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. ⁄ . ⁄ .

●  ●  , º  ● -  191

O nascimento da Estatística e sua relação com o


surgimento da Teoria de Probabilidade
   *
     **

Resumo ● O objetivo deste estudo histórico foi compreender e relacionar o surgimento da Estatística e da
Teoria de Probabilidade. O início da Estatística (como é entendida hoje) deu-se com a Aritmética Política
(século XVII), o surgimento da Teoria de Probabilida de aconteceu com Cardano (século XVI), e o p rimeiro
registro da união destas duas áreas aconteceu com De Moivre (século XVIII). Foi a partir do século XVII
que os matemáticos perceberam que muitos conceitos de probabilidade não poderiam ser separados da
estatística, e esta relação tornou-se indissociável, contribuindo para o desenvolvimento de estudos em
diversas áreas do conhecimento.
Palavras-chave ● história daEestatística, história da Teoria de Probabilidade, Matemática.

Title ● The Birth of Statistics and its Relationship with the Rise of the Probability Theory
Abstract ● This historical study aims at understanding and relating the birth of Statistics and the
Probability T heory. The beginnings o f Statist ics (as we understand it today) happened with Political
Arithmetic (17th century); the rise of the Probability Theory began with Cardano (16th century). From the
17th century on mathematicians realized that many probability concepts could not be dissociated from
Statistics, and this relationship became inseparable, and also contributed for the development of studies
in several fields of knowledge.
Keywords ● history of Statistics, history of the probability theory, Mathematics.

.  Mas essa relação entre a Estatística e a Mate-


mática não apresenta consenso na literatura. Há
A Estatística é definida por Costa Neto (1977) como quem considere a Estatística como um ramo da
a ciência que se preocupa com a organização, des- Matemática. Outros consideram-na uma ciência
crição, análise e interpretação de dados experimen- independente, mas que usa a Matemática como
tais e por este motivo tem aplicação em quase todas ferramenta. Essa discussão pode ser observada no
as atividades humanas. trabalho de Senn (1998).
Integrada no campo das ciências exatas, a Esta- Para compreender um pouco dessa discussão
tística geralmente faz parte dos departamentos de atual, o objetivo deste trabalho é resgatar na histó-
Matemática das universidades e tem uma estreita ria o surgimento da Estatística e da Teoria de
relação com esta disciplina. Segundo Nelder Probabilidade, tentando relacioná-los e situá-los
(1986), seria impossível o desenvolvimento da no desenvolvimento da própria Matemática.
parte teórica da estatística sem o corpo de teoria
e notação matemática. .     
 

A palavra “estatística” tem proveniência no latim


Data de recebimento: 22/12/2003.
Data de aceitação: 30/01/2004.
statisticum, que significa relativo ao Estado
* Professora de Estatística na USJT e doutoranda em Educação (DROESBEKE & TASSI, 1990; DUTARTE & PIEDNOIR, 2001;
Matemática na PUC-SP.
E-mail: p rof.cbo rim@usjt.br.
JOZEAU , 2001). Porém não existe, na literatura, um
** Pro fessora do Dep. de Matemática da PUC-SP. Doutora em consenso sobre quem ou qual civilização utilizou
Educação Mat emát ica p ela Universidade de Jose ph Four ier,
Grenoble, França.
primeiramente o termo “estatística” tal como o
E-mail: cileda@pucsp.b r. usamos nos dias atuais, ou seja, para designar uma
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área do saber ou um conjunto de medidas-resumo pelas matérias-primas, os produtos fabricados,


de um conjunto de dados. os preços e os salários” (FERREIRA et al, 2002, p. 11).
Kendall (1978) argumenta que o primeiro uso Esses autores também relatam que, em Roma,
da palavra “estatística” deu-se num trabalho do os recenseamentos foram realizados de 750 a.C.
historiador italiano Girolamo Ghilini, em 1589, até 476 d.C., e neles os cidadãos romanos eram
que versava sobre uma descrição política. Por obrigados a declarar suas fortunas, seus nomes,
outro lado, Porter (1986) afirma que a palavra os de seus pais, a idade, o nome de suas esposas
“estatística” foi primeiramente usada como um assim como o de seus filhos, a tribo em que resi-
substantivo por Gottfried Achenwall em 1749. diam e o número de escravos, sob pena de ficarem
Dada a controvérsia sobre o surgimento do sem seus bens ou seus direitos de cidadão (id.,
termo “estatística”, o que se pode afirmar é que ibid., p. 12).
a utilização de idéias de caráter estatístico teve A partir do século XIII a Estatística começa a
seu início na Antiguidade, com a necessidade de os caminhar para os moldes da ciência que conhece-
Estados conhecerem os dados de sua população, mos hoje. Na França, por volta de 1300, as famí-
território e outros atributos do poder. lias e/ou lares foram utilizados como elemento
Embora Kendall (1978) argumente que os tra- essencial para estimar a sua população.
balhos realizados até o século XVII apenas tinham Depois desse século, segundo Jozeau (2001),
como objetivo a obtenção de uma descrição polí- existiam três correntes estatísticas separadas
tica dos estados e que o aparecimento de infor- geograficamente: a Estatística Descritiva alemã,
mação numérica dava-se por acidente ou por a Aritmética Política inglesa e os jogos e probabi-
conveniência, é interessante conhecer um pouco lidades, na França.
desta história.
O primeiro registro de recenseamento refere- .   
se à civilização da Suméria (de 5000 a 2000 a.C.),
para o qual foram elaboradas em tábuas de argila Segundo Jozeau (2001), Hermann Conring (1606-
listas dos homens e seus bens. Segundo Droesbeke 81) criou o termo Stati para definir a Estatística
e Tassi (1990), o poder egípcio, representado pelo Descritiva alemã, cujo objetivo era descrever a
faraó Amasis II (por volta de 2700 a 2500 a.C.), diversidade territorial nacional.
institucionalizou os recenseamentos com objetivo Uma das inovações dos estudos realizados por
tributário, e neles todo indivíduo era obrigado a essa escola foi a publicação de tabelas cruzadas
declarar sua fonte e atividade de renda, sob pena (hoje conhecidas como tabelas de contingência
de morte a quem não o fizesse. ou tabelas de dupla entrada) para apresentar os
Na China, muitos recenseamentos foram reali- dados dos recenseamentos realizados no territó-
zados. Segundo Ferreira et al. (2002), o primeiro rio alemão.
recenseamento foi feito em 2238 a.C., pelo impe- Nessas tabelas eram listados os nomes das fa-
rador Yu (ou Yao), com o objetivo de conhecer mílias e o respectivo número de homens, o núme-
com exatidão o número de habitantes para dividir ro de mulheres, o número de filhos e empre-gados
o território, cobrar impostos e recrutar homens da família1.
para o serviço militar. Segundo Ferreira et al. (2002), essa escola
Na Índia Antiga foi feito um tratado de recen- preocupava-se em descrever os estados políticos,
seamento denominado Tratado de Arthasástra, e, portanto, as informações numéricas que apa-
ou seja, tratado de ciência (sástra) e do progresso reciam nos registros ocorriam somente por aca-
(artha). Foi redigido por Kautilya, ministro do so ou por conveniência.
rei Candragupta (313-289 a.C.), cujo objetivo O trabalho com esse tipo de informação
era aumentar incessantemente o seu reino. “Tudo aparece com a escola de Aritmética Política, na
o que for feito terá de ser conhecido: do efetivo da Inglaterra. Segundo Jozeau (2001), essa escola
população até o número de elefantes, passando difundiu-se por toda a Europa.
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.    Willian Petty, que também era membro da


Royal Society, trabalhou durante três anos com
A Aritmética Política, segundo Droesbeke e Tassi John Graunt. Ele estimou a população de Londres
(1990), preocupava-se com a quantificação e a da seguinte maneira: o número de residências era
pesquisa de constantes de comportamento, per- 105.000 e, considerando que a média de mem-
mitindo estimações e previsões tais como o nú- bros da família era de seis pessoas e que 10% das
mero de filhos por mulher, o tempo entre dois residências abrigavam duas famílias, ele concluiu
nascimentos de uma mesma mulher, o número que havia 695.000 habitantes em Londres
de habitantes por família, a proporção de faleci- (DROESBEKE & TASSI, 1990, p. 42).
mentos etc. Essa técnica utilizada por Petty foi denomina-
Perero (1994) explica que a Estatística deu um da “de extrapolação” ou “de multiplicação” e teve
grande salto qualitativo por volta do século XVII. um enorme sucesso. Jean Joseph d’Expilly (1719-
Por um lado, a utilização de dados estatísticos 93) utilizou esta técnica com um outro estimador,
começa em instituições financeiras e companhias usando o fator “5” para residências urbanas e “4,5”
de seguro. Por outro lado, nasce na Inglaterra o para residências rurais.
conceito de Aritmética Política e começa-se a Segundo Jozeau (2001), Graunt utilizou a mes-
“matematizar” outras disciplinas, que eram, até ma técnica e inovou, extrapolando os dados de
então, puramente descritivas, como a demografia, Londres (calculados por Petty) para a Inglaterra.
a economia e as ciências sociais. Depois do trabalho de Graunt, o trabalho se-
Os fundadores da Aritmética Política foram guinte de grande importância foi o de Edmund
John Graunt (1620-74) e William Petty (1623-87), Halley (1656-1742), que era matemático de
mas o termo “Aritmética Política” foi dado por Oxford, e em suas memórias de 1693 publicou
Petty e definido por Charles Davenant (1656- Degrees of mortality of mankind, em que fez um
1714) como a arte de raciocinar com números estudo cuidadoso das anuidades (LIGHTNER, 1991).
sobre os problemas do governo (J OZEAU, 2001). KENDALL (1978) argumenta que a Aritmética
John Graunt utilizou os dados publicados nos Política é o verdadeiro antepassado da Estatística
boletins sobre mortalidade, que foram realiza- como é entendida hoje. Segundo Droesbeke e Tassi
dos após 1519 em Londres, para estabelecer e ve- (1990), as técnicas desenvolvidas na Aritmética
rificar certas questões controversas como as Política passaram a ser utilizadas em detrimento
causas de mortalidade, o tamanho exato da po- dos recenseamentos e favoreceram o aparecimen-
pulação de Londres, a relação entre o número de to de enquetes parciais, que tiveram como justifi-
homens e de mulheres. Segundo Ferreira et al. cativa o cálculo de probabilidades.
(2002), Graunt fez uma análise exaustiva do
número de pessoas que morriam de várias doen- .        
ças e estimou o número de nascimentos de homens 
e de mulheres, mostrando, por exemplo, que
nasciam mais homens que mulheres e que, a cada A probabilidade começou como ciência empírica.
100 pessoas nascidas, 36 morriam aos 6 anos e Vários dos problemas propostos nessa área do
que 7 sobreviviam até os 70 anos. Segundo saber foram pensados por matemáticos, filóso-
Lightner (1991), Graunt foi a primeira pessoa a fos, naturalistas, advogados, respondendo a uma
lidar com inferência estatística na análise de dados necessidade social: o estudo de jogos de azar.
de massa. Girolamo Cardano (Jérôme Cardan) (1501-
Graunt publicou sua obra Natural and political 76), professor de matemática e medicina, jogou
observation made upon the bills of mortality em diariamente por mais de 40 anos. Desde cedo em
1662, e isso chamou a atenção do rei da Inglaterra sua vida, ele determinou que, se não jogasse apos-
(Carlos II), que propôs a Graunt ser sócio fun- tando algum dinheiro, nenhuma compensação
dador da Royal Society. seria obtida por um tempo perdido em jogos, no
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qual poderia de outra maneira gastá-lo mais intei- retamente resolvido por ambos, mas de manei-ras
ramente na busca de aprendizagem (LIGHTNER, 1991). diferentes. Nota-se que eles lidavam com os fun-
Como não queria gastar seu tempo em ati-vi- damentos da teoria da probabilidade matemáti-
dades não promissoras, ele analisou seriamente as ca, um evento que Eves chama de “um grande
probabilidades de tirar um ás de um baralho de momento em matemática” e que é considerado
cartas e de obter a soma “7” no lançamento de por alguns historiadores o início da Teoria de
dois dados. Então, ele relatou os resultados dessas Probabilidade (LIGHTNER, 1991).
investigações, bem como suas experiências em um Em 1657, Christian Huygens (1629-95) escreveu
manual de jogos chamado Liber de Ludo Aleae, o primeiro tratado formal de probabilidade, De
publicado em 1539. Ratiociniis in Ludo Aleae, baseado nas correspon-
Perero (1994) explica que Cardano é conside- dências entre Fermat e Pascal.
rado o pai da Teoria de Probabilidade, pois nessa Somente em 1713 tem-se notícia de outra pu-
obra analisou os jogos de azar de forma sistemá- blicação fundamental para o desenvolvimento
tica. Em um capítulo intitulado “On the cast of dessa teoria, quando Ars Conjectandi, de Jakob
one die”, ele relatou: “Eu posso tirar 1, 3 ou 5, Bernoulli (1654-1705), foi publicado postuma-
bem como posso tirar 2, 4 e 6. As apostas são mente, e dá início ao enfoque freqüentista do con-
feitas de acordo com esta igualdade, se o dado é ceito de probabilidade.
honesto e, em caso contrário, elas são feitas muito
maiores ou menores em proporção para a saída .    
da verdadeira igualdade” (BURTON, 1985, citado       
em LIGHTNER, 1991).   
Nesse relato, é possível notar a transição do
empirismo para o conceito probabilístico teóri- Segundo Ferreira et al. (2002), a ligação das pro-
co de um dado honesto, que, segundo Lightner babilidades com os conhecimentos estatísticos
(1991), marca a fundação do campo da matemá- veio dar uma nova dimensão à Estatística, consi-
tica que se denomina “probabilidade”, mas que, derando-se o início da inferência estatística.
para aquela época, poderia ser “jogo” demais para Lightner (1991) explica que, depois dos estu-
os matemáticos e matemático demais para os dos pioneiros de Graunt e Halley, foi Abraham
jogadores. De Moivre (1667-1754) quem prosseguiu o tipo
Embora exista esse trabalho de Cardano, para de estudo que era feito na Aritmética Política.
alguns historiadores a Teoria de Probabilidade De Moivre emigrou para a Inglaterra, onde
começou efetivamente com a correspondência conheceu Newton e Halley, e publicou Doctrine
entre Pascal e Fermat, do fato de que uma das of chances em 1718 sobre a Teoria do Acaso, em
cartas evoca efetivamente o termo “Geometria do que expunha, entre outros assuntos, a probabili-
Acaso” para referir-se ao cálculo de probabilidades. dade de tirar bolas de cores diferentes de uma urna
Segundo Perero (1994), em 1650, Antoine de (F ERREIRA et al., 2002).
Gombaud, o Chevalier de Méré, um experiente Esse trabalho de De Moivre teve um impor-
jogador francês, tinha como problema entender tante papel no desenvolvimento da matemática
por que 11 ocorria com mais freqüência do que atuarial e sua relação com seguros de vida, e mais
12 no lançamento de 3 dados e solicitou a Pascal tarde ele preparou um material no qual descre-
que o ajudasse a solucionar – Pascal explicou que veu a curva normal de probabilidade (LIGHTNER ,
ele estava errado. Em seguida, Méré solicitou a 1991, p. 627).
Pascal resolver o problema dos pontos2. Segundo Lightner (1991), a partir de De Moivre,
Buscando solucionar esse problema, Pascal probabilidade e estatística entraram num período
comunicou-o a Fermat, dando início à série de de transição, em que os conceitos foram exami-
cartas que são reputadas como origem desta teoria. nados, aplicados a velhos e novos problemas além
Nessas cartas, pode-se encontrar o problema cor- daqueles de jogos e tabelas de mortalidade, que
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registraram o começo da probabilidade e da esta- vários tipos de distribuições matemáticas que des-
tística, respectivamente. creveriam várias populações, incluindo a distri-
Jakob Bernoulli (1654-1705) desenvolveu o que buição de Bernoulli e de Poisson, o ajustamento
hoje chamamos de distribuição de Bernoulli, da distribuição normal descrita por Karl Friedrich
que consiste em dizer que um experimento alea- Gauss (1777-1855), que devotou especial atenção
tório tem duas possibilidades de resultado: suces- à curva normal, sua equação e suas aplicações
so e fracasso (configuração de urna de Bernoulli), (LIGHTNER, 1991, p. 629).
que fora a base da distribuição binomial (F ERREIRA O começo da análise estatística de dados de
et al., 2002). Outros membros da família censo foi feita em 1829 por Lambert Adolphe
Bernoulli também se destacam nesta área. Por Jacques Quetelet (1796-1874), na Bélgica.
exemplo, Daniel (1700-82) investigou o Para- Francis Galton (1822-1911) descobriu a lei da
doxo de Petersburg3, que consiste na solução de regressão e o coeficiente de correlação em 1877.
um problema de jogo. Começando em 1894, Karl Pearson (1857-1936)
Bernoulli também mostrou como o Cálculo aplicou a probabilidade à biologia e criou a área
Integral (que tinha surgido 60 anos antes) poderia de estudo denominada Biometrics (LIGHTNER, 1991).
ser aplicado à probabilidade. Leonhard Euler Mas, durante o século XIX, descobriu-se que
(1707-83) sistematizou e organizou muitos um grande número de fenômenos naturais nas
problemas probabilísticos, e Joseph Lagrange ciências biológicas e na física seguia a distribuição
(1736-1813) também avançou na Teoria de Proba- normal dos erros aleatórios, e começa uma união
bilidade aplicando o cálculo diferencial. dessas duas correntes (B ENNETT, 2003, p. 122).
Pierre Simon Laplace (1749-1827) publicou No entanto, é apenas no final do século XIX
em 1812 sua obra intitulada Teoria analítica das que o desenvolvimento da matemática permite
probabilidades, em que definiu, em um de seus um avanço efetivo na Teoria de Probabilidade.
princípios, a probabilidade pela qual o número O trabalho de Borel e de Lebesgue permite a
de vezes em que um determinado acontecimento Kolmogorov, em 1933, publicar uma obra conten-
pode ocorrer, dividido pelo número total dos do a axiomatização da Teoria de Probabilidade.
casos, considerando-se a hipótese de eqüipro-
babilidade (FERREIRA et al., 2002). .  
Segundo Lightner (1991), embora o interesse
de Laplace fosse o estudo da astronomia (ele Pelos apontamentos históricos pode-se consi-
publicou Celestial Mechanics em 1799), ele derar que o início da estatística deu-se na Antigui-
também usou a Teoria de Probabilidade para dade com os recenseamentos e somente na
obter uma medida estatística de confiabilidade Aritmética Política teve um avanço no tipo de
de resultados numéricos derivados de dados e trabalho que era realizado. Esse período acon-
para determinar a probabilidade de certo fenô- teceu do século VI antes de Cristo até o século
meno astronômico ser devido a causas definidas XVII após Cristo, o que soma 23 séculos.
em vez de ao puro acaso. Quanto à Teoria de Probabilidade, embora
Em 1812, Laplace publicou Théorie analytique existam registros de jogos de azar na Antiguidade,
des probabilités, em que organizou tudo o que era o desenvolvimento das idéias que formam a base
conhecido sobre a teoria estatística e probabilís- da Teoria de Probabilidade ocorreu com Cardano,
tica em uma primeira tentativa de axiomatização. no século XVI depois de Cristo (COUTINHO, 1994).
Segundo Lightner (1991), Laplace é freqüente- Um ponto em comum no surgimento das
mente considerado o pai da teoria moderna de idéias da estatística e da probabilidade é que
probabilidade porque ele entendeu, talvez melhor ambas surgiram a partir de problemas empíricos,
que todos de seu tempo, a significância da proba- embora existam registros de mais matemáticos
bilidade para o mundo. Usando a Teoria de Pro- envolvidos com os problemas de jogos de azar
babilidade, um número de matemáticos derivou do que com problemas de recenseamentos.
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Mas os caminhos dessas duas áreas permane- Notas


ceram separados até o surgimento da Aritmética
Política (século XVII). Foi com a obra de De Moivre 1 Um exemplo dessas tabelas pode ser vist o em JOZEAU
(2001, p. 57).
que se tem registro da união dos trabalhos realiza-
2 Lightner (1991) explica o que era o problema dos pontos:
dos pela estatística e pela probabilidade, o que dá suponha que um jo gador, por exemplo, o Chevalier de Méré,
início à área da Estatística denominada Inferência. e um de seus amigos estivessem num jogo de dados do
Portanto, a partir do século XVII a relação século XVII. Cada jogador aposta 30 pistolas (antiga moeda
entre a Estatística e a Probabilidade torna-se espanhola) que seu número escolhido sairá três vezes num
dado antes que o número do outro jogador saia três vezes.
indissociável, contribuindo para o desenvol-
Depois de o jogo ter começado, o número de Méré, 5, tinha
vimento de estudos em diversas áreas do conheci- saído duas vezes enquanto o número de seu oponente, 3,
mento, como a biologia, a psicologia, entre tinha saído somente uma vez. Nesse momento, Méré recebe
outras. uma mensagem urgente e o jogo d eve parar. Como os
jogadores deveriam dividir as 60 pistolas na mesa? O amigo
de Méré afirma que, considerando que a chance de ele obter
Referências bibliográficas duas jogadas sortudas é metade da chance de Méré obter
uma jogada sortuda, ele deveria receber 20 pistolas e Méré
BENNETT, D. J. Aleatoriedade. Trad. de W. Barcellos. São deveria receber 40. De Méré argumenta que, na próxima
Paulo: Martins Fontes, 2003. jogada, o pior que poderia acontecer para ele seria perder sua
COSTA NETO, P. Estatíst ica. São Paulo: Edgar Blucher, vantagem, ocorrendo um empate, e então as pistolas seriam
1977, Cap. 1. divididas igualmente. Entretanto, se saísse 5 na próxima
COUTINHO, C. de Q. e S. Int rodução ao conceit o de jogada, ele seria o vencedor e receberia as 60 pistolas. De
probabilidade por uma visão freqüentista: Estudo Méré afirma que, mesmo antes da jogada, ele deve receber
epistemológico e didático. Dissertação de mestrado. São 30 pistolas e mais 15 que é a metade da certeza; portanto,
Paulo: PUC-SP, 1994. ele deveria receber 45 e seu oponente 15. E ele estava certo.
DROESBEKE, J.-J. & TASSI, P. Histoire de la statistique. Pascal e Fermat decidiram esse resultado em suas famosas
Paris: Presses Universitaires de France, 1990. correspondências. Eles também consideraram outros
DUTARTE, P. & PIEDNOIR, J.-L. “Grande e t petite histoir e de problemas relacionados ao problema dos pontos, tal como a
la statistique”. In: DUTARTE, P. & PIEDNOIR, J.-L. divisão do dinheiro apostado quando os dois jogadores são
Enseigner la statistique au lycée: Des enjeux aux méthodes. desigualmente habilidosos ou quando mais do que dois
Villetaneuse: Université de Paris 13/IREM, 2001. jogadores estão apostando.
FERREIR A, M. J.; TAVARES, I. & TURKMAN, M. A. 3 Um jogador lança uma moeda e um segundo jogador
Notas sobre a história da estatística. Portugal: Instituto concorda em pagar uma quantidade em dinheiro se aparecer
Nacional de Estatística, (2002). Disponível no site http:/ cara no 1º lançamento, o dobro do dinheiro se aparecer cara
/alea.ine.pt/html/statofic/html/dossier/doc/dossier6.pdf no 2º lançamento, 4 vezes a quantia inicial se aparecer cara
(acessado em 15 de dezembro de 2003). no 3º lançamento, 8 vezes se sair cara no 4º lançamento, e
JOZEAU, M.-F. “Histoire d es statist iques et des probabilités: assim sucessivamente. O paradoxo nasceu sobre quanto
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