Вы находитесь на странице: 1из 14

A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia

física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

A “HISTÓRIA GERAL DA NATUREZA E TEORIA DO CÉU” DE IMMANUEL


KANT: SUA IMAGEM DE COSMOS E SEU CLAMOR POR UMA GEOGRAFIA
FÍSICA

The Immanuel Kant’s “General History of nature and theory of heaven”: His Image of
Cosmos and his Clamour for a Physical Geography

Antonio Carlos Vitte


Doutor em Geografia Física, Assistente Doutor da Universidade Estadual de Campinas
Instituto de Geociências, Unicamp. Campinas (SP)
acarlosvitte@uol.com.br

Alexandre Domingues Ribas


Doutor, Instituto de Geociências, Unicamp. Campinas (SP)
alexecris2001@hotmail.com

Artigo recebido em 17/12/2012 e aceito para publicação em 30/01/2013

RESUMO: Em março de 1755, vinha a público, simultaneamente em Leipzig e em


Königsberg (e sob a edição de Johann Friedrich Petersen), a “História Geral da
Natureza e Teoria do Céu”; opúsculo de Immanuel Kant (1724-1804) –
conspícuo e inexcedível filósofo alemão – que exibe a sistematização maior de
sua denominada cosmologia pré-crítica. Poucos meses depois, mais
designadamente no semestre de verão de 1756, o mesmo Kant começa a
lecionar um curso de geografia física. Parece-nos ser inconcusso que há uma
abastada consangüinidade entre o nascedouro das perquirições geográficas em
Kant e essas meditações cosmológicas (e cosmogônicas) de 1755 – devotadas a
alcançar uma representação concreta do universo em sua totalidade e,
outrossim, um fundamento metafísico de explicação da natureza.
Palavras-chave: cosmologia, geografia física, espaço, natureza, teleologia.

ABSTRACT: In March 1755, came to public, both in Leipzig and Königsberg (under edition
of Johann Friedrich Petersen), the "General History of Nature and Theory of
Heaven"; booklet from Immanuel Kant (1724-1804), a conspicuous and
outstanding German philosopher, who showed the largest systematisation of his
named pre-critical cosmology. A few months later, most notably in the summer
semester of 1756, Kant himself begins to teach a course in physical geography.
It seems to be undeniable that there is an affluent consanguinity amongst the
rising of geographical enquiries concerning Kant and these cosmological (and
cosmogonic) meditations of 1755. These ones were devoted to achieving a
concrete representation of the universe in its entirety and, likewise, a
metaphysical fundament of nature explanation.
Keyword: cosmology, physical geography, space, nature, teleology

Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

2
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

INTRODUÇÃO IMMANUEL KANT: BREVES


CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA
O objetivo deste artigo é estabelecer TRAJATÓRIA ATÉ 1755
algumas relações entre a obra de Immanuel
Kant, publicada em 1755, “História Kant ingressou na Universidade
Universal da Natureza e Teoria do Céu” de Königsberg em setembro de 1740, onde
(Allgemenine Naturgeschichte und Theorie permaneceu até 1746 e frequentou as lições
des Himmels) e suas reflexões sobre a de matemática e ciências da natureza, de
geografia física. Para tal trabalho teologia, de filosofia e de letras clássicas
introdutório devemos alertar que o mesmo é latinas. Quando de sua estada na Albertina,
um trabalho arqueológico, primeiramente a Europa savante acusava a peremptória
devido à escassa bibliografia filosófica derrocada da física cartesiana por sorção do
tratando da obra “A História Geral”, que é triunfo categórico do newtonianismo. E o
subutilizada e pouco estudada pelos eminente professor Martin Knutzen (1713-
filósofos kantianos, muito por ser 1751), um discípulo de Christian Wolff
considerada uma obra advinda ainda da fase (1697-1754), foi quem prestou ao púbere
pré-crítica, em que o jovem filósofo Kant Immanuel os prolegômenos da filosofia
por não ter ainda um sistema filosófico natural de Isaac Newton (1642-1727).
desenvolvido faria uso de variadas fontes Todavia, essa acolhida da ciência
filosóficas e conceituais, que o colocaria newtoniana, por parte de Kant, não se
ainda como dogmático. Outra questão que cumpriu desprendidamente de uma
deve ser colocada é a também escassa atmosfera intelectual povoada pelas
bibliografia especializada no campo da aporias legadas pela física de René
Geografia, sobre a noção de geografia física Descartes (1596-1650), pela metafísica de
de Kant e como esta se desenvolveu ao Christian Wolff e pela filosofia de Leibniz
longo de seus quarenta anos de magistério e (1646-1716). E, açulado por este ambiente
trabalho filosófico. tão sedicioso, Kant redigiu seu
No primeiro caso, Campo (1953, p. 222) se “Pensamentos sobre a verdadeira
pergunta: “como è possible parlare di apreciação das forças vivas”; texto que teve
critica in um período precritico?”. No sua impressão iniciada em 1746 (mas cuja
segundo caso, acreditamos que a vaguidade publicação somente se sucedeu em 1749) e
com que são tratadas as relações entre Kant que se absorve numa controvérsia ao redor
e a Geografia deve-se sobremodo a do problema da medida das forças
perspectivas limitantes com que é abordado (cingindo o conceito leibniziano de força e
o conteúdo de história do pensamento as injúrias, a ele, incididas da concepção
geográfico nos cursos de Geografia no geométrica de Descartes e da prescrição
Brasil e a manuais que se preocuparam em nodal da mecânica de Newton).
cristalizar uma visão temporal e panorâmica Teve requinte o acaso que, no ano
sobre a Geografia, do que propriamente em que encetara a impressão desse seu
tratar de temas epistemológicos, que escrito primogênito, Kant deparasse-se
necessitaria nesta empreitada de um diálogo impelido a abdicar da Universidade, antes,
mais próximo da filosofia. Portanto, inclusive, de ter auferido todos os seus
podemos falar em uma epistemologia da títulos acadêmicos. E, para ganhar a vida,
Geografia se a própria história e ele se prontificou – como era usual para os
arqueologia dos conceitos geográficos não cultos sem recursos dessa época – a
são realizadas pelos geógrafos? preencher o ofício de preceptor de famílias
ricas tanto de Königsberg como de seus
arrabaldes.
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

2
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

Kant desempenhou, “[...] por la provavelmente, sobressaltado pela


presión de las circunstancias materiales ocorrência do Terremoto de Lisboa (que
[...]” (CASSIRER, 1997, p. 47), a pôs em ênfase a questão da ordem e da
dignidade de aio por cerca de nove anos, ou finalidade da natureza) – o ensino de
seja, de 1746 a 1755. E foi nessa geografia física1. Por que Kant pôs-se a
intermitência de tempo que ele, decerto, doutrinar um curso de geografia física?
escreveu sua “História Geral da Natureza e Nos ecos da imagem de cosmos que ele
Teoria do Céu”; que apareceu, acastela em sua “Teoria do Céu” habita,
inominadamente, em março de 1755, em assim apostamos, um de seus motores
Leipzig e em Königsberg, à sombra da basilares.
edição de Johann Friedrich Petersen.
Também em 1755, Kant – KANT PRÉ-CRÍTICO
aquilatando-se proprietário de “[...] una
mirada intelectual libre y un juicio maduro A chamada fase pré-crítica de Kant
sobre la totalidad de los problemas vai até 1781 quando é publicada a Crítica
científicos [...]” (CASSIRER, 1997, p. 50) e da Razão Pura. Segundo pesquisadores, a
experimentando “[...] una sensación de fase pré-critica é composta por várias
seguridad interior y exterior [...]” questões e orientações intelectuais, mas é
(CASSIRER, 1997, p. 50) – decide por justamente esta fase pré-crítica que instiga a
retrogradar à Universidade de Königsberg. análise do pensamento de Kant já na fase
E, posteriormente à defesa de duas crítica, pois o mesmo passou, segundo o
dissertações latinas, ele emprega-se, a partir autor, por três importantes etapas: a
do outono de 1755, a ser “[...] „magister racionalista, a empirista e a crítica.
legens‟, correspondente ao atual Genericamente, podemos dividir a
„Privatdozent‟, que não recebe um salário fase pré-crítica de Kant em dois momentos
do Estado e vive dos ganhos da livre- que se estende de 1746 a 1770, cujo marco
docência e das aulas particulares para é a obra “Acerca da forma e dos princípios
estudantes” (HÖFFE, 2005, p. 8-9). do mundo sensível e inteligível”, também
De 1755 a perto de 1796, Kant conhecida como a Dissertação de 1770. Na
administrou (seja em preleções particulares, fase de 1755, marcada pela forte influencia
seja em conferências públicas) cursos (cuja de Leibniz e a outra que se inicia em 1763,
audiência era constituída por uma o jovem filósofo passa a tomar contato com
miscelânea de prussianos e estrangeiros: os trabalhos de David Hume, passando a se
notadamente bálticos, russos e polacos) interessar pela crítica à metafísica
destinados aos campos do saber os mais dogmática a partir da prova ontológica da
variados: lógica, metafísica, ética, existência de Deus, desembocando em 1766
antropologia, física teórica, matemáticas, com uma crítica estruturada à metafísica e
direito, enciclopédia das ciências suas provas supra-sensíveis. Segundo
filosóficas, pedagogia, mecânica, Torretti (1980, p.40), a fase pré-crítica e a
mineralogia, teologia etc. E, em meio a crítica estão unidas e ao mesmo tempo
disciplinas versadas tão multíplices, que separadas pela Dissertação de 1770.
incluíam “[...] both philosophical and non- Esta variação no pensamento de Kant
philosophical topics” (ELDEN, 2008, p. 3), talvez possa ser explicada pelo próprio
Kant oblatou – por “[…] forty-nine times momento histórico da filosofia e das
over a forty-year period from 1756 to 1796 ciências de uma maneira geral. Isto por que
– more frequently than any of his other a filosofia alemã, a partir de meados do
topics other than logic and metaphysics século XVIII, não consegue mais explicar
[…]” (ELDEN, 2008, p. 3) e, muito as teses metafísicas de modo aprofundado,
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

3
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

uma vez que neste período a busca é a de travers les étapes successives qui jalonnent
construção de uma filosofia científica, l‟évolution de sa pensée” (SEIDENGART,
voltada ao próprio empirismo mecânico, 1984, p. 12), tanto “[...] dans sa partie pré-
culminando em um primeiro momento para critique que dans sa partie critique [...]”
o empirismo inglês e francês. No jovem (KERSZBERG, 1984, p. 207); e o seu
filósofo Kant, esta problemática se expressa julgamento, assim acreditamos, permite-
em um racionalismo que não despreza o nos “[...] d‟éclairer non seulement la genèse
empírico, mas também critica a razão du criticisme, mais également le sens de
dentro de seu próprio racionalismo, l‟orientation ultérieure de sa philosophie
buscando assim, estabelecer os seus limites, transcendantale en quête d‟unité et
utilizando-se para isto do recurso da d‟achèvement” (SEIDENGART, 1984, p.
experiência para prescrever a objetividade 12). Esse seu corpulento vigor provém do
real dos conceitos racionais. inexaurível e úbere desejo de Kant em “[...]
O racionalismo da época aplicava a relier indissolublement la Métaphysique de
razão à realidade das coisas, com a seguinte la Nature à la physique” (SEIDENGART,
tarefa: a partir da experiência, a razão 1984, p. 12).
deveria encontrar a causa última das coisas E essa sua veleidade se debuta em
por meio do princípio dessas coisas, sua cosmologia pré-crítica, da qual os
demonstrando por si mesma a existência traçamentos basilares são apresentados
delas. (sobretudo, escrupulosa e poeticamente) em
Já a partir da década de 1760, sua “História Geral da Natureza e Teoria
genericamente marcada por reflexões que do Céu” (1755) – trabalho científico-
hostilizam a metafísica, entre elas o literário que jamais angariou (arrecadou)
nominalismo, o humanismo, o empirismo “[...] suffisamment [...] toute l‟attention
psicológico e a ciência experimental; Kant qu‟elle mérite et figure comme une grande
passa a se preocupar com os problemas que oubliée de l‟histoire” (SEIDENGART,
enfraqueciam a filosofia, desembocando 1984, p. 9).
assim em uma crítica à razão. É neste Em sua “Teoria do Céu”, Kant
contexto, que o filósofo sofrerá influência aloca em ajuizamento uma espécie de
de Hume e Newton e se colocará avaliação (especulativa e epistemológica)
categoricamente contrário ao dogmatismo referente ao estatuto (e ao abarcamento)
da razão. das leis físicas de Newton e de seu caráter
Para tanto, estaremos encentrando universal (isto é, de sua envergadura em
nossa diligência em esquadrinhar, envolver a natureza em seu conjugado).
particularmente, a cognação existente entre Portanto, direcionando sua agudeza a
a idéia de cosmos glorificada por Immanuel perscrutar os termos da significação
Kant em sua “História Geral da Natureza e metafísica da experiência (e a excogitar,
Teoria do Céu” (1755) e a gênese do curso por decorrência, sobre o enraizamento entre
de geografia física que o então Magister de a ciência física e a filosofia), Kant, nessa
Königsberg principia a instrução em 1756. sua obra de 1755, dedica-se à investigação
do limite físico das leis físicas newtonianas
A “HISTÓRIA GERAL DA NATUREZA e, por efeito, da possibilidade de
E TEORIA DO CÉU” E SUA IMAGEM generalização a todo universo da única
DE COSMOS experimentação local.
Nesse sentido, é em sua “Teoria
A problemática (ou a dúvida) do Céu” que Kant, ultrapassando as
cosmológica persiste, perdura (e se demarcações de um positivismo estreito,
reinventa) “[...] dans l‟oeuvre de Kant [...] à dispõe-se, por primeira vez, a solucionar
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

4
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

(versar), metafisicamente, a embargo seus salientes tributos científicos


inseparabilidade entre a física e os seus (em física, mecânica celeste, matemática
fundamentos, visto que, nesse seu poema etc.), estaca raízes em um chão movediço e
cosmológico – além de aplicar-se em “[...] atreve empreender, numa frágil conjectura,
montrer que l‟essence même de la nature uma viagem perigosa aos recantos
doit être recherchée dans son histoire” sombrios onde se encruzam o físico e o
(KERSZBERG, 1984, p. 209) – Kant miraculoso, o teológico e o científico, o
intenciona clarificar “[...] non seulement la positivo e o metafísico, a razão teórica e a
structure totale du monde (dans l‟espace et razão prática, o teleológico e o moral.
dans le temps indissociés), mais aussi la Não por eventualidade, Kant –
nature profonde des lois physiques; l‟une consciente dos riscos em se interceder a
n‟est plus séparable de l‟autre [...]” discórdia aparente que colocava em
(KERSZBERG, 1984, p. 209). incompatibilidade, no instante da
Não hesitamos, entretanto, em alumiação da formação do universo, o
certificar que a peculiaridade (a Naturalista e o causídico da Religião – abre
singularidade) mais acentuada da “Teoria sua “Teoria do Céu” confidenciando: “J‟ai
do Céu” consiste em que, nas suas páginas, choisi un sujet qui, tant par sa difficulté
Kant – não obstante executar uma “[...] intrinsèque qu‟en ce qui concerne la
construction spéculative limitée religion, peut dés l‟abord prévenir
principalement au cadre de la mécanique défavorablement une grand partie des
newtonienne [...]” (KERSZBERG, 1984, p. lecteurs” (KANT, 1984, p. 65). Pôr-se a
208) e de governar suas idéias “[...] fort antever, favorecendo-se dos princípios de
proches de celles de Newton sur le plan Newton, a coordenação e a origem do
„technique‟ [...]” (KERSZBERG, 1984, p. mundo (a constituição dos corpos celestes e
209) – não se priva da prerrogativa de a ascendência de seus movimentos) em sua
raciocinar o que a “[...] science soma como sendo efeito de leis puramente
newtonienne n‟a cherché à traduire que mecânicas (de uma natureza deixada a ela
dans les limites de cette seule expérience” mesma) poderia denotar a ação de um
(KERSZBERG, 1984, p. 209) e o que abolucionista do governo divino, ou, o feito
Newton, ele mesmo, ao menos nos “[...] ses de um insolente que se atira em impulsos
travaux publiés, s‟est toujours refusé à que “[...] semblent dépasser de très loin les
penser dans les termes de sa propre forces de la raison humaine” (KANT, 1984,
physique mathématique. Il s‟agit de la p. 65). E Kant tinha a perfeita noção desse
cause finale, d‟où doit procéder toute notre arrojo: “Je vois bien toutes ces difficultés,
expérience immédiate [...]” (KERSZBERG, et cependant je ne perds pas courage. Je
1984, p. 209). ressens toute la force des obstacles qui
Assim sendo, é por buscar s‟opposent et cependant je n‟abandonne
combinar a causalidade final (teleológica) pas” (KANT, 1984, p. 65).
e a causalidade mecânica com a ambição Após convencer-se da severa
de instaurar uma representação concreta anuência entre o seu sistema e a religião;
de todo o universo (em sua estrutura e em acautelando-se “[...] à ne rien affirmer qui
sua história) – e, com isso, exceder as raias se soit en accord avec l‟enseignement de la
firmadas pela metodologia da filosofia religion chrétienne [...]” (SEIDENGART,
experimental de Newton (radicada na 1984, p. 31) e sentindo “[...] une tranquilité
requisição de uma visão diametralmente inébranlable” (KANT, 1984, p. 66) para
indutivista do mundo) e caminhar por sobre lograr exceder o que havia de unilateral
os seus embaraços e dificuldades entre as focagens (ambas ineptamente
cosmológicas – que a “Teoria do Céu”, sem culminantes) do homem de fé e do homem
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

5
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

de ciência, Kant – escorando-se, das leis gerais de ação da matéria, e como


largamente, no princípio heurístico da estas escorrem “[...] du dessein suprême,
analogia, que lhe concede abarcar o “[...] elles ne peuvent alors [...] avoir d‟autres
Tout au moyen de la partie, de la même déterminations que de tendre à accomplir
façon dont, en mathématiques, on peut [...] le plan que s‟est proposé la Sagesse
penser dans sa totalité une suite infinie de suprême [...]” (KANT, 1984, p. 66). Esse é
termes grâce à la foi de formation qui les o estilo que “[...] la physico-théologie
engendre tous” (SEIDENGART, 1984, p. rénovée de 1755 pensait fournir le moyen
44) – se lança à ideação de uma imagem de de dépasser et de régler le conflit qui avait
cosmos, que não é outra coisa senão o opposé la foi au savoir” (SEIDENGART,
produto de uma natureza que, per si (e 1984, p. 32).
estimulada por uma ordem que lhe é Elucidar, assim sendo, os nexos
impressa pela sabedoria divina no ato da sistemáticos do universo por uma tendência
Criação), se molda (se afeiçoa e se natural não insinua, aos olhos de Kant, uma
desenvolve) mecanicamente. apologia à independência da natureza
É, pois, atrelando a causalidade frente à providência divina. Ou seja, para
mecânica com a teleologia monadológica – Kant, aceitar que toda a ordem do universo
já que “[...] Dieu a mis dans les forces de la provém “[...] des fondements naturels
nature un art secret qui lui permette de se capables de réaliser cet ordre à partir des
former d‟elle-même à partir du chaos en propriétés les plus générales et les plus
une parfaite constitution du monde [...]” essentielles de la matière [...]” (KANT,
(KANT, 1984, p. 72) – quer dizer, é 1984, p. 66) não decreta concluir ser “[...]
reconciliando o “[...] mécanisme et la inutile d‟en appeler à un gouvernement
finalité sur le terrain nouveau d‟une supérieur” (KANT, 1984, p. 66-67). Mesmo
physico-théologie rénovée où le physique et porque “[...] la matière se déterminant elle-
le théologique se renforcent mutuellement même par la mécanique de ses forces a une
au lieu de se repousser obstinément” exactitude certaine dans ses conséquences
(SEIDENGART, 1984, p. 30) que Kant [...] et satisfait sans contrainte aux régles de
transfere vida ao seu “système du monde”. la mesure [...]” (KANT, 1984, p. 68), ou
Como ele próprio assevera: a matéria que melhor, às potências de sublimidade
se “[...] détermine selon ses lois les plus semeadas pelo Criador.
générales produit par un processus naturel Mas, se “[...] la condition de toute
[...] des conséquences convenables [...] qui cosmologie physique est que l‟univers
semblent être le projet d‟une sagesse entier soit reconnu comme un vaste système
suprême” (KANT, 1984, p. 68). dynamique [...]” (KERSZBERG, 1984, p.
Admitir que o mundo “[…] avec 218-219) e se o cosmos é o resultado de
tout son ordre et toute sa beauté, est uma terna aliança entre uma causalidade
seulement un effet de la matière laissée à mecânica e uma teleologia da natureza,
ses lois générales de mouvement [...]” qual o predicado do espaço (e do tempo)
(KANT, 1984, p. 65) – pois que a “[...] por sobre o qual essa totalidade material
mécanique aveugle des forces de la nature a que é o mundo (a criação) se deposita e se
le pouvoir de se développer à partir du realiza?
chaos de façon si splendide et [...] atteint O modelo cosmológico da “Teoria
d‟elle-même à une telle perfection [...]” do Céu” “[...] est construit pour répondre à
(KANT, 1984, p. 65) – só faz, ao avesso de cette difficulté” (KERSZBERG, 1984, p.
invalidar, “[...] apparaître avec l‟éclat le 219). Enquanto Newton tolera,
plus vif la splendeur de l‟Etre suprême” concomitantemente com o espaço absoluto
(KANT, 1984, p. 65). Se o cosmos é filho (geométrico), a existência de um espaço
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

6
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

relativo (que seria uma dimensão móvel do E “[...] c‟est seulement par cette
espaço inerte/imóvel e que recai em nossos ouverture que la matière „est‟ quelque chose
sentidos devido a sua relação aos corpos) e i.e. que la matière trouve son télos dans cela
estabelece entre “[...] cet absolu et ce relatif même qui vient à l‟existence matérielle”
[...] toute la différence qui sépare les (KERSZBERG, 1984, p. 226). E desse
quantités mesurées elles-mêmes de leurs movimento de abertura da identidade para
mesures sensibles [...]” (KERSZBERG, se transformar “[...] à autre chose qu‟elle-
1984, p. 221), Kant, por sua vez, em sua même [...]” (KERSZBERG, 1984, p. 226) é
“Teoria do Céu”, efetua uma distinção que se organiza (ou que se funda) uma
entre o espaço geométrico/absoluto de diferença. E o cosmos, materializado no
ancoragem newtoniana e o espaço físico, espaço físico/concreto, é a consumação
enfim, o espaço das substâncias materiais. desse movimento da diferença rumo à
Além do mais, na “Teoria do identidade.
Céu”, Kant aparta, integralmente, o devenir Logo, o universo “[...] se présente
cósmico de qualquer variação da essência comme un amas indéfini de particules, à
ou do estatuto do espaço. Esse devenir é l‟intérieur duquel un champ local et „réel‟
“[...] rendu entièrement possible par les de forces détermine un „lieu‟ physique, en
seules conditions initiales internes. La conférant à un nombre toujours croissant de
matière originelle, une fois qu‟elle a ainsi ces particules un arrangement ordonée”
„rempli‟ le monde, „est‟ le monde, à la fois (KERSZBERG, 1984, p. 221). E as
son contenu et sa structure” partículas de matéria, cada uma delas,
(KERSZBERG, 1984, p. 225). Nesse destarte, só acham sua “[...] permanence
sucedimento, o “[...] monde matériel étant „substantielle‟ [...] lorsqu‟ella subit
livré à lui-même dès l‟instant de la création, effectivement l‟attraction gravitationnelle.
il n‟y a ni espace ni temps physiques qui C‟est alors seulement qu‟elle est un objet
soient au-dehors ou au-delà de lui” du monde organisé et, par suite, un objet
(KERSZBERG, 1984, p. 225). pour la physique” (KERSZBERG, 1984, p.
Nesse jogo metafísico, no qual o 221). E sua “[...] façonnement est un
infinito e a variedade da matéria compõem rapport dynamique à d‟autres particules qui
os sistemas do mundo, Kant define que sont dans le même état qu‟elle; de là, la
“[...] l‟espace et le temps vides, infinis et possibilité d‟une constitution systématique
éternels constituent une identité infinie” et stable” (KERSZBERG, 1984, p. 221).
(KERSZBERG, 1984, p. 226). O mundo Parece-nos razoável, diante dessas
material, este, contém “[...] une très grande panorâmicas considerações, rematar que o
diversité de plans qui servent la même fin jovem Kant, na “Teoria do Céu”, faz da
et, corrélativement, une multiplicité de gradaria conceitual de Newton a
moyens et de voies vers le même but; cette substância proeminente de um sistema
diversité et cette multiplicité doivent se mecânico do mundo. Tanto que, apoiando-
renouveler à chaque époque [...]” se nas teorias newtonianas, ele “[...] prend
(KERSZBERG, 1984, p. 226). O universo en considération ce fait que les planètes du
físico, por seu turno, não é outra coisa senão système solaire se meuvent dans un espace
a diferença infinita “[...] qui s‟ouvre sans vide – ou [...] dans un espace rempli d‟une
cesse vers l‟identité, et ceci de proche en matière hypothétique tellement ténue
proche, c‟est-à-dire selon une constitution qu‟elle ne manifeste aucun effet physique
systématique. Cette différence trouve son déterminant” (KERSZBERG, 1984, p.
télos dans l‟identité et, en retour, elle tend à 235), inclusive porque, por “[...] principe,
la matérialiser” (KERSZBERG, 1984, p. l‟espace plein freine les mouvements d‟une
226).
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

7
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

manière irréversible” (KERSZBERG, 1984, No tiene más remedio que suplir


p. 235). las lagunas de sus propias
No entanto, Kant “[...] réalise impresiones y experiencias
qu‟il n‟y a aucune raison suffisante pour recurriendo a medios
admettre que l‟univers s‟est toujours secundarios de todas clases:
maintenu dans l‟état où nous le voyons obras de geografía y de ciencias
actuellement” (KERSZBERG, 1984, p. naturales, relatos de viajes e
235); e é essa atitude que lhe permite – informes de investigaciones.
distintamente de Newton; e por intercessão Nada, ni aun lo más nimio
da aquiescência da possibilidade de uma dentro de este campo, escapa a
regeneração cíclica que se aplica ao su atención despierta y viva. Y
universo em seu todo – conjugar aunque este procedimiento de
(compatibilizar) o mecanismo da asimilación de la materia parece
gravitação e a perenidade cósmica. hallarse expuesto, y se halla, a
todos los peligros que la simple
E A GEOGRAFIA FÍSICA... recepción de observaciones
ajenas lleva siempre aparejados,
Em linhas gerais, no alvorecer de la falta de la percepción directa
seu lavor docente, Kant – empuxado pelos de los sentidos se compensa aquí
problemas da física do século XVIII, pela con aquel don de “fantasía
acedência (e vasta fertilidade) da filosofia sensorial exacta” que siempre
natural de Newton e pelas dificuldades tuvo Kant. Gracias a esta
cominadas pela metafísica racionalista- facultad se agrupaban en su
leibniziana de Wolff – entregou-se (sem, espíritu, formando una imagen
todavia, se prender às suas indagações de armónica y nítida, todos
detalhe, mas interessado por suas demandas aquellos rasgos sueltos
de índole geral) às ciências da natureza. recogidos por él a través de toda
Como afirma, apropositadamente, Cassirer una serie de informes
(1997, p.60-61): diseminados.
[...]. Y así, ayudado por estas
[...] durante los primeros diez dotes intelectuales, fué
años de su carrera docente, construyendo rasgo a rasgo,
vemos que lo que elemento a elemento, la imagen
primordialmente le preocupa en total del cosmos visible. La
este período es el determinar, fuerza interior de su capacidad
dentro del pensamiento, la de representación y de
extensión del universo. Ningún pensamiento se encarga de
otro período de la vida de Kant ensanchar los escasos materiales
se halla tan dominado y que le brindan los datos
caracterizado como éste por el directamente recogidos hasta
puro “afán de acopiar materia”. formar una imagen del universo
Vemos a nuestro filósofo en que se aúnan la plenitud y la
desplegar una labor gigantesca armonía sistemática. En la época
encaminada, fundamentalmente, a que estamos refiriéndonos
a reunir y clasificar el material predomina con mucho [...] la
de observación que había de fuerza de la síntesis sobre la
servir de base para la nueva fuerza analítica y crítica. Este
concepción total del mundo. afán de remontarse al todo
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

8
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

ejerce un poder tan acuciador en investigaciones empíricas concretas [...]”


el espíritu de Kant, que la (CASSIRER, 1997, p. 65), Kant estava
fantasía constructiva se adelanta descomedidamente longe de “[...] emplearlo
casi siempre, en su impaciencia, [...] de un modo exclusivo, y esto se revela
a la paciente contrastación de los [...] con mayor relieve en la tendencia
datos concretos. La frase general que preside totalmente sus propias
“dadme materia y os construiré investigaciones y la orientación de éstas, en
con ella un mundo”, que el la época a que nos estamos refiriendo”
prólogo a la Historia general de (CASSIRER, 1997, p. 65). Seu curso de
la naturaleza y teoría del cielo geografia física abrolha, precisamente,
explica y comenta con diversas dessa “[...] relación completa de
variantes, representa [...] no sólo interdependencia entre el empirismo y la
el tema especial de la teoría, entre la „experiencia‟ y la
cosmogonía kantiana, sino „especulación‟” (CASSIRER, 1997, p. 64).
también el problema más E, inegavelmente, é a “História
general que se ofrece a su Geral da Natureza e Teoria do Céu” (1755)
consideración durante este a mensageira (genetriz) desse método meta-
período. La estructura empírico. Também, ela, coincidindo com
astronômico-cósmica es “[...] toda la orientación científico-natural
solamente [...] el resultado y la de la década siguiente, se halla informada
expresión tangible de una en su conjunto por un interés de carácter
determinada fuerza fundamental ético-espiritual: investiga la „naturaleza‟
del propio pensamiento para encontrar en ella al „hombre‟”
kantiano. (CASSIRER, 1997, p. 65).
Essa miragem – que “[...]
A geografia física cumpre um abarca el destino moral general del hombre
cruciforme papel na edificação desta y aquella suma de „conocimientos del
“nueva concepción total del mundo”, mundo y del hombre‟ que tan importante
especialmente por comunicar, a Kant, a papel desempeñaban en todo programa
plasticidade morfológica da superfície da pedagógico de la época de la Ilustración”
Terra e por outorgar-lhe aparelhar uma (CASSIRER, 1997, p. 66) – é,
“imagen total del cosmos visible”, “una indiscutivelmente, que administrou Kant a
imagen del universo en que se aúnan la lecionar geografia física. O seu ensino (e o
plenitud y la armonía sistemática”. E essa da antropologia) decorre de uma robusta
sua ascensão ao cosmos, esse seu “afán de valorização do saber prático do homem e
remontarse al todo” – fruto das abissais do mundo que permeia a filosofia e o
inquietações, instigadas em Kant (bem exercício acadêmico de Kant nesse tempo.
como em Goethe, Voltaire, Rousseau etc.), Como o próprio Kant assevera em sua
pela ocorrência do fatídico Terremoto de “Geografia Física”:
Lisboa, de 1755 – somente se fazia
presumível devido a sua capacidade de Pour ce qui est des sources et de
representação, isto é, a “una determinada l‟origine de nos connaissances,
fuerza fundamental del propio nous puisons celles-ci soit dans
pensamiento” apta a carregar-lhe “[...] más la raison pure soit dans
allá de los límites de lo empíricamente dado l‟expérience qui, elle-même, à
y conocido” (CASSIRER, 1997, p. 61). son tour, instruit la raison.
Nessa contextura, “[...] a pesar de Les connaissances purement
la alta estima en que tiene al método de las rationnelles sont données par
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

9
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

notre raison; en revanche, c‟est fasse connaître comme une


par les sens que nous recevons connaissance susceptible d‟être
les connaissances empiriques. complétée et corrigée par
Mais comme la portée de nos l‟expérience.
sens ne dépasse pas le monde, Nous anticipons notre
nos connaissances empiriques ne expérience future, celle que nous
dépassent pas non plus le monde ferons plus tard dans le monde,
présent. grâce à un enseignement et à un
Et puisque nous avons un double aperçu général de cette sorte qui
sens, un sens externe et un sens nous donne un concept
interne, grâce à eux, nous préliminaire de toutes choses.
pouvons considérer le monde De celui qui a fait de nombreux
comme somme de toutes les voyages, on dit qu‟il a vu le
connaissances empiriques. En monde. Mais qui veut tirer profit
tant qu‟objet du sens externe, le de son voyage doit déjà s‟en être
monde est la nature et, en tant esquissé un plan par avance et
qu‟objet du sens interne, il est non se contener de regarder le
l‟âme ou l‟homme (IX, 157). monde comme un objet du sens
Les expériences que nous avons externe.
de la nature et de l‟homme L‟autre partie de la connaissance
constituent les connaissances du du monde traite de la
monde. L‟anthropologie nous connaissance de l’homme. La
enseigne la connaissance de fréquentation des hommes
l‟homme; nous devons la élargit nos connaissances. Il
connaissance de la nature à la reste cependant nécessaire de
géographie physique ou s‟exercer et ce se préparer à
description de la Terre. Il est toutes les expériences futures;
vrai qu‟il n‟y a pas c‟est ce que permet
d‟expériences au sens strict mais l‟Anthropologie. Elle permet de
seulement des perceptions qui, connaître ce qui, dans l‟homme,
prises ensemble, constitueraient est pragmatique et non pas
l‟expérience. Et là encore nous spéculatif. L‟homme est alors
ne prenons vraiment ce dernier considéré non pas d‟un point de
terme que dans son sens courant vue physiologique, qui vise à
de perceptions. distinguer les sources des
La description physique de la phénomènes, mais d‟un point de
Terre est donc la première partie vue cosmologique [...].
de la connaissance du monde. Ce qui fait sérieusement défaut
Elle appartient à une idée qu‟on c‟est l‟apprentissage d‟une mise
peut nommer la propédeutique en application des connaissances
de la connaissance du monde. déjà acquises et d‟une mise en
L‟enseignement de celle-ci usage de celles-ci, conforme à la
semble encore très lacunaire. Il fois à (IX, 158) l‟entendement et
n‟en demeure pas moins que aux circonstances, autrement dit,
c‟est bien elle qui nous est la une instruction permettant à nos
plus utile dans toutes les connaissances de trouver leur
circonstances possibles de la vie. dimension pratique. Et c‟est cela
Il est donc nécessaire qu‟elle se
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

10
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

la connaissance du monde racional” y sólo en última línea


(KANT, 1999, p. 65-67). el erudito [...].
Como vemos, Kant se orienta
Com o curso de geografia física, siempre, así en su propia
essa propedêutica ao conhecimento do formación como en su
mundo, Kant cobiçava, dessa forma, enseñanza académica, a un ideal
retificar um descuido da juventude de vasto “conocimiento práctico
estudiosa que “[...] consistía, del hombre”. Es la meta que
principalmente, en que se la enseñaba a perseguirán más tarde sus cursos
razonar desde muy pronto sin poseer de antropología: la misma que
suficientes conocimientos históricos que persiguieron al principio los de
pudieran ocupar el lugar de la experiéncia geografía física (CASSIRER,
[...]” (KANT apud CASSIRER, 1997, p. 1997, p. 68-69).
65-66).
E foi ocasionado pela vontade de Um conhecimento da natureza e
corrigir essa lacuna que Kant resolveu-se do mundo, sob os auspícios de uma razão
por “[...] convertir la historia del estado prática, traz em seu âmago um conato
actual de la tierra o la geografía en el más vínculo metafísico com o destino moral do
amplio de los sentidos en un compendio homem. E, para “[...] poder llenar
agradable y fácil de lo que podía cumplidamente el lugar que ocupa dentro
prepararlos para una razón práctica [...]” de la creación, el hombre necesita, ante
(apud CASSIRER, 1997, p. 66). Pois que: todo, [...] comprenderse a si mismo como
miembro de la naturaleza, pero colocado
La enseñanza académica de [...] por encima de ella en cuanto a su meta
Kant presentaba [...] durante esta final” (CASSIRER, 1997, p. 66). Uma
época [...] el sello de una descrição da Terra (uma geografia), pois,
“urbanidad” de hombre de não se desliga de um infrangível
mundo. No podemos enlaçamento entre a metafísica da natureza
maravillarnos, dado el carácter e a física, isto é, de uma visão mediante a
enciclopédico-popular que había qual “[...] el punto de vista causal se
creído necesario infundir a esta entrelaza [...] directamente con el
disciplina, de que no tratase la teleológico” (CASSIRER, 1997, p. 66).
“geografía física” “de aquel E é em sua “História Geral da
modo completo y con aquella Natureza e Teoria do Céu” – opúsculo que
precisión en cuanto a sus partes incorpora “[...] entremezclados sin cuidado
propios de la física y de la alguno, el método de la inducción propia de
historia natural, sino con la las ciencias naturales, el método de la
curiosidad racional de un viajero medición y el cáculo matemáticos y,
que busca por doquier lo finalmente, el método del pensamiento
curioso, lo raro y lo bello, metafísico” (CASSIRER, 1997, p. 72) –
compara las observaciones por que, por primeira vez, intenciona Kant
él reunidas y cavila y madura su concordar estes dois critérios: o causal
plan” [...], pero incluso (mecânico) e o teleológico, “[...] y esto hace
refiriéndose a la enseñanza de que la contemplación de la naturaleza
las disciplinas abstractas declara conduzca al autor [...] a una teoría sobre el
que deben proponerse como destino moral del hombre, la cual
meta formar “primero el hombre desemboca, a su vez, en determinados
comprensivo, luego el hombre
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

11
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

postulados y normas de carácter metafísico” abonado de maneira imediata em nossa


(CASSIRER, 1997, p. 72). experiência por uma geografia. Como a
cosmologia pré-crítica de Kant não se põe a
CONSIDERAÇÕES FINAIS responder “o que é” o universo; mas de
tentar elucidar onde “ele está” (têmporo-
Com Newton, as ciências da espacialmente) em seu devenir, uma
natureza tornaram-se, praticamente, geografia física lhe é, então, congênita.
alforriadas da incumbência de dar cabo a Como a natureza em sua
uma representação do cosmos em sua distinção pode concordar com a totalidade
totalidade. Sua metodologia opera segundo material das coisas? Qual o seu
graus sucessivos de generalização, partindo espelhamento físico? Em face destas
do nosso mundo físico local e se estendendo questões, parece-nos incontroverso que
até onde a experiência nos outorga um Kant dispõe-se, em 1756, a ensinar
conhecimento factual. A “Teoria do Céu” é, geografia física em decurso de seu projeto
primeiramente, uma reflexão metafísica metafísico em transportar a matematização
sobre o alcance das leis gerais de Newton; e da física até perpetrar encontrar, nela, uma
a idéia de cosmos que dela brota parte expressão física de seus próprios limites.
desse mundo físico local e exige uma
ciência que o descreva; e esta é a geografia NOTAS
física.
1
Destarte, a origem do curso de No tempo e no território (Prússia
geografia física de Kant insere-se na esfera Oriental) de Kant – diga-se oportunamente
da sua busca em elucubrar acerca dos – para se lecionar um dado curso, todo
fundamentos metafísicos de toda teoria professor devia, imprescindivelmente,
física, mais notadamente, de sua pretensão proceder de conformidade a um manual
em sopesar a pujança das leis físicas oficialmente reconhecido. Portanto,
newtonianas em universalizar-se na nenhum docente tinha consentimento
edificação de uma idéia geral do universo. expresso para instruir um tratado sobre
Como generalizar a todo o universo a única determinado tópico de ensino em seu
experiência local? Essa é a inquisição próprio nome. Como não havia, na época,
primordial da “Teoria do Céu”; e a uma escritura que Kant pudesse valer-se
geografia física não se desata dessa em suas palestras de geografia física – que
pergunta cosmológica, ou seja, dessa foi a segunda especialidade mais
preocupação epistemológica e especulativa doutrinada por Kant no transcorrer de sua
relativa à índole universal de toda faina professoral, imediatamente após a
representação possível da natureza. lógica e a metafísica – ele resolveu por
Alocando-se no perímetro entre a lavrar um resumo a este intento; e, por
ciência física e a filosofia, a geografia intervenção de um decreto de von Zedlitz
física, em seu nascimento, inscreve-se, pois, de 16/10/1778, foi-lhe anuída a licença para
nesse esforço de Kant em instituir o despendê-lo em suas alocuções geográficas
regulamento epistemológico e metafísico (COHEN-HALIMI, 1999). Esses registros
das ciências da natureza, isto é, em minutados, organizados por Kant (que
preceituar os baldrames da teoria física; em manifestavam, em seu teor – além de uma
conferir uma expressão física aos seus dilatada e inventiva imaginação – um
próprios fundamentos; em cravar uma profuso conhecimento das ciências naturais
teoria física sobre o conhecimento físico. e, igualmente, uma abundosa quantidade de
Pois, se a essência da natureza informações geográficas proveniente de
reside em sua história; o mundo físico nos é assíduas leituras de relatos de viagens, de
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

12
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

descrições de expedições científicas, de mais exatamente na então urbe de


jornais, de revistas etc.), permaneceram, por Königsberg, à beirada do Mar Báltico – que
decênios, sem qualquer tratamento a “Physische Geographie” foi publicada;
metódico. Kant não aquiescia publicar, ele justamente quando, no ultimar de sua vida e
mesmo, este acervo de notas, pois que, fruindo de opulenta auréola em toda
aprontar uma obra a partir dos originais Europa savante, Kant deparava-se com a
aproveitados (utilizados) em seu curso, fatalidade de decidir-se acerca de fração de
afigurava-se, a ele, no findar de sua vida, sua obra da qual o porvir continuava sendo,
uma execução praticamente irrealizável até aquela ocasião, não resoluto e cujo zelo
(COHEN-HALIMI, 1999). Foi que, mais editorial se fazia inteiramente
ou menos em 1800, Friedrich Theodor Rink indispensável: suas correspondências; seus
(1770-1811) e Gottlob Benjamin Jäsche comentários manuscritos nos compêndios
(1762-1842) – encarregados, pelo que empregava como professor; as
professor-filósofo, “[...] de réviser et de transcrições de seus cursos redigidas por
réorganiser ses papiers, dont la masse avait estudantes etc. (FIGUEIREDO, 2005).
considérablement augmenté” (RINK, 1999,
p. 63) – se toparam, “[...] lors de ce travail REFERÊNCIAS
et contre toute attente de Kant lui-même
[...]” (RINK, 1999, p. 63), com “[...] CASSIRER, Ernst. Kant, vida y doctrina.
presque trois cahiers de géographie Bogotá: Fondo de Cultura Económica,
physique, rédigés à différentes époques 1997.
[...]” (RINK, 1999, p. 63). Kant, ante esta
inesperada oportunidade, adjudicou COHEN-HALIMI, Michèle. Le Géographe
encargo a Rink, um remoto e estimado de Königsberg. In: KANT, Immanuel.
aluno seu, para que este efetuasse a empresa Géographie. Physische Geographie. Paris:
editorial destes extratos no formato de Aubier, 1999. p. 9-40.
livro, o que sucedeu em 1802. Logo, “It is
the Rink edition that is today known as the ELDEN, Stuart. Reassessing Kant‟s
Physische Geographie, later incorporated geography. Journal of Historical
into the Akademie Ausgabe of Kants Geography (2008), doi:
gesammelte Schriften […]” (ELDEN, 2008, 10.1016/j.jhg.2008.06.001.
p. 5). O cunho serôdio de sua aparição nos
permite discernir a motivação que dirige FIGUEIREDO, Vinícius de. Apresentação.
Cohen-Halimi (1999, p.10) a inferir que In: KANT, I. Escritos pré-críticos. São
“[...] ce Cours de Géographie physique Paulo: Editora UNESP, 2005.
accompagna pour ainsi dire
clandestinement tout le parcours HÖFFE, Otfried. Immanuel Kant. São
philosophique de Kant [...]”. Entretanto, Paulo: Martins Fontes, 2005.
não obstante esse tardamento, as
investigações filológicas de E. Adickes KANT, Immanuel. Histoire Générale de la
“[...] permettent de tenir le Cours de Nature et Théorie du Ciel. Paris: Librairie
Géographie pour une oeuvre kantienne Philosophique J. Vrin, 1984. p. 61-203.
authentique, même s‟il a fallu la
reconstituter en ajoutant au manuscrit de ______. Geographie. Physische
Kant les notes prises par ses étudiants Geographie. Paris: Aubier – Bibliothèque
durant les cours [...]” (COHEN-HALIMI, Philosophique, 1999.
1999, p. 9). Dessa maneira, é no alvor do KERSZBERG, Pierre. Post-Face. La
século XIX, na antiga Prússia Oriental – Création en movement. Essai sur le sens
Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

13
A “História geral da natureza e teoria do céu” de Immanuel Kant: Sua imagem de cosmos e seu clamor por uma geografia física
Antonio Carlos Vitte
Alexandre Domingues Ribas

philosophique d‟une interrogation


cosmologique fondamentale dans la Théorie
du Ciel. In: KANT, Immanuel. Histoire
Générale de la Nature et Théorie du Ciel.
Paris: Librairie Philosophique J. Vrin,
1984. p. 205-259.

RINK, Thomas. Prólogo do Editor. In:


KANT, Immanuel. Géographie. Physische
Geographie. Paris: Aubier, 1999. p. 61-63.

SEIDENGART, Jean. Avant-Propos.


Genese et structure de la cosmologie
kantienne précritique. In: KANT,
Immanuel. Histoire Générale de la Nature
et Théorie du Ciel. Paris: Librairie
Philosophique J. Vrin, 1984. p. 7-59.

Rev. Tamoios, São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 2, pags. 02-14, jul/dez. 2012

14

Вам также может понравиться