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Ciência
“Saiba para acreditar e creia para compreender”
&
Prof. Dr.º Nubor Orlando Facure - Campinas/SP
Santo Agostinho.
Exclusivo para FidelidadESPÍRITA.

A relação entre Ciência e Reli- homem atual não consiga mais so-
Reprodução

gião no decurso da história breviver da caça e da pesca por seu


humana esteve sempre cheia próprio esforço. Basta-nos ver, por
de contradição e conflitos. Dos dois curiosidade, que o computador, o au-
lados ocorreram proposições e dis- tomóvel, a televisão e o celular são
putas irreconciliáveis. A Ciência es- instrumentos totalmente incompe-
tabelece sua Verdade particular e tentes, tanto para caçar como para
não arreda o pé do que estabelece pescar.
como Lei. A maioria das Religiões O homem conseguiu produ-
decretam dogmas e se recusam a re- zir instrumentos que o fazem ir mais
pensar as contradições que eles evi- depressa, enxergar mais longe, er-
denciam. As Religiões institucionais guer-se às alturas, comunicar-se a
chegaram a perturbar o desenvolvi- qualquer distância, livrar-se de inu-
mento científico por séculos e, não meráveis perigos, destruir toda a sua
raramente, destruíram suas obras, espécie, revelar as sub-partículas da
perseguiram ou eliminaram os per- aprendemos a fragmentar os proble- matéria, mas, toda essa tecnologia
sonagens que ousaram contestar seu mas em suas partes menores para sa- não resolveu suas contradições, seu
poder. bermos como as coisas funcionam. vazio interior, sua falta de paz, sua
Por outro lado, representan- Esse método de análise nos permitiu incerteza diante do amanhã e ainda
tes da Ciência, postulando princípios realizar as grandes descobertas e não sabe responder que partícula cri-
materialistas, estão atrasando a Hu- usufruir as invenções que o gênio ou a vida, o que é a sua consciência,
manidade e comprometendo seu de- humano produziu. A produção tec- de que é feita a sua mente e qual é o
senvolvimento espiritual não sabe- nológica tornou-se tão volumosa destino que a evolução lhe reserva.
mos por quanto tempo ainda. que criou uma sociedade totalmente A Ciência ainda não se convenceu
O caminhar da Ciência nos dependente dela. A cultura da tec- de que ela não é o único ponto de
permitiu acumular conhecimentos a nologia é tão eficiente que conse- vista capaz de explicar nossa pre-
partir da observação e da experiên- guiu criar artificialmente várias “ne- sença no mundo.
cia que a inteligência humana soube cessidades” para que depois seu pro- Nossa participação nos sei-
utilizar para compreendermos o duto seja consumido por se tornar os das Religiões foi também mescla-
mundo. Com nossa inteligência indispensável. É bem provável que o da de ganhos expressivos ao lado de

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Religião
retrocessos inconseqüentes. Os prin- é de se estranhar, portanto, que as 400 livros. Conta-se, que Aristóteles
cípios que deveriam libertar nossa instituições religiosas tivessem mais dispunha de mais de mil auxiliares
consciência foram usados para es- facilidade em harmonizarem-se com que coletavam as espécies de plantas
cravizar e oprimir. Enquanto a Ciên- o saber filosófico, escolhido confor- e animais que colecionava para des-
cia se enriquecia com as descober- me a conveniência da ocasião. O co- crever. Com esse material ele elabo-
tas, as Religiões se construíam com nhecimento científico exige, conti- rou uma “escala da natureza” na
as “revelações”. Os métodos de uma nuamente, mudanças de interpreta- qual estabeleceu uma hierarquia
não se harmonizavam com os da ou- ção e nos choca com os seus avan-
tra. Era temerário especular usando ços, irritando o espírito conservador O nó górdio a ser
a força da experimentação, contra das igrejas humanas. desatado agora
qualquer uma das “verdades” defen- A nossa História não tem re- pela Ciência é o
didas pela fé. Mesmo que fosse visí- gistros suficientes sobre o conteúdo seu encontro com
vel o absurdo ou a contradição. das Religiões de inúmeros povos que a consciência.
Por outro lado, embora re- na Antigüidade floresceram na gló-
jeitando toda mudança de paradig- ria das suas conquistas e desapare- destacando o Homem como um ser
ma que em diversas ocasiões a Ciên- ceram deixando pouco mais que tra- superior e os outros animais ocu-
cia propunha, a “Religião” ainda ho- ços nas ruínas dos seus Templos sa- pando um nível inferior na escala.
je, tenta se valer da assinatura da grados. Por isso, a cultura ocidental Aristóteles admitia a geração espon-
“confirmação científica” para acei- que nos instrui, está fortemente im- tânea para certos animais, como os
tação maior dos fatos que pressupõe pregnada apenas da herança que os peixes que se desenvolviam nas po-
representar seus “milagres”. É a con- sábios da Grécia antiga nos deixa- ças d'água resultantes da seca do Rio
tradição da fé, quando ela não tem ram. Vale a pena revermos alguns Nilo. Esses dois princípios, o da hie-
bases racionais. trechos desta filosofia que oportu- rarquia colocando o Homem no topo
namente serviu de apoio para posi- das criaturas e o da geração espon-
ções dogmáticas da Igreja, por mais tânea, estavam bem de acordo com o
A Religião e a Filosofia de um milênio. modelo criacionista de referência bí-
blica defendido pela Igreja.
A Ciência pressupõe que pa- Aristóteles considerava que
ra todo efeito existe uma causa e que todo o nosso conhecimento tinha de
esta pode ser constatada pelas suas
formulações racionais ou experi-
Aristóteles ser percebido previamente pelos sen-
tidos. Não haveria conhecimento
mentais. A Filosofia, por outro lado,
abre um leque de discussões envol-
vendo múltiplas interpretações que
N
o campo da
biologia, Aris-
tóteles fez descrições
inato, o saber tinha de ser produzido
pela observação. Este método deu
certo na Biologia, enquanto, na Físi-
Reprodução

podem apresentar cada uma, a ver- extraordinárias, acre- ca, por não utilizar a comprovação
são da sua “verdade” particular. Não dita-se que tenha escrito mais de experimental, as opiniões de Aristó-

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teles, podem ser vistas hoje, como ciarem à idéia de uma órbita circular dência” que lhes são características.
desapontadoras. Mesmo assim, elas para os astros que povoavam este Assim, a “tendência” do fogo é su-
dominaram o cenário cultural de to- céu, manifestando a perfeição de seu bir, da água é descer e ficar na su-
da a Idade Média prestando-se ade- Criador. perfície da Terra e o ar tende a ficar
quadamente aos propósitos da Igre- Quando Johannes Kepler, acima da Terra e abaixo do fogo.
ja. em 1618, publicou seu trabalho so- Observando a queda de uma
Aristóteles aceitava a idéia bre o “movimento planetário” com- pedra e de uma folha, Aristóteles
vigente de que a Terra, o Ar, o Fogo provando as órbitas elípticas para os afirmava, sem testes práticos, que
e a Água constituíam os elementos planetas, ele estava desfazendo par- um objeto duas vezes mais pesado
primitivos a partir dos quais todos te de um gigantesco edifício no qual que outro cai duas vezes mais de-
os outros derivavam. Ele seguia an- a Igreja se sustentava. Por causa dis- pressa que o mais leve. Ele não fez
tigas escolas filosóficas que admi- so, Kepler acreditava que seu livro qualquer referência a uma possível
tiam que as propriedades das coisas jamais seria lido ao trocar os círcu- força que pudesse agir atraindo os
podiam ser explicadas em termos de los pelas elipses. Ele teria dito que objetos. Uma pedra jogada para ci-
serem secas, quentes, úmidas ou fri- talvez esperasse um século por um ma voltaria para a Terra por estar
as. Este conceito produziu intensa leitor, assim como Deus esperou 6 presa a ela por um fluido ou éter.
repercussão na Medicina da época mil anos (idade presumida para a
que relacionava as doenças com es- Terra nessa ocasião) por um obser- A Teoria da Evolução
tas mesmas propriedades. vador. É extremamente curioso o re- das Espécies não é
lato de Kepler quando descreveu que capaz de resolver
Moisés, Jesus e Kardec: para compreender a órbita elíptica o dilema da
coube a eles a missão de Marte, dizia que se sentia trans- origem da vida.
de trazer a verdadeira portado para o espaço, numa posi-
interpretação da ção privilegiada, que lhe permitia Os movimentos das marés
Religião e da Ciência. vislumbrar a posição do Sol e a tra- eram atribuídos à “tendência” da
jetória de Marte em relação à Terra e água em se acomodar sobre a Terra.
Para Aristóteles, o céu era ao Sol. Situado na Terra, o observa- Foi só depois que Newton nos reve-
feito de elementos que não muda- dor tem a impressão de ver os plane- lou a força da gravidade que este fe-
vam nunca. Este céu estável e confi- tas indo ora para frente ora para nômeno foi esclarecido. Kepler acre-
gurado com um material divino era trás. Muitos de nós já vivemos uma ditava na existência de forças mag-
muito adequado à doutrina da Igreja experiência muito ilustrativa para néticas que atuariam produzindo o
que pregava a existência de um céu compreendermos o que relatou Ke- movimento do mar. Galileu tentou
onde a felicidade seria gozada pela pler. Quem está dentro de um trem convencer ao Papa Urbano VIII de
eternidade. Quando Giordano Bru- veloz que ultrapassa outro mais len- que o vai-vem das marés era provo-
no, um sacerdote italiano, passou a to tem a impressão de que o trem cado pelo movimento de rotação da
ensinar para seus alunos que tudo o que ficou para trás está se afastando Terra. Mas, o Papa insistia com Gali-
que existe provém de uma “substân- de marcha ré. Só um observador que leu, que os movimentos das marés
cia única”, ele foi afastado de suas se situasse do lado de fora veria os ocorriam porque Deus tinha poderes
funções, aprisionado por quase uma dois trens indo à mesma direção em- para querer que as águas se moves-
década e queimado vivo em praça bora com velocidades diferentes. sem assim.
pública pelas chamas da Inquisição. Essa foi a posição de Kepler desloca-
Aristóteles admitia, tam- do para o espaço sideral observando
bém, que os astros do firmamento
realizavam um movimento circular
a Terra e Marte contornando o sol
com velocidades diferentes. Talvez Galeno
ao descreverem suas órbitas. O cír- esse seja um belíssimo exemplo de
culo era tido por ele como a figura desdobramento espiritual produzin-
N
inguém exerceu
Reprodução

perfeita. Estando o céu e o movi- do ciência. influência na


mento circular ligados à perfeição, Na doutrina aristotélica, os Medicina tão mar-
não é de se estranhar a grande difi- astros no céu seriam invariáveis e os cante e duradoura
culdade que tiveram Nicolau Copér- objetos situados abaixo da lua sofre- quanto Galeno. Ele trabalhou em
nico e Galileu Galilei para renun- riam suas mudanças a partir de “ten- Roma entre o primeiro e o segundo

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século da era cristã e seus livros fo- das células. A idéia de um ser imate- contenda histórica com o Papa Urba-
ram seguidos à risca por toda a Ida- rial para processar a vida foi grada- no VIII ao publicar o seu Diálogo so-
de Média. Não resta dúvida de que tivamente escorraçada da Medicina. bre os dois sistemas do mundo. Nes-
sua maneira de ver os fenômenos A Ciência, quando “matou” a Alma, se livro, Galileu defendia e compro-
clínicos e sua capacidade de relatar afastou-se definitivamente da Reli- vava com argumentos irrefutáveis
a anatomia e experimentar com a fi- gião. que o Sol ocupava uma posição cen-
siologia dos animais era um avanço tral, enquanto a Terra e os seis pla-
extraordinário para a época. Os prin- netas conhecidos giravam em torno
cípios que admitia para explicar o O choque cultural do dele.
funcionamento do organismo in- A teoria heliocêntrica fora
cluíam a existência de um “espírito” Renascimento separando defendida por Nicolau Copérnico
vital, situado no coração e que man-
tinha a vida. Este princípio seguia
Ciência de Religião quase um século antes. A Revolução
dos Corpos Celestes, publicada por
pela circulação até ao cérebro onde Copérnico, teve pouca divulgação
se transformava em “espírito” ani- por ter sido redigida em latim, que já
mal que nos permitiria perceber as vinha caindo em desuso. Sua maior
sensações e elaborar os movimentos
do corpo. E, finalmente, o “espírito”
Galileu repercussão talvez se deva às críticas
atribuídas a Martinho Lutero que di-
natural, situado no fígado que reali-
A
contribuição de zia que “este tolo vai subverter toda
Reprodução

zava a transformação dos alimentos Galileu foi tão a arte da Astronomia”. Outros dizi-
e a produção do sangue. inovadora que o que am que Copérnico “queria por o
A existência de elementos chamamos hoje de mundo de cabeça para baixo”.
imateriais, os “espíritos” ou “pneu- Ciência, pode-se dizer que se ini-
mas” no dizer de Galeno, que manti- ciou com os seus trabalhos. Ele in- O paradoxo de Newton:
nham a vida e dominavam nossas troduziu a matemática na interpre- as Leis que afastaram
sensações e movimentos era aprova- tação dos fenômenos físicos e ini- mais ainda a Ciência
da e estimulada pelo pensamento da ciou a experimentação como méto- da Religião foram
Igreja Medieval. Era a Alma, este ser do de estudo na observação desses descobertas por um
“espiritual” que nos representa, fenômenos. Conseguiu interpretar homem extremamente
quem administrava nosso livre- corretamente as Leis do movimento religioso.
arbítrio permitindo as sensações e os e da queda dos corpos, surpreenden-
movimentos. do a observação corriqueira quando O céu de Ptolomeu que pre-
Existiam inúmeros erros nas provou que os corpos caem com a valeceu até as descobertas de Gali-
interpretações e nas descrições ana- mesma velocidade independente do leu, tinha plena aceitação pela Igreja
tômicas, constantes nos tratados de seu peso. Aquela pedra e aquela fo- por estabelecer os princípios aristo-
Galeno. Eles só foram corrigidos, lha que Aristóteles viu caírem em télicos da invariabilidade do mundo
gradativamente, e muito cautelosa- tempos diferentes teriam caído ao dos astros acima da lua e a perfeição
mente, no início do Renascimento, chão, com a mesma velocidade sob o das órbitas circulares, mais condi-
às custas do sacrifício da própria vi- controle experimental de Galileu. zentes com a suprema perfeição de
da de abnegados estudiosos que ou- Observando o balançar do Deus.
saram desafiar o peso do poder que a candelabro da igreja que freqüenta- Provocar uma rotura na dis-
Inquisição exercia na época. O vita- va, Galileu, conseguiu imaginar a posição dos astros retirando a Terra
lismo implícito nos “espíritos” de construção de um pêndulo para me- do centro do Universo e imobilizan-
Galeno foi aos poucos perdendo es- dir o tempo com a precisão que as do o Sol, provocava um confronto
paço para os “mecanicistas”, cujas suas experiências exigiam. Reduzin- com as afirmações bíblicas que des-
experiências foram revelando o fun- do o atrito no corrimão da escada de creviam nos Salmos a trajetória do
cionamento do organismo através sua casa conseguia fazer deslizar os Sol de um extremo ao outro no fir-
da química da digestão, das trocas objetos que lhe permitiam medir o mamento “sua ascensão principia
gasosas na respiração, dos impulsos tempo com uma interferência menor em um dos extremos do céu, e seu
nervosos que produziam o movi- sobre o movimento de queda. percurso vai até ao outro” (Salmo
mento e do metabolismo no interior Galileu envolveu-se numa 19).

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Nem Copérnico nem Galileu se espalhou por toda a Europa, e des- cepção da dor que trafegava pelos
estudaram corretamente as órbitas de então começou a ruir a opressão nervos a partir da nossa pele. Essa
dos planetas e permaneceram admi- da Religião sobre a Ciência. idéia revolucionária dava à Igreja a
tindo a órbita circular em suas traje- impressão de que Descartes estava
tórias. Incluir mais este atrito com a eliminando a necessidade da presen-
René Descartes

Reprodução
Igreja talvez não fosse suportado pe- ça da Alma na interpretação das
lo arrojo e o temor desses revolucio- nossas sensações. Para a publicação
nários da Ciência.
Galileu construiu, engenho-
samente, um telescópio rudimentar
E ste grande
filósofo francês,
mesmo sabendo das
do seu livro sobre o Homem, o filó-
sofo instruiu ao seu editor que o fi-
zesse doze anos após a sua morte,
que lhe permitiu identificar a pre- ameaças que paira- procurando evitar atritos com a au-
sença de luas em torno de Júpiter, vam sobre Galileu, foi capaz de fazer toridade Papal.
que por não terem sido descritas por o mundo pensar uma Ciência inde-
Aristóteles, suas existências não pendente das limitações exercidas
eram admitidas pela Igreja. Para a
época seria inadmissível, também,
pelo poder religioso da época. Não
realizou a ciência pela observação
Isaac Newton
observar mais de um movimento re-
lacionado com um único astro. Mas,
o olhar aguçado de Galileu lhe per-
ou pela experiência como Galileu,
René Descartes, utilizando-se do in-
telecto, criou no seu “Discurso do
C om 23 anos de
idade e um raci-
ocínio mental bri-

Reprodução
mitiu determinar o tempo da órbita Método” as condições para se produ- lhante, o jovem New-
da lua de Júpiter e comprovar o a- zir Ciência. A partir da suposição de ton começou a descobrir as Leis fun-
fastamento e a aproximação do pla- poder duvidar para depois compro- damentais da natureza num período
neta e suas luas em relação ao Sol. var, ele elaborou o seu princípio fun- em que foi obrigado a permanecer
Para que isso acontecesse era indis- damental: “penso, logo existo”. A na fazenda de sua mãe. Ele conse-
pensável admitir-se a posição cen- partir daí, enunciou a divisão do guiu reunir em 3 princípios funda-
tral do Sol, com os planetas girando mundo em dois domínios: o das mentais, toda uma série de fenôme-
à sua volta. “coisas físicas” e o das “coisas men- nos físicos que, até então, não apa-
tais”. Dentro deste quadro ele esta- rentavam ter ligações entre si. Com
O mundo quântico beleceu a separação entre o corpo e as leis da inércia, dos movimentos
abriu o conhecimento a Alma, o Espírito e a matéria. acelerados e da atração das massas
humano para além da Essa dicotomia liberou aos provocada pela gravidade, Newton
fronteira da realidade poucos a possibilidade de se estudar conseguiu revelar o segredo da osci-
material que nos toca. o corpo humano nas mesas de ne- lação dos pêndulos, o fluxo e o re-
cropsias. A heresia de se mutilar o fluxo das marés, o movimento dos
O telescópio de Galileu lhe corpo e comprometer sua ressurrei- planetas e o mitológico fenômeno
permitiu ver as montanhas e crate- ção no final dos tempos estava ame- da queda da maçã.
ras da Lua, sugerindo que ela não se- nizada. Estudando a luz através de
ria tão homogênea como exigia o Ao expor o funcionamento um prisma ele conseguiu desdobrar
céu de Aristóteles e de Ptolomeu. do corpo humano, Descartes não a luz branca revelando a somatória
Defendendo a Teoria Helio- descartou o pensamento dominante de cores que a compõem. Newton
cêntrica, os movimentos das luas de na época, que exigia a existência da afirmava que a luz se propagava às
Júpiter, as irregularidades do mundo Alma para governar suas funções. custas de corpúsculos que se movi-
lunar e os movimentos das marés, Ele imaginava que essa Alma se lo- mentavam pelo espaço.
Galileu se colocava em pé de guerra calizava na glândula pineal devido a As leis do movimento e a
com os dogmas fundamentais da sua situação no meio do cérebro, mecânica dos astros revelada por
Igreja. As pressões de um tribunal permitindo a integração das nossas Newton, o faziam supor que o Uni-
sob as ordens de Urbano VIII fize- percepções realizadas à esquerda e à verso podia ser visto como um reló-
ram o sábio abdicar às suas idéias, direita dos nossos sentidos. gio inteligentemente criado por
mas, já não havia mais condições pa- Descartes deu grande im- Deus. Ao lado de um pensador ex-
ra que essas comprovações fossem portância e independência ao nosso traordinário, Newton mantinha um
desmentidas e sua força renovadora cérebro onde ele dizia ocorrer a per- comportamento religioso conscien-

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te, recusando-se a aceitar o dogma
da “santíssima trindade”, vigente na
Igreja, e mantinha envolvimento
A Ciência moderna Max Planc
Um dos expoentes
com a alquimia e a astrologia que São inúmeros os nomes que da Ciência
beiravam o misticismo. deveriam constar na criação dos pa- moderna
Newton chegou a revelar radigmas da Ciência na atualidade.

Reprodução
preocupação com o dilema da Cria- Indiscutivelmente, Einstein e Max
ção. Imaginava a possibilidade de Planc seriam os primeiros da lista. A
Deus ter criado o Universo, e ter da- Teoria da Relatividade e a Física portanto, outras realidades ou fa-
do corda no relógio, produzindo o Quântica produziram uma revolução lando mais amplamente, admite-se
movimento dos astros. A partir daí, estrondosa na interpretação do Uni- existirem outros Universos para
corria-se o risco da Sua presença verso. Seria muito extensa a lista de além do que nós expressamos como
tornar-se desnecessária. Ele acredi- produções tecnológicas desencadea- real.
tava que se Deus deu a corda no re- das pelas duas Teorias e nosso pro- No jogo de cara ou coroa, só
lógio, ele deverá funcionar com per- pósito é deixar registradas algumas quando a moeda cai no chão é que
feição não sendo necessárias as nos- das contribuições que elas produzi- fica determinado quem foi que ga-
sas preces para pedir qualquer mu- ram no pensamento humano e sua nhou. Nosso Universo real é prede-
dança nas nossas vidas. Conjeturava interação com o mundo que nos cer- terminado pela nossa mente, já exis-
Newton, que certas irregularidades ca. tia antes de se expressar como tal de
observadas nos movimentos dos pla- Algumas revelações dos fe- uma maneira indeterminada, assim
netas poderiam fazer o sistema solar nômenos quânticos chegam a pro- como a moeda enquanto girava cara
sair do eixo. Estava, porém, seguro vocar espanto pela sua enorme apro- ou coroa caindo pelo ar. Esse princí-
de que Deus, interviria e poria as coi- ximação com os fenômenos trans- pio nos permite afirmar que nós não
sas novamente em ordem. Observa- cendentes que os místicos de todas procedemos do nada, sendo obriga-
se, portanto, a mente de um homem as épocas têm descrito em suas ex- tória a existência de um Universo in-
genial envolvida com um conflito de periências. determinado antes de nós.
religiosidade artificial e pequena. A física quântica é extrema-
mente complexa e sua compreensão Com o Discurso do
Algumas revelações muito difícil, mesmo assim, com o Método, Descartes
dos fenômenos uso de metáforas ilustrativas, os criou as condições
quânticos provocam seus princípios têm sido traduzidos para se produzir
espanto pela aproximação para uma linguagem que o leigo Ciência
com os fenômenos vem assimilando cada vez mais. De
transcendentes. qualquer forma, o mundo quântico Segundo o princípio da in-
abriu o conhecimento humano para certeza, só podemos medir isolada-
As descobertas de Newton além da fronteira da realidade mate- mente a velocidade ou a localização
não acrescentaram qualquer outro rial que nos toca. Desde então, essa de uma partícula subatômica. Nunca
cisma de maior importância com a solidez que aparenta existir nos fe- as duas medidas podem ser proces-
Igreja, como ocorrera com Giordano nômenos físicos que observamos, só sadas simultaneamente. Quando de-
Bruno, Galileu e Descartes. A Ciên- se concretiza com a participação da cidimos por um tipo de experimento
cia, no entanto, enriqueceu-se com nossa consciência. Os fenômenos da que nos informa uma das medidas,
os conhecimentos das leis físicas nossa realidade material só existem estaremos fixando a partir daí, toda
que regem os fenômenos fundamen- às custas do colapso que nossa onda uma série de eventos que resultam
tais do Universo e fazia-se, a partir mental faz ocorrer na energia que dá da opção que fizemos. Este e outros
de então, dispensável, o enigma da substrato a essa matéria. princípios quânticos sugerem que ao
Criação e o dedo de Deus para por o Nosso mundo é por sua pró- fazermos determinadas escolhas fi-
Universo em funcionamento. Para- pria natureza, indeterminado e é camos comprometidos com os even-
doxalmente, essas Leis, que afasta- nossa mente quem faz as opções pa- tos futuros que essa escolha deter-
ram mais ainda a Ciência da Reli- ra a forma com que ele se expresse. mina. Em termos comportamentais
gião, foram descobertas por um ho- Isso nos leva a imaginar a possibili- podemos dizer que nosso futuro está
mem extremamente religioso. dade de existirem outras opções, previamente escrito pelas escolhas

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que fizermos no presente. para o grande debate entre os criaci- zados. Uma boa metáfora que nos
Fica muito claro que a física onistas e os evolucionistas. A re- ajuda a compreender esse fenômeno
quântica, queiram ou não os materi- jeição principal da Igreja era admitir é, por exemplo, o bater de asas de
alistas, trouxe uma nova leitura do nossa ligação de parentesco tão ínti- uma borboleta movimentando as
espírito humano. Ela é muito próxi- ma com os macacos. Esse debate até moléculas de ar que poderiam pro-
ma dos textos espiritualistas trans- hoje ainda não se pode dar por en- duzir uma grande tempestade.
mitidos há milênios. O nó górdio a cerrado. O pensamento retrógrado A vida funciona como um
ser desatado agora pela Ciência é o de alguns clérigos continua re- sistema aparentemente fechado para
seu encontro com a consciência, não jeitando a evolução como princípio produção entrópica de energia. Na
em termos filosóficos ou teológicos, fundamental para a compreensão do Teoria da Complexidade admite-se
mas, como figurante no palco de to- mundo e a vida que o povoou de for- que um sistema fechado, que tende a
dos os fenômenos que a vida nos faz mas tão diversificadas. se expandir de forma anárquica, de-
testemunhar. sorganizada, em sendo um sistema
Nosso futuro está complexo, pode se auto-organizar.
previamente escrito Um exemplo que nos permite com-
A Origem da Vida e pelas escolhas preender esse fenômeno pode ser
que fizermos visto quando colocamos água para
a Evolução das Espécies no presente ferver em um vasilhame de vidro.
No início, a temperatura aumenta e
Convém registrar que a Teo- faz vaporizar de maneira anárquica
ria da Evolução das Espécies, embo- as moléculas de água que começam
ra nos esclareça o porquê da diversi- a subir. A seguir poderemos ver a
Charles Darwin dade nas expressões da vida, não é
capaz de resolver o dilema da sua
água se aderindo nas paredes do re-
cipiente fechado, formando de ma-

A
vida é
fenômeno mais
complexo que existe
o origem. Darwin, nas suas anotações,
sugere que a vida foi “inicialmente
infundida pelo Criador em algumas
neira organizada inúmeras gotículas
na tampa do vasilhame. Assim, pres-
supõem-se que o material orgânico
Reprodução

no Universo. Apesar formas, ou em uma única”. Sua representado pelo carbono, nitrogê-
disso, o texto bíblico que descreve a grande dúvida era o processo de co- nio e oxigênio foi submetido a uma
sua origem, optou por um simbolis- mo se realizariam as variações e mo- determinada energia que a partir de
mo de uma simplicidade poética en- dificações nos organismos para sub- um princípio de aparente desorgani-
cantadora. Os Gêneses fizeram de seqüentemente sobreviverem às zação o fez sediar a vida. Resta aos
Deus um oleiro, que usou o barro da transformações mais bem adapta- cientistas identificarem quais foram
Terra e dele fez o Homem. Soprou o das. Embora existisse nos estúdios e qual a natureza das forças que pro-
seu Hálito em suas narinas e lhe deu de Darwin um exemplar do artigo de duziram essas transformações.
a vida. Podemos ver aí que a nossa Mendel, publicado em 1865, talvez
carne provém da própria Terra, mas, ele não o tenha lido ou como tantos
o Espírito é um “sopro” divino. outros, não conseguiu perceber o A Sabedoria Antiga e
A idéia de uma criação nascimento da genética e as varia-
pronta e acabada, determinada por ções produzidas pelas mutações que a Nova Física
decisão de um Supremo Criador Mendel tinha revelado nos cruza-
predominou no pensamento domi- mentos das ervilhas do jardim do De maneira surpreendente,
nante até 1859 quando Charles Dar- seu mosteiro. vários cientistas têm percebido que
win publicou a Evolução das Espé- Na Ciência de hoje, duas no- os enunciados da física moderna, es-
cies. Agora foi a vez do homem ser vas Teorias estão contribuindo para tão revelando um caminho conver-
retirado do centro da criação para o esclarecimento da origem da vida. gente entre suas proposições e os en-
dar lugar a uma seqüência de trans- A Teoria do Caos e da Complexidade sinamentos dos místicos, do antigo
formações que vão fazer sobreviver que sugerem que pequenos eventos Egito, da China e da Índia. Os co-
as espécies melhor adaptadas. caóticos, conforme o tempo e o local nhecimentos milenares dos sábios
Em 1860, o palco da Uni- em que ocorrem, podem desenca- da Antigüidade procedem da inspi-
versidade de Oxford serviu de arena dear fenômenos complexos organi- ração que o contato com a espiritua-

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Allan Kardec

Reprodução
lidade lhes permitia desenvolver.
Ainda temos muitos segredos a des-
vendar dentro destes textos que o
futuro deverá nos esclarecer. Os que
já podemos confrontar nos dias de
hoje, conseguem revelar uma ante-
Coube a ele a
cipação extraordinária no conheci- tarefa de Codificar
mento do mundo e as forças que nos
dirigem.
a Doutrina Espírita
Além de um saber profundo,
esses textos expressam uma simpli-
cidade poética insuperável.
Diziam os místicos: domínio da Ciência. Temos que com- A reencarnação possibilita a
“Tudo está em tudo”. “Tudo preender que esses três missionários continuidade da nossa evolução
é movimento”. “Toda partícula con- nos vieram trazer a verdadeira inter- espiritual;
tém a história do Universo”. “Cortar pretação para a Religião e para a Os Espíritos desencarnados se
uma folha abala uma estrela”. “Tudo Ciência. comunicam a todo instante co-
é um”. “O Cosmo está no Homem”. Pretendemos nos limitar nosco através da mediunidade;
“O semelhante cura o semelhante”. apenas a Allan Kardec para dar des- A comunicação se processa atra-
“O não visto é o visível próximo”. taque às novas feições que Kardec vés da sintonia mental;
Estão aí, registrados, os expôs nestes dois domínios. Tudo que existe no Universo
princípios quânticos que revelam a Na Religião destacamos: provém de uma substância pri-
importância do homem na observa- mordial chamada Fluido Cósmico
ção dos fenômenos, o movimento O Espiritismo não constitui uma Universal;
incessante dos átomos, o plasma instituição religiosa e nem criou O Espírito por sua vontade pode
quântico que nos une a todos, a in- Templos ou Igrejas onde ele possa circular pelo passado e pelo fu-
terferência que uma vibração pro- ser cultuado; turo;
duz na outra, a certeza de que o va- Não existe hierarquia entre os Os Espíritos não precisam da luz
zio e o nada não existem e de que tu- seus membros e nem sacerdotes para enxergar. Eles vêem pela
do no Universo provém de uma só ou autoridade que o possa represen- vibração que todo objeto irradia;
origem primitiva. tar; O Espírito imprime suas vibra-
Nem todos aceitam a seme- Seu conhecimento não se estru- ções nos objetos que examina.
lhança que existe nos dois enuncia- tura em dogmas de qualquer es-
dos. Para alguns, é visível que esta- pécie; Cada um de nós traz na per-
mos abrindo um vastíssimo campo Não tem indulgências para se- sonalidade as experiências de múlti-
de observação que vai nos por dian- rem distribuídas ou negociadas; plas vidas que percorreu.
te das realidades espirituais. Ninguém ocupa ou representa o
lugar de Deus;
Suas atividades não admitem ri-
As Revelações tuais, liturgias ou sacramentos; O articulista é médico, formado pela
Nenhum objeto material tem Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, em
Os Espíritos deram destaque qualquer valor abençoado ou sa- Uberaba. Fez especialização em Neurologia e
Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Uni-
às três grandes revelações enuncia- grado, nem existem lugares privile- versidade de São Paulo. Lecionou na Faculdade
das para a Humanidade. Foram ex- giados com o título de santuário. de Medicina de Campinas UNICAMP - durante 30
pressas por Moisés, Jesus Cristo e anos, onde fez doutorado, livre-docência e tor-
nou-se professor titular. Fundador do Instituto
Allan Kardec. Moisés expulsou os Entre seus postulados cien- do Cérebro em Campinas, em 1987, tendo ultra-
adoradores do bezerro de ouro, Jesus tíficos destacamos para nosso estu- passado a marca de 100.000 pacientes neurológi-
cos registrados em sua clínica particular. Além
polemizou com os Doutores da Lei e do: disso, é espírita sobejamente conhecido, respeita-
disse que seus ensinos não seriam do e querido dentro e fora do nosso movimento.
compreendidos pelos sábios e Kar- O ser humano é constituído de Seus artigos guardam, sempre, absoluta Fideli-
corpo, Alma e perispírito; dadESPÍRITA.
dec diz que o Espiritismo não é do

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