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PARA ENTENDER O CAPITAL

A TEORIA ECONÔMICA DE MARX


DUNCAN K. FOLEY

CAPÍTULO 7. A DIVISÃO DA MAIS-VALIA

[trechos selecionados]

Formas da Mais-Valia
(O Capital 3.16-3.18, 3.21-3.25, 3.37-3.45)

Nas sociedades capitalistas reais observam-se muitos fluxos importantes de


rendimentos que parecem não ter relação alguma com a exploração direta dos
trabalhadores. O proprietário de terras incultas cobra uma renda mesmo se
não aplicou em sua propriedade nenhuma hora de trabalho. O proprietário de
dinheiro pode emprestá-lo a certa taxa de juros, sem ingressar jamais como
capitalista no mercado de trabalho, nem organizar nenhum tipo de produção.
Muitas companhias obtêm importantes lucros comerciais mediante a astúcia
na compra e venda de mercadorias já produzidas, inclusive se durante seu
período de propriedade sobre a mercadoria essa permanecer totalmente
intacta. Esses rendimentos cumprem uma função essencial na sociedade
capitalista. Integram as atividades nas quais muitas pessoas encontram seus
meios reais de existência social. Portanto, devemos compreender sua relação
exata com a produção capitalista, se desejamos entender o funcionamento
interno de uma economia capitalista.

Cada um dos casos mencionados no parágrafo anterior coloca um desafio para


a teoria do valor-trabalho, porque em cada um deles o rendimento é
independente da exploração real dos trabalhadores na produção. Por essa
razão, Marx deseja analisá-los para demonstrar que a teoria do valor-trabalho
e a teoria da mais-valia são adequadas para descrever em seu conjunto os
fenômenos econômicos na sociedade capitalista. A explicação de Marx adota a
mesma forma em cada um desses casos. Marx argumenta que esses
rendimentos surgem porque os agentes que os recebem encontram-se em
posição de negociar e apropriar-se de parte da mais-valia criada na produção
dos capitalistas industriais que inicialmente se apropriam dela. Dentro do
sistema marxista, todas estas formas de rendimento — renda, juros e lucros
comerciais — são considerados deduções de uma mais-valia cuja magnitude
está determinada anteriormente pelo valor da força de trabalho e pela
quantidade de tempo de trabalho social consumido na produção. O problema
teórico nesses casos consiste em demonstrar como surge cada forma
particular de rendimento e explicar seu comportamento.
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A Renda
(O Capital 3.37-3.45)

A renda diferencial e a equalização das taxas de lucro


(O Capital 3.38)

O conceito que tem Marx de preço de produção demonstra como podem


equalizar-se as taxas de lucro em um sistema de produção capitalista, quando
todos os capitalistas têm acesso as mesmas técnicas de produção. Nas
sociedades capitalistas reais, diferentes capitais têm acesso a diferentes
técnicas. Em primeiro lugar, sempre existem alguns produtores capitalistas
que se encontram acima da média em sua adoção de novas técnicas de
produção. Mas os produtores capitalistas também podem se diferenciar no
acesso às técnicas devido a diferenças naturais na produtividade dos recursos
particulares. Na agricultura, por exemplo, a terra varia com relação à sua
fertilidade. Na mineração, o acesso a jazidas ricas reduz o trabalho requerido
para alcançar certo rendimento. Se todos os produtores capitalistas
defrontam-se com os mesmos preços para a força de trabalho e outros fatores
de produção e com os mesmos preços para seus produtos, aqueles que
tiverem acesso a recursos superiores terão custos menores e por
consequência maiores taxas de lucro. Como pode ser compatível essa situação
com a tendência a equalização das taxas de lucro pela concorrência entre os
capitalistas?

Marx inicia sua análise desse problema supondo (anacronicamente) que não
existe em princípio nenhum direito de propriedade sobre os recursos
superiores. Qualquer um pode levar seu rebanho aos melhores pastos, ou
cavar um poço de extração nas jazidas minerais mais ricas ou construir um
poço de extração em uma jazida petrolífera. Nessas condições, os recursos
superiores ver-se-ão congestionados e utilizados em excesso, mas todos os
capitalistas terão acesso a mesma tecnologia e será equalizada a taxa de
lucro. A moderna teoria da alocação de recursos considera essa situação como
a “tragédia dos bens comuns” e aponta a ineficiência na alocação dos recursos
quando ocorre o congestionamento. Pelo contrário, Marx considera essa
situação como a base sobre a qual surgirá uma nova relação social entre o
proprietário dos recursos e o capitalista.

Suponhamos agora que se estabelece um direito de propriedades sobre os


recursos superiores escassos. Isso significa que uma pessoa ou agente
particular recebe o direito de excluir os produtores ao acesso de recursos
superiores. O proprietário do recurso pode negociar para obter uma parte da
mais-valia de que pode se apropriar o capitalista empregando o recurso
superior. De fato, o proprietário do recurso sempre pode assegurar-se de
obter nesta negociação a totalidade da mais-valia excedente disponível como
resultado da redução de custo possibilitada pelo uso deste recurso. Enquanto a
renda for menor que essa quantidade, o capitalista terá um incentivo para
utilizar o recurso em questão; se for maior, o capitalista buscará em outro
lugar.
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Marx ilustra essa teoria analisando a situação do dono de uma cascata que
pode ser utilizada como fonte de energia para uma fábrica. Vamos supor que a
opção quanto ao método de produção de energia para a fábrica seja uma
máquina a vapor e que o custo de uma unidade de produção com a tecnologia
do vapor é de $90. Se a taxa de lucro é de 33,33% e a taxa de rotação do
capital é 1 (o custo equivale ao capital aplicado total), o preço da produção
será de $120, isto é, igual ao custo de 90 mais o ganho de 30. Se um
capitalista usa a cascata, evita alguns dos custos que deveria pagar para
utilizar o vapor. Suponhamos que o custo de produção utilizando a cascata é
de somente $60. Na ausência de renda, o produtor que emprega a cascata se
apropriará de um ganho de $60 em cada unidade de produção. A taxa de lucro
do produtor que emprega a cascata será de 100%, muito acima da taxa de
lucro de 33,33%. Portanto, afirma Marx, o proprietário da cascata estará em
posição de negociar uma renda de $40 por unidade, deixando ao capitalista
um lucro de $20 sobre seu custo de $60 para utilizar a cascata para a
produção - exatamente o mesmo que obtém com o vapor – equalizando a taxa
de lucro que se obtém com a cascata.

A conclusão importante que resulta dessa análise é que a renda é um


rendimento criado socialmente e não correspondente a capacidade que teria a
terra de produzir valor. Por exemplo, se o custo de produção com o vapor
baixar a $60 na situação que acabamos de analisar, desapareceria a
capacidade do proprietário da cascata de apropriar-se de uma renda, inclusive
quando a cascata conservasse exatamente as mesmas propriedades
produtivas. Se não existisse direito de propriedade sobre a cascata, sua
produtividade seguiria sendo a mesma mas não haveria renda. Esta análise da
renda diferencial é semelhante em seus princípios gerais a teoria da renda de
Ricardo, ainda que Marx tivesse suas reservas a respeito de algumas
conclusões que tentou extrair Ricardo dessa teoria.

Renda absoluta
(O Capital 3.45)

Marx também passa certo tempo analisando o tema da renda absoluta,


conceito um tanto misterioso desde o ponto de vista das relações sociais
modernas. Uma renda absoluta é um encargo monetário para o acesso a um
recurso exigido por um dono de terra independentemente de sua
produtividade relativa. Esse tipo de encargo desempenhou um papel
importante nas relações sociais rurais na Alemanha do século XIX; portanto,
constituiu uma preocupação para Marx, ainda que seu papel seja muito
reduzido, pelo menos nos países capitalistas avançados do século XX.

Os donos de terra podem impor as rendas absolutas somente em comum


acordo, seja através de um acordo privado ou mediante restrições legais. Na
ausência desse comum acordo, a competição entre os donos de terra forçará a
que o componente absoluto da renda baixe a zero. Marx expressa esse ponto
dizendo que a renda absoluta é um fenômeno de classe e reflete as relações
de poder dos detentores de terra organizados como classe em relação com os
camponeses e os agricultores capitalistas. Somente como classe é que os
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donos da terra podem impor uma tarifa de acesso independente da


produtividade real da terra.

A renda como mais-valia social


(O Capital 3.37)

Até o ponto em que é paga pelos capitalistas, a renda (diferencial ou absoluta)


faz parte da mais-valia social. Sua existência não altera os princípios gerais
que governam a produção de valor ou a apropriação de mais-valia elaborados
por Marx até aqui.

É certo que o pagamento de uma renda pelos recursos escassos terá um efeito
sobre o preço de produção se compararmos com uma situação em que não
existam os direitos da propriedade sobre os recursos superiores escassos e na
qual os capitalistas tenham acesso às mesmas técnicas. Como se pode ver em
nosso exemplo da cascata, o capitalista individual julga a renda como uma
dedução do lucro bruto. O preço de produção terá de se elevar até um ponto
em que o capital possa obter a taxa de lucro médio sobre os recursos menos
favoráveis que se utilizem, e as rendas sobre os melhores recursos se
ajustarão de maneira correspondente para equalizar a taxa de lucro sobre os
capitais empregados com eles.

O Juro
(O Capital 3.21-3.25)

O juro e o crédito
(O Capital 3.21-3.22)

Quando um agente econômico empresta dinheiro a outro, o emprestador


encontra-se em uma posição de negociação com respeito ao pagamento não
apenas do que emprestou, mas de um dinheiro adicional chamado juro. O juro
é a forma mais simples de mais-valia, porque não há mediações entre o
desembolso de dinheiro e apropriação de juros. Nos termos esquemáticos de
Marx, a forma do juro é

D — D’ (D’= D+∆D)

onde D é o dinheiro emprestado, o principal, e ∆D é o juro, ou a mais-valia


paga junto com o principal. Quando dividimos o juro pelo principal, no período
durante o qual se faz o empréstimo, obtemos um índice de rendimento puro, a
taxa de juros. Se, por exemplo, o emprestador cede $1000 durante um ano e
recebe $1100 ao final do ano, o juro é de $100 e a taxa de juros de 10%
anual .

A forma do juro provavelmente é tão antiga como o dinheiro e, em


conseqüência, tão antiga como a própria forma mercadoria. Mas as
motivações dos que tomam recursos e dos que emprestam podem ser
diferentes em distintas sociedades, e os princípios que explicam a taxa de
juros igualmente podem diferir. Por exemplo, na antiga Roma, o tomador de
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recursos era frequentemente um herdeiro que queria gastar parte dos bens
que receberia como herança, antes da morte de seu proprietário. O
pagamento desse juro sobre o empréstimo, nesse caso, supostamente incluía
um elemento de prêmio de seguro para proteger o emprestador contra a
possibilidade de que o herdeiro morresse antes. Nas sociedades agrícolas
tradicionais, os camponeses que enfrentam uma má colheita frequentemente
obtêm empréstimos para assegurar sua sobrevivência física. Na sociedade
capitalista moderna, a maior parte do crédito é absorvida por companhias
capitalistas, cuja motivação é a obtenção de mais-valia e a sobrevivência
econômica frente a uma ameaça de bancarrota. Mas certa parcela importante
do crédito cabe às famílias, que obtêm empréstimos para financiar a
propriedade de suas casas e seu consumo, e ao Estado.

Devido ao fato de que o pagamento de juros implica a transferência de um


valor para o qual não há equivalente no mercado, o juro sempre deve basear-
se no intercâmbio desigual ou na exploração. A exploração pode ser direta ou
indireta. O camponês pobre que toma recursos, que paga juros derivados de
seu próprio trabalho e seu produto, é explorado de maneira direta. O herdeiro
romano, que paga o juro a longo prazo a partir dos rendimentos derivados de
sua herança (que se baseiam na exploração de escravos) e a companhia
capitalista, que paga juros extraídos da mais-valia de que se apropria pelo
trabalho assalariado, pagam juros pela exploração de outros. A análise do juro
baseado na exploração e no intercâmbio desigual não nos indica nada sobre os
motivos que fomentam a transação de crédito: ambas partes da transação
podem estar muito satisfeitas e podem sentir que a oportunidade de
emprestar e pedir emprestado é uma questão inteiramente positiva. Mas
desde o ponto de vista social, o valor transferido tem que surgir do trabalho
social, e a forma do juro demonstra que não há um equivalente direto em
tempo de trabalho a que renuncie o agente que recebe o juro.

O juro na produção capitalista


(O Capital 3.23)

Ainda que os empréstimos às famílias e ao Estado sejam relevantes na


sociedade capitalista avançada, Marx foca sua atenção nos empréstimos
obtidos pelas companhias capitalistas, adotando o ponto de vista de que essas
transações constituem o elemento dominante e determinante na formação da
taxa de juros.

O capitalista obtém um empréstimo em primeira instância com o fim de


utilizar o dinheiro recebido como dinheiro-capital, para investi-lo no circuito do
capital e, como resultado, apropriar-se de uma mais-valia. Quando se inclui o
crédito, podemos estender o diagrama de Marx do circuito do capital [forma
do ciclo do capital-monetário] a

D0 — D — M {MP;FT} . . . P . . . M’ — D’ — D0’

onde D0 representa o dinheiro original do emprestador, que se transfere ao


tomador capitalista, depois passa através do circuito do capital, e participa na
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apropriação de mais-valia. D0’ é o pagamento do principal e do juro pelo


tomador capitalista ao emprestador capitalista.

Marx conclui então que os pagamentos de juros por parte das companhias
formam parte da mais-valia apropriada na produção capitalista. Não obstante,
nem todos os pagamentos de juros realizados em uma sociedade capitalista
são feitos por companhias capitalistas. As famílias dos trabalhadores, por
exemplo, podem obter empréstimos para adquirir casas ou financiar seus
gastos de consumo. Os juros são derivados diretamente de seus salários. Os
juros nesse tipo de transação certamente representam exploração, porque as
famílias renunciam a certa parte de seus direitos sobre o tempo de trabalho
social sem nenhum equivalente; mas não constitui exploração através da
compra e venda de força de trabalho. Novamente, dizer que os juros baseiam-
se na exploração não significa dizer que exista algo injusto ou involuntário
nessa transação. Tanto o trabalhador como o emprestador podem estar muito
contentes com a transação de crédito, dadas a situações sociais em que se
encontram. Os empréstimos ao Estado são pagos com os rendimentos
estatais. Para compreender a fonte dessa mais-valia, temos que observar a
fonte dos rendimentos estatais, que poderia consistir em uma participação na
mais-valia capitalista através de meios ficais, ou impostos sobre o salário, ou
mais-valia derivada da produção capitalista estatal.

Exteriorização da taxa de juros


(O Capital 3.24)

Nas economias capitalistas altamente desenvolvidas, a obtenção e a


concessão de empréstimos convertem-se em características rotineiras e
burocratizadas dos negócios cotidianos. A concorrência entre os tomadores de
empréstimos e os emprestadores cria uma taxa de juros de mercado que,
como qualquer outro preço de mercado, parece ser externa às decisões de
todos os agentes implicados. Ainda que a fonte do juro seja na realidade a
mais-valia de que se apropriam os capitalistas individuais, cada capitalista
considera a taxa de juros como um fato coercitivo e externo a ele próprio.
Esse processo origina várias das ilusões mais enganosas da sociedade
capitalista.

Em primeiro lugar, o capitalista é levado a dividir sua própria mais-valia entre


a parte que representa os juros, que poderia ter recebido se houvesse
emprestado seu próprio capital, e o resto (que pode ser positivo ou negativo).
Marx chama esse resíduo de ganho empresarial, isto é, a mais-valia que resta
após o pagamento de juros à taxa de mercado sobre o capital monetário
investido. Posto que o capitalista poderia ter emprestado seu próprio capital
monetário à taxa de juros de mercado, o componente da mais-valia
correspondente aos juros parece ser o rendimento sobre o dinheiro como tal,
independentemente das decisões de produção que tome o capitalista. Não
obstante, o ganho empresarial sobe ou baixa em relação direta com a boa ou
a má fortuna, com o bom ou mau julgamento do próprio capitalista, e por isso
parece constituir um rendimento derivado de sua própria supervisão direta do
processo de produção. Isso constitui uma causa importante para a idéia
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existente na sociedade capitalista de que os lucros são um rendimento de


administração, ou da tomada de riscos, ou um salário da supervisão, e não
uma parte da mais-valia social que surge da exploração dos trabalhadores.

O capitalista não tem que incorrer em empréstimos monetários para


considerar a taxa de juros como um custo. Posto que poderia haver
emprestado seu capital monetário à taxa de juros, essa parece representar
para ele um custo de oportunidade de utilizar seu próprio capital em seu
próprio processo produtivo. Se chega a alcançar uma taxa de lucro
exatamente igual à taxa de juros de mercado, em certo sentido não terá
obtido nada por seus esforços, ainda que desde um ponto de vista social tenha
contribuído para produção de mais-valia social.

Uma vez que surge a taxa de juros como fato social, todos os agentes dentro
da sociedade capitalista se vêem forçados a considerar o dinheiro como valor
potencialmente expansível, que poderia crescer em proporção à taxa de juros
se fosse emprestado. Portanto, a taxa de juros constitui um custo de
oportunidade para cada decisão de gastar em toda economia, não somente
para o capitalista. Todas as pessoas devem ponderar constantemente acerca
de qualquer gasto proposto contra a opção de deixar crescer o dinheiro à taxa
de juros. Essa necessidade cria um prejuízo sistemático contra os gastos cujos
benefícios se obtém no futuro, depois de certo tempo. Os economistas, ao
observarem essa tendência prevalecente na sociedade capitalista de descartar
os benefícios futuros, chamaram a conduta resultante de preferência no
tempo. De fato, alguns economistas tentaram argumentar que a taxa de juros
é provocada por uma preferência no tempo, inata na constituição psicológica
dos seres humanos individuais. Marx afirma que a situação real é exatamente
o oposto: o surgimento de uma taxa de juros sobre a base da apropriação da
mais-valia é que cria uma preferência no tempo nas decisões dos indivíduos
na sociedade capitalista.

Determinação da taxa de juros

Em uma economia dominada pela produção capitalista, os principais


emprestadores e tomadores de empréstimo são as companhias capitalistas. As
famílias e o Estado podem participar no enorme mercado de fundos criados
pelos créditos capitalistas, mas a suposição de Marx é que a taxa de juros
cria-se na negociação entre as companhias capitalistas, atuando umas como
emprestadoras e outras como tomadoras. A existência de bancos e outros
intermediários financeiros não modifica significativamente esta situação. Em
vez de negociar diretamente entre si, o emprestador e o tomador de
empréstimo negociam, cada um independentemente, com o intermediário
acerca do nível da taxa de juros.

Marx disse que não existe nenhum princípio científico geral que determine o
nível da taxa de juros em relação com a taxa de lucro. Em condições normais,
o juro não poderia exceder a mais-valia total apropriada, porque os tomadores
de empréstimo não teriam incentivo algum para recorrer a empréstimos. Em
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forma similar, a taxa de juros não poderia baixar a menos de zero, porque os
emprestadores não contariam com incentivo para emprestar.

Ao risco de aventurarnos no reino da fantasia, poderíamos fazer uma tentativa


para ampliar a explicação que oferece Marx sobre a taxa de juros em certas
direções. Em primeiro lugar, sob as condições preponderantes no século XX, a
taxa de juros em termos de valor poderia cair a menos de zero, porque muitos
emprestadores potenciais não contam com uma maneira segura de manter o
valor a uma taxa de rendimento zero. O emprestador potencial em um
sistema monetário moderno tem que emprestar a um banco ou ao Estado
mediante seu uso de moeda corrente, ou tem que transformar sua riqueza em
uma reserva de bens físicos que são custosos de se manter, proteger e
liquidar. Marx claramente estava pensando em um sistema de mercadoria-
dinheiro, onde o emprestador pode escolher conservar ouro, a um baixo custo,
em vez de emprestar.

Em segundo lugar, pode haver alguns princípios sistemáticos importantes que


governem o nível da taxa de juros, dada a taxa de lucro. Se as companhias
capitalistas não se defrontam com as incertezas na produção e realização de
valor, supostamente levariam a taxa de juros a um ponto de igualdade com a
taxa de lucro médio, dando assim cobertura para os custos em que se poderia
incorrer ao realizar o empréstimo na realidade. Uma companhia capitalista que
estivesse segura de obter a taxa de lucro médio sobre um empréstimo teria
um incentivo para pedir emprestado sempre que a taxa de juros se
encontrasse por debaixo da taxa de lucro e não teria um incentivo para
emprestar até que a taxa de juros alcançasse a taxa de lucro médio.

Mas na realidade a apropriação da mais-valia no âmbito do capital individual


está muito longe de ser uma certeza, e o capital enfrenta a perspectiva da
aniquilação econômica através da bancarrota, se sofre uma incapacidade
crônica de realizar suficiente mais-valia para cobrir suas obrigações de
pagamento de juros. Nessas condições, a taxa de juros pode diferir da taxa de
lucro, dependendo da distribuição das companhias capitalistas com respeito ao
risco de bancarrota e as suas taxas de lucro realizadas.

A teoria marxista da taxa de juros segue a tradição das teorias dos fundos
emprestáveis, que destacam a origem da taxa de juros nas transações sobre
novos empréstimos em qualquer ponto temporal; distingue-se das teorias da
preferência por liquidez (Keynes, 1936), que afirmam que a taxa de juros se
forma principalmente nos mercados secundários de empréstimos antigos.

Capital fictício

Uma vez que tenha surgido uma taxa de juros das inúmeras transações de
crédito, ela produz mais efeitos econômicos curiosos. A qualquer fluxo de
rendimentos, surja ou não da apropriação de mais-valia na produção
capitalista, corresponderá um preço - seu valor capitalizado - que depende da
taxa de juros.
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Tomemos como exemplo um título público. O Estado cria um fluxo de


rendimentos ao prometer pagar $100 anuais ao detentor de seu título (como
no caso de um “consolidado”, um título sem vencimento). Se a taxa de juros é
de 10% e espera-se que o fluxo continue indefinidamente, um investidor
estará disposto a pagar $1000 pelo título. O investidor considera essas $1000
como um capital porque os paga em troca do fluxo de pagamentos de juros do
Estado; mas não corresponde a nenhum valor realmente investido na
produção capitalista, porque os juros são pagos a partir de rendimentos
estatais. Marx chama a esse valor capitalizado capital fictício, porque para seu
proprietário aparece como um valor de capital, mas de fato não representa
parte alguma do capital social produtivo.

Vários fenômenos similares revestem-se de uma importância considerável. As


ações ordinárias de uma corporação dão aos seus proprietários o direito a uma
porção dos pagamentos de dividendos realizados pela corporação. A relação
entre esses pagamentos de dividendos e o ganho empresarial real da
corporação não é muito estreita, porque a gerência pode decidir pagar-lhes
uma parte grande ou pequena do ganho empresarial como dividendos, ou
pagar um fluxo mais estável de dividendos que o fluxo do ganho empresarial.
O mercado capitalizará o fluxo esperado de dividendos à taxa de juros vigente,
tal como capitaliza o juro pago sobre a dívida do Estado. O valor do capital
resultante pode exceder em grande medida o valor do capital realmente
investido pela corporação, sendo o excesso correspondente a um capital
fictício. As vicissitudes do capital fictício proporcionam alguns dos episódios
mais dramáticos nas finanças. Por exemplo, se sobe a taxa de juros, podem
simplesmente desaparecer quantidades tremendas de capital fictício, apesar
do fato de que o capital realmente invertido na produção pode não haver
mudado em absoluto, ou somente um pouco.

O preço da terra, incluindo todos os recursos naturais produtivos, constitui um


caso similar. Posto que a possessão de recursos produtivos escassos permite a
apropriação de um fluxo de renda, o mercado também capitalizará esse fluxo
em relação à taxa de juros. Dessa maneira, cria-se uma riqueza substancial
em termos privados sem que exista uma contrapartida social no capital
acumulado.

Lucro comercial: trabalho produtivo e não produtivo


(O Capital 3.16-3.19)

Lucro sem produção


(O Capital 3.16)

O terceiro caso importante em que os agentes apropriam-se de um


rendimento sem explorar diretamente os trabalhadores relaciona-se com o
capital comercial. O capitalista comercial obtém lucros comprando e vendendo
mercadorias existentes sem transformá-las produtivamente em modo algum.
Por exemplo, os intermediários podem obter lucros comprando, digamos, óleo
vegetal em tanques, conservando-o durante certo tempo e vendendo-o
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depois, sem que tenha sucedido nada ao óleo vegetal como resultado desta
ação.

Esse lucro comercial constitui um enigma para a teoria do valor trabalho,


porque não se consumiu nenhum trabalho para a criação de um novo valor.
Portanto, surge esta pergunta: de onde provém a mais-valia de que se
apropria o capital comercial?

Esse problema não se dá no caso em que o capital realiza serviços de


transporte ou comunicação. O fato de mover uma mercadoria entre um ponto
e outro altera seu valor de uso e constitui um aspecto da produção. Os
serviços de comunicação que resultam essenciais para os processos produtivos
são, tanto quanto as matérias-primas, um fator direto da produção. Em
muitos casos, o mesmo capital relaciona-se tanto com a obtenção de um lucro
para obter um ganho ao transportar e transformar a mercadoria, que são
atividades produtivas, quanto com a obtenção de um lucro exclusivamente
pela compra e venda de mercadorias, que não constituem atividades
produtivas. Nesses casos, o problema do lucro comercial limita-se à porção de
lucros do capital que corresponde à atividade exclusiva de compra e venda.

Origem do lucro comercial no intercâmbio desigual


(O Capital 3.17)

Marx explica que o lucro comercial, dentro do marco da teoria do valor


trabalho, origina-se no intercâmbio desigual. Seu argumento sustenta que o
capital comercial adquire as mercadorias abaixo de seu valor e as vende por
seu valor [preço de produção]. A diferença é a fonte dos rendimentos do
capital comercial.

Como ocorre geralmente no intercâmbio desigual, essa situação não


necessariamente deve se considerada prejudicial para os interesses dos
produtores das mercadorias que as vendem abaixo do seu valor. Um
capitalista produtor poderia internalizar as funções do capital comercial e
vender as mercadorias que produz a seus consumidores finais. Mas existe uma
variedade de razões pelas quais isso poderia resultar custoso ou
inconveniente. O produtor pode contar com conhecimentos e habilidades
consideráveis com respeito ao processo de produção, sua tecnologia, a
mobilização de uma força de trabalho produtiva, etc., sem saber muito sobre
os mercados e a distribuição. Portanto, pode resultar mais barato vender a
mercadoria a um intermediário a um valor um pouco menor que seu valor
total do que a conservá-la até que seja adquirida pelo consumidor final.

Desse ponto de vista, o surgimento do capital comercial como setor


independente do capital representa a subdivisão de um dos modos de
existência do capital em seu circuito. Em forma similar, o surgimento do
capital financeiro como categoria independente corresponde à subdivisão do
modo do capital-dinheiro no circuito do capital. Historicamente, observamos
oscilações no grau de independência do capital produtivo alcançado por esses
dois modos. Em certos momentos, o capital comercial e o capital financeiro
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podem ser poderosos e estar altamente desenvolvidos na relação com capitais


produtivos reduzidos e desorganizados. Em outros momentos, a consolidação
do capital produtivo pode levá-lo a tentar reabsorver as funções financeiras e
comerciais.

A conseqüência analítica importante desse enfoque dos lucros do capital


comercial é a afirmação de que os determinantes da rentabilidade do capital
comercial são distintos dos determinantes da rentabilidade do capital
produtivo. Se analisamos a rentabilidade do capital produtivo, os fatos nos
conduzirão a considerar as mudanças na produtividade do trabalho, a
organização do processo produtivo e o nível dos salários. Se analisamos a
rentabilidade do capital comercial, descobrimos que gira em torno dos
conhecimentos especiais ou da posição competitiva que possua o capital
comercial em relação com o mercado.

O capital comercial e a equalização das taxas de lucro


(O Capital 3.17)

Apesar do fato de que os determinantes subjacentes da rentabilidade do


capital comercial são distintos dos do capital produtivo, o capital comercial
ainda participa na equalização das taxas de lucro. Para obter um lucro na
compra e venda de mercadorias, um capitalista comercial deve investir certa
quantidade de capital; e esse capital tenderá a exigir a taxa de lucro médio.
Até o ponto em que se desenvolve um setor independente de capital
comercial, a concorrência entre os capitais comerciais tenderá a reduzir o grau
de intercâmbio desigual até que os rendimentos dos capitais comerciais
bastem apenas para cobrir a taxa de lucro médio.

Esse efeito reforça a ilusão de que o capital mesmo, e não o trabalho, é o


produtor de valor. Em casos extremos resulta demasiado óbvio que o lucro do
capital comercial não tem nada que ver com o consumo de trabalho na
produção. A explicação de Marx mostra como o lucro de capital comercial pode
ser considerado parte da mais-valia que cria e se apropria o capital produtivo,
mas que esse compartilha, de alguma maneira, com o capital comercial.

Trabalho produtivo e trabalho não produtivo


(O Capital 3.16, 3.17)

As atividades comerciais, uma vez que tenham alcançado certo nível,


requerem trabalho além de capital. A execução das transações de compra e
venda, a manutenção de registros e a aquisição de informação sobre
mercados, requerem tempo e esforço humanos. Mas, desde o ponto de vista
social, essas atividades não aumentam a produção total de valores de uso;
relacionam-se com a luta por redistribuir o valor e a mais-valia uma vez que
tenham sido produzidos.

Marx amplia uma distinção realçada por Adam Smith, a que existe entre o
trabalho produtivo e o não produtivo. Sem dúvida, Smith deu várias definições
parciais do trabalho produtivo inconsistentes entre si. Seu ponto de partida é o
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contraste entre o trabalho contratado por um capitalista e o trabalho realizado


por serventes domésticos. O trabalhador industrial produz uma mercadoria,
que se venderá no mercado para recuperar seu custo de produção e colher
uma mais-valia, enquanto o trabalhador doméstico realiza serviços diretos
para seu patrão, mas não produz nada para o mercado. Smith chamou
produtivo ao primeiro tipo de trabalho, no sentido de que repunha seus
próprios custos e produzia uma mais-valia, e não produtivo ao segundo tipo,
no sentido de que consumia valor em lugar de incrementá-lo. Infelizmente,
Smith confundiu essa distinção relativamente clara ao levantar outra, bastante
distinta: a que existe entre o trabalho que produz um produto físico e o que
produz um serviço. O problema é que o trabalho que produz um serviço, que
se vende no mercado a um preço que excede seus custos, é igualmente
produtivo, no primeiro sentido, ao trabalho que produz um objeto físico
duradouro para a venda. Finalmente, Smith propôs uma distinção importante
entre os pontos de vista privado e social, afirmando que o trabalho produtivo
aumentava a riqueza social, o trabalho não produtivo a consumia. Nesse
contexto, é que ele expressa seu famoso comentário de que o rei da
Inglaterra, tal qual o exército, a armada e a burocracia em geral, é um
trabalhador não produtivo, porque consome mais do que produz riqueza
social. O problema nesse caso é que o trabalho pode ser empregado para
produzir uma mais-valia para um capitalista particular, apesar de que, desde
um ponto de vista social, seja não produtivo. Por exemplo, o trabalho invertido
na promoção de venda das mercadorias pode ser totalmente não produtivo
desde o ponto de vista social, se os esforços publicitários de dois concorrentes
tem efeitos equivalentes mas opostos, com o que se cancelam entre si. Mas se
os serviços publicitários são produzidos como mercadoria em companhias
organizadas com tal propósito, o trabalho consumido com eles recupera seus
custos e proporciona uma mais-valia ao capitalista que o emprega, ainda que
sua mais-valia em realidade se transfira das esferas produtivas.

Marx aproveita a confusão de Smith como oportunidade para elaborar um tipo


de broma dialética. Em primeiro lugar, diz ele, todo modo de produção define
o trabalho produtivo e o não produtivo a sua própria maneira e de acordo com
sua própria lógica. O problema, afirma, é que Smith não reconhece que está
descrevendo uma economia especificamente capitalista, em que a noção de
produtividade está firmemente aderida à produtividade de valor ou mais-valia.
Enquanto numa sociedade organizada mais racionalmente a palavra produtivo
poderia relacionar-se com as atividades que satisfazem necessidades
humanas, na sociedade capitalista relaciona-se com atividades que produzem
uma mais-valia. Marx sustenta que para reconstruir essa distinção na forma
racional devemos considerar produtivo na sociedade capitalista o trabalho que
aumenta a mais-valia social e por isso a acumulação potencial de capital.

Para começar, essa posição rechaça a diferença entre a produção de objetos


duradouros e serviços, que confunde a explicação de Smith. Os serviços, como
o transporte ou a comunicação, podem contribuir para a mais–valia social
exatamente na mesma medida que a produção de objetos físicos duradouros.
Mas ultrapassa a primeira definição de Smith, ao insistir em uma prova social
para a produção de mais-valia. O trabalho publicitário descrito antes
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certamente produz uma mais–valia para seu capitalista particular, mas resulta
igualmente claro que consome mais-valia social em vez de incrementá-la, por
essa razão deve ser considerado não produtivo.

Resulta extremamente importante recordar que Marx, ao reconstruir a


distinção de Smith, não a apoia como categoria universal. Em outro modo de
produção, supostamente se desenvolveria um conjunto diferente de categorias
para definir a produtividade social. Mas a definição do trabalho produtivo como
o trabalho que produz mais-valia desde o ponto de vista social tem sentido
dentro da produção capitalista e é importante na análise da acumulação do
capital.

Também é preciso reconhecer que ter uma definição adequada e consistente


do trabalho produtivo não resolve o problema de sua medição real em
situações concretas. Muitos casos podem ser relativamente indiscutíveis, mas
sempre existirão casos indeterminados que não resultam muito simples de
resolver.

A exploração dos trabalhadores não produtivos


(O Capital 3.17)

Apesar de que não se pode considerar que os trabalhadores assalariados em


esferas da economia tais como o comércio, os serviços financeiros e a
publicidade estão aumentando a mais-valia social e por isso são não
produtivos, esses mesmos trabalhadores (aos quais, por convenção, nos
referimos como trabalhadores não produtivos) são explorados da mesma
forma que os trabalhadores produtivos. Ocorre a exploração através da
relação de trabalho assalariado quando um trabalhador inverte mais horas de
trabalho que aquelas pelas quais recebe o equivalente em seu salário. Nesse
sentido, o trabalhador não produtivo é exatamente igual ao trabalhador
produtivo. Se um trabalhador não produtivo despende 2.000 horas em um ano
e se o valor do dinheiro é de 1/15 de hora por dólar, o equivalente monetário
desse tempo de trabalho é de $30.000. Se o salário do trabalhador é,
digamos, de $15.000 anuais, o que representa 1.000 horas de tempo de
trabalho social, a metade de tempo de trabalho que se despende não lhe é
retribuída, tal como ocorre a um trabalhador produtivo.

Pode resultar difícil para um trabalhador perceber o grau de produtividade


social de um trabalho. Um escriturário que passa de arquivar registros de
programação de produção (um trabalho produtivo, já que a programação da
produção forma parte do processo direto de produção) a arquivar notas fiscais
(um trabalho não produtivo, porque o processamento de notas fiscais
relaciona-se com a distribuição mais que com a criação de novo valor)
provavelmente experimente pouca mudança de maneira consciente. O ponto
importante é que, nas relações de produção capitalistas, tanto o trabalhador
produtivo como o não produtivo entregam todo o seu tempo de trabalho a um
patrão e recebem salários equivalentes somente a uma parte desse tempo de
trabalho.

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