Вы находитесь на странице: 1из 16

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DO USO DE AGROTÓXICOS NAS LAVOURAS

DE CEBOLA NA CIDADE DE XIQUE-XIQUE-BA, BRASIL

IMPACTS SOCIAL AND ENVIRONMENTAL OF PESTICIDE USE IN CROPS OF


ONION IN THE CITY OF XIQUE-XIQUE-BA, BRAZIL

Andrezza Vilas Boas1, Hugo Aniceto Gomes¹, Maria Luíza Abreu¹, Priscila Oliveira¹, Renata
dos Santos¹

RESUMO

O presente artigo busca mostrar os possíveis impactos socioambientais causados pelo uso
constante dos agrotóxicos nas plantações de cebola na cidade de Xique-Xique, Bahia. A
elaboração do trabalho foi feita a partir de consultas em produções textuais para uma
fundamentação teórica do assunto em artigos científicos, bem como pesquisas no comércio
local e em campo, onde foram realizadas entrevistas a alguns funcionários responsáveis pela
aplicação dos pesticidas, além de registros fotográficos. Observou-se desconforto dos
entrevistados em responder alguns questionamentos, divergências entre respostas, falta de
conhecimento dos riscos causados pelo contato com esses produtos químicos e que não há um
controle em relação à frequência de aplicação desses venenos, contribuindo assim para a
contaminação do solo, ar, água e consequentemente trazendo problemas na saúde do ser
humano. Diante disso, torna-se essencial reconsiderar e discutir a importância do conhecimento
a partir da educação ambiental e de políticas públicas em âmbito municipal, estadual e federal
para a sensibilização e realização de ações que visem diminuir os riscos à saúde e ao meio
ambiente causados pelos usos inapropriado e desenfreado dos agrotóxicos no meio rural.

Palavras-chave: Contaminação. Meio Ambiente. Pesticidas.

ABSTRACT

This article seeks to show the possible impacts social and environmental caused by the constant
use of pesticides in onion crops in the city of Xique-Xique, Bahia. The development work was
made from consultations in textual productions for a theoretical basis for the subject in scientific
articles, as well as research in the local market and in the field, where interviews with some
officials responsible for the application of pesticides were carried out, as well as photographic
records. There was discomfort of respondents to answer some questions, differences between
responses, lack of knowledge of the risks caused by contact with these chemicals and that there
is no control over the frequency of application of poisons, thus contributing to the
contamination of soil, air, water and consequently bringing problems in the health of human
being. Therefore, it is essential to reconsider and discuss the importance of knowledge from
environmental education and public policy at the municipal, state and federal level to raise
awareness and carrying out actions aimed at reducing the risks to health and the environment
caused by inappropriate and uncontrolled use of pesticides in rural areas.

Keywords: Contamination. Environment. Pesticides.

1
Graduandos do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade do Estado da Bahia,
Campus XXIV, Xique-Xique, Bahia.
1 INTRODUÇÃO

A partir da revolução verde desencadeou-se no Brasil o processo de modernização


agrícola, através da criação e desenvolvimento de novas tecnologias tais como uso de
agrotóxicos, sementes transgênicas e maquinário de campo, com o objetivo de aumentar a
produção e erradicar a fome (ALBERGONI, 2007).
O uso de agrotóxicos foi incentivado sem o cuidado de orientar os agricultores sobre o
risco para o meio ambiente, sua saúde e para o consumidor, criando entre eles um conceito
errôneo que os produtos aplicados nas plantações são praticamente inofensivos para o meio
ambiente e a saúde do ser humano (DA MATA, 2013).
Desde 2008, o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxico no mundo, chegando a um
consumo médio de 7,3 litros de agrotóxico por habitante (ABRASCO, 2015), outro fator
preocupante é que os agrotóxicos utilizados no Brasil já foram banidos na Europa e nos Estados
Unidos. Além do mais 70% dos cursos de água, entre o Rio Grande do Sul e a Bahia estão
contaminados por agrotóxicos e outros produtos químicos de acordo com a avaliação da
Agencia Nacional de Águas (ANA). Esse é um número preocupante pois, cada vez mais,
estudos científicos indicam os efeitos nocivos dos agrotóxicos para saúde humana e meio
ambiente como: a bioacumulação, má formação congênita, câncer, difusões na reprodutividade,
mal de Parkinson, depressão, suicídios, diminuição da capacidade de aprendizagem em
crianças, ataques cardíacos, doenças mentais, contaminação da água, ar e solo (ABRASCO,
2012).
Visando os problemas que os agroquímicos podem causar em amplos setores, o presente
artigo aborda os impactos socioambientais do uso de agrotóxicos nas lavouras de cebola na
cidade de Xique-Xique, localizada na margem direita do rio São Francisco, no oeste baiano, e
que já foi a maior produtora de cebola do estado da Bahia, não estando isenta dos problemas
ambientais e sociais que afligem o Brasil. Pretende-se com este estudo identificar a forma de
cultivo, os tipos e quantidades de agrotóxicos utilizados nessas plantações, os impactos
causados e as principais vítimas da contaminação gerada por eles, bem como expor as possíveis
soluções mitigatórias no caso de prováveis impactos.
2 MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada através de consultas e estudos, objetivando uma fundamentação


teórica do assunto, em artigos científicos publicados, bem como trabalho de campo, onde foram
realizadas entrevistas com utilização de questionários direcionados aos produtores e
trabalhadores rurais, e coleta de dados no comércio da cidade.
Inicialmente será apresentado o histórico dos os agrotóxicos no Brasil, suas
classificações, os impactos gerados na saúde, ar, água e solo, em seguida serão discutidos os
benefícios da cebola, os males gerados quando se utiliza agrotóxicos e quais são os tipos mais
utilizados nessas culturas. E por fim, apresentado um estudo dos impactos socioambientais
causados pelo uso de agrotóxicos nas lavouras de cebola em Xique-Xique, BA.

3 IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DO USO DE AGROTÓXICOS NAS LAVOURAS


DE CEBOLA NA CIDADE DE XIQUE-XIQUE

3.1 AGROTÓXICO NO BRASIL

A partir da década de 1950 iniciou-se o processo da “Revolução Verde “, que segundo


seus promotores seria uma ótima solução para extinguir com a fome que assolava boa parte da
população mundial (LONDRES, 2011). Essa revolução foi caracterizada por mudanças nas
práticas agrícolas e tecnológicas, aumentando a produtividade e tornando a agricultura uma
importante atividade econômica. Uma dessas tecnologias é baseada no uso extensivo de agentes
químicos, para controle de doenças, proteção contra insetos e outras pragas, chamados de
agrotóxicos. Podem ser classificados em tipos, como inseticidas, fungicidas, herbicidas,
desfolhantes, formigantes, rodenticidas ou raticidas, nematicidas e acaricidas, e em classes de
acordo com sua periculosidade ambiental: classe I – extremamente tóxico, faixa vermelha;
classe II – altamente tóxico, faixa amarela; classe III – mediamente tóxico, faixa azul; e classe
IV – pouco tóxico, faixa verde (ANVISA, 2011).
A inserção do uso de agrotóxicos no Brasil não aconteceu porque os produtores rurais
estavam perdendo suas lavouras devido às pragas, doenças e ervas daninhas, na verdade foi
uma tecnologia imposta pelo mercado externo e introduzida pelo governo com a propaganda
de ser uma possibilidade para aumentar a produção e facilitar as atividades do campo. Em 1965,
o Brasil criou o Sistema Nacional de Crédito Rural e em 1975 o Programa Nacional de
Defensivos Agrícolas, que proporcionou recursos financeiros para a criação de empresas
nacionais de insumos agrícolas e crédito rural ao uso de agrotóxicos (LONDRES, 2011). Assim
parte do recurso captado deveria ser utilizada em compra de agrotóxicos e com isso os
agricultores foram praticamente obrigados a adquirir esse pacote tecnológico (GIRALDO,
2011).
Como resultado dessa política agrícola adotada, proporcionou-se o crescimento de
agronegócio, que concentra a terra com latifúndios e monoculturas e exigem cada vez mais altas
quantidades de produtos químicos para a produção em grande escala, uma média de dez quilos
de agrotóxico por hectare. Desse modo, enquanto em âmbito mundial o mercado de agrotóxicos
cresceu 93%, o Brasil chegou a 190% segundo um dossiê divulgado pela Associação Brasileira
de Saúde Coletiva – ABRASCO (2011), e de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG, 2011) esse crescimento foi de 200%, tornando o país
o maior consumidor de agrotóxicos do planeta em 2008, e em 2009 ultrapassou a marca de 1
milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 7,3 litros de veneno agrícola por
habitante (ABRASCO, 2015). Um dos responsáveis por esse número assustador foi a liberação
e incentivo do uso de sementes transgênicas no Brasil, pois para cultiva-las é necessário o uso
de grande quantidade de agrotóxicos. Outro fator que colaborou para a enorme disseminação
da utilização dos agrotóxicos no Brasil foi a aprovação da Lei 7.802, que facilitou o registro de
centenas de substancias tóxicas, muitas das quais já eram proibidas nos países desenvolvidos
(LONDRES, 2011).

3.2 AGROTÓXICOS E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

Nas plantações que utilizam agrotóxicos apenas 30% do veneno atinge o alvo (CHAIM,
2004), o restante é dispersado contaminando solos, água, atmosfera, culturas vizinhas, florestas
e, muitas vezes, áreas residenciais. Para compensar essas perdas, as dosagens dos agrotóxicos
são superestimadas. A dispersão desses “defensivos agrícolas” vai depender de sua composição,
quantidade, frequência de uso, métodos de aplicação, características bióticas e abióticas do
ambiente e as condições meteorológicas do local.
Além dos riscos a que expõem os seres humanos nos aspectos ocupacionais, alimentares
e de saúde pública, nota-se que os resíduos de agrotóxicos no ambiente podem gerar efeitos
ecológicos desagradáveis, como a alteração da dinâmica biológica natural pela pressão de
seleção exercida sobre os organismos e ter como resultado mudanças na função do ecossistema
(SPADOTTO et al., 2010).
A contaminação no solo gera interferência nos princípios ativos em processos biológicos
responsáveis pela oferta de nutrientes, provocando variações nas populações de espécies não
alvo, através da inativação e mortes de microrganismos e invertebrados que se desenvolvem no
solo e ajudam na degradação da matéria orgânica e melhoram a fertilidade. O solo contaminado
pode ser transportado após eventos de precipitação para os recursos hídricos superficiais e/ou
subterrâneos, sendo estes os principais destinos dos agrotóxicos, causando consequências a
longo prazo e seus efeitos podem ser irreversíveis, tornando a água imprópria para consumo,
colocando em risco não só populações que vivem nesses sistemas, mas também as espécies que
utilizam essa água para sua sobrevivência, como os animais e o próprio homem. Segundo o
Instituto Internacional de Ecologia (2000) o despejo de agrotóxicos em reservatórios de água
pode também acelerar o processo de eutrofização, devido ao excesso de nutriente,
especificamente o nitrogênio e o fósforo, que cooperam para a proliferação de algas (BARROS,
2008), aumentando a demanda por oxigênio e causando um desequilíbrio no balanço de
oxigênio dissolvido na água (OD), em seguida pode haver o aparecimento de cianobactérias
que produzem forte odor e sabor à água e eventual liberação de toxinas. Altera a turbidez,
coloração da água, reduz a balneabilidade e, em casos extremos, pode ocorrer a morte de peixes
e outros animais (SPERLING, 1994; MOTA, 2006). Esse processo compromete totalmente,
chegando a impedir o uso do corpo d’água (THOMANN; MUELLER, 1987).
Outro grande problema ambiental causado pelo uso de agrotóxico é a sua perda para a
atmosfera, pois durante a aplicação e, até mesmo, depois de aplicado continua se dispersando
através da volatização. Esse processo provoca várias consequências, dentre as quais, destacam-
se a diminuição e desaparecimento das abelhas. No período do inverno por conta do fenômeno
da inversão térmica há um aumento das partículas de agrotóxicos em suspensão, devido à massa
de ar fria que impede a eliminação dessas substâncias, causando danos à saúde das populações
próximas as lavouras.
Dentre todos os organismos, os seres humanos são os mais afetados pelos impactos
causados pelos agrotóxicos, pois a contaminação das águas, ar, solo e resíduos presentes nos
alimentos, bem como o impacto direto na biodiversidade interferem diretamente na qualidade
de vida humana, gerando efeitos em escalas diferentes, podendo ser divididos em: (I) efeitos
agudos que resultam da exposição a concentrações de um ou mais agentes tóxicos, capazes de
causar dano efetivo aparente em um período de 24 horas, podendo causar dores de cabeça,
náuseas, salivação, cólicas abdominais, tremores, confusão mental, convulsões, dentre outras;
(II) efeito subagudo, ocorre por exposição moderada ou pequena a produtos altos ou
mediamente tóxicos, onde os efeitos podem aparecer em alguns dias ou semanas, os sintomas
podem incluir: dores de cabeça, fraqueza, mal estar, dor de estômago, sonolência, entre outros;
(III) efeitos crônicos, resulta de uma exposição contínua a doses relativamente baixas de um ou
mais produtos, os sintomas são normalmente subjetivos e podem incluir perda de peso, fraqueza
muscular, depressão, irritabilidade, insônia, anemia, dermatites, alterações hormonais,
problemas imunológicos, efeitos na reprodução, entre outros. Habitualmente o diagnóstico da
intoxicação crônica é difícil de ser estabelecido. Os danos muitas vezes são irreversíveis,
incluindo paralisia e vários tipos de câncer (LONDRES, 2011).
De acordo com o dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
(2011), os sistemas de informações no país não mostram a situação real das intoxicações agudas
e crônicas, por conta da acentuada subnotificação e nenhum desses sistemas tem respondido
adequadamente como instrumento de vigilância, havendo para os casos agudos em sub-registro
e nos casos crônicos uma dificuldade de informações captadas. A própria Organização Mundial
de Saúde reconhece que, para cada caso registrado de intoxicação por agrotóxicos, há 50 casos
não notificados.
Os produtores, aplicadores, preparadores de caldas e encarregados pelos depósitos estão
em um grupo considerado de risco, pois estão diretamente expostos à contaminação. Existem
também os trabalhadores que têm contato indireto com os agrotóxicos, ao realizar capinas,
colheitas, etc. Estes, na verdade, são os que se expõem a uma situação de maior risco a partir
do momento em que não se respeita o intervalo de reentrada nas lavouras e o uso de
equipamentos de proteção individual (EPI. Além disso, esses equipamentos não são eficientes
no que diz respeito à proteção contra tal contaminação. Finalmente temos os consumidores que,
ao longo de anos, alimentam-se de produtos com grandes quantidades de resíduos de
agrotóxicos. De acordo com análises feitas pela ANVISA, anualmente tem-se mostrado que
vários produtos de suma importância na alimentação dos brasileiros têm apresentado resíduos
de agrotóxicos acima dos limites permitidos e também de agrotóxicos proibidos. A venda desses
produtos químicos sem receituário agronômico e a falta de respeito ao período de carência
(intervalo de tempo exigido entre a última aplicação e a comercialização do produto) também
são responsáveis pela intensificação deste quadro (LONDRES,2011).

3.3 CEBOLA E AGROTÓXICOS

A cebola (Allium cepa L.) composta por 90% de água, é uma espécie bienal constituída
por folhas escamiformes, ou seja, em camadas, tendo a formação de bulbos no primeiro ciclo e
a produção de sementes no ciclo subsequente (MANFRON et. al, 1992).
Quando produzida em cultura orgânica a cebola apresenta diversos benefícios para a
saúde e poder curativo, por ser rica em vitaminas A; B1; B2; B3 e C, Cálcio, Ferro, Fósforo,
Magnésio, Potássio, Sódio e Silício ajudando a melhorar a circulação, controlar diabetes e
hipertensão, prevenir a anemia, ajuda aliviar resfriados, possui propriedades depurativas e
diuréticas, previne doenças do sistema nervoso, é antisséptica, melhora asmas e inflamações, é
antioxidante, dentre outros.
Segundo Santos (2012) no vídeo “O veneno está na mesa” a cebola quando cultivada
com agrotóxicos como a Parationa metílica, pode causar câncer, puberdade precoce,
infertilidade e aborto. Além disso, em 2011, a ANVISA proibiu o agrotóxico Metamidorfó que
era utilizado nas culturas de cebola, por causar prejuízos ao desenvolvimento embriofetal,
apresentar características neuro e imunotóxicas e causar danos aos sistemas endócrino e
reprodutor, também em uma nota recente, o ministério público federal entrou com um pedido
para que o comércio de agrotóxicos à base de Prochloraz, utilizados nas culturas de cebola,
cenoura, cevada, cítricos, manga, tomate, trigo e rosa sejam proibidos, pois estudos indicaram
que o uso desses fungicidas aumentam a incidência de câncer de mama, testículos, próstata e
causam danos ao meio ambiente.
Os agrotóxicos mais utilizados no manejo da cebola são alguns herbicidas como: Totril;
Fluomyzin; Herbadox; Poduim; Trifularina (nome comercial), inseticidas como: Cipermetrina;
Carbaril; Parationa metílica; Deltametrina; Fepropatina (princípio ativo), dentre outros
(EMBRAPA, 2007). Muitas vezes o que acontece, é que se usa agrotóxico com uma frequência
inadequada e de maneira indiscriminada no plantio de cebola principalmente devido a
diagnósticos equivocados, deixando de levar em consideração o uso e o manejo do solo,
métodos de irrigação errôneos, déficit hídrico, desequilíbrio nutricional e fitotoxidez, tais
fatores tornam favoráveis os aparecimentos de pragas e de patógenos na planta (ROWE et al.,
2006).

3.4 A CEBOLA EM XIQUE-XIQUE

A cebola é a terceira hortaliça de importância econômica para o Brasil, com área de


cultivo aproximada de 66 mil hectares distribuídos em todo país. A produção brasileira de
cebola é concentrada, principalmente nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do
Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Bahia, sendo esses dois últimos responsáveis
por quase toda produção de cebola da região Nordeste, representando 18% da produção
nacional. As mais importantes zonas de cultivo da cebola no Nordeste são o agropolo do
Submédio São Francisco que abrange municípios pernambucanos e baianos como a região de
Irecê e Mucugê da Bahia (WORDELL FILHO, 2006).
O município de Xique-Xique, pertencente à região de Irecê, situados na margem direita
do Rio São Francisco no oeste baiano, já foi o maior produtor de cebola da Bahia, porém, duas
décadas após o estabelecimento dos ceboleiros a produção começou a cair devido a muitos
fatores, entre eles estão a falta de interesse do governo estadual na construção de um mercado
produtor, pois a cidade não possuía locais adequados para armazenamento, transporte para
escoamento da produção e nem modos avançados de irrigação (BARBOSA & LAVORATTI,
2012), houve falta de assistência dos órgãos federais e estaduais, e o MERCOSUL que facilitou
a entrada de safras argentinas no Brasil com menor custo (CHAVEZ, 2010), entretanto Xique-
Xique ainda se destaca na produção de cebola da Bahia, não estando isenta dessa forma dos
problemas socioambientais causados pelo uso de agrotóxicos em suas lavouras.

3.5 AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DA CULTURA DE CEBOLA EM XIQUE-XIQUE

3.5.1 PESQUISA DE CAMPO

Buscando informações sobre a comercialização de agrotóxicos no município de Xique-


Xique, realizou-se uma pesquisa no comércio para saber quais estabelecimentos vendiam
agrotóxico e quais tinham tanto a autorização para venda, quanto o profissional responsável
para licenciamento do local. Com intuito de analisar os problemas socioambientais
desencadeados pelo uso de agrotóxicos nas plantações de cebola existentes em Xique-Xique,
foram realizadas visitas em duas propriedades rurais, denominadas de Roça 1 e Roça 2, afim
de preservar a identidade dos proprietários, nas quais foram entrevistados alguns dos
funcionários. Durante a entrevista foram abordados os tipos de irrigação, se havia utilização de
agrotóxicos e a frequência da aplicação dos mesmos, o uso de equipamentos de proteção
individual e coletiva, destinação final das embalagens, o conhecimento por parte dos mesmos
sobre os malefícios que a exposição a esses produtos químicos causa, se já haviam apresentado
algum sintoma devido ao contato com o veneno.
Figura 1. Plantação de cebola em Xique-Xique - BA, roça 1.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os três estabelecimentos comerciais visitados na cidade de Xique-Xique, apenas


um tinha autorização para a venda, possuindo um agrônomo responsável pelo licenciamento do
local, que se faz presente quinzenalmente. O proprietário informou quais agrotóxicos eram mais
vendidos, sendo eles: Agritoato (inseticida); Cyptrin (inseticida); Mospilan (inseticida); Decis
(inseticida); Cercobin (fungicida); Furadan (inseticida e nematicida). Após a obtenção do
produto ainda na loja o cliente é informado sobre a utilização do agrotóxico, recebendo uma
espécie de “bula” para auxiliar o agricultor na aplicação. A tabela a seguir mostra alguns tipos
de agrotóxicos encontrados nas plantações visitadas:
AGROTÓXICO TIPO FAIXA INDICADO
PARA CEBOLA
GOAL BR Herbicida Azul Não
KASUMIN Bactericida Azul Sim
HERBADOX Herbicida Azul Sim
QUIMIÓLEO Inseticida Verde Sim
CURYOM Inseticida Vermelha Não
K-BOMBER Fertilizante Amarela Sim
TOTRIL Herbicida Vermelha Sim
SOLMAX Fertilizante Vermelha Sim

Como observado alguns desses produtos químicos não são apropriados para o cultivo
da cebola. Segundo (BRITO et al., 2011), pelo fato de alguns tipos de agrotóxicos custarem
menos, acaba-se optando pelo mais barato ao invés daquele que seria mais indicado para aquela
determinada cultura, o que pode trazer muitos prejuízos ao meio ambiente.
É importante destacar que as plantações visitadas estão localizadas nas proximidades de
estradas e do Rio São Francisco, causando malefícios em ambos. No primeiro caso, há
constante tráfego de veículos, pessoas e animais, podendo ocorrer contaminação através dos
agrotóxicos em suspensão na atmosfera – sabe-se que a contaminação ambiental ultrapassa
barreiras geográficas, atingindo mananciais e seres vivos mesmo distantes de onde foi gerada
(Amarante Jr. & Brito, 2006). No segundo caso, ocorre a infiltração e a lixiviação dos
compostos químicos, processo que é acelerado pela alta permeabilidade do solo de Xique-
Xique, pela maneira e a frequência que são realizadas as aplicações dos produtos, contaminando
os recursos hídricos superficiais (rio) e subterrâneos (lençol freático) e afetando,
consequentemente, toda vida presente, como os peixes que podem sofrer bioacumulação por
ficarem diretamente expostos a esses produtos através da água, sedimentos e alimentos
contaminados e o ser humano por se alimentar desse pescado contaminado, ocorrendo um
aumento das concentrações desses produtos no organismo (biomagnificação), e por ingerir
outros alimentos irrigados com essa água contaminada, que é o caso da cebola, e ainda consumir
essa água sem o tratamento adequado.
Figura 2. Água utilizada para irrigação e posteriormente contaminada com agrotóxicos
exposta aos funcionários, roça 1.

A pesquisa de campo demonstrou que apesar do grande número de pessoas do sexo


feminino no momento da visita em ambas as plantações, a maior parte dos entrevistados foi do
sexo masculino (80%), visto que são eles que fazem a aplicação dos produtos e a maior parte
das mulheres se recusaram a responder os questionamentos. A idade dos entrevistados na roça
1 está entre 41 e 51 anos, enquanto na roça 2 ficou entre 29 e 45. A seguir o quadro do
questionário aplicado em ambas as roças:
Pergunta Roça 1 Roça 2
De que maneira é 100% gotejamento. 100% gotejamento.
feita a irrigação das
plantações?
Utilizam agrotóxicos 100% sim. 100% sim.
na plantação?
Utilizam 100% sim. 80% sim; 20% não.
equipamentos de proteção?
Com que frequência 40% 8 em 8 dias 40% duas vezes na
os agrotóxicos são aplicados? manhã e tarde; 20% 8 em 8 semana em um turno; 20% 8
dias em um só turno; 20% de em 8 dias; 20% 2 a 3 vezes na
8 em 8 ou de 15 em 15; 20% semana uma vez por dia;
de 4 em 4 dias. 20% não soube responder.
Para onde vai a 60% são recolhidas e 20% guarda no
embalagem? guardadas em um depósito; depósito; 20% devolve para o
40% o proprietário recolhe e local da compra; 20% faz
devolve para o local da lavagem tríplice e devolve
compra. para o local da compra; 20%
queima e joga no lixo; 20%
não soube responder.
Sabe as 80% sim; 20% não. 40% sim; 40% mais
consequências do contato ou menos; 20% algumas.
com os agrotóxicos?
Já sentiu algum mal- 80% não; 20% sim. 100% não.
estar?

Notou-se que os entrevistados se sentiam desconfortáveis diante do questionamento


sobre agrotóxicos, por imaginar que se tratava da fiscalização. Ao contrário do que foi afirmado
na entrevista eles não fazem uso dos EPIs por desconhecerem a sua real importância e quando
se faz é de maneira incompleta, como foi verificado no momento da visita o uso apenas de luvas
e botas. Observou-se também muitas contradições quanto ao destino final das embalagens dos
agrotóxicos principalmente na roça 2 e que as aplicações dos produtos químicos são realizadas
de maneira aleatória não respeitando o período de carência e sem ter um cronograma a ser
seguido. Constatou-se durante a visita e entrevistas realizadas nas propriedades rurais, que os
trabalhadores estavam ali por não encontrar outros meios de renda para a sua família.
Observou-se também que a maioria dos entrevistados sabiam que os agrotóxicos
causavam mal à saúde e que isso acontecia a longo prazo, no entanto não souberam responder
quais eram esses danos e nem que prejudicava o meio ambiente. Além disso, grande parte
afirmou que nunca sentiu nenhum sintoma, mas já viram outras pessoas passarem mal e
atribuíram isso ao fato da pessoa ter “organismo fraco”.
Vale ressaltar que foi observado muito desperdício de água por vazamentos nas
encanações e que haviam muitas crianças ajudando os pais durante a colheita da cebola (ambos
sem a devida proteção e expostos a esses produtos extremamente perigosos).

Figura 3. Pessoas trabalhando na colheita de cebola na roça 2 sem nenhum tipo de


equipamento de proteção.

A partir desse trabalho verificou-se que existe uma grande utilização dos agrotóxicos no
município de Xique-Xique, e que os mesmos estão sendo utilizados de maneira indiscriminada,
podendo causar contaminações ao solo, rio e a população do seu entorno, já que existe uma
proximidade das plantações com os corpos d’água, estrada e cidade.
Segundo os dados colhidos durante a pesquisa de campo, pode-se observar a falta de
conhecimento em relação às consequências que o uso constante de agrotóxicos causa ao meio
ambiente e a importância do uso de EPIs, que protegem individualmente os trabalhadores do
contato direto com essas substâncias.
Foi possível evidenciar que, com intuito de se produzir em grande escala, os produtores
mantem a utilização desses produtos químicos sem se preocupar com os danos provocados ao
meio ambiente e aos seres humanos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de agrotóxicos no Brasil tem aumentado cada vez mais, por ser de fácil acesso,
ter preços baixos e incentivos financeiros governamentais, déficit de fiscalização,
obrigatoriedade para a produção de transgênicos principalmente em monoculturas.
Algumas medidas podem ser tomadas tendo em vista a minimização dos impactos aqui
citados como: substituição desses produtos químicos por produtos naturais alternativos para a
fertilização e o controle de pragas; deslocar as plantações para uma região mais distante do rio;
optar pelo cultivo de produtos orgânicos e pela agroecologia, buscando incentivos financeiros
e políticas públicas que visem apoiar a agricultura familiar; aplicar técnicas de biorremediação
como as biopilhas por exemplo, para recuperar as áreas já degradadas; informar a população
através da educação ambiental sobre os impactos socioambientais causados pelos agrotóxicos,
pois dessa maneira haveria uma população mais consciente e cuidadosa com o meio ambiente
e consequentemente com a saúde.
Sendo assim torna-se essencial reconsiderar e discutir a importância do conhecimento,
a partir da educação ambiental e de políticas públicas em âmbito municipal, estadual e federal
para sensibilização e realização de ações que visem diminuir os riscos à saúde e ao meio
ambiente, causados pelo uso inapropriado e desenfreado dos agrotóxicos no meio rural.
REFERÊNCIAS

ABRASCO; REIS, Vilma. Aumenta a quantidade de agrotóxicos consumido por cada


brasileiro: 7,3 litros. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/site/2015/04/aumenta-a-
quantidade-de-agrotoxicos-consumido-por-cada-brasileiro-73-litros/>. Acesso em: 21 out.
2015.

ALBERGONI, Leide; PELAEZ, Victor. Da Revolução Verde à agrobiotecnologia: ruptura


ou continuidade de paradigmas. Revista de Economia, v. 33, n. 1, p. 31-53, 2007.

BARBOSA, Railton do Nascimento; LAVORATTI, Janes Terezinha. Conquista da Terra e a


atual situação dos camponeses no assentamento rural Lagoa de Itaparica, município de
Xique-Xique (BA); 2011.

BRITO, Luiza Teixeira de Lima. et al. Pesticidas e seus impactos no ambiente. Embrapa
Semiárido-Capítulo em livro técnico-científico (ALICE); 2011.

CHAIM, Aldemir. Tecnologia de aplicação de agrotóxicos: fatores que afetam a eficiência


e o impacto ambiental. In: Silva CMMS, Fay EF. Agrotóxicos & Ambiente. Brasília:
Embrapa; 2004. p. 289-317.

CHAVEZ, Joarez. A cultura da Cebola em Xique-Xique (BA), 2010. Disponível em:


<http://xiquexiquense.blogspot.com.br/2010/11/cronica-cultura-da-cebola-em-xique.html>
Acesso em: 24 de setembro de 2015, 10:47:30.

DA MATA, João Siqueira; FERREIRA, Rafael Lopes. Agrotóxico no Brasil: uso e impactos
ao Meio Ambiente e a Saúde Pública; 2013.

GIRALDO, LIA. Há muitas evidências de danos dos agrotóxicos à saúde. FIOCRUZ, 2011.
Disponível em: <http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3850&sid=3>
Acesso em: 15 de agosto de 2015.

LONDRES, Flávia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. 2011.

MANFRON, Paulo Augusto; GARCIA, Danton Camacho; ANDRIOLO, Jerônimo Luiz.


MORPHOLOGICAL AND PHYSIOLOGICAL ASPECTS OF ONION. Ciência Rural, v.
22, n. 1, p. 101-108, 1992.

ROWE, Loston; ROSSMAN, Elmer; PENNER, Donald. Differential response of corn


hybrids and inbreds to metolachlor. Weed Science, p. 563-566, 2006.

SINDAG - Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para defesa agrícola. Posicionamento


do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva Acerca dos Agrotóxicos;
2011.

SPADOTTO, Claudio Aparecido; JUNIOR, Rômulo Penna Scorsa; DORES, Eliana Freire
Gaspar de Carvalho: GEBLER, Luciano; MORAES, Diego Augusto de Campos.
Fundamentos e aplicações da modelagem ambiental de agrotóxicos, Campinas: Embrapa
Monitoramento por Satélite. 2010. Disponível em:
<http://pt.scribd.com/doc/64852171/Fundamentos-e-aplicacoes-da-modelagem-ambiental-de-
agrotoxicos>. Acesso em 18 de agosto de 2015.

WORDELL FILHO, João Américo et al. Manejo fitossanitário na cultura da cebola.


Epagri; 2006.

Вам также может понравиться