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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL1
Isaac Prilleltensky
1 Traduzido por Fábio de Oliveira. Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Núcleo de
Investigação em Trabalho e Saúde (NITS). Título original: “Industrial/Organizacional Psychology” (1994) In: The
Politics of Psychological Discourse, capítulo 11.
Apesar da linguagem falsamente neutra do “Desenvolvimento Organizacional” e do sabor
humanístico de numerosos cursos de “relações humanas”, projetos de “qualidade de vida no
trabalho”, “círculos de qualidade” e programas de “democracia industrial”, permanece o fato de
que essas inovações foram simplesmente instrumentos para melhorar os negócios e como tais
têm um claro viés pró-empresarial (Alvesson, 1985; Bramel & Friend, 1987; Hollway, 1984;
Warwick, 1978; Wells, 1987). Esse aspecto foi bastante clarificado por J.A.C. Brown (1954).
Comentando o viés pró-empresarial da pesquisa de Mayo, Brown argumentou corretamente que
“nenhum psicólogo industrial jamais mostrou nada mais do que isto, e... sob as circunstâncias
nas quais toda a pesquisa industrial é levada adiante, tal viés é inevitável” (J.A.C. Brown, 1954:
p. 92-93).
O propósito deste capítulo é examinar mais detalhadamente o argumento delineado acima
- a saber, que a psicologia organizacional é extremamente útil na preservação do status quo.
Colocando de maneira simplificada, esta seção perguntará por que e como a psicologia
organizacional colabora na manutenção das atuais condições presentes na indústria e na
sociedade. A fim de fazer isto, eu irei (a) rever brevemente a história da psicologia
organizacional, (b) apresentar suas premissas básicas, (c) analisar as técnicas utilizadas pela
psicologia organizacional para afirmar o estado atual de coisas, (d) considerar alguns conflitos
éticos e, finalmente, (e) explicar como a psicologia organizacional pode ser usada para contestar,
mais do que para ratificar, o status quo.
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primeiro psiquiatria em tempo integral a trabalhar em uma empresa norte-americana foi
contratado em 1922. Era a Dra. Lydia Giberson, que trabalhou a maior parte de sua vida para a
Metropolitan Seguros. As lojas de departamento Macy também introduziram, em 1924, uma
equipe de saúde mental que incluía um psiquiatra, um assistente social e um psicólogo. A revisão
do campo feita por McLean (1985) atesta a firme expansão e ramificação da saúde mental
ocupacional desde o início da década de 20. Agora, muitas empresas oferecem assistência à
saúde mental de seus empregados na forma de programas de assistência. Esses programas estão
tornando-se cada vez mais populares nas grandes corporações. Isto acontece em grande parte
porque “as cifras mais moderadas indicam que programas abrangentes de assistência aos
empregados têm um retorno de US$ 2,00 ou US$ 3,00 em aumento da produtividade para cada
US$ 1,00 gasto” (Wells, 1987: p. 7).
O campo da avaliação psicológica também forneceu considerável ímpeto à psicologia
organizacional. Maier (1946) disse: “O fato da avaliação psicológica ter uma aplicação óbvia na
seleção de empregados foi reconhecido por muitas grandes indústrias, as quais não apenas deram
as boas vindas à aplicação dos testes existentes, como cooperaram no desenvolvimento de novos
testes” (p. 151). Um primeiro precursor do movimento psicométrico na psicologia organizacional
foi Münsterberg, que documentou em seu clássico Psychology and Industrial Efficiency (1913)
casos onde avaliou habilidades psicológicas de pessoas trabalhando em diversos locais como
fábricas, companhias telefônicas e companhias ferroviárias. Mais recentemente, Hollway (1984),
Shackleton & Anderson (1987) e Kavanagh & cols. (1987) demonstraram a vitalidade e a
utilidade da avaliação, não apenas na seleção de pessoal, mas também na avaliação de
desempenho no trabalho, no treinamento e na orientação vocacional.
Embora tenham diferenças de foco, os campos das relações humanas, da saúde mental
ocupacional e da avaliação psicológica convergem em seu objetivo final: aumentar a
rentabilidade (Baritz, 1974; Ralph, 1983; Wells, 1987). Isso não quer dizer que a psicologia
organizacional não possa oferecer ajuda concreta aos trabalhadores, mas que ela tem
normalmente mostrado uma nítida preferência por trabalhar com os empresários mais do que
com os sindicatos (Bramel & Friend, 1987; Huszczo e cols., 1984). Tal viés tem sido atribuído
principalmente aos interesses de classe dos psicólogos e à questão financeira (Baritz, 1974;
Bramel & Friend, 1981; Huszczo e cols., 1984). Na minha opinião, outro conjunto de fatores
deveria ser enfatizado, a saber, os pressupostos sociais e culturais sobre os quais a psicologia
organizacional está baseada. Essas suposições simplesmente deixam de lado a natureza
conflituosa das relações entre trabalhadores e empresários e operam sob a premissa de que o que
é bom para os negócios é bom para os trabalhadores.
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questões como as relações industriais é um convite aberto para incluir política em um campo que
eles prefeririam manter “neutro”. Contanto que os conflitos industriais possam ser evitados ou
minimizados pela presença de “cientistas objetivos”, empresários e cientistas são beneficiados
igualmente: os primeiros por manterem a política fora das fábricas e os últimos por obterem
contratos lucrativos.
Uma explicação alternativa para explicar a omissão de questões de classe e de poder na
psicologia organizacional é simplesmente que os cientistas sociais acreditam em soluções
técnicas em oposição a soluções políticas. Conseqüentemente, os sindicatos - identificados como
forças políticas - não são nem mesmo considerados como parte de seu esforço de trabalho. Esse
argumento não pode ser facilmente descartado, pois o caráter penetrante da racionalidade técnica
de nosso tempo dificilmente deixou alguma área da investigação social livre de sua marca
(Alvesson, 1985; Benson, 1977).
Seja por um interesse voltado para a preservação das coisas do jeito como estão ou por
uma crença sincera na resolubilidade de todos os problemas sociais por meios técnicos,
permanece a situação de negligência da psicologia organizacional para com a natureza classista e
política dos conflitos entre trabalhadores e empresários. E dado que a política é uma potente
ferramenta para a transformação da distribuição do poder na sociedade, os claros beneficiários
dessa situação são aqueles que gostariam de ver as coisas no futuro da mesma maneira em que se
encontram no presente.
Se os psicólogos organizacionais estão interessados em servir a todos os setores da
produção, é imprescindível que seja contestado o pressuposto de trabalho que compreende a
indústria como uma organização livre de conflitos de classe. Eu concordaria com Barling (1988)
que “os psicólogos organizacionais devem aceitar a inevitabilidade... do conflito trabalhadores-
empresários em suas muitas manifestações nas organizações e abandonar sua atitude de
indiferença ou o viés ideológico contra os sindicatos de trabalhadores” (p. 108).
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exemplificada pelos livros de Maier (1946) e Stagner & Rosen (1965). Na essência, os
empregados são conduzidos a ver sua falta de satisfação na vida como um produto de suas
próprias incapacidades pessoais. Enquanto os gerentes - como administradores do capital - estão
fazendo “tudo o que podem para ajudar” ao fornecer conselheiros, a natureza interna das
dificuldades dos trabalhadores demandam correções de caráter intrapessoal. Citando Whyte
(1957) novamente: “A alternativa de mudar verdadeiramente a realidade é dificilmente
considerada” (p. 41).
Esse método de aconselhamento não apenas leva seus clientes a uma atitude de auto-
culpabilização, como exime a direção de qualquer papel que ela possa ter desempenhado em
primeiro plano para ter determinado quaisquer dificuldades dos trabalhadores. Uma vantagem
adicional para os proprietários fornecida pela personalização do conflito é que eles dão a
entender que zelam e estão interessados pessoalmente no bem estar dos empregados,
fortalecendo assim a lealdade e o compromisso para com a empresa. Como Wells (1987)
recentemente referiu-se a isto, os programas de aconselhamento
“objetivam ajudar os trabalhadores com seus problemas de ansiedade
[responsáveis pela redução de produtividade], uso de álcool, depressão,
dependência de drogas e assim por diante. Os trabalhadores são convencidos de
que esses problemas são problemas 'pessoais' não relacionados com o trabalho,
mas problemas todavia que preocupam suficientemente a direção para que ela
possa dar uma mão” (p. 6).
Deve-se lembrar que os serviços de aconselhamento são parte de programas abrangentes
de assistência aos empregados que resultam em aumento de produtividade para cada dólar neles
investido pelo empresário (Wells, 1987). Mas o aumento de produtividade não é o único
benefício para os empresários. Mais do isto, os especialistas em psicologia foram capazes de
pacificar encrenqueiros e dispersar os ressentimentos contra proprietários e supervisores (Baritz,
1974; Ralph, ,1983).
Com o tempo, os sindicatos começaram a perceber que o aconselhamento fornecido pelos
empregadores tinha um efeito colateral indesejável: ele conduzia os trabalhadores para a
passividade e para o conformismo. Ele “ajudava” os trabalhadores e seus dependentes a
ajustarem-se a condições cada vez mais alienadas, degradadas e sob pressão, a fim de evitar
conflitos de trabalho” (Ralph, 1983: p. 47). Haverman (1957) escreveu que os sindicalistas
começaram a fazer referência a esse tipo de ajuda psicológica como “psicologia intimidante”2.
Eles viam essa psicologia como “uma tentativa para conseguir mais produção do trabalhador,
mantendo-o sereno e sem queixas... tendo em vista que qualquer conselho financiado pelo
empresário quase sempre se limita a favorecer os desejos da empresa acima das necessidades
psicológicas dos trabalhadores” (p. 52). A maior consciência desse efeito colateral levou os
sindicatos a oporem-se a tais “benefícios”. Embora “os empregadores freqüentemente tenham
sido capazes de espalhar os 'serviços' de saúde mental dentro de um amplo pacote de saúde
ocupacional... muitos sindicatos têm conseguido reconhecer esse estratagema” (Ralph, 1983: p.
141). Essa situação forçou a introdução de métodos inovadores para conquistar a complacência
dos trabalhadores e evitar conflitos nas indústrias. Seria adequado chamar essa nova tecnologia
de relações humanas de abordagem “cooperativa”.
A Abordagem “Cooperativa”
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No original: “cow psychology” [nota do tradutor].
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Tem-se argumentado que o método mais eficaz de controle social é aquele que não
desperta resistência (Skinner, 1974; Zimbardo, 1984). Schacht (1985) chamou esse tipo de
influência controladora de “poder suavizado”:
“O poder suavizado diminui as experiências de impacto político que os
indivíduos têm em suas vidas e em seus pensamentos, patrocinando a
internalização sem crítica das ideologias dominantes e anestesiando as pessoas
para os modos pelos quais estão sendo conduzidas, influenciadas ou
controladas. O poder suavizado circunscreve suas consciências, permitindo a
persistência da ilusão de livre escolha, ao mesmo tempo que as possibilidades
de escolha são encurtadas por uma sutil limitação da imaginação” (p. 513).
Plenamente conscientes da necessidade do “poder suavizado”, os industriais convocaram
a ajuda dos cientistas sociais para desenhar programas de controle do trabalhador que não
despertassem como conseqüência a sua resistência. Em resposta a essa demanda, duas
abordagens inovadoras das relações humanas foram introduzidas. Elas são o Desenvolvimento
Organizacional e a Qualidade de Vida no Trabalho.
O conceito de Desenvolvimento Organizacional refere-se a intervenções baseadas na
ciência comportamental voltadas para o aumento da eficácia de uma organização (Hollway,
1984; Walton, 1978). “Especificamente”, escreveu Walton (1978), “O Desenvolvimento
Organizacional ocupa-se com o uso e o desenvolvimento das capacidades humanas e com a
integração no local de trabalho” (p. 124). Programas de sensibilização planejados para aumentar
o entendimento interpessoal, equipes de trabalho e sistemas de recompensa são características
fundamentais dessa metodologia.
Apesar de suas aparentes aspirações humanistas de melhorar a cooperação e a qualidade
de vida no trabalho para todos os envolvidos (Hollway, 1984; Walton, 1978), o Desenvolvimento
Organizacional é alvo de críticas semelhantes àquelas feitas contra o aconselhamento de
empregados, quais sejam, ele pode não ser tão benevolente nem tão neutro quanto dá a entender
que é. O seu próprio nome - desenvolvimento organizacional - é um tanto quanto enganoso, pois
a palavra desenvolvimento tem usualmente uma conotação positiva e implica abrir-se para um
objetivo desejado, um estado de maturidade. Ainda, como Warwick (1978) argumentou,
desenvolvimento e saúde para “o gerente ou o proprietário podem significar doença para o
trabalhador” (p. 148). Termos falsamente neutros tais como equipes de trabalho, solução de
problemas e eficácia são muito comuns no Desenvolvimento Organizacional. Na medida em que
esse vocabulário ignora a estrutura de poder das companhias e privilegia uma pretensa linguagem
neutra e livre de conflitos, pode-se questionar a pureza dos motivos que estão por trás das
intervenções de Desenvolvimento Organizacional.
“As intervenções eficazes de Desenvolvimento Organizacional”, observou Warwick
(1978), “quase sempre mudarão ou reforçarão o equilíbrio de poder, influência e autoridade em
um sistema. Alguns indivíduos e grupos ganharão com sua habilidade para perseguir seus
interesses e intenções, enquanto outros perderão” (p. 149). Se esse é realmente o caso e se os
profissionais de Desenvolvimento Organizacional “quase sempre entram no sistema como
consultores da gerência” (Warwick, 1978: p. 149), não seria exagero concluir que na maioria dos
casos o Desenvolvimento Organizacional faz uso de seu “suporte científico” para manter a
distribuição de poder vigente na fábrica. Provavelmente poder-se-ia argumentar que, se não fosse
assim, os empresários pensariam duas vezes antes de contratar esses especialistas. Pois, antes de
tudo, os especialista são chamados para as indústrias com o propósito de aumenta a produção.
Provavelmente, a única característica mais importante do Desenvolvimento
Organizacional é a sua fachada imparcial e humanista. Esses especialistas são retratados como
uma terceira parte neutra interessada simplesmente em “aumentar a eficácia das organizações
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que produzem mercadorias e serviços úteis e em aprimorar a qualidade da experiência humana
no local de trabalho” (Walton, 1978: p. 124). Sua abordagem “imparcial” e “interessada” é
reforçada pela ênfase dada ao modelo “de colaboração”. Se você quer aumentar a produtividade,
você não deve lutar contra seus trabalhadores, mas colaborar com eles; não deve forçá-los, peça
para que façam. Proprietários e trabalhadores dialogam “como se” fossem iguais, assim os
primeiros ganham a cooperação dos trabalhadores e sutilmente impedem estes últimos de
organizarem-se politicamente a fim de atingirem suas aspirações.
Afirmações similares têm sido feitas contra os projetos de Qualidade-de-Vida-no-
Trabalho. Esses programas, que são em geral conduzidos por “alguém bem versado na psicologia
social dos pequenos grupos” (Wells, 1987: p. 3), têm a intenção de colocar juntos trabalhadores e
administradores em um esforço para permitir o uso de todas as habilidades físicas e mentais dos
trabalhadores de uma maneira mais criativa e mais produtiva. Além do replanejamento de
trabalho que envolvem, “os programas de Qualidade de Vida no Trabalho são sempre
caracterizados pela sua ênfase em uma maior participação dos trabalhadores, usualmente através
de comitês de trabalhadores e empresários” (Wells, 1987: p. 2). O principal impulsionador desses
comitês é a fomentação de uma orientação puramente psicológica para os conflitos no local de
trabalho. Quando o conflito é definido dessa forma, a cooperação é muito mais fácil de ser
atingida do que quando é conceitualizada em termos políticos. “A cooperação entre trabalhadores
e empresários nesses encontros deverá fomentar uma cooperação mais geral fora deles: toda a
intenção da Qualidade de Vida no Trabalho é criar um novo tipo de cooperação no trabalho”
(Wells, 1987: p. 3-4). Wells concluiu que, na realidade, o objetivo principal da direção ao
implementar a Qualidade de Vida no Trabalho é “solapar a principal forma de poder da qual os
trabalhadores e seus sindicatos normalmente fazem uso - o poder negativo da resistência ou da
recusa a obedecer” (p. 69).
As promessas feitas aos trabalhadores pelos defensores da Qualidade de Vida no
Trabalho retratam esses programas de maneira muito atrativa. Eles ofereceriam “oportunidade
de realização de potenciais”, “orgulho”, “satisfação”, “poder de tomar decisões” e assim por
diante; mas para além desses pronunciamentos, permanece a questão básica para os sindicatos:
Esses projetos beneficiam de fato os trabalhadores? A resposta de Wells (1987) é um categórico
não. Seu estudo sobre tais empresas revelou que a cooperação anunciada pelos expoentes da
Qualidade de Vida no Trabalho é altamente seletiva, um tipo de cooperação com um viés
empresarial que, em última análise, “reduz a qualidade de vida no trabalho” (p. 5).
A investigação de Wells sobre dois grandes projetos de Qualidade de Vida no Trabalho
na América do Norte levou-o a denunciar que, contrariamente à expectativas criadas pelos
proponentes da Qualidade de Vida no Trabalho, “os programas eram claramente desenhados para
ajustar os trabalhadores ao trabalho e não o trabalho aos trabalhadores. Mais genericamente, eles
eram projetados para ajustar os trabalhadores à sua contínua subordinação no local de trabalho”
(Wells, 1987: p. 68).
Quanto ao poder de tomar decisões prometido aos empregados, “a única participação que
envolveu tanto os trabalhadores quanto os líderes sindicais era estritamente consultiva,
envolvendo-os, no máximo, em pequenas modificações de decisões já tomadas pela direção” (p.
69).
“No final, a Qualidade de Vida no Trabalho é simplesmente uma estratégia
gerencial de controle mais suave e mais sutil, porém uma estratégia mais
ambiciosa e mais abrangente do que qualquer outra que já se tenha visto. Os
administradores não estão mais satisfeitos em fazer com que os trabalhadores
obedeçam: eles pretendem agora que os trabalhadores queiram obedecer” (p. 5-
6).
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A pesquisa de Wells confirmou as apreensões gerais referentes a várias formas de participação de
trabalhadores e iniciativas de democracia industrial vociferadas por outros autores (Andriessen &
Coetsier, 1984; Bramel & Friend, 1987; J.R. Wilson, 1991).
Em suma, tanto as intervenções de Desenvolvimento Organizacional quanto aquelas de
Qualidade de Vida no Trabalho vêm promovendo uma abordagem através da qual o controle
sobre os trabalhadores é conseguida através da cooperação. Essas técnicas são refinadas versões
de manipulação humana, congruentes com o espírito de nossa época.
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empregados descontentes rotulando-os como mal ajustados e controlar sutilmente os
trabalhadores são algumas das características que fizeram a especialidade indispensável para
algumas empresas. No passado, as tentativas de controlar os trabalhadores estavam mais à vista.
Cada parte sabia, mais ou menos, onde a outra estava. Mas com o advento da psicologia, as
estratégias de controle tornaram-se muito mais refinadas e encobertas.
“Já se foi o tempo em que um homem [sic] sabia quando a sua liberdade estava
sendo diminuída. Os cientistas sociais, contudo, são sofisticados demais para
isto. As fontes de pressão e controle estão agora presentes em seu próprio
pensamento. O controle não precisa mais ser imposto. Ele pode ser encorajado
de dentro... Uma característica importante do século vinte é o fato de que ele
cega a vítima para o fato da sua manipulação” (Baritz, 1974: p. 209-210).
O uso intencional ou não da psicologia organizacional para manipular os trabalhadores,
descrito na seção anterior e sintetizado por Baritz na citação acima, levanta um importante
dilema ético. Ele resulta da premissa básica de que os profissionais de psicologia organizacional
devem permanecer neutros (por exemplo, Stagner & Rosen, 1965). Interessante notar que quando
os psicólogos organizacionais expressam seus valores, esses são tipicamente humanistas - que
levariam ao benefício de todos envolvidos (Alvesson, 1985; Hollway, 1984; Walton, 1978).
Porém a pressuposição de que a prática da psicologia organizacional é neutra ou igualmente
vantajosa para todos as partes tem sido refutada numerosas vezes de formas bastante persuasivas
(Baritz, 1974; Ralph, 1983; Warwick, 1978; Wells, 1987). Esses autores sustentam
eloqüentemente que as intervenções organizacionais têm repercussões políticas significantes e
que, como regra, os proprietários ganham e os trabalhadores perdem.
Os psicólogos organizacionais estão diante de uma difícil decisão. Por um lado, eles
podem se sentir pressionados a reconhecer as implicações políticas de seu trabalho a fim de
evitar o dilema ético da duplicidade (isto é, criar expectativas que não podem ser realizadas). De
outro lado, reconhecer o seu viés pró-empresarial irá diminuir consideravelmente a sua
atratividade. Pois, como vocês se lembram, é a sua própria fachada de ciência social “neutra” que
as empresas consideram tão atraente. Assim, admitir que tomaram partido seria um movimento
um tanto quanto prejudicial para eles mesmos, pelo menos financeiramente.
Não obstante a desgraça pessoal e a perda financeira, a questão ética não será resolvida
até que os psicólogos organizacionais, de uma vez por todas, percebam e articulem as
reverberações políticas da sua ocupação. Em vez de tentar ser “mais” imparciais, eles deveriam
tentar compreender a natureza política das relações industriais e aceitar a responsabilidade
implicada em aliar-se a uma das partes. Fazendo assim eles poderiam, no mínimo, abandonar a
duplicidade que envolve prometer ser apolítico e servir ao mesmo tempo os detentores do poder.
As responsabilidades políticas e éticas atribuídas aos psicólogos que trabalham para
empresas também aplicam-se àqueles dispostos a colaborar com os trabalhadores. A idéia é
simplesmente superar a ingenuidade implícita na aspiração de ser apolítico e revelar a presença
inevitável de um viés sócio-político.
CONCLUSÃO
O propósito deste capítulo foi identificar algumas das implicações sócio-políticas da
prática da psicologia organizacional. A evolução desse campo, como eu procurei mostrar, tem
sido caracterizada por uma postura irrefletida em relação à natureza política das relações
industriais (Babington Smith, 1988; Barling, 1988). Trabalhando a partir do pressuposto de que
estão simplesmente oferecendo um serviço apolítico que irá atingir favoravelmente proprietários
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e trabalhadores por igual, esses profissionais têm freqüentemente agido como “servidores do
poder” (Baritz, 1974). Uma notável desconsideração das repercussões políticas de sua ocupação
colocou os psicólogos organizacionais em uma difícil situação, de modo que suas promessas de
neutralidade tornaram-se simplesmente indefensáveis.
Um número de desenvolvimentos recentes na literatura, contudo, leva a acreditar que os
psicólogos organizacionais começaram a encarar algumas das críticas feitas a eles. Huszczo e
seus colegas (1984), por exemplo, têm fortes argumentos para que os psicólogos admitam e
expressem sua preferência de trabalhar para o empresariado. Ao mesmo tempo, incitam os
psicólogos comprometidos com os trabalhadores a apresentarem-se e colocarem-se à disposição
dos sindicatos, a fim de contraporem-se à preferência de longa data da psicologia pelos
empresários e desfazendo o mito da neutralidade.
A predileção histórica a favor do empresariado e a sustentação do status quo não exclui a
perspectiva de sua contestação. Embora em pequeno número, alguns psicólogos já começaram a
colaborar com os trabalhadores na conquista de seus interesses (Huszczo & cols., 1984). Muitos
papéis podem ser vislumbrados para uma psicologia dedicada a auxiliar os trabalhadores,
incluindo treinamento em técnicas de negociação, assistência no estabelecimento de programas
educacionais para trabalhadores e o ensino de habilidades para contra-atacar os métodos de
manipulação utilizados pelos empresários. Os psicólogos dispostos a colaborar com os
trabalhadores devem ser advertidos a não cometer o mesmo erro daqueles que tipicamente
serviram aos empregadores, isto é, pretender ser apolíticos num campo onde a distribuição de
poder é uma questão crucial.
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