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poucos tém!
Jung Mo Sung
Um californiano, Doy Henley, que pilota uma mansão de Us$ 500 mil
admite que "o investimento é obsceno", porém, ao mesmo tempo afirma:
"mas é bom ter algo que pouca gente tem". É obsceno ou bom?
2. Desejo e concorrência.
A expressão "é bom ter algo que pouca gente tem" revela que por trás
deste juízo de valor está uma relação baseada na concorrência. O "bom" não
é ter algo que é bom porque é útil, mas ter algo que outros não têm e desejam
ter. Isto é, o objeto é desejado e valorizado porque outros também desejam.
É a intenção de possuir o objeto desejado ou passíveis de serem desejados
por outros, a de criar inveja nos outros, que leva a segunda interpretação
prevalecer e a efetuar a compra.
Esta idéia de que numa sociedade como a nossa o indivíduo para "ser"
tem que "ter" mercadorias desejados ou apresentados pelos meios de
comunicação como desejados pelos modelos indicados pela própria
sociedade nos ajuda a entender por que tantos vivem a ansiedade de
consumo. Crianças costumam pedir a seus pais para irem a Shopping Centers
fazer compras, sem saber exatamente o que querem ou necessitam comprar.
Elas costumam argumentar dizendo: "eu não sei o que preciso comprar, mas
sei que preciso comprar algo". No fundo, querem "ser". É por isso que as
propagandas famosas, como a de tênis Nike, não falam quase nada sobre as
qualidades do produto, mas só das qualidades do ídolo que aponta o seu
desejo em direção à mercadoria.
Mais ricos, ficamos cada vez mais pão-duros. Sobram produtos agrícolas
que são jogados nos rios ou estragam nos armazéns. Sobram produtos
industriais que atendem necessidades que precisam ser criadas. Sobra mão-
de-obra porque gente custa salário. Não podemos gastar dinheiro com os
ineficientes, com os aposentados ou com os mais pobres.
Mas não temos tempo de nos perguntar sobre o sentido de tudo isso.
Por isso, o mundo nos parece embaraçado e fora de foco.
5. Novos desejos.
Mesmo que nos discursos estes temas ainda tenham lugar, elas ocupam,
na maioria das vezes, o mesmo lugar ocupado pelo juízo "é obsceno" no
exemplo com que iniciamos.
Para superarmos as nossas graves crises sociais e ecológica precisamos
de ações &emdash; individuais e coletivas &emdash; diferentes das que têm
prevalecido. E para isso, precisamos rever e mudar a pauta de prioridade das
nossas vidas, das nossas sociedades e dos nossos governos. Isso pressupõe
por sua vez uma outra forma de interpretar a nossa vida, as pessoas e as
realidades que nos cercam. Interpretações mais humanizantes da nossa
realidade humana exigem, por sua vez, novos desejos e novas intenções. Há
um longo caminho a percorrer.