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o

clsma
revista de crítica literária número 8: univoracidade
e tradução, ano Yrzot6,
ISSN zz38-7ot3 Adília Lopes, Hitchcock,
Edouard Glissant,
Orides Fontela, facques
Derrida, Helena Almeida,
Lawrence Ferlinghetti,
Michael McClure

entrevista cofir
Patricia Ciriani
clrrrrrr Agritclcccnros a Nuno Ramos e
ISSN.,., 18 7rIr,1 Hduardo Ortega pela permissão de uso
das imagens que acompanham o ensaio
klcn IIzrtclorcs dn cÍsraa "Luto iluminado: a estética da dor em
SoÍilr Ne st rovsl<i Nuno Ramos", de Felipe Leite.
'l'iltgo llcttt ivoglio
Agradecemos à Editora Gallimard
2oró, anoV, número 8 pela permissão de publicação do ensaio
"A praia negra" ["La plage noire"],
acismaé dolivro Poétique de la relation,
Caroline Micaelia de Édouard Glissant @ Editions
Caroline Policarpo Gallimard, r99o.
Clarissa Bongiovanni Lopes
Clarissa Xavier Nós, editores da cisma, procuramos
Gabriel Pelosi os detentores dos direitos autorais
Guilherme Tardelli de Lawrence Ferlinghetti (tais como
Henrique Amaral seus herdeiros e publishers), mas não
Isabel Ferreira conseguimos finalizar o contato para
Isabela Benassi a obtenção legal do texto aqui publicado.
lúlia Knaipp Se acaso os possuidores dos direitos
Karina Goto queiram entrar em contato conosco,
Lais Varizi nos mantemos dispostos a regularizar
Maria Duque a nossa publicação.
Maria Teresa Mhereb
Milena Varallo contato
Natiê Amaral para submissões:
Rodrigo Tadeu textos @revistacisma.com
Vinícius Hidemi para demais informações:
revistacisma@gmail.com
proieto gráfico e diagramação www.facebook.com/revistacisma
Lucas Blat www.revistacisma.com
www.revistas.Ífl ch.usp.br/cisma
fotografias dacapa
Tainá Medeiros, Sem Título
Sara de Santis, Paisagem Paulistana
tradução (o tradutor italiano) e por isso escolheu a inscrição da aporia: a
tradução do francês ao italiano - transportada aqui, por sua vez,
para a tradução do francês ao brasileiro - a partir de certa irre-
dutibilidade idiomática, ou seja, de uma impossibilidade que a

Que coisa é tradazir"Che cos'à la


tornava em possível.
Como se todas essas constrições não bastassem para de-

poesia?" de |acques Derrida? sencorajar o élan de um pretenso tradutor, vim a descobrir - de-
pois de terminar um primeiro esboço de tradução - a existên-
cia de dois textos junto aos quais eu deveria inevitavelmente
Rafael Silva ter me amparado antes de cogitar qualquer tentativa por mim
mesmo.4 Trata-se de uma tradução brasileira, a de Marcos
Siscar e Tatiana Rios,s e outra portuguesa, a de Osvaldo Manuel
Silvestre.6 Se o atraso com que vim a descobrir tais textos por
No título traduzante desta epígrafe (ou antes, epitáfio?) à minha r Gostaria de agradecerà um lado privou-me de importantes esclarecimentos que teriam
leitura atenta de Caroline
tentativa de tradução do artigo de lacques Derrida, "Che cos'à la Micaelia, pelas sugestões, tornado minha travessia mais consciente) por outro, concedeu-
poesia?", inscreve-se a aporia de um incontornáveltour deforce apontamentos e por sua -me o espaço mínimo de que necessitava para eleger meu pró-
abertura à interlocução.
(valendo-me de uma expressão que remete aqui, obliquamente, prio caminho. Acredito que se os tivesse lido anteriormente, te-
z Cf. o texto contido em:
fim
a"Des tours de Babel"'). Tornos e torres, voltas e revoltas, ao Derrida, "Des tours de ria me sentido desencorajado demais para (ar)riscar outra linha
Babel". ou a tradução de
do primeiro contorno - como em ritornello - eu retorno ao prin- nessa já espessa tessitura. Nesse caso, minha (quase) ignorân-
]únia Barreto: Torres tle
cípio venho à reviravolta. À reviravolta de Babel que vem como
e Babel. cia foi antes uma graça.
princípio e já não volta. E nos cruzamentos - que se dão no lei 3 Remeto aqui à Reconheço na operação de cotejo dessa complexa rede uma
" d.iJférance" (cf. as palavras
- das mais diversas e voluptuosas línguas, dis-
to ou nas trilhas do filósofo sobre tal tema, incomensurável dívida para com aqueles que se lançaram às
seminam-se delírios de versos: brasileiros, italianos e franceses, em "La différance", ou suâ águas deliciosamente turbulentas do texto derridiano enquanto
tradução, "A diferença").
entre tantos gregos e troianos. Embora tradutores anotavam passo a passo o seu próprio itinerário. Muitas foram
anteriores tenham
Diria, num esboço de resposta à questão - à minha, coloca- optado traduzir essa
suas orientações que me salvaram de um sempre iminente nau-
da a mim ainda há pouco - que e coisa impossível. Ou seja, que palavra por "diferência" frágio (se é que chego ao cabo de tal empresa verdadeiramente a
(Miriam Schnaiderman 4 E demonstro aqui a
se dá (es gibt) em possibilidade. Naquela que surge apartir da di- e Renato lanine Ribeiro, salvo). Ao longo deste breve texto que proponho como "prólogo", minha gratidão pelas
em Gramatologia) e indicações ofertadas pelos
ferençat que se inscreve numa letra - ou na "repetição" da mes- "diferança" (loaquim
bem como na tradução propriamente dita, será possível reconhe- professores Alice Serra
ma -, ainda que imperceptível ao soar do lógos, e que faz toda (UFMG), Carla Rodrigues
T. Costa e Antônio cer toda a extensão da minha dívida e gratidão para com eles.
(UFRJ) e Nabil Araújo
M. Magalhães, em "A
a diferença: se dá em possibilidade, não impossibilidade. Coisa O que alguém poderia se perguntar, contudo, e não sem (UERJ).
diferença"), acredito que
impossível, portanto. 5 Cf." Che colà la poesía?",
a adoção do neografismo alguma razáo, é a pertinência de uma nova tradução brasileira na trâdução de Tatiana
"differença", com uma
O texto de Derrida foi motivado pela demanda "Che cos'à la mudança silenciosa pouco mais de dez anos depois da publicação de sua primeira Rios e Marcos Siscar

remetendo ao radical publicada na revista


poesia?", colocada pelos editores da revista Poesia, a fim de que tradução. Eu próprio me coloquei essa mesmâ questão e só por lnimigo rumor, n. to.
do termo em francês, se
fosse traduzido em italiano e publicado nesse idioma. Derrida, 6 Cf. Che cos'à la poesia? na
inscreva bem no contexto meio do aludido cotejo de alguns dos textos que hoje compõem
do pensamento derridiano tradução portuguesa de
contudo, não poderia ter facilitado a via de Maurizio Ferraris o tecido do "Che cos'à la çtoesia?" pude respondê-la. Acredito que Osvaldo Manuel Silvestre.

100 101
a partir da breve análise que avançarei nos próximos parágrafos, O que acabo de descrever poderia vir a ser encarado como con- 7 Cf. De la
grd.mmdtologie. Or a
o leitor poderá decidir por si mesmo acerca da pertinência dessa traditório em relação aos principais argumentos defendidos por tradução de Miriam
nova tentativa - ou da sua insuficiência. Derrida em seu livro sobre a Gramatologia.T ilr{.as tal impressão Schnaiderman e
Renato fanine Ribeiro,
Derrida joga ao longo desse texto com a expressão france- seria enganosa, uma vez que tais argumentos - disseminados d.e t973.
sa"apprendre pnr cuur" ("aprender de cor"), na qual está conti- ao longo de toda a obra derridiana - foram os princípios segun- 8 Nesse sentido, cf.
Derrida, O anímal que
da a palavra "cultr" ("coração"), e se vale de certa indecidibili- do os quais orientei a maior parte das soluções quando descon- logo sou (A seguir),p.

dade, criada a partir dessa palavra, para desenvolver uma série fiava que a problemática da escritura (bem como a da marca, a zz. O livro a que me
reliro, Lhnimal que
de reflexões sobre o poetico (ou antes, o poemático) entre a eco- do suplemento e a de outros afins) se encontrava sugerida pelo doncje suís,insere-
se na "guinada ética"
nomia da memória e o coração. O jogo verbal pode ser apenas próprio texto em francês.
do pensamento de
parcialmente mantido em português, uma vez que "aprender de Nesse sentido, embora tenha sido tentado a traduzir a pa- Derrida, vislumbrando
na problemática da
cor" tem de fato ligação etimológica com a palavra "coração", lavra"hérisson" pelaopção mais corrente hoje em dia (pelo me- animalidade uma série
embora essa ligação talvez já não apareça tão claramente para nos no Brasil) de "porco-espinho", resisti à tentação e optei pela de questionamentos
relevantes âcerca
um leitor contemporâneo (a certa altura da minha tradução, in- palavra tradicionalmente escolhida pelos tradutores brasileiros do "humano" (e já
prenunciados, sem
clusive, não pude evitar uma nota para explicitar uma aporia e portugueses, "ouriço".8 Ainda que tal escolha se preste à con-
dúvida, pela figura do
tradutória e explicar a opção adotada). Assim como os traduto- fusão com outro ouriço (o do mar), acredito que a manutenção ouriço de "Che cos'à la
poesia?").
res brasileiros e portugueses já o tinham o feito, faço uso da ex- do radical etimológico partilhado pelas duas línguas (do latim,
9 Derrida trata da
pressão "aprender de cor" e de seu correlato verbal - "decorar" ericíus, -íí) esteja de acordo com o projeto derridiano de resga- "cunhagem" dessa
palavra em "Lettre
-, mas) à diferença deles, valho-me de ambas simultaneamente tar certos arcaísmos (ainda que no "glossário de Derrida" eles à
un ami japonais". Na
(para salientar o coração desse idiomático). voltem suplementados por novas camadas de sentido, como no tradução de Érica
Lima para o português,
O texto de Derrida se vale de recursos da linguagem colo- caso da própria palavra "desconstruÇão"r;, num movimento de "Carta a um amigo

quial que parecem remeter a uma situação fática de diálogo (uso renovação vocabular etimologizante e, sem dúvida, aporético.'u japonês".

da segunda pessoal do singular, interjeições, dêiticos), e todos Essa mesma preocupação "etimológica" esteve presente ro Para mais detalhes
desse estratâgemâ
os tradutores parecem ter atentado para isso. É justamente nes- quando traduzi os verbos imperativos do francês, "garde-moi,
derridiano, cf.
ttconserve-me,
se ponto que a tradução brasileira mais se afasta da portugue- regarde-moi"" po, observe-me", com a manu- Derrida e a literatura:
"Notas" de literatura
sa: não só em certa escolha vocabular, mas principalmente na tenção de um mesmo radical nos dois verbos (tal como no fran- nos textos
e
flosofa
opção pelo uso do pronome de terceira pessoa, "você", ao invés cês, ainda que sem manter o mesmo prefixo). A opção dos tra- da desconstrução, de
Evando Nascimento,
do de segunda, "tu", o que acarreta modificações na conjugação dutores brasileiros foi "guarde-me, olhe-me""e a do português, p.257.

verbal. Optei por radicalizar a brasilidade da língua, uma vez "guarda-me, olha-mg".': Da mesma forma como na construção tt Cf ."Che cos'à la
poesia?", t992, p. 3o4.
adotado o uso do pronome de terceira pessoa, "você" (com os mais complexa em que Derrida escreve: "C'est la détresse du hé-
possessivos "seu(s)" e "sua(s)", valendo-me de "dele(s)" e "de- risson. Que veut la détresse,le stress même? stricto sens:u mettre
la(s)" para me referir ao possessivo da 3a pessoa do discurso pro- en garde".'+ Nessas frases há um jogo etimológico interlingual
priamente dita) e o combinei ao pronome oblíquo de segunda que tentei reproduzir assim: "É o constrangimento do ouriço. E
pessoa, "te". Em que pese a aparente falta de sistematicidade de o que quer o constrangimento, o próprio stress? stricto sensu co-
tal escolha, justifico-me com o estágio de mudança por que pas- Iocar en garde". A tradução brasileira adotara "desgraça" para
sa a língua (escrita, inclusive) no sudeste do Brasil hoje em dia. traduzir "détresse", enquanto â portuguesa optara por "afli-

LO2 103

Ir
Çiir)".'' lixistcur outros casos em que iogos etimológicos guiaram tz Cf. "Che cos'à la poesia?",
r.ri,has decisões de tradução, embora o princípio já esteja sufi- Trad. Tatiana Rios e
Marcos Siscar. p. rr3.
cientemente demonstrado.
Existe ainda certa preocupação poética do texto de Derrid a, 4 Cf. Che cos'à la poesial
Trad. Osvaldo Manuel
preocupação que, aliás, é anunciada literalmente pelo próprio Silvestre, p. 5.

texto no princípio do terceiro parágrafo: ,,Ela se vê ditada, a res_ t4Cf."Che cos'ê la poesia?",
t992,p.306.
posta, a ser poética". Foi exatamente esse aspecto que motivou, r5 Cf. respectivamente
por exemplo, minha tradução da frase "Ainsi se làve en toi le rêve
"Che cos'à la poesia?", trad.
Tatiana Rios e Marcos
d'apprendre çtar coellr"116 que verti como: ,,Assim assoma a você Siscar, p. 114; e trâdução
de Osvaldo Manuel
o sonho de aprender de cor". Nessa frase, o par verbo-substan_
Silvestre, p. 8.
tivo em português (assoma-sonho) reproduz o jogo sonoro d.o 16Cf." Che cos'à la poesia?",
francês (làve-rêve), amplificando-o por meio da aliteração entre 1992,p.306.
1Z Cf. respectivamente:
"assim" e "assoma". As outras traduções, brasileira e portugue-
"Che cosb la poesia?",trad.
sa, sugerem respectivamente: "Assim surge em você o sonho de Tatiana Rios e Marcos
Siscar, p. u4; e tradução
decorar" e "Assim desperta em ti o sonho de aprender de cor,,.,, de Osvaldo Manuel
A maior diferença, contudo, entre a tradução que ora pro- Silvestre, p. 8.

t8 Cf."
ponho e as já existentes é relativa a certa compreensão de ver_ Che cos'à la poesia?",
p.305.
bos ligados às funções comunicativas. De modo geral, onde r9 Cf. respectivamente:
Derrida emprega o verbo "entendre", preferi traduzir - de ma- "Che cos'à la poesia?",trad.
Tatiana Rios e Marcos
neira mais ambígua - por "perceber',. As outras traduções op_ Siscar, p. rr4; e tradução
de Osvaldo Manuel
taram geralmente pelo verbo "ouvir". Nesse sentido, por exem_
Silvestre, p.7.
plo,a oração "et tu entendras sous ce mor",s foi traduzida por mim zo Como se lê em francês
como "e você perceberá sob esta palavra',, enquanto as opções em" Che cos'à Ia poesia?",
p. 3o5. Nas traduções tal
das outras traduções foram: "e nessa palavra você ouvirá,, ou ,,e passagem se encontra em:
Tatianâ Rios e Marcos
ouvirás nessa palavra".'q O mesmo se dá em outros momentos
Siscar, p. 114; e tradução
do texto. Além disso, algo análogo se passa com relação ao ver_ de Osvaldo Manuel
Silvestre, p. 8.
bo "rappeler", no qual pretendi enxergar uma etimologia liga-
da à ação vocal (apçtel), e que traduzi por ',evocar,, (ao invés de
"lembrar", como no caso das outras traduções).,o
Não acredito poder afirmar ter seguido efetivamente à ris_
ca o que quer que Derrida tenha desejado exprimir com suas es_
colhas sintático-semânticas nesse texto. certamente não o fiz e
acredito que ninguém poderia fazê-lo,sequer o próprio Derrida.
Suas intenções não dizem respeito ao que está inscrito na página
e talvez a única coisa que caiba ao tradutor é ler de fato o texto

to4
que escolheu traduzir. Nesse sentido, depois de uma breve re- zr Conforme Evando
Nascimento (p.:Z): "o
tomada de algumas das questões mais caras ao autor do texto jogo citacional, ao tempo
que ora se traduz, posso retomar o título intrainterrogativo des- em que garante o rigor
da pesquisa, acaba por
te texto que ora se encerra: "Que coisa é traduzir "Che cos'à la constituir uma espécie
de tábua tradutória- O
çtoesia?" de |acques Derrida?". Invertendo a fórmula de Evando procedimento ajuda
Nascimento - autor cuja obra me acompanhou de perto ao longo a sustentar uma das
hipóteses básicas, a saber,
desse percurso e ao qual sou profundamente grato -, acredito po- qre ler (com) Derrid.a
traduzir Denida. E
der afirmar que traduzir um texto de Derrida é, de certa manei- é

não apenas pelo fato de


ra, traduzir o próprio Derrida e traduzi-lo e ler (com) Derrida." se tratar de um autor
estrangeiro, mas porque
faz parte de uma teoria
Che cos'àlapoesia?" da leitura nesse autor a
noção de que o ato de ler é
Jacques Derrida fundamentalmente um ato
tradutório".

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