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Estudo sobre a bula "Quo Primum Tempore"

ESTUDO DO PADRE RAYMOND DULAC SOBRE A BULA QUEPROMULGOU O


MISSAL ROMANO

A primeira intenção do presente estudo era apenas a de oferecer uma tradução deste
documento, que tem uma enorme importância e que no entanto ainda hoje é
praticamente desconhecido dos fiéis e até mesmo de muitos padres. Quantos entre
estes já o leram e estudaram?... Alguns não sabem nem onde o encontrar. Ora, sem
mesmo lançar mão de grande bulário, basta abrir o Missal de uso litúrgico e nas
primeiras páginas o encontrarão impresso, de modo aliás não muito agradável o que
facilmente pode desencorajar o leitor: nem um só parágrafo num texto que ocupa
três ou quatro colunas grandes!

É preciso também reconhecer que a leitura desta Bula no original é bem difícil. Alguns
termos são de custosa tradução por causa do uso jurídico que lhes dá um sentido
rigorosamente preciso, por vezes fora do uso corrente.

As frases também são de uma complexidade raramente encontrada, devido às


extensas enumerações com minuciosos pormenores e trechos intercalados de difícil
seqüência com orações subordinadas, umas dentro de outras.

Além disso, e quanto à matéria, as decisões editadas pelo documento são de várias
espécies e um leitor menos atento poderia confundi-las não sendo conhecedor da
tradição canônica em matéria legislativa.

Enfim, o sentido profundo da Bula só pode ser bem apreendido se for situado na
circunstância histórica que a provocou, exigindo esta por sua vez ser esclarecida pela
própria história do Missal Romano desde suas origens até a época do Concílio de
Trento.

Por causa destas diversas considerações achamos melhor dar à nossa tradução da
Bula, uma introdução histórica e fazer no final uma exposição jurídica como
esclarecimento de muitas das diretivas da Bula de São Pio V sobre o Missal Romano
restaurado.
Sim, porque trata-se somente de uma restauração e não de uma reforma que teria
modificado a economia do rito tradicional. O título de nossos missais de uso litúrgico,
dizem claramente: Missale Restitutum, Recognitum, isto é, restituído à sua forma
original, restabelecido e com este fim simplesmente revisto. Voltaremos a este ponto
mas desde já devemos assinalá-lo seja pelo menos para reparar na enorme distância
entre a obra de São Pio V e a que Paulo VI realizou ajudado por seus "peritos".

BREVE HISTÓRICO DO MISSAL ROMANO

Faremos um simples resumo, esforçando-nos de lembrar apenas as linhas certas e


essenciais desta longa história. Os que mais profundamente a estudaram
reconhecem modestamente que, em numerosos pontos, têm de se contentar com
conjeturas. Não seriam estes que se aventurariam a reformar o rito usado até nossos
dias sob pretexto de uma volta a um pretenso rito "primitivo" artificialmente
reconstruído!

Para bem compreender a Missa Romana, tal com se apresentava aos Padres
Conciliares de Trento e ao Papa São Pio V, é necessário descobrir seu devido lugar
dentro da evolução geral da liturgia eucarística.

1 - Os Apóstolos tinham recebido do Senhor, na véspera de sua Paixão, o poder e o


mandamento de celebrar o Sacrifício da Nova Aliança. Deveriam para isso refazer,
em memória dele, ISTO que Ele mesmo tinha feito naquele dia, oferecer sob as
espécies do pão e do vinho transubstanciados no Seu Corpo e no Seu Sangue em
virtude de Suas palavras, a Vítima propiciatória imolada na Cruz de uma maneira
sangrenta.

2 - Os mais antigos documentos, nos mostram quão os Apóstolos e seus sucessores


observaram fielmente esta ordem.

Pela própria natureza das coisas e com a autoridade recebida do próprio Cristo ou do
Espírito de Pentecostes, os Apóstolos deviam completar a simples repetição dos
gestos da Quinta Feira Santa com um conjunto de ritos. Iam eles tornar solenes sua
"comemoração" e fazer dela uma verdadeira cerimônia religiosa.
Esta cerimônia não tinha por fim somente manter um sentimento interior de
fidelidade à uma lembrança cujo mérito variasse segundo as disposições subjetivas
do celebrante e dos participantes. Ela iria ter os efeitos objetivos de um ATO, efeitos
esses realizados em virtude da própria instituição de Jesus Cristo, que quis estar
presente sob as espécies sacramentais. Uma única condição: que o padre humano
se faça instrumento exato do Sacerdócio único e soberano, conformando-se por sua
fé e por sua intenção à Vontade Daquele que é Senhor de seus dons:

"Fazei isto"

3 - Houve assim, na origem, em todas as igrejas locais do Oriente e do Ocidente, um


rito mais ou menos uniforme, que vem atestado por alusões dos mais antigos Padres
da Igreja: Doutrina dos Doze Apóstolos (Didachê), primeira Epístola de Clemente aos
Coríntios, Epístola de Barnabé, cartas de Santo Inácio, de São Justino, Santo Irineu,
etc.

Este rito, ainda um tanto indeterminado nos pormenores, deixando lugar a certas
improvisações, iria, no correr dos três primeiros séculos, se cristalizar pouco a pouco
em alguns ritos-típicos que deveriam se fixar numa determinada forma em
conformidade ao gênio particular de cada povo.

4 - Assim é que, a partir do século IV, se conhecem quatro tipos gerais de liturgia
eucarística’ das quais três tiveram sua formação ao redor das grandes igrejas
patriarcais: Antioquia, Alexandria e Roma.

São estes os "ritos-fontes". Com um quarto, o rito dito "galicano", estão na origem
dos ritos "derivados" que serão finalmente celebrados em todo o mundo católico.

O rito romano era, na origem, apenas o rito celebrado somente na cidade de Roma.
Foi somente depois do século VIII que se espalhou por todo o Ocidente com algumas
exceções, suplantando os outros ritos ocidentais dos quais sofrera influências e aos
quais emprestara detalhes.

São estes ritos ocidentais, latinos mas não romanos, que foram reunidos sob a
apelação genérica de rito galicano. Título comum que compreende tanto o rito
observado na Gália quanto, com algumas variantes, na Espanha, na Bretanha, no
norte da Itália e em outras regiões.
Os historiadores não estão de acordo sobre as origens desse rito, mas parece certo
que o mesmo constitui um uso diferente do de Roma. Os dois de desenvolvem
paralelamente, sofrendo influências recíprocas, dos séculos VI ao VIII, até o
momento em que o galicano é absorvido pelo romano sob a influência de grandes
missionários: Santo Agostinho, na Inglaterra (597) e São Bonifácio na Germânia
(+754); sob a influência também de Carlos Magno que, desejando para seu reino
uma uniformidade litúrgica, deu-lhe como base o rito observado em Roma.

Os únicos sobreviventes do rito galicano comum foram o rito dito "mozarábico",


usado em toda a Espanha até o século XI e que subsiste ainda em Toledo e do rito
denominado "ambroziano", ainda hoje observado em Milão.

5 - Tendo se imposto definitivamente em todo o Ocidente entre os séculos XI e XII,


o rito Romano deveria no entanto sofrer em diferentes graus depois dessa data,
influências locais que iriam produzir certas variantes as quais se podem a rigor
qualificar como ritos mas que, na verdade, são somente formas variadas muito
secundárias oriundas da mesma fonte. Assim em Lião, Treves, Salisbury, etc.

Essas formas variadas que aqui mencionamos, são mais conhecidas devido à
importância das cidades, mas o estudo dos Missais da Idade Média nos mostra que
quase cada uma das catedrais tinha suas particularidades litúrgicas cuja prática se
estendia mais ou menos pelas regiões vizinhas.

Em que consistiram? Em acréscimos exuberantes puramente ornamentais ou


piedosos: festas locais, procissões, cerimônias simbólicas, orações e cantos
acrescentados, textos "recheados", Sequências, Prefácios suplementares...

A estas variedades segundo os lugares, se ajuntavam outras próprias das famílias


religiosas: Carmos, Cartuxos, Dominicanos.

Mas frisamo-lo bem: nenhuma delas constituía um rito distinto. Todos pertenciam
indubitavelmente ao tronco comum original do rito Romano tal como fora fixado no
tempo do Papa São Gregório (590-604), se bem que com alguns acréscimos
"galicanos" posteriores. Os antigos "sacramentais" romanos, o "Leonino", o
"Gelasiano", o "Gregoriano", que são como ancestrais do nosso Missal e que foram
escritos respectivamente entre o V e o VII séculos, nos dão uma ordenação da Missa
idêntica a que São Pio V devia canonizar na sua Bula.

Segundo o liturgista inglês Fortescue:

"Desde o tempo de São Gregório, considera-se o texto, a ordem e a disposição da


Missa como uma tradição sagrada à qual ninguém ousa tocar, senão em detalhes
sem importância.

6 - Posta em paralelo a Missa Romana com todas as liturgias orientais, sem exceção,
tanto as "cismáticas" quanto as "uniáticas", constata-se que certas cerimônias são
rigorosamente idênticas quanto ao essencial: intocadas, verdadeiramente sagradas
porque pertenciam à instituição de Jesus Cristo ou dos Apóstolos. Reconhecidas como
essencialmente necessárias para que o padre pudesse realizar "ISTO" que o Senhor
realizara na Ceia.

E verdadeiramente indispensáveis para que a Missa fosse e parecesse um sacrifício


no sentido próprio e pleno do termo, isto é, uma oblação atual, pessoal, feita em
nome da Igreja por um padre ordenado, da vítima imolada no Calvário; estando esta
vítima realmente presente sobre o altar em virtude da consagração do pão e do vinho
que os converte substancialmente no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo pelas
palavras da instituição repetidas, "em memória" Dele.

São quatro as partes imutáveis da liturgia eucarística mas com diferentes graus de
importância quanto à essência do rito:

1 - O ofertório: é a dedicatória prévia do pão e do vinho, que assim se tornam


"oblatas".

2 - O cânon, também chamado ação. É a "prex" dos latinos e "anáfora" para os


gregos: oração consecratória que começa em forma de ação de graças para se
conformar ao gesto de Nosso Senhor que "deu Graças" a Seu Pai antes de "abençoar"
o pão e o vinho e de os consagrar.
Nesta oração é que estão inseridas as outras partes do rito consecratório, a saber:

- O memorial da Ceia que precede as palavras da instituição: "Tomai... isto é meu


Corpo".

- Antes ou depois uma invocação mais ou menos explícita ao Espírito Santo, o


epiclésio. Este é difícil de ser situado de modo exato na Missa Romana.

- Depois das palavras da instituição que consagra as oblatas, encontra-se uma oração
que vem afirmar que o padre e todos os participantes ao sacrifício agem, cada um
em sua posição essencialmente diferente, "em memória de Jesus Cristo como Ele
próprio ordenou". É a anamnese.

3 - Segue a fração: para repetir o gesto do Senhor que "rompeu" o pão antes de
distribuí-lo aos Apóstolos.

A Fração é acompanhada da commixão, pela qual um fragmento do pão sagrado é


mergulhado no vinho consagrado.

4 - Finalmente a comunhão. A maneira de dá-la e de recebê-la, os cânticos ou orações


que a precedem, a acompanham e a sucedem variam segundo os ritos locais.

Aos quatro ritos que acabamos de descrever e que estão diretamente ligados ao ato
do Sacrifício, se ajuntavam outros que os enquadravam, completando ou
ornamentando sua significação religiosa e inspiração cristã. Ritos que todo o mundo
reconhecia como secundários mesmo quando a fidelidade, fortalecida pelo uso, deles
faria questão.

Primeiramente: O ósculo da paz. Está quase sempre presente com atribuições e


maneiras variadas de fazê-lo. Em seguida: leituras, ladainhas, procissões, hinos e a
homilia.
***

Não esqueçamos a divisão do ofício entre "Missa dos catecúmenos" e "Missa dos
Fiéis". E de passagem observamos que a expressão "Liturgia da Palavra" permanece
totalmente desconhecida desde as origens até aos tempos do Vaticano II. Aliás é
contraditória nos próprios termos: etimologicamente a palavra "liturgia" designa uma
"ação". Ora, exceção feita aos tagarelas, a palavra não é um ato. Certamente quando
esta palavra é divina, ela é "espírito de vida". A este título deve ter lugar eminente
dentro do ato da Missa, mas ela não é este ato. Se o fosse não se poderia despedir
(formalmente!) uma parte da assistência no momento preciso em que termina a
execução das leituras! Isto por que? Porque não estando ainda admitidos à comunhão
eucarística (os não batizados) ou tendo sido afastados ou excluídos (os penitentes)
julga a Igreja que então não deviam ser admitidos à liturgia propriamente dita: que
prepara formalmente para a comunhão. Provando assim que as Leituras eram
nitidamente distintas de "Liturgia".

É melhor usar de franqueza: o lugar cada vez mais preponderante dado, nas Missas
pós-conciliares, à "palavra", divina ou humana, é uma concessão feita aos
protestantes para os quais a palavra é tudo.

Aliás, há aí um sinal revelador: a manipulação dos textos sagrados, não somente em


traduções adulteradas mas também em amputações ou edulcorações do original,
julgado pouco ecumênico. Vejam a Bíblia revista e corrigida pelos padres Bugnini e
Roguet.

DIGRESSÕES SOBRE O OFERTÓRIO

Descrita a Missa Romana, em suas partes essenciais, tal com era celebrada por todo
o Ocidente antes do Concílio de Trento (excetuando-se Milão e Toledo), devemos
deter-nos a uma de suas partes : o ofertório. Veremos melhor assim num exemplo
característico, a distância infinita que separa a "restituição" do antigo Missal feita por
Pio V e a "reforma" de Paulo VI.

É sabido que os reformadores modernos do rito milenar canonizado pelos Padres do


Concílio de Trento e por Pio V, quiseram (ou fingiram querer) "simplificar", como
dizem, o Ofertório, qualificado por eles, seja de redundante "duplicação", seja de
réplica aberrante da Oblação essencialmente única: a que é realizada na Consagração
onde é Cristo, e Ele somente, que é oferecido ao Pai, o qual não poderia aceitar outra
(dádiva) senão a do Seu Filho.

Esta reclamação teria uma aparência de verdade se os gestos e as palavras do nosso


ofertório tivessem um valor absoluto subsistente nele mesmo. Ora, seu significado é
inteiramente outro e expressamente ordenado a outra coisa. Tem uma realidade
certa mas a realidade das coisas relativas: "esse ad".

Em verdade o que se passa nesse momento?

O pão e o vinho, ainda comuns e profanos, são trazidos ao altar e depois dados à
Santíssima Trindade segundo um rito especial de oferenda. Este rito os separa do
uso comum e profano, os dedica e os prepara.

Para que? Para uma outra oblação: a oblação propriamente sacrificial que será daí a
pouco consumada no e pelo ato de sua própria consagração.

O ofertório, que Lutero iria procurar destruir, não tem de modo algum o sentido do
gesto da gratidão humana ao seu criador pelo pão e pela uva nem o da restituição
das premissas ao Senhor de todas as coisas, conforme judeus e pagãos sempre
tinham feito (é como a Missa de Paulo VI parece querer "restituir", no seu novo rito
ecumênico e teillardiano).

Na liturgia romana da Missa, o pão e o vinho se tornam pelo ofertório as oblatas,


como são comumente designados em inúmeros textos: isto é um verdadeiro
sacrifício, MAS um sacrifício preparatório, um sacrifício à espera, assim como um vir
a ser.

E são estas oblatas, já reservadas, que serão em seguida santificadas, no sentido


pleno do termo, que vão entrar no único sacrifício agradável a Deus: o da Ceia e do
Calvário.
Mas estas oblatas só entram aí para se perderem. Se perderem como?

- Não por uma "trans-finalização" ou "trans-significação" que deixariam toda a sua


natureza intacta, como o imaginam os calvino-católicos da igreja holandesa: haveria
então somente uma mudança simbólica;

- Nem por uma simples transformação em sua própria matéria, tal como acontece
nas mutações físico-químicas que deixam, estas sim, a matéria intacta: haveria então
simples associação justaposta de dois sacrifícios sucessivos, o do padre, humano, e
o de Cristo;

- Nem por uma aniquilação das duas oblatas, que apagaria então a oblação do padre,
substituindo-a pura e simplesmente pela de Cristo;

... mas por uma conversão total de substância em substância.

Então e somente então, o sacrifício do homem, real atual, pessoal, está


verdadeiramente confundido com aquele do Senhor; mas o rito do ofertório os tinha
antecipadamente e momentaneamente distinguido. O homem trouxe sua parte e o
Cristo a assumiu.

Eis aí porque, sob formas bem variadas mas sempre muito expressivas, este rito é
encontrado sem exceção em todas as liturgias. E é neste sentido que podemos dizer
que o mesmo faz parte "integrante" da Missa.

Integrante, no sentido filosófico do termo: parte de um ser que não constitui sua
natureza mas que lhe dá o acabamento conveniente e harmonioso.

Porque, é preciso não esquecer: a "essência" da Missa não é uma essência física,
mesmo se esta é profundamente real, de uma realidade que transcende infinitamente
o plano dos sinais e dos símbolos. Realidade Sacramental, a do "mistério de fé".
Invenção, sim, invenções de um outro mundo, cujos criadores são o Amor e a Arte.
Lembremo-nos da palavra do vinhateiro da parábola, que repartia os salários de
modo tão estranho (Mat.XX,15): "Não me é permitido fazer aquilo que eu quero?"

O que quero: o bel prazer dos músicos e dos amantes. Esferas acima dos números
racionais. Quem se lembraria então de falar de "repetição"?

Dizer que o ofertório é uma "duplicação" (doublet) é visão não de liturgista, mas de
sacristão. É como se dissesse que a mão esquerda é uma duplicação da direita,
porque afinal se pode segurar um castiçal com uma só mão, ou se iluminar com uma
só vela.

DA ANARQUIA LAICA DE LUTERO À RESTAURAÇÃO DO CONCÍLIO DE TRENTO

Tal era então a Missa romana, a que o Papa Gregório o Grande tinha celebrado, e
Agostinho de Cantorbery, Ambrósio de Metz, Bernold de Constance, João Beletk,
Tomás de Aquino, Durand de Mende, Gerson e uma multidão de padrezinhos do
interior cujos nomes estão inscritos no Livro da Vida.

...E também o monge Martinho Lutero, durante quinze anos, antes que seu demônio
de guarda lhe revelasse que esta Missa era a abominação da desolação (como ele
próprio contou em narração inimaginável que seria interessante publicar novamente
nesses tempos perturbados).

Mil anos de posse pacífica, feliz, a reconciliar, consolar, confortar iluminar e santificar
milhões de almas através das mais variadas circunstâncias de uma história da Igreja
por vezes catastrófica.

Sobre um monte, um ostensório imóvel e intacto.

Então veio Lutero com sua tropa disparatada e equívoca.


É preciso dizer, o que ainda não se fez suficientemente, que a revolução protestante
foi antes de tudo uma revolução laicista e anti-sacerdotal. Se o monge agostiniano e
os seus se lançaram tão furiosamente contra a economia dos Sacramentos e da
Missa, é principalmente porque sua grande gana era o sacerdócio.

E atacaram o padre porque o tinham sido e queriam deixar de sê-lo. Toda sua
"Teologia" de uma salvação puramente interior, sem mediação humana, fora forjada
simplesmente para mascarar sua deserção. A teologia protestante da graça e da fé
é uma teologia de "defroqué" que procuram assim justificar sua própria traição.

A lógica desse laicismo, deveria ter conduzido Lutero a suprimir qualquer culto
exterior organizado. Escreve J.Paquier:

"Seria seu passado católico e seu bom senso, que lhe aconselharam de se contentar
com uma redução e transformação do culto católico prudente, tímida, conservando
muita coisa do passado?"

Não seria sobretudo, como o próprio Lutero escreveu, o cuidado de conseguir "com
segurança e felicidade" (tuto et feliciter) o fim colimado procedendo por etapas, como
outros entre nós o disseram desde 1963? Criar assim, sem abalos violentos nos
costumes seculares dos povos, um culto novo que não seria mais sacerdotal?

Os resultados dessas táticas tateantes é o que conhecemos hoje no interior da Igreja


desde o final de Vaticano II: anarquia e caos litúrgico. Ao mesmo tempo proliferação
de ceias, serviços, cultos, sem regra nem controle que iria fornecer um veículo
excepcional para os cismas e heresias. Era urgente unificar e purificar.

Foi o que fez o Concílio de Trento.

Aqui, como em outras matérias, os padres puseram como principal atenção à sua
solicitude a obra doutrinal antes da reforma disciplinar.
Ensinar a teologia da Missa e do Sacerdócio: de uma maneira, em primeiro lugar,
positiva (os "capítulos") seguida das condenações das heresias correspondentes (os
anátemas dos "cânones").

Do próprio culto, o mais urgente a dizer o fora feito a propósito do Cânon, da língua
litúrgica e da comunhão em uma só espécie.

Mas não era só isso: era preciso deter o processo da desagregação protestante dos
ritos da Missa. Esta estava favorecida pela enorme variedade dos missais católicos e
pelos abusos que os padres designavam com nitidez e que enfeixavam em 3
principais: a superstição, a irreverência e a avareza.

Já em Bolonha em 28 de novembro 1547, uma Comissão fora encarregada pelo


Concílio de destacar os abusos ou erros "relativos à Missa, às indulgências, ao
Purgatório e aos votos monásticos".

Mas foi sobretudo em 1562 que as preocupações ganharam precisão: uma nova
Comissão de sete padres é formada em Julho, que cataloga abusos de toda sorte,
redige um resumo e por fim uma lista de nove cânones que são submetidos em
Setembro à discussão do Concílio.

No se tratava mais do Missal como nos projetos anteriores, onde se podia ler:

"que o sacrifício (res sacra) seja realizado segundo o mesmo rito em toda a parte e
por todos, para que a Igreja de Deus tenha somente uma linguagem (unius labii sit) e
que não se possa encontrar, entre nós, a menor diferença (dissentio) nessa matéria.
Para que se possa chegar a este ponto desejado será talvez necessário tomar as
seguintes providências: que todos os Missais, depois de terem sido purificados de
orações supersticiosas e apócrifas sejam propostos a todos perfeitamente puros e
nítidos (nitida) sem defeitos (íntegra); que sejam idênticos, pelos menos entre todos
os padres seculares, salvaguardando os costumes legítimos não abusivos".
"Que certas rúbricas bem fixadas (certae) sejam determinadas; os celebrantes
deverão observá-las de maneira uniforme, a fim de que o povo não possa ficar
chocado ou escandalizado por ritos novos ou diferentes".

Para resumir: "Que os Missais sejam restaurados segundo o uso e costume antigo da
Santa Igreja Romana". (2)

O Concílio se separou antes de ter podido realizar por si próprio as resoluções


tomadas. Decidiu confiar a tarefa ao Santo Padre para que ele terminasse a obra
"segundo o que julgasse bom e sob sua autoridade".

O Papa que era então Pio IV, instituiu para isso uma Comissão especial, mas morreu
antes que os trabalhos estivessem concluídos.

Seu sucessor, Pio V, devia confirmá-la a fim de que viesse a realizar as decisões do
Concílio nos próprios termos em que foram expressas:

- unificar os Missais;

- purificá-los de qualquer erro;

- reconduzir o rito romano ao tipo exemplar de sua origem;

- torná-lo obrigatório para todos e;

- respeitar, no entanto, os costumes legítimos.


A graça de realizar esta obra eminentemente religiosa fora reservada pela Divina
Providência ao Papa do Santo Rosário.

O organizador da vitória de Lepanto, deveria ser, ele próprio, o restaurador do Missal.

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