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A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA

FAIXA DA TRANSAMAZONICA

(Volume 1)

(Convênio IBGE/INCRA)
SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DA PRESID~NCIA DA REPúBLICA
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATfSTICA

Ministério da Agricultura
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

A ORGANIZAÇÃO DO .ESPAÇO NA
FAIXA DA TRANSAMAZÔNICA
Volume 1: Introdução
Sudoeste amazônico
Rondônia e regiões vizinhas

ORLANDO VALVERDE (coordenador)


Adélia Maria Salviano Japiassu
Ana Maria Teixeira Lopes
Angela Moraes Neves
Eugênia Gonçalves Egler
Helena Maria Mesquita
Iria Barbosa da Costa
!rene Garrido Filha
Miguel Guimarães de Bulhões
Myriam Guiomar Gomes Coelho Mesquita
Ney Alves Ferreira

Rio de Janeiro
1979
IBGE.
A organiza cão do espa ço na filixa da Transamazônica I Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística . -Rio de Janeiro : IBGE,
1979 - 260 p.

v. : il.
Convênio I NCRA/1 BGE.
Conteúdo . - v. 1. Introdução, Sudoeste amazônico, Rond ônia e
regiões vizinhas . -
1. Amazônia - Colonização. 2. Espaço na economia. 3. Amazô-
nia - Condições econômicas. I. INCRA. 11. Título.

IBGE. Biblioteca Central CDD 325.3811


RJ-1 BGE/79-122 CDU 325 . 11(81-0AMA)
SUMÁRIO

INTRODUÇAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

PARTE I

A MESORREGIÃO DO SUDOESTE AMAZôNICO 13


Orlando Valverde
Capítulo 1 Unidade geoeconômica 15
Capítulo 2 Clima, fator uniformtzante .. .. .. .. .. . .. .. ............. .. . . 16
2. 1 - Tipos de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2. 2 - Conseqüências na vida regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Capítulo 3 - Classificações climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

PARTE II

RONDôNIA E REGiõES VIZINHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27


Adélia Maria 'Salviano Japiassú
Orlando Valverde
Ney Alves Ferreira

Capítulo 1 Areas de dominância cristalina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Capítulo 2 Areas de dominância sedimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40


2 .1 - Formações intercalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . 46
2 . 1.1 - Campos de Puciari-Humaitá . . . . . . . . . . . . . 46
2 . 1. 2 - Cerradões de Abunã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2 . 1. 3 - Campos do Igarapé Preto . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2. 2 - Zonas de transição 54
Capítulo 3 - Povoamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Myriam Guiomar Gomes Coelho Mesquita
Eugênia Gonçalves Egler
3 .1 - Vale do Madeira-Mamoré-Guaporé 56
3.1.1 - A necessidade de uma via de circulação . . 57
3 .1 .2 - A henmça dos pequenos aglomerados . . . . 62
3 .2 - A ocupação efetiva 63
3 .3 - A BR-364 e o novo surto migratório . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Capítulo 4 - Os projetos de colonização 80
Angela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lopes
4. 1 - Os projetos funàiários 82
4. 2 - Títulos definitivos outorgados pelos Estados ....... . 85
4. ~ - Are as de licitação .. . ..... . . ............... ...... . 86
4. 4 - Propriedades fam111ares .... . . . .. ...... . .. .. ........ . 86
4. 5 - Tipos de colônia:; do INCRA ... .. ... .. . ..... .... ... . 87
4.6 - A organização do espaço . . .. .... .. ...... .... ... ... . 89
4. 6.1 - A formHção de núcleos urbanos .......... . 90
4.6 .2 - O uso da terra ..... .. .. ... . ..... .. ..... . 91
4. 7 - Projeto Ouro Preto .. . ..... . . .... . . .. ... . ..... .... . . 92
4. 7. 1 - Diretrizes da ocupação .... . .............. . 92
4 .7.2 - Are a ...... .... .. .. ... ..... ....... ...... ... . 93
4 . 7. 2.1 - Plano de loteamento 94
4. 7. 2. 2 - Areas comunitárias e de reserva 94
4. 7. 2. 3 - Ampliação e estado atual . . . . . . 95
4. 7 . 3 - Estrutura fundiária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4. 7. 3.1 - A situação inicial . . . . . . . . . . . . . . 95
4.7.3.2- A Calama S/A .. . .. . .. .. . .. .. .. 96
4. 7. 4 - Aspectos físicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
4. 7. 4. 1 - Solos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
4.7 .4.1.1- Tipos . . . . . .. . . . . . . 98
4.7 .4.1.2- Possibilidades
de aproveitamento
agrícola . . . . . . . . . . . 101
4.7.5 - Vias de acesso 103
4. 7. 6 - Assentamento de parceleiros . . . . . . . . . . . . . . . 104
4. 7. 7 - Situação educacional e sanitária . . . . . . . . . . 105
4. 7. 8 - Aspectos geoeconômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
4 .7 . 9 - A cooperativa e entidades de apoio . . . . . . 119

Capítulo 5 - Projeto de Assentamento Dirigido Burareiro (PAD) . . . . . . . . 121


Angela Moraes Neve.s
Ana Maria Teixeira Lcpes
5 .1 - Diretrizes da ocupação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
5.2 - Area . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
5.3- Aspectos f~icos . .. .... ...... . .. . . ........ . ......... 122
5.3 .1 - Solos .. . .. . .. .. .. . .. .. .. . .. .. . .. . .. .. .. . .. . 124
5 . 3 .1. 1 - Aptidão agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . 125
5 .3.2- Aspectos sociais ... ... ... . . ................ 127
5. 3 . 3 - Perspectivas agroeconômicas . . . . . . . . . . . . . . 127
5. 3. 4 - Vias de acesso e perspectivas de mercado . . 128
Capítulo 6 - Projeto de Assentamento Dirigido Marechal Dutra (PAD) oo 129
Ângela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lcpes
6 01 - Caracteristicas físicas o. oo. o. ooooooooo. .. oooo. ooo oo o 130
6 o2 - Vegetação o oo oo o. o.. oo.. o... ooooooo . ooo oo oooo . oo oooo 131
603 -Solos oo ... o oooo. - oo . . ooo ooooo. o o. ooooooo. oooooo o o. oo 133
6 o4 - Educação e saúde ooo oo ooooooo. ooooo ooo . oo. oo . ooo o oo 135
6 o5 - Vias de acesso e perspectivas de mercado oooooooooo 135
Capítulo 7 - Projeto Integrado de Colonização Ji-Paraná (PIC) ooo o. o 137
Ângela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lopes
7 01 - Aspectos físicos . o o. ooo . .. o... o.. . oo.. . . . o o . .. ooo... 138
7 o1 01 - Area de floresta tropical subperenefólia o. oo 138
7 010 2 - Area de floresta tropical subcadlicifólia ooo. 140
7 010 3 - Área de cerrado o . oo.. oo.. . oo. . o oo.. o . o. ooo 140
7 o2 - Aspectos econômicos . oo .. .. oo. o . oo . . o. o o. o. o . oo . . o o 141
7 .3 - Vias de acesso o. oo. .. . .. o o. o ... o o. o ooo oooo o. o o. o ooo 142
7 04 - Assentamento . o... o. · o ... 00. . ... oo... oo. o. . ... .. o. o 142
7 . 5 - Núcleos urbanos . . . o... o... . . oooo .. o. . . . .. o .. o .. o .. o 142
7 05 01 - Cacoal o. . o..... . ooo ooooo. oo. oooo ooooo oo o.. 144
7 o5o 2 - Pimenta Bueno ... o . . o . oo.. o. oo .. o. ....... o 144
7 . 6 - Aspectos sociais . . .... o. o. o. . . . . ........ ooo. o. . o. 00 o 145

Capítulo 8 - Projeto Integrado de Cok.nização Padre Adolpho Rohl (PIC ) 147


Ângela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lopes
8 01 - Aspectos físicos ·.. .. .. .. .. .. . .. .. .. . .. . .. .. .. .. .. .. . 148
8 01 01 - Solos o . . . o. .. o . oo .. o ... o .. . . . o. oooo... oo . o. 148
802- Assentamento oo.. o.o ooo· o oo oo· . · o· ... 0000 o . . . .. . .
OO 150
8 .3 -Educação e Saúde oo.. . .. oooo o. o .. o ... oo. o.. oo .. .. oo 151
8 .4 - Aspectos geoeconômicos o. o .o o.. ... o.. . o. . . . o·o ... o. 151
Capítulo 9 - Projeto Integrado de CoJ onização Paulo Assis Ribeiro (PIC ) 154
Ângela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lopes
9 . 1 01 - Assentamento de parceleiros e organização
territorial oooo. oooo... . o. . oo. . . o... ... oo. . o 155
9 .1. 2 - Aspectos socia is o. ooo . . o. . o .. oo. o. ..... oo . . 156
9 01 03 - Aspectos econômicos . ooooooo. o. oo. o... oo. . 158
9 o1 . 4 -- Vilhena e sua relação com o PIC ooo... o o 160

Capítulo 10 - Projeto Integrado de Colonização Sidney Girão (PIC ) o .. o 163


Ângela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lopes
1001 - Area oo oo oo o. o. o. o.. o. o .. . o o o. o. o. oo ... o. ooooo. oo. o 164
10 02 -Aspectos físicos .. o..... o.......................... 164
10 .3 - Situação social ooo. o .. o. ooo. oooo . . . o. . ... o ... oo. ooo 165
10 o3 01 - Habitação o. .. ... .. . ... o.. o.. o .. o.. o.... . 169
10 . 3 o2 - Educação e saúde . oo o. .' .. oo.. o .. oo. oo. . 169
10 o4 - Aspectos econômicos o.. ooooo . oo... o ... . . . o. . . o. o oo 170
10 o4 01 - A atividade agrícola .. oooo . ooooo o.. .. o. o 170
10 04 02 -A pecuária .. .. .. .. .. .. .. .. . .. . .. . .. .. . .. 172
10 . 4 . 3 - O crédito e a comercialização ....... o.. 174
Capítulo 11 - A BR-421, de Ariquemes a Guajará-Mirim . . . . . . . . . . . . . . 177
Angela Moraes Neves
Ana Maria Teixeira Lopes
Capítulo 12 - Mineração da cassiterita. 181
Irene Garrido Filha
12 . 1 - A garimpagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
12 . 1. 1 - Técnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
12 . 1. 2 - Aspectos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
12 . 2 - A lavra mecanizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
12.2 .1 - Técnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
12.2 . 2 - Aspectos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
12 . 2 . 3 - Os grupos econômicos e a produção . . . . 195
12 . 3 - Problemas e perspectivas da mineração . . . . . . . . . . . . 201
12 .4 - Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
Capítulo 13 - Os problemas fundiários e agropastoris 203
Irene Garrido Filha
Capítulo 14 - Os problemas do setor madeireiro 'Zl3
Ney Alves Ferreira
14.1 - Exploraçãc florestal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
14 . 2 - Comércio de madeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
Capítulo 15 - O problema indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
Eugênia Gonçalves Egler
Capítulo 16 - A região de Porto Velho ._. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
Myrian Guiomar Gomes Coelho Mesquita
Miguel Guimarães de Bulhões
Irio Barbosa da Costa
Helena Maria Mesquita
16.1 - Porto Velho, a cidade-pólo 227
16. 2 - Vila Rondônia e sua área de influência . . . . . . . . . . 230
16 .2 .1 - Os centros locais de Vilhena, Cacoal e
Pimenta Bueno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
16 .3 - O Centro local de Ariquemes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
16.4 - Os núcleos urbanos das áreas decadentes . . . . . . . . . . 232
16.4 .1 - Guajará-Mirim e sua área de influência 233
16 . 4. 2 - Os centros locais do norte e do sudoeste
de Porto Velho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233
16. 5 - Serviços de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235
16 . 6 - Serviços de Ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
Capítulo 17 - Considerações finais e conclusões 245
Orlando Valverde
17 . 1 - Resultados e prqblemas ·da colonização . . . . . . . . . . . . 246
17 .1. 1 -.Habitat rural e malha fundiária . . . . . . . . 247
17 . 2 - O problema dos transportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253
17. 3 - Transformação de Rondônia em Estado . . . . . . . . . . . . 253
17 . 3 . 1 - O problema energético . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
INTRODUÇÃO

A 16 de junho de 1970, o Presidente da República baixou o Decre-


to-lei n.o 1.106, criando o Programa de Integração Nacional (PIN).
Esse ato governamental determinava a "construção imediata das rodo-
vias Transamazônica e Cuiabá-Santarém" (art. 2. 0 ), bem como o início
da "primeira fase do plano de irrigação do Nordeste" (idem, § 2. 0 ).
Com tais medidas, o Governo Federal tinha por objetivos: 1.0 ) pro-
mover a ocupação efetiva, a organização agrícola e a exploração mi-
neral de amplas áreas da Amazônia, a fim de incorporá-las ao espaço
econômico-social brasileiro; 2. 0 ) orientar e fomentar, por um lado, a
migração de nordestinos para a Amazônia, e, por outro, fixar agriculto-
res no próprio Nordeste, em lavouras irrigadas. Buscava-se, assim, com
o mesmo Programa, resolver também o problema agrário dessa macror-
região.
Empenharam-se profundamente na concretização das iniciativas
previstas no PIN vários órgãos do governo: o Ministério dos Trans-
portes, sobretudo através do Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem (DNER); o Ministério da Agricultura, por intermédio princi-
palmente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA); o Ministério do Interior, mobilizando, entre outros órgãos, a
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), a Fun-
dação Nacional do índio (FUNAI) e a Superintendência de Desenvolvi-
mento do Nordeste (SUDENE). Vários outros ministérios atuaram coor-
denadamente, por diferentes agências. Esse foi, talvez, o maior "mu-
tirão" interadministrativo jamais efetuado no País. Nele foram investi-
dos, segundo especificou o citado Decreto-lei, dois bilhões de cruzeiros.
A construção da rodovia Transamazônica foi atribuída, por em-
preitada, em diversos trechos, a grandes firmas nacionais de engenharia
civil. A obra teve início em 1. 0 de setembro de 1970, com o desmatamento
do primeiro trecho, a partir de Estreito, no Maranhão, até Marabá, no
Pará. Começou, então, a contagem dos 520 dias do prazo contratual
para a entrega dos 1.290 km correspondentes ao "estágio 1" da estrada,
que, depois de concluída, atravessaria de leste a oeste a região ama··
zônica, numa extensão de 2. 075 km.
Os trechos não atribuídos a firmas particulares foram entregues
ao Ministério do Exército, que operou através de seus Batalhões de
Engenharia e Construções. Assim, a abertura e manutenção da citada
rodovia no Acre foram entregues: ao 5.o BEC, antes sediado em Porto
Velho e agora em Rio Branco, que constrói e conserva o trecho desta
capital para oeste; e ao 7.o BEC, com sede em Cruzeiro do Sul, que
abre a estrada daí para leste. A outra extensa via de penetração que
complementao PIN, a Santarém-Cuiabá, só terminada mais tarde, ficou
inteiramente a cargo do Exército.

1
De acordo com a concepção de integração inter-regional, a Transa-
mazônica se articula com a rede rodoviária do Nordeste. Na verdade
tem como pontos iniciais Recife e João Pessoa, de onde partem as ro-
dovias federais que confluem na cidade de Picos, no Piauí, prosseguindo
para Carolina, onde conexa com a Belém-Brasília e por ela segue atra-
vés de pequeno trecho comum até Estreito. Aí, onde cruza o rio To-
cantins, começa efetivamente a Transamazônica, cuja construção che-
gou a ter certos aspectos de epopéia.
Como é natural, intensa publicidade acompanhou as iniciativas do
governo, através da imprensa, do rádio e da televisão. Em breve, porém,
começaram a surgir críticas. Umas se mantiveram no plano ecológico,
a saber:
1) o cultivo da terra pelo sistema de roças iria desencadear prC1-
cessos de erosão e lixiviação acelerada;
2) a devastação, em larga escala, iria causar alteração do próprio
clima regional (uma desertificação, afirmavam os exagerados) ;
3) sendo a floresta amazônica a maior reserva vegetal do planeta,
ela representaria, pela função clorofiliana, uma espécie de _"usina de
oxigênio', de modo que a sua devastação iria também eliminar o mais
importante "pulmão do mundo".
Outras críticas foram feitas no plano estritamente econômico. Por
exemplo:
4) os colossais investimentos federais para a construção das ro-
dovias e a colonização em pequenas propriedades não proporcionariam
rendas em contrapartida, de maneira que essas iniciativas iriam pro-
vocar uma inflação descontrolada. Esse foi o principal argumento le-
vantado por economistas da escola clássica, encabeçados por Eugenio
Gudin e Roberto Campos;
5) as grandes distâncias aos maiores mercados brasileiros e aos
portos exportadores não permitiriam que os produtos agrícolas oriundos
da Transamazônica ali chegassem a preços competitivos com os de
outras áreas mais próximas;
6) o mesmo fator distância tornaria igualmente antieconômica
a exportação de matérias-primas minerais para o mercado nacional ou
mundial, exceção feita para alguns produtos de alto valor unitário, como
ouro, diamantes, cassiterita. . . Para esses, porém -.,.... alegavam os aposi-
tores - seria totalmente desnecessária a implantação de tão onerosa
infra-estrutura, visto que lhes bastaria a construção de alguns campos
de pouso, pois suportam os fretes do transporte aéreo;
7) apenas este último meio de transporte custa mais caro que o
rodoviário. Nestas circunstâncias, deveria ser construída uma ferrovia,
e não uma estrada de rodagem.
As críticas formuladas no campo das ciências sociais têm necessa-
riamente implicações de natureza econômica. Surgiram mais tarde, por-
que decorreram do noticiário de imprensa, a partir de reportagens e
notícias publicadas em jornais e revistas, quando os trabalhos de colo-
nização a cargo do INCRA já se achavam em pleno desenvolvimento. As
principais objeções, argüidas nesse terreno, foram as seguintes:
8) a transamazônica não se teria revelado capaz de fixar os mi-
grantes, particularmente os procedentes do Sul, que, sendo melhores
colonos, por isso mesmo são mais exigentes;

2
9) faltaria, ao longo da Transamazônica, especialmente no sul do
Pará (entre Marabá e Itaituba), uma infra-estrutura urbana, cujos ser-
viços dessem suficiente apoio às populações instaladas no meio rural das
proximidades;
10) os gastos com a remoção das famílias de parceleiros, do Nor-
deste até o sul do Pará, e sua instalação nos lotes, sairiam a preços
absurdos. Efetivamente, na pressa de assentá-los antes da mudança de
governo, foram transferidas famílias de colonos, vindas de João Pessoa
e Recife para Altamira, até por avião, segundo noticiaram vários jornais
da época.
Cada um desses itens será discutido neste e nos demais volumes
do presente relatório, juntamente com a síntese da matéria, constante
do volume final, que enfeixa as Conclusões e as Recomendações.
Em 1974, com a sucessão presidencial, modificaram-se radicalmente
os planos do governo. A crise mundial, acentuada pela brusca elevação
dos preços do petróleo, comprometia seriamente a viabilidade econômica
dos transportes rodoviários a longas distâncias. Mais do que tudo, entre-
tanto, pesou na mudança da política do Governo Federal, relativamente
à Amazônia, a ênfase que passou a ser dada à exportação, para com-
pensar os elevadíssimos gastos com a importação de petróleo.
"Exportar é o que importa" foi um slogan criado em 1977; porém,
muito antes, já mudara a distribuição das verbas às iniciativas gover-
namentais.
Com o intuito de criar uma faixa pastoril na periferia meridional
e oriental da hiléia, capaz de produzir excedentes de carne para expor-
tação, a SUDAM se aplicou no financiamento a "projetos agropecuá-
rios" , cujos resultados apenas agora começam a ser avaliados pela pró-
pria SUDAM, com o apoio técnico-científico do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos, subordinado ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Por outro lado, incentivaram-se as pesquisas de jazidas minerais.
O Projeto RADAM, cuja contribuição para a descoberta de numerosas
ocorrências na Amazônia é indiscutível, teve seu campo de atuação am-
pliado para o País inteiro. Com a denominação de Projeto RADAMBRA-
SIL, seus levantamentos radarométricos se estenderam, a partir de
1976, para todo o território nacional.
A colonização na faixa da Transamazônica prosseguiu, no entanto,
embora em ritmo arrefecido. Existem mesmo personalidades do governo
cuja opinião é de que a colonização em pequenas propriedades de tipo
familiar, na Amazônia, deveria cessar. Há quem sugira proibir-se a
penetração de colonos em Rondônia e no sul do Pará.
A diversidade de atitudes, dentro aliás do próprio Governo da Re-
pública, decorre da escassez de informações fidedignas, desapaixonadas
e atualizadas, para que se possa responder abalizadamente às seguintes
perguntas: Que tem sido feito na Transamazônica? Como está se proces-
sando a ocupação da faixa da rodovia?
É claro que não compete ao IBGE determinar a política a seguir
na ocupação regional, ou sequer nas proximidades da citada rodovia.
Isto é prerrogativa dos políticos e de órgãos específicos de planejamento
e coordenação das atividades governamentais. Mas, afinal, um amplo
movimento pioneiro foi deflagrado. Em conseqüência do intenso afluxo
de povoadores, o espaço se organiza; a paisagem natural cede lugar,
rapidamente, à paisagem cultural. A esse fato os pesquisadores do IBGE
não podiam permanecer alheios; e foram cada vez mais solicitados a

3
informar e a opinar, a partir de 1972, por cientistas, jornalistas, organis-
mos públicos e particulares.
Cabe ao IBGE, como órgão científico consultivo do Governo, anali-
sar os resultados, positivos ou negativos, da ocupação como tem sido
feita, sugerir medidas que corrijam os defeitos, dando ciência aos go-
vernantes e ao povo, .a través de relatório, das conclusões a que chegou
em suas pesquisas.
A repercussão da recente marcha do povoamento brasileiro sobre a
Amazônia não se limitou às fronteiras nacionais. Excluído o noticiário
de revistas e jornais, apareceram obras científicas sobre a matéria, na
Alemanha Ocidental, na França, na Holanda ...
A nosso ver, o único órgão nacional que publicou resultados de
pesquisas sérias de campo na Transamazônica foi o IPEAN- Instituto
de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Norte 1, que efetuou
levantamentos de solos, a nível de reconhecimento, na faixa compreen-
dida entre Marabá e Rio Branco. O relatório do segmento Marabá-Itai-
tuba já foi publicado 2 .
Isso não significa que outras pesquisas de campo não tenham sido
realizadas na faixa servida pela Transamazônica. Os levantamentos flo-
restais efetuados pela FAO, a pedido da SPVEA (atual SUDAM), sob
a chefia do engenheiro florestal Dammis Heinsdijk, atingiram, nos tre-
chos vizinhos ao rio Xingu, a área servida pela referida estrada. São,
porém, anteriores à sua construção.
Da mesma forma, os levantamentos de recursos naturais levados
a efeito pelo Projeto RADAM (hoje RADAMBRASIL) interessam, em
mais de um trecho, à Transamazônica. O volume 2 abrange a faixa dessa
rodovia desde Picos até o meridiano 48° WGr, no norte de Goiás; o
volume 4 analisa o trecho compreendido entre o citado meridiano e o
de 540 WGr, limitado ao norte pelo paralelo 40 S. A parte situada em
latitudes mais baixas que a desse paralelo, localizada perto de Alta-
mira, é estudada no vol. 5. A secção da Transamazônica limitada entre
os meridianos de 540 e 600 WGr é descrita nos vols. 7 (do paralelo 40
para o sul) e 10 (ao norte do mencionado paralelo). Por fim, dentre os
relatórios do RADAM, publicados até 1. 0 de janeiro de 1978, resta o do
vol. 12, que representa a maior parte do Acre e áreas vizinhas, situadas
entre os meridianos de 680 e 72° WGr, e ao sul do paralelo de ao S.
Embora esses levantamentos sejam indiscutivelmente muito valiosos,
forçoso é reconhecer que não estão diretamente vinculados ao estudo
da Transamazônica, mas antes ao da Amazônia inteira.
É restrita a bibliografia brasileira referente à Transamazônica ou
partes dela, que merece menção. Sem se pretender, de modo algum,
ser completo, seguem abaixo as principais referências:
1 - ANDREAZZA, Má rio. Transamazônica. s.l., s.d. 119701 48p., 1 mapa.

2 - PANDOLFQ, Clara. A Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. Belém, Minis-


tério do Interior, SUDAM, 1970. 21p., il.

3 -- PEREIRA, Osny Duarte. Transamazônica; prós e contras, 2.a ed . Rio de


Janeiro, Civilização Brasileira, 1971. 429p. (Retratos do Brasil, 81) .

1 A partir de 1972, com a criação da EMBRAPA (Empresa Brasileira de


Pesquisa Agropecuária) , vinculada ao Ministério da Agricultura, foi reestruturado
o sistema nacional de pesquisa neste setor, transformando-se o IPEAN em Centro
de Pesquisa Agropecuá ria do Trópico úmido.
z FALES!, !talo Cláudio. Solos da rodovia Transamazônica. Belém, Minis té-
rio da Agricultura, DNPEA, IPEAN, 1972. 196 p., il. (Boletim Técnico, 55) .

4
4 - RESENDE, Eliseu. O papel da rodovia no desenvolvimento da Amazônia . Rio
de Janeiro, DNER, 1969. 11p., 1 mapa .

5 - RODRIGUES, Tarcísio et al. Solos da rodovia PA - 70; trecho Belérn-Bra-
sília-Marabá. Belém, Ministério da Agricultura, IPEAN, 1974. 192p., il.
(Boletim Técnico, 60) .
6 - TAMER, A. Transamazônica; solução para 2001 . Rio de Janeiro, APEC, 1970.
274p.
7 - VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de expansão e estrutura agrária. Rio
de Janeiro, Zahar, 1972. 178p., 2 mapas.

Publicados na República Federal da Alemanha, apareceram os se-


guintes trabalhos:
1 - KOHLHEP, Gerd. Planung und heutige Situation staatlicher Kleinbauer-
licher Kolonistationsprojekte an der Transamazônica. Geogr. Zeitschr .,
64 (3) : 171-211, 1976.
2 - - - - . Stand und Problematik der brasilianischen Entwicklungsplanung in
Amazonien. Amazoniana, 6 (1) : 87-104, 1976.
3 - KRüGER, Hans-Jürgen. Kolonisation und Grossgrundbesitz in Ost-Amazo-
nien. Berlin, Lateinamerika Institut der Freien Universitat Berlin,
1975. 45p ., il. (mimeo).
4 - TRANSAMAZôNICA. Berlin, Pressedienst Wissenschaft, Freien Universitat
Berlin, Lateinameríka Institut, 1974. 87p., il.

Na França, ·merece destaque o trabalho:


FOUCHER, Michel. La mise en valeur de l'Amazonie brésilienne. Notes et Études
documentaires. Problemes d'Amerique Latine. Paris, La Documentation
française (4.110-4.111): 71-94, sept. 1974.

Vieram a lume, também, artigos vários sobre a Transamazônica ,


reunidos na publicação:
AMAZONIES NOUVELLES. Paris, Laboratoire Associé au C.N.R.S., N.o III: Equipe
de Recherches Amazoniennes, 1977. 185p. (Travaux & Mém. de I'Inst.
des Hautes Études de l'Amf·r.ique Latine, 30) .

Tais artigos são:


1 - FOUCHER, Michel. Le Brésil et l'Amazonie nouvelle.
2 - DROULERS, Martine. Maranhão nordestin? Maranhão amazonien?

3 - RIVIERE DíARC, Hélene & APESTEGUY, Christine . Lamise en valeur de


l'espace péhiphérique amazonien se Belem à la Bolivie.

4 - THERY, Hervé . Colonisation et élevage en Rondônia.

Na Holanda, o assunto foi estudado num pequeno livro:


KLEINPENNING, J.M.G. The integration and colonisation of the brazilian portion
ot the amazon basin. Nijmegen, 1975. 177p., 1 mapa (Nijmeegse Geogra-
fische Cahiers, 4) .

O mesmo autor já tratara da matéria em artigo anterior:


KLEINPENNING, J.M.G. Road building and agricultura! colonisation in the Ama-
zon basin. Tijdschr. voor Econ. en Soe. Geograjie, Amsterdam, 62: 285-89,
1971.

5
Outro livro, lançado simultaneamente na Holanda, Inglaterra e Es-
tados Unidos, que despertou vivo interesse no Brasil, onde foi também
editado, é o de:
GOODLAND, R.J.A . & IRWIN, H.S. Amazon jungle ; green hell t o r ed desert ?
Amsterdam, Elsevier, 1975. (Developments in Iandscape management and
urban planning, 1) .

Já tardava, portanto, a atuação dos técnicos do IBGE. Era pre.ciso,


primeiramente, delimitar a área a ser pesquisada.
O Decreto-lei n.o 1.106 previu, no § 1.0 do art. 2.o, a desapropria-
ção de uma faixa de 10 km para cada lado da rodovia, a fim de ser
utilizada em projetos de "colonização e reforma agrária".
O INCRA foi mais longe: promoveu a revisão de todos os títulos
de propriedade numa largura de 100 km para cada lado da Transama-
zônica, de maneira a discriminar com segurança o que era propriedade
privada do que era terra devoluta, tanto em abandono quanto ocupada
por posseiros.
O Decreto n. 0 74.607, de 25 de setembro de 1974, que dispôs "sobre
a criação do Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Ama-
zônia (POLAMAZôNIA) ", complicou ainda mais o problema da delimi-
tação da área a estudar.
Em vista da nova ênfase dada a programas de pecuária e mineração,
as verbas concentradas antes na colonização pelo PIN passaram a ser
aplicadas naqueles objetivos, juntamente com recursos adicionais, em 15
áreas prioritárias dispersas, esquematizadas em cartograma anexo à
Exposição de Motivos Interministerial n.o 015/ 74, datada da véspera do
aludido decreto (mapa 1).
Seria inadmissível que, iniciando longas pesquisas de campo na
Amazônia em 1975, os técnicos do IBGE ignorassem as novas áreas de
interesse do Governo Federal. Levando em conta, porém, que não se
poderiam estudar ao mesmo tempo todas elas, mais a faixa reservada
à colonização da Transamazônica, ficou resolvido que as pesquisas en-
volveriam, para começar, essa faixa, até cerca de 100 km para cada lado,
adicionada das áreas do POLAMAZôNIA por ela atingidas (mapa 2).
Essas áreas prioritárias são as seguintes, na ordem em que serão abor-
dadas no presente relatório :
VII Rondônia ;
VIII Acre;
XI Tapajós;
V - Altamira;
II - Carajás;
III Araguaia-Tocantins;
VI- Pré-Amazônia Maranhense.
Foi excluída deste estudo a área XIII - Juruena, embora atingida
em sua extremidade norte pela faixa dos 100 km, porque ela está isolada
da rodovia Transamazônica pela selva, e deverá ser pesquisada quando
as atenções estiverem voltadas para a Cuiabá-Santarém.
o planejamento das pesquisas de campo não foi tarefa simples. De
Picos até Cruzeiro do Sul, a rodovia se estende por uma distância de
4 . 525 km. Os extremos dessa faixa estão apartados por mais de 32°
de longitude, nas proximidades do equador, isto é, em latitudes que
variam, mais ou menos, de 20 a no S.

6
-
MAPA l
"
PROGRAMA DE POLOS
AGROPECUARIOS E AGROMINERAIS
DA AMAZÔNIA
POLAMAZÔNJA
XV- MARAJÓ

I X- J URUÁ- SOU M ÕES

VI- PRÉ-AMAZÔN IA
MARANHENSE

\.......-C;.---I--111- ARAGUAIA- T OCANT INS


"----.-"""---11 - CARAJÁS
~;-~r-_,,
f- XI NGU-ARÂGUAIA

VIl- RONDÔNIA
XIV- ARIPUANÃ - - - - - - '
ÇOES-
POLOS RODOVIAS
XIII - JURUENA Pavimentada

@ Agrominerois -- -- - - Em pavimentação
Implantada
_8 Agropecuários - - - Em implantação
Fonte: SEPLAN Escala 1: ·l a 000 000
7 0• .... o- 4 • 4 • 3 •

ÁREA PESQUISADA NO PROJETO


- TRANSAMAZÔNICA ~

..

A H I tI
i SALVADOR

GROSSO
CUIABÁQ
,..

I
ç
p O L O s \
1- ACRE~
2- RONDONIA

D
3- TAPAJÓS
POLOS AGROPECUÁRIOS OU AGROMINERAIS 4- ALTAMIRA MAPA 2
5- CARAJÁS
6- ARAGUAIA-
TOCANTINS
7- PRÉ-AMAZÔNIA ESCALA
FAIXA DE DESAPROPRIAçÃO DA MARANHENSE
100 o 100 200 3CX) -4 00 500 km
TRANSAMAZÔNICA ( IOOkm)
Multiplicando-se aquela enorme extensão da rodovia por 200 km
( 100 para cada lado da estrada) , eis a área que se iria estudar inicial-
mente: 905.000 km 2 • Adicionemos, agora, as superfícies aproximadas
das áreas prioritárias enumeradas acima, que desbordam da faixa de
200 km de largura, adjacentes à Transamazônica (quadro 1) .

Quadro 1

ÁREAS PRIORITÁRIAS ESTUDADAS NO PROJETO


TRANSAMAZôNICA

SUPERF[CIE
(km 2 )
AREA PRIORITÁRI A

Dentro da fai xa Fora da fai xa Total

VIl - Rondôni a .. . . .. . .... .. 1 056 141 825 142 885


VIII - Acre .. .. . 59 100 28 193 87 293
XI - Tapaj ós ... .. .. . . . 28 681 1o 053 38 734
V - Altamira.. . ........ .... . .. ... . .... . 33 044 14 675 47 719
li - Caraj ás ........... ... .... . 17 319 71 400 88 719
111 -Araguaia-Toca ntins.. .... ...... . .. ... . 27 475 27 294 54 769
VI - Pré -Amazônia Maranhense 12 850 61 475 74 325
TOTAL. ..... . .. ... ... .. . ... . . .. . .. .. . 179 525 354 915 534 440

A superfície total que o IBGE se propôs a estudar foi, então, de


905.000 + 354 . 915 = 1.259.915 km 2 •
Vale a pena fazer algumas considerações sobre a avaliação das áreas
do quadro 1. Tanto o Decreto ri .0 74.607 e o respectivo anexo, quanto a
exposição de motivos que o originou, são omissos na descrição dos limi-
tes de cada área prioritária. O impresso do IBGE que divulgou esses
documentos juntou um pequeno cartograma em cores, localizando todas
as áreas. Os limites das áreas enunciadas no quadro 1 foram transpostos
para um mapa na escala de 1/ 2 . 500.000, e daí medida a área de cada
uma, em milímetros quadrados. O resultado foi , em seguida, multiplica-
do pelo denominador da escala.
É fácil compreender o quanto tem de aproximativo esse cálculo,
considerando-se mormente a imprecisão da base cartográfica. Arredon-
dando-se o número, tinha-se, pois, uma área de 1. 260. 000 km 2 para
pesquisar - superior à superfície do Estado do Pará (1.248.042 km 2 ),
o segundo em tamanho, na Federação brasileira.
Não se deve presumir, daí, que o milhão e tantos quilômetros qua-
drados foram vasculhados nas pesquisas de campo. Onde quer que hou-
vesse estradas trafegáveis na estação seca, foram eles percorridos pelas
equipes de campo, excetuando-se o ramo sul da Cuiabá-Santarém. Mas,
por outro lado, aonde quer que as observações de campo precisaram
extravasar da área proposta para estudo, a fim de se ter melhor com-
preensão da mesma, assim foi feito. Isto sucedeu, por exemplo, em San-
tarém, em Brasiléia, assim como em Vilhena e no PIC (Projeto Inte-
grado de Colonização) Paulo de Assis Ribeiro.
Para o acesso à maior parte da faixa estudada, os trabalhos de
campo dispunham de um período de cerca de três meses por ano,
correspondentes à estiagem. Não era possível percorrer tudo em prazo
tão exígüo. Procedeu-se, então, a uma divisão do percurso: a parte leste

9
da Transamazônica, entre Picos e Altamira, foi pesquisada de junho a
agosto de 1975, num período de 42 dias de campo; o trecho ocidental,
desde as vizinhanças de Cruzeiro do Sul, incluindo Rondônia até Marabá,
foi observado em 59 dias de excursão, nos mesmos meses do ano se-
guinte.
Antes de iniciadas as viagens de pesquisa, parte dos técnicos parti-
cipantes do trabalho fez breve estágio no INPE, em São José dos Cam-
pos, e no Projeto RADAM, em Belém, a fim de se familiarizar com as
técnicas de interpretação de imagens de sensores remotos. Esses mo-
dernos instrumentos técnicos de pesquisa foram amplamente utilizados,
pela primeira vez, no IBGE em trabalhos geográficos para fins de pla-
nejamento, e permitiram extrapolar com precisão os fatos observados
durante as investigações de campo.
A equipe de campo do IBGE que viajou em 1975 à região foi com- .
pletada com dois técnicos do Departamento de Recursos Naturais da
SUDAM. Já em 1976, além de dois outros técnicos do mesmo órgão, a
equipe do IBGE foi reforçada com a colaboração de duas geógrafas do
INCRA, em decorrência do convênio firmado entre as duas últimas
instituições citadas. Além da colaboração valiosa, prestada por essas
duas pesquisadoras nos trabalhos de campo e de gabinete, o acesso à
vasta documentação existente no INCRA foi um passo decisivo para o
êxito dos trabalhos.
Agradecer a todos aqueles que deram apoio para que a tarefa che-
gasse a bom termo é missão espinhosa, porque sujeita a graves omis-
sões. Com desculpas aos que, por falta exclusiva do coordenador deste
trabalho, tenham sido porventura esquecidos, não podemos deixar de
manifestar, de público, o nosso reconhecimento às entidades e persona-
lidades abaixo discriminadas:
- à Amazônia Mineração S.A., pela visita que nos proporcionou à
serra dos Carajás;
- ao 7.o BEC, sediado em Cruzeiro do Sul, e particularmente ao
seu antigo comandante, Cel. Ivino Schwartz Ribeiro, bem como ao Te-
nente Israel Félix de Campos, pela colaboração efetiva e apoio logístico
prestados naquele rincão longínquo de nossa pátria;
- à SUDAM, especialmente à Dra. Clara Martins Pandolfo, pela
participação dada por seus auxiliares, sempre eficiente e amistosa, em
nossos árduos trabalhos de campo;
- ao Projeto RADAMBRASIL, sobretudo ao seu Secretário-Executi-
vo, Dr. Antonio Luiz Sampaio de Almeida, pelo inestimável apoio técnico
e documentação, que gentilmente nos concedeu;
- à Companhia Maranhense de Colonização (COMARCO) pelo
apoio que nos proporcionou, nas duas vezes que visitamos o Núcleo
Colonial de Buriticupu;
- à empresa TOBASA, especialmente ao Dr. Salim Aziz Baruqui,
um de seus diretores, pela cordial e generosa hospitalidade com que
acolheu os membros das excursões em Tocantinópolis, e pelas valiosas
informações prestadas sobre o problema da industrialização do babaçu;
-ao INPE, pelo seu suporte técnico, sempre eficiente;
-aos modestos guias que em certos lugares, nos orientaram e que
talvez nunca venham a saber o quanto lhes somos gratos. Um exemplo
desses personagens obscuros, porém grandiosos, que nos levam a crer,
sem dúvida, no futuro do povo brasileiro, é o do Sr. Sabino Marques

10
Braga, antigo seringueiro de Humaitá, que nos conduziu, e esclareceu em
muitas questões, através das matas e campinaranas próximas àquela
cidade.
Ao INCRA não cabe propriamente exprimir nossa gratidão, visto
que técnicos de seus quadros são co-autores deste relatório. Mas seria
injusto omitir o nome do eng.o agrônomo Helio Palma de Arruda, prin-
cipal artífice do convênio INCRA-IBGE.
Apesar dos debates, às vezes apaixonados, que a abertura da Tran-
samazônica e a colonização efetuada ao longo de seu eixo e seus ramais
suscitaram, a bibliografia científica, baseada sobretudo na observação
direta, ainda é escassa. A área imensa por ela abrangida, o desconheci-
mento quase completo de suas regiões naturais e geoeconômicas, de aces-
so difícil, são obstáculos muito ponderáveis. As observações de campo
mantiveram-se, por isso, em nível de reconhecimento. Nem poderiam
ser de outra maneira, segundo se pode concluir pelo quadro 2.

Quadro 2
TEMPO DESPENDIDO E DISTANCIAS PERCORRIDAS NAS PESQUI-
SAS DE CAMPO, NA TRANSAMAZONICA E RAMAIS

TEMPO DESPENDIDO DISTÂNCIA PERCORRIDA


EXCURSÕES (dia) (km)

Em 1975 ... . . . . .. .. . . . .... ..... . . . ... .. .. . .. . 42 12 317


Em 1976 . ... .... . .. .... ...... . .. .. ... . ... .. .. 59 12 886

TOTAL. ... . . .. .. . ... .. .. . .. .. . . ......• •.. . 101 25 203

Não obstante, é pouco provável, pelo que se vê no quadro 2, que


alguém tenha perlustrado a rodovia Transamazônica e seus ramais de
modo mais completo do que esta equipe, especialmente em pesquisa
científica. A farta messe de informações, em grande parte totalmente
novas, que o presente trabalho revela, é uma prova disso. Por essas
razões, acreditamos que este volumoso relatório, além de enriquecer a
informação disponível, poderá servir de fundamento para a orientação
política dos dirigentes desta nação sobre tão palpitante matéria.
No presente volume, reúnem-se os estudos e observações efetuados
no Território Federal de Rondônia e respectivas vizinhanças, que junta-
mente com o Estado do Acre e regiões próximas (objeto do vol. 2)
formam o que aqui se considerou o "Sudoeste Amazônico". O vol. 3 de-
verá tratar dos trechos da Transamazônica e suas áreas de influência
entre o Madeira e o Tapajós (de Humaitá a Itaituba) e, daí, através do
Pará e norte goiano. Completar-se-á a publicação do relatório com as
pesquisas e observações referentes ao Meio Norte, além de uma síntese
de caráter conclusivo, acrescida das principais recomendações que se
tornou possível inferir do amplo estudo realizado.

11
Parte I - A MESORREGIÃO DO SUDOESTE AMAZôNICO
ORLANDO VALVERDE

OCUPAÇAO do vazio demográfico amazônico transforma o espaço


natural num espaço sócioieconômico, que se incorpora à comunidade
nacional.
A convergência de três eixos rodoviários - a BR-364, de Cuiabá
a Porto Velho; a BR-319, de Manaus a Guajará-Mirim, por Porto Velho,
e a BR-236 (Transamazônica), desta capital a Cruzeiro do Sul - esboça
uma mesorregião que, a nosso ver, abrangerá o Território Federal de
Rondônia, o Acre, o sul e o sudoeste do Amazonas. Deste último Estado
deverão ser nela incluídos: o vale do Madeira, das redondezas de Hu-
maitá para o sul, e o vale do Purus, de Boca do Acre para montante.
É claro que, se algum dia for completada a ligação permanente de
Humaitá a Boca do Acre, passando .por Lábrea, a mesorregião do su-
doeste amazônico deverá ser prolongada até essa cidade e suas vizi-
nhanças. O mesmo se deverá dizer se, algum dia, for construído um ra-
mal da Transamazônica até Eirunepê, visto que este porto do Juruá,
assim como Boca do Acre, no Purus, são respectivamente anteportos de
Cruzeiro do Sul e Rio Branco, pontos de baldeação obrigatórios, durante
as vazantes. Quando essas vazantes eram muito rigorosas, o transbordo
das mercadorias, circulando entre Manaus e Rio Branco, chegava mesmo
a ser feito em Lábrea.

13
Capítulo 1 - UNIDADE GEOECONôMlCA

A integração efetiva do Acre ao Brasil se iniciou concretamente


quando os seringais, povoados por nordestinos, começaram a exportar
borracha pelos rios Purus e Juruá. O tratado de Petrópolis, de 1903,
que, a bem dizer, arrematou politicamente esse processo de integração,
acarretou, pelo cumprimento de suas cláusulas, o início da incorporação
de Rondônia ao espaço econômico brasileiro, em conseqüência da cons-
trução da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
A partir de 1912, a integração do sudoeste amazônico ao Brasil se
consolida, graças aos memoráveis trabalhos da Comissão de Linhas
Telegráficas Estratégicas, chefiada pelo então coronel Cândido Rondon.
Os fios e postes, bem como os postos do telégrafo, formaram a diretriz
que orientou o traçado atual da BR-364.
Os fatos acima citados parecem indicar uma unidade perfeita dessa
mesorregião pelo menos no plano geoeconômico. Entretanto, inexiste
uniformidade geográfica, pois o sudoeste amazônico é essencialmente
uma faixa de transições. Transição dos cerrados do sul de Rondônia
para a mata equatorial perenifólia do oeste do Acre; do planalto crista-
lino e de sedimentos mesozóicos, a leste, para o baixo platô terciário,
ao norte, e a faixa subandina da serra do Moa, a oeste; dos rios de
planalto, cheios de rápidos e cachoeiras, a leste, como o Madeira-Ma-
maré, o Jamari, o Jiparaná ou Machado, para os rios de planície, de
curso ameandrado, como o Acre, o Iaco, o Purus e o Juruá; dos solos
pobres e ácidos do tabuleiro terciário, para os solos férteis e neutros do
Acre centro-ocidental, dos PICs - Projeto Integrado de Colonização
- entre Vila Rondônia e Ariquemes, e do PIC Paulo de Assis Ribeiro.
Não é somente nas condições do meio físico que as transições se
manifestam no sudoeste amazônico: a BR-364 e seus ramais encerram
uma das zonas pioneiras agrícolas mais ativas da macrorregião Norte,
enquanto o Acre se converte de um extrativismo vegetal decadente (dos
seringais) para uma economia pecuária extensiva, com muito pasto e
pouco gado. Assim, enquanto a BR-364 representa uma zona de atração
demográfica, o Acre é uma zona de repulsão. Enquanto em Rondônia
se organiza uma sociedade de pequenos e médios proprietários rurais,
o Acre evolve para uma sociedade de latifundiários pastores. As fron-
teiras polític~s do Brasil com a Bolívia e o Peru, transformam-se de
mortas e vazias em fronteiras vivas, povoadas. Cobija, cidade-gêmea de
Brasiléia, é a sede do Departamento boliviano de Pando; Pucallpa é 0
centro de importante distrito petrolífero peruano.

15
Capítulo 2 - CLIMA, FATOR UNIFORMIZANTE

O fator que melhor caracteriza o papel de faixa de transição, de-


sempenho pelo Sudoeste Amazônico, é o clima. Suas variações discretas
neste segmento de terras, compreendido entre latitudes meridionais
da ordem de 60 05' (em Eirunepê) e 120 05' (em Vilhena) , e estendido
por mais de 1. 500 km na direção geral WNW-ESE, fazem com que toda
a mesorregião seja incluída numa mesma província climática, em quase
todas as classificações gerais de climas.

2 .1 - TIPOS DE TEMPO

Como é a regra na região amazônica, falta à área em estudo uma


rede bem distribuída de estações meteorológicas, para permitir uma
análise adequada de suas condições climáticas. Dados dispersos, mapas
e gráficos muito valiosos são encontrados nos capítulos sobre o clima
da Amazônia inclusos nas duas . edições da Geografia do Brasil, publi-
cadas pelo IBGE 3 . O mesmo se poderá dizer relativamente aos mapas
que acompanham o texto de E. Nimer, inserto no Atlas de Rondônia,
IBGE, Rio dé Janeiro, 1975 4 •
Os autores citados se referem aos seguintes postos, instalados no
Sudoeste Amazônico : Porto Velho, Humaitá, Rio Branco, Sena Madu-
reira, Boca do Acre (ex-Floriano Peixoto) , Eirunepê, Cruzeiro do Sul e
Vilhena. A precariedade dos dados é notória, pois se referem a diferentes
séries de anos. O de Vilhena, por exemplo, foi fechado há alguns anos;
Humaitá tem o posto situado na beira do Madeira, o que altera seria-
mente os dados relativos à insolação e umidade relativa.
Levando em conta esses motivos, a equipe procedeu a observações
meteorológicas no campo, envolvendo: temperatura máxima e mínima;
temperatura ambiente, pela manhã, ao meio do dia e à tarde ; vento :
intensidade aproximada e direção ; nebulosidade : cobertura do céu e
tipos de nuvens.
Como a época de excursão coincidiu propositadamente com o perío-
do mais seco, que corresponde, em quase todo o sudoeste amazônico, aos
meses de junho, julho e agosto, ficou bem caracterizado, pela observa-
ção direta, o tipo de tempo de verão. Assim é denominada a fase da
estiagem em toda a Amazônia, de acordo, aliás, com a tradição de
seus povoadores nordestinos. Na parte ocidental da região, a estação
seca, isto é, a de meses com menos de 100 mm de precipitações, dura

a GALVÃO, Ma rília Velloso. Clima da Amazônia In G eografia do B r asil;


Grande Regi ão Norte. Rio de Janeiro IBGE, CNG, 1959. v . 1, p . 61-111 (série A,
Bibl. Geogr. Brasileira )
4 NIMER, Edmon . Clima. In Geogr afi a do Bra,sil ; Região Nor te . Rio de
J a neiro, ffiGE, 1977. v. 1, p . 39- 58.

16

apenas dois meses: julho e agosto. Convém frisar, entretanto, que essa
estação corresponde ao inverno do hemisfério austral, onde está situado
todo o sudoeste amazônico.
Nessa época, em geral, a temperatura pela manhã está próxima
dos 2ooc ou pouco mais; reina a calmaria ou sopram ventos fracos; o
céu se apresenta límpido ou com baixos stratus. Por volta do meio-dia,
a temperatura se eleva até cerca de 350 ou um pouco acima; a convec-
ção se acentua, gerando uma cobertura de nuvens até 40 % , do tipo
cumulus ou stratus-cumulus. Eventualmente, durante a tarde podem
ocorrer curtas -chuvas de convecção, localizadas, oriundas de pequenas
formações de Cb. Essas precipitações não registram geralmente alturas
significativas no pluviômetro. Ao anoitecer, a temperatura desce a uns
310; a nebulosidade baixa a zero ou a coberturas reduzidas de stratus-
cumulus, e os ventos retornam a fracos ou mesmo à calmaria.
Esse tipo de tempo, em tudo semelhante ao do Planalto Central,
revela que, nesse período, predomina no sudoeste da Amazônia a massa
de ar instalada naquela região, que outra não é senão a massa Tropical
Atlântica, modificada no interior do Brasil, após ter perdido parte de
sua umidade, ao transpor as escarpas do Sudeste e Nordeste do País. Os
dias são então luminosos, e as noites agradáveis. O mínimo de nebulo-
sidade costuma registrar-se no mês de agosto.
No período de maio até outubro, inclusive, podem ocorrer anomalias,
designadas pelo povo com o nome de friagem. Apesar da magnífica
análise desse fenômeno, feita por Adalberto Serra e Leandro Ratisbon-
na 5 os habitantes da região ainda o explicam como o ar frio, formado
sobre as geleiras dos Andes, que desceria para as terras baixas vizinhas.
Tal explicação não resiste à crítica científica porque, ao descer tanto,
o ar frio se a,queceria, por compressão adiabática, e teria reduzido o
seu teor de umidade. No entanto, o ar da friagem é relativamente
frio e muito úmido.
Durante a excursão, foram observadas duas ocorrências fracas de
friagem: a primeira chegou a Porto Velho na madrugada de 28 para
29-6-76; seu sistema de nuvens se dissipou na manhã do dia 30 subse-
qüente. A segunda massa fria nos surpreendeu em Rio Branco (AC) ,
onde, na manhã do dia 10-7-76, às 7 horas, observamos uma temperatura
de 190, nebulosidade total, com stratus e cirrus-stratus, e ventos mo-
derados do sul, com rajadas frescas. ·
Pela manhã, voando de Rio Branco para Cruzeiro do Sul, em avião
de linha, pudemos observar, por cima, a cunha da massa fria invadindo
o Acre central (fig. 1). Cobrindo-a, um manto contínuo de stratus
(St), a talvez 500 metros de altitude ou pouco mais, marcava a in-
versão de temperatura. Em contato com o ar quente superior, uma ca-
mada de nevoeiro revestia os St. Acima de nós, amplo horizonte de
altos stratus indicava a tranqüilidade atmosférica a alguns milhares de
metros de altitude. Em Cruzeiro do Sul, ao meio-dia da mesma data,
a friagem não havia chegado; a temperatura estava a 31°,5, e a forte
convecção frontal formava uma cobertura de 95 % de cumulus e cumu-
lus-nimbus, que gerou curto aguaceiro. Nesta cidade, a influência da
massa fria só veio a se dissipar no dia 14 de julho seguinte.
De acordo com Serra & Ratisbonna, a interpretação de cartas si-
nóticas, transcritas no citado artigo, comprova que a friagem resulta

5 SERRA, A. & RATISBONNA, L. As ondas de frio da bacia amazônica.


Bol. geogr., Rio de Janeiro, IBGE, 3 (26) : 172-206. maio 1945.

17
lTOS STRATUS

ESQUE~A DA ENTRADA DA "FRIAGEM", OBSERVADA


NO VOO RIO BRANCO-CRUZEIRO DO SUL
FIG . l

de invasões do anticiclone polar pacífico (Pp) que, deslocando-se para


a vertente atlântica em latitudes subantárticas, invade a Patagônia, no
semestre de inverno, formando aí a frente polar atlântica (FPa). Na
altura do Rio da Prata, essa frente progride, assumindo uma direção
geral NW-SE e atinge no litoral, até a costa oriental do Nordeste, pro-
vocando chuvas e quedas de temperatura, o vale do Paraná, aonde vai
causar as geadas, temidas pelos fazendeiros de café, no planalto pau-
lista e norte-paranaense. O setor mais ocidental acompanha a vertente
leste dos Andes, sobe o vale do rio Paraguai, onde ganha o Pantanal
e transpõe o baixo divisor de águas que separa os formadores do men-
cionado rio e as vertentes meridionais do Amazonas. Nesta bacia veri-
ficam-se dois fatos importantes com a massa Pa: ela se desloca, to-
mando o rumo NW, não só porque as cristas dos Andes tomam aí essa
mesma direção, mas também porque, em conseqüência do movimento
de rotação da Terra, de oeste para leste, força a Pa, pelo vetor de
Coriolis, a tomar o citado rumo. O segundo aspecto significativo é o
achatamento da massa Pa: em Cuiabá ela pode alcançar até mais de
3. 000 metros de altura; em Sena Madureira, sua altura varia entre 500
e 1 . 000 metros. Esse achatamento, que precede a diluição da Pa, corres-
ponde a uma expansão no sentido horizontal, de modo que, em certos
casos, descritos no artigo em causa, pode ir além de Manaus, ganhar o
hemisfério norte e atingir até o interior da Venezuela.
As mínimas absolutas no sudoeste amazônico podem alcançar va-
lores inteiramente anômalos para a macrorregião, por causa da friagem:
70,9 em Sena Madureira, registrado em 12-8-1936; 7° em Rio Branco
(absoluta ?) , no dia 31-7-1928, e 5° em Cruzeiro do Sul, em 25-6-1933,
louvando-nos nas informações fornecidas por Serra & Ratisbonna, no
trabalho já citado (ref. 3)., As Normais Climatológicas, editadas pelo
Ministério da Agricultura 6 , indicam porém uma temperatura mínima
absoluta mais elevada para a mesma estação de Cruzeiro do Sul: 90,6,
observada em 1-8-1955. Segundo esta última publicação, a mínima abso-
luta de Humaitá teria sido de 100, ocorrida no dia 15-7-1947.
Para termo de comparação, deve-se levar em conta que esta foi
também a minima minimorum registrada no Rio de Janeiro, em mais
de 100 anos de observação meteorológica; porém o Rio está a cerca de
230 de latitude sul, ao passo que a mais meridional das cidades acima
citadas (Rio Branco) está apenas a 10°. É que o trajeto continental
percorrido pela Papara atingir o sudoeste amazônico no inverno austral

u M.A., Escritório de Meteorologia. Normais climatológicas. v. 1, Acre-Ama-


zonas-Pará-Maranhão. Rio de Janeiro, 1970. 39 p. (multilit) .

18
(portanto sobre um solo resfriado) elimina o efeito moderador do ocea-
no, que favorece o Rio de Janeiro.
O fenômeno meteorológico notável, que é a friagem, não afeta de
maneira sensível as médias com que são calculadas as chamadas nor-
mais climatológicas, porque ocorre em pequeno número e é de breve
duração. Realmente, no Sudoeste Amazônico, como na macrorregião
em geral, as estações apresentam temperaturas médias anuais compre-
endidas entre 240 e 26o; em Cruzeiro do Sul é de 240,2; em Humaitá,
250,7. Faz exceção a localidade de Vilhena, porque está situada a mais
de 600 metros de altitude. De acordo com Serra & Ratisbonna, anos
existem em que não ocorrem friagens; mas em Sena Madureira são mais
comuns as incidências de duas até, no máximo, cinco por ano. Relati-
vamente à época do ano, são elas mais freqüentes no trimestre de
maio a julho, em Sena Madureira; mas podem sobrevir até no mês
de outubro.
Em resumo, a estiagem reproduz no Sudoeste da Amazônia o tipo
de tempo do Planalto Central, se bem que por um período mais curto.
A nebulosidade, mesmo em Humaitá, situada a somente uns 7° e meio
de latitude sul, desce no trimestre junho-agosto a menos de 40 % , en-
quanto a média anual é de 58 % . A Uil}idade relativa desse local, que
se aproxima dos 90 % nos meses mais ú'midos (média anua] = 83,6 % ),
baixa a menos de 80 % de julho a setembro. Tal diversidade já não se
observa a oeste, onde, em Cruzeiro do Sul, o clima é mais uniforme e
mais úmido. A umidade relativa média é aí de 88,3 % para o ano todo,
mas no mês mais seco, que é agosto, reduz-se somente a 84,4 %. A nebu-
losidade média anual é de 74 % ; porém no bimestre julho-agosto fica
abaixo dos 60 % .
O tipo de tempo mais representativo da mesorregião, como da Ama-
zônia no seu conjunto, é o longo inverno, quer dizer, a estação chuvosa.
Vai de setembro até maio-junho do ano seguinte. Não há mês, nesse
período, que receba menos de 100 milímetros de precipitações. Daí re-
sultam elevados totais de pluviosidade; todos os postos meteorológicos
registram mais de 2. 000 mm anuais de chuvas. Até Vilhena, situada a
SW de Rondônia, no limiar da zona de cerrados da chapada dos Pa-
recis, recebe 2. 047 mm de precipitações por ano.
Embora nessa faixa de tempo esteja incluído o verão do hemisfério
sul, não é essa a época mais quente do ano, porque a nebulosidade é
maior: alcança 80 % ou mais, de novembro até abril, em Cruzeiro do
Sul; 70 % ou mais, de dezembro a abril, em Humaitá; acima de 60 %,
de jàneiro a março, em Vilhena. Em conseqüência, as médias mensais
de temperaturas mais. altas se situam no final da estação seca ou no
início da chuvosa. Não há, contudo, nenhum mecanismo de massas de
ar, em toda a Amazônia, que permita assimilar esse fenômeno ao de
uma monção. Aí, como no sudoeste amazônico, prevalece, durante o pe-
ríodo chuvoso, o ar quente e convectivamente instável da faixa equato-
rial (doldrums) , com nuvens do tipo stratus-cumulus, geralmente pela
manhã e ao anoitecer; cumulus e cumulus-nimbus durante o dia. Estes
dois últimos tipos de nuvens se desenvolvem verticalmente até baixas
altitudes; são tangidos pelos ventos e produzem aguaceiros, que se des-
locam na região, muitas vezes fazendo-se acompanhar de trovões e des-
cargas elétricas. Em certas ocasiões, as chuvas se prolongam de um dia
para o outro, alternando pancadas dágua com estiadas. Sem embargo,
em Humaitá, um dos locais mais chuvosos da área em estudo (2. 315
mm/ ano), podem-se passar, num inverno, até 10 dias sem chover. Em
compensação, no rigor desse período, podem cair, em 15 minutos, 30 mm

19
de precipitações 7 • Eis alguns exemplos de pesadas chuvaradas, regis-
tradas no pluviógrafo de Humaitá: na madrugada do dia 7 de maio
de 1973, entre 1: 12 até as 2:00 horas, ou seja, em 48 minutos, caíram
303 mm de chuvas; pouco depois, entre 5:22 e 8:50 horas, isto é, em
3h28min., caíram mais 373 milímetros. Na madrugada de 19 para
20-5-1973 houve outro aguaceiro, das 22:35 horas aos 40 minutos do
dia 21 (2h.5min., no total), com 381 mm de precipitação. Foram dois
verdadeiros dilúvios, num curto espaço de tempo. Evidentemente, 1973
foi um ano muito úmido na região.
A umidade relativa se mantém sempre acima dos 80 %, no inverno.
Em Cruzeiro do Sul sua média chega a 90 % no mês mais úmido (mar-
ço) ; em Humaitá, ela não vai além dos 88,2 % (em fevereiro) .
Os calores não são, no entanto, excessivos, conforme supõem os pre-
conceitos relativos à região amazônica. As máximas absolutas regis-
tradas em 30 anos de observação (de 1931 a 1960) acusam 36°,4 em
Cruzeiro do Sul e 390,9 em Humaitá, isto é, sensivelmente mais mode-
radas que no Rio de Janeiro. Ao contrário, no verão astronômico podem,
de manhã cedo, ocorrer nevoeiros e sentir-se algum frio, em virtude do
alto teor de umidade do ar. Mas a amplitude térmica diurna, seja na
estação chuvosa, e muito mais ainda na estiagem, é bem maior que a
anual, isto é, a diferença entre a temperatura média do mês mais
quente e a do mês mais frio. Esta amplitude térmica anual em poucos
lugares ultrapassa o valor de 2oc, em todo o Sudoeste Amazônico, como
aliás é típico das regiões de baixas latitudes do mundo inteiro.

2.2 - CONSEQüf:NCIAS NA VIDA REGIONAL

os reflexos dos tipos de tempo, particularmente do regime de chu-


vas, sobre a vida econômica da região são numerosos. As vezes, esses
efeitos são diretos, em conseqüência do umedecimento do solo. É o caso
da atividade agrícola e dos transportes rodoviários. O calendário agrí-
cola é descrito adiante, no PIC Ouro Preto, em entrevista realizada com
uma família de colonos. Foi escolhida essa área porque lá o cultivo da
terra se faz mais amplamente e de maneira mais vivaz, em toda a mesor-
região. Por outro lado, a circulação rodoviária fica interrompida, nas
estradas de terra. Mesmo a BR-364, de Porto Velho a Cuiabá, e a Transa-
mazônica, de Porto Velho a Rio Branco e até Cruzeiro do Sul, ficam
cortadas. O trecho entre esta cidade e Sena Madureira é interditado
pelos batalhões rodoviários, em benefício da manutenção do leito da
estrada, já que a região por ela atravessada não tem pedra; as argilas
têm aí grande atividade coloidal e os aterros são novos, portanto mal
compactados. Faz exceção a essa regra a ligação Porto Velho-Manaus,
porque essa rodovia foi asfaltada há poucos anos.
Em muitos outros aspectos, a influência do regime de chuvas se faz
sentir indiretamente, por intermédio do regime fluvial. Na mineração
de cassiterita, a economia da água é um problema vital, conforme se
verá adiante, porque, embora curta, a estiagem acarreta uma redução
tão severa nas descargas dos rios que falta água para o desmonte hi-
dráulico e a concentração do minério. No auge das águas, vapores e
chatas atracam tranquilamente em Rio Branco, Sena Madureira e Cru-
zeiro do Sul. A atividade comercial se estimula outrora, nessa fase,
porque o intercâmbio da região se baseava essencialmente nos trans-

7 Informação verbal da professora que fazia a leitura dos instrumentos do


posto meteorológico de Humaitá.

20
portes fluviais. A recente revolução no sistema regional de transportes,
fazendo-os depender sobretudo das estradas de rodagem, modificou com-
pletamente o quadro; hoje em dia, no auge da estação chuvosa a ati-
vidade comercial arrefece, visto que as relações são feitas sobretudo
com o Sudeste, em particular com São Paulo.
No próprio extrativismo vegetal, hoje decadente, o regime de chu-
vas provoca uma pulsação sazonal. No auge das águas cessa o corte da
seringa em toda a mesorregião; em contrapartida, ativa-se a coleta da
castanha, da bacia do Purus para leste, e no alto Juruá, oeste, pro-
cessa-se a extração qo caucho, em escala bem mais modesta.

21
Capítulo 3 - CLASSIFICAÇõES CLIMATICAS

Os gráficos de temperatura e precipitação das estações de Porto


Velho, Sena Madureira e Eirunepê (fig. 2) revelam totais de chuvas tão
elevados e médias térmicas gerais tão elevadas e uniformes, no decorrer
do ano inteiro, que, logo à primeira vista, o geógrafo experiente inclui
as referidas localidades no tipo de clima Amwi, da classificação de
Koppen. Traduzindo tal simbologia em linguagem corrente, essas letras
significam clima tropical (A), de monções (m), com invernos secos (w)
e amplitude térmica reduzida (i). O gráfico relativo a Eirunepê é, ade-
mais, rotulado com g, indicativo de uma estação mais quente prece-
dendo imediatamente as chuvas ou, na nomenclatura abreviada de Kop-
pen, do subtipo gangético.
Na realidade, o conjunto Af deveria constituir um outro grande
tipo climático da Terra- o tipo equatorial- e talvez só não o tenha
sido porque, na época em que Koppen criou sua classificação, dispu-
nha-se de muito poucos dados sobre o clima da faixa equatorial e pres-
tava-se muito pouca atenção à geografia dessas regiões do mundo. Além
disso, do ponto de vista genético, segundo já foi explicado, não existe
qualquer mecanismo de massas de ar que, na Amazônia, possa ser assi-
milado às monções. ·
As classificações estabelecidas por Thorntwaite e por Serebrenik,
embora usando símbolos literais diferentes, pouca melhoria trazem, por-
que se basearam igualmente em fórmulas matemáticas, calcadas nos
dados mensais de precipitações e temperaturas.
A chamada classificação bioclimática de Gaussen e Bagnouls é
mais refinada que as anteriores. Fundamenta-se numa curva do cha-
mado índice xerotérmico, cuja elaboração segue um cálculo parecido com
o que mais tarde foi proposto por Thorntwaite para classificar, de ma-
neira geral, o balànço hídrico de todos os locais da Terra. O gráfico
de Gaussen representa aqui as estações de Humaitá, Porto Velho e Vi-
lhena (fig. 3). Já se pode notar uma transição, que inclui o clima de
Humaitá na categoria dos subtermaxéricos, deixando os outros dois na
dos termoxeroquimênicos atenuados.
O mapa do Brasil, organizado por Marília Veloso Galvão, no seu ar-
tigo sobre "As regiões bioclimáticas do Brasil" 8 , utilizando essa classi-
ficação, deixa evidente o caráter de transição climática do Sudoeste
amazônico. Nesse mapa, a cidade de Cruzeiro do Sul está colocada no
tipo eotermaxérico ou, em termos mais simples, equatorial, fato que
escapa às outras classificações citadas.
A classificação de Gaussen-Bagnouls é, sem dúvida, mais apurada
que as anteriores. Pretende, no entanto, espelhar com fidelidade o qua-
s Revista Brasileira de Geografia, 29 (1) : 3-36, jan.-mar. 1967.

22
I
NORMAIS CLIMATOLOGICAS
DE 3 ESTAÇÕES
DO SUDOESTE AMAZÔNICO

CON V ENÇO E S
I :. •Mriximos absolutas
l l - Me' dio d<u m Óll:im a s
11 1- Me 'd io geral
IV - Me'dia dos mc'n i mas
V- MÍnim a s absolu t as

Amwi

F IG. 2
F11n t e: IBGE - GRAN DE REGIÃ O NORTE - 19 59 Gr~f icl' l
lot. <S l 12 •43'
VILHENA -[ long. (W.Gr. ) 60•03'
PERÍODO: 1931-42
TERMO XEROOU IMÊNICO ATENUADO I

(3-4 MESES SECOS) BALANÇO HIDRICO


TEMP. MES MAIS FRIO > 2o•c
PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL : 2074 .4 mm
P.360
DE 3 ESTAÇÕES DO
A

340

320
SUDOESTE· AMAZONICO
300

GRÁFICO 2

160

140

120

100

80

60
40

20

J ASONO M AMJ
cs
lat. l s•45'
PORTO VELHO -[ long.(W Gr.) 63 • 55 ,
'-{lot. (Sl 7"31' PERIODO : 1928-4_?
HUMAITA long.( W Gr.) 63°00 1 TERMOXEROQUIMENICO ATENUADO
PER(oDo : 1931- 60 (3 MES ES SECOS)
SUBTERMAXÉRICO TEMP. MES MAIS FRIO > 20•c
( + 2 MESES SECOS l PREC IPITAÇÃO ME.DIA ANUAL : 2 232 mm
TEMP. MES MA IS FRIO> 20• C p
400
PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL: 2 315 .7mm
p 3 80

340 34 0

300

260 260

220

200 200

18 0 18 0

16 0

140

1_00
100

80 40 80

30 60
60
40

20 lO 20
lO

A S O OJFMAM J ASONDJ F MA MJ

FIG 3
dro da vegetação, o que nunca será possível por classificação geral
alguma, visto que o revestimento vegetal depende de muitos outros fa-
tores, tais como: relevo, altitude, drenagem superficial e subterrânea,
exposição às massas de ar, capacidade de retenção de água dos solos,
paleoclimas etc. Vilhena, por exemplo, já está na área de campos e, não
obstante, figura na mesma classe que Porto Velho.
Em síntese, a melhor maneira de se exprimir o clima de uma região
ainda parece ser a de descrever os seus tipos de tempo (inclusive as
chamadas ocorrências anormais), explicá-los através da dinâmica atmos-
férica e, por fim, indicar suas conseqüências na natureza e na orga-
nização econômico-social da área. O melhor rótulo parece-nos sempre
um que seja suficientemente descritivo.
De acordo com essas normas, o clima do Sudoeste amazônico de-
veria ser denominado subequatorial úmido, com curta estação seca.

25
Parte 11 - RONDôNIA E REGIÕES VIZINHAS
AD~LIA MARIA SALVIANO JAPIASSU
ORLANDO VALVERDE
NEY ALVES FERREIRA

TERRITóRIO Federal de Rondônia pode ser dividido, pratica-


mente, em duas partes: a) áreas onde dominam terrenos cristalinos pré-
cambrianos; b) áreas com maiores extensões de coberturas sedimentares
espessas. A fim de ordenar o presente trabalho, estas áreas serão des-
critas de per si, dando-se maior ênfase aos aspectos referentes ao relevo
e à vegetação.

27
Capítulo 1 - AREAS DE DOMINANCIA CRISTALINA

A primeira parte (dominância Pré-Cambriana), está situada apro-


ximadamente entre os paralelos nooo• e sooo• sul, e os meridianos
66000' e 61 °30' WGr, abrangendo, assim, a região centro-norte de Ron-
dônia. Aí, os rios fazem parte da bacia do Madeira, sendo os mais im-
portantes o Jaciparaná, o Jamari e o Ji-Paraná.
Pelo estudo das imagens de radar, escala 1:250. 000, esta área apre-
senta, em linhas gerais, as seguintes formas de relevo: superfícies aplai-
nadas; relevo dissecado em colinas; cristas e pontões e formas tabulares.
As rochas de idade pré-cambriana, no Território, são constituídas
por gnáisses, magmatitos e anfibolitos (estes últimos, mais freqüentes
na parte sul do Território), muito penetrado~ por intrusões graníticas
e parcialmente capeados por formações mais recentes, provavelmente
quaternárias.
Nos mosaicos de imagens de radar, os padrões de morfologia e dre-
nagem são bastante evidenciados, permitindo um estudo comparativo
entre as áreas cristalinas e sedimentares.
O principal rio da área, o Madeira, forma com seus afluentes,
densa rede hidrográfica. Em certas partes do escudo cristalino, nota-se
que o relevo é finamente dissecado por uma infinidade de igarapés (Fig.
4), o que não é de admirar, em vista das elevadas precipitações que
incidem sobre toda a região.
O rio Madeira, com cerca de 1 . 700 km de extensão em território
brasileiro, é formado pela confluência dos rios Beni e Mamoré, ambos
oriundos da Bolívia. Este recebe o rio Guaporé, que nasce em Mato
Grosso e faz fronteira natural entre o Brasil e a Bolívia, até perto
de suas nascentes. .
Ao longo do curso do rio Madeira, entre a cidade de Abunã e o
limite setentrional do Território, estão seus principais afluentes: Mu-
tum-Paraná, Jaci-Paraná, Jamari, Preto e Ji-Paraná.
A parte nor-nordeste do Território Federal de Rondônia, pela sua
situação na periferia do Escudo Brasileiro, em contato com a bacia
terciária da Amazônia Ocidental, tem a maior parte dos leitos dos rios
correndo sobre esse escudo pré-cambriano, porém com coberturas de
um manto aluvionar, resultante da decomposição, desagregação e trans-
porte das rochas pré-existentes, exceto os baixos cursos dos rios Preto
e Ji-Paraná, que correm sobre o Terciário.
Os leitos desses rios do escudo se caracterizam por grande desen-
volvimento dos meandros, intercalados em alguns trechos por traçados
em cotovelos, de formas angulosas, provavelmente em áreas onde o
embasamento é mais aflorante. Estes fatos são bem evidenciados quan-
do se estuda nas imagens de radar o leito do rio Ji-Paraná. No seu alto
curso, entre Vila Rondônia e o paralelo 1oooo• S, existem cotovelos sem

29
Flg. 4 - Trecho do médio vale do Machadinho (atravessando de cima a baixo a imagem de
radar), afluente da margem esquerda do Ji-Paran ã ou Machado. A esquerda da figura o
Igarapé Preto ou do Repartimento, afluente do primeiro, disseca finamente o escudo cristalino,
contrastando com as ãreas vizinhas, ao norte e a o sul.
Notar, na vertente direita do Ma chadinho, a estrutura a nular, denunciada pelo relevo e pela
drenagem.
(Fonte : Mosaico SC-20-X-C, do Proj eto RADAM, 1972)

meandros e difluências das quais resultam braços que se reúnem logo


adiante, enquanto no curso médio aparece uma calha, bem delimitada
nas imagens de radar, e traçado ainda em cotovelos sem meandros. O
leito inferior, já sobre a formação Barreiras (Terciário) torna-se amean-
drado, deixando inclusive alguns meandros abandonados.
A grande calha do Madeira-Mamoré-Guaporé tem características
muito particulares; está situada na borda ocidental do escudo cristalino
sul-amazônico, aí franjada pela depressão periférica subandina, com-
posta principalmente de sedimentos terciários. Por causa disso, a re-
ferida calha forma uma enorme inflexão: no alto curso, a drenagem
é feita de SE para NW; pouco acima de Guajará-Mirim o Mamoré toma
a direção de S para N, e assim prossegue com o nome de Madeira, até
a confluência do Abunã; daí para jusante, até a foz, o Madeira flui
de SW para NE.
O trecho do Madeira-Mamoré a jusante de Guajará-Mirim até pró-
ximo a Porto Velho, é caracterizado pelas corredeiras, numa extensão
de aproximadamente 360 km, com cerca de 18 cachoeiras, onde se con-
clui que, neste percurso, o rio corre sobre o escudo metamórfico des-
nudado, onde o processo de erosão profunda ainda não terminou, dando
a este trecho o caráter de leito relativamente jovem.
É significativo o fato de ser o alto curso do Madeira uma bacia
assimétrica, com afluentes muito maiores na margem esquerda, que
descem dos Andes e de seus contrafortes orientais, como: o Mamoré
e seu afluente Grande, o Beni e seu tributário Madre de Dios, o Abunã.
Abaixo do trecho encachoeirado dá-se o inverso: os principais afluentes
descem do escudo cristalino- o Jamari, o Ji-Paraná ou Machado, o Ari-

30
puanã com seu afluente Roosevelt, o Sucunduri. Pela outra margem,
a estrutura da bacia terciária favorece a bacia do Purus, típico rio de
baixada, que drena uma superfície muito maior, deslocando o divortium
aquarum para perto do rio Madeira.
A explicação destes fatos é dada por H. Grabert n. De acordo com
este autor, a drenagem da parte ocidental do escudo sul-amazônico,
antes do soerguimento dos Andes, corria na direção geral NW, desa-
guando no golfo hoje ocupado pela vasta bacia terciária da Amazônia
ocidental. A orogenia andina, que se desenvolveu sobretudo no terciário
e se prolonga atenuada até os dias atuais, fechou o referido golfo e
inverteu o sentido geral da drenagem amazônica. De início, todo o norte
boliviano teria formado um imenso lago, que não vasou para a bacia
do Paraguai porque no sul da Bolívia se ergue uma barreira cristalina
(serra do Mutum), até mais de 800 metros. Os sedimentos terciários de
Abunã seriam, segundo o autor citado, de origem flúvio-lacustre. So-
mente no quaternário teria o Madeira capturado a bacia desse lago,
correspondendo assim a inflexão de Abunã a um cotovelo de captura.
Sobre o escudo cristalino notam-se, de vez em quando, nas imagens
de radar, as chamadas estruturas anulares, que representam anticlinais
vasados (boutonnieres ou outcrops), resultantes do afloramento de ba-
tólitos graníticos, em virtude da remoção do material superior pela ero-
são (Fig. 5). Uma dessas estruturas é bem visível, nas citadas imagens,
no vale do igarapé Boa Vista, pouco ao sul do PIC (Projeto Integrado de
Colonização) Ouro Preto, a uns 35 km para oeste de Vila Rondônia, em
linha reta. Numerosas outras estruturas semelhantes se podem observar
no vale do Candeias, no do Machadinha e do Roosevelt (perto de Igarapé
Preto).

Fig. 5 - Estrutura anula r ao sul do PIC Ouro Preto, cujas estradas e parcelas se podem observar
no alto, à direita.
(Fonte: Mosaico SC-20- Z·A, do Projeto RADAM, 1972)

o GRABERT, Helmut. Sobre o desaguamento natural do sistema fluvial do rio


Madeira, desde a construção dos Andes. In Atas do Simpósio sobre a Biota Ama-
zônica. Belém, 1967. v. 1, Geociências, p. 209-14.

31
É fato sabido que tais intrusões graníticas provocaram fenômenos
de metamorfismo, particularmente de mineralização, rias rochas envol-
ventes. Na Rondônia, tais estruturas estão vinculadas freqüentemente à
ocorrência de cassiterita; por isso, têm especial interesse para os geó-
logos.
Outra característica importante do relevo gnáissico de Rondônia é
a rede de fraturas e falhas, que orientam cristas e vales. Entre Arique-
mes e Vila Rondônia, sobretudo ao sul da BR-364, nota-se nas imagens
de radar que as duas direções de alinhamentos se entrecruzam: o de
NE-SW, infletindo-se aí para NNE-SSW, e o de NW-SE, que se torna
conspícuo no sul desta área (fig. 6). Extensas cristas paralelas, alinha-
das no rumo NNE-SSW, são também visíveis a leste do rio Machado, a
partir de uns 70 km para jusante de Vila Rondônia.
Essa orientação das falhas e fraturas do escudo pré-cambriano não
é apanágio de Rondônia, mas afeta praticamente todos os afloramentos
do escudo cristalino do continente sul-americano, desde a serra de Cór-
doba, no centro da Argentina, mais as Serras do Mar, Mantiqueira e o
Maciço Nordestino, no Brasil. Além disso, observando-se as imagens de
radar do Território em estudo, pode-se ver que o mesmo tectonismo
orienta a dissecção das camadas do arenito Parecis, na serra dos Pacaás
Novos, a leste de Guajará-Mirim. Ele é mesmo responsável pelos nu-
merosos cotovelos que orientam a drenagem do Território, tanto sobre
o embasamento cristalino como sobre as chapadas sedimentares, cuja
idade é atribuída ao Cretáceo.
Ora, se esse tectonismo é tão generalizado, tão violento e, ao mesmo
tempo, tão moderno que atingiu as próprias formações cretáceas, só
pode ser atribuído a reflexos da orogenia andina. Segundo H. O'Reilly
Sternberg, seria ele também o responsável pela orientação geral da dre-
nagem dos afluentes do Amazonas na própria bacia terciária 10 •
Excluídas essas e outras áreas cristalinas severamente fraturadas
e dissecadas (aí compreendidos terrenos derivados de rochas metamór-
ficas e eruptivas), a maior parte do Território tem relevo suave, mame-
lonar, com formas em me~a-laranja ou casco de tartaruga, emergindo
de fundos de vales planos, semelhantes ao da Zona da Mata de Minas
Gerais, ou do médio Paraíba, no Estado do Rio, conforme previra A'Sá-
ber 11 • O conhecimento das condições topográficas tem considerável im-
portância prática para os programas de colonização. Mais do que a
fertilidade do solo, a energia do relevo é um fator restritivo. As áreas
da BR-421 e do PIC Paulo de Assis Ribeiro (Fig. 7) deveriam ser, por
isso, em grande parte, evitadas. Quando assim não fosse possível, pelo
menos não deveria ser adotado o padrão fundiário em retângulos N-S
e E-W (Hufen), como o das terras planas do Middle-West norte-ame-
ricano ou da Europa Central. Este problema voltará a ser discutido,
mais adiante.
Ao longo do curso do rio Madeira, no trecho entre Abunã e Porto
Velho, foram mapeadas as seguintes formações geológicas:
-formação Mutum-Paraná, situada na margem esquerda do rio,
no extremo noroeste do Território, com afloramentos de quartzitos asso-
ciados a filitos, pertencentes ao pré-cambriano mais recente;

10 STERNBERG, Hilgard O'Reilly. Vales tectônicos na planície amazônica?


Rev. bras. Geogr., 12 (4) :513-33, out.-dez. 1950.
11 AB'SABER, Aziz Nacib. Problemas geomorfológicos da Amazônia brasileira
In Atas do Simpósio sobre a Biota Amazônica. Belém, 1967. v. 1, Geociências, p.
35-67.

32
w
w

F!g. 6 - Relevo orientado para NW-SE, na parte Inferior da Imagem (sul), cruzando-se com falhas c fraturas, assim como linhas de cristas, orientadas
para NE-SW. Estas se · infletem, ao norte, para NNE-SSW. No canto superior direito aparece pequeno trecho da BR-364, em Nova Vida.
(Fonte: Mosaicos SC-20-Z-A e SC-20-Y-B, do Projeto RADAM, 1972)
- formação Palmeiral, na margem direita do rio Madeira, entre
Mutum-Paraná e a Cachoeira do Inferno, ao longo do rio, e a leste até
o rio Candeias. Esta formação do pré-cambriano superior é caracterizada
por sedimentos formados por arcósios e conglomerados;
- formação Barreiras, constituída de sedimentos argila-arenoso-
limosos terciários.

Flg. 7 - .Estrada carroçável, de Vilhena a Vila Colorado, sobr e terra roxa e relevo acidentado,
a 15 km antes da chegada à sede do PIC Paulo de Assis Ribeiro.
Fot o Orlando Valverde - 5.7. 76

A montante de Abunã, entre as estações ferroviárias de Penha Co-


lorada e Taquara, reaparecem as rochas do escudo pré-cambriano, sa-
lientando-se entre elas o gnaisse, granito e migmatito capeadas aqui e
ali por um manto de sedimentos quaternários.
Em todo o trecho ao longo do rio, entre Porto Velho e Guajará-Mi-
rim, verifica-se a presença de material laterítico em extensas áreas.
Esses materiais de formação recente, terciária ou quaternária, ocorrem
muitas vezes como canga maciça de grande espessura, outras vezes sob
a forma de cascalheiras limoníticas, de caráter pisolítico.
Entre Porto Velho e Abunã, a paisagem se apresenta bastante alte-
rada, pois há mais de 70 anos esta região vem sofrendo intensa explo-
ração madeireira, inicialmente para a construção da estrada de ferro,
depois para o fornecimento de lenha à mesma. Hoje o quadro perma-
nece, devido à intensa atividade agropastoril, principalmente no trecho
entre Porto Velho e Jirau, onde a vegetação primitiva era quase toda
de porte florestal. Nesta área, em meio a grande número de capoeiras,
subsistem pequenas matas relíquias da floresta primitiva, com casta-
nheiras e angelins.
A ação antrópica é de tal intensidade que ali se torna difícil per-
ceber se a floresta era, na realidade semidecídua ou perenifólia. Seu grau

34
de caducidade fica muito acentuado quando a mata é fortemente de-
gradada. Nas capoeiras, observa-se grande regeneração de parapar4,
Jacaranda sp.; morototó, Didymopanax morototoni, Aybl. e canafístula,
Cassia spp., além das palmeiras babaçu, Orbignya martiana, B. Rodr.
(Fig. 8) e tucum, Astrocaryum tucuman mart. O tipo de solo dominante
nessa faixa é o latossolo vermelho-amarelo arenoso.

Flg. 8 - Sub-bosque da mata semidecídua, rico em palmeiras e bananeira brava. Cipós e tronco
de castanheira são visíveis. Foto tomada na picada que liga Vila Murtinho à rodovia de Abunã
a Guajará-Mirim (BR-425).
Foto Gilson Costa - 6. 8 .968

Transposta a área de cerrados e cerradões das vizinhanças de Abu-


nã, repete-se, ao longo da BR-425, até Guajará-Mirim, o revestimento de
capoeiras com grande concentração de babaçu e regeneração de paricá,
Schizolobium amazonicum (Hub.). Ducke, para pará e morototó. O solo
dominante é ainda o latossolo vermelho-amarelo, apresentando evidên-
cias de acidez, visto que a maioria dos pastos está invadida pelo sapê,
Imperata brasiliensis Iring. (Fig. 9).
Entre Porto Velho e o paralelo nooo• S, próximo à Vila Rondônia,
observa-se na BR-364 maior número de afloramentos graníticos em re-
lação a toda a área do Território.
Ao longo da BR-364, nos arredores da cidade de Porto Velho até
próximo à área da Cachoeira do Samuel, percorre-se uma faixa granítica
com forte cobertura de solo, argilosa., com laterita. Em alguns trechos

35
Flg. 9 - Roça de mandioca, com muda de bananeira, invadida pelo sapê, no Núcleo Colonial
de lata. No fundo, Embaúbas.
Foto Gllson Costa - 6.8.968

não há afloramentos rochosos, aparecendo apenas solo laterítico, geral-


mente com espessuras consideráveis.
Com relação à cobertura vegetal, aí dominam as capoeiras, em vir-
tude da extensiva utilização da terra, onde primitivamente havia flo-
resta densa com palmeiras. É uma área de colonização antiga, que há
quase 30 anos vem sendo utilizada pelo sistema de roças. A rotação de
terras favorece a formação de capoeiras, com alta ocorrência da palmeira
babaçu, Orbignya martíana, B. Rodr. O solo dominante é latossolo ama-
relo, textura indiscriminada, relevo plano e suavemente ondulado 12 .
A partir do ponto onde a citada rodovia se inflete para SE, a flo-
resta próxima à estrada se apresenta bastante alterada. É densa, rica
em palmeiras, como, por exemplo, babaçu, tucumã (Astrocaryum tu-
cuman, Mart.) e caranaí (Mauritia sp.; as árvores são geralmente de
grande porte (cerca de 30m de altura, sobressaindo o tauari (Cou-
ratari sp.), a castanheira (Bertrolletia excelsa, H. B. K.) etc. Essa mata
tem pequeno grau de deciduidade, embora seu estado de degradação à

12 FALES!, ítalo C., Solos da Estação Experimental de Porto Velho, T.F . Ron-
dônia. Belém, IPEAN, 1967. 99p . (Solos da Amazônia, 1).

36
beira da estrada prejudique a identificação precisa do fenômeno. Em
áreas onde a ocupação é menos intensa, ela é caracterizada pelo sub-bos-
que fechado, árvores emergentes e rica em castanheira e babaçu.
Castanhais nativos podem ser encontrados nas vertentes orientais
dos vales do Preto, do Crespo e do Branco ou São João, bem como no
alto vale do Machadinha, a leste de Ariquemes, mais ou menos a meia
distância entre essa cidade e o leito do Ji-Paraná, sempre relacionados
a um relevo granítico suavemente ondulado. A textura rugosa apresen-
tada pela floresta nas imagens de radar permitiu localizar os castanhais,
graças ao desnível entre as copas emergentes das castanheiras e a super-
fície superior do dossel. Correlação igual, entre ocorrência de castanhais
densos e relevo suave, foi observada no campo e em imagens de radar por
Paixão, Valverde e Coutinho, nos vales do Teles Pires, Juruena e Ari-
puanã 13 •
É claro que a exploração dos supracitados castanhais de· Rondônia,
assim como de outros, não é fácil, porque em regra eles estão afastados
das rodovias; mas o prolongamento de ramais, já construídos para dar
acesso a lavras de cassiterita, como o da Oriente Novo, poderia tornar
economicamente viáveis algumas explorações de castanha no Território.
Numerosos afloramentos graníticos intercalam-se em rochas gnáis-
sicas, sempre com espessa cobertura de solo, próximo à cidade de Ari-
quemes. A partir daí, em direção a Vilhena, a estrada passa a cortar
áreas de cristas paralelas, orientadas mais ou menos no sentido nor-
deste-sudoeste, constituídas por gnáisses, charnockitos e migmatitos. A
altura de Ariquemes ocorre, portanto, o contato entre o granito e essas
rochas, o que parece refletir-se na cobertura vegetal, alterando um
pouco a composição e estrutura da floresta. É também aí que a BR-364
deixa o vale do Jamari e transpõe o interflúvio que o separa do Ji-Paraná
ou Machado, cujo leito é atingido em Vila Rondônia.
Em conseqüência a floresta, embora também degradada pela in-
tensa atividade humana, é densa, com grau um pouco maior de deci-
duidade, caracterizada por árvores de troncos finos, dossel mais ou me-
nos uniforme (cerca de 20m de altura), raras emergentes, dentre elas
relevando o angelim (Hymenolobium sp.). As castanheiras e as pal-
meiras (babaçu) tornam-se raras.
Segundo informações verbais do representante do Instituto Brasi-
leiro de Desenvolvimento Florestal em Porto Velho, a floresta desta área
é mais rica em espécies madeireiras de valor econômico do que aquela
encontrada entre Porto Velho e Ariquemes. Tais espécies são: mogno,
Swietenia macrophyla, King; cerejeira ou imburana Torresia sp., roxi-
nho, Peltogyne sp.; maracatiara, Astronium lecointei, Ducke; freijó, Cor-
dia goeldina, Hub., morototó, Didymopanax morototoni (Aubl.) D. e P.
O comportamento semidecidual desta mata ficou bem patente em
vôo realizado por alguns dos autores deste relatório, no vale do Can-
deias, em meados de agosto de 1968 (Fig. 10). Nesse mesmo vôo se pôde
observar que nos afloramentos graníticos essa mesma floresta se torna

13 PAIXÃO, Moacyr; VALVERDE, Orlando; COUTINHO, Sérgio. Recursos de


castanha e madeira do município de Aripuanã. Relatório apresentado pelo escri-
tório AA. Noronha a Comissão de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso
(CODEMAT). Rio de Janeiro, jan. 1977. 3v.

37
Flg. 10 - Vista aérea da mata semidecídua, com ipês amarelos em flor, a oeste do rio Candeias.
(T.F. Rondônia ).
Foto Gilson Costa - 19 .8 .968

Flg. 11 - Manchas de mata decídua sobre o relevo granítico. Ao fundo, escarpa sedimentar da
Serra dos Pacaás Novos, Vista do braço direito do alto Ca ndeias, para o sul.
Foto O. Valverde - 19 . 8.68
francamente decídua, porque sobre eles o solo fica excessivamente raso
(Fig. 11).
Inventários florestais efetuados pela SENSORA 14 na floresta ao
longo da BR-421, estrada que ligará Ariquemes a Guajará-Mirim, e no
seu ramal para a Mineração Taboca, forneceram os seguintes resultados:

- Total da área amostrada: 17,5 hectares.


- Tamanho de cada amostra: 0,5 hectare.
- Número total de amostras: 35.
- Localização das amostras: ao longo da BR-421, com distância
de 3 km uma da outra, alternadas ora para um lado ora para outro,
num total de 30; ao longo da variante para a Mineração Ta boca dis-
tantes 4 km uma da outra, dispostas como as anteriores, no total de 5.
- Resultado da amostragem: volume total de madeira, 192 m 3/ha;
volume de madeira comercial, 78 m 8 /ha.
As espécies mais freqüentes nas amostras foram: breu (Protium
spp.) e roxinho (Peltogyne sp.), com percentual muito elevado em rela-
ção às demais, seguidas dos louros (Ocotea spp.), tac;hi (Tachigalia
spp.) e ipê (Tabebuia spp.) . i
Em virtude das diferenças litológicas citadas, torna-se evidente a
presença de maior variedade de solos, com predominância dos latos-
sólicos vermelho-amarelos, em relevo ondulado e fortemente ondulado,
pH ligeiramente ácido ou neutro, boa ou fraca retenção de umidade.

14 Levantamento de recursos naturais e diretrizes para colonização de parte


do polígono de Ariquemes, Rondônia. Rio de Janeiro, INCRA, SENSORA, 1977. 2 v.
<multilit) .

39
Capítulo 2 - AREAS DE DOMINANCIA SEDIMENTAR

No Território Federal de Rondônia e vizinhanças, as áreas de do-


minância sedimentar devem ser subdivididas em duas partes: a dos
baixos platôs terciários amazônicos, ao norte, e a da Chapada dos Pa-
recis e seus prolongamentos, ao sul.
Esta unidade geomórfica nada mais é do que uma extensão dos
planaltos centrais de Mato Grosso, aonde ela divide as águas das bacias
do Amazonas e do Paraguai. Em Rondônia, constitui chapadas até cerca
de 600 metros de altitude, ou pouco mais, com as denominações prin-
cipais de Parecis e Pacaás Novos. Forma apenas divisores de águas
secundários; os vales do Guaporé e do Mamoré as separam da Bolívia.
Sua principal formação geológica são os arenitos Parecis, de cor
clara, estratificação entrecruzada de fácies eólico e idade provavelmente
cretácica. Associados a eles, encontram-se também folhelhos 1 5 e hori-
zontes de calcário.
A formação Parecis penetra no Território com direção geral SE-NW
e se prolonga para oeste, até poucos quilômetros da margem direita
do rio Mamoré, próximo à cidade de Guajará-Mirim. Ela corresponde a
antigos depósitos que foram soerguidos, suavemente dobrados, apliana-
dos e, durante a orogenia andina, falhados sobretudo na direção ENE-
+SW. A serra do Uopiane, por exemplo, é um sinclinal bastante disseca-
do e delimitado por falhas nítidas, percorrido em seu eixo longitudinal
pelo curso superior e médio do rio Cautário.
No sul do Território, a escarpa da serra dos Parecis se desenvolve
na direção geral E-W, como frente de uma cuesta, cujas camadas mer-
gulham para o norte. O rio Guaporé corre aí em direção subseqüente,
coletando a drenagem obseqüente de seus afluentes da margem direita:
Branco ou Cabixi, Escondido, Corumbiara, Mequéns, Colorado e outros
menores.
Na estrada que liga o PIC Paulo de Assis Ribeiro a Vilhena (Fig.
12), o ponto mais alto da chapada estava a 620 m de altitude 16 ; o
contato mata-campo cerrado, a 605 m; pouco adiante, desce-se brusca-
mente. Os perfis arenosos de solos vêm até 490 m; daí para baixo,
surgem evidências de uma drenagem cárstica: ponte natural, sumidou-
ro ... Somente no igarapé da Divisa, a 280 m de altitude (fig. 13),
nota-se perfeitamente o contato entre o solo arenoso e a terra roxa,
derivada de anfibolitos.
Na contravertente da chapada os rios fluem subparalelos, em dire-
ção conseqüente, para o Ji-Paraná c o Roosevelt.

1 5 Destes colhemos amostras num poço de água à beira da BR-364, num


ponto a 1'7 km para SE de Pimenta Bueno.
16 As altitudes foram medidas com um altímetro Thommen, de bolso.

40
SECÇÃO VILHENA COLORADO

E:S5 ARENITO PARECIS


ES:9 CALCÁRIO

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300 -- /'J I I
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250 / I ....,I ~ I

200

km.O 25 50 75 88,3
VI LHE NA 1 I< m = 2 ··. m m COLORADO

F I G. 12
O vale do Guaporé constitui uma vasta região plana que se de-
senvolve rio acima, desde o sopé dos Parecis-Pacaás Novos, e se prolonga,
na outra margem, além do território brasileiro, até os contrafortes dos
Andes. Na planície aluvial, o Guaporé e seus afluentes da margem di-
reita formam meandros divagantes, emoldurados de matas ciliares, que
atravessam campos de várzeas, mal drenados. Nos terrenos não alagá-
veis, a vegetação é de cerrado. Esses campos naturais acompanham o
vale do Guaporé no Território de Rondônia, desde o vale do Cautarinho
até o igarapé Santa Cruz.
Ao norte da serra do Uopiane, sobre terrenos de relevo muito suave,
encontram-se clareiras naturais de cerrados, atravessadas por pequenos
rios e igarapés franjados de matas de galerias, os quais vertem para
os rios Branco do Cautário e João Câmara, afluente da margem direita
do Cautário.
Para quem vem de Porto Velho, ao longo da BR-364, observam-se
as primeiras ilhas de cerrados em meio à floresta, a uns 6 km a sudeste
de Pimenta Bueno. O contato geológico entre o escudo cristalino e as
formações sedimentares se reflete na cobertura vegetal, originando o
contato entre as formações florestais amazônicas e os cerrados (área
ecótono) do Planalto Central.
Este fato ressalta que, entre outros fatores, as variações litológicas
influem de maneira preponderante na composição do revestimento ve-
getal. Nesta área de contato, a vegetação se torna complexa, por causa
da alternância entre a floresta semidecídua e o cerrado. Aonde o relevo
se torna tabular, o cerrado é caracterizado pela fisionomia aberta, de
campo cerrado, com dominância da lixeira (Curatella americana, L.),
enquanto na floresta se divisam belos exemplares de ipê amarelo (Ta-
bebuia sp.).

'~!?;_..,~
Flg. 13 - Cont:tto entl'e ,, solo arenoso e a terra roxa, no igarapé, da divisa a 1 km ao sul
de Vilhena.
Foto O. Va!verde - 1976

42
Flg. 14 - Contato entre o cerradão (à direita) e a mata semidecídua, na estrada para o PIC
Paulo de Assis Ribeiro, a 51 km a sudoeste d e Vilhena.
Foto Irene Garrido Filha - 5. 7. 76

A ocupação humana é intensa nesta área, com muitas fazendas bem


organizadas e outras em formação.
O solo deriva quase sempre de rochas areníticas.
A medida que se avança em direção à divisa de Mato Grosso, o
cerrado passa a prevalecer; reveste a superfície das chapadas. O cer-
radão ocorre nas encostas suaves (Fig. 14); a mata, nos vales largos. A
floresta é semidecídua e cobre as áreas mais úmidas, sempre muito
alterada pela ação antrópica, ao longo da estrada.
No flanco meridional da chapada dos Parecis, entre os rios Cabixi
e Guaporé, essa alternância se torna bastante complexa, em conseqüên-
cia das variações litológicas (arenito, calcário, anfibolito) e pedológicas
- latossolo arenoso e latossolo roxo eutrófico (terra roxa). Este último
ocorre em terrenos muito acidentados, revestidos por densa floresta,
com pequeno grau de deciduidade, onde se distinguem espécies flores-
tais de alto valor econômico, tais como mogno, Swietenia macrophylla
King; cerejeira ou amburana, Torresea acreana Dueke; jatobá, Hyme-
naea courbaril L., além de palmeiras, principalmente a paxiúba, Iriartes
ventricosa Mart. Em função da implantação de Projeto de Colonização
do INCRA, esta floresta está sendo bastante alterada, com intensa re-
tirada das espécies nobres (mogno, cerejeira etc.).
Os baixos platôs terciários se estendem desde as raias setentrionais
do Território de Rondônia por toda a Amazônia ocidental. Sua super-
fície é muito plana, uniforme, com altitudes variando entre 110 e 145
metros. Os rios de maior caudal, como o Madeira, o baixo Machado,
se encaixaram nos sedimentos tenros dos tabuleiros, construindo amplas
várzeas 10 a 20 metros abaixo. A descida do tabuleiro para a várzea
se faz não por uma transição, mas por uma escarpa íngreme, às vezes
interrompida por estreito terraço (como sucede em Humaitá).

43
. Sobre o tabuleiro situado entre os rios Madeira e Purus, notam-se,
nas imagens de radar e em fotografias aéreas, mesmo sob o revesti-
mento da mata, curvas concêntricas iguais à sucessão de meandros
abandonados e os respectivos diques marginais e praias fluviais. Ora,
essas curvas estão situadas a uns 15 a 25 metros acima do nível das
maiores enchentes do Madeira e do Purus. Correspondem, assim, a uma
antiga drenagem, anterior ao encaixamento do Amazonas e seus aflu-
entes.
Seguindo o raciocínio de Ab'Sáber 1 7 os movimentos eustáticos ne-
gativos que acompanharam as glaciações quaternárias, em virtude da
retenção de grandes massas de gelos oceânicos nas calotas polares, são
insuficientes para explicar o encaixamento do Amazonas e seus afluen-
tes no tabuleiro terciário. Efetivamente, conforme explica esse autor,
como o talvegue do Amazonas alcança 70-80 m de profundidade e o
nível de Santarém se desenvolve a 30-40 m acima de suas margens, .o
nível de base geral do rio Amazonas teria chegado a mais de 100-120 m
abaixo da superfície atual do mar, para que o gradiente permitisse
tamanho encaixamento. Sabe-se, entretanto, que a glaciação Würm, o
mais rigoroso dos períodos glaciais quaternários, fez descer o nível geral
dos oceanos a somente 40 a 60 m negativos.
Será então necessário admitir-se um movimento epirogenético de
conjunto, simultâneo à referida glaciação, para se explicar tão vigorosa
regressão marinha.
A transgressão que se seguiu, e que deve datar de 9 a 10 mil anos
atrás, não fez retornar a lâmina d'água do Amazonas e seus principais
tributários da bacia terciária aos níveis anteriores. Contudo, a redução
do gradiente diminuiu a velocidade da corrente; os volumosos rios pre-
cipitaram suas cargas e divagam formando meandros na planície alu-
vial, dentro de seus vales calibrados.
O revestimento vegetal predominante nesta região é o de selva
equatorial; monótona quando se sobrevoa, porém extremamente va~
riada quando nela se penetra. Na região estudada, a floresta se sub-
divide em dois domínios principais: a mata de várzea, perenifólia, mais
baixa, mais uniforme, isto é, com menor número de árvores emergentes;
e a mata de terra firme, semidecídua, mais alta e mais irregular no
porte das árvores do dossel. Essa diferença na fisionomia acarreta dife-
renças na textura das respectivas imagens, tanto em espectros de radar
como em fotografias aéreas convencionais.
A 14 km de Humaitá, em direção a Porto Velho, numa penetração
feita em uma cunha da mata do tabuleiro (no chamado pontal do
Cruz), observou-se que a floresta é ainda semidecídua e conserva as
velhas estradas onde outrora se cortou muita seringa. Era no final de
julho de 1976; muitas seringueiras estavam sem folhas. As bandeiras
(incisões de sangria) subiam pelos t roncos das madeiras até uns 5 a
6 metros acima do solo. Para colher o látex era necessário subir na
árvore ou colocar-lhe junto um pé-de-burro 18 • Ao longo da estrada fo-
ram encontrados espécimes de jatobá, Hymenaea courbaril, L.; pau-mar-
fim, Agonandra brasiliensis; cajuaçu, Anacardium giganteum (Hanc.)
11 A.N. Ab 'Sáber, op. cit. (referência 9).
18 Espécie de escora tosca, com pequenas incisões à guisa de degraus, a fim
de facilitar a subida do seringueiro.

44
Engl.; mururé-da-mata, Nucleopsis sp.; sucuuba, Plumiera sp., entre
outras.
Nas vizinhanças de Porto Velho, o Beiradão do Madeira é densa-
mente ocupado nas duas margens por culturas de vazante, isto é, la-
vouras de ciclo curto: milho, arroz, feijão e outras. Fora da várzea, já
no tabuleiro da margem esquerda, o povoamento é recente (posterior à
abertura da rodovia). Observam-se aí roças alternadas com capoeiras e
capoeirões, além de alguns jiraus contendo hortas, com tomate, coentro
e cebolinha, destinados ao mercado de Porto Velho. As casas são todas
novas, de palha, cobertas de cavacos. Sem embargo, nota-se que o sapê
e as samambaias invadem as capoeiras, comprovando um rápido esgota-
mento e aumento da acidez do solo.
A medida que aumenta a distância de Porto Velho, ao longo da
BR-319, mesmo ao norte de Humaitá, nota-se que o espaço econômico
ainda está em organização. Nas terras florestais observam-se derrubadas
e queimadas (Fig. 15), em diversos lugares; mas não parece justo fa-
lar-se de uma zona pioneira. Há muito pouca gente; a ocupação está
sendo feita por incipientes fazendas de criação extensiva, em que as roças
são meras precursoras da formação de pastagens. A cultura mais comum
nesses roçados é a da mandioca, planta aí designada, ela própria, pelo
nome de roça.
O efetivo de gado ainda é quase nenhum. O pouco pasto que se vê
é sobretudo de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) e, em
menor escala, capim jaraguá, Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf.
O INCRA está titulando terras nesta faixa, onde se localiza o Pro-
jeto Fundiário Humaitá.

F'lg. 15 -Queimada no cerradão para ampliação de pastos, na BR-319, a 44 km ao norte da


balsa do Madeira, em Porto Velho.
Foto -H. Chagas - 26 . 7. 76

45
As formações florestais não estão ainda muito distantes da rodovia
asfaltada. A mata é baixa; tem talvez uns 20 a 25 metros de altura, rica
em palmeiras, especialmente o babaçu. Em quantidade muito menor
ocorrem o patauá e a buritirana. No sub-bosque prolifera a bananeira
brava ou pariri (Ravenalla guianensis) .

2 .1 - FORMAÇõES INTERCALARES

Intercaladas nas matas do tabuleiro terciário estão dispersas gran-


des clareiras naturais, com fisionomia de campos limpos, campos cerra-
dos, assim como de formações de transição: cerradões e campinaranas.
As principais áreas de ocorrência deles são: a) os campos de Puciari-
Humaitá, entre os vales do Madeira e do Purus; b) os cerradões de
Abunã, no cotovelo que aquele rio forma, nas vizinhanças da cidade
desse nome, etc.); os campos do Igarapé Preto, entre os vales do Ji-Pa-
raná, Marmelos e Roosevelt.

2.1 .1 - Campos de Puciari-Humaitá

Desviando-se do traçado projetado, enquanto não for aberta a liga-


ção de Lábrea a Boca do Acre, a rodovia Transamazônica, no trecho
Porto Velho-Humaitá, segue mais ou menos paralela ao rio Madeira,
bordejando pelo sul os campos de Puciari-Humaitá. Esses campos estão
situados ao sul de uma linha reta que liga Lábrea a Humaitá, entre os
paralelos 7°30' e 9030' S, e entre os rios Purus, Ituxi, Curuquetê e o
Madeira.
As primeiras expedições nesta região foram realizadas entre 1872-
1881 e descrevem os campos naturais situados entre os rios Madeira e
Purus como constituídos por boas terras e ótimas pastagens naturais.
Pela análise das imagens de radar conclui-se que a área não é co-
berta por campos contínuos, e sim por unidades isoladas, com padrões de
tom e textura semelhantes, exceto a unidade mais meridional, a dos cam-
pos do rio Curuquetê, que apresenta variações com relação aos padrões
citados. É importante salientar que, segundo Gross Braun e Andrade Ra-
mos 19 há diferenças litológicas nos campos, coincidindo portanto, com
as variações de tom e textura observadas .
. A rede hidrográfica é constituída de rios que drenam a área no
sentido sul para norte, fazendo parte da bacia do rio Purus. Essa dre-
nagem vem condicionar a forma e orientação dos campos, uma vez que
as diversas unidades delineadas nas imagens de radar se localizam nos
interflúvios da região, apresentando assim, grosso modo, formas estrei-
tas e alongadas, de contornos bem nítidos e recortados, com orientação
geral sul-norte.
As unidades de campo separam-se umas das outras por zonas flores-
tadas, ou mesmo por áreas de cerrado.
No trecho percorrido durante as pesquisas no terreno, os campos
propriamente ditos, apresentam duas fisionomias. Uma é a de savana
de gramíneas baixas, pontilhada de murundus (montículos tendo até
um metro de altura, no máximo) sobre os quais está instalada uma arvo-
19 BRAUN, E.H. Gross & RAMOS, J .R. de Andrade. Estudo agrogeológico
dos campos Puciari-Humaitá, Estado do Amazonas e Território Federal de Ron-
dônia. R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, IBGE, 21 (4): 443-97, out.-dez. 1959.

46
reta típica do cerrado, tendo geralmente 1 a 2 metros de porte. Outra
fisionomia é aquela totalmente plana e sem árvores, uma verdadeira
estepe úmida, sem murundus (fig. 16).
A vegetação rasteira é constituída de barba-de-bode (Aristida sp.)
e pé-de-galinha (Paspalum sp.).
O relevo desses campos, conforme se vê na figura 16, é de autêntica
planície, com altitudes variando entre 140 e 145 metros. Nas discretas
depressões, com terrenos mais úmidos, touceiras de buritiranas formam
verdadeiras miniaturas de buritizais. As próprias valetas da BR-319 são
ocupadas por touceiras de ciperáceas, cujas hastes se elevam até cerca
de um metro.
Em certas partes dos campos encontra-se grande número de cupin-
zeiros. São, na maioria, pretos ou de cor cinzenta-escura; vários estão
corroídos pelas águas, que ficam estagnadas na estação chuvosa, assu-
mindo formas semelhantes a cogumelos . .Mesmo assim, muitos deles
ainda estavam habitados por térmitas (Fig. 17).
Nas imagens de radar podem ser observados três tipos de campos,
pelas variações dos padrões de tom e morfologia:
i) aquelas que ocupam maior área têm tonalidade cinza-escuro e
são cortados por drenagem densa, com florestas-de-galeria, estas em
tom cinza claro;
ii) o tipo caracterizado por estrutura de estrias concêntricas, sem
variações sensíveis no tom de cinza médio, localizado próximo ao rio
Madeira, provavelmente moldado por este rio sob processo gradativo de
deposição aluvial, refletindo a forma de antigos meandros;
iii) o de estrutura complexa, próximo ao rio Curuquetê, apresen-
tando variações mais sensíveis de textura que de tom, este na gama do
cinza médio.
Segundo estudos geológicos, esses campos apresentam litologia dife-
rente dos demais, constituindo campos arenosos de depressão de um sin-
clinal da Formação Parecis.
Na área dos campos de Puciari-Humaitá foram identificados sedi-
mentos argila-arenosos da Formação Barreiras, sendo o material super-
ficial da formação do tipo argiloso, capeado por uma superfície lateri-
zada, provavelmente de ortstein, mal definida, que se estende por sob os
campos.
Nas barrancas do rio Madeira, nas proximidades de Humaitá, obser-
va-se uma camada de argila mosqueada sobre um arenito ferruginoso,
grosseiro, hematítico, indicando este mosqueamento a laterização que
ocorre no topo da Formação Barreiras.
Admite-se a idade pliocênica para estes sedimentos incluídos na For-
mação Barreiras. Com estudos cada vez mais pormenorizados desta for-
mação, e levando em conta a imensa área que a mesma ocupa, é pro-
vável que ela venha a ser subdividida, atribuindo-se idade diferente para
uma parte dos sedimentos Barreiras.
Para melhor estudo dos campos, são necessários conhecimentos das
características do solo, clima, relevo, drenagem e vegetação. Os princi-
pais fatores que atuam na formação do solo são, em geral, o material
originário (rocha-matriz) e o clima, seguidos dos fatores: relevo, dre-
nagem e vegetação.

47
Flg. 16 - Superfície horizontal dos campos da Puciari-Humaitá, com revestimento de estepe
úmida.
Foto H . Chagas - 26. 7. 76

._ , ,

Fig. 17 - Cupinzeiros nos campos d e Puciari-Humaitá. Notar que seus destroços dão origem a
monticulos - os murundus.
Foto H . Chagas - 27.7 . 76

48
O material formador do solo dos campos de Humaitá se constitui
de argilas siltosas da Formação Barreiras. O clima da área é caracteri-
zado por dois períodos bem marcados, um extremamente quente e úmido
com precipitação total de mais ou menos 2. 400 mm e com temperatura
média de 25,5°C; outro relativamente seco, no trimestre junho-agosto,
com 140 mm e um pouco mais quente, 26,5°C (Fig. 18). O primeiro,
mais longo, durando cerca de nove meses, provoca efeitos mais mar-
cantes que o segundo. A alternância desses dois períodos extremos pro-
duz freqüentes flutuações no lençol freático, ocasionando reflexos na
pedogênese e no aspecto fitofisionômico dos campos.

NORMAIS '
CLIMATOLOGICAS
DE HUMAITÁ (1931 /1960j

Chuvas Tenip.°C
( mrn)

400
/
--
300

200

100

o o
<{ > N
(!) o w
:E -:> <l z o

Fonte: Escritório de Climatologia- Norma is Climatológicas -1970

FIG .I8
O relevo dos campos constitui mais ou menos o tipo chamado tabu-
leiro, com desnível muito pequeno. Esses campos, ocupando os inter-
flúvios, possuem as bordas ligeiramente abauladas, onde se instala, em
regra, a floresta (Fig. 19).
Em virtude dessas condições topográficas, a drenagem se faz lenta-
mente, sendo a infiltração bastante reduzida, em virtude da impermea-
bilidade do solo. Assim, durante o período chuvoso, os campos ficam
muito encharcados, com inundação temporária das partes baixas, for-
mando o que regionalmente são chamadas lagoas, que secam durante
o período desfavorável.

49
Flg. 19 - Conta to e n t r e a m ata do Pontal do Cruz e o s campos do Pucia ri-Humaltã.
Foto H . Chagas - 27 . 7 . 76

A vegetação que ocorre na área dos campos é caracterizada por


associações complexas. Dominam as áreas recobertas pela fisionomia
de campo cerrado com tapete graminoso em tufos, onde se destacam os
capins pé-de-galinha e barba-de-bode e árvores esparsas, predominando
a mangabeira (Hancornia speciosa, Gomez), lixeira (Curatella america-
na, L.) e o murici (Byrsonima sp.). As florestas marginais dos peque-
nos cursos d'água se. caracterizam pelas palmeiras buriti (Mauritia
unifera, M.) e buritirana (Mauritia sp.).
Nas bordas dos campos ocorrem os cerradões, vez por outra inter-
calados por fímbrias de floresta densa com palmeiras babaçu (Orbyg-
nia martiana, B. Rodr.) e certo grau de deciduidade. No cerradão obser-
vam-se o capitão-do-campo (Callisthene fasciculata), cajuaçu (Anacar-
dium giganteum) , etc. Uma destas formações , estudada pela equipe,
parece representar a fisionomia original dos cerrados. Não apresentava
marcas de fogo e suas árvores, embora de espécies típicas de cerrado,
tinham troncos e galhos muito mais retos e altura de uns 8 metros,
em média.
Apesar dos velhos relatos otimistas, a respeito da qualidade das
pastagens dos campos de Puciari-Humaitá, todas as tentativas para
ocupá-los com fazendas de criação, anteriores à abertura da rodovia Ma-
naus-Porto Velho, faliram completamente.
Atualmente, instalam-se fazendas novas, algumas estimuladas por
projetos agropecuários financiados pela SUDAM. Mas as sedes e ben-
feitorias, todas de construção recente, estão situadas em terras de mata,
perto de suas bordas e da estrada. Não é só porque os solos aí são mais
férteis, mas também porque a drenagem é melhor; com relevo suave-
mente ondulado, em vez de o ser totalmente plano, como nos campos.
Junto a essas sedes, formaram-se pastos de capim napier (Pennisetum

50
purpureum, Schum.) e jaraguá (Hyparrhenia rufa Nees), Stapf. O espa-
ço, entretanto, ainda se organiza. Há derrubadas, matas brocadas e, além
das fazendas, ranchos novos, embora não se possa falar de uma zona
pioneira, porque a população é ainda rarefeita.
Próximo a Humaitá, no trecho da rodovia que está sendo aberta
para ligá-la com Lábrea, foi observada na área dos campos uma forma··
ção vegetal complexa, localmente chamada capinarana. Estudos realiza-
dos por uma equipe técnica do INPA (Acta Amazônica, 1975), sobre a
vegetação das campinas e campinaranas amazônicas, confirmaram ser
esse tipo de vegetação comum na bacia do rio Negro e em outras áreas
situadas ao norte do rio Amazonas, porém bastante raras na região ao
sul deste rio. Os termos campina e campinarana têm causado certa con-
fusão, no que diz respeito à conceituação das suas fisionomias vegetais,
havendo alguns autores que denominam de campina as formações de
cerrado da Amazônia.
De acordo com os estudos do INPA realizados nas campinas e
campinaranas situadas ao longo da BR-174 (Manaus-Caracaraí), a
vegetação dessas formações se desenvolve em solos arenosos, bem dre-
nados, ácidos e pobres em nutrientes. Na campinarana, a drenagem do
solo é sensivelmente mais lenta que a da campina, o que parece refle-
tir-se na estrutura da vegetação desses ecossistemas: a campinarana,
tem vegetação de porte e cobertura florestais, isto é, dossel mais ou me-
nos contínuo, com algumas árvores ultrapassando 10m de altura; a cam-
pina é caracterizada por vegetação descontínua, com árvores em pe-
quenas reboleiras que nunca chegam a atingir 10 m de altura, e sobre
o solo arenoso, grandes quantidades de líquens (por exemplo, Cladonia
sp.) desempenham papel decisivo na preparação do solo para o estabe-
lecimento inicial das espécies lenhosas.
A chamada campinarana existente próximo à estrada Humaitá-Lá-
brea apresenta aspecto fitofisionômico bastante diferente das campina-
ranas estudadas na bacia do rio Negro. Apresenta-se como uma forma-
ção florestal baixa, com árvores emergentes atingindo mais ou menos
15 m de altura e dossel quase totalmente uniforme (Fig. 20).
O solo apresenta uma camada arenosa superficial e, segundo in-
formação verbal de colonos da área, fica encharcado durante a estação
chuvosa. O sub-bosque é relativamente denso, com regeneração de latifo-
liadas, banana-sororoca (Ravenalla sp.) e palmeiras paxiúba (lriartes
ventricosa, Mart.), marajá (Bactria marajá-açu, B. Rodr.), etc.
As árvores apresentam troncos finos, claros e retos, copas peque-
nas e folhas também pequenas, na maioria, notando-se as espécies: sorva
pequena, Coumautilis (Mart.) M. Arg.; umirizeiro, Humiria floribunda,
Mart.; amapazinho, Brosimum ovatifolium, Ducke; macucu, Licania
heteromorpha, Benth.; louro jasnün, Nectandra sp., ucuuba chorona ou
mira-sacaca, Osteophloeum plastispermum, Warb. Esta campinarana é
pobre em cipós.
A principal atividade econômica da área baseia-se no extrativismo
do látex da sorva e do amapazinho (Fig. 21). Como para Humaitá con-
verge a produção extrativa das áreas próximas, tanto da hiléia como
da campinarana, podem-se observar no seu porto pilhas de pelas de
borracha e formas de sorva esperando embarque (Fig. 22) .

2 .1 . 2 - Cerradões de Abunã

Entre o rio Mutum-Paraná, o cotovelo do Madeira em Abunã até


um igarapé a 10,5 km ao sul da junção do ramal de Abunã com a BR-319

51
Flg. 20 - Camplnarana: formação florestal situada nos solos m a l drenados, na periferia dos
campos de Puciari-Humaitã. Notar os troncos finos e retos , bem como a altura regular do dossel.
Foto H . Chagas - 27 . 7 . 76

Flg. 21 - Tronco de sorveira, com marcas de sangria; no interior de uma campinarana, próxima
aos campos de Puciari-Humaitã.
Foto H. Chagas - 27 . 7. 76

52
Flg. 22 - Formas de sorva.
Foto H. Chagas 1976

(Porto Velho-Guajará Mirim), desenvolve-se uma planície terciária, com


solos pouco permeáveis, revestida de cerradões e savanas. Estas últimas
têm árvores isoladas do cerrado, sobre o micro-relevo igual ao dos cam-
pos de Humaitá. O murici (Byrsonima sp.) também ocorre em grande
quantidade. Na vegetação rasteira, porém, a existência do capim jara-
guá, Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf., que é uma gramínea exótica, su-
gere uma utilização da área para o pastoreio. Contudo, não há quase
nenhum gado; inexistem cercas, e o povoamento é extremamente ra-
refeito.
Aonde o terreno é ligeiramente deprimido, estende-se uma vegetação
rasteira, em pequenos tufos, intercalada de espécimes isolados de buritis.
O lençol freático é raso; durante a estação chuvosa encharcao solo e faz
aluir os cupinzeiros, deixando-os com formas de cogumelo.
A principal atividade rural que, sem dúvida, se exerceu nesta área,
enquanto funcionou a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, foi a extração
de lenha para as locomotivas.

2 .1.3 - Campos do Igarapé Preto

São ainda quase desconhecidos os campos do Igarapé Preto, pois


estão localizados nos confins a NE do Território. Somente os que tra-
balham na lavra de cassiterita do Igarapé Preto chegam àquela região,
e o fazem não diretamente pelo Território, mas indiretamente dando a
volta por um ramal da Transamazônica que entronca nesta rodovia, a
leste de Humaitá.
Ao contrário dos campos do Puciari-Humaitá, os do Igarapé Preto
formam uma única superfície contínua; porém, devem ser semelhantes

53
aos primeiros, nas áreas em que estes se apresentam como campos lim-
pos, interrompidos apenas por matas ciliares.
A tonalidade cinzento-escura dos solos destes campos na imagem
de radar revela que os seus solos são planos e pouco permeáveis, enchar-
cados durante a estação chuvosa.

2 . 2 - ZONAS DE TRANSIÇÃO

Como explicar a existência de campos naturais sob este clima equa-


torial úmido? Representarão eles a vanguarda do avanço das formações
campestres no domínio da hiléia, ou corresponderão à retaguarda de
uma regressão dos cerrados?
Para se analisar melhor a questão, é necessário observar o limite
mata-campo. Esses limites assumem traçados caprichosos, em que a
floresta penetra em cunhas nos campos, subindo os vales dos igarapés.
Esses prolongamentos de matas recebem a denominação local de pontais.
Vistos de longe, os pontais parecem associados a pequenas eleva-
ções de terreno; entretanto, quando se penetra na mata, nota-se que o
relevo é mais dissecado, mas não necessariamente mais alto. No pontal
do Cruz, a 17 km ao sul de Humaitá, havia um pequeno vale de igarapé
seco, no final de julho de 1976. Como observou Gourou, 20 esse fenômeno
não é raro, dentro da hiléia amazônica. Isto significa, porém, que o solo
da mata é mais friável que o do campo, e que a floresta aí penetrou
onde a dissecção se acentuou, melhorando a drenagem do solo.
Existem, no entanto, campos naturais com solos arenosos, isto é,
perfis de regossolos, como os acima citados, perto do rio Curuquetê,
assim como outras manchas isoladas, que serão referidas e analisadas
adiante, neste relatório.
Ainda no pontal do Cruz e em outros, nos campos de Puciari-Humai-
tá, a equipe observou que, no contato do campo, o dossel da mata forma
uma curvatura côncava para baixo, terminando bruscamente na super-
fície de vegetação aberta, à semelhança de uma meia-laranja numa vár-
zea. A medida que se aproxima da floresta, suas árvores .são cada vez
mais baixas, mais novas. Isto é uma indicação de que a mata estava
agredindo o campo, quando o povoador branco ali chegou.
A teoria de que a hiléia amazônica, tal como se apresenta e dis-
tribui hoje, é um fenômeno geologicamente muito recente, é defendida
por muitos geólogos, fitogeógrafos, botânicos, entomólogos e até arqueó-
logos, como Meggers & Evans. Tais idéias concordam aliás com a
evolução paleogeográfica da bacia amazônica, do começo do Cenozóico
até os nossos dias, descrita acima.
É claro que, durante as glaciações quaternárias, particularmente na
última (Würm), quando o Amazonas e seus principais tributários em-
butiram seus leitos nos tenros sedimentos terciários, o lençol d'água
subterrâneo, de modo geral, também se aprofundou. O revestimento ve-
getal era aberto, provavelmente semelhante aos cerrados do Brasil cen-
tral. Fora das matas ciliares, florestas contínuas só se encontravam em
reduto, que Meggers & Evan.s 21 localizam e avaliam em número de 11.
O regime de chuvas na Amazônia era então mais concentrado do que
hoje, pois é necessário admitir uma alternância nítida de estações secas
20 GOUROU, P., Observações geográficas na Amazônia, 1.a parte. R. bras.
Geogr., Rio de Janeiro, IBGE, 11 (3); jul.-set. 1949.

54
e chuvosas para que o processo de oxidação conduza à formação de
crostas lateríticas. Além disso, a formação de horizontes de laterita piso-
lítica, de significativa espessura em certos lugares, presume a ocorrência
de fortes aguaceiros e uma drenagem difusa impossível de realizar-se sob
um manto florestal. Nos solos argilosos, o processo de laterização ficou
restrito à formação de nódulos e veios de óxidos de ferro.
No clima equatorial chuvoso que se veio caracterizando de uns 9.000
anos para cá, a selva amazônica se expandiu das terras ribeirinhas pelas
vertentes acima, até coalescer nos interflúvios. A erosão remontante, re-
novando os solos e trazendo o lençol freático para mais perto da super-
fície, abre caminho à ampliação da hiléia.
No estágio atual, ao contrário, são as áreas campestres que consti-
tuem relíquias do antigo revestimento vegetal, · abrigadas em redutos.
Estes se encontram em áreas planas, sobre solos de dois tipos: a) re-
gossolos muito arenosos, como no Curuquetê e outras áreas; b) solos
do tipo glei, como na maior parte dos campos de Puciari-Humaitá e do
Igarapé Preto.
Resta uma última questão, aparentemente paradoxal: como ex-
plicar a sobrevivência de espécies de cerrado nos campos mal drenados
do tipo b, citado acima? Pelo conhecimento a respeito dos cerrados do
Planalto Central, sabe-se que suas árvores têm justamente uma parte
subterrânea mais desenvolvida que a parte subaérea, ao contrário das
árvores florestais. Estão, portanto, mais aptas a sobreviver em solos com
lençol d'água profundo que nos de glei.
Na nossa opinião, as únicas formas vegetativas realmente aptas a
viver nestes solos mal drenados são gramíneas e ciperáceas. Sob as an-
tigas condições climáticas, em que os cerrados predominavam nas pla-
taformas baixas da Amazônia, espécimes típicos deles se instalaram até
sobre o microrrelevo resultante de cupinzeiros abandonados. As térmitas
constroem habitações impermeabilizadas de modo tal que a água do solo
não possa inundar as galerias que as abrigam e a suas larvas. Pouco
exigentes quanto à fertilidade do solo e suportando elevada acidez, ar-
varetas do cerrado encontraram aí um refúgio, hoje inacessível e insu-
portável para as árvores da mata. ·

21 MEGGERS, Betty J. & EVANS, Clifford. A reconstituição da pré-história


amazônica; algumas considerações teóricas. In O Museu Goeldi no ano do ses-
quicentenário. Belém, Museu Paraense Emilio Goeldi, INPA, CNPq, 1973. p. 5-69
(Publ. avulsas, 20).

55
Capítulo 3 - POVOAMENTO

MYRIAM GUIOMAR GOMES COELHO MESQUITA


EUGIONIA GONÇALVES EGLER

Região para a qual convergiram interesses governamentais, o povoa-


mento de Rondônia e suas cercanias data aproximadamente da segunda
metade do século XIX, época em que a borracha nativa era produto de
valor no comércio mundial. Como ocorreu com outras regiões da Ama-
zônia, o povoamento foi realizado por nordestinos que fugiam das áreas
de ocorrência da seca, predominando entre eles, o cearense.
Antes da entrada dos povoadores, só havia um ou outro seringal
boliviano, ao longo do rio Madeira e do baixo curso de seus afluentes,
mais freqüentemente encontrados no trecho situado entre a cidade de
Humaitá e as proximidades do baixo curso do Mutum-Paraná. Tais se-
ringais tinham como mão-de-obra índios bolivianos, que trabalhavam
sob as ordens de um administrador. Um exemplo foi o de La Concepción,
próximo à cachoeira de Morrinhos.

3.1 - VALE DO MADEIRA-MAMORÉ-GUAPORÉ

No final do século XIX, efetuou-se a penetração por nordestinos no


vale do rio Madeira. Procedentes do Estado do Amazonas, subiram esse
vale, alcançando os do Abunã, Machado, Preto, Jamari e Candeias. Nos
afluentes situados entre Porto Velho e Abunã, limitaram-se a penetrar
nos baixos vales do Jaci-Paraná e Mutum-Paraná. Posteriormente, na
segunda década do século XX, o povoamento estendeu-se ao longo do
vale do Mamoré-Guaporé, encontrando outra corrente povoadora vinda
do sul, que penetrava na região descendo o Guaporé.
Desde o princípio notaram-se dois tipos de povoadores, bem dife-
rentes quanto ao número e às condições econômicas: os seringalistas,
em contingente mais reduzido, que ambicionavam a apropriação de ter-
ras, e os seringueiros, que formavam a mão-de-obra coletora do látex,
espalhada no interior da mata. Os primeiros, dispondo de algum capi-
tal, encarregavam-se das despesas do transporte e do fornecimento dos
bens necessários à vida e ao trabalho dos seringueiros.
A onda povoadora com elementos nacionais foi de tal monta que,
em 1920, o censo acusava o total de 36 . 044 habitantes 22 • A população
apresentava distribuição bastante rarefeita, notando-se, contudo, um
relativo adensamento no trecho entre Humaitá e Presidente Marques
(hoje Abunã), ao longo do Madeira; no Ji-Paraná, entre Calama e Taba-
jara; no Jamari, entre a foz e Ariquemes.
22 Neste total está computada toda a população do município do Alto Ma-
deira, que abrangia ainda terras situadas fora da região, como parte das bacias
dos rios Roosevelt, Juruena e São Manuel.

56
Com a penetração de brasileiros, os seringais bolivianos foram re-
chaçados para a área fronteiriça do Brasil com a Bolívia.

3 .1 .1 - A necessidade de uma via de circulação

Tanto o povoamento quanto o escoamento da borracha para os por-


tos de Manaus e de Belém encontravam grandes obstáculos, dadas as
dificuldades de navegação do alto Madeira e de seus afluentes. A ocor-
rência de cachoeiras e corredeiras nesses rios, como ainda a alternância
de vazantes e de enchentes, impunham limitações à circulação fluvial.
A navegação livre de cachoeiras e corredeiras só era possibilitada em
poucos trechos: a nordeste, entre Santo Antônio e Humaitá, no rio Ma-
deira; entre Calama e a cachoeira Dois de Novembro, no Ji-Paraná, perto
da localidade de Tabajara; a oeste, no Mamoré-Guaporé, a partir de
Guajará-Mirim para montante. Entre Porto Velho e Guajará-Mirim es-
tendem-se mais de 360 km no rio Madeira, com perto de 20 obstáculos,
entre cachoeiras e corredeiras. Quanto aos afluentes da margem direita,
o transporte limitava-se a alguns trechos livres de cachoeiras, proces-
sando-se por etapas, ora com canoas a remo, ora através de picadas
abertas na mata.
Apesar dos obstáculos, o alto Madeira era percorrido desde o início
do século XVIII, já tendo sido conhecido por bandeirantes que partiam
de São Paulo e de Belém, e por expedições que visavam ao reconheci-
mento das cachoeiras, com o objetivo de se ligar Vila Bela, antiga capital
de Mato Grosso, a Belém. Entre as bandeiras, a de Antônio Raposo Ta-
vares, que saiu de São Paulo em 1647, foi a primeira a tomar conheci-
mento das cachoeiras do Madeira. Entre as expedições sobressai a de
Francisco Melo Palheta, que partiu de Belém em 1722, com a missão
especial de reconhecer o trecho do Madeira que apresentava obstáculos,
levando 45 dias para transpor o referido segmento. A região foi ainda
percorrida por uma Comissão Demarcadora de Limites em 1781, che-
fiada por Francisco Lacerda de Melo, que partiu de Barcelos, no rio Ne-
gro. Das expedições resultou apenas um forte militar, construído na
localidade hoje chamada de Príncipe da Beira.
Na segunda metade do século XVIII, o alto Madeira já era trafe-
gado por comerciantes que iam à cata de madeiras e drogas do sertão
(essências e outros produtos), destinadas ao mercado mundial. Os co-
merciantes eram obrigados a providenciar barcos e tripulação, aliciada
geralmente entre índios bolivianos. Esses índios eram praticamente os
únicos conhecedores dos canais naturais, para a travessia das cachoei-
ras, e das picadas abertas na mata para contorno das mesmas. Tanto a
subida quanto a descida do alto Madeira se realizava à custa de grandes
sacrifícios, agravados pela maior ocorrência do impaludismo, dada a
proliferação do anofelino, principalmente nos solos mal drenados de
terra firme, entre Jirau e Abunã. A ultrapassagem desses obstáculos
durava geralmente de 40 a 60 dias, sendo freqüentemente necessário
descarregar as embarcações, apoiá-las em troncos roliços, para serem
puxadas através das picadas. A carga era transportada a braço.
Ora, tanto o Brasil quanto a Bolívia estavam interessados numa
solução que possibilitasse a circulação no alto Madeira. A idéia surgida
inicialmente foi a da construção de um canal, de 50 léguas de extensão,
no trecho encachoeirado, ou de um caminho para mulas, contornando-o.
Quase simultaneamente, em 1861, foi aventada a hipótese da constru-
ção de uma ferrovia, tendo em vista o número de obstáculos a transpor.
Contudo, embora os estudos para a construção da estrada de ferro ti-
vessem começado em 1860, a efetivação dessa medida só foi iniciada em

57
1907, quatro anos após o tratado de Petrópolis, que obrigou o Brasil
a construí-la, em troca das terras que compõem o atual Estado do Acre.
Entre o final do século XIX e o início do XX, à proporção que se pro-
cessava o povoamento por nordestinos e o recuo dos seringueiros boli-
vianos, ocorreu uma série de fatos que provocou o retardamento da im-
plantação da via férrea. A Bolívia considerava-se prejudicada, e ambi-
cionava ligar a navegação do Beni e do Mamoré com a do Madeira.
Assim, os bolivianos se antecederam nas negociações com o exterior e,
de acordo com o engenheiro norte-americano, coronel George Ear
Church, foi projetada a canalização do trecho encachoeirado e a for-
mação de uma companhia de navegação, que se chamou National Bo-
livian Navigation.
Não conseguindo capitais que financiassem tal empreendimento,
Church transformou o contrato para construção de uma ferrovia que
contornasse o trecho não navegável. Como a ferrovia deveria correr em
terras brasileiras, tratou de obter a necessária autorização. Conseguiu
um empréstimo com os banqueiros ingleses Erlanger & Co., sob a con-
dição de que a firma construtora fosse a Public Works, na qual eles ti-
nham interesses. Os banqueiros lançaram na bolsa de Londres títulos
de 68 libras esterlinas, valendo 100, para financiar a organização da
Madeira-Mamoré Railway 23 • Church obteve do governo brasileiro a con-
cessão de sua exploração pelo prazo de 50 anos e outros privilégios, como
a concessão de uma faixa de terras de 1. 394 km 2 ao longo da futura
estrada.
Após levantamentos feitos pela firma construtora, a Public Works
rescindia o contrato, alegando que o trajeto da ferrovia era superior ao
previsto, isto é, maior do que 50 léguas. Tal atitude provocou o pânico
na Bolsa de Londres. Os títulos baixaram de 68 para 18 libras e foram
adquiridos por especuladores, que previam uma futura indenização, atra-
vés de processo judicial, o que de fato aconteceu.
A construção da ferrovia passou sucessivamente às empreiteiras
Dorsay & Caldwell, Reed Bross & Co. e P. L. T. Collins, tendo a última
pago as 100.000 libras esterlinas exigidas pela Public Works e depois
falido. A Bolívia desistiu do empréstimo, em face da quantia que teria
de pagar, sem ter sido construída a ferrovia.
A partir da empreitada Collins, o governo brasileiro resolveu in-
teressar-se mais pela construção da ferrovia. Assim, segundo o artigo
12 da Lei n.o 3 .141, de 30 de outubro de 1882, foram liberados . . .... ·.
Rs 150:000$000 para prosseguimento dos estudos necessários ao levan-
tamento da planta 24 • Antes dessa data, o Tratado de Amizade, Limites,
Navegação, Comércio e Extradição de 1867, entre o Brasil e a Bolívia,
estipulava a liberdade de trânsito e a isenção de impostos para pessoas
e mercadorias que procedessem ou se destinassem à Bolívia. Ao Brasil
interessava não só manter maior vínculo com o país vizinho, como tam-
bém tirar Vila Bela do isolamento em que se encontrava, devido à
guerra do Paraguai, que dificultou a circulação no rio desse nome. Pre-
via-se que através da navegação na bacia amazônica e no Atlântico se
'-!3 Nessas condições, venderam na Bolsa de Londres 1. 700 . 000 libras ester_-
linas, porém só conseguiram o pagamento de 1.156 . 000. Dessa quantia foram de-
duzidos a comissão dos banqueiros e o fundo de reserva, restando para a cons-
trução da ferrovia 700.000 libras; 600 .000 ficaram retidas para pagamento à
Public works, que as retiraria à medida que a estrada fosse sendo construída,
sacando de início 50.000. FERREIRA, Manoel Rodrigues - A ferrovia do diabo,
São Paulo, 1959.
2 4 FERREIRA, Manoel Rodrigues. A ferrovia do diabo; história de uma es-
trada de ferro na Amazônia. São Paulo, Melhoramentos, 1959.

58
vinculasse Vila Bela à corte. Menos de um ano após a lei citada, cons-
tituiu-se uma comissão, chefiada pelo engenheiro Carlos Alberto Morsing
e tendo como subchefe Julio Pinkas, para elaborar estudos e fazer a
planta da futura ferrovia. Os dois divergiram quanto ao traçado, à quilo-
metragem e aos custos (quadro 3).

Quadro 3
PROJETOS PARA A CONSTRUÇÃO DA E. F. MADEIRA-MAMORÉ

PONTO TERMINAL EXTENSÃO CUSTO TOTAL ·


ENGENHEIROS PONTO INICIAL (km) (réis)

Morsing ... . . . .... .. .. Porto Velho Guajará-M irim 361,700 17.048 :780$000
Pinkas . . .. .. .... ..... . Santo Antônio Guajará-Mirim 329,600 8. 736 :716$312

FONTE : Manoel Rodrigues Ferreira. A ferrovia do diabo.

O projeto mais curto e mais barato, proposto por Julio Pinkas, não
interessava ao Brasil, porque não acompanhava o alto curso do Madeira,
a não ser parcialmente. Partindo de Santo Antônio, o traçado con-
tornava o Madeira até Jirau, infletindo-se em seguida como uma grande
reta direcionada para sudoeste até a foz do rio Beni, prosseguindo daí
em diante até Guajará-Mirim, paralelo ao rio. O aprovado foi o de
Morsing, que se iniciava a 6 km a jusante da cachoeira de Santo An-
tônio e marginava o Madeira. Morsing deixou como legado a planta da
futura Madeira-Mamoré Railway, verificou se estavam corretas as partes
já levantadas pela Public Works Co. e a P . L . T . Collins, corresponden-
tes, respectivamente, aos trechos Jirau-Guajará Mirim e Santo Antônio-
Caldeirão do Inferno e levantou o trecho Santo Antônio-Caldeirão do
Inferno-Jirau (mapas 3 e 4).
Assim, ainda no início da década de 1880, a planta da estrada de
ferro já estava concluída, só sendo iniciada sua construção em 1907,
após a reformulação da Madeira-Mamoré Railway Co. Ltd., empresa nor-
te-americana, com o capital de onze milhões de dólares.
A empresa foi dirigida por Percival Faquhar, proprietário de indús-
tria siderúrgica e de equipamento ferroviário na cidade de Portland, o
que explica a utilização de pontes todas de aço, quando na região a
madeira era abundante. Faquhar era, também, dirigente da Port of
Pará, que detinha o monopólio das exportações e importaçõe& da Região
Norte, dispondo para isso de depósitos e armazéns nas cidades de Belém
e de Manaus. A Port of Pará era vinculada à Amazon River Steam Navi-
gation Company, que mantinha o monopólio da navegação nos rios da
bacia amazônica.
Nessa ocasião, a borracha estava em alta no mercado mundial,
oscilando por volta de 3 dólares a libra-peso.
Faquhar, conhecedor das hostilidades do meio, das dificuldades de
adaptação da mão-de-obra européia ou norte-americana, da falta de in-
teresse dos nordestinos que migravarri -para a coleta da borracha, pro-
curou atrair trabalhadores para a construção da estrada principalmente
na América Central, em Barbados.
Em 1910, do total de 366 km da estrada entre o ponto inicial, Por-
to Velho, e o terminal Guajará-Mirim, estavam construídos 152 km,

59

ESTRADA DE FERRO MADEIRA-MAMORE

PLANO PINKAS

Guojorá-M ir i m

MAPA 3
Fonte: F e rr e ir o , M.R . - "A Ferrovia do Diabo"

ESTRADA DE FERRO MADEIRA-MAMORE

PLANO MORSING

Guajaró- Mirim

MAPA 4

Fonte: Ferreira, M.R .- "A Ferrovia do Diabo"


chegando os trilhos às proximidades da cachoeira de Três Irmãos. Em
1912 foi lançado o último dormente em Guajará-Mirim 25 •
Pronta a estrada de ferro, sua importância no transporte da borra-
cha teve curta duração. Esse produto se desvalorizou rapidamente no
mercado mundial, em face da concorrência oriunda dos seringais plan-
tados no Oriente. Segundo dados da estatística fiscal da citada estrada
de ferro, a contribuição do frete pago pela borracha no total da carga
transportada foi, no ano de 1913, de 32,9 % (4.233 em 12.858 t), e em
1914, de 43,1 % (4 . 112 em 9 . 543 t). Nos anos de 1920 e 1922 baixou, res-
pectivamente, para 7,4 % e 8,7 % (4.456 para o total de 60.437 te 3.499
para 40.203 t) . A carga mais volumosa era a de bens de consumo im-
portados pelas localidades de Guajará-Mirim e de Guayaramerín, esta
na Bolívia, fronteiriça à primeira.

3.1. 2 - A herança dos pequenos aglomerados

Ao ser construído um trecho da Madeira-Mamoré, algumas das suas


estações eram escolhidas como pontos de residência de funcionários e
trabalhadores, encarregados da administração e da manutenção da es-
trada. Foram ao todo 28 estações, estabelecidas geralmente em sedes
de seringais. A maioria foi e continuou a ser, enquanto a estrada fun-
cionou (até 1972) , designada pelo quilômetro. Constituiu pequenos aglo-
merados, alinhados ao longo dos trilhos, de um só tipo (Reihendorf)
ou de ambos os lados (tipo Strassendorf), apresentando-se, em regra,
as casas aglomeradas, refletindo sempre um tipo de habitat linear con-
centrado. Como exemplos podem ser citados os núcleos dos quilômetros
154 e 175, estendidos em ambos os lados, e o do km 165, de um lado só.
Esses aglomerados, na maioria das vezes, tinham apenas função re-
sidencial; não dispunham de casas de comércio, igreja ou escola, e o
número de moradias variava normalmente entre 6 e 10. Algumas esta-
ções, contudo, dada a sua posição geográfica privilegiada, em confluência
ou na proximidade de rios cujos vales eram ricos em ocorrência de
hévea, possuíam maior número de moradias, casas de comércio, arma-
zéns para a estocagem da borracha e de artigos de importação. Estão
neste caso as de Jaci-Paraná e Mutum-Paraná, junto à confluência dos
rios de mesmo nome; Vila Murtinho, na foz do Beni, e Abunã, próxima
à confluência do rio homônimo. As duas últimas, por se posicionarem
em frente às localidades bolivianas de Vila Bella e Manoa, serviam para
armazenagem de mercadorias procedentes ou destinadas à Bolívia.
Além desses aglomerados ao longo da ferrovia, outros surgiram apro-
veitando as vantagens por ela oferecidas como eixo de circulação entre
Porto Velho e Guajará-Mirim. Destaca-se o de Costa Marques, na con-
fluência do rio São Domingos com o Guaporé. Vinculado à circulação do
Madeira e à proximidade de Porto Velho, surgiu o de Foz do Jamari, na
confluência do Jamari com o Madeira. Esses aglomerados não evoluí-
ram, não se observando modificações na paisagem antiga.
Entre as décadas de 1920 e 1940, entraram nas terras do atual Ter-
ritório povoadores originários de Mato Grosso, através da picada aberta
pelo Marechal Candido Mariano Rondon, onde já existiam, então, os
aglomerados de Pimenta Bueno e Vilhena, originários de postos telegrá-
ficos. A perda de importância da borracha provocou, entretanto, a saída
de maior contingente, apurando-se no censo de 1940 uma população de
25 Até 1931, a exploração da ferrovia e.steve arrendada à Madeira Mamoré
Railway Co. Ltd. Como a estrada se apresentava deficitária, o Governo Federal,
que a subvencionava, resolveu nacionalizá-la a partir desse ano.

62
32. 591 habitantes, equivalente à diminuição de 3. 453, ou 9,6 %, relativa-
mente ao censo de 1920. A área que sofreu maior êxodo foi a corres-
pondente ao atual município de Humaitá, cuja população decresceu de
11 . 385 para 6. 807 habitantes. A população da área correspondente ao
atual Território de Rondônia aumentou de 1.125 pessoas, equivalendo
a 4,6 %.

3 . 2 - A OCUPAÇAO EFETIVA

O surto da borracha nativa durante a Segunda Guerra, e a criação


do Território Federal, em 1943, contribuíram para que a região rece-
besse nova onda de povoadores, originários em maioria do Nordeste, pre-
dominando os cearenses, à semelhança do que ocorreu no passado. Além
dos nordestinos, a penetração procedente de Mato Grosso continuou
através do vale do Guaporé e da picada aberta pela Comissão Rondon.
Pode-se mesmo afirmar que é a partir do início da década de 1940 que
a região de Rondônia passa a ser ocupada efetivamente.
O Censo de 1950 acusou 49.725 habitantes, ou seja, um aumento de
52,6 % (17 .134 pessoas)2 6 • As áreas que tiveram maior acréscimo de-
mográfico foram as corespondentes aos distritos de Guajará-Mirim, Hu-
maitá e Porto Velho. A primeira, além de ser produtora de borracha,
beneficiou-se com a implantação, em 1948, da Colônia Agrícola Presidente
Dutra, mais conhecida como lata. O crescimento da população rural foi
bastante expressivo: percentual- 160,3 % passando de 1.584 em 1940
para 4.124 em 1950 (2. 540 pessoas a mais). O de Humaitá decorreu da
revalorização da borracha nativa no mercado mundial 27 • Esse municí-
pio acusou na população rural o aumento de 5. 961 habitantes (98,6 %),
que de 6. 048 em 1940 chegou a 12.009, em 1950. Quanto a Porto Ve-
lho, o aumento significativo ocorreu na população urbana. Elevada à
situação de capital, a cidade, que já detinha posição importante como
local de mudança dos meios de transporte fluvial-ferroviário, e já era
o maior centro distribuidor de bens da região, foi equipada com serviços
administrativos e outros. Assim, dos 3.148 habitantes que constituíam a
população urbana em 1940, passou a contar com 10 . 036 em 1950 e a
constituir o expressivo mercado urbano no contexto amazônico.
Passado o interesse do mercado mundial pela importação da borra-
cha nativa, nos após-guerra, a produção regional entrou em declínio.
Dadas as necessidades internas de borracha natural para a fabricação de
pneumáticos, o Governo Federal procurou incentivar a produção e co-
mercialização (borracha em pela, crepada e látex), criando o Banco da
Amazônia S.A. - BASA. Outra medida de incentivo a essa produção
foi a implantação de uma fábrica de borracha crepada na cidade de
Porto Velho, com capitais paulistas e de alguns seringalistas da região.
Contudo, apesar desses incentivos, a produção gomífera manteve-se baixa
entre as décadas de 1950-60, alcançando perto de 5 . 000 t e superando,
na Região Norte, apenas a produção do Amapá e de Roraima 28 •
Além da borracha, a castanha, que já constituía objeto de explora-
ção desde a década de 1940, continuou a ser extraída para atender à
demanda do mercado mundial. Processava-se essa atividade extrativa
durante o período chuvoso, ocasião da entressafra da borracha. A quan-
2o IBGE. Censo Demográfico de 1950.
21 Embora a Segunda Guerra Mundial tivesse terminado em 1945, a expor-
tação da borracha do Oriente não estava ainda reorganizada em 1950.
2s IBGE, Anuário Estatístico, 1953, 1955, 1957 e 1960.

63
tidade produzida entre 1950-60 variava em torno de 1. 400 e 1. 600 t ,
acima da oriunda dos Territórios do Amapá e de Roraima.
Apesar da estagnação ou mesmo decadência do extrativismo da bor-
racha, a região de Rondônia não se despovoou, como aconteceu após o
primeiro surto da borracha. Ao contrário, nova onda de povoadores
afluiu, proporcionando o aumento populacional para 85. 504 habitantes,
segundo o censo de 1960, equivalendo a um crescimento de 71,9 %
(35. 777 habitantes a mais) em relação ao censo demográfico de 1950.
Ainda segundo os dados censitários de 1960, a entrada de imigrantes
no período considerado foi de 23. 658. O maior contingente procedeu
da própria Amazônia, com 12.873 migrantes, entre os quais os originá-
rios do Amazonas (8 . 147). Outra corrente povoadora derivou do Nor-
deste, com 5 . 693 , dos quais 4 . 439 do Ceará.
A entrada d~ migrantes está ligada a transformações ocorridas na
economia regional, notadamente o surto da mineração da cassiterita,
a partir aproximadamente da segunda metade da década de 1950. É
justamente neste período que se observa o maior número de imigrantes
dirigidos ao município de Porto Velho, que somaram 10. 567 para o total
de 15 . 695. A migração para o município de Porto Velho se refletiu nos
distritos em que havia garimpagem da cassiterita, como no de Calama
e no de Porto Velho. No primeiro, a ocorrência do minério nos vales
dos rios Jacundá, Preto e Machadinha concorreu para que a população
rural quase duplicasse, passando de 3. 336 em 1950 para 6. 323 em 1960.
No último, a ocorrência de cassiterita nos vales do alto Candeias, do
Massangana e do Jamari fez com que a população rural se elevasse de
6. 481 para 11.801. Embora nesse distrito se tenha observado uma rela-
tiva expansão da atividade agrária com a criação de colônias agrícolas,
o maior contingente humano que migrava era atraído pelo trabalho
nos garimpos.
Entre as transformações ocorridas na economia regional, deve ser
considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura, devido à cria-
ção de colônias agrícolas pelo Governo do Território, com os objetivos
de evitar o êxodo rural, conseqüente à queda do preço da borracha no
mercado mundial, e de concorrer para o abastecimento das cidades de
Porto Velho e Guajará-Mirim. Assim, além da citada colônia de !ata,
nesse distrito, foram criadas nas proximidades de Porto Velho: a de
Candeias, também em 1948; a Nipo-Brasileira e a Treze de Setembro, em
1954, e a Paulo Leal, em 1959. Entre a Capital do Território (Porto Ve-
lho) e a vila de Calam a surgiu espontaneamente a do Beiradão. Com
exceção, porém, da colônia de !ata, as demais, de modo geral, não evo-
luíram, em virtude da preferência dos migrantes para trabalhar nos
garimpos. A colônia de rata, afastada das áreas de extração de cassite-
rita, foi a mais procurada, concorrendo para o expressivo aumento (de
4.124 para 8. 347 habitantes) do quadro rural entre 1950 e 1960, no
distrito de Guajará-Mirim.
Entre as razões para a falência da colonização pelo Governo do ·Ter-
ritório destaca-se o tamanho reduzido do lote (25 ha) para o sistema
agrícola empregado: o de rotação de terras, em solos pouco férteis. Além
disso, os colonos não dispunham de condições financeiras para a aqui-
sição de sementes, da sacaria e de caminhão que lhes garantisse a liber-
dade de comercialização. Na colônia de !ata, no final da década de
1960, foram observadas áreas já transformadas em pastos de capim jara-
guá e elefante, e áreas apreciáveis em sapezais. De modo geral, os colo-
nos plantavam mandioca para a fabricação de farinha, arroz, milho e
feijão, observando-se ainda, na de !ata, a cana-de-açúcar para fabrico
da rapadura. A produção das colônias era adquirida por marreteiros

64
(donos de caminhão) , que forneciam a sacaria, e era vendida nas feiras
de Porto Velho e de Guajará-Mirim.
Dentre as colônias existentes até o final da década de 1960, além
das já citadas, havia ainda: a de Areia Branca, próxima à cidade de
Porto Velho; a de Periquitos, entre lata e Abunã, parte japonesa da
colônia Treze de Setembro, que se deve ressaltar por ser a única próspera.
Os colonos nipônicos receberam subvenções do seu consulado em Be-
lém; dedicavam-se à horticultura e avicultura, usavam mão-de-obra fa-
miliar para o plantio e colheita, e assalariados para o desmatamento.
Dispondo de transporte próprio, tinham liberdade de comercializar a
produção, vendendo-a na cidade de Porto Velho.
A colonização pelo Governo do Território não apresentou os resul-
tados esperados. Não obstante, a construção da atual BR-364, que já se
processava partindo de Cuiabá e de Porto Velho, atraía imigrantes que
penetravam pelo sudeste da região e se estabeleciam ao longo do per-
curso da futura rodovia, contribuindo para o aumento da população
rural do distrito de Rondônia, que de 1. 665 em 1950 passou para 4. 563
em 1960. A população rural se distribuía num tipo de habitat linear dis-
perso, ao longo dos eixos de circulação, adensando-se um pouco nas mar-
gens do Madeira ·e do Mamoré, nas vizinhanças das cidades de Porto
Velho e de Guajará-Mirim.
Os povoados ou aglomerados rurais 29 existentes em 1963 distri-
buíam--se predominantemente ao longo dos vales que orientaram o po-
voamento do Território, no do Madeira-Mamoré-Guaporé, sendo encon-
trados em maior número ao norte da cidade de Porto Velho. Dentre eles
notam-se os de Limoeiro, Nova Esperança e Três Casas, com, respectiva-
mente, 891, 461 e 398 casas de moradia. De modo geral, o número de
habitantes em cada um deles era superior a 300, dispondo comumente
de igreja, escola e casas de comércio. Entre Porto Velho e Guajará-Mirim,
ao longo da antiga estrada de ferro, notam-se os de Fortaleza do Abunã,
hoje simplesmente Abunã, com 1. 015 habitantes; Vila Murtinho, com
380, e a sede da Colônia Presidente Dutra, com 257. Na picada aberta
para a linha telegráfica instalada pelo Marechal Rondon, num percurso
aproximado de 894 km, já se distinguiam, entre outros, os de Vilhena,
Nova Vida e Seringal Setenta. O primeiro, situado no extremo sul do
Território, é passagem obrigatória para quem transita pela atual BR-
364; sua população em 1963 já era de 560 habitantes. Nova Vida e Se-
ringal Setenta eram aglomerados relativamente grandes, com popula-
ção superior a 400 habitantes. Os povoados dispostos ao longo da atual
rodovia originaram-se de antigos postos telegráficos, estabelecidos com
a abertura da picada, e sedes de antigos seringais (mapa 5).

3.3- A BR-364 E O NOVO SURTO MIGRATóRIO

A implantação da rodovia Cuiabá-Porto Velho (BR-364), que passou


a ter tráfego permanente a partir de 1968, e as notícias das disponibili-
dades de terras, conseqüentes ao cadastramento elaborado pelo antigo
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), atual Instituto Nacio-
nal de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em 1967-68, provoca-
ram uma mudança nítida do fluxo migratório, que até então se fazia
predominantemente pelo norte, através dos rios e da ferrovia (mapa 6).

29 Só foram considerados aqueles com o mínimo de 10 casas e 50 habitantes.


As fontes utilizadas foram: a Superintendência de Campanha - SUCAM, subordi-
nada ao Ministério da Saúde, e as fichas de localidades da XXVII Campanha de
Estatística, do IBGE.

65
REGIÃO DE PORTO VELHO

NÚCLEOS DE POPULACÃ0-1963
1 TRÊS CASAS 23 LIMOEIRO
2 HUMAITA' 24 PEOR AS NEGRAS
3 LIM OE IRO 25 VIL HEN A
4 GOIABAL 26 Pl MENTA BUENO
~ CALAMA 27 RIOZINHO
G N.ESPERANÇA 28 RONDÔN IA
7 BOA HORA 29 JARU
8 SOBRAL 30 SERINGA L SETENTA
9 UE~ORANGA 3 1 N O VA VIDA
10 S . CARLOS 3Z ARIQUEMES
11 CANDEIAS 33 TABAJARA
12 PORTO . VELHO 34 MARCO RONOON
13 S . PE O R O 35 CACHOEIRA DO SAMUEL
14 JACI-PARANÁ 36 MUQUI
15 MUTUM-PARANÁ
16 ABUN Ã
17 FORTALEZA OOABUNÃ
18 VILA MURTINHO
19 PR ES . DUTRA
20 GUAJARA' - MIRIM
21 PRINCIPE DA BEIRA
22 COS TA MAR QUES

8.000 "

1.500
@ POPULAÇÃO URBANA

100 ·Q POPULAÇÃO RURAL AGLOMERADA .


50

MA PA 5
Fo nte : SUG AM ESCALA 1: 5 .000.000
POVOAMENTO DA REGIÃO DE RONDÔNIA

.. ••• • .• Poyoamento do Final do Século XIX


e Inicio do Século XX
-···- Povoamento entre os décadas de 1920-1940

Povoomentoentre as décadas de 1940-1960

Povoamento a partir do década .de 1960

-ESTRADA DE RODAGEM

~ESTRADA DE"i.ERRO

MAPA 6 ESCALA : :5 000 000


Iniciada a abertura em 1943, pelo Governo do Território recém-cria-
do, já em 1945 a estrada chegou a Ariquemes. A partir daí, a ligação com
Vilhena era feita pelo caminho aberto para a linha telegráfica. Até 1960
a estrada assim permaneceu, e só no início desta década a construção
foi reiniciada, agora pelo Governo Federal, que a considerou via desbra-
vadora e prioritária para a integração nacional. Em 1966, o encargo
da construção foi atribuído ao 5. 0 Batalhão de Engenharia, do Exército;
a partir daquele ano o ritmo da obra se acentuou, proporcionando trechos
trafegáveis dentro do Território.
Uma vez posta em tráfego menos precário, passou a influir de modo
decisivo nos relacionamentos da região. Antes tributário de Manaus,
cidade por sua vez parcialmente dependente de Belém e das áreas mais
desenvolvidas do Sudeste, das quais está separada por milhares de qui-
lômetros, o Território de Rondônia, passou a relacionar-se mais direta-
mente com o Sudeste. O transporte rodoviário apresenta a vantagem de
possibilitar ligações mais freqüentes e mais rápidas, mais diretas e mais
garantidas. O fluxo migratório penetrou através da rodovia, intensifi-
cando-se gradualmente. Assim, das 30.775 pessoas que, entre 1961-70
migraram para o Território, 6 . 808 o fizeram no período 1961-64, 11.122
correspondem ao de 1965-68 e 12.745 são migrantes de 1969-70 (qua-
dro 4).
Comparando-se o movimento migratório nos três períodos observa-
se que o de 1965-68 foi 1,65 vezes maior que o anterior, e em 1969-70,
num espaço de tempo equivalente à metade, o número de migrantes
quase duplicou em relação ao primeiro período considerado (fig. 23).
A parcela dos que entraram pela rodovia cresceu sucessivamente
de 7,1 % para 23,7 % e 48,2 % nos três períodos em que se dividiu o
decênio 1961-70. Ao aumento dos que penetraram pela BR-364 corres-
pondeu a diminuição gradativa dos imigrados pelo norte, 30 cujos per-
centuais baixaram de 90 % para cerca de 50 % (quadro 4) .

Quadro 4
PROCEDÊNCIA DOS IMIGRANTES- 1961-70
RONDôNIA
1961-64 1965- 68 1969-70
REGIÕES
N.o absoluto
I % N.o absoluto I % N. o absoluto I %

Norte ... .... .. .. ... .... ....... . 4 764 70,0 7 078 63,1 4 249 33,3
Nordeste ...... . ......... .. ..... 1 359 20.0 1 222 10.9 2 152 16.9

Subtotal .. ...... . .......... 6 123 90,0 8 300 74,0 6 401 50,2

Sudeste .. .. ........ . ...... .... . 149 2.2 622 5,5 1 980 15,5
Sul. .... .. .... .. ........ ....... 39 0.5 1 069 9,5 1 799 14,1
Centro -Oeste .. . .. ... . ......... .. 298 4.4 978 8.7 2 364 18,6

Subtotal .... .. .............. 486 7.1 2 669 23.7 6 143 48.2

Outras (1) ............... ...... 199 2.9 253 2.3 201 1.6
TOTAL. .... • . ... ... ........ 6 808 100,0 11 222 100,0 12 745 100,0

FONTE : IBGE. Censo Demográfico. 1970.


(1) Do ex.terior e sem declaração.

ao Inclui os que se deslocaram dentro do próprio Território, equivalendo a


cerca de 10 % dos migrantes que entraram pelo norte.

68
•,

MiGRAÇõES NO TERRITóRIO DE RONDôNIA


1960-1970

SEGUNDO DOMICfLIO ANTERIOR E TEMPO DE RESID!::NCIA


1mm = 100 migrantes

9 .000

'' '''
'' ',
-----..1 ' ' '
~ . 000

l.OOJ

196 1/6 4 1965/68 1969/70

- ----- Regiões Norte e Nor des te

- - Regiões Sudeste, Su l e Ce ntro-Oeste

FONTE: Censo Demográfico 1970

FIG. 23

Predominaram entre os migrantes os originários do Amazonas, nos


dois primeiros períodos do decênlo, para baixarem sensivelmente no ter-
ceiro período, quando o maior número coube aos provindos de Mato
Grosso e Paraná, que somaram, respectivamente, 2. 001 e 1. 375. Neste
último período o fluxo migratório de Mato Grosso chegou a ultrapassar
o do próprio Estado do Amazonas (Fig. 24).

69
MIGRAÇÕES NO TERRITÓRIO DE RONDÔNIA

1960-1970

SEGUNDO DOMICÍLIO ANTERIOR E TEMPO DE RESIDÊNCIA

lmm = 100 migrantes

5 .000

1961-1964 196 5 -19 6 8 1969-1970

IZZZI Rondônia h<·>·] Sudeste, Sul e Centro-Oeste

ITIIIJ Amazonas ~Paraná e Mato Grosso

~Norte e Nordeste ~ Sudeste, Sul e Centro-Oeste


(excluindo Rondônia e Amazonas) (excluindo Paraná e Mato Grosso)

FONTE : Censo Demográfico 1970

FI G.2 4
No cômputo geral, os maiores contingentes migratórios no decênio
60/70 procedem do Amazonas, com 8. O17; do próprio Território (mi-
gração interna), com 3.457; de Mato Grosso, 3.117; Acre, 2.690, e do
Paraná, 2. 573. Os que chegaram do Acre e do Amazonas, de modo geral,
migraram diretamente do próprio Estado. Dentre os que se deslocaram
de um município para outro no interior do Território, a maioria é de
rondonianos e de amazonenses, sendo ainda expressiva a participação
de cearenses e matogrossenses. Esse deslocamento dentro do Território
se deve à procura de áreas de solos melhores e mais bem servidas . de
transportes, com preferência para as situadas ao longo da BR-364. Tra-
ta-se, portanto, de contingente que possivelmente migrou primeiro
para o município de Guajará-Mirim, deslocando-se depois para o de
Porto Velho.
Entre os migrantes procedentes de Mato Grosso e do Paraná, em-
bora prevaleçam os naturais dos respectivos Estados, destacam-se tam-
bém, em ambos, os mineiros e paulistas. Assim, entre os oriundos do Pa-
raná, os paranaenses somam 1.135 (44,1% de 2.573); os mineiros, 420; .
paulistas, 294, e nordestinos, 440. Esses migrantes, de modo geral, traba-
lhavam antes na lavoura cafeeira, da qual se. afastaram com o advento
do programa de erradicação e a ocorrência da geada, rumando então
para Rondônia. Quanto aos provenientes de Mato Grosso, excetuando-se
os naturais desse Estado, os mineiros constituem o maior número (345) ;·
notam-se ainda os paulistas, com 162, e os capixadas com 145, que ali
foram à procura de terras para a atividade agrícola, principalmente na
região de Dourados, cujas terras já estavam quase todas ocupadas.
Dos 30.775 migrantes, a grande maioria (87 ,6%) dirigiu-se para o
município de Porto Velho, procurando estabelecer-se ao longo da BR-364,
concorrendo para o aumento populacional do município, que foi de
74,1% (37. 807 pessoas) 31 • A população migrante era composta principal-
mente de agricultores, mas também se estabeleceram, ao longo da es-
trada companhias de terras pertencentes a paulistas e paranaenses. Nu-
merosas derrubadas para a formação de pastos foram observadas na re-
gião, · em 1968, nas proximidades de Vilhena, Pimenta Bueno e Rondô-
nia (fig. 25).
O contingente migratório para o município de Porto Velho se re-
fletiu na composição por sexo de idade adulta (20 a 59 anos), fazendo
o número de homens (19. 539) ultrapassar em 15,2% o de mulheres
(14.358). Em Guajará-Mirim a diferença é de 10% (6.182 homens para
5. 602 mulheres). Tal diferença para a região é bastante significativa,
pois, geralmente na Amazônia, migra toda a família.
A imigração provocou aumento substancial da população rural,
particularmente nos distritos de Rondônia e .d e Ariquemes, onde teve
acréscimos de 5. 375 e 2. 344 habitantes, respectivamente, subindo para
9. 938 e 4. 679 habitantes. No distrito de Porto Velho a população rural
aumentou de 6.217, atingindo 18.018 habitantes em 1970.
A atração pelas terras situadas ao longo da BR-364 contribuiu para
que se observassem deslocamentos de população no interior do próprio
município de Porto Velho. Para elas afluíram pessoas antes residentes
em distritos como Calama e Abunã, que acusaram perdas de população,
entre 1960-70, respectivamente de 1. 484 e 996 habitantes.
O fluxo migratório contribuiu ainda para o acréscimo surpreendente
da população urbana dos distritos de Rondônia e de Porto Velho, cujos
núcleos passaram respectivamente, de 1. 293 e de 19.387 para 4. 285 e
41. 635, segundo o censo demográfico de 1970. Quanto às populações de

31 IBGE, Censo Demográfico, 1970.

71
Flg. 25 - ' Derrubada e formação de pasto na BR-364, perto de Marco Rondon ~53 k:OÍ a SW
de Pimenta Bueno)
Foto O. Va lverde - 28.7.68

outras sedes de distritos, o aumento foi de modo geral bem menor, obser-
vando-se mesmo diminuição nos de Pedras Negras, Príncipe da Beira;
Jaci-Paraná e Humaitá.
A maior concentração de imigrantes ocorreu nas áreas compreendi-
das por Vila Rondônia, Muqui, Pimenta Bueno e Marco Rondon. De iní-
cio, o proc~sso de ocupação se fez de forma linear, ao làngo da BR-364.
Posteriormente, a ocupação partindo de Vila Rondônia chegou até as
margens do rio Comemoração. Irradiando da estrada, . espraiou-se
ruino sudoeste, pelo alto vale do Apidiá ou Pimenta Bueno; dirigiu-se
também para leste, chegando às proximidades da atual localidade de
Espigão do Oeste, situada a leste de Pimenta Bueno. ·
A formação de novas frentes de povoamento, gerando uma ocupação
espontânea e desorganizada de terras da União, de particulares e de pre-
tensas companhias de .colonização - que sem qualquer a.mparo legal,
começaram a vender terras, Jludindo imigrantes menos esclarecidos -
geraram conflitos entre novos e antigos ocupantes. No fim da década
de -60, a situação fundiária de Rondônia apresentava-se caótica.
O Governo Federal interveio, através do INCRA, para elaborar um
cadastro das propriedades rurais e:r:p 1967-68, recactast:(ando-as em 1972.
Foram elaborados projetos de colonização, tendo sido implantádo em 1970
o primeiro deles, o chamado Ouro Preto, situado no distrito de Rondônia,
ao norte . da vila do mesmo nome. Em 1972 foi criado o de Ji-Paraná,
entre Vila Rondônia e Pimenta Bueno. Preocupado com o êxodo do mU-
nicípio de Guajará-Mirim e com o acúmulo de colonos em lata (que-
já extravasavam das terras da colônia), o INCRA lançou, também em
1972, o projeto Sidney Girão, ao norte da Colônia de lata, na altura de
Ribeirão (antiga estação ferroviária), área hoje servida pela BR-425,
que liga Guajará-Mirim a Aburiã, e faz entroncamento com a · BR-364.
Prosseguindo com essa política, o INCRA criou em 1973 o projeto .de
colonização Paulo de Assis Ribeiro, ao sul do Território, ocupando· parte

72
dos vales do Cabixis, Escondido e Corumbiara. Em 1974 e 1976 foram
lançados mais dois projetos: o Burareiro e o Marechal Dutra, ambos
em áreas servidas por estradas de rodagem; o primeiro perto de Arique-
mes, no vale do Jamari, e o último abrangendo terras desse vale -e do
Candeias, servido pela BR-421, já implantada no Território.
E~sa atitude do INCRA concorreu para intensificar ainda mais o
fluxo migratório na década de 70. A população do Território, em 1976,
elevava-se a 221.770 habitantes, segundo dados estimados. O fluxo
migratório foi o maior até então ocorrido, mobilizando cerca de 76.000
pessoas 32 •
A maioria dos migrantes procede do Paraná, municípios de Apuca-
rana, Londrina, Toledo, Cascavel e Umuarama. Muitos trabalharam nas
lavouras de café, cereais e feijão. Predominam entre eles os naturais do
Sudeste, notadamente mineiros e capixabas; seguem-se os nordestinos,
paranaenses e outros.
Os distritos que receberam maior afluxo demográfico foram os de
Rondônia, Porto Velho, Guajará-Mirim e Ariquemes acusando expressi-
vos aumentos populacionais entre 1970 e 1976 (quadro 5 e mapa 7).

Quadro 5
CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO NOS QUATRO DISTRITOS QUE
TIVERAM MAIOR AUMENTO - 1970-76
RONDôNIA

CRESCIMENTO
DISTRITO POPULAÇÃO
Relativo 1976
Absoluto
(%)

Rondônia ... . ...... .. . . ... .... ... .. .... ..... . , 54 352 382.1 68 575
Porto Velho ., . ... , . ..... .• .. .. . .. . . , ... .... .•. 39 867 66,8 99 520
Guajará·Mirim .....••.. ... . ... ..•.. . .. ..... .. • 1o 158 49,8 30 550
Ariquemes . . . . .... . .. ... . ... .... . .... .. . .. .. . . 2 528 44,8 8 170

FONTE : SUCAM.

O incremento da população, rural e urbana, do distrito de Rondô-


nia, indica um processo embrionário de formação de uma região própria.
Em 1976, a população rural atingiu 26. 395 habitantes, acusando um au-
mento de 16.457 pessoas, isto é, 165,6 %. Note-se que nos dados refe-
rentes ao último ano, não está computada como rural a população dos
atuais centros de Pimenta Bueno e Vilhena, ao contrário do que ocorre
com os dados de 1970. A população urbana de Vila Rondônia - uma '
sede distrital - tem hoje população superior à da cidade de Guajará-
Mirim, sendo depois de Porto Velho a maior localidade do Território. O
forte aumento populacional do distrito de Rondônia decorre do fato de .
nele se situarem os projetos Ouro Preto, grande parte da área do cha-
mado Padre Adolpho Rohl, que é uma expansão do primeiro, e o de
Ji-Paraná.

32 Estimativa com base no crescimento vegetativo de 3,8% ao ano, adotado


pelo IBGE para o período intercensitário de 1960-70.

73
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO
REGIÃO DE PORTO VELHO POR DISTRITOS

N
___.-mcrw
JACIPARANÁ
'\
~
: PORTO VELHO I
(

~
\
ARIQUEMES
I
)
L ___ _

RONDON IA

NÚmero de Habitantes

100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000 População

20.000 -1950
D t96o
10.000 -1970
D t976
50 o 50 lOOkm

1.000
MAPA 7
Pimenta Bueno e Vilhena constituem hoje núcleos urbanos com
população de perto de 6. 000 (5. 820 e 5. 905) habitantes. Tais núcleos,
- - ·-· que-·em 1963 contavam apenas com 281 e 560 moradores, tiveram cres-
cimento acelerado a partir do início da década de 1970, e já em 1973
possuíam cerca de 3. 000 e 4. 000 pessoas, respectivamente. O intensivo
crescimento desses núcleos, com população voltada para atividades ur-
banas (prestação de serviços) constitui um indicador fiel do dinamismo
dessa região, fato também demonstrado pelo que acontece em Cacoal,
núcleo surgido após 1973 e já em 1976 com população estimada pela
SUCAM em 10.455 habitantes.
Aumento populacional igualmente notável ocorreu nos distritos de
Porto Velho, Guajará-Mirim e Ariquemes. No primeiro, quase duplicou
a população em 1976, em relação a 1970. (mais 38 .365 habitantes, ou
um aumento da ordem de 92 %), o que elevou o quadro urbano para a
casa de 80.000. Este grande acréscimo decorre do surto migratório e
do conseqüente equipamento urbano para atender à prestação de servi-
ços ligados à economia e ao bem-estar da população.
O aumento populacional observado em Ariquemes foi menor, em-
bora neles existam os projetos Burareiro e Marechal Dutra, implantados
em 1974 e 1975. São projetos que exigem maior poder aquisitivo para os
migrantes que queiram tornar-se parceleiros, sendo o tamanho do lote
bem superior aos 100 ha do módulo vigorante nos projetos Ouro Preto,
Padre Adolpho Rohl e Ji-Paraná. O incremento da população rural, a
partir de 1973, foi de 31,9 %, isto é, 1.491 pessoas a mais, passando em
1976 ao montante de 6. 170. Quanto ao da urbana foi mais expressivo:
107,8 % (1.037); em 1976, a vila de Ariquemes se aproximava de 2.000
habitantes.
No distrito de Guajará-Mirim, a implantação do projeto Sidney Gi-
rão, em 1972, contribuiu para a entrada de imigrantes, predominando
cearenses e mineiros entre os parceleiros, com percentuais superiores a
20 %. O acréscimo da população rural foi de 44,3 % (4.204), atingindo
em 1976 o número de 13.695 pessoas. A cidade apresentou crescimento
de 54,6 % (5. 954), tendo 16.855 habitantes em 1976. Contribuiu
para esse crescimento da cidade de Guajará-Mirim o êxodo rural dos
distritos de Príncipe da Beira (de onde emigraram 2. 298 pessoas) e de
Peç:iras Negras, cuja população se reduziu, em 14.8 % (488 habitantes).
Guajará-Mirim, à semelhança de Porto Velho, porém com bem menor
intensidade passou a atrair população rural de áreas relativamente pró-
ximas, que se apresentavam decadentes (mapa 8).
Na distribuição da população rural continuou a dominar o tipo
de habitat linear disperso, seguindo os eixos de circulação rodoviária e
fluvial, com relativo adensamento entre os núcleos de Pimenta Bueno
e Rondônia, ao longo da BR-364, observando-se ligeira expansão no tre-
cho já implantado da BR-421, nas proximidades de ,Ariquemes e na parte
que margeia o Madeira, perto de Porto Velho e Humaitá. Nas proximi-
dades de Guajará-Mirim, junto à BR-425, que segue pelo vale do
Madeira-Mamoré ligando Abunã r Guajará-Mirim, aparece outro aden-
samento, mas de importância bem inferior.
Nos referidos trechos, a população rural se apresenta às vezes aglo-
merada, aparecendo povoados, vários deles posteriores a 1963. Assim,
entre Pimenta Bueno e pouco além de Rondônia, surgiram ao longo da
BR-364 os de Ouro Preto e Presidente Médici, com, respectivamente,
1.895 e 2. 790 moradores. O primeiro foi implantado pelo INCRA como
sede do projeto do mesmo nome; tem como finalidade dar apoio e assis-
tência aos parceleiros, para o que dispõe de escritórios para a adminis-
tração e orientação técnica ao agricultor, escola de 1.0 grau, hospital,

75
REGIÃO DE PORTO VELHO
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA E RURAL
1976

POPULAÇÃO URBANA

POPULA~ÃO RURAL
• 100 hob.
MAPA 8
alojamento para visitantes, restaurantes e posto de gasolina. O último
surgiu espontaneamente, em local de trânsito de pessoas e mercadorias,
assumindo funções comerciais; nele existem máquinas de beneficiar
arroz, subposto de saúde, escola de 1.0 grau e posto de gasolina. A oeste
de Pimenta Bueno, num ramal da BR-364, surgiu o povoado de Espigão
do Oeste, com 265 pessoas.
Do final da década de 1950 até 1971 apareceram os povoados ligados
aos garimpos de cassiterita, no alto Candeias e em outras partes do
Território. Eram "currutelas" compostas por uma população instável
e miserável, de aventureiros acompanhados ou não das respectivas fa-
mílias. Esses núcleos estavam, em regra, isolados dos demais centros,
sem vias terrestres ou fluviais. Apenas um campo de pouso para teco-
tecos os ligava a Porto Velho e Ariquemes. Um escritório, geminado a ·
instalações precárias para concentração do minério, abrigava-se numa
construção um pouco melhor; ·junto a ela, o "barracão", onde as merca-
dorias trazidas de avião eram vendidas a preços extorsivos (de monopó-
lio); uma linha de casebres, à beira do campo de pouso; muitas outras
choupanas sórdidas, dispersas entre o núcleo embrionário e as "catas'';
nos aluviões. Eis o padrão de habitat e das habitações que se encontra- ·
vam em Campo Novo, Vietnã, S. Domingos e outros garimpos da região.
Com a proibição de funcionamento dos garimpos, determinada pelo
Governo Federal 'em 1971, surgiram verdadeiros povoados, mais está-
veis, vinculado~_ às lavras mecanizadas de cassiterita. Tais aglomerados
rurais não se situam à beira da BR-364, mas em ramais e ao longo do
trecho já construído da BR-421. Geralmente, sua população varia, apro-
ximadamente, entre 200 e 500 habitantes. Correspondendo a núcleos
administrativos e residenciais, são dotados de infra-estrutura necessária
aos trabalhos de mineração e de atendimento às necessidades imediatas
e mínimas da população que trabalha na lavra. Dispõem, normalmente,
de escritório, alojamentos para solteiros e para casados, restaurantes,
cantina, depósito de combustível, oficinas mecânicas para reparos nas
máquinas utilizadas na mineração e para consertos em veículos, bem
como posto de gasolina, para uso próprio. Assim, nos ramais da BR-364
entre Porto Velho e Ariquemes .encontram-se, até hoje, os de Santa Bár-
bara, Jacundá e Oriente Novo. Ao longo da BR-421, entre a última loca-
lidade e o alto Candeias, os de Taboca, Campo Novo e São Domingos
(mapa 9).
Pequenos núcleos situados nas proximidades da cidade de Porto
Velho, como os de São Pedro, Cachoeira do Samuel, Candeias, Ueporan-
ga, São Carlos, Boa Hora, Sobral e Nova Esperança já existiam em 1963,
mas pouco ou nada evoluíram. Em alguns foi observada sensível queda
de população, como ocorreu nos de Candeias e Nova Esperança, que
perderam, respectivamente, 83,8 % (310 pessoas) e 65,3 % (301) de sua
população, reduzida em 1976 para 60 e 160 habitantes. Tais povoados
. situam-se em áreas de domínio da pecuária extensiva e das colônias
antigas, criadas pelo Governo do Território.
Entre Calama e o extremo norte da região, no município de Hu-
maitá, surgiram vários aglomerados depois de 1963. Apresentam-se dis-
postos às margens do Madeira, em área fornecedora de legumes e fru-
tas para as cidades de Humaitá e de Porto Velho. Possuem estabeleci-
mentos de ensino de 1. 0 grau, igreja, casas de comércio. São pequenos
centros (todos com mais de 200 habitantes) compradores de produtos
da economia regional, para ali transportados em lanchas. Destacam-se
os de Carauapatuba e Muanense, ao norte de Humaitá, com, respectiva-
mente, 241 e 412 habitantes.

77
REGIÃO DE POR TO V EL HO
I -

NUCLEOS DE POPULAÇA0-1976
1 Vi lhena 26 Ped ra s Neg ra s
2 Piment a But"no 27 Fortaleza do Abu na
3 Esp igão do Oeste 28 Abu n ã
J Rio zi nho 29 Muturn-Pa ran á
s Cacaua l JO Jaci- Pa raná
Pasto Grand e
6 Muqu : 31
7 Pre s. MCdici 32 Mirari
8 Rond ón ia )3 Hu maitá
9 Ou ro Pr e to 3~ Mua nense
10 Ja ru 35 TrCs Ca sas
11 Ariqueme s 36 CarauJpa tuba
12 Nova Vida 37 Uru a piara
13 Cand ei as 38 Tabaja ra
14 Nova Esperança 39 São Dom ingos
15 Boa Hora 40 Campo Novo
16 Sã o Carlos 41 Calama
17 Ueporanga 42 Marco Rondon
18 São Pedro 43 Ori en te Novo
19 Guajará-Mirim 44 Sa nta Bárbara
20 Nú c leo lata 45 Ca c hoeirado Sà muel
21 Vi la Mu rtinho 46 Jacundá
22 Prlncipe da Beira 47 Sobral
23 Costa Marques 48 Seri nga l Setenta
24 Sidney Girão 49 Ta boca
25 Limoeiro 50 Porto Velho

I
I

- -- --------- 80.000 hob

POPULACl'iO URBANA

POPULAÇÃO RURAL AGLOMERADA


ESCALA - 1 5 000 000

MA PA 9 50 o 50 100 ISO 200 km


Fonte : SUCAM
Quanto aos aglomerados que se alinham à beira do leito da ferrovia,
hoje substituída pelas BR-364 e 425, ao longo do Guaporé e do São Mi-
guel, como os de Mutum-Paraná, Fortaleza do Abunã, Vila Murtinho,
Costa Marques e Limoeiro, não evoluíram, apresentando-se estagnados
ou decadentes. Acompanham o que ocorreu na área, que deixou de cons-
tituir objeto preferencial de colonização do INCRA. Os que mais perde-
ram população foram Fortaleza do Abunã e Vila Murtinho, cujos con-
tingentes populacionais baixaram para 500 e 205, em 1976. Excetua-se,
porém, o núcleo da colônia Sidney Girão, único projeto de colonização
do INCRA existente na área, que está equipado, à semelhança de outros
núcleos coloniais, com infra-estrutura para atendimento das necessi-
dades mínimas dos parceleiros: escritórios de administração do INCRA,
máquinas de beneficiar arroz, escola de 1. o grau e posto médico.

79
Capítulo 4 - OS PROJETOS DE COLONIZAÇÃO

ANGELA MORAES NEVES


ANA MARIA TEIXEIRA LOPES

A partir da década de 60, as preocupações governamentais no sen-


tido de integrar a Amazônia no sistema nacional, deram origem a uma
série de medidas, determinadas em decretos e programas específicos,
com o objetivo de acelerar a ocupação dos grandes vazios da região, e,
ao mesmo tempo, promover a sua articulação com o centro-sul do País.
Entre as medidas tomadas, ressaltam a criação da SUDAM, em 1967
e a publicação do Decreto n. 0 63.104, de 15-08-1968, estabelecendo dire-
trizes para a ocupação da Amazônia, a partir de núcleos populacionais
existentes na Faixa de Fronteiras e de Areas Prioritárias, nas quais se
previa a implantação de Projetos de Colonização, mediante a ação in-
tegrada de diversos órgãos, chamados a intervir no processo.
O artigo 1. 0 daquele decreto estabelece como áreas prioritárias de
atuação no Território Federal de Rondônia:
a) Area Prioritária n. 0 1 - "o segmento da BR-364, entre as ci-
dades de Ariquemes e Rondônia, abrangendo uma faixa de 6 (seis) qui-
lômetros de cada lado da citada rodovia";
b) Area Prioritária n. o 2 - a região em que se localizam as cidades
de Porto Velho e Abunã, tendo como centro a primeira.
O artigo 2.o se refere especificamente ao povoamento e desenvolvi-
mento econômico-social nas "zonas de fronteiras" , compreendendo, no
caso de Rondônia, a área de Guajará-Mirim.
Para dar cumprimento ao que previa o referido decreto, o então
Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) realizou estudos para a
implantação de Projetos de Colonização ao longo das rodovias Cuiabá-
Porto Velho e Abunã-Guajará-Mirim, os quais, além de se enquadrarem
na política de ocupação de vazios demográficos, também objetivaram
a localização e orientação do fluxo migratório que começava a se dirigir
para o Território Federal de Rondônia, à procura de terras e melhores
condições de vida. O primeiro desses estudos, Notas preliminares para
levantamento e avaliação de recursos naturais do Território Federal de
Rondônia, foi seguido do Anteprojeto de loteamento da Area Prioritária
n.o 01 do Território de Rondônia" e da elaboração dos Projetos de Coloni-
zação Ouro Preto e Sidney Girão, respectivamente, em 1970 e 1971.
O primeiro estudo 33 já recomendava a "elaboração de um plano ra-
cional de ocupação que obedeça às condições ecológicas apropriadas da

33 CAVALCANTI, David Felinto et a l. Notas preliminares para levantamento e


avaliação de recursos naturais do Território Federal de Rondônia. Rio de Janeiro,
IBRA, 1969. 63 p., il.

80
região." Assim, as diretrizes contidas no Decreto n. 0 63.104/ 68 não só
levaram à implantação dos dois citados Projetos, como, até certo ponto,
condicionaram grande parte da atuação do INCRA no Território, le-
vando-a a se concentrar na área de influência da BR-364, indicada como
prioritária para ocupação desde 1968, quando a corrente migratória co-
meçava a se dirigir para Rondônia, facilitada pela abertura ao tráfego
da rodovia Cuiabá-Porto Velho, no início da década de 60.
Esse fato, somado ao fechamento dos garimpos, em 1971, e ao aban-
dono dos seringais, em virtude dos melhores horizontes de trabalho que
se abriam para os seringueiros, com a construção da BR-364 e a pos-
sibilidade de se tornarem proprietários de uma parcela nos Projetos de
Colonização do INCRA, provocou uma invasão desordenada de terras.
Esta população afluente se constituiu de:
a) um grande contingente de agricultores sem terra, oriundos ein
sua maior parte do centro-sul do País;
b) um pequeno grupo de capitalistas do Sul, interessados em ad-
quirir terras no Território de Rondônia;
c) um certo número de pessoas que se localizavam nos núcleos
populacionais existentes, com a finalidade de ~e dedicar a atividades
urbanas, sobretudo ao comércio.
Por isso, "muitos núcleos, onde se esperava uma redução popula-
cional com a entrega de lotes rurais pelo INCRA, mantiveram suas taxas
de crescimento aceleradas," 34 apesar da implantação de Projetos de Co-
lonização em áreas circunvizinhas.
Nem o extrativismo, nem a lavra mecanizada geraram riquezas para
o Território, uma vez que o produto dessas duas atividades sempre foi
exportado para ser industrializado em outras regiões.
A extração da cassiterita deu lugar à criação de alguns núcleos po-
pulacionais, que não exercem maior influência na região. Isso se deve,
de um lado, ao próprio caráter transitório da atividade mineradora e,
de outro ao fato de que a lavra não é fonte geradora de muitos empre-
gos, pois constitui um tipo de empreendimento que visa ao mais alto
rendimento, através de um máximo de racionalização e de mecanização
do trabalho, com o emprego de um mínimo de mão-de-obra.
Sendo o setor industrial quase inexistente no Território, tornou-se
a agricultura a alternativa mais viável para a abwrção da maior par-
cela do fluxo migratório. Tornava-se necessário, entretanto, a utilização
de um tipo de propriedade capaz de absorver a mão-de-obra disponível,
sem se valer de atividades econômicas baseadas em tecnologia cara,
altamente mecanizada. A implantação de projetos de colonização funda-
dos na propriedade familiar, preconizada pelo Estatuto da Terra, foi a
opção adotàda pelo então Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
(IBRA), órgão, à época, executor também da política de colonização do
País.
A construção da BR-364 não foi precedida de nenhum estudo das
formas de ocupação do espaço já existentes no Território, como as áreas
de extrativismo e as de garimpagem da · cassiterita, nem tampouco do
que poderiam vir a ser as possíveis formas de ordenação territorial que
surgiriam em decorrência da abertura da rodovia. ·
Quando o IBRA começou a atuar, em 1968, o fluxo migratório ainda
não era muito intenso. No entanto, desde o início faltou ao sistema de

34 CARPINTERO, Antonio C. Cabral et al. Programa de desenvolvimento


urbano: Território Federal de Rondôrnia. Porto Velho. Secretaria de Planejamento,
1967 (multigr.) .

81
colonização oficial, estabelecido em Rondônia, uma programação cãpaz
de atender às situações de emergência que se criavam, como a que deu
origem~ implantação do Projeto Ouro Preto. Ao mesmo tempo, tal pro-
gramaçao nao soube acelerar ao máximo a discriminação de terras para
permitir, em tempo hábil, a criação de novos Projetos, em vista d~ che-
gada contínua de novos migrantes. Esse afluxo foi incrementado pelas
notícias de obtenção de "boas terras" no Território e, também, pela pro-
paganda governamental, decorrente da política de ocupação da Ama-
zônia, e~plicitada em diversos documentos oficiais do início da década
de 70, como o I PND e o Programa de Integração Nacional,s5 comple-
mentado pelo plano de abertura de rodovias amazônicas e pelo De-
creto n. 0 1.164/ 71. Determina este decreto que sejam considerados como
de segurança nacional os 100 km de cada lado do eixo de rodovias fede-
rais da Amazônia Legal, onde também se deveriam implantar projetos
de colonização.
A falta de um plano global estabelecendo metas de assentamento a
curto, médio e longo prazos, e que pusesse em ação conjugada os di-
versos órgãos do Poder Público, para intervir no processo de ocupação
de novas áreas daquela porção do espaço amazônico, se fez sentir desde
o início. Isto levou o IBRA (depois denominado INCRA) a agir sempre
no sentido de atender a situações de emergência, criadas pela intensifica-
ção do fluxo migratório. Este dificilmente poderia ser reduzido, posto que
persistiam naquela época, e ainda hoje, fatores que concorreram para
transformar certos municípios do Sudeste em áreas expulsaras de po-
pulação. Dentre tais fatores podem-se citar: a concentração na proprie-
dade rural, sobretudo nas duas últimas décadas, com a conseqüente ele-
vação do preço da terra; a expulsão, em massa, de trabalhadores rurais
das fazendas - assalariados, colonos e parceiros - após a aprovação do
Estatuto do Trabalhador Rural, os quais passaram à condição de bóias-
frias; a transformação de áreas com culturas intensivas de mão-de-obra,
como a rotação trigo-soja, de elevado índice de mecanização; a incapa-
cidade dos setores secundário e terciário de absorver a mão-de-obra
liberada pelo setor primário, quase toda oriunda da população de baixa
renda.
Os Projetos foram sendo implantados sem que houvesse uma esti-
mativa, a curto e médio prazos, dos recursos mínimos necessários (finan-
ceiros, humanos e técnicos) para fazer face à intensidade do fluxo, que
se foi avolumando a partir do início da década de 70. Como órgão res-
ponsável pela execução da política de colonização sintetizada no Estatuto
da Terra, o INCRA assumiu a direção do programa de colonização, uma
vez que, no início dos anos 70, o Governo do Território não dispunha d.e
meios para coordenar essa atividade, em colaboração com aquele órgão.

4.1 - OS PROJETOS FUNDiáRIOS

A fim de acelerar o processo de arrecadação de terras para a União,


o INCRA criou os Projetos Fundiários, subordinados às Coordenadorias
Regionais, com a finalidade de: promover a discriminação de terras de-
volutas; providenciar a incorporação ao patrimônio público das áreas
"desocupadas e das ilegalmente ocupadas, administrando-as enquanto
não tiverem outra destinação legal" 36 ; providenciar a titulação das

35 PRESIDll:NCIA da República. Metas e bases para a ação do governo,


1970. 126 p .
3 G INCRA . Instrução n. 0 6 b, 1976.

32
TERRITÓRIO FEDERAL ·oE RONDONIA
-
PROJETOS FUNDIÁRIOS E GLEBAS EM DISCRIMINAÇAO -

A M A z o N A s

z o s
A M A N A
..

M A T o

PARA RIO BRANCO -AC

1o•

G R o s s o

GLEBA CASTRO ALVES

11•

(f)

(f)

o
..
,

o
<

ÁREAS ARRECADADAS PELO Art. 28-EXERCÍCIO 1977-5754 308 Ha

ÁREAS TRANSCRITAS - EXERdCIOS ANTERIORES- 5887 138 Ha


UMITES DOS PROJETOS FUN DIÁRIOS

FAIXA DE FRONTEIRAS
~ f'F A LTO MADEIRA
P.F. JARU-OURO PRETO ..
,
~ P. F.CORUMBIARA
FAI XA DE 66 km
E S C A L A
llllllllllllilllillllllllllllll
FAIXA DE 150 km
P. F. GUAJÂRJ't- MIRIM

lO o lO 20 30 40 50 60 70 eo 90 100 km
MAPA 10

••• ••• ••• ... 62" ., . 60•


posses legitimaveis ou passíveis de regularização, de acordo com a legis-
lação em vigor; propor o reconhecimento dos títulos de domínio exis-
tentes, desde que provada sua legitimidade; executar os desmembramen-
tos ou parcelamentos das áreas devolutas desocupadas, segundo indi-
cação do INCRA.
A simples enumeração de objetivos dos Projetos Fundiários demons-
tra quão importante é o seu papel para o desenvolvimento de um pro-
grama de colonização. No caso de Rondônia, foi o Território dividido em
quatro Projetos Fundiários (mapa 10):
Alto Madeira, com 5. 570 .000 hectares, tendo como sede a cidade
de Porto Velho;
- Jaru-Ouro Preto, com 5. 698.900 ha, sediado em Vila Rondônia;
- Corumbiara, 5.990.500 ha, com sede em Pimenta Bueno. Este
Projeto tem uma área de licitação de 2 . 000.000 ha - a gleba Corum-
biara- que se estende desde Pimenta Bueno até Vilhena;
- Guajará-Mirim, com 7. 045 ha, tendo como sede a cidade do
mesmo nome.
Através desses Projetos, foi assegurada aos seringalistas a possibi-
lidade de regularização de áreas, para membros do conjunto familiar,
até 2. 000 ha na faixa de fronteiras, e até 3. 000 ha fora dela.
Os seringueiros podem regularizar áreas entre 100 e 500 ha.
Também os agricultores que comprovem a posse efetiva da área
que ocupam, caracterizada por residência no local e exploração agrope-
cuária efetiva, podem regularizar suas posses, dentro dos limites pre-
vistos na lei.
O INCRA se propõe, ainda, a efetuar o assentamento de agricultores
sem terra nas áreas remanescentes das regularizações fundiárias recupe-
radas para a União. O quadro 6 demonstra a disponibilidade de terras
nas áreas dos Projetos Fundiários do Território, no ano de 1978, e as
frações que já foram discriminadas.
Graças à Lei n.o 6. 383/ 76, que veio substituir a de n.o 9. 760/ 46, até
então em vigor, foi possível, através de uma ação conjugada dos Pro-
jetos Fundiários em Rondônia, acelerar o processo de discriminação
de terras, arrecadando para a União, em 1977, um total de 5. 630. 700
ha, em todo o Território. Esse resultado só pôde ser obtido porque a nova
lei, através do seu artigo 28, permite reduzir muito os custos do processo
discriminatório, e ao mesmo tempo estabelece procedimentos que lhe
imprimem maior rapidez.
O quadro 7 demonstra o que foi a atividade discriminatória em 1977.
Em princípio, as terras discriminadas na área do Projeto Fundiário
Jaru-Ouro Preto, que totalizaram 681.700 ha em 1977, correspondem a
solos potencialmente melhores, na faixa de influência da BR-364. Tam-
bém na área de jurisdição do Projeto Fundiário Corumbiara ocorrem
algumas áreas favoráveis à implantação de projetos de assentamento de
agricultores.
As terras recentemente discriminadas ainda não tiveram destina-
ção estabelecida pelo INCRA. A SUDECO, em cuja área de atuação se
insere o Território Federal de Rondônia, está disposta a colaborar com
o INCRA para estabelecer o plano de destinação das áreas arrecadadas.
Tal medida possibilitará ao Governo do Território e ao INCRA determi-
narem a abertura de novas áreas para o assentamento de parceleiros,
uma vez que o total de famílias localizadas nos Projetos de Coloniza-
ção Oficial, em 1976, era de 10.268, número este muito aquém das ne-

83
Quadro 6
SITUAÇÃO JURíDICO-FUNDIARIA DO TERRITóRIO DE
RONDôNIA - 1978

ÁREAS (h a)

ÁREA De Domínio Púb li co De Domínio Particular


PROJETOS
FUNOIARIOS
DOS
PROJETOS (1)
(ha) Registradas Em Fase
de Indígenas do IBDF
Com Títulos

Definitivos l Provisórios
Aforamentos
Concedidos
Com
Registros
Irregulares
l Total (1)
Arrecadação PBio S.P.U.
U ni~o
I INCRA Amazonas (2) 1Mato Grosso(2) Mato Grosso(2)
I -
Alto Madeira .. . .... . ... ... 5.570.000,0000 2.100.112,0431 154.000,0000 604.176.0410 57.600,0000 601.732,2386 99.402,5300 519.821,4441 32.665,3261 845 862.9765 5.015.372.5994
Corumbiara ........ .. ....... 5.990.500,0000 3.686.786,0257 . 773.347,3097 1.014.960,1655 258.500,0000 7.365,0000 22.500,0000 96 041.4991 5.859.500,0000
Jaru-Ouro Preto ..... 5.698.900,0000 1.630.865 ,7409 1.608.429, 6762 79.362,6437 185.000,0000 268.150,0000 265.455.0057 297.959,9075 406.700,0000 55.161,7500 95.442,5766 4.972.527,3006
GuajarH1irim(3) .... 7.045.000,0000 2.527.729,3560 60 000,0000 623 .233,9424 542.600,0000 1.799.500,0000 13.100,0000 133.432.0000 190.939,0000 3.700,0000 124.199,0000 6.085.226,2984
TOTAL. . .. ............. 24:304.400,0000 9.945.493,1657 2.675.776,9859 1.306. 772.6271 1.800.160.1655 2.326.150,0000 880.287,2443 538.159,4375 1.139.960,4441 187.568,5752 1.065.504,5531 21.932 626,19 84

FONTE: INCRA. 1978.


OBSERVAÇOES: (1) A diferença en!re a área tota l de cada P.F. e a soma das demais áreas do mesmo. corresponde a terras devolutas, com situação dominia l ainda não definida (PF. Alto Madeira: 554.627.4006 ha, PF. Coru11biara: 131.000,0000
ha. PF. Jaru-Ouro Preto: 726.372,6994, PF. Guajará-Mirim: 959.773,8016 ha) ;
(2) Títulos outorgados pelos Governos do Amazonas e Mato Grosso, quando o atual Território Federal de Rondôn ia se encontrava sob a. jurisdição daqueles Estados;
(3) No PF. Guajará-M irim M 66.703,0000 .ha correspondentes a 4 tltulos definitivos expedidos pelo Serviço de Patrimônio da Uni;o (SPU).
cessidades da corrente migratória, pois se estima que a população sem
terra chegue, no momento, a 30.000 famílias. Até o final de 1978, pre-
via-se o assentamento de mais 13.773 famílias .

Quadro 7
ARRECADAÇÃO DE TERRAS PELOS PROJETOS
FUNDIARIOS - 1977
RONDôNIA

ÁREA
PROJETO FUNDIÁRIO E GLEBA
(h a)

ALTO MADEIRA . . ... •..•. .. . ..• . . ... •... ...•... ... •. . .. . •.. . .. .•..... 1 083 100
Jacundá ....... . : ....... .. ..... .. : .. .. ....... .. .. .. ...... .. ..... .. 667 000
Gonçalves Dias . .. ... . .... ........ ....... . .. ........ .. . . ........ .. 280 000
Euclides ~a Cunha ..... .. •.. ..• •. ....• •.. . ..•.. .. .• . .. .. .• .• .. .. •. 60 500
Abunã ............. ...... ..... ....... .. ..... . ....... , .......... .. . 75 600
JARU-OURO PRETO .... .. . .. .. ...... ... .. ... ..... . .. .... ... . ........ .. 681 700
··Novo ' Des:i.1o ................ .. ...... .. .. .. ............ .. .'.... . .. . 383 700
Sar.ll Rosa .................... ... ........... ....... ... ... .. . . ... . 15~ OJO
Vida Nova ................. .. ........... ... .... .... ............. . . 138 000
GUAJARÁ-MIRIM. : ......................... ....... .... . ..... .. . ... .. 1 99~ 900
..,Samaúma ..... . .... .. .............. .. .. ... . ..... .. .. .... . ... .. . ... . 1 93~ 900
Sidney GirãJ ..... _. .. .... , ... .. .. ,. . ............ .. ... . .... ...... .. . . 60 000
· CORUMBIARA .....•.... : ... . •............•.... .• ..... .. .... ••.. ... •. • 1 871 000
Guaporé . ................. , .. . ..·... . .................. . .... .... .. . 1 389 000
Castro Alves ................ .. . .. .. . ... .. .. .... . ..... ... ......... . 394 000
. lquê .. . .. .................. . .... . ... .. . .. . ... .... .... .. ... .. .. ... . 88 000
TOTAL. : .. • .'... .. . . . .. ..... . .. . .....•.... .. .. .. · •····· · •···· ••···· 5 630 700

FONTE: INCRA - Rondônia. 1977.

É de se notar que, embora haja grande· parcela do fluxo migratório


ainda não localizada em projetos de colonização, não existem excedentes
populacionais_em Rondônia, cuja densidade demográfica permanece bai-
xa: 0,9 hab./km 2 , para os 243.004 km 2 que constituem a área do Terri~
tório; isso, apesar do incremento populacional verificado sobretudo a
partir da década de 70, como já foi visto em capítulo anterior.

4.2 - TíTULOS DEFINITIVOS OUTORGADOS PELOS ESTADOS

A época em que a: área hoje abrangida pelo Território Federal de


Rondônia integrava os Estados de Mato Grosso e do Amazonas, foram
outorgàdos pelos governos destas unidades federadas 160 títulos de pro-
priedade. Alguns deles ainda não tiveram concluídos o estudo da situa~
ção jurídica, enquanto outros foram devidamente reconhecidos pelo
INCRA.
Os imóveis correspondentes a esses títulos localizam-se em áreas que
se superpõem a outras de atuação do INCRA, ou de outros órgãos, como
a FUNAI e o IBDF. Tal situação, aparentemente anômala, se explica
pelo fato dê que esses títulos já existiam antes da atuação do Poder Pú-
blico na região. Muitos dos referidos imóveis apresentam áreas superio-
res a 2. 000 e 3. 000 hectares, conforme estejam situados dentro ou fora

85
da faixa de fronteiras, segundo hoje estabelece a Constituição Federal.
Como a lei não retrdage, essa situação continuará existindo.
O INCRA procura resolver os casos de superposição de área, como,
por exemplo, o da Reserva de Pedras Negras, onde há vários imóveis
com situação indefinida e que só poderá ser solucionada a partir do
momento em que a área for demarcada. Nessa oportunidade, o Poder
Público poderá propor aos detentores desses títulos definitivos a per-
muta dos respectivos terrenos por outros em áreas equivalentes, fora
daquela onde ocorre a superposição, ou então desapropriar, quando for
o caso. A citada Reserva teve seu perímetro descrito no decreto que a
criou, mas a demarcação não foi ainda efetuada, no que deverá ser rea-
lizado pelo IBDF, mediante entendimentos com o INCRA.

4.3 - AREAS DE LICITAÇÃO

Além das áreas destinadas a Projetos de Colonização, o INCRA vem


promovendo a venda a particulares, mediante licitação pública, de de-
terminadas glebas arrecadadas para a União através dos Projetos Fun-
diários. Tais áreas objetivam a implantação de grandes e médias empre-
sas rurais, dentro do limite legal permissível (até 2. 000 ou 3. 000 ha,
conforme estejam dentro ou fora da faixa de Fronteiras), e se destinam
a atividades pecuárias, como é o caso da gleba Corumbiara, próxima a
Vilhena, e agrícolas, como a Burareiro, contígua ao Projeto do mesmo
nome e, como aquele, também destinada ao cultivo do cacau. _
Outra área em parte licitada é a gleba Garças, situada entre os
quilômetros 11 e 70 da BR-319, no Município de Porto Velho. Essa área,
de 143.000 ha, destinava-se a regularizar a situação de cerca de 300
ocupantes localizados ao longo da rodovia, em terrenos de 50 a 100 ha,
cujas principais culturas são o milho, feijão, arroz e mandioca, comer-
cializados em Porto Velho. Além dessas parcelas, a gleba foi dividida
em áreas de 500 a 2. 000 ha, destinadas à pecuária, para o abastecimento
de carne e leite de Porto Velho e de outros mercados do Território. O
INCRA construiu ali nove escolas e organizou uma pequena estrutura
administrativa.
Esse tipo de ocupação se processa de forma ordenada e em pequena
escala, pois o número de pessoas que dispõem do capital necessário para
o investimento em compra da terra e implantação do projeto técnico
correspondente à área adquirida é relativamente pequeno, em face do
contingente de população de baixa renda existente.

4.4 - PROPRIEDADES FAMILIARES

Os beneficiários potenciais dos Projetos de Assentamento do INCRA


são os agricultores sem terra, que constituem a maior parte do contin-
gente migratório que demanda Rondônia e, também, a faixa social para
a qual se faz necessário criar maiores oportunidades de emprego. Essa
população conta apenas com um recurso: sua força de trabalho. Fre-
qüentemente dispõe, ademais, de experiência agrícola que a capacita a
introduzir novas culturas em determinadas áreas, como é o caso do café
em Rondônia. Este cultivo foi iniciado com êxito por parceleiros prove-
nientes sobretudo do Paraná e do Espírito Santo.
Essa população de baixa renda, que constitui uma fonte de preo-
cupação para as autoridades governamentais é, no entanto, a maior res-
ponsável pela organização de uma frente pioneira e a transformação
de uma área anecumênica, como era o caso de Rondônia há pouco mais

86
A

TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDONIA


I

PROJETOS DE COLONIZAÇÃO OFICIAL E AREAS DE RESERVAS

A M A z o N A s

A M A z o N A s
9

M A T o

P/RIO BRANCO- AC

RESERVA SIOLdGICA DO JARIJ

..
,

G R o s s o

Pl IG . LOURDES

I
PIC Jl - PARANÁ
f SETOR JI - PARANÁ

\
\ 11"

Pl
' ' --
o

(/)

c •
(/)

o
o
•'
...
0:::

<
/~

COLONIZAÇ.I!.O OFICIAL P. l .C. I

COLONIZAÇÃO OFICIAL PA.D.


, ..
CONCORRÊNCIA PÚBLICA

LIMITES DOS PROJETOS FUNDIÁRIOS


REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM DEMARCAÇÃO ~ PF. ALTO MADEI RA

PF. JARU -OURO PRETO

P. INDlGENA DO ARIPUANA ~<@ P.F. GORUMS IARA


III!IIQI!!I!i!i!il!llll ii llll l P. F. GUAJARÁ- MIRIM

PRESENÇA IND(GENA

RESERVA FLORESTAL E BIOLÓGICA

..
,
FAIXA DE FRONTEIRAS
FAIXA DE 66 km
E S C A L A MAPA ll
FAIXA DE 150 km 10 O lO 20 30 40 ~ 60 70 80 90 100 km

Fonte:- I.N . G. R.A. ... 65• ... ••• ••• .,. •••
de uma década, em uma fronteira agrícola, pois o Território representa
hoje a única importante faixa produtora de alimentos da Amazônia Oci-
dental. Tal processo decorre da ação orientadora e discriminadora do
INCRA, através dos Projetos de Colonização, os quais constituem, até o
momento, a alternativa mais viável para a criação de novos empregos
e fixação do homem à terra.
Nesses Projetos, implantados quase todos há menos de sete anos e
com uma população de baixa renda, considerada por mu'tos sem um mí-
nimo de capacidade empresarial, criou-se a maior área produtora de
alimentos do Território (quadro 8).
O volume do crédito concedido pelo Banco do Brasil, principal fonte
de financiamento do Território, para as lavouras temporárias de milho
e arroz, durante o ano agrícola 1976/ 77, em áreas de colonização oficial,
pode ser verificado através do quadro 9. Observa-se que as áreas objeto
de financiamento, no PAD Marechal Dutra, são de apenas 5 ha para
arroz e 3 ha para milho, em uma parcela. Tal situação se explica porque
o Projeto começou a ser implantado a partir de 1975, e o quadro 9 se
refere ao ano agrícola de 1976/ 77, quando os cultivos e o programa de
crédito não estavam organizados. Também o PIC Paulo de Assis Ribeiro,
à época, de recente implantação, não figura nesse quadro uma vez que
não havia, então, financiamentos agrícolas previstos para aquela área.
Quanto ao PAD Burareiro, as atividades creditícias não são orien-
tadas pelo INCRA, devido ao nível de renda dos beneficiários ser mais
elevado que o dos demais Projetos. Assim sendo, eles operam diretamente
com o Banco do Brasil, através da CEPLAC. Por essa razão, o volume de
crédito destinado ao Projeto não figura no quadro 9.
Atualmente, a faixa da BR-364, onde se localizam seis dos sete Pro-
jetos de Colonização do INCRA (mapa 11) e concentra cerca de 56 % da
população do Território. Esta é a área que apresenta maior dinamismo
econômico. O mesmo mapa assinala também as áreas indígenas, as des-
tinadas a reservas florestas, sob a jurisdição do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF) e aquelas destinadas à licitação no
Território.

4 .5 - TIPOS DE COLôNIAS DO INCRA

No exercício de sua função colonizadora, o INCRA estabeleceu dois


tipos de colônias:
l,O) PAD - Os chamados Projetos de Assentamento Dirigido
(PAD) se destinam a agricultores com maior nível de capacitação pro-
fissional, experiência quanto à obtenção de crédito bancário e um mí-
nimo de recursos financeiros. Nas áreas desses Projetos o INCRA é res-
ponsável pela seleção e assentamento dos beneficiários, pela implan-
tação da infra-estrutura física, loteamento e titulação. As atividades re-
ferentes à assistência técnica, comercialização, saúde e educação não
estão afetas ao INCRA, mas a outros órgãos diretamente responsáveis,
seja ao plano federal, regional, estadual ou municipal.
2.o) PIC- Os Projetos Integrados de Colonização (PIC) se desti-
nam à faixa de população de baixa renda, especificamente a agriculto-
res sem terra (§ 2. 0 , art. 25, do Estatuto da Terra), e de preferência
àqueles que possuem maior força de trabalho familiar. Nas áreas desses
Projetos, o INCRA identifica e seleciona os beneficiários, localiza-os nas
parcelas por ele delimitadas, fornece a infra-estrutura básica, e, através
dos órgãos responsáveis, a nível nacional, regional, estadual, ej ou mu-
nicipal, implementa as atividades relativas à assistência técnica credi-

87
Quadro 8

AREA CULTIVADA E PRODUÇÃO DOS PROJETOS DE COLONIZA-


ÇÃO E ASSENTAMENTO DIRIGIDO - ANO AGRí COLA 1975-76
RONDõNIA

INFRA-ESTRUTU.RA ECONÚMICA

PROJETOS DE Area Cuilivada (ha) FINANCIAMENTO


COLONIZAÇÃO E Produção GLOBAL
ASSENTAMENTO DIRIGIDO Culturas Anuais Culturas Permanentes (Cr$)

Mandioca l A!roz
I
Feijão
I
Milho Café
I
Banana
I Cacau
I Seringa Café
(Sacas)
I
Mandioca
(t)
I
Arroz
(Sacas)
I
Feijão
(Sacas)
I
Milho
(Sa cas)
I
Bonana
(Cachos)
I
Cacau
!knl

Ouro Preto ..•. .. .. •.•..•.•..• 6 500 26 000 5 200 11 600 3 341 15 000 1 134 150 108 333 91 o 000 72 800 371 200 5 000 000 8 000 26 353 291

Sidney Girão . . .. ......... oo oo 836 3 442 1 856 1 854 300 43 20 43 10 266 110 154 25 984 59 329 36 000 7 510 710

Ji-Paraná . .. ... .. ........ ... .. 487 19 453 3 000 6 950 3 891 1 500 76 5 527 81 166 622 000 42 000 222 400 510 000 9 307 008
Pdulo A. Ribeiro ......... 00 00 12 588 500 400 221 15 200 49 900 7 000 12 800 18 000

Pe. Adolpho Rohl .. .. ... oo . . . 3 228 15 510 1 560 3 400 989 1 890 397 53 800 486 320 217 140 108 800 3 780 000 5 173 712

Burareiro . ............ ... . .•• • 282 200 9 024

Marechal Outra ..... ......... . 1 524 350 48 768

TOTAL. .. ...•......• •• . •• 11 063 64 993 12 116 26 010 8 742 18 448 2 177 193 5 527 253 765 2 178 374 364 924 832 310 9 344 000 8 000 48 344 721

FONTE: Divisão Territorial Técnica de Rond ônia (fevereiro 1977).


Dados da CEPLAC- PIC Ouro Preto. 1978 (quanto aos Pies Ouro Preto, Ji-Paraná e Pe . Adolpho Rohl) .
Quadro 9

CRÉDITO CONCEDIDO PELO BANCO DO BRASIL AS LAVOURAS DE


ARROZ E MILHO DOS PROJETOS DE COLONIZAÇÃO - 1976-77
RONDôNIA

CULTURAS
TOTAL
PROJETO Arroz Mi lho

Are a Valor Area Valor Valor Iprodutores


N.' de
(h a)
I (Cr$ ) (ha)
I (Cr$) (Cr$)

Sidney Girão ... .. . .. . ••. . .. . ... 1 089 3 618 070 7 866 3 625 936 108
PAD Ma l. Outra. ..... •.. . ... •. . 5 6 390 2 592 8 982
P. e Adolpho Ro hl . .. . .•. .. . • . . . 2 898 3 703 644 698 603 072 4 306 716 451
Duro Preto . ..... . .. .. .. .. ... . . . 3 957 5 057 046 ' 497 429 408 5 486 454 462
Ji-Paraná..... ... . .. .. .. ... . ... 4 748 6 067 944 501 432 854 6 500 798 463
TOTAL.. ... . •... . .. . ..... • • 12 69 7 18 453 094 1 708 1 475 792 19 928 886 1 485

FONTE : Banco do Brasil.

tícia, à comercialização, saúde, educação, ao mesmo tempo em que deve


montar o sistema cooperativo, para facilitar a organização sócio-econô-
mica dos parceleiros. Cabe também ao INCRA outorgar aos benaficiá-
rios o título definitivo de propriedade da parcela.

4 . 6 - A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO

A ação do INCRA em Rondônia, no sentido de proceder a uma or-


denação do espaço e da ocupação, vem comprovando a existência de ter-
ras públicas federais, sem qualquer título de domínio, inclusive na faixa
de fronteiras.
Em 1967, pela Portaria n.o 492, o IBRA criou o Distrito de Terras
de Rondônia e Acre, com sede em Porto Velho e jurisdição sobre o Terri-
tório de Rondônia e parte do Estado do Acre, formado pela "porção de
terras devolutas indispen~áveis à defesa nacional ou essencial ao de-
senvolvimento do País" 37 •
Entre outras atribuições, cabia ao Distrito de Terras promover a
regularização e a ocupação de terras devolutas através do povoamento,
além da preservação dos recursos naturais. Essas áreas, devido em parte
ao seu potencial madeireiro e à fertilidade dos solos, sobretudo na faixa
da BR-364, tornaram-se objeto de especulação imobiliária, estimulando
desse modo ocupações desordenadas e arbitrárias, distúrbios sociais e
depredação do patrimônio público. Frente a tal situação e à necessidade
de não só controlar a ocupação, como colaborar para absorver o fluxo
migratório crescente e espontâneo que chega ao Território, através da
BR-364, optou o INCRA pela implantação de Projetos de Colonização ao
longo daquela rodovia, ou em áreas adjacentes, como é o caso do Projeto
Paulo de Assis Ribeiro.
37 IBRA. Antepr ojeto de loteamento da área prioritária n.o 1 do Terr itóri o
de Rondôni a. Rio de Janeiro, 1969. 55 p . {mimeo) .

89
A política esboçada pelo Decreto n.o 63.104/ 68 fazia alusão clara a
outras formas de ocupação do espaço, diferentes das até então conheci-
das na Amazônia e que tinham no seringal sua expressão máxima.
4. 6 .1 - A formação de núcleos urbanos
As novas alternativas de ordenação territorial surgiram com as pro-
priedades familiares nos Projetos de Colonização; as médias e grandes
empresas rurais, nas áreas licitadas pelo INCRA; os núcleos urbanos
criados para sede e suporte dos projetos, como a Vila Colorado do Oeste
no PIC Paulo de Assis Ribeiro; Ouro Preto, no Projeto do mesmo nome;
Jaru no PIC Padre Adolpho Rohl; e Cacaual, originada de uma fazenda
próxima ao Ji-Paraná, onde migrantes se localizavam provisoriamente,
a partir de 1972, enquanto esperavam a liberação de parcelas naquele
e nos demais Projetos ao longo da BR-364.
Além desses núcleos, criados com a intervenção do órgão, há tam-
bém aqueles que já existiam desde a época da implantação da linha
telegráfica pelo Marechal Rondon, alguns dos quais saíram do isola-
mento inicial com a abertura da BR-364, e ganharam novo dinamismo
a partir da intervenção do INCRA na região. Nesse caso encontram-se:
Vilhena, que serve de suporte ao PIC Paulo de Assis Ribeiro e criou novo
impulso desde que este foi implantado; Presidente Médici, próximo ao
setor Leitão, do Projeto Ouro Preto; Pimenta Bueno, que conheceu um
surto de progresso a começar de 1960, com a intensificação da corrente
migratória; Nova Ariquemes, criada para substituir a "Velha Arique-
mes", cujo sítio foi considerado pouco favorável à expansão urbana,
ante as novas perspectivas de desenvolvimento que se apresentam para
a região, a partir do início da construção da BR-421, da R0-01 e da im-
plantação, em 1976, dos Projetos Marechal Dutra e Burareiro; Vila Ron-
dônia, cujo crescimento apresenta ritmo acelerado, embora também
desordenado, desde a implantação do Projeto Ouro Preto, em 1970, si-
tuado 40 km ao sul.
Em 1972, Vila Rondônia tinha 5. 000 habitantes e 13. 000 em 1973;
hoje se estima que haja cerca de 30 . 000 habitantes somente na área
urbana, a qual se estende pelas margens da BR-364 e do rio Ji-
Paraná (Carpintero, A.C.C. op. cit., ref. 32). Dado o desenvolvimento
de toda a área de influência de Vila Rondônia, foi enviado um projeto
de lei ao Congresso Nacional propondo a criação do município de Ji-Pa-
raná, cuja sede seria aquele núcleo, e tendo Ouro Preto como distrito.
Esse projeto tornou-se realidade em 11 de outubro de 1977, quando, atra-
vés da Lei n.o 6. 448, foi criado o município de Ji-Paraná, assim como
os de Ariquemes, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
A Construção da R0-02, que deve ligar a região de Vila Rondônia
a Costa Marques, no vale do Guaporé, trará novas perspectivas de desen-
volvimento, não apenas para aquela área do Território, até então iso-
lada, mas também para toda a zona de influência de Vila Rondônia. A
conclusão da rodovia estava prevista para 1978. Ao longo de seu tra-
çado, por solicitação da SUDECO, a Fundação João Pinheiro efetuou
um estudo de solos que facilitará o estabelecimento de diretrizes para a
ocupação daquela faixa.
A criação dos novos municípios traz para Rondônia uma nova estru-
tura político-administrativa que, em grande parte, decorre do dinamis-
mo sócio-econômico que se intensificou na faixa da BR-364, a partir,
sobretudo, da atuação do INCRA em suas diferentes formas. Esse mesmo
dinamismo cria para o INCRA e os demais órgãos do poder público
chamados a atuar no Território novas exigências e, muitas vezes, a ne-
cessidade de revisar ou reformular certas formas de atuação.

90
Ao INCRA, como órgão ordenador da ocupação, do ponto de vista
legal, cabe uma responsabilidade tanto sobre as áreas rurais, quanto
sobre as urbanas, cujo domínio por assim dizer detém. A criação de
novos municípios exige que o INCRA imprima maior rapidez ao processo
de transferência das áreas urbanas aos poderes competentes, no caso, o
Governo do Território e as Prefeituras, tornando esse processo contínuo.
Esse aspecto foi abordado de forma muito procedente nos estudos de
Carpintero (op. cit. ref. 32) e de Dias & Castro 38 • Somente assumindo o
domínio das áreas urbanas (seja dos núcleos espontaneamente surgidos
no Território, seja daqueles criados pelo INCRA) poderão o Governo
de Rondônia e as Prefeituras efetuar a cobrança de impostos, a venda
de lotes urbanos, a outorga de licença para o funcionamento de indús-
trias e de estabelecimentos comerciais. Ao transferir aos órgãos compe-
tentes as áreas urbanas, ora em número de sete, devidamente demarca-
das, o INCRA também se estará desobrigando de um encargo que lhe
acarreta considerável ônus financeiro.

4.6 .2 - O uso da terra


O eixo fundamental dos planos de colonização do INCRA no Terri-
tório de Rondônia é, como foi dito, o trecho da BR-364, ,entre
Ariquemes e Vila Rondônia. Isto não significa que sua atuação se res-
trinja a essa área, como o comprovam os PICs Paulo de Assis Ribeiro e
Sidney Girão.
Fotografias aéreas, imagens de satélite e de radar mostram, entre-
tanto, que a faixa em que o processo de colonização está mais avançado
vai desde o vale do Ji-Paraná, nos arredores de Vila Rondônia, até o
vale do Igarapé São João, afluente do Jaru. Nesse trecho, além da ocupa-
ção em lotes dando frente para a mencionada rodovia, notam-se já par-
celas em aproveitamento agropastoril, não tanto nas transversais, mas,
sobretudo, ao longo de duas paralelas à BR-364, uma de cada lado, e
dela afastadas 3. 750 metros, em média.
Em todo o trajeto terrestre entre Ariquemes e Vila Rondônia obser-
va-se, porém, que, em sua maior extensão, a mata dos dois lados da
estrada já cedeu lugar a uma alternância de sítios agrícolas e fazendas
de criação, em habitat linear disperso. As fazendas de gado em pleno
aproveitamento são revestidas geralmente de pastos de capim colonião
e o gado que os ocupa é, na maioria, mestiço de Nelore. Dentre tais
fazendas sobressai, pela organização e funcionamento, a Agropecuária
Nova Vida, cuja sede está localizada a 37 km a sudeste de Ariquemes.
Mais numerosas, contudo, em julho de 1976, eram as fazendas com pas-
tos em formação, sem gado ou com poucas cabeças, enquanto outras
terras de matas estavam ainda no estágio de broca ou derrubada, aguar-
dando o final da estiagem para dar início às queimadas, a fim de ser
feita, mais tarde, a semeadura das pastagens.
Entremeados nas propriedades pastoris, sítios agrícolas ostentavam
culturas de bananeiras - aparentemente o principal produto comer-
cial, naquela época- mandioca e milho. Esses sítios não apareciam iso-
lados, mas numa sucessão linear, em determinados trechos.
Os ranchos novos e uma ou outra casa padronizada pelo INCRA
denunciam que os sítios correspondem a um povoamento recente. Os
nomes dados a essas parcelas revelam, em pequenos cartazes colocados
à porta, a origem sulista dos colonos: Sítio Andirá, Maringá, Rolândia,
Nova Joinvile, etc.
38 DIAS, Guilherme Leite da Silva & CASTRO, Manoel Cabral de. Coloniza-
ção dirigida no Brasil; considerações críticas sobre o sistema de implantação dos
projetos. S. Paulo, FIPE, 1977. 122 p.

91
O estudo da colonização atual no Território de Rondônia será, en-
tão, apresentado aqui a partir do eixo rodoviário em causa, começando
pela colônia mais antiga e mais evoluída - o PIC Ouro Preto - se-
guindo-se-lhe as outras, situadas na mesma estrada e em ramais, .para
enfim se analisar o PIC Sidney Girão que, por se localizar no vale do
Guaporé, corresponde a uma renovação das colônias daquela região,
ora estagnadas ou decadentes.

4. 7 - PROJETO OURO PRETO

Após a criação da SUDAM, o Decreto n .o 63 .104, de 15-8-1968, foi


talvez o documento mais importante do final daquela década, que dis-
pôs sobre a política oficial de ocupação e povoamento dirigidos da re-
gião amazônica, em decorrência da abertura de rodovias federais e a
partir do estabelecimento de áreas prioritárias de atuação. Para dar
cumprimento ao que previa o decreto, o IBRA elaborou em 1968 o "An-
teprojeto da Area Prioritária n.o 1 do Território de Rondônia", o qual
deu origem à implantação do Projeto Ouro Preto.
A essa época, segundo estimativas do IBRA, a demanda média men-
sal de terra agrícola na região, era da ordem de 450 ha. Chegavam ·ao
Território, no mesmo período, 150 famílias, na maioria procedentes -
então como hoje- do sul do país, principalmente das faixas minifun-
diárias do Paraná e Rio Grande do Sul.
Esses contingentes, sempre mais numerosos, vieram criar uma área
de tensão social nas cercanias de Vila Rondônia, como decorrência de
um processo de ocupação indiscriminada e com os inevitáveis atritos
entre posseiros.

4. 7.1 - Diretrizes da ocupação

Numa tentativa de solucionar o problema foi constituído pelo IBRA


um Grupo de Trabalho com a finalidade de: a) elaborar um projeto de
desenvolvimento sócio-econômico para um núcleo de colonização a ser
implantado: b) elaborar um programa de emergência para aproveita-
mento do ano agrícola 70/ 71 e a consolidação do assentamento dos 300
primeiros parceleiros, localizados nas áreas da CALAMA S/ A.
O Projeto inicial previa também a regularização e ocupação de
terras devolutas e a preservação dos recursos naturais.
Assim, o Projeto Ouro Preto constituiu o ponto de partida de uma
ação sistemática do Governo Federal no campo da colonização oficial em
Rondônia, considerando-se que as experiências realizadas na década de
40, com a implantação de algumas colônias pelo Governo do Território,
não tiveram êxito, por falta de suporte t écnico e financeiro adequados.
A área de colonização prevista no Decreto 63 . 104/ 68 se estendia ao
longo da BR-364, entre Ariquemes e Vila Rondônia, onde predominava
o extrativismo da borracha e da castanha. Nesta faixa, o relevo cristalino
é mais dissecado e com elevações mais arredondadas que nos tabuleiros
sedimentares de Pimenta Bueno, mais para sudeste. O revestimento da
mata tinha porte mais elevado que nos dos referidos tabuieiros; as árvo-
res decíduas ocorriam em menor número- uns 10 %, no máximo, e so-
bretudo dentre as árvores emergentes. Certas árvores-padrões indicavam
a boa qualidade da floresta e dos solos: o aguano ou mogno, a imburana,
a piúva ou ipê, a castanheira~do-pará , o palmito, o babaçu.
Em 1968, a ocupação nas proximidades de Vila Rondônia obedecia
a um tipo de habitat disperso, não apenas ao longo da estrada, mas caó-

92
tico, também no interior da selva. Esses habitantes VIVIam sobretudo
de roças de mandioca- a principal cultura- milho, feijão e banana.
Exportavam-se, de caminhão, alguns excedentes; mas o Governo do Ter-
ritório procurava cercear essa atividade, porque Porto Velho e outros
centros eram sempre carentes de alimentos. Borracha e madeiras-de-lei
eram embarcadas sem restrições.
A partir do vale do Jaru para o norte, a ocupação ao longo da BR-
364 era rarefeita, caracterizando-se como zona de grandes proprie-
dades, com extração de seringa e castanha. A mata virgem predominava
por toda parte.
O habitat era misto, nucleado e disperso. Os núcleos pequenos se
formavam, ora pelas casas reunidas nas sedes dos seringais, ora por agru-
pamentos ainda menores, de duas ou três casas de seringueiros. Não
se verificava imigração para este trecho; havia, ao contrário, emigração
da mão-de-obra dos seringais para os garimpos de cassiterita. Os serin-
galistas tiveram que modificar a relação de trabalho para enfrentar a
concorrência do mercado de mão-de-obra: passaram a pagar os serin-
gueiros a dinheiro, em ritmo mensal. Mesmo assim, não conseguiram
evitar a evasão. A estrada acarretou a desorganização do sistema de
aviamento. O trabalhador tornou-se livre, embora nômade.
No curto período de sete anos, processou-se uma transformação
completa em toda essa faixa, não apenas em conseqüência da abertura
da BR-364, mas também devida à ação do INCRA, que, através dos pro-
jetos de colonização, possibilitou o acesso à terra a numerosas famílias
de lavradores deslocadas de outras regiões, a criação de novos empregos
e, ao mesmo tempo, de uma faixa produtora de alimentos, baseada ini-
cialmente em milho, arroz e feijão e, progressivamente, também em cul-
turas permanentes, como cacau, café, seringueira e banana (Fig. 26), nos
moldes da pequena propriedade familiar, preconizada pelo Estatuto da
Terra.

4.7.2- Area

O Projeto localiza-se ao longo da BR-364, entre os km 352 e 385,


nas duas margens da rodovia.
A área inicialmente selecionada compreendia um loteamento de
1. 572 km 2 (157. 200 ha) para o assentamento de 1. 000 famílias, dentro
da Area Prioritária n. 0 1, prevista no Decreto n.o 63.104/ 68 (mapa 13).
Posteriormente foi a mesma ampliada para o total de 226.079 ha, em
virtude da incorporação do título Anari, reavido da CALAMA.
A partir de 1972 deu-se novo acréscimo, ficando o PIC com cerca
de 413.147 ha, para abrigar o grande contingente populacional, vindo
principalmente do Sul, atraído pela boa imagem do Projeto e pela no-
tícia da boa qualidade de seus solos.
Daí em diante a oferta de parcelas foi sempre insuficiente para
atender à grande demanda, provocando esse fato constantes invasões
em áreas vizinhas a Ouro Preto, com o Posto Indígena Lourdes, a
reserva florestal do Projeto, a gleba Riachuelo, esta mais tarde anexada
ao Projeto. Em geral, o problema da invasão de terras é bastante sério,
de difícil solução para a administração do PIC e para a agência do
INCRA em Rondônia, por ser aquela uma região pioneira e receptora
de grandes fluxos migratórios. Torna-se impraticável o atendimento à
demanda de milhares de pessoas que chegam diariamente à procura de
terras.

93
Flg. 26 - Café e banana, em cultivo no PIC Ouro Preto. Essa ultima cultura é utillzada, com a
m and.oca, para sombrear cacauais novos. Ao fundo, a mata.
Fot o INCRA - Setembro d e 1975.

4 .7 .2 . 1 - Plano de loteamento

O loteamento inicial foi projetado em parcelas de 100, 150 e 200


hectares, tendo como referência o eixo da BR-364. Os lotes de 200 ha
foram destinados preferencialmente a famílias com maior força de tra-
balho e aptidão para a pecuária, ficando para a agricultura, as parcelas
de 100 e de 150 ha, no total de 815.
Houve, no entanto, uma reformulação no plano de loteamento do
anteprojeto. Previa-se que todas as parcelas de 100 ha estariam à mar-
gem da BR-364, vindo a seguir as de 150 ha e, na última faixa, as de
200 ha. Depois de estudos realizados, chegou-se à conclusão que seria
melhor agrupar todas as parcelas de 200 ha em torno do igarapé Curra-
linho, tornando concentrada a atividade pecuária, o que facilitaria a
assistência técnica aos parceleiros ali localizados.

4. 7. 2 . 2 - Are as comunitárias e de reserva

Na primeira etapa de implantação do Projeto, prevista para 500


famílias, reservou-se uma área de 100 ha e outra de 200 ha, situadas
respectivamente a 21 e 64 km de Vila Rondônia, para sede dos núcleos
urbanos secundários, bem como uma terceira de 500 ha, a 38 km da
mesma Vila, para o núcleo principal, compreendendo locais para indús-
trias, armazéns, silos e expansão do futuro núcleo urbano do Projeto.

94
A área de reserva e de preservação de recursos naturais, com, apro-
ximadamente 5. 550 ha, estava localizada também a 38 km de Vila Ron-
dônia, à margem direita da BR-364 (na direção de Porto Velho) . Uma
parcela de 100 ha foi reservada para instalação de jardins coloniais e vi-
veiros de hévea, com o objetivo de fornecer mudas de seringueira aos
parceleiros.
Junto ao núcleo urbano há 100 hectares destinados à construção
de um colégio agrícola, sob a responsabilidade da Secretaria de Educa-
ção do Território.

4. 7. 2. 3 - Ampliação e estado atual

Atualmente, a área do PIC mede cerca de 490 . 000 ha, dos quais
226 . 079 estão transcritos em nome do INCRA no Registro de Imóveis
de Porto Velho.
Com o fim de mais uma vez ampliar a capacidade de assentamento
do Projeto, foram anexadas à área inicial duas glebas denominadas
Setores: o de Jaru, às margens da BR-364, distando 40 km do núcleo
urbano principal, e o de Riachuelo nas proximidades de Vila Rondônia,
a 50 km da sede do PIC.
Posteriormente, a área do setor Jaru foi desmembrada do Projeto
Ouro Preto, vindo a constituir o PIC Pe. Adolpho Rohl (444 . 366 ha).
O setor Riachuelo, com 77. 000 ha, constitui uma área descontínua do
PIC Ouro Preto. Para o núcleo urbano desse setor foram destinados 350
ha, estando em andamento os trabalhos de demarcação de lotes residen-
ciais, comerciais e industriais.

4. 7. 3 - Estrutura fundiária

Embora a faixa compreendida pela Area Prioritária n .o 1 de Colo-


nização constituísse praticamente um vazio, por sua baixa densidade
demográfica (0,45 hab.jkm 2 , segundo o Censo de 60) , o espaço nela
compreendido apresentava um esboço precário de organização fundiá-
ria, constituída basicamente por extensos seringais e algumas áreas para
as quais o Governo do Território havia expedido licenças de ocupação,
a serem utilizadas com atividades agropecuárias e extrativas. No en-
tanto, o que preponderou nessas áreas foi o extrativismo.
Com a intervenção do IBRA, através do Distrito de Terras de Ron-
dônia e Acre, procurou-se regularizar a situação jurídica dessas áreas,
de acordo com o artigo 171 da Constituição Federal, in verbis :
"A lei federal disporá sobre as condições de legitimação da posse
de preferência para aquisição, até cem hectares, de terras públicas,
por aqueles que as tornarem produtivas com o seu trabalho e o de sua
família".

4 .7 .3 . 1 - A situação inicial

Da área total titulada inicialmente pelo IBRA, que abrangia


550.750,48 ha, somente 124.859,48 ha se encontravam na Ar ea Priori-
tária n .0 1 de Colonização, selecionada para a implantação do Projeto
Ouro Preto.
Excluídos os poucos títulos definitivos, os demais revestiam-se de
características precárias, sendo necessário estabelecer as bases legais
de sua possível validade. O levantamento efetuado pelo IBRA revelou
a existência dos seguintes imóveis: Seringal e Fazenda Nova Vida, Se-

95
ringais Setenta, Santos Dumont, Boa Vista, Santa Rosa, Aninga, Curra-
linho e Gleba Pirineus (esta pertencente à CALAMA S/ A), além de
diversas áreas ocupadas por posseiros.
O Seringal e Fazenda Nova Vida constituíam a única propriedade
em início de exploração agrícola orientada, encontrada no trecho da
BR-364 entre Porto Velho e Vila Rondônia. Dispunha de uma pista de
pouso para aviões leves, aberta durante a construção da rodovia. Esten-
dia-se por 32 km em ambas as margens da estrada, entre os quilômetros
245 e 277. Sua sede era rodeada de ranchos de palha, abrigando moradias
e um comércio à base de aviamento, para atender aos seringueiros.
Esse imóvel foi o único a apresentar um início de exploração pe-
cuária, com 230 cabeças de gado mestiço de zebu, bem como algumas
ovelhas. A formação de pastagens de Jaraguá, pangola e colonião se
processava ao longo da BR-364, com derrubada da mata, sem destaca-
mento, mas com a utilização de queimadas e coivaras.
A época da elaboração do Projeto Ouro Preto, na área do seringal
Boa Vista, hoje incluído no PIC, já se observava a presença de colonos
do Sul e do Nordeste, que chegaram ao Território atraídos pela CALAMA
S/ A, a qual os localizou em lotes sem possibilidades de acesso e com
falta de água. Tal situação e a total carência de apoio, levaram esses
colonos a invadirem parte da área do seringal Boa Vista.

4.7.3.2- A CALAMA S.A.


A Gleba Pirineus era objeto de um título definitivo, de 1910, outor-
gado a Assensi & Cia., da qual a CALAMA S.A. se dizia sucessora. Em
1964 esta firma iniciou a colonização da Gleba, com base em ante-
projeto de loteamento, abrindo lotes e picadas de penetração. Até abril
de 1967 havia efetuado promessas de venda a terceiros de cerca de
1 .400 lotes, entre 25 e 200 ha, com pagamento em quatro anos, ao
preço médio de Cr$ 25;00 o hectare.
A Gleba se estendia .por 13 km nas duas margens da BR-364, até
Vila Rondônia, entre os quilômetros 389 e 402. A CALAMA se dizia pro-
prietária de 1. 084 . 627 hectares, de acordo com a declaração de pro-
priedade feita pela firma ao então Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária (lERA).
No entanto, na colonização por ela patrocinada não eram obser-
vados os dispositivos legais do Estatuto da Terra (Lei n .o 4. 504) no seu
Título III, Capítulo II, Secção II, art. 61, § 1.o, quando determina que
as empresas de colonização particular devem ter seus projetos registra-
dos e examinados pelo órgão governamental responsável- inicialmente
o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, extinto em 1970, e atual-
mente o INCRA. Ademais, a mesma Lei 4. 504, no seu art. 61, § 4.o,
prevê que nenhum projeto de colonização particular poderá ser apro-
vado, sem que a empresa satisfaça às seguintes obrigações consideradas
mínimas:
a) "abertura de estradas de acesso e de penetração à área a ser
colonizada;
b) divisão dos lotes e respectivo piqueteamento ~ obedecendo a di-
visão, tanto quanto possível, ao critério de acompanhar as vertentes,
partindo . a sua orientação no sentido do espigão para as águas, de
modo a todos os lotes possuírem água própria ou comum;
c) manutenção de uma reserva florestal nos vértices dos espigões
e nas nascentes;

96
d) prestação de assistência médica e técnica aos adquirentes de
lotes e aos membros de suas famílias ;
e) fomento da produção de uma determinada cultura agrícola já
predominante na região ou ecologicamente aconselhada pelos técnicos
do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou do Ministério da Agri-
cultura;
f) entrega de documentação legalizada, em ordem, aos adquiren-
tes de lotes".
Nenhuma das exigências acima mencionadas foi cumprida pela CA-
LAMA, como se verá adiante, o que permitiu ao IBRA impugnar a ati-
vidade colonizadora daquela pseudo-empresa. Os primeiros colonos que
ela levou para Vila Rondônia, provenientes do Paraná, não receberam
da firma qualquer tipo de apoio; tanto no aspecto sanitário, quanto no
econômico. Sem qualquer assistência, essas famílias viram-se impos-
sibilitadas de ocupar seus lotes, por falta de acesso aos mesmos; tam-
pouco dispunham de recursos financeiros para retornar aos municípios
de origem. Estima-se que 30 % das famílias que permaneceram no Terri-
tório morreram em decorrência de doenças que grassavam na região,
como malária, difteria e hepatite.
A época da implantação do Projeto Ouro Preto, cerca de 300 dessas
famílias que conseguiram sobreviver às precárias condições em que
se encontravam, recebiam assistência do Governo do Território, do co-
mando do 5.o BEC e de dois sacerdotes que trabalhavam na região.
Dessa forma, e graças à experiência agrícola que possuíam, aliada à
persistência dos colonos, a área tornou-se produtora de alimentos, sobre-
tudo de arroz.
4 . 7. 4 - Aspectos Físicos
Estudos realizados pela CEPLAC 39 em colaboração com o INCRA,
tendo em mira a implantação da cacauicultura em Ouro Preto, deixam
evidente em que medida a fisiografia da área exerce influência na for-
mação dos solos, em função de: escoamento superficial das águas plu-
viais, controle da drenagem interna, produção de matéria orgânica, umi-
dade relativa, natureza da rocha matriz, duração da estiagem, etc.
Do ponto de vista físico, a área estudada pode ser dividida em qua-
tro secções fisiográficas, que se relacionam com os diferentes tipos de
solos identificados. Essas unidades receberam as seguintes denomi-
nações:
a) Secção colúvio-aluvial, cuja geologia relaciona a sedimentos
não consolidados do quaternário. Nessa área a declividade média é em
torno de 3%. Essa faixa corresponde à de relevo mais plano; abrange
solos aluviais pouco desenvolvidos, de granulação variável, e pequenas
baixadas hidromórficas argilosas, de influência coluvial,
b) Secção coli nosa, constituída por morros cristalinos, de topo
aplainado e declividade variando de 5 a 10 %. Em algumas áreas en-
contr a-se material retrabalhado por aplainamento, o que vem a influir
na variação do solo.
c) Secção ondulada, na qual o relevo se apresenta sob a forma de
outeiros, com declividade entre 15 e 25 %, encostas pouco íngremes e
alongadas, vales em forma de "V" aberto. Há também testemunhos de
um antigo ciclo de erosão, caracterizados por cristais orientados, escul-
pidos no material do embasamento.
39 SILVA, L. F erreira da et ai. Solos do Proj eto Ouro Preto. CEPLAC, 1973 .
32 p ., 1 mapa. (Boletim técnico, 23) . .

97
d) Secção movimentada, "área montanhosa, constituída de alinha-
mentos rochosos, de declives abruptos e vertentes quase retas" (Silva,
ref. 37). Quanto à geologia, foram observadas eruptivas básicas e intru-
sivas, do complexo cristalino.

4. 7 . 4 . 1 - Solos
A área se caracteriza pela predominância de Solos Podzólicos Eu-
tráficos, Podzólicos Mesotróficos, Podzólicos Distróficos e, secundaria-
mente, por Aluviões Distróficos. É interessante observar a ausência de
Latossolos. Predominam solos com saturação de bases acima de 30 %,
pois se derivam de rochas básicas do embasamento cristalino; apresen-
tam fertilidade natural alta, contendo grande número de nutrientes,
indispensáveis ao bom desenvolvimento dos vegetais. De modo geral,
têm espessura variável, contendo quantidade suficiente de água, já que
o período seco é curto (junho a agosto). Como não estão quase sujeitos
à erosão, não há necessidade imediata do emprego de práticas conser-
vacionistas intensivas. Tais condições favorecem a implantação da la-
voura cacaueira.

4. 7 .4.1.1 - Tipos
Foram identificadas pela CEPLAC nove unidades edáficas, que pas-
sam a ser resumidamente descritas; sempre de acordo com os estudos
mencionados (mapa 12).
Unidade Ouro Preto Modal. Estes solos são ongmanos de rochas básicas
do complexo cristalino, com "B" textura!, cuja saturação é maior que 50%. São
medianamente profundos, de espessura em torno de 130 em; bem drenados,
argilosos e com boa capacidade de retenção de água. Apresentam seqüência de
horizontes A, B e C e camadas subjacentes D com baixa diferenciação morfo-
lógica. Encontram-se estruturados em blocos subangulares, com cerosidade mo-
derada. Ocorrem em relevo fortemente ondulado a montanhoso, de altitude em
torno de 350m, vertentes retas ou ligeiramente convexas, com declives acentuados.
São solos de fertilidade natural alta, providos de boa reserva de nutrientes
necessários ao bom desenvolvimento das plantas cultivadas. São susceptíveis à ero-
são, devido ao relevo movimentado, além da presença de argila natural Cpepti-
zada) na capa superficial que, aliada a um clima de estação seca definida, pro-
move intenso carreamento do horizonte orgânico-mineral. Por esta razão, devem
ser reservados às culturas perenes, sendo o cacau uma alternativa muito indicada.
Unidade Ouro Preto, Fase Rochosa. Esta unidade apresenta propriedades fí-
sicas e químicas bastante semelhantes às da unidade anterior, diferindo apenas
pela presença.de pedras superficiais e afloramentos rochosos, que constituem uma
dificuldade para o manejo agrícola. Ocorre em relevo muito acidentado, com
cristas rochosas alinhadas e matacões, impossibilitando a adoção de qualquer
tipo de manejo agrícola mecanizado. Esses solos devem ser indicados para re-
servas florestais ou cultivos substitutivos, como o cacau.
Unidade Rondônia. É constituída por solos com "B" textura!, alta saturação
de bases textura mediana, moderadamente profundos; ocorrem em áreas de
relevo ondulado a fortemente ondulado. Sua profundidade varia de 100 a 150cm;
são bem drenados e caracterizados pela presença de calhaus na superfície. Tem
sua origem relacionada a rochas metamórficas gnaíssicas. A fertilidade natural
é média, e a riqueza química decresce a partir dos primeiros suborizontes; têm
baixa capacidade de retenção de umidade e são ricos em minerais primários.
Suscetíveis à erosão, necessitam de práticas conservacionistas intensivas ; apre-
sentam, por isso, limitações ao uso de máquinas agrícolas e são carentes de
água nos períodos críticos de estiagem (junho a agosto).
De modo geral, estes solos se adaptam melhor a pastagens, podendo, no
entanto, ser utilizados com agricultura, desde que criteriosamente manejados.
Unidade Viveiro . É constituída· por solos minerais profundos, bem drenados
e de permeabilidade rápida. São solos de "B" textura!, com alta saturação de

98
SOLOS DO PROJETO OURO PRETO

TERRITÓRIO DE RONDÔNIA

PARA

LEGENDA
SO LOS EUTR ÓF ICOS
~ 0 -. r o ? ret o ~ m o d c!)
c==J Cu r o Pre to (fase rochoso }
~R on dônia
~ V 1ve i r o
SOLOS ME SOTRÓFI COS
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SOLOS DIST RÓFICOS ESC fiL A


~Ai u v10\
5Km
~ Vc r rr e ·r.o-o '-----~-'----'----'

t·: ; w,j l-'..; r ,JÍ<; Q MA P A 12


C o•h:i c;~ ro f o A lfred o d O! ~; Cun h o
bases e textura mediana; ocorrem em zonas de topografia suave geralmente
intermontana. Desenvolvem-se a oartir de rochas metamórficas e/ou eruptivas
básicas, com influência coluvial; -apresentam profundidade superior a 200 em.
A fertilidade natural é média, e a riqueza química decresce a partir de
30-40 em; apresentam boas condições físicas e baixa a média capacidade de
retenção de umidade. São ligeiramente suscetíveis à erosão, não necessitando,
no entanto, de práticas conservacionistas intensivas; tampouco apresentam limi-
tação ao uso de maquinaria agrícola. De um modo geral, quando devidamente
manejados, poderão ser aproveitados com agricultura e pastagens, inclusive com
cacau, dadas as suas condições satisfatórias de fertilidade e umidade, e também
por possuírem topografia favorável.
Unidade Xibiu. Solos de "B" textural, textura mediana, localizados em áreas
de relevo ondulado, desenvolvem-se a partir de rochas intrusivas do cristalino,
com seqüência normal de horizontes e profundidade efetiva superior a 200 em.
Esses solos de fertilidade natural média, cuja riqueza química decresce a par-
tir de 30-40 em, possuem boas condições físicas, porém têm baixa capacidade de
retenção de umidade. São suscetíveis à erosão, necessitando de práticas conserva-
cionistas simples, embora apresentem limitações ao uso de maquinaria agrícola.
Provavelmente ocorrerão com esses solos problemas de falta de água, nos pe-
ríodos críticos de estiagem. Adaptam-se a. qualquer tipo de agricultura, desde
que convenientemente manejados.
Unidade Aluvial. Solos derivados de sedimentos argila-arenosos do quater-
nário, apresentando drenagem moderada e, às vezes, impedida; textura variável
no perfil e medianamente profundos. Apresentam baixa saturação de bases,
teores altos de alumínio trocável e acidez elevada. São de pouca importância na
área, porque abrangem pequena extensão. Devem ser reservados para pastagens
de caráter hidrófilo.

Unidade Vermelhão. Sua origem está ligada a rochas intrusivas do complexo


cristalino. Os solos apresentam coloração vermelha em todo o perfil; são argi-
losos, bem drenados e de profundidade superior a 150 em. Ocorrem em relevo
suavemente ondulado, com declives não superiores a 3%.
São solos pobres e de baixa reserva de nutrientes. Em vista das suas excelen-
tes condições físicas e pelo fato de se desenvolverem em áreas de topografia
suave, prestam-se a uma agricultura tecnificada, necessitando de corretivos e
nutrientes para um bom desenvolvimento das culturas. Apresentam fertilidade
mediana na capa superficial (0-25 em) , aumentando suas possibilidades de uti-
lização agrícola, sobretudo com cultivos anuais. Não apresentam problemas graves
de falta de água. São pouco suscetíveis à erosão, não requerendo, quando culti-
vados, práticas conservacionistas intensivas.

Unidade Paraíso. Solos de "B" textural, distróficos ou endo-distróficos local-


mente; apresentam textura mediana e ocorrem em faixas de relevo suave, muitas
vezes em alvéolos.
São solos minerais profundos, bem a moderadamente drenados, com baixa
capacidade de retenção de água. Apresentam alta diferenciação morfológica de
horizontes, em cor e textura, possuindo horizonte "B" estruturado em blocos
subangulares, revestidos com cerosidade fraca. Esses solos são pobres, ácidos,
com baixa reserva mineralógica, pouco suscetíveis à erosão e sem problemas de
mecanização, por questão de topografia, porém são carentes de água nos perío-
dos críticos de estiagem. -
Devem ser reservados para pastagens principalmente, em virtude das suas
limitações de utilização agrícola, sobretudo fertilidade e deficiência de água.
Fazem exceção os representantes endo-distróficos, que possuem melhores pos-
sibilidades agrícolas, sobretudo para cultivos anuais.

Unidade Mirante. É constituída por solos minerais, desenvolvidos a partir de


rochas intrusivas do complexo cristalino. Situam-se em relevo praticamente
plano, com altitude média de 300 metros.
o horizonte "A" apresenta grande quantidade de cascalho; daí até a pro-
fundidade de 60 em ocorrem leitos de calhaus angulosos, de diâmetro variável
entre 5 e 20 em. Este fato , aliado à grande quantidade de material micáceo abaixo
do material cascalhento, sugere uma descontinuidade litológica dos solos. São bem
drenados, de baixa capacidade de retenção de umidade. Apresentam boa poten-
cialidade agrícola, em virtude da avultada reserva de minerais primários (mica)
presentes na parte subsuperficial do perfil. São moderadamente ácidos, com
média capacidade de troca de cátions e alta saturação de bases. A fertilidade

100
natural (saturação de bases em torno de 70%) é de alta a média. A potenciali-
dade agrícola nos horizontes subsuperficiais é boa.
Dada sua textura mais leve no horizonte "A" e a presença de camadas
quartzosas entre este horizonte e o "B", estes solos não deverão ser usados
para culturas permanentes, em particular para o cacaueiro. Podem ser melhor
utilizados com pastagens. O único inconveniente é a falta de água para o gado
na maior parte da área. Este problema poderá ser resolvido aproveitando alguns
ribeirões que atravessam os vales ejou a construção de pequenos açudes, em
locais apropriados.

4. 7. 4. 1 . 2 - Possibilidades de aproveitamento agrícola

Dentre as unidades estudadas, cinco apresentam alta e média sa-


turação de bases. Por sua melhor fertilidade natural, têm maiores pos-
sibilidades de aproveitamento agrícola. Sobressaem as unidades Ouro
Preto Modal e Ouro Preto Fase Rochosa, que ocorrem em áreas de
relevo acidentado, impossibilitando a adoção de um manejo agrícola me-
canizado. Por outro lado, em quase toda a sua extensão, são suscetíveis
à erosão, no caso de ser utilizado um sistema de agricultura tradicional.
Na cultura do cacau, onde se emprega o sombreamento mediante a in-
tercalação de bananeiras, o solo dificilmente é trabalhado pela erosão
laminar, conservando sua fertilidade, e evitando-se desse modo uma al-
teração no ecossistema local.
Quanto aos demais solos, os das unidades Xibiu (52,65% da área
mapeada), Viveiro (2,36 %) e Rondônia (11,52 %) (quadro 10), apesar
de possuírem alta e média saturação de bases em todo o perfil, são
férteis apenas nos primeiros suborizontes, o que torna ainda mais
necessário um manejo adequado, já que, se mal utilizados, podem de-
gradar-se rapidamente. Em virtude da sua textura leve na superfície
e das condições locais de clima, tornam-se suscetíveis à erosão pluvial,
sobretudo após o período de estiagem. Em razão disso, o uso contínuo
de cultivos de subsistência, com queimadas constantes, pode torná-los
pouco produtivos em um período relativamente curto. No entanto, ser-
vem também para a cacauicultura, especialmente as unidades Xibiu e

Quadro 10
PIG OURO PRETO. DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES, AREAS E
CLASSES DE SOLOS

ÁREA
UNIDADE ClASSE
ha % (1)

Xibiu . . . . .. .. .... . .. . . ... .. ..• . . .. .. . .... . . .... . •... . 66 470 52.65 11


Parafso . . .. . ... ...... .. ....... ... ... .. . . ...... . ..... . 16 240 12,87 IV
Ouro Preto Moda I. . .. . .... ..... . .. ... . .. .. .... .. . . .. . 10 140 8,03 li
Rondônia ....... ...... .... ...... .. .. ... .... .... .... . . 14 540 11 ,52 11/111
Ouro Preto, Fase Rochosa .. ... . ...... . ...... ... .. .. . . 5 140 4,07 11/IV
Viveiro . . .. ......... ... .. .... .. .. . .... ... .... .. .. .. . . 2 990 2,36 11
Vermelhão . ..... . .. . .... . ...... .. .. .. .. .. .. .. ... ... . . 4 190 3,31 IV
Aluvial. .. . .. .... .. .. .. ..... . .... .. . . .. .. .... .. .. .. . . 2 370 1,87 IV
Mirante ..... ... .. ...... . . .. : .. .. . ... . .. . .. .. ... .. .. . . 4 200 3,32 111

TOTAL . .. . . .. .. .. ... . •.. .. . ... .. ... . . ......... . . . 126 280 100, 00

FONTE : CEPLAC. Solos do Pro jeto Ouro Preto, Boletim Técnico 23.
(1) li - Boa; 111 -regul ar; IV - má e/ou inadequada.

101
Viveiro. Como são solos profundos e de textura média, supõe-se que
as raízes dos cacaueiros se aprofundem ao máximo, dadas as boas con-
dições físicas existentes, compensando, por outro lado, a baixa capa-
cidade de retenção de água que estes solos possuem.
Já os solos pertencentes à unidade Rondônia, tendo a mesma tex-
tura média, caracterizam-se pela presença de calhaus quartzosos sub-
superficiais que, além de dificultarem a implantação do cultivo do cacau
(abertura de covas), funcionam como fator drenante, diminuindo ain-
da mais a disponibilidade de água, tornando-se 60 % desta unidade pouco
viável à cacauicultura. Outra limitação é o relevo fortemente movi-
mentado. Provavelmente, nesses casos, a melhor utilização seria a pas-
toril.
Condições texturais similares apresentam os solos da unidade Mi-
rante, embora em relevo plano; por isso, também não se prestam para
a cultura do cacau, devendo ser aproveitados, de preferência, para a
criação de gado. ·
Dentre os solos distróficos (terrenos pobres), ressaltam os da uni-
dade Vermelhão, que, por serem profundos, localizam-se em áreas pra-
ticamente planas e de boa retenção de umidade. Têm, por isso, maio-
res possibilidades de utilização para certos cultivos perenes dos trópicos
úmidos, tais como: seringueira, dendê, cravo-da-índia, pimenta-do-rei-
no e guaraná.
Os demais solos de baixa fertilidade natural (unidades Paraíso e
Aluvial), após cultivos de subsistência (2 e 3 anos, no máximo), terão
nas pastagens de braquiária sua melhor alternativa de utilização.
Concluindo, os solos do PIC Ouro Preto têm grandes áreas de mé-
dia e alta fertilidade, que permitem a implantação de um programa de
expansão da cacauicultura, dentro do previsto pelas diretrizes do Go-
verno Federal.
Dos 413 . 147 hectares que constituem a área do Projeto, 126.280 fo-
ram estudados pela CEPLAC, correspondendo a 30,57 % do total. O
levantamento pedológico efetuado demonstra que, embora haja man-
chas de solos pobres, abrangendo 21,37 % da área levantada, há predo-
minância de solos de média a alta fertilidade, que compreendem as uni- .
dades Xibiu, Viveiro, Ouro Preto Modal, Ouro Preto Fase Rochosa e
Rondônia, as quais somam 99 . 280 hectares, ou seja 78,63 % do total
levantado.
É de se notar a ausência de latossolos, apesar de estarem estas
terras situadas na região amazônica, onde dominam solos deste Grande
Grupo.
Assim, de modo geral, as condições edáficas do Projeto permitem
a continuação de um programa agropecuário racionalmente diversifica-
do, com boas possibilidades para culturas permanentes, como, por exem-
plo, cacau, café, seringueira e banana, que se vêm desenvolvendo ali com
sucesso. Certamente a boa potencialidade dos solos tem, em grande
parte, garantido esse êxito.
Embora até o presente ainda não se tenha efetuado um estudo do
nível de renda dos parceleiros, percebe-se que, de modo geral, o em-
preendimento tem tido bons resultados. Em um período relativamente
curto (7 anos) o volume da produção local e o número de entidades que
atuam no PIC, entre as quais várias de crédito, atestam, de algum modo,
que a qualidade da terra é um fator de grande peso para o sucesso
de um projeto de colonização.

102
4. 7. 5 - Vias de acesso

Além da BR-364, o Projeto é cortado por 1. 063 km de estradas vici-


nais, com 6 m de largura, que garantem o escoamento da produção e a
intercomunicação entre as parcelas. A figura 27 mostra · o tipo de es-
trada vicirial existente no Projeto, vendo-se a mata derrubada e habi-
tações de parceleiros que, como nos demais Projetos do INCRA, se loca-
lizam de preferência nos dois lados dessas vias internas de acesso.

Flg. 27 - Junção da linha 81 do Projeto Ouro Preto com a BR-364, visível no 1.0 plano. Notar
duas roças abertas na mata semidecídua, à direita do caminho vicinal, e o relevo suavemente
ondulado.
Foto INCRA - Setembro de 1975

Até julho de 1977, haviam sido construídos 3.418 m de pontilhões


em todo o Projeto, além de 176 m de pontes definitivas e 5. 725,5 m de
bueiros de pau ocado (em média, com 8 m de comprimento por 1 m de
diâmetro, cada um), sistema utilizado na região, que consiste no em-
prego de grandes troncos de madeira de lei, ocos, em substituição às
manilhas de cimento, geralmente empregadas nesse tipo de obra. Essa
alternativa reduz em grande parte os custos de construção e, até certo
ponto, permite acelerar o ritmo dos trabalhos, uma vez que a região é
rica em madeiras nobres. São grandes as áreas desmatadas para a agri-
cultura e o custo do transporte dessa madeira torna-se bastante redu-
zido, por se encontrar na própria área do Projeto.
O estado das estradas é bom no momento, mas sua conservação
constitui sério problema, não só para o Projeto Ouro Preto como para
os demais, por causa da prolongada estação chuvosa, com elevado ín-
dice de precipitação (mais de . 2. 000 mm anuais, para a maioria dos
Projetos), e a grande movimentação de caminhões para transporte de

103
madeira e cereais. Esse tráfego pesado e contínuo, durante a estação
seca, também concorre para danificar as estradas, sendo necessário pre-
ver normalmente recursos para a sua recuperação, o que deve continuar
até a emancipação dos Projetos e, no caso, do PIC Ouro Preto.
O sistema de pontilhões construídos em madeira rústica, e o de
bueiros, em pau ocado, embora seja capaz de suportar satisfatoriamente
o tráfego durante a estação seca, geralmente fica danificado no pe-
ríodo do inverno.
Todos esses fatores demonstram a necessidade de se buscar alter-
nativas para o problema da conservação das estradas vicinais. Perce-
be-se que tais encargos deveriam ser assumidos por órgão próprio do
Governo do Território, que, no entanto, não apresenta no momento
estrutura adequada para tal. Por outro lado, considerando-se a neces-
sidade de elevar o índice de participação dos parceleiros na vida dos
Projetos, e a fase de emancipação para a qual muitos deles se enca-
minham, inclusive o PIC Ouro Preto, percebe-se que seria importante
motivar os colonos para colaborarem na conservação das estradas, como
já se fez em alguns Projetos do INCRA. Essa medida, além de favorecer
a redução dos custos de conservação, certamente concorrerá para au-
mentar o interesse dos parceleiros pelo Projeto, ao mesmo tempo que
propiciará a preparação da retirada do INCRA da área, no momento
em que estiverem concluídas as tarefas inerentes à fase de emancipa-
ção de Ouro Preto e dos demais projetos. Sabe-se que essa alternativa
figura entre as preocupações da Divisão Territorial Técnica do INCRA
em Rondônia para 1978, e considera-se que, só na medida em que for
posta em prática, poderá solucionar, ao menos em parte, o problema de
conservação das estradas vicinais, a curto e médio prazos. Sendo uma
alternativa altamente educativa, ela contém ainda elevado sentido eco-
nômico e é de mais fácil execução, porque praticamente depende apenas
do INCRA.

4. 7. 6 - Assentamento de parceleiros

O sistema de assentamento, usado nos Projetos do INCRA, inclui


fases distintas, mas que se complementam: identificação e seleção de
beneficiários, e sua posterior localização nas parcelas, para imediata-
mente estarem em condições de iniciar o processo produtivo. A segunda
etapa não deveria ficar distanciada da primeira, para se evitar solução
de continuidade no processo de assentamento, que obrigaria os bene-
ficiários a aguardarem fora dos Projetos a oportunidade de receber
sua parcela; isso, no entanto, -ocorre seguidamente. Em virtude da
grande demanda de terras, o Projeto Ouro Preto e os demais não con-
seguem atender ao número de beneficiários potenciais que os procura,
sendo, por conseguinte, necessário um planejamento que leve em conta
a abertura de novas áreas para a colonização.
A seleção dos parceleiros no PIC teve duas fases distintas: na pri-
meira, foi feita a identificação das famílias já estabelecidas na área
do Projeto, aplicando o formulário IC (identificação e classificação) ,
adotado pelo INCRA. Procurou-se, na medida do possível, manter a si-
tuação existente da ocupação, eliminando pessoas somente quando hou-
vesse motivo suficientemente grave, que justificasse tal medida. Na se-
gunda, fez-se a seleção propriamente dita das famílias que estão fora
da área e recém-chegadas ·de outras regiões, as quais foram paulatina-
mente localizadas, necessitando para isso o PIC de manter um perma-
nente serviço de assentamento.

104
Em 1973 teve início a regularização dos parceleiros, mediante a ex-
pedição de Autorização de ocupação (A O), dadas pelo INCRA, que
foram gradativamente substituídas por títulos definitivos.
Em 1975, havia 3. 233 parceleiros assentados, sendo a maioria de
mineiros (1.115), ou seja 34% (Fig. 28). Desde o início do Projeto até
julho de 1976 ocorreram na área cerca de 700 casos de desistência,
porém todas essas parcelas vagas foram logo ocupadas por novos par-
celeiros. Esse fato é comum nos projetos de colonização oficial, onde o
parceleiro devolve seu lote ao INCRA, ou transfere a terceiros desejosos
de ocupá-lo, e que para isso pagam aos antigos ocupantes o valor das
benfeitorias existentes, mediante indenizações avaliadas pelo INCRA.
Várias razões levam o parceleiro a tomar essa atitude: às vezes, o de-
sejo de partir para outra área; a possibilidade de obter uma boa quan-
tia pela parcela, numa região onde a terra se vem valorizando; ou
talvez, ainda, um certo espírito aventureiro, de pessoas que chegam ao
PIC e aos demais Projetos sem nenhuma experiência agropecuária.
Uma pesquisa social mais profunda deveria esclarecer completamente
esta questão.
A capacidade atual de assentamento do Projeto é de 4 . 750 parce-
leiros, sendo 50 em parcelas de 200 ha destinadas à pecuária e 4. 700
em parcelas de 100 ha para agricultura. Hoje, a população do Projeto
é de cerca de 26.750 pessoas, sendo 3. 000 localizadas no núcleo urbano
principal.
Não existem lotes vagos; inclusive os do setor denominado Leitão,
que constitui uma área de ocupação espontânea, já regularizada pelo
INCRA, comportando em média 400 a 500 famílias, estão todos ocupados.
4. 7. 7 - Situação educacional e sanitária

De acordo com levantamento realizado pelo INCRA, em 1968, quan-


do da elaboração do "Anteprojeto de loteamento da Area Prioritária
n.o 1 do Território de Rondônia", verificou-se que a maioria da popula-
ção era analfabeta, e os considerados alfabetizados tinham até o se-
gundo ano primário. O reduzido número de escolas, quase sempre ins-
taladas nos núcleos populacionais existentes, e a grande distância das
parcelas ocupadas, impediam que a população em idade escolar rece-
besse um mínimo de instrução. A distância entre as escolas era algumas
vezes de até vinte quilômetros. Entre Ariquemes e Vila Rondônia havia
apenas três escolas isoladas, com o total de 79 alunos, e um grupo
escolar em Vila Rondônia, com 260 alunos, pertencente à Prelazia 40 •
Hoje, a maior concentração de escolas rurais do Território em uma
só área encontra-se no Projeto Ouro Preto, com 130 unidades em fun-
cionamento, das quais 98 são definitivas, construídas em madeira, e 32
provisórias (tapiris). Esse conjunto atende a 6. 436 crianças, com 171
professores. Destes, 101 são contratados pelo MEC e 70 pela Secretaria
de Educação do Território, em regime de CLT.
No núcleo urbano, funciona uma escola de primeiro grau completo
(La a 8.a séries), com 750 alunos.
Quanto ao ensino de adultos, foram instalados 11 postos do MO-
BRAL, com 220 alunos; além desses, há 802 outros que participam do
Curso de Educação Integrada, abrangendo 31 turmas. Essas duas ativi-
dades se realizam em decorrência de acordo INCRA/ MOBRAL.
O Projeto conta com a colaboração da Campanha Nacional de Ali-
mentação Escolar (CNAE), para a distribuição de merenda aos alunos,
40 Dados da Secretaria de Educação do Território, 1968.

105
PIC OURO PRETO

PROCEDÊNCIA DOS PARCELEIROS -1975

lllliiiD REGIÃO NORTE

~REGIÃO NORDESTE
rz3 REGIÃO SUDESTE

~ REGIÃO SUL
~ REGIÃO CENTRO-OESTE

FONTE : INCRA

FIG _ 28
o que se efetua mediante a utilização de transporte do INCRA para as
escolas.
Em 1977, o Projeto beneficiou-se com a doação, por parte do MEC,
de material escolar a todas as crianças, incluindo livros didáticos.
A necessidade de capacitação do professorado é tanto mais impor-
tante quanto é grande o número daqueles que não dispõem do curso
normal. Nesse sentido, foi realizado um treinamento de orientação pe-
dagógica para 27 participantes, e 5 cursos sobre alimentação para · 82
monitores do Ensino Regular. Em 1977, no entanto, a carência de re-
cursos humanos habilitados fez com que o programa de treinamento não
pudesse ser desenvolvido, na medida das necessidades do Projeto e do
Território.
A infra-estrutura de saúde era praticamente inexistente na região
em que foi implantado o Projeto. Havia em Vila Rondônia um hospital
parcialmente concluído que pertencia à Prelazia e dispunha de um
médico, único na área. No entanto, o hospital não apresentava, na-
quela época, as mínimas condições de funcionamento para atender às
necessidades do número crescente de pessoas que se localizavam em Vila
Rondônia e em sua área de influência, vindas do Sul para as terras
da CALAMA S.A.
O quadro sanitário da população local era bastante precário; a
malária e a mortalidade infantil constituíam os problemas mais sérios.
Quanto à primeira, entre 1970 (início do Projeto) e 1975, foram regis-
trados 24.303 casos. Entretanto, graças à atuação sistemática da SU-
CAM, que efetua a borrifação anual das casas (7 .103, incluindo o
núcleo urbano), com DDT, à campanha de esclarecimento, distribuição
de medicamentos para tratamento da malária e exames de lâmina, o
índice da doença vem-se reduzindo de forma significativa: no primeiro
semestre de 1976 registraram-se apenas sete casos. Nos primeiros anos
da ocupação, a incidência de malária aumentou muito; fato compreen-
sível, por causa do elevado número de pessoas portadoras de plasmódio,
que passou a residir na área do Projeto.
Antes de 1976, não se tinha conhecimento da existência de tuber-
culose na área do PIC. Nesse ano, porém, depois de efetuados testes na
população local, registraram-se 200 casos com reação positiva, os quais
foram encaminhados a Porto Velho para tratamento.
Quanto à mortalidade infantil, tem-se reduzido à medida que me-
lhoram as condições sanitárias gerais da região e diminuem as carên-
cias alimentares dos colonos. Campanhas de vacinação em massa, anti-
poliomielítica e antivariólica, foram realizadas· através da Secretaria
de Saúde do Território.
O atendimento médico é efetuado na sede do Núcleo Urbano prin-
cipal, em um hospital particular, com 16 leitos, mas carente de pessoal.
Os dados disponíveis informam que há somente uma enfermeira e um
médico não-residente na área.
Desde o segundo semestre de 1976, a FSESP atua junto à população
rural e urbana, através de um posto de saúde, com média de atendi-
mento de 50 pessoas/ dia. Como ainda não dispõe de um médico, o tra-
balho se prende à execução de exames parasitológicos e vacinações.
Os casos graves de doenças são encaminhados a Vila Rondônia, 42
km ao sul do Projeto, a Porto Velho e mesmo a centros maiores, con-
forme a necessidade. O PIC dispõe de uma ambulância para atendimen-
to aos parceleiros.

107
Através de um convênio com o FUNRURAL (hoje lAPAS- Insti-
tuto de Administração da Previdência e Assistência Social) o Projeto
conta com certa assistência odontológica.
O PIC dispõe de um ambulatório, que em 1975 atendeu a 8. 751 ca-
sos, dos quais 1. 680 foram internados no próprio local e 248 enca-
minhados para tratamento em Vila Rondônia e Porto Velho.

4. 7. 8 - Aspectos geoeconômicos

Toda a faixa compreendida pela "Area Prioritária n. 0 1 para a Colo-


nização", estabelecida pelo Decreto n.o 63.104/ 68, e onde se localiza o
Projeto Ouro Preto, tinha base econômica no extrativismo, embora essa
atividade apresentasse, então como hoje, rendimento cada vez mais
baixo.
O seringal Nova Vida, por exemplo, que era a propriedade mais
organizada de todo o percurso entre Porto Velho e Vila Rondônia,
apresentava em 1968 uma produção de 30 t de borracha. Dos demais
seringais não foi possível obter dados sobre a produção e o número de
seringueiros (c f. referência 35) .
Apesar de pouco expressiva, a agricultura era representada por pe-
quenas roças de milho, arroz e mandioca, e, às vezes por algumas bana-
neiras encontradas em todos os imóveis da região, em 1968, época do
levantamento efetuado pelo IBRA, tendo em vista a implantação do
Projeto Ouro Preto.
Quanto ao arroz, embora constituísse o produto mais cultivado, o
plantio era realizado em bases empíricas e sem utilização de sementes
selecionadas. O agricultor geralmente usava sua própria semente, guar-
dada de um ano para outro. As variedades encontradas eram o canela-
de-ferro, bambu e pratão degenerado} todas de baixa produtividade e
pouco resistentes.
O milho sempre aparecia associado ao arroz; era plantado em ruas
largas, com distâncias de 10 metros entre uma e outra, com a finalidade
de diminuir a intensidade dos ventos, muito freqüentes na região e
prejudiciais ao cultivo do arroz.
O programa agrícola inicial do Projeto Ouro Preto previa como
culturas temporárias a serem implantadas, com a necessária assistên-
cia técnica, o arroz, o milho, o feijão e a soja. Dessas, somente a soja
não se expandiu.
Entre as culturas temporárias, o arroz é a de maior expressão
quanto à área cultivada e à produção, como demonstram os quadros
11 e 12. Em 1976, 60 % do arroz produzido em Rondônia provinha de
Ouro Preto.
O cultivo da mandioca vem-se expandindo em área, a partir de 1975;
tem 6. 500 ha plantados, com um total de 108.333 t produzidas em 1976.
Das culturas permanentes estabelecidas inicialmente para o Pro-
jeto 1 mamona, algodão e seringa - apenas esta vem sendo implan-
tada. O Projeto dispõe de um campo de experimentação, com 10.000
mudas (1976), o qual conta com o apoio do PROHEVEA. Os clones são
vendidos aos parceleiros por cerca de Cr$ 4,00 a unidade. Cada árvore
deverá produzir 50 g de látex por corte. Em julho de 1976, o quilo de
borracha bruta era vendido a Cr$ 9,00 e havia 300 parceleiros culti-
vando seringueira, num total de 150 ha, com financiamento do Banco
de Crédito da Amazônia S.A.
A bananeira, usada sobretudo para sombreamento dos . cacauais,
apresenta 15. 000 ha cultivados, com uma produção de 5 milhões de ca-

108
Quadro 11
PIC OURO PRETO. AREA CULTIVADA, SEGUNDO AS PRINCIPAIS
CULTURAS - 1970-76

ÁREA CULTIVADA (ha)


CULTURAS
1970/71 1 1971/72 1972/73 1 1973/74 1 1974/75 1 1975/76

TEMPORÁRIAS
Arroz... . .. .. . .. .. . .•. ... . ... . 670 3 000 3 340 7 620 7 546 26 000
Milho . . . . ..... ... . ........... 670 2 400 2 000 6 440 7 042 11 600
Mandioca . ..... . . .. .. . .....•• 6 500
Feijão ... ... .. ........ . ... ... . 340 1 000 1 660 2 047 2 250 5 200
Algodão .................. .. . . 74 140

PERMANENTES
Banana ..... ... .. . ...... . . .. . 15 000
Cacau..... .. ... ... . ...... .. .. 13 69 115 275 1 134
Café.. ..... .. .... .. ......... . 3 341
Seringa ... .. .... . .. . ...... . . . 150

FONTE : INCRA. Divisão Territorial Técnica de Rondônia, 1976 e 1977.


INCRA na Amazônia Oci dental ; conquistando e humanizando, 1974.
1 - Dados da CEPLAC. 1978.

chos (fig. 29) Em 1976 a produção não era ainda comercializada pela
cooperativa local, mas vendida a atravessadores que a compravam dire-
tamente dos parceleiros, em média a Cr$ 5,00/ cacho. Utilizada como
frete de retorno dos caminhões que se dirigiam ao Território e a Manaus,
vindos do Sudeste, a banana é enviada para os mercados daquela re-
gião, sobretudo para São Paulo, assim como para Campo Grande, Bra-
sília e Manaus; nesta cidade, o cacho de bananas adquirido no PIC a
Cr$ 5,00 era revendido por Cr$ 30,00, segundo informações obtidas no
Projeto, em julho de 1976.
Inicialmente tentou-se em Ouro Preto utilizar-se a própria mata
para sombreamento do cacau. Essa alternativa, porém, não deu bom
resultado, favorecendo a incidência de pragas, daí ter-se optado pela
utilização da banana.
O programa agropecuário atual visa melhorar a qualidade da assis-
tência técnica dispensada, uma vez que dos 3. 350 parceleiros atualmen-
te assentados, apenas 2. 000 são assistidos pela ASTER-RO (Associação
de Assistência Técnica e Extensão Rural - Rondônia) e 335 pela
CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) . Obje-
tiva ainda o programa ampliar as áreas das culturas permanentes já
introduzidas.
Além dos convênios existentes entre o INCRA e aquelas entidades,
há também um acordo em vigor, celebrado entre esse órgão e a Se-
cretaria de Agricultura do Território, a fim de proporcionar aos parce-
leiros a possibilidade de obtenção de sementes básicas anuais, assim
como de material botânico de seringueira, além de assistência técnica.
Há, no PIC, 13 parceleiros produzindo sementes básicas de feijão
e arroz, numa área de 122 ha, com a supervisão técnica da ASTER-RO
(Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural), SEAC-RO (Se-·
cretaria de Agricultura de Rondônia) , e DEMA-RO (Diretoria Estadual
do Ministério da Agricultura - Rondônia).

109
.......
.....
o

Quadro 12
PIC OURO PRETO. QUANTIDADE E VALOR DA PRODUÇÃO AGRí-
COLA, SEGUNDO AS PRINCIPAIS CULTURAS- 1970-76

QUANTIDADE (t) VALOR (Cr$ 1,00)


CULTURAS
1970/71
I 1971/72
I 1972/73
I 1973/74
I 1974/75
I 1975/76 1970/71 1971/72
I 1972/73
I 1973/74
I 1974/75
I 1975/76

TEMPORÁRIAS
Arroz 1 200 5 400 8 700 13 725 13 668 54 600 379 920 2 030 400 4 437 000 9 058 500 15 308 160 76 440 000
Milho 1 200 3 600 2 700 11 596 12 078 22272 186 000 657 000 594 000 4 251 720 5 314 320 13 140 480
Mandioca 108 333 11 916 630
Feij ão 300 900 1 500 3 643 2 091 4 368 188 750 954 300 1 140 000 4 310 410 3 073 770 8 779 680
Al godão 165 320 247 500 533 500

PERMANENTES
Banana 5 000 000 320 000 000
Cac au

FONTE: INCRA, Divisão Terri torial Té cnico de Rondônia, 1976 e 1977.


1 - Em cachos. INCRA na Amazônia Ocidental; conquistando e humanizando. 1974.
PIC OURO PRETO

PRODUÇÃO AGRÍCOLA 1970/76

110~~----------------------------------------------------------------~
100000
90000
80000
70000
60000
50000

40000

30000

20000

10000
9~
8000
7000
6000

5000

4000

3~

2000

D ARROZ -ALGODÃO

E:::] MILHO 0JJ MANDIOCA FONTE : INCRA


~ FEIJÃO tsSS3 BANANA

F I G. 29
É objetivo do Projeto expandir a cafeicultura, cuja área é de 3 .341
ha plantados, mediante a aquisição de sementes e entendimentos com
o !BC, para que estude a possibilidade de facultar assistência técnica
adequada aos parceleiros interessados nesse cultivo, uma vez que o Ter-
ritório se encontra fora da faixa de atuação daquele órgão (Fig. 30).

PIC OURO PR E TO

AR E A CULTIVA O A 1970/76
~=.-----------------,

Ou I r o c Cultu r O$
1
20000

r1
' ' I

10000
9 000

I
n11
8 000
7 000

6000

5000
I I I
•ooo l

5 000

2 000

n
tt70/71 1971/n f972/7J ~~ 1914r, J97':l/i'6
I
CJ ARR O Z ~BANANA

E;B ~ ~~~~o Co ll t o • c l o Qo ma cA f E
ts:SJ J.IAN OI O CA FO N T E . I N C RA
- AUi OOÃO E!) SERI N GA
I2'ZZJ C AC A U
F IG 3:J

A partir de estudos pedológicos realizados em Ouro Preto, em 1973


e 1974, pela CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Ca-
caueira), os quais demonstraram a boa potencialidade dos solos da área
para o cacau, esse cultivo vem-se desenvolvendo, não só no Projeto como
nas demais áreas do INCRA.
Sendo uma cultura perene, economicamente rentável, e em vista
das condições de solo e clima favoráveis, o cacau, cuja área abrange
1. 340 ha no Projeto (1976-77), pode proporcionar ao parceleiro um ren-
dimento médio satisfatório, consolidando assim a fixação do homem à
terra, e, ao mesmo tempo, permitindo manter o necessário equilíbrio
ecológico.
Os primeiros experimentos no PIC foram realizados no ano agrícola
de 1971/ 72, mediante entendimentos entre o INCRA e a CEPLAC, tendo
sido então criado, em Ouro Preto, um campo experimental, para esse fim.
Na programação agrícola do Projeto, de 1972, já figurava a exis-
tência dos primeiros viveiros de cacau, e a previsão para aquele ano era
implantar de 1 ha de cacau em 69 parcelas selecionadas para esse cul-
tivo.
Como a Erythrina foi atacada por uma praga está sendo experimen-
tada outra leguminosa para sombreamento, trazida do Pará. Seu nome
vulgar é palheteira. Os resultados ainda não são definitivos.
O sombreamento inicial dos cacauais é feito com bananeiras. Ao
fim de três anos, elas começam a ser eliminadas. O espaçamento das
bananeiras é de 5 metros. As touceiras são desbastadas, deixando-se
apenas três pés por touceira. Fazem-se experimentos de espaçamento,

112
de 2x2 m ; 2,5x2,5 m ; 3x3 m e 4x4 m, sempre como sombreamento provi-
sório.
As pragas que mais atacam os cacauais daqui são a vaquinha (um
besouro) , tripes, o monalônio e a broca (Stenoma decora); esses inse-
tos são combatidos com BHC a 1,5 % ou com Malatol. Dentre as doen-
ças, as mais comuns são a podridão parda (Phytophta palmivorus) e a
vassoura de bruxa (Marasmus perniciosus) .
O espaçamento recomendado para os cacaueiros é o de 2,5x2,5 me-
tros, que equivale a um cacaual com 1. 600 plantas/ hectare. Com três
meses de cultura em viveiro, é feito o replantio no campo.
Todos os híbridos são distribuídos aos agricultores. Experimenta-se
também a concorrência entre diferentes híbridos.
O viveiro do Campo Experimental de Ouro Preto tinha 80.000 pés
para enxertia, em julho de 1976. Com mais ou menos sete meses as
plantas estão prontas para enxertar. Aos agricultores é recomendado
que o plantio definitivo não demore mais de 3 a 4 meses 41 •
A grande distância entre Rondônia e a Bahia, centro produtor das
sementes destinadas ao Território, faz com que elas, ao chegarem, te-
nham sofrido uma redução de cerca de 30 % no volume exportado e
de 40 % no potencial de germinação. A solução encontrada para con-
tornar o problema foi a do transporte aéreo, que permite reduzir ao
mínimo possível o tempo decorrido entre o preparo das sementes no
local de origem e seu plantio em cada Projeto. Dessa forma consegue-se
manter o máximo do poder germinativo, que assim fica em torno de
95 %.
O quadro 13 indica a evolução da área cacaueira do Projeto, a
partir do ano agrícola 1971/ 72, quando foram efetuados os primeiros
experimentos.

Quadro 13
PIC OURO PRETO. EVOLUÇÃO DAS AREAS PLANTADAS COM
CACAU - 1971/ 77

PROJETO 1971/72 1972/73 1973/74 1974/75 1975/76 1976/77

Ouro Preto . . . .. .. ..•..... ... •. . 13 69 115 275 1 134 1 340


Ji -Paraná. . . . . .. .. ... . . ... . ... . 475 76 1 140
P.• Adolpho Rohl. . .. .. ..... . . . 57 397 1 690

TOTAL. . ... ... .......•. .. 13 69 11 5 807 1 607 4 170

ACUMULADO .. . .. .... .... 13 82 197 1 004 2 611 6 781

FONTE : CEPLAC. PIC Ouro Preto, 1978.

A variedade que mais se adapta à área é a Catongo. As sementes


são trazidas da Bahia, do Centro de Pesquisas do Cacau, por via aérea
e em caminhões, através de convênio existente entre o INCRA e a
CEPLAC. Em decorrência desse acordo, foram distribuídas para todo o
Território de Rondônia 11 milhões de sementes híbridas de cacau, pro-
41 Entrevista com o eng. 0 -agr. 0 Moisés Resende, no . Campo Experimental
INCRA-CEPLAC, em Ouro Preto, em 3-7-76.

113
venientes _do Centro de Pesquisa de Cacau, da CEPLAC, na Bahia. Até
o final de 1977, mais 15 milhões de sementes devem ser distribuídas
no Território.
A quantidade de sementes híbridas enviada para o Projeto Ouro
Preto, através da CEPLAC. foi a seguinte, segundo dados do INCRA:
Ano Agrícola Quantidade
(unidade)
1971/ 72 100.000
1972/ 73 100 . 000
1973/ 74 500 . 000
1974/ 75 850.000
1975/ 76 1. 645.000

Total 3 . 195 . 000


O Projeto pretende alcançar uma área plantada de 1. 800 ha nos
próximos dois anos, como também efetuar o beneficiamento do produto.
Para isso a CEPLAC está montando no local uma central de beneficia-
mento do cacau que servirá também aos demais Projetos.
Segundo informações obtidas em Ouro Preto, o cacau é comercia-
lizado pela cooperativa local e enviado a Manaus, para a firma Martins
Melo, que possui uma central em Belém. A primeira colheita, em 1975,
foi de 2 . 550 kg, vendida ao preço unitário de Cr$ 5,50. Poder-se-ia obter
normalmente melhor preço, mas, considerando-se serem esses os frutos
da primeira colheita, de cacaueiros com quatro anos de idade, o pro-
duto obtido não pôde alcançar a classificação tipo exportação. Rapi-
damente, porém, a produção de cacau das colônias agrícolas da Ron-
dônia aumentou, tanto em volume como em valor (quadro 14) .

Quadro 14
COMERCIALIZAÇÃO DE CACAU PELA COOPERATIVA DO PROJETO
OURO PRETO- 1975-77

QUANTIDADE VALOR PREÇO UNITÁRIO


ANO (kg) (Cr$) (Cr$/kg)

1975 2 550 14 025 5.50


1976 7 767 118 408 15.25
1977 24 863 1 009 496 40,61

TOTAL 35 180 1 141 929

FONTE: INCRA, PIC Ouro Preto, 1977.

Com base em entrevista com a família Salaroli, oriunda das co-


lônias italianas do Espírito Santo, foi possível elaborar um calendário
(fig. 31), que representa bem o labor agrícola desenvolvido pelos colo-
nos instalados no PIC Ouro Preto. Nem todas as atividades estão aí
assinaladas. Faltam, por exemplo, as limpas, isto é, as capinas, que se
estendem, de acordo com as necessidades, entre o plantio e as colhei-
tas das lavouras temporárias, mas n ão têm datas fixas; os numerosos
tratos culturais do cacaual; os do cafezal .. . Nenhuma das fainas com
o criatório está tampouco indicada. Contudo, o diagrama é suficiente

114
I '

CALENDARIO AGRICOLA
DOS COLONOS DO PIC- OURO PRETO

N2 DE N9 DE LIMPAS
/ANO

2
liiZI5!I!I5IZil Plantio do arr o z Plantio da cana
t::::::mzll Colheita

-
C o r te

fio·O··.ooo ..,..,,..,.l
3 A 4 ( + Poda e
Plan I i o do mi l h o c==- Apanha de frutas do cacau
P u l ver i z a~ão)
r:=:::::z:l Colheita Au ge da co lhe ita

m Plantio do fei jõo Co lh eita do cate' 4


CI:I::IJ Co l hei ta

Auge

C5JlilD .PER 1'0 DO CHUVOSO

FI G.3 l
para mostrar que, por dependerem essencialmente da mão-de-obra fa-
miliar, os colonos permanecem ocupados praticamente o ano inteiro.
A policultura envolve: lavouras temporárias, como o arroz, milho
e feijão; lavouras semipermanentes, como a da cana, banana (não in-
cluída no elenco de cultivos aqui representados); lavouras permanen-
tes, como o cacau, café; além da pequena criação e pecuária para lati-
cínios. É evidente que a maior parte desta variada produção se destina
ao consumo doméstico, mormente na fase pioneira em que se encon-
tram os colonos de Ouro Preto. Mas, sem dúvida, as safras de cacau são
totalmente vendidas para fora; a.s de café, em sua maior parte; exce-
dentes de arroz, milho, feijão, assim como porcos e aves, são eventual-
mente comercializados. O leite líquido é todo consumido em casa; po-
rém queijos de fabricação caseira são regularmente vendidos, não só
para a colônia, mas também para Vila Rondônia.
Embora representando uma realidade simplificada, pode-se notar
no diagrama citado que os colonos de Ouro Preto não dispõem de
nenhum período extenso de lazer, de entressafras. O único intervalo
que aí aparece nítido é o da primeira quinzena de dezembro. Observam-
se, sem embargo, fases de menor atividade agrícola, por exemplo: no final
da estação das águas, em abril-maio, quando se faz sobretudo a apanha,
quebra e secagem de frutos precoces do cacaual; todo o bimestre no-
vembro-dezembro, que tem apenas o plantio do arroz no primeiro mês
e a apanha dos primeiros frutos de cacau, na segunda quinzena do
último; por fim, a primeira quinzena de setembro, em que se trabalha
particularmente no plantio do milho.
Em contrapartida, fases existem em que a família dos colonos têm
que se aplicar em múltiplas atividades, como, por exemplo, o corte da
cana, a colheita do feijão e principalmente o início da safra do cacau,
que se operam em junho, quando começa a estiagem.
Um preconceito herdado da vivência em regiões temperadas e tro-
picais semi-úmidas faz crer aos leigos que somente na estação seca se
incrementa a atívidade agrícola. Se assim fosse, os colonos de Ouro
Preto levariam uma vida folgada, na maior parte do ano. Nada mais
errado. É óbvio que, com ·a chegada das chuvas, começa a época dos
plantios, como em todas as outras partes: em outubro, o plantio do
arroz, do milho e da cana se sobrepõem no tempo. O que surpreende,
entretanto, para quem não conhece a Amazônia, são as colheitas que
se fazem no auge da estação chuvosa : em fevereiro e março são colhi-
dos o café, o milho, cacau precoce, arroz (colheita iniciada em janeiro);
em março planta-se o feijão. Apenas na hora em que caem os grandes
aguaceiros a faina nos campos é interrompida. As sementes ãe cacau
precoce, colhidas desde meados de dezembro até maio, e toda a safra
de café precisam secar artificialmente, em estufas caseiras.
Todo o arroz produzido no Território, e particularmente no PIC
Ouro Preto, é de sequeiro. Tal como o milho, feijão e mesmo cana e
banana, ele é cultivado em terras florestais, previamente derrubadas e
queimadas. Este é o sistema de roças, denominado por Waibel 42 rotação
de terras primitivas. Não se estabeleceu, porém, um ciclo definido para
essa rotação de terras, ao longo da BR-364, porque o povoamento aí é
novo; está ainda no estágio pioneiro.
A entrevista com a família Salaroli, cujo sítio está situado a 15
km ao sul da sede do PIC Ouro Preto, fornece uma boa amostra das
atividades desenvolvidas pelos colonos e suas atuais condições econô-
42 WAIBEL, Leo. Capítulos de geografia t r opical e do Brasil. Rio de
Janeiro, IBGE, 1958. 307 p ., il.

116
micas. Está no lote há cinco anos. A mãe da família é natural de Ca-
choeira do Itapemirim; daí foi para Resplendor (MG), e sucessivamente
para o Rio de Janeiro (onde trabalhou numa fábrica de tecidos), Nova
Venécia (ES), depois Cáceres (MT), onde morou por nove anos, e final-
mente para o PIC Ouro Preto. O casal tem seis filhos homens, sendo qua-
tro casados e também com lotes em Ouro Preto, mais uma filha mo-
cinha.
A família faz rapadura, café e queijo. Tem seis vacas em lactação;
sendo no total, 20 reses e mais ou menos 60 porcos. O queijo é vendido
em Vila Rondônia, a Cr$ 20,00/ kg. Na estação das águas a produção é
de oito queijos por semana. Cultiva 10 hectares de cacau, 5 de café
e 3 de cana.
Na ocasião da entrevista, a família Salaroli tinha estoque de feijão
rosinha (5 sacos) e de cacau beneficiado (2,5 sacos). Produz arroz (cerca
de 200 sacos de 60 kg, com casca), milho (16 carros, ou 160 sacos) e
mandioca (embora não tenha casa de farinha). O milho é quase todo
destinado à criação. Na parcela trabalham marido, mulher e filhos
solteiros.
A água é tirada de poço, a 1,00-1,20 m de profundidade.
O cacaual, enquanto pequeno, requer três a quatro capinas anuais.
O arroz (variedades IAC-12 e Amarelão) exige duas limpas; o milho, _
uma, assim como o feijão. Além da limpa, o cacaual requer poda e
pulverização. O café precisa de quatro limpas por ano; é espaçado de
3 x 3m em dois hectares, o que equivale a 2. 000 pés.
Matam porcos e vendem a banha. Os suínos são alimentados com
aipim e batata doce, cultivados na propriedade.
Nas áreas de solo mais fraco foi introduzida a pecuária, em par-
celas de 250 ha (Fig. 32) . A assistência técnica ao rebanho é realizada
pela ASTER-RO (Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural
de Rondônia), que tem efetuado campanhas de vacinação de bovinos,
suínos e eqüinos, com a finalidade de melhorar o nível sanitário do
plantei.
As áreas com pastagens plantadas atingem 19.956 ha, formadas
por diversas gramíneas, principalmente os capins colonião, jaraguá,
sempre-verde e braquiária. É necessário, porém, melhorar as condições
de manejo das pastagens, a fim de que possam suportar, de maneira
adequada, as 6 . 760 cabeças de bovinos existentes no Projeto e que re-
presentam a exploração animal de maior valor (quadro 15 e Fig. 33)
Embora não seja expressiva, a produção de leite, queijo e manteiga,
vendida em Vila Rondônia, Porto Velho e no próprio Projeto, tem im-
portância como complemento da renda familiar. Em 1976, o preço
de venda do litro de leite no PIC era de Cr$ 2,00.

Quadro 15
PIC OURO PRETO. EFETIVO E VALOR DOS REBANHOS - 1976

ESPfCJE CABEÇAS VALOR (Cr$ 1,00)

Bovinos.... . . . ... .. .... .. .... . . .. . .. . ... . ... . 6 760 16 054 715


Su fnos.. . . ... . . ....• . .. ... ... .. .•.. ... .. ... . .. 15 774 964 180
'Muares...... .. . .. ... .. .. . .... . .. .... ... ..... . 301 250 060
Aves . . . .. .. .... ... . ... .... . .. . .. .. . ·- · .. ···· · 55 01 2 825 180

FONTE : JNCRA. Divisão Territorial Técnica de Rondônia, 1976.

117
Flg. 32 - Projeto Ouro Preto: Instalações e gado de uma parcela pecuana, com pastos em
expansão (ao fundo). Notar a quantidade de palmeiras-babaçu, dispersas no pasto novo, rema-
nescentes da mata natural.
Foto INCRA - Setembro de 1975

Flg. 33 _ Parcela de pecuária no PIC Ouro Preto. A esquerda, curral; atrás, pasto de colonlão
com p~lmeiras -babaçu e árvores· mortas, dispersas.
Foto INCRA - Setembro de 1975

118
As aves, apesar de provenientes de plantéis domésticos, sem maior
preocupação tecnológica, alcançam número bastante expressivo, da or-
dem de 55 mil.
Com o objetivo de incentivar o desenvolvimento agropecuário, não
só do Projeto como de toda a região, foram realizadas duas feiras agro-
pecuárias, em 1975 e 1976, as quais levaram a Ouro Preto criadores e
interessados na compra de animais, assim como agências de financiamen-
to que facilitaram as operações de crédito para agricultores e pecua-
ristas.
4 . 7. 9 - A cooperativa e entidades de apoio
Em muitas regiões o sistema cooperativista tem permitido aos agri- ·
cultores não só auferirem maiores lucros, como organizarem sistemas
de armazenagem, transporte e comercialização da produção, capaz de
proporcionar-lhes preços compensadores por seus produtos e melhores
níveis de vida. Desde a implantação do Projeto Ouro Preto, estava pre-
vista a criação de uma cooperativa, a fim de propiciar aos parceleiros
maiores facilidades para a aquisição de gêneros de primeira necessida-
de, insumos agrícolas e, ao mesmo tempo, responsabilizar-se pela co-
mercialização e estocagem da produção, de modo a evitar os malefícios
dos atravessadores.
Com tais objetivos foi fundada a Cooperativa Agrícola Mista de
Ouro Preto, mais tarde transformada em CIRA (Cooperativa Integral
de Reforma Agrária), como uma forma de participação dos beneficiários
em todas as etapas de desenvolvimento do Projeto, ao mesmo tempo
que cumpria sua função específica de comprar e vender a produção
local.
Implantou-se a Cooperativa em 1972. Por sua localização geográ-
fica e pelo fato de ser Ouro Preto o Projeto de maior experiência acumu-
lada do INCRA no Território, a Cooperativa objetiva também atender a
mais quatro Projetos: Jiparaná, Pe. Adolpho Rohl, Marechal Dutra e
Burareiro, o que amplia muito seu potencial e área de ação.
Para fazer face aos compromissos financeiros oriundos da implan-
tação de atividades específicas de beneficiamento da produção, a Coo-
perativa recebeu recursos da ordem de Cr$ 4. 590.600, destinados a cons-
tituir o chamado fundo de implantação, para a execução das seguintes
atividades principais:
a) construção de uma central de beneficiamento do cacau (já
iniciada);
b) instalação de maquinaria para beneficiamento do arroz;
c) construção, em 1978, de uma usina de beneficiamento de sub-
produtos da banana, cuja produção é muito expressiva na área de todos
os Projetos da faixa da BR-364, onde se vem ampliando a cacauicultura.
Prevê-se, também, transferir para a Cooperativa a serraria Fran-
cisco Maurício, pertencente ao PIC, e que em 1976 se encontrava subuti-
lizada. A ela os parceleiros podiam levar a madeira que necessitassem
serrar, sem que por esse serviço pagassem qualquer tipo de taxa; apenas
o transporte para as parcelas era por conta dos beneficiários.
A comercialização era orientada, no início, pela Administração do
Projeto. A instalação da Cooperativa Agrícola Mista de Ouro Preto Ltda.,
em 1972, proporcionou melhores condições de abastecimento de gêneros
de primeira necessidade aos parceleiros; ao mesmo tempo, ela assumiu
a comercialização de boa parte da produção de todos os Projetos do
INCRA ao longo da BR-364, encaminhando-a para os mercados de Ma-
naus, Porto Velho, São Paulo e Minas Gerais.

119
· Em 1975 a Cooperativa teve problemas econômicos que determina-
ram intervenção administrativa, e no ano seguinte se encontrava em
fase de reestruturação. Contava a CIRA, em 1976, com 624 cooperados
e uma seção de venda de alimentos e insumos agrícolas a preços infe-
riores em 30 % a 40 % aos do comércio local.
· A Cooperativa procura facilitar o transporte da produção e a tiia-
gem de cereais para os cooperados, aos quais também oferece cursos de
capacitação cooperativista. Dispõe de um capital de giro de Cr$ 260.000;
sob sua responsabilidade funciona anualmente uma Feira Agropecuá-
ria, que em 1975 chegou a comercializar 1. 119 cabeças de gado, num
total de Cr$ 4 milhões, com apoio financeiro do Banco do Bràsil e do
Bradesco.
A instalação, em 1973, -de uma unidade da CIBRAZEM, com capa-
cidade para 60.000 sacos, veio solucionar em parte o problema de arma-
zenagem e comercialização dos produtos, inclusive permitir a partici-
pação do Banco do Brasil no financiamento da produção estocada. No
entanto, a capacidade de armazenamento de Ouro Preto, como dos de-
mais Projetos, é ainda insuficiente para o volume de produção a ser
classificada e estocada.
Além da CEPLAC, SEAC (Secretaria de Agricultura), ASTER-RO e
DEMA (Diretoria Estadual do Ministério da Agricultura) , que dispen-
sam assistência técnica aos parceleiros mediante convênios com o IN-
CRA, também a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
cuária) mantém um campo de experimentação a quatro quilômetros
da sede do Projeto.
Quanto ao crédito, registram-se as seguintes fontes financiadoras:
Banco de Crédito da Amazôni.a S/ A (BASA), para a cultura da serin-
gueira; Banco do Brasíl S/ A, para o cacau, lavoura branca e pecuária
(agência de Vila Rondônia, a 40 km da sede do Projeto); Banco Bra-
sileiro de Descontos S/ A (BRADESCO) , para a pecuária; INCRA, atra-
vés do Departamento de Desenvolvimento Rural, para revenda de ma-
terial agrícola, e do Departamento de Projetos e Operações, para con-
cessão de empréstimo aos parceleiros recém-assentados.
O PIC dispõe de um armazém da CIBRAZEM, com capacidade para
60. 000 sacas, insuficiente para estocar a produção local.
Nos setores da educação e da saúde, atuam também no Projeto: o
MOBRAL, a Secretaria de Educação, o Projeto Minerva, a Campanha
Nacional de Alimentação Escolar, a FSESP (Fundação Serviço Especial
de Saúde Pública), a SUCAM (Superintendência das Campanhas de Saú-
de) e o FUNRURAL, h<;>je incorporado pelo lAPAS (Instituto de Admi-
nistração da Previdência e Assistência Social).

120
Capítulo 5 - PROJETO DE ASSENTAMENTO DIRIGIDO
BURAREIRO (PAD)

ÂNGELA MORAES NEVES


ANA MARIA TEIXEIRA LOPES

Frente ao êxito da experiência do cultivo de cacau no Projeto Ouro


Preto e à decisão do governo federal de criar na Amazônia novos cen-
tros cacaueiros, entre os quais se encontra o Território de Rondônia,
por apresentar condições ecológicas favoráveis, optou o INCRA pela im-
plantação de novos Projetos naquela área. Entre eles se encontra o Bu-
rareiro, que integra, com o PAD Marechal Dutra, a categoria dos Pro-
jetos de Assentamento Dirigido, nos quais o INCRA assume as respon-
sabilidades de implantar a infra-estrutura, selecionar e assentar os be-
neficiários. O parceleiro desses Projetos d,eve ser mais especializado que
um simples trabalhador sem terra; possuir um. mínimo .de conheci-
mentos agrícolas e, ao mesmo tempo, algum recurso financeiro e ex-
periência quanto à obtenção de crédito bancário.

5.1- DIRETRIZES DA OCUPAÇÃO

Criado pela Portaria n.o 085, de 21 de janeiro de 1974,o PAD 43 Bu-


rareiro teve a finalidade inicial de atender aos pequenos produtores de
cacau do sul da Bahia, que produzem até 400 arrobas e não podem
ampliar a área de cultivo, em razão do elevado custo da terra na região.
Esses produtores ocupam as chamadas buraras, que correspondem à
pequena propriedade de cacau, e são conhecidas como burareiros, o que
determinou a denominação do Projeto.
Posteriormente, o INCRA ampliou os objetivos do Projeto para atin-
gir também pequenos cacauicultores e outros agricultores do Território
Federal de Rondônia interessados no cultivo do cacau. Assim, a soma
das áreas cacaueiras dos Projetos Ouro Preto, Padre Adolpho Rohl, Ji-
Paraná, Marechal Dutra, Sidney Girão e Burareiro totaliza 4. 510 ha,
e tende a ser ampliada nos próximos anos, dentro dà que prevêem as
diretrizes do Plano de Expansão da Lavoura Cacaueira, elaborado pelo
governo federal, através da CEPLAC. .
43 PAD - Projeto de Assentamento Dirigido. Burara é também a deno-
minação regional dada, no sul da Bahia, (microrregiões Cacaueira) à roça,
sistema agrícola que Waibel denominou rotação de terras primitivas (a shijting
cultivation dos geógrafos de língua inglesa) . O emprego do vocábulo burara,
indicando igualmente: a) o roçado; b) a pequena lavoura de cacau, e c) a
pequena propriedade cacaueira, decorre da circunstância de serem iniciadas as
culturas de cacau com uma derrubada, queimada e plantio das sementes, em
fileiras intercaladas com a mandioca e a banana. É claro que as grandes lavouras
de cacau são implantadas do mesmo modo; porém, o pequeno. caéauicultor - o
burareiro - o faz com mais freqüência, porque é mais instável.

121
5.2- AREA

A área hoje denominada Burareiro é constituída de duas grandes


faixas: uma, com 128 . 000 ha, destinada à licitação, e outra, contígua,
de 325.156 ha, onde está sendo implantado o PAD Burareiro, com ca-
pacidade para absorver 1 . 283 famílias.
Na área de licitação, há 118 lotes de 1 . 000 ha destinados a proje-
tos agropecuários, e 200 com área aproximada de 500 ha, para a ca-
cauicultura (mapa 13).
A área do PAD, considerada como de vazio demográfico, tinha uma
pequena população de seringueiros e alguns seringalistas. Está locali-
zada em terras devolutas da União (consideradas indispensáveis à se-
gurança e ao desenvolvimento nacionais, pelo Decreto n. 0 1.164, de
11.4 . 1971), compreendidas entre os paralelos 90 30' e 100 30' de lat.
e os meridianos 630 00' e 620 30' WGr. Tem como limite norte o PAD
Marechal Dutra e terras de F.B. de Paiva; a leste, limita-se com a gleba
de licitação Burareiro e os títulos definitivos Ubirajara, H.M.V. e F .B.
de Paiva; a oeste, com a área a ser discriminada pelo INCRA, o PAD
Marechal Dutra e terras de Hugo Frey; ao sul, com o imóvel Ubirajara
e uma área a ser discriminada pelo INCRA.
Situado entre os quilômetros 125 e 242,5 da BR-364, o Projeto dista
190 km de Porto Velho e um quilômetro da vila de Nova Ariquemes,
onde se localiza sua sede administrativa.
Dentro da área do Projeto se encontra a Fazenda Nova Vida, que
foi desapropriada por interesse social e deverá ser dividida em parcelas
de 250 ha, para pecuária, uma vez que todo o imóvel foi transformado
em pastagens.

5.3 - ASPECTOS FíSICOS

De acordo com o estudo de solos do Projeto Burareiro, realizado


pela CEPLAC 44 a área é formada de planícies de inundação dos rios
Anari, Machadinha, Preto do Jamari e seus afluentes. Ocorrem nessas
planícies pequenos diques marginais, terraços colúvio-aluviais, bem co-
mo zonas alagadas e alagáveis, que formam pequenas bacias.
As formações terciárias se encontram ao norte, noroeste e oeste da
área estudada, e apresentam camadas estratificadas de sedimentos ar-
gila-arenosos. São conhecidas como tabuleiros, por apresentarem topo
aplainado e pequenas vertentes íngremes, descendo para vales abertos,
de fundo chato. Nessas áreas ocorre com freqüência grande quantidade
de laterita pisolítica ou em carapaças.
Ao sul, sudoeste e centro localizam-se rochas metamórficas do Pré-
Cambriano (gnáisses ricos em biotita), rochas ígneas ácidas (granitos,
grano-dioritos, álcali-granitos, quartzo-dioritos) e ígneas básicas, que
deram origem a um relevo ondulado e às vezes bastante movimentado.
Entre essas elevações há pequenas á:eas planas e suavemente onduladas,
resultantes de um processo de aplamamento.
A cobertura vegetal é constituída por uma floresta ·alta, densa e
heterogênea, com grande quantidade de palmeiras (babaçu, paxiúba,
buriti e palmito doce), além de cipós e aráceas. Muitas espécies perdem
as folhas no período mais seco (junho a setembro), fazendo com que
a floresta assuma um comportamento semidecidual. Entre as espécies

44 LEAO, A. Ca rlos & CARVALHO Filho, Raimundo. Solos do Proj eto Bu-
rarei ro, Rondônia. Itabuna, CEPLAC, CEPEC, 1975. 30p., il. (Boletim técnico, 52) .
(mim eo.).

122
GLEBA BURAREIRO
APTIDAO PARA O CULTIVO DO CACAU
P/PORTO VELHO

ASSENTAMENTO

DIRIGIDO (INCRA)

Núcleo
ÁREA DE REGULARIZAÇÃO Apoio - N:RA
FUNDIÁRIA (INCRA)

Setenta /
/
/
D Lotes de 500ha aptos para~
/
/
m Lo.tes de 1.000 ha inaptos poro cacau, porém
com potencialidade poro outros cultivos. ( Seringueira,


Dendf, Pimenta- do- Reino, Guaraná e Pastagens).
Núcleo de Apoio-lncra .

e Sede de ser i n g a I
P/CUIABÁ
= Campo de Pausa

- Rodovia F.ederal
Estrada de Penetraçlro ESCALA: 1: 500.000 Fonte : INCRA
Estrada Vlcina·l
MAPA 13
de valor econômico, distinguem-se: a càstanheira (Bertholleti a excelsa) ,
seringueira (Hevea brasiliensis), cacau (Theobr oma cacao) e madeiras
de lei, como mogno, cedro, freijó, umburana, angelim, cerejeira, mara-
catiara, ro xinho, cupiúba e cumaru-ferro, de freqüente emprego na in-
dústria de construção civil.

5.3.1 - Solos

Os solos estudados representam oito unidades de mapeamento (ma-


pa 14) , que foram em princípio correlacionadas com a geologia e a fisio-
grafia da área, conforme o quadro 16.
Os solos aluviais possuem perfis profundos (+ 1,50 m) , são mo-
derada a imperfeitamente drenados e apresentam média retenção de
umidade. São solos jovens, ainda em processo de formação ; apresentam
cores brunadas na superfície e bruno-amareladas e vermelho-amarela-
das com mosqueados, em profundidade. O pH está entre 4,05 e 5,0 ; o
teor de matéria orgânica, no horizonte A, é em torno de 2%, decres-
cendo com a profundidade:

Quadro 16
PAD BURAREIRO. UNIDADE DE SOLO E AREAS, SEGUNDO A
GEOLOGIA E A FISIOGRAFIA

ÁREA
GEOLOGIA E FISIOGRAFIA ' UNIDADE DE MAPEAMENTO
ha %

QUATERNÁRIO
Pla nlci e al uvial.. .. ....... ... .. .. .... . .. ... ... . .. Aluvial + Hidromórfico 2 000 0.3
Terraço colúvio-aluvial.. .. .. . . . . .. ... .. .. . .... . . . Paralso (1)

TERCIÁRIO
Relevo de tabulei ro. . ... . ... ... .. .. .... .. ... .... . Jamari 336 000 42,2
PR~ - CAMBRIAN O (CO) E ROCHAS [GNEAS
Rel evo plano. .. .. ... .. ... . .. ...... .. .. .. . .. ... . . Anari 100 000 12.5
Rel evo suave ondul ado.. . .. ... ... .. .. .. . .. ... ... . Xi biu 151 000 19. 0
Relevo forte ondulado (rochas bás icas) ( ?) . . . . . . Ouro Preto 140 000 17,8
Re levo forte ondulado (rochas ác idas)... . .. ..... . Cipó 19 000 2,2
Associação:
Xibiu + Ouro Preto 48 000 6, 0

TOTAL. . .. ... .... ....... .. ..... .. ... .. ... . . . . 796 000 100,0

FONTE : CEPLAC.
(1) Muito pouco representativa. Não foi mapeada pela CEPLAC.

Os hidromórficos são solos formados a partir de sedimentos alu-


viais recentes, apresentando um horizonte A orgânico ou . orgânico-
mineral, superposto a camadas estratificadas, de cores acinzentadas e
texturas variadas. São mal drenados e apresentam fertilidade natural
variável, dependente do material depositado. Normalmente ocorrem nas
áreas planas e em alvéolos.

i24
I
o SOLOS DA AREA DO PROJETO BURAREIRO
%
..J
111
>

NW

GEOLOGIA

LEGENDA
~ SEDIMENTOS TERCIÁRIOS

• ROCHA S ÍGNEAS ÁCIDAS

[iiijJ ROCHAS CAMBRIANO - CO.

~ ROCHAS ÍGNEAS ACIDAS + SED. TERCIÁRIOS

GEOLOGIA E FISIOGRAFIA UNIDADE DE SOLO


OUARTERHÁRIO
~ PLANÍCIE ALUVIAL_.-----.---- ALUVIAL +HIDROGRÁFICO

I
TERCIARIO
I22J RELEVO DE TABULEIRO ___ • ___ .JAMARI
PRÉ-CAIIBRIANO E ROCHAS IGNEAS
e3 RELEVO PLANO-----------_ .AMARI
~ RELEVO SUAVE OfiOULAOO--.- __ XIBIU
MAPA 14
~ RELEVO 'ORTE OIIIIULAOO(IIochaa BÓalcaa) OURO PRETO
ESCALA
~ RELEVO 'ORTE OIIOULAOO (Rochal Ácidaa) CIPÓ

(IIIJl Auacia~ão - ·- - - - - __ • ___ XIBI U ~OURO PRETO 1975 FONTE : C E P LAC

Copia: Oes. Wilson OPI·3•20/U7


A unidade Paraíso, muito pouco representada, é constituída por
solos de baixa fertilidade, profundos, bem a moderadamente drenados
e de baixa capacidade de retenção de umidade. São originários de ma-
teriais colúvio-aluviais ej ou possivelmente derivados de rochas ígneas
ácidas. Predominam em seus perfis as texturas arenosas no horizonte A
e franco-arenosas e/ ou argilosas no horizonte B. O pH se apresenta
entre 4,8 a 6,0, enquanto o teor de matéria orgânica é muito baixo: 0,4
no horizonte A, decrescendo com a profundidade.
A unidade Jamari corresponde aos Latossolos vermelho-amarelos
concrecionários, que têm sua origem em sedimentos do Terciário (For-
mação Barreiras e Rio Branco) . São solos profundos, bem drenados,
com pequena diferenciação morfológica entre os horizontes, e estão re-
lacionados aos sedimentos do Terciário. A textura é franco-argila-areno-
sa na superfície, argila-arenosa e argilosa em profundidade. O hori-
zonte B é bruno-avermelhado e/ ou bruno forte, enquanto a estrutura
maciça se desfaz em grumos e blocos subangulares fracos. São solos
duros a muito duros, sendo plásticos quando secos, e pegajosos quando
molhados, desmanchando-se facilmente quando umedecidos. Alguns so-
los incluídos nesta unidade podem apresentar na parte superior do per-
fil e/ ou em profundidade concreções e placas lateríticas, formando uma
camada dura, que dificulta a penetração das raízes. Seu pH é muito
baixo: em torno de 4,0. _
A unidade Anari é constituída de solos profundos, com mais de 1,50
m, e pequena diferenciação morfológica entre os horizontes; são bem
drenados, e têm sua origem em materiais derivados de rochas do Pré-
Cambriano (?). O horizonte A tem cores brunadas escuras e o B, ver-
melho-amareladas. São solos duros, friáveis a muito friáveis, plásticos
e pegajosos. Podem apresentar nos horizontes B e C uma camada com-
pacta de laterita (concreções e placas). O pH é baixo: 4,5.
Os solos da unidade Xibiu são de boa profundidade, bem drena-
dos, com horizontes bem diferenciados, desenvolvidos a partir de ma- ·
teriais de rochas do Pré-Cambriano, ricas em minerais ferro-magnesia-
nos. São solos muito duros, friáveis, plásticos e pegajosos. O pH varia
de 5,5 a 6,0 no horizonte A, reduzindo-se para 5,0 no B.
A unidade Ouro Preto é constituída de solos de profundidade mé-
dia, mais de '1,30 m, bem drenados, com boa retenção de umidade, ho-
rizontes bem desenvolvidos, tendo como material de origem rochas
ígneas básicas (?) ej ou metamórficas, 'ricas em minerais ferro-magne-
sianos. São solos plásticos e muito pegajosos, ligeiramep.te duros a muito
duros. O pH varia de 5,3 a 6,6 no horizonte A e · de 4,7 a 6,0 nos hori-
zontes B e C. Constituem apenas 18 % da área estudada e são de alta
fertilidade. Esses solos ocorrem em relevo bastante movimentado; têm
cor vermelha e são conhecidos como Terra .R oxa Estruturada.
Os solos da unidade Cipó são bem drenados, com média profun-
didade (+ 1 m) e fertilidade baixa; . são originados de rochas ígneas
ácidas, ricas em quartzo. Os horizontes apresentam-se bem diferen-
ciados e o pH está em torno de 4,0. Ocorrem em áreas de relevo movi-
mentado. ·

5 .3 . 1. 1 - Aptidão agrícola

As conclusões preliminares do estudo da CEPLAC permitem esta-


belecer, na área, classes de solos em função do cultivo do cacau, levan-
do-se em conta fatores ed,áficos que podem limitar o . crescimento da

125
planta e sua produção, como fertilidade, falta ou excesso de água, pre-
sença de minerais primários. Distingue o estudo, três classes de solos:

CLASSE UNIDADE

11 - 8 ons para cacau , ..... ............. ............ ... .. ....... . .. .. . Ouro Preto e Xibiu
111 - Regu lares para cacau........ .... .. .. .... . . .. .. .. ... ...... .. ..... Anari e Aluvial
IV - Maus e/ou inadequados p/ cacau . . . . . . . . . . . . . •. . . . . . . . . . . . . . . . . . Hidromórficos. Parafso. Jamari e Cipó.

Os solos da classe II são os mais indicados para a cacauicultura,


mas podem apresentar uma pequena limitação, devida à carência de
água no período mais seco do ano. Nessa classe estão incluídas as uni-
dades Ouro Preto e Xibiu. Os solos da primeira estão localizados em
áreas de relevo acidentado, o que dificulta a adoção de práticas cultu-
rais rr.odernas. A forte declividade e a baixa estabilidade estrutural des-
ses solos facilitam o processo de erosão; daí serem eles os mais indicados
p::tra cultivos perenes, de alta rentabilidade, como o cacau, evitando-se
assim a alteração do ecossistema local.
Os solos da unidade Xibiu podem sofrer um rápido processo de
degradação, quando mal utilizados. Seu uso continuado com culturas
temporárias e a prática de queimas periódicas podem torná-los pouco
produtivos em alguns anos, em virtude da destruição da matéria orgâ-
nica e da lixiviação das bases. Assim, apesar de situados em zonas de
topografia suavemente ondulada, requerem manejo adequado, mesmo
quando se trata de culturas perenes, em virtude da alta pluviosidade da
região e do fato de apresentarem uma textura leve na superfície.
A classe III compreende solos com pequenas e moderadas limitações
para a cacauicultura, como sej~m a falta ou excesso de água e de
minerais primários. Nessa categoria estão incluídas as unidades Anari
e Aluvial. Os solos daquela unidade, embora profundos e bem drena-
dos, são pouco indicados para a cacauicultura, por causa da presença
de uma camada de laterita no horizonte B, que dificulta a penetração
das raízes da planta. São solos mais adequados a cultivos menos exi-
gentes que o do cacau, como os de seringueira (Hevea brasiliensis), den-
dê (Elaeis guineensis), cravo-da-índia (Eugenia caryophillata) , guaraná
(Paulinia sp.) e pimenta-do-reino (Piper nigrum).
A classe IV abrange solos com fortes restriÇões à cultura do cacau.
Compreende as unidades Jamari, Cipó, Hidromórficos e Paraíso. A uni-
dade Jamari, constituída de solos de baixa fertilidade e alto teor de
alumínio trocável, torna-se importante porque se localiza em faixa de
relevo plano e representa 336.000 ha, ou seja 42 % da área estudada.
Tais solos poderiam ser bem utilizados com plantios de cana-de-açúcar,
dendê e soja, além de pastagens de braquiária.
Os solos Aluviais, Hidromórficos e Paraíso terão melhor rendimento
se forem usados para cultivo de arroz e horticultura. Representam cerca
de 2. 000 ha da área levantada pela CEPLAC.
A melhor opção para a unidade Cipó seria o planalto de braquiária
para pastagens:
Apesar do levantamento pedológico inicial da CEPLAC, a experi-
ência vem demonstrando que, na realidade, somente 50 % dos solos do
Projeto Burareiro são favoráveis à cultura do cacau. Assim, os outros
50 % serão destinados ao cultivo da seringueira, citrus e café (há algu-
mas manchas favoráveis à cafeicultura). Em 1978, a CEPLAC se pro-

126
põe a efetuar um estudo de solos a nível de parcela, a fim de com-
plementar o primeiro e permitir melhor ajustamento da programação
agrícola à realidade do Projeto.

5 . 3. 2 - Aspectos sociais
Dentro do objetivo de incrementar a pequena e média empresas de
cacau, procedeu-se à primeira seleção de parceleiros em 1975, dando-se
ênfase aos aspectos: capacitação agrícola, capacidade financeira e nível
de escolaridade dos pretendentes. Assim, em decorrência dos próprios
critérios que orientam a seleção dos parceleiros deste PAD, o setor da
frente pioneira que se abre no Projeto Burareiro vai constituir uma área
ocupada por proprietários médios, portadores de certo poder aquisi-
tivo e nível técnico mais elevado do que a grande maioria dos pioneiros
da Transamazônica e seus ramais. Eles constituirão, em futuro breve,
uma pequena e média burguesia rural. A febril construção das casas
e o padrão destas, em Nova Ariquemes, refletem bem tais condições.
O INCRA adotou tais medidas por considerar que o cacau é plan-
ta exigente do ponto-de-vista técnico, necessitando de tratos culturais
especializados. Há 641 famílias já localizadas em lotes de 250 hâ, área-
módulo de propriedade adotada para o cultivo de cacau, no Projeto.
Entre os parceleiros assentados, há onze antigos seringueiros e sete bu-
rareiros baianos.
Como o Projeto data de 1976, o programa de assentamento ainda
não foi concluído, e os de educação e saúde encontram-se apenas em
fase de implantação. Assim, das 87 escolas programadas para a fase de
emancipação do Projeto, prevista para 1980, apenas oito estão construí-
das e têm cerca de 240 alunos matriculados.
Nova Ariquemes é o núcleo-sede do Projeto Burareiro. Sua constru-
ção foi iniciada em maio de 1976, num local situado a 2 km do velho
aglomerado de Ariquemes. Tem traçado em xadrez e suas casas são todas
de tábuas verticais, cobertas de cavacos. Esse tipo de habitação reflete
bem a origem dos seus habitantes: 80% procedem do Paraná. Uns des-
cendem de colonos europeus, em terceira geração; outros são mineiros
e capixabas, geralmente vindos também daquele Estado, desanimados
de lá permanecerem, após as perdas sofridas com as fortes geadas ocor-
ridas no inverno de 1975.
Chegados de caminhão com as famílias e pertences, instalam-se
provisoriamente num rancho de ramagens ou numa tenda de plástico,
até que a residência permanente seja terminada.
As queimadas, os arruamentos e casas em construção, os ranchos
provisórios retratavam, em julho de 1976, a paisagem típica de um nú-
cleo de zona pioneira.

5. 3. 3 - Perspectivas agroeconômicas

Apesar de o Projeto haver sido criado para ter no cacau seu princi-
pal suporte econômico, essa diretriz vem sendo em parte alterada,
ante a verificação de que somente 50% dos solos da área são favoráveis
à cacauicultura. A partir desse fato e da necessidade de se introduzir
outras culturas permanentes adaptadas à região, para aproveitamento
racional das áreas disponíveis, até o final de 1977, deve-se concluir a
implantação de 100 hectares de seringueira, através da Secretaria de
Agricultura do Território e com a assistência técnica da ASTER-RO. Tal

127
atividade deve ser realizada, de preferência, nas áreas compreendidas
pelas unidades Anari e Aluvial. Prevê-se; também, a implantação de 20
ha de citrus e 300 ha de café.
Quanto ao cacau, considerando-se que o Projeto teve início em 1976,
a área plantada é de 200 ha. Foi planejada sua ampliação em mais
1. 500 ha, dentro da Programação Operacional do Projeto para 1978.
Dentre as culturas temporárias iniciadas, o milho foi a única a
alcançar maior representatividade, com 282 ha plantados e uma pro-
dução de 541 t.
Tendo em vista a importância do crédito para o desenvolvimento
da atividade agrícola em escala comercial, a que se propõe o Projeto, a
CEPLAC selecionou 68 dos parcel~iros assentados para serem os pri-
meiros a receber financiamentos através do Banco do Brasil. A média
de área financiada por parceleiro é de 15 ha, perfazendo um total de
1. 020 ha. Essa operação atinge Cr$ 414.120.000,00, a serem liberados
em quatro anos.

5. 3. 4 - Vias de acesso e perspectivas de mercado

O Projeto Burareiro, bem como seu vizinho, o PAD Marechal Du-


tra, tem boa localização uma vez que é atravessado por trê& importantes
rodovias: a BR-421, a BR-364 e a R0-01. A segunda, de Cuiabá a ·Porto
Velho, corta a área no sentido NW-SE, numa extensão de 52,5 quilô-
metros, o que lhe assegurará o escoamento da produção, tanto para
Porto Velho e Manaus quanto para os mercados do Sudeste.
Embora ainda seja uma simples via de penetração, a BR-421, que
vem sendo construída com recursos do POLAMAZôNIA, tem conclusão
prevista para 1978 e permitirá a ligação do Projeto .com a área de Gua-
jará-Mirim e a. fronteira boliviana.
Além dessas rodovias, o Projeto conta com 231 km de estradas vici-
nais, construídos nas faixas onde há parceleiros assentados. Na sua fase
de consolidação deverá ter ·771 quilômetros de estradas vicinais, dos
quais 540 estão programados para os próximos três anos.
Considerando-se que a economia do Projeto será diversificada, uma
vez que deve basear-se nas culturas de cacau, seringueira e, em menor
escala, café e cítrus, a presença de uma infra-estrutura viária, como a
mencionada, não só pode assegurar o escoamento da produção, como
também facilitar a montagem de um sistema de comercialização capaz
de favorecer o êxito do empreendimento. Assim, o cacau do Projeto,
beneficiado na central de Ouro Preto, ora em construção, poderá ser
escoado pela BR-364 até Porto Velho, e daí pelo rio Madeira ou pela
BR-319, para Manaus.

128
Capítulo 6 - PROJETO DE ASSENTAMENTO DIRIGIDO
MARECHAL DUTRA (PAD)

A implantação do Projeto 45 teve início em 1975, numa área de


546.372 ha, apartada do polígono considerado de interesse social para
desapropriação pelo Decreto n.o 75.281/75. Sua meta final é proceder ao
assentamento de 3. 858 famílias, das quais 2 .132 encontram-se locali-
zadas em parcelas de 100 ha. .
A área foi transcrita pelo INCRA no Registro de Imóveis de Porto
Velho sob diversos números, uma vez que existiam dentro dela vários
imóveis que foram expropriados e pertenc~am a diferentes propri~tários.
Excluiram-sé da área total desapropriada os títulos definitivos Monte
Cristo I e II, Canaã I e II, e a faixa de domínio das duas rodovias
federais e da R0-01, que atravessam o Projeto.
Na parte já loteada, cerca de 400 parcelas estão localizadas na faixa
da BR-364, e 300 no trecho servido pela BR-421.
O Projeto está situado no distrito de Ariquemes, município de Porto
Velho, entre os quilômetros 137,5 e 224,5 da BR-364. Limita-se ao norte
com o Projeto Fundiário Alto Madeira e com o imóvel rural de F.B. de
Paiva; ao sul, com o PAD Burareiro; a oeste, com o Projeto Fundiário
Alto Madeira e parte da área pertencente à Mineração Massangana ou
Paranapanema; e a leste com o PAD Burareiro, o imóvel de Hugo Frey
e a área de F.B. de Paiva. Essas áreas integravam antigos seringais,
cuja exploração, no passado, constituiu, juntamente ·com a castanha, a
atividade econômica de maior expressão do vale do Jamari, antes da
mineração.
Dentro do polígono desapropriado, encontra-se a cidade de Nova
Ariquemes, planejada para substituir a atual Ariquemes, cujo sítio não
apresenta condições favoráveis de expansão. O plano de urbanização da
nova cidade foi aprovado pela Prefeitura de Porto Velho. Cabe ao INCRA
proceder à transferência da área urbana para a responsabilidade mu-
nicipal.
Embora a situação de todos os ocupantes não esteja ainda regu-
larizada, a área do Projeto se encontra densamente povoada, apresen-
tando características . de uma ocupação pioneira recente, na qual pre-
dominam tapiris, casas de cavaco e · de madeira, freqüentemente . co-
bertas de palhas, e roças, em derrubadas novas, para a implantação
de culturas de subsistência, tais como mandioca, milho e banana.
A partir da balsa do rio Jamari, em direção a Massangana, a cerca
de 9 km do entroncamento da BR-421 com a Cuiabá-Porto Velho, já na
área do Projeto Marechal Dutra, a ocupação se torna mais densa, a
mata se apresenta muito brocada e os ranchos e roças se sucedem até
a boca da estrada que leva à Mineração. Muitos dos ocupantes dessa
faixa têm experiência de cultivo de café, adquirida sobretudo em Minas

45 PAD- Projeto de Assentamento Dirigido.

129
Gerais, Espírito Santo e Paraná, onde residiram antes de se dirigirem
a Rondônia, em busca de novas perspectivas de trabalho.
O cacau e a seringueira, nativos no vale do Jamari, são as culturas
permanentes previstas como principal suporte econômico do Projeto.
A tendência do cacau é a de tornar-se a principal cultura, dentro do
programa do Governo de expansão da cacauicultura em Rondônia. Du-
rante o ano agrícola 1975/ 76 foram plantados. 350 hectares, com assis-
tência técnica da CEPLAC, através de convênio com o INCRA. Em 1977,
o convênio foi de Cr$ 780. 000,00.
Entre as culturas temporárias, o milho foi a que teve maior expres-
são: 2. 926 t produzidas em 1. 524 ha, no mesmo período. O INCRA man-
tém convênio com a ASTER-RO, no valor de Cr$ 1. 250.000,00, para as-
sistência técnica aos parceleiros.
6.1 - CARACTERíSTICAS FíSICAS

A área do Projeto localiza-se na encosta noroeste do Planalto Bra-


sileiro, que se estende a partir do vale do Madeira para o sul, até o
sopé da encÇ>sta norte da chapada dos Parecis e serra dos Pacaás Novos.
Na faixa recoberta pela floresta, aparecem cristas residuais esparsas, do
escudo Pré-Cambriano, apresentando topos aplainados, que formam pe-
quenas escarpas com orientações e linhas de arqueamento estruturais
variadas. Essa área aplainada mergulha sob os terrenos da formação
Barreiras, ao norte, e para o sul eleva-se em direção aos Pacaás Novos.
Afloramentos graníticos são encontrados sob a cobertura florestal,
observando-se, muitas vezes, matacões de tamanhos variados, alguns em
fase de decomposição. A ocupação humana, mais intensa nos últimos
anos, e a abertura de estradas fizeram aparecer grande quantidade
desse material, embutido em matriz arenosa, que constitui restos da
antiga cobertura, hoje em dia muito arrasada.
A faixa do· Projeto que corresponde aos contrafortes da escarpa
norte dos Parecis e dos Pacaás Novos apresenta relevo bastante movi-
mentado. Essa movimentação do relevo se acentua, na margem es-
querda da BR-421, partindo de Ariquemes, do km 17 para o sul, e na
margem direita, do km 36 em direção de Guajará-Mirim.
Apesar do relevo acidentado, particularmente nas áreas referidas,
a malha fundiária foi projetada rigorosamente em lotes retangulares,
com 400 metros de frente por 2. 500 de fundo, orientados respectiva-
mente nos rumos E-W e N-S, acompanhando os azimutes dos caminhos
vicinais. Fazem exceção a essa regra os lotes situados à beira da BR-364,
que ficam dispostos mais ou menos ortogonalmente à rodovia. Desse
padrão imobiliário resultam um habitat linear disperso, do tipo Hufen,
já que são orientados pelas vias terrestres.
A área é drenada pelo rio Jamari, cuja extensão é de 360 km, e
por alguns de seus afluentes da margem direita: Guaimã ou Canaã,
Pardo ou Uruirã, Quatro Cachoeiras, Branco ou São João, Preto do Cres-
po; e da margem esquerda: Massangana, Preto do Candeias, além de
alguns igarapés como o Santa Cruz, Nova Olinda e Boa Esperança. O
Jamari escavou o seu leito a partir da escarpa norte da serra dos Pa-
caás Novos, onde nasce a cerca de 400 m de altitude e se dirige para o
norte, indo desembocar no Madeira. O alto curso do Jamari é interrom-
pido por cachoeiras, ao descair da cota de 300 para 200 e 100 m, ao trans-
por afloramentos graníticos, onde ocorrem jazidas de cassiterita. Nessa
altitude, ao sul do Projeto, encontram-se as cachoeiras do Rafael e de
São Benedito, antes da confluência do igarapé Boa Vista. A partir
daí, em direção ao norte, esse rio volta a cortar áreas graníticas, onde
o leito forma corredeiras, como também a cachoeira do. Samuel, pró-
ximo à sua confluência com o Madeira.

130
6 .2 - VEGETAÇÃO

A área é recoberta por uma vegetação densa, de floresta latifoliada


semidecídua, típica de clima quente com longa estação chuvosa. A mata
apresenta-se heterogênea, com espécies emergentes, de 30 a 40 m de
altura, exceto na faixa da BR-364, onde é constituída por árvores de
troncos finos, dossel mais ou menos uniforme, de aproximadamente
20 metros de altura, raras emergentes, dentre as quais sobressaem o
angelim (Hymenolobi um sp.), o mogno (Swietenia macrophylla, King),
a imburana (Torresia sp.), e a castanheira (Bertholletia excelsa, H.B.
K.), esta de ocorrênCia esparsa. Além dessas, encontram-se, também, o
caucho (Castilloa ulei, Warb.), o cedro (Cedrella sp.), a copaíba (Capai -
fera multijuga, Haynes), e o cacau vermelho (Theobroma sp.). O mogno
e a imburana têm larga aceitação, tanto no mercado interno como para
exportação
Nas áreas que vêm sendo desmatadas, ao longo da BR-421 e onde
já se iniciou o processo de regeneração da mata, há dominância de
duas espécies características: o babaçu (Orbignya speciosa) e a im-
baúba (Cecropia palmata).
Observa-se, ainda, a ocorrência da seringueira (Hevea sp.), que no
passado teve elevado significado econômico para a região, e também do
cacau nativo, este, de forma esparsa, utilizado apenas para uso domés-
tico.
Na faixa do Projeto estudada pela empresa SENSORA 46 segundo o
inventário florestal por ela efetuado, a ocorrência da castanheira é de
0,8 indivíduo por hectare; a do caucho, 1,25, e a da seringueira, 0,5. O
mesmo inventário demonstrou que as espécies mais freqüentes de maior
potencial comercial, são: breu, cumaru, louro, roxinho, tachi, maraca-
tiara, jitó e ipê, apresentando um volume médio de 78 m 3 / ha (qua-
dro 17). O quadro 18 indica o potencial de utilização das espécies co-
mercializáveis, encontradas na área do Projeto.
Quadro 17
RONDôNIA, POLíGONO DE ARIQUEMES. POTENCIAL DE UTILIZA-
ÇAO DAS ESPÉCIES COMERCIALIZAVEIS
CONSTRU-
UTILIZAÇÃO COM- ÇÃO C I VI~ EXPOR- ESTACAS,
CAIXOTARIA MO IRÕES LAM I- MARCE-
NOM E GERAL PENSADO (UTI LIZAÇAO TAÇÃO NADOS
E ESTEIOS NARIA
ESPECIAL)

01. Breu... .. ... . . .. ..... X X X


02. Cedro. . ......... . . . . . X X X
03. Copaíba.. ... .. .. ..... X X
04. Coração de Negro..... X X X
05. Cumaru . . ..• .. . . . ... .. X X X X X
06. Jitó . .. . ............. X X
07. lpê ... ........•. . •. .. • X X X X
08. ltaúba .. .. .... . ... ... . X X X X
09. lmburana...... . .. .... X X
10. Jatobâ ... .... ....•.. .. X X X
11. Louro . ..... . ...... . .. . X X X X
12. Maracatiara .. .... •• . • X X X
13. Roxinho.. ... X X X
14. Tach i. .. .. ........ .. .. X X X
15. Ucuuba .. ........ .. .. . X X X
16. Fari nha Seca ...... ... X X X
17. Tauari. ...... . X X X X
19. Matamatã.. .......... X X X
19 . Sucupira ..... .. .. . .... X X X X
20 . Xuru.. .. ......... X X X

FONTE: SENSORA: Levantamonto de recursos natcrais e diretrizes para co lonização de parte do polígono de Ariquemes, Rondônia, 1977.

46 SENSORA. Levantamento de recursos naturais e di retrizes para coloniza-


ção de parte do polígono de Ari quem es, Rondônia, v. 1. Rio de Janeiro, 1977.

131
Quadro 18
RONDôNIA, POLíGONO DE ARIQUEMES- ESPÉCIES FLORESTAIS DE MAIOR POTENCIAL COMERCIAL

~
CLASSE I CLASSE 11 .CLASSE 11 1

N I v I N
I v N I v I N
I v N I v
I N
I v
1. Breu ... ................. 86 115.2293 4.91 8,5845 80 67.8032 4.57 . 3,8745 7 5,5816 0.4 0,3189
2. Cedro ... . .. . ... ....... .. 8 11,9565 0.46 0.6832 . 1 0.4480 0,06 0,0256
3. Copafba . . . ...... ...... .. 9 14.7415 0.51 0,8424 3 3,8124 0,017 0,2178
4. Coraçã o de Negro ... .. .. 9 21,3109 0,51 1.2182
5. Cumaru .. .. .............. 20 145,7202 1,14 8,3269 1 0.4480 0.06 0,0256
6. Jitó........ ... ..... .. ... 21 44.7970 1,20 2,5598 2 0,11 5,5369 0,3164
7. lpê.................. . . . 30 105,5957 1.71 6,0340 8 9,5429 0.46 0,5453 0,2240 0,08 0.0128
8. ltaúba .. ....... .......... 10 20,7331 0,57 1,1847 4 4.4498 0,23 0,2543 0.4743 0,08 0,0271
9. lmburana .. .... .... ...... 9 37.4403 0,51 2,1394 4 6,2145 0,23 0,3551
10 .Jatobá .. .. ...... .. .. .... 14 53.1333 0,80 3,0362
11. louro ......... .. ......... 36 104,9830 2,06 5.9990 4 3,6316 0,23 0,2075
12. Maracatiara ............. 12 50.9137 0.69 2,9093
13 . Roxinho .... . ........... . 70 243.4938 4,00 13,9139 2 1,0965 0.11 0,0328
14. Ta chi.. . .... .. ..... ... ... 32 72.8148 1.83 4,1608 4 2,9536 0,23 0.1688 1,2303 0,06 0,0703
15. Tauari . .. ........ ... .. .. . 7 65,3023 0.40 3.7316
16 . Ucuuba .... .... . ......... 1 00,592 0,06 0,0491 2 3.8316 0.11 0,2189
17. Farinha Seca ............ 9 9,3459 0,51 0.5340 4 3,5826 0,23 0,2047 2 1,3630 0,11 0,0779
18. Matamatá ............... 10 30,1964 0,57 1.7255 1 1,0164 0,06 0,0533
19 .Sucupira .. .............. 7 26,5228 0.40 1.5156 1 0,7454 0,06 o.om
20. Xuru .......... ... ....... 10 69,8198 0,57 3,9897 2 1,6061 0,11 0.0318
SUB-TOTAL . .... ... .. , ... 410 1244,9175 23.43 71 .1381 123 111,1837 7,03 6,3533 12 8,8732 0,68 0,5070
21. Castanheira .. ... .. . ...... 14 358,5180 0.80 20.4867
22. Caucho .................. 20 47,7096 1,14 2.7263 2 2.1482 0,11 0.1227
23. Seringueira .......... .. . . 8 22,2083 0,4571 1.2690 1 0,8887 0.06 0,8538

SUB-TOTAL ... .. . ........ 42 428,4359 2,40 24,4820 3 3.0369 0.17 0,1735


TOTAL ..... . . .. ..... : .... 452 1673,3534 25.83 95,6202 126 .114.2206 7.20 6,5269 12 8,8732 0,68 0.5070

FONTE: SENSORA, 1977.


N - Número de Individuas. - V - Volume total da amostra em m3 • N- Número Médio de lndivfduos/ha. - V- Volume Médio em m1/ha.
6.3 ·- SOLOS

. O citado estudo çla SENSORA para o INCRA, em 1977, demonstra


que na área do Projeto ocorrem solos de potencialidade bastante va-
riável. Foram identificados e mapeados solos com "B" latossólico: La-
tossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Amarelo; solos com "B' textura:
Podzólico Vermelho-Amarelo e Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico.
Com menor freqüência foram também identifi<;ados solos cambissólicos,
solos litólicos, aluviais, além de afloramentos rochosos.
Apresenta-se, a seguir, uma caracterização sucinta dos tipos de
solos estudados, segundo as unidades encontradas, de acordo com o
referido levantamento.

Latossolo vermelho-Amarelo. Abrange 50 a 70% da área estudada. São solos


minerais, geralmente muito profundos, com pouca diferenciação entre os hori-
zontes A, B e C. Apresentam coloração avermelhada a vermelho-amarelada; são
ácidos e ocorrem sobre rochas gnáissicas, às vezes capeadas por materiais semi-
consolidados do Terciário. São encontrados em áreas de relevo plano -e suave-
mente ondulado, sob floresta subperenifólia. De modo geral, são de fertilidade
baixa a média, mas não apresentam problemas de erosão. Embora reajam bem
à adubação, são quimicamente pobres, mas têm boas propriedades físicas; re-
querem práticas simples de conservação, sempre que utilizados para culturas
adaptadas à região. ·
LV1 - Latossolo vermelho-Amarelo Distrójico. São solos ácidos, com pH in-
ferior a 4,5; com baixa capacidade de troca de bases; apresentam textura argi-
losa e localizam-se em áreas de relevo plano e suavemente ondulado, sob flo-
resta subperenifólia. Esses solos são profundos, bem drenados e desenvolvem-se
sobre gnaisses. Nessa unidade incluem-se os solos cambi.ssólicos e os Podzólicos
Vermelho-Amarelos.
LV! - Latossolo Verrnelho-Amarelo Integrado para Podzólico Vermelho-Ama-
relo. Ocorrem em áreas de relevo ondulado, sob floresta subperenifólia. São pro-
fundos, muito bem drenados e apresentam horizontes A, B e C pouco diferen-
ciados.
LV ~ - Latossolo Vermelho-Amarelo Intermediário para Podzólico Vermelho-
Amarelo. Geralmente são solos profundos, bem a excessivamente drenados, com
horizontes A, B e C pouco diferenciados. Apresentam textura média a argilosa;
são encontrados em zonas de relevo ondulado. Quando associados à Laterita Hi-
dromórfica, ocorrem em áreas de relevo suavemente ondulado a ondulado, mas
sempre sob floresta subperenifólia. As características morfológicas desses solos
são semelhantes às da Unidade LV,, diferenciando-se, apenas, por ocuparem
.á reas de relevo suavemente ondulado a ondulado e apresentarem freqüente-
mente concreções lateríticas no horizonte BH, na altura de 120 em. O pH varia
de 4,2 a 5,4 no horizonte A, aumentando ligeiramente nos demais. Dentro dessa
unidade ocorrem solos de laterita hidromórfica, numa proporção de 20 a 30%,
os quais ocupam principalmente as vertentes.

LV11 LV! , LV 8 • Esses solos abrangem um total de 22.385 ha, ou seja, 14,05%
de área estudada pela SENSORA.
LA - Latossolo Amarelo Distrótico. Os solos dessa unidade apresentam tex-
tura argilosa, perfis profundos e porosos. São bem a excessivamente drenados e
ocorrem sobre sedimentos semiconsolidados do Terciário, em áreas de relevo
plano a suavemente ondulado, sob cobertura de floresta subperenifólia. Os hori-
zontes A, B e C são pouco diferenciados do ponto de vista morfológico. Têm
consistência dura quando secos, friáveis quando úmidos, pegajosos e plásticos
quando molhados. Ocasionalmente apresentam concreções lateríticas de 80 a
100 em de profundidade. Dentro da unidade ocorrem, como inclusões, solos das
unidades Latossolo Vermelho-Amarelo e Laterita Hidromórfica. Os Latossolos
Amarelos têm características morfológicas semelhantes às do grupo anterior, mas
apresentam elevado teor de alumínio trocável e baixa fertilidade. São, também,
pouco suscetíveis à erosão e requerem, como os primeiros, práticas simples de
~onservação. Esses solos correspondem a 9. 251 ha, perfazendo, apenas, 6% da
area levantada.

133
Solos com "B" Textura! não Hidromórficos abrangem :
PV, - Podzólicos Vermelho-Amarelos. Têm horizontes A, B e c bem dife-
renciados. São ácidos, com pH em torno de 5, apresentam teores baixos de
cálcio e magnésio. Ocorrem em áreas de relevo suavemente ondulado, sob flo-
resta subperenifólia. Encontram-se associados aos Latossolos Vermelho-Amarelos.
PV, - Prodzólico Vermelho-Amarelo com Cascalhos. São solos minerais bas-
tante drenados, com pH em torno de 4,5; desenvolveram-se a partir de rochas
intrusivas de cristais porfiróides. Os horizontes A e B são bem diferenciados,
sendo que o A apresenta textura arenosa e grosseira, e o B textura franca argila-
arenosa a argilosa.
PV, - Podzólico vermelho-Amarelo. Os perfis desses solos são semelhantes
aos descritos nos PV1 e PV 2 ; diferenciam-se, porém, por ocupar áreas de relevo
movimentado. Desenvolveram-se sobre rochas intrusivas graníticas e diversos
tipos de gnaisses. Essa complexidade litológica está relacionada com o relevo e
com o tipo de cobertura vegetal. Nesta unidade ocorrem como inclusões solos
cambissólicos e litólicos, que geralmente se localizam em zonas de declives pro-
nunciados.
PV, - Podzólico vermelho-Amarelo Distrójico, fase pedregosa. Constituem
uma variação dos Podzólicos. Caracterizam-se pela presença de pedras, matacões
e outros tipos de afloramentos rochosos. Formaram-se a partir de rochas intru-
sivas e gnáissicas, que ocupam relevo predominantemente suave e ondulado.
· Laterita Hidromórjica associada a Podzólico Vermelho-Amarelo. São solos
mal drenados, rasos e medianamente profundos, com horizonte A bem diferen-
ciado, textura arenosa ; o horizonte B apresenta textura argilosa.
PV, - Podzólico Vermelho-Amarelo + Laterita Hidromórjica Distrójica.
Ocorre em relevo suave ondulado e floresta subperenifólia.
PV, - Tem as mesmas características da unidade anterior, porém ocorre
em áreas de relevo suavemente ondulado .e ondulado, sob floresta subpereni-
fólia.
Em geral os solos Podzólicos Vermelho-Amarelos apresentam fertilidade mé-
dia a baixa, são pouco profundos e facilmente sujeitos à erosão, o que traz
como conseqüência a necessidade de utilização de práticas conservacionistas, às
vezes intensivas, de acordo com as áreas onde estejam localizados. Os sucessivos
desmatamentos e queimadas tendem a provocar a degradação acelerada desses
solos, sobretudo quando ocorrem associados à Laterita Hidromórfica. Devem ser
usados com o devido cuidado para culturas permanentes adaptáveis à região,
desde que tal medida seja acompanhada de práticas intensivas de conservação.
Esses solos, em conjunto (PV1 , PV 2 , PVR, PV4 , PV5 e PV6 ) somam 54.468 ha, o
que corresponde a 36,24% da área estudada.
Podzólico Vermelho-Amarelo Equivalente Eutrójico + Terra Roxa Estruturada
Similar Eutrójica PE. Esses dois tipos de solos desenvolveram-se sobre rochas in-
termediárias e básicas. São bem drenados e medianamente profundos. É comum
encontrarem-se pedras soltas nos perfis. Ocorrem também matacões e outros
afloramentos rochosos, o que dificulta o uso de implementas agrícolas. O pH no
horizonte A varia de 4,6 a 6,0, decrescendo ligeiramente nos demais. Os solos do
grupo Podzólico Vermelho-Amarelo Equivalente Eutrófico em associação à Terra
Roxa Estruturada Similar apresentam fertilidade média a alta e são suscetíveis
à erosão. Ocorrem em relevo movimentado, o que vai indicar o tipo de práticas
conservacionistas intensivas ou simples, quando utilizados para cultivos perenes
ou anuais, adaptados à região. O cacau nativo ocorre na Terra Roxa Estruturada,
enquanto a seringueira cresce no Podzólico Vermelho-Amarelo Equivalente Eu-
tráfico. Esses dois tipos de solos alcançam apenas 7% da área estudada, ou seja,
10 . 677 ha.
Solos com "B" Incipiente (Câmbico) abrangendo os solos Cambissólicos.
São pouco ou medianamente profundos; têm o horizonte "B" incipiente e pre-
sença de minerais primários em decomposição; desenvolveram-se sobre rochas
graníticas e diversos tipos de gnaisses, ocupando relevo desde suave a forte-
mente ondulado, em áreas de floresta subperenifólia. Ocorrem em associação
com solos Podzólicos e Litólicos. Os solos Cambissólicos, de modo geral, são pouco
profundos; apresentam média a alta fertilidade natural e necessitam práticas
intensivas de conservação, quando cultivados. São mais indicados para culturas
perenes adaptáveis à região. Ocorrem freqüentemente em áreas de relevo decli-

134
voso, ou pedregoso, apresentando, às vezes, matacões. Abrangem 22.630 ha, o que
corresponde a 14% da área levantada.
Solos pouco desenvolvidos, compreendendo os AE-Solos Aluviais. Deseiwol-
vem-se a partir de materiais recentes depositados pelos rios, em cujas margens
estão localizados. Ocupam pequenas áreas, sujeitas a inundações na época das
chuvas. Ocorrem em relevo plano, com cobertura de floresta perenifólia. Nesses
solos encontram-se concreções lateríticas e gleização. Os Solos Aluviais gleiza-
dos em maior ou menor grau ocorrem em pequenas manchas. Podem ser utili-
zados sem restrições, salvo nas zonas sujeitas a inundações ou onde aparecem
concreções ou camadas de laterita; nesses casos, requerem prática simples de
conservação. O AE corresponde a 0,38 % da área estudada e abrange 609 ha.
Solos Litólicos RE. Formaram-se a partir de rochas do Pré-Cambriano, intru-
sivas e gnáissicas. Localizam-se em relevo montanhoso a fortemente ondulado,
em encostas íngremes. A floresta que aí existe é do tipo subcaducifólia. A fer-
tilidade dos solos Litólicos é bastante variável, e, uma vez retirada a cobertura
natural, sofrem intensa lixiviação e são rapidamente erodidos.· Nessas manchas
deve ser mantida a vegetação original; semente em casos especiais esses solos
poderiam ser utilizados para culturas permanentes adaptadas à região. Abrangem
23 . 250 h a, compreendendo 16% da área estudada.

A classificação dos solos encontrados na faixa da BR-421 e a des-


crição das formas de relevo a eles associados põem em evidência a
irracionalidade da malha fundiária tão rigorosamente geométrica deste
Projeto de Assentamento Dirigido. É óbvio que, se a topografia fosse
plana e os solos geralmente férteis, a demarcação dos lotes poderia
ignorar os pormenores dos acidentes do terreno. Não é esse, porém, o
caso; daí ter o citado relatório da SENSORA proposto um padrão di-
ferente de organização do espaço, que será discutido no final deste ca-
pítulo sobre Colonização.
O único fator que parece amplamente difundido, a ponto de não
levantar preocupações, quanto à sua futura distribuição pelos lotes co-
loniais, é a drenagem. Por motivos de generalização, os mapas que ilus-
tram o presente relatório não representam toda a densa rede de rios
e igarapés. Não existe, portanto, um problema de acesso à água, na
quase totalidade dos lotes dos Projetos implantados pelo INCRA.

6. 4 - EDUCAÇAO E SAúDE

O programa educacional foi iniciado há pouco mais de um ano,


com a implantação do Projeto. Existem 15 professores, entre normalistas
e leigos, que se distribuem em 17 escolas, das quais 8 são definitivas
e 9 ainda funcionam em prédios de construção provisória. O total de
alunos matriculados em 1977 é de 721, e o ensino ministrado abrange
as quatro primeiras séries do primeiro grau. Em Ariquemes há uma
escola de primeiro e segundo graus, da Secretaria de Educação do Ter-
ritório, com cerca de 600 alunos em todas as séries.
Apesar da precariedade dos serviços de saúde, a SUCAM e a Fun-
dação SESP prestam assistência aos parceleiros. Os casos graves são en-
caminhados a Porto Velho e, se necessário, a centros maiores. Para
transporte de enfermos, o Projeto dispõe de uma ambulância.

6. 5 - VIAS DE ACESSO E PERSPECTIVAS DE MERCADO

Do ponto de vista da localização, o Projeto detém posição muito


favorável, pois é cortado por duas rodovias federais, a BR-421 e a
BR-364, e pela R0-01 que, ao entroncar-se com as duas primeiras na
altura de Ariquemes, permitirá a ligação dos vales do Jamari e do

135
Ji-Paraná ou Machado, atingindo também a reserva biológica do Jaru
e a fronteira com o Estado de Mato Grosso, em direção a Aripuanã.
O traçado da BR-421 se estende no sentido SW, desde Ariquemes,
na BR-364, até Guajará-Mirim. A conclusão dessa rodovia, cujos pri-
meiros 49 km se localizam em terras do Projeto, permitirá a ligação
direta do oeste do Território, mais especificamente do vale do Mamoré
com a Cuiabá-Porto Velho e, portanto, com o Sudeste, sem se passar por
Porto Velho.
Constituindo hoje o mais importante eixo de circulação do Terri-
tório, a BR-364 atravessa o Projeto no sentido NW-SE e permite o escoa-
mento da produção local para Porto Velho, 194 km ao norte; para Rio
Branco, a 602 km; para Manaus, pela BR-319, e também para os mer-
cados do Sudeste.
Além dessas rodovias, o Projeto conta com 330 km de estradas vici-
nais abertas, às quais devem somar-se 102 km em construção. Quando
forem concluídas, o Projeto contará com 1. 078 km de estradas próprias,
cuja principal finalidade é permitir o escoamento da produção local e,
ao mesmo tempo, a intercomunicação entre as 3 . 858 parcelas em que
a área está dividida.
O significado da BR-421 como eixo de penetração do povoamento
tornou-se de tal ordem que o INCRA se apressou em fazer estudar a
faixa de terras por ela servida, a fim de disciplinar a sua ocupação, evi-
tar conflitos e assegurar aos lavradores o acesso e a fixação em lotes
rurais.

136
Capítulo 7 -PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
JI-PARANA (PIC)

Localizado no vale do Ji-Paraná, área de extrativismo tradicional


no Território, o Projeto, hoje com 429.355 hectares, abrange terras que,
no passado, integravam os seringais Vista Alegre, Cacoal, Pirarara,
Riozinho, Fortaleza, Alcântara 1. 0 , 2. 0 e 3.0, Tatu, Prosperidade e parte
da fazenda Castanha!.
Para acelerar a execução do Projeto, a área foi dividida em glebas,
que recebem no local a denominação de setores, em número de cinco:
Ji-Paraná, o mais antigo, Rolim de Moura, Abaitará (fig. 34), Tatu

F!g. 34 - Caminho viclnal no Setor Abaitará do PIC Ji-Paraná. Notar as parcelas recém-des-
bravadas e o relevo ondulado.
Foto INCRA - Setembro de 1975

137
e Prosperidade. Uma área da ordem de 400.000 ha, contígua ao PIC 47,
foi liberada pela FUNAI e está sendo transcrita em nome da União.
Nela se localiza o setor Projeto Novo, denominação dada pelos próprios
ocupantes e que se ajusta à realidade, pois constitui área de expansão
do PIC.
O setor Ji-Paraná, área inicial do Projeto, começou a ser implan-
tado em 1972, à margem direita do rio Ji-Paraná e da BR-364. Recen-
temente, foi anexada ao PIC a gleba Tatu, com 31.358 ha, que estava
inserida no perímetro da área de licitação Corumbiara. Hoje, o PIC
se estende pelas margens da BR-364, num percurso de 47 km (km 455 a
502) em direção a Porto Velho.

7 .1 - ASPECTOS FíSICOS

A área é banhada pelo rio Ji-Paraná ou Machado e por vanos de


seus afluentes, como o Rolim de Moura, que dá o nome a um dos se-
tores ou glebas do PIC, o Luiz d'Alincourt, o Luiz de Albuquerque, pela
margem esquerda, e, pela direita, o igarapé do Encontro e o rio da
Pedra Branca, que atravessam o setor Ji-Paraná.
A parte sul do Projeto apresenta relevo mais movimentado, com
altitudes em torno de 300 metros, correspondente aos contrafortes da
escarpa norte da chapada dos Parecis. A altitude média da área do
PIC é de 220 m.
No que se refere à disponibilidade de recursos hídricos, o balanço
efetuado pelo IPEAN, segundo o método de Thornthwaite, demonstrou
haver na área um excedente anual de cerca de 814 mm, no período de
novembro a abril, e uma deficiência de 83 mm, nos meses de maio
a setembro.
O estudo de solos realizado pelo IPEAN para o INCRA, 48 cobriu
pouco mais de 100 km ao longo da BR-364, entre os km 428 e 534,
além de ramais de exploração de madeira com até 10 km de extensão.
Foram identificadas, então, várias unidades fisionômicas, relacionadas
principalmente com o relevo e a vegetação, as quais são a seguir sucin-
tamente caracterizadas.
7 .1 .1 - Area de floresta tropical subperenifólia
Constitui uma das unidades fisionômicas do Projeto uma área de
relevo suavement e ondulado, com vegetação deruia de grande porte
(tropical subperenifólia), que apresenta vales abertos, no trecho com-
preendido entre o povoado Riozinho e o Seringal 12.
O mapa geológico executado pela FAO, em 1965, mostra que esta
área pertence ao Cambro-Ordoviciano, Série Araras, com ·ocorrência de
dolomita, rochas calcárias e sedimentos detríticos finos. Rochas do
;J?ré-Cambriano (CB) de várias texturas foram também encontradas,
bem como afloramentos de quartzo leitoso, rochas ígneas básicas e in-
termediárias, como diabásio e grano-diorito, respectivamente.
Na cobertura vegetal densa, com árvores de grande porte, sobres-
saem as castanheiras (Bertholletia ex celsa). Na maioria das manchas
de terra roxa se encontram cacauais nativos no sub-bosque.
Os tipos de solos encontrados nessa área, segundo a ordem de pre··
dominância, são os Podzólicos Vermelho-Amarelos, Eutrófico e Distró-
fico; o Latossolo Vermelho-Amarelo, textura média; a Terra Roxa Estru-
turada Eutrófica, além de Hidromórficos indiscriminados. Esses tipos
47 P IC - P rojeto Integrado de Coloniza çã o.
48 Solos da área ão PIC Ji -Paraná. Belém , IPEAN, 1973 .

138
são descritos a seguir, de acordo com o estudo realizado pelo IPEAN
(ref. 43):
a) Podzólico vermelho-Amarelo Eutró!ico. Esses solos são profundos, com
o horizonte A moderado, dotado de textura franco-argila-arenosa e franco-are -
nosa, com estrutura pequena e média, em blocos subangulares. O horizonte B
apresenta textura argilosa, estrutura fraca, pequena e média, em forma de bloco
subangular. Quando úmidos, esses solos· têm consistência friáv-el a firme, e quan-
do molhados são plásticos e ligeiramente pegajosos.
Quanto à fertilidade, apresentam teores baixos de fósforo assimilável, mé-
dios e baixos de nitrogênio assimilável, médio, médio-alto e alto de potássio, e
de cálcio e magnésio. O alumínio trocável apresenta valores baixos e médios.
O pH varia de fortemente· ácido a moderadamente ácido.
As áreas onde ocorre esta unidade podem ser utilizadas com culturas anuais
adaptadas às condições locais, pelo emprego de algumas práticas agrícolas espe-
ciais, dependendo das exigências de cada cultura, bem como de adubação fos-
fatada, da qual esta unidade é carente. Foram encontrados em algumas faixas
cultivos itinerantes de arroz, milho, feijão e cana-de-açúcar. A pimenta-do-reino
poderá ser indicada como cultura econômica, necessitando, no entanto, de adu-
bação adequada e de práticas especiais exigidas por esta lavoura. Também a
exploração da seringueira poderá ser efetuada em áreas onde houver a devas-
tação da floresta.
No vale do Ji-Paraná, onde se localiza o Projeto, o cacau é nativo, apresen-
tando ótimas possibilidades de exploração econômica, em decorrência das con-
dições climáticas e pedológicas observadas.
b) Podzólico Vermelho-Amarelo Distrójico. Esta unidade ocorre também
em glebas já cultivadas com lavouras anuais e semiperenes. Apresenta solos de
classe textura! média, com estrutura, profundidade e drenagem satisfatórias. A
fertilidade química natural é baixa com pH variando de excessivamente ácido
a fortemente ácido, evidenciada pelos baixos valores de soma de bases permu-
táveis e da saturação de bases permutáveis, representada pelos teores de ele-
mentos químicos necessários ao desenvolvimento das plantas. As deficiências quí-
micas desses solos podem ser compensadas pelo emprego de corretivos e ferti-
lizantes, porém suas características físicas são boas.
Quando de sua utilização, deverão ser observadas práticas de conservação
e de combate à erosão, principalmente levando-se em conta o relevo e a textura
dos mesmos. Poderão ser implantados nesses solos sistemas racionais de reflo-
restamento e de formação de pastagens. Na implantação de culturas de subsis-
tência, dever-se~á levar em conta a necessidade de utilização de corretivos e de
práticas adequadas de manejo.
c) Latossolo Vermelho-Amarelo, textura média. Estes solos estão associa-
dos a Areias Quartzosas Vermelhas e Amarelas Dístróficas, que ocorrem como
inclusão na área estudada. São solos profundos, com seqüência de horizontes A,
B e C. O horizonte A apresenta-se fraco a moderado, de textura arenosa e
franco-arenosa, enquanto o horizonte B latossólico, de textura franco-argila-
arenosa e argila-arenosa leve. Quanto à consistência, quando úmido é friável, e
quando molhado torna-se ligeiramente plástico e pegajoso. Apesar de serem do-
tados de boas propriedades físicas, esses solos apresentam fertilidade natural
baixa, evidenciada pelos valores modestos em bases permutáveis. São muito sus-
ceptíveis à erosão, devido apresentarem textura média, em relevo suave ondu-
lado. São excessivamente ácidos, apresentando um pH de 3,9. É aconselhável
utilizá-los para culturas permanentes, desde que indicados para as condições
ecológicas da área, objetivando programas de reflorestamento, ou então a for-
mação de pastagens. .,
Para as culturas de subsistência, torna-se necessária a aplicação de fertili-
zantes e corretivos, bem como o emprego de práticas racionais de manejo do
solo para controle da erosão, visando principalmente à obtenção de boas co-
lheitas.
d) Terra Roxa Estruturada Eutrójica. Os solos que constituem esta uni-
dade pedogenética são férteis, originados de rochas básicas e dotados de elevado
teor de ferro. Possuem coloração vermelha, com pouca variação entre os hori-
zontes, e perfis bem diferenciados de seqüência A, B e C, cuja profundidade atin-
ge aproximadamente dois metros. Ocorrem em áreas de floresta tropical subpe-
renifólia. Os valores de pH oscilam de 5,6 (medianamente ácido) a 6,4 (ligeira-
mente ácido), evidenciando índices de acidez situados numa faixa ótima para o
desenvolvimento da maioria das culturas.
Quando explorados intensivamente, esses solos terão que ser submetidos a
técnicas especiais, visando ao manejo adequado e à sua conservação. Evitar-se-á,
assim, o desgaste e o arraste das camadas superiores pelas águas pluviais. Po-

139
derão ser utilizados com culturas de subsistência, como feijão, milho, arroz e
hortaliças, além de outras que, pela correção da deficiência de fósforo, tenham
condições ótimas de desenvolvimento, e também com culturas perenes, como por
exemplo, o café e o cacau. '
e) Solos Hidromórjicos Indiscriminados. Ocorrem em áreas relativamente
pequenas, que constituem os vales onde estão localizados os cursos d'água perma-
nentes e temporários. Apresentam perfis pouco desenvolvidos, principalmente por
serem solos dotados de drenagem deficiente. Seu uso agrícola é restrito devido à
pequena extensão de sua área de ocorrência, como, também, pela drenagem im-
perfeita, fator este limitante ao bom desenvolvimento da maioria das culturas.
7.1 . 2 - Area de floresta tropical subcaducifólia
Trata-se de área praticamente plana a suavemente ondulada, com
vegetação pouco densa e de médio porte (floresta tropical subcadu-
cifólia). lÉ constituída, provavelmente, por sedimentos detríticos do
Pré-Cambriano, com ocorrência de rochas metamórficas, aflorando
gnaisses. Encontram-se nessa área espécies retorcidas de cerradão e
algumas Párkias, e, nas faixas mais úmidas, a bananeira brava.
Os tipos de solos encontrados nessa categoria de área são o La-
tossolo Vermelho-Amarelo, textura média (já caracterizado anterior-
mente), o Concrecionário Laterítico e as Areias Quartzosas Vermelhas
e Amarelas Distróficas. O estudo do IPEAN, já citado (ref. 43), descreve
os dois últimos tipos da maneira abaixo transcrita:
Concrecionário Laterítico. Comoreende solos de nrofundidade média, apre-
sentando perfis de horizontes do Üpo Acn e Ben, constituídos de partículas
finas e concreções lateríticas, de diversas formas e diâmetros, em torno de 2
em na maioria delas.
As análises de fertilidade revelaram teores baixos de fósforo, cálcio + mag-
nésio e nitrogênio, enquanto que os teores de potássio apresentam-se médios-
altos. São solos excessivamente ácidos, variando de 4,1 a 4,8 o pH.
A utilização agropecuária é limitada pela presença de grande quantidade de
concreções lateríticas ferruginosas, que dificultam o desenvolvimento normal do
sistema radicular das plantas, assim como o uso de máquinas agrícolas.
Ocupam restritas extensões, estando localizadas em geral no topo das pe-
quenas elevações; podem ser utilizados como reserva florestal ou para a formação
de pastagens, em função do próprio sistema radicular das gramíneas.
Areias Quartzosas Vermelhas e Amarelas Distrójicas. Ocupam pequena ex-
tensão, e estão associadas ao Latossolo Vermelho-Amarelo de textura média. São
solos muito pel'meáveis, com teor de argila que não ultrapassa 17%; possuem
coloração vermelho-amarelada e transição difusa entre os horizontes. São friá-
veis quando úmidos e não pegajosos quando molhados.
Esses solos são muito arenosos, de baixa fertilidade natural, evidenciada pelos
teores baixos das bases permutáveis. A acidez é bastante acentuada (de 4,0 a
4,2) . Trata-se de solos muito suscetíveis à erosão, por causa de sua textura
arenosa. Poderão ser utilizados para culturas perenes e de ciclo curto, desde
que seja feita a aplicação adequada de fertilizantes e corretivos, bem como a
adoção de técnicas racionais de manejo, objetivando controlar a erosão e a in-
tensa lixiviação.
As áreas de ocorrência desta unidade devem ser preferencialmente mantidas
nas condições naturais e como reserva florestal.
7.1.3- Area de cerrado
Outra unidade fisionômica compreende área praticamente plana e
suavemente ondulada, com vegetação de cerrado. O relevo apresenta
pequenas ondulações, dissecadas por vales estreitos, em forma de V. Per-
tence ao Mesozóico Indiviso, Série Parecis, com afloramento de arenito 40 •
Foi verificada a existência de siltito e folhelho, provavelmente perten-
cente ao Permiano.
A vegetação é de campo cerrado ou cerrado, constituída de gra-
míneas, ciperáceas e arbustos retorcidos, principalmente lixeira (Cura-
tella americana).

411 FAO. Mapa geológico, 1965.

140
Os tipos de solos encontrados nesta unidade são os Hidromórficos
Indiscriminados, descritos anteriormente, que ocorrem em menor escala,
e Lateritas Hidromórficas, cuja caracterização pelo IPEAN (ref. 43) é
reproduzida a seguir:

Lateritas Hidromórjicas de textura indiscriminada. Ocorrem em menor pro-


porção nas cotas mais baixas da área suavemente ondulada a praticamente pla-
na, sob vegetação subcaducifólia. Essa faixa é constituída de solos pouco desen-
volvidos e imperfeitamente drenados, característica esta evidenciada pelo enchar-
camento do perfil na época mais chuvosa do ano.
São solos ácidos e de baixa fertilidade natural; a drenagem é imperfeita
com oxidação do lençol freático até quase a superfície, na época de maior queda
pluviométrica do ano. Apesar das limitações de drenagem e de fertilidade, eles
podem ser utilizados, desde que sejam adotadas técnicas modernas e racionais
de cultivo e de manejo. Por isso, devem .ser implantadas culturas adaptáveis às
condições existentes de excesso de umidade como, por exemplo, a do arroz; ser-
vem, também, para a formação de pastagens.

Como se depreende pela síntese apresentada do estudo do IPEAN,


os solos do Projeto Ji-Paraná, de maneira geral, possuem drenagem ím-
perfeita e baixa fertilidade natural, mas permitem a implantação de
culturas perenes e temporárias, com uso de fertilizantes e corretivos, e
de técnicas racionais de manejo; isto se recomenda principalmente,
para aqueles solos que ocorrem em parte dos setores Rolim de Moura
e Abaitará, os quais são recobertos por uma camada de folhelhos e de
sedimentos arenosos, com exceção dos solos "Terra Roxa Eutrófica Tro-
pical subperenifólia de relevo ondulado".

7.2- ASPECTOS ECONôMICOS

Não dispondo inicialmente o INCRA de um estudo pedológico da


área do PIC para o ano agrícola 1973-74, foi programada a introdução
de culturas de subsistência, em 4 ha por parcela sendo 2 ha para arroz
e 2 ha para milho. O levantamento pedológico efetuado pelo IPEAN
teve a fi]lalidade de facilitar a escolha de culturas permanentes para
a área, mas, na realidade, elas só vieram a ser introduzidas durante o
ano agrícola 75/76, com o cacau, o café e a banana.
Como em outros Projetos do INCRA, em Rondônia, a bananeira
é plantada para sombreamento do cacau, com orientação da CEPLAC
e normalmente começa a produzir no final do primeiro ano de plantio.
No entanto, em Rondônia, quando a bananeira começa a frutificar,
de modo geral, o cacau já não necessita do seu sombreamento. Seria
portanto este o momento de serem cortfl,dos os bananais. Tal fato, po-
rém, não ocorre muito freqüentemente, porque o parceleiro quase sem-
pre se opõe a eliminar a bananeira em fase de produção; com tal atitude,
prejudica o desenvolvimento dos cacauais.
Para evitar o problema da relutância do parceleiro, a EMBRAPA
vem efetuando pesquisas no PIC Ouro Preto, no sentido de substituir
a bananeira pela mandioca, no sombreamento dos cacaueiros. Neste
caso, o plantio da mandioca e do cacau é realizado em época apropriada,
de tal forma que a colheita da mandioca ocorra na fase em que o
cacaueiro já não exige sombreamento. Se os experimentos iniciados
com a mandioca derem o resultado desejado, o parceleiro terá uma
renda complementar com a venda do produto in natura ou beneficiado.
Isso viria a reduzir, em parte, os custos de produção da cacauicultura.
Com a banana, a renda complementar do parceleiro é mínima ou
inexistente, uma vez que ele deve eliminar os bananais antes de ini-
ciarem a produção.

141
Apesar de a área do PIC estar situada fora daquela em que atua
o IBC (Instituto Brasileiro do Café) , a cultura do café vem-se desen-
volvendo no PIC, com a assistência técnica da ASTER-RO, mediante
convênio com o INCRA. A comercialização é feita em parte pela Coope-
rativa Agrícola Mista de Ouro Preto (CAMOP) e, em parte, diretamente
pelos parceleiros, através de intermediários.
O quadro 19 mostra a área cultivada e a produção obtida no PIC
no período 1973-77. Quanto à pecuária, havia neste último ano, se-
gundo dados da Divisão Técnica Territorial de Rondônia, 5. 037 bovinos,
18.711 suínos e cerca de 100 mil aves, além de pequenos números de
caprinos, ovinos e animais de trabalho.
O crédito concedido no primeiro semestre de 1977, alcançou ....
Cr$ 2. 790.000,00 através de agências do Banco do Brasil situadas fora
da área do PIC, para compra de moto-serras. Além disso, o INCRA
forneceu recursos no valor de Cr$ 271.000,00 para atendimento médico
e hospitalar das famílias.
A fim de solucionar o problema de transporte da produção no
Projeto, há necessidade de se estudar uma forma de financiamento para
compra de carroças e animais de tração. Tal medida facilitará a reti-
rada da produção dos colonos, prejudicada principalmente na época
das chuvas, dando-lhes mais fácil acesso às estradas principais, sobre-
tudo à BR-364.

7 .3 - VIAS DE ACESSO

A área é servida pela BR-364, com boas condições de tráfego na


época da estiagem, permitindo então fácil escoamento da produção para
os mercados de Porto Velho e do Sudeste do país.
O Projeto possui 690 km de estradas vicinais com pista de rola-
mento de 6 metros de largura e uma pista de pouso em Riozinho, nú-
cleo urbano a 10 km da sede do PIC. Os parceleiros colaboram na
recuperação de estradas, fornecendo o combustível para a maquinaria
empregada, de propriedade do Projeto.

7 .4 - ASSENTAMENTO

Na fase inicial do Projeto foram assentadas 1. 000 famílias, entre


as quais incluem-se as 350 que já ocupavam as áreas de Vista Alegre
e Cacoal, antes da implantação do PIC.
O aumento do fluxo migratório nos últimos anos, à procura de
terras e sua concentração desordenada na zona de Cacoal, acarretou
para a administração do Projeto problemas de difícil solução, quanto
à identificação e seleção de parceleiros, principalmente nas áreas dos
novos setores Prosperidade, Tatu e Proj eto Novo. Caso seja solucionado
o problema, relativo à incorporação de uma área da FUNAI, será regu-
larizado o assentamento de mais 600 famílias.
. Até agosto de 1977 foram instaladas 4. 624 famílias em suas par-
celas, num total de cerca de 23 .120 pessoas.

7.5 - NúCLEOS URBANOS

Localizam-se na área do PIC Ji-Paraná sete núcleos urbanos, dentre


os quais dois se destacam pela sua importância para a faixa da BR-364:
Cacoal e Pimenta Bueno, este no limite leste do Projeto.

142
Quadro 19
PIC JI-PARANA- AREA CULTIVADA E PRODUÇÃO AGRíCOLA -
1973-77.

PRODUÇÃO
ÁREA CULTIVADA (h a)
CULTURAS Quantidade (t) Valor (Cr$)

1973/74 1975/76 1976/77 1973/74 1975/76 1976/77 1973/74 1975/76 1976/77


I I I I I I
TEM PORÁRIAS
Arroz .. . 2 250 19 453 8 867 4 050 37 320 10 808 2 673 000 52 248 000 19 454 400
Mi lho . . . 1 950 6 950 5 739 3 510 13 344 5 254 1 298 700 7 872 960 4 834 250
Feijão .. . 406 3 000 6 607 414 2 520 2 357 476 238 5 065 200 8 285 628
Mandioca . ... .. . .. • • • • • • • • • • • • • o • 487 829 81 166 4 618 8 928 260 1 062 140
Algodão . . . . . .. ···· ··· ···· ·· ···· ····· 103 23 1 231 75 0

PERMANENTES
Banana (2) .. . ..... .. .. .. .. . . . . 1 500 1 293 510 000 154 216 32 640 000 9 869 824

Cacau (3). 76 1 140 4

Café . .. 3 891 3 224 331 255

FONTES: INCRA, Divisão Territoria l Técnica de Ron dônia, 1976/77.


INCRA na Amazônia Oc idental; conquistando. humanizando, 1974.
1) Omite·se o ano agrícola 1974/75, por fa lta de dados confiáveis.
2) Cachos.
3) Dados da CEPLAC, 1978 .
7 . 5 .1 - Cacoal
A origem de Cacoal .se vincula a uma fazenda de 1 . 002 ha, com
igual nome, a qual servia como ponto de referência e também de parada
para as pessoas que pretendiam obter uma parcela no Projeto Ji-Paraná,
ou em outras áreas do INCRA.
Em virtude de sua localização, à margem da BR-364 e muito pró-
xima à sede do PIC (fig. 35), a localidade cresceu muito rapidamente,
embora de forma desordenada, a partir da rodovia. A pouca declividade
do terreno facilitou o estabelecimento de um traçado em xadrez, de
formato mais ou menos regular.
De acordo com dados da SUCAM, de 1976, o núcleo urbano conta
com população de 10.455 habitantes, e deve ser transferido pelo INCRA
para o âmbito do Governo do Território, uma vez que em outubro de
1977 toda a área, incluindo a do PIG Ji-Paraná, passou a constituir o
município de Cacoal.
Funcionam na sede dois hospitais particulares, com o total de 34
leitos e 5 médicos, um posto médico da Fundação SESP, escola de 1. 0
grau, além de pequenas indústrias do beneficiamento de produtos agrí-
colas, uma agência bancária (BRADESCO), escritórios de prestação de
serviços, de contabilidade e um comércio bastante desenvolvido para seu
porte. A influência urbana se estende não só ao PIC, como também
às áreas de regularização fundiária localizadas nas circunvizinhanças, e
à gleba Corumbiara, que foi objeto de licitação pelo INCRA, e limita
ao sul com o Projeto Ji-Paraná.
Com a vida urbana típica de um núcleo de região agrícola pionei.ra,
Cacoal reflete fielmente a pulsação das atividades rurais de sua área
de influência. Na época das chuvas, a circulação pelas estradas se in-
terrompe. O tráfego chega a cessar até na BR-364. Em conseqüência,
os estoques de mercadorias se esgotam nas casas comerciais de Cacoal;
a especulação se torna então desenfreada. Em artigo publicado na im-
prensa do Rio 50 um repórter informou que "um quilo de açúcar cristal
chega a Cr$ 30,00; uma lata de óleo, a Cr$ 50,00; sal, a Cr$ 15/ 20 o
quilo". Por seu turno, o colono fica impedido de escoar sua produção
e, por isso, não ganha dinheiro. A agência bancária local não tem car-
teira de empréstimos agropecuários. O resultado é um endividamento
de tal ordem que talvez não possa ser liquidado na estiagem seguinte.
Não será essa uma das causas da relativa instabilidade dos par-
celeiros? O problema fica em aberto; somente uma pesquisa econômica
e social mais profunda poderá equacioná-lo.
Durante a estação seca, a poeira é um tormento. Muito pior que
ela é, entretanto, a falta d'água. Os poços secam, e a cidade passa
a ser abastecida por carroceiros, que vão buscá-la num ribeirão. Se-
gundo o citado repórter, um tambor de 200 litros de água chega a
custar em Cacoal até Cr$ 20,00. Se eles resolvem não trabalhar, a si-
tuação se torna aflitiva.
Outros aspectos puramente sociais denunciam o caráter pioneiro
do aglomerado de Cacoal como, por exemplo, a insegurança. O poli-
ciamento é insuficiente para impedir ou dirimir conflitos resultantes
de invasões de terras, questões comerciais e até passionais.
7. 5. 2 - Pimenta Bueno
A época em que o Marechal Rondon estabeleceu a linha telegráfica
em terras que hoje constituem o Território de Rondônia, deixou, em
50 Fruto de invasões, Cacoal é hoje um fenômeno amazônico. Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, 21-5-78.

144
Flg. 35 - Sede administrativa do Projeto Ji-Paranã. Ao fundo , o núcleo de Cacoal.
Foto INCRA - Setembro de 1975

1908, uma patrulha de militares comandada pelo cabo Francisco Pi-


menta Bueno, próximo ao rio Apediá, afluente do Ji-Paraná. Essa é
a origem da atual Pimenta Bueno, que viveu muito tempo em função
do extrativismo da borracha (pois a seringueira é nativa na região) e
da garimpagem de diamantes. Com a abertura da BR-364, o sítio pri-
mitivo deslocou-se para a margem da rodovia e, a partir daí, seu cres-
cimento teve impulso devido à intensificação do fluxo migratório e
também em virtude de uma experiência de colonização particular que,
a partir de 1969, teve início em Espigão d'Oeste, tornando-se Pimenta
Bueno o núcleo de apoio e de abastecimento dos colonos. Outro fator
de desenvolvimento foi a instalação do Projeto Fundiário Corumbiara,
do INCRA, no núcleo urbano, tornando-se assim a localidade centro
de uma grande área de regulamentação e discriminação de terras, no
Território (Carpintero et al., op. cit., ref. 32).
O sítio de Pimenta Bueno, cortado pela BR-364 e pelo rio Barão
de Melgaço, afluente do Ji-Paraná, apresenta problemas de drenagem . /
Tendo o núcleo um traçado em xadrez, os equipamentos centrais ficam
na parte menos favorável à expansão urbana.
A população é de 5 . 820 habitantes, segundo dados da SUCAM,
de 1976.

7 .6 - ASPECTOS SOCIAIS

A rede escolar do PIC abrange 64 escolas das quais 40 possuem


instalações definitivas, atendendo a um total de 2. 800 alunos nas pri-
meiras quatro séries do ensino regular. A Secretaria de Educação pro-
cura habilitar melhor o corpo docente, favorecendo aos professores leigos

145
a conclusão do normal regional. Malgrado os esforços envidados pelo
INCRA e a Secretaria de Educação do Território, há ainda insuficiência
de recursos educacionais para a população assentada, especialmente nos
Setores Rolim de Moura e Abaitará.
Com referência à educação de adultos, o MOBRAL atua na área,
contando com 20 Postos de Alfabetização Funcional. Para o ano de
1978 prevê-se a instalação do Programa de Educação Integrada daquele
órgão. Assim como na educação regular, a de adultos não conseguiu
ainda atender satisfatoriamente à demanda da área.
Com relação à saúde, os recursos públicos existentes são insufi-
cientes. A área está sob a jurisdição da Fundação SESP, que não teve
ainda condições de estender seus serviços médico-hospitalares à popu-
lação do Projeto. Sobressai, no entanto, de forma muito positiva, a
participação da SUCAM no combate às endemias, sobretudo à malária.
A atuação do FUNRURAL é também deficiente na área do PIC.
Apesar do núcleo urbano de Cacoal possuir dois hospitais parti-
culares e cinco médicps residentes, os parceleiros recorrem ao INCRA
para encaminhamento a outros centros, onde possam receber tratamento
adequado, a custos menos elevados. Prevê-se, em 1978, a dinamização
dos trabalhos da Fundação SESP.

146
Capítulo 8 -PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
PADRE ADOLPHO ROHL (PIC)

A partir de 1973, a área hoje abrangida pelo Projeto Integrado de


Colonização Padre Adolpho Rohl constituía uma faixa de expansão do
PIC Outro Preto, denominada POP-5 (Projeto Ouro Preto, área 5),
mais conhecida na região como Jaru, por causa da sua localização no
vale do rio do mesmo nome. Posteriormente, o Projeto foi denominado
Padre Adolpho Rohl, em homenagem a um missionário que trabalhou
na região.
Recobrindo hoje 444.366 ha, a capacidade de assentamento do PIC
é de 3. 836 famílias, das quais 2. 412 se encontram localizadas em suas
parcelas . .
A área, transcrita em nome do INCRA sob o número 1.414 no
Registro de Imóveis de Porto Velho, corresponde à antiga gleba Rio
Jaru, arrecadada da CALAMA S.A., mediante acordo entre o INCRA
e aquela firma, em 1972. Hoje, a área da CALAMA S.A., localizada fora
do perímetro do Projeto, corresponde a um título definitivo de 104.000
ha, outorgado no passado pelo governo do Estado de Mato Grosso e de-
nominado gleba Pirineus.
Algumas áreas situadas dentro do Projeto foram excluídas do
mesmo, umas por serem consideradas de utilidade pública, como as
destinadas aos núcleos urbanos principal e secundário do PIC; outras
porque foram ou estão sendo regularizadas, como a do seringal Cana-
rana, de Afonso José dos Santos, com 11.980,4627 ha, e uma de 12.000 ha
ocupada por Júlio Pantoja e que integrava o seringal Curralinho. O
mesmo mapa apresenta a oeste uma faixa ainda não loteada, de
150. 000 ha, correspondente à área de expansão do Projeto.
Criado oficialmente em 20-11-1975, pela Portaria do INCRA nú-
mero 1. 620/ 75, o PIC se estende em ambas as margens da rodovia
Cuiabá-Porto Velho, que atravessa a área no sentido SE-NW, entre
os quilômetros 266,5 e 298, passando pelo centro da vila de Jaru, onde
se localiza a sede do Projeto. Esta dispõe de uma estação de rádio
"SSB", do INCRA, e de um posto da TELERON. Está sendo elaborado
pela Prefeitura de Porto Velho um plano de urbanização para a loca-
lidade, enquanto se procede à execução de obras de saneamento e de
eletrificação. O INCRA deve efetuar a transferência da área da locali-
dade de Jaru, até agora sob sua responsabilidade, para a do governo
do Território. O sítio do núcleo urbano está dividido pela BR-364 e pelo
rio Jaru, o que dificulta sua expansão.
São limites do Projeto, ao norte, os títulos definitivos Ubirajara,
São Salvador e a Gleba Anari; a leste e a oeste, áreas a serem discri-
minadas pelo INCRA; ao sul, o PIC Ouro Preto, terras ocupadas por
Júlio Pantoja, uma área pretendida pela Agropecuária Rio Candeias
S . A . e terras de Mário Pereira e outros.

147
8 .1 - ASPECTOS FíSICOS

Do ponto de vista geológico ocorrem na área sedimentos do Qua-


ternário e rochas do Pré-Cambriano. Os primeiros estão representados
pelas planícies de inundação do rio Jaru e de seus afluentes, e são
identificados pela existência de diques marginais, terraços coluviais e
faixas alagáveis e alagadas. O Pré-Cambriano é identificado pela pre-
sença de rochas metamórficas (gnaisses), ígneas ácidas (granitos, gra-
nodioritos, quartzodioritos e álcalis-granitos) e ígneas básicas.
Na zona de ocorrência do cristalino o relevo se apresenta movi-
mentado a muito movimentado; é plano nas planícies de inundação
e levemente movimentado nas faixas intermediárias.
A área é recoberta por uma floresta do tipo tropical, semidecídua,
na qual se encontram espécies de valor econômico, como cedro, freijó,
imburana, angelim, roxinho, cupiúba, cumaru-ferro, maracatiara, mog-
no, além da seringueira, castanheira e cacau, que são nativos na região.
Ao lado dessas espécies, a mata apresenta grande quantidade de aráceas
e de palmáceas, entre as quais sobressaem o palmito doce, a paxiúba,
o buriti e o babaçu.
Há um período seco bem definido, que ocorre entre junho e agosto;
por outro lado, de dezembro a abril ocorre maior pluviosidade.
As observações feitas pela CEPLAC na área do PIC Ouro Preto, 40 km
ao sul do Projeto Padre Adolpho Rohl, durante o ano de 1974, con-
firmam a existência dessa característica climática da região.

8 .1 .1 - Solos

O estudo pedológico efetuado pela CEPLAC, 51 em convênio com


o INCRA, em 151.860 ha do Projeto, demonstra que existem na área
seis unidades de mapeamento, cujas características podem ser assim
resumidas (mapa 15):
Unidade Ouro Preto. É constituída por solos medianamente pro-
fundos (1,30m), bem drenados, com boa retenção de umidade e hori-
zontes bem desenvolvidos. Têm origem em rochas básicas (?) ej ou
metamórficas, ricas em minera.;s ferro-magnesianos. O pH varia de 5,0
a 6,0 no horizonte A e de 4,7 a 6,0 nos horizontes B e C.
Unidade Xibiu. É formada de solos de mediana profundidade, bem
drenados, que têm origem em rochas do Pré-Cambriano, ricas em mi-
nerais ferro-magnesianos. O pH no horizonte A varia de 5,5 a 6,0, de-
crescendo para 5,0 no horizonte B.
As Unidades Ouro Preto e Xibiu são constituídas por solos de
fertilidade média a alta, favoráveis ao cultivo do cacau, muito exigente
em nutrientes. Esses solos abrangem 85 % da área estudada. Aquela
cultura teria também a vantagem de evitar a degradação do solo, man-
tendo o recobrimento vegetal.
Unidade Anari. É constituída por solos profundos, com mais de
1,50m, bem drenados, cuja origem se encontra em r.ochas do Pré-
Cambriano (?). Apresentam pH baixo, em torno de 4,5, podendo ocorrer
em alguns lugares uma camada compacta de concreções lateríticas nos
horizontes B e C.
51 CARVALHO FLLHO, Raimundo & LEÃO, Antônio Carlos. Solos do Projeto
Ouro Preto, INCRA / Rondônia (Area de expansão V - Jaru). CEPLAC, 1976. 43 p.
<Boletim Técnico, 49 ) .

148
SOLOS DA AREA DO PlC P~ A. Rohl

I I OURO PRETO D ALUVIAL+ PARA ISO ESCALA

/
o 1 2 3 4 5 kO\
!Z::J XIBIU ~ HIDROMÓRFICO t ALUVIAL+ PARAISO

e PARAJSO [J]J] ANA R I Fonte : CEPLAC

MAPA 15
Unidade Paraíso. É formada por solos de baixa fertilidade, pro-
fundos, bem a moderadamente drenados e com baixa capacidade de
retenção de umidade. Estão relacionados a materiais colúvio-aluviais.
Na superfície predomina a textura arenosa e a franco-arenosa nos hori-
zontes inferiores. Seu pH varia de 4,8 a 5,0.
Solos Hidromórjicos. Essa unidade abrange solos formados a partir
de sedimentos colúvio-aluviais recentes. São mal drenados e apresen-
tam fertilidade variável, de acordo com o tipo de material depositado.
Estão em geral localizados nas partes mais baixas do relevo.
Solos Aluviais. São profundos, com mais de 1,5m, e apresentam
média retenção de umidade. São solos jovens, ainda em formação e têm
sua origem em sedimentos aluviais recentes. O pH varia de 4,0 a 5,0.
As unidades Anari, Aluviais, Hidromórficas e Paraíso são consti-
tuídas de solos pobres, que totalizam 15 % da área estudada. Podem ser
utilizados para cultivos menos exigentes em nutrientes. Assim, a serin-
gueira, o cravo-da-índia e o dendê são alguns dos cultivos possíveis de
se desenvolver bem nos solos da Unidade Anari. Para pastagens, deve-se
dar preferência às manchas da Unidade Paraíso, enquanto as de solos
Aluviais e Hidromórficos são indicadas para o plantio do arroz. No qua-
dro 20 correlacionam-se os aspectos geológicos e fisiográficos com os tipos
de solos encontrados na área e seu potencial de uso.

Quadro 20
RONDôNIA, PIC PADRE ADOLPHO ROHL. ASPECTOS FíSICOS,
TIPOS DE SOLOS E CAPACIDADE DE USO

UNIDAD E DE CAPACIDADE
GEOLOGIA FISIOGRAFIA
MAPEAMENTO DE USO

1) Quaternário. .. ..... .. .. ... . Planlcie aluvial Aluvial + Hidromórfico Arroz


Terraço colúvio-aluvial Paralso Pastagens

2) Pré-Cambriano ..... .... . Relevo plan o Ana ri Seringueira, cravo-da-fndia,


dendê .
Relevo suave ondulado Xi biu
Ouro Preto [ Cacau (85% da área ).
Relevo forte ondulado.

FONTE: CEPLAC, Boletim Técnico n.' 49, 1076.

8 .2 - ASSENTAMENTO

Na área inicialmente ocupada, o Projeto conta com 3. 788 parcelas


de 100 ha, além de 48 de 200 a 300 ha, destinadas a antigos serin-
gueiros. Essas parcelas devem, em princípio, localizar-se em solos da
Unidade Anari.
A área de expansão (150. 000 ha) deve comportar 1. 424 parcelas,
o que permitirá elevar a capacidade de assentamento do Projeto para
3 . 836 famílias, como está programado.
Entre os parceleiros assentados até julho de 1976, os mineiros cons-
tituíam 40 % do total, enquanto os baianos, paulistas e capixabas atin-
giam 30 %, havendo entre eles representantes de todas as Unidades da

150
Federação. Naquela data, era a seguinte a origem dos parceleiros, se-
gundo as macrorregiões.

Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Nordeste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299
Sudeste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 718
Sul . . .. .. . . . . .. .. ·. . . . ...... 77
Centro-Oeste . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.160

O contingente populacional do Projeto é ongmario do fluxo mi-


gratório que se desloca ao longo da BR-364, invadindo terras às mar-
gens da rodovia, com maior predominância de elementos do Sudeste
(718 famílias).

8. 3 - EDUCAÇÃO E SAúDE

A infra-estrutura educacional é constituída por uma escola de pri-


meiro grau, com 457 alunos, localizada no núcleo urbano de Jaru; e
mais 49 escolas, cujo ensino vai da primeira à terceira série. Para a
população adulta havia, em 1976, dezesseis postos do MOBRAL, com 217
alunos em fase de alfabetização. Em 1978 programou-se o curso de
Educação Integrada, também do MOBRAL, o qual dispôs de uma ma-
trícula inicial de 380 alunos na área do Projeto. A matrícula global
de crianças que freqüentaram a escola em 1977 foi de 2. 404.
O INCRA mantém convênio com o MOBRAL e com a Secretaria
de Educação do Território, que se responsabiliza pela coordenação geral
do ensino. No entanto, apesar dos esforços despendidos, . a qualidade
do ensino ministrado é bastante precária, sobretudo devido à falta de
professores capacitados, pois são na maioria leigos, como também no
setor de supervisão e coordenação.
Desde sua implantação, o Projeto foi uma das áreas do INCRA mais
atingidas pela malária. Em vista disso, o PIC dispõe de uma equipe de
saúde, constituída por um médico-residente, um prático de enfermagem
e dois auxiliares, contando o seu ambulatório com apenas 18 leitos. Em
1976 o setor de saúde atendeu a 9. 200 pacientes, e no primeiro se-
mestre de 1977 a 1. 545 pessoas, das quais 374 necessitaram de inter- _
namento no ambulatório local e 63 foram transferidas para centros
maiores. O .PIC dispõe também de uma ambulância.
Ainda no setor de saúde, além da equipe já mencionada, o Pro-
jeto conta com um dentista, que atua mediante convênio entre o INCRA
e o FUNRURAL. Colaboram também a FSESP e a SUCAM. Esta dis-
p,u nha, em 1976, de 18 postos de notificação na área do . PIC, para
coleta de lâminas e distribuição de antimalárico.
Apesar dos esforços da equipe local das demais entidades que atuam
no campo de saúde o nível sanitário da população abrangida pelo Projeto
ainda é muito precário.

8.4 -ASPECTOS GEOECONôMICOS

As culturas permanentes previstas como suporte econômico das fa-


mílias assentadas são o cacau, café e seringa, todas em fase de implan-
tação. O cacau deverá ser a mais importante cultura do Projeto, porque
as condições de solo e clima são favoráveis e conta com a assistência
técnica da CEPLAC, mediante convênio com o INCRA. Sendo uma la-

151
voura permanente, o cacau representa excelente proteção para os solos
facilmente lixiviáveis da região, além de também garantir uma renta-
bilidade satisfatória ao parceleiro. A área plantada em 1975, que era
de 57 ha, vem-se expandindo progressivamente, uma vez que no ano
seguinte chegou a 397 ha. Em 1977, o convênio INCRA-CEPLAC, no
valOr de Cr$ 1. 350.000,00, prevê o atendimento de 350 parceleiros, ·de-
vendo ser ampliado para Cr$ 1. 800.000,00 no ano subseqüente.
A banaiJ.eira, plantada em 1.890 ha, tende a expandir sua área, na
medida em que se amplia a do cacau. A produção, vendida ainda a
atravessadores, é enviada a Manaus, pela BR-364 e BR-319 assim como
por via fluvial, quando o volume a ser comercializado é muito grande.
Acrescentam-se a esse mercado os de Campo Grande, Mato Grosso e
São P~ulo, atingidos através da BR-364.
Como o Projeto se localiza fora da faixa de atuação do IBC, a
cultura do café, que abrange 989 ha, recebe assistência técnica somente
do INCRA e da ASTER-RO. A zona de maior produção no Território
se situa entre as localidades de Presidente Médici e Pimenta Bueno, na
faixa da rodovia Cuiabá-Porto Velho.
Considerando-se que culturas permanentes não se encontram ainda
em fase de produção, as culturas temporárias constituem, até o mo-
mento, a base econômica do Projeto como demonstra o quadro 21. Entre
elas, a do arroz é a mais difundida, com 15.510 ha plantados durante
o ano agrícola 75/ 76, atingindo a produção de 29 . 179 t. Esta se destina
principalmente a Porto Velho e ao Sudeste do País. Todas as cultoras
t emporárias são produzidas pelo sistema de roças.

Quadro 21
AREA CULTIVADA E PRODUÇAO AGRíCOLA- 1974-76.
RONDóNIA, PIC PADRE ADOLPHO ROHL.

AREA CULTIVADA PRODU ÇÃO


(ha)
CULTURAS Quantidade (t) Valor (Cr$)

1974/75 1975/76 1974/75 1975/76 1974/75 1975/76


I I I
TEMP ORARIAS
Arroz. . . . ... .. 6 220 15 510 6 396 29 179 7 163 520 40 850 600
Mil ho .. . 2 616 3 400 5 022 6 529 132 580 3 851 520
Feij ão .. . .. 1 200 1 560 1 080 13 028 95 256 26 187 084
Mandioc a. . 430 3 228 6 450 53 800 374 100 5 918 000

PERMANENTES
Banana 1 .. .... 893 1 890 10 716 3 780 000 685 824 241 920 000
Café .... ... 630 989
Cacau... ····· ·· ···· · 57 397

FONTE : !NCR.A, Programaçã o Op eracional 75/76 ; Boletim Informativo, Divisão Territorial Técnica de Rondônia , 1976.
1 A quantidade é dada em cachos. O va lor da produ ção foi calculado com base em informações da CEASA de Bras!-
ia, q~ e recebe parte da bana na produzi da em Rondônia.

Sendo um Projeto novo, de pequenas propriedades e culturas exten-


sivas, a criação de gado maior não constitui atividade de grande ex-
pressão, cedendo lugar ao criatório de pequenos animais. Em 1976 havia
apenas 320 cabeças de bovinos e 100 eqüinos, para 6. 240 suínos e
215.283 aves, utilizados para consumo dos parceleiros (quadro 22).

152.
Quadro 22
RONDôNIA, PIC ADOLPHO ROHL. EFETIVO E VALOR
DOS REBANHOS - 1976.

QUANTIDADE VALOR
REBANHOS (Cr$)
(cabeças)

Sufnos .. . . .... .. . ... ... ....... .. ......... .. . .. .. . . 6 240 1 248 000


Bovinos .. ... .. ... .. .... ...... .. .. .. ..... .. .. 320 826 560
Aves ... .. . ... . .... .. ... ... ...... . .. ........ . 215 283 319 245
Eqüinos .. ....... .... . ...... . .. . ... ... . . 100 150 000

TOTAL. ..... 221 943 2 543 805

FONTE: INCRA. Divisão Territorial Técnica, Rondônia, 1976.

Quanto ao crédito, há 1.115 parceleiros cadastrados no Banco


do Brasil.
O PIC, como os demais projetos, se ressente da falta de um sis-
tema eficiente de armazenagem, transporte e comercialização, o que
vem criando entre os parceleiros um clima de insatisfação, conseqüente
da perda e depreciação de uma parcela ponderável da produção, o que
reduz o nível de renda das famílias. O Projeto dispõe de um armazém
da CIBRAZEM, com capacidade para 80.000 sacos; dois outros, de
60.000 sacos cada um, encontram-se em construção, um no PIC, outro
em Vila Rondônia. Outro problema é a deficiência de classificadores
que, somado ao de armazenagem faz com que uma parte considerável
da produção seja comercializada através de intermediários, ou se perca.
Considerando-se que o Projeto não dispõe de uma organização co-
operativa, a parte da produção comercializada através do INCRA é
encaminhada à Cooperativa Agrícola Mista de Ouro Preto (CAMOP),
situada a 40 km do PIC.
No entanto, em face do número de parceleiros, que deve aumentar
em 1978 (2.364 atualmente) com o assentamento de 1.424 famílias na
área de expansão, urge que o INCRA equacione de forma satisfatória o
problema de armazenagem, do escoamento e do transporte da produção,
cujo volume tende a aumentar dentro de curto prazo.

153
Capítulo 9 - PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
PAULO DE ASSIS RIBEIRO (PIC)

Criado pela Portaria INCRA n. 0 1.480, de 10-10-1973, o Projeto


Integrado de Colonização Paulo de Assis Ribeiro está localizado 100 km
a sudoeste da cidade de Vilhena, em terras da União, no limite com
Mato Grosso e na faixa de fronteira com a Bolívia. As terras do PIC .
ficam, portanto, fora da área prioritária VII - Rondônia, do decreto
que instituiu o Polamazônia. Situadas na encosta SW da Chapada dos
Parecis, a uma altitude média de 400 m, apresentam relevo bastante
movimentado com vales encaixados. São drenadas por rios obseqüentes,
em relação à cuesta da referida chapada, que fluem para o Guaporé
(coletor subseqüente), como o Escondido, Branco ou Cabixi, Vermelho,
Colorado, e os igarapés das Tabocas e Pimenteiras (mapa 16).
A floresta apresenta as caracteristicas de mata semidecídua nas
encostas e sempre verde nos vales, distinguindo-se entre as espécies
identificadas: mogno (Swietenia macrophylla King), cerejeira ou um-
burana (Amburana sp.), peroba (Aspidosperma sp.), jatobá (Hymenea
courbaril, L.), ipê (Tabebuia spp.), mulungu (Erytrina mulungu) e
castanheira (Bertholletia excelsa, HBK). Entre as palmeiras, são no-
táveis: o tucum (Astrocaryum tucuman), paxiúba (Iriartea sp.), ba-
baçu (Orbignya martiana B. Rodr.), bacuri (Platonia sp.) e açaí
(Euterpe spp.).
O mogno aparece sempre nos vales, área de ocorrência da floresta
perenifólia, enquanto a cerejeira é encontrada na faixa de floresta semi-
decídua, que coincide com a zona de relevo mais elevado. A floresta
vem sendo intensamente devastada, tanto em função da agricultura,
quanto da exploração madeireira.
Na área, os solos pertencem, na maioria, à categoria dos Latossolos
Roxos Eutróficos, vulgarmente conhecidos como Terra Roxa. Derivam-se
de anfibolitos, rocha intrusiva ultrabásica, rica em minerais ferro-
magnesianos, cujos diques formam as elevações. Daí resultou um relevo
muito acidentado, com vales profundos. A terra roxa do PIC Paulo
de Assis Ribeiro leva desvantagem sobre a do Norte do Paraná, porque
esta última se deriva de derrames basálticos, associados a um relevo
plano, com perfil muito mais desenvolvido. Em compensação, todo o
Território de Rondônia está livre de geadas, o que não acontece no
Norte do Paraná. Contudo, os solos do PIC são bem drenados e arejados,
argilosos, ricos em bases solúveis, com profundidade de cerca de dois
metros, em numerosos perfis; 400 amostras coletadas revelaram pH
igual a 7, e zero de alumínio, o que comprova a boa potencialidade
desses solos.
A partir do km 688 da rodovia Cuiabá- Porto Velho, a 13 km de
Vilhena, o INCRA construiu uma estrada de 105 km, dos quais, 21
dentro do PIC, que não só permitirá o acesso fácil ao Projeto (Fig. 36)

154
.J.....

ÁREA A SER DISCRIMINADA


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P.I.C. PAULO DE ASSIS RIBEIRO
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MALHA FUNDI.ÁRIA, RELEVO E DRENAGEM

ESCALA
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0~~~~~~5~~_.~--~

MAPA 16
FONTE : - I.N . C.R .A. J
Flg. 36 - Via de acesso ao P.IC Paulo de Assis Ribeiro, perto de VUbena. Notar a vegetação de
cerrado degradado, sobre a chapada dos Parecis.
Foto INCRA - Setembro de 1975

como também ligará Vilhena ao vale do Guaporé, na foz do rio Cabixi,


continuando daí até o rio Mequéns. Desse modo, passará a servir às
populações ribeirinhas que, até então, tinham como único meio de
transporte uma precária navegação fluvial. Facilitará, também, a liga-
ção do vale do Guaporé e do Projeto com a BR-364 e com o resto do
País. Sem esta via de penetração, o Projeto enfrenta sérios problemas
de comunicação e de escoamento da produção, sobretudo durante o
período chuvoso (setembro a maio). Estão construídos cerca de 515 km
de estradas vicinais interligando os lotes à estrada-tronco e ao núcleo
urbano principal (Vila Colorado do Oeste).
Encontra-se em construção uma pista de pouso para pequenos
aviões, a qual tem 200 m de extensão por 60 m de largura. Para as
emergências há um helicóptero que serve ao Projeto.
O fato da área apresentar relevo muito movimentado e até recen-
temente carecer de infra-estrutura viária, uma vez que a precariedade
da estrada só permitia a circulação de jipes, retardou a implantação
do Projeto, que só veio a ocorrer em 1974, com a locação das parcelas
e das principais estradas vicinais, e a estruturação da parte adminis-
trativa. Antes dessa fase, embora não dispusessem de títulos definitivos
válidos, nove grupos financeiros disputavam a área, então de 600.000 ha.

9 .1 .1 - Assentamento de parceleiros e organização territorial

Hoje, a área do Projeto foi reduzida para 400.000 ha, devido à


exclusão de zonas alagadas, não consideradas favoráveis ao assenta-
mento de parceleiros e, também, à regularização da situação de antigos
posseiros, residentes dentro do perímetro do PIC, à época de sua im-
plantação. Com a abertura da estrada de acesso à BR-364 e a maior
facilidade de comunicação entre Vilhena e a zona do Colorado, têm-se

155
-verificado casos de invasões no Projeto, sobretudo às margens dos rios
e nas faixas limítrofes com outras áreas.
Previsto para comportar 3.656 famílias, o Projeto conta atualmente
com 2.757 parceleiros, localizados em lotes de 100 ha.
Considerando-se a média adotada pelo IBGE, de cinco pessoas por
família, a população rural do PIC totaliza cerca de 13.785 pessoas.
As famílias que se destinam ao Projeto são inicialmente identifi-
cadas num posto de triagem situado à entrada de Vilhena, à margem
da BR-364 e junto à barreira fiscal, por onde normalmente circulam
os veículos que entram no Território, vindos do sul e de Mato Grosso.
Muitas são originárias do Nordeste e chegaram ao Território depois
de trabalharem algum tempo em Minas Gerais e São Paulo. Há também
mineiros, que inicialmente migraram para o Paraná, antes de se diri-
girem a Rondônia. Os mato-grossenses são originários sobretudo dos
municípios de Dourados, Tangará da Serra, Jauru e Cáceres.
O maior contingente é, no entanto, de paranaenses, tanto em Vi-
lhena quanto no Projeto. Tal fato decorre de problemas que se verificam
em sua região de origem, a saber: ocupação total das terras devolutas
no oeste do Paraná; incorporação de pequenas e médias propriedades,
no planalto paulista-paranaense; liberação de mão-de-obra nessa região,
em conseqüência da substituição dà lavoura do café, intensiva de tra-
balho, pela rotação trigo-soja, intensiva de capital (com vultosos inves-
timentos em máquinas e fertilizantes), tudo isso acelerado pelas severas
geadas ali ocorridas no inverno de 1975.
Os que são inicialmente identificados aguardam a seleção, traba-
lhando muitas vezes em empreitadas para a formação de pastagens,
em fazendas próximas.
A ocupação da área se faz em ritmo acelerado, especialmente a
partir da abertura da nova estrada ligando o Projeto à BR-364 (Figs. 37
e 38).
Há três núcleos urbanos previstos: o principal, também chamado
Patrimônio, é a Vila Colorado do Oeste, cuja construção começou no
primeiro semestre de 1976. Em julho do mesmo ano havia cerca de
600 lotes ocupados na área urbana. Além dos prédios da Administração
do INCRA, a Vila conta com uma escola de 1.0 grau e um hospital,
ambos em construção na época em que a equipe visitou a colônia,
serraria (uma instalada e mais quatro para serem implantadas), pen-
são, padaria e mercearia. Está programada a implantação dos dois
núcleos secundários em 1978.
São três os tipos de lotes urbanos: os residenciais, de 20 m X 40 m
e de 20 m X 50 m; os industriais, de 200 m X 200 m, principalmente
para serrarias, e os de 80 m X 200 m, onde serão instaladas olarias,
máquinas de arroz, descascadoras, etc.
O sítio da Vila Colorado do Oeste, localizado em área de relevo
movimentado, não é propício à futura ampliação do núcleo.

9 .1 . 2 - Aspectos sociais

A área é bastante salubre, não se verificando doenças de tipo en-


dêmico. nem mesmo incidência de malária.
No setor de saúde, embora o atendimento ainda seja precário, o
INCRA mantém convênio com o FUNRURAL para atendimento dos
parceleiros. Além disso, está sendo construído um hospital particular

156
Flg. 37 - Tapiri no PIC Paulo de Assis Ribeiro.
Foto INCRA - Setembro de 1975

Flg. 38 - Rancho provisório, de colono-recém-chegado à vila Colorado, sede do PIC Paulo Assis
Ribeiro.
Foto INCRA - Setembro 1975.

157
na Vila Colorado do Oeste, o qual, por sua vez, deverá manter convênio
com o FUNRURAL. Assim, só os casos mais graves serão encaminhados
a centros maiores.
A população infantil em idade escolar (7 a 14 anos) era de 5.416
pessoas em 1976 e 8.816 em 1977. O cálculo para 1977 foi feito levando-se
em conta somente o número de novas famílias a serem assentadas,
sem considerar-se o crescimento vegetativo.
Em 1977 o total de alunos matriculados foi de 1.500, em 10 escolas.
Essas são construídas em madeira, com recursos do INCRA. A mão-
de-obra utilizada para esse fim é a dos próprios parceleiros, que recebem
remuneração pelo trabalho. A Secretaria de Educação do Território'
assume o pagamento dos professores. Em geral, há interesse dos parce-
leiros na construção das escolas, não só pela remuneração que recebem,
mas porque desejam que os filhos tenham possibilidades de estudo e
perspectivas de melhores condições de vida.
As professoras são sempre recrutadas entre as esposas e filhas dos
parceleiros, quase todas sem curso normal. Essa situação ocorre também
nos outros Projetos do INCRA e no Território, de modo geral, como
decorrência da falta de quadros especializados e da carência de recursos
humanos em regiões pioneiras.
Na Vila Colorado está sendo construída uma escola de 1.0 grau
(l.a a 8.a série), com 8 salas de aula, biblioteca e sala de reuniões,
a qual será mantida pela Secretaria de Educação do Território.
A fim de permitir à população adulta o acesso à alfabetização, as
escolas existentes são utilizadas à noite pelo MOBRAL, que, mediante
convênio com o INCRA, mantém na área o Prograr.na de Alfabetização
Funcional. ·
Até 1980 devem ser instaladas 229 escolas para atender à população
infantil em idade escolar, devendo também ser ampliada a escola de
primeiro grau da Vila Colorado do Oeste.
Quanto à habitação, procura-se implantar um sistema adaptado
às condições ecológicas e que leve em conta a utilização de matéria-
prima regional madeiras, palmáceas, etc.), e a distribuição de plantas
para construções rurais. No que se refere ao uso da madeira derrubada
nas parcelas, o programa visa incentivar a troca de madeira bruta por
outras beneficiadas, através das serrarias existentes na área.
O pessoal técnico que trabalha no setor social é constituído por
três assistentes sociais e um técnico em desenvolvimento de comunidade.

9 .1 . 3 - Aspectos econômicos

As condições econômicas locais são favoráveis tanto ao cultivo de


cereais, quanto ao de café e cacau. Apesar de Rondônia não se encontrar
entre as áreas selecionadas pelo IBC para a cafeicultura, muitos parce-
leiros do Projeto vêm plantando café das variedades Catuaí e Bourbon,
as quais se adaptam satisfatoriamente às condições de solo, clima e
altitude locais. Hoje, o PIC é considerado área de cafeicultura pela
Secretaria de Agricultura do Território.
Quanto ao cacau, embora ainda não esteja sendo cultivado, sabe-se
que a CEPLAC poderá vir a incluir o PIC em sua faixa de atuação.
O programa agro-econômico objetiva a ampliação das áreas de
cultivo, dispensando especial atenção às culturas permanentes já intro-
duzidas, como café (400 kg de sementes distribuídas em 1977), banana
e seringueira. Visa, ainda, à introdução do guaraná e pimenta-do-reino.

158
Há, por parte dos técnicos, a preocupação de propiciar aos parce-
leiros condições de elevar o nível tecnológico tradicionalmente utilizado
para os cultivos de subsistência, visando ao aumento da produção e
da produtividade. O convênio assinado em 1977, entre o INCRA e a
ASTER/ RO (Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural), no
valor de Cr$ 1.454.000,00, objetiva propiciar assistência técnica a 2.500
parceleiros do Projeto. Essa assistência é efetuada sob a coordenação
do INCRA, que dispõe na área de um economista, seis engenheiros/
agrônomos e dez técnicos agrícolas; a esses deve-se somar, também, a
equipe da ASTER/ RO, que atua dentro do Convênio mencionado. Dessa
forma, pode-se atender a todos os parceleiros assentados.
Considerando-se que o Projeto tem apenas três anos de implan-
tação, os dados relativos à produção se referem somente à faixa em
que há ~ parceleiros assentados. Na área cultivada de 1.500 ha predomi-
nam, ainda, os cultivos temporários, característicos de uma fase pioneira
de -ocupação, na qual se enquadra o Projeto. As chamadas lavouras
brancas são as mais expressivas, sendo a mais importante o arroz,
com 588 ha plantados e uma produção de 2.994 t; a pequena produção
de mandioca (200 t, em 12 ha) se destina basicamente ao consumo
familiar (quadro 23).
As variedades de feijão plantadas são Rosinha e Jaule; a de arroz
é a IAC-12; a de milho, a Azteca. O valor da produção foi calculado
com base nos dados da CFP (Comissão de Financiamento da Produção),
que se fundamentam na média dos preços das zonas geoeconômicas
de cada Estado ou Território.
Quadro 23
RONDôNIA, PIC PAULO DE ASSIS RIBEIRO. AREA CULTIVADA E
PRODUÇÃO AGRíCOLA - 1975-76

PRODUÇÃO
CULTURAS ÁREA (ha)
Quantidade (t) Valor (Cr$)

TEMPORÁRIAS
Arroz .. ... . 588 2 994 3 493 000
Milho . . ... 400 768 69 120
Feijão .... 500 420 810 600
Mandioca . . .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 12 200 22 000

PERMANENTES
Banana 1_ . .... ···· · ··•···· 15 18 000 115 200 000
Café ..... .. ···· · · ··· · · ······· 221

FONTES : INCRA. Divisão Territorial Técnica de Rondônia, 1977; Comissão de Financiamento da PíOdução, Anuário Es-
tatfstico, 1977 ; CEASA, Brasfl ia, 1976.
1 Cachos.

A criação de aves se resume a 5.100 cabeças para consumo domés~


tico, e a de suínos (434 cabeças) tem o mesmo objetivo, servindo ambas
para complementar a dieta e a renda familiares. O número de bovinos
(18), eqüinos (12) e caprinos (7) é insignificante, porque o Projeto se
destina essencialmente à agricultura, em pequenas propriedades. Os
parceleiros são, em regra, pobres, não dispondo de capital para adqui-
rir gado. Além disso, cultivam atualmente a terra pelo sistema de roças
(nas lavouras temporárias), que prescinde de associação com a pecuária.
Relativamente aos caprinos, paranaenses, mato-grossenses e paulistas

159
não têm tradição em criá-los, e nem interesse, porque são inferiores
aos suínos, como produtores de carne.
Como ainda não existe uma cooperativa para comercializar a pro-
dução, esta é vendida diretamente a intermediários, que a vêm buscar
na porta e enviam-na em grande parte para São Paulo. O valor da
saca de arroz era de Cr$ 70,00 e a de feijão, de Cr$ 650,00 a Cr$ 700,00
(preços locais, em julho de 1976). Em São Paulo, o mesmo feijão era
vendido por cerca de Cr$ 1. 200,00 na mesma época.
Embora o sistema de comercialização utilizado não evite o atra-
vessador, é, no entanto, o mais viável no momento, considerando-se
que os parceleiros ainda não dispõem de urna organização sócio-eco-
nômica capaz de fazê-los superar a presente situação. Por outro lado,
dada a elevada produção atual de cereais em Rondônia, originária em
grande parte dos Projetos do INCRA, a COBAL e a CIBRAZEM não
vêm tendo possibilidade de escoá-la. O sistema utilizado no PIC Paulo
de Assis Ribeiro, embora precário, vem permitindo ao colono obter pre-
ços compensadores, em termos locais, e deste modo conseguir recursos
financ eiros para sua manutenção, mas também importantes em termos
de renda para o pequeno empresário rural que ele pretende ser.
No primeiro semestre de 1977, o Banco do Brasil financiou a compra
de moto--serras, no valor de Cr$ 2.790.000,00. A administração do Pro-
jeto permite aos parceleiros vender a madeira derrubada, medida que
facilita a limpeza e a desobstrução do terreno para o plantio, além de
garantir-lhes urna renda complementar. Em julho de 1976 a área des-
matada era de 1.218,5 ha.
O INCRA fornece madeira para ser beneficiada pelas serrarias do
Patrimônio (Vila Colorado do Oeste) e de Vilhena, e estas lhe devolvem
parte já beneficiada, para utilização no PIC.
A fim de solucionar os problemas decorrentes da falta de transporte
para o escoamento da produção das parcelas, e levando-se em conta a
dificuldade de acesso a muitas áreas, em decorrência da movimentação
do relevo, é pens amento da Coordenadoria Regional estudar, com as
entidades creditícias, uma forma de financiamento de carroças e ani-
mais de tração para os colonos. Tal alternativa, além de não ser de
custo elevado, em comparação ao dos veículos motorizados, dispensaria
o uso de combustível e, ao mesmo tempo, teria possibilidade de ser utili-
zada mesmo no período da prolongada estação chuvosa regional, quando
as estradas se tornam, em regra, praticamente intransitáveis.
9.1. 4 - Vi lhena e sua r elação com o PIC
Vilhena está situada, conforme foi visto, fora do âmbito do PIC
Paulo de Assis Ribeiro, mas comanda suas atividades como um quartel-
general na BR-364. É a etapa secundária desta frente pioneira. Como
núcleo talvez mais antigo do Território no percurso daquela estrada,
Vilhena surgiu no segundo decênio deste século, de um posto tele-
gráfico instalado pela Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas,
chefiada pelo ent ão Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon.
A construção da BR-364, com melhores especificações que a velha
picada do telégrafo, mudou em várias partes o traçado desta última.
Em conseqüência, o núcleo de Vilhena teve de mudar-se para a beira
da nova rodovia.
Em 1968, membros da equipe visitaram a cidade, vindos de Cuiabá,
em pesquisas de campo. Colheram então as informações que se seguem :
desde quase 80 km para sudeste de Vilhena, a floresta passa a predo-
minar sobre a vegetação campestre da chapada dos Parecis. Era, porém,
mata semidecídua, que apresentava naquele final de agosto árvores
160
despidas de folhas, mas sobretudo copas de tons variegados, que iam
desde o verde escuro, passando pelo verde claro, o amarelo, até ocasta-
nho. Cerradões, com perda de folhas ainda mais acentuada, se inter-
calavam nessa floresta, chamada em Goiás de mata de segunda classe.
Os trechos de cerrados reduziam-se a clareiras naturais: uma, perto
do lugar Cachoeira; outra, menor, mas com divisas mais definidas,
com 13 km de extensão, onde se situava, no seu extremo noroeste, a
cidade de Vilhena. Quanto à posição, Vilhena é, pois, um aglomerado
de borda de mata, como muitos outros no Planalto Central 5 2 •
Nessa porta de entrada a SW da Amazônia, a população continuava
rarefeita. A agricultura se resumia a mesquinhas roças de subsistência.
A economia do local se baseava principalmente na extração de borracha
silvestre (em pelas, de cocho e cernambi), assim como em garimpos
de diamantes. A pecuária extensiva se encontrava em estágio incipiente.
Casas de seringueiros com paredes de paxiúba, cobertas com a palha
desta palmeira ou com cavacos de madeira, retratavam não somente a
ocorrência desta palmeira típica da hiléia, mas também a tradição
seringueira da área de onde elas provinham, a adaptação ao clima
chuvoso da região e o baixo nível de vida dos habitantes.
Vilhena era então um alinhamento frouxo de casas, do lado es-
querdo (SW) da estrada, incluindo uma pensão e um posto de gasolina.
Do lado oposto ficavam estabelecimentos militares: as instalações da
FAB e do 5. 0 BEC com seus ocupantes davam a Vilhena um estímulo,
embora modesto. Uma linha comercial de aviões fazia escala no cámpo
de pouso militar. As ruas transversais do núcleo civil apenas se esbo-
çavam.
Esses melhoramentos começaram por volta de 1963. O que restava
do tempo de Rondon era o posto telegráfico e um depósito, retirados
da cidade. Em 1976, Vilhena contava com cerca e 10.000 habitantes.
Um traçado em xadrez, aproveitando a topografia plana dos arredores,
permite a futura expansão do núcleo. O equipamento urbano se tornou
muito mais complexo. Enquanto o setor secundário se restringe sobre-
tudo a várias serrarias e padarias, o setor terciário envolve uma intensa
atividade comercial: restaurantes, cinema, seis hotéis, várias farmácias
e oficinas mecânicas, borracheiros, bombas de gasolina, lojas de auto-
peças, de móveis, de materiais de construção, uma agência bancária
(do BAMERINDUS) uma de transportes terrestres (Andorinha) e outra
de transportes aéreos (da VASP), com dois vôos semanais.
Os serviços ligados à saúde contam com dois hospitais, sendo um
do governo, mal instalado, e outro particular, somente com ·oito leitos,
porém bem montado; dentistas e um laboratório de análises clínicas.
No tocante a serviços administrativos, contam-se em Vilhena:
agência de correios e telégrafos, estação da TELERON (comunicações
telefônicas), um posto do IBDF e um da fiscalização da receita federal.
A educação primária é complementada por colégios secundários na
cidade.
Vilhena está, portanto, situada na chapada dos Parecis, a 580 metros
de altitude, no contato entre o cerrado e a mata. Os campos de Vilhena
constituem um planalto muito regular, por volta dos 600 metros de
altitude, revestido de cerrados muito degradados (cerradinho), ponti-
lhados de capões nas nascentes (bacias de recepção) . São vazios demo-
gráficos de grande extensão.

52 Ver, a propósito, o clássico artigo de L. Waibel: A vegetação e o uso da


terra no Planalto Central. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, IBGE,
10(3), jul.-set. 1948.

161
A estrada que liga Vilhena ao PIC Paulo de Assis Ribeiro transpõe
a frente da cuesta formada pela borda da referida chapada. O contato
entre os campos de Vilhena e a mata fica, nessa estrada, na cota de
620 metros.
A encosta superior da serra tem relevo muito dissecado, e desce
dos 620 metros, no contato cerrado-mata, aos 280 m, no igarapé da
Divisa. Observa-se aí uma interpenetração muito complicada entre mata
semidecídua e cerradão. Ambas as formações têm troncos finos, espe-
cialmente esta última, que é também mais baixa. Não .se deve rela-
cionar estritamente este contato a uma curva de nível. De fato, perto
do contato, a mata ocupa os fundos de vales e parece ir-se tornando
. mais baixa à medida que se .sobe, cedendo lugar ao cerradão. O limite,
porém, .se encontra em cotas diferentes; parece estar mais ligado ao
lençol d'água subterrâneo.
No trecho mais alto prevalece o latossolo amarelo, fase arenosa;
nos trechos de cerradão, entretanto, o solo é muito arenoso, com capa
de húmus, parecendo um podzol que forma terríveis areiões na estrada.
A drenagem fluvial tem, a certa altura, características de um carst.
Na cota de 485 m a estrada passa sobre uma ponte natural, formada
por um ribeirão; um grande sumidouro faz desaparecer outro rio, a
365 m de altitude. Isto se explica pela ocorrência de uma camada
calcária intercalada no arenito Parecis, nessa faixa hipsométrica.
Pastos de braquiária e de colonião estavam aí sendo formados, em
julho de 1976, por uma grande empresa. Mas não havia ainda gado;
apenas muito pouca gente.
Transposto o igarapé da Divisa, em cujo leito se encontra o contato
muito nítido entre o solo claro, arenoso, e a terra roxa, entra-se, pouco
depois, nas terras do PIC Paulo de Assis Ribeiro. Mesmo antes de nelas
se penetrar, nota-se a presença de uma população rural relativamente
densa, vinda do Paraná, constituída sobretudo de nordestinos e minei-
ros, que esperam vaga para obter suas parcelas. Caminhões entram
todos os dias na colônia trazendo mudanças: trastes, animais, crianças
se amontoam na confusão mais incrível. ·
Em plena floresta da colônia, observa-se como é rica em palmitos;
em paxiúbas, de graciosos leques e raízes adventícias; em mulungus,
com linda folhagem vermelha. A imburana ocorre nos altos; o mogno,
a meia encosta. Estas duas são as únicas madeiras-de-lei exploradas
pelas serrarias da região, mas vendidas a preço vil. A peroba é queimada,
porque não tem preço.
Em julho de 1976, as roças de arroz, já colhidas, guardavam ainda
as espigas amontoadas em pilhas, nos campos; o feijão estava maduro ;
o amendoim, também colhido, deixara apenas o restolho; milho, man-
dioca ainda vicejavam. O café já se evidenciava como a principal cultura
permanente, mas estava novo. Será provavelmente a lavoura comercial,
por excelência, da colônia.
As casas dos colonos são todas cobertas de cavacos. Muitas exibem
influência cultural sulista: erguem-se sobre estacas e têm paredes de
tábuas verticais, com sarrafos cobrindo as juntas. Outras aproveitam
o taquaruçu, planificando-o para formar as paredes.
Como autêntica zona pioneira, a mais expressiva que vimos em Ron-
dônia, a paisagem do PIC Paulo de Assis Ribeiro está em organização.
Colonos instalam-se em ranchos provisórios, feitos de ramagens, às
vezes recobertos de plástico preto. Por toda parte se ouvem pancadas
de machado e o troar de árvores caindo, como antes também se ouvira
o zumbido das moto-serras abrindo invernadas.
Colorado, patrimônio-sede da colônia, está em construção. Situa-se
a 88 km de Vilhena. É bem mais pobre que o de Nova Ariquemes.

162
Capítulo 10 - PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
SIDNEY GIRAO (PIC)

Com base em estudos realizados pelo Grupo de Trabalho para a


Integração da Amazônia, da SUDAM (criado pelo Decreto n. 0 61.330,
de 11-9-1957), o governo federal estabeleceu um plano de ocupação para
a Amazônia Ocidental, mediante a implantação de Projetos de Coloni-
zação, Colônias Militares e outros empreendimentos de interesse para
o desenvolvimento sócio-econômico da região (Decreto n. 0 63.104, de
15-8-1968). No que se refere ao Território Federal de Rondônia, este
decreto estabelecia duas áreas prioritárias para ocupação: a primeira
compreendendo a zona cortada pela BR-364; a segunda abrangendo
Porto Velho e a faixa de fronteira com a Bolívia, mais especificamente,
o distrito de Abunã e o município de Guajará-Mirim.
A faixa de fronteira com a Bolívia, no trecho Abunã-Guajará-
Mirim, já no passado constituiu uma zona de interesse para a coloni-
zação. Através da Secretaria de Economia, Agricultura e Colonização do
Território, o governo federal instalou na década de 40, ao norte da
cidade de Guajará-Mirim, a Colônia Agrícola Presidente Dutra, mais
conhecida como lATA, que dista 340 km de Porto Velho e 26 km de
Guajará-Mirim, pela antiga ferrovia, e 33 km dessa cidade pela BR-425.
Tem como limite norte o rio Laje; ao sul, o rio Bananeiras; a leste,
a Serra dos Pacaás Novos, e a oeste a antiga ferrovia Madeira-Mamoré.
Formada inicialmente com famílias nordestinas e, sobretudo, cea-
renses, a colônia não teve sucesso. A área é de 450 km 2 , e o módulo
adotado, 25 hectares (250 X 1.100 m), demonstrou ser insuficiente do
ponto de vista econômico, considerando-se o tipo de sistema agrícola
utilizado: sistema de roças, isto é, rotação de terras sob queimadas,
e em solos de baixa potencialidade.
Na época em que a colônia foi criada, a faixa servida pela ferrovia
Madeira-Mamoré, onde se situa o PIC Sidney Girão, constituía o eixo
de circulação mais importante do Território.
Levantamentos realizados pelo então IBRA (Instituto Brasileiro de
Reforma Agrária) junto aos antigos núcleos de colonização de Rondônia
demonstraram que, em 1971, havia na colônia do lATA cerca de 600
famílias ocupando 871 lotes. A baixa produtividade, devida à pobreza
dos solos e ao tipo de sistema agrícola adotado, favoreceu a invasão
de terras por uma parte dos colonos de lATA à margem da BR-319,
então recém-aberta e hoje denominada BR-425.
A fim de regularizar a situação dessas famílias, o INCRA demarcou
380 parcelas de 100 ha (400 X 2. 500 m) na área invadida, ao mesmo
tempo em que procedia à elaboração de um projeto de assentamento,
o qual, além de atender ao disposto no Decreto n. 0 63.104, visava tam-
bém a equacionar uma alternativa de promoção sócio-econômica para
os colonos do lATA e, ao mesmo tempo, receber o contingente migratório

163
que, passando pela BR-364, se dirigisse para a faixa da atual BR-425,
no eixo Abunã-Guajará-Mirim. O projeto, inicialmente denominado
Mamoré, foi criado pela Portaria INCRA-692, de 13-8-1971, recebendo
depois o nome de Sidney Girão, em homenagem a um piloto do IBRA,
morto em acidente na região.
10.1 - ÁREA

Na faixa da fronteira Brasil-Bolívia foi selecionada a área para a


implantação do Projeto, totalizando aproximadamente 200.000 hectares,
os quais, além de outras posses, incluíam também a de um antigo
seringal. Essa área se estendia por 150 km à margem direita dos rios
Madeira e Mamoré, da atual BR-425 (Abunã-Guajará-Mirim) e da
ferrovia Madeira-Mamoré.
A capacidade de assentamento da área era de 1.500 famílias, a
serem locãlizadas em parcelas de 100 ha, sendo também previstos dois
núcleos. No entanto, o projeto inicial sofreu substanciais modificações
na faixa cortada pelo rio Ribeirão e seus afluentes, onde foi verificada
a presença de índios do Grupo Urubone, o que teve como conseqüência
a criação, pela FUNAI, do PostO Indígena Ribeirão. O Posto, com cerca
de 48.000 hectares, está em parte situado na primitiva área do Projeto,
constituindo seu limite norte. É atravessado por um afluente do Ma~
deira, o rio Ribeirão e seus tributários, que banham uma área origi-
nariamente pertencente ao Projeto Sidney Girão.
Foi ainda delimitada pela FUNAI a área do Posto Indígena Lajes,
com 110.000 ha, cujo perímetro também incidiu sobre terras do Projeto.
Aí vivem índios do Grupo Ururam, de tronco Pacaás Novos, os quais
exploram, além do cacau, a seringueira e a castanheira, nativos na
região.
Além das áreas inseridas nos Postos Indígenas, o Projeto perdeu,
ainda, parte da que pertence ao título definitivo Boa Esperança, de
275.000 hectares, outorgado pelo Governo do Amazonas e hoje perten-
cente à GAINSA (Guaporé Agro-Industrial S.A.), título este pendente
de ratificação.
A exclusão dessas áreas reduziu em 65,5 % a área inicial do PIC,
assim como sua capacidade de assentamento, que era de 1.500 famílias
em 200.000 hectares, para 511 famílias, e mais dois núcleos urbanos,
já previstos na primitiva planta, perfazendo em 1976 apenas 53.700 ha.
No entanto, prosseguindo o programa de discriminação de terras
no Território, o INCRA, em 1977, incorporou ao Domínio da União uma
faixa contígua ao Projeto Sidney Girão, a leste da atualmente ocupada.
Tendo em vista que os solos dessa área de expansão parecem apresentar
maior potencialidade, e que o PIC não possui ainda culturas perma-
nentes suficientemente desenvolvidas, de modo a constituírem uma base
econômica estável para os parceleiros, decidiu o INCRA expandir o
Projeto, anexando aos 53.700 ha resultantes da exclusão das áreas indí-
genas, mais 201.300 ha. Assim, o Projeto soma atualmente 255.500 ha,
e sua capacidade de assentamento foi ampliada de 511 para 2.486 fa-
mílias (mapa 17).
10 . 2 - ASPECTOS FíSICOS

São terrenos antigos do pré-cambriano indiviso, com predominância


de anfibólitos, gnáisses e migmatitos, na faixa onde se localiza o Projeto,
a qual se encontra sobre uma superfície pediplanada, recoberta por
depósitos superficiais, a uma altitude média de 100 a 200 m, que decresce
em direção à calha do Madeira.

164
PIC SIDNEY GIRAO MALHA FUNDIÁRIA RELEVO E DRENAGEM
DISTRIBUIÇÃO DAS ESCOLAS

P.F. ALTO MADEIRA


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P.l.
RIBEIRÃO
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INDIOS URUBONE

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PI-LAJES
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fNDIOS URURAM

I ÁREA- li O 000 000 h o


I SITUAÇÃO
I_- -,_ - - - - l
Rodo v i o
I
Ferrovia (extinto)
CIa ro
.·-.·.-:::: Povo a do

~- -- Rios
Drenagem
Elevação
13onco de areia emerao

~I • Escolas definltl vos= 27


Posto Médico= 1

ESCALA
O 1 2 3 4 5 km

MAPA 17
A área se caracteriza pelo predomínio de temperatura e umidade
relativa elevadas, em conseqüência de sua localização em baixas lati-
tudes (cerca de 11° lat. Sul) e de situar-se em região de reduzida
altitude (cerca de 100 m).
A rede hidrográfica é constituída pelos rios Mamoré, Madeira e
alguns de seus afluentes, entre os quais o Laje, o Ribeirão e o Mise-
ricórdia. O Madeira apresenta um trecho de corredeiras na área do
PlC, que tem início a jusante da cidade de Guajará-Mirim e continua
até a cachoeira de Santo Antônio, a montante de Porto Velho (Fig.
n. 0 39). Este rio está incluído entre aqueles que apresentam regime
tropical austral, observando-se uma diferença cronológica entre o má-
ximo pluvial, em dezembro, e o máximo fluvial que se registra em
fevereiro. Esta diferença deve-se a vários fatores: a grande distância
em que se encontram suas nascentes principais, nas vertentes orientais
dos Andes; o longo trajeto de formadores e tributários seus como rios
de planalto; e, finalmente, a permeabilidade e o ressecamento dos solos
durante o período da estiagem, que os leva a absorver grande parte
das águas pluviais. Este fato diminui o aproveitamento dessas águas
pelos rios, até que se dê a saturação dos terrenos e conseqüente libe-
ração das mesmas. Por essa razão, normalmente em janeiro e sobretudo
fevereiro, é que se registram as cheias máximas, apesar de já não
ocorrerem nessa época precipitações tão elevadas.
Na área de ocupação mais antiga predominam os Latossolos Ver-
melho-Amarelos, muito profundos, permeáveis, acentuadamente drena-
dos, com estrutura granular no horizonte B. O pH da maioria das
amostras examinadas na colônia de lATA e ·no Projeto é superior a
5,5, com nível de Al trocável nulo ou insignificante. Os teores de fós-
foro trocável são baixos a muito baixos. Os de potássio são sempre
altos nos solos franco-argilosos, e variáveis de médio a alto nos solos
arenosos e argilosos. O teor de matéria orgânica é de médio a baixo.
As características químicas e físicas desses solos demonstraram que são
favoráveis a culturas tropicais, em especial ao dendê.
Na área de expansão, embora não se tenha ainda efetuado um
levantamento pedológico, as observações realizadas indicam a existência
de solos bruno-avermelhados escuros, argilosos, com pH em torno de
5,0 a 6,0. Ao que parece, nessa faixa, a potencialidade dos solos é bem
maior que na primitiva área do Projeto.
A vegetação predominante é a floresta tropical perenifólia e semi-
decídua, com árvores de grande porte. Entre as espécies nativas encon-
tram-se a seringueira, a castanheira, o cacaueiro, o mogno e outras
de grande valor econômico. Nas áreas desmatadas observam-se manchas
de capoeirão, babaçu e sapê, este resultante da pobreza e acidez dos
solos, degradados com a rotação de terras para os cultivos de subsis-
tência e sem as práticas conservaeionistas necessárias (Fig. 40) .

10 . 3 - SITUAÇÃO SOCIAL

Ao ser implantado, o Projeto tinha entre outros objetivos o de


favorecer o soerguimento econômico da colônia de lATA e regularizar
a situação das famílias daquele núcleo, que haviam invadido terras
ao longo da atual BR-425. Tendo em vista a implantação do PlC, o
lNCRA efetuou um levantamento por amostragem das condições sociais
daquela população (20 % dos 600 colonos de lATA), o qual demonstrou
que 43 % dos chefes de família tinham entre 21 a 35 anos de idade e
28 % entre 45 e 60 anos. Dos entrevistados, 92 % eram casados e todos
brasileiros. ·· ·· ·

165
Fi. 39 - Cachoeira de Santo Antônio, no rio Ma deira, a 6 km a montante de Porto Velho. ~
talhada em granito. Nota r, ao fundo, a elevação da margem esquerda, de cerca de 20 metros.
Foto Herond!no Chagas - 8.7.76

Flg. 40 - Capoeira tomada nelo sanesal e nelo ~--a-peixe e teto de uma casa de farinha, na
linha D, do núcleo Sidney Girão, perto de Ribeirão.
Foto H. Chagas - 24 . 7. 76

166
Quanto à naturalidade, os cearenses constituíam 80 %, enquanto
os demais eram originários das seguintes unidades da Federação:
Paraíba . . . . . . . . . . . . . . . . 10 %
Amazonas . . . . . . . . . . . . . . 4%
Maranhão . . . . . . . . . . . . . . 4%
Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1%
Pernambuco . . . . . . . . . . . . 1%
Hoje, os cearenses ainda predominam no Projeto (146) , seguidos
dos mineiros (110), mas estão representadas todas as Unidades da
Federação, exceto Roraima (Fig. 41). Atualmente, há no PIC 511 fa-
mílias, no total de 2.555 pessoas.
As desistências de parceleiros, ocorridas na área do Projeto, são
atribuídas à forte incidência de malária, nos primeiros anos de sua
implantação e ao fato de só recentemente estarem sendo introduzidas,
de forma sistemática, culturas permanentes adaptadas à região; in-
fluindo ainda, no caso, os prol;llemas decorrentes da redução da área
do PIC, já solucionados com a nova área, denominada de expansão.
O desenvolvimento do Projeto se processa em ritmo mais lento que
o daqueles localizados na faixa de Cuiabá-Porto Velho, pelas razões
mencionadas, e também pelo fato de estar o PIC situado numa posição
marginal, fora da zona de maior fluxo migratório, proveniente do Cen-
tro-Sul, que até o presente converge para a faixa da BR-364, onde os
solos em geral apresentam maior potencialidade. Observa-se que, ao
contrário do que ocorre nos Projetos situados ao longo dessa rodovia,
o número de famílias originárias dos estados sulinos e do Espírito Santo
é bastante reduzido.
Quanto ao tempo de permanência na área, a pesquisa demonstrou
que a ocupação das terras é antiga, pois mais de 50 % das famílias ai
residiam há mais de 10 anos.
Tempo de permanência na área:
Menos de 3 anos . . . . . . . . O%
3 a 5 anos . . . . . . . . . . . . . . 15 %
5 a 10 anos . . . . . . . . . . . . . 33 %
10 a 20 anos . . . . . . . . . . . . 42 %
Mais de 20 anos . . . . . . . . 10 %
Considerando-se que 52 % das famílias objeto da pesquisa
realizada pelo INCRA ocupavam a área há mais de 10 anos, verifica-se
que, ao contrário do que acontece na faixa da BR-364, a da BR-425
apresentava à época um índice de ocupação bem mais antigo, anterior
mesmo à abertura da rodovia.
Em relação ao tipo da experiência profissional, 83 % dos chefes
de família tinham na agricultura sua atividade principal, enquanto os
r~tantes 1_7 % se dedicava~ à pecuária. Quanto ao tempo de experiên-
cia na agncultura, a pesqmsa apresentou o seguinte resultado:
2 a 5 anos . . . . . . . . . . . . . . 15 %
5 a 10 anos . . . . . . . . . . . . . 10 %
10 a 20 anos . . . . . . . . . . . . 42 %
Mais de 20 anos . . . . . . . . . 33 %
. Essa ~ar_acterística cons~ituía fator imp?rtan.te, uma vez que o
ProJeto ObJetivava tornar emmentemente agncola uma área de extra-
tivismo vegetal tradicional.

167
PIC SIDNEY GIRÃO
,.
PROCEDENCIA DOS PARCELEIROS-1975

[]]]REGIÃO NORTE

~REGIÃO NORDESTE

EZlJ REGIÃO SUDESTE

IIIIIIlliiii REGIÃO SUL

~REGIÃO CENTRO-OESTE

FONTE : IN CRA

FIG . 41
10.3.1 -Habitação
Na ·fase de implantação do PIC, 40% das casas eram de barrote,
cobertas de palhas; 50% de palha, cobertas de palha; e 10% de barrote,
cobertas de cavaco. Tal situação, hoje, não mudou muito. Embora o
INCRA tenha construído cerca de 63 casas de madeira no Projeto, a
Cr$ 35.000,00 (custos de 1976), ainda predominam as habitações de
palha ou de sopapo.
A política adotada pelo órgão, quanto à habitação, onera o custo
da parcela, uma vez que os recursos despendidos na construção cons-
tituem um capital imobilizado para o parceleiro. Além disso, o tipo de
construção adotado, embora se enquadre nos padrões mínimos de hi-
giene e habitabilidade, não se coaduna totalmente com a tradição da
arquitetura rural amazônica, onde o homem conseguiu um tipo de
habitação adaptado às condições ecológicas. Ao contrário, sem orien-
tação alguma, tanto os colonos de IATA como os de Sidney Girão
construíram sua moradia tradicional do sertão do Nordeste - a casa
de sopapo ou barrote, típica de regiões cobertas com vegetação des-
provida de madeiras grossas e retas.
A contratação pelo INCRA de firmas especializadas para construir
as casas onera os custos globais do Projeto e o parceleiro, mesmo que
este venha a ressarcir aquele órgão, ao fim de determinado período.
Numa região onde as madeiras-de-lei são abundantes, os custos com
habitação poderiam ser reduzidos, se, em lugar de construir, o INCRA
apenas financiasse o material de construção a ser adquirido e desse aos
parceleiros orientação técnica para que a casa tivesse condições de
habitabilidade. A construção poderia ser feita pelos interessados, por
iniciativa própria, ou em regime de mutirão, o que não acontece na
proporção de vida.
1O. 3. 2 - Educação e saúde
A época da implantação do Projeto, o estudo realizado demonstrou
que 61% dos chefes de família entrevistados eram analfabetos; 22%
semi-alfabetizados; 14% possuíam até o terceiro ano primário, e ape-
nas 3% tinham o primário completo.
Da população de 2.555 pessoas, em 1976, 1.028 constituíam a par-
cela em idade escolar. Nas 27 escolas existentes, há 685 alunos de
7 a 14 anos, mais 70 adultos matriculados em postos do MOBRAL.
A área apresentou elevada incidência de malária, fato que concor-
reu para a desistência de muitos parceleiros nos primeiros anos da
implantação do PIC. O levantamento realizado pelo INCRA, àquela
época, revelou que o índice da doença era de 80%, seguida pela vermi-
nose (70%), anemia (65%) e hepatite (5%).
A população entrevistada não tinha assistência médica. No início
da década de 70, 30% da população urbana de Guajará-Mirim ainda
era atingida pela malária. Graças à ação da SUCAM (Superintendêncià
da Campanha de Erradicação da Malária), o índice de incidência dessa
endemia baixou em 1976 para 7% na área do Projeto. :
A infra-estrutura de saúde da região é constituída por um hospital
de 61 leitos em Guajará-Mirim, uma maternidade com 40 leitos, e um
posto de Assistência Social da Prelazia, também naquela cidade. Essa
infra-estrutura ainda é deficitária para atender à atual população do
Projeto, que em futuro relativamente próximo deverá ser acrescida de
1.975 famílias. Os recursos disponíveis certamente deverão ser aumen-
tados, em face da ampliação do Projeto, que dispõe de um posto médico,
com quatro leitos, localizado no núcleo secundário, a 34 km da sede.

169
O atendimento é feito por um médico, duas vezes por semana,
e um dentista, diariamente. Ambos atuam mediante convênio com o
FUNRURAL. Além disso, o PIC conta com um prático e dois auxiliares
de enfermagem. Os casos graves são encaminhados aos hospitais de
Guajará-Mirim, Porto Velho e Manaus.
Graças à ação integrada do INCRA, SUGAM e Secretaria de Saúde
do Território, o índice de doenças da área tem-se reduzido bastante
nos últimos anos. Basta comparar os dados da pesquisa realizada à
época da implantação do Projeto com os mencionados na Programação
Operacional de 1978, para se ter um quadro da situação atual:

Programação Operacional - 1978

Malária . . .... . ...... . 0,6%


Verminose . . .. . .. . .. . . 20,0 %
Anemia . ... . .. .. . . ... . 5,0%
Hepatite .. ... ...... . . . 0,5 %

A Secretaria de Saúde do Território age através de campanhas de


vacinação e a SUGAM, no setor de erradicação da malária.

10 .4 - ASPECTOS ECONôMICOS

O extrativismo vegetal da castanha e da borracha é a atividade


rural mais antiga da área. A exploração da borracha nos vales do Ma-
deira, Guaporé e Mamoré constituiu, por muito tempo, a base econô-
mica do Território. A opção do INCRA pelo sistema de propriedade
familiar, preconizado no Estatuto da Terra, levaria, naturalmente, a
uma nova forma de ocupação do espaço, inteiramente distinta das
grandes propriedades pastoris que vêm sendo implantadas em antigos
seringais da Amazônia.
Do ponto de vista econômico, além das culturas tradicionais (arroz,
milho, feijão e mandioca), o plano de exploração agrícola procurou,
desde o início, introduzir culturas permanentes, como mamona, serin-
gueira, dendê, cacau, pimenta-do-reino e frutas tropicais (citrus e caju) .

1O. 4 .1 - A atividade agrícola

Dada a deficiência de estudos pedológicos, os cultivos de milho,


arroz e feijão ainda predominam na economia do Projeto, enquanto
culturas permanentes, como cacau (20 ha), café (355 ha), seringueira
(117 ha), dendê (100 ha) e guaraná (6 ha) vêm sendo introduzidas,
na medida em que se observa seu comportamento, com vistas à escolha
da base econômica do Projeto (quadro 24). Estas culturas vêm apresen-
tando bom desenvolvimento.
Os primeiros experimentos de café foram realizados com a varie-
dade Mundo Novo, introduzindo-se, posteriormente, a Catuaí. Por estar
situado a menos de 600 m de altitude, o Projeto não pôde ainda bene-
ficiar-se da assistência do IBC (Instituto Brasileiro do .Café), devendo
o cultivo ser efetuado com recursos dos próprios parceleiros. O mesmo
acontece com o cacau, nativo na área, mas não considerado pela
CEPLAC uma cultura economicamente rentável, em virtude da redu-
zida potencialidade dos solos da área já ocupada no Projeto. Quanto
à seringueira, os 117 ha plantados recebem assistência financeira da
SUDHEVEA (Superintendência da Borracha), através de 19 projetos
170
Quadro 24
RONDôNIA, PIC SIDNEY GIRAO. AREA CULTIVADA E PRODUÇÃO
AGRíCOLA - 1972/ 76

ÁREA CULTIVADA I PRODUÇÃO


CULTURAS Quantidade (t) Valor (Cr$)

1972/73
l 1973/74 ! 1974/75 l 1975/76 l 1976/77 1972/73 1 1973/74 J 1974/75 j 1975/76 1972/73 1 1973/74 !1974/75 l 1975/76

TEMPORÁRIAS
Arroz . .. ... . 485 1 080 1 502 3 442 874 2 100 2 704 6 609 445 740 1 386 000 3 028 480 9 252 600
Milho . .... . 319 1 002 1 093 1 854 574 1 860 1 968 3 560 126 324 688 200 865 920 1 161 120
Feijão ..... . 288 426 1 856 208 332 1 559 238 740 488 451 3 133 670
Mandioca . 836 10 226 1 129 260

·PERMANENTES
Dendê . .. ..... . .• .•.. ... .• • 100
Café. .. ..... . . . . . ..•. 300 355
Bananal .... .. .... . .. . ... .• 43 36 000 2 304 000
Cacau .. .... ... .. ... .... ..• . 20
Seringa ... .. ... . . .. •. .... .. 43 117
Guaraná ... .... .. .. . ... . •.. . 6

FONTES: INCRA e MA. Comissão de Financiamento da Produção.


1 - Cachos.
aprovados e financiados pelo PROBOR, durante o ano agrícola 1976/ 77.
Essas culturas permanentes ainda não estão em fase de produção.
A ASTER-RO, Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural
de Rondônia, através de convênio com o INCRA, garante assistência
técnica aos parceleiros para os demais cultivos.
Com base em estudos realizados pela Secretaria de Agricultura
do Território, está sendo introduzida no Projeto e na Colônia de lATA
o cultivo do dendê, com o objetivo de proporcionar à área de Guajará-
Mirim, uma cultura adaptada às condições naturais da região (solos,
pluviosidade, umidade), capaz de elevar o nível de renda do setor agrí-
cola e, ao mesmo tempo, propiciar o desenvolvimento do setor industrial.
A primeira fase do programa prevê o plantio de 1.000 hectares, assim
distribuídos:
1977 160 ha
1978 320 ha
1979 520 ha
A escolha da cultura do dendê resultou de estudos realizados com
espécimes que haviam sido introduzidos na região, há cerca de 25 anos,
sem a preocupação de seleção de variedades de maior rendimento. O
sistema de beneficiamento da produção, a partir do quarto ano de
cultivo, está previsto para Guajará-Mirim, onde se situará a usina para
a extração de óleo do caroço e da polpa do dendê.
Além do emprego do óleo na indústria de comestíveis e de saboaria,
sua utilização é prevista, principalmente, para a siderurgia, no trata-
mento de aços especiais, setor em que o Brasil despende elevada soma
de divisas com a importação.
Quanto às culturas temporárias, os dados disponíveis demonstram
que a produção e a área cultivada em arroz, feijão e milho vêm cres-
cendo gradativamente, assim como as de mandioca, cultura mais re-
cente que se desenvolve bem nos solos pobres do Projeto (Figs. 42 e 43).
Há no PIC pequenas casas de farinha que beneficiam a produção,
vendida principalmente em Guajará-Mirim. O incremento da produção
coincide com o quarto ano consecutivo de exploração das parcelas no
regime de rotação de terras, o que só vem a reduzir a sua potencialidade.
Para o arroz, o Projeto dispõe de máquina com capacidade de bene-
ficiar 100 a 120 sacos diários.
Considerando-se o sistema de produção adotado, os índices de ren-
dimento da área estão dentro da média. O sistema de rotação de terras
sem adubação (roças) , em solos reconhecidamente fracos e onde a plu-
viosidade atinge cerca de 2.000 mm/ ano, pode trazer sérias conseqüên-
cias quanto à redução da produtividade, como já aconteceu na colônia
de IATA, caso não sejam efetivadas, em tempo, medidas conservacio-
nistas adequadas.
Com a finalidade de promover o sombreamento do cacau, a bana-
neira está sendo cultivada em 43 hectares. No ano agrícola 1975/ 76
a produção atingiu 36.000 cachos.

10.4.2 - A pecuária

Não era objetivo do Projeto desenvolver de imediato a pecuária,


por considerar-se que oneraria a sua implantação. Preferiu-se optar pela
introdução gradativa do criatório, como complemento da receita domés-
tica e fonte de abastecimento das famílias em carne, leite e ovos. O
sistema utilizado é o extensivo.

172
PIC SIDNEY GIRAO

PRODUÇAO AGRÍCOLA 1972 /76


toneladas

~000.-----------------------------------------------~

10000

5000

o
1972173 1973 /74 1974/75 19 75 / 76

!ZZn ARROZ
~ MILHO
~ FEIJÃO
rrm MANDIOCA
FONTE: INCRA

I2Sm BANANA

FIG. 42
PIC SIDNEY GIRÁO

ÁR~A CULTIVADA 1972/76

45001
Mctarcs

Out ras Cul t uras


Arr o z

r--

3 000
3 000

1 500
-
,--

D ARR OZ
o
n
19 72 / 73 1973/ 74 1974/75 1975/76 ·.

~ ~~~~~o
t2Z2J ~AND I OCA
~CA F É
0IIIIIIJ BANA NA FONTE : IN CRA

-CAC A U

F IG . 43

Os solos de baixa potencialidade justificaram o seu uso para pe-


cuária. O sistema adotado é o extensivo. Os pastos se encontram em
expansão, observando-se áreas de colonião, napier e jaraguá, em relevo
suavemente ondulado. O número de cabeças era o seguinte, em 1976:
Aves . ....... . ... . ... . 19 .921
Suínos .. . ..... . . ... . . 1.528
Bovinos ... . .... . . .. . . 1.248
Eqüinos e muares .. . . . . 66
1O. 4. 3 - O crédito e a comercialização
As facilidades de acesso ao crédito constituem fator importante
para o desenvolvimento agropecuário, ainda mais quando se trata de
colonização oficial com beneficiários de baixa renda. Durante o ano
agrícola 1975/ 76, o Banco do Brasil, Agência de Guajará-Mirim, finan-
ciou 328 parceleiros, ou seja, 64 % das famílias assentadas, no total de
Cr$ 8.827.504,00 para atividades agropecuárias. Desse montante,
Cr$ 1.842.435,00 foram destinados a investimentos nas parcelas. O re-
torno do crédito faz-se normalmente, sobretudo depois que o Banco
do Brasil passou a comprar e armazenar a produção.
Há também em Guajará-Mirim uma agência do Banco da Ama-
zônia, que financia a cultura da seringueira, atualmente em implan-
tação no Projeto.

174
Faz-se necessar10 intensificar os entendimentos com as entidades
financiadoras que operam na região, no sentido de serem ampliadas
as facilidades creditícias aos parceleiros. Tal medida ganha maior im-
portância para as culturas permanentes que vêm sendo introduzidas
e que devem constituir o suporte econômico do Projeto.
O sistema de comercialização, incluindo armazenagem e transporte,
ainda constitui sério entrave ao desenvolvimento do PIC. Está sendo
implantada a cooperativa, mas a produção ainda é vendida diretamente
pelos parceleiros a intermediários, para os mercados de Guajará-Mirim,
Porto Velho, Rio Branco e Guayaramerín (Bolívia).
Torna-se premente a necessidade de ampliar a capacidade de arma.:.
zenamento da produção, uma vez que o Projeto conta apenas com dois
armazéns de madeira, com capacidade para 10.000 sacos cada um.
O sistema viário implantado na Amazônia Ocidental, a partir da
década de 60, teve o objetivo de integrar essa região ao Sudeste do
País, através da BR-364, da BR-319 e da BR-425. Esta liga Guajará-
Mirim e Abunã a Porto Velho, e veio substituir a estrada de ferro
Madeira-Mamoré, hoje erradicada. A ferrovia deu lugar a uma ocupa-
ção linear, nucleada em alguns pontos ao longo do seu leito. Esses
núcleos permanecem estagnados, apesar da construção da BR-425, que
garante a ligação do oeste do Território com o Sudeste do País, Rio
Branco e Manaus, através da conexão com a BR-364, na altura de
Abunã.
A construção da BR-425 permitiu intensificar as relações de Gua-
jará-Mirim com Porto Velho e o Centro-Sul, tornando-as mais regu-
lares e mais rápidas. A área do Projeto é cortada por esta rodovia, pela
antiga ferrovia e futuramente poderá ser também pela BR-421, que
deverá ligar a BR-364, a partir de Ariquemes, a Guajará-Mirim, utili-
zando, possivelmente, como alternativa do traçado uma estrada vicinal
do Projeto Sidney Girão, em boas condições de tráfego, e que dá acesso
ao Núcleo Urbano n. 0 2, mais conhecido como Núcleo Secundário. Se
tal acontecer, novas perspectivas de desenvolvimento surgirão para a
área, uma vez que se poderá utilizar o frete de retorno para o Sudeste,
através dessa rodovia.
Situado a 64 km ao norte de Guajará-Mirim, o Projeto dista 270 km
da Capital do Território e 420 km de Rio Branco, constituindo essas
cidades mercados potenciais para o incremento da atividade agrícola.
Além disso, há também a possibilidade de exportação de produtos para
a Bolívia, através de Guayaramerín, cidade boliviana à margem esquerda
do Mamoré, na fronteira com o Brasil. O acesso a Manaus, tanto para
o escoamento da produção regional como para a importação de bens
inexistentes em Porto Velho, é garantido pela BR-319, que conecta com
a BR-364 e esta, por sua vez, com a BR-425.
Em conseqüência da abertura dessas rodovias, o comércio de Gua-
jará-Mirim se intensificou a partir da década de 60, muito mais com o
Sudeste, especialmente com São Paulo e o Rio de Janeiro, do que com
a região Norte. Guajará-Mirim distribui bens e serviços para a cidade
boliviana de Guayaramerín e constitui o centro urbano mais importante
do oeste do Território, atendendo não só à população do Projeto, como
à de lATA e à do vale do Guaporé.
Para dar acesso às parcelas e facilitar o escoamento da produção,
o PIC conta na área ocupada com 168,5 quilômetros de estradas vici-
nais, dos quais 131,5 km estão encascalhados, oferecendo condições de
tráfego durante todo o ano. Na área de expansão foi prevista a cons-
trução de 881 km de estradas vicinais nos próximos três anos, o que
dará ao Projeto uma rede viária interna de 1.049,5 km.

175
Quanto aos transportes aéreos, existem vôos comerciais da TABA
(Transportes Aéreos da Bacia Amazônica), entre Porto Velho e Guajará-
Mirim, e linhas de ônibus diárias entre as duas cidades, passando pelo
PIC. Este dispõe de uma pista de pouso encascalhada, com 1.150 m de
extensão, uma estação de rádio para transmissão e recepção, bem como
um posto da TELERON (Telecomunicações de Rondônia, Posto
Ribeirão).
Os 201.800 ha anexados aos 53.700 ha, que até recentemente cons-
tituíam o PIC, possibilitarão o assentamento de mais 1.975 famílias,
em parcelas de 100 e de 250 ha. Esses novos beneficiários deverão ser
transferidos de outros Projetos do INCRA em Rondônia, onde há exce-
dentes de pessoas que permanecem junto a famílias de parceleiros, na
esperança de virem, também, a obter seu lote. Além desses, a nova
área deverá receber igualmente os que já foram selecionados e aguar-
dam oportunidade de aproveitamento em algum Projeto, assim como
os que se deslocam pela BR-425 no fluxo migratório que demanda ao
Território.
A região de Guajará-Mirim é ainda economicamente estagnada,
mas de expressiva importância política, em vista de sua localização na
faixa de fronteira com a Bolívia. Com uma população bastante rarefeita,
a área ainda não conseguiu substituir a atividade extrativista deca-
dente por outra de maior rentabilidade.
Embora devesse constituir uma faixa agrícola em zona de extra-
tivi.Smo tradicional, o Projeto Sidney Girão não criou ainda na região
maiores impactos, sobretudo porque sua base econômica continuou
sendo a das culturas temporárias tradicionais (arroz, milho e feijão)
pelo sistema de roças, o que em nada ajudou a elevar o nível de ingressos
dos parceleiros. Só recentemente o INCRA incrementou um programa
de introdução sistemática de culturas permanentes que, além de favo-
recerem a proteção do solo, devem proporcionar à população local a
médio prazo, uma renda compatível com a do pequeno empresário
rural, que todos se propõem a ser. Esse fato, e a inclusão no Projeto
de uma área que possibilita aumentar de imediato a população benefi-
ciada de 2.555 para 12.430 pessoas, podem trazer novas perspectivas
para a região; naturalmente, se não faltarem os necessários mecanismos
creditícios e um sistema de comercialização que inclua armazenagem
e transporte da produção.

176
Capítulo 11 - A BR-421, DE ARIQUEMES A GUAJARA-MIRIM

Partindo de Ariquemes, à margem da BR-364, o traçado da rodovia


se dirige para SW, atravessando o vale do Jamari e vários de seus
afluentes, até encontrar o divisor secundário da serra dos Pacaás Novos,
que acompanha, infletindo a estrada para oeste, em direção a Guajará-
Mirim (Mapa n. 0 11). Porque atravessa uma zona de ocorrência de cassi-
terita, situada no alto Candeias e no vale do Massangana, a estrada é
conhecida como rodovia da cassiterita. Apresenta condições precárias
de tráfego durante o ano, tornando-se praticamente· intransitável na
estação das chuvas. Tal fato muito dificulta o abastecimento e o escoa-
mento da produção dos setores Massangana, da Mineração Taboca, e
Campo Novo, da MIBRASA; este, situado no final dos 100 km abertos
da estrada, é o que apresenta maiores dificuldades de comunicação por
terra.
Na faixa de influência da BR-421, sobretudo do km 9, partindo
de Ariquemes até a entrada da Mineração Massangana, observa-se a
existência de uma ocupação intensa, recente e espontânea, que ainda
se encontra em fase de desbravamento, e que a ação do INCRA começa
em parte a ordenar, com a implantação dos Projetos Marechal Dutra
e Burareiro.
Capoeiras, derrubadas e trechos de mata brocada alternam-se com
roças de mandioca, milho e banana, enquanto as habitações se sucedem
nas duas margens da estrada, em habitat linear disperso.
Antes da abertura da BR-421, que se deu a partir de 1973, os
habitantes da área atravessada pela rodovia eram, em geral, seringuei-
ros e, já na década de 60, também garimpeiros de cassiterita, no alto
Candeias e no vale do Massangana, ambos afluentes do Jamari. Todo
o vale do Jamari costituiu, no passado, uma zona de exploração de
seringais relativamente importantes. Em poucos anos, porém, essa fisio-
nomia de extrativismo e garimpo sofreu uma profunda transformação.
Se, de um lado, a atividade mineradora ainda continua, de outro, ela
se apresenta agora sob a forma de lavra mecanizada, tendo em vista a
exploração racional do minério, para fins de industrialização.
Na faixa da BR-421, área de intenso povoamento recente, torna-se
bastante difícil estimar a população residente. Os dados do censo de
1970 são anteriores à abertura da estrada e o maior afluxo de população
se deu a partir de 1974, coincidindo com a perspectiva de implantação
de Projetos do INCRA. No entanto, tentou-se formular uma estimativa,
com base em dados da SUCAM, cujas primeiras atividades na faixa
hoje servida pela rodovia datam de 1968 e 1969, embora de forma des-
contínua, em áreas da Mineração Jucá. As do INCRA são bem mais
recentes, uma vez que os Projetos Marechal Dutra e Burareiro só come-
çaram a ser implantados em 1976.

177
Os dados da SUCAM, referentes a 22 localidades do Setor BR-421
no município de Porto Velho, tomados em diferentes épocas entre 1968
e 1974, revelam a existência de 914 habitações com 2.150 pessoas, núme-
ros que em 1976 baixaram para 830 (menos 9,2 %) e 1.777 (menos
17,3 %), respectivamente (quadros 25 e 26).

Quadro 25
RONDôNIA, BR-421, MUNICíPIO DE PORTO VELHO. HABITAÇõES,
SEGUNDO O SETOR DE ATIVIDADE DOS MORADORES -
1968/ 74 E 1976

VARIAÇÃO
SETOR DE AT IVIDADE 1968/74 1976
Abso luta Relativa (%) -

Agricultura . 187 466 +279 +149,2


Mineração ... .......... 727 364 -363 - 50,0

TOTAl. .... . .. .. . ... 914 830 - 84 - 9,2

FONTE : SUGAM (dados primários).

Quadro 26
RONDôNIA, BR-421, MUNICíPIO DE PORTO VELHO. HABITANTES,
SEGUNDO O SETOR DE ATIVIDADE ECONôMICA - 1968/ 74 E 1976

VAR IAÇÃO
SETOR DE ATIVIDADE 1968/74 1976
Absoluta Rel ativa (%)

Agricultura . 506 1 147 + 641 +126.7


Mine ração .. 1 644 630 -1 014 - 61.7
TOTAl. 2 150 1 777 - 373 - 17,3

FONTE : SUGAM (dados primários).

A diferença para menos, entre o período considerado (1968-74) e


o ano de 1976 corre à conta do acentuado decréscimo da população
ocupada na atividade mineradora, ao passo que aumentava o contin-
gente n o setor agrícola.
Nas localidades de mineração a população decresceu sensivelmente
(61,7 %). Dentre elas, somente duas -São Domingos e Campo Novo,
da Mineração Jucá - tiveram acrescido seu número de habitantes, em
48% e 30%, respectivamente, durante o interregno focalizado (quadro
27). Enquanto isso as localidades consideradas agrícolas apresentaram
um crescimento global de 126,7 % (quadro 28).
Na faixa da rodovia se localizam 300 parcelas do Projeto Marechal
Dutra e cerca de 70 do P AD Burareiro, número que tende a aumentar
quando forem abertas, neste último Projeto, duas estradas vicinais pro-
gramadas para 1978, as quais darão acesso à BR-421.

178
Quadro 27

RONDôNIA , MUNICíPIO DE PORTO VELHO, SETOR BR-421.


HABITANTES DAS LOCALIDADES MINERADORAS E EMPRESAS
QUE NELAS ATUAM - 1968/ 74 E 1976

HAB ITAN TES


LOCALIDAD E E EMPRESA
DE MINE RAÇÃO Variação
1968/74 1976
Absoluta Relativa (%)

S. Domingos (Jucá) . . .. ... . .. . . . . . .. .. . .. 150 222 + 72 +48,0


Cafeza l (Mass.) .. ... . . ... .. ... 45 22 23 - 51,1
Boa Sorte (M ass .) .. . .. ..... ...... 385 13 372 - 96,6
Bom Jardim (Mass. ). . . . .. ... .. .. .. .. .... 245 10 235 -96,0
Campo Novo (Jucá) . .. . . . .. .. . 141 183 + 42 +30,0
Riachue lo (Jucá) .. .... .. . . 39 3 36 -92.3
União (Jucá ) . .. . . . .. ·· ···· ····· ······ ·· 150 23 127 -85, 0
S. Domingos (Mass.) .. 459 140 319 -69,5
Civa (Mass.) . . ..... .............. 30 14 16 -53,3

TOTAL .. ... .•....... 1 644 630 - 1 014 -61.7

FONTE: SUCAM. Porto Velho, Rondônia.

Quadro 28

RONDôNIA, MUNICí PIO DE PORTO VELHO, SETOR BR-421.


HABITANTES DAS LOCALIDADES AGRíCOLAS
1968/ 74 E 1976

HAB ITANTES

LOCALIDADES Variação
1968/74 1976
Absoluta
I Relativa (%)

Recreio . .. . ... .. .. .. . .. .... . . ..... . ... .. . 43 -40 93, 0


BR-421 (Ariquemes) ·· ····· ········ ··· ·· 233 221 -12 5,0
BR-421 (Sobral) .. .. . . ... . . .. . ....... . . . 27 161 +134 + 496.3
BR-421 (S. Rafae l). ·· ·· · ············· · 15 77 + 62 + 413.3
Boa Hora........ . . ··· ········· ···· 19 76 + 57 + 300,0
Valha-me-Deus. . ... ... ...... .... .... ... . 34 70 + 36 + 105,9
Três de Julho ... ...... .... .. ............ 5 21 + 16 + 320,0
Boa Vista .. ... . ······ ············· ·· 31 101 + 70 + 225,8
Santa Cruz. ··········· ······ ············ 2 7 + 5 + 250,0
São José . . .. . ··· ·········· ·· 26 74 + 48 + 184,6
Acamp. C. M. O ···· ··· ······ ······· ··· ·· 64 88 + 24 + 37,5
Onça Parda . ....... .. .... 6 29 + 23 + 383,3
Pau de Fogo . . . . . . . . . . . . 219 +21 8 21 800, 0

TOTAL ·········· ·· 506 1 147 +641 + 126.7

FONTE : SUCAM. Porto Velho, Rond ôni a.

179
Embora os números não demonstrem toda a intensidade do pro-
cesso de ocupação na faixa da BR-421, permitem todavia deduzir que
a atividade agrícola assuma um papel cada vez mais importante, ao
lado da mineração. Esta é de grande valor econômico, mas emprega
hoje menor número de pessoas, ao passo que a agricultura, embora
ainda incipiente, tende a tornar-se preponderante, na região, quanto
ao total de área explorada e número de pessoas ocupadas, pois os dois
Projetos do INCRA têm sua base econômica fundamentada no cultivo
do cacau, produto destinado sobretudo ao mercado externo.
A mudança tecnológica que se processou nas zonas de cassiterita,
com o fechamento dos garimpos e a instalação da lavra mecanizada,
explica o decréscimo de população naquelas áreas. Exigindo mão-de-
obra menos numerosa, porém, mais qualificada, a lavra liberou muitos
dos antigos garimpeiros. Esse fato coincidiu com o início da implantação
pelo INCRA, dos Projetos de Assentamento de Agricultores sem terra,
em Rondônia. O primeiro Projeto, Ouro Preto, começou em 1970, e o
fechamento dos garimpos se deu em 1971. Desse modo, um certo per-
centual de antigos garimpeiros se transformou em agricultores e muitos
hoje vivem em Projetos de Colonização, ao lado de parceleiros de outras
regiões do País.
Quando concluída, a BR-421 se estenderá por 282 km e completará,
com a R0-02, a ligação do oeste do Território com o Sudeste brasileiro,
através da Cuiabá-Porto Velho. Tal fato trará novas perspectivas de
desenvolvimento para os vales do Mamoré e do Guaporé, que ainda
permanecem bastante isolados, em razão de serem os dois rios as únicas
vias naturais de circulação até Guajará-Mirim. Daí até Porto Velho,
a BR-425 garante o tráfego durante todo o ano, ao longo do trecho
encachoeirado do Madeira, em substituição à antiga ferrovia Madeira-
Mamoré.
Com a construção da BR-421 e da R0-02, tornar-se-ão mais fáceis
e rápidas as relações da fronteira Brasil-Bolívia com o Sudeste, as
quais hoje se fazem apenas através da BR-425 que, em Abunã, en-
tronca-se com a BR-364, possibilitando assim a ligação com Porto Velho,
Manaus e os mercados do sul.
Estima-se que a conclusão da BR-421 permitirá reduzir, em pelo
menos seis horas, o tempo de duração das viagens para Rio Branco
dos veículos que vêm do Sudeste. Esse deslocamento, que hoje se faz
via Porto Velho, poderá então ser efetuado pela BR-364 até Ariquemes;
daí até Guajará-Mirim pela BR-421, para prosseguir pela BR-425 até
Abunã, quando novamente seria utilizada a BR-364 em direção a Rio
Branco. Tal fato poderá concorrer para dinamizar a faixa da antiga
ferrovia Madeira-Mamoré, entre Abunã e. Guajará-Mirim, que hoje se
encontra estagnada, uma vez que a tendência seria aumentar o fluxo
de veículos e de mercadorias.
Não se pode minimizar a importância da rodovia para o desenvol-
vimento do Território, uma vez que, apesar das suas más condições de
tráfego já permite o abastecimento e o escoamento da produção de
cassiterita do alto Candeias e do Massangana e, no futuro, servirá
também ao transporte do cacau dos Projetos Burareiro e Marechal
Dutra.
Além disso, se tiver sucesso a cultúra do dendê para a faixa de
Guajará-Mirim ora em implantação pela Secretaria de Agricultura de
Rondônia e pelo INCRA e.ssa produção, já beneficiada, poderá sair tam-
bém pela rodovia, que desse modo, servirá para o escoamento de três
importantes produtos industrializáveis, além de permitir também a
dinamização da vida de relações de parte da região oeste do Território
e da área boliviana fronteiri ça com o Brasil.

180
Capítulo 12 - MINERAÇÃO DA CASSITERITA

IRENE GARRIDO FILHA

o descobrimento de cassiterita · no Território Federal de Rondônia,


em 1952, e o início da correspondente atividade mineradora, a partir
dos fins daquela década, propiciaram a mais significativa fonte de renda
para o Território e, para o Brasil, a economia das divisas até então
gastas com a compra do concentrado do estanho, no exterior.
Rondônia transformou-se no maior produtor brasileiro com 4.350 t,
em 1975, volume que representava 63 % do total nacional. As reservas
foram avaliadas, para Rondônia, em 55.000 t; e, para o Brasil, em
100.000 t, o que o classifica entre os 10 maiores possuidores de estanho
do mundo 53 • Segundo estudos preliminares, acredita-se que haja, em
Rondônia, cerca de 3 milhões de toneladas 54 • É importante considerar
que se trata de ocorrência com alto teor (66 %).
A principal utilidade do estanho metálico é a fabricação de folha-
de-flandres, cujo maior produtor é a Companhia Siderúrgica Nacional,
em Volta Redonda. Obtêm-se, ainda, soldas, ligas etc. O mercado na-
cional, nestes setores, amplia-se a cada ano.
Em Rondônia ocorrem grandes massas graníticas, cortando outras
rochas pré-cambrianas (gnaisses, quartzos etc.) do escudo Sul-Ama-
zônico.
A Província Estanífera de Rondônia, estabelecida pelo DNPM, em
1968, ultrapassa os limites do Território. A cassiterita aí encontrada,
conforme Sayão Lobato 5 5 , surge relacionada, geneticamente, com o
granito, e resulta da mineralização das rochas, por ação hidrotermal e
pneumolítica, através de fraturas. Nos veios, então, aparecem cassiterita,
quartzo, greisens e peraciditos. São as jazidas primárias ou Stockwerke.
As jazidas detríticas de cassiterita, aí conhecidas, se encontram em
volta de maciços graníticos. São do tipo constituído por coluviões e
eluviões, quando afastadas do leito dos igarapés, e por aluviões, quando
lhe estão próximas (mapa 18).

12 .1 - A GARIMPAGEM

A cassiterita foi encontrada, pela primeira vez, em Rondônia, nas


terras do seringal do Sr. Joaquim Pereira Rocha, no vale do rio Macha-
dinha, por garimpeiros de ouro, em 1952. Sua exploração econômica só
53 DNPM, 8. 0 Distrito. Encontro nacional sobre estanho. Manaus, 1976. 116 p.
G4 Informação do geólogo Melchiano Simões, da CPRM, Porto Velho, junho
de 1976.
55 LOBATO, Sayão et alii. Pesquisa de cassiterita no Território Federal de
Rondônia; relatório final 2.a impressão. Rio de Janeiro, DNPM. 1967, 209 p (Bo-
letim, 125) .

181
+
+ +
+ + + +
+ + + +
+ + +~

4: +
+
+
+
+
+
+ ~:
ij :t::
~ +-+++
+ + + +
+ +
+
+ + + +~+
++++++

R
RONDÓNIA E REGIÕES VIZINHAS

AREA MINERALIZADA
ESTANHO ESCALA : 1:5.000.000

METALOGENIA DA
BASE TECTÔNICO- GEOLÓGICA PLATAFORMA CRATONIZADA
Cobertura Sedimentar Não- Da brada lntracratônica
(Mais Antiga) AREA MINERALIZADA-ESTANHO
Cobertura Sedimentar Dobrada-
Dom{nio Te_c tônico da Plataforma Amazônica
Embasamento Cri~talino
Plataforma Amazõnica (Mais Antiga)
Zona Tectônica Rondônica Fonte : Mapa Metalogenético do Brasil -DNPM -1973

MAPA 18
se iniciaria em 1959. A seguir, a produção aumentou progressivamente,
como indicam a figura 44 e os dados do DNPM, abaixo transcritos
(em toneladas) :
1959 .... .. . . 18 1968 • • o ••• •• 2 800
1960 . . .. .. . . 49 1969 • • •• o •• • 3 500
1961 ..... . . . 35 1970 • o •• ••• • 5106
1962 .. . .... . 678 1971 • ••• o o • • 1 702
1963 .. . .. .. . 1038 1972 . ....... 3 752
1964 . . ..... . 818 1973 o • • •• • o. 3 672
1965 ... ... . . 2 459 1974 • o •• o ••• 3 935
1966 .. . .... . 2 040 1975 o • • • •• •• 5 094
1967 . . .... . . 2 239
-·-
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO
DE CASSITERITA EM RONDÔN IA

5!:>00
5000·
4500
4000
3500
3000
~500

2000
1500
1000
500
o L,~~~~~~~~~~~~~~~--
59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75
Fonte : DNPM

FIG.44
Dois motivos explicam esse crescimento da produção: a) os serin-
galistas se interessaram em mandar pesquisar suas propriedades; e
b) atraído pelas possibilidades de garimpagem, afluiu para o Terri-
tório grande número de pessoas do meio norte (Maranhão e Piauí) e
nordeste (Ceará e Pernambuco) , além de elementos evadidos dos serin-
gais. Acresce que a abertura da BR-364 (Rodovia Porto Velho-Cuiabá)
facilitou a movimentação de pessoas e o incremento da produção .
.Os garimpos concentravam-se nos altos cursos dos rios Candeias,
Massangana, Jamari, Jacundá, Machadinha e no próprio rio Madeira
(mapa 19) .
Os seringalistas, no entanto, não podiam assumir o controle da
exploração, por falta de capital e de experiência no ramo. Constituíram-
se, então, grupos de fora do Território, com capitais nacionais e estran-
geiros, que foram adquirindo seringais, responsabilizando-se, assim, pela
transformação da economia local. Desta forma, a CESBRA- Compa-
nhia Estanífera Brasileira - comprou os seringais Esperança (onde
instalou a Mineração Santa Bárbara); São Pedro, no alto Candeias;

183
TERRITÓ RIO FEDERAL DE RONDÔNIA

GARIMPOS E LAVRAS DE CASSITERITA


1968

(B · LAVRA

c GARIMPO

ESCALA r5.000.000

Elaborado por : Miriam G.GC. Mesquita


MAPA 19 ·
São Sebastião no Abunã; e São Carlos, no Jamari. Nos três últimos
praticava-se a' garimpagem. A MACISA- Mineração Amazônia Indús-
tria e Comércio S.A. - adquiriu a propriedade do Sr. João Leal, no
alto São Lourençó; e a FERUSA - Companhia de Mineração Ferro
Union -, o seringal União e a Mineração Rocha, onde também ante-
riormente se explorava a seringueira 5 G.
Existiam, em Rondônia, em 1968, dez companhias de mineração:
Jucá, Mamoré Metalurgia e Companhia Industrial Vale do Amazonas
- CIVA -, no vale do Candeias; Santa Bárbara e Mineração de Ron-
dônia Ltda., no alto Jamari; Massangana, no vale do rio do mesmo
nome; Mineração Rocha, no vale do rio Machadinha; Jacundá, no vale
de igual nome; e São Lourenço e MACISA, no n oroeste do Território 57 •
Havia, na realidade, grandes grupos dominando a mineração: a
FERUSA (da Billiton, subsidiária da Shell) associada a I. B. Sabbá, de
Manaus, explorando a Companhia de Mineração Jacundá, a Mineração
Rocha Ltda. e a Companhia de Mineração São Lourenço; a BEST
Metais e Soldas, com a Mineração Jucá e a CERIUMBRÁS; a Companhia
Bárbara e a Companhia Industrial do Vale do Amazonas - (CIVA);
a MACISA - Mineração da Amazônia Comércio e Indústria S.A., de
capitais paulistas, com garimpos no alto São Lourenço e na serra dos
Três Irmãos (Mesquita, ref. 52).

12.1 .1 - Técnicas

A garimpagem é um processo rudimentar, depredatório, em que


se utilizam pás e picaretas para abrir as catas escavações retangulares
com dimensões superficiais entre 4m X 4m e 4m X 6m e profundidade
de 2,5 a 5m, até alcançar a piçarra, horizonte da rocha decomposta 58 •
(fig. 45) o

Era feita nos depósitos aluviais. Na estação chuvosa, entretanto,


praticavam-na nos sequeiros, isto é, nos terraços mais altos; diminuía,
porém, a intensidade do trabalho. Calculava-se que 40 a 50 % dos garim-
peiros iam, nessa época, dos garimpos para as cidades ou, então, para
as colônias agrícolas 5 n. Caracterizava-se, assim, como atividade sazonal.
A princípio, o material desmontado era concentrado em bateias
(fig. 46). Sayão Lobato 60 considera a perda, no sistema de batear, su-
perior a 50 % . Após 1969, passou-se a realizar a lavagem do cascalho
em pequenas caixas, com o comprimento máximo de 3 m, ligeiramente
inclinadas, denominadas sluices (comporta). Para isto, utilizavam
bombas.
A cassiterita de Rondônia apresenta grande porcentagem de ilme-
nita (titanato ferroso). Nos garimpos, fazia-se o teste numa proveta
de estanho, com ácido clorídrico. Depois de ferver, o minério era colo-
cado num recipiente com água: a cassiterita ficava clara, o ferro escure-

56 Neste, como em alguns outros pontos, foram utilizados subsídios de tra-


balho, ainda inédito, da geógrafa Myriam Mesquita, bem como informações de
dirigentes e de empregados de companhias de mineração e da CPRM.
57 MESQUITA, Myria m . A exploração da cassiterita em Rondônia, em 1968;
Inédito.
58 SOUZA, W.O. & CURVELO, J.L. Método de lavra de cassiterita na Provín-
cia Estanífera de Rondônia. G eologia e Metalurgia, 32: 283-317. Centro Moraes
Rego, USP, 1971.
59 Informações obtidas no garimpo Campo Novo no vale do Candeias em
1968.
ao Referido por SOUZA, W.O. & CURVELO, J.L ., op. cit. (ver ref. 53).

185
F1g. 45 - Formação de urna frente no antigo garimpo de cassiterita de Campo Novo, no alto
Candeias, em 19 . 8.1968. Not ar, na cata do 1. 0 plano, o cascalho que será bateado.
Foto Gilson Costa

Flg. 46 - Garimpagem de cassiterita, numa a n tiga f rente em Campo Novo, em 19 .8. 1968. Notar,
na bateia à direita, a cassiterita concentrada pelo movimento manual de rotação.
Foto Gilson Costa

186
cia, oxidava-se. Numa separadora magnética, extraía-se, então, a
ilmenita da cassiterita. O pagamento ao garimpeiro era feito após
abater-se o teor de ferro. As impurezas minerais, como a ilmenita, não
eram e continuam não sendo aproveitadas.
Os garimpos não chegavam a ocupar 60 % da área mineralizada,
porque se concentravam nas zonas de melhor produção, temendo os
garimpeiros que houvesse queima ou blefe. Assim, as áreas intensa-
mente garimpadas eram: Alto Candeias, Massangana, Cachoeirinha,
Igarapé Preto, São Francisco, FAG-2 e Ribeirão do Riachuelo; as menos
exploradas: São Lourenço, MACISA, CERIUMBRAS, Jacundá, Oriente
Novo e Rio das Garças.
Uma cata de 40m 3, por exemplo, poderia produzir seis sacos de
50 kg de cassiterita, isto é, 300 kg, rendendo o material desmontado,
7,5 kg de Sn 02 (dióxido de estanho) por metro cúbico (Souza & Curvelo,
ref. 58) . Esta era, segundo o jargão local, uma cata bamburrada, isto é,
que dava bom lucro. Menos que isto, diziam-na cata blefada. Sabendo-se
que, com a mecanização, podem-se aproveitar, economicamente, minas
com teor de até 0,350 kg de Sn Q2/ m 3 , tem-se a perfeita noção da
precariedade do processo de garimpagem (DNPM, 8.0 Distrito , ref. 53).
O acesso ao garimpo era difícil. Todas as companhias dispunham
de campos de pouso, homologados pelo Ministério da Aeronáutica, e
para eles era levada a produção das várias frentes de trabalho, em
lombo de burro ou em pequenos tratores. Do garimpo, o minério saía
de avião até Ariquemes- que era o centro de convergência- de onde
partiam os caminhões, para o Sudeste ou Porto Velho, pela BR-364
(Porto Velho-Cuiabá). Existiam 15 aviões de transporte em 1968, com
a capacidade de 400 kg cada um. Eram de particulares, e faziam seis
viagens diárias em média. O piloto recebia 20 % sobre o frete (Mesquita,
ref. 57).
Junto ao campo de pouso, geralmente, crescia um núcleo, com as
casas dos garimpeiros, escritório, depósito e local de beneficiamento da
cassiterita da Companhia, formando um habitat do tipo Reihensiedlung.

12.1. 2 - Aspectos sociais


Os garimpeiros inicialmente vendiam o produto de seu trabalho,
sem preço estipulado, às companhias compradoras ou aos pilotos. Pos-
teriormente, foi determinado, pela Portaria Interministerial n. 0 5, de
27-4-1970, o preço de Cr$ 7,40/ kg, que seria pago aos garimpeiros, pelas
companhias detentoras de alvarás de pesquisa.
Esses trabalhadores, sem meios de comunicação com os núcleos
urbanos do Território, viviam isolados, ficando, por isso, à mercê das
companhias, não só para vender o minério, como, também, para com-
prar ferramentas, alimentos, roupas e medicamentos, sempre a preços
muito mais elevados do que os vigentes em Porto Velho. Era o sistema
do aviamento. Além disso, com a adoção dos sluices, eles passaram a
pagar o aluguel das motobombas.
Recebiam, após a referida fixação do preço, Cr$ 2.200,00 por 40m3
de material entregue, o que representava o trabalho de dois homens
durante 15 dias, isto é, Cr$ 2.200,00/ homem/ mês (Souza & Curvelo,
op. cit., ref. 58) , sem levar em conta os garimpos queimados. Só o alu-
guel da motobomba era de Cr$ 100,00 a Cr$ 150,00/ dia.
Os garimpeiros trabalhavam sempre em grupos de dois ou mais.
Uma frente (escavação onde trabalhavam) era vendida a Cr$ 2.000,00

187
ou Cr$ 3.000,00 (Souza & Curvelo, op. cit., ref. 58). Quarulo o garimpeiro
chegava, não tinha dinheiro para pagá-la. Começava, então, como dia-
rista; mais tarde podia tornar-se sócio.
Segundo Mesquita (ref. 57), um garimpeiro conseguia extrair, em
média, por dia, um litro de cassiterita, que equivalia a 5 kg do minério.
O preço d.o quilo, livre de impurezas, era de Cr$ 3,30; abatendo-se 50 %
da avaliação das impurezas contidas, reduzia-se a Cr$ 1,65. Ele, então,
ganhava Cr$ 8,25 diários, ou Cr$ 247,50 mensais, contando-se apenas
um dia de descanso por mês. Só para comprar pá e bateia, necessitava
trabalhar quatro dias por mês, mas como é de 30 dias a durabilidade
média desses instrumentos, o desconto se tornava permanente. Levando-
se em conta os preços dos gêneros de primeira necessidade, as declara-
ções que os donos das companhias de mineração faziam ao governo
sobre os lucros e gastos dos garimpeiros eram completamente falsas.
Na realidade, a garimpagem proporcionava tão só a mera sobrevivência
ao trabalhador e à sua família, mas com um padrão de vida miserável,
residindo em casas temporárias e improvisadas, localizadas nas frentes
(fig. 47) ou em bairros paupérrimos de Porto Velho.

12.2 - A LAVRA MECANIZADA

12.2 .1 - Técnicas

Na Província Estanífera de Rondônia, empregam-se, atualmente,


diversas técnicas de lavra, na dependência de vários fatores: facilidade
de desagregação do material, quantidade disponível de água, topografia,
distância entre a lavra e a estação de tratamento etc.

Flg. 47 - Rall!Cho de garimpeiro de cassiterita, na antiga corrutela de Campo Novo, no alto


Candeias. em 19.8 .1968.
Foto Gllson Costa

188
No desmonte hidráulico (fig. 48) faz-se uma barragem do tipo
chinês, isto é, construída com galhos, estacas e folhas de palmeir.as, .
com capacidade para grandes quantidades de água (350.000 m 3 ). Uma
bomba alimenta monitores, com vazão de 350m 3 / h e pressão de 7 kg/ cm2 •
Um dos monitores desmonta e desagrega o material e o outro dilui
e arrasta o minério até o poço de acumulação. Em seguida, o material
é. succionado por bomba de cascalho (Souz!l & Curvelo, op. cit., ref. 58).
A dragagem (fig. 49) exige grande volume de material e que ele
~eja facilmente desagregável; é indispensável, também, água abun-
dante. A vantagem do seu emprego é o aproveitamento total da jazida,
que trabalha com teores de até 600 g de Sn 0 2 / m 3 • Uma draga tem
capacidade para lavrar 60.000 m 3 / mês, trabalhando 24 horas por dia
(19) (Souza & Curvelo, op. cit., ref. 58).
Há vários métodos de tratamento do minério, com o uso de peneiras
e jigs, hidrociclones etc. As instalações (plantas) variam da washing
plant ao trem (DNPM, 8.o Distrito, op. cit., ref. 53).
A MIBRASA utiliza, em Santa Bárbara, a washing plant (fig. 50),
alimentada por retroescavadeira. No caso, o teor de cassiterita é baixo
(200 g/ m 3 ), mas o de óxido férrico (Fe 203 ) é de apenas 6 %. No setor
Candeias, faz-se o desmonte hidráulico e · emprega-se uma draga Yuba.
Aí, a cassiterita tem alta pureza; seu teor mínimo é de 70 %, e não
contém impurezas, como arsênico e enxofre.
A Mineração Taboca usa também o desmonte hidráulico e a washing
plant, nos três setores (fig. 51). Em Massangana, ocorrem até 10 %
de ilmenita, e a cassiterita é levada à separadora magnética para reti-
rar-lhe a impureza. O teor de estanho é de 65 % e, em média, encontra-se
1 kg de .cassiterita por metro cúbico de material. No setor Igarapé
Preto, a zirconita aparece numa proporção de 15 % do concentrado,
constituindo valioso subproduto, ainda não aproveitado.
A Mineração Oriente Novo S.A. recorre, também, ao desmonte
hidráulico, exceto no setor Cachoeirinha, onde está instalada uma
draga. Ao desmonte hidráulico associa-se o trem, uma instalação com-
pleta que contém concentração e separação, exceto a magnética (fig. 52).
O desmonte hidráulico é empregado, também, nos dois setores (Caneco
e São Sebastião) da Mineração Jacundá.
A água é fundamental no processo da mineração. Todas as empresas
aproveitam os igarapés. Na área da Santa Bárbara, a estação seca é
particularmente pronunciada e a empresa construiu sete represas, com
capacidade total de acumulação de 600.000 m 3 de água, para atender
às necessidades da mineração.
O problema da energia em Rondônia é crucial, e mais ainda se
torna em áreas de mineração. Em Massangana, por exemplo, gastam-se
150.000 litros de óleo Diesel por mês, que somados ao consumo das
escavadeiras empregadas no desmonte hidráulico totalizam 240.000 li-
tros mensais.
A cassiterita produzida tem destino variado, relacionado com a
localização da indústria metalúrgica do grupo ao qual pertença a com-
panhia mineradora. Assim, a produção da MIBRASA se destina a Volta
Redonda; a da Mineração Jacundá, à usina metalúrgica da Companhia
Industrial Fluminense, localizada em São João del Rei; a da Mineração
Taboca vai para a Fundição Mamoré, em São Paulo; a da Mineração
Oriente Novo, do grupo Itaú, segue parte para Manaus (Companhia
Industrial Amazonense) e parte para São João del Rei.
Como a lavra tem acesso à estrada, o caminhão sai diretamente
da mina para a metalurgia, representando isto um progresso, também,
em relação à garimpagem.

189
13

LEGENDA

BARRAGEM TIPO CHINÊS DE 3~0000 m


3
I -
lO 2- BOMBA WORTHING TON DE 350m3 / h '7kg/cm2
MOTOR- 140 HP- 1500 rpm .
3- MONITORES- 7 kg/cm2
4- BOMBA DE CASCALHO DE 8'~ MOTOR MB-120 HP

9 -1500rpm
>----.-11 CONCEN TR ADO
5- PENEIRA PARAB ÓLICA
6- JIGS YUBA 42" X 42"
REJEITO 7- BOMBA DE 2 1/2"-MOTOR ELETRICO DE~ HP-
1500 r pm
11
8- CIC LON E 14"
9- J IG CLEANE R
I O - BOMBA BRANDÃO DE 6"- MOTOR - 80 HP
I I- BARRAGEM PARA DECA NTAÇÃ O E RECEP. ÁGUA
I 2- MESA VIBRATÓRIA V ILFLEY
I 3- B OMBA PARA ALIMENTAÇ~O DOS JIGS- DE
240 m / h - M OTOR ELETRICO - 30 HP
DESMONTE HIDRÁULICO

FIG.48

FONTE ; Souza, W . O. e Curve lo, J . L.-"M é t od o de lavro de cassiterita na Pr ov{nci a Est an(fera de Rond Ô nio 1 ~

i.n- Geoloa ig e ";'etalurgi<~, n!32, pQs . 283-317 . Centro Mor aes Rego- Escola PolitEicnica, USP. 1971 . pc;~ , 314.
TRATAMENTO DA DRAGA

8 1- MATERIAL A DESMONTAR

REJEITO

LEGENDA

I - MATERIAL A SER DESMONTADO


2- ESTEIRA DE CAÇAMBA
3- TROMMEL 30" X !5"
4- CORREIA TRANSPORTADORA
!5- TANQUE
6- BOMBAS DE AREIA 4 01
7- JIGS YUBA 42"X 42" DE 2 CÉLULAS
8- TANQUE
9- BOMBA DE AREIA DE 3"
lO- HIDROCICLONE CONCENTRADOR
I I - JIG YUBA 42"X 42" DE 4 CÉLULAS

FIG.49

FONTE: Souza, W.O. o Curvelo, J.L.- "Método de lavra de cassiterita na Provlncla Estanlfera de RondÔnia~'
In.- Geologia e Metalurgia., n.!. 32, pgs. 283 -· 317. Centro Moraes Rego- Escola Pol.itécnica, US P. 1971. pg. 306
ALIMENTAOOR :
3 Bomba de água- alta pressao
ESCAVADEIRA, produção mensal média: 25 000 m

Tanque
deslamador
Rejeito do desl amador

Bomba elevadora ----~


Alimentador a parafuso

11
Jig 11 prímcirio

r ~

"Jig" secu_..:n.:..:d.:..:Ó:..:.r.:..io:___ _,..


v~
F.,,. . .
ESTAÇAO DE TRATAMENTO
~ DE Ml NÉRIO
Coleta do concentrado
D --------- ~------l

11 11
TRATAMENTO DA WASHING PLANT

FIG . 50

Esquema ce.dido pela MIBRASA


Fig. 51 - Washcng plant da Mineração Taboca, em Massangana, no alto Candeias.
Foto !rene Ga rrido Filha - 2. 7 . 76

Fig. 52 - O trem: maquinaria para concentrar a cassiterita , na Mineração Ta boca em Massan-


gana.
Foto I rene Garrido Filha - 2 . 7. 76

193
12.2. 2 - Aspectos sociais

A mineração da cassiterita emprega 1.416 operarws (220 na


MIBRASA, 300 na Mineração Taboca, 800 na Mineração Oriente Novo
e 196 na Mineração Jacundá). Considerando-se, conforme o IBGE, o
número médio de cinco pessoas ·numa família brasileira, haveria cerca
de 7.580 pessoas vivendo dessa atividade. Todavia, é grande o número
de operários solteiros nas companhias mineradoras, embora estas se
interessem por trabalhadores casados e com filhos, porque acreditam
fixá-los mais facilmente à mina. Assim, nos dois setores da Mineração
Brasiliense S.A. - MIBRASA, vivem 600 pessoas e são apenas 220 os
operários. Isto, a grosso modo, representa três pessoas por família.
Nesta base, o número de pessoas vivendo da mineração baixaria para
4.548.
Em 1971, quando foi encerrada a garimpagem, existiam cerca de
4.000 garimpeiros na Província Estanífera de Rondônia. Evidentemente,
o número de solteiros ou de garimpeiros sem família no local era muito
maior, porque as condições sociais da atividade levava-os a uma vida
nômade, com repetidas mudanças de área de trabalho e completo isola-
mento dos centros urbanos regionais . As comunidades criadas não faci-
litavam a vida das mulheres e filhos, saindo seu sustento muito caro,
dados os preços elevados dos produtos de primeira necessidade nos
garimpos.
Atualmente, nos setores de produção formam-se equipes em que
os chefes controlam capatazes, serventes e o pessoal das máquinas,
todos assalariados. O salário, de início, é o mínimo regional (Cr$ 602,40),
quando o operário braçal começa a trabalhar na Companhia; em se-
guida, ele recebe sempre mais um pouco, e também sempre faz horas
extras. Isto permite que um servente, em Massangana, por exemplo,
ganhe Cr$ 1.000,00 mensais, principalmente porque trabalha também
aos domingos, quando o pagamento é dobrado 61 . Embora sem repouso
semanal, ele conseguiu melhores condições de vida. Um chefe de equipe
da washing plant, na mesma empresa, recebe Cr$ 6.000,00 mensais de
salário e mais até a mesma quantia de prêmio por produção. É uma
forma de incentivar o aumento da produção, utilizando métodos capi-
talistas específicos. Todos têm situação regularizada junto ao Minis-
tério do Trabalho 62 .
As empresas prestam assistência médico-dentária e hospitalar, per-
manente ou intermitente. A MIBRASA, por exemplo, tem médico-resi-
dente e enfermaria com oito leitos, em Santa Bárbara. A Mineração
Taboca oferece assistência médico-dentária eventual, com um médico
fazendo rodízio nos três setores da empresa. Também na Mineração
Jacundá há médico-visitante. A Mineração Oriente Novo mantém, em
Porto Velho, a Clínica Brumadinho, com assistência médica diária de
quatro horas e enfermeiros permanentes.
Em caso de acidentes, que não são muito freqüentes - dois por
ano, em média 6a - ou de doença grave, o operário é transportado
para Porto Velho ou outro centro onde haja maior recurso médico-
hospitalar.

61 Entrevista com operários da Mineração Taboca, em Massangana, julho .


de 1976.
62 Entrevista com o chefe de equipe da washing plant na Mineração Taboca,
em Massangana, julho de 1976.
63 Informação do gerente da Mineração Jacundá Ltda., Porto Velho, julho
de 1976'.

194
Todas as minas têm escolas primárias; a da MIBRASA já é reco-
nhecida pela Secretaria de Educação do Território; a da Mineração
Jacundá está em fase de oficialização. As professoras são pagas, geral-
mente, pelas empresas mineradoras.
Habitualmente, o operário recebe, da companhia, casa com luz.
quando casado . .Os solteiros ficam em dormitórios, como em Massan-
gana. Estes últimos têm direito a restaurante. Os casados adquirem
produtos no armazém das empresas, ao preço de Porto Velho, onde
eles compram alimentos e outros bens de consumo. Algumas empresas
se abastecem no Sudeste, adquirindo em Porto Velho apenas produtos
perecíveis e remédios, em caso de urgência.
As diversas construções existentes nas áreas de lavra mecanizada,
tais como residências dos casados, alojamento dos solteiros, restaurante,
enfermaria, depósito de minério, depósito de combustível, escritório da
companhia, localizam-se próximas umas das outras, formando um
habitat concentrado (figs. 53 e 54).

12.2. 3 - Os grupos econômicos e a produção

Há, atualmente cinco companhias, instaladas em Rondônia: Mine-


ração Oriente Novo S.A., do grupo Itaú; Mineração Brasiliense S.A. -
MIBRASA, do grupo Patifio-Englardt; Companhia de Mineração Ja-
cundá, do grupo BRASCAN; Dramin do Brasil, de capitais portugueses;
e Mineração Taboca S.A., do grupo brasileiro Paranapanema. Elas foram
responsáveis, exceto a Dramin, que ainda não funcionava, pela extração
de 5.094 t de cassiterita, em 1975, tendo a primeira produzido 45 %
do total (mapa 20) . Essa produção assim se distribuiu pelas companhias,
segundo dados do DNPM (em toneladas):
Mineração Oriente Novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 341
Mineraçã o Taboca S.A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 505
Companhia de Mineração Jacundá . ... ..... .. .... . .. : . . 711
Mineração Brasiliense S.A. - MIBRASA . . . . . . . . . . . . . . . 537
Total 5 094

Em 1976, até maio, a cassiterita obtida atingiu 2.596 toneladas,


discriminando-se a produção por companhias (mapa 21) conforme se
especifica a seguir (dados do DNPM, em toneladas):
Mineração Oriente Novo S .A. . .... . . .. . . . .. ... . .. ... . 1081
Setor Oriente Novo . ..... . . .. .. .. . . ...... . .. . ... .. . 506
Setor São Lourenço .. .. . .... . . . .. . . .. . .. . . . . .. ... . 319
Setor Macisa . .... .. .. .. . . . .. . . . .. . . .. . . ... . ... . .. . 126
Setor Cachoeirinha .. .. . . . . .. . . . .. . . . . . . .. . ..... .. . 107
Setor São Domingos ..... . .. . .. . . .. . .. ... . .. ... ... . 23
Mineração Taboca S.A. . .. .. .. .... ... . .. .. .. . ... .. .. .. . 904
Setor Massangana . . . . . .... . . . ...... . . . .. ... . ... .. . 608
Setor Igarapé Preto . . . .. . .. .. .. .. . .. .. ..... .. .... . 223
Setor São Francisco ... . . . ...... .. .. .. .. . ..... .. .. . 73
Mineração Brasiliense S.A.- MIBRASA . .. . .. . .. . .. . .. . 369
S etor Santa Bá rbara .... . .. . .. . .. . . ... ..... .. . . .. . 182
Setor Candeias ...... . .... . . . .... .. .. . .. . . . . . . ... . . 187
Companhia de Mineração Jacundá ... .. .. .. . .... .. . .. . 239
Dramin do Brasil S.A . . ..... . ............ . .. .. . . . .. ... . 3

195
Flg. 53 - Vista parcial das instalações da MIBRASA, em Santa Bárbara. Notar o relevo granítico,
suavemente ondulado.
Foto Irene Garrido Fllha - 1. 7. 76

Flg. 54 - Prédios do núcleo Santa Bárbara, da MIBRASA, onde se encontram alojamentos de


solteiros e farmácia.

196
TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA

SETORES DE MINERAÇÃO SEGUNDO OS GRUPOS


19 7 6

MAPA 20

Escala : l: 10.000.000

GRUPOS E SETORES

Ü GRUPO ITAÓ fl GRUPO PATINO - Ji:NGLARDT


1 Oriente Novo 9 Candeias .
2 Ma c." i sa 10 Santa Bárbara
3 São Lourenço
4 Cacheei ri nha
i:f GRUPO BRASCAN
11 Jacundcí
5 São Domingos
p G,RUPO . PARANAPANEMA 0 GRUPO DRAMIN
6 Massangana 12 Dramin da Brasil
7 lgarape' Preto
8 São Francisco Fonte : DNPM
TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA

PRODUÇÃO DE CASSITERITA
19 7 5

I) GRUPO PATINO-ENGLARDT
• GRUPO PARANAPANEMA

( ) GRUPO BRASCAN
@GRUPO I TA Ú

Fonte: D N P M· Escola: 1:10.000.000

MAPA 21
Do ponto de vista financeiro, o controle das empresas vem mudando
seguidamente, no decorrer do desenvolvimento das atividades mineiras.
Com base nas pesquisas realizadas em ·1968 por M. Mesquita (ref. 57);
em 1972 pelo DNPM; o4 e em 1976 pela equipe técnica do IBGE, que
apresenta o presente relatório, podem--5e observar aquelas modificações,
através da análise da situação das empresas nessas três épocas (fig., 55).
&~m: -

1) A Mineração Brasiliense S.A.- MIBRASA pertence à CESBRA


- Companhia Estanífera do Brasil (95 % do grupo Patiiío, sediado na
Holanda), que detém 51 % das ações, e à Phibro Metais, Comércio e
Indústria (da Philips Brothers, subsidiária do grupo Englardt, ameri-
cano), com 49 %. Em 1972, a CESBRA, que já em 1968 estava com
lavra mecanizada em Santa Bárbara, tinha participação do grupo ame-
ricano Grace. ·
2) A Companhia de Mineração Jacundá, em 1968 e erri 1972,
pertencia à Companhia de Mineração Ferro Union - FERUSA, da
Billiton, empresa do grupo Shell, associada à Companhia Industrial
Fluminense, de capitais portugueses. Em 1976, a Mineração Jacundá
achava-se sob o controle do grupo canadense BRASCAN.
3) A Mineração Oriente Novo, com os setores Oriente Novo, São
Lourenço, Macisa, São Domingos e Cachoeirinha, pertencia, em 1976,
ao . grupo Itaú. Após seu recente controle por este grupo, adquiriu em-
presas de mineração de diferentes origens. Desta forma, o setor Oriente
Novo foi comprado ao grupo FERUSA, que já o possuía em 1968. Era,
inicialmente, a Mineração Rocha, garimpo situado no local em que foi
encontrada cassiterita, pela primeira vez, no Território. O setor São
Lourenço também integrava a FERUSA, em 1968; o mesmo ocorria
com o setor Cachoeirinha, que se chamava, em 1972, Mineração Jamari
S.A. A Macisa era, em 1972, do grupo CODRASA, e, em 1968, da BEST
- Metais e Soldas, de capitais paulistas. São Domingos, no alto Can-
deias, constituía a Mineração Araçazeiro, área de pesquisa já então
do grupo Itaú. Em 1968, aí se garimpava.
4) A Dramin do Brasil S.A., de capitais portugueses, se estabeleceu
no vale do Candeias, em 1976.
5) A Mineração Taboca S.A., segunda maior empresa mineradora
da Província Estanífera de Rondônia, tem área requerida de 200.000 ha,
dos quais 50.000 ha em Massangana. É a única companhia inteiramente
nacional instalada em Rondônia. Em 1972, já pertencia ao grupo Para-
napanema. O setor Massangana, em 1968, era área de garimpos. Os seto-
res Igarapé Preto (Amazonas) e São Francisco (Mato Grosso), em 1972,
estavam sendo pesquisados pela Paranapanema. Esta empresa é consti-
tuída por dois sócios paulistas- Otávio Lacombe e José Carlos Araújo,
que detêm 51 % das ações, sendo o restante negociado na Bolsa de
Valores. Este grupo tem seus maiores interesses na área de construção
de estrada, e valeu-se de parte das máquinas deste setor na mineração.
Além disto, contratando geólogo de grande competência e experiência,
transformou Massangana no setor que mais produz cassiterita, em
Rondônia. ···
Essas alterações são apresentadas esquematicamente na fig. 55.
64 DNPM. Histórico sobre as áreas mineralizadas da jurisdição da Província
Estanítera de Rondônia. Porto Velho, 1972. 27 p.

199
1968 1972 1976

CESBRA {Grupo Galdeano) .. MINERAÇÃO BRASIUENSE S.A• ..:_ MIBRASA


MINERAÇÃO BRASILIENSE S.A. - MIBRASA
(CESBRA = Grupo Ga!deano - GRACE - EUA}
(CESBRA = 95% grupo PATINO N.V. - Holanda
+ PHIBA.O - Metais Com. e lnd. = Philips
. Brothers - Grupo ENGLARDT - EUA)
SANTA BÁRBARA - - - - - - - - - - - - - - - - - - + SANTA BÁRBARA- - - - - - -·+ SETOR SANTA BÁRBARA
..-------~ COMPANHIA VALE DO AMAZONAS - CIVA SETOR CÀNDEIAS
[Pesquisa)
MINERAÇÃO ORIENTE NOVO {Grupo ITAÚ)
Grupo ITAÚ
garimpos Campo Novo e Vietnã- - - - - - ' -+ SETOR ORIENTE NOVO
.. \.+ SETOR SÃO LOUR ENÇO
~arimpos da Best Metais e Soldas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - ' - · ++ SETOR MACISA
MIN ERAÇÃO ARAÇAZEIRO [pesquisa) -----~~ SETOR SÃO DOMINGO S
li : --,- SETOR CACHOEIRINHA -"'=I="'-
Grupo LACOMB E (PARANAPAN EMA - BR) 11 I MINE RAÇÃO TABOCA S.A. {Grupo PARANAPANEMA - BR]

garimpos - - - -- - - - - - - - - - - . - MINERAÇÃO TABOCA LTOA. (pesauisa) _ _ __ l I SETOR MASSANGANA


1
__!jc___,.-'--~
MIN ERAÇÃO ANGELIM LTOA. (pesquisa) 11 I SETO R IGARAPt PRETO (AM)
MINERAÇÃO ARIPUANÃ (pesquisa) . li SETOR SÃO FRANCISCO (MT)
11
li I COMPANH IA DE MINERACÃO JACUNDÁ (Grupo BRASCAN ~
11
11
I CANADÁ) o

1 SETOR JACUNDA
I
li II DRAMIN DO BRASI L S.A. (Grupo português]
11 SETOR CANDEIAS
FERUSA - FERRO UNION S.A. FERUSA - FERRO UNION S.A. 11 1
11 : I
(BI LLITON - SHELL + 1.8. SABBÁ)
MINERAÇÃO ROCHA - garimpo - - - - - - - - - -+
MIN ERAÇÃO JACUNDÁ
{BILLITON - SHELL + 1.8. SABBÁ)
MINERAÇÃO ROCHA LTOA {pesquisa) - - - - -
MINERAÇÃO JACUNDÁ LTDA.
-* -:-
11
SÃO LOURENÇO - garimpa •••••••••...•. . .• . •••. .•• .'. .. .. . MINERAÇiiO JAMARI S.A. (pesquisa) ======= -' I
CIA. INDUSTRiAL FLUMINENSE (çrupo português)
MINERAÇÃO JACUNDÁ LT DA •
..+ MINERAÇÃO SÃO LOURENÇO (pesquisa).. . •.•• • •• •.. :

FIG. 55
12.3 - PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DA MINERAÇÃO

Alguns problemas do setor de exploração mineral em Rondônia se


prendem às empresas de mineração, outros resultam da ativídade mine-
radora em si. Certas dificuldades e problemas entravam o desenvolvi-
mento econômico do Território. ·
As companhias mineradoras sofrem as conseqüências da interrup-
ção das obras de construção e de conservação do trecho já aberto da
BR-421, pomposamente denominada rodovia da cassiterita, mas intran-
sitável na estação chuvosa, dificultando o escoamento da produção do
minério da cassiterita lavrada nos vales do Massangana e do Candeias,
uma das áreas de maior produtividade do Território.
Outras questões derivam de atritos entre empresas mineradoras e
o INCRA, em virtude da invasão de terras situadas nas áreas dos de-
cretos de lavra ou dos alvarás de pesquisa, por posseiros que estão na
vanguarda da abertura de picadas pelo Instituto Nacional de Coloni-
zação e Reforma Agrária. As empresas acham que se devem evitar situa-
ções conflitantes, mas nem sempre isto é possível 65 •
Os problemas conseqüentes da mineração sem preocupação conser-
vacionista são flagrantes e, aliás, de difícil solução, pois às companhias
não interessam questões ecológicas. É sabido que há grande desgaste dos
solos em áreas de mineração. Deveriam, portanto, existir planos para
a recuperação dessas áreas após a exploração mineral. Mas não é o
que ocorre. Há planos, sim, mas para uso agrícola de áreas minerali-
zadas de reserva, nas terras designadas pelos decretos de lavra e alvarás
de pesquisa. A Mineração Jacundá, por exemplo, pretende instalar
culturas de dendê, cacau e mandioca, com financiamento da SUDAM,
SUDECO ou Polamazônia. Nesse sentido foi realizado estudo pedoló-
gico pela CEPLAC, que atestou bons solos para o cultivo do cacau.
A cultura do dendê visa à obtenção de óleo comestível. Relacionado
com este plano e com o da substituição do uso de combustível na mine-
ração, a mesma empresa pretende aproveitar o rio Jacundá, construindo
uma hidrelétrica 66 •
A fim de aumentar os benefícios para o Território, advindos da
exploração da cassiterita, seria necessário construir uma metalúrgica
em Porto Velho. Rondônia apresenta problemas que impedem tal reali-
zação, como por exemplo, a falta de energia. O projeto de construção
de hidrelétricas, aproveitando a cachoeira do Samuel, prevê uma capa-
cidade instalada de 60.000 kw, em 1982. Só a MIBRASA, que não é a
maior empresa mineradora do Território, deverá consumir, na época, '
10.000 kw. Também não existem na região insumos para a fundição,
como a fluorita, fundente produzido na Bahia e em Santa Catarina, e
calcário. Há falta de mão-de-obra especializada. Além do mais, as usinas
metalúrgicas de estanho existentes no Brasil operam com capacidade
ociosa 6 7 •
Na Amazônia funciona, em Manaus, a Companhia Industrial Ama-
zonense- CIA, fundada em 1968, com capitais da Companhia Indus-
trial Fluminense, Best Metais e Soldas, e da Companhia Estanífera do
Brasil. Manaus foi escolhida porque dispõe de energia e de incentivos
da SUFRAMA. Sua capacidade de fundição é de 600 t de cassiterita,
G5 Entrevista na Mineração Brasiliense S.A. - MIBRASA e na Companhia
de Mineração Jacundá, em Santa Bárbara e Porto Velho, julho de 1976.
GG Informações obtidas no escritório da Companhia de Mineração Jacundá,
em Porto Velho, julho de 1976.
67 Entrevista com o superintendente da MIBRASA, Dr. Cássio de Souza
Mello, em Santa Bárbara, em julho de 1976.

201
isto é, 360 t de estanho, do qual se obtêm soldas e ligas. Para cumprir
parte do programa, a CIA teve de importar cassiterita da Malásia, em
1975, porque a maior parte da produção de Rondônia se destina ao
Sudeste do Brasil. Em conseqüência, a empresa viu-se forçada a baixar
sua quota de produção os.
Apesar dessas dificuldades, sabe-se que o grupo Patifí.o, através
da CESBRA, está interessado em instalar uma metalurgia de estanho
em Manaus, para a produção de soldas, ligas e produtos químicos do
estanho, com investimentos da ordem de Cr$ 120 milhões, visando pro-
duzir 4.000 t anuais. A matéria-prima procederá de Rondônia e da
Bolívia. A produção destinar-se-á ao mercado externo, uma vez que
já há um compromisso com a AMC - Amalgamated Metal Company
para remessa de 90 % da produção para esta empresa americana 09 •
Rondônia perdeu excelente oportunidade para a implantação dessa
indústria.
Quanto à mineração propriamente dita, há grandes perspectivas
de abertura de novos setores, porque a Província Estanífera de Rondônia
tem, efetivamente, grande potencial. As mineradoras continuam a pes-
quisar em suas próprias áreas, ou em outras que apresentem possi-
bilidades.

12.4 - CONCLUSõES

A passagem do garimpo para a lavra mecanizada, em Rondônia,


apresenta aspectos positivos inegáveis. Inicialmente houve diminuição
da produção, embora temporária, que somente cinco anos depois atin-
giu os mesmos níveis de 1970. A mineração mecanizada não absorveu
toda a população ativa dos garimpos, mas o excedente migrou para
outras áreas mineradoras ou se voltou para a agricultura, que naquela
época tomou grande impulso no Território, com os planos de colonização
do INCRA.
O sistema de aviamento importava no monopólio do comércio, em
condições semelhantes às dos seringais, castanhais etc.
A lavra mecanizada representou maior aproveitamento do minério,
pela utilização de técnicas mais adiantadas, modernização das empresas
e o estabelecimento de relações de produção mais evoluídas - trabalho
assalariado - que permitiu melhores condições de vida. A transfor-
mação representa, no entanto, o domínio quase absoluto do capital
estrangeiro, em detrimento da iniciativa privada nacional, que se Il)OS-
trou capaz de produzir em termos competitivos com as empresas não-
brasileiras, sem a alienação de nossos recursos, cuja preservação e valo-
rização se impõem, em termos de desenvolvimento, emancipação eco-
nômica e soberania.

os Entrevista com o gerente da Companhia Industrial Amazonense, em San-


tarém, em agosto de 1976.
oo Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 17-2-77, p . 23.

202
Capítulo 13 - OS PROBLEMAS FUNDIARIOS E AGROPASTORIS

IRENE GARRIDO FILHA

Aos problemas anteriormente focalizados - referen-


tes ao povoamento, à colonização e à mineração da cassi-
terita - somam-se outros por igual importantes no qua-
dro atual do desenvolvimento de Rondônia. Neste capí-
tulo são examinados os que dizem respeito à situação
fundiária e à agricultura, ao setor florestal e madeireiro,
e à questão indígena.

Em Rondônia predominam os latifúndios, isto é, unidades com di-


mensões superiores a 5. 000 ha, que, embora representem apenas 1,2 %
do total de imóveis rurais, detêm 68,7 % da respectiva área. Outros
20,4 % dessa área constituem grandes propriedades entre 500 e 5. 000
hectares, cujo número equivale somente a 7,3 % dos imóveis rurais
existentes no Território. Enquanto isso, a grande maioria das proprie-
dades, consideradas pequenas e médias (de 25 a 500 ha), que totalizam
78,8 %, ocupam tão somente 10,6 % da área (quadro 29). É nesta última
categoria que se encontram os lotes dos PICs e PADs do INCRA. E
os minifúndios (12,7 % dos imóveis rurais) chegam a cobrir tão somente
0,3 % da área global 70 •
Quadro 29
RONDôNIA. IMóVEIS RURAIS, SEGUNDO AS DIMENSõES - 1972.
NÚMERO AREA
CLASSE DOS IMÚVEIS (1)
Absoluto Rel ativo (%) Hectares %

Minifúndio. .. . . . . . . ....... . .. .... .. .. .. . 42 7 12.7 6 342.0 0,3


Pequeno e médio .... . .. •... .. . . .. ... . •. 2 648 78.8 225 753,9 10,6
Gran de . ....... . ... . .. .. . .. ........ .. . . . 244 7.3 436 558,3 20/
Lllifúnd io............ . .. 39 1.2 1 468 352,0 68.7
TOTAL. . .. . .. . . .. .. • . 3 358 100,0 2 137 006,2 100,0

FONTE: INCRA, Cadastro Rural. 1972.


1 Minifúndio = menos de 25 ha ; pequeno e médio= 25 a menos de 500 ha; grande= 500 a menos de 5. 000 ha;
latifúndio = mais de 5. 000 ha.

•o O emprego que aqui se faz dos termos minifúndio e latifúndio nada tem
em comum com a classificação do INCRA. Eles indicam, através das dimensões
das propriedades, as possibilidades de sua utilização: inferior a 25 ha, no primeiro
caso, não permite o sustento de uma família, sob sistema de roça; superior a
5.000 ha, no segundo caso, é imóvel que mesmo adotando sistemas agrícolas ex-
tensivos subutiliza sua área. Estas considerações, embora não esgotem a concei-
tuação· desses tipos de propriedade, atendem aos objetivos do presente trabalho.

203
Apenas cerca de 43 % da área dos imóveis, em conjunto, é explo-
rada. Contraditoriamente, os latifúndios têm, entre todas as classes de
imóveis, a maior utilização das terras (47,7 %) porque sua atividade
principal é o extrativismo, que requer grandes extensões. A área explo-
rada das grandes propriedades, de pecuária extensiva e também extra-
tivistas, representa 38,3% do total. As pequenas e médias propriedades,
bem como os minifúndios, se dedicam à produção agrícola e pecuária
(Quadro 30).

Quadro 30
RONDôNIA. AREA EXPLORADA, SEGUNDO A CLASSE DOS
IMóVEIS RURAIS E A NATUREZA DA EXPLORAÇÃO- 1972.

TOTAL EXTRATIVI SMO PECU ÁRI A LAVOURA


VEGETAL
CLASSE DE
IMÚVEIS
% % % %
(1) Hectares s/ área Hectares s/ área Hecta res s/ área Hectares s/ área
total total total total

Minifúndio .. . ..... .. . . 2 431,6 38,3 323,8 13,3 449,1 18,5 1 658,7 68,2
Pequeno e médio .. .. . 47 914, 9 21,2 15 123,6 31,6 16 542,2 34,5 16 249,1 33,9
Grande .. .......... . . . 167 122,2 38,3 140 634, 8 84, 1 23 153,1 13,9 3 334,4 2,0
latifúndio ... .... .... . 700 400,4 47,7 682 562,2 97,4 16 756, 0 2,4 1 08 2,2 0, 2

TOTAL. ... . .. . . .. 917 869,1 42,9 838 644.4 91 ,4 56 900,4 6,2 22 324,4 2.4

FONTE : INCRA, Cadastro Rural, 1972.


1 Minifúndio = menos de 25 ha; pequeno e médio = 25 a menos de 500 ha: grande= 500 a menos de 5.000 ha:
atifúndio = mais de 5. 000 ha.

Esta situação se baseia no levantamento do Cadastro Rural do


INCRA para 1972. A partir de então tem-se intensificado o processo
de colonização oficial, com a conseqüente tendência de aumento da
participação da área das pequenas e médias propriedades no processo
de ocupação da terra.
A Amazônia, de maneira geral, vem sofrendo o impacto capitalista,
através das empresas pecuárias, com apoio de órgãos governamentais.
Isto é particularmente · nítido nos seus limites, que abrangem o leste
e o Sul do Pará e a parte setentrional de Mato Grosso do Norte. Ron-
dônia, no entanto, não se inclui n este quadro geral, porque a abertura
da BR-364 (rodovia Cuiabá-Porto Velho) , anterior à década de 60, ligou-a
ao Sudeste, provocando o afluxo de agricultores sem terra ou egressos
de minifúndios do Sudeste e do Sul, atraídos pela possibilidade de
acesso a terras abundantes, férteis e baratas. Assim, a grande empresa
pastoril penetrou pouco no Território. A criação de gado não é ativi-
dade marcante na área, só ganhando certa significação nas grandes
propriedades, embora nem mesmo aí seja dominante.
Inexistem propostas para implantação de projetos agropecuários
utilizando os benefícios da SUDAM. E, analisando-se os dado~ relativos
aos empregados temporários, verifica-se que estes trabalhadores, inclu-
sive os empreiteiros para derrubada de mata e formação de pastagens,
não são importantes na classe de imóveis em que a atividade pecuária
é mais expressiva - as grandes propriedades.
A expansão da fronteira econômica, nessa parte da Amazônia, se
faz com base nas pequenas e médias propriedades. Embora sejam con-

204
sequencia dos trabalhos do INCRA, não foram por ele introduzidas.
Fizeram-se anteriormente tentativas para a formação de pequenas pro-
priedades em Rondônia. A partir de 1948, o governo do Território pla-
nejou a implantação de colônias agrícolas, com o objetivo de abastecer
os principais núcleos urbanos: Porto Velho e Guajará-Mirim. Assim,
foram criadas a Colônia Agrícola do lata, distante 33 km de Gua-
jará-Mirim; a do Candeias, a cerca de 22 km de Porto Velho e a
Fazenda Milagres, nas proximidades da Capital. Na década de 50, im-
plantaram-se a Colônia Treze de Setembro (1954) e a Paulo Leal (1959);
mais tarde (1963), a de Areia Branca todas nas cercanias de Porto Velho.
Esses projetos de colonização falharam, porque o tamanho dos lotes
(25 ha) não se adaptava ao sistema agrícola empregado- a roça, que
exige maior área, para que seja realizada a rotação de terras. Além
disso, os colonos não tiveram orientação técnica, nem apoio financeito.
A expansão das pequenas e médias propriedades pode ser aquila-
tada através das informações sobre assalariados. Eles têm relevan.te
papel nessa expansão e no processo de transformação da economia do
Território. Considerando o número máximo de assalariados, inclusive
temporários, vê-se que 64 % deles se encontram nas pequenas e médias
propriedades. Pode parecer paradoxal porque, pela própria definição,
elas excluem o trabalho assalariado; mas, neste caso, tais trabalhadores
são empreiteiros que derrubam a mata para iniciar a exploração dos
lotes.
Assim, latifúndios e grandes propriedades são, na realidade, re-
manescentes de uma estrutura anteriormente implantada - a explo-
ração extrativista, com base principalmente na borracha. Os latifún-
dios, como imóveis com título definitivo e como unidades de explora-
ção, estão relacionados ao extrativismo. Deste modo, a situação fundiá-
ria de Rondônia, em 1944, data da instalação do Território, era de
predominância quase absoluta das propriedades com áreas superiores
a 5. 000 ha (89,9 %), conforme dados do INCRA, referentes aos títulos
concedidos pelos Estados do Amazonas e de Mato Grosso, aos quais
pertenciam, respectivamente, os municípios de Porto Velho e Guajará-
Mirim (quadro 31).

Quadro 31
RONDôNIA. ESTRUTURA FUNDIARIA NO ANO DA CRIAÇAO DO
TERRITóRIO - 1944.

NÚMERO ÁREA
ClASSE DE IMÓVEIS (1)
Relativo
Absoluto Hectares (%)
(%)

Minifúndio .... . . ... .. . ...• . ...• . .. . .•. .. . 9 5,9 78,4 0,0


Pequeno e médio ...... .. .. .. . ... .. .. . .. . 33 21 ,6 8 860,8 0,5
Grande ....... ...... .. . .. .... . .. .. .. .. . . . 74 48,3 182 654,8 9,6
latifúndio . ... .. .. ...... .. . .. . .. ..... . .. . . 37 24,2 1 710 049,0 89,9

TOTAl . . ...• . . .. . .. ... .. . .. .. . .. .. •• . 153 100,0 1 901 643,0 100,0

FONTE : INCRA.
1 Minifúndio = menos de 25 ha; pequeno e médio = 25 a menos de 500 ha; grande = 500 a menos de 5. 000 ha;
latifúndio = mais de 5. 000 ha.

205
. Daí porque pouco menos da metade dos atuais latifúndios (61 %
da sua área total) são registrados, enquanto a proporção para as de-
mais classes de imóveis é insignificante (quadro 32), predominando
os. posseiros.

·Quadro 32

:BONDONIA. IMóVEIS RURAIS COM PROPRIEDADE REGISTRADA,


SEGUNDO AS CLASSES - 1972.

COM PROPRIEDADE REGISTRADA (%)


CLASSE DOS IMÚVEIS (1)
N.' de imóveis Área (h a)

Minifúndio ..... ... ..... .. ... . . .. ... ... . .. .. .. . 2.4 2,0


Pequeno e médio ......... .. .. .. ... .... .. .. . .. 1, 2 2,3
Grande ................. . . .... .. ...... . .. .. .. . 8,2 7,9
Latifúndio ...... .. . . .. .. . .. .. . ... .. . 47,0 61,0

TOTAL. ..... . . .... .. ... . ... ... ..... . . .. .. . 2,3 41,9

FONTE : INCRA, Cadastro Rural. 1972.


t Minifúndio = menos de 25 ha; pequeno e médio = 25 a menos de 500 ha; grande = 500 a menos de 5. 000;
latifúndio = mais de 5. 000 ha.

A partir de 1972, o INCRA tem concedido licença de ocupação aos


parceleiros com lotes nas áreas de colonização, mas os títulos defi-
nitivos são ainda em número reduzido. Assim, na classe das pequenas
e. médias propriedades, o número de imóveis titulados alcançou 4. 268
em 1976, mas, para completar os projetos de colonização, o INCRA
necessitará expedir mais 19.773 títulos (quadro 33). Desse modo, se
o INÇRA efetivar seus projetos, o Território poderá contar com um
importante contingente de população constituído de pequenos e mé-
dios proprietários rurais.

Quadro 33

RONDôNIA. SITUAÇÃO DA COLONIZAÇÃO OFICIAL, SEGUNDO


OS PROJETOS - 1976.

TITULACÃO DE TERRAS ASSENTAMENTO DEMARCAÇÃO DE


(tftu.los definitivos) (famllias) PARCELAS
PROJETO

Expedidos I A expedir Asse ntadas I Aatéassentar


1978 Demarcadas I A demarca r
Ouro Preto ............ ... . ... . . 2 122 3 078 3 323 1 877 3 697 1 503
Sidney Girão .......... .. ... : .. . 258 253 440 71 443 68
Ji-Parariá . .. .. ...... ....... .. . 879 4 289 2 218 2 950 1 227 3 941
Paulo A. Ribeiro . . ··· ····· · ·· · 4 428 1 790 2 638 53 4 375
P.e Adolpho Rohl. .... .. .. .. . . . 988 2 61 o 1 183 2 415 1 107 2 491
Burareiro . ... .. . ...... ... . ... .. . 21 1 257 336 942 21 1 257
Marechal Dutra ...... . .... .. .. . 3 858 978 2 880 499 3 359

TOTAL. ... . . . . . . . . . . . . . . . . 4 268 19 773 10 268 13 773 7 047 16 994

FONTE: INCRA, Divisão Territorial Técnica de Rondônia .

206
Os dados do INCRA informam da predominância da atividade
extrativa nas grandes propriedades e nos latifúndios. Deve-se compre-
ender este fato como uma situação de estagnação da economia nessas
propriedades. Por outro lado, os dados de produção mostram a dinâ-
mica da atividade agrícola nos imóveis rurais pequenos e médios.
As relações de produção vêm corroborar a vantagem da instalação
desse tipo de propriedade, no qual é elevada a participação do trabalho
familiar. Embora também exista mão-de-obra assalariada, ela se em-
prega principalmente sob a forma de empreitada para a derrubada da
mata (quadro 34).

Quadro 34
RONDôNIA. PESSOAL OCUPADO NOS ESTABELECIMENTOS
RURAIS, SEGUNDO AS CLASSES DOS IMóVEIS E A CONDIÇÃO
DA MÃO-DE-OBRA - 1972.

CONDIÇÃO DA MÃO-DE-OBRA

CLASSE DOS
Dependente do proprietário I Assa lari ada
IMÚVEIS Perman ente Temporária
(1)
N.' N. '
abso luto relativo (%) N.' I N.' N-' I relativoN.' (%)
absoluto I re lativo (%) absoluto

Minifúndio . .... ... .. ... 527 12,6 31 4,2 352 6,2


Pequeno e médio ...... 3 312 79,1 341 45,8 3 765 66,1
Grande . ... . .... ... ... . ... .. ... • 318 7,6 191 25,6 1 013 17.8
Latifúndio ...... ... ........ ... .. 30 0.7 182 24.4 562 9,9

TOTAL .. .. .. .. . . ····· ·· · .. 4 187 100,0 745 100,0 5 692 100,0

FONTE : I~ICRA, Cadastro Rura l, 1972.


1 Minifúndio = menos de 25 ha: pequeno e médio = 25 a menos de 500 ha: grande = 500 a menos de 5. 000 ha:
latifún dio = mais de 5. 000 ha.

É interessante, também, observar a pequena importância da par-


ceria (em número de 62) e do arrendamento (em número de 48) em
Rondônia. Isto se deve ao fato de que a produção agropecuária nunca
se estabeleceu em moldes de grandes propriedades, as quais mantive-
ram relações de trabalho pré-capitalistas, associadas ao extrativismo
vegetal.
Dos produtos extrativos, a borracha foi o mais importante no
Território. Após a decadência dos seringais, a produção se reduziu ao
ponto de alcançar apenas 109 t em 1940. Elevou-se depois, graças ao
esforço da chamada batalha da borracha, durante a guerra. Em 1954,
os seringais ainda eram importantes em Rondônia e se encontravam
ao longo dos principais rios (mapa 22). A partir daí, a produção re-
gistrou pequeno aumento. O outro produto extrativo de expressão eco-
nômica, a castanha-do-pará, apresentou aumento a partir de 1940
(quadro 35 e Fig. 56).
Com o arroz, ao contrário, já na década de 60 observou-se a ex-
pansão dessa cultura com produção inicial relevante, incrementada
mais ainda na de 70, acompanhando o dinamismo da frente pioneira
e o processo de colonização. A mandioca, que teve produção relativa-
mente diminuída em 1973, voltou a apresentar aumento em 1975. A

207
SERINGAIS FINANCIADOS
PELO BANCO DE CRÉDITO
DA AMAZÔNIA
1954

--•
SERINGAI S

ESTRADA DE FERR O

NUCLEO S URBAN OS

MAPA 22
ES CALA : l .5000000
Fonte : INCRA
Quadro 35
RONDôNIA. EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO RURAL, SEGUNDO OS
PRINCIPAIS PRODUTOS - 1940-75.

PRODUTOS

ANO
Arroz Mandioca Bovinos Borracha Castanh a- do·
lt) jt) I jca b.) jt) -pará jt)
I
1940 54 235 1 465 109 96
1950 154 1 629 2 052 2 379 133
1960 1 713 11 859 3 475 3 563 505
1970 9 593 33 743 23 125 3 495 458
19751 122 770 122 740 51 404 1 507 2 543

FONTE : IBGE, Censo Agropecuário , 1940,195 0, 1960, 1970; Anuário Estatísti co do Brasil , 1977.
1 Último ano para o qual há dad os disponíve is.

RONDÔNIA

EVO LU!;Ã O DA PR O D Us;ÃO DE AR ROZ ,


EVO LUÇÃO DO REB ANH O BOVI N O
M A N D I OCA E B ORRAC H A

j
tonelada unidade

40000 4 0000
ARROZ
30000 30000.

20 000 20000
'· MANDIOCA

I
I
1000 0 10000

I BORRACHA
I
- --.!
, /f
.,.,.., ....~ ... . ·
1940 1950 19 6 0 1970 73 19 4 0 1950 1960 1970 73
Fonte : FIBGE

F IG.56

evolução do rebanho bovino mostra que, até 1960, a criação de gado


era atividade insignificante no Território, ganhando impulso a partir
de então. ·
Assim como a estrutura fundiária está em processo de transfor-
mação, a estrutura da produção também se vem modificando. Embora
a borracha continue a ser o produto de maior valor, tende a perder
esta hegemonia pela penetração de atividades econômicas de produção
mais expressivas. A ASTER (Associação de Assistência Técnica e Ex-
tensão Rural), entretanto, vem procurando aumentar a produção dos
seringais nativos, ao mesmo tempo que promove a ampliação da área
dos cultivados. Relativamente ao primeiro caso, há os problemas de
baixo preço do produto e de alto custo da produção, em conseqüência
do primitivismo do processo de extração da borracha: técnicas rudi-
mentares (o sistema de corte é o tradicional e o beneficiamento se

209
faz pelo processo de pelas 71 forma de comercialização com vanos in-
termediários; dificuldades de arregimentação de mão-de-obra, que pro-
cura trabalho em outras atividades menos depreciáveis. Assim, os serin-
gais, de maneira geral, permanecem nas áreas mais afastadas das vias
de comunicação, ocupando vales de rios (mapa 23).
Abrem-se novas oportunidades para a expansão dos seringais, com
a perspectiva do desenvolvimento dessa cultura em lotes coloniais. A
ASTER elaborou projetos aprovados no PIC Ouro Preto (50 colonos),
no PIC Sidney Girão (16 colonos) e no de lata (2 colonos). Há
também possibilidade de introduzir a cultura na Gleba Corumbiara,
em lotes de 2. 000 hectares, dos quais 50 ha serão destinados à serin-
gueira. O cultivo faz-se em terreno plano, com solos profundos e bem
drenados, utilizando-se seleção de clones e espaçamento de 7 m X 3 m.
O plantio de clones é feito no início da estação chuvosa, e a cultura
deve ser adubada. Tais medidas fazem parte do Programa de Incentivo
à Produção de Borracha Vegetal (Decreto-Lei n. 0 1. 232, de 17-2-72).
Todavia, a questão do cultivo da seringueira ainda não está solucio-
nada, porque a formação de áreas homogêneas de plantio facilita a
propagação de doenças e pragas, que têm alta proliferação nas condi-
ções climáticas da Amazônia e, por isso, são dificilmente controladas.
Várias tentativas de combate, infrutíferas, se realizaram na Amazônia
e fora dela.
Nos programas de colonização do INCRA, têm-se introduzido cultu-
ras per:rpanentes, o que permite maior fixação do homem à terra, por-
que representam investimento de capital e trabalho por alguns anos,
ao contrário das culturas temporárias, que se renovam anualmente, de
maneira geral. Das culturas permanentes, as mais importantes são
as do cacau, café e pimenta-do-reino. Todavia, em 1973, somente a
última já se transformara em produto comercial. Em valor, o arroz é
o segundo produto na atividade agropecuária e extrativa, depois da
borracha (quadro 36).

Quadro 36
RONDôNIA. QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DOS PRINCIPAIS
PRODUTOS AGRíCOLAS E EXTRATIVOS VEGETAIS - 1973 l

QUANTIDADE VALOR
PRODUTO
(t) (Cr$ 1. 000)

Arroz . . . 34 29 0 24 726
Mandio ca . 18 535 4 785
Milho .. 2 95 0 1 650
Feijão ... 3 672 4 538
Pi menta- do-reino 90 900

Hévea .. 5 54 8 49 93 2

Cas tanha- do -pará. 2 050 3 075

FONTE: IBGE.
1 - Último ano para oqual há dados disponíveis quanto ao va lor daproduçã o.

n Dos 96 proj etos de melhoria de seringais promovidos pela EMATER, ape-


n as um utiliza o pr ocesso de prensagem do cernambi.

210
LOCALIZAÇÃO APROXIMADA
DOS SERINGAIS NATIVOS
ASSISTIDOS PELA EMATER

1976

0 SERINGAIS

RODOVIAS

(j) NÚCLEOS URBANOS

MAPA 23
ESCALA: 1:!) 000 000
Em conclusão:

1) O problema fundiário relaciona-se ao fato de que a terra só


passou a ter valor comercial, após a decadência do extrativismo e com
a ocupação agrícola. Quando a produção da borracha dominava, o que
importava era o controle da área de ocorrência das árvores produtoras
do látex e o das vias fluviais de acesso. A valorização da terra é a
causa dos conflitos atuais, que envolvem colonos, índios e empresas
mineradoras, em luta pela sua posse, não atuando o INCRA no sentido
de evitá-los.
2) A ocupação agrícola com base nas pequenas e médias proprie-
dades implica em um problema relacionado às culturas. Estão sendo
introduzidas, sem prévia experimentação, as culturas da seringueira,
café, cacau e pimenta-do-reino. A sorte dessas culturas, no Território,
não pode ser aquilatada, embora estejam sendo efetuados alguns expe-
rimentos nos lotes coloniais.
3) O extrativismo está sendo suplantado progressivamente, apesar
dos esforços da ASTER para recuperar seringais nativos, por causa
da evasão de mão-de-obra.

212
Capítulo 14- OS PROBLEMAS DO SETOR MADEIREIRO

NEY ALVES FERREIRA

A cobertura vegetal do Território Federal de Rondônia é repre-


sentada por diversas formações. Do ponto de vista econômico, con-
siderar-se-ão para exploração madeireira apenas as formações florestais,
ou seja a Floresta Perenifólia Amazônica, a Floresta Subcaducifólia
Amazônica e em menor grau a Floresta de Várzea. Em virtude da
composição florística respectiva, cada um desses tipos confere à região
um grande potencial madeireiro, pois neles ocorrem diversas espécies
de valor econômico, tais como: mogno, cerejeira, roxinho, ipê, cedro,
óleo copaíba, maracatiara, cumaru, caripé, breu, itaúba, marupá, ga-
rapa etc. Esse potencial foi determinado por trabalhos de levantamento
florestal realizados na região.
Um desses levantamentos foi executado pela Fundação João Pi-
nheiro 72 , no sudoeste do Território, em área compreendida entre os
meridianos 61° 41 ' e 64° 15' de longitude W de Greenwich e os para-
lelos de 100 54' e 120 33' de latitude S, totalizando 17.280 km 2 , dis-
postos no sentido leste-oeste, em uma faixa de largura média em torno
de 57 km, indo de Costa Marques até Vila Rondônia. Encontrou-se
então, para o tipo florestal mais pobre (floresta de várzea) , um vo-
lume médio de 105 m 3 / ha e para o mais rico, 168 m 3 / ha, podendo-se
estimar em 136 m 3 / ha o volume médio de madeira para toda área
levantada.
Já no levantamento efetuado pela SENSORA - Sensoriamento e
Interpretação de Recursos Naturais Ltda. n em área compreendida entre
as coordenadas go 50' e 10° 30' Se 63° 05' e 630 30' WGr, abrangendo uma
faixa de terra atravessada pela BR-421, com 155.000 ha, o volume mé-
dio encontrado foi de 192 m 3 / ha, estimando-se em 78 ma/ ha o volume
médio de madeira comerciável.
Em função dessa riqueza florestal, embora irracionalmente explo-
rada, o Território aparece como 3. 0 produtor de madeira do País, apenas
suplantado pelos Estados do Paraná e Santa Catarina, devido às suas
reservas de pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia, Berth O. Ktze.).
ainda hoje muito utilizado na construção civil.

72 Fundação João Pinheiro. Levantamento de reconhecimento de solos, da


aptidão agropastoril, das formações vegetais e do u so da terra em área do
Território Federal de Rondônia. Belo Horizonte, Ministério do Interior, SUDECO,
1975. 171 p.
73 Sensoriamento e Interpretação de Recursos Naturais Ltda. - SENSORA.
Levantamento de recursos naturais e di retrizes para colonização de parte do
polígono de Ariquemes, Rondônia. Rio de Janeiro, INCRA, 1977. 2v.

213
14.1 - EXPLORAÇÃO FLORESTAL

O patrimônio florestal de Rondônia vem sofrendo destruição há


um longo período iniciado efetivamente com a construção da ferrovia
Madeira-Mamoré. A abertura da BR-364, ligando Porto Velho a Cuiabá,
na década de 60, possibilitou maior penetração humana, com a con-
seqüente depredação das áreas florestais, pois até mesmo as serrarias
exploravam as matas de forma irracional. A implantação dos projetos
de colonização agravou consideravelmente esse problema.
A questão se torna grave porque, apesar de terem sido devastadas
enormes áreas, foi aproveitada apenas uma pequena quantidade de
madeira devido ao baixo preço no mercado local e ao elevado custo de
extração e transporte. Assim, somente umas poucas espécies, são apro-
veitadas, preferencialmente o mogno e a cerejeira. As demais só são co-
mercializadas quando se originam de áreas próximas às serrarias. Como
exemplo, uma serraria de grande porte, localizada na BR-421, utiliza
apenas espécies nobres (cerejeira, mogno, freijó e cedro), num raio
econômico de 45 km. O mogno e a cerejeira (espécies mais valiosas)
rendiam, em agosto de 1976, a insignificância de Cr$ 50 m 3 de madeira
ao colono que residia na remota região do Colorado (PIC Paulo Assis
Ribeiro).
Para se ter uma ligeira idéia da profundidade do problema, con-
siderar:...se-á; apenas o desmatamento nas áreas de colonização inte-
grada (PICs), que, segundo o representante do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF), são as mais significativas: "Esti-
mando-se que um colono desmata uma área de 10 ha por ano; e que
o volume médio de madeira por hectare seja 120m3 , dos quais somente
20 são aproveitados, chegamos à conclusão de que um só colono des-
perdiça 1 . 000 m 3 de madeira por ano" .
Considerando-se que já existem 10.268 famílias assentadas (fins
de 1976) vê-se que 10.268.000 m 3 de madeira são destruídos anual-
mente, apenas em função desse tipo de ocupação, além do que já se
desperdiçou com a implantação da infra-estrutura dos referidos pro-
jetos, quando se utilizou 2. 331 hectares para construção de estradas.
A estimativa apresentada pelo representante do IBDF parece exa-
gerada, a menos que nela estejam incluídas as áreas desmatadas em
função dos projetos pecuários.
Em se tratando exclusivamente de áreas dos PICs, essa média deve
estar em torno de 5 ha para cada dois anos (2,5 haj ano), visto que,
além das dificuldades nas operações de desmatamento devidas ao longo
período chuvoso, característico da região, o colono não necessita de
maiores áreas para manter sua família durante esse período, pois usa
o sistema de roças em áreas ainda virgens que possibilitam boas colhei-
tas. Ademais, ele emprega ferramentas rudimentares (foice e machado),
no desbravamento qa terra. O PIC Ouro Preto foi o único a instalar,
como parte do seu Programa IX- Habitação de Colonos, moderna serra-
ria da qual o colono se utiliza da seguinte forma: fornece a madeira
bruta (toras) e a recebe beneficiada gratuitamente, possibilitando com
isso melhor aproveitamento da cobertura florestal retirada dos lotes
(quadro 37) . No entanto, segundo o responsável pelo Projeto, esta serra-
ria estava sendo subutilizada, motivo por que deveria ser arrendada a
particulares, a partir de 1976.
Esta situação calamitosa tende a se agravar, por inexistir uma
política florestal eficiente para a região e pelas dificuldades de fiscali-
zação das irregularidades cometidas.

214
Quadro 37

RONDôNIA, PIC OURO PRETO. PRODUÇÃO DE MADEIRA,


SEGUNDO O TIPO - 1970-75.

PRODU ÇÃO (m3)


ANO
Tora Esplanada Tora Serrada

1970 928 650


1971 2 628 1 840
1972 5 900 4 130
1973 4 571 3 200
1974 3 514 2 180
1975 3 559 2 200
TOTAL 21 100 14 200

O IBDF está representado no Território por um Posto de Controle


e Fiscalização (POCOF) em Porto Velho, subordinado à sua Delegacia
Regional, localizada em Manaus, que conta para a fiscalização sim-
plesmente com dois engenheiros florestais, um fiscal localizado em Vi-
lhena, próximo à divisa com Mato Grosso, e uma viatura; não dispõe,
portanto, de meios para fazer cumprir a legislação em vigor, segundo
afirmou seu próprio representante.

O Código Florestal (Lei n. 0 4 . 771, de 15-9-65) determina:


"Art. s.o - Na distribuição de lotes destinados à agricultura, em
planos de colonização e reforma agrária, não devem ser incluídas as
áreas florestadas de preservação permanente de que trata esta Lei,
nem as florestas necessárias ao abastecimento local ou nacional de
madeiras e produtos florestais.
"Art. 15 - Fica proibida a exploração, sob forma empírica, das
florestas primitivas da bacia amazônica, que só poderão ser utilizadas
em observância a planos técnicos de condução e manejo a serem esta-
belecidos por ato do Poder Público, a ser baixado dentro do prazo de
um ano 74 •
"Art. 44 - Na Região Norte e na parte norte da Região Centro-
Oeste, enquanto não for estabelecido o decreto de que trata o art. 15,
a exploração a corte raso só é permissível desde que permaneça com
cobertura arbórea de, pelo menos, 50 % da área de cada propriedade".
Visando preservar a castanheira (Bertholletia excelsa), por julgar
que as exportações de castanha-do-pará têm contribuído substancial-
mente para a formação de divisas, além de desempenhar papel signi-
ficativo na vida sócio-econômica da região amazônica, o IBDF baixou
a Portaria n. 0 2. 570, de 22-11-1971, que proíbe o corte da referida espé-
cie. Apesar disso, perdura no Território, o abate indiscriminado dessa
preciosa árvore, não só no caso de limpeza de áreas para projetos agro-
pecuários, como até para ser utilizada na produção de madeira, em
algumas serrarias. Mesmo o simples fato de serem poupadas as casta-
nheiras, que assim se erguem isoladas no meio das pastagens, impede
sua reprodução natural e facilita sua derrubada pelas ventanias.
74 O ato a que se refere esse artigo ainda não foi baixado.

215
14. 2 -· COMÉRCIO DE MADEIRA

O. comércio de madeira tomou vulto na região a partir de 1973.


Segundo alguns madeireiros, essa foi a época da febre da madeira, pe-
ríodo em que muitas indústrias do setor se instalaram no Ttrritório.
Grande parte dessas indústrias não levou em conta o fator localização;
conseqüentemente, sofreram sérios prejuízos, pois se instalaram longe
das fontes produtoras de matéria-prima. Em virtude dessa má loca-
lização, algumas serrarias estão trabalhando, até hoje, aquém de sua
capacidade instalada, com produção de apenas 15m3 / dia, em média,
de madeira beneficiada. Por isso, estão sendo obrigadas a se transferir
para locais mais convenientes.
Em 1976, segundo o responsável pelo IBDF, Rondônia já contava
com 80 serrarias, que se instalaram principalmente em Porto Velho, onde
aparece a maior concentração (um terço dessas indústrias), e ao longo
da BR-364, próximas às diversas localidades servidas pela rodovia, com
maior freqüência nas vilas de Rondônia, com 21 ,6 7o , e Vilhena, com
16,6 % dos estabelecimentos (mapa 24).
Com o aumento do comércio de madeiras, o Território passou a
produzir, em 1974, a significativa quantidade de 4.008.975 m~ , de ma-
deira, muito acima do que produziu em 1970. Isto o coloca como ter-
ceiro produtor brasileiro de madeira, fato que se torna extraordinário
quando se leva em conta que o Território Federal de Rondônia ocupa
apenas 243.044 km 2 , correspondendo a 2,86 % do território nacional
(quadro 38).
A produção de madeira beneficiada, de Rondônia 75 , em 1973, alcan-
çou apenas 32.733 m 3 , correspondendo aproximadamente a ......... .
Cr$ 9. 914.000,00. A quantidade produzida se torna insignificante quan-
do comparada à produção total do mesmo ano. Conclui-se que a maior
parte da madeira é exportada sem beneficiamento, o que acarreta sérios
prejuízos para o Território, visto que vultosas quantias deixam de ser
arrecadadas em forma de impostos. Além disso, pouca mão-de-obra
local pode ser utilizada nesse ramo de indústria.
Consciente da gravidade desse problema, o governo do Território,
na tentativa de evitar a saída de madeira não beneficiada e intentando
fixar novas indústrias baixou o Decreto n.o 770, em novembro de 1975,
que proíbe a saída de madeira em toras e permite somente a comer-
cialização externa de madeira pelo menos com um mínimo de bene-
ficiamento. O referido Decreto dá as seguintes especificações (mínimo
de beneficiamento):
Espessura da peça: Largura da peça:
Até 15 em .............. . Qualquer largura
De 16 a 30 em ......... . Até 30 em
Apesar dessa proibição, perdura a saída de madeira não l.Jeneficiada
do Território.
Os principais produtos resultantes do beneficiamento da madeira
em Rondônia são lambris, assoalho, esquadrias, rodapés, tacos, entre
outros. O comércio externo, em sua maior parte, quer seja desses pro-
dutos ou mesmo de toras, é feito com o Sudeste e o Sul, principalmente
com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
Rio de Janeiro. O produto chega a esses estados, em geral, por via
rodoviária.
75 IBGE. Pesquisa industrial, 1973. Brasil; produção tísica. Rio de J a neiro,
1976. 2v. '

216
TERRITÓR IO FEDERAL DE RONDÔNIA
DISTR IBUICAO DAS SERRARIAS

NÚM ERO OE SERRARIAS

E SCALA . 1: 5.000.00 0

Fon te : .IB DF

MAPA 24
_ _ _ _ _______ __ _ ..
Quadro 38

BRASIL. PRODUÇÃO DE MADEIRA PELAS PRINCIPAIS GRANDES


REGiõES E UNIDADES DA FEDERAÇÃO - 1970-73

SUPERFICIE PRODUÇÃO
GRANDES REGIÕES
E 1970 1973 1974
UNIDADES DA FEDERAÇÃO
km~ % Ouant. Valor Ouant. Valor Ouant. Valor
(Cr$ 1 000) (m3)
(m')
I (m ' )
I (Cr$ 1 000)
I (Cr$ 1 000)

NORTE 3 581 180 42, 07 2 059 000 43 680 8 945 309 995 821 8 357 509 946 352
Rondônia 243 044 2,86 35 000 1 159 3 825 629 535 594 4 008 975 581 301
Acre 152 589 1.79 16 000 721 79 750 6 094 54 625 3 880
Amazonas 1 564 445 18,38 543 000 14 886 1 732 112 237 238 1 137 261 115 389
Região em 2 680 0,03
Litígio AM/PA
Roraima 230 104 2)0 30 000 984 1o 71 o 927
Pará 1 248 042 14,66 1 375 000 24 462 3 050 668 21o 876 2 880 938 238 115
Amapá 140 276 1,65 60 000 1 468 257 150 6 019 265 000 6 740
SU L 577 723 6.79 8 123 000 502 691 15 880 374 2 733 141 13 148 436 2 681 509
Paraná 199 554 2,34 6 266 000 399 403 7 619 398 1 142 004 6 656 010 1 259 356
Santa Cata rina 95 985 1,13 1 412 000 85 254 5 650 260 1 132 552 5 202 340 1 073 002
Rio Grande do Sul 282 184 3,32 445 000 18 034 2 610 716 458 585 1 290 086 349 151
OUTRAS REGIÕES 4 353 062 51,14 11 839 319 779 191 g 405 846 1 341 622
BRASIL 8 511 965 100,00 36 665 002 4 508 153 30 911 791 4 969 483

FONTE: IBGE, Censo Agropecuário, 1970, e An uário Estatístico do Brasil. 1975 e 1976.
Capítulo 15 - O PROBLEMA INDíGENA

EUGtNIA GONÇALVES EGLER

O problema fundamental de sobrevivência do índio está na pro-


priedade da terra em que vive, embora seja ele de caráter social, comu-
nitário. O índio sem terra tende ao extermínio. Ele só sobrevive como
povo, e como tal não existe sem a terra que lhe garanta a subsistência
e onde possa escapar às compulsões geradas pela estrutura agrária
vigente. Privado do seu território, perde-se na massa de trabalhadores
sem terra, como o componente mais indefeso e miserável, condenado
a desaparecer. Apesar de amparado pela legislação desde os tempos
coloniais, jamais lhe foi concedida, de fato, a posse efetiva da terra.
Inúmeros projetos de lei têm sido apresentados no Congresso Na-
cional visando à regulamentação do dispositivo constitucional que
assegura ao índio o direito de propriedade das terras em que vive.
Tais projetos nunca chegaram a um desfecho favorável, em virtude da
oposição de poderosos interesses regionais. Basta que um recurso eco-
nômico esteja presente para que os índios sejam despojados de suas
terras ou nelas morram trucidados. O meio mais comum é a expulsão,
sob alegação de que se trata de índios ferozes.
No plano legal, o índio sempre teve reconhecido seu direito à terra.
Esta prerrogativa data de um alvará de 1680, que os diefine como
"primários e naturais senhores dela".
O Decreto-lei n. 0 426, de 1845, não só reconhece esse direito como
também procurou assegurar ao índio assistência direta do governo.
através da criação de núcleos de amparo e catequese, onde pudesse
gozar das garantias facultadas em lei.
Em 1850, é estabelecido o regime de propriedade das terras do
Brasil. O regulamento de 1854 confirma o direito do índio às terras em
que vive, enquanto terras particulares possuídas a título legítimo.
A Constituição de 1891 transfere aos Estados o domínio das terras
devolutas, que até então eram de domínio da União. As terras possuídas
em termos legalmente definidos nos regimes anteriores deveriam ser
salvaguardadas, principalmente as dos índios.
Dada a indiscriminação das terras devolutas que os Estados rece-
beram da União, muitos incorporaram ao seu patrimônio propriedadE;s
legítimas dos índios. A partir desse período, é no caráter de terras
particulares, havidas por títulos decorrentes de legislação anterior, que
se argumenta sobre o direito dos índios às terras que habitam. Esse
direito, no entanto, cessa ante a cobiça por qualquer tipo de explo-
ração econômica.

219
O processo de integração das populações indígenas à sociedade na-
cional está ligado às diferentes formas de economia - a extrativa, a
pecuária e a agricultura. Cada uma dessas atividades impõe aos grupos
tribais condições diferentes de integração.
A economia extrativa representa para o índio a negação de tudo
que ele necessita para viver : ocupa-lhe as terras ; dissocia sua família,
dispersando os homens e tomando as mulheres; destrói a unidade tri-
bal, sujeitando-a ao domínio de um elemento estranho ao grupo. O
índio é submetido a um regime de exploração no qual dificilmente
sobrevive.
A dispersão das espécies de valor econômico no interior da mata
induziu as penetrações por bandos móveis, à cata de drogas, especiarias
e outros produtos de valor mercantil. A participação do índio foi deci-
siva: eram aliciados para localizarem áreas ricas de reservas florestais.
e para trabalhar como remeiros e carregadores, enquanto as mulheres
serviam como amásias e produtoras de gêneros alimentícios.
Os extratores, por constituírem bandos móveis, penetravam mata
a dentro, destruindo as aldeias que encontravam, eliminando grupos in-
dígenas inteiros. Quando não, ocupavam as malocas, seqüestravam mu-
lheres e crianças para assegurar a cooperação dos homens no trabalho
de extração do látex.
Apesar da imensa área territorial da Amazônia e da dispersão da
população, o extrativismo foi um importante fator de extermínio das
populações indígenas. Quando o índio conseguia escapar à marcha
devastadora, refugiava-se no interior, longe dos rios, fora do alcance
dos invasores. Muitas vezes, essa mudança lhe foi fatal. Ali, faltava-lhe
o suprimento de artigos de comércio aos quais se havia acostumado,
como ferramentas, sal, medicamentos.
Enquanto a economia da Amazônia esteve voltada exclusivamente
para a extração do látex, do caucho e da seringueira, a mão-de-obra
em.pregada foi a indígena, ao lado dos flagelados pelas seca.S do Nor-
deste, .que possibilitaram o desbravamento da região. O colapso da eco-
nomia extrativa representou a salvação das populações indígenas re-
manescentes da Amazônia. Os grupos que conseguiram escapar à opres-
são, ao extermínio, ao terror de se defrontarem com os civilizados, vol-
taram aos antigos territórios dos quais haviam sido despojados.
. Não menos agressiva que a expansão extrativa, a pastoril exter-
minou grande número de índios. Os criadores em busca de novas áreas
para os rebanhos invadem as terras dos índios, entre a povoação de
Vilhena e a vila de Rondônia.
Enquanto no extrativismo os elementos que exploram a mata são
bandos livres das formas tradicionais de controle social, na atividade
pastoril são famílias constituídas, cujo objetivo consiste em ocupar as
terras, mas não interessadas na mão-de-obra indígena. Para expandir
as pastagens, o índio é rechaçado de seus territórios e compelido a
dispersar-se, por falta de condições para prover sua subsistência.
Na expansão agrícola, o objetivo de ganhar espaço para as lavou-
ras não preocupa o invasor em poupar vidas para o trabalho escravo,
mas tão somente em desocupar a terra. O equipamento e o número de
pessoas é bem maior do que nas duas atividades anteriores. O início
representa empecilho que tem de ser removido. Ele é forçado a aban-
·donar seus territórios e procurar áreas onde possa caçar, pescar e fazer
roça, não causando a grande transformação ecológica que vem
na esteira da expansão agrícola e à qual dificilmente se acomoda para
sobreviver.

220
RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS

LOCALIZAÇÃO DOS GRUPOS IND(GENAS

MAPA 25

3 9
2 10
5
6
4

Escalo • 1 • 10.000.000

1 I<ARITANA
2 PAKAA' NOVA
3 URUPA'
4 PURUBORÁ
5 SURU I'
6 PARANAWÁT, TUKUNAFE D, WIRAF ÉD (I< A WA H I B)
7 SABANÉ,TAWANDÉ
8 KARARAb (KAYAPd)
9 DIGÜT
lO CINTA LARGA
11 NAMBIKUA'RA
12 A R I K A PU,
13 NAMAINDE ( NAMBIKUÁRA)

Fonte • Revisto de Cultura do Porá_ númaro 5 -pgs. 18/19 - - 1 9 7 5


Os três ciclos de expansão econômica se fizeram presentes no de-
vassamente do Território Federal de Rondônia. Cada um imprimiu con-
dições diferentes de contato com o índio. O ciclo extrativo, o mais im-
portante na exploração do Território, foi o mais opressivo e destrutivo
para as populações indígenas. Poucos foram os grupos que conseguiram
escapar à marcha dos extratores mata a dentro à cata das riquezas
vegetais.
Segundo o Prof. Napoleão Figueiredo •n, vivem atualmente no in-
terior do Território de Rondônia oito grupos tribais: Karitiana, Paka-
ánova, Puruborá, Urupá, Suruí, Paranawat, Sabané, Kararaô, totali-
zando aproximadamente 2. 885 indivíduos, em 1972. Nos limites leste
e sudeste do Território de Rondônia com o Estado de Mato Grosso, cinco
grupos são encontrados: Cinta Larga, Gigut, Nambikuara, Arikapu e
Mamandé - num total aproximado de 895 indivíduos, excluídos os
Cinta Larga, por falta de dados. (mapa 25).
A maior parte dos grupos que vivem dentro da área do Território
Federal de Rondônia está em via de integração à sociedade nacional
(mapa 26), como os Pakaánova, os Karitiana e os Paruborá. Já os
grupos isolados e semi-isolados estão nos limites leste e sudeste do
Território com o Estado de Mato Grosso: são os Cinta Larga, os Suruí,
os Gaviões e os Kararaô.
O grupo Pakaánova é o mais numeroso: 928 indivíduos, em 1977,
segundo dados da FUNAI; vivem confinados em pequenas áreas de seu
antigo território, nos vales dos rios Laje, Ouro Preto, Pacaás Nova,
Sotério e Guaporé. Já o grupo Karitiana se constitui de 84 indivíduos,
encontrados no norte do Território, entre os vales dos rios Jaciparaná
e Candeias.
Os Pakaánova e os Karitiana foram os primeiros grupos a entrar
em contato com seringueiros e castanheiros, no início da ocupação do
Território. Foram usados como mão-de-obra na construção da estrada
de ferro Madeira-Mamoré. Estão bastante mestiçados, vivem da coleta
da castanha, do cacau e da extração do látex da seringueira, produtos
que trocam por outros, manufaturados: artigos de metal, sal, medica-
mentos, panos. Atualmente, estão sob o controle da FUNAI, nos Postos
Indígenas de Karitiana, Ribeirão, Igarapé Laje, Rio Negro, Ocaia e
Pakaánova, que lhes asseguram certo direito às terras onde vivem e a
pres:rvação comunitária e cultural, fatores indispensáveis à sua so-
brevivência.
Os Cinta-Larga e os Suruí são tribos inimigas e arredias, vivem
isolados em seus territórios de refúgio entre as cabeceiras dos tributá-
rios dos rios Jiparaná e Roosevelt. Durante muito tempo o acesso a
essa área foi difícil, havendo ocasionais contatos com seringueiros, cas-
tanheiros e caçadores. Atualmente, fie?. próxima à rodovia BR-364, o
que possibilita a invasão de posseiros e grileiros, vindos do Território
de Rondônia.
Em 1969, o Decreto n. 0 64.860 criou o Parque Indígena do Aripuanã,
com a característica principal de área reservada aos Cinta-Larga e
Suruí, também chamados de Bocas Pretas e Cabeças Secas, em virtude
das tatuagens e pinturas que usam em volta da boca. O trabalho de
atração dos Cinta-Larga e Suruí foi iniciado através dos Postos Indí-
genas Sete de Setembro (margem esquerda do rio Branco), do Roose-
velt e do Serra Morena. As invasões dos seus territórios não cessaram,
partindo principalmente do Território de Rondônia.

7G FIGUEIREDO, Napoleã o. Ama.zônia; tempo e gente . Belém, P a r á, Secreta-


Municipal de Educação e Cultura, 1977. 130p., il.

222
' RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS

GRAU DE ACULTURAÇÃO DOS IND(GENAS

MAPA 26

~ Parque Nacional do Aripuonõ

AREAS OCUPADAS PELOS GRUPOS

~ Suruí
EZZ2l C i n t a Larga o Grupos em vias de i ntegração
§ Nambil<uÓra • . Grupos isolados

Fonte : FUNAI-1975 Escola 1: 10 000000


PARQU E INDÍGENA
DO ARIPUANÃ
1969-1973

I
0::
ali
I

SUR UÍ

I
RONDÔNIA NAMBII-<UARA
-f-. ' X
-- +- - j - - - ,'- ..._ --;..x MATO
'x GROSSO
' I
BOLIVIA +
I o 50 100 200 km
~

Limite Origina l do Porque


Limite Atual do Porque
Estrado
Estrada em construcão
- MAPA 27
FONTE: Amazind/ l wgia Document The Aripuonã Pari< -1975
No ano de 1974, pelo Decreto n .0 53.563, novos limites foram dados
ao Parque do Aripuanã (mapa 27), abrangendo terras do Território
de Rondônia e do Estado de Mato Grosso, reduzindo sua área. Tem
por objetivo reunir os índios que estão aí situados, à semelhança do
que ocorre no Parque Nacional do Xingu. Essa tarefa é de difícil rea-
lização em prazo curto, uma vez que muitas tribos ainda não foram
contactadas. Além do mais, a demarcação oficial do Parque, pela FUNAI,
foi tardiamente realizada. Numerosos posseiros e grileiros já estão
ocupando terras no seu interior, principalmente no Território de Ron-
dônia, onde a distribuição dos lotes aos colonos, pelo INCRA, ainda
não foi totalmente legalizada. O estado de tensão é manifesto na re-
gião, devido à redução cada vez maior da área indígena.
Dificilmente será dada uma solução satisfatória para o índio. Ele
continua a ser considerado pelo homem branco como obstáculo ao
progresso e à civilização, devendo assim ser afastado, neutralizado ou
mesmo suprimido.
O único órgão governamental que pode lutar pela defesa dos
direitos indígenas é a FUNAI (Fundação Nacional do índio), criada
em 1967, em substituição ao Serviço de Proteção aos índios.
A solução adequada para salvar o índio do extermínio está na
criação de parques ou de reservas florestais em áreas de densa con-
centração indígena na região amazônica.
As terras indígenas não dev·2m ser objeto de arrendamento ou de
qualquer medida jurídica que restrinja a posse direta pela comunidade
indígena. Somente em caráter excepcional poderá a União intervir na
área indígena. A intervenção só poderá ser decretada para apaziguar
grupos indígenas em luta , para combater surtos epidêmicos que possam
acarretar o extermínio da comunidade; por imposição da segurança
nacional; para a realização de obras públicas que interessem ao desen-
volvimento nacional; para a exploração de riquezas do subsolo, de in-
teresse para a segurança e o desenvolvimento nacional.
A União pode estabelecer em qualquer parte do território nacional
áreas destinadas à posse e ocupação pelos índios, onde eles possam viver
e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto das riquezas
naturais dos bens nelas existentes.
O Parque Indígena é a modalidade mais indicada de área reser-
vada para defesa dos grupos tribais contra as formas tradicionais de
opressão e usurpação de suas terras. Nos parques indígenas são respei-
tados a liberdade, usos, costumes e tradições dos índios, e preservadas
as reservas de flora e fauna, bem como as belezas naturais da região.
O loteamento das terras nos parques indígenas deve obedecer ao re-
gime de propriedade, usos e costumes tribais. As normas administra-
tivas devem ajustar-se aos interesses das comunidades indígenas.

225
Capítulo 16 - A REGIÃO DE PORTO VELHO

MYRIAM GUIOMAR GOMES COELHO MESQUITA


MIGUEL GUIMARÃES DE BULHõES
!RIO BARBOSA DA COSTA
HELENA MARIA MESQUITA

Os núcleos urbanos da região de Porto Velho são conseqüentes de


um processo de ocupação da área que tem raízes no extrativismo vegetal.
No momento, alguns desses núcleos apresentam intenso dinamismo em
decorrência do fluxo migratório que penetrou pela BR-364, procedente,
em grande parte, das Regiões Sudeste e Sul, com imigrantes que, sem
dúvida, têm padrão de vida superior ao do caboclo amazônico e ao
imigrante nordestino. Assim, a ocupação de novas áreas pela atividade
agrária, formando novas frentes de povoamento, acarretou a expansão
de um mercado consumidor de nível mais elevado, sendo alguns centros
urbanos obrigados a se reequiparem para atender às novas necessidades
desse mercado. O dinamismo da atividade agrária nessas áreas atuou
como força propulsora, concorrendo para a formação de uma rede
urbana ora emergente, favorecida ainda pela implantação das BRs-364,
425 e 319, que possibilitou maior articulação entre os núcleos.
Até o final da década de 60 a região de Porto Velho apresentava
as mesmas características vigentes na Amazônia, isto é, isolamento e
ausência de articulação com a área core do Sudeste. Permanecia como
um setor da grandé área de periferia remota qúe é a Amazônia. A
população urbana era de 32. 034 habitantes e concorria com 37,5 % da
global de 85. 504 pessoas. Os únicos núcleos urbanos que tinham algum
significado na distribuição de bens e de serviços eram os de Porto Velho
e Guajará-Mirim, que concentravam, respectivamente, 60,5 % e 22,2 %
(19. 387 e 7.115 pessoas) do global urbano. A própria cidade de Hu-
maitá concorria só com 3,7 % (1.192 pessoas), número ligeiramente
inferior ao de Vila Rondônia, que apresentava 4,0 %, ou seja 1. 293
habitantes 77 •
Em 1976 a situação apresentava-se bem diversa. A população ur-
bana já atingia 146.242 habitantes, concorrendo com 61,3 % do total.
Antigos lugares ao longo da BR-364, no passado menos povoados, já se
apresentavam com expressivo montante populacional, dentro do con-
texto amazônico e com equipamento urbano relativamente pouco co-
mum às cidades da Amazônia, principalmente em relação aos serviços
bancários, de saúde e de ensino. São eles os de Vilhena e Pimenta
Bueno, notando-se ainda o de Cacoal, criado para sede do projeto de
colonização de Ji-Paraná, do INCRA . Vila Rondônia, situada entre o
PIC Ouro Pre to e o de Ji-Paraná, e que desde a abertura da BR-364
se vinha expandindo, cresceu muito, tendo em 1976 população superior
7í IBGE. Censo Demográfico, 1950 e 1960 (Território de Guaporé e Estado
do Amazonas).

226
à da cidade de Guajará-Mirim. Assim, dos 146.242 habitantes, a cidade
de Porto Velho no referido ano concorria com 54,7 % (80. 000 pessoas),
vindo em seguida Vila Rondônia com 13,7 % (20. 000).
Ainda ao longo da BR-364 notam-se os núcleos de Cacoal, Vilhena
e Pimenta Bueno com, respectivamente, 10.455, 5. 509 e 5. 820 habitan-
tes, perfazendo os percentuais de 7,2 e 4,0 da população total. Incluindo
Ariquemes, que possuía 2. 000 habitantes, o montante urbano dessa área,
com exclusão de Porto Velho, é de 44.180 pessoas, ou seja 30,2 % da
população global. A antiga cidade de Guajará-Mirim contava com 16.855
habitantes, concorrendo só com 11,5 % do global. Os demais núcleos
urbanos, tais como Calama, Jaciparaná, Pedras Negras, Príncipe da
Beira e a cidade de Humaitá possuíam contingentes populacionais que
variavam entre 1. 512, observado em Humaitá, a 265 em Pedras Negras.
Ao todo, a participação desses núcleos era de 5. 207 pessoas que, so-
madas às residentes em Guajará-Mirim, atingia a 22. 062, equivalendo
portanto a 15,1 % do global de 146.242 habitantes segundo dados da
SUCAM.
Pelo exposto verifica-se que a região de Porto Velho, apresenta uma
área mais dinâmica, situada ao longo da BR-364, entre Vilhena e Porto
Velho, onde se alinham os núcleos urbanos mais populosos, e outras
áreas que não sofreram o impacto da imigração, apresentando-se estag-
nadas e mesmo decadentes, com centros bem menos populosos.
Vejamos agora como se hierarquizam e como ocorrem os relacio-
namentos entre os núcleos, no interior dessas áreas polarizadas pela
cidade de Porto Velho. Esses são descritos no decorrer da abordagem
de cada centro, porém oª serviços de saúde e de ensino merecem uma
análise mais pormenorizada, tendo em vista a preocupação atual do
Governo Federal, Territorial e do Estado do Amazonas de melhor
equipá-los.

16 . 1 - PORTO VELHO, A CIDADE-PóLO

Cidade que desfruta de posição geográfica privilegiada, no entron-


camento das BR-364 e 319, e ponto terminal da navegação do Madeira,
Porto Velho é o centro mais bem equipado. Surgida como ponto inicial
da extinta ferrovia Madeira-Mamoré, aí foram construídos a sede da
estrada, seus armazéns e oficinas mecânicas, que rivalizavam com as
da América do Norte e da Europa, pois foram providas de tudo o que
a técnica moderna da época exigia, para reparos nas locomotivas e nos
vagões. Foram ainda construídas serrarias, residências para funcioná-
rios e operários, crescendo o aglomerado vinculado à ferrovia e à sua
posição de conexão do transporte flúvio-ferroviário. A população que
vivia em Santo Antônio, aglomerado mais antigo, deslocou-se para Porto
Velho. Dessa maneira, em 1913, Porto Velho já contava, de modo apro-
ximado, com 1 .000 habitantes 78 •
Foi desde o início um centro comprador da produção extrativa
vegetal e distribuidor de bens, cujas origens estão no comércio aviador 79 ,
este hoje mais raramente encontrado. Desde logo a estação ferroviária
assumiu a fisionomia de cidade. Assim, no princíp~o da década d·~ 1910,
Porto Velho já possuía água encanada, luz elétrica e esgoto. A cidade
tinha uma fábrica de gelo, cuja capacidade de produção era de 25 t
por dia, câmaras frigoríficas, uma lavanderia a vapor, um hotel de
dois pavimentos com 16 quartos, uma tipografia onde era impresso o

78 NOGUEIRA, Júlio. A Madeira-Mamoré. Coletânea de artigos public a dcs no


Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 1913, 102 p.
79 Troca de bens de consumo por borracha e outros produtos floresta:s.

227
jornal local chamado Extremo Norte, serviço telegráfico, dois cine-
mas e uma orquestra.
A 2 km da cidade, subindo o rio Madeira, situado também na mar-
gem direita, existia o local conhecido como Candelária, que abrigava
as instalações hospitalares com 250 leitos e os serviços médiccs e .'Sani-
tários. Neste mesmo lugar residiam os médicos, que dividiam suas ta-
refas entre o atenclimento hospitalar e o atendimento às populações
residentes ao longo da linha férrea, percorrendo-a periodicamente em
automotrizes. Oswaldo Cruz esteve em Porto Velho e em Candelária,
tendo feito o saneamento desses lugares.
Com a crise da borracha, a cidade ficou estagnada, sobrevivendo
graças às suas funções de compradora de produtos da economia re-
gional e distribuidora de bens, comércio este já exercido também por
seringalistas no meio rural. Alguns seringalistas migraram para a ci-
dade, procurando garantir sua posição como compradores desses pro-
dutos e distribuidores de bens de consumo. A crise da borracha no mer-
cado mundial e o interesse dos mercados paulista e carioca pela casta-
nha-do-pará geraram relações da região com esses centros, através de
Manaus e de Belém.
A criação do Território, em 1943, exigiu a implantação de um con-
junto de serviços indispensáveis à própria administração; o serviço ban-
cário foi implantado e outros incentivados, como os de saúde e de ensino
médio, com a instalação de postos de saúde e de um ginásio público.
O surto da borracha nativa no mercado mundial durante a Segunda
Guerra Mundial provocou o incremento do comércio distribuidor de
bens, observando-se já alguma diferenciação entre o atacado e o varejo,
com o surgimento de alguns estabelecimentos varejistas, embora con-
tinuassem a predominar largamente os mistos (atacado-varejo).
Segue-se uma fase de diminuição no ritmo de expansão da cidade,
dada a decadência da borracha no comércio internacional, embora, para
ela, tenham imigrado habitantes rurais, à procura de melhores condi-
ções de vida.
A partir da segunda metade da década de . 50, a cidade toma novo
impulso, em conseqüência do desenvolvimento de novas atividades ru-
rais e da explotaçã.o da cassiterita sob a forma de garimpagem, sendo
comum famílias de garimpeiros, colonos e feirantes com residência
urbana.
A recente expansão da atividade agrária, decorrente da colonização
pelo INCRA, exigiu a implantação de órgãos federais encarregados da
administração dos projetos e da assistência ao trabalhador rural. Em-
presas privadas, atraídas pelo surto desenvolvimentista, que ora ocorre
na área rural, instalaram na cidade escritórios locais. Profissionais
liberais, mobilizados no começo pela iniciativa governamental, depois
pela iniciativa privada, implantaram em Porto Velho escritórios de
firmas comerciais especializadas. Tais fatos mobilizaram recursos hu-
manos com a entrada de pessoas de maior poder aquisitivo que a
maioria da população da região, ampliando-se assim o mercado consu-
midor local e regional, incentivando-se a instalação de novos estabele-
cimentos comerciais e de serviços, principalmente os referentes ao cré-
dito, saúde e ensino.
Porto Velho já dispõe hoje de serviços especializados comumente
encontrados em centros de hierarquia correspondente a capital regional:
escritórios de assessoria e consultoria, de administração imobiliária, de
engenharia civil, de advocacia e de contabilidade. Como Capital do Ter-
ritório, tem instaladas as Secretarias do Governo, além da Delegacia

228
PORTO VELHO
EVOLUCAO
- DO ESPACO
- URBANO
...;;
•4

"'~ E
""' ·
".. DELIMITAÇÃO DO CENTRO

00 1943

00 1953

E?Z3 1963

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CENTRO

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o 100 500
L I Tooo,..
ESCALA
MAPA 28
FONTE : Atlas de RondÔnia
Pesquisas Realizados no Região em 1968 e 1976
Regional de Estatística do IBGE, a Diretoria Regional de Correios e
Telégrafos, chamada Noroeste, que serve também ao Estado do Acre.
É um centro de comércio de produtos rurais, possuindo beneficia-
mento de arroz, borracha, castanha e mais de 20 serrarias. Seu comércio
varejista já apresenta relativa diversificação, sendo encontradas lojas de
eletro-domésticos, jóias e relógios, mobiliário, ferragens e outras; em-
bora de âmbito local, sua área de influência se estende a todos os
núcleos da região.
Concentra metade das 18 agências que servem à região. As agên-
cias de bancos oficiais lá existentes são: do Banco do Brasil, da Caixa
Econômica Federal, ambas com sede em Brasília; do Banco da Ama-
zônia S.A., com matriz em Belém, e do Banco do Estado do Acre, com
sede em Rio Branco. Quanto às agências de banco3 particulares, as
matrizes situam-se em áreas metropolitanas do Sudeste e do Sul. Assim,
as do Itaú e Real na metrópole de São Paulo, a do BRADESCO em
Osasco, a do Nacional em Belo Horizonte e a do BAMERINDUS em
Curitiba, o que demonstra seu forte relacionamento com essas ma-
crorregiões.
Conclui-se, pois, que a ligação rodoviária de Porto Velho com o
Sudeste acarretou a melhoria de seu equipamento comercial e trouxe
modificações profundas nos relacionamentos de dependência mantidos
outrora com Manaus e Belém. O comércio da cidade é hoje abastecido
particularmente por atacadistas e representantes comerciais de firmas
estabelecidas no Sudeste sobretudo em São Paulo. Através de seus esta-
belecimentos comerciais, Porto Velho distribui bens para todo o Territó-
rio, para a cidade de Humaitá, e para as cidades de H.io Branco e
Xapuri, no Acre. Firmas comerciais com matrizes em Porto Velho
mantêm filiais em Guajará-Mirim, Vila Rondônia e Rio Branco.
Porto Velho, como centro regional, mantém relacionamento com as
outras localidades, o que pode ser comprovado pela freqüência diária
de linhas de ônibus: quatro viagens redondas para Vila Rondônia, três
para Humaitá e para Guajará-Mirim, duas para Vilhena, servindo estas
também a Pimenta Bueno. Quanto às ligações inter-regionais, Porto
Velho vincula-se a Cuiabá e a Campo Grande através de uma viagem
diária, constituindo estas cidades baldeações para as linhas que se diri-
gem ao Sudeste. É , portanto, um centro dispersar de linhas, início de
umas e final de outras, não havendo nenhuma ligação direta Cuiabá-
Rio Branco, Cuiabá-Humaitá e Cuiabá-Guajará··Mirim. É sede de em-
presa rodoviária com filial em Rio Branco, e filial de outras, cujas
matrizes situam-se em Presidente Prudente.
A cidade apresenta padrão urbanístico chamado de tabuleiro de
xadrez, favorecido pela topografla de terrenos suavemente ondulados.
A primeira parte ocupada foi a mais baixa, próxima ao rio Madeira,
estendendo-se mais em direção norte, ocupando terrenos mais altos.
Embora a topografia fosse favorável, a cidade praticamente não cresceu
até o início da década de 40. A criação do Território, em 1943, e as
transformações ocorridas na área rural se refletiram no espaço urbano
que se expandiu de forma descontínua, ficando no seu interior nume-
rosos lotes não ocupados. O problema de regularização de terras, que
ocorre na área rural, existe também no espaço urbano, sendo as mes-
mas pertencentes à União. Dessa maneira, os proprietários de constru-
ções não têm a posse do terreno. Tal fato contribuiu para que a maio-
ria das casas residenciais sejam toscas construçÕ·3S de madeira ou de
palha, dando impressão de pobreza, apesar do atual dinamismo da ci-
dade. Contudo, tanto o centro quanto o antigo bairro do Caiari cons-
tituem exceções, pois neles são freqüentes as construções de alvenaria.
O primeiro, balizado pela Av. Faquhar, ruas Almirante Barroso, Campos

229
Sales e Pedro II, tem os prédios utilizados, na maioria das vezes, para
fins comerciais e de serviços, embora tenham também função residen-
cial, principalmente para comerciantes que fixam sua moradia junto à
loja ou escritório. O denominado Caiari, situado mais ao norte em ter-
renos mais altos, é o preferido pela burguesia local, composta de
comerciantes, profissionais liberais, professores, bancários, funcionários
e militares.
Atualmente a expansão se processa para o norte, partindo da Ave-
nida Presidente Kennedy, artéria que interliga a BR-364 à BR-319, e
nas proximidades dessas duas rodovias (mapa 28).

16.2 - VILA RONDôNIA E SUA ÁREA DE INFLU:tNCIA

De hierarquia logo abaixo de Porto Velho, Vila Rondônia tem área


de influência que abrange, de modo geral, os núcleos urbanos de
Cacoal, Pimenta Bueno, Vilhena e os aglomerados rurais de Ouro Preto,
Jaru, Presidente Medici e Muqui. Implantada no lugar em que se cor-
tam perpendicularmente o rio Ji-Paraná e a BR-364, mais ou menos na
metade do trajeto rodoviário Vilhena-Porto Velho, sua posição geográ-
fica é favorável, sendo ponto de parada preferido pelos caminhões e
ônibus que se dirigem a Porto Velho, desde que a BR-364 foi aberta
ao tráfego.
Um posto telegráfico na margem esquerda do Ji-Paraná, estabelecido
pelo Marechal Rondon, deu origem a um pequeno aglomerado distri-
buidor de bens de primeira necessidade aos seringalistas e à população
que garimpava diamantes no Ji-Paraná. Na década de 60, com a aber-
tura da BR-364, ali foi instalada uma balsa e apareceu, próximo à
mesma, um comércio de beira de estrada. Com a implantação do Projeto
Ouro Preto, no início dos anos setenta, o núcleo serviu-lhe de ponto de
apoio crescendo rapidamente e refletindo o que ocorria no meio rural.
Assim, em abril de 1972 já contava com 5. 000 habitantes e hoje possui
20.000. Seu crescimento populacional se processa também pelo afluxo
intensivo e contínuo de imigrantes que desejam adquirir um lote, mui-
tos dos quais não satisfazem os requisitos impostos pelo INCRA. Fixam-
se na cidade, então, vivendo de biscates, o que está transformando
Rondônia numa espécie de bolsão de absorção de mão-de-obra não
qualificada para as tarefas urbanas. Contudo, é bastante expressiva a
migração de gente que visa estabelecer-se na cidade para o exercício
de atividades urbanas. Procedem das Regiões Sudeste e Sul, geralmente
comerciantes ou profissionais liberais, que antevêm em Vila Rondônia
um promissor mercado, representado pela população citadina e rural
da área.
É centro relativamente bem equipado, quando comparado ao da
maioria das cidades da Amazônia, pois já dispõe de escritórios de
advocacia e de contabilidade. Sede de distrito; nele se situa o Escritório
Regional da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão
Rural - EMBRATER, ao qual estão subordinados os escritórios dos
municípios de Porto Velho e de Guajará-Mirim. Como centro de co-
mercialização de produtos da economia rural, possui máquinas de bene-
ficiamento de arroz, milho e cerca de 12 serrarias.
O comércio varejista de Vila Rondônia é já um pouco diversificado,
existindo lojas que vendem implementas agrícolas, auto-peças, apare-
lhos eletro-domésticos, lojas de ferragens , farmácias e casas que comer-
ciam com móveis. Possui duas agências bancárias: Banco do Brasil,
cuja área de jurisdição se estende a todo o distrito, e Banco da Amazô-
nia, atendendo à clientela residente nas localidades de Pimenta Bueno
e Cacoal, e na área rural .

230
É um centro médico-hospitalar bem inferior ao de Porto Velho · e
conta com estabelecimentos de ensino secundário de 1.0 e 2. 0 ciclos.
A cidade ocupa área de relevo ligeiramente ondulado; espraia-se
por ambas as margens do Ji-Paraná e ao longo da rodovia, apresentando
a fisionomia de um tabuleiro de xadrez. A parte mais antiga corres-
pende à margem esquerda, onde estão as construções que abrigam a
administração pública e o velho comércio. Na margem direita, trecho
mais recentemente ocupado, situam-se o comércio atacadista, o vare-
jista, alguns serviços e pequenas indústrias localizando-se estas junto
à rodovia. O espaço urbano é descontínuo em ambas as margens, dadas
as dificuldades que o sítio apresenta. Na margem esquerda, o igarapé
2 de Abril provoca o aparecimento dos alagados, e na direita observa-se
uma apreciável área pantanosa, que já vem sendo ocupada em con-
dições precárias de salubridade.

16.2 .1 - Os centros locais de Vilhena, Cacoal e Pimenta Bueno

Vilhena, Cacoal e Pimenta Bueno são núcleos de hierarquia ime-


diatamente abaixo de Rondônia, centros locais que limitam a distri-
buição de bens e serviços a alguns povoados e à população rural dis-
persa nas imediações.
Vilhena, situada aproximadamente a 10 km da divisa do Estado
de Mato Grosso, é ·a porta de entrada para quem vem do sul e se
dirige para os núcleos que se alinham ao longo da BR-364. Possui
escritórios de contabilidade, agência do BAMERINDUS e é centro de
comercialização dos produtos da economia rural, dispondo de máquinas
de beneficiamento de arroz e mais ou menos 10 serrarias. Seu comércio
varejista é relativamente diversificado, com lojas de auto-peças, fer-
ragens, farmácias, aparelhos eletro-domésticos, implementas agrícolas,
entre outros produtos. Surgida de um antigo posto telegráfico, durante
a construção da BR-364, foi construído no local um campo de pouso
para dar apoio à construção da estrada. Mais tarde a FAB melhorou
a pista e colocou ali um pequeno destacamento, com o objetivo de dar
suporte à nova rota aérea Cuiabá-Porto Velho, que anteriormente era
feita por Príncipe da Beira-Guajará Mirim. Contudo, o pequeno aglo-
merado só foi crescer após a construção da BR-364, caracterizando-se
como ponto de parada e de dormida para passageiros e motoristas de
caminhões que procediam de Mato Grosso e se destinavam principal-
mente a Porto Velho. A partir da implantação do projeto Corumbiara,
em 1974/75, com lotes de 2. 000 ha destinados à pecuária, Vilhena
passou a receber maior afluxo de imigrantes, que sobressaem por pos-
suírem padrão econômico e cultural superior ao de outras áreas da
BR-364. Serve ainda de ponto de apoio ao projeto Paulo de Assis Ribeiro,
de cujo núcleo Colorado dista aproximadamente 100 km, por estrada
de rodagem. Vilhena é, ainda, um centro médico-hospitalar. Sua área
de influência abrange Colorado e a população rural residente nas
cercanias.
Cacoal, situado entre Vilhena e Pimenta Bueno, é das três loca-
lidades a mais recente e a mais populosa. Lá se encontra a sede do
projeto Ji-Paraná; possui escritório de contabilidade e é centro compra-
dor de produtos da economia regional, dispondo de várias serrarias.
Seu comércio varejista já é relativamente variado, contando com lojas
de auto-peças, ferragens e implementas agrícolas. A localidade surgiu
e cresceu de maneira dinâmica. Em 1972 havia no lugar a sede de uma
fazenda que servia de referência e de ponto de estacionamento dos colo-
nos, que aí aguardavam seleção para o assentamento feito pelo INCRA.
Ainda hoje chegam imigrantes a Cacoal, apesar do projeto Ji-Paraná

231
já estar saturado. Alguns deles se fixam na cidade, na esperança de
exercer uma atividade urbana; outros estacionam nela até serem con-
tratados pelos colonos já assentados, trabalhando geralmente no des-
matamento de áreas novas. É, como Vilhena, centro médico-hospitalar.
Sua área de influência se restringe à população rural do projeto
Ji-Paraná.
Pimenta Bueno, posicionada entre Vilhena e Cacoal, na confluência
dos rios Apediá e Comemoração, é um centro de comercialização dos
produtos da economia rural, possuindo aproximadamente 7 serrari~s . Seu
comércio varejista se assemelha ao de Cacoal, com distribuição limi-
tada ao aglomerado Espigão do Oeste e à população rural dispersa.
Como os demais núcleos situados à beira da BR-364, nasceu de um
antigo posto telegráfico, tendo Rondon deixado no local um destaca-
mento comandado pelo cabo Francisco Pimenta Bueno. Este destaca-
mento gerou um pequeno núcleo, mantido graças à garimpagem do
diamante nos rios Apediá e Comemoração e ao extrativismo da borracha,
como centro em que a produção era reunida para exportação, via Porto
Velho, em troca de alguns bens de primeira necessidade. Com a aber-
tura da rodovia, o núcleo tomou impulso e seu centro se deslocou para
a beira da estrada. Seu crescimento foi acelerado principalmente a par-
tir de 1969, quando se tornou local de atração para imigrantes que
ambicionavam terras da colonização particular de Espigão do Oeste.
Posteriormente, o INCRA instalou em Pimenta Bueno a sede do projeto
Corumbiara.
16.3 - O CENTRO LOCAL DE ARIQUEMES

Não se vinculando à região em esboço de Vila Rondônia, pois o


limite entre as áreas de influência desta e a de Porto Velho fica no
povoado de Jaru, Ariquemes é também um centro local, dispondo porém
de equipamento urbano inferior ao de Vila Rondônia. Situado no en-
troncamento das BR-364/ 421 e da RO-l, sua posição geográfica é favo-
rável, permitindo antever, num futuro mais próximo, sua ligação com
Tabajara, solucionando dessa maneira o difícil tráfego hidroviário entre
esta localidade e a cidade de Porto Velho.
Surgida, como outras localidades situadas ao longo da BR-364, de
um posto telegráfico, cujos vestígios persistem na paisagem, foi pos-
teriormente. um pequeno centro de vasta área de seringais estabele-
cidos ao longo do Jamari e, mais tarde, de garimpos de cassiterita,
havendo aí um depósito desse minério. Com a decadência da borracha
e, bem mais tarde, a extinção dos garimpos, Ariquemes tornou-se deca-
dente e passou a ser apenas um ponto de parada na Cuiabá-Porto Velho,
situado mais ou menos a 180 km desta cidade.
Em 1975 o INCRA iniciou a abertura dos projetos Marechal Dutra
e Burareiro, para sede dos quais escolheu a vila de Ariquemes. Já
prevendo o crescimento do núcleo urbano, que deverá ocorrer em ritmo
acelerado, e procurando evitar o que sucedeu em Vila Rondônia, o
INCRA e órgãos do Governo do Território elaboraram um esboço de
plano urbanístico para direcionar ordenadamente o crescimento da loca-
lidade. Assim, a parte nova de Ariquemes se localiza junto à BR-364
ao norte da RO-l, estendendo-se a cidade por mais de 2 km em rumo
norte, ao longo da RO-l , trecho este conhecido como Nova Ariquemes.

16 .4 - OS NúCLEOS URBANOS DAS AREAS DECADENTES

De modo geral, os centros das áreas decadentes não chegam a


definir uma zona de influência. Situam-se em trechos da região em

232
que a população rural é mais rarefeita, ao norte e a sudoeste da cidade
de Porto Velho. Contudo, figura entre eles a cidade de Guajará-Mirim,
que embora não apresente o dinamismo dos núcleos alinhados ao longo
da BR-364 entre Vilhena e Porto Velho, possui área de influência já
mais ou menos definida desde o início da segunda década do século XX.

16.4.1 - Guajará-Mirim e sua área de influência

De nível hierárquico imediatamente inferior ao de Porto Velho,


Guajará-Mirim estende sua área de influência às localidades situadas
às margens do Madeira a jusante de Abunã, como Vila Murtinho, nú-
cleos coloniais Sidney Girão e President~ Dutra; às que se posicionam
no vale do Mamoré-Guaporé, como a cidae boliviana de Guayaramerín;
às vilas de Príncipe da Beira e Pedras Negras; aos povoados de Costa
Marques e Limoeiro.
Surgida como ponto terminal da ferrovia Madeira-Mamoré, ponto
extremo da navegação do Mamoré-Guap_o_!'é, goza de posição geográfica
favorável, fortalecida hoje pela BR-425, que a vincula à BR-364 em
Abunã. Foi um centro que reunia a produção da borracha e da cas-
tanha dos seringais situados ao sul de Abunã, no vale do Madeira-
Mamoré-Guaporé. Sendo a .única cidade relativamente bem equipada
dentro de imensa área, esse fato concorreu para que continuasse a
crescer, embora a economia regional se tornasse decadente, não acom-
panhando o ritmo de crescimento dos núcleos da BR-364, situados entre
Vilhena e Porto Velho.
Guajará-Mirim possui escritórios de advocacia e de contabilidade;
é sede de município e conta com agência de estatística da Fundação
IBGE. É centro de comercialização de borracha e castanha, tem má-
quinas de beneficiar arroz e serrarias, indústrias de mobiliário e de
material de construção. ·
O comércio varejista é relativamente diversificado, possuindo lojas
de aparelhos eletrodomésticos, móveis, implementas agrícolas e fer-
ragens. Suas duas agências bancárias - do BASA e do Banco do Brasil
- operam em todo o município. Dispõe de serviço médico-hospitalar,
ensino primário e secundário, incluindo o 2.0 ciclo.
Seus relacionamentos mais intensos são com a cidade de Guaya-
ramerín, à qual está vinculada pela navegação do Mamoré, onde cir-
culam diariamente numerosas catraias brasileiras e bolivianas, que atra-
vessam o Mamoré em mais ou menos 20 minutos. O auge do movimento
ocorre entre as 8 e 11 horas e entre as 14 e 18 horas.
Príncipe da Beira, Pedras Negras e Costa Marques são antigos e
pequenos centros locais que comercializavam borracha, castanha e, o
último, também a poaia. Distribuem para a população rural alguns
bens de primeira necessidade. Esses centros menores não evoluíram;
ao contrário, apresentam-se decadentes, sendo flagrante a carência de
equipamento urbano em bens e serviços, principalmente quando com-
parados aos centros locais dispostos ao longo da BR-364, em cujas
áreas rurais se processa intenso fluxo migratório.

16.4. 2 - Os centros locais do norte e do sudoeste de Porto Velho

Os demais centros das áreas decadentes correspondem a núcleos


que no passado já tiveram importância ligada ao comércio da borracha
e se alinham ao longo do Madeira, a jusante de Porto Velho, e nas
margens do antigo trajeto da ferrovia entre Abunã e aquela cidade,
hoje feito pela BR-364.

233
Entre eles nota-se o da velha cidade de Humaitá, cujo nível hie-
rárquico pode ser classificado abaixo do de Guajará-Mirim e do de
Vila Rondônia. Situada na marg·em esquerda do Madeira, é atualmente
nó rodoviário das estradas Porto Velho-Manaus e da Transamazônica.
Sua ligação rodoviária com Porto Velho concorreu para definir mais
nitidamente sua vinculação com esta cidade, pois desde a construção
da BR-364, que a mesma já dividia com Manaus a função de abaste-
cedora de bens, embora os produtos importados por Humaitá fossem
ainda escoados pelo rio Madeira.
Surgida na segunda metade do século XIX, Humaitá foi durante
o surto .da borracha a maior cidade da região. Seu período áureo
ocorreu durante o início do século XX, quando foi o maior centro
exportador de borracha, concentrando a produção dos seringais esta-
belecidos no Madeira a jusante de Porto Velho, e no Ji-Paraná. Já dis-
punha, na época, de água encanada, luz elétrica, oficina gráfica, onde
era editado um jornal, o Humaythaense, fábrica de gelo, estabeleci-
mentos educacionais. Mais tarde, em 1919, surgiu um semanário que
teve existência efêmera (pouco máis de um ano) , sendo as máquinas
vendidas e levadas para Porto Velho. Por essa época, a cidade já
apresentava os sinais da decadência que ocorria no meio rural amazô-
nico, em conseqüência da perda de valor da borracha nativa no mer-
cado mundial.
Contudo, como aconteceu com outras cidades da região e da Ama-
zônia em geral, permaneceu como centro comprador de produtos da
economia rural e distribuidor de bens e serviços. É, portanto, um centro
de comercialização da borracha, castanha, sorva e madeira, que são
enviadas, em maior parte, para Manaus.
É sede de município. Possui agências do BASA, Banco do Brasil,
Banco do Estado do Amazonas e Caixa Econômica Federal. Seu co-
mércio varejista é inferior ao de Guajará-Mirim e ao de Vila Rondônia,
distribuindo bens para a população rural residente ao norte de Calama.
o abastecimento desse comércio nos ramos de material de construção,
ferragens , combustíveis líquidos em geral e outros artigos (produtos
farmacêuticos, roupas, confecções e mais) é feito através de Porto
Velho, que funciona como intermediário do Sudeste.
O espaço urbano ocupa terrenos de topografia suave, estenden-
do-se por áreas de terra firme e de várzea alta. A ocupação urbana
tem como limitadores o rio Madeira, o igarapé de Belém e é dificultada
pela existência de uma série de pequenos vales secos, paralelos entre
si, que se dirigem para o rio Madeira, num ângulo de 45° em relação
ao mesmo, ao longo da margem esquerda. A parte que ocupa a várzea
alta tem habitações apoiadas em estacas, aparecendo nas paredes as
marcas das águas das cheias. O porto não tem cais de atracação; res-
tringe-se ao barranco do rio; já está prevista sua conexão com a Tran-
samazônica. Ao longo do mesmo desenvolve-se a rua onde se localizam
as casas aviadoras, demonstrando a importância do comércio de Hu-
maitá no passado, totalmente dependente da via fluvial. Na rua que
dá acesso ao entroncamento rodoviário dispõem-se estabelecimentos vin-
culados ao trânsito de caminhões, ônibus e carros de passageiros, tí-
picos das localidades que se caracterizam por estarem muito próximas
a nós rodoviários, tais como hotéis, restaurantes, bares, oficinas me-
cânicas.
Os demais núcleos urbanos são os de Calama, Jaciparaná e Abunã,
que merecem alguma referência apenas por serem sedes de distrito. A
semelhança de Humaitá, estão dentro da área de influência direta de
Porto Velho; situam-se na confluência de afluentes do Madeira ou
nas suas proximidades, cujos vales são produtores de borracha. Foram

234
e continuam a ser, até hoje, centros compradores de borracha e castanha
e distribuidores de alguns bens de primeira necessidade.
O primeiro, junto à foz do Ji-Paraná, serve até hoje como ponto
de parada para as embarcações que se dirigem para esse rio e procuram
atingir o povoado de Tabajara. Jaciparaná, na do rio de mesmo nome,
teve relativa importância como estação ferroviária . O último, muito
perto da confluência do rio Abunã, foi entre todos o mais importante,
não só pela posição fronteiriça à localidade boliviana de Manoa, como
ainda por ser local de conexão da ferrovia com a navegação do Abunã,
articulando-se assim com o nordeste acreano. Hoje é entroncamento
das rodovias que ligam Porto Velho a Rio Branco e Porto Velho a
Guajará-Mirim, BR-364/ 425, sendo de se esperar que, com a penetração
de novas atividades econômicas nesta área, o núcleo urbano venha a
crescer (mapa 29).
* * *
Pelo exposto conclui-se que a expansão da zona pioneira provocou
transformações nos núcleos urbanos nela situados. Contudo, percebe-se
que o respectivo equipamento urbano é recente e não corresponde ainda
às necessidades de atendimento adequado à população. O intenso ritmo
que caracteriza o processo migratório, transcende à capacidade dos
núcleos de se equiparem proporcionalmente. A insuficiência da estru-
tura administrativa concentrada mis cidades de Porto Velho e Gua-
jará-Mirim concorre para a falta de funções básicas observadas nos
demais núcleos. Por esta razão, o Governo Federal criou, pela Lei nú-
mero 6 . 448, de 11 de outubro de 1977, o município de Ji-Paraná, cuja
sede deverá ser o núcleo do projeto de colonização de nome idêntico,
tendo como distritos Ouro Preto, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
Ariquemes deverá ser elevado a município. I!: ainda pela mesma razão
que os serviços de saúde escalonam os núcleos urbanos de modo dife-
rente, situando-se Vila ftondônia abaixo de Guajará-Mirim.
A situação dos serviços de saúde e educação na região de Porto
Velho é abaixo descrita mais minuciosamente.

16. 5 - SERVIÇOS DE SAúDE

A situação do serviço de saúde na região de Porto Velho, embora


venha melhorando com a instalação de novas unidades hospitalares
e para-hospitalares e o aumento do número de médicos (particular-
mente de médicos especializados), é ainda deficiente, refletindo o baixo
poder aquisitivo da maioria da população. O equipamento hospitalar
em 1975 (mapa 30) constava de dezenove hospitais, com o global de
929 leitos, observando-se a taxa de 3,9 leitos por mil habitantes em
1976. Esta situação coloca a região abaixo da taxa mínima recomen-
dada pela Organização Mundial de Saúde, que é de cinco leitos por
1. 000 habitantes.
O número total de médicos, em 1977, era de 99, dos quais 48 de
clínica geral e 51 especializados.
A região dispõe também de 7 postos de saúde e 2 de pueri-
cultura, onde os médicos e auxiliares de serviços médicos atendem à
população, encaminham os pacientes, quando necessário, aos hospitais
e distribuem medicamentos. Alguns postos de saúde são equipados com
gabinete dentário. Além dos postos de saúde há na área cerca de 27
subpostos que, apesar de não contarem com a presença constante de
médicos, são servidos por auxiliares de serviços médicos que aplicam
injeções, fazem curativos e distribuem medicamentos. Como ocorre com

235
REGIÃO DE PORTO VELHO

HIERARQUIA DOS CENTROS

J!? NÍVEL
CENTRO REGIONAL

29N(VEL
CENTROS SUB-REGIONAIS

39 NÍVEL
CENTROSLOCAIS MAISEQUIPADOS

49 NÍVEL
CENTROS LOCAIS MENOS EQUIPADOS

S U BOR DIN AÇÃO DOS CENTROS


ESCALA 1: 5 .000.000
MAPA 29
RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS

SERVICOS DE SAÚDE

f
I
I
I
\'
j\

M É OI CO
N9 DE MÉDICOS

HOSPITALAR

ESPEC IALIZAÇÁO PARA-HOSPITALAR

~ GERAL • POSTO DE SAÚDE


_450
0

@
Cill OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA POSTO DE PUERICULTURA
_\60 • SUB-POSTO DE SAÚDE
- L E P RA
50 o 50
L___L___l___J
100km
- 30

Fonte . Assistênc ia Médico~Sonitório Su per intendência de Estot(sticos PrimOr ias -IBGE~_-_1.:_97.:_5.:___ _ _ _ _M


__A._P_A__3_0___ _j
o posto, eles encaminham doentes aos hospitais, quando preciso. Tanto
os postos como os subpostos de saúde são em grande maioria federais,
subordinados à Secretaria de Saúde do Governo do Território.
_ Porto Velho é a localidade mais equipada. Possui 55 médicos, isto é,
55,6 % do total regional, sendo 19 de clínica geral, onze pediatras, dez
cirurgiões, sete ginecologistas-obstetras, cinco traumatologistas-ortopé-
dicos, um psiquiatra, um dermatologista e um neurologista. Dispõe de
onze hospitais com o total de 448 leitos, seis postos de saúde e dois de
puericultura. Do global de onze hospitais, cinco são públicos, pertencen-
tes ao Governo Federal e subordinados à Secretaria de Saúde do Governo
do Território, cinco são particulares para fins lucrativos e um particular
filantrópico. Entre os hospitais particulares para fins lucrativos notam-
se, entre outros, os que entraram em funcionamento após o ano de 1972.
Assim, em 1973 começou a funcionar o Hospital e Maternidade Santa Mô-
nica, com 46 leitos, sete berços e uma incubadora. Em 1974 a Clínica
Rondônia; em 1975 as Clínicas Santa Genoveva e Santa Margarida com,
respectivamente, 29 leitos e nove berços, 31 e 21 leitos. Tais clínicas
I destinam-se ao atendimento da população de maior poder aquisitivo,
são relativamente bem equipadas, possuindo de modo geral raios X,
sala de parto, sala de cirurgia e eletrocardiografia. Os maiores hospi-
tais são, porém, o São José, com 129 leitos e 24 berços e o do 5. 0 BEC,
com cinqüenta e cinco leitos, nove berços e uma incubadora, ambos
equipados com raios X, eletrocardiografia, laboratório de análises clí-
nicas e ambulância, além das instalações comuns, como sala de cirur-
gia, sala de parto, consultórios médicos e de enfermagem. O pertencente
ao s.o BEC possui inclusive um respiradouro e gabinete dentário. Dentre
as 11 unidades hospitalares, nove podem ser consideradas como gerais
e duas especializadas. Os hospitais gerais contribuem com 380 leitos
dos 448 existentes. Dos 68 restantes, 56 são da Maternidade Darci Vargas
que tem ainda 33 berços, uma ambulância e instalações comuns às ma-
ternidades. Como hospital especializado, foi também considerada a uni-
dade pertencente a uma comunidade de leprosos, situada aproximada-
mente a 20 km da cidade de Porto Velho, onde os doentes vivem em
liberdade, conservando as características de cidade. Trata-se da Comu-
nidade Jaime Ben Athar, cujo hospital possui apenas doze leitos. Porto
Velho possui ainda seis postos de saúde, dos quais quatro são federais ,
.dois municipais, e dois postos de puericultura, federais .
Em segundo lugar situa-se a cidade de Guajará-Mirim, que dispõe
de equipamento médico-hospitalar muito inferior ao de Porto Velho e
menor número de médicos que Vila Rondônia. Guajará-Mirim dispõe
de dois hospitais, um geral e o outro especializado, com o total de 157
leitos. O primeiro, com 105 leitos, é mantido pela prelazia de Guajará-
Mirím; está equipado, também, com laboratório de análises clínicas,
eletrocardiograma e quatro ambulâncias, sendo duas de tipo automóvel
e as outras duas de tipo barco. Estas se destinam não só ao transporte
de doentes, como ainda ao atendimento clínico, prestação de primeiros
socorros e serviços médicos de emergência a doentes residentes em
Guajará-Mirím, Príncipe da Beira, Costa Marques, Pedras Negras e ou-
tras localidades situadas ao longo do Mamoré-Guaporé, servindo inclu..:
sive à dispersa população ribeirinha. O último é a Maternidade Dr.
Cláudio Fialho, com 52 leitos, 20 berços e uma ambulância de tipo au-
tomóvel, mantida pelo Governo Federal e subordinada à Secretaria
de Saúde do Governo do Território. Os médicos são oito, número bas-
tante limitado para a extensa área de atendimento que tem Guajará-
Mirim. Desses oito médicos, cinco são de clínica geral, dois ginecologis-
tas-obstetras e um pediatra.

238
Segue-se a localidade de Vila Rondônia, que possui quatorze mé-
dicos, dos quais sete são de clínica geral, três cirurgiões, três gine-
cologistas-obstetras e um traumatologista-ortopédico. Vila Rondônia
tem dois hospitais, com o total de 90 leitos.
Abaixo de Rondônia situa-se Vilhena com oito médicos, sendo qua-
tro de clínica geral, dois cirurgiões, um ginecologista-obstetra e um
pediatra. Vilhena dispõe de dois hospitais, com 61 leitos, um mantido
pela Fundação de Serviços de Saúde Pública - FSESP -, com 50 leitos
e que foi até recentemente especializado em Tisiologia. Vilhena possui
ainda um posto de saúde.
Em posição inferior e mais ou menos equivalente estão as loca-
lidades de Cacoal, do núcleo colonial de Ouro Preto e de Humaitá, cujo
número de médicos varia entre cinco e dois e o de leitos hospitalares
de 90 a 30. Nas duas primeiras, situadas no eixo da BR-364 entre
Pimenta Bueno e Ariquemes, próximas a Vila Rondônia, as unidades
hospitalares foram implantadas a partir de 1973 e são particulares,
para fins lucrativos. Cacoal embora possua somente 30 leitos, conta
com maior número de médicos, cinco ao total, dos quais quatro são de
clínica geral e um cirurgião. Ouro Preto tem 90 leitos e dois médicos,
sendo estes clínicos gerais. Humaitá dispõe de dois médicos de clínica
geral, um hospital estadual com 53 leitos e seis berços. Conta ainda
com um posto de saúde.
As outras localidades não possuem hospital nem mesmo posto de
saúde: são servidas apenas por sub-postos localizados ao longo dos eixos
de circulação rodoviária e fluvial, predominando os do Madeira, entre
Porto Velho e Humaitá.
Quanto à área de atendimento médico-hospitalar, apenas Porto
Velho, Guajará-Mirim e Vila Rondônia a têm mais ou menos definida.
A de Porto Velho abrange toda a região, recobrindo a dos outros dois
centros. Para as especializações médicas não existentes nesta cidade,
os doentes procuram, na maioria das vezes, a cidade de Manaus. A
área de influência de Porto Velho segue a de Guajará-Mirim, que recebe
doentes de Guayaramerín, das colônias de rata e de Sidney Girão, das
localidades de Abunã e Fortaleza do Abunã. Para o sul, estende-se em
direção ao Mamoré-Guaporé, atendendo à população aí residente, abran-
gendo inclusive as vilas de Príncipe da Beira, Pedras Negras e os povoa-
dos de Costa Marques, Rolim de Moura e Cabixi. Quanto a Vila Ron-
dônia, a área de atendimento se espraia ao longo da BR-364, entre
Ariquemes e Vilhena. Vila Rondônia recebe doentes de Nova Vida, Ouro
Preto, Presidente Médici, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
Os centros de Ouro Preto, Cacoal e Vilhena têm área de atendi-
mento limitada à população rural residente nas respectivas proximi-
dades.
16. 6 - SERVIÇOS DE ENSINO

Em 1975 havia na região de Porto Velho, segundo o Serviço de


Estatística da Educação e Cultura do MEC, 422 unidades escolares,
freqüentadas por .3 8.016 estudantes o que perfaz o percentual de 15,9 %
da população total da região em 1976. Dos 38.016 alunos, 10.819 resi-
diam em áreas rurais e 27.197 nos núcleos urbanos, participando res-
pectivamente com 11,7 % e 18,6 % da população total rural e da urbana
no referido ano.
A rede escolar acompanha na sua distribuição o padrão linear da
população, distribuída ao longo das rodovias e dos rios, concentran-
do-se nos núcleos urbanos. As transformações econômicas e sociais que
afetaram a região, principalmente a partir da maior intensificação do

239
fluxo migratório, refletiram-se na rede escolar. Assim, das 351 escolas
que declararam o ano de instalação, 84,6% (297) são posteriores a 1968
e 15,3 % (54) são anteriores. Até 1975 não havia sido implantada a
reforma do ensino, mantendo-se o sistema educacional antigo, dividido
em ensino primário ou elementar e ensino secundário ou ginasial, este
constando dos 1.0 e 2.o ciclos. Não existiam estabelecimentos de ensino
superior, a não ser um Campus Avançado da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, localizado na cidade de Porto Velho, que oferecia
curso intensivo de licenciatura, ministrado no período de férias escolares
e destinado à formação de professores do curso secundário.
Na rede escolar do ensino primário nota-se a importância das es-
colas disseminadas nas áreas rurais, concentrando 10.819 alunos e cons-
tando, na maioria das vezes, de uma sala de aula e de um professor,
este quase sempre com curso de primeiro grau incompleto (mapa 31).
Geralmente, tais escolas se destinam mais à alfabetização, e o ensino
limita-se às três primeiras séries, pois raramente são encontradas es-
colas com quatro anos de curso. Em 1975 o número das mesmas era
de 345, das quais 322 (93,3 %) eram mantidas pelo Governo Federal;
13 (3,7 %) pelo Governo do Estado do Amazonas (município de Humaitá)
e 10 (2,9 %) pelos governos municipais. Das 345 escolas, 24 (7 %) esta-
vam fechadas por falta de professores. A maioria dessas escolas é re-
cente e resulta principalmente da política do Governo Federal de re-
duzir o número de analfabetos e proporcionar garantias de escolaridade
primária para os filhos dos imigrantes.
Comparando-se a expansão das escolas verifica-se que, a partir de
1968, o número delas sofreu aumento sensível, que se intensificou na
década de 1970, atingindo o auge em 1975. Das escolas que declararam
a data de instalação, e que somam 291, somente 34 (11,7 %) foram
instaladas até 1967; entre 1968 e 1972 criaram-se 71 (24,4 %), e a partir
de 1973, 186 (63 ,9 %). Entre estas últimas só no ano de 1975 entraram
em funcionamento 115 (39,5 %), das quais 100 (34,3%) foram implan-
tadas no distrito de Rondônia. De modo geral, o número de escolas ru-
rais varia segundo o montante da população rural predominando nos
distritos em que há projetos de colonização do INCRA e nas proximi-
dades da capital do Território.
O distrito de Rondônia, com 175 escolas, o que corresponde a 50,7 %
do total delas, é o que possui maior número. Destas, 148 foram instala-
das entre 1973-1975. O número de alunos em 1975 era de 5. 825, equi-
valente a 53,8 % de discentes. A participação da população rural entre
os alunos é superior a um quinto, correspondendo a 22,1 %. Entre as
unidades escolares e o contingente de alunos devem ser notados os nú-
meros relativos aos projetos de colonização. O INCRA mantém, na área
rural, cerca de 78 escolas, freqüentadas por 2. 354 alunos. O número de
professores para cada grupo de 35 alunos é de 1,2, ligeiramente superior
ao mínimo necessário ao aproveitamento dos alunos, que no ensino
primário é, em geral, considerado como 1. Nas outras 97 escolas, que con-
centram 3. 471 alunos, o número de professores para 35 estudantes é
mais baixo, sendo inferior a 1 (0,9).
Abaixo do distrito de Rondônia situa-se o de Porto Velho, cuja
área rural se beneficiou da proximidade da Capital. Aí existiam, em
1975, 75 escolas e 2. 093 alunos, correspondendo, respectivamente, a
21,7 % e .19,3 % dos totais globais dessas escolas. A participação da
população rural entre os estudantes é bem menor, equivalendo a 10,7 %.
O número de professores para 35 alunos é de 1,1; inferior, como já foi
visto, ao das escolas mantidas pelo INCRA.
Segue-se o número de escolas e de alunos da área rural do distrito
de Guajará-Mirim, com 50 e 1. 370, respectivamente, que correspondem

240
~---------------- --------------------,

... -
RONDONIA E REGIOES VIZINHAS

,
ENSINO PRIMARIO RURAL
1975

NÚMERO ~ALUNOS
NÚMERO~ ESCOLAS

---- + 75
____ 17 a 25
90 a 130

---- 4 a 16 130 a 1000


--- Até 3 1000 a 2000 Fonte : MEC

2000 a 5000
Mais de 5000 ESCALA L 5 .000 .000
MAPA 31
aos percentuais de 14,5 e 12,7 dos totais. A participação da população
rural entre os alunos é bem inferior à de Rondônia e se aproxima da
de Porto Velho, com 10,6 %. Embora nessa área rural haja o projeto de
colonização Sidney Girão, o número de escolas mantidas pelo INCRA
é apenas de cinco e o de alunos 117. Tal fato decorre, possivelmente,
de não ser esse distrito área de maior atração para imigrantes.
O número de escolas rurais situadas nos outros distritos é bem
inferior, somam 45 (13,0 %), assim distribuídas: 16 em Calama, 14 em
Humaitá, oito em Príncipe da Beira, três em Pedras Negras, duas em Ja-
ciparaná e duas em Abunã. O número total de alunos eleva-se a 1. 531
(14,1 %). Geralmente, o número de alunos dessas escolas oscila entre
93 e 193, excetuando-se contudo os distritos de Humaitá e Calama, com
506 cada um.
Os centros urbanos dispõem de escolas primárias, que comumente
ministram todo o curso primário. Alguns possuem estabelecimentos
de ensino secundário, apesar das dificuldades para se conseguir pro-
fessores realmente capacitados, pois geralmente estes possuem formação
até o 2.0 grau, mas dificilmente são encontrados professores com o 3.0
grau completo (mapa 32) .
O centro mais bem equipado é a cidade de Porto Velho, com 28
escolas primárias, das quais 16 são mantidas pelo Governo Federal, três
pelo Governo do Território e nove particulares. O número de alunos é de
1O. 487; o de professores 282, não chegando a 1 (O ,9) professor para
35 alunos. Porto Velho possui onze unidades escolares que ministram
o curso secundário, sendo sete do Governo Federal, uma do Governo
do Território e três particulares, que concentram ao todo 6. 253 estu-
dantes. Destes, 79,0 % (4.943) pertencem ao 1. 0 ciclo e 29,9% (1.310)
ao segundo. Observa-se, pois, um estrangulamento no prosseguimento
dos estudos, do 1.0 para o 2. 0 ciclo. Neste já se nota a preocupação
com o ensino profissionalizante; existem cursos de técnico de admi-
nistração, normal e comercial, cujas percentagens sobre o total do 2.o
ciclo são, respectivamente, de 37,7 (494), 21,9 (287) e 21,4 (281) alunos.
A rede escolar, tanto do ensino primário como do ginasial vem-se ex-
pandindo, acompanhando as transformações que ocorrem na região.
Assim, entre os 20 estabelecimentos de ensino primário que declararam
o ano de instalação, doze são anteriores a 1968 e oito posteriores, sendo
sete relativos ao período 1973-1975. Entre os que ministram o curso
secundário, dos dez que prestaram declaração, cinco são posteriores
a 1968.
Em segundo lugar situa-se a cidade de Guajará-Mirim, pelo fato de
nela existirem três unidades de ensino secundário, com o total de 1 . 983
· alunos, sendo apenas uma posterior a 1968. Trata-se de cidade em que
o ensino secundário já foi instalado há mais de três décadas. O 2.o ci-
clo em Guajará-Mirim é profissionalizante; consta do curso de técnico
em contabilidade e curso normal, com, respectivamente, 213 e 82 alunos.
Quanto às escolas primárias, em 1975 Guajará-Mirim possuía dez uni-
dades, das quais seis do Governo Federal, uma do Governo do Território
e três particulares, com o total de 2. 425 alunos e 79 professores. A re-
lação professor/ aluno é de 1,1/ 35.
Segue-se o núcleo urbano de Vila Rondônia, onde o ensino, tanto
primário como secundário, vem-se desenvolvendo rapidamente, a partir
da implantação da rodovia e dos projetos de colonização do INCRA,
apresentando um dinamismo que, leva a crer, breve ultrapassará a ci-
dade de Guajará-Mirim. Das quatorze escolas primárias existentes em
1975, nove declararam a data de instalação, todas são posteriores a
1967, sendo quatr o de 1975. O número de alunos é de 4.240; o de pro-
fessores 145, e a relação professor para 35 alunos é igual a 1,0. Vila

242
RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS

SERVIÇOS EDUCACIONAIS

NÚMERO DE ALUNOS

- Menosde300
c:::J 300 o 1 000
~ 1000 o 2000
~ 2000 o 4000
c::::::J 4000 c 10000
~ Mo i1 de 10000

NÚMERO DE ES COLAS
En•in o Méd i o
En1 i no Primário
.:. _ moitdelO
3 o 10
-- o,,.
--
2
r:::::::J 1°C!CLO
C=::J 2°CICLO
'
50 50 100km
'----'----'---'
FOflte : Servi~o de Estottnica do Educaçao e Cultura - MEC
MAPA 32
\

Rondônia possui três unidades escolares que ministram o ensino médio,


todas posteriores a 1970, tendo sido implantado em 1975 o 2.o ciclo gi-
nasial. O total de alunos é de 848, participando os matriculados no 2. 0
ciclo com 9,4 % (80 alunos).
As localidades de Calama, Príncipe da Beira, Abunã e Ariquemes
possuem de uma a três escolas, mantidas, na maioria das vezes, pelo
Governo Federal. O número total de alunos nesses núcleos urbanos varia
entre 181 em Ariquemes e 282 em Príncipe da Beira.
Dentre todos os centros citados, os únicos que chegam a ter área
de influência para o ensino médio são as cidades de Guajará-Mirim e
Porto Velho. A do primeiro limita-se à vizinha cidade boliviana de
Guayaramerín, a qual está interligada por transportes constantes, de
catraia. A área de influência de Porto Velho é mais nítida: estende-se
às cidades de Guajará-Mirim e Humaitá; às vilas de Calama, Jaciparaná,
Abunã, Ariquemes e Rondônia. A importância regional de Porto Velho
é devida ao fato de possuir, em dois colégios que ministram o ensino
médio, regime de internato, sendo um para meninos, outro para me-
ninas, ambos particulares e pertencentes a ordens religiosas. São co-
légios tradicionais, preferidos pela burguesia regional, freqüentados por
filhos de proprietários rurais, comerciantes, funcionários e profissionais
liberais. Contudo, não dispondo Porto Velho de ensino universitário, os
estudantes procuram as cidades de Manaus e Rio Branco, o que mostra
a sua subordinação, neste nível de ensino, a essas cidades.
Conclui-se, pois, que o ensino em Rondônia apresenta sérias defi-
ciências, tanto no curso primário como no secundário. No primeiro
observa-se a falta e a pouca aptidão do professorado para o bom desem-
penho de sua função. No último, as unidades escolares são insuficientes,
ocorrendo apenas nos três centros citados. Como no ensino primário,
o médio ressente-se da formação de seu corpo docente, pois, como já
foi visto, é freqüente possuírem os professores somente até o 2. 0 ciclo.
Urge, portanto, melhorar a qualificação dos professores e difundir-
se mais o ensino médio, em particular nos núcleos urbanos que possuem
expressivos montantes populacionais, como os de Cacoal, Pimenta Bueno
e Vilhena, todos com mais de 5 . 000 habitantes. É necessário também
pensar-se em internatos públicos, que poderiam ser implantados nos
maiores centros, isto é, em Porto Velho, Vila Rondônia, Guajará-Mirim
e Cacoal, onde os alunos das escolas rurais prosseguiriam o curso pri-
mário e cursariam o ensino médio. É preciso evitar que haja estrangu-
lamento, tanto na passagem do curso primário para o 1.0 ciclo do
secundário, como deste para o 2. 0 ciclo; o ideal seria que o último fosse
profissionalizante.

244
Capítulo 17 - CONSIDERAÇõES FINAIS E CONCLUSõES

ORLANDO VALVERDE

Os capítulos precedentes demonstram como é imprudente formu-


lar-se um juízo apressado sobre as possibilidades de desenvolvimento
de uma região, antes de se estudar e conhecer a maior parte do seu
território. A penetração do povoamento em Rondônia, iniciada no sé-
culo XVIII, começou a efetivar-se no .século XX, com a colonização do
grande vale do Madeira-Mamoré-Guaporé, enquanto uma tênue liga-
ção, ao longo das linhas telegráficas da Missão Rondon, inaugurava o
povoamento do atual eixo rodoviário da BR-364, no planalto.
Os preconceitos sobre as mesquinhas possibilidades do Território
Federal, no plano das atividades agropecuárias, se robusteciam, à me-
dida que definhavam os projetos de colonização nos solos pobres da
faixa da E. F. Madeira-Mamoré.
A partir das décadas de 1950 e 60, novas perspectivas se abrem
para Rondônia. No primeiro dos decênios citados, a descoberta da cas-
siterita provocou uma corrida para os garimpos; no final do decênio
seguinte, a abertura da rodovia Cuiabá-Porto Velho permitiu que fos-
sem entregues à colonização vastas áreas de ricos solos podzólicos e
de latossolos roxos. A preponderância da colonização oficial, promovida
pelo INCRA, sobre as empresas privadas do ramo, descerrou novos hori-
zontes não somente a médios e grandes empresários rurais bem dotados
de capitais e de crédito, mas sobretudo à grande massa de trabalha-
dores do campo, pobre e sem terra.
As oportunidades vêm sendo avidamente aproveitadas. Uma tor-
rente de camponeses de todas as partes do Brasil despeja-se, até hoje,
nas terras novas de Rondônia.
O povo, administradores, políticos e intelectuais brasileiros formu-
lam perguntas, manifestam preconceitos, debatem opiniões desencon-
tradas em torno das perspectivas que se divisam para o futuro do Ter-
ritório Federal de Rondônia. Essas dúvidas podem ser sintetizadas nas
perguntas que se seguem:
1.a - A colonização do Território, a cargo do INCRA, terá efeitos
duradouros, ou acarretará a degradação dos solos e o empobrecimento
dos colonos, tal como sucedeu antes, no vale do Madeira-Mamoré?
2.a - Nesta última hipótese, não seria preferível estancar a cor-
rente de povoadores, que penetra no Território por Vilhena?
3.a - Se a colonização pelo INCRA tem méritos, são seus planos
perfeitos ou devem ser modificados?

245
4.a - A extração da cassiterita está trazendo riqueza efetiva para
o Território, ou equivale simplesmente a um saque, deixando apenas
terras reviradas e crateras quando as jazidas estiverem esgotadas?
5.a - O Território Federal de Rondônia tem atualmente condições
econômicas, sociais e políticas para se elevar a Estado da Federação,
em breve prazo, conforme projeta o governo?
As pesquisas de campo e de gabinete, realizadas pela equipe con-
junta, IBGE/ INCRA responsável pelo presente relatório, permitem agora
dar respostas fundamentadas a essas questões. Tais respostas, acompa-
nhadas de considerações finais, estão distribuídas nos três títulos sub-
seqüentes, os quais constituem nossas conclusões sobre a matéria, num
plano científico, desapaixonado.

17.1 - RESULTADOS E PROBLEMAS DA COLONIZAÇÃO

É incontestável que a colonização em larga escala, levada a efeito


pelo INCRA, determinou notável incremento da produção agropastoril
do Território. Suas bases econômico-sociais se alteraram radicalmente,
em curto prazo. À velha economia calcada no extrativismo vegetal e
mineral se sobrepôs a nova economia agropecuária.
O êxito da experiência de cultivo do cacau em Ouro Preto constituiu
o ponto de partida para a expansão daquela lavoura nas demais colônias
da região que apresentam condições ecológicas favoráveis e, ao mesmo
tempo, abriu novas perspectivas econômicas para o desenvolvimento
agrícola do Território.
Além de Rondônia apresentar extensas manchas de solos favorá-
veis à cacauicultura, sobretudo das unidades Xibiu e Ouro Preto, sabe-se
que a demanda do ·p roduto no mercado internacional apresenta uma
posição de seguro crescimento. Por outro lado, alguns dos principais
países produtores da Africa (que contribui com 65 % da produção mun-
dial) têm apresentado problemas políticos que dificultam a expansão
da cultura. O Brasil se situa entre os principais países produtores.
Tendo em vista as possibilidades de expansão dessa lavoura, e con-
sideradas as condições do mercado externo, optou o Governo Federal,
através da CEPLAC, por executar um programa de expansão da cacaui-
cultura no País. Esse programa busca recuperar plantações decadentes
e, ao mesmo tempo, estabelecer novas áreas cacaueiras nos Estados do
Amazonas, Acre, Pará e no Território de Rondônia - onde está pre-
vista a implantação de 100.000 cacauais. Estimam os técnicos que a
área total disponível seja de cerca de 400. 000 hectares. Em 1976, a área
plantada nos Projetos do INCRA, segundo dados da CEPLAC, era de
6. 781 ha, distribuída pelos PICs Ouro Preto, Ji-Paraná: e Pe. Adol-
pho Rohl.
Não só o cacau, mas também a banana já produzem excedentes
exportáveis em Rondônia; o café os dará, em breve. Talvez mesmo o
gado vivo ou a carne venham a ultrapassar na próxima década, os
limites da auto-suficiência do Território.
Mais importante do que esses aspectos meramente econômicos foi
a abertura de acesso à propriedade da terra a dezenas de milhares de
famílias, que afluem de todas as partes do Brasil; umas, tocadas por
baixos níveis de renda, relações de trabalho ultrapassadas, quedas de
preços de seus produtos; outras por anormalidades meteorológicas: gea-
das, secas ... Gerou-se assim, em Rondônia, uma das frentes pioneiras
mais ativas do País. A floresta cede lugar a culturas e pastos; cidades

246
brotam e crescem rapidamente na BR-364 e seus ramais; o otimismo e
a ânsia de prosperar dominam os povoadores.
Premido pela demanda incrementada de terras, o setor jurídico do
INCRA foi compelido, pela primeira vez no âmbito federal, a aplicar e
desenvolver amplamente, na prática, princípios de direito agrário.
Não será isso um êxito fugaz, que cessará logo que os solos se
exaurirem, como no vale do Madeira-Mamoré? ·

17 .1 .1 - Habitat Rural e Malha Fundiária

A dúvida é válida porque, no referido vale, como na BR-364, os


colonos adotam o sistema de roças, em suas lavouras temporárias. Em
primeiro lugar, porém, deve-se esclarecer que o processo clássico de
derrubada e queimada é ainda a maneira mais rápida, mais eficaz e
mais econômica de abrir espaços para cultivo nas matas tropicais. Ele
só se torna danoso quando repetido antes que o solo tenha tido tempo
suficiente para recuperar sua fertilidade natural.
O paralelo entre as duas faixas de colonização mostra grandes
diferenças ecológicas e sociais. No vale do Madeira-Mamoré, os produtos
das colônias tinham acesso apenas aos mercados de Porto Velho e Gua-
jará-Mirim; os da BR-364 e ramais chegam em condições competitivas,
não somente a Porto Velho, mas, graças ao frete de retorno, alcançam
também Cuiabá, Goiânia, Brasília, Campo Grande, bem como os amplos
mercados do Sudeste.
Na velha colonização daquele vale, promovida pelo Governo Ter~
ritorial a partir da década de 40, os colonos ficaram praticamente
abandonados à própria sorte, sem assistência técnica de qualquer es-
pécie. Nos PICs e PADs criados e dirigidos pelo INCRA, além do aten-
dimento em saúde e educação, os parceleiros estão sob a orientação
técnica de extensionistas da EMBRATER e da CEPLAC, nas culturas
de cacau.
Não parece justo prever uma futura fase de decadência, semelhante
à de !ATA, para os núcleos do INCRA, pois, além de serem os solos
daquela e das outras colônias do Madeira-Mamoré nitidamente inferio-
res aos da maior parte dos de Ouro Preto, Burareiro, Paulo de Assis
Ribeiro etc., os técnicos do INCRA procuram orientar seus parceleiros
para a introdução de culturas comerciais permanentes. Essa medida
afasta os lavradores, desde logo, das práticas da rotação de terras e os
induz, pelo interesse econômico, às técnicas da adubação. Os terrenos
sobre solos mais pobres são orientados para a pecuária.
O fundamento principal das espectativas diversas que distinguem
as atuais colônias do INCRA dos antigos núcleos organizados pelo Go-
verno do Território se situa no tamanho das parcelas. Os PICs baseiam
a área-padrão do lote no módulo oficialmente estabelecido para Ama-
zônia: 100 hectares. Os lotes das velhas colônias territoriais, assim como
os vendidos pela CALAMA, na BR-364, medem apenas 25 hectares. A
princípio, aqueles abrangiam somente 20 hectares.
Independentemente da baixa fertilidade dos solos, essa área parece
ser muito pequena para propriedades rurais tão distantes dos mercados.
Adotemos porém, o raciocínio realista de Waibel para avaliar a viabi-
lidade dessa colonização agrícola. Esse autor divulgou no Brasil, pela
primeira vez na literatura geográfica, o conceito de minimale Acker-
nahrung, em seu clássico artigo intitulado "Princípios da colonização
européia no sul do Brasil" 80 . Entende-se por minimale Ackernahrung a
so In Capítulos de geografia tropical e do Brasil, p. 205- 261.

247
área mínima de que deve dispor um colono, a fim de manter a si
e sua família, num padrão de vida decente, baseado exclusivamente
em atividades agropecuárias, auxiliado normalmente pela mão-de-obra
familiar. O valor do minimale Ackernahrung depende, basicamente, da
fertilidade do solo, do sistema agrícola empregado pelo colono e, no
caso de lavouras comerciais, do preço alcançado pela sua produção no
mercado.
Ora, no Núcleo Colonial de lata, o maior das velhas colônias, essa
avaliação é simples. Os colonos são de origem nordestina; sua alimen-
tação depende sobretudo da farinha de mandioca. Esta constitui, junto
com o arroz, seus produtos comerciais, por excelência; mas os preços
de venda da farinha e do arroz são baixos. Assim, cada colono precisaria
cultivar, no mínimo, 7 hectares de roça por ano, para obter uma renda
apenas aceitável. ·
Praticando a rotação de terras se o agricultor quiser deixar o solo
em cultivo descansar um ano, tem que dispor de outra área igual para
plantar, enquanto a primeira fica em pousio; se quiser fazer o solo
repousar dois anos precisa ter o dobro dessa área, além daquela que
ora ocupa. Desse modo, sendo :
S = superfície do minimale Ackernahrung;
a = área em cultivo/ ano;
n = número indispensável de anos em capoeira,
o valor do minimale Ackernahrung será expresso pela fórmula:

S =a X n +a.

Como em lata, no entanto, cada família só dispõe de até 25 hec~


tares, precisando cultivar 7 hectares de cada vez, só poderia deixar · o
solo em repouso durante pouco mais de 2,5 anos (cerca de dois anos
e sete meses). A rigor, deixam descansar somente durante dois anos.
Compreende-se, dessa maneira, porque os solos de lata estão esgotados,
invadidos pelo sapê.
Presumindo-se que, naquelas terras maninhas, o solo deveria re-
pousar pelo menos quinze anos após cada cultivo, sem se degradar, a
módulo escolhido para o Núcleo Colonial de lata deveria ter sido de;

S = 7 X 15 +7= 112 hectares.

Em suma, o lote que recebeu cada colono em lata foi, pelo menos,
quatro vezes e meia inferior ao que deveria ter ganho. ~
A situação difere muito em Outro Preto e nos projetos similares.
Dos 100 hectares recebidos, o parceleiro se compromete . a deixar ' 50
em reserva de mata. De acordo com as informações colhidas em entre~
vista, em Ouro Preto, cada família precisa manter em cultivo 5 hectares,
em média. Nessas condições, nos 50 ha ctisponíveis para lavoura, o
colono pode praticar uma rotação de terras com um ciclo de nove anos
(valor de n) . Isso não parece pouco. Ademais, cacau, café e banana são
produtos bem mais valorizados que farinha e arroz. ,
Respondida positivamente a 1.a questão, a 2.a fica ipso facto pre-
judicada.
Não se justifica, nem do ponto de vista ético, e muito menos do
ponto de vista econômico e social, que trabalhadores brasileiros sejam
proibidos de se deslocar livremente no território nacional, em busca

248
de melhores horizontes de trabalho. Tanto mais que eles estão valori-
zando e incorporando, ao nosso espaço econômico, novas e preciosas
regiões.
Se o INCRA não dispõe de meios de promover adequadamente o
assentamento dos povoadores que afluem em massa para Rondônia,
a crítica não deve ser feita aos migrantes, que se instalam ilegalmente
nas vizinhanças, à espera de uma oportunidade; mas, antes, ao próprio
Governo Federal, que não equipa suficientemente aquele órgão, para
que atenda satisfatoriamente às suas finalidades. Todos sairiam lucran-
do com isso.
Pessoas que desconhecem objetivamente os problemas da coloniza-
ção pelo INCRA têm manifestado, ante o noticiário sensacionalista di-
vulgado pela imprensa, temores a respeito das alterações ecológicas
que poderão sobrevir, em decorrência da colonização que se efetua ao
longo da estrada.
Na faixa ocupada pelo PIC-Ouro Preto, o mais antigo dos projetos
implantados pelo INCRA, situado entre Vila Rondônia e Jaru, o assen-
tamento de parceleiros progrediu não apenas ao longo da BR-364 e de
caminhos transversais, mas igualmente às margens de estradas para-
lelas à citada rodovia. Porém, mesmo ao redor de Vila Rondônia, a
devastação não tomou proporções alarmantes. O motivo é simples: não
dispondo de capitais elevados, os parceleiros derrubaram a mata uti-
lizando simplesmente foices e machados, trabalhando individualmente
ou em pequenos grupos (homens jovens da família, vizinhos em muti-
rão, um ou outro lenhador contratado). Não dispunham de tratores
pesados; não possuíam arados de aço, capazes de fazer sulcos profun-
dos; não empregavam desfolhantes, borrifados de avião. Suas ferramen-
tas, seus insumos, suas técnicas tradicionais não lhes permitem deixar
amplas áreas de solo desnudo, alterar severamente os perfis de solo,
nem dar-se ao luxo de devastar mais do que o estritamente necessário
para a instalação das lavouras e das benfeitorias. Ademais, não sendo
a floresta inflamável, os incêndios não se propagam além dos limites
dos lotes; dispensam aceiros e se restringem a chamuscar algumas ár-
vores, à beira dos roçados. As técnicas rotineiras, tão criticadas, foram
afinal um benefício, com o qual não contaram os tão louvados projetos
agropecuários.
Eis as razões porque, nem nos mosaicos de radar, nem nas obser-
vações em sobrevôo ou no solo, podem-se observar sinais apreciáveis
de erosão acelerada.
Dá-se, em Geografia, a denominação de habitat ao padrão de dis-
tribuição das casas 81 . Divide-se liminarmente em habitat urbano e ru-
ral. Conforme o grau de aproximação das casas, este último se subdivide
em três tipos: concentrado, nucleado e disperso. Cada um desses tipos
se individualiza, por sua vez, segundo a forma: linear, redondo, oval,
em xadrez etc., adotando os autores, em certos casos, nomenclaturas
regionais.
Vários fatores podem influir para que o povoamento de uma região,
seja ele dirigido ou espontâneo, adote determinado padrão de habitat
rural. Alguns desses fatores são de origem natural: relevo, drenagem
superficial ou subterrânea; outros são puramente de caráter social: tra-
dição, relações de trabalho, malha fundiária.
Cada padrão de habitat rural apresenta vantagens e desvantagens;
não existe um padrão perfeito. Assim, numa colonização dirigida, os

s1 Conceito que nada t em a ver com o que possui o mesmo termo em


Ecologia.

249
técnicos do órgão promotor devem aconselhar o padrão de habitat que
melhor se adapte às condições naturais da região, às condições sociais
dos colonos, bem como aos objetivos que o citado órgão tem em mira.
Quando os dirigentes atribuem um valor primordial ao trabalho social
-saúde, educação, doutrinação religiosa ou política -preferem geral-
mente o habitat concentrado. Os membros da família que trabalham no
campo precisam então deslocar-se diariamente (em certos casos se-
manalmente) entre a propriedade rural, onde estão suas lavouras, e a
residência no aglomerado. Esse foi o tipo de habitat adotado, por exem-
plo, no Paraná, pelos colonos holandeses de Carambeí-Castrolândia, no
município de Castro; pelo governo da Alemanha nazista (na década
de 30), na colônia de Terra Nova, no mesmo município; na colônia me-
nonita de Witmarsum, no município de Palmeira; nas de alemães do
Volga, nesse município e nos de Ponta Grossa e Lapa.
No Novo Mundo, onde a colonização obedeceu mais freqüentemente
aos ideais liberais de pequenas propriedades de tipo familiar, indepen-
dentes, o tipo predominante de habitat rural foi o disperso. Nos Estados
Unidos, por exemplo, esse tipo de habitat associado à pequena proprie-
dade, lá chamada de homestead, iniciou-se nos tempos coloniais, na
parte norte da Nova Inglaterra, e espalhou-se pelas planícies centrais.
Uma paisagem geométrica, de retângulos cultivados, de estradas orto-
gonais, ali se perde de vista no horizonte. Uma numerosa sociedade
individualista, de agricultores autônomos, os farmers, se constituiu soli-
damente.
No Brasil, esse tipo de malha fundiária se divulgou apenas no
Planalto Meridional, particularmente no Rio Grande do Sul, sobretudo
com colonos de origem alemã e italiana.
No Território de Rondônia seguiu-se o mesmo princípio, baseado no
módulo fundiário de 100 hectares. O lote-padrão mede normalmente
400 metros de frente por 2. 500 metros de fundo. Dizem os colonos que
seu terreno "mede duzentas braças por mil" 82 .
Analisando-se as plantas dos PICs e PADs, observa-se que a malha
fundiária obedece, em regra, a duas orientações: uma, com as parcelas
ortogonais à estrada principal, como prevalece em Ouro Preto; outra,
orientada exclusivamente segundo os pontos cardiais (pelo N magné-
tico, por certo), conforme se observa no PIC Paulo de Assis Ribeiro
(mapa 16, pág. 155).
O primeiro modelo segue o padrão fundiário que os alemães deno-
minam Hufe, organizado quando a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos
colonizou com germânicos, na Idade Média, as planícies da Europa Cen-
tral, em terras por ela conquistadas aos eslavos. O segundo modelo se
assemelha mais ao padrão já referido do vale do Mississipi, por eles
designado homestead.
Tanto o primeiro como o segundo modelo de malha fundiária aten-
dem a certos objetivos momentâneos, em Rondônia. Satisfazem aos co-
lonos, que ansiosamente aguardavam entrar na posse de suas parcelas,
para começarem desde logo a trabalhar na terra; e aos técnicos de campo
do INCRA, sempre premidos, de um lado, pelos camponeses para que .
entreguem os lotes medidos e demarcados, de outro, pelos administra-
dores, que desejam mostrar os resultados de seus serviços e, ao mesmo
tempo, evitar problemas de inquietude social. Os padrões geométricos
rígidos dos modelos mencionados simplificam o trabalho dos topógrafos,
que em poucas visadas fazem a locação de grande número de lotes, pos-
sibilitando a colocação imediata dos piquetes.
82 A braça portuguesa equivale a 2,20 metros.

250
Esses tipos de rede fundiária geram, em regra, um habitat linear
disperso, que dificulta, mais tarde, o funcionamento dos serviços mé-
dicos e educacionais. Outros inconvenientes, não menos graves e de
caráter permanente, transparecem porém nos mapas, fotografias aéreas
(quando as há) e imagens de sensores remotos.
A malha fundiária, que funcionaria bem numa região plana (como
a do Middle West norte-americano), revela completo descaso pela topo-
grafia acidentada de algumas partes. Encostas íngremes perturbam ou
mesmo interceptam a circulação e a utilização do solo, dentro de várias
parcelas. Muitas destas têm dificuldades de acesso à estrada e à água
embora geralmente prevaleça uma rica rede fasciculada de drenagem
superficial, na faixa servida pela BR-364.
Esses tipos simples de parcelamento da terra induzem a certas
atitudes individualistas, que no futuro redundarão em prejuízo coletivo.
Assim, por exemplo, conquanto sejam os colonos obrigados por lei a
deixàr metade de suas terras em reserva florestal, nada os obriga a
deixá-las formando áreas contíguas. É claro que a tendência geral é a
de ir derrubando a parte da frente do lote e deixar os 50 % de mata
no fundo. As vezes, porém, uma elevação se interpõe, e o colono pode
optar por devastá-la - quando não deveria -, deixando terras planas,
agricultáveis, sob ~flQresta.
É curioso que um estudo aprofundado da colonização no Rio Grande
do Sul revelaria) J.ui o mesmo erro foi cometido e depois retificado. Nas
velhas colôniaf itálianas do planalto, a nordeste - Caxias do Sul,
Antônio Prado~.. ..véranópolis - o padrão ortogonal N-S e E-W foi obe-
decido rigorosamente, com sérios inconvenientes junto aos profundos
vales encaixados. Já nas colônias mais novas do oeste, como a de ale-
mães, de Santa Rosa, e a mista de Ijuí, as estradas foram traçadas
sobre os interflúvios achatados, enquanto os lotes em Hufen descem até
a beira do rio. Se a colonização do INCRA na Rondônia se tivesse pro-
cessado em moldes menos apressados e imediatistas, por certo não repe-
tiria os erros já de há muito superados no Rio Grande do Sul.
Pretendendo aparentemente evitar os mesmos inconvenientes e pla-
nejar com maior cuidado a ocupação de novas áreas, o INCRA enco-
mendou à firma SENSORA o levantamento dos recursos naturais de
um trecho da BR-421, de Ariquemes a Guajará-Mirim, e um antepro-
jeto de colonização para a mesma área 83 , que tem 155. 000 hectares de
superfície.
No relatório da citada empresa, o habitat linear disperso, predo-
minante no trecho próximo a Ariquemes, já invadido por posseiros, deve
ser substituído, na faixa estudada, por um proposto habitat rural nu-
cleado, formando aglomerados de forma octogonal. Cada núcleo desses
conta com oito lotes, ou pouco menos, nos casos em que a topografia não
permite o fechamento completo do polígono. Os lotes têm forma trian-
gular, medindo 50 a 60 hectares, totalmente situados em terras agri-
cultáveis planas.
O restante das terras, fora dos núcleos e das estradas, deve ser
deixado em reservas florestais coletivas, revestindo os morros e as terras
planas excedentes (mapa 33). Essas matas defenderiam os solos contra
a erosão e protegeriam as nascentes, a flora e a fauna silvestres. Tais
reservas cobririam cerca de 50 % da área total estudada; seriam cuida-
das pelos habitantes das comunidades vizinhas, o que corresponderia,
em última análise, a uma obediência ao módulo de 100 hectares, pre-
conizado para a Amazônia.
· sa SENSORA - Sensoriamento e Interpretação de Recursos Naturais Ltda.
Levantamento de recursos .naturais e diretrizes para colonização de parte do
Polígono de Ariquemes, Rondônia. Rio de Janeiro, 1977, 2 v. (multilit).

251
IO"OO's 63°15'w IO"'o'S

ANTE-PROJETO DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA FAIXA DA BR-421 LOCALIZAÇÃO NO TERRf!ÓRIO DE


11 11
PROPOSTO PELA SENSORA 66°
RONDÔNIA

64" 62" 60"

(REPRODUÇÃO DE UM TRECHO)


•••

li

/

~·····
'.- .
•••• •••
LEGENDA
DETALHE DE NÚCLEO COMPLETO
LIMITE DA AREA OBJETO

•••••• LIMITE 00 CONJUNTO COMUNITÁRIO

RODOVIAS PRINCIPAIS

RODOVIAS VICINAIS

RODOVIAS VICINAIS PROJETADAS

RIOS

MÓDULO DE NÚCLEO DE OITO LOTES


MAPA 33
0 CENTRO DE NÓCLEO

IO"Is' s IO"Is' S
CENTRO COMUNITÁRIO

• ÁREA DESTINADA A SERVIÇOS DF APOIO


ECOSSISTEMAS CONT(NUOS
ESCALA I :5O 000
0,5 o 2 3 4 Skm ÁREAS COM RELEVO ACIDENTADO NÃO AGRICULTÁVEL

63"15'W
Os núcleos ficariam interligados por caminhos vicinais, desenvolvi-
dos inteiramente sobre terrenos planos ou suavemente ondulados, con-
duzindo todos à BR-421. Desse modo, o número de pontes, pontilhões e
cortes ficaria sensivelmente reduzido, diminuindo os custos da implan-
tação do projeto.
Ao longo da rodovia principal, postos de gasolina e paradas de ôni-
bus proporcionariam uma infra-estrutura de apoio ; entretanto, a mais
importante seria fornecida por pequenos centros de prestação de servi-
ços, localizados a distâncias razoáveis dos aglomerados rurais, onde se-
riam encontrados: escola, ambulatório, armazém ou venda, comércio
de leite e carne, entreposto de cooperativa, áreas de lazer etc.
Todos os lotes disporiam de recursos de água, dentro dos seus li-
mites ou muito perto deles. Situadas embora dentro das respectivas
parcelas, as casas, erguidas junto ao vértice do triângulo, constituiriam
as bases materiais da pequena comunidade. Pelas relações de vizinhança
emergiriam os líderes rurais, elementos indispensáveis ao trabalho
social.
Os dados numéricos, obtidos do plano proposto no mencionado rela-
tório, assim podem ser resumidos:
Número de lotes projetados . . ... . .. . . 1.117
Area total dos lotes . . . . . . . . . . . . . . . . 60.200 ha
Extensão total dos caminhos vicinais . . 358 km
Area total dos núcleos ......... .. .. . 437 ha
Area comum .... .. ...... ... .. . . ... . . 5,9ha
Area média do lote (efetivamente . .. .
ocupada) . . .......... . . . . .. .. . . 53,9 ha
O padrão nucleado de habitat rural representa uma fórmula de
compromisso entre os padrões concentrado e disperso. Sem contar com
as vantagens daquele, no plano da organização de comunidade, não
impõe, por outro lado, os seus defeitos; sobretudo os deslocamentos
diários entre o campo e a casa. Em contrapartida, quebra o isolamento
das famílias camponesas, inconveniente supremo do habitat disperso.
O estudo da SENSORA envolveu a maior parte da faixa servida
pela BR-421. Estendendo os mesmos princípios à faixa inteira, assim
avaliaram os técnicos do INCRA os resultados comparativos entre os
padrões de malha fundiária nucleada e em xadrez (como no PAD-Bu-
rareiro), na BR-421:

Área Reserva Vi cinais Obras de


N° de projetadas
loteamento loteada florestal arte (pon·
lotes (ha) (h a) (km) tes)

Nucleado 1 329 78 441 ,30 76 558.70 420 66


Em xadrez 1 720 86 000,00 69 000,00 630 150

Analisando-se esses dados, verifica-se que a rede fundiária em xa-


drez dividiria mais a terra e assentaria maior número de colonos. Admi-
tindo-se a premissa de lotes monofamiliares e a média de pessoas por
família equivalente a 5, do padrão em xadrez resultaria que a faixa
da BR-421 abrigaria cerca de 2. 000 pessoas a mais. Em contrapartida,
o habitat nucleado em aglomerações octogonais, embora reduzindo o
número de lotes a cerca de 3/ 4 dos da outra malha, e a área parcelada
a pouco mais de 90 %, revela-se mais ecológico e mais econômico: am-

252
plia em cerca de 10 % a área de reserva florestal (protegendo as ele-
vações), ao mesmo tempo que reduz a 2/ 3 a extensão dos caminhos
~icinais projetados e a apenas 44 % o número de obras de arte.

17.2 - O PROBLEMA DOS TRANSPORTES

Quando foi inaugurada, em 1960, a rodovia Belém-Brasília era


à única estrada que permitia uma circulação terrestre regular entre a
Amazônia e o restante do Brasil, embora a circulação ficasse interrom-
pida no auge da estação chuvosa.
Em relação ao Território de Rondônia, e ao Sudoeste Amazônico,
em geral, a rodovia Cuiabá-Porto Velho exerce papel semelhante, de
cordão umbilical. Tomando como exemplo um testemunho da cidade de
Cacoal, foram relatadas anteriormente dificuldades por que passam a
população e o comércio regionais, quando os aguaceiros do chamado
inverno interrompem o tráfego na BR-364.
O asfaltamento dessa rodovia, que o Governo Federal planeja rea-
lizar em breve prazo, trará solução a uma série de problemas vitais para
o Território Federal, o Sudoeste Amazônico, assim como para a Amazônia
ocidental, no conjunto. A concretização dessa medida acarretará con-
seqüências diversas, que serão a seguir resumidas.
O escoamento da produção agrícola para o Sudeste passará a se
fazer com regularidade. O da cassiterita já se processa normalmente
porque, ou é orientado para Manaus (como também o cacau), ou opta,
quando necessário, pelo transporte aéreo, visto que o alto valor unitário
do produto suporta os elevados fretes deste último. Contudo, o preço
de compra da cassiterita não sofrerá mais oscilações para os seus mer-
cados de São Paulo e Volta Redonda. Desde o fechamento dos garimpos,
em 1971, as lavras mecanizadas de cassiterita mais importantes de Ron-
dônia têm acesso à BR-364, por meio de ramais; assim, a transformação
dessa estrada numa via permanente eliminará a alternativa mais dis-
pendiosa.
Em sentido contrário, o fluxo contínuo de caminhões e outras via-
turas vindas do Sudeste normalizará o comércio do Território. As ativi-
dades econômicas se tornarão, ali, menos aleatórias, ao mesmo passo
que a BR-364 reforçará sua condição de eixo viário da Rondônia.
Não apenas esta região será beneficiada com o asfaltamento da
BR-364. Note-se bem que a estrada Cuiabá-Porto Velho é o único
segmento não pavimentado entre o Sudeste - a metrópole paulista,
em especial - e Manaus, capital do oeste da Amazônia. O hiato que
se cria, durante a época das águas, na artéria São Paulo-Manaus será
dessa forma suprimido.
Ipso facto, a função distribuidora de Porto Velho se acentuará. Em
virtude de sua posição extremamente favorável, o fluxo reforçado de
mercadorias vindas do Sudeste tomará daquela praça diferentes rumos:
para Manaus, Rio Branco ou Guajará-Mirim, excluídos os produtos des-
tinados à própria Capital de Rondônia.

17 .3 - TRANSFORMAÇÃO DE RONDôNIA EM ESTADO

Prenúncios tão otimistas parecem sugerir a oportunidade de se


transformar imediatamente o Território de Rondônia em mais um Es-
tado da Federação. Projeto nesse sentido já tramita nas esferas do Go-
verno Federal. É fora de dúvida que, no após-guerra, foi Rondônia o
Território Federal que mais progrediu. As atividades agrícolas e comer-
ciais expandiram-se brilhantemente; mas os produtos exportados de

253
maior valor são ainda, em primeiro lugar, a cassiterita; em segundo,
a madeira.
A economia rondoniense perdura, por conseguinte, essencialmente
extrativista, se bem que os produtos básicos tenham mudado, e a par-
ticipação da agricultura seja agora muito maior. A mineração da cas-
siterita melhorou bastante, do ponto de vista econômico e social, pas-
sando do garimpo para a lavra mecanizada; tornou-se mais rendosa,
ao mesmo tempo que elevou os níveis salariais dos trabalhadores, deu-
lhes mais assistência social, livrou-os da escravidão econômica.
A atividade madeireira permanece desvinculada da silvicultura. Li-
mita-se a ·cortar um número muito restrito de espécies nobres e efetua
apenas um beneficiamento primário. · A madeira é exportada em pran-
chões e as serrarias são poucas e modestas, gerando excassos empregos.
Os núcleos de população correspondem a centros comerciais e de
prestação de serviços; são quase totalmente desprovidos de indústrias
significativas.
Não há por isso, acumulação importante de capitais em Rondônia;
falta-lhe a industrialização. Por quê?
17.3 .1 - O Problema Energético
O gargalo se encontra na falta de energia. Toda ela é, até hoje,
de origem termoelétrica. No entanto, as condições naturais são ali ex-
tremamente favoráveis: clima úmido, rios caudalosos e razoavelmente
encaixados, bons desníveis, embasamento de rochas cristalinas muito
resistentes.
A situação de Rondônia, no setor da energia, é similar à da Ama-
zônia inteira: nos dias atuais baseia-se apenas na energia térmica,
gerada pela lenha ou por motores a gasolina ou a óleo. Entretanto, todo
o potencial dos volumosos rios que descem das vertentes do Planalto
Brasileiro e Guiana, jaz quase inaproveitado.
Preocupado com o problema, o Governo Federal criou, dentro da
ELETROBRAS, o Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Ama-
zônia (ENERAM), pelo Decreto n. 0 63.952, de 31-12-1968. Esse órgão
empreitou, a diversas empresas técnicas, pesquisas sobre o potencial
hidráulico de vários rios e a viabilidade econômica do seu aproveita-
mento. O estudo dos rios de Rondônia foi entregue à firma SONDO-
TÉCNICA, que concentrou suas pesquisas na cachoeira do Samuel, no
rio Jamari, bem como nas cachoeiras de Santo Antônio, Teotônio e
Jirau, no rio Madeira 84 •
O referido estudo, após reunir informações sobre as condições na-
turais da região, elaborou uma projeção qüinqüenal da demanda de
energia dos principais centros, de 1970 até 1985, que assim foi apre-
sentada:
Cidades 1970 1975 1980 1985

PORTO VELHO :
Demanda (~W) 2 168 4 880 9 740 20 140
Crescimento (% a.a.) 17,6 14.8 15.7
GUAJARA-MIRIM :
Demanda (KW) 1 130 2 015 3 600 6 175
Crescimento (% a.a.) 12,3 12,3 11,4

84 SONDOTÉCNICA - Engenharia de Solos S.A. mercado de energia elétrica


e estudos especiais para os polos de desenvolvimento. Porto Velho e Rio Branco.
Rio de Janeiro, Ministério das Minas e Energia, ENERAN/ELETROBRAS, 1971,
2v. (multilit) .

254
Esses dados revelam, desde logo, uma falha, visto que em 1971,
quando foi publicado o relatório, não eram conhecidos ainda os resul-
tados do censo demográfico de 1970, que surpreendentemente revelaram
ter Vila Rondônia crescido ma_is em população do que Guajará-Mirim.
É compreensível este fato, pois Rondônia é o centro da principal e
mais dinâmica região agrícola do Território, enquanto a estagnação
do vale do Guaporé-Mamoré, que apenas começa a ser rompida pelo
desenvolvimento do PIC Sidney Girão, reflete-se bem em Guajará-Mirim.
Sem entrar numa análise semelhante à realizada pelos mencio-
nados assessores técnicos, pode-se presumir que a demanda energética
de Vila Rondônia para 1985 deve estar mais ou menos a meio caminho
entre a de Porto Velho e a de Guajará-Mirim, isto é, cerca de 13.100 Kw.
A cachoeira do Samuel, no rio Jamari, está situada a 50 km de
Porto Velho. Sua queda bruta é de 28 metros, entalhada em granito
bastante fraturado, mas pouco intemperizado. A construção de uma
barragem naquele local exigirá, segundo os técnicos, a vedação das
fissuras com cimento e a procura de areia para construção em lugares
próximos. Esses são os problemas mais sérios a resolver.
Em compensação, enquanto estudos anteriores previam o aprovei-
tamento de apenas 20.000 kw, isto mesmo com restrições nas cheias,
as mensurações efetuadas pela SONDOTÉCNICA demonstraram uma
potencialidade de 60.000 kw instalada, que se tornaria competitiva com
o preço da energia termoelétrica desde o momento em que a demanda
de Porto Velho se eleve a 15.000 kw, o que deverá ocorrer em breve.
O rio Madeira foi estudado no trecho cristalino em que é exclusi-
vamente brasileiro, isto é, no segmento entre Porto Velho e Abunã.
Na altura daquela cidade, ele possui imenso caudal, com uma descarga
de 17.000 m 3 /segundo, drenando uma superfície de cerca de
1.000.000 km2 , de terras em sua maioria bolivianas.
O perfil longitudinal do rio, no trecho em causa, se apresenta como
uma curva côncava para baixo - o que denuncia a juventude do seu
ciclo de erosão -, com dois grandes desníveis: um no salto do Jirau
(junto da antiga estação ferroviária de igual nome) e outro na cachoeira
do Teotônio (Fig. 57). Três pontos foram estudados neste percurso, para
fins de aproveitamento da energia: Jirau, Teotônio e a cachoeira de
Santo Antônio.
Esta última está situada a somente 8 km para montante de Porto
Velho e apresenta um desnível de 24 metros de queda bruta, esculpida
em granito, com vertentes que se elevam até 20 metros. Construindo-se
aí comportas de 18 metros de altura, com comprimento útil da crista
igual a 400 metros, obter-se-ão 600. 000 kw de energia contínua.
No salto do Jirau, construídas comportas de idênticas dimensões,
poderão ser gerados 500.000 kw e energia contínua. A queda bruta
nesse ponto é de 21 metros. A corrente poderá ser também facilmente
conduzida a Porto Velho, que se situa a 126 km de distância.
O sistema Santo Antônio-Jirau poderá produzir, quando integral-
mente aproveitado, mais de 2. 000 megawatts de energia, ultrapassando
bastante as necessidades regionais, num futuro a médio prazo.
Para o aproveitamento completo do potencial energético do trecho
brasileiro do Madeira, os autores propõem duas soluções, cuja opção
dependerá de análises futuras, mais aprofundadas. A primeira será como
· enunciado acima, com duas barragens, sendo uma em Santo Antônio,
vedando os 24 metros, e outra em Jirau, aproveitando a queda de 21
metros. A segunda hipótese prevê uma só barragem em Santo Antônio,
elevando o nível d'água de 45 metros; mas, neste caso, a represa inun-
daria trecho do leito da antiga ferrovia e da própria estrada de rodagem

255
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de Guajará-Mirim a Porto Velho. Resta saber se a economia feita, cons-
truindo-se uma obra só, compensaria os desvios das estradas e as desa-
propriações.
De qualquer modo, nenhuma das soluções propostas pela SONDO-
TÉCNICA inundaria terras bolivianas, isto é, a montante da foz do
Abunã.
No momento, entretanto, a construção de tal sistema energético iso-
lado estaria superdimensionado, mesmo prevendo-se a atração exercida
sobre as indústrias para suas vizinhanças, em vista da disponibilidade
de energia abundante e barata.
Tendo em mira uma solução mais imediatista, a fim de atender
ao mercado de consumo de Porto Velho, o citado relatório sugere o
aproveitamento parcial da cachoeira do Teotônio, localizada a uns 20 km
em linha reta, águas acima de Porto Velho. Essa cascata tem uma
queda nominal de 5,8 metros, que pode atingir à altura máxima de 11
metros, no auge da vazante. A energia potencial ali disponível seria
de 700. 000 kw.
A produção de energia por Teotônio se tornaria competitiva com
a energia térmica, quando o consumo de Porto Velho alcançasse cerca
de 6,5 mw, o que já deve ter acontecido.
A solução final oferecida pela SONDOTÉCNICA para o pólo de
desenvolvimento de Porto Velho, a curto e médio prazos, tendo em vista
a economicidade dos investimentos e as perspectivas da demanda de
energia, é a seguinte:
Aproveitamento parcial imediato, por desvio, a fio d'água, da ca-
choeira do Teotônio, gerando cerca de 12. 000 kW firmes. Essa potência
seria complementada por motores termoelétricas, ao mesmo passo que
seria iniciada a construção da barragem do Samuel, no Jamari. Quando
esta entrasse em funcionamento, por volta de 1985, toda a energia de
origem térmica seria suprimida na área.
Mais tarde, quando for instalada a barragem de Santo Antônio, as
despesas com a instalação do desvio de Teotônio já estarão cobertas,
bastando por isso afogá-las na represa.
Para o suprimento energético de Guajará-Mirim propõe-se o estudo
fluviométrico dos rios Pacaás Novos e Ouro Preto, afluentes da margem
direita do Guaporé, que descem das encostas da chapada dos Parecis.
O que o relatório tantas vezes citado não aborda, mas aqui se
sugere, é que para o fornecimento de energia hidroelétrica de Vila
Rondônia seja estudado um trecho encacroeirado do Ji-Paraná a mon-
tante e a jusante daquela cidade.
O mesmo relatório não deveria menosprezar tampouco a recomen-
dação de que, nos estudos finais para construção do sistema hidrelé-
trico do Madeira brasileiro, seja prevista a construção de eclusas, que
permitiriam a utilização de Abunã e Vila Plácido como alternativas
para anteportos de Rio Branco e Guajará-Mirim em lugar de Boca do
Acre e Porto Velho.
Parece claro que o aproveitamento do potencial do Madeira bra-
sileiro só será cogitado quando sua rede de transmissão de energia
puder ser conectada à do restante do Brasil, por intermédio de Tucuruí
(em construção) e outras que venham a ser instaladas nos bravios cursos
do Xingu, Tapajós e tributários. Contudo, quando forem iniciados os
estudos preliminares para o aproveitamento integral da energia hidráu-
lica do Madeira, não deve ser esquecido o trecho limítrofe Brasil-Bolívia,
até Guajará-Mirim. Um sistema completo de barragens e eclusas até
essa altura iria abrir a circulação fluvial, desde Belém, toda a nave-

257
gação do Guaporé até Vila Bela do Mato Grosso, hoje confinada entre
esse porto e o de Guajará-Mirim.
A Bolívia terá· empenho maior em colaborar num projeto desses que
o próprio Paraguai demonstra em Itaipu, pois, além da produção de
energia abunqante e barata, ele significará o acesso do país à navegação
marítima, a partir do rio Beni. As velhas divergências sobre a questão
do Acre ficarão, asim, definitivamente superadas.
A disponibilidade de energia elétrica abundante e barata repercu-
tirá imediatamente no Território, por meio da implantação de indústrias,
tais como: metalurgia do estanho (particularmente em Porto Velho e
Ariquemes), beneficiamento da borracha, da madeira, de cereais (esta
sobretudo em Rondônia e Ouro Preto), talvez, mesmo, de produtos
derivados do cacau. Com isso, novos horizontes de trabalho e novos
padrões econômicos e sociais serão inaugurados.
Se as providências relativas a captação de energia elétrica forem
logo tomadas, 1985 poderá ser o ano que marcará o início de um novo
surto de progresso no Território. Somente então estaria o seu governo
apto a sustentar, através dos impostos coletados, sua própria máquina
político-administrativa.
Qualquer medida tendente a tornar autônomo o Território de Ron-
dônia, isto é, transformá-lo em novo Estado da Federação, antes da-
quela data, será portanto prematura. O exemplo do Acre parece que
não foi, até hoje, devidamente analisado.
Até 1985, porém, haverá tempo suficiente para se preparar a adap-
tação para a fase de autonomia : organizar secretarias, construir pré-
dios, pôr novos serviços administrativos e sociais a funcionar.
Rondônia se revelaria, nestas circunstâncias, uma obra-prima de
sabedoria política do governo brasileiro, evolvendo para Estado, sem
choques nem despesas astronômicas. Seria especialmente um caso único
na Amazônia brasileira: a :primeira unidade político-adm~nistrativ'a
onde predominarão no quadro econômico e social, como no sul do Brasil,
as pequenas e médias propriedadeS rurais.
Uma sociedade moderna e mais dinâmica se estrutura no Território,
à proporção que se acentua a decadência dos velhos latifúndios, apoia-
dos no extrativismo vegetal. Dinâmica não só no sentido espacial; de
conquista de novas terras, antes abandonadas a uma economia natural,
capturadas para a economia mercantil, ligada aos grandes mercados
do Sudeste e do exterior; mas, sobretudo, no sentido vertical, isto é,
escancarada à ascensão social de contingentes apreciáveis das camadas
carentes do povo brasileiro, que efetiva e diretamente trabalham na
terra. Uma sociedade realmente democrática se inaugura na Amazônia
brasileira.

258

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