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Dicas de estudo

Olavo de Carvalho

Depois do artigo sobre Platão, vieram outras perguntas sobre o estudo da filosofia, a maioria delas na
linha: o que ler e como ler?

A receita é: no começo, poucas leituras, muito bem selecionadas, feitas lentamente, de lápis na mão,
com um dicionário de filosofia ao lado para tirar cada dúvida, e repetidas tantas vezes quantas você
precise para tornar-se capaz de expor o argumento ainda mais claramente do que o fez o autor.
Busque muitos exemplos concretos para dar maior visibilidade a cada idéia. Depois, aos poucos, vá
ampliando o círculo, abrangendo estudos eruditos sobre pontos determinados, até conseguir dominar a
história inteira das discussões sobre cada tópico, por exemplo, o problema dos níveis de realidade em
Platão, os sentidos da palavra “ser” em Aristóteles, etc. Quando tiver dominado o status quaestionis (o
desenvolvimento até o estado presente) de um só dentre inumeráveis pontos de discussão, aí você
perceberá quanto é miserável o debate intelectual neste país e quanto é urgente formar aqui uma
geração de estudantes sérios. Mais urgente do que todos os “planos econômicos de emergência” com
os quais se gastam em vão tantos neurônios.
Quando digo “bem selecionadas”, refiro-me aos clássicos imprescindíveis: Platão, Aristóteles, Sto.
Tomás, Leibniz, Schelling e tutti quanti. Mais tarde fornecerei uma lista.
Mas não escolha as leituras por autor, e sim por temas e problemas. Compre um bom dicionário de
filosofia (o de José Ferrater Mora ainda é imbatível, e saiu uma boa edição em 4 vols. pela Martins
Fontes), percorra os verbetes em busca das perguntas filosóficas que lhe interessam (porque se não
lhe interessarem você nunca haverá de compreendê-las), e, dos vários clássicos mencionados a
respeito, escolha um para leitura aprofundada. Decida-se a consagrar a essa leitura alguns meses,
como quem só tivesse um livro para ler até o fim da vida. Fiz isso na juventude com vários diálogos de
Platão, mais os “Tópicos” e a “Metafísica” de Aristóteles, e me alimento dessas leituras essenciais até
hoje, a maioria das subseqüentes servindo apenas de digestivo para a melhor assimilação delas.
Ser quiser usar o método de leitura de Mortimer J. Adler (“Como Ler um Livro”, editora UniverCidade),
isso não lhe fará mal algum, mas saiba desde já que nenhum método serve para todos os livros: cada
um exigirá uma estratégia diferente, que você mesmo irá descobrindo.
Tenha sempre à mão uma ou várias obras de história da filosofia (Frederick Copleston, em inglês, ou
Guillermo de Fraile, em espanhol, dão conta do recado) e não tema interromper a leitura principal para
vasculhá-las em busca de comparações, voltando àquela em seguida. A mente humana nunca avança
em linha reta: precisa de interrupções e rodeios. Não force a atenção quando ela foge para outro
assunto: vá atrás do assunto que ela sugere, depois volte ao ponto onde estava. E lembre sempre o
conselho de Aristóteles: a inteligência deve ser exercitada com moderação. No começo, não estude
mais de duas horas por dia. Quando chegar a cinco, será um grande erudito.
Vá dos clássicos para os modernos e contemporâneos, e não ao contrário: é menos importante saber
aquilo que Nietzsche pensou de Platão do que tentar imaginar aquilo que Platão pensaria de Nietzsche.
Outra dica: desista de adquirir uma boa cultura filosófica lendo só em português. Mas praticamente não
há livro bom de filosofia que não tenha edições em inglês ou francês. É bom também ter um dicionário
de grego clássico para apreender melhor o sentido de muitos termos que os autores modernos ainda
preferem usar nessa língua.
E, se encontrar o livro de A. D. Sertillanges, “A Vida Intelectual”, decore os conselhos dele e pratique-
os. Você não imagina o bem que fazem.

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