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Isto posto, torna-se necessário esclarecer que o presente trabalho que se segue procura, a
partir de uma breve análise sócio-cultural e jurídica da sociedade romana, enfocar o
nascimento das relações jurídicas, que à princípio eram muito mais específicas, regendo
determinada situação de direito já existente, para aos poucos começar a ganhar um
caráter geral, regendo situações generalizadas, o que conseqüentemente gerou uma
maior abrangência da norma jurídica. Estudar os institutos jurídicos atuais fazendo uma
prévia análise do Direito Pretoriano proporciona ao acadêmico uma visão geral do
mundo jurídico, ao mesmo passo em que o estudante passa a compreender, e não apenas
decorar, inúmeros conceitos derivados do latim, língua oficial da civilização romana.
Para fins didáticos, dividiremos em três partes o presente trabalho: O Direito Romano
na Realeza, O Direito Romano na República e o Direito Romano no Império.
Obedecendo à ordem cronológica dos fatos, passaremos a fazer breves comentários
sobre cada uma das fases da História Romana na Antigüidade, para que possamos, ao
final, ter uma visão superficial, mas suficiente, da importância de se estudar o Direito
Romano, disciplina esta cada vez mais suprimida das Faculdades de Direito.
Trata-se do período histórico em que Roma foi governada pelos reis, compreendendo
uma faixa de aproximadamente 250 anos, segundo os cálculos de VARRÂO, desde a
fundação de Roma, em 753 a.C., até o desaparecimento do trono, com Tarquínio, o
Soberbo, em 510 a.C.
Havia duas classes bem distintas e opostas entre os habitantes da cidade de Roma: os
patrícios e os plebeus. Os primeiros, homens livres, descendentes de homens livres,
agrupados em clãs familiares patriarcais, que recebiam o nome de gentes, formavam a
classe detentora do poder e privilegiada. Os plebeus, por sua vez, não faziam parte das
gentes, estando, no entanto, sob a proteção do rei. Até o reinado de Sérvio Túlio, os
plebeus não faziam parte da organização política de Roma.
Durante a Realeza, o Poder Público em Roma era composto por três elementos: o Rei
(rex), o Senado (senatus) e o Povo (populus romanus), este último, como acima
mencionado, constituído apenas por patrícios. Enquanto o rei, indicado por seu
antecessor ou por um senador, era detentor de um poder absoluto, ou imperium, com
atribuições políticas, militares e religiosas, sendo ao mesmo tempo chefe de governo e
de Estado, o Senado era um órgão de assessoria do rei, com função predominantemente
consultiva. Era, pois, o Senado detentor da auctoritas, sendo ouvido pelo rei nos
grandes negócios do Estado.
Além dos cônsules, a organização política de Roma na República ainda era composta
pelo Senado e pelo povo. O Senado, nesta época, era um órgão consultivo e legislativo
composto por 300 patres, nomeados pelos cônsules. Os atos oriundos do Senado eram
os senatusconsultus.
O povo (populus romanus), por sua vez, agora era composto por patrícios e plebeus,
que reuniam-se em comícios (comícios curiatos, comícios centuriatos e comícios
tributos) para votar. A plebe, cuja maior conquista na época foi a criação do tribuno da
plebe (magistrados plebeus invioláveis e sagrados, com direito de veto – intercessio –
contra decisões a serem tomadas), também se reunia sozinha no concilia plebis, onde se
votavam os plebiscitos.
A lei, por sua vez, é a segunda fonte de Direito Romano na República. É redigida,
apesar de muita resistência por parte dos patrícios e do Senado, a Lei das XII Tábuas,
cuja importância é incontestável, sendo considerada pelos próprios romanos como a
fonte de todo o direito público e privado. O cunho de romanidade presente em suas
disposições garantiu-lhe imediata aceitação por parte de todos, passando a reger as
relações jurídicas do povo romano. Mais tarde, numerosas outras leis surgiram também
com o intuito de reger as relações dos povos de Roma e dos territórios submetidos,
como a leges rogatae e a leges datae.
Por fim, são também fontes do direito romano os editos dos magistrados, conjunto de
declarações (edicta) destes, em que expunham aos administrados os projetos que
pretendiam desenvolver. Para o Direito Romano, assumem maior relevância os editos
dos pretores, e, em especial, os editos urbanos. O pretor, como magistrado que o era, era
detentor do poder de fazer editos, contribuindo assim para o florescimento, em oposição
ao jus civile (formalista e rigoroso), do jus honorarium, mais humano, pois com ele se
fazia uso da equidade, instrumento através do qual o pretor adequava a justiça ao caso
concreto, abrandando-se a impessoalidade do caso concreto.
Dado o seu caráter de transição, numerosas são as fontes de direito romano durante esta
fase. Somando-se às fontes da República (costumes, leis, editos dos magistrados,
senatusconsultos), acrescentam-se as constituições imperiais e as respostas dos
jurisconsultos.
O costume ainda nesta época desempenha papel importante enquanto fonte de direito.
Quanto às leis, adquirem maior importância as leges datae, medidas tomadas em nome
do povo pelo imperador, correspondendo aos nossos atuais regulamentos
administrativos. Os editos dos magistrados perdem muita importância neste período,
tendo o novo regime praticamente tirado de fato a independência e o espírito de
iniciativa dos pretores, fazendo com que estes aos poucos passassem a apenas
reproduzir os editos de seus antecessores. Os senatoconsultos são medidas de ordem
legislativa que emanam do Senado. Durante o Alto Império, o senatoconsulto é feito a
pedido do príncipe.
O Baixo Império, também conhecido como Dominato, estende-se de 284 d.C. a 565
d.C., e caracteriza-se pelo poder supremo do imperador, que, ao assumir atribuições dos
outros órgãos constitucionais, torna-se monarca absoluto, concentrando todos os
poderes em suas mãos. Durante este período, o Império Romano encontrava-se
subdivido em Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente, sendo cada
um desses blocos entregue a um imperador.
As constituições imperiais, ou leges,,são a única fonte do direito romano neste período.
A maior parte delas tem forma de editos. As codificações, ou compilações, que aqui
surgem podem ter caráter oficial ou particular, conforme sejam elaboradas por iniciativa
de imperadores ou por iniciativa privada. A importância de Justiniano é tamanha que
podemos dividir as compilações existentes neste período como anteriores, posteriores
ou da época de Justiniano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CRETELLA JR., José. Curso de Direito Romano. 8ª edição, Rio de Janeiro, Forense,
1983.
MOURA, Paulo César Cursino de. Manual de Direito Romano. 1ª edição, Rio de
Janeiro, Forense, 1998.
PEIXOTO, José Carlos de Matos. Curso de Direito Romano. Tomo I, 3ª edição, Rio
de Janeiro, Haddad Editores, 1955.