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CFCH EM DEFESA DA UFAC (PÚBLICA, AUTÔNOMA E DEMOCRÁTICA)

POSICIONA-SE PUBLICAMENTE CONTRA O “FUTURE-SE”.

Em uma reunião ordinária do Conselho Universitário (Consu) da Universidade Federal


do Acre (UFAC), realizada no dia 20 de agosto de 2019, foram apresentadas preliminarmente
as posições contrárias ao “Future-se”, iniciando com a Administração Superior (Carta da
Reitora), seguida das entidades de classes (ADUFAC, SINTEST e DCE) e falas de diversos
conselheiros/as. Entre as deliberações, foi constituída uma Comissão de Estudos para
“fundamentar a posição final do CONSU”, além da necessidade de uma agenda de
assembleias entre os Centros para discutir essa proposta do Ministério da Educação, com vista
a ampliar o debate nas instâncias colegiadas, tanto no interior da UFAC quanto fora dela, para
consolidar a posição do CONSU, em sua próxima reunião. Com essa finalidade, realizou-se
uma assembleia docente extraordinária do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da
UFAC, no dia 27 de agosto de 2019, na qual foi discutida o esboço da proposta tornada pública
pelo Ministério da Educação. Após esclarecimentos sobre a natureza e o teor da proposta, cujo
esboço de Projeto de Lei já fora previamente enviado aos docentes, foram enumerados os
problemas e riscos advindos de sua implementação, em especial no que tange à UFAC e aos
cursos de Ciências Humanas, licenciaturas em particular, e deliberou-se unanimemente pela
rejeição do “Future-se”, pelos motivos explicitados abaixo.

Preliminarmente, cabe esclarecer que a educação como um todo e o Ensino Superior em


particular vem sofrendo progressiva redução de seus recursos orçamentários. De acordo com o
Informativo Técnico nº 6/2019-CONOF/CD, a redução dos valores reais de despesa do MEC no
período entre 2014-2018 foi de 11%, com queda acumulada de 15% no Ensino Superior. Tal
quadro é agravado com a aprovação da Emenda Constitucional 95, que estabeleceu limites
para o teto de gastos e que, dada as progressivas reduções no volume dos recursos
destinados à educação superior, tem comprometido tanto as ações-fins das IFES - ensino,
pesquisa e extensão, quanto funções auxiliares (ou ações-meios) das instituições, como
segurança, limpeza, fornecimento de energia etc. A UFAC, como muitas outras IFES por todo o
Brasil, corre o risco de interromper suas atividades no meio do segundo semestre de 2019,
prejudicando tanto a comunidade discente matriculada, quanto a realização das atividades de
pesquisa e extensão - algumas das quais terão os resultados totalmente comprometidos - e os
programas de apoio aos alunos, ainda mais ameaçados devido aos cortes que vêm sofrendo o
CNPq.

Entendemos que a nossa situação é ainda mais crítica por não haver outras
universidades públicas no Acre, de modo que a UFAC concentra boa parte do ensino público e
gratuito do Estado, seja em Rio Branco, seja nos campi do interior. Sem a liberação dos cerca
de R$15 milhões cortados/contingenciados, o quadro é de iminente calamidade financeira,
quadro que não seria revertido por nenhuma das promessas do Governo com essa proposta
denominada “Future-se”, que só teriam efeito a médio e longo prazo. Entendemos que os
cortes/contingenciamentos, nesse contexto, não são apenas derivados da queda de
arrecadação do governo, mas foram utilizados como ferramentas políticas de chantagem para
a aceitação de um programa formulado sem qualquer debate com a comunidade acadêmica,
cuja imposição de cima para baixo é mal disfarçada dado que a adesão “voluntária” se dá
diante da imensa crise gerada por tais cortes/contingenciamentos e de ataques às
Universidades públicas.

É importante ressaltar a falta de diálogo na proposição do “Future-se”, cujo debate amplo


e informado com a comunidade científica e acadêmica foi substituído por uma consulta pública
de prazo exíguo e cujas alternativas de resposta diziam respeito apenas a “estar esclarecido”,
sem a possibilidade de discussão do teor dos pontos propostos, da proposição de outras
medidas ou de rejeição das apresentadas. Andes, Andifes, Confies, Conif, Fasubra, IES, IFES,
SBPC, UNE estão entre as entidades que foram sumariamente excluídas do debate.

Dois aspectos foram especialmente criticados pelos docentes presentes na Assembléia.


O primeiro diz respeito à substituição do atual sistema de governança democrática e de
autonomia das Universidades (baseado na gestão colegiada de processos e recursos) pelo
modelo das Fundações (OS) de gestão privada. O projeto não entra em maiores detalhes sobre
como se daria a constituição e a governança de tais Fundações, mas tudo indica que elas
seriam escolhidas pelo próprio Ministério da Educação, sem qualquer participação das
comunidades acadêmicas. Isto se dá em patente violação ao Art. 207 da Constituição Federal,
que estabelece que as “(...) universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.

O segundo aspecto que foi muito discutido é que, ao mesmo tempo em que fere de morte
o princípio da Autonomia Universitária, o “Future-se” pretende dar um passo sem volta no
sentido da desresponsabilização do Estado em financiar a educação superior no Brasil.
Confundindo autonomia decisória e político-pedagógica com a desfinanceirização da educação
pública, o “Future-se” declara um “salve-se quem puder” como suposta solução para o
problema que a EC 95 criou. O resultado já é conhecido de antemão: algumas unidades,
centros ou faculdades localizadas em universidades do sul e sudeste talvez conseguirão
manter parte de suas atividades de ensino e pesquisa a partir de parcerias com a iniciativa
privada; a grande maioria das universidades e faculdades definharão com pouquíssimos
recursos. Além disso, as atividades de extensão mormente realizadas pelas universidades
públicas sofrerão com a falta de recursos e provavelmente serão descontinuadas.

Avaliou-se também que a proposta de criação de fundos financeiros inspirados nos


endowments ​estadunidenses baseia-se em uma comparação espúria entre as instituições de
Ensino Superior brasileiras e estrangeiras, que ignora a história e o perfil dos egressos de tais
instituições, as diferentes legislações tributárias e a estrutura das economias dos respectivos
países. Não se apresentaram estudos sobre o retorno desses supostos fundos, de modo a
sustentar que poderiam ser capazes de arcar com os custos das IFES e em quanto tempo se
dariam esses retornos, mesmo aportados pelo “Fundo Soberano de Conhecimento” a ser
criado pelo MEC e supostamente mantido pela exploração de imóveis da União, fundos
constitucionais e da cultura e leis de incentivo fiscais. Importante salientar que mesmo nos
países europeus e EUA há ampla participação estatal no financiamento da universidade e da
pesquisa científica, que não pode ser restringida àquilo que gera patentes e ​spin-offs
(promessas de enriquecimento para muito poucos em meio a inúmeros fracassos e
engolfamentos por aquisição de grandes conglomerados empresariais, muitos dos quais
sequer estão presentes no cenário brasileiro).

Na visão do Ensino Superior projetada pelo “Future-se”, as Universidades deixam de ser


pólos produtores e irradiadores de conhecimento e cidadania, para se tornarem reboques e
auxiliares de supostas necessidades do “Mercado”. Cabe lembrar que as universidades
públicas são responsáveis por 95% das pesquisas científicas produzidas no Brasil, pesquisas
estas que muitas vezes se direcionam para problemáticas e diagnósticos em contextos
regionais, produzindo conhecimento de modo descentralizado e democrático. A presença das
IFES cumpre vocações e atende a demandas que não traduzem apenas interesses de
empresários e financistas, sobretudo em regiões menos industrializadas, mas volta-se por
exemplo para as licenciaturas, compreendendo os desafios para a melhoria da educação
básica no Brasil e em todos os níveis (esta sim crucial para a melhora de índices econômicos)
de maneira sistêmica. As ciências humanas e humanidades, aliás, cumprem papel fundamental
em investigações de crucial relevância social e cultural, oferecendo perspectivas críticas aos
processos conduzidos por interesses políticos e econômicos majoritários, ao dialogar com e
examinar aquilo que lhes é alheio. Não à toa, são cursos que recrutam estudantes de perfis
socioeconômicos e étnico-raciais mais variados e historicamente excluídos do Ensino Superior,
promovendo também mecanismos de inclusão essenciais para uma universidade que pretende
cumprir seu imperativo democrático. Tal inclusão passa também pela manutenção dos ​campi
do interior, que dão acesso ao Ensino Superior às populações afastadas dos grandes centros e
cidades e promovem significativo aumento dos indicadores de qualidade de vida locais, a partir
de investimentos públicos.

Nessa linha privatista, o Estado deixa de assumir seu papel constitucional de garantir
recursos públicos destinados à manutenção (custeio) das Universidades e Institutos,
relegando-as ao sabor e interesses do “mercado”, pavimentando o caminho sem volta da
“mercadorização” do conhecimento. Ademais, o Governo aponta uma medida descabida para
garantir “autonomia financeira” das IFES, sob a governança e gestão das Organizações
Sociais: a entrega do patrimônio público para a iniciativa privada, sem nenhuma garantia de
estabilidade do financiamento, visto que os recursos arrecadados com a “venda dos bens
imobiliários” serão objeto de especulação no mercado financeiro (fundos de investimentos).

Seria possível ainda elaborar muitas outras críticas ao projeto, sobretudo no que tange às
suas omissões e lacunas, que entendemos serem propositais para obscurecer ainda mais seu
processo de implementação, tirando qualquer possibilidade de discussão democrática. Assim,
as e os docentes do Centro de Filosofia e Ciências Humanas posicionam-se contrariamente à
proposta do “Future-se” e defendem que nenhuma outra discussão preceda a liberação dos
recursos cortados/contingenciados, a fim de que se possam manter as atividades da
universidade ainda em 2019. Não queremos “Future-se”, o presente exige nossa luta para
reverter a EC 95, por entendermos que “educação não é gasto, mas investimento”.

Assim, além de rejeitar esse “pacote do mercado financeiro”, que avança sobre as IFES,
retirando-lhes sua condição de serem instituições públicas, de caráter público, mantidas
prioritariamente com recursos públicos (do Estado), o CFCH reitera sua posição histórica em
defesa da autonomia das Universidades públicas, contra toda e qualquer forma de ingerência
do Governo em relação à gestão democrática, que deve ser mantida baseada nos princípios
constitucionais que gozam as IFES. Não abriremos mão de nossos patrimônios públicos, a
UFAC não é moeda de troca, no jogo de interesses do Governo e seus parceiros do mercado,
do presente e do “future-se”!

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