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TRABALHO INFANTIL E SERVIÇO SOCIAL: o caso das crianças da Escola Mateus do

Carmo em Belém-Pa, impactos e desafios.

Resumo: Este artigo apresenta os resultados alcançados


durante o desenvolvimento da pesquisa intitulada “Diagnóstico
Situacional do Trabalho Infantil entre as crianças da Escola
Mateus do Carmo em Belém-Pará”. Apresenta a discussão
conceitual sobre a categoria Trabalho Infantil, identifica a
incidência e os impactos do trabalho precoce na educação de
crianças e adolescentes da rede oficial de ensino de Belém-PA,
bem como analisa a importancia do compromisso ético-politíco
do Serviço Social na defesa dos direitos da criança e do
adolescente. Foi utilizada a pesquisa bibliográfico-documental e
a aplicação de questionários.
Palavras-Chave: Trabalho Infantil; Criança e Adolescente;
Compromisso ético-político; Serviço Social.

Abstract: This article presents the results achieved during the


first months of research entitled " Situational Diagnosis of Child
Labour among the childrem of the Mateus of Carmo school in
Belém-PA ." Presents the conceptual discussion on child labor
category, identifies the incidence and early work impacts on the
education of children and adolescents official network of Belém-
PA education, and analyzes the importance of the ethical and
political commitment of social work in defense the rights of
children and adolescents. The bibliographic and documentary
research and the application of questionnaires.
Keywords: Child labor; Children and Adolescents; ethical and
political commitment; Social service.

1
1 INTRODUÇÃO

O referido artigo apresenta os resultados alcançados durante o desenvolvimento


da pesquisa intitulada - Diagnóstico Situacional do Trabalho Infantil entre as crianças da
Escola Estadual de Ensino Fundamental Mateus do Carmo em Belém, Pará, o qual investiga
a “Incidência e os impactos do Trabalho Infantil na vida e educação das crianças em situação
de trabalho infantil”, vinculada ao Programa Infância e Adolescência - PIA1. Para a coleta de
dados, a pesquisa de campo foi efetivada por meio de aplicação de questionários na escola.
Esta etapa foi realizada por uma equipe técnica do Programa Infância e Adolescência, no total
foram aplicados 88 questionários2.
O objetivo da pesquisa é obter um diagnóstico da presença deste fenômeno social
na respectiva escola da rede de ensino, bem como apresentar a discussão conceitual sobre
as categorias de análises: Infância, Trabalho; Trabalho Infantil. Desta forma, foram realizados
estudos de literatura acadêmica que aborda o debate teórico sobre o fenômeno do trabalho
infantil em livros, artigos, relatórios, monografias, dissertações e teses no intuito de subsidiar
tais discussões.
Para a análise das categorias optou-se por utilizar o método histórico, no qual,
possibilita estudar as origens dos acontecimentos passados e explicar os seus reflexos e
incidências na atualidade. O método empregado para compreender a realidade estudada foi
o dialético, uma vez que permite analisar e dar ênfase as contradições da realidade, numa
perspectiva histórica, possibilitando a compreensão da realidade socioeconômica, pois de
acordo com Gil (1999, p.32) “[...] a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica
e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos
quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências”.
Segundo Kosík (1976), o mundo da realidade não se apresenta ao homem
imediatamente, mas se manifesta como complexo de fenômenos ¨naturais¨ ao cotidiano
humano, como algo imediato e independente. O que se manifesta à primeira vista é o mundo
fenomênico, no qual a vida cotidiana é orientada pela “práxis utilitária” que encoberta a
compreensão da realidade mediante o senso comum, o mundo da pseudoconcreticidade, que
é:

[...] um claro-escuro de verdade e engano. O seu elemento próprio é o duplo sentido.


O fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, a esconde. A essência se
manifesta no fenômeno, mas só de modo inadequado, parcial, ou apenas sob certos
ângulos e aspectos. [...] A essência não se dá imediatamente; é mediata ao fenômeno

1 Programa infância e Adolescência, vinculado a Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Pará,
FASS/UFPA.
2 A pesquisa de campo foi realizada pelos estagiários e bolsistas do PIA, os quais ficaram responsáveis pela

quantificação dos dados.

2
[...]. O fenômeno não é radicalmente diferente da essência, e a essência não é uma
realidade pertencente a uma ordem diversa da do fenômeno. [...] Captar o fenômeno
de determinada coisa significa indagar e descrever como a coisa em si se manifesta
naquele fenômeno, e ao mesmo tempo nele se esconde. Compreender o fenômeno é
atingir a essência (KOSÍK, 1976, p. 15-16).

Neste sentido, para desvendar a realidade do trabalho precoce de crianças e


adolescentes inseridas no ambiente escolar, buscou-se desconstruir a pseudoconcreticidade
da aparência para chegar a essência, a realidade concreta, por meio do senso crítico.

2 DA EMANCIPAÇÃO À EXPLORAÇÃO: reflexões sobre infância, trabalho e trabalho infantil

2.1 INFÂNCIA: representações históricas e sociais

As concepções de infância que se conhece atualmente são resultados de diversos


desdobramentos sócio-culturais, produzidos e reproduzidos ao longo da história, que se
transformaram em cada época e sociedade. De acordo com Ariès (1981), crianças e
adolescentes nem sempre foram vistos como sujeitos em desenvolvimento e que por essa
razão necessitavam de cuidados específicos.
O primeiro sentimento em relação à infância, foi denominado pelo autor como
“paparicação”, em que a criança passou a ocupar um lugar na diversão e brincadeira dos
adultos, a criança era vista como uma distração, pois era “engraçadinha” (ARIÈS, 1981).
Junto ao sentimento da “paparicação”, a criança passou a ser batizada e ganhou
mais frequência nas representações artísticas, devido à diminuição da mortalidade em função
do advento da vacina e preocupação com a saúde e higiene. Uma boa saúde naquele contexto
significava menos chance da criança inclinar-se à preguiça e os vícios (ARIÈS, 1981). A
criança saiu do anonimato e ganhou importância no âmbito familiar, os laços entre mãe e
filhos foram fortalecidos e diversas mudanças ocorrem no que se refere à criança, à família e
aos costumes (ARIÈS, 1981).
Surgiu, então, o segundo sentimento relacionado à infância: a fragilidade e
inocência. Esse sentimento surgiu entre os eclesiásticos e moralistas, preocupados com os
costumes e a disciplina, o apego a infância passou da brincadeira para a preocupação moral
e essa nova doutrina teve forte influência na família e no modelo educacional (ARIÈS, 1981).
A partir de então, a disciplina e a vigilância, por meio da escolarização, passaram
a determinar o sentimento sobre a infância, assim como, deslocou a vida social do espaço
público para o privado, em que o autoritarismo e a hierarquia ganharam destaque (ARIÈS,

3
1981). Entretanto, cabe ressaltar que essas mudanças ocorrem, primeiramente, entre os ricos
e meninos, a exemplo da escolarização, que só foi destinada às meninas quase dois séculos
mais tarde, independente de sua classe social (ÀRIÈS, 1981).
Destarte, o “sentimento de infância” não ocorreu da mesma maneira entre ricos e
pobres, meninos e meninas, na maioria das vezes ele estava reservado para as elites da
sociedade, que possuíam condições para garantir, principalmente, o acesso à saúde e
educação para seus filhos. Em contrapartida, a infância da classe pobre ainda era guiada pelo
trabalho, como forma de garantir a subsistência familiar e evitar o ócio e os vícios (ARIÈS,
1981).
Desta maneira, conclui-se que até os dias de hoje crianças e adolescentes vivem
diversas representações da infância e da adolescência, de acordo com sua classe social, sua
época, seus costumes e isso não significa que uma é superior à outra, mas possibilita
compreender a heterogeneidade que essas categorias assumem na vida concreta.

2.2 TRABALHO: breves reflexões

Historicamente o trabalho sempre esteve presente na vida do ser humano. Em


seus diferentes aspectos, contribui principalmente para a elaboração e desenvolvimento do
ser social, pois, é por meio dele que o homem estabelece suas relações com o meio ao qual
está inserido. Antunes (2005) explica que:

A história da realização dos seres sociais, ao longo de seu processo de


desenvolvimento histórico-social, sabemos, objetiva-se por meio de produção e
reprodução da existência humana. Para isso, os indivíduos iniciam um ato laborativo
básico, desenvolvido pelo processo de trabalho. É a partir do trabalho e sua realização
cotidiana que o ser social distingue-se de todas as formas pré-humanas. [...] O
trabalho mostra-se então, como momento fundante de realização do ser social,
condição para sua existência; é por isso ponto de partida para a humanização do ser
social [...] (ANTUNES, 2005, p. 67-68).

Destarte, Marx explica que o trabalho “é a categoria fundante do ser”, o qual


constitui-se socialmente, isto é, contribui para o desenvolvimento do ser social e na
construção das suas relações sociais. A partir do trabalho é possível compreender as relações
que são constituídas na sociedade.
O trabalho, “enquanto categoria ontológica do ser social”, tem a finalidade de
satisfazer o homem e possibilitar sua emancipação social, é um processo de construção do
ser, em que ele passa a construir mediações que possibilitam a ampliação e totalidade de seu
domínio sobre a natureza e sobre si mesmo, logo:

4
[...] é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser
humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material
com a natureza. [...] põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e
pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-
lhes forma útil à vida humana. [...] desenvolve as potencialidades nela adormecidas e
submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. [...] pressupomos o trabalho sob
forma exclusivamente humana. [...] no fim do processo do trabalho aparece um
resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador (MARX, 1989,
p. 202).

De acordo com Marx (1989), os homens são produtores de sua consciência e isso
os diferencia dos animais, logo, nessa relação homem-natureza, o homem idealiza o resultado
do seu trabalho em sua imaginação, projeta seu objeto para posteriormente materializa-lo a
partir de suas necessidades concretas. Assim, o ser modifica a natureza, reflete sobre ela e
lhe atribui um valor de uso.
A medida em que o homem transforma a natureza ele transforma a si mesmo,
nesse processo ele constrói sua própria história, a partir das relações sociais, do domínio
sobre a natureza, ao passo que alcança novas habilidades e experiências, ou seja, o trabalho
é mais que uma atividade, é um processo de construção do ser social (MARX, 1989).
Desta forma, compreende-se que o trabalho é categoria fundante do ser, que
possibilita o homem desenvolver suas potencialidades, como ser social dotado de
racionalidade. É por isso que o homem não se satisfaz apenas com o trabalho propriamente
dito, ele sente necessidade de desenvolver outras potencialidades.

2.3 TRABALHO INFANTIL: conceitos, definições e características.

O trabalho é um elemento histórico presente na infância, se acentuando na


sociedade capitalista, a partir do século XVII, quando foram registradas as primeiras formas
de trabalho infantil decorrentes da expansão da indústria e do grande capital, principalmente
na Europa.
No caso do Brasil, segundo Lamarão (2008), o trabalho infantil:

Foi um elemento histórico presente na infância brasileira que foi edificada sobre uma
sociedade escravocrata, com consequências sociais expressas na profunda
desigualdade que empurrava crianças para o trabalho. Em meio a um contexto de um
sistema escolar elitizado e de ações governamentais e religiosas voltadas para o
combate à pobreza, a partir da concepção de pobreza como desvio de caráter, o
trabalho surge nesse cenário como forma de combater a preguiça, a vadiagem, o mau
caráter por meio de uma política higienista e moralizadora. (LAMARÃO, 2008, p. 52).

O trabalho infantil se tornou um fenômeno relevante na constituição e no


reconhecimento político e social como uma das refrações da “questão social”, por meio das
transformações nas relações de trabalho e das lutas dos movimentos sociais e políticos na

5
área dos direitos humanos, que imprimiram novas concepções de infância, nas quais crianças
e adolescentes são compreendidos como sujeitos de direitos.
Para esta discussão, tomou-se como base, o conceito oficialmente aceito sobre
esse fenômeno, conforme a definição da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho
Infantil (Conaeti) do Brasil, ela define trabalho infantil como:

Aquelas atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem


finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em
idade inferior a 16 anos (dezesseis) anos, ressalvada a condição de aprendiz a partir
dos 14 anos (quatorze) anos, independente da sua condição ocupacional. (BRASIL,
2004, p. 9).

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, “[...] trabalho infantil é aquele


realizado por crianças e adolescentes que estão abaixo da idade mínima para a entrada no
mercado de trabalho, segundo a legislação em vigor no país”. (OIT, 2001, p.13).
No entanto, em 2004 a OIT e o Programa Internacional de Erradicação do
Trabalho Infantil (Ipec), utilizaram um conceito mais detalhado sobre o trabalho infantil, o qual:

[...]También se considera trabajo infantil aquellas actividades económicas realizadas


porde bajo de los 18 años, que interfieran con la escolarización de los niños, niñas y
adolescentes, se realicen en ambientes peligrosos, o se lleven a cabo en condiciones
que afecten su desarrollo psicológico, físico, social y moral, inmediato o futuro. (OIT,
2004, p. 11 apud VIEIRA, 2009, p.24).

Pode-se dizer que o trabalho infantil é evidenciado por duas principais


características: a primeira concebe o trabalho baseado em categorias morais, em que é
preferível que a criança trabalhe ao invés de estar brincando ou sem fazer nada, pois assim
elas não se ficariam preguiçosas e se tornariam pessoas melhores, trabalhadores dignos e
de caráter, neste sentido, o trabalho seria uma virtude que combateria a ociosidade.
Para Lamarão (2008) a partir desta perspectiva:

É possível compreender a forte conotação valorativa que persiste nos dias atuais
sobre o trabalho precoce como representação social positiva, tanto nas famílias
empobrecidas quanto na sociedade em geral. Esse componente moral de combate
aos vícios e a ociosidade, encoberta as raízes da exploração econômica e social do
sistema capitalista. Por isso, a representação do trabalho infantil reveste-se de uma
capa de ajuda, de auxílio, negando assim as possibilidades de pensar a exeqüibilidade
de direitos à vida, à saúde, a escolarização, à infância. (LAMARÃO, 2008, p. 53).

A segunda característica se apresenta na esfera político-social, que a partir de


reflexões críticas sobre a desigualdade social presente na sociedade capitalista, compreende-
se o trabalho infantil como uma das expressões da “questão social” no Brasil e no mundo, um
fenômeno multifacetado. Segundo Lamarão (2008, p. 53) é a partir dessa discussão que “[...]
podemos compreender o trabalho infantil em meio às relações contraditórias intrínsecas do
sistema capitalista”.

6
3 A INCIDÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE
ESTUDAM NA E. E. E. F. MATEUS DO CARMO EM BELÉM, PARÁ.

3.1 Perfil dos alunos pesquisados, incidência e impactos do trabalho infantil

A metodologia e o conjunto de técnicas e instrumentos para coletar e analisar os


dados auxiliaram na caracterização dos sujeitos da pesquisa, pois contribuiu no
reconhecimento e averiguação das díspares situações e realidades que crianças e
adolescentes estão inseridas.
Para esta análise, levou-se em consideração algumas variáveis, tais como: sexo,
idade, série/ano, renda e tipos de trabalho, entre outros, objetivando servirem como suporte
para a análise dos dados coletados. Com base nos dados tabulados, de 88 pesquisados,
identificou-se que 53% dos estudantes são meninas e 47% são meninos.
Verificou-se que o maior número de formulários respondidos correspondeu a
crianças e adolescentes entre as idades de 10 a 11 anos, totalizando 35 pessoas. Entre os
pesquisados, a maioria cursa o 5º/9 ano, representando um percentual de 52%, ou seja, 46
estudantes, enquanto 48% estão cursando o 3º/9 ano, totalizando um grupo de 42 alunos em
relação aos formulários aplicados.
Como ilustrado na tabela abaixo, entre as meninas, que representam um total de
47 estudantes do total pesquisado, 44 delas, isto é, 94% estão entre as faixas etárias de 8 a
13 anos de idade; e 47% são meninos representando um número de 41 do total de 88 alunos,
entre os meninos 98%, ou seja, 40 alunos estão entre as faixas etárias de 8 a 13 anos de
idade.

Tabela 1 – Faixa etária por sexo


Sexo
Faixa Etária Masculino % Feminino %
8-9 anos 11 27% 20 43%
10-11 anos 16 39% 19 40%
12-13 anos 13 32% 5 11%
14-15 anos 0 0% 2 4%
SR 1 2% 1 2%
Fonte: Pesquisa de campo – 2017, dados coletados por meio do questionário.

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No que se refere à incidência do trabalho infantil entre os alunos da Escola Mateus
Carmo, verificou-se um número expressivo de crianças e adolescentes que já trabalharam ou
estão em situação de trabalho. Dos 88 pesquisados, 4 afirmaram que trabalham, porém,
constatou-se que outros 11 alunos realizavam atividades as quais recebiam ou recebem
algum pagamento.
Identificou-se 15 meninas e meninos, isto é, 15%, do total de 88 pesquisados, que
já trabalharam ou estão trabalhando, além desses dados, foi possível identificar os diversos
tipos de trabalho, que os sujeitos identificados em situação de trabalho já desenvolveram ou
desenvolvem.
Ao considerar todas as formas de expressão do trabalho infantil – informal (15
casos) e doméstico (19 casos) – identificadas na pesquisa, este número aumenta para um
contingente de 34 do total de formulários aplicados, representando, assim, um percentual de
28% do total de 88 pesquisados. Em relação aos 15 sujeitos identifcados em situação de
trabalho infantil informal identificou-se os principais tipos de trabalho:

Tabela 2 – Tipos de trabalho identificados

TRABALHOS IDENTIFICADOS Nª DE CRIANÇAS %

Ajudante (pedreiro/lava-jato) 2 13%

Vendedor (a) (pipa/cachorro quente/bombom, etc) 6 47%

Cuidador (a) de Criança e/ou Idoso 7 40%

Total 15 100%

Fonte: Pesquisa de campo – 2017, dados coletados por meio do questionário.

Os tipos de trabalho declarados pelos alunos foram: vendedor de papagaio/pipa,


de cachorro quente, de batata frita, de bombom, chopp/geladinho, cuidador (a) de criança
e/ou idoso e ajudante de pedreiro e em lava-jato, todas essas atividades geram renda.
A inserção precoce de crianças e adolescentes no trabalho causa diversas
situações prejudiciais à saúde, à educação e ao desenvolvimento desses sujeitos. As relações
de dominação e poder, as condições precárias do ambiente laboral, entre outros, são fatores
que desencadeiam uma série de prejuízos em meninos e meninas que trabalham, em relação
as 34 crianças e adolescentes que estão em condição de trabalho informal e doméstico,
apenas 10 estão em idade/série corretas, 22 estão em defasagem e 2 não responderam, os
respectivos dados podem ser observados na tabela a seguir.

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Tabela 3 -Total de defasagem escolar por sexo

IDADE CERTA DEFASAGEM


Meninos 5 10

Meninas 5 12
Total 10 22
Fonte: Pesquisa de campo – 2017, dados coletados por meio do questionário.

A defasagem escolar é um, dentre os vários impactos na educação de crianças e


adolescentes que trabalham:

[...] ocorre uma defasagem escolar significativa, que se soma ao cansaço, ao


desestímulo e a um maior envolvimento com o mercado de trabalho e com a
ampliação das jornadas, levando muitos a abandonarem o sistema educacional
precocemente, com baixos níveis de escolaridade. Contribuindo para antecipar o fim
da infância e da adolescência e para uma inserção no mundo do trabalho como
adultos [...] (MOREIRA DE CARVALHO, 2008, p. 561-562).

Os dados podem indicar que a maioria desses sujeitos não concebem o trabalho
precoce como prejudicial, haja vista que, de acordo com Rizzini (1997) e Lamarão (2008), a
concepção de trabalho foi desde cedo legitimada sobre valores morais, alicerçados no
discurso de que “o trabalho dignifica o homem”, sendo preferível trabalhar ao invés de brincar
e muitas vezes, como consequência, faltar a escola para cumprir com a responsabilidade do
trabalho.
Com base no material coletado na pesquisa, observou-se que do total de alunos
que trabalham, 23,52% já precisaram faltar aula devido as atividades realizadas,
independentemente de haver remuneração ou não.

Tabela 4 – Total de faltas para trabalhar

INFLUENCIA DE FALTAS PARA TRABALHAR FREQUÊNCIA %

Nunca 25 73,52%

Algumas Vezes 5 14,70%

Muitas Vezes 3 8,82%


Fonte: Pesquisa de campo – 2017, dados coletados por meio do questionário.

Este cenário demonstra uma fragilidade no processo formativo dos alunos devido
a responsabilidade com as atividades laborais, aliadas ao déficit no sistema público de
educação, tanto no que se refere aos aspectos estruturais das escolas, quanto as condições

9
de trabalho de professores, gestores e técnicos. A situação de trabalho infantil associada às
condições de ensino reverbera na progressão escolar dos alunos e incide também no
processo de aprendizagem e alfabetização.
Do ponto de vista dos direitos garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), o trabalho infantil expressa uma afronta a condição das crianças e adolescentes como
sujeitos de direitos, pois quando crianças e adolescentes são inseridas precocemente no
trabalho todas as possibilidades de desenvolvimento intelectual, cognitivo, biológico, físico,
ascenção financeira e outras diminuem. Sobre aos rebatimentos do trabalho infantil na
educação, Moreira de Carvalho (2008) afirma que:

[...] não é desprezível a presença dos que não frequentam a escola, ou não trabalham
nem estudam, porque se dedicam aos afazeres domésticos, para que os pais ou
outros membros possam trabalhar. [...] Crianças e adolescentes ocupados encontram,
no trabalho, um significativo obstáculo ao ingresso, à permanência e ao sucesso no
sistema educacional. [...] Pertencendo a famílias pobres e com baixo capital e tendo
acesso a um ensino público de má qualidade, que não atende às suas necessidades
e expectativas, os pequenos trabalhadores, muitas vezes, chegam à escola já
cansados, ou não conseguem frequentá-la regularmente em decorrência de suas
responsabilidades laborais [...] o que prejudica a aprendizagem e contribui para
aumentar as reprovações [...]. (MOREIRA DE CARVALHO, 2008, p. 588,560-562).

Os dados apresentados neste primeiro momento da pesquisa revelam que, o perfil


das crianças e dos adolescênctes em situação de trabalho, o número de trabalho
identificados, a defasagem escolar, bem como, o número elevado de faltas nas aulas em
decorrência do trabalho que é desempenhado por crianças e adolescentes, expõem a
incidência do trabalho infantil na rede pública de ensino, pois traduzem a não garantia e
efetivação dos direitos, incidindo diretamente na progressão escolar de crianças e
adolescentes, a qual pode desencadear uma série de outras situações, dentre elas a
desistência escolar. Revelam também que as políticas públicas que deveriam garantir o
desenvolvimento, biológico, físico, moral, ético, cognitivo não cumprem com o seu papel, pois
as crianças e os adolescentes que trabalham não estão sendo atendidos de forma integral
pelas políticas públicas.

4 O COMPROMISSO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL NA DEFESA DOS


DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

No Brasil, a proteção à criança e ao adolescente ganhou mais destaque, a partir


das décadas de 1980-1990 e início do século XXI, com a criação de mecanismos que
buscaram auxiliar, garantir e efetivar direitos a todas as crianças e adolescentes independente
das suas condições financeiras, religiosas, sociais e culturais.

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Ao longo desses anos, buscou-se consolidar uma rede de atenção e proteção
integral à criança e ao adolescente, no intuito de atuar por meio de ações destinadas à
prevenção de violação de direitos, elaboração de políticas públicas e sociais, bem como a
fiscalização, denúncia ou demandas judiciais e que visam a aplicação desses dispositivos
sobre as situações de vulnerabilidade em que crianças e adolescentes se encontram.
Esta rede é composta por Conselhos de Direitos Municipais, Estaduais e Nacional
que atuam na defesa deste segmento; Conselhos Tutelares; Delegacias Regionais do
Trabalho (DRT‟s) nas unidades da federação brasileira; Fóruns e Conferências.
Entretanto, “os direitos não são lineares, nem fixos; são moldáveis às conjunturas
e à capacidade de organização da sociedade” (CFESS, 2017). É nesse sentido que a atual
conjuntura, marcada pelo conjunto de retrocessos e ataques diários aos direitos sociais da
classe trabalhadora, em que o congelamento dos gastos sociais em 20 anos, reverberam na
precarização dos serviços e nas condições de trabalho destinados à este público.
A ofensiva conservadora neoliberal orquestrada pelo governo Temer, intensifica
as violações de direitos no cenário nacional, retrocedendo na compreensão sobre a infância,
sob um ótica punitiva, meritocrática e moralista, que engrossam discursos e atitudes de
criminalização da pobreza, do racismo, da intolerância, explícita em projetos de lei como o a
favor da redução da maioridade penal.
A falta de prioridade do governo para as Políticas Públicas Sociais, que visam a
Proteção Integral desses sujeitos, agrava o aprofundamento das desigualdades sociais,
acentuando as expressões da questão social brasileira e colocando ao Serviço Social novas
exigências e demandas.
Em um contexto de profundos ataques aos direitos no país, é exigido aos/as
profissionais de Serviço Social a reafirmação e defesa do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), na perspectiva de construir caminhos mais democráticos e justos para
esses sujeitos, articulando com movimentos sociais e populares, entidades e organizações,
estratégias de intervenções que ultrapassem a ação imediatista, focalizada e fragmentada
das políticas públicas e sociais, de saúde, assistência, educação, entre outras, mas que visem
a integralidade entres elas, objetivando a concretização da proteção integral às crianças e aos
adolescentes, como previsto no ECA.
A partir da compreensão de que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos
específicos, dado sua condição de desenvolvimento, os/as assistentes sociais brasileiros/as
devem reafirmar os compromissos ético-políticos da profissão, na perspectiva da
emancipação humana, da liberdade como valor ético central, na busca pelo aprofundamento
da defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Diante do exposto, compreende-se que o trabalho infantil é mais uma expressão
da “questão social” que necessita ser enfrentada e que exige da categoria profissional de

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Serviço Social uma postura ético-política, articulada com as dimensões teórico-metodológica
e técnico-operativa, que possibilite uma práxis transformadora desta realidade inóspita,
vivenciada por milhares de crianças e adolescentes brasileiros/as, seguindo, desta forma, os
direcionamentos do projeto ético-político profissional, tendo em vista a construção de uma
nova ordem societária.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que o trabalho infantil é apresentado como uma demanda que se


caracteriza na contemporaneidade de forma mais acentuada e incidindo na vida das famílias
e em particular na vida das crianças que são expostas a diversas formas de trabalhos e a
situações de risco. Por ser uma expressão da “questão social”, deve ser posto em discussão
para que a temática seja cada vez debatida com o intuito de se elaborar políticas, projetos e
ações que contribuam para sua erradicação.
Os dados apresentados nesta investigação revelam uma realidade presente no Brasil
e na Amazônia, vivenciada por inúmeras crianças e adolescentes e que por vezes se torna
invisível ao Estado, à família e à sociedade, apesar de todos os aparatos legais que condenam
esta prática.
A questão da proteção à criança e ao adolescente ganhou a partir da década de
1980-1990, mecanismos que auxiliam, garantem e efetivam direitos a todas as crianças
independentes das suas condições financeiras, religiosas, étnicas, credos, e outros, porém,
segundo o autor Costa, esclarece que:

Parece evidente que o desafio da sociedade brasileira está em ampliar suas políticas
públicas de caráter social, garantindo a todas as suas crianças e adolescentes o
conjunto de direitos previstos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do
Adolescente. Um Estado social forte, em proporções que nunca chegaram a fazer
parte de nossa realidade, teria possibilidade de reverter a trajetória de violência em
que se vê inserida nossa juventude. (COSTA, 2005, p.81).

Sendo assim, é latente que esse fenômeno social, tem subtraído o direito de
crianças e adolescentes viverem de maneira plena suas infâncias, impossibilitando a
frequência e a progressão escolar, bem como, um desenvolvimento e aprendizado de
qualidade e o direito de brincar.
É neste contexto que os/as assistentes sociais brasileiros/as devem reafirmar o
compromisso ético-político, que direcione para o aprofundamento da garantia dos direitos das
crianças e dos adolescentes, nas três esferas do governo, objetivando a efetivação da
proteção integral desses sujeitos, na perspectiva da emancipação humana.

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Desta maneira, a erradicação do trabalho infantil se apresenta como um desafio,
principalmente no que se refere à desconstrução da “naturalização” que envolve o trabalho
infanto-juvenil, perpetuado até os dias de hoje sob valores tradicionais enraizados na
sociedade, preservados pelas relações de poder intrínsecas do modo de produção capitalista.

REFERÊNCIAS

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Capítulo V – A dialética do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.

ARIÈS, Phillipe. A História social da criança e da família.2ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara,
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Cortez, 2010.

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