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MANEJO

AGROECOLÓGICO
DE ANIMAIS DE
GRANDE PORTE
JOSÉ MAURICIO BUENO COSTA
JOÃO CARLO NORDI

MANEJO AGROECOLÓGICO DE
ANIMAIS DE GRANDE PORTE

1ª Edição

Editora da Universidade de Taubaté


EDUNITAU
2016
Copyright©2015. Universidade de Taubaté.
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade.

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Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira
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Projeto Gráfico Me. Benedito Fulvio Manfredini
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Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi


Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU

C837m Costa, José Maurício Bueno


Manejo agroecológico de animais de grande porte./ José Maurício Bueno Costa; João Carlos
Nordi. Taubaté: UNITAU, 2016.
122f. : il.

ISBN: 978-85-9561-003-3
Bibliografia

1. Pecuária orgânica. 2. Gado. 3. Bovinocultura.


I. Nordi, João Carlos II. Universidade de Taubaté. III. Título
PALAVRA DO REITOR

vra do Reitor

Toda forma de estudo, para que possa dar certo,


carece de relações saudáveis, tanto de ordem
afetiva quanto produtiva. Também, de
estímulos e valorização. Por essa razão,
devemos tirar o máximo proveito das práticas
educativas, visto se apresentarem como
máxima referência frente às mais diversificadas
atividades humanas. Afinal, a obtenção de
conhecimentos é o nosso diferencial de
conquista frente a universo tão competitivo.

Pensando nisso, idealizamos o presente livro-


texto, que aborda conteúdo significativo e
coerente à sua formação acadêmica e ao seu
desenvolvimento social. Cuidadosamente
redigido e ilustrado, sob a supervisão de
doutores e mestres, o resultado aqui
apresentado visa, essencialmente, a orientações
de ordem prático-formativa.

Cientes de que pretendemos construir


conhecimentos que se intercalem na tríade
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de
forma responsável, porque planejados com
seriedade e pautados no respeito, temos a
certeza de que o presente estudo lhe será de
grande valia.

Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa


leitura.

Bons estudos!

Prof. Dr. José Rui Camargo


Reitor

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Apresentação

O sistema orgânico de produção de carne/leite é caracterizado pela adoção de tecnologias


que façam uso sustentável dos recursos produtivos e pela preservação e ampliação da
biodiversidade do ecossistema local, conservação do solo, da água e do ar. Além disso,
deve ser independente de fontes energéticas não renováveis e eliminar insumos artificiais
tóxicos, como agrotóxicos, organismos geneticamente modificados e outras substâncias
contaminantes e prejudiciais à saúde da população e ao meio ambiente.

Neste livro-texto sobre o Manejo agroecológico de animais de grande porte, serão vistos
os princípios que norteiam a produção bovina, tanto para a produção de carne quanto de
leite orgânicos.

Bons estudos e sucesso!

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Sobre os autores

JOSÉ MAURICIO BUENO COSTA: possui graduação pela Universidade Federal


Rural do Rio de Janeiro (1981), aperfeiçoamento pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1983), mestrado pela Universidade Federal de Santa Maria (1986) e doutorado
pela Universidade Estadual Paulista (1993). Desde 1988, é professor da Universidade de
Taubaté, no Departamento de Ciências Agrárias. Tem experiência na área de Zootecnia,
com ênfase em Nutrição e Alimentação Animal.

JOÃO CARLOS NORDI: possui Graduação em Engenharia Agronômica pela


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1983), Licenciatura pela Escola
Técnica Agrícola do Instituto Americano da Igreja Metodista de Lins (1985),
Especialização em Plantas Ornamentais e Paisagismo pela Universidade Federal de
Lavras (2007), Mestrado em Botânica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho – Botucatu (1996), e Doutorado em Botânica pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho – Botucatu (2001). É Prof. Assistente Doutor na cadeira
de Sistemática Vegetal da Universidade de Taubaté. Na mesma instituição, responde
pelas disciplinas: Sistemática de Espermatófitas e Criptógamas, Anatomia e Morfologia
Vegetal de Criptógamas e Espermatófitas, Jardinocultura e Paisagismo e ministra a
disciplina optativa Apiterapia para o curso de Medicina. Atua também no Curso de
Especialização em Apicultura (Lato Sensu) na Universidade de Taubaté-SP, lecionando
a disciplina Flora Apícola e Polinização para o Curso de Tecnólogo em Apicultura e
Meliponicultura e as disciplinas Flora Apícola e Polinização e Apiterapia. No Mestrado
em Ciências Ambientais, na mesma Instituição, atua lecionando a disciplina Estudos e
Análises de Processos Ambientais. Coordena os seguintes cursos na Universidade de
Taubaté pelo sistema de Educação à Distância (EAD): Curso de Pós-graduação Lato
Sensu em Apicultura e Meliponicultura e os Cursos Tecnólogos em Agroecologia e
Agronegócio. Desenvolve as seguintes linhas de pesquisa: flora apícola, polinização,
palinologia, matologia e arborização urbana. Terapeuta Holístico, membro-fundador da
Federação Latino-americana de Apiterapia, membro do grupo de pesquisa do CNPq:
Rede Nacional de pesquisadores apícola (RENAPIS), e membro da Comissão Técnico-
científica da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), responsável pela flora apícola
e polinização.

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Caros(as) alunos(as),
Caros( as) alunos( as)

O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se


como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com
profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência
adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de
mais de 35 anos de História e Tradição.

Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial.


Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e web
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada
especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais.

A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das Unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.

Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da web. Para


a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem.

Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.

Para todos, os nossos desejos de sucesso!

Equipe EAD-UNITAU
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Sumário

Palavra do Reitor .............................................................................................................. 1

Apresentação .................................................................................................................... 3

Sobre o autor..................................................................................................................... 5

Caros(as) alunos(as) ......................................................................................................... 7

Objetivos......................................................................................................................... 15

Unidade 1 Pecuária Orgânica no Brasil .................................................................... 19

1.1 Breve Histórico ......................................................................................................... 19

1.2 Bovinocultura Orgânica............................................................................................ 22

1.3 Normas para Produção Orgânica .............................................................................. 24

1.4 Certificação ............................................................................................................... 29

1.5 Associação de Produtores ......................................................................................... 41

1.6 Síntese da Unidade ................................................................................................... 42

1.7 Para saber mais ......................................................................................................... 43

1.8 Atividades ................................................................................................................. 43

Unidade 2 Identificação Taxonômica, Alimentação e Sanidade dos Bovinos ........ 45

2.1 Taxonomia do Gênero Bovis .................................................................................... 45

2.2 Alimentação .............................................................................................................. 47

2.3 Piquetes..................................................................................................................... 49

2.4 Pastagens .................................................................................................................. 54

2.4 Gramíneas Forrageiras .............................................................................................. 64

2.6 Leguminosas Forrageiras .......................................................................................... 72

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2.7 Principais Doenças que Atacam o Gado................................................................... 74

2.8 Tratamento ................................................................................................................ 76

2.9 Síntese da Unidade ................................................................................................... 78

2.10 Para saber mais ....................................................................................................... 78

2.11 Atividades ............................................................................................................... 79

Unidade 3 Bovinocultura para Produção de Carne Orgânica ................................ 81

3.1 Aspectos Gerais ........................................................................................................ 81

3.2 Rastreabilidade ......................................................................................................... 82

3.3 Comércio de Carne Orgânica ................................................................................... 82

3.4 Produção - Fases ....................................................................................................... 84

3.5 Sistemas de Criação .................................................................................................. 85

3.6 Reprodução ............................................................................................................... 86

3.7 Manejo Geral ............................................................................................................ 90

3.8 Raças ......................................................................................................................... 94

3.9 Síntese da Unidade ................................................................................................... 97

3.10 Para saber mais ....................................................................................................... 97

3.11 Atividades ............................................................................................................... 97

Unidade 4 Bovinocultura para Produção de Leite Orgânico .................................. 99

4.1 Aspectos Gerais ........................................................................................................ 99

4.2 Sistemas de Criação .................................................................................................. 99

4.3 Alimentação ............................................................................................................ 101

4.4 Reprodução ............................................................................................................. 104

4.5 Manejo Geral .......................................................................................................... 106

4.6 Raças ....................................................................................................................... 108

4.7 Síntese da Unidade ................................................................................................. 111


10
4.8 Para saber mais ....................................................................................................... 111

4.9 Atividades ............................................................................................................... 112

Referências ................................................................................................................. 1125

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12
Manejo Agroecológico de
Animais de Grande Porte ORGANIZE-SE!!!
Você deverá usar de 3
a 4 horas para realizar
cada Unidade.

EMENTA

Pecuária orgânica no Brasil; normas para produção orgânica;


certificação; identificação taxonômica, alimentação e sanidade dos
bovinos; bovinocultura para produção de carne orgânica: reprodução,
manejo geral, comércio de carne orgânica, rastreabilidade; principais
raças; bovinocultura para produção de leite orgânico: aspectos gerais,
sistemas de criação, alimentação, reprodução, manejo geral,
principais raças.

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Objetivo Geral

Noções gerais sobre instalações e manejo para a produção bovina orgânica.


Obj eti vos

Objetivos Específicos

• Introdução ao estudo da bovinocultura de corte orgânico.

• Introdução ao estudo da bovinocultura de leite orgânico.

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Introdução
Caro(a) estudante,

na primeira Unidade deste livro-texto, estudaremos os aspectos relativos à pecuária


orgânica no Brasil, as normas para a produção orgânica, certificações e associação de
produtores pecuaristas orgânicos.

Na segunda Unidade, estudaremos os bovinos, quanto à alimentação, aos tipos de


pastagens, sistemas de criação e às principais doenças que atacam o gado.

A terceira Unidade abordará sobre a bovinocultura para produção de carne orgânica;


enquanto que a quarta Unidade tratará da bovinocultura para produção de leite orgânico.

Bons estudos!

17
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Unidade 1

Unidade 1 . Pecuária Orgânica no Brasil

1.1 Breve Histórico

Os sistemas orgânicos de produção animal são modelos sustentáveis de produção que


têm, em sua essência, a simplicidade e a harmonia com a natureza, mas sem deixar de
lado a segurança, a produtividade e a rentabilidade para o produtor, aplicando todos os
princípios da agroecologia. Por isso, é preciso observar que esses sistemas não são obtidos
somente trocando os insumos químicos pelos orgânicos/biológicos/ecológicos, mas
provêm de cuidados com alimentação do rebanho, instalações, manejo humanitário,
escolha de animais, sanidade e até com os cuidados higiênico-sanitários durante o
processamento e empacotamento do produto (SOARES et al., 2012).

Segundo Altieri (2001), agroecologia é o conjunto de princípios gerais aplicáveis aos


sistemas agropecuários sustentáveis. Pode ser descrita como uma ciência que tem por
objetivo o estudo holístico dos agrossistemas que buscam copiar os processos naturais e
o manejo de recursos naturais para condições específicas de propriedades rurais, levando
em consideração as necessidades e aspirações dos agricultores.

Figueiredo & Soares (2012) comentam que os sistemas orgânicos de produção animal
constituem parte da produção animal dentro dos sistemas produtivos orgânicos. Sistemas
orgânicos enquadrados na normativa oficial devem ser vistos como uma propriedade rural
ou um espaço rural onde tudo o que é produzido nele obedece aos princípios da produção
orgânica. Normalmente os sistemas produtivos orgânicos são constituídos por algumas
atividades agrícolas e pecuárias que se complementam no uso e na reposição dos recursos
naturais e nutrientes, dentro daquele espaço sob manejo orgânico.

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No Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio
Ambiente (ECO 92, popularizada no Brasil como Rio-92), organizações governamentais
e não governamentais já discutiam os impactos do desenvolvimento econômico sobre o
meio ambiente e resgataram o conceito de sustentabilidade na agropecuária. Tal
sustentabilidade deveria corresponder ao desenvolvimento econômico associado ao
desenvolvimento social e às regras de proteção ambiental (BAP, 2005).

Segundo BAP (2005), em 1996, com a ocorrência na Inglaterra do primeiro surto de


Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE), conhecida como doença da “Vaca Louca”, a
comunidade internacional despertou para o problema da segurança alimentar e para a
necessidade de se pensar a forma como os produtos de origem animal estavam sendo
produzidos, beneficiando a alta produtividade e o lucro em detrimento dos princípios de
bem-estar animal, de qualidade e segurança dos alimentos e de conservação do meio
ambiente. Neste mesmo ano, segundo a Associação de Certificação Instituto Biodinâmico
(IBD), alguns produtores de pequeno e médio porte iniciaram processos de certificação
orgânica para a pecuária, mas sem um enfoque mercadológico.

Paralelamente aos esforços isolados, em 1997, durante o Fórum Nacional de Pecuária de

Corte, o setor produtivo em geral reconheceu o manejo orgânico como uma alternativa
de produção economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. A
avaliação era que a produção de carne bovina orgânica apresentava um potencial de
agregação de valor diferenciado sobre o produto convencional. A primeira iniciativa de
implementação da pecuária orgânica com intenções mercantis e também de inserção
desse processo em uma cadeia produtiva foi realizada pelo Grupo Independência
Alimentos, que finalizou seu processo de certificação no ano de 2001, ano em que
também foi concluída a certificação pelo IBD da primeira fazenda no Pantanal (BAP,
2005).

Os primeiros sinais de organização do setor produtivo surgiram no ano de 2001, com a


criação da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO). Também nesse período
empresas de renome começaram a investir na ideia, dentre elas o Grupo Carrefour, por
meio da Fazenda São Marcelo, unidade produtiva localizada em Tangará da Serra (MT).

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Em 2004, três anos após a criação da primeira associação do setor, uma nova entidade de
produtores foi criada, a Associação Brasileira de Produtores de Animais Orgânicos
(ASPRANOR), abrangendo, além da pecuária bovina de corte, a pecuária de leite, ovinos,
suínos e aves. Embora tenha aproximadamente oito anos de evolução dentro do Brasil, a
pecuária orgânica certificada, em relação à cadeia produtiva, encontra-se em fase de
estruturação, razão por que os produtores ainda estão se organizando, sua legislação acha-
se em vias de regulamentação e os mercados permanecem indefinidos.

Ao final de 2005, a bovinocultura, parte da zootecnia especial que trata das técnicas para
a criação de bovinos brasileira, era praticada em quatro milhões de propriedades rurais,
envolvendo 200 milhões de cabeças, 28 milhões das quais foram abatidas em frigoríficos
oficiais para consumo interno e exportação e mais cerca de 10 milhões tiveram outro tipo
de abate (38 milhões foi o número de peles bovinas processadas nos curtumes brasileiros).
Nesse mesmo ano, o Brasil se tornou o maior produtor (8,5 milhões de toneladas de
carcaças) e o maior exportador de carne bovina. A produção de leite comercializado sob
supervisão oficial foi de 16 milhões de litros. Os maiores produtores brasileiros são os
estados de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, até 2012,


cerca de 15 mil produtores de carne bovina orgânica foram registrados e a área atual de
produção e cultivo orgânico chegou a 2,8 milhões de hectares, apresentando aumento a
cada ano (ORGANICSNET, 2013).

Em relação ao leite orgânico, em 2012, a Embrapa Cerrados (DF) indicou que o Brasil
produziu 6,8 milhões de litros de leite orgânico, mas esse resultado representava menos
de 1% dos 32 bilhões de litros do produto convencional naquele ano. Em 2015, a Embrapa
Gado de Leite calculou que o mercado de leite orgânico obteve crescimento de 30% nos
três anos anteriores. Na época, a instituição apontava que o negócio era interessante para
o pecuarista, devido à maior margem de lucro. Mesmo diante de um cenário tão promissor
e apesar do crescimento da demanda, a produção de laticínios orgânicos, em geral, ainda
é incipiente e enfrenta diversos gargalos (SNA, 2016).

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1.2 Bovinocultura Orgânica

A bovinocultura tem múltiplas finalidades dentro da produção de matérias-primas e


trabalho. Embora restrito hoje, outrora, o trabalho bovino foi fundamental nos transportes
(tração de carros e montaria), na lavoura (tração de implementos agrícolas, como o arado)
e no lazer (tauromaquia grega e egípcia, a tourada ibérica, o rodeio moderno).

Além da carne, do leite e do couro, o boi fornece ainda outras matérias-primas como os
fâneros, ossos e vísceras. Também no passado, o estrume foi considerado fundamental
para fertilização dos campos agricultáveis.

Como atividade econômica, a bovinocultura se insere na pecuária, a principal delas em


muitos países, e como ciência se desenvolve dentro das universidades, institutos de
pesquisas e entre os zootecnistas que a praticam no campo.

A bovinocultura, como arte de criar, demanda conhecimento dos métodos de reprodução,


das características raciais, do comportamento e das necessidades nutricionais dos
bovinos, além do domínio do manejo das pastagens – principal fonte de alimentação – e
do conhecimento acerca das doenças e de como preveni-las, das construções e das
instalações para manter os animais.

A produção orgânica bovina busca a introdução de novos valores de sustentabilidade


ambiental e social dentro do sistema produtivo, segundo os quais a propriedade rural é
vista como um organismo equilibrado em todas as suas funções. O manejo orgânico visa
ao desenvolvimento econômico e produtivo que não polua, não degrade e nem destrua o
meio ambiente e que, ao mesmo tempo, valorize o homem como principal integrante do
processo (DOMINGOS, 2005).

Segundo Domingos (2005), muitos confundem o produto desse sistema, que é o boi
orgânico, com o chamado boi verde ou boi natural. O boi verde pode ser considerado um
sinônimo do boi convencional, pois é criado em pasto tratado com adubos sintéticos
solúveis, faz uso de antibióticos e medicamentos alopáticos e a suplementação alimentar,

22
a qual é feita no confinamento, vale-se de plantas (milho e cana-de-açúcar, por exemplo)
originadas em sistemas convencionais de produção.

Já o boi orgânico é ecologicamente correto, pois é criado em pasto sem agrotóxico e sem
adubação química e é tratado com medicamentos homeopáticos. Ele também necessita de
certificação, o que garante que a criação foi realizada, de fato, conforme todas as normas
“orgânicas”, como não uso de fertilizantes industriais e inúmeras outras exigências.

Para que seja obtida a certificação da origem, dos cuidados e da qualidade da criação, os
criadores devem estar atentos também ao bem-estar dos animais, obedecendo aos
cuidados que envolvem o ambiente, o local e o transporte para o abatedouro, que deve ser
próximo às fazendas para não provocar estresse no animal (SEBRAE, 2015).

Quadro 1.1: Boi orgânico x boi verde

Boi orgânico Boi verde


✓ Permitida somente a adubação ✓ Permitida a adubação verde e o
verde. uso de fertilizantes sintéticos.

✓ Proibido o uso de ureia. ✓ Aplicação de ureia permitida.

✓ Suplementação exclusiva com ✓ Suplementação exclusivamente


alimentos de origem vegetal, dos com alimentos de origem vegetal,
quais 80% devem ser orgânicos. mas provenientes de culturas
convencionais.
✓ Tratamento veterinário restrito a
produtos fitoterápicos e ✓ Tratamento veterinário permitido
homeopáticos. com medicamentos alopáticos.

✓ Proibido o uso do fogo para


manejar pastagens. ✓ Permitido o uso do fogo para
manejar pastagens.
✓ Transferência de embriões
proibida. ✓ Transferência de embriões
permitida.
✓ Vacinações oficiais obrigatórias.
✓ Vacinações oficiais obrigatórias.

Fonte: Autores.

23
1.3 Normas para Produção Orgânica

Segundo Soares et al., (2012), as normas para a produção orgânica são descritas como
parte das prioridades do governo. Em novembro de 2003, foi sancionada a Lei 10.831
(BRASIL, 2003) que caracteriza a agricultura orgânica nacional e, em março de 2004, foi
criada a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica com objetivo de
incentivar a produção e a comercialização de produtos orgânicos.

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, a partir da Instrução Normativa


007 (BRASIL, 1999) estabelece uma série de procedimentos para que o produto de
origem animal seja considerado orgânico. Esses procedimentos regulamentam a
alimentação do rebanho, as instalações e o manejo, a escolha de animais, a sanidade e até
o processo e o empacotamento do leite.

Em geral, como em qualquer sistema de produção, recomenda-se que a alimentação seja


equilibrada e que supra todas as necessidades dos animais. Os suplementos devem ser
isentos de antibióticos, hormônios e vermífugos. São proibidos aditivos promotores de
crescimento, estimulantes de apetite e ureia, entre outros. As características de
comportamento (etológicas) de cada espécie a ser explorada devem ser consideradas. Os
produtores devem ainda estar atentos aos produtos empregados na lavagem e desinfecção
dos equipamentos e utensílios.

Com base em Darolt (2002), são apresentados abaixo os principais procedimentos


técnicos para produção animal em agricultura orgânica referentes ao manejo das
pastagens, ao manejo do rebanho e das instalações, à alimentação e ao tratamento
veterinário. Os procedimentos recomendados aludem a práticas e produtos plenamente
aceitos em agricultura orgânica, podendo ser utilizados sem restrições. O uso restrito
relaciona-se a práticas e produtos que não são plenamente compatíveis com os princípios
da agricultura orgânica, devendo ser limitados a usos específicos, como no caso do
período de conversão. Os procedimentos proibidos têm a ver com práticas e produtos não
permitidos nos programas de certificação. O uso dessas práticas constitui transgressão
grave, o que pode resultar em cancelamento do contrato e do uso do selo de garantia.
24
1.3.1 Atividade de Manejo de Pastagem

Procedimentos recomendados:

• Uso de técnicas de manejo e conservação do solo e da água;

• Nutrição das pastagens de acordo com as recomendações;

• Controle de pragas, doenças e invasoras das pastagens de acordo com as normas;

• Pastagens mistas de gramíneas, leguminosas e outras plantas (diversificação);

• Pastoreio rotativo racional, com divisão de piquetes;

• Manter solo coberto, evitando pisoteio excessivo;

• Rodízio de animais de exigências e hábitos alimentares diferenciados (bovinos,


equinos, ovinos, caprinos e aves).

Procedimentos restritos:

• Fogo controlado para limpeza de pastagem;

• Pastoreio permanente sob condições satisfatórias;

• Estabelecimento de pastagens em solos encharcados, rasos ou pedregosos.

Procedimentos proibidos:

• Monocultura de forrageiras;

• Queimadas regulares;

• Superlotação das pastagens;

• Uso de agrotóxicos e adubação mineral de alta solubilidade.

25
1.3.2 Atividade de Manejo do Rebanho e Instalações

Procedimentos recomendados:

• Animais adaptados à região: raças rústicas;

• Aquisição de matrizes de criadores orgânicos;

• Animais comprados devem ficar em quarentena;

• Instalações adequadas para o conforto dos animais;

• Fácil acesso à água, aos alimentos e às pastagens;

• Espaço adequado à movimentação;

• Número de animais para área não deve afetar os padrões de comportamento;

• Criação de preferência em regime extensivo ou semiextensivo, com abrigos;

• Monta natural para reprodução;

• Desmame natural.

Procedimentos restritos:

• Raças exóticas não adaptadas;

• Bezerros podem ser adquiridos de convencionais até 30 dias;

• Inseminação artificial sob controle.

Procedimentos proibidos:

• Raças exóticas não adaptadas;

• Estabulação permanente de animais;

• Confinamento e imobilização prolongados;


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• Instalações fora dos padrões;

• Manejo inadequado que leve os animais ao sofrimento, ao estresse e a alterações


de comportamento.

1.3.3 Atividade de Alimentação e Tratamento Veterinário

Procedimentos recomendados:

• Autossuficiência alimentar orgânica;

• Forragens frescas, silagem ou fenação produzida na propriedade ou em fazendas


orgânicas;

• Aditivos naturais para ração e silagem (algas, plantas medicinais, aromáticas, soro
de leite, leveduras, cereais e outros farelos);

• Mineralização com sal marinho;

• Suplementos vitamínicos (óleo de fígado de peixe e levedura);

• Homeopatia, fitoterapia e acupuntura;

• São obrigatórias as vacinas estabelecidas por lei e as recomendadas para as


doenças mais comuns de cada região.

Procedimentos restritos:

• Aquisição de alimentos não orgânicos, equivalente a até 15% do total da matéria


seca para ruminantes;

• Aditivos, óleos essenciais, suplementos vitamínicos de aminoácidos e sais


minerais de forma controlada, agentes etiológicos dinamizados (nosódios ou
bioterápicos);

• Descorna e castração.

27
Procedimentos proibidos:

• Uso de aditivos estimulantes sintéticos;

• Promotores de crescimento;

• Ureia;

• Restos de abatedouros;

• Aminoácidos sintéticos;

• Transferência de embriões;

• Descorna e outras manipulações;

• Presença de animais geneticamente modificados.

De acordo com os princípios da agricultura orgânica, a atividade animal deve estar, tanto
quanto possível, integrada à produção vegetal, visando à otimização da reciclagem dos
nutrientes (dejetos animais e biomassa vegetal), à menor dependência de insumos
externos (rações e volumosos) e à potencialização de todos os benefícios diretos e
indiretos advindos dessa integração.

As normas recomendam a produção própria dos alimentos orgânicos (volumosos e


concentrados) por meio da formação e manejo de pastagens, capineiras, silagem e feno.
Nesse aspecto, é importante que a maior parte da alimentação seja orgânica e proveniente
da propriedade. No início do período de conversão, os animais devem ser alimentados
com, no mínimo 50%, de produtos orgânicos. Com o passar do tempo, serão toleradas
porcentagens de, no máximo 15%, dos alimentos de origem não orgânica.

Em relação ao tratamento veterinário, o objetivo principal das práticas orgânicas de


criação é a prevenção de doenças. Saúde não é apenas ausência de doença, mas habilidade
para resistir a infecções, ataques de parasitas e perturbações metabólicas. O princípio da
prevenção deve ser sempre priorizado e, quando houver necessidade de intervenções,
deve-se considerar que o importante é procurar as causas e não somente combater os
28
efeitos. Por isso, o foco deve ser a busca de métodos naturais para tratamento veterinário.
O tratamento homeopático já vem sendo utilizado com bons resultados e diminuição de
custos.

No que diz respeito ao manejo do rebanho, as instalações (galpões, estábulos, galinheiros


e outros) devem ser adequados ao conforto e à saúde dos animais. O acesso à água, aos
alimentos e às pastagens também deve ser facilitado. Além disso, as instalações devem
possuir espaço adequado à movimentação e o número de animais por área não deve afetar
os padrões de comportamento. De forma geral, sugere-se que o regime de criação seja de
preferência extensivo ou semiextensivo, com abrigos. As mutilações de animais e a
utilização de substâncias destinadas a estimular o crescimento ou modificar o ciclo
reprodutivo são contrárias ao espírito da produção orgânica e, portanto, proibidos. O
transporte deve ser efetuado de forma a respeitar os animais, evitando qualquer tipo de
maus-tratos. Ademais, o local de abate deve ser o mais próximo possível das
propriedades.

Em síntese, a qualidade de vida do animal tem profunda relação com sua predisposição a
doenças. Assim, o animal que é confinado com grande concentração de indivíduos, em
espaço limitado para locomoção, sem possibilidade de expressar seus modos naturais de
comportamento, fica sujeito a manifestações de estresse e a alterações no sistema
imunológico.

1.4 Certificação

Até aqui, mostramos parcialmente os procedimentos para que o produtor requeira a


certificação, mas o caminho é o contato direto com a certificadora. Dessa forma, o
exemplo que utilizaremos é do IBD, cujo passo a passo para a certificação encontra-se no
site: http://www. ibd.com.br.

29
Figura 1.1: Ambiente institucional das certificações no Brasil.

Fonte: Adaptado de Silva Filho et al. (2002).

1.4.1 Termos e Definições

Acreditação: reconhecimento formal por um organismo de acreditação, de que um


organismo de certificação atende a requisitos previamente definidos e demonstra ser
competente para realizar suas atividades com confiança.

Apelação: qualquer solicitação do cliente para que o IBD reconsidere uma decisão
referente à avaliação de conformidade. Para o NOP-USDA, o termo rebuttal
(contestação) corresponde à definição de apelação acima. O termo appeal (apelação) faz
referência exclusivamente às apelações endereçadas pelo cliente ao administrador do
programa e tratadas diretamente por ele (NOP 205.680 & 205.681).

Auditoria: processo sistemático documentado e independente de obtenção e avaliação de


evidências para determinar a extensão na qual os requisitos de certificação são atendidos.

Certificado de conformidade: documento de certificação atestando a conformidade do


sistema de gestão e dos produtos do cliente auditado com o esquema de certificação.

30
Ciclo de certificação: sequência das etapas que compõem o processo de certificação e
que devem ser repetidas visando à manutenção (renovação) do Certificado de
Conformidade.

Conformidade: atendimento pleno dos requisitos do esquema de certificação.

Decisão de certificação: decisão tomada pelo organismo de certificação em relação ao


atendimento dos produtos, processos e requisitos de certificação.

Escopo de certificação: identificação dos produtos, dos processos ou serviços e do


esquema de certificação, com seus documentos normativos, para o qual é concedida a
certificação.

Esquema de certificação: sistema de certificação relacionado a produtos específicos para


os quais os mesmos requisitos, regras e procedimentos (definidos pelo proprietário do
esquema) se aplicam.

Marca de conformidade: marca atestando a conformidade do produto ou serviço com


os requisitos do esquema de certificação, podendo ser usada em produtos e materiais de
comunicação mediante licença. Marcas de conformidade (“selo”) são normalmente
registradas e protegidas legalmente contra qualquer uso indevido.

Marca de acreditação: marca do organismo de acreditação responsável pela certificação


do produto ou serviço.

Mediação: processo formal ou informal por meio do qual o cliente certificado e o


organismo de certificação entram em acordo em relação à resolução de não conformidade
e à prevenção de reincidência no futuro.

Não conformidade: não atendimento aos requisitos do esquema de certificação.

Proprietário do esquema: pessoa ou organização responsável pelo desenvolvimento e


manutenção de um esquema de certificação.

Reclamação: expressão de insatisfação manifestada por clientes ou terceiros sobre as


atividades de certificação do IBD.
31
Requisitos de certificação: critério estabelecido pelo esquema de certificação como
condição para atingir ou manter a certificação.

1.4.2 Objetivos e Esquemas de Certificação Aplicáveis

Este guia foi elaborado para apresentar todas as informações necessárias sobre o processo
de certificação de produtos orgânicos. Os esquemas de certificação cobertos por esse
documento são:

Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (BR): regulamentado pela


Lei 10.831 de 23 de dezembro de 2003, o Decreto 6.323 de 27 de dezembro de 2007 e as
Instruções Normativas correspondentes. Permite comercializar produtos orgânicos no
Brasil.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é o proprietário e gestor desse


esquema, em conjunto com o INMETRO, o qual é responsável pela acreditação dos
organismos de certificação.

Diretrizes para o Padrão de Qualidade Orgânico IBD (CE/EU): equivalência com


Regulamento Europeu CE 834/2007 e 889/2008 e o padrão IFOAM. Permite
comercializar produtos orgânicos na Europa. A União Europeia é o proprietário desse
esquema para o qual o IBD possui acreditação da International Organic Accreditation
Services (IOAS).

National Organic Program – NOP (US): permite comercializar produtos orgânicos nos
Estados Unidos. O United States Department of Agriculture (USDA) é o proprietário e
gestor desse esquema, responsável pela acreditação dos organismos de certificação.

As normas aplicáveis estão disponíveis no website do proprietário do esquema pelo link


fornecido no website do IBD ou mediante solicitação. O Ciclo de Certificação é anual,
culminando na emissão/renovação do Certificado de Conformidade quando todos os
requisitos de certificação são atendidos.

32
O Ciclo de Certificação é composto das seguintes grandes etapas:

• Preparo da auditoria;

• Auditoria;

• Análise da auditoria;

• Decisão de certificação;

• Supervisão.

1.4.3 Procedimentos de Avaliação

1.4.3.1 Solicitação de Certificação

O IBD envia ao solicitante um Formulário de Solicitação de Proposta Comercial, visando


coletar todas as informações necessárias para entender bem sua demanda e lhe oferecer
um atendimento comercial personalizado.

1.4.3.2 Análise Crítica da Solicitação de Certificação

A Gerência Comercial IBD realiza uma análise crítica da solicitação conforme requisitos
da ISO17065, de modo a esclarecer quaisquer dúvidas e garantir que o IBD possui a
competência e os recursos necessários para realizar o serviço. Caso o solicitante já possua
– ou lhe tenha sido negada/ suspensa/ cancelada – a certificação para o esquema
requerido, será acionado o Procedimento de Transferência de Certificação (disponível sob
demanda) para assegurar a continuidade do processo desenvolvido pela certificadora
anterior. Caso não seja possível atender a tal demanda, o IBD informará os motivos.

1.4.3.3 Proposta Comercial

A Gerência Comercial IBD elabora uma Proposta Comercial com base nas informações
submetidas pelo solicitante e nos Preços e Critérios de Certificação do IBD (disponíveis
sob demanda). O tempo de auditoria varia de acordo com os requisitos do esquema de

33
certificação, bem como a complexidade, tamanho e riscos da operação. IBD é uma
empresa privada e sustenta suas atividades exclusivamente a partir das tarifas cobradas
pelos serviços de certificação.

1.4.3.4 Contrato de Certificação

Assinando a Proposta Comercial, o solicitante manifesta seu acordo com os termos e


condições estabelecidos no Contrato de Prestação de Serviços de Certificação, disponível
no website do IBD. Esse contrato informa acerca dos direitos e deveres dos clientes,
incluindo os requisitos e restrições do uso do nome do IBD e das marcas de conformidade
ou de acreditação.

1.4.4 Preparo da Auditoria e Auditoria

A equipe responsável pela auditoria envia um modelo de plano de manejo para ser
preenchido com todas as informações relevantes às suas operações. É de fundamental
importância que esse documento seja completamente preenchido, pois permitirá otimizar
a realização da auditoria. O auditor designado pelo IBD analisará o Plano de Manejo e a
documentação pertinente, visando estabelecer uma visão crítica de sua abrangência,
detectar possíveis lacunas e solicitar complementações quando necessário. Essa análise
será formalizada por escrito, junto com o envio do Plano de Auditoria e da lista de
documentos, recursos e registros que deverão estar disponíveis durante a auditoria.

O Plano de Auditoria pode ser ajustado de comum acordo entre o cliente e o auditor, para
contemplar as particularidades de suas operações, e conciliar as disponibilidades de
agendas.

No início da auditoria, o auditor procede a uma reunião de abertura, visando esclarecer


como será realizada a avaliação, e quais são as regras aplicáveis ao escopo de certificação.
É o momento ideal para esclarecer quaisquer dúvidas e ajustar o Plano de Auditoria
conforme necessidade.

34
A auditoria é conduzida como base no Plano de Auditoria, observando os critérios
específicos das normas aplicáveis. O auditor precisa estar sempre acompanhado por um
guia designado pelo cliente na reunião de abertura.

Os métodos de análise são embasados em:

• Entrevistas;

• Observação de atividades;

• Análise de documentos e registros;

• Observação de equipamentos, áreas e instalações;

• Comparação entradas – produção – vendas – estoque;

• Exercício de rastreabilidade;

• Coleta de amostra (se aplicável);

• Identificação e investigação de áreas de risco;

• Verificação da situação de não conformidades anteriores;

• Análise crítica das reclamações recebidas e correspondentes ações corretivas.

As potenciais não conformidades encontradas são imediatamente comunicadas para que


o cliente tenha total conhecimento e compreensão.

No término da auditoria, o auditor formaliza os resultados numa reunião de encerramento.

Quaisquer opiniões divergentes relativas ao resultado da auditoria são discutidas e, se


possível, resolvidas. Se não forem resolvidas, são registradas para posterior avaliação do
IBD.

35
1.4.5. Análise do Relatório e Decisão de Certificação

O corpo técnico do IBD avalia o relatório de auditoria, a qualidade e a coerência das


informações apresentadas, e formaliza o resultado na Decisão de Certificação.

Nessa etapa, a recomendação e as constatações do auditor são passíveis de alteração.

1.4.6 Concessão da Certificação

Quando a avaliação de uma auditoria resulta em decisão favorável, o IBD emite ou renova
o Certificado de Conformidade do cliente.

Todos os certificados possuem validade de 12 meses a partir da data de emissão, com


exceção do certificado para o esquema US (que continua válido enquanto não houver
desistência/suspensão/cancelamento).

Os dados dos clientes requeridos pelo esquema de certificação são atualizados no site
IBD e nos bancos de dados do proprietário do esquema, quando aplicável.

1.4.7 Manutenção da Certificação / Supervisão

Anualmente o IBD renova o Ciclo de Certificação por inteiro, de modo a assegurar a


manutenção (renovação) do Certificado de Conformidade.

Durante o período de validade do Certificado de Conformidade, o cliente pode


comercializar seus produtos e fazer alegações sobre sua certificação usando as Marcas de
Conformidade (selos), sempre respeitando os requisitos aplicáveis.

O IBD poderá realizar auditorias sem aviso prévio a qualquer momento, de acordo com
os requisitos do esquema de certificação, para as operações que apresentam grau de risco
mais elevado ou precisam de investigação de potenciais não conformidades ou
reclamações.

36
1.4.8 Recusa da Certificação

De acordo com os requisitos do esquema, é facultado ao IBD recusar a emissão do


Certificado de Conformidade. Isso ocorre quando requisitos de certificação não atendem
ao Ciclo de Certificação inicial. Nesse caso, o IBD notifica os motivos e esclarece quais
os passos necessários para obter a certificação.

1.4.9 Suspensão / Cancelamento da Certificação


Quando a avaliação de uma auditoria ou investigação de uma reclamação resulta em não
conformidade, ou quando o cliente não cumpre qualquer aspecto do contrato firmado com
o IBD ou dos requisitos aplicáveis ao escopo, o IBD notifica o cliente sobre isso, sempre
informando a respeito do prazo para correção ou apelação.

Se o cliente apresenta evidências de resolução de todas as não conformidades dentro do


prazo estabelecido, o IBD notifica a resolução formalmente e prossegue com a
manutenção da certificação.

Do contrário, o IBD comunica formalmente ao cliente, de acordo com as regras aplicáveis


ao esquema de certificação, uma proposta de suspensão ou de cancelamento, bem como
prazo para correção, apelação ou mediação.

A ausência de resolução, apelação ou mediação no prazo estabelecido resultará na


efetivação da suspensão ou do cancelamento do certificado de conformidade.

Nesse caso, os dados do cliente serão retirados do website IBD e dos bancos de dados do
proprietário do esquema, quando aplicável.

A não realização da auditoria no prazo previsto pelo esquema de certificação também


implica na suspensão do certificado de conformidade.

1.4.10 Extensão ou Redução de Escopo

O cliente deve informar o IBD sobre todas as alterações relacionadas à certificação, em


particular a respeito de mudanças no sistema de gestão, nas unidades produtivas, nos
produtos e volumes certificados.
37
Quando clientes certificados solicitam alteração de escopo, o IBD avaliará se é motivo
para alterar a proposta comercial pactuada inicialmente.

A inclusão de novos produtos do mesmo escopo ou o aumento de volume do produto


certificado pode ser possível mediante avaliação documental. Nesse caso, o IBD solicitará
a documentação necessária (tais como fluxograma, formulação, insumos utilizados,
estimativa de produção, rótulos, etc.) e decidirá se uma auditoria complementar se faz
necessária.

A certificação de novas unidades produtivas e produtos de outros escopos


necessariamente implica na realização de nova auditoria.

Após conclusão do processo de avaliação, o IBD fará notificação do resultado, realizará


as alterações necessárias no certificado de conformidade e atualizará os dados no website
do IBD e nos bancos de dados do proprietário do esquema, quando aplicável.

1.4.11 Uso de Marcas de Conformidade e de Acreditação

O IBD verifica o uso e a exibição corretos de certificados e marcas de conformidade do


proprietário do esquema de certificação e/ou do organismo de acreditação, principalmente
nos rótulos de produtos certificados, mas também nos materiais de comunicação, tais
como website, anúncios, folders, brochuras, cartões de visita, etc.

O uso incorreto de marcas de conformidade e certificados é notificado ao cliente e


requerida ação adequada, tal como ações corretivas, suspensão do certificado,
comunicação às autoridades competentes, ação legal, etc. dependendo do grau de não
conformidade.

1.4.12 Reclamações e Apelações

O IBD possui procedimentos para recebimento, tratamento e registro eficaz e imparcial


em relação a reclamações e apelações (disponíveis sob demanda).

Ao receber uma reclamação ou apelação, o IBD acusa o recebimento formalmente. Todo


o processo de decisão para solucionar a reclamação ou apelação é feito, ou revisado e
38
aprovado por pessoa(s) não envolvida(s) nas atividades de certificação correspondente,
de modo a não comprometer a imparcialidade.

O resultado é comunicado ao reclamante/ apelante de um modo que não prejudique a


confidencialidade da(s) parte(s) envolvida(s).

A submissão de reclamações e apelações é importante para o IBD melhorar sempre a


qualidade de seus serviços, para isso disponibiliza vários canais: telefone, fax, website e
correio eletrônico.

1.4.13 Coleta de Amostras

A coleta e a análise laboratorial de amostras de produtos, solo, água, insumos, tecidos e


outros materiais relevantes às atividades de certificação são, às vezes, necessárias ao
processo de certificação.

Isso visa confirmar o atendimento a parâmetros legais ou normativos, à presença ou


ausência de contaminação por agentes proibidos ou restritos pelas normas de certificação
e tomar decisões e encaminhamentos pertinentes ao resultado.

A coleta e análise de amostras são necessárias sempre que houver suspeita de uso de
substâncias/métodos proibidos ou de contaminação do produto certificado por
substâncias proibidas.

Todas as amostras coletadas pelos nossos auditores são analisadas por laboratórios
previamente qualificados, acreditados segundo a ISO17025.

1.4.14 Avaliação dos Serviços Prestados

O IBD valoriza muito a opinião de seus clientes e, por isso, pede que avaliem a conclusão
de cada processo de certificação mediante pesquisa de satisfação.

1.4.15 Entidades Reguladoras/ Entidades Certificadoras

A única entidade responsável em regulamentar a atividade é o Ministério da Agricultura


Pecuária e Abastecimento (MAPA).
39
O controle e fiscalização são realizados pelas Delegacias Federais de Agricultura (DFAs),
diretamente subordinadas ao MAPA, e também por órgãos ligados às Secretarias
Estaduais.

O processo de certificação orgânica na área da pecuária é muito recente e, atualmente,


somente algumas certificadoras desenvolvem projetos desse gênero. A entidade que tem
desenvolvido um trabalho mais intenso na pecuária é a Associação de Certificação
Instituto Biodinâmico (IBD). Mas há outras que também têm mostrado interesse em
desenvolver atividades nessa área. Segue abaixo as certificadoras que têm atuado no
Brasil (WWF, 2016):

1.4.15.1. Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD)


(http//www.ibd.com.br)

• Iniciou seus trabalhos de certificação em 1990;

• É líder em projetos certificados de pecuária no Brasil;

• Credenciada internacionalmente por diversos órgãos:

• IFOAM: International Federation of Organic Agriculture Moviments;

• DAR: Circuito de Credenciamento Alemão – ISSO 65;

• USDA: United States Department of Agriculture;

• JAS: Organic Certification Program – Japão.

1.4.15.2. Ecocert – Brasil (http//:www.ecocert.com.br)

• Iniciou seus trabalhos de certificação no Brasil em 2001;

• É ligada ao movimento orgânico da França;

• Avaliou propriedades que produzem vitelos em Mato Grosso do Sul;

40
• Credenciada internacionalmente pelas seguintes organizações:

• COFRAC: Agência Nacional Francesa – ISO 65;

• NOP: Normas do Governo Norte Americano;

• JAS: Organic Certification Program – Japão.

1.4.15.3. Organização Internacional Agropecuária (OIA – Brasil)


(http//:www.oiabrasil.com.br)

• Iniciou seus trabalhos de certificação no Brasil em 2001;

• Tem forte atuação na área de pecuária na Argen;

• Credenciada internacionalmente;

• IFOAM: International Federation of Agriculture Moviments;

• Resolução CEE 2092/91 – União Europeia;

• ISO 65.

1.5 Associação de Produtores

1) Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) – A Associação Brasileira de


Produtores Orgânicos (ABPO) foi criada em 2001 por pecuaristas brasileiros da região
do Pantanal, com o objetivo de sistematizar sua produção para atender aos requisitos da
Pecuária Orgânica Certificada, agregando à sua atividade os modernos conceitos de
qualidade, responsabilidade social e ecológica e desenvolvimento sustentável.

Possui a seguinte missão: "Ser reconhecida internacionalmente pela produção de


alimentos orgânicos sustentáveis na região do Pantanal, atendendo a um consumidor
preocupado com a segurança alimentar, com a sustentabilidade ambiental e social,

41
garantindo a manutenção da cultura pantaneira e a permanência do homem no campo,
melhorando o perfil de rentabilidade da atividade econômica nesta região”.

A parceria entre o WWF-Brasil e a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO)


começou em 2003, quando a organização iniciou um trabalho de apoio à produção da
pecuária orgânica do Pantanal, uma ação inédita para uma organização ambientalista. As
iniciativas são desenvolvidas no estado do Mato Grosso do Sul, com um grupo de
pecuaristas que compõe a ABPO, em sua maioria, descendentes de famílias
historicamente envolvidas com o avanço da região, buscando uma produção sustentável
para o Pantanal. Essa parceria deu um passo importante com a criação do protocolo
interno de processos produtivos e responsabilidade socioambiental da ABPO, em 2009.
Por meio dele, os pecuaristas assumem o compromisso de adotar critérios que vão além
das exigências da lei e da certificação e que também são importantes para a conservação
ambiental.

2) Associação Brasileira de Produtores de Animais Orgânicos (ASPRANOR).

1.6 Síntese da Unidade

Nesta Unidade, vimos um breve histórico da pecuária orgânica no Brasil, as diferenças


entre boi verde e boi orgânico e as normas para a produção orgânica, abordamos também
vários aspectos relacionados à certificação, como termos de definições, objetivos e
esquemas de certificações aplicáveis, procedimentos de avaliação, solicitação de
certificação, análise crítica da solicitação de certificação, proposta comercial, contrato de
certificação, preparo de auditoria e auditoria, concessão da certificação, manutenção e
suspensão da certificação, suspensão e cancelamento da certificação, dentre outros.
Estudamos também algumas associações de produtores orgânicos.

42
1.7 Para saber mais
Sites

• http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavelorganicos /

Normas para a produção orgânica.

• http://www.serrano.neves.nom.br/dowloads/alimentosorganicos.pdf

Normas para a produção orgânica.

• http://ibd.com.br/Media/arquivo_digital/c40fe6c4-51f3-414a-9936-
49ea814fd64c.pdf

Dispõe sobre normas para a produção de produtos orgânicos vegetais e


animais.

1.8 Atividades

Elabore uma lista com os quesitos necessários para a certificação pecuária da


bovinocultura orgânica (de corte ou leite).

43
44
Unidade 2

Identificação Taxonômica,
Alimentação e Sanidade dos Bovinos

2.1 Taxonomia do Gênero Bovis

O gado doméstico descende do auroque na Europa e do gauro na Ásia. Começou a ser


domesticado entre 5.000 e 6.000 anos atrás, servindo como animal de carga ou fornecendo
carne, leite e couro. Era pouco comum criar gado para alimentação. O animal era comido
apenas se morresse ou não fosse mais útil para carga ou para fornecer leite. Assim como
a cabra, também servia como animal de carga, mas precisava de mais pastagens. Hoje
em dia, no entanto, os bovinos são largamente utilizados para a produção de carne. A
cadeia produtiva da carne engloba vários ramos de negócios, que vão desde a fabricação
de ração e o ensino de profissionais qualificados (médicos veterinários, zootecnistas e
engenheiros agrônomos) até empresas de consultoria em sistemas de comércio exterior.

A família Bovidae está bem distribuída geograficamente, sendo ausente apenas na


Austrália. Seus ancestrais se originaram no Mioceno (de 23,03 a 5,3 milhões de anos
atrás). Os animais pertencentes a essas espécies variam de 3 kg a uma tonelada. É dividida
em dez subfamílias: Bovinae (bois, búfalos e antílopes de chifres aspirais),
Cephalophinae (duikers), Hippotraginae (antílopes), Antilopinae (antílopes verdadeiros
e gazelas), Caprinae (ovinos e caprinos), Reduncinae (cobs), Aepycerotynae (impalas),
Peleinae (rheboks), Alcelaphinae (gnus) e Panthalopinae (chirus ou antílope-tibetado)
(BOVÍDEOS, 2007). A subfamília Bovinae se diferenciou das demais subfamílias há
aproximadamente 25 milhões de anos (FERNÁNDEZ & VRBA, 2005). É composta por
dez gêneros e 24 espécies, distribuídas por todos os cinco continentes.
45
São herbívoros ungulados, de tamanho médio a grande, de enorme importância
econômica, pois são fonte de carne e leite para o homem.

Classificação Taxonômica

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Mammalia

Ordem: Artiodactyla

Subordem: Ruminantia

Infraordem: Pecora

Família: Bovidae

Subfamília Bovinae

• Tribos Boselaphini, Bovini, Strepsicerotini.

Tribo Bovini (Gêneros: Bubalus, Pseudonovibos, Pseudoryx, Syncerus Bison,


Bos).

• Gênero Bos

Espécies

• Bos primigenius – Auroque (extinto)

• Bos javanicus – Banteng

• Bos frontalis – Gayal

• Bos gaurus – Gauro

• Bos mutus – Iaque


46
• Bos sauveli – Kouprey

• Bos taurus – Boi

Subespécies

• Bos taurus indicus – Zebu

• Bos taurus taurus – Gado Europeu (Ex.: Charolais)

Raças “sintéticas” brasileiras

No Brasil, existem vários trabalhos em andamento envolvendo a formação, seleção e/ou


manutenção de “novas raças” constituídas pela combinação de duas raças preexistentes,
por meio de programas de melhoramento genético. Destacam-se:

SIMBRASIL – cruzamento de Simental e Zebu para corte;

GIROLANDO – cruzamento de Holandês (5/8) e Gir (3/8) com dupla aptidão;

CANCHIM – cruzamento de Charolais (5/8) e Zebu (3/8).

2.2 Alimentação

As normas para pecuária orgânica recomendam a produção própria de alimentos


orgânicos volumosos e concentrados, constituídos por gramíneas e leguminosas.

Um dos principais problemas enfrentados pelos pecuaristas no Brasil é a degradação de


pastos. Estima-se que mais de 50% das pastagens cultivadas apresentem algum grau de
degradação. O uso de métodos de pastejo em que cabe alternância entre períodos de
pastejo e de descanso deve levar em conta a fisiologia da planta forrageira, aliada ao uso
adequado e ao suporte das pastagens. A reposição de nutrientes, seja via adubação verde,
orgânica, seja convencional, é fundamental para a sustentabilidade do uso de áreas de

47
pastagens cultivadas.

O manejo de pastagens é o conjunto de técnicas que determina a forma e a intensidade de


exploração das pastagens, devendo ser baseado nas decisões de planejamento e no
equilíbrio entre a produção de forragem e a demanda dos animais. São três componentes
a serem considerados:

1- Número de animais utilizando a pastagem;

2- Forma em que os animais são mantidos no pasto (contínuo ou rotacional);

3- Composição do rebanho (espécie, raça, peso, etc.). Considerando o sistema


de alocação de recursos, o pastejo pode ser classificado como tradicional
(extensivo) ou rotacional (intensivo e semi-intensivo). A produção orgânica
permite os sistemas extensivo e semi-intensivo.

Vários trabalhos com a utilização de pastagens para bovinos demonstraram que se deve:

• Usar lotação rotativa ou pastejo contínuo, respeitando períodos de ocupação


inferiores a cinco dias e períodos de descanso que variam de 21 a 35 dias para as
principais gramíneas cultivadas (CAVALCANTE et al., 2005).

• Intensificar o uso de pequenas áreas já estabelecidas, preservando áreas de mata


ciliar, plantando-se o capim em curvas de nível nas áreas de topografia inclinada
(até 12%).

• Manter árvores no pasto para garantir sombra para os animais e contribuir também
com a ciclagem de nutrientes (CARVALHO et al., 1998).

• Definir a capacidade de suporte de pastos cultivados, analisando o fluxo de


biomassa ao longo do ano e a resposta do pasto ao input de insumos (água, adubos
etc.) (SILVA et al., 2004).

48
2.3 Piquetes
O período de descanso das áreas compreendidas nos piquetes deve ter uma duração que
possibilite a plena recuperação do índice de área foliar e a máxima produção líquida de
forragem, de modo que a demanda por forragem pelos animais no período de ocupação
seja atendida.

A divisão das pastagens em piquetes para ocupação em períodos curtos de tempo (1 a 3


dias) somente faz sentido quando a produção da forragem é elevada, o que ocorre apenas
quando há um somatório de fatores de produção, como fertilidade do solo, calor, luz,
umidade e ação do homem.

Em pastagens degradadas e que apresentem baixa capacidade de suporte, os ganhos com


a rotação em piquetes são mínimos.

A divisão em piquetes depende muito do espaço disponível. Em áreas pequenas, não se


recomendam muitas subdivisões em função de alta concentração de animais em espaços
reduzidos, provocando elevado índice de reinfestação parasitária. Para cálculo de lotação,
trabalha-se com unidade animal (U.A), uma vaca/boi equivale a 1 U.A. Considera-se uma
UA (450 kg de peso vivo) para bovinos, em diferentes categorais:

Vaca em lactação (450 kg =1 UA) = Ex.: 16 vacas em lactação = 16 UA;

Vaca seca (1 vaca 450 kg = 1 UA) = Ex.: 7 vacas secas = 7 UA;

Novilhas (peso médio 250 kg x 8=1200 kg/450 kg) = Ex.: 8 novilhas = 4,4 UA;

Bezerros (peso médio 150 kg x 14 = 2100 kg/450 kg) = Ex.: 14 bezerros = 4,6 UA;

Touro (touro – 600 kg/450 kg) = Ex.: 1 touro = 1,33 UA.

49
Quadro 2.1: Carga Máxima de Animal por Hectare para o Sistema Orgânico.

Tipo de Animal Carga Máxima de Animal por


Hectare

Bezerros para engorda/garrotes 05 animais/ha

Fêmeas e machos 1-2 anos 3,3 animais/ha

Macho acima de 2 anos 02 animais/ha

Fêmeas acima de 2 anos e vacas 2,5 animais/ha

Fonte: EMBRAPA, 2008.

Para o manejo dos bovinos, existem basicamente dois sistemas de pastejo: o contínuo e o
rotacionado, os demais são derivações deles. No método de lotação rotacionado, para que
o pastejo seja uniforme, o formato dos piquetes deve ser quadrado ou retangular, não
tendo comprimento maior que três vezes a medida da largura. Pastos no formato de pizza
ou leque devem ser evitados devido ao maior pastoreio nas áreas de bebedouros e nos
saleiros que, em geral, ficam nos cantos. No sistema orgânico de produção, a área
disponível de pastagem/animal/dia deve ser o dobro da utilizada no sistema convencional.

O uso de cerca elétrica para a divisão de pasto é comumente utilizado, já que não machuca
o animal, pois o arame é liso, e o custo de implantação é aproximadamente quatro vezes
menor, quando comparado ao sistema convencional. Outrossim, as instalações exigidas
nesse caso são mais simples, consistindo principalmente de três partes: eletrificador, fio
condutor da cerca e aterramento.

50
Figura 2.1: Sistema de pastejo rotacionado e contínuo (em faixa).

Fonte: Felício (2002).

A falta de sombra na pastagem é fator limitante para a reprodução. Os bovinos são muito
sensíveis ao calor e o estresse leva à perda de peso, reduzindo a resistência a infecções e
também o crescimento pela menor produção de hormônios. Altas temperaturas diminuem
a produção e a qualidade do sêmen, causando baixo volume do ejaculado e maior
proporção de espermatozoides anormais. O estresse térmico parece prejudicar também o
início da puberdade em novilhas, efeito associado ao crescimento mais lento e ao
comprometimento da regulação neuro-hormonal. Daí a importância da arborização dos
pastos ou dos bosques naturais e artificiais para a proteção contra os ventos e,
principalmente, radiação solar. A proporção de árvores dispersas na pastagem deverá ser
de 5 a 20 árvores/ha (MONTOYA et al., 1994).

As espécies forrageiras possuem características genéticas e morfológicas próprias, por


isso é necessário considerar o número de dias de descanso de cada uma para atingir o
ponto ideal de colheita ou pastejo e os fatores do meio onde estão inseridas.
Outro dado importante no planejamento do pastejo é a definição do período de ocupação
de cada piquete. A taxa de ocupação adequada seria de 2 UA/ha no período favorável (das
águas) e 1UA/ha no período desfavorável (seca), independente da espécie forrageira
utilizada na ocasião de formação e ou manutenção da pastagem.

Quanto menor o período de ocupação, melhor é o controle do estoque de forragem


disponível, da taxa de lotação e do desempenho animal. A qualidade da forragem também
varia durante os dias de ocupação, pois os animais pastejam extratos diferentes a cada
dia, refletindo em grande variação na produção de leite.

51
Após a definição do número de dias de descanso e dos dias de ocupação de cada piquete
a ser utilizado, pode-se calcular o número ideal de piquetes na área. Para tanto, deve-se
utilizar a seguinte fórmula:

Figura 3.2: Tabela para calcular número de piquetes.

Fonte: Coan (2010).

Em sistemas extensivos e semi-intensivos, o uso de pastejo rotacionado com um pequeno


número de piquetes (dois a quatro piquetes) é bastante satisfatório. Para essas situações,
recomenda-se que o período de ocupação não seja superior a 28 dias. Apenas para
exemplificar, para períodos de ocupação e de descanso de 28 dias (pastejo alterno) seriam
necessários dois piquetes:

Número de piquetes = 28+1 = 1 +1 = 2 piquetes


28

A duração do período de descanso para cada piquete é importante em dois momentos:

No momento de planejamento e implantação do sistema, é fundamental primeiro a


quantificação do número de piquetes e, segundo, a variação estacional da taxa de
crescimento da cultura, que depende, entre outros aspectos, da disponibilidade de
condições ambientais naturais ou artificiais (irrigação, adubação, etc.).

De modo geral, é importante que o período de descanso adotado proporcione o máximo


rendimento do animal por área sem, contudo, haver comprometimento da persistência do
pasto. Períodos de descanso muito longos são prejudiciais à qualidade da forragem
produzida. Isso se deve ao fato de que a partição de carbono é direcionada ao colmo e às
folhas novas que nascem. Nessas condições, apesar do pasto estar mais alto e com muita
massa de forragem, a quantidade real de folhas verdes não aumenta e a relação folha-
colmo diminui. A taxa de lotação, quando ajustada para massa de folhas verdes, não se
52
eleva a partir de certo momento. No sistema convencional de produção de leite,
comumente adotam-se 30 dias de descanso para atender à carga animal mencionada e
respeitar a taxa de rebrota do capim. Porém, no sistema orgânico, esse período não é
suficiente, sendo necessários 36 dias, visto que a taxa de crescimento do capim é menor
devido à disponibilidade mais lenta do nitrogênio e de outros minerais oriundos de adubos
orgânicos e à fixação biológica do nitrogênio pelas leguminosas.

Quadro 3.2: Dias de descanso para algumas gramíneas forrageiras tropicais, após o
pastejo.

Fonte: Coan (2010).

Quadro 4.3: Dias de descanso para algumas gramíneas forrageiras tropicais.

Fonte: Marta Júnior et al. (2003).

53
Quadro 5.4: Procedimentos recomendados segundo as atividades.

Fonte: Darolt (2002).

2.4 Pastagens
Os ruminantes têm por hábito pastejar preferencialmente o topo das plantas, rebaixando
a altura da pastagem pouco a pouco, como se estivessem retirando a forragem em
camadas. Todavia em função da anatomia bucal, caracterizada pela extrema mobilidade
dos lábios e pela forma de apreensão do alimento pelos lábios, dentes e língua, eles são
bastante eficientes na separação e escolha do alimento ingerido, podendo apreender com
facilidade partes específicas da forragem, mesmo a de menor tamanho. Isso possibilita ao
animal, quando em pastejo, escolher as partes mais tenras e palatáveis da planta,
rejeitando as fibrosas e, portanto, de menor valor nutritivo. Dessa maneira, os ruminantes
conseguem realizar um pastejo bastante seletivo e rente ao solo. Em função disso, as
forrageiras mais indicadas são aquelas que suportam o manejo baixo, com intensa
capacidade de rebrota por meio de gemas basais e que possuem sistema radicular bem
desenvolvido, garantindo boa fixação ao solo.

54
Por mostrarem acentuada preferência por forrageiras de porte médio a baixo, em
pastagens com plantas de porte mais elevado, com altura acima de 1,0 metro, os animais
tendem a explorar mais intensivamente as áreas marginais, resultando em
subaproveitamento da forragem das áreas centrais. Outra característica típica dos
ruminantes é o comportamento extremamente gregário, que dificilmente explora a
pastagem isoladamente, movimentando-se sempre em grupos. Em face disso, em
pastagens de porte mais alto, os ovinos tendem a apresentar intensa movimentação pela
área, mostrando maior preocupação em se manterem próximos uns dos outros, o que
prejudica o nível de ingestão de alimento e resulta em aumento de perdas por acamamento
devido ao pisoteio excessivo.

Outras forrageiras, normalmente utilizadas em pastagens para bovinos, têm sua utilização
dificultada por pequenos ruminantes devido ao porte excessivamente elevado ou por não
tolerarem o pastejo rente ao solo e o pisoteio intensivo. Nesse grupo, estão incluídas a
maioria das gramíneas dos gêneros Panicum (colonião), Chloris (Rhodes) e Setaria, que
ainda têm o agravante da baixa aceitabilidade.

As pastagens tropicais, quando bem manejadas, são capazes de sustentar níveis


satisfatórios de produção de leite, sobretudo nas épocas mais favoráveis do ano, suprindo
as necessidades de energia, proteína, minerais e vitaminas essenciais à produção animal
(GOMIDE, 2001). Quando não são bem manejadas, elas podem sofrer processo de
degradação.

Degradação de pastagens

Degradação de pastagens é um termo usado para designar um processo evolutivo de perda


de vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural de uma dada pastagem,
tornando-a incapaz de sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais,
bem como o de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras” (KICHEL et
al., 1997).

A degradação de pastagens é um processo evolutivo de perda de vigor, de produtividade,

55
de capacidade de recuperação natural para sustentar os níveis de produção e qualidade
exigidos pelos animais, assim como de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e
invasoras, culminando com a degradação avançada dos recursos naturais, em razão de
manejos inadequados (MACEDO, 1995).

As pastagens são consideradas em degradação quando a produção de forragem é


insuficiente para manter determinado número de animais no pasto por certo período. A
caracterização do nível de degradação não é uma tarefa fácil, porém, alguns métodos têm
sido propostos, por exemplo:

✓ Grau 1: redução na produção de forragem, na qualidade, na altura e no volume


durante a época de crescimento;

✓ Grau 2: diminuição da área coberta pela vegetação, pequeno número de plantas


novas;

✓ Grau 3: aparecimento de plantas invasoras de folhas largas, início de processo


erosivo por ação das chuvas;

✓ Grau 4: presença, em alta proporção, de espécies invasoras; aparecimento de


gramíneas nativas e processos erosivos acelerados.

A degradação de uma pastagem pode ser decorrente de uma série de fatores que, em
muitos casos, ocorre de forma concomitante. Os principais fatores determinantes da
degradação de um pasto são: falta de adaptação ao ambiente da espécie semeada; má
formação do pasto; manejo inadequado; invasão de plantas indesejáveis; ataque de pragas
e doenças; baixa fertilidade do solo e compactação do solo.

Um dos fatores determinantes da degradação de pastagens é a implantação de espécies


forrageiras não adaptadas às condições de solo, ao clima e ao manejo. Dessa forma, para
a escolha da espécie forrageira a ser implantada, deve-se levar em consideração fatores
como: histórico da área; época de abertura da área; espécie em uso; nível de tecnologia
adotado; produtividade em anos anteriores; presença de invasoras; banco de sementes;
pragas e doenças; clima; precipitação anual; temperatura mínima, máxima e média;

56
geadas e fotoperíodo; solo; topografia; susceptibilidade à erosão; impedimentos físicos;
deficiência ou excesso de água; impedimentos à mecanização; nível de fertilidade do solo;
profundidade e textura do solo.

A degradação do pasto pode ocorrer tanto devido ao super quanto ao subpastejo. Em


situações de subpastejo, ocorre o sombreamento da base da touceira, o que prejudica o
perfilhamento e a rebrota das plantas. Já o superpastejo pode provocar a redução da área
fotossinteticamente ativa, o esgotamento das reservas orgânicas e a abertura da
comunidade, dando oportunidade ao aparecimento de plantas invasoras e à compactação
do solo, além da erosão e redução da fertilidade do solo. Para se evitar a degradação do
pasto, é preciso respeitar a recomendação de intensidade e de ciclo de pastejo (período de
ocupação e de descanso) adequados para cada espécie forrageira (CAMARGO & NOVO,
2009).

Quadro 6.5: Recuperar ou reformar?

Fonte: Oliveira & Corsi (2005).

Os bovinos possuem a habilidade de selecionar a dieta a partir da forragem disponível,


sendo que a prioridade é para as folhas mais novas, as quais possuem maior valor
nutritivo, seguida das folhas dos estratos inferiores e do colmo. O pastejo seletivo permite
ao ruminante compensar o baixo valor nutritivo da forragem disponível, por possibilitar
o pastejo das partes mais nutritivas da planta (STOBBS, 1978).

57
As gramíneas do gênero Brachiaria, apesar da vantagem de propagação por semente e da
acentuada persistência e rusticidade, apresentam problemas de baixo valor nutritivo,
limitando a sua utilização àquelas categorias de menor exigência nutricional. Além disso,
em função do hábito de crescimento prostrado, dificultam o controle da verminose. Esses
aspectos são ainda agravados pela maior possibilidade de ocorrência de
fotossensibilização em ovelhas paridas e em animais mantidos exclusivamente sob essa
forrageira.

A formação de pastagens e capineiras, assim como sua conservação na forma de feno e


silagem, são fundamentais para garantir a alimentação dos animais ao longo de todo o
ano.

De acordo com Sartorelli & Barbosa (2013), a pastagem é um ecossistema perene e de


longa vida útil, constituída pelo complexo solo-planta-animal. O produtor age como um
ponto central que influencia cada parte desse sistema. Quando não há equilíbrio entre os
componentes, poderá ocorrer um processo de degradação. Cabe aqui lembrar que a
adubação indicada para todas as pastagens é restringida à adubação orgânica e fosfatada
na forma de rocha natural de baixa solubilidade, visto que a proposta do sistema é a
produção de carne/leite orgânicos.

Manejo Agroecológico de pastagens

Segundo Agrosuisse (2001), o manejo agroecológico das pastagens é uma medida que
viabiliza, técnica e economicamente, uma propriedade de pecuária em função de ser um
modelo de baixo custo com otimização dos potenciais naturais das áreas. O precursor
desse princípio foi o pesquisador francês André Voisin, que definiu um sistema de rodízio
dos pastos para permitir períodos de pastejo com lotação adequada e períodos de descanso
suficientes para recomposição vegetal das forrageiras existentes nos pastos. Esse
princípio considera também como fundamental a diversificação das espécies vegetais
dentro das áreas de pastagens. Em sistemas de pastejo contínuo, ocorre uma seleção
negativa das plantas com predominância de poucas espécies; diminuindo a diversidade
de forragens e, consequentemente, a qualidade dos pastos.

A importância da matéria orgânica no solo é indispensável para um bom manejo


58
agroecológico, assim como para as plantas e animais. Com isso, a capacidade produtiva
do solo pode ser mantida a longo prazo, diferentemente do que acontece na produção
convencional, em que a reposição de nutrientes está condicionada à adubação química. A
matéria orgânica melhora a capacidade de retenção de umidade entre diversos outros
fatores ligados à biologia, física e química da terra.

Todos os seres vivos são formados por elementos químicos formadores de matéria viva.
O processo de ciclagem de nutrientes está condicionado ao velho princípio: “na natureza,
nada se perde, tudo se transforma”. Assim, os nutrientes na natureza fazem parte de um
ciclo que permanece dentro do ecossistema. Quando uma planta morre, as diversas
reações oriundas da decomposição transformam a matéria morta em nutrientes que
voltam às plantas e aos animais em forma de alimento. Existem diversos ciclos, sendo os
principais: carbono, potássio, nitrogênio, fósforo, etc.

Figura 4.2: Ciclagem da matéria orgânica.

Fonte: Busato et al. (2009), adaptado por Florião (2013).

59
Pastagem em Sistemas Silvipastoris

A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) promove a recuperação de áreas de


pastagens degradadas ajuntando, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos,
como os de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia. Ela busca melhorar a fertilidade do
solo com a aplicação de técnicas e sistemas de plantio adequados para a otimização e a
intensificação de seu uso. Dessa forma, permite a diversificação das atividades
econômicas na propriedade e minimiza os riscos de frustração de renda por eventos
climáticos ou por condições de mercado.

A integração também reduz o uso de agroquímicos, a abertura de novas áreas para fins
agropecuários e o passivo ambiental. Possibilita, ao mesmo tempo, o aumento da
biodiversidade e do controle dos processos erosivos com a manutenção da cobertura do
solo. Aliada a práticas conservacionistas, como o plantio direto, constitui uma alternativa
econômica e sustentável para elevar a produtividade de áreas degradadas.

Agrofloresta é um sistema de manejo de recursos naturais, dinâmico, baseado na ecologia,


que diversifica e sustenta a produção por meio da integração de árvores nas fazendas e na
paisagem agrícola, visando aumentar os benefícios sociais, econômicos e ambientais. Os
sistemas silvipastoris são uma das modalidades de sistemas agroflorestais.
Resumidamente, sistemas silvipastoris são sistemas nos quais forrageiras e/ou animais e
árvores são cultivados, simultânea ou sequencialmente, na mesma unidade de área. As
árvores são subutilizadas nas propriedades rurais. A arborização das pastagens permite
repovoar de forma ordenada áreas de pastagens a céu aberto para proteger o rebanho dos
extremos climáticos e ainda obter serviços ambientais e diversificação de produtos
florestais e pecuários (MONTOYA et al., 1994). Árvores são um investimento de longo
prazo e podem ser utilizadas no manejo do risco econômico, no planejamento de apentais
para usuários da terra, em todos os níveis.

Em termos da quantidade de sombra que deve ser disponibilizada para os bovinos,


existem recomendações de 4 a 15 m2/animal para clima temperado, variando conforme a
categoria animal (BLACKSHAW & BLACKSHAW, 1994; LARSON, 2000; TURNER,
s/d). Os galhos mais baixos das árvores podem ser podados, de modo a permitir uma boa

60
ventilação sob a copa, já que a maior velocidade do ar auxilia a troca de umidade,
importante para a dissipação do calor dos bovinos (MARTINS, 2002).

No Brasil, sistemas silvipastoris foram inicialmente delineados para permitir melhor


aproveitamento da área e controle de plantas herbáceas sob plantações comerciais de
eucaliptos e pinheiros. Pesquisas mostraram que a utilização de bovinos e/ou ovinos em
plantações de eucalipto não reduziu o crescimento/sobrevivência das árvores, mas
reduziu o risco de incêndio, a necessidade de capinas e o custo de manutenção das árvores
em 52-93%.

Pastoreio racional VOISIN (PRV)

O Pastoreio Racional Voisin, nome dado em homenagem ao pesquisador francês André


Voisin falecido em janeiro de 1965, é um sistema racional de manejo de pastagem que
preconiza a divisão da área de pasto em várias parcelas (VOSIN, 1973), onde são
fornecidos água e sal mineral. Os pastos são manejados de tal forma que aumentam sua
produtividade, melhoram a qualidade ambiental, pois isolam o gado das áreas de proteção
permanente, permitindo aos animais acesso à água em bebedouros adequados. As
vantagens desse tipo de pastoreio são:

✓ Melhora da qualidade e da produtividade do pasto;

✓ Aumento da disponibilidade do pasto na escala do tempo e com regularidade

durante o ano todo;

✓ Produção de carne e leite a baixo custo;

✓ Melhora da fertilidade biológica do sistema e principalmente do solo;

✓ Reduz a erosão e evita caminhos desvegetados ou carreadores;

✓ Aumenta o bem-estar animal, pois fornece água, pasto de qualidade, sombra e


diminui infestação de parasitas internos e externos;

✓ Melhora a sanidade geral do rebanho;

61
✓ Permite o melhoramento dos pastos pela introdução de novas espécies mediante
sobressemeadura, ressemeadura e plantio na bosta;

✓ Permite usar maior carga animal por área;

✓ Reduz os efeitos da dominância entre os animais.

O Partoreio Racional Voisin (PRV) preconiza quatro leis fundamentais para que os
agricultores familiares tenham sucesso no manejo dos pastos e na produtividade de leite
e carne. O método serve tanto para produção de leite quanto para produção de carne e
também pode ser usado para produção de ovinos, caprinos e bubalinos. As leis universais
do PRV são as seguintes:

1ª Lei universal do pastoreio racional Voisin – LEI DO REPOUSO;

2ª Lei universal do pastoreio racional Voisin – LEI DE OCUPAÇÃO;

3ª Lei universal do pastoreio racional Voisin – LEI DO RENDIMENTO MÁXIMO;

4ª Lei universal do pastoreio racional Voisin – LEI DOS RENDIMENTOS


REGULARES.

1ª LEI UNIVERSAL DO PASTOREIO RACIONAL VOISIN – LEI DO REPOUSO

Os pastos, quando têm descanso (quer dizer, após pastoreio o gado deixa de pastar num
piquete e passa para outro, deixando o pasto sem animais por algum tempo), rebrotam e
crescem vigorosamente, fazendo fotossíntese e armazenando energia e nutrientes nas
raízes para que, se forem cortados novamente pelos dentes dos animais, possam
rapidamente rebrotar e crescer.

O período de repouso entre dois cortes varia de acordo com cada espécie vegetal, com o
clima, com a temperatura, com a umidade e até mesmo com a fertilidade do solo, então é
importante que cada propriedade identifique o período de repouso para seus pastos. Cada
agricultor deve ser um pesquisador de sua propriedade.

62
2ª LEI UNIVERSAL DO PASTOREIO RACIONAL VOISIN – LEI DE
OCUPAÇÃO

“O tempo global de ocupação de uma parcela deve ser suficientemente curto para que um
pasto, cortado a dente no primeiro dia do tempo de ocupação, não seja cortado novamente
pelo dente dos animais, antes que estes deixem a parcela pastoreada” (MACHADO,
2004).

Nessas condições, muitas pastagens crescem rapidamente após serem pastoreadas. Por
exemplo, o capim-elefante ou mesmo a estrela africana, um dia após o corte a dente por
um animal, podem crescer de 3 a 5 centímetros. Esse crescimento é à custa das reservas
que estão acumuladas nas raízes. Se o tempo de ocupação for de mais de um dia, é
possível que o gado coma esse rebrote, o que faz com que esgote as reservas da planta e
descumpra a primeira lei do PRV. Os períodos curtos de ocupação é que fazem com que
o gado não coma o rebrote.

3ª LEI UNIVERSAL DO PASTOREIO RACIONAL VOISIN – LEI DO


RENDIMENTO MÁXIMO

Em geral, um pasto alcança ótima qualidade quando atinge a altura de 15 a 25 centímetros.


É claro que, nas condições de clima quente e úmido, plantas C4, como o capim-elefante,
fogem dessa regra, pois atingem a máxima produção e qualidade com alturas maiores.

A lei do rendimento máximo permite que se faça o desnate de uma pastagem, ou seja, o
manejo da pastagem de forma a permitir com que os animais de maior exigência alimentar
comam a melhor parte da pastagem, aquela que se situa mais ou menos no um terço
superior da planta. As ponteiras das forrageiras têm maior digestibilidade e
palatabilidade, maior teor de proteína, vitaminas e minerais.

Os animais que consomem as partes superiores são beneficiados com pasto de melhor
qualidade e têm a possibilidade de apresentarem maior produtividade. Os animais de
menor requerimento alimentício, como vacas secas, novilhas e animais para engorda,
fazem o repasse, pastando as partes inferiores da forragem.
63
O manejo com desnate e repasse permite maximizar a produção, com alta produtividade
por área e com alto desempenho individual do lote de desnate. Esse manejo também ajuda
as vacas a “pegarem” cria rapidamente, logo após parirem.

4ª LEI UNIVERSAL DO PASTOREIO RACIONAL VOISIN – LEI DOS


RENDIMENTOS REGULARES

“Para que uma vaca possa dar rendimentos regulares é necessário que não permaneça por
mais de três dias num piquete. Os rendimentos serão máximos se a vaca não permanecer
por mais de um dia num mesmo piquete” (MACHADO, 2004).

Os animais alcançam o máximo rendimento no primeiro dia de pastoreio e os rendimentos


vão diminuindo à medida que aumentam os dias de permanência numa mesma parcela.

No primeiro dia, o pasto tem maior qualidade, está limpo, sem pisoteio e sem cheiro de
bosta e de urina. Lembre-se de que o gado não pasta onde defeca e urina.

Uma vaca tem uma boca que pasta e quatro patas que podem estragar o pasto, amassando-
o. À medida que a pastagem vai sendo pastoreada, o animal colherá cada vez menores
quantidades de pasto, sobrando para o segundo dia em diante um pasto mais fibroso e de
menor qualidade.

2.4 Gramíneas Forrageiras


Brachiaria

As pastagens cultivadas no Brasil são a base da produção animal. Elas cobrem extensas
áreas, hoje estimadas em cerca de 180 milhões de hectares, sendo mais de 85% delas
ocupadas com capins do gênero Brachiaria. Esse gênero é de origem africana e
compreende cerca de 100 espécies encontradas em regiões tropicais e subtropicais, as
quais são caracterizadas pela grande flexibilidade de uso e manejo, sendo tolerantes a
uma série de limitações e/ou condições restritivas de utilização para um grande número
de espécies forrageiras (OLTRAMARI & PAULINO, 2009). Dentro desse gênero,
destacam-se Brachiaria decumbens e Brachiaria brazantha cv. Marandu.
64
Brachiaria brazantha cv. Marandu

Andrade (2003) demonstrou que a amplitude ótima de condições de pasto para produção
de B. brazantha cv. Marandu varia de 20 a 40 cm no pós-pastejo. Pastos mantidos a 10
cm apresentaram aumento da população de plantas invasoras e diminuição de suas
reservas orgânicas (carbono e nitrogênio) ao longo do experimento, indicando ser essa
uma condição instável para essas plantas. Dentro dessa amplitude (20 a 40 cm), a
produção de forragem praticamente não variou e, nas condições do experimento (solo de
alta fertilidade e cerca de 300 kg N/ha), ficou em torno de 26 t MS/ha. No entanto, a
distribuição da produção variou significativamente, sendo que 76,84, praticamente 100%
foram mensurados durante as épocas de primavera e verão para os pastos mantidos a 20,
30 e 40 cm, respectivamente (ANDRADE, 2003; MOLAN, 2004).

De acordo com Gonçalves (2002), pastos mantidos mais baixos são desfolhados de forma
mais frequente que pastos mantidos mais altos, consequência direta e praticamente
exclusiva de maiores taxas de lotação. Essa maior frequência de desfolhação dos perfilhos
favorece maior número de desfolhações durante o período de vida das folhas, o que resulta
em eficiências de utilização da forragem mais elevadas em pastos mais baixos (82,3; 76,2;
69,4 e 68,7% para 10, 20, 30 e 40 cm, respectivamente).
Figura 5.3: Brachiaria brazantha cv. Marandu.

Fonte: Olthamani & Paulino (2009).

65
Cynodon

Os capins do gênero Cynodon vêm ganhando expressão crescente no setor pecuário


nacional nos últimos 15-20 anos, mais notadamente a partir da introdução do Tifton-85
no Brasil. Apesar desse renovado interesse, não existem registros precisos da introdução
dos Cynodons no Brasil e o que se acredita é que a “grama seda” ou “grama bermuda
comum” (Cynodon dactylon var. dactylon) tenha chegado às Américas junto com os
colonizadores, na forma de feno ou de “cama” para escravos nos navios, e a partir daí se
disseminado em função de sua alta agressividade e facilidade de produção de sementes.
Atualmente, as principais cultivares da espécie desse gênero empregadas como
forrageiras são Cynodon dactylon (L.), Pers. Coast Croos e Cynodon dactylon (L.) Pers
cv. Tifton-85.

Em espaços tropicais, os capins do gênero Cynodon apresentam elevado potencial de


produção por animal e por área, e grande flexibilidade de uso, podendo ser empregados
para pastejo ou conservação de forragem (feno, silagem ou pré-secado). Com boa
fertilidade de solo e manejo adequado, os Cynodons comumente proporcionam produção
de matéria seca superior a 20 t de MS/ha/ano, com valor nutritivo que pode ser
considerado bom, ao redor de 11 a 13% de PB e 58 a 65% de digestibilidade. Apresentam
ainda distribuições estacionais de crescimento mais uniformes (proporção relativa da
produção total no “inverno” e no “verão”) quando comparados a outros capins.

Em função de sua exigência por solos férteis e de características ligadas à sua propagação
que, quase sempre, é vegetativa (por mudas), os capins Cynodon têm sido empregados
principalmente em explorações leiteiras e para a produção de forragem conservada,
marcadamente feno.

Cynodon dactylon (L.) Pers cv. Coast-croos

Essa gramínea é perene e não rizomatosa, de crescimento prostrado com alta resistência
ao pastejo e pisoteio. Ela se desenvolve bem em regiões com precipitações de 635 até
1700 mm anuais, mas não suporta alagamento. Cresce em temperatura de até 5ºC,
sobrevivendo em condições de -2 ºC. É possível conseguir lotações de 2 UA/ha nas águas
e de 1.5 UA/ha quando irrigada na seca.
66
Vilela et al. (2006), trabalhando com pastagem de coast-cross, reportaram produções
diárias de leite de 15,54 e 19,15 kg/vaca e de 77,8 e 94,0 kg/ha, quando foram fornecidos,
para cada vaca, 3 e 6 kg de concentrado, respectivamente.

Alvim & Botrel (2001) avaliaram os efeitos de níveis de N (100, 250 e 400 kg/ha/ano)
aplicados em pastagem de coast-cross (Cynodon dactylon (L.) Pers.) sobre a produção de
leite de vacas da raça Holandesa. Os dados revelaram semelhanças estatísticas entre os
tratamentos quanto à produção individual de leite e aos teores de proteína bruta da
gramínea.

Cynodon dactylon (L.) Pers cv. Tifton-85

Gramínea híbrida estéril do gênero Cynodon resultante do cruzamento da Tifton-68 com


a espécie Bermuda Grass da África do Sul, que é considerada a melhor do mundo no
gênero.

Gramínea perene estolonífera com grande massa folhear, rizomas grossos, que são os
caules subterrâneos que mantêm as reservas de carboidratos e os nutrientes que
proporcionam incrível resistência a secas, geadas, fogos e pastejos intensivos.

Pode ser plantada tanto em regiões frias quanto em regiões quentes de clima subtropical
e tropical, ou seja, em praticamente todo território nacional, em solos arenosos, mistos e
argilosos (não alagados), devidamente corrigidos e adubados. O plantio deve ser
realizado, em ramas com todas as gemas (nós), somente em solos bem molhados por
chuva ou irrigação, a uma profundidade de 10 a 15 centímetros em solos arenosos e mistos
e de 5 a 10 centímetros em solos argilosos, em sulcos ou covas, com espaçamento médio
de 1 metro entre linhas e 20 centímetros entre ramas, compactando simultaneamente com
os pés ou algum tipo de ferramenta. A formação se dará em torno de noventa dias.

67
Figura 6.4: Cynodon dactylon (L.) Pers cv. Tifton-85

Fonte: Olthamani & Paulino (2009).

Panicum maximum Jacq

O capim mais conhecido da espécie Panicum maximum é o capim colonião, introduzido


no período colonial. Apresenta boa dispersão no Brasil e hábito de crescimento ereto,
perfilhando em forma de touceira. A propagação é feita por sementes, facilitando sua
adoção. Existem várias cultivares e ecótipos, como Panicum maximum cv. Tanzânia1 e
Panicum maximum cv Mombaça.

Panicum maximum cv. Tanzânia1

É uma planta cespitosa de ciclo anual, com altura média de 1,3 m, folha decumbente com
largura média de 2,6 cm, de porte elevado. Lâminas e bainhas são glabras, sem
cerosidade. Os colmos são levemente arroxeados. As inflorescências são do tipo panícula,
com ramificações primárias longas e secundárias longas apenas na base. As espiguetas
são arroxeadas, glabras e uniformemente distribuídas.

Essas forrageiras, em função do hábito de crescimento cespitoso, apresentam manejo


mais complexo que aquelas de hábito prostrado. No entanto, o ganho em desempenho e,
68
principalmente, o aspecto favorável com relação ao controle da verminose justificam a
sua indicação como forrageiras ideais para os ovinos, prestando-se tanto para pastejo
como para fenação (ou silagem).

Como ela é utilizada para pastejo direto, silagem e fenação, apresenta uma excelente
digestibilidade e palatabilidade. Exige condições de precipitação pluviométrica acima de
800 mm anuais, apresentando tolerância média à seca e ao frio. A profundidade de plantio
é de cerca de 0,5 a 1,0 cm, com produção de 20 a 26t/hc/ano de matéria seca. Excelente
para consorciação com todas as leguminosas, principalmente as trepadeiras.

Figura 7.5: Panicum maximum cv. Tanzânia.

Fonte: Disponível em: <http://www.agrolink.com.br/>. Acesso em: 30


out. 2016.

69
Panicum maximum cv Mombaça

Bueno (2003) e Carnevalli (2003) avaliaram o capim-mombaça sob pastejo rotacionado


caracterizado por duas alturas de resíduo (30 e 50 cm) e duas condições de pré-pastejo
(95 e 100% de interceptação de luz pelo dossel). Os resultados demonstraram a
consistência do critério de interrupção do processo de rebrotação aos 95% de
interceptação de luz e o efeito benéfico de sua associação com um valor de altura de
resíduo mais baixo, condizente com a necessidade da planta em manter uma área foliar
remanescente mínima e de qualidade para iniciar seu processo de rebrotação e
recuperação para um próximo pastejo.

Figura 8.6: Panicum maximum cv. Mombaça

Fonte: Oltramari & Paulino (2009).

Pennisetum purpureum

O capim-elefante (Pennisetum purpureum) tem-se se destacado entre as forrageiras mais


utilizadas nos sistemas de produção de leite, em decorrência do seu elevado potencial
produtivo e da sua qualidade. No entanto, para que haja aumento da produção de leite por
animal e por área, é necessário o conhecimento do equilíbrio entre quantidade e qualidade
da forragem. Deve-se considerar que a prática da fertilização da pastagem influencia
positivamente a melhoria da quantidade e a qualidade da forragem produzida, sendo a
70
resposta dependente da espécie vegetal, entre outras coisas (OLTRAMARI & PAULINO,
2009). Sabe-se que o capim-elefante é capaz de mostrar elevado rendimento de forragem
quando convenientemente manejado e adubado (CORSI & NUSSIO, 1992). Embora o
seu emprego sob pastejo apresente excelentes perspectivas (ALMEIDA et al. 2000),
alguns problemas decorrentes dessa forma de utilização têm sido apontados. Gomide
(1990) ressalta o acentuado caráter sazonal da sua produção e Veiga (1990) registra a
dificuldade de manejo devido ao hábito de crescimento ereto e ascendente, chegando,
muitas vezes, a atingir alturas fora do alcance dos animais. Espécies que exibem hábito
de crescimento ereto, como o capim-elefante, devem ser manejadas sob pastejo rotativo,
para maior eficiência (BLASER et al., 1973). Assim, deve-se interromper o pastejo em
determinado momento para que haja recomposição da área foliar, da qual depende a
formação de reservas orgânicas. É sabido que a área foliar remanescente, após corte ou
pastejo, influi sensivelmente na velocidade e intensidade da rebrota, razão pela qual se
deve evitar o superpastejo, promovendo um período de descanso necessário para boa
recuperação das plantas (OLTRAMARI & PAULINO, 2009).

Lucci et al. (1972), testando uma pastagem de capim-elefante, sob uma taxa de lotação

Quadro 7.6: Relação de espécies de gramíneas forrageiras recomendadas para pastagens


de bovinos.

Gêneros Espécies Nome popular


Brachiaria Brachiaria decumbens Braquiária
Brachiaria brazantha cv. Marandu

Cynodon Cynodon dactylon (L.) Pers cv.


Coast Croos
Estrela

Cynodon dactylon (L.) Pers cv.

Tifton-85
Panicum Panicum maximum cv. Mombaça Mombaça

Panicum maximum cv. Tanzânia Tanzânia

Pennisettum Pennisetum purpureum Capim-elefante

Fonte: João Carlos Nordi (autor).


71
de 3,6 vacas/ha, demonstraram que essa pastagem tem condições de fornecer nutrientes
necessários para manutenção e produção de leite de 11,6 kg/vaca/dia de leite. Numa
pastagem de capim-elefante, adubada com 200 kg/ha/ano de N, manejada em sistema de
pastejo rotativo, com três dias de ocupação e 30 dias de descanso, com uma taxa de
lotação de 4,5 vacas/ha, foram obtidas produções médias de leite de 11,9 kg de
leite/vaca/dia sem suplementação concentrada, e 13,4 kg de leite/vaca/dia com
suplementação de 2 kg/vaca/dia de concentrado (DERESZ, 2001). Entretanto, os mesmos
autores revelaram não ser vantajosa a suplementação da pastagem de capim-elefante por
causa do pequeno aumento na produção de leite observado.

2.6 Leguminosas Forrageiras


As leguminosas forrageiras (de porte herbáceo e arbustivo, submetidas às podas) podem
ser utilizadas consorciadas com gramíneas ou como banco de proteína, representando
interessantes fontes de alimentos. Do ponto de vista nutricional, elas possuem alto teor
de proteína e digestibilidade, sendo estratégicas para a reserva de alimento verde na época
seca do ano devido ao sistema radicular mais profundo. Outras vantagens do uso de
leguminosas é a fixação de nitrogênio para a gramínea em sistemas consorciados e
reciclagem de nutrientes. As bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradrhizobium, em
simbiose com as raízes das leguminosas, fixam quantidades de até 500 kg de nitrogênio
no solo. No entanto, essas quantidades são bem inferiores nas regiões tropicais.

O uso de leguminosas em consórcio com gramíneas recomendado para criações menos


intensivas pode substituir, até certo ponto, adubações nitrogenadas, melhorando também
a qualidade da dieta e a quantidade de forragem disponível. A aceitabilidade relativa de
espécies prostradas ou de porte arbustivo poderá ser vantajosa na manutenção desse
percentual. A adição de leguminosas nas áreas de pastagem exclusivas de gramíneas,
especialmente no tropical úmido e subúmido, aumenta frequentemente a produtividade.

As leguminosas indicadas são as seguintes: estilosantes (Stylosanthes guianensis),


calopogônio (Calopogonium mucunoides), soja perene (Neonotonia wightii), leucena
(Leucaena leucocephala), guandu (Cajanus cajan), amendoim forrageiro (Arachis
pintoi), o trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) e o pega-pega (Desmodium

72
intortum) dentre outras, devendo ser escolhidas de acordo com a adaptação às condições
de solo, clima e adequação à gramínea em consórcio.

Algumas das leguminosas citadas acima são anuais, dependendo diretamente de nova
semeadura natural, mas mesmo as perenes podem necessitar de recrutamento de novas
plantas. Nesse caso, deve-se escolher espécies precoces que floresçam entre março e maio
(momento do ano que permite a vedação) e evitar as de florescimento tardio, entre junho
e julho, que é uma época de necessidade de utilização dos pastos. A adubação nitrogenada
admite produções de massa verde maiores que aquelas advindas da fixação de nitrogênio
pelas leguminosas, entretanto, é preciso analisar as recomendações para cada situação,
considerando a mesma citação para as gramíneas, já que o sistema orgânico não permite
adubação química.

O banco de proteína é uma área mantida exclusivamente com leguminosas, às quais os

Figura 9.7: A) Stylosanthes guianensis; B) Stylosanthes guianensis misturado com


pastagem; C) Calopogonium mucunoides; E) Cajanus cajan; F) Arachis pintoi.

A B C

D E F
Fonte: A) <www.suggest-keywords.com/>, acesso em: 30 out. 2016; B)
<www.flickr.com/photos/mingiweng/4820073281/>, acesso em: 30 out. 2016; C)
<commons.wikimedia.org>, acesso em: 30 out. 2016; E)
<www.rakesandbladesfl.com/cajanus.html>, acesso em: 30 out. 2016; F)
<www.jardimflordoleste.com.br/como-plantar-grama-amendoim/>, acesso em: 30 out. 2016.

73
animais não têm acesso ou têm apenas em situações preestabelecidas. É uma alternativa
interessante, pois se pode ter um manejo adequado da planta, permitindo boa persistência
e produção do estande. A parte aérea da leguminosa também pode ser cortada e fornecida
no cocho (a altura do corte depende principalmente da espécie).

Nesse caso, é possível fazer o uso de culturas intercalares visando à diminuição dos custos
de implantação. A rotação de culturas é um ponto forte nessa técnica, pois a cultura
subsequente se beneficiará dos resíduos da leguminosa.

2.7 Principais Doenças que Atacam o Gado

Febre aftosa

Os prejuízos que essa doença pode causar são inúmeros, pois sua persistência prejudica a
imagem da carne perante países importadores. Além disso, ela causa baixo desempenho
do animal na produção de carne e leite, em consequência da perda de apetite e da febre.

Essa doença tem causa virótica e é altamente contagiosa. Sua transmissão pode ocorrer
pela ingestão de água, alimentos no cocho e pastos contaminados pela saliva de animais
doentes. Um agravante dessa doença é que o vírus que a transmite é muito resistente,
podendo sobreviver durante meses em carcaças congeladas.

O gado contaminado apresenta vesículas e erosões na mucosa da boca, nas tetas e nos
espaços entre os dedos. A temperatura se eleva consideravelmente, acompanhada de
ranger dos dentes, falta de apetite, dificuldade de mastigar, estalos ruidosos da língua e
salivação abundante.

Brucelose

A brucelose bovina provoca processos inflamatórios no útero e na placenta, podendo até


mesmo ocasionar abortos, geralmente aos sete meses de gestação do feto. Por essa razão,
essa doença é também conhecida como aborto infeccioso. Para o produtor, essa doença
74
traz grandes prejuízos econômicos, uma vez que reduz a taxa de natalidade dos rebanhos
e faz diminuir a produção de leite.

Ela é causada por uma bactéria e disseminada geralmente por material contaminado,
como corrimento uterino, restos de placenta e líquidos fetais. Tais materiais, ao entrarem
em contato com a água, os pastos e os alimentos que são ingeridos ou mesmo com a pele
dos animais, transmitem a doença.

Na fêmea adulta, a brucelose pode ser detectada pela retenção da placenta, inflamação
uterina e subsequente aborto. Os touros podem se contaminar ao cobrirem as vacas,
contraindo epididimite, artrite e orquite. Nesses casos, os touros podem não apresentar
sintomas, mas têm o sêmen contaminado.

Carbúnculo sintomático

Essa enfermidade infecciosa ataca principalmente animais jovens e tem como


característica a inflamação dos músculos, principalmente dos membros posteriores. No
Brasil, ela causa prejuízos econômicos aos criadores, pois provoca a morte de bezerros.

Essa doença é causada por um microrganismo transmitido pela ingestão de água e


alimentos contaminados com esporos e pelas infecções de feridas cutâneas. Os sintomas
mais comuns são perda de apetite, tremedeira, pulso rápido, respiração difícil, apatia e
febre, além da manqueira e inchação crepitante dos músculos.

Para o tratamento de doenças, Brasil (2011) na Instrução Normativa nº 46, nos artigos 62
e 63 preconiza:

Art. 62. Todas as vacinas e exames determinados pela legislação de sanidade animal serão
obrigatórios.

Art. 63. No caso de doenças ou ferimentos em que o uso das substâncias permitidas no
Anexo II do Regulamento Técnico não esteja surtindo efeito e o animal esteja em
sofrimento ou risco de morte, excepcionalmente poderão ser utilizados produtos
quimiossintéticos artificiais:

75
§ 1º Quando se fizer uso de produtos quimiossintéticos artificiais, o período de carência
a ser respeitado, para que os produtos e subprodutos dos animais tratados possam voltar
a ter o reconhecimento como orgânicos, deverá ser duas vezes o período de carência
estipulado na bula do produto e, em qualquer caso, ser no mínimo de 96 horas;

§ 2º A utilização de produtos quimiossintéticos artificiais deverá ser sempre informada


ao OAC ou OCS, no prazo estabelecido por eles, que avaliarão a pertinência de sua
excepcionalidade e justificativa;

§ 3º Cada animal só poderá ser tratado com medicamentos não permitidos para uso na
produção orgânica por, no máximo, duas vezes no período de um ano;

§ 4º Se houver necessidade de se efetuar número maior de tratamentos do que o


estipulado no § 3º desse artigo, o animal deverá ser retirado do sistema orgânico;

§ 5º Durante o tratamento e no período de carência, o animal deverá ser identificado e


alojado em ambiente isolado do contato com os outros animais, obedecendo à densidade

Quadro 8.7: Relação de espécies de gramíneas forrageiras recomendadas para pastagens


de bovinos.

Fonte: Arcego (2005).

estabelecida por esse regulamento para cada espécie animal, sendo que ele, seus produtos,
subprodutos e dejetos não poderão ser vendidos ou utilizados como orgânicos.2.8
Tratamento

76
Quadro 9.8: Relação de substâncias permitidas na prevenção e
no tratamento de enfermidades dos animais orgânicos.

Substâncias

1. Enzimas;

2. Vitaminas;

3. Aminoácidos;

4. Própolis;

5. Microrganismos;

6. Preparados homeopáticos e biodinâmicos;

7. Fitoterápicos;

8. Florais;

9. Minerais;

10. Veículos inertes;

11. Sabões e detergentes neutros e biodegradáveis;

12. Peróxido de hidrogênio;

13. Tintura de iodo;

14. Permanganato de Potássio.

Fonte: Brasil (2011).

77
2.9 Síntese da Unidade

Nesta Unidade, conhecemos a taxonomia do gênero Bovis, a alimentação, as normas em


relação aos aspectos envolvendo o pastejo rotacionado em piquetes, as espécies, as
características e a qualidade das pastagens, bem como alguns sistemas. Abordamos
algumas espécies de gramíneas e leguminosas forrageiras. Em relação à sanidade, vimos
as principais doenças que atacam o gado e algumas formas de tratamento.

2.10 Para saber mais


Livros

• MELADO, J. Pastoreio Racional Voisin. [S. l.]: Aprenda Fácil, [s. d.].

Esse livro valoriza os aspectos práticos do Pastoreio Racional Voisin - PRV e suas
aplicações sem, contudo, menosprezar os fundamentos teóricos tão bem expostos
por Voisin e a experiência de seus principais seguidores.

• Plantas Forrageiras de A a Z

É um livro oportuno e necessário para aqueles que estudam e necessitam de


informações sobre plantas forrageiras, sobretudo as gramíneas e as leguminosas.
SILVA, Sebastião. Plantas Forrageiras de A a Z. Viçosa, MG: Aprenda Fácil, [s.
d.].

• FONTANELI, R. S.; SANTOS, H. P.; FONTANELI, R.S. Forrageiras para


Integração. Passo Fundo, RS: Embrapa Trigo, 2009.

• FONTANELI, R. S. et al. Lavoura-Pecuária-Floresta na Região Sul-Brasileira.


Passo Fundo, RS: Embrapa Trigo, 2009.

Aborda como a produção animal juntamente com a produção de grãos estão


viabilizando sistemas de exploração florestal de médio e longo prazos, constituindo
78
sistemas mais complexos, como silvipastoris, agropastoris e agrossilvipastoris ou
de integração lavoura-pecuária-floresta.

2.11 Atividades

Calcule o número de UA para 50 vacas em lactação, 45 vacas secas, 37 novilhas, 8


bezerros e 01 touro.

79
80
Unidade 3

Unidade 2 . Bovinocultura para Produção de


Carne Orgânica

3.1 Aspectos Gerais

A produção de pecuária de corte orgânica é baseada em princípios sustentáveis, que visam


ao desenvolvimento econômico e produtivo sem degradar o meio ambiente e, ao mesmo
tempo, valoriza o homem como o principal integrante do processo.

O manejo orgânico visa ao desenvolvimento econômico e produtivo que não polua, não
degrade e nem destrua o meio ambiente e que, ao mesmo tempo, valorize o homem como
o principal integrante do processo. A filosofia da produção orgânica é fornecer condições
que cumpram as necessidades em saúde e comportamento natural dos animais. Portanto,
a criação orgânica prioriza acesso ao campo livre, ao ar fresco, à água, ao sol, à grama,
ao pasto e à alimentação orgânica 100%. Os abrigos fornecidos devem ser designados
para permitir o conforto do animal e a oportunidade para exercícios.

Os padrões orgânicos requerem acompanhamento da produção e dos sistemas de


manipulação. Por exemplo, as operações de produção e manipulação devem ser efetuadas
sob inspeção e terem planejamento operacional ou agrícola a fim de serem certificadas
como orgânicas. Os padrões também especificam as necessidades em alimentação,
inclusive o que é ou não permitido.

As empresas certificadoras podem realizar quantas visitas forem necessárias, no mínimo


uma por ano, para manterem atualizadas as informações sobre os produtos certificados.
No Brasil, os principais órgãos certificadores são o Instituto Biodinâmico (IBD),
81
credenciado pela IFOAM, com selo aceito em mercados internacionais, e a Associação
de Agricultura Orgânica (AAO), que tem seu selo aceito apenas no mercado nacional.

Na produção orgânica, a criação não pode ser alimentada em recipientes plásticos ou com
fórmulas contendo ureia ou adubo. Aos animais não podem ser dados antibióticos ou
hormônios de crescimento. Para um animal crescer sob normas orgânicas, sua mãe deve
ter sido alimentada com ração orgânica pelo menos no último terço de gestação. O
controle é rígido e os animais são identificados por meio de uma ficha que contém o peso,
a alimentação e o calendário de vacinas.

Em operações de processamento, na manipulação simultânea de produtos cárneos


orgânicos e não orgânicos, os processadores devem separar a manipulação de ambos. Há
também agentes de limpeza específicos permitidos e proibidos em tais operações.

3.2 Rastreabilidade

A certificação orgânica de acordo com as normas internacionais é necessária para a


fazenda e as facilidades em processamento e manipulação antes da liberação aos
mercados de retalho. Como os fazendeiros e manipuladores devem manter registros
extensivos em sua fazenda, assim como planos de manipulação a fim de serem
certificados como orgânicos, o sistema de produção orgânica oferece rastreabilidade do
animal desde o nascimento até a comercialização da carne resultante. Por esse motivo,
quando se adquire carne orgânica, há garantia de rastreabilidade.

3.3 Comércio de Carne Orgânica

Comércio de carne orgânica

Para se comercializar a carne bovina orgânica ou seus derivados sob selo orgânico, os
mesmos devem ser produzidos em unidades de produção orgânica, seguindo

82
rigorosamente todas as normas técnicas determinadas por uma empresa de certificação
credenciada junto ao Poder Público. Além disso, o sistema de produção de carne orgânica
deve estar inserido em uma filosofia holística que se preocupe também com os aspectos
sociais e ambientais envolvidos. Um exemplo de norma fora do estrito contexto da
produção orgânica é a exigência que todas as crianças da fazenda estejam frequentando
regularmente uma escola.

A carne, quando comercializada sob essa tutela, já é por si própria 100% orgânica. Se um
consumidor adquirir hambúrguer orgânico, por exemplo, significa que toda a carne foi
produzida organicamente.

No Brasil, entre os principais produtores de carne bovina orgânica, a Associação


Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) assumiu uma posição de vanguarda nesse
sentido, ao ampliar sua visão de produção de carne orgânica para incluir questões de
sustentabilidade, inclusive avançando nesses procedimentos em suas práticas produtivas.
Por isso, adotou um protocolo interno de processos produtivos e de responsabilidade
socioambiental, que regulamenta as atividades da associação e define os princípios de
envolvimento, implantação e monitoramento do comprometimento dos seus associados.

Além das exigências usuais da produção orgânica previstas na legislação brasileira e pelas
agências de certificação orgânica, o protocolo inclui um diagnóstico socioambiental das
propriedades rurais, com objetivo de criar uma base de dados para avaliar os ganhos
sociais e ambientais de longo prazo. Para realização dos diagnósticos, a ABPO
estabeleceu parceria com uma organização não governamental de produtores rurais, a
Aliança da Terra, que utiliza indicadores de sustentabilidade para determinar o
desempenho socioambiental de cada propriedade. Há ainda diversas orientações técnicas
específicas a serem seguidas, como as recomendações da Embrapa Pantanal quanto ao
manejo das pastagens, na preservação de áreas de capões e cordilheiras e na conservação
dos recursos hídricos. Finalmente, os compromissos assumidos no protocolo são
monitorados por um programa de auditoria interna da própria associação. Além da
atuação pró-ativa da ABPO, que é garantia que seus produtores vão “além do orgânico”,
a associação tem a vantagem de produzir em um ecossistema com aptidão natural para a
produção de bovinos de corte orgânicos, o Pantanal, cujo sistema de produção de gado de
83
corte é desenvolvido com características que o aproximam do sistema de produção
orgânico (EMBRAPA, 2008).

3.4 Produção – Fases

3.4.1. Fases da Criação

A produção da pecuária de corte é caracterizada pelas fases de cria, recria e terminação


ou engorda, as quais são desenvolvidas como atividades isoladas ou combinadas de forma
a se complementarem, suas características são:

Fase de cria

Compreende o período de cobertura até a desmama. A composição do rebanho é feita


pelas fêmeas em reprodução, podendo estar incluída a recria de fêmeas para reposição,
para crescimento do rebanho e para venda. Todos os machos são vendidos imediatamente
após a desmama, em geral com seis a nove meses de idade. Além dos machos
desmamados, são comercializados bezerras desmamadas excedentes, novilhas, vacas e
touros. Em geral, as bezerras desmamadas e as novilhas jovens (um a dois anos) são
vendidas para reprodução, enquanto as novilhas de dois a três anos, as vacas e os touros
descartados se destinam ao abate.

Fase de cria e recria

Difere da anterior pelo fato de os machos serem retidos até 15 a 18 meses de idade, quando
então são comercializados. Estes são comumente denominados garrotes.

Fase de cria recria e engorda

Considerada uma atividade de ciclo completo, assemelha-se às anteriores, porém os


machos são vendidos como bois gordos para abate, com idade de 15 a 42 meses,
dependendo do sistema de produção adotado.
84
Fase de recria e engorda

Essa atividade tem início com o bezerro desmamado e termina com o boi gordo.
Entretanto, em função da oferta de garrotes de melhor qualidade, também pode começar
com esse tipo de animal, o que, associado a uma boa alimentação, reduz o período de
recria/engorda. O mesmo ocorre com bezerros desmamados de alta qualidade. Embora
essa atividade tenha predominância de machos, verifica-se também a utilização de
fêmeas.

Fase de terminação ou engorda

Nas décadas passadas, foi exercida pelos chamados “invernistas”. Estes se localizavam
em regiões de boas pastagens e aproveitavam a grande oferta de boi magro (24 a 36 meses
de idade) da época. Atualmente, encontra-se bastante restrita como atividade isolada,
sendo desenvolvida por um número reduzido de pecuaristas que também fazem a
terminação de fêmeas. Essa mudança de cenário se deve à expansão das áreas de
pastagens cultivadas em regiões onde tradicionalmente não existiam e, por consequência,
à redução da oferta de boi magro.

3.5 Sistemas de Criação

Os sistemas de produção agroecológicos buscam produtividade, equilíbrio, estabilidade,


resistência, confiabilidade, adaptabilidade e uma gestão eficiente. Todas essas premissas
são fundamentais para atingir um sistema de produção pecuária verdadeiramente
“orgânico”. Portanto, o crescimento da pecuária orgânica deve ser baseado numa visão
holística que promova a “maturidade” ambiental e socioeconômica da propriedade, pelo
uso racional dos recursos naturais, da diversificação de espécies e da integração de
atividades dentro da propriedade, fundamentais para o sucesso do empreendimento.

Os sistemas de criação para bovinos a princípio são três, o intensivo o semiextensivo e o


extensivo. Considerando-se a produção orgânica, temos:
85
Sistema semi-intensivo

Apresenta como base alimentar as pastagens (nativas ou cultivadas) e os suplementos


minerais, acrescidos de suplementos proteicos/energéticos. O objetivo é alcançar uma
pecuária de ciclo mais curto, suplementando os animais em suas diversas fases de
crescimento (aleitamento, recria e engorda), dependendo das metas de produção de cada
sistema. Existe uma diversidade de ingredientes para compor os concentrados conforme
as características regionais. Nesse aspecto, devemos ressaltar que a pecuária orgânica
somente poderá utilizar concentrados energéticos e proteicos de cultivo orgânico e para
os suplementos proteicos/energéticos o uso de ureia é proibido. Entretanto, as fontes
energéticas mais utilizadas são milho, sorgo, aveia e milheto, e as proteicas são farelo de
soja, farelo de algodão, farelos de caroço de algodão, farelos de glúten de milho, grão de
soja, além de diversos subprodutos da agroindústria (farelo de arroz, farelo de trigo, polpa
cítrica, polpa de tomate, casquinha de soja). Estima-se que 80% dos sistemas semi-
intensivos praticados no país estão concentrados no centro-sul e em pequenos núcleos das
regiões Norte e Nordeste.

Sistema extensivo

Os animais são soltos em grandes áreas, aproveitando os recursos naturais, geralmente


em pastagens nativas com baixa capacidade de suporte e pouco investimento em
equipamentos e instalações. Os animais vivem o ano todo em campos naturais e os
rebanhos em geral são grandes, principalmente os rebanhos de cria.

3.6 Reprodução

Para que o manejo do rebanho de cria seja conduzido, é necessário que todos animais
sejam identificados. De acordo com a identificação dos animais, é possível verificar o
registro das ocorrências, como data de parto e intervalo entre partos, o que possibilita a
identificação dos animais improdutivos e que devem ser descartados por baixa

86
produtividade. Isso é de suma importância, visto que uma eficiente produção de bezerros
é necessária para manter o sistema de produção de carne.

O sistema de monta mais simples é aquele em que o touro permanece no rebanho durante
todo o ano. Nessa condição, os nascimentos se distribuem por vários meses do ano,
podendo ocorrer em épocas inadequadas, dificultando o manejo, não formando lotes
homogêneos, prejudicando o desenvolvimento dos bezerros e a fertilidade das fêmeas.

A estação de monta é o período estabelecido para que se obtenha concepção das matrizes
no rebanho por meio da monta natural. As vantagens em se definir uma estação de monta,
vão além da parição em uma época do ano favorável do ponto de vista das condições
ambientais, pois evita o desgaste dos touros, já que eles são poupados em épocas em que
as pastagens são menos produtivas. Ademais, outras vantagens da utilização da estação
de monta é o aperfeiçoamento da fertilidade e produtividade do rebanho, em virtude da
melhora do manejo nutricional.

A escolha do período do ano a ser estabelecido como estação de monta deve ter, como
critério prioritário, fatores que permitam o pleno funcionamento do sistema reprodutor da
matriz, razão por que a disponibilidade de alimento é fator determinante. Vacas que
chegam ao parto com boa condição corporal e encontram razoável disponibilidade de
alimento no pós-parto estarão aptas a retornar à atividade ovariana e conceber em período
de serviço inferior a 90 dias (PIRES, 2010).

O período da estação de monta pode se estender por até 120 dias, visto que a característica
do sistema de produção orgânico é trabalhar com animais rústicos sem intensificação de
tecnologia, com cio e cobertura naturais, sem inseminação artificial – que é proibida –,
sem uso de hormônios, de sincronização de cio ou qualquer outra técnica que possa
interferir no comportamento natural do animal. Para a relação touro-vaca, o tradicional é
de 1:25, essa relação foi estabelecida de forma aleatória e grande parte dos pecuaristas a
utilizam na prática.

A puberdade nos bovinos ocorre com o aparecimento do primeiro cio, o que não significa
que as fêmeas estão aptas à reprodução. Nas fêmeas das raças de grande porte, a

87
maturidade fisiológica ocorre quando o peso corporal atinge entre 320 na 350 kg de peso
vivo.

Com relação à atividade reprodutiva, as raças de bovinos de corte são poliéstricas anuais,
ou seja, desde que bem nutridas apresentam cio a intervalos médios de 21 dias, com
período de duração aproximada de 14 a 16 horas.

É importante combinar o ciclo de produção com a qualidade e a disponibilidade de


forragem. É fato conhecido que as exigências nutricionais das matrizes são mais elevadas
nos dois a três meses que antecedem o parto e quase no mesmo período após o parto,
assim a época de parição deve coincidir com a disponibilidade e a qualidade da forragem.

3.6.1 Cuidados com as Fêmeas Gestantes e Recém-nascidos

Novilhas prenhes devem ser manejadas em área distinta da das vacas e observadas com
maior frequência. As fêmeas mais próximas do parto devem ser conduzidas aos pastos-
maternidade, os quais devem ser constituídos por áreas de gramíneas de pequeno porte e
hábito de crescimento rasteiro, bem drenadas, com água e de preferência com sombra. Os
animais devem ser conduzidos para lá 15 dias antes da parição e retirados após 15 dias da
parição, onde serão conduzidas para os pastos de cria. Outra recomendação importante é
que os pastos-maternidades sejam localizados próximos do curral.

A vaca, no momento do parto, tende a se afastar do rebanho em busca de uma parição


tranquila e de tempo suficiente com a cria para que se gravem na memória visual, olfativa
e auditiva, por isso não deve haver nenhuma interferência externa, principalmente no
pasto-maternidade das novilhas. Terminado o trabalho de parto, a vaca lambe
vigorosamente a cria e o bezerro irá mamar o colostro, que é fundamental para sua
sobrevivência.

A desinfecção do umbigo deve fazer parte do manejo da cria e a membrana umbilical


pode ou não ser cortada, ficando com cinco centímetros de comprimento. Após isso, deve-
se passar uma solução de iodo a 10%, procedimento que deve ser repetido por três dias
caso necessário. O objetivo da desinfecção do umbigo é promover a cicatrização e
impedir a ocorrência de inflamação ou bicheira.
88
Nessa fase delicada do pós-parto, o comportamento maternal da vaca deve ser avaliado:
se procura estar próxima à cria e defendê-la da presença de urubus, espécies carnívoras e
também de outros bovinos. Novilhas, por serem inexperientes e apresentarem maior
sensibilidade nas tetas, podem se afastar muito do bezerro nos estágios iniciais da vida,
prejudicando a primeira mamada ou mesmo contribuindo para que suas crias sejam
roubadas por outras fêmeas prenhes. Os cuidados iniciais, somados ao peso do bezerro na
desmama, irá identificar as boas mães do rebanho, aquelas com melhor habilidade
materna.

Alimentação suplementar para o bezerro com concentrado orgânico em cochos


privativos, chamados de creep-feeding, pode ser usada para atingir maior peso na
desmama. Para o gado de corte, a instalação do creeper deve possibilitar que o bezerro
tenha acesso à alimentação suplementar com quantidades crescentes de concentrado
dentro do limite de 2 a 2,5kg/cab./dia, além de amamentação livre e pastagens de boa
qualidade.

A desmama é o momento da apartação definitiva do bezerro da mãe, o que de forma


natural pode ocorrer entre oito e nove meses de idade. Os pastos de desmama devem ser
isolados por distância física das áreas reservadas às mães, devem ter boas pastagens para
os bezerros, boa aguada e de fácil acesso. Algumas vacas ou garrotes mais velhos podem
ser deixados no pasto como “madrinhas” do lote. Caso o desmame ocorra na seca, os
animais deverão ser suplementados, sendo na segunda seca, a suplementação também é
fator importante para que os bois possam atingir o peso de abate em idade mais jovem,
apresentando carne de melhor qualidade.

89
3.7 Manejo Geral

3.7.1 Cercas

As cercas podem ser de diversos tipos, mas, de maneira geral, são mais reforçadas nas
divisas da propriedade, junto às estradas e às áreas de lavoura. Uma boa cerca deve ser
construção simples, durável e ser efetiva na contenção dos bovinos. Existem diferenças,
quanto a essa efetividade, nos tipos de cerca destinados à contenção de vacas de cria,
bezerros, garrotes ou bois de engorda. Os tipos de cerca mais comuns são: cerca de arame
farpado, cerca de arame liso e cerca elétrica.

As cercas devem ser construídas com madeira de reflorestamento e tratadas de forma


natural, por exemplo com solução de própolis. Devido à durabilidade, normalmente ela é
de arame farpado onde a topografia é acidentada, feita com três a quatro fios de arame e
mourões com dois metros de distância ou, no máximo, três metros. A proximidade entre
os mourões é que estabelece a contenção, porém a elevada quantidade de mourões é de
alto custo.

As cercas de arame liso, por sua vez, têm forte adoção devido ao menor custo de
construção, já que os mourões podem ter espaçamento de 8 a 16 metros, com balancins a
cada 2 metros. Nesse modelo, normalmente cinco fios de arame, esticados com catracas,
atravessam o mourão por meio de furos. As cercas elétricas proporcionam grande
economia em relação às cercas convencionais, tanto em quantidade de mourões e arame
quanto em facilidade de instalação. Entretanto, devem ser construídas de maneira correta
e bem instaladas para que funcionem adequadamente.

3.7.2 Instalações

Segundo Pires (2010), nos sistemas de produção de bovinos de corte a pasto, as


instalações são simples, uma vez que não há necessidade de alojar os bovinos para
fornecer alimentação. Porém, a produção a pasto demanda grandes extensões de cerca,
estradas e corredores, além da distribuição adequada de cochos para suplementação
90
mineral, bebedouros, currais de manejo, rede hidráulica, rede elétrica, moradias, já que
os animais permanecem e se alimentam nos pastos, que são áreas extensas. Instalações
demandadas em grandes quantidades e extensão devem ser eficientes e duráveis, evitando
elevados investimentos e uso de mão de obra para manutenção.

A quantidade de divisões nas áreas de pastagens depende do número de categorias do


rebanho e do tipo de pastejo utilizado no sistema de produção, mas não se deve esquecer
que a produção orgânica espera que os animais sejam criados em liberdade, da forma mais
natural possível, geralmente cabendo o sistema extensivo ou semiextensivo de produção.

O curral é uma instalação de suma importância na produção de bovinos de corte, visto a


necessidade de manejar os animais nas mais diversas necessidades, da simples apartação
de categoria à aplicação de vacina, pesagem, ao embarque do gado ou curativo quando
necessário. O curral deve conter as seguintes estruturas, segundo Pires (2010):

✓ REPARTIÇÕES: são as divisões internas do curral, servem para estocar o gado


a trabalhar ou já trabalhado. De um modo geral, para não adensar os animais, o
curral deve ter um espaçamento de 2,5 m por cabeça.

✓ SERINGA: serve para direcionar os animais para o brete. Geralmente, é uma


estrutura de tábuas reforçadas que se afunila em direção ao início do corredor do
brete.

✓ BRETE: é um corredor de tábuas fortes ou vigotas, com largura de 0,6 a 1,0 m e


altura de 1,6 a 1,7 m, em que os bovinos entram em fila e podem ser trabalhados,
geralmente por cima, devendo ser construída numa plataforma de 1 m de altura.

✓ TRONCO: é uma estrutura de contenção e imobilização individual,


normalmente os produtores adquirem o tronco pronto de empresas
especializadas.

✓ BALANÇA: é uma estrutura obrigatória na produção de gado de corte, uma vez


que os animais são comercializados de acordo com seu peso. A balança permite
acompanhar o ganho de peso dos animais, pode ser mecânica ou eletrônica.

91
✓ APARTADORES: podem ser de canto de curral, na saída do tronco e na saída
da balança.

✓ EMBARCADOR: o embarcador quase sempre é uma extensão do eixo brete-


tronco-balança, é um corredor com 0,8 a 1,0 m de largura, cercado de tábuas, com
altura de 1,8 a 2,0 m, conforme deve ser também o curral, cujo piso se eleva em
forma de rampa até a altura do caminhão boiadeiro. Deve ter 4 m de rampa e mais
2 m de piso plano horizontal na sua extremidade final. O objetivo desse desenho
é evitar contusões e hematomas nos bois por ocasião do embarque.

3.7.3 Sanidade

Segundo Resende & Signoretti (2005), no sistema orgânico de produção de carne bovina,
os cuidados com a saúde e o bem-estar dos animais dependem da observação dos
seguintes princípios preventivos:

✓ Escolha da raça apropriada, adaptada e resistente;

✓ Aplicação de manejo apropriado aos animais, satisfazendo às necessidades da


raça, que promove a resistência a doenças e infecções;

✓ Fornecimento de alimentação de alto valor biológico, com exercícios e rotação de


pastos, que estimulem a resistência e imunidade natural dos animais;

✓ Manejo em densidade m ou hectare que permita o bem-estar e que iniba problemas


de saúde.

Com as medidas acima, é possível manejar animais de maneira natural e limitar os


problemas de saúde ao máximo. Se for necessário um manejo terapêutico, este deverá ser
preferencialmente natural, recorrendo-se a medicamentos sintéticos somente em último
caso, sem levar o animal ao sofrimento desnecessariamente, mesmo que isso leve à perda
da certificação orgânica (RESENDE & SIGNORETTI, 2005).

Ainda, segundo os autores acima, o tratamento de animais com medicamentos sintéticos,


sempre que o manejo permitir, deverá ser feito em ambientes separados dos animais
92
saudáveis e a aplicação e uso de medicamentos veterinários no manejo orgânico devem
seguir os seguintes princípios:

✓ Uso de produtos fitoterápicos, homeopáticos, acupuntura e minerais


prioritariamente;

✓ Caso a doença ou problema não tenha solução, poderão ser aplicados


medicamentos sintéticos ou antibióticos, sempre com acompanhamento do
veterinário responsável;

✓ O uso preventivo de medicamentos sintéticos alopáticos ou de antibióticos é


proibido;

✓ O uso de hormônios para indução de cio ou para estimular produtividade, além


dos promotores de crescimento, como antibióticos e coccidiostáticos, são
proibidos;

✓ Vacinas obrigatórias por lei são permitidas (aftosa e ou raiva), assim como
vacinas profiláticas se as doenças estiverem ocorrendo de forma endêmica ou
epidêmica;

✓ Não é permitida a indução ao parto, exceto por recomendação do veterinário.

Os animais tratados com medicamentos sintéticos alopáticos ou antibióticos deverão ser


identificados por lote, em caso de grandes animais individualmente.

Deverá haver registro, à disposição do inspetor, de toda e qualquer administração de


medicamentos a animais. Antes da administração medicamentosa, a consulta na
certificadora é recomendável e, no caso de quimioterápicos proibidos ou restritos por
essas diretrizes, a consulta é indispensável.

A aplicação de medicamentos deverá ter o acompanhamento e a autorização médica. O


prazo de carência para uso dos produtos oriundos de animais tratados de forma alopática
sintética ou com antibióticos é de o dobro do tempo recomendado pelo fabricante.

Se um lote de animais for tratado de forma alopática ou com antibiótico mais do que três
93
vezes, ele perderá a certificação, devendo cumprir prazo de carência para liberação como
orgânico.

3.7.4 Transporte e Abate

As atividades de transporte e abate deverão minimizar ao máximo o estresse do animal


(deve-se considerar um tempo para o descanso dos animais). A distância de transporte até
o abatedouro deve ser a menor possível. O meio de transporte deve ser adequado à espécie
animal. Os animais devem ser alimentados de preferência com alimentos orgânicos e ter
água disponível durante o transporte, dependendo do clima e da distância. Deve-se evitar
o contato dos animais com os já abatidos. Os animais devem ser insensibilizados antes de
abatidos. O uso de dióxido de carbono é proibido. O uso de estímulos elétricos para
condução animal é proibido, assim como métodos de abate lentos e ritualísticos. Não
deverão ser administrados tranquilizantes ou estimuladores sintetizados quimicamente,
antes ou durante o transporte. Se possível, animais de sexos diferentes não devem ser
transportados juntos, devendo ser conduzidos de maneira pacífica. O transporte dos
animais da propriedade para o abatedouro não deverá exceder oito horas. Exceções nesse
sentido poderão ocorrer se o operador apresentar justificativas e esclarecer como será
minimizado o estresse nos animais (RESENDE & SIGNORETTI, 2005).

3.8 Raças

Nelore

Nelore é uma raça de gado bovino originária da Índia. Os primeiros exemplares da raça
chegaram ao Brasil, entre 1878 e 1883, e rapidamente se tornaram a raça de gado
predominante no rebanho brasileiro.

A pelagem típica é branco-cinza, mas os machos apresentam pescoço e barbela mais


escuros. A variedade com chifre é chamada de nelore padrão, visto que no país foi
formada uma variedade de nelore mocho.

94
No Brasil, é o gado indiano mais selecionado para produção de carne. Apresenta uma
Figura 3.1: Nelore conformação excelente, é uma raça de
grande porte, na idade adulta os machos
podem atingir 1200 kg de peso vivo e as
fêmeas, 800 kg. É uma raça rústica com
boa capacidade de ganho de peso. É muito
participativa no rebanho nacional onde se
estima que 80% do gado de corte seja
nelore ou anelorado.
Fonte:
<://www.semenbovino.com.br/nelore.htm>.
Acesso em: 06 nov. 2016. Guzerá

As primeiras importações datam de 1882 e 1887 por iniciativa de criadores do Rio de


Janeiro, mas foi a partir de 1910 que grandes levas foram importadas pelos criadores
mineiros que se encarregaram da difusão da raça para outras regiões.

A raça apresenta chifres bem desenvolvidos apontados para cima em forma de lira,
orelhas largas e medianas, com pelagem variando do cinza claro ao escuro.

No Brasil, o Guzerá é utilizado para produção de carne e de leite, é uma raça de grande
porte, os animais adultos atingem 900 kg e 600 kg de peso vivo, machos e fêmeas
respectivamente. É uma raça rústica, com boa capacidade de ganho de peso comparáveis

Figura 3.2: Guzerá

Figura 3.3: Tabapuã

Fonte:
Fonte: <http://cdn.ruralcentro.com.br/1/2012/6/28/guzera-ilha-funda-full.jpg>. Acesso
<http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/
em: 06 nov. 2016.
historia-da-raca-tabapua-56229>.
Acesso em: 06 nov. 2016.
95
ao Nelore. Devido à sua capacidade leiteira, em várias regiões ele foi selecionado para
formação de linhagens leiteiras.

Tabapuã

Raça nacional originária do Estado de São Paulo, formada a partir de 1940, na Fazenda
Água Milagrosa, no município de Tabapuã. O rebanho inicial formou-se por meio de um
touro mocho, filho de reprodutor Nelore, acasalado com fêmeas Nelore, Guzerá e Gir.
Devido à qualidade de seus descendentes, foi aproveitado intensamente em
acasalamentos com filhas e netas, fixando, por meio de seleção, um novo tipo de gado
para corte.

A pelagem é branca ou cinza, as orelhas são de tamanho médio, relativamente largas e


voltadas para face. É uma raça de grande porte, as fêmeas adultas atingem 600 kg de peso
vivo e os machos 1000 kg de peso vivo. Os animais apresentam boa capacidade de ganho
de peso e, devido à boa habilidade materna, os bezerros crescem saudáveis (PIRES,
2010).

Brahman

Raça originária do Sul dos Estados


Figura 3.4: Brahman Unidos, da região costeira do Golfo do
México, com formação inicial em dois
importantes núcleos de criação no
Estado do Texas, após grande
importação de gado zebu diretamente da
Índia em 1906, incluindo animais da
raça Nelore, Guzerá, Krishna Valley,
Gir e Sindi. No Brasil, o Ministério da
Agricultura liberou a importação do
Fonte: <http://www.beefpoint.com.br/cadeia-
produtiva/racas-e-genetica/brahman-conheca-
gado Brahman dos Estados Unidos, em
a-raca-zebuina-que-preza-pela-habilidade- 1994.
materna-e-qualidade-de-carcaca-projeto-
racas/>. Acesso em: 06 nov. 2016.

96
É uma raça de grande porte, com pelagem branco-cinza, é mais baixo que o gado zebu da
Índia, porém de tronco mais compacto e profundo. O peso adulto é de 725 a 1000 kg e de
540 a 680 kg, para machos e fêmeas respectivamente. Apresenta acentuada tolerância ao
calor, boa longevidade e elevada habilidade materna, desmamando bezerros pesados.

3.9 Síntese da Unidade

Nesta Unidade, vimos alguns aspectos gerais da bovinocultura orgânica de corte,


rastreabilidade, comércio de carne orgânica, fases da produção, sistemas de criação,
reprodução e cuidados com as fêmeas gestantes e os recém-nascidos.

Vimos aspectos em relação ao manejo geral, como cercas, instalações, sanidade,


transporte e abate, bem como as principais raças adaptadas à produção orgânica de carne.

3.10 Para saber mais


Sites

• http://www.aptaregional.sp.gov.br/acesse-os-artigos-pesquisa-e-
tecnologia/edicao-2005/2005-julho-dezembro/127-sistema-organico-de-
producao-de-carne-bovina/file.html

3.11 Atividades

Resuma as principais características zootécnicas das raças bovinas produtoras de carne.

97
98
Unidade 4

Unidade 2 . Bovinocultura para Produção de Leite


Orgânico

4.1 Aspectos Gerais

A produção orgânica de leite é uma demanda atual da sociedade. O consumidor deseja


um produto de qualidade a preço justo, saudável do ponto de vista da segurança alimentar,
livre de perigos biológicos (cisticercose, brucelose, tuberculose, príons, etc.) e de ameaças
químicas (carrapaticidas, antibióticos, vermífugos, hormônios, etc.), produzido com
menor uso de insumos artificiais e preservando o bem-estar animal. Além disso tudo,
existe a preocupação com a preservação do meio ambiente e da biodiversidade e com o
papel social da atividade agropecuária, como a geração de empregos no campo e
diminuição do êxodo rural (SOARES, 2008). Um dos desafios para a produção orgânica
de leite é a logística e a comercialização. O leite orgânico ainda é comercializado em
pequena escala, principalmente em padarias, minimercados, feiras livres, lojas e cestas a
domicílio, em razão das exigências de legislação sanitária, mas legislações estaduais e
municipais vêm facilitando as ações de pequenos agricultores e agroindústrias de pequeno
porte.

4.2 Sistemas de Criação

Os sistemas de produção agroecológicos buscam produtividade, equilíbrio, estabilidade,


resistência, confiabilidade, adaptabilidade e uma gestão eficiente. Todas essas premissas
são fundamentais para atingir um sistema de produção pecuária verdadeiramente
99
“orgânico”. Portanto, o crescimento da pecuária orgânica deve ser baseado numa visão
holística que promova a “maturidade” ambiental e socioeconômica da propriedade, pelo
uso racional dos recursos naturais, da diversificação de espécies e da integração de
atividades dentro da propriedade, fundamentais para o sucesso do empreendimento.

Os sistemas de criação para bovinos a princípio são três, o intensivo, o semiextensivo e o


extensivo. Considerando-se a produção orgânica, temos os mesmos sistemas para os
bovinos de corte:

Sistema semi-intensivo

Apresentam como base alimentar as pastagens (nativas ou cultivadas) e os suplementos


minerais, acrescidos de suplementos proteicos/energéticos. O objetivo é alcançar uma
pecuária de ciclo mais curto, suplementando os animais em suas diversas fases de
crescimento (aleitamento, recria e engorda), dependendo das metas de produção de cada
sistema. Existe uma diversidade de ingredientes para compor os concentrados conforme
as características regionais. Nesse aspecto, devemos ressaltar que a pecuária orgânica
somente pode utilizar concentrados energéticos e proteicos de cultivo orgânico e
suplementos proteicos/energéticos sem ureia. As fontes energéticas mais utilizadas são
milho, sorgo, aveia e milheto, e as proteicas são farelo de soja, farelo de algodão, farelos
de caroço de algodão, farelos de glúten de milho, grão de soja e diversos subprodutos da
agroindústria (farelo de arroz, farelo de trigo, polpa cítrica, polpa de tomate, casquinha
de soja). Estima-se que 80% dos sistemas semi-intensivos praticados no país estão
concentrados no centro-sul e em pequenos núcleos das regiões Norte e Nordeste.

Sistema extensivo

Os animais são soltos em grandes áreas, há o aproveitamento de recursos naturais,


geralmente pastagens nativas com baixa capacidade de suporte e baixo investimento em
equipamentos e instalações. Os animais vivem o ano todo em campos naturais e os
rebanhos, em geral, são grandes, principalmente os rebanhos de cria.

100
4.3 Alimentação

Vacas leiteiras apresentam uma elevada necessidade nutricional para conseguir manter-
se e produzir de forma adequada, o que implica a necessidade de volumoso suficiente
para atender às necessidades nutricionais ao longo do ano. Considerando-se a
estacionalidade de produção das plantas forrageiras tropicais, é fundamental a produção
de forragem na forma de capineiras, as quais apresentam elevada capacidade produtiva,
sendo o capim-elefante uma alternativa para corte no período das águas ou utilizar esse
alimento na forma de silagem no período seco. Outra alternativa é o uso da cana, cujo
momento ideal para corte é o período da seca, além das leguminosas citadas na Unidade
2 desse livro-texto. Também podem ser utilizadas forragens conservadas e o feno, que é
obtido por desidratação do material produzido na época das águas para ser suplementado
na época de escassez de forragem.

4.3.1 Capineiras

As áreas da propriedade cultivadas com gramíneas destinadas ao corte para fornecimento


no cocho, sob a forma de forragem verde picada, são denominadas capineiras. Elas devem
ser estabelecidas, preferencialmente, em áreas próximas ao curral, facilitando sua
utilização e reduzindo a necessidade de mão de obra (AUAD et al., 2010).

As espécies usadas normalmente apresentam porte alto e elevado potencial de produção


de forragem. Essas são características marcantes do capim-elefante (Pennisetum
purpureum), que é a gramínea para o estabelecimento de capineiras.

A escolha do capim-elefante está diretamente relacionada à sua adaptação às condições


de clima e solo da região de cultivo, bem como ao nível tecnológico a ser empregado no
manejo da capineira. As cultivares mais comuns usadas para a formação de capineiras,
segundo Auad et al. (2010), são: mineiro, napier, mercker, pioneiro, taiwan A-146,
cameron, roxo e mott.

101
São necessários a correção do solo com calcário, o preparo do solo com aração e
gradagem, a execução de sulcos com profundidade de 25 a 30 cm para o plantio das mudas
do capim-elefante. O espaçamento entre as sementes deve ser de 50 a 70 cm, uma vez
que plantios mais espaçados proporcionam menor estande e favorecem o aparecimento
de plantas daninhas.

A adubação de plantio deve ser calculada com base na interpretação dos resultados da
análise prévia do solo. Para a adubação fosfatada, no plantio deve ser utilizada uma fonte
de fosfato de rocha, visto que os adubos químicos não são permitidos nesse sistema de
produção.

Com relação à adubação orgânica, de forma geral, aplicações entre 20 a 50 t/ha de esterco
bovino curtido é o recomendado. Normalmente de 3 a 4 toneladas de mudas são
suficientes para formar 1 ha de capineira. Os colmos devem ser distribuídos no fundo do
sulco, dois a dois, colocados em esquema de pé com ponta. As mudas devem ser cobertas
com 10 a 15 cm de terra. Para manter a área livre de plantas daninhas, proporcionando
melhores condições ao desenvolvimento da forrageira, devem ser feitas capinas sempre
que necessário. Uma vez estabelecida a capineira, seu corte deve ser feito rente ao solo,
estimulando o perfilhamento das touceiras. O material colhido deve ser picado e
disponibilizado no cocho para os animais.

4.3.2 Cana-de-Açúcar

A cana de açúcar apresenta uma série de características favoráveis à utilização. De acordo


com Auad et al. (2010), essas características são:

• alta produtividade de forragem;

• cultura de tradição no Brasil, com implantação e manejo simples;

• período de maturação e colheita coincidente com a escassez de forragem,


dispensando sua conservação;

• qualidade constante durante o período seco;

102
• cultura perene, sendo cortada anualmente, com pequeno risco de frustação de
safra;

• boa palatabilidade de forragem e aceitação pelos animais.

A qualidade nutricional da cana-de-açúcar pode ser corrigida com uso de leguminosas e


suplementação mineral adequada.

Para o preparo de solo e de sulcos, os procedimentos são os mesmos daqueles indicados


para a formação do capim-elefante, mas com espaçamento entre sulcos de 1,0 a 1,3 m.
De modo geral, são necessárias em torno de 10 a 12 toneladas de mudas para formar um
hectare de canavial. Uma vez no sulco, as mudas devem ser cortadas com facão ou
enxadão, em toletes menores, contendo de 3 a 4 gemas, para obter uma brotação mais
rápida e uniforme. É importante ressaltar que o plantio da cana deve ser feito no início do
período chuvoso para que a colheita se faça na próxima seca com plantas com idade de
aproximadamente oito meses. Caso o plantio atrase por algum motivo, o primeiro corte
não será no primeiro ano.

4.3.3 Pastagem

Entre os experimentos relacionados ao cultivo de pastagens orgânicas, Figueiredo &


Soares (2012) apresentam um resumo de diversos experimentos nos quais o capim
Tanzânia (Panicum maximum Jacq cv. Tanzânia), em consórcio com o calopogônio
(Calopogonium mucunoides Desv.), mostra-se uma alternativa viável para melhorar a
qualidade nutricional, aumentando o rendimento de matéria seca (MS) e os teores de
proteína bruta (PB). Observam também que o capim-elefante (Pennisetum purpureum
Schum. Cv. cameron), em consórcio com o siratro (Macroptilium atropurpureum), e a
cana-de-açúcar, em consórcio com feijão guandu (Cajanus cajan), também melhoraram
o valor proteico, a qualidade e a produção da capineira. Para o capim-elefante em
consórcio com o siratro, observou-se em média a produção de 20,1 ton/ha/ano.

Segundo os mesmos autores, a produção de leite, observada com base na utilização das
pastagens e volumosos consorciados, apresentou diferenças significativas entre os
períodos das águas e de seca de 2006 a 2008. Mesmo o aumento da qualidade do
103
volumoso em consórcio com leguminosas não foi suficiente para manter a qualidade da
dieta dos animais. A média da produção por vaca oscilou entre 7,2 a 10,9 kg/vaca/dia para
o período seco e das águas, respectivamente, nos três anos avaliados. Esses dados são
semelhantes aos encontrados para a produção de leite orgânico nos levantamentos
realizados no Brasil de 9,2 kg/dia, durante a época das chuvas, e de 8,2 kg/dia na seca
(AROEIRA et al., 2005). Houve diferenças significativas também entre o período das
águas nos anos de 2006 e 2008 em relação à produção de leite das vacas em pastagem
consorciada do capim-tanzânia com o calopogônio em comparação com a produção de
daquelas em pastejo em áreas exclusivas com capim-tanzânia, (10,9 e 9,0 kg/vaca/dia e
10,8 e 8,9 kg/vaca/dia, respectivamente).

As exigências de proteína bruta para manutenção de vacas produzindo em torno de 9 litros


de leite/vaca/dia e pesando em média 505 kg de peso vivo não foram satisfeitas
exclusivamente com os volumosos suplementares no período seco e com a pastagem no
período de chuvas. Pelo balanço de matéria seca ingerida, proteína bruta e energia do
sistema de produção orgânica de leite, apenas atenderam às necessidades de energia. Para
cobrir as exigências de proteína em ambos os períodos, foram administrados concentrados
proteicos com 18 e 20% de PB nos períodos das águas e seco, respectivamente, na
quantidade fixa de 2 kg/vaca/dia para atendimento à legislação.

4.4 Reprodução

A eficiência reprodutiva é a base para a produtividade e lucratividade da atividade leiteira.


O objetivo do manejo reprodutivo é fazer a vaca retornar rapidamente ao cio, emprenhar,
parir e iniciar nova lactação, quando ela é mais eficiente e produz mais leite. Quanto mais
eficiente for o manejo reprodutivo, maior será a produção de leite e bezerros; portanto,
fatores como nutrição, sanidade, genética e conforto dos animais devem ser adequados,
para que a vaca entre no cio naturalmente e emprenhe rapidamente depois do parto
(AUAD et al., 2010).

104
O sistema de monta mais simples é aquele onde o touro permanece no rebanho durante
todo o ano, conhecido como monta natural a campo. Esse deve ser o sistema empregado
na produção de leite orgânico, visto que respeita a liberdade do reprodutor.

Com relação às fêmeas de reposição, é importante ressaltar que, assim como em outros
animais, a puberdade ocorre com o aparecimento do primeiro cio, o que não significa que
as fêmeas estão aptas à reprodução. Nas fêmeas das raças de grande porte, as quais foram
descritas anteriormente, a maturidade fisiológica ocorre quando o peso corporal atinge
entre 320 a 350 kg de peso vivo.

Com relação à atividade reprodutiva, as raças de leite são poliéstricas anuais, ou seja,
desde que bem nutridas apresentam cio a intervalos médios de 21 dias, com período de
duração média de 14 a 16 horas.

4.4.1 Cuidados com as Fêmeas Gestantes e os Recém-nascidos

Novilhas prenhes devem ser manejadas em área distinta da das vacas e observadas com
maior frequência. As fêmeas mais próximas do parto devem ser conduzidas ao pasto-
maternidade, os quais devem ser constituídos por gramíneas de pequeno porte e hábito de
crescimento rasteiro, áreas bem drenadas, com boa água e de preferência com sombra. Os
animais devem ser conduzidos entre 60 a, no mínimo, 21 dias antes da parição,
dependendo da condição corporal e do tipo de suplementação utilizado nessa fase. Uma
recomendação importante é que os pastos-maternidades sejam localizados próximos do
curral.

A vaca no momento do parto tende a se afastar do rebanho em busca de uma parição


tranquila e de tempo suficiente com a cria para que se gravem na memória visual, olfativa
e auditiva, por isso não deve haver nenhuma interferência externa, principalmente no
pasto-maternidade das novilhas. Terminado o trabalho de parto, a vaca lambe
vigorosamente a cria e o bezerro irá mamar o colostro, que é fundamental para sua
sobrevivência.

A desinfecção do umbigo deve fazer parte do manejo da cria e a membrana umbilical


pode ou não ser cortada, ficando com cinco centímetros de comprimento. Após isso, deve-
105
se passar uma solução de iodo a 10%, procedimento que deve ser repetido por três dias
caso necessário. O objetivo da desinfecção do umbigo é promover a cicatrização e
impedir a ocorrência de inflamação ou bicheira.

Tendo em vista a apartação do bezerro da mãe, deve haver um piquete próximo ao curral
para exercício e dentro do bezerreiro para ofertar uma suplementação alimentar com
volumoso e concentrado. Para os bezerros mais jovens, a utilização de feno é muito
interessante até que o rúmen esteja desenvolvido. A utilização de concentrado nessa fase
é de fundamental importância para o desenvolvimento do rúmen, visto que a apartação
da mãe impede que ele mame todo o leite necessário para o seu completo
desenvolvimento.

A desmama é o momento da apartação definitiva do bezerro da mãe, o que de forma


natural pode ocorrer entre oito e nove meses de idade. Os pastos de desmama devem ser
isolados por distância física das áreas reservadas às mães, devem ter boas pastagens para
os bezerros, boa aguada e de fácil acesso. Algumas vacas ou garrotes mais velhos podem
ser deixados no pasto como “madrinhas” do lote. Caso o desmame ocorra na seca, os
animais deverão ser suplementados.

4.5 Manejo Geral

4.5.1 Cercas

Esse assunto já foi tratado na Unidade que fala dos bovinos de corte, mesmo assim não
custa reforçar que as cercas podem ser de diversos tipos: de arame farpado, de arame liso
e elétrica.

As cercas devem ser construídas com madeira de reflorestamento e tratadas de forma


natural, por exemplo com solução de própolis. Devido à durabilidade, normalmente ela é
de arame farpado onde a topografia é acidentada, feita com três a quatro fios de arame e
mourões com dois metros de distância ou, no máximo, três metros. A proximidade entre

106
os mourões é que estabelece a contenção, porém a elevada quantidade de mourões é de
alto custo.

As cercas de arame liso, por sua vez, têm forte adoção devido ao menor custo de
construção, já que os mourões podem ter espaçamento de 8 a 16 metros, com balancins a
cada 2 metros. Nesse modelo, normalmente cinco fios de arame, esticados com catracas,
atravessam o mourão por meio de furos. As cercas elétricas proporcionam grande
economia em relação às cercas convencionais, tanto em quantidade de mourões e arame
quanto em facilidade de instalação. Entretanto, devem ser construídas de maneira correta
e bem instaladas para que funcionem adequadamente.

A quantidade de divisões nas áreas de pastagens depende do sistema de pastejo utilizado


e da gramínea implantada na pastagem. Cabe ressaltar que, no gado de leite, normalmente
as vacas em produção são manejadas separadamente das demais categorias do rebanho,
como: vacas secas, vacas pré-parto e novilhas de reposição.

Caso o sistema seja de pastejo rotacionado, a cerca elétrica é a mais utilizada em função
da facilidade e do menor custo de implantação.

4.5.2 Instalações

Nos sistemas de produção de bovinos de leite a pasto, é comum utilizar suplementação


alimentar, tanto de volumoso quanto de concentrado, oferecida durante a ordenhação,
momento em os animais são presos em sistema de canzil ou corrente, em espaçamento
mínimo para ordenha com bezerro ao pé de 1,2 m.

Como no sistema orgânico, o aleitamento é ao pé da vaca, por isso há necessidade da


construção de bezerreiro, uma vez que no sistema extensivo a ordenha é realizada uma
vez ao dia. Para iniciar o estímulo de descida do leite, os bezerros são amarrados ao lado
das vacas que serão ordenhadas; logo após a ordenha, os bezerros são soltos novamente,
permanecendo junto com as mães no pasto. Na parte da tarde, entre quatorze e dezesseis
horas, as vacas são levadas novamente ao curral onde os bezerros são apartados e contidos
no bezerreiro até a ordenha da manhã. As vacas são conduzidas ao pasto novamente, o

107
leite produzido no intervalo da tarde-noite será ordenhado e comercializado e o leite da
manhã à apartação, à tarde, alimentará o bezerro até a desmama.

Porém, a produção a pasto demanda grande extensões de cerca, estradas e corredores,


além de distribuição adequada de cochos para suplementação mineral e para bebedouros,
já que os animais permanecem e se alimentam nos pastos, que são áreas extensas.
Instalações demandadas em grandes quantidades e extensão devem ser eficientes,
evitando, dessa forma, elevados investimentos e uso de mão de obra para manutenção.

4.5.3 Sanidade

De acordo com Soares et al. (2000), para a prevenção de mastite (inflamação da glândula
mamária), é importante a higiene do ordenhador, dos equipamentos e do local de ordenha.
Entretanto, nos casos já instalados, uma série de medidas curativas, como homeopatia,
terapia do barro e fitoterapia, pode ser usada como tratamento alternativo aos antibióticos.
Algumas plantas medicinais como a camomila, tansagem e babosa estão na lista dos
recomendados para o tratamento de mastite, bem como o tratamento adjuvante com
massagem do úbere com o uso de pomadas de própolis, tansagem ou beladona. Para antes
e após a ordenha, recomenda-se a solução de iodo glicerinado + linhaça ou ácido
peracético.

Quando o bezerro fica com a mãe, a desinfecção das tetas pós-ordenha perde a finalidade,
pois ele irá mamar, retirando a solução aplicada. Importante nesse caso, como maneira
preventiva, é permitir um ambiente sadio e sem barro para as vacas em lactação.

4.6 Raças

Gir

Desenvolveu-se no sul da Índia, na região de Kathiavar, coberta por florestas e habitada


por espécies selvagens. O gir foi introduzido no Brasil em 1911, adaptando-se bem às
108
nossas condições ambientais. Encontra-se atualmente distribuído em todo o território
nacional, predominando na Região Sudeste. A idade do primeiro parto está em 43 meses
e a duração média da lactação está em 286 dias. Produz leite de qualidade, com elevado
teor de sólidos. Nos rebanhos registrados da raça Gir, a média de produção de leite é
3.777 kg, gordura de 112 kg, proteína de 90 kg e sólidos totais 337 kg. Esses resultados
podem ser atribuídos aos esforços do Programa Nacional de Melhoramento do Gir
leiteiro, coordenado pela Embrapa Gado de Leite, em parceria com a Associação
Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), a Associação Brasileira de Criadores
de Zebu (ABCZ), universidades e empresas estaduais de pesquisa (AUAD et al., 2010).

Figura 4.1: Gir

Fonte: <http://www.afe.com.br/artigo/4102/a-historia-da-raca-gir>. Acesso em: 06


nov. 2016.
Figura 4.2: Guzerá
Guzerá

Raça descrita na produção de carne


orgânica, porém pelas
características de dupla aptidão
atende à produção de leite.

A idade do primeiro parto está em 42 meses,


a Fonte: duração média da lactação é de 270
<http://www.semenbovino.com.br/guzer
dias. a.ht>. Acesso em: 06 nov. 2016. Produz também leite de qualidade,
109
com elevado teor de sólidos. Nos rebanhos registrados da raça, a média de produção de
leite é 2.071 kg, a produção de gordura é de 95 kg, a produção de proteína é de 61 kg e a
produção de sólidos totais é de 231 kg. Esses resultados podem ser atribuídos aos esforços
do Programa Nacional de Melhoramento do Guzerá para Leite, coordenado pela Embrapa
Gado de Leite, em parceria com o Centro Brasileiro de Melhoramento do Guzerá
(CBMG), a Associação Brasileira de Zebu (ABCZ), universidades e empresas estaduais
de pesquisa (AUAD et al., 2010).

Sindi

Originou-se no norte do Paquistão, na região


Figura 4.3: Sindi
do Kobistam, que apresenta terras áridas; a
necessidade de efetuar longas caminhadas
para buscar água e alimentos foi responsável
pela rusticidade da raça. Caracteriza-se pela
grande docilidade, elevada fertilidade e boa
produção de leite. Adaptou-se bem às nossas
condições ambientais, pela semelhança com
Fonte: as condições adversas em que vivia. A raça
<http://ruralpecuaria.com.br/tecnologia-
e-manejo/racas-gado-de-leite/raca- Sindi foi introduzida no Brasil na década de
sindi.html>. Acesso em: 06 nov. 2016.
30 para tornar a Amazônia autossuficiente na
produção de leite. Posteriormente, distribuiu-
se pela Região Nordeste, onde prevalece a é explorada também para a produção de carne,
por ser considerada de dupla aptidão. A média da produção de leite nos rebanhos
selecionados está em torno de 1.700 kg por lactação (AUAD et al., 2010).

Girolando

A princípio, a formação da raça girolando teve por objetivo a criação de um grupamento


étnico brasileiro capaz de produzir leite em sistema produtivo economicamente viável,
nas condições tropicais e subtropicais. As normas para formação da raça girolando,
elaboradas em 1989, introduziram na época uma forma planejada de formação de “raça”
bovina.

110
A raça é fundamentalmente produto do
Figura 4.4: Girolando
cruzamento da raça holandesa com a gir,
passando por vários graus de sangue e
direcionada para a fixação do padrão racial no
grau de 5/8 holandes + 3/8 gir, objetivando um
produto produtivo e padronizado. A raça
girolando apresenta desempenhos
considerados bons para as regiões tropicais. A
Fonte: <http://iepec.com/tudo-sobre-a-
raca-girolando-na-pecuaria-leiteira/ >. média de produção em 305 dias foi de 3.927
Acesso em: 06 nov. 2016. kg. Para a característica reprodutiva, idade ao
primeiro parto, a raça apresentou média de 35
meses (AUAD et al., 2010).

4.7 Síntese da Unidade

Nesta Unidade, vimos os aspectos gerais relacionados à produção de leite orgânico, aos
sistemas de criação, à alimentação, abordando as capineiras, a cana-de-açúcar e as
pastagens para o gado leiteiro. Estudamos aspectos relacionados à reprodução e aos
cuidados com as fêmeas gestantes e os recém-nascidos.

No manejo geral, estudamos as cercas, as instalações e a sanidade, dentre outros tópicos,


e também conhecemos as principais raças e suas características zootécnicas.

4.8 Para saber mais


Livros

• AUAD, A. M. Manual de Bovinocultura de Leite. [S. l. ]: Senar, 2010.

111
Sites

• FUNDAÇÃO Banco do Brasil: bovinocultura de leite. Disponível em:


http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Vol1BovinoLeite.pdf > vol.1.

4.9 Atividades

Resuma as características zootécnicas das principais raças produtores de leite.

112
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