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Arquitetura vernacular
Em busca de uma definição
Rubenilson Brazão Teixeira
201.01 vernacular
sinopses
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original: português
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201
201.00 patrimônio
Ordenamentos urbanos
nas Missões Jesuíticas
dos Guarani – parte 2
Luiz Antônio Bolcato
Custódio
201.02 teoria
Arquiteturas do vazio
Paulo Bicca
201.03 crítica
... e sempre a Bauhaus
Karine Daufenbach
201.04 ensino
Identidade profissional
e formação do arquiteto
Dilemas contemporâneos
Luiz Felipe da Cunha e
Silva
201.05 patrimônio
São Paulo Railway 150
Casario colonial, Brasil anos
Desenho Rubenilson Brazão Teixeira Patrimônio industrial
ferroviário ameaçado
Neste artigo, discorremos sobre o significado do termo “arquitetura Cecília Rodrigues dos
vernácula” ou “vernacular”, com o intuito de propor uma definição, Santos, Claudia Lage e
focando especialmente num tipo de arquitetura, a habitacional, uma vez Gustavo Secco
que ela é particularmente adequada para essa discussão. Assunto de certa
forma polêmico, podemos, no entanto, esboçar algumas de suas
características essenciais, mais ou menos conhecidas e aceitas, para
tentarmos defini-la. Esperamos, assim, trazer alguma contribuição ao
debate que, ao que parece, ainda não está fechado. Embora haja quem
discorde do uso do termo “vernáculo” ou “vernacular” na língua portuguesa
para esse tipo de arquitetura, propondo em seu lugar o vocábulo “popular”
(1) – o que, aliás, representa mais um elemento da polêmica em torno do
assunto – o “vernacular” é um termo consagrado, por isso será mantido na
presente discussão.
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toda sua extensão”. São sociedades sem grande grau de
especialização e orientadas pela tradição, onde impera a relação
próxima entre forma e cultura e a longa persistência dessas
formas. O conhecimento necessário à construção de moradias nesse
contexto é comum a todos os membros do grupo. As edificações
vernaculares pré-industriais se distinguiriam das primitivas pela
existência da figura do “construtor”. Neste contexto, a “forma
aceita”, ou modelo, permanece e o processo de construção é
baseado em ajustes ou variações, havendo, portanto, mais
variabilidade individual. As sociedades que produzem esta
arquitetura seriam “voltadas para a tradição” e as mudanças
ocorreriam no marco de uma herança comum e de uma hierarquia de
valores que se reflete nos tipos construídos” (3).
Mucambo, Brasil
Desenho Rubenilson Brazão Teixeira
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Isto posto, a tradição por si só não é suficiente para garantir que uma
arquitetura seja classificada como vernacular, pois são necessários
outros atributos para definir e sobretudo distinguir este tipo de
arquitetura dos demais, como veremos ao longo deste artigo. Contudo, o
contrário é verdadeiro, isto é, toda arquitetura vernacular é
intrinsecamente tradicional, isto é, a forma arquitetônica de um
determinado povo surge e se desenvolve como resultado de um longo
contínuo no tempo, às vezes durante séculos de história humana, sempre a
partir de formas familiares, consagradas por gerações anteriores. Esta é
a característica principal da arquitetura vernacular.
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principalmente à hegemônica; também se caracteriza por ter uma relação
não agressiva e nutriente com a natureza; a tecnologia autóctone é parte
de um mecanismo de integração entre produção, vida comunitária e vida
cotidiana; finalmente, e dentro das condições atuais, ela tende a
desaparecer no futuro (16).
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Cada uma das características acima citadas tem uma dimensão cultural
bastante acentuada, de modo que muitas referências aos aspectos culturais
da arquitetura vernacular já foram mencionados acima. Amos Rapoport, que
é talvez a maior autoridade sobre os aspectos culturais da habitação,
afirma que
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notas
1
WEIMER, Gűnter. Arquitetura popular brasileira. São Paulo, Martins Fontes,
2005, p. XXXIX-XLI. Além de “vernacular” e “popular”, existem outros termos,
com sentidos que comportam superposições, como arquitetura “tradicional” e
arquitetura “folk”, na língua inglesa. O termo “vernacular”, porém, é o mais
amplo. Vernacular architecture, Wikipedia. Acesso em 15 de julho de 2016.
2
RAPOPORT, Amos. House, form and culture. New Jersey, Prentice-Hall Inc., 1969.
3
A citação é um extrato do resumo feito pela pesquisadora Marcia Sant’Anna a
respeito do livro RAPOPORT, Amos. Op. cit. A íntegra do resumo pode ser
encontrada em www.arqpop.arq.ufba.br/tags/arquitetura-primitiva, acesso em 15
de julho de 2016.
4
OLIVER, Paul. Built to meet needs. Cultural issues in vernacular architecture.
Oxford, Elsevier, 2006, p. 18. Ele acrescenta: “o que queremos dizer com
“arquitetura vernacular”? Infelizmente, não há uma resposta fácil; podemos
fazer muito mais por exemplos do que por definição”. Idem, ibidem, p. 4.
5
Tradição e cultura são temas caros à antropologia de um modo geral e à
antropologia cultural em particular. Ver, por exemplo: HIEBERT, Paul G.
Cultural anthropology. Philadelphia, University of Washington, 1976; SCUPIN,
Raymond. Cultural anthropology. A global perspective. Boston, Pearson, 2012. O
aporte dessa área de conhecimento poderia facilmente vir em apoio às
considerações feitas neste artigo, caso quiséssemos adentrar em áreas que
transcendem os aspectos puramente arquitetônicos, objeto deste trabalho.
6
STROETER, João Rodolfo. Arquitetura e teorias. São Paulo, Nobel, 1986, p. 109.
7
FATHY, Hassan. Construindo com o povo. Arquitetura para os pobres. Rio de
Janeiro, Forense/Universitária, 1982, p. 40-41.
8
No Ocidente, alguns desses conceitos aparentemente contemporâneos começaram a
se desenvolver a partir do Renascimento europeu. RYBCZYNSKI, Witold. Casa,
pequena história de uma ideia. Rio de Janeiro, Record, 1996.
9
O desenvolvimento das tecnologias estruturais do aço e do concreto armado, por
exemplo, tornou possível projetar edifícios sem considerar, pelo menos nos
estágios preliminares do processo projetual, como eles serão construídos ou
permanecerão de pé. Essa liberdade representou uma contribuição importante e às
vezes não reconhecida que a tecnologia estrutural forneceu à arquitetura,
liberando os arquitetos das limitações impostas pela necessidade de prover o
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suporte para os edifícios que antes só eram em alvenaria e madeira. A
introdução do computador nas últimas décadas do século 20, primeiramente como
um instrumento de análise estrutural, depois como uma ferramenta de projeto,
permitiu aos arquitetos a descrição e o controle do processo construtivo de
formas arquitetônicas inusitadas. Assim, a forma arquitetônica nesses casos
tende a ser profundamente escultural. MACDONALD, Angus J. Structure and
architecture. 2a edição. Department of Architecture, University of Edinburgh,
2001.
10
SILVA, Elvan. Uma Introdução ao projeto arquitetônico. Porto Alegre, Editora
UFRGS, 1983, p. 19.
11
KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo,
Nobel, 1990.
12
No linguajar popular, às vezes apoiado em publicações como revistas não
especializadas, nos deparamos frequentemente com termos como “estilo moderno”
ou “estilo contemporâneo” de arquitetura.
13
Num contexto bem diferente do aqui discutido, pois referindo-se à arquitetura
erudita, formal, e se contrapondo à crítica de ser considerado um arquiteto
“formalista”, Oscar Niemeyer defende a estética na arquitetura também como uma
necessidade funcional. Ele diz: “quando uma forma cria beleza, ela tem uma
função das mais importantes na arquitetura”. NIEMEYER, Oscar. A forma na
arquitetura. Rio de Janeiro, Limitada, 1980, p. 54.
14
LEMOS, Carlos A. C. História da casa brasileira. São Paulo, Contexto, 1989, p.
15-16.
15
FREYRE, Gilberto. Mucambos do Nordeste. Rio de Janeiro, Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, 1937.
16
PELLI, victor Saúl. Notas para uma Tecnologia Apropriada à Construção na
América Latina. In Lúcia Mascaró (coord.). Tecnologia e arquitetura. São Paulo,
Nobel, 1990, p. 18.
17
No Nordeste do Brasil pau-a-pique e taipa são sinônimos. No sul do Brasil, o
termo taipa é mais comumente utilizado para a “taipa de pilão”, uma técnica
construtiva distinta, mas que também faz uso da terra.
18
COSTA, Írio Barbosa da Costa; MESQUITA, Helena Maria. Tipos de habitação rural
no Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 1978.
19
Mesmo que existam soluções altamente promissoras para o uso das chamadas
“arquiteturas de terra”, nas quais se inserem a taipa, que envolvem pesquisas e
resultados interessantes, inclusive do ponto de vista estético, de baixo custo,
para a arquitetura. O CRAterre – Centro Internacional da Construção em Terra,
uma associação e laboratório ligado à Escola Nacional Superior de Grenoble,
França, desde 1979 desenvolve pesquisas neste sentido (http://craterre.org/).
Ver, também, DAM – FUNDAÇÃO CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DAS APLICAÇÕES DE
MADEIRAS NO BRASIL. Taipa em painéis modulados. 2a edição. Brasília,
MEC/CEDATE, 1988.
20
É suficiente lembrar que os índios, mestres do convívio harmonioso com a
natureza, dela se utilizam há muito, enquanto que a fabricação de uma simples
cerâmica, de um vidro ou de um outro material qualquer da tecnologia “moderna”,
demanda muita energia, da qual o mundo está carente, além, de poluir o meio
ambiente.
21
TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. O poder municipal e as casas de câmara e cadeia :
semelhanças e especificidades do caso potiguar. Natal, EDUFRN , 2012, p. 91-
114.
22
STROETER, João Rodolfo. Op. cit., p. 92.
23
Idem, ibidem, p. 77-78.
24
Idem, ibidem.
25
Michelangelo, ou para citar exemplos mais recentes, Le Corbusier, Mies van Der
Rohe ou Frank Lloyd Wright, fazem parte desse seleto grupo.
26
Os "arquitetos calçados" da arquitetura convencional, por outro lado, parecem
perseguir a todo custo a novidade, o ineditismo, mas na maioria das vezes sem a
competência devida. E em se tratando dos países não desenvolvidos, ocorre
frequentemente que a procura pela "novidade" em si mesma traz outra
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18/10/2019 arquitextos 201.01 vernacular: Arquitetura vernacular | vitruvius
consequência nefasta: a alienação cultural. Como bem colocou Ramon Gutierrez,
referindo-se à questão da identidade cultural na arquitetura latino-americana:
"a angústia de estarmos na moda, de nos mimetizarmos com a última novidade, de
nos sentirmos participantes da modernidade dos países centrais arrasa com a
possibilidade de ser a partir da nossa própria realidade periférica"
(GUTIERREZ, Ramón. Arquitetura latino-americana. São Paulo, Nobel, 1989, p. 44-
45). Há quem ache esse discurso ultrapassado em tempos de globalização, e que a
arquitetura precisa sempre inovar, avançar. Isto é verdade, mas também é
verdade que, em essência, a afirmação de Ramon Gutierrez permanece válida
quando essa modernidade é vista a partir de modelos forjados nos países
centrais, e não a partir de nossa própria realidade.
27
RAPOPORT, Amos. Op. cit., p. 46-48.
28
Prefácio do livro: HEATH, Kingston WM. Vernacular architecture and regional
design: cultural process and environmental response. Oxford, Elsevier, 2009.
29
É preciso atentar, aliás, para o fato de que nem tudo na arquitetura vernacular
é inerentemente bom. Por exemplo, por razões culturais, os antigos quartos das
residências coloniais – as chamadas "alcovas" – eram fechados para o exterior.
Nelas dormiam as moças da casa, faziam a sua higiene pessoal e se escondiam
frequentemente quando da visita de pessoas do sexo masculino à casa. Viviam em
quase total reclusão, como é amplamente observado por vários viajantes do
Brasil ainda no século 19, a exemplo de (KOSTER, Henry. Travels in Brazil.
London, Longman, Hurst, Rees, Orms and Brown, Paternoster-Row, 1816, p. 7-8,
145-146). Para os padrões atuais, as alcovas são objeto de crítica por serem
potencialmente danosas à saúde, em razão da insalubridade, falta de insolação e
ventilação natural, etc., além de indiretamente contribuir para a reclusão da
mulher. E, no entanto, era um elemento fundamental na arquitetura vernácula do
período colonial no Brasil.
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