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1

Os sete livros apócrifos na Bíblia Católica


Porque eles estão presentes na Bíblia usada
pelos católicos, mas não na Bíblia usada pelos
protestantes?

Ilton Santana
2

INTRODUÇÃO
A lista oficial dos livros sagrados chama-se
“cânon” (kanon), uma palavra latina que, no grego,
significa “cana”. Com o tempo passou a significar
“regra” ou “padrão”. Quando falamos de cânon das
Escrituras referimo-nos à lista de livros aceitos pela
Igreja em geral como livros que foram escritos sob
a inspiração divina, os quais, por si mesmo, são
usados como regra de fé e da experiência prática da
religião cristã. Logo, um “livro canônico” é um
livro inspirado e útil para ser regra de fé e padrão
de vida para os fiéis1 (2Tm 3.16).
O cânon do Antigo Testamento foi fixado
pelos doutores da Sinagoga nos fins do séc. I d.C.
constando de 39 livros. A este cânon juntou-se mais
tarde o cânon do Novo Testamento que já era
reconhecido com tendo 27 livros no terceiro século.
Assim, as Sagradas Escrituras compunham de 66
livros.
Mas, mil e quatrocentos anos depois da
fixação do cânon do Antigo Testamento em 39
livros, no Concílio de Trento em 1546, a Igreja
Católica inseriu sete (7) outros livros no Antigo
Testamento. Esses livros nunca foram aceitos pela
comunidade judaica, mas já eram usados por vários
grupos católicos. Esse Concílio foi uma reação da

1
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo
por versículo. Editora Hagnos, 1998, p. 158
3

2
Igreja Católica à Reforma Protestante, e ficou
conhecida como Contra-Reforma.
Os sete livros apócrifos que foram inseridos
na Bíblia usada pelos católicos são: Tobias, Judite,
1º e 2º Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc.

OS APÓCRIFOS (OU DEUTEROCANÔNICOS)


Para a Igreja Católica Apostólica Romana
esses livros são denominados como
“deuterocanônicos” (canônicos de segunda época)
ou como “livros controversos” (antilogúmenos),
isto é, livros não admitidos por todos. No entanto,
para grande parte da Igreja Católica, essas
denominações não sugerem que esses livros não
sejam inspirados, mas reflete a discordância que
houve dentro da igreja católica quanto à inserção
desses livros no cânon católico. Líderes católicos
como Melitão de Sardes, Sto. Atanásio de
Alexandria, S. Gregório de Nazianzo, Sto. Hilário
de Poitiers, Rufino de Aquiléia e principalmente S.
Jerônimo, não admitiam esses sete livros como
inspirados.3
A Bíblia Católica, traduzida pelo Pe. Matos
Soares, exalta de maneira especial esses livros.
Declara que TOBIAS é semelhante ao livro de
Rute, mas o supera “pela variedade e

2
A Reforma Religiosa foi iniciada com o monge Martinho
Lutero em 31 de Outubro de 1517.
3
Bíblia Sagrada. Tradução da Vulgata pelo Pe. Matos Soares.
Edições Paulinas. São Paulo, 1989, p. 8
4

entrelaçamento de acontecimentos e pela riqueza


de ensinamentos morais”. 4
Em relação a JUDITE, escreve-se que “com
maior razão do que Rute ou Ester, a heróica
mulher que foi Judite empresta seu nome a este
livro sagrado”.5
O livro de SABEDORIA é elogiado como o
mais excelente entre todos os livros didáticos do
Antigo Testamento “porque canta mais
longamente e com acentos mais sublimes do que
qualquer outro o elogio da verdadeira sabedoria”.
6
Já o livro de ECLESIÁSTICO (Sabedoria de
Jesus, filho de Sirac), é honrado como “o mais
notável dos livros lidos nas igrejas para instrução
dos catecúmenos ou dos novos cristãos, é o mais
extenso e o mais rico de ensinamentos entre os
livros do Antigo Testamento”. 7
Ou seja, de acordo com os estudiosos
católicos: Tobias é um livro mais excelente que
Rute, Judite é uma mulher mais excelente que
Rute e Ester, Sabedoria é um livro mais excelente
que Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares;
e Eclesiástico é o mais excelente livro em todo o
Antigo Testamento no ensino da sabedoria. Será
isto um esforço para valorizar tais livros?
Acerca dos dois livros de MACABEUS e de
BARUC não há tais exageros. Macabeus teria sido
4
Ibdem, p. 482
5
Ibdem, p. 493
6
Ibdem, p. 725
7
Ibdem, p. 744
5

aceito como canônico pelas suas “eminentes


qualidades histórias, literárias e religiosas”, 8 e
Baruc porque, segundo o texto católico, este livro
já era aceito pelos judeus da diáspora que o
anexavam ao livro do profeta Jeremias. 9 Vamos
observar, resumidamente, o conteúdo destes livros.

Tobias
A história contida no livro de Tobias se dá
depois do ano 722 a.C. quando o Reino de Israel foi
levado para o cativeiro pelo Império Assírio
governado pelo rei Salmaneser V, que foi sucedido
por Sargão II (II Re 17:3-6).
Neste livro dá-se grande importância à
caridade, especialmente ao ato de dar esmolas (Tb
1:20; 2:16; 4:7-12; 12:8-9). A prova definitiva
contra a inspiração deste livro é exatamente a
afirmação de que uma pessoa alcança o perdão dos
pecados e a vida eterna dando esmolas: “porque a
esmola livra de todo o pecado e da morte e não
deixará cair a alma em trevas” (Tb 4:11). No final
do livro, quando o arcanjo Rafael revela sua
identidade para Tobias e seu filho, é o próprio anjo
de Deus que declara: “a esmola livra da morte, é a
que apaga os pecados e faz encontrar a
misericórdia e a vida eterna” (Tb 12:9).

8
Ibdem, p. 520
9
Ibdem, p. 914
6

Ensinar que o perdão de pecados e a


salvação são alcançados mediante esmolas é
antibíblico e herético. Equivale a desprezar o
sacrifício de Jesus na cruz e anula a graça de Deus
(Ef 2:8-9; Jo 3:16; I Jo 1:9).
O livro também sugere que o ato sexual é
pecaminoso, ou pelo menos negativo, mesmo entre
marido e mulher. Em 4:13 o pai aconselha o filho:
“preservar-te, meu filho, de toda a fornicação, e,
fora de tua mulher, nunca consintas em conhecer o
crime”. Ou seja, mesmo entre marido e mulher, o
sexo é tratado como crime. Em 6.22, o arcanjo
Rafael, que serve de guia ao Tobias filho nunca
viagem e o aconselha a casar-se, orienta o rapaz:
“tomarás a donzela no temor do Senhor, levado
mais pelo desejo de ter filhos, do que por
sensualidade...”. Em 8.9, na noite de núpcias,
Tobias ora ao Senhor: “tu sabes, Senhor, que não é
por motivo de paixão que eu tomo esta minha irmã
por esposa, mas só pelo desejo de ter filhos”. [grifo
meu]
O ensino de que o ato sexual e,
especialmente, o prazer sexual é negativo não
encontra nenhum respaldo na Palavra de Deus.
Afinal, o apóstolo Paulo declara claramente que
nem o marido nem a esposa podem negar a
satisfazerem os desejos sexuais um do outro (1Co
7.5). Declara também que casais não-casados não
devem se abrasar em sua paixão ou sensualidade,
mas se não conseguirem dominar-se, devem casar
(1Co 7.9), ou seja, é no casamento que a paixão, a
sensualidade e o desejo devem ser manifestos
7

livremente. Além do mais, Deus criou no corpo da


mulher o clitóris, um órgão destinado
exclusivamente ao prazer sexual. 10

Judite
O livro narra a história de uma mulher que
livra a sua cidade da destruição após seduzir e
degolar o general inimigo. O livro é complicado de
compreender porque suas informações geográficas
e históricas não têm nenhum respaldo de
veracidade, por exemplo: o livro trata de
Nabucodonozor como rei dos assírios, de Arfaxad
como rei dos medos e da cidade de Betúlia. Mas,
Nabucodonozor nunca foi rei dos assírios, os
medos nunca tiveram um rei como o nome de
Arfaxad e a cidade de Betúlia, descrita como uma
cidade murada e inexpugnável edificada sobre os
montes (Jt 7.7,9), não é mencionada na Bíblia e em
nenhum outro documento.
O grande valor do livro de Judite para os
católicos é a sua associação com Maria, mãe de
Jesus; para a Igreja Católica, Judite prefigura
Maria. 11
Ao longo de todo o livro Judite é elogiada
três vezes por não ter se casado novamente após a
morte do seu marido (8.4; 15.11 e 16.26) e também
10
LAHAYE, Tim e Beverly. O ato conjugal: orientação
sexual equilibrada clara e sem rodeios. 8a ed. Editora
Betânia. 1989
11
Ibdem, p. 504 – nota em 13:22
8

pelo seu modo de vida ascético (8.5-6), onde Judite


aparece usando silício, uma forma de penitência
proibida pelas Escrituras Sagradas em Levítico
19.28.
Uma evidência contra a inspiração do livro
de Judite é a adoração que ela recebe de Aquior.
Em 13.30 o texto diz que Aquior “lançou-se aos
seus pés, adorou-a e disse: Tu és bendita do teu
Senhor”. No outro lugar da Bíblia onde aparece um
servo de Deus sendo adorado, este, ao contrário de
Judite, rejeitou duramente essa adoração indevida:
“prostei-me aos pés do anjo para adorá-lo, porém
ele me disse: Vê, não faças tal, porque eu sou servo
como tu, como teus irmãos os profetas e como
aqueles que guardam as palavras da profecia deste
livro. Adora a Deus” (Ap 22.8-9).

1Macabeus
Não se sabe quem foi o autor deste livro que
é puramente histórico e trata da libertação da nação
judaica do domínio dos selêucidas. O texto católico
sugere que o livro foi escrito no tempo de João
Hircano (134-103 a.C) e seus acontecimentos
cobrem um período de 41 anos (175-135 a.C.),
começando com o início do reinado de Antíoco IV
Epifânio, que duramente oprimiu os judeus, até a
morte de Simão, chefe do novo estado judeu.
A Igreja Católica justifica a inserção de I
Macabeus no seu cânon “pelas suas eminentes
9

qualidades históricas, literárias e religiosas”. 12 No


entanto, não há nada no texto que sequer sugira sua
inspiração divina, ao contrário:
1. Comparado com outros livros históricos como
Juízes, 1º e 2º Reis, 1º e 2º Crônicas, nota-se o
quanto 1Macabeus está distante de ser um livro
inspirado. Em Juízes, homens são
comissionados diretamente por Deus (Jz 3.15) e
Deus repreende o povo pelos seus pecados (Jz
2.1); em 1º e 2º Reis, Deus fala e repreende
(1Re 9 e 11.11) e há o ministério de profetas de
Deus como Aias (1Re 11.29) Elias e Eliseu
(2Re 2.9). Nada disso se encontra em
1Macabeus que, pelo seu formato, só poderia
ser comparado ao livro de Ester.
2. 1Macabeus, sendo caracterizado por um fervor
religioso incorre em grave contradição por não
dirigir nenhuma palavra contra o fato de
Jônatas e, depois dele, Simão, apossarem do
sacerdócio declarando-se sumo sacerdotes
(1Mc 10.21,69 e 13.36) apesar de não
pertencerem à linguagem de Zadoque, que era a
única autorizada para exercer o sacerdócio. 13
3. A falta de inspiração divina sobre o autor é
também atestada pelo próprio autor que
reconhece que nessa época não havia nenhum

12
Ibdem, p. 520
13
As duas famílias sacerdotais eram a de Zadoque e a de
Abiatar (II Sm 20:25; I Re 4:4), mas com a expulsão de
Abiatar (I Re 2:26), Zadoque deu origem à única linhagem
sacerdotal.
10

profeta de Deus (1Mc 4.46 e 14.41), ou seja,


não havia nenhum homem que falava inspirado
por Deus. Isso concorda com o ensino de que
João Batista foi o primeiro homem a falar
inspirado por Deus após o profeta Malaquias. E
é exatamente nesse período de silêncio que se
dá a história de Macabeus.
No entanto, não há nenhum fato específico
para se afirmar a não inspiração de 1Macabeus
além do fato desse livro não estar entre os
canônicos por não ter sido reconhecido assim pela
Igreja Primitiva.

2Macabeus
Este livro é na verdade um resumo feito por
um escritor desconhecido de cinco livros escritos
por um (incerto) Jasão de Cirene (2Mc 2:24). Essa
notícia já atesta seguramente a não inspiração deste
livro.
Para a Igreja Católica, apenas o resumo é
inspirado, mas não a obra de Jasão. Nota-se ai algo
incompreensível, como um texto não inspirado
pode dá origem a um texto inspirado? Se o que
Jasão de Cirene escreveu não foi soprado por
Deus, nada pode dá ao seu resumo o caráter de
sagrado. 14

14
Inspirado significa “soprado”. Logo, um texto inspirado por
Deus é um texto soprado por Deus.
11

2Macabeus é de conteúdo desprezível até


mesmo se for comparado com 1Macabeus. O
próprio autor do resumo declara que escreveu esta
história com o intuito de “dar agrado aos que a
queiram ler”, procurando “satisfazer o gosto de
outros” para “obter a gratidão de muitos” (2Mc
2.26-28). No final de sua obra, ele considera: “[se
este texto] é vulgar e medíocre, não pude fazer
melhor” (2Mc 15.39), além de declarar que se
esforçou para “encantar os ouvidos do leitor”
(2Mc 15.40). De modo algum tal escritor faria
essas observações caso considerasse estar falando
inspirado por Deus.
O livro também se detém em dois fatos
extremamente improváveis e certamente
fantasiosos. A “renovação do fogo sagrado” (1.18-
34) e a ordem de Deus para o profeta Jeremias
esconder o tabernáculo, a arca e o altar dos
perfumes numa caverna misteriosa localizada no
monte Horebe (2.1-8).
Aparições sobrenaturais é também um
recurso do autor para “encantar os ouvidos do
leitor” (15.40); elas são em grande número: Deus
aparece em grande poder para castigar um homem
que queria profanar o templo (3.24), esse mesmo
homem é açoitado por dois anjos resplandecentes
(3.26) depois de ser derrubado por um cavalo
celestial montado por um homem terrível (3.25).
Por um período de quarenta dias “se viram homens
a cavalo, correndo pelo ar, vestidos de ouro e
armados de lança, à semelhança de coortes,
cavalos ordenados em esquadrões, ataques e
12

cargas dum e doutro lado, movimentos de escudos,


grande multidão de lanças, espadas nuas, tiros de
dardos, resplendor de armaduras de ouro e de
couraça de todo o gênero”, tudo isso aparece por
quarenta dias no céu de Jerusalém (5:2). Numa
batalha dos judeus aparece no céu “cinco homens
resplandecentes, sobre cavalos adornados de freios
de ouro” que “lançavam dardos e raios contra os
inimigos” (10:29). Pouco antes de outra batalha
“apareceu, ainda perto de Jerusalém, um homem a
cavalo, que ia adiante deles, vestido de hábitos
brancos, com armas de ouro, brandindo uma
lança” (11:8).
No entanto, prova definitiva contra a
inspiração deste livro é a sua defesa da oração
pelos mortos e, conseqüentemente, do purgatório.15
De acordo com o texto (12:41-46), depois de
descobrir que vários judeus mortos estavam
adorando aos ídolos, Judas Macabeu “ofereceu um
sacrifício expiatório pelos defuntos, para que
fossem livres dos seus pecados” (12:46). O autor
aprova a ação de Judas e declara: “Santo e salutar
pensamento este de orar pelos mortos” (12:46). A
Bíblia afirma a inutilidade das orações pelos
mortos e a inexistência do purgatório (Lc 16:19-26;
Hb 9:27).

15
A crença na oração pelos mortos implica necessariamente
na crença do purgatório. Pois, se não houvesse purgatório
seria inútil orar pelos mortos: no paraíso não há necessidade,
no inferno não há redenção (Bíblia Católica acima citada.
Nota de rodapé, p. 572).
13

Sabedoria
Não se sabe quem é o autor deste livro,
sugere-se que era um judeu mestre da escola
judaica de Alexandria, no Egito, durante a dinastia
grega dos Ptolomeus entre os anos de 100 e 50 a.C;
ou seja, dentro do período interbíblico.
Este livro é semelhante no seu formato aos
livros de Provérbios e Eclesiastes.
Uma evidência fortíssima, embora não
definitiva, contra a inspiração deste livro é o fato
de, provavelmente, ele ser um pseudo-epígrafo; isto
é, o autor do livro se faz passar por um outro
personagem famoso para que seu livro seja aceito
por todos, é o que hoje chamaríamos de falsidade
ideológica.
Nos capítulos 7, 8 e 9 o autor do livro se
apresenta e fala como sendo o rei Salomão, rei de
Israel e filho de Davi (Sb 9:7-8); tanto é que nos
códices gregos este livro tem o título de Sabedoria
de Salomão. 16 A Bíblia Católica reconhece a
esperteza do autor, mas mesmo assim afirma a
inspiração divina do livro.
Atesta também contra a inspiração deste
livro a afirmação do pretenso autor que ele (ou
Salomão) nasceu naturalmente bom, recebeu por
sorte uma boa alma e um corpo incontaminado (Sb
8:19-20). Nada mais contrário ao ensino bíblico de
que todos, sem exceção, nascem pecadores (Sl
51:5; Rm 3:23 e 5:12).
16
Ibdem, p. 725
14

Eclesiástico
Este livro segue o modelo dos livros
sapienciais, 17 especialmente, Provérbios e
Eclesiastes. Foi escrito por Jesus, filho de Sirac,
natural de Jerusalém (50:29), aproximadamente
entre os anos de 200 e 180 a.C.
Escrito originalmente em hebraico, o livro
foi tirado do esquecimento e traduzido para o grego
no final do século II a.C. pelo neto do próprio
autor. E é o neto do autor que, no prólogo do livro,
nos dá a primeira evidência clara de que este livro
não é inspirado. O neto do autor expõe a razão pela
qual o seu avô escreveu este livro:
“meu avô, depois de se ter aplicado com grande
cuidado à leitura da lei, dos profetas e dos outros
livros que nossos pais nos legaram, quis também
escrever alguma coisa acerca da doutrina e da
sabedoria, a fim de que aqueles que desejam
aprender, tendo-se instruído por meio deste livro,
façam reflexões cada vez mais sérias, e se conservem
constantes em viver segundo a lei”.18
Portanto, Eclesiástico é simplesmente um
fruto da vontade de Jesus, filho de Sirac, de
escrever “alguma coisa acerca da doutrina e da
sabedoria”. É, no máximo, uma reflexão a partir
das Escrituras Sagradas. Nesse sentido, pode ser
um livro valioso, mas não inspirado.
17
Sapiência significa sabedoria, livros sapienciais são livros
de sabedoria, de instrução.
18
Prólogo do livro de Eclesiástico
15

Se o livro é uma reflexão a partir das


Escrituras, o filho de Sirac não refletiu
corretamente: Em 4:6 ele afirma que qualquer
pessoa que amaldiçoar outra com amargura na sua
alma será ouvida por Deus. Errado! Porque
maldiçoes sem causa não se cumprem (Pv 26:2).
Em 7:37 o autor escreve que “a
beneficência é agradável a todos os vivos, e não
impeças que ela se estenda aos mortos”.
Beneficência aos mortos? Será que ele está
referindo-se às ofertas e orações em favor dos
mortos. Se assim for, novamente o filho de Sirac
incorre numa gritante heresia.
Como no livro Tobias, o autor de
Eclesiástico confere à esmola pode de salvar e
perdoar pecados: “a esmola do homem é diante de
Deus como um selo, e ele conserva a beneficência
do homem como a menina dos olhos” (17:18; ver
também: 18:22 e 29:15). Em 29:15, o autor declara
que a esmola “rogará por ti para te livrar de todo
o mal”.
Em vez da esmola, a Bíblia declara que é o
Espírito Santo que intercede por nós com gemidos
inexprimíveis (Rm 8:26), que é o próprio Cristo
Jesus que está assentado à direita de Deus e
também intercede por nós (Rm 8:34; I Jo 2:1).
Em 25:36, depois de discorrer longamente
acerca da mulher insubmissa, o autor determina
categoricamente aos maridos insatisfeitos:
“separa-a da tua pessoa, a fim de que não abuse
sempre de ti”. Tal conselho não encontra respaldo
16

em nenhum lugar das Escrituras, o divórcio jamais


é aconselhado, somente permitido em casos de
adultério (Mt 5:31-32; 19:8-9) ou em outras
situações extremas. Deus odeia o divórcio (Ml
2:16) e certamente abomina a determinação de que
os homens repudiem àquelas esposas que
comportam de maneira insubmissa.
Jesus, filho de Sirac, decididamente não
falou inspirado por Deus quando declarou que
“aquele que usa de misericórdia, empresta a juro
ao seu próximo” (29:1). O erro do autor é ainda
mais gritante porque no versículo seguinte ele
especifica: “empresta ao teu próximo [a juro] no
tempo da sua necessidade” (29:2). Tal pratica é
diretamente contrária à Lei de Deus que proíbe a
cobrança de juros entre o povo de Deus e,
especialmente, em face da necessidade do próximo:
“se teu irmão empobrecer... não receberás dele
juros nem ganho... não lhe darás teu dinheiro com
juros, nem lhe darás teu mantimento por causa do
lucro” (Lv 25:35-37; cf. também Dt 23:19; Sl
15:5).
Jesus, filho de Sirac, também aconselha os
pais a castigarem com freqüência os filhos (30:1), a
castigar com correias, tortura e ferros o escravo
preguiçoso (33:25-30) e a “açoitar o escravo
péssimo até que salte o sangue” (42:5). Diz
também que o homem não deve se envergonhar
“da sentença que absolve o ímpio” (42:2) e que “é
melhor a malvadez do homem que a bondade da
mulher” (42:14).
17

Finalmente, o livro de Eclesiástico dá como


verdadeiro o aparecimento de Samuel, após a sua
morte, diante do rei Saul (46:23); dando um voto
favorável à consulta aos mortos, aos médiuns e
adivinhos. Além do mais, Samuel não apareceu do
mundo dos mortos para Saul, a médiun diz ter visto
uma figura que Saul atribuiu a Samuel (I Sm 28:12-
14). Além disso, a Bíblia declara que os mortos não
podem voltar ao mundo dos vivos (Lc 16:27-31).
Será que tais argumentos são úteis para se
comprovar a não inspiração de Eclesiástico? Ao
que parece, Jesus, filho de Sirac, reescreveu vários
trechos das Sagradas Escrituras mesclando-os com
suas próprias idéias e doutrinas.

Baruc
O Baruc, autor deste livro, pretende ser o
Baruque que foi escrivão de Jeremias. O secretário
de Jeremias é apresentado como filho de Nerias,
que é filho de Maaséias (Jr 32:12; 36:4; 36:32 e
45); o Baruc, autor deste livro, é apresentado como
filho de Maasias,19 que é filho de Sedecias, que é
filho de Helcias (Bc 1:1).
O livro foi escrito, talvez, no ano de 581 a.C
(Bc 1:2), cinco anos após a queda de Jerusalém; ou,
entre os anos de 582 e 540 a.C.

19
Maaséias e Maasias, podem ser o mesmo nome grafado de
maneira diferente.
18

Se esse Baruc é o mesmo escrivão do


profeta Jeremias, sabe-se que ele foi levado à força
pelos judeus que restaram em Jerusalém,
juntamente com Jeremias, para o Egito (Jr 43:5-7).
A partir daí a teoria católica é que ele teria
retornado à Judéia e, então, ido à Babilônia para
consolar os exilados.20 E é na Babilônia que ele
escreve este livro.
O conteúdo do livro não apresenta sérios
problemas, consta basicamente de uma oração de
confissão (1:1 – 3:8); de um elogio da sabedoria
(3:9 – 4:4) semelhante à aqueles que encontramos
em Provérbios; de um anúncio da libertação do
cativeiro (4:5 – 5:9); e de uma carta atribuída ao
próprio profeta Jeremias exortando os exilados
contra os ídolos babilônicos (Bc 6). Mas, deve-se
notar que:
1. Baruc se apresenta neste livro como profeta
(4:30-5:9), mas não há nenhum vestígio de
dom profético nele durante o ministério de
Jeremias. Durante o ministério de Jeremias,
todas as palavras que Baruc escreve foram
ditadas por Jeremias (Jr 36:17-18, 32).
2. Em nenhum momento Baruc anuncia as
suas palavras como que mandadas por
Deus. Ele não fala da sua comissão
profética e nem dá nenhum sinal de que fala
inspirado por Deus. Todos os profetas, antes
e depois de Baruc, deram sinais claros que
falavam inspirados por Deus (ex.: Isaías
20
Ibdem, p. 914
19

6:8; Jeremias 1:4; Ezequiel 1:1; Daniel


2:19-23; Oséias 1:1; Joel 1:1; Amós 3:1;
Obadias 1:1; Jonas 1:1; Miquéias 1:1;
Naum 1:1,12; Habacuque 1:1; 2:2; Sofonias
1:1; Ageu 1:1; Zacarias 1:1; Malaquias 1:1).
3. Baruc relata que os exilados enviaram
dinheiro aos restantes que haviam ficado em
Jerusalém, para que o sacerdote Joaquim,
filho de Helcias, que era filho de Salon,
reiniciasse os sacrifícios no templo
destruído (Bc 1:6-10). Apesar disso não ser
impossível, é improvável; primeiro, porque
toda a classe sacerdotal, que fazia parte da
elite, estava no cativeiro (Jr 52:15-16), e era
inadmissível que qualquer um além do
sacerdote oferecesse sacrifícios sobre o altar
(II Cr 27:18). Em segundo lugar, não há
nenhum outro relato de adoração em
Jerusalém durante o cativeiro. Além disso, o
profeta Ezequiel, na Babilônia, profetizava
acerca das abominações de Jerusalém (Ez
16 e 22) e descreveu a glória do Senhor
abandonando o templo (Ez 10:18-22).
4. Outro problema está na afirmação de que
“Baruc recebeu os vasos do templo do
Senhor, que tinham sido levados do
templo, para os restituir à terra de Judá”
(Bc 1:8). O problema é que esses vasos
ainda estavam na Babilônia durante o
reinado de Belsazar (Dn 5:2-3) e só
voltaram a Jerusalém quando Ciro autorizou
o retorno dos judeus (Ed 1:7-11).
20

5. Outro problema é a carta de Jeremias no


último capítulo do livro. O estilo do autor
desta carta em nada se parece com o de
Jeremias e não há nenhuma evidencia que
corrobore com a autoria dele. Uma provável
indicação da não autoria de Jeremias está no
versículo 2: “tendo, pois, entrado em
Babilônia, estareis ali muitos anos e largo
tempo, até sete gerações; depois disto, vos
tirarei de lá em paz”. Quando Jeremias se
refere à duração do cativeiro babilônico, ele
recebe de Deus uma revelação exata:
setenta anos (Jr 25:11). Por que numa carta
posterior ele se referiria a este tempo de
uma maneira imprecisa (muitos anos)? Por
que Jeremias diria que o cativeiro duraria
sete gerações, sendo que se entende que o
tempo de uma geração é de 70 anos?
Conclusão
Os livros apócrifos, que a Igreja Católica
denomina de deuterocanônicos, podem ser lidos
como uma interessante e antiga literatura, mas não
como regra de fé. Não fazem parte do cânon
judaico e nem do evangélico porque não são livros
inspirados por Deus e, a prova disso é que, entram
em grande discordância com outros textos bíblicos.
Esses livros foram oficializados no cânon da
Igreja Católica por ocasião da Contra-Reforma no
Concílio de Trento em 1546, quando a Igreja
Católica lutava para recuperar o terreno perdido por
causa da Reforma Protestante liderada por Lutero.
21

Livros como Tobias, Eclesiástico e II Macabeus


dão fundamento para práticas católicas como “as
indulgências” e as orações pelos mortos; práticas
essas que foram vigorosamente atacadas por Lutero
como antibíblicas e heréticas.

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