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WILHELM DILTHEY: FILOSOFO DA VIDA E CLASSICO DA FILOSQFIA HERMENEUTICA Maria Nazaré de Camargo Pacheco Amaral 103 textos 104 66 uando, no outono passado, Wilhelm Dilthey morreu ~ de- masiado cedo, pois, apesar dos seus 79 anos, ele no era um homem idoso, tendo sido arrancado do seu trabalho mais fecundo -, a ressoniincia desse fato nos jornais foi assustadoramente insi ficante. Na verdade, s6 se manilest discipulos mais intimos, um pequeno grupo de vito ou nove homens que nos iltimos vinte anos tinham trabalhado pessoalmente com ele, formando um verdadeiro centro de estu- do” (Noht, 1984, p. 275). ram seus Essas palavras, em tom de melaneélica resignagio, foram proferidas por Herman Nohi, diseipulo e um dos mais préximos c laboradores de Dilthey, em conferéneia pro- ferida em 1912, na Sociedade FilosGtica de Tena, em homenagem i meméria do filésofo. No ano de 2011,em outubro, as insimeras homenagens prestadas a ele em comemora- ‘¢o ao centenério de sua morte, prineipal- mente na Europa, revelaram reconhecimen- (oe respeito pelo valor de sua obra, embora ainda por parte de um pablico especializado. Coldquios, simpés cionais foram realizados na Academia de Cigncia de Berlim (de onde era membro), na Italia (Bolsano e Merano), na Polonia (Uni versidade de Breslivia, onde foi por longo tempo professor) ¢ Franga (Lille), entre ou- ros. O coléquio “Antropologia e Hist6 realizado em Merano, representou a coroacdo das comemoragdes internacionais de Dilthey. A conclusdo das atividades configurou um © congressos intern: modo especial e tinico de honrar sua vida va- liosa, reconhecida hoje internacionalmente. Exatamente cem anos depois de sua morte, ‘em um sibado, I? de outubro de 2011,0 pre- feito do vilarejo de Kastelruth descerrou uma placa fixada em um muro de rua na qual se podia ver seu nome, dados e foto. Otto Friedrich Bollnow (1982, p. 184), da segunda geragao de disefpulos de Dil- they, ressalta o fato de ser péstuma a fama REVISTA USP+ SKO PAULO = N.96 + P40 de Dilthey como fildsofo, A que se deveria, pois, o fato de nfo ter tido o autor, no curso de sua longa vida, o reconhecimento puiblico que obteve apds sia morte? Como motivo principal da fria acolhida da parte do ptiblico costumam seus estudiosos fazer referéncia «40 mais completo descaso com que encarava trabalho atinente & publicago de seus es- critos. Seus discipulos mais chegados sabiam perfeitamente que ele temia perder seu tem- po, que o avangar da idade tornava cada dia mais precioso, com edicdes e reedi¢des de obras ja escritas quando poderia empregé-to melhor dando continuidade a trabalhos ainda incompletos. Aliés, a angistia a que o levava a ideia de morrer deixando inacabados seus trabathos parecia oprimi-to constantemente, sobretudo nos iltimos anos de sua vida. Pa- recia pressentir o fim proximo. Foi em uma viagem que fez pequena cidade de Seiss am Schlern, no sul do Tirol. Apesar de ter ido passar ali férias,estava t20 concentrado em seus estudos ¢ leituras (livros e materiais de trabalho eram sempre despachados com antecedéncia para que quando chegasse esti- vessem ja sua disposigao) que nao percebeu estar o salio de refeigies do hotel a cada dia ‘mais vazio em fungao de um surto de difte- ria que grassava no local, fazendo com que as pessoas fugissem. Nio tendo sido avis do pela administragao do hotel, inteiramente obcecado por desenvolver suas ideias, aca- bou contraindo a doenga e saiu de ld morto. Nada a estranhar, portanto, que ao morrer, em 1911, duas grandes obras suas se encon- trassem desde longo tempo esgotadas: a Vida de Schleiermacher (1870) € a Introdugdo as Esptrito (1883). Nao obstante, Dilthey ganha alguma publicidade em vida com a publicagio da Histéria da Juventude de Hegel (1905) ¢ de uma série de ens: reunidos sob o titulo de Vivéncia e Poesia (1906). Tais ensaios aleangaram grande re percussio atingindo varias edigdes antes da ‘morte do autor, cujo nome, a partir desse momento, ficou fortemente ligado a tais es- critos. Gragas & destacada atuago no campo literdrio e no da ciéncia da arte, o reconheci- mento de seus contemporiineos nao tinha por Ciéncias do os alvo 0 filésofo, mas © “arguto historiador do espitito”. O préprio sentido fundamental da filosofia diltheyana, isto €, a elaboragio de uma “eritica da razio histérica”, compendi dda em sua principal obra sistemitica, Intro- dugdo as Ciéncias do Espirito (1883), teve repercussiio comparativamente diminuida. Apés a divulgago do primeiro volume, do segundo apareceram apenas fragmentos. A despeito do plano original, o segundo volu- ime, tanto da Vida de Schleiermacher, quanto da Introdugao as Ciéncias do Espirito, nio {foi publicado, Dilthey continuou trabalhan- do em uma série de estudos sistemiiticos que foram divulgados em Berlim nos anos 90 nas Atas da Real Academia Prussiana dle Cién- cias, género de publicagio que, por nature~ vio poderia tornar conhecidos do grande plblico os esforgos do autor no sentido de estabelecer a fundamentagio das ciéncias do espirito, principalmente porque tais tratados apareceram espacadamente, desligados uns dos outros, sem qualquer indicagio explicita do autor no sentido de justificar 0 nexo si matico existente entre eles. Entre as dltimas publicagdes que ante~ cedem a morte do autor, esto dois grandes za, e- tratados: A Construcdo do Mundo Histérico nas Ciéncias do Esptrito (1910) e Os Tipos de Concepedo do Mundo e sua Formacao nos Sistemas Metafisicos (1911). A teoria diltheyana da concepgao do mundo exerce grande influéncia na literatura e na arte, 0 que reforca ainda mais a imagem de Dilthey como 0 “arguto historiador do espirito”, permanecendo 0 real propésito sistemitico- -filosétfico do autor praticamente sem chamar a atengo dos contempordineos. Bastante ca- racterfstico da pouea ressondncia do nome de Dilthey é o relato, misto de indignago resignagao, de José Ortega y Gasset na época em que era aluno na Universidade de Ber- lim em 1906, Nao teve a sorte de conhecer Dilthey, que apenas poucos anos antes havia passado a dar suas aulas ndo mais no prédio dda Universidade, mas em sta casa, para onde convidava alguns poucos eleitos para ouvi-lo. Ortega manifesta a mesma queixa daqueles que se ocupavam com seu pensamento na- quele momento: conhecia-se pouco sobre ele endo se imaginava que houvesse mui- to mais a ser conhecido no futuro. Quando s6 em 1929 teve contato com a amplitude € profundidade da obra de Dilthey, lamentou os, pelo menos, dez anos que havia perdi- do em sua vida e, ao introduzir seu artigo em homenagem ao centésimo aniversério de Dilthey, portanto jé em 1933, fez questo de apresenté-to ao leitor como um filésofo, na certeza de que nao estaria incorrendo em desrespeito ou redundancia, dada a pequena ressoniincia que seu nome ainda tinha fora da Alemanha, apesar de, na sua opinio, ter sido 0 filésofo mais importante da segunda metade do século XIX. ‘Com a morte de Dilthey, em 1911, tem inicio uma corregio dessa visio distorcida do autor, objetivo defendido com grande interesse pelos seus disefpulos jé empenha- dos na tarefia de organizagio de suas Obras Completas. A edigio das Obras Completas (Gesammelie Schiriften ~ GS) tinha papel importante para o pensamento diltheyano, isto é, corrigir posteriormente aquela visio deformada que a critica the imputara. To davia, semelhante edigo nio partiu de um plano unitério, Supde-se que seus editores, originais, Georg Misch, Groethuysen e Her- man Nohl, tinham em mente apenas reeditar as poucas obras que haviam sido publicadas por Dilthey em vida, completando-as unies mente, entdo, com breves publicagdes das péstumas. Hoje se sabe que scus discfpulo mesmo os mais prximos, ndo tinham nogao da amplitude de sua obra no seu eonjunto. E isso pode ser testemunhado por um deles, Herman Nohl, que tornou piiblica uma con- fisso que o autor Ihe fizera, provavelmente a0 pensar nos incontaveis manuscritos que jaziam em seus armérios: “Os senhores vo ralhar comigo quando eu morrer”. A publicago dos primeiros volumes das Obras Completas foi interrompida pela Pri meira Guerra Mundial, tendo seu recomego sido marcado pela publicagao dos volumes Ve Viem 1924, Georg Misch, genro do au- tor, entdo editor dessas duas obras, fez um longo relatério preliminar, procurando dar [REVISTA USP= SX0 PAUILO +N. 96+ P, 103-109 + DEZEMMRO/FEVEREIRO 2012-2013, MARIA NAZARE DE CAMARGO PACHECO AMARAL € professora titular da FE-USP e autora de, entre outros, Ninguém Ensina Ninguém: Aprende-se (Edusp/Fapesp). 105 textos 106 Enfase a unidade sistemitica do pensamento diltheyano, Semelhante trabalho favorece em grande parte o “despertar” da imagem do Dilthey fil6sofi, isto &, desvela-se 0 abran- gente pensador sistemético, O aparecimen- to em seguida do volume VIT (1927) e do volume VIII (1931) das Obras Completas, organizados por B. Groethuysen, contribui também decididamente para confirmar a nova imagem do autor, na medida em que inelui a publicagao de trabathos ligados em seul conjunto 3 fundamentagio filosctica das cigneias do espirito. Essa repercussdo da filosofia diltheyana teve, todavia, efeito passageiro, motivado por diferentes fatores. Entre eles, a publicagao de 0 Sere o Tempo, de Heidegger. em 1927, que teria desviado 0 centro das discusses filoséticas no Ambito da fundamentacZo das cigncias do espirito. Além disso, a filosotia de Karl Jaspers (1932) aparece como de: radicalizagZo da filosofia da vida. Apesar do esforgo de Georg Misch ao publicar seu livro Filosofia da Vida e Fenomenologia (1930), ‘em que procura aprofundar a filosofia dil- theyana, discutindo determinados pontos do pensamento de Heidegger e Husserl, o do- minio do nacional-socialismo punha fim & livre discussto floséfica na Alemanha. Di they foi visto pelos nacional-socialistas como representante do odiado pensamento liberal burgués; Heidegger foi tido como perigoso niilista; G. Misch precisou viajar para a In- glaterra; eo livro de O.F, Bollnow, Withelm Dilthey, uma Introduedo em sua Filosofia (1936), permaneceu sem nenhuma ressondn- cia. A publicagio das Obras Completas sofre nova interrupgiio depois do aparecimento do volume TX (1934) reunido por Erich Weniger. Mesmo depois da Segunda Guerra Mun- dial nota-se um retorno muito hesitante em iregdo obra diltheyana, sendo que s6 a partir da década de 60 foi possivel obser- var novamente interesse mais marcante pelo seu pensamento. A publicagao de Verdade ¢ Método: Fundamentos de uma Herme- néutica Filoséfica (1960), por Hans Georg Gadamer, desperta atengdo pelos problemas dda hermenéutica ao reconhecer a dimensio iva st hermenéutica no ambito das ciéncias do espitito, conforme as intengdes do préprio Dilthey. Além disso, a morte de importan- tes discipulos, como Herman Noh (1960) © Georg Misch (1965), além de Clara Misch (1967), filha de Dilthey, permitiu que cartas, documentos pessoais, e6pias de obras que se encontravam em poder desses disefpulos € da familia viessem a formar um arquivo do autor. A partir daf, os anos 60 foram ‘marcados pela continuidade da edigao das Obras Completas, interrompida no volume XII. M. Redeker encarregou.se dos volumes XII (1970) e XTV (1960) ¢, desde 0 volume XV até 0 XXVI, coube a responsabilidade de organizagao dessa sequente edigao a K. Griinder e F. Rodi a partir dos anos 70, no entdo reeém-inaugurado Centro de Estudos de Dilthey em Bochum. Semelhante tarefa ‘io volumosa nutriu-se das Obras Comple- ras de Dilthey depositadas na Academia de Cigncias de Berlim, na época fazendo parte da Repiiblica Democritica Alema Com esse incansével trabalho, procurou- -se reconstruir o sistema diltheyano de fun- damentagiio das ciéncias do espirito e, como resultado imediato, obteve-se, desde o inicio dos anos 80, um interesse cada vez maior e mais vivo pelo pensamento e obra de Dilthey, que, por sua vez, desencadeou uma demanda mundial de tradugGes para diferentes linguas verniculas. Vieram ao encontro dessa busca projetos de traduco de universidades ame~ canas, francesas, russas, brasileiras, todos eles financiados pela Fundagao Fritz Thys- sen, Entre os projetos em andamento encon- tram-se as tradugGes japonesas e chinesas, além de iniciativas individuais na Telia, Por influéncia, principalmente de Ortega y Gas- set, jé havia aparecido, relativamente cedo, a partir de 1944, uma série de tradugdes de obras de Dilthey para o espanhol. Referimo- -nos & edigdo mexicana do Fondo de Cultu- ra Econdmica apresentada em oito volumes por Eugénio Imaz, entre outros. Tal trabalho exerceu enorme influéncia sobre a recepgao de Dilthey no mundo ibero-americano. Lo- renzo Luzuriaga responde também por dois volumes das obras pedagdgicas de Dilthey, STA USP+ SAO PAULO + N.96+ P, 102-109 « DEZEMBROWFEVEREIRO 2012-2013 traduzidos para o espanhol e publicados ja a partir de 1940 pela editora Losada, em Bue- nos Aires. Surgem mais recentemente, no mundo de Lingua portuguesa, dois volumes de textos filoséficos de Dilthey, publicados em Portugal. Finalmente, no ano de 2010 a Edusp, com financiamento da Fundagio Fritz Thyssen em Colénia, publica um volu- me grande de textos selecionados de Dilthey, incluindo parte significativa da obra do filé- sofo ¢ pedagogo alemio' efervecer do interesse pela obra de Dilthey, nos anos 80, foi ainda marcado, em 1983, pela comemoragio vibrante em dife- rentes paises, sobretudo Alemanha, Itilia e Estados Unidos, do 150° aniversario do filé- sofo alemao e do centensrio da publicagio de sua obra Introdugdo as Ciéncias do Espirivo, Acedigio do Anusrio de Dilthey para Filoso- fia e Historia das Ciéncias do Espirito tam- bbém esti entre as conquistas efetivadas em 1983. Nos seus quase vinte anos de duragdo, com doze volumes publicados, representou ‘uma tentativa bem-sucedida de harmonizar discussdes filoséticas © arquivos de publi- cages inéditas nacionais e internacionais. ‘Como a mais recente homenagem a Dilthey e justapondo-se & comemoragao do centendrio de sua morte, o Centro de Estudos de Dilthey em Bochum festejou seus quarenta anos de existéncia, concomitantemente com os cin- quenta anos da Universidade de Bochum, No final de novembro de 2011, realizou- evento com participagao da ctipula da uni- versidade para inauguragao ¢ exposigao de dos na Alemanha e em outros vveram relagao com trabathos ¢ pesquisas do Centro de Estudos. Foi também organizada uma vasta bibliografia sobre toda a produgao do centro nesse periodo, E ainda da respon- sabilidade dele 0 desenvolvimento de novo projeto de publicagao da correspondéncia de Dilthey, previsto para quatro volumes, sendo que o primeiro, com 900 paginas, j veio a ptiblico no ano de 2011 Apesar de a edigdo das Obras Comple- tas ter chegado ao fim com seus 26 volumes, depois de uma nio muito afortunada e por isso mesmo longa trajetéria, os esforgos dos estudiosos para reconstruir o sistema dil- theyano de fundamentago das ciéncias do espirito foram coroados de pleno éxito, eri- gindo Dilthey a0 nivel de fil6sofo clissico do pensamento do século XIX. Todavia, di- ferentemente de Kant, Hegel, Schopenhauer e Nietzsche, por ter tido atuagiio destacada principalmente dentro dos limites da tradi- gio académica, Dilthey permanece ainda hoje pouco conhecido do grande piiblico. Dilthey ¢ considerado um filésofo da vida responsdvel pela fundamentagio filoséfica das cigncias do homem, da sociedade e da histéria por ele denominadas de cigneias do espirito, delimitando-as com total indepen- déncia das cigncias da natureza, Semelhan- te fundamentagao das ciéncias do espirito, conferindo-thes coneeito rigoroso e assegu- rando-lhes cientificidade sem nenhuma ne- cessidade de se subjugarem aos coneeitos ou étodos das ciéneias da natureza, rendeuche © reconhecimento de ser 0 primeito clissico da filosofia hermenéutica. Sua filosofia da vida representa o simbolo mais elevado de sua busca da certeza teérica, todavia dire- cionada a um objetivo instrumental eminen- temente pritico, isto é, aleangar uma base segura para o agir. Toda especulagao tedrica 86 € verdadeira se possibilitar orientagao pré- tica, ou condigdes para o estabelecimento de regras do comportamento individual ou para conduta social além de métodos e¢ objetivos para a educagdo, Caberd & filosofia ensinar- -nos como aluar no mundo e isso somente a partir do conhecimento claro do grande nexo de leis que comandam as realizagdes socials, intelectuais e morais do homem,co- nhecimento esse que constitui a fonte de todo seu poder (GS, V, p. 27). Com vistas a abrir 0 interior do homem, para descobrir esse grande nexo de leis, Dil they guia seus passos inicialmente orien- tado pelos métodos analitico-descritivo € histérico-antropolégico. Tais métodos de- vem permitir & psicologia e & antropologia ter acesso efetivo A compreensio de nossa vida psiquica, como um todo, base a partir da [REVISTA USP= SX0 PAUILO +N. 96+ P, 103-109 + DEZEMMRO/FEVEREIRO 2012-2013, 1 Trata-se do livro Fllo- soft e Educacdo: Tex- tos Selecionados de Wilhelm Ditthey, com 527 paginas, ¢ orga~ nizacao e introduco ‘mints 107 textos 2 Umaavaliagao maisti- gorosadaimportincla do conceito de estru- ture em Dilthey e da origem da influéncia Indireta do evolucio- rismo spencerianoso- bre o filosofo alemao (via Theodor Ribot) tencontra-se em Rodi (19871. C165, XXWv, 56; 65, V, 215; além de GS Vie. 2 Para Helmut Johach (1974, p. 100), existe dentro de certos li- mites uma linha de desenvolvimento Psiquico que vai da variedade a unidade, da estrutura goral f- siolégica a psiquico- spiritual. 108 qual se torna possivel atingir o conhecimento cconjunto dos fendmenos hist6rivos, trataclos Por suas respectivas ciéncias do espirito. Di they parte do nexo estrutural de nossa vida psiquica que espelha toda a complexidade e riqueza préprias de nossa realidade histérico- -social, E justamente o reconhecimento das relagdes de cada uma das eigncias do espi to, em particular, com o nexo psiquico, or nalmente existente na base de todas elas a0 mesmo tempo, que possibilita & psicologia fundamentar a autonomia bem articulada do do espirito. A anilise descrigao do nexo de nossa vida psfquica ‘mostra-nos que ele esté sempre atrelado em seu desenvolvimento regular ¢ tipico a con- ceretizagdes histéricas singularizadas e vivas. 0 método hist6rico-antropolégico vem ao en- contro das necessidades da psicologia permi tindo uma apreensio tipolégica de contetidos dos estados psiquicos. “Psicologia e antropo- logia passam entio a constituir o fundamen- to de todo conhecimento da vida histérica, assim como de todas as regras de direcio e aperfeigoamento da sociedade” (GS. 1, p. 32). Dilthey, buscando aprofundar ainda mais © conhecimento das qualidades gerais do ho- ‘mem como elemento da sociedade, detecta estar 0 nexo estrutural da vida psfquica en- raizado na prépria estrutura da vida. conjunto das cignei “A expressio vida significa aqui em primeiro lugar aquilo que para cada um é 0 mais co- hecido, o mais intimo, O que & a vida esti dado na experigncia. Nés a vivenciamos, ¢ ainda assim ela é para nés um enigma. Mas rds sabemos como ela se comporta € como se caracteriza, Bla esté onde existe uma es- trutura que vai do estimulo ao movimento. Esse progresso do estimulo ao movimento esta por toda parte ligado a um fendmeno organico. Nessa estrutura, que vai do est- mulo 20 movimento, como que se encontra 0 segredo da vida. A unidade da vida esté sem- pre na conexiio dessa estrutura” (GS, XIX, p. 344; ef. também GS, XIX, p. 345) E-nos autorizado falar de uma estrutura ‘ou tipo de vida psfquica que progride desde as organizagdes de vida mais simples e rudi- mentares até as mais ricas e mais complexas, como ado homem. O que diferencia brutal- mente a organizagio humana daquela dos animais inferiores é a existéncia de mem- bros de conexio cada vez mais numerosos, mais ricos e complexos entre o estimulo e «© movimento, entre a impressio e a rea Semelhante estrutura vital é um nexo, sendo, que em nfveis mais elevados dessa linha de evolugaio o nexo psiquico representa a unida- de de consciéncia. Juntamente com ela nos & dada a consciéncia do mundo exterior. Uma outra provém da vitalidade de nosso cu, isto 6,do exercicio do nexo psiquico estrutural do homem com sua interligagao de fungdes do pensar, sentir € querer em continuo relacio- ‘namento com 0 meio. (O esquema fundamental parece ser bas- tante simples e rudimentar: homem, esse “feixe de impulsos”, como Dilthey 0 chama,é pressionado pela necessidace de buscar satis- aco para seus impulsos e, por esse motivo, ‘movimenta-se. Semelhante atuaco € subje- tiva, imanente e teleologicamente orientada com vistas ndo apenas a alcangar a conser- vagiio do individuo e da espécie ou aumentar a organizagiio entre os seres vivos, mas tam- ‘bém a responder por todos os efeitos finalis- tas na vida humana, na sociedade e histéria. Em outras palavras, a estrutura psfquica emergente das camadas mais subterrineas da vida orgdnica é capaz de, em interagio criativa com 0 meio, conceber a realidade apoiada na realizagio de valores e propo- 1 de fins gragas &s sempre crescentes mais complexas trutura or isso, permitir qualquer brecha ou ruptura de continuidade em sua linha de evolugao’ Na base da unidade estrutural fundamen- tal nascem as vivéncias, um dos pilares que sustentam 0 mundo hist6rico social ao lado da “expresso” ¢ da “compreensio. O conjun- to das vivéncias compde, entao, sobre a base sélida desse nexo estrutural original, 0 nexo adquirido da vida pstquica, passivel de ser compreendido gragas as formas objetivas de expressio da vida nele contidas. No jogo entre REVISTA USP» SKO PAULO +N. 96 +P. 103-109 « DEZEMBROUFEVEREIRO 20122013, impulso e resisténcia o homem exercita a vita lidade de suas forgas psiquicas. Ele vivencia. ‘A psicologia, jé dilatada em seus domi fazer jus aos bons frutos do método -antropolégico, ao pretender funda- mentar o conhecimento das ciéneias do espi- rito a partir da compreensao do evoluir his {rico das expresses objetivas das vivéncias, acaba por desembocar na hermenéutica. O procedimento hermenéutico fundamenta-se justamente no reforgo do balango pendular entre 0 todo e a parte, o universal e o singu- lar. “Eu devo compreender o todo Dilthey, “a partir do singular e o singular a partir do todo. Dessa contradigao resulta 0 procedimento do hermeneuta” (GS, XX. p. 107). Vivéncia constitui o verdadeiro ponto meédio entre o geral ¢ 0 individual, o universal 0 singular, o ideal eo real, uma vez que por constituig efieaz ¢ por isso consoladora e protetora de sta origem extraindividual na “esfera das coi- sas comuns” aque pertence eem certo sentido também Ihe pertence. “N6s nos sentimos em declara jo carrega em si uma consciéncia ———— & BIBLIOGRAFIA y isa nesse mundo da compreensio hist6ri 1nds compreendemos sentido e significado de tudo, nds mesmos estamos como que tecidos nessa esfera das coisas comuns” (GS, VI. p 147). Se esse fundo comum também pertence 8 viveneia é porque os individuos na singu- laridade de suas vivéneias coexperimentam valores, objetivos, expresses, significados, crengas e, assim atuando, coparticipam da criagao ou construgao desse todo do mundo hist6rico-social', O significado que objetos e pessoas adquirem para nés em meio a essa esfera das coisas concebidas, apreciadas e valorizadas em comum parece constituir 0 apoio sGlido capaz de sustentar a objetividade io da vivéncia como das formas de expres: expressoes histGricas da vida do espirito, ia bilizando, consequentemente, sua compreen- sfo, simbolo méximo da tarefa das cigncias do espirito. A viabilidade de semelhante tare- fahermenéutica deve-se,em tltima instincia, a vida do espirito que, como um cordao invi sivel, permeia as objetivagdes da vida hist6r ca com uma energia infinitamente soberana. BOLLNOW, O. F. Studien zur Hemeneutik, vol. 1 (Zur Philosophie der Geisteswissenschaften), Freiburg/Miinchen, 1982. GADAMER, H. G. Wahrheit und Methode Grundztige einer philosophischen Hermenutik 2 ed. Tubingen, 1965, pp. 286-300. JOHACH, Helmut. Handelnder Mensch und Objektiver Geist: Zur Theorie des Geistes und Sozialwissenschaften bei W. Dilthey. Meisenheim am Glam, 1974. NOHL, Herman. “Zur Neueausgabe der Werke Diltheys”, in F. Rodi e H. U. Lessing (orgs), ‘Materialien zur Philosophie Wilhelm Diltheys. 1* ed. Frankfurt am Main, Suhtkamp, 1984, RODI, F. “Dilthey Concept of Structure within the Context of 19th Century Science and Philosophy", in Rudolf Makkreel and John Scalon (orgs.). Dilthey Phenomenology. Center for Advanced Research in Phenomenology & University Press of America, Washington, DC, 1987, pp. 107-21 -"O Conceito de Estrutura em Dilthey’ traducao de Maria Nazaré de Camargo Pacheco Amaral, in Revista USP, n° 2, Sao Paulo, 1989, pp. 117-24 REVISTA USP + SAO PAULO = N.96- P 103-109 « DEZEMBRO/FEVEREIRO 2012-2013 4 Para Gadamer (1965), “a vivencia tem uma estrutura_hermenéu- tea" eemfuncao disso "ela eautointerpreta’ 109

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