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Olá gente, tudo bem?

Para entender um pouco de Cibercultura, temos que começar pelo surgimento do


computador pelo nascimento da internet. Então vamos, lá!

A primeira fase do computador se deu de 1945 até o ano de 1960, o sistema “ ENIAC”
ou Electronic Numerical Integrator and Computer, usado a primeira vez na resolução
de problemas práticos, utilizado pelas Forças armadas, para fazer cálculos, foi o
responsável pela primeira bomba atômica em 1945. Apesar de toda a tecnologia, existia
muito deficiência, era semelhante a mesa telefônica e muito lento.

Fonte: http://www.pccl.ac.th/external_newsblog.php?links=1458

Já a segunda fase dos computadores começa em 1960 e vai o ano de 1970 , começaram
a fica menores, consumia menos energia e não havia necessidade de um pré-
aquecimento como os computadores da primeira geração, assim o acesso as informações
passaram a ser um pouco mais rápido. Conhecido como Mainfremes da marca IBM.

Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:IBM_Electronic_Data_Processing_Machine_
-_GPN-2000-001881.jpg

A Terceira geração se deu de 1964 a 1977, nesta fase os computadores começaram a


diminui de tamanho e de valor, o preço ficou mais barato.

Fonte: http://ac12inf.blogspot.com.br/
A quarta geração vai acontecer de 1977 a 1991 ficaram menores, mais rápido e sua
capacidade de armazenamento esta maior o computador começa a se acesso a
população, computadores pessoais, portanto seu preço ainda é um pouco alto.

Fonte: http://ac12inf.blogspot.com.br/

A quinta geração é de 1991 até os dias atuais, esta geração é marcada pela conectividade
, isso quer dizer que esta geração os computadores estão todos ligados uns aos outros, e
a inteligência artificial, com jogos e robores para jogos virtuais, desejamos os
computadores conectados aos celulares, as televisões, e até as geladeiras.
Fonte: http://ac12inf.blogspot.com.br/

Alan Turing - O pai da Ciência da Computação

Alan Mathison Turing nasceu em, 3 de Junho de 1912 e faleceu no dia 7 de Junho de
1954.

Considerado o “Pai da Ciência da Comunicação” matemático britânico, pioneiro da


computação e da inteligência artificial. Trabalhou para a inteligência britânica durante a
Segunda guerra, após a guerra onde criou seu primeiro projeto de computador como um
programa armazenado.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alan_Turing_Aged_16_(cropped).jpg

Agora que você já entendeu como surgiu o computador, podemos começar a contar a
nossa historia sobre a Cibercultura.

CAPITULO 01

Vamos imaginar uma nuvem sobre nossas cabeças onde caiba de um tudo, filmes,
fotografias, músicas, textos, e muito mais coisas, porém não podemos pegar nos objetos
que estão na nuvem, portanto conseguimos assisti-los. Isso é o ciberespaço.

A primeira vez que se ouviu falar nesta palavra 'Ciberespaço ' foi no livro de ficção
científica chamada Neuromance do autor William Gibson, em 1929, ciber que vem de
cidade, então ele quis dizer uma cidade no espaço, contava a história de um rapaz que
desejava ter uma vida no espaço sideral, então ele começou a casamento o espaço de
ciberespaço, depois deste livro o próximo a utilizar este termo foi p francês Pierre Levy
que é considerado o pai da cibercultura.

O Ciberespaço é um espaço existente da comunicação Onde se guardar tudo que


existe de comunicação, porém não é de acesso para o homem, ele não consegue pegar!
O Ciberespaço está o tempo todo em transformação pois nos alimentamos ele o tempo
todo. Com as atualizações das redes sociais, toda vez que temos acesso ao Ciberespaço
ele está diferente, esta o tempo todo em movimentação.
O programa do computador passa por três fases são elas: entrada de
informações, armazenamento de informações e transmissão desta informação. Tudo
que está armazenado, está no ciberespaço, guardado e podendo ser acessado ou
acionado a qualquer momento! Assim é o Ciberespaço.
O Ciberespaço não compreende apenas materiais,
informações e seres humanos, é também constituído e
povoado por seus estranhos, meio texto meio maquina meio
atores, meio cenário: os programas.

(Levy, 2010 pág 41)

Com esses programas podemos navegar livremente pela Internet e encontramos tudo o
que se deseja. Na maioria das vezes , pensamos que estamos sozinhos na Internet, pq
estamos em um lugar seguro acessando a rede, como por exemplo dentro de casa ,
dentro do quarto, portanto temos que lembrar que tudo que colocamos na Internet
como as atualizações das nossas redes sociais, cai no ciberespaço e lá toda e qualquer
pessoa pode ter acesso. Mesmo estando sozinho de frente a Tela do computador ou do
celular, se estamos conectados então não estamos sozinhos.

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Internet#/media/File:Submarine_cable_map_umap.png
A nuvem ( Ciberespaço ) onde contém as informações está em transformação o tempo
todo, pois ela está sendo alimentado o tempo todo. Com a descoberta da Internet,
várias profissões desapareceram e como também novas profissões surgiram, podemos
relembrar algumas profissões que não existem mais como por exemplo o
datilógrafo, o revisor, telefonista, e também assim como umas sumiram outras
surgiram como o de programador, de marketing digital e de influência digital essa
profissão é super atual , para quem nunca ouviu falar , influência digital é aquela
pessoa que tem vários seguidores e que posta fotos de tudo que veste, que come e dos
lugares onde frequenta, podem ser chamadas de blogueiros também. Assim como as
profissões sofreram alterações o ensino e a relação aluno e professor também teve
mudança, o aluno hoje não depende apenas do professor para ter acesso ao
conteúdo, pois no ciberespaço a nuvem que tem todo e qualquer tipo de
assunto, contém a informação que será transmitida pelo professor. Existe também os
Ambientes Virtuais de Aprendizagem ( AVA) assunto que iremos tratar no próximo
capítulo, que são as novas formas de aprender a estudar.

Com o uso da Internet na nossa vida podemos ver que tudo mudou até para pegarmos
um caminho, antes olhamos o Google para ver como esta o tempo e o caminho que
iremos percorrer, assim também como antes de ir a um lugar ou fazer aquela viagem
desejada, pesquisamos as informações sobre onde ficar, onde se alimentar e
também como chegar no lugar e olhamos as fotos também, já chegamos no lugar cheio
de informações sobre aquele local, podemos saber também o seu espaço
geográfico, sua vegetação e qual a quantidade da sua população, a sua língua o seu
dinheiro, todas essas informações sobre o lugar passar Onde desejamos ir encontramos
no ciberespaço. Podemos então entender que ele está cheio de informações sobre todo e
qualquer assunto e está também em transformação por que estamos alimentando o
Ciberespaço o tempo todo de novas informações.
Saiba Mais:

Google é uma empresa multinacional americana de serviços online e software.

O Google surgiu no ano de 1998, como uma empresa privada, e com a missão de
organizar a informação mundial e torná-la universalmente acessível e útil. O termo
Google tem origem na matemática, google vem de googol, que é o número 10100, ou
seja, o dígito 1 seguido de cem zeros. O googol não tem qualquer utilidade, a não ser
para explicar a diferença entre um número imenso e o infinito, e devido a sua
magnitude, os fundadores da empresa Google resolveram adaptar o termo para dar o
nome a sua empresa.
Fonte: https://www.significados.com.br/google/
Não podemos deixar de lembrar que com toda a tecnologia, nenhum meio de
comunicação desaparecerá, assim como quando surgiu a televisão o rádio não
desapareceu.

Capitulo 02

Movimentos Sociais.

Os movimentos Sociais da internet, não tem nenhuma aparência com os movimentos


sociais que conhecemos e que estamos acostumados a ver na mídia, como o Movimento
Sem terra (MST). A presença de três princípios faz com que o crescimento do
ciberespaço se torne possível.

1- Interconexão
2- Comunidades Virtuais
3- Inteligência Coletiva

Lembrando que o real, jamais irá substituir o real, ela multiplica as possibilidades da
internet para atualiza-lo, pois como já falamos aqui o ciberespaço está em
transformação a todo o momento.

A Interconexão é a ligação entre os computadores que passa a informação, armazena a


informação e repassa a informação. Não há mais emissores e receptores como dois
grupos distintos e mensagem estática, parada, tanto quem manda a mensagem é o
emissor e o receptor, pois ele manda e também recebe a mensagem. Com o ciberespaço,
a mensagem não precisa de um espaço físico para acontecer, pois toda a mensagem fica
localizada na nuvem. Qualquer pessoa pode colaborar com a mensagem, reforçar laços
de afinidade que se constroem com as no ciberespaço. Quem ai tem amizade que só
conhece pela internet e nunca viu de verdade ???
A Cibercultura aponta para uma civilização da telepresença
generalizada. Para além da física da comunicação, a
interconexão constitui a humanidade em um continuo sem
fronteira, cava um meio informacional oceânica, mergulha os
seres e as coisas no mesmo banho da comunidade interativa. A
interconexão tece um universal por contato.

(Levy, 2010 pag. 129)

Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paradigma_da_Complexidade.jpg
Comunidades Virtuais.

Conhecidas como CMC- Comunidades Midiatizadas pelos computadores. Sendo todo e


qualquer movimento que se constroem a partir do local onde se mora , podendo ser toda
e qualquer relação espiritual, relacionamento, criando assim identidades e se sentindo
representado pela aquela comunidade, ajudando e aumentando o processo de
globalização.

Para existir essas relações não tem necessidade de espaço físico, as distancias físicas
não tem mais importâncias pois arquivos de qualquer tamanho podem ir para qualquer
lugar do mundo ainda mais rápido e menores.

Para o autor André Lemos, as comunidades virtuais se agregam em torno de interesses


comuns, independes das fronteiras ou espaços onde as pessoas convivem .

Não temos mais a necessidade de encontrar e ficar de frente para as pessoas para
conversar ou para resolver qualquer problema, para que seja realizado alguma conversa
até eventos ao mesmo tempo podem acontecer sem afetar as pessoas sendo do mesmo
horário e sem ter a necessidade de se estar no mesmo lugar com tudo mundo junto, a
internet fez com que as pessoas tivessem qualquer tipo de relação mesmo a milhares de
distancia um do outro.

Então podemos afirmar que, a comunidade virtual é a criação e laço social que não
existiria se os computadores não estivessem ligados um nos outros.
Fonte: https://pplware.sapo.pt/informacao/a-evolucao-das-comunidades-virtuais/

Saiba mais.

Bom, do e-mail para as comunidades virtuais é um passo. Todo mundo já participou


de uma comunidade virtual, pelo menos uma vez na vida. E se apaixonou, e amou, e
brigou, e se desiludiu, e se separou - e prometeu nunca mais participar de uma
comunidade virtual (na vida). [Pra mim, chega.] Existem várias teorias sobre porque as
comunidades virtuais não dão certo - ou porque dão certo apenas durante algum
tempo. Uma delas se refere justamente ao e-mail. O e-mail é também uma arma.
[Vocês sabiam? Sabiam, lógico que sabiam.] Uma forma de se ser sincero ao extremo.
O grande absurdo da franqueza. No limite da ofensa e, muitas vezes, para além da
ofensa, direta e aberta. Algumas vezes, nem se falando o que realmente se pensa,
mas apenas querendo ofender, pura e simplesmente. E, se Eliot estava certo, o ser
humano não consegue suportar, assim, tanta realidade. As verdades (ou inverdades)
vão sendo cuspidas na cara do sujeito. Com uma coragem que o remetente (do e-
mail) jamais demonstraria pessoalmente. Mesmo que depois se arrependa, o e-mail já
foi, já chegou, já ofendeu, já arruinou a comunidade virtual para sempre.

Fonte:
http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=913&titulo=A_internet_
e_as_comunidades_virtuais
Inteligências Coletivas.

Os amigos se encontram por afinidades, gente que gosta de cachorro da raça pastor
alemão, se junta com gente que gosta de cachorro da raça pastor alemão e assim as
afinidades são construídas, onde a troca de informações, e esclarecimento de duvidas
sobre os cachorros da raça pastor alemão iram acontecer mais rápido e serão as mais
corretas porque todas as pessoas que estão reunidas ali naquele grupo tem o mesmo
interesse, e a troca vai acontecer por causa da interconexão que já falamos no começo
do capitulo.

Para o autor Pierre Lévy em seu livro Cibercultura (1999, p.14), voltamos a ser
nômades, mas não se trata de viajar a negócios ou passeios turísticos por regiões
geográficas: “O espaço do novo nomadismo não é o território geográfico, nem o das
instituições ou o dos Estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes,
potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras
de construir sociedade”. Assim, nós, nômades, sem mapas para serem seguidos frente à
paisagem que rapidamente muda e tudo transforma, poderíamos nos engajar na via da
inteligência coletiva, concentrando nossas forças, multiplicando experiências, buscando,
em tempo real, soluções para problemas complexos.

Podemos afirmar então que a Inteligência coletiva, são onde as inteligências são
somadas e multiplicadas, cada um dar um pouco o que sabe e assim construímos uma
informação completa e também alimentamos e atualizamos o ciberespaço de
informações novas. Sendo assim uma inteligência distribuída por toda parte.

Antes das redes sociais, as pessoas se juntavam para falar do mesmo interesses se
trocavam informações via e-mail, depois surgiu o Orkut que foi a 1 rede social , onde as
pessoas se juntavam por afinidades nas “ comunidades” , tinha comunidades de todos os
assuntos, as mais polemicas era “ eu ódio acordar cedo”, onde tinha mais de 1 milhão
de participantes. O Orkut foi desativado no dia 30 de Setembro de 2014, depois da
migração para o Facebook a rede social do momento, o Orkut foi desativado e assim
dando fim as comunidades, portanto a nova rede social Facebook, criou os grupos
fechados, com o mesmo intuito das comunidades, para pessoas com interesses comuns
tivessem seus espaços reservados para solucionar duvidas, resolver questões e para
conversar mesmo.

Saiba mais.

Orkut foi uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada
em 30 de setembro de 2014. Seu nome é originado no projetista chefe, Orkut
Büyükkökten, engenheiro turco do Google.
O alvo inicial do orkut era os Estados Unidos, mas a maioria dos usuários foram
do Brasil e da Índia. No Brasil a rede social teve mais de 30 milhões de usuários, mas foi
ultrapassada pelo líder mundial, o Facebook. Na Índia também foi a segunda rede social
mais visitada.
A sede do Orkut era na Califórnia até agosto de 2008, quando o Google anunciou que o
Orkut seria operado no Brasil pelo Google Brasil devido à grande quantidade de usuários
brasileiros e ao crescimento dos assuntos legais.
Apesar de Orkut ser um nome próprio, na programação visual do site (títulos e logos) a
palavra está em minúscula (orkut). Em 30 de junho de 2014, a Google anunciou a
extinção do Orkut com data marcada para 30 de setembro deste mesmo ano. No dia 30
de setembro de 2014, o Orkut foi extinto, mas o Google criou um museu de comunidades,
que reúne mais de 1 bilhão de mensagens trocadas em 120 milhões de tópicos de
discussão de cerca de 51 milhões de comunidades. As informações armazenadas pelos
usuários ficaram disponíveis para download pela ferramenta Google Takeout até 30
setembro de 2016
O Facebook
Capitulo 03

MÍDIA, CONSUMO E INFÂNCIA: UM ESTUDO SOBRE A


INFLUÊNCIA DA YOUTUBER MIRIM BRASILEIRA
JULIANA BALTAR PARA O CONSUMO INFANTIL

O desenvolvimento das tecnologias de comunicação permitiu diversos avanços, tendo


como destaque a interação, que por sua vez beneficiou a propagação e refinamento de
ideias de diversos campos de conhecimento e movimentos sociais, como feminista,
ambientalista, indígena entre outros, Mesmo que muitas pessoas ainda não tenham
conseguido se adequar às plataformas digitais, a cada dia o número de usuários da rede
só aumenta, especialmente das redes sociais, pois além de trazer comodidade por ser
uma ferramenta prática e rápida, facilita também a interação entre pessoas que moram
longe e que necessitam manter contato entre si.

Sabemos da relevância que as mídias sociais (especialmente as redes sociais ) possuem


na rotina das pessoas, que parecem cada vez mais dependentes do ambiente virtual para
desenvolver desde atividades simples às mais complexas. Portanto, é através destas
mídias que as pessoas buscam informação por considerarem mais dinâmicas e por
proporcionar a participação através de comentários de modo imediato, deixando de lado
a mídia tradicional. Segundo Eudson Rocha e Lara Moreira Alves (2010):

Mediada pelos meios digitais, a sociedade vive uma


amplificação de vozes, onde as pessoas estão aprendendo a
compartilhar pensamentos, ideias e experiências através de
novos modos de produzir e consumir conteúdos. A realidade se
confunde com o virtual e vice-versa e o comportamento social
se altera, perdendo suas amarras e abrindo espaço para a fluidez
de informações, comportamentos e relacionamentos. (ROCHA;
ALVES, 2010, p. 222).
Com o aumento exponencial do número de usuários, as redes sociais adquirem cada vez
mais importância, e em um verdadeiro círculo vicioso, esta importância maior atrai
ainda mais usuários. Assim, com um público cada vez maior e ansioso por consumir
informações diversas, não demorou para que alguns usuários percebessem as redes
sociais como forma de se destacarem, conseguindo ressonância para suas ideias e,
consequentemente legiões crescentes de admiradores. Com o tempo, estes pioneiros
descobriram que era possível lucrar com o aumento de fãs, usando de sua influência
para orientar os hábitos daqueles que os seguem.

Mas não são apenas adultos que acessam as redes sociais. Embora a política de uso de
diversas destas redes deixe claro que se destinam a esta faixa etária, é perceptível o
crescimento de usuários também entre as crianças e ainda mais entre adolescentes. Se a
mídia tradicional já tinha as crianças como público fundamental para a orientação de
consumo, logo percebeu-se que as redes sociais facilitariam ainda mais para que as
mensagens cheguem diretamente a estes pequenos consumidores.

Contudo, deve-se fazer antes uma reflexão sobre a espetacularização da sociedade, que
é uma das facetas da sociedade do consumo e essencial para que se compreenda como
as crianças são atraídas e incorporadas ao mercado consumidor. Segundo Guy Debord
(2003), o espetáculo é a afirmação da aparência. Relacionamos essa afirmação com o
consumo exagerado por parte das crianças. Na sociedade do espetáculo, a economia se
desenvolve para si mesma, para o interesse dos produtores, por isso que essa espécie de
hipnose acontece através da publicidade infantil. O que é real vira imagem e as imagens
tornam-se reais.

As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-


se num curso comum, de forma que a unidade da vida não mais
pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente
reflete em sua própria unidade geral um pseudo mundo à parte,
objeto de pura contemplação. A especialização das imagens do
mundo acaba numa imagem autonomizada, onde o mentiroso
mente a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão
concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo
(DEBORD, 2003, p.8).
Diante do exposto, percebemos a crítica que Guy Debord (2003) faz à sociedade que se
relaciona por meio de imagem e espetáculo, não mais pessoalmente, mas de modo
individual. É o caso das crianças que buscam as mídias digitais ao invés da família
quando tem uma curiosidade ou necessitam adquirir conhecimento.

Segundo Ulla Carlsoon e Cecilia Von Feilitzen (1999, p. 37), é


desafiador falar sobre criança e mídia, uma vez que é um tema
que agrupa acesso à informação, proteção e participação, que
são três aspectos fundamentais dos direitos da criança. Ao
mesmo tempo em que se dá à criança a oportunidade de usar os
seus direitos, coloca-se em jogo sua formação social, assim
como seus valores e princípios, uma vez que a mídia visa
principalmente o lucro e representa uma influência, muitas vezes
perigosa, para o desenvolvimento pessoal e, ainda, intelectual da
criança.

Segundo Zygmunt Bauman (2000), em seu livro “A Modernidade Líquida”, as crianças


são capazes de opinar em relação ao consumo da família. Elas são cada vez mais
influenciadas pela mídia e ajudam a decidir o que é importante comprar para vestir,
comer ou qual o melhor lugar para onde ir. Consideramos importante fazer a análise da
relação que a mídia tem com o que as crianças consomem e com o comportamento delas
diante da internet para compreendermos a sociedade como um todo.

Analisaremos os vídeos de uma criança que é consumidora e uma possível influência ao


consumo para outras crianças oriunda dos conteúdos das suas postagens. Observamos
dois vídeos do canal da “Youtuber” Juliana Baltar para averiguar a influência das
mídias no consumo de outras crianças, a partir do contato e produção constantes da
publicidade infantil, utilizando vídeos em Mídias Sociais.

As crianças, como futuros adultos, recebem ensinamento na escola, na família e também


na mídia, que é fonte de informação. É importante para que compreendamos a
influência da mídia na infância, a forma como as crianças se comportam diante das
mídias digitais e como pensam a partir do contato com as mídias socias. O Youtube é
uma mídia social onde é possível compartilhar vídeos, assim como interagir por meio de
comentários com as pessoas que visualizam esses vídeos, que seguem os canais ou
“curtem” a postagem. Assim como a televisão, dispõe de padrões e tendências para o
consumo infantil.

A mídia se faz necessária em nosso cotidiano a fim de nos manter informados o tempo
todo e também para que possamos expor pensamentos, compartilhar opinião, visão de
mundo. A revista Debates (2007) a define como:

[...] mídia é utilizada no mesmo sentido de imprensa, grande


imprensa, jornalismo, meio de comunicação, veículo. Às vezes,
é citada no plural, mídias, num esquecimento - deliberado ou
não - de sua origem latina como plural de médium (REVISTA
DEBATES, 2007, SN).

Com o advento da internet, mais precisamente do Youtube, essa forma de expressão


ganhou mais força e tornou-se ainda mais frequente, estando a informação cada vez
mais próxima. Segundo Amorim; Castro (2010), é possível ter informação com maior
agilidade, uma vez que os dispositivos móveis evoluíram favoravelmente para
desempenhar múltiplas funções de modo mais confortável para o público que busca e
produz informação.

As possibilidades de conexão generalizada por meio de redes de


amplo alcance e mediada por dispositivos fixos ou móveis como
computadores, palms, laptops, GPS, Wi-fi, Bluetooth, telefones
celulares, oferecem condições para que os usuários possam
construir o seu próprio ambiente de comunicação e interação
social (AMORIM; CASTRO, 2010).
Diante do exposto, passamos a desconsiderar a ideia de que o usuário da informação
possui apenas uma relação passiva e acreditamos que é possível também que ele
produza informação, o que torna a mídia um elemento cada vez mais comum e
necessário ao dia a dia.

O consumo, em uma linguagem comum, segundo Canclini (2010) na obra


“Consumidores e Cidadãos”, seria incentivado pelos meios de massa, como um
processo onde essas massas seriam levadas a um materialismo inevitável.

Uma zona propícia para comprovar que o senso comum não


coincide com o bom senso é o consumo. Na linguagem
corriqueira, consumir costuma ser associado a gastos inúteis e
compulsões irracionais. Esta desqualificação moral e intelectual
se apóia (sic.) em outros lugares – comuns sobre a onipotência
dos meios de massa, que incitariam as massas a se lançarem
irrefletidamente sobre os bens (CANCLINI, 2010, p. 59).

Canclini (2010) também aponta que seria inadequado enxergar o consumo como um
procedimento vertical, que atinge um público passivo, havendo relações de colaboração
e transação.

Se as pessoas adultas voltam o seu comportamento para o que a mídia sustenta, não
seriam as crianças a parte da sociedade que se desviaria dessa influência. A criança
torna-se alvo da hipnose que a publicidade lança constantemente ao seu receptor,
havendo o desejo de consumir a partir dos padrões ali afirmados.

Souza (2007), em relação à criança, afirma:

[...] Diferentemente, considero a criança como sujeito social


individual, que carrega desde o nascimento as expectativas
sociais e ao desvendar o mundo e mergulhado nele aprende ou
pode aprender a se constituir Indivíduo, alegoricamente como
espécie de um cristal, é pedra pois sedimentada pela formação
geológica; todavia o desenho toma forma própria [...] (SOUZA,
2007, p.74)

Diante do exposto, notamos que a criança tem a capacidade de se moldar, de forma


individual, perante a sociedade. A publicidade infantil cresce à medida que o acesso às
mídias, por parte das crianças, vem se intensificando.

Segundo a Agência ANDI (2009, p.13), “A descoberta de que as crianças e os


adolescentes constituem mundialmente um mercado rentável tem ocasionado o
desenvolvimento do marketing infantil e a intensificação da publicidade dirigida a este
segmento.” Ela está na programação da televisão, do rádio, nas ruas e, principalmente,
são veiculadas no meio digital. O interesse da publicidade neste público se dá pela
facilidade de convencimento, pela inexperiência da infância. O marketing infantil,
segundo Alexandra Sobral Carreira,

[...] está nas ruas. Antes apenas limitado a estratégias de


comercialização de brinquedos e conteúdos televisivos ou
cinematográficos, cada vez mais se tem tornado um ponto
fulcral de atracção por parte das marcas, e não só as
exclusivamente dedicadas aos mais novos (CARREIRA, 2008,
p.112).

É importante refletir sobre os efeitos da mídia, principalmente depois de atingir o


público infantil e tornar-se parte do cotidiano das crianças. Como afirma a Agência
ANDI (2009, p.10), “É nessa relação ordinária com as mídias que eles descobrem e
constroem reconhecimento acerca da sociedade em que vivem e do modo como eles se
vêem [sic] e são vistos por essa mesma sociedade.” As mídias servem, portanto, como
referência para crianças e jovens, principalmente no que diz respeito ao consumo.

É comum que o público infantil utilize as mídias sociais como forma de entretenimento
ou como fonte de informação. Também encontramos crianças produzindo publicidade
para outras crianças por meio de Fan Page , nos seus perfis ou em canais no Youtube
que são ferramentas que possibilitam induzir ao consumo. São também youtubers
mirins: Eloah, 9 anos, São José dos Campos-SP, com o canal Eloah e diversão ; Julia
Silva , 11 anos, São José dos Campos-SP, que tem um canal com o seu nome.

O Youtube é uma mídia social onde é possível criar canais que se compartilham vídeos
sobre diversos assuntos. Nesta mídia, é possível conversar com as pessoas inscritas nos
canais ou com quem assistiu ao vídeo e deixou um “gostei” por ter se identificado com
o conteúdo. Essa mídia foi selecionada para ser analisada, porque é bastante utilizada
pelas pessoas que desejam se expressar, por meio de vídeos, sobre temas diversos e
porque pode ser utilizada para aumentar o consumo através da publicidade e do
marketing.

O objeto de estudo é a Youtuber mirim Juliana Baltar que, aos nove anos de idade,
possui mais de 2.008.999 inscritos e 646.198.903 visualizações em seu canal. A escolha
se deu devido ao sucesso alcançado pela criança com os vídeos postados
frequentemente, já que outras crianças também produzem esse tipo de conteúdo, mas
não atingem os números de visualizações, nem de seguidores que Juliana Baltar
conquistou. Durante a análise, o objeto de estudo será referido como “Juliana Baltar” ou
“Youtuber Mirim”. É válida a observação da alteração no número de visualizações, de
seguidores, “Gostei”, “Não Gostei” e de comentários em seus vídeos a cada acesso para
a análise. Os números aumentaram cada vez que o canal foi consultado.
1 Imagem principal do canal Juliana Baltar

Para este trabalho, foram escolhidos 2 (dois) vídeos que foram selecionados levando em
consideração o número de visualizações e o conteúdo deles, pois buscaram-se vídeos
onde a Juliana Baltar pudesse induzir outras crianças ao consumo.

Além disso, nota-se que o conteúdo dos vídeos desta youtuber mirim, muitas vezes,
envolve brinquedos e lugares, havendo um destaque para certas marcas e nomes de
estabelecimentos. Partindo do pressuposto de que vivemos em um mundo voltado para
o consumo, houve a curiosidade de analisar os vídeos para verificar se havia o incentivo
por parte da youtuber mirim para o consumo infantil.

Nesta pesquisa, foi feita a análise de conteúdo de dois vídeos do canal do Youtube
pertencente a Juliana Baltar que faz bastante sucesso entre as outras crianças devido as
temáticas, os brinquedos e as brincadeiras ali abordados.

O primeiro vídeo selecionado foi postado no dia 1 de outubro de 2016. Com


aproximadamente 1.713.754 visualizações, 6.336 comentários, mais de 34 mil “Gostei”
e mais de 6 mil “Não gostei”, o vídeo mostra Juliana Baltar em um dia de princesa em
um salão de beleza de um shopping do Rio de Janeiro. O nome do salão é “Princesas
beauty & party”. Lá a criança recebeu massagem, fez as unhas, arrumou o cabelo e fez
maquiagem, o que representa uma influência para que outras meninas façam o mesmo.

Ela enfatiza o nome e o endereço do estabelecimento no fim da gravação, além dos


contatos e informações sobre o salão contidos na descrição do vídeo. Os comentários
dos vídeos, a maioria positivo, são feitos por outras crianças ou pais que falam em nome
delas, declarando sua admiração pela Youtuber Mirim. Outros aproveitam para divulgar
seu canal enquanto elogiam Juliana Baltar.

2 Vídeo 1: Dia De Princesa!

Já o segundo vídeo, que foi postado dia 31 de maio de 2016, mostra a criança abrindo os
seus presentes de aniversário. Percebemos uma alegria maior quando abre presentes que
são brinquedos de marcas famosas e ao mostrar o presente que mais gostou, dado pela
família: um aparelho celular.

O vídeo tem quase 16 minutos e exibe a youtuber mirim abrindo os presentes que
ganhou no seu aniversário de 9 anos. Possui mais de 3 milhões de visualizações, quase
75 mil “Gostei”, mais de 5 mil “Não gostei” e mais de 12 mil comentários.
3 Vídeo 2: abrindo meus presentes de aniversário!

O Youtube é utilizado por Juliana Baltar e outras crianças, que também são youtubers,
com intuito de se divertir, logo causando outro efeito – a fama – devido à criatividade
com que produzem seus vídeos e por falar diretamente com o seu público: outras
crianças.

Youtubers são pessoas que trabalham publicando vídeos com temas diversos na rede
social Youtube e ganham dinheiro de patrocinadores que, em troca, ganham a
divulgação de suas marcas nos vídeos que eles produzem e a participação dos youtubers
em seus eventos. O público de cada youtuber varia de acordo com os tipos de vídeos
que ele posta, dependendo da sua temática, da frequência com que publica e da
linguagem que utiliza.

Segundo Silva (2016), a sociedade está em busca de novidades para consumir, aceita
muito rápido as tendências, mas também as esquecem rapidamente.
[...] da mesma forma que uma nova rede social é capaz de se
tornar, quase imediatamente, o assunto do momento, pode em
meses ser esquecida após o surgimento de uma nova, pois a
sociedade não tem a mesma visão temporal, buscando sempre
serviços e mercadorias ágeis. Assim, cada vez é mais difícil
entender os desejos do consumidor. Isso faz com que as marcas
busquem diferentes formas de chamar a atenção do público e
convencê-lo de que seu produto é o melhor, muitas vezes
utilizando as celebridades, pessoas com alta credibilidade, para
representá-las e influenciar pessoas (SILVA, 2016, p.5).

Escolhemos um vídeo para ser analisado no qual Juliana Baltar passa o dia em um salão
de beleza do Rio de Janeiro. O momento é chamado por ela de “dia de princesa”, porque
assim como a maioria das meninas da mesma idade que ela (9 anos), a youtuber mirim
aprecia a cor rosa e todo o tratamento que a faz se sentir, de fato, uma princesa.

Este vídeo mostra Juliana Baltar em duas faces: ora criança, com sonho de princesa,
alegre e ansiosa por estar ali, ora adulta, passando por procedimentos estéticos comuns a
mulheres e não a meninas.

No início do vídeo, a youtuber mirim aparece ainda com a aparência natural, cabelos
soltos e enfeite no cabelo que as crianças costumam usar. Ao longo do vídeo, ela vai se
comportando como adulta, principalmente quando está fazendo as unhas dos pés e
tomando algo em uma taça semelhante à que os adultos utilizam para tomar champanhe
e também ao final do vídeo, quando desfila toda caracterizada como adulta.
4 Vídeo 1: Dia De Princesa!

Pode-se associar o que acontece com Juliana Baltar no vídeo, e com muitas outras
crianças, à adultização da infância, definida por Cristhiane Ferreguett (2014).

Não associamos o processo de adultização à morte ou fim da


infância. Compreendemos que a criança, normalmente, tem o
adulto como um modelo a ser seguido, uma espécie de artifício
de sobrevivência num mundo predominantemente adulto.
Certamente, ela aprende a copiar e reproduzir o modelo
consumista que está sendo oferecido (CRISTHIANE
FERREGUETT, 2014, p. 70).
Ferreguett (2014) chama atenção para o que a mídia comercializa, alegando que além de
produtos, vende valores e atitudes, o que faz com que a criança se comporte e se
caracterize como um adulto. Juliana Baltar demonstra essa adultização ao se embelezar
e ficar parecida com uma mulher.

As crianças sofrem influência da mídia, principalmente da publicidade. Por isso, elas


seguem o modelo do adulto que admiram e dos anúncios. Segundo Adriana Ferreira
(2015),

[...] a criança, embora reconhecida como portadora de


inteligência extremamente ativa, esteja mais exposta às
mensagens publicitárias, não tendo condições de perceber e
avaliar o caráter de parcialidade das informações, de entender
que as mesmas representam o ponto de vista de um anunciante.
(FERREIRA, 2015, p.2)

A princípio, a youtuber mirim anuncia que vai ter um dia de princesa e convida os seus
seguidores para vê-la receber uma massagem com pepinos nos olhos. Ela não deixa de
enfatizar que está muito feliz, que está adorando estar no salão. Depois do momento de
relaxamento, Juliana faz as unhas, primeiro das mãos, onde utiliza a cor rosa, indicando
seu gosto infantil para o esmalte. Enquanto está fazendo as unhas dos pés, Baltar bebe
algo em uma taça também cor de rosa e brinda, como um adulto com champanhe.
Enquanto isso, o nome do estabelecimento é mostrado outra vez. O gosto dela entra em
contradição com o seu comportamento, ora criança, ora adulta.

Chegado o momento em que vai fazer o cabelo, Juliana não escolhe um penteado,
escolhe escova e chapinha, além de um aplique de mechas coloridas, assim como a
mídia destaca como padrão de beleza. O vídeo é finalizado quando a youtuber mirim,
maquiada como uma adulta, com os cabelos lisos, desfila sob o efeito do ventilador,
como em um comercial. A menina não deixa de dizer mais uma vez que “amou” o dia
especial proporcionado pelo salão. Antes de finalizar, disponibiliza o contato e o
endereço do salão de beleza.
As crianças, geralmente, mostram-se consumistas quando a família possui o mesmo
comportamento. E, principalmente, em decorrência do conteúdo da mídia com o qual
elas têm contato. Segundo Alexandra Sobral Carreira (2008), o consumo infantil é
influenciado pelo comportamento dos pais que levam os filhos para as compras.

Nunca nos devemos esquecer que os encarregados de educação


desempenham um papel fundamental na literacia do consumo
infantil, já que influenciam os seus comportamentos directa e
indirectamente, quer através dos ensinamentos transmitidos
sobre este tema, quer através da observação por parte das
crianças quando acompanham os pais às compras (CARREIRA,
2008, p. 44).

Juliana Baltar também disponibilizou na descrição do vídeo o endereço e os contatos do


salão Princesas Beauty & Party. Esse vídeo possui mais de 6 mil comentários, a maioria
é de outras crianças que admiram a Juliana Baltar e gostam realmente dos seus vídeos.

A divulgação que Juliana Baltar fez para o salão carioca Princesas Beauty & Party se
trata de uma estratégia para atrair mais crianças, aumentar o consumo infantil, fazer
com que elas sintam necessidade de ir àquele estabelecimento e, por sua vez, que
convençam os seus pais.

As campanhas publicitárias fazem uso da infância para


oferecerem produtos às crianças, ao mesmo tempo que são co-
mediadoras de um discurso dirigido ao adulto. A criança
participa em anúncios de seguros de vida, carros ou telemóveis,
e através dos seus atributos de inocência, pureza e veracidade,
os anunciantes apelam à lógica de consumo dos pais
(CARREIRA, 2008, p.12).
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=bjFtKFvq8fI

5 Vídeo 2: Abrindo Meus Presentes De Aniversário!

No segundo vídeo, Juliana Baltar abre os presentes recebidos em sua festa de


aniversário de 9 anos. São muitos presentes e a maioria é brinquedo ou acessório para
bonecas. A criança se mostra satisfeita e sorridente a cada presente que abre, no entanto,
é possível perceber uma maior empolgação para os brinquedos e para o último presente
que será mostrado. Portanto, existe uma diferença de reação ao abrir os presentes que
são brinquedos ou pelúcias e os que são roupas ou cosméticos.

É afirmado por Hermano Roberto Thiry-Cherques (2010), baseando-se na obra de


Baudrillard, que, na sociedade do consumo, o valor está no significado das coisas, nas
ideias.

Está no sentido que o objeto empresta à existência, sentido esse


fornecido desde o exterior, condicionado culturalmente,
codificado e introjetado pelas mídias. Os objetos adquiridos não
são os que o trabalhador produziu. Não são de sua escolha os
objetos de vestir, de morar, de transportar. São imposições
publicitárias. A tecnologia que diverte é a mesma com que se
trabalha. Obedece a um esquema de sedução. Supõe-se uma
escolha racional e livre, mas não há nem escolha nem libertação
pelo consumo (THYRY-CHERQUES, 2010, SN).

Diante do exposto, é possível considerar que o consumo se dá de maneira involuntária,


uma vez que somos seduzidos o tempo todo e consumimos pelo prestígio que os
produtos podem nos proporcionar.

6 Vídeo 2: Abrindo Meus Presentes De Aniversário!


Sobre o fetiche, Thyry-Cherques (2010) acrescenta que o valor das coisas não está na
sua produção, mas no significado que ela pode trazer para as pessoas, o status. Não há
uma necessidade real de uma mercadoria, mas a necessidade de consumir pelo status.

Baudrillard sustentou que o fetichismo da mercadoria, um


atributo do valor de troca, não do seu valor de uso, foi
ultrapassado pelo valor sígnico. A racionalidade do signo se
autoatribui um valor em si: compram-se e vendem-se marcas
sem levar junto a materialidade da empresa, das pessoas, do
trabalho ali simbolizada. A racionalidade da produção real, do
trabalho real, se encontra totalmente esvaziada (THYRY-
CHERQUES, 2010).

7 Vídeo 2: Abrindo Meus Presentes De Aniversário!


Segundo Bauman (2007), os excessos não são excessivos o suficiente, ou seja, quanto
mais se consome, maior o desejo de consumir.

E assim, permitam-me repetir, uma sociedade de consumo só


poder ser uma sociedade do excesso e da extravagância – e,
portanto, da redundância e do desperdício pródigo. [...] As vidas
dos consumidores tendem a continuar sendo sucessões infinitas
de tentativas e erros (BAUMAN, 2007, p.112).

Diante do exposto, podemos considerar que as crianças comportam-se como


consumidoras também devido a esses excessos que parecem não satisfazê-las. Juliana
Baltar, além de consumidora, torna-se influência para outras crianças que a assistem.

Ao longo do vídeo, faz suspense em relação ao presente coletivo que ganhou da mãe, do
pai e da irmã, alegando que é o presente do qual ela mais gostou. Isso faz com que as
pessoas que lhe assistem criem expectativas e curiosidade para saber desse presente.
Depois de abrir o último presente, ela mostra o celular e diz que amou e reforça que foi
o presente que ela mais gostou, sem dúvida.

Neste vídeo, a youtuber mirim tem a oportunidade de mostrar todos os seus presentes da
festa de aniversário de nove anos, deixando transparecer a sua preferência em relação ao
que gosta de ganhar. Sua “euforia” diante de alguns presentes pode significar a
influência para outras crianças que assistirem ao vídeo, caracterizando o marketing
infantil feito por youtubers mirins. Como afirmado por Alexandra Carreira (2008):
“Qualquer acção de marketing infantil está dependente de um envolvimento emocional
entre uma marca e os consumidores mais jovens.” Portanto, a influência ao consumo
acontece de maneira intensa neste vídeo.

A sociedade que, segundo Guy Debord (2003), se relaciona por meio de imagens e
espetáculo faz o uso de mídias digitais para atingir este proprósito de uma maneira mais
dinâmica. O Youtube é utilizado por crianças para que elas se comuniquem e se
expressem diante do restante da sociedade.
A influência ao consumo acontece a partir do contato intenso das crianças com essas
redes sociais, seja assistindo ou produzindo vídeos que façam a exibição de produtos,
menção de marcas ou estabelecimentos.

Ao longo desta pesquisa, percebemos que Juliana Baltar, o objeto desse estudo, que
começou a fazer gravações para o seu canal desde o ano de 2014, contabiliza mais de
dois milhões de inscritos em seu canal, sendo crianças ou pais de crianças. O número de
visualização, “gostei” e “não gostei” e de comentários em seu canal estão relacionados
ao tipo de conteúdo que Juliana Baltar se propõe a produzir em seus vídeos, sempre
com temáticas que envolvam seus brinquedos de marca ou estabelecimentos renomados.

Analisando os vídeos “Dia de princesa” e “Abrindo meus presentes de aniversário”, é


possível perceber a intenção de promover tanto o estabelecimento onde Juliana Baltar
faz os procedimentos estéticos, quanto as marcas e a loja de calçados Redley, além do
que, a youtuber mirim demonstra bastante apego e felicidade diante da aquisição de um
aparelho celular, um moto G 3ª Geração.

As dificuldades para esta pesquisa se deram na seleção dos vídeos para análise, uma vez
que Juliana Baltar produz conteúdo que faz o uso de bonecas e brinquedos, brincadeiras
e encenações.

Poder observar nos vídeos de uma youtuber mirim um apelo publicitário, a influência ao
consumo, é bastante enriquecedor para a formação social e profissional de qualquer
área, já que a criança representa o adulto do futuro. Além disso, foi constatada a
adultização da infância quando ela se caracteriza como uma adulta,usa maquiagem e
alisa os cabelos, e quando sente necessidade de usar aparelho celular, como um adulto
que necessita se comunicar em qualquer lugar e por isso utiliza. Portanto, Juliana Baltar
contribui para o consumo infantil a partir da sua influência perante as outras crianças
que assistem aos seus vídeos.

Capitulo 04
“Existir é, de maneira crescente, estar ligado
a tela e interconectado nas redes”

Gilles Lipovetsky, 2007, p.257

A citação de Gilles Lipovetisky aponta com clareza uma situação comum nos
dias de hoje. Estamos vivendo a era da tela/ecrã global, isto é, a “ecrãnoosfera”, onde
um fluxo de imagens circula em telas. Nos aeroportos, restaurantes, bares, elevadores,
metrôs, carro, aviões, por todos os lugares encontramos telas, sejam telas planas ou
portáteis, elas se proliferaram em todas as dimensões.
Dentro dessa moldura, como se reconfigura o corpo humano na onipresença de
telas que se interconectam? Qual a relação do nosso corpo com a tecnologia? Que corpo
é esse no mundo das redes, já que é um único corpo que trabalha em dois ambientes: on
line e off line? Desde logo, o corpo, como objeto de estudo apresenta-se do ponto de
vista da teoria corpomídia (Katz e Greiner, 2005), onde a mídia à qual a teoria se refere
diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão constituindo o
corpo, isto é, a informação é transmitida em processo de contaminação.
Esse corpo sob constante interrogação tornou-se um problema na entrada do sec.
XXI e tem ocupado o centro dos questionamentos sobre o que é ser humano diante de
tantas invenções tecnológicas. O corpo biocibernético, o corpo interfacetado, pós-
humano e tudo que tange a relação corpo-tecnologia foram discutidos a exaustão, mas
pouco espaço é dedicado para as mudanças de ordem cognitiva promovidas pelas
distintas tecnologias, ou seja, pouco se investiga sobre a transformação do corpo diante
das formas de comunicação que continuam a ser inventadas. Portanto, para lidar com o
mundo das redes sociais na internet, alguns conceitos devem ser rearticulados, já que
esse corpo ativo e em constante transformação, a partir das relações com o meio
ambiente, reconfigura-se na vida permanentemente on line.

“TODO CORPO É CORPOMÍDIA”


A palavra corpo pode ser empregada em sentidos distintos. Portanto, ao tratar
do corpo é preciso deixar claro de que corpo se fala. No presente artigo, devemos
compreender o corpo “como sendo um contínuo entre o mental, o neuronal, o carnal e o
ambiental” (GREINER, KATZ, 2001, p.89). Não se separa corpo, mente, self e psique.
De acordo com Greiner (2005) o corpomídia é um conjunto de informações, que se
esforça para compreender como funciona. Explica a autora:

O corpo não é um meio por onde a informação


simplesmente passa, pois toda informação que chega
entra em negociação com as que já estão. O corpo é
o resultado desses cruzamentos, e não um lugar onde
as informações são apenas abrigadas. É com esta
noção de mídia de si mesmo que o corpomídia lida,
e não com a idéia de mídia pensada como veículo de
transmissão. A mídia à qual o corpomídia se refere
diz respeito ao processo evolutivo de selecionar
informações que vão constituindo o corpo. A
informação se transmite em processo de
contaminação.

Portanto, não é um corpo embalagem, moldado, mas um corpo em fluxo, em


constante transformação. Também não se trata da noção de corpo-máquina, onde uma
informação de fora é processada por uma máquina e logo depois é devolvida ao
ambiente, ou seja, a teoria corpomídia se opõe ao modelo computacional de
comunicação.
Trata-se do corpo relacionado com o ambiente. Isso significa que aquele
ambiente é assim por causa daqueles corpos e vice-versa. Essa conexão corpo-ambiente
acontece através dos processos co-evolutivos e produz uma rede de pré-disposições
perceptuais, motoras, de aprendizado e emocionais. Devemos compreender este
movimento como sentido de adaptação a novas situações. Helena Katz1 explica que “o

1Katz, Helena. Todo corpo é copo mídia. In ComCiência – Revista Eletrônica de Jornalismo
Científico http://www.comciencia.br/comciencia/ – 10/03/2006.
desejo de permanecer leva à necessidade de fazer outro a partir de si mesmo, e só pode
se realizar porque no mundo onde vivemos, as informações tendem a operar dentro de
um processo permanente de comunicação”.
Se todo corpo é corpomídia de si mesmo, devemos deixar de lado a
compreensão habitual de mídia e não tratá-la como um meio de transmissão. Pois na
mídia que o corpomídia ocupa-se a informação é preservada no corpo e se torna corpo.
Mas há um limite de preservação que garante a sobrevivência de cada ser vivo em meio
a essa constante transformação. Portanto, não podemos afirmar que o corpo é, mas que
o corpo está sendo, o corpo é um estado dessa coleção de informações que vai
mudando, isto é, corpomídia da evolução.

QUAL O AMBIENTE DO CORPO HOJE?

Já que a teoria corpomídia é corpo e ambiente, se faz necessário compreender


qual o ambiente do corpo hoje. Em tempos de agora, o homem estar permanentemente
ligado ao conjunto das telas, seja por celular ou computador, a tela permite a conexão
com outras telas, marcando atos de sua vida cotidiana.
De acordo com Lipovetsky (2007), o nascimento das telas se deu no cinema2 - a
tela suprema - , um portal luminoso que abriu outros mundos3 e educou o olhar das
pessoas durante muito tempo. Com as invenções tecnológicas houve uma mudança
progressiva e a lógica high-tech revolucionou os cenários e efeitos, tornando possível a
criação de mundos e cenas4 outrora impossíveis de visualizar, um cinema marcado pela
velocidade.
A televisão, a partir da década de 1950, penetrou nos lares e nas décadas
seguintes houve uma multiplicação exponencial de telas. No entanto, o cinema deixa de
ser a tela suprema e vai sendo traduzido para outras telas: computador, videogames,
máquinas fotográficas digitais, celular, telas decorativas de plasma penduradas na
parede, painéis eletrônicos, GPS na tela de bordo do carro indicando o caminho a
seguir, imagens médicas computadorizadas, telas que mostram o interior do corpo etc.

2 Depende do lugar a história da tela começa pela televisão.


3 Os stars lançaram moda: A boina de Garbo, a camiseta branca de Brando, o vestido xadrex
vichy, como também modificaram os códigos de beleza etc.
4 Titanic, Jurassic Park, O Senhor dos Anéis.
Nossa sociedade investe todas as fichas na criação de mais tecnologias de
conectividade. E essa hiper-conectividade mudou nossas vidas nesse inicio de século,
transformando nosso modo de viver e nossa relação com a informação. Todos os
investimentos na área da educação são investimentos em tecnologia e para se diferenciar
dos concorrentes, alguns colégios substituíram o tradicional quadro retangular pelas
lousas digitais ou interativas.
Em 2010 o fato de maior relevância foi o crescimento do Facebook. O ritmo de
adesão ao site concebido por Mark Zuckerberg foi bem mais rápido do que o fenômeno
Orkut. O relatório, que faz uma análise do mercado de mídias sociais na América
Latina, mostra que o uso das redes cresceu 16% na região em 2010, enquanto o tempo
gasto nesse tipo de serviço aumentou 88%5. A cada login no Facebook, os brasileiros
permanecem, no mínimo 18 minutos e 19 segundos na rede social6. 90,8% dos
brasileiros com acesso à internet usam redes sociais. Portanto, esses dados confirmam
que as Redes Sociais Facebook e Twitter se apropriam do tempo de vida das pessoas.
Hoje com 800 milhões de usuários, o Facebook devora o tempo de 800 milhões de
pessoas. E num “clique para atualizar” 7 desenfreado relações estão sendo capitalizadas.
O uso abusivo das redes sociais na Internet se tornou uma prática. Ao entrar no
Facebook estou aderindo a uma prática e não ao objeto. As mudanças da tecnologia
foram modificando o nosso modo de olhar o mundo, o nosso corpo. E com o excesso de
tecnologia podemos observar um novo jeito de viver on line. Vivemos um agora que
apesar de curto, se tornou mais denso.

QUE CORPO É ESSE NO MUNDO DAS REDES?

Evolutivamente o corpo vai se transformando por conta da tecnologia. Já há


quase um consenso entre os cientistas de que a tecnologia vem acelerando a evolução do
ser humano8. Robert W. Fogel e seus coautores9 afirmam nas suas pesquisas que na

5 De acordo com a pesquisa realizada pela comScore, divulgada no portal Terra (acessado em
17 de novembro de 2011).
6 De acordo com um estudo da Experian.
7 Essa angústia causada pela sensação de ficar off-line já tem nome: FOMO, sigla em inglês

para “fear of missing out”, ou “medo de perder alguma coisa. O comportamento Fomo já foi
considerado uma patologia a ser curada, mas hoje não podemos afirmar que um sujeito que se
conecta frequentemente possui um transtorno, é apenas um jeito de participar.
8 COHEN, Patrícia. Tecnologia acelerou a evolução do homem, Patrícia Cohen. Fonte:

http://www1.folha.uol.com.br.
maior parte do mundo o tamanho do corpo, o formato e longevidade mudaram de forma
acelerada nos últimos três séculos. Os avanços na produção de alimentos e na saúde
pública tornam mais ágil a evolução darwiniana. Todas essas alterações acontecem em
um período de tempo curto. Pesquisas cognitivas já estão sendo realizadas em alguns
laboratórios e comprovam que os números de padrões de peso e altura na espécie
humana estão mudando rapidamente. Um norueguês de 22 anos media 1,79 cm no final
de século 20, ou seja, 14 cm a mais que a média do final do século 18. Evolutivamente
200 anos é pouco para uma mudança.
As teorias evolutivas facilitam o entendimento de que uma vez que o corpo fica
adaptado com o ambiente, ele tende a deixar rapidamente de ter estímulos de
investigação nesse ambiente porque ele já está adaptado, ou seja, o ambiente já está
mapeado e ele não possui mais estímulos cognitivos exploratórios, estímulos os quais
nós humanos não conseguimos viver sem. Quando sentávamos frente ao computador
rapidamente ficávamos cansados, mas hoje não sentimos mais a dor nas costas ou arder
os olhos, pois evolutivamente a informação já foi absorvida. Outro sinal importante é de
que o corpo vai ficando treinado com sobreposições de imagens e simultaneidade, se ele
não é estimulado dessa forma, ele se fadiga e tende ao desligamento. Cada vez mais é
necessário mais estímulos para ficarmos atentos. Quando assistimos a um filme que não
trabalha com a velocidade, desligamos a tensão e dormimos.
De acordo com Helena Katz10, está acontecendo cognitivamente uma
mudança, ou seja, uma necessidade frequente de muita estimulação para manter a
atenção. Pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento - psicologia, comunicação,
ciências cognitivas etc – buscam entender que tipo de corpo somos nós, usuários
(dependentes e intensivos) do computador? Pois o nosso corpo hoje, que funciona
mediado por telas é outro tipo de corpo, ele exercita o dom da ubiquidade. Ao mesmo
tempo em que responde um e-mail, compartilha um link no facebook, troca mensagens
rápidas no MSN e ver um site. E todas essas atividades realizadas ao mesmo tempo
possuem consequências cognitivas. Permanecer durante horas na frente da tela é um
treino. E isso nos habilita.
Portanto, um corpo que vai treinando cada vez mais fazer mais de uma mesma
coisa ao mesmo tempo, aos poucos domina essa habilidade e fica confortável. Essa

9Roderick Floud, Bernad Harris e Sok Chul Hong.


10Comentários da Profª Helena Katz nas aulas do programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Semiótica na Puc SP no 2º semestre 2011.
agilidade se materializa no corpo e hoje somos impacientes com a lentidão. O que
praticamos socialmente é muito mais do que cognitivamente treinamos no computador,
pois esse corpo não é de agora, ele foi se constituindo.
Não podemos afirmar que há uma ruptura do analógico com o digital, pois não
estanca, não rompe, não empobrece, mas desenvolve-se outra habilidade. Fluxos de
antes viram agora. É o caso da Tv que não aboliu o rádio, apenas redefiniu. Por que no
tablet é preciso fazer de conta que virou a página lendo o jornal? Porque o corpo é uma
coleção de informações que se modificam dentro do ambiente e precisa se adaptar para
sobreviver. E com a necessidade de sobrevivência surge a necessidade de fazer parte do
mundo on line.
A relação do homem com a tecnologia possui a mesma natureza ao longo da
história. O que se renova é a materialidade da tecnologia e não a nossa relação com a
tecnologia. Mas nossa tendência é sempre olhar para o que está acontecendo no
momento como algo que está sendo inaugurado. O mundo até aquela tecnologia não é
mais suficiente, não dá pra continuar vivendo nele. É preciso passar para o novo mundo
que aquela tecnologia inaugurou, pois desautoriza o mundo até então existente.
Que tipo de provocação a fotografia trouxe para a pintura? Que tipo de
provocação o cinema trouxe para a fotografia? Que tipo de provocação a televisão
trouxe para o rádio? É a mesma natureza, ou seja, a desautorização. Obrigando a outra
tecnologia a especificar-se. Tem um pedaço da nova tecnologia que ainda é vinculado à
anterior. A televisão começa muito mais sendo um rádio com poucas imagens. Mas logo
o rádio foi obrigado a se singularizar, ou seja, era necessário descobrir o que é que só o
rádio tinha que a televisão não poderia ter. E o rádio descobriu que tinha a possibilidade
de ser mais ágil por conta do tipo de tecnologia. E a televisão buscou a espacialidade
dela, pois não podia mais ser só um rádio com imagens, pois o rádio com sua
velocidade já tinha dado a notícia.
Os hábitos de um telespectador se repetem diariamente. E o corpo acaba se
habituando. Estudos mostram que até o final dos anos 80 os blocos de intervalos eram
de 8 minutos. Do final dos anos 80 para os anos 90 em diante foi caindo até os blocos
serem de 4 minutos. O corpo que estava habituado a ficar sentado prestando atenção por
bloco de 8 min, encurta o tempo de treino que fica sentado prestando atenção. À medida
que vai sendo encurtado, cria uma familiaridade rítmica no modo de lidar com a
informação. E isso vai padronizando as outras emissoras. Vai diminuindo o treino da
atenção, tornando o corpo indisponível para situações aonde a atenção é exigida por
mais tempo até o intervalo. O encurtamento dos blocos na tevê produziu cognitivamente
um comprometimento de atenção. Acontece uma troca entre o corpo e a informação que
implica numa familiarização de hábitos perceptivos, que ficam no corpo, vira o corpo e
vão consolidando o jeito de olhar o mundo.
A introdução dos tablets como material pedagógico na escola, em substituição ao
livro, vai criar outros hábitos perceptivos. É um tipo de cognição que vai sendo
horizontalizada, transformando vários hábitos corporais. Portanto, se o “tablet substitui
livros” 11
, estamos iniciando mudanças importantes em termos cognitivos. Mas é claro
que isso não vai se expandir em grande velocidade e nem vai atingir tantas pessoas ao
mesmo tempo. Mas a quem atingir, produzirá alguma transformação.

Os meios de comunicação como extensão ou distensão do homem?

Nas reflexões de Marshall McLuhan (1989), compreendemos os meios de


comunicação, como extensão do homem, isto é, em contato com cada nova tecnologia,
o corpo torna-se dependente como se a extensão sempre tivesse feito parte dele. Assim,
McLuhan argumenta:

Qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou


auto-amputação de nosso corpo, e essa extensão
exige novas relações e equilíbrios entre os demais
órgãos e extensões do corpo. (...) Como extensão e
aceleração da vida sensória, todo meio afeta de um
golpe o campo total dos sentidos. (MCLUHAN,
1989, p. 63).

Clarck (2001) considera que há processos cognitivos no mundo que acoplam


a mente. Não existe um ambiente interno totalmente apartado do ambiente externo. O
autor afirma que a mente não é só do dentro, ela está distendida, portanto, objetos
supostamente separados do corpo podem ser distendidos como mente, isto é, uma ação

11 Campanha publicitária de uma escola que causou polêmica em Fortaleza Ce.


internalizada. Portanto, o que McLuhan chamava de extensão, podemos chamar de
distensão, pois o corpo não acaba.
Existem alguns mecanismos perceptuais e cognitivos que são distendidos em
objetos externos. Temos como exemplo a luneta ou os óculos, que vão distendendo e
ampliando a nossa percepção, no caso a visão. Os óculos não é uma extensão. O olho
com os óculos vai aprendendo como é que funciona. E quando está sem os óculos ele
tem outro treino de reconhecer o mundo. O corpo está sempre se distendendo e
dependendo dos hábitos cognitivos que possuímos, lemos o mundo de um jeito ou de
outro.
Marshall McLuhan (1989) chamou atenção para essas tecnologias em relação
ao corpo, na medida em que elas colocavam o corpo em locais onde o corpo não tinha
estado antes e ele chamava de extensão. Mas extensão é algo que é acoplado a algo
existente para aumentar o desempenho, o alcance. Extensão na tecnologia é um tipo de
dispositivo de acoplamento. O corpo não acaba no limite onde ele acabava. A
informação modifica o comportamento e o jeito de olhar.
A teoria corpomídia deixa claro que as informações que são repetidas no corpo,
se estabilizam nesse corpo. O corpo vai distendendo as habilidades, portanto, não é uma
extensão que se acopla. Dentro desse viés podemos entender o iPhone não como um
acessório da memória, mas como memória. Katz (2011) nos conta que David Chalmers,
no prefácio que escreveu para o mais recente livro de Andy Clarck 12, relata que seus
amigos se impressionavam com a mudança que o iPhone havia produzido no seu
cérebro e muitas vezes sugeriam que ele implantasse o iPhone no cérebro, mas David
Chalmers percebeu que o implante não precisaria ser feito, pois o iPhone já fazia parte
do seu corpo, já havia transformado seu comportamento. O dispositivo de memória não
precisa ser colocado dentro do corpo para fazer parte do corpo e ser considerado mente,
o dispositivo mesmo corporeamente separado é uma distensão da mente.
De acordo com Christine Greiner13, o objeto transforma a capacidade de
memória, que é uma habilidade interna, portanto, o instrumento também possui uma
ação cognitiva. Greiner explica que para Andy Clarck a técnica é um artefato cognitivo.
O organismo produz artefatos, que não precisam ser exatamente objetos, mas modelos
cognitivos. Mas não é algo que está sendo colocado no organismo. A ação do sujeito em

12Supersizing the mind; embodiment, action, and cognitive extension (2008).


13 Comentários da Profª Christine Greiner na aula do programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Semiótica na PUC SP em 21 de outubro de 2011.
relação ao ambiente e do ambiente em relação ao sujeito não pode ser separada, são
ações indistinguíveis.
Vamos à direção de um comportamento do mundo off line, mas com outros
mecanismos. Portanto, não podemos separar o mundo virtual do mundo real. São
demandas e desejos transitivos. A comunidade digital pauta o nosso comportamento via
nosso corpo e o nosso corpo pauta essas especificidades das mídias em relação ao seu
suporte. Portanto, ler o jornal no computador com a página virando faz um hábito
cognitivo e mantém uma ponte aberta para o papel. Ao mesmo tempo em que se avança,
também conserva.
A mudança ocorre nos dois ambientes. Tanto nas máquinas como em nós. Por
isso evitamos utilizar a expressão “pós-humano”. Pois é como se existisse um certo
projeto humano que acabou e agora vem outro, mas não rompe, a proposta é que vai se
distendendo. E todas as informações que configuram o mundo hoje nos contaminam e
vão sendo por nós contaminadas.
Capitulo 05

As Mídias Digitais E As Novas Fontes De Referência Para Os Jovens Do Século XXI

A juventude atual raramente pesquisa em livros, pois a internet disponibiliza


praticamente tudo que é necessário, inclusive facilita algumas atividades cotidianas e
ajuda a tirar dúvidas rapidamente em relação a uma matéria, por exemplo, e
principalmente para se comunicar. Buscando compreender as mudanças nas referências
dos jovens da atualidade, foi verificada a possível interferência das mídias digitais na
busca de conhecimento e na formação de opinião. Para tanto, foram realizadas pesquisa
de campo de natureza quantitativa, com alunos do Ensino Médio – de escola pública da
cidade de Sobral-CE e de natureza qualitativa com grupo de discussão com jovens que
possuíam o mesmo perfil, além de pesquisa bibliográfica. A partir disso analisou-se a
transformação do papel do jornalismo no meio digital e as fontes de informação para a
juventude atual.

Com o crescimento das redes tecnológicas e com toda essa interação que ela
proporciona em diversos campos de conhecimento e que pode ser explorada em tantos
movimentos como sociais, feministas, ambientalistas e entre outros, muitas pessoas
ainda não conseguiram se adequar a toda essa plataforma digital, mas a cada dia o
número de conectados em redes sociais só aumenta, pois além de trazer comodidade por
ser uma ferramenta prática e rápida, facilita também a interação entre pessoas que
moram longe e que gostam de conversar entre si.

Antes da internet, os únicos meio de comunicação eram através do ambiente


familiar e escolar, porém tudo isso mudou e hoje nas redes sociais cada pessoa possui
uma identidade que muitas vezes é totalmente diferente do que ela é no dia a dia.

Para Capra (2002), as redes sociais são importantes principalmente porque além
de conseguir captar informações, elas também conseguem se encaixar nas redes
organizacionais.

[...] na era da informação – na qual vivemos – as funções e processos


sociais organizam-se cada vez mais em torno de redes. Quer se trate das
grandes empresas, do mercado financeiro, dos meios de comunicação ou
das novas ONGs globais, constatamos que a organização em rede tornou-
se um fenômeno social importante e uma fonte crítica de poder.
(CAPRA, 2002, p.267).

As redes sociais não servem apenas para expressar opiniões, fazer amizades com
quem mora longe ou manter contato com familiares de outros lugares, serve também de
suporte para relacionamentos amorosos virtuais que começam apenas com conversas e
chamadas de vídeos e depois se ambos acharem que a relação pode ter futuro, o que era
apenas algo digital acaba saindo do mundo virtual para o real. Martinho (2004) afirma
que a conexão muitas vezes ultrapassa as plataformas digitais/ e segue para o cotidiano:

A densidade da rede não está relacionada diretamente ao número


de pontos que a constituem, mas à quantidade de conexões que esses
pontos estabelecem entre si. Esse é o aspecto mais importante e parece
provar que a capacidade da rede ultrapassa em muito a mera soma de
seus elementos. (MARTINHO, 2004)

A Informação Nas Mídias Digitais


A tecnologia, mais especificamente a internet, ocasiona mudanças no cotidiano
das pessoas no que diz respeito principalmente à comunicação e à informação. Estamos
conectados para estudar, interagir, conhecer outros lugares, consumir etc. O jornalismo
vem sofrendo transformações em virtude do uso das mídias digitais, com o surgimento
de novas funções e a necessidade, por parte dos profissionais, de habilidades que
envolvem o mundo digital.

No ciberespaço não existem fronteiras em relação ao espaço e ao tempo. Além


disso, a informação é produzida e recebida de maneira diferente. O jornalista pode
selecionar informações também a partir das mídias digitais, produzir a notícia voltada
para elas e pode também interagir com o consumidor dessa notícia, que não pode mais
ser nomeado apenas como receptor, já que pode ser também emissor de informação.
Virginio, Bezerra e Nicolau (2011) afirmam que:

Com o auxílio das mídias sociais, estes consumidores passam a ser


importantes colaboradores para a produção da notícia, utilizando espaços
cedidos nos portais, produzindo e enviando material jornalístico,
caracterizando assim o jornalismo colaborativo. (VIRGÍNIO;
BEZERRA; NICOLAU, 2011)

Sabemos da relevância que as redes sociais possuem na rotina das pessoas,


principalmente dos jovens, que parecem cada vez mais dependentes do ambiente virtual
para desenvolver desde atividades simples, como acordar, até para aprender sobre a
cultura de um país distante. Portanto, é através destas mídias que adolescentes buscam
estar informados por considerarem mais dinâmicas e por proporcionar a participação
através de comentários de modo imediato, deixando de lado a mídia tradicional.
Segundo Eudson Rocha e Lara Moreira Alves (2010):
Mediada pelos meios digitais, a sociedade vive uma amplificação de
vozes, onde as pessoas estão aprendendo a compartilhar pensamentos,
ideias e experiências através de novos modos de produzir e consumir
conteúdos. A realidade se confunde com o virtual e vice-versa e o
comportamento social se altera, perdendo suas amarras e abrindo espaço
para a fluidez de informações, comportamentos e relacionamentos.
(ROCHA; ALVES, 2010, p. 222)
As mudanças que o jornalismo vem sofrendo ao longo do século são decorrentes
do advento das mídias digitais, principalmente das redes sociais que estão no cotidiano
das pessoas, principalmente dos adolescentes, tornando-se fonte de informação,
conhecimento e de socialização para eles.
Para os jornalistas, as internet é ao mesmo tempo um desafio, já que exige
melhor qualificação, além das adquiridas com a profissão, e uma ferramenta a seu favor,
como afimam Virginio, Bezerra e Nicolau (2011):

Se antes o profissional despendia muito tempo ao se deslocar a uma


biblioteca para fazer uma pesquisa, hoje com um simples clique no
mouse é possível acessar informações sobre tudo e de todo o mundo. A
internet oferece aos profissionais do jornalismo a possibilidade de buscar
informações em diversas fontes e em qualquer ponto do globo, o que
auxilia na confecção e na definição das pautas, na produção e na
apuração da informação como potencial de notícia.
(VIRGINIO;BEZERRA; NICOLAU, 2011)

Isso significa que o trabalho do jornalista tornou-se ainda mais dinâmico,


havendo a possibilidade de surgirem notícias de qualquer lugar, a qualquer momento,
variando também as fontes, já que as redes sociais têm funcionado para compartilhar
fatos, experiências que viram notícias.

Fontes De Informação Para Uma “Juventude Digital”


Numa pesquisa realizada com jovens do Ensino Médio da rede pública no
interior do Estado do Ceará em maio de 2016, foi possível perceber que esta geração de
adolescentes busca como fonte de pesquisa principal a internet, já que é uma ferramenta
rápida e que economiza tempo.

Vivemos um momento em que as gerações estão divididas entre Baby Boomers


(acima de 46 anos, geração X (entre 30 a 45 anos), geração Y(20 a 29 anos) e a geração
Z(12 a 19 anos)). Nesta atual conjuntura, a chamada geração Y está mais interessada em
adquirir independência e conquistas profissionais, saindo da casa dos pais para morar
sozinha mais cedo e menos em busca de relacionamentos sérios que tragam
responsabilidades de formar uma família.
Já os adolescentes de hoje, a chamada geração Y, se interessam cada vez mais
pelas tecnologias e têm a internet como a principal fonte de pesquisa e entretenimento,
usam com frequência as redes sociais e raramente conseguem ficar off-line.

Com o uso de celulares constantemente, os jovens acessam a internet, baixam


conteúdos e aplicativos, comunicam-se com amigos através de mensagens, onde é
possível enviar fotos, vídeos e áudios para qualquer lugar do mundo. Com toda essa
acessibilidade que a internet traz, os meios de comunicação mais tradicionais, como TV,
rádio revista e jornal impresso, acabaram perdendo espaço.

Com toda essa convergência digital, os jornais online são as principais fontes de
informações para os jovens, que buscam facilidade para informações e com a evolução
das mídias é possível ter toda essa comodidade.

Se antes a mídia conseguia manipular o pensamento das pessoas, hoje com o


crescimento das mídias digitais tudo mudou. Os jovens estão mais inteirados sobre
diversos assuntos e se há algum tempo atrás os adolescentes não se interessavam por
assuntos como política e economia, atualmente, mesmo não tendo hábitos de ler jornais
ou assistir televisão, eles conseguem formar suas próprias opiniões sem ninguém para
manipulá-los ou falar o que é certo ou errado, tudo isso graças às novas fontes de
comunicação que a internet proporciona.

Com o advento da internet e com o surgimento de novas plataformas digitais, as


redes sociais acabaram se tornando praticamente indispensáveis na vida dos jovens.
Segundo Torres (2009, p.113): “Refiro-me às mídias sociais como o conjunto de todos
os tipos e formas colaborativas”. Entendemos que as redes sociais estão associadas a
diversos assuntos, enquanto que as mídias digitais ficam dentro do contexto dos novos
modelos de plataformas digitais.

Alguns jovens da geração digital buscam espaço no Youtube, acabam virando


referência e tornam-se ídolos para outros adolescentes, onde criam canais e falam sobre
diversos assuntos, desde o entretenimento a assuntos mais sérios que acontecem no dia
dia.

Nomes como Christian Figueiredo e Kéfera Buchmann são bastante populares


neste meio das mídias digitais, com canais de vídeos no Youtube vistos por milhares de
adolescentes, onde abordam diversos assuntos em um estúdio improvisado dentro do
próprio quarto. Através de toda essa popularidade que conseguiram através da internet,
é notável que ser um “youtuber” acabou se tornando uma profissão bastante rentável.

Muitos dessa nova geração que apostam no Youtube já escreveram até livros que
são sucesso de venda no Brasil, chegando até a virarem best-sellers em todo o Brasil,
além de vídeos que chegam a um valor surreal como 150 mil reais.

O comportamento dos jovens mudou ao longo dos anos e tudo isso se deve pelo
advento tecnológico que a internet trouxe, proporcionando diversos conhecimentos na
hora de produzir conteúdos e também de recebê-los.

Segundo Tapscott (2010), esta nova geração que parece já ter nascido dentro da
tecnologia, consegue de maneira tão rápida aprender sobre novos conteúdos digitais,
mesmo sendo a geração que não assiste televisão e consegue assimilar qualquer notícia
de forma bem mais rápida do que seus pais.

A Geração Internet assiste menos televisão do que seus pais e o faz de


uma maneira diferente. É mais provável que um jovem da Geração
Internet ligue o computador e interaja simultaneamente com várias
janelas diferentes, fale ao telefone, ouça música, faça o dever de casa,
leia uma revista e assista à televisão. A tevê se tornou um a espécie de
música de fundo para ele. (TAPSCOTT, 2010, p.32)

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