Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Resumo
Introdução
1 Muitas Inteligências
Ao apresentar a sua proposta de reformulação do conceito de Inteligência, Howard
Gardner parte de um categórico conceito: “A inteligência é a capacidade de resolver problemas
ou de criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais cenários culturais”
(GARDNER, 1994, p. X). Para se chegar a tal ideia, é necessário ter em mente as premissas de
que: 1) a inteligência não é quantificável; portanto, sua extensão não pode ser medida por testes;
2) o indivíduo não se resume ao exercício de uma única capacidade intelectual, mas à
combinação delas em situações que as exijam ao longo da vida.
Nota-se, por essa definição, que Gardner valoriza o acionamento, pelo indivíduo, de
competências variadas ao interagir com a própria subjetividade e com seu meio. Abed (2014)
aponta para o descontentamento do pesquisador com a ênfase dada aos testes de QI
(Quoeficiente de Inteligência) formulados pelo psicólogo Alfred Binet no início do século XX,
os quais mediam o raciocínio lógico-matemático, considerando-o como sinônimo de
inteligência. A primazia da capacidade de calcular, de associar um objeto com outro e obter
uma identificação, de agrupá-los em conjuntos, entre outras capacidades relacionadas à
Inteligência Lógico-Matemática, considerada como precípua a outras para a evolução do
indivíduo e da sociedade humana, consiste num engano. Ou seja, apesar de ter sua importância,
não se pode julgá-la como mais importante que outras capacidades que, inclusive, associam-se
a ela em vez de neutralizarem-se entre si (GARDNER, 1994).
Além da Inteligência Lógico-Matemática, Gardner identificou, inicialmente, mais seis
Inteligências: Linguística; Musical; Espacial; Corporal-Cinestésica; Intrapessoal e Interpessoal
(as últimas denominadas Inteligências Pessoais). Cada uma delas apresenta um núcleo:
3
Entretanto, por mais que as emoções tenham uma função tão inerente e essencial à nossa
sobrevivência, a civilização ocidental se alicerçou no racionalismo lógico aristotélico e
4
cartesiano. A emoção, logo, passou a ser tratada como uma instância humana a ser controlada,
sublimada, normatizada, como detectou Freud no ensaio O mal-estar na civilização
(GOLEMAN, 2011, p. 33). Além disso, como menciona Ferreira et al., a expressão da emoção
foi vinculada às ideias de inconsistência e de fragilidade, consideradas tipicamente femininas
(2009, p. 4), o que predispõe o homem à inferiorização perante a sociedade.
2 Novas Inteligências
1) O indivíduo deve expandir a própria IE. As linhas mestras dessa expansão consistem
em ampliar a autoconsciência, controlar as emoções e motivar-se;
2) O indivíduo deve usar a IE nas relações com as outras pessoas. Para isso, é
necessário desenvolver técnicas de comunicação eficazes, desenvolver a destreza
interpessoal e ajudar as outras pessoas a se ajudarem.
É para essa nova realidade do trabalho, na qual a evolução do profissional está atrelada
― como dependência e como suporte ― à evolução da organização, que a escola deve preparar
o aluno, especialmente aquele que vive mais de perto a transição do mundo da escola para o
mundo do trabalho: o adolescente. De acordo com Gardner (2000), o mundo do adolescente se
contrapõe ao da criança por tornar-se mais amplo (em relação à sociedade), mais elevado (em
relação à capacidade de elaborar raciocínio abstrato) e mais profundo (em relação às questões
pessoais). Considerando-se que essa faixa etária corresponde aos futuros profissionais que
ocuparão postos no mercado de trabalho, é necessário refletir sobre quais habilidades e
capacidades, além das técnicas, serão imprescindíveis para uma educação afinizada com os
novos tempos.
Ferreira et al. (2009) partem do pressuposto de que o mercado de trabalho atual tem
exigido dos profissionais a capacidade de estabelecer confiança, segurança, automotivação,
enfim, condições emocionais que os tornem aptos a se satisfazerem no seu compromisso com
o trabalho. Assim, os aspectos psicológicos não podem ser ignorados na relação entre o
6
indivíduo e o trabalho, e cabe aos educadores se questionar acerca do preparo dos jovens para
enfrentar os desafios relacionados a tais competências.
Entre tais desafios, como menciona Goleman (2001), encontram-se capacidades como:
capacidade de comunicação (ouvir e expressar-se); adaptabilidade e criatividade diante de
situações de impasse; gerenciamento de si mesmo (em relação à autoconfiança, à
automotivação, à própria carreira); relacionamento interpessoal eficaz; contribuição para o
sucesso da organização. Num levantamento realizado nos Estados Unidos referidos pelo autor,
empregadores julgavam tais capacidades relevantes nos empregados. Em resumo, a maior
reclamação dos empregadores se referia a “falta de aptidões sociais” (2001, p. 25). Não seria
exagero declarar que, no Brasil, cujo mercado procura se alinhar ao mercado global em busca
de competitividade, as mesmas exigências se fazem presentes e servem de parâmetro para
determinar perfis profissionais e competências afins.
O autor estabelece, para cada uma das habilidades fundamentais da IE, um conjunto de
competências básicas que, servindo de orientação para a evolução dos profissionais já em
atividade, têm o potencial também de orientar o trabalho educacional. Sugere Goleman (2001,
pp. 41-42) a seguinte composição:
A natureza de cada ocupação poderá exigir mais algumas competências do que outras,
mas é mister que haja, ao menos, a predisposição do indivíduo para adquiri-las e aprimorá-las
em consonância com as demandas do trabalho.
3 NOVAS NECESSIDADES
Dados recentes do IBGE dão conta de que aproximadamente 1/5 dos jovens entre 18 e
24 anos (faixa etária que geralmente coincide com a conclusão do Ensino Médio e ingresso no
Ensino Superior e na vida profissional) estão sem ocupação formal. Esse dado contrasta com a
quantidade média de cerca de 1.700.000 estudantes egressos, anualmente, dos Ensinos Médio,
Técnico e Superior. Isto é, há um enorme contingente de recém-formados que encontram
dificuldades para se localizarem no mercado profissional; podem ser apontados como razões
disso não só os problemas de capacitação técnica mas também os de natureza atitudinal (VIA
DE ACESSO, 2017). Acrescente-se a isso, conforme Tartuce (2006), o medo do desemprego,
o qual obriga os jovens a procurarem constante atualização na instável realidade do trabalho
que tem se apresentado a eles. A crença de que uma qualificação contínua lhes permitirá
encaixarem-se nas vagas oferecidas os coloca em alerta quanto à necessidade de aprimorarem
as qualidades intrínsecas às carreiras escolhidas e a si mesmos enquanto sujeitos de suas
próprias vidas e das organizações nas quais se inserem.
concernentes a tal tarefa no que tange à “abordagem de temas pessoais e subjetivos” (2012, p.
7). Com essa afirmação, a autora deixa claro que existem sistêmicas limitações de tratamento
desses temas, oriundas da concepção generalizada de que consistem em temas abertos a
interpretações particulares.
Seguindo o já referido roteiro traçado por Goleman (2001), o qual distingue Inteligência
Emocional e competências emocionais, especificando as que são desejáveis nos profissionais,
é possível vislumbrar caminhos pedagógicos que contemplem formas mais objetivas de abordá-
las e avaliá-las. A escola, portanto, ganha dimensões aprofundadas quanto ao sentido de
preparar o jovem para a sociedade, particularmente para o aspecto profissional.
Esboça-se aqui uma visão estratégica que, obviamente inclui outras (envolvendo
práticas de ensino, estruturas educacionais, políticas governamentais orientadas para uma nova
9
Educação), mas basicamente trata-se de refletir sobre que aprendizagem pode ser oferecida
pelas instituições de ensino regular capaz de fortalecer, no sujeito em formação, seus próprios
instrumentos. Vale lembrar, neste momento, a contribuição de Carl Rogers e de seu conceito
de “aprendizagem significante e experiencial” (ZIMRING, 2010, p. 37). Esta se define por
qualidades como envolvimento pessoal e significado, isto é, aprende-se com a combinação
orientada de aspectos ilógicos (emoção, intuição) e lógicos (intelecto). Nesse tipo de
aprendizagem, o cognitivo e o sensorial caminham juntos, cooperam entre si, de modo que ―
trazendo isso para a dimensão foco do presente estudo ― ao progressivo domínio de conteúdos
técnicos se some o progressivo domínio de competências socioemocionais.
Ainda evocando Rogers, vale ressaltar que suas inquietações sobre a função do ensino
nos tempos atuais originam-se da evidente premissa de que o homem moderno “vive num
ambiente que está continuamente se alterando” [grifo do autor] (ZIMRING, 2010, p. 41).
Diante de tal realidade, urge que a finalidade do processo pedagógico deva ser a “facilitação
da mudança e da aprendizagem” [grifo do autor] (ZIMRING, 2010, p. 42). Ao aluno faz-se
essencial fornecer condições para que, por acionamento autônomo de suas competências, ele
seja preparado para aprender a aprender, a transformar-se, a compreender que o conhecimento
não é estático.
Sendo assim, ponderar estratégias pedagógicas e recursos didáticos que tenham como
princípio a junção ótima dessas duas dimensões do indivíduo e da aprendizagem ―
historicamente segregadas uma da outra ― deve estar na ordem do dia do ensino voltado para
os jovens. Abed (2014) analisa, como exemplo, uma sequência didática de uma oficina
idealizada por ela e ministrada em parceria com a Profa. Eloísa Fagali no Centro de Estudos e
Atendimentos em Psicopedagogia (CEAPp), na cidade de Uberlândia (MG). A intenção da
10
oficina é integrar a base teórica das Inteligências Múltiplas (de Gardner) e dos estilos cognitivo-
afetivos (de Fagali) na utilização de linguagens e recursos pedagógicos tal que se possibilite
desenvolver competências socioemocionais e, ao mesmo tempo, construir conhecimento. É
possível observar que a atividade, elaborada a partir de pressupostos e objetivos claros e
conduzida com igual clareza, abre, para a educação, perspectivas inovadoras capazes de unir
diversas inteligências e oferecer aos educandos maiores possibilidades de aprender e de exercer
competências variadas, tornando-os aptos para lidar com os impasses da vida em sociedade.
Conclusão
Num mercado instável ― caracterizado pela paulatina rarefação dos vínculos formais,
pela constante ameaça do desemprego, pelo surgimento de novas ocupações, pela velocidade
das mudanças resultantes de influências dos mais variados fatores (político, econômico, cultural
etc.) ―, desenvolver tais competências define o profissional que encontrará maior abertura e
mobilidade satisfatória no mercado de trabalho, bem como o contrário limitará seu campo de
atuação. Se capacitado para mover por si mesmo competências socioemocionais adequadas
para as atividades que realizará (além, é claro, das de caráter técnico, estritamente vinculadas
ao fazer), o novo profissional será mais apto a lidar com impasses, controvérsias, problemas
que venham a se mostrar no cotidiano de sua carreira.
Referências
CAMPBELL, L.; CAMPBELL, B.; DICKINSON, D. Ensino e aprendizagem por meio das
inteligências múltiplas. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.
CARDEIRA, ANA RITA. Educação Emocional em contexto escolar. 2012. Disponível em:
<www.psicologia.pt>. Acesso em: 19.ago.2017.
ZIMRING, FRED. Carl Rogers. Trad. e org. Marco Antônio Lorieri. Recife, Fundação
Joaquim Nabuco/Editora Massangana, 2010.