Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
INICIAR
Introdução
Você já pensou sobre as bases da organização da convivência social? No mundo em que vivemos, imersos na tecnologia digital; em
comunidades virtuais; espaço indefinido; tempo flexível e fluído, em que tudo acontece aqui e em todo lugar; de globalização e
fragmentação, em que as fronteiras são imprecisas; quais são as bases organizadoras da convivência social?
Pela rede mundial de computadores circulam saberes, valores, emoções, conhecimentos e toda sorte de conteúdo. Mas o que esses
conteúdos dizem? Para quem dizem? Com que finalidade? O que calam, silenciam e omitem? São dizeres que aspiram ao bem e à
felicidade?
Desde o legado da filosofia clássica greco-romana, o embate acerca da razão humana, virtude e paixões, tem ocupado lugar de destaque
em discussões, quer no âmbito do conhecimento empírico, quer no âmbito teleológico ou científico. Essa discussão é, por si só, uma
construção social, cultural e histórica, ou seja, cada sociedade, em seu tempo, institui o que é o bem e a felicidade, quem tem acesso a
esses bens e como pode dispor deles. Essa distribuição é parte, também, do legado sócio-histórico.
A conduta do homem moderno, a expressão de seus sentimentos, suas emoções, suas vontades, suas aspirações e ações manifestam o
senso moral, a ideia de justo e injusto, certo e errado, bem como balizam a liberdade de decisões e juízos de valor sobre nós mesmos e
sobre o outro. Contudo, hoje, em relações presencias, face a face, ou em relações mediadas por tecnologias em espaços virtuais, será que
é necessário perguntar quais são as bases organizacionais da convivência social?
Neste capítulo, você terá a oportunidade de discutir aspectos éticos na pesquisa científica, além dos compromissos éticos do
pesquisador. Assim, poderemos refletir sobre o que é ser autor e sobre a conduta do plágio como obstáculo para a formação do autor.
Você verá, também, como se elabora o planejamento da pesquisa, da projeção dos capítulos à elaboração do cronograma, até a
finalização com o checklist das diferentes etapas do processo de pesquisa.
Vamos em frente!
4.1 Aspectos éticos na pesquisa
Essa tarefa de pensar sobre aspectos éticos da pesquisa é complexa, pois a conotação do termo “ética” é, em si, carregada de sentido e
difícil de ser apreendida. Desde a discussão dos primeiros filósofos gregos até os dias de hoje, temos que debater sobre os aspectos
éticos é necessário.
A palavra “ética” vem do grego “ethos”, ou seja, uma ciência da conduta, o fim para o qual a conduta do homem deve se orientar, um
comportamento responsável, o justo e o injusto em sentido amplo. Porém, resta-nos saber qual conduta deve ser a orientadora.
Aliás, você saberia responder quais condutas beneficiam o bem comum?
Acrescenta-se à discussão a questão de que, ao falar em ética, a noção de moral se apresenta como se não fosse possível discutir sobre a
primeira sem citar a segunda, quase como expressões sinônimas. Contudo, uma distinção se faz necessária. Sobre a ética, temos que é
um “[...] ramo da filosofia que fundamenta científica e teoricamente a discussão sobre valores, opções (liberdade), consciência,
responsabilidade, o bem e o mal, o bom e o ruim” (NOSELLA, 2008, p. 256). Já a moral, por sua vez, é a dimensão pragmática da conduta
humana, ou seja, os hábitos, os costumes, o modo ou a maneira de viver, a moral ou o imoral.
Entre a natureza da ciência, do saber científico questionador das certezas estabelecidas e da discussão dos valores éticos, o debate entre
o bem e o mal está posto desde Platão, para quem cabia à Filosofia estabelecer os limites, a medida certa da ciência por meio da ética
filosófica do homem livre, pois a condição de existência do servo era natural e não se constituía um problema científico, nem ético. Em
Aristóteles, ao poder político caberia garantir a felicidade dos cidadãos (livres), e a esse poder também competia estabelecer o limite da
ciência.
No período medieval, a ciência foi paralisada em razão das condições do pensamento dogmático, do limite à liberdade de pensamento e
da curiosidade. Nesse ponto, é importante esclarecermos a diferença entre a concepção de ciência desde a antiguidade, o período
medieval ou, mesmo, a era moderna (século XVII); e a concepção de ciência moderna a partir do século XVIII. Vale destacarmos que, em
cada uma dessas épocas, “[...] a ideia de natureza é diferente; em cada uma delas métodos empregados são diferentes; em cada uma
delas o que se deseja conhecer é diferente” (CHAUI, 2010, p. 223).
Em descontínuos e diferentes movimentos, a história da ciência, no modo de conhecer elaborado, vai sendo transformada a partir de
mudanças provocadas por acontecimentos importantes, como o surgimento das universidades, espaço de reflexão e produção de
conhecimento; a criação das cidades; os diferentes modos de produção e de organização social; bem como da separação entre poder da
Igreja e do Estado. Assim, nesse processo de rupturas, o conhecimento científico vai se produzindo.
Desde Rousseau (1750) a questão ética se faz presente:
[...] há alguma relação entre a ciência e a virtude? Há alguma razão de peso para substituirmos o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida e
que partilhamos com os homens e mulheres da nossa sociedade pelo conhecimento científico produzido por poucos e inacessível à maioria? (SANTOS,
2004, p. 16).
VOCÊ O CONHECE?
Jean Jacques Rouseau (1712-1778) foi um filósofo do século XVIII. Ele defendia os ideais da justiça e da paz igualmente entre soberanos, ricos e pobres. Para ele, a origem
da desigualdade entre os homens seria agravada com a instituição da propriedade privada, incluindo o início da formação da sociedade civil e o trabalho assalariado. Sua
ideia era a criação de um contrato social como mecanismo de mediação das relações entre os homens.
De acordo com Santos (2004), regressamos à questão de origem entre ciência e ética, tecnologia e virtude, conhecimento prático que
usamos para resolver as nossas vidas e conhecimento científico e tecnológico, sempre e continuamente produzido por poucos, mas
inacessível para muitos.
No século XX, após duas Guerras Mundiais, pensadores como Gramsci, Brecht e Sartre reafirmaram a necessidade de questionar a ligação
Deslize sobre a imagem para Zoom
Figura 1 - Einstein mencionava que adquirir autoridade com o estudo natural deu a ele uma responsabilidade sobre o reino social.
Fonte: 360b, Shutterstock, 2018.
“[...] entre virtude e ciência, entre ética e pesquisa, entre autoridade política e consciência individual. Não se pode pesquisar sem saber
para que se faz isso” (NOSELLA, 2008, p. 264). Devemos à ética, então, as perguntas sobre a conduta do homem (livre): em que sentido
deve-se orientar? Qual é o comportamento responsável diante dos problemas enfrentados pela humanidade?
Uma consideração formulada por Almeida (2008, p. 356), em sua reflexão sobre a ética, diz que “[...] o ser ético é também aquele que
continuamente se pergunta sobre a própria moral – o que é um exercício de percepção da ‘provisoreidade’ da moral”. Dessa forma, a
ética é um exercício dinâmico que acompanha a formação do estudante e do pesquisador.
VOCÊ SABIA?
A mentira é uma prática humana que ocupa a discussão filosófica. O pensamento teológico de Tomás de Aquino classificava a mentira em viciosa (ato
de enganar), oficiosa (para alcançar algum bem) e jocosa (ato de divertir), sendo atos considerados pecado. Atualmente, com a circulação de conteúdo
via internet, a expressão fake news, ou notícias falsas, tem ocupado os noticiários e a vida dos internautas. Assim, cabe uma reflexão: como pensar na
ética em tempos de fake news?
Esses questionamentos quanto à ética se dão de forma a alcançar a conduta do Homem, mas também são postas para cada um em sua
individualidade, em sua condição humana, como na antiguidade clássica do “conhece-te a ti mesmo”. A “[...] ética e a sua eterna
capacidade de nos fazer perguntar sobre o bem [...]” (ALMEIDA, 2008, p. 355), assim, na atualidade das comunidades virtuais, redes
sociais e fluxos cada vez mais acelerados, as questões éticas se tornam complexas e tomam nova forma, ainda que a tecnologia
informacional alcance de maneira desigual as fronteiras.
Dessa forma, em nossa sociedade informacional atual de relações mediadas por tecnologias digitais, em que hipertextos e artefatos
audiovisuais circulam velozmente, compete perguntar de quem é a autoria? Quem é o plagiador? Qual é a ética da ciência?
VOCÊ SABIA?
O Código Penal trata em sessão específica dos crimes contra a propriedade intelectual. O crime de violação aos direitos autorais, no art. 184 do código,
diz que violar os direitos de autor e os que lhe são conexos gera detenção de três meses a um ano, ou multa. Na literatura jurídica, encontra-se casos de
litígio de plágio de músicas entre autores renomados e clássicos da literatura, como a obra Romeu e Julieta, do dramaturgo inglês Willian Shakespeare.
Aprender a autoria e assumir a posição de autor exige o que Freire (2007) chama de curiosidade epistemológica, ou seja, a capacidade
crítica crescente de aprender e conhecer o que se faz e o motivo para se fazer. Isto é, as intenções, os condicionantes de um determinado
crítica crescente de aprender e conhecer o que se faz e o motivo para se fazer. Isto é, as intenções, os condicionantes de um determinado
fazer e a ocultação ou o silenciamento de outros tantos fazeres. Entretanto, essa autoria pretendida é controversa porque parte do saber
diz respeito a pensar e, como ele questiona a autoridade e duvida do instituído, ocupa lugar entre forças do saber e do poder, pois, assim,
está em “[...] jogo a cidadania que sabe pensar para poder melhor intervir” (DEMO, 2008, p. 70).
Nessa discussão, Demo (2008) atribui à autoria dois sentidos igualmente práticos. O primeiro é o de forjar no autor a atitude reflexiva de
quem é capaz de construir um texto próprio, com base na autoridade do argumento. O segundo sentido é o da intervenção social e
política, visando transformar a sociedade de maneira crítica e responsável.
O sentido da autoria envolve professores e estudantes da educação básica e universitária a quem Demo (2008) dirige sua crítica. Ele
afirma que um professor não é autor, pois sua formação docente não incluiu a competência leitora entre seus objetivos. Demo (2008)
também critica o ensino destituído da pesquisa, da formação do pesquisador crítico, criativo e instigador. Além disso, menciona a prática
docente que se contenta em “dar aula”, como se essa ação não fosse uma aventura, na qual cada um constrói e reconstrói seu próprio
caminho, cheio de surpresas e desafios.
Vale questionarmos, aqui, como fica a prática docente frente à formação da autoria em época de expansão da internet e seus espaços
colaborativos de aprendizagem. Em tempos de hipertextos disponíveis sobre toda sorte de temas, acessíveis ao alcance de um click,
como estabelecer os limites éticos da autoria? Você, leitor, em uma escala de zero a dez, o quanto se considera um autor?
Uma pesquisa de campo sobre plágio na universidade com estudantes graduandos do curso de Letras revelou que 36,84% assumem já
terem cometido plágio de texto; 21% plagiaram, mas não assumem; e 41,1% dizem não ser a favor do plágio (SILVA, 2008). A ocorrência
de plágio na graduação e mesmo na pós-graduação não é prerrogativa dos estudantes do curso de Letras, sendo uma realidade presente
no ensino atual da geração do “copia e cola”. Os entrevistados justificaram o uso do plágio principalmente pela facilidade e pela
exposição dos materiais, bem como uma aparente sensação de liberdade, de que o conteúdo circulado pela internet não possui autoria
identificada e pode ser copiado na íntegra ou parcialmente apropriado. Essa situação é reveladora da emergência do tema para os
ensinos básico, superior e de pós-graduação, além de para as comunidades científica e acadêmica de modo geral, pois o problema
também existe entre esses pares.
O plágio, sendo assim, não se constitui apenas quando a obra é apropriada indevidamente em sua totalidade, sendo que a apropriação
parcial ou conceitual de uma ideia original, sem o devido crédito autoral, também se constitui como plágio e deve ser evitada. Essa é
uma questão ética a ser discutida no ambiente escolar e acadêmico, afinal, o acesso a esse universo informacional está posto, resta saber
o que somos capazes de fazer com ele e como dirigir nossa conduta de forma responsável, seja individual ou coletivamente.
Na internet, o material disponível se encontra protegido por sistemas de licenciamento do tipo convencional “Todos os direitos
reservados” e o sistema “Alguns direitos reservados”. O último permite a livre manipulação, distribuição, compartilhamento e replicação
dos conteúdos como forma difusora de conhecimentos. Esse sistema possui formas diferenciadas de licença em seis tipos de gradação,
que pode ser desde a renúncia quase total, por parte do autor, até nível mais restrito; isso significa que o autor original decide a melhor
maneira de disponibilizar seu material. De toda forma, é exigida a identificação do autor da obra e que obras sucessivas, elaboradas com
base nesse sistema, estejam disponíveis para compartilhamento, manipulação, distribuição e replicação.
A discussão sobre autoria e plágio no meio acadêmico, da ciência e da pesquisa, envolve aspectos éticos e morais em sua dimensão
A discussão sobre autoria e plágio no meio acadêmico, da ciência e da pesquisa, envolve aspectos éticos e morais em sua dimensão
pragmática de respeito a hábitos e costumes em formação e (de) formação. Ou seja, em tempo de produção compartilhada, a noção de
autoria e plágio tende a construir novos significados.
4.2 Dilemas
Todos os projetos de pesquisa científica, em qualquer área de conhecimento que envolva seres humanos, são obrigados a se
submeterem a uma análise em seus aspectos científicos e éticos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), ligada ao Conselho
Nacional de Saúde, preconiza que devem existir Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) em instituições que desenvolvam pesquisas com
seres humanos. Esses comitês são compostos de forma multidisciplinar, multiprofissional e independente, reunindo especialistas,
cientistas e leigos. Os CEP têm como finalidade avaliar que as pesquisas realizadas sejam cientificamente fidedignas,
metodologicamente corretas, moralmente aceitáveis e socialmente relevantes (BRASIL, 2007).
A criação internacional de Comitês de Ética em Pesquisa tem origem na formulação do Código de Nuremberg (1947), em razão das
atrocidades cometidas por médicos e cientistas durante o regime nazista contra o povo judeu. Esse código foi revisado e complementado
pela Declaração de Helsinque (1964-2000) da Associação Médica Mundial. O Brasil acompanha essa tendência mundial desde 1996,
mediante Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 196/96, atualizada pela Resolução n. 466/2012 (SCHRAMM, 2004).
O protocolo de avaliação por membros do CEP requer do pesquisador a submissão do projeto de pesquisa, acompanhado do documento
de consentimento livre e esclarecido dos indivíduos e populações a serem pesquisadas, bem como a documentação comprobatória da
instituição de origem do pesquisador de que a pesquisa será efetuada de acordo com as regras estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Saúde. Como registra Minayo (2005, p. 161), “[...] no caso de populações consideradas vulneráveis, como é o caso dos indígenas e das
crianças, os protocolos são mais exigentes e requerem mais tempo para sua efetiva obtenção”. No caso de estudantes dos cursos de pós-
graduação stricto sensu (doutorado e mestrado), o pesquisador, apoiado por seu orientador, encaminham todo o procedimento.
O uso da Resolução n. 466/2012 como norma regulamentar para as pesquisas envolvendo seres humanos vem sendo objeto de discussão
por parte dos pesquisadores da área de ciências humanas e sociais, adeptos da pesquisa de abordagem qualitativa, considerando a
inadequação dos seus princípios positivistas. Como apresenta Guerreiro (2016, p. 2620), “[...] inúmeras publicações brasileiras discutem
as solicitações inadequadas que os CEP fazem, em especial em relação às pesquisas qualitativas”.
Podemos destacar, ainda, que controvérsias sobre o abuso de poder por parte dos CEP; do tipo corporativo por parte dos seus membros
— nem sempre organizados —, considerando o equilíbrio representativo das diferentes áreas do conhecimento; conflitos de interesses; e
existência de preconceitos têm sido objetos de registros nos meios científico e acadêmico. Nesse sentido, “[...] o conjunto formado por
regulamentações, normas e comitês continua sendo um importante meio, senão para eliminar todos os abusos, pelo menos para reduzi-
los de acordo com a atenção de seus representantes” (SCHRAMM, 2004, p. 777). Assim, pesquisadores da área de ciências humanas e
sociais, membros do GT-CHS/CONEP, depois de longo processo (2013-2016) participativo e solidário de análise e avaliação da Resolução
n. 466/2012, alcançaram a publicação da Resolução n. 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, que trata da pesquisa em ciências
humanas e sociais, reivindicação há muito aguardada por pesquisadores da área.
Os dilemas enfrentados por pesquisadores e acadêmicos podem ser observados por diferentes prismas, desde aqueles de ordem
pragmática, epistemológica, metodológica ou administrativa até os de gestão ou ordem financeira. Em todos eles a questão ética e a
responsabilidade do pesquisador são evidentes e norteiam ou devem nortear suas escolhas.
O financiamento de pesquisas avançadas no país é uma questão delicada e controversa. Agências de fomento à pesquisa e tecnologia —
como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) — e fundações estaduais de amparo à pesquisa têm sido alvos de contingenciamento dos recursos orçamentários
previstos para o desenvolvimento de suas ações, comprometendo a formação de novos pesquisadores e a continuidade de pesquisas em
andamento.
A recente história da humanidade está repleta de alertas ao pesquisador, como a pesquisa em busca de novas fontes de energia, que
A recente história da humanidade está repleta de alertas ao pesquisador, como a pesquisa em busca de novas fontes de energia, que
resultou na construção da bomba de hidrogênio, dizimando as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Temos,
também, o caso brasileiro ocorrido na cidade de Goiânia em 1987, conhecido como Césio 137, fato pouco pesquisado em sua origem e
repercussão, conhecimentos para serem investigados e difundidos na população para que nunca mais se repitam. Esses alertas fazem o
pesquisador refletir sobre os caminhos e os sentidos da ciência, além da complexa formação de novos pesquisadores.
Em suas considerações sobre a questão ética da pesquisa, Nosella (2007, p. 267) aponta como principal problema ético a contradição
entre uma “[...] superconcentração de riquezas e o aumento desmedido da pobreza”, resultante da crescente produção de riquezas
concentradas em uma pequena parcela da população e da estagnação dos modelos de desconcentração das riquezas em grande parcela
da população assalariada ou dependente de planos de atendimento social, que ficam distante das riquezas produzidas.
Diante dos desafios que se impõem ao pesquisador e da responsabilidade social e política no desempenho de sua ação na produção do
conhecimento científico, sua difusão à reflexão sobre a ética profissional e a consistente formação científica se configuram como um
compromisso assumido desde as primeiras etapas do projeto de pesquisa.
- E, a depender do tipo de estudo, torna-se vital elaborar uma agenda, um roteiro de atividades, fazendo contatos prévios, marcando visitas, entrevistas e
outros tipos de ação investigativa.
O plano de trabalho da pesquisa deverá prever todas as etapas de sua execução, desde a de preparação até as etapas finais de produção
do relatório e divulgação dos resultados. Cada etapa tem sua natureza e dificuldades particulares. Um plano bem articulado e
continuamente atualizado, por exemplo, permite a solução de entraves em tempo hábil e recursos disponíveis.
O modelo didático de fluxograma de pesquisa apresentado por Koche (2016) se divide em quatro etapas dinâmicas. Observe:
O plano de trabalho de pesquisa, além de ser uma exigência metodológica por parte da instituição de vinculação do pesquisador,
instituição de ensino ou agência de fomento à pesquisa, é o mecanismo didático, epistemológico e metodológico instituidor da pesquisa
científica. Como afirma Koche (2016, p. 133), “[...] sem o projeto o investigador corre o risco de desviar-se do problema que quer
investigar, recolhendo dados desnecessários ou deixando de obter os necessários”.
Quadro 1 - Modelo de estrutura geral do projeto de pesquisa com seus itens característicos.
Fonte: LAKATOS e MARCONI, 2017, p. 216.
O projeto de pesquisa, portanto, orienta o pesquisador na definição do plano de trabalho, ou seja, esse documento permite ao
pesquisador um trabalho metódico e sistematizado, atenção aos prazos estabelecidos e recursos disponíveis, evitando desgaste de
esforços e resultados.
A distribuição dos capítulos, seções e subseções deve ser orgânica, em uma correspondência lógica das ideias tratadas. Como ensina
Castro (2011, p. 58), “[...] a criação dos capítulos e o batismo dos títulos não são tarefas separadas”. É um trabalho que requer atenção
aos detalhes da produção, afinal, nem sempre — ou na maior parte das vezes — o autor cria títulos alternativos e provisórios, capítulos
são ordenados e reordenados, até a versão final ser considerada satisfatória e receber a aprovação final. Além disso, vale destacar que o
trabalho não deve ser longo em demasia, com inúmeras divisões em seções e subseções, nem fragmentado a ponto de comprometer a
coesão, a sequência lógica e deixar o leitor perdido na leitura do texto. Cada capítulo deve explicitar integralmente seu conteúdo,
encadeando início, meio e fim, pois, “Em uma redação bem-feita, há uma fronteira natural, nascida da própria forma de construir o texto”
(CASTRO, 2011, p. 60).
A estratégia principal para chegar a uma redação satisfatória dos títulos de capítulos e seções é a leitura analítica do texto. Com uma
leitura objetiva e analítica, o autor consegue identificar as ideias-chave do texto e, a partir delas, chegar ao título ideal, pois eles devem
informar e antecipar ao leitor às principais ideias do conteúdo do texto, convidando-o à leitura.
Um aspecto estratégico e de grande relevância do plano de trabalho é o cronograma da pesquisa. Nele, devem constar as principais
ações previstas para a realização do trabalho e sua distribuição no prazo de tempo determinado à pesquisa. Portanto, sua elaboração vai
depender do prazo informado pela instituição de origem do pesquisador. A elaboração do cronograma também está condicionada à
complexidade da pesquisa, equipes envolvidas e financiamento, ou seja, todos os aspectos merecem atenção para a elaboração do
cronograma de maneira ajustada às necessidades do trabalho.
Considerando um programa de pós-graduação com duração prevista de quatro anos, e realização de plano de trabalho geral, a
organização do cronograma pode ser dada conforme o quadro a seguir.
Figura 3 - Estabelecer prazos e cumprir as metas definidas no plano de trabalho de pesquisa deve ajudar a preservar esforços e resultados.
Fonte: nasirkhan, Shutterstock, 2018.
Deslize sobre a imagem para Zoom
Quadro 3 - Modelo didático sugestivo de cronograma de trabalho de pesquisa distribuído no período de quatro anos.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
O modelo apresentado se constitui uma orientação didática. Cada instituição de ensino, agência de fomento à pesquisa ou órgão
demandante do trabalho poderá estipular diferentes formas de organização do cronograma, com etapas específicas e definição de
prazos sempre de forma ajustada ao prazo final de entrega do trabalho.
Assim como a fase inicial do trabalho de pesquisa é repleta de expectativas, a fase final também guarda seus desafios e promessas. A
etapa de encerramento do projeto de pesquisa deve ser cuidadosamente planejada e acompanhada de atenção. Estratégias
especialmente planejadas para essa etapa podem ser de grande ajuda.
Figura 4 - Um checklist pode ser utilizado para atender demandas diversas em diferentes setores produtivos, de serviços e na educação.
Fonte: Kullapol, Shutterstock, 2018.
Na educação, a técnica vem sendo utilizada de diferentes maneiras, como na educação especial para análise e acompanhamento de
funcionalidades corporais, motoras e ambientais dos estudantes. Já na metodologia científica, a literatura registra sua difusão e
aplicação no controle e na verificação de projetos de pesquisa.
Para entendermos melhor sobre o assunto, analisaremos um caso na sequência.
CASO
A professora Dora é orientadora dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) em cursos de graduação. Nesse semestre, ela possui dez
orientandos de diferentes áreas. Os projetos de pesquisa já estão em andamento, e, com a proximidade do final do prazo, a dificuldade para
acompanhar todos os alunos só aumenta.
Na reunião de departamento, Dora expôs aos colegas sua dificuldade em atender uma turma com muitos alunos com projetos de pesquisa com
interesses de áreas tão diversificadas. Assim, uma de suas colegas, da área de Tecnologia da Informação, sugeriu que a professora adotasse o
uso de checklist com os alunos para ter maior controle da produção de cada um em relação ao andamento do projeto e aos prazos
estabelecidos. Com a adoção da estratégia, Dora poderia orientar os estudantes e listar o que será necessário para a etapa final de entrega do
projeto de pesquisa de cada um deles, revisando aspectos não satisfatórios.
Juntas, as professoras organizaram o checklist e Dora pôde colaborar com os alunos na etapa final de conclusão e entrega do TCC.
Uma experiência realizada por Pinheiro e Bezerra (2014) relata o desenvolvimento de metodologia didática para a elaboração de projeto
de pesquisa, tendo como fundamento a autoavaliação e como estratégia para a aplicação de checklist. A experiência foi realizada entre
2010 e 2013, com 11 turmas dos cursos de graduação de Sistema da Informação, Engenharia de So!ware e Rede de Computadores. O
trabalho foi proposto com base nos critérios utilizados pela banca de avaliadores da instituição. As pesquisadoras criaram um checklist
de critérios para ser utilizado como recurso didático da disciplina de Projeto de Pesquisa, visando a orientação para elaboração do
projeto por meio de autoavaliação. Como resultado final, Pinheiro e Bezerra (2014) apresentam os critérios de referência para avaliação
de TCC conforme o quadro na sequência.
Deslize sobre a imagem para Zoom
Quadro 4 - Modelo de aplicação de checklist como estratégia de autoavaliação na elaboração de projeto de pesquisa.
Fonte: PINHEIRO e BEZERRA, 2014, p. 1608.
Para o pesquisador, contar com o checklist como recurso de verificação das diferentes etapas do projeto e, com isso, proceder aos ajustes
necessários, pode se tornar uma estratégia de grande relevância. Ademais, vale ressaltar que a composição do checklist vai depender do
objetivo da sua aplicação, a escolha dos dados e a definição dos critérios a serem validados. Dessa forma, o pesquisador finaliza o
projeto de pesquisa com uma visão geral de todo o trabalho realizado.
Síntese
Concluímos mais um capítulo, agora relativo aos aspectos da formação do pesquisador como autor, sua responsabilidade frente às
questões éticas e seu posicionamento em relação a prática de plágio entre os acadêmicos e ao enfrentamento de problemáticas e
controvérsias no campo da pesquisa científica. Com isso, também finalizamos a disciplina de Metodologia Científica. Assim, você já sabe
que uma pesquisa envolve planejamento sistemático, controle de ações, recursos materiais — de tempo e financeiros — e gestão de
equipe de pesquisa em grandes projetos.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
discutir aspectos éticos nos diferentes tipos de pesquisas;
compreender a formação da autoria;
reconhecer os obstáculos da prática do plágio para a formação da autoria;
entender a responsabilidade do pesquisador frente aos dilemas éticos na pesquisa;
compreender como sistematizar o planejamento da pesquisa;
aprender como elaborar um cronograma;
aplicar o checklist para de acompanhamento e avaliação do projeto pesquisa.
Bibliografia
ALMEIDA, F. Ética? O mapa dos mapas. In: OKADA, A. (Org.). Cartografia Cognitiva. Cuiabá: KCM, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual operacional para comitês de ética em pesquisa. 4. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
2007. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/manual_operacional_miolo.pdf
2007. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/manual_operacional_miolo.pdf
(http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/manual_operacional_miolo.pdf)>. Acesso em: 16/04/2018.
______. Ministério da Saúde. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário Oficial da União. Brasília, 2012. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
(http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html)>. Acesso em: 12/04/2018.
______. Ministério da Saúde. Resolução n. 510, de 07 de abril de 2016. Diário Oficial da União. Brasília, 2016. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/reso510.pdf (http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/reso510.pdf)>. Acesso em:
12/04/2018.
BONIN, J. A. Delineamentos para pensar a metodologia como práxis na pesquisa em comunicação. Rastros, Joinville, v. 11, p. 9-21, 2010.
Disponível em: < (http://www.processocom.org/wp-content/uploads/2015/08/BONIN-Rastros-
2010.pdf.%20Acesso%20em%20fev./2018)http://www.processocom.org/wp-content/uploads/2015/08/BONIN-Rastros-2010.pdf
(http://www.processocom.org/wp-content/uploads/2015/08/BONIN-Rastros-2010.pdf)>. Acesso em: 24/03/2018.
CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
CASTRO, C. de M. Como redigir e apresentar um trabalho científico. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010.
DEMO, P. Autoria. In: OKADA, A. (Org.). Cartografia Cognitiva. Cuiabá: KCM, 2008.
______. Ética e Cidadania do Conhecimento. Brasília: UnB, ago. 2000. Disponível em: <https://docs.google.com/document/pub?
id=1fDZzS8W0UZjOo6fFORMI4HRJRAz5MhtqiSpHZfd8X2o (https://docs.google.com/document/pub?
id=1fDZzS8W0UZjOo6fFORMI4HRJRAz5MhtqiSpHZfd8X2o)>. Acesso em: 11/04/2018.
FERNANDES, M. S.; FERNANDES, C. F.; GOLDIM, J. R. Autoria, Direitos Autorais e Produção Científica: aspectos éticos e legais. Revista
HCPA, Porto Alegre, 2008. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/bioetica/autoria.pdf (https://www.ufrgs.br/bioetica/autoria.pdf)>.
Acesso em: 30/03/2018.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2007
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
GUERREIRO, I. C. Z. Resolução n. 510 de 7 de abril de 2016 que trata das especificidades éticas das pesquisas nas ciências humanas e
sociais e de outras que utilizam metodologias próprias dessas áreas. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Fiocruz, 2016.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n8/1413-8123-csc-21-08-2619.pdf (http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n8/1413-8123-csc-
21-08-2619.pdf)>. Acesso em: 30/03/2018.
KOCHE, J. C. Fundamentos de Metodologia Científica. Rio de Janeiro: Vozes, 2016.
LAKATOS, E.; MARCONI, M. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2009.
______. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2017.
MINAYO, C.; ASSIS, S.; SOUZA, E. (Org.). Avaliação por triangulação de métodos. Abordagem de Programas Sociais. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2005.
MINAYO, C. (Org.). Pesquisa Social. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
MONTEIRO, F.; SILVA, L. “Checklist” Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica: avaliação e intervenção. Revista de Ciências Médicas e
Biológicas, Salvador, v. 12, especial, p. 482-485, dez. 2013. Disponível em:
<https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/23118/1/13_v.12_esp..pdf
(https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/23118/1/13_v.12_esp..pdf)>. Acesso em: 30/03/2018.
NOSELLA, P. Ética e Pesquisa. Revista Educação e Sociedade, Campinas, v.29, n.102, p. 255-273, jan./abr. 2008. Disponível em: <h
(http://www.scielo.br/pdf/es/v29n102/a1329102.pdf)ttp://www.scielo.br/pdf/es/v29n102/a1329102.pdf
(http://www.scielo.br/pdf/es/v29n102/a1329102.pdf)>. Acesso em: 11/04/2018.
PINHEIRO, T. S. M.; BEZERRA, C. I. M. Uma metodologia didática para elaboração de trabalho de conclusão de curso aplicada a cursos de
computação. 2014.In: XXXIV CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMPUTAÇÃO (CSBC). 2014. Anais eletrônicos... Ceará: XXII
Workshop sobre Educação em Computação, 2014.Disponível em: <http://www.lbd.dcc.ufmg.br/colecoes/wei/2014/0030.pdf
(http://www.lbd.dcc.ufmg.br/colecoes/wei/2014/0030.pdf)>. Acesso: 02/04/2018.
SANTOS, B. Um discurso sobre as Ciências. São Paulo: Cortez, 2004.
SILVA, E. Q.; PEREIRA, E. L. Ética em Pesquisa: os desafios das pesquisas em ciências humanas e sociais para o atual sistema de revisão
ética. Revista Anthropológicas, ano 20, 2016. Disponível em: <https://goo.gl/TTrjMa (https://goo.gl/TTrjMa)>. Acesso em: 18/04/2018.
SILVA, O. S. F. Entre o plágio e a autoria: qual o papel da universidade?. Revista Brasileira de Educação, Bahia, v. 13, n. 38, mai./ago.2008.
SILVA, O. S. F. Entre o plágio e a autoria: qual o papel da universidade?. Revista Brasileira de Educação, Bahia, v. 13, n. 38, mai./ago.2008.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n38/12.pdf (http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n38/12.pdf)>. Acesso
em:30/03/2018.
SCHRAMM, F. A moralidade da prática de pesquisa nas ciências sociais: aspectos epistemológicos e bioéticos. Revista Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, Fiocruz, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n3/a23v09n3.pdf
(http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n3/a23v09n3.pdf)>. Acesso em:30/03/2018.