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6 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E SEUS IMPACTOS SOBRE O TRABALHO


Manfredo Araújo de Oliveira
(Do Livro "Neoliberalismo e Reestruturação Produtiva", vários autores, Cortez Editora, SP, 1996, pág.
163-175)

O sistema capitalista de produção vem passando, sobretudo nas últimas décadas, por transformações
profundas, que provocaram enorme impacto tanto no próprio processo de produção, quanto no trabalho e
em suas estratégias de organização. Uma primeira delas é o que se convencionou denominar de
"globalização" das relações econômicas que pode ser entendida como uma fase de aprofundamento da
internacionalização da economia e que significa, em primeiro lugar, uma enorme interconexão dos
mercados cambiais, financeiros, de títulos e valores que se tomou possível por sua desregulamentação e
provocou fluxos maciços e continuados de capitais entre os principais centros financeiros do mundo. "0
resultado cumulativo desse processo pode ser retratado como um intenso processo de interpenetração
patrimonial entre as grandes burguesias industriais e financeiras das principais economias capitalistas.
Formaram-se também, ao longo dos anos oitenta, oligopólios internacionais e redes globais informatizadas
de gestão que possibilitaram as formas globais de interação que presenciamos hoje e que constituem a
nova configuração do sistema mundial de produção.
Além disto, este processo foi acompanhado por revoluções que trazem enormes conseqüências para a
estruturação de todo o processo produtivo. Em primeiro lugar, foi criado um novo paradigma de produção
industrial, a "automação flexível", possibilitado pela revolução tecnológica que transformou a ciência e a
tecnologia em forças produtivas, agentes da própria acumulação do capital, fazendo crescer enormemente
a produtividade do trabalho humano. Esta revolução consiste fundamentalmente na difusão de mecanismos
dirigidos por computadores capazes de programar todo o processo de automação. O elemento central neste
processo é a substituição da eletromecânica pela eletrônica como base do processo de automação, ou seja,
é a implantação da "tecnologia de informação" como eixo fundante do processo produtivo. A tendência
básica, que já se revela, é a assunção, cada vez mais intensa, pelo sistema produtivo, de computadores
mais poderosos e mais baratos dotados de inteligência artificial, capazes de atuar em diferentes níveis e de
possibilitar técnicas avançadas de integração. Isto significa dizer que se radicaliza, em nossos dias, uma
tendência que vem marcando o capitalismo desde o século passado: a ciência se transforma na "primeira
força produtiva"" e, consequentemente, o trabalho criativo e intelectual.

Todo este conjunto de mudanças provocou uma radical reestruturação do mercado de trabalho. A produção
flexível exige uma nova forma de organização da produção: no modelo que se consolidou no pós-guerra,
tínhamos basicamente a concentração em torno de determinados setores industriais fundamentais,
dominados por grandes monopólios que empregavam uma mão-de-obra numerosa e predominantemente
masculina. A produção era dirigida para um mercado anônimo e concentrada na produção de bens em
massa para um público consumidor passivo. Havia uma gestão macroeconômica da sociedade por meio de
políticas monetárias, fiscais e sociais, sobretudo na área da previdência e assistência social, da escola e da
moradia, de políticas de renda e de controle de demanda. Além disto, capitalistas e trabalhadores
negociavam a distribuição da riqueza produzida através de acordos, que procuravam combinar o máximo de
produtividade e intensidade de trabalho com salários crescentes.
Hoje, ao invés das enormes corporações do passado, com milhares de operários, produzindo desde a
matéria-prima aos produtos finais, verticalmente estruturadas com suas imensas redes burocratizadas, se
dá a descentralização do processo produtivo. Assim que se tem, em primeiro lugar, o núcleo da produção,
com tecnologia de ponta, onde atua a nova base social da produção, o artesão eletrônico, e uma rede
imensa de pequenas e microempresas, espalhadas a seu redor e com a tarefa de fornecer os elementos a
serem transformados por aquele núcleo de alta tecnologia. Uma primeira conseqüência disto foi a
dificuldade nova de organização dos trabalhadores nestas novas condições, o que desembocou, em muitos
lugares, no desmantelamento das burocracias sindicais corporativas. Este processo tem significado uma
diminuição expressiva da presença e da marca dos trabalhadores na sociedade e no Estado, com uma
conseqüente diminuição da consciência dos direitos sociais.
Para compreender estas mudanças é necessário ter presente o "novo quadro" de estruturação do mercado
de trabalho."
O centro deste novo quadro é formado por trabalhadores de tempo integral. Este grupo, que é cada vez
menos numeroso, constitui a nova base social da produção, pois é integrado por aquele tipo de trabalhador

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necessário para a produção flexível: polivalente, altamente qualificado, com um grau mais alto de
responsabilidade e de autonomia, recompensado em seu trabalho porque estimulado pela própria
reestruturação do processo produtivo a desenvolver sua imaginação criativa anteriormente atrofiada por um
sistema de produção que fazia dele um mero apertador de botões ou um parafusador. Normalmente, goza
de maior segurança no emprego, o que implica também a exigência de reciclagem permanente, já que o
trabalho agora exige elevada flexibilidade intelectual no enfrentar situações de mudança, uma forte
capacidade de análise de dados e competência comunicativa diferenciada, o que lhe abre espaço para
promoções e inúmeras vantagens.
Este "artesão eletrônico" desfruta de uma maior democracia, de horários mais flexíveis e de uma maior
autonomia no âmbito da produção imediata. É neste contexto que podemos entender as novas formas de
organização da produção com a finalidade de elevar a flexibilidade da própria produção e da força de
trabalho de tal modo que o trabalhador se possa identificar com sua atividade e com sua organização
empresarial.
Recupera-se, aqui, de alguma forma, a subjetividade de trabalhador: tornou se importante incorporar a
iniciativa e a criatividade do trabalhador ao processo de produção. Isto, por sua vez, exige um maior
conhecimento sobre a atividade específica desenvolvida, como também maior liberdade na execução das
tarefas.
Segundo D. Harvey, a periferia do quadro é composta por dois tipos distintos de trabalhadores. O primeiro
grupo é formado por trabalhadores em tempo integral, portadores de habilidades facilmente disponíveis no
mercado de trabalho, ou seja, trata-se do contingente de trabalho do setor financeiro, secretárias, pessoal
das áreas de trabalho rotineiro e também do trabalho manual menos especializado. Este grupo é
extremamente marcado pela rotatividade do trabalho e tem poucas oportunidades de carreira.
No segundo grupo ocorre uma flexibilidade numérica ainda maior, incluindo trabalhadores em tempo parcial,
trabalhadores casuais, pessoal com contrato público. Nesta esfera, a segurança no emprego é muito menor
e é possível observar, nas últimas décadas, um crescimento acentuado deste grupo, ou seja, a tendência
básica dos mercados de trabalho é reduzir o número de trabalhadores "centrais" e empregar cada vez mais
uma força de trabalho flexível, ou seja, que entra facilmente e é demitida sem dificuldade nos momentos
problemáticos do processo de produção.
A própria reestruturação do padrão tecnológico de produção ressuscitou formas de exploração do trabalho
que há muito haviam deixado de existir, pelo menos nos países avançados: sistemas antigos de trabalho
doméstico, artesanal, familiar e paternalista.
Este tipo de trabalhador funciona como uma fonte externa de alimentação para as grandes corporações,
onde a revolução tecnológica é hegemônica e faz o trabalho vivo evanescente dentro da estrutura produtiva
da empresa; daí a impressão, que se tem hoje, de termos chegado a uma sociedade onde todos são
produtores de mercadorias, portanto, de uma reposição, em bases diferenciadas, da circulação simples de
mercadorias, pois as pessoas se consideram fornecedores de trabalho materializado, uma vez que, agora,
"a compra-e-venda da força de trabalho é velada sob o véu da compra-e-venda de mercadorias
semielaboradas".
De fato, a reestruturação da produção fez com que estes trabalhadores não fizessem mais parte da
estrutura interna da empresa, uma vez que o trabalho direto não é mais a unidade dominante no núcleo
central das novas empresas organizadas de acordo com as tecnologias mais avançadas. Os trabalhadores
externos, independentes e autônomos têm, agora, a tarefa de produzir o grosso do produto. Seu trabalho
pessoal se torna a razão de seu sucesso na produção de mercadorias, de tal modo que suas vidas são
literalmente invadidas pelo trabalho, que é, mais do que nunca, meio de existência.
Por outro lado, o trabalhador tem a impressão de maior liberdade, pois desligado do sistema hierárquico
que articula a produção nas empresas. O fato de trabalhar em seu próprio local de trabalho lhe dá a
impressão de ser um cidadão no mundo do trabalho, sem que ninguém o comande em sua atividade, sendo
ele mesmo a fonte organizadora de todo o processo. O mais importante nesta nova configuração do
trabalho é que o trabalhador, tendo-se tomado vendedor de trabalho objetivado e não mais de sua força de
trabalho, sente-se proprietário, um verdadeiro comerciante, parceiro de seus antigos patrões. Num mundo
onde todos são produtores de mercadorias, os sindicatos, os antigos instrumentos de luta dos
trabalhadores, parecem, pelo menos, supérfluos.
Para F. J. S. Teixeira, nós estamos aqui diante de uma espécie de "reposição de formas antigas de
pagamento que foram dominantes nos primórdios do capitalismo e até mesmo na época de apogeu da
grande indústria", pois o que está ocorrendo é uma forma transfigurada do salário por peça, que, no século
passado, tornou possível o prolongamento da jornada de trabalho e o rebaixamento dos salários.

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Atualmente, em contraposição às formas de pagamento vigentes na indústria, o pagamento destes
trabalhadores depende da quantidade de mercadorias que eles fornecem às unidades finais de produção,
portanto, seu salário se determina a partir da capacidade de produção por unidade de tempo. Quem
controla todo o processo e inclusive estabelece os preços dos produtos? As unidades finais de produção,
que, inclusive, submetem os produtores a uma vigilância permanente no que diz respeito à qualidade de
produção, sendo que os custos da produção são assumidos pelos fornecedores, caso seus produtos não se
ajustem aos critérios de qualidade estabelecidos. Além disto, é também a empresa compradora que
estabelece o tempo de trabalho que deve ser despendido em cada unidade como base do pagamento a
seus fornecedores, um processo que abre espaço a todo tipo de descontos salariais e de fraudes por parte
dos capitalistas, que assim têm mais facilidade de escapar à legislação trabalhista. Já Marx, no século
passado, analisando o salário por peça, afirma que tal procedimento faz do trabalhador uma fonte
potencializada de auto-exploração, pois o trabalhador, nestas circunstâncias, tem interesse de aplicar sua
força de trabalho o mais intensamente possível e prolongar sua jornada de trabalho, ou seja, trata-se, em
última instância, de um processo de potencialização de produção de mais-valia. A nova revolução
tecnológica provocou transformações também nos próprios métodos de trabalho. São os novos modelos de
produção apontados como alternativas ao modelo taylorista-fordista. A tese central é que eles indicam
pistas para a consolidação de uma produção flexível, capaz de responder à variabilidade e à complexidade
crescentes de uma demanda criada pela abertura ao mercado internacional.
Um primeiro deles é o que é denominado Círculo de Controle de Qualidade (CCQ), nascido no Japão, mas
já bastante difundido no Brasil, cujo objetivo fundamental é fazer com que os trabalhadores se sintam
participantes nos negócios da empresa, conseguindo o aumento da produtividade e, com isto, reduzindo os
custos da produção. Estes círculos são constituídos normalmente por grupos de seis a dez trabalhadores de
um mesmo setor de trabalho, que se reúnem para propor soluções aos problemas de serviço. Na realidade
há uma contraposição entre o que dizem as empresas e o que, de fato, tem ocorrido. Para as empresas
estes círculos se destinam, em primeiro lugar, a tratar da melhoria das condições de trabalho, das questões
de segurança, higiene etc. De fato, estas questões são secundárias no funcionamento efetivo dos círculos,
cuja função principal tem sido mesmo contribuir para a redução dos custos.
A participação voluntária é, também, discutível, pois as empresas encontram meios para praticamente
obrigar a participação: os trabalhadores engajados nos círculos são contemplados com proteção especial
por parte das empresas, por exemplo, não entram no programa de dispensa periódica," Além disso são os
preferidos para a participação em cursos e para os planos de promoção das empresas
Qual o resultado deste processo para os trabalhadores? Em primeiro lugar, não há uma alteração da
estrutura formal das empresas, pois eles não implicam mudança nas relações de chefia, na hierarquia
existente nos locais de trabalho. O mesmo se pode dizer em relação à organização do trabalho, que
continua não-organizado em grupos. Os círculos não possuem poder para implantar suas próprias decisões,
assim que talvez sua atuação primeira seja na direção da racionalização do processo de trabalho, sem
qualquer influência nos negócios da empresa. Portanto, não há participação dos trabalhadores na gestão
empresarial, nem nos lucros das empresas e, muitas vezes, a implantação destes novos métodos tem
significado um desestímulo à ação sindical.
Uma outra técnica que provocou mudanças sensíveis no trabalho é o assim chamado sistema Just-in-
time/kanban, introduzido aparentemente com o objetivo de reduzir os estoques e melhorar a ocupação da
área disponível da fábrica. Just-in-time quer dizer produzir o produto necessário, na quantidade e no
momento necessário, isto é, produzir num determinado momento somente o que terá utilização imediata. A
lógica subjacente é a da vinculação muito próxima entre produção e mercado, o que implica a flexibilização
da produção. Há pressupostos indispensáveis para a introdução do sistema: processos produtivos em forma
de ilhas, padronização de tarefas e pouca flutuação na montagem final. A tecnologia exigida consiste em
agrupar as máquinas de forma que seja possível que cada grupo de máquinas, a ilha tecnológica, possa
produzir toda uma família de peças. Dois são os critérios para o agrupamento das máquinas: as
semelhanças geométricas e a seqüência da produção. A produção pode, então, ocorrer sem interrupções,
pois dentro da ilha a peça sai de uma operação e entra em outra imediatamente e o estoque não se forma,
reduzindo-se o tempo total gasto entre o início e o fim da operação.
Por outro lado, a padronização das tarefas é necessária para que o sistema funcione. A administração
estabelece, então detalhadamente, os fluxos do processo, os tempos de produção e a quantidade padrão
de trabalhadores necessários à operação em cada ilha. A gerência procura definir como os trabalhadores
devem trabalhar, tirando-lhes a autonomia sobre seu próprio trabalho. Além disso, é empregada uma série
de procedimentos para o controle da qualidade da produção, colocando dispositivos nas máquinas de tal
modo que os próprios trabalhadores podem controlar a qualidade do produto.
O kanban é um sistema de informações para tornar possível a produção Just-in-time e é este sistema de

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informações que controla a quantidade de produção em cada processo e substitui as ordens tradicionais de
fabricação.
A produção de massa flexível de artigos diferenciados e de qualidade é o que hoje se denomina método
japonês de produção, que "tem por fim combinar as exigências de qualidade e quantidade, e de opor-se à
prática industrial taylorista de divisão de trabalho através de uma recomposição dos trabalhos de fabricação,
manutenção, controle de qualidade e gestão dos fluxos de produção, efetuados por um só trabalhador
"polivalente".

Fonte: http://www.cefetsp.br/edu/eso/reestrutimpacto.html

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