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Mais exercícios, mais repetição e mais testes podem até resultar em uma nota
maior, mas não prepararão o aluno de forma integral e, muito menos, darão
conta de desenvolver todas as competências que ele necessita para
enfrentar os desafios do século 21. Enquanto o mundo abre espaço e cobra
que os jovens sejam protagonistas de seu próprio desenvolvimento e de suas
comunidades, o ensino tradicional ainda responde com modelos criados para
atender demandas antigas. A realidade é que o ser humano é definitivamente
complexo e, para desenvolvê-lo de maneira completa, é necessário
incorporar estratégias de aprendizagem mais flexíveis e abrangentes.
Uma das saídas para reconectar o indivíduo ao mundo onde vive passa pelo
desenvolvimento de competências socioemocionais. Nesse processo, tanto
crianças como adultos aprendem a colocar em prática as melhores atitudes e
habilidades para controlar emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia,
manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira responsável,
entre outros. Uma abordagem como essa pode ajudar, por exemplo, na
elaboração de práticas pedagógicas mais justas e eficazes, além de explicar
por que crianças de um mesmo meio social vão trilhar um caminho mais
positivo na vida, enquanto outras, não.
EVOLUÇÃO DO DEBATE
A partir dos anos 60, pesquisas de grande amostragem detectaram que cinco
fatores principais resumiam a variação existente. Os autores que mais
contribuíram ao modelo à época, considerados os “pais” da teoria, foram:
Lewis Goldberg, Robert R. McCrae e Paul T. Costa, Jerry Wiggins e Oliver
John.
IMPACTO
É quase um lugar comum dizer que o mundo atual é complexo demais para
caber no currículo das escolas, mas o importante, segundo o pesquisador belga
Filip de Fruyt, é entender “por que algumas pessoas conseguem lidar melhor
com essa complexidade do que outras”. Para dar conta dessa tarefa, as escolas
do século 21 precisam descobrir como inspirar seus alunos enquanto eles
aprendem. Com estudos orientados e projetos, é possi ́ v el ajudar os alunos a
conhecerem o que gostam de estudar, como preferem aprender, o que os faz
desistir, em que costumam errar, quais emo ç o ̃ e s os dominam quando
fracassam ou sa ̃ o provocados. Em especial, estimul á -los a descobrir quais sa ̃ o
seus sonhos e de que forma persistir em alcan ç á -los.
NA REDE ESCOLAR
CURRÍCULO
“O que surgiu claramente desse processo foi que o papel da escola não pode
se restringir apenas às competências acadêmicas, mas que tem toda uma gama
de habilidades sociais que precisam ser desenvolvidas. Entre elas, as
principais são: criatividade, espírito inovador e colaborativo, estar aberto a
novas ideias e lidar com desafios”, conta Adams.
Iniciar essa mudança pela consulta pública, explica a diretora, foi importante
para deixar claro os principais pontos a serem trabalhado s e para o
entendimento de que essas habilidades deveriam ser consideradas desde o
início da vida escolar até o último dia de aula, através de um trabalho
constante e de desenvolvimento crescente, sempre estimulando a evolução.
“Assim, quando os alunos deixarem a escola e entrarem, não apenas no
mercado de trabalho, mas na vida adulta, serão pessoas mais preparadas e
seguras”.
A diretora também ressalta que, com o passar dos anos, desde que o trabalho
foi iniciado, as escolas perceberam que alunos estão obt endo melhores
resultados acadêmicos nas disciplinas tradicionais. “Conforme melhoramos o
desenvolvimento das habilidades sociais nos alunos, o desempenho
acadêmico acompanha os resultados positivos. E a melhora do desempenho
estimula o desenvolvimento das habilidades sociais. É uma relação de
equilíbrio e de troca”, pondera Adams.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Foi diante desse cenário que o estado do Ceará começou a mudar a cara de
suas escolas. Em 2009, levou aos colégios a metodologia do programa
Com.Domínio Digital, realizado em parceria com o Instituto Aliança, que
oferecia aulas de tecnologia da informação no contraturno escolar. Dois anos
mais tarde, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc) percebeu a
necessidade de realizar uma maior integração desses conteúdos à grade
regular das escolas, após a Unesco divulgar um protótipo curricular que
defendia o protagonismo estudantil, a interdisciplinaridade, o ensino baseado
em projetos, a pesquisa e a abordagem de competências socioemocionais.
“A gente percebe que um fator crítico é a relação do profissional e da
instituição com o jovem, sua visão de mundo e seus anseios”
Por mais que precisasse de ajustes, esse novo desenho curricular não colocou
tudo abaixo. Em vez disso, buscou articular o ensino das áreas de
conhecimento com ciência, pesquisa e trabalho, entendidos como eixos
integradores. Em 2012, a entrada dessas novas práticas na sala de aula da rede
estadual foi noticiada pelo Porvir. Inicialmente, o projeto foi adotado por 12
escolas (oito em Fortaleza, duas na região metropolitana e duas no interior)
que já participavam do Com.Domínio Digital. “Elas nos relatavam o quanto a
metodologia do projeto fazia com que o estudante tivesse autoestima elevada,
perspectiva positiva sobre a família e seu projeto de vida. Por isso, decidimos
casar o Com.Domínio Digital e os protótipos [da Unesco] com o que a gente
tentava implantar nas escolas”, afirma
Nascia ali o que ficou conhecido como “Núcleo Trabalho, Pesquisa e Práticas
Sociais”. De acordo com Vasconcelos, a partir do momento em que o
estudante é desafiado por um projeto, ele consegue enxergar a totalidade do
que lhe é ensinado, ao contrário do que acontece quando se trabalham as
disciplinas de forma isolada. “Quando desenvolve um projeto de pesquisa, o
estudante pode aproveitar o que estudou em história, física e química. É
vivendo a experiência da busca que ele consegue aprender de forma
integrada”. Desde 2012, o programa mais que triplicou a quantidade de
envolvidos, que já somam 25,6 mil estudantes em 87 escolas.
AVALIAÇÃO
Resultados
Os resultados preliminares da aplicação do questionário indicam que jovens
com competências socioemocionais mais desenvolvidas tendem a ter melhor
desempenho escolar, e que é possível estimular essas competências com ações
promovidas por políticas públicas direcionadas para este fim. Ter em casa
mais de uma estante de livros, por exemplo, aumenta 40% a chance de uma
criança ser mais aberta a novas experiências, e alunos com essa característica
altamente desenvolvida tendem a conseguir um desempenho melhor em
português.
Os dados indicaram que filhos de mães menos escolarizadas são tão ou mais
conscienciosos que filhos de mães mais escolarizadas. Esse fato chama
atenção para o potencial da abordagem socioemocional para alavancar o
desempenho educacional dos alunos mais economicamente vulneráveis, uma
vez que pais com menor escolaridade e recursos econômicos não parecem
estar em desvantagem em relação aos pais mais favorecidos economicamente.
Para o economista Daniel Santos, agora é preciso amadurecer a for ma de usar
essas informações em políticas públicas. “O principal é que a individualidade
de cada aluno será respeitada, o intuito não é homogeneizar pessoas, e sim
desenvolver estratégias para tornar a educação mais eficaz”, disse.
“Importante lembrar que nesse tema não podemos definir qual competência é
bom ter em maior ou menor grau, é um conjunto de características que cada
pessoa tem em uma combinação diferente”
Próximos passos
Em conjunto com os consultores internacionais Oliver John e Filip de Fruyt,
a equipe responsável pelo sistema de avaliação atualmente analisa a validação
de novos itens para ampliar a abrangência dos resultados. A perspectiva é
aprimorar a ferramenta por meio da aplicação em outras redes de ensino.
A discussão sobre formar um ser humano completo também está presente nos
Estados Unidos, onde a rede de escolas charter (instituições públicas de
administração privada) KIPP (sigla em inglês para “Programa Conhecimento
é Poder”) aplica uma metodologia direci onada a impulsionar o desempenho
acadêmico de alunos de baixa renda e conduzi -los ao mundo universitário e a
uma vida feliz.
De acordo com dados da rede, 44% dos que se formaram em suas escolas de
ensino básico há pelo menos 10 anos concluíram o ensino sup erior, dado
acima da média americana e quatro vezes maior que o índice para estudantes
com mesmo nível socioeconômico. Com 58 mil alunos em 162 unidades
espalhados por 20 estados dos EUA, a KIPP é aberta a todos, não importando
antecedentes acadêmicos ou condição financeira. Só em Nova York, cujo
trabalho tem influenciado outras unidades do país a adotarem a mesma
estrutura para desenvolvimento de caráter, são cerca de 4.200 alunos (97%
deles negros ou hispânicos), divididos em 11 escolas.
“Crianças que vão mal sentem dificuldade em detectar o que fazem bem e
algumas estão justamente procurando por essas estratégias. Temos que ajudá -
las com isso”
O trabalho trouxe benefícios que vão além da sala de aula e, segundo Brenner,
entender a correlação entre os traços de pers onalidade permitiu ao grupo de
professores ter uma conversa mais rica com os estudantes. “É preciso ser o
mais específico possível com as crianças sobre comportamentos percebidos,
suas notas e anotações. As que vão mal sentem dificuldade em detectar o que
fazem bem e algumas estão justamente procurando por essas estratégias.
Temos que ajudá-las com isso”, explica.
Um dos métodos usados em sala de aula pela KIPP é encorajar alunos a pedir
ajuda. Quando isso ocorre, o professor é estimulado a adotar elogios p úblicos
para mostrar que se trata de um sinal de força, não de fraqueza. Para que a
harmonia se espalhe por todo o ambiente escolar, o reconhecimento de um
bom trabalho também acontece durante os chamados “micromomentos”,
pequenas interações que ocorrem centenas de vezes dentro e fora da sala de
aula, segundo diz Brenner. “Alguns são grandes, outros nem tanto, mas
quando vemos uma criança tratar uma outra com gentileza, queremos
reconhecer essa competência imediatamente. Quanto mais as crianças
viverem isso, mais será internalizado”. Para reforçar esse processo, as paredes
da escolas têm cartazes de incentivo e professores também passam uma caixa
com palavras de reconhecimento durante suas aulas e, dependendo do assunto
tratado, abre-se espaço para jogos de improviso e dramatização.
Na Infinity Middle School, outra unidade KIPP de Nova York para ensino
fundamental, antes mesmo da implantação do conteúdo de caráter, já ocorriam
os KIPP Circles, períodos de 20 a 30 minutos em que as turmas são divididas
em grupos e os alunos trocam ideias e ajudam uns aos outros a melhorar suas
atitudes e resultados acadêmicos. “Nos círculos, os alunos discutem o que
entenderam das minhas aulas e se estão aplicando o que aprenderam”, disse a
diretora da escola e professora Leyla Bravo-Willey, em entrevista recente ao
Porvir.
Além do trabalho dentro dos muros da escola, a KIPP busca se aproximar das
famílias para mostrar como as competências estão se desenvolvendo, mesmo
quando as notas parecem escondê-las. “Nas reuniões trimestrais eu digo que
me importo com as notas do 1º trimestre, mas me preocupo mais com as do
4º, porque estas mostram como o aluno cresceu e como enfrentou desafi os
durante um ano inteiro. Você pode mostrar às famílias quanta determinação o
aluno demonstrou e dizer que sabemos quem são seus filhos”, conclui
Brenner, da KIPP Academy Middle School.
POR PROJETOS
“No Núcleo, você é convidado a se abrir mais, a dizer coisas que o professor
de matemática ou de português não pergunta. Às vezes, são coisas que a gente
não consegue nem dizer em casa ou com os amigos”, descreve Maxwell Matos
da Silva, 17, aluno do terceiro ano. A autonomia conquistada em sala de aula,
segundo conta, conseguiu evitar com que ele e outros amigos que também
gostam de dançar break seguissem pelo “mau caminho”.
“No Núcleo, você é convidado a se abrir mais, a di zer coisas que o professor
de matemática ou de português não pergunta. Às vezes, são coisas que a gente
não consegue nem dizer em casa ou com os amigos”
Perto de concluir o ensino médio na João Mattos, Thainá Porto, 17, mais uma
integrante do grupo que criou o Festival de Talentos, conta que as aulas
funcionam como uma barreira para problemas que o aluno carrega de fora
para dentro dos muros da escola e ressalta o apoio emocional que recebeu. “A
gente estava triste por problemas de casa e, nas aulas de Núcleo, se aprende
sobre outras coisas como família, resilência e talentos. Saía do foco das
matérias e chegava melhor em casa”. E qual a principal lição das aulas de
Núcleo? “É uma disciplina para qualquer tipo de aluno e todo mundo tem
voz”.
ESCOLA JOÃO MATTOS - TODO MUNDO TEM VOZ
Ana Lúcia era recém-chegada à Escola Estadual Professora Altina Mor aes, de
Araçatuba (SP), que integrava o grupo de escolas participantes do Programa
SuperAção Jovem, do Instituto Ayrton Senna. No projeto, o professor deixa
de ser transmissor de conteúdo e a metodologia é centrada no aluno para
ajudá-lo a descobrir paixões, interesses e sonhos. O processo de aprendizagem
abre espaço para o posicionamento dos estudantes sem que o professor abra
mão de estruturá-lo e servir como referência para mostrar: para onde
queremos ir, onde estamos, como estamos indo e quem são os responsáveis
por sua condução.
Os professores estimulam e distribuem as falas, a participação e a liderança
dos alunos, mas, em uma atividade tradicional como a leitura, o objetivo e a
execução das ações são diferentes para cada turma. Por isso, desde a primeira
aula do projeto Sala de Leitura no 8º B, a estratégia de Ana Lúcia tomou
um caminho próprio, e resgatou a confiança que Marcos havia perdido. Antes
de tudo, a educadora evitou dizer um lacônico “ler é b om”, colocou na lousa
os objetivos da atividade e se apresentou como “a professora que faria com
que eles (alunos) gostassem de ler”. Mas a resposta de Marcos, um dos líderes
da turma, foi lançar uma carteira na direção de Ana Lúcia e gritar: “Eu não
gosto de ler e nunca vou ler na minha vida”.
A liberdade com que conduzia a aula revelou -se a chave para que Marcos
puxasse um primeiro livro na estante. Foi o ponto de partida para uma
mudança em sua vida, e ele passou a usar a influência que exercia sobre
colegas de forma positiva, em atividades em grupo para desenvolvimento de
competências como comunicação e colaboração. De aluno “convidado” a
mudar de escola, passou novamente a se diferenciar do s demais, mas de um
jeito diferente. “Ele não desenvolveu habilidades só de leitura. Ele começou
a ter consciência de quem ele era e de quem gostaria de ser”, avalia a
professora. Antes de cada novo projeto, o vínculo entre Ana Lúcia e Marcos
era renovado, pois a professora tinha abertura suficiente para entender os
interesses dele e, com reciprocidade, trocava percepções sobre o que já
enxergava por trás de suas atitudes.
RECURSOS PEDAGÓGICOS
O programa possui seis módulos, com carga horária de uma hora, a serem
percorridas durante 24 semanas. Mas onde entra o Zippy? Zippy é o nome de
um inseto, mais precisamente um bicho -de-pau, que vira amigo das crianças
durante todo o curso. Nas atividades em sala de aula, pôsteres ilustram cenas
da história e ajudam as crianças a desenvolver empatia. Além disso, são
usados bonecos de papel e uma “caixa su rpresa” com cartões que as crianças
sorteiam para fazer as dramatizações. Em geral, cada classe tem um Zippy,
que pode viajar para a casa de cada aluno. Mesmo estando no início da
alfabetização, as crianças são incentivadas a escrever um diário do inseto
como atividade complementar.
Implantado desde 2004, o projeto já recebeu 220 mil crianças e hoje está em
35 cidades do país, envolvendo 832 professores e 402 escolas e instituições
de ensino.
MOVE IT
Pedro precisa da sua ajuda para movimentar os móveis pela casa. Sáo 15 níveis até você
se tornar um expert.
POOOOLIES
Identifique oportunidades, ameaças e ajude os Poooolies a formar uma sequência de
quatro antes do oponente.
Desenvolvido por MindLab
A virada veio quando matriculou suas filhas em uma escola que se dedica a
ensinar competências socioemocionais, como empatia e compaixão, a The
Nueva School, em San Mateo, no estado da Califórnia. Aos poucos, uma de
suas filhas começou a corrigir seu comportamento. Nascia ali a ideia para
criarção do IF…, cujo nome é inspirado no poema do escritor Rudyard
Kipling.
Para o desenvolvimento do IF.., Hawkins diz ter usado o pla no pioneiro para
o ensino de socioemocionais elaborado há sete anos pelo estado de Illinois e
também escolas como a KIPP e Anchorage School, do Alasca. Além de ex -
programadores da Electronic Arts, fazem parte da If You Can Company
representantes do site Casel.org, do Yale Center for Emotional Intelligence e
do The Institute for Social and Emotional Learning, fundado por ex -
responsáveis pelo plano pedagógico da The Nueva School.
Hawkins diz que IF… é projetado para ser jogado de 30 a 4 5 minutos por
semana, com supervisão de pais ou professores, e que seu principal trunfo é
“transferir habilidades para o mundo real”. Um painel de controle permite a
um pai ou a um professor receber um relatório sobre como a criança está se
saindo em cada capítulo. IF… tem interface em inglês e seu primeiro episódio
é gratuito; para os demais, é necessário assinar.
COMO FAZ
Que competências socioemocionais precisam ser desenvolvidas? Como deve
ser a formação dos professores para lidar com esse desafio? Que cuidados são
necessários na avaliação? O desenvolvimento intencional de capacidades que
extrapolam os conteúdos cognitivos ainda suscita muitas perguntas entre
gestores e profissionais de educação.