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1INTRODUÇÃO
Esse breve ensaio tem como eixo temático a Cultura Política no Brasil do Período
Regencial: os liberais exaltados de Pernambuco e suas vozes no Periódico a Bússola da
Liberdade. Para entendermos um pouco mais sobre o quadro político de Pernambuco, é
preciso dialogar acerca da memória em relação à confederação pernambucana de 1824, onde
dois grupos políticos lutavam pelo poder. O primeiro era dos defensores de dom Pedro I e que
se articulava com o projeto pensado no Rio de Janeiro “centralista” e o segundo grupo era dos
federalistas, interessados na autonomia provincial contra o imperador e o poder central como
define Marcos Carvalho. Com a derrota do movimento de 1824, os “centralistas” ganharam o
apoio de Dom Pedro, que por sua vez perseguiu os federalistas, assim, com sua abdicação em
1831, houve uma reviravolta política especialmente em Pernambuco, em que os federalistas,
agora divididos entre exaltados e chimangos, lutavam contra os restauradores (grupo que
defendia a volta de Dom Pedro I).
O periódico a Bússola da Liberdade que será usado como fonte documental principal
para produção desse ensaio, pode ser colocado como o “porta voz” dos liberais exaltados em
Pernambuco, cabe ressaltar que esses, se distinguia dos chimangos que também defendiam
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Ensaio produzido como requisito básico para obtenção de nota parcial na disciplina de Brasil monárquico
ministrada pela professora Cristiane Maria Marcelo.
princípios federalistas, pois os primeiros eram defensores da República e se alto intitulavam
“os patriotas”. Considerando a importância da imagem para a circulação de ideias, os
redatores do periódico a Bussola da liberdade, colocaram como marca da primeira folha do
jornal a imagem de uma coluna partida em alusão à queda de Dom Pedro I, além de uma
corrente com as algemas abertas e uma bússola cuja agulha aponta para símbolos da
revolução francesa – um maço de lanças coroado por um boné frígio. Portanto, essas imagens
foram elaboradas para melhor caracterizar a ideologia dos periódicos e reforçar as críticas a
um governo acusado de ser despótico e antinacionalista.
Portanto, a proposta central desse breve ensaio procura discutir os embates acirrados
entre os grupos políticos de Pernambuco, bem como a tentativa de traduzir a partir da leitura
das manifestações de João Barbosa Cordeiro um dos líderes dos exaltados, como estava
representado o projeto político desse grupo. Sendo assim, serão evitadas afirmações e
conclusões que não puderem ser fundamentadas a partir da documentação analisada. A
metodologia adotada foi às análises dos documentos citados acima, fundamentando-se em
autores estudiosos do tema como: Marcello Basile, Marcus Carvalho e Manoel Nunes
Cavalcanti Júnior.
[...] julgo do meu dever romper o silencio, e escrever contra os factos do meu
supposto heroe de 24, e de sua actual e despresivel facção. Desculpe-me o Grande
Mestre da Confederação do Equador, por cuja causa suffri 3 annos e meio de
rigorosa prisão, e outros tantos de assustada fuga por evitar uma sentença de longo
degredo, que tive por haver sido seu partidista, desculpe-me, digo, que eu me
envergonhe dessa loucura, e que hoje faça ver ao publico que ainda sou o mesmo, e
que velhaco de fabrica coberta tem sido elle, por haver illudido a tantos
Pernambucanos sinceros. A minha reputação atacada por seus vis aduladores não me
dispensa de assim o fazer. (CORDEIRO, 1835, p. 1).
Segundo Marcus Carvalho (2009) a abdicação de dom Pedro I possibilitou a volta dos
“liberais pernambucanos” ao jogo político, entre estes, nomes importantes como Manuel
Carvalho Paes de Andrade, presidente da confederação do equador, todavia, esse entusiasmo,
foi acompanhado de grandes insatisfações e ameaças de levantes por parte dos oficiais, neste
ponto, o autor destaca a dificuldade de Francisco de Carvalho Paes de Andrade de controlar o
exército, milícias províncias e mesmo os caudilhos do interior. Ficou cada vez mais claro para
o governo provincial, que os desdobramentos políticos resultantes da abdicação de dom Pedro
poderiam tomar caminhos imprescindíveis.
Fazia parte do projeto dos liberais exaltados o ideal republicano e a defesa do direito
“maior” do homem (a liberdade). Barbosa cordeiro, argumenta sobre Manuel Carvalho, “o
que espanta é que esse homem, logo que teve occasião de governar seguro em Pernambuco, se
portasse por um modo tão insólito, e offensivo à liberdade” e continua “[...] a maioria dos
liberais de bom senso, queria, e esperava que elle governasse constitucionalmente [...] para
que não fosse prea dos chimangos do rio de janeiro”, neste último trecho da fala de Barbosa
Cordeiro, percebe-se portanto a insatisfação deste com a ligação de Manuel Carvalho Paes de
Andrade com o governo central, que na época pertencia a Diogo Antônio Feijó, um dos
principais nomes dos moderados.
Segundo Marcus Carvalho e Marcello Basile (2009), fazia parte Também do projeto
dos liberais exaltados, a extensão da cidadania política e civil a todos os segmentos da
sociedade, o fim gradual da escravidão, a liberdade de imprensa, o federalismo de preferência
republicano. Todos esses aspectos ficaram evidenciados na fala de Barbosa Cordeiro no
periódico A Bússola da Liberdade, em sua defesa dos “cidadãos” pernambucanos contra o Sr.
Manuel Carvalho que “[...] faz crua guerra à liberdade, apunhalando mortalmente esta
constituição, como se mostra servo humilhissimo de um governo sem comparação peior que o
de pedro I”. Barbosa Cordeiro afirma que o governo regencial era “peior” que Dom Pedro I.
Seria nesta lógica possível afirmar que entre alguns exaltados o retorno do antigo imperador
era melhor do que do que a permanência dos moderados no poder? Ao levantar essa
possibilidade, torna-se possível defender a ideia de que os exaltados de Pernambuco estariam
mais inclinados a construírem alianças com os restauradores do que com os moderados do
governo provincial e central?
João Barbosa Cordeiro continua os ataques ao governo provincial, “em defesa dos
cidadãos pernambucanos”, ele argumenta sobre o governo de Manuel Carvalho, “só consiste
em defender sua pessoa, e vingar-se de seus inimigos; não todos, que é impossível, mas dos
fracos, para ver si açoitando os macacos, espanta os tigres”, essa fala pode ser interpretada
como símbolo da repressão de Manuel Carvalho as revoltas da Cabanada e Carneirada, sendo
que em ambas participaram índios, posseiros, quilombos, pequenos comerciantes etc. Barbosa
cordeiro prossegue as acusações, “prende-se sem ser flagrante, [...] tomão-se depoimentos
sem assistência das partes accusadas; [...] nega-se liberdade a cidadãos absolvidos em juízo;
[...] recrutão se empregados públicos para marinha; [...]”. Vale lembrar que essas
perseguições, contribuíram para um acirramento cada vez mais evidente entre os diferentes
grupos políticos na província de Pernambuco, que veio corroborar o declínio do poder
moderado e o emergir do movimento regressista como aponta Marcus Carvalho.
Em suma, coube a Manuel Carvalho Paes de Andrade, reprimir a Carneirada para que
não recaíssem sobre ele as mesmas críticas feita a Antônio Feijó, de que não conseguia
manter a ordem, por não ser capaz de conter seus aliados mais radicais, no caso de Carvalho
eram os irmãos Francisco e Antônio Carneiro, antigos aliados, insatisfeitos com o governo
moderado. Em nota João Barbosa Cordeiro contesta as expressões “anarchia” e “ordem”
usadas por Carvalho. Ele diz: “A palavra anarchia de que os chimangos, uzão introduzida em
língua vulgar quer dizer liberdade: é a esta que o Heroe de 24 pertende impor silencio por
meio de sua tão amestrada tropa” (CORDEIRO, JOÃO, p. 9). Do mesmo modo o que
Carvalho chama de restabelecer a ordem, Barbosa Cordeiro afirma ser a extinção dos liberaes.
Portanto, uma reflexão acerca do sentido semântico dos conceitos, ajuda-nos a pensar as
diferenças nos projetos políticos dos moderados e exaltados.
Em 1808 as tipografias são liberadas no Brasil com a vinda da família real para o
Brasil. Em 1822 Dom Pedro I torna-se imperador, mostrando-se excessivamente autoritário,
entrando em conflitos constantes com os liberais, em 1824 dissolve a assembleia constituinte
e outorga a primeira constituição do Brasil, o que provoca a revolta conhecida como
confederação do equador, com sua abdicação em 1831 a imprensa liberal, buscou reforçar
uma imagem negativa do antigo imperador, entre esses periódicos encontra-se a Bússola da
liberdade que traz na primeira folha: uma corrente com as algemas abertas e uma bússola cuja
agulha aponta para símbolos da Revolução Francesa – um maço de lanças coroado por um
boné frígio.
6-CONCLUSÃO
7-REFERÊNCIAS
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
SILVA, Luiz Geraldo Santos Da. FELDMAN, Ariel. Revisitando o Passado em tempos de
crise: Federalismo e memória no período regencial (1831-1840). TOPOI, v. 11, n. 21, jul.
–dez. 2010, p. 143-163. Disponivel em > https://brasilindependente. Weebly.com/uploads.
Acesso em < 08 de julho de 2019.