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(Um ensaio)
Introdução
“O Português é um ser plural e é nessa pluralidade que ele tem que se afirmar”.
Agostinho da Silva
“Os seres não realizam em si o seu destino, mas naqueles a que sacrificam a sua
existência.”
Teixeira de Pascoaes, in Arte de Ser Português, Assírio e Alvim - 1998.
É importante começar por referir que este sentimento letárgico e de um certo fatalismo
endémico, não é de agora, refiro mesmo que é cíclico: a exuberância, a melancolia e o fatalismo.
Curiosamente ou talvez não, o nosso país desde a sua fundação tem apresentado ciclos de queda
que põem em causa a sua soberania como projecto-nação independente aproximadamente de 200
em 200 anos: 1383 - Crise do Interregno, 1580 – Dinastia Filipina, 1800 – Invasão Francesa e a
Guerra Peninsular e 1986 – Adesão à então CEE. Mínimos vibratórios, matematicamente
falando, durante os quais a alma portuguesa é obrigada a uma longa hibernação... emergindo
nessas alturas a “sua mística” pelos nossos utopistas, filósofos e poetas: foi assim com Bandarra,
com Luís Vaz de Camões, com o Padre António Vieira, com Fernando Pessoa, com o Agostinho
da Silva, bem como muitos outros. É nessas alturas que aparecem os soldados da pena...
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O reconhecimento da mudança de paradigma CEE-CE-EU
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mais desfavorecidas. Veja-se a titulo de exemplo, o mercado de trabalho e a forma contratual dos
profissionais do futebol, que se tornou de decerto numa espécie de “teste piloto” para um futuro
tipo de mercado de trabalho, que se irá estender a todas as actividades profissionais, mesmo para
além das fronteiras europeias.
Assim, a polarização migratória para centros mais desenvolvidos e ricos por intermédio
dessa procura e da concentração de meios e recursos, irá provocar a vacuidade nas regiões menos
procuradas que são hoje reconhecidamente pobres, mas que ficarão ainda mais pobres, e na
dependência total dos subsídios, que virão em troca de mais empobrecimento e dependência. Irá
de certo modo acontecer uma repetição do movimento migratório dos meios rurais para as
grandes metrópoles que se deu no passado numa configuração nacional, agora ampliado à escala
regional o que irá ampliar ainda mais os aspectos negativos desse tipo de migrações. As
distorções na bolsa de mão-de-obra disponível irá aumentar os níveis de pobreza e com ela virão
os problemas de segurança e o aumento dos custos de manutenção deste sistema (energia,
segurança, meios de subsistência, etc.) que tornarão esses regiões ainda mais ineficazes à
envolvente social ou ambiental, do ponto de vista energético. Interessante será verificar que os
grandes centros de concentração e atracção humana irão provocar não só o despovoamento das
zonas desfavorecidas do ponto de vista tecnológico ou de desenvolvimento humano, como
também provocarão uma acentuada redução da população migratória, pois a falta de espaço e
parcos meios de subsistência irá condicionar gravemente a manutenção do edifício familiar bem
como a possibilidade de gerar novos elementos para a sociedade (a não ser que os governos
regionais subsidiem tal acção cuja decisão passará a ser de forma indirecta institucional e não
individual). Isto tanto se passa nas classes mais desfavorecidas como na classe média que apesar
de deter mais recursos, se habituou já a um nível de vida onde o princípio do hedonismo
perverteu completamente a noção do auto-sacrifício como fonte criadora. Ter filhos passa a ser
visto como um sério encargo que põe em causa o bem-estar dos progenitores (já que falarmos em
conjugues se torna cada vez menos necessário). Deste modo e tal como nas grandes metrópoles,
as regiões mais desenvolvidas irão ser as grandes unidades produtivas de uma Europa que terá
cada vez mais territórios com baixa densidade populacional e por consequência menor impacto
ambiental. Serão zonas obviamente procuradas pelas elites que não só buscam as suas origens
como pretendem melhor qualidade de vida, que as grandes metrópoles já não podem oferecer.
Não será também esta uma nova forma de “predação” por parte das forças centro-europeias que
para além de arrancar a posse da terra aos seus legítimos donos nacionais e regionais, os irão
acantonar em bolsas de trabalho indiferenciado numa mole humana miscigenada em regiões
desenvolvidas para tal, com o qual pretendem por um lado reduzir despesas com mão-de-obra
barata e acessível em abundância e por outro ocupar as regiões tornadas estrategicamente
subdesenvolvidas, mas num estado quase virgem e aprazível ao nível da qualidade de vida?
É urgente perceber qual a estratégia definida por Estrasburgo para os recursos naturais, que
se reflectem na política regional e que muito criticamos quando nos referimos à desertificação do
interior, ao empobrecimento das suas gentes e ao crescente empurrar de pessoas para as
principais cidades, mesmo havendo um crescente investimento das redes rodoviárias. Devemo-
nos perguntar para quem se destinam essas redes? Se não há estratégias de desenvolvimento
sustentado que leve à fixação das pessoas nas zonas onde as suas famílias vivem há várias
gerações e que por isso se vejam obrigadas a migrar por falta de oportunidade de trabalho ou
porque após terminarem os seus cursos superiores prefiram manter-se nas zonas de elevada
densidade populacional, então o desenvolvimento das vias rodoviárias e de comunicações
tornam-se paradoxais! A não ser que haja outro tipo de planos. E esses planos podem facilmente
perceber-se se juntarmos a outras políticas de desvalorização por um lado da terra e por outro à
elevada taxação directa ou indirecta da mesma (impostos e manutenção obrigatória devido ao
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perigo de incêndios), em especial quando nada ou quase nada produz, já que houve também via
Estrasburgo uma estratégia de “dumping agrícola” em que se tornou completamente ineficaz a
produção mesmo para efeitos de subsistência familiar… Deste modo se olharmos do ponto de
vista de mercado, a terra passa a ser dispendiosa para além de não produzir, o que para muitos
dos pequenos proprietários ou seus herdeiros se torna em mais um argumento de fuga para os
centros de elevada concentração populacional. Quero com isto referir que juntando todas os
indícios me leva a interpretar que estamos perante uma estratégia não só de reorganização
demográfica numa perspectiva de localizar bolsas de mão-de-obra qualificada em zonas de
desenvolvimento mais intenso, mas também da reorganização dos recursos naturais de tal forma
que muitas regiões serão propositadamente marcadas para uma desertificação demográfica que
lhes permita uma redução do impacto ambiental humano e lhes faça aumentar o valor por
procura acentuada por parte das elites europeias em estabelecer-se em zonas de maior qualidade
de vida. Como funciona a lei do mercado, naturalmente iremos perdendo o interior para
aldeamentos de turismo rural e condomínios de luxo onde os estrangeiros estarão claramente em
vantagem.
A regionalização será quanto a mim uma forma de reorganização do país que pode levar à
fixação dos chamados “filhos da terra” bem como promover o desenvolvimento local, através de
pessoas que mais dependem desses recursos, porque têm raízes profundas nesses locais,
contrariando as políticas centralizadoras e as suas estratégias menos claras. É uma forma de
obrigar a uma certa responsabilidade pessoal, na qual o poder se encontrará mais próximo do
cidadão, que através de movimentos cívicos (e não de partidos nacionais ou internacionais com
agendas centralizadoras) poderá fazer expressar as suas ideias para uma melhor gestão da sua
região. Apesar de aparentemente aumentar os custos com uma administração regional mais
pesada, penso que eles serão amortizados a curto prazo através de uma maior proximidade e
rigor administrativo desde que se promova a formação e o desenvolvimento intelectual da
população e da sua fixação. Tal como na Suíça, o federalismo num país pequeno mas com fortes
diferenças culturais não porá em causa o princípio nacional (veja-se a Madeira e os Açores),
antes pelo contrário, o irá ampliar e aprofundar, porque melhor do que qualquer outro estado irá
permitir o princípio da autodeterminação pessoal, regional reforçando a estrutura nacional, aliás
num princípio que funcionou neste país nas duas primeiras dinastias: “repúblicas regionais”
governadas por um rei que para o ser legalmente, tinha que ser aclamado pelo povo nessas
“repúblicas regionais” e pelas Cortes Gerais! Aliás um modelo copiado séculos depois pelos
ingleses com a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns…
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É necessário ter a humildade de reconhecer que nunca Portugal necessitou tanto dos países
que criou pelo mundo, como hoje. E essa necessidade passa mesmo pela própria defesa cultural e
económica da “região berço” da lusofonia. Nesta perspectiva a Europa tem que deixar de ser
importante para Portugal, temos que saber sair debaixo da “asa dominadora”, estabelecendo-se o
oposto, em que Portugal passe a demonstrar por direito que é um parceiro com importância
muito acima da sua dimensão territorial, afirmando-se como a porta de entrada do espaço
económico lusófono na Europa ao nível económico e um motor de criatividade e de inovação.
"Então não era a Europa o único continente onde os portugueses ainda não tinham
desembarcado?... se já tínhamos desembarcado em todas as outras partes do Mundo e sendo a
nossa maneira de ser a de nos misturar com os outros e se, ao longo da história o fizemos tão
bem, porque diabo iríamos agora falhar... nós, portugueses, vamos dar à Europa o que ela não
tem e lhe faz falta para abordar o Mundo, que é a vivência que temos desse Mundo que, para
nós, portugueses, não tem segredos".
Agostinho da Silva
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Quem é o Povo Português
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Teoria do caos, para a física e a matemática, é a teoria que explica o funcionamento de sistemas complexos e
dinâmicos. Em sistemas dinâmicos complexos, determinados resultados podem ser "instáveis" no que diz respeito à
evolução temporal em função dos seus parâmetros e variáveis. Isso significa que certos resultados determinados são
causados pela acção e a interacção de um vasto número de elementos de forma quase aleatória.
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Certo é ainda que o português gosta de conhecer as novidades porque se posicionam numa
perspectiva de descoberta, porque é um povo aberto para o mundo: é descendente do fenício,
filho da original casta Lusitana, mas também do celta, é constituído pelo árabe, pelo judeu e pelo
cristão! Na sua globalização, cruzou-se com o africano, com o índio americano, com os asiáticos
e com os indianos. Criou ou ajudou a criar países com idiossincrasias muito próprias e de certo
modo ligadas à nossa causa que é deles também. A nossa Globalização, o Port+Graal emergiu de
pequenas colónias ou feitorias para províncias ultramarinas espalhadas por todo o mundo. O que
se conclui que a filosofia era tornar Portugal não numa metrópole contida no pequeno rectângulo
original com colónias subjugadas de povos inferiores, mas “dilatar a Fé, o Império, e as terras
viciosas”, tornando Portugal todo e uno em qualquer lugar por onde se estabelecesse o gene
português.
Deste modo ele é aberto às novidades, expansivo e tolerante mas odeia ser obrigado a viver
pelas regras dos outros, porque criou a sua própria Paideia triplamente transmitida pela terra
onde nasce, pelos genes dos seus antepassados e pela oralidade dos poetas. O português tem
tanto de Vasco da Gama, quanto de D. Henrique quanto de Velho do Restelo. E todos são úteis:
o aventureiro que quer dar novos mundos ao mundo, o sonhador e estratega que concebe e
planeia, e o ponderado que embora refractário e reactivo o faz por defesa da sua terra natal face
aos perigos do caminho. No entanto sendo constituídos conceptualmente pelos três, tornamo-nos
seres inquietos, pelo paradoxo de que somos reflexo.
O português sendo aventureiro e missionário, não pode ser materialista no seu íntimo,
porque o risco de uma epopeia ou missão, implica a espiritualidade, o desapego completo, para
além do limite da sua própria vida! O espírito de desapego do português é tal que nas épocas de
governação estrangeirada, desconhecendo a sua ancestral missão ligada à do país onde nasceu,
subestimando a sua “raça”, o leva a raiar a traição, tal se encontra motivado a ser um cidadão do
mundo. Desse mal padecem as classes governativas e intelectuais infectadas pelo jacobinismo e
positivismo da revolução francesa de 1800 cuja continuidade atravessou dois séculos até ao
europeísmo actual com as filosofias neoliberais e niilistas, de cariz desagregador da nossa
paideia que se encontra alinhada com as Leis Naturais.
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O Português genuíno é o povo que primeiro se dispõe a abandonar a Caverna de Platão e as
suas sombras materiais sedutoras...
"Creio que uma das atitudes fundamentais do ser humano deve ser a de reconhecer em si,
numa falta de compreensão ou numa falta de acção, a origem das deficiências que nota no
ambiente em que vive; só começamos, na verdade, a melhorar quando deixamos de nos queixar
dos outros para nos queixarmos de nós, quando nos resolvemos a fornecer nós mesmos ao
mundo o que nos parece faltar-lhe; numa palavra, quando passamos de uma atitude de
pessimista censura a uma atitude de criação optimista, optimista não quanto ao estado presente,
mas quanto aos resultados futuros. O mesmo terá já dado um grande passo para impedir os
ataques, quando aceitar que só puderam existir porque a sua acção não foi o que deveria ter
sido; quando se lembrar ainda de que toda a sua coragem se não deve empregar a combater,
mas a construir."
Agostinho da Silva, em “Textos e Ensaios Filosóficos”
Por outro lado e antes de mais, torna-se necessário desmistificar os sintomas que para uns
são vistos por pecados ou pecadilhos e para outros por erros ou debilidades. É por demais
evidente que o excesso de uma virtude conduz ao seu oposto, ao vício! Deste modo parto do
princípio de que todas as acções, todas as teorias, todas as obras de pessoas de boa vontade, que
alicerçam o seu querer naquilo que se caracteriza subjectivamente por amor incondicional,
conduzem naturalmente a virtudes e são factores construtivos que levam à evolução. O abuso
que se dá à aplicação de tais acções, teorias e obras que naturalmente é levado a cabo
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“condicionalmente” pelos seus discípulos mais autocentrados é que irá conduzir inexoravelmente
a resultados destrutivos.
Muitos exemplos mais, poderia referir aqui. Mas deixo apenas dois, mais ilustrativos deste
fenómeno, um do campo religioso e outro do político: a mensagem que Jesus o Cristo legou à
Humanidade e a aplicação que muitos dela fizeram institucionalmente ou individualmente e que
a corromperam consciente ou inconsciente pela busca de poder e domínio sobre os outros; o
pensamento de Karl Marx e a sua corrupção que gerou na sua implementação duas das piores
configurações de autocracias (a nacional socialista e a soviética), que escraviza o indivíduo,
despojando-o de tudo, desde os seus valores mais interiores como o direito à sua espiritualidade
como aos mais externos como o direito à conservação da propriedade privada que começa desde
o seu corpo até ao chão que pisa. Como seria o seu espanto (ou talvez não) se hoje cá estivessem
para observar o desvio que sofreram as suas doutrinas…
Voltando ao povo português, importa saber para além das suas virtudes, um pouco já
referidas em capítulos anteriores, os seus vícios, que são o abuso das primeiras, ou o seu mau uso
face às condições envolventes. Teixeira de Pascoaes soube como poucos identificar os vícios dos
portugueses, pelo menos os principais que nos caracterizam como povo pelo nosso lado negativo
e que nos condicionam a evolução. Sintomas de um mal que nos persegue há séculos, um mal já
quase crónico. Ao todo, ele enumera seis sintomas muito característicos, quais pecados mortais,
que nos acorrentam como as grilhetas do condenado: a falta de persistência, a misantropia, a
inveja, a vaidade e a intolerância (é verdade a intolerância)!
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“Podemos dizer que o génio de aventura é uma virtude deste defeito. A aventura não tem
continuidade na sua acção. Opera por impulsos que nem sempre se coordenam para um
determinado fim. E por isso, a obra empreendida, muitas vezes, morre no seu início.
Quando uma virtude ou qualidade enfraquece, logo o seu defeito originário ganha nítido
relevo. E assim o génio de aventura, decaindo, transformou-se na mais completa falta de
persistência. Ela aparece em todas as manifestações da nossa actividade, a cada passo
interrompida ou abortada, o que a torna tristemente caricatural.
Ei-la passeando o seu desânimo, pelas estradas que pararam, mortas de cansaço, a dois
quilómetros do ponto de partida. E vive num belo edifício público sem telhado... Sozinha? Não:
com a sua bem amada companheira, a vil tristeza, apesar de ser tão velha que já Luís de
Camões a conheceu...”
Para esbater a nossa falta de persistência torna-se necessária uma liderança forte que
coloque nas mais pequenas coisas, metas e objectivos grandiosos, mesmo utópicos ou
impossíveis. É necessário dar a perceber que mais ninguém é tão capaz como nós de
desempenhar uma determinada tarefa, seja ela um simples acto operativo ou a uma acção do
mais elevado teor estratégico, tecnológico ou criativo.
É essa uma forma de anular o desânimo pelo estado decadente em que se encontra e da
incapacidade aparente de inverter o rumo dos acontecimentos. Falta-nos energia anímica para
voltarmos “a mover montanhas”. Este sintoma alimenta o estado depressivo e saudosista do
indivíduo português, continuamente a viver das miragens do passado, eternamente à espera de
um D. Sebastião, que vem de fora... Um argumento para o nosso aparente fracasso. Falta-nos
liderança e projecto, e quanto mais audacioso melhor, porque leva ao rubro a ambição desmedida
do português e ocupa-o com a problemática de contornar o seu próprio Cabo das Tormentas, o
impossível que o fascina. Continua assim Teixeira:
O outro estado patológico que não constrói, ou quando muito o faz de forma condicionada
e por despeito é a inveja. A elevada capacidade atávica do português aprisionada no seu canteiro
rectangular torna-se uma ameaça aos que se acotovelam neste espaço exíguo numa tentativa de
afirmação. Os que têm o “azar” de subir mais alto tornam-se alvo de um ataque cerrado desse
sentimento, sentimento este que é letal quer para quem sobe demais ou rapidamente, quer para o
próprio país, porque vê as suas melhores capacidades a serem castradas à nascença ou destruídas
numa autofagia quase que orgíaca! Um D. Sebastião em potência é abatido antes de o ser de
facto! A solução é a exportação de valor excedentário para canteiros estrangeiros a fim de que
possam crescer e dar frutos onde há escassez de valor. Mas continua Teixeira sobre a inveja:
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A vil tristeza apagou-nos o carácter, o dom de ser. Somos fantasmas querendo iludir a sua
oca e triste condição. Por isso, o valor alheio nos tortura, revelando, com mais clareza, a nossa
própria nulidade.
A inveja é ainda uma reacção do indivíduo contra a morte; e a calúnia é a sua arma...
Imaginamos, embora erradamente, que a falta de seres vivos, em volta de nós, dá ao nosso
ser presença viva.
A Inveja! Nós vemo-la, nas trevas, farejar: é um esqueleto de hiena visionando um
cemitério...
Eis a inveja da vil tristeza, a inveja decadente, amortecida, afinal, no seu vigor de outrora.
Ela teve também a sua época. Encontrou a sua encarnação heróica em João das Regras. Nesse
tempo vivia e era alguém. Mostrava as garras que se cravaram no próprio escudo de Nuno
Álvares. E, orgulhosa dessa empresa, ladrou furibunda aos calcanhares de Camões e de
Bocage.”
O orgulho é outro mal que nos impede, quer a saída do estado decadente, quer alcançar os
limites das suas potencialidades. É como se não fosse necessário qualquer esforço porque se
julga ainda no pedestal. O primeiro passo para a mudança compreende o autoconhecimento de si
mesmo, para isso é necessário a humildade de se tentar conhecer (os seus pontos fortes e fracos),
sem qualquer ponta de complexos, mas não a cedência humilhante da sua automática
inferioridade face às novidades estrangeiras à sua forma de ser e de estar nem a cegueira com
que muitos padecem de ficarem a olhar para o passado. Nós temos que saber aumentar a auto-
estima percebendo qual a nossa função como células de um corpo que é universal – a
Humanidade – que não é gigante que mas se agiganta quando o mundo dele precisa. Continua
Teixeira:
“É outro defeito muito vulgar num Povo que foi grande e decaiu. Inferior e pobre,
considera-se ainda possuidor dos bens arruinados. Continua a viver, em sonho, o poderio
perdido. Mas, como toda a vida fantástica pressente o próprio nada que a forma, torna-se, por
isso mesmo, de uma susceptibilidade infinita, sangrando dolorosamente, ao contacto de
qualquer coisa de real que, junto dela, se ponha em contraste revelador da sua ilusória
aparência.
O português é um herdeiro esbulhado dos seus bens materiais e espirituais. Mas vão dizer-
lhe que é pobre! Suprema ofensa! Não ignora a sua pobreza, porque é vaidoso, mas quer que os
outros a ignorem; e serve-se para isso, de todos os meios que iludem, criando o seu drama em
que é autor e actor. E engendra mil preconceitos, fórmulas, propícios à atmosfera de ilusão em
que pretende viver acompanhado... E assim, o arrastar de uma espada já imprime heroicidade,
dois termos de tecnologia científica embutidos na prosa amorfa de jornal já fazem o sábio, como
duas rimas banais fazem o poeta, e um correio a cavalo uma entidade superior do Estado.
Elevamos quimericamente as pequenas coisas de hoje à grande altura das antigas.
Fingimos a grandeza e o mérito perdidos. Representamos, enfim, o nosso Drama de sombras,
que dá um pouco a vida humana depois da Queda...”
Para quem sempre se achou tolerante para com os outros povos – até mais do que qualquer
outro povo do eurocentrismo – parece um pouco estranho ver-nos diagnosticado tal enfermidade!
A intolerância aqui tem a ver com a defesa dos nossos valores, princípio e interesses, algo que
pode anquilosar todo o projecto da lusofonia se não olharmos com atenção para este ponto. Até
porque a dispersão do mapa lusófono é incompatível com lideranças autocentradas. As
autocracias que passaram pelo comando de Portugal e de outros países de expressão portuguesa,
onde os nossos genes estão presentes com mais força, ficaram-se a dever à visão míope que
alguns desses líderes tiveram, talvez como forma de defesa face ao tal paradigmático canteiro
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exíguo onde o mal da inveja existe. Mesmo em países grandes como o Brasil, o canteiro de
interesses existe sempre e é sempre exíguo para um número sempre elevado de candidatos! Se
quiser prosperar entre nós, o líder acha que não só tem que mostrar capacidade, mas também
força, em especial num povo em que cada indivíduo é um chefe e um líder em potência – pelo
menos assim se considera. Mas há excepções quer nas pessoas, quer na forma de ser e de estar,
que o diga Agostinho da Silva… Mas sobre a intolerância Teixeira refere que:
“Este defeito é uma forma da vaidade susceptível que se alimenta da sua quimera
dolorosa. Quem duvida do próprio valor não pode suportar a dúvida alheia que lhe diz, em voz
alta e clara, o que ele mal se atreve a murmurar.
Mas a intolerância tem outra origem mais positiva; é ainda um processo de defendermos
os nossos interesses.
Se é uma utilidade para mim a seita (política, religiosa, etc.) a que eu pertenço, os
princípios que esta segue, compete-me torná-los dogmáticos, absolutos, indiscutíveis. Sim...
porque discutir uma ideia é pô-la em conflito com a verdade.
O Deus dos padres e a Liberdade dos políticos, para eles, são coisas indiscutíveis – quero
dizer, essenciais à existência das suas igrejas sagradas e profanas.
Uns prometem a Liberdade, os outros prometem Deus; e, suspensa de tal promessa,
conseguem ter obediente aos seus desígnios a eterna criança ludibriada – o Povo.
A intolerância defende os interesses de uma seita e imprime à criatura o mais odioso
fácies!
É a alma negra da anarquia.”
Por último nesta simplificação de sintomas principais temos o espírito de imitação. Esse é
de longe o mais avançado dos sintomas de degenerescência de um organismo – funcionar por
instinto do mimetismo. A imitação é um estímulo que é induzido pelo instinto de sobrevivência.
O corpo já não tem capacidade de pensar, já não toma consciência de quem é ou de quem foi e
muito menos de quem será. Vive porque os outros vivem. Segue os outros sem os questionar,
naquilo que é mais visível ou mediático, para o bem ou para o mal que já não sabe distinguir. Daí
que se diz entre nós que só sabemos copiar o que de errado os outros já se livraram. Lemos
Voltaire, Descartes, Proudhon, Marx entre muitos outros, para os recitarmos de cor (para darmos
asas ao nosso orgulho interno atávico através de lógicas por vezes virtuais porque muito parciais)
sem que tenhamos elaborado nenhuma análise crítica prévia; convencidos que estamos à partida
da nossa inferioridade e incapacidade. Para o imitador o objecto da sua imitação é como que um
deus na terra, logo impossível de o pôr em causa a penas de uma excomunhão por parte da
“comunidade de clones” a que pertence. Copiamos e aplicamos indiferenciadamente as melhores
e as piores teorias nos campos da economia, da sociologia, da educação e da ciência de forma
imitativa e sem qualquer análise critica ou adaptação às nossas realidades, mas tentamos ser
como agora os primeiros a fazer os trabalhos de casa tal como o aluno bem comportado!
Este espírito só pode ser contrariado pela alteração da nossa auto-estima, pela anulação do
sintoma do vaidosismo que importa dos outros toda a espécie de inutilidades só para acalmar o
seu complexo de inferioridade. O cidadão lusófono, independentemente do país em que se
encontre é melhor do que isso, desde que o descubra e desde que tenha terra fértil onde germinar.
Sobre a imitação Teixeira diz:
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Mommsen dizia que a Alemanha, nos seus períodos decadentes, imitava a medíocre
civilização francesa. Este grande historiador também era um pan-germanista feroz, tinha a
assanhada carne de alemão, o que o fez patrioticamente falsear a verdade, quando estudou a
civilização dos celtas.
Mas é certo que a decadência de um Povo lhe destrói a faculdade inventiva e iniciadora.
Estes defeitos, que felizmente não atingem todas as classes sociais, representam, afinal, a
queda do espírito de sacrifício, a quebra da relação entre o indivíduo e o seu destino de chefe de
família e patriota.”
Mas isso não responde à questão inicial da nossa queda do heroísmo na mediocridade! São
tudo consequências desta, a inércia de um movimento de ascensão que ainda não se deu conta da
sua inversão!
Independentemente das razões históricas que levaram à nossa queda como nação de
vanguarda que fomos, que podem passar desde a exaustão de valor humano interno que se
espalhou e se sacrificou para edificar o primeiro acto de Globalização, às reacções aos erros
cometidos ou que fomos levados a cometer, ao ataque de que fomos alvo pelas nações
conquistadoras do norte da Europa às riquezas por nós descobertas ou ainda à mudança
ideológica e prática do sentido de modernidade que se deu com a revolução industrial pelas
nações ricas em hulha, ferro e mais tarde petróleo que condicionaram o mundo à ideologia
monocromática actual do domínio monopolista da economia de mercado; importa antes de mais
transmutar os sintomas observados em virtudes. Se os vícios, como vimos, são perversões das
virtudes, importa realinhar a nossa actuação com a actualidade e com a envolvente, tal como o
guitarrista faz quando afina as cordas do seu instrumento.
Um corpo saudável tem capacidade regenerativa desde que seja potenciado para isso. Tal
como o médico, os líderes do espaço lusófono terão apenas que reequilibrar os sintomas
eliminando os excessos, adaptando as nossas virtudes aos desafios que se avizinham.
A terapêutica pode passar por uma nova demanda! Portugal como se já referiu eclipsou-se
e não será mais líder material, mas pode com a ajuda dos seus “filhos”, as nações fortes e cheias
de vigor como o Brasil e Angola, reinventar os Descobrimentos com naus que já não serão feitas
da madeira nem dos panos e cordame deste mundo, porque os mares nunca antes navegados se
encontram para além do mundo sensível, para além da imaginação, no mundo da criatividade e
da fraternidade.
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É a hora! Valete, Frates
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Como se diz na sabedoria popular, o “Homem põe e Deus dispõe”, o que significa entre
muitas coisas que o melhor que o Homem pode fazer é preparar-se para o princípio de se tornar
útil ao cumprimento das Leis Naturais. Como disse o Mestre da Galileia, o importante é
“prepararmos as veredas daquele que está para vir” e estar “vigilante”. A Mensagem existe à
mais de 2000 anos e ainda poucos são aqueles que verdadeiramente se deram conta dela! O toque
de rebate não nos pertence a nós dar, senão arriscamo-nos a conduzir o mundo a mais uma
opressão liderada por mais um Lúcifer convencido que domina a Luz que lhe ilumina o caminho.
Ao invés de cumprir os desígnios superiores à sua condição, sobrepõe a sua vontade particular
aos outros, passando-a como sendo Divina, independente do carácter gnóstico ou agnóstico com
que a justifica. Este foi o caminho que levou as civilizações aos seus piores momentos, em nome
de um deus menor que se tornou afinal bem conhecido pela sua perversidade… A Lusofonia
sendo descendente do radical etimológico Luz, torna-se por isso num caminho, numa via e não
uma doutrina com direitos deste ou daquele autor. Os seus promotores não deverão liderar nunca
pela palavra, mas pela acção, pelo exemplo que não se resume a em si mesmo, mas pela atitude
natural do indivíduo alinhado, já que o foco deverá ser Superior – Sobre-Humano. Essa liderança
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deverá ser tão elevada e tão sublime como só o consegue a mais pura das crianças… com tudo
aquilo que se atribui à condição de criança!
Lusofonia ou Lusofilia?
Por vezes o conceito pode condicionar todo um plano mental e com isso limitar processos
cognitivos essenciais a uma mudança que leve na realidade à construção de um caminho sólido
onde aspectos de uma Utopia podem ser materializados. A palavra Lusofonia em minha opinião,
não só peca por escassa, como também exclui luso-descendentes não falantes da língua, mas que
ainda o são por comportamento e por afinidades familiares.
Mais do que aspectos culturais a Luso... (eu prefiro à falta de melhor começar a usar a
Lusofilia nos meus rabiscos) tem a ver com a forma de ser e de estar no mundo e na interacção
com os outros. É certo que o Brasil terá a sua forma cultural por vezes até um pouco distante da
nossa como é óbvio terão ainda mais os nossos irmãos africanos, fruto da mistura das culturas
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étnicas locais com 500 anos de influência lusa. Agora o que é totalmente diferente é eu, ou
melhor nós (porque sou português) os tratarmos por irmãos, coisa que nenhum povo ou potência
colonizadora (mesmo hoje os EUA) o fez até agora!
É esta "estranha forma de vida" a nossa, que caracterizo também por Lusofilia, que é uma
pertença a um ideal de LUZ que simbolicamente toma a imagem da Verdade, do conhecimento
aplicado ou Sabedoria e consequentemente da aceitação plena no outro; não daquela tolerância
mesquinha e forçada (uma certa comiseração pelos povos ou indivíduos considerados inferiores,
que não deixam por isso de o ser na nossa estrutura mental) mas da plena aceitação do outro por
mais dissemelhante que seja, ou na nossa percepção menos desenvolvido que nós, porque os
analisamos somente nos aspectos que damos mais valor comparando aquilo que não é
comparável. Deste modo fechamo-nos à possibilidade de aprender coisas novas e diferentes, em
suma aquilo que o outro tem de melhor para nos dar e que nesse espaço nos é claramente
superior. Essa capacidade tão nossa de nos aproximarmos de quem quer que seja é também na
minha interpretação a Lusofilia, já que o outro é como que obrigado pela nossa atitude de
paridade a vir ao nosso encontro e não a armar-se para nos combater no terreno dele... Há deste
modo e acima de tudo uma hospitalidade mental ou intelectual para além da material!
Por esse motivo é que a Lusofilia não pode ser particularizada num partido (político)
porque é naturalmente inteira e indivisível. Não deverá ficar restrita ao espaço geográfico dos
Descobrimentos, porque estes ainda não acabaram, pelo menos na essência, como diria o
Agostinho da Silva, falta-nos descobrir a Europa e semear nela estes valores...
Agora e a meu ver a Lusofilia ou porque não a Lusophilia não pode ser materializada
totalmente porque rapidamente se extinguiria num ideal finito e numa aplicação impossível. Tal
como o “fogo que arde sem se ver”, a Lusofilia deverá ser materializada aos poucos, através de
ideais e de acções práticas (a CPLP pode e deve ter acções reais, pode criar grupos de influência
ou estimular movimentos cívicos) sem nunca se materializar totalmente. Deve portanto continuar
a ser a Grande Utopia, em suma o farol nas noites tempestuosas que a Humanidade irá ter que
passar.
Independentemente dos acontecimentos ou das provas realmente difíceis por que tem que
passar, o desânimo não nos pode habitar nunca! Nós cumprimos o desígnio do resiliente
construtor que vai colocando pedra sobre pedra para fazer a parede de uma construção. Mesmo
que haja tremores de terra, ou arruaceiros a atirar as pedras abaixo e a atacar o nosso construtor,
ou poderes a proibir a erecção dessa construção, ou uma multidão a zombar pela forma rude da
obra; o nosso construtor a nada liga e volta mesmo do zero e as vezes que sejam necessárias a
reconstruir, ou melhor a construir como se fosse sempre a primeira vez tal como se de uma
mandala se tratasse! Um dia alguém verá a injustiça cometida sobre o nosso construtor que se
mantém na sua incansável missão de construção e de vida, e outras mais se juntarão. Nesse dia
todas elas se fartarão dos "galifões", dos arruaceiros e dos poderes de um sistema que já não mais
representa a vontade da Humanidade. Nesse dia se revoltarão contra eles e juntos com o nosso
inicial construtor irão erguer não só aquela parede, mas toda a construção que será num ápice
erigida.
No entanto e voltando ao início deste capítulo, mais importante que essa parede ou a
construção em si (que nunca será acabada verdadeiramente) terá sido e será a emoção e a
comoção, em suma o verdadeiro sentimento que levou e levará toda aquela gente a esse feito. Os
sentimentos assim reunidos manifestarão assim a vinda do mítico Paracleto!
Este é o paradigma do Amor Incondicional, a utopia que é motor da Vida e sem ela então
não haverá esperança.
16
sentimentos mais interiores, que se coloca em tudo aquilo que fazemos! O juízo mais importante
sobre as nossas acções não será nunca externo mas ao nível da nossa consciência individual,
simbolizado superiormente na tradição do Antigo Egipto pela balança do Julgamento da Alma.
Numa das muitas interpretações possíveis, a pena de Maat – da justiça – é em nós a consciência
que advém do Todo e o coração o órgão que representa e que se encontra na zona da fonte desse
sentimento indescritível (porque superior) por debaixo do Plexos Solar se falarmos em termos da
tradição oriental. O equilíbrio dos dois pratos indica não só a leveza da consciência mas a
percepção de que tudo o que fizemos foi dentro da equidade de acordo com as Leis Naturais ou
Divinas. O que materializámos de pouco interessa na sua resultante final, dado que poderá ser
tanto pervertido por quem tem essa missão (interesses pessoais ou egotistas – a via de Lúcifer,
trevas, Set, Kali, etc.) como aproveitado por aqueles que têm o mesmo estado de alma ou a
vontade inata e verdadeira de crescimento e da construção (a via da Luz).
17
A Lusofilia numa época de mudança
Temos o "privilégio" de viver um tempo histórico de
mudança de paradigma vaticinado por Agostinho da Silva, que
em minha opinião irá conduzir a sociedade ao princípio da
responsabilidade individual, no realinhamento com as Leis
Naturais. Nada que tenha relevância e sustentabilidade no
plano da forma, poderá existir se não assentar nos princípios
complementares dos deveres e dos direitos do indivíduo de e
para com a envolvente, seja ela o tecido social ou ecológico.
18
perceber contudo que a difusão desse paradigma já não é só nosso, mas de todos aqueles que
falam a nossa língua e nela se revêem culturalmente. Refiro-me quer aos indivíduos dos países
de língua oficial Portuguesa, à diáspora constituída por emigrantes de todos esses países, que só
por si formam uma grande nação, bem como e ainda todos aqueles que mesmo não falando o
português, sejam descendentes pela via do sangue e que se posicionem na mesma forma de ser e
de estar desse povo fundador. Refiro-me ao Oriente onde não só deixamos indeléveis mas
profundas marcas, como também por ele fomos profundamente transformados e enriquecidos...
A rede lusófona terá que ser restaurada novamente, sem medos nem complexos
colonialistas, algo de que fomos acusados injustamente pelos países que efectivamente o foram e
que continuam sub-repticiamente a sê-lo, através das suas ex-colónias tornadas soberanas na
aparência. Foi um excelente pretexto para lhes oferecermos o fruto apetecido. Países que, criados
por nós, se deveriam ter emancipado pela acção intrínseca do seu próprio crescimento e
desenvolvimento autónomo e não por intermédio de forças e ideologias estrangeiras às
verdadeiras necessidades do seu povo que era à data também nosso povo.
A nossa queda foi consequência do rompimento da tradição que nos levou, no confronto
com os países de raiz conquistadora (Castela, Inglaterra e França), à corrida da posse de terra na
perspectiva do poder e glória mais céleres, ao invés de mantermos a estratégia da tradição
marítima. Faltaram-nos os Infantes e os homens valorosos e interrompeu-se o desígnio!
Deixámos de olhar para o alto ofuscados pelos tesouros mundanos, tornámo-nos novos-ricos,
colonialistas e sofremos as consequências. É necessário curar da amnésia as novas gerações e
motivar os desinteressados do futuro, fazendo-lhes sentir que o hedonismo tem os dias contados.
É necessário aprender com os erros cometidos ao longo de 900 anos. Portugal já não é um jovem
na sua puberdade como o são países ainda na sua infância histórica e onde vamos
inconscientemente buscar padrões de vida irreconciliáveis com os nossos…
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Tradição, repito num contexto mais alargado de lusofonia e não de portugalidade. É necessário
reinventar a nossa história para melhor nos conhecermos e percebermos qual a nosso rumo no
contexto actual. Temos que nos realinhar com o trajecto há muito perdido, temos que deixar de
nos continuarmos a queixar de nós próprios. Não somos mais a cauda da Europa, posicionemo-
nos antes como a sua Cabeça. Portugal é o porto da Europa para o mundo. A lusofonia torna-nos
num parceiro Europeu com voz activa por direito e não apenas um pequeno país
subdesenvolvido periférico. A Europa terá que ser um espaço a desenvolver também pela
Lusofonia, sendo Portugal a porta de entrada nesse espaço, assim como o Brasil no continente
Americano, Angola e Moçambique juntamente com Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e a Guiné
Bissau no continente Africano, Timor, Macau e as regiões históricas da Índia no espaço Asiático.
Sabendo daquilo que somos capazes, teremos que potenciar os nossos pontos fortes como o
fizeram os nossos antepassados, a fim de que os descendentes da “ínclita geração” voltem a ter
uma voz activa no Mundo, que se vê a desmoronar a cada dia que passa, fruto da acção
destrutiva, dos actuais “conquistadores financeiros”.
Temos que saber restaurar em cada um dos países da lusofonia a nossa Paideia ancestral,
consubstanciada hoje na pluralidade, no realinhamento com as Leis Naturais que os nossos
antepassados souberam respeitar. Precisamos de recordar a nossa razão de ser como motor
civilizacional construtor, alavancar projectos culturais agregadores da lusofonia associados
através de grupos económicos. Estes últimos deverão servir esta causa, no religamento do cordão
umbilical, contribuindo para essa chama que não só aquece e vivifica a esperança de todos nós,
como iluminará as novas rotas dos Descobrimentos que estão para acontecer nos planos da
Criatividade e do Desenvolvimento e nos levará a descobrir e a dar mais uma vez novos Mundos
ao Mundo.
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O Quinto Império ou a era Quinquenária da Imaterialidade
Deste modo Portugal, reúne ainda todas as
possibilidades de cumprir a profecia do Quinto Império:
estamos a entrar numa nova era, que levará a sociedade à
imaterialidade. Este aspecto já é vislumbrado por
variadíssimos indícios, se podem resumir em dois
paradigmas, um respeitante ao Homem (lembro aqui da 3ª
vaga de Alvin Tofler...), e outro ao meio em que vive – o
Ecossistema.
Voltando aos sectores de actividade, o terciário que se destina aos serviços, como vimos,
sendo alavancado pelos dois sectores anteriores, potenciou uma mudança total e completa de
paradigma: da produção alicerçada somente nos bens passou-se a uma produção de aproximação
cada vez maior às necessidades e procura de mercado dos indivíduos tornados clientes.
Actualmente vivemos no sector quaternário que se caracteriza pela era das tecnologias da
informação e conteúdos, que cumprem as necessidades de uma sociedade global. Do futuro
espera-se que isto venha a suceder na era quinquenária do “Wellfare” ou do bem-estar. Os
impérios da história acompanharam todos estes sectores, e impuseram paradigmaticamente a
mudança, como nós portugueses com a implementação do sector terciário.
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e de donos. A sua desligação acentuada ao plano material, pode no entanto conduzi-las à sua
extinção, por perda de influência e de objectivos concretos que alimentam a ideia de identidade...
A internet tem substituído a materialidade dos livros, das bibliotecas, dos suportes
multimédia e de algumas empresas. Grande parte do trabalho é hoje executado em suportes
imateriais, cada vez mais o trabalho do homem reside nas ideias, na criatividade e na mudança de
mentalidades, mais balanceado para o pensar, para o criar e menos para o fazer, ou executar…
22
(…) Basta, povo descortês, ingrato e blasfemo! Que Moisés e o vosso ídolo foram os
que vos livraram do cativeiro do Egipto?! (…)
Mas antes que passemos às outras utilidades, que ficarão para os capítulos
seguintes, justo será que fechemos este com a terceira causa do castigo que
ponderávamos, a qual refere o Texto Sagrado no cap. XIV dos Números, e pode ser
de grande exemplo para outra casta de gente, que são os que a Escritura chama
filhos da desconfiança.”
Segundo o P. António Vieira existem três aspectos que podem impedir que a profecia se
cumpra: a destruição da concepção do Princípio Divino que é o desrespeito às Leis Naturais, a
anulação do ideal da aristocracia natural transferindo-a a ídolos com pés de barro e a perda de fé
do indivíduo em sim mesmo.
No primeiro pode haver o risco das novas gerações perderem a noção da dependência das
Leis Naturais (Lex Natura), pela ignorância ou pela arrogância. O falso conhecimento pode levar
ao caminho divergente da verdadeira Luz com adoração iconoclasta a falsos profetas e deuses
menores da ciência, da política, da finança e dos “media”.
Para que Portugal dos portugueses possa liderar, por direito próprio, num futuro próximo, o
avanço da Humanidade como o fez desde o século XII ao XVI, terá que saber transmutar os
agentes internos que se mantêm presos a ideologias e interesses que o aprisionam nestes três
aspectos.
No primeiro, penso que terá que se mudar o paradigma, criando em todo o português um
ideal superior, uma mística, uma missão, um Leitmotiv, uma paideia segundo Camões, Padre
António Vieira, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, António Quadros bem como muitos
outros! Terão que se seguir estratégias que levem a sociedade a partir dos seus elementos a uma
conduta de vida que obedeça às Leis Naturais ou Divinas. Sobre as Leis Naturais ou Divinas
repousa o conceito do Sagrado, de algo superior inatingível, utópico mas que serve de farol ao
Homem e que lhe permite crescer e transcender as suas limitações. A obediência às Leis Naturais
exige que se restaure o Sagrado em cada um de nós, projectado na sociedade esse ideal superior.
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Este conceito de Sagrado não tem que vestir necessariamente nenhum dogma ou seguir nenhuma
igreja particular, digo e repito necessariamente, porque sendo um assunto do foro individual e
íntimo de cada um, ele deverá ser vivido segundo a liberdade e a consciência de cada um. O que
importa aqui e independentemente da via religiosa ou espiritual de cada um é a forma como o
Sagrado nos transporta ao domínio do inefável de algo concentrador e elevador das consciências.
Deste modo o Sagrado é ainda agregador a tal ponto porque promove a recriação das condições
necessárias à elevação das consciências individuais através da repetição ritualizada de práticas
ancestrais ancoradas pelos símbolos da tradição. O enfoque na cultura e nas tradições regionais
como as festas religiosas populares tornam-se essenciais à restauração desse “plano Sagrado”,
muito próximo daquilo que em tempos se conheceu como Religião Natural. A Natureza é por
definição a nossa melhor professora e a analogia a melhor das ferramentas de observação dos
fenómenos, que ao nível social se permite entender a partir das festas populares simbólicas.
Na segunda, a educação não para a igualdade castradora, taylorista, mas para a natural
separação de indivíduos por capacidades e potencialidades, de tal forma que os que se
encontram à frente se tornem nos ideais a projectar nos que estão mais a trás, os líderes naturais
pelo abnegável exemplo, pelos princípios e em suma pelo valor e não pela falsa imagem que leva
os indivíduos das classes inferiores a questionarem os das classes mais privilegiadas. Temos que
colocar líderes naturais equilibrados pela Lei Natural e pela mais valia técnica e humana, a fim
de servirem de força de tracção a toda a sociedade pelo seu trabalho operativo e pelo seu
exemplo como seres humanos. A democracia tem que se ver alicerçada na meritocracia, para que
continue a ter existência prática. Tem que se cultuar a transparência social, o conceito de verdade
e dos princípios nos indivíduos que têm a seu cargo o “sacerdócio” da condução dos outros. Num
contexto de meritocracia e de transparência, os melhores indivíduos em cada uma das suas áreas
de afectação e de especialização deverão servir de “benchmarking” natural para aqueles que os
vão suceder. Para além do exemplo deverá deixar-se sempre espaço à criatividade e à mudança
que cada ciclo geracional é obrigado a promover a fim da sociedade poder evoluir e melhor se
adaptar aos tempos. Neste ponto deverá existir o bom equilíbrio entre a necessária transmissão
do conhecimento que os melhores indivíduos em cada área irão transmitir e que os ligará numa
longa cadeia ao início daquelas actividades e a criatividade daqueles que os irão substituir, a fim
de não haver corte do conhecimento passado nem resistência à mudança, quando ela é a única
certeza neste plano.
24
relações humanas à escala mundial, algo que ainda longe dos ideais de uma verdadeira
fraternidade entre os povos se aproxima como nenhum outro destes princípios.
“Não há maior erro que a pretendida substituição das qualidades próprias por aquelas que
admiramos nos outros Povos. Destruímos por completo o nosso carácter e adulteramos, em nós,
o que há de bom nos estrangeiros. Não troquemos a nossa figura pela máscara importada.”
Nos finais do séc. XIX começou-se a desenhar a mudança de paradigma que iria alterar por
completo todo este núcleo organizativo, passando o poder a estar disseminado (aparentemente
em potência) por todos os indivíduos sem desigualdade de privilégios, ao contrário do que o
sistema das classes sociais tinha definido até aqui. Era o início do primado do indivíduo, levando
à emancipação de uma nova classe alicerçada na alta finança. Não fosse a eterna capacidade de
alguns se diferenciarem dos demais, agora pela capacidade de conquista financeira, acumulando
riqueza e poder, desarticulados dos valores morais e éticos ancestrais na nobreza europeia, não
teríamos qualquer diferença entre os regimes de cariz capitalista e marxista onde a acumulação
de riqueza neste último, não poderia acontecer por doutrina (a não ser à classe dirigente, a
verdadeira gestora dos bens do povo). Estavam estabelecidos os novos planos para a nova ordem
mundial e é nesta conjuntura, contendo as duas ideologias em cada um dos pratos da mesma
balança social socialista que se dá a passagem do século XIX para o XX, sistematizando-se ao
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longo deste até ao séc. XXI e na qual Portugal terá que encontrar a melhor estratégia, junto dos
seus pares da Lusofonia, para retomar a sua missão, caso contrário a sua sobrevivência estará
comprometida a médio prazo.
Porém, a sua missão actual, está longe de ser a do líder do espaço da Lusofonia, porque
nela não poderá ser mais o motor que foi, mas sim o gerador da mística e da sabedoria histórica
do sentido de missão que a sua vetusta idade lhe permite! Se reflectirmos um pouco, verificamos
que já não somos pátria mas mátria, pois de nação activa com projecto autónomo passámos a
nação passiva, na estrita obediência de missões estrangeiras! Veja-se que desde a restauração de
1640 por D. João IV, passámos a ter como padroeiro visível não o S. Miguel Arcanjo que foi
instituído pelo fundador D. Afonso Henriques, mas a Virgem Santa Maria, coroada pelo rei
restaurador! No Mosteiro dos Jerónimos no célebre pórtico Sul, o personagem que se encontra
em cima do pilar a meio da porta dupla (Infante D. Henrique?...), tem a espada a apontar para
baixo, em sinal de desarme ou rendição. Se olharmos bem, verifica-se que inicialmente ela
apontava para cima em sinal de guarda e de acção… O Escudo acima da entrada norte da Igreja
do Mosteiro dos Jerónimos, encontra-se partido a meio. Diz-se que ele partiu no exacto momento
em que Alcácer Quibir tombava D. Sebastião… por outro lado o partir de um escudo ou da
lâmina da espada – peça militar defensiva, com carácter não só de protecção física como mágica
(dado que possuía símbolos pessoais ou nacionais) – simbolizava tal como a queda por terra da
bandeira nacional, a derrota e a submissão.
Voltando ao plano estratégico a desenvolver, no que diz respeito à imagem e aos valores
culturais que lhe estão associados, Portugal terá que se adaptar, defendendo-se nesta travessia do
deserto dos valores espirituais. Esta será a primeira fase, que pode durar ainda algum tempo,
antes de poder retomar junto do seu património luso mundial, da missão interrompida. O retomar
dessa missão será oferecido à Lusofonia se esta com Portugal cumprir os desígnios que Vieira
tão bem aponta e o seu reinício será seguido de uma forte necessidade mundial... a queda
esperada do sistema capitalista vigente após a queda do socialismo e do modo de ser e de estar
estimulado por ambos.
A estratégia a desenvolver aqui, terá que cobrir os dois planos da consciência, refiro-me
como já disse ao “plano do Sagrado” que importa restaurar. Este influencia decisivamente o
plano concreto e tangível do dia-a-dia. Um tem reflexo no outro, já que o plano do sagrado induz
motivações e projecta ideias muito profundas que se concretizam no plano visível material. Em
jeito de analogia, pode-se intuir que no plano da consciência, o Sagrado comporta-se como que
um sol interior, onde um pensamento é como que um objecto, uma identidade no plano material
e “um estado de alma” é como que um local, um sítio, uma paisagem no plano material.
Tendo em conta estas considerações, e o que já foi referido atrás, penso que a solução no
primeiro plano passa pelo retorno da sociedade ao nível do Sagrado, através das motivações
individuais e interiores de cada um, mas consubstanciadas nas tradições das festas populares que
deverão ser restauradas em cada região do nosso país.
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Importa dar uma pequena explicação histórica sobre a organização ritual e hierarquizada
das ordens que construíram o nosso país e o converteram num projecto plataforma para o mundo
através dos Descobrimentos. Assim e tal como no tempo da fundação de Portugal, se pode tirar a
ilação de que existiriam pelo menos três tipos de ordens organizacionais e hierarquizadas na
condução dos destinos da nação, esse mesmo modelo poderia ser restaurado da base. Os
Templários, a Ordem de Cristo e a Ordem de Avis, para referir as mais importantes porque
geraram dinastias, eram por assim dizer organizações intermédias ou executivas, situadas entre a
Ordem Interna (desconhecida) que estabelecia a estratégia e a mais externa, que me permitam
que considere, à falta de melhor designação, por "ordem nacional", que incluía todo o povo como
uma egrégora unido por uma missão: quanto mais não fosse a união contra o poder de Castela...
Esta ordem externa tinha para além de uma multiplicidade de tradições mais ou menos
ritualizadas ou cerimoniais, uma tradição que foi estabelecida, provavelmente pelas hierarquias
superiores e que foi chancelada mais tarde pelo Rei D. Dinis. Este rito externo ou tradição
popular, construído sobre um cerimonial catártico era baseado numa história evocativa de
valores e de princípios filosóficos. A sua função era de elemento agregador de todo um povo à
volta de um desígnio, cujo objectivo seria como foi a elevação das consciências individuais no
plano acima do físico ou tangível conhecido por plano espiritual do domínio do Sagrado. Eram
as festas do Senhor Santo Cristo e do Espírito Santo, cujas implicações advinham do pensamento
joaquinista2 das Três Idades do Mundo. Este é um exemplo funcional que deu provas como já
vimos na expansão de Portugal nos Descobrimentos.
2
Joaquim de Fiore (c. 1132 — 1202), também conhecido por Gioacchino da Fiore, Joaquim de Fiori, Joaquim,
abade de Fiore ou Joaquim de Flora, foi um abade cisterciense e filósofo místico, defensor do milenarismo e do
advento da idade do Espírito Santo que se seguia às idades do Pai com o judaísmo, e do Filho com o cristianismo.
Esta filosofia teve muita força em Portugal sendo seguida pelas suas classes dirigentes, no qual se chegou mesmo a
posicionar Lisboa como sucessora de Jerusalém e Roma como sede da nova Igreja do Espírito Santo.
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Curioso é verificar que por muito que o Homem se ache evoluído e emancipado continua
no fundo irremediavelmente tão preso como sempre às amarras das Leis Naturais…
Neste paradigma é certo que não há solução, que não seja o conflito nesse plano da
existência. Iremos assistir ao agudizar dos problemas que se sucederão do seguinte modo e à
medida que se gorarem todos os paliativos: da referida queda dos valores e do Sagrado
passaremos à crise económico-financeira, que provocará o desencadear de uma crise social, que
levará a uma crise política e cuja incapacidade para a resolver, levará por último a problemas de
segurança da ordem pública, desencadeando uma crise militar. Nessa altura teremos a violência e
a guerra como sempre houve nos finais dos ciclos civilizacionais (vide as crónicas da decadência
do Império Romano, cujas semelhanças no tecido social actual são por demais evidentes às que
se verificaram nesse tempo).
Deste modo penso que a restauração do Sagrado em cada um de nós com a aplicação
prática de harmonização com as Leis Naturais ou Divinas será a única saída descrita por Vieira
numa linguagem ecuménica própria de há 400 anos, mas de renovada actualidade. A classe
política dirigente tem a responsabilidade de ter percepção desta realidade e de criar
antecipadamente os argumentos necessários para articular com o povo que governa o conceito do
Sagrado numa época em que ele foi completamente anulado nas nossas sociedades. Deverão ser
criados mecanismos alavancadores das tradições populares como as indústrias do turismo (seja
ele rural ou ecológico ou ainda de saúde e bem estar), dos conteúdos de audiovisuais ou
multimédia e ainda o financiamento de associações culturais regionais que potenciem o trabalho
de inúmeras pessoas de “boa vontade”, muitas delas pensionistas, que ao serviço das suas
comunidades tudo fazem para reviver as tradições culturais onde o Sagrado ainda se encontra
protegido. O governo poderá e deverá ainda potenciar o trabalho destas associações com as
indústrias de turismo e multimédia a fim de lhes conceder a sustentabilidade sem necessidade da
dependência do subsídio estatal.
Deverão ser postos em funcionamento planos de acção, ao nível dos conteúdos
audiovisuais e das escolas que permitam a elevação da consciência das populações, em especial
das novas gerações, através da restauração dos princípios tão benéficos como a fraternidade e a
solidariedade, sentimentos fortíssimos que por exemplo podem ainda ser sentidos de forma
muito intensa nos Açores, onde nas festas do Espírito Santo, se verifica uma coesão
impressionante da população à volta de uma tradição de uma enorme profundidade filosófica e
emocional. O sentimento de corpo, de união e partilha fraternal, são bem patentes, tocando o
mais insensível dos indivíduos.
Esta forma de tomada de consciência permite a protecção de um povo contra perigo dos
novos “arautos dos valores” e "das reservas morais" que se arrogam detentores da verdade e que
numa época de dissolução dos princípios e de crise estrutural corremos o risco de ver culminar
num regime autocrático. Aliás foram momentos como este que serviram de esteira aos piores
ditadores do passado.
Encontramo-nos em final de um ciclo civilizacional e do ponto de vista da preservação da
“espécie Humana” temos como sempre duas saídas, a da elevação das consciências num
alinhamento superior ao Sagrado, que significa a aceitação do erro e a vontade expressa de
mudança – esta é a Via construtiva do Amor; e a Via disruptiva da Dor que se caracteriza pelo
extremar de posições à medida que se vão dando inúmeras rupturas ao nível do tecido social por
ineficácia dos variados paliativos que se vão introduzindo. No final só funcionarão os métodos
correctivos que como sempre só terão lugar debaixo de um “punho de ferro” ” ou do bisturi do
cirurgião. Cabe-nos a nós escolher o melhor caminho a bem da sobrevivência da Humanidade
neste plano.
No plano concreto da forma, até se cumprirem os desígnios que as Leis Naturais irão ditar,
e seguindo as alterações de paradigma social, teremos que saber desenhar e encetar estratégias
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que cubram os vários domínios de actividade e de desenvolvimento a fim de suportar a vida do
homem com o mínimo do dignidade e de condições que lhe permitam a sua evolução,
independentemente do nível moral e intelectual em que este se encontre.
A meu ver Portugal terá que rapidamente se tornar uma marca registada pelo seu escudo e
pela sua bandeira com as suas cores. A sua personalidade agora em estado volátil terá que passar
a conteúdo ou identidade caracterizada pela portugalidade (cultura, língua, história, gastronomia
e vitivinicultura com zonas demarcadas, artesanato, monumentos, paisagem e mar). Com isto
terá que se tornar num alfobre de produtos e serviços que a possa garantir como identidade
própria numa sociedade actual caracterizada pelo mercado livre global. Terá que para ser
conhecido, e por isso garantir a sua sobrevivência, saber-se vender nesse mercado, porque agora
e no curto prazo vender é existir – “vendo logo existo”... E para vender tem que ser novidade.
Terá que encetar actividades estratégicas que o dirijam nessa direcção, como por exemplo a
utilização da CPLP como bolsa das marcas-nação da lusofonia. Se os corpos “estados” estão
presos aos interesses e contingências dos acordos dos espaços económicos em que se encontram,
o mesmo não se pode passar com as marcas-personalidade, que podem e devem resguardar a sua
essência, levando-a até com mais facilidade aos quatro cantos do mundo, seguindo as mesmas
Leis de Mercado. O mundo tem que voltar a conhecer Portugal, não como realidade menor, mas
como identidade actual e passível de ser seguido.
Nas Biotecnologias e novas áreas da medicina com alguns portugueses já na linha da frente
ao nível mundial que não é de admirar, mesmo com os parcos recursos de um país
geograficamente pequeno em comparação com os EUA ou a Inglaterra ou a Alemanha, mas
porque possui uma raça extremamente grande.
Os serviços de diplomacia mundial, são para nós inatos, dado que fomos o primeiro povo
globalizador, cuja manutenção dos territórios se devia não só à prestação de serviços aos líderes
locais, através da bravura e estratégia, ou às actividades comerciais e de logística, mas em
especial da diplomacia, que nos tinha que ser natural, para minorar os eventuais conflitos de
interesse, porque não havia nem modelos nem os estudos em sociologia e psicologia
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comportamental que hoje enchem as bibliotecas. Vemos a força natural que accionamos como
povo e que se amplificou pelos grupos de interesses e lobbies internacionais, que culminaram na
autodeterminação do povo Maubere de Timor Lorosae. Mais, para além dessa “empresa” para a
qual não tínhamos qualquer poder económico ou militar em função da nossa diminuta condição
geográfica em relação à Indonésia – um dos tigres asiáticos, Timor decidiu escolher a língua
portuguesa como sua, contra todas as expectativas. O povo português mais uma vez se agigantou
e foi determinante a sua acção pela sua força de coesão.
A língua como última fronteira, num mundo global deverá ser protegida. Longe de ser una
deverá ser plural, porque historicamente o português é e terá que ser um cidadão do mundo.
Embora tenha que concordar com a unificação da língua Portuguesa no plano internacional, no
sentido de lhe conferir a força compatível com o número de indivíduos que dela fazem uso
actualmente, vejo nesse acordo de unificação um perigo, que mais uma vez facilitando no curto
prazo, poderá trazer consequências nefastas no futuro. Qualquer unificação contraria o princípio
da biodiversidade, que por analogia significa a capacidade de adaptação e que sendo sinónimo de
riqueza cultural, se torna garantia única de sobrevivência do indivíduo. A língua portuguesa, cujo
léxico, vocábulos e regras particulares vejo como um alfobre etimológico e cultural inestimável
de todos os povos que por herança dela fazem uso no seu dia-a-dia. São os sons, as articulações
com corruptelas ou evoluções propositadas, bem como os vários sentidos e interpretações
próprias de cada região, povoação ou mesmo família que a tornam rica e lhe dão vida.
Deste modo temo que possa ser mais fácil a sua descaracterização se ela passar a ser escrita
e futuramente ensinado às novas gerações por uma só Regra. As perguntas que se levantam são:
quem serão os “Guardiões dessa Regra”? Que critérios passarão pela modificação futura dessa
regra? Como irão adequar uma Regra comum nas várias regiões de língua portuguesa – nas
quatro paradas do mundo – que por um lado mantenham os “arcanos etimológicos”
indispensáveis à manutenção da cultura que lhe deu origem e por outro adaptar essa mesma
Regra às necessidades de um mundo em constante mutação? Estas são as questões que importam
reflectir, muito mais importantes que as lutas territoriais das editoras por mais legítimas que
sejam. Para mim, uma solução passaria pelo desdobramento do português numa versão
simplificada de trabalho (mais fácil de ser aprendida por todos os estrangeiros a ela mesma),
comum a todos os países de língua portuguesa e que poderia ser o Português Unificado ou
Internacional, e ao mesmo tempo manter em cada país da lusofonia a sua forma própria de
escrever ligado às idiossincrasias de cada um e que seria a versão literária ou intelectual do
português.
Deve ser dada a cada povo que faz uso do português como língua materna, a liberdade de o
escrever e de o falar modulando-o à sua cultura, à sua forma de pensar e às suas necessidades
locais. A unificação monocromática total deveria ser contrariada, porque a protecção não é feita
num qualquer organismo por mais competente que seja na CPLP mas pelo mais humilde
daqueles que a usam desde o berço e que junto com os seus semelhantes, a amplificam e lhe dão
a voz de todo um povo. Vem-me à ideia o exemplo do povo de Moçambique que tendo aderido à
Commonwealth se tornou num dos melhores defensores da língua portuguesa do que qualquer
organismo centralizado para esse efeito no interior da CPLP, em especial numa conjuntura
geográfica do “Corno de África” adversa onde o Inglês impera como língua oficial de vários
países vizinhos. Como ele lembro-me igualmente de Timor Lorosae. Apoio a criação do
Português Unificado escrito para fins pragmáticos e instrumentais ao nível da diplomacia e dos
negócios, que possa ser mais facilmente aprendido por nacionais de outros países, mas ao mesmo
tempo permitir a escrita de outras versões particulares e regionais do português, algo que aliás irá
continuar a existir, independentemente de todas as regras, em especial fora das áreas urbanas.
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No domínio dos conteúdos, realço o aspecto da educação e formação – sendo a primeira de
base e a segunda contínua ao longo da vida do indivíduo. Os conteúdos que nos chegam pelos
variadíssimos meios de telecomunicações e sistemas de informação, serão formalmente num
futuro próximo a educação e a formação per si. Caberá às instituições de ensino produzir esses
conteúdos e reconhecer as competências dos indivíduos, que os posicionarão no lugar
correspondente da pirâmide social. Longe estamos do tempo em que as Universidades eram
instituições fechadas, de clausura (i.e. claustro – cloister – close) desde os Templos Egípcios, as
Escolas dos Gregos, os mosteiros medievais, onde um reduzido número de eleitos eram iniciados
do ponto de vista técnico e comportamental, sendo graduados consoante as suas capacidades para
se tornarem condutores das sociedades de então. A democratização e a massificação do ensino,
vocacionado para as funções operativas, não acabou, é certo, tal como o paradigma ancestral do
ensino da excelência, que advém da Velha Tradição. O nome da Instituição associada ao preço
da propina e ao processo cirúrgico de admissão, mais baseado na entrevista comportamental do
que em exames particulares psico-funcionais do intelecto, tem e fará toda a diferença. A quem é
admitido, espera-se uma entrega total num rigor selectivo que irá potenciar ao máximo as suas
qualidade técnicas, criativas e comportamentais intrínsecas e extrínsecas, dentro de um método
em tudo semelhante com o praticado nos mosteiros medievais, nas Escolas dos Gregos e dos
Templos Egípcios, para dar somente alguns exemplos históricos.
Para os que não têm lugar nestas instituições, terão o ensino das “artes de ofício” que
actualizadas aos nossos tempos, se referem ao ensino técnico das áreas do saber prático, a fim de
se tornarem profissionalmente bons executores ou executivos, das tendências estratégicas
emanadas pelos primeiros.
Num terceiro nível, ficarão essencialmente aqueles que não pertencerão a nenhum dos
níveis anteriores, e cuja formação será mais curta e terá que ser extremamente especializada e
operacional.
Portugal terá que criar ao nível da CPLP, excelência neste capítulo. É importante a criação
de instituições de ensino em língua portuguesa de altíssima qualidade, instituições que possam
formar as futuras elites da lusofonia, à escala do que existiu até 1535, tal como se referiu atrás.
Elites no sentido de terem a capacidade de pensar estrategicamente a “longo prazo”, ao contrário
do que se observa hoje, onde se vêem apesar de tudo muitos bons técnicos, mas com um
altíssimo índice de miopia reflectiva. A falta de sentido crítico, mesmo nas melhores práticas e
técnicas que nos entram pelas instituições de ensino ou espaço empresarial, leva-os a seguir
caminhos que embora se possam apresentar sedutoras no curto prazo, servirão inexoravelmente a
médio longo prazo os interesses de quem os desenhou e divulgou mais acima, na grande maioria
dos casos em clara oposição daqueles que cegamente os implementam. Deverá ser feita
quantitativamente e qualitativamente uma clara separação desde a infância entre as competências
de natureza estratégica da executiva, de modo que o português possa ter um espaço estratégico e
criativo. Temos a obrigação já de subir do patamar executivo em que nos encontramos para o
estratégico e criativo, porque temos capacidades e antiguidade como povo para estabelecer novos
caminhos...
A formação das massas – executivos e operacionais – terá que seguir, neste paradigma
existencial, o método de mercado: criação de uma necessidade, apresentação de uma solução e
prestação do serviço. Para as escolas funcionarem, desde o 1º ciclo até à universidade, terão que
saber criar a sua necessidade junto dos alunos – a necessidade adaptada aos tempos, longe que
estamos dos tempos da revolução industrial – terão que saber implementar soluções técnicas e
comportamentais estrategicamente inovadoras que estimulem os interessados. Por último, essas
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soluções terão que se dirigir às necessidades dos próprios alunos, prestando-lhes um serviço com
alto nível de qualidade prática. Mesmo aqui será de todo o interesse que a base educativa parta
da razão de ser e de estar da portugalidade, até porque é das únicas que melhor se adapta a todas
as outras, mantendo o português como indivíduo em vantagem no mercado global. Deste modo
só com elites formadas na portugalidade se pode ter na base práticas e metodologias
consentâneas. Lembro-me ainda que as forças armadas, poderão ter ainda uma palavra a dizer na
formação das novas gerações, abolida que foi o serviço militar obrigatório. Refiro-me por
exemplo ao Colégio Militar e à Escola de Fuzileiros Navais, que poderão levar a cabo
metodologias mais ou menos intensivas com programas destinados a vários níveis etários que
ensinem e reforcem os princípios morais, éticos e cultuem a liderança, o princípio do
reconhecimento do valor e da responsabilidade individual, dentro dos parâmetros da
portugalidade e da missão da nossa história.
Como conteúdo de diversão (que não deixa de ser outra veículo potencialmente educativo),
vejo o Futebol a par com outras actividades desportivas ao nível da selecção ou dos clubes, uma
forma de não só aumentar a força de coesão nacional, que é a identificação com um corpo de que
fazemos parte, num legado oitocentista, mas de assegurar a ideia, o sentir, o vibrar, o lutar
desportivamente e o viver Portugal. É uma actividade que emociona e toca de modo especial
todo um povo, por isso é hoje mais do que nunca uma potente arma de defesa da nação
Portuguesa.
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http://a.icep.pt/marcas.asp
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Conclusão
O povo Português para sobreviver como
identidade própria, tem que conhecer exactamente a
sua história e perceber sem reactividades nem
vinganças, de que a sua raça, a "milenar raça
portuguesa" foi condenada desde 1535 à lenta
extinção, pela ignorância, castração e amnésia.
Paradoxalmente, todos esses movimentos têm, ao
contrário do que se possa pensar, tido início dentro do
próprio país, desde 1139 pelos descendentes daqueles
que não acreditam num Portugal livre e independente.
A crise que levou à 1ª união ibérica de 1580 a 1640 e
Fig.6 – Capelas Inacabadas no Mosteiro da ao império dos Habsburgo, não foi provocada por
Batalha. É necessário dar seguimento à Obra,
mesmo sabendo que nunca poderá ser nenhuma invasão espanhola, nem devido ao facto
acabada… muitas vezes adiantado pelos nossos historiadores
submetidos às idiossincrasias políticas, de que não
havia pretendentes ao trono vago, após a morte de D. Sebastião, rei que afinal morre encarcerado
nos Limoges em França, cujos ecos ficam gravados no Sebastianismo do colectivo nacional! A
decisão foi consentida pelos iberistas da época, que oportunamente se aproveitaram da crise
política, emergindo o país numa crise financeira a fim de justificarem ao povo a união ibérica
com Espanha. Desta feita preferiam o rei Filipe II de Espanha (futuro Filipe I de Portugal) a D.
António I, neto de D. Manuel I ou a D. Catarina da Casa de Bragança, cujo neto D. João II futuro
el Rei D. João IV viria curiosamente a restaurar a independência. Mais, todos os inícios
dinásticos das Reais Casas portuguesas se deram através de filhos ilegítimos: na Casa de
Borgonha, suspeitando-se que D. Afonso Henriques possa ter sido filho de D. Egas Moniz
perfilhado pelo Conde D. Henrique por incapacidade física do filho natural, a Casa de Avis
aparece com D. João I, filho ilegítimo de D. Pedro I e de Teresa Lourenço (filha do mercador
lisboeta Lourenço Martins), e por sua vez a Casa de Bragança com o 1º Duque Afonso, filho
ilegítimo de D. João I e de Inês Pereira. Desta feita qualquer argumentação sobre a legitimidade
das sucessões, cai por terra, num país que desde o início 1139 até 1910 teve uma monarquia
muito própria, cuja sucessão era baseada não só com base na hereditariedade mas no princípio da
aclamação popular e das cortes.
Assim, a destruição da nossa paideia por dentro, por uma classe de portugueses “sem
berço” ou por descendentes de ideologistas da ibéria, foi consumada do exterior através da
Espanha que trouxe com ela a Igreja e a inquisição, pela França de Napoleão que trouxe o
racionalismo redutor da época das Luzes, pela Inglaterra que desde o nosso empurrão ao seu
início expansionista e colonialista (oferecido pela “ajuda” em Aljubarrota consumado pelo
casamento do D. João I com Filipa de Lencastre em 1387), continuou pelo nefasto Tratado de
Methuen (acordo comercial estabelecido entre Portugal e Inglaterra em 1703 que se traduziu
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numa relação desigual compensada pelo ouro do Brasil), passando ao nível das ideias pelo
liberalismo constitucional, implantado sem a devida adaptação aos nossos usos e costumes e que
por último se tentou aproveitar do estatuto de “Oldest Ally” após 1815 para tornar Portugal uma
colónia de facto, aproveitando-se da circunstância da ingovernabilidade do país no período que
se seguiu à derrota dos franceses. Por último a consanguinidade e a miscigenação estratégica das
casas reais europeias vieram ainda a toldar ainda mais a nossa missão, enfraquecendo e
condenando posteriormente os Braganças (Casa Real periférica e com perigo de afirmação
contrária aos interesses mundiais que levaram aos dois grandes conflitos 1ª e 2ª Grande Guerra),
as forças ocultas e desestabilizadoras por detrás da 1ª república – movimento que não reflectia os
desejos do povo português na sua maioria alheio a tudo isso, os poderes mundiais materializados
pelos EUA e URSS na instabilidade forçada que levou à independência antes do tempo das
nossas colónias e finalmente a CEE/CE/EU numa sucessão ideológica subreptícia, culminando
no perigo que mais uma vez se avizinha da dissolução total da identidade e independência de um
povo milenar. Mais uma vez a sombra da perda de soberania nacional é consentida pela classe
governativa seguidora do iberismo transferido agora por conveniência ao europeísmo.
Atrevo-me a pensar em suma que as forças destruturantes que se acercaram do nosso país
desde 1535, se deveram ao facto da missão portuguesa se encontrar muito à frente da capacidade
e mentalidade do mundo nessa época e adverso ao materialismo capitalista que se desenvolve
alguns séculos depois. Era necessário travar os Portugueses, e a sua ideia do mundo unido, era
necessário que depois de D. Manuel I (que apercebendo-se do fim, se apressa a registar para
épocas mais propícias a missão portuguesa nos sólidos livros de pedra do manuelino), a missão
nunca mais fosse restaurada, era necessário matá-la de vez, impedindo que D. Sebastião
regressasse a casa… Era necessário em suma que o projecto Templário planeado pelo visionário
São Bernardo de Claraval – o Porto do Graal – soçobrasse de vez!
Deste modo é de todo necessário que as condições mundiais se deteriorem de tal modo que
Portugal emerja da sua hibernação e volte a ser o centro do mundo material, porque se encontra
no centro do “mapa mundi” (posição estratégica) e em esperança espiritual porque é o único país
verdadeiramente universalista reflectido no seu povo amistoso e nas armas da sua bandeira: a
propagação do Quinto Império sobre o Mundo!
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