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Andrezza Vilas Boas1, Hugo Aniceto Gomes¹, Maria Luíza Abreu¹, Priscila Oliveira¹, Renata
dos Santos¹
RESUMO
O presente artigo busca mostrar os possíveis impactos socioambientais causados pelo uso
constante dos agrotóxicos nas plantações de cebola na cidade de Xique-Xique, Bahia. A
elaboração do trabalho foi feita a partir de consultas em produções textuais para uma
fundamentação teórica do assunto em artigos científicos, bem como pesquisas no comércio
local e em campo, onde foram realizadas entrevistas a alguns funcionários responsáveis pela
aplicação dos pesticidas, além de registros fotográficos. Observou-se desconforto dos
entrevistados em responder alguns questionamentos, divergências entre respostas, falta de
conhecimento dos riscos causados pelo contato com esses produtos químicos e que não há um
controle em relação à frequência de aplicação desses venenos, contribuindo assim para a
contaminação do solo, ar, água e consequentemente trazendo problemas na saúde do ser
humano. Diante disso, torna-se essencial reconsiderar e discutir a importância do conhecimento
a partir da educação ambiental e de políticas públicas em âmbito municipal, estadual e federal
para a sensibilização e realização de ações que visem diminuir os riscos à saúde e ao meio
ambiente causados pelos usos inapropriado e desenfreado dos agrotóxicos no meio rural.
ABSTRACT
This article seeks to show the possible impacts social and environmental caused by the constant
use of pesticides in onion crops in the city of Xique-Xique, Bahia. The development work was
made from consultations in textual productions for a theoretical basis for the subject in scientific
articles, as well as research in the local market and in the field, where interviews with some
officials responsible for the application of pesticides were carried out, as well as photographic
records. There was discomfort of respondents to answer some questions, differences between
responses, lack of knowledge of the risks caused by contact with these chemicals and that there
is no control over the frequency of application of poisons, thus contributing to the
contamination of soil, air, water and consequently bringing problems in the health of human
being. Therefore, it is essential to reconsider and discuss the importance of knowledge from
environmental education and public policy at the municipal, state and federal level to raise
awareness and carrying out actions aimed at reducing the risks to health and the environment
caused by inappropriate and uncontrolled use of pesticides in rural areas.
1
Graduandos do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade do Estado da Bahia,
Campus XXIV, Xique-Xique, Bahia.
1 INTRODUÇÃO
Nas plantações que utilizam agrotóxicos apenas 30% do veneno atinge o alvo (CHAIM,
2004), o restante é dispersado contaminando solos, água, atmosfera, culturas vizinhas, florestas
e, muitas vezes, áreas residenciais. Para compensar essas perdas, as dosagens dos agrotóxicos
são superestimadas. A dispersão desses “defensivos agrícolas” vai depender de sua composição,
quantidade, frequência de uso, métodos de aplicação, características bióticas e abióticas do
ambiente e as condições meteorológicas do local.
Além dos riscos a que expõem os seres humanos nos aspectos ocupacionais, alimentares
e de saúde pública, nota-se que os resíduos de agrotóxicos no ambiente podem gerar efeitos
ecológicos desagradáveis, como a alteração da dinâmica biológica natural pela pressão de
seleção exercida sobre os organismos e ter como resultado mudanças na função do ecossistema
(SPADOTTO et al., 2010).
A contaminação no solo gera interferência nos princípios ativos em processos biológicos
responsáveis pela oferta de nutrientes, provocando variações nas populações de espécies não
alvo, através da inativação e mortes de microrganismos e invertebrados que se desenvolvem no
solo e ajudam na degradação da matéria orgânica e melhoram a fertilidade. O solo contaminado
pode ser transportado após eventos de precipitação para os recursos hídricos superficiais e/ou
subterrâneos, sendo estes os principais destinos dos agrotóxicos, causando consequências a
longo prazo e seus efeitos podem ser irreversíveis, tornando a água imprópria para consumo,
colocando em risco não só populações que vivem nesses sistemas, mas também as espécies que
utilizam essa água para sua sobrevivência, como os animais e o próprio homem. Segundo o
Instituto Internacional de Ecologia (2000) o despejo de agrotóxicos em reservatórios de água
pode também acelerar o processo de eutrofização, devido ao excesso de nutriente,
especificamente o nitrogênio e o fósforo, que cooperam para a proliferação de algas (BARROS,
2008), aumentando a demanda por oxigênio e causando um desequilíbrio no balanço de
oxigênio dissolvido na água (OD), em seguida pode haver o aparecimento de cianobactérias
que produzem forte odor e sabor à água e eventual liberação de toxinas. Altera a turbidez,
coloração da água, reduz a balneabilidade e, em casos extremos, pode ocorrer a morte de peixes
e outros animais (SPERLING, 1994; MOTA, 2006). Esse processo compromete totalmente,
chegando a impedir o uso do corpo d’água (THOMANN; MUELLER, 1987).
Outro grande problema ambiental causado pelo uso de agrotóxico é a sua perda para a
atmosfera, pois durante a aplicação e, até mesmo, depois de aplicado continua se dispersando
através da volatização. Esse processo provoca várias consequências, dentre as quais, destacam-
se a diminuição e desaparecimento das abelhas. No período do inverno por conta do fenômeno
da inversão térmica há um aumento das partículas de agrotóxicos em suspensão, devido à massa
de ar fria que impede a eliminação dessas substâncias, causando danos à saúde das populações
próximas as lavouras.
Dentre todos os organismos, os seres humanos são os mais afetados pelos impactos
causados pelos agrotóxicos, pois a contaminação das águas, ar, solo e resíduos presentes nos
alimentos, bem como o impacto direto na biodiversidade interferem diretamente na qualidade
de vida humana, gerando efeitos em escalas diferentes, podendo ser divididos em: (I) efeitos
agudos que resultam da exposição a concentrações de um ou mais agentes tóxicos, capazes de
causar dano efetivo aparente em um período de 24 horas, podendo causar dores de cabeça,
náuseas, salivação, cólicas abdominais, tremores, confusão mental, convulsões, dentre outras;
(II) efeito subagudo, ocorre por exposição moderada ou pequena a produtos altos ou
mediamente tóxicos, onde os efeitos podem aparecer em alguns dias ou semanas, os sintomas
podem incluir: dores de cabeça, fraqueza, mal estar, dor de estômago, sonolência, entre outros;
(III) efeitos crônicos, resulta de uma exposição contínua a doses relativamente baixas de um ou
mais produtos, os sintomas são normalmente subjetivos e podem incluir perda de peso, fraqueza
muscular, depressão, irritabilidade, insônia, anemia, dermatites, alterações hormonais,
problemas imunológicos, efeitos na reprodução, entre outros. Habitualmente o diagnóstico da
intoxicação crônica é difícil de ser estabelecido. Os danos muitas vezes são irreversíveis,
incluindo paralisia e vários tipos de câncer (LONDRES, 2011).
De acordo com o dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
(2011), os sistemas de informações no país não mostram a situação real das intoxicações agudas
e crônicas, por conta da acentuada subnotificação e nenhum desses sistemas tem respondido
adequadamente como instrumento de vigilância, havendo para os casos agudos em sub-registro
e nos casos crônicos uma dificuldade de informações captadas. A própria Organização Mundial
de Saúde reconhece que, para cada caso registrado de intoxicação por agrotóxicos, há 50 casos
não notificados.
Os produtores, aplicadores, preparadores de caldas e encarregados pelos depósitos estão
em um grupo considerado de risco, pois estão diretamente expostos à contaminação. Existem
também os trabalhadores que têm contato indireto com os agrotóxicos, ao realizar capinas,
colheitas, etc. Estes, na verdade, são os que se expõem a uma situação de maior risco a partir
do momento em que não se respeita o intervalo de reentrada nas lavouras e o uso de
equipamentos de proteção individual (EPI. Além disso, esses equipamentos não são eficientes
no que diz respeito à proteção contra tal contaminação. Finalmente temos os consumidores que,
ao longo de anos, alimentam-se de produtos com grandes quantidades de resíduos de
agrotóxicos. De acordo com análises feitas pela ANVISA, anualmente tem-se mostrado que
vários produtos de suma importância na alimentação dos brasileiros têm apresentado resíduos
de agrotóxicos acima dos limites permitidos e também de agrotóxicos proibidos. A venda desses
produtos químicos sem receituário agronômico e a falta de respeito ao período de carência
(intervalo de tempo exigido entre a última aplicação e a comercialização do produto) também
são responsáveis pela intensificação deste quadro (LONDRES,2011).
A cebola (Allium cepa L.) composta por 90% de água, é uma espécie bienal constituída
por folhas escamiformes, ou seja, em camadas, tendo a formação de bulbos no primeiro ciclo e
a produção de sementes no ciclo subsequente (MANFRON et. al, 1992).
Quando produzida em cultura orgânica a cebola apresenta diversos benefícios para a
saúde e poder curativo, por ser rica em vitaminas A; B1; B2; B3 e C, Cálcio, Ferro, Fósforo,
Magnésio, Potássio, Sódio e Silício ajudando a melhorar a circulação, controlar diabetes e
hipertensão, prevenir a anemia, ajuda aliviar resfriados, possui propriedades depurativas e
diuréticas, previne doenças do sistema nervoso, é antisséptica, melhora asmas e inflamações, é
antioxidante, dentre outros.
Segundo Santos (2012) no vídeo “O veneno está na mesa” a cebola quando cultivada
com agrotóxicos como a Parationa metílica, pode causar câncer, puberdade precoce,
infertilidade e aborto. Além disso, em 2011, a ANVISA proibiu o agrotóxico Metamidorfó que
era utilizado nas culturas de cebola, por causar prejuízos ao desenvolvimento embriofetal,
apresentar características neuro e imunotóxicas e causar danos aos sistemas endócrino e
reprodutor, também em uma nota recente, o ministério público federal entrou com um pedido
para que o comércio de agrotóxicos à base de Prochloraz, utilizados nas culturas de cebola,
cenoura, cevada, cítricos, manga, tomate, trigo e rosa sejam proibidos, pois estudos indicaram
que o uso desses fungicidas aumentam a incidência de câncer de mama, testículos, próstata e
causam danos ao meio ambiente.
Os agrotóxicos mais utilizados no manejo da cebola são alguns herbicidas como: Totril;
Fluomyzin; Herbadox; Poduim; Trifularina (nome comercial), inseticidas como: Cipermetrina;
Carbaril; Parationa metílica; Deltametrina; Fepropatina (princípio ativo), dentre outros
(EMBRAPA, 2007). Muitas vezes o que acontece, é que se usa agrotóxico com uma frequência
inadequada e de maneira indiscriminada no plantio de cebola principalmente devido a
diagnósticos equivocados, deixando de levar em consideração o uso e o manejo do solo,
métodos de irrigação errôneos, déficit hídrico, desequilíbrio nutricional e fitotoxidez, tais
fatores tornam favoráveis os aparecimentos de pragas e de patógenos na planta (ROWE et al.,
2006).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como observado alguns desses produtos químicos não são apropriados para o cultivo
da cebola. Segundo (BRITO et al., 2011), pelo fato de alguns tipos de agrotóxicos custarem
menos, acaba-se optando pelo mais barato ao invés daquele que seria mais indicado para aquela
determinada cultura, o que pode trazer muitos prejuízos ao meio ambiente.
É importante destacar que as plantações visitadas estão localizadas nas proximidades de
estradas e do Rio São Francisco, causando malefícios em ambos. No primeiro caso, há
constante tráfego de veículos, pessoas e animais, podendo ocorrer contaminação através dos
agrotóxicos em suspensão na atmosfera – sabe-se que a contaminação ambiental ultrapassa
barreiras geográficas, atingindo mananciais e seres vivos mesmo distantes de onde foi gerada
(Amarante Jr. & Brito, 2006). No segundo caso, ocorre a infiltração e a lixiviação dos
compostos químicos, processo que é acelerado pela alta permeabilidade do solo de Xique-
Xique, pela maneira e a frequência que são realizadas as aplicações dos produtos, contaminando
os recursos hídricos superficiais (rio) e subterrâneos (lençol freático) e afetando,
consequentemente, toda vida presente, como os peixes que podem sofrer bioacumulação por
ficarem diretamente expostos a esses produtos através da água, sedimentos e alimentos
contaminados e o ser humano por se alimentar desse pescado contaminado, ocorrendo um
aumento das concentrações desses produtos no organismo (biomagnificação), e por ingerir
outros alimentos irrigados com essa água contaminada, que é o caso da cebola, e ainda consumir
essa água sem o tratamento adequado.
Figura 2. Água utilizada para irrigação e posteriormente contaminada com agrotóxicos
exposta aos funcionários, roça 1.
A partir desse trabalho verificou-se que existe uma grande utilização dos agrotóxicos no
município de Xique-Xique, e que os mesmos estão sendo utilizados de maneira indiscriminada,
podendo causar contaminações ao solo, rio e a população do seu entorno, já que existe uma
proximidade das plantações com os corpos d’água, estrada e cidade.
Segundo os dados colhidos durante a pesquisa de campo, pode-se observar a falta de
conhecimento em relação às consequências que o uso constante de agrotóxicos causa ao meio
ambiente e a importância do uso de EPIs, que protegem individualmente os trabalhadores do
contato direto com essas substâncias.
Foi possível evidenciar que, com intuito de se produzir em grande escala, os produtores
mantem a utilização desses produtos químicos sem se preocupar com os danos provocados ao
meio ambiente e aos seres humanos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de agrotóxicos no Brasil tem aumentado cada vez mais, por ser de fácil acesso,
ter preços baixos e incentivos financeiros governamentais, déficit de fiscalização,
obrigatoriedade para a produção de transgênicos principalmente em monoculturas.
Algumas medidas podem ser tomadas tendo em vista a minimização dos impactos aqui
citados como: substituição desses produtos químicos por produtos naturais alternativos para a
fertilização e o controle de pragas; deslocar as plantações para uma região mais distante do rio;
optar pelo cultivo de produtos orgânicos e pela agroecologia, buscando incentivos financeiros
e políticas públicas que visem apoiar a agricultura familiar; aplicar técnicas de biorremediação
como as biopilhas por exemplo, para recuperar as áreas já degradadas; informar a população
através da educação ambiental sobre os impactos socioambientais causados pelos agrotóxicos,
pois dessa maneira haveria uma população mais consciente e cuidadosa com o meio ambiente
e consequentemente com a saúde.
Sendo assim torna-se essencial reconsiderar e discutir a importância do conhecimento,
a partir da educação ambiental e de políticas públicas em âmbito municipal, estadual e federal
para sensibilização e realização de ações que visem diminuir os riscos à saúde e ao meio
ambiente, causados pelo uso inapropriado e desenfreado dos agrotóxicos no meio rural.
REFERÊNCIAS
BRITO, Luiza Teixeira de Lima. et al. Pesticidas e seus impactos no ambiente. Embrapa
Semiárido-Capítulo em livro técnico-científico (ALICE); 2011.
DA MATA, João Siqueira; FERREIRA, Rafael Lopes. Agrotóxico no Brasil: uso e impactos
ao Meio Ambiente e a Saúde Pública; 2013.
GIRALDO, LIA. Há muitas evidências de danos dos agrotóxicos à saúde. FIOCRUZ, 2011.
Disponível em: <http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3850&sid=3>
Acesso em: 15 de agosto de 2015.
LONDRES, Flávia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. 2011.
SPADOTTO, Claudio Aparecido; JUNIOR, Rômulo Penna Scorsa; DORES, Eliana Freire
Gaspar de Carvalho: GEBLER, Luciano; MORAES, Diego Augusto de Campos.
Fundamentos e aplicações da modelagem ambiental de agrotóxicos, Campinas: Embrapa
Monitoramento por Satélite. 2010. Disponível em:
<http://pt.scribd.com/doc/64852171/Fundamentos-e-aplicacoes-da-modelagem-ambiental-de-
agrotoxicos>. Acesso em 18 de agosto de 2015.