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1 INTRODUÇÃO
1 Programa infância e Adolescência, vinculado a Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Pará,
FASS/UFPA.
2 A pesquisa de campo foi realizada pelos estagiários e bolsistas do PIA, os quais ficaram responsáveis pela
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[...]. O fenômeno não é radicalmente diferente da essência, e a essência não é uma
realidade pertencente a uma ordem diversa da do fenômeno. [...] Captar o fenômeno
de determinada coisa significa indagar e descrever como a coisa em si se manifesta
naquele fenômeno, e ao mesmo tempo nele se esconde. Compreender o fenômeno é
atingir a essência (KOSÍK, 1976, p. 15-16).
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1981). Entretanto, cabe ressaltar que essas mudanças ocorrem, primeiramente, entre os ricos
e meninos, a exemplo da escolarização, que só foi destinada às meninas quase dois séculos
mais tarde, independente de sua classe social (ÀRIÈS, 1981).
Destarte, o “sentimento de infância” não ocorreu da mesma maneira entre ricos e
pobres, meninos e meninas, na maioria das vezes ele estava reservado para as elites da
sociedade, que possuíam condições para garantir, principalmente, o acesso à saúde e
educação para seus filhos. Em contrapartida, a infância da classe pobre ainda era guiada pelo
trabalho, como forma de garantir a subsistência familiar e evitar o ócio e os vícios (ARIÈS,
1981).
Desta maneira, conclui-se que até os dias de hoje crianças e adolescentes vivem
diversas representações da infância e da adolescência, de acordo com sua classe social, sua
época, seus costumes e isso não significa que uma é superior à outra, mas possibilita
compreender a heterogeneidade que essas categorias assumem na vida concreta.
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[...] é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser
humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material
com a natureza. [...] põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e
pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-
lhes forma útil à vida humana. [...] desenvolve as potencialidades nela adormecidas e
submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. [...] pressupomos o trabalho sob
forma exclusivamente humana. [...] no fim do processo do trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador (MARX, 1989,
p. 202).
De acordo com Marx (1989), os homens são produtores de sua consciência e isso
os diferencia dos animais, logo, nessa relação homem-natureza, o homem idealiza o resultado
do seu trabalho em sua imaginação, projeta seu objeto para posteriormente materializa-lo a
partir de suas necessidades concretas. Assim, o ser modifica a natureza, reflete sobre ela e
lhe atribui um valor de uso.
A medida em que o homem transforma a natureza ele transforma a si mesmo,
nesse processo ele constrói sua própria história, a partir das relações sociais, do domínio
sobre a natureza, ao passo que alcança novas habilidades e experiências, ou seja, o trabalho
é mais que uma atividade, é um processo de construção do ser social (MARX, 1989).
Desta forma, compreende-se que o trabalho é categoria fundante do ser, que
possibilita o homem desenvolver suas potencialidades, como ser social dotado de
racionalidade. É por isso que o homem não se satisfaz apenas com o trabalho propriamente
dito, ele sente necessidade de desenvolver outras potencialidades.
Foi um elemento histórico presente na infância brasileira que foi edificada sobre uma
sociedade escravocrata, com consequências sociais expressas na profunda
desigualdade que empurrava crianças para o trabalho. Em meio a um contexto de um
sistema escolar elitizado e de ações governamentais e religiosas voltadas para o
combate à pobreza, a partir da concepção de pobreza como desvio de caráter, o
trabalho surge nesse cenário como forma de combater a preguiça, a vadiagem, o mau
caráter por meio de uma política higienista e moralizadora. (LAMARÃO, 2008, p. 52).
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área dos direitos humanos, que imprimiram novas concepções de infância, nas quais crianças
e adolescentes são compreendidos como sujeitos de direitos.
Para esta discussão, tomou-se como base, o conceito oficialmente aceito sobre
esse fenômeno, conforme a definição da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho
Infantil (Conaeti) do Brasil, ela define trabalho infantil como:
É possível compreender a forte conotação valorativa que persiste nos dias atuais
sobre o trabalho precoce como representação social positiva, tanto nas famílias
empobrecidas quanto na sociedade em geral. Esse componente moral de combate
aos vícios e a ociosidade, encoberta as raízes da exploração econômica e social do
sistema capitalista. Por isso, a representação do trabalho infantil reveste-se de uma
capa de ajuda, de auxílio, negando assim as possibilidades de pensar a exeqüibilidade
de direitos à vida, à saúde, a escolarização, à infância. (LAMARÃO, 2008, p. 53).
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3 A INCIDÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE
ESTUDAM NA E. E. E. F. MATEUS DO CARMO EM BELÉM, PARÁ.
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No que se refere à incidência do trabalho infantil entre os alunos da Escola Mateus
Carmo, verificou-se um número expressivo de crianças e adolescentes que já trabalharam ou
estão em situação de trabalho. Dos 88 pesquisados, 4 afirmaram que trabalham, porém,
constatou-se que outros 11 alunos realizavam atividades as quais recebiam ou recebem
algum pagamento.
Identificou-se 15 meninas e meninos, isto é, 15%, do total de 88 pesquisados, que
já trabalharam ou estão trabalhando, além desses dados, foi possível identificar os diversos
tipos de trabalho, que os sujeitos identificados em situação de trabalho já desenvolveram ou
desenvolvem.
Ao considerar todas as formas de expressão do trabalho infantil – informal (15
casos) e doméstico (19 casos) – identificadas na pesquisa, este número aumenta para um
contingente de 34 do total de formulários aplicados, representando, assim, um percentual de
28% do total de 88 pesquisados. Em relação aos 15 sujeitos identifcados em situação de
trabalho infantil informal identificou-se os principais tipos de trabalho:
Total 15 100%
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Tabela 3 -Total de defasagem escolar por sexo
Meninas 5 12
Total 10 22
Fonte: Pesquisa de campo – 2017, dados coletados por meio do questionário.
Os dados podem indicar que a maioria desses sujeitos não concebem o trabalho
precoce como prejudicial, haja vista que, de acordo com Rizzini (1997) e Lamarão (2008), a
concepção de trabalho foi desde cedo legitimada sobre valores morais, alicerçados no
discurso de que “o trabalho dignifica o homem”, sendo preferível trabalhar ao invés de brincar
e muitas vezes, como consequência, faltar a escola para cumprir com a responsabilidade do
trabalho.
Com base no material coletado na pesquisa, observou-se que do total de alunos
que trabalham, 23,52% já precisaram faltar aula devido as atividades realizadas,
independentemente de haver remuneração ou não.
Nunca 25 73,52%
Este cenário demonstra uma fragilidade no processo formativo dos alunos devido
a responsabilidade com as atividades laborais, aliadas ao déficit no sistema público de
educação, tanto no que se refere aos aspectos estruturais das escolas, quanto as condições
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de trabalho de professores, gestores e técnicos. A situação de trabalho infantil associada às
condições de ensino reverbera na progressão escolar dos alunos e incide também no
processo de aprendizagem e alfabetização.
Do ponto de vista dos direitos garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), o trabalho infantil expressa uma afronta a condição das crianças e adolescentes como
sujeitos de direitos, pois quando crianças e adolescentes são inseridas precocemente no
trabalho todas as possibilidades de desenvolvimento intelectual, cognitivo, biológico, físico,
ascenção financeira e outras diminuem. Sobre aos rebatimentos do trabalho infantil na
educação, Moreira de Carvalho (2008) afirma que:
[...] não é desprezível a presença dos que não frequentam a escola, ou não trabalham
nem estudam, porque se dedicam aos afazeres domésticos, para que os pais ou
outros membros possam trabalhar. [...] Crianças e adolescentes ocupados encontram,
no trabalho, um significativo obstáculo ao ingresso, à permanência e ao sucesso no
sistema educacional. [...] Pertencendo a famílias pobres e com baixo capital e tendo
acesso a um ensino público de má qualidade, que não atende às suas necessidades
e expectativas, os pequenos trabalhadores, muitas vezes, chegam à escola já
cansados, ou não conseguem frequentá-la regularmente em decorrência de suas
responsabilidades laborais [...] o que prejudica a aprendizagem e contribui para
aumentar as reprovações [...]. (MOREIRA DE CARVALHO, 2008, p. 588,560-562).
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Ao longo desses anos, buscou-se consolidar uma rede de atenção e proteção
integral à criança e ao adolescente, no intuito de atuar por meio de ações destinadas à
prevenção de violação de direitos, elaboração de políticas públicas e sociais, bem como a
fiscalização, denúncia ou demandas judiciais e que visam a aplicação desses dispositivos
sobre as situações de vulnerabilidade em que crianças e adolescentes se encontram.
Esta rede é composta por Conselhos de Direitos Municipais, Estaduais e Nacional
que atuam na defesa deste segmento; Conselhos Tutelares; Delegacias Regionais do
Trabalho (DRT‟s) nas unidades da federação brasileira; Fóruns e Conferências.
Entretanto, “os direitos não são lineares, nem fixos; são moldáveis às conjunturas
e à capacidade de organização da sociedade” (CFESS, 2017). É nesse sentido que a atual
conjuntura, marcada pelo conjunto de retrocessos e ataques diários aos direitos sociais da
classe trabalhadora, em que o congelamento dos gastos sociais em 20 anos, reverberam na
precarização dos serviços e nas condições de trabalho destinados à este público.
A ofensiva conservadora neoliberal orquestrada pelo governo Temer, intensifica
as violações de direitos no cenário nacional, retrocedendo na compreensão sobre a infância,
sob um ótica punitiva, meritocrática e moralista, que engrossam discursos e atitudes de
criminalização da pobreza, do racismo, da intolerância, explícita em projetos de lei como o a
favor da redução da maioridade penal.
A falta de prioridade do governo para as Políticas Públicas Sociais, que visam a
Proteção Integral desses sujeitos, agrava o aprofundamento das desigualdades sociais,
acentuando as expressões da questão social brasileira e colocando ao Serviço Social novas
exigências e demandas.
Em um contexto de profundos ataques aos direitos no país, é exigido aos/as
profissionais de Serviço Social a reafirmação e defesa do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), na perspectiva de construir caminhos mais democráticos e justos para
esses sujeitos, articulando com movimentos sociais e populares, entidades e organizações,
estratégias de intervenções que ultrapassem a ação imediatista, focalizada e fragmentada
das políticas públicas e sociais, de saúde, assistência, educação, entre outras, mas que visem
a integralidade entres elas, objetivando a concretização da proteção integral às crianças e aos
adolescentes, como previsto no ECA.
A partir da compreensão de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos
específicos, dado sua condição de desenvolvimento, os/as assistentes sociais brasileiros/as
devem reafirmar os compromissos ético-políticos da profissão, na perspectiva da
emancipação humana, da liberdade como valor ético central, na busca pelo aprofundamento
da defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Diante do exposto, compreende-se que o trabalho infantil é mais uma expressão
da “questão social” que necessita ser enfrentada e que exige da categoria profissional de
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Serviço Social uma postura ético-política, articulada com as dimensões teórico-metodológica
e técnico-operativa, que possibilite uma práxis transformadora desta realidade inóspita,
vivenciada por milhares de crianças e adolescentes brasileiros/as, seguindo, desta forma, os
direcionamentos do projeto ético-político profissional, tendo em vista a construção de uma
nova ordem societária.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parece evidente que o desafio da sociedade brasileira está em ampliar suas políticas
públicas de caráter social, garantindo a todas as suas crianças e adolescentes o
conjunto de direitos previstos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do
Adolescente. Um Estado social forte, em proporções que nunca chegaram a fazer
parte de nossa realidade, teria possibilidade de reverter a trajetória de violência em
que se vê inserida nossa juventude. (COSTA, 2005, p.81).
Sendo assim, é latente que esse fenômeno social, tem subtraído o direito de
crianças e adolescentes viverem de maneira plena suas infâncias, impossibilitando a
frequência e a progressão escolar, bem como, um desenvolvimento e aprendizado de
qualidade e o direito de brincar.
É neste contexto que os/as assistentes sociais brasileiros/as devem reafirmar o
compromisso ético-político, que direcione para o aprofundamento da garantia dos direitos das
crianças e dos adolescentes, nas três esferas do governo, objetivando a efetivação da
proteção integral desses sujeitos, na perspectiva da emancipação humana.
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Desta maneira, a erradicação do trabalho infantil se apresenta como um desafio,
principalmente no que se refere à desconstrução da “naturalização” que envolve o trabalho
infanto-juvenil, perpetuado até os dias de hoje sob valores tradicionais enraizados na
sociedade, preservados pelas relações de poder intrínsecas do modo de produção capitalista.
REFERÊNCIAS
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1981.
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Cortez, 2010.
______. Lei Federal nº 8.069, que rege o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA,
criado em 13 de julho de 1990 Brasília, DF, 1990.
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brasileiros. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br. Acesso em 06 de fev de 2018.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social- 6ª ed.- São Paulo:
Atlas, 2008.
KOSÍK, Karel. Dialética do concreto. Tradução Célia Neves e Alderico Toríbio. 2. Ed. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1976.
LAMARÃO, Maria Luiza Nobre. A Constituição das relações sociais de poder no trabalho
infanto-juvenil doméstico: estudo sobre estigma e subalternidade. 2008. 166 f. Dissertação
(Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal do Pará. Belém, 2008.
MARX, Karl. O Capital: crítica da Economia Política. Livro 1. Cap. V. Rio de Janeiro:
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______. Combatendo o trabalho infantil: Guia para educadores / IPEC – Brasília: OIT.
2001: il.
SOUZA, Ana Paula Vieira e. Trabalho infantil: uma análise do discurso de crianças e de
adolescentes da Amazônia paraense em condição de trabalho / Ana Paula Vieira e Souza.
– 2014.
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