desloca-se para antes do verbo – próclise – em construções frásicas como as
seguintes:
b. Frases com conjunções coordenativas com um elemento de polaridade negativa (não só… mas
também; nem… nem; etc.) e conjunções coordenativas disjuntivas (ou… ou; etc.).
Exs.: Camões não só elogiou o monarca como também lhe ofereceu o poema.
Camões não só o elogiou como também lhe ofereceu o poema.
Ou alguém ajuda o poeta ou ele se perde. Ou alguém o ajuda ou ele se perde.
c. Frases com quantificadores como todo(s), toda(s), tudo, qualquer, quaisquer, ambos, bastante,
muito(s), muita(s), pouco(s), pouca(s).
Ex.: Todos os portugueses aclamaram o poeta. Todos os portugueses o aclamaram.
269
Bloco informativo
e. Frases em que o verbo é antecedido de advérbios como mal, sempre, ainda, já, apenas, só, talvez,
aqui, …
Ex.: Ainda li este poema ontem. Ainda o li ontem.
g. Orações relativas.
Exs.: O trovador que elogiou a sua “senhor” foi criticado. O trovador que a elogiou foi criticado.
Quem defendeu o trovador foi a sua “senhor”. Quem o defendeu foi a sua ‘senhor’.
Exs.: Quem narrou a História de Portugal ao rei de Melinde? 1 Quem a narrou foi Vasco da Gama.
2
Quem protegeu os portugueses? Quem os protegeu?
3
Onde puseste o material? Onde o puseste?
i. Frases de tipo exclamativo nas quais se manifestem emoções ou desejos1 ou aquelas em que
o falante constrói frases com determinada intencionalidade, destacando certos constituintes
e desviando-os da ordem padrão2.
Exs.: Oxalá percebas os poemas todos! / 1Oxalá os percebas todos!
Que Nossa Senhora proteja os marinheiros! / 2Que Nossa Senhora os proteja!
b. Pode ocorrer antes do complexo verbal quando algum elemento requer a próclise.
Ex.: Ninguém quis ler em voz alta o poema. Ninguém o quis ler em voz alta.
c. Nos complexos verbais com auxiliares como começar a, acabar de, estar a, andar a, o pronome
ocorre depois do verbo principal.
Ex.: Estou a apreciar este soneto camoniano. Estou a apreciá-lo.
270
Bloco informativo
FUNÇÕES SINTÁTICAS
Sujeito
Função sintática desempenhada pelo constituinte da frase que controla a concordância verbal. O constituinte
que exerce a função de sujeito pode ser um grupo nominal, substituível pelos pronomes pessoais eu, tu, ele/ela,
nós, vós, eles/elas, ou um constituinte oracional, encontrando-se, por norma, em posição pré-verbal.
Expresso − sujeito com realização lexical. Pode ser: Nulo − em português, o sujeito diz-se "nulo"
porque não tem realização lexical obrigatória.
• Simples
Pode ser:
Ex.: Gil Vicente escreveu farsas. (grupo nominal)
Quem lê aprende. (oração) • Subentendido
Vocativo
Função sintática desempenhada por um constituinte que não controla a concordância verbal e que serve apenas
para interpelar ou chamar o interlocutor, surgindo em frases de tipo imperativo1, interrogativo2 ou exclamativo3.
Exs.: 1 Veloso, não faça isso.
2
Minha senhora, estais a ouvir-me?
3
Ó Tágides, é tão grande o meu infortúnio!
Predicado
Função sintática desempenhada pelo grupo verbal. Pode corresponder só ao verbo ou ao verbo com os seus respetivos
complementos e/ou predicativos requeridos, e ainda os modificadores do grupo verbal. Assim, temos:
• Predicado — só com verbo ou grupo verbal (por norma, quando o verbo é intransitivo)
Ex.: A donzela sorriu.
• Predicado — verbo + complementos e/ou predicativos e modificadores
Ex.: Tétis conduziu a ilha dos amores até aos nautas portugueses.
Complemento direto
Função sintática selecionada por verbos transitivos diretos, transitivos diretos e indiretos ou transitivos-predicativos,
sendo exercida por grupos nominais (GN) ou constituintes oracionais. Os GN que exercem esta função são prono-
minalizáveis pelos pronomes pessoais o, a, os, as1, e os constituintes oracionais são substituíveis pelos pronomes
demonstrativos invariáveis isto, isso, aquilo2.
Exs.: 1Este soneto evidencia a complexidade da poesia. / Este soneto evidencia-a.
2
O poeta pedia que o rei o escutasse. / O poeta pedia aquilo.
Complemento indireto
Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte sin-
tático que exerce a função de complemento indireto é introduzido pela preposição a e pronominalizável pelos
pronomes lhe, lhes.
Ex.: Camões respondeu a D. Sebastião. / Camões respondeu-lhe.
271
Bloco informativo
Complemento oblíquo
Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte
sintático que exerce a função de complemento oblíquo é introduzido por uma preposição, podendo assumir
um valor locativo1, de movimento2, de duração3, de necessidade ou carência4.
Exs.: 1 Camões viveu em Constância.
2
Vasco da Gama chegou à Índia em 1498.
3
A viagem durou cerca de um ano.
4
A tripulação precisou de um guia.
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo direto conjugado
na passiva, tendo como auxiliar o verbo ser.
Ex.: Os navegadores portugueses foram salvos por Vénus.
Predicativo do sujeito
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo copulativo que atribui uma
propriedade ao sujeito.
Exs.: Os navegadores andavam em aflição durante as tempestades.
Vasco da Gama permaneceu na nau.
As Ninfas pareciam umas sereias.
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo-predicativo que atribui
uma propriedade ao complemento direto.
Exs.: Acho a poesia trovadoresca complicada.
Os romanos elegeram Vénus (como) deusa do amor.
O rei D. Manuel I nomeou Vasco da Gama (como) comandante da expedição à Índia.
Modificador
Função sintática desempenhada por um constituinte de uso facultativo. Acrescenta informação sobre o constituinte
que modifica e pode ser eliminado sem que a frase se torne agramatical.
O modificador pode incidir sobre uma frase/oração1 ou sobre o grupo verbal. Neste último caso, a função do
modificador (do grupo verbal) pode ser desempenhada por uma oração subordinada2, por um grupo preposicional3
ou por um grupo adverbial4.
272
Bloco informativo
Complemento do nome
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um nome e que lhe completa a referência.
Corresponde geralmente a um grupo preposicional, a uma oração introduzida por uma preposição ou a um grupo
adjetival.
Requerem complemento os:
• nomes de graus de parentesco1
• nomes de profissões que derivam de outros nomes2 (guia, condutor, …)
• nomes icónicos3 (gravura, fotografia, …)
• nomes epistémicos4 (hipótese, desejos,…)
• numerais fracionários e multiplicativos5 (o dobro, o terço, …)
• nomes que derivam de verbos6 (construção, pesca, …)
Exs.:
1
O pai de Camões era cortesão.
2
O guia dos navegadores era de Melinde.
3
A gravura do monarca estava desbotada.
4
O desejo de chegar a terra animava os marinheiros.
5
A viagem custou o dobro do previsto.
6
A pesca da baleia pôs a espécie em perigo.
Complemento do adjetivo
Função sintática exercida por um constituinte selecionado por um adjetivo e que ocorre normalmente à direita
desse adjetivo, sendo, habitualmente, um grupo preposicional.
Exs.: Os marinheiros ficaram satisfeitos com a recompensa da Ilha dos Amores.
Os navegantes estavam desejosos de encontrar terra amiga.
Modificador do nome
Constituinte do grupo nominal que lhe modifica o sentido, apesar de não ser por ele selecionado. Pode ser:
• Modificador do nome restritivo: restringe/limita a referência do nome que modifica. Pode configurar-se num
grupo adjetival1, num grupo preposicional2, numa oração adjetiva relativa3, numa oração subordinada final4.
• Modificador do nome apositivo: não restringe/não limita a referência do nome que modifica. É obrigatoriamente
delimitado por vírgula(s), e pode estar configurado num grupo nominal5, num grupo adjetival6 ou num grupo
preposicional7, mas também numa oração adjetiva relativa explicativa8.
Exs.: 1 A caravela moderna oferece melhores condições.
2
A nau de Vasco da Gama veio carregada.
3
O conhecimento que foram adquirindo permitiu-lhes chegar mais longe.
4
As novas técnicas para navegar deram um forte impulso aos Descobrimentos.
5
Camões, o poeta épico, dedicou a sua obra a D. Sebastião.
6
As florestas, frondosas e verdejantes, atraíram os portugueses.
7
Os deuses, com função de oponentes, criaram os obstáculos.
8
A viagem, que traria muitos perigos, acabou por se realizar.
273
Bloco informativo
Pelo exposto, percebe-se que, pelas posições relativas distintas que ocupam os constituintes que exer-
cem a função de sujeito nas respetivas frases, o uso de uma ou outra forma permitirá pôr em relevo
aspetos particulares da informação que a frase veicula, tal como traduz o esquema seguinte:
Cantigas de amigo e de amor foram escritas por aquele trovador. frase passiva
sujeito verbo aux. ser + verbo principal (particípio) compl. agente da passiva
Atenção: pode ser construída uma frase passiva sem recurso ao verbo auxiliar ser, utilizando-se o pro-
nome pessoal se. O complemento agente da passiva pode também não estar expresso.
Nota: Convém não esquecer que, ao transformar uma frase ativa em passiva, o verbo auxiliar da pas-
siva (ser) terá de ficar no mesmo tempo e modo em que se encontrava o verbo principal da frase ativa
e este terá de ser colocado no particípio passado, concordando em género e em número com o novo
sujeito da passiva.
274
Bloco informativo
Na escrita, é marcado por operadores citacionais como: aspas, travessões, parágrafos, itálicos, tipo de letra.
Na oralidade, pode ser assinalado através de modulações de tom e expressões gestuais e faciais.
No texto literário, é frequente o narrador caracterizar personagens recorrendo a registos de língua específicos,
reproduzindo em discurso direto os seus diálogos ou monólogos.
Forma de alguém reproduzir no seu próprio discurso o discurso de outro, não lhe mantendo a forma original,
ou seja, de um modo não citacional.
Nesta modalidade, o citador não abdica do estatuto de sujeito de enunciação. Por isso, seleciona, resume,
parafraseia, interpreta o que o locutor disse. Daí resulta que a voz de quem é citado seja introduzida pelo recurso
à subordinação, sendo as falas originais transformadas no que toca aos tempos verbais, pessoas gramaticais
Discurso indireto e locuções adverbiais. Torna-se frequentemente impossível reconstituir as falas originais.
Ex.: «Contou então que, tanto que passaram
Aquele monte os negros de quem falo,
Avante mais passar o não deixaram,
Querendo, se não torna, ali matá-lo;
Os Lusíadas, Canto V, est. 36.
275
Bloco informativo
1.a e 2.a pessoas 3.a pessoa Em que áreas há melhores e piores notas
Emília Lemos, presidente da Associação
eu, tu, nós, vós, me, nos ele(s), ela(s), o(s), a(s), lhe(s) de Professores de Geografia, adianta:
"Onde surgem mais problemas é nas
meu(s), minha(s), teu(s), tua(s), nosso(s), perguntas abertas, de desenvolvimento,
seu(s), sua(s), dele(s), dela(s)
nossa(s), vosso(s) quer devido à formulação quer ao elevado
grau de dificuldade de interpretação
este(s), esta(s), isto, esse(s), essa(s), isso aquele(s), aquela(s), aquilo e de domínio da escrita científica."
Miguel Barros, da Associação
de Professores de História, sublinha:
aqui, cá, aí, ali, lá, acolá ali, lá, naquele lugar, naquele sítio
"Com este novo modelo de exame, mais
fechado e que inclui itens de seleção,
naquele momento, imediatamente, como a escolha múltipla, ordenação
agora, neste momento, já, hoje, ontem,
naquele dia, na véspera, no dia anterior, ou associação, verificamos que os alunos
amanhã, logo
no dia seguinte, depois demonstram mais dificuldades."
João Paulo Leal, da Sociedade
complemento indireto do verbo introdutor Portuguesa de Química, acusa o IAVE
vocativo
do discurso (Instituto de Avaliação Educativa):
"As médias são muito baixas porque os
responsáveis pelos exames assim o querem.
Não houve, até hoje, vontade de mudar.
Suspeito que haja uma vontade deliberada
frase interrogativa direta oração subordinada substantiva completiva
de afastar os alunos desta área de ensino."
In Visão, n.o 1132, 13 a 19 de novembro de 2014, pp. 58-66
(texto adaptado e com supressões).
276
Bloco informativo
Coordenação
Subordinação
CONTACTO DE LÍNGUAS
Recorde-se que a língua portuguesa deriva fundamentalmente do latim. Contudo, também sofreu a in-
fluência das línguas de substrato e de superstrato.
Substrato* *NOTA
Num caso
e noutro, o termo
Língua que desaparece após contacto com a língua de um povo invasor/colonizador, aí deixando, no en- é por vezes usado
para designar
tanto, alguns vestígios. Por exemplo, antes do latim, foram faladas, na Península Ibérica, outras línguas, o conjunto dos
existindo, portanto, atualmente, em português, palavras de origem celta e ibera. referidos vestígios
linguísticos.
Superstrato*
Língua de um povo invasor/colonizador que acaba por desaparecer, mas que deixa marcas na do povo in-
vadido/colonizado. Na história do português, esse foi o caso dos idiomas trazidos pelos germanos e pelos
árabes, que chegaram à Península nos séculos V e VIII, respetivamente.
277
Bloco informativo
Para se falar de palavras convergentes e divergentes é fundamental saber o que se entende por
ÉTIMO. O étimo é uma "palavra da qual deriva, diacronicamente, outra palavra", segundo o dicionário
terminológico (DT online — dt.dge.mec.pt).
Palavras convergentes
Palavras que apresentam a mesma forma, embora provenham de étimos diferentes, dando origem a pa-
lavras homónimas. São exemplos de palavras convergentes:
*NOTA
A forma rio RIVU- FILU-
pressupõe
uma forma
reconstituída, rio* (nome e verbo) fio (nome e verbo)
*RIDO
RIDEO FIDO
VANU- SUNT
VADUNT SANCTU-
Palavras divergentes
Palavras que apresentam formas diferentes, apesar de terem o mesmo étimo. São exemplos de palavras
divergentes:
Inserção
• Prótese − acrescento de uma unidade fónica no início da palavra: SPECULU- > espelho
• Epêntese − acrescento de uma unidade fónica no interior da palavra: HUMILE- > humilde
• Paragoge − acrescento de uma unidade fónica no fim da palavra: ANTE > antes
278
Bloco informativo
Supressão
• Aférese − queda de uma unidade fónica no início da palavra: HOROLOGIU- > relógio
• Síncope − queda de uma unidade fónica no interior da palavra: GENERU- > genro
• Apócope − queda de uma unidade fónica no fim da palavra: CRUCE- > cruz
Alteração
• Assimilação − aproximação de unidades fónicas: NOSTRU- > nosso
• Dissimilação − diferenciação de unidades fónicas: nembrar (forma arcaica) > lembrar
• Sonorização − transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/, /k/) na sua corres-
pondente sonora (neste caso, /b/, /d/, /g/): PIETATE- > piedade
• Palatalização − passagem a palatal de uma unidade ou sequência que o não é originalmente:
FLAMMA- > chama
• Vocalização − transformação de uma consoante em vogal: OCTO > oito
(note-se que, seguindo outra vogal, a unidade que resulta da transformação da consoan-
te funciona como semivogal)
• Crase − fusão ou contração de duas vogais numa só: LEGERE > leer > ler
• Sinérese − transformação em ditongo de uma sequência formada por duas vogais contíguas (por
semivocalização de uma delas): EGO > eo > eu
• Metátese − deslocação, no interior da palavra, de unidades mínimas ou de sílabas: SEMPER > sempre
• Redução vocálica − enfraquecimento de uma vogal em posição átona: casa / casinha
ARCAÍSMOS E NEOLOGISMOS
Arcaísmos
São palavras ou expressões que deixam de ser comummente utilizadas pela comunidade e que, por isso,
passam a considerar-se antiquadas. É o caso de coita, forma antiga para referir “sofrimento”, “infelicidade”.
Neologismos
São palavras novas ou novas associações de forma e sentido que resultam, fundamentalmente, da neces-
sidade de renovação do léxico. Assim, o neologismo tanto pode resultar da atribuição de um novo sen-
tido a uma palavra já existente, como acontece com alguns termos da área da informática (rato, sítio,
portal, navegar, …), como pode decorrer da atuação dos diferentes processos de formação de pala-
vras (cf. europeizar, aerogerador, eurodeputado). Também do contacto com outras línguas pode resultar
a integração de novo vocabulário (empréstimos).
279
Bloco informativo
FORMAÇÃO DE PALAVRAS
O léxico de uma língua é formado por todos os constituintes morfológicos portadores de significado. Dele
fazem parte não apenas as palavras do vocabulário atual mas também as palavras que já não se usam e
todas as que podem ser criadas através de processos regulares (derivação e composição) ou através de
processos irregulares.
Palavra − item lexical que pertence a uma dada classe, com um significado identificável.
Palavra simples − palavra formada por um único radical, sem afixos derivacionais, mas podendo exibir
afixos flexionais.
Palavra complexa − palavra formada por derivação (contém um radical e pelo menos um afixo deriva-
cional) ou por composição (constituída por mais de um radical ou por duas ou mais
palavras).
Base − constituinte morfológico que contém o significado lexical (exclui os afixos) e a partir do qual se
formam novas palavras.
Derivação não-afixal
Processo de formação de palavras que gera nomes deverbais, acrescentando marcas
de flexão nominal a um radical verbal.
Exs.: troc- troca; troco
abraç- abraço
(sem junção de afixos)
Conversão
Processo de formação de palavras, também chamado derivação imprópria, que
procede à integração de uma dada unidade lexical numa nova classe de palavras por
via sintática, sem que se verifique qualquer alteração formal.
Exs.: olhar verbo olhar nome
Estás a olhar para mim. Tem um olhar penetrante.
Prefixação
Consiste na adição de um prefixo a uma base.
DERIVAÇÃO
Exs.: desinteresse; macroestrutura; bissexual
Sufixação
Consiste na adição de um sufixo a uma base.
Parassíntese
Processo morfológico de formação de verbos a partir de nomes ou de adjetivos e que
consiste na adição simultânea de um prefixo e de um sufixo a uma base.
Exs.: a[padrinh]ar; a[podr]ecer
280
Bloco informativo
Processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos
depende da relação sintática e semântica entre os seus membros, o que tem consequên-
MORFOSSINTÁTICA cias para a forma como são flexionados em número.
Exs.: surdo-mudo; guarda-chuva; Via Láctea
Designação Definição
Criação de um vocábulo através da junção de letras ou sílabas de um grupo de palavras, que se pronunciam
Acrónimo como uma só palavra.
Ex.: ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações)
Processo de transferência de uma palavra de uma língua para outra, com ou sem adaptações às características
Empréstimo formais da língua recetora.
Ex.: dossiê (do francês dossier)
Criação de novos sentidos para uma palavra já existente na língua que, contudo, não perde o(s) significado(s)
Extensão semântica anterior(es).
Ex.: rato (aplicado à informática como comando manual do computador)
Criação de um termo que se caracteriza pela eliminação de parte da palavra de que deriva.
Truncação
Ex.: metro (metropolitano)
281
Bloco informativo
Campo semântico
Conjunto de significados que uma palavra pode ter, dependendo dos contextos em que ocorre. O campo
semântico de mar integra os significados que em situações distintas o nome adquire:
Campo lexical
Reporta-se ao conjunto de palavras que, pelo seu significado, se associam a um determinado conceito ou
ideia. Por exemplo, ao campo lexical de escola, associam-se palavras como:
professores, alunos, corredores, salas de aula, carteiras, quadros, cadeiras, …
RELAÇÕES SEMÂNTICAS
As palavras estabelecem relações semânticas entre elas, que podem ser de vários tipos. Assim, temos
relações de:
Semelhança/oposição
• Sinonímia − relação de equivalência de significado entre duas ou mais palavras.
Exs.: bonito/lindo; carro/automóvel; pão/carcaça.
• Antonímia − relação semântica de oposição entre duas ou mais palavras.
Exs.: dia/noite; subir/descer; rápido/lento.
Como se vê, o hipónimo mantém com o hiperónimo traços semânticos comuns. Por isso, as espécies de
peixes elencadas são hipónimos do hiperónimo peixe, e vice-versa.
Todo/parte: holonímia/meronímia
282
II – GÉNEROS TEXTUAIS
Bloco informativo
Texto expositivo sobre um determinado aspeto Uso de uma linguagem clara, objetiva e específica
divulgação
científica
Artigo de
deíticos, … Leitura
disserta de forma clara e fundamentada sobre
um determinado tema, mobilizando informação Uso de uma linguagem clara, objetiva e
denotativa. Escrita
relevante sobre o assunto.
Predomínio dos nomes e dos verbos e das frases
declarativas.
Relato de viagem
Peça jornalística que se caracteriza pela Uso de uma linguagem objetiva e clara.
multiplicidade de temas abordados e de Oralidade
Recurso ao discurso direto e indireto. (Compreensão
intervenientes, o que implica a diversidade de do Oral)
pontos de vista e a veiculação de informação Recurso à subjetividade do autor.
ampla e seletiva. Utilização da primeira e da terceira pessoas.
Texto que se caracteriza pela condensação das Encadeamento lógico dos tópicos abordados.
Síntese
283
III − RECURSOS EXPRESSIVOS
Bloco informativo
Adjetivação – utilização expressiva e recorrente da classe dos adjetivos. “Um mover d’olhos, brando e piadoso”
(Luís de Camões, Rimas)
Alegoria – série de metáforas arrojadas que vão além do sentido aparente ou literal Diabo Mal
e que têm como objetivo último clarificar, tornando mais concretas, Serafim Bem
determinadas realidades abstratas e espirituais. (Gil Vicente, Auto da Feira)
Aliteração – repetição sucessiva de um tipo de sons consonânticos. “A fermosura desta fresca serra”
(Luís de Camões, Rimas)
Anáfora – repetição de uma palavra ou expressão no início de versos ou de frases “Faz serras floridas, / faz claras as fontes”
sucessivos(as). (Luís de Camões, Rimas)
Anástrofe – alteração da ordem natural das palavras na frase. “Só com vos ver o bárbaro Gentio
Mostra o pescoço ao jugo já inclinado”
(Luís de Camões, Os Lusíadas)
Antítese – aproximação de duas ideias opostas ou contraditórias. “e os batéis por lhe fugir, e elas por os tomar”
(Fernão Lopes, Crónica de D. João I)
Apóstrofe – interpelação, chamamento do recetor a quem é destinado o discurso. “E vós, Tágides minhas, […]”
(Luís de Camões, Os Lusíadas)
Comparação – relação de realidades, colocadas em paralelo, por meio de um termo “Quer’eu em maneira de proençal / fazer agora
comparativo ou verbos como parecer, lembrar, sugerir, entre outros. um cantar d’amor”
(Dom Dinis)
Enumeração – apresentação sucessiva de elementos, frequentemente da mesma “[…] agora espero, agora desconfio; / agora desvario,
categoria gramatical ou com o mesmo tipo de estruturação. agora acerto.”
(Luís de Camões, Rimas)
Eufemismo – atenuação na transmissão de uma ideia ou realidade excessiva, “Alma minha gentil, que te partiste / tão cedo desta
semanticamente negativa. vida, descontente”
(Luís de Camões, Rimas)
Hipérbole – utilização de termos excessivos para efeito de exagero da realidade. “Farei que amor a todos avivente, / pintando mil
segredos delicados […]”
(Luís de Camões, Rimas)
Interrogação retórica – questão que se formula não para obter resposta, mas para “Hui! e que pecado é o meu, / ou que dôr de coração?”
melhor orientar/realçar a ideia a transmitir. (Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira)
Ironia – expressão de palavra/ideia polemicamente orientada para conclusão “Roi Queimado morreu com amor […] / mais resurgiu
diferente daquilo que é o sentido literalmente proferido. depois, ao tercer dia”.
(Pero Garcia Burgalês)
Metáfora – reconstrução, por analogia, do significado normal de uma palavra “Ondados fios de ouro reluzente”
ou expressão, aproximando-o ou associando-o a um campo semântico (Luís de Camões, Rimas)
distinto.
Metonímia – referência a uma realidade através de outra que lhe é próxima “Não no dá a pátria, não, que está metida / No gosto
(por exemplo, a causa pelo efeito, o escritor pela obra, o produto pela da cobiça e na rudeza”
matéria, e vice-versa). (Luís de Camões, Os Lusíadas)
Perífrase – utilização de uma expressão composta por vários termos em vez “[…] no amigo / Curral de Quem governa o Céu
da possibilidade de utilizar uma só palavra. rotundo”
(Luís de Camões, Os Lusíadas)
Personificação – atribuição de sentimentos, ações ou ideias próprias do ser humano “– Ai flores, ai flores do verde pino”
a objetos ou elementos da Natureza. (Dom Dinis)
Pleonasmo – reforço da mesma ideia, através da utilização intencional de palavras “Vi, claramente visto, o lume vivo.”
ou expressões com o mesmo sentido. (Luís de Camões, Os Lusíadas)
Sinédoque – expressão da parte pelo todo, do singular pelo plural, do abstrato pelo “Que da Ocidental praia Lusitana” (= Portugal)
concreto, e vice-versa. (Luís de Camões, Os Lusíadas)
284
IV − NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO Bloco informativo
Os textos poéticos em verso evidenciam um conjunto de aspetos técnicos versificatórios sistematizados no quadro abaixo.
• Extensão do verso pelo número de sílabas métricas (escansão até à sílaba tónica da última palavra
do verso, considerando-se ainda a elisão de sons vocálicos quando pronunciados numa só emissão
de voz; não é coincidente com o número de sílabas gramaticais)
Exs.:
“A/que/la/ ca/ti/va” (Luís de Camões, Rimas) — 5 sílabas métricas
“que a/ tor/men/ta a/man/sa” (Luís de Camões, Rimas) — 5 sílabas métricas
N Métrica
O “Um/ mo/ver/ d’o/lhos/, bran/do e/ pi/a/do/so” (Luís de Camões, Rimas) — 10 sílabas métricas
“Ho/nes/to/ ri/so/, que en/tre a/ mor/ fi/ne/za” (Luís de Camões, Rimas) — 10 sílabas métricas
V
E
R • Designação do verso pelo número de sílabas métricas: monossílabo (uma); dissílabo (duas);
S trissílabo (três); tetrassílabo (quatro); pentassílabo ou redondilha menor (cinco); hexassílabo (seis);
O heptassílabo ou redondilha maior (sete); octossílabo (oito); eneassílabo (nove); decassílabo (dez);
hendecassílabo (onze); dodecassílabo ou alexandrino (doze)
Acento verso agudo (oxítono ou masculino); verso grave (paroxítono ou feminino); ou verso esdrúxulo
silábico (proparoxítono)
verso binário (dois segmentos com uma pausa); verso ternário (três segmentos com duas pausas);
Ritmo
verso quaternário (quatro segmentos com três pausas)
Classificação da estrofe pelo número de versos: monóstico (um); dístico (dois); terceto (três);
Número
quadra (quatro); quintilha (cinco); sextilha (seis); sétima (sete); oitava (oito); nona (nove); décima (dez);
de versos
irregular (mais de dez)
Tipo
de rima Rica (a rima incide em unidades pertencentes a classes de palavras
Em função da classe diferentes)
gramatical das palavras Pobre (a rima incide em unidades que pertencem à mesma classe
de palavras)
285
V − O TEXTO DRAMÁTICO
Bloco informativo
O texto dramático apresenta uma estrutura dialogal, através da qual progride a intriga ou ação dramática,
destinando-se, prioritariamente, à representação.
Observe o conjunto de elementos que o integram e que permitem distingui-lo de outros textos.
• Corresponde aos atos de fala das personagens (as réplicas), pelas quais se dá a progressão dramática.
• Integra os acontecimentos, situações ou ações experienciados pelas personagens, que surgem contextualizados
num determinado espaço e num determinado tempo.
Texto principal
• Desenvolve-se, fundamentalmente, em diálogo (interação estabelecida pelas personagens intervenientes), podendo
também surgir o monólogo (expressões associadas à exteriorização de reflexões ou pensamentos da personagem)
ou os apartes (interação direta entre a personagem e o leitor/espetador).
• Corresponde ao conjunto de didascálicas (parte do texto marcada graficamente por outro tipo de letra – e/ou – por
parênteses).
• Representa as indicações cénicas fornecidas pelo dramaturgo, nas quais se encontram informações imprescindíveis
à representação do texto principal.
• Integra informações dirigidas às personagens, ao encenador, aos atores, aos técnicos e figurinistas, como, por exemplo:
Texto – identificação das personagens;
secundário
– caracterização física e psicológica dos interlocutores;
– indicações sobre o modo como as falas devem ser proferidas;
– registo de aspetos paraverbais (movimentação, expressões corporais e faciais, tom de voz, gestos);
– caracterização do espaço e do tempo, da intensidade e focalização da iluminação, da disposição dos objetos em
cena, vários aspetos a contemplar na representação.
A estrutura do texto dramático pode ainda ser percecionada por outras características, normalmente asso-
ciadas à sua segmentação e tradicionalmente relacionadas com os seguintes aspetos.
286
Metas Curriculares
2. Utilizar adequadamente recursos verbais e não verbais: pos- c) definir tópicos e organizá-los de acordo com o género de
tura, tom de voz, articulação, ritmo, entoação, expressividade. texto a produzir.
5. Produzir textos orais com correção e pertinência. 11. Escrever textos de diferentes géneros e finalidades.
1. Produzir textos seguindo tópicos fornecidos. 1. Escrever textos variados, respeitando as marcas do género:
síntese, exposição sobre um tema e apreciação crítica.
2. Produzir textos seguindo tópicos elaborados autonomamente.
12. Redigir textos com coerência e correção linguística.
3. Produzir textos linguisticamente corretos, com diversificação
do vocabulário e das estruturas utilizadas. 1. Respeitar o tema.
6. Produzir textos orais de diferentes géneros e com diferentes 2. Mobilizar informação adequada ao tema.
finalidades. 3. Redigir um texto estruturado, que reflita uma planificação,
1. Produzir os seguintes géneros de texto: síntese e apreciação evidenciando um bom domínio dos mecanismos de coesão
crítica. textual com marcação correta de parágrafos e utilização
adequada de conectores.
2. Respeitar as marcas de género do texto a produzir.
4. Mobilizar adequadamente recursos da língua: uso correto do
3. Respeitar as seguintes extensões temporais: síntese – 1 a 3
registo de língua, vocabulário adequado ao tema, correção na
minutos; apreciação crítica – 2 a 4 minutos.
acentuação, na ortografia, na sintaxe e na pontuação.
5. Observar os princípios do trabalho intelectual: identificação
Leitura das fontes utilizadas; cumprimento das normas de citação;
uso de notas de rodapé; elaboração da bibliografia.
7. Ler e interpretar textos de diferentes géneros e graus de com-
6. Explorar as virtualidades das tecnologias de informação na
plexidade.
produção, na revisão e na edição do texto.
1. Identificar o tema dominante, justificando.
13. Rever os textos escritos.
2. Fazer inferências, fundamentando.
1. Pautar a escrita do texto por gestos recorrentes de revisão e
3. Explicitar a estrutura do texto: organização interna. aperfeiçoamento, tendo em vista a qualidade do produto final.
287
Metas Curriculares
Educação Literária 16. Situar obras literárias em função de grandes marcos históricos
e culturais.
14. Ler e interpretar textos literários. 1. Reconhecer a contextualização histórico-literária nos casos
1. Ler expressivamente em voz alta textos literários, após prepa- previstos no Programa.
ração da leitura. 2. Comparar diferentes textos no que diz respeito a temas,
2. Ler textos literários portugueses de diferentes géneros, per- ideias e valores.
tencentes aos séculos XII a XVI.
3. Identificar temas, ideias principais, pontos de vista e univer-
Gramática
sos de referência, justificando.
4. Fazer inferências, fundamentando. 17. Conhecer a origem e a evolução do português.
5. Analisar o ponto de vista das diferentes personagens. 1. Referir e caracterizar as principais etapas de formação do
6. Explicitar a estrutura do texto: organização interna. português.
a) entre as diversas partes constitutivas de um texto; 3. Explicitar processos fonológicos que ocorrem na evolução do
português.
b) entre características e pontos de vista das personagens.
4. Identificar étimos de palavras.
8. Identificar características do texto poético no que diz respei-
to a: 5. Reconhecer valores semânticos de palavras considerando o
respetivo étimo.
a) estrofe (dístico, terceto, quadra, oitava);
6. Relacionar significados de palavras divergentes.
b) métrica (redondilha maior e redondilha menor; decassílabo);
7. Identificar palavras convergentes.
c) rima (emparelhada, cruzada, interpolada);
8. Reconhecer a distribuição geográfica do português no mun-
d) paralelismo (cantigas de amigo);
do: português europeu; português não europeu.
e) refrão.
9. Reconhecer a distribuição geográfica dos principais crioulos
9. Identificar e explicitar o valor dos recursos expressivos men- de base portuguesa.
cionados no Programa.
18. Explicitar aspetos essenciais da sintaxe do português.
10. Identificar características do soneto.
1. Identificar funções sintáticas indicadas no Programa.
11. Reconhecer e caracterizar textos quanto ao género literário:
2. Dividir e classificar orações.
epopeia e auto ou farsa.
3. Identificar orações coordenadas.
15. Apreciar textos literários.
4. Identificar orações subordinadas.
1. Reconhecer valores culturais, éticos e estéticos manifestados
nos textos. 5. Identificar oração subordinante.
2. Valorizar uma obra enquanto objeto simbólico, no plano do 19. Explicitar aspetos essenciais da lexicologia do português.
imaginário individual e coletivo. 1. Identificar arcaísmos.
3. Expressar pontos de vista suscitados pelos textos lidos, fun- 2. Identificar neologismos.
damentando. 3. Reconhecer o campo semântico de uma palavra.
4. Fazer apresentações orais (5 a 7 minutos) sobre obras, partes 4. Explicitar constituintes de campos lexicais.
de obras ou tópicos do Programa.
5. Relacionar a construção de campos lexicais com o tema do-
5. Escrever exposições (entre 120 e 150 palavras) sobre temas minante do texto e com a respetiva intencionalidade comu-
respeitantes às obras estudadas, seguindo tópicos forneci- nicativa.
dos.
6. Identificar processos irregulares de formação de palavras.
6. Ler uma ou duas obras do Projeto de Leitura relacionando-
7. Analisar o significado de palavras considerando o processo
-a(s) com conteúdos programáticos de diferentes domínios.
de formação.
7. Analisar recriações de obras literárias do Programa, com re-
curso a diferentes linguagens (por exemplo, música, teatro,
cinema, adaptações a séries de TV), estabelecendo compa-
rações pertinentes.
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