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HONNETH, A. Liberdade Social. In: ______. O direito da liberdade.

São Paulo:
Martins Fontes, 2015, pp. 236-323.

Voltando-se contra as formas parasitárias de liberdade, porque insuficientes na


representação social e por agir em precedência à vida social, Honneth ratifica a
perspectiva de uma “realidade da liberdade”. Nela, destaca-se o que Hegel denominou de
“esferas éticas” (ou “instituições relacionais”, nos termos parsonianos): formas de “agir
que os sujeitos participantes só podem executar pela via cooperativa ou coletiva” (p. 227).
As esferas éticas são sistemas que se complementam reciprocamente pelas ações dos
membros individuais, havendo uma consideração moral com relação ao outro:

aquelas obrigações de papeis, incluídas na ação cooperativa, aderem a algo a


que secretamente nos referimos como ‘moral’, pois estão orientados a ir de
encontro do outro de modo que ele considere adequada para seus objetivos. ‘A
moral’ aqui não é a concessão reciproca da possibilidade de autodeterminação
individual, mas um componente intrínseco das práticas sociais que, juntas,
constituem um sistema de ação relacional (p. 228).

As obrigações de papel, tão importantes nesse cenário, estão sujeitas à capacidade de


assentimento reflexivo dos indivíduos, devem ser conscientemente desejadas por estes. O
arrefecimento da pressão da tradição e da individualização crescente nas sociedades
modernas produzem uma abertura dos complexos institucionais, nas quais há novas
possibilidades de interpretações intersubjetivas destes papeis. Para desvelamento das
esferas de ação das sociedades atuais em toda a sua extensão, Honneth se propõe a uma
união entre a reconstrução normativa e uma gramática moral dos membros da sociedade.
A constituição da realidade da liberdade seria, portanto, uma “reconstrução das
esferas de ação nas quais as obrigações de papeis reciprocamente complementares
cuidariam para que os indivíduos, nas atividades de liberdade de seus parceiros de
cooperação, pudessem reconhecer uma condição para realizar seus próprios fins” (p. 232),
manifestada por meio das relações pessoais, da ação nas economias de mercado e da
abertura política. Em nossa pesquisa, este primeiro cenário, na manifestação da amizade,
nos interessa primordialmente.
As relações pessoais são determinadas por necessidades e propriedades individuais,
manifestando-se por meio da amizade, das relações íntimas e da família, o que Honneth
denomina de “nós” destas relações. A amizade é destacada há mais de duzentos anos
como forma peculiar de liberdade, que consiste no aperfeiçoamento reciprocamente
possibilitado do próprio eu.
Pouco se sabe sobre a amizade na Antiguidade ou na Idade Média. A diferenciação
das relações sociais a partir do século XVIII possibilita a constituição de redes estáveis
de práticas, nas quais há segurança em relação às expectativas de comportamentos
previsíveis. A partir destas, há a configuração de uma relação fundamentada em regras de
ação de autenticidade e consulta confidencial, deixando para trás as limitações impostas
pelas vantagens economias e pela constituição de alianças sociais, marcadamente
vivenciadas por homens antes deste período, não se configurando como uma relação de
liberdade, tal qual na modernidade:

apesar da diferenciação ética que Aristóteles atribuía à amizade desinteressada,


com base em virtudes, até os primórdios dos novos tempos as amizades
masculinas eram permeadas pela pura e simples consideração de vantagens; e,
se sobretudo nas classes altas, tais amizades basicamente criavam redes sociais
que satisfaziam aos objetivos de apadrinhamento e proteção, e não raro se
dissimulavam sob formas de rituais de honra (p. 244).

Assim sendo, “o ideal moderno de amizade só pôde se impor plenamente como prática
institucionalizada depois que o limiar da inibição foi vencido em todas as camadas sociais
e para ambos os sexos, em função da articulação de seus próprios objetivos de vida”. A
amizade é uma forma de relação informal, mas que não prescinde de certo grau de
institucionalização social, mesmo não possuindo uma estrutura de reprodução própria,
cujas regras também podem ser encontradas no mundo social, em um saber coletivamente
compartilhado sobre tais práticas. Seu fundamento no sentimento entre as partes é uma
forma de vínculo social sem antecedentes históricos, a partir de sensações e atitudes que
antes não poderiam existir em um cenário público:

padrões de papeis e práticas que podem ser vivenciadas por ambas as partes
como um aumento da liberdade individual, pois os próprios sentimentos, na
atenção e no reflexo benevolente da contraparte, passam por uma secularização
social: daí a associação, que a partir de então se faz corrente, entre amizade e
liberdade (p. 247).

As amizades podem incentivar a boa realização da vida individual ou da moral em


aspectos diversos da vida humana, mas não são apenas um espaço de experimentação
moral no sentido de obrigações e princípios para crianças e jovens, como destacado por
Piaget. A obrigação dos papeis complementares na amizade se funda sobre a manifestação
recíproca de sentimentos, atitudes e intenções que necessitam do eco do outro. A
autoarticulação desejada e cuidada da amizade permite o espaço da liberdade social:
“nela, o indivíduo pode e deve revelar ao outro experiências a que tem acesso
privilegiado, de modo que desaparecem as fronteiras internas que naturalmente devem
ser mantidas na comunicação cotidiana” (p. 252). Por meio da possibilidade de
compartilhar vivências e sentimentos próprios sem reservas, a amizade proporciona
sensações de diluição e libertação. Neste encontro, podemos vislumbrar as sementes de
uma constituição ética e democrática de relação:

não há muitas razões para se duvidar da estabilidade da instituição moderna da


amizade; em nossos dias, ela justamente deve ser a relação pessoal de maior
inércia em meio aos acelerados processos de individualização e flexibilização.
Além disso, hoje, mais do que antes, amizades deste tipo estendem-se com
mais força sobre as fronteiras de classes sociais, pouco se detêm diante de
diferenças étnicas e, até mesmo, cada vez mais perdem a ligação com um lugar
comum, de modo que talvez se possa reconhecer nelas o fermento mais
elementar de toda eticidade democrática (p. 256).

Contemplando os cenários de amizade dentro de um contexto ocidental, europeu, de


primeiro mundo, Honneth expressa as formas institucionais da amizade na modernidade.
Cabe a nós perguntar: esse modelo contempla a realidade da América latina? A
diversidade brasileira? A riqueza de povos que aqui se encontra? A amizade
institucionalizada em tais moldes também é encontrada em comunidades quilombolas e
indígenas, também sujeitos de nossa pesquisa? Nesse sentido, é importante pensarmos a
escola como lócus da eticidade, o espaço de contato com a diversidade e a constituição
moral e uma nova forma de institucionalização.

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