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Ilton Santana
2
INTRODUÇÃO
A lista oficial dos livros sagrados chama-se
“cânon” (kanon), uma palavra latina que, no grego,
significa “cana”. Com o tempo passou a significar
“regra” ou “padrão”. Quando falamos de cânon das
Escrituras referimo-nos à lista de livros aceitos pela
Igreja em geral como livros que foram escritos sob
a inspiração divina, os quais, por si mesmo, são
usados como regra de fé e da experiência prática da
religião cristã. Logo, um “livro canônico” é um
livro inspirado e útil para ser regra de fé e padrão
de vida para os fiéis1 (2Tm 3.16).
O cânon do Antigo Testamento foi fixado
pelos doutores da Sinagoga nos fins do séc. I d.C.
constando de 39 livros. A este cânon juntou-se mais
tarde o cânon do Novo Testamento que já era
reconhecido com tendo 27 livros no terceiro século.
Assim, as Sagradas Escrituras compunham de 66
livros.
Mas, mil e quatrocentos anos depois da
fixação do cânon do Antigo Testamento em 39
livros, no Concílio de Trento em 1546, a Igreja
Católica inseriu sete (7) outros livros no Antigo
Testamento. Esses livros nunca foram aceitos pela
comunidade judaica, mas já eram usados por vários
grupos católicos. Esse Concílio foi uma reação da
1
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo
por versículo. Editora Hagnos, 1998, p. 158
3
2
Igreja Católica à Reforma Protestante, e ficou
conhecida como Contra-Reforma.
Os sete livros apócrifos que foram inseridos
na Bíblia usada pelos católicos são: Tobias, Judite,
1º e 2º Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc.
2
A Reforma Religiosa foi iniciada com o monge Martinho
Lutero em 31 de Outubro de 1517.
3
Bíblia Sagrada. Tradução da Vulgata pelo Pe. Matos Soares.
Edições Paulinas. São Paulo, 1989, p. 8
4
Tobias
A história contida no livro de Tobias se dá
depois do ano 722 a.C. quando o Reino de Israel foi
levado para o cativeiro pelo Império Assírio
governado pelo rei Salmaneser V, que foi sucedido
por Sargão II (II Re 17:3-6).
Neste livro dá-se grande importância à
caridade, especialmente ao ato de dar esmolas (Tb
1:20; 2:16; 4:7-12; 12:8-9). A prova definitiva
contra a inspiração deste livro é exatamente a
afirmação de que uma pessoa alcança o perdão dos
pecados e a vida eterna dando esmolas: “porque a
esmola livra de todo o pecado e da morte e não
deixará cair a alma em trevas” (Tb 4:11). No final
do livro, quando o arcanjo Rafael revela sua
identidade para Tobias e seu filho, é o próprio anjo
de Deus que declara: “a esmola livra da morte, é a
que apaga os pecados e faz encontrar a
misericórdia e a vida eterna” (Tb 12:9).
8
Ibdem, p. 520
9
Ibdem, p. 914
6
Judite
O livro narra a história de uma mulher que
livra a sua cidade da destruição após seduzir e
degolar o general inimigo. O livro é complicado de
compreender porque suas informações geográficas
e históricas não têm nenhum respaldo de
veracidade, por exemplo: o livro trata de
Nabucodonozor como rei dos assírios, de Arfaxad
como rei dos medos e da cidade de Betúlia. Mas,
Nabucodonozor nunca foi rei dos assírios, os
medos nunca tiveram um rei como o nome de
Arfaxad e a cidade de Betúlia, descrita como uma
cidade murada e inexpugnável edificada sobre os
montes (Jt 7.7,9), não é mencionada na Bíblia e em
nenhum outro documento.
O grande valor do livro de Judite para os
católicos é a sua associação com Maria, mãe de
Jesus; para a Igreja Católica, Judite prefigura
Maria. 11
Ao longo de todo o livro Judite é elogiada
três vezes por não ter se casado novamente após a
morte do seu marido (8.4; 15.11 e 16.26) e também
10
LAHAYE, Tim e Beverly. O ato conjugal: orientação
sexual equilibrada clara e sem rodeios. 8a ed. Editora
Betânia. 1989
11
Ibdem, p. 504 – nota em 13:22
8
1Macabeus
Não se sabe quem foi o autor deste livro que
é puramente histórico e trata da libertação da nação
judaica do domínio dos selêucidas. O texto católico
sugere que o livro foi escrito no tempo de João
Hircano (134-103 a.C) e seus acontecimentos
cobrem um período de 41 anos (175-135 a.C.),
começando com o início do reinado de Antíoco IV
Epifânio, que duramente oprimiu os judeus, até a
morte de Simão, chefe do novo estado judeu.
A Igreja Católica justifica a inserção de I
Macabeus no seu cânon “pelas suas eminentes
9
12
Ibdem, p. 520
13
As duas famílias sacerdotais eram a de Zadoque e a de
Abiatar (II Sm 20:25; I Re 4:4), mas com a expulsão de
Abiatar (I Re 2:26), Zadoque deu origem à única linhagem
sacerdotal.
10
2Macabeus
Este livro é na verdade um resumo feito por
um escritor desconhecido de cinco livros escritos
por um (incerto) Jasão de Cirene (2Mc 2:24). Essa
notícia já atesta seguramente a não inspiração deste
livro.
Para a Igreja Católica, apenas o resumo é
inspirado, mas não a obra de Jasão. Nota-se ai algo
incompreensível, como um texto não inspirado
pode dá origem a um texto inspirado? Se o que
Jasão de Cirene escreveu não foi soprado por
Deus, nada pode dá ao seu resumo o caráter de
sagrado. 14
14
Inspirado significa “soprado”. Logo, um texto inspirado por
Deus é um texto soprado por Deus.
11
15
A crença na oração pelos mortos implica necessariamente
na crença do purgatório. Pois, se não houvesse purgatório
seria inútil orar pelos mortos: no paraíso não há necessidade,
no inferno não há redenção (Bíblia Católica acima citada.
Nota de rodapé, p. 572).
13
Sabedoria
Não se sabe quem é o autor deste livro,
sugere-se que era um judeu mestre da escola
judaica de Alexandria, no Egito, durante a dinastia
grega dos Ptolomeus entre os anos de 100 e 50 a.C;
ou seja, dentro do período interbíblico.
Este livro é semelhante no seu formato aos
livros de Provérbios e Eclesiastes.
Uma evidência fortíssima, embora não
definitiva, contra a inspiração deste livro é o fato
de, provavelmente, ele ser um pseudo-epígrafo; isto
é, o autor do livro se faz passar por um outro
personagem famoso para que seu livro seja aceito
por todos, é o que hoje chamaríamos de falsidade
ideológica.
Nos capítulos 7, 8 e 9 o autor do livro se
apresenta e fala como sendo o rei Salomão, rei de
Israel e filho de Davi (Sb 9:7-8); tanto é que nos
códices gregos este livro tem o título de Sabedoria
de Salomão. 16 A Bíblia Católica reconhece a
esperteza do autor, mas mesmo assim afirma a
inspiração divina do livro.
Atesta também contra a inspiração deste
livro a afirmação do pretenso autor que ele (ou
Salomão) nasceu naturalmente bom, recebeu por
sorte uma boa alma e um corpo incontaminado (Sb
8:19-20). Nada mais contrário ao ensino bíblico de
que todos, sem exceção, nascem pecadores (Sl
51:5; Rm 3:23 e 5:12).
16
Ibdem, p. 725
14
Eclesiástico
Este livro segue o modelo dos livros
sapienciais, 17 especialmente, Provérbios e
Eclesiastes. Foi escrito por Jesus, filho de Sirac,
natural de Jerusalém (50:29), aproximadamente
entre os anos de 200 e 180 a.C.
Escrito originalmente em hebraico, o livro
foi tirado do esquecimento e traduzido para o grego
no final do século II a.C. pelo neto do próprio
autor. E é o neto do autor que, no prólogo do livro,
nos dá a primeira evidência clara de que este livro
não é inspirado. O neto do autor expõe a razão pela
qual o seu avô escreveu este livro:
“meu avô, depois de se ter aplicado com grande
cuidado à leitura da lei, dos profetas e dos outros
livros que nossos pais nos legaram, quis também
escrever alguma coisa acerca da doutrina e da
sabedoria, a fim de que aqueles que desejam
aprender, tendo-se instruído por meio deste livro,
façam reflexões cada vez mais sérias, e se conservem
constantes em viver segundo a lei”.18
Portanto, Eclesiástico é simplesmente um
fruto da vontade de Jesus, filho de Sirac, de
escrever “alguma coisa acerca da doutrina e da
sabedoria”. É, no máximo, uma reflexão a partir
das Escrituras Sagradas. Nesse sentido, pode ser
um livro valioso, mas não inspirado.
17
Sapiência significa sabedoria, livros sapienciais são livros
de sabedoria, de instrução.
18
Prólogo do livro de Eclesiástico
15
Baruc
O Baruc, autor deste livro, pretende ser o
Baruque que foi escrivão de Jeremias. O secretário
de Jeremias é apresentado como filho de Nerias,
que é filho de Maaséias (Jr 32:12; 36:4; 36:32 e
45); o Baruc, autor deste livro, é apresentado como
filho de Maasias,19 que é filho de Sedecias, que é
filho de Helcias (Bc 1:1).
O livro foi escrito, talvez, no ano de 581 a.C
(Bc 1:2), cinco anos após a queda de Jerusalém; ou,
entre os anos de 582 e 540 a.C.
19
Maaséias e Maasias, podem ser o mesmo nome grafado de
maneira diferente.
18