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A visão do corpo no Hatha Yoga

por Pedro Kupfer

O Hatha Yoga, ou “Yoga da Força”, é uma forma de Yoga pós-clássico (posterior ao Yoga Clássico
do sábio Patañjali), que se desenvolveu sob influência do Vedanta, bem como das idéias do
Nathismo, escola de Kaula Tantra, cujo fundador é o lendário sábio Matsyendranatha. Nesse
método, o foco das práticas passa a ser o corpo, usado como ponto de partida para a
investigação das realidades mais sutis e profundas dessa unidade chamada ser humano.

Os aspectos não visíveis do ser humano acima mencionados são o corpo sutil (pranamaya kosha),
os centros e canais de energia (chakras e nadis), o potencial psico-espiritual (kundalini), os poderes
psíquicos (siddhis), a reflexão sobre a verdadeira natureza do Ser (atma) e sua relação com o mundo
(jagat).

Até o surgimento desse método de Yoga, que, aliás, é até hoje o mais conhecido e popular, a visão
que se tinha sobre o corpo humano no mundo da espiritualidade indiana era desabonadora e
negativa. O corpo era considerado apenas uma bolha de pele recheada de carne, ossos, secreções e
impurezas, fonte do sofrimento, do apego e da dor.

O Hatha rejeitou essa visão desde o início, unificando a visão tântrica do corpo como templo da
divindade, com a constatação vedântica de que tudo o que existe na criação é expressão do
Ser, que é ao mesmo tempo criador e agente material da criação.

Assim, esse método busca conquistar um estado de perfeição corpórea chamada “corpo
adamantino” (vajra deha), ou “corpo divinal” (deva kaya), e combinar essa perfeição física
com um aperfeiçoamento similar nas dimensões sutil, emocional, mental e psíquica, para a
realização do supremo propósito de todas as formas de Yoga: a libertação da ignorância
metafísica (avidya), dos condicionamentos e do ciclo de mortes e renascimentos sucessivos
(samsara).

Esse estado de liberdade é chamado moksha, em sânscrito. A Shiva Samhita, assim como as demais
obras antigas de Hatha Yoga, trata sobre essa investigação.

O período em que o Hatha Yoga surgiu com toda a força coincide com um momento muito especial
na evolução da espiritualidade hindu, no qual os adeptos do Tantra apresentaram a uma Índia
pasmada e acomodada no ritualismo bramânico uma visão revolucionária e dinâmica do universo e
do homem. Para os tântricos, o corpo não é mais causa de perdição, mas veículo para a
transcendência e a realização da natureza divinal no homem.

O Kularnava Tantra (I:18) deixa isso bem claro:

“Sem o corpo, como realizar o [supremo] objetivo humano? Portanto, depois de adquirir uma
morada corpórea, o ser deve realizar ações meritórias (punya).”

E a Shiva Samhita (II:1-5) reafirma a mesma idéia:

“Neste corpo, o monte Meru [a coluna vertebral] está rodeado por sete ilhas: há rios, mares,
campos e senhores dos campos. Há rishis e sábios, e nele estão todas as estrelas e planetas. Há
peregrinações sagradas, templos e deidades nos templos. O sol e a lua, agentes da criação e da
destruição, movem-se nele. O espaço, o ar, o fogo, a água e a terra também se encontram aqui.

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Todos os seres que existem no mundo estão igualmente no corpo. Rodeando o monte Meru,
fazem suas tarefas. Aquele que sabe disto é um yogi. Não há dúvida sobre isto.”

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